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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE DO BRASIL

SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS

AVALIAÇÃO DAS ÁGUAS DO BRASIL

Brasília
2002
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Fernando Henrique Cardoso

MINISTRO DO MEIO AMBIENTE


José Carlos Carvalho

SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS

SECRETÁRIO DE RECURSOS HÍDRICOS


Raymundo José Santos Garrido

DIRETOR DO PROGRAMA DE AÇÕES DE


INSTRUMENTAÇÃO
Júlio Thadeu Silva Kettelhut

DIRETOR DO PROGRAMA DE AÇÕES DE ESTRUTURAÇÃO


Ubirajara Tadeu Sanz de Oliveira

CHEFE DE GABINETE
Marcus Aurelius Minervino

Esta publicação contou com o apoio do Programa Brasil/Organização dos


Estados Americanos (Programa BRA/OEA/01/002)

COORDENADOR NACIONAL DO PROGRAMA


João Henrique Mesiano Praciano

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AVALIAÇÃO DAS ÁGUAS DO BRASIL

Brasília
2002

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SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS
SGAN 601 , Lote I, Edifício Sede CODEVASF, 4º andar, Brasília/DF
CEP: 70830-901. Tel.: 61 - 317 1291 Fax: 61 – 225 6359
http://www.srh.gov.br

Tiragem: 50 exemplares

Grupo de Trabalho:
Roberto Moreira Coimbra, coord. (Portaria nº 01/2002)
Jörgen Michel Leeuwestein (Portaria nº 01/2002)
Martha Maria Fialho Pedrosa (Portaria nº 01/2002)

Colaboradores:
Ana Cristina Monteiro Mascarenhas (Portaria nº 01/2002)
Antônio Paulo Vieira
Arnóbio Viana David
Carlos Antônio de Novaes Lima (Portaria nº 01/2002)
Celina Xavier de Mendonça (Portaria nº 01/2002)
Demetrios Christofidis
Francisco Evandro Parreira (Portaria nº 01/2002)
Geraldo Gomes Figueiredo
Gustavo Oliveira Campos
Luciene Sousa de Carvalho
Luiz Amore
Luiz Cláudio de Castro Figueiredo
Maria Manuela Martins Alves Moreira
Marco José Melo Neves
Máximo Luiz Pompermayer
Ricardo Crema dos Santos
Roberto Alves Monteiro (Portaria nº 01/2002)
Wilton Oliveira Arruda

Texto revisado por Olímpio Bandeira Cascais

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE QUADROS

APRESENTAÇÃO, 8

1. CONTEXTO, 9

2. HISTÓRICO DA GESTÃO DAS ÁGUAS NO BRASIL, 10

2.1 Evolução Legal, 10


2.2 Evolução Institucional, 14

3. SITUAÇÃO DAS ÁGUAS DO BRASIL, 16

3.1 Status, 16

3.2 Pressões, 23
3.2.1 Crescimento Populacional, 23
3.2.2 Pressões Setoriais, 23
3.2.2.1 Saneamento Básico, 24
3.2.2.2 Agropecuária, 31
3.2.2.3 Energia Hidrelétrica, 37
3.2.2.4 Transporte Hidroviário, 40
3.2.3 Eventos Críticos, 42
3.2.4 Águas Subterrâneas, 44

3.3 Respostas, 46
3.3.1 Política Nacional de Recursos Hídricos, 46
3.3.1.1 Aspectos Legais e Institucionais, 47
3.3.1.2 Instrumentos da Gestão, 47
3.3.1.3 Sistema Nacional de Gerenciamento, 53
3.3.2 Indicadores de Desempenho, 57
3.3.3 Governança, 57
3.3.4 Reuso de Água, 59
3.3.5 Ações Setoriais, 58
3.3.5.1 Saneamento Básico, 58
3.3.5.2 Irrigação, 63
3.3.5.3 Energia Hidrelétrica, 64
3.3.5.4 Transporte Hidroviário, 66
3.3.6 Eventos Críticos, 67
3.3.7 Águas Subterrâneas, 68
3.3.8 Monitoramento dos Recursos Hídricos, 71
3.3.9 Principais Programas e Projetos, 72

5
3.3.9.1 Avança Brasil, 72
3.3.9.2 Proágua Nacional, 73
3.3.9.3 Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água - PNCDA, 73
3.3.9.4 Projeto Qualidade das Águas e Controle de Poluição Hídrica - PQA, 74
3.3.9.5 Programa de Despoluição de Bacias Hidrográficas, 74
3.3.9.6 Programa Nacional de Meio Ambiente II, 74
3.3.9.7 Programa Pantanal, 75
3.3.9.8 Projeto Conservação e Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São
Francisco, 75
3.3.9.9 Gestão Integrada das Bacias Hidrográficas do Alto Paraguai e do São
Francisco (GEF), 76
3.3.10 Metas Orientadoras e Propostas Indicativas Regionais, 76
3.3.11 Agenda 21 Brasileira, 78

4. AVALIAÇÃO E RECOMENDAÇÕES, 80

BIBLIOGRAFIA, 84

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Bacias e Regiões Hidrográficas, 18


Figura 2 - Províncias Hidrogeológicas do Brasil (Mapa Hidrogeológico do
Brasil - 1:5.000.000), 20
Figura 3 - Potenciais de Água Subterrânea do Brasil, 22
Figura 4 - Abastecimento de Água na Zona Urbana - 2000, 26
Figura 5 - Esgotamento Sanitário na Zona Urbana - 2000, 27
Figura 6 - Evolução das áreas irrigadas no Brasil (1950-2001), 33
Figura 7 - Distribuição de Áreas irrigadas - 1999, 35
Figura 8 - Consumo de Defensivos Agrícolas - kg/ha, 36
Figura 9 - Usinas Hidrelétricas por Classe de Potência e Bacia Hidrográfica -
2002, 39
Figura 10 - Vias Navegáveis, 41
Figura 11 - Desertificação: Áreas Afetadas (Fonte: MMA/ SRH/IBAMA), 45
Figura 12 - Situação Legal e Institucional Estadual, 48
Figura 13 - Implementação dos Instrumentos da Política nos Estados, 50
Figura 14 - Comitês Federais Aprovados pelo CNRH, 55
Figura 15 - Comitês Estaduais Instituídos, 56
Figura 16 - Mapa Esquemático do Sistema Aqüífero Guarani, 69

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Resumo de Leis Federais, 11


Quadro 2 - Resumo da Evolução Institucional, 15
Quadro 3 - Deflúvio Médio e Consumo de Recursos Hídricos no Mundo em
1998, 17
Quadro 4 - Disponibilidade Hídrica do Brasil, 19
Quadro 5 - Reservas de Água Subterrânea no Brasil e Intervalos Mais
Freqüentes das Vazões dos Poços, 21

6
Quadro 6 - Evolução da Cobertura dos Serviços de Água e Esgotos no Brasil
(%), 24
Quadro 7 - Distribuição Regional dos Déficits em Saneamento Básico, 25
Quadro 8 - Saneamento e Pobreza, 1992 e 1999, 28
Quadro 9 - Distribuição da Freqüência e Proporção das Internações
Hospitalares por DRSAI (1996 a 2000), 28
Quadro 10 - Saneamento Básico nos Municípios - 1989 e 2000, 29
Quadro 11 - Volume de Água Distribuído por Região - 1989 e 2000, 30
Quadro 12 - Participação e Crescimento do PIB por Setor, 32
Quadro 13 - Participação das Exportações Brasileiras nas Exportações Mundiais
(US$ bilhões), 32
Quadro 14 - Agrotóxicos em Linha de Comercialização por Classes
Toxicológicas, 37
Quadro 15 - Unidades em Operação (dezembro de 2001), 38
Quadro 16 - Participação das hidrelétricas na capacidade instalada de geração
de energia elétrica no Brasil, 38
Quadro 17 - Áreas Afetadas pela Desertificação no Nordeste, 44
Quadro 18 - Principais Resoluções do CNRH, 54
Quadro 19 - Investimentos necessários à universalização - 1999/2010 (R$
milhões), 59
Quadro 20 - Empréstimos Contratados, Investimentos, Famílias Beneficiadas e
Empregos Gerados (1995 a 1998), 61
Quadro 21 - Recursos do OGU Autorizados e Contratados do PASS/OGU, 61
Quadro 22 - Objetivo e Metas do PROSEGE, 62
Quadro 23 - Metas Físicas do PROSEGE, 63
Quadro 24 - Previsão da Matriz Energética, 65
Quadro 25 - Tendências globais no consumo de energia (1990 -2000), 66
Quadro 26 - Metas Indicativas para Implementar a Gestão de Recursos
Hídricos no Brasil, 82

7
APRESENTAÇÃO

Este trabalho constitui um estudo sobre as águas do Brasil, elaborado por


técnicos da Secretaria de Recursos Hídricos e outros colaboradores, para
apresentação na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio+10), a ser realizada no período de 26 de agosto a
04 de setembro de 2002, em Joanesburgo, África do Sul.

O documento apresenta os avanços ocorridos nos dez anos que se


seguiram à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano (ECO-92), no contexto da evolução legal e
institucional da Política Nacional de Recursos Hídricos, bem como as
ações realizadas nos principais setores usuários da água. Dispõe, ainda,
de metas indicativas para implementar a gestão de recursos hídricos no
Brasil para os próximos 10 e 30 anos, com ênfase na preservação
ambiental, racionalização do uso da água, eqüidade no acesso e
envolvimento da sociedade.

O trabalho assenta-se sobre o modelo Status-Pressão-Resposta (PER).


Esse método relaciona a pressão que a atividade humana exerce sobre o
meio ambiente, modificando assim a qualidade e a quantidade dos
recursos naturais - status e a resposta da sociedade com as medidas de
políticas de meio ambiente, econômicas e setoriais.

Dentro do compromisso de Governo de assegurar à atual e às futuras


gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade
adequados aos respectivos usos, pretende-se com esta publicação
contribuir para a formação da consciência de que a água é um recurso
natural limitado, dotado de valor econômico e, assim, para sua utilização,
devem ser observados os princípios de ética e eficiência, procurando-se
eliminar o desperdício e a poluição.

Raymundo José Santos Garrido


Secretário de Recursos Hídricos

8
1. CONTEXTO

As preocupações ambientais, inicialmente motivadas pela poluição


atmosférica urbana e pela crise energética, impulsionaram os
questionamentos sobre o papel do meio ambiente e dos recursos naturais
no cenário de desenvolvimento dos países.

O recurso natural - água - carece de uma atenção especial dos governos.


Nas últimas décadas está sendo cada vez mais disputado, tanto em
quantidade quanto em qualidade, principalmente em razão do acentuado
crescimento demográfico e do próprio desenvolvimento econômico.

A água é um recurso bastante peculiar entre os recursos naturais,


desempenhando diferentes papéis: ora é vista como produto para
consumo direto, ora como matéria-prima, ora como ecossistema. Essas
atribuições múltiplas determinam dois posicionamentos importantes e até
certo ponto divergentes: se por um lado a água é um bem econômico,
obedecendo às leis de mercado, por outro lado seu caráter induz que
haja uma normatização do seu uso, com legislação específica e atuação
do poder público. Por isso, é exigido um modelo de gestão, embasado
nos princípios gerais de gestão ambiental, incorporando essas
particularidades da água (Garrido, 1999).

Há 50 anos, falar com os brasileiros sobre direitos e cobrança pelo uso da


água constituía um despropósito, dada a abundância desse recurso
natural. Hoje, o quadro é bastante adverso nas regiões mais densamente
povoadas do País. Isso devido aos problemas da falta de saneamento e
do tratamento de águas servidas, bem como do desperdício e do
aumento da demanda de água nas metrópoles brasileiras.

Na área rural, a disputa pela água acentua-se cada vez mais, em face do
desenvolvimento e do crescimento da agricultura irrigada, cuja técnica de
uso vem demandando uma quantidade significativa de água.

Diante dos fatos apresentados, as pressões ocasionadas pela variação


regionalizada da demanda hídrica brasileira, caracterizada pela
abundância e escassez, aliada à carência de estruturas apropriadas, são
eventos que vêm comprometendo a qualidade de vida de grande parte
da população brasileira e o meio ambiente, em especial nos mananciais
hídricos superficiais e subterrâneos.

A política ambiental brasileira objetiva a compatibilização entre


desenvolvimento econômico, melhoria da qualidade de vida da população
e proteção do meio ambiente.

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Então, em 1995 foram criados, pelo Governo Federal, o Ministério do
Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal e a Secretaria
de Recursos Hídricos - SRH, dada a importância do recurso água. A
primeira atividade da SRH foi trabalhar, junto ao Congresso Nacional, o
projeto de lei da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Em 8 de janeiro de 1997 foi promulgada a Lei nº 9.433/97 - Política


Nacional de Recursos Hídricos, que organiza o setor de recursos hídricos
no âmbito nacional, consolida o conceito de gestão integrada,
considerando como base o ciclo hidrológico, onde a água subterrânea é
indissociável das águas superficiais, e introduz instrumentos de política e
o sistema de gerenciamento.

A Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, modifica o formato institucional


com a criação da Agência Nacional de Águas - ANA. Assim, compete à
ANA a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de
coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, e à Secretaria de Recursos Hídricos - SRH, a formulação da
Política Nacional de Recursos Hídricos, com a competência para traçar e
avaliar metas e diretrizes do setor.

2. HISTÓRICO DA GESTÃO DAS ÁGUAS NO BRASIL

2.1 Evolução Legal

A preocupação do governo brasileiro com as águas, em relação ao uso


racional e a proteção desse rico manancial, vem desde a legislação
colonial, principalmente as Ordenações Filipinas, decretadas em 11 de
janeiro de 1603 e vigentes por mais de três séculos (Quadro 1).

Entre as principais normas jurídicas em vigor que tratam da gestão de


recursos hídricos destaquem-se as seguintes (Coimbra, 1999):

 Código de Águas

A aplicação de mecanismos institucionais e financeiros para o


gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil tem no Código das Águas
de 1934 seu marco inicial.

10
Quadro 1 - Resumo da Legislação Federal
Antes de Estocolmo 1972
1603 - Ordenações Filipinas Instituíam dispositivos específicos sobre a gestão da água.

1828 - Lei de 1º/Outubro Disciplinou as atribuições das Câmaras Municipais, determinando


competência legislativa sobre as águas.
1834 - Lei nº 16, de 12/Agosto Estabeleceu competência das Assembléias Legislativas provinciais para
legislar sobre obras públicas, com reflexos sobre a política a ser adotada
às águas.
1891 - A Constituição da Limitou-se a definir competência federal para legislar sobre águas no
República Direito Civil.
1904 - Decreto 5.407 Regulamentou a utilização da força hidráulica para geração de energia
elétrica.
1916, Código Civil Dedicou umas das seções à água.

1930 - Revolução Esboçou-se uma nova política para a exploração das riquezas naturais.
1934 - Constituição Abordou pela primeira vez o tema água considerando os aspectos
econômicos e de desenvolvimento.
1934 - Código de Águas Principal instrumento que trouxe uma profunda alteração dos dispositivos
do Código Civil.
1937 - Constituição Atribuiu competência privativa à União para legislar sobre os bens de
domínio federal, águas e energia hidráulica.
1964 - Lei nº 4.466 Determinou a arborização das margens das rodovias do nordeste, bem
como a construção de aterros-barragem para represamento de águas.
1967 - Lei nº 5.357 Estabeleceu penalidades para embarcações e terminais marítimos ou
fluviais que lançarem detritos ou óleo em águas brasileiras.
De Estocolmo 1972 até Eco 1992
Dispunha sobre a fluoretação da água em sistemas de abastecimento
1974 - Lei nº 6.050
quando existir estação de tratamento.
1976 - Portaria GM-0013 do Estabeleceu o primeiro sistema de classificação das águas interiores e
Ministério do Interior determinou o enquadramento das águas federais.
1979 - Lei nº 6.662 Institui a Política Nacional de Irrigação.
1981 - Lei nº 6.938, de 31/Ago Estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente.
1986 - Resolução n° 20 do Estabelece os padrões de qualidade de água dos corpos hídricos. Revoga
CONAMA, de 18 /Jun a Portaria GM-0013, de 1976.
1988 - Constituição Federal Traz uma profunda alteração em relação às Constituições anteriores,
caracterizando a água como um recurso econômico.
De Eco 1992 a Joanesburgo 2002 (Rio+10)
1996 - Lei nº 9.427, de 26/Dez Institui a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, disciplina o
regime das concessões de serviços públicos de energia .
1997 - Lei nº 9.433, de 8 de Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional
janeiro de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
2000 - Lei nº 9.984, de 17 de Cria a Agência Nacional de Águas – ANA, entidade federal de
julho implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos.

O Código tem como principal objetivo regulamentar a apropriação da


água visando a sua utilização como fonte geradora de energia elétrica e
constitui mecanismos capazes de assegurar a utilização sustentável dos
recursos hídricos, bem como garantir o acesso público às águas.

O Código de Águas assegura o uso gratuito de qualquer corrente ou


nascente de água para as primeiras necessidades da vida e permite a
todos usar de quaisquer águas públicas, conformando-se com os

11
regulamentos administrativos. Impede a derivação das águas públicas
para aplicação na agricultura, indústria e higiene, sem a existência de
concessão, no caso de utilidade pública, e de autorização nos outros
casos; em qualquer hipótese, dá preferência à derivação para
abastecimento das populações.

Estabelece que a concessão ou autorização deve ser feita sem prejuízo


da navegação, salvo nos casos de uso para as primeiras necessidades da
vida ou previstos em lei especial; bem como, que a ninguém é lícito
conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de
terceiros. E define que os trabalhos para a salubridade das águas serão
realizados à custa dos infratores que, além da responsabilidade criminal,
se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem, e por
multas que lhes forem impostas pelos regulamentos administrativos.
Esses dispositivos são vistos como precursores do princípio poluidor-
pagador.

O Código também define uma série de conceitos jurídicos fundamentais


para o Direito Ambiental. A importância de tais conceitos decorre do fato
de que toda regulamentação administrativa referente à qualidade dos
recursos hídricos deverá levar em consideração o regime dominial ao
qual estão submetidas as águas.

 Resolução CONAMA n° 20/86

Os padrões de qualidade de água dos corpos hídricos brasileiros estão


estabelecidos na Resolução n° 20 do Conselho Nacional de Meio
Ambiente - CONAMA, de 18 de junho de 1986. As águas são divididas em
doces, salobras e salinas, caracterizadas por nove classes de qualidades.
Para cada classe são definidos limites e/ou condições de qualidade a
serem respeitados de modo a assegurar seus usos preponderantes,
sendo mais restritivo quanto mais nobre for o uso.

 Constituição Federal de 1988

A Constituição Federal de 1988 adotou uma concepção bastante moderna


e trouxe uma profunda alteração em relação às Constituições anteriores,
caracterizando a água como um recurso econômico de forma clara e
importante. Ressalta-se que os rios foram compreendidos a partir do
conceito de bacia hidrográfica, assim, admite-se a gestão integrada dos
recursos hídricos, de forma que se possa assegurar a sua proteção e
gestão racional.

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A referida Constituição veio determinar que "são bens da União os lagos,
rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, que ou
banhem mais de um estado, ou sirvam de limites com outros países, ou
se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, os terrenos
marginais e as praias fluviais". Estabelece como bens dos estados, “as
águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,
ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da
União".

Dispõe que compete privativamente à União legislar sobre águas, bem


como explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão, o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os estados onde se situam os potenciais
hidroenergéticos; os serviços de transporte aquaviário entre portos
brasileiros e de fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de
estado ou território.

Institui ainda a competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios para proteger o meio ambiente e combater a
poluição em qualquer de suas formas, bem como promover a melhoria
das condições e fiscalizar as concessões de direitos de exploração de
recursos hídricos em seus territórios, e legislar concorrentemente sobre
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e
controle da poluição, responsabilidade por dano ao meio ambiente e
proteção e defesa da saúde.

 Política Nacional de Recursos Hídricos

A Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, institui a Política Nacional de


Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos.

Objetiva assegurar à atual e às futuras gerações a necessária


disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos; a utilização racional e integrada dos recursos hídricos,
incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento
sustentável; e a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos
de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos
naturais.

Seus fundamentos são os seguintes: a água é um bem de domínio


público; a água é um recurso natural limitado, dotado de valor
econômico; em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos
hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; a gestão

13
dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas; a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos; a gestão dos recursos hídricos deve
ser descentralizada e contar com a participação do poder público, dos
usuários e das comunidades.

A Lei estabelece seis instrumentos de política para o setor: Planos de


Recursos Hídricos; enquadramento dos corpos de água em classes,
segundo os usos preponderantes da água; outorga dos direitos de uso de
recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a
compensação a municípios; e o Sistema Nacional de Informações sobre
Recursos Hídricos.

Por fim, a Lei estabelece um arcabouço institucional para a gestão


compartilhada do uso da água - o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos. Os organismos integrantes são: o Conselho Nacional
de Recursos Hídricos; os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e
do Distrito Federal; os Comitês de Bacia Hidrográfica; os órgãos dos
poderes públicos federais, estaduais e municipais, cujas competências se
relacionem com a gestão de recursos hídricos; as Agências de Água; as
organizações civis de recursos hídricos. Com a criação da ANA em 2000,
esta Agência foi incluída no Sistema.

2.2 Evolução Institucional

Remontam ao início do século XX as primeiras atividades de coleta de


dados hidrometeorológicos no Brasil, época em que o DNOCS -
Departamento Nacional de Obras contra as Secas - e o Instituto Nacional
de Meteorologia - INMET instalaram suas primeiras estações (Coimbra,
1999).

Desde então, foram instituídos órgãos atuantes na área de recursos


hídricos (Quadro 2). Observa-se que, antes da Conferência de Estocolmo
sobre Meio Ambiente, em 1972, as atividades no setor se voltaram
principalmente para os usos de hidrelétrica, irrigação e abastecimento
público, necessitando basicamente de informações hidrometeorológicas.

Depois da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento Humano (ECO-92), a gestão de recursos hídricos foi
abordada de maneira mais ampla com a instituição da Lei nº 9.433/97 e
criação da Secretaria de Recursos Hídricos - SRH, e da Agência Nacional
de Águas - ANA.

14
Quadro 2 - Resumo da Evolução Institucional.
Antes de Estocolmo 1972
1920 - Criação da Comissão de Estudos de Forças Hidráulicas, no âmbito do Serviço Geológico e
Mineralógico do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, que se constitui no núcleo do qual
se originaram os futuros órgãos nacionais dedicados à hidrometria.
1933 - Criação da Diretoria Geral de Pesquisas Científicas, absorvendo o Serviço Geológico e Mineralógico
sob o nome de Instituto Geológico e Mineralógico do Brasil.
1933 - Criação da Diretoria de Águas no Ministério da Agricultura, logo transformada em Serviço de
Águas.
1934 - Transferência da atividade de hidrologia para a Diretoria Geral da Produção Mineral que se
transformou no Departamento Nacional da Produção Mineral - DNPM.
1940 - Transformação do Serviço de Águas em Divisão de Águas, quando da reestruturação do DNPM.
1945 - Criação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF) e criação do Departamento Nacional
de Obras Contra Secas (DNOCS).
1948 - Criação da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF).
1952 - Criação das Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG).
1953 - Criação das Usinas Hidroelétricas do Paranapanema S.A. - USELPA.
1953 - Criação do Fundo Federal de Eletrificação.
1957 - Criação das Centrais Elétricas S.A. de Furnas.
1960 - Criação das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás).
1962 - Criação do Ministério das Minas e Energia - MME, que incorporou na sua estrutura todos os órgãos
do DNPM, inclusive a Divisão de Águas.
1965 - Transformação da Divisão de Águas no Departamento Nacional de Águas e Energia - DNAE, com
oito Distritos vinculados, descentralizando as atividades de hidrologia, incluindo os serviços de
hidrometria.
1968 - Alteração da denominação do órgão DNAE para Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
- DNAEE.
1969 - Criação das Companhias Estaduais de Saneamento.
De Estocolmo 1972 até Eco 1992
1973 - Criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente - SEMA no âmbito do Ministério do Interior e
início da criação de órgãos estaduais de meio ambiente.
Criação do Ministério Extraordinário da Irrigação com o Programa Nacional de Irrigação - PRONI e
1985 - do Programa de Irrigação do Nordeste - PROINE.
De Eco 1992 a Joanesburgo 2002 (Rio+10)
1995 - Criação da Secretaria de Recursos Hídricos.
2000 - Criação da Agência Nacional de Águas.

 Secretaria de Recursos Hídricos

Criada em 1995, compete à SRH subsidiar a formulação da Política


Nacional de Recursos Hídricos. Apóia o Conselho Nacional de Recursos
Hídricos - CNRH nas ações operacionais, na condição de sua Secretaria
Executiva, objetivando o acompanhamento da implementação da política
do setor realizada pela ANA e pelos demais órgãos e entidades atuantes
na gestão dos recursos hídricos.

É responsável, entre outras tarefas, por: coordenar a execução do Plano


Nacional de Recursos Hídricos; monitorar a implementação do Sistema
Nacional de Recursos Hídricos, bem como os instrumentos da gestão,
apoiando o CNRH.

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Além disso, a SRH desempenha um papel relevante no que concerne à
gestão das águas de mananciais, no acompanhamento da implementação
legal e institucional dos estados, assim como desenvolver ações visando
disseminar o conhecimento científico e tecnológico voltado à Política
Nacional de Recursos Hídricos.

 Agência Nacional de Águas

A Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, dispõe sobre a criação da


Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e estabelece regras
para a sua atuação, sua estrutura administrativa e suas fontes de
recursos.

A Agência Nacional de Águas tem como principais atribuições: outorgar o


direito de uso; fiscalizar os usos; implementar a cobrança pelo uso;
arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da
cobrança; planejar e promover ações destinadas a prevenir e minimizar
os efeitos de secas e inundações; definir e fiscalizar as condições de
operação de reservatórios por agentes públicos e privados, visando o uso
múltiplo de recursos hídricos; estimular e apoiar as iniciativas voltadas
para a criação de organismos de bacia.

3. SITUAÇÃO DAS ÁGUAS DO BRASIL

Este item mostra a situação dos recursos hídricos no Brasil e está


dividido em três partes: Status, Pressões e Respostas (OCDE, 2000). Na
primeira, apresenta-se o estado atual dos recursos hídricos, tratando
sobre seus aspectos qualitativos e quantitativos; na segunda, as pressões
exercidas pelas atividades antrópicas; e na última, as medidas políticas,
administrativas e setoriais adotadas.

3.1 Status

A água é essencial à vida. O seu acesso fácil para todos, bem como
suprimento adequado e seguro, tratamento e destino adequados dos
efluentes, devem ser uma meta universal e permanente. Todavia, neste
terceiro milênio, uma grande parte da população do planeta não dispõe
de água potável e saneamento apropriado.

16
São poucos os recursos essenciais à vida quanto os recursos hídricos. A
garantia de acesso à água em quantidade suficiente e com qualidade
adequada vem adquirindo contornos estratégicos.

A AGUA NO MUNDO

A água total existente no planeta, apresenta a seguinte


distribuição:

97,5% água salgada


2,5% água doce

A água doce encontra-se nos seguintes percentuais:

69% em geleiras e neves eternas


30% de água subterrânea
0,7% em outras situações, tais como umidade do solo,
pantanais e solos congelados
0,3% em rios e lagos

Conforme sinalizam diversos estudos, modificações climáticas globais


poderão influenciar na intensificação das chuvas e na redistribuição e
redução da disponibilidade dos recursos hídricos. Esse cenário aumenta
ainda mais o desafio para o gerenciamento e manejo da água.

Uma análise da estimativa de oferta e consumo da água no mundo


mostra que o consumo per capita é inferior à disponibilidade hídrica,
conforme o Quadro 3. Entretanto, identifica-se que hoje existem no
mundo cerca de 300 áreas de stress hídrico.

Quadro 3 - Deflúvio Médio e Consumo de Recursos Hídricos no Mundo em 1998.


Oferta (Deflúvio Médio) Consumo**
Regiões Total Per Capita Total Per Capita***
(Km³/ano) (m³/hab/ano) (Km³/ano) (m³/hab/ano)
África 3996,00 5.133,05 145.14 202
América do Norte 5.308,60 17.458,02 512,43 1.798
América Central 1.056,67 8.084,08 96,01 916
América do Sul 10.080,91 30.374,34 106,21 335
Brasil* 5.744,91 34.784,33 36,47 246
Ásia 13.206,74 3.679,91 1.633,85 542
Europa 6.234,56 8.547,45 455,29 625
Oceania 1.614,25 54.794,64 16,73 591
Mundo 41.497,73 6.998,12 3.240 645
Fonte:WRI, 1998 e *ANEEL,1999
Nota: **Ano de registro do consumo: África-1995; A. do Norte-91; A Central-87; A. do Sul-95; Brasil-90;
Ásia-87; Oceania-95; Mundo-1987. ***Calculado pela população.

No Brasil, excetuando-se a região semi-árida nordestina, as demais

17
regiões possuem disponibilidade suficiente para garantir a demanda de
água para irrigação, abastecimento doméstico e industrial. Entretanto, a
ausência de saneamento e o lançamento de efluentes sem tratamento
provocam extensa degradação da qualidade dos corpos d’água, causando
um quadro paradoxal de escassez.

No Brasil ocorrem grandes variações no regime climatológico e


hidrológico que podem ser identificadas em oito regiões hídricas, ou
grandes bacias hidrográficas (Figura 1). Cabe observar que está em
estudo no Ministério do Meio Ambiente, pela Secretaria de Recursos
Hídricos - SRH, e pela Agência Nacional de Águas - ANA, uma redefinição
da divisão e da codificação das bacias hidrográficas do País.

Figura 1 - Bacias e Regiões Hidrográficas.

No território brasileiro, estima-se que 92% da disponibilidade média


hídrica (257.790 m³/s) encontra-se em seis grandes bacias hidrográficas:
Amazonas, 209.000 m³/s; Paraná (inclusive Iguaçu), 11.000 m³/s;
Paraguai, 1.290 m³/s; Uruguai, 4.150 m³/s; e São Francisco, 2.850 m³/s
(Quadro 4).

18
Na bacia do rio Amazonas, encontram-se afluentes volumosos, drenando
bacias hidrográficas de baixa ocupação do solo e reduzida utilização
econômica da água: Negro (28.400 m³/s), Madeira (31.200 m³/s),
Tapajós (13.500 m³/s) e Xingu (9.700 m³/s).

Quadro 4 - Disponibilidade Hídrica do Brasil.


BACIAS HIDROGRÁFICAS AREA DE DESCARGA MEDIA DEFLUVIO
DRENAGEM DE LONGO MÉDIO
PERIODO
3
10 km2 m3/s l/s /km2 Km3/ mm/
ano ano
1. AMAZONAS
Bacia total 6.112 209.000 34,2 6.592 1.079
Bacia em território Brasileiro *3.900 133.300 34,2 4.206 1.079
2. TOCANTINS 757 11.800 15,6 372 492
3. ATLÂNTICO NORTE/NORDESTE
Norte (Sub-Bacias 30) 76 3.660 48,2 115 1.520
Nordeste (Sub-Bacias 31 a 39) 953 5.390 5,7 170 180
4. SÃO FRANCISCO 634 2.850 4,5 90 143
5. ATLÂNTICO - LESTE
Sub-Bacias (50 a 53) 242 680 2,8 21 88
Sub-Bacias (54 a 59) 303 3.760 12,1 116 382
6a. PARANÁ
Até à Foz do Iguaçu, inclusive 901 11.300 12,5 356 394
esta Bacia em Território Brasileiro *877 11.000 12,5 347 394
6b. PARAGUAI
Até à Foz do APA, inclusive esta 485 1.700 3,5 54 110
Bacia em Território Brasileiro *368 1.290 3,5 54 110
7. URUGUAI
Até a Foz do Quaroi, inclusive 189 4.400 23,3 139 735
esta Bacia em Território Brasileiro *178 4.150 23,3 131 735
8. ATLÂNTICO SUDESTE 224 4.300 19,2 136 605
Produção Hídrica Bacias Totais 10.724 258.750 24,1 8.160 761
Produção Hídrica Brasileira *8.512 182.170 21,4 5.745 675

Fonte: Ministério de Minas e Energia (Agência Nacional de Energia


Elétrica - ANEEL); Ministério Do Meio Ambiente (Secretaria de Recursos
Hídricos - SRH e Agência Nacional de Águas - ANA).
*Área de drenagem em território Brasileiro.

Observa-se uma grande diversidade de situações, com abundância de


água nas regiões Norte e Centro-Oeste, e escassez na região Nordeste e
em alguns estados desenvolvidos como Rio de Janeiro e São Paulo. Cerca
de 89% da potencialidade das águas superficiais do Brasil está
concentrada nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde estão abrigados
14,5% dos brasileiros com 9,2% da demanda hídrica do país. Os 11%
restantes do potencial hídrico encontram-se nas regiões Nordeste, Sul e

19
Sudeste, onde se localizam 85,5% da população e 90,8% da demanda de
água do Brasil.
A qualidade dos recursos hídricos brasileiros é regulamentada por
padrões ambientais, avaliados por parâmetros e indicadores
estabelecidos na Resolução n° 20 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente - CONAMA/86.

Embora essa regulamentação tenha sido implementada há mais de


dezesseis anos, o quadro da qualidade dos corpos hídricos teve pouca
alteração em função de sua aplicação. Identificam-se como principais
causas a baixa cobertura dos serviços de saneamento, a falta de
monitoramento e de fiscalização pelas instituições responsáveis, que
carecem de recursos humanos, instalações e instrumentos de coerção.

A água subterrânea é a parcela da água meteórica - chuva, neblina e


neve, principalmente - que infiltra e circula através dos terrenos da bacia
hidrográfica em apreço.

Atualmente, no complexo quadro geológico do Brasil - litológico, tectônico e


estrutural, principalmente – pode-se identificar 10 domínios onde as
condições de estocagem (porosidade), de fluxo (permeabilidade) e de
recarga natural (infiltração das chuvas) são relativamente similares. Tais
domínios constituem as 10 províncias hidrogeológicas do Brasil (Figura 2).

Figura 2 - Províncias Hidrogeológicas do Brasil (Mapa


Hidrogeológico do Brasil - 1:5.000.000, DNPM/CPRM, 1983).

20
Os dados do Quadro 5 indicam que as reservas permanentes de água
subterrânea dos principais contextos hidrogeológicos do Brasil variam de
80 km3 nos 600.000 km2 do domínio semi-árido de rochas de idade Pré-
cambriana do Nordeste, principalmente a 10.000 km 3, nos quase
4.000.000 km2 de rochas cristalinas e metamórficas do embasamento
Pré-cambriano coberto por um manto de rochas alteradas de espessura
média de 50 metros (Rebouças, 2002).

A reserva permanente total de água subterrânea no Brasil é da ordem de


112.000 km3, sendo que cerca de 90% estão nas bacias sedimentares.

Por sua vez, as vazões mais freqüentes obtidas pelos poços já perfurados
variam entre menos de 1 m3/h nas zonas aqüíferas das rochas fraturadas
praticamente impermeáveis do embasamento geológico de idade Pré-
cambriana do Nordeste semi-árido, até mais de 1.000 m 3/h nas bacias
sedimentares sob condições de clima úmido.

Quadro 5 - Reservas de Água Subterrânea no Brasil e Intervalos Mais Freqüentes das


Vazões dos Poços.
Domínio Aqüífero Área Sistema Aqüífero Principal Reservas Interv. Vazão
(km2) (km3) Poço (m3/h)
Substrato aflorante 600.000 Zonas fraturadas (P) 80 <1-5
Substrato alterado 4.000.000 Manto rocha alterada e/ou fraturas (P) 10.000 5 – 10
Bacia Sed. 1.300.000 G. Barreiras (TQb) 32.500 10 – 400
Amazonas F. Alter do Chão. (K)
Bacia Sed. São Luis- 50.000 F. São Luis (TQ) 250 10 – 150
Barreirinhas F. Itapecuru (Ki)
Bacia Sed. 700.000 F. Itapecuru (Ki) 17.500 10 – 1000
Maranhão F. Cordas-Grajaú (Jc)
F. Motuca (PTRm)
F. Poti-Piaui (Cpi)
F. Cabeças (Dc)
F. Serra Grande (Sdsg)
Bacia Sed. Potiguar- 23.000 G. Barreiras (TQb) 230 5 – 550
Recife F. Calc. Jandaíra (Kj)
F. Açu-Beberibe (Ka)
Bacia Sed. AL/SE 10.000 G. Barreiras (TQb) 100 10 - 350
F. Marituba (Km)
Bacia Sed. Jatobá- 56.000 F. Marizal (Kmz) 840 10 - 500
Tucano-Recôncavo F. S. Sebastião (Kss)
F. Tacaratu (SDt)
Bacia Sed. Paraná 1.000.000 G. Baurú-Caiuá (Kb) 50.400 10 - 700
(Brasil) F. S erra Geral (Jksg)
F. Botucatu-Piramboia-Rio do Rasto
(Pr/TRp/Jb)
F. Furnas/
Aquidauana (D/PCa)
Depósitos Diversos 773.000 Aluviões, dunas (Q) 411 2 - 40
Totais 8.512.000  112.000
Fonte: Rebouças, 1999.

21
No Brasil, os potenciais hidrogeológicos referidos em termos de vazão
(m3/h), que é obtida de cada poço por metro de rebaixamento (m -1) do
respectivo nível d’água, são apresentados na Figura 3.

Verifica-se, assim, que as potencialidades de água subterrânea no


território nacional são muito variadas. Nos domínios mais promissores as
capacidades específicas dos poços variam entre 5 e 10 e superiores a 10
m3/h.m-1. Nessas áreas tem-se a possibilidade de obtenção de vazões por
poço entre 250 e acima de 500 m 3/h, com o rebaixamento de 50 metros
do respectivo nível estático ou nível d’água.

Dessa forma, o volume produzido por poço, durante 16 horas de


operação por dia, seria suficiente para abastecer entre 20 mil e acima de
50 mil pessoas com uma taxa per capita de 200 l/dia.

Figura 3 - Potenciais de Água Subterrânea do


Brasil (Rebouças, 1999).

Considerando uma abundante pluviometria, temperaturas elevadas


durante quase todo o ano e uma alta reatividade geo-bioquímica, a água
subterrânea no Brasil tem uma qualidade que espelha a intensidade das
recargas e o meio geológico/ambiental por onde circula. Como corolário,
a água subterrânea apresenta, regra geral, boa qualidade natural ao
consumo humano.

22
3.2 Pressões

Nas áreas mais desenvolvidas do país, o descontrolado aproveitamento


das águas, paralelamente à industrialização, urbanização e agricultura
intensivas, em regiões outrora ricas em recursos naturais, estão se
desencadeando crescentes conflitos pelo uso da água.

O uso múltiplo da água - como geração de energia, abastecimento


público urbano e industrial, diluição de efluentes, irrigação, navegação,
manutenção de ecossistemas - vem enfrentando entraves ponderáveis,
seja na operação de estruturas hidráulicas, seja na implementação de
planos setoriais incompatíveis entre si. O resultado é a perda de eficácia
para vultosos investimentos públicos e privados e prejuízos para os
usuários menos estruturados, do ponto de vista político-institucional.

3.2.1 Crescimento Populacional

Entre 1950 e 2001, a população mundial duplicou, passando de 2,3


bilhões para 5,3 bilhões de habitantes, com o consumo de água
aumentando de 1.000 km3 para 4.000 km3 anuais. Ou seja, nesse
período o consumo de água per capita quadruplicou.

Em 1940, a população brasileira era de 40 milhões de habitantes, dos


quais 12,8 milhões viviam em núcleos urbanos, enquanto que a maioria
da população vivia na zona rural. Neste início de século, a população
brasileira quase quadruplicou e a relação inverteu-se: hoje, mais de 80%
da população brasileira vive nas cidades.

O crescimento demográfico e econômico acelerado do País nos últimos


trinta anos fez com que os recursos hídricos fossem demandados, em
algumas regiões, além das disponibilidades.

3.2.2 Pressões Setoriais

Neste item encontram-se informações sobre as principais pressões dos


setores de saneamento básico, agropecuária, energia hidrelétrica e
transporte hidroviário.

Desses setores são identificados os impactos qualitativos e quantitativos


sobre o meio ambiente, os conflitos pelo uso da água gerados, bem como
suas conseqüências socioeconômicas.

23
3.2.2.1 Saneamento Básico

O Brasil enfrenta problemas de poluição das águas advindas de fontes


poluidoras pontuais - esgotos domésticos e industriais - em conjunto com
a poluição difusa - escoamento superficial em áreas urbanas e rurais.
Como fontes de poluição, identificam-se ainda as extrações de areia e
cascalho, bem como as demais atividades de mineração, inclusive o
garimpo.

No entanto, a principal pressão nos mananciais hídricos é gerada pela


precária rede de saneamento básico existente na maioria das cidades
brasileiras. Esse fato tem trazido sérias conseqüências à qualidade de
vida da população, comprometendo a saúde pública e o meio ambiente.

A análise da evolução dos níveis de cobertura dos serviços de


saneamento no Brasil, conforme Quadro 6, revela que houve melhorias
sensíveis no atendimento à população urbana, particularmente no que se
refere ao abastecimento de água. Em termos numéricos, no período de
1970 a 2000, a população urbana cresceu 137%, passando de 52
milhões para cerca de 123 milhões. Paralelamente, o número de
domicílios abastecidos por redes de distribuição de água passou de 60%
para 90%. Cerca de 11 milhões de pessoas que residem em cidades
ainda não dispõem de acesso à água por meio de rede geral. No meio
rural, 9% da população possui ligações a rede de água potável,
ressaltando-se, todavia, que a maior parcela desta população é
abastecida diretamente por poços e nascentes.

Quadro 6 - Evolução da Cobertura dos Serviços de Água e Esgotos no Brasil (%).


INDICADORES P E R Í O D O

Abastecimento de Água 1970 1980 1990 2000


Domicílios urbanos 60,5 79,2 86,3 89,8
Rede de distribuição
Domicílios rurais 2,6 5,0 9,3 18,1
Rede de distribuição
Esgotamento Sanitário
Domicílios urbanos 22,2 37,0 47,9 56,0
Rede de coleta
Domicílios urbanos 25,3 22,9 20,9 16,0
Fossas sépticas
Domicílios rurais 0,45 1,4 3,7 3,3
Rede de coleta
Domicílios rurais 3,2 7,2 14,4 9,6
Fossas sépticas
Fonte: IBGE, Censos Demográficos 1970, 1980, 1990, 2000.

24
A situação atual do saneamento no Brasil (Quadros 6 e 7) apresenta
alguns dados e informações do Censo de 2000 que merecem destaque,
porque permitem o conhecimento da atual situação brasileira,
potencialidades, déficits, necessidades de investimento, bem como as
áreas e regiões onde deveriam ser priorizadas essas ações.

Dentre os componentes do saneamento ambiental, registra-se um


crescimento da oferta de água e do esgotamento sanitário. Contudo,
verifica-se o seguinte déficit nos domicílios: 10,2% de rede de
abastecimento de água; 44,0% de rede coletora de esgoto; 81,9% de
rede de distribuição de água e 96,7% de rede coletora de esgoto.

Na figura 4 encontra-se a população urbana provida de água por meio de


poço ou nascente, cuja qualidade pode ou não ser satisfatória. E na
figura 5, são mostrados os serviços de esgotamento sanitário na zona
urbana.

Embora no meio rural as fossas sépticas possam ser uma solução


adequada para o esgoto, o nível de cobertura nos domicílios ainda é
bastante baixo. Isto mostra, portanto, que um longo caminho ainda
deverá ser percorrido para assegurar a universalização do acesso da
população de baixa renda a esses serviços.

Quadro 7 - Distribuição Regional dos Déficits em Saneamento Básico.


ABASTECIMENTO ESGOTAMENTO
NÚMERO DE ÁGUA SANITÁRIO REDE E FOSSA
REGIÃO DE SÉPTICA
DOMICÍLIOS Déficit Déficit Déficit Déficit (%)
(%)
Norte 2 809 912 1 460 770 51,99 1 809 015 64,38
Nordeste 11 401 385 3 832 238 33,61 7 074 641 62,05
Centro-Oeste 3 154 478 845 630 26,81 1 867 729 59,21
Sudeste 20 224 269 2 360 528 11,67 3 573 507 17,67
Sul 7 205 057 1 436 562 19,94 2 609 759 36,22
BRASIL 44.795.101 9.935.708 22,18 16.934.651 37,80
Fonte: Censo 2000, IBGE.

Dados do IBGE (Quadro 8) informam que, no período de 1992 a 1999, o


acesso aos serviços de saneamento para os 40% mais pobres do Brasil
aumentou 6%, passando de 26,3% para 32,3%, enquanto que para os
10% mais ricos o acesso passou de 76,5% para 80,1%, ou seja,
aumento de 3,6%. Isso mostra uma tendência crescente para a
universalização desses serviços, apesar dos baixos índices em classes
mais carentes da população. Esse quadro repercute de forma positiva na
atual situação da saúde pública.

25
Figura 4 - Abastecimento de Água na Zona Urbana - 2000.

26
Figura 5 - Esgotamento Sanitário na Zona Urbana - 2000.

27
Quadro 8 - Saneamento e Pobreza, 1992 e 1999.
ACESSO AOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO PELOS 40% MAIS
REGIÕES POBRES E 10% MAIS RICOS
ANOS 40% mais pobres 10% mais ricos
Norte 1992 6,6 0,6
1999 5,8 23,4
Nordeste 1992 7,4 42,9
1999 11,5 53,6
Centro- 1992 17,9 59,3
Oeste 1999 22,6 60,4
Sudeste 1992 52,9 91,3
1999 66,7 93,7
Sul 1992 22,8 60,6
1999 30,9 70,6
BRASIL 1992 26,3 76,5
1999 32,3 80,1
Fonte: IBGE, Indicadores Sociais, 2000.

De 1996 a 2000, as internações hospitalares (Quadro 9) decorrentes de


doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado passaram de
712.982 pessoas para 565.560, destacando-se as diarréias que
corresponderam a 91,14% do total de doenças.

Quadro 9 - Distribuição da Freqüência e Proporção das Internações Hospitalares por


DRSAI (1996 a 2000).
1996 1997 1998 1999 2000
DRSAI % Nº % Nº % Nº % Nº %

Diarréias 662 927 92,98 622 403 93,99 535 922 92,59 547 767 92,48 515 469 91,14
Helmintí- 2 320 0,33 2 577 0,39 1 439 0,25 1 204 0,2 1 043 0,18
ases
Febres 5 989 0,84 5 018 0,76 4 355 0,75 3 824 0,65 3 424 0,61
Entéricas
Filariose 122 0,02 84 0,01 65 0,01 101 0,02 122 0,02
Linfática
Esquistos- 1 657 0,23 1 524 0,23 1 314 0,23 1 344 0,23 1 322 0,23
somose
Malária 29 191 4,09 19 453 2,94 19 263 3,33 21 166 3,57 21 288 3,76
Febre 55 0,01 53 0,01 56 0,01 37 0,01 42 0,01
Amarela
Dengue 515 0,07 1 939 0,29 6 438 1,11 5 748 0,97 10 260 1,81
Leishamani- 4 072 0,57 3 471 0,52 2 677 0,46 4 266 0,72 5 290 0,94
ose
Doença de 952 0,13 922 0,14 1.317 0,23 1 266 0,21 1 129 O,2
Chagas
Leptospirose 3 697 0,52 3 205 0,48 3 024 0,52 2 907 0,49 3 662 0,65
Teníase 589 0,08 583 0,09 647 0,11 676 0,11 532 0,09
Hepatite A 546 0,08 563 0,09 1 151 0,2 926 0,16 891 0,16
Doenças dos 73 0,01 95 0,01 188 0,03 166 0,03 117 0,02
Olhos
Doenças da 277 0,04 317 0,05 968 0,17 925 0,16 969 0,17
Pele

TOTAL 712 982 100 662 207 100 578 824 100 592 323 100 565 560 100
Fonte: Sistema de Informações Hospitalares/SUS (2001).

28
Com relação aos óbitos causados por diarréia, registrou-se também uma
diminuição do índice, com redução de 9.252 óbitos (56,99%) para 7.309
(53,50%).

A freqüência de óbitos por doenças relacionadas a saneamento ambiental


inadequado vem reduzindo, com exceção do ano de 1999 em que
ocorreu um aumento de casos de diarréias para 92,48% das internações
hospitalares.

O IBGE informa que os dados obtidos nos órgãos públicos e privados, e


companhias responsáveis pela prestação dos serviços de saneamento,
mostram que 97,9% dos municípios oferecem água encanada, 53,2%
coletam esgoto (Quadro 10), apenas 35,3% do coletado é tratado e
99,4% recolhem lixo. No que diz respeito à água distribuída sem
tratamento, houve um crescimento percentual bastante elevado em
relação ao crescimento do fornecimento de água tratada nesse período,
embora isso não signifique que toda a água distribuída sem tratamento
seja contaminada e poluída (Quadro 11). O que aconteceu foi uma
preocupação dos prestadores de serviços em ampliar o fornecimento
quantitativo de água em detrimento dos aspectos qualitativos.

Quadro 10 - Saneamento Básico nos Municípios, 1989 e 2000.


Municípios com Serviços de Municípios com Serviços de
REGIÕES Abastecimento de Água (%) Esgoto (%)
1989 2000 (%) 1989 2000 (%)

Norte 86,9 94,0 7,1 8,4 7,1 (-) 1,3


Nordeste 93,8 96,4 2,6 26,1 42,9 16,8
Centro- 92,9 98,4 5,5 12,9 17,9 5,0
Oeste
Sudeste 99,9 100,0 0,1 91,0 92,9 1,9
Sul 97,3 98,5 1,2 39,1 38,9 (-) 0,2
BRASIL 95,9 97,9 2,0 47,3 53,2 5,9

29
Fonte: Censo 2000, IBGE.

No período de 1989 a 2000, foram poucos os municípios que tiveram


aumento de oferta de rede de esgoto. Passaram de 47,3% para 52,25%,
sendo apenas 35,25% esgoto coletado e tratado. Faz-se ressalva aos
dados referentes à cobertura e não propriamente ao tipo de atendimento
oferecido aos domicílios, pois nem sempre a rede coletora consegue
atendê-los. Nesse caso, a oferta aos domicílios é ainda mais baixa, ou
seja, 33,5%. Nos Distritos que não dispõem de rede coletora, a
população brasileira utiliza-se de outras alternativas como as fossas
sépticas e sumidouros (48,2%), fossas secas (42,2%), valas abertas
(3,4%), lançamentos em cursos de água (2,4%) e outros (3,5%).
Quadro 11 - Volume de Água Distribuído por Região,
1989 e 2000.
Volume de Água Crescimento Relativo do
Distribuído/ Volume de Água Distribuído 89/00
REGIÕES Dia Sem Tratamento (%)
Total Com Sem
1989 2000 Diferença (%) Tratamento Tratamento

Norte 14,3 32,4 18,1 49,2 17,7 238,1


Nordeste 6,0 6,4 0,4 63,1 62,3 75,6
Centro-Oeste 3,8 3,6 (-) 0,2 36,9 37,1 31,4
Sudeste 2,6 5,6 3,0 61,4 56,4 245,3
Sul 2,1 5,9 3,8 48,7 42,8 328,5
BRASIL 3,9 7,2 3,3 57,9 52,0 191,3
Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB, 2000.

Em relação ao lixo, os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico


- PNSB indicam uma melhoria considerável nos índices de resíduos
coletados e destinados aos aterros sanitários, que alcançou 47,1% em
2000, bastante superior aos 10,7% de 1989. Embora haja
questionamentos quanto a esse valor, é inegável a melhoria do setor,
indicado, por exemplo, pelo número de crianças retiradas dos lixões.

No setor de saneamento ambiental, a drenagem urbana é o que vem


apresentando o maior problema em face da ausência de uma política de
desenvolvimento urbano. Essa ausência permite adensamento e
concentração populacional descontrolado, que exige altos investimentos e
estabelecimento de políticas públicas.

Os dados da PNSB referentes às enchentes e inundações no país indicam


que, de 1998 a 2000, 22,4% dos municípios brasileiros sofreram
enchentes e inundações, sendo que os estados mais afetados foram, por
ordem decrescente, Rio de Janeiro (63,7%), Santa Catarina (45%), São
Paulo (40,6%), Espírito Santo (37,6%), Paraná (26,3%), Rio Grande do

30
Sul (25,4%), Mato Grosso do Sul (24,6%), Bahia (24,3%), Acre (22,7%)
e Pernambuco (22,7%). As causas principais apontadas pelos municípios
foram as seguintes: obstrução de bueiros (51%), adensamento
populacional (31,6%), obras inadequadas (27,9%) e dimensionamento
inadequado de projeto (27,4%).

O impacto nos recursos hídricos pode ser observado pelas perdas de


faturamento registradas nos sistemas de água - aproximadamente
39,0% - pelo baixo volume de esgoto sanitário tratado em relação ao
volume de água distribuído e consumido, bem como em relação ao
esgoto coletado, o que repercute na qualidade das águas lançadas nos
corpos hídricos. Segundo a SEDU/PR, estima-se que 22,6 milhões de
domicílios urbanos lançam seus esgotos brutos diretamente no meio
ambiente. Ao considerar que o volume médio de esgoto coletado por
domicílio ligado à rede é de 490 litros/dia, infere-se que são lançados no
meio ambiente aproximadamente 11 milhões de m 3/dia, sem nenhum
tratamento.

Com base nesse quadro, pode-se concluir que houve no Brasil uma
melhoria quantitativa na prestação dos serviços de saneamento (água,
esgotamento sanitário, lixo e drenagem). Entretanto, a melhoria
qualitativa foi relativamente pequena.

Um aspecto que cabe ainda destacar, no que se refere à organização do


setor, é a insuficiente articulação com programas e atividades de outras
áreas, especialmente aquelas relacionadas com o meio ambiente e a
gestão dos recursos hídricos. Existe uma dificuldade de reconhecimento,
por parte dos agentes dos serviços de saneamento, da precedência da
gestão da água enquanto recurso natural.

3.2.2.2 Agropecuária

A disponibilidade de alimentos para consumo humano tem sido uma


grande preocupação no mundo porque as taxas de produção agrícola têm
sido superadas pelo incremento populacional e pela elevação do consumo
per capita.

Um outro aspecto que compromete a segurança alimentar é a perda de


alimentos. No Brasil, essas perdas atingem 30% da produção total de
alimentos nos processo de colheita, transporte e comercialização. É uma
situação grave, quando se considera que parte da população não tem
acesso aos alimentos básicos e que a prevalência de desnutrição total em
crianças menores de cinco anos de idade é de 7,1%, segundo a Pesquisa
Nacional sobre Saúde e Nutrição. Outro fator que afeta a segurança

31
alimentar é a redução de terras com cultivos pela degradação, erosão e
escassez de água.

As desigualdades per capita no consumo de grãos, nos diversos países,


se refletem pelo fato de que os grãos, que poderiam atender ao consumo
humano, são utilizados para alimentação animal. Esses hábitos
alimentares repercutem também na demanda de água para uso
agropecuário. Para produzir 1 kg de cereal são necessários mil litros de
água. Cada quilo de grão possibilita obter 140 g de carne bovina; 250 g
de carne suína; 500 g de carne de frango; 500 g de peixe; 300 g de
ovos; 200 g de leite; 250 g de iogurte; ou 150 g de queijo (Christofidis,
2001).
A agricultura brasileira vem elevando gradativamente sua participação no
PIB nacional, incrementando o percentual nacional de produtos
exportados nesse setor.

O Quadro 12 evidencia essa importância do setor para o País, quando


comparado a outros setores econômicos.

Quadro 12 - Participação e Crescimento do PIB por Setor*.


Agropecuário Industrial Serviços PIB %
Anos
Partic. Cresc. Partic. Cresc. Partic. Cresc. Cresc.
1992 10,7 5,4 33,9 -3,8 55,4 0,0 -0,8
1993 10,6 -1,0 32,5 6,9 56,9 6,7 4,2
1994 12,6 9,3 31,9 7,0 55,3 4,2 6,0
1995 9,0 5,1 36,6 2,1 54,4 6,0 4,3
1996 8,3 3,1 34,7 2,3 57,0 3,3 2,9
1997 8,7 1,9 35,2 5,5 56,1 2,0 3,2
1998 8,2 0,4 34,5 1,0 57,3 0,7 0,2
1999 8,3 9,0 35,5 -1,7 56,2 1,1 0,8
1990/99 8,6 38,4 34,6 11,0 55,7 27,6 18,8
1980/99 9,4 107,2 37,6 65,7 52,5 84,8 52,4
2000** 7,7 2,9 34,4 4,8 57,9 3,6 4,2
Fonte: IBGE.
* A participação foi calculada com base no valor adicionado por setor; ** Dados preliminares atualizados em
18/07/2001.

No Quadro 13 encontram-se informações sobre a participação das


exportações agrícolas brasileiras com relação às exportações agrícolas
mundiais (em 2000, de 3,34%). Essa informação evidencia o potencial
agrícola, quando comparada às exportações totais do Brasil em função
das exportações totais mundiais (em 2000, cerca de 0,89%).

Quadro 13 - Participação das Exportações Brasileiras nas


Exportações Mundiais (US$ bilhões).
Ano
Exportações Totais Exportações Agrícolas

32
Mundiais Brasil % Mundiais Brasil %
1992 3.658,0 36,1 0,99 354,8 8,7 2,45
1993 3.764,2 38,7 1,03 335,8 9,5 2,83
1994 4.283,1 43,5 1,02 380,3 12,4 3,26
1995 5.011,5 46,5 0,93 417,8 13,5 3,23
1996 5.150,0 47,7 0,85 463,7 14,3 3,08
1997 5.325,0 53,0 1,00 462,3 18,8 4,07
1998 5.434,0 51,1 0,94 465,9 17,1 3,67
1999 * 5.611,0 48,0 0,86 417,3 16,5 3,95
Fonte: FAO - Food and Agriculture Organization (www.fao.org) - Atualizado em 01/06/2001; FMI -
Fundo Monetário Internacional. (www.imf.org).
*Valores previstos.

33
 IRRIGAÇÃO
Como os usos domésticos, a irrigação também é uma forma de uso
consuntivo da água, isto é, parte da água utilizada para este fim não
retorna imediatamente ao seu curso original, havendo redução efetiva da
disponibilidade do manancial.

A agricultura irrigada é a atividade que consome maior quantidade de


água. Em termos mundiais, estima-se que esse uso responda por cerca
de 70% das derivações de água.

No Brasil, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas publicados em 1998,


o consumo de água supera os 60%. A irrigação é ainda exigente em
termos de qualidade da água e, nos casos de grandes projetos, implica
obras de regularização de vazões, ou seja, barragens que interferem no
regime fluvial dos cursos de água e tem efeitos sobre o meio ambiente.

Na Figura 6 apresenta-se a evolução do uso da irrigação no país e


respectiva representação gráfica. Observa-se que houve um crescimento
das áreas irrigadas de 2.332 milhões de hectares, em 1990, para 3.113
milhões de hectares, em 2001.

Figura 6 - Evolução das áreas irrigadas no Brasil 1950-2001


(Christofidis, 2002).

34
O uso potencial de irrigação em terras altas é estimado em 14,6 milhões
de hectares, sendo que, atualmente, estão sendo explorados
aproximadamente 3.113.000 ha. Esses dados somados aos demais das
áreas disponíveis atingem um total de 29,6 milhões de hectares,
representando, aproximadamente, 3,5 % do território nacional, que
necessita de uma quantidade para irrigação em torno de 33.777.297.000
m3/ano de água (Christofidis, 1999). Na figura 7, encontra-se a
distribuição de áreas irrigadas no ano de 1999.

À medida que são intensificados os vários usos da água, torna-se


evidente o crescimento dos conflitos. Na bacia do rio São Francisco, por
exemplo, as projeções de demanda de água para irrigação, para
transposição a outras bacias hidrográficas e manutenção dos atuais
aproveitamentos hidrelétricos, trazem preocupações. Segundo dados da
Secretaria de Recursos Hídricos - SRH de 1999, a demanda total para
outorga de uso da água nessa bacia é da ordem de 770 m 3/s, sendo que
cerca de 99% deste volume está previsto para projetos de irrigação. Com
uma vazão média total na foz do rio de aproximadamente 2.850 m 3/s, a
vazão demandada corresponde a 27% da vazão total. Dessa forma,
torna-se imperativo que sejam realizados estudos criteriosos para os
pedidos de outorga, uma vez que os impactos gerados podem causar
grandes prejuízos à sociedade.

No Sudeste, evidenciam-se os conflitos em torno da utilização da água


dos rios Paraíba do Sul, Piracicaba e Capivari, entre outros. No Sul do
país, nas bacias dos rios Araranguá, Itajaí, Tubarão, Jacuí e baixo
Uruguai, a grande demanda de água é para irrigação de arrozais.

 Uso de Agrotóxicos

A agricultura moderna é altamente dependente do uso de insumos


(agrotóxicos, fertilizantes e outros) para assegurar a produtividade,
expondo os recursos hídricos a riscos de contaminação (Embrapa, 2002).
A figura 8 mostra a dimensão do uso de agrotóxicos em alguns países,
em kg/ha. Destaca-se a Holanda como o país que mais utiliza defensivos.
O Brasil se encontra no oitavo lugar, com um consumo aproximado de 3
kg/ha.

A Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, define o termo


agrotóxico da seguinte forma: “Os produtos e os componentes de
processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores
de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas,
nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de

35
Figura 7 - Distribuição de Áreas irrigadas - 1999.
Figura 8 - Consumo de defensivos agrícolas - kg/ha
(http://www.sindag.com.br)

outros ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e


industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna,
afim de preserva-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos,
bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes,
dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento”.

Em função da toxidade, os agrotóxicos são classificados pelo Ministério


da Saúde em função de parâmetros dos efeitos agudos - classificação
toxicológica, conforme Quadro 14. São identificadas as classes no rótulo
dos produtos disponibilizados no mercado por meio de faixas com
coloração representativas. Esses produtos também são avaliados em
termos de efeitos ecológicos, ambientais e na saúde humana.

Os princípios ativos de agrotóxicos apresentam características próprias


quanto às tendências de contaminações de águas superficiais e
subterrâneas, como podem ser carreados por solo erodido, associados a
sedimentos.

Quando dissolvidos em água, podem ser carreados por enxurradas e


concentrando-se nos corpos de água na superfície. Esses compostos
também podem ser lixiviados para camadas mais profundas do solo,
atingindo águas subsuperficiais e subterrâneas.
No Brasil, o desenvolvimento tecnológico no setor agropecuário nos
últimos anos proporcionou maior produtividade das culturas, favorecendo
uma maior diversidade de alimentos ao consumidor, e uma elevação nas
taxas de exportações de produtos agropecuários nacionais. Conse-
qüentemente, um crescimento no uso de insumos (Quadro 14). Percebe-
se ainda que, para o ano de 2000, foram consumidos produtos de menor
grau toxicológico, quando comparados aos anos anteriores.

Quadro 14 - Agrotóxicos em Linha de Comercialização por Classes Toxicológicas.


Classes Herbicidas Fungicidas Inseticidas Acaricidas Outros Total Geral
Toxicológicas 1997 1999 2000 1997 1999 2000 1997 1999 2000 1997 1999 2000 1997 1999 2000 1997 1999 2.000

Total 172 179 198 125 128 138 164 176 212 34 33 32 36 40 43 531 556 623

Classe I 28 25 32 14 13 17 58 51 55 4 5 5 2 4 4 106 98 113

Classe II 55 56 58 30 33 32 55 58 65 14 13 12 5 5 7 159 165 174

Classe III 66 63 67 51 50 53 19 35 45 10 11 10 4 4 6 150 163 181

Classe IV 23 35 41 30 32 36 32 32 47 6 4 5 25 27 26 116 130 155

Classe I - extremamente tóxica - causadora de lesões oculares irreversíveis; lesões


dérmicas (corrosão ou ulceração) e lesões sistêmicas;
Classe II - altamente tóxica - lesões oculares reversíveis, irritações oculares
persistentes, lesões dérmicas (irritações severas);
Classe III - medianamente tóxica - lesões oculares reversíveis no período máximo de
uma semana; lesões dérmicas moderadas (irritações);
Classe IV - pouco tóxica - lesões oculares reversíveis em 24 horas; lesões dérmicas
leves (irritações).
Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola – SINDAG
(2002).

3.2.2.3 Energia Hidrelétrica

No Brasil, as usinas hidrelétricas proliferaram a partir da década de 50,


dando sustentação ao forte impulso do país rumo à industrialização e ao
desenvolvimento (www.energiabrasil.gov.br). Hoje o Brasil dispõe de um
dos maiores parques hidrelétricos do mundo, sendo cerca de 90% para
produção de energia elétrica.

Com uma potencia instalada de 74,36 GW, em dezembro de 2001


(Quadro 15), o setor elétrico cresce 4,5% ao ano, devendo passar de 100
mil MW, em 2008.

Quadro 15 - Unidades em Operação (dezembro de 2001).


Tipo Quantidade Potência (MW) % do total
Eólicas 6 18,8 0,03
PCHs 309 1.002,3 1,35
Hidrelétricas* 123 61.018,8 82,06
Térmicas 585 10.349,8 13,92
Nucleares 2 1.966,0 2,64
Total 1.025 74.355,8 100,00
Fonte: ANEEL (2002).
* inclui Itaipu Binacional.

Em janeiro de 2002, havia registrado 433 centrais hidrelétricas em


operação no Brasil e foi crescente na participação da matriz energética
(Quadro 16).

Quadro 16 - Participação das hidrelétricas na capacidade


instalada de geração de energia elétrica no Brasil.
Capacidade instalada
ANO GW (%)
1970 9.088 79,3
1980 25.584 81,6
1990 44.900 91,6
1999 59.548 89,4
2001 62.020 82,9
Fonte: ANEEL (2002).

Conforme Figura 9, a maioria das grandes centrais hidrelétricas está


localizada na bacia do Paraná, notadamente nas sub-bacias do
Paranaíba: 60, Grande: 61 e Iguaçu: 65 (ANEEL, 2002).

Por muitos anos, o Brasil conviveu com a impressão de que suas fontes
energéticas hidrológicas eram inesgotáveis. Entretanto, o Brasil passou
por uma crise energética, em 2001, provocada pelos seguintes fatores:
 Um dos piores regimes pluviométricos nas últimas décadas no Brasil;
 O aumento da demanda da energia elétrica pelo crescimento
populacional e pelas atividades industriais e agropecuárias;
 A falta de investimentos necessários para atualizar o parque
energético motivada pelo regime inflacionário até 1995.

Em decorrência dessa crise, foi criada, no dia 10 de maio de 2001, a


Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE), com a finalidade
de administrar um período que se antevia extremamente crítico, no que
diz respeito ao suprimento de energia elétrica nas Regiões
Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste.
Figura 9 - Usinas Hidrelétricas por Classe de Potência e Bacia
Hidrográfica - 2002.

Como medida para reverter a situação, foi imposta uma redução de 20% do
consumo para a população, calculada em relação ao consumo médio de
maio, junho e julho de 2000. A adesão das famílias, empresas e demais
instituições foi surpreendente. No primeiro mês do racionamento - em
que não houve cobrança das metas - o programa já atingia seus
objetivos.
No dia 19 de fevereiro de 2002, os dados fornecidos pelo Operador
Nacional do Sistema (ONS), mostravam que os reservatórios haviam
atingido um nível satisfatório, e assim, foi encerrado o programa de
racionamento, no dia 28 de fevereiro de 2002.

3.2.2.4 Transporte Hidroviário

A vasta rede hidrográfica brasileira é constituída por uma grande maioria


de rios naturalmente navegáveis (Godoy e Vieira, 1999). O Brasil conta
com cerca de 40.000 km de rede hidroviária, da qual 2.000 km são
precariamente navegáveis. As principais hidrovias encontram-se nas
bacias: Amazônica (18.300 km), Nordeste (3.000 km),
Tocantins/Araguaia (3.500 km), São Francisco (4.100 km), Leste (1.000
km), Tietê/Paraná (4.800 km), Paraguai (2.800 km), Sudeste (1.300 km)
e Uruguai (1.200 km).

Na conjuntura atual, o transporte hidroviário tem papel econômico


importante: reduz os custos do transporte; integra novas áreas de
produção mineral, agropecuária e industrial; e induz a um processo de
desenvolvimento regional. Além de sua eficiência energética, as hidrovias
oferecem baixo custo de manutenção e propiciam alívio de carga para a
onerosa conservação de rodovias em regiões tropicais. Na Figura 10,
estão identificadas as principais vias navegáveis no país.

Observe-se que as regiões mais desenvolvidas, como as regiões


metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte, não são servidas por rios
que possam promover o acesso da navegação interior diretamente aos
portos marítimos. Essa situação inibiu o desenvolvimento da navegação
interior e, de certa forma, contribuiu para a implementação da política
rodoviária, que tem prevalecido nas últimas décadas. A navegação pode
ser considerada como a mais preterida dentre os múltiplos usos de
recursos hídricos no país.

Em termos de pressões ambientais do setor, pode-se destacar a


inexistência de acidentes com cargas perigosas, envolvendo a navegação
fluvial, nos últimos dez anos. A navegação fluvial é bastante confiável e
segura quanto às possibilidades de acidentes passíveis de contaminação
dos corpos hídricos. A segurança da navegação é uma das atribuições do
Ministério da Marinha, que exerce essas atividades por intermédio das
Capitanias dos Portos.

Quanto aos abaloamentos das margens por embarcações fluviais que


podem causar danos ambientais, pode-se afirmar que tais ocorrências
são eventuais. Cita-se como exemplo os desbarrancamentos em pontos
das curvas mais acentuadas, que ocorrem no trecho entre a lagoa Gaíva
e o porto de Cáceres, provocados por comboios integrados que navegam
no rio Paraguai, no período de estiagem.

Figura 10 - Vias Navegáveis - Fonte: Ministério dos Transportes -


STA/DHI.

A navegação necessita de um nível mínimo de água nos rios e canais,


entretanto, alguns rios já estão comprometidos. Um assoreamento
sistemático e contínuo, visível por inúmeros bancos de areia no rio São
Francisco, já está impedindo a navegação fluvial em alguns trechos desta
hidrovia.
3.2.3 Eventos Críticos

Um dos importantes objetivos da gestão dos recursos hídricos é a


promoção da defesa permanente contra as calamidades públicas
associadas aos recursos hídricos, notadamente as secas, as inundações e
a desertificação.

Estudos recentes têm demonstrado uma alta correlação entre a


ocorrência desses eventos extremos em diferentes partes do planeta e o
fenômeno de “El Niño”, que está sendo objeto de redobrada atenção por
parte de muitos países, face aos elevados prejuízos sócio-econômicos. No
Brasil, “El Niño” provoca grandes enchentes na região Sul, nas bacias
hidrográficas do Iguaçu, Itajaí, Uruguai e outras, e agudiza a seca na
região semi-árida do Nordeste.

As enchentes e as secas são grandes problemas em muitas partes do


mundo, resultando em significativas perdas materiais e humanas.
Considerando que esses eventos críticos são, na maioria das vezes,
fenômenos naturais, é necessário que sejam definidas medidas capazes
de proporcionar um convívio com seus efeitos e assegurar ainda que as
atividades humanas e mudanças no uso do solo não exacerbem esses
problemas.

A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (CCD),


conceitua desertificação como o processo de degradação do ambiente em
regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, em decorrência da ação
antrópica.

As áreas brasileiras enquadradas no conceito de desertificação assim


definido são aquelas inseridas no semi-árido nordestino, cuja extensão é
de aproximadamente 858.000 km2. Algumas regiões localizadas fora do
semi-árido, mas também inseridas no âmbito da aplicação da Convenção,
são aquelas que se encontram dentro do polígono das secas, este com
extensão estimada de 1.083.000 km2, incluindo municípios do norte de
Minas Gerais e Espírito Santo (SRH/IBAMA/MMA/, 2002).

As áreas com sinais extremos de degradação, os chamados “Núcleos de


Desertificação”, são Gilbués - PI, Irauçuba - CE, Seridó, confrontando
com os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, e Cabrobó - PE.
Outros processos semelhantes de degradação ambiental têm sido
identificados em Alegrete, no Rio Grande do Sul, no Paraná, São Paulo,
Rondônia e Tocantins, onde ocorrem fortes processos erosivos. São áreas
que apresentam grave deterioração ambiental, mas não estão
enquadradas no conceito da Convenção.
O semi-árido, em decorrência da baixa precipitação, apresenta um
ecossistema bem característico, onde o fenômeno das secas afeta a
quase totalidade da atividade agropecuária e, mais acentuadamente, as
pequenas e médias propriedades. A flora e a fauna, embora adaptadas à
região, sofrem sobremaneira com a ação antrópica, com sérias
repercussões sobre os recursos hídricos já escassos.

Além da dificuldade em recuperar a capacidade produtiva das


mencionadas áreas, demanda-se elevados investimentos. A conjunção
desses fatores leva as populações a um estado de extrema pobreza,
induzindo a um processo de migração na busca de condições mais
favoráveis de sobrevivência. Esse processo migratório, por sua vez,
agrava os problemas de infra-estrutura já instalados nos centros
urbanos.

No semi-árido vivem 18,5 milhões de pessoas, dos quais 8,6 milhões


estão na zona rural. É marcada pelo ruralismo tradicional, com pouco ou
nenhum acesso ao mercado, extrema dificuldade de absorção de novas
tecnologias, hábitos adquiridos, e com uma relação extremamente
paternalista com o Estado. Pode-se acrescentar que essa dinâmica gera
problemas de ordem estrutural com fortes reflexos ambientais.

A tendência de sobre-exploração dos recursos naturais nessa região é


decorrente da falta de oportunidades de renda e da limitação de acesso
ao mercado, com efeitos de médio prazo sobre a qualidade ambiental e
sobre as possibilidades de manter a população na região. Atualmente
sobressaem no sertão nordestino a policultura de subsistência, a pecuária
extensiva e alguns pólos de agricultura irrigada. Muitas áreas irrigadas
apresentam sinais de salinização, pela falta de investimentos em
sistemas de drenagem. Nos 600 mil hectares irrigados nessa região,
registram-se sinais de salinização e/ou compactação do solo, em
aproximadamente 30% da área.

Estudos indicam que o processo da desertificação na região semi-árida


vem comprometendo uma área de 181.000 km 2, decorrente de impactos
difusos e concentrados sobre o território. O Quadro 17 indica que a área
afetada de forma muito grave é de 98.595 km 2, que corresponde a 10%
da porção semi-árida, e 81.870 km2 de forma grave. As demais áreas
sujeitas à ação antrópica - 393.897 km2, sofrem degradação moderada
(Figura 11).

A destruição da biodiversidade vem provocando uma diminuição da


disponibilidade de recursos hídricos, pelo assoreamento de rios e
reservatórios e pela perda física e química de solos. Todos esses fatores
restringem o potencial biológico da terra, reduzindo a produtividade
agrícola e sacrificando as populações.

3.2.4 Águas Subterrâneas

Como já mencionado, a transformação demográfica ocorrida no Brasil


durante as últimas décadas engendrou um crescimento inusitado das
demandas de água nas cidades e a degradação da sua qualidade nos
rios. Nesse quadro, a água subterrânea é a alternativa mais barata,
principalmente para abastecimento do consumo humano, à medida que
apresenta boa qualidade natural e pode ser captada onde ocorrem as
demandas.

Quadro 17 - Áreas Afetadas pela Desertificação no Nordeste.


Estado Área total (km2) Área afetada em termos absolutos (km²)
. . Moderada Grave Muito Grave
Alagoas 27.731 6.256 - -
Bahia 561.026 258.452 10.163 -
Ceará 148.016 35.446 16.366 26.993
Paraíba 56.372 - 8.320 32.109
Pernambuco 98.307 - 28.356 22.883
Piauí 250.934 86.517 - 3.579
Rio Grande do Norte 53.015 5.154 18.665 8.337
Sergipe 21.994 2.071 - 4.692
TOTAL 1.217.395 393.896 81.870 98.595
Fonte: SRH/IBAMA/MMA, 2002.
Figura 11 - Desertificação: Áreas Afetadas (Fonte:MMA/
SRH/IBAMA, 2002).

No Brasil, estima-se que cerca de 200.000 poços estejam em operação,


porém, não havendo controle da extração e uso da água subterrânea -
tanto nos níveis federal quanto estaduais - fica difícil caracterizar sua
utilização. Conforme os dados do último censo sanitário, cerca de 61%
da população brasileira se auto-abastece com água subterrânea, sendo
43% por meio de poços tubulares, 12% por meio de fontes ou nascentes
e 6% por meio de poços escavados ou cacimbões (IBGE, 1991). Os
dados do censo de 2000 indicam que houve um incremento da ordem de
191% na oferta de água não tratada no período de 1989-2000, ou seja,
há indicação de aumento no uso da água subterrânea para
abastecimento.

A extração excessiva da água subterrânea de uma bacia hidrográfica está


engendrando o desaparecimento de nascentes ou fontes, secamento de
lagoas e pantanais, redução das descargas de base dos rios,
deslocamento da interface marinha e o aparecimento de problemas de
recalques diferenciais dos terrenos. Outra forma de impacto da extração
desordenada das águas subterrâneas de uma bacia hidrográfica, diz
respeito à redução da umidade dos solos, que dá suporte ao
desenvolvimento da cobertura vegetal natural ou cultivada.

Além do aumento descontrolado do uso de água subterrânea, a qualidade


natural está sendo afetada por: construção, operação e abandono
desordenado de poços; caóticas formas de ocupação dos solos; não
coleta ou deposição inadequada do lixo que se produz nas cidades,
principalmente a implantação desordenada de postos de serviço,
cemitérios, a instalação de tanques enterrados ou semi-enterrados de
produtos perigosos (Hirata et. al, 1997).

Contribui ainda a crescente industrialização e o desenvolvimento de


atividades agrícolas com uso intensivo de insumos químicos -
fertilizantes, herbicidas, pesticidas, principalmente - que contaminam o
solo e a água subterrânea. Entretanto, observa-se que são poucos os
laboratórios no Brasil com recursos materiais e humanos para determinar
esses micro-poluentes.

3.3 Respostas

As respostas às pressões devem ser entendidas como soluções e medidas


a serem tomadas para mudar o estado atual dos recursos hídricos do
Brasil.

As pressões exercidas pelos setores usuários, aliadas à compreensão dos


limites da escassez da água e da necessidade de uma gestão voltada à
mediação de interesses, evidencia a prática da gestão integrada dos
recursos hídricos. Essa gestão é viabilizada pela Lei nº 9.433/97, que
estabelece instrumentos da política e novos fóruns de debates para as
questões hídricas, com a participação da sociedade no planejamento no
âmbito da bacia hidrográfica.

3.3.1 Política Nacional de Recursos Hídricos

Conforme o item “Evolução Legal”, a Política Nacional de Recursos


Hídricos - Lei nº 9.433/97 - estabelece os instrumentos da Política e cria
o Sistema de Gerenciamento de Gestão. Assim, neste item, serão
apresentados os avanços com a implementação dos instrumentos e
criação de organismos de bacia.
3.3.1.1 Aspectos Legais e Institucionais

No Brasil, o gerenciamento de recursos hídricos está sendo desenvolvido


segundo três linhas referenciais básicas que abordam as questões
técnicas, o ordenamento jurídico e a organização institucional.

Ao lado das questões técnicas, a gestão dos recursos hídricos, em nível


federal, está embasada em sólidos fundamentos legais, quais sejam:
Código de Águas de 1934, Constituição Federal de 1988, Lei n° 9.427 de
1996 (Lei da ANEEL), Lei n° 9.433, de 1997 (Lei das Águas) e Lei 9.984
de 2000 (Lei da ANA).

A maioria dos estados dispõe de legislação que define a administração


das águas de seus domínios, observando-se que na Bacia Amazônica
ainda estão faltando legislações básicas (Figura 12). Identifica-se ainda
que oito unidades da federação optaram por elaborarem legislações
específicas para águas subterrâneas.

Na maior parte dos estados, a gestão de recursos hídricos está sendo


tratada por Secretarias de Meio Ambiente, de Planejamento ou Ciência e
Tecnologia, e três tratam deste assunto em uma instituição específica.

3.3.1.2 Instrumentos de Gestão

Planos de Recursos Hídricos

No que diz respeito ao Plano Nacional de Recursos Hídricos - PNRH, a


decisão governamental de promover sua elaboração, a partir de 2000,
nos termos recomendados pelo CNRH, representa marco fundamental da
política do governo federal para os recursos hídricos.

Nesse sentido, na 5a Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Recursos


Hídricos, em 15 de dezembro de 2000, foi aprovada a resolução que
estabelece diretrizes para elaborar o PNRH, que foi avaliada
anteriormente pela Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos
Hídricos.
Figura 12 - Situação Legal e Institucional Estadual.
Atualmente, encontram-se em discussão e formulação o Plano Nacional
de Recursos Hídricos, que prevê o estabelecimento de uma nova divisão
Hidrográfica Nacional, e a compatibilização dos Planos Setoriais.

Para tal, foi criado no âmbito da Câmara Técnica do PNRH um Grupo de


Trabalho para fomentar a sua elaboração e seu acompanhamento. O
Grupo apresentou até o momento os seguintes produtos:
- Definição da estrutura e do conteúdo do PNRH;
- Diagnóstico síntese dos recursos hídricos em todo o território
nacional;
- Início da etapa de aprofundamento dos diagnósticos dos recursos
hídricos;
- Início da elaboração do volume Visão Nacional do PNRH.

Além do Plano Nacional de Recursos Hídricos, a SRH elaborou, até o ano


2000, os planos de bacias de rios de domínio da União abaixo
relacionados.

Planos de Recursos Hídricos elaborados:


Afluentes do São Francisco em Pernambuco; afluentes do São Francisco
em Alagoas; afluentes do São Francisco no Sergipe; bacia hidrográfica do
rio Paracatu; bacia hidrográfica dos rios Jequitinhonha e Pardo; bacia
hidrográfica dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória; diagnóstico de
recursos hídricos em Santa Catarina; bacia hidrográfica dos rios Jacu e
Curimataú; e bacia hidrográfica do rio Grande do Norte.

Planos de Recursos Hídricos em elaboração:


bacia hidrográfica dos rios Piranhas e Açu; bacias hidrográficas do Leste;
bacia hidrográfica dos afluentes do São Francisco em Minas Gerais; bacia
hidrográfica do rio Paranaíba; bacia hidrográfica do rio Cuiabá; bacia
hidrográfica do Itapecuru; bacia hidrográfica dos rios Piauí e Canindé;
bacia hidrográfica do rio Descoberto; e bacia hidrográfica dos rios Ibicuí e
sistema Turvo.

Além dos planos mencionados anteriormente, foram elaborados diversos


planos de bacias de rios de domínio estaduais, principalmente, no âmbito
do PROÁGUA SEMI-ÁRIDO. Está em fase de elaboração o Plano Distrital e
sete Planos Estaduais de Recursos Hídricos (Figura 13).

 Enquadramento de Corpos de Água

No Brasil, o instrumento de enquadramento de corpos de água é


implementado há mais de 45 anos. Foram poucas as atividades
desenvolvidas para o enquadramento no nível federal, e somente seis
Figura 13 - Implementação dos Instrumentos da Política nos
Estados.
estados enquadraram seus corpos hídricos nos moldes de uma norma
estadual ou da Resolução CONAMA nº 20/86. Até agora, foram
enquadrados três rios de domínio federal: Paranapanema, Paraíba do Sul
e São Francisco. O rio São Francisco foi o único enquadrado baseando-se
na referida Resolução, sendo que os outros necessitam, portanto, ser
reenquadrados.

Observa-se que a implementação e a aplicação do instrumento são ainda


tecnocráticas, pouco participativas e não levam em conta os aspectos
econômicos. Entretanto, há estados que desenvolveram metodologias
avançadas e experiências que contam com a participação de Comitês de
Bacia Hidrográfica no processo decisório. São Paulo, Minas Gerais e Rio
Grande do Sul se destacam pela maior experiência na implementação do
enquadramento (Leeuwestein, 2000).

 Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos

De grande utilidade para a gestão de recursos hídricos foi a aprovação da


Resolução que estabelece os critérios gerais para a outorga de direito de
uso de recursos hídricos, pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos,
em 19 de abril de 2001.

No Brasil, doze estados e a União implantaram o instrumento de outorga,


sendo os mais avançados em São Paulo, Ceará, Bahia e União. Notamos
que mais de noventa por cento dos estados do nordeste, têm o sistema
de outorga funcionando (Figura 13).

Está em desenvolvimento e já em curso de implementação, a montagem


de um sistema de suporte à decisão, onde se trabalha com um banco de
dados integrado (União, estados e Distrito Federal) georreferenciado, e
um modelo de simulação dos usos acoplados a um sistema de gestão
participativa.

 Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos

O instrumento que provoca mais resistência na sua implementação é a


cobrança pelo uso de recursos hídricos, considerando-se as repercussões
que a mesma vem exercendo nos processos produtivos, bem como a
disposição dos usuários de pagar pelo uso da água. Isso fica evidenciado
pelo fato de que somente o Estado de Ceará está implementando a
cobrança, apesar do instrumento estar previsto em todas as leis
estaduais.
Entretanto, a compensação financeira pela utilização de recursos hídricos
para geração de energia elétrica é uma forma de cobrança já em vigor
(Lei n.º 9.984 de 17 de julho de 2000) e tem se constituído como fonte
de recursos. Parte desses recursos recolhidos é aplicada no
monitoramento hidrológico, na gestão de recursos hídricos e na
capacitação profissional na área.

Uma outra experiência é a do Comitê da Bacia do Paraíba do Sul, que


aprovou recentemente a proposta de uma metodologia para a fase inicial
da cobrança pelo uso de recursos hídricos na referida bacia, aprovada
pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (Resolução CNRH n.º
19/2002).

 Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos - SNIRH

Esse instrumento teve os trabalhos de sua implementação iniciados no


ano de 1998, pela Secretaria de Recursos Hídricos – SRH, do Ministério
do Meio Ambiente. Nesse início, foram considerados dois princípios
básicos: a coordenação unificada do sistema e a garantia de acesso aos
dados e informações a toda a sociedade. Dessa forma, procurou-se
desenvolver na Internet um sistema para divulgação de informações
relativas às outorgas de uso de recursos hídricos, concedidas pela SRH,
em rios de domínio da União, além de informações contidas nos diversos
Planos de Recursos Hídricos desenvolvidos pela SRH.

Já em 1999, os esforços se voltaram para a estruturação de uma base de


dados a ser alimentada, principalmente, por informações oriundas dos
órgãos estaduais gestores de recursos hídricos. Com isso, buscou-se a
premissa básica de descentralização da obtenção e produção de dados e
informações. Como resultado, no segundo semestre de 2000, foi
implementado um site na Internet (www.snirh.gov.br), no qual ficou
transparente toda a estrutura desenvolvida para o banco de dados,
embora, em algumas partes, ainda careça de informações.

Com a Lei nº 9.984, de 2000, a atribuição da implementação do SNIRH


ficou a cargo da Agência Nacional de Águas - ANA. Toda a estrutura
existente na SRH foi transferida para a ANA e, a partir de então, as
prioridades vêm sendo as seguintes: manutenção das informações do site
na Internet (www.ana.gov.br); incentivo ao desenvolvimento dos
Sistemas Estaduais de Informações sobre Recursos Hídricos; incremento
de outras formas de disseminação das informações do SNIRH; divulgação
dos dados oriundos da rede hidrometeorológica nacional.
Identifica-se que sete estados estão implementando o instrumento,
sendo que quatro destes não prevêem o instrumento na sua legislação
(Figura 13).

3.3.1.3 Sistema Nacional de Gerenciamento

 Conselho Nacional de Recursos Hídricos

Desde sua instalação, em junho de 1998, o Conselho Nacional de


Recursos Hídricos - CNRH já realizou seis reuniões ordinárias e seis
extraordinárias. Como principais produtos dessas reuniões, foram
aprovadas 21 resoluções (Quadro 18).

Entre as resoluções estão as que aprovam a criação de oito Câmaras


Técnicas Permanentes: Assuntos Legais e Institucionais; Plano Nacional
de Recursos Hídricos; Gestão de Recursos Hídricos Transfronteiriços;
Análises de Projetos; Águas Subterrâneas; Ciência e Tecnologia;
Integração de Procedimentos e Ações de Outorga e Regulação; e
Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos.

 Comitês de Bacias Hidrográficas

Os Comitês que foram aprovados pelo Conselho Nacional de Recursos


Hídricos, ou seja, Comitês de rios federais são: Paraíba do Sul; Muriaé;
Pomba - afluente do Paraíba do Sul; São Francisco; Piracicaba; Doce
(Figura 14). Somente os dois primeiros estão em funcionamento, sendo
que os outros estão em fase de estruturação.

No País foram instituídos 76 Comitês Estaduais de Bacias Hidrográficas


(Figura 15). Observe-se que doze estados prevêem o Comitê na sua
legislação, porém ainda não os implementaram.

Em dois estados - Bahia e Paraíba - a legislação não prevê Comitês.


Mesmo que a sociedade esteja se mobilizando para as suas criações,
esses dois estados terão problemas legais para implementá-los (Moreira,
2001).

No Brasil foram ainda instituídos 41 Consórcios Intermunicipais de Bacias


Hidrográficas, que são organizações civis importantes para articulação e
implementação de ações nas bacias hidrográficas.
Quadro 18 - Principais Resoluções do CNRH.
RESOLUÇÃO OBJETIVO
nº 05 Estabelece diretrizes para a formação e funcionamento de Comitês.
10/05/00
nº 12 Estabelece procedimentos para o enquadramento de corpos de água
19/07/00 em classes segundo os usos preponderantes.
nº 13 Estabelece diretrizes para a implementação do Sistema Nacional de
25/07/00 Informações sobre Recursos Hídricos.
nº 14 Estabelece procedimentos para indicação dos representantes dos
20/10/00 Conselhos Estaduais, Usuários e Organizações Civis de Recursos
Hídricos.
nº 15 Estabelece diretriz geral para a gestão das águas subterrâneas.
15/12/00
nº 16 Estabelece critérios gerais para a outorga de direito de uso de
29/05/01 recursos hídricos.
nº 17 Estabelece diretrizes para elaboração dos Planos de Recursos
29/05/01 Hídricos de Bacias Hidrográficas.
nº 19
14/03/02 (a ser Aprova o valor de cobrança pelo uso dos recursos hídricos da Bacia
publicada). Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.

 Agências de Água

Quanto às Agências de Água, a experiência nacional é ainda muito


pequena, sendo o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Itajaí, no estado
de Santa Catarina, o pioneiro na implantação deste organismo.

 Avaliação da implementação

Diante dos resultados mostrados, conclui-se que a maior parte dos


instrumentos de recursos hídricos está prevista nas leis estaduais, mas
que poucos estados estão promovendo ações para sua implementação.

Observa-se ainda que na região Nordeste predomina a implementação


dos instrumentos de gerenciamento, nas regiões Sul e Sudeste há o
predomínio de Comitês funcionando, onde a sociedade se envolve mais e
é mais participativa. Já nas outras duas regiões, temos somente a parte
legal (Moreira, 2001).

Nas regiões Norte e Centro-Oeste, incluindo o Maranhão e o Piauí, nota-


se que, com exceção do Piauí e Distrito Federal, estas são mais ricas em
água do Brasil. Nessas regiões, embora os estados possuam suas
legislações, o processo de implementação do gerenciamento está lento.
Figura 14 - Comitês Federais Aprovados pelo CNRH.
Figura 15 - Comitês Estaduais Instituídos.
A região Nordeste tem uma participação social distinta do resto do Brasil.
Os comitês implementados são poucos, no entanto já conta com vários
instrumentos em funcionamento. É a região que apresenta maiores
avanços na implementação dos instrumentos da Política.

Percebemos, então, um Brasil dividido em três partes, em termos da


implementação da Política de Recursos Hídricos.

3.3.2 Indicadores de Desempenho

O desenvolvimento sustentável é a base teórica e metodológica para a


elaboração dos indicadores ambientais.

A Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas - CDS,


em 1995, aprovou um programa de trabalho sobre indicadores de
desenvolvimento sustentável. Esse programa organizou uma lista de
indicadores em um quadro estruturado, segundo o modelo PER - Pressão,
Estado, Resposta. Entretanto, estabeleceu-se a livre escolha dos países
em usar, dentre os indicadores globais, aqueles relevantes para os
objetivos e as prioridades nacionais.

A exemplo de outros países, a construção de índices relativos ao


desempenho da gestão dos recursos hídricos no Brasil está sendo
apoiada no modelo PER.

Como experiência nacional, cita-se uma das etapas do Projeto


"Indicadores de Sustentabilidade para a Gestão dos Recursos Hídricos no
Brasil" (FGV, 2000), que apresenta uma visão geral da situação dos
recursos hídricos e os quadros com os indicadores por categorias de uso.

3.3.3 Governança

As políticas macroeconômicas e regionais adotadas e seus


desdobramentos nas diferentes bacias hidrográficas geram uma
importante interface entre as três esferas de poder. Particularmente, no
que diz respeito às águas de mananciais no Brasil, apenas os níveis
federal e estadual detêm domínio sobre esse recurso natural. Apesar
disso, é forçoso que se reconheça que o município exerce um importante
papel no contexto da tarefa da elaboração da política. Isto implica
afirmar que o desenvolvimento da capacidade de formulação de política
para recursos hídricos estimula a necessidade da cooperação técnica
entre os três níveis de poder, buscando a harmonia das ações dos
mesmos.
Nesse tema, de natureza estratégica, objetiva-se sediar a análise
criteriosa das possibilidades de integração da política de águas com a
gestão ambiental, evitando-se deseconomias e operando em favor do
bem estar social.

3.3.4 Reuso da água

No Brasil, o desafio é de se atender às demandas de água para o


consumo humano e para as atividades econômicas nas grandes regiões
metropolitanas, bem como para a região semi-árida do Nordeste, onde a
escassez de água é mais crítica.

Uma solução para aumentar a disponibilidade da água é o reuso da água.


Parte dos volumes de efluentes gerados representa valor econômico e
está sendo despejada, desconsiderando a possibilidade de seu
reaproveitamento, o que reduz os custos dos sistemas de tratamento.

Embora o reuso da água não seja uma prática difundida no Brasil, alguns
estados do Nordeste, por iniciativa de pesquisadores das universidades
locais, já promoveram estudos. Destaque-se, como exemplo, a aplicação
de efluentes urbanos, que recebem tratamento primário na região do
Seridó, no Rio Grande do Norte, para irrigação de capineiras nas
vizinhanças da área urbana (Guidolin, 2002).

Entretanto, no setor industrial a tecnologia de reuso está mas avançada,


principalmente pelo reconhecimento do retorno econômico, e como
exemplos de aplicações cita-se: usinas sucro-alcooleiras; de laticínios;
cervejeira e de refrigerantes; químicas; de celulose e papel.

3.3.5 Ações Setoriais

Este item apresenta as ações realizadas para minimizar os impactos


sobre os recursos hídricos pelas atividades antrópicas nos setores de
saneamento básico, produção agropecuária, energia hidrelétrica e
transporte hidroviário.

3.3.5.1 Saneamento Básico

Em 1995, foi institucionalizado o Sistema Nacional de Informações sobre


Saneamento da SEDU/PR, que representa um instrumento fundamental
para o conhecimento da prestação de serviços de saneamento no Brasil.
O referido Sistema está apoiado na implementação de um banco de
dados sobre saneamento ambiental e na utilização de indicadores de
desempenho.
Nesse contexto, merece destaque o Projeto Qualidade das Águas e
Controle da Poluição Hídrica (PQA) que tem por objetivos gerais apoiar
técnica e financeiramente a preparação de programas de investimento
destinados ao saneamento ambiental em bacias hidrográficas que
apresentem elevado nível de comprometimento, principalmente em áreas
de grande densidade urbana e intensa dinâmica produtiva. Foi uma
iniciativa de caráter inovador, pautada pela conjugação de esforços
simultâneos, na busca de equacionamento de intervenções físicas sob
perspectiva sistêmica, buscando equacionar os problemas com soluções
de menor custo e máximo benefício ambiental, e arranjos institucionais,
voltados à gestão ambiental compartilhada.

A proposta governamental estabelece como objetivo universalizar o


atendimento com serviços de abastecimento de água, esgotamento
sanitário, coleta e destinação final de resíduos sólidos urbanos, até o ano
2010, priorizando as áreas mais carentes, modernizando o setor e
definindo novo padrão de financiamento. Para tanto, adotou-se três eixos
estratégicos: modernização do setor; foco no atendimento à população
de baixa renda e no esgotamento sanitário; novo padrão de
financiamento do setor. Em decorrência dessa estratégia, programas e
projetos foram criados para implementar essa política.

Para alcançar a meta de universalização dos serviços de água e esgoto à


população urbana brasileira em 2010, considerou-se que seriam
necessários investimentos da ordem de R$ 44.237 bilhões (Quadro 19).

Quadro 19 - Investimentos necessários à universalização - 1999/2010 (R$ milhões).


Investimentos Água Coleta de Tratamento Reposição Total
Esgotos Esgotos
R$ bilhões 6,663 20,248 9,926 7,400 44,237
Fonte: SEPURB, 1998.

Com o advento da Lei nº 9.433/97 - Lei das Águas, ficou estabelecido um


espaço importante de atuação do setor de saneamento, de forma
integrada com os demais usuários de recursos hídricos, tendo a bacia
hidrográfica como unidade de planejamento e gerenciamento.

Atualmente, encontram-se em discussão na Câmara dos Deputados os


projetos de lei nº 2.763, de 2000 e 4.147/2001, do Executivo, que
instituem a Política Nacional de Água e Esgoto e diretrizes nacionais para
a prestação, a regulação e a fiscalização do serviço de água e esgoto
sanitário. A proposta governamental prevê a reestruturação do poder
público para o exercício das funções de regulação. Essa questão implica
duas outras que têm sido motivos de severas críticas em muitos setores:
a titularidade dos serviços e a privatização do setor, motivando inclusive
a proposição de um substitutivo ao projeto do Executivo.

A seguir, encontram-se informações sobre os principais programas do


governo no setor de saneamento.

 Programa Pró–Saneamento

Dentre os Programas implementados no eixo da redução das


desigualdades sócio-econômicas, destaca-se o Pró-Saneamento. Iniciado
em 1995, definiu-se como objetivos a promoção da melhoria das
condições de saúde e da qualidade de vida da população, e constituiu-se
no principal instrumento da política governamental para o setor.

Num primeiro momento, contemplou o abastecimento de água, o


esgotamento sanitário, o desenvolvimento institucional, a drenagem
urbana e o PROSANEAR - Saneamento Integrado. Posteriormente, em
1997, foram incluídos os componentes resíduos sólidos (disposição final)
e estudos e projetos.

Dentre os critérios estabelecidos, merecem destaque algumas das


exigências para o acesso aos recursos:
1. atendimento às populações carentes, com elevado índice de
mortalidade infantil ou que estejam sujeitas a doenças endêmicas
de veiculação hídrica;
2. assistência a populações residentes em áreas sujeitas a fatores de
degradação ambiental ou de risco;
3. menores índices de cobertura de água e esgoto no município.

Conforme o Quadro 20, o volume dos recursos financeiros envolvidos foi


da ordem de R$ 3,60 bilhões, sendo R$ 2,66 bilhões empréstimo do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviços FGTS-95/98 e contrapartida de
estados e prestadores de serviços. Pela abrangência de sua cobertura
social, aproximadamente 3.7 milhões de famílias foram beneficiadas, e
713 mil empregos gerados. Os recursos, até outubro de 1998, foram
oriundos do FGTS e do aporte dos estados, Distrito Federal, municípios e
prestadoras de serviços.

Dentre os Programas que têm como eixo combater as desigualdades


socioeconômicas, incluem-se, ainda, o PASS/OGU e o PROSEGE, que
visavam universalizar a oferta de água de boa qualidade e saneamento.

Quadro 20 - Empréstimos Contratados, Investimentos, Famílias Beneficiadas e


Empregos Gerados (1995 a outubro de 1998).
REGIÃO Empréstimo Investimentos Famílias Empregos
(R$) (R$)
Norte 104.034.909 135.179.819 200.716 27 183
Nordeste 591.423.205 799.090.225 761.283 157 732
Sudeste 1.238.857.579 1.660.840.821 1.726.586 326 416
Sul 508 287 889 744.225.239 778.478 148 893
Centro-oeste 214 558 954 263.736.351 256.896 52 807

BRASIL 2.657.162.536 3.603.072.455 3.723.960 713 031

Fonte: DESAN/SEPURB.

 PASS/OGU

O PASS/OGU foi instituído visando a universalização dos serviços de


suprimento de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos, apenas
nas áreas de maior concentração de pobreza das grandes cidades e dos
municípios de pequeno e médio porte. Vem atendendo especialmente os
municípios selecionados pelos Programas Comunidade Solidária e
Redução de Mortalidade na Infância.

O PASS/OGU também contempla ações de apoio ao desenvolvimento


comunitário, atuando na mobilização, capacitação profissional e educação
sanitária, fortalecendo as instituições locais na implementação e
sustentação dos sistemas de saneamento. Os resultados obtidos podem
ser avaliados pelo Quadro 21.

Quadro 21 - Recursos do OGU Autorizados e Contratados do


PASS/OGU*.
Item 1996 1997 1998 1996 a
out/1998
Total de investimento (R$ milhões) 264,1 484,8 183,5 932,4
Recursos liberados (R$ milhões) 218,2 255,7 17,4 491,3
Famílias beneficiadas 492 123 936 276 338 919 1 767 318
Empregos gerados 52 218 99 877 29 528 181 623
Fonte: SEPURB/MPO (1999).
*Exclusive obras canceladas.

 PROSEGE

O PROSEGE apresentou como objetivo executar obras de esgotamento


sanitário e gerar empregos para melhorar a qualidade de vida da
população de baixa renda. Poderiam ter acesso aos recursos as
companhias estaduais de saneamento básico, prefeituras e serviços
autônomos municipais. Os objetivos e metas estabelecidos são
apresentados no Quadro 22.
Quadro 22 - Objetivo e Metas do PROSEGE.
Objetivos Metas
Melhoria das condições de vida da Implantar 275 mil ligações, beneficiando
população de baixa renda 1,55 milhão de pessoas.
Geração de empregos Gerar 67 800 empregos, dos quais:
- 45 mil empregos diretos no setor de
construção civil;
- 15 mil empregos indiretos nos setores de
produção de insumos e respectivos sistemas
de administração; e,
- 7 800 empregos permanentes, diretos e
indiretos, nos serviços de operação e
manutenção das obras realizadas com
recursos do programa.
Recuperação gradual do setor de Desenvolvimento institucional
saneamento Recuperação tarifária
Fonte: MPO/SEPURB/PROSEGE.

O Programa foi instituído pelo Ministério de Ação Social e depois


Ministério de Bem Estar Social - MBES, em 1990, como parte do Plano de
Ação Imediata de Saneamento - PAIS Brasil. Em 1995, incorporou-se à
Secretaria de Políticas Urbanas - SEPURB.
O PROSEGE utiliza recursos financeiros originados do BID - Banco
Interamericano de Desenvolvimento - principal financiador - e dos
agentes promotores - Prefeituras Municipais e serviços autônomos,
Companhias Estaduais - e União.

O Quadro 23 indica que o objetivo de melhorar a qualidade de vida das


populações de baixa renda foi alcançado e que para ligações domiciliares
e rede de esgotos as metas físicas foram extrapoladas.

 Projeto de Modernização do Setor de Saneamento - PMSS

O PMSS surgiu em decorrência da crise pela qual passava o setor de


saneamento no início da década de 90. Este projeto foi instituído em
1991 e teve duas etapas: a primeira, desenvolvida de 1993 a 1994,
quando foram elaborados dez trabalhos da série denominada
“Modernização do Setor de Saneamento”, os quais forneceram os
elementos básicos para a formulação da Política Nacional de Saneamento
a partir de 1995; e a segunda, em implementação, corresponde à
continuidade da aplicação das idéias expressas naqueles documentos.

Quadro 23 - Metas Físicas do PROSEGE.


Metas Físicas Unidade de Previstas Realizadas Percentual de
Medida Inicialmente até Realização
(A) 31/12/97 (A/B)
Ligações Unidade 275.000 485.644 176%
domiciliares
Redes de Km 5.000 5.831 116%
esgoto
População Habitante 1.550.000 2.929.969 189%
beneficiada
Fonte: MPO/SEPURB/PROSEGE

As ações desenvolvidas envolviam os componentes institucionais e de


investimento.

O institucional priorizava a reestruturação do setor, promovendo a


criação de novo modelo de regulação, novos instrumentos institucionais,
a preparação de projeto de gerenciamento de demanda por serviços de
saneamento e reabilitação dos sistemas existentes.

O componente de investimentos destinava-se a aumentar a eficiência das


companhias de saneamento mediante o cumprimento dos seguintes
objetivos específicos:
fortalecer a capacidade institucional;

- promover a auto-suficiência financeira, a autonomia empresarial e


atuar em bases comerciais; e,
- melhorar as condições ambientais e de saúde das áreas urbanas,
por meio da expansão de abastecimento de água e esgotamento
sanitário.

As companhias de saneamento contempladas por esse programa


(CASAN/SC, EMBASA/BA e SANESUL/MS) contaram com recursos entre
1993 e 1998, de US$ 486 milhões, provenientes do BIRD e
contrapartidas dos Estados.

3.3.5.2 Irrigação

Para promover a irrigação sustentável, identifica-se como resposta


emergente a conversão de sistemas de irrigação - que atualmente se
apresentam de baixa eficiência - para métodos adaptados a cultivos de
maior retorno e apropriados ao uso racional de energia e água
(Christofidis, 2002).

No caso brasileiro, as atividades imediatas com maior possibilidade de


sucesso são:
- Implementação de uma política de irrigação, incorporando-se a gestão
integrada e participativa para garantir a sustentabilidade e o uso
eficiente da água;
- Conversão de áreas atualmente irrigadas por métodos e sistemas on-
farm mais apropriados. Como exemplo cita-se a fruticultura irrigada
na região Nordeste, onde se estima um incremento do uso da área, ou
seja, de 500 mil para 820 mil hectares, com a mesma quantidade de
água atualmente utilizada;
- Expansão da produção agrícola irrigada com a melhoria de eficiência
de condução, distribuição e aplicação de água em sistemas off-farm
existentes, que permitem um aumento da área atual irrigada em 25%.

O Zoneamento Agroclimático voltado ao melhor aproveitamento das


chuvas, sob a orientação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
- Embrapa, é uma importante contribuição para a otimização da irrigação
natural. Merece ainda menção o esforço dos empresários e de centros de
pesquisa para aprimorar a técnica do plantio direto - uma eficaz
tecnologia de apoio à proteção e conservação do solo.

Entretanto, faltam informações sobre os impactos ambientais causados


pelo uso de agrotóxicos nas bacias hidrográficas brasileiras e necessitam-
se investimentos para estudos e diagnósticos ambientais. Devem ser
implantados programas de monitoramento, visando localizar as
ocorrências de impactos ambientais pelos agrotóxicos, de forma a
permitir a definição de projetos de pesquisa e medidas de conservação, e
redução dos impactos negativos.

Identifica-se ainda a necessidade de treinamento de técnicos e


produtores em tecnologia de aplicação de agrotóxicos e de uso eficaz dos
recursos hídricos, visando orientar seu uso correto no controle de
doenças e pragas nas culturas em todo o País.

3.3.5.3 Energia Hidrelétrica

A Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE) criou, em 22 de


junho de 2001, o Comitê de Revitalização do Modelo do Setor Elétrico,
cuja missão é encaminhar propostas que corrijam as disfunções
existentes e aperfeiçoem o modelo do setor.

Para evitar a repetição de problemas no suprimento de energia elétrica


nos anos posteriores a 2003, a GCE concluiu ser indispensável:
a) Continuar as obras que estão no programa estrutural;
b) Concluir, aprovar e implementar as medidas propostas pelo Comitê
de Revitalização, com as sugestões e aperfeiçoamentos que surjam
em sua discussão pública e com o Congresso Nacional;
c) Concluir a reinstitucionalização do setor, em especial a
reestruturação do Ministério das Minas e Energia.
O Programa Estratégico de Aumento da Oferta de Energia Elétrica,
elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, compreende o período
2001 - 2004. Prevêem-se investimentos da ordem de R$ 43 bilhões,
sendo que a maior parte desses recursos - R$ 34 bilhões - será bancada
pela iniciativa privada, para o atendimento da matriz energética,
conforme Quadro 24.

Quadro 24 - Previsão da Matriz Energética.

Fonte: www.energiabrasil.gov.br

Considerando que o parque nacional tem predominância de geração de


energia hidrelétrica, as circunstâncias trazidas pela Política Nacional de
Recursos Hídricos para esse setor exigem organização, flexibilidade e
capacidade de adequações necessárias pela garantia da qualidade e
segurança de obras, que não podem admitir risco quanto à sua
integridade, como é o caso das obras de barramento de um rio.
Considerando que o parque nacional tem predominância de geração de
energia hidrelétrica, as circunstâncias trazidas pela Política Nacional de
Recursos Hídricos para esse setor exigem organização, flexibilidade e
capacidade de adequações necessárias pela garantia da qualidade e
segurança de obras, que não podem admitir risco quanto à sua
integridade, como é o caso das obras de barramento de um rio.

Além disso, é necessária uma diversificação da matriz energética. Para


incentivar o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, foi
aprovada a Lei n.º 10.438, de 26 de abril de 2002, que dispõe sobre a
expansão da oferta de energia elétrica emergencial, recomposição da
tarifária extraordinária, cria o Programa de Incentivo às Fontes
Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), a Conta de Desenvolvimento
Energético (CDE), e dispõe sobre a universalização do serviço público de
energia elétrica.

O PROINFA tem como objetivo aumentar a participação da energia


elétrica produzida por empreendimentos de Produtores Independentes
Autônomos, concebidos com base em fontes eólica, pequenas centrais
hidrelétricas e biomassa, no Sistema Elétrico Interligado Nacional.

Definiu-se que o desenvolvimento do Programa será realizado de forma


que essas fontes alternativas de energia atendam a 10% do consumo
anual de energia elétrica no País, objetivo a ser alcançado em até 20
anos.

Independentemente da homologação dessa Lei, observa-se que no Brasil


houve uma alta taxa de expansão da energia eólica e solar (Quadro 25).

Quadro 25 - Tendências globais no consumo de energia (1990 -2000).


Fonte Solar Gás
(%) Eólica Fotovoltaica natural Petróleo Nuclear Carvão
Crescimento anual 25,1 20,1 1,6 1,2 0,6 -1,0
Fonte: ANEEL, Seminário Internacional de Estratégias e Regulação de Serviços Públicos,
Porto Alegre, 2001.

Uma proposta do governo brasileiro, intitulada “Iniciativa brasileira de


energia”, estabelece que até 2010 todas as nações deverão ter 10% de
sua geração de energia proveniente de fontes renováveis. Essa resposta
já recebeu apoio dos países da União Européia, da América Latina e
Caribe, e será levada à Conferência em Joannesburgo.

3.3.5.4 Transporte Hidroviário

As informações referentes ao Planejamento Hidroviário foram obtidas


junto ao Departamento de Hidrovias Interiores - DHI do Ministério dos
Transportes, que é o órgão responsável pela política, implementação e
manutenção da rede hidroviária no Brasil (Vieira, 2002).

No Planejamento são considerados os prazos de execução das obras e as


prioridades são definidas considerando a resposta com que os
empreendimentos possam atender aos anseios da comunidade e dos
usuários, e sua inserção no contexto geral da economia do País.

As obras e serviços de manutenção são agrupados por bacia hidrográfica,


atendendo também à organização administrativa do DHI. Identificam-se
sete Administrações das Hidrovias: Amazônia Ocidental; Amazônia
Oriental; Hidrovias do Nordeste; São Francisco; Paraná; Paraguai; e
Hidrovias do Sul.

No Planejamento Hidroviário são identificadas metas e atividades de


médio e longo prazos, incluindo:
- serviços de manutenção (desobstrução de furos e igarapés;
dragagem; serviços de sinalização e balizamento);
- canalização de rios interligando trechos navegáveis e bacias
hidrográficas;
- construção de barragens.

É um dos objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos a utilização


racional e integrada da água, incluindo o transporte aquaviário, com
vistas ao desenvolvimento sustentável. Para isso, o planejamento
hidroviário deverá considerar os planos de recursos hídricos, os quais
estabelecem metas qualitativas e quantitativas por trecho de corpo
hídrico, garantindo o nível adequado para navegação, bem como padrões
de qualidade, por meio do enquadramento de corpos de água.

3.3.6 Eventos Críticos

Os efeitos causados pelos eventos críticos convertem-se com medidas


normativas e legais, zoneamento de áreas inundáveis e um adequado
planejamento de uso e ocupação do solo em bacias hidrográficas (Rocha,
2002).

Nesse sentido, estão sendo realizadas atividades, no nível federal,


voltadas à formulação e implantação de uma Política Nacional de
Combate à Desertificação - PNCD, bem como à execução de obras de
infra-estrutura, principalmente no que se refere à construção de
adutoras, cisternas, dessalinizadores de água subterrânea e barragens
subterrâneas.

Destacam-se, como ações estaduais específicas, programas de educação


ambiental voltados à recuperação dos solos e à saúde pública. As
organizações não governamentais têm apresentado soluções oriundas da
própria cultura local, destacando-se, entre outros, o programa “Um
milhão de cisternas”.

3.3.7 Águas Subterrâneas

A Lei nº 9.433/97, embora fale de gestão integrada da bacia hidrográfica,


não trata do uso e conservação das águas subterrâneas. Entretanto, a
questão tem sido tratada pela criação da Câmara Técnica Permanente de
Águas Subterrâneas do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, e pela
aprovação da Resolução CNRH nº 15, de 12 de janeiro de 2000, que
estabelece a diretriz geral para gestão das águas subterrâneas. De forma
a definir os dados e informações necessárias ao gerenciamento
integrado, a serem produzidos pelos Planos de Recursos Hídricos, foi
aprovada a Resolução CNRH nº 22, de 24 de maio de 2002.

De acordo com a estratégia adotada, o uso e proteção da água


subterrânea deverão ser implementados efetivamente nas políticas de
recursos hídricos, por meio da legislação ambiental e dos diversos
instrumentos de política específicos, particularmente o de outorga e
cobrança pelo uso de água.

É ainda de fundamental importância realizar estudos básicos nos


diferentes contextos hidrogeológicos, em escalas compatíveis com as
complexidades e magnitudes dos problemas a solucionar, desenvolver
monitoramento e constituir bancos de dados, os quais devem ser
alimentados de forma permanente (Rebouças, 2002).

Assim, o uso integrado das águas superficiais e subterrâneas numa bacia


hidrográfica, implica no desenvolvimento de uma gestão ambiental
sustentável.

 O Projeto Aqüífero Guarani

O Aqüífero Guarani é um dos principais mananciais de água doce


subterrânea transfronteiriços do mundo, estendendo-se desde à Bacia
Sedimentar do Paraná – Brasil, Paraguai e Uruguai - até a Bacia do
Chaco – Paraná, na Argentina (Figura 16).
Figura 16 - Mapa Esquemático do Sistema Aqüífero Guarani.
O Aqüífero está localizado no centro-leste da América do Sul, entre 12º e
35º de latitude Sul e entre 47º e 65º de longitude Oeste. A espessura
das camadas varia de 50 a 800 metros em profundidades que podem
atingir 1800 metros. Dado o gradiente geotérmico, suas águas podem
atingir temperaturas elevadas, em geral de 50ºC a 85ºC.

De forma a apoiar os países na elaboração de um marco de gestão


coordenado para o sistema aqüífero Guarani, foi preparado o Projeto de
Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero
Guarani, com recursos do Global Environment Facility - GEF e
contrapartidas dos países e organismos internacionais participantes -
Banco Mundial e Organização dos Estados Americanos - OEA (Amore,
2001).

Na fase de execução, o projeto prevê a aplicação de recursos de US$


26,760 milhões, sendo US$ 13,400 milhões provenientes de doação GEF,
US$11,992 milhões de contrapartidas não financeiras e aportes
financeiros dos países, mais US$1,368 milhão de recursos de outras
agências (Agência Internacional de Energia Atômica, Programa do Banco
Mundial junto ao Governo do Reino dos Países Baixos, Serviço Geológico
do Governo da Alemanha – BGR e OEA).

O Projeto foi aprovado, e sua execução deverá impulsionar decisivamente


a gestão dos recursos hídricos de forma sistêmica, no contexto do ciclo
hidrológico, e integrada junto aos diversos atores envolvidos, para o
gerenciamento das águas e dos recursos nos aqüíferos no Brasil e os
países integrantes.

Dentre os componentes do projeto, destacam-se o desenvolvimento do


conhecimento hidrogeológico básico, dos aspectos legais e institucionais,
e da participação dos atores envolvidos no gerenciamento dos recursos
do aqüífero.

Para a sua implementação, o projeto conta com uma estrutura


organizacional que contempla um Conselho Superior de Direção do
Projeto - CSDP, envolvendo representantes dos países, um colegiado de
coordenadores nacionais e um secretário-geral que estará sediado em
Montevidéu, Uruguai.

Nos países, a coordenação é realizada por Unidades Nacionais de


Execução do Projeto, e no caso do Brasil por Unidades Estaduais, nos oito
estados envolvidos (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo). A
implementação do projeto no Brasil está sob a responsabilidade da
Agência Nacional de Águas - ANA.

3.3.8 Monitoramento dos Recursos Hídricos

Para o gerenciamento dos recursos hídricos, bem como para o


desenvolvimento de projetos e pesquisas no campo da hidrologia e dos
recursos hídricos, são de fundamental importância o conhecimento dos
regimes dos rios e suas sazonalidades, os regimes pluviométricos das
diversas regiões hidrográficas, e mais uma série de informações do ciclo
hidrológico.
Portanto, deve ser dada ênfase ao levantamento de informações
hidrológicas básicas, num trabalho permanente de coleta e interpretação
de dados, cuja confiabilidade torna-se maior à medida que suas séries
históricas são mais extensas.

A rede de coleta de dados hidrológicos no país, está atualmente sob a


gerência da Agência Nacional de Águas - ANA/MMA, é operada, em sua
maioria, pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM
(Serviço Geológico do Brasil) ou em convênio com entidades estaduais
com competência na área.

Segundo o cadastro de estações fluviométricas e pluviométricas da ANA,


existem cerca de 7.681 estações pluviométricas e 3.429 fluviométricas. A
rede hidrométrica, sob a administração da Agência, é composta em
quase sua totalidade de estações que coletam informações de interesse
geral, sendo 2.237 pluviométricas e 1.567 fluviométricas, o que
representa, em média, mais de 34% das estações hidrométricas em
operação, restando ainda próximo de 20% das estações que coletam
dados para outros fins, como agricultura, transporte, alerta hidrológico
etc. (ANEEL, 1999).

As séries históricas de dados hidrológicos coletados já se encontram


analisadas e consistidas até o ano de 1999. Essas informações se
encontram disponíveis, via Internet, no banco de dados da Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, que até há pouco tempo gerenciava
a rede e da ANA. Também estão em fase de conclusão, em todo o
território brasileiro, estudos de regionalização hidrológica, vindo a se
constituir em uma ferramenta importante para inferência de dados para
regiões com carência ou inexistência de dados. A rede de qualidade da
água totaliza cerca de 5% das estações fluviométricas, e no período de
1986 a 1995, foram analisados dezesseis parâmetros para a rede
nacional, mas atualmente são analisados somente quatro parâmetros.
Cabe uma exceção para os pontos de coleta dos rios principais que
drenam para Bacia do Prata, em que de conformidade com o estabelecido
em acordos no âmbito do Tratado da Bacia do Prata, deverão ser
analisados dezesseis parâmetros para estes pontos pré-definidos, e
relatórios trimestrais são enviados pelos canais diplomáticos aos países
signatários do Tratado.

Experiências com a obtenção de dados com transmissão via satélite


foram tão significativas que, pelo convênio entre o extinto DNAEE, hoje
ANEEL, e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, foram
adquiridas, em 1995, 200 Plataformas de Coleta de Dados (PCD’s) com
sensores hidrometeorológicos e transmissores nas freqüências do
primeiro Satélite de Coleta de Dados Brasileiro-SCD1 e ARGOS.

A rede mundial de computadores constitui-se num instrumento


indispensável à base técnica, e os dados oriundos da Rede
Hidrometeorológica encontram-se disponíveis no Sistema de Informações
sobre Recursos Hídricos (www.aneel.gov.br e www.ana.gov.br)

3.3.9 Principais Programas e Projetos

3.3.9.1 Avança Brasil

 Projetos Nossos Rios: Araguaia Tocantins, Paraíba do Sul, São


Francisco

Esses projetos objetivam aplicar um modelo piloto de gestão integrada,


que permita a melhoria da oferta de água em quantidade e qualidade, e
o uso múltiplo dos recursos hídricos.

Estão previstas as seguintes ações: elaboração de plano diretor das


bacias; campanhas de mobilização; implementação de sistemas
preventivos para eventos críticos; recuperação e preservação de
nascentes e mananciais; instituição de comitês e de agências da bacia; e
recuperação da qualidade ambiental.

 PROÁGUA - Semi-Árido

As ações desenvolvidas no âmbito do PROÁGUA - Semi-Árido constituem


um programa estruturante, com ênfase no fortalecimento institucional de
todos os atores relevantes envolvidos com a gestão de recursos hídricos,
tanto nas bacias das águas de domínio da União, quanto nas bacias das
águas de domínio dos Estados.
Inicialmente, sob a responsabilidade da SRH, e atualmente pela ANA,
este programa tem como objetivo geral garantir a ampliação da oferta de
água de boa qualidade para o Semi-árido brasileiro, com promoção do
uso racional desse recurso, de tal modo que sua escassez relativa não
continue a constituir impedimento ao desenvolvimento sustentável da
região.

Esse programa abrange toda a região Nordeste e o Estado de Minas


Gerais, onde, em sua primeira etapa, deverá beneficiar uma população
de aproximadamente 1.300.000 pessoas, equivalente a 260.000 famílias,
e tem como metas de ações prioritárias: desenvolvimento institucional;
bases técnicas para gestão de recursos hídricos; estudos e projetos para
o planejamento de recursos hídricos, em especial a gestão da bacia do rio
São Francisco; e preparação para o Programa Proágua Nacional.

3.3.9.2 Proágua Nacional

O objetivo do programa é subsidiar a formulação permanente, a


implementação e o aprimoramento contínuo da Política Nacional de
Recursos Hídricos.

Prevêem-se as seguintes ações: disciplinação do uso dos rios para


atender a demanda atual e reservar e proteger os recursos necessários
para as gerações futuras; racionalização do uso da água, propiciando seu
uso eficiente com redução de perdas e desperdícios; proteção,
recuperação e manutenção da qualidade de mananciais de superfície e
subterrâneos; implementar investimentos que tenham prioridade nos
planos de bacias hidrográficas; contribuição para a disseminação de
conhecimento no campo da educação ambiental.

3.3.9.3 Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água - PNCDA

O PNCDA tem como principal meta o gerenciamento da demanda da


água, objetivando definir tarifas justas e acessíveis a toda a população,
com valores de custos efetivos capazes de viabilizar recursos financeiros
necessários à elevação da cobertura dos serviços.

O resultado principal alcançado pelo PNCDA foi a elaboração de 16


Documentos Técnicos de Apoio (DTAs), versando sobre:
- planejamento das ações de combate ao desperdício de água;
- tecnologias dos sistemas públicos de abastecimento;
- tecnologia dos sistemas prediais de água e esgoto.
3.3.9.4 Projeto Qualidade das Águas e Controle da Poluição Hídrica - PQA

O PQA destacou-se por apoiar técnica e financeiramente a elaboração de


Programas de Investimento para as bacias hidrográficas com alto
comprometimento ambiental em áreas densamente povoadas. O Projeto
dispôs de componentes nacional e estadual.

O componente nacional objetivou a realização de convênios firmados pelo


Ministério do Planejamento e Orçamento e Estados, beneficiando as
seguintes bacias hidrográficas:
- bacias hidrográficas dos rios Capibaribe, Beberibe, Jaboatão e
Ipojuca, em Pernambuco;
- bacias hidrográficas do Paraíba do Sul, nos estados de Minas
Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo;
- bacias hidrográficas do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no estado de
São Paulo;
- bacias hidrográficas dos rios Paraguaçu e Subaé, na Bahia.

O componente estadual objetivou a execução de programas estaduais


celebrados com o Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento - BIRD, dos quais destacam-se os Programas de
Saneamento Ambiental das bacias hidrográficas do Guarapiranga e do
Alto Iguaçu, em São Paulo, e bacias dos Ribeirões Arruda e Onça, na
região metropolitana de Belo Horizonte.

3.3.9.5 Programa de Despoluição de Bacias Hidrográficas

Recentemente, foi lançado pela Agência Nacional de Águas - ANA, o


Programa de Despoluição de Bacias Hidrográficas que pretende incentivar
a implementação de sistemas de tratamento de efluentes e o aumento da
eficiência dos existentes, bem como outras iniciativas para melhoria da
qualidade das águas, mediante a retribuição financeira diretamente ao
prestador do serviço, em função dos volumes tratados e da qualidade do
lançamento final.

3.3.9.6 Programa Nacional de Meio Ambiente II - PNMA II

O PNMA II, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, é objeto do


acordo de empréstimo entre o Governo Brasileiro e o BIRD.

O Programa está estruturado em dois componentes: Desenvolvimento


Institucional, e Gestão Integrada de Ativos Ambientais. Para ambos,
estão destinados recursos que, entre outras ações, deverão financiar
iniciativas nos estados e no Distrito Federal, que busquem a melhoria de
três instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, considerados
estratégicos: o Sistema de Licenciamento Ambiental, o Sistema de
Monitoramento de Qualidade da Água e o Ordenamento Territorial da
Zona Costeira. Além desses, outros projetos de gestão integrada do meio
ambiente deverão ser financiados pelo Programa.

3.3.9.7 Programa Pantanal

O Ministério do Meio Ambiente, por intermédio da Secretaria de


Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos, coordena o Programa
de Desenvolvimento Sustentável do Pantanal - Programa Pantanal.

O objetivo geral do Programa é promover o desenvolvimento sustentável


da Bacia do Alto Paraguai - BAP, por meio do gerenciamento e da
conservação de seus recursos naturais, incentivando atividades
econômicas ambientalmente compatíveis com os ecossistemas, e
provendo melhores condições de vida à população da região.
O tempo da implementação do Programa está previsto para oito anos e
seu desenvolvimento ocorrerá em duas fases de quatro anos. Os recursos
previstos são de U$ 400 milhões.

A “Agenda Azul” do Programa dispõe dos Componentes: Gestão e


Conservação de Recursos Hídricos e Gestão de Solos e Agrotóxicos. O
primeiro Componente tem como objetivo promover a melhoria da
qualidade e disponibilidade de águas subterrâneas e de superfície, a
partir do desenvolvimento de modelos de gestão de recursos hídricos,
com a finalidade de implementar a outorga, o monitoramento, o sistema
estadual de informação, o ordenamento da gestão e a fiscalização.

O Componente de Gestão de Solos e Agrotóxicos tem como objetivo


reduzir a sedimentação por assoreamento e a contaminação por
agrotóxicos, das sub-bacias críticas.

Atualmente, estão sendo implementadas ações de fortalecimento


institucional e de capacitação, bem como um programa estruturante para
integrar as instituições que atuam na gestão de recursos hídricos na BAP.

3.3.9.8 Conservação e Revitalização da Bacia Hidrográfica do rio São


Francisco

No dia 5 de junho de 2001, o Presidente da República assinou decreto


criando o “Projeto de Conservação e Revitalização da Bacia Hidrográfica
do rio São Francisco”, constituído de ações concebidas e executadas, de
forma participativa e integrada, pelos governos federal, estadual, do
Distrito Federal e municipal, e pela sociedade civil organizada.
As atividades serão executadas no âmbito dos seguintes projetos: Brasil
Joga Limpo - SQA/MMA; Nossos Rios: São Francisco - ANA;
Desmatamentos e Queimadas - IBAMA; e Proágua Semi-árido - ANA.

3.3.9.9 Gestão Integrada das Bacias Hidrográficas do Alto Paraguai e do


São Francisco

O Projeto GEF Alto Paraguai - Pantanal e o Programa de Gerenciamento


Integrado das Atividades Desenvolvidas em Terra na Bacia do Rio São
Francisco - ANA/GEF/PNUMA/OEA foram iniciados na Secretaria de
Recursos Hídricos e transferidos para Agência Nacional de Águas, após a
sua criação.

O projeto GEF Alto Paraguai-Pantanal vai definir um plano de


investimentos para o Pantanal brasileiro. Um dos objetivos do projeto é
a adequação do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Alto
Paraguai-Pantanal aos moldes da Lei nº 9.433/97, com a participação
igualitária de integrantes da sociedade civil e das três esferas de governo
(www.ana.gov.br).

Também estão entre as metas do projeto a implantação do sistema de


informações de recursos hídricos na região, o financiamento de estudos
sobre a navegação do rio Paraguai e a escolha de um sistema de
previsão de cheias.

O Programa de Gerenciamento Integrado das Atividades Desenvolvidas


em Terra na Bacia do Rio São Francisco tem como objetivo desenvolver
um Programa de Gerenciamento Integrado (PGI) dessa bacia. Isso será
efetuado por meio de planejamento e estudos de viabilidade,
incorporando os problemas ambientais e terrestres nas políticas, planos e
programas de desenvolvimento para a proteção da bacia e de sua zona
costeira, apresentando propostas para a implementação desse PGI.

3.3.10 Metas Orientadoras e Propostas Indicativas Regionais

A Sétima Reunião do Comitê Intersessional do Foro de Ministros de Meio


Ambiente de América Latina foi realizada em 15 a 17 de maio de 2002, e
teve como objetivo, entre outros, examinar, discutir e aprovar o
documento “Iniciativa Latino-americana e Caribenha para o
Desenvolvimento Sustentável”. A reunião contou com a participação de
delegados de 21 países da região, representantes de organizações
internacionais, regionais e sub-regionais e organizações não
governamentais.
Essa iniciativa justificou-se pela necessidade de dar sentido prático à
Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável -
Rio + 10, dando seguimento ao processo negociador regional que
culminou na Plataforma de Ação aprovada no Rio de Janeiro, em outubro
de 2001. Deve ainda permitir a adoção de ações concretas voltadas ao
desenvolvimento sustentável, com a cooperação de países desenvolvidos,
organizações multilaterais e regionais e instituições de financiamento, e
com o fortalecimento da cooperação Sul-Sul.

O documento incorpora elementos da Plataforma Regional, da Declaração


de Milênio e de outros acordos mundiais, regionais sub-regionais, e
sinaliza as expectativas, apresentando uma posição única da região para
Rio + 10.
A Iniciativa estabelece metas orientadoras e propostas indicativas para
as áreas: diversidade biológica; gestão de recursos hídricos;
vulnerabilidade e cidades sustentáveis; aspectos sociais, incluindo saúde,
desigualdade e pobreza; aspectos econômicos, incluindo a
competitividade, o comércio e os padrões de produção e consumo
(energia); e aspectos institucionais. No que diz respeito especificamente
aos recursos hídricos, identificam-se os seguintes itens:

Gestão de recursos hídricos


- Gerenciamento das bacias hidrográficas
i) Melhorar e fortalecer a institucionalidade para o gerenciamento de
bacias e aqüíferos, entre outros, por meio de estabelecimento de
comitês de bacias hidrográficas, com a participação de todos os
níveis sub-nacionais de governo, a sociedade civil, o setor privado e
todos os atores envolvidos.
 Gerenciamento de águas costeiras e seus recursos
ii) Implementar planos de ação ambiental, nacionais e regionais, para
o manejo integrado da zona costeira, com principal atenção aos
pequenos estados insulares em desenvolvimento.
- Melhorar a qualidade de corpos continentais
iii) Melhorar a qualidade dos efluentes e diminuir o lançamento de
contaminantes em corpos de água superficiais e subterrâneos, bem
como na zona costeira.

Vulnerabilidade e cidades sustentáveis


- Contaminação da água
iv) Ampliar a cobertura dos serviços de água potável e de tratamento
de águas residuais.
- Vulnerabilidade ante dos desastres causados por fenômenos
naturais
v) Implementar e fortalecer mecanismos de cooperação regional para
a gestão de riscos, a mitigação de desastres causados por
fenômenos naturais e antrópicos, incluindo a formulação de um
sistema regional de alerta em tempo real e a formação de
respostas imediatas.

Aspectos econômicos
- Saúde e ambiente
vi) Implementar políticas e planos para reduzir os riscos ambientais
que causam danos à saúde, em especial os de transmissão hídrica,
por vetores, por contaminação atmosférica e por exposição a
sustâncias químicas.

3.3.11 Agenda 21 Brasileira

A Agenda Global, assinada por 179 chefes de Estado e de Governo,


Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio-92), recomenda a substituição dos atuais padrões de
desenvolvimento vigentes no mundo.

A partir dessa Conferência, cada país comprometeu-se a definir sua


própria Agenda, fixando prioridades, envolvendo a sociedade e o
governo, promovendo parcerias e introduzindo meios de implementação.
Assim, com base na Agenda Global, a Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 - CPDS concluiu, em 17
de julho de 2002, um trabalho de 5 anos - Agenda 21 Brasileira - que
objetiva o desenvolvimento sustentável, introduzindo a busca do
equilíbrio entre o crescimento econômico, eqüidade social e preservação
ambiental. Define ainda uma pauta de mudanças a serem assumidas
pelas diversas instituições nacionais e expressivas lideranças.

Coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente, a elaboração da Agenda


21 Brasileira contou com a participação de especialistas temáticos e
consultas estaduais e regionais que mobilizaram cerca de 40.000
pessoas. Estabelece ações prioritárias e relata o resultado da consulta
nacional. No que diz respeito às ações prioritárias da gestão de recursos
hídricos, identificam-se, entre outras:

Preservar a quantidade e melhorar a qualidade da água nas bacias


- Difundir a consciência de que a água é um bem finito,
espacialmente mal distribuído no nosso país, sendo muito farto na
Amazônia despovoada, e muito escasso no semi-árido nordestino.
- Implementar a Política Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos,
implantando de forma modelar e prioritária, os Comitês e Agências
de Bacias Hidrográficas dos rios Paraíba do Sul, São Francisco,
Paraná - Tietê e Araguaia-Tocantins, nos próximos cinco anos.
- Promover a educação ambiental, principalmente das crianças e dos
jovens nos centros urbanos, quanto à conseqüência do desperdício
de água. As escolas e a mídia são parceiras privilegiadas para
implementação dessa ação.
- Promover a modernização da infra-estrutura hídrica de uso comum
e de irrigação associada ao agronegócio, no marco do
desenvolvimento sustentável.
- Estimular e facilitar a adoção de práticas agrícolas e de tecnologias
de irrigação de baixo impacto sobre o solo e as águas.
- Desenvolver e difundir tecnologias de reutilização da água para uso
industrial.
- Combater a poluição do solo e da água e monitorar os seus efeitos
sobre o meio ambiente em suas mais diversas modalidades,
especialmente resíduos perigosos de alta toxidade e nocivos aos
recursos naturais e à vida humana.

Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente e a saúde


- Priorizar os investimentos em infra-estrutura urbana,
especialmente os destinados à universalização do saneamento
básico, nos próximos dez anos. Estima-se serem necessários US$
20 bilhões para abastecimento de água e coleta e tratamento
primário e secundário de esgoto.
- Promover a universalização do acesso à água e ao esgoto,
ampliando para 60% o tratamento secundário de esgoto na
próxima década.
- Priorizar a proteção dos corpos hídricos poluídos, em bacias
hidrográficas críticas, e nas baías e zonas costeiras densamente
povoadas, por exemplo, em trechos das bacias do Paraíba do Sul,
do Tietê, do São Francisco e da Baía da Guanabara.

Promoção da agricultura sustentável


- Incentivar o manejo sustentável dos sistemas produtivos, adotando
as bacias hidrográficas como unidades de planejamento e gestão
ambiental.
- Instituir mecanismos políticos, legais, educacionais e científicos que
assegurem programas de monitoramento e controle de resíduos de
agrotóxicos nos alimentos, inclusive importados, e no meio
ambiente, particularmente nos corpos de água superficiais e
subterrâneos.
Energia renovável e a biomassa
- Tratar como prioridade o incentivo ao uso eficiente e à conservação
de energia, que podem apresentar resultados mais rápidos, mais
baratos e mais racionais que o aumento da oferta. O racionamento
imposto pela escassez de chuvas no ano de 2001 mostrou que a
sociedade e as empresas estão dispostas a cooperar.

Produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício


- Iniciar com uma campanha contra o desperdício de água e energia,
que deve adquirir feição específica e diferenciada para as diferentes
regiões brasileiras, bem como para os diferentes setores produtivos.

4. AVALIAÇÃO E RECOMENDAÇÕES

Os crescimentos urbano e industrial, ocorridos nas últimas décadas no


Brasil, com a formação de grandes aglomerados urbanos e maior
adensamento das regiões metropolitanas, onde se priorizou o
atendimento com o abastecimento de água potável, deixando para um
segundo momento a coleta, tratamento e destinação final de esgotos e
resíduos sólidos, aumentou de sobremaneira o comprometimento da
qualidade dos recursos hídricos do país.

Acrescentem-se ainda a poluição dos corpos de água causada pelas


atividades agropecuárias, bem como os desmatamentos descontrolados,
a erosão e degradação dos solos, os quais comprometeram
ambientalmente os corpos de água.

Esse conjunto de fatores demonstra a gravidade do problema e suas


conseqüências para o país, nos planos econômico, ambiental e social,
particularmente para as populações de baixa renda.

Se, por um lado é preciso fomentar políticas públicas municipais para o


equacionamento dos problemas de caráter local, por outro, observa-se a
necessidade do fortalecimento de políticas públicas regionais que possam
atuar de forma complementar para a despoluição das bacias, e
conseqüentemente reduzindo a mortalidade por doenças por veiculação
hídrica.

Assim, este documento visa contribuir para o debate na Conferência das


Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio
+ 10), fornecendo informações sobre os progressos dos diversos setores
na gestão de recursos hídricos no Brasil.
As informações indicam avanços consideráveis que impulsionaram a
organização do setor, evidenciada, principalmente, pela diminuição da
freqüência de óbitos relacionados à qualidade de água. Por outro lado,
mostram a necessidade de se continuar atividades voltadas à
implementação da política de recursos hídricos, promovendo articulação
entre os segmentos do setor, além definir incentivos econômicos e fiscais
para garantir sua efetividade.

Por isso, a Secretaria de Recursos Hídricos em face dessas necessidades


identificou metas indicativas para implementar a gestão de recursos
hídricos no Brasil (2010 – 2030), que permitem promover a
disponibilidade adequada da água para atual e futuras gerações.

Essas metas foram submetidas, para apreciação e sugestões, aos


membros titulares e suplentes do Conselho Nacional de Recursos Hídricos
- CNRH, representantes e convidados das oito Câmaras Técnicas do
CNRH, representantes e técnicos de instituições federais e estaduais
atuantes na área de recursos hídricos, bem como especialistas da área. O
documento foi ainda disponibilizado no site da Associação Brasileira de
Recursos Hídricos - ABRH.

Em 24 de julho de 2002, a versão preliminar foi apresentada e discutida


no 2º Simpósio de Recursos Hídricos do Centro-oeste, em Campo
Grande/MS. Todas as observações e sugestões foram avaliadas o que
resultou na versão final, que se encontra no Quadro 26.
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