1 - Analise a Ruptura da Ordem Oligárquica a partir da revolução Mexicana.
A revolução mexicana é entendida como um processo de longa duração e com vários marcos internos, pois o partido revolucionário se manteve cerca 70 anos no poder, no entanto focarei nas etapas iniciais da revolução, cujo um dos objetivos e fins foi a ruptura com a ordem oligárquica. Em 1910, o México era governado pelo ditador Porfírio Diaz e sua rede oligárquica denominada de “cacicados” desde 1876 (com breves interrupções). Seu governo foi marcado por um grande crescimento econômico, mas também com o aumento da desigualdade. Para Hector Camín e Lorenzo Meyer a revolução mexicana não teve sua gênese na pobreza e estagnação, mas pela desordem da expansão de Porfírio. Os investimentos estrangeiros inseriram o México no mercado mundial e o fizeram crescer, mas ao mesmo tempo gerou inflação, que diminuiu o poder de compra dos trabalhadores; a mineração criou uma população flutuante, turbulenta e nacionalista, muito influenciada pelos anarcosindicalistas americanos; as ferrovias dinamizaram a locomoção de pessoas e de escoamento de produtos, mas isolaram os centros sem trilhos (afetando as elites desses lugares) e ainda multiplicaram o preço das terras ociosas; as inovações agrícolas nas grandes propriedades prejudicaram a agricultura camponesa; por fim, a vinculação ao mercado americano gerou empregos, mas ao mesmo tempo submeteu a economia mexicana á suas flutuações. Além das complicações advindas dessa expansão Porfírio enfrentava outros problemas como: Sua pouca flexibilidade com opositores, a “pax porfiriana” era mantida pela repressão do próprio povo (episódio de Rio Blanco e sua inação diante da intervenção americana em Cananea); Porfírio também enfrentava problemas externos com os EUA, pois estava preferindo negociar seu abundante petróleo com empresas européias e, internamente já se formavam grupos opositores organizados. Nesse momento dois principais grupos ascenderam, no sul o zapatismo e no norte o maderismo. O primeiro foi um movimento rural camponês particular da região de Morelos, sendo tradicionalista, exaltava uma utopia da época de colônia e era liderado por Emiliano Zapata, que protestava contra as diversas medidas que prejudicavam os camponeses em favor das oligarquias de Porfírio, principalmente sobre a questão das terras. O movimento nortista surgiu das reivindicações das cidades mineras, por mais qualidade de vida, contra a insegurança de área, que enfrentava a crise agrícola causada pelo padrão ouro e as constantes incursões de bandoleiros, sendo liderado por Francisco Madero, homem vindo das elites locais prejudicadas pelo investimento estrangeiro e pelo poder político das oligarquias porfiristas. Esses dois grupos começaram a ver possibilidade de agir quando em 1908, quando Porfírio permitiu a criação de um partido de oposição, contra o qual disputaria a próxima eleição. Madero foi o candidato da oposição, cruzou o México de forma apostólica fazendo sua campanha, é importante ressaltar que Madero representava muitos interesses, o que já deixava desenhada as divisões entre os revolucionários. Ele queria o fim da oligarquia em benefício de seu próprio grupo, buscava o fim da reeleição dos reyistas, melhores condições de vida para as camadas populares e ainda incorporara os interesses dos zapatistas de devolver aos camponeses as terras que lhes haviam sido expropriadas pelos porfiristas. A fervorosa campanha de Madero o levaria á prisão condicional, da qual fugiu assim que soube da perda da eleição, no Texas, ele declarou as eleições ilegais e convocou um levante armado para retirar Díaz, este ficou conhecido como plano de San Luís. Em Maio de 1911 Porfírio renuncia com o tratado de Ciudad Juarez (que não instituía nenhuma das reformas prometidas por Madero), e após o término do governo provisório e as eleições, Madero assume. A devolução das terras camponesas previstas no Plano de San Luís foram omitidas, o que veio foi o reconhecimento do exército federal e a ordem de desmobilização das guerrilhas (que o apoiaram e derrotaram Porfírio), aos empresários ele causou desconfiança ao alertar que não poderiam mais andar impunemente e apesar de manter uma burocracia semelhante á de Díaz, não teve a simpatia dos restauradores, assim em questão de meses, Francisco Madero se encontrava cercado por muitos de seus antigos apoiadores. O sul já começara a se levantar durante o governo provisório de León de La Barra e se intensificou com a eleição de Madero, Zapata acusou o atual sistema de ser igual ao de Porfírio, além de elaborar o plano Ayala cujo lema era "Reforma, Liberdade, Justiça e Direito". Pascual Orozco, foi um general ressentido de Madero por este não lhe dar o devido valor por não cumprir suas promessas de campanha, estava cotado para assumir o comando do plano Ayala, mas em 1912 lançou o plano da Empacadora, que visava direitos sociais aos camponeses de forma mais flexível que o plano de Zapata, além da condenação de Madero. O movimento de Orozco começou com algumas vitórias, contando com apoio de Zapata e Felix Díaz (Sobrinho de Porfírio), mas as forças do exército federal liderado pelo general Victoriano Huerta acabaram por superá-lo, de forma que no mesmo ano maioria dos movimentos que desafiavam Madero haviam caído, como a conspiração de Vasquez e o plano da Empacadora, o Zapatismo por sua vez, segundo Meyer e Camín não apresentava uma ameaça concreta devido sua localização. O fim dos conflitos armados não significou a estabilidade para o governo. Apesar das concessões feitas aos trabalhadores e aos industriais, o inicio tímida de uma reforma agrária e a garantia de liberdades individuais, a desconfiança se manteve, uma das razões para tal foram os ataques da imprensa que ridicularizava o presidente de maneira exagerada (o que contribuiu para mais instabilidade), os EUA, convencidos de que Madero não tinha capacidade de governar, começou a se mover para retirá-lo do poder (com acusações e ameaças de intervenção). Uma rebelião explodiu em 1913 libertando líderes rebeldes na capital, Madero escolheu Huerta como general para lidar com o assunto. Durante as negociações com os rebeldes os EUA avisaram Huerta que ele teria todo apoio caso assumisse a presidência, o que culminou na sua aliança com os rebeldes e mais tarde na renuncia forçada do presidente, Huerta ainda optaria por assassinar Madero á sangue frio. Huerta foi nomeado ministro interior pelo presidente da câmara, que se demitiria em seguida para que o general pudesse assumir de forma “legal” a função de presidente. Como tal, ele foi um ditador, em poucos meses já havia dissolvido o congresso, além de prender e assassinar opositores. O ex- general também precisou lidar desde o começo com quatro grupos rebeldes: O norte de Carranza, o sul de Zapata, os homens de Sonora e Chihuahua de Villa. Os quatro grupos viriam á se unir através do plano Guadalupe e derrubariam Huerta, no entanto, eles tinham motivações diferentes para tal, que se mostram com mais força após a derrota de Huerta. Venustiano Carranza enxergava que a única maneira dos maderistas sobreviverem era com a deposição de Huerta, foi o elaborador do plano Guadalupe, que deslegitimava o governo de Huerta e qualquer um de seus apoiadores. Francisco Villa ascendeu com a morte do governador de Chihuahua, era um líder carismático, segundo Meyer e Camín de fúria incontrolável e demasiadamente violento, sendo um homem que desejava voltar á um passado idealizado no campo, esse comportamento, segundo Américo Nunes refletia em suas decisões políticas, geralmente estimuladas por seu humor. Álvaro Obregón e o resto dos chefes soroneses tinham seu poderio político graças á revolução mexicana que expulsou da velha oligarquia, enquanto sua força militar fora herança das escaramuças com os ozorquistas, logo, quando Huerta os pressionou por apoio estes o recusaram. As motivações zapatistas continuavam ligadas ao plano Ayala, se posicionaram contra Huerta quando este recusou, liderando a frente libertadora do sul. A mudança de governo nas eleições dos EUA isolou ainda mais o presidente mexicano, pois o governo americano desejava um México pacificado e democrático, ou seja, as garantias feitas pelo antigo governo americano não valiam mais, os americanos chegaram a invadir o México, o que causou a irritação dos rebeldes. Em 1914 Huerta já estava derrotado e as partes vitoriosas se reuniram na convenção de Aguacalientes para definir os rumos da revolução, no entanto, as diferenças entre os revolucionários não puderam ser superadas devido aos diferentes projetos que cada um tinha. Carranza era um homem de estado, enxergava o México como uma só unidade e via o villismo e o zapatismo como um perigo para a unidade do país. O sul não se vê representado e rompe com Carranza em defesa do plano Ayala, enquanto Villa se radicalizava cada vez mais e se vendo mais próximo de Zapata. Os homens de Sonora viam Carranza como conservador demais, enquanto os outros dois seriam demasiadamente radicais. A convenção acabou por nomear Villa como chefe da divisão norte e Eulalio Gutiérrez como presidente interino, estes também desautorizariam Carranza e adotaram o plano Ayala, o que lhes trouxe o apoio de Zapata, logo, outro grupo liderado por Carranza e Óbregon teria de ir á guerra mais uma vez. A convenção tinha muitos lideres de opiniões divergentes: Villa continuava com política agressiva e imprevisível, Felipe Angeles queria apoio americano, já o ex-governante de Sonora, Mayatorena começou a devolver terras expropriadas pelos camponeses aos porfiristas, o que contribuiu para o enfraquecimento e retorno á forma original desses movimentos em 1916. Enquanto isso Carranza e Obregón se beneficiaram da imobilidade das tropas da convenção, pois estes movimentos regionalistas não buscavam sair de seus territórios, o que lhes deu tempo para buscarem apoio dos camponeses com a promessa da lei agrária, que prometia devolução das terras á comunidade e direito á terra para todo camponês (enfraquecendo Zapata); dos trabalhadores urbanos, com medidas emergenciais para combater a fome nas zonas devastadas pelas guerras além de confiscarem uma companhia telefônica e a colocaram nas mãos do sindicato; do operariado (até da Casa do Operário Mundial) ao usarem o nacionalismo dos mexicanos explorados por estrangeiros; e dos fazendeiros conservadores, aos quais Carranza prometeu (em segredo) o descumprimento da lei agrária que ele mesmo propôs. Era o inicio da vitória do México jacobino laico encima do antigo México católico. O governo de Carranza também se mostrou caótico, o país estava arrasado numa catástrofe monetária, a lei agrária não estava sendo cumprida, o banditismo aumentava em grande escala com verdadeiros caciques do crime em diversas regiões, Villa invadira os EUA gerando uma crise internacional, ocorriam protesto por melhores condições de vida em todo o país. Carranza ainda viu Óbregon e boa parte dos militares romper com o governo quando começou a privilegiar civis de caráter conservador huertista. Óbregon se organizou no plano àgua prieta para retirar Carranza do poder e é eleito presidente após um governo interino, onde tentaria conciliar interesses agrários nacionais com os dos EUA , e conseguiria um acordo de paz com Villa no norte, não tendo que se preocupar com Zapata (pois Carranza o assassinara), também teve governo marcado por investimento em educação. Chegando finalmente a uma conclusão, não podemos falar numa ruptura significativa com as oligarquias nos primeiros anos da revolução mexicana. Madero e Carranza não procuravam uma nova república, mas sim um novo governo, apenas com uma renovação das forças dominantes, é claro que os dois em alguma medida tiveram que ceder (Madero tentou fazer concessões enquanto Carranza distribuiu 173 mil hectares para 44mil camponeses (segundo Meyer e Camín)), mas estes ainda tentaram se consolidar sobre uma estrutura semelhante á de Porfírio Díaz, apenas utilizando as camadas populares como degraus para alcançar o poder. Zapata e Villa apesar de romperem com as oligarquias rurais, não tinham um projeto nacional, suas propostas cabiam aos grupos específicos de suas regiões. Óbregon aparece como líder capitalista progressista, e apesar de precisar se equilibrar com as demandas americanas, não tenta um retorno ás velhas práticas do “tigre amarrado”. Bibliografia: AGUILAR CAMÍN, Héctor & MEYER, Lorenzo.”As Revoluções são a Revolução 1910- 1920″. À Sombra da Revolução Mexicana. História Mexicana Contemporânea, 1910-1989. São Paulo:EDUSP, 2000. AGUILAR CAMÍN, Héctor & MEYER, Lorenzo.”No Caminho de Madero 1910-1913″. À Sombra da Revolução Mexicana. História Mexicana Contemporânea, 1910-1989. São Paulo:USP, 2000. NUNES,Américo.”Problemas e querelas de interpretação”.As Revoluções no México.São Paulo: Perspectiva, 1980
3) Quais os impactos a Crise de 1929 na economia, política, sociedade e/ou a cultura da
América Latina?
A crise de 29 está entre um dos acontecimentos mais importantes do século XX devido
á extensão dos países atingidos e á profundidade de mudanças em nos diversos aspectos do futuro dessas nações, definindo o papel do estado que conhecemos hoje e estabelecendo as linhas de força por quase todo o resto do século. A crise na América Latina é a crise da periferia, de países economicamente dependentes dos grandes centros, que passarão por uma série de rebuliços internos causados pela crise, enquanto precisam lidar com as flutuações do mercado externo e a agenda das grandes potências. Em 1929, 1ª guerra mundial já havia acabado há quase 11 anos, os EUA estavam consolidados como a grande potência mundial depois de lucrar com a reestruturação européia e com as lacunas deixadas por suas empresas na América Latina no começo da 1ª guerra, tomando para si o papel de satélite para boa parte dessas repúblicas, nas quais abriu filiais de diversas empresas, principalmente bancos. No entanto, a Europa já havia começado sua recuperação. Fazendo o consumo retrair e diminuindo a venda de exportação dos EUA, apesar da produção não mostrar sinais de diminuir, o Estado nada fez, pois o laissez-faire não permitia sua intervenção. Os sinais da crise eram mascarados pela prosperidade do American Way of Life, refletido não apenas no consumismo americano, mas também na cultura e investimento na bolsa de valores, presente em todas as classes sociais, inclusive os bancos, em outubro de 1929, a bolha especulativa criada por essa ilusão estourou e quebrou bolsa de Nova York quando uma grande quantidade de ações foi postas á venda, fazendo com que as mesmas chegassem á um valor insignificante e como os EUA eram a potência hegemônica de economia mundial, conectada a investidores de todo ocidente capitalista, o desastre foi global. Na América Latina, as repúblicas adotaram o padrão ouro por influência anglo americana, tendo como sua principal vantagem o suposto ajuste automático de qualquer eventual desequilíbrio externo, pois, no caso de baixas de exportações, as divisas/ouro do país seriam drenados, reduzindo oferta de créditos e de moeda, fazendo com que a concentração monetária baixasse o nível dos preços para tornar importações mais caras e as exportações mais competitivas, até que o mercado se equilibrasse. Muitas dessas repúblicas seguiram as instruções de Edwin Keremer, que além de estimular a adoção do padrão ouro, incentivava a criação de bancos centrais e disciplina monetária, e segundo Rosemary Thorpe, o crash da bolsa seria o primeiro teste dessa missão, a qual não atingiu o resultado esperado, as exportações caíram de tal maneira que suas divisas foram consumidas rapidamente, uma vez que a falta de entrada de capital e gastos com a dívida externa faziam com que o número de corte das importações tivesse que ser impossivelmente baixo. A maioria passaria a usar o dólar ou a libra esterlina como referência, somados com uso de políticas de estabilização. A primeira conseqüência da quebra da bolsa para a América Latina foi a contração do consumo e por conseqüência a diminuição do preço de diversos produtos primários, o que prejudicou grande parte dos países americanos, que dependiam majoritariamente de produtos agrários e (com exceção da Argentina) dependia majoritariamente de apenas um produto, como o Brasil com o café ou Cuba com o açúcar, no entanto é preciso ressaltar que cada país reagiu de forma diferente á crise, justamente pela diferença do que produziam, pela variedade de suas exportações, pois como Thorpe define, houve uma “Loteria de Commodities”, ou seja, alguns países em face de determinadas condições tinham seus produtos valorizados, ou melhor, menos desvalorizados. A Venezuela foi protegida pelo petróleo que detinha, assim como Honduras se viu ajudada por um conjunto de empresas que visava concentrar ali a grande produção de bananas, ou o Chile, que viu uma grande baixa no preço do cobre, seu principal produto, mas ao final da década de 30, com a aproximação da 2ª guerra, assistiu o disparo do valor do cobre, muito utilizado na indústria bélica, ou seja Era uma loteria justamente por causa do certo grau de imprevisibilidade da valorização de determinado produto. A segunda conseqüência foi a redução da oferta de crédito, graças á dificuldade que as repúblicas latino americanas tinham de pagar os empréstimos aos EUA e á Europa, principalmente por que a taxa real de juros sobre a dívida externa continuava a aumentar, o que fazia com que os países precisassem destinar parte de suas divisas ao pagamento dessa dívida ao invés de alocar a verba em soluções para a crise, isso também limitava importações, o que reduzia o gasto do governo, todavia, uma das principais formas de arrecadação desses países era o imposto sobre as importações. Até 1931, muitos países tinham o interesse de manter os pagamentos da dívida para manter a oferta de crédito do mercado internacional, mas quando o crédito deixou de ser oferecido, a maioria dos países parou de pagar e declarou moratória, apenas países como a Argentina que mantinha fortes laços com a Inglaterra (sua credora) e países que sofriam grande intervenção americana como a Nicarágua é que se comprometeram á pagar a dívida. Os países da América Latina tiveram de adotar políticas para conter a crise das mais diversas maneiras, como a adoção da taxa dupla de câmbio (a qual uma delas era permitida flutuar livremente e era usada para transações pouco usuais), racionamento de importações e controle cambial, alguns países da America central conseguiram o equilíbrio usando suas reservas internacionais pra financiar o déficit. No final de 1932 o equilíbrio externo já estava restabelecido e,segundo Thorpe, este era inevitável, pois a maioria das república não podia pagar importações com a própria moeda, e como a oferta de moeda estrangeira era limitada, impossibilitava mais importações. O equilíbrio interno não veio tão cedo, boa parte dos países que haviam abandonado o padrão ouro podiam imprimir moeda para financiar seu déficit interno, o excedente de moedas estimularia os gastos internos, tendo possibilidade dessa política monetária “frouxa” agilizar a fuga da depressão. A já mencionada estratégia de deixar da moratória sobre a divida externa foi uma dessas medidas, mas ao aliviara pressão fiscal da dívida, muitos países deixaram cortar gastos com importação, mantendo assim o déficit interno. A maioria dos países não tinha uma indústria avançada ou mesmo um setor não- exportador sólido, mas que viria a ser melhor desenvolvido com a política de substituição de importações, ao mesmo tempo, muitos países usaram da agricultura para substituição de importações, ou seja, as repúblicas latino-americanas estavam deixando de gastar com importações, usando do setor não exportador para suprir essas necessidades, na maioria das vezes se deixava para produção externa os bens de consumo não duráveis, deixando as importações para aquilo que não tinham possibilidade de produzir. No entanto, segundo Thorpe, as exportações continuaram sendo as mais importantes para recuperação da crise, pois a ASI e ISI contribuíam menos para o PIB (apesar de gerarem uma mudança estrutural benéfica). Os principais motivos para a solidez das exportações foi a insistência dos governos nos produtos tradicionais, a melhora das relações liquidas de trocas a partir de 1932 e a já citada loteria de commodities, que era de grande ajuda a esses países quando demonstrava valorização de produtos de exportação. A crise de 29 não trouxe apenas agitações econômicas, na própria América latina houve diversas trocas de governo, por eleições de partidos com ideologias diferentes ou até mesmo golpes de estado (como aconteceu na revolução de 30 no Brasil). Conflitos entre países latino-americanos também eram indícios dessa crise, como a guerra entre Peru e Colômbia por regiões de produção de borracha, assim como a guerra entre Bolívia e Paraguai pelo controle do território do Chaco Boreal, visando a produção de borracha e mais tardiamente sua disputa patrocinada por empresas estrangeiras rivais, que visavam explorar petróleo na região. Viu-se também um aumento da discussão dos partidos de classe média entre o anti-imperialismo (Sandino de Nicarágua) e o reformismo (APRA do Peru), as duas corrente defendam a manutenção da harmonia, mas Sandino, por sofrer intervenção mais direta dos EUA, pregava o anti-imperialismo ao invés da integração regional. Já os conservadores optavam pela repressão como forma de manter a ordem, e geralmente o faziam por meio de poderosas oligarquias, apesar das diferenças, todos esses queriam evitar a desordem de uma revolução. A crise também trouxe o advento da extrema direita na forma de fascismo e nazismo, que se utilizou do caos para ganhar apoio popular e se firmar, ao mesmo tempo, o socialismo soviético que permaneceu quase inabalado pela quebra da bolsa, acreditava que essa seria a grande queda do capitalismo. Na América Latina o fascismo crescia com uma série de imigrantes, principalmente italianos, que traziam suas idéias de anti-elitismo e anti- comunismo consigo, além do grande atrativo do ocultismo que essas correntes tinham, ainda havia o fato da grande recuperação econômica do sistema, em especial o Aksi-marco, que tinha possibilidade de comercializar com os países. Esse foi um dos motivos para a mudança da política internacional dos EUA de intervenções a la big stick para uma política de boa vizinhança harmônica, visando impedir o fascismo em suas redondezas. A esquerda na América latina tomou a forma do Antifascismo, com as frentes populares PCs e PSs e o Anti- imperialismo que tomava os EUA como seu principal inimigo. Ainda é possível falar na froça da doutrina comunista, cujo a repressão dos governos mostra a força significativa que tinham. A crise impactou cada país de uma maneira, e a sociedade de cada um reagiu de forma diferente á essas diversidades, as migrações, o desemprego e a desigualdade, a utilização da força trabalhadora feminina, todos esses rebuliços na cultura dos países é refletida na arte e na literatura. Robert Artl, escritor argentino, tratava em suas obras de personagens inseridos em contextos de dificuldades como em El Horobadito de 1926 ou Los lanzallamas de 1931 que falava do fracasso do plano revolucionário. O mesmo acontecia na melancólica musica “Cambalache”(1934) de Enrique Santos Discepolo. A criação do Superaman nos EUA apesar de tardía (1938), tinha o objetivo de dar o povo americano um herói. Outros diversos pintores como Diego Riveras retratavam os trabalhadores e diversos outros aspectos na vida da crise. Assim, pelos impactos aqui descritos, podemos ver que a crise foi o ponto de partida para função dos estados, para a reforma do capitalismo e liberalismo; para o crescimento de correntes de ódio de extrema direita que viriam a causar a 2ª guerra mundial; de novas expressões artísticas e maneiras de ver a sociedade; para maior desenvolvimento da industria e urbanização dos países da América latina. O que a faz dela um dos eventos mais importantes para entendermos o mundo que vivemos hoje. Bibliografia: THORPE,Rosemary. A América Latina e a economia internacional da primeira guerra à grande depressão.In:Bethell,Leslie(Org.).História da América Latina.Volume IV.São Paulo:Edusp,2002 FERRERAS. Norberto O. A Crise de 1929 e os seus efeitos na América Latina. 2019. 24 slides
Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições