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águas

revista

subterrâneas
Ano 3 - nº 13 - Dezembro/Janeiro 2010 - www.abas.org

Infraestrutura
Túneis contribuem para a
revitalização de centros urbanos
e preservação de áreas verdes

TENHO UM POÇO. E AGORA?


Manutenção preventiva aumenta
produtividade mantendo a
qualidade da água

O mercado do setor água


A entrada de grandes players da economia nacional
no mercado de águas, diversificação de investimento
ou visão de futuro?
dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
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2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


editorial

Negócios, cuidados e conhecimento


O cenário da água como bem mercadológico tem ventivos, dentre eles, a criteriosa e frequente análise das
atraído investimentos do setor privado por vários moti- águas, necessária em decorrência do acelerado proces-
vos – do uso ao reuso passando pelo saneamento até so de urbanização. Por falar em urbanização crescente,
o lazer. Os números falam por si. Estimativas apontam a construção de túneis tem possibilitado ganhos ambien-
que só a água mineral no mundo tenha participação tais e sociais para os centros urbanos, contribuindo para
de 7% do mercado, com cifras anuais entre US$ 20 a preservação de áreas verdes e praças na superfície,
bilhões e US$ 30 bilhões. Países com grandes reservas como o leitor poderá acompanhar em reportagem sobre
de água investem em contratos de fornecimento, como o tema, nesta primeira edição do ano. E, para começar
o Canadá, que celebrou um acordo de concessão de bem 2010, a ABAS promove o curso de contaminantes
25 anos com a China. No Brasil, entre 2007 e 2010, o orgânicos em parceria com a Universidade de Waterloo.
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) terá Além disso, assinou uma Carta de Intenções, em conjun-
destinado R$ 22,2 bilhões para investimentos em sane- to com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
amento. Já a descontaminação de águas subterrâneas (CETESB), a Universidade Estadual Paulista (UNESP), a
tem estimativas iniciais de capital em torno de R$ 15 Universidade de São Paulo (USP), as universidades de
bilhões. O que se sabe ao certo é que negócios com Waterloo e de Guelph, do Canadá, estabelecendo um
água visando lucro exigem grande responsabilidade programa de cooperação para promover o avanço da
socioambiental de empresários e governantes, por ser educação técnica e do aprendizado sobre contamina-
um bem natural essencial à sobrevivência. Um panora- ção de solo e água subterrânea no Brasil. São ações
ma sobre este mercado está na matéria de capa desta que trarão avanços do conhecimento numa área cada
edição, que também traz importantes informações sobre vez mais importante para o nosso país. Boa leitura e até
os cuidados com a manutenção dos poços. Necessários a próxima!
para o abastecimento, seja público ou privado, a vida Everton Luiz da Costa Souza
útil dos poços está diretamente ligada aos cuidados pre- Presidente

ÍNDICE
16
O mercado do setor água
Mercado de extração, reuso 4 Agenda
e descontaminação de águas
movimenta economia, mas exige 5 Pergunte ao hidrogeólogo
sustentabilidade
6 Abas Informa
13
Meio Ambiente:
Infraestrutura, túneis
7 Núcleos regionais
8 Hidronotícias
22
Produção de Água:
tenho um poço. e agora?
26 Conexão internacional
30 Remediação
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3
Agenda eXPEDIENTE

EVENTOS PROMOVIDOS PELA ABAS DIRETORIA


Presidente: Everton Luiz da Costa Souza
1º Vice-Presidente: Dorothy Carmen Pinatti Casarini
2º Presidente: Luiz Rogério Bastos Leal
XVI CONGRESSO BRASILEIRO Secretária Geral: Suzana Maria Gico Lima Montenegro
Secretário Executivo: Everton de Oliveira
DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS Tesoureiro: Claudio Pereira Oliveira

XVII ENCONTRO NACIONAL DE CONSELHO DELIBERATIVO


Chang Hung Kiang, Celia Regina Taques Barros, Maria Luiza Silva Ramos,
PERFURADORES DE POÇOS Amin Katbeh, Francis Priscilla Vargas Hager, Anderson Marques Martins, Carlos Augusto de Azevedo

CONSELHEIROS VITALÍCIOS/EX-PRESIDENTES
FENÁGUA – FEIRA NACIONAL DA ÁGUA Aldo da Cunha Rebouças, Antonio Tarcisio de Las Casas, Arnaldo Correa Ribeiro,
Carlos Eduardo Q. Giampá, Ernani Francisco da Rosa Filho, Euclydes Cavallari (in memorian)
Data: 31 de agosto a 03 de setembro de 2010 Everton de Oliveira, Itabaraci Nazareno Cavalcante, João Carlos Simanke de Souza,
Joel Felipe Soares, Marcílio Tavares Nicolau, Uriel Duarte, Waldir Duarte Costa
Local: Centro de Convenções Governador Pedro Neiva de
CONSELHO FISCAL
Santana - São Luís - MA Titulares: Mario Kondo, Renato Blat Migliorini, Eduardo Chemas Hindi
Suplentes: Jurandir Boz Filho, Adriano Razera Filho, Fernando Pons da Silva
Informações: (11) 3871-3626
NÚCLEOS ABAS – DIRETORES
E-mail: xvicongressoabas@acquacon.com.br Amazonas: Carlos Augusto de Azevedo - carlosaugusto@sopocos.com.br - (92) 2123-0848
Bahia: Iara Brandão de Oliveira- abas.nucleobase@gmail.com - (71) 3283-9795
Site: www.abas.org/xvicongresso Ceará: Mário Fracalossi Junior - fracalossi@seplag.ce.gov.br - (85) 3101- 4526
Centro-Oeste: Antonio Brandt Vecchiato - brandt@ufmt.br - (65) 3615-8764
Minas Gerais: Décio Antonio Chaves Beato - decio@bh.cprm.gov.br / abasmg@click21.com.br - (31) 3309-8000
Pará: Manfredo Ximenes Ponte - mxp@be.cprm.gov.br - (91) 3277-0245
CURSO DE CONTAMINANTES ORGÂNICOS Paraná: Jurandir Boz Filho - jurandirfilho@suderhsa.pr.gov.br - (41) 3213-4744
Pernambuco: Alarico Antonio F. Mont´Alverne - afmontalverne@yahoo.com.br- (81) 3442-1072
Data: 15 de janeiro a 02 de abril de 2010 Rio de Janeiro: Humberto José Tavares Rabelo de Albuquerque - humberto@rj.cprm.gov.br - (21) 2295-8248
Santa Catarina: Heloisa Helena Leal Gonçalves - abasscgestao20092010@abas.org - (47) 3341-7821/2103-5000
Promovido pela ABAS em parceria com Sul: Mario Wrege – wrege.m@terra.com.br - (51) 3259-7642

a Universidade de Waterloo
CONSELHO EDITORIAL
Informações: www.abas.org Everton de Oliveira e Rodrigo Cordeiro

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL


Marlene Simarelli (Mtb 13.593)
II SIMPÓSIO DE MINERAÇÃO E RECURSOS
DIREÇÃO E PRODUÇÃO EDITORIAL
HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS ArtCom Assessoria de Comunicação - Campinas – SP
(19) 3237-2099 - artcom@artcomassessoria.com.br
Data: 30 de Maio a 02 de Junho de 2010
REDAÇÃO
Local: Belo Horizonte (MG) Daniela Mattiaso e Isabella Monteiro

Promoção: Núcleo ABAS Minas Gerais COLABORADORES


Carlos Eduardo Q. Giampá, Everton de Oliveira, Juliana Freitas, Marcelo Sousa e
Informações: (31) 3309-8000 Marco Aurélio Z. Pede

E-mail: abasmg@abasmg.org.br SECRETARIA E PUBLICIDADE


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COMERCIALIZAÇÃO DE ANÚNCIOS:
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IMPRESÃO E ACABAMENTO
Gráfica Editora Modelo

CIRCULAÇÃO
A Revista Águas Subterrâneas é distribuída gratuitamente pela Associação Brasileira de Águas
Subterrâneas (ABAS) aos profissionais ligados ao setor.
Distribuição: Nacional e Internacional.
Tiragem: 5 mil exemplares

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a


opinião da ABAS.

Para a reprodução total ou parcial de artigos técnicos e de opinião é necessário solicitar autorização
prévia dos autores. É permitida a reprodução das demais matérias publicadas neste veículo, desde
que citados os autores, a fonte e a data da edição.

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4 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


pergunte ao hidrogeólogo

“Abrimos um poço
Caso seu poço encontre-se no Estado de São
Paulo, no processo de outorga do mesmo é feito um
levantamento da posição do poço em relação às fon-
tes de contaminação cadastradas pela CETESB. Em
artesiano, mas a água outros estados esse procedimento ainda não é realiza-
do. Entretanto, existem diversas fontes de contamina-

apresenta gosto de ção que não foram ainda descobertas e notificadas às


agências ambientais, sendo possível uma descoberta
ocasional como a sua.
combustível. Como A origem provavelmente deve estar associada
a locais que fazem uso ou armazenamento de com-

localizar a origem? bustíveis nas redondezas de seu poço, como bases


de combustível, postos de gasolina, oficinas mecâni-
cas, tubovias, transportadoras etc. Usualmente adota-
Há como remediar a se um raio de 500m para essa investigação, mas em
alguns casos pode vir de distâncias maiores, embora

situação ou já perdi o
não seja comum. O melhor caminho é encaminhar
uma notificação ao órgão ambiental de seu estado,
que deve proceder as investigações necessárias para
poço?” determinar qual a possível fonte.
A remediação é possível e recomendável, mas
Combustíveis apresentam em sua composição muito demorada (da ordem de uma dezena ou mais
compostos orgânicos aromáticos, que deixam um de anos). Nesse caso, durante a remediação, deve-se
odor e sabor característicos mesmo em baixas con- necessariamente optar-se pelo uso de fonte alternativa
centrações, o que é um ótimo indicador, limitando o para o seu abastecimento.
consumo de água contaminada. Gustavo Alves da Silva
Geólogo e diretor da Hidroplan

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5
ABAS INFORMA

CURSO INTERNACIONAL DE
CONTAMINANTES ORGÂNICOS NO BRASIL
A Associação Brasileira de Águas Subterrâneas gos, engenheiros, geólogos, químicos, biólogos, ges-
(ABAS) acaba de trazer para o País, em parceria com tores de projeto, consultores, agentes reguladores e
a Universidade de Waterloo, do Canadá, o renomado profissionais de meio ambiente em geral, estão aptos
curso de contaminantes orgânicos da universidade para participar do curso.
- um dos principais oferecidos para seus alunos de Atualmente, a Universidade de Waterloo é um dos
pós-graduação, que apresenta uma base teórica sóli- principais centros de excelência do mundo em estu-
da e do estado da arte nesta área do conhecimento. dos de águas subterrâneas. Os tópicos incluídos no
Tendo iniciado em 15 de janeiro, o curso prossegue curso são:
até 2 de abril 2010. Trinta e seis horas de palestras, • Processos fundamentais que regem o destino de
além de pelo menos 12 horas de tutorial/debate serão contaminantes orgânicos no solo e sistemas aquí-
fornecidas durante a realização do curso, que tem feros. Ênfase na separação entre as fases (dissolu-
doze semanas de duração. Sendo que, pelo menos, ção, sorção e volatilização), com aplicações.
uma palestra e um tutorial serão realizados em São • O comportamento dos LNAPLs e DNAPLs no
Paulo. O curso é ideal para todos os profissionais subsolo.
da área, considerando a quantidade de experiência • Transformações químicas, incluindo a hidrólise,
adquirida para as horas investidas. “Embora seja um cinética e das reações redox.
curso de alta especialização, também pode ser facil- • Os processos biológicos e biotransformações.
mente seguido por profissionais de diferentes níveis Evidências de campo de biotransformação.
de conhecimento, como comprovado por diversos • Efeitos dos solventes no destino dos contaminan-
alunos que já passaram pela instituição”, observa tes, com foco em etanol.
Everton de Oliveira, Secretário Executivo da ABAS e • Bioaugmentation, aeração e oxidação química
Diretor da Hidroplan. O objetivo é promover o inter- in-situ como as técnicas de reparação.
câmbio de conhecimentos e técnicas modernas de • Aplicações de isótopos em estudos de campo de
caracterização de remediação de águas subterrâneas contaminantes orgânicos.
contaminadas por compostos orgânicos. Profissionais • Modelagem da migração de contaminantes orgâ-
que lidam com as águas subterrâneas, hidrogeólo- nicos, destino e remediação.

CARTA DE INTENÇÕES
PROMOVERÁ AVANÇO EDUCACIONAL E TÉCNICO
Uma Carta de Intenções acaba de ser assinada avaliação e remediação de locais contaminados,
pela Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, em paralelo com outras medidas de cunho seme-
em conjunto com a Companhia Ambiental do lhante, dentro de prazos severos, principalmente,
Estado de São Paulo (Cetesb), a Universidade no Estado de São Paulo.
Estadual Paulista (Unesp), a Universidade de São A colaboração entre as instituições cobrirá
Paulo (USP), as universidades de Waterloo e de áreas relacionadas a hidrogeologia, qualidade de
Guelph, do Canadá. O objetivo é estabelecer um solo e água subterrânea, avaliação e remediação
programa de cooperação entre as instituições de locais contaminados, gestão e regulação, que
envolvidas, como forma de promover o avanço da poderá ser expandida sob acordo mútuo entre
educação técnica e do aprendizado sobre con- elas. É intenção ainda das mesmas, durante a vali-
taminação de solo e água subterrânea no Brasil. dade da Carta de Intenções, produzir um plano de
A demanda por conhecimento técnico, progra- trabalho mais extensivo e detalhado, que deverá
mas de treinamento, intercâmbio de tecnologia e ser objeto de um Termo de Cooperação. A Carta
desenvolvimento de projetos conjuntos de pesqui- de Intenções será válida por dois anos e deverá
sa está aquecida e aumentará nos próximos anos ser estendida automaticamente, por um segun-
no País. As novas leis implementadas para coibir do período, caso haja progresso no Termo de
a poluição de solo e águas subterrâneas exigem Cooperação entre as partes.

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núCLEO REGIONAIS

ABAS PERNAMBUCO FAZ PROPOSTA PARA GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


Após seis meses de trabalho e quatro Encontros de 50% da região compreendida entre os municípios de
Técnico-Sociais, o Núcleo Pernambuco da ABAS e a Olinda e Goiana, continua em regime de sobre-explota-
Associação Profissional dos Geólogos de Pernambuco ção. As fábricas de bebidas e de águas envasadas, atra-
(AGP), juntamente com outros órgãos, finalizaram a ídas pela sua boa qualidade, correm, em conseqüência
elaboração do documento: “A Gestão dos Recursos disto, o risco de sofrer restrições de uso. No documento
Hídricos Subterrâneos em Pernambuco - Diagnóstico redigido pelas entidades de classe, além das justificati-
e Proposições”, resultado do levantamento de dados vas que as motivaram na iniciativa, foram apresentados
sobre o estado da arte da administração do setor. o Diagnóstico e Proposições para implementação de
O Aquífero Beberibe, manancial mais importante do ações urgentes para gestão das águas subterrâneas no
Estado, que responde por cerca de 10% do abasteci- Estado. O texto completo para leitura pode ser acessado
mento da Região Metropolitana do Recife (RMR) e cerca em: http://www.abas.org/arquivos/gestaorhpe.pdf

GEÓLOGA DA ABAS CEARÁ COORDENA PROJETO NO ESTADO


A geóloga Zulene Almada, integrante do Conselho ao mesmo tempo, privilegiar o envolvimento da popula-
Deliberativo do Núcleo ABAS Ceará, foi a coordena- ção, dos usuários e dos Comitês de Bacias Hidrográficas
dora técnica responsável pelo levantamento pioneiro (CBH) no planejamento, monitoramento e implementa-
realizado para o projeto “Plano de Gestão Participativa ção de ações para o manejo sustentável. Para explicar
dos Aquíferos da Bacia Potiguar Estado do Ceará”, em todo o trabalho realizado para implementação do projeto,
parceria com a Companhia de Gestão dos Recursos a geóloga fez um artigo que está disponível na internet.
Hídricos (COGERH), apresentado em novembro de 2009. Para acessá-lo basta ir até o site: http://portal.cogerh.com.
Implementado nas regiões sul e leste do Estado, o pro- br/eixos-de-atuacao/estudos-e-projetos/aguas-subterra-
jeto busca atender as especificidades dos aqüíferos e, neas/projetos/plano-de-monitoramento-apodi-bird

ABAS CEARÁ REPRESENTA SETOR EM EVENTOS


A Associação Brasileira de Águas Subterrâneas lação com profissionais da área, por conta do evento
(ABAS) foi homenageada com a placa de Mérito GeoCeará 2009. No dia 26 de novembro de 2009, Mário
Institucional, por meio do Núcleo ABAS Ceará, duran- Fracalossi Júnior, presidente da ABAS-CE, também
te o jantar de confraternização da Associação dos foi convidado para participar da abertura do Curso de
Profissionais de Geologia do Ceará (APGECE). A asso- Fluidos de Perfuração, realizado na Superintendência de
ciação cearense está comemorando 30 anos de funda- Obras Hidráulicas (SOHIDRA), representando a associa-
ção. O evento foi realizado dia 25 de novembro de 2009. ção. Cerca de 50 profissionais do setor de hidrogeologia
A homenagem feita à ABAS, durante a ocasião, foi em estiveram presentes no local. O curso foi realizado em
função de sua atuação no setor de geologia e a articu- parceria com a empresa System Mud.

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7
hidronotícias

Carlos Eduardo Quaglia Giampá


Diretor da DH Perfuração de Poços

Mato Grosso terá monitoramento das


águas subterrâneas a partir de 2010
A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, de articulação e integração interinstitucional, envol-
empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e vendo a companhia de pesquisa do Ministério, os
Energia e com as atribuições de serviço geológico, órgãos e gestores de recursos hídricos e as compa-
está colocando em prática o planejamento de moni- nhias de abastecimento de água.
toramento das águas subterrâneas do Brasil. Até o Para a construção da rede, foram realizados
final de 2010 a companhia pretende implantar e ope- seminários e encontros técnicos, com os principais
rar uma rede de 400 poços distribuídos nos principais órgãos que atuam na gestão dos recursos hídricos,
aquíferos brasileiros. Olhar Direto apurou que em bem como especialistas na área. Esses eventos per-
Mato Grosso e Goiás serão perfurados pelo menos mitiram a definição dos fundamentos que orienta-
seis poços. Estão em fase final de licitação os poços ram a elaboração da proposta técnica do projeto. O
de monitoramento em Sinop, Rondonópolis, Lucas modelo a ser adotado é o de gestão por resultados.
do Rio Verde e Sapezal, em Mato Grosso, além de Para tanto, foram realizadas, nos meses de outubro
Montes Claros de Goiás e Rio Verde, em Goiás. e novembro, reuniões gerenciais nas superinten-
A implantação da rede de monitoramento faz dências regionais da CPRM de Goiás (regiões Norte
parte da comemoração dos 40 anos de existência e Centro-Oeste); Recife (região Nordeste) e Belo
do Serviço Geológico do Brasil. O projeto é deno- Horizonte (regiões Sul, Sudeste e Centro). As reuni-
minado Rede Básica Nacional Integrada de Águas ões foram para avaliar e orientar a atuação do ponto
Subterrâneas (Rimas). Inserido no Programa de de vista estratégico, tático e operacional, visando o
Aceleração do Crescimento (PAC) do governo fede- cumprimento das metas estabelecidas.
ral, o Rimas tem, na sua concepção, mecanismos Fonte: www.olhardireto.com.br

ANA assina acordo para promover


água, saúde, educação e cultura
A Agência Nacional de Águas (ANA) assinou em 22 lização e apoio às atividades de informação e valoriza-
de dezembro de 2009, um acordo de cooperação do ção do simbolismo da água; organização de eventos
qual participam várias instituições e organismos não relacionados a água e educação; água e saúde; ela-
governamentais com o objetivo de unir esforços para boração de publicações sobre estudos que envolvam
incentivar o desenvolvimento de novas abordagens e água, além da colaboração para a implantação de um
conhecimentos para a conservação da água, promo- centro de estudo no Distrito Federal de ação transdis-
ção da saúde e de processos educacionais e culturais. ciplinar da água.
As linhas básicas do acordo de cooperação, cujas Além da ANA, assinam o acordo de coopera-
ações ainda serão detalhadas, são a organização, rea- ção o Ararazul – Organização para a Paz Mundial,

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HIDRONOTÍCIAS

a Companhia de Saneamento Ambiental do Brasil. O acordo de cooperação técnica foi assi-


Distrito Federal (CAESB), o Instituto Calliandra de nado pelo diretor-presidente substituto da ANA,
Educação Integral e Ambiental, o Instituto Oca do Dalvino Troccoli Franca, pela diretora-executiva da
Sol, o Instituto de Saúde Integral, a Secretaria de Ararazul, Cristina Mendes Curto, e representantes
Estado de Saúde do Distrito Federal, a Universidade das demais instituições e entidades.
de Brasília, a Fundação Mata Atlântica e o WWF – Fonte: www.ana.gov.br

Resolução do Conama determina o controle


e gerenciamento da contaminação do solo
Por Suelene Gusmão
Um conjunto de normas estabelecidas pelo vação concluiu um ciclo estruturante dentro do Conama,
Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) pas- se juntando à definições que tratam da qualidade do ar e
sa a valer, a partir de agora, para o gerenciamento de da água, desde a década de 80.
áreas contaminadas no País onde vivem mais de dois A Resolução aprovada determina que o gerencia-
milhões de brasileiros, atualmente expostos a contami- mento de áreas contaminadas terá como princípios bási-
nantes químicos. Além de determinar o controle dessas cos a geração e disponibilização de informações; a arti-
áreas, a Resolução do Conama vai uniformizar os pro- culação, cooperação e integração interinstitucional entre
cedimentos a serem adotados pelos órgãos ambientais os órgãos da União,dos estados, do Distrito Federal e dos
em todos estados e municípios, para verificação da qua- municípios, os proprietários, os usuários e demais bene-
lidade do solo, níveis de contaminação e medidas de ficiados ou afetados; a gradualidade na fixação de metas
gestão adequadas. ambientais, como subsídio à definição de ações a serem
Os principais poluentes que prejudicam o solo e cumpridas; a racionalidade e otimização de ações e cus-
expõem as pessoas a doenças são os agrotóxicos tos; a responsabilização do causador pelo dano e suas
(20%), derivados do petróleo (16%), resíduos industriais consequências e a comunicação do risco.
(12%) e metais (12%). Além de sua presença nos solos, Para o gerenciamento das áreas serão procedimen-
os agentes tóxicos, patogênicos, reativos, corrosivos ou tos e ações deverão estar voltados ao atendimento da
inflamáveis podem ser encontrados em águas subterrâ- eliminação do perigo ou à redução do risco à saúde
neas ou em instalações, equipamentos e construções humana; da eliminação ou minimização dos riscos ao
abandonadas, em desuso ou não controladas. meio ambiente; para evitar danos aos demais bens a
De acordo com levantamento realizado pelo Ministério proteger; evitar danos ao bem estar público durante a
da Saúde de 2004 a 2008, das 2.527 áreas contaminadas execução de ações para a reabilitação; e possibilitar o
existentes no Brasil, três estados concentram o maior uso declarado ou futuro da área, observando o planeja-
número de pessoas potencialmente expostas. São eles mento de uso e ocupação do solo.
São Paulo, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. O órgão ambiental responsável pelo gerenciamento
Segundo dados do Ministério da Saúde, a situa- da área deverá instituir procedimentos e ações de inves-
ção dos contaminados representa um desafio para o tigação e de gestão seguindo etapas determinadas de
Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente com Identificação, Diagnóstico e Intervenção.
relação à definição de como cuidar da saúde integral Na primeira etapa, quando forem identificadas áre-
das pessoas expostas a contaminantes. E também de as contaminadas, deve ser realizada uma investigação
como o setor de saúde deve se articular de forma inter- confirmatória, com custos para o responsável, seguindo
setorial, especialmente com os órgãos ambientais e de normas técnicas e procedimentos vigentes. O diagnós-
infraestrutura e até de Justiça, como forma de melhor tico tem por objetivo subsidiar a etapa de intervenção,
atender a essa população. A Organização Mundial de caso a investigação confirmatória tenha identificado
Saúde (OMS) confirma que 24% a carga global de doen- substâncias químicas em concentrações acima do valor
ças e 23% dos óbitos prematuros estão relacionados a de investigação. A intervenção prevê a execução de
problemas ambientais. ações de controle para a eliminação do perigo ou sua
A Resolução aprovada pelo Conama ficou três anos redução a níveis toleráveis, bem como o monitoramento
em tramitação dentro do Conselho e outros quatro em da eficácia das ações executadas, considerando o uso
análise no MMA. De acordo com ministra interina do atual ou futuro da área.
Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, sua apro- Fonte: MMA / Portal Ecodebate

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


9
hidronotícias

Bolsa terá índice de emissões das empresas


Por Alana Gandra

O mercado de capitais terá, a partir de 2010, seja, quando eu vou analisar o novo índice, ele é
um novo índice, denominado inicialmente de muito similar ao original. Mas, em termos de emis-
Índice Carbono Eficiente, que irá medir as emis- são por receita, tem uma redução significativa”.
sões de gases de efeito estufa das companhias Com o novo índice, o BNDES e a BM&F Bovespa
abertas. O novo instrumento foi anunciado nes- estão querendo incentivar as empresas negocia-
ta terça (15/12/2009) pelo Banco Nacional de das em Bolsa de Valores a reduzir os seus níveis
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de emissão de gases causadores do efeito estu-
a BM&FBovespa na 15ª Conferência das Partes da fa. Quando uma empresa perder participação em
Convenção do Clima das Nações Unidas (COP-15) razão de ser muito emissora dentro do setor, com-
em Copenhague, na Dinamarca. parada aos seus pares, ela vai ter incentivo a adotar
O gerente da Área de Meio Ambiente do BNDES, políticas que reduzam as emissões, para que ela
Otávio Lobão, revelou que a base do índice é o IBrX ganhe participação no índice”.
50, que indica as 50 ações mais negociadas na O gerente da Área de Meio Ambiente do BNDES
BM&F Bovespa. “A partir das empresas participan- admitiu que o índice poderá servir também para
tes do IBrX 50, nós vamos reponderá-las com base atrair investimentos para as empresas brasileiras
na emissão de carbono dessas empresas, reduzin- menos poluidoras. “Empresa transparente tem ris-
do a participação das mais emissoras poluidoras e co menor. Teoricamente, isso tem um apelo muito
aumentando a participação das outras, para com- grande em termos de atratividade para investimen-
pensar”, disse. tos. E hoje, efetivamente, os investidores olham
Lobão acrescentou que se trata, na prática, de para emissões e sustentabilidade da empresa”,
uma mudança pequena, para que o novo índice não disse Otávio Lobão.
perca aderência com relação ao índice original. “Ou Fonte: Agência Brasil

Atlas de água subterrânea tem versão impressa


Desde novembro, a Embrapa Tabuleiros Cruz e Julio Roberto Araújo de Amorim.
Costeiros (Aracaju - SE) disponibiliza a versão De acordo com os editores técnicos, as infor-
impressa do “Atlas de qualidade de água subterrâ- mações contidas no Atlas devem contribuir para
nea para fins de irrigação, no Estado de Sergipe”. o processo de gestão dos recursos hídricos do
A publicação, lançada em 2008 em formato digi- estado, constituindo-se em uma ferramenta de
tal, é resultado do projeto “Regionalização de apoio à decisão para órgãos governamentais, de
fatores de qualidade de água subterrânea para crédito agrícola e instituições de pesquisa sobre
uso na irrigação no Estado de Sergipe”, desen- o uso das águas subterrâneas na irrigação de cul-
volvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa turas, considerando os riscos ambientais associa-
Agropecuária - Embrapa - em parceria com dos à qualidade físico-química da água extraída
diversas instituições de Sergipe. A impressão do dos aquíferos da região.
Atlas, assim como a confecção de outros mate- A publicação é composta por mapas temáti-
riais de divulgação, foi viabilizada com recursos cos com a distribuição espacial de 14 variáveis
do Programa de Fortalecimento e Crescimento da de qualidade da água, como pH, condutividade
Embrapa (PAC Embrapa). elétrica e ferro; quatro variáveis quantitativas,
O Atlas é resultado da parceria com a Secretaria como vazão e nível dinâmico; e 12 mapas
de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de risco de uso da água para irrigação, ela-
de Sergipe (SEMARH) e com a Companhia de borados segundo os critérios estabelecidos
Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação pela Organização das Nações Unidas para a
de Sergipe (COHIDRO). Os editores técnicos são Agricultura e Alimentação (FAO).
os pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros
Ronaldo Souza Resende, Marcus Aurélio Soares Fonte: Embrapa Tabuleiros Costeiros

10 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


HIDRONOTÍCIAS

20 anos após a Eco-92, Brasil sediará a Rio+20


O Brasil será a sede da Conferência das Nações ção da economia verde para o desenvolvimento
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável em sustentável e a eliminação da pobreza.
2012. Já batizada de Rio+20, em referência a Outro tema na pauta da conferência será o
Eco-92, realizada no Rio de Janeiro há 18 anos, o debate sobre a estrutura de governança inter-
evento será provavelmente realizado novamente nacional na área do desenvolvimento susten-
na capital carioca (ainda não foi confirmado). tável. O modelo de consenso foi colocado em
A conferência foi aprovada em dezembro de xeque na 15ª Conferência das Partes das Nações
2009 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Unidas sobre o Clima (COP-15), em Copenhague
O encontro havia sido proposto em 2007 pelo pre- (Dinamarca), cúpula encerrada sem acordo por
sidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia é avaliar e divergências entre os países ricos e em desenvol-
renovar os compromissos com o desenvolvimento vimento sobre as ações necessárias para enfren-
sustentável assumidos pelos líderes mundiais na tar o aquecimento global.
Eco-92. A Rio+20 tembém discutirá a contribui- Fonte: Agência Brasil

RECORDAR É VIVER
Estação Ciências
Lançamento Maquete
Aquifero Guarani
São Paulo – 2005

1° Sistema de abastecimento por poço através de contrato BOT


em São Carlos (SP) - Bairro Cidade Araçy – 1993 – Contep/DH

DEZEMBRO
dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
11
meio ambiente

INFRAESTRUTURA,
Túneis

Banco de imagens da web


A CONSTRUÇÃO DE TÚNEIS POSSIBILITA GANHOS AMBIENTAIS E
SOCIAIS, CONTRIBUI PARA A REVITALIZAÇÃO DOS CENTROS URBANOS,
DIMINUINDO O TRÁFEGO DE VEÍCULOS E A POLUIÇÃO POSSIBILITANDO
A PRESERVAÇÃO DE ÁREAS VERDES E PRAÇAS NA SUPERFÍCIE
Por Isabella Monteiro

A população urbana cresceu muito nos últimos 50 sentam enormes prejuízos sociais e econômicos, que
anos, aumentando cerca de 80% na maioria dos paí- vão desde gastos com combustíveis e poluição gerados
ses, o que gerou uma grande pressão nas cidades em pelos engarrafamentos, à falta de produtividade dos tra-
termos de infraestrutura de mobilidade (transporte) e balhadores devido ao estresse, ocasionando impactos
armazenamento (incluem-se os estacionamentos). De no sistema de saúde”, afirma Assis. Para Hugo Cássio
acordo com André Assis, Presidente do Comitê de Rocha, Vice-presidente do Comitê Brasileiro de Túneis
Educação e Treinamento da Associação Internacional (CBT), a construção de túneis pode ser muito benéfi-
de Túneis e do Espaço Subterrâneo (ITA) e professor ca para a sociedade,

Arquivo pessoal
da Universidade de Brasília, “num primeiro momento, pois apesar de seu alto
as vias de transporte e os estacionamentos concor- custo de implantação,
reram com os espaços que garantiam qualidade de a longo prazo gera ele-
vida aos meios urbanos, levando-os a sua sensível vada economia opera-
depreciação. Mais recentemente, constatou-se que cional, de manutenção
os países, onde os meios de transporte urbano uti- e espacial”. Aliás, “a
lizados foram os sistemas de massa predominante- própria manutenção da
mente subterrâneos, apresentaram indicadores de via subterrânea é muita
qualidade de vida mais elevados”. Foi a partir daí que, mais barata do que as
segundo ele, se estabeleceu um movimento chama- vias de superfície, dada
do de Era Ambiental do Uso do Espaço Subterrâneo a exposição atmosfé-
nas últimas décadas, caracterizado pela revitalização rica e ciclos de tempe-
dos centros urbanos e preservação dos espaços de ratura e unidade mais Hugo Cássio Rocha, Vice-
superfície para os usos mais nobres da população, agressivos destas”, presidente do Comitê Brasileiro
de Túneis (CBT)
por meio da construção de túneis. complementa Assis.
“Além de moradia e locais de trabalho agradáveis,
abre-se espaço na superfície para praças, parques e
valorização de sítios históricos, pedestres, transporte Riscos de Contaminação
leve e saudável como bicicletas; levando todo o tráfego
pesado e de massa para o subterrâneo, caracterizando Marcada no passado por índices negativos de
o equilíbrio ambiental”, argumenta. Os túneis, além de acidentes de construção e por problemas ambientais
agregarem valor ambiental, também resultam em um ligados à interferências no lençol freático ou à utili-
balanço social positivo. ”Cidades congestionadas apre- zação de produtos agressivos ao meio ambiente, a

12 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


meio
meio ambiente
ambiente

com a escavação pode-se isolar ou remediar. O solo

Arquivo pessoal
é mais fácil de isolar; já a água deve ser isolada com
uma parede impermeável ou deve receber tratamen-
to. “A retirada de solo contaminado é muito onerosa:
um metro cúbico de material contaminado disposto,
pode custar muito mais do que um metro cúbico de
concreto”, revela. A responsabilidade sobre o passivo
ambiental encontrado e a contaminação das águas
subterrâneas durante as obras “depende do tipo de
contrato e das responsabilidades atribuídas, mas, de
maneira geral, o empreendedor assume o ônus dos
passivos pré-existentes. Já, problemas de execução
devem ser atribuídos à empresa responsável contra-
tada”, esclarece Rocha.
Tarcísio Barreto Celestino, Presidente do
Comitê Brasileiro de Túneis (CBT)
Processos e legislação
indústria tuneleira se mobilizou no sentido de minimi-
zar danos ambientais quanto a seus métodos constru- Com relação às legislações ambientais e conces-
tivos e tecnológicos, conforme André Assis. Segundo sões de licenças no território paulista, o principal órgão
Tarcísio Barreto Celestino, Presidente do Comitê regulador é a Companhia Ambiental do Estado de São
Brasileiro de Túneis (CBT), “hoje, antes de realizar- Paulo (CETESB), referência nacional. Na cidade de São
mos a escavação, precisamos saber se o túnel passa- Paulo é a Secretaria Municipal do Verde. Os principais
rá por rocha ou solo e também por área contaminada. processos envolvidos na construção de um túnel são o
Por meio de sondagens geotécnicas é possível saber Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ao
qual a qualidade do material, algo determinante para Meio Ambiente (EIA/RIMA), audiência pública, Licença
o projeto no que se refere às espessuras das estru- Prévia (LP), Licença de Implantação (LI) e a Licença
turas de suporte e aos métodos construtivos; e tudo de Operação (LO), que precisa ser renovada periodi-
isso passa por uma investigação”. camente. Para Tarcísio Celestino,
Assis explica que para a esca- a legislação ambiental do Brasil é
vação de solos contaminados, há
um tipo de tuneladora (máquinas
“É preciso uma uma das mais rigorosas do mun-
do. São importantes e necessárias,
que escavam túneis), que mantém mudança de mas há muitos “nós”, conforme
o material escavado em circuito
fechado, sem contato com operá-
concepção e também aponta Hugo Rocha, já
que a exigência de execução de
rios ou atmosfera, adequadamente mentalidade todas as etapas de investigação
disposto em área designada para
este fim. Alguns tipos de tunelado-
sobre as obras antes da licença de implantação
“é absolutamente inviável, pois o
ras e técnicas construtivas foram subterrâneas, que são empreendedor só tem acesso total
desenvolvidas especialmente para
escavar túneis, com o mínimo de
ambientamente mais e legal às áreas, após a licença de
implantação para poder executar
interferência sobre o nível de água amigáveis.” todas as etapas de investigação;
do lençol freático. Ele ainda acres- a LI apenas é dada, teoricamente,
centa que os produtos químicos após a execução de todas as eta-
utilizados como aditivos de concreto ou como base pas. Além disso, nas obras lineares, que atravessam
de injeções de maciços foram tecnologicamente tes- dezenas ou centenas de áreas potencial ou comprova-
tados para evitar danos à saúde, contaminar o solo damente contaminadas, todo o ônus da investigação
circundante ou a água do lençol freático. e, muitas vezes, o da remediação, ficam para o empre-
Segundo Hugo Rocha, quando se encontra solo endedor”. Ele também argumenta que o cadastro de
ou água contaminado na região da escavação, o áreas contaminadas é deficiente, não é unificado e que
contaminante deve ser retirado e disposto adequada- o órgão ambiental também repassa essa responsabili-
mente. Entretanto, quando não há interferência física dade ao empreendedor.

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


13
meio ambiente

Para Tarcísio Celestino, há ainda outra mudança De acordo com Hugo Rocha, o Comitê Brasileiro de
necessária. “Com relação às obras civis, a legisla- Túneis tem como principal atribuição do ponto de vista
ção em vigor é clara no que se refere às licenças ambiental, “mostrar que a solução subterrânea pode ser
ambientais, mas não há nenhum licenciamento ou uma excelente opção para reduzir os problemas ambien-
órgão oficial que verifique se a obra atende aos tais, como tem sido utilizada no mundo todo, indicando
requesitos necessários de segurança. Algo que julgo métodos executivos pouco agressivos ao meio ambien-
uma incongruência”, argumenta. Ele aponta o exem- te”. No entanto, Tarcísio Celestino aponta que é preciso
plo da Noruega, onde há uma norma que determi- uma mudança de concepção e mentalidade sobre as
na que os responsáveis por toda obra subterrânea obras subterrâneas. “A interação entre obras civis e o
enviem informações relativas à produtividade, tempo meio ambiente faz parte de nossas preocupações. Mas,
de construção, rendimento de equipamentos, etc., no Brasil, ao inver-

Arquivo pessoal
para o órgão responsável por compilar um banco so do que acontece
de dados com o histórico de experiências na área. em outros países,
“Desta forma, estimar o tempo e o custo da obra, é os ambientalistas
mais fácil e rápido. Mas, infelizmente, aqui no Brasil muitas vezes bom-
não temos isso”. bardeiam a cons-
trução de túneis,
Desenvolvimento Sustentável o que dá margem
para especulação
Os princípios de sustentabilidade passam por garantir da mídia e impac-
os quesitos de qualidade de vida da sociedade, otimizan- ta na opinião dos
do a utilização de recursos ambientais, tendo em mente tomadores de
as necessidades das populações futuras. “Os túneis e as decisão. É preciso
estruturas subterrâneas de infraestrutura de transporte mudar esse con-
são inevitáveis e promissoras soluções para os proble- ceito, afinal o túnel,
mas urbanos, mas não são soluções únicas e isoladas, ambientalmente, André Assis, da Associação
precisam estar integradas num planejamento urbano glo- é uma obra muito Internacional de Túneis e do Espaço
bal”, salienta André Assis. Subterrâneo e professor
mais amigável”. da Universidade de Brasília

Divulgação CBT

14 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
15
O Mercado do
setor água

Lucrativo, mas desafiador, exige grande


responsabilidade e altos investimentos.
Abre-se um novo mercado com enorme
potencial, o mercado ÁGUA
Por Daniela Mattiaso

16 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


CAPA

Essencial à vida e estratégica para geração de sócios e a eventual abertura de capital no médio/lon-
riqueza nas nações, a água já é considerada um go prazo, à medida que a demanda de investimen-
bem mercadológico, sendo negociada como produ- tos solicite reforçar a estrutura de capital da Foz do
to pelas grandes corporações e incluída em transa- Brasil”, explica o presidente, Fernando Santos-Reis.
ções internacionais, seja no seu fornecimento ou na A empresa presta serviços de resíduos urbanos e
exportação da chamada “água virtual”, incluída na saneamento (água e esgoto) em concessões muni-
produção de bens e alimentos. cipais e em parcerias com companhias estaduais de
O cenário tem despertado cada vez mais inves- saneamento. No setor industrial, por meio de suas
timentos do setor privado. Principalmente, pelas controladas Lumina e Cetrel-Lumina, também presta
necessidades de redução de serviços de remediação de áre-
custos com água e efluentes em as contaminadas para empresas
indústrias e empresas; falta de
acesso a fontes alternativas de
Setor movimenta dos setores de petróleo, minera-
ção, siderurgia e petroquímica.
abastecimento; regiões com má grandes quantias Tem como principais clientes:
distribuição de recursos hídricos;
contaminações em águas super-
no mercado. Só a Petrobras, Braskem, Transpetro,
Dow, Dupont, Quattor, Rhodia,
ficiais e subterrâneas; desperdí- produção de água ThyssenKrupp, BattreBahia, Shell
cios; e a necessidade crescente
de consumo do recurso, em paí-
mineral no mundo, e VSB. Com uma carteira de con-
tratos cujo prazo médio é de 24
ses em desenvolvimento. por exemplo, anos, a expectativa da empresa é
O setor envolve e movimenta
altas quantias de dinheiro. Estima-
corresponde a cerca obter um faturamento de R$ 750
milhões em 2010. Os negócios no
se que a produção de água de 7% da economia segmento de saneamento repre-
mineral no mundo, por exemplo, sentam cerca de 60% do fatura-
corresponda a 7% do mercado, mento da empresa. O restante
movimentando somas entre US$ 20 bilhões e US$ vem dos contratos com o setor privado.
30 bilhões por ano. Países com grandes reservas Atualmente, a Foz do Brasil desenvolve com a
de água já possuem, inclusive, contratos de forne- Companhia de Saneamento Básico do Estado de
cimento – o Canadá fez um acordo de concessão São Paulo (SABESP) o projeto Aquapolo, que forne-
de 25 anos para a China. No Brasil, só entre 2007 cerá 650 litros por segundo de água de reuso para
e 2010, o Programa de Aceleração do Crescimento o Pólo de Capuava, em São Paulo (SP), além de
(PAC) do Ministério das Cidades (MC) totalizará um associações com a Companhia Estadual de Águas e
investimento de R$ 22,2 bilhões em Saneamento. E o Esgotos (CEDAE), no Rio de Janeiro, e a Companhia
custo do passivo ambiental do País, para realização de Saneamento (COPASA), em Minas Gerais..
de trabalhos de descontaminação de águas subter- Outra gigante do setor, que está fazendo grandes
râneas, está estimado inicialmente em R$ 15 bilhões. investimentos no País, é a empresa norte-americana
AECOM, que está entre as 500 maiores empresas
Mercado em expansão
Artcom A.C.

Tal panorama tem levado grandes grupos empre-


sariais a entrarem neste mercado no Brasil, adquirin-
do empresas que trabalham com o produto “água“
ou, no caso das demais companhias, consolidando
e ampliando sua fatia no mercado nacional.
Uma delas é a Organização Odebrecht, que
para firmar sua atuação no segmento “água”, lan-
çou a Foz do Brasil, antiga Odebrecht Engenharia
Ambiental. A intenção da empresa é criar uma nova
marca com dimensão nacional e investir R$ 3,6
bilhões nos próximos cinco anos para se firmar entre
as maiores companhias do setor. “Nossa estratégia Nilson Guiguer, vice-presidente para America Latina, na
de crescimento passa pela possibilidade de atrair Schlumberger Water Services

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


17
CAPA

dos Estados Unidos, segundo a revista Fortune. grandes dificuldades no setor é a falta de mão-de-obra
Fornecedora global de serviços de engenharia e con- qualificada. “Isto ocorre devido ao pouco número de
sultoria técnica, já atua no mercado nacional prestan- instituições que oferecem cursos voltados para essa
do assessoria técnica para licenciamento ambiental. área. Outro problema é que, na maioria das vezes, o
A AECOM está presente em 100 países e fechou o critério de seleção das empresas na hora da contra-
ano de 2009 com uma receita de US$ 6,1 bilhões. Em tação de um serviço é o menor custo, não se impor-
declaração feita, em outubro de 2009, pelo principal tando ou incentivando a aplicação de tecnologias mais
executivo da empresa em visita ao Brasil, Frederick eficientes com melhores resultados a longo prazo”,
Werner, o País foi eleito como base para seu cresci- explica ele.
mento na América Latina. Isto porque está visando
oportunidades que surgirão na área de infraestrutura, Aposta das nacionais
em função da escolha do Rio de Janeiro como sede
A empresa brasileira General Water, que está há
dos Jogos Olímpicos de 2016 e Copa do Mundo, em
10 anos neste mercado, também está otimista. Ela
2014, além de outros negócios decorrentes do PAC,
prevê um crescimento de 10% a 15% para o próximo
de investimentos nas áreas de transporte e energia. O
ano, segundo o Vice-presidente da empresa, Sérgio
gerente técnico da empresa no Brasil, Oscar Heleno
Francisco Pontremolez. Para isso, a companhia
Hardt, comenta que o fornecimento de água e servi-
investe em uma proposta diferenciada de comercia-
ços para os grandes consumidores do setor privado,
lização de seus produtos: não cobra os custos de
constituído principalmente pelas indústrias, tem enor-
implantação do projeto. “A General Water faz todos
me potencial de crescimento. “Considerando que
os investimentos, tanto nos processos de captação e
existe uma clara tendência de escassez dos recursos
tratamento da água, quanto para implantação de uma
hídricos e as indústrias, por sua vez, não têm direito
planta para tratamento de esgoto doméstico e reuso
prioritário de uso, o desenvolvimento de projetos de
de água. O que é pago pelo cliente é valor do metro
reuso de efluentes industriais ou simbioses, com ou
cúbico de água fornecido, num contrato a longo pra-
entre outras indústrias, será uma forte tendência neste
zo. Os projetos não têm custo e não se corre riscos
mercado, senão a única. As concessões privadas de
técnicos também; o cliente terá apenas um custo
saneamento no Brasil ainda permanecem uma incóg-
pelo consumo da água. Se nós furarmos poços ou
nita, apesar de grandes players do mercado aportan-
não conseguirmos achar água ou tratá-la adequada-
do volumes expressivos de capital. Ademais, a atual
mente, o cliente não tem nenhum ônus. Todo o finan-
conjuntura política e econômica brasileira indica que
ciamento da operação é feito pela empresa”, explica
o envolvimento privado na prestação dos serviços de
ele. Hoje, a General Water possui 70 contratos em
água e esgotos tende a continuar crescendo”, com-
funcionamento na Grande São Paulo. “No segmen-
plementa ele.
to de shopping centers, nós temos como clientes, o
Mais uma multinacional forte no mercado de águas
Iguatemi, Tamboré, Continental e ABC. No segmento
é a Schlumberger. A empresa está projetando um cres-
industrial, Saint Gobain, Liotecnica e Santa Marina.
cimento de 40% nas atividades, principalmente devido
Há também vários prédios comerciais, como o World
ao aumento da importância da água, como um todo,
mas, sobretudo, na indústria de óleo e gás. A divisão
da Schlumberger Water Services foi criada há cinco
anos, formada, inicialmente, por meio de aquisições
de empresas como a Waterloo Hydrogeologic. A mul-
tinacional tem seu foco voltado para estudos de ava-
liação de recursos hídricos, de impactos ambientais,
projetos de abastecimento, projeto e operação de sis-
temas de rebaixamento de lençol freático e reuso de
águas. “Nosso diferencial é trazer várias tecnologias da
indústria do petróleo para o segmento de águas sub-
Arquivo pessoal

terrâneas. Nossos principais setores de atuação são


na área de mineração, indústria de óleo e gás, e os
demais tipos de indústria”, afirma Nilson Guiguer, Vice-
presidente para a America Latina, da Schlumberger Sérgio F. Pontremolez, geólogo e vice-presidente da
Water Services. Guiguer comenta ainda que uma das General Water

18 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


CAPA

Trade Center, Morumbi Office Power, Condomínio

Arquivo pessoal
American Bussiness Park e clubes como Pinheiros,
Paineiras, Ipê, Cidade do Bradesco e do Unibanco”,
relata ele.
Outra organização brasileira que apostou no mer-
cado de águas foi a ESTRE Ambiental S.A. A compa-
nhia possui em seu escopo diversas empresas, todas
especializadas nos mais diversos tipos de soluções
ambientais. Entre elas, está a Água & Solo Consultoria
Ambiental Ltda, empresa de soluções em diagnósti-
co ambiental, remediação de áreas contaminadas,
tratamento de águas e efluentes e monitoramento de
emissões atmosféricas. Flávio Augusto Ferlini Salles,
sócio da Água & Solo, conta que “a crise financei- Flávio Augusto Ferlini Salles, sócio da Água & Solo
ra de 2009 trouxe uma ligeira retração de trabalhos
na empresa, mas não de solicitações de propostas, de recuperação de demanda para 2010 é grande.
cujas negociações foram retomadas rapidamente. “As previsões de crescimento do País são excelen-
Sobre uma porcentagem de crescimento do mercado tes, lastreadas pelo crescimento dos setores de infra-
ambiental em 2010, Salles considera difícil precisar. estrutura, saneamento, construção civil e industrial,
“Como a atividade ambiental ainda é vista por muitas todos devem demandar muitos trabalhos para a área
empresas como gasto e não como investimento, prin- ambiental. Além do mais, meio ambiente é um tema
cipalmente em períodos de recessão, as verbas desti- corrente nas agendas atuais. Espera-se, portanto, um
nadas a trabalhos ambientais são comumente retidas amadurecimento do mercado exigindo mais trabalhos
ou redirecionadas”. Mas, segundo ele, a expectativa em maiores níveis de qualidade.”

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


19
CAPA

Cobrança pública recurso, existem movimentos no sentido de mudar


a dominialidade sobre as águas subterrâneas, que
O Governo Federal e os Estados também são hoje é dos Estados, para a União, por meio de uma
grandes players do mercado de águas no País, Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Na legis-
conjuntamente com o setor privado, já que o paga- lação atual, a arrecadação do pagamento pelo uso
mento é fixado pelo poder público, por compa- das águas subterrâneas permanece com os Estados,
nhias de saneamento e indústrias, e representan- sem nenhum repasse para a União. A PEC nº 43,
tes da sociedade civil. se aprovada, transferirá a titularidade deste recurso
A cobrança pelo uso das águas no Brasil, sejam para a União e o gasto do consumidor será maior
elas superficiais ou subterrâneas, já tem receita pelo direito à água potável, já que hoje, no País,
considerável. Segundo dados da Agência Nacional paga-se apenas pelo serviço de fornecimento e não
de Águas (ANA), a União arrecada R$ 27 milhões pela água em si. A PEC é de 2000 e ficou esqueci-
ao ano apenas com a utilização de duas bacias: da no Congresso Nacional durante os últimos anos.
a do Paraíba do Sul, nos Estados de São Paulo, Em junho de 2009, foi redistribuída na Comissão de
Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro; e a dos Constituição e Justiça do Senado. O relatório final
rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, nos Estados deverá ser apresentado no início de 2010. O retorno
de São Paulo e Minas Gerais. No segundo semes- à pauta do Congresso da PEC 43 é um retroces-
tre de 2010, começará também o pagamento pelo so para o Sistema Nacional de Gerenciamento de
uso das águas da bacia do Rio São Francisco, que Recursos Hídricos (SINGREH), segundo Everton
incrementará a receita com R$ 20 milhões anuais. Luiz da Costa Souza, Presidente da Associação
No caso do uso das águas subterrâneas, ape- Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS). “A PEC
nas os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro 43 ataca a um dos fundamentos da Lei Federal nº
fazem a cobrança, justamente nas regiões adja- 9433/97, que determina que a gestão dos recursos
centes às das bacias do rio Paraíba do Sul e dos hídricos deve ser descentralizada. Diversos Estados
rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, onde a União brasileiros já desenvolvem ações de gestão de
também recebe pela utilização das águas superfi- recursos hídricos subterrâneos eficazes, algumas
ciais, sendo que o processo de produção do metro das quais inclusive têm sido apoiadas pela Agência
cúbico dos aquíferos, com a qualidade necessária, Nacional de Águas (ANA). A ideia contida na PEC
é de 10% a 15% maior que o dos rios. 43 não reconhece o papel do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos e dos Conselhos Estaduais de
A PEC 43 Recursos Hídricos, os quais poderão futuramente
negociar conflitos que possam se estabelecer em
Devido ao valor estratégico da água para o aquíferos compartilhados por mais de um Estado,
desenvolvimento de diversas atividades produtivas e sem necessidade de alteração na dominialidade”,
às altas receitas geradas pela comercialização deste ressalta o presidente da ABAS.

LUCRO X SUSTENTABILIDADE
“O Brasil dispõe de um grande potencial relativo exploram mais do que a natureza pode repor. “Os
aos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Tal negócios, que envolvem a água como produto mer-
potencial deve ser encarado como um grande dife- cadológico com objetivo de obter lucro, exigem
rencial favorável a nós para o incremento sustentá- grande responsabilidade socioambiental de seus
vel das atividades econômicas que utilizam a água empresários, visando a sustentabilidade. Acredito
como insumo, com reflexos positivos na melhoria que o empresário moderno, comprometido com
das condições de vida dos brasileiros”, afirma Ever- uma nova realidade de mercado, traduzirá iniciativas
ton Souza, presidente da Associação Brasileira de de sustentabilidade em diferencial para atingir clien-
Águas Subterrâneas (ABAS). Porém, vale ressaltar, tes e consumidores. Para ele, já é certo que “somen-
que neste cenário é preciso evitar o desperdício e te o investimento em novas tecnologias para gestão
a utilização intensiva predatória nas atividades pro- e uso racional do recurso pode garantir o futuro das
dutivas que, em algumas situações, sem controle, águas no mundo e a sobrevivência da humanidade”.

20 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


CAPA

CONSUMO DE ÁGUA NOS PROCESSOS PRODUTIVOS


Na tabela, abaixo, é possível verificar os gastos

Wikimedia Commons
com água nos processos de produção de alguns
bens e alimentos e a importância estratégica do
recurso para as atividades industriais e agrícolas
(produto/consumo em litros):
• 1 boi exige 100 mil litros desde seu nascimento
• 1 xícara de café requer 140 litros desde a semeadura
• 1 kg de arroz consome 500 litros a partir do plantio
• 1 tonelada de grãos necessita em média 1 mil
tonelada de água
• 1 carro utiliza 56 mil litros na fabricação
• 1 computador gasta 1.500 litros para ser produzido
• 1 kg de alumínio consome 100 mil litros em
seu processo
• 1 kg de açúcar utiliza 100 litros para ser produzido
• 1 litro de cerveja necessita de 4 litros a 7 litros
• 1 kg de papel consome 250 litros em sua fabricação
• 1 litro de petróleo gasta 18 litros
• 1 kg de vidro plano utiliza 0,6 litros
• Lavagem de 1 kg de roupas em lavanderias con-
some de 20 litros a 50 litros
• Processamento de um boi em matadouro/frigorífi- Fonte: Cartilha “Uso racional da água no comércio”, da Federação do
co necessita de 2.500 litros Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio)

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


21
divulgação DH Perfuração de Poço
PRODUÇÃO DE ÁGUA

TENHO UM POÇO.
E AGORA?
Conheça quais procedimentos de manutenção
preventiva e análise da qualidade da água você
deve saber, para que seu poço trabalhe sempre com
capacidade máxima e riscos menores de contaminação
Por Isabella Monteiro

A atividade de perfuração de poços é realizada já estabelecidas, que garantam o funcionamen-


no Brasil há mais de 100 anos. Atualmente esti- to adequado e a qualidade da água do poço. Ela
ma-se que existam de 700 mil a 800 mil poços em cita as técnicas construtivas, tais como: laje de
operação, número que, segundo Carlos Eduardo proteção; selo sanitário e tampão; utilização de
Quaglia Giampá, Diretor da DH Perfuração de revestimento e material de pré-filtro de qualidade,
Poços, é difícil de ser mensurado “já que depen- que impedem a entrada de contaminantes; vazão
de de ações governamentais, varia de acordo com de explotação e equipamentos de bombeamento
os períodos de seca, além da existência de muitos bem dimensionados e conhecimento da qualida-
poços clandestinos, secos ou abandonados por de química da água, entre outras medidas. “Poços
falta de energia e instalação”. Giampá estima ain- mal construídos ou abandonados podem se tornar
da que sejam perfurados, por ano, no país, entre caminho preferencial para que os contaminantes
40 mil e 60 mil poços, enquanto que nos Estados alcancem a água subterrânea. O mesmo pode
Unidos, por exemplo, são cerca de 900 mil. Como ocorrer em poços localizados em áreas degrada-
o poço pode servir de vetor para a introdução de das, que a partir do bombeamento e extração pos-
vários contaminantes – seja ele artesiano (poço sibilitam o caminhamento de plumas de contami-
profundo cuja pressão natural da água é capaz nantes ampliando a área atingida”, salienta.
de levá-la até a superfície) ou poço tubular (com Eugenio Pereira, Vice-presidente da ABAS
captação realizada por meio da instalação de apa- Núcleo Santa
relhos – situação da maioria dos poços profundos Catarina, expli-
existentes), cuidados essenciais devem ser toma- ca que o cone de
dos para permitir que ele opere com bom nível de rebaixamento, ori-
vazão e de qualidade da água, além de prolongar ginado pelo bom-
Arquivo pessoal

sua vida útil e diminuir os riscos de contaminação. beio, cria uma


“Infelizmente, poucas pessoas tomam as medidas convergência das
preventivas necessárias, atitude crucial para saber linhas de fluxo
como ele está operando”, pondera. ao redor do poço
De acordo com Rosângela Pacini Modesto, capaz de atrair len-
Gerente do setor de Águas Subterrâneas e Solo tamente as plumas
da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo de contaminação
(CETESB), no momento da perfuração e durante para seu interior. Eugênio Pereira, Vice-presidente da
a explotação é preciso adotar normas técnicas “Se por um lado a ABAS Núcleo Santa Catarina

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PRODUÇÃO DE ÁGUA

produção de poços antigos pode ser comprometi- podendo comprometer algumas estruturas do poço
da após a contaminação, a construção de um con- - é necessário que sejam usados materiais mais
junto destes para bombeamento dentro da área resistentes à sua agressividade bem como filtro ino-
contaminada, torna-se um método de remediação xidável”.
possível, que objetiva tratar a água e depois reinje- Segundo Pereira “a manutenção preventiva
tá-la”, argumenta. e análise da qualidade da água são fundamen-
Desta forma, os métodos de manutenção pre- tais para a vida útil do poço, pois, como possibi-
ventiva, que identificam os níveis hidrodinâmicos, litam a detecção dos problemas ainda no início,
a vazão do poço, o funcionamento da bomba sub- as intervenções podem ocorrer de maneiras mais
mersa e a qualidade da água, devem ser adota- brandas, porém eficientes na correção. Se o poço
dos para viabilizar “a conservação das obras de já está totalmente incrustado ou infestado por fer-
captação, redução dos custos de operação, acom- ro-bactérias, por exemplo, os procedimentos de
panhamento das variações da qualidade da água, manutenção tornam-se mais difíceis e onerosos”.
visando à conservação dos mananciais”, ressalta Para Reinaldo Passerini, Diretor da Divisão de
Elzira Déa Barbour, geóloga do setor de Águas Águas Subterrâneas do Departamento de Águas
Subterrâneas e de Solo da CETESB. e Energia Elétrica (DAEE) de Araraquara (SP), o
monitoramento periódico da qualidade da água
Manutenção do poço e e do estado físico do poço e seus equipamentos
análise da água são necessários “visto que possibilitam a ado-
Arquivo pessoal

ção de medidas eficientes e rápidas, caso ocor-


Imprescindíveis, ram mudanças nos elementos presentes na água,
“tais procedimen- nas condições de operação do poço (estado dos
tos consistem em filtros, bombas, tubulação, hidrômetro, etc.) ou
manter a integrida- ainda na variação dos níveis da água que podem
de construtiva dos indicar superexplotação ou esgotamento do aquí-
poços, por meio do fero”. Ele afirma que as águas subterrâneas devem
diagnóstico de pro- ser analisadas periodicamente, acompanhando
blemas decorrentes os parâmetros organolépticos, físico-químicos e
de ordem mecânica bacteriológicos, além da medição regular do Nível
(deterioração da Estático (NE), Nível Dinâmico (ND) e Vazão (Q), de
estrutura do poço, forma que suas curvas em relação ao tempo pos-
Luciano Leo Junior, Geólogo e diretor defeitos de equipa-
da Jundsondas Poços Artesianos
sam apontar qualquer variação significativa. “As
mentos), hidráulica aferições destes dados junto com registros dos
(obstrução das seções filtrantes) e de qualidade parâmetros elétricos da bomba submersa revela-
da água (alteração das condições físico-químicas rão o momento de intervenção no poço e a perio-
da água por superexplotação ou incremento da dicidade das manutenções”, esclarece.
recarga dos aquíferos)”, explica Elzira. Luciano Leo Reinaldo Passerini comenta que a potabilidade
Junior, geólogo e Diretor da Jundsondas Poços da água é defini-
Artesianos, lembra ainda que “evitar a superexplo- da pela Portaria
Arquivo pessoal

tação é crucial para manter a capacidade de pro- 518 de 25/03/2004,


dução do poço”. Conforme aponta Carlos Giampá, do Ministério da
o ideal é que a explotação seja de 18 horas a 20 Saúde, tabelas I,
horas por dia e haja monitoramento constante da III e V, que analisa
parte hidráulica. Sobre a vida útil do poço, Giampá quatro parâmetros
esclarece que, “para ser viável economicamente, o bacteriológicos,
poço deve durar pelo menos 20 anos, no entanto, 26 químicos inor-
com as tecnologias e a realização dos procedimen- gânicos e 39 orgâ-
tos de manutenção preventiva, o poço pode ter sua nicos. “A análise
vida útil prolongada por muitos outros anos”. Ele deve ser anual ou
ainda recomenda a observação da característica sempre que soli-
da água. “Se a água é agressiva - água com pro- citada pelo órgão Reinaldo Passerini, Diretor do DAEE
priedades de dissolver alguns minerais por contato, gestor. A legislação de Araraquara (SP)

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


23
PRODUÇÃO DE ÁGUA

ArtCom A. C.
estadual estabelece ainda a NTA-60 (Norma Técnica
Alimentar) Decreto Estadual 12486 de 20/10/68, que
classifica a água em duas categorias: para abasteci-
mento público e para abastecimento particular, sen-
do esta água de fonte ou água de poço”, completa.

Fique atento
Algumas características da água podem ser
observadas de imediato, tais como gosto, cor, tur-
bidez e cheiro. Outras características passam des-
percebidas e seus efeitos na saúde só podem ser
sentidos a longo prazo, após ingestão contínua,
como a presença de organismos microscópicos e
elementos químicos nocivos, detectados apenas
após análises específicas e detalhadas. Passerini
explica que “a análise executada, logo após a per-
furação, identifica, antes do poço entrar em opera-
ção regular, a existência de vetores contaminantes,
como compostos de Nitrogênio, Flúor (cujo excesso
causa fluorose e osteoporose), Cromo Hexavalente
(altamente carcinogênico), derivados de petróleo e
outros, assim como de microorganismos patogêni-
cos ou não”. Já a presença dos principais metais,
de características como sólidos totais dissolvidos,
alcalinidade, sais como carbonatos, sulfatos e clo-
retos, além do controle do grupo coliforme, indicará
se a água é confiável para consumo humano, afirma
Pereira. Também darão informações sobre carac-
terísticas incrustantes ou corrosivas. “Usamos as
informações para dar direcionamento adequado às
intervenções nos poços através das manutenções.
Mas, os valores podem mudar ao longo do tempo,
por isso, é fundamental monitorá-los, pois uma água
potável hoje, pode apresentar problemas no futuro.
Portanto, o monitoramento periódico dará a dica da do nível dos aquíferos”. Por isso, segundo o geólogo
tendência que está se formando”, explica ele. Leo Junior, as empresas perfuradoras de poços tam-
bém precisam adotar “novas medidas construtivas
Desafios da urbanização que mitigam riscos de contato com contaminações
superficiais, como uso de equipamentos adaptados
Instalação indevida de aterros sanitários, depósi- e versáteis para locais de difícil acesso e treinamento
tos de lixo, lagoas de decantação industriais, aumento da equipe técnica para realização das obras com téc-
do consumo e demanda por água, maior impermea- nicas atuais de perfuração”.
bilidade do solo e redução da recarga dos aquíferos Eugenio Pereira aponta outros desafios decorrentes
são conseqüências do intenso e crescente processo da urbanização. Os poços sem isolamento sanitário,
de urbanização. Rosângela Modesto explica que “nas por exemplo, podem servir de acesso para vários con-
áreas urbanas, estudos mostram a contaminação taminantes em aqüíferos mais profundos. “A entrada de
das águas subterrâneas por nitrato, decorrente de equipamentos, quanto sua mobilidade, é muito dificul-
sistemas de tratamento in situ comuns no passado tada nas cidades, isto sem falar de áreas urbanas que
e por substâncias decorrentes de atividades indus- sofrem solapamento por exploração indevida de aquífe-
triais, além da superexplotação, com rebaixamento ros cársticos e até regiões onde os terrenos estão sendo

24 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


PRODUÇÃO DE ÁGUA

rebaixados pela exploração indevida de aquíferos confi- trolar a poluição das águas subterrâneas, o que
nados, como é o caso da Cidade do México”, esclarece. é executado por meio da Rede de Monitoramento
Para Elzira Déa Barbour, um dos principais desa- de Qualidade das Águas Subterrâneas, e, pontual-
fios é a “integração do monitoramento da qualidade mente, em ações de prevenção e controle e na fis-
e da quantidade, de forma a gerar informações que calização de fontes de poluição. O DAEE, autarquia
ampliem o conhecimento hidrogeológico, o estabe- vinculada à Secretaria Estadual de Saneamento e
lecimento de perímetros de proteção dos poços e Energia é o órgão gestor de Recursos Hídricos no
a melhoria na articulação dos órgãos gestores com Estado paulista e responsável pela concessão das
o objetivo de melhor instrumentalizar a gestão dos outorgas e fiscalização de recursos hídricos e da
recursos hídricos”. Por isso, além do monitoramento cobrança da água. Já à Secretaria de Saúde, com-
de qualidade realizado em poços tubulares, a CETESB pete a fiscalização das águas subterrâneas desti-
e o DAEE estão implementando, em conjunto, uma nadas ao consumo humano e o atendimento do
rede de monitoramento integrado quali-quantitativo padrão de potabilidade.
das águas subterrâneas, atendendo as diretrizes da
Política de Recursos Hídricos. “O monitoramento foi Os prazos das licenças são:
iniciado no segundo semestre de 2009 em 20 poços • Para a Licença de Execução de Poço Tubular
dedicados, número que deverá, a médio prazo, ser Profundo – três anos (prazo determinado na emis-
ampliado para 200”, aponta ela. são da Licença de Perfuração), com, 30 dias após a
perfuração para solicitar o direito de uso;
Legislação •Para a Outorga de Direito de Uso do
Recurso Hídrico Subterrâneo – cinco anos para o
Em São Paulo, o Decreto nº 32.955/1991 atribui usuário privado e 10 anos para usos de utilidade
à CETESB a responsabilidade de prevenir e con- pública.

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25
PRODUÇÃO DE ÁGUA

Cuidando Mensalmente
Adotar os mesmos procedimentos feitos semanalmen-

do poço
te, acrescentando os seguintes itens:
• Observar se a amperagem ou vazão apresentam osci-
lações durante as medições.
• Coleta e análise de água nos moldes da Legislação
A manutenção dos poços e a utilização de produtos Vigente em seu Estado (ex.: Tabela 09 da MS 518).
certificados são fundamentais para que o poço mantenha
suas características de produção e qualidade de água pre- Trimestralmente
servadas ao longo de toda sua utilização, explica o geólo- As medidas a serem adotadas trimestralmente seguem
go José Paulo G. M. Netto, Diretor da Maxiagua Soluções as adotadas semanal e mensalmente, acrescentando :
em Água. Netto relata que, segundo a literatura, a manu- • Medição do Nível Estático (NE)
tenção preventiva é pelo menos 16 vezes mais econômica
que a corretiva. “A corretiva, acaba sendo necessária sem Importante: para as medições de Nível Dinâmico é
programação e implica em custos adicionais de compra importante que o poço esteja em regime normal de ope-
de água de outras fontes, contratação emergencial dos ração, ou seja, pelo menos seis horas ligado, e, em caso
serviços de manutenção e pode ocasionar quebras na de qualquer anomalia, deverá ser verificado o tempo de
produção do cliente”, observa. A falta de manutenção e operação do poço no momento da medição do nível. Se
variações na vazão de produção relacionadas com incrus- for preciso, a medição deve ser repetida, mantendo-se o
tações implicam ainda em aumento do custo de energia mesmo padrão das medidas anteriores. O mesmo ocorre
por metro cúbico de água explorada em um poço. para o Nível Estático que deverá respeitar um tempo míni-
Segundo Netto, as empresas privadas e as compa- mo de quatro horas de paralisação para que seja medido
nhias estaduais e municipais de Saneamento conhecem com precisão.
bem a importância de um poço e o custo de sua parali-
sação. Por isso, as mesmas têm adotado um controle Anualmente
rigoroso na operação dos poços, além de implantar pro- • Medição do Nível Estático (NE)
gramas de manutenção preventiva. Como benefícios têm • Medição de Nível Dinâmico (ND)
demonstrado uma forte recuperação dos investimentos, • Medição de Vazão
permitindo aumento da produção de água e redução do • Anotação da produção de água do período (tomada
consumo de energia elétrica. “Há ainda a utilização de pelo hidrômetro)
sistemas remotos de monitoramento, que informam a real • Anotação da Amperagem de trabalho do motor
condição da exploração de um poço de forma instantânea • Anotação da Voltagem de trabalho
e podem transmitir estes dados por rádio, celular ou linha • Se o quadro possuir horímetro, anotar o acumulado
fixa de telefonia”, diz ele. do período
Para prevenir e diagnosticar com precisão os proble- • Observar qualquer alteração na qualidade da água:
mas que podem ocorrer em um poço, acompanhe o guia odor, sabor, e cor
rápido com medidas simples, que contribuem no diagnós- • Observar se a amperagem ou vazão apresenta osci-
tico de um problema ou nas medidas corretivas em uma lações durante as medições
manutenção: • Coleta e análise de água nos padrões da MS 518
(tabelas 01, 03, 05 + pH – microcistinas).
Semanalmente
• Medição de Nível Dinâmico (ND) A cada 18 meses
• Medição de vazão • Manutenção e desincrustação química do poço
• Anotação da produção de água do período (tomada • Verificação do estado da tubulação de adução
pelo hidrômetro) • Aferição do hidrômetro
• Anotação da amperagem de trabalho do motor • Revisão do conjunto bombeador
• Anotação da voltagem de trabalho • Teste de resistência elétrica do cabo da bomba
• Se o quadro possuir horímetro, anotar o acumulado
do período Atenção: poços com alterações na qualidade de água
• Observar qualquer alteração na qualidade da água: podem requerer manutenções a cada 12 meses para pre-
odor, sabor e cor servar sua operação ideal e de menor custo.

26 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


dEZEMBRO
Conexão internacional

Quais são suas recomendações


para hidrogeólogos brasileiros?
Por Juliana Freitas e Marcelo Sousa, do Canadá

Nos três anos de existência de nossa coluna, tive- água é muito importante para todos os países. Algo
mos a oportunidade de conversar com muitos pes- que considero importante - e estamos descobrindo
quisadores de destaque. Ao final de cada entrevista, agora nos Estados Unidos - diz respeito ao encerra-
sempre perguntamos quais seriam as recomendações mento e abandono de poços, principalmente em áre-
para um profissional de águas subterrâneas no Brasil. as contaminadas com derramamentos de petróleo. Se
As respostas foram muito interessantes e condensam poços são abandonados de forma inadequada, eles
a sabedoria de muitos anos de trabalho. podem permitir o fluxo de contaminantes de um aquí-
No espírito de planejamento de mais um novo ano fero para outro. Outra coisa que é muito clara para
de nossas vidas, trazemos uma coletânea com uma todos é que a melhor atitude é prevenir que a contami-
seleção de respostas de diferentes entrevistados. O nação ocorra no futuro, porque a remediação é muito
resultado é uma mistura de considerações sobre o cara e nós, como sociedade, não podemos arcar com
futuro da hidrogeologia, planejamento de carreira e isso. Então, as regulamentações com o objetivo de
importância da nossa área. Esperamos que as respos- prevenir a contaminação industrial na água subter-
tas tragam inspiração para os seus planos para 2010! rânea têm tido grande sucesso nos Estados Unidos,
pois a maior parte dos problemas que estamos enfren-
Jim Barker (Universidade de Waterloo – tando agora foram causados no passado.
Canadá) - Na medida em que a área de hidrogeologia
de contaminantes se desenvolve no Brasil, ela deve Tony Endres (Universidade de Waterloo -
servir às necessidades do país. Para isso, deve focar Canadá) - Diria que a primeira coisa é: sua for-
em compostos e situações comuns ou importantes ao mação nunca será suficiente. Hidrogeologia é como
país. O comportamento de contaminantes em solos qualquer outro campo em Ciências da Terra, pre-
residuais deve ser de especial interesse. Muito se cisa de uma boa base nas ciências fundamentais.
sabe sobre hidrogeologia de contaminantes interna- Você deve ser capaz de lidar com física, química e
cionalmente. Muitos compostos de interesse brasilei- biologia. É importante ter uma formação prática e
ro, provavelmente, são bem entendidos por hidroge- sempre estar aberto a ideia de voltar a estudar. Veja
ólogos em algum outro lugar do mundo. Há sempre as escolas de pós-graduação, tente obter o máximo
a necessidade de se manter atualizado sobre o que de treinamento possível em qualquer etapa de sua
está acontecendo para depois adaptar isso às neces- carreira. Outra medida importante é: se exponha
sidades brasileiras. Por exemplo, já se sabe muito ao máximo aos diferentes cenários possíveis. Você
sobre contaminação e remediação por solventes clo- pode se especializar, mas deve tentar ver diferen-
rados em aquíferos arenosos simples. Os problemas tes aplicações, cenários geológicos e problemas
são desafiadores, mas os brasileiros podem ter esse de contaminação. Outra atitude é procurar tornar
conhecimento rapidamente. A grande necessidade o seu campo conhecido ao público, buscando o
é adaptá-lo às situações brasileiras, como em solos máximo de exposição possível em uma comunida-
residuais, ou de acordo com as exigências das agên- de. Além disso, devemos nos esforçar para trazer
cias reguladoras nacionais. Meu último comentário é mais talentos para a área. É raro alguém que vem
direcionado tanto à prática de pesquisa e profissional. do Ensino Médio querer fazer hidrogeologia, porque
O Brasil deve tentar ser uma liderança mundial em ouviu falar sobre o assunto. Em geral, em algum
pelo menos algumas áreas de hidrogeologia de con- momento do segundo ano do curso universitário os
taminantes. O gerenciamento das questões ambien- estudantes se perguntam: “Onde eu posso arrumar
tais em torno da produção e do uso do etanol pode um emprego no final do curso? Que tal hidrogeo-
ser uma dessas áreas. logia? Nunca tinha pensado nisso, mas pode ser
interessante...” Então, como hidrogeólogos, deve-
Barbara Bekins (USGS - Estados Unidos) - mos convencer as pessoas que: a) é interessante;
Primeiro, parabéns por serem hidrogeólogos, pois b) é importante; c) é uma area em crescimento, ao

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


27
Conexão internacional

contrário do que dizem esses artigos que saem de duro, integridade e generosidade compensam
vez em quando dizendo que “geologia é uma área antes do que tarde.
morta”. Está morta até que alguém encontre alguma
coisa e todos os paradigmas sejam destroçados e Larry McKay (Universidade do Tennessee -
jogados fora. E tudo começa de novo... Estados Unidos) - Minha recomendação principal,
que estou dizendo em todas as palestras ao longo
John Wilson (USEPA - Estados Unidos) - desse ano, é enfatizar o aspecto multidisciplinar
Minha sugestão para os hidrogeólogos no Brasil é de problemas ambientais, especialmente relacio-
que comecem a fazer a conexão entre os custos de nados à água subterrânea. Acho que é essencial
remediação da água subterrânea e o valor econô- trazer diferentes perspectivas para lidar com pro-
mico do aquífero que está sendo restaurado. blemas envolvendo águas subterrâneas. Cerca
de metade dos meus alunos de pós-graduação
Walter Illman (Universidade de Waterloo - não são formados em geologia. Tive bons geólo-
Canadá) - Considero muito importante a educação gos como estudantes, mas também tive químicos,
e especialmente a educação continuada, mesmo engenheiros químicos, microbiólogos, ecólogos
após a obtenção de um título (graduação, mes- etc. Todos trazendo um diferente conjunto de habi-
trado ou doutorado). Mesmo sendo um professor lidades. Em muitos casos, quando terminam suas
universitário em Waterloo, continuo aprendendo pesquisas, eles podem fazer coisas muito além do
diariamente sobre os novos desenvolvimentos na que eu consigo. Eu nunca serei tão bom em micro-
área de hidrogeologia. Recomendo aos hidrogeó- biologia como alguns dos meus alunos.
logos brasileiros que assinem as principais publi-
cações científicas e acompanhem as novidades John Molson (Universidade de Laval -
da área. Boas publicações podem ser encontra- Canadá) - Apesar de não ter muita familiaridade
das na internet ou compradas e devem ser estu- com as principais questões hidrogeológicas no
dadas meticulosamente. Os que são aventureiros Brasil, arriscaria dizer que provavelmente são simi-
devem considerar a possibilidade de estudar no lares às que temos aqui no Canadá, onde a pro-
Exterior, como no Canadá, nos Estados Unidos ou teção de águas subterrâneas é o foco principal.
na Europa, onde a hidrogeologia de contaminan- Como é sempre muito mais barato proteger um
tes está mais madura, mais desenvolvida e onde a aquífero do que remediar um contaminado, reco-
prática é mais antiga. mendaria a um jovem hidrogeólogo ser proativo e
atuar no convencimento de órgãos ambientais, de
Pedro Alvarez (Universidade Rice - Estados indústrias e do público sobre a importância de se
Unidos) - Existem algumas características que proteger esses recursos. A prática profissional e o
a maior parte dos profissionais de sucesso na conhecimento podem ser utilizados, por exemplo,
nossa área exibem, independente da nacionali- para o desenvolvimento de métodos cientificamen-
dade. Isso inclui ler muito, com voracidade e cri- te fundamentados e de estratégias para a proteção
ticamente (como Pasteur disse: “no campo da e conservação de águas subterrâneas. Para aspi-
observação, a oportunidade aparece somente rantes a modeladores: faça questão de compre-
para as mentes preparadas”). Esse compromisso ender as limitações e hipóteses do seu modelo e
de aprendizado por toda a vida é particularmente apresente essas informações ao seu público-alvo.
importante no nosso campo, pois tecnologias de Foque no modelo conceitual das áreas a serem
remediação estão se desenvolvendo rapidamen- estudadas e inclua todos – e somente – os proces-
te. Além disso, biorremediação é dificilmente uma sos mais relevantes. Mantenha uma perspectiva
linha reta rumo à meta desejada e o sucesso da geral do problema, o resto são apenas detalhes.
sua implementação pode envolver diferentes pon- Como Albert Einsten disse: “Tudo deve ser feito o
tos de decisões, que exigem flexibilidade e versa- mais simples possível, mas nem um pouco mais
tilidade. Então, exercitar o pensamento indepen- simples que isso”.
dente, principalmente habilidades para definição
do problema e solução do problema é um ponto Jeff McDonnell (Universidade do Oregon
crítico. Isso é coerente com a citação de Einstein, - Estados Unidos) - Recomendo aos meus alu-
que imaginação é mais importante que conhe- nos a buscarem tópicos de pesquisa que sejam
cimento. Mais importante, lembrar que trabalho admiráveis, financiáveis e estejam ao alcance. Um

28 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


Conexão internacional

grande primeiro passo é achar algo que você seja recursos naturais mais essenciais. Águas subter-
apaixonado e depois conhecer os principais arti- râneas não apenas são mananciais públicos para
gos nessa área. Familiaridade com a literatura, muitas comunidades, mas também sustentam a
passada e presente, ajuda muito a desenvolver maior parte de ecossistemas naturais. Esse recurso
novas questões e saber para onde a área deveria pode ser degradado pelo uso excessivo ou por con-
se direcionar. Existe muito que nós não sabemos taminação. A sua responsabilidade será proteger
e entendemos. Por último, minha sugestão para esse recurso, fornecendo uma sólida base científica
um hidrólogo/hidrogeólogo brasileiro começando para o seu uso sustentável. Sustentabilidade signi-
a carreira é: tente desenvolver uma pesquisa com fica que a geração atual possa utilizar na medida
uma “marca”, onde pesquisas são desenvolvidas que esse uso não impeça o uso dos mesmos recur-
e respondem uma “questão central da pesquisa”. sos por futuras gerações. Esse deve ser o princípio
Isso vai trazer ao grupo visibilidade na literatura orientador da sua carreira.
e na pesquisa internacional. Existem muitas áre-
as interessantes em hidrologia e hidrogeologia
no Brasil a serem exploradas – especialmente no
contexto de mudanças de uso de solo e mudan-
ças climáticas – onde os resultados coletados no
país podem influenciar muito o conhecimento e o
desenvolvimento de modelos em outros lugares.”.

Emil Frind (Universidade de Waterloo -


Canadá) - Trabalhar com águas subterrâneas é
mais do que achar água debaixo da terra. Tente
Marcelo Sousa e Juliana Freitas são pós-graduandos da
se imaginar como guardião ou guardiã de um dos Universidade de Waterloo, do Canadá

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


29
remediação

Flutuação do
Nível de Água em
AquÍferos Rasos
Geólogo Marco Aurélio Z. Pede
marcopede@isrrental.com.br

A remediação dos aquíferos contaminados requer No último trimestre de 2008 se observou em vários
o conhecimento das características hidrogeológicas sites contaminados presentes no interior do Estado de
da área contaminada, da extensão, tipo e distribuição São Paulo, inúmeros poços de monitoramento secos ou
da pluma de contaminação e dos aspectos técnicos com coluna de água insuficiente para coleta de amostras.
locais para implantação dos equipamentos. Na região Sudeste, a instalação de poços de
Em uma área contaminada, os fenômenos de monitoramento no período de março a maio deve ser
variação do nível de água em aquíferos rasos afetam realizada com critério, pois é quando grande parte
diretamente os processos que governam o fluxo de dos aquíferos rasos apresenta o ápice da recarga.
água subterrânea, bem como os processos de tra- A sabedoria popular mostra este conhecimento
peamento e destrapeamento de Compostos de Fase na prática. Os construtores de cacimbas, ou pocei-
Líquida Leve Não Aquosa (LNAPL) e, consequente- ros, sabem há muito tempo que o melhor período de
mente, os trabalhos de remediação. escavação e instalação das cacimbas é de outubro
O nível de água em aquiferos rasos oscila em res- a novembro, quando o aquifero se encontra em seu
posta aos inúmeros fenômenos, tais como aqueles de menor nível, permitindo a escavação de porções do
natureza antrópica (irrigação, bombeamento, fuga de aquífero que a partir do final do mês de dezembro
água e esgoto do sistema de público abastecimento e começam a ficar saturadas.
coleta) e flutuações sazonais naturais relacionadas à
recarga direta através da precipitação de chuvas.

Divulgação Jundsondas
No Brasil, são poucos os trabalhos existentes de
acompanhamento de forma contínua e de longo pra-
zo da flutuação do nível de água em aquíferos rasos.
Entre os trabalhos destaca-se o de Carnier Neto
(2006), que monitorou um poço instalado na Forma-
ção Rio Claro, no município de Rio Claro (SP), no perí-
odo de setembro de 2001 a março de 2006 (Figura
01). O poço de monitoramento apresentava nível de
água inicial de 7,70m.
Carnier Neto (2006) observou diferentes ciclos
sazonais de recarga e descarga do aquífero resultante
das variações pluviométricas anuais. O valor máximo É preciso selecionar criteriosamente o melhor período de
escavação e instalação das cacimbas
de coluna aumentou, a cada ciclo, em 2002, 2003 e
2004, voltando a cair em 2005 (Figura 01).
A variação de 3,5 metros, no período de setem- Referência:
bro de 2001 (mínima) a março de 2004 (máxima), CARNIER NETO D. Análise das séries temporais de
mostra que, ao longo dos anos, é possível ter monitoramento de nível d’água em poços no aquífero Rio
poços de monitoramento secos, mesmo se tiverem Claro. 2006. 61f. Dissertação (Mestrado em Geociências e
sido instalados com colunas de água superiores a Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e Ciências Exa-
dois metros. tas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

30 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010


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