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Pancho Villa, no Norte, e Emiliano Zapata, no Sul, jamais aceitaram depor suas armas,
unem seus exércitos populares e tomam a capital
Como grande parte das informações que recebemos sobre a América Latina pela imprensa vem
filtrada pelas grandes corporações imperialistas de comunicação, não é de se estranhar que
todas as imagens que temos do México estejam carregadas de inúmeros preconceitos.
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O imperialismo ianque não traria prosperidade e progresso para o povo mexicano, mas ao
contrário, desenvolveria a exploração e a opressão em que viviam os camponeses,
aprofundando a tendência de concentração agrária, atacando as terras dos pequenos
camponeses e as tradicionais terras de uso coletivo das comunidades indígenas. Entre o final do
século XIX e início do século XX, as terras mexicanas haviam sofrido uma enorme concentração,
aumentando a quantidade de camponeses sem-terra e alargando a extensão das fazendas de
cana de açúcar e algodão. Tanto o regime de Porfírio Diaz, no poder por mais de 30 anos e em
seu sétimo mandato, mas principalmente a usurpação das terras dos pequenos agricultores
geraram o pano de fundo para a rebelião.
Conseguindo reunir as frações da classe dominante descontentes com o governo de Porfírio Diaz
em torno de um programa de reforma liberal e renovação política, Francisco Madero promete
restituir as terras aos indígenas e camponeses pobres obtendo apoio de um numeroso
contingente popular para a eleição presidencial de 1910. Madero é perseguido e a eleição é
fraudada. Consumada a impossibilidade de transição pacífica, Madero convoca a população à
luta armada. Diversos grupos respondem ao chamado de Madero, Diaz renuncia e são
convocadas novas eleições em 1911, onde Madero consegue 98% dos votos. Entre os que
atendem ao chamado às armas de Madero estão dois generais revolucionários que ficariam
conhecidos em todo mundo, Emiliano Zapata e Francisco Pancho Villa.
Derrubado Porfírio Diaz, Madero não cumpre as promessas de "tierra y liberdad" reivindicadas
pelo programa de revolução agrária zapatista. Novamente os exércitos camponeses se levantam
em armas, desta vez contra Madero. Nesse ínterim Madero é assassinado no episódio que
ficaria conhecido como La Decena Trágica (1913). O general Huerta assume a presidência. O
governador de Coahuila, eleito durante a presidência de Madero, Venustiano Carranza centraliza
o movimento contra Huerta, formando o constitucionalismo. As forças constitucionalistas
estavam divididas entre os exércitos do Noroeste, comandados por Obregón, do Nordeste por
Pablo González Garza e a Divisão Norte, comandada por Pancho Villa. Carranza, como primeiro-
chefe, centraliza o movimento, reinvindicando a volta da constitucionalidade, usurpada por
Huerta. Independente das forças constitucionalistas, o Exército do Sul, liderado por Emiliano
Zapata controla regiões do Centro-Sul, exigindo o cumprimento do Plano de Ayala, o programa
zapatista de Revolução Agrária.
om/cha
A tomada da capital
Os revolucionários avançam em direção à capital mexicana derrotando as forças federais do
governo. Entre os constitucionalistas existiam muitas diferenças sobre os rumos da revolução.
naland)
Enquanto para Carranza o importante era o restabelecimento da lei e da ordem, para Villa era
importante que as lutas contra o governo Huerta significassem mudanças sociais,
(/? particularmente a distribuição de terras aos camponeses.
Durante a Revolução Mexicana por diversos momentos as coisas pareceram caminhar nesse
sentido, à diferença que Villa e Zapata jamais aceitaram depor suas armas, e particularmente
Zapata jamais aceitou negociar ou abrandar o conteúdo revolucionário do Plano de Ayala .
"A ocupação da Cidade do México pelos exércitos camponeses é um dos episódios mais
belos e comovedores de toda a Revolução Mexicana, expressão precoce, violenta e
ordenada da potência das massas que têm deixado até hoje sua marca no país, e um
dos alicerces históricos onde se afirmam, sem que reveses, traições, nem contrastes
possam remover o orgulho e a altivez do campesinato mexicano ." | (GILLY, 1980, p.
141)
Zapata e Villa representavam as forças camponesas da revolução, Villa a força militar mais
importante, que avançando desde o norte havia destroçado o exército federal. Zapata
conquistara uma importante parte do país, região de forte tradição camponesa, antigo território
asteca e sustentava o cumprimento rigoroso de uma revolução agrária. O encontro entre os
dois era muito aguardado e significava o avanço dos interesses populares no processo
revolucionário.
Derrota e repressão
Embora tivessem tomado o poder, não conseguiram erguer um novo. Carranza e os outros
generais constitucionalistas conseguem aproveitar a situação nas regiões onde ainda
mantinham o controle. Estabeleceram o reconhecimento do Governo de Carranza pelo USA,
aproveitaram o período da 1ª Guerra Mundial para desenvolver a exportação e conseguir
recursos, ampliaram alianças com os latifundiários que temiam os exércitos camponeses e
prometeram algumas medidas populares como 8 horas de trabalho, sufrágio universal e
reforma agrária. Depois de algumas batalhas, o general constitucionalista Obregón consegue
om/cha
vencer os exércitos da Convenção dirigidos por Villa. A partir de 1915 a correlação de forças
muda, Villa é derrotado em Bajio e fracassa em tomar a cidade petrolífera de Tampico,
retornando a Chihuahua, no norte do país, para manter a resistência e as forças zapatistas são
obrigadas a retroceder a Morelos.
naland)
Sob o governo de Carranza, em 1917 é promulgada uma constituição reformista e o governo
(/? concentra seus esforços na repressão aos movimentos camponeses. Zapata seria emboscado e
assassinado em 1919 e Villa morreria anos depois.
A Revolução Mexicana não alcançou a palavra de ordem zapatista de "tierra y liberdad" e muito
menos o socialismo, que triunfaria pela primeira vez no mundo com a Revolução Bolchevique de
1917. Mas longe de ter significado uma rebelião de bandidos ou de atrasados camponeses, foi a
primeira revolução do século XX, com um avançado programa de Revolução Agrária, o Plano de
Ayala, aplicado nas regiões controladas pelos revolucionários camponeses enquanto
conseguiram manter o poder.
Seu legado é enorme, inspira a rebeldia de seus compatriotas, nos demonstra a capacidade dos
camponeses latino-americanos de armas em punho de defender seus direitos e apresenta os
limites que uma Revolução Agrária pode ter sem uma aliança com o proletariado.
O historiador argentino Adolfo Gilly, em seu livro A revolução interrompida, nos apresenta uma
visão do processo mexicano ao encontro das aspirações socialistas que se concretizavam em
1917 na Rússia, mas que seria interrompida pela traição da burguesia mexicana em aliança
com o governo do USA, bem como pelos limites programáticos e a direção regionalista
camponesa.
A ligação entre os acontecimentos do México e a Revolução Russa foi feita pelo próprio Zapata,
que não teve a oportunidade de conhecer a experiência soviética por mais de um par de anos,
mas claramente manifestou simpatias pelos revolucionários russos em uma carta ao General
Genaro de 1918:
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Referências :
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naland)CHÁVEZ, Alicia Hernandez. México, Breve Historia Contemporánea , México, D.F.: FCE, 2000.
GILLY, Adolfo. La Revolución Interrumpida: México, 1910-1920: Una guerra campesina por la
(/? tierra y el poder , Mexico, D.F., El Caballito, 1980.
HERZOG, Jesús Silva, Breve Historia de la Revolución Mexicana , México, D.F.: FCE, 1960.
_____. El agrarismo y la reforma agraria: Exposición y critica, México, D.F: FCE, 1959.
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22/02/2020