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GOVERNO DO ESTADO DE ALAGOAS

SECRETARIA EXECUTIVA DE MEIO AMBIENTE, RECURSOS


HÍDRICOS E NATURAIS – SEMARHN
Unidade Estadual de Gerenciamento do Proágua – UEGP/AL

PLANO DIRETOR DE RECURSOS HÍDRICOS DAS BACIAS


DOS RIOS SÃO MIGUEL, JEQUIÁ, NIQUIM, DAS LAGOAS
E POXIM

PLANO DIRETOR DE RECURSOS HÍDRICOS

VOLUME SÍNTESE
TEXTOS

Maceió, DEZEMBRO de 2004


PLANO DIRETOR DE RECURSOS HIDRICOS DAS BACIAS DOS RIOS SÃO
MIGUEL, JEQUIÁ, NIQUIM, DAS LAGOAS E POXIM

ÍNDICE DO TOMO IV – VOLUME SÍNTESE

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... i

CAPITULO 1 - CARACTERÍSTICAS DA ÁREA DE ESTUDOS...................................01


1.1 Os Municípios que Compõem a Área de Estudo.....................................................................03
1.2 A População da Área de Estudo .........................................................................................05
1.3 Características Sócio-Econômicas da Região de Estudo....................................................06
1.4 Reflexões Sobre Uso e Cobertura Vegetal .........................................................................07
1.5 Regime Pluviométrico .......................................................................................................09

CAPÍTULO 2 - CENÁRIOS DE PLANEJAMENTO ........................................................12


2.1 Cenário de Desenvolvimento Populacional........................................................................12
2.2 Evolução do Setor Primário................................................................................................17
2.3 Previsões para o Setor Secundário .....................................................................................21

CAPÍTULO 3 - DEMANDA DE ÁGUA NOS CENÁRIOS FUTUROS ...........................23


3.1 Coeficientes de Demanda ...................................................................................................23
3.2 Demanda de Água para Abastecimento Humano...............................................................23
3.3 Dessedentação Animal .......................................................................................................24
3.4 Demanda de Água para Irrigação .......................................................................................25
3.5 Demanda de Água para Indústria .......................................................................................25
3.6 Síntese das Demandas Totais .............................................................................................27

CAPÍTULO 4 - AVALIAÇÃO DAS DISPONIBILIDADES DE RECURSOS


HÍDRICOS ..............................................................................................................................31
4.1 Disponibilidades de Águas Subterrâneas ...........................................................................31
4.2 Disponibilidade de Água Superficial..................................................................................32

CAPÍTULO 5 - BALANÇO DOS RECURSOS HÍDRICOS .............................................35


5.1 – Metodologia Expedita .....................................................................................................35
5.2 – Metodologia Baseada no PROPAGAR 2000 ...................................................................42
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5.2.1 – Subdivisão das Bacias para Fins de Simulação ................................................42


5.2.2 – Simulação com o PROPAGAR ........................................................................45
5.2.3 – Conclusões........................................................................................................53
5.3 – Aspectos Qualitativos do Suprimento dos Recursos Hídricos ........................................54
5.3.1 – Aspectos Qualitativos: Águas Superficiais.......................................................54
5.3.2 – Poluição das Águas Subterrâneas .....................................................................56

CAPÍTULO 6 - FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS


EM ALAGOAS .......................................................................................................................58

CAPÍTULO 7 - A PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS E DA SOCIEDADE


CIVIL ORGANIZADA NA GESTÃO DESCENTRALIZADA DOS
RECURSOS HÍDRICOS .......................................................................................................67
7.1. A Mobilização Social Ocorrida .........................................................................................68
7.2. Como se Organiza a Sociedade Local para a Gestão Participativa ...................................73
7.3. A Mobilização Social Como um Processo Continuado ....................................................74

CAPÍTULO 8 - IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO INTEGRADA DOS


RECURSOS HÍDRICOS .......................................................................................................76
8.1. O Plano Diretor e o Gerenciamento dos Recursos Hídricos .............................................76
8.2. Acompanhamento do Plano Diretor e o PPA do Governo de Alagoas .............................78

CAPÍTULO 9 - PLANO DE AÇÕES ...................................................................................81


9.1. Estratégias e Diretrizes ......................................................................................................81
9.2. Contribuições das Audiências Públicas Para o Plano de Ações........................................83
9.3. Ações Propostas.................................................................................................................85
9.3.1 Ações de Desenvolvimento .............................................................................................86
9.3.2 Ações de Apoio e Implementação ...................................................................................91

CAPÍTULO 10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................99


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LISTA DE QUADROS
Quadro 1.1 Características Fisiográficas das Bacias 01
Quadro 1.2 Participação dos municípios na composição das áreas das bacias 04
Quadro 1.3 População total nas bacias dos rios em análise 05
Quadro 1.4 Estimativa de população nas bacias até 2023 06
Quadro 2.1 Taxas Geométricas de Crescimento da População, entre 1980 e 1995 (%) 13
Quadro 2.2 População dos Municípios que compõem a Área de Estudo, em 2000 14
Quadro 2.3 População nas Bacias em 2000 15
Quadro 2.4 Estimativas das populações nos municípios para 2000 e para os
horizontes de planejamento (2008, 2013 e 2023) 15
Quadro 2.5 População nas Bacias para os Diferentes Horizontes de Planejamento
(2008, 2013 e 2023) 16
Quadro 2.6 Coeficientes de Demanda para Abastecimento Urbano 17
Quadro 2.7 Rebanho em cada município em 2000 18
Quadro 2.8 Rebanho em cada bacia em 2000 19
Quadro 2.9 Projeções dos Rebanhos nas Bacias, para os diferentes Horizontes (2008,
2013, e 2023) 20
Quadro 2.10 Áreas Irrigadas Atualmente e no Horizonte de Longo Prazo 20
Quadro 2.11 Áreas Irrigadas para os Horizontes de Planejamento (ha) 21
Quadro 3.1 Demanda de Água para Abastecimento Urbano 24
Quadro 3.2 Demanda de Água para Abastecimento Rural 24
Quadro 3.3 Demanda de Água para Dessedentação Animal 25
Quadro 3.4 Demanda de Água para Irrigação 25
Quadro 3.5 Demanda de Água para o Setor Sucroalcooleiro 26
Quadro 3.6 Demanda de Água para o setor outras indústrias 27
Quadro 3.7 Síntese das Demandas Totais - Cenário 2008 28
Quadro 3.8 Síntese das Demandas Totais - Cenário 2013 28
Quadro 3.9 Síntese das Demandas Totais - Cenário 2023 29
Quadro 3.10 Síntese das Demandas Totais, nos Diferentes Horizontes de
29
Planejamento (m³/s)
Quadro 4.1 Parâmetros Quantitativos de Águas Subterrâneas das Bacias
32
Hidrográficas
Quadro 5.1 Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica
do Rio São Miguel 36
Quadro 5.2 Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica
do Rio Jequiá 37
Quadro 5.3 Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica
do Rio Niquim 38
Quadro 5.4 Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica
39
das Lagoas
Quadro 5.5 Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica
do Rio Poxim 40
Quadro 5.6 Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel 43
Quadro 5.7 Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Jequiá 44
Quadro 5.8 Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Niquim 44
Quadro 5.9 Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica das Lagoas 45
Quadro 5.10 Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Poxim 45
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Quadro 5.11 Falhas de Suprimento no Ponto Característico SM 04 47


Quadro 5.12 Falhas de Suprimento no Ponto Característico SM 06 47
Quadro 5.13 Falhas de Suprimento no Ponto Característico SM 10 48
Quadro 5.14 Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos
Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel 48
Quadro 5.15 Falhas de Suprimento no Ponto Característico JQ 09 49
Quadro 5.16 Falhas de Suprimento no Ponto Característico JQ 18 50
Quadro 5.17 Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos
Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Jequiá 50
Quadro 5.18 Falhas de Suprimento no Ponto Característico NQ 01 51
Quadro 5.19 Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos
Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Niquim 51
Quadro 5.20 Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos
Característicos da Bacia Hidrográfica das Lagoas 52
Quadro 5.21 Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos
Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Poxim 53
Quadro 5.22 Composição média da vinhaça produzida nas destilarias de Alagoas 57
Quadro 8.1 Algumas ações previstas no PPA-2004-2007 78
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Localização da Área de Estudo no Estado 02
Figura 1.2 Municípios que compõem a área de Estudo 02
Figura 1.3 Variabilidade da média da precipitação regional anual ao longo do anos 10
Figura 1.4 Precipitação média anual nos postos. Período: 1963 – 1991 10
Figura 1.5 Variação média mensal das precipitações nos postos. Período: 1963 – 1991 11
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RELAÇÃO DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica


APA – Área de Proteção Ambiental
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento
CASAL – Companhia de Abastecimento de Água e Saneamento do Estado de Alagoas
CEF – Caixa Econômica Federal
CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco
CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPRM – Campanha de Pesquisa de Recursos Minerais
DNAEE – Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (extinto)
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
DNOS – Departamento Nacional de Obras de Saneamento
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ETA – Estação de Tratamento de Água
ETp – Evapotranspiração Potencial
ETr – Evapotranspiração Real
FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDERAL – Instituto de Desenvolvimento, Extensão Rural e Abastecimento de Alagoas
IMA – Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPH – Instituto de Pesquisa Hidráulica
IQA – Índice de Qualidade das Águas
ISB – Índice de Oferta de Serviços Básicos
Kc – Coeficiente de Cultivo
LI – Licença de Implantação
LL – Licença de Localização
LO – Licença de Operação
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MODHAC – Modelo Hidrológico Auto Calibrável
MSDHD – Microsistema de Dados Hidrometereológico
OMM – Organização Meteorológica Mundial
OMS – Organização Mundial de Saúde
ONG – Organização não Governamental
PDRH - Plano Diretor de Recursos Hídricos
PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PRONEA – Programa Nacional de Educação Ambiental
RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Ambiental
SEMARHN/AL – Secretaria Executiva de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Naturais de
Alagoas
SIG – Sistema de Informações Geográficas
SRH/MMA – Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
TDR – Termos de Referência
UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
WMO – World Meteorological Organization
APRESENTAÇÃO

A Secretaria Executiva de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Naturais de Alagoas –


SEMARHN/AL, através da Unidade Executora do Sistema Estadual de Recursos Hídricos –
UGP/AL, dando continuidade aos Estudos de Recursos Hídricos do Estado de Alagoas,
determinou que fosse elaborado o PLANO DIRETOR DE RECURSOS HÍDRICOS DAS BACIAS
DOS RIOS SÃO MIGUEL, JEQUIÁ, NIQUIM, DAS LAGOAS E POXIM, no âmbito do Programa
PROAGUA/Semi-árido.

Mediante Licitação Pública SDP 001/2001 levada a cabo no dia 10/12/2001, a


COHIDRO Consultoria, Estudos e Projetos S/C Ltda. foi proclamada vencedora do aludido
processo licitatório, tendo conseqüentemente, firmado Contrato com a SEMARHN/AL para
elaboração desse Plano Diretor de Recursos Hídricos.

O Plano Diretor de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica do São Miguel tem por
objetivo o aproveitamento integrado das águas superficiais e subterrâneas das bacias
formadoras dessa região, dentro de uma visão dinâmica de planejamento de longo prazo, de
forma a permitir uma gestão compartilhada dos múltiplos usos da água.

Consoante a nova legislação, ele constitui um instrumento básico de planejamento e


visa fundamentar e orientar a implementação da Lei no 5.965 de 10 de novembro de 1997,
que estabelece as Políticas de Recursos Hídricos do Estados de Alagoas.

Os estudos realizados estão apresentados em três tomos, compreendendo:

- Tomo I – Relatório de Diagnóstico e Estudos Básicos;

- Tomo II – Plano Diretor; e

- Tomo III – Modelo de Gerenciamento Integrado.

Este documento constitui a síntese do conjunto de documentos que compõem o


Plano Diretor de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica do São Miguel.

i
1 – CARACTERÍSTICAS DA ÁREA DE ESTUDOS

A área em estudo, cuja superfície total é de 2.358km2, está situada na região sul do
Estado de Alagoas, e engloba as bacias hidrográficas dos rios São Miguel, Jequiá, Niquim,
das Lagoas e Poxim, sendo todas elas afluentes do oceano atlântico. Essa área é
considerada, para fins de gestão de recursos hídricos, pela SEMARHN, como a Região
Hidrográfica de São Miguel. A área limita-se, ao norte, com as bacias hidrográficas dos
rios Paraíba e Sumaúma, a oeste e mais ao sul, com a bacia hidrográfica do rio Coruripe e,
na parte leste, com o oceano atlântico. Todas as águas das bacias hidrográficas do presente
estudo são de dominialidade estadual, pois nascem e deságuam em território alagoano. As
características fisiográficas das bacias estão no Quadro 1.1. A Figura 1.1 mostra a localização
das bacias em relação ao Estado de Alagoas e a Figura 1.2 mostra as bacias e os municípios.

Quadro 1.1. Características Fisiográficas das Bacias


ÁREA DE
EXTENSÃO PERÍMETRO DESNÍVEL DECLIVIDADE
BACIA DRENAGEM
DO RIO (km) (km) (m) (m/km)
(km2)
Jequiá 85 824 191 526 6,18

São Miguel 90 754 206 627 8,67

Das Lagoas 11 105 61 77 ---

Niquim 27 155 70 130 4,81

Poxim 39 521 99 120 3,08

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 1


Figura 1.1. Localização da Área de Estudo no Estado

Figura 1.2. Municípios que compõem a área de Estudo

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 2


1.1 Os Municípios que Compõem a Área de Estudo
A participação dos municípios na composição da área das bacias compõe um arranjo
fisiográfico importante implantação do sistema estadual de gerenciamento dos recursos
hídricos. A área de estudo contém 19 municípios, parcial ou totalmente. Os municípios são:

Anadia; Barra de São Miguel; Belém; Boca da Mata; Campo Alegre; Coruripe;
Limoeiro de Anadia; Jequiá da Praia; Marechal Deodoro; Maribondo; Roteiro; São Miguel dos
Campos; Tanque D’Arca; Taquarana; Mar Vermelho; Atalaia; Junqueiro e Teotônio Vilela.
Esses últimos três municípios têm pequenas áreas na região de estudo. A participação da
área de cada município no mosaico da região hidrográfica é apresentada no Quadro 1.2.

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 3


Quadro 1.2 Participação dos municípios na composição das áreas das bacias
ÁREA DO
MUNICÍPIO BACIA NIQUIM BACIA S.MIGUEL BACIA JEQUIÁ BACIA LAGOAS BACIA POXIM % DO
ÁREA DENTRO DA MUNICÍPIO
MUNICÍPIOS
(km2) ÁREA DE NA ÁREA DE
A % do A % do A % do A % do A % do
ESTUDO ESTUDO
(km2) Total (km2) Total (km2) Total (km2) Total (km2) Total
(km2)
ANADIA 190,30 190,30 0 0,0 168,5 88,5 21,8 11,5 0 0,0 0 0,0 100,0
BARRA DE S MIGUEL 76,90 76,90 49,3 64,1 27,6 35,9 0 0,0 0 0,0 0 0,0 100,0
BELÉM 48,40 16,00 0 0,0 4,3 8,9 11,7 24,2 0 0,0 0 0,0 33,1
BOCA DA MATA 187,40 85,70 0 0,0 85,4 45,6 0,3 0,2 0 0,0 0 0,0 45,7
CAMPO ALEGRE 296,30 281,80 0 0,0 0 0,0 276,1 93,2 0 0,0 5,7 1,9 95,1
CORURIPE 921,80 415,20 0 0,0 0 0,0 1,4 0,2 0 0,0 413,8 44,9 45,0
LIMOEIRO DE ANADIA 335,80 128,90 0 0,0 0 0,0 128,9 38,4 0 0,0 0 0,0 38,4
JEQUIÁ DA PRAIA 352,70 352,70 0 0,0 0 0,0 215,5 61,1 41,8 11,9 95,4 27,0 100,0
MARECHAL DEODORO 363,30 67,40 67,4 18,6 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 18,6
MARIBONDO 172,00 106,40 0 0,0 106,4 61,9 0 0,0 0 0,0 0 0,0 61,9
ROTEIRO 122,60 122,60 0 0,0 52,4 42,7 6,9 5,6 63,3 51,6 0 0,0 100,0
SÃO M DOS CAMPOS 362,40 289,80 38,3 10,6 165,3 45,6 86,2 23,8 0 0,0 0 0,0 80,0
TANQUE D'ARCA 156,60 137,10 0 0,0 113,4 72,4 23,7 15,1 0 0,0 0 0,0 87,5
TAQUARANA 167,20 48,90 0 0,0 0 0,0 48,9 29,2 0 0,0 0 0,0 29,2
MAR VERMELHO 91,90 28,70 0 0,0 28,7 31,2 0 0,0 0 0,0 0 0,0 31,2
ATALAIA * 534,30 1,60 0 0,0 1,6 0,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0,3
JUNQUEIRO * 221,60 0,90 0 0,0 0 0,0 0,9 0,4 0 0,0 0 0,0 0,4
TEOTÔNIO VILELA * 299,10 7,20 0 0,0 0 0,0 1,2 0,4 0 0,0 6 2,0 2,4
TOTAL 4.900,6 2.358,10 155 6,57 753,6 31,96 823,5 34,92 105,1 4,46 520,9 22,09 100,00
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
* A participação destes Municípios é irrelevante por contribuírem com menos de 2,5% da área de estudo.

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 4


1.2 A População da Área de Estudo
A população total da bacia do rio Niquim, segundo o Censo Demográfico do IBGE
(2000), era de cerca de 6.593 habitantes; a do rio São Miguel, mais populosa, era de
103.432 habitantes, a do rio Jequiá era de 64.190 habitantes, a das Lagoas era de 5.487
habitantes e a do rio Poxim, era de 11.243 habitantes. A área das frações dos municípios
localizados dentro da bacia do rio Niquim é de 135,1km2; a do rio São Miguel é de
752,8km2, a do rio Jequiá, 822,5km2, a das Lagoas, 105,1km2 e a do rio Poxim, 407,1km2.
Portanto, a densidade média dos municípios da bacia do rio Niquim é de 48,8 hab/km2; na
bacia do rio São Miguel, a densidade é de 137,4 hab/km2; a do rio Jequiá, cerca de 78,04
hab/km2; na bacia das Lagoas, a densidade é de 52,21 hab/km2; e a do rio Poxim, cerca de
27,62 hab/km2. O quadro 1.3 apresenta estes dados.

Quadro 1.3 População total nas bacias dos rios em análise


DENSIDADE
ÁREA DA BACIA
BACIAS POPULAÇÃO (HAB) DEMOGRÁFICA
(KM2)
(HAB/KM2)
Rio Niquim 6593 155,0 42,54
Rio São Miguel 103.432 753,5 137,27
Rio Jequiá 64.190 823,5 77,95
Rio Poxim 11.244 520,9 21,59
Das Lagoas 5.487 105,1 52,21
Fonte: Censo IBGE (2000)

Na bacia do rio Niquim, segundo o Censo Demográfico do IBGE (1980), houve um


crescimento da população urbana a uma taxa geométrica de 17% entre 1980 e 1995 e uma
diminuição da população rural de – 1,1%, resultando numa taxa total média de + 8,5%.
Dos 3 municípios que compõem essa bacia, apenas o de Marechal Deodoro apresentou
queda na população rural no período, que foi de – 8,8%.

Na bacia do rio São Miguel, o crescimento total foi de 4,3% no mesmo período, com
14,2% para a zona urbana e – 4,0% na zona rural. Os municípios que se apresentaram com
redução da população rural foram: Boca da Mata, Anadia, Maribondo, Tanque d’Arca e
Belém.

O balanço populacional nas bacias do Jequiá, Poxim e das Lagoas, sofreu alterações
devido à criação de um novo município, emancipado em 2002, denominado Jequiá da Praia,
com frações populacionais de São Miguel dos Campos e Coruripe. As estimativas
populacionais, com a inclusão de Jequiá da Praia, aparecem no quadro abaixo, com
estimativa populacional para cada bacia até o ano de 2023.

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 5


Quadro 1.4 Estimativa de população nas bacias até 2023
CENSO 2000 2003 2008 2013 2018 2023
BACIAS
IBGE (hab) (hab) (hab) (hab) (hab) (hab)

RIO NIQUIM 6.593 6.723 7.213 7.609 8.044 8.595


RIO SÃO MIGUEL 103.432 97.263 100.309 100.231 101.030 103.164
RIO JEQUIÁ 64.190 72.965 75.142 78.047 79.752 81.730
DAS LAGOAS 5.487 5.053 5.018 4.921 4.879 4.807
RIO POXIM 14.581 15.316 15.321 15.201 14.879 14.862
TOTAIS 194.282 197.321 203.003 206.009 208.584 213.158
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

1.3 Características Sócio-Econômicas da Região de Estudo


As condições sócio-econômicas narradas no Diagnóstico deste Plano Diretor apontam
um quadro de precariedades agudas ou medianas nos campos da saúde pública, do
saneamento básico (água e esgoto), do lixo urbano, da concentração de renda, de
latifúndios, no número de indústrias, nas condições ambientais, na baixa renda média dos
trabalhadores, nos índices de desenvolvimento humano, na fragilidade das instituições
públicas responsáveis por cada um desses problemas apontados, entre outros.

A realidade local aponta para um longo caminho até que se concretize a


implementação da política de recursos hídricos. Antes disto, é preciso salientar que as
condições sócio-econômicas não serão melhoradas para que a política de recursos hídricos
sejam implementadas. De fato, a política de recursos hídricos é uma das políticas públicas
visando melhorar as condições sócio-econômicas tendo o uso dos recursos hídricos como
vetor indutor.

Algumas das situações diagnosticadas mostram que algumas características


dificultam a efetiva implantação da política estadual de recursos hídricos na região de
estudo. São elas:

a) baixa escolaridade média da população local;

b) condições precárias dos serviços públicos de saúde, que somadas à baixa expectativa
de vida, levam o índice IDHM dos municípios estudados para valores abaixo da
média nacional;

c) presença marcante de latifúndios;

d) condições de saneamento precárias, principalmente no tocante ao recolhimento,


tratamento e disposição final dos resíduos líquidos domiciliares e dos resíduos sólidos
urbanos;

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 6


e) a baixa capacidade de pagamento da população local pelos serviços básicos de
saneamento;

f) as condições precárias de baixa oferta de empregos;

g) os problemas ambientais advindos de atividades industriais que ainda não


resolveram em definitivo seus passivos ambientais, bem como situações pontuais
onde a demanda sobre a capacidade de autodepuração dos rios são superadas;

h) a fragilidade da mobilização social, bem como a falta de estrutura necessária aos


órgãos públicos locais para efetivarem as políticas públicas, em especial, as ligadas
ao tema ambiental; e

i) a desinformação acerca das políticas federais e estaduais de recursos hídricos, entre


outras.

Do lado das facilidades encontradas, destacam-se a criação do comitê da bacia


hidrográfica do rio Coruripe (área contígua à região estudada), que de certo serve como um
marco para a região, a disposição da população local em discutir problemas ligados aos
recursos hídricos, percebido nas audiências públicas já realizadas na região para discutir os
problemas ambientais, bem como o Fórum DLIS que atua na região proporcionando a
criação de um espaço de debates que serve como um treinamento para o que há porvir com
a desejável criação dos comitês de bacias hidrográficas das bacias em análises.

As condições encontradas dão força à idéia de que os esforços que a SEMARHN


deverá empreender para implantar os instrumentos de gestão dos recursos hídricos devem
ser vigorosos e vultosos, e perenes. Vale aqui fazer uma pequena digressão, alertando que
a falta de um sistema de informações eficiente sobre as condições quantitativas e
qualitativas das águas da região diminuem a eficácia da implementação da política de
recursos hídricos.

1.4 Reflexões Sobre Uso e Cobertura Vegetal


Dois aspectos devem ser observados para se chegar a uma conclusão que reflita
melhor ao atual diagnóstico do uso do solo e cobertura vegetal da região em análise. O
primeiro relaciona-se com a quantidade, ou com a grande abrangência territorial dos
desmatamentos já realizados na área. O segundo diz respeito à qualidade do nível de
conservação em que se encontram os remanescentes que foram mapeados, que está muito
aquém da originalidade, conforme demonstrado. Ambos, todavia, são retratos de uma ação

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 7


humana desprovida de planejamento e dos cuidados mínimos necessários para um uso
racional adequado, no qual se mantivesse o mínimo de equilíbrio entre a exploração
econômica e a conservação dos recursos, em primeiro lugar o da cobertura vegetal original.

Sobre a questão da quantidade pode-se admitir, pelo lado das justificativas que, por
ocasião do maior avanço dos desmatamentos, se desconheciam as leis nacionais
estabelecendo valores-teto de áreas a serem desmatadas. Mas já se dispunha de
regulamentação das áreas que deveriam ser protegidas com a vegetação nativa. Como não
houve o esperado respeito àquela legislação, para este caso, a justificativa para a anterior
fica anulada. Se, como resultado, é constatado um valor muito abaixo dos 20% para
conservação, conforme estabelecidos pela Reserva Legal como objetivo a uma
compatibilização de uso e de proteção dos recursos hídricos, a problemática não é de modo
nenhum diferente.

De fato, apesar de um grande número de remanescentes, sobretudo no terço da


área mais próximo do litoral, terem a sua distribuição associada aos vales fechados que
entalham os tabuleiros, nada disso significa que esteja havendo uma adequada proteção dos
recursos hídricos superficiais ou subterrâneos. Ainda mais para estes, que para aqueles. Até
mesmo porque, a maior parte deles (dos remanescentes dos vales) está ocupando apenas
as encostas superiores, que é a parte mais íngreme e que corresponde ao setor
geomorfologicamente chamado de “relevo estrutural”. Naquela posição, ele está protegendo
apenas as encostas (dos desmoronamentos), e a biodiversidade (da sua extinção), o que,
nas circunstâncias atuais, já é um grande feito. Até aí, está se tendo um simples apoio
baseado na pretensa hipótese de que a manutenção, ou a revitalização das “matas ciliares”
seja a redenção do dramático problema hídrico desta região canavieira alagoana.

Quanto à questão da qualidade, a que corresponde ao baixo estado da conservação,


o grande complicador está relacionado, em princípio, com a ausência de legislação protetora
de todos os remanescentes, independentemente do seu tamanho, da sua localização e da
sua propriedade. E depois, com o permanente monitoramento ambiental de todos os atores
que, de alguma forma, se utilizam das benesses, em todos os níveis, oferecidas pela
existência desses testemunhos, inclusive a produção e a manutenção da água que eles
proporcionam. Igualmente para este caso, como resultado, não se tem uma resposta
animadora, pois o nível de proteção do que existe (remanescentes), a maioria deles se
encontra entre o regular e o precário, necessitando, por isso, de cuidados permanentes e
redobrados. Este estado deficiente de conservação é extensivo aos objetivos relacionados

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 8


com a proteção dos recursos hídricos, na medida em que há sempre uma preocupação de
que ele se agrave, alcançando aqueles remanescentes ainda bem protegidos. Os
antecedentes levam a esse pessimismo.

Em vista dessas observações, é imperioso que o Plano Diretor estabeleça, como uma
das suas principais diretrizes, o zoneamento de todas as áreas cujo potencial produtivo, de
reserva ou de conservação das águas, tenha como uma das suas metas a rigorosa
conservação da vegetação original no seu estado ótimo. Seja por meio da proteção das
ainda existentes, ou através da recuperação das demais. Tanto pela forma natural, quanto
pelo reflorestamento com espécies nativas. Reflorestamentos com essências exóticas para
atender a outras necessidades que não a proteção dos recursos hídricos, não deverão de
modo nenhum ser estendidos a essas áreas de maior potencial.

1.5 Regime Pluviométrico


Para análise da pluviometria utilizaram os dados dos seguintes postos pluviométricos:
a) Anadia; b) Coruripe; c) Atalaia; c) Fazenda Varrela; d) Limoeiro de Anadia; e) Mar
Vermelho; f) São Miguel dos Campos; g) Tanque D’Arca; e h) Usina Coruripe. Estes são
capazes de representar adequadamento o regime pluviométrico da região. O período de
registros contínuos e coincidentes para todos os postos determinou o tamanho da série
histórica analisada, que foi do ano de 1963 até o ano de 1991.

A precipitação média anual na área do projeto encontra-se no entorno de


1.240,9mm/ano, variando de aproximadamente 920mm/ano na região de Limoeiro de
Anadia, na porção sul da bacia do rio Jequiá, até níveis superiores a 1.590mm/ano na região
de Coruripe, na porção central da bacia do Poxim.

Do estudo observou-se uma grande variabilidade interanual das precipitações em


torno da precipitação média anual de 1.240,9mm. Para o cálculo da precipitação média
sobre a área de estudo utilizou o método das iisoietas. Os dados considerados como
representativos indicam que o trimestre mais chuvoso ocorre entre maio e julho, com
602mm, o equivalente a 48% da média anual. O período menos chuvoso vai de setembro
até fevereiro, destacando-se o trimestre de outubro a dezembro como o mais seco, com
98,87mm, ou seja, três meses representando apenas 8% do valor médio anual. As Figuras
1.3 a 1.5 representam características relevantes da variabilidade do regime pluviométrico da
região de estudo.

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 9


2500

2000
Precipitação (mm)

1500

1000

500

0
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995
Ano

Figura 1.3- Variabilidade da média da precipitação regional anual ao longo do anos

1800

1600

1400
Precipitação média anual (mm)

1200

1000

800

600

400

200

0
Anadia Coruripe Atalaia F. Varrela L. Anadia M. Vermelho S. M. Campos T. D'arca U. Coruripe

Postos

Figura 1.4 – Precipitação média anual nos postos. Período: 1963 – 1991.

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 10


250,00

200,00
Precipitação (mm)

150,00

100,00

50,00

0,00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura 1.5 – Variação média mensal das precipitações nos postos.


Período: 1963 – 1991.

Capítulo 1 – Caractrísticas da Área de Estudos 11


2 – CENÁRIOS DE PLANEJAMENTO
A definição de horizontes de planejamento pode ser obtida mediante a simulação de
cenários de desenvolvimento do sistema em estudo. Estes cenários buscam identificar
potenciais situações futuras do sistema, no que se refere ao crescimento econômico e ao
crescimento das demandas, permitindo, através de sua simulação, analisar os prognósticos
em relação às demandas por uso dos Recursos Hídricos e as disponibilidades no sistema.

A evolução das demandas depende, basicamente, de dois fatores: crescimento


econômico e demográfico e eficácia no gerenciamento dos Recursos Hídricos. Quanto maior
o crescimento econômico ou quanto maior a população, maior será a demanda de recursos
hídricos e quanto mais eficaz for o gerenciamento dos recursos hídricos, menores serão as
perdas e os desperdícios de água.

O âmbito temporal deste Plano Diretor compreende horizontes de curto, médio e


longo prazo, tomando-se como referencial os seguintes anos:

Horizonte de longo prazo: 20 anos;


Horizonte de médio prazo: 10 anos;
Horizonte de curto prazo: 05 anos.

2.1 Cenário de Desenvolvimento Populacional


A tendência mundial de redefinição de padrões monetários, financeiros e de
competitividade, mudança no perfil do comércio, bem como a reestruturação e
reorganização da base produtiva com a inovação tecnológica acelerada, coloca países como
a China e o Brasil com maiores oportunidades de integração internacional.

Os cenários apontados para o Brasil são de uma tendência de melhoria da economia


brasileira com reestruturação, modernização e emergência de novos setores, melhorando
também diversos indicadores sociais. Ao mesmo é previsto o crescimento e modernização
econômica que demandará reações e medidas de redirecionamento do modelo de
crescimento, que deverá ocorrer próximo do horizonte de longo prazo deste Plano Diretor,
partindo-se definitivamente para a consolidação de um novo modelo de desenvolvimento
mais eqüitativo, sustentável e participativo, no qual haverá uma melhor distribuição da
renda, melhores níveis de educação e saúde e menores diferenças de desenvolvimento
humano.

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 12


Na área das bacias estudadas esse período deverá ser marcado: a) pela
modernização de algumas atividades, como é o caso da cultura canavieira que deverá
apresentar significativos ganhos de produtividade, em decorrência do aumento da área
irrigada; b) diversificação de parte da área anteriormente ocupada com cana-de-açúcar; c)
expansão das atividades de alguns gêneros industriais de produtos alimentares; d)
crescimento das atividades de comércio varejista nas cidades; e) aumento das atividades de
prestação de serviços, principalmente nas cidades maiores.

Os cenários de planejamento na área de abrangência do estudo correspondem


àqueles adotados no relatório de diagnóstico e estudos básicos, os quais observam as
previsões nos horizontes de curto, médio e longo prazo já identificados anteriormente.
Segundo consta no relatório de diagnóstico e estudos básicos, os crescimentos das
populações nas bacias, segundo o Censo Demográfico do IBGE, foram os destacados no
quadro 2.1.

Quadro 2.1 - Taxas Geométricas de Crescimento da População, entre 1980 e 1995 (%)
BACIA POP. URBANA POP. RURAL OBSERVAÇÕES
Dos 3 municípios desta bacia, apenas
Marechal Deodoro apresentou queda na
RIO NIQUIM 17 % - 1,1 %
população rural no período, que foi de –
8,8%.
Municípios com redução da população
RIO S. MIGUEL 14,2 % - 4,0 % rural: Boca da Mata, Anadia, Maribondo,
Tanque d´Arca e Belém
RIO JEQUIÁ, O balanço populacional sofreu alterações devido à criação de um novo município, em
DAS LAGOAS e 2002, denominado Jequiá da Praia, com frações populacionais de São Miguel dos
RIO POXIM Campos e Coruripe.

Fonte: Relatório de Diagnóstico e Estudos Básicos

Contudo, as estimativas populacionais por bacias para os horizontes de planejamento


foram feitas com base nos dados do Censo do IBGE (2000). O Quadro 2.2 foi construído a
partir das estimativas nos municípios. Para o ano de 2000, as estimativas de população
urbana e rural estão também neste quadro, bem como as frações da população
correspondentes às áreas urbanas e rural. Percebe-se que, via de regra, os municípios
situados próximos ao litoral possuem a população mais urbanizada que os municípios mais
afastados. Os municípios de Barra de São Miguel e Marechal Deodoro possuem mais de 80%
de sua população na zona urbana.

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 13


Quadro 2. 2. População dos Municípios que compõem a Área de Estudo, em 2000
POPULACÃO 2000 % DA POPULACÃO 2000
MUNICÍPIOS
Urbana Rural Total Urbana Rural
ANADIA 9.108 8.741 17.849 51,0 49,0
BARRA DE S MIGUEL 5.241 1.138 6.379 82,2 17,8
BELÉM 1.823 4.096 5.919 30,8 69,2
BOCA DA MATA 15.415 8.812 24.227 63,6 36,4
CAMPO ALEGRE 16.117 24.911 41.028 39,3 60,7
CORURIPE 22.199 26.647 48.846 45,4 54,6
LIMOEIRO DE ANADIA 2.111 22.148 24.259 8,7 91,3
JEQUIÁ DA PRAIA 0 0 0- -
MARECHAL DEODORO 29.802 6.018 35.820 83,2 16,8
MARIBONDO 10.101 5.044 15.145 66,7 33,3
ROTEIRO 5.477 1.508 6.985 78,4 21,6
SÃO M DOS CAMPOS 35.375 16.081 51.456 68,7 31,3
TANQUE D'ARCA 2.141 4.453 6.594 32,5 67,5
TAQUARANA 4.371 12.675 17.046 25,6 74,4
MAR VERMELHO 1.469 2.609 4.078 36,0 64,0
* ATALAIA 17.949 22.603 40.552 44,3 55,7
* JUNQUEIRO 6.957 16.875 23.832 29,2 70,8
* TEOTÔNIO VILELA 29.838 7.043 36.881 80,9 19,1
TOTAL 215.494 191.402 406.896 53,0 47,0

Os municípios de Maribondo e Boca da Mata apresentam grandes taxas de


crescimento a longo prazo, sendo que o segundo também já apresenta índices maiores a
curto e médio prazo. Estes municípios possuem grande parte de seus territórios na bacia do
rio São Miguel.

Alguns municípios possuem taxas negativas de crescimento, principalmente Tanque


D’Arca e Coruripe. O município de Coruripe tem 45% de seu território inserido na bacia do
rio Poxim, enquanto o município de Tanque D'arca tem a maior parte contida na bacia do rio
São Miguel.

A distribuição da população nas bacias para o ano 2000 está no Quadro 2.3. As taxas
de crescimento das populações nos municípios adotadas no relatório de diagnóstico e
estudos básicos, baseando-se em estudos do IBGE, estão no Quadro 2.4.

A partir das taxas de crescimento mostradas no Quadro 2.4, foi obtida a população
nas bacias, para os horizontes definidos pelos anos de 2008, 2013 e 2023. Isto se encontra
no Quadro 2.5, logo em seguida. Assim é possível estimar as demandas nestes cenários, nas
áreas urbana e rural das bacias.

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 14


Quadro 2. 3. População nas Bacias em 2000
BACIA NIQUIM BACIA S. MIGUEL BACIA JEQUIÁ
ANO
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
2000 5.241 3.546 8.787 77.617 27.735 105.352 15.018 42.148 57.166

BACIA LAGOAS BACIA POXIM TOTAL ÁREA DE ESTUDO


ANO
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
2000 0 779 779 0 12.582 12.582 97.876 86.789 184.665

Quadro 2. 4. Estimativas das populações nos municípios para 2000 e para os horizontes de planejamento (2008, 2013 e 2023)
estimativas da população para os horizontes de planejamento taxas de crescimento
MUNICÍPIOS
2000 2003 2008 2013 2023 2000-2003 2003-2008 2008-2013 2013-2023
ANADIA 17849 18315 19600 20500 22000 2,6% 7,0% 4,6% 7,3%
BARRA DE S MIGUEL 6379 6819 7300 7800 9000 6,9% 7,1% 6,8% 15,4%
BELÉM 5919 5900 5915 5908 5919 -0,3% 0,3% -0,1% 0,2%
BOCA DA MATA 24227 24855 26300 27400 30000 2,6% 5,8% 4,2% 9,5%
CAMPO ALEGRE 41028 42340 44600 48000 52000 3,2% 5,3% 7,6% 8,3%
CORURIPE 48846 44387 44000 42800 40000 -9,1% -0,9% -2,7% -6,5%
LIMOEIRO DE ANADIA 24259 25747 26100 26700 28000 6,1% 1,4% 2,3% 4,9%
JEQUIÁ DA PRAIA 0 12897 13100 13500 14500 - 1,6% 3,1% 7,4%
MARECHAL DEODORO 35820 39272 45000 49600 60000 9,6% 14,6% 10,2% 21,0%
MARIBONDO 15145 15200 15350 15500 17000 0,4% 1,0% 1,0% 9,7%
ROTEIRO 6985 6843 6730 6450 7000 -2,0% -1,7% -4,2% 8,5%
SÃO M DOS CAMPOS 51456 43133 44000 42300 40000 -16,2% 2,0% -3,9% -5,4%
TANQUE D'ARCA 6594 6249 5960 5420 4800 -5,2% -4,6% -9,1% -11,4%
TAQUARANA 17046 17119 17050 17080 17000 0,4% -0,4% 0,2% -0,5%
MAR VERMELHO 4078 4113 4200 4150 4000 0,9% 2,1% -1,2% -3,6%
* ATALAIA 40552 40552 40552 40552 40552 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
* JUNQUEIRO 23832 23832 23832 23832 23832 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
* TEOTÔNIO VILELA 36881 36881 36881 36881 36881 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 15


Quadro 2.5. População nas Bacias para os Diferentes Horizontes de Planejamento (2008, 2013 e 2023)
BACIA NIQUIM BACIA S. MIGUEL BACIA JEQUIÁ
HORIZONTE
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
2008 5.611 3.546 9.156 79.773 27.735 107.508 15.820 42.148 57.968
2013 6.006 3.546 9.552 82.048 27.735 109.783 16.664 42.148 58.812
2023 6.931 3.546 10.476 83.674 27.735 111.408 18.053 42.148 60.201

BACIA LAGOAS BACIA POXIM TOTAL ÁREA DE ESTUDO


HORIZONTE
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
2008 0 779 779 0 12.582 12.582 101.204 86.789 187.993
2013 0 779 779 0 12.582 12.582 104.719 86.789 191.508
2023 0 779 779 0 12.582 12.582 108.657 86.789 195.446

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 16


No Quadro 2.6 são mostrados os valores típicos de demandas hídricas per capita e, com base
neles, é que foram feitas as avaliações das demandas humanas urbanas nas situações atual e futura.

Quadro 2.6. Coeficientes de Demanda para Abastecimento Urbano


POPULAÇÃO URBANA COEF. DE DEMANDA
CATEGORIA
(habitantes) (l/hab.dia)*
I até 2.500 150
II 2.501 a 12.000 190
III 12.001 a 25.000 220
IV Acima de 25.000 250
* l/hab.dia (litros de água por habitante por dia)

Para a estimativa de demanda de água doméstica rural, que compreende uma população em
geral de baixa renda e não habituada à utilização de água encanada, foi estabelecida a dotação de
100l/hab.dia.

2.2 Evolução do Setor Primário


Segundo o relatório de diagnóstico e estudos básicos, a definição dos fatores de demanda
para avaliação dos requerimentos de água para dessedentação animal tomou como base as
projeções dos efetivos dos rebanhos e a análise da evolução média da pastagem de acordo com os
dados dos anos anteriores do Anuário Estatístico do Estado de Alagoas, que foi de 5,56% a cada 5
anos, podendo ocorrer variações em função de fatores climáticos, oscilações de mercado, entre
outros.

Para os cálculos da demanda de água dos rebanhos, partiu-se de taxas de consumo


usualmente adotadas para o abastecimento de animais em regime de criação extensivo, o sistema
mais comum na área, e que estabelece os seguintes valores: i) 45,0 litros/cabeça.dia para bovinos;
ii) 42, 5 litros/cabeça.dia para eqüinos e caprinos; e iii) 1,5, litros/cabeça.dia para aves. Como no
caso do abastecimento doméstico rural, admite-se também um coeficiente de consumo de 100%,
não se considerando, portanto, retorno para os corpos de água. No Quadro 2.7, encontra-se o
rebanho correspondente à cada município em 2000 e no quadro 2.8, a distribuição do mesmo nas
bacias da área de estudo.

Os municípios com maiores rebanhos bovinos se encontram nos altos vales das duas maiores
bacias; do rio São Miguel e do rio Jequiá. Eles são Maribondo, Tanque D´arca, Taquarana, Belém e

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 17


Anadia, com mais de 7.000 cabeças. Dos municípios do litoral, Coruripe é o que tem o maior rebanho
bovino.

Quadro 2.7. Rebanho em cada município em 2000


REBANHO 2000
MUNICÍPIOS
Bovinos Equinos Caprinos Aves
ANADIA 7.100 325 50 1.850
BARRA DE S MIGUEL 0 20 7 160
BELÉM 8.766 441 466 5.791
BOCA DA MATA 4.100 230 190 1.800
CAMPO ALEGRE 2.520 170 210 1.350
CORURIPE 4.171 320 185 1.300
LIMOEIRO DE ANADIA 5.177 260 540 1.600
JEQUIÁ DA PRAIA 0 0 0 0
MARECHAL DEODORO 2.857 94 118 627
MARIBONDO 12.000 240 60 300
ROTEIRO 25 93 85 0
SÃO M DOS CAMPOS 2.718 170 95 800
TANQUE D'ARCA 11.949 639 381 5.842
TAQUARANA 8.966 367 920 11.906
MAR VERMELHO 6.900 300 80 450
* ATALAIA 8.558 230 65 402
* JUNQUEIRO 3.850 190 120 2.800
* TEOTÔNIO VILELA 3.200 160 50 300
TOTAL 92.857 4.249 3.622 37.278

Quadro 2.8. Rebanho em cada bacia em 2000


REBANHO EM 2000
BACIA
Bovinos Equinos Caprinos Aves
NIQUIM 817 48 36 303
SÃO MIGUEL 28.441 1.262 593 7.953
JEQUIÁ 12.388 654 877 8.058
LAGOAS 13 48 44 0
POXIM 1.985 150 88 616
TOTAL 43.644 2.162 1.638 16.930

A criação de aves também é considerável na área de estudo, com os municípios de


Taquarana, Tanque D’Arca e Belém como os que possuem o maior número de unidades.

Para as projeções dos horizontes futuros, manteve-se a taxa de 5,56% a cada 5 anos, taxa
esta utilizada no relatório de diagnóstico e estudos básicos. Com esta taxa constante, a distribuição
do rebanho por município e por bacia será a mesma que ocorre no cenário do ano 2000. Estas
projeções estão indicadas no quadro 2.9 para as bacias.

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 18


No que diz respeito às áreas irrigadas, o relatório de diagnóstico e estudos básicos admite
uma tendência linear, havendo um valor máximo em hectares no horizonte de 20 anos e o valor
atual. Com a tendência linear, obtêm-se as áreas para os horizontes de 5 e 10 anos. No Quadro
2.10, há a relação entre os valores das áreas irrigadas no horizonte de longo prazo e no momento
atual. Os valores de área irrigada atualmente foram revistos em cada município, para este Plano
Diretor. Contudo, foi adotada a mesma metodologia de projeção do relatório de diagnóstico citado.
Os valores projetados estão no quadro 2.11.

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 19


Quadro 2.9. Projeções dos Rebanhos nas Bacias, para os diferentes Horizontes (2008, 2013, e 2023)
BACIA NIQUIM BACIA S. MIGUEL BACIA JEQUIÁ
HORIZONTE
Bovinos Equinos Caprinos Aves Bovinos Equinos Caprinos Aves Bovinos Equinos Caprinos Aves
2008 881 52 39 327 30.655 1.360 639 8.572 13.352 705 945 8.685
2013 930 55 41 345 32.359 1.436 674 9.049 14.094 744 998 9.168
2023 1.033 61 46 384 35.957 1.595 749 10.055 15.662 827 1.108 10.187

BACIA LAGOAS BACIA POXIM TOTAL ÁREA DE ESTUDOS


HORIZONTE
Bovinos Equinos Caprinos Aves Bovinos Equinos Caprinos Aves Bovinos Equinos Caprinos Aves
2008 14 52 47 0 2.140 162 95 663 47.041 2.331 1.765 18.248
2013 15 55 50 0 2.259 171 100 700 49.656 2.460 1.863 19.262
2023 16 61 55 0 2.510 190 111 778 55.178 2.734 2.071 21.404

Quadro 2.10. Áreas Irrigadas Atualmente e no Horizonte de Longo Prazo


Área potencialmente Área irrigada atualmente - relação entre
Bacias
irrigável - RDE (ha) RDE (ha) elas
São Miguel 22.000 10.000 2,2
Jequiá 18.000 8.000 2,3
Niquim 6.000 2.600 2,3
Das Lagoas 3.000 1.200 2,5
Poxim 3.000 6.200 0,5

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 20


Pode-se observar que a bacia do rio Poxim é a única cuja projeção é de decrescimento das
áreas irrigadas. As demais têm relações entre área potencial e área atual bastante semelhante.

Quadro 2.11. Áreas Irrigadas para os Horizontes de Planejamento (ha)


BACIA NIQUIM (ha) BACIA S. MIGUEL (ha)
2008 2013 2023 2008 2013 2023
2022,50 2417,71 3208,11 15595,24 18465,53 24206,10
BACIA JEQUIÁ (ha) BACIA LAGOAS (ha)
2008 2013 2023 2008 2013 2023
14162,74 16845,08 22209,75 1909,24 2318,36 3136,60
BACIA POXIM (ha) TOTAL ÁREA DE ESTUDOS (ha)
2008 2013 2023 2008 2013 2023
7878,30 6800,92 4646,17 41568,01 46847,59 57406,74

De acordo com o relatório de diagnóstico e estudos básicos, de maneira geral, a avaliação


dessas demandas foi realizada de acordo com uma análise dos valores utilizados para o
funcionamento de cada unidade empresarial e também conforme os comentários acerca do balanço
hídrico realizados nos estudos de climatologia, apresentados no relatório citado. Neste estudo
adotou-se os seguintes elementos de demanda: i) demanda para os processos industriais das usinas
de 1 a 2m³/s/usina; demanda hídrica para irrigação da cana-de-açúcar de 0,49 litros/s/ha.

É importante frisar que neste momento, no que diz respeito às demandas de água para
irrigação, exclusivamente, foi considerado como prioritário o uso para fins de cultivo da cana-de-
açúcar, a atividade agrícola preponderante no Estado.

2.3 Previsões para o Setor Secundário


Segundo o relatório de diagnóstico e estudos básicos além do setor sucro-alcooleiro, existem
indústrias de cimento e pequenas unidades de indústrias leves de transformação, localizadas nas
sedes municipais. Trata-se de um setor voltado para a produção de bens de consumo duráveis e
bens de consumo imediato, com demanda de água pouco significativa. Os consumos mais
importantes ocorrem a produção de alimentos, têxteis e bebidas, entre outros. A bacia do rio Jequiá
é a que possui o maior número de unidades industriais, seguida da bacia do rio São Miguel. Em
ambas as bacias, as indústrias se concentram no município de São Miguel dos Campos.

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 21


Por esta e outras razões, conforme o relatório citado, na avaliação das demandas foram
considerados dois componentes: um correspondente ao “segmento sucro-alcooleiro”; o outro
referente aos segmentos restantes do setor, sob a denominação de “outras indústrias”. Como fator
de demanda para avaliação das necessidades de água para o segmento sucro-alcooleiro, levou-se
em consideração a quantidade de cana moída por safra nas usinas e destilarias localizadas na região
estudada.

Para o segmento “outras indústrias”, foi considerado, para simplificação, o número de


empregados em cada tipo de indústria presente nas sedes municipais para a estimativa de demanda
hídrica.

O processo industrial do setor sucro-alcooleiro como um todo, requer para o sistema fechado
valores que variam de 2 até 19m³ de água por tonelada de cana esmagada. O coeficiente de
demanda adotado para se estimar os requerimentos de água do setor, admitiu um coeficiente de
consumo de 20% e, portanto, um retorno de 80%. Deve-se salientar que a demanda para as usinas
e destilarias concentra-se no período de moagem, isto é, no período de setembro a março.

No caso do segmento “Outras Indústrias”, foram aplicados coeficientes de demanda por


tipologia, cujos alguns valores são mostrados a seguir: 5m³/empregado/dia para produtos
alimentares, panificação e confeitaria; 0,3m³/empregado/dia para minerais não metálicos e outros
tipos de indústria; e 0,2m³/empregado/dia para vestuário, calçados e artigos de tecidos. O
coeficiente de retorno para o setor outras indústrias foi considerado como sendo da ordem de 50%
do consumo atual.

As projeções para os horizontes futuros de planejamento foram as utilizadas no relatório de


diagnóstico e estudos básicos, sendo que as projeções para o setor sucro-alcooleiro foram
observadas no âmbito dos municípios, cujo território contém as usinas.

Capítulo 2 – Cenários de Planejamento 22


3 – DEMANDA DE ÁGUA NOS CENÁRIOS FUTUROS
As demandas futuras foram avaliadas considerando os cenários já definidos,
correspondentes aos horizontes de curto, médio e longo prazo, referidos aos anos 2008,
2013 e 2023.

3.1 Coeficientes de Demanda


Conforme o relatório de diagnóstico e estudos básicos, foram adotados neste estudo
os mesmos coeficientes de demandas do Plano Diretor de Recursos Hídricos das bacias do
Mundaú e Paraíba. O Plano Diretor de Recursos Hídricos das bacias do rio Paraíba diz que
estes coeficientes de demanda de água (demandas específicas) são muito elevados na
situação atual, em razão das grandes perdas e desperdícios. Os valores reais desses
coeficientes estão muito acima dos valores de projeto. A tendência, se não houver um
grande esforço de racionalização do uso e controle de água, é permanecer o mesmo
patamar de perdas e desperdícios ou uma ligeira melhora. Conforme ainda o Plano Diretor, a
situação desejada é conseguir, até o ano 2020, uma diminuição significativa das perdas e
desperdícios de água, constituindo um coeficiente de demanda menor para os diversos usos.

3.2 Demanda de Água para Abastecimento Humano


Para se estimar a demanda de água para abastecimento humano, nos horizontes de
2008, 2013 e 2023, os fatores de demanda tomaram, como base, as projeções das
populações rural e urbana de cada município, desenvolvidas no capítulo de cenários de
planejamento, a partir das taxas de crescimento, adotadas no relatório de diagnóstico e
estudos básicos, baseadas no censo do IBGE de 2000.

Seguindo o mesmo critério adotado no cenário atual, a população urbana inclui as


sedes municipais em cada bacia; enquanto a população rural foi calculada proporcionalmente
à área de cada município inserida nas bacias. Quanto aos coeficientes de demanda e de
consumo, foram aplicados os mesmos adotados na avaliação da demanda de água para
abastecimento humano no cenário atual.

A partir dos critérios definidos acima, são apresentadas, no Quadro 3.1, as


estimativas de demanda de água para abastecimento da população urbana, e, no Quadro
3.2, as estimativas de demanda de água para abastecimento da população rural, ambos nos
horizontes 2008, 2013 e 2023, estabelecidos para este Plano Diretor.

Capítulo 3 – Demanda de Água nos Cenários Futuros 23


Quadro 3.1 - Demanda de Água para Abastecimento Urbano
Bacia 2008 (m3/s) 2013 (m3/s) 2023 (m3/s)
Niquim 0,0123 0,0132 0,0152
São Miguel 0,2052 0,2111 0,2139
Jequiá 0,0432 0,0455 0,0493
Lagoas 0,0000 0,0000 0,0000
Poxim 0,0000 0,0000 0,0000
TOTAL 0,2608 0,2698 0,2785

Quadro 3.2 - Demanda de Água para Abastecimento Rural


Bacia 2008 (m3/s) 2013 (m3/s) 2023 (m3/s)
Niquim 0,0041 0,0041 0,0041
São Miguel 0,0321 0,0321 0,0321
Jequiá 0,0488 0,0488 0,0488
Lagoas 0,0009 0,0009 0,0009
Poxim 0,0146 0,0146 0,0146
TOTAL 0,1005 0,1005 0,1005

3.3 Dessedentação Animal


Na avaliação das demandas futuras para atender ao abastecimento animal, tomou-se,
como fatores de demanda, os valores das projeções dos efetivos dos rebanhos a nível de
município, com base na taxa de crescimento adotada no relatório de diagnóstico e estudos
básicos, mostrada no capítulo de cenários de planejamento.

Seguindo este critério e os coeficientes de demanda e de consumo adotados no


cenário atual, mostra-se, no quadro 3.3, os resultados das demandas futuras.

Capítulo 3 – Demanda de Água nos Cenários Futuros 24


Quadro 3.3 - Demanda de Água para Dessedentação Animal
Bacia 2008 (m3/s) 2013 (m3/s) 2023 (m3/s)
Niquim 0,0005 0,0005 0,0006
São Miguel 0,0172 0,0181 0,0201
Jequiá 0,0080 0,0084 0,0093
Lagoas 0,0001 0,0001 0,0001
Poxim 0,0013 0,0013 0,0015
TOTAL 0,0270 0,0285 0,0316

3.4 Demanda de Água para Irrigação


De acordo com as limitações de natureza hídrica e topográfica, prevalecentes em
grande parte das áreas estudadas, as possibilidades de expansão da agricultura irrigada
variam ao longo das bacias.

Mediante os mesmos coeficientes de demanda e de consumo adotados no cenário


atual, e com base nos valores das projeções de área irrigada, constantes dos estudos
socioeconômicos, conforme descrito no capítulo de cenários de planejamento, apresenta-se,
no Quadro 3.4, as estimativas de demanda de água para irrigação nos horizontes
considerados.

Quadro 3.4 - Demanda de Água para Irrigação


Bacia 2008 (m3/s) 2013 (m3/s) 2023 (m3/s)
Niquim 0,6314 0,7500 0,9872
São Miguel 6,1848 7,3446 9,6642
Jequiá 5,9589 7,0667 9,2825
Lagoas 0,9051 1,0866 1,4495
Poxim 1,7866 1,5729 1,1456
TOTAL 15,4667 17,8208 22,5290

O crescimento das demandas de 2008 a 2013 fica em torno de 20% para as bacias,
com exceção da bacia do rio Poxim, onde o decrescimento é de 12%. Para os anos entre os
horizontes de médio e longo prazo, a evolução das demandas fica em torno de 30%. A bacia
do rio Poxim novamente apresenta um decréscimo, e este é da mesma ordem do acréscimo
das outras bacias, como de acordo com o que foi mostrado no capítulo de cenários de
planejamento.

3.5 Demanda de Água para Indústria


Para se estimar a demanda de água para a indústria, para os cenários de
planejamento, seguiu-se o mesmo procedimento do cenário atual, em que foram

Capítulo 3 – Demanda de Água nos Cenários Futuros 25


distinguidos dois segmentos: o de agroindústria, representado pelo setor sucroalcooleiro, e o
de indústrias leves, agrupado como outras indústrias.

Com relação ao setor sucroalcooleiro, o crescimento projetado de cana esmagada


levou em conta as projeções realizadas no relatório de diagnóstico e estudos básicos e com
os coeficientes descritos no mesmo, e no capítulo de cenários de planejamento. Quanto às
outras indústrias, também foram levadas em conta as projeções dos documentos citados.

Os resultados obtidos, mediante os procedimentos acima, são apresentados no


Quadro 3.5 para o setor sucroalcooleiro, e no Quadro 3.6 para o setor outras indústrias. No
caso da indústria sucroalcooleira, as demandas estão concentradas nos municípios, como foi
explicado no capítulo de cenários de planejamento.

Quadro 3.5 - Demanda de Água para o Setor Sucroalcooleiro


MUNICÍPIOS 2008 (m3/s) 2013 (m3/s) 2023 (m3/s)
ANADIA 0,0000 0,0000 0,0000
BARRA DE S MIGUEL 0,0000 0,0000 0,0000
BELÉM 0,0000 0,0000 0,0000
BOCA DA MATA 0,0000 0,0000 0,0000
CAMPO ALEGRE 0,1045 0,0784 0,0261
CORURIPE 0,0533 0,0400 0,0133
LIMOEIRO DE ANADIA 0,0000 0,0000 0,0000
JEQUIÁ DA PRAIA 0,1045 0,0784 0,0261
MARECHAL DEODORO 0,0000 0,0000 0,0000
MARIBONDO 0,0000 0,0000 0,0000
ROTEIRO 0,0000 0,0000 0,0000
SÃO M DOS CAMPOS 0,2089 0,1567 0,0522
TANQUE D'ARCA 0,0000 0,0000 0,0000
TAQUARANA 0,0000 0,0000 0,0000
MAR VERMELHO 0,0000 0,0000 0,0000
* ATALAIA 0,0000 0,0000 0,0000
* JUNQUEIRO 0,0000 0,0000 0,0000
* TEOTÔNIO VILELA 0,0000 0,0000 0,0000
TOTAL 0,4712 0,3534 0,1178

Capítulo 3 – Demanda de Água nos Cenários Futuros 26


Quadro 3.6 - Demanda de Água para o setor outras indústrias
Bacia 2008 (m3/s) 2013 (m3/s) 2023 (m3/s)
Niquim 0,0085 0,0090 0,0100
São Miguel 0,0110 0,0116 0,0129
Jequiá 0,0089 0,0095 0,0105
Lagoas 0,0027 0,0029 0,0032
Poxim 0,0019 0,0020 0,0022
TOTAL 0,0330 0,0349 0,0388

De acordo com o projetado, as demandas totais para o setor sucroalcooleiro serão,


em 2008, 14 vezes maiores que as demandas para as outras indústrias. Este fator cai para
10, em 2013, e para 3, em 2023. Isto se deve mais à redução das demandas das usinas do
que ao crescimento das demandas das outras indústrias.

3.6 Síntese das Demandas Totais


Avaliadas as demandas futuras para cada categoria de usuário e bacias, são
apresentados nos Quadros 3.7 a 3.10 a síntese das demandas nos cenários correspondentes
aos horizontes de curto prazo (2008), médio prazo (2013) e longo prazo (2023),
respectivamente.

Capítulo 3 – Demanda de Água nos Cenários Futuros 27


Quadro 3.7 - Síntese das Demandas Totais - Cenário 2008
ABAST. HUMANO INDUSTRIAL SUCRO-ALCOOLEIRA TOTAL TOTAL
BACIA DESSEDENTAÇÃO IRRIGAÇÃO OUTRAS INDUSTRIAS
URBANO RURAL Moagem Outro Período (set-fev) (mar-ago)
Niquim 0,0123 0,0041 0,0005 0,6314 0,4712 0,0000 0,0085 1,1281 0,0255
São Miguel 0,2052 0,0321 0,0172 6,1848 0,4712 0,0000 0,0110 6,9215 0,2655
Jequiá 0,0432 0,0488 0,0080 5,9589 0,4712 0,0000 0,0089 6,5390 0,1089
Lagoas 0,0000 0,0009 0,0001 0,9051 0,4712 0,0000 0,0027 1,3800 0,0037
Poxim 0,0000 0,0146 0,0013 1,7866 0,4712 0,0000 0,0019 2,2755 0,0177
TOTAL 0,2608 0,1005 0,0270 15,4667 2,3562 0,0000 0,0330 18,2440 0,4212

Quadro 3.8 - Síntese das Demandas Totais - Cenário 2013


ABAST. HUMANO INDUSTRIAL SUCRO-ALCOOLEIRA TOTAL TOTAL
BACIA DESSEDENTAÇÃO IRRIGAÇÃO OUTRAS INDUSTRIAS
URBANO RURAL Moagem Outro Período (set-fev) (mar-ago)
Niquim 0,0132 0,0041 0,0005 0,7500 0,3534 0,0000 0,0090 1,1303 0,0268
São Miguel 0,2111 0,0321 0,0181 7,3446 0,3534 0,0000 0,0116 7,9709 0,2729
Jequiá 0,0455 0,0488 0,0084 7,0667 0,3534 0,0000 0,0095 7,5324 0,1122
Lagoas 0,0000 0,0009 0,0001 1,0866 0,3534 0,0000 0,0029 1,4438 0,0038
Poxim 0,0000 0,0146 0,0013 1,5729 0,3534 0,0000 0,0020 1,9442 0,0179
TOTAL 0,2698 0,1005 0,0285 17,8208 1,7671 0,0000 0,0349 20,0216 0,4337

Capítulo 3 – Demanda de Água nos Cenários Futuros 28


Quadro 3.9 - Síntese das Demandas Totais - Cenário 2023
ABAST. HUMANO INDUSTRIAL SUCRO-ALCOOLEIRA TOTAL TOTAL
BACIA DESSEDENTAÇÃO IRRIGAÇÃO OUTRAS INDUSTRIAS
URBANO RURAL Moagem Outro Período (set-fev) (mar-ago)
Niquim 0,0152 0,0041 0,0006 0,9872 0,1178 0,0000 0,0100 1,1350 0,0299
São Miguel 0,2139 0,0321 0,0201 9,6642 0,1178 0,0000 0,0129 10,0611 0,2791
Jequiá 0,0493 0,0488 0,0093 9,2825 0,1178 0,0000 0,0105 9,5183 0,1180
Lagoas 0,0000 0,0009 0,0001 1,4495 0,1178 0,0000 0,0032 1,5714 0,0041
Poxim 0,0000 0,0146 0,0015 1,1456 0,1178 0,0000 0,0022 1,2817 0,0182
TOTAL 0,2785 0,1005 0,0316 22,5290 0,5890 0,0000 0,0388 23,5674 0,4494

Quadro 3.10 - Síntese das Demandas Totais, nos Diferentes Horizontes de Planejamento (m³/s)
TOTAL TOTAL
horizonte ab. humano ab. rural dessedentação irrigação ind. sucro-alc. outras ind.
set-fev mar-ago
2008 0,2608 0,100 0,027 15,467 2,356 0,033 18,244 0,421
2013 0,2698 0,100 0,028 17,821 1,767 0,035 20,022 0,434
2023 0,2785 0,100 0,032 22,529 0,589 0,039 23,567 0,449

Capítulo 3 – Demanda de Água nos Cenários Futuros 29


Nas Figuras 3.2 e 3.3, estão ilustradas as evoluções das demandas totais na área de estudo.
Para o período de atividade da indústria sucroalcooleira, as demandas em 2013 crescerão em torno
de 10% em relação às demandas de 2003. Para o outro período (março a agosto), este crescimento
será de cerca de 2,4%. Observando agora o crescimento de 2003 a 2023, os mesmos percentuais
são de 30% e 7%, ou seja, os aumentos mais significativos de demanda se dão pelas projeções
atribuídas às indústrias sucroalcooleiras.

Capítulo 3 – Demanda de Água nos Cenários Futuros 30


4 – AVALIAÇÃO DAS DISPONIBILIDADES DE RECURSOS
HÍDRICOS
Para avaliação da disponibilidade de água na Região Hidrográfica do São Miguel foi
adotada a simplificação para sua representação espacial. Tendo por base esta referência
cartográfica, os recursos hídricos superficiais serão avaliados quanto as suas disponibilidades
tendo por base a série de observações disponíveis e as características da bacia.

Os recursos hídricos subterrâneos apresentam maior dificuldade de estimativa devido


a carência de registros sistemáticos de vazões obtidas nos poços existentes na bacia e,
também, às características do subsolo.

4.1 Disponibilidades de Águas Subterrâneas


A disponibilidade hídrica, neste caso, representa a quantidade de água disponível
para usos diversos passíveis de serem retiradas de seu meio natural. Considerando
inicialmente às águas subterrâneas suas disponibilidades hídricas são função dos tipos de
aqüíferos que lá existem; assim serão abordados aspectos de caracterização destes aqüíferos
e em seguida serão definidas as disponibilidades hídricas de águas subterrâneas nas
respectivas bacias hidrográficas que compõem a área em estudo.

Em função das características geomorfológicas, pedológicas e hidrogeológicas


observadas na região das bacias hidrográficas, foram definidos dois sistemas aqüíferos. O
principal parâmetro utilizado para a distinção desses sistemas foi o tipo de porosidade
associada a cada um. Além do tipo de porosidade, outras feições, tais como potencial
hidrogeológico, vulnerabilidade e parâmetros dimensionais, também são parâmetros
distintivos, sendo qualitativamente importantes para a classificação desses sistemas.

As disponibilidades hídricas de águas subterrâneas, na região hidrográfica do São


Miguel totalizam, aproximadamente, 450hm3/ano (quatrocentos e cinqüenta milhões de
metros cúbicos por ano), o que representa aproximadamente 16,35% da reserva total
permanente. A bacia hidrográfica do rio Jequiá é a que dispõe de maior disponibilidade, com
cerca 200hm3/ano; depois vem a do rio Poxim, com cerca de 120hm3/ano; na seqüência vem
as dos rios São Miguel, Niquim e das Lagoas com 65hm3/ano, 36hm3/ano e 26 hm3/ano,
respectivamente.

Considerando que atualmente os volumes explorados anualmente não superam 2%


das disponibilidades, verifica-se que existe um potencial considerável desse recurso que

Capítulo 4 – Avaliação das Disponibilidades de Recursos Hídricos 31


poderá ser explorado. Salienta-se, no entanto, que deve-se sempre lembrar das definições
apresentadas anteriormente para a disponibilidade hídrica subterrânea, e que esta, neste
trabalho, representa a Disponibilidade Virtual, próximo de 16% da reserva total permanente
e a quase totalidade da reserva reguladora/renovável (varia de 84% a 99% nas bacias). Tais
informações estão sucintamente descritas no Quadro 4.1.

Quadro 4.1. Parâmetros Quantitativos de Águas Subterrâneas das Bacias Hidrográficas


Bacias Hidrográficas
Parâmetros de Área e Volume São das
Niquim Jequiá Poxim Total
Miguel Lagoas

Área (km2) 155 677 111 796 490 2229


Permanente (hm³) 226,90 334,70 218,40 1.022,00 949,60 2.751,60
Reservas
Totais Reguladora
42,76 71,45 28,49 202,10 121,20 466,00
(hm³/ano)
Potencialidades (hm³/ano) 43,19 72,22 28,92 204,10 123,10 471,53
Virtual 36,14 65,33 26,63 201,20 120,60 449,90
Disponibilidades
Instalada 0,14 5,57 0,24 7,12 2,97 16,03
(hm3/ano)
Efetiva 0,05 1,39 0,08 2,34 0,98 4,83

4.2 Disponibilidade de Água Superficial


O capítulo seguinte apresenta uma descrição minuciosa sobre a disponibilidade
hídrica. Preferiu-se este ordenamento no texto objetivando a clareza na exposição do
balanço hídrico, e evitar a repetição desnecessária de informações. Aqui se fez tão somente
uma pequena da metodologia utilizada para avaliar a referida disponibilidade.

A metodologia utilizada é fundamentada na utilização de um modelo matemático de


simulação do processo natural de transformação de chuva em vazão. Por este procedimento
ajusta-se um modelo matemático ao processo em tela, representado pelas observações de
precipitação pluvial e vazões fluviais disponíveis. O ajuste significa atribuir, por tentativa, um
conjunto de parâmetros de calibração adequados ao modelo matemático selecionado, de
forma que o registro de vazões fluviais calculadas pelo modelo a partir das precipitações
pluviais observadas melhor se aproxime do registro de vazões fluviais observado. Por isto há
necessidade de que ambos os registros de valores refiram-se ao mesmo período temporal.
Como poderão ser várias as seções onde acham-se disponíveis registros observados de
precipitação pluvial e de vazão fluviais, vários poderão ser os ajustes.

Os parâmetros de ajuste dos modelos matemáticos têm relação com características


climato-fisiográficas das bacias onde são ajustados. Sendo assim, supõe-se que em uma
mesma bacia os parâmetros serão similares, a não ser por diferenças determinadas por
características fisiográficas, como solo, cobertura vegetal, declividade, etc. Em bacias

Capítulo 4 – Avaliação das Disponibilidades de Recursos Hídricos 32


relativamente homogêneas pode-se supor, como primeira aproximação, que os parâmetros
de ajuste serão idênticos, independentemente da seção fluvial. As diferenças entre as vazões
que ocorrerão ao longo da rede de drenagem correm por conta das diferenças espaciais das
precipitações pluviais e das áreas de drenagem para cada seção fluvial.

Desta forma, o conjunto de parâmetros de ajuste permite que sejam calculadas


vazões em qualquer seção fluvial da bacia, desde que sejam disponíveis séries de
precipitações pluviais. Obviamente, a extensão da série de vazões fluviais calculadas será a
mesma da série de precipitações pluviais observadas. Como geralmente estas séries são
mais extensas, e de melhor qualidade, do que as de vazões fluviais – devido a maior
facilidade de observação e menor custo – esta metodologia possibilita aumentar o registro
de vazões fluviais, onde elas foram observadas, e também onde elas não o foram.

No caso do presente estudo foram estimados os parâmetros do modelo de


transformação chuva-vazão para a estação Camaçari, localizada no rio Coruripe, e
transferido para a Região Hidrográfica do São Miguel. Ou seja, com base nos parâmetros
obtidos no ajuste para a Estação Camaçari e nas observações de precipitação pluvial da
região em estudo pode-se estimar as vazões na área de interesse.

Para esta finalidade utilizou-se o MODHAC, que é um modelo matemático de


simulação da fase terrestre do ciclo hidrológico, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas
Hidráulicas da UFRGS. Conhecidas séries simultâneas das variáveis motoras deste processo,
chuva e evapotranspiração potencial, o modelo computa o armazenamento e a abstração da
água na bacia. Na versão atual, o modelo não considera de forma explícita a variabilidade
espacial das características fisiográficas, que condicionam o processo hidrológico. Trata-se,
portanto, do que é chamado no jargão hidrológico de modelo globalizado. Como o nome diz,
o modelo pode ter seus parâmetros calibrados automaticamente de forma a aprimorar um
índice de aderência entre as vazões observadas e calculadas.

O MODHAC, versão Windows® foi concebido já antevendo sua utilização em conjunto


com o SAGBAH, que consiste em um Sistema de Apoio à Decisão que, no contexto de um
projeto, simula o comportamento de uma bacia hidrográfica, composta ou não por sub-
bacias, visando o apoio às atividades de Gestão e de Planejamento do uso dos Recursos
Hídricos com vistas ao atendimento de Demandas Hídricas.

A versão Windows® atual do MODHAC foi concebida para servir de interface gráfica
para a versão MODHAC 97 para DOS, de forma que os esclarecimentos quanto à concepção

Capítulo 4 – Avaliação das Disponibilidades de Recursos Hídricos 33


e funcionamento teórico do modelo matemático que o constitui deve ser obtido em
“MODHAC - Manual Teórico do Modelo” (Viegas, 2004).

Para fins de estimativa de disponibilidades hídricas na bacia foram utilizadas as


informações da seção fluvial Camaçari, localizada no rio Coruripe (39980000), no período de
janeiro de 1978 a dezembro de 1991. O Modelo foi calibrado com intervalos de simulação e
computação mensais. Os detalhes da disponibilidade hídrica da região de estudo estão
descritas com o adequado aprofundamento no capítulo seguinte.

Capítulo 4 – Avaliação das Disponibilidades de Recursos Hídricos 34


5 – BALANÇO DOS RECURSOS HÍDRICOS
Nos ítens que seguem serão apresentados duas abordagens de diagnóstico da área
em estudo. A primeira, denominada expedita, refere-se a um balanço global onde as
estimativas de demandas totais para cada uma das bacias que compõem a área de estudo
são confrontadas com uma estimativa de vazão de referencia situada no exutório da
respectiva bacia. Na segunda abordagem, mais detalhada, o balanço será realizado para
cada um dos pontos característicos adotados na bacia.

5.1 Metodologia Expedita


Nesta fase, o balanço foi realizado para os cenários atual e futuro de aproveitamento
dos recursos hídricos e de desenvolvimento socioeconômico. Trata-se da disponibilidade a fio
d’água, considerando a vazão Q90, que é a vazão de referência para a outorga de direito de
uso da água, utilizada pelo Órgão Gestor de Recursos Hídricos. Importa lembrar que esta
vazão, bem como qualquer outra vazão característica dos rios da região de estudo, é
estimada por simulação hidrológica, visto que não há dados que possibilitem um estudo mais
realista. A partir do conhecimento dos valores totais das disponibilidades, foram calculados
dois saldos hídricos para cada bacia: S1 = Disponibilidade - Demanda Consuntiva e S2 =
Disponibilidade - Demanda Consuntiva – Vazão Mínima para permanecer no rio.

O saldo S2 leva em conta uma vazão mínima que deverá permanecer no rio para
manutenção da vida aquática, que foi considerada igual a uma fração da disponibilidade
representada pela Q90 (10%, 20%, 30% ou 50%). Se positivo, além de atender as
demandas Consuntivas, há também meios para manter uma vazão mínima no rio,
contribuindo para a preservação do ecossistema. Se negativo, indica que não existem
recursos suficientes para garantir o suprimento da totalidade das demandas, incluindo a
vazão mínima para manter no rio.

Nos quadros a seguir estão apresentados os resultados dos balanços hídricos para
cada uma das bacias hidrográficas analisadas e para os diversos cenários, sempre
considerando como disponibilidade a vazão Q90 e, na ausência de informações mais precisas,
considerou-se como a vazão mínima para ser mantida no rio 10%, 20%, 30% ou 50% da
disponibilidade.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 35


Quadro 5.1 – Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel
Demanda (m3/s) Saldo (m3/s)
Disponibilidade
Cenário Consuntiva Vazão Total S1 S2
Q90 (m3/s)
set-mar abr-ago Mínima set-mar abr-ago set-mar abr-ago set-mar abr-ago
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 10% da Q90
2000 1,140 6,238 0,258 0,114 6,352 0,372 -5,098 0,882 -5,212 0,768
2008 1,140 6,921 0,265 0,114 7,035 0,379 -5,781 0,875 -5,895 0,761
2013 1,140 7,971 0,273 0,114 8,085 0,387 -6,831 0,867 -6,945 0,753
2023 1,140 10,061 0,279 0,114 10,175 0,393 -8,921 0,861 -9,035 0,747
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 20% da Q90
2000 1.140 6.238 0.258 0.228 6.466 0.486 -5.098 0.882 -5.326 0.654
2008 1.140 6.921 0.265 0.228 7.149 0.493 -5.781 0.875 -6.009 0.647
2013 1.140 7.971 0.273 0.228 8.199 0.501 -6.831 0.867 -7.059 0.639
2023 1.140 10.061 0.279 0.228 10.289 0.507 -8.921 0.861 -9.149 0.633
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 30% da Q90
2000 1.140 6.238 0.258 0.342 6.580 0.600 -5.098 0.882 -5.440 0.540
2008 1.140 6.921 0.265 0.342 7.263 0.607 -5.781 0.875 -6.123 0.533
2013 1.140 7.971 0.273 0.342 8.313 0.615 -6.831 0.867 -7.173 0.525
2023 1.140 10.061 0.279 0.342 10.403 0.621 -8.921 0.861 -9.263 0.519
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 50% da Q90
2000 1.140 6.238 0.258 0.570 6.808 0.828 -5.098 0.882 -5.668 0.312
2008 1.140 6.921 0.265 0.570 7.491 0.835 -5.781 0.875 -6.351 0.305
2013 1.140 7.971 0.273 0.570 8.541 0.843 -6.831 0.867 -7.401 0.297
2023 1.140 10.061 0.279 0.570 10.631 0.849 -8.921 0.861 -9.491 0.291
Nota:
S1 = Disponibilidade - Demanda Consuntiva
S2 = Disponibilidade - Demanda Consuntiva – Vazão Mínima para permanecer no rio

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 36


Quadro 5.2 – Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio Jequiá
Demanda (m3/s) Saldo (m3/s)
Disponibilidade
Cenário Consuntiva Vazão Total S1 S2
Q90 (m3/s)
set-mar abr-ago Mínima set-mar abr-ago set-mar abr-ago set-mar abr-ago
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 10% da Q90
2000 1,630 5,526 0,100 0,163 5,689 0,263 -3,896 1,530 -4,059 1,367
2008 1,630 6,539 0,109 0,163 6,702 0,272 -4,909 1,521 -5,072 1,358
2013 1,630 7,532 0,112 0,163 7,695 0,275 -5,902 1,518 -6,065 1,355
2023 1,630 9,518 0,118 0,163 9,681 0,281 -7,888 1,512 -8,051 1,349
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 20% da Q90
2000 1.630 5.526 0.100 0.326 5.852 0.426 -3.896 1.530 -4.222 1.204
2008 1.630 6.539 0.109 0.326 6.865 0.435 -4.909 1.521 -5.235 1.195
2013 1.630 7.532 0.112 0.326 7.858 0.438 -5.902 1.518 -6.228 1.192
2023 1.630 9.518 0.118 0.326 9.844 0.444 -7.888 1.512 -8.214 1.186
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 30% da Q90
2000 1.630 5.526 0.100 0.489 6.015 0.589 -3.896 1.530 -4.385 1.041
2008 1.630 6.539 0.109 0.489 7.028 0.598 -4.909 1.521 -5.398 1.032
2013 1.630 7.532 0.112 0.489 8.021 0.601 -5.902 1.518 -6.391 1.029
2023 1.630 9.518 0.118 0.489 10.007 0.607 -7.888 1.512 -8.377 1.023
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 50% da Q90
2000 1.630 5.526 0.100 0.815 6.341 0.915 -3.896 1.530 -4.711 0.715
2008 1.630 6.539 0.109 0.815 7.354 0.924 -4.909 1.521 -5.724 0.706
2013 1.630 7.532 0.112 0.815 8.347 0.927 -5.902 1.518 -6.717 0.703
2023 1.630 9.518 0.118 0.815 10.333 0.933 -7.888 1.512 -8.703 0.697
Nota:
S1 = Disponibilidade - Demanda Consuntiva
S2 = Disponibilidade - Demanda Consuntiva – Vazão Mínima para permanecer no rio

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 37


Quadro 5.3 – Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio Niquim
Demanda (m3/s) Saldo (m3/s)
Disponibilidade
Cenário Consuntiva Vazão Total S1 S2
Q90 (m3/s)
set-mar abr-ago Mínima set-mar abr-ago set-mar abr-ago set-mar abr-ago
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 10% da Q90
2000 0.470 1.294 0.024 0.047 1.341 0.071 -0.824 0.446 -0.871 0.399
2008 0.470 1.128 0.025 0.047 1.175 0.072 -0.658 0.445 -0.705 0.398
2013 0.470 1.130 0.027 0.047 1.177 0.074 -0.660 0.443 -0.707 0.396
2023 0.470 1.135 0.030 0.047 1.182 0.077 -0.665 0.440 -0.712 0.393
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 20% da Q90
2000 0.470 1.294 0.024 0.094 1.388 0.118 -0.824 0.446 -0.918 0.352
2008 0.470 1.128 0.025 0.094 1.222 0.119 -0.658 0.445 -0.752 0.351
2013 0.470 1.130 0.027 0.094 1.224 0.121 -0.660 0.443 -0.754 0.349
2023 0.470 1.135 0.030 0.094 1.229 0.124 -0.665 0.440 -0.759 0.346
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 30% da Q90
2000 0.470 1.294 0.024 0.141 1.435 0.165 -0.824 0.446 -0.965 0.305
2008 0.470 1.128 0.025 0.141 1.269 0.166 -0.658 0.445 -0.799 0.304
2013 0.470 1.130 0.027 0.141 1.271 0.168 -0.660 0.443 -0.801 0.302
2023 0.470 1.135 0.030 0.141 1.276 0.171 -0.665 0.440 -0.806 0.299
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 50% da Q90
2000 0.470 1.294 0.024 0.235 1.529 0.259 -0.824 0.446 -1.059 0.211
2008 0.470 1.128 0.025 0.235 1.363 0.260 -0.658 0.445 -0.893 0.210
2013 0.470 1.130 0.027 0.235 1.365 0.262 -0.660 0.443 -0.895 0.208
2023 0.470 1.135 0.030 0.235 1.370 0.265 -0.665 0.440 -0.900 0.205

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 38


Quadro 5.4 – Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica das Lagoas
Demanda (m3/s) Saldo (m3/s)
Disponibilidade
Cenário Consuntiva Vazão Total S1 S2
Q90 (m3/s)
set-mar abr-ago Mínima set-mar abr-ago set-mar abr-ago set-mar abr-ago
2000 - 1,207 0,003 - - - - - - -
2008 - 1,380 0,004 - - - - - - -
2013 - 1,444 0,004 - - - - - - -
2023 - 1,571 0,004 - - - - - - -

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 39


Quadro 5.5 – Síntese do Balanço Global dos Recursos Hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio Poxim
Demanda (m3/s) Saldo (m3/s)
Disponibilidade
Cenário Consuntiva Vazão Total S1 S2
Q90 (m3/s)
set-mar abr-ago Mínima set-mar abr-ago set-mar abr-ago set-mar abr-ago
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 10% da Q90
2000 0,580 5,312 0,017 0,058 5,370 0,075 -4,732 0,563 -4,790 0,505
2008 0,580 2,276 0,018 0,058 2,334 0,076 -1,696 0,562 -1,754 0,504
2013 0,580 1,944 0,018 0,058 2,002 0,076 -1,364 0,562 -1,422 0,504
2023 0,580 1,282 0,018 0,058 1,340 0,076 -0,702 0,562 -0,760 0,504
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 20% da Q90
2000 0.580 5.312 0.017 0.116 5.428 0.133 -4.732 0.563 -4.848 0.447
2008 0.580 2.276 0.018 0.116 2.392 0.134 -1.696 0.562 -1.812 0.446
2013 0.580 1.944 0.018 0.116 2.060 0.134 -1.364 0.562 -1.480 0.446
2023 0.580 1.282 0.018 0.116 1.398 0.134 -0.702 0.562 -0.818 0.446
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 30% da Q90
2000 0.580 5.312 0.017 0.174 5.486 0.191 -4.732 0.563 -4.906 0.389
2008 0.580 2.276 0.018 0.174 2.450 0.192 -1.696 0.562 -1.870 0.388
2013 0.580 1.944 0.018 0.174 2.118 0.192 -1.364 0.562 -1.538 0.388
2023 0.580 1.282 0.018 0.174 1.456 0.192 -0.702 0.562 -0.876 0.388
Considerando a Vazão Mínima para ser mantida no rio 50% da Q90
2000 0.580 5.312 0.017 0.290 5.602 0.307 -4.732 0.563 -5.022 0.273
2008 0.580 2.276 0.018 0.290 2.566 0.308 -1.696 0.562 -1.986 0.272
2013 0.580 1.944 0.018 0.290 2.234 0.308 -1.364 0.562 -1.654 0.272
2023 0.580 1.282 0.018 0.290 1.572 0.308 -0.702 0.562 -0.992 0.272
Nota:
S1 = Disponibilidade - Demanda Consuntiva
S2 = Disponibilidade - Demanda Consuntiva – Vazão Mínima para permanecer no rio

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 40


Na bacia do rio São Miguel a vazão de referencia adotada (Q90), da ordem de
1,14m3/s, é superior a demanda total dessa bacia nos meses de abril a agosto, em qualquer
dos cenários testados, mesmo considerando qualquer um das frações da Q90 para
permanecer no rio. No entanto, nos meses que ocorrem os maiores consumos de água
(setembro a março), já na situação atual, a disponibilidade quando representada pela Q90
não é suficiente para atender plenamente as demandas. Considerando a capacidade de
regularização 80% da vazão média de longo período, a bacia do rio São Miguel apresenta
um potencial de 5,04m3/s, insuficiente para atender integralmente a demanda atual total nos
meses de setembro a março;

Na bacia do rio Jequiá, cuja vazão de referencia Q90 é da ordem de 1,63m³/s, assim
como ocorre na bacia do rio São Miguel, é suficiente para atender o total das demandas nos
meses de abril a agosto, para qualquer um dos cenários testados, mesmo considerando
qualquer um das frações da Q90 para permanecer no rio. Porém, já na situação atual,
quando considerado o período mais crítico, setembro a março, essa disponibilidade é
insuficiente para atender a demanda total. Quando considerado o potencial da bacia,
também adotando 80% da vazão média de longo período, resulta em 2,80m³/s, também
insuficiente para atender plenamente as demandas nos meses mais críticos.

Na bacia do rio Niquim a vazão de referencia Q90, da ordem de 0,47m³/s, é


insuficiente para atender o total das demandas nos meses mais críticos já na situação atual.
No entanto, essa mesma disponibilidade é suficiente para atender, com bastante folga, as
demandas nos meses de abril a agosto, inclusive a vazão mínima estabelecida para
permanecer no rio. Quando considerado o potencial regularizável dessa bacia, da ordem de
1,92m³/s, a situação é bem mais favorável. Nessa situação é possível atender integralmente
todas demandas mesmo considerando os meses mais críticos e qualquer um dos cenários
testados.

Na bacia do rio Poxim, cuja vazão de referencia Q90 é da ordem de 0,58m³/s,


insuficiente para suprir integralmente as demandas no período mais critico, embora seja
suficiente para garantir o suprimento nos meses de abril a agosto. O potencial de
regularização da bacia, da ordem de 1,74m³/s, somente garantirá o suprimento integral das
demandas nos meses mais críticos na situação representada no cenário do ano 2023,
quando as demandas para a irrigação sofreriam uma redução significativa.

Observou-se que, no caso específico do terço superior da bacia do rio São Miguel, em
uma região de características tipicamente do agreste, a vazão específica é bastante reduzida
e não atende às projeções de demandas necessárias que foram consideradas. Problemas

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 41


semelhantes ocorrem na bacia do rio Jequiá. Estes mananciais apresentam boas condições
de escoamentos médios, porém as variações de vazões são de grande significância, fazendo
com que as vazões mínimas não atendam as demandas já instaladas, bem como as
projetadas.

As situações mais graves para o conjunto das bacias analisadas acontecem no


período de março a setembro, quando a irrigação e a moagem da cana pelas usinas estão
em plena atividade. No período de abril a agosto os resultados do balanço global a fio
d’água, tanto para o cenário atual quanto para os cenários futuro, mostram que a situação
não é ruim. No caso do balanço para os horizontes futuros, o rio Poxim tem sua situação
bastante melhorada. Isto se deve principalmente ao fato de que as demandas para a
irrigação têm uma projeção de queda nessa bacia.

5.2 Metodologia Baseada no PROPAGAR 2000


O PROPAGAR 2000 constitui-se por uma ferramenta, integrada ao SAGBAH (Sistema
de Apoio ao Gerenciamento de Bacias Hidrográficas) destinada a simular a propagação de
vazões e a operação de reservatórios no âmbito de uma bacia hidrográfica, dividida ou não
em sub-bacias, visando o planejamento do atendimento de demandas hídricas distribuídas
ao longo dos cursos de água, de acordo com regras gerenciais e operacionais pré-
estabelecidas. O PROPAGAR 2000 consiste em um modelo sofisticado de Rede Hidrográfica
desenvolvido segundo o paradigma da Modelagem Orientada a Objetos e que encapsula
todos os objetos que a compõe. Esse modelo permite o desenvolvimento de análises -
prévias ou não - relativas aos dados inseridos e, também, análises posteriores – econômicas,
estatísticas, etc. – dos resultados, de forma totalmente independente do modelo de
simulação utilizado. Maiores informações sobre o PROPAGAR 2000 podem ser obtidas no
manual básico, disponibilizado juntamente com o Tomo III - Modelo de Gerenciamento
Integrado dos Recursos Hídricos.

5.2.1 - Subdivisão das Bacias para Fins de Simulação


Para a identificação dos usos e demandas dos recursos hídricos das bacias da área
em estudo, bem como para efeitos de compartimentalizar o planejamento de ações, e assim
facilitá-lo, a mesma foi subdividida em sub-bacias e os cursos d'água em trechos, nos quais
foram identificados pontos característicos representativos de seções fluviais de interesse. A
seguir serão apresentadas as descrições das subdivisões de cada uma das bacias
hidrográfica que compõem a área.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 42


São Miguel
A subdivisão baseou-se no critério da homogeneidade da ocupação do solo e na
identificação de pontos onde ocorrem captações ou lançamentos importantes. O rio São
Miguel foi também subdividido em trechos de análise, objetivando a melhor caracterização
de uma área hidro-geográfica em relação aos usos dos recursos hídricos. O resultado dessa
subdivisão foi a identificação de 12 trechos nos rios São Miguel e seus afluentes. O Quadro
5.6 apresenta a descrição dos pontos característicos considerados na bacia do rio São
Miguel.

Quadro 5.6 – Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel


PC IDENTIFICAÇÃO/LOCALIZAÇÃO
SM 1 Rio São Miguel à montante de Tanque d’Arca
SM 2 Rio São Miguel
SM 3 Após confluência do Rio das Pedrinhas com o Rio Papagaio
SM 4 Rio São Miguel, após confluência do Rio das Pedrinhas (Ponto de coleta P16)
SM 5 Rio São Miguel – (Ponto de coleta P15)
SM 6 Foz do Riacho Camarão
SM 7 Rio São Miguel, após confluência do Riacho Camarão
SM 8 Rio São Miguel
SM 9 Rio São Miguel
SM 10 Foz de um riacho sem nome (Captação da Usina Caetés)
SM 11 Rio São Miguel, após foz do riacho sem nome (Ponto de coleta P13)
SM 12 Rio São Miguel, antes da Lagoa do Roteiro
Nota: Ponto de Coleta – local utilizado para coleta de água durante as campanhas de
amostragens realizadas durante a primeira etapa do presente estudo.

Jequiá
A subdivisão baseou-se nos mesmos critérios utilizados na Bacia do São Miguel e
resultou na identificação de 22 trechos nos rios Jequiá e seus afluentes. O Quadro 5.7
apresenta a descrição dos pontos característicos considerados na bacia do rio Jequiá.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 43


Quadro 5.7 – Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Jequiá
PC IDENTIFICAÇÃO/LOCALIZAÇÃO
JQ 1 Rio Branco
JQ 2 Rio Jequiá Grande, próximo da confluência com o Rio Branco
JQ 3 Rio Jequiá Grande (Ponto de Coleta P8)
JQ 4 Rio Jequiazinho (Ponto de Coleta P9)
JQ 5 Rio Jequiá Grande, após receber o Rio Jequiazinho
JQ 6 Rio Jequiá Grande – Usina Rico
JQ 7 Jequiá Grande
JQ 8 Riacho Caboatã
JQ 9 Riacho Mandante (Ponto de Coleta P10)
JQ 10 Riacho Caboatã, após receber o Riacho Mandante
JQ 11 Riacho Caboatã
Rio Jequiá, após confluência com o Rio Jequiá Grande e Riacho Caboatã (Ponto de Coleta
JQ 12
P7)
JQ 13 Rio Jequiá
JQ 14 Riacho Sapucaba
JQ 15 Rio Jequiá, após confluência do Riacho Sapucaba – Usina Sinimbu - (Ponto de Coleta P5)
JQ 16 Riacho Baixa Seca
JQ 17 Confluência do Rio Jequiá com a Lagoa de Jequiá
JQ 18 Rio Taquari
JQ 19 Confluência do Rio Taquari com a Lagoa de Jequiá
JQ 20 Riacho sem nome
JQ 21 Confluência do Riacho sem nome com a Lagoa de Jequiá
JQ 22 Lagoa de Jequiá (Ponto de Coleta P2)
Nota: Ponto de Coleta – local utilizado para coleta de água durante as campanhas de
amostragens realizadas durante a primeira etapa do presente estudo.

Niquim
O rio Niquim e seus afluentes foram subdividos em 7 trechos. O Quadro 5.8
apresenta a descrição dos pontos característicos considerados nessa bacia.

Quadro 5.8 – Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Niquim


PC IDENTIFICAÇÃO/LOCALIZAÇÃO
NQ 1 Rio Niquim
NQ 2 Rio Niquim
NQ 3 Tributário do Rio Niquim (sem nome)
NQ 4 Rio Niquim
NQ 5 Rio Niquim (Ponto de Coleta 18)
NQ 6 Rio Niquim (Ponto de Coleta 17)
NQ 7 Rio Niquim
Nota: Ponto de Coleta – local utilizado para coleta de água durante as
campanhas de amostragens realizadas durante a primeira etapa do presente
estudo.

Das Lagoas
Os riachos formadores da bacia hidrográfica das Lagoas foram subdivididos em 7
trechos. O Quadro 5.9 apresenta a descrição dos pontos característicos considerados nessa
bacia.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 44


Quadro 5.9 – Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica das Lagoas
PC IDENTIFICAÇÃO/LOCALIZAÇÃO
LG 1 Riacho Doce
LG 2 Riacho sem nome
LG 3 Riacho sem nome
LG 4 Riacho Tabuado
LG 5 Riacho Tabuado
LG 6 Riacho Azedo
LG 7 Riacho sem nome
Nota: Ponto de Coleta – local utilizado para coleta de água durante as
campanhas de amostragens realizadas durante a primeira etapa do presente
estudo.

Poxim
Na bacia hidrográfica do rio Poxim foram utilizados 14 pontos característicos. O Quadro 5.10
apresenta a descrição dos pontos característicos considerados nessa bacia.
Quadro 5.10 – Pontos Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Poxim
PC IDENTIFICAÇÃO/LOCALIZAÇÃO
PX 1 Riacho sem nome
PX 2 Riacho sem nome, no encontro com a Lagoa
PX 3 Riacho sem nome, no encontro com a Lagoa
PX 4 Rio Poxim
PX 5 Riacho Guaxuma
PX 6 Riacho sem nome
PX 7 Riacho sem nome
PX 8 Rio Poxim, após confluência com o Riacho Guaxuma
PX 9 Rio Poxinzinho
PX 10 Riacho Limão
PX 11 Rio Poxinzinho
PX 12 Riacho Poxim
PX 13 Rio Poxim, após confluência com o Riacho Limão
PX 14 Rio Poxim
Nota: Ponto de Coleta – local utilizado para coleta de água durante as campanhas de
amostragens realizadas durante a primeira etapa do presente estudo.

5.2.2 Simulação com o PROPAGAR


Na primeira abordagem de diagnóstico, apresentada no item 5.1, o balanço hídrico foi
obtido a partir do confronto entre as estimativas de demanda total e da disponibilidade
global, sendo adotada para este fim a vazão Q90 no exutório de cada bacia. No entanto,
devido a simplificação implícita nessa abordagem, os resultados obtidos não permitem
identificar com precisão o que efetivamente ocorre no interior de cada bacia. Ou seja, ao
comparar uma única vazão (Q90) e uma única posição no espaço (foz da bacia), essa
abordagem mascara os resultados do balanço, deixando de realçar a variação temporal e
espacial que efetivamente ocorre na bacia.

O programa PROPAGAR permite considerar a variação temporal e espacial, pois


simula a propagação de vazões na bacia, submetida a decisões operacionais relacionadas ao
suprimento de demandas hídricas e descarga de reservatórios. Entre seus resultados,

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 45


apresenta tabularmente, um conjunto com uma análise de falhas de suprimento às diversas
demandas hídricas.

Para cada uma das bacias que compõem a área de estudo foi realizado, utilizando o
PROPAGAR, o confronto das vazões geradas nos pontos característicos com as demandas
estimadas nas sub-bacias. As simulações foram realizadas para o período de janeiro de 1963
a novembro de 1983 e os resultados obtidos para cada bacia são apresentados a seguir.

Para fins de balanço hídrico, as demandas foram classificadas em dois grupos:


difusas e concentradas. No primeiro grupo foram enquadrados os abastecimentos das
comunidades rurais e a dessedentação de animais, nesse caso o balanço sendo considerado
na sub-bacia. O grupo das demandas concentradas é formado pelo abastecimento doméstico
urbano, a irrigação, os suprimentos das usinas e das industrias em geral. Nesse caso o
balanço hídrico é realizado no ponto característico onde ocorre a captação.

As simulações foram realizadas para o período compreendido entre janeiro de 1963 e


dezembro de 1983, considerando intervalos mensais e, portanto, 252 intervalos (21 anos x
12 meses). No confronto demanda versus disponibilidade, considera-se que ocorreu falha de
suprimento quando a demanda não foi integralmente suprida, ainda que tenha sido
parcialmente. Considera-se falha crítica quando a disponibilidade só pode suprir menos de 50
% da demanda.

São Miguel
Os resultados da simulação mostram não haver restrições de atendimento às
demandas quantitativas de água na bacia do rio São Miguel, a não ser para os pontos
característicos SM 4, SM 6 e SM 10, onde foram identificadas falhas nos suprimentos. Isto é
válido tanto para a situação atual quanto para os cenários futuros. Neste confronto
entendeu-se que as captações deverão ser realizadas na rede de drenagem principal e que
as sub-bacias deverão ser supridas no trecho fluvial mais próximo ou a jusante deste.

O Ponto característico SM 04 abastece uma demanda de irrigação bastante


expressiva (1,56m³/s no cenário atual), o que explica as falhas de suprimento identificadas
nas simulações. Conforme mostra o Quadro 5.11, as simulações identificaram que em 46%
do tempo as vazões disponíveis no SM 04 não são suficientes para suprir integralmente as
demandas estimadas para a situação atual, sendo que em 15% do tempo não atenderia,
sequer, 50% dessa demanda. Essa situação é agravada quando considerada as estimativas

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 46


de demandas para os cenários futuros, chegando, no ano 2023, a registrar falhas de
suprimento em aproximadamente em 55 % do tempo.

Quadro 5.11 – Falhas de Suprimento no Ponto Característico SM 04


FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.) FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.)
CENÁRIO
SIMPLES CRÍTICAS SIMPLES CRÍTICAS
2000 117 37 46.43% 14.68%
2008 132 101 52.38% 40.08%
2013 135 107 53.57% 42.46%
2023 139 122 55.16% 48.41%

O Ponto característico SM 06 abastece uma demanda de irrigação bastante


expressiva (1,13m³/s no cenário atual), o que explica as falhas de suprimento identificadas
nas simulações. O Quadro 5.12 apresenta as falhas de suprimento identificadas nas
simulações e apontam que em 55% do tempo as vazões disponíveis no SM 06 não são
suficientes para suprir integralmente as demandas estimadas para a situação atual, sendo
que em 52% do tempo não atenderia, sequer, 50% dessa demanda. Essa situação sofre
poucas alterações quando considerados os cenários futuros. Nesses cenários, as demandas
para a irrigação sofrem uma redução ao passar da situação atual para a prevista para o ano
2008 e, daí para frente, volta crescer.

Quadro 5.12 – Falhas de Suprimento no Ponto Característico SM 06


FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.) FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.)
CENÁRIO
SIMPLES CRÍTICAS SIMPLES CRÍTICAS
2000 138 130 54.76% 51.59%
2008 131 100 51.98% 39.68%
2013 134 106 53.17% 42.06%
2023 138 130 54.76% 51.59%

No Ponto característico SM 10 além de abastecer uma demanda de irrigação bastante


expressiva (2,17m³/s no cenário atual), supre também uma usina (Caetés). Considerou-se
que o atendimento a Usina teria uma prioridade superior ao atendimento à irrigação e, dessa
forma, admitiu-se como primária e secundária, respectivamente, as demandas destinadas
para a Usina e para a irrigação. Merece destacar que foram identificadas tendências de
decrescimento para as demandas da Usina e de crescimento para a demanda da irrigação,
quando considerados os diferentes cenários.

Sendo respeitada a ordem de prioridade admitida nas simulações, que prevê primeiro
o atendimento da demanda da Usina, conforme ilustra o Quadro 5.13, mesmo considerando
os cenários futuros, praticamente, não haveria problema de suprimento para a Usina. No
entanto, o mesmo não ocorre para a irrigação, que teria problemas de suprimento em mais
de 56% dos intervalos simulados.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 47


Quadro 5.13 – Falhas de Suprimento no Ponto Característico SM 10
DEMANDA PRIMÁRIA – USINA CAETÉS
CENÁRIO FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.) FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.)
SIMPLES CRÍTICAS SIMPLES CRÍTICAS
2000 87 2 34.52% 0.79%
2008 81 2 32.14% 0.79%
2013 2 0 0.79% 0.00%
2023 0 0 0.00% 0.00%
DEMANDA SECUNDÁRIA – IRRIGAÇÃO
CENÁRIO FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.) FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.)
SIMPLES CRÍTICAS SIMPLES CRÍTICAS
2000 147 143 58.33% 56.75%
2008 147 143 58.33% 56.75%
2013 147 143 58.33% 56.75%
2023 147 144 58.33% 57.14%

Finalmente, o Quadro 5.14 apresenta o confronto entre a disponibilidade,


representada pela vazão média de longo período, (Qlp) e a demanda total em cada ponto
característico da bacia hidrográfica do rio São Miguel. Nesse caso, os resultados destacam a
impossibilidade de todas as demandas localizadas no ponto de controle SM 10 serem
atendidas integralmente. Na prática, é muito provável que parte significativa da demanda da
irrigação que na simulação foi considerada no ponto característico SM 10 seja atendida por
captações diretamente no curso principal do rio São Miguel.

Quadro 5.14 – Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos


Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel
DISPONIBILIDADE DEMANDA TOTAL (set/mar) SALDO (set/mar)
PC
(QLP) 2000 2008 2013 2023 2000 2008 2013 2023
SM 1 0.208 0.007 0.007 0.008 0.008 0.202 0.201 0.201 0.200
SM 2 1.712 0.003 0.001 0.002 0.002 1.709 1.711 1.711 1.710
SM 3 0.389 0.031 0.030 0.032 0.037 0.358 0.358 0.357 0.352
SM 4 3.675 1.580 2.235 2.646 3.465 2.095 1.440 1.030 0.210
SM 5 4.088 0.000 0.000 0.000 0.000 4.088 4.088 4.088 4.088
SM 6 1.332 1.172 0.767 0.903 1.174 0.160 0.566 0.430 0.159
SM 7 5.708 0.000 0.000 0.000 0.000 5.708 5.708 5.708 5.708
SM 8 6.569 0.000 0.000 0.000 0.000 6.569 6.569 6.569 6.569
SM 9 6.775 0.000 0.000 0.000 0.000 6.775 6.775 6.775 6.775
SM 10 0.690 2.301 2.582 3.020 3.895 -1.611 -1.892 -2.330 -3.205
SM 11 7.484 0.131 0.104 0.078 0.026 7.354 7.380 7.406 7.458
SM 12 8.697 0.000 0.000 0.000 0.000 8.697 8.697 8.697 8.697
Total 8.697 5.224 5.727 6.687 8.607

Dos pontos característicos (SM 04, 06 e 10), que apresentaram algumas dificuldades
para atenderem suas respectivas demandas, a situação mais grave é do SM 10, sendo
necessário. Em situações como essa deve-se analisar alternativas para reduzir as demandas
e/ou aumentar as disponibilidades. No quadro acima a vazão média de longo período indica
o potencial de regularização que poderia ser obtido com a construção de um reservatório. No
caso do SM 10, mesmo a construção de um reservatório não seria suficiente para garantir o

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 48


atendimento ao total das demandas, o que implicaria em realocação de algumas captações
ou mesmo supressão.

Jequiá
Os resultados da simulação mostram já haver algumas restrições de atendimento às
demandas quantitativas de água na bacia do rio Jequiá nos pontos característicos JQ 9 e JQ
18, onde foram identificadas falhas nos suprimentos. Isto é válido tanto para a situação
atual quanto para os cenários futuros. Todos esses pontos que apresentaram falhas de
atendimentos estão associados a demanda para irrigação.

O Ponto característico JQ 09 abastece uma demanda de irrigação bastante expressiva


(3,03m³/s no cenário atual), além de prioritariamente suprir uma demanda de
abastecimento doméstico urbano, o que explica as falhas de suprimento identificadas nas
simulações. Conforme mostra o Quadro 5.15, as simulações identificaram que, após atender
integralmente a demanda prioritária (abastecimento doméstico urbano), sem nenhuma falha,
a vazão remanescente não é suficiente para suprir a demanda seguinte (irrigação),
resultando em falhas de suprimento em 58 % dos intervalos simulados.

Provavelmente, a demanda de irrigação considerada concentrada no Ponto


Característico JQ 09, localizado no riacho Mandante, na prática, deve ocorrer em diferentes
pontos de captação, localizados ao longo do próprio riacho Mandante e no riacho Caboatão,
o que contribuiria para reduzir as falhas de suprimentos apontadas.

Quadro 5.15 – Falhas de Suprimento no Ponto Característico JQ 09


DEMANDA PRIMÁRIA – ABASTECIMENTO DOMÉSTICO URBANO
CENÁRIO FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.) FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.)
SIMPLES CRÍTICAS SIMPLES CRÍTICAS
2000 0 0 0,00 % 0,00 %
2008 0 0 0,00 % 0,00 %
2013 0 0 0,00 % 0,00 %
2023 0 0 0,00 % 0,00 %
DEMANDA SECUNDÁRIA – IRRIGAÇÃO
CENÁRIO FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.) FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.)
SIMPLES CRÍTICAS SIMPLES CRÍTICAS
2000 147 147 58,33% 58,33%
2008 147 147 58,33% 58,33%
2013 147 147 58,33% 58,33%
2023 147 147 58,33% 58,33%

O Ponto característico JQ 18 abastece uma demanda de irrigação bastante expressiva


(1,13m³/s no cenário atual), o que explica as falhas de suprimento identificadas nas
simulações. Conforme mostra o Quadro 5.16, as simulações identificaram que a vazão

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 49


disponível nesse ponto não é suficiente para suprir a demanda da irrigação integralmente,
resultando em falhas de suprimento em mais de 56 % dos intervalos simulados.

Quadro 5.16 – Falhas de Suprimento no Ponto Característico JQ 18


FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.) FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.)
CENÁRIO
SIMPLES CRÍTICAS SIMPLES CRÍTICAS
2000 146 142 57,9 % 56,3 %
2008 147 143 58,3 % 56,7 %
2013 147 143 58,3 % 56,7 %
2023 147 143 58,3 % 56,7 %

O Quadro 5.17 apresenta o confronto entre a disponibilidade, representada pela


vazão média de longo período, (Qlp) e a demanda total em cada ponto característico da
bacia hidrográfica do rio Jequiá. Nesse caso, os resultados destacam a impossibilidade de
todas as demandas localizadas nos pontos de controle JQ 09 e JQ 18 serem atendidas
integralmente. Na prática, é muito provável que parte significativa da demanda da irrigação
que na simulação foi considerada nesses pontos seja atendida por captações localizadas em
diferentes pontos, por exemplo, ao longo do próprio riacho Mandande, onde se encontra o
JQ 09, e no curso principal do rio Jequiá.

Quadro 5.17 – Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos


Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Jequiá
DISPONIBILIDADE DEMANDA TOTAL (set/mar) SALDO (set/mar)
PC
(QLP) 2000 2008 2013 2023 2000 2008 2013 2023
Jq1 0.399 0.000 0.000 0.000 0.000 0.399 0.399 0.399 0.399
Jq2 0.824 0.258 0.109 0.129 0.171 0.566 0.715 0.695 0.654
Jq3 1.327 0.000 0.000 0.000 0.000 1.327 1.327 1.327 1.327
Jq4 1.403 0.202 0.286 0.339 0.445 1.201 1.117 1.064 0.958
Jq5 2.867 0.000 0.000 0.000 0.000 2.867 2.867 2.867 2.867
Jq6 3.858 0.131 0.104 0.078 0.026 3.727 3.753 3.779 3.832
Jq7 4.140 0.110 0.061 0.072 0.095 4.030 4.079 4.068 4.045
Jq8 0.690 0.004 0.000 0.000 0.000 0.686 0.690 0.690 0.690
Jq9 0.274 3.069 4.147 4.911 6.438 -2.795 -3.873 -4.637 -6.164
Jq10 0.980 0.000 0.000 0.000 0.000 0.980 0.980 0.980 0.980
Jq11 2.167 0.000 0.000 0.000 0.000 2.167 2.167 2.167 2.167
Jq12 6.323 0.000 0.000 0.000 0.000 6.323 6.323 6.323 6.323
Jq13 6.464 0.000 0.000 0.000 0.000 6.464 6.464 6.464 6.464
Jq14 0.837 0.000 0.000 0.000 0.000 0.837 0.837 0.837 0.837
Jq15 7.344 0.131 0.104 0.078 0.026 7.214 7.240 7.266 7.318
Jq16 0.840 0.000 0.000 0.000 0.000 0.840 0.840 0.840 0.840
Jq17 8.400 0.000 0.000 0.000 0.000 8.400 8.400 8.400 8.400
Jq18 0.360 1.132 1.292 1.534 2.018 -0.771 -0.932 -1.173 -1.657
Jq19 0.818 0.000 0.000 0.000 0.000 0.818 0.818 0.818 0.818
Jq20 1.184 0.000 0.000 0.000 0.000 1.184 1.184 1.184 1.184
Jq21 1.550 0.000 0.000 0.000 0.000 1.550 1.550 1.550 1.550
Jq22 12.448 0.067 0.099 0.118 0.158 12.381 12.349 12.329 12.290

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 50


Niquim
Os resultados da simulação mostram haver algumas restrições de atendimento às
demandas quantitativas de água na bacia do rio Niquim apenas no Ponto Característicos NQ
01, onde foram identificadas falhas nos suprimentos. No entanto, a previsão é que essa
situação melhore, pois avaliou-se que a demanda para irrigação nessa bacia apresenta
tendência de decrescimento. O Quadro 5.18 apresenta o relatório de falhas de suprimento
para o Ponto Característico NQ 01.

Quadro 5.18 - Falhas de Suprimento no Ponto Característico NQ 01


FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.) FALHAS DE SUPRIMENTO (QUANT.)
CENÁRIO
SIMPLES CRÍTICAS SIMPLES CRÍTICAS
2000 138 131 54,8 % 52,0 %
2008 139 132 55,2 % 52,4 %
2013 141 136 56,0 % 54,0 %
2023 142 137 56,3 % 54,4 %

O Quadro 5.19 apresenta o confronto entre a disponibilidade, representada pela


vazão média de longo período, (Qlp) e a demanda total em cada ponto característico da
bacia hidrográfica do rio Niquim. Nesse caso, os resultados destacam a impossibilidade de
todas as demandas localizadas no Ponto de Controle NQ 01 serem atendidas integralmente.

Quadro 5.19 – Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos


Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Niquim
DISPONIBILIDADE DEMANDA TOTAL (set/mar) SALDO (set/mar)
PC
(QLP) 2000 2008 2013 2023 2000 2008 2013 2023
NQ 1 0.563 0.503 0.574 0.682 0.896 0.060 -0.011 -0.118 -0.333
NQ 2 0.941 0.000 0.000 0.000 0.000 0.941 0.941 0.941 0.941
NQ 3 0.689 0.170 0.046 0.055 0.073 0.518 0.643 0.634 0.616
NQ 4 1.655 0.000 0.000 0.000 0.000 1.655 1.655 1.655 1.655
NQ 5 1.941 0.019 0.024 0.027 0.033 1.921 1.917 1.914 1.907
NQ 6 2.105 0.000 0.000 0.000 0.000 2.105 2.105 2.105 2.105
NQ 7 2.654 0.000 0.000 0.000 0.000 2.654 2.654 2.654 2.654

Das Lagoas
As simulações realizadas não consideram a regularização que, eventualmente, as
lagoas podem propiciar. Foram consideradas apenas as estimativas de vazões que devem
transitar no curso d’água, ficando portando, a favor da segurança. Dessa forma, foram
identificados problemas de suprimento nos Pontos Característicos LG 01, LG 02, LG 03 e LG
04, todos os pontos da bacia hidrográfica das Lagoas onde foi prevista retirada de água para
atender a irrigação. Entretanto, é provável que o suprimento a essas demandas seja
completados com os volumes armazenados nas Lagoas, o que não foi objeto de análise do
presente estudo.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 51


O Quadro 5.20 apresenta o confronto entre a disponibilidade, representada pela
vazão média de longo período, (Qlp) e a demanda total em cada ponto característico da
bacia hidrográfica das Lagoas. Nesse caso, os resultados destacam que as demandas
previstas para serem atendidas nos Pontos Característicos LG 01, LG 02, LG 03 e LG 04
teriam dificuldades de serem atendidas integralmente, quando não são considerados os
volumes armazenados nas Lagoas.

Quadro 5.20 – Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos


Característicos da Bacia Hidrográfica das Lagoas
DISPONIBILIDADE DEMANDA TOTAL (set/mar) SALDO (set/mar)
PC
(QLP) 2000 2008 2013 2023 2000 2008 2013 2023
LG 1 0.283 0.154 0.226 0.272 0.362 0.129 0.057 0.012 -0.079
LG 2 0.164 0.154 0.226 0.272 0.362 0.010 -0.062 -0.108 -0.199
LG 3 0.087 0.154 0.226 0.272 0.362 -0.067 -0.139 -0.184 -0.275
LG 4 0.493 0.154 0.226 0.272 0.362 0.339 0.266 0.221 0.130
LG 5 0.613 0.000 0.000 0.000 0.000 0.613 0.613 0.613 0.613
LG 6 0.206 0.000 0.000 0.000 0.000 0.206 0.206 0.206 0.206
LG 7 0.206 0.000 0.000 0.000 0.000 0.206 0.206 0.206 0.206

Poxim
Assim como nas simulações realizadas para a bacia hidrográfica das Lagoas, também
para a bacia do rio Poxim não foi considerada a regularização que, eventualmente, as lagoas
podem propiciar.Em função dessa simplificação, sabe-se que os volumes disponíveis são
maiores do que os considerados nessas simulações.

As simulações apontaram problemas de suprimento nos Pontos Característicos PX 3,


PX 10 e PX 09, sendo mais significativa nesse último, já que os dois primeiros estão muito
próximos de Lagoas e devem dispor de maiores volumes de água do que os considerados
nesse estudo.

O Ponto característico PX 09 abastece uma demanda de irrigação bastante expressiva


(4,50m³/s no cenário atual), o que explica as falhas de suprimento identificadas nas
simulações. As simulações identificaram que a vazão disponível nesse ponto não é suficiente
para suprir a demanda de irrigação, resultando em falhas de suprimento em 58 % dos
intervalos simulados. Essa situação tende a melhorar, pois foi identificada uma tendência de
redução dos montantes utilizados para a irrigação nessa bacia.

O Quadro 5.21 apresenta o confronto entre a disponibilidade, representada pela


vazão média de longo período, (Qlp) e a demanda total em cada ponto característico da
bacia hidrográfica das Lagoas. Nesse caso, os resultados confirmam que as demandas
previstas para serem atendidas nos Pontos Característicos PX 09 terão dificuldades de serem
atendidas integralmente.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 52


Quadro 5.21 – Confronto Disponibilidade versus Demanda Total nos Pontos
Característicos da Bacia Hidrográfica do Rio Poxim
DISPONIBILIDADE DEMANDA TOTAL (set/mar) SALDO (set/mar)
PC
(QLP) 2000 2008 2013 2023 2000 2008 2013 2023
Px1 0.629 0.000 0.000 0.000 0.000 0.629 0.629 0.629 0.629
Px2 1.653 0.000 0.000 0.000 0.000 1.653 1.653 1.653 1.653
Px3 0.839 0.063 0.085 0.100 0.132 0.776 0.754 0.738 0.707
Px4 3.321 0.000 0.000 0.000 0.000 3.321 3.321 3.321 3.321
Px5 0.432 0.000 0.000 0.000 0.000 0.432 0.432 0.432 0.432
Px6 0.282 0.000 0.000 0.000 0.000 0.282 0.282 0.282 0.282
Px7 0.920 0.000 0.000 0.000 0.000 0.920 0.920 0.920 0.920
Px8 4.318 0.000 0.000 0.000 0.000 4.318 4.318 4.318 4.318
Px9 0.780 4.657 1.754 1.511 1.026 -3.877 -0.974 -0.731 -0.246
Px10 1.103 0.052 0.000 0.000 0.000 1.051 1.103 1.103 1.103
Px11 1.486 0.000 0.000 0.000 0.000 1.486 1.486 1.486 1.486
Px12 2.995 0.000 0.000 0.000 0.000 2.995 2.995 2.995 2.995
Px13 7.349 0.000 0.000 0.000 0.000 7.349 7.349 7.349 7.349
Px14 7.480 0.000 0.000 0.000 0.000 7.480 7.480 7.480 7.480

5.2.3 Conclusões
O confronto das vazões geradas nos pontos característicos com as demandas
estimadas nas sub-bacias mostra haver algumas restrições de atendimento às demandas
quantitativas de água em alguns dos pontos testados. Basicamente, as situações mais
graves acontecem no período de setembro a março, quando ocorre a irrigação e a moagem
da cana-de-açúcar pelas usinas. Isto é válido tanto para a situação atual quanto para a
projetada.

Na bacia hidrográfica do rio São Miguel o ponto SM 10, localizado em um tributário


do rio principal, onde foi previsto o atendimento a uma demanda importante de irrigação é o
mais crítico. Apesar da dimensão considerável da demanda de irrigação, é possível garantir
seu atendimento integral. Para isso é necessário realocar o local da captação,
preferencialmente deslocando pelo menos uma parte do suprimento da irrigação para o
curso principal do rio São Miguel.

Na bacia hidrográfica do rio Jequiá os pontos que mereceram mais atenção, pelas
falhas de suprimentos apontadas nas simulações, foram o JQ 09 e JQ 18. Em ambos estão
previstas demandas importantes de irrigação. No ponto JQ 09, localizado no riacho
Mandante, na prática, provavelmente a captação deve acontecer em diferentes seções desse
riacho e no riacho Caboatão, o que deve reduzir as falhas de suprimentos inicialmente
apontadas.

Na bacia hidrográfica do rio Niquim os problemas de suprimentos ocorrem no NQ 01,


novamente um ponto onde existe uma demanda importante de irrigação. Essa mesma
situação se repete nas bacias hidrográficas do rio Poxim e das Lagoas.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 53


Diante dos resultados obtidos com as simulações fica demonstrado que as bacias
hidrográficas da região do São Miguel apresentam, já para as condições atuais, indicativos
de que, quando considerados os meses de setembro a março, falhas de suprimento podem
ocorrer. Essa situação pode ser minorada com uma alocação mais eficiente da água,
inclusive com uma melhor distribuição espacial das demandas e, complementarmente, com
um uso mais efetivo dos recursos hídricos subterrâneos.

Finalmente, a análise dos resultados das simulações indica, mesmo considerando o


cenário atual, já haver falhas de suprimento das demandas na região em estudo,
especialmente o SM 10, no rio Miguel, o que deve servir para alerta o órgão gestor para
adotar medidas e procedimento para evitar que essa situação seja agravada. A realização de
estudos mais aprofundados para definição das vazões outorgáveis nessa região, bem como a
utilização mais eficiente da outorga dos direitos do uso dos recursos hídricos serão
importantes contribuições para a evitar as falhas de atendimentos às demandas.

5.3 Aspectos Qualitativos do Suprimento dos Recursos Hídricos


5.3.1 – Aspectos Qualitativos: Águas Superficiais
Para a caracterização da qualidade da água, ainda na etapa de realização do
Diagnóstico e Estudos Básicos, foram realizadas três campanhas de coleta, medição e
análise. A primeira em junho de 2002, a segunda em janeiro de 2003 e a terceira em
setembro de 2003. Com base nas informações levantadas nessas campanhas de
amostragem será traçado um breve perfil da situação da qualidade das águas na região
hidrográfica do São Miguel.

Rio São Miguel


Os índices de qualidade de água (IQA) calculados para as estações localizadas no rio
São Miguel estiveram entre 34 e 60, o que representa, em termos qualitativos, uma variação
entre água considerada “BOA” e água considerada “IMPRÓPRIA P/CONSUMO COM
TRATAMENTO CONVENCIONAL”.

A qualidade da água do Rio São Miguel vai se deteriorando ao longo do seu curso,
com valores de IQA reduzidos em 43% entre sua porção superior e inferior, o que reflete a
influência da atividade antrópica na bacia sobre os cursos d’água. Os índices calculados
demonstram as modificações ocorridas nas características limnológicas do rio São Miguel
após o município de São Miguel dos Campos, contudo, não foi possível identificar (a partir
dos resultados obtidos para as estações amostradas) a influência das usinas de açúcar

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 54


localizadas nessa bacia, na qualidade da água desse rio. Destacando que a campanha
realizada em janeiro refere-se ao período da safra de cana na região.

Rio Jequiá
Os índices de qualidade de água (IQA) calculados para as estações localizadas no rio
Jequiá estiveram entre 25 e 72, o que representa, em termos qualitativos, uma variação
entre água considerada “BOA” e água considerada “IMPRÓPRIA P/CONSUMO COM
TRATAMENTO CONVENCIONAL”.

A partir da estação 7 (Ponto característico JQ 12), verifica-se que a água do rio


Jequiá vai perdendo a qualidade no trecho em que estão instaladas as Usinas Porto Rico
(entre os Pontos Característicos JQ 06 e JQ 07) e Sinimbú (Pontos Característicos JQ 15). A
redução nos índices de qualidade de água (IQA) calculados ocorreram nos dois períodos
(58,7% no verão e 22,9% no inverno), mas, apenas no verão essa mudança provocou a
variação da classificação qualitativa da água.

No período seco a interferência antrópica na bacia, ocorrida no trecho das usinas,


ainda pôde ser percebida na estação mais a montante da Lagoa de Jequiá, cujos índices
ficaram abaixo das demais estações.

Rio Niquim
Os índices de qualidade de água (IQA) calculados para as estações localizadas no rio
Niquim estiveram entre 57 e 74, o que representa, em termos qualitativos, que a água foi
considerada “BOA”.

Das Lagoas
Os índices de qualidade de água (IQA) calculados para as estações localizadas na
Lagoa Jacarecica estiveram entre 51 e 75, o que representa, em termos qualitativos, uma
variação entre água considerada “ACEITÁVEL” e água considerada “BOA”. O resultado obtido
para o período em que foi constatada a anoxia da água na Lagoa (maré baixa em junho/02)
obteve o menor índice, o qual, para as condições verificadas in situ, não representou os
problemas ambientais existentes à época.

Para a Lagoa Doce, os índices de qualidade de água (IQA) calculados estiveram entre
50 e 81, com a classificação da água como “BOA”, com altos índices, conforme avaliado
anteriormente e classificada como “ACEITÁVEL”, apenas, para a coleta realizada no período
de chuvas e maré baixa.

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 55


A Lagoa do Tabuado Um e a Lagoa dos Mangues obtiveram altos valores de IQA,
com índices que estiveram entre 68 e 81, mostrando a boa qualidade da água.

Os índices de qualidade de água (IQA) calculados para as estações localizadas na


Lagoa do Tabuado estiveram entre 43 e 73, o que representa, em termos qualitativos, uma
variação entre água considerada “ACEITÁVEL” e água considerada “BOA”. O resultado obtido
para o período de chuvas permite inferir que ocorrem modificações na qualidade da água em
função do “runoff”, que pode ser o responsável pela redução na concentração de oxigênio
dissolvido nesse sistema.

Rio Poxim
Os índices de qualidade de água (IQA) calculados para as estações localizadas no rio
Poxim estiveram entre 43 e 70, o que representa, em termos qualitativos, uma variação
entre água considerada “ACEITÁVEL” e água considerada “BOA”. O resultado obtido para o
período de chuvas permite inferir que ocorrem modificações na qualidade da água em
função do “run-off”, principalmente nos pontos 33 e 30, que tiveram suas classificações
reduzidas de “BOA” para “ACEITÁVEL”.

5.3.2 Poluição das Águas Subterrâneas


O risco de contaminação dos aqüíferos está na dependência não apenas da carga de
poluição, ou seja, dos elementos dispostos na superfície que possam ser carreados ao
subsolo e assim causar a contaminação das águas subterrâneas, como também está na
dependência da vulnerabilidade desses aqüíferos, isto é, do grau de facilidade que os
mesmos oferecem à absorção dessa carga contaminante.

Um dos potenciais riscos de poluição dos aqüíferos está na agricultura, onde se


dispõem herbicidas, inseticidas e fertilizantes no solo para aumentar a produtividade da
cultura.

A principal cultura do Estado, ainda é a cana-de-açúcar. Com a implantação do


Programa Nacional de Desenvolvimento do Álcool - PROALCOOL na década de 70, essa
cultura, que ocupava predominantemente os vales e as regiões acidentadas da Zona da
Mata, se estendeu para os tabuleiros costeiros da Formação Barreiras.

A morfologia desses tabuleiros facilita a mecanização, reduzindo os custos de


produção, mesmo com solos mais arenosos que necessitam geralmente de correção e

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 56


adubação. Estima-se que já atinge 4.200km2 a área cultivada de cana-de-açúcar nesses
tabuleiros.

Para a expansão dessa cultura, foi necessária a retirada da Mata Atlântica, causando
um impacto com a alteração do ciclo hidrológico, aumentando o escoamento superficial e
diminuindo a infiltração ou recarga direta dos sistemas aqüíferos.

O vinhoto, efluente do processo de produção do álcool a partir da cana-de-açúcar, é


muito rico, principalmente em nitrogênio, potássio, ferro, cálcio e magnésio (Quadro 5.22).
Tendo em vista sua composição, o vinhoto passou a ser utilizado para a fertirrigação da
cana-de-açúcar juntamente com a água de lavagem, que também apresenta nutrientes e
organo-clorados provenientes de adubos e herbicidas.

O vinhoto e as águas de lavagem são acumulados em tanques construídos através da


simples escavação no solo predominantemente arenoso que compõe os tabuleiros, sem
impermeabilização do fundo e das laterais desses tanques. Dessa maneira, é criada uma
recarga artificial do aqüífero sob os tabuleiros, a qual é bastante facilitada pela topografia
plana dos mesmos.

Já foram constatados teores de potássio de até 126mg/l e de 8,25mg/l de nitratos


nas águas de alguns poços localizados nas proximidades de tanques de estocagem de
vinhoto na região de Rio Largo/AL, ao norte da área das bacias. Na bacia do rio São Miguel
alguns poços foram desativados devido à má qualidade de suas águas.

Quadro 5.22 - Composição média da vinhaça produzida nas destilarias de Alagoas


TIPOS DE MOSTOS
COMPONENTES UNID
CALDO MISTO MELAÇO
3
C kg/m 09,40 10,80 13,20
3
CaO kg/m 00,74 00,77 01,13
3
MgO kg/m 00,69 00,60 00,56
K2O kg/m3 02,45 03,93 05,33
3
N kg/m 00,42 00,43 00,44
3
SO4 kg/m 02,57 03,25 02,01
3
P2O7 kg/m 00,23 00,21 00,14
Mn ppm 03,21 03,36 01,66
Cu ppm 01,66 01,66 00,33
Zn ppm 01,44 01,79 00,89
Fe ppm 47,01 46,14 35,29
Fonte: VASCONCELOS, J.N. (1983)

Capítulo 5 – Balanço dos Recursos Hídricos 57


6 – FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE RECURSOS
HÍDRICOS EM ALAGOAS
A constituição do Estado de Alagoas foi promulgada em 05 de outubro de 1989, na
cidade de Maceió, um ano após da promulgação da Carta Magna do Brasil. Esse processo
ocorreu no âmbito dos estados membros da Federação, seguindo o processo de
consolidação democrática brasileira.

A Carta Magna Estadual é composta por 288 artigos, subdivida em nove títulos, além
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que por sua vez é composto por 43
artigos. O meio ambiente tem um capitulo específico e os recursos hídricos uma seção.

A estrutura da Constituição Estadual em pouco difere daquelas dos outros estados, os


primeiros tópicos tratam dos Princípios Fundamentais, das diretrizes gerais e de seus
fundamentos. O Título I, dos Princípios Fundamentais, em seu art. 2, estabelece as principais
finalidades para o Estado:

Art. 2o - É finalidade do Estado de Alagoas, guardadas as diretrizes


estabelecidas na Constituição Federal, promover o bem-estar social,
calcado nos princípios de liberdade democrática, igualdade jurídica,
solidariedade e justiça, competindo-lhe, especialmente: (…)

Ainda no mesmo artigo, as questões ambientais são ressaltadas de forma


significativa, atribuindo ao Estado de Alagoas a competência de Proteger o meio ambiente,
zelando pela perenizarão dos processos ecológicos e pela conservação de sua diversidade.

Em seguida, o Capitulo I, da Organização Político-Administrativa do Estado relaciona


em seu artigo oitavo, os bens do Estado, dos quais destacam-se, as águas superficiais ou
subterrâneas, fluentes e em depósitos, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as
decorrentes de obras da União. Delimitando assim, a sua esfera de competências em
decorrências de seus bens.

O Capitulo V, trata do meio ambiente, sendo composto por duas Seções, nas quais
estão inseridos os art. 217 a art. 228. A primeira dispõe sobre a proteção do meio ambiente,
estabelecendo as ações a serem realizadas pelo Poder Público no tocante à preservação da
natureza. A segunda Seção dispõe sobre os recursos hídricos, estabelecendo as obrigações
do Estado no processo de gerenciamento e preservação da água.

Na primeira Seção estão descritas as obrigações a serem cumpridas pelo Estado,


dentre as quais pode-se destacar aquelas previstas no art. 217, como a promoção do
manejo sustentável e racional dos ecossistemas; a preservação da diversidade e do

Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 58


patrimônio genético, bem como a necessidade de delimitação de áreas especiais de
preservação.

A Constituição Estadual determina também a necessidade de elaboração de estudo


prévio de impacto ambiental, antes da implementação de projetos ou atividade
potencialmente causadora de degradação ambiental. Determina também o controle da
produção, da comercialização e do emprego de técnicas e de métodos em casos de
substâncias que comportem risco para a vida, ou para a qualidade de vida e para o meio
ambiente.

Ainda neste artigo, tem-se a determinação de promoção da educação ambiental no


Estado, nos diferentes níveis de ensino. No que tange aos Recursos Hídricos é previsto a
necessidade de manutenção dos recursos hídricos em condições de serem desfrutados pela
comunidade, observado a sua capacidade de autodepuração.

Em relação ao reflorestamento, existe a previsão de que o Estado deverá estimulá-lo,


especialmente, nas orlas e nas cabeceiras dos rios, podendo adotar incentivos fiscais para
tanto.

A Seção II – Dos Recursos Hídricos - é composta pelos art. 222 a art. 228 e
estabelece alguns fundamentos gerais para o gerenciamento das águas, bem como diretrizes
para a elaboração e implementação da política estadual de recursos hídricos.

O art. 222 diz que é dever dos cidadãos, da sociedade e dos entes estatais, zelar pela
preservação do regime natural das águas, afirmando que a mesma é imprescindível para a
manutenção da vida e indutora do desenvolvimento econômico e social.

O mesmo artigo determina que a Legislação Estadual de Recursos Hídricos deverá


observar a Legislação Federal, quando da sua elaboração e disporá entre outros sobre o
aproveitamento dos recursos hídricos objetivando o atendimento das necessidades de toda a
coletividade, a proteção dos recursos hídricos no que tange a sua preservação e utilização
atual e futura, bem como a integridade e a renovabilidade física e ecológica do ciclo
hidrológico. Ainda está previsto o controle dos eventos hidrológicos determinantes de
impactos danosos ao meio, de modo a evitar-lhes ou minimizar-lhes as conseqüências
prejudiciais à coletividade.

O art. 223 determina que a lei estadual deverá instituir o Sistema Estadual de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, em compatibilidade com o Sistema Nacional, e definirá
critérios de outorga de direito de uso dos recursos hídricos. Para tanto deverão ser

Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 59


observados as seguintes diretrizes, que estão em consonância com a Lei Federal n.º
9.433/97, que estabelece a “Política das Águas” no País.

A primeira diretriz faz menção à promoção de benefícios sociais decorrentes aos


múltiplos usos da água e a minimização de seus efeitos adversos, devendo ser integrada,
descentralizada e participativa, adotando a bacia hidrográfica como unidade físico-territorial
de planejamento e gestão.

A segunda diretriz prevê a integração da gestão das águas superficiais e subterrâneas


respeitando-se os regimes naturais de ambas, objetivando também promover a interação
com a política e a gestão de uso e ocupação do solo e dos demais recursos naturais.

Observa-se também que a Carta Magna Estadual orienta também sobre os


procedimentos a serem adotados no aproveitamento do potencial hídrico subterrâneo como
reserva estratégica para o desenvolvimento do Estado e como alternativa valiosa (grifo
nosso) de suprimento de água às populações.

Uma outra diretriz aponta para a gestão permanente e contínua dos recursos
hídricos, observado assim, a sua característica de bem natural, e, utilizando para tal, de
normas e procedimentos gerais que devem orientar as possíveis ações intervenientes ao
meio. Estabelecendo a necessidade de promulgar e implementar arcabouço legal-
institucional capaz de gerir os recursos hídricos no Estado.

A quinta diretriz constitucional aponta para a necessidade de uma gestão


interestadual dos aqüíferos, observando assim, as características naturais desse bem, e
também a sua dominialidade, uma vez que a sua gestão é estadual, mas a sua gestão
deverá ser integrada uma vez que as águas não respeitam os limites territoriais político-
administrativo, podendo estender por outros territórios.

Uma última diretriz faz menção à possibilidade do Estado, delegar aos municípios, ou
associações de usuários organizados, a gestão da águas de interesse exclusivamente local.
Vale destacar que algumas aqui, algumas questões. A primeira diz respeito ao processo de
descentralização da gestão para os municípios ou para as associações de usuários,
demonstrando assim, o caráter descentralizador a gestão das águas.

Um segundo tópico é decorrente do primeiro, pois com a gestão descentralizada aos


municípios, poderá ser contemplada uma outra diretriz que consiste na integração da gestão
das águas com o uso e ocupação do solo, o qual é de responsabilidade municipal.

Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 60


E por último, vale destacar a possibilidade de descentralização para os usuários
organizados, o que demonstra a possibilidade de integração participativa, uma vez que o
Estado poderá compartilhar a responsabilidade intrínseca de gerir os seus recursos hídricos.

Os princípios da Política Estadual de Recursos Hídricos estão previstos no art. 224, o


qual reconhece os recursos hídricos como um instrumento indutor do desenvolvimento
econômico e social do Estado, determinando assim, o seu caráter estratégico e
imprescindível ao bem estar social.

Um outro princípio determina que o planejamento estadual dos recursos hídricos


deverá estar compatibilizado com o plano de desenvolvimento econômico do Estado, da
União e dos Municípios, demonstrando novamente, o caráter estratégico desse bem.
Ressalta-se também a idéia de integração de políticas para o desenvolvimento econômico
compatibilizado com as perspectivas ambientais e ecológicas da própria água.

O terceiro princípio determina que o disciplinamento do uso da água deverá observar


as peculiaridades de cada bacia hidrográficas em conformidade com as estratégias de
desenvolvimento econômico e social do Estado. Este princípio aponta para o estabelecimento
de diretrizes de outorga por áreas de gestão ou por usos prioritários.

Ainda neste sentido, um outro principio determina a adequação dos recursos hídricos
das regiões áridas e semi-áridas ao processo de desenvolvimento econômico e social em
nível local, complementando assim, o principio anterior.

Os dois últimos princípios dizem respeito ao aproveitamento das águas superficiais e


subterrâneas e ao estabelecimento de sistema de irrigação harmonizado com os programas
de conservação do solo e da água.

O art. 225 faz menção ao Plano Estadual de Recursos hídricos, o qual deverá
assegurar, prioritariamente, o abastecimento humano e a dessedentação dos animais,
conforme a legislação federal, e também prevê a preservação da saúde natural do meio-
ambiente.

Ressalta-se que a Constituição Estadual, determina que os recursos auferidos pelos


Municípios com o resultado da exploração dos potenciais energéticos em seu território, ou
ainda, da compensação financeira por áreas inundadas, deverão ser aplicados
prioritariamente, nos programas previstos nos planos de Recursos Hídricos.

O art. 226 determina ao Estado, a obrigação de implantar, no âmbito do Sistema


Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, a rede hidrometereológica nas bacias
hidrográficas de seu domínio.
Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 61
Já os art. 227 e art. 228 referem-se as receitas decorrentes do uso da água,
determinando que estas, inclusive as pertinentes à participação do Estado no resultado da
exploração de recursos hídricos para fins de geração energia elétrica serão aplicadas na
execução das atividades prevista no Plano Estadual de Recursos Hídricos.

No caso daquelas receitas recolhidas pelos cofres públicos municipais ou a eles


repassadas, serão exclusivamente empregadas visando à conservação, à proteção e ao
aproveitamento dos recursos hídricos existentes em seus territórios.

Quanto as estes artigos vale ressaltar o caráter vinculador do legislador, objetivando


assegurar recursos orçamentários para a gestão dos recursos hídricos, entretanto, no caso
da implementação da cobrança pelo uso da água implementada pelos comitês de bacias
hidrográficas, poderá ser entrave, uma vez que a sua vinculação é, normalmente, aos planos
de bacias, e não ao Plano Estadual, ou mesmo, nas intervenções municipais de conservação
e proteção aos recursos hídricos.

Por último o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias determina ao Poder


Executivo Estadual submeter ao Poder Legislativo, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, o
Programa de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos do Estado, e de 360 (trezentos e
sessenta) dias, o Plano Estadual de Recursos Hídricos.

A Lei Estadual n.º 5.965, de 10 de novembro de 1997, dispõe sobre a Política


Estadual de Recursos Hídricos e Institui o Sistema Estadual de Gerenciamento Integrado de
Recursos Hídricos. A referida Lei foi promulgada 10 (dez) meses após a Lei Federal n.º
9.433, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos.

A Lei Estadual esta estruturada em cinco grandes temas, sendo que o primeiro
refere-se a Política Estadual de Recursos Hídricos propriamente dita, contendo seus
fundamentos, o seu objetivo maior, as diretrizes gerais de ação, e também, ordena a ação
do Poder Público ao implementar a Política no âmbito do Estado.

Mas vale ressaltar que ainda nesse tópico, a Lei inova quando define as funções de
que a água poderá exercer. A primeira definição é a função natural, ou seja, á água como
elemento intrínseco ao meio ambiente. O segundo papel refere-se à questão social, ou seja,
quando a água exerce a sua função social, garantindo as condições mínimas de subsistência
humana e de dessedentação de animais, observados os princípios constitucionais. A terceira
e última função e a econômica que se refere aos demais usos.

O segundo grande tópico consiste nos instrumentos da Política Estadual de Recursos


Hídricos, o qual prevê, além daqueles inseridos na Lei Federal n.º 9.433/97, tais como: os

Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 62


Planos de Recursos Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os
usos; a outorga dos direitos de uso; a cobrança pelo uso dos recursos hídricos; a
compensação aos municípios, e por último o sistema de informações hidrológicas. A lei
estadual amplia estes, acrescentando como instrumentos de gestão o rateio de custos da
obras de recursos hídricos e o fundo estadual de recursos hídricos.

Vale ressaltar que a legislação federal adota este tópico – instrumentos da política -
como integrante do primeiro, ou seja, inserido no âmbito da Política. O legislador estadual
compreendeu que este assunto necessitava de um destaque adicional.

O terceiro tópico refere-se ao Sistema Estadual de Gerenciamento Integrado de


Recursos Hídricos, estabelecendo seus objetivos e composição. A lei enumera as entidades
integrantes do Sistema Estadual: O Conselho Estadual de Recursos Hídricos, fórum máximo
do Sistema; a Secretaria Executiva de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Naturais1 como
órgão gestor, os Comitês de Bacias Hidrográficas, como órgãos setoriais deliberativos e
normativos da bacia hidrográfica, as Agências de Águas, como órgãos executivos e de apoio
aos Comitês. A Lei define também as competências de cada uma das entidades integrantes
do Sistema Estadual de Gestão das Águas.

Seguindo na mesma ordem da legislação federal, tem-se o quarto tópico que aborda
questões sobre Infrações e Penalidades, tipificando os casos que se constitui infração,
desenhando também as respectivas penalidades.

O último tópico é o das Disposições Gerais e Transitórias, no vincula-se o


fornecimento de licença de localização de empreendimentos que utilizem os recursos hídricos
á emissão da outorga de uso da água.

No art. 68 dessas disposições, prevê-se que a cobrança pelo uso dos recursos
hídricos deverá observar alguns preceitos e procedimentos para a sua implementação, entre
eles pode-se destacar um plano de comunicação social sobre a importância econômica,
social e ambiental da utilização racional dos recursos hídricos, implementação do sistema de
outorga de usos, compatibilizados com o licenciamento ambiental, cadastramento dos
usuários, articulação institucional para a gestão integrada das bacias transfronteiriças
estaduais.

1
A Lei nº 6.126 de 16 de dezembro de 1999, criou a Secretaria de Estado de Recursos Hídricos, a qual foi reformulada por
intermédio da Lei nº 6.145 de 13 de janeiro de 2000, que dispõe sobre as diretrizes básicas para a reforma e organização do
Poder Executivo do Estado de Alagoas. E por último reformulada pela Lei Delegada n.º 32, de 23 de abril de 2003,
regulamentou a estrutura da Secretaria Executiva de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Naturais, definindo suas
competências, atribuições, estrutura funcional e organizacional.

Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 63


O artigo ainda define a necessidade consolidação dos critérios e normas para a
fixação de preços públicos a serem adotados como cobrança, bem como a estruturação e
definição de instrumentos técnicos e jurídicos imprescindíveis para a implementação da
cobrança. Por último, prevê-se que a cobrança deverá objetivar a promoção do uso racional
dos recursos hídricos nas bacias dos rios de domínio estadual.

Portanto, pode-se concluir que a legislação estadual avanços em diversos aspectos


sobre a legislação federal, estando essa em sintonia com aquela, o que possibilita a
integração da gestão nas bacias onde tenham a incidência de rios de domínio federal e
estadual.

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos do Estado de Alagoas – CERH-AL, foi


regulamentado por intermédio do Decreto Estadual n.º 37.784 de 22 de outubro de 1998, no
qual são definidas as suas competências, a sua composição, a Secretaria Executiva, bem
como a periodicidade de suas reuniões e a forma de convocação.

Entre as competências do Conselho pode-se destacar a execução de funções


normativas e deliberativas pertinentes à formulação, implantação e acompanhamento da
filosofia e da política de recursos hídricos do Estado. As competências intrínsecas ao decreto
em questão, estão em conformidade com o disposto na Lei Estadual n. 5.965/97.

Outra competência do Conselho é aprovar os critérios de fixação de prioridades dos


investimentos com recursos decorrentes dos usos dos recursos hídricos, bem como
acompanhar a sua aplicação.

O regulamento prevê também que o Conselho Estadual deverá propor o Plano


Estadual de Recursos Hídricos, em observância ao estabelecido na Lei n. 5.965/97. Deverá
também atuar como arbitro e dirimir e decidir sobre os conflitos de usuários de bacia
hidrográfica, bem como atuar como instância de recursos das decisões dos Comitês de
Bacias Hidrográficas.

O Conselho também tem como atribuição estabelecer os critérios gerais e as normas


para outorga de direito de uso e para a cobrança pelo uso e também para o rateio das obras
de aproveitamento múltiplo ou interesse comum.

Uma outra nobre função do Conselho é aprovar as proposta de criação e instituição


de Comitês de Bacias a partir da solicitação de usuários e da própria comunidade, e, aprovar
a estação de Agências de Águas, a partir de requerimento dos próprios Comitês.

A instituição de câmaras técnicas é uma atribuição intrínseca e interna ao próprio


Conselho, subsidiando tecnicamente o seu funcionamento. Uma outra função administrativa
Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 64
consiste na aprovação do Plano de Trabalho de sua Secretaria Executiva e supervisionar seu
funcionamento.

O CERH-AL deverá ser composto por vinte e cinco membros, sendo dezessete
representantes Governamentais, sendo nove do governo estadual, sete de autarquias
federais e um do Ministério Público, dois membros do seguimento dos usuários de águas,
dois representantes de municípios, dois integrantes de comitês de bacias hidrográficas e dois
representantes da sociedade civil.

O Conselho será presidido pelo secretário-executivo de Meio Ambiente, Recursos


Hídricos e Naturais (Semarhn) e terá secretariada pela Unidade Executora Estadual de
Recursos Hídricos, cujo secretário executivo será também seu Coordenador Geral.

A Secretaria Executiva do Conselho têm como atribuições: prestar apoio


administrativo, técnico e financeiro ao CERH; coordenar a elaboração do Plano Estadual de
Recursos Hídricos e encaminha-lo à aprovação pelo CERH; elaborar seu programa de
trabalho e respectiva proposta orçamentária e submete-la à aprovação do próprio Conselho,
e por último, instituir os expedientes provenientes dos Comitês de Bacias e de Agência de
Águas.

Outros Decretos Estaduais também merecem destaque, como o Decreto n. 6, de 23


de janeiro de 2001, que regulamenta a outorga de direito de uso de recursos hídricos no
Estado, definindo os objetivos que deverão ser o controle quantitativo e qualitativo dos usos
da água, bem como o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.

Esse Decreto também estabelece as definições básicas para a implementação desse


instrumento, delimitando também os usos outorgáveis e aqueles que são dispensados do
instrumento. Também são definidos os critérios para a concessão da outorga, bem como
estabelece os mecanismos administrativos para tal, inclusive no tocante à sua renovação.
Determina também critérios de atuação em caso de regime de racionamento dos usos dos
recursos hídricos. Por último, dispõe sobre a suspensão e extinção da outorga e orienta a
ação fiscalizadora do Estado.

Um outro regulamento importante consiste no Decreto n. 532 de 06 de fevereiro de


2003, que regulamenta o Fundo Estadual de Recursos Hídricos – PERH, constituindo suas
receitas, a sua finalidade. Determina que o CERH é o órgão máximo de deliberação do
mesmo, estabelecendo também as suas atribuições.

Neste regulamento também é definido a Secretaria de Estado de Meio Ambiente,


Recursos Hídricos e Naturais como gestora do Fundo, delineando assim, as suas

Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 65


competências enquanto gestora. Também é estabelecido que o Fundo deverá ter um banco
oficial federal como agente financeiro, ficando responsável pela movimentação e gestão dos
recursos.

Por último, o Decreto determina que os recursos do fundo deverão ser aplicados
observando as seguintes condições: Os recursos da cobrança deverão ser aplicados em
serviços e obras previstas no Plano Estadual de Recursos Hídricos, nas bacias hidrográficas
geradoras. Mas 30% (trinta por cento) desse valor poderá ser realocado para outras bacias
hidrográficas, desde que devidamente aprovado pelo CERH.

Capítulo 6 - Fundamentos da Política de Recursos Hídricos em Alagoas 66


7 – A PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS E DA SOCIEDADE
CIVIL ORGANIZADA NA GESTÃO DESCENTRALIZADA
DOS RECURSOS HÍDRICOS
Durante a realização dos estudos sobre o Diagnóstico, Plano Diretor e Modelo de
Gerenciamento para as bacias em análise foram promovidas três audiências públicas,
esforços conjuntos da SEMARHN-AL para a mobilização da região em torno do tema recursos
hídricos.

A primeira audiência, na cidade de Barra de São Miguel, foi programada para


apresentar à sociedade civil, aos usuários da água e aos organismos do Poder Público o
trabalho que seria desenvolvido e objetivava também colher informações para enriquecer o
TDR.

Na segunda audiência, na cidade de Anadia, foi a vez de apresentar os estudos


intitulado Diagnóstico da região de estudo.

A terceira audiência, realizada na cidade de São Miguel dos Campos, no dia 13 de


dezembro de 2004, versou sobre os conteúdos desenvolvidos para o PLANO DIRETOR DE
RECURSOS HÍDRICOS DAS BACIAS DOS RIOS SÃO MIGUEL, JEQUIÁ, NIQUIM, DAS LAGOAS
E POXIM.

Tais audiências evidenciaram o interesse pela gestão participativa dos recursos


hídricos em todas as comunidades presentes e lançaram a semente para a constituição dos
comitês de bacias hidrográficas, embora tenha sido constatado que o conhecimento das
comunidades com relação aos instrumentos e mecanismos de gestão descentralizada e
participativa é ainda incipiente.

Vale salientar, ainda, outros aspectos identificados: a) a organização e a capacitação


dos usuários é de suma importância para o desenvolvimento da gestão descentralizada e
participativa dos recursos hídricos, haja vista a destacada necessidade de ampliação dos
conceitos técnicos, legais e sociais observadas em tais reuniões; b) a preocupação com a
questão ambiental se fez presente em toda a comunidade, sobretudo no que diz respeito à
educação ambiental, ao destino impróprio do lixo, à poluição dos mananciais por defensivos
agrícolas, ausência de saneamento básico, destino dos efluentes industriais e assoreamento,
ao lado da ocorrência de desmatamentos e da necessidade de reflorestar e proteger as
matas ciliares. Também ganhou destaque a recuperação das nascentes como áreas de
diversão e contato com a natureza.

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 67


7.1. A mobilização Social Ocorrida
A participação social constituiu uma importante etapa na elaboração do presente
estudo. Conforme indicado no Termo de Referência, "face à importância da participação da
população na elaboração do Plano, foram adotadas metodologias participativas e ações
compartilhadas para que o movimento de cidadania pela água pudesse ser implementado na
bacia”.

Neste estudo a participação comunitária se constituiu em elemento essencial para a


legitimidade social dos estudos e para o seu envolvimento na gestão descentralizada e
participativa dos recursos hídricos das bacias, a ser implementada através de seus futuros
comitês de bacias hidrográficas.

De acordo com as orientações constantes do Termo de Referência, e ratificadas na


Proposta da COHIDRO, o presente trabalho teve caráter participativo, no sentido de utilizar
na sua elaboração procedimentos que permitam a participação das comunidades das bacias,
através de suas associações de classe e lideranças políticas, religiosas e comunitárias, e dos
usuários da água. Essa participação devera constituir o embasamento essencial para a
implementação das políticas de desenvolvimento sustentável nas Bacias, tendo como eixo o
gerenciamento descentralizado e participativo dos recursos hídricos.

O processo de participação social teve como objetivo promover a mobilização e


participação das comunidades no processo de elaboração dos estudos em tela, bem como
ser elemento essencial para viabilizar a implantação e consolidação das ações propostas.

Para o alcance desse objetivo, foram usadas as seguintes estratégias:

- sensibilização da sociedade a partir de seus segmentos representativos - usuários das


águas, lideranças populares, políticas, religiosas, sindicais, trabalhadores das
diferentes atividades econômicas, organizações não governamentais, instituições de
ensino e pesquisa, e outros;

- disponibilização de diferentes instrumentos de apoio à comunicação e informação,


que ensejem o perfeito entendimento das mensagens, em especial aquelas que vêem
traduzir os objetivos e metas deste estudo, bem como aquelas que valorizem a
mobilização e participação social, desde a etapa do conhecimento/diagnóstico à
fiscalização, consolidação e acompanhamento das ações, propostas e implantadas,
nas comunidades envolvidas;

- viabilização de apoio técnico e operacional aos grupos que venham a se constituir


para acompanhamento dos trabalhos;

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 68


- apoio às iniciativas locais/regionais que venham a facilitar a organização e expressão
das comunidades das Bacias;

- atuação em conjunto, das instituições e das comunidades, de forma a consolidar


relações de confiança e respeito.

- Na realização da mobilização social para suporte a este documento, a COHIDRO


contou com o apoio da SEMARHN na elaboração da lista das entidades
representativas dos municípios convidados.

Particularmente com respeito as audiências públicas buscou-se a mobilização da


sociedade civil organizada, dos usuários da água e poder público para participarem na
elaboração e implementação dos presentes estudos sobre a região de interesse. Essa
mobilização compreendeu sempre três momentos: divulgação de informações sobre a
legislação federal e estadual e sobre o gerenciamento descentralizado e participativo dos
recursos hídricos; discussão sobre os estudos produzidos sobre as Bacias; e, finalmente, o
fomento à organização e participação da comunidade na gestão dos recursos hídricos,
através de associações de usuários e dos Comitês das Bacias.

As audiências contaram com a participação das seguintes entidades com seu(s)


representante(s):

MUNICÍPÍO NOME ENTIDADE


ANADIA EDSON CORREIA DOS SANTOS PREFEITURA
ANADIA AMÓS DE ALMEIDA ROCHA PREFEITURA
ANADIA FERNANDO JOSÉ BASTOS FERRO ÁGUA MIN. ONDA AZUL
ANADIA SEBASTIÃO DE OLIVEIRA MESSIAS ASS. DO B. JOSÉ MEDEIROS
ANADIA MARIANO DENISON DE MELO SIND. DOS TRAB. RURAIS
ANADIA JAIMESON DOS SANTOS DE LIMA ASSOC. DOS MORADORES
ANADIA MAURO JORGE DOS SANTOS OLIVEIRA ASS. M. DE SERTÃOZINHO
ANADIA EDNEY DE OLIVEIRA DA SILVA INHAHUNS
B. DE S. MIGUEL JOSÉ DA SILVA LIMA CÂMARA MUNICIPAL
B. DE S. MIGUEL REGINALDO JOSÉ DE ANDRADE PREFEITURA
B. DE S. MIGUEL JOSE FRANCISCO DA SILVA FORUM DLIS
B. DE S. MIGUEL EVERALDO DE LIMA COLÔNIA DE PESCADORES
B. DE S. MIGUEL MÁRCIA M. B. DÊMASO DE ANDRADE CÂMARA MUNICIPAL
B. DE S. MIGUEL DIANIR JORGE WEILER ASSOC. DOS BARRAQUEIROS
B. DE S. MIGUEL MARIA ELIZABETE TEIXEIRA TENÓRIO ARTESANATO DA BARRA
B. DE S. MIGUEL QUINTINO R. DONATO RESTAURANTE

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 69


MUNICÍPÍO NOME ENTIDADE
B. DE S. MIGUEL ROBSON VIEIRA PREFEITURA
B. DE S. MIGUEL RONALDO TORRES MORADOR
B. DE S. MIGUEL ROSÂNGELA DE SÁ BONFIM CÂMARA MUNICIPAL
B. DE S. MIGUEL LUIS DIOGENES SANTOS CÂMARA MUNICIPAL
B. DE S. MIGUEL DAMASCO MEDEIROS SOBRAL SIST. DE IRRIG.
B. DE S. MIGUEL DINEY APRATTO TORRES SMDU
B. DE S. MIGUEL DINALVA C. BOTTI ARTESANATO DA BARRA
B. DE S. MIGUEL JOSEFA MARQUES CAVALCANTE ARTESANATO DA BARRA
B. DE S. MIGUEL VITALINO GONÇALVES NETO SEC. DE TURISMO
BELÉM JOSÉ DAVI PEREIRA SINDICATO DE BELÉM
BOCA DA MATA ETELMÍNIO DE ALMEIDA BATOS USINA TRIUNFO
BOCA DA MATA ARNALDO JUGURTADE O. ALVES USINA TRIUNFO
BOCA DA MATA CICERA MARIA FERRAIRA SIND. DOS TRAB. RURAIS
BOCA DA MATA MANOEL JOSÉ SANTOS STR
BOCA DA MATA ARNALDO LUGUITA USINA TRIUNFO
BOCA DA MATA FERNANDO DE ARAÚJO JORGE PREFEITURA
BOCA DA MATA KLEBER DE AMORIM TENÓRIO PREFEITURA
CAMPO ALEGRE LUIS EUGÊNIO COSTA CARDOSO USINA PORTO RICO
CAMPO ALEGRE JASÉ AÉCIO OLÍMPIO GUEDES USINA PORTO RICO
CORURIPE GEORGE GUIDO SEC. DE INFRA-ESTRUTURA
CORURIPE HÉLIO VITALINO DA SILVA SIND. DOS TRAB. RURAIS
CORURIPE JOANILSON SILVA SIND. DOS TRAB. RURAIS
CORURIPE MARIA DO SOCORRO DOS SANTOS SIND. DOS TRAB. RURAIS
CORURIPE JOSÉ ISIDORO DOS SANTOS COLÔNIA DE PESCADORES
CORURIPE FRANCISCO JOSÉ P. CELESTINO USINA GUAXUMA
JEQUIÁ DA PRAIA JOSÉ MOISÉS COELHO COLÔNIA DE PESCADORES
JEQUIÁ DA PRAIA DOMÍCIO JÚNIOR CÂMARA MUNICIPAL
JEQUIÁ DA PRAIA DENILSON MARQUES COLÔNIA DE PESCADORES
JEQUIÁ DA PRAIA ANDRÉ PALMEIRA SEC. DE AGRIC.E MEIO AMB.
JEQUIÁ DA PRAIA ERIVALDO DOS SANTOS USINA SINIMBU
JEQUIÁ DA PRAIA FERNADO EDUARDO V. DE LYRA USINA CANSANÇÃO
JEQUIÁ DA PRAIA JASÉ ARNALDO PACHECO PREFEITURA
JEQUIÁ DA PRAIA TEREZA PACHECO SEC. DO MEIO AMBIENTE
JEQUIÁ DA PRAIA KÁTIA VALÉRIA LIMA DE OLIVEIRA SEC. DE SAÚDE
JEQUIÁ DA PRAIA CRISTIANE DE CÁSSIA S. PACHECO SEC. DE SAÚDE

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 70


MUNICÍPÍO NOME ENTIDADE
JEQUIÁ DA PRAIA ARISTIDES MOREIRA DE C. NETO CÂMARA MUNICIPAL
JOÃO PESSOA/PB EUVALDO NOBREGA CABRAL ÁGUA/PROHIDRO MMT
MACEIÓ MARIA DE FÁTIMA ACIOLY DE CASTRO CASAL
MACEIÓ LUCIENE MARIA DE ARAÚJO BARROS SEMARHN
MACEIÓ LUDGERO DE BARROS LIMA SEMARHN
MACEIÓ GIVALDO SANTOS NASCIMENTO CIPESA
MACEIÓ ANIVALDO DE MIRANDA PINTO SEMARHN
MACEIÓ JOSÉ ROBERTO LÔBO SEMARHN
MACEIÓ ROBERTO WAGNER DANTAS IBAMA
MACEIÓ MARIA DE FÁTIMA PEREIRA DE SÁ UFAL
MACEIÓ CARLOS JOSÉ MONTEIRO SIND. IND. DO AÇUC.ALCOOL
MACEIÓ JOSÉ GABRIEL CARLOS SIND. DOS URBANITÁRIOS
MACEIÓ MESSIER SEMARHN
MACEIÓ SUB. OFICIAL MOURA CAPITANIA DOS PORTOS
MACEIÓ LUIZ COSTA REGIS AMARAL COHIDRO
MACEIÓ SUELY DO NASCIMENTO SILVA SEC. C. SAÚDE E B.SOCIAL
MACEIÓ JOSÉ SANTINO DE ASSIS UFAL
MACEIÓ JOSÉ HAMILTON DA SILVA BASTOS SEMARHN
MACEIÓ PEDRO MACEDO SEMARHN
MACEIÓ CÂNDIDO CARNAÚBA MOTA STAB – SOCIEDADE
MACEIÓ LUIZ CARLOS VILAS BOAS IMA/AL
MACEIÓ JOSÉ AUGUSTO GUSMÃO IBAMA
MACEIÓ EUPLIDES LEÃO DE OLIVEIRA SIND. DOS URBANITÁRIOS
MACEIÓ JOSÉ SEBASTIÃO COELHO PPS
MACEIÓ MAURÍCIO JOSÉ P. MALTA
MACEIÓ JOSAN LEITE CIPESA
MACEIÓ VIRGÍNIA MILLER CREAMB
MACEIÓ LENICE SANTOS MORAES CREAMB
MACEIÓ GUSTAVO DE CARVALHO PROÁGUA
MACEIÓ MARCOS PAULO TENÓRIO PORTELA SEMARHN
MACEIÓ BENEDITO ROQUE DA COSTA FED. DOS PESCADORES
MACEIÓ PAULO LIMA LOPES UFAL
MACEIÓ LUIZ CHAVES XIMENES FILHO SIND. IND. DO AÇUC.ALCOOL
MARECHAL DEODORO MÁRCIO SAMPAIO USINA SUMAÚMA
MARECHAL DEODORO MAGELA MARIA F. DE LUCENA PREFEITURA

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 71


MUNICÍPÍO NOME ENTIDADE
MARECHAL DEODORO RICARDO CESAR DE B. OLIVEIRA SEC. DE MEIO AMBIENTE
MARECHAL DEODORO MÁRCIO SAMPAIO USINA SUMAÚMA
MARECHAL DEODORO IVO AUGUSTO SANTANA PEPE USINA SUMAÚMA
PILAR JOSÉ JAIRO F. DA SILVA USINA TERRA NOVA
RIO DE JANEIRO ALUIZIO LOUREIRO PINTO COHIDRO
RIO LARGO PAULO ÂNGELO USINA LEÃO
ROTEIRO ERONILDES CÂNDIDO NASCIMENTO COLÔNIA DE PESCADORES
ROTEIRO ELITELMO PEDRO DOS SANTOS COLÔNIA DE PESCADORES
ROTEIRO EVERALDO DOS SANTOS COLÔNIA DE PESCADORES
S. M.DOS CAMPOS JOSÉ GERALDO NEVES USINA ROÇADINHO
S. M.DOS CAMPOS CLÁUDIO ROBERTO MOTA FUNDAÇÃO VERDE
S. M.DOS CAMPOS MÁRCIO GUSTAVO SANTOS OLIVEIRA SEC. DE SAÚDE
S. M.DOS CAMPOS ARYL LIRA USINA CAETÉ
S. M.DOS CAMPOS GLADES BEZERRA APRATTO CASA DE CULTURA
S. M.DOS CAMPOS LUCIARIA DA ROCHA SILVA SAMPAIO CASA DE CULTURA
S. M.DOS CAMPOS JOSÉ RICARDO DA SILVA SAMPAIO SEC. DE SAÚDE
S. M.DOS CAMPOS RITA DE CÁSIIA SEC. DE ASSIST. SOCIAL
S. M.DOS CAMPOS ROBERTO DE SIQUEIRA LIMA SAAE
S. M.DOS CAMPOS JASÉ ALBERTO ALVES DE LIMA SEC. DE AGRICULTURA
S. M.DOS CAMPOS MAURÍCIO JORGE VASCONCELOS USINA CAETÉ
S. M.DOS CAMPOS NIVALDO SILVA JÚNIOR PREFEITURA
S. M.DOS CAMPOS JOSÉ ROBERTOMARTINIANO SOBRAL SIST. DE IRRIG.
S. M.DOS CAMPOS ROBSON JACKSON DE A. CAVALCANTE SEC. EST. DE AGRICULTURA
S. M.DOS CAMPOS MAGALI GOMES DOS SANTOS SINE
S. M.DOS CAMPOS SIMONE SILVA JORDÃO SEC. DE SAÚDE
S. M.DOS CAMPOS EDVALDO DE ARAUJO SANTOS SEC. DE ASSIST. SOCIAL
S. M.DOS CAMPOS JOSÉ LIMA DOS SANTOS SEC. DE SAÚDE

As propostas de soluções apresentadas para os problemas identificados se reportam


todas elas a ações de política governamental, quais sejam:

• a implantação e operação de estações de tratamento de água e esgotos;


• reflorestamento do entorno dos mananciais e reimplantação de matas ciliares;
• definição e viabilização de mecanismos de fortalecimento das ONG, grupos e
organizações da sociedade;

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 72


• ampliação da oferta de água para abastecimento humano e para a produção –
estudar novos mananciais, novas alternativas;
• estabelecer mecanismos e reforçar a fiscalização para evitar o descumprimento da
legislação.
O contato com a sociedade nas atividades que tiveram tal fim, deixam a certeza de,
que há uma grande ansiedade local por ações governamentais na área de gestão ambiental
e de recursos hídricos.

A natureza de quase todas as reclamações capturadas pela equipe deste trabalho são
daquelas cuja competência e responsabilidade são do poder público. Daí a cobrança por uma
maior presença deste na região.

Verificou-se uma intrínseca relação entre as soluções apontadas para aumentar a


quantidade de água e melhorar a sua qualidade. E todas elas assentadas na convicção sobre
a importância da preservação do meio ambiente, da implantação do sistema de
gerenciamento integrado das bacias hidrográficas e da organização das comunidades para
participarem da gestão das águas.

7.2 Como se Organiza a Sociedade Local para a Gestão Participativa


Houve consenso entre os grupos de que a organização da comunidade para atuar na
gestão das águas é de fundamental importância e deve ser alicerçada na educação e
conscientização das comunidades. Observou-se também que o envolvimento da população
na gestão das águas constitui um fato novo e que nos municípios representados não se
registrara ainda qualquer movimento nesse sentido, partindo de órgãos governamentais, ou
qualquer outro tipo de organização.

Evidenciou-se que o fórum adequado e desejado para as discussões sobre a gestão


dos recursos hídricos é o comitê de bacia hidrográfica. Evidenciou-se também, contudo, que
a motivação para participar da gestão das águas não constitui tarefa de difícil execução. Um
efetivo trabalho de mobilização, cujo conteúdo passa necessária e inicialmente pela questão
do conhecimento dos direitos e deveres relativos ao uso e conservação dos recursos
ambientais pode favorecer a organização e a participação social.

Entre as atividades cobradas pela comunidade, destaca-se a que criação dos comitês
de bacias hidrográficas com a presença de todos os atores sociais e usuários para chamar a
atenção sobre o uso e conservação das águas e ainda a criação de comissões para a
promoção de eventos de divulgação, treinamentos e mutirões. Evidenciou-se a importância e

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 73


responsabilidade do governo em dar início a esse processo, tanto quanto envolver todos os
municípios da bacia hidrográfica.

A região de estudo é marcada por uma frágil coesão social, onde as entidades da
sociedade civil são articuladas de forma precária. Destaque deve ser feito para o DLIS
(Fórum de Desenvolvimento Sustentável) que, apesar de já ter sido mais forte e atuante,
ainda é uma força destacada na região. Outro destaque deve ser feito aos conselhos
municipais de educação e aos ligados às questões da infância e adolescência.

Neste cenário, o comitê de bacias hidrográficas deve servir como mais uma força
para propiciar a aglutinação da população local em torno de temas de seu interesse.
Ressalta-se diante das fragilidades já apontadas que os comitês de bacias hidrográficas terão
um imenso trabalho pela frente.

7.3 A Mobilização Social como um Processo Continuado


Com base nas observações e constatações dos participantes das audiências públicas,
a continuidade da mobilização para a gestão participativa dos recursos hídricos deve levar
em conta duas linhas de atuação. A primeira, diz respeito à implementação de uma
estratégia de comunicação social, com ênfase para a informação, na qual os estados têm
papel relevante de indução e coordenação e para a qual podem-se promover eventos e
campanhas por município e por segmentos sociais para:

• divulgação da legislação e seus desdobramentos;


• esclarecimentos sobre a formação, composição, atribuições e funcionamento do
comitê de bacia hidrográfica e demais formas associativas para a gestão dos recursos
hídricos;
• coleta de subsídios para informar o estatuto das futuras instâncias colegiadas;
• identificação do maior número possível de entidades que possam associar-se ao
processo de mobilização.
A segunda linha corresponde ao processo de constituição das instâncias colegiadas,
precedida de análise do ambiente institucional existente, de modo a ancorar o modelo de
gestão no conjunto de interesses dos atores envolvidos, conferindo sustentação ao processo.
Sob tal ótica ganham relevância:

• as Prefeituras Municipais, pela responsabilidade com a implementação das políticas


de desenvolvimento locais e o potencial de induzir os demais atores, bem como

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 74


aportar recursos institucionais e logísticos para a constituição e operação do comitê,
e agências de bacia;
• as instituições públicas encarregadas da regulação e fiscalização ambientais, que
podem contribuir na condução unificada das políticas públicas;
• a inserção, tão voluntária quanto possível, dos setores empresariais, garantindo a
participação mediante a consideração de suas necessidades no equacionamento da
oferta de água e responsabilidade social das empresas com a sustentabilidade
ambiental;
• as instituições de pesquisa e ensino e associações técnicas que poderão aportar
conhecimento e assessoria à condução dos programas e negociação de conflitos;
• as organizações não governamentais que prestam assessoria à organização
comunitária e à transferência de tecnologia para programas do meio rural e de
conservação ambiental;
• os usuários de águas através de suas entidades representativas rurais e urbanas.
• Todas as demais ações colaboram para a constituição dos comitês de bacias
hidrográficas, que deve ser entendida como o fórum aglutinador das questões ligadas
ao gerenciamento dos recursos hídricos da área em estudo.

Capítulo 7 – A Participação dos Usuários 75


8 – IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO INTEGRADA DOS
RECURSOS HÍDRICOS
As etapas de implementação do processo de gestão integrada dos recursos hídricos
deverão compreender:

• realização de encontros para apresentação do Plano Diretor consolidado e


discussão das alternativas de organização dos usuários, com base na metodologia
já adotada nos encontros anteriores, sob a coordenação dos órgãos estaduais
gestores dos recursos hídricos;
• formação de comissões com representação dos diversos segmentos políticos e
sociais envolvidos, para elaboração do plano de trabalho com vistas à mobilização
dos segmentos de usuários para a constituição dos comitês de bacias
hidrográficas;
• definição das instituições e órgãos públicos com atuação na bacia hidrográfica
que deverão ser co-responsáveis pela implementação da gestão integrada dos
recursos hídricos;
• identificação das atividades e definição de responsabilidades com vistas à
constituição do comitê e/ou dos sub-comitês de bacia hidrográfica;
• Ações que visem a formação dos comitês de bacias hidrográficas da região;
• e aprovação do cronograma, detalhamento dos recursos necessários e
identificação de responsáveis pelo aporte de recursos técnicos e materiais ao
comitê.

8.1 O Plano Diretor e o Gerenciamento dos Recursos Hídricos


As propostas surgidas no âmbito das duas audiências são aqui relacionadas a seguir.
Sobre estas o Plano Diretor baseou suas propostas de ações, tanto as ações de
desenvolvimento, bem como as ações de apoio e implementação.

1. Regularização dos usos da água na região, com identificação dos barramentos e


responsáveis pela construção e operação;
2. Cadastramentos dos mineradores na calha do rio São Miguel
3. Criação de condições para dirimir conflitos de visões entre representantes do setor de
cana-de-açúcar e sociedade civil.
4. Atendimento de pequenas comunidades através de poços. Destaca-se que em
algumas regiões há a construção indiscriminada, sem levar em consideração uma
distância mínima entre os poços.

Capítulo 8 – Implementação da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos 76


5. Ações para controle da salinização de poços, fenômeno infelizmente comum na
região de estudo;
6. Reativação do programa visando levar água para as escolas, denominado “Água na
Escola”;
7. Fortalecimento de ações para estimularar a coesão social na região para a
implementação de comitês de bacias hidrográficas;
8. Fortalecimento das relações dos municípios da bacia em prol da gestão das águas;
9. Priorizar o uso da água superficial, mantendo as águas subterrâneas como reserva
estratégica;
10. Recuperação de nascentes e matas ciliares;
11. Ampliação dos sistemas de tratamento de esgoto dos municípios da região;
12. Ordenação do crescimento das cidades, estabelecendo critérios para implantação de
projetos turísticos, além de estudos preliminares para barramentos na bacia.
13. Apoiar as estações de compostagem de lixo;
14. Construção de módulos sanitários na zona rural,
15. Construção de matadouros em condições adequadas de higiene;
16. Despoluição de açudes;
17. Programa de educação ambiental nas escolas e na comunidade, focalizando o
saneamento e o uso racional da água, reflorestamento das matas ciliares, encostas,
nascentes, monitoramento das águas;
18. Avaliação dos impactos nas lagoas devido à redução dos níveis dos rios, e dos
impactos dos agrotóxicos nas mesmas;
19. Gerenciamento ambiental das barragens e poços que abastecem os municípios;
20. Alternativas de abastecimento para a comunidade residente na zona rural;
21. Diagnóstico do comportamento hidro-dinâmico das lagoas;
22. Recuperação e preservação das áreas de banho e lazer da comunidade;
23. Atividades que desenvolvam a pesca na região;
24. Controle da poluição industrial;
25. Efetivação das políticas ambiental e de recursos hídricos de Alagoas;
26. Maior presença dos órgãos responsáveis pela fiscalização e implementação das
políticas ambiental e de recursos hídricos de Alagoas;
Pelo exposto, conclui-se que a comunidade demonstrou elevado amadurecimento
sobre os problemas que a cercam, e sobre os mecanismos que desejam ver operacionais
para resolvê-los. De forma geral, destaca-se a vontade da população em ver o Poder Público
fazer cumprir as leis que cercam os temas ambientais e de recursos hídricos.

Capítulo 8 – Implementação da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos 77


As ações apresentadas na seqüência deste capítulo refletem na íntegra um pacote de
providências que visam amenizar, ou mesmo suprimir, os problemas que afligem a região de
estudo, apontando prioridades de ações.

8.2. Acompanhamento do Plano Diretor e o PPA do Governo de Alagoas


Visando verificar a adequação das prioridades e ações recomendadas no Plano
Diretor da região do Rio São Miguel com o Plano Plurianual do Governo do Estado de
Alagoas para o período 2004-2007, destaca-se destes as ações planejadas para a área de
estudo. A seguir apresentar-se-á uma série dados que servem para estimar a aderência
entre os anseios da população, manifestadas no Plano Diretor, e o planejado pelo Governo
de Alagoas.

Do PPA 2004-2007 foram elencadas um conjunto de ações para o saneamento em


Alagoas, dentre as quais ações especificamente direcionadas para a área de estudo, bem
como ações de caráter geral para todo o Estado. No Quadro 8.1 são apresentadas tais ações
separadamente.

Quadro 8.1 - Algumas ações previstas no PPA-2004-2007


VALOR
VALOR PARA O
ALGUMAS AÇÕES PREVISTAS NO PPA-2004-2007 PARA O ANO PERÍODO
2004 (R$) 2005-2007
(R$)

AÇÕES PREVISTAS PARA A ÁREA DE ESTUDO

PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E AMPLIAÇÃO DE


90.644.537 41.703.000
SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

AMPLIAÇÃO E MELHORIA ANADIA/MARIBONDO 431.666 106.500

AUMENTO DA PRODUÇÃO DA REDE E LIGAÇÃO EM CORURIPE 145.915 72.000

IMPLANTAÇÃO DE POÇOS EM CAMPO ALEGRE 183.255 150.000

SUBSTITUIÇÃO DE 200 KM DE REDE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA 21.279.300 5.250.000

SUBSTITUIÇÃO DE REDE E CONSTRUÇÃO DE UM RESERVATÓRIO 12.564.920 5.270.000

AÇÕES PREVISTAS PARA O ESTADO NO TEMA SANEAMENTO

ALAGOAS AMBIENTE SAUDÁVEL 18.967.081 4.843.200

MONITORAMENTO DAS ATIVIDADES ANTRÓPICA 175.098 43.200

REALIZAÇÃO DO ZONEAMENTO E DISCIPLINAMENTO DAS ZONAS


344.522 85.000
COSTEIRAS

Capítulo 8 – Implementação da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos 78


REFLORESTAMENTO DAS MATAS CILIARES 60.798 15.000

COORDENAÇÃO, FOMENTO E ORIENTAÇÃO AO


24.434 90.000
APROVEITAMENTO DE RECURSOS NATURAIS

ESTUDO E PROJETOS DE MANEJO DE PROJETOS


4.733.327 1.167.800
ECOLÓGICOS

ELABORAÇÃO DE PLANOS INTEGRADOS DE GESTÃO AMBIENTAL 889.272 219.400

ELABORAÇÃO DE PROJETO DE REFLORESTAMENTO 864.953 213.400

ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE PROTEÇÃO À FLORA E A FAUNA


1.349.716 333.000
ALAGOANA

IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA NACIONAL DE MEIO


3.366.993 830.700
AMBIENTE - PNMA II

INTEGRAÇÃO DAS AÇÕES DE MEIO AMBIENTE COM AS


3.089.754 762.300
AÇÕES DE SAÚDE E EDUCAÇÃO’

OPERACIONALIZAÇÃO DA POLITICA DE CONTROLE


893.360 224.600
AMBIENTAL

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE ÁGUAS 92.413 22.800

ZONEAMENTO DO ECOTURISMO 20.266 5.000

PROMOÇÃO DA EXPANSÃO DO SANEAMENTO BÁSICO-


108.725.031 32.220.100
CASAL

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS RECUROS


405.320 100.000
HÍDRICOS

CAPACITAÇÃO EM EDUAÇÃO AMBIENTAL 162.128 40.000

PREVENÇÃO, PROTEÇÃO E REABILITAÇÃO AMBIENTAL 243.192 60.000

FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL E PARTICIPAÇÃO


405.320 100.000
PÚBLICA

CAPTAÇÃO E INVESTIMENTO DE RECURSOS PARA


40.532 10.000
IMPLEMENTAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

ESTRUTURAÇÃO DA POLÍTICA DE RECURSOS


486.153 430.000
HÍDRICOS/PROÁGUA

IMPLEMENTAÇÃO DA REDE METEOROLÓGICA E


705.507 451.000
HIDROLÓGICA DO ESTADO/PROÁGUA

ESTUDOS DE QUALIDADE DE ÁGUA 128.425 50.000

OPERACIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA ESTADUAL DE


417.696 135.000
RECURSOS HÍDRICOS/PROÁGUA

REGULAMENTAÇÃO DO USO DOS RECURSOS


430.000 470.000
HÍDRICOS/PROÁGUA

Capítulo 8 – Implementação da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos 79


Numa análise detida das 277 folhas do PPA-2004-2007 do Governo de Alagoas,
verifica-se que há forte aderência entre as ações apontadas pelas audiência e destacadas
aqui neste Plano Diretor com o PPA, pelo menos na natureza das ações.

Acontece que os valores de investimentos para algumas das ações são realmente
insuficientes para fazer frente ao enorme desafio que se tem pela frente. Convém destacar
que a prática de observar o PPA e buscar ver ao longe as ações do Governo, trata-se de
exercício novo, que ainda carece de amadurecimento daqueles que fazem o Governo e das
parcerias imaginadas entre o poder público e a iniciativa privada.

O Plano Diretor e o PPA deverão servir como balizadores de ações. O Plano numa
visão regional e com forte tendência para as interfaces dos recursos hídricos com o
crescimento sustentado da região de estudo. O PPA numa visão de integrar ações em todo
território com o desenvolvimento do Estado, compatibilizando os anseios de toda população
alagoana.

O exercício aqui desenvolvido corrobora com a assertiva que a gestão, por meio
planejamento dos recursos hídricos, é um instrumento importante para o tão desejado
crescimento sustentado para o Estado de Alagoas.

Capítulo 8 – Implementação da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos 80


9 – PLANO DE AÇÕES
Os Planos de Ação, tema deste capítulo, devem articular a gestão dos recursos
hídricos com o desenvolvimento sustentável, visando a melhoria da qualidade de vida da
população e a conservação ambiental em toda a área da bacia hidrográfica, e todas as
proposições e estratégias de curto, médio e longo prazos devem estar em consonância com
as diretrizes emanadas das legislações federal, estaduais e municipais pertinentes.

9.1 Estratégias e Diretrizes


O Plano Diretor de Recursos Hídricos atendeu a algumas diretrizes gerais que visam o
aproveitamento racional desses recursos, contemplando pelo menos os seguintes aspectos
básicos:

• Abastecimento de água dos núcleos urbano;


• Abastecimento de água da população rural;
• Irrigação e outros usos em atividades rurais;
• Controle da qualidade da água;
• Fornecimento de água para fins industriais;
• Prevenção de inundações;
• Prevenção de assoreamento.
Quanto ao abastecimento de água, deve-se levar em conta que os sistemas devem
cumprir a sua função social e, além disso, devem gerar renda suficiente para permitir sua
administração e garantir um serviço eficiente, em qualidade e quantidade. Em situação de
escassez, sendo o abastecimento humano prioritário, deverão ser estabelecidas regras de
racionamento de modo que este preceito legal seja respeitado. Verificando o nível de
produção atual dos sistemas existentes, caracteriza-se na região uma demanda reprimida
muito grande.

Com relação ao abastecimento industrial deve-se diferenciar as pequenas e médias


indústrias, que podem utilizar as águas com a qualidade exigida para o abastecimento
urbano, daquelas de maior porte, com grandes consumos e ainda daquelas, como as
indústrias de bebidas e alimentos, que utilizam águas de qualidades específicas. Enquanto as
primeiras podem funcionar utilizando o sistema de abastecimento urbano, as outras
necessitam de localização especial para terem seus abastecimentos garantidos por sistemas
próprios, bem como de tratamento e destino de seus efluentes.

Quanto ao problema das inundações, as intervenções humanas sobre as bacias


hidrográficas modificam o ciclo hidrológico local através das alterações no uso do solo
Capítulo 9 –Plano de Ações 81
(substituição da vegetação natural por culturas e/ou pastagens), da impermeabilização do
solo em áreas urbanas (alterando o processo de infiltração e evapotranspiração), de
modificações na calha natural dos rios, da drenagem de áreas naturalmente alagáveis (com
transferência dos volumes drenados para jusante), dentre outros fatores. A ocupação das
várzeas (planícies naturais de inundação dos rios), ligada às modificações mencionadas, pode
conduzir a sérios problemas de inundação. As medidas de prevenção e redução das cheias
devem prever o estabelecimento de um sistema de alerta, visando a minimização dos
prejuízos provocados pelas inundações, o monitoramento de áreas alagáveis, verificando a
possibilidade de desocupação destas áreas para preservação, o reflorestamento de nascentes
e, no mínimo, a recomposição das matas ciliares.

A erosão e transporte de sedimentos é um dos principais fatores de degradação da


bacia hidrográfica. Este processo pode provocar assoreamento dos reservatórios, reduzindo
sua capacidade, e dos rios, ampliando os níveis de inundações. O controle efetivo dos pontos
de geração de sedimentos na bacia deve ser implementado, através da recuperação da
vegetação em pontos críticos para a erosão.

Com relação aos recursos hídricos subterrâneos e tendo em vista os elementos


analisados neste trabalho, algumas recomendações são apresentadas, no sentido de
proporcionar seu melhor aproveitamento.

Segundo o diagnóstico realizado, a área estudada apresenta um baixo índice de


aproveitamento dos poços perfurados. Embora a salinidade reflita, na maior parte dos casos,
uma má locação (escolha do local), muitos desses poços poderiam ser recuperados, seja
através de um bombeamento intensivo que proporcionasse condições de renovação da água,
seja, em casos mais extremos, com a instalação de equipamentos de dessalinização da água.
As reduzidas vazões são geralmente reflexo de uma má escolha do local da construção do
poço. Quanto à ausência de equipamentos de bombeamento nos poços, ou quebra do
equipamento, o problema se resume à ausência de manutenção preventiva ou corretiva,
sendo da maior importância a formação de equipes de mecânicos em cada prefeitura
municipal, que se encarregarão da manutenção periódica dos poços.

Durante destes estudos se deu início à mobilização social, reunindo os usuários de


água, os poderes públicos e a sociedade civil organizada, com atuação na bacia, através de
encontros participativos e oficinas de trabalho.

Esses encontros e oficinas evidenciaram o interesse pela gestão participativa dos


recursos hídricos em todas as comunidades presentes e lançaram a semente para a

Capítulo 9 –Plano de Ações 82


constituição das instâncias colegiadas, embora se constatasse que o conhecimento das
comunidades é ainda incipiente com relação aos instrumentos e mecanismos de gestão
participativa. Vale salientar, ainda, outros aspectos identificados:

• a organização e a capacitação dos usuários é de suma importância para o


planejamento e gestão integrada dos recursos hídricos, ganhando importância
diante dos numerosos pedidos de perenização e construção de barragens, que
exigem uma melhor avaliação técnica, mobilização de recursos e esforços de
negociação;
• a preocupação com a questão ambiental se fez presente em todos os grupos de
discussão, sobretudo no que diz respeito à educação ambiental, ao destino
impróprio do lixo, à poluição dos mananciais por defensivos agrícolas, ausência de
saneamento básico, destino dos efluentes industriais e assoreamento, ao lado da
ocorrência de desmatamentos e da necessidade de reflorestar e proteger as
matas ciliares.

9.2 Contribuições das Audiências Públicas para o Plano de Ações


As duas audiências públicas realizadas para a formação do presente Plano Diretor de
Recursos Hídricos foram fóruns riquíssimos de discussão e de captura dos anseios e dos
desejos da população da bacia.

A participação comunitária se constituiu em elemento essencial para a legitimidade


social do Plano e para o seu envolvimento na gestão descentralizada e participativa dos
recursos hídricos das Bacias, a ser implementada através de seus futuros Comitês.

A 1a Audiência Pública ocorreu no dia 27 de março de 2003, na cidade da Barra de


São Miguel, sendo as mesmas ferramentas de sensibilização utilizadas, com mais ênfase na
mobilização para a 2a audiência pública realizada no dia 17 de março de 2004, na cidade de
Anadia. Já terceira audiência ocorreu na cidade de São Miguel dos Campos, no dia 13 de
dezembro de 2004.

As contribuições das audiências públicas, com seus grupos de trabalho, foram


consideradas para conclusão da elaboração deste documento técnico.

As propostas surgidas no âmbito das duas audiências são aqui relacionadas a seguir.
Sobre estas o Plano Diretor baseou suas propostas de ações, tanto as ações de
desenvolvimento, bem como as ações de apoio e implementação, conforme vê-se no itens
seguintes deste capítulo.

Capítulo 9 –Plano de Ações 83


Propostas de Ações do Plano Diretor Advindas das Audiências Públicas

1. Regularização dos usos da água na região, com identificação dos barramentos e


responsáveis pela construção e operação;
2. Cadastramentos dos mineradores na calha do rio São Miguel
3. Criação de condições para dirimir conflitos de visões entre representantes do setor de
cana-de-açúcar e sociedade civil.
4. Atendimento de pequenas comunidades através de poços. Destaca-se que em algumas
regiões há a construção indiscriminada, sem levar em consideração uma distância mínima
entre os poços.
5. Ações para controle da salinização de poços, fenômeno infelizmente comum na região de
estudo;
6. Reativação do programa visando levar água para as escolas, denominado “Água na
Escola”;
7. Fortalecimento de ações para estimularar a coesão social na região para a
implementação de comitês de bacias hidrográficas;
8. Fortalecimento das relações dos municípios da bacia em prol da gestão das águas;
9. Priorizar o uso da água superficial, mantendo as águas subterrâneas como reserva
estratégica;
10. Recuperação de nascentes e matas ciliares;
11. Ampliação dos sistemas de tratamento de esgoto dos municípios da região;
12. Ordenação do crescimento das cidades, estabelecendo critérios para implantação de
projetos turísticos, além de estudos preliminares para barramentos na bacia.
13. Apoiar as estações de compostagem de lixo;
14. Construção de módulos sanitários na zona rural,
15. Construção de matadouros em condições adequadas de higiene;
16. Despoluição de açudes;
17. Programa de educação ambiental nas escolas e na comunidade, focalizando o
saneamento e o uso racional da água, reflorestamento das matas ciliares, encostas,
nascentes, monitoramento das águas;
18. Avaliação dos impactos nas lagoas devido à redução dos níveis dos rios, e dos impactos
dos agrotóxicos nas mesmas;
19. Gerenciamento ambiental das barragens e poços que abastecem os municípios;

Capítulo 9 –Plano de Ações 84


20. Alternativas de abastecimento para a comunidade residente na zona rural;
21. Diagnóstico do comportamento hidro-dinâmico das lagoas;
22. Recuperação e preservação das áreas de banho e lazer da comunidade;
23. Atividades que desenvolvam a pesca na região;
24. Controle da poluição industrial;
25. Efetivação das políticas ambiental e de recursos hídricos de Alagoas;
26. Maior presença dos órgãos responsáveis pela fiscalização e implementação das políticas
ambiental e de recursos hídricos de Alagoas.
Pelo exposto, conclui-se que a comunidade demonstrou elevado amadurecimento
sobre os problemas que a cercam, e sobre os mecanismos que desejam ver operacionais
para resolvê-los. De forma geral, destaca-se a vontade da população em ver o Poder Público
fazer cumprir as leis que cercam os temas ambientais e de recursos hídricos.

As ações apresentadas na seqüência deste capítulo refletem na íntegra um pacote de


providências que visam amenizar, ou mesmo suprimir, os problemas que afligem a região de
estudo, apontando prioridades de ações.

9.3 Ações Propostas


Diversas ações são propostas visando o melhor aproveitamento dos recursos hídricos
da área de estudos, de forma a garantir que a oferta desses recursos venham satisfazer as
necessidades atuais e futuras do desenvolvimento socioeconômico.

Estas ações foram reunidas em dois grupos, o primeiro compreendendo ações de


desenvolvimento e o segundo, ações de apoio e implementação, assim discriminadas:

a) Ações de Desenvolvimento
• Complementação da Infra-estrutura Hídrica;
• Saneamento Básico dos Núcleos Urbanos e Meio Rural;
• Construção e Recuperação de Poços;
• Irrigação e Outras Atividades Rurais;
• Reflorestamento das Nascentes e Recomposição da Mata Ciliar dos rios;
• Prevenção e Controle de Inundações;
• Prevenção e Controle de Assoreamento;

b) Ações de Apoio e Implementação

Capítulo 9 –Plano de Ações 85


• Ampliação e Melhoramento da Rede Hidrometeorológica;
• Monitoramento Sistemático da Qualidade de Água e Controle da Poluição;
• Monitoramento da Explotação de Águas Subterrâneas;
• Educação Ambiental e Saúde Pública;

9.3.1 Ações de Desenvolvimento


Complementação da Infra-Estrutura Hídrica Básica
O balanço hídrico das bacias hidrográficas consideradas neste estudo apresenta
números preocupantes, do ponto de vista gerencial, por parte da SEMARHN, visto que os
mesmos mostram situações de conflitos de usos e demandas, que podem estar, de certa
forma, interferindo em todo o sistema produtivo – com demandas reprimidas, promovendo
uma retração na expansão das atividades econômicas e na qualidade de vida das populações
que ali vivem, bem como nas condições ambientais destes mananciais – promovendo
situações de escassez hídricas onde acontecem problemas ambientais com espécies da fauna
e flora aquática.

No caso específico do terço superior da bacia do rio São Miguel, em que a bacia está
situada em uma região de características tipicamente do agreste, a vazão específica é
bastante reduzida e não atende às projeções de demandas necessárias, que foram
consideradas. Problemas semelhantes existem na bacia do rio Jequiá. Estes mananciais
apresentam boas condições de escoamentos médios, porém as variações de vazões são de
grande significância, fazendo com que as vazões mínimas não atendam as demandas já
instaladas, bem como as projetadas.

De acordo com os estudos de demandas pelo uso da água, realizado neste trabalho, a
disponibilidade destes mananciais, atualmente, é inferior à demanda que se apresenta. Isto
indica a necessidade emergente da SEMARHN iniciar trabalhos de gestão dos recursos
hídricos de tais bacias hidrográficas, para evitar futuros conflitos potenciais na região. Há a
necessidade da discussão das prováveis soluções juntamente com a sociedade, denotando a
carência de implementação dos instrumentos de gestão previstos em lei específica.

A partir da análise dos dados acima fica claro que, para possibilitar o atendimento das
demandas, pode-se considerar alternativas de implantação de barramentos nas bacias
hidrográficas, com vistas à regularização da vazão, compensando a defasagem temporal
entre as demandas e as disponibilidades hídricas, decorrente naturalmente da variação
sazonal de vazões nos rios ou mesmo uma revisão nos procedimentos de adoção da vazão

Capítulo 9 –Plano de Ações 86


de referência para outorga, que na condição atual trabalha com um único número para todo
o ano, quando é sabido que as demandas são variáveis ao alongo do ano.

Saneamento Básico dos Núcleos Urbanos e Meio Rural


Dos serviços básicos, o saneamento básico (sistemas de distribuição de água potável
e de esgotamento sanitário) é o mais importante. O agravante é que os esgotos domésticos,
quase sempre sem qualquer tipo de tratamento, são os maiores poluente dos cursos d’água
e do lençol freático.

Abastecimento d’água
Considera-se adequado o abastecimento de água potável quando a maior
porcentagem da população urbana que vive em domicílios é beneficiada com rede geral e
canalização interna ou, através de poço ou nascente com canalização interna.

Na bacia do rio Niquim, segundo o IBGE (1991), a situação do abastecimento d’água


por domicílio, segundo o conceito acima, menos da metade da população da bacia (cerca de
47%) é beneficiada. A rede geral de abastecimento d’água atende a cerca de 90% dos
domicílios que possuem canalização interna e apenas cerca de 31% dos que não a possuem.
O poço raso ou nascente atende cerca de 3% dos domicílios com canalização interna e cerca
de 31% dos domicílios sem canalização interna. As outras fontes respondem por cerca de
9% nos domicílios com canalização interna e 62% sem as mesmas.

Na bacia do rio São Miguel, cerca de 42% da população goza de abastecimento


d’água adequado, com destaque para os municípios de Maribondo, São Miguel dos Campos,
Boca da Mata e Anadia, nesta ordem. Em piores situações estão os municípios de Roteiro,
Barra de São Miguel e Belém. Nos domicílios com canalização interna, cerca de 86% estão
ligados à rede geral, cerca de 8% usam poço ou nascente e 6% outra forma de
abastecimento. Nas residências sem canalização interna, cerca de 12% estão ligadas à rede,
34% usam poço ou nascente e 54% outra forma de abastecimento.

Na bacia do rio Jequiá, cerca de 31% da população da bacia goza de abastecimento


d’água adequado, com destaque para os municípios de São Miguel dos Campos e Campo
Alegre. Em piores situações estão os municípios de Belém, Tanque d’Arca e Roteiro. Nos
domicílios com canalização interna, cerca de 85% estão ligados à rede geral, cerca de 10%
usam poço ou nascente e 5% outra forma de abastecimento. Nas residências sem

Capítulo 9 –Plano de Ações 87


canalização interna, cerca de 6% estão ligadas à rede, 51% usam poço ou nascente e 43%
outra forma de abastecimento.

Na bacia do rio Poxim, segundo o IBGE, a situação do abastecimento d‘água por


domicílio, cerca de 78% é beneficiada com água de poço artesiano. Não há rede geral de
esgotamento sanitário dos domicílios. O poço raso ou nascente atende cerca de 70% dos
domicílios com canalização interna e cerca de 30% dos domicílios sem canalização interna.

Sistema de Esgotos
Considera-se adequado o sistema de esgotos, se a instalação sanitária domiciliar não
for compartilhada com outro domicílio e apresentar seu escoamento através de fossa séptica
ou rede geral.

A situação dos domicílios por uso e escoadouro da instalação sanitária na bacia do rio
Niquim, segundo o Censo Demográfico do IBGE, 2000, retratou apenas a situação do
domicílio. No caso do uso de fossas sépticas, foram anotados dois casos: ligada à rede
pluvial e sem escoadouro. O primeiro total diz respeito a todos os domicílios da bacia e o
segundo reúne as alternativas de escoamento existentes no município.Segundo o conceito
acima, o esgotamento sanitário da bacia é bastante precário pois, só o município de São
Miguel dos Campos dispõe de rede geral, as cerca de 82 fossas sépticas existentes (cerca de
88% das quais localizadas em São Miguel dos Campos) não apresentam destino adequado
de seus efluentes, que são lançados na rede pluvial ou não dispõem de escoadouro. A fossa
rudimentar, fossa seca ou “casinha”, neste caso, é utilizada em cerca de 76% dos domicílios.

Na bacia do rio São Miguel, apenas cerca de 19% dos domicílios com escoadouro e
cerca de 11% do total de residências (cujo esgoto não é compartilhado) da bacia dispõe de
esgotamento sanitário adequado. Cerca de 75% dos domicílios possuem a fossa rudimentar
como o seu principal escoadouro de esgotos. Rede geral só existe em cerca de 14% do total.
Os municípios melhor atendidos da bacia são Anadia, Maribondo e São Miguel dos Campos.
Os de situação mais crítica são Barra de São Miguel, Roteiro e Belém. Não existe rede geral
em Barra de São Miguel, Anadia, Maribondo, Tanque d’Arca e Belém. Porém, em todos os
municípios da Bacia foi observado que na rede de águas pluviais do município, há ligações
clandestinas de esgoto, o que leva aos afluentes do rio São Miguel uma grande concentração
de águas servidas poluídas, com alto índice de coliformes fecais. Como pode se ver nas fotos
abaixo, não há estação de tratamento de esgoto nos municípios que compõem a bacia do rio
São Miguel, e a qualidade dá água lançada em seu afluentes não é boa.

Capítulo 9 –Plano de Ações 88


Na bacia do rio Jequiá, apenas cerca de 15% dos domicílios com escoadouro e cerca
de 10% do total de residências (cujo esgoto não é compartilhado) da bacia dispõe de
esgotamento sanitário adequado. Cerca de 82% dos domicílios possuem a fossa rudimentar
como o seu principal escoadouro de esgotos. Rede geral só existe em cerca de 11% do total
e apenas no município de São Miguel dos Campos. A mesma situação encontrada na bacia
do rio São Miguel se repete na bacia do rio Jequiá, onde os municípios que compõem a bacia
não dispõem de estação de tratamento de esgoto, havendo ligações clandestinas na rede
municipal de águas pluviais. Os Hospitais dispõem de fossas secas para descarte de materiais
contaminados e de fossas sépticas para esgoto hospitalar, porém foi observado a
proximidade de tais fossas ao poço artesiano que abastece ao hospital ( menos de 10m ), no
Município de Campo Alegre.

A situação dos domicílios por uso e escoadouro da instalação sanitária na bacia do rio
Poxim, segundo o Censo Demográfico do IBGE, 2000, retratou apenas a situação do
domicílio. O esgotamento sanitário da bacia é bastante precário, não apresentando destino
adequado de seus efluentes, que são lançados na rede pluvial ou não dispõem de
escoadouro. A fossa rudimentar, fossa seca ou “casinha”, neste caso, é utilizada em cerca de
65% dos domicílios.

Coleta e Disposição Final dos Resíduos Sólidos


O problema da destinação dos resíduos sólidos é uma das maiores preocupações das
prefeituras municipais, seja pelas várias doenças causadas na população pelos vetores
(animais que vivem e proliferam nos lixões), como pela possibilidade de assoreamento das
canalizações de esgotos pluviais nas cidades, causando enchentes urbanas, e ainda
obstruindo as calhas dosrios.

O número de domicílios por destino do lixo na bacia do rio Niquim, segundo o Censo
Demográfico do IBGE, 2000, era de cerca de 2.139, dos quais cerca de 1.014 ou 47%
apresentaram sistema de coleta de lixo, seja diretamente pela Prefeitura ou indiretamente.
Quase a metade dos domicílios (cerca de 42% do total) lança os seus resíduos em terrenos
baldios; cerca de 3% são queimados, 1% enterrado e 2% lançados nos cursos d’água.

Na bacia do rio São Miguel, a quantidade total de domicílios era de cerca de 11.203,
dos quais cerca de 4.410 ou 41% apresentaram sistema de coleta de lixo, seja diretamente
pela Prefeitura ou indiretamente. Mais da metade dos domicílios (cerca de 54% do total)
lançam os seus resíduos em terrenos baldios; em cerca de 2% é queimado; em 3% dos

Capítulo 9 –Plano de Ações 89


domicílios, há outra forma de destinação e em 1%, lançados nos cursos d’água. O principal
responsável pela coleta direta (em cerca de 1.000 domicílios ou 27% do total da bacia) foi o
município de Anadia e também pelo lançamento em terrenos baldios (cerca de 1,7 mil
domicílios ou 29% dos domicílios da bacia que usaram esta alternativa). Os municípios em
piores situações foram Roteiro e Belém, com 75 e 28 domicílios com lixo coletado,
respectivamente.

Na bacia do rio Jequiá, cerca de 45% apresentaram sistema de coleta de lixo, seja
diretamente pela Prefeitura ou indiretamente. Quase a metade dos domicílios (cerca de 49%
do total) lança os seus resíduos em terrenos baldios; em cerca de 2% é queimado; em 4%
dos domicílios, há outra forma de destinação. Em números gerais, o destino do lixo na bacia
assim é configurado: cerca de 7 mil domicílios o lança em terrenos baldios; em cerca de 230
domicílios, é queimado; em 37 é enterrado; em 35 domicílios é jogado em mananciais de
água e em 532 é utilizada outra forma de destinação.

Na bacia do rio Poxim, 55% apresentaram sistema de coleta de lixo, seja diretamente
pela Prefeitura ou indiretamente. Cerca de 45% dos domicílios lançam os seus resíduos em
terrenos baldios; em cerca de 5% é queimado; em 15% dos domicílios, há outra forma de
destinação.

As prefeituras são encarregadas pela limpeza urbana das cidades, atividade que
compreende a varrição de ruas e poda de árvores, coleta e disposição final de resíduos
sólidos. Não raro o serviço é deficiente: a coleta demora e o resíduo entulha vários dias,
principalmente nas áreas mais distantes dos centros das cidades.

Além disso, a disposição final é, na maioria dos casos, inadequada, em vazadouros a


céu aberto – lixões onde se encontram catadores a busca de resíduos recicláveis ou de
comida para a cria de animais.

O porte da cidade e os recursos disponíveis, assim como sua localização em termos


estéticos e socio-econômicos podem viabilizar a implantação de tratamentos mais adequados
como aterros sanitários, individualmente ou através de consórcios municipais.

O aterro sanitário é o sistema de disposição de resíduos sólidos que oferece a melhor


relação custo-benefício para a maioria das áreas urbanas A transformação de resíduos
sólidos em composto orgânico (compostagem) custa de 2 a 3 vezes mais do que os aterros
sanitários, enquanto o custo da incineração é de 5 a 10 vezes superior.

Uma estratégia como solução de imediato seria promover a coleta de lixo nos rios nos
de modo a evitar que estes alcancem as lagoas e a foz até que a regularidade da coleta e

Capítulo 9 –Plano de Ações 90


disposição final e a educação da população promova uma mudança de atitude, ou seja, de se
lançar aos rios e suas margens parte dos rejeitos.

9.3.2 Ações de Apoio e Implementação


Ampliação e Melhoramento da Rede Hidrometeorológica;
Apesar de ser observada uma boa densidade de postos pluviométricos na região
(considerando somente os 4 postos usados neste trabalho, 1 posto para 590km2), existe uma
concentração nas partes altas da bacia e a sua operação é deficiente, apresentando muitas
falhas, com longos períodos sem dados, conforme foi observado no capítulo 4. As quatro
estações utilizadas neste trabalho apresentam longos períodos de falha antes de 1963 e após
1983. Faz-se, portanto, necessária a correta operação das estações, garantindo a
continuidade das séries pluviométricas.

Quanto à rede fluviométrica, atualmente não existe disponibilidade de série de vazões


nas bacias consideradas. Uma estação foi instalada pela Agência Nacional de Águas no ano
de 2000 no rio São Miguel (estação 39950000 – Fazenda São Pedro), cuja operação está sob
responsabilidade da CPRM. No entanto, a série é recente, não tendo, ainda,
representatividade. Faz-se necessária, portanto, a manutenção da operação desta estação de
forma continuada, garantindo, desta forma, que os dados estarão disponíveis para a gestão
dos Recursos Hídricos das bacias em questão.

Em função do acelerado processo erosivo observado nas bacias, faz-se necessária a


instalação de pelo menos uma estação sedimentométrica na bacia do rio Jequiá, sendo
recomendável, também, o monitoramento do transporte de sedimentos na bacia do rio São
Miguel (onde também se observa um processo erosivo intenso). O monitoramento do
transporte de sedimentos na bacia é fundamental para a avaliação da efetividade das
medidas de controle do assoreamento dos corpos d’água.

A disponibilidade de dados climatológicos também é precária para a região.


Recomenda-se, portanto, a instalação de uma estação climatológica contando com os
seguintes aparelhos: 1 pluviômetro, 1 pluviógrafo, 1 tanque classe A com anemômetro e
termômetro flutuante, 1 evaporímetro de Piché, 1 psicrômetro, 1 termômetro de máxima e 1
termômetro de mínima. Esta estação poderia estar localizada nas regiões mais baixas da
bacia do rio São Miguel, já considerando a necessidade melhoria da densidade de
monitoramento pluviométrico nas partes mais baixas das bacias e, ainda, a existência de
uma estação climatológica na bacia do rio Coruripe (que também poderá ser utilizada para
estudos nas bacias em questão).

Capítulo 9 –Plano de Ações 91


Monitoramento Sistemático da Qualidade de Água e Controle da Poluição
O conhecimento e o controle da qualidade dos recursos hídricos é imprescindível para
um adequado planejamento de ações e investimentos em uma bacia hidrográfica. Existem
padrões de qualidade para a água que devem ser atendidos de acordo com o uso a que se
destina, como, por exemplo: abastecimento das populações, irrigação, abastecimento
industrial, diluição de despejos, manutenção do equilíbrio ecológico, entre outros.

Para o diagnóstico das bacias em análise, foram realizadas duas campanhas de


medição para avaliar a qualidade da água. Nestas campanhas, verificou-se grande variação
na qualidade da água em diferentes pontos das bacias e em função da época do ano,
apresentando sinais de degradação em diversos pontos. As campanhas efetuadas na fase de
diagnóstico permitem apenas uma avaliação preliminar da qualidade da água, visto que os
registros foram feitos de forma pontual. O monitoramento sistemático deverá ser
implementado, de forma a permitir uma melhor gestão dos recursos hídricos das bacias, bem
como a adoção de medidas efetivas para o controle da poluição nas diversas formas
identificadas (efluentes urbanos, industriais, resíduos sólidos, agrotóxicos, entre outros).

Para tanto devem ser desenvolvidas atividades de campo e estudos que permitam
determinar:

• registro do nível dos cursos d’água e das lagoas relacionados ao monitoramento


de qualidade, com coleta e análise de amostras;
• verificação da conformidade com os padrões de qualidade de água fixados na
legislação, de acordo com os usos desejados dos recursos hídricos;
• avaliação da qualidade da água ao longo do rio, através de modelos, padrões ou
simulações computacionais, considerando a freqüência necessária de
determinação dos parâmetros de qualidade.

Controle da Carga Poluidora por Esgotos


Atualmente o índice de tratamento dos efluentes domésticos é muito pequeno e,
assim, é de se esperar um grande avanço quando da aplicação do conjunto de medidas
previstas neste plano. As ações devem ser acompanhadas de uma campanha de
conscientização e educação sanitária, para que surtam efeito.

Controle da Carga Poluidora Agroindustrial

Capítulo 9 –Plano de Ações 92


O vinhoto, vinhaça ou popularmente calda é o resíduo da produção alcooleira de
maior poder poluente em termos de cargas orgânicas. A composição deste resíduo se
constitui em matéria orgânica e mineral, com destaque para o potássio e ainda nitrogênio,
fósforo, cálcio, magnésio, enxofre, cobre, ferro, zinco e manganês, em níveis razoavelmente
baixos. Tal composição favorece sobremaneira o uso intensivo da fertirrigação.

Seria, portanto, recomendável reduzir os riscos operacionais e do processo de


fertirrigação com vinhoto, revisando os seguintes pontos junto às unidades industriais:

• verificar a capacidade de absorção do solo para aplicação apenas do volume de


vinhoto necessário;
• evitar as áreas íngremes próximas ao rio e de risco de erosão;
• não fazer fertirrigação com vinhoto em áreas cujo lençol freático é elevado, em
várzeas, e na época de chuvas;
• evitar o uso de equipamentos inadequados para aplicação do vinhoto;
• reavaliar a estrutura de armazenamento e condução do vinhoto para evitar risco
de extravasamento ou colapso;
• reavaliar as unidades industriais e os dispositivos de segurança ou derivação do
efluente para garantir que este não alcance o rio;
• envolver o Comitê da Bacia para acompanhar as medidas de segurança das
fábricas e formar comissões em cada usina/destilaria;
• instaurar incentivos e premiação para o pessoal envolvido que tenha conduzido o
processo com sucesso;
• manter uma fiscalização contínua nos pontos de lançamento de efluentes.

Monitoramento da Explotação das Águas


O risco de contaminação dos aqüíferos está na dependência não apenas da carga de
poluição, ou seja, dos elementos dispostos na superfície que possam ser carreados ao
subsolo e assim causar a contaminação das águas subterrâneas, como também está na
dependência da vulnerabilidade desses aqüíferos, isto é, do grau de facilidade que os
mesmos oferecem à absorção dessa carga contaminante.

Um dos potenciais riscos de poluição dos aqüíferos está na agricultura, onde se


dispõem herbicidas, inseticidas e fertilizantes no solo para aumentar a produtividade da
cultura.

Isto posto, caracteriza-se como de suma importância o monitoramento da exploração


das águas subterrâneas da região em estudo. Nesta direção a SEMARHN tem feito um

Capítulo 9 –Plano de Ações 93


destacado trabalho de armazenamento, tratamento e divulgação das informações sobre os
poços monitorados e/ou estudados em todo Estado de Alagoas. Evidentemente, a região do
litoral do Estado, em sendo mais monitorada, tem as maiores e melhores informações.

As ações de monitoramento dos aqüíferos devem ocorrer, prioritariamente, nos locais


onde o uso desse recurso já ocorre de forma intensa, estão diante de atividades impactantes
ou áreas de recargas.

Consumos de águas superficiais


No Estado de Alagoas, particularmente na região sul, a irrigação tem se tornado a
principal forma de aumento de produtividade no cultivo para fazer face as concorrências
encontradas. Na região, assim como em todo o Estado, tem-se predominância do cultivo da
cana-de-açúcar. O setor produtivo de Alagoas tem adotado a implementação de projetos de
irrigação para aumentar a produtividade e competir com as grandes e inúmeras empresas
situadas no centro-sul do país, dotado de uma ocorrência de chuvas mais regular e com
qualidade do solo também em melhores condições.

Constituindo uma técnica que proporciona alcançar a máxima produção, em


complementação às demais práticas agrícolas, a irrigação é de grande interesse para todos
os produtores, principalmente por não dispor mais da capacidade de ampliação da área
plantada, restando para isto que se aumente a produtividade por meio da irrigação e
melhores técnicas de plantio.

A intensificação da prática da irrigação se constitui em uma opção estratégica de


grande alcance para aumentar a oferta de produtos, tanto para o mercado interno como
também uma consolidação do país no mercado internacional que é altamente competitivo,
trazendo com isto melhorias nos níveis de produção, emprego e renda.

Da mesma forma da empregada na irrigação, a industria também tem valores


acentuados de captação de água. Entretanto, isto se deve também à utilização, pelo setor
sucro-alcooleiro, da água de funcionamento da industria para a irrigação, conduzindo a estes
valores elevados. De acordo com BUARQUE et alli (2003), aqui no Estado não existe uma
definição da exata necessidade de água para o processo industrial. Existe a necessidade de
estudos complementares para esta determinação, inclusive com a instalação de novas
tecnologias que permitam um uso mais eficiente.

Um ponto importante a ser considerado para a implementação da política de recursos


hídricos na região é que os municípios disciplinem o uso do solo para que não haja o

Capítulo 9 –Plano de Ações 94


lançamento indiscriminado de resíduos sólidos ao longo de diversos pontos da bacia, como
foi constatado. O controle ambiental efetuado restringe-se apenas às grandes industrias
instaladas no Estado e nas bacias. É necessário a implementação de um controle efetivo com
vistas à minoração destes impactos que ainda são potencialmente elevados. No caso das
indústrias sucro-alcooleiras, como já foi citado, o efluente líquido gerado tem sido
aproveitado na aplicação no campo, na irrigação, praticamente considerado como “efluente
zero” em um bom número de empresas. Obviamente o potencial poluidor é ainda elevado
mas os processos estão sendo apurados e o risco de ocorrência tem sido reduzido.

Atualmente as tecnologias existentes já proporcionam uma eficiência com alto índice


de reaproveitamento do uso da água, inclusive. É necessário promover um efetivo programa
de controle ambiental e de recursos hídricos.

Os valores captados para uso na indústria ainda são bastante elevados e é necessário
um gradativo programa de atualização da tecnologia existente com vistas à implantação de
uma redução no consumo de água. No tocante ao uso de água para o abastecimento
humano, o índice de perdas é também elevado e requererá investimentos para a redução,
principalmente na coibição dos desvios e perdas por vazamentos, requerendo a troca e a
atualização do sistema.

Caso haja continuidade na condição atualmente encontrada, as perspectivas são


deveras preocupantes já que não existe, efetivamente, um controle e proteção sobre o uso
dos recursos hídricos- O aproveitamento, proteção e controle dos recursos hídricos deve
abordar melhorias e uso adequado para o abastecimento humano, esgotamento sanitário, a
irrigação, abastecimento industrial, e, inclusive com ocupação e manejo adequado do solo
para que não ocorra erosão, assoreamento e inundações. Este é um programa a ser
desenvolvido com as diversas políticas estruturantes de governo, inclusive contando com a
participação efetiva dos municípios.

Educação sobre o Meio Ambiente


O Programa de Educação Ambiental para os municípios da área de estudos não é
apenas uma exigência de órgãos financiadores, mas é também uma reivindicação dos
representantes da sociedade civil e política, como uma das formas de diminuir os problemas
de ordem ambiental da bacia e de melhorar a qualidade da água e de vida da população.

Seguindo os princípios da Conferência de Tbilisi, a Primeira Conferência


Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada em 1997, o Programa de Educação

Capítulo 9 –Plano de Ações 95


Ambiental aqui apresentado está voltado para a realidade sociocultural, econômica e
ecológica das bacias em estudo. Procurou-se dar um enfoque educativo e interdisciplinar,
integrado com a comunidade para a resolução dos problemas ambientais que prejudicam a
qualidade de vida da população desses municípios pernambucanos e alagoanos.

A educação ambiental deve ser orientada tanto pela educação formal como a não-
formal, devendo atingir pessoas de todas as idades, credos religiosos e classes sociais.

Nas escolas brasileiras, temas sobre meio ambiente são dados, geralmente, na
disciplina Ciências e/ou Geografia. Faz-se necessário adaptar os conteúdos dos livros à
realidade dos alunos, comparando com o que existem a sua volta. Para isso, recomenda-se
que os professores recebam treinamento a fim de facilitar a compreensão sobre o assunto e
a forma de abordagem. Esse treinamento deve ser dado por profissionais qualificados e que
tenham profundo conhecimento sobre meio ambiente, tais como paisagistas, engenheiros,
advogados, educadores, entre outros, que poderão ser contratados ou convidados pelos
municípios ou pelos comitês de bacia.

Além de usar as escolas, esses profissionais podem proferir palestras e fazer


exposições sobre problemas ambientais nas associações comunitárias, igrejas, sindicatos,
etc. Os agentes comunitários poderão também orientar a população sobre como se desfazer
do lixo e melhorar a qualidade da água em sua própria casa.

Em relação à educação formal, o programa deverá contemplar alunos do 1º grau,


podendo utilizar como estratégias: discussão em classe; discussão em grupo; mutirão de
idéias, onde os alunos reunidos, poderão pensar sobre os problemas ambientais e procurar
solucioná-los; teatrinhos, imitação de programas de TV e realização de estudos específicos
sobre determinado tema. Esses alunos poderão ser levados para parques, riachos, etc, a fim
de que tenham um contato mais próximo com a natureza e com a paisagem da qual fazem
parte.

Entre as estratégias escritas para o público em geral, recomenda-se utilizar cartazes,


folders, cartilhas e placas, como por exemplo:

Capítulo 9 –Plano de Ações 96


PRESERVE A NATUREZA!

JOGAR LIXO E ANIMAIS MORTOS NOS RIOS FAZ MAL AO MEIO AMBIENTE!

COLOQUE O LIXO NA LIXEIRA!

CAÇAR E APRISIONAR OS ANIMAIS É UM ATO DE VIOLÊNCIA CONTRA A NATUREZA!

MANTENHA AS MATAS. PLANTE UMA ÁRVORE.

Quanto às estratégias orais, seria interessante formar pequenos grupos de teatro nas
escolas para encenar temas ambientais (reciclagem do lixo, doenças por falta de tratamento
d’água, preservação da flora e fauna, etc); fazer um clip para ser veiculado na televisão
sobre como evitar poluição ambiental (caso os gerenciadores da área de estudos consigam
financiamento para esse fim) e pequenos anúncios, em estações de rádio, com textos
semelhantes aos da estratégia escrita.

Nas associações comunitárias e nas escolas, pode-se ensinar a população a reciclar


vasilhames de refrigerantes pet, latinhas de cervejas, embalagens de iogurtes,
transformando-os em brinquedos, flores, jarros, produtos para festas de aniversário. Isso
incentivará a criatividade da população e poderá transformar o lixo reciclável em fonte de
renda de algumas famílias.

Para motivar o interesse dos estudantes de 1º grau pelo meio ambiente, os


municípios da área de estudos , através de suas secretarias de educação, poderão instituir
um prêmio anual para melhor redação sobre os rios de seu município e as belezas
paisagísticas e problemas ambientais.

De outra parte, seria muito importante que a administração municipal desse o


exemplo na educação ambiental: fazendo saneamento básico; instalando caixas coletoras de
lixo; contratando garis para fazer a limpeza pública e uma empresa para fazer a coleta de
lixo; multando as empresas que jogam resíduos, agrotóxicos nos rios; fiscalizando a limpeza
das ruas; desratizando as residências; treinando e contratando pessoal para informar a
população sobre a necessidade da população na luta de um meio ambiente mais saudável
para todos.

Capítulo 9 –Plano de Ações 97


Esse Programa de Educação Ambiental deverá ser realizado de forma permanente e
sistemática, cujos resultados serão observados a longo prazo. Suas etapas e estratégias
deverão ser sempre avaliadas. Ele não deverá ser implementado de maneira vertical, mas
deverá ser discutido e agendado por representantes da sociedade civil e pelos secretários de
educação dos municípios da área de estudos.

Educação sobre Doenças de Veiculação Hídrica


Dentre os vários riscos ambientais oferecidos pela água dos rios na área de estudos,
como conseqüência da poluição, nada se compara com a possibilidade de contaminação por
uma doença de veiculação hídrica.

Sabe-se que todas as cidades ao longo dos rios lançam esgotos in natura em suas
águas e que a população as utiliza para consumo próprio e em atividades de contato
primário com as águas, pondo em risco sua saúde.

As doenças de manifestação mais rápida como cólera encontram resposta imediata


por parte da saúde pública, enquanto aquelas cujas conseqüências são menos evidentes,
como a esquistossomose, são perversas, pois, além de acometerem os indivíduos desde a
infância, tiram a saúde na idade produtiva e paulatinamente levam à falência de órgãos
vitais. Geralmente acometem as populações de menor poder aquisitivo por habitarem áreas
degradadas, menos esclarecida e com menor acesso a cuidados médicos.

Afora isso, uma região endêmica se constitui numa perda incalculável em potencial
turístico nos dias de hoje, pela fácil divulgação da notícia e a grande competitividade desse
mercado. A exemplo, encontram-se na rede mundial de computadores inúmeras páginas que
esclarecem aos viajantes os riscos que se expõem.

Capítulo 9 –Plano de Ações 98


10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, A. T.; WANDERLEY, P.R. de M.; RAMALHO, W. M.; NETO, J.V.F.;


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Capítulo 10 – Referências Bibliográficas 100

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