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1ª PROVA DE AMÉRICA III

Aluno: Eduardo Chu Professor: Norberto Ferreras

1 - Analise a Ruptura da Ordem Oligárquica a partir da revolução Mexicana.


A revolução mexicana é entendida como um processo de longa duração e com vários
marcos internos, pois o partido revolucionário se manteve cerca 70 anos no poder, no entanto
focarei nas etapas iniciais da revolução, cujo um dos objetivos e fins foi a ruptura com a
ordem oligárquica. Em 1910, o México era governado pelo ditador Porfírio Diaz e sua rede
oligárquica denominada de “cacicados” desde 1876 (com breves interrupções). Seu governo
foi marcado por um grande crescimento econômico, mas também com o aumento da
desigualdade.
Para Hector Camín e Lorenzo Meyer a revolução mexicana não teve sua gênese na
pobreza e estagnação, mas pela desordem da expansão de Porfírio. Os investimentos
estrangeiros inseriram o México no mercado mundial e o fizeram crescer, mas ao mesmo
tempo gerou inflação, que diminuiu o poder de compra dos trabalhadores; a mineração criou
uma população flutuante, turbulenta e nacionalista, muito influenciada pelos
anarcosindicalistas americanos; as ferrovias dinamizaram a locomoção de pessoas e de
escoamento de produtos, mas isolaram os centros sem trilhos (afetando as elites desses
lugares) e ainda multiplicaram o preço das terras ociosas; as inovações agrícolas nas grandes
propriedades prejudicaram a agricultura camponesa; por fim, a vinculação ao mercado
americano gerou empregos, mas ao mesmo tempo submeteu a economia mexicana á suas
flutuações. Além das complicações advindas dessa expansão Porfírio enfrentava outros
problemas como: Sua pouca flexibilidade com opositores, a “pax porfiriana” era mantida pela
repressão do próprio povo (episódio de Rio Blanco e sua inação diante da intervenção
americana em Cananea); Porfírio também enfrentava problemas externos com os EUA, pois
estava preferindo negociar seu abundante petróleo com empresas européias e, internamente já
se formavam grupos opositores organizados.
Nesse momento dois principais grupos ascenderam, no sul o zapatismo e no norte o
maderismo. O primeiro foi um movimento rural camponês particular da região de Morelos,
sendo tradicionalista, exaltava uma utopia da época de colônia e era liderado por Emiliano
Zapata, que protestava contra as diversas medidas que prejudicavam os camponeses em favor
das oligarquias de Porfírio, principalmente sobre a questão das terras. O movimento nortista
surgiu das reivindicações das cidades mineras, por mais qualidade de vida, contra a
insegurança de área, que enfrentava a crise agrícola causada pelo padrão ouro e as constantes
incursões de bandoleiros, sendo liderado por Francisco Madero, homem vindo das elites
locais prejudicadas pelo investimento estrangeiro e pelo poder político das oligarquias
porfiristas. Esses dois grupos começaram a ver possibilidade de agir quando em 1908, quando
Porfírio permitiu a criação de um partido de oposição, contra o qual disputaria a próxima
eleição.
Madero foi o candidato da oposição, cruzou o México de forma apostólica fazendo sua
campanha, é importante ressaltar que Madero representava muitos interesses, o que já deixava
desenhada as divisões entre os revolucionários. Ele queria o fim da oligarquia em benefício de
seu próprio grupo, buscava o fim da reeleição dos reyistas, melhores condições de vida para
as camadas populares e ainda incorporara os interesses dos zapatistas de devolver aos
camponeses as terras que lhes haviam sido expropriadas pelos porfiristas. A fervorosa
campanha de Madero o levaria á prisão condicional, da qual fugiu assim que soube da perda
da eleição, no Texas, ele declarou as eleições ilegais e convocou um levante armado para
retirar Díaz, este ficou conhecido como plano de San Luís.
Em Maio de 1911 Porfírio renuncia com o tratado de Ciudad Juarez (que não instituía
nenhuma das reformas prometidas por Madero), e após o término do governo provisório e as
eleições, Madero assume. A devolução das terras camponesas previstas no Plano de San Luís
foram omitidas, o que veio foi o reconhecimento do exército federal e a ordem de
desmobilização das guerrilhas (que o apoiaram e derrotaram Porfírio), aos empresários ele
causou desconfiança ao alertar que não poderiam mais andar impunemente e apesar de manter
uma burocracia semelhante á de Díaz, não teve a simpatia dos restauradores, assim em
questão de meses, Francisco Madero se encontrava cercado por muitos de seus antigos
apoiadores.
O sul já começara a se levantar durante o governo provisório de León de La Barra e se
intensificou com a eleição de Madero, Zapata acusou o atual sistema de ser igual ao de
Porfírio, além de elaborar o plano Ayala cujo lema era "Reforma, Liberdade, Justiça e
Direito". Pascual Orozco, foi um general ressentido de Madero por este não lhe dar o devido
valor por não cumprir suas promessas de campanha, estava cotado para assumir o comando do
plano Ayala, mas em 1912 lançou o plano da Empacadora, que visava direitos sociais aos
camponeses de forma mais flexível que o plano de Zapata, além da condenação de Madero. O
movimento de Orozco começou com algumas vitórias, contando com apoio de Zapata e Felix
Díaz (Sobrinho de Porfírio), mas as forças do exército federal liderado pelo general
Victoriano Huerta acabaram por superá-lo, de forma que no mesmo ano maioria dos
movimentos que desafiavam Madero haviam caído, como a conspiração de Vasquez e o plano
da Empacadora, o Zapatismo por sua vez, segundo Meyer e Camín não apresentava uma
ameaça concreta devido sua localização.
O fim dos conflitos armados não significou a estabilidade para o governo. Apesar das
concessões feitas aos trabalhadores e aos industriais, o inicio tímida de uma reforma agrária e
a garantia de liberdades individuais, a desconfiança se manteve, uma das razões para tal foram
os ataques da imprensa que ridicularizava o presidente de maneira exagerada (o que
contribuiu para mais instabilidade), os EUA, convencidos de que Madero não tinha
capacidade de governar, começou a se mover para retirá-lo do poder (com acusações e
ameaças de intervenção). Uma rebelião explodiu em 1913 libertando líderes rebeldes na
capital, Madero escolheu Huerta como general para lidar com o assunto. Durante as
negociações com os rebeldes os EUA avisaram Huerta que ele teria todo apoio caso assumisse
a presidência, o que culminou na sua aliança com os rebeldes e mais tarde na renuncia forçada
do presidente, Huerta ainda optaria por assassinar Madero á sangue frio. Huerta foi nomeado
ministro interior pelo presidente da câmara, que se demitiria em seguida para que o general
pudesse assumir de forma “legal” a função de presidente. Como tal, ele foi um ditador, em
poucos meses já havia dissolvido o congresso, além de prender e assassinar opositores. O ex-
general também precisou lidar desde o começo com quatro grupos rebeldes: O norte de
Carranza, o sul de Zapata, os homens de Sonora e Chihuahua de Villa.
Os quatro grupos viriam á se unir através do plano Guadalupe e derrubariam Huerta,
no entanto, eles tinham motivações diferentes para tal, que se mostram com mais força após a
derrota de Huerta. Venustiano Carranza enxergava que a única maneira dos maderistas
sobreviverem era com a deposição de Huerta, foi o elaborador do plano Guadalupe, que
deslegitimava o governo de Huerta e qualquer um de seus apoiadores. Francisco Villa
ascendeu com a morte do governador de Chihuahua, era um líder carismático, segundo Meyer
e Camín de fúria incontrolável e demasiadamente violento, sendo um homem que desejava
voltar á um passado idealizado no campo, esse comportamento, segundo Américo Nunes
refletia em suas decisões políticas, geralmente estimuladas por seu humor. Álvaro Obregón e
o resto dos chefes soroneses tinham seu poderio político graças á revolução mexicana que
expulsou da velha oligarquia, enquanto sua força militar fora herança das escaramuças com os
ozorquistas, logo, quando Huerta os pressionou por apoio estes o recusaram. As motivações
zapatistas continuavam ligadas ao plano Ayala, se posicionaram contra Huerta quando este
recusou, liderando a frente libertadora do sul. A mudança de governo nas eleições dos EUA
isolou ainda mais o presidente mexicano, pois o governo americano desejava um México
pacificado e democrático, ou seja, as garantias feitas pelo antigo governo americano não
valiam mais, os americanos chegaram a invadir o México, o que causou a irritação dos
rebeldes.
Em 1914 Huerta já estava derrotado e as partes vitoriosas se reuniram na convenção de
Aguacalientes para definir os rumos da revolução, no entanto, as diferenças entre os
revolucionários não puderam ser superadas devido aos diferentes projetos que cada um tinha.
Carranza era um homem de estado, enxergava o México como uma só unidade e via o
villismo e o zapatismo como um perigo para a unidade do país. O sul não se vê representado e
rompe com Carranza em defesa do plano Ayala, enquanto Villa se radicalizava cada vez mais
e se vendo mais próximo de Zapata. Os homens de Sonora viam Carranza como conservador
demais, enquanto os outros dois seriam demasiadamente radicais. A convenção acabou por
nomear Villa como chefe da divisão norte e Eulalio Gutiérrez como presidente interino, estes
também desautorizariam Carranza e adotaram o plano Ayala, o que lhes trouxe o apoio de
Zapata, logo, outro grupo liderado por Carranza e Óbregon teria de ir á guerra mais uma vez.
A convenção tinha muitos lideres de opiniões divergentes: Villa continuava com
política agressiva e imprevisível, Felipe Angeles queria apoio americano, já o ex-governante
de Sonora, Mayatorena começou a devolver terras expropriadas pelos camponeses aos
porfiristas, o que contribuiu para o enfraquecimento e retorno á forma original desses
movimentos em 1916. Enquanto isso Carranza e Obregón se beneficiaram da imobilidade das
tropas da convenção, pois estes movimentos regionalistas não buscavam sair de seus
territórios, o que lhes deu tempo para buscarem apoio dos camponeses com a promessa da lei
agrária, que prometia devolução das terras á comunidade e direito á terra para todo camponês
(enfraquecendo Zapata); dos trabalhadores urbanos, com medidas emergenciais para combater
a fome nas zonas devastadas pelas guerras além de confiscarem uma companhia telefônica e a
colocaram nas mãos do sindicato; do operariado (até da Casa do Operário Mundial) ao usarem
o nacionalismo dos mexicanos explorados por estrangeiros; e dos fazendeiros conservadores,
aos quais Carranza prometeu (em segredo) o descumprimento da lei agrária que ele mesmo
propôs. Era o inicio da vitória do México jacobino laico encima do antigo México católico.
O governo de Carranza também se mostrou caótico, o país estava arrasado numa
catástrofe monetária, a lei agrária não estava sendo cumprida, o banditismo aumentava em
grande escala com verdadeiros caciques do crime em diversas regiões, Villa invadira os EUA
gerando uma crise internacional, ocorriam protesto por melhores condições de vida em todo o
país. Carranza ainda viu Óbregon e boa parte dos militares romper com o governo quando
começou a privilegiar civis de caráter conservador huertista. Óbregon se organizou no plano
àgua prieta para retirar Carranza do poder e é eleito presidente após um governo interino,
onde tentaria conciliar interesses agrários nacionais com os dos EUA , e conseguiria um
acordo de paz com Villa no norte, não tendo que se preocupar com Zapata (pois Carranza o
assassinara), também teve governo marcado por investimento em educação.
Chegando finalmente a uma conclusão, não podemos falar numa ruptura significativa
com as oligarquias nos primeiros anos da revolução mexicana. Madero e Carranza não
procuravam uma nova república, mas sim um novo governo, apenas com uma renovação das
forças dominantes, é claro que os dois em alguma medida tiveram que ceder (Madero tentou
fazer concessões enquanto Carranza distribuiu 173 mil hectares para 44mil camponeses
(segundo Meyer e Camín)), mas estes ainda tentaram se consolidar sobre uma estrutura
semelhante á de Porfírio Díaz, apenas utilizando as camadas populares como degraus para
alcançar o poder. Zapata e Villa apesar de romperem com as oligarquias rurais, não tinham
um projeto nacional, suas propostas cabiam aos grupos específicos de suas regiões. Óbregon
aparece como líder capitalista progressista, e apesar de precisar se equilibrar com as
demandas americanas, não tenta um retorno ás velhas práticas do “tigre amarrado”.
Bibliografia:
AGUILAR CAMÍN, Héctor & MEYER, Lorenzo.”As Revoluções são a Revolução 1910-
1920″. À Sombra da Revolução Mexicana. História Mexicana Contemporânea, 1910-1989.
São Paulo:EDUSP, 2000.
AGUILAR CAMÍN, Héctor & MEYER, Lorenzo.”No Caminho de Madero 1910-1913″. À
Sombra da Revolução Mexicana. História Mexicana Contemporânea, 1910-1989. São
Paulo:USP, 2000.
NUNES,Américo.”Problemas e querelas de interpretação”.As Revoluções no México.São
Paulo: Perspectiva, 1980

3) Quais os impactos a Crise de 1929 na economia, política, sociedade e/ou a cultura da


América Latina?

A crise de 29 está entre um dos acontecimentos mais importantes do século XX devido


á extensão dos países atingidos e á profundidade de mudanças em nos diversos aspectos do
futuro dessas nações, definindo o papel do estado que conhecemos hoje e estabelecendo as
linhas de força por quase todo o resto do século. A crise na América Latina é a crise da
periferia, de países economicamente dependentes dos grandes centros, que passarão por uma
série de rebuliços internos causados pela crise, enquanto precisam lidar com as flutuações do
mercado externo e a agenda das grandes potências.
Em 1929, 1ª guerra mundial já havia acabado há quase 11 anos, os EUA estavam
consolidados como a grande potência mundial depois de lucrar com a reestruturação européia
e com as lacunas deixadas por suas empresas na América Latina no começo da 1ª guerra,
tomando para si o papel de satélite para boa parte dessas repúblicas, nas quais abriu filiais de
diversas empresas, principalmente bancos. No entanto, a Europa já havia começado sua
recuperação. Fazendo o consumo retrair e diminuindo a venda de exportação dos EUA, apesar
da produção não mostrar sinais de diminuir, o Estado nada fez, pois o laissez-faire não
permitia sua intervenção. Os sinais da crise eram mascarados pela prosperidade do American
Way of Life, refletido não apenas no consumismo americano, mas também na cultura e
investimento na bolsa de valores, presente em todas as classes sociais, inclusive os bancos,
em outubro de 1929, a bolha especulativa criada por essa ilusão estourou e quebrou bolsa de
Nova York quando uma grande quantidade de ações foi postas á venda, fazendo com que as
mesmas chegassem á um valor insignificante e como os EUA eram a potência hegemônica de
economia mundial, conectada a investidores de todo ocidente capitalista, o desastre foi global.
Na América Latina, as repúblicas adotaram o padrão ouro por influência anglo
americana, tendo como sua principal vantagem o suposto ajuste automático de qualquer
eventual desequilíbrio externo, pois, no caso de baixas de exportações, as divisas/ouro do país
seriam drenados, reduzindo oferta de créditos e de moeda, fazendo com que a concentração
monetária baixasse o nível dos preços para tornar importações mais caras e as exportações
mais competitivas, até que o mercado se equilibrasse. Muitas dessas repúblicas seguiram as
instruções de Edwin Keremer, que além de estimular a adoção do padrão ouro, incentivava a
criação de bancos centrais e disciplina monetária, e segundo Rosemary Thorpe, o crash da
bolsa seria o primeiro teste dessa missão, a qual não atingiu o resultado esperado, as
exportações caíram de tal maneira que suas divisas foram consumidas rapidamente, uma vez
que a falta de entrada de capital e gastos com a dívida externa faziam com que o número de
corte das importações tivesse que ser impossivelmente baixo. A maioria passaria a usar o
dólar ou a libra esterlina como referência, somados com uso de políticas de estabilização.
A primeira conseqüência da quebra da bolsa para a América Latina foi a contração do
consumo e por conseqüência a diminuição do preço de diversos produtos primários, o que
prejudicou grande parte dos países americanos, que dependiam majoritariamente de produtos
agrários e (com exceção da Argentina) dependia majoritariamente de apenas um produto,
como o Brasil com o café ou Cuba com o açúcar, no entanto é preciso ressaltar que cada país
reagiu de forma diferente á crise, justamente pela diferença do que produziam, pela variedade
de suas exportações, pois como Thorpe define, houve uma “Loteria de Commodities”, ou seja,
alguns países em face de determinadas condições tinham seus produtos valorizados, ou
melhor, menos desvalorizados. A Venezuela foi protegida pelo petróleo que detinha, assim
como Honduras se viu ajudada por um conjunto de empresas que visava concentrar ali a
grande produção de bananas, ou o Chile, que viu uma grande baixa no preço do cobre, seu
principal produto, mas ao final da década de 30, com a aproximação da 2ª guerra, assistiu o
disparo do valor do cobre, muito utilizado na indústria bélica, ou seja Era uma loteria
justamente por causa do certo grau de imprevisibilidade da valorização de determinado
produto.
A segunda conseqüência foi a redução da oferta de crédito, graças á dificuldade que as
repúblicas latino americanas tinham de pagar os empréstimos aos EUA e á Europa,
principalmente por que a taxa real de juros sobre a dívida externa continuava a aumentar, o
que fazia com que os países precisassem destinar parte de suas divisas ao pagamento dessa
dívida ao invés de alocar a verba em soluções para a crise, isso também limitava importações,
o que reduzia o gasto do governo, todavia, uma das principais formas de arrecadação desses
países era o imposto sobre as importações. Até 1931, muitos países tinham o interesse de
manter os pagamentos da dívida para manter a oferta de crédito do mercado internacional,
mas quando o crédito deixou de ser oferecido, a maioria dos países parou de pagar e declarou
moratória, apenas países como a Argentina que mantinha fortes laços com a Inglaterra (sua
credora) e países que sofriam grande intervenção americana como a Nicarágua é que se
comprometeram á pagar a dívida.
Os países da América Latina tiveram de adotar políticas para conter a crise das mais
diversas maneiras, como a adoção da taxa dupla de câmbio (a qual uma delas era permitida
flutuar livremente e era usada para transações pouco usuais), racionamento de importações e
controle cambial, alguns países da America central conseguiram o equilíbrio usando suas
reservas internacionais pra financiar o déficit. No final de 1932 o equilíbrio externo já estava
restabelecido e,segundo Thorpe, este era inevitável, pois a maioria das república não podia
pagar importações com a própria moeda, e como a oferta de moeda estrangeira era limitada,
impossibilitava mais importações. O equilíbrio interno não veio tão cedo, boa parte dos países
que haviam abandonado o padrão ouro podiam imprimir moeda para financiar seu déficit
interno, o excedente de moedas estimularia os gastos internos, tendo possibilidade dessa
política monetária “frouxa” agilizar a fuga da depressão. A já mencionada estratégia de deixar
da moratória sobre a divida externa foi uma dessas medidas, mas ao aliviara pressão fiscal da
dívida, muitos países deixaram cortar gastos com importação, mantendo assim o déficit
interno.
A maioria dos países não tinha uma indústria avançada ou mesmo um setor não-
exportador sólido, mas que viria a ser melhor desenvolvido com a política de substituição de
importações, ao mesmo tempo, muitos países usaram da agricultura para substituição de
importações, ou seja, as repúblicas latino-americanas estavam deixando de gastar com
importações, usando do setor não exportador para suprir essas necessidades, na maioria das
vezes se deixava para produção externa os bens de consumo não duráveis, deixando as
importações para aquilo que não tinham possibilidade de produzir. No entanto, segundo
Thorpe, as exportações continuaram sendo as mais importantes para recuperação da crise,
pois a ASI e ISI contribuíam menos para o PIB (apesar de gerarem uma mudança estrutural
benéfica). Os principais motivos para a solidez das exportações foi a insistência dos governos
nos produtos tradicionais, a melhora das relações liquidas de trocas a partir de 1932 e a já
citada loteria de commodities, que era de grande ajuda a esses países quando demonstrava
valorização de produtos de exportação.
A crise de 29 não trouxe apenas agitações econômicas, na própria América latina
houve diversas trocas de governo, por eleições de partidos com ideologias diferentes ou até
mesmo golpes de estado (como aconteceu na revolução de 30 no Brasil). Conflitos entre
países latino-americanos também eram indícios dessa crise, como a guerra entre Peru e
Colômbia por regiões de produção de borracha, assim como a guerra entre Bolívia e Paraguai
pelo controle do território do Chaco Boreal, visando a produção de borracha e mais
tardiamente sua disputa patrocinada por empresas estrangeiras rivais, que visavam explorar
petróleo na região. Viu-se também um aumento da discussão dos partidos de classe média
entre o anti-imperialismo (Sandino de Nicarágua) e o reformismo (APRA do Peru), as duas
corrente defendam a manutenção da harmonia, mas Sandino, por sofrer intervenção mais
direta dos EUA, pregava o anti-imperialismo ao invés da integração regional. Já os
conservadores optavam pela repressão como forma de manter a ordem, e geralmente o faziam
por meio de poderosas oligarquias, apesar das diferenças, todos esses queriam evitar a
desordem de uma revolução.
A crise também trouxe o advento da extrema direita na forma de fascismo e nazismo,
que se utilizou do caos para ganhar apoio popular e se firmar, ao mesmo tempo, o socialismo
soviético que permaneceu quase inabalado pela quebra da bolsa, acreditava que essa seria a
grande queda do capitalismo. Na América Latina o fascismo crescia com uma série de
imigrantes, principalmente italianos, que traziam suas idéias de anti-elitismo e anti-
comunismo consigo, além do grande atrativo do ocultismo que essas correntes tinham, ainda
havia o fato da grande recuperação econômica do sistema, em especial o Aksi-marco, que
tinha possibilidade de comercializar com os países. Esse foi um dos motivos para a mudança
da política internacional dos EUA de intervenções a la big stick para uma política de boa
vizinhança harmônica, visando impedir o fascismo em suas redondezas. A esquerda na
América latina tomou a forma do Antifascismo, com as frentes populares PCs e PSs e o Anti-
imperialismo que tomava os EUA como seu principal inimigo. Ainda é possível falar na froça
da doutrina comunista, cujo a repressão dos governos mostra a força significativa que tinham.
A crise impactou cada país de uma maneira, e a sociedade de cada um reagiu de forma
diferente á essas diversidades, as migrações, o desemprego e a desigualdade, a utilização da
força trabalhadora feminina, todos esses rebuliços na cultura dos países é refletida na arte e na
literatura. Robert Artl, escritor argentino, tratava em suas obras de personagens inseridos em
contextos de dificuldades como em El Horobadito de 1926 ou Los lanzallamas de 1931 que
falava do fracasso do plano revolucionário. O mesmo acontecia na melancólica musica
“Cambalache”(1934) de Enrique Santos Discepolo. A criação do Superaman nos EUA apesar
de tardía (1938), tinha o objetivo de dar o povo americano um herói. Outros diversos pintores
como Diego Riveras retratavam os trabalhadores e diversos outros aspectos na vida da crise.
Assim, pelos impactos aqui descritos, podemos ver que a crise foi o ponto de partida
para função dos estados, para a reforma do capitalismo e liberalismo; para o crescimento de
correntes de ódio de extrema direita que viriam a causar a 2ª guerra mundial; de novas
expressões artísticas e maneiras de ver a sociedade; para maior desenvolvimento da industria
e urbanização dos países da América latina. O que a faz dela um dos eventos mais
importantes para entendermos o mundo que vivemos hoje.
Bibliografia:
THORPE,Rosemary. A América Latina e a economia internacional da primeira guerra à
grande depressão.In:Bethell,Leslie(Org.).História da América Latina.Volume IV.São
Paulo:Edusp,2002
FERRERAS. Norberto O. A Crise de 1929 e os seus efeitos na América Latina. 2019. 24
slides

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