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UNIVERISIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE HISTÓRIA

DISCIPLINA: FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS E REGIMES AUTORITÁRIOS


NA AMÉRICA LATINA

PROF. DIONISIO LAZARO POEY BARO

ALUNO: FLÁVIO SOUZA DE OLIVEIRA

MATRÍCULA: 202179240009

REVOLUÇÃO MEXICANA

Introdução:

A Revolução Mexicana foi um dos eventos mais significativos na história do México e


da América Latina no século XX. Este movimento revolucionário, que teve início em 1910 e
se estendeu por mais de uma década, foi marcado por uma série de conflitos armados,
mudanças sociais profundas e transformações políticas que moldaram o destino do país.

O contexto histórico que levou à Revolução Mexicana remonta ao regime do


presidente Porfirio Díaz, que governou o México de forma autoritária por mais de três
décadas, desde 1876. O governo de Díaz caracterizou-se pela concentração de poder nas mãos
de uma elite, pela desigualdade social e pela falta de participação política para a maioria da
população. Essa situação gerou crescente descontentamento entre diferentes setores da
sociedade mexicana, incluindo camponeses, trabalhadores, intelectuais e empresários
desfavorecidos.

O estopim da Revolução ocorreu em 1910, quando Francisco Madero, um fazendeiro e


empresário, lançou o chamado "Plano de San Luis Potosí", no qual apelava para a derrubada
do regime de Díaz. Esse movimento inicial rapidamente se transformou em uma luta armada
generalizada, envolvendo diferentes facções e líderes, cada um com suas próprias demandas e
visões para o futuro do México.

Entre os líderes mais proeminentes da Revolução Mexicana estão Emiliano Zapata, que
liderou os camponeses no sul do país em busca de uma reforma agrária; Pancho Villa, um
carismático general que liderou uma força militar no norte do México; e Venustiano Carranza,
que inicialmente apoiou Madero, mas depois se tornou um líder importante na luta contra
Díaz.

A Revolução Mexicana também teve importantes repercussões sociais e políticas. Em


1917, uma nova constituição foi promulgada, estabelecendo princípios progressistas, como a
garantia dos direitos trabalhistas, a separação Igreja-Estado e a reforma agrária. Essas
mudanças representaram uma ruptura significativa com o passado autoritário do México e
marcaram o início de uma era de transformações sociais.

A Revolução:

A Revolução Mexicana, desencadeada em 1910, foi um levante multifacetado que


transcendeu as linhas de classe, etnia e gênero, mas suas implicações mais profundas e
transformadoras estavam enraizadas nas experiências das classes sociais mais baixas. Este
artigo se propõe a explorar de maneira aprofundada a dinâmica social da Revolução, dando
voz às camadas mais marginalizadas da sociedade mexicana da época. As camadas mais
baixas da sociedade mexicana, predominantemente compostas por camponeses, trabalhadores
rurais e urbanos, enfrentavam condições socioeconômicas extremamente precárias sob o
regime de Porfirio Díaz. A concentração de terras nas mãos de poucos e a exploração
desenfreada dos trabalhadores exacerbaram a desigualdade, criando um caldo de insatisfação
que eventualmente se transformou em combustível para a Revolução. Segundo Marcela de
Castro Tosi:

A Revolução Mexicana é tradicionalmente apontada começando em 1910 como uma


revolta popular contra o presidente Porfírio Díaz, que estava no governo há mais de
três décadas. Sua fase armada terminou oficialmente em 1917 com a promulgação
da nova Constituição, mas foi só em 1929, com a criação do Partido Nacional
Revolucionário, que o país finalmente se pacificaria.2 Trata-se da primeira grande
revolta popular do século XX, posta como "a última das revoluções burguesas e a
primeira das revoluções proletárias" (TOSI, 2016, p. 142 ).
Nas cidades, os trabalhadores urbanos e industriais também se uniram à Revolução,
buscando melhores condições de trabalho, salários dignos e o direito à organização sindical. A
exploração nas fábricas, aliada à falta de representação política, catalisou greves e
movimentos laborais que se somaram à narrativa revolucionária. Além das lutas de classe, a
Revolução Mexicana também refletiu a diversidade étnica do país. Os povos indígenas,
frequentemente marginalizados, viram na Revolução uma oportunidade para reivindicar seus
direitos e preservar suas tradições culturais frente à homogeneização imposta pelo regime
anterior. As mulheres desempenharam um papel crucial na Revolução, desafiando as normas
de gênero e participando ativamente nas lutas sociais. Mulheres como Carmen Serdán e
Dolores Jiménez y Muro destacaram-se não apenas como símbolos de resistência, mas como
líderes que contribuíram significativamente para a transformação política e social. Acerca das
mulheres:

“Ainda que algumas mulheres de classe alta tenham lutado na Revolução, a maioria
encontrou maneiras de libertação através de ativismo político e se incluindo no
mercado de trabalho aberto pelos avanços econômicos do porfiriato. Formaram
grupos no intuito de obter o voto feminino, maior acesso à educação e à
contracepção e em apoio a candidatos políticos - exemplos de tais grupos incluem o
Consejo Feminista e a Liga Feminista Mexicana. Assim, a maioria se manteve sem
desafiar as barreiras que a classe social ergue e puderam ter seus nomes ligados à
História do país (TOSI, 2016, p. 143)

De acordo com a autora, A presença de civis, especialmente mulheres, acompanhando


exércitos revolucionários não era uma novidade durante a Revolução Mexicana. No entanto,
as circunstâncias únicas do conflito, o interesse internacional na Revolução e a participação
militar de algumas mulheres elevaram a importância das soldaderas. Elas passaram a ser
retratadas na cultura popular, noticiadas internacionalmente e estudadas por séculos. As
percepções sobre as soldaderas variam, desde serem vistas como perturbações que
prejudicavam a ordem das tropas até influências imorais entre os soldados, mártires
idealizadas e mulheres dedicadas aos seus combatentes. Embora o número exato de mulheres
que lutaram não seja conhecido, algumas o fizeram em prol de ideais revolucionários, como a
reforma agrária, enquanto outras apoiavam os homens em suas vidas que estavam em
combate. Muitas mulheres seguiram os exércitos em busca de trabalho e sustento, algumas
foram forçadas, e outras ainda, jovens de doze e treze anos, foram obrigadas a acompanhar
seus pais na guerra, tornando-se soldaderas. Além disso, mulheres mais velhas ingressaram no
conflito em busca de vingança pela morte ou captura de familiares masculinos. Assim,
mulheres de todas as idades participaram ativamente junto aos exércitos, motivadas por uma
variedade de razões (TOSI, 2016, p. 150).

As soldaderas desempenharam funções cruciais para o funcionamento diário do


exército durante a Revolução Mexicana. Além de carregar equipamentos e cuidar dos filhos,
elas desempenhavam tarefas essenciais, muitas vezes associadas à esfera doméstica, sem as
quais o exército e os homens na esfera privada não poderiam manter suas atividades. No
entanto, após o conflito, as representações culturais distorceram o papel das mulheres,
retratando-as como prostitutas, nacionalistas abnegadas ou amazonas submissas à proeza
romântica dos homens.

As soldaderas tornaram-se posteriormente conhecidas como "Adelitas", uma figura


mitificada presente em mitos e narrativas que ultrapassaram as fronteiras mexicanas.
Representando a participação feminina na Revolução Mexicana, as Adelitas simbolizam uma
feminilidade idealizada, oscilando entre empoderamento e submissão, agência política e
subalternidade. Essa representação foi disseminada em corridos, filmes, novelas, fotografias,
cartões postais, teatro, dança, artes muralistas e em todo o imaginário popular não apenas
mexicano, mas também em países como Nicarágua e El Salvador.

Outra forma de apoio das mulheres à guerra foi sua participação direta ao lado dos
homens, indo além das tarefas domésticas. Algumas mulheres integraram o Exército Federal
ou as forças opositoras, enfrentando situações mais desafiadoras do que os homens.
Exemplificando essa participação, a capitana Petra Herrera destacou-se por sua coragem e
habilidades no campo de batalha, liderando um regimento exclusivamente feminino e
alcançando muitas vitórias após ter seu segredo revelado (TOSI, 2016, 151 – 152). Os
processos revolucionários são intrinsecamente ambíguos e complexos, envolvendo
possibilidades emancipatórias e gestos de domesticação. A presença das mulheres nos
exércitos da Revolução Mexicana ilustra essa dualidade. Embora seus papéis prescritos
muitas vezes delimitassem uma participação doméstica, as mulheres, ao se tornarem
soldaderas e pegarem em armas, conseguiram transcender algumas das limitações tradicionais
em suas vidas.

A participação como soldaderas empoderou essas mulheres, frequentemente marcadas


por gênero, raça e classe, de maneiras que não seriam possíveis se tivessem permanecido em
casa, restritas aos papéis tradicionais de gênero. Seja no âmbito íntimo e individual ou no
público e coletivo, a participação milenar das mulheres como agentes em conflitos armados
desafia e desconstrói os papéis impostos ao gênero feminino.

A importância das narrativas na formação da memória é crucial. As histórias orais


disseminadas pelos corridos, elementos da cultura mexicana, contribuem para a construção
das soldaderas como "mulheres rebeldes e insubordinadas", que desafiam normas e se tornam
modelos de esposa e mãe, glorificadas por virtudes cristãs e patrióticas. No entanto, é
importante reconhecer que muitas vezes essas histórias foram domesticadas para se adequar a
modelos ideais.

Segundo Waldir José Rampinelli (2011); A Revolução Mexicana, marco inicial da


Idade Contemporânea na América Latina, é pouco reconhecida na região devido ao
eurocentrismo nas ciências sociais. Enquanto a Revolução Francesa aboliu o sistema feudal e
estabeleceu um modelo universal de Estado democrático burguês, e a Revolução Russa
superou o czarismo e criou um sistema social não capitalista, a Revolução Mexicana, embora
interrompida ou traída, derrubou a hegemonia da oligarquia, substituindo-a por uma burguesia
agrária. Isso resultou em mudanças significativas na economia, política, diplomacia,
sociedade e cultura, assim como nas relações entre Estado e Igreja, ultrapassando as fronteiras
físicas mexicanas (RAMPINELLI, 2011, p. 89). Ainda segundo autor - p.90 - A Revolução
Mexicana do século XX foi a primeira revolução social na América Latina, contra a oligarquia
avançada. O capitalismo mexicano, integrado ao mercado mundial, provocou uma oposição
armada contra um desenvolvimento desigual. A influência do positivismo e do darwinismo
social gerou uma oligarquia que dominou o país a partir de 1888. A hacienda mexicana,
símbolo do desenvolvimento capitalista, explorava violentamente indígenas e camponeses. A
guerra colonial resultou na expropriação de terras indígenas, forçando-os ao trabalho escravo.
A luta armada visava desafiar as haciendas, símbolos do poder e exploração. A guerra contra
os Yaqui exemplifica a penetração violenta do capitalismo na região, transformando terras
férteis em cultivos para exportação e forçando comunidades indígenas ao trabalho escravo em
plantações (RAMPINELLI, 2011, p.90).

As ferrovias, telégrafos e correios simbolizam o desenvolvimento capitalista no


México. Construídas para escoar a riqueza do país para o exterior, as ferrovias integraram a
economia mexicana à dos Estados Unidos, provocando mudanças locais, desintegração de
costumes camponeses e aumento da expropriação de terras indígenas. O crescimento da malha
ferroviária, impulsionado por investimentos estrangeiros, contribuiu para a urbanização e o
progresso econômico sob a liderança de Porfírio Diaz(RAMPINELLI, 2011, p.91-92). Ou
seja, A expansão da malha ferroviária, impulsionada principalmente por investimentos
estrangeiros, não apenas facilitou o escoamento de produtos, mas também desempenhou um
papel fundamental na configuração do processo de urbanização e no estímulo ao progresso
econômico. Sob a liderança de Porfírio Díaz, essas iniciativas contribuíram para moldar a
paisagem econômica do México, marcando uma era de transformações significativas e
estabelecendo as bases para um período de modernização e crescimento (RAMPINELLI,
2011, p. 92-93).

No entanto, esse desenvolvimento também gerou contradições, visto que os trilhos que
escoavam produtos provocaram a resistência armada de líderes como Zapata e Villa. A
industrialização e a formação do mercado mundial trouxeram consigo contradições do
capitalismo, com os operários mexicanos, especialmente os ferroviários, desenvolvendo
consciência de luta de classes. As greves desses trabalhadores foram reprimidas violentamente
pelas oligarquias latino-americanas com apoio do capitalismo internacional, mas esses
movimentos foram precursores da Revolução Mexicana, desafiando a suposta "paz porfiriana"
que camuflava as crescentes lutas de classes.

Ainda segundo Waldir José Rampinelli (2011), A Revolução Mexicana atraiu a atenção
das principais potências mundiais devido às dimensões do processo revolucionário e por
ocorrer em um país subdesenvolvido ao lado de um desenvolvido. Alemanha, Inglaterra,
França e Japão exerceram pressões internacionais sobre os programas e políticas da
Revolução Mexicana para disputar a hegemonia sobre a América Latina, visando vantagens
nas relações internacionais em oposição aos Estados Unidos. O México, rico em commodities
como minerais e petróleo, era alvo de disputas e rivalidades entre potências mundiais antes
mesmo do início da Revolução. A ditadura de Porfírio Díaz, buscando afastar-se do
predomínio dos investimentos dos Estados Unidos, procurou atrair investimentos europeus,
irritando o governo de Washington. A elite governante mexicana optou por se distanciar dos
investimentos dos EUA devido ao maior envolvimento com os europeus, à disposição das
companhias europeias em aceitar propostas dos "científicos" mexicanos e à incompatibilidade
do predomínio de Washington com o conceito de desenvolvimento econômico dos
"científicos".

O programa do Partido Liberal Mexicano, datado de 1º de julho de 1906, foi um marco


crucial na articulação das principais ideias da Revolução Mexicana. Este documento não
apenas apresentou, de maneira pública e nacional, os princípios fundamentais do movimento,
mas também ultrapassou a própria Constituição de 1917 em termos de propostas. Os 52
pontos do partido abordaram várias questões vitais da vida nacional, como a necessidade de
um exército composto por cidadãos voluntários, recebendo um salário digno e com a abolição
da dureza e rigor excessivos no código militar. Além disso, defendeu a instrução universal,
livre e laica, incluindo melhores salários para os professores primários, e propostas
relacionadas a "Capital e Trabalho", como jornada de trabalho de oito horas, salário mínimo,
proibição do trabalho para menores de 14 anos, condições de trabalho saudáveis e indenização
por acidentes de trabalho. Também defendeu a soberania mexicana diante do
intervencionismo dos Estados Unidos, adotando uma postura anti-imperialista e
anticapitalista, e apoiou a reforma agrária, propondo o uso de terras ociosas e terras do
governo para proporcionar terra suficiente aos camponeses.

O Partido Liberal Mexicano teve influência marcante em grandes greves no país, como
as de Cananea (1906), Rio Blanco (1907) e San Luis Potosi (1907). Além disso, desempenhou
um papel significativo na formação de uma consciência anti-imperialista, dada a presença de
proprietários estadunidenses nas minas e fábricas, e na repressão da greve de Cananea pelo
Exército do Norte, reforçando a consigna do partido de um levante armado até o triunfo da
revolução.

Duas grandes abordagens para a queda de Porfirio Díaz foram discutidas: o Partido
Liberal Mexicano defendia uma revolução armada e anticapitalista, enquanto Francisco I.
Madero e a antirreeleição buscavam uma mudança não violenta com foco político. A
revolução maderista era reformista, visando preservar e fortalecer o sistema de livre empresa,
enquanto o Partido Liberal Mexicano buscava uma revolução social com a participação de
operários e camponeses. Essas divergências revelavam as contradições e objetivos distintos
entre os principais grupos revolucionários no início da Revolução Mexicana em 1910.

De acordo com Waldir José Rampinelli , os intelectuais desempenharam um papel


crucial como precursores da Revolução Mexicana. O clube de debate El Ateneo de la
Juventud, fundado por José Vasconcelos, Isidro Fabela e Alfonso Reyes, surgiu em 1900,
congregando intelectuais em torno das ideias do liberalismo do século XIX, como
democracia, anticlericalismo e livre empresa. Liderado por Camilo Arriaga, este grupo se
opôs a Porfirio Díaz.
Acerca de aspectos mais específicos da revolução, o exército Libertador do Sul,
liderado por Emiliano Zapata, é predominantemente composto por camponeses, cuja visão da
revolução é localizada, centrada nas suas terras e tradições. Iniciaram sua luta em março de
1911, adotando o lema "Terra e Liberdade". O grupo se tornou o ponto focal nacional de
resistência contra a transação burguesa em Ciudad Juarez, optando pela estratégia de
guerrilhas. O sucesso do Exército deve-se ao apoio dos camponeses e à clareza de seu
programa expresso no Plano de Ayala, que se tornou o símbolo do zapatismo, enfatizando
"Liberdade, Justiça e Lei".

O Plano de Ayala, do artigo 1º ao 3º, lida com as questões políticas após a ruptura com
Madero, enquanto do artigo 9º ao 15º aborda as ações a serem tomadas após a derrota do
regime maderista. O Plano é considerado revolucionário por exigir a restituição imediata das
terras, criar tribunais revolucionários, responsabilizar fazendeiros pela legalidade da
propriedade, priorizar o bem-estar coletivo sobre o individual e estabelecer o direito de defesa
armada das conquistas.

Apesar de sua abordagem anticapitalista, o Plano de Ayala não propõe uma solução
para o problema do poder em si. Segundo Gilly, os limites do zapatismo estão na distribuição
das terras com base nos títulos da época vice-reinal. O Plano rompe com a estrutura do
latifúndio, mas ainda mantém traços da ideologia pequeno-burguesa.

Em seu governo, Villa, também conhecido como Pancho, demonstra características


marcantes. Seu exército, a Divisão do Norte, composta por pequenos proprietários,
trabalhadores temporários e agrícolas, mineiros e lenhadores, é um exemplo máximo de
combate das massas camponesas. Villa se destaca como estrategista, realizando a famosa
conquista de Ciudad Juarez e a tomada simbólica da Cidade do México em 1914. No entanto,
seu programa não é tão elaborado quanto o de Zapata, sendo centrado na figura do líder.

O Manifesto de San Andrés, emitido por Villa em 1916, revela seu programa anti-
imperialista, propondo a abolição da dívida pública, a proibição da propriedade de terras por
estrangeiros, a nacionalização de minas estrangeiras e ferrovias, e o fechamento da fronteira
com os Estados Unidos.

Villa, perseguido pelo governo mexicano e boicotado pelos EUA, busca apoio popular.
Seu governo em Chihuahua é caracterizado por medidas sociais avançadas, incluindo salários
justos, controle de preços, construção de escolas e hospitais. O Centauro do Norte, como é
chamado, adota uma postura radical na terceira fase de sua atuação (1916-1920), envolvendo-
se em guerrilha contra o governo constitucionalista.

Enquanto Zapata é amplamente celebrado no sul, as estátuas de Villa enfrentam


resistência no norte desenvolvido. Villa, um produto das forças obscuras da sociedade
porfiriana, é descrito como uma figura complexa, corajosa até temerária, com características
que vão do amor à ternura à crueldade à barbárie. A sua influência, no entanto, é marcada pela
falta de um programa nacional abrangente.

A Revolução Mexicana, ocorrida no início do século XX, deixou um impacto profundo


e duradouro na sociedade asteca. Dentre suas realizações notáveis, destacam-se a pioneira
reforma agrária na América Latina, reestruturando a posse da terra. Além disso, a Revolução
eliminou obstáculos para a formação de um mercado interno nacional, impulsionando o
crescimento econômico e proporcionando ao país condições favoráveis para o
desenvolvimento industrial autônomo.

Waldir José Rampinelli afirma que a reconfiguração das classes sociais mexicanas foi
uma consequência marcante, acompanhada pelo surgimento da classe média urbana. O
movimento também estabeleceu um Estado de bem-estar-social mais proeminente em
comparação com outras nações latino-americanas. A fundação da Universidade Nacional
Autônoma do México e a implementação de um amplo projeto de alfabetização foram passos
significativos na promoção da educação.

A Revolução Mexicana promulgou a Constituição de 1917, considerada avançada para


a época, consagrando princípios como educação laica e gratuita, proibindo líderes religiosos
de criar escolas primárias. Ademais, houve avanços nas relações entre Estado e iniciativa
privada, especialmente no que diz respeito à propriedade da terra e exploração de recursos
naturais, tornando-se um antecedente influente para constituições em toda a América Latina.

O movimento fortaleceu um conteúdo nacionalista e antirreligioso, implantando um


Estado impulsionador do desenvolvimento econômico. Houve uma renovação completa da
elite política e uma expressão vibrante da cultura popular através do muralismo. A Revolução
Mexicana também contribuiu para a configuração territorial definitiva do país e, por fim,
conduziu à laicização da sociedade mexicana, cujos efeitos ressoam profundamente até os
dias atuais.

Conclusão:
A Revolução Mexicana foi um fenômeno complexo e multifacetado, sendo crucial
analisar suas nuances através da lente das classes sociais mais baixas. A luta por terra, direitos
trabalhistas e igualdade de gênero convergiram em um movimento que transcendeu as
fronteiras tradicionais das revoltas políticas. O legado da Revolução Mexicana permanece
vivo nas estruturas sociais e políticas do México contemporâneo, recordando-nos de que as
vozes das classes mais baixas são, e devem continuar a ser, motoras da mudança social.

A Revolução Mexicana, marcada por sua complexidade e diversidade, revela uma trama
intricada de lutas e transformações, onde as classes sociais mais baixas desempenharam
papéis cruciais. Ao analisarmos esse fenômeno, é imperativo destacar a participação
significativa das mulheres, notadamente as soldaderas, que romperam as barreiras de gênero
ao se envolverem ativamente no conflito armado.

As soldaderas, mulheres que lutaram na Revolução Mexicana, desafiaram as


convenções sociais da época ao se tornarem parte integrante das forças revolucionárias. Elas
não apenas contribuíram para os esforços militares, mas também reivindicaram seus direitos e
papel na sociedade. A luta pela igualdade de gênero entrelaçou-se com as demandas por terra
e direitos trabalhistas, formando um tecido social em constante transformação.

No âmbito da classe trabalhadora, a Revolução Mexicana foi impulsionada por uma


busca por justiça social e condições de trabalho dignas. Camponeses e trabalhadores urbanos
uniram forças na esperança de alcançar uma redistribuição mais equitativa da riqueza e dos
recursos do país. As demandas por terra refletiam não apenas uma busca por autonomia
econômica, mas também uma resistência contra a expropriação de terras indígenas e práticas
que perpetuavam a desigualdade.

A sociedade, durante esse período, foi palco de mudanças profundas. A participação


ativa das classes mais baixas não apenas desencadeou transformações econômicas, mas
também impactou as estruturas sociais e culturais. As relações de poder foram redefinidas,
desafiando a ordem estabelecida e dando voz aos segmentos marginalizados da população.

No entanto, é crucial reconhecer que as contradições também permearam esse


movimento. Enquanto a Revolução Mexicana almejava a justiça social, suas realizações
muitas vezes ficavam aquém das aspirações iniciais, com interesses divergentes emergindo
dentro das próprias fileiras revolucionárias.
O legado da Revolução Mexicana ecoa nas estruturas sociais e políticas do México
contemporâneo, lembrando-nos da importância de preservar e amplificar as vozes das classes
mais baixas. A trajetória dessa revolução nos ensina que a busca por igualdade, justiça e
participação igualitária é um processo contínuo, onde as experiências e aspirações das classes
mais baixas devem ser reconhecidas e integradas no tecido da sociedade em evolução.

Referências:

RAMPINELLI, Waldir. A Revolução Mexicana: seu alcance regional, precursores, a luta de classes
e a relação com os povos originários. Revista Espaço Acadêmico, Paraná, N126, Novembro de 2011.

TOSI, Marcela. LAS SOLDADERAS: MULHERES NA REVOLUÇÃO MEXICANA DE 1910.


Revista Outras Fronteiras, Cuiabá-MT, vol. 3, n. 1, jan/jun., 2016.

ANDRADE, Everaldo. A LUTA DE CLASSES NA REVOLUÇÃO MEXICANA DE 1910. Revista


Mouro ano 2 Mouro 3, 2010.

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