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2018

PLANEJAMENTO
E GESTÃO

VERSÃO REVISADA

AÇÕES DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM REDUÇÃO


E CONTROLE DE PERDAS DE ÁGUA E USO
EFICIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA

Secretaria Nacional
de Saneamento
Ambiental - SNSA
MINISTÉRIO DAS CIDADES tos Pedrosa, Hugo Fagner dos Santos Pedrosa,
Ítala Gomes dos Santos Jesus, Jair Jackson Dias
Ministro das Cidades Santiles, Jairo Tardelli Filho, Jardel Almeida de
Alexandre Baldy de Sant’anna Braga Oliveira, Jean Morillas, João Gustavo Ferreira Ju-
nior, João Roberto Rocha Moraes, José Fabiano
Secretário Executivo Barbosa, Julian Thornton, Ksnard Ramos Dantas,
Silvani Alves Pereira Leandro Moreira, Lineu Andrade de Almeida,
Luís Carlos Rosas, Luís Guilherme de Carvalho
Secretário Nacional de Saneamento Ambiental Bechuate, Luiz Fernando Rainkober, Mariana
Adailton Ferreira Trindade Freire dos Santos, Maurício Alves Fourniol, Mau-
rício André Garcia, Michel Vermersch, Milene
Diretor do Departamento de Planejamento e Cássia França Aguiar de Salvo, Nilson Massami
Regulação Taira, Paula Alessandra Bonin Costa Violante,
Ernani Ciríaco de Miranda Paulo Cezar de Carvalho, Pedro Frigério Paulo,
Pedro Gilberto Rodrigues da Mota, Pedro Paulo
Coordenadora da UGP/SNSA da Silva Filho, Pertony Ribeiro Guimarães, Ro-
Wilma Miranda Tomé Machado dolfo Alexandre Cascão Inácio, Rodrigo Andrade
de Matos, Rodrigo Martin Teresi, Sílvio Henrique
Equipe Técnica do INTERÁGUAS Campolongo, Thatiane Medeiros Soares de Al-
André Braga Galvão Silveira, José Dias Corrêa meida, Vinicius Kabakian, Wantuir Matos de Car-
Vaz de Lima, Paulo Rogério dos Santos e Silva valho, Wellington Luiz de Carvalho Santos

Consultor INTERÁGUAS Coordenação editorial


Airton Sampaio Gomes Alexandra De Nicola (MTb 23.341-SP), Rodolfo
Alexandre Cascão Inácio
BANCO MUNDIAL
Redação
Gerente de Projeto Alexandra De Nicola, Álvaro José Menezes da
Marcos Thadeu Abicalil Costa, Andrey Barbosa Dantas Souza, Eduardo
Paula Pedreira de Freitas de Oliveira Augusto Ribeiro Bulhões Filho, Jardel Almeida
de Oliveira, Luís Guilherme de Carvalho Bech-
INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAÇÃO uate, Maurício Alves Fourniol, Rodolfo Alexandre
PARA A AGRICULTURA – IICA Cascão Inácio.

Representante do IICA Revisão


Jorge Hernán Chiriboga Airton Sampaio Gomes, Alexandra De Nicola, An-
dré Braga Galvão Silveira, José Dias Corrêa Vaz
Equipe Técnica IICA de Lima, Maurício Alves Fourniol, Rodolfo Alex-
Cristina Costa, Kilmara Ramos, Gertjan Beekman andre Cascão Inácio

CONSÓRICO WMI - NG INFRA - SAGE Diagramação


Traço Leal Comunicação
Equipe Técnica
Alexandra De Nicola, Alexandre Savio Pereira Agosto/2018
Ramos, Álvaro José Menezes da Costa, Ana Lú-
cia Floriano Rosa Vieira, Andrey Barbosa Dantas
Souza, Augusto Nelson Carvalho Viana, Bertrand
Dardenne, Cássio Caçula de Lima, Clênio Alberto
Argôlo Lopes, Diogo da Fonseca Reis, Eduardo
Augusto Ribeiro Bulhões Filho, Eudes de Olivei-
ra Bomfim, Fátima Carteado, Franz Bessa da Sil-
va, Geraldo Prado de Almeida, Hamilton Pollis,
Heber Pimentel Gomes, Hudson Tiago dos San-
Sumário
1. A SISTEMATIZAÇÃO DO PROJETO – METODOLOGIA E ESTUDOS DE CASO.........................5
1.1 O Registro do Projeto COM+ÁGUA.2....................................................................................................5

2. PLANEJAMENTO E GESTÃO – CONCEITO E HISTÓRICO.......................................................... 6


2.1 Aspectos Históricos....................................................................................................................................6
2.2 A Relevância e a Influência dos Elementos de Planejamento e Gestão
no Desempenho Operacional dos Prestadores.......................................................................................8
2.3 Evolução na Última Década....................................................................................................................9
2.4 As Recentes Tendências e Abordagens Internacionais..................................................................11

3. METODOLOGIA.................................................................................................................................... 13
3.1 Detalhamento da Metodologia na AT 5..............................................................................................13
3.2 A Necessidade da Revisão dos Critérios de Projeto e Construção.............................................16
3.3 Melhoria da Gestão e do Controle de Qualidade na Aquisição de Materiais,
Equipamentos e Serviços................................................................................................................................18
3.4 A Gestão de Ativos de Infraestrutura...................................................................................................19
3.5 A Gestão de Sistemas Distribuidores com o Uso de Distritos de Medição e
Controle para Reduzir o Tempo de Conhecimento dos Vazamentos................................................21
3.5.1 Balanço Hídrico....................................................................................................................................22
3.5.2 Calculando a Submedição dos Parques de Medidores...........................................................25
3.5.3 Parâmetros de Nível de Serviço: Indicadores Calculados para Relativizar
Outros Indicadores de Desempenho Baseados na Matriz do Balanço Hídrico.........................27
3.5.3.1 Pressão Média Do Sistema (PMS)...........................................................................................27
3.5.3.2 Tempo Médio de Abastecimento (TMA)................................................................................27
3.5.4 Modelagem Bottom Up.....................................................................................................................29
3.5.4.1 Determinação de Consumos Mínimos Noturnos...............................................................30
3.5.5 Indicadores de Desempenho Operacional Adequados para a Compreensão
da Complexidade do Fenômeno das Perdas de Água........................................................................33
3.5.5.1 Parâmetros de Nível de Serviço e Volume de Perdas Reais..........................................35
3.5.5.2 Desempenho de Perdas Reais..................................................................................................35
3.5.5.3 Desempenho de Perdas Aparentes........................................................................................36
3.5.5.4 Desempenho Financeiro............................................................................................................36
3.5.5.5 Matriz de Avaliação de Perdas Reais do Banco Mundial................................................37
3.6 Padronização de procedimentos...........................................................................................................39
3.7 Os Contratos de Desempenho Aplicados à Atividade de Redução e
Controle de Perdas de Água e Eficiência Energética.............................................................................41

4. DESAFIOS PARA A MELHORIA DE DESEMPENHO NOS PRESTADORES............................. 43

Lista de Figuras
Figura 1. Dinâmica das Perdas...................................................................................................................................11
Figura 2. Gestão da Mudança no Planejamento do Controle e Redução de Perdas...............................12
Figura 3. Fluxograma de Metodologia de Implantação e Gestão de DMC.................................................15
Figura 4. Para que Servem os Balanços Hídricos.................................................................................................22
Figura 5. Matriz do Balanço Hídrico.........................................................................................................................23
Figura 6. Estimativa de Perdas Aparentes no Balanço Hídrico.......................................................................25
Figura 7. Exemplo de Curva de Desempenho da Medição (Valores Estimados para
Hidrômetro Classe B)....................................................................................................................................................25
Figura 8. Evolução da Maturidade dos Balanços Hídricos...............................................................................28
Figura 9. Tela da Modelagem no EPANET..............................................................................................................29
Figura 10. Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no DMC Feira X - Operado
pela Embasa, em Feira de Santana, BA...................................................................................................................31
Figura 11. Estruturação de Procedimento Operacional Padrão-Pop (Parte 1)..........................................31
Figura 12. Estruturação de Procedimento Operacional Padrão-Pop (Parte 2)..........................................40
Figura 13. Áreas Passíveis de Aplicação de Contrato de Performance em
Redução e Controle de Perdas...................................................................................................................................41
Figura 14. Características Chaves para o Desempenho de Companhias
Eficientes e Sustentáveis.............................................................................................................................................44
Figura 15. Apoio da Comunidade ao Prestador de Serviço..............................................................................44

Lista de Fotos
Foto 1. Desobstrução da Rede de Água..................................................................................................................17

Lista de Tabelas
Tabela 1. Resultado da Fiscalização de Usos não Autorizados em Campo................................................25
Tabela 2. Método da Curva de Desempenho da Medição.................................................................................26
Tabela 3. Estimativa de Pressão Média do Sistema (PMS)...............................................................................27
Tabela 4. Cálculo Demonstrativo do TMA..............................................................................................................28
Tabela 5. Carregamento de dados da Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no
DMC Feira X - Operado pela EMBASA, em Feira de Santana, BA....................................................................32
Tabela 6. Resultados da Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no DMC Feira X -
Operado pela EMBASA, em Feira de Santana, BA...............................................................................................33
Tabela 7. Análise de um Sistema com Indicadores Percentuais.....................................................................34
Tabela 8. Indicadores Recomendados pela IWA...................................................................................................34
Tabela 9. Inserção de Parâmetros para Cálculo de Indicadores Financeiros no
Balanço Hídrico...............................................................................................................................................................37
Tabela 10. Matriz de Avaliação de Perdas do Banco Mundial.........................................................................38
Tabela 11. Recomendações do Banco Mundial em Função das Categorias de
Desempenho Técnico....................................................................................................................................................38
Tabela 12. Características dos Contratos de Desempenho..............................................................................42
Planejamento e Gestão

1. A SISTEMATIZAÇÃO DO
PROJETO – METODOLOGIA
E ESTUDOS DE CASO

1.1 O Registro do Projeto COM+ÁGUA.2

A
metodologia do Projeto COM+ÁGUA.2, elétrica em sistemas de abastecimento de água
para a gestão integrada e participa- selecionados na Chamada Pública nº 104/2014
tiva visando o combate e o controle está descrita em seis livretos que compõem o
das perdas de água e o uso eficiente de energia Compêndio Metodológico COM+ÁGUA.2:

• O Projeto COM+ÁGUA.2; às equipes da Companhia Pernambucana de


• Caderno Temático 1 - Mobilização Social; Saneamento - COMPESA e Empresa Baiana de
• Caderno Temático 2 - Perdas Reais; Água e Saneamento S.A. - EMBASA, são apresen-
tadas em duas publicações de estudos de caso:
• Caderno Temático 3 - Perdas Aparentes;
• Caderno Temático 4 - Gestão da Energia;
• Estudos de caso – COMPESA;
• Caderno Temático 5 - Planejamento e Gestão.
• Estudos de caso – EMBASA.

O primeiro caderno é uma apresentação ge-


Juntas, as oito publicações compõem uma
ral do COM+ÁGUA.2, suas Áreas Temáticas – AT
caixa de onde se podem sacar oportunidades
e a integração entre elas, as capacitações ge- de conhecer uma metodologia diferenciada,
rais e em processo e aspectos metodológicos. em que a Gestão Integrada & Participativa e a
Os seguintes são dedicados a cada uma das AT, Mobilização Social se apresentam como fatores
detalhando-as para melhor compreensão e re- de mudança cultural a provocar as empresas de
plicação da metodologia. saneamento a encontrarem um caminho fértil
Quanto à prática do projeto nas duas áreas para o controle e diminuição das perdas em seus
prioritárias selecionadas na chamada públi- sistemas de produção e abastecimento de água.
ca, ocorrida por meio de assistência técnica de
consultores do Consórcio WMI/NG INFRA/SAGE Boa leitura e uso!

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Planejamento e Gestão

2. PLANEJAMENTO E GESTÃO
CONCEITO E HISTÓRICO

2.1 Aspectos Históricos

N
o setor de saneamento, por suas ca- cial, sugeriu-se a formatação diferenciada de in-
racterísticas corporativas e políticas, vestimentos do setor de saneamento básico para
ainda não se tem como regra a adoção redução do déficit, priorizando, também, a atua-
sistemática da gestão com base no planejamen- ção nas áreas urbanas. Assim, em julho de 1967,
to, pois apesar de mapas estratégicos bem ela- as orientações do Governo Federal para o sanea-
borados, as dificuldades diárias e outros fatores mento básico estabeleciam que no plano decenal
impõem a gestão pelo planejamento situacional estivessem consignadas algumas diretrizes para
ou temporal. Isto quer dizer, respectivamente, as políticas públicas do setor, entre elas:
que o gestor decide com base no dia a dia ou de a) Promover o planejamento e a coordena-
acordo com as mudanças do calendário eleitoral, ção dos programas de saneamento básico;
notadamente, no caso de prestadores públicos. b) Concentrar recursos em programas e pro-
Entretanto, muitos prestadores elaboram jetos prioritários, dentro de uma escala de va-
seus planejamentos visando definir o que pre- lores a ser estabelecida pelo órgão nacional de
tendem fazer, quando e como, buscando em planejamento e coordenação do programa.
geral o desenvolvimento de um processo de to- Desde esta época e até a Lei nº 11.445/2007,
mada antecipada de decisões. O planejamento que inseriu os conceitos de gestão, planejamen-
não deve ser visto como um processo estático. to e sustentabilidade como dispositivos legais,
Ele também pressupõe um processo contínuo de aconteceram eventos, tais como:
reavaliação das decisões, sempre elaborado com
envolvimento e participação do maior número e Em 1971, foi criado o Plano Nacional de Sa-
possível de empregados, gerentes e diretores. neamento – PLANASA, cujo objetivo geral
Hoje, de fato, muito se fala e se praticam ati- era a implementação de ações necessárias
vidades relacionadas à gestão e ao planejamen- à redução dos déficits no abastecimento de
to. A história do saneamento nacional não tão água e no esgotamento sanitário nas áreas
distante, com a criação das Companhias Esta- urbanas;
duais de Saneamento Básico - CESB, mostra que e De 1975 até 1979, foram implementadas ati-
já se passou por um período rico em tentativas, vidades de treinamento e capacitação, a par-
acertos e erros, num ciclo que se mantém, ainda tir do Programa de Assistência Técnica para o
hoje, em muitas localidades. A motivação inicial Desenvolvimento Institucional das Empresas
para fomentar a gestão e o planejamento foi o Estaduais de Saneamento – SATECIA;
déficit de abastecimento de água, na época. e A partir de 1980, foi criado o Programa de De-
Em meados de 1966, no âmbito do Plano senvolvimento Institucional das Companhias
Decenal de Desenvolvimento Econômico e So- Estaduais de Saneamento Básico – PRODI-
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Planejamento e Gestão

SAN, cuja característica mais importante foi Sistema Nacional de Informações sobre Sanea-
buscar a consolidação do aprimoramento mento - SNIS, desde 1995, avaliando como os
empresarial e técnico das CESB; efeitos da gestão e do planejamento ocorreram
e Em 1981, foi criada a primeira Comissão Na- ao longo da história recente do saneamento.
cional de Controle de Perdas pelo Banco Na- Para tanto, não se pode dispensar que dentro
cional de Habitação - BNH, para que fossem da regionalização do país existem característi-
traçadas as diretrizes de combate ao eleva- cas particulares de zonas ambientais, hídricas,
do índice de perdas das CESB. Esta comissão sociais, econômicas e políticas que exigem, de
criou o Programa Estadual de Controle de fato, gestão e planejamento, como ações perma-
Perdas – PECOP; nentes para garantir a qualidade dos serviços e
e Em 1984, foi implantado o Programa de De- seu acesso por todos.
senvolvimento Operacional − PEDOP, que vi- Desde 2013, com o Plano Nacional de Sa-
sou promover mudanças no gerenciamento neamento - PLANSAB e seus assemelhados pla-
das CESB, com ênfase para o planejamento, o nos municipais, além dos planos diretores de re-
controle e o desenvolvimento da operação; cursos hídricos e de desenvolvimento, pode-se
e Em 1993, o projeto piloto do Programa de dizer que há um ambiente favorável ao fortale-
Modernização do Setor de Saneamento – cimento da gestão e planejamento.
PMSS e, em 1997, a elaboração do Progra- A história geral dos últimos 28 anos pós-
ma Nacional de Combate ao Desperdício da -PLANASA mostra que em razão das tentativas,
Água – PNCDA. erros e acertos, deve-se verificar que o sucesso
do planejamento está sem dúvida associado à
Em janeiro de 2007, a Lei nº 11.445/2007 foi sua integração com o ambiente urbano e social,
promulgada pela Presidência da República, es- no qual o prestador de serviço atua e também,
tabelecendo no Capítulo IV – Do Planejamento, como foram envolvidos os agentes que partici-
a conexão entre os planos municipais e os pro- pam da elaboração e do gerenciamento do pla-
gramas, projetos e ações necessárias para atin- nejado, como por exemplo: representantes da
gir os objetivos e as metas, de modo compatível sociedade, do poder concedente, dos gestores e
com os respectivos planos plurianuais e com ou- empregados do prestador de serviço.
tros planos governamentais correlatos, identifi- Por fim, o planejamento não pode levar
cando possíveis fontes de financiamento; ações as empresas a serem reféns dos planejadores
para emergências e contingências; mecanismos crônicos, que apenas conseguem planejar sem
e procedimentos para a avaliação sistemática transformar o planejado em ação e resultados.
da eficiência e eficácia das ações programadas, É preciso ter capacidade para elaborar planos
contidos nos incisos do Art. 19. reais, exequíveis, viáveis e aplicáveis para os ob-
Entendendo a importância e a necessidade jetivos desejados, visando à integração de todos
de se ter o planejamento para fazer a gestão em busca de resultados para a sociedade e para
com base nele, talvez seja mais relevante ob- o prestador de serviços.
servar o cenário nacional a partir da história do

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Planejamento e Gestão

2.2 A Relevância e a Influência dos


Elementos de Planejamento e Gestão no
Desempenho Operacional dos Prestadores
Tal como em qualquer outro segmento de análises técnicas dos dados cadastrais, proje-
engenharia, deve-se encarar um Programa de tos em andamento e futuros e suporte à ope-
Prevenção, Redução e Controle de Perdas e Efi- ração e manutenção; pessoal técnico e dis-
ciência Energética (PRCP-EE) como um esforço posição para proceder à revisão de critérios
articulado com prazo, escopo e custos que preci- de projeto e construção e adoção de técnicas
sam ser definidos, medidos e empreendidos para que melhorem e qualifiquem a execução de
o alcance de metas estabelecidas. Entenda-se obras, privilegiando o controle operacional e
aqui a palavra “Programa” como uma coleção a operabilidade dos sistemas construídos;
de projetos. De fato, os esforços multissetoriais e Operação e manutenção: desta área serão
e multidisciplinares exigidos em um Programa importantes a existência de pessoal que pos-
de Prevenção, Redução e Controle de Perdas sa coordenar ou executar a revisão de pro-
e Eficiência Energética demandam múltiplos cedimentos operacionais e de manutenção;
projetos e múltiplas competências. tragam informações das regras operacionais
A palavra “Prevenção” está colocada de- praticadas na manutenção dos elementos
pois da palavra “Programa” para nos lembrar do sistema, como macromedidores, válvulas
do fato de que o melhor que se pode fazer redutoras de pressão - VRP, equipamentos de
automação, estações elevatórias, reservatórios,
pela redução de perdas é prevenir a ocorrên-
boosters, etc., como também no combate às
cia deste fenômeno. É comum nas empresas
perdas reais de água, com controle ativo de va-
a existência de um Programa de Redução de
zamentos, operação e otimização de VRP, etc.;
Perdas ao mesmo tempo em que os projetos,
obras, compras, operação e manutenção, se-
e Comercial: desta área serão importantes
pessoal para avaliar as informações do ca-
guem com procedimentos que virtualmente
dastro comercial; pessoal que irá coordenar
“plantam” as perdas de um futuro bem próxi-
ou proceder às ações de combate às perdas
mo. As palavras “Redução e Controle” estão co-
aparentes; dados e informações relativas à
locadas nesta ordem para que nos lembremos
micromedição, laboratório de hidrômetros e
que não basta reduzir as perdas – uma vez que gestão da eficiência do parque de medidores,
elas tenham sido reduzidas é preciso mantê- faturamento, fraudes, etc.;
-las baixas: isso é o controle. e Administrativa: desta área será importante
Para a elaboração do planejamento de um reunir pessoal capaz de agregar informações
Programa desta natureza são necessárias infor- e ações relativas ao plano de capacitação dos
mações de diversas áreas do prestador, deman- funcionários, mobilização de recursos huma-
dando processos de integração. nos; revisão dos procedimentos de compras
A direção de um Programa de tal magnitude e suprimentos, inclusive qualificação de for-
demanda o conhecimento de ferramentas de ges- necedores, testes e inspeções de recebimento,
tão, bem como das melhores práticas de controle e revisão de especificações de materiais e equi-
redução de perdas, de modo a permitir a articula- pamentos agregados rotineiramente aos siste-
ção das frentes de serviço, a mobilização necessá- mas de distribuição, etc.;
ria e o alcance dos resultados esperados. e Financeira: análises e ajustes do orçamen-
Recomenda-se na composição da equipe do to do prestador, atrelando as demandas às
Comitê Gestor do Programa a participação de di- metas do Programa e garantindo os recursos
versas áreas do prestador, a saber: necessários às ações;
e Engenharia: desta área serão importantes as e Alta administração: consistência de dire-
8
Planejamento e Gestão

trizes, alinhamento de esforços e políticas Logo, o planejamento de um Programa des-


corporativas e garantia de apoio às ações sa natureza deve contemplar uma análise de
do projeto. requisitos necessários, o que deve envolver o
relacionamento, especificação e orçamentação
Todas as áreas deverão participar e serem
de recursos humanos e materiais, bem como os
apoiadas pela alta administração para que o
planejamento do Programa de Prevenção, Redu- parâmetros de avaliação das ações e critérios
ção e Controle de Perdas e Eficiência Energética de mensuração de resultados. Daí a importân-
seja eficaz. cia do PRCP-EE contar com uma dotação orça-
Um bom planejamento demanda constan- mentária e um sistema de indicadores.
te reavaliação na medida em que os projetos A seleção dos indicadores deve levar em
avançam. Nesse processo, os sistemas de in- conta a objetividade da análise e possibilidade
formação do prestador mostram-se de grande de comparação entre sistemas que podem ser
valia na reunião e consolidação de dados e con- do próprio prestador ou mesmo de outros com
sistência de indicadores. características similares. Com o reconhecimen-
As medições dos parâmetros do Programa de to das melhores práticas no setor, recomenda-
PRCP-EE são fundamentais para avaliação dos -se recorrer aos indicadores preconizados pela
seus avanços e comunicação às partes interessa- International Water Association - IWA, que já
das, que compreendem todas as áreas envolvidas acumula vasta experiência mundial, com gran-
nas ações dentro do prestador, bem como partes de disseminação de ferramentas e técnicas,
externas, a exemplo dos clientes, agências regu- bem como de dados e indicadores para com-
ladoras, financiadores, governos, sociedade, etc. paração entre sistemas em diversos locais,
É fundamental o apoio e suporte de infor- dentro e fora do Brasil.
mações de campo, como medições de vazão e Os programas de PRCP-EE devem ser apri-
pressão, para o processamento e utilização de morados e desenvolvidos com o suporte de um
ferramentas como o balanço hídrico e de mo-
sistema de informações gerenciais que permi-
delagem Bottom Up, que são recursos essen-
ta a busca e consistência de dados e informa-
ciais para a determinação de um diagnóstico de
ções entre as diversas áreas de uma empresa
perdas no sistema de abastecimento de água,
de saneamento, tais como dados comerciais,
bem como a preocupação com a qualidade e
assertividade dos cadastros, essenciais para a cadastrais, de volumes disponibilizados e con-
compreensão do funcionamento do sistema, sumidos, ocorrências de manutenção, entre ou-
e também para que seja viável a utilização do tras. Um sistema dessa natureza, amplamente
recurso de modelagem e simulação hidráulica, acessível no ambiente de tecnologia da infor-
proporcionando assim, o correto entendimento mação atual, será um importante aliado no
do fenômeno das perdas e subsidiando as me- processo de integração, inerente à gestão do
lhores estratégias para o PRCP-EE. controle de perdas.

2.3 Evolução na Última Década


Para se tratar de aspectos metodológicos do das perdas nos sistemas de abastecimento e
Projeto COM+ÁGUA e os seus desafios, torna-se seus impactos relativos; projetos deficientes e
interessante uma reflexão a respeito das causas muitas vezes com custos subestimados; e o fato
que são comuns no fracasso dos programas de de se tratar a problemática de perdas como um
PRCP-EE. Segundo análises de especialistas no problema isolado, estritamente técnico.
tema, dentro e fora do Brasil, a maioria dos pro- O pouco conhecimento da natureza das per-
jetos fracassa em função dos seguintes fatores: das é a causa que se caracteriza como a mais
pouco ou nenhum conhecimento da natureza presente e, ao mesmo tempo, aquela que mais
9
Planejamento e Gestão

compromete os programas, decorre do incipien- saneamento no Brasil e, de fato, se observava


te desenvolvimento dos mecanismos de gestão ainda uma grande necessidade de disseminação
operacional dos sistemas. desses conceitos e fundamentos que pudessem
Ainda é muito presente na cultura da gestão mobilizar os programas de gestão nas empresas.
dos sistemas de saneamento, em especial no Bra- O legado deixado pelo projeto foi interes-
sil, o apego aos modelos tradicionais de gestão, sante, especialmente naqueles prestadores com
com estruturas totalmente departamentalizadas perfil institucional mais consolidado, que permi-
que propiciam pouca ou nenhuma integração tiu a replicação de métodos e consolidação dos
entre as áreas, pouco ou nenhum investimento conceitos e ferramentas empregados.
em capacitação e formação de equipes, influên- Neste ínterim de 10 anos, várias experiências
cias exógenas na tomada de decisões técnicas exitosas foram verificadas em sistemas brasilei-
tipicamente internas, e até mesmo nas ações de ros, em especial naqueles onde a cultura da efi-
operação e manutenção. Por fim, não se pode ciência operacional já caminhava de forma mais
deixar de observar a desatenção à importância consolidada, com o emprego dessa mesma me-
de processos de mobilização e comunicação so- todologia referencial e com os conceitos da IWA.
cial, que se mostram extremamente importantes Muitos prestadores começaram, então, a
no processo de gestão. contemplar programas de eficiência operacional
Dessa forma, os prestadores acostumados com a preocupação da redução e controle das
aos métodos de tentativa e erro, distantes das perdas. Observou-se, de fato, um avanço impor-
modernas técnicas gerenciais, de tecnologias tante na disseminação de conceitos e na dispo-
avançadas e da gestão estratégica, resistem às nibilidade de especialistas, de ferramentas e de
novas tecnologias. fornecedores capazes de atender às demandas
do setor. Atualmente, entende-se que a maior
Assim, esta necessidade de superar a antiga
carência do país no tema esteja na capacidade
inércia cultural e desenvolver novos modelos
de gestão dos programas, auferindo-lhes pere-
a partir da gestão integrada dos recursos foi a
nidade e efetividade.
fundamentação básica do Projeto COM+ÁGUA,
desde a sua primeira edição. Com o enfoque nessa preocupação, o Proje-
to COM+ÁGUA.2 surge com o fito de intensificar
Nestes quesitos, a segunda edição do pro-
os conceitos de gestão para prevenção, redução
jeto persistiu na metodologia e estruturação
e controle das perdas e eficiência energética,
utilizada, justamente pela sua fundamentação
promovendo a organização das ferramentas e
e confiabilidade.
técnicas disponíveis, ponderando-se sua seleção
Com um intervalo de aproximadamente 10 com aspectos de viabilidade técnica e econômi-
anos entre as duas realizações, torna-se interes- co-financeira. Assim, enfatizando a viabilidade
sante uma reflexão sobre o tratamento da temá- dos programas, sua importância e a sua relação
tica das perdas entre essas duas edições do pro- de custo-benefício.
jeto, tendo em vista o seu caráter demonstrativo Mais uma vez, o olhar ao DMC como um la-
e de capacitação. boratório de experimentação de técnicas e men-
No COM+ÁGUA houve o propósito funda- suração de resultados foi o foco do projeto. Neste
mental de internalizar os conceitos da IWA ainda ambiente, os prestadores tiveram a oportunidade
muito incipientes no Brasil naquela época. Foram de compreender questões como os critérios de
amplamente discutidos e demonstrados concei- seleção e viabilidade para um DMC, a aplicação
tos como o Balanço Hídrico, a setorização em Dis- das ferramentas e técnicas e os seus resultados.
tritos de Medição e Controle – DMC, o controle Especial destaque pode se fazer na tentativa de
ativo de vazamentos, o controle de pressões, a institucionalizar o Balanço Hídrico e a modela-
modelagem hidráulica, sistemas cadastrais, con- gem Bottom Up nesse processo, que permitiram
ceitos do geoprocessamento, entre outros. um importante exercício de integração de infor-
Naquela oportunidade, em 2007, esses con- mações e a sua interação, como vazões e pres-
ceitos eram aplicados por poucas empresas de sões de abastecimento, volumes micromedidos,
10
Planejamento e Gestão

estimativas de fraudes e ligações clandestinas, partes envolvidas. As técnicas de mobilização


submedição em hidrômetros e usos operacionais. e comunicação mais uma vez foram aplicadas,
Um aspecto importante que se destacou demonstrando sua importância na mobilização
tanto no COM+ÁGUA quanto no COM+ÁGUA.2 das comunidades impactadas pelo projeto, no
foi a mobilização e comunicação social. De fato, engajamento e compreensão de seus objetivos
observa-se que o setor de saneamento precisa pelas equipes técnicas envolvidas, como tam-
avançar nesse tema como meio de impulsionar bém na percepção, coleta e reconhecimento dos
suas ações com integração e engajamento das resultados alcançados.

2.4 As Recentes Tendências e Abordagens


Internacionais
Especialistas internacionais, integrantes da judicaram seriamente os resultados das ações e
força tarefa da IWA, têm trabalhado e desen- de seus programas de redução de perdas. Levar
volvido o conceito da “Dinâmica das Perdas”. A em consideração esses conceitos recentemente
partir de análises detalhadas do estágio de tran- definidos é necessário para simular os resultados
sição da passagem entre um balanço hídrico ini- dos complexos programas de redução de perdas
cial a um balanço hídrico final, desenvolveram que incluem muitos componentes e assegurar
modelos para simulação relacionados ao tema. um controle abrangente desses programas.
Para isso, introduziram e definiram novos Foram definidas oito categorias de fatores
conceitos, tais como: Fator Tempo e Limite que têm impacto no valor das Perdas Reais e
Inferior de Visibilidade (Time Factor and Visi- Aparentes.
bility Threshold), Coeficiente de Retorno das As setas apontadas para fora representam a
Anomalias (Coefficient of Return of Anomalies) alternativa “não fazer nada” (crescimento natu-
e o Atributo Migratório das Perdas (Migratory ral das perdas). As setas apontadas para dentro
Attribute of Losses). representam as ações corretivas do programa de
Em vários casos observados, prestadores fa- redução de perdas.
lharam ao não considerarem esses fatores e pre-

Figura 1. A Dinâmica das Perdas

Controle
Gestão da Ativo de
Qualidade e Pressão Vazamentos
Rapidez dos Substituição de
Reparos dos Redes e Ramais
Vazamentos
Perdas
Reais

Perdas
Aparentes

Erros dos Erros na


Hidrômetros Estimativa dos Aquisição dos
Consumos Consumos Não Dados
Não Medidos Autorizados

Fonte: Michel Vermersch, IWA

11
Planejamento e Gestão

É fácil entender que se todas as setas estão de insucesso dos planos de ação para redução
apontadas para dentro, a perda total será redu- de perdas.
zida. Porém, se uma parte é dirigida para dentro Outro aspecto que deve ser trazido à luz
e outra parte para fora, torna-se mais complica- da reflexão é a “Gestão da Mudança como um
do saber qual será a resultante, pois uma parte Componente Indispensável no Planejamento
das ações empenhadas em determinado tema do Controle de Perdas”. Especialistas propõem
irá gerar uma redução das perdas, mas em outro a implementação de um plano de ação tridi-
poderá gerar um aumento. mensional para que a sustentabilidade dos bons
O esquema dinâmico apresentado mostra a resultados possa ser garantida. Esta abordagem
possível migração das perdas reais para perdas baseou-se na revisão e análise de muitos planos
aparentes e vice-versa. O fato de não considerar de ação para redução e controle de perdas, exi-
essa potencial migração é uma causa frequente tosos ou não.

Figura 2. Gestão da Mudança no Planejamento do Controle e Redução de Perdas

Dimensão Gestão da Mudança

Dimensão Gestão de Projeto


Dimensão Operacional
- Medição da Produção
- Gestão dos consumidores e venda de água
- Consumo próprio e outros usos gratuitos
- Perdas reais (físicas)
- Perdas aparentes (comerciais)
- Perdas de medição
- Definição de Metas
- Definição de Metas de Qualidade, Custos e Prazos
- Recursos Humanos, Físicos e Organizacionais adequados
- Políticas corretas e procedimentos de Gestão de Projeto

- Definição de Projeto de Gestão da Mudança


- Pesquisa dos stakeholders (partes envolvidas)
- Análise da rede cultural
- Alinhamento do contexto organizacional com o Proj Gestão da Mudança
- Definição da equipe de Gestão da Mudança
- Definição da estratégia de Gestão da Mudança e Caleidoscópio da Mudança
Fonte: Michel Vermersch e Alex Rizzo

Resumidamente: e A Dimensão Gestão da Mudança refere-se à


mudança de atitude na gestão das perdas e do
e A Dimensão Operacional refere-se às ações prestador como um todo.
ou subprogramas desenvolvidos para redu- Isto significa que, mesmo que o prestador
zir os vários componentes das perdas reais utilize os melhores especialistas e as melhores
e aparentes; técnicas para reduzir as perdas reais e aparentes
e A Dimensão Gestão de Projeto refere-se (1ª Dimensão), as metas com relação às perdas
à gestão do projeto em si, as atividades não serão alcançadas se as várias ações não fo-
listadas na Dimensão Operacional não te- rem executadas de forma organizada e coerente
rão impacto positivo se não forem bem entre elas (2ª Dimensão). Em poucas palavras, a
organizadas e planejadas como um pro- Dimensão Projeto é necessária para alcançar a
jeto em si. Vide a “Dinâmica das Perdas” e meta, mas a Dimensão Mudança é essencial para
sua migração; que os resultados sejam sustentáveis.
12
Planejamento e Gestão

3. METODOLOGIA

3.1 Detalhamento da Metodologia na AT 5

N
a concepção do COM+ÁGUA.2, inter- apenas nele. O grau de facilidade para isolar os
nalizando os conceitos da Força Ta- DMC deve ser outro critério, começando-se dos
refa da IWA para Perdas de Água, uma mais fáceis para os mais difíceis, principalmente
questão estratégica para os programas de PRCP se os recursos financeiros e humanos ainda são
é a implantação de Distritos de Medição e Con- escassos para a gestão do sistema com base em
trole (DMC). Os DMC são constituídos pelo fra- novos paradigmas.
cionamento suficiente dos sistemas distribui- Em se tratando da abordagem metodológica
dores em pequenas unidades em que se pode do COM+ÁGUA.2 para conhecer e combater as
gerenciar a diário o surgimento de novos vaza- perdas reais, o presente CADERNO TEMÁTICO
mentos, sejam reportados ou não visíveis. Por 5 – PLANEJAMENTO E GESTÃO se complementa
serem ambientes monitorados continuamente com o CADERNO TEMÁTICO 2 – PERDAS REAIS,
em suas variáveis hidráulicas (vazões, pressões pois ambos tratam de elementos que, direta ou
e níveis) prestam-se perfeitamente como unida- indiretamente, refletem na prevenção, redução e
des de ação e avaliação nos Programas de PRCP controle das perdas reais.
e ambiente de integração das ações de combate No presente CADERNO TEMÁTICO 5 estão con-
às perdas reais e aparentes e de mobilização gregadas abordagens relativas aos subprojetos de:
social. Os DMC têm sido apontados pelos espe-
cialistas como solução para companhias ricas e e Revisão das políticas e processos de aquisi-
pobres. Sempre que possível e indicado, os DMC ção de materiais, equipamentos e serviços, e
podem também coincidir com áreas de controle desenvolvimento do controle de qualidade no
de pressão por VRP. suprimento destes insumos;
Respeitando critérios de viabilidade econô- e Implantação de sistema de gestão de ativos de
mica, a escolha da sequência dos DMC a serem infraestrutura, incluindo o estabelecimento de
implantados é fundamental para a otimização regras operacionais que permitam o estabele-
dos recursos disponíveis e maximização dos cimento de prioridades na tomada de decisões;
resultados de um programa de PRCP. De forma e Modelagem de forma(s) de contratação por
geral, os prestadores conhecem onde estão as desempenho em atividades de combate a per-
maiores perdas de água em seus sistemas, mes- das de água e eficiência energética;
mo que de maneira empírica, e por isso, a es- e Revisão de critérios de projeto e construção;
colha do setor ou zona de abastecimento para e Reestruturação organizacional para a ges-
início dos trabalhos de implantação de DMC tão dos sistemas distribuidores com base
deve basear-se neste conhecimento, porém não em DMC; institucionalização do controle de
13
Planejamento e Gestão

pressões, do controle ativo de vazamentos e NO TEMÁTICO 5 promove-se o devido enfoque


das ferramentas de análise de perdas. aos métodos e ferramentas de gestão dos DMCs,
notadamente a estruturação do balanço hídrico
Já o CADERNO TEMÁTICO 2 trata dos seguin-
e a modelagem bottom up, além de uma abor-
tes subprojetos:
dagem complementar acerca dos indicadores
de desempenho operacional. Já no CADERNO
e Macromedição e automação;
TÉMÁTICO 2, são realizadas abordagens direta-
e Sistema cadastral e modelagem hidráulica; mente relacionadas às causas e efeitos das per-
e Gestão de DMC, controle de pressão e con- das reais, em especial o controle de pressões e
trole ativo de vazamentos;
de vazamentos.
e Gestão de ativos. O fluxograma a seguir sintetiza o caminho
Tendo em vista a sobreposição de assuntos para implantação e gestão do DMC.
técnicos que permeiam os DMC, neste CADER-

14
INICIO - Facilidade de isolamento
- Localização do DMC na macroárea
Definir a prioridade (preferencialmente ir implantando
de implantação no caminho da água)
Priorizar áreas com maior
Elaborar diagnóstico - Porte do DMC
Avaliar o sistema índice de perdas e maior Implantar o DMC
distribuidor com BH Top Down - Indices de perdas do DMC
facilidade de implantação

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2


Modelagem hidráulica e
medições de vazão/pressão Revisar o modelo hidráulico construído para
verificar as intervenções necessárias para o
isolamento do DMC
Preparar as áreas de influência de
cada DMC suportado pela MH

Realizar, se for o caso, obras de


isolamento do DMC e/ou obras de
DMC

melhorias do abastecimento inteiro


correta configuração do
n vezes até se garantir a

Periodicamente Acompanhamento e controle (BH, Bottom Realizar teste de


Divulgação dos resultados Up, atualização do modelo hidráulico estanqueidade

Sistematicamente

Redefinir o modelo hidráulico realizando


Realização das ações de combate às medições de vazão e pressão nos pontos
FIM perdas de água e mobilização social
médios e críticos do DMC

Elaborar BH inicial Elaboração do projeto executi-


vo de implantação do DMC
Figura 3. Fluxograma de Metodologia de Implantação e Gestão de DMC

Implantação e comissionamento Aquisição dos materiais


dos equipamentos de medição e e equipamentos para
controle implantação do DMC
Planejamento e Gestão

15
Planejamento e Gestão

É importante ressaltar que esse percurso mento e gestão dos prestadores, eles transcen-
metodológico é aplicável a qualquer prestador dem em muito os limites dos DMC, uma vez que
de serviço. se trata, via de regra, de questões ligadas à ges-
No caso específico dos temas tratados no tão da organização como um todo.
âmbito do COM+ÁGUA.2, relativos ao planeja-

3.2 A Necessidade da Revisão dos Critérios de


Projeto e Construção
Desde há muito tempo, os projetos para e mínimas.
implantar ou expandir redes de distribuição de A versão da NBR 12.218, de maio de 2017,
água para abastecimento público se apresen- trouxe, entre outros aspectos, uma ótica sobre
tam geralmente com pouca ou quase nenhuma perdas, quer seja real ou aparente, e assuntos
preocupação com a operação e manutenção do como definição de DMC, macro e micromedição,
sistema, particularmente quanto aos requisitos cadastro, teste de estanqueidade, além de VRP,
de operabilidade e de controle operacional, bem medidores e controles de vazão e pressão vie-
como qualidade dos materiais e da construção, ram à baila.
produto da ausência de conexão dos projetos de O que se observa com os novos conceitos
engenharia com as realidades e necessidades incorporados à NBR, é a preocupação com o
operacionais dos prestadores de serviço. projeto refletir questões de eficiência e con-
Ao longo do tempo, na teoria e na prática, trole operacional. É comum se entender o DMC
se consolida com clareza a interferência que apenas como uma nova maneira de fazer seto-
os projetos de engenharia podem ter no redu- rização. Entretanto, a setorização é somente o
ção e controle das perdas. Logo, é necessário meio. O fim ou objetivo é a “Medição e Contro-
avaliar esta questão, separando os projetos le” de modo a fazer com que o DMC se torne
em dois ramos importantes: projetos de novos instrumento de controle ativo de vazamentos,
sistemas de abastecimento de água (implan- permitindo o conhecimento, no menor tempo
tação ou expansão) e de melhorias (recupera- possível, das ocorrências de fugas. A Medição
ção e/ou modernização). e o Controle são a essência do DMC. Sem isso
Como criar ou modelar soluções de PRCP-EE tem-se apenas mais um setor de pressão, ma-
desde a fase projetos? nobra ou zona de abastecimento.
Para além das iniciativas individuais dos Já em se tratando da execução dos projetos,
prestadores de serviços, esta têm sido também observou-se nos últimos anos uma evolução im-
uma preocupação das atualizações normativas. portante das técnicas e métodos construtivos,
A recente atualização da NBR 12.218, em maio bem como do desenvolvimento tecnológico de
de 2017, pode ser vista como fator indutor à mu- alguns materiais e equipamentos, que terminam
dança de paradigmas, pelo menos na etapa de por promover resultados relevantes na qualida-
projeto. Na versão anterior, de agosto de 1994, de, produtividade e eficiência construtiva.
a NBR não se debruçou sobre perdas de água, Neste sentido, se deveria ampliar a ainda
trazendo apenas conceitos como setor de ma- baixa utilização de recursos construtivos como
nobra, medição e zonas de pressão. Nos setores os Métodos Não Destrutivos (MND) – tecnolo-
de manobra, abordava aspectos quanto à exten- gias já amplamente utilizadas e consolidadas
são de rede, ao número de economias e à área em outros segmentos da infraestrutura - na exe-
de abrangência; no setor de medição, definições cução de redes e ramais prediais no saneamento
quanto às indicações de quantidade máxima de brasileiro. Estas técnicas construtivas têm como
válvulas, à extensão de rede, etc.; nas zonas de vantagem a minimização dos problemas com
pressão, orientava quanto às pressões máximas interferências em outros sistemas e redes, como
16
Planejamento e Gestão

tráfego, redes de gás, energia, esgotos, águas to que atualmente há uma gama de materiais
pluviais, telefonia, etc., e esbarram apenas na que, além de favorecer a redução de vazamen-
cultura estagnada de boa parte do setor de sa- tos, contribuem com preservação da qualidade
neamento. Têm também o potencial de proteger da água distribuída. Tal é o caso da utilização
melhor as novas tubulações construídas, com de tubos de polietileno da alta densidade sol-
benefícios para a qualidade da execução e com dáveis em redes e ramais; a utilização de Tês
custo-benefício melhor que soluções convencio- de serviço nas derivações de ramais; a utiliza-
nais. Em alguns casos, a utilização de MND é a ção de abraçadeiras para corrigir vazamentos
única solução possível, mas esta não deveria ser com a rede em carga; limpeza e revestimento
uma restrição para sua utilização. de tubulações, etc.
Quanto aos materiais das tubulações, é cer-

Foto 1. Desobstrução Da Rede De Água

Foto: Acervo COM+ÁGUA.2

Na abordagem sobre revisão de critérios de mento redutor de perdas reais; automação e


projetos e construção, podem ser destacados telemetria como recursos de suporte à ope-
como pontos relevantes: ração, manutenção e gestão do sistema para
promover redução de perdas;
e O projeto, desde a concepção, deve incor- e Utilização, em maior escala, do Método Não
porar ou contemplar o DMC como ferra- Destrutivo - MND para redes e ramais asso-
menta de gestão e controle para redução ciados a materiais de excelência e qualidade
do tempo de conhecimento e resposta aos que promovam, além de maior rapidez cons-
vazamentos; trutiva, redução na incidência e recorrência
e Padronização de redes e ramais, no sentido de vazamentos;
de promover a redução de fugas e fraudes; e Implantação de Centro de Controle de Ope-
e Contemplar macro e micromedição, de modo rações - CCO para sistema desde a captação
a promover melhoria na performance da ma- até a distribuição.
nutenção e operação do sistema;
e Controle de pressão por VRP como instru-
17
Planejamento e Gestão

3.3 Melhoria da Gestão e do Controle de


Qualidade na Aquisição de Materiais,
Equipamentos e Serviços
Reforça-se a importância de que, para prevenir e Atender princípios de eficiência, economici-
a ocorrência de perdas, é preciso ter um sistema dade, normatização e padronização técnica;
efetivo de cadastro de fornecedores, especifica- e Garantir a aquisição de equipamentos e ma-
ções técnicas e certificação, garantindo o ciclo de teriais que possuam eficiência e rendimento
normatização, padronização, aquisição, recebimen- comprovados, adequados aos padrões de re-
to e utilização do bem ou serviço. Assim, não basta dução do consumo de energia;
ter uma política estratégica de aquisição de mate- e Garantir a aquisição de equipamentos, mate-
riais, equipamentos e serviços, sendo fundamental riais e serviços com certificação e atestação
para evitar perdas que a implantação de unidades por órgãos reconhecidos;
como redes de distribuição, adutoras, estações e Suprir os demandantes com bens de qualida-
elevatórias e de tratamento, ramais domiciliares, de e controlar os estoques adequadamente.
medidores e outros dispositivos, sigam procedi-
mentos técnicos e administrativos integrados ao Os programas de PRCP realizados no Brasil
programa de redução de perdas do prestador. têm desenvolvido, ao longo dos últimos anos,
De acordo com princípios de boas práticas e, ações mais criteriosas para aquisição de mate-
considerando o que está posto da Cruz de Lam- riais, equipamentos e serviços como medidores
bert, a existência de um processo de controle de – principalmente micromedidores – tubulações,
qualidade para aquisição de materiais, equipa- válvulas e dispositivos de proteção e contro-
mentos e serviços é fundamental para garantir le. Para estes aspectos, alguns prestadores já
que a operação dos sistemas de abastecimento possuem sistemas de gestão que lhes permite
de água se dê racionalmente e com perdas redu- adquirir grande parte dos produtos desta linha
zidas, posto que o bom funcionamento integrado considerando a relação custo-benefício, graças
dos DMC depende de redes, ramais, dispositivos à existência de projetos bem dimensionados,
de controle e medidores de qualidade compro- padronização, especificações e normas técnicas
vados e certificados por sua boa operação. específicas elaboradas com base nas experiên-
Em geral, o processo de aquisição envolve a cias vivenciadas na operação de um determina-
gestão de procedimentos que tem a ver com a do produto.
identificação de fornecedores, sua qualificação A Lei 13.303/2016 (Lei das Estatais) trouxe
e de seus produtos, a criação de banco de da- algumas modificações para os processos de aqui-
dos que registrem não só os preços de aquisição, sição de bens e serviços.Esta lei começou de fato
mas, principalmente, a qualidade e o desempe- a ser aplicada no que se refere a licitações prin-
nho do bem ou serviço adquirido, além da ava- cipalmente, a partir de julho de 2018, conforme o
liação crítica se aquele bem ou serviço contribui entendimento da AGU-Advocacia Geral da União,
para evitar perdas reais. que permitiu que as estatais se adaptassem aos
Como um dos princípios do COM+ÁGUA está novos procedimentos. O que se pode considerar é
pautado no fortalecimento do conceito de que que ela trouxe algumas mudanças para:
os programas de PRCP devem estar compon-
do o planejamento estratégico de gestão dos e Outorga de maior autonomia discricionarie-
prestadores de serviços, convém destacar as dade às estatais;
premissas que orientam a política de aquisição e Criação de regulamentos internos de licita-
de materiais, equipamentos e serviços. Dentre ções e contratos;
elas, destacam-se: e Novas formas de licitar com supressão das
e Maximização do uso de recursos materiais tradicionais;
para evitar desperdícios; e Novos prazos para publicar editais;
18
Planejamento e Gestão

e Critérios de julgamento que podem ser com- e Atualização permanente de sistemas de


binados entre si; monitoramento e controle das aquisições
e Maior ênfase às soluções de engenharia em e instalação dos materiais, equipamentos e
detrimento a preços; qualidade dos serviços, criando um sistema
e Contratações integradas e semi-integradas de avaliação constante de fornecedores e
onde o autor do projeto/solução pode par- produtos.
ticipar da licitação;
Os materiais e equipamentos utilizados e os
e Alteração na faixa de dispensas; procedimentos adotados na implementação de
e Contratos com vigência direta por até 60 um sistema de abastecimento estão continua-
meses; mente evoluindo do ponto de vista tecnológico.
e Alteração nos critérios de desclassificação Portanto, a seleção de materiais e equipamen-
de propostas. tos, a inspeção, os procedimentos construtivos e
a fiscalização e o recebimento da obra têm um
Estas e outras definições da lei auxiliarão
peso considerável sobre a qualidade do sistema
com certeza na contratação de soluções para
e sua vida útil, devendo ser valorizados para que
reduzir perdas e aumentar a eficiência energé-
as perdas sejam reduzidas e controláveis em no-
tica, com modalidades como contratos de per-
vos sistemas a implementar, como também na-
formance ou PPP.
queles que aplicam melhorias de modernização
Um programa de PRCP-EE, deve adicional- ou reabilitação.
mente atuar nos seguintes aspectos:
A formalização, fortalecimento ou melhoria
organizacional da unidade responsável pela
e Padronização e melhoria permanente para área de aquisição de materiais, equipamentos
especificações de materiais, equipamentos e e serviços, deve ter como plano de atuação a
serviços; gestão dos processos com visão multidisci-
e Padronização e utilização de ferramentas plinar para avaliar e garantir a qualidade de
adequadas para implantação e reparos; produtos e obras com base em especificações
e Treinamento para capacitação das equipes técnicas e atividades, fundamentadas em nor-
de instalação e manutenção; mas, procedimentos, treinamento e indicado-
e Atualização permanente das equipes de res, como normas da International Organization
compras com as equipes de logística, opera- for Standardization - ISO ou de agências cre-
ção e manutenção; denciadas nacionais.

3.4 A Gestão de Ativos de Infraestrutura


Nos países da União Europeia, a prática da como uma das medidas relevantes para redu-
gestão de ativos acompanha o que estabelece zir perdas reais. O projeto COM+ÁGUA, em seus
a ISO 55000, complementando as recomenda- fundamentos, busca fortalecer a redução dessas
ções da IWA, no que se refere à adoção de me- perdas de forma integrada a outros projetos que
didas gerenciais que visem, entre outras coisas, priorizem uma maior atenção ao controle e mo-
reduzir perdas, notadamente as perdas reais nitoramento do estado das infraestruturas dispo-
em sistemas de adução e distribuição de água, níveis, bem como a devida especificação dessas
com o fito de melhorar a qualidade dos serviços infraestruturas para que sejam evitadas as per-
por meio de sistemas que forneçam água com das reais na fase inicial dos processos de aquisi-
padrões de qualidade e operacionais satisfató- ção, fornecimento, implantação e operação.
rios. No Brasil, o conceito é conhecido de muitos Tanto os estudos da IWA, quanto os desen-
prestadores de serviços, mas ainda é praticado volvidos no Brasil, mostram que os ativos que
efetivamente por poucos. compõem esta infraestrutura de adução e distri-
A conhecida Cruz de Lambert, em sua flecha buição da água que mais impactam para evitar e
inferior, aponta para a gestão da infraestrutura controlar as perdas reais são as unidades incluí-
19
Planejamento e Gestão

das nos sistemas distribuidores de água. Pode-se disponível, associado ao histórico de falhas, é
incluir também neste patrimônio os medidores e ponto essencial a ser atualizado e mantido para
dispositivos de controle operacional e eficiência que se possa conhecer quais os ativos da orga-
energética, os quais, de forma integrada, comple- nização, sua condição operacional e vida útil, de
tam o ciclo da Cruz de Lambert. modo que se possa planejar adequadamente a
Como se trata neste tópico de planejamento e gestão do plano de manutenção e reabilitação
gestão, há que se enfatizar este processo que leva dos ativos.
a boa operacionalização da gestão de ativos. As- O histórico de falhas nada mais é que um re-
sim, seguir uma metodologia para que a gestão de latório que contém o que aconteceu com deter-
ativos se configure num projeto eficaz na organi- minada unidade operacional ao longo do tempo,
zação requer seguir alguns passos recomendados desde sua instalação, manutenções preventivas
pela IWA, como por exemplo: e corretivas, atualizações, reabilitação e substi-
tuição, com destaque das causas de cada situa-
e Decisão estratégica corporativa com o objetivo ção e solução adotada. Reporta-se, então, à Cruz
a ser alcançado, local a ser estudado, prazos, de Lambert para observar a importância da in-
resultados esperados, metas e área(s) respon- tegração de ações, como por exemplo, o contro-
sáveis pelos estudos e gerenciamento da im- le de pressões e ativo de vazamentos que tem
plantação, operação e manutenção dos ativos; impacto direto nas perdas reais, na medida em
e Diagnóstico para levantamento de dados e in- que interferem na condição operacional das tu-
formações sobre a(s) área(s) onde se desenvol- bulações e no acompanhamento de sua vida útil.
verão os projetos tais como: número de liga- Diante da discrepante realidade que figu-
ções; extensão, material, diâmetros e idade da ra nos diversos sistemas de abastecimento de
rede existente; situação física e operacional da água no Brasil, até mesmo naqueles operados
rede existente; histórico de ocorrência de va- por um só prestador, se torna desafiador conhe-
zamentos; quantidade de reparos feitos; con- cer e padronizar o ciclo de vida de determinadas
dições socioeconômicas da população da(s) unidades e equipamentos integrantes da in-
área(s) escolhida(s); situação da manutenção; fraestrutura, assim como tentar estabelecer uma
custos com operação e manutenção da rede; uniformidade nas decisões a respeito da gestão
e Desenvolvimento e elaboração do plano de de ativos no prestador.
gestão dos ativos com etapas como o projeto À título de exemplo, redes implantadas na
de solução técnica e operacional; estudo eco- mesma época em diferentes sistemas, a depen-
nômico para a viabilidade financeira e admi- der do regime operacional aos quais foram sub-
nistrativa; cronograma físico-financeiro; ava- metidas (variações de pressão, regime e critérios
liação de formas de contratação dos serviços de operação e manutenção, etc.), podem ter ci-
a serem desenvolvidos; clos de vida significativamente diferentes.
e Implantação do plano; Mesma analogia pode ser aplicada para o
e Gestão do plano com monitoramento e con- caso dos hidrômetros. A depender da instalação,
trole por indicadores estabelecidos e avalia- da qualidade da água tratada, do regime ope-
ção periódica do andamento das etapas física, racional da rede de distribuição, do perfil de
financeira e resultados; consumo do cliente, entre outros aspectos, lotes
idênticos entregues pelos fabricantes podem ter
e Revisão e avaliação do plano.
ciclos de vida diferentes.
Como se trata de planejamento e gestão, é ne- Fica assim evidente que o plano de gestão
cessário que, de acordo com as características de de ativos do prestador deve levar em conta a
cada prestador de serviços, se desenhe um plano particularidade de cada sistema, o que requer
que tenha como premissas a participação e o en- um profundo trabalho de registro histórico e
volvimento dos colaboradores e gestores, fortale- análise de todas as unidades, além de estudos
cidos pela mobilização interna direcionada para o complementares, com vistas a mensurar a reali-
programa de PRCP, particularmente o projeto de dade de cada sistema.
gestão de ativos, neste caso. Partindo assim dos objetivos e níveis de ser-
O cadastro técnico de toda a infraestrutura viço estabelecidos, são desenvolvidos os planos
20
Planejamento e Gestão

de gestão patrimonial de infraestruturas ou ges- a verificar o cumprimento das metas estabe-


tão de ativos, que contêm o planejamento das lecidas, identificar desvios e medidas de me-
intervenções de reabilitação de redes, adutoras lhoria e rever os diversos planos em confor-
e ramais, bem como da implantação de DMC. Fi- midade. Estes planos deverão ser coerentes
nalmente, podem ser elaborados os planos ope- entre si, definindo‑se, em cada nível de plane-
racionais, voltados aos temas específicos da rea- jamento, as diretrizes e as fronteiras do nível
bilitação, recuperação ou substituição de ativos, hierárquico seguinte.
em função da gestão e do planejamento.
A implementação de cada um destes pla-
nos deverá ser monitorada e avaliada de modo

3.5 A Gestão de Sistemas Distribuidores


com o Uso de Distritos de Medição e
Controle para Reduzir o Tempo de
Conhecimento dos Vazamentos
Nos prestadores é até comum a realização foco o monitoramento e controle da distribuição
de uma gestão eficaz dos sistemas de produção e e, particularmente, dos DMC.
adução, onde são monitoradas grandes áreas e va- Essa proposição foi apresentada inicialmen-
zões, que gera informações para uma boa eficiên- te na Water Losses Conference – WLC, realizada
cia energética, uma correta dosagem de produtos em Chipre, em 2003. O DMC é a melhor estraté-
químicos e boa adução. gia para qualquer operador, com ou sem abas-
No entanto, usam a mesma estratégia para tecimento contínuo, pois sua implantação pode
a gestão de sistemas de distribuição de água, ser realizada na velocidade que o prestador
medindo muitas vezes apenas a entrada dos re- pode suportar, tanto nos aspectos financeiros,
servatórios e os seus níveis, ficando uma lacuna quanto no aspecto de disponibilidade e capaci-
no que ocorre entre a saída do reservatório e a tação de equipes.
chegada ao cliente. Esta lacuna é evidenciada Com a decisão sendo tomada em nível de
pelas estimativas de perdas de água na distri- DMC, por meio do monitoramento de vazão e
buição que os prestadores fazem, muitas vezes pressão da entrada do setor, e da pressão do
grosseira, pois não possuem equipamentos de
ponto médio e do ponto crítico, garante-se a cor-
medição na distribuição.
reta estratégia para o controle e gestão das per-
No Brasil, os prestadores começam a mudar das, principalmente reduzindo-se drasticamente
este conceito e estão iniciando a realização de me- o tempo de conhecimento dos vazamentos sem
dições de grandes alças de distribuição, o que sem
depender mais de rodadas semestrais ou anuais
dúvida alguma melhora a situação, mas ainda está
de detecção de vazamentos não visíveis e visí-
longe de prover as empresas de condições de uma
veis. Adicionalmente, o monitoramento contínuo
gestão eficaz dos sistemas de distribuição de água.
permite o uso aprimorado de técnicas como:
A grande mudança de conceito que deve
ocorrer é romper com o paradigma de centros
de controle operacionais que operam monito- e Refinamento do controle de pressões;
rando e controlando grandes vazões como na e Modelagem de balanços hídricos confiáveis;
produção, passando a monitorar e controlar e Quantificação de perdas reais por modela-
vazões e pressões de regiões menores, ou seja, gem Bottom Up, calibrando por consequên-
passar para um centro de controle operacional cia as estimativas de perdas aparentes utili-
da distribuição que pode também monitorar as zadas nos balanços hídricos;
grandes alças de distribuição, mas tem como e Calibração de modelos hidráulicos;
21
Planejamento e Gestão

e Otimização do controle ativo de vazamentos, obtenha retorno em relação aos custos que foram
atuando-se no combate assim que o operador necessários para a sua implantação.
identificar anomalias ou ocorrências de fugas
nos gráficos de monitoramento das vazões mí- 3.5.1 Balanço Hídrico
nimas noturnas; O balanço hídrico consiste numa ferramenta
e Avaliação correta do impacto dos diversos ti- para quantificar e tipificar as perdas de água nos
pos de ações voltadas para a redução das per- sistemas de distribuição, permitindo a análise des-
das reais e aparentes; tas perdas bem como seus custos efetivos. É um
e Construção de sinergia nas ações de combate balanço de massas, que integra informações ope-
a perdas reais e aparentes, evitando-se a mi- racionais e comerciais de rotina, por meio do qual
gração entre os diferentes tipos de perdas; obtém-se uma base excelente para a geração de
e Identificação precisa da taxa natural de cres- diversos indicadores de desempenho operacional
cimento das perdas na ausência de ações de adequados à compreensão do complexo fenôme-
combate; no das perdas de água. Tipificar as perdas de água
e Por serem ambientes continuamente monito- consiste em quantificá-las volumetricamente em
rados, os DMC são perfeitos para serem utili- termos de perdas reais e aparentes. Desta forma
zados como unidades de ação e avaliação nos torna-se possível montar programas de PRCP con-
programas de redução de perdas. sistentes com a realidade dos sistemas e com be-
nefícios quantificáveis.
Todavia, importante ressaltar que a implan- Com o amadurecimento das experiências, e
tação de DMC demanda uma cultura operacional após os estudos desenvolvidos por diversos espe-
diferente daquela hoje praticada pelos prestado- cialistas pelo mundo, essa ferramenta se consoli-
res. Requer que as equipes estejam capacitadas dou como um instrumento indispensável para a
para a operação de DMC, com a visão e o preparo gestão de um sistema de abastecimento de água.
para o controle ativo de vazamentos, aplicação da É importante destacar, em especial, os esforços dos
modelagem bottom up, manutenção das medições. pesquisadores da IWA no refinamento dos concei-
Em algum tempo, sem o devido preparo, o DMC tos intrínsecos ao balanço hídrico, bem como na
perderá suas características fundantes (isolamen- disseminação e experimentação de seu uso.
to, por exemplo), fazendo com que o prestador não

Figura 4. Para que Servem os Balanços Hídricos

Gerenciamento da Companhia Agências Reguladoras

Melhor compreensão do fenômeno das perdas Atendimento a requisitos de regulação


Base para estabelecimento de metas para melhoria Definição de metas
Medição de performance e resultados Monitoramento
Comunicação com clientes Comunicação
Direcionamento de esforços e investimentos

Balanço Hídrico

Criadores de Políticas Instituições Financeiras/Fomento

Padronização Medição da eficiência do prestador


Comparação de performance Atratividade de investimentos
Priorização de investimentos
Medição de sucesso de projetos

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2


“Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se
define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no
1
William Edwards Deming, 1950 que não se gerencia”1
22
Planejamento e Gestão

A tendência nos prestadores é que se desen- A utilização da ferramenta de modelagem


volvam sistemas corporativos para a produção de Balanço hídrico, contudo, demanda capaci-
automática mensal de balanços hídricos que tação das equipes envolvidas nos processos
considerem os últimos doze meses, segundo os diagnósticos, bem como uma estrutura de
sistemas de abastecimento e suas subdivisões, gestão que permita a captura, tabulação e sis-
já que em prestadores que operam grandes tematização dos dados que serão processados
quantidades de sistemas e setores de abaste- pela ferramenta.
cimento a produção manual torna-se bastante
difícil e pouco confiável.

Figura 5. Matriz do balanço hídrico

VOLUME FATURADO
CONSUMO MEDIDO
VOLUME
AUTORIZADO
FATURADO
FATURADO VOLUME FATURADO
CONSUMO NÃO-MEDIDO
AUTORIZADO
VOLUME NÃO FATURADO
CONSUMO MEDIDO
AUTORIZADO
NÃO-FATURADO VOLUME NÃO FATURADO
VOLUME DE NÃO MEDIDO
ENTRADA

SUBMEDIÇÃO
VOLUME DE ÁGUA
NÃO FATURADA
PERDAS CLANDESTINOS/FALHAS DE
APARENTES CADASTROS
PERDAS DE
ÁGUA FRAUDES

PERDAS REAIS

Fonte: Guia Prático da Série Balanço Hídrico V3 - Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento - AESBE

Apresenta-se, a seguir, a relação de infor- situações de litígio, que por determinação


mações que o operador deve dispor para o uso judicial o cliente não pague pela conta de
desta importante ferramenta: água. Os chamados “usos sociais” são incluí-
dos nesta categoria por muitos prestadores
e Volume de entrada: este volume correspon- e correspondem a áreas de população vul-
de à macromedição da área de controle que nerável a que o prestador é obrigado legal-
se deseja diagnosticar com o uso do balanço mente a abastecer, porém não geram fatu-
hídrico; ramento. Ocorrem geralmente nas grandes
Consumo autorizado: o CAF – consumo au- áreas metropolitanas.
torizado faturado corresponde aos volumes NOTA: Nos casos de cobrança mínima com
consumidos pelas ligações ativas oficiais, base em volume, deve-se observar que o
contidas no cadastro do prestador. Há tam- dado a ser inserido será sempre o volume
bém o CANF – consumo autorizado não fatu- real medido pelos hidrômetros desses con-
rado, Nesta última categoria se incluem, por sumidores. Por exemplo, imagine-se o caso
exemplo, consumos dos prédios próprios do de um consumidor que tenha um consumo
prestador, dos órgãos públicos que por al- mensal de 5 m³, e que seja faturado para
gum acordo não paguem pelo uso de água esse consumidor um volume mensal de
(inclusive corpo de bombeiros), ou mesmo 10m³, devido à política de tarifa mínima

23
Planejamento e Gestão

adotada pelo prestador de serviço. Nesse -se indevidamente à rede distribuidora visando
caso, o volume a ser considerado no balan- o furto de água para uso, seja ele residencial,
ço é o de 5 m³, que equivale àquele efeti- comercial, industrial ou mesmo público. Em ge-
vamente consumido. O volume faturado não ral, são ligações improvisadas e mal executadas,
consumido não deve fazer parte do balanço que são realizadas pelo próprio usuário sem o
hídrico, pois ele é um balanço de massas, consentimento do prestador de serviço.
que por definição, tem como objetivo princi- As falhas de cadastro, na definição sugerida
pal quantificar e tipificar as perdas de água pelos Guias Práticos da AESBE, classifica os erros
entre reais e aparentes. de cadastro nas situações como os religados à
É importante notar que a matriz do balan- revelia, onde o usuário viola a restrição de con-
ço hídrico traz para ambas as classificações sumo imposta legalmente pelo prestador; o caso
de consumo autorizado faturado, e consumo do imóvel não cadastrado, quando o imóvel está
autorizado não faturado, as possibilidades regularmente conectado à rede distribuidora, po-
de que esses volumes tenham, ou não, sido rém ainda não consta no banco de dados do pres-
medidos. Isto permite a adequação às situa- tador ou consta apenas como usuário factível, e
ções ainda muito comuns de sistemas com ainda a situação de hidrômetro não cadastrado,
deficiência de medição, permitindo o lança- que corresponde a um hidrômetro regularmente
mento dessa informação de forma desagre- instalado no ramal do usuário, porém ainda não
gada e com erros associados às estimativas. constante no banco de dados do prestador.
A fraude, por sua vez, pode ser classificada
Uma vez caracterizados o volume de entra- como violação de hidrômetro, que caracteriza
da no sistema e o consumo autorizado total, por qualquer tipo de intervenção direta ou mani-
diferença obtém-se as perdas totais de água. As pulação por parte do usuário no medidor do
perdas totais estão divididas entre perdas apa- prestador, visando evitar ou reduzir o registro de
rentes e perdas reais. volumes; a ligação direta, quando se faz o aces-
so indevido por parte do usuário com ligação
e As perdas aparentes são estimadas no Ba- cadastrada do prestador ao ramal predial ou à
lanço Hídrico em termos de volumes e com- rede formal, antes do medidor, visando subtrair
preendem as parcelas de submedição, clan- volumes ao registro de consumos para uso do
destinos/falhas de cadastro e fraudes; próprio imóvel ou para o uso de terceiros. Em
e As Perdas reais resultam, portanto, da dife- outros termos, trata-se necessariamente de uma
rença entre as perdas totais e a estimativa infração cometida em uma ligação oficial do sis-
de perdas aparentes. tema e que é passível de tratamento à luz do
Código Penal e, também, com tratamento previs-
Não é possível observar nos prestadores um to na Lei 11.445/2007, que caracteriza o Marco
padrão na tipificação e na terminologia utiliza- Regulatório do Saneamento no Brasil.
das na determinação de consumos não autoriza- Vale destacar que, dentre os consumos não
dos. Neste sentido, os Guias Práticos produzidos autorizados mencionados, parte significativa é
pela Associação Brasileira das Empresas Esta- oriunda de estimativas que possuem uma alta
duais de Saneamento - AESBE inovam na tentati- incerteza associada, considerando a própria natu-
va de construir uma referência comum e, de fato, reza do consumo. Assim, é importante estabelecer
torna-se importante diferenciar essas situações critérios para se fazer estimativas de modo que
para que cada qual seja informada com o con- apresentem consistência, justificativa técnica e
ceito correto e associando os erros a cada caso. potencial de replicação para diferentes sistemas.
A ligação clandestina refere-se a uma li- Por exemplo, numa situação em que se esteja
gação que não existe nos bancos de dados do fazendo balanço hídrico de setores de abasteci-
prestador. Geralmente ocorre em áreas não mento dentro de um mesmo município, as esti-
atendidas, devido a problemas fundiários ou de mativas poderiam ser replicadas a cada setor com
restrição ambiental, onde o usuário conecta- base em parâmetros equivalentes e defensáveis.
24
Planejamento e Gestão

Figura 6. Estimativa de Perdas Aparentes no Balanço Hídrico

SUBMEDIÇÃO

PERDAS CLANDESTINOS/FALHAS DE VOLUME DE ÁGUA


APARENTES CADASTROS NÃO FATURADA

FRAUDES
Fonte: Guia Prático da Série Balanço Hídrico V3 - Associação Brasileira das Empresas Estaduais de
Saneamento - AESBE

Por exemplo, pode-se utilizar as inspe- algum tempo, ter-se-á parâmetros bastante
ções em campo rotineiras do pessoal da área confiáveis para a estimação da quantidade de
comercial, para se estabelecer parâmetros de eventos de consumos não autorizados. Este é
quantificação dos eventos de consumos não um passo importante e preliminar para a esti-
autorizados segundo os diversos tipos. Após mativa de volumes.

Tabela 1. Resultado da Fiscalização de Usos Não Autorizados em Campo

QTD QTD CONFIRMAÇÕES CNA TAXA DE ESTIMATIVA


FILTRO
Ligações VISITAS TIPO QTD EFETIVIDADE QTD EVENTOS

Ligações Violação de hidrômetro 25 25% 50,00


Inativas Ligação direta para o próprio imóvel 25 25% 50,00
(ou outro 200 100
qualquer à ligação direta para terceiros 0 0% 0,00
escolha) Religados a revelia 0 0% 0,00
Foto: Acervo COM+ÁGUA.2

3.5.2 Calculando a Submedição dos Figura 7. Exemplo de Curva de Desempenho


Parques de Medidores da Medição (Valores Estimados para Hidrômetro
Classe B)
Em relação às estimativas de submedição com
base no que preconizam os Guias Práticos da AES- 100%
Desempenho da medição (%)

BE, da Série Balanço Hídrico, são sugeridos méto- 95%


dos para determinação da submedição do parque 90%
de medidores entre os quais o Método da Curva de 85%
80%
Desempenho da Medição com base em levanta-
75%
mentos em campo de perfis de consumo e curvas 70%
de erro dos hidrômetros instalados. 65%
O método referido consiste em determinar, por 60%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
métodos amostrais, a submedição de um parque
de hidrômetros a partir da Curva de Desempenho Fonte: Guia Prático de Procedimentos para Estimativa
de Submedição no Parque de Hidrômetros
da Medição. Esta curva expressa a eficiência média
dos hidrômetros em função do tempo de instala- O conceito de IDM foi introduzido pela Nor-
ção, de acordo com o exemplo adiante. ma ABNT 15.538, revisada pela última vez em
A cada ano de idade do parque de medidores 2014, com a intenção de estabelecer proce-
associa-se um Índice de Desempenho da Medição dimentos de avaliação de hidrômetros com
(IDM), que representa a porcentagem média da base no perfil de consumo dos usuários e na
água consumida que o parque de medidores con- curva de erro dos medidores. Este conceito
segue medir. foi adaptado pelas companhias para também

25
Planejamento e Gestão

avaliar, por métodos amostrais, o desempenho A tabela a seguir ilustra a maneira de fazer os
dos parques de medidores instalados, conforme cálculos com base na idade, quantidade de medi-
o tempo de instalação. dores, volume micromedido e IDM para cada ano.

Tabela 2. Método da Curva de Desempenho da Medição

Estimativa de
Quantidade Volume Estimativa
Submedição
TIPO Idade (anos) de micromedido IDM de Consumo
Média período
hidrômetros Período (m³) Período (m³)
(m³)
INFORMAÇÃO AGREGADA PARA
4623 28694 0 0
TODO O PARQUE
0 94 767 94,53% 44 811
1 165 1127 90,34% 121 1248
2 206 1336 88,87% 167 1503
3 198 1132 87,99% 154 1286
4 198 1086 85,83% 179 1265
5 230 1316 82,98% 270 1586
6 289 1850 81,91% 408 2258

CONSUMOS - ROL 7 352 1842 76,22% 575 2417


COMUM 8 277 2073 72,76% 776 2849
9 196 1094 59,45% 746 1840
10 2418 15071 59,45% 10279 25350
11 59,45% 0 0
12 59,45% 0 0
13 59,45% 0 0
14 59,45% 0 0
15 59,45% 0 0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
ROL ESPECIAL
5 0 0
6 0 0
7 0 0
8 0 0
Total 4623 28694 13721 42415
Fonte: Guia Prático de Procedimentos para Estimativa de Submedição no Parque de Hidrômetros

A pesquisa de amostras aleatórias estra- lização de serviços de campo neste tipo de lo-
tificadas é feita no universo de hidrômetros cal. A amostra deve ser estratificada segundo
a estudar. Este universo deve ser constituído características como: capacidade do hidrômetro,
pelos hidrômetros domiciliares que estejam tempo de instalação e classes de consumo, en-
funcionando, excluídas as áreas de habitações tre outras. Sobre esta amostra são realizados os
subnormais pelas naturais dificuldades de rea- ensaios de campo em áreas do sistema distri-
26
Planejamento e Gestão

buidor, com pressão dentro do padrão e não su- 3.5.3.1 Pressão Média do Sistema (PMS)
jeitas a intermitências, ainda que ocasionais. Os A determinação deste parâmetro encontra-
ensaios consistem basicamente na instalação de -se tratada no CADERNO TEMÁTICO 2 – PERDAS
conjuntos de medidores classe C ou D, devida- REAIS.
mente calibrados em laboratórios, associados a Não faz sentido falar de vazamentos sem
armazenadores de dados. Esses conjuntos são mencionar a Pressão Média. Este parâmetro é
instalados em série com os medidores selecio- utilizado na relação Pressão-Vazamento e tam-
nados na área de estudo para uma calibração bém no cálculo de indicadores de perdas reais
em campo com a determinação do índice de que servem como parâmetros comparativos
submedição daquela amostra de estudo. entre diferentes sistemas de abastecimento. No
caso da modelagem do balanço hídrico para um
3.5.3 Parâmetros de Nível de Ser- sistema com diversos setores ou zonas de abas-
viço: Indicadores Calculados para tecimento, é necessário fazer a ponderação da
Relativizar Outros Indicadores de De- Pressão Média de cada setor para obter-se um
sempenho Baseados na Matriz do resultado que corresponda à área que está sendo
Balanço Hídrico modelada, como ilustrado no exemplo abaixo:

Tabela 3. Estimativa de Pressão Média do Sistema (PMS)

SETOR/DCM Total de ramais pressurizados P media PMSfinal


ZA 20 2047 15,0
ZA 21 41424 18,0
ZA 22 37742 15,0
ZA 23 23376 15,0
14,6
ZA 24 8911 15,0
ZA 25 22074 20,0
ZA 26 19865 15,0
ZA 27 33765 6,0
total 189204
MARGEM DE ERRO (+ %) 10,0%

Fonte: Guia Prático para Quantificação de Balanços Hídricos, AESBE, 2014

Faz-se o somatório dos produtos entre as A determinação do Tempo Médio de Abas-


quantidades de ramais dos setores e suas respec- tecimento – TMA: é importante para ponderar o
tempo em que o sistema está pressurizado, uma
tivas pressões médias; este somatório é dividido
vez que os indicadores de desempenho para as
pelo total de ramais dos conjuntos de setores
perdas reais são calculados para esta condição.
para obter-se a PMS final da área estudada. Este procedimento permite que se calcule, de
uma forma ponderada, o tempo médio de abas-
3.5.3.2 Tempo Médio de Abastecimento tecimento diário da área de controle. Isto está
(TMA) ilustrado no exemplo a seguir.

27
Planejamento e Gestão

Tabela 4. Cálculo Demonstrativo do TMA

Identificação Tempo de Abastecimento


Quantidade de Produto AxBxC
Setor ou DMC Dias por semana (B) Horas por Dia (C)
ligações (A)
A 1000 2 24 48000
B 1500 3 20 90000
C 2000 4 18 144000
D 2500 5 15 187500
E 3000 6 12 216000
ETC 3500 7 24 588000
Soma I 13500 Soma II 1273500
TMA (Horas/dia) = 13,48
Observações:
"Soma I" Deve totalizar o total de ligações pressurizadas do
1
sistema
"Soma II" é o número que será ponderado pela quantidade de
2
ligações e pelo número de dias da semana
Fonte: Guia Prático para Quantificação de Balanços Hídricos e Indicadores de Desempenho Operacional, AESBE, 2014

Cálculo de indicadores de desempenho com de habitantes abastecidos, a tarifa média em R$/


base na matriz do balanço hídrico, depende ain- m³, o custo variável de produção e distribuição
da de outras informações acessórias, como por em R$/m³, e o custo operacional total do sistema
exemplo: a quantidade total de ramais pressu- para o qual se está modelando o balanço hídrico.
rizados; a extensão de redes (km), a quantidade

Figura 8. Evolução da Maturidade dos Balanços Hídricos


Maturidade do Diagnóstico

BH 5 • Sedimentação metodológica
• Refinamento de dados
BH 4
• Série histórica
BH 3 • Busca de metas
BH 2 • Análise de sensibilidade
BH 1

T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4
Evolução (trimestres)

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

Outra questão importante a se ponderar é do assim a repetibilidade dos diagnósticos com


a memória técnica do balanço hídrico. As fontes uso de estimativas coerentes e embasadas em
de dados e cálculos realizados no processo de critérios similares. A qualidade do balanço hídri-
carregamento precisam ser fielmente documen- co deve melhorar com o tempo, na medida em
tadas e esta informação precisa estar acessível que os dados são melhorados e aconteça o ama-
para as revisões futuras deste balanço, permitin- durecimento e aprendizado da equipe envolvida.
28
Planejamento e Gestão

3.5.4 Modelagem Bottom Up ponto médio da superfície piezométrica do


setor. Assim como existem isolinhas de cota
O método Bottom Up consiste em uma abor-
topográfica, pode-se imaginar, também, iso-
dagem que permite determinar diretamente o
linhas de pressão em um sistema. Em um
volume das perdas reais de um sistema, sem a
modelo hidráulico calibrado, as isolinhas
utilização das estimativas que estão associadas
de pressão no sistema podem ser mostra-
no método do balanço hídrico.
das graficamente.
A aplicação desse método é destinada à de-
terminação direta das perdas reais do sistema, Outro método simples para a determinação
podendo servir, também, como uma ferramenta do ponto médio, recomendado por Lambert, é o
de ajuste ou calibração do Balanço Hídrico. chamado método das cotas médias ponderadas.
Para que tenha confiabilidade, este método O procedimento de cálculo tem basicamente
precisa ser aplicado em DMC com bom nível de três passos:
controle. São recomendáveis as seguintes con-
dições nos DMC que se pretenda aplicar esta e Para cada zona ou setor individual, calcula-se
modelagem: a cota média ponderada (veja-se o procedi-
mento adiante);
e Homogeneidade do DMC: áreas de ocupação e No interior da zona de pressão identifica-se
mista, onde se contenha comércios, indús- um ponto conveniente para monitoramento
trias e residências estarão mais propensas a que tenha cota igual à cota média ponde-
incertezas do estudo, dado o comportamen- rada encontrada no passo anterior. Será o
to particular de consumo noturno que esses ponto médio do setor;
consumidores poderão apresentar. Quando e Monitora-se a pressão no ponto médio e as
a área de estudo apresentar ocupação hete- pressões resultantes serão pressões médias
rogênea é extremamente importante iden- do setor ou zona. A média das pressões de 24
tificar quais são esses consumidores, cujo horas será a pressão média do sistema.
comportamento de consumo fuja ao padrão
residencial e, se possível, monitorar suas va- Figura 9. Tela da Modelagem no Epanet
zões noturnas. Quando isso não for possível,
pode-se adotar consumos noturnos médios
indicados pelos estudos da IWA;
e Estanqueidade do DMC: a estanqueidade é
uma condição sine qua non para o sucesso
de um estudo desta natureza. Os limites do
DMC de estudo precisam estar fielmente
isolados e as equipes envolvidas no estudo
devem conhecê-los. A estanqueidade precisa
ser verificada em campo antes do início dos
serviços. É imprescindível que se conheça,
sem sombra de dúvidas, os pontos de ali-
mentação de água desse subsetor para que
sejam macromedidos e monitorados;
e Definição do ponto médio do DMC: é extre-
mamente importante a definição do ponto
médio do DMC para que seja possível mo-
nitorá-lo durante o ensaio. Este é o ponto
que representa a pressão média de abas-
tecimento do DMC. Pode-se definir pressão
média como aquela que se obtém em um Fonte: Guias Práticos Série Balanço Hídrico V5/AESBE

29
Planejamento e Gestão

O método Bottom Up baseia-se na relação obtenção de N1. Precisa ser feito em um setor
entre pressão e vazão de vazamentos. Este con- de distribuição estanque, com uma única entra-
ceito foi determinado por John May, em 1994. da na qual se localiza uma válvula redutora de
Este pesquisador propôs uma nova maneira de pressão. O setor deve ser bem pressurizado e
expressar a relação entre pressão e vazamentos não ter intermitência no abastecimento.
nas redes de distribuição, formulando o conceito De preferência, o teste deve ser feito durante
Fixed and Variable Area Discharge - FAVAD, com a madrugada para não afetar o abastecimento e
a introdução do fator chamado N1. quando o nível de consumo é mínimo, pode ser
Esta teoria leva em conta que os furos e orifí- conhecido por métodos amostrais.
cios por onde ocorrem os vazamentos nas tubu- Devem-se medir as variáveis de cálculo,
lações dos sistemas assumem formatos irregu- quais sejam a vazão na entrada e a pressão no
lares e são de vários tipos, inclusive rachaduras ponto médio do setor. Como variáveis de contro-
longitudinais. O tamanho dos orifícios também le, devem-se medir ainda a pressão na entrada e
varia com a pressão e o tipo de material. a pressão no ponto crítico.
A equação empírica proposta por May foi: O método consiste basicamente em criar
condições para mensurar em campo as variá-

( (
Q1 P1 N1 onde,
= veis Q0, Q1, P0 e P1 da equação FAVAD, iso-
Q0 P0 lando a variável N1, o que se faz por repetidos
estágios até o ajuste de um fator médio de N1
Q1 = vazão final de vazamentos para aquela amostra.
Q0 = vazão inicial de vazamentos
P1 = pressão média da rede final 3.5.4.1 Determinação de Consumos Míni-
mos Noturnos
P0 = pressão média da rede inicial
Em sistemas de abastecimento sem intermi-
N1 = expoente que varia de 0,5 a 1,5, usualmen- tências e com pressurização normal, os consu-
te, podendo chegar a 2,5, eventualmente. mos são mínimos entre às 02:00h e às 04:00h
Valores de N1 da manhã. Devido a este fato, torna-se mais fácil
estimá-los com maior segurança – frequente-
mente correspondem a bem menos que 10% do
e Vazamentos inerentes: N1 aproxima-se de
volume que ingressa no setor.
1,5;
Deduzindo-se o consumo mínimo noturno
e Arrebentamentos em redes de metal: N1
da vazão que ingressa no setor neste horário,
aproxima-se de 0,5;
obtém-se o volume de vazamentos – sejam eles
e Arrebentamentos em redes não metálicas:
inerentes, visíveis e não visíveis.
N1 aproxima-se de 2,5;
O gráfico adiante, que é oriundo de um es-
e Em grandes sistemas com tubulações de
tudo de modelagem de vazões mínimas notur-
materiais variados sugere-se adotar uma re-
nas no município de Feira de Santana, no DMC,
lação linear: N1 = 1,0.
selecionado para aplicação das ferramentas
O Fator N1 pode ser obtido em campo por preconizadas pelo projeto COM+ÁGUA.2, permi-
testes realizados na própria área de controle e te a visualização do evento descrito na relação
consiste basicamente no teste de campo para pressão-vazamento.

30
Planejamento e Gestão

Figura 10. Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no Dmc Feira X - Operado pela Embasa, em
Feira de Santana, BA

Feira X
160,00 45,00

140,00 40,00

35,00
120,00
VOLUME DE ENTRADA EM M³/H

PRESSÃO MÉDIA EM MCA


30,00
100,00

25,00
80,00
20,00

60,00
15,00

40,00
10,00

20,00 5,00

0,00 0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Volumes horários de vazamentos m³/h VE - Volume de Entrada m³/h

Perdas Inerentes do DMC m³/h PM - Pressões médias mca

Fonte: Aplicativo desenvolvido pelo Eng. Airton Gomes

Apresentam-se, a seguir, alguns comporta- recuperável de perdas, que é aquele contido


mentos importantes a se observar neste gráfico entre a curva lilás, que representa as perdas
como meio de validação do ensaio e de com- inerentes ao DMC e a curva da área hachu-
preensão dos resultados: rada, que representa os volumes horários de
vazamentos.
e Comportamento de oposição das curvas de Quando as considerações descritas não são
vazão e pressão média do DMC. É possível ob- observáveis num gráfico como este, ou quando
servar que as curvas têm um comportamento as curvas não guardam as relações acima apre-
reativo de uma em relação à outra, de modo sentadas, há que se suspeitar da possibilidade
que as máximas pressões coincidem com às de inconsistência nos dados utilizados.
mínimas vazões no tempo. Quando esse com- A aplicação do método das mínimas vazões
portamento não se observa no empilhamen- noturnas requer um cuidado especial em rela-
to dos gráficos, o estudo precisa ser refeito, ção à qualidade dos dados que são coletados
pois há indícios de inconsistências nas suas em campo para serem utilizados na modelagem.
condições de contorno; Esta análise deve ser feita com a preocupação
e Comportamento das perdas: esse comporta- de identificar dados espúrios, ou que apresen-
mento se observa através da área hachurada tem grande afastamento das medidas restantes,
do gráfico. Nota-se que a curva de vazamen- ou ainda que não guardem correspondência em
tos ocorre durante às 24 h do ensaio, porém, relação às demais variáveis medidas no ensaio.
guardando uma relação proporcional com O uso de dados em tal condição pode compro-
as pressões médias de vazamentos, demons- meter os resultados obtidos, levando a diag-
trando o conceito FAVAD. O mesmo fenôme- nósticos equivocados. Esta verificação pode ser
no ocorre com as perdas inevitáveis; feita mediante a verificação gráfica da dispersão
e Volume recuperável de perdas: visualmente amostral ou mesmo da análise estatística dos
nesse gráfico pode-se compreender o volume dados coletados.
31
Planejamento e Gestão

Ao se suspeitar da ocorrência de um dado refazer as medições. Este cuidado é importante


espúrio como descrito é importante que se bus- para evitar diagnósticos equivocados e, por con-
que identificar as causas da sua ocorrência, tais seguinte, a adoção de medidas equivocadas que
como intervenções realizadas no sistema para podem comprometer prazos e custos envolvidos.
manutenções diversas, obras de ampliação ou Há uma planilha eletrônica capaz de fazer
ajuste, vazamentos ou também alterações ope- tais equacionamentos e reproduzir os resulta-
racionais impostas ao sistema. Essas ocorrências dos do ensaio Bottom Up, o qual foi utilizado
sempre podem ser evitadas utilizando-se dos como ferramenta padrão nos DMC do projeto
processos de comunicação e mobilização. As- COM+ÁGUA.2. Para a utilização do aplicativo,
sim, eventuais necessidades de intervenção que respeitadas as premissas aqui apresentadas, é
possam impactar num ensaio como este podem necessário que sejam realizadas medições de
ser previamente comunicadas, ou até adiadas vazão no ponto de alimentação do DMC em
conforme o caso, evitando maiores surpresas ou análise e medições de pressão no ponto médio
perda de dados. especificado nos estudos. Com posse desses
Quando constatada uma ocorrência como dados, mais as informações cadastrais e pa-
esta, recomenda-se buscar outro período de mo- râmetro Fator de Condição da Infraestrutura
nitoramento que permita isolar o problema iden- - FCI a ser adotado, carrega-se essas informa-
tificado no histórico de monitoramento, ou então ções no aplicativo.

Tabela 5. Carregamento de Dados da Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no DMC Feira X -


Operado pela Embasa, em Feira de Santana, BA

Fonte: Aplicativo desenvolvido pelo Eng. Airton Gomes

32
Planejamento e Gestão

O FCI – Fator de Condição da Infraestrutura podem ser obtidas por meio de um teste de
é definido como sendo a relação entre o volume campo. Assim,
de perdas inerentes do sistema estudado pelo
FCI = VIteste / VIiwa
volume de perdas inerentes do sistema de refe-
rência da IWA, por sua vez calculado por meio de No âmbito do COM+ÁGUA, na ausência de
uma fórmula empírica. Perda inerente é aquela testes de campo, assumiu-se FCI com o valor
que, por ser muito pequena, não é audível pelos igual a 3, seguindo sugestões de literatura. Tes-
instrumentos de escuta na detecção de vaza- tes realizados na Sabesp com infraestruturas
mentos. O N1 para este tipo de perda é sempre deterioradas chegaram a FCIs com valores até 9.
igual a 1,5, independentemente do N! caracte- Ao fim do carregamento, o aplicativo gera os
rístico do setor. indicadores de perdas apurados para o sistema
As perdas inerentes do sistema estudado em análise, conforme demonstrado a seguir:

Tabela 6. Resultados da Modelagem de Mínimas Vazões Noturnas no DMC Feira X - Operado pela
Embasa, em Feira de Santana, BA

INDICADORES DO DMC
PERDAS REAIS DIÁRIAS: 1025 m³/dia
PERDAS REAIS EM L/ ramal/ dia: 181 L/ramal/dia
PERDAS REAIS EM m³/h - km rede: 1,48 (m³/h)/km rede
CMN + Perdas Inerentes: 28,36 m³/hora
Dens ligações: 196,23 lig/km rede

Fonte: Aplicativo desenvolvido pelo Eng. Airton Gomes

De posse desses indicadores, os mesmos em percentual do volume de entrada, embora


podem também ser utilizados como referên- ainda muito utilizado no Brasil, é totalmente
cia para a calibração do Balanço Hídrico, o que inadequado. Este indicador não tem sensibili-
pode se conseguir através de ajuste das esti- dade para variações de Tempo Médio de Abas-
mativas. Esta determinação de perdas reais, tecimento - TMA, de pressão média, de nível de
respeitadas as premissas do ensaio e a valida- consumo e de densidade de ligações. Assim,
ção dos seus resultados, pode ser considerada favorece sistemas com alto nível de consumo,
melhor aproximação possível no diagnóstico com intermitência e pressões baixas.
de perdas reais do sistema. Por outro lado, prejudica imensamente os
sistemas com baixos níveis de consumo, contí-
3.5.5 Indicadores de Desempenho nuos e bem pressurizados. O exemplo a seguir
Operacional Adequados para a Com- ilustra os equívocos que podem ser cometidos
preensão da Complexidade do Fenô- a partir do uso do indicador percentual.
meno das Perdas de Água Dado o sistema a seguir ilustrado, imagi-
A complexidade do fenômeno das perdas ne que por uma metodologia Bottom Up tenha
de água nos sistemas de abastecimento não sido diagnosticado um volume de perdas reais
permite que elas sejam entendidas com indi- de 500 m³/dia e desconsidere-se para efeito
cadores em percentual, especialmente as per- de demonstração a perda aparente.
das reais. Imagine que este sistema fora diagnostica-
O indicador de perdas totais expressas do em dois cenários distintos:

33
Planejamento e Gestão

Tabela 7. Análise de um Sistema com Indicadores Percentuais

Cenário 1 Cenário 2

Edificios unifamiliares, Edificios de 4 pisos


250 l/dia/edificio 3200 l/dia/edificio
3000 edificios (velhos) 3000 edificios (novos)
Pressão: 400 (Pa) Pressão: 400 (Pa)
Perdas reais: 500 m³/dia Perdas reais: 500 m³/dia
“Sem” perdas aparentes “Sem” perdas aparentes
Mantém-se a rede
Mantém-se a pressão de serviço Volume de entrada:
Volume de entrada:
Modifica-se apenas o padrão dos
3200/1000 x 3000 + 500m³/dia =
consumidores 250/1000 x 3000 + 500m³/dia =
10100 m³/dia
1250 m³/dia
Em ambos os cenários os sistemas
Perdas reais (%) = 500/10100 =
operam com o mesmo volume de Perdas reais (%) = 500/1250 = 40%
5,0%
perdas reais
Fonte: LNEC / Helena Alegre

Os indicadores em porcentual seguem sen- limitações e pelo fato de que sua compreensão
do usados em larga escala no Brasil, muito ainda seja de fato mais palatável ao público em geral.
pela falta de conscientização em relação às suas

Tabela 8. Indicadores Recomendados Pela IWA

PARÂMETROS DE NÍVEL DE SERVIÇO Unidade

1 Tempo médio de abastecimento diário h/dia

2 Pressão Média do Sistema mca

VOLUMES DE PERDAS REAIS

3 PRAC - Perdas Reais Anuais Correntes m³/dia


4 PRAI - Perdas Reais Anuais Inevitáveis m³/dia

DESEMPENHO DE PERDAS REAIS

5 IVI - Índice de Vazamento da Infraestrutura adimensional

6 Litros por Ramal por Dia (q.s.p) l/ramal/dia

7 Litros por Ramal por Dia por Metro de Pressão (q.s.p) l/ramal/dia/m

8 m³/km rede por hora (q.s.p) m³/km/h

DESEMPENHO DE PERDAS APARENTES

9 Perdas Aparentes expressas em % do Consumo Autorizado %

10 Litros/ramal/dia l/ramal/dia

DESEMPENHO FINANCEIRO

11 Volume de água não faturada expresso em % do Volume de Entrada %

12 Volume de Água não Faturada expresso em % do Custo Operacional Anual %

13 Litros por Ramal por Dia Agregado (q.s.p) l/ramal/dia

Fonte: International Water Association - IWA

34
Planejamento e Gestão

3.5.5.1 Parâmetros de Nível de Serviço e O IVI traz as qualidades da PRAI, que tem sen-
Volume de Perdas Reais sibilidade para os parâmetros de nível de serviço
Os parâmetros de nível de serviço, TMA e Pres- (TMA e pressão média) e para extensão de redes e
são Média, servem como indicadores em si e tam- quantidade de ligações.
bém para ponderar o cálculo dos indicadores de O IVI é um indicador concebido para fazer
volumes de perdas reais. comparações entre sistemas diferentes em con-
O PRAC – Conhecer as Perdas Reais Anuais dições infraestruturais heterogêneas. Por outro
Correntes é um dos objetivos principais do méto- lado, não necessariamente é útil para compa-
do do balanço hídrico. Este volume, em si, dá uma rar rotineiramente um sistema com ele mesmo,
ideia do grau de ineficiência da infraestrutura. principalmente nos casos em que se está re-
O volume de PRAI – Perdas Reais Anuais Inevi- duzindo as pressões médias. Vale lembrar que
táveis é uma fórmula empírica, desenvolvida para pressão média está proporcionalmente ligada à
um conjunto de sistemas de referência da IWA, que vazão de vazamentos.
aponta qual é o limite inferior à que pode chegar Afirma-se ainda que o IVI também não seja
as perdas reais em condições similares aos siste- adequado para sistemas muito pequenos, como
mas de referência, ou seja, com boa infraestrutura boa parte dos DMC. Sistemas pequenos normal-
e excelente gestão de vazamentos. A fórmula que mente são muito homogêneos em relação a con-
expressa o PRAI em m³/dia é: sumos, infraestrutura, tipo de ocupação, etc., e o
indicador pode perder eficácia e utilidade neste
PRAI=(0,8xQR+18xER)xPMS*(TMA/24)/1000
tipo de cenário.
Onde,
QR = quantidade de ramais pressurizados; e Litros por Ramal por Dia - qsp
ER = extensão de redes em km;
Este indicador é obtido dividindo-se o volume
PMS = Pressão média do sistema, em mca; de perdas reais pela quantidade de ramais pressu-
TMA = Tempo médio de abastecimento, em rizados, com ponderação pelo TMA (daí a conside-
horas/dia. ração qsp = quando o sistema está pressurizado).
O PRAI é um parâmetro que permite o cálculo Litros por Ramal por Dia = (PRACx1000)/
do Índice de Vazamento da Infraestrutura - IVI. (QRx365)x(24/TMA)
3.5.5.2 Desempenho de Perdas Reais Este é um indicador bastante útil para com-
parar o sistema com ele mesmo. Para comparar
A constatação dos especialistas é que não
sistemas diferentes perde eficácia, pois não tem
existe somente um indicador que possa expressar
sensibilidade para pressão média.
satisfatoriamente o fenômeno das perdas reais em
Também não é adequado para sistemas rurais,
todas as situações. Assim, a Força Tarefa da IWA
onde se tenha uma densidade de menos de 20
para Perdas de Água recomenda o uso de quatro
ligações por km de redes. Neste tipo de situação
indicadores para expressar perdas reais, que são
o Índice de Vazamento da Infraestrutura - IVI; Litro seria mais adequado utilizar o indicador em m³/h/
por Ramal por Dia - qsp2; Litro por Ramal por Dia km de rede, pois as perdas nas redes tendem a se
por Metro de Pressão - qsp e m³/ km rede por hora tornar mais relevantes que as perdas nos ramais.
- qsp. Estes indicadores são apresentados a seguir: Este indicador da IWA – L/ramal/dia (qsp)
– não pode ser confundido com o indicador cal-
culado pelo SNIS chamado Índice de Perdas por
e Índice de Vazamento da Infraestrutura - IVI
Ligação (IN051), pois o indicador do SNIS não se-
O IVI é obtido dividindo-se o volume de per- para as perdas reais das perdas aparentes, não tem
das reais anual pelo volume de perdas reais anuais sensibilidade para TMA e utiliza no denominador a
inevitáveis: quantidade de ligações ativas e não a quantidade
IVI=PRAC / PRAI de ligações pressurizadas.
2
qsp – quando o sistema está pressurizado

35
Planejamento e Gestão

Litros por Ramal Por dia Por Metro de O indicador é obtido dividindo-se o volume
Pressão - qsp diário de perdas aparentes pela quantidade de ra-
O indicador é calculado dividindo-se o indica- mais pressurizados, por analogia com o indicador
dor anterior pela pressão média. para perdas reais.
Este indicador não é relativizado pelos parâ-
Litros por Ramal por Dia por mca = metros de nível de serviço, já que se considera que
(PRACx1000)/(QRx365xPMS)x(24/TMA) o consumo independe em larga medida tanto do
Foi concebido para permitir que o indicador TMA quanto da pressão média.
em L/ramal/dia passasse a ter sensibilidade para
3.5.5.4 Desempenho Financeiro
a pressão média. É útil para comparar o sistema
com ele mesmo em situações em que a pressão Alguns indicadores que muitas empresas ma-
varia, por exemplo, o setor A com o setor B e assim nejam como se fossem indicadores de desempe-
por diante. nho operacional, na metodologia da IWA são con-
Perdas reais por km de rede por hora (qsp) siderados indicadores financeiros.
O indicador é calculado da seguinte forma: A razão para isso é que os indicadores em %
não têm sensibilidade para os parâmetros de nível
Perdas reais em m³ por km de rede por hora = de serviço, que têm por base o TMA e a pressão
(PRAC/ (ERx24x365))x(24/TMA) média; não têm sensibilidade para nível de con-
sumo, para extensão de redes ou para ligações e,
Este indicador é útil em situações em que a
assim, não se prestam para serem utilizados como
densidade de ligações do sistema é muito baixa,
indicadores de desempenho operacional.
tipicamente menor 20 ligações/km de rede, como
A utilização de indicadores em % beneficia os
acontece em sistemas rurais, por exemplo.
sistemas com alto nível de consumo e/ou; com
3.5.5.3 Desempenho de Perdas Aparentes baixas pressões e/ou; altos níveis de intermitência.
Portanto, para medir desempenho operacional,
A expressão das perdas aparentes em termos
os indicadores volumétricos são mais adequados.
de indicadores é mais simples, pois elas indepen-
dem de TMA e pressão média por se assemelharem
a consumo. A Força Tarefa da IWA para Perdas de
e Volume de Água Não Faturada Expressa em %
do Volume de Entrada
Água recomendou o uso de dois indicadores para
perdas aparentes, que são as Perdas Aparentes ex- Como o próprio nome diz, é obtido através
pressas em percentual do Consumo Autorizado e da relação entre o volume de água não faturada e
as perdas aparentes em litros/ramal/dia, conforme o volume de entrada no sistema. É análogo a um
apresentado a seguir: indicador tradicionalmente utilizado no Brasil,
que é o Índice de Perdas na Distribuição (IN049)
e Perdas Aparentes em % do Consumo Auto- do SNIS.
rizado

O indicador é obtido por meio da relação en-


e Valor da Água Não Faturada Expresso em % do
Custo Operacional Anual
tre o volume de perdas aparentes e o volume de
consumo autorizado, expresso percentualmente. Este indicador é calculado valorando-se os di-
Representa uma medida direta do quanto se po- versos volumes componentes de Água Não Fatura-
deria aumentar o consumo autorizado mediante a da oriundos do Balanço Hídrico dividindo-se pelo
redução das perdas aparentes. custo operacional anual. Por ser uma operação
feita em valores monetários é legitimamente
e Perdas Aparentes em L/ramal/dia um indicador financeiro.

36
Planejamento e Gestão

Tabela 9. Inserção de Parâmetros para Cálculo de Indicadores Financeiros no Balanço Hídrico

DADOS FINANCEIROS
Tarifa Média (R/m³) 1 4,75
Custo Variável de Produção e Distribuição ou Custo Marginal da Água (R$/m³) 2 2,35
Componentes da água não faturado podem ser valoradas por: (i) Tarifa
média, se a água pode ser vendida ou (ii) Custo de produção e distribuição,
se a redução de perdas acarretar apenas redução do volume de entrada no
sistema. Para tarifa média, entre com o valor 1, para custo de produção e
distribuição, entre com o valor 2

Componentes da Água não Faturada Valor Anual


Consumo medido não faturado 2 -
Consumo não medido não faturado 2 8435
Perdas aparentes 1 1.019.246
Perdas reais 2 844.067
Valor total da água não faturada 1.871.748
Custo Operacional Anual (sem depreciação) - R$/ano
Fonte: Manuais AESBE

e Litros por Ramal por Dia Agregado (qsp) 3.5.5.5 Matriz de Avaliação de Perdas Reais
do Banco Mundial
Este indicador pode ser calculado como sen-
do a soma dos indicadores de perdas reais (qsp) Por fim, vemos ao final do quadro de indica-
e perdas aparentes. dores uma classificação alfabética que traz um
A razão pela qual é considerado um indi- critério de classificação desenvolvido pelo Banco
cador financeiro e não de desempenho opera- Mundial para os sistemas de abastecimento, em
cional é que ele não identifica os volumes de categorias de desempenho técnico. Esta classifica-
perdas reais, aparentes e consumos autorizados ção foi desenvolvida com o propósito de promover
não faturados. uma espécie de benchmarking mundial.
Não se deve confundir este indicador com o Este sistema de classificação que leva em
Índice de Perdas por Ligação (IN051) do SNIS, pois conta o IVI, a pressão média a que o sistema
no indicador do SNIS as perdas reais não são pon- está submetido e as perdas reais expressas em
deradas por TMA, ao contrário do indicador da IWA. L/ramal/dia:

37
Planejamento e Gestão

Tabela 10. Matriz de Avaliação de Perdas do Banco Mundial

Litros/ramal/dia
Categorias de Desempenho (quando o sistema está pressurizado) a uma pressão de:
IVI
Técnico
10 m 20 m 30 m 40 m 50 m

A 1-4 < 50 < 100 < 150 < 200 < 250

B 4-8 50-100 100-200 150-300 200-400 250-500


Países não
desenvolvidos
C 8-16 100-200 200-400 300-600 400-800 500-1000

D > 16 > 200 > 400 > 600 > 800 > 1000
Redução adicional de perda pode não ser econômica, a menos que haja
A insuficiência de abastecimento; são necessárias análises mais criteriosas para
identificar o custo efetivo da melhoria
Potencial para melhorias significativas; considerar o gerenciamento de pressão;
B práticas melhores de controle ativo de vazamentos, e uma melhor manutenção
Retornar para da rede
indicadores
Registro deficiente de vazamentos; tolerável somente se a água é abundante e
C barata; mesmo assim, analise o nível e a natureza dos vazamentos e intensifique
os esforços para redução de vazamento
Uso muito ineficiente dos recursos; programa de redução de vazamentos é
D
imperativo e altamente prioritário
Fonte: Banco Mundial

Em função da classificação do sistema nas ta as recomendações de ações a serem tomadas


categorias de desempenho técnico pelo Banco pelos prestadores de serviços:
Mundial, são sugeridas de uma forma generalis-

Tabela 11. Recomendações do Banco Mundial em Função das Categorias de Desempenho Técnico

RECOMENSAÇÕES DO BANCO MUNDIAL A B C D

Investigação das opções de melhoria do gerenciamento de pressão SIM SIM SIM

Investigação das possibilidades de melhoria da rapidez e qualidade dos reparos SIM SIM SIM

Revisão da frequência econômica de intervenções SIM SIM

Introduzição/melhoria do controle ativo de vazamentos SIM SIM SIM

Identificação de opções para melhorar os procedimentos de manutenção SIM SIM

Avaliação do nível econômico de vazamentos SIM SIM

Revisão das frequências de arrebentamentos SIM SIM

Revisão das políticas de gerenciamento de ativos SIM SIM SIM

Redução das deficiências de mão de obra, treinamento e comunicações SIM SIM


Planejamento quinquenal para alcançar melhor enquadramento nas categorias de
SIM SIM
desempenho
Revisão geral de todas as atividades e procedimentos SIM

Fonte: Lambert, 2008

38
Planejamento e Gestão

Como mostrado ao longo do documento, o amplamente difundidas, com acesso livre tanto
ferramental diagnóstico e de melhoria de de- na Internet como em organizações de apoio ao
sempenho operacional que é preconizado pela setor como a Associação Brasileira de Engenha-
IWA é bastante robusto e vem sendo aplicado e ria Sanitária - ABES, a AESBE, Associação Na-
aceito como o estado da arte mundial no contro-
cional dos Serviços Municipais de Saneamento
le e redução das perdas de água.
- ASSEMAE, entre outras. Entende-se esta carên-
No Brasil notamos, contudo, um grande
déficit no que se relaciona ao conhecimento, cia como um subproduto do enfraquecimento
compreensão e aplicação desses preceitos. Esse institucional das empresas de saneamento, ca-
déficit não se deve à indisponibilidade de infor- racterizado pelo enfraquecimento do corpo téc-
mações, uma vez que essas ferramentas estão nico dos prestadores.

3.6 Padronização de Procedimentos


Considerando a rotina sistemática de com- Figura 11. Estruturação de Procedimento
bate e redução de perdas e as largas dimensões Operacional Padrão-Pop (Parte 1)
que os prestadores de âmbito estadual pos-
suem, os quais gerenciam vários sistemas de
abastecimento por meio de um pesado de time
de trabalhadores próprios e terceirizados, fica
evidente a necessidade de se estabelecer uma
padronização das práticas operacionais para fa-
vorecer a organização das ações e sistematizar
suas aplicações no ambiente corporativo.
Sempre que possível, o prestador deve de-
senvolver mecanismos que orientem a execução
dos serviços de redução de perdas, de modo que,
em qualquer que seja a localidade dentro de área
de abrangência da sua operação, as ações prá-
ticas obedeçam a critérios pré-estabelecidos e
sempre estejam aderentes à qualidade desejável.
O prestador deve estabelecer um sistema de
documentação dos procedimentos e um progra-
ma de capacitação que atinja a todos os setores
de interesse, buscando dotar as equipes técnicas
de conhecimento sobre ações operacionais, ro-
tinas de monitoramento e acompanhamento e
técnicas de apuração de resultados produzidos.
Nesse sentido, deve-se fomentar cada vez
mais a estruturação de Procedimentos Opera-
cionais Padrões-POP e Instruções de Trabalho-IT.
Estes documentos são amplamente utilizados
em grande parte dos operadores de saneamento
do Brasil e possuem grande aceitação por parte
dos técnicos. No entanto, ainda não se observa
uma aplicação significativa de POP para as roti-
nas técnicas de redução e controle de perdas, as
quais quase sempre são executadas sem orien-
tação e, muitas vezes, deixam de ter êxito. Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

39
Planejamento e Gestão

Figura 12. Estruturação de Procedimento controle e redução de perdas, bem como de


Operacional Padrão-Pop (Parte 2) melhoria da gestão operacional. É importante
reforçar que cada prestador deve obedecer às
regras de documentação e registro corporativo
de seus procedimentos. A imagem a seguir re-
trata um Procedimento Operacional Padrão-POP
desenvolvido na EMBASA.
Especificamente sobre a elaboração do Ba-
lanço Hídrico Top Down, deve-se estabelecer um
procedimento padrão que defina critérios para
consulta de dados de entrada e dimensiona-
mento de parâmetros e premissas. Essas duas
naturezas de informação alimentam o modelo
de cálculo e podem abrir precedente na diver-
sificação dos procedimentos de preenchimento
dos dados.
Diante disso, sugere-se aos prestadores a
elaboração de documentos técnicos que esta-
beleçam uma regra clara que oriente a correta
consulta de dados dentro das diversas fontes
disponíveis nos sistemas corporativos. Os Pro-
cedimentos de Coleta de Dados Padrão-PCP
devem apresentar os requisitos técnicos para
realizar a entrada de dados de macromedição;
volumes micromedidos e estimados; ramais
pressurizados; tempo de instalação dos medi-
dores; pressão média da rede; tempo médio de
abastecimento; população abastecida; informa-
ções financeiras; entre outros.
Já no tocante ao cálculo estimativo das
perdas aparentes no Balanço Hídrico, deve-se
definir um procedimento para estimativa das
premissas de submedição do parque de hidrô-
metros e de usos não autorizados. Os Procedi-
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2 mentos de Planejamento de Premissas Padrão-
-PPP devem orientar os técnicos do prestador
Dentre as rotinas que podem ser sistemati- como associar precisão às estimativas e tentar
zadas na forma de POP, destacam-se as ações aproximar-se o máximo possível da realidade
voltadas à macromedição; cadastro técnico das perdas de cada sistema em análise.
de redes, ramais e acessórios; pesquisa de va- No âmbito dos PPP, deverão ser previstos
zamentos; controle de pressão; isolamento e os levantamentos para o estabelecimento do
estanqueidade de DMC; atualização de dados Índice de Desempenho Metrológico-IDM, o
cadastrais de clientes; adequação da microme- qual representa a principal referência de cál-
dição; fiscalização e regularização de usos não culo dos volumes de perdas por submedição,
autorizados; entre outros. como também as estimativas de quantidade
Durante as capacitações do COM+ÁGUA.2, de casos de ligações clandestinas, fraudes nas
buscou-se fomentar a elaboração de procedi- ligações e falhas de cadastro, inseridas nos
mentos padronizados para algumas ações de usos não autorizados.
40
Planejamento e Gestão

3.7 Os Contratos de Desempenho Aplicados à


Atividade de Redução e Controle de Perdas
de Água e Eficiência Energética
No Brasil, tradicionalmente, o combate às como oportunidades para aumentar a eficiência
perdas é feito de duas formas básicas: com equi- empresarial e melhorar a qualidade dos serviços.
pes próprias dos prestadores de serviços ou por Os contratos de performance para redução
empresas terceirizadas. A busca de modelos al- de perdas e aumento da eficiência energética
ternativos de gestão para reduzir as perdas e são utilizados em áreas de operação, comer-
controlá-las, bem como para a eficiência energé- cial e manutenção de redes, entretanto, convém
tica, não tem regra e segue o interesse ou a visão ressaltar que ainda são poucos utilizados pelas
corporativa e estratégica de cada prestador de companhias estaduais, sendo a SABESP quem
serviços. O mercado oferece opções como Parce- mais utiliza há um bom tempo. Desta forma, es-
rias Público Privadas - PPP e os contratos de de- tão destacadas na figura abaixo as áreas onde se
sempenho (performance), conforme a legislação, pode aplicar contratos de performance.

Figura 13. Áreas Passíveis de Aplicação de Contrato de Performance em Redução e Controle de Perdas

• Em Unidades de Negócio.
• Em Distritos Operacionais.
Gestão integrada • Redução de perdas e aumento da adimplência.
• Cobrança jurídica.
• Gerenciamento de empreendimentos

• Redução de perdas aparentes.


• Cobrança de recebíveis/Cobrança administrativa.
Área comercial • Redução da inadimplência.
• Eficiência na hidrometração/micromedição.

• Eficiência energética.
• Gestão de faturas de energia elétrica.
• Redução de perdas físicas.
Área operacional
• Retrofit de unidades operacionais.
• Manutenção e operação de sistemas de água e esgotos/Desobstrução
de redes.

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

Tais contratos são uma possibilidade com características apresentadas na tabela a seguir.

41
Planejamento e Gestão

Tabela 12. Características dos Contratos de Desempenho

ITEM CONTRATO CONVENCIONAL CONTRATO POR DESEMPENHO


Investimentos e despesas de
Contratante assume tudo Contratado assume tudo
implantação/O&M
Ter recursos definidos previamente Não necessita ter os recursos
Necessidade de capital
para contratar previamente reservados
Fixada previamente no contrato e Vinculada ao desempenho e
Remuneração do contratado
paga mediante mediações conforme o alcance de metas
Previamente avaliado pelas partes
Não avaliado previamente e total-
Risco contratual e totalmente
mente assumido pelo contratante
assumido pelo contratado
Ter Know-how para elaborar proje- Tem liberdade contratual para apre-
Inovação e tecnologia tos, especificar e definir forma de sentar melhor solução tecnológica
aplicação e transferi-la
Fonte: Adaptado de Manual sobre contratos de performance e eficiência para empresas de saneamento no Brasil,
IFC/BIRD, 2013.

Algumas premissas devem ser observadas Os contratos de desempenho oferecem uma


para os contratos de desempenho (performance): nova abordagem para o desafio de redução das
perdas de água. A essência desses contratos é o
e Capacidade de financiamento: o contratado agente privado não ser remunerado apenas pela
apresenta maior condição para obter financia- entrega dos serviços, como ocorreria na tercei-
mentos a curto prazo, maior capacidade ge- rização de atividades, mas também pelo cum-
rencial para gerar receitas que possam viabili- primento das metas estabelecidas no contrato,
zar os resultados e a remuneração do contrato, conforme indicadores de desempenho. A essên-
maior eficiência operacional e gerencial; cia do contrato por desempenho tem foco nos
e Know-how na estruturação de um programa resultados com a remuneração tanto do contra-
de redução de perdas de água ou eficiência tado quanto do contratante público, proporcio-
energética: tanto o contratante como o contra- nal durante a vigência do contrato, de acordo
tado devem trabalhar com corpo técnico e ge- com a entrega de resultados e não apenas pela
rencial capacitados e motivados para produzir execução de uma série de tarefas.
projetos viáveis e opera-los eficientemente; O sucesso dos contratos de performance de-
e Redução do custo de transação: a contra- pende de um conjunto de fatores de natureza
tante realiza um só processo licitatório para técnica, econômico-financeira e jurídica, todos
vários serviços definidos no escopo técnico; analisados previamente, segundo um planeja-
e Aumento de incentivos positivos ao contra- mento focado na redução das perdas.
tado privado: incentivo ao contratado para Recomenda-se que se faça um diagnóstico
apresentar inovações técnicas e tecnológi- rigoroso para ter uma linha de base segura, o
cas; utilizar modelo de gestão mais flexível projeto de solução seja adequado a realidade
e dinâmico; estrutura plano de negócio com local e traga inovações tecnológicas e geren-
foco em remuneração pelo resultado; ciais, o estudo econômico se fundamente em um
e Aumento de incentivos positivos ao contra- plano de negócios consistente e os documen-
tante: Conhecimento prático de inovações tos jurídicos como termo de referência, edital
técnicas e tecnológicas no compartilhamento e contrato deem garantias ao contratante e ao
de soluções com o contratado; apropriação contratado para cumprimento de metas e sus-
de modelos e conhecimentos para utilização tentabilidade do contrato.
contínua e futura no aprendizado decorrente O que motivaria por fim a contratação por
do trabalho com o contratado; compartilha- desempenho para reduzir perdas? A impossibi-
mento da remuneração pelo resultado. lidade financeira, os impedimentos administra-
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Planejamento e Gestão

tivos temporários ou uma decisão estratégica ser uma solução de transição para que o con-
para fazer investimentos em determinada região tratante se estruture para tornar o combate às
onde é possível obter resultados financeiros, perdas uma ação permanente de gestão para
operacionais e sociais, mas que num determi- obter ganhos sustentáveis continuamente, além
nado instante não podem ser efetivados. Pode de transferir conhecimento e tecnologia.

4. DESAFIOS PARA A
MELHORIA DE DESEMPENHO
NOS PRESTADORES

O
compartilhamento dos métodos e das tencialização da capacitação profissional em to-
práticas apresentados neste Caderno dos os ambientes.
Temático de Planejamento e Gestão Um programa de PRCP vai muito além das
busca aportar ao setor de saneamento e seus téc- técnicas e ferramentas de combate, controle e
nicos uma contribuição no sentido de enriquecer gestão. As causas dos fracassos passam muitas
a reflexão dos caminhos a percorrer e dos aspec- vezes pelo pouco conhecimento da natureza das
tos que devem ser considerados e tratados com perdas, pela não valorização do impacto das per-
relação ao tema. das, pela elaboração de projetos deficientes ou
A observação dos resultados da primeira edi- até por custos extremamente subestimados das
ção COM+ÁGUA evidenciaram que houve maior reduções de perdas de água.
perenidade das ferramentas e conceitos aplica-
Vale assinalar que redução de perdas não é
dos naqueles prestadores que tiveram maior es-
apenas uma questão técnica isolada, é intrínseca
tabilidade em seus quadros e onde o quesito de
ao gerenciamento e operação global do sistema,
fortalecimento institucional parecia mais sólido.
algo que requer comprometimento de médio e
Nesses casos, em que pese um progresso que
longo prazo.
ainda possa ser considerado insuficiente frente
às demandas que o setor apresenta, conseguiram O maior desafio de um programa PRCP é a
consolidar os conceitos e replicá-los. integração e a gestão das atividades, pois sem ela
Pode-se concluir que o COM+ÁGUA.2 foi exi- os resultados não são mensuráveis e o programa
toso em seu maior propósito, o de capacitação e é desacreditado no ambiente do prestador.
demonstração de técnicas e ferramentas. Cumpri- Para a realização da integração e gestão das
da essa etapa, o maior desafio fica a cargo dos atividades é premente a integração das diversas
prestadores, o de garantir perenidade e propaga- áreas do prestador, pois não se pode tratar iso-
ção desses processos. ladamente as causas das perdas de água. Daí a
Este é de fato o maior desafio. Romper com importância das técnicas de mobilização e co-
os paradigmas tradicionais e que historicamente municação social para que esta onda de sensi-
levaram os índices de eficiência ao retrato atual e bilização e participação irradie internamente e
olhar para o futuro com uma nova visão, apoiada externamente, chegando até os clientes através
em preceitos modernos de gestão dos sistemas do entendimento das ações de combate às per-
de saneamento, tendo por elemento-chave a po- das de água.
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Planejamento e Gestão

Figura 14. Características Chaves para o Desempenho de Companhias Eficientes e Sustentáveis

Governabilidade Política Regulamentação Incentivos

Perdas Perdas
Reais Infraestrutura Aparentes
Gestão/
Planejamento

Tecnologia Viabilidade
econômico-
financeiro

Desempenho da
Companhia

Capacitação Gestão e
e Desenv. Liderança
Profissional

Atenção ao
consumidor

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

Figura 15. Apoio da comunidade ao prestador de serviço

Transparência
Atenção ao
Consumidor

Qualidade da
Prestação de Educação
Educação
Serviço Ambiental
Ambiental

Apoio da Comunidade
Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

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Planejamento e Gestão

Com essa visão, o prestador pode agregar serviços e desenvolvimento do controle de


um importante aliado em sua gestão, o cliente. qualidade no suprimento destes insumos.
O apoio da comunidade é imprescindível ao su- IV) A mudança de paradigmas no ambiente de
cesso e à sustentabilidade do prestador e hoje projeto e construção, visando fortalecer os
ainda se observa um importante vácuo no to- mecanismos de controle operacional dos
cante à essa preocupação. sistemas e prevenção das perdas de água.
Este apoio deve refletir nos temas chaves de V) A implantação de sistema de gestão de ati-
um programa de eficiência operacional como, por vos de infraestrutura, incluindo o estabeleci-
exemplo, no controle das perdas reais através da mento de regras operacionais que permitam
cooperação na informação de vazamentos, no res- o estabelecimento de prioridades na tomada
peito à infraestrutura, sem vandalismo e no apoio de decisões.
a equipes de campo, trabalhos noturnos, reparos VI) A implantação de modelos e alternativas con-
em vias públicas, etc. No tocante ao tratamento tratuais diferenciadas para alavancar investi-
das perdas aparentes, esse apoio pode se refletir mentos na redução de perdas de água e efi-
em conscientização de que fraudes prejudicam a ciência energética, por exemplo, contratação
todos, na vigilância comunitária, no pagamento de empresas terceirizadas com remuneração
de água como uma obrigação civil e na aceitação atrelada ao desempenho.
de supressão por falta de pagamento. VII) Por fim, a capacitação dos prestadores de
Em se tratando do tema planejamento e serviço se faz fundamental. Muitos softwa-
gestão, constituem desafios permanentes para res livres que apoiam o controle e redução
os prestadores de serviços: de perdas reais como, por exemplo, EPANET,
Aplicativos de modelagem de balanços hí-
I) Do ponto de vista da gestão corporativa de- dricos e QGIS estão disponíveis, sendo a
ve-se buscar maior integração das áreas da atualização do corpo técnico um dos requi-
empresa, através da sensibilização e mobili- sitos para que se obtenha sucesso em um
zação sobre a temática das perdas de água. programa de redução de perdas.
Imprescindível o apoio da alta administração
e um orçamento para o programa. Com orça-
mento e equipe multidisciplinar, atrelado a
um planejamento de atividades, estabelece-
-se linhas de base e metas a serem alcança-
das. Neste ambiente, torna-se extremamente
importante a gestão da informação. A divul-
gação de resultados para a alta administra-
ção e colaboradores é fundamental, fazendo
com que o espírito de equipe, a sensibiliza-
ção e mobilização sejam permanentes.
II) Concomitantemente à implantação de DMC
deve-se atentar para a necessidade de uma
reestruturação organizacional para a ges-
tão dos sistemas distribuidores por conta
da institucionalização do controle de pres-
sões, do controle ativo de vazamentos e das
ferramentas de análise de perdas, buscando
mudar os paradigmas de operação e manu-
tenção dos sistemas distribuidores, visando
a redução das perdas.
III) A melhoria contínua das políticas e processos
de aquisição de materiais, equipamentos e
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Apoio

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