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PLANEJAMENTO
E GESTÃO
VERSÃO REVISADA
Secretaria Nacional
de Saneamento
Ambiental - SNSA
MINISTÉRIO DAS CIDADES tos Pedrosa, Hugo Fagner dos Santos Pedrosa,
Ítala Gomes dos Santos Jesus, Jair Jackson Dias
Ministro das Cidades Santiles, Jairo Tardelli Filho, Jardel Almeida de
Alexandre Baldy de Sant’anna Braga Oliveira, Jean Morillas, João Gustavo Ferreira Ju-
nior, João Roberto Rocha Moraes, José Fabiano
Secretário Executivo Barbosa, Julian Thornton, Ksnard Ramos Dantas,
Silvani Alves Pereira Leandro Moreira, Lineu Andrade de Almeida,
Luís Carlos Rosas, Luís Guilherme de Carvalho
Secretário Nacional de Saneamento Ambiental Bechuate, Luiz Fernando Rainkober, Mariana
Adailton Ferreira Trindade Freire dos Santos, Maurício Alves Fourniol, Mau-
rício André Garcia, Michel Vermersch, Milene
Diretor do Departamento de Planejamento e Cássia França Aguiar de Salvo, Nilson Massami
Regulação Taira, Paula Alessandra Bonin Costa Violante,
Ernani Ciríaco de Miranda Paulo Cezar de Carvalho, Pedro Frigério Paulo,
Pedro Gilberto Rodrigues da Mota, Pedro Paulo
Coordenadora da UGP/SNSA da Silva Filho, Pertony Ribeiro Guimarães, Ro-
Wilma Miranda Tomé Machado dolfo Alexandre Cascão Inácio, Rodrigo Andrade
de Matos, Rodrigo Martin Teresi, Sílvio Henrique
Equipe Técnica do INTERÁGUAS Campolongo, Thatiane Medeiros Soares de Al-
André Braga Galvão Silveira, José Dias Corrêa meida, Vinicius Kabakian, Wantuir Matos de Car-
Vaz de Lima, Paulo Rogério dos Santos e Silva valho, Wellington Luiz de Carvalho Santos
3. METODOLOGIA.................................................................................................................................... 13
3.1 Detalhamento da Metodologia na AT 5..............................................................................................13
3.2 A Necessidade da Revisão dos Critérios de Projeto e Construção.............................................16
3.3 Melhoria da Gestão e do Controle de Qualidade na Aquisição de Materiais,
Equipamentos e Serviços................................................................................................................................18
3.4 A Gestão de Ativos de Infraestrutura...................................................................................................19
3.5 A Gestão de Sistemas Distribuidores com o Uso de Distritos de Medição e
Controle para Reduzir o Tempo de Conhecimento dos Vazamentos................................................21
3.5.1 Balanço Hídrico....................................................................................................................................22
3.5.2 Calculando a Submedição dos Parques de Medidores...........................................................25
3.5.3 Parâmetros de Nível de Serviço: Indicadores Calculados para Relativizar
Outros Indicadores de Desempenho Baseados na Matriz do Balanço Hídrico.........................27
3.5.3.1 Pressão Média Do Sistema (PMS)...........................................................................................27
3.5.3.2 Tempo Médio de Abastecimento (TMA)................................................................................27
3.5.4 Modelagem Bottom Up.....................................................................................................................29
3.5.4.1 Determinação de Consumos Mínimos Noturnos...............................................................30
3.5.5 Indicadores de Desempenho Operacional Adequados para a Compreensão
da Complexidade do Fenômeno das Perdas de Água........................................................................33
3.5.5.1 Parâmetros de Nível de Serviço e Volume de Perdas Reais..........................................35
3.5.5.2 Desempenho de Perdas Reais..................................................................................................35
3.5.5.3 Desempenho de Perdas Aparentes........................................................................................36
3.5.5.4 Desempenho Financeiro............................................................................................................36
3.5.5.5 Matriz de Avaliação de Perdas Reais do Banco Mundial................................................37
3.6 Padronização de procedimentos...........................................................................................................39
3.7 Os Contratos de Desempenho Aplicados à Atividade de Redução e
Controle de Perdas de Água e Eficiência Energética.............................................................................41
Lista de Figuras
Figura 1. Dinâmica das Perdas...................................................................................................................................11
Figura 2. Gestão da Mudança no Planejamento do Controle e Redução de Perdas...............................12
Figura 3. Fluxograma de Metodologia de Implantação e Gestão de DMC.................................................15
Figura 4. Para que Servem os Balanços Hídricos.................................................................................................22
Figura 5. Matriz do Balanço Hídrico.........................................................................................................................23
Figura 6. Estimativa de Perdas Aparentes no Balanço Hídrico.......................................................................25
Figura 7. Exemplo de Curva de Desempenho da Medição (Valores Estimados para
Hidrômetro Classe B)....................................................................................................................................................25
Figura 8. Evolução da Maturidade dos Balanços Hídricos...............................................................................28
Figura 9. Tela da Modelagem no EPANET..............................................................................................................29
Figura 10. Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no DMC Feira X - Operado
pela Embasa, em Feira de Santana, BA...................................................................................................................31
Figura 11. Estruturação de Procedimento Operacional Padrão-Pop (Parte 1)..........................................31
Figura 12. Estruturação de Procedimento Operacional Padrão-Pop (Parte 2)..........................................40
Figura 13. Áreas Passíveis de Aplicação de Contrato de Performance em
Redução e Controle de Perdas...................................................................................................................................41
Figura 14. Características Chaves para o Desempenho de Companhias
Eficientes e Sustentáveis.............................................................................................................................................44
Figura 15. Apoio da Comunidade ao Prestador de Serviço..............................................................................44
Lista de Fotos
Foto 1. Desobstrução da Rede de Água..................................................................................................................17
Lista de Tabelas
Tabela 1. Resultado da Fiscalização de Usos não Autorizados em Campo................................................25
Tabela 2. Método da Curva de Desempenho da Medição.................................................................................26
Tabela 3. Estimativa de Pressão Média do Sistema (PMS)...............................................................................27
Tabela 4. Cálculo Demonstrativo do TMA..............................................................................................................28
Tabela 5. Carregamento de dados da Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no
DMC Feira X - Operado pela EMBASA, em Feira de Santana, BA....................................................................32
Tabela 6. Resultados da Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no DMC Feira X -
Operado pela EMBASA, em Feira de Santana, BA...............................................................................................33
Tabela 7. Análise de um Sistema com Indicadores Percentuais.....................................................................34
Tabela 8. Indicadores Recomendados pela IWA...................................................................................................34
Tabela 9. Inserção de Parâmetros para Cálculo de Indicadores Financeiros no
Balanço Hídrico...............................................................................................................................................................37
Tabela 10. Matriz de Avaliação de Perdas do Banco Mundial.........................................................................38
Tabela 11. Recomendações do Banco Mundial em Função das Categorias de
Desempenho Técnico....................................................................................................................................................38
Tabela 12. Características dos Contratos de Desempenho..............................................................................42
Planejamento e Gestão
1. A SISTEMATIZAÇÃO DO
PROJETO – METODOLOGIA
E ESTUDOS DE CASO
A
metodologia do Projeto COM+ÁGUA.2, elétrica em sistemas de abastecimento de água
para a gestão integrada e participa- selecionados na Chamada Pública nº 104/2014
tiva visando o combate e o controle está descrita em seis livretos que compõem o
das perdas de água e o uso eficiente de energia Compêndio Metodológico COM+ÁGUA.2:
5
Planejamento e Gestão
2. PLANEJAMENTO E GESTÃO
CONCEITO E HISTÓRICO
N
o setor de saneamento, por suas ca- cial, sugeriu-se a formatação diferenciada de in-
racterísticas corporativas e políticas, vestimentos do setor de saneamento básico para
ainda não se tem como regra a adoção redução do déficit, priorizando, também, a atua-
sistemática da gestão com base no planejamen- ção nas áreas urbanas. Assim, em julho de 1967,
to, pois apesar de mapas estratégicos bem ela- as orientações do Governo Federal para o sanea-
borados, as dificuldades diárias e outros fatores mento básico estabeleciam que no plano decenal
impõem a gestão pelo planejamento situacional estivessem consignadas algumas diretrizes para
ou temporal. Isto quer dizer, respectivamente, as políticas públicas do setor, entre elas:
que o gestor decide com base no dia a dia ou de a) Promover o planejamento e a coordena-
acordo com as mudanças do calendário eleitoral, ção dos programas de saneamento básico;
notadamente, no caso de prestadores públicos. b) Concentrar recursos em programas e pro-
Entretanto, muitos prestadores elaboram jetos prioritários, dentro de uma escala de va-
seus planejamentos visando definir o que pre- lores a ser estabelecida pelo órgão nacional de
tendem fazer, quando e como, buscando em planejamento e coordenação do programa.
geral o desenvolvimento de um processo de to- Desde esta época e até a Lei nº 11.445/2007,
mada antecipada de decisões. O planejamento que inseriu os conceitos de gestão, planejamen-
não deve ser visto como um processo estático. to e sustentabilidade como dispositivos legais,
Ele também pressupõe um processo contínuo de aconteceram eventos, tais como:
reavaliação das decisões, sempre elaborado com
envolvimento e participação do maior número e Em 1971, foi criado o Plano Nacional de Sa-
possível de empregados, gerentes e diretores. neamento – PLANASA, cujo objetivo geral
Hoje, de fato, muito se fala e se praticam ati- era a implementação de ações necessárias
vidades relacionadas à gestão e ao planejamen- à redução dos déficits no abastecimento de
to. A história do saneamento nacional não tão água e no esgotamento sanitário nas áreas
distante, com a criação das Companhias Esta- urbanas;
duais de Saneamento Básico - CESB, mostra que e De 1975 até 1979, foram implementadas ati-
já se passou por um período rico em tentativas, vidades de treinamento e capacitação, a par-
acertos e erros, num ciclo que se mantém, ainda tir do Programa de Assistência Técnica para o
hoje, em muitas localidades. A motivação inicial Desenvolvimento Institucional das Empresas
para fomentar a gestão e o planejamento foi o Estaduais de Saneamento – SATECIA;
déficit de abastecimento de água, na época. e A partir de 1980, foi criado o Programa de De-
Em meados de 1966, no âmbito do Plano senvolvimento Institucional das Companhias
Decenal de Desenvolvimento Econômico e So- Estaduais de Saneamento Básico – PRODI-
6
Planejamento e Gestão
SAN, cuja característica mais importante foi Sistema Nacional de Informações sobre Sanea-
buscar a consolidação do aprimoramento mento - SNIS, desde 1995, avaliando como os
empresarial e técnico das CESB; efeitos da gestão e do planejamento ocorreram
e Em 1981, foi criada a primeira Comissão Na- ao longo da história recente do saneamento.
cional de Controle de Perdas pelo Banco Na- Para tanto, não se pode dispensar que dentro
cional de Habitação - BNH, para que fossem da regionalização do país existem característi-
traçadas as diretrizes de combate ao eleva- cas particulares de zonas ambientais, hídricas,
do índice de perdas das CESB. Esta comissão sociais, econômicas e políticas que exigem, de
criou o Programa Estadual de Controle de fato, gestão e planejamento, como ações perma-
Perdas – PECOP; nentes para garantir a qualidade dos serviços e
e Em 1984, foi implantado o Programa de De- seu acesso por todos.
senvolvimento Operacional − PEDOP, que vi- Desde 2013, com o Plano Nacional de Sa-
sou promover mudanças no gerenciamento neamento - PLANSAB e seus assemelhados pla-
das CESB, com ênfase para o planejamento, o nos municipais, além dos planos diretores de re-
controle e o desenvolvimento da operação; cursos hídricos e de desenvolvimento, pode-se
e Em 1993, o projeto piloto do Programa de dizer que há um ambiente favorável ao fortale-
Modernização do Setor de Saneamento – cimento da gestão e planejamento.
PMSS e, em 1997, a elaboração do Progra- A história geral dos últimos 28 anos pós-
ma Nacional de Combate ao Desperdício da -PLANASA mostra que em razão das tentativas,
Água – PNCDA. erros e acertos, deve-se verificar que o sucesso
do planejamento está sem dúvida associado à
Em janeiro de 2007, a Lei nº 11.445/2007 foi sua integração com o ambiente urbano e social,
promulgada pela Presidência da República, es- no qual o prestador de serviço atua e também,
tabelecendo no Capítulo IV – Do Planejamento, como foram envolvidos os agentes que partici-
a conexão entre os planos municipais e os pro- pam da elaboração e do gerenciamento do pla-
gramas, projetos e ações necessárias para atin- nejado, como por exemplo: representantes da
gir os objetivos e as metas, de modo compatível sociedade, do poder concedente, dos gestores e
com os respectivos planos plurianuais e com ou- empregados do prestador de serviço.
tros planos governamentais correlatos, identifi- Por fim, o planejamento não pode levar
cando possíveis fontes de financiamento; ações as empresas a serem reféns dos planejadores
para emergências e contingências; mecanismos crônicos, que apenas conseguem planejar sem
e procedimentos para a avaliação sistemática transformar o planejado em ação e resultados.
da eficiência e eficácia das ações programadas, É preciso ter capacidade para elaborar planos
contidos nos incisos do Art. 19. reais, exequíveis, viáveis e aplicáveis para os ob-
Entendendo a importância e a necessidade jetivos desejados, visando à integração de todos
de se ter o planejamento para fazer a gestão em busca de resultados para a sociedade e para
com base nele, talvez seja mais relevante ob- o prestador de serviços.
servar o cenário nacional a partir da história do
7
Planejamento e Gestão
Controle
Gestão da Ativo de
Qualidade e Pressão Vazamentos
Rapidez dos Substituição de
Reparos dos Redes e Ramais
Vazamentos
Perdas
Reais
Perdas
Aparentes
11
Planejamento e Gestão
É fácil entender que se todas as setas estão de insucesso dos planos de ação para redução
apontadas para dentro, a perda total será redu- de perdas.
zida. Porém, se uma parte é dirigida para dentro Outro aspecto que deve ser trazido à luz
e outra parte para fora, torna-se mais complica- da reflexão é a “Gestão da Mudança como um
do saber qual será a resultante, pois uma parte Componente Indispensável no Planejamento
das ações empenhadas em determinado tema do Controle de Perdas”. Especialistas propõem
irá gerar uma redução das perdas, mas em outro a implementação de um plano de ação tridi-
poderá gerar um aumento. mensional para que a sustentabilidade dos bons
O esquema dinâmico apresentado mostra a resultados possa ser garantida. Esta abordagem
possível migração das perdas reais para perdas baseou-se na revisão e análise de muitos planos
aparentes e vice-versa. O fato de não considerar de ação para redução e controle de perdas, exi-
essa potencial migração é uma causa frequente tosos ou não.
3. METODOLOGIA
N
a concepção do COM+ÁGUA.2, inter- apenas nele. O grau de facilidade para isolar os
nalizando os conceitos da Força Ta- DMC deve ser outro critério, começando-se dos
refa da IWA para Perdas de Água, uma mais fáceis para os mais difíceis, principalmente
questão estratégica para os programas de PRCP se os recursos financeiros e humanos ainda são
é a implantação de Distritos de Medição e Con- escassos para a gestão do sistema com base em
trole (DMC). Os DMC são constituídos pelo fra- novos paradigmas.
cionamento suficiente dos sistemas distribui- Em se tratando da abordagem metodológica
dores em pequenas unidades em que se pode do COM+ÁGUA.2 para conhecer e combater as
gerenciar a diário o surgimento de novos vaza- perdas reais, o presente CADERNO TEMÁTICO
mentos, sejam reportados ou não visíveis. Por 5 – PLANEJAMENTO E GESTÃO se complementa
serem ambientes monitorados continuamente com o CADERNO TEMÁTICO 2 – PERDAS REAIS,
em suas variáveis hidráulicas (vazões, pressões pois ambos tratam de elementos que, direta ou
e níveis) prestam-se perfeitamente como unida- indiretamente, refletem na prevenção, redução e
des de ação e avaliação nos Programas de PRCP controle das perdas reais.
e ambiente de integração das ações de combate No presente CADERNO TEMÁTICO 5 estão con-
às perdas reais e aparentes e de mobilização gregadas abordagens relativas aos subprojetos de:
social. Os DMC têm sido apontados pelos espe-
cialistas como solução para companhias ricas e e Revisão das políticas e processos de aquisi-
pobres. Sempre que possível e indicado, os DMC ção de materiais, equipamentos e serviços, e
podem também coincidir com áreas de controle desenvolvimento do controle de qualidade no
de pressão por VRP. suprimento destes insumos;
Respeitando critérios de viabilidade econô- e Implantação de sistema de gestão de ativos de
mica, a escolha da sequência dos DMC a serem infraestrutura, incluindo o estabelecimento de
implantados é fundamental para a otimização regras operacionais que permitam o estabele-
dos recursos disponíveis e maximização dos cimento de prioridades na tomada de decisões;
resultados de um programa de PRCP. De forma e Modelagem de forma(s) de contratação por
geral, os prestadores conhecem onde estão as desempenho em atividades de combate a per-
maiores perdas de água em seus sistemas, mes- das de água e eficiência energética;
mo que de maneira empírica, e por isso, a es- e Revisão de critérios de projeto e construção;
colha do setor ou zona de abastecimento para e Reestruturação organizacional para a ges-
início dos trabalhos de implantação de DMC tão dos sistemas distribuidores com base
deve basear-se neste conhecimento, porém não em DMC; institucionalização do controle de
13
Planejamento e Gestão
14
INICIO - Facilidade de isolamento
- Localização do DMC na macroárea
Definir a prioridade (preferencialmente ir implantando
de implantação no caminho da água)
Priorizar áreas com maior
Elaborar diagnóstico - Porte do DMC
Avaliar o sistema índice de perdas e maior Implantar o DMC
distribuidor com BH Top Down - Indices de perdas do DMC
facilidade de implantação
Sistematicamente
15
Planejamento e Gestão
É importante ressaltar que esse percurso mento e gestão dos prestadores, eles transcen-
metodológico é aplicável a qualquer prestador dem em muito os limites dos DMC, uma vez que
de serviço. se trata, via de regra, de questões ligadas à ges-
No caso específico dos temas tratados no tão da organização como um todo.
âmbito do COM+ÁGUA.2, relativos ao planeja-
tráfego, redes de gás, energia, esgotos, águas to que atualmente há uma gama de materiais
pluviais, telefonia, etc., e esbarram apenas na que, além de favorecer a redução de vazamen-
cultura estagnada de boa parte do setor de sa- tos, contribuem com preservação da qualidade
neamento. Têm também o potencial de proteger da água distribuída. Tal é o caso da utilização
melhor as novas tubulações construídas, com de tubos de polietileno da alta densidade sol-
benefícios para a qualidade da execução e com dáveis em redes e ramais; a utilização de Tês
custo-benefício melhor que soluções convencio- de serviço nas derivações de ramais; a utiliza-
nais. Em alguns casos, a utilização de MND é a ção de abraçadeiras para corrigir vazamentos
única solução possível, mas esta não deveria ser com a rede em carga; limpeza e revestimento
uma restrição para sua utilização. de tubulações, etc.
Quanto aos materiais das tubulações, é cer-
das nos sistemas distribuidores de água. Pode-se disponível, associado ao histórico de falhas, é
incluir também neste patrimônio os medidores e ponto essencial a ser atualizado e mantido para
dispositivos de controle operacional e eficiência que se possa conhecer quais os ativos da orga-
energética, os quais, de forma integrada, comple- nização, sua condição operacional e vida útil, de
tam o ciclo da Cruz de Lambert. modo que se possa planejar adequadamente a
Como se trata neste tópico de planejamento e gestão do plano de manutenção e reabilitação
gestão, há que se enfatizar este processo que leva dos ativos.
a boa operacionalização da gestão de ativos. As- O histórico de falhas nada mais é que um re-
sim, seguir uma metodologia para que a gestão de latório que contém o que aconteceu com deter-
ativos se configure num projeto eficaz na organi- minada unidade operacional ao longo do tempo,
zação requer seguir alguns passos recomendados desde sua instalação, manutenções preventivas
pela IWA, como por exemplo: e corretivas, atualizações, reabilitação e substi-
tuição, com destaque das causas de cada situa-
e Decisão estratégica corporativa com o objetivo ção e solução adotada. Reporta-se, então, à Cruz
a ser alcançado, local a ser estudado, prazos, de Lambert para observar a importância da in-
resultados esperados, metas e área(s) respon- tegração de ações, como por exemplo, o contro-
sáveis pelos estudos e gerenciamento da im- le de pressões e ativo de vazamentos que tem
plantação, operação e manutenção dos ativos; impacto direto nas perdas reais, na medida em
e Diagnóstico para levantamento de dados e in- que interferem na condição operacional das tu-
formações sobre a(s) área(s) onde se desenvol- bulações e no acompanhamento de sua vida útil.
verão os projetos tais como: número de liga- Diante da discrepante realidade que figu-
ções; extensão, material, diâmetros e idade da ra nos diversos sistemas de abastecimento de
rede existente; situação física e operacional da água no Brasil, até mesmo naqueles operados
rede existente; histórico de ocorrência de va- por um só prestador, se torna desafiador conhe-
zamentos; quantidade de reparos feitos; con- cer e padronizar o ciclo de vida de determinadas
dições socioeconômicas da população da(s) unidades e equipamentos integrantes da in-
área(s) escolhida(s); situação da manutenção; fraestrutura, assim como tentar estabelecer uma
custos com operação e manutenção da rede; uniformidade nas decisões a respeito da gestão
e Desenvolvimento e elaboração do plano de de ativos no prestador.
gestão dos ativos com etapas como o projeto À título de exemplo, redes implantadas na
de solução técnica e operacional; estudo eco- mesma época em diferentes sistemas, a depen-
nômico para a viabilidade financeira e admi- der do regime operacional aos quais foram sub-
nistrativa; cronograma físico-financeiro; ava- metidas (variações de pressão, regime e critérios
liação de formas de contratação dos serviços de operação e manutenção, etc.), podem ter ci-
a serem desenvolvidos; clos de vida significativamente diferentes.
e Implantação do plano; Mesma analogia pode ser aplicada para o
e Gestão do plano com monitoramento e con- caso dos hidrômetros. A depender da instalação,
trole por indicadores estabelecidos e avalia- da qualidade da água tratada, do regime ope-
ção periódica do andamento das etapas física, racional da rede de distribuição, do perfil de
financeira e resultados; consumo do cliente, entre outros aspectos, lotes
idênticos entregues pelos fabricantes podem ter
e Revisão e avaliação do plano.
ciclos de vida diferentes.
Como se trata de planejamento e gestão, é ne- Fica assim evidente que o plano de gestão
cessário que, de acordo com as características de de ativos do prestador deve levar em conta a
cada prestador de serviços, se desenhe um plano particularidade de cada sistema, o que requer
que tenha como premissas a participação e o en- um profundo trabalho de registro histórico e
volvimento dos colaboradores e gestores, fortale- análise de todas as unidades, além de estudos
cidos pela mobilização interna direcionada para o complementares, com vistas a mensurar a reali-
programa de PRCP, particularmente o projeto de dade de cada sistema.
gestão de ativos, neste caso. Partindo assim dos objetivos e níveis de ser-
O cadastro técnico de toda a infraestrutura viço estabelecidos, são desenvolvidos os planos
20
Planejamento e Gestão
e Otimização do controle ativo de vazamentos, obtenha retorno em relação aos custos que foram
atuando-se no combate assim que o operador necessários para a sua implantação.
identificar anomalias ou ocorrências de fugas
nos gráficos de monitoramento das vazões mí- 3.5.1 Balanço Hídrico
nimas noturnas; O balanço hídrico consiste numa ferramenta
e Avaliação correta do impacto dos diversos ti- para quantificar e tipificar as perdas de água nos
pos de ações voltadas para a redução das per- sistemas de distribuição, permitindo a análise des-
das reais e aparentes; tas perdas bem como seus custos efetivos. É um
e Construção de sinergia nas ações de combate balanço de massas, que integra informações ope-
a perdas reais e aparentes, evitando-se a mi- racionais e comerciais de rotina, por meio do qual
gração entre os diferentes tipos de perdas; obtém-se uma base excelente para a geração de
e Identificação precisa da taxa natural de cres- diversos indicadores de desempenho operacional
cimento das perdas na ausência de ações de adequados à compreensão do complexo fenôme-
combate; no das perdas de água. Tipificar as perdas de água
e Por serem ambientes continuamente monito- consiste em quantificá-las volumetricamente em
rados, os DMC são perfeitos para serem utili- termos de perdas reais e aparentes. Desta forma
zados como unidades de ação e avaliação nos torna-se possível montar programas de PRCP con-
programas de redução de perdas. sistentes com a realidade dos sistemas e com be-
nefícios quantificáveis.
Todavia, importante ressaltar que a implan- Com o amadurecimento das experiências, e
tação de DMC demanda uma cultura operacional após os estudos desenvolvidos por diversos espe-
diferente daquela hoje praticada pelos prestado- cialistas pelo mundo, essa ferramenta se consoli-
res. Requer que as equipes estejam capacitadas dou como um instrumento indispensável para a
para a operação de DMC, com a visão e o preparo gestão de um sistema de abastecimento de água.
para o controle ativo de vazamentos, aplicação da É importante destacar, em especial, os esforços dos
modelagem bottom up, manutenção das medições. pesquisadores da IWA no refinamento dos concei-
Em algum tempo, sem o devido preparo, o DMC tos intrínsecos ao balanço hídrico, bem como na
perderá suas características fundantes (isolamen- disseminação e experimentação de seu uso.
to, por exemplo), fazendo com que o prestador não
Balanço Hídrico
VOLUME FATURADO
CONSUMO MEDIDO
VOLUME
AUTORIZADO
FATURADO
FATURADO VOLUME FATURADO
CONSUMO NÃO-MEDIDO
AUTORIZADO
VOLUME NÃO FATURADO
CONSUMO MEDIDO
AUTORIZADO
NÃO-FATURADO VOLUME NÃO FATURADO
VOLUME DE NÃO MEDIDO
ENTRADA
SUBMEDIÇÃO
VOLUME DE ÁGUA
NÃO FATURADA
PERDAS CLANDESTINOS/FALHAS DE
APARENTES CADASTROS
PERDAS DE
ÁGUA FRAUDES
PERDAS REAIS
Fonte: Guia Prático da Série Balanço Hídrico V3 - Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento - AESBE
23
Planejamento e Gestão
adotada pelo prestador de serviço. Nesse -se indevidamente à rede distribuidora visando
caso, o volume a ser considerado no balan- o furto de água para uso, seja ele residencial,
ço é o de 5 m³, que equivale àquele efeti- comercial, industrial ou mesmo público. Em ge-
vamente consumido. O volume faturado não ral, são ligações improvisadas e mal executadas,
consumido não deve fazer parte do balanço que são realizadas pelo próprio usuário sem o
hídrico, pois ele é um balanço de massas, consentimento do prestador de serviço.
que por definição, tem como objetivo princi- As falhas de cadastro, na definição sugerida
pal quantificar e tipificar as perdas de água pelos Guias Práticos da AESBE, classifica os erros
entre reais e aparentes. de cadastro nas situações como os religados à
É importante notar que a matriz do balan- revelia, onde o usuário viola a restrição de con-
ço hídrico traz para ambas as classificações sumo imposta legalmente pelo prestador; o caso
de consumo autorizado faturado, e consumo do imóvel não cadastrado, quando o imóvel está
autorizado não faturado, as possibilidades regularmente conectado à rede distribuidora, po-
de que esses volumes tenham, ou não, sido rém ainda não consta no banco de dados do pres-
medidos. Isto permite a adequação às situa- tador ou consta apenas como usuário factível, e
ções ainda muito comuns de sistemas com ainda a situação de hidrômetro não cadastrado,
deficiência de medição, permitindo o lança- que corresponde a um hidrômetro regularmente
mento dessa informação de forma desagre- instalado no ramal do usuário, porém ainda não
gada e com erros associados às estimativas. constante no banco de dados do prestador.
A fraude, por sua vez, pode ser classificada
Uma vez caracterizados o volume de entra- como violação de hidrômetro, que caracteriza
da no sistema e o consumo autorizado total, por qualquer tipo de intervenção direta ou mani-
diferença obtém-se as perdas totais de água. As pulação por parte do usuário no medidor do
perdas totais estão divididas entre perdas apa- prestador, visando evitar ou reduzir o registro de
rentes e perdas reais. volumes; a ligação direta, quando se faz o aces-
so indevido por parte do usuário com ligação
e As perdas aparentes são estimadas no Ba- cadastrada do prestador ao ramal predial ou à
lanço Hídrico em termos de volumes e com- rede formal, antes do medidor, visando subtrair
preendem as parcelas de submedição, clan- volumes ao registro de consumos para uso do
destinos/falhas de cadastro e fraudes; próprio imóvel ou para o uso de terceiros. Em
e As Perdas reais resultam, portanto, da dife- outros termos, trata-se necessariamente de uma
rença entre as perdas totais e a estimativa infração cometida em uma ligação oficial do sis-
de perdas aparentes. tema e que é passível de tratamento à luz do
Código Penal e, também, com tratamento previs-
Não é possível observar nos prestadores um to na Lei 11.445/2007, que caracteriza o Marco
padrão na tipificação e na terminologia utiliza- Regulatório do Saneamento no Brasil.
das na determinação de consumos não autoriza- Vale destacar que, dentre os consumos não
dos. Neste sentido, os Guias Práticos produzidos autorizados mencionados, parte significativa é
pela Associação Brasileira das Empresas Esta- oriunda de estimativas que possuem uma alta
duais de Saneamento - AESBE inovam na tentati- incerteza associada, considerando a própria natu-
va de construir uma referência comum e, de fato, reza do consumo. Assim, é importante estabelecer
torna-se importante diferenciar essas situações critérios para se fazer estimativas de modo que
para que cada qual seja informada com o con- apresentem consistência, justificativa técnica e
ceito correto e associando os erros a cada caso. potencial de replicação para diferentes sistemas.
A ligação clandestina refere-se a uma li- Por exemplo, numa situação em que se esteja
gação que não existe nos bancos de dados do fazendo balanço hídrico de setores de abasteci-
prestador. Geralmente ocorre em áreas não mento dentro de um mesmo município, as esti-
atendidas, devido a problemas fundiários ou de mativas poderiam ser replicadas a cada setor com
restrição ambiental, onde o usuário conecta- base em parâmetros equivalentes e defensáveis.
24
Planejamento e Gestão
SUBMEDIÇÃO
FRAUDES
Fonte: Guia Prático da Série Balanço Hídrico V3 - Associação Brasileira das Empresas Estaduais de
Saneamento - AESBE
Por exemplo, pode-se utilizar as inspe- algum tempo, ter-se-á parâmetros bastante
ções em campo rotineiras do pessoal da área confiáveis para a estimação da quantidade de
comercial, para se estabelecer parâmetros de eventos de consumos não autorizados. Este é
quantificação dos eventos de consumos não um passo importante e preliminar para a esti-
autorizados segundo os diversos tipos. Após mativa de volumes.
25
Planejamento e Gestão
avaliar, por métodos amostrais, o desempenho A tabela a seguir ilustra a maneira de fazer os
dos parques de medidores instalados, conforme cálculos com base na idade, quantidade de medi-
o tempo de instalação. dores, volume micromedido e IDM para cada ano.
Estimativa de
Quantidade Volume Estimativa
Submedição
TIPO Idade (anos) de micromedido IDM de Consumo
Média período
hidrômetros Período (m³) Período (m³)
(m³)
INFORMAÇÃO AGREGADA PARA
4623 28694 0 0
TODO O PARQUE
0 94 767 94,53% 44 811
1 165 1127 90,34% 121 1248
2 206 1336 88,87% 167 1503
3 198 1132 87,99% 154 1286
4 198 1086 85,83% 179 1265
5 230 1316 82,98% 270 1586
6 289 1850 81,91% 408 2258
A pesquisa de amostras aleatórias estra- lização de serviços de campo neste tipo de lo-
tificadas é feita no universo de hidrômetros cal. A amostra deve ser estratificada segundo
a estudar. Este universo deve ser constituído características como: capacidade do hidrômetro,
pelos hidrômetros domiciliares que estejam tempo de instalação e classes de consumo, en-
funcionando, excluídas as áreas de habitações tre outras. Sobre esta amostra são realizados os
subnormais pelas naturais dificuldades de rea- ensaios de campo em áreas do sistema distri-
26
Planejamento e Gestão
buidor, com pressão dentro do padrão e não su- 3.5.3.1 Pressão Média do Sistema (PMS)
jeitas a intermitências, ainda que ocasionais. Os A determinação deste parâmetro encontra-
ensaios consistem basicamente na instalação de -se tratada no CADERNO TEMÁTICO 2 – PERDAS
conjuntos de medidores classe C ou D, devida- REAIS.
mente calibrados em laboratórios, associados a Não faz sentido falar de vazamentos sem
armazenadores de dados. Esses conjuntos são mencionar a Pressão Média. Este parâmetro é
instalados em série com os medidores selecio- utilizado na relação Pressão-Vazamento e tam-
nados na área de estudo para uma calibração bém no cálculo de indicadores de perdas reais
em campo com a determinação do índice de que servem como parâmetros comparativos
submedição daquela amostra de estudo. entre diferentes sistemas de abastecimento. No
caso da modelagem do balanço hídrico para um
3.5.3 Parâmetros de Nível de Ser- sistema com diversos setores ou zonas de abas-
viço: Indicadores Calculados para tecimento, é necessário fazer a ponderação da
Relativizar Outros Indicadores de De- Pressão Média de cada setor para obter-se um
sempenho Baseados na Matriz do resultado que corresponda à área que está sendo
Balanço Hídrico modelada, como ilustrado no exemplo abaixo:
27
Planejamento e Gestão
BH 5 • Sedimentação metodológica
• Refinamento de dados
BH 4
• Série histórica
BH 3 • Busca de metas
BH 2 • Análise de sensibilidade
BH 1
T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4
Evolução (trimestres)
29
Planejamento e Gestão
O método Bottom Up baseia-se na relação obtenção de N1. Precisa ser feito em um setor
entre pressão e vazão de vazamentos. Este con- de distribuição estanque, com uma única entra-
ceito foi determinado por John May, em 1994. da na qual se localiza uma válvula redutora de
Este pesquisador propôs uma nova maneira de pressão. O setor deve ser bem pressurizado e
expressar a relação entre pressão e vazamentos não ter intermitência no abastecimento.
nas redes de distribuição, formulando o conceito De preferência, o teste deve ser feito durante
Fixed and Variable Area Discharge - FAVAD, com a madrugada para não afetar o abastecimento e
a introdução do fator chamado N1. quando o nível de consumo é mínimo, pode ser
Esta teoria leva em conta que os furos e orifí- conhecido por métodos amostrais.
cios por onde ocorrem os vazamentos nas tubu- Devem-se medir as variáveis de cálculo,
lações dos sistemas assumem formatos irregu- quais sejam a vazão na entrada e a pressão no
lares e são de vários tipos, inclusive rachaduras ponto médio do setor. Como variáveis de contro-
longitudinais. O tamanho dos orifícios também le, devem-se medir ainda a pressão na entrada e
varia com a pressão e o tipo de material. a pressão no ponto crítico.
A equação empírica proposta por May foi: O método consiste basicamente em criar
condições para mensurar em campo as variá-
( (
Q1 P1 N1 onde,
= veis Q0, Q1, P0 e P1 da equação FAVAD, iso-
Q0 P0 lando a variável N1, o que se faz por repetidos
estágios até o ajuste de um fator médio de N1
Q1 = vazão final de vazamentos para aquela amostra.
Q0 = vazão inicial de vazamentos
P1 = pressão média da rede final 3.5.4.1 Determinação de Consumos Míni-
mos Noturnos
P0 = pressão média da rede inicial
Em sistemas de abastecimento sem intermi-
N1 = expoente que varia de 0,5 a 1,5, usualmen- tências e com pressurização normal, os consu-
te, podendo chegar a 2,5, eventualmente. mos são mínimos entre às 02:00h e às 04:00h
Valores de N1 da manhã. Devido a este fato, torna-se mais fácil
estimá-los com maior segurança – frequente-
mente correspondem a bem menos que 10% do
e Vazamentos inerentes: N1 aproxima-se de
volume que ingressa no setor.
1,5;
Deduzindo-se o consumo mínimo noturno
e Arrebentamentos em redes de metal: N1
da vazão que ingressa no setor neste horário,
aproxima-se de 0,5;
obtém-se o volume de vazamentos – sejam eles
e Arrebentamentos em redes não metálicas:
inerentes, visíveis e não visíveis.
N1 aproxima-se de 2,5;
O gráfico adiante, que é oriundo de um es-
e Em grandes sistemas com tubulações de
tudo de modelagem de vazões mínimas notur-
materiais variados sugere-se adotar uma re-
nas no município de Feira de Santana, no DMC,
lação linear: N1 = 1,0.
selecionado para aplicação das ferramentas
O Fator N1 pode ser obtido em campo por preconizadas pelo projeto COM+ÁGUA.2, permi-
testes realizados na própria área de controle e te a visualização do evento descrito na relação
consiste basicamente no teste de campo para pressão-vazamento.
30
Planejamento e Gestão
Figura 10. Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no Dmc Feira X - Operado pela Embasa, em
Feira de Santana, BA
Feira X
160,00 45,00
140,00 40,00
35,00
120,00
VOLUME DE ENTRADA EM M³/H
25,00
80,00
20,00
60,00
15,00
40,00
10,00
20,00 5,00
0,00 0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Volumes horários de vazamentos m³/h VE - Volume de Entrada m³/h
32
Planejamento e Gestão
O FCI – Fator de Condição da Infraestrutura podem ser obtidas por meio de um teste de
é definido como sendo a relação entre o volume campo. Assim,
de perdas inerentes do sistema estudado pelo
FCI = VIteste / VIiwa
volume de perdas inerentes do sistema de refe-
rência da IWA, por sua vez calculado por meio de No âmbito do COM+ÁGUA, na ausência de
uma fórmula empírica. Perda inerente é aquela testes de campo, assumiu-se FCI com o valor
que, por ser muito pequena, não é audível pelos igual a 3, seguindo sugestões de literatura. Tes-
instrumentos de escuta na detecção de vaza- tes realizados na Sabesp com infraestruturas
mentos. O N1 para este tipo de perda é sempre deterioradas chegaram a FCIs com valores até 9.
igual a 1,5, independentemente do N! caracte- Ao fim do carregamento, o aplicativo gera os
rístico do setor. indicadores de perdas apurados para o sistema
As perdas inerentes do sistema estudado em análise, conforme demonstrado a seguir:
Tabela 6. Resultados da Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no DMC Feira X - Operado pela
Embasa, em Feira de Santana, BA
INDICADORES DO DMC
PERDAS REAIS DIÁRIAS: 1025 m³/dia
PERDAS REAIS EM L/ ramal/ dia: 181 L/ramal/dia
PERDAS REAIS EM m³/h - km rede: 1,48 (m³/h)/km rede
CMN + Perdas Inerentes: 28,36 m³/hora
Dens ligações: 196,23 lig/km rede
33
Planejamento e Gestão
Cenário 1 Cenário 2
Os indicadores em porcentual seguem sen- limitações e pelo fato de que sua compreensão
do usados em larga escala no Brasil, muito ainda seja de fato mais palatável ao público em geral.
pela falta de conscientização em relação às suas
7 Litros por Ramal por Dia por Metro de Pressão (q.s.p) l/ramal/dia/m
10 Litros/ramal/dia l/ramal/dia
DESEMPENHO FINANCEIRO
34
Planejamento e Gestão
3.5.5.1 Parâmetros de Nível de Serviço e O IVI traz as qualidades da PRAI, que tem sen-
Volume de Perdas Reais sibilidade para os parâmetros de nível de serviço
Os parâmetros de nível de serviço, TMA e Pres- (TMA e pressão média) e para extensão de redes e
são Média, servem como indicadores em si e tam- quantidade de ligações.
bém para ponderar o cálculo dos indicadores de O IVI é um indicador concebido para fazer
volumes de perdas reais. comparações entre sistemas diferentes em con-
O PRAC – Conhecer as Perdas Reais Anuais dições infraestruturais heterogêneas. Por outro
Correntes é um dos objetivos principais do méto- lado, não necessariamente é útil para compa-
do do balanço hídrico. Este volume, em si, dá uma rar rotineiramente um sistema com ele mesmo,
ideia do grau de ineficiência da infraestrutura. principalmente nos casos em que se está re-
O volume de PRAI – Perdas Reais Anuais Inevi- duzindo as pressões médias. Vale lembrar que
táveis é uma fórmula empírica, desenvolvida para pressão média está proporcionalmente ligada à
um conjunto de sistemas de referência da IWA, que vazão de vazamentos.
aponta qual é o limite inferior à que pode chegar Afirma-se ainda que o IVI também não seja
as perdas reais em condições similares aos siste- adequado para sistemas muito pequenos, como
mas de referência, ou seja, com boa infraestrutura boa parte dos DMC. Sistemas pequenos normal-
e excelente gestão de vazamentos. A fórmula que mente são muito homogêneos em relação a con-
expressa o PRAI em m³/dia é: sumos, infraestrutura, tipo de ocupação, etc., e o
indicador pode perder eficácia e utilidade neste
PRAI=(0,8xQR+18xER)xPMS*(TMA/24)/1000
tipo de cenário.
Onde,
QR = quantidade de ramais pressurizados; e Litros por Ramal por Dia - qsp
ER = extensão de redes em km;
Este indicador é obtido dividindo-se o volume
PMS = Pressão média do sistema, em mca; de perdas reais pela quantidade de ramais pressu-
TMA = Tempo médio de abastecimento, em rizados, com ponderação pelo TMA (daí a conside-
horas/dia. ração qsp = quando o sistema está pressurizado).
O PRAI é um parâmetro que permite o cálculo Litros por Ramal por Dia = (PRACx1000)/
do Índice de Vazamento da Infraestrutura - IVI. (QRx365)x(24/TMA)
3.5.5.2 Desempenho de Perdas Reais Este é um indicador bastante útil para com-
parar o sistema com ele mesmo. Para comparar
A constatação dos especialistas é que não
sistemas diferentes perde eficácia, pois não tem
existe somente um indicador que possa expressar
sensibilidade para pressão média.
satisfatoriamente o fenômeno das perdas reais em
Também não é adequado para sistemas rurais,
todas as situações. Assim, a Força Tarefa da IWA
onde se tenha uma densidade de menos de 20
para Perdas de Água recomenda o uso de quatro
ligações por km de redes. Neste tipo de situação
indicadores para expressar perdas reais, que são
o Índice de Vazamento da Infraestrutura - IVI; Litro seria mais adequado utilizar o indicador em m³/h/
por Ramal por Dia - qsp2; Litro por Ramal por Dia km de rede, pois as perdas nas redes tendem a se
por Metro de Pressão - qsp e m³/ km rede por hora tornar mais relevantes que as perdas nos ramais.
- qsp. Estes indicadores são apresentados a seguir: Este indicador da IWA – L/ramal/dia (qsp)
– não pode ser confundido com o indicador cal-
culado pelo SNIS chamado Índice de Perdas por
e Índice de Vazamento da Infraestrutura - IVI
Ligação (IN051), pois o indicador do SNIS não se-
O IVI é obtido dividindo-se o volume de per- para as perdas reais das perdas aparentes, não tem
das reais anual pelo volume de perdas reais anuais sensibilidade para TMA e utiliza no denominador a
inevitáveis: quantidade de ligações ativas e não a quantidade
IVI=PRAC / PRAI de ligações pressurizadas.
2
qsp – quando o sistema está pressurizado
35
Planejamento e Gestão
Litros por Ramal Por dia Por Metro de O indicador é obtido dividindo-se o volume
Pressão - qsp diário de perdas aparentes pela quantidade de ra-
O indicador é calculado dividindo-se o indica- mais pressurizados, por analogia com o indicador
dor anterior pela pressão média. para perdas reais.
Este indicador não é relativizado pelos parâ-
Litros por Ramal por Dia por mca = metros de nível de serviço, já que se considera que
(PRACx1000)/(QRx365xPMS)x(24/TMA) o consumo independe em larga medida tanto do
Foi concebido para permitir que o indicador TMA quanto da pressão média.
em L/ramal/dia passasse a ter sensibilidade para
3.5.5.4 Desempenho Financeiro
a pressão média. É útil para comparar o sistema
com ele mesmo em situações em que a pressão Alguns indicadores que muitas empresas ma-
varia, por exemplo, o setor A com o setor B e assim nejam como se fossem indicadores de desempe-
por diante. nho operacional, na metodologia da IWA são con-
Perdas reais por km de rede por hora (qsp) siderados indicadores financeiros.
O indicador é calculado da seguinte forma: A razão para isso é que os indicadores em %
não têm sensibilidade para os parâmetros de nível
Perdas reais em m³ por km de rede por hora = de serviço, que têm por base o TMA e a pressão
(PRAC/ (ERx24x365))x(24/TMA) média; não têm sensibilidade para nível de con-
sumo, para extensão de redes ou para ligações e,
Este indicador é útil em situações em que a
assim, não se prestam para serem utilizados como
densidade de ligações do sistema é muito baixa,
indicadores de desempenho operacional.
tipicamente menor 20 ligações/km de rede, como
A utilização de indicadores em % beneficia os
acontece em sistemas rurais, por exemplo.
sistemas com alto nível de consumo e/ou; com
3.5.5.3 Desempenho de Perdas Aparentes baixas pressões e/ou; altos níveis de intermitência.
Portanto, para medir desempenho operacional,
A expressão das perdas aparentes em termos
os indicadores volumétricos são mais adequados.
de indicadores é mais simples, pois elas indepen-
dem de TMA e pressão média por se assemelharem
a consumo. A Força Tarefa da IWA para Perdas de
e Volume de Água Não Faturada Expressa em %
do Volume de Entrada
Água recomendou o uso de dois indicadores para
perdas aparentes, que são as Perdas Aparentes ex- Como o próprio nome diz, é obtido através
pressas em percentual do Consumo Autorizado e da relação entre o volume de água não faturada e
as perdas aparentes em litros/ramal/dia, conforme o volume de entrada no sistema. É análogo a um
apresentado a seguir: indicador tradicionalmente utilizado no Brasil,
que é o Índice de Perdas na Distribuição (IN049)
e Perdas Aparentes em % do Consumo Auto- do SNIS.
rizado
36
Planejamento e Gestão
DADOS FINANCEIROS
Tarifa Média (R/m³) 1 4,75
Custo Variável de Produção e Distribuição ou Custo Marginal da Água (R$/m³) 2 2,35
Componentes da água não faturado podem ser valoradas por: (i) Tarifa
média, se a água pode ser vendida ou (ii) Custo de produção e distribuição,
se a redução de perdas acarretar apenas redução do volume de entrada no
sistema. Para tarifa média, entre com o valor 1, para custo de produção e
distribuição, entre com o valor 2
e Litros por Ramal por Dia Agregado (qsp) 3.5.5.5 Matriz de Avaliação de Perdas Reais
do Banco Mundial
Este indicador pode ser calculado como sen-
do a soma dos indicadores de perdas reais (qsp) Por fim, vemos ao final do quadro de indica-
e perdas aparentes. dores uma classificação alfabética que traz um
A razão pela qual é considerado um indi- critério de classificação desenvolvido pelo Banco
cador financeiro e não de desempenho opera- Mundial para os sistemas de abastecimento, em
cional é que ele não identifica os volumes de categorias de desempenho técnico. Esta classifica-
perdas reais, aparentes e consumos autorizados ção foi desenvolvida com o propósito de promover
não faturados. uma espécie de benchmarking mundial.
Não se deve confundir este indicador com o Este sistema de classificação que leva em
Índice de Perdas por Ligação (IN051) do SNIS, pois conta o IVI, a pressão média a que o sistema
no indicador do SNIS as perdas reais não são pon- está submetido e as perdas reais expressas em
deradas por TMA, ao contrário do indicador da IWA. L/ramal/dia:
37
Planejamento e Gestão
Litros/ramal/dia
Categorias de Desempenho (quando o sistema está pressurizado) a uma pressão de:
IVI
Técnico
10 m 20 m 30 m 40 m 50 m
A 1-4 < 50 < 100 < 150 < 200 < 250
D > 16 > 200 > 400 > 600 > 800 > 1000
Redução adicional de perda pode não ser econômica, a menos que haja
A insuficiência de abastecimento; são necessárias análises mais criteriosas para
identificar o custo efetivo da melhoria
Potencial para melhorias significativas; considerar o gerenciamento de pressão;
B práticas melhores de controle ativo de vazamentos, e uma melhor manutenção
Retornar para da rede
indicadores
Registro deficiente de vazamentos; tolerável somente se a água é abundante e
C barata; mesmo assim, analise o nível e a natureza dos vazamentos e intensifique
os esforços para redução de vazamento
Uso muito ineficiente dos recursos; programa de redução de vazamentos é
D
imperativo e altamente prioritário
Fonte: Banco Mundial
Tabela 11. Recomendações do Banco Mundial em Função das Categorias de Desempenho Técnico
Investigação das possibilidades de melhoria da rapidez e qualidade dos reparos SIM SIM SIM
38
Planejamento e Gestão
Como mostrado ao longo do documento, o amplamente difundidas, com acesso livre tanto
ferramental diagnóstico e de melhoria de de- na Internet como em organizações de apoio ao
sempenho operacional que é preconizado pela setor como a Associação Brasileira de Engenha-
IWA é bastante robusto e vem sendo aplicado e ria Sanitária - ABES, a AESBE, Associação Na-
aceito como o estado da arte mundial no contro-
cional dos Serviços Municipais de Saneamento
le e redução das perdas de água.
- ASSEMAE, entre outras. Entende-se esta carên-
No Brasil notamos, contudo, um grande
déficit no que se relaciona ao conhecimento, cia como um subproduto do enfraquecimento
compreensão e aplicação desses preceitos. Esse institucional das empresas de saneamento, ca-
déficit não se deve à indisponibilidade de infor- racterizado pelo enfraquecimento do corpo téc-
mações, uma vez que essas ferramentas estão nico dos prestadores.
39
Planejamento e Gestão
Figura 13. Áreas Passíveis de Aplicação de Contrato de Performance em Redução e Controle de Perdas
• Em Unidades de Negócio.
• Em Distritos Operacionais.
Gestão integrada • Redução de perdas e aumento da adimplência.
• Cobrança jurídica.
• Gerenciamento de empreendimentos
• Eficiência energética.
• Gestão de faturas de energia elétrica.
• Redução de perdas físicas.
Área operacional
• Retrofit de unidades operacionais.
• Manutenção e operação de sistemas de água e esgotos/Desobstrução
de redes.
Tais contratos são uma possibilidade com características apresentadas na tabela a seguir.
41
Planejamento e Gestão
tivos temporários ou uma decisão estratégica ser uma solução de transição para que o con-
para fazer investimentos em determinada região tratante se estruture para tornar o combate às
onde é possível obter resultados financeiros, perdas uma ação permanente de gestão para
operacionais e sociais, mas que num determi- obter ganhos sustentáveis continuamente, além
nado instante não podem ser efetivados. Pode de transferir conhecimento e tecnologia.
4. DESAFIOS PARA A
MELHORIA DE DESEMPENHO
NOS PRESTADORES
O
compartilhamento dos métodos e das tencialização da capacitação profissional em to-
práticas apresentados neste Caderno dos os ambientes.
Temático de Planejamento e Gestão Um programa de PRCP vai muito além das
busca aportar ao setor de saneamento e seus téc- técnicas e ferramentas de combate, controle e
nicos uma contribuição no sentido de enriquecer gestão. As causas dos fracassos passam muitas
a reflexão dos caminhos a percorrer e dos aspec- vezes pelo pouco conhecimento da natureza das
tos que devem ser considerados e tratados com perdas, pela não valorização do impacto das per-
relação ao tema. das, pela elaboração de projetos deficientes ou
A observação dos resultados da primeira edi- até por custos extremamente subestimados das
ção COM+ÁGUA evidenciaram que houve maior reduções de perdas de água.
perenidade das ferramentas e conceitos aplica-
Vale assinalar que redução de perdas não é
dos naqueles prestadores que tiveram maior es-
apenas uma questão técnica isolada, é intrínseca
tabilidade em seus quadros e onde o quesito de
ao gerenciamento e operação global do sistema,
fortalecimento institucional parecia mais sólido.
algo que requer comprometimento de médio e
Nesses casos, em que pese um progresso que
longo prazo.
ainda possa ser considerado insuficiente frente
às demandas que o setor apresenta, conseguiram O maior desafio de um programa PRCP é a
consolidar os conceitos e replicá-los. integração e a gestão das atividades, pois sem ela
Pode-se concluir que o COM+ÁGUA.2 foi exi- os resultados não são mensuráveis e o programa
toso em seu maior propósito, o de capacitação e é desacreditado no ambiente do prestador.
demonstração de técnicas e ferramentas. Cumpri- Para a realização da integração e gestão das
da essa etapa, o maior desafio fica a cargo dos atividades é premente a integração das diversas
prestadores, o de garantir perenidade e propaga- áreas do prestador, pois não se pode tratar iso-
ção desses processos. ladamente as causas das perdas de água. Daí a
Este é de fato o maior desafio. Romper com importância das técnicas de mobilização e co-
os paradigmas tradicionais e que historicamente municação social para que esta onda de sensi-
levaram os índices de eficiência ao retrato atual e bilização e participação irradie internamente e
olhar para o futuro com uma nova visão, apoiada externamente, chegando até os clientes através
em preceitos modernos de gestão dos sistemas do entendimento das ações de combate às per-
de saneamento, tendo por elemento-chave a po- das de água.
43
Planejamento e Gestão
Perdas Perdas
Reais Infraestrutura Aparentes
Gestão/
Planejamento
Tecnologia Viabilidade
econômico-
financeiro
Desempenho da
Companhia
Capacitação Gestão e
e Desenv. Liderança
Profissional
Atenção ao
consumidor
Transparência
Atenção ao
Consumidor
Qualidade da
Prestação de Educação
Educação
Serviço Ambiental
Ambiental
Apoio da Comunidade
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2
44
Planejamento e Gestão