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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG)

Discente(s): Ana Clara Rodrigues Duarte, Gabriela Nogueira Ferreira e Naiara Regina
Crispim Vitor
Neste texto será apresentado em um primeiro momento, as características principais da
Revolução Mexicana que a definem como uma revolução múltipla e complexa.
Posteriormente, será discutido, a partir dos textos "A Revolução Mexicana" e “Imagens da
Revolução Mexicana no Brasil 1920-1950”, ambos de Carlos Alberto Sampaio Barbosa, a
forma como os textos se complementam. O primeiro texto tem uma ênfase focada nos
acontecimentos históricos, políticos e sociais, enquanto o último traz uma perspectiva mais
visual e cultural do período. Além disso, ele trabalha com uma perspectiva de compreensão
do público brasileiro, trazendo uma dimensão mais sensorial e impactante para nossa
compreensão do que foi a Revolução Mexicana.
A Revolução Mexicana foi a primeira revolução a ter um evidente caráter social a
acontecer no século XX na América Latina. Conforme salientado por Carlos Alberto Sampaio
Barbosa (2010, p. 17), esse fenômeno se caracterizou por sua complexidade, devido “às
variáveis e diferenças regionais, sociais e culturais entre os distintos movimentos
revolucionários”. Essas condições tornaram-a um movimento de caráter heterogêneo e
multifacetado. Embora houvesse reivindicações específicas de cada movimento
revolucionário, a Revolução Mexicana constituiu-se como uma revolução de cunho nacional,
popular, agrária e que possibilitou uma ruptura na história mexicana.
Devido ao seu caráter múltiplo e complexo, Barbosa (2010, p. 18) categoriza o
período revolucionário em três estágios diferentes. De acordo com a sua interpretação,
iniciou-se com a fragmentação e luta entre as elites mexicanas, tendo um cunho mais político.
No segundo momento houve a tomada do poder por parte dos camponeses e ganharam força
as reivindicações sociais, principalmente as relacionadas à reforma agrária. A última etapa é a
fase da derrota popular, devido à coalizão entre setores da burguesia, pequenos burgueses,
operários e camponeses. Ao observar os inúmeros conflitos entre os diversos grupos, torna-se
evidente a complexidade da revolução, dada a multiplicidade de demandas desses segmentos
sociais que visavam a realização das suas reivindicações.
As variadas interpretações e perspectivas em torno da Revolução revelam os conflitos
e disputas que permeiam a constituição das narrativas sobre ela. A princípio, a Revolução foi
“enaltecida como redentora, popular e vista como uma ruptura social” com o porfiriato.
Posteriormente, ocorreu a negação da sua natureza revolucionária, o que levou ao
fortalecimento da perspectiva de que foi um conjunto de revoluções regionais (Barbosa, 2010,
p. 17). É fundamental notar que essas narrativas foram formuladas em períodos distintos e
específicos da história mexicana.
Para uma compreensão mais profunda da Revolução Mexicana, é crucial observarmos
o contexto no qual o México estava imerso. Manifestaram-se no panorama social mexicano
contradições entre duas realidades e projetos de sociedade: de um lado o Estado Moderno,
com suas reformas liberais e fortalecido pelo regime de Porfírio Díaz; do outro, uma
sociedade tradicional, formada por camponeses e indígenas (Barbosa, 2010, p. 44). Essas
divergências expressam-se nos diferentes grupos que estiveram envolvidos na Revolução.
Como mencionado por Barbosa (2010, p. 67), a Revolução foi produzida a partir da
insatisfação de diversos grupos sociais. Os camponeses do sul, centro e norte do país lutavam
pelo seu direito à terra; havia descontentamento por parte das classes médias e operária,
devido ao monopólio político e econômico da oligarquia porfiriana; além disso, os altos
impostos e disparidades no desenvolvimento econômico também foram fatores significativos
para a Revolução Mexicana. Isso ilustra a variedade de motivações e insatisfações que uniam-
se para desencadear o movimento. Assim, esses fatores demonstram como a Revolução
Mexicana foi um evento com caráter múltiplo e complexo, sendo motivada por dilemas
relacionados à política, à economia e à ordem social.
Tendo em vista que as imagens podem facilitar a nossa compreensão sobre a
Revolução Mexicana, discutiremos, agora, a representação desse evento no Brasil durante as
décadas de 1920 e 1950. No texto “Imagens da Revolução Mexicana no Brasil 1920-1950”, o
autor apresenta imagens que possuíam um papel central na conservação do novo regime
mexicano, visto que foram usadas para disseminar a revolução para outros países latino-
americanos. Além de apresentar uma visão mais vasta da influência da Revolução na cultura
visual brasileira - principalmente na área da fotografia, da pintura, da gravura e artes gráficas
(Barbosa, 2018, p. 20). As fotografias do México revolucionário chegaram no Brasil durante o
período da luta armada e serviram para enaltecer os considerados heróis da revolução e para
denunciar a intervenção norte-americana, oferecendo uma perspectiva mais sensorial desse
período (Barbosa, 2018, p. 20).
Analisando a relação entre os dois textos, é possível perceber que eles relatam o
mesmo tempo histórico sob perspectivas diferentes. No texto “A revolução Mexicana”,
Barbosa apresenta sua argumentação a partir dos acontecimentos políticos que influenciaram
a Revolução, montando uma cronologia de momentos importantes na política mexicana, ele
opta por analisá-la pelo viés político. Enquanto no texto “Imagens da Revolução Mexicana no
Brasil 1920-1950”, o autor apresenta a revolução a partir de manifestações artísticas, trazendo
o aspecto social para o debate.
Desse modo, ao interpretarmos a Revolução Mexicana por meio dos dois textos,
podemos entender de forma mais abrangente como diferentes grupos enxergavam esse
processo. Conseguimos ter acesso a percepção social, por intermédio dos artistas, que
possuíam um papel importante na disseminação da cultura mexicana, como construir a
história oficial do México pós-revolucionário (Barbosa, 2018, p. 27). Já na outra perspectiva,
torna-se perceptível as intenções por trás das tomadas de decisões que levaram à luta, visto
que a Revolução Mexicana iniciou-se como uma revolução com viés político (Barbosa, 2010,
p. 59).
Essas diferentes visões são extremamente importantes ao analisar um processo
histórico tão complexo e importante como a Revolução Mexicana. Visto que, como falamos
anteriormente, esse processo foi resultado de dilemas relacionados à política, economia e
ordem social. Desse modo, para ter uma maior compreensão da Revolução, é necessário
compreender os vários fatores que compuseram o movimento.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BARBOSA, Carlos Alberto Sampaio. A revolução mexicana. São Paulo: Ed. UNESP, 2010.

BARBOSA, Carlos Alberto Sampaio. Imagens da Revolução Mexicana no Brasil 1920 1950.
Diálogos (On-line), v. 22, n. 2, p. 19-35, 2018.

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