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Ministério de

Minas e Energia

AAI – Avaliação Ambiental Integrada


Aproveitamentos Hidrelétricos da
Bacia Hidrográfica do Rio Xingu
Volume I

São Paulo, Maio de 2009


AAI - Avaliação Ambiental Integrada

Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia


Hidrográfica do Rio Xingu

Volume I

ELETROBRÁS

São Paulo
Maio de 2009
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Índice
1. Abordagem Metodológica ................................................................................................6
1.1. Estruturação da Aplicação da AAI e Procedimentos Metodológicos..................................6
1.2. Descrição dos Capítulos .....................................................................................................7
2. Caracterização dos Empreendimentos.........................................................................13
3. Diagnóstico da Bacia do Rio Xingu ..............................................................................22
3.1. Processos e Atributos do Meio Físico e Ecossistemas Terrestres...................................24
3.1.1. Dinâmica do Clima Regional.............................................................................................24
3.1.2. Terrenos ............................................................................................................................33
3.1.3. Biota Terrestre...................................................................................................................49
3.1.4. Pressões sobre os Ecossistemas Terrestres – Desflorestamento ...................................73
3.1.5. Áreas Legalmente Protegidas...........................................................................................82
3.1.6. Ecossistemas Aquáticos ...................................................................................................87
3.2. Meio Socioeconômico .....................................................................................................123
3.2.1. Organização Territorial....................................................................................................123
3.2.2. Base Econômica .............................................................................................................139
3.2.3. Finanças Municipais........................................................................................................151
3.2.4. Modos de Vida ................................................................................................................152
3.2.5. Sistemas de Produção e Formas de Organização Social Predominantes.....................174
3.2.6. Sociedades Indígenas.....................................................................................................179

Lista de Anexos
Anexo I. Matriz de Simulação
Anexo II. Matriz de Atores Sociais

Lista de Tabelas
Tabela 2-1 Informações Gerais das PCHs da Bacia do Xingu
Tabela 3-1- Lista de Flora Ameaçada de Extinção da Bacia do Rio Xingu
Tabela 3-2 Espécies Ameaçadas de Extinção
Tabela 3-3 - Municípios da bacia hidrográfica do Xingu, segundo as taxas de
desflorestamento observadas até 2007
Tabela 3-4 Carga orgânica (kg DBO/dia) por município de Mato Grosso da bacia
hidrográfica do rio Xingu
Tabela 3-5 Carga de Nitrogênio (N) por município, considerando seu território dentro da
bacia hidrográfica do rio Xingu

Tabela 3-6 Carga de Fósforo (P) por município, considerando seu território dentro da bacia
hidrográfica do rio Xingu
Tabela 3-7 - Postos Fluviométricos com medição de descargas sólidas

ARCADIS Tetraplan i
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Tabela 3-8 Informações sobre ciclo de vida e atividades reprodutivas de algumas espécies
de peixes
Tabela 3-9 Espécies Endêmicas
Tabela 3-10 Municípios componentes da Bacia por grau de inserção
Tabela 3-11 Evolução da População, Taxa de Crescimento e Contribuição ao Crescimento
no período 2000-2007

Tabela 3-12 PIB 2005 e Evolução do PIB Setorial 2000-2005


Tabela 3-13 Composição e Participação do PIB na Bacia e nos Estados
Tabela 3-14 Evolução da População, Taxa de Crescimento e Contribuição ao Crescimento
no Período 2000-2007.
Tabela 3-15 Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M, 1991 e
2000

Tabela 3-16 Taxas de Mortalidade Infantil – 2000 e 2005


Tabela 3-17 Taxa de Mortalidade Infantil por Município da Bacia do rio Xingu - 2006
Tabela 3-18 Educação de Base e Profissionalizante para Jovens

Tabela 3-19 Terras Indígenas segundo municípios da Bacia do Rio Xingu

Lista de Figuras
Figura 1-1 Sequenciamento das sobreposições dos mapeamentos e Compartimento Final

Figura 2-1 Localização da Área de Estudo


Figura 3-1- Variação sazonal dos sistemas atmosféricos na América do Sul e na bacia do
Rio Xingu

Figura 3-2- Isoietas Anuais


Figura 3-3– Sistemas de Terreno
Figura 3-4– Endemismos
Figura 3-5 Uso do Solo e Cobertura Vegetal
Figura 3-6 - Taxas de desflorestamento nos Estados de Mato Grosso e Pará entre 1988 e
2007

Figura 3-7 Variação relativa das taxas de desflorestamento nos Estados de Mato Grosso e
Pará entre 1988 e 2007
Figura 3-8 - Vetores de Desflorestamento e Temporalidade do Processo

Figura 3-9 - Terras Indígenas e Unidades de Conservação


Figura 3-10- APCB
Figura 3-11– Rede Hidrográfica

Figura 3-12 - Vazões médias mensais de longo termo no posto fluviométrico de Altamira
Figura 3-13 Ciclo Sazonal da dinâmica hidrológica e dos eventos ecológicos no rio Xingu

ARCADIS Tetraplan ii
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Figura 3-14 Localização geográfica dos pontos de registro de ictiofauna na bacia do rio
Xingu
Figura 3-15 Unidades hidrológicas identificadas ao longo da bacia do rio Xingu e
respectivas áreas de endemismo
Figura 3-16 Localização dos Municípios
Figura 3-17 População
Figura 3-18 Hierarquia Funcional / Polarização
Figura 3-19 Sistema Viário
Figura 3-20 Áreas Legamente Protegidas
Figura 3-21 Títulos Minerarios
Figura 3-22 Taxas de Crescimento da População
Figura 3-23 Densidade Demográfica
Figura 3-24 IDH
Figura 3-25 Mortalidade Proporcional (Todas as Idades) – 2006
Figura 3-26 Mortalidade Infantil

Figura 3-27 Percentual de Anos de Estudo Acumulado


Figura 3-28 Percentual de Domicílios com Água Encanada e Banheiro - MT
Figura 3-29 Percentual de Domicílios com Água Encanada e Banheiro – PA

Figura 3-30 Cobertura da infraestrutura básica nos municípios do Pará


Figura 3-31 Cobertura da infraestrutura básica nos municípios do Mato Grosso
Figura 3-32 Terras Indígenas

ARCADIS Tetraplan iii


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Apresentação
O instrumento Avaliação Ambiental Integrada (AAI) dá prosseguimento à Atualização dos
Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio Xingu finalizada em 20071, e objetiva
antever e analisar de que modo os principais processos socioambientais prevalecentes no
território da Bacia serão alterados em decorrência da implantação dos novos
aproveitamentos hidrelétricos pretendidos para a bacia, considerando-se aqueles já
existentes.

Trata-se de observar como a entrada de investimentos para a ampliação da capacidade de


geração hidrelétrica poderá alterar trajetórias em curso, seja da evolução econômica e
demográfica, seja da apropriação dos recursos naturais do território da bacia.

No contexto dos estudos realizados, a Revisão dos Estudos de Inventário (doravante


Inventário) teve como finalidade a identificação do melhor conjunto de aproveitamentos
hidroelétricos possíveis para a bacia hidrográfica, a partir da combinação de critérios
energéticos, econômicos e socioambientais, ou, selecionar a alternativa de partição de
queda2 capaz de contemplar simultaneamente tais critérios.

A resultante do Inventário, no caso da bacia hidrográfica do Rio Xingu, reconheceu apenas


um aproveitamento, o de Belo Monte (AHE Belo Monte), como aquele capaz de atender aos
critérios estabelecidos.

Em adição, outros aproveitamentos de pequeno porte, Pequenas Centrais Hidrelétricas


(PCHs), foram identificadas (em dezembro de 2008) e encontram-se recém implantadas ou
projetadas na Bacia do Rio Xingu.

Tem-se assim um único aproveitamento de grande porte em conjunto com várias PCHs,
sendo, pois o objeto deste estudo, avaliar como esses Aproveitamentos Hidrelétricos (AHEs)
poderão ser internalizados no médio e longo prazo na complexa ambiência desta bacia
hidrográfica, considerando-se os processos socioeconômicos e ambientais prevalecentes e
os novos que serão desencadeados, a partir da existência desse conjunto de
aproveitamentos em operação.

No caso desta bacia hidrográfica, portanto, a composição de aproveitamentos é contrastante,


pois reúne de um lado, o AHE Belo Monte com porte primaz no contexto nacional da geração,
isolado na porção norte da Bacia, e de outro, outras oito PCHs distribuídas pela porção sul no
alto curso do rio Xingu e na sub-bacia do rio Iriri, a médio curso.

1 Na Revisão foi utilizado o Manual de Inventário em sua versão de 1997. A versão atualizada do Manual foi lançada em dezembro de 2007 e integrou os procedimentos

da AAI à metodologia dos estudos de inventário. A AAI deverá ser realizada para a alternativa de divisão de queda selecionada. Ressalte-se que as orientações para a

elaboração desta AAI estão também definidas no TR do MME (2005).

2 Composta por um determinado número de projetos, de usinas (grandes ou médias centrais elétricas) com localizações e características técnicas definidas, ressaltando-se
que o inventário não considera as pequenas centrais elétricas.

ARCADIS Tetraplan 4
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

A aplicação do instrumento Avaliação Ambiental Integrada a esta bacia hidrográfica foi de


fato um desafio que necessitou que se desenvolvessem procedimentos e soluções
metodológicas para dar conta desses contrastes e especificidades.

Formalmente, a aplicação do instrumento AAI consiste na identificação dos principais efeitos


socioambientais da inserção de tais aproveitamentos hidrelétricos no âmbito territorial da
bacia, por meio de procedimentos sistemáticos que possam avaliar com critérios a natureza e
a intensidade destas alterações, bem como possíveis cumulatividades e sinergias entre
essas manifestações no território da bacia hidrográfica.

Considerando esse objetivo e escopo da AAI, importa ressaltar desde logo o quanto este
instrumento se diferencia do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), uma vez que este tem por
objetivo a avaliação de impactos de um único empreendimento em suas áreas de influencias,
realizado no âmbito do licenciamento ambiental. Assim, os EIAs se caracterizam por terem
uma natureza necessariamente afirmativa no sentido da existência ou não de determinados
impactos do projeto. Já a AAI tem outros objetivos. Trata-se de um instrumento de
planejamento, operando com vários projetos hidrelétricos em simultâneo num espaço
territorial mais amplo, qual seja, o da bacia hidrográfica. Assim, pode orbitar também o plano
das possibilidades da ocorrência de certas interações entre regiões, pode discutir, especular
e aventar sobre determinados impactos e suas decorrências, alertando sobre as chances de
serem deflagrados processos degenerativos das condições socioambientais que possam ser
evitados com o intuito de orientar o planejamento do setor elétrico de médio e longo prazo.

Objetiva-se assim com a AAI contribuir para o processo de planejamento e de suporte à


tomada de decisão e atuação do setor elétrico na bacia em estudo, considerando-se a
potencial existência desses empreendimentos hidrelétricos, para que se alcance as melhores
condições de sustentabilidade possiveis, à medida que o estudo reúne, evidencia e oferece
um espaço de análise e discussão sobre a evolução da bacia hidrográfica.

ARCADIS Tetraplan 5
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

1. Abordagem Metodológica
1.1. Estruturação da Aplicação da AAI e Procedimentos Metodológicos
Este documento foi estruturado em dois volumes. O Volume I contém os três primeiros
capítulos da Avaliação Ambiental Integrada e o Volume II inicia-se a partir do quarto capítulo:
a Avaliação Ambiental Distribuída.

Considerando os objetivos a serem alcançados, apresenta-se a seguir os capítulos que


estruturam este trabalho, ao mesmo tempo em que se expõem os encaminhamentos
metodológicos adotados.

Inicialmente, deve-se ressaltar que este estudo tem a peculiaridade de ter sido parcialmente
elaborado simultaneamente à Revisão dos Estudos de Inventário Hidrelétrico do rio Xingu, o
que permitiu articulações analíticas de esforços entre ambos.

Apresenta-se a seguir uma visão geral do estudo.

A AAI inicia-se com a caracterização dos AHEs a partir do levantamento das informações
disponíveis, foi possível obter dados sobre a potência instalada, localização, área do
reservatório, entrada em operação, formando um quadro básico de informações.

Analogamente, buscou-se conhecer as principais características socioambientais da bacia


hidrográfica, suas condições físicas, bióticas e socioeconômicas foram analisadas por meio
de um conjunto de dados secundários pertinentes, e visitas a campo em dois longos trechos
da bacia hidrográfica. Elaborou-se assim um diagnóstico focado, uma síntese dos principais
aspectos socioambientais, que inclusive foi organizado de forma regionalizada, mediante
critérios de homogeneidade do território, ou graus de semelhança.

Essa regionalização ou compartimentação da bacia atende a necessidade de se poder


avaliar os impactos que os aproveitamentos terão sobre tais regiões na medida em que
tendam a interagir e acomodar de forma semelhante os efeitos provocados pela implantação
dos aproveitamentos hidrelétricos.

Portanto, a seqüência do trabalho consistiu na avaliação dos impactos dos aproveitamentos


sobre os compartimentos em que estão ou serão implantados. E, a partir das avaliações dos
impactos por empreendimento, pode-se considerar a possibilidade de um mesmo impacto
provindo de vários aproveitamentos localizadas num mesmo compartimento se acumular.

E também, verificou-se a possibilidade da ocorrência de sinergia entre impactos distintos, ou


se existem mecanismos de causa e efeito entre eles que possam provocar interações, às
quais está se denominando de sinergias.

Esse trabalho denomina-se “Avaliação Ambiental Distribuída (AAD)”, ou seja, procura-se


entender o processo de transformação nos compartimentos, considerando-se os efeitos que
os empreendimentos irão provocar à medida que forem acumulados ou criarem sinergias.
Para tanto, foram selecionados indicadores de impactos representativos de processos mais
amplos, que sejam passíveis de avaliação e que possam ser cumulativos ou apresentar
sinergias.

ARCADIS Tetraplan 6
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Por cumulatividade, entende-se a possibilidade de um mesmo impacto provindo de vários


AHEs localizadas num mesmo compartimento se acumular, se intensificar.

Por sinergia, entende-se a possibilidade de impactos de distintas natureza interagirem, o que


exige a verificação da existência de mecanismos de causa e efeito entre eles que possam
suportar essa interação.

Ainda no âmbito da AAD, são identificados os atores sociais intervenientes na bacia


hidrográfica e os conflitos existentes e potenciais, relativos à implantação de novos
empreendimentos hidrelétricos e também a planos e programas previstos nesse território.

Na seqüência, tendo em conta a apreciação dos efeitos da implantação dos aproveitamentos


sobre a ambiência da bacia hidrográfica, reúnem-se elementos para, por meio da técnica de
cenários, visualizar prováveis comportamentos de variáveis socioambientais essenciais no
horizonte de planejamento deste trabalho (20 anos) – a população, o valor adicionado e o
desmatamento - que expressam e sintetizam o fenômeno da antropização e sua evolução. Ao
cenarizar as trajetórias de tais variáveis, pode-se extrair também como resultado,
sinalizações sobre possíveis impactos a elas associados. Assim, os cenários são também
uma forma de avaliação de impactos.

Deste ponto em diante tem-se condições de avançar para a “Avaliação Ambiental Integrada
da bacia do rio Xingu”, denominação homônima ao estudo, momento em que são
examinados como os compartimentos alterados pelos impactos dos AHEs se relacionam,
conjugando processos socioambientais, que podem a depender da natureza e intensidade,
transformar a dinâmica socioambiental da bacia como um todo.

O conhecimento obtido e organizado desde a fase da Caracterização dos empreendimentos


dá suporte à elaboração de um conjunto de conclusões, sob forma de diretrizes voltada à
atuação do setor elétrico na bacia no que se refere principalmente à ampliação das unidades
geradoras.

Os resultados obtidos são apresentados e discutidos em reunião técnica com os principais


entes institucionais envolvidos nesse processo, onde o trabalho é apresentado, com
destaque para as diretrizes, buscando obter retornos substantivos que irão integrar o relatório
final do trabalho.

Por fim, cabe ressaltar que em cada capítulo são apresentados detalhamentos adicionais
para melhor esclarecer a metodologia utilizada

1.2. Descrição dos Capítulos


Neste subitem busca-se descrever em maior detalhe os conteúdos de cada capítulo.

Volume I

Caracterização dos Empreendimentos

No capítulo 2, denominado Caracterização dos Empreendimentos, os empreendimentos


hidrelétricos existentes e pretendidos para a bacia do rio Xingu são apresentados,
informando-se as suas principais características técnicas como: potência instalada,

ARCADIS Tetraplan 7
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localização, área do reservatório, entrada em operação, e demais informações relevantes que


estejam disponíveis, formando um quadro básico de informações.

Ressalta-se que há um extenso conjunto de dados e informações para o AHE Belo Monte,
mas, o mesmo não ocorre em relação às PCHs,3 assim, a disponibilidade de um mesmo
bloco de informações para o conjunto dos AHEs condicionou os procedimentos adotados.

Diagnóstico da Bacia do rio Xingu

O capítulo 3, denominado “Diagnóstico da Bacia do rio Xingu, teve como base a


“Caracterização da Bacia do Rio Xingu” 4 para sua estruturação, as condições físicas, bióticas
e socioeconômicas da bacia hidrográfica foram analisadas por meio de um conjunto de dados
secundários pertinentes, com visita a campo em dois trechos da bacia hidrográfica.

As questões relevantes identificadas nessa extensa caracterização permitiram a elaboração


de um diagnóstico focado, uma síntese dos principais aspectos socioambientais, sendo
utilizados, sempre que possível, indicadores para tanto.

Entende-se por Indicador a sinalização de fenômenos maiores, ou seja, no caso do


Diagnóstico, quantificações simplificadas que expressam uma determinada questão
socioambiental. Com esse conhecimento, dispõe-se de elementos para facilitar a
identificação dos efeitos ou impactos socioambientais que serão desencadeados pela
implantação dos aproveitamentos hidroelétricos ao longo do tempo em conjunto com aqueles
já em operação.

Particularmente, no diagnóstico da socioeconomia, é dada ênfase ao tratamento da


Organização Social prevalecente na região, formada pelos entes institucionais, atores sociais
e grupos de interesse, que se traduz numa determinada Matriz Institucional que define as
condições de governança da bacia, e mais que isso, se estende para a identificação dos
principais conflitos latentes ou já manifestados, envolvendo principalmente as formas de uso
das águas.

Volume II

Avaliação Ambiental Distribuída e Conflitos

Na seqüência no capítulo 4, com base nesse diagnóstico efetua-se a compartimentação da


bacia hidrográfica, segundo o conceito de homogeneidade, ou melhor, segundo o grau de
semelhança das condições físicas, bióticas e socioeconômicas. Neste sentido, a expectativa
dessa regionalização é que cada compartimento identificado tenda a acomodar de forma
semelhante os efeitos provocados pela implantação dos aproveitamentos hidrelétricos em
seu território.

3 Reuniu-se informações a partir da base de informações disponíveis na ANEEL por empreendimento e pesquisas realizadas na Internet. Além disso, foram feitas
,
consultas diretamente aos empreendedores e Secretarias de Meio Ambiente do Estado do Mato Grosso e Pará que, no entanto, não tiveram sucesso no sentido da

obtenção de informações adicionais.

4 ELN, Engevix, Intertechne, Arcadis Tetraplan, 2007


.

ARCADIS Tetraplan 8
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Considerando-se que no âmbito do Inventário foram delimitadas “subáreas” 5 da bacia para


cinco “Componentes-Síntese”, conforme diagrama abaixo dispõe-se de visões regionalizadas
por temas para se orientar e construir uma compartimentação funcional às necessidades da
AAI.

A espacialização que leva à delimitação territorial dos compartimentos é realizada utilizando-


se a técnica de sobreposição de cartas considerando os determinantes socioambientais, as
questões-chave no contexto de cada tema tratado, os paradoxos e conflitos existentes e
potenciais, bem como os principais vetores de transformação da paisagem e, por
conseguinte, de seus processos físicos e bióticos e socioeconômicos.

O resultado dessa etapa consiste um conjunto de mapas das subáreas de cada um dos
aspectos socioambientais, que foram sobrepostos com um dado seqüenciamento, de modo a
se captar semelhanças considerando-se todos os aspectos socioambientais em conjunto. Na
Figura 1-1 a seguir apresenta-se esquematicamente a metodologia adotada.

Figura 1-1 Sequenciamento das sobreposições dos mapeamentos e Compartimento


Final

Sistemas de
terrenos +
Ecossistemas
Cobertura
vegetal e Terrestres
uso do solo
Ecossistemas

Sistemas de
Terrenos Ecossistemas
Aquáticos
+ Hierarquia Compartimentos
Fluvial
(Dinâmica Atual da
Modos de Paisagem)
Vida

Tipologias
Municipais Organização Compartimentação
Territorial Socioeconômica

Base
Econômica

No processo de delimitação dos compartimentos, os elementos que mais influenciaram os


subespaços da Bacia do Rio Xingu traduzem suas diferenciações, dando-lhes identidade e
diferenciando-os dos demais compartimentos.

5 São termos próprios da metodologia utilizada nos estudos de inventário. A designação subáreas guarda semelhança com os compartimentos da AAI e os componentes
sínteses são campos temáticos para os quais essas subáreas existem, são eles: Populações Indígenas, Ecossistemas Aquáticos, Ecossistemas Terrestres, Modos de Vida,
Organização Territorial e Base Econômica.

ARCADIS Tetraplan 9
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Dessa forma, compartimentos que têm presença marcante de uma dada atividade econômica
(grãos ou pecuária bovina, por exemplo), determinante de sua dinâmica e a feição da
paisagem, têm esta atividade como elemento definidor do Compartimento.

Ou alternativamente, em outro compartimento da bacia hidrográfica, em que o elemento


definidor seja a infra-estrutura e o processo de ocupação posterior, como é o caso da rodovia
Transamazônica, ou ainda um condicionante físico biótico (bioma), institucional (presença de
áreas protegidas) ou, combinação de alguns desses elementos.

Na seqüência, o capítulo 4 reúne três vertentes de análise:

ƒ Avaliação de Impactos dos empreendimentos captados individualmente: trata-se de


procedimento necessário para qualificar e/ou quantificar os impactos previstos sobre os
meios físico, biótico e socioeconômico por empreendimento em seu respectivo
compartimento
ƒ Análise de Cumulatividade de Impactos: a partir das avaliações dos impactos por
empreendimento, pode-se considerar a possibilidade de um mesmo impacto provindo de
vários AHEs localizadas num mesmo compartimento poderem se acumular. A
metodologia utilizada permite a obtenção de magnitudes quantitativas, que devem,
contudo ser verificadas pelos especialistas participantes sobre a pertinência da “soma” de
um mesmo impacto.
ƒ Análise de Sinergia de Impactos: o raciocínio é o mesmo, mas trata-se de uma “soma” de
impactos de distintas naturezas, o que exige a verificação se existem mecanismos de
causa e efeito entre eles que possam provocar sinergias. Neste caso, é fundamental que
os especialistas das várias áreas possam discutir a respeito de tais processos e das
magnitudes quantitativas obtidas.

Para efetuar essas analises são utilizados indicadores que sintetizam a intensidade de
impactos subjacentes aos diferentes fenômenos relacionados aos diversos temas em análise,
“recursos hídricos”, “meio físico e ecossistemas terrestres” e “meio sócio econômico”,
inicialmente de cada empreendimento.

Os resultados dessas avaliações de impactos de cada empreendimento em seu


compartimento são inseridos em uma matriz, denominada de matriz de sensibilização de
impactos, tem-se assim um quadro dos impactos, de suas intensidades e das possibilidades
de cumulatividade e sinergia, conforme apontado acima.

Esse trabalho denomina-se “Avaliação Ambiental Distribuída”, ou seja, procura-se entender o


processo de transformação nos compartimentos, considerando-se os efeitos que os
empreendimentos irão provocar à medida que forem acumulados e/ou sinergizados.

O fenômeno da cumulatividade dos impactos num dado compartimento pode ser


compreendido quando se verifica a consistência da sua atuação conjunta.

Exemplificando. O impacto referente ao aumento do valor adicionado fiscal dos municípios


devido à operação dos AHEs em um dado compartimento onde se localizam, por exemplo,
podem ser somadas.

O fenômeno da sinergia, mais complexo, diz respeito à avaliação da complementaridade


entre os impactos de distintas naturezas num compartimento, ou seja, entre fenômenos

ARCADIS Tetraplan 10
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

socioambientais, que ao interagirem, ao final geram efeitos diversos ou maiores que os


impactos originalmente deflagrados num dado compartimento. Para concluir sobre isso,
entretanto, é necessário que se identifique mecanismos de causa e efeito plausíveis entre
eles.

Por exemplo, o impacto da animação da economia local, dada a contratação de mão-de-obra


local, gera empregos relativamente mais qualificados, com maior nível salarial, o que
fortalece o mercado consumidor local que passa a demandar maior quantidade e qualidade
de bens e serviços que, por sua vez, acaba atraindo novas atividades produtivas para
atender a demanda. Na medida em que se tenha mais de um empreendimento impactando
desse modo, tais impactos podem se acumular gerando o efeito animação numa escala
maior, ou seja, ocorre um efeito cumulativo e também sinérgico.

Adicionalmente, tais impactos sobre a economia local em conjunto com os impactos positivos
sobre as finanças públicas municipais podem sinergizar-se de modo que o poder público
local, com maior poder de gasto sob uma administração eficaz, será capaz de melhorar as
condições de vida da população do município a médio e longo prazo.

Cenários

A partir dos resultados do capítulo 4 e do diagnóstico apresentado no capítulo 3, têm-se os


elementos para no capítulo 5 dedicado aos cenários, fazer sua elaboração, que se inicia com
um cenário tendencial da evolução da bacia, considerando-se seus mecanismos e ritmos de
antropização presentes na Bacia.

O objetivo da construção dos cenários para as variáveis, população, valor adicionado e


desflorestamento é evidenciar os impactos da implantação dos AHEs na bacia do Rio Xingu.

Um segundo cenário será elaborado a partir do cenário anterior, quando são considerados,
portanto, os efeitos provocados pela entrada em operação dos AHEs. Cabe ressaltar desde
logo que as pequenas centrais elétricas não têm condições de sensibilizar o comportamento
das variáveis cenarizaveis no contexto da modelagem utilizada, isso ocorre em função da
reduzida magnitude de seus impactos. Assim, apenas os impactos do AHE Belo Monte são
capazes de alterar de fato as trajetórias de tais variáveis de modo significativo.

Ambos os cenários são construídos por meio de hipóteses sobre o comportamento futuro
dessas três variáveis, as quais têm alto poder de expressar e sintetizar aspectos cruciais
acerca da complexidade que enfeixa a evolução socioambiental de uma região qualquer.

Portanto, é do contraste entre os dois cenários e de suas variações que se manifestam


visões e avaliações sobre como poderão ser as principais dinâmicas socioambientais da
bacia, ora numa trajetória, ora em outra, e dessa forma subsidiar a discussão sobre
processos socioambientais no âmbito da avaliação ambiental integrada dos compartimentos
da bacia e da formulação de Diretrizes.

Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do rio Xingu

No capítulo 6, denominado, “Avaliação Ambiental Integrada da bacia do rio Xingu”,


denominação homônima ao estudo, são examinados como os compartimentos alterados
pelos impactos dos AHEs se relacionam, conjugando processos socioambientais, que

ARCADIS Tetraplan 11
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

poderiam transformar a dinâmica socioambiental da bacia como um todo, ou seja, é o


momento do trabalho em que se verifica em que medida tais transformações ocorreriam.

Têm-se dois tipos de situação: i. Compartimentos com AHEs podem impactar outros
compartimentos em que não há empreendimentos e, ii. Compartimentos com AHEs em
interação com outro compartimento com AHEs poderão ter seus impactos socioambientais
intensificados, ou sinergizados, do mesmo modo que vimos no interior de um compartimento
na AAD. Neste caso, essas avaliações são feitas por discussões entre os especialistas
participantes de modo qualitativo.

Diretrizes

Finalmente, no capítulo 7, o conhecimento obtido e organizado desde a fase da


Caracterização dos empreendimentos, dá suporte à elaboração de um conjunto de
conclusões, sob forma de algumas recomendações gerais e diretrizes voltada à atuação do
setor elétrico na bacia no que se refere principalmente à ampliação das unidades geradoras.

Referências Bibliográficas

Por fim, no capítulo 8 são apresentadas as referências bibliográficas utilizadas neste trabalho.

ARCADIS Tetraplan 12
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

2. Caracterização dos Empreendimentos


As informações sobre as pequenas centrais elétricas (PCHs) foram obtidas em dezembro de
2008, portanto, o número de empreendimentos pretendidos para a bacia é aquele identificado
nesse período de acordo com a Agencia Nacional de Energia Elétrica, ANEEL.

AHE Belo Monte

O Aproveitamento Hidrelétrico, denominado AHE Belo Monte, a ser implantado na Volta


Grande do rio Xingu, afluente pela margem direita do rio Amazonas, consiste de uma
barragem principal, um reservatório (abrangendo parcialmente a calha do rio Xingu e parcela
dos terrenos da margem esquerda deste curso d’água, na altura do trecho denominado Volta
Grande) e duas casas de força: a principal na localidade de Belo Monte e uma casa de força
complementar a ser posicionada na barragem principal.

A barragem principal, localizada no sítio Pimental, será de terra homogênea e de


enrocamento, possuindo cerca de 6.200 m de comprimento total e altura máxima de 36 m.
Nesta barragem está prevista uma usina complementar visando o aproveitamento da vazão
que deverá ser mantida a jusante do barramento principal (trecho denominado estirão
jusante). Esta usina terá uma potência instalada de 233,1 MW, contando com nove turbinas
tipo bulbo, com potência unitária de 25,9 MW e deverá se situar na margem esquerda do rio
Xingu.

A usina principal, a ser construída no sítio Belo Monte, terá uma potência instalada de 11.000
MW, vinte unidades geradoras tipo Francis com eixo vertical e potência unitária de 550 MW.

O reservatório deverá apresentar duas partes distintas: a parte denominada calha do Xingu,
que compreende a área de inundação do rio Xingu na cota 97 m, a montante da barragem
principal, e a parte denominada reservatório dos canais. Este reservatório compreende a área
que será inundada pelas vazões desviadas do rio Xingu através dos canais de derivação.
Nesta parte do reservatório será construída uma estrutura complementar de extravazão
(vertedor complementar). O reservatório terá área total do espelho d’água de 516 km², e nível
máximo normal de operação na cota 97 m.

A usina de Belo Monte foi projetada para uma geração a fio d’água, isto é: o número de
turbinas acionadas depende essencialmente das vazões naturais afluentes a casa de força,
uma vez que o reservatório não tem capacidade de acumulação.

PCHs

Segundo a Resolução da ANEEL 394 – 04.12.98, uma PCH é caracterizada por possuir
potência entre 1.000KW e 30.000 KW, com reservatórios de área não superior a 3 Km² para a
cheia centenária.

ARCADIS Tetraplan 13
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Neste estudo são abordadas as oito PCHs registradas pela ANEEL6 dentro da Bacia do Rio
Xingu7, são elas:

Localizadas na porção leste da Bacia, no Estado no Pará e na sub-bacia do Rio


Iriri:

ƒ Salto Buriti
ƒ Salto Curuá
ƒ Salto Três de Maio

Localizadas na porção sul da Bacia, no Estado do Mato Grosso e nas


cabeceiras do Rio Xingu:

ƒ ARS
ƒ Paranatinga I
ƒ Paranatinga II
ƒ Culuene
ƒ Ronuro

A seguir é apresentada na Tabela 2-1 um resumo das informações gerais das PCHs, e na
sequência apresenta-se a Figura 2-1 com a localização dos empreendimentos, e ao final é
feita a caracterização de cada uma das PCHs de acordo com o levantamento, até o presente
momento, de informações de fonte secundárias.

6
http://sigel.aneel.gov.br, consulta em dezembro de 2008.

7
Sub-bacia 18 do Rio Amazonas, denominada Xingu e Paru que é compreendida entre a confluência do Rio
Tapajós, exclusive, e a foz do Rio Xingu, inclusive.

ARCADIS Tetraplan 14
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Tabela 2-1 Informações Gerais das PCHs da Bacia do Xingu

Nível Nível
Área do
d'água d'água Área de
Nome Potência* Destino da Reservatório.*
Rio* UF* Município Estágio máx. normal drenagem*
(MW) Energia** (km²)
normal* jusante* (km²)
(m) (m)

Altamira Produção
SALTO BURITI CURUÁ PA Operação 10 Independente 435,5 395 2,9 1118
de Energia
Altamira Produção
SALTO CURUÁ CURUÁ PA Operação 30 Independente 394 253,6 0,3 1150
de Energia
Altamira Produção
TRÊS DE
TRÊS DE MAIO PA Operação 15 Independente 426 260 0,16 420
MAIO
de Energia
Produção
VON DEN Em
ARS MT Nova Ubiratã 6,66 Independente 330,5 312,75 1,64 0
STEINEN Construção
de Energia
Campinápolis Produção
Em
PARANATINGA I CULUENE MT e Paranatinga 22,3 Independente 359 344,31 4,24 5940
Construção
de Energia
Campinápolis Produção
PARANATINGA II CULUENE MT e Paranatinga Operação 29,02 Independente 343,5 326 7,83 6203
de Energia
Primavera do
CULUENE CULUENE MT Leste e Operação 1,794 Serviço Público 104,1 94,1 0,39 1100
Paranatiga
RONURO** RONURO MT Paranatinga Operação 1,04 Autoprodução - - - -
Fonte: SIPOT (Sistema de Informações do Potencial Hidroelétrico Brasileiro) – julho de 2005.

ARCADIS Tetraplan 15
56°W 54°W 52°W 50°W

Gurupá

Porto Legenda
Prainha de Moz Melgaço
Rio
Rio Amazonas Amazonas
Portel UHE Belo Monte
AM
2°S

2°S
Rio PCHs
Rio Xingu
Tapajós Capital Estadual
Senador
José
Porfírio Sedes Municipais
Vitória
do Xingu Limite Estadual
Belo
Brasil Altamira Monte Limites Municipais
Novo
Medicilândia Rio
Anapu
Massa D'Água
Xingu
Uruará
Bacia do Xingu
Placas Terras Indígenas
4°S

4°S
Rurópolis Novo Unidade de Conservação de Proteção Integral
Itaituba Repartimento
Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Trairão Rio Iriri

PA

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach

Pau
Cumaru D'Arco
do Norte
Redenção
8°S

8°S

Salto
Salto Três Buriti
de Maio Salto
Curuá

Santana do
Araguaia

Rio Xingu

Guarantã
Vila
do Norte
10°S

10°S

Rica Localização
Matupá Peixoto de 60°W 45°W
Azevedo Rio Araguaia
Santa
Confresa Terezinha
Porto

São José 0°
Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba
do Norte

TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
60°W 45°W
Sorriso
Querência

Rio Ribeirão
Nova ARS Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
do Norte 1:4.25
km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Sistema de Coordenadas Geográficas
Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis 2.1 Localização da área de estudo
Nova
da Serra Xavantina
Nova
Brasilândia
GO
Fontes:
CUIABÁ Primavera Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
do Leste IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
Compilação de dados MMA e ICMBIO
ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

PCH Salto Buriti

Localiza-se no Rio Curuá, no município de Altamira, com potência de 10.000KW, em duas


unidades geradoras de 5.000KW.

De propriedade da Buriti Energia S.A., encontra-se em construção e será ligada ao Sistema


Interligado Nacional após a construção de Linha de Transmissão com 200 km de extensão, até a
subestação Altamira da CELPA (conforme previsto no documento obtido no site da ONS:
Definição da Modalidade de Operação de Usinas, Operação Futura).

Contará com um reservatório de 2,9km².

Casa de Força

Vista Aérea

ARCADIS Tetraplan 17
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

PCH Salto Curuá

Localiza-se no Rio Curuá, no município de Altamira, com potência de 30.000KW.

De propriedade da Curuá Energia S.A., encontra-se será ligada ao Sistema Interligado Nacional
após a construção de Linha de Transmissão com 200 km de extensão, até a subestação Altamira
da CELPA – Centrais Elétricas do Pará, com contrato de compra de energia por esta empresa até
2032.

Atualmente enquadra-se como Produtora Independente de Energia e não está ligada ao SIN.

Seu reservatório terá 0,3 km².

Obteve da ANEEL em outubro de 2008 a permissão para o início da operação comercial das
unidades 1,2 e 4. Cada unidade com potência de 7,5MW, totalizando 22,5MW. Com isso esta
PCH está beneficiando 220 mil habitantes do município de Altamira.

Vista Aérea do Alojamento

PCH Salto Três de Maio

Localiza-se no Rio Três de Maio, no município de Altamira, com potência de 15.000KW.

De propriedade da Eletricidade Paraense Ltda. encontra-se em construção e será ligada ao


Sistema Interligado Nacional por meio do uso compartilhado do sistema de transmissão da PCH
Salto Curuá, até a subestação Altamira da CELPA - Centrais Elétricas do Pará.

Seu reservatório terá 0,16 km².

Esta PCH foi enquadrada pelo MME em 03.04.2008, pela Portaria nº 142, no Regime Especial de
Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura (REIDI).

ARCADIS Tetraplan 18
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

PCH ARS

Localiza-se no Rio Von Den Steinen8 (ou Atelchu), no município de Nova Ubiratã-MT, com
potência de 6.600KW e duas unidades geradoras de 3.300KW cada.

De propriedade da Tecnovolt Centrais Elétricas Ltda., encontra-se em construção e será ligada ao


Sistema Interligado Nacional (conforme previsto no documento obtido no site da ONS: Definição
da Modalidade de Operação de Usinas, Operação Futura) através da subestação PCH ARS e
linha de transmissão de 57,2 km de extensão no Município de Nova Ubiratã.

A energia gerada substituirá, em parte, a geração elétrica baseada em combustíveis fósseis,


esperando reduzir as emissões de GEE (gases de efeito estufa) em aproximadamente 11.962
toneladas de CO² equivalente por ano em um período de crédito de 10 anos.

Atualmente enquadra-se como Produtora Independente de Energia.

Seu reservatório terá 1,64 km².

PCH Paranatinga I

Localiza-se no Rio Culuene, nos municípios de Parantinga-MT e Campinápolis-MT, com potência


de 22.300KW. Seu reservatório terá 4,2km².

De propriedade da Paranatinga Energia Ltda., encontra-se em construção e enquadra-se como


Produtora Independente de Energia. A venda de energia será feita para a Centrais Elétricas
Matogrossenses - CEMAT.

As instalações de transmissão previstas serão compostas de 1 subestação com capacidade de


30/37,50MVA, 13,8/138KV interligando-se por meio de uma linha de transmissão 138,0KV, circuito
simples, a SE Paranatinga II, com 25 km de extensão, de propriedade da própria Paranatinga
Energia Ltda.

O funcionamento desta PCH está atrelado ao da PCH Paranatinga II, que em conjunto, e em
sistema isolado, fornecerão energia suficiente para substituir a geração térmica de UTEs movidas
a óleo diesel localizadas nos municípios de Ribeirão Cascalheira, (produz 1.005MWh/mês),
Querência do Norte (produz 6.250 MWh/mês) e Gaúcha do Norte (produz 770MWh/mês).

O funcionamento conjunto com a PCH Paranatinga II se deve ao regime hidrológico do Rio


Culuene que para viabilizar a potência total necessária para a substituição das UTE, necessita de
dois aproveitamentos distintos.

Devido ao fato do Sistema Isolado do Estado do Mato Grosso não ter previsão para integrar o
Sistema Interligado Nacional, a ANEEL autorizou que a geração de algumas PCHs tenha direito a

8
O Rio Von Den Steinen é tributário do Rio Ronuro, que por sua vez é afluente do Rio Xingu.

ARCADIS Tetraplan 19
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

sub-rogação da Conta de Consumo de Combustível Fóssil – CCC, por se considerar a alternativa


mais adequada para a substituição das UTEs, inclusive sobre a ótica econômica.

PCH Paranatinga II

Localiza-se no Rio Culuene, nos municípios de Parantinga-MT e Campinápolis-MT, com potência


de 29.020 KW. Seu reservatório terá 12,92 km².

De propriedade da Paranatinga Energia Ltda., encontra-se em operação desde fevereiro de 2008.


Enquadra-se como Produtora Independente de Energia. A venda de energia é feita para Centrais
Elétricas Matogrossenses - CEMAT.

As instalações de transmissão são compostas de 1 subestação com capacidade de 13,8/138KV –


45/56,25MVA e 138/34,5KV – 5MVA, de onde partem duas linhas de transmissão, sendo uma que
interligará a PCH Paranatinga II até a Subestação Querêcia do Norte, em circuito simples, em
138KV – 10/12,5MVA e 13,8/34,5KV - 5MVA e desta partindo outra LT, circuito simples, com 60
km de extensão, na tensão de em 34,5/13,8KV – 2MVA, até a subestação Ribeirão Cascalheira,
conectando-se ao sistema de distribuição da CEMAT, e outra LT partindo da PCH Paranatinga II
até a subestação Gaúcha do Norte, em circuito simples, na tensão de 34,5KV, com 90 km de
extensão até a subestação Gaúcha do Norte, 34,5/ 13,8KV – 2MVA, conectando-se ao sistema de
distribuição da CEMAT. Ao todo são 406 km de LTs.

Fonte:port.pravda.ru - junho 2006 Fonte:port.pravda.ru - junho 2006

Como já dito anteriormente, o funcionamento desta PCH está atrelado ao da PCH Paranatinga I,
que em conjunto, e em sistema isolado, fornecerão energia suficiente para substituir a geração
térmica das referidas UTEs.

Além disso, a construção desta PCH faz parte no contexto do Programa Luz para Todos do
Governo Federal objetivando abastecer 16 municípios do Baixo Araguaia no nordeste mato-
grossense.

Sua implantação contou com a construção de uma escada de peixes, item que pela primeira vez
apareceu em empreendimentos do tipo PCH. Também conta com programas de resgate de fauna
e flora e de recomposição de uma faixa de 100m com vegetação nativa tendo em vista a
recuperação da mata ciliar para evitar o assoreamento e a poluição do rio Culuene.
ARCADIS Tetraplan 20
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

No âmbito de seu licenciamento, o Ministério Público Federal, solicitou um estudo para identificar
o exato local de um dos sítios sagrados da mitologia dos povos do Alto Xingu, o Kuarup, e verificar
a interferência com esta PCH. O estudo foi realizado de acordo com os critérios indicados pelo
IPHAN e pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) durante um ano por 21 cientistas, e identificou
que o Sagihenhu, local onde ocorreu a primeira celebração do Kuarup, conhecido como
Travessão do Adelino, fica a 7 quilômetros abaixo da obra.

PCH Culuene

Localiza-se no Rio Culuene, nos municípios de Primavera do Leste-MT e Paranatinga-MT, com


potência de 1,794MW. Seu reservatório tem 0,39km².

De propriedade da VP Energia S.A, encontra-se em operação e sua produção é destinada ao


Serviço Público de Energia Elétrica por intermédio da CEMAT.

Suas instalações de transmissão possuem as seguintes características técnicas: uma subestação


interna de manobra, de barramento simples em 0,46KV com três módulos em 0,46KV sendo uma
para cada unidade geradora de 747 KVA, mais um módulo em 0,46KV para o trafo de serviço
auxiliar e mais 1 módulo em 0,46KV para o trafo 0,46/34,6KV e respectiva conexão em 34,5KV na
subestação local da concessionária distribuidora CEMAT.

PCH Ronuro

Localiza-se no Rio Ronuro, no município de Paranatinga-MT, com potência de 1.040MW.

De propriedade da Sopave Norte S.A. e Mercantil Rural, encontra-se em operação e sua energia
destina-se ao consumo próprio (Autoprodução de Energia – APE).

ARCADIS Tetraplan 21
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3. Diagnóstico da Bacia do Rio Xingu


A presente análise da bacia hidrográfica do Xingu foi delineada visando compreender as
características sócio-ambientais, quais sejam, os ecossistemas que constituem e organizam a
paisagem e provêem recursos naturais e serviços ambientais, bem como a dinâmica sócio-
econômica que determina as várias formas de apropriação desses recursos e serviços.

A partir desse quadro, pode-se inferir sobre quais processos poderão se estabelecer nesse
espaço territorial com a implantação de aproveitamentos hidrelétricos e em que medida as
alterações ambientais decorrentes poderão se intensificar como resultado da cumulatividade ou
de sinergias de impactos.

A bacia hidrográfica do rio Xingu tem área total aproximada de 509.000 km² e se desenvolve no
sentido sul-norte, desde a Região Centro-Oeste, aproximadamente no paralelo 15º S, até o
paralelo 3º S, na Região Norte. Está limitada, pela bacia hidrográfica do rio Tapajós, a oeste e, a
leste, pela bacia dos rios Araguaia – Tocantins.

As cabeceiras dos formadores do rio Xingu e seus principais afluentes encontram-se no setor
norte do Estado de Mato Grosso, nos terrenos mais elevados situados ao sul dos divisores da
Chapada dos Parecis. O clima, fortemente estacional, condiciona a vegetação savânica,
característica do bioma Cerrado onde se insere esse trecho superior da bacia hidrográfica.

Nesse trecho inicial da bacia hidrográfica predominam formações de transição entre as savanas,
que caracterizam as áreas das nascentes, e as extensas florestas ombrófilas presentes no médio
e no baixo curso. Essa situação ecotonal traduz-se pela presença de extensas formações de
contato floresta ombrófila/floresta estacional, esta última característica do limite entre os biomas
Amazônia e Cerrado.

É nesse setor da bacia hidrográfica que a agropecuária, notadamente as culturas cíclicas


tecnificadas, têm maior expressão, notadamente no sul/sudoeste da bacia, próximo à BR-163,
polarizada por Sinop e por Cuiabá, quando considerado um raio maior.

Os vetores de ocupação se expandem às áreas de nascentes e aos altos cursos dos formadores
do rio Xingu. Avançam sobre as formações de contato floresta ombrófila/floresta estacional, em
direção as Terras Indígenas aí presentes, em um processo de crescente utilização da base de
recursos naturais e dos serviços ambientais decorrentes principalmente da exploração da
madeira, do consumo de nutrientes e de água para produção de grãos e para a pecuária.

De ocupação relativamente recente, esse trecho da bacia hidrográfica apresenta um processo de


alteração da paisagem em curso, onde se evidencia o confronto de modos de vida e formas
opostas de ocupação: uso dos produtos da floresta, pesca e cultivo de pequenas roças, presente
notadamente nas Terras Indígenas, e a agricultura tecnificada.

Desenvolvendo-se em direção norte, o rio Xingu apresenta, em seu trecho médio, canal com ilhas
e pedrais que formam rápidos e cachoeiras. As planícies fluviais são estreitas e descontinuas com

ARCADIS Tetraplan 22
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

canais abandonados, lagoas e alagadiços. Esse padrão ocorre na maior parte do canal principal
do Rio Xingu, entre a Cachoeira de Von Martius e Belo Monte, incluindo a região da Volta Grande,
grande parte do Rio Iriri e de seu afluente Rio Curuá.

Todo esse trecho da bacia, correspondente ao médio curso, situa-se na Depressão da Amazônia
Meridional, recoberta por florestas ombrófilas, onde encraves de savanas ou contatos
savana/floresta ombrófila se destacam em correspondência aos planaltos residuais aí existentes.

Caracterizado pelo contínuo florestal e ocupado em grande parte por Terras Indígenas e Unidades
de Conservação, este amplo espaço geográfico encontra-se fragmentado na altura da cidade de
São Félix do Xingu devido à ocupação antrópica, onde se destaca a pecuária extensiva. A BR–
158, que se desenvolve longitudinalmente a leste da bacia hidrográfica, corresponde ao principal
vetor da ocupação, polarizada por Marabá no que se refere ao escoamento bovino de maior
escala.

A pressão antrópica e os conflitos de uso se traduzem por extensos desflorestamentos em meio à


floresta ombrófila e em derrubadas menores, porém gradativas, em Terras Indígenas e em
Unidades de Conservação.

Evidencia-se nessa área, denominada “Terra do Meio”, conflitos fundiários e um processo de


exploração não sustentável dos produtos da floresta e dos recursos hídricos, que se reflete em
desflorestamentos irregulares e na ausência de boas práticas ambientais.

No curso médio inferior, o rio Xingu recebe seu principal afluente, o rio Iriri e, nas imediações da
cidade de Altamira, sofre uma acentuada deflexão formando a chamada Volta Grande, de grandes
corredeiras, com um desnível de 85 m em 160 km. No fim desse trecho, à altura da localidade de
Belo Monte, o rio se alarga consideravelmente, apresentando baixa declividade até a sua foz e
sofrendo, inclusive, efeitos de remanso provocados pelo rio Amazonas (CNEC, 1988).

Nesse trecho, as extensas formações florestais sofrem solução de continuidade, em decorrência


da presença a rodovia Transamazônica, implantada na década de 1970. Transversal à bacia, esta
via de acesso trouxe como resultado uma ocupação em núcleos de colonização associados à
rodovia e às estradas vicinais, onde o desflorestamento se intensificou, determinando um padrão
de fragmentação da floresta correspondente à geometria dessa rede viária.

Ao norte desse trecho intensamente ocupado e alterado desenvolvem-se novamente extensas


florestas, em grande parte abarcadas por Unidade de Conservação de uso sustentável, que se
estendem até as várzeas do rio Amazonas.

Assim, à parte as áreas legalmente protegidas, vetores de ocupação se evidenciam em


localidades bem definidas da bacia: (i) ao sul, no alto curso do rio Xingu, na região das savanas e
no contato destas com as formações florestais amazônicas (ii) a leste, notadamente na região de
São Félix do Xingu e a sul/sudeste desta e; (iii) ao norte, em correspondência à Rodovia
Transamazônica.

Embora relativamente recente e circunscrita a determinados setores da bacia hidrográfica, a


dinâmica ditada pelas intervenções antrópicas altera a dinâmica original e passa a ter grande
importância, definindo espaços organizados pela lógica da atividade produtiva predominante.

ARCADIS Tetraplan 23
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Conforme evidenciado, fatores indutores externos à bacia ditam essas ocupações. Em grande
parte estão relacionadas ao modelo voltado à ocupação induzida, por meio de um planejamento
centralizado, adotado entre as décadas de 1960 a 80, que privilegiava uma visão externa ao
território e em que a infra-estrutura precedia a ocupação. Este modelo determinou uma nova
geometria de ocupação do espaço amazônico, contrapondo-se ao modelo histórico de ocupação
ao longo dos cursos d´água, por onde se dava a circulação e a rede de comunicação (Becker,
2001).

A última configuração do modelo de ocupação, que privilegia o crescimento e a autonomia local,


baseado em áreas relativamente isoladas, dependentes da produção local, também está
circunscrito no caso da bacia do rio Xingu, a setores definidos. Incipiente, entretanto, esse é o
modelo pretendido para grande parte desse território, como atesta a criação das várias e extensas
Unidades de Conservação de Uso Sustentável.

É nesse quadro que se realiza a análise dos possíveis processos que podem se estabelecer com
a implantação de aproveitamento para geração de energia elétrica. A análise dos efeitos
sinérgicos que podem emergir implica a elaboração de um estudo dirigido à integração dos
diversos temas abordados no diagnóstico, buscando evidenciar fenômenos relevantes, que
determinam, em grande medida, a dinâmica atual desse espaço e, portanto, que poderão
recrudescer ou se alterar em cenários futuros com os empreendimentos que se pretende
implantar.

3.1. Processos e Atributos do Meio Físico e Ecossistemas Terrestres


3.1.1. Dinâmica do Clima Regional
O presente capítulo trata da caracterização do regime climático da bacia do rio Xingu, com ênfase
na dinâmica climática que rege os principais sistemas atmosféricos atuantes na bacia.

O Continente Sul Americano

A América do Sul está situada entre dois grandes oceanos. O Oceano Atlântico e o Oceano
Pacífico exercem grande influência sobre o clima desse continente. As características da
circulação regional sobre a América do Sul somente podem ser compreendidas considerando-se
os efeitos climáticos desses dois oceanos. Um aspecto geográfico importante da América do Sul é
a presença da elevada Cordilheira dos Andes que se estende ao longo de toda a costa oeste,
desde 10º N a 60º S. Outra característica especial da América do Sul é a floresta amazônica que
ocupa cerca de 65% de sua área tropical. O continente sul americano possui ainda alguns
desertos dos mais inóspitos e regiões áridas, como o deserto de Atacama no Chile, o deserto da
Patagônia e o árido sertão do Nordeste do Brasil.

A circulação atmosférica sobre a América do Sul exibe diversas características especiais, como a
alta da Bolívia, a zona de convergência do Atlântico Sul (South Atlantic Convergence Zone,
SACZ), a área de baixa pressão do Chaco no verão e o fenômeno da friagem na região equatorial
durante o inverno do Hemisfério Sul. Os oceanos tropicais dos dois lados do continente sul
americano são os únicos do mundo que não são castigados por furacões e tufões. No Oceano
Atlântico tropical, a zona de convergência intertropical (Intertropical Convergence Zone, ITCZ)

ARCADIS Tetraplan 24
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

estende-se de oeste–sudoeste para leste–nordeste, tendo seu extremo oeste–sudoeste uma


amplitude meridional de migração sazonal bastante grande.

A Circulação Regional

Existem dois centros subtropicais de alta pressão, um sobre o Oceano Pacífico e o outro sobre
Oceano Atlântico, respectivamente do lado oeste e do leste da América do Sul. Sobre o
continente predominam pressões relativamente baixas todo o ano. No interior do continente, a
pressão ao nível do mar é mínima no verão e máxima no inverno. A alta do Oceano Pacífico é
mais intensa no verão e a alta do Oceano Atlântico no inverno. Esses dois centros de alta
afastam-se do continente no verão, quando ocorre a estação das chuvas na maior parte da
América do Sul tropical e subtropical. O anticiclone do Atlântico Sul migra durante o ano, passa da
posição (15º W, 27º S) em agosto para a posição (5º W, 33º S) em fevereiro. Em combinação com
a migração sazonal da ITCZ no período de fevereiro – maio determina a estação chuvosa na
região do Nordeste do Brasil (HASTENRATH, 1991).

Sobre o continente, há uma zona equatorial de baixa pressão (cavado) que se funde com a ITCZ
sobre o oceano. A posição e a intensidade do cavado equatorial é um fator de grande influência
sobre a estação chuvosa no lado norte da região amazônica, incluindo as Guianas, a Venezuela e
a Colômbia.

Uma característica importante da circulação geral da América do Sul é o enfraquecimento do


anticiclone subtropical no verão, devido ao aquecimento das águas oceânicas. Ao deslocar-se
para o sul, no início do verão, o anticiclone do Atlântico Sul dá ensejo ao desenvolvimento da
SACZ que o divide em duas partes.

A circulação das camadas mais baixas da troposfera (ventos alísios), oriunda do lado norte do
centro de alta pressão do anticiclone do Atlântico Sul, atinge os Andes, no Peru e na Colômbia,
onde é bloqueada pelas altas montanhas e é desviada para o sul, quando se torna lentamente
ventos de norte e de noroeste do lado leste das Cordilheiras. Na costa leste, os ventos alísios
penetram o continente com diferentes ângulos e velocidades a cada estação. Isto tem efeitos
significativos sobre a precipitação litorânea (KOUSKY, 1955). Sobre o continente, região do colo
entre os dois anticiclones do Atlântico e do Pacífico, nas latitudes entre 15º S e 40º S, o campo do
escoamento é caracterizado por uma forte deformação, que foi qualificada como geradora de
frentes, ou frontogenética (SATYAMURTY e MATTOS, 1989). Há evidências de que nessa região
ocorre um jato de baixo nível de norte, abaixo de 850 hPa, que é responsável pelo transporte de
vapor de água e calor do Amazonas para a região do Paraguai e Argentina (PEAGLE, 1987).

Em abril, ao norte de 10º N sobre o Atlântico, os alísios têm uma componente mais de norte e a
ITCZ fica situada ao sul do mar do Caribe. A ITCZ, no oeste do Oceano Atlântico e no leste do
Oceano Pacífico, vista sob o aspecto do eixo de confluência dos alísios, atinge sua posição mais
ao norte no final do inverno do Hemisfério Sul, isto é, cerca de 10º N no Atlântico e 13º N no
Pacífico. Por outro lado, a ITCZ chega mais ao sul no final do verão do Hemisfério Sul, cerca de 3º
N no Oceano Atlântico, no período de fevereiro-abril, e 5º N no Oceano Pacífico, no período
janeiro e fevereiro (HASTENRATH, 1991).

ARCADIS Tetraplan 25
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3.1.1.1. Variação Anual da Circulação Atmosférica


O texto a seguir apresenta as análises sobre as situações de inverno-primavera e de verão-
outono. A Figura 3 -1 mostra a variação sazonal dos sistemas atmosféricos na América do Sul e
sobre a bacia do Xingu, em particular, com a direção preferencial de expansão desses sistemas e
sua faixa de flutuação.

As situações sazonais referem-se ao comportamento médio da dinâmica da atmosfera em cada


estação, não sendo, portanto, representativas de eventos anormais causadores de grandes
enchentes ou de estiagens singulares.

Situação de Inverno – Primavera

Em condições normais, nesse período, o sistema Equatorial Atlântico (Ea) domina o tempo na
costa nordeste do Brasil, penetrando pelo interior até as vizinhanças de Belém e controlando o
tempo na bacia do Xingu. Ocasiona aguaceiros contínuos e sem trovoadas em toda a costa
oriental, da Bahia ao Rio Grande do Norte, mas, em seu avanço pelo continente, as chuvas se
reduzem, atingindo um mínimo nesta época do ano, quando o sistema apresenta grande
estabilidade.

No alto Amazonas, esse sistema cede lugar ao Equatorial Continental Amazônico (Ec), que se
limita a esta área, atraindo o alíseo de nordeste para o continente. Na primavera, o sistema Ec
tem maior expansão para leste, alcançando o trecho superior da bacia, conforme está
esquematizado na Figura 3 -1.

ARCADIS Tetraplan 26
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Figura 3-1- Variação sazonal dos sistemas atmosféricos na América do Sul e na bacia do Rio Xingu

ARCADIS Tetraplan 27
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A Convergência Intertropical (CIT), durante a primavera, encontra-se no Hemisfério Norte,


ocupando sua posição mais setentrional a 8ºN, mas mantendo-se um pouco mais ao sul no
inverno, de modo a exercer influência sobre o extremo norte do continente.

A Frente Polar Atlântica (FPA), em sua trajetória marítima, pode atingir a latitude de Natal,
inflectindo, em seguida, em direção ao Pará. Quando a frente está nítida, produzem-se
chuvas e trovoadas na costa norte, até Belém, havendo queda média de 3ºC na temperatura
e vento de sul.

Sob um avanço continental, o sistema Polar Atlântico (Pa) penetra pela Bolívia e pelo Estado
de Mato Grosso, seguindo rumo norte, sendo desviado para a esquerda à altura da Serra do
Roncador, que flanqueia o setor direito da porção superior da bacia do Xingu, atravessando o
Acre, o Alto Amazonas e a Colômbia, gerando o fenômeno da “friagem”. Na FPA que precede
esse sistema, produzem-se cumulonimbus, trovoadas e pancadas rápidas. A friagem pode
afetar o setor superior da bacia do Xingu, mas não atinge o estado do Pará e, portanto, a
maior parte da bacia.

Quando o sistema polar se instala no Amazonas, cessam as trovoadas e aguaceiros do


sistema Ec, que recua para o norte; após dois ou três dias, o ar frio se mistura com o alíseo
que, instabilizando-se, traz novas trovoadas. A permanente instabilidade do sistema Ec, no
inverno, na região do Alto Amazonas, liga-se, justamente, aos freqüentes jatos de ar polar.

Muitas vezes, o avanço de frentes superiores vindas do Pacífico é sentido na zona equatorial.
O ar frio sul atinge a latitude de Cuiabá a uns 1.000 ou 2.000 metros, determinando aumento
da pressão, das temperaturas e possivelmente trovoadas, sendo que ao nível do solo,
persiste o sistema Tropical Atlântico de ventos do nordeste. Essa invasão superior caminha
para leste, atingindo os estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia, até o Atlântico, formando
cumulonimbus no contato com a superfície do mar. As cabeceiras dos rios formadores do
Xingu, embora não estejam incluídas na faixa média de ação dessas invasões superiores,
podem, ocasionalmente, ser afetadas. O próprio sistema Tropical Atlântico (Ta) não chega a
agir sequer sobre o trecho superior da bacia, mas, estando este trecho numa área de ação
periférica do sistema Ec, durante a primavera, pode sofrer, esporadicamente, uma
intervenção do primeiro sistema.

De modo geral, as massas polares dificilmente invadem a porção Central do Brasil, ficando a
região do baixo Amazonas sob o domínio estável do alíseo, que não sofre resfriamento das
invasões polares, definindo um inverno mais seco.

Situação de Verão – Outono

Durante esse semestre, a CIT encontra-se no Hemisfério Sul, e, introduzindo-se pela região
nordeste, balanceia os sistemas Equatorial Continental Amazônico (Ec), Equatorial Atlântico
(Ea) e Tropical Atlântico (Ta).

O sistema Equatorial Continental Amazônico domina toda a região central do Brasil, ao norte
do Trópico, inclusive a bacia do Xingu, tendo sua expansão limitada a oeste pelos Andes, e
alcançando, muitas vezes, o litoral sul do país. A instabilidade desse sistema está ligada à
própria circulação do verão, durante o qual o continente torna-se um centro aquecido, para
onde convergem os alíseos de norte e de leste, oceânicos, originando uma típica “monção”.
O sistema apresenta, então, umidade e temperatura elevadas, sendo que a convergência e

ARCADIS Tetraplan 28
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ascensão produzidas em seu interior são responsáveis por forte instabilidade convectiva, de
modo que as áreas sob sua influência recebem chuvas e trovoadas locais quase diárias.

O sistema Equatorial Atlântico (Ea) não chega a afetar a bacia, pois não ultrapassa o litoral
nordestino

A CIT, no verão, se encurva para o sul, atravessando o centro do continente, atraída pela
depressão térmica interior. O mesmo acontece no outono, quando atinge sua posição mais
meridional, de aproximadamente 4ºS, na costa, e 0ºS sobre o oceano, controlando o tempo
no trecho inferior da bacia. Este setor da bacia do Xingu apresenta, assim, um máximo
pluviométrico de outono e um mínimo de primavera coincidente com o maior afastamento da
CIT.

Quando ocorrem fortes avanços do ar polar atlântico, a CIT recua para noroeste e os
sistemas Ea e Ta substituem o Ec, desaparecendo as trovoadas deste último, substituídas
por chuvas contínuas e estabilidade. No caso de invasões polares vindas do Hemisfério Norte
a “monção” se reforça e o sistema Equatorial Continental (Ec) avança para o leste,
deslocando a CIT para o oceano.

No sistema Ec formam-se, freqüentemente, pequenas depressões térmicas, onde se


intensificam as trovoadas, que caminham, em geral, de oeste para leste e de norte para sul,
deslocando-se do Amazonas ao Ceará. Duram dois ou três dias e provocam elevação térmica
de 4ºC, em média.

Sob um avanço do sistema polar pelo litoral, a Frente Polar Atlântica (FPA), ao atingir o
equador, não mais se define como no inverno, mas sim mistura-se ao alíseo, produzindo
chuvas.

Se o ar polar avança pelo interior, segue uma trajetória mais a leste que no inverno, podendo
mesmo alcançar o norte do Pará, afetando a bacia do Xingu. Produz-se uma “friagem” pouco
intensa com decréscimo em torno de 3ºC na temperatura, sendo que as trovoadas locais do
sistema Equatorial Continental são reforçadas pelo ar frio que se mistura.

As Variações Interanuais

As análises sinópticas das variações interanuais da circulação tropical de verão mostram que
nos verões com circulação do tipo Hadley forte, as precipitações são acima do normal na
área costeira do Nordeste do Brasil e no sul do Brasil. Durante os períodos de fraca
circulação de Hadley, as chuvas são acima do normal no interior sul do Nordeste do Brasil e
abaixo do normal no Sul do Brasil. Os estudos demonstraram que a circulação do tipo de
Hadley sobre a América do Sul era forte quando a circulação ciclônica de 850 hPa, centrada
na posição 28º S e 65º W, era bem definida, e a circulação de Hadley era fraca quando
ambas a circulação ciclônica de 850 hPa e a anticiclônica de 150 hPa eram fracas e
deslocadas para norte na direção da Bacia do Rio Amazonas. Nesses verões, a invasão de ar
frio do sul foi mais freqüente.

As situações sinópticas de períodos relativamente secos ou relativamente úmidos no


Nordeste do Brasil, nos meses de fevereiro a abril, parecem estar associados a um índice
zonal baixo no Hemisfério Sul e um alto índice zonal no Hemisfério Norte. Essa situação
sinóptica facilita a penetração das frentes frias do sul no Nordeste do Brasil, as quais

ARCADIS Tetraplan 29
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interagem com uma perturbação móvel no cavado equatorial e produz fortes precipitações na
região.

As Variações Sazonais

Madden e Julian, em 1971, descobriram algumas oscilações de duração de 30 a 60 dias e as


chamaremos de MJOs (Madden and Julian Oscillations), que ocorrem sobre o Oceano
Pacífico. Posteriormente foi verificado que atingem todas as regiões tropicais do globo, com
intensidade variável. O efeito da MJO é sentido na América do Sul cerca de seis semanas
depois que se manifesta no oeste do Oceano Pacífico. Já existem estudos (KOUSKY e
CAVALCANTI, 1988) mostrando que essa oscilação tem efeito de baixa intensidade sobre a
convecção na Bacia Amazônica e no Sudeste do Brasil, especialmente no verão. Nos anos
do fenômeno El Niño9, parece haver um aumento da freqüência das oscilações MJOs.

3.1.1.2. Variações Espaciais e Temporais dos Elementos do Clima


Até 1975 a rede de postos pluviométricos e climatológicos existentes na bacia era restrita a
alguns pluviômetros, localizados em fazendas da região das cabeceiras do Xingu, e às
estações climatológicas de São Félix do Xingu, Altamira e Porto de Moz.

A partir de 1975, com o início dos Estudos de Inventário do Rio Xingu, a rede pluviométrica
da bacia foi ampliada com a instalação de novos postos, de modo a aumentar a densidade da
rede, bem como melhorar sua distribuição espacial, totalizando 21 postos pluviométricos e
três estações meteorológicas.

Devido à ausência de estações meteorológicas no trecho alto da bacia, já que as três únicas
estações existentes situam-se no trecho médio baixo e baixo da bacia, foram utilizados os
dados da estação de Diamantino, situada fora da bacia, porém próxima aos limites das
cabeceiras do Xingu.

Com base nos dados coletados são apresentadas a seguir as principais características dos
parâmetros meteorológicos relativos a precipitação, temperatura e umidade do ar.

Precipitação

Os registros de precipitação dos postos considerados como representativos da bacia, foi


obtido o mapa de isoietas anuais apresentado na Figura 3-2 Isoietas Anuais. As isoietas
mostram que na bacia do rio Xingu a precipitação aumenta no sentido de seu
desenvolvimento, de montante para jusante, variando de 1.500mm nas nascentes a 2.600mm
na proximidade da foz. Já a precipitação média anual na bacia resultou em 1.800mm

9
O fenômeno La Nina, ou episódio frio do Oceano Pacífico, também têm freqüência de 2 a 7 anos, todavia tem ocorrido em
menor quantidade que o El Niño durante as últimas décadas. Os episódios mais recentes de La Niña ocorreram nos anos de
1998/99. Os principais efeitos de episódios do La Niña observados sobre a região norte-nordeste do Brasil são, entre outros:
•tend~encia de chuvas abundantes no norte e leste da Amazônia, possibilidade de chuvas acima da média sobre a região semi-
árida do Nordeste do Brasil, bem como de chegadas de frentes frias nessa região.

ARCADIS Tetraplan 30
56°W 54°W 52°W

Legenda
Almeirim
AP Gurupá Capital Estadual
Rio Xingu
Breves Sedes Municipais
Oriximiná Porto de Moz
Prainha Melgaço
Óbidos Curuá
Alenquer Rio Amazonas Portel
Limite Estadual
Rio Amazonas
2°S

2°S
Monte Alegre
Juruti
Limites Municipais
Rio Xingu Massa D'Água
SANTARÉM
Senador José Porfírio Bacia do Xingu
Belterra
Terras Indígenas
Vitória do Xingu
Unidade de Conservação de Proteção Integral
Rio Tapajós Altamira
Brasil Novo
Rio Xingu Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Medicilândia Anapu Precipitação Média Anual
Aveiro 3500
Uruará
Pacajá 3250
Placas
3000
4°S

4°S
Rurópolis 2750
Itaituba 2500
2250
Trairão
2000
1750
1500
1250
Até 1000
PA
Rio Xingu
6°S

6°S
Rio Curuá

São Félix do Xingu


Tucumã
Água Azul do Norte

Novo Progresso Rio Iriri


Bannach

Cumaru do Norte
8°S

8°S

Rio Xingu

Santana do Araguaia Localização


60°W 45°W

Alta Floresta


Carlinda Novo Mundo
10°S

10°S

Vila Rica
Peixoto de Azevedo
Matupá
Nova Guarita
Santa Terezinha
Nova Canaã do Norte
15°S

15°S

Terra Nova do Norte Confresa


Colíder São José do Xingu
Porto Alegre do Norte
Itaúba Marcelândia Canabrava do Norte Rio Araguaia

TO
30°S

30°S

Luciára

Cláudia União do Sul São Félix do Araguaia


60°W 45°W
Alto Boa Vista

Sinop
Santa Carmem
12°S

12°S

Rio Xingu
Vera
Feliz Natal MT
Sorriso Rio Xingu 1:4
Querência km
0 50 100 200 300
Rio das Mortes
Ribeirão Cascalheira Sistema de Coordenadas Geográficas
Nova Ubiratã
Datum horizontal: SAD 69
Lucas do Rio Verde
Gaúcha do Norte

Canarana
Figura 3-2 Isoietas Anuais (mm)
Nova Mutum

GO
14°S

14°S

Água Boa

Paranatinga Cocalinho
Campinápolis Fontes:
Planalto da Serra Rio das Mortes Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
Adaptado de : IBGE, Geografia do Brasil, volume 1 e 3, 1991
Compilação de dados MMA e ICMBIO
Novo São Joaquim ANEEL, 2008
Nova Brasilândia Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009

56°W 54°W 52°W


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Pode-se concluir que bacia do rio Xingu apresenta uma sazonalidade bem definida. O
período chuvoso, das cabeceiras do rio até a parte média alta da bacia, compreende os
meses de dezembro a março; já na faixa média da bacia até o baixo curso, o período
chuvoso vai de fevereiro a maio.

Nota-se claramente que, entre as cabeceiras e o baixo curso, o período chuvoso sofre um
atraso de cerca de um a dois meses. Este fato favorece a ocorrência de grandes deflúvios
nos trechos do médio e baixo cursos. As descargas que ocorrem nesses trechos, no período
de fevereiro a abril, são provenientes do escoamento superficial das chuvas que atingem o
segmento médio inferior da bacia e do escoamento dos deflúvios originários das
precipitações de um a dois meses antes, nas partes média superior e alta da bacia. Merece
citação também a grande acumulação na própria calha do rio e nas baixadas marginais
adjacentes, o que tem grandes efeitos sobre o amortecimento das cheias e seu tempo de
trânsito ao longo da calha principal do rio Xingu.

Temperatura

Pela sua posição geográfica próxima ao Equador e pelas suas baixas altitudes, a bacia se
caracteriza por um clima quente, ocorrendo de agosto a dezembro as temperaturas mais
elevadas. As máximas não são excessivas, devido à forte umidade relativa e a intensa
nebulosidade. Em contrapartida, nos meses mais frios, junho a julho, dificilmente a
temperatura média fica abaixo dos 24 °C. Em casos particulares, quando ocorre a invasão do
ar polar continental, as mínimas absolutas podem chegar aos 8 ºC.

Na região de Altamira e Porto de Moz, trecho inferior da bacia, a temperatura média durante o
ano fica entre 25,4ºC e 27,3ºC, com mínimas em fevereiro e máximas em outubro.

Como indicador do trecho médio, tem-se a localidade de São Félix do Xingu. Nesta, em
posição mais meridional e em altitude mais elevada que o trecho inferior, as médias mensais
ficam entre 24,6ºC (mínima em julho) e 25,4ºC máxima em setembro.

Para o trecho alto da bacia verifica-se que a temperatura média é de 25,2ºC, com as
mínimas ocorrendo em maio com valores em torno dos 24,4ºC . As máximas geralmente
ocorrem a partir de fevereiro com valores entre 27,0ºC e 28ºC.

Umidade Relativa

No trecho inferior da bacia, tanto na latitude de Porto de Moz quanto de Altamira, a curva da
umidade relativa cresce a partir de novembro até abril-maio, variando de 83% a 89% e 79% a
88%, respectivamente. Entre junho e outubro ela reduz até 82% em Porto de Moz, e entre
maio e outubro até 78% em Altamira.

Caracterizando o trecho médio da bacia, São Félix do Xingu demonstra uma ligeira
modificação na curva de umidade relativa em relação ao trecho inferior, apresentando
máxima em janeiro (89%) e mínimas entre julho e agosto (81%).

Já no trecho alto da bacia, a umidade relativa fica pouco abaixo do trecho médio, com
máximas em janeiro/ fevereiro (80% e 83%) e mínimas em agosto/setembro (60,7 e 64,5%).

ARCADIS Tetraplan 32
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3.1.2. Terrenos
Para o desenvolvimento deste tema foi adotado o conceito de terreno, que classifica o espaço
segundo suas condições ambientais predominantes, suas qualidades ecológicas e avalia seu
potencial de uso, bem como suas fragilidades. Tais estudos têm sido utilizados para fornecer
uma visão sintética do meio, para estudos científicos e aplicados ao planejamento das
atividades antrópicas no meio físico.

O presente diagnóstico abrange a Bacia Hidrográfica do rio Xingu, evidenciando-se os


diversos compartimentos, seus principais atributos e dinâmicas.

Dados de relevo, substrato rochoso, solo e vegetação da área de estudo foram analisados
para definir os sistemas de terrenos e estabelecer os atributos abióticos dos principais
ecossistemas terrestres que caracterizam a Bacia Hidrográfica do rio Xingu (Figura 3-3).

A bacia compreende parte de dez grandes unidades de relevo, que foram diferenciadas com
base nos dados do IBGE (1993) e do Projeto RADAMBRASIL (1981 e 1982). De montante
para jusante ocorrem: Planalto dos Guimarães / Alcantilados, Depressão do Alto Araguaia /
Tocantins, Depressão de Paranatinga, Planalto dos Parecis / Alto Xingu, Depressão da
Amazônia Meridional, Planaltos Residuais do Sul da Amazônia, Planalto Marginal do
Amazonas, Depressão do Amazonas, Planície Fluvio-lagunar do Amazonas e Planícies
Fluviais.

O rio Xingu e seus afluentes cortam rochas do embasamento cristalino, rochas sedimentares
paleozóicas, mesozóicas e cenozóicas, que constituem unidades de diferentes idades.
Condicionados pelos diferentes tipos de rochas e relevos ocorrem na Bacia do rio Xingu:
Latossolos Amarelos, Latossolos Vermelho-Amarelo, Argissolos Vermelho-Amarelo, Argisolos
Vermelhos, Neossolos Litólicos e Afloramentos Rochosos, Neossolos Quartzoarênicos,
Plintossolo Pétrico e Gleissolos.

No que se refere à vegetação potencial, são diferenciados na bacia os seguintes tipos:


floresta ombrófila densa, floresta ombrófila aberta, floresta estacional semidecidual, savana
(cerrado), formações pioneiras (sistema edáfico de primeira ocupação) e sistemas de
transição ecológica ou tensão ecológica (contato entre formações vegetais distintas).

Com base nessas observações são descritas as principais relações entre as Unidades de
Relevo, as formações vegetais potenciais, os sistemas de transição (tensão ecológica),
substrato rochoso e solos, que substanciaram a caracterização dos diferentes tipos de
terrenos que ocorrem em cada uma das Unidades de Relevo da Bacia do Rio Xingu.

Para o mapeamento das unidades de terrenos em escala 1:1.000.000 foi realizada uma
primeira aproximação da caracterização da bacia com base nos Mapas Geomorfológico do
Brasil (IBGE, 1993), de Vegetação (IBGE, 1993) e Geológico da América do Sul (CPRM,
2000), em escala 1: 5.000.000, o que permitiu identificar, em escala macro, as principais
características do Meio Físico e avaliar o nível de complexidade de seus elementos, o que se
reflete na definição de unidades de terrenos.

Após essa caracterização inicial, foram realizados estudos na escala 1: 1.000.000, com a
utilização dos mapeamentos elaborados pelo Projeto RADAMBRASIL correspondentes às
folhas: Belém, Araguaia, Tapajós, Tocantins, Juruena, Goiás e Cuiabá.

ARCADIS Tetraplan 33
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

De forma complementar, foram analisadas informações dos Diagnósticos e Zoneamento


Ambiental, elaborados pelos Estados do Mato Grosso (SEPLAN/MT, 2003) e do Pará
(SECTAM/PA, 2004), dados do Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio Xingu
(ELETRONORTE, 1980), dados do Plano de Desenvolvimento Sustentado da BR 163, as
Folhas Geológicas ao milionésimo (CPRM, 2000) e elementos dos estudos realizados pelo
CNEC (1988 a e 1988b).

ARCADIS Tetraplan 34
56°W 54°W 52°W 50°W

Legenda
Gurupá
UHE Belo Monte

Prainha
Porto
de Moz Melgaço
PCHs
Rio Rio
Amazonas Amazonas
Portel
Capital Estadual
2°S

2°S
AM Rio
Rio Sedes Municipais
Xingu
Tapajós
Senador Limite Estadual
José
Porfírio Limites Municipais
Vitória
do Xingu Massa D'Água
Belo
Brasil Altamira Monte Bacia do Xingu
Novo
Medicilândia Rio
Anapu Sub bacias
Xingu
Uruará Sub bacia do Terras Indígenas
Placas Baixo Xingu UCs Proteção Integral
4°S

4°S
Rurópolis Novo UCs Uso Sustentável
Itaituba Repartimento

Trairão Rio Iriri

PA Dp AM
Depressão da Amazônia Meridional
Dp AM - Relevos de rampas de aplanamento com dissecação incipiente em colinas. Anfibolitos, charnoquitos, dioritos,
gnaisses, granitóides, metabásicas, enderbitos, granodioritos, monzogranitos, arenito grauvacas, quartzo grauvacas,
andesitos, traquitos, dacitos, riolitos e tufitos. Argissolos Vermelho - Amarelo, Latossolos Vermelho Amarelos e Nitossolo
Vermelho. Floresta Ombrofila aberta.
Depressão do Amazonas
Rio Dp AM 1 Dp AM1 - Relevos de rampas de aplanamento extensas com dissecação incipiente em colinas. Coberturas detrito-lateritica e
Quartzo arenitos. Latossolos Vermelho Amarelos Floresta Ombrofila Densa predomina.
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Dp AM 2 - Associação de colinas e rampas de aplanamento. Quartzo arenitos. Latossolos Vermelho Amarelos. Contato a
Dp AM 2 Floresta Ombrófila Densa e a Floresta Ombrofila Aberta.
Depressão do Alto Tocantins / Araguaia
Dp ATA - Relevos de rampas de aplanamento extensas Argilitos, folhelhos e siltitos Argissolos Vermelho - Amarelo e
Dp ATA
CambissolosSavana Arbórea com floresta galeria Associam-se serras residuais sustentadas por Arenitos com Latossolos e
Neossolos quartzoarenicos.

São Félix Dp ATA 2


Dp ATA 2 - Serras residuais da Depressão Alto Tocantins/ Araguaia sustentadas por arenitos com Latossolos e
Neossolos quartzarênicos.
Rio do Xingu Tucumã Água Azul Depressão de Paranatinga
Curuá Ourilândia do Norte Dp P1 Dp P1 - Associação de Relevos de Rampas de Aplanamento e Colinas Argilitos, folhelhos, siltitos e Arenitos. Argissolos
Vermelho - Amarelo e Neossolos quartzoarenicos. Savana Arbórea aberta com floresta galeria.
do Norte
Dp P2 - Relevos colinosos Argilitos, folhelhos, Siltitos e Arenitos. Cambissolos Savana Parque predomina a floresta galeria.
Novo Rio
Dp P2

Progresso Maria PI GA 1
Planalto do Guimarães / Alcantilados
Pl GA 1 - Relevos de rampas de aplanamento extensas predominam e relevos colinosos subordinados. Arenitos Neossolos
Bannach quartzoarenicos. Savana com Floresta de Galeria
P1 GA 2 - Associação de relevos de rampas de aplanamento e colinas.FolhelhosArgissolos Vermelho - Amarelo e
PI GA 2 Plintossolos Pétricos.(T) Savana / Floresta Estacional - Savana Arbórea Densa.

Pau Planalto Marginal do Amazonas


Cumaru D'Arco
PI MA
PI MA - Relevos colinosos suave ondulados a ondulados.Arenitos, folhelhos, siltitos, conglomerados e diabásios
Latossolos Vermelho Amarelos, Nitossolo Vermelho e Argissolo Vermelho - Amarelo.Transição entre a Floresta Ombrofila
do Norte Densa e Floresta Ombrofila Aberta.
Redenção Planalto dos Parecis / Alto Xingu
PI PAX 1 - Relevos de rampas de aplanamento pouco dissecadas no reverso da escarpa Cobertura Detritico-laterítica e
8°S

8°S

PI PAX 1 folhelhos Latossolos Vermelho-Amarelo Ecotono Savana / Floresta estacional e Savana Arbórea com floresta galeria.
Escarpas sustentadas por folhelhos e arenitos. Ocorre Plintossolos Pétricos Ecotono Savana / Floresta estacional
Savana Arbórea Densa.
PI PAX 2 - Relevos de rampas de aplanamento extensas. Cobertura Detritico-laterítica Latossolos Vermelho-Amarelo.
PI PAX 2 Contato Floresta Ombrofila / Floresta Estacional
Salto PI PAX 2B - Associam-se relevos residuais sustentadas por andesitos, aplitos, basaltos, brechas piroclasticas, riolito, tufo

Buriti Salto PI PAX 2B laplitico. Ocorre Plintossolos Pétricos. Neossolos Litólicos e Argissolos Vermelho-Amarelo. Ecótono Savana/ Floresta
Estacional - Savana Arbórea Aberta.
Salto Três Sub Curuá Planalto Residual do Amazonas
de Maio bacia do PI RA 1 - Relevos residuais tabulares, dissecados em morros (de topos agudos e convexos) e campos de inselbergs
Granodioritos, monzogranitos, sienogranitos, granitos, adamelitos, granulitos, charnoquitos, enderbitos, xixtos, granitos
Rio Curuá PI RA 1
porfiros, andesitos, xistos filitos e formações ferriferas, anfibolitos, quartzo xistos, folhelhos, metabasaltos e granulitos
básicos.Neossolos Litólicos, Afloramentos de Rochas, Argisolos Vermelho-Amarelo Floresta Ombrofila Densa
Santana do Submontana (predomina);
Araguaia PI RA 2 - Arenito Grauvaca, Quartzo Grauvaca, Biotita Xisto, Filitos, Formações Ferriferas Metacórseos, Metarenitos e
Micaxistos, Folhelho, Quartzo Arenito e Siltito, Andesitos, Basaltos, Brechas Piroclásticas Riolito, Tufo Laplitico. Neossolos
PI RA 2 Litólicos, Afloramentos de Rochas, Neossolos Quarzoarênicos e Argisolos Vermelho - Amarelo. Savana: Florestada e
Gramíneo Lenhosa e Transição Savana/Floresta Ombrófila.

Rio Xingu Pfl AM


Planície Flúvio- Lagunar do Amazonas
Pfl AM - Planícies fluviais inundáveis, alagadiços, terraços e lagoas Sedimentos aluviais. Gleissolos e Neossolos Fluvicos
Formações Pioneiras fluviais arbustivas e herbáceas

Guarantã
Vila
do Norte
10°S

10°S

Rica Localização
Matupá Peixoto de 60°W 45°W
Azevedo Rio Araguaia
Santa
Confresa Terezinha
Porto

São José 0°
Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte

TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
60°W 45°W
Sorriso
Querência
Nova Sub bacia
Ubiratã do Rio Von Rio Ribeirão
den Steinen Xingu Cascalheira
ARS
Gaúcha
Sub bacia do Norte 1:4.250.000
Sub bacia
do Rio do Rio Canarana
km
0 50 100 200 300
Ronuro Curisevo Paranatinga II
Sistema de Coordenadas Geográficas
Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Sub Água Boa


bacia do
Rio Culuene
Figura 3.3 – Sistemas de terreno
Paranatinga
Culuene Campinápolis
Planalto Nova
da Serra Xavantina
Nova
Brasilândia
GO Fontes: BDG ARCADIS Tetraplan, 2009
Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Departamento Nacional de
Produção Mineral. Projeto Radam, 1973.
Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil: Sistema de Informações
CUIABÁ Primavera Geográficas - SIG -
do Leste Acervo compilado a partir de arquivos digitais em diversas escalas e
formatos, submetidos a procedimentos
de generalização, filtragem e fusões digitais com adequações à
escala 1:1.000.000. Brasília. CPRM, 2004.
56°W 54°W 52°W 50°W ANEEL, 2008
Compilação de dados MMA e ICMBIO
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Unidades de Relevo e Tipos de Terrenos

Planalto dos Guimarães /Alcantilados: Rampas arenosas e Colinas amplas e


Rampas

Unidade de relevo que ocorre no extremo sul da Bacia Hidrográfica do rio Xingu e que abriga
as cabeceiras do rio Culuene, formador do rio Xingu, cujas nascentes encontram-se em
altitudes de 750 a 800 m, no divisor de água com o rio das Mortes e com o rio Teles Pires.

Dois tipos de terrenos foram diferenciados nessa unidade de relevo, ambos com encostas de
baixa inclinação: as Rampas arenosas em que predominam relevos de topo aplanado e as
Colinas amplas e Rampas que apresentam dissecação incipiente e relevos convexos de
baixa amplitude.

Esses terrenos são sustentados por rochas do embasamento cristalino do proterozóico


superior, e por rochas paleozóicas e mesozóicas da Bacia Sedimentar do Paraná. Essas
rochas são representadas pelas seguintes unidades litoestratigráficas: Formação Raizama,
Formação Furnas, Formação Ponta Grossa, Formação Aquidauana e Grupo Bauru. A
presença de sedimentos cenozóicos está associada principalmente às planícies fluviais.

As Rampas arenosas são terrenos planos e suave ondulados desenvolvidos sobre arenitos.
Predominam Neossolos Quartzarênicos Órticos em associação com Latossolos Vermelho-
Amarelos. Ocorrem ainda Argissolos Vermelho-Amarelos associados com Plintossolos
Argilúvicos e Cambissolos Háplicos. Em proporções pequenas, ocorrem Latossolos
Vermelhos e Gleissolos Háplicos.

As Colinas amplas e Rampas constituem terrenos suave ondulados a ondulados, pouco


dissecados, sustentados por folhelhos, siltitos e arenitos finos argilosos, onde ocorrem
predominantemente Argissolos Vermelho-Amarelos associados a Plintossolos Argilúvicos e
Neossolos Quartzarênicos Órticos. Latossolos Vermelho-Amarelos também ocorrem em
pequenas proporções.

Os Neossolos Quartzarênicos Órticos não são indicados para a lavoura devido as limitações
edáficas, a drenagem excessiva e a deficiência de bases trocáveis, podendo ser utilizados
para pastagem, embora ainda apresentem limitações relacionadas à susceptibilidade à
erosão, exigindo cuidados específicos.

Os Argissolos são indicados para uso com agricultura em geral, apresentando limitações nas
declividades mais acentuadas, entre 15 e 25% pela maior susceptibilidade à erosão e pela
deficiência nas bases trocáveis.

Os Latossolos apresentam aptidão agrícola boa para lavoura, com limitações relacionadas à
drenagem excessiva e deficiência em bases trocáveis. O clima não aparece como fator
restritivo e quanto ao relevo as limitações são ligeiras, pela ocorrência de declividades entre
5% e 15%.

Os Cambissolos apresentam aptidão boa para culturas permanentes, em especial com


fruticultura, ou então para a silvicultura, em função da ocorrência de relevo com declividades
elevadas.

ARCADIS Tetraplan 36
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

A deficiência de água, a estrutura fraca, a textura arenosa, a drenagem deficiente, o gradiente


textural e o baixo teor de bases trocáveis, dos solos destes dois tipos de terreno, são
limitações que, associadas à alta susceptibilidade a erosão e a arenização, favorecem a sua
utilização para abrigo e proteção da fauna e da flora silvestre.

Esses terrenos apresentam baixo potencial mineral, bem como baixa probabilidade de
ocorrência de cavernas, pois embora os arenitos sejam rochas favoráveis à formação destas
feições pseudocársticas, o relevo plano inibe o seu desenvolvimento.

Depressão do Alto Araguaia / Tocantins: Rampas e Morros residuais tabulares

Ocupa uma pequena área na parte sul da Bacia Hidrográfica do rio Xingu, onde estão
alojadas as nascentes do rio Sete de Setembro, um dos seus formadores.

As nascentes estão em altitudes de 380 – 400 m, associadas a área alagadiça (águas


emendadas), onde também nasce o rio Areões, afluente do rio das Mortes, nas proximidades
da localidade de Água Boa.

Dois tipos de terrenos foram diferenciados nessa unidade de relevo: as Rampas com
encostas de baixa inclinação em que predominam relevos de topo aplanado, e os Morros
residuais tabulares que são limitados por escarpas e apresentam topos aplanados ou com
dissecação incipiente.

Esses terrenos são sustentados por rochas do embasamento cristalino do proterozóico


superior e por rochas paleozóicas da Bacia Sedimentar do Paraná, representadas pelas
unidades litoestratigráficas Formação Diamantino, Formação Furnas e Formação Ponta
Grossa. A presença de sedimentos cenozóicos associa-se às planícies fluviais.

As Rampas são terrenos planos e suaves ondulados sustentados por folhelhos e siltitos
micáceos, com finas intercalações de arenitos arcoseanos, O solo predominante é o
Argissolo Vermelho-Amarelo que se associa com Latossolo Vermelho-Amarelo. Seguem-se
Cambissolos Háplicos e Plintossolos Pétricos Concrecionários, associados a Neossolos
Litólicos. Os Cambissolos Háplicos desta unidade de relevo possuem caráter distrófico
indicativo de baixa saturação por bases trocáveis e textura média que, pode condicionar
deficiência hídrica às culturas nas épocas mais secas do ano.

Os Morros residuais tabulares são terrenos que se destacam pela sua amplitude e pela
presença de topos aplanados limitados por escarpas sustentadas por arenitos médios a
grossos, ortoquartziticos e feldspáticos, com lentes de conglomerados e de siltitos argilosos.

Nessa unidade predominam nos topos Latossolos Vermelho-Amarelos em associação com


Neossolos Quartzarênicos Órticos. Nas escarpas, ocorrem Plintossolos Pétricos
Concrecionários, associados a Neossolos Litólicos e Plintossolos Argilúvicos.

Os Argissolos Vermelho-Amarelos e os Latossolos, predominantes nas Rampas e nos topos


dos Morros, são aptos para agricultura, sem limitações quanto ao clima e relevo, mas com
limitações quanto à baixa disponibilidade de bases trocáveis e ao caráter álico do solo.

Nas escarpas as terras são aptas para a utilização como abrigo e proteção da fauna e da
flora silvestre. Os solos apresentam alta susceptibilidade à erosão laminar e em sulcos,

ARCADIS Tetraplan 37
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

problemas de toxidez por alumínio, além de baixa profundidade efetiva e ocorrência de


afloramentos rochosos.

Os Morros residuais tabulares apresentam alto potencial para a ocorrência de abrigos e


cavernas, devido à presença de arenitos e de relevos de escarpas que favorecem a formação
de feições pseudocársticas. Esses terrenos apresentam baixo potencial mineral.

Depressão de Paranatinga: Rampas arenosas, Rampas e Colinas amplas,


médias e Rampas

Essa Unidade de relevo compreende uma depressão interplanáltica ampla, com altitudes de
450 a 680 m, na qual estão inseridas as nascentes do rio Cuiabá (Bacia do rio Paraná), do rio
Teles Pires (Bacia do rio Tapajós) e dos rios Ronuro, Tamitatoala ou Batovi e Curisevo, da
Bacia do rio Xingu.

Os afluentes do Xingu nesse compartimento, formam “perces” que fazem recuar os relevos
escarpados que limitam o Planalto dos Parecis / Alto Xingu.

Três tipos de terrenos foram diferenciados nessa unidade, todos com encostas de baixa
inclinação: Rampas arenosas, que se associam relevos de topo aplanado, Rampas e as
Colinas amplas, médias e Rampas onde se associam relevos com dissecação incipiente em
topos convexos de baixa amplitude. Associa-se a esses terrenos morrotes e morros residuais
tabulares que, por suas dimensões, não foram individualizados.

Esses terrenos são sustentados por rochas do embasamento cristalino do proterozóico


superior, representado pela Formação Raizama, de ocorrência restrita, e pela Formação
Diamantino predominante. Intrusões kimberlíticas mesozóicas ocorrem, cortando essas
rochas e, embora não condicionem terrenos específicos, são responsáveis pelo seu potencial
mineral(diamantes). Na região têm-se ainda rochas sedimentares mesozóicas representadas
pela Formação Parecis, e sedimentos cenozóicos associados principalmente às planícies
fluviais, e as coberturas detrito-lateriticas que afloram sobre os morrotes e morros residuais.

Rampas arenosas são terrenos suave ondulados que ocorrem na cabeceira dos rios Ronuro,
Jatobá, Curisevo. Esses terrenos são sustentados por arenitos finos a médios, feldspáticos
com níveis de arenitos grossos, conglomeráticos e lentes de argilitos e siltitos (Formação
Parecis) sobre os quais se desenvolvem Neossolos Quartzarênicos Órticos, associados com
Latossolo Vermelho-Amarelo e Latossolo Vermelho-Escuro.

Na região de Paranatinga predominam Argissolos Vermelho-Amarelos, seguidos de


Cambissolos Háplicos. Em menores proporções ocorrem Plintossolos Pétricos
Concrecionários, Neossolos Litólicos e Neossolos Quartzarênicos Órticos com caráter álico.

Nesses terrenos as terras são aptas para pastagens e apresentam deficiências de nutrientes,
caráter álico Apresentam também suscetibilidade à erosão e risco de arenificação. Têm baixa
capacidade de retenção de umidade e de fertilizantes aplicados.

Rampas também são terrenos suave ondulados, sustentados por arenitos da Formação
Parecis que ocorrem nas cabeceiras do rio Ronuro. Esses terrenos diferenciam-se pela
presença de Latossolos Vermelho-Amarelos com Neossolos Quartzoârenicos órticos.

ARCADIS Tetraplan 38
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

As terras são aptas para a agricultura e pastagem mas necessitam de práticas


complementares de melhoramento correção e adubação. Os solos são profundos com boas
características físicas e não apresentam restrições para a mecanização. Apresentam,
entretanto, baixa fertilidade e problemas de toxidez por alumínio.

As Colinas amplas, médias e Rampas são terrenos suaves ondulados a ondulados, pouco
dissecados, que se desenvolvem sobre folhelhos e siltitos micáceos, com finas intercalações
de arenitos arcoseanos (Formação Diamantino) e de modo restrito em arenitos finos a
médios, com níveis de arenitos grossos, seixos e siltitos (Formação. Raizama).

Nesses terrenos predominam Cambissolos Háplicos, associados com Argissolos Vermelho-


Amarelos. Em pequenas proporções, em associação com os Cambissolos e Argissolos,
ocorrem Plintossolos Pétricos Concrecionários, Neossolos Litólicos e Latossolos Vermelho-
Amarelos.

As limitações presentes se relacionam com atributos do relevo e do solo. Com relação ao


relevo, na maior parte da área as limitações são de grau ligeiro ou moderado, com
declividades entre 5% e 15% e 15% e 25%, respectivamente. Nos morrotes e morros
residuais que se associam a esses terrenos, no entanto, a limitação ao uso em função do
relevo é de grau muito forte, em virtude da ocorrência de declividade muito elevadas,
superiores a 30%.

As Rampas arenosas e as Colinas amplas, médias e Rampas, na cabeceira dos rios Jatobá,
Tamitatoala ou Batovi e Coliseu, em conseqüência da presença de intrusões kimberliticas,
nas rochas da Formação Diamantino, apresentam potencial para a ocorrência de diamantes,
que vem sendo explorados em garimpos nos cascalhos fluviais. O restante desse
compartimento apresenta baixo potencial mineral, bem como baixa probabilidade de
ocorrência de cavernas, pois o relevo plano inibe o seu desenvolvimento.

Planalto dos Parecis / Alto Xingu: Rampas do reverso da escarpa e Rampas


detrito-lateriticas

Essa unidade de relevo é limitada a sul por uma escarpa transposta em vários pontos pelos
afluentes do rio Xingu, que se superpõem formando vales muito encaixados. A leste, essa
escarpa sustenta o divisor de águas rio Xingu – rio Araguaia e constitui a Serra do Roncador.
No reverso dessas escarpas, em altitudes de 480 - 520 m desenvolve-se relevo de rampas
com caimento para norte, atingindo, no limite da unidade, altitudes de 320–350 m.

O limite norte dessa unidade é marcado por um estreitamento significativo da Bacia


Hidrográfica do rio Xingu, de direção leste/oeste, ao qual se associa a cachoeira de Von
Martius, que define uma mudança significativa na forma das planícies fluviais do rio Xingu e
de seus afluentes, coincidindo com o contato entre as coberturas detrito-lateríticas e as
rochas do embasamento cristalino.

Essa unidade de relevo apresenta grande homogeneidade, caracterizada pelo predomínio de


formas de relevo de topo subhorizontal, levemente dissecadas, com encostas de baixa
inclinação. Contudo, diferenças no substrato rochoso e no tipo de vegetação associado
levaram à diferenciação de dois tipos de terrenos: Rampas do reverso da escarpa e as
Rampas detrito-lateriticas.

ARCADIS Tetraplan 39
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Esses terrenos são sustentados por rochas do paleoproterozóico da Suíte Colider; rochas
paleozóicas e mesozóicas da Bacia Sedimentar do Paraná, representadas pela Formação
Ponta Grossa e Formação Parecis; por coberturas detrito-lateríticas cenozóicas, onde se
diferenciam as de idade paleogênica que ocorrem no divisor de águas Xingu – Rio Verde, e
as neogênicas, denominada de Formação. Araguaia que são predominantes. Ocorre ainda
ampla sedimentação aluvial que entulha a calha dos rios nesse compartimento.

As Rampas do Reverso da escarpa compreendem a escarpa e as rampas do seu reverso


sustentados por: arenitos finos a médios, feldspáticos, com níveis de arenitos grossos,
conglomeráticos e lentes de argilitos e siltitos da Formação Parecis; folhelhos, siltitos e
arenitos finos argilosos da Formação Ponta Grossa e por sedimentos argilo-arenosos com
blocos e nódulos de concreções lateriticas e níveis de seixos de quartzo, que por vezes
recobre horizonte de argila mosqueado de idade paleogênica.

Os Latossolos Vermelho-Amarelos são os solos predominantes, podendo aparecer em


associação com Plintossolos Pétricos Concrecionários e Neossolos Quartzarênicos Órticos,
todos em relevo plano ou ainda suave ondulado.

As Rampas detrito-lateriticas são terrenos planos e suave ondulados que se desenvolvem


sobre silte, areia siltosa, argilas e conglomerados com seixos angulosos; total ou
parcialmente laterizados da Formação Araguaia.

Nas Rampas detrito-lateriticas e Rampas do reverso da escarpa, na área associada aos


Latossolos e Argissolos, as terras são consideradas aptas para agricultura, apresentando
limitação quando a fertilidade e a estrutura e textura do horizonte B.

Nos interflúvios amplos deste tipo de terreno, associado à margem direita do Rio Xingu,
predominam Latossolos Vermelho-Amarelos. Nesta posição, associados aos Latossolos
Vermelho-Amarelos descritos, ocorrem Neossolos Quartzarênicos Órticos. À margem
esquerda e mais ao sul desse tipo de terreno, é maior a densidade de drenagem.

Nos locais associados aos formadores do Rio Xingu, repete-se o padrão de ocorrência de
Latossolos Vermelho-Amarelos. Já mais próximo aos encaixes da drenagem, voltam a
ocorrer Latossolos Vermelho-Amarelos, associados a Latossolos Vermelhos e Neossolos
Quartzarênicos Órticos. Outra classe de solos de ocorrência na unidade corresponde aos
Plintossolos Argilúvicos.

Os Neossolos Quartzarênicos associados aos Latossolos apresentam grau muito forte de


restrição ao uso agrícola, com baixa fertilidade do solo, pequena capacidade de retenção de
água e moderada a alta susceptibilidade à erosão. São aptos para uso com pastagens.

Nos Morrotes e Morros residuais sustentados por rochas vulcânicas e subvulcânicas da Suíte
Colider, a noroeste da unidade, ocorrem Argissolos Vermelho-Amarelos em associação com
Plintossolos Argilúvicos e com Neossolos Litólicos. Outros solos correspondem aos
Plintossolos Pétricos em associação com Neossolos Litólicos.

Os Argissolos Vermelho-Amarelos dos relevos residuais apresentam aptidão regular e boa


para pastagem e silvicultura, sendo restritos ou regulares para culturas anuais e perenes.

ARCADIS Tetraplan 40
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Esses terrenos apresentam baixo potencial mineral, havendo uma alta probabilidade de
ocorrência de abrigos e cavernas nas escarpas associadas aos terrenos Rampas do reverso
da escarpa, devido à presença de arenitos que favorecem à formação destas feições
pseudocársticas.

Depressão da Amazônia Meridional: Colinas e Rampas pedimentares

Essa unidade de relevo constitui uma superfície de aplanamento que se estende desde a
cachoeira de Von Martius, onde as altitudes variam entre 380 a 430 m, e cai para norte
atingindo altitudes de 150 a 200 m na região de Volta Grande. Associados a essa unidade
ocorrem extensos relevos residuais que formam o Planalto Residual do Amazonas.

Nessa unidade de relevo foi diferenciado apenas um tipo de terreno, onde se associam
relevos com encostas de baixa inclinação, com dissecação incipiente em topos convexos de
baixa amplitude e relevos de topos planos denominado Colinas e Rampas pedimentares.

Esses terrenos são constituídos por rochas do embasamento cristalino, do Craton


Amazônico, de idade arqueana e paleo proterozóica, associadas às províncias
geocronológicas Amazônia Central e Maraoni-Itacaiunas.

Colinas e Rampas pedimentares são terrenos suave ondulados, onde predominam formas
colinosas de baixa amplitude que se associam a rampas pedimentares formadas no sopé dos
relevos residuais. Esses terrenos são sustentados por rochas ígneas e metamórficas de
diferente composição, mas que foram igualmente arrasadas pelos processos de
aplanamento.

Nesses terrenos predominam Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos. Associados a estes,


ocorrem Argissolos Vermelho-Amarelos Eutróficos, Latossolos Vermelho-Amarelos e
Neossolos Litólicos. Em pequenas proporções, ocorrem Plintossolos Pétricos, Cambissolos
Háplicos com caráter álico e afloramentos rochosos.

Os Argissolos Vermelho-Amarelos dominantes (Distróficos, de textura média e argilosa e


relevo suave ondulado) são solos bastante susceptíveis à erosão laminar e em sulcos, mas
com bom potencial para uso agrícola, necessitando apenas de correção dos níveis de
nutrientes e da acidez do solo, com adubação e calagem e práticas específicas para controle
de erosão.

Os Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos textura média/ argilosa relevo suave ondulado


ocorrem em menor proporção e apresentam maiores restrições ao uso agrícola aptidão
regular para pastagem e boa para silvicultura.

Esses terrenos apresentam potencial mineral baixo, havendo possibilidade de ocorrência de


veios de quartzo aurífero no Complexo Xingu e de cobre no Granodiorito Rio Maria. À
exceção dessas situações, as Colinas e Rampas pedimentares apresentam baixo potencial
mineral, bem como baixa probabilidade de ocorrência de cavernas, pois o relevo plano e as
rochas inibem o desenvolvimento dessas feições.

Planalto Residual da Amazônia: Morrotes, Morros e Serras residuais e Morros e


Serras residuais tabulares.

ARCADIS Tetraplan 41
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Unidade de relevo que, juntamente com a Depressão da Amazônia Meridional, abriga as


bacias do médio rio Xingu e seus afluentes Iriri, Fresco e Bacajá.

É constituída por relevos residuais de diferentes dimensões, com altitudes variáveis de 500 a
750m, e por amplitudes de 150 a 300m em relação aos terrenos adjacentes. As diferentes
formas de relevo residuais foram agrupadas em duas unidades de terreno os Morrotes,
Morros e Serras residuais e os Morros e Serras residuais tabulares.

Esses terrenos são constituídos por rochas do embasamento cristalino, do Craton


Amazônico, de idade arqueana e paleo proterozóica, associadas às províncias
geocronológicas Amazônia Central (> 2,5 Ga), Maraoni-Itacaiunas (2,2 a 1,9 Ga) e Ventuari –
Tapajós (1,9 a 1,8 Ga).

Os Morrotes, Morros e Serras residuais, são terrenos constituídos por morrotes residuais
isolados, com topos convexos e amplitudes de 30 a 50 m, que podem formar agrupamentos,
até grandes conjuntos de morros com topos convexos estreitos muito dissecados, vales
encaixados e encostas com alta inclinação, formando serras tais como: dos Gradaus, do
Gorotire, da Fortaleza, dos Carajás, do Bacajá e do Cerrado, entre outras.

Devido à complexidade do substrato rochoso dessa região, os relevos residuais são


sustentados por diversos tipos litológicos, predominando os termos mais resistentes com
relação às rochas circundantes, como é o caso das intrusões de granitos alcalinos e
subalcalinos anorogênicos, que predominam nesses terrenos.

Ocorrem Neossolos Litólicos associados a Afloramentos de Rochas, podendo ainda haver


associações com Argissolos Vermelho Amarelo e Cambissolos Háplicos.

Esses terrenos apresentam potencial mineral restrito, excetuando-se quando da presença de


granitos alcalinos e subalcalinos anorogênicos mineralizados, como a Suíte Parauari e o
Granito Velho Guilherme. O potencial para ocorrência de abrigos e cavernas é considerado
médio pois, embora o relevo favoreça a sua formação, há limitações devido ao tipo de
substrato rochoso, que permitiria a formação dessas feições em áreas de depósitos de
matacões (corpos de tálus), no sopé de encostas íngremes e escarpadas.

Os Morros e Serras residuais tabulares são terrenos que apresentam topos aplanados
circundados por escarpas íngremes, podendo em alguns casos apresentar topos tabulares
circundados por morros fortemente dissecados, como no caso das serras de Murure, da Casa
de Pedra, da Seringa, do Pardo dos Cubencranquem e da Chapada do Cachimbo. Esses
terrenos de modo geral estão associados a ortoquartzitos, arenitos, metarenitos,
metarcóseos, grauvaca, calcedonitos e calcários do Grupo Beneficiente, da Formação
Gorotire e da Formação Cubencraquem, como também a rochas vulcano-sedimentares do
Grupo Grão Pará, e das seqüências greenstones do Super Grupo Andorinhas e Serra do
Inajá.

Os solos que caracterizam os Morrotes, Morros e Serras residuais e os Morros e Serras


residuais tabulares são geralmente rasos, apresentam baixa fertilidade, problemas de toxidez
por alumínio, baixa capacidade de retenção de umidade, e alta susceptibilidade a erosão
hídrica e a movimentos de massa. Essas limitações, associadas às características do relevo
forte ondulado e escarpado, definem a aptidão desses terrenos para abrigo e proteção da
fauna e da flora e apresentam muitas vezes, restrições legais para uso.

ARCADIS Tetraplan 42
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Planalto Marginal do Amazonas: Colinas amplas e médias

A Unidade de relevo Planalto Marginal do Amazonas compreende uma faixa alongada de


direção ENE, com altitudes de 250 a 300 m, que constitui o divisor de águas do baixo rio
Xingu e de seu afluente rio Jarauçu. Essa unidade de relevo limita a ria que constitui o trecho
inferior do Rio Xingu, a jusante da Volta Grande.

Um único tipo de terreno foi diferenciado, denominado Colinas amplas e médias,


caracterizado por apresentar fraca dissecação em topos convexos, baixa amplitude e
encostas de baixa a média inclinação, que se associam a feições cuestiformes.

Esses terrenos são sustentados por rochas sedimentares paleozóicas e ígneas mesozóicas
da Bacia Sedimentar do Amazonas, representadas pela Formação Trombetas, Formação
Ererê, Formação Curuá, Formação Monte Alegre e Diabásio Penatecaua e sedimentos
cenozóicos associados às planícies fluviais.

As Colinas amplas e médias são terrenos suave ondulados a ondulados dissecados que se
desenvolvem sobre arenitos, siltitos, folhelhos, diamictitos e basaltos. Nesse tipo de terreno
predominam associações de Latossolos Amarelos Distróficos e Argissolo Vermelho–Amarelo.
Seguem-se Nitossolos Vermelhos Eutroférricos, associados a Chernossolos Argilúvicos e
Latossolos Vermelhos Eutróficos.

As terras apresentam aptidão regular para a agricultura e pastagem mas necessitam de


práticas complementares de melhoramento, correção e adubação. Ressaltam-se os
Nitossolos Vermelhos, que apresentam aptidão boa a regular para culturas de ciclo longo e
regular para culturas de ciclo curto nos sistemas de manejo primitivo e desenvolvido sem
irrigação.

Esses terrenos apresentam baixo potencial mineral, mas têm alta probabilidade de ocorrência
de abrigos e cavernas devido à presença de escarpas associadas aos arenitos (Formação
Manacapuru) do Grupo Trombetas.

Depressão do Amazonas: Rampas de platô com lateritas e Colinas e Rampas

A Unidade de relevo que apresenta altitudes de 50 a 200 m, abriga a Bacia do rio Jarauçu e o
curso inferior do rio Xingu, que se constitui uma ria com encostas íngremes e com cerca de
120 quilômetros de extensão.

Nessa unidade de relevo foram diferenciados dois tipos de terrenos, todos com encostas de
baixa inclinação: Rampas de platô com lateritas, que se associam relevos de topo aplanado e
as Colinas e Rampas, onde se associam relevos com dissecação incipiente em topos
convexos de baixa amplitude e relevos de topos planos.

Esses terrenos são sustentados por rochas sedimentares mesozóicas representadas pela
Formação Alter do Chão, e sedimentos cenozóicos associados principalmente às coberturas
detrito-lateríticas do Terciário inferior, e as planícies fluviais.

Rampas de plato com lateritas são terrenos planos e suave ondulados, delimitados por
encostas íngremes que ocorrem margeando o rio Jarauçu. Esses terrenos se desenvolvem
sobre sedimentos detritico-lateríticos, constituídos por silte, areia siltosa, argilas e

ARCADIS Tetraplan 43
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

conglomerados com seixos angulosos; total ou parcialmente laterizados, e sobre quartzo-


arenitos, arenitos argilosos, argilitos, quartzo-grauvacas e brechas intraformacionais, da
Formação Alter do Chão, que sustentam as encostas íngremes.

Nesses terrenos predominam Latossolo Amarelo associado ao Plintossolo Pétrico


Concrecionário.relevo ondulado a forte ondulado com áreas aplanadas.

As terras têm aptidão restrita a regular para a agricultura e pastagem e necessitam de


práticas complementares de melhoramento correção e adubação. Potencial mineral para
bauxita, associada às coberturas detritico-lateritica.

As Colinas e Rampas são terrenos suave ondulados a ondulados, pouco dissecados, que se
desenvolvem sobre quartzo-arenitos, arenitos argilosos, argilitos, quartzo-grauvacas e
brechas intraformacionais, da Formação Alter do Chão, sobre os quais se desenvolvem
Latossolos Amarelos distrófico textura muito argilosa, relevo plano. Também ocorrem
Latossolos Amarelos Distróficos textura média, em associação com Plintossolos Pétricos
Concrecionários Distróficos, ambos relevo suave ondulado a ondulado.

A classificação da aptidão agrícola do Latossolo Amarelo Distrófico textura muito argilosa


(dominante) é indicativa de aptidão restrita para culturas anuais e perenes no sistema de
manejo primitivo e aptidão regular para culturas anuais e perenes no sistema desenvolvido
sem irrigação.

Esses terrenos apresentam potencial mineral para bauxita (Rampas de Platô com laterita), e
baixa probabilidade de ocorrência de cavernas, pois o relevo plano inibe o seu
desenvolvimento.

Planície Flúvio - Lagunar do Amazonas: Planície Fluvial do Rio Amazonas

Essa unidade é constituída por sedimentos aluviais de composição variada ocorrendo argilas,
silte, areias e cascalhos, com predomínio de sedimentos finos nas áreas alagadiças.

A planície fluvial do Rio Amazonas é formada pela planície alagada e pela planície de
inundação. A primeira, corresponde às porções que se mantém submersas mesmo nos
períodos de estiagem, formando brejos, alagadiços e lagos, enquanto que a segunda,
corresponde às áreas que são alagadas apenas no período das enchentes.

A planície do rio Amazonas, nesse trecho próximo ao rio Xingu, chega a ter quase 40
quilômetros de largura sendo caracterizada pela presença de ilhas, paranás, furos, lagos,
diques aluviais, cordões fluviais do tipo slikke e schorre, praias, canais anastomosados,
meandros abandonados, além de feições mais comumente associadas com o período das
enchentes como os igapós, que correspondem a trechos de florestas que ficam inundadas
durante as enchentes.

Outras feições associadas ao sistema fluvial do Rio Amazonas são os rios afogados, também
denominados: rios - lagos, baia de embocadura, rias fluviais e/ou rias interiores, cuja origem
tem sido atribuída aos efeitos da Transgressão Flandriana e também aos efeitos da tectônica
recente que afeta a região.

ARCADIS Tetraplan 44
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Nesse compartimento tem-se a foz do rio Xingu, que é caracterizada por uma série de ilhas,
que se desenvolvem após o barramento da ria, que constitui seu trecho inferior, e a foz de
seu afluente da margem esquerda, o rio Juraçu, que forma um delta com inúmeros canais
dentro da ria.

Essas feições permitiram a identificação dos seguintes tipos de relevo: Planícies fluviais
alagadas com lagoas e alagadiços perenes; Planícies fluviais e baixos terraços com lagoas e
inundações periódicas; e Planícies fluviais inundáveis, planícies de inundação com furos,
paranás, igarapés, canais abandonados, diques e lagoas, que constituem o tipo de terreno
denominado Planície flúvio-lagunar.

Nesses terrenos predominam Gleissolos Háplicos Eutróficos associados a Neossolos


Flúvicos. Em menores proporções ocorrem Plintossolos Argilúvicos e Neossolos Litólicos,
associados a Gleissolos Háplicos

Os Gleissolos Háplicos apresentam aptidão restrita para culturas de ciclo curto e ciclo longo
no sistema de manejo primitivo, e aptidão restrita para cultura de ciclo curto e classe inapta
para cultura de ciclo longo no sistema de manejo desenvolvido sem irrigação. Os Neossolos
Litólicos são inaptos para uso agrícola e pastoreio intensivo nos sistemas de manejo primitivo
e desenvolvido sem irrigação.

Por apresentar inundações freqüentes esses terrenos apresentam fortes restrições a


ocupação antrópica intensiva, sendo comumente utilizado para atividades sazonais como a
agricultura de subsistência e a pecuária em pastagem natural.

Planícies Fluviais: Planícies Fluviais do rio Xingu e afluentes

Esses relevos acumulativos associados aos principais rios da Bacia Hidrográfica do rio Xingu
constituem um tipo de terreno específico, que intercepta os demais tipos de terreno e se
caracterizam pelo predomínio de feições de sedimentação associadas aos processos erosão
e de deposição fluvial.

São terrenos constituídos por sedimentos aluviais de composição variada ocorrendo: argilas,
silte, areias e cascalhos, com predomínio de sedimentos finos e matéria orgânica nas áreas
alagadiças.

O tipo de terreno Planícies Fluviais engloba as seguintes formas de relevo: Terraços fluviais
com aluviões delgados, Terraços fluviais com lagoas, Terraços e Planícies fluviais com
inundações periódicas com canais abandonados e alagadiços, Planícies fluviais com
inundações periódicas e com alagadiços.

Esses terrenos compreendem além das formas de deposição aluvial o canal fluvial que pode
estar encaixado em aluviões, onde geralmente é mais sinuoso, ou em rocha quando
desenvolve rápidos, corredeiras e cachoeiras.

Nesses terrenos predominam associações de Gleissolos Háplicos e Neossolos Fluvicos,


ocorrendo também extensos afloramentos rochosos ao longo do canal e das margens. Esses
solos apresentam aptidão restrita para agricultura e pastoreio.

ARCADIS Tetraplan 45
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Por serem áreas freqüentemente inundadas apresentam limitações a ocupação, que de modo
geral provocam problemas de assoreamento dos canais e das planícies fluviais, além de
problemas de contaminação das águas. Nessa unidade situam-se áreas potenciais para
aproveitamento de areia e argila para construção civil, como pode ser verificado no Município
de Altamira.

Aspectos da Dinâmica Superficial

As condições climáticas da Bacia Hidrográfica do rio Xingu apresentam diferenças que variam
de sul para norte, e que se refletem também no regime hidrológico. No médio curso região de
São Felix, o período de chuva corresponde aos meses de outubro a maio, e o período seco
aos meses de junho a setembro. Na região de Altamira o período chuvoso ocorre entre
dezembro e abril e o período seco de julho a novembro. No baixo curso, região de Porto de
Moz, o período de chuva se dá nos meses de março a maio, e o período seco entre agosto e
dezembro.

Essa situação mostra uma marcha das chuvas de sul para norte, que se inicia em outubro
(São Felix do Xingu) e se estende para norte, até maio (Porto de Moz), provocando um atraso
de até dois meses no período chuvoso, o que favorece a ocorrência de grandes deflúvios nos
trechos do médio e baixo curso do rio, que vão ocorrer entre fevereiro e abril em São Felix, e
entre março e maio em Altamira.

A sazonalidade climática da área faz com que se tenha um período de maior atividade
morfogenética durante o período chuvoso, quando a remoção de detritos e a carga de
material em suspensão é mais significativa, e um período de menor atividade, associado à
época seca quanto à erosão e ao transporte fluvial.

Embora se verifique sazonalidade na atividade morfogenética da região, esta é condicionada


pela elevada pluviosidade, que varia de 2050 a 2380 mm por ano, e que favorece a
ocorrência de processos erosivos associados ao escoamento das águas pluviais e fluviais,
nos relevos mais suaves da Depressão Amazônia Meridional, do Planalto Marginal do
Amazonas e da Depressão do Amazonas, e a ocorrência de movimentos de massa nos
relevos mais ondulados e íngremes do Planalto Residual do Amazonas.

Os terrenos mais suaves e menos sensíveis à interferência antrópica da área são


representados pelas Colinas de cimeira; Rampas de platô com lateritas e Colinas e Rampas
pedimentares.

Esses terrenos, embora apresentem diferenças de forma e amplitude, têm encostas com
inclinação bastante semelhante, que se reflete no predomínio de vales abertos e erosivos
com talvegues superficiais e canais em rocha. Reflete-se também em ocorrência de
processos erosivos do tipo erosão laminar, erosão em sulcos ocasionais e de baixa
intensidade dinâmica. Essas características tornam esses relevos pouco susceptíveis à
ocupação antrópica.

As Colinas de cimeira e as Rampas de platô com lateritas ocorrem nos grandes divisores de
água.

Nos relevos de Colinas amplas e médias e de Colinas e Morrotes que constituem os terrenos
Colinas e Rampas pedimentares, a presença de vales abertos e erosivos com talvegues

ARCADIS Tetraplan 46
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

entalhados e encostas mais íngremes, favorece a ocorrência de um entalhe fluvial mais


efetivo, de processos de rastejo e de pequenos escorregamentos, associados a setores de
encostas mais inclinadas, porém localizados e de baixa intensidade.

A interferência antrópica nesses relevos pode alterar os processos superficiais devido à


remoção da cobertura vegetal e do solo superficial argiloso e/ou argilo-arenoso e à exposição
do horizonte de solo de alteração ou de rocha alterada à ação das águas pluviais. Estas
ações acabam provocando aumento em intensidade e freqüência de ocorrência dos
processos, como por exemplo formação de ravinas profundas associadas a drenos das
estradas, que assoreiam os canais fluviais, aumentando a carga de transporte dos rios.

Os terrenos mais enérgicos da região são representados pelos Morrotes, Morros e Serras
residuais e Morros e Serras residuais tabulares, que se caracterizam por apresentar
amplitudes médias e altas, associadas a encostas íngremes e escarpadas, que formam vales
encaixados e muito encaixados, erosivos, com talvegues entalhados com canais em rocha e
blocos, e escoamento torrencial nas escarpas.

Esses terrenos, em condições naturais, apresentam processos de rastejo, escorregamentos e


quedas de blocos nas encostas e escarpas rochosas, ocasionais e de média intensidade, que
geralmente são intensificados devido ao desmatamento, a implantação de vias de acesso, a
mineração predatória e a implantação de pastagens. Esses terrenos, muito susceptíveis à
ocupação antrópica, devem apresentar problemas de estabilidade devido a setores de
encostas mais íngremes.

As Planícies fluviais e a Planície Flúvio-Lagunar do Amazonas são terrenos em que


predominam processos de deposição e erosão associados à ação dos canais fluviais, sendo
que a Planície Flúvio-Lagunar do Amazonas tem sua dinâmica associada aos processos
fluviais de grande magnitude do Rio Amazonas.

As Planícies fluviais dos rios da Bacia Hidrográfica do rio Xingu acabam por sofrer grandes
alterações quando as atividades antrópicas nos terrenos adjacentes aceleram processos de
erosão e sedimentação, com assoreamento significativo dos canais fluviais, lagoas e da
vegetação ciliar.

O aumento de volume do produto da erosão superficial e do entalhe fluvial dos canais, acaba
sendo incorporado à carga de sedimentos em suspensão da rede de drenagem que flui para
o rio Xingu, vindo progressivamente alterar as taxas de sedimentação na bacia.

A dinâmica superficial dos relevos que caracterizam a região é conduzida basicamente pela
ação fluvial, que entalha e transporta sedimentos produzidos para o rio Xingu, porém numa
situação de equilíbrio, onde os canais estão ajustados a declividades das encostas e não se
observam processos erosivos intensos.

No estado atual de ocupação desse trecho da Bacia do Rio Xingu ocorre uma baixa
intensidade e freqüência de processos erosivos nas encostas, sugestivo de uma baixa taxa
de transporte fluvial. No entanto se observa que o padrão morfológico do rio Xingu (meandros
divagantes, anastomosados e entrelaçado), sugerem, segundo MOLLARD (1973), uma
elevada porcentagem de carga de fundo com relação a carga total transportada.

ARCADIS Tetraplan 47
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Esse aspecto, embora seja contraditório com relação aos dados apresentados por
FILLIZOLA, (1999), indica que se deve considerar que a carga sedimentar deve ser
constituída por material de fundo, areias e cascalho fino que alimentam as barras
longitudinais e transversais que constituem a grande quantidade de ilhas e praias observadas
no Rio Xingu.

Embora a taxa de transporte de sólidos apresente variação significativa durante o ano, em


conseqüência dos meses de estiagem e das épocas de chuva, é importante assinalar que,
enquanto a taxa de transporte de sólidos em suspensão tende a diminuir significativamente
durante o período de estiagem, a taxa de transporte de fundo diminui, porém é um processo
que se mantém ativo durante todo ano, fornecendo areia e seixos pequenos para a
manutenção das barras.

Na análise das diferentes zonas da bacia hidrográfica do rio Xingu (SCHUMM, 1977),
constata-se que:

A Zona 1 (cabeceira), que deveria ser uma região de produção de sedimentos para a bacia, é
caracterizada pelo predomínio de canais aluviais com planícies largas e extensas, que
caracterizam os rios principais e pela presença de canais em rocha, erosivos nas cabeceiras
de drenagem. Tal situação sugere que devido o nível de base local representado pela
cachoeira de Von Martius, essa parte da bacia retém os sedimentos produzidos, contribuindo
para baixa carga de sedimentos verificada no rio Xingu.

A Zona 2 corresponde a uma área de transferência de detritos, onde a corrente move água e
sedimentos da Zona 1 para a Zona 3, ou seja, da zona de produção de detritos para a zona
de deposição. Esta situação reflete-se também nos afluentes de ambas as margens do rio
Xingu, cujas bacias caracterizam-se pela presença de canais em rocha, baixa incidência de
processos erosivos e ausência de planícies fluviais significativas, à exceção daquelas
condicionadas a soleiras litoestruturais e tectônicas, que também controlam os diferentes
setores de erosão e deposição no canal do rio Xingu.

Na Zona 3 que corresponde à zona de deposição, nota-se que a sedimentação mais


significativa é observada em Belo Monte e na Ilha Grande que forma um delta no início da
Ria, não havendo em superfície outras evidencias de sedimentação nesse trecho da bacia.

Essas características anômalas evidenciam o papel das estruturas neotectônicas no


condicionamento das formas de relevo, das feições de erosão e deposição fluvial, e que
acabam por interferir na dinâmica superficial da área de estudo.

Nesse sentido, a região de Volta Grande, que constitui um alto estrutural de orientação
noroeste, seria responsável pela retenção intensa de sedimentos na forma de ilhas e barras
no canal fluvial, a montante dessa estrutura, limitando o volume de sedimento transportado
para jusante desse trecho do rio.

Essa diminuição da carga transportada pelo rio, necessária para aumentar a capacidade
erosiva da corrente para vencer a soleira, determina um elevado potencial erosivo às águas
do Rio Xingu, nesse trecho, e que acaba por limitar o volume de sedimento depositado na
Zona 3 da bacia hidrográfica.

ARCADIS Tetraplan 48
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3.1.3. Biota Terrestre


A bacia hidrográfica do rio Xingu, que abrange cerca de 509.000 km², estende-se desde a
Região Centro-Oeste, no Cerrado, aproximadamente no paralelo 15º S, até o paralelo 3º S,
na Região Norte.

As características climáticas ditam em grande medida a organização da paisagem e, por


conseguinte, dos componentes bióticos. Assim, o predomínio do clima quente e úmido, com
sazonalidade pouco marcada, que caracteriza a maior parte da bacia, determina que a área
de estudo integre, em sua maior extensão, o bioma (ou domínio) Amazônico, o que responde
pela grande expressão das áreas ocupadas por florestas ombrófilas.

O bioma Amazônia abarca extensas áreas recobertas por formações florestais


estruturalmente complexas, às quais se associam encraves de cerrado ou savanas e de
campinaranas, entre outras feições vegetacionais presentes em pequena proporção, mas de
igual importância do ponto de vista ecológico.

Entretanto, a despeito de sua grande extensão e importância, há grandes lacunas de


conhecimento sobre sua composição biológica e seus processos ecológicos, já em parte sob
pressão de desflorestamento.

Embora essa bacia hidrográfica esteja predominantemente contida no bioma Amazônico, o


gradiente de temperaturas e principalmente de pluviosidade, decrescente em direção sul,
determina feições vegetacionais mais secas em direção às nascentes de seus formadores,
presentes no Estado de Mato Grosso. Dessa forma, em sua porção sul, a bacia hidrográfica
abarca parcialmente o bioma Cerrado (ou ambientes savânicos). São ambientes
floristicamente distintos e estruturalmente mais simples que as formações florestais, contendo
uma flora em grande parte endêmica, com forte xeromorfismo. Por serem ambientes abertos,
onde a insolação incide até o nível do solo, apresentam, de modo geral, um componente
herbáceo e arbustivo mais expressivo que o arbóreo, quando comparados às formações
florestais.

As características opostas entre os dois biomas determinam, ainda, uma complexa e extensa
faixa de transição entre ambos, que marca a porção centro-sul da área de estudo. Essa área
de transição compreende extensas formações florestais que recobrem o Planalto dos Parecis,
ao norte do Estado de Mato Grosso, em uma franja de contato entre florestas estacionais e
ombrófilas que marcam o limite com o Cerrado, atualmente sob intensa pressão de
ocupação.

O tamanho da área, per se, atua como importante fator de determinação da variedade de
ambientes e do número e abundância de espécies, influenciando grandemente a diversidade.
No caso da área de estudo, compreende variações latitudinais de 12º, o que dá a medida de
sua extensão, do gradiente latitudinal e das conseqüentes variações climáticas, mais um
importante fator que influencia a heterogeneidade ambiental.

É importante salientar, contudo, que diversos outros fatores influenciam a diversidade.


Grande parte das espécies é sensível à heterogeneidade ambiental decorrente do modelado
do terreno e conseqüentes variações altitudinais, de drenagem e de clima, bem como às
heterogeneidades de substrato, relativas a variações de solo e de disponibilidade hídrica,
aporte de nutrientes e produtividade. Na bacia hidrográfica do rio Xingu, essas

ARCADIS Tetraplan 49
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

heterogeneidades relacionadas à fisiografia podem ser esperadas, principalmente na região


do médio curso, marcada pela presença de morros residuais sobre a superfície deprimida da
Depressão da Amazônia Meridional.

Também o nível de maturação das comunidades tem reflexos na variedade fitogeográfica.


Nesse sentido, é importante ressaltar o histórico de pequenas perturbações naturais ou de
origem antrópica que contribuem para a diversificação de ambientes e, dessa forma, de
espécies e de estrutura, bem como o manejo “invisível”, pretérito e atual, das florestas e
demais formações vegetais amazônicas, realizado por populações indígenas, conforme
verificado entre os Kayapós, por exemplo (POSEY, 1984; ANDERSON e POSEY, 1985).

Na região de estudo, assim como na região amazônica de modo geral, também as


características da rede hidrográfica assumem importante papel como fator interveniente na
diversidade. Ambientes de interflúvios das áreas de terra firme alternam-se com ambientes
alagados durante as cheias e com aqueles que sofrem influência sazonal dos rios
periodicamente alagados. Formam-se, dessa maneira, gradientes de umidade com diferentes
níveis de restrição às espécies vegetais e animais, promovendo dissimilaridades entre as
florestas situadas nesses diversos compartimentos e, portanto, elevando a diversidade entre
hábitats (AMARAL, 1996 apud NELSON; OLIVEIRA, 2001).

A história evolutiva é outro fator a ser considerado. Há evidências de que a evolução


geológica promoveu o isolamento de partes da bacia amazônica durante a transgressão
marinha, em um padrão que coincide aproximadamente com regiões fitogeográficas
amazônicas (CAMPBELL e HAMMOND, 1988). De forma semelhante, sucessivas flutuações
climáticas com alternâncias de períodos frios e quentes, e com variações de pluviosidade,
marcaram a região amazônica e se refletiram na cobertura vegetal, levando a fragmentações
e posteriores expansões. Na área de estudo, encraves de Cerrado na floresta ombrófila
sugerem essas variações climáticas pretéritas.

Especificamente no que se refere à fauna, sabe-se que a região é um mosaico de distintas


áreas de endemismo separadas pelos principais rios, cada uma com suas próprias biotas e
relações evolutivas (SILVA et al., 2005). Estudos biogeográficos de vertebrados terrestres
(HAFFER, 1978, 1985, 1987; HAFFER e PRANCE, 2001; CRACRAFT, 1985) identificaram
sete áreas de endemismo para as aves de terras baixas, todas contidas nos distritos
biogeográficos propostos em 1852 por Wallace. Mais recentemente, Silva e colaboradores
(2002), baseados em novas informações sobre a distribuição e taxonomia de algumas aves,
sugeriram que a área de endemismo Pará é, na realidade, composta por duas áreas: Tapajós
e Xingu (Figura 3-4).

No que se refere à composição da herpetofauna, diversos estudos indicam a existência de


uma divisão leste/oeste na floresta amazônica (ÁVILA-PIRES, 1995; DUELLMAN, 1988;
SILVA e SITES, 1995). A região leste, onde se situa a área de estudo, aparentemente possui
menor riqueza de espécies e menor número de espécies endêmicas que a região oeste
(AZEVEDO-RAMOS e GALATTI, 2002; DUELLMAN, 1999).

Note-se, entretanto, que a vegetação aberta junto à calha do Rio Xingu, sujeita a inundações
sazonais, constitui ambientes isolados que abrigam uma herpetofauna própria, distinta
daquela das florestas de interflúvio. Essas populações possuem relações históricas, ora com
o Cerrado ora com as formações abertas ao norte do rio Amazonas (Savanas Amazônicas),

ARCADIS Tetraplan 50
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

estando sob processos de divergência evolutiva e podendo se constituir em táxons distintos e


endêmicos desses ambientes isolados.

Para os mamíferos, no caso específico da Amazônia, diversas teorias buscam explicar a


riqueza biológica devido à especiação alopátrica por soerguimento dos Andes e invasão pelo
oceano (hipótese paleogeográfica), por isolamento em blocos de vegetação úmida durante
períodos geológicos secos (hipótese dos refúgios), por isolamento reprodutivo provocado
pelos grandes rios (hipótese de Wallace) ou outras teses (HAFFER, 2001; PATTON e SILVA,
2001). Entre outros fatores ecológicos está a influência dos solos na manutenção de recursos
(p.ex.. alimento e abrigo), que podem ser importantes na determinação de gradientes de
riqueza para mamíferos (VOSS e EMMONS, 1996).

Há que se ressaltar, portanto, que embora as áreas de endemismo da Amazônia


compartilhem um grande número de características ecológicas, suas biotas foram sendo
agrupadas de forma independente. Conseqüentemente, elas não podem ser consideradas
como uma única região em nenhum tipo de planejamento para conservação (SILVA et al.,
2005).

Esses fatores determinam a grande complexidade dos ecossistemas que se pretende avaliar.
Sua interpretação, considerando os dados e as informações disponíveis, o horizonte temporal
do trabalho e, principalmente, os objetivos propostos, requer escalas adequadas e
abordagens específicas que permitam realizar inferências seguras sobre a complexidade e a
importância dos espaços de análise.

Figura 3-4– Endemismos

ARCADIS Tetraplan 51
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3.1.3.1. Características e Distribuição das Formações Vegetais

A) Cobertura Vegetal e Uso do Solo


A representação espacial e tipológica da cobertura vegetal da bacia do rio Xingu está
apresentada na Figura 3-5 Uso do Solo e Cobertura Vegetal. Segue-se a descrição da
legenda e da distribuição das tipologias observadas.

ƒ Campinarana: Formação vegetal oligotrófica, de influência pluvial, associada, na


bacia hidrográfica do rio Xingu, a Neossolos Litólicos e Quartzarênicos. Ocorre
localmente, associada à Formação do Cachimbo, nos relevos residuais tabulares do
Planalto Residual da Amazônia. Ocupa aproximadamente 1.165 km² ou 0,2% da área
da bacia, a oeste, no município de Altamira.
ƒ Floresta Estacional: Formação florestal caracterizada pela perda parcial das folhas do
estrato superior no período de estiagem. Caracteriza o contato do bioma Amazônia e
do Cerrado. Está associada também às formações do Cachimbo, no Planalto
Residual da Amazônia, onde ocoorre em pequenas extensões. Ocupa
aproximadamente 1.543 km² ou 0,3% da área da bacia.
ƒ Floresta Ombrófila Aberta Submontana: Formação florestal tropical de porte elevado,
com lianas lenhosas e epífitas em abundância. Representa uma faciação da floresta
ombrófila Densa, apresentando-se com estrato superior relativamente aberto. Ocorre
em regiões onde o gradiente climático tem mais de 60 dias secos por ano. Presente
em encostas nos interflúvios aproximadamente entre 100m e 600m de altitude,
recobre grande parte das colinas e rampas da Depressão da Amazônia Meridional. É
mais expressiva entre a Volta Grande e as proximidades da área urbana de São Félix
do Xingu. Ocupa aproximadamente 175.537 km² ou 34,5% da área da bacia.
ƒ Floresta Ombrófila Densa Aluvial: Formação florestal tropical de porte elevado, com
lianas lenhosas e epífitas em abundância, presente em planícies aluviais extensas e
sob influência de alagamentos sazonais dos cursos d´água. Presente principalmente
na sub bacia do rio Iriri. Observada também ao longo do rio Arraias, afluente do alto
curso do rio Xingu. Ocupa aproximadamente 6.950 km² ou 1,4% da área da bacia.
ƒ Floresta Ombrófila Densa Submontana: Formação florestal tropical de porte elevado,
com lianas lenhosas e epífitas em abundância. Presente em encostas nos interflúvios
aproximadamente entre 100m e 600m de altitude, recobre grande parte da
Depressão da Amazônia Meridional. Reveste principalmente o médio Xingu,
associada ao Planalto Residual da Amazônia. É bastante expressiva na Depressão
do Amazonas, na margem esquerda do rio Xingu, bem como revestindo grande parte
dos morros e morrotes do Planalto Residual do médio Xingu. Ocupa
aproximadamente 87.623 km² ou 17,2% da área da bacia.
ƒ Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas: Floresta presente em terrenos de baixas
altitudes. Reveste principalmente a margem direita do baixo curso do rio Xingu,
associada a colinas e rampas da Depressão da Amazônia. Ocupa aproximadamente
6.498 km² ou 1,3% da área da bacia.
ƒ Savana Parque e Gramíneo Lenhosa: Vegetação aberta, xeromorfa, composta de
árvores e arvoretas esparsas, com um componente arbustivo herbáceo expressivo.
Condicionada, de modo geral, pelo clima marcadamente sazonal e por solos
arenosos, profundos e, com elevado teor de alumínio, ocorre ao sul da bacia
hidrográfica do Xingu, ocupando rampas e colinas dos Planaltos e Depressões na

ARCADIS Tetraplan 52
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

região das nascentes dos formadores do rio Xingu. Ocupa 9.735 km² ou 1,9% do
território da bacia hidrográfica.
ƒ Savana Arborizada: Fisionomia mais densa da savana, onde o componente arbustivo
– arbóreo assume maior expressão. Presente também na porção sul da bacia
hidrográfica. Ocupa 12.421 km² ou 2,4% do território da bacia hidrográfica.
ƒ Savana Florestada: Expressão florestal das savanas, corresponde a uma floresta
relativamente aberta, pobre em epífitas e lianas. Representa uma transição da
savana e as formações florestais. Ocupa cerca de 7.347 km² ou 1,4% do total da
bacia.
ƒ Formações Pioneiras: Formações aluviais e de várzeas, periodicamente afetadas por
inundações, adaptadas a ambientes úmidos e sazonalmente encharcados. São muito
expressivas no alto curso do rio Xingu, a montante da cachoeira Von Martius,
revestindo as amplas planícies do rio Xingu e se seus tributários. Marcam também as
várzeas existentes na foz do rio Xingu. Estão representadas em cerca de 11.670 km²
ou 2,3% do território da bacia do rio Xingu
ƒ Vegetação Secundária: Resultante do processo de sucessão ecológica após
desflorestamento, resultante de extensos desflorestamentos e posterior abandono do
terreno. Áreas desse tipo de vegetação podem ser observadas nas áreas de
ocupação antrópica, na região de influência da rodovia transamazônica e na região
de São Félix do Xingu, porém são de difícil identificação nessa escala de trabalho.
Está presente em cerca de 1.757,8 km² ou 0,3% da bacia.
ƒ Contato Campinarana e Floresta Ombrófila: Compreende formações em que
elementos de ambos os tipos vegetais podem estar presentes, constituindo
vegetação de transição. Ocupa 1.331,6 km² ou 0,3% do território da baica
hidrográfica.
ƒ Contato Savana e Floresta Ombrófila: Compreende formações em que elementos de
ambas os tipos vegetais podem estar presentes, constituindo vegetação de transição.
Ocupa 34.623 km² ou 6,8% do território da bacia hidrográfica.
ƒ Contato Floresta Ombrófila e Floresta Estacional: Compreende formações em que
elementos de ambas os tipos florestais se interpenetram, constituindo vegetação de
transição. Ocupa 81.549 km² ou 16% do território da bacia hidrográfica.

ARCADIS Tetraplan 53
56°W 54°W 52°W 50°W

Legenda
Gurupá
UHE Belo Monte
Porto
Prainha de Moz Melgaço PCHs
Portel
Sub bacias
AM
2°S

2°S
Rio Bacia do Xingu
Xingu
Senador Capital Estadual
José
Porfírio Sedes Municipais
Vitória
do Xingu Limite Estadual
Belo
Brasil Altamira Monte Limites Municipais
Novo
Medicilândia Rio
Anapu Massa D'Água
Xingu
Uruará Sub bacia do Terras Indígenas
Placas Baixo Xingu
Unidade de Conservação de Proteção Integral
4°S

4°S
Rurópolis Novo
Repartimento
Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Itaituba
Cobertura Vegetal
Rio Iriri
Trairão
Legenda
Massa D'Agua
Sem Informacao
Usos Antropicos
PA
Campinaranas
Contato Campinarana e Floresta Ombrófila
Rio
Xingu Parauapebas Contato Savana e Floresta Estacional
6°S

6°S
Contato Savana e Floresta Ombrófila
Contato Floresta Ombrófila e Floresta Estacional
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul Floresta Estacional
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte Floresta Ombrófila Aberta Submontana
Novo Rio
Progresso Maria Floresta Ombrófila Densa Aluvial
Bannach
Floresta Ombrófila Densa Submontana

Cumaru
Pau Floresta Ombrófila Densa Terras Baixas
D'Arco
do Norte
Redenção
Refúgio
8°S

8°S

Savana Parque e Gramíneo Lenhosa


Savana Arborizada
Salto
Buriti Salto
Savana Florestada
Salto Três Sub Curuá
de Maio bacia do Formações Pioneiras
Rio Curuá
Vegetação Secundária
Santana do
Araguaia

Rio Xingu

Guarantã
Vila
do Norte
10°S

10°S

Rica Localização do mapa


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
Azevedo
Santa
Confresa Terezinha
Porto

São José 0°
Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte

TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem
Rio
12°S

12°S

Xingu
30°S

30°S

Vera Feliz
Natal
MT
60°W 45°W
Sorriso
Querência
Nova Sub bacia
Ubiratã do Rio Von Rio Ribeirão
den Steinen Xingu Cascalheira
ARS
Gaúcha
Sub bacia do Norte 1:4.250.000
Sub bacia
do Rio do Rio Canarana
km
0 50 100 200 300
Ronuro Curisevo Paranatinga II
Sistema de Coordenadas Geográficas
Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Sub Água Boa


bacia do
Rio Culuene
Figura 3.5 Uso do Solo e Cobertura Vegetal
Paranatinga
Culuene Campinápolis
Planalto Nova
da Serra Xavantina
Nova
Brasilândia
GO
Fontes:
Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
CUIABÁ Primavera IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
do Leste Compilação de dados MMA e ICMBIO
PRODES, 2007
ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

No que se refere ao uso, que ocupa cerca de 51.779,5 km² ou 10,2% do território da bacia
hidrográfica, tem-se as seguintes categorias, definidas por meio de dados sócio econômicos,
observações pontuais de campo e análise do padrão de imagem:

Predomínio de Culturas Cíclicas: Uso intensivo para culturas anuais (grãos), principalmente
soja. Ocupa o Planalto dos Parecis, a sul da área, no entorno do Parque Nacional do Xingu,
onde os solos são propícios à mecanização.

Extrativismo Vegetal (madeira) e Pecuária: Mosaico com predomínio de áreas destinadas a


pastagem e exploração de madeira. Seu padrão de ocorrência é observado principalmente no
alto Xingu, nas proximidades do município de Marcelândia (MT), no setor oeste e, a leste, na
região de São José do Xingu (MT).

Usos Diversos de Caráter Agropecuário: Compreende mosaico de usos diversificados, tanto


de agricultura quanto de pecuária, geralmente associado ao cerrado, prevalecendo a sul da
bacia hidrográfica.

Predomínio da Pecuária: Mosaico com predomínio de áreas destinadas a pastagem e,


subordinadamente, atividades de exploração de madeira. Caracteriza o leste da bacia
hidrográfica, sendo mais expressivo na região paraense abrangida por São Félix do Xingu,
Bannach e Tucumã do Norte, assim como na região de influência da Transamazônica, ao
norte da bacia hidrográfica.

Predomínio da Pecuária sobre Extrativismo (madeira) e Garimpo: Mosaico com predomínio


de áreas destinadas a pastagem e, subordinadamente, exploração de madeira e presença de
garimpo (ativo/inativo). Observado de forma pontual nas proximidades do rio Fresco, afluente
da margem direita do rio Xingu, no município de São Félix do Xingu.

Desflorestamento em Terra Indígena: áreas desflorestadas localizadas em Terras Indígenas.


Essas áreas foram definidas através do cruzamento das áreas desflorestadas identificadas no
interior de Terras Indígenas. A ausência de informações não permite estabelecer os possíveis
usos.

Unidade de Conservação de Uso Sustentável: áreas declaradas protegidas em categorias


como Floresta e Reserva Extrativista.

Unidade de Conservação de Proteção Integral: áreas declaradas protegidas nas categorias


Parque e Estação Ecológica.

Terras Indígenas: compreende os territórios declarados Terra Indígena

B) Distribuição Espacial das Formações Vegetais e Principais Características


Descrevem-se, a seguir, as principais formações observadas na bacia do rio Xingu, de
montante para jusante, conforme a espacialização das principais formações vegetais
representada na Figura 3-5 Uso do Solo e Cobertura Vegetal.

Limite sul da bacia hidrográfica: Savanas

O limite sul da bacia é marcado por manchas de remanescentes de Savanas (ou cerrados),
em um gradiente de densidade no sentido sul para norte. Estruturalmente mais simples que

ARCADIS Tetraplan 55
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as florestas, essas formações vegetais contém uma flora em grande parte endêmica, com
forte xeromorfismo. Formam ambientes abertos, onde a insolação incide até o solo,
apresentando, de modo geral, um componente herbáceo bastante expressivo e diverso, ao
contrário do que se observa em ambientes florestais. São pastagens naturais, anteriormente
manejadas por meio de desbastes e de incêndios periódicos, hoje substituídas, em parte, por
sistemas agropecuários, o que se verifica nos municípios de Sorriso e Gaúcha do Norte, por
exemplo.

Alto Xingu /Planalto dos Parecis: Contato Floresta Estacional / Floresta Ombrófila

As formações savânicas assumem expressão florestal mais ao norte, no Planalto dos


Parecis, ocupando relevos em rampas no reverso da escarpa (Canarana, Nova Ubiratã). É
identificada como Zona de Contato ou de Tensão Ecológica (RADAMBRASIL 1981a), e
ecorregião das Florestas Secas do Mato Grosso, as formações adquirem forte caráter
transicional. Denominadas “Floresta Associada ao Planalto dos Parecis” (SEPLAN/MT 2003)
ou contato Floresta Ombrófila/Floresta Estacional (RADAMBRASIL op.cit; SIPAM/SIVAM.)
formam um ecótono, cuja identidade ecológica é dada pela mistura de tipos vegetacionais. Na
área de estudo, caracteriza os municípios Cláudia, Nova Ubiratã e Gaúcha do Norte, por
exemplo.

Essa formação apresenta densa cobertura foliar, dossel bastante homogêneo, com
aproximadamente 20m de altura, e grande densidade de indivíduos, caracterizados por áreas
basais reduzidas. Em geral, apresenta escassa serapilheira e raras epífitas. O pequeno grau
de deciduidade destas comunidades vegetais é um aspecto diferenciador da Floresta
Estacional. Espécies de valor econômico, mais comuns nas proximidades dos cursos d´água,
são: jatobá (Hymenaea sp), peroba (Aspidosperma sp), cedro-rosa (Cedrela fissilis), cumbaru
(Dipteryx sp) (SEPLAN/MT 2003).

Especificamente em Gaúcha do Norte, na microbacia do rio Pacuneiro, Alto Xingu,


IVANAUKAS et al (2004) realizaram estudos fitossociológicos em floresta primária de
interflúvio e floresta com influência fluvial sazonal em uma área amostral de 3ha, adotando-se
como critério de inclusão 15cm de perímetro de tronco. Foram anotadas 134 espécies de 47
famílias botânicas, com densidade de 546 ind./ha no estrato superior e 654ind./ha no inferior.

Prevaleceram indivíduos de pequeno diâmetro de tronco e poucos de diâmetro elevado, estes


predominando nas áreas aluviais às margens do rio Pacuneiro (ipê-roxo – Tabebuia
serratifolia; jatobá – Hymenaea courbaril; Aspidosperma araracanga; Pera schomburgkiana).
Representantes de canela (Lauraceae) prevaleceram no estrato superior, notadamente nos
interflúvios com solos mais secos.

Coerentemente com o observado em florestas tropicais (PIRES et al, 1954; ALMEIDA et al.
1993 apud ELB/ELN 2002), apenas cerca de 20% das espécies concentrou 90% dos
indivíduos, enquanto 80% revelou-se com baixa representatividade, sendo consideradas
raras nas amostragens.

A baixa diversidade das florestas dessa microbacia, constatada nesse estudo, pode estar
relacionada com a sazonalidade das precipitações. Os autores assumem que o fato de se
encontrar em zona de transição entre o clima ombrófilo e estacional pode ser um dos fatores
limitantes para a ocorrência de muitas espécies da flora amazônica.

ARCADIS Tetraplan 56
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Planícies aluviais do Alto Xingu: Vegetação Pioneira

Ainda na região do Alto Xingu e nos seus formadores, são notáveis as formações Pioneiras
de influência Fluvial (campos de várzea). Compõem extensas formações herbáceas ou
arbustivo/herbáceas dentro do Parque Nacional do Xingu, fato que contribui para sua
conservação. Não há dados disponíveis relativos à sua composição, à exceção de uma breve
descrição realizada pelo RADAMBRASIL (1981), onde são citadas, além de espécies
herbáceas (Cyperus giganteus, Cyperus articulatus e Paepalanthus sp.), indivíduos de
pequeno porte, espaçados, onde se destacam mirtáceas. Em formações pioneiras com
palmeiras destaca-se o buriti (Mauritia sp).

Presume-se que estas formações possam conter importantes endemismos e conformar


associações com identidade ecológica distinta daquelas presentes na Planície Flúvio-lagunar
do Amazonas (ecorregião as várzeas do Gurupá), na foz do rio Xingu.

Encraves savânicos e Contatos Savana / Floresta Ombrófila

A passagem da vegetação de transição do Planalto dos Parecis para norte é marcada por
uma ampla mancha de formações savânicas e de transições entre savanas e florestas,
situadas a norte da região de São José do Xingu, na serra de Cubencranquém. As formações
savânicas ocupam também os relevos residuais tabulares com afloramentos rochosos e
Neossolos do Planalto Residual do Amazonas, que ocorre de forma descontínua em meio à
Depressão da Amazônia Meridional.

Não há dados disponíveis sobre a composição florística dessas formações, mas apenas uma
breve citação no RADAMBRASIL (op.cit.), onde estão relacionadas espécies que formam
gregarismos como umiri (Humiria floribunda), uxirana (Vantanea guianensis). Os encraves
são descritos como agrupamentos de arvoretas de aspecto tortuoso e xeromorfo,
representantes de gêneros como Anacardium, Byrsonima e Himatanthus, característicos das
savanas.

Campinaranas, Florestas Estacionais e Contato Campinara / Floresta Ombrófila do oeste de


Altamira

Campinaranas ocorrem a oeste, já no limite com a bacia hidrográfica do rio Tapajós, assim
como formações de contato destas com florestas ombrófilas, e florestas estacionais,
formando um complexo padrão de vegetação que se distingue do restante da bacia
hidrográfica. Estudos de aves realizados nessas formações indicam a ocorrência de
campinaranas com estrato arbóreo baixo (entre 4 a 6m de altura), vegetação esgalhada
desde a base, sobre Neossolos. O aparente domínio de Humiria balsamifera e a presença de
liquens do gênero Cladonia são características marcantes (PACHECO ; OLMOS, 2005).

Já na transição da campinarana e florestas, o estrato arbóreo assume maior expressão, com


a espécie Xylopia amazônica dominando as bordas. Os autores citam ainda a ocorrência de
formações florestais, formando um mosaico de tipos vegetacionais (PACHECO ; OLMOS,
2005).

ARCADIS Tetraplan 57
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Médio Xingu: Florestas Ombrófilas

A partir da latitude 10º50´S, aproximadamente, em direção norte, as formações ombrófilas


submontanas passam a caracterizar as paisagens até as proximidades da Volta Grande
(região de Altamira). Estas formações estão representadas principalmente pela feição
denominada Floresta Ombrófila Aberta, que reveste Argissolos, Latossolos e Nitossolos dos
relevos em rampas de aplanamento da Depressão da Amazônia Meridional.

A esta feição de florestas abertas se associam Florestas Ombrófilas Densas, que ocupam os
relevos mais movimentados do Planalto Residual. Formam manchas expressivas, em
correspondência a esses ressaltos dos terrenos, a oeste do rio Iriri, principal tributário da
margem esquerda do médio curso do rio Xingu. Estendem-se até a região da Terra do Meio,
na margem esquerda do rio Xingu, na altura da área urbana de São Félix do Xingu, onde
estão sob expressiva pressão dos vetores de desflorestamento a partir do leste. A partir
desse ponto, já na margem direita, estendem-se a nordeste, acompanhando a área de
drenagem do rio Bacajá. À parte o Projeto RADAMBRASIL (1979), não há estudos da
vegetação nessa extensa região, até as proximidades de Altamira.

Florestas ombrófilas aluviais, embora presentes, não são observáveis na escala de trabalho
adotada. Localizam-se na planície de inundação, estando sob influência do pulso anual de
enchente e vazante dos rios. Os solos são geralmente de origem hidromórfica, do grupo glei
húmico; com drenagem deficiente, o que permite incorporar considerável teor de matéria
orgânica e nutrientes anualmente (ELB/ELN, 2001).

Podem apresentar palmeiras como jauari (Astrocaryum jauari), açaí (Euterpe oleracea) e
caranã (Mauritiella armata). Outras espécies podem ser citadas como o tarumã (Vitex triflora),
ipê da várzea (Tabebuia barbata), xixuá (Maytenus sp.) e o ipé (Macrolobium acaciaefolium).
Entre as árvores emergentes tem-se o açacu (Hura crepitans), a piranheira (Piranhea
trifoliolata), a abiurana da várzea (Pouteria glomerata) e acapurana (Campsiandra laurifolia)
(ELB/ELN, op.cit)

As florestas do vale do rio Xingu, na região de São Félix do Xingu, encontram-se em grande
medida antropizadas (Figura 3-8, no item 3.1.4). Citam-se algumas que se sobressaem pelo
porte elevado ou por sua freqüência, o amarelão (Apuleia cf. molaris), o jatobá (Hymenaea
sp.), o ipê (Tabebuia sp.), sumaúma (Ceiba pentandra), castanheira (Bertholletia excelsa),
esta última freqüentemente isolada em meio a pastagens. Entre as palmeiras, cita-se tucum
(Astrocaryum vulgare), açaí (Euterpe oleracea) e, nas áreas desflorestadas e queimadas, o
babaçu (Orbignya sp.).

ARCADIS Tetraplan 58
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Foto 3-1 Aspecto da cobertura vegetal às margens do rio Xingu, a montante da área
urbana de São Félix do Xingu, Pará

Obs.: Notar mosaico de diferentes estágios sucessionais e presença de pastagens na meia encosta.

Nos freqüentes afloramentos rochosos, característicos do rio Xingu, vegetam plantas


herbáceas e arbustivas especializadas, capazes de suportar a dessecação e o aquecimento
do substrato no período de estiagem, quando o rio encontra-se baixo, e submersão no
período de chuvas, assim como as fortes correntezas do rio. Estudos realizados na região de
Altamira (ELB/ELN 2001) e observações de campo evidenciam a presença de espécies como
o camu-camu ou caçari (Myrciaria dubia), a acapurana (Campsiandra laurifolia), além de
plantas herbáceas adaptadas ao ambiente restritivo desses afloramentos. Como estratégia
para resistir á submersão, essa vegetação perde as folhas e, no período que precede as
chuvas adquire coloração característica, conforme mostra a Foto 3-2 a seguir.

ARCADIS Tetraplan 59
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Foto 3-2 Em primeiro plano, vegetação sobre pedrais, rio Xingu, nas proximidades da
foz do rio Iriri, Altamira, Pará. Ao fundo, floresta ombrófila aluvial antropizada

Ao contrário do restante da bacia hidrográfica, a vegetação da região de Altamira encontra-se


relativamente bem estudada, devido às análises de vegetação realizadas para o diagnóstico
das áreas de influência dos antigos estudos dos AHEs Kararaô e Babaquara, que abarcavam
um trecho correspondente à bacia contribuinte desde Volta Grande do Xingu até o baixo
curso do rio Iriri, (CNEC 1988a e 1988b) e, mais recentemente, do AHE Belo Monte
(ELB/ELN 2001; LEME, em andamento).

Na área de influência dos antigos estudos do AHE Kararaô foram realizados levantamentos
florísticos em formações vegetais de interflúvio (terra firme), floresta com influência fluvial
(florestas de várzea e de igapó), área de campina sobre solo arenoso, lagos, ao longo dos
rios e igarapés, bem como em afloramentos rochosos. Um total de 280 espécies foi
catalogado, dando-se ênfase em espécies arbóreas e epífitas, notadamente orquídeas.
Análises de fitomassa e inventário florestal também foram conduzidas, destacando-se, entre
as espécies com maiores volumes de madeira, a castanheira (Bertholletia excelsa).

Ambientes semelhantes aos anteriormente citados foram avaliados quanto à composição


florística na área que seria alagada pelo AHE Babaquara, incluindo, ainda, capoeiras e
manchas de uma vegetação inundável localmente conhecida como muricizal, e que foi
denominada, no estudo, de cerrado (Pedra do O, no rio Iriri).

Entre as árvores, destacaram-se, pelo porte: castanheira, jatobá (Hymenaea parvifolia),


barrote (Tetragastris altissima) e tatajuba (Bagassa guianensis). Em baixadas úmidas,
verificou-se a ocorrência do mogno (Swietenia macrophylla). É citada também acapurana
(Campsiandra laurifolia) presente em ilhas e em pedrais, comum também a montante, até
aproximadamente a região de São Felix do Xingu, conforme verificado in loco e assinalado
anteriormente.

Note-se que na formação vegetal presente na Pedra do O (situada no rio Iriri,


aproximadamente nas coordenadas 04º34´00” 54º03´03”, distando cerca de 200 km da foz do

ARCADIS Tetraplan 60
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rio Iriri e 280 km da cidade de Altamira) foi identificada uma flora específica, sazonalmente
submersa, e submetida a queimadas periódicas quando exposta, no período de estiagem,
conforme consta naquele documento.

Posteriormente, estudos florísticos e fitossociológicos foram conduzidos para os estudos


ambientais do AHE Belo Monte (ELB/ELN 2001). Nesse estudo, foi realizado inventário na
região do rio Bacajá e nas proximidades da vila de Belo Monte. Verificou-se uma densidade
de 314 a 532 árvores por hectare, considerando DAP (diâmetro medido a 1,30 m do solo) ≥
10 cm.

Entre as espécies emergentes mais conspícuas são citadas, além da castanheira, angelim-
pedra (Hymenolobium petraeum), cumaru (Dipteryx odorata), faveira (Parkia oppositifolia),
melancieira (Alexa grandiflora) e tauari (Couratari multiflora), cujos exemplares podem
alcançar 45m de altura. O volume de madeira, considerando-se o mesmo limite de inclusão
de DAP, variou de 193,95 a 263,67 m3. ha/1. A fitomassa aérea total, por sua vez, variou
entre 207 e 256 t.ha/1 de peso seco.

De acordo com as análises do estudo acima citado (ELB/ELN 2001), a fisionomia é


caracterizada pela presença de palmeiras, cuja altura pode chegar a até 30 m. Destacam-se
babaçu (Orbignya speciosa), inajá (Attalea maripa), paxiúba (Socratea exorrhiza), bacaba
(Oenocarpus bacaba) e em menor escala o patauá (Oe. bataua).

Quando associadas à paisagem fragmentada pela ação humana, essas florestas ombrófilas
abertas com palmeiras podem apresentar-se também cipós, uma vez que a disposição
espaçada das árvores favorece a colonização por lianas e palmeiras. As principais espécies
florestais associadas a esse trecho da floresta aberta com palmeiras e com presença de
cipós são castanheira-do-Pará (Bertholletia excelsa), melancieira (Alexa grandiflora), pau de
remo (Chimarrhis turbinata), cacau do mato (Theobroma speciosum), ipês amarelo e roxo
(Tabebuia serratifolia e T. impetiginosa), acapu (Vouacapoua americana), muiracatiaras
(Astronium gracile e A. lecointei), geniparana (Gustavia augusta), tatajuba (Bagassa
guianensis), dentre outras (ELB/ELN 2001).

Já nas florestas aluviais (de várzea ou de igapó) foram identificadas 43 espécies que não
ocorrem em outras formações vegetacionais da região, atestando a influência do gradiente de
umidade na diversidade e na distribuição de espécies. O sub-bosque desta floresta é limpo,
com pouca regeneração das espécies do dossel. Provavelmente a inundação seleciona as
mudas, reduzindo o número de indivíduos jovens. Algumas poucas espécies são
características desse estrato, geralmente de porte reduzido e talvez com adaptação eco-
fisiológica para conviver com a submersão.

O índice de diversidade de espécies de Shannon (H'), obtido para as amostragens em


Floresta Ombrófila Densa ficou próximo a 5,3 (log neperiano), variando nos demais de 4,2 a
4,810 (ELB/ELN 2001), sendo um dos mais elevados em estudos de diversidade alfa.

Ainda com relação a estudos realizados nessa região, bastante investigada devido aos
projetos hidrelétricos, ressalta-se o trabalho de CAMPBELL et al (1986) que utilizaram
transecções para amostrar 3ha de floresta de interflúvio e 0,5ha de várzeas. Embora uma
considerável riqueza de espécies tenha sido registrada, apenas 40 espécies foram comuns
aos 3ha. Os autores creditaram a alta diversidade ao grande número de espécies raras.

10
O índice de diversidade de espécies de Shannon (H') normalmente apresenta valores entre 1,5 a 3,5, raramente
ultrapassando 4,5 para logaritmo neperiano (Margalef, 1972 apud ELB/ELN, 2001).

ARCADIS Tetraplan 61
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Assumem, também, que as florestas amazônicas formam mosaicos de diferentes tipos de


florestas, o que não permite extrapolar dados de uma área amostrada para regiões mais
amplas (NELSON; OLIVEIRA 2001).

Finalmente, estudos recentes foram desenvolvidos no âmbito do novo EIA/RIMA do AHE Belo
Monte (LEME, 2009), tendo-se realizado levantamentos florísticos e fitossociológicos em
remanescentes florestais em ambas as margens do rio Xingu e em ilhas aluviais.

Considerando todas as formações vegetais, foram registradas 1.067 espécies e 105 famílias
botânicas. Espécies que ocorreram com mais de uma centena de indivíduos nas áreas
amostrais foram: Mollia gracilis, Cenostigma tocantinum, Cynometra marginata, Attalea
speciosa, Paramachaerium ormosioides, Guapira venosa, Euterpe oleracea, Zygia cauliflora,
Protium apiculatum.

Analisando-se por tipologia florestal, verificou-se que, na Floresta Aberta com cipós, 38
espécies (ou 8,9% do total) apresentaram Valor de Importância (VI) igual ou acima de 0,48%.
As espécies de maior destaque nesta fitofisionomia foram Alexa grandiflora, Cenostigma
tocantinum, Bertholletia excelsa, Guapira venosa, Vouacapoua americana, Attalea speciosa.

Na Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras, entre as 369 espécies tiveram maior destaque
em termos de VI Attalea speciosa, Bertholletia excelsa, Cenostigma tocantinum, Protium
apiculatum, Guapira venosa e Alexa grandiflora.

Já na Floresta Ombrófila Densa Aluvial, também analisada nesse estudo, entre as 200
espécies registradas, destacaram-se Mollia gracilis, Cynometra marginata, Paramachaerium
ormosioides, Zygia cauliflora, Hevea brasiliensis.

No que se refere à diversidade, observou-se que para as florestas ombrófilas abertas


analisadas o valor foi praticamente igual a 5,0 e na floresta ombrófila densa aluvial acima de
3,8, valores semelhantes aos obtidos anteriormente.

Por outro lado, a similaridade entre as fitofisionomias foi baixa ao se comparar as duas
fitofisionomias de florestas abertas: praticamente de 40% (índices de Kulzinski e Sorensen) e
25% (índice de Jaccard). Comparando as florestas abertas de cipós e de palmeiras com
relação à floresta densa a similaridade foi ainda mais baixa, com cerca de 16% através de
Jaccard, 29% (Kulzinski) e 28% (Sorensen).

Vegetação Secundária

Estas formações foram identificadas especialmente nas proximidades da região sob


influência da BR-230, rodovia Transamazônica. As florestas ombrófilas ali presentes sofreram
solução de continuidade a partir da região de Altamira, reflexo da influência da ocupação
antrópica ao longo da referida rodovia, que cruza a região transversalmente. Essa região
situa-se aproximadamente na unidade de relevo denominada Planalto Marginal do
Amazonas, posicionada no sentido leste/oeste, em manchas de Latossolos Vermelho
Amarelos, Nitossolo Vermelho e Argissolo Vermelho – Amarelo, propícias, portanto, a
atividades agropecuárias.

Originalmente recoberta por florestas ombrófilas densas, e por transições entre esta e a
florestas ombrófilas abertas, o desflorestamento em padrão de ”espinha de peixe”, freqüente

ARCADIS Tetraplan 62
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

ao longo da área de influência de rodovias na região amazônica, e a ocupação para produção


agropecuária, descaracterizou essa cobertura vegetal.

Estudo realizado para o AHE Belo Monte (ELB/ELN, 2001) identificou capoeiras recentes,
concentradas principalmente na margem esquerda do rio Xingu, e ao longo do eixo dessa
rodovia, onde predominam as florestas abertas com palmeiras e cipós.

São áreas pequenas, de até 25ha, pertencentes a pequenos proprietários. Essas áreas,
abandonadas após 1 a 2 anos de cultivo, apresentam porte baixo, em média 10 m de altura,
sem estratificação vertical distinta. Caracterizam-se pela presença de espécies heliófilas, de
ciclo de vida de curto a médio (5 a 15 anos), populações de tamanho considerável, existência
de bancos de sementes armazenadas no solo e, na maioria das vezes, dispersão das
sementes pelo vento, aves e morcegos.

Capoeiras mais antigas estão presentes principalmente ao longo dos trechos da rodovia entre
a sede do município de Altamira e Belo Monte, porém não são mapeáveis nessa escala de
trabalho. A distribuição de tamanhos das manchas de capoeiras antigas apresenta um padrão
similar àquele detectado para as manchas de menor idade e estão localizadas ao longo dos
travessões onde estão os lotes de assentamento do INCRA (ELB/ELN, 2001).

Estudos recentes (LEME, 2009) realizados em capoeiras jovens (menos de 10 anos) e


antigas permitiram anotar 383 espécies, representantes de 60 famílias botânicas. Destas,
47% são comuns aos dois estágios de sucessão.

Nas capoeiras jovens, as principais espécies de acordo com o VI foram Apeiba, albiflora
Guazuma ulmiflora Cecropia distachya Cecropia membranacea Cenostigma tocantinum,
Senna multijuga e Vismia baccifera. Já nas capoeiras maduras foram mais importantes as
espécies Apeiba albiflora, Cenostigma tocantinum e Schyzolobium amazonicum.

A diversidade (Shannon-Weaner) das capoeiras adultas foi de 3,38 e 4,16, superior em


relação às capoeiras jovens, que variou de 3,05 a 3,85, dependendo das áreas amostradas.

Várzeas do Amazonas: Vegetação Pioneira

Na planície do rio Amazonas, as florestas ombrófilas densas cedem lugar às formações


pioneiras de influência fluvial (várzeas do rio Amazonas), predominantemente herbáceas ou
arbustivas/herbáceas (RADAMBRASIL 1974), em ambientes completamente distintos dos
anteriormente descritos.

A fisiografia é elemento determinante caracterizando-se por uma rede hidrográfica complexa,


com canais múltiplos, ilhas, furos, lagos, diques aluviais, canais anastomosados e meandros
abandonados. A ocorrência de enchentes anuais propicia a formação de alagadiços em áreas
favoráveis ao assoreamento. Os Gleissolos Háplicos Eutróficos e Distróficos e Neossolos
Flúvicos Eutróficos e Distróficos que caracterizam o substrato condicionam a presença de
formações Pioneiras de influência Fluvial ou campos de várzea. Estas se alternam com
florestas de várzea, em sítios de solos com menor encharcamento.

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C) Espécies Ameaçadas de Extinção


Com base na lista de espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2008) e também a lista oficial
do Estado do Pará (SECTAM – PA, 2007)11, verifica-se que 28 espécies constam na lista de
espécies da flora ameaçadas de extinção nos Estados do Pará e Mato Grosso e podem estar
presentes na área de estudo, conforme mostra a Tabela 3-1.

Tabela 3-1- Lista de Flora Ameaçada de Extinção da Bacia do Rio Xingu

Conservação
Nome Científico Nome Popular Ocorrência
Status Referência

IBAMA
Aniba rosaeodora pau-de-rosa AM, PA E SECTAM
MMA
Aspidosperma album - PA E SECTAM
Aspidosperma desmanthum - PA V SECTAM
IBAMA
Aspilia paraensisSantos - PA R SECTAM
MMA
MG,GO, BA,
IBAMA
Astronium fraxinifolium gonçalo-alves CE, RN, ES, V
MMA
MT, MA, PI
aroeira-do-sertão, MG, BA, RN,
Astronium urundeva V MMA
aroeira-legítima ES, MT, MA, PI
IBAMA
Castanheira, AM, PA, MA,
Bertholletia excelsa V SECTAM
castanheira-do-brasil RO, AC
MMA
Sucupira, sucupira-da-
IBAMA
Bowdickia nitida mata, sucupira- AM, PA, RO V
MMA
verdadeira.
Centrosema carajaense - PA V SECTAM
IBAMA
Costus fragilis PA R
MMA
Costus fusiformis PA R IBAMA
cravo-do-maranhão, IBAMA
Dicypellium caryophyllatum pau-cravo, casca- PA, MA, AM V SECTAM
preciosa MMA
Erythroxylum nelson-rosae - PA E SECTAM
IBAMA
pau-amarelo, pau-
Euxylophora paraensis PA V SECTAM
cetim
MMA

11
A lista de espécie da flora ameaçada do Estado de Mato Grosso não se encontra disponível ainda.

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Conservação
Nome Científico Nome Popular Ocorrência
Status Referência

IBAMA
Ipomoea carajaensis - PA E SECTAM
MMA
IBAMA
Ipomoea cavalcantei - PA E SECTAM
MMA
MG, GO, BA,
IBAMA
Melanoxylon braunia brauma-preta RN, ES, MT, V
MMA
MA, PI
Mezilarus itauba - PA V SECTAM
Mimosa acutistipula var. férrea - PA V SECTAM

Mimosa skinneri var. carajarum - PA V

SECTAM
Pilocarpos microphyllus - PA E
MMA
angelim-rajado, IBAMA
Pithecellobium recemosum PA, AM, AP V
ingarana MMA
Qualea coerulea - PA V SECTAM
MG, BA, RN,
Schinopsis brasiliensis var. glabra Brauna, baraúna V IBAMA
ES, MT, MA, PI
mogno, águano, AC, AM, PA, IBAMA
Swietenia macrophylla araputangá, caoba, MT, RO, TO, E SECTAM
cedroaraná MA MMA
cerejeira, cumaru-de-
IBAMA
Torresea acreana cheiro, imburana-de- AC, RO, MT V
MMA
cheiro
ucuuba, ucuuba-
IBAMA
Virola surinamensis cheirosa, ucuuba- PA, AM V
MMA
branca
IBAMA
Vouacapoua americana acapu PA E
MMA
Fonte: IBAMA, 1992; SECTAM – PARÁ, 2007
Legenda: Referências: IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis;
SECTAM - Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, do Pará; MMA - Ministério do Meio
Ambiente. Status: R - Raro (IBAMA, MMA); V - Vulnerável (IBAMA, MMA, SECTAM); E - Em Perigo (IBAMA,
MMA, SECTAM).

Ressalta-se em vermelho o registro de espécies que constam nessa lista, anotadas em


estudos realizados (ELB/ELN, 2001; LEME, 2009). De acordo com o estudo, quatro espécies
constam da lista oficial do IBAMA e da Red List of Threatened Plants – UICN. São elas:

ƒ Acapu (Vouacapoua americana), cuja distribuição geográfica conhecida se restringe


ao Estado do Pará;

ARCADIS Tetraplan 65
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ƒ Castanheira (Bertholletia excelsa), cuja ocorrência se estende em uma faixa desde


Rondônia e Acre, Amazonas e Pará até o Maranhão;
ƒ Ucuuba (Virola surinamensis), presente apenas nos Estado do Pará e Maranhão;
ƒ Cravinho-do-Maranhão (Dicypellium caryophyllatum), espécie arbórea de sub-
bosque, cuja ocorrência geográfica conhecida se estende do Amazonas ao Pará e
Maranhão, que ocorre principalmente nas bacias dos rios Tocantins, Xingu e
Tapajós. Sua exploração foi muito intensa na época do Brasil colônia, nós séculos
XVIII e XIX, quando relatos de historiados nos dão conta de grandes partidas desta
especiaria para a Europa. Suas populações antes densas e agregadas, hoje são tão
rarefeitas (ELB/ELN, 2001; LEMA,2009);

Cita-se, ainda, Swietenia macrophylla, popularmente denominada mogno. A espécie ocorre


em áreas com temperatura anual média de 24º C, precipitação anual entre 1.000 mm-2.000
mm e índice anual de chuva para evapotranspiração 1,0-20. O mogno também é encontrado
em florestas úmidas e zonas subtropicais, desde o nível do mar, na América Central, até
1.400 metros. Embora com área de ocorrência bastante extensa, a exploração predatória
determinou a redução de suas populações a níveis críticos em toda sua área de ocorrência.

Análise Zoogeográfica

Os padrões de distribuição da fauna de vertebrados terrestres presentes na Bacia


Hidrográfica do rio Xingu são produtos da associação de variáveis ecológicas e históricas.
Este espaço territorial compreende áreas que se distribuem por duas grandes regiões
zoogeográficas, uma cuja fauna é tipicamente florestal, e outra, que mescla elementos
associados à floresta e a áreas abertas, ou seja, a Amazônia e o Cerrado, respectivamente.

A fauna de vertebrados terrestres associada ao Cerrado pode ser separada em dois grandes
grupos, um relacionado às formações abertas e outro, predominante, que apresenta algum
nível de dependência das formações florestais (REDFORD e FONSECA 1986; SILVA 1995).
SILVA (1997), baseado na distribuição de espécies de aves, reconhece três áreas de
endemismo ao longo dos domínios do Cerrado: Vale do rio Araguaia, Vale do rio Paraná e
Espinhaço, nenhuma delas representada na área de estudo. O Cerrado, portanto, é
considerado neste trabalho, para efeito das análises de distribuição animal, como uma única
unidade biogeográfica.

A Amazônia encerra diversos tipos de formações vegetais, o que determina suas


características extremamente heterogêneas. Dentre as formações representadas na área de
estudo, podem ser destacadas, em função de sua influência na distribuição animal: (i) a
floresta estacional, (ii) a floresta ombrófila e, (iii) a várzea. Outras formações como as matas
de igapó, apesar de serem importantes na definição dos padrões de distribuição das espécies
animais, não são aqui consideradas em razão da escala de abordagem desse trabalho.

Além dos fatores ecológicos, como as diferenças de cobertura vegetal da porção amazônica
da bacia do rio Xingu, fatores fisiográficos são determinantes da distribuição animal. Na
região amazônica, diferentemente do bioma Cerrado, verifica-se uma forte estruturação
geográfica das distribuições animais, mesmo quando a escala de análise é regional. Em
razão dessa forte estruturação, são reconhecidas, tradicionalmente, sete (ou oito) áreas de
endemismo na bacia amazônica: Belém, Para (1 e 2), Rondônia, Inambari, Napo, Imeri e
Guiana, sustentadas pela distribuição de um número expressivo de táxons animais

ARCADIS Tetraplan 66
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(VANZOLINI e WILLIAMS 1970; HAFFER 1969, 1974, 1997; CRACRAFT 1985; STOTZ et al.
1997). Na Bacia Hidrográfica do rio Xingu estão representadas as áreas Pará 1 e 2.

As áreas de endemismo na Amazônia têm seus limites fortemente associados aos cursos dos
grandes rios. Inúmeras espécies e subespécies amazônicas, pertencentes a vários grupos
animais, têm os rios como limites de suas distribuições (por exemplo, SICK 1967, AYRES e
CLUTTON-BROCK 1992). Em alguns casos verifica-se uma drástica mudança na
composição animal em margens opostas, sem que se percebam diferenças relevantes na
estrutura e composição da cobertura vegetal.

Entre os rios amazônicos que definem limites de distribuição de táxons animais encontra-se o
rio Xingu. Apesar de sua influência como divisor de faunas não ser tão marcante como a dos
rios Tapajós, Madeira, Amazonas, Negro e Branco, é clara a sua influência, principalmente
quando se trata de aves e de primatas (SILVA et al., 2005). São reconhecidas diferenças
marcantes entre as faunas presentes em margens opostas: o interflúvio Tocantins-Xingu e o
interflúvio Xingu-Tapajós

O efeito de barreira que alguns rios do sul da Amazônia exercem sobre algumas espécies de
aves florestais é bastante diferenciado, variando entre as espécies devido aos diferentes
habitats e preferências. Segundo (HAFFER, 1992), cerca de 15% da avifauna aquática da
bacia amazônica é restrita a estreitas faixas ao longo dos rios. A importância dos rios (e suas
planícies de inundação) como barreiras diminui com sua largura e com o aumento de
capacidade de dispersão das aves. E apesar deste “efeito de barreira” ser pouco evidente em
muitas espécies de maior capacidade de dispersão, que vivem no dossel da floresta ou nas
bordas de mata, este efeito é marcante em espécies que habitam o interior da floresta, tais
como alguns formicarídeos de sub-bosque das florestas (p.ex.: Phlegopsis nigromaculata
spp).

Alguns táxons são “substituídos” em interflúvios opostos do rio Xingu. Na margem esquerda, por
exemplo, ocorrem as subespécies do jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis dextralis); da
papa-taoca (Pyriglena leuconota interjecta) e da mãe-de-taoca (Phlegopsis nigromaculata
bawmani); enquanto que as sub-espécies P. viridis interjecta; P. nigromaculata confinis e P.
leuconota interposita têm ocorrência restrita à margem direita. Já a mãe-de-taoca-de-cara-
branca (Rhegmatorhina gymnops) é uma ave que também tem distribuição restrita ao interflúvio
Tapajós-Xingu.

Apesar de importante barreira biogeográfica para alguns grupos de vertebrados (WALLACE,


1852; HERSHKOVITZ, 1972; AYRES e CLUTTON_BROCK, 1992), não há qualquer
evidência de que o rio Xingu desempenhe esse papel para grupos da herpetofauna. No que
diz respeito a este grupo, pode-se dizer que existe uma divisão em dois grandes grupos, de
acordo com as preferências de habitat: um grupo florestal e outro de áreas abertas. Esse
último grupo ocupa isolados de vegetação aberta, junto à calha do rio Xingu , constituídos por
vegetação pioneira arbustiva-herbácea, periodicamente inundada (campos naturais
inundáveis), e vegetação aluvial arbustiva sobre afloramento rochoso (lajeiros). Essas
formações isoladas abrigam uma herpetofauna própria, distinta daquela da Floresta
Amazônica, incluindo Anolis auratus, Kentropyx striata, Cnemidophorus lemniscatus,
Tropidurus oreadicus, e Leptodactylus fuscus. Essas populações possuem relações históricas
ora com o Cerrado, ora com as formações abertas ao norte do Rio Amazonas (Savanas
Amazônicas). (LEME, em andamento)

ARCADIS Tetraplan 67
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Diversos estudos indicam a existência de uma divisão leste/oeste da herpetofauna na


Floresta Amazônica (ÁVILA-PIRES, 1995; DUELLMAN, 1988; SILVA e SITES, 1995). A bacia
do Xingu situa-se na região leste da floresta, cinco espécies de anuros (Rhynella
castaneotica, Adelphobates castaneoticus, A.. galactonotus, Dendropsophus anataliasiasi e
D. inframaculata), duas de cecílias (Nectocaecilia ladigesi e Typhlonectes obesus) e sete
espécies ou subespécies de lagartos (Arthrosaura kockii, Cercosaura ocellata ocellata,
Kentropyx calcarata, Leposoma guianense, Neusticurus bicarinatus, Tretioscincus agilis e
Uracentron azureum azureum) são endêmicas desta porção da Floresta Amazônica (ÁVILA-
PIRES, 1995; DUELLMAN, 1999). A região leste, aparentemente, possui menor riqueza e
menor número de espécies endêmicas que a região oeste (AZEVEDO-RAMOS e GALATTI,
2002; DUELLMAN, 1999).

Assim, a sobreposição dos fatores ecológicos e fisiográficos que influenciam de modo


determinante a distribuição de espécies animais na região compreendida pela bacia do rio
Xingu, leva ao reconhecimento, a partir de uma escala regional de abordagem, de sete
regiões (identificadas de 1 a 7) com identidade faunística própria, conforme apresentado a
seguir:

Várzea

As formações de várzea possuem uma fauna típica, reunindo alguns táxons cuja distribuição
está fortemente associada a esses ambientes. É o caso, por exemplo, da cigana
(Opisthochomus hoazin), dos martim-pescadores Ceryle torquata e Chloroceryle spp., do
cardeal (Paroaria gullaris) do pica-pau-anão-da-várzea (Picumnus varzeae), do formigueiro-
liso (Myrmoborus lugubris), do joão-de-barriga-branca (Synallaxis propinqua), do joão-
escamoso (Cranioleuca mueller), do joão-da-canarana (Certhiaxis mustelinus), da solta-asa-
do-sul (Hypocnemoides maculicauda), do poiaeiro-de-sobrancelha (Ornithion inerme), do
alegrinho-amarelo (Inezia subflava), e do tico-tico-cigarra (Ammodramus aurifrons) espécies
tipicamente associadas a florestas aluviais e vegetação ribeirinha (BAGNO e ABREU, 2001).
A fauna desses ambientes difere significativamente daquela associada aos demais ambientes
amazônicos. Nesses ambientes também são registradas espécies de ampla distribuição,
encontradas nas demais unidades aqui descritas.

Floresta Ombrófila da margem esquerda do rio Xingu

A fauna de vertebrados terrestres dessa unidade pode ser descrita como uma fauna
tipicamente amazônica. A grande maioria dos táxons que ocorrem nesta unidade também
está presente nas unidades 3, 4 e 5 (apresentdas a seguir). Esta unidade distingue-se da
unidade 4 por apresentar táxons restritos apenas às florestas da margem esquerda do rio
Xingu, caso do cuxiú-de-nariz-branco (Chiropotes albinasus), do jacamim-de-costas-verdes
(Psohpia viridis dextralis), da mãe-de-taoca-de-cara-branca (Rhegmatorhina gymnops), da
mãe-da-taoca (Phlegopsis nigromaculata bawmani) e da papa-taoca (Pyriglena leuconota
similis). Apesar de guardar grande semelhança com a unidade 3, a fauna desta unidade
difere em razão das diferenças ambientais existentes entre as formações ombrófilas e
aquelas de transição ombrófila/estacional.

Floresta Estacional da margem esquerda do rio Xingu

A fauna de vertebrados terrestres dessa unidade pode ser descrita como uma fauna
tipicamente amazônica. A grande maioria dos táxons que ocorrem nesta unidade também

ARCADIS Tetraplan 68
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

está representada nas unidades 2 e 4. Assim como a unidade 2, difere das demais por
apresentar táxons que têm como limite oriental de suas distribuições o rio Xingu (ver
exemplos no texto da unidade 2). A fauna desta unidade se distingue daquela que caracteriza
a unidade 2 em razão das diferenças ambientais existentes entre as duas formações. Outras
espécies, apesar de se utilizarem de variadas fitofisionomias florestais, são comumente
associadas às florestas secas, principalmente alguns psitacídeos como a maritaca-de-bando
(Aratinga leucophthalmus); jandaia-estrela (Aratinga aurea); e, também, icterídeos, como o
japim-xexéu (Cacicus cela); o encontro (Icterus cayanensis) o japu-preto (Psarocolius
decumanus), entre outros.

Floresta Ombrófila da margem direita do rio Xingu

A fauna de vertebrados terrestres dessa unidade pode ser descrita como uma fauna
tipicamente amazônica. A grande maioria dos táxons presente nesta unidade também ocorre
nas unidades 2 e 3. Distingue-se das unidades 2 e 3 por apresentar táxons que ocorrem
apenas nas florestas da margem direita do rio Xingu, como o cuxiú-preto (Chiropotes
satanas), o jacamim-de-costas-verdes (Psohpia viridis interjecta), a mãe-de-taoca (Phlegopsis
nigromaculata confinis) e a papa-taoca (Pyriglena leuconota interposita).

Floresta Estacional da margem direita do rio Xingu

A fauna de vertebrados terrestres dessa unidade pode ser descrita como uma fauna
tipicamente amazônica. A grande maioria dos táxons que ocorrem nesta unidade também
está representada nas unidades 2, 3 e 4. Distingue-se das unidades 2 e 3 por apresentar
táxons que ocorrem apenas nas florestas da margem direita do rio Xingu. A fauna desta
unidade se distingue daquela que caracteriza a unidade 4 em razão das diferenças
ambientais existentes entre as duas formações. Por apresentar uma estacionalidade mais
marcada, esta unidade restringe a ocorrência de espécies tipicamente características da
floresta ombrófila.

Pode ser evidenciada ainda uma diferenciação ao sul, na região do Planalto dos Parecis/Alto
Xingu, na transição floresta ombrófila e floresta estacional, onde a fauna se distingue em
razão do caráter de transição condicionando a ocorrência de espécies como vira-folhas-de-
garganta-cinza (Sclerurus albigularis), que apresentam padrões de distribuição peri-
amazônico.

Formações da Serra do Cachimbo

A fauna associada à unidade denominada Serra do Cachimbo é resultado da


heterogeneidade da paisagem daquela região que congrega diferentes fitofisionomias.
Segundo Pacheco & Olmos (2005) que estudaram a avifauna da região. A composição das
comunidades difere entre as seguintes fitofisionomias:

ƒ Campinaranas: muitas espécies são restritas a este habitat como Herpsilochmus


sellowi, Elaenia cristata, E. parvirostris, Formicivora grisea, Tangara cayana,
Xenopipo atronitens, Phaeomyias murina, Euscarthmus meloryphus, Hemitriccus
margaritaceiventer, Schistochlamys ruficapillus, S. melanopis, Tachyphonus
phoenicius, Cyanocorax chrysops, Euscarthmus rufomarginatus, Melanopareia
torquata eb Thamnophilus torquatus.

ARCADIS Tetraplan 69
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ƒ Florestas baixo-montanas: formações onde os autores registraram um grande


número de espécies insetivoras entre as quais Xiphorhynchus guttatus, Myrmotherula
brachyura, Herpsilochmus rufimarginatus, Hemitriccus griseipectus, Cercomacra
nigrescens, Myiopagis gaimardii, Ramphocenus melanurus, Hylophilus hypoxanthus,
Myrmoborus myiotherinus; pequenos frugivoros-insetivoros como Tangara punctata,
Tachyphonus cristatus, Tersina viridis, Piprites chloris, Vireolanius leucotis. Outros
exemplos de especies comumente encontradas nesta fisionomia foram Pyrrhura
amazonum, Ara chloropterus, Pionus menstruus, Lipaugus vociferans, Pteroglossus
aracari, Crypturellus obsoletus, Pipile cujubi, Anodorhynchus hyacinthinus, Xipholena
lamellippenis.
ƒ Ecótono campinaranas/florestas ombrofila: muitas espécies ocorrem
preferencialmente nesta fitofisionomia e podem ser registradas em grande
abundância, entre elas podemos citar, Brachygalba lugubris, Galbula leucogastra,
Cyanocorax spp., Pipra rubrocapilla e Manacus manacus.
ƒ Floresta ombrofila: as espécies presentes nesta unidade são tipicamente amazônicas
como por exemplo, Lepidothrix vilasboasi, Deconychura stictolaema, Nasica
longirostris, Capito dayi, Thryothorus coraya, Cercomacra nigrescens e Thamnophilus
schistaceus.

Cerrado ou Savana

A fauna de vertebrados terrestres da unidade denominada Cerrado ou Savana caracteriza-se


por ser típica das formações do Brasil Central. A composição faunística desta unidade,
diferentemente das demais, é fortemente marcada por elementos associados a formações
abertas, entre eles a maioria dos endêmicos do Cerrado registrada para a região, como o
andarilho (Geositta poeciloptera), a gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus), a campainha-
azul (Porphyrospiza caerulescens), o capacetinho-do-oco-do-pau (Poospiza cinerea), o
mineirinho (Charitospiza eucosma), o cardeal-de-goiás (Paroaria baeri), o bico-de-pimenta
(Saltator atricollis), o pula-pula-de-sobrancelha (Basileuterus leucophrys), entre as aves; e a
raposinha (Pseudalopex vetulus), entre os mamíferos. A fauna dessa unidade reúne ainda
uma grande quantidade de táxons florestais, muitos deles conseqüência da influência da
fauna amazônica que penetra nessa região através de suas formações florestais. Por outro
lado, certas espécies tipicamente florestais têm sua distribuição restrita aos domínios do
Cerrado, caso do jacu-de-barriga-castanha (Penelope ochrogaster), do chorozinho-de-bico-
comprido (Herpsilochmus longirostris) e do soldadinho (Antilophia galeata). Vale ressaltar que
os registros destas espécies para a bacia basicamente coincidem com a região de nascentes
e cabeceiras no alto rio Xingu.

A fauna de vertebrados da Bacia Hidrográfica do rio Xingu reflete a heterogeneidade


ambiental representada na área e a complexa história de evolução dessas biotas, sendo
portanto extremamente diversa. As consultas realizadas à bibliografia especializada e às
coleções científicas permitem afirmar que, além de muito diversa, a fauna de vertebrados
terrestres presentes na região compreendida pela bacia do rio Xingu apresenta-se
estruturada geograficamente, ou seja, diferentes porções da bacia possuem expressões
faunísticas próprias.

Ressalte-se ainda que, a partir dos levantamentos de espécies de vertebrados terrestres de


ocorrência confirmada ou provável na bacia do rio Xingu foram identificas 68 constantes das

ARCADIS Tetraplan 70
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listas de espécies ameaçadas (incluindo aquelas consideradas quase ameaçadas pela


IUCN), sendo 25 aves, 41 mamíferos e dois quelônios, conforme mostra a Tabela 3-2.

Tabela 3-2 Espécies Ameaçadas de Extinção

Conservação*
Nome Científico Nome Popular
Status Referência

AVES

VU IBAMA
Penelope ochrogaster jacu-de-barriga-castanha
VU IUCN
VU IBAMA
Harpyhaliaetus coronatus águia-cinzenta AM IUCN
VU PARÁ
EX IBAMA
Numenius borealis maçarico-esquimó
CA IUCN
VU IBAMA
Anodorhynchus hyacinthinus arara-azul-grande AM IUCN
VU PARÁ
Primolius maracana maracanã-do-buriti VU PARÁ
VU IBAMA
Guarouba guarouba ararajuba AM IUCN
VU PARÁ
Geositta poeciloptera andarilho VU IBAMA
Dendrocincla fuliginosa arapaçu-pardo VU IBAMA
Euscarthmus rufomarginatus maria-corruíra VU PARÁ
Poospiza cinerea capacetinho-do-oco-do-pau VU IUCN
CP IBAMA
Sporophila maximiliani bicudo
CP PARÁ
Charitospiza eucosma mineirinho VU PARÁ

MAMÍFEROS

Gracilinanus emiliae catita, guaiquica VU IUCN


Monodelphis emiliae catita VU IUCN
VU IBAMA
Priodontes maximus tatu-canastra VU IUCN
VU PARÁ
VU IUCN
Tolypeutes tricinctus tatu
VU PARÁ
VU IBAMA
Myrmecophaga tridactyla tamanduá-bandeira
VU PARÁ
Saccopteryx gymnura morcego VU IUCN

ARCADIS Tetraplan 71
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Conservação*
Nome Científico Nome Popular
Status Referência

Micronycteris pusilla morcego VU IUCN


Tonatia carrikeri morcego VU IUCN
Natalus stramineus morcego VU PARÁ
EP IBAMA
Ateles marginatus coatá, macaco-aranha AM IUCN
VU PARÁ
EP IBAMA
Chiropotes satanas cuxiú-preto AM IUCN
CP PARÁ
Chrysocyon brachyurus lobo-guara VU IBAMA
VU IBAMA
Speothos vanaticus cachorro-vinagre
VU IUCN
VU IBAMA
Ptenura brasiliensis ariranha AM IUCN
VU PARÁ
Oncifelis colocolo gato VU IBAMA
Leopardus pardalis gato-maracajá VU IBAMA
Leopardus wiedii gato-do-mato VU IBAMA
VU IBAMA
Panthera onca onca-pintada
VU PARÁ
Puma concolor onca-parda VU PARÁ
Tapirus terrestris anta VU IUCN
VU IBAMA
Blastocerus dichotomus cervo
VU IUCN
Dasyprocta azarae cutia amarela VU IUCN
Echimys chrysurus bandeira VU QA

ANFÍBIOS

Rhinella ocellata sapo VU PARÁ


Colobosaura modesta lA VU PARÁ

RÉPTEIS

Tropidurus insulanus lagarto VU PARÁ


Podocnemis unifilis tartaruga VU IUCN
Geochelone denticulata cágado VU IUCN
Fonte: IBAMA, 1992; IUCN, 2007; SECTAM – PARÁ, 2007

ARCADIS Tetraplan 72
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3.1.4. Pressões sobre os Ecossistemas Terrestres – Desflorestamento


Vários são os fatores de pressão sobre os ecossistemas na área de estudo, entretanto, o
principal refere-se aos extensos e contínuos desflorestamentos. Às dificuldades de controle
dessas ações predatórias associam-se a precária regularização fundiária, a grilagem de
terras públicas, a contratação irregular de mão-de-obra e os baixos custos do processo
(MARGULIS, 2003).

A dinâmica dos desflorestamentos varia de uma área a outra, dependendo do histórico, do


tipo de formação florestal, da distância aos mercados. De acordo com MARGULIS (2004) os
desflorestamentos maiores que 500 ha representam menos que 20% dos episódios, na
floresta ombrófila. Esta proporção se inverte nas áreas de contato, no denominado Arco do
Desflorestamento, onde os grandes desflorestamentos representam cerca de um terço do
total.

Outro fator importante no processo de desflorestamento refere-se às vias de acesso. Cerca


de 85% das queimadas ocorrem a menos de 25 km das estradas (CHOMITZ; THOMAZ, 2000
apud MARGULIS, 2004) e é na faixa de aproximadamente 100 km a partir das estradas que
se concentram a maior parte das derrubadas (FUNDAÇÃO GORDON AND BETTY MOORE,
2003-2006).

Estes aspectos são evidenciados na bacia hidrográfica do rio Xingu. Os principais vetores de
ocupação observados estão relacionados às rodovias e novos focos muitas vezes
acompanham vias de acesso. Destacam-se a rodovia BR-230 (Transamazônica), ao norte,
que determina a ocupação intensa, em um padrão de desflorestamento em “espinha de
peixe”, a PA-150, situada a leste, a BR-163, a oeste, bem como a BR-080, que cruza a área
de estudo ao sul, ligando São José do Xingu a Peixoto Azevedo, passando pela Terra
Indígena Capoto Jarina.

Ressalte-se que as porções sul e leste dessa região limitam-se com o denominado “arco de
desflorestamento”, que se estende aproximadamente de nordeste/sudeste da Amazônia e, a
partir do Estado de Mato Grosso, faz uma inflexão no sentido oeste, em grande medida
associada à PA-150. Caracteriza-se por extensos desflorestamentos recentes e em curso e
pela expansão de culturas cíclicas, notadamente soja.

Na área correspondente ao município de São Félix do Xingu e parcialmente no município de


Altamira, na margem esquerda do rio Xingu, conhecida como “Terra do Meio”, encontram-se
desflorestamentos recentes e extensos, em meio à matriz florestal. Também áreas menores
desflorestadas se somam em um padrão linear, acompanhando estradas abertas
recentemente, seguindo em direção oeste.

Este padrão em linha também é observado a partir da grande mancha de pecuária que
caracteriza o entorno da cidade de São Félix do Xingu, em direção nordeste e norte, inclusive
na Terra Indígena Apyterewa, onde se verificam áreas recentes de supressão da cobertura
vegetal.

Já no sentido sul, a partir de Cumaru do Norte, o padrão difere, assumindo grandes


extensões em manchas de recorte geométrico. Note-se que esta área se caracteriza por
formações de contato Floresta Ombrófila/Floresta Estacional e Contato Savana/Floresta
Ombrófila.

ARCADIS Tetraplan 73
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Ao sul e leste da região, no limite do “arco de desflorestamento”, verificam-se extensos


desflorestamentos recentes e em curso, associados à expansão de culturas cíclicas.

Segundo o diagnóstico do ISA, “a região dos formadores do Xingu se comporta ainda hoje
como uma área de fronteira agrícola, atraindo investimentos e mão-de-obra para o setor
primário da economia através de programas de incentivos do governo. As principais
atividades econômicas se concentram na pecuária, na extração de madeiras, no cultivo da
soja, do milho, do algodão e do arroz de sequeiro, também utilizado em sistema de ‘barreirão’
para reforma de pasto” (http://www.estadao.com.br/villasboas/entorno.htm).

Os Estados de Mato Grosso e do Pará apresentaram, no período de 1996 a 2007 taxas


crescentes de desflorestamentos, com queda progressiva em ambos os Estados até 2007. A
Figura 3-6 mostra esse processo.

Figura 3-6 - Taxas de desflorestamento nos Estados de Mato Grosso e Pará entre 1988
e 2007

14000

12000

10000

8000 Mato Grosso

6000
Pará

4000

2000

0
88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
(a) (b) (b) (c) (c) (c)

Fonte: INPE/PRODES, 2007. (a) Média entre 1977 e 1988; (b) Media entre 1993 e 1994; (c) Taxas
Anuais Consolidadas;Nota: Elaboração Arcadis/Tetraplan, 2009.

Ao se analisar as variações relativas, observa-se, entretanto, taxas crescentes no Estado de


Mato Grosso, onde a queda foi mais acentuada, em relação ao Pará, onde o processo
permanece estabilizado, como mostra a Figura 3-7.

ARCADIS Tetraplan 74
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Figura 3-7 Variação relativa das taxas de desflorestamento nos Estados de Mato
Grosso e Pará entre 1988 e 2007

500

400

300

200
Mato Grosso
Pará
100

0
00-01 01-02 02-03 03-04 04-05 05-06 06-07
-100

-200

Fonte: INPE/PRODES, 2007. Nota: Elaboração Arcadis/Tetraplan, 2009.

Considerando os municípios da bacia hidrográfica do rio Xingu, verificam-se taxas elevadas


em grande parte deles. Destacam-se os municípios de Tucumã (88% do território desmatado)
e Bannach (63%), ambos nas proximidades de São Félix do Xingu, Confresa (57%) e São
José do Xingu (54%), situados na margem da rodovia BR-080, bem como Vitória do Xingu, às
margens da Transamazônica, com cerca de 55% de seu território desflorestado.

Citam-se ainda os municípios no limite sul da bacia, onde o avanço da agropecuária


responde em grande parte por desflorestamentos de extensas áreas: Sinop (62%) e Vera
(62%), bem como Gaúcha do Norte, com cerca de 28%, cujo setor norte faz parte o Parque
Nacional do Xingu, e Querência do Norte, cujo território também está parcialmente incluído no
Parque Nacional do Xingu, com 26% de seu território desflorestado.

As florestas remanescentes, considerando apenas aquelas que deveriam ser destinadas à


reserva legal (50% até 1997 e 80% a partir desse ano), no território da Amazônia Legal
caracterizado por formações florestais, deixam 27 entre os 46 municípios da área de estudo
fora do limite do previsto pela legislação. Entretanto, parte desses municípios tem parcelas de
seus municípios sob proteção legal, na forma de Unidades de Conservação (UCs) e/ou
Terras Indígenas (TIs). Assim, ao se considerar apenas o território com autonomia local, o
número de municípios fora do limite legal esperado torna-se ainda maior (34), conforme
mostra a Tabela 3-3.

ARCADIS Tetraplan 75
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Tabela 3-3 - Municípios da bacia hidrográfica do Xingu, segundo as taxas de


desflorestamento observadas até 2007

% de Área
Área do
Área do Total Desflorestada
Área total % deÁrea município
município Desflorestado no município
do Desflorestada bacia
Nome do Município na bacia municipio bacia
município no Município excetuando-
2 do Xingu bacia (km2) excetuando-
(km ) bacia* se UCs e
(km²) 2007 se Ucs e Tis
TIs (km2)
(km²)**
Água Boa 7.486.00 5.136.01 0.33 0.01 5.134.55 0.006
Altamira 159.701.00 159.229.02 4.727.59 2.97 12.544.38 37.687
Alto Boa Vista 2.242.00 1.301.68 739.00 56.77 688.37 107.354
Anapu 11.909.00 8.155.20 714.68 8.76 3.019.53 23.668
Bannach 2.963.00 2.916.44 1.813.78 62.19 2.750.17 65.952
Bom Jesus do Araguaia 4.282.00 2.643.71 1.300.01 49.17 2.557.97 50.822
Brasil Novo 6.370.00 6.368.26 2.115.58 33.22 4.810.03 43.983
Campinápolis 5.967.00 4.196.79 0.10 0.00 1.873.60 0.005
CanaBrava do Norte 3.450.00 425.86 181.28 42.57 425.86 42.568
Canarana 10.839.00 9.323.30 1.786.81 19.17 8.656.34 20.642
Cláudia 3.819.00 2.581.86 965.84 37.41 2.581.86 37.409
Confresa 5.799.00 2.944.38 1.264.35 42.94 2.938.40 43.028
Cumaru do Norte 17.106.00 16.973.65 6.173.17 36.37 12.921.46 47.775
Feliz Natal 11.448.00 11.473.74 1.626.67 14.18 6.236.20 26.084
Gaúcha do Norte 16.900.00 16.915.29 2.996.24 17.71 8.648.12 34.646
Guarantã do Norte 4.717.00 1.410.98 290.66 20.60 847.19 34.309
Gurupá 8.550.00 913.53 1.76 0.19 911.13 0.193
Itaúba 4.543.00 86.48 40.02 46.28 86.48 46.278
Marcelândia 12.294.00 10.083.15 2.241.98 22.23 8.514.30 26.332
Matupá 5.153.00 2.152.82 224.80 10.44 1.378.82 16.304
Medicilândia 8.271.00 6.296.10 1.266.61 20.12 6.034.14 20.991
Nova Brasilândia 3.269.00 20.66 0.00 0.00 20.66 0.000
Nova Santa Helena 2.625.00 724.40 253.45 34.99 724.40 34.988
Nova Ubiratã 12.690.00 12.076.89 3.573.43 29.59 10.372.74 34.450
Nova Xavantina 5.527.00 112.60 0.00 0.00 112.60 0.000
Ourilândia do Norte 13.840.00 13.800.84 1.021.14 7.40 1.645.98 62.038
Paranatinga 24.185.00 19.647.21 2.255.69 11.48 16.101.30 14.009
Peixoto de Azevedo 14.402.00 12.239.29 1.544.02 12.62 6.005.20 25.711
Planalto da Serra 2.451.00 44.19 0.00 0.00 44.19 0.000
Porto Alegre do Norte 3.982.00 315.87 141.47 44.79 315.87 44.788
Porto de Moz 17.429.00 14.905.62 590.70 3.96 4.078.87 14.482
Prainha 12.600.00 357.27 1.48 0.41 345.18 0.429

ARCADIS Tetraplan 76
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

% de Área
Área do
Área do Total Desflorestada
Área total % deÁrea município
município Desflorestado no município
do Desflorestada bacia
Nome do Município na bacia municipio bacia
município no Município excetuando-
2 do Xingu bacia (km2) excetuando-
(km ) bacia* se UCs e
(km²) 2007 se Ucs e Tis
TIs (km2)
(km²)**
Primavera do Leste 5.474.00 988.77 0.00 0.00 988.77 0.000
Querência 17.856.00 17.852.80 4.572.64 25.61 10.573.60 43.246
Ribeirão Cascalheira 11.364.00 3.287.32 979.45 29.79 3.159.18 31.003
Santa Carmem 3.921.00 3.934.86 1.313.07 33.37 3.934.86 33.370
Santa Cruz do Xingu 5.625.00 5.625.10 1.250.61 22.23 5.068.52 24.674
Santo Antônio do Leste 3.597.00 1.545.19 0.09 0.01 1.545.19 0.006
São Félix do Araguaia 16.857.00 9.681.61 3.255.75 33.63 7.385.93 44.080
São Félix do Xingu 84.249.00 84.068.21 12.299.29 14.63 22.956.71 53.576
São José do Xingu 7.467.00 7.463.70 4.084.37 54.72 6.137.28 66.550
Senador José Porfírio 14.388.00 12.887.49 363.38 2.82 3.678.27 9.879
Sinop 3.193.00 725.68 404.10 55.69 725.68 55.686
Sorriso 9.350.00 69.05 0.00 0.00 69.05 0.000
Tucumã 2.513.00 2.488.31 1.969.35 79.14 2.476.62 79.518
União do Sul 4.583.00 4.592.59 860.28 18.73 4.586.88 18.755
Vera 2.951.00 1.231.96 615.13 49.93 1.231.96 49.931
Vila Rica 7.450.00 3.818.27 1.666.32 43.64 3.818.27 43.641
Vitória do Xingu 2.969.00 2.964.82 1.523.36 51.38 2.854.58 53.365
Fonte: INPE/PRODES, 2007.
*considerando a área total do município
**considerando a área do município sem proteção legal (UCs + TIs)

Legenda:

Abaixo do Limite Um Pouco Acima Situação Muito Situação Crítica


Não Situação Grave de
de do Limite de Grave de de
Analisados Desflorestamento
Desflorestamento Desflorestamento Desflorestamento Desflorestamento

ARCADIS Tetraplan 77
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Note-se que esta análise é apenas uma aproximação, e tem por intuito apresentar processos
de desflorestamentos, tendências e situações. Entretanto, ainda que seja uma simplificação
do quadro real, é um exercício que permite evidenciar, em alguma medida, os níveis de
criticidade dos processos de supressão da cobertura vegetal nas propriedades privadas ou
em terras devolutas existentes nos municípios da bacia hidrográfica e, por conseguinte, as
contradições dentro de territórios municipais (áreas preservadas versus desflorestamentos
acima dos permitidos pela legislação), as dificuldades de gestão do território municipal,
parcialmente sob controle da União ou do Estado, bem como vetores de pressão sobre as
UCs e TIs e possíveis áreas de futuros conflitos.

Os dados do PRODES (INPE, 2005) permitiram evidenciar vetores de pressão a leste, em


direção ao município de São Félix do Xingu e à denominada Terra do Meio (atual APA Triunfo
do Xingu/Altamira), na margem esquerda do rio Xingu, e, a partir dos municípios situados no
limite sul, sudeste e sudoeste da bacia, em direção norte.

Ao se considerar os municípios com mais de 3.000km2 de desflorestamento até 2004,


verifica-se que estes se situam, em sua maioria, no limite leste da bacia hidrográfica,
configurando claramente o quadro de pressão de desflorestamentos de leste para oeste,
resultante da extração de madeira e de lenha e do avanço da pecuária. Os seguintes
municípios compõem esse grupo: São Félix do Xingu e Cumaru do Norte, no Estado do Pará,
e São Félix do Araguaia, São José do Xingu, Confresa, Vila Rica, Querência e São Félix do
Araguaia, no Estado de Mato Grosso.

Vetores de oeste para leste são evidenciados principalmente a partir de Sorriso e Nova
Ubiratã, no Estado de Mato Grosso, municípios onde as culturas cíclicas têm forte expressão.
São também produtores de madeira e lenha. Embora abaixo do limite estabelecido para essa
discussão, os municípios de Gaúcha do Norte e Marcelândia também se configuram com
extensas áreas desflorestadas. Note-se que ambos contêm parte do Parque Nacional do
Xingu em seus territórios.

Além dos desflorestamentos que se evidenciam em imagens de satélite, as práticas


predatórias de exploração madeireira incluem corte seletivos não controlados, denominados
popularmente “garimpo de madeira”. Essas práticas são observadas notadamente na
margem esquerda do rio Xingu, no município de São Félix (Fotos 3-3 a 3-6). As questões
relativas ao comércio ilegal dessa madeira são apresentadas mais adiante.

ARCADIS Tetraplan 78
56°W 54°W 52°W 50°W
Legenda
Gurupá UHE Belo Monte
Porto PCHs
Prainha de Moz Melgaço
Rio Rio Capital Estadual
Portel
Amazonas Amazonas
2°S

2°S
AM Rio
Rio Sedes Municipais
Xingu
Tapajós
Senador
Limite Estadual
José
Porfírio Limites Municipais
Vitória
do Xingu Massa D'Água
Belo
Brasil Altamira Monte
Bacia do Xingu
Novo
Medicilândia Rio Terras Indígenas
Anapu
Xingu
UCs Proteção Integral
Uruará
Placas UCs Uso Sustentável
Vegetação
4°S

4°S
Rurópolis Novo

Agrupamento das Formações


Itaituba Repartimento

Trairão Rio Iriri Campinarana


Contatos
Floresta Estacional
Floresta Ombrofila
PA Formações Pioneiras
Refugio
Rio
Xingu
Savanas
Parauapebas
6°S

6°S
Vegetação Secundária
Desmatamento Progressivo PRODES
São Félix
do Xingu
Anos Analisados
Rio Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte 1997
do Norte
Novo Rio 2000/2001
Progresso Maria
Bannach 2002/2003
2004/2005
Pau
Cumaru
do Norte
D'Arco 2006/2007
Redenção
8°S

8°S

Salto
Salto Três Buriti
de Maio Salto
Curuá

Santana do
Araguaia

Rio Xingu

Guarantã
Vila
do Norte
10°S

10°S

Rica Localização
Matupá Peixoto de 60°W 45°W
Azevedo Rio Araguaia
Santa
Confresa Terezinha
Porto

São José 0°
Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba
do Norte

TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
60°W 45°W
Sorriso
Querência

Rio Ribeirão
Nova ARS Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
do Norte 1:4.250.000
km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Sistema de Coordenadas Geográficas
Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.8 Vetores de Desflorestamento e
Temporalidade do Processo
Nova
da Serra Xavantina
Nova
Brasilândia
GO
Fontes:
Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
CUIABÁ Primavera IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
do Leste PRODES, 2007
Compilação de dados MMA e ICMBIO
ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Foto 3-3 Floresta Ombrófila da margem esquerda do rio Xingu, na região denominada
Terra do Meio, São Félix do Xingu, Pará. Notar pequenas clareiras, evidenciando a
extração seletiva e predatória de madeiras, bem como o mosaico de estágios
sucessionais resultante.

Foto 3-4 Encosta desflorestada às margens do rio Xingu, nas proximidades da área
urbana de São Félix do Xingu, Pará

ARCADIS Tetraplan 80
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Foto 3-5 Barcaças com toras, rio Xingu,cerca de 80 km a jusante da cidade de São Félix
do Xingu, Pará

Foto 3-6 Desflorestamentos na região conhecida como Terra do Meio, nas


proximidades da recentemente criada Estação Ecológica Terra do Meio, São Félix do
Xingu, Pará.

ARCADIS Tetraplan 81
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3.1.5. Áreas Legalmente Protegidas


Ecossistemas de Relevante Interesse Ecológico

Qualquer ambiente natural pode ser considerado ecologicamente relevante seja por
representar habitat para a flora e a fauna locais, seja pelas funções ecológicas que
desempenha (ciclagem de nutrientes e balanço hídrico, por exemplo). Em um espaço
geográfico extenso e com baixa ocupação antrópica, estes se tornam especialmente
relevantes, como resultado da continuidade que, de modo geral, apresentam, bem como das
lacunas de conhecimento sobre seus componentes e sua dinâmica.

É importante destacar, primeiramente, as áreas legalmente protegidas, principalmente as


Unidades de Conservação (UCs) de Proteção Integral, depositárias de um pool gênico que se
pretende preservar. Também as UCs de Uso Sustentável devem ser consideradas, uma vez
que representam áreas para conservação dos estoques de recursos naturais e dos processos
naturais.

Entre as áreas não protegidas legalmente, ressalta-se as Áreas Prioritárias para Conservação
da Biodiversidade, definidas em workshops por bioma, no âmbito do Probio e passíveis de
integrar o sistema de Unidades de Conservação.

Incluem-se, ainda, as Terras Indígenas, que apresentam, de modo geral, bom estado de
conservação, ainda que localmente verifiquem-se pressões de desflorestamento. Reforça-se
esse procedimento ao se considerar, entre os objetivos do Plano Nacional de Áreas
Protegidas, a intenção de definir estratégias para conservação e uso sustentável da
diversidade biológica nesses territórios.

Ressalte-se que o objetivo, nesse item, é destacar as áreas consideradas de importância


para a manutenção da diversidade biológica, de ecossistemas e de processos ecológicos,
incluindo a conectividade da paisagem e a redução dos efeitos adversos da fragmentação
decorrente das atividades antrópicas na bacia hidrográfica. Assim, a análise institucional
dessas áreas é realizada em itens relacionados à socioeconomia.

Unidades de Conservação (UCs)

As Unidades de Conservação (UC) têm por finalidade preservar bancos genéticos, proteger
os recursos hídricos e paisagens de relevante beleza cênica, conduzir a educação ambiental,
propiciar condições para o desenvolvimento de pesquisas e proteger áreas que venham a ter,
no futuro, utilização racional dos usos do solo.

Para cumprir os objetivos de preservação e de uso sustentável dos recursos naturais e da


diversidade biológica e de paisagens, dois grupos de UCs estão previstos no Brasil,
abarcando duas categorias: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.

As Unidades de Proteção Integral tem como objetivo preservar a natureza, sendo permitido
apenas o uso indireto de seus recursos naturais (com exceção de casos previamente
analisados). São unidades de uso indireto e, conceitualmente, restritivas em relação ao
consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais e à presença de populações
humanas.

ARCADIS Tetraplan 82
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Já as Unidades de Uso Sustentável têm como objetivo compatibilizar a conservação da


natureza com o uso sustentável de uma parcela dos seus recursos naturais. Ou seja, são
unidades de uso direto, onde a coleta e uso, comercial ou não dos seus recursos naturais é
permitida, assim como a presença e diferentes níveis de atividades humanas.

Unidades de Conservação da Bacia Hidrológica do Xingu

Várias Unidades de Conservação foram criadas na região de estudo, embora poucas estejam
efetivamente implantadas. Ressalte-se a criação recente da APA Triunfo do Xingu/Altamira,
cuja aprovação ocorreu em 29 de junho de 2006.

Destaca-se, por sua extensão, a Estação Ecológica da Terra do Meio, de Proteção Integral,
recentemente criada com o intuito de preservar as formações florestais ombrófilas situadas
na margem esquerda do rio Xingu (ecorregião Interflúvio Xingu/Tapajós), entre este rio e seu
afluente Iriri, alvos de desflorestamentos e de extração predatória de madeira, principalmente
de mogno (Swietenia macrophylla). Dos 33.877 Km² que compõem a área dessa UC, 94,5%
encontra-se no município de Altamira, sendo o restante parte do território do município de
São Félix do Xingu.

Menciona-se, ainda, o Parque Nacional da Serra do Pardo, limítrofe à Estação Ecológica


Terra do Meio, também recentemente criado nos território de Altamira e São Félix do Xingu e
abarcando florestas ombrófilas da ecorregião Interflúvio Xingu/Tapajós.

Essas duas UCs, em conjunto com as Terras Indígenas (TIs) situadas a norte (Kararaô,
Cachoeira Seca e Baú), ao sul (Menkragnoti e Kayapó) e a leste (Kuruaya), têm importante
papel para garantir a continuidade florestal. Além disso, protegem ecossistemas florestais da
denominada Terra do Meio, onde a pressão de desflorestamento tem sido intensa. A Figura
3-9 mostra o mosaico de áreas protegidas nas formas de UCs e TIs.

Várias UCs de Uso Sustentável (Floresta Nacional de Altamira, Reserva Extrativista Riozinho
do Anfrísio, Reserva Extrativista Verde para Sempre) foram criadas para garantir a
exploração de produtos da floresta por meio de manejo sustentável, coerentemente com a
aptidão das terras, como no caso da Resex Verde Para Sempre, contribuindo para a redução
das taxas de conversão das florestas em pastagens ou agrossistemas. Todas se encontram
na margem esquerda do rio Xingu, protegendo florestas ombrófilas da ecorregião Interflúvio
Xingu/Tapajós.

Em território paraense, essas UCs, em conjunto com TIs, formam um mosaico de áreas sob
proteção legal com diversos níveis de restrição de uso, que favorece a manutenção da
floresta, da diversidade biológica e das funções ecológicas dos sistemas naturais.

Em território matogrossense, as UCs ocupam pequenas extensões e encontram-se isoladas


por áreas não protegidas. Encontram-se mais expostas às pressões antrópicas, o que pode
ser observado na Estação Ecológica do Rio Ronuro, com cerca de 1.420 km², onde
expressivas áreas desflorestadas (aproximadamente 113km²) podem ser observadas. Note-
se que esta UC abarca formações de contato floresta estacional/floresta ombrófila, podendo
abarcar em seu interior espécies restritas a essa região periférica da Amazônia.

ARCADIS Tetraplan 83
56°W 54°W 52°W 50°W
Legenda
APA do
Gurupá UHE Belo Monte
Arquipélago
do Marajó PCHs
Porto
Prainha de Moz Melgaço
Rio F.N. Portel Capital Estadual
Rio Amazonas Amazonas Caxiuanã
AM RESEX
2°S

2°S
Verde para Rio Sedes Municipais
Rio Xingu
Tapajós Sempre Limite Estadual
Senador
José
Vitória Porfírio Limites Municipais
do Xingu
Belo Massa D'Água
Monte
Sítio
Brasil Bacia do Xingu
Novo
de Pesca
Altamira
do Xingu Terras Indígenas
Medicilândia Anapu
Arara da UCs Proteção Integral
Rio
Uruará Arara Xingu
Volta Grande
Placas do Xingu APA UCs Uso Sustentável
Koatinemo Tucuruí
4°S

4°S
Rurópolis Kararaô Novo
Itaituba Repartimento
Cachoeira Seca
Trairão RESEX Trincheira
do Rio Iriri Bacaja
RESEX Arawete
Riozinho do RESEX Igarapé
Anfrisio ESEC do Rio Ipixuna
Terra do Xingu
Meio
Xipaya
PA R.B.
Apyterewa do Tapirapé
Kuraya P.N. da F.N. Tapirapé-
F.N. Serra do Rio F.N. Aquiri
Altamira Pardo Xingu Iatacaiúnas Parauapebas
6°S

6°S
Xikrin do
FLOTA
APA Triunfo Cateté
do Iriri
do Xingu São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
Rio do Norte
Novo Iriri Rio
Progresso Maria
Baú Bannach

Pau
Cumaru
Kayapo do Norte
D'Arco
Redenção
8°S

8°S

Salto
Salto Três Menkragnoti
Buriti
de Maio Salto
R.B. Curuá Badjonkore
Nascentes da Serra
do Cachimbo Santana do
Araguaia
Panará
Rio Xingu

Guarantã
Vila
do Norte
10°S

10°S

Rica Localização
Matupá Peixoto de
Capoto/Jarina Rio Araguaia
60°W 45°W
Azevedo
Santa
Confresa Terezinha
Urubu
Rio Porto


São José
Alegre do Branco
Arrais/BR do Xingu
Norte
Marcelândia 080 Canabrava
Itaúba
do Norte

TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Wawi Maralwat Vista
Sinop Santa Sede
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz Parque
Natal do Xingu 60°W 45°W
Sorriso
Querência

ESEC MT Rio Xingu Ribeirão


Nova
ARS Rio Batovi Cascalheira
Ubiratã Naruwota
Ronuro Gaúcha
do Norte Pimentel 1:4.250.000
Barbosa km
Canarana 0 50 100 200 300
RESEC do
Marechal CulueneParanatinga II Sistema de Coordenadas Geográficas
Datum horizontal: SAD 69
Rondon
14°S

14°S

Ronuro Paranatinga I Água Boa

Bakairi
Paranatinga
Parabubure
Planalto Culuene Chão Campinápolis Figura 3.9 Terras Indígenas e
Unidades de Conservação
Nova
da Serra Preto Xavantina
Nova

APA
Brasilândia
GO
Chapada
dos Guimarães Fontes:
CUIABÁ Primavera Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
do Leste IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
Compilação de dados MMA e ICMBIO
PES da Serra Azul ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Terras Indígenas (TIs)

A Figura 3-9, anteriormente citada, apresenta também as Terras Indígenas (TI) existentes.
Estas áreas, embora com objetivos distintos das UCs, contribuem atualmente em grande
medida para a proteção das formações vegetais e dos ambientes da região, o que pode ser
evidenciado ao se analisar as taxas de desflorestamento na região, e podem desempenhar a
função de zonas de amortecimento para UCs.

Aproximadamente 40% da área total da bacia corresponde a TIs, concentradas


principalmente no Estado do Pará, em grande parte nos municípios de Altamira e São Félix
do Xingu.

Diversas formações vegetais e ecorregiões estão representadas nessas TIs, incluindo


principalmente formações florestais ombrófilas da margem esquerda do rio Xingu (TIs
Kararaô, Arara, Cachoeira Seca, Xipaya, Kuraya, Baú Menkragnoti) e da margem direita (TIs
Koatinemo, Trincheira Bacajá, Araweté Igarapé Ipixuna, Apyterewa).

Contatos Savana/Floresta Ombrófila e Floresta Ombrófila/Floresta Estacional da margem


direita (ecorregiões Interflúvio Xingu /Tocantins e Florestas Secas) encontram-se abarcados
pelas TIs Kayapó e Badjonkore.

Já em território matogrossense, as TIs Capoto Jarina, Wawi, Naruwota, Arraias/Br-080 e


Parque do Xingu preservam áreas de contato Floresta Ombrófila/Floresta Estacional
(ecorregião Florestas Secas) e Formações Pioneiras das planícies do rio Xingu e de seus
afluentes, em ambas as margens.

Em conjunto com as UCs, essas TIs formam corredores de proteção dos ecossistemas que
se estendem desde o baixo curso do rio Xingu até seu alto curso, bem como em direção aos
limites a leste e a oeste da bacia. É, portanto, incontestável sua importância para manutenção
da conectividade da paisagem, do fluxo gênico, dos processos ecológicos e evolutivos e da
fisiologia dos ecossistemas, incluindo ribeirinhos e aquáticos.

Menor é a contribuição das TIs para a proteção de formações de cerrado, no extremo sul da
área de estudo, o que se deve à menor extensão destas e à maior antropização observada
(por exemplo, TI Pimentel Barbosa, parcialmente inserida na bacia do rio Xingu, e
Parabubure). Apenas a TI e Marechal Rondon apresenta vegetação pouco alterada. Não se
verifica, nesse setor, a continuidade observada no restante da bacia.

Áreas Prioritárias

Embora não se configurem, atualmente, como áreas legalmente protegidas, destacam-se as


Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade Brasileira identificadas na bacia
hidrográfica do Xingu. Representam áreas de interesse conservacionista com diferentes
níveis de prioridade para proteção, podendo ser consideradas, no atual estágio de
conhecimento, como potenciais UCs.

Estas se distribuem principalmente no extremo sul da bacia, junto às cabeceiras dos


formadores do rio Xingu, no médio curso deste rio e a nordeste da bacia, conforme aponta a
Figura 3-10 a seguir.

ARCADIS Tetraplan 85
56°W 54°W 52°W 50°W

Legenda
Gurupá UHE Belo Monte
PA-04
Porto Gurupá -
de Moz Porto de PCHs
Prainha Moz Melgaço
Portel Capital Estadual
AM
2°S

2°S
Rio Sedes Municipais
Xingu Senador
José
Porfírio
Limite Estadual
Renascer Limites Municipais
Tabuleiro do
Vitória Xingu Belo Sub bacias
do Xingu Monte
Brasil
Altamira Cavernas
da Volta
Massa D'Água
Novo Anapú
Grande
Medicilândia Rio
Anapu
Bacia do Xingu
Sub bacia Xingu
do Baixo Xingu Arara Terras Indígenas
Uruará
do Maia
Placas Unidade de Conservação de Proteção Integral
4°S

4°S
Rurópolis Novo Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Itaituba Repartimento
Áreas Prioritárias
Trairão Rio Iriri Extremamente Alta
Muito Alta
Alta

PA

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Igarapé
Triunfo São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
APA Triunfo do Norte
Novo do Xingu Rio
Progresso Maria
Bannach
Bannach
Pau
Cumaru D'Arco
do Norte
Redenção
8°S

8°S

Entorno
BR-
163
Salto Microbacia
Buriti Salto do Rio
Salto Três de Maio Curuá Dezoito
Sub bacia
do R io Curuá
Base militar Serra
do Cachimbo Santana do
Araguaia
Entorno REBIO
Nascentes
do Cachimbo sul
Nascente Rio Xingu
de Iriri
Guarantã
Vila
do Norte Sul do Parque Comandante
10°S

10°S

Jarinã Estadual do Fontoura


Rica Localização do mapa
Matupá Peixoto de
Xingú 60°W 45°W
Azevedo
Santa
Confresa Terezinha
São José Porto


Manissaua- do Xingu Alegre do
Assentamento Miçu Norte
Trairão Canabrava
Itaúba Bom Marcelândia
Jaguá do Norte

TO
Castanheiras
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Corredor Wawy- Alto Boa
Bacia do Araguaia
Marãwatsêde Vista
Sinop Santa Arraias
Carmem
Rio
12°S

12°S

Entre Xingu Suiázinho


30°S

30°S

Vera Rios
Feliz
Natal
MT
60°W 45°W
Sorriso Querência
Jatobá Ribeirão
Nova Sub bacia Cascalheira
Ubiratã do Rio Von Rio
Ribeirão
den Steinen Xingu Cascalheira
ARS Cabeceiras do Xingú
Rondon-Xingú
Gaúcha
Sub bacia do Norte 1:4.250.000
Sub bacia
do Rio do Rio Canarana
km
0 50 100 200 300
Paranatinga -Ronuro Curisevo Nascentes
Rosário Paranatinga do Xingu Sistema de Coordenadas Geográficas
Oeste Paranatinga II Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Paranatinga I Sub Água Boa


bacia do
Paranatinga Rio Culuene

Planalto Serra do Culuene


Campinápolis Figura 3.10 Áreas Prioritárias para
Conservação da Biodiversidade
Nova
da Serra Culuene Xavantina
Nova
Brasilândia
GO
Fontes:
Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
CUIABÁ Primavera IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
do Leste PROBIO, 2007
Compilação de dados MMA e ICMBIO
ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

As áreas prioritárias da bacia do rio Xingu estão concentradas principalmente a sul, nas
cabeceiras dos formadores do rio Xingu. Outros fatores que concorrem para o maior número
de áreas prioritárias nesse trecho refere-se às características de savana e de transição entre
savanas e florestas, bem como pela crescente pressão de ocupação. As principais ações
programadas para esta região são manejo de bacia, criação de corredores ecológicos e
implantação de unidades de conservação tanto de uso sustentável e quanto de proteção
integral.

A nordeste da bacia encontra-se outra concentração de áreas prioritárias (Tabuleiro do Xingu,


Cavernas da Volta Grande12 e Anapú). Essas APCBs estão ligadas à questões muito
específicas da região. Ainda que englobem toda a Volta Grande, os principais atributos a
serem conservados são os sistemas de cavernas, os ecossistemas aquáticos da própria Volta
Grande e as florestas aluviais do Bacajá. Nessa altura da margem esquerda do Xingu é
prevista a restauração de corredores ecológicos, em um reconhecimento de que as florestas
se encontram degradadas na região (além de serem muito semelhantes àquelas já protegidas
pelo continuum de áreas protegidas).

Finalmente, em que pese a criação da APA do Triunfo, a área abarcada por essa Unidade de
Conservação de uso sustentável continua reconhecida como prioritária (Área Prioritária
Igarapé Triunfo). Estendendo-se por aproximadamente 16.817 Km², corresponde à maior
APCB da bacia do rio Xingu, estando prevista a implantação de unidades de conservação de
uso sustentável, devido à grande pressão exercida pela atividade extrativista de madeira.

3.1.6. Ecossistemas Aquáticos


A caracterização dos recursos hídricos e das comunidades aquáticas no âmbito do presente
trabalho, dada a sua natureza e seus objetivos pretende ser evidenciar os aspectos mais
relevantes da limnologia e da ictiofauna dos rios e dos fatores associados à integridade e
diversidade dos habitats aquáticos, buscando espacializar esses atributos, com o intuito de
contribuir para a compartimentação da bacia em áreas equi-problemáticas sob a óptica
ambiental.

Esta caracterização se baseou na informação disponível e, dado o seu caráter descontínuo,


no tempo e no espaço, permitiu reconhecer ainda as principais lacunas de informação.

3.1.6.1. Aspectos Fisiográficos e Hidrológicos


O rio Xingu nasce no Mato Grosso, formado pelos rios Culuene e Sete de Setembro, que, por
sua vez, nascem na serra do Roncador a uma altitude de cerca de 800m e 500m,
respectivamente, e desemboca nas proximidades da localidade de Porto de Moz, no Pará.
Sua extensão total é de cerca de 1.815 km e seus principais tributários são o Iriri, Curuá,
Bacajá, Fresco, Suiá-Miçu, Liberdade, Ronuro, Manissauá-miçu, Ferro, Cuvisevo e
Comandante Fontoura.

Sua bacia de contribuição tem área total aproximada de 509.000 km² e possui forma
alongada, com largura máxima de 550 km, desenvolvendo-se no sentido sul-norte, dos
paralelos 15º a 1º, até desaguar no rio Amazonas.

12
A área de ocorrência das cavernas se restringe a uma faixa aproximadamente ENE/WSW acompanhando a borda da Bacia
Sedimentar do Amazonas até a região de Itaituba

ARCADIS Tetraplan 87
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Na parte mais meridional da bacia, os rios correm em seções pouco encaixadas,


apresentando ocasionais desníveis localizados nos trechos de montante. À medida que os
rios se desenvolvem, nota-se a existência constante de meandros, causando eventualmente13
formação de lagoas nas margens. A rede hidrográfica dessa região é bastante extensa e
homogênea (ver Figura 3-11). O relevo é suave, representado por ampla planície e leitos com
margens baixas.

No trecho médio superior, pode-se delimitar uma zona de transição, denotada pelo
surgimento de taludes acentuados e bem definidos em certos pontos, intercalados com a
presença, ainda dominante, de margens baixas.

Na altura da cidade de São Félix do Xingu, com a topografia mais acentuada, o rio segue seu
curso, vencendo pequenas corredeiras, formando vários braços e ilhas e apresentando
grande variação de volume entre as épocas de cheia e de estiagem.

Já no curso médio inferior, onde o rio Xingu recebe seu principal afluente, o rio Iriri, os efeitos
de retenção dos deflúvios nas baixadas marginais são mais acentuados, ocasionando retardo
e atenuação das descargas, na época de enchente, e acréscimos nas vazões na época da
vazante. É um dos motivos da capacidade natural de regularização do rio.

Nas imediações da cidade de Altamira, o rio Xingu sofre uma acentuada deflexão formando a
chamada Volta Grande, de grandes corredeiras, com um desnível de 85m em 160km. No fim
desse trecho, à altura da localidade de Belo Monte, o rio se alarga consideravelmente,
apresentando baixa declividade até a sua foz e sofrendo, inclusive, efeitos de remanso
provocados pelo rio Amazonas (CNEC, 1988).

O estudo da hidrografia da bacia do Rio Xingu foi realizado com base na análise dos
seguintes aspectos: morfologia dos canais fluviais, tipos de terrenos e tipo de substrato
atravessado; tendo-se considerando ainda a subdivisão da bacia, em três partes, que
corresponde ao alto, médio e baixo curso do rio, e que foram denominadas por SCHUMM
(1977) de Zonas 1, 2 e 3, conforme descrito anteriormente, no item Aspectos da Dinâmica
Superficial no 3.1.2 – Terrenos.

ARCADIS Tetraplan 88
56°W 54°W 52°W 50°W

Gurupá
Almeirim
Porto Breves
Legenda
Oriximiná Prainha de Moz Melgaço
Óbidos Curuá Oeiras
Alenquer Monte Portel
Rio Amazonas do Pará
AM UHE Belo Monte
2°S

2°S
Alegre

Juruti
Rio
Rio Rio Amazonas
Tapajós SANTARÉM
Xingu PCHs
Senador
Belterra
José Capital Estadual
Porfírio
Vitória Sedes Municipais
do Xingu
Belo Rios permanentes
Brasil Altamira Monte
Novo Bacia do Xingu
Medicilândia Rio
Anapu
Aveiro
Xingu Terras Indígenas
Uruará
Pacajá
Unidade de Conservação de Proteção Integral
Placas
Unidades de Conservação de Uso Sustentável
4°S

4°S
Rurópolis Novo
Itaituba Repartimento Massa D'Água

Trairão Rio Iriri Limite Estadual


Limites Municipais

PA

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach

Pau
Cumaru D'Arco
do Norte
Redenção
8°S

8°S

Salto
Salto Três Buriti
de Maio Salto
Curuá

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
Nova Azevedo Rio Araguaia
Guarita
Santa
Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba
do Norte
Luciára
TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Rio Ribeirão Araguaçu


Nova ARS
Lucas do Xingu Cascalheira
Ubiratã
Rio Verde
Gaúcha
do Norte 1:4.25
km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Paranatinga Cocalinho

Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.11 Rede Hidrográfica


Nova
da Serra Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
Brasilândia

Chapada dos
Guimarães Campo Fontes:
CUIABÁ Verde Primavera Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
do Leste IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
Várzea Dom General Compilação de dados MMA e ICMBIO
Grande Aquino Poxoréo Carneiro ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Com base na morfologia foram diferenciados na bacia do Rio Xingu, canais de seis tipos:
canais em rocha, erosivos de cabeceiras de drenagem; canais aluviais em planícies fluviais
largas e extensas; canais em rocha com ilhas, corredeiras e cachoeiras; ria fluvial; canais
aluviais entrelaçados da foz e canais em rocha, erosivo com baixa sinuosidade.

Canais em rocha erosivos de cabeceiras de drenagem - Esses canais geralmente são


simples com baixa sinuosidade e ocorrem na Zona 1 e 2 das bacias hidrográficas. Foram
incluídos nesta categoria todos os canais fluviais que ocorrem as cabeceiras dos rios e que
não formam grandes massas de água.

Canais aluviais em planícies fluviais largas e extensas – Esses canais apresentam alta
sinuosidade, padrão meândrico, associado a extensas e largas planícies fluviais com canais
abandonados, lagoas e alagadiços. Essa tipologia de canal fluvial indica que nesse setor da
bacia os canais são estáveis e apresentam transporte predominante de sedimentos finos em
suspensão com pequena carga arenosa de fundo.

Esses rios drenam grande parte do Planalto dos Parecis /Alto Xingu a montante da Cachoeira
de Von Martius, que reflete um forte condicionamento estrutural que marca mudanças na
tipologia dos canais e nas unidades de relevo. Nessa região tem-se o contato do Planalto dos
Parecis /Alto Xingu com suas extensas coberturas detrito - lateriticas com a Depressão da
Amazônia Meridional e o Planalto residual do Sul da Amazônia.

Canais em rocha com ilhas, corredeiras e cachoeiras – Essa tipologia apresenta canal
múltiplo com ilhas rochosas e arenosas, barras longitudinais, pedrais que formam rápidos e
cachoeiras. As planícies fluviais são estreitas e descontinuas com canais abandonados,
lagoas e alagadiços. Esses canais em rocha, erosivos e de baixa profundidade diferem da
maior parte dos canais com padrões entrelaçados que estão associados a áreas com
elevadas taxas de sedimentos arenosos.

A presença de grandes pedrais, de inúmeros rápidos e cachoeiras evidenciam o caráter


erosivo e jovem desse trecho da bacia hidrográfica, onde ainda se faz presente de modo
marcante a resistência diferencial das rochas e das estruturas que secionam o perfil
longitudinal dos rios.

Esse padrão se distribui na Depressão da Amazônia Meridional e ocorre: na maior parte do


canal principal do Rio Xingu, entre a Cachoeira de Von Martius e Belo Monte, incluindo a
região da Volta Grande, no Rio Iriri até a Cachoeira da Carreira Comprida, e no seu afluente
Rio Curuá, até a cachoeira do Limão.

A localização desses canais em rocha e erosivos, a jusante de canais aluviais com amplas
planícies fluviais, em contraste com o padrão básico das bacias hidrográficas, evidencia
anomalias de caráter neotectônico no condicionamento desse aspecto da hidrografia da bacia
do Rio Xingu.

Ria fluvial – Esse tipo é caracterizado pela presença de um canal largo e profundo, com
margens altas, que é afetado pelas marés. Esses canais são também denominados: rios -
lagos, baia de embocadura e/ou rias interiores. Esse tipo de canal representa rios afogados,
cuja origem está associada aos efeitos da Transgressão Flandriana e da tectônica recente
que afeta a região. A ria fluvial caracteriza o canal do Rio Xingu na Depressão do Amazonas.

ARCADIS Tetraplan 90
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Canais aluviais entrelaçados da foz – Esses padrão é caracterizado por canais múltiplos,
com ilhas, paranás, furos, lagos, diques aluviais, cordões fluviais do tipo slikke e schorre,
praias, canais anastomosados, meandros abandonados, além de feições mais comumente
associadas com o período das enchentes como os igapós, que corresponde a trechos de
florestas que ficam inundadas durante as enchentes.

Esse padrão de canal representa a porção final do Rio Xingu, já dentro da Planície Fluvio –
Lagunar do Amazonas, onde o canal chega a ter quase 40 quilômetros de largura.

Canal em rocha, erosivo com baixa sinuosidade – Esse padrão de canal tem canal
simples de baixa sinuosidade. A carga de sedimento é grande sendo constituída por
sedimentos de fundo e sedimentos em suspensão. O canal é relativamente instável
provocando erosão das margens e do fundo. Esse padrão caracteriza as bacias dos Rios
Fresco e Bacajá, afluentes da margem direita do Rio Xingu, que drenam trechos da
Depressão da Amazônia Meridional e do Planalto Residual do Sul da Amazônia.

Além do aspecto morfológico esse padrão leva em consideração o substrato rochoso


mineralizado, drenado pela bacia hidrográfica, que é constituído por rochas vulcano-
sedimentares do Grupo Grão Pará e seqüências greenstones do Super Grupo Andorinhas e
Serra do Inajá.

A análise dos padrões de canais na bacia hidrográfica do Rio Xingu está estreitamente
relacionada à disposição dos grandes compartimentos de relevo. No entanto a sua
distribuição apresenta caráter anômalo, conforme já assinalado item Aspectos da Dinâmica
Superficial, em 3.2.2 Terrenos. com relação à subdivisão geral das bacias hidrográficas,
ocorrendo canais aluviais e com ampla sedimentação fluvial no alto curso do rio, e canais
erosivos no médio curso. Além dessa inversão tem-se ainda a ria fluvial no baixo curso do rio,
que evidencia um caráter de afogamento a medida que a sedimentação características dos
baixos cursos fluviais não é observada nesse trecho do Rio Xingu.

O regime fluvial do rio Xingu apresenta um período de enchentes que vai de dezembro a
maio, com períodos chuvosos de dezembro a março na porção superior da bacia (Figura 3-
12) e de fevereiro a maio no baixo curso. As descargas mínimas são da ordem de 10% da
vazão média, enquanto as cheias chegam a atingir valores quatro vezes superiores a essa
média.

ARCADIS Tetraplan 91
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Figura 3-12 - Vazões médias mensais de longo termo no posto fluviométrico de


Altamira

Fonte: ENGEVIX;THEMAG; INTERTECHNE,2005.

3.1.6.2. Caracterização limnológica da Bacia do Rio Xingu


Considerações sobre as informações obtidas

Em termos gerais, a composição química das águas dos rios é uma expressão das condições
químicas da sua bacia de drenagem e o resultado dos processos químicos e biológicos que
aí ocorrem. Quanto maior a bacia, maiores as diferenças geoquímicas entre as diferentes
partes. Adicionalmente, o impacto humano pode modificar consideravelmente as condições
hidroquímicas (JUNK ; FURCH, 1985).

Os rios que compõem a bacia do Xingu são derivados da região do Escudo Arcaico das
Guianas e se enquadram na classificação de SIOLI (1950) como rios de águas claras,
caracterizados por apresentarem material em suspensão e íons em quantidades
intermediárias às dos rios de água branca, provenientes de áreas com ação intensiva dos
processos erosivos, e dos rios de água preta, pobres em sólidos e elementos minerais
dissolvidos e ricos em substâncias húmicas.

Os rios representam sistemas ecológicos com zonação longitudinal, das nascentes à foz e
forte interação lateral com a superfície de inundação. Segundo WARD (1989), os rios
interagem em quatro dimensões: a montante e a jusante, lateralmente, verticalmente (com a
água subterrânea) e no tempo.

Na análise dos resultados disponíveis procurou-se traçar um quadro geral da bacia do Xingu,
privilegiando os dados que puderam ser verificados comparativamente em diferentes áreas,
como o pH e a condutividade elétrica, sem, no entanto deixar de ressaltar as informações que
indiquem características de processos naturais ou antrópicos em regiões específicas.

ARCADIS Tetraplan 92
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

O rio Xingu, considerado na sua totalidade possui pH relativamente ácido, águas


transparentes (baixa coloração e pouco material em suspensão), brandas, com baixa
capacidade de tamponamento, e com baixas concentrações de íons, nutrientes e matéria
orgânica dissolvida. Essas características do rio estão relacionadas à sua fisiografia, a seu
substrato geológico e às condições naturais presentes em sua bacia como um todo, uma vez
que os efeitos antrópicos são, até o momento, notados em condições localizadas.

A baixa concentração de íons, nutrientes e matéria orgânica dissolvida resulta em baixos


valores de DBO, DQO e conseqüentemente em altas concentrações de oxigênio dissolvido
em suas águas. Contribuem também para as condições de oxigenação das águas a
turbulência possibilitada por corredeiras e cachoeiras em vários trechos do rio. Possivelmente
as baixas concentrações de fósforo sejam os principais fatores limitantes da produção
primária neste rio (ELB/ELN, 2001). No entanto, o aporte de matéria orgânica que sustenta as
comunidades aquáticas é de origem predominantemente externa, estando vinculado aos
pulsos de inundação do rio e aos biótopos associados a ele, como as matas de igapó e as
lagoas marginais.

Os dados existentes permitem vislumbrar algumas diferenciações espaciais que podem


subsidiar uma compartimentação da bacia sob o enfoque dos sistemas aquáticos.

As cabeceiras dos rios são caracterizadas, devido ao seu pequeno volume de água e
declividade acentuada, como sistemas dependentes da entrada de matéria orgânica do
ambiente terrestre para sustento da comunidade aquática. Dada essa íntima relação com o
meio terrestre circunvizinho, essas regiões sofrem intensa pressão oriunda da alteração da
bacia de drenagem, podendo essa alteração se refletir a jusante, apesar do efeito diluidor
representado pelo aumento progressivo das vazões.

Essa área de cabeceiras da bacia do rio Xingu apresenta intensa atividade agropecuária e
significativa redução de sua cobertura vegetal original, o que deve estar influenciando as
características de qualidade da água e das comunidades aquáticas. Não há dados de
qualidade de água para essa região.

Na região do alto curso do rio até a Cachoeira de von Martius existem extensas planícies de
inundação, com a formação de lagos de várzea, praias e vegetação flutuante, condições
essas que, associadas à sazonalidade da precipitação, costumam influenciar as
características das águas, seja pela atenuação dos efeitos do uso do solo, seja pelo
fornecimento de matéria orgânica originada de sua produção autóctone.

A partir dos escassos dados de qualidade da água disponíveis para essa área devem ser
ressaltados os valores baixos de condutividade dos rios amostrados na época seca e seu
aumento significativo na época chuvosa , mostrando a influência da sazonalidade do clima e
o efeito das áreas alagadas sobre o rio. Notam-se também valores altos de fósforo e
nitrogênio em algumas amostras, o que não é esperado na porção superior da bacia de um
rio, uma vez que o grau de trofia costuma aumentar no sentido de jusante, e que pode estar
relacionado à fisiografia particular do Xingu, com áreas alagadas nesse trecho, o que permite
um aporte maior de matéria orgânica e nutrientes dessas áreas marginais. Esses valores
elevados podem estar também relacionados ao uso do solo.

ARCADIS Tetraplan 93
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

No médio curso do rio Xingu, considerado aqui o trecho entre a cachoeira Von Martius e o
núcleo urbano de Belo Monte, os rios apresentam águas transparentes, ligeiramente ácidas,
com baixa concentração de nutrientes e matéria orgânica dissolvida.

Nesse trecho os dados existentes não mostraram alterações significativas por atividades
antrópicas, com exceção de certas áreas com maior ocupação, como nas proximidades de
Altamira, onde se observam valores mais elevados de turbidez, condutividade, DQO, nitrato e
fósforo total.

Observa-se ao longo tanto do Xingu quanto do Iriri um aumento da condutividade elétrica da


água, o que é esperado ao longo do eixo longitudinal de um rio. Tal fenômeno, no caso do
Xingu, pode estar relacionado à entrada de tributários. A partir de São Félix do Xingu o rio
Xingu passa a apresentar valores mais elevados de condutividade,com a entrada dos rios
Fresco, Iriri e Bacajá. Particularmente os rios Fresco e Bacajá apresentam valores de
condutividade elétrica bem superiores aos medidos no Xingu, além de carga de material de
suspensão superior à dos demais rios da bacia. Essa condição está relacionada a processos
geoquímicos característicos de suas bacias, em função de variações do substrato geológico,
talvez somada a influências antrópicas, no caso do Fresco, onde as taxas de
desflorestamento são elevadas, inclusive nas áreas de nascentes de seus afluentes da
margem direita.

No baixo curso do rio, à jusante de Belo Monte, os dados existentes de qualidade da água
não subsidiam uma diferenciação das condições à montante. Tal constatação, no entanto, se
deve à carência de estudos mais aprofundados da área, uma vez que as características
fisiográficas e hidrológicas desse trecho se diferenciam claramente dos demais, pois a ria
fluvial aí presente representa um ambiente de características intermediárias entre um rio e um
lago.

Não há, ao longo do Xingu, um padrão espacial bem definido em relação às variáveis que
puderam ser comparadas. O pH é um pouco mais ácido a montante e a condutividade e a
alcalinidade aumentam um pouco ao longo do rio. Esse padrão espacial é mais evidente nos
dados do Projeto Brasil das Águas onde se evidenciam águas mais ácidas e de menor
condutividade a montante. Os dados de condutividade são corroborados pelos íons totais,
que crescem ao longo do rio.

Outro aspecto a ser ressaltado pelos dados obtidos é a concentração elevada de amônia no
trecho mais a montante do Xingu, a partir de São Felix do Xingu e também no rio Suiá-Miçu e
no Iriri Novo. Esses dados foram obtidos em novembro/2003 e indicam condições mais
redutoras no curso d’água ou de aporte de material alóctene em função do uso do solo, não
sendo possível, entretanto, uma avaliação apenas com esses dados.

A comparação dos dados obtidos na mesma região, em ocasiões diferentes, como por
exemplo, os resultados na região de influência da Usina de Belo Monte (CNEC, 1988 e
ELB/ELN, 2001), ou ainda os dados das séries da ANA, mostra valores similares ao longo do
tempo, indicando que não houve alterações significativas na bacia que se refletisse em
alterações significativas da qualidade da água. As únicas variáveis que apresentaram valores
sensivelmente maiores e que podem estar indicando o resultado de pressões antrópicas
foram a turbidez e os sólidos em suspensão na região de Altamira. Essas pressões talvez

ARCADIS Tetraplan 94
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

expliquem também a maior condutividade observada nos dados mais recentes quando
comparados aos obtidos anteriormente na mesma região.

Fatores de pressão sobre os ecossistemas aquáticos

Os fatores ocasionadores de efeitos aos ecossistemas aquáticos na bacia do Xingu, em


linhas gerais, são:

A) Desflorestamento na bacia de drenagem:


A supressão da vegetação natural, principalmente em áreas de alta pluviosidade acarreta
aumento no carreamento de nutrientes e partículas de solo para os rios pelo escoamento
superficial, contribuindo para a eutrofização, o aumento da turbidez e do assoreamento dos
mesmos. Além disso, no caso da atividade madeireira, principalmente se há o beneficiamento
da madeira, há o risco de contaminação dos rios com combustíveis e outros produtos dos
efluentes dessa atividade. A indústria madeireira além de gerar um efluente oriundo de seu
processo industrial, como por exemplo, no cozimento de toras, também gera um efluente
proveniente do banho de conservação de madeira serrada, que em sua composição contém
substâncias que requerem cuidados, pois são altamente tóxicas e não biodegradáveis. A
água utilizada no banho de conservação contém cerca de 5% de fungicidas do tipo TBP 90
(usado para o tratamento preventivo contra o ataque de fungos em madeiras), sendo a
substância predominante o tribromofenol e cerca de 2% de Lindano 200 (preservante de
madeira), cujo composto principal é o pentaclorofenol (BORBA et al., 2008).

Esse fator se evidencia com maior expressão ao sul, no alto curso do rio Xingu, a leste, na
região de São Félix do Xingu e, mais ao norte, na área sob influência da Transamazônica.

B) Queimadas:
No caso da retirada da vegetação por queimada, os efeitos anteriormente descritos são
potencializados, uma vez que, além da exposição do solo à ação da chuva, os nutrientes
minerais presentes nas cinzas são levados aos rios receptores.

C) Atividade mineradora:
A atividade mineradora, principalmente, os garimpos, provocam efeitos variados, desde a
destruição de habitats ribeirinhos e aumento da turbidez e assoreamento dos cursos d’água,
pelo desmonte dos barrancos devido ao jateamento com água, até a poluição com óleo das
máquinas empregadas. Os rios podem ser contaminados também, dependendo do minério
explorado, por elementos altamente tóxicos aos organismos aquáticos e, por conseqüência,
às populações humanas que utilizem esse recurso.

A contaminação dos rios por mercúrio, utilizado de forma indiscriminada e sem controle na
recuperação do ouro nos garimpos, é um problema grave na região amazônica. A situação
tem sido estudada na bacia do Tapajós (GUIMARÃES et al, 2000; GUIMARÃES, ROULET,
LUCOTTE; MERGLER, 2000; ROULET et al, 2000), mas não há dados para a bacia do
Xingu, onde o problema existe mas provavelmente é menor. Áreas de garimpo expressivas
são observadas na região do alto rio Fresco e na Volta Grande do Xingu, no povoado de
Garimpo do Galo.

ARCADIS Tetraplan 95
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Os resultados de pesquisas na Amazônia apontam níveis preocupantes de mercúrio nos


peixes piscívoros e em amostras de cabelo da população ribeirinha, que tem o consumo de
peixe como parte da dieta (ANA, 2003; SANTOS et al, 2000).

Ressalte-se que também as queimadas e a degradação dos solos, além do garimpo,


constituem fontes de contaminação por mercúrio, pelo acúmulo por processos naturais na
vegetação e nos solos desprotegidos, pois os solos amazônicos apresentam concentrações
elevadas de mercúrio. Esses processos explicam a alta concentração de mercúrio nas águas
e nos peixes do rio Negro, onde não há garimpos (JARDIM ; FADINI, 2001).

D) Atividade agropecuária:
Além da maior exposição do solo à ação das chuvas, com os efeitos acima citados, a
atividade agropecuária pode contribuir, através da água de escoamento superficial, com
nutrientes minerais dos adubos químicos utilizados e com agrotóxicos.

Na bacia do rio Xingu, a expansão da fronteira agrícola marcada, inicialmente, pelo


crescimento da pecuária e, recentemente, pela expansão do cultivo de grãos, tem causado,
além da a erosão e do assoreamento, também a contaminação da água por agrotóxicos. A
situação é particularmente crítica nas nascentes do Alto Xingu onde a expansão da
agropecuária eliminou a proteção das nascentes, afetando a qualidade da água do Parque
Nacional do Xingu, localizado a jusante. As comunidades indígenas reivindicam um estudo de
qualidade das águas do rio Xingu e de seus principais formadores, temerosos de que os
mesmos já apresentem elevado grau de contaminação, com reflexos sobre a pesca e a água
consumida nas aldeias (AQUINO, 2003)

Os dados do PRODEAGRO, de 1997, não indicaram efeitos significativos, nas variáveis


analisadas, da atividade agrícola. São, no entanto, informações sobre uma região
caracterizada por grandes transformações e a situação atual pode ser diferente. Além disso,
o registro na qualidade da água dos efeitos dessa atividade, particularmente a presença de
agrotóxicos e nutrientes, depende da amostragem ajustada ao manejo agrícola.

As questões detectadas na qualidade das águas pelo “Diagnóstico da Qualidade dos


Recursos Hídricos do Estado de Mato Grosso” referem-se às cargas de origem difusa, devido
especialmente à atividade pecuária que, em todas as Unidades de Planejamento e Gestão do
Xingu, foram responsáveis por mais de 90% da contribuição potencial de material poluente
estimado, expresso em termos de Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO, Nitrogênio e
Fósforo (MMA, 2008).

E) Concentrações urbanas:
As concentrações urbanas na Amazônia, tendo em vista a deficiência ou inexistência de
tratamento de esgotos, trazem impactos para os rios, além de contribuir com a propagação
de doenças de veiculação hídrica na população humana.

No rio Xingu este efeito está restrito a alguns pontos, como nas proximidades de Altamira.
Grande parte dos efluentes domésticos desta cidade é lançada, sem tratamento prévio, nos
igarapés que cortam a cidade (Panelas, Altamira e Ambé), que deságuam no rio Xingu.
Alguns destes igarapés, como o Ambé e principalmente o Altamira, já apresentam os efeitos
destes lançamentos, como a diminuição da concentração de oxigênio e a alta densidade de
bactérias do grupo coliformes (inclusive E. coli, característica do trato digestivo de animais de

ARCADIS Tetraplan 96
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sangue quente). Estes efeitos podem alterar pontualmente as características limnológicas do


rio Xingu, principalmente próximo às desembocaduras destes igarapés (ELB/ELN, 2001).
Comparando os dados obtidos nas campanhas do EIA mais recente do AHE Belo Monte na
região de Altamira com os dados obtidos anteriormente (ELB/ELN, 2001) foi observado que
as variáveis que apresentaram maior variação foram o material em suspensão, o nitrato, o
amônio, o cloreto e o ferro. Estas variáveis estão relacionadas principalmente com o uso e
ocupação do solo na bacia hidrográfica onde foi observado um aumento da exploração
pecuária e um incremento nas populações urbanas e rurais sem a adequada infraestrutura
para o tratamento de efluentes (LEME, 2009).

Com relação ao Estado de Mato Grosso, há uma projeção da carga orgânica, em termos de
DBO, por município, realizada no âmbito do PRODEAGRO (GOVERNO DO ESTADO DO
MATO GROSSO, 2000 a), apresentada na Tabela 3-4. Os valores obtidos podem ser
considerados reduzidos, embora o crescimento populacional dos municípios, associado à
ausência de sistemas de tratamento de esgotos, possa vir a contribuir de maneira mais
significativa para a eutrofização dos corpos d’água receptores dessas cargas.

Tabela 3-4 Carga orgânica (kg DBO/dia) por município de Mato Grosso da bacia
hidrográfica do rio Xingu

Município 1.980 1.991 1.996 2.000 2.005 2.010 2.015

CANARANA 314 643 742 951 1.057 1.093 1.102

GAÚCHA DO NORTE - - 177 188 192 197 198

CLÁUDIA 160 491 535 705 885 1.067 1.266

FELIZ NATAL - - 203 227 232 235 236

MARCELÂNDIA 117 480 631 799 955 1.097 1.239

NOVA UBIRATÃ - - 208 251 290 311 328

QUERÊNCIA - - 228 299 359 404 449

RIBEIRÃO CASCALHEIRA 179 465 463 493 523 555 581

SANTA CARMEM - - 191 241 286 327 367

UNIÃO DO SUL - - 153 197 239 279 321

SÃO JOSÉ DO XINGÚ - - 236 310 372 419 466

Total 771 2.079 3.768 4.659 5.391 5.986 6.554


Fonte: GOVERNO DO ESTADO DO MATO GROSSO

F) Cargas de Nitrogênio e Fósforo


Os resultados do potencial de impacto das atividades antrópicas, incluindo as concentrações
urbanas e a atividade agropecuária, nos municípios da bacia por meio da geração de cargas
de nitrogênio e fósforo, estimadas a partir do uso do solo e presença de população, estão
classificados nas Tabelas 3-5 e 3-6.

ARCADIS Tetraplan 97
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Tabela 3-5 Carga de Nitrogênio (N) por município, considerando seu território dentro da
bacia hidrográfica do rio Xingu

Carga N Inserção Carga N Carga N Carga


anual Contribuição
UF Município na bacia uso do solo homem total N
relativa (%)
ton/ano (%) (ton/ano) (ton/ano) (ton/ano)

1 MT Nova Brasilândia 1.214,59 0,6 7,3 0,0 7,3 0,01


2 MT Planalto da Serra 841,83 1,8 15,2 0,1 15,2 0,02
3 MT Sorriso 3.601,60 0,7 25,2 0,1 25,3 0,03
4 MT Itaúba 1.664,24 2,0 33,3 0,3 33,5 0,04
5 MT Nova Xavantina 1.798,61 2,0 36,0 0,2 36,2 0,04
Porto Alegre do
6 MT Norte 1.150,54 7,9 90,9 1,1 92,0 0,10
7 PA Prainha 3.943,63 2,9 114,4 2,0 116,4 0,12
Canabrava do
8 MT Norte 1.329,07 12,4 164,8 1,3 166,1 0,18
9 PA Gurupá 2.577,97 10,7 275,8 6,0 281,8 0,30
Primavera do
10 MT Leste 1.646,04 18,0 296,3 2,0 298,3 0,32
11 MT Nova Sta Helena 1.071,23 27,5 294,6 11,3 305,9 0,33
12 MT Sinop 1.359,65 22,6 307,3 5,5 312,8 0,33
13 MT Alto Boa Vista 532,34 58,1 309,3 8,4 317,7 0,34
Santo Antônio do
14 MT Leste 1.080,92 42,9 463,7 6,4 470,1 0,50
15 MT Guarantã do Norte 1.674,75 30,0 502,4 9,0 511,4 0,55
16 MT Vera 1.255,75 41,7 523,6 1,1 524,7 0,56
17 MT Matupá 1.638,94 41,8 685,1 3,6 688,6 0,74
18 MT Campinápolis 1.091,63 70,2 766,3 16,0 782,3 0,84
Ourilândia do
19 PA Norte 726,14 100,0 726,1 66,2 792,3 0,85
Ribeirão
20 MT Cascalheira 3.202,46 28,9 925,5 20,3 945,8 1,01
21 MT Cláudia 1.438,23 67,5 970,8 32,2 1.003,0 1,07
Bom Jesus do
22 MT Araguaia 1.770,95 61,9 1.096,2 12,8 1.109,1 1,19
23 MT Confresa 2.335,70 50,8 1.186,5 20,1 1.206,6 1,29
24 PA Bannach 1.209,48 100,0 1.209,5 12,9 1.222,3 1,31
25 PA Vitória do Xingu 1.202,23 100,0 1.202,2 37,9 1.240,1 1,33
26 PA Tucumã 1.190,66 100,0 1.190,7 86,1 1.276,7 1,37

ARCADIS Tetraplan 98
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Carga N Inserção Carga N Carga N Carga


anual Contribuição
UF Município na bacia uso do solo homem total N
relativa (%)
ton/ano (%) (ton/ano) (ton/ano) (ton/ano)

Senador José
27 PA Porfírio 1.223,65 100,0 1.223,7 53,5 1.277,1 1,37
28 PA Porto de Moz 1.415,51 85,5 1.210,3 73,5 1.283,8 1,37
29 MT Santa Carmem 1.436,81 100,0 1.436,8 12,2 1.449,1 1,55
30 MT União do Sul 1.533,01 100,0 1.533,0 14,3 1.547,3 1,66
31 MT Vila Rica 3.044,51 51,5 1.567,9 9,7 1.577,6 1,69
32 MT Água Boa 2.251,71 68,6 1.544,7 51,6 1.596,3 1,71
33 PA Anapu 2.312,12 68,7 1.588,4 14,8 1.603,2 1,72
Santa Cruz do
34 MT Xingu 1.762,19 100,0 1.762,2 3,9 1.766,1 1,89
35 PA Brasil Novo 1.869,64 100,0 1.869,6 58,5 1.928,1 2,06
36 PA Medicilândia 2.713,54 76,0 2.062,3 60,8 2.123,0 2,27
37 MT Feliz Natal 2.172,97 100,0 2.173,0 23,0 2.196,0 2,35
Peixoto de
38 MT Azevedo 2.994,45 85,0 2.545,3 17,3 2.562,6 2,74
39 MT Canarana 2.965,22 86,1 2.553,1 50,6 2.603,7 2,79
40 MT São José do Xingu 2.652,42 100,0 2.652,4 20,2 2.672,6 2,86
São Félix do
41 MT Araguaia 5.090,63 57,5 2.927,1 9,3 2.936,4 3,14
42 MT Marcelândia 3.809,14 82,0 3.123,5 45,9 3.169,4 3,39
43 MT Gaúcha do Norte 3.194,86 100,0 3.194,9 15,7 3.210,5 3,44
44 MT Nova Ubiratã 4.040,82 95,0 3.838,8 18,5 3.857,3 4,13
45 MT Querência 4.104,65 100,0 4.104,6 24,7 4.129,4 4,42
46 PA Cumaru do Norte 5.045,66 100,0 5.045,7 20,3 5.066,0 5,42
47 MT Paranatinga 6.469,19 81,3 5.259,5 11,8 5.271,2 5,64
48 PA São Félix do Xingu 12.590,60 100,0 12.590,6 117,7 12.708,3 13,60
49 PA Altamira 12.848,79 100,0 12.848,8 263,3 13.112,1 14,03
TOTAL 93.428,7 100,0

ARCADIS Tetraplan 99
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Tabela 3-6 Carga de Fósforo (P) por município, considerando seu território dentro da
bacia hidrográfica do rio Xingu

Carga P Inserção Carga P uso Carga P Carga P


Contribuição
UF Município anual na bacia do solo homem total
relativa (%)
(ton/ano) (%) (ton/ano) (ton/ano) (ton/ano)

1 MT Nova Brasilândia 78,85 0,6 0,47 0,01 0,49 0,01


2 MT Planalto da Serra 46,30 1,8 0,83 0,03 0,86 0,01
3 MT Sorriso 250,35 0,7 1,75 0,04 1,79 0,03
4 MT Nova Xavantina 85,72 2,0 1,71 0,09 1,80 0,03
5 MT Itaúba 104,50 2,0 2,09 0,10 2,19 0,04
6 PA Prainha 157,88 2,9 4,58 0,76 5,34 0,09
Porto Alegre do
7 MT Norte 65,09 7,9 5,14 0,41 5,55 0,09
Primavera do
8 MT Leste 54,90 18,0 9,88 0,78 10,66 0,17
9 PA Gurupá 88,74 10,7 9,49 2,30 11,79 0,19
Canabrava do
10 MT Norte 93,53 12,4 11,60 0,51 12,11 0,20
Santo Antônio do
11 MT Leste 36,10 42,9 15,49 2,43 17,92 0,29
12 MT Nova Sta Helena 82,51 27,5 22,69 4,31 27,00 0,44
13 MT Sinop 111,49 22,6 25,20 2,09 27,29 0,45
14 MT Campinápolis 36,40 70,2 25,55 6,12 31,67 0,52
15 MT Alto Boa Vista 52,51 58,1 30,51 3,21 33,72 0,55
Guarantã do
16 MT Norte 127,28 30,0 38,18 3,45 41,63 0,68
17 MT Vera 102,94 41,7 42,93 0,41 43,34 0,71
18 MT Matupá 108,23 41,8 45,24 1,36 46,60 0,76
19 MT Rib.Cascalheira 156,36 28,9 45,19 7,75 52,94 0,87
Senador José
20 PA Porfírio 51,18 100,0 51,18 20,44 71,62 1,17
21 MT Água Boa 76,21 68,6 52,28 19,74 72,02 1,18
22 MT Cláudia 95,91 67,5 64,74 12,31 77,05 1,26
23 MT União do Sul 77,15 100,0 77,15 5,45 82,61 1,36
24 PA Porto de Moz 65,90 85,5 56,35 28,10 84,45 1,39
Ourilândia do
25 PA Norte 62,45 100,0 62,45 25,31 87,76 1,44
26 PA Anapu 127,01 68,7 87,26 5,65 92,90 1,52
27 MT Bom Jesus do 145,06 61,9 89,80 4,91 94,71 1,55

ARCADIS Tetraplan 100


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Carga P Inserção Carga P uso Carga P Carga P


Contribuição
UF Município anual na bacia do solo homem total
relativa (%)
(ton/ano) (%) (ton/ano) (ton/ano) (ton/ano)
Araguaia
28 MT Santa Carmem 90,57 100,0 90,57 4,68 95,25 1,56
Santa Cruz do
29 MT Xingu 99,24 100,0 99,24 1,50 100,74 1,65
30 MT Confresa 188,67 50,8 95,84 7,68 103,52 1,70
31 PA Bannach 102,43 100,0 102,43 4,91 107,35 1,76
32 PA Vitória do Xingu 94,18 100,0 94,18 14,48 108,67 1,78
33 MT Vila Rica 237,02 51,5 122,07 3,72 125,78 2,06
34 MT Feliz Natal 122,65 100,0 122,65 8,80 131,45 2,16
35 PA Medicilândia 144,12 76,0 109,53 23,23 132,76 2,18
36 PA Tucumã 113,33 100,0 113,33 32,90 146,23 2,40
37 PA Brasil Novo 133,23 100,0 133,23 22,35 155,58 2,55
38 MT Canarana 159,37 86,1 137,22 19,35 156,57 2,57
Peixoto de
39 MT Azevedo 191,88 85,0 163,10 6,60 169,70 2,78
São Félix do
40 MT Araguaia 299,82 57,5 172,40 3,57 175,96 2,89
41 MT Marcelândia 224,26 82,0 183,90 17,55 201,44 3,30
42 MT Gaúcha do Norte 206,40 100,0 206,40 5,99 212,39 3,48
São José do
43 MT Xingu 223,69 100,0 223,69 7,73 231,42 3,80
44 MT Paranatinga 289,41 81,3 235,29 4,50 239,79 3,93
45 MT Nova Ubiratã 256,65 95,0 243,82 7,09 250,91 4,12
46 MT Querência 292,55 100,0 292,55 9,46 302,00 4,95
47 PA Cumaru do Norte 358,14 100,0 358,14 7,77 365,91 6,00
48 PA Altamira 580,92 100,0 580,92 100,67 681,59 11,18
São Félix do
49 PA Xingu 817,61 100,0 817,61 45,01 862,62 14,15
TOTAL 6095,41 100,0

Os dados obtidos quanto à contribuição de fósforo e nitrogênio dos municípios refletem em


grande medida o tamanho do território municipal (à exceção de TIs e UCs) dentro da bacia
hidrográfica. Entretanto, refletem também o uso do solo, uma vez que valores, considerados
a partir da bibliografia (SALAS & MARTINO, 1991) para os coeficientes de exportação,
apontam valores 1,7 vezes superiores para nitrogênio e 5 vezes superiores para fósforo, nas
áreas com atividade agropecuária em relação à exportação em áreas florestadas. A
participação da população foi, de modo geral, muito pouco significativa em relação à
contribuição total. Com os valores utilizados da bibliografia para a produção anual per capita

ARCADIS Tetraplan 101


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de N e P (JORGENSEN, 1989), o maior valor obtido quanto ao fósforo refere-se à população


de Altamira e, mesmo assim, representando apenas 14% da carga potencial estimada.

Os municípios cujos territórios, excluídas as UCs e TIs, apresentam maior contribuição, em


termos potenciais, de cargas de nitrogênio e fósforo para os corpos d’ água são Altamira e
São Felix do Xingu, seguidos de Cumaru do Norte, Querência, Nova Ubiratã e Paranatinga.
Os coeficientes utilizados não fizeram distinção entre os usos agropecuários, o que talvez
desse um peso maior aos municípios com atividade agrícola em relação àqueles com
predomínio de pastagem e extrativismo.

Ao comparar as cargas geradas pelas atividades atuais com aquelas em condições originais,
sem ação antrópica, considerando apenas as áreas municipais sem as áreas legalmente
protegidas, ou seja, com a exclusão das Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação
(UCs), os municípios de Tucumã e Ourilândia do Norte, no Estado do Pará, e Alto da Boa
Vista, no Estado de Mato Grosso, apresentam os dados mais significativos nesse sentido.

3.1.6.3. Sedimentologia
Somente seis postos contam com medições de descargas sólidas na bacia do rio Xingu,
concentrados na sua totalidade no trecho médio baixo e baixo da bacia e com número
reduzido de medições.

As principais campanhas de medições de descargas sólidas realizadas na bacia remontam


aos estudos de Inventário realizados na segunda metade da década de 70 e aos estudos de
viabilidade desenvolvidos na região de Altamira.

Na Tabela 3-7, apresentada a seguir, estão listados os postos da bacia onde são ou foram
realizadas medições. Merece destaque os postos de Altamira, com o maior número de dados,
44 medições entre janeiro/1984 a novembro/2003, e Belo Horizonte com 22 medições entre
janeiro/1984 a dezembro/1997.

Tabela 3-7 - Postos Fluviométricos com medição de descargas sólidas

Coordenadas
Código Posto Rio Área (Km²)
Latitude Longitude

18500000 Boa Esperança Fresco -6°43'09" -51°46'58" 43.030


18520000 Belo Horizonte Xingú -5°24'29" -52°54'07" 277.265
18640000 Aldeia Baú Curuá -7°20'46" -54°49'25" 5.600
18650000 Cajueiro Curuá -5°39'14" -54°31'16" 34.693
18700000 Pedro do Ó Iriri -4°32'30" -54°00'03" 123.827
18850000 Altemira Xingú -3°12'44" -52°12'38" 446.203
Fonte: Hidroweb - ANA

Com base nos dados de Altamira e Belo Horizonte e aplicando-se o Método Simplificado de
Colby, foi estimada a descarga sólida total nos dois postos. Feito isto, foi definida a relação
entre a descarga sólida e a descarga líquida, aplicando-se as equações obtidas às
respectivas séries de vazões médias mensais.

ARCADIS Tetraplan 102


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A taxa média anual de descarga sólida total obtida nos dois postos indica, para a bacia
hidrográfica do rio Xingu, um valor entorno de 12,4 ton/km2.ano, compatível com valores
esperados para a região, segundo consta da publicação “Hidrossedimentologia Prática” de
Newton de Oliveira Carvalho, 2º edição revisada e ampliada, 2008. As regiões com produção
de sedimentos entre 5 e 70 ton/km2.ano são consideradas áreas de baixa produção de
sedimentos, mostrando assim que por ora não existe a preocupação com o transporte sólido
na bacia do rio Xingu.

3.1.6.4. Caracterização da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu


Em termos gerais, a composição química das águas dos rios é uma expressão das condições
químicas da sua bacia de drenagem e o resultado dos processos químicos e biológicos que
aí ocorrem. Quanto maior a bacia, maiores as diferenças geoquímicas entre as diferentes
partes. Adicionalmente, o impacto humano pode modificar consideravelmente as condições
hidroquímicas (JUNK & FURCH, 1985).

Os rios que compõem a bacia do Xingu são derivados da região do Escudo Arcaico das
Guianas e se enquadram na classificação de SIOLI (1950) como um rio de águas claras,
caracterizados por apresentarem material em suspensão e íons em quantidades
intermediárias às dos rios de água branca, provenientes de áreas com ação intensiva dos
processos erosivos, e dos rios de água preta, pobres em sólidos e elementos minerais
dissolvidos e ricos em substâncias húmicas.

O rio Xingu possui pH relativamente ácido, águas transparentes (baixa coloração e pouco
material em suspensão), brandas, com baixa capacidade de tamponamento, e com baixas
concentrações de íons, nutrientes e matéria orgânica dissolvida. A baixa concentração de
íons, nutrientes e matéria orgânica dissolvida resulta em baixos valores de DBO, DQO e
conseqüentemente em altas concentrações de oxigênio dissolvido em suas águas.

Possivelmente as baixas concentrações de fósforo sejam os principais fatores limitantes da


produção primária neste rio (ELB/ELN, 2001). No entanto o aporte de matéria orgânica que
sustenta as comunidades aquáticas é de origem predominantemente alóctone, estando
vinculado aos pulsos de inundação do rio e aos biótopos associados a ele, como as matas de
igapó e as lagoas marginais.

As cabeceiras dos rios são caracterizadas, dado o seu pequeno volume de água e
declividade acentuada, por serem sistemas dependentes da entrada de matéria orgânica do
ambiente terrestre para sustento da comunidade aquática. Dada essa íntima relação com o
meio terrestre circunvizinho, essas regiões sofrem intensa pressão oriunda da alteração da
bacia de drenagem, podendo essa alteração se refletir a jusante, apesar do efeito diluidor
representado pelo aumento progressivo das vazões.

Essa área de cabeceiras apresenta intensa atividade agropecuária e significativa redução de


sua cobertura vegetal original, o que deve estar influenciando as características de qualidade
da água e das comunidades aquáticas, embora não existam informações disponíveis para a
área.

Na região do alto curso do rio até a Cachoeira de von Martius existem extensas planícies de
inundação, com a formação de lagos de várzea, praias e vegetação flutuante, condições
essas que, associados à sazonalidade da precipitação, costumam influenciar as

ARCADIS Tetraplan 103


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características das águas, seja pela atenuação dos efeitos do uso do solo, seja pelo
fornecimento de matéria orgânica originada de sua produção autóctone.

Nos poucos dados de qualidade da água disponíveis para essa área devem ser ressaltados
os valores baixos de condutividade dos rios amostrados na época seca e seu aumento
significativo na época chuvosa, mostrando a influência da sazonalidade do clima e o efeito
das áreas alagadas sobre o rio. Notam-se também valores altos de fósforo e nitrogênio em
algumas amostras, o que não é esperado na porção superior da bacia de um rio, o que pode
estar relacionado às áreas alagadas e às influências do uso do solo.

No médio curso do rio Xingu, considerado aqui o trecho entre a área das planícies, citada
acima e Belo Monte, os rios apresentam águas transparentes, ligeiramente ácidas, com baixa
concentração de íons, nutrientes e matéria orgânica dissolvida. Os dados existentes não
mostraram alterações significativas por atividades antrópicas, com exceção de certas áreas
com maior ocupação, como nas proximidades de Altamira, com valores mais elevados de
turbidez, condutividade e DQO.

Observa-se ao longo tanto do Xingu quanto do Iriri um aumento da condutividade elétrica da


água, o que é esperado ao longo do eixo longitudinal de um rio. As condições médias do
Xingu se diferenciam pouco de alguns tributários, como o Iriri, embora neste último as
condições de estiagem se diferenciem mais da época chuvosa do que a mesma comparação
feita para o baixo curso do Xingu.

Outros tributários deste último trecho, no entanto, apresentam condições muito diferentes do
Xingu, como o Fresco e o Bacajá, com valores de condutividade elétrica bem superiores aos
medidos no Xingu, além da carga de material de suspensão superior à dos demais rios da
bacia. Essa condição está relacionada a processos geoquímicos característicos de suas
bacias, em função de características diferenciadas do substrato geológico, talvez somada a
influências antrópicas, no caso do Fresco.

No baixo curso do rio, à jusante de Belo Monte, os dados existentes de qualidade da água
não subsidiam uma diferenciação das condições à montante. Tal constatação, no entanto, se
deve à carência de estudos mais aprofundados da área, uma vez que as características
fisiográficas e hidrológicas desse trecho se diferenciam claramente dos demais.

Ao longo do Xingu não há um padrão espacial bem definido em relação às variáveis que
puderam ser comparadas. O pH é um pouco mais ácido a montante e a condutividade e a
alcalinidade aumentam um pouco ao longo do rio. Os dados de condutividade, com maiores
valores a jusante, são corroborados pelos íons totais, que também crescem ao longo do rio.

A comparação dos dados obtidos na mesma região, em ocasiões diferentes, como por
exemplo os resultados na região de influência da Usina de Belo Monte, ou ainda os dados
das séries da ANA, mostra valores similares, indicando que não houve, ao longo do tempo,
alterações significativas na bacia que fossem refletidas em alterações da qualidade da água.
As únicas variáveis que apresentaram valores significativamente maiores e que podem estar
indicando o resultado de pressões antrópicas foram a turbidez e os sólidos em suspensão na
região de Altamira. Essas pressões talvez expliquem também a maior condutividade
observada nos dados mais recentes.

ARCADIS Tetraplan 104


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3.1.6.5. Ictiofauna
A análise da ictiofauna da bacia do Xingu se apoiou em dados e informações de literatura e
de relatórios técnicos. De forma complementar, foi elaborada uma lista de espécies da bacia
do rio Xingu a partir de um total de 2.000 registros de lotes depositados na Coleção de Peixes
do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP).

A bacia do rio Xingu insere-se na unidade ictiogeográfica da Guiana-Amazônica, que se


destaca, dentro do contexto da ictiofauna neotropical, como a área com maior riqueza de
táxons. LOWE-McCONNELL (1987) aponta inúmeros fatores como causa dessa diversidade,
como a idade e o tamanho do sistema de drenagem, a heterogeneidade ambiental, que
promove grande diversidade de nichos, e a história de captura de bacias vizinhas ao longo do
tempo, em escala geológica, o que permitiu o intercâmbio da fauna.

A atual diversificação da ictiofauna da bacia amazônica pode ser explicada, também, por
fatores históricos tais como a dinâmica geológica que ocasionaram contínuos processos de
dispersão e vicariancia. Por sua vez, processos ecológicos mais recentes têm definido uma
grande plasticidade adaptativa dos grupos, para lidar com a ampla variação ambiental do
meio aquático. Dentre os aspectos ecológicos dos ambientes aquáticos amazônicos se
destacam (ELB/ELN, 2001):

ƒ 1) grande capacidade de tamponamento de impactos naturais pelos rios da região,


condição derivada do grande porte dos mesmos;
ƒ 2) complexidade de ambientes distribuídos em um arranjo de mosaico nos sistemas
fluviais; e
ƒ 3) relativa estabilidade dos ambientes (i.e, pulsos bem marcados).

A heterogeneidade ambiental constitui um importante fator. Representam habitats para as


espécies da ictiofauna amazônica o leito dos grandes rios, os lagos, os igarapés, a vegetação
flutuante, as corredeiras, os igapós e as praias (SANTOS; FERREIRA, 1999).

A diversidade de ambientes na bacia do rio Xingu condiciona a estrutura de sua ictiofauna,


pois em cada um deles há características ecológicas diferentes, com oferta diferente de
recursos, selecionando as espécies por características de sua biologia, particularmente
quanto aos aspectos alimentares e reprodutivos. Há espécies que completam todo o seu ciclo
de vida no canal principal do rio, outras que o fazem em lagoas marginais ou áreas alagadas
e ainda aquelas que exploram as áreas alagadas durante a enchente e dependem do canal
principal para migrações reprodutivas ou alimentares (SANTOS; FERREIRA, 1999).

As características fisiográficas da bacia, associadas ao ciclo hidrológico e à biologia das


espécies, condicionam a distribuição espacial das mesmas, sua abundância e também a
atividade pesqueira na bacia (Figura. 3-13).

ARCADIS Tetraplan 105


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Figura 3-13 Ciclo Sazonal da dinâmica hidrológica e dos eventos ecológicos no rio
Xingu

Fonte: ELB/ELN, 2001.


Nota: adaptado de Lowe-McConnell, 1999.

Os peixes de hábitos fluviais podem se deslocar rio acima e abaixo. Respondem também às
cheias, realizando movimentos laterais para a planície de inundação e suas lagoas,
retornando ao canal principal do rio à medida que a cheia diminui (LOWE McCONNELL,
1999). Estudos realizados no médio rio Xingu indicaram que possivelmente várias das
espécies que realizam piracema não se deslocam por grandes distâncias e que, neste caso,
o superar as próprias corredeiras e cachoeiras já constitui um fator indutor da maduração das
gônadas e, por sua vez, da desova em pequenos canais de piracema, localizados nas
margens do rio ou das ilhas fluviais (Giarrizzo & Camargo, in press).

A maioria dos peixes fluviais se reproduz no início da cheia. Nesse período de maior nível
d’água é favorecida a alimentação e o crescimento e também o acúmulo de reservas de
gorduras. Os jovens nascem, portanto, nessa época de muita oferta de alimento e de abrigo
e, principalmente em função do seu rápido crescimento, suas biomassas aumentam
rapidamente. Quando as águas baixam, as perdas de peixes são enormes, principalmente
pela predação dos que ficam retidos em poças e dos jovens quando saem em direção aos
rios (LOWE McCONNELL, 1999).

ARCADIS Tetraplan 106


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A) Diversidade de espécies
O gradiente altitudinal do rio Xingu, aliado à existência de grande número de cachoeiras,
corredeiras e acidentes fluviais, além de promover barreiras geográficas para muitos peixes,
também propicia habitats adequados para outro grande número de espécies, o que pode ter
favorecido a atual diversificação da fauna íctica.

Os estudos recentes da diversidade ictiofaunística da bacia do rio Xingu indicam que esta é
rica em espécies e, até o presente, forma registrados de cerca de 35 endemismos. Os índices
de diversidade encontrados em análises na região de Belo Monte foram altos em comparação
com outras estimativas realizadas na Amazônia (ELB/ELN, 2001; LEME, 2009).

CAMARGO et al. (2004), a partir de estudos de campo, revisão bibliográfica e registros de


coleções de museus nacionais e internacionais, identificaram 467 espécies de peixes para
toda a bacia do rio Xingu.

Desses registros, 57 espécies ocorreram na bacia do Iriri, 129 nas cabeceiras (considerando
desde as nascentes até a cachoeira de von Martius), 35 no trecho considerado pelos autores
como alto curso (da cachoeira von Martius até a montante da confluência com o Iriri),
correspondente ao médio curso no presente estudo, 305 no trecho por eles considerado
como Médio Xingu (do Iriri até Belo Monte), ou seja, na região da Volta Grande, 47 na bacia
do Bacajá, 259 no Baixo Xingu (de Belo Monte até a foz) e 11 registros para o Rio Xingu sem
identificação de local. Esses dados refletem o maior conhecimento da ictiofauna do trecho
final do rio e a carência de informações para grande parte da bacia.

Do total de espécies listadas por CAMARGO et al. (2004), pequenos peixes reofílicos foram
os mais comuns. Estes autores observaram, a partir das cabeceiras para jusante, a
substituição destas espécies, de hábitos oportunistas e de alimentação alóctone, por
espécies que se alimentam de fontes alimentares autóctones, como comedores de fundo,
sugadores de perilíton e pastejadores das várzeas sazonais, no sentido de montante para
jusante.

Segundo CAMARGO et al. (2004), as cabeceiras do Xingu são caracterizadas por um número
relativamente grande de espécies consideradas endêmicas de pequeno tamanho, tais como
Rhynchodoras xingui Macropsobrycon xinguensis, Hyphessobrycon mutabilis, H. loweae,
Astyanax saltor, A. scintillans, A. symmetricus, Myleus arnoldi, Exodon paradoxus,
Hemigrammus cf iota, H. cf Levis, H. cf marginatus, H.cf tridens, H. rodwayi, Hyphessobrycon
agulha, H. macrolepis, H. pulchripinnis, Moenkhausia cotinho e M. gracilima.

Da mesma forma, verifica-se uma porcentagem relativamente alta de espécies endêmicas na


região da Volta Grande, tais como Magadontognathus kaitukaensis, Porotergus sp.,
Sternachogiton sp., Sternarchorhynchus curvirostris, Brachyhypopomus beebei,
Roeboexodon geryi, Bryconops giacopinii, Creagrutus sp1 e Creagutus sp2.

Há, ainda, espécies endêmicas da bacia, que ocorrem desde as cabeceiras até a montante
da região das cachoeiras de Belo Monte, porém com baixas densidades populacionais e
distribuição restrita a corpos d’água pequenos, rasos e de baixa correnteza. São elas:
Corydoras xinguensis, Moenkhausia xinguensis, C. vittata, Hypselacara temporalis,
Sternopygus Xingu, Bunocephalus coracoideus e B. knerii (CAMARGO et al.,2004).

ZUANON (1999), por sua vez, identificou 105 espécies em 14 trechos de corredeiras na
região da Volta Grande. O estudo da morfologia de aproximadamente 50 espécies revelou a
ocorrência de estruturas e características anatômicas recorrentes, consideradas como
especializações relacionadas à vida nas corredeiras. A análise da dieta destas espécies
evidenciou uma forte dependência dos itens alimentares oriundos do perilíton (algas,

ARCADIS Tetraplan 107


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invertebrados aquáticos e plantas aquáticas podostemáceas). O estudo realizado por esse


autor indica que as especializações relacionadas à vida nas corredeiras podem tornar essas
espécies de peixes especialmente vulneráveis a impactos ambientais.

O levantamento realizado para o EIA/RIMA do complexo hidrelétrico Belo Monte (ELB/ELN,


2001) registrou mais de 300 espécies para o trecho do rio Xingu entre a localidade de Souzel
e o rio Iriri. As ordens Characiformes, com 13 famílias, Siluriformes, com 10 famílias e
Gimnotiformes, com 5 famílias, foram as mais bem representadas nesse estudo (ELB/ELN,
2001), o que se enquadra no padrão geral esperado para a fauna amazônica.

Dentre a ordem Siluriformes, as famílias Loricariidae com 36 espécies e Pimelodidae com 18


espécies foram as mais diversificadas. Para a ordem Characiformes, as famílias Characidae
com 31 espécies, Serrasalmidae com 14 espécies, Anostomidae 18 espécies, e Curimatidae
com 13 espécies, apresentaram maior riqueza.

Neste levantamento (ELB/ELN, 2001), grande parte das espécies encontradas já haviam sido
registradas no trecho final do rio Xingu. Dentre estas espécies destacam-se pelas maiores
biomassas relativas Myleus torquatus, Tocantinsia piresi, Boulengerella cuvieri, Hemiodus
unimaculatus, Plagioscion surinamensis, Hydrolycus armatus, Serrasalmus rhombeus.

Entre as espécies registradas apenas a jusante das grandes cachoeiras destacam-se:


Lycengraulis batesii, Platynematichthys notatus, Hypophthalmus edentatus, Pellona
castelnaeana, Reganella piresi, Laemolyta proximus, Hypophthalmus fimbriatus,
Osteoglossum bicirrhosum, Rhinodoras dorbignyi e Pimelodus altipinnis.

Um total de 11 espécies amostradas ocorreu exclusivamente na região a montante de


Altamira. As mais abundantes foram Moenkhausia browni, Panaque nigrolineatus,
Pristobrycon serrulatus, Lithodoras dorsalis, Phractocephalus hemioliopterus e Potamotrygon
leopoldi.

Na Volta Grande (entre a futura Barragem Pimental e a Casa de Força em Belo Monte)
ocorreram 17 espécies exclusivas. Dentre elas, as mais abundantes foram Aequidens
michaeli, Stethaprion sp, Boulengerella maculatus, Metynnis hypsauchen, Leporinus sp
"verde", Baryancistrus sp "pp" e Hoplerythrinus unitaeniatus.

Outras espécies são comuns nas áreas da Volta Grande e a jusante da casa de força
projetada para o AHE Belo Monte, destacando-se: Pellona flavipinnis, Loricaria sp,
Brachyplatystoma filamentosum, Doras cf. eigenmanni, Hemisorubim platyrhynchus,
Semaprochilodus insignis, Serrasalmus aff. manueli, Pseudoloricaria punctata, Rhamdia sp,
Crenicichla johanna, Cetopsis coecatiens, Pimelodella sp e Sorubim lima.

Por último, as regiões a montante e a jusante da Volta Grande apresentaram 12 espécies em


comum, das quais Ilishia amazonica, Pimelodina flavipinnis, Curimata ocellata, Leporinus sp
"pa", Astyanax sp e Brycon sp aff. pesu apresentaram a maior biomassa relativa.

Estudos mais recentes indicam que, considerando todas as artes de pesca, todos os
ambientes e todos os períodos de coleta, desde 2000 até 2008, foram coletados 35.352
indivíduos da ictiofauna, classificados em 387 espécies ou morfo-espécies, no curso Médio
inferior e Baixo, do rio Xingu. Dentre essas, encontram–se 12 ordens e 41 famílias. Estes
números correspondem às maiores riquezas registradas até o momento na região Amazônica
(LEME, 2009).

Assim como na maior parte do curso médio do Amazonas, na região a jusante de Belo Monte,
o Xingu se transforma em uma área de sedimentação e de deposição. A formação de praias

ARCADIS Tetraplan 108


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e ilhas na região próxima à Vitória do Xingu define ambientes nos quais se encontram várias
espécies que não ocorrem a montante, sendo a icitiofauna desse trecho dissimilar do trecho a
montante (LEME, 2009).

Áreas alagadas e lagos centrais nas ilhas fluviais no baixo Xingu servem como habitats
permanentes para espécies sedentárias, como pirarucu (Arapaima gigas), aruanã
(Osteoglossum bicirrhosum) ou como habitats temporários para espécies migradoras como o
tambaquí (Colossoma macropomum) que se alimentam nestes locais, durante a sua fase
jovem e/ou periodicamente durante o período chuvoso, quando adultos.

É provável que para espécies de peixes de hábitos mais ou menos sedentários, como o
apapá (Pellona castelnaeana), o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum) ou o pirarucu (Arapaima
gigas), a passagem pelas grandes cachoeiras seja praticamente impossível. Mesmo espécies
migradoras, como o mapará (Hypophthalmus edentatus e H. fimbriatus), apresentam-se
limitadas ao baixo curso do rio Xingu, enquanto que H. marginatus, mesmo que rara, foi
registrada a jusante e a montante das cachoeiras até a confluência com o rio Irirí.

Trinta e cinco espécies são, atualmente, consideradas endêmicas para a bacia do Xingu.
Deste total, 11 espécies possuem uma distribuição ainda mais restrita, tendo sido registradas
apenas na Área de Influência Direta do AHE Belo Monte. A discussão sobre essas espécies
encontra-se mais adiante. Vale ressaltar, entretanto, que existem várias interpretações de
que determinadas espécies de peixes sejam endêmicas de uma dada região, uma vez que a
raridade pode ser resultante de artefatos da metodologia utilizada. Para afirmar se uma
espécie é endêmica ou rara, há necessidade de amostragens mais abrangentes nos diversos
habitats ao longo de toda bacia. Assim, as espécies apontadas devem ser consideradas
como prováveis espécies endêmicas e raras.

Por outro lado, espécies com ampla distribuição geográfica também foram encontradas.
Destas, destacam-se Brycon pesu, Brycon brevicauda (Characidae) Argonectes robertsi e
Bivibranchia protractila (Hemiodontidae) que ocorrem nas Guianas, e nos rios Amazonas,
Tocantins, Xingu e Tapajós. Outras espécies, como Poptella compressa, Psedocotylosurus
microps, Leporinus desmotes e Serrasalmus af. eigenmanni, atualmente registradas nos
sistemas dos rios Xingu, Tocantins e nos rios das Guianas, possuem distribuições mais
restritas. Por último, encontram-se espécies com registros apenas para os sistemas Xingu e
Tocantins como Anostomoides laticeps, Laemolyta petite, Leporinus maculatus e Leporinus
tigrinus.

No que se refere aos dados da Coleção de Peixes do Museu de Zoologia da Universidade de


São Paulo (MZUSP) verifica-se que, a despeito da elevada quantidade dos lotes (2000),
estes são provenientes de poucos dos principais afluentes do rio Xingu, principalmente de
seu alto curso, localizados no Estado do Mato Grosso (rios Culuene, Tamitatoala, Ronuro,
Suia Missu e Fresco), resultando em uma riqueza de espécies que muito provavelmente não
reflete toda a ictiofauna daquele trecho da bacia hidrográfica.

Várias das espécies da lista ainda não foram descritas e algumas vezes sua identificação foi
realizada atribuindo-lhes nomes temporários ou apenas a designação do gênero. Atualizou-
se, tanto quanto possível, essa lista de espécies, com base na descrição de novos táxons e
revisões taxonômicas, destacando-se as espécies de interesse comercial, discriminadas
entre espécies para consumo e ornamentais.

Para os lotes analisados, observou-se um total de 373 táxons, considerando que cada
espécime identificado apenas no nível de gênero constitua uma espécie diferente dos demais
espécimes catalogados no mesmo gênero. De qualquer forma, apesar da imprecisão e de
serem poucos os afluentes do Rio Xingu representados, esse número subsidia a afirmação

ARCADIS Tetraplan 109


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

sobre a riqueza ictiofaunística da bacia. A localização geográfica do conjunto de registros


está apresentada na Figura 3-14.

ARCADIS Tetraplan 110


56°W 54°W 52°W

APA do Legenda
Arquipélago do
Gurupá
Almeirim
Marajó Sedes Municipais
Porto Breves
Oriximiná Prainha de Moz
Óbidos Curuá
Melgaço
Localização de Peixes
Alenquer Monte Portel
Alegre RESEX
2°S

2°S
F.N.
Juruti Verde para Caxiuanã
Sempre Hidrografia Permanente
SANTARÉM
Senador
José Limite Estadual
Belterra
Porfírio
Vitória Limites Municipais
do Xingu

Brasil Altamira Sítio Bacia do Xingu


Novo de Pesca do
Xingu
Medicilândia Paquiçamba Anapu Terras Indígenas
Aveiro Arara da
Volta Grande
Uruará Arara do Xingu Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Placas Pacajá
Koatinemo Unidade de Conservação de Proteção Integral
4°S

4°S
Rurópolis Kararaô
Itaituba Cachoeira
Seca

Trairão RESEX Trincheira


do Rio Iriri Bacaja
RESEX
RESEX
do Rio
Riozinho do Arawete
ESEC Xingu Igarapé
Anfrisio
Terra Ipixuna

Xipaya
do Meio
PA
R.B. do
Tapirapé
P.N. Apyterewa
Kuraya F.N. Tapirapé-
da Serra
F.N. do Pardo Aquiri
F.N.
Altamira Iatacaiúnas
6°S

6°S
Xikrin
FLOTA APA do Cateté
do Iriri Triunfo
do Xingu São Félix Água Azul
do Xingu Tucumã do Norte
Ourilândia
do Norte

Novo
Progresso
Bannach
Baú

Pau
Kayapo Cumaru D'Arco
do Norte
8°S

8°S

Menkragnoti
Badjonkore
R.B. Nascentes
da Serra do
Cachimbo
Santana do
Araguaia
Panará Mapa de Localização
60°0'W 40°0'W

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Mundo
Capoto/Jarina Vila
10°S

10°S

Carlinda Rica
Matupá Peixoto de
Nova Azevedo
Guarita
Santa
10°0'S

10°0'S

Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
Urubu
do Norte do Norte Porto
São José Branco
Rio Alegre do
Colíder do Xingu
Arrais/BR Norte
080
Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte
Luciára
TO
30°0'S

30°0'S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa do Araguaia
Wawi Maralwat
Vista 60°0'W 40°0'W

Sinop Santa Sede


Carmem

MT
12°S

12°S

Parque
Vera Feliz do Xingu 1:4.000.000
Natal km
Sorriso 0 50 100 200 300
Querência
Sistema de Coordenadas Geográficas
ESEC
Nova Ribeirão Datum horizontal: SAD 69
Rio Batovi
Lucas do Ubiratã Naruwota Cascalheira
Ronuro
Rio Verde
Gaúcha
do Norte
Pimentel
Barbosa
Canarana Figura 3.14 Localização geográfica dos pontos
Nova RESEC do de registro de ictiofauna na bacia do rio Xingu
Mutum Culuene
GO
Marechal
Rondon
14°S

14°S

Água Boa

Bakairi
Paranatinga Parabubure Cocalinho
Chão Campinápolis
Planalto Preto Nova Fontes:
da Serra Xavantina Peixes:Baseada na Listagem do Banco de Dados da
Nova Coleção de Ictiologia do Museu de Zoologia da USP.
Novo São
Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
Brasilândia Joaquim Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W
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B) Migração e Estratégias Reprodutivas


Os peixes da Amazônia apresentam uma grande diversidade de comportamentos
reprodutivos. O sucesso de uma estratégia reprodutiva garante a sobrevivência do maior
número possível de descendentes e representa o produto de longos processos de seleção
natural e adaptação às oscilações sazonais das variáveis ambientais (WOOTON, 1984).

Representantes de diferentes grupos ecológicos foram encontrados no rio Xingu (ELB/ELN,


2001). Estes se subdividem em:

ƒ De equilíbrio: peixes sedentários, de distribuição local, geralmente piscívoros ou


onívoros. A disponibilidade de alimento para estes peixes sofre poucas mudanças
sazonais. Apresentam época de desova prolongada, fecundidade menor, ovos maiores, e
um grande investimento energético na sobrevivência da prole através de
comportamentos especializados (i.e. acasalamento, construção de ninhos, cuidado
parental). Essa estratégia resulta na diminuição da mortalidade nas fases iniciais do ciclo
de vida, garantindo um bom recrutamento dos jovens à população adulta, que apresenta
uma densidade estável durante todo o ano. Ex: tucunaré, acará, pirarucu.
ƒ Oportunistas: peixes geralmente pequenos, com ciclo de vida curto e que atingem
maturação sexual rapidamente. Possuem desovas parceladas e numerosas, sem
apresentar cuidado da prole. Essa estratégia proporciona rápida colonização de habitats,
mesmo em condições desfavoráveis e sob alta pressão de predação. Ex: apapá, piranha,
pescada, corvina, sardinha.
ƒ Sazonais: grupo com maior número de espécies e que possui adaptação às mudanças
do nível do rio e ao regime anual de chuvas. São detritívoros, podendo se alimentar de
material alóctone (i.e. frutos, folhas, insetos). A densidade populacional varia com a
época do ano. Possuem alta fecundidade, ovos pequenos e carecem de cuidado
parental. Concentram suas energias para desovar no momento e local adequados, a fim
de garantir a sobrevivência dos descendentes. Para tal fim realizam migrações,
denominadas de piracema, desovando geralmente no início do período de chuvas, para
aproveitar a entrada das águas pelos novos canais em direção à floresta, que se
transforma assim em um habitat rico em alimento e local de refúgio dos predadores para
os indivíduos juvenis. Ex: curimatã, pacu, branquinha, tambaqui, aracu, piaba.
A maior parte das espécies realiza migrações reprodutivas entre dezembro e fevereiro,
subindo o rio ou outros canais laterais e desovando nas entradas dos igarapés ou nas áreas
de inundação. A Tabela 3-8, a seguir resume as informações disponíveis sobre a biologia
reprodutiva e outros aspectos da ecologia das principais espécies encontradas no Xingu.

ARCADIS Tetraplan 112


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Tabela 3-8 Informações sobre ciclo de vida e atividades reprodutivas de algumas espécies de peixes

Desova

Nome científico Nome comum Meses Época Hábitat Tipo Estratégia Alimentação Crescimento
Reprodutiva

Arapaima gigas Pirarucu Nov-Dez Final da Lêntico- parcial equilíbrio peixes lento
seca fundo

Auchenipterus nuchalis Mandubé preto Nov Final da Lótico parcial equilíbrio insetos,
seca cladoceros

Boulengerella cuvieri Bicuda Jan Início da Canais, total piscívoro


enchente Encontro
águas

Brycon brevicauda Diana Jan-Fev Final da Encontro de total sazonal frutas rápido
seca águas-lótico

Cichla melaniae Tucunaré Ano todo Ano todo Pedral parcial equilíbrio peixes rápido

Colossoma Tambaqui Dez-Mar Início da Lótico total sazonal frutos,


macropomum enchente zooplâncton

corpos de
Final da
Electrophorus electricus Poraquê Set-Dez água parcial equilíbrio carnívoro
seca
residual
pedras-
Geophagus spp Cará Dez-Jul Cheia parcial equilíbrio invertebrados rápido
lêntico
Canais,
Início da
Hemiodiopsis spp Flexeira Dez-Jan Encontro total Onívoro
enchente
águas

ARCADIS Tetraplan 113


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Desova

Nome científico Nome comum Meses Época Hábitat Tipo Estratégia Alimentação Crescimento
Reprodutiva

Final da Lagos-águas
Hoplias malabaricus Traíra Nov parcial - peixes
seca rasas
Hypophthalmus
Mapará Mar-Mai Cheia - - - plâncton
marginatus
Final da
Loricaria sp Acari rabo seco Set-Dez - Parcial equilíbrio
seca
Metynnis sp Início da Encontro de
Pacu Dez-Mar total sazonal herviboro rápido
Myleus spp enchente águas-lótico

Canais,
Início da
Myleus torquatus Pacu Jan Encontro total sazonal herbívoro rápido
enchente
águas
Osteoglossum Início da
Aruanã Dez-Jan Lago-lêntico parcial equilíbrio omnívoro
bicirrhosum enchente
Pachyurus junky Curuca Ano todo Ano todo - Parcial Piscívoro
Início da
Pinirampus pirinampu Barba chata Dez - total Piscívoro
enchente
o ano peixes, insetos,
Plagioscion spp Pescada - Lago-lêntico parcial oportunista
todo crustáceos
Início da Encontro de
Potamorhina latior Branquinha Dez-Mar total sazonal detritos, perifiton
enchente águas-lótico
Início da Encontro de
Prochilodus nigricans Curimatã Dez-Mar total sazonal detritos
enchente águas
Pseudoplatystoma Início da
Surubim lenha Fev - total sazonal peixes
fasciatum enchente

ARCADIS Tetraplan 114


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Desova

Nome científico Nome comum Meses Época Hábitat Tipo Estratégia Alimentação Crescimento
Reprodutiva

Schizodon vittatus
Início da Encontro de
Aracu Nov-Jan total sazonal herbívoro rápido
enchente águas-lótico

Semaprochilodus brama
Início da Encontro de
Ariduia Dez-Mar total sazonal detritos rápido
enchente águas

Raízes de
Serrasalmus spp. Piranha - Cheia plantas - equilíbrio omnívoro
aquáticas
Tocantinsia piresi
Início da
Pocomon Jan-Fev - total Onívoro
enchente

Início da Encontro de
Triportheus elongatus Sardinha Dez-Mar total sazonal omnívoro
enchente águas
Fonte: ELB/ELN, 2001; LEME, 2009.

ARCADIS Tetraplan 115


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Correlações entre a proporção de exemplares “maduros” e o nível do rio Xingu foram


testadas, sendo determinada uma associação positiva e significante entre o aumento do nível
do rio Xingu (enchente ~ cheia) com a proporção de exemplares “maduros” em espécies, tais
como: Agoniates anchovia, Argonectes robertsi, Bivibranchia fowleri, Leporinus sp "verde",
Myleus torquatus, Roeboides dayi, Serrasalmus rhombeus e Tocantinsia depressa ,
confirmando a sua estratégia sazonal (LEME,2009).

Entretanto, em espécies como Triportheus rotundatus, por exemplo, o padrão encontrado


combina com as características de uma espécie com estratégia oportunista. Pela freqüência
dos estádios de maturidade depreende-se que a espécie possui várias desovas ao longo do
ano (LEME, 2009).

O papel representado pelas áreas encachoeiradas dos rios amazônicos como obstáculo à
migração dos peixes, principalmente em relação às espécies que empreendem longas
migrações reprodutivas, é prejudicado pelo conhecimento ainda insuficiente da biologia de
muitas espécies. O jaú (Zungaro zungaro), por exemplo, que ocorre no Xingu, entre o Iriri e
Belo Monte e no Bacajá (CAMARGO et al. , 2004), realiza migrações reprodutivas rio acima,
mas os locais de desova são ainda desconhecidos (PETRERE JR et al., 2004).

A ausência de dourada, a montante de Belo Monte, indica que as barreiras deste rio seriam
intransponíveis para a estratégia de vida desta espécie. Já espécies de bagres como o
surubim (Pseudoplatystoma fasciatum), a pirarara (Phractocephalus hemioliopterus) e o
filhote (Brachyplatystoma filamentosum) parecem não precisar percorrer distâncias tão
longas. Assim, estas espécies habitam as águas do rio Xingu e suas migrações durante as
enchentes dentro do sistema de canais do rio foram relatadas por vários pescadores
(ELB/ELN, 2001).

De modo geral, os estudos realizados na região de Belo Monte (ELB/ELN, 2001; LEME,
2009) indicam que a ictiofauna a jusante da região da Volta Grande é distinta da fauna a
montante. Essa constatação pode ser entendida pela diferença nas características do
ambiente da ria fluvial em relação às condições de montante, favorecendo comunidades de
peixes diferenciadas, mas também pela consideração do trecho encachoeirado da Volta
Grande como um obstáculo intransponível à dispersão de muitas espécies.

Os deslocamentos reprodutivos dos peixes representam um dos comportamentos


biologicamente mais complexos dessa fauna. Praticamente todos os peixes realizam
movimentos dentro do sistema de canais e zona de inundação. Contudo, a piracema ou
arribação é um movimento regular de migração longitudinal e lateral, diretamente relacionado
à desova ou dispersão de algumas espécies de peixes, na área inundável, com época mais
ou menos precisa, no início da cheia anual.

No rio Xingu, o que parece mais evidente é a migração lateral dos indivíduos que entram nos
canais de transbordamento do rio, durante a enchente. Este comportamento é encontrado no
rio Xingu para muitas espécies como, por exemplo, aquelas pertencentes aos gêneros
Curimata, Prochilodus, Leporinus, Myleus, entre outras. Uma outra hipótese proposta
corresponde à migração de alguns grupos de peixes como curimatã (P. nigricans) que se
deslocam do Xingu para o Bacajá, supostamente com o objetivo de se reproduzir nas
extensas áreas de floresta inundável deste importante tributário.

Ao longo do rio Xingu, a partir da confluência com o rio Iriri, até Souzel, foram reconhecidos
cerca de 300 locais onde foram observados movimentos de piracema pelos pescadores
(ELB/ELN, 2001; LEME, 2009), grande parte dos quais localizados nas ilhas fluviais. A maior
freqüência de locais de piracema e desova ocorre em ambientes relativamente preservados,
com pouca pressão antrópica e vegetação predominantemente arbórea. Este fato poderia

ARCADIS Tetraplan 116


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explicar a preferência dos peixes pelas ilhas, em relação às margens do rio, visto que estas
são ambientes mais preservados, devido ao seu isolamento e não apresentam, em geral, uso
agropecuário intenso do solo.

Segundo Goulding (1980), os fatores ecológicos que controlam a intensidade da piracema


são complexos e as variáveis que parecem ser mais importantes são: o nível de água e a sua
transparência. Assim, parece evidente que nas áreas desmatadas as condições para a
desova são mais desfavoráveis, devido à suspensão dos sedimentos provindos do solo nu,
facilmente erodível.

C) Análise de endemismo
O componente mais valioso da biodiversidade sob uma perspectiva conservacionista,
corresponde à biota endêmica que é particularmente vulnerável às perturbações de origem
antrópica. Essa biota tende a ocorrer em áreas particulares que representam pontos de
importância fundamental para a conservação (Cracraft, 1995).

Com base nos registros recentes de coletas de campo, e de acervos de museus, foi
construída uma matriz de dados de ocorrência das espécies endêmicas para a bacia do
Xingu e as localidades com suas respectivas coordenadas geográficas. Uma vez plotadas as
coordenadas geográficas das localidades identificadas, estas foram agrupadas em unidades
geográficas, constituidas por microbacias dos rios tributários ou um trecho do rio Xingu
delimitado por sistemas de drenagem.

Com base nestas unidades geográficas definidas foi feita uma análise parcimoniosa de
endemicidade (PAE) para a delimitação das áreas de endemismo. O método proposto por
Morrone (1994) compreende os seguintes passos: i) definir as unidades geográficas; ii)
construir a matriz de dados; iii) aplicar a análise de parcimônia (PAE) aos dados; iv) delimitar
as unidades geográficas definidas pelo menos por duas espécies endêmicas; v) mapear as
espécies endêmicas por unidade geográfica ou conjunto de unidades para delinear a
abrangência de cada área de endemismo.

Um total de 35 espécies foi registrado como endêmicas para a bacia do rio Xingu (Tabela 3-
9). Deste total, Rhynchodoras xingui e Leptorhamdia schultzi não apresentaram uma
localidade, mas somente registro para o Alto rio Xingu. As 33 espécies restantes que
apresentaram localidades de ocorrência bem definidas, foram georreferenciadas numa base
cartográfica e por sua vez foram utilizadas para a análise de PAE.

Tabela 3-9 Espécies Endêmicas

Nº Taxa Espécie

1 Aequidens michaeli

2 Anostomus intermedius

3 Aspidoras microgalaeus

4 Cichla melaniae

ARCADIS Tetraplan 117


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Nº Taxa Espécie

5 Corydoras xinguensis

6 Crenicichla percna

7 Crenicichla phaiospilus

8 Crenicichla rosemariae

9 Geophagus argyrostictus

10 Glyptoperichthys xinguensis

11 Hypancistrus zebra

12 Hyphessobrycon loweae

13 Hyphessobrycon mutabilis

14 Leporacanthicus heterodon

15 Leporinus julii

16 Macropsobrycon xinguensis

17 Megadontognathus kaitukaensis

18 Microschemobrycon elongates

19 Moenkhausia xinguensis

20 Oligancistrus punctatissimus

21 Ossubtus xinguensis

22 Parancistrus nudiventris

23 Potamotrygon leopoldi

24 Sartor respectus

25 Scobinancistrus aureatus

26 Spectracanthicus punctatissimus

27 Tatia simplex

ARCADIS Tetraplan 118


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Nº Taxa Espécie

28 Teleocichla centisquama

29 Teleocichla centrarchus

30 Teleocichla gephyrogramma

31 Teleocichla monogramma

32 Tometes sp. "xingu"

33 Zungaropsis multimaculatus

Fonte:ELB/ELN, 2001;ENGEVIX/THEMAG/ARCADIS TETRAPLAN/INTERTECHE, 2007; LEME, 2009.

Como resultado, observou-se uma grande afinidade ictiofaunística em três grandes unidades
hidrológicas: I – Formadores do rio Xingu; II- Canal principal do Alto Xingu; e III- Canal
principal do médio rio Xingu (Figura 3-14).

Uma análise das unidades geológicas do sistema de drenagem mostrou que estas três
grandes unidades correspondem, por sua vez, a formações rochosas diferentes tanto do
ponto de vista estrutural como de idade das mesmas. A unidade hidrológica I destaca-se por
drenar uma superfície conformada por sedimentos inconsolidados compostos principalmente
por areias, argilas e cascalhos de tipo metamórficos do período terciário e com idade do
Mioceno (23 milhões de anos antes do presente). A unidade hidrológica II constituída
principalmente por rochas igneo-sedimentares do período Proterozóico (1800 milhões de
anos antes do presente) e a unidade hidrológica III constituída por rochas igneo-metamórficas
do Complexo Xingu com idades muito mais antigas do Arqueano (com idade aproximada de
2800 m.a). Possivelmente pode-se prever que a dinâmica geológica pode ter constituído um
processo histórico de isolamento e da atual diversidade ictiofaunística da bacia do rio Xingu.

Dentro a unidade I registrou-se uma área de presença de endemismos constituída pelo rio
Suia Missu, com as espécies: Crenicichla rosemariae e Hyphessobrycon loweae. Para a
unidade II se registrou a área conformada pela Cachoeira Von Martius, no leito do rio Xingu
com as espécies endêmicas: Teleocichla gephyrogramma e Teleocichla monogramma e
finalmente para a unidade hidrológica III se registrou uma área de presença de endemismos
conformada pelo trecho do rio que compreende: a confluência dos rios Xingu-Iriri, e o canal
principal do rio Xingu que compreende desde o rio Xingu a jusante da foz do Irirí até as
cachoeiras de Caitucá, com as espécies Moenkhausia xinguensis e Ossubtus xinguensis.

Do ponto de vista de afinidade das espécies nas áreas de endemismos, observou-se uma
proximidade filogenética na área da Cachoeira Von Martius; enquanto que as outras unidades
de endemismo foram constituídas por táxons com afinidade ecológica.

O predomínio de formas menores dentre das espécies endêmicas registradas para a bacia,
junto com táxons filogeneticamente afins como o caso da família Cichlidae e Loricariidae de
hábitos sedentários, favorece a delimitação de unidades hidrológicas para conservação.

ARCADIS Tetraplan 119


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Figura 3-15 Unidades hidrológicas identificadas ao longo da bacia do rio Xingu e


respectivas áreas de endemismo

D) Pesca
No rio Xingu, além da pesca comercial e de subsistência, há o extrativismo da pesca de
peixes ornamentais. A pesca de peixes utilizados para aquariofilia teve início como uma
alternativa econômica para as populações ribeirinhas, tendo-se intensificado nas últimas
décadas. Existem pelo menos 105 espécies de peixes sendo comercializadas como
ornamentais na fauna ictiológica do rio Xingu, sendo as mais importantes: acari amarelinho
(Baryancistrus sp) acari bola azul (Parancistrus sp), acari preto velho (Ancistrus ranunculus),
acari tigre (Peckoltia spp), acari assacu pirarara (Pseudacanthicus sp), acari picota ouro
(Scobiancistrus auratus) e acari bola branca (Baryancistrus niveatus) (LEME, 2009).

De acordo com os estudos mais recentes, de dez firmas que comercializaram peixes
ornamentais em 2001 e empregaram cerca de 1500 pescadores, hoje atuam quatro firmas,
sendo que uma funciona em regime de cooperativismo de três atravessadores. Por sua vez, o
esforço na atividade diminuiu drasticamente, com cerca de 200 pescadores registrados
através de entrevistas e 400, segundo as estimativas dos atravessadores (Gonçalves et al., in
press).

No que se refere à atividade pesqueira com finalidade de consumo, esta é uma das mais
antigas e tradicionais da Amazônia, desempenhando importante papel no fornecimento de
proteínas de fácil acesso para a população ribeirinha e como principal fonte de renda. No rio

ARCADIS Tetraplan 120


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Xingu, a pesca para consumo é realizada pelas comunidades indígenas e tradicionais. A


grande riqueza da ictiofauna nos ambientes fluviais favorece esta atividade, que nas últimas
décadas se tornou também uma importante fonte de renda.

A pesca constitui uma atividade com alguma importância em São Félix do Xingu. De acordo
com informações da Colônia de Pescadores de São Félix do Xingu, a produção estimada é
de aproximadamente 15,0 t/mês. Um total de 140 pescadores está filiado à Colônia. Nesta
região a composição das capturas é similar à da região da Volta Grande.

Não há dados que permitam uma quantificação da pesca de subsistência na bacia do rio
Xingu. Uma estimativa para a área de influência do AHE Belo Monte foi realizada (ELB/ELN,
2001) considerando uma população de 1.500,0 ribeirinhos e um consumo médio per capita de
200,0 g de peixe/dia. Para esta população, com esta taxa de ingestão, o valor estimado foi de
75,0 t/ano de pescado. Por outro lado, monitoramento do desembarque pesqueiro diário nos
principais portos de Altamira, concluídos por Camargo et al (in press), indicaram que a
produção pesqueira pode chegar a cerca de 3.000 ton/ano.

Entre as espécies mais capturadas e comercializadas no período chuvoso estão: pescada


(Plagioscion squamossisimus e P. surinamensis; filhote (Brachyplatistoma filamentosum),
tucunaré (Cichla melaniae), pirarucu (Arapaima gigas), dourada (Brachyplatistoma flavicans),
mapará (Hypophthalmus edentatus), surubim (Pseudoplatystoma fasciatum), curimatã
(Prochilodus nigricans), tambaqui (Colossoma macropomum), pirarara (Phractocephalus
hemioliopterus), pirapitinga (Piaractus brachypomus), entre outros. Já na estiagem, são
capturados: tucunaré (Cichla melaniae), curimatã, pacu, pescada (Pellona, Plagioscion), cará
(Aequidens sp, Satanoperca, Semaprochilodus, Retroculus), matrinchã (Brycon sp), aruanã
(Osteoglossum bicirrhosum), sardinhão (Triportheus rotundatus), entre outras.

Contudo, o conhecimento que se tem hoje sobre essa atividade econômica e de subsistência
é bastante fragmentado e insuficiente para compreender a complexidade de sua dinâmica. As
estatísticas oficiais conduzidas pelo IBAMA são praticamente inexistentes e os registros que
se tem sobre os volumes capturados e a importância social desse setor produtivo não são
confiáveis. Entretanto, um modelo trófico quantitativo realizado por Camargo (in press),
uilixando as densidades e biomassas estimadas para o setor do médio rio Xingu, os volumes
de extração de peixes e a eficiencia ecotrófica destes peixes, não indicou processos de
sobreexploração dos mesmos.

3.1.6.6. Outros grupos Aquáticos

A) Mamíferos
Na Amazônia existem cinco espécies de mamíferos aquáticos pertencentes a três distintas
Ordens: Sirenia, com uma espécie, o peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis); a Ordem
Cetacea, com duas espécies de golfinhos, o boto-vermelho (Inia geoffrensis) e o boto-tucuxi
(Sotalia fluviatilis); e a Ordem Carnívora, com duas espécies de mustelídeos aquáticos, a
ariranha (Pteronura brasiliensis) e a lontrinha (Lontra longicaudis). Pelas características do rio
Xingu é esperado que o peixe-boi e o boto ocorram somente na região da ria, a jusante da
localidade de Belo Monte, não ultrapassando a montante as áreas encachoeiradas.

O peixe-boi é um herbívoro aquático endêmico da Amazônia, apresentando um


comportamento bastante discreto e difícil de ser observado no seu ambiente natural, o que
impede a sua observação direta e a contagem dos indivíduos. As informações são obtidas, de

ARCADIS Tetraplan 121


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um modo geral, de forma indireta, por meio de entrevistas com os moradores locais,
observação de locais com presença de macrófitas aquáticas e semi-aquáticas, evidências de
locais de comida, presença de fezes, coleta de material ósseo ou carcaças, pele, mixira,
fezes e outras.

O boto-vermelho e o tucuxi são animais piscívoros, predadores no topo da cadeia alimentar e


perseguem suas presas, portanto são facilmente visíveis e contáveis. Por isso são potenciais
espécies para atuar como indicadoras da qualidade do ambiente aquático quanto à
ocorrência de peixes e concentração de contaminantes.

B) Quelônios
As cachoeiras de Belo Monte representam um divisor na distribuição das duas espécies mais
freqüentes de quelônios aquáticos do rio Xingu. A tartaruga-da-amazônia (Podocnemis
expansa) está praticamente concentrada nas praias a jusante de Belo Monte, no trecho
compreendido entre Vitória do Xingu e Senador José Porfírio (tabuleiro de desova das
tartarugas), enquanto que na área da Volta Grande a montante das cachoeiras, a espécie
predominante é o tracajá (Podocnemis unifilis).

Podocnemis expansa tem uma ampla distribuição na Amazônia, estendendo-se por todo o rio
Amazonas e Orinoco e seus afluentes. Está presente na Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,
Guianas, Peru e Venezuela. É estritamente aquática e só sai da água para realizar a desova.
Habita os rios, lagos, pântanos, ilhas e bosques inundados. Durante a estiagem dos rios, as
populações se encontram confinadas nos leitos dos rios e lagos relativamente profundos.
Durante a subida das águas se dispersam pelas extensas áreas inundadas que rodeiam os
rios e outros corpos permanentes de água. Na Amazônia brasileira são encontrados nos
afluentes do Rio Amazonas, entre os quais o Rio Xingu, da região entre a localidade Belo
Monte até a ilha de Marajó (Ojasti, 1971; Pritchard & Trebbau, 1984; Iverson, 1992; Molina &
Rocha, 1996 in ELB/ELN, 2001).

P. expansa se reproduz tipicamente em grandes grupos de fêmeas, em praias tradicionais de


desova. Em áreas onde a espécie é pouco abundante, devido a fatores naturais e à
intervenção antropogênica, desova principalmente em pequenos grupos dispersos e também
solitariamente. Depois da desova, os adultos permanecem próximos das praias por cerca de
dois meses antes de iniciar a migração até os lagos e áreas de alimentação (Alho et al., 1979;
Alho & Pádua, 1982; Alho, 1995 in ELB/ELN, 2001).

Levantamentos realizados por ocasião dos estudos de Belo Monte (ELB/ELN, 2001)
mostraram que a região dos tabuleiros de desova de tartarugas do baixo Xingu reúne um
conjunto de ilhas agrupadas formando um polígono de aproximadamente oito km2,
localizadas entre 2o 42’ de latitude sul e 52o 01’ de longitude oeste, em área geográfica do
município de Senador José Porfírio, no centro-oeste do Pará. Essas áreas têm sido
acompanhadas e fiscalizadas pelo IBAMA.

Os tracajás (P. unifilis) são encontrados em rios e florestas inundadas da Venezuela, Guianas
e norte do Brasil (em toda a Bacia Amazônica e do Rio Orinoco, na Venezuela). Estes
organismos atingem 8 quilos e possuem maior atividade durante o dia, alimentando-se de
folhagens e frutos caídos na água. Põem cerca de 20 ovos por postura, que são enterrados
em bancos de areia e chocados durante 75 a 90 dias, pelo calor do sol. É uma espécie
ameaçada pela exploração não controlada de fêmeas e ovos nos ninhos (ELB/ELN, 2001).

ARCADIS Tetraplan 122


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Especificamente o Projeto Quelônios da Amazônia, executado pelo Centro de Conservação


de Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) do IBAMA, é desenvolvido nas áreas de ocorrência
natural das tartarugas, nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins. O projeto mantém 16 bases avançadas para proteção de
115 áreas de reprodução nos rios da Amazônia, entre eles, o rio Xingu, sendo os demais os
rios Amazonas, Tapajós, Trombetas, Purus, Juruá, Branco, Araguaia, Javaés e Rio das
Mortes, entre outros (http://www.ibama.gov.br/novo_ibama/paginas/materia.php?id_arq=4682).

Na bacia do rio Xingu os técnicos do IBAMA que atuam no programa, juntamente com
voluntários, devolveram 624.913 tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) ao rio Xingu
no período de 20 de dezembro de 2006 a 15 de janeiro de 2007. Esta ação faz parte de um
trabalho efetivado pelos técnicos do Ibama há 25 anos, na base do Ibama no Tabuleiro da
Embaubal no baixo rio Xingu, no município de Senador José Porfírio, a 800 quilômetros da
capital Belém.

O trabalho do Ibama tem o apoio da Fundação José Rebelo do Xingu, da prefeitura Municipal
de Senador José Porfírio, de escolas da rede municipal e estadual e ONGs ambientalistas da
região de Altamira (http://360graus.terra.com.br/ecologia/default.asp?did=22246&action=news).

3.2. Meio Socioeconômico


3.2.1. Organização Territorial

3.2.1.1. Organização Político-administrativa


A Bacia Hidrográfica do rio Xingu abrange uma área total de cerca de 509.000 km²,
equivalente a 9% do território nacional. Situa-se na Amazônia Legal Brasileira, que engloba
nove Estados, dentre eles o Pará e o Mato Grosso, onde se situa essa bacia.

Partindo-se do critério para a conformação da bacia para efeitos da análise socioeconomica


de que todo município que tem parte de seu território, por menor que seja, na bacia
hidrográfica é integrante da mesma, a Bacia Hidrográfica do rio Xingu contabiliza 50
municípios, sendo 35 do Estado do Mato Grosso e 15 do Estado do Pará. Do total de
municípios que integram a bacia, apenas 15 possuem a totalidade de seus territórios nela
incluídos. Os municípios paraenses estão, em sua maioria, totalmente inseridos na bacia,
sendo que apenas três não apresentam suas sedes municipais no seu interior. Quanto aos
mato-grossenses, mais da metade se encontra parcialmente inserido na bacia, inclusive com
suas sedes municipais fora dela. Na Tabela 3-10 são apresentados os municípios
componentes da Bacia por grau de inserção.

Os 14 municípios do Estado do Pará apresentam, via de regra, grandes extensões territoriais


e ocupam aproximadamente 57% da área da bacia. Por outro lado, os 33 municípios do
Estado de Mato Grosso inseridos na bacia ocupam cerca de 43% da área total da bacia. A
Figura 3-16 mostra a localização dos municípios.

ARCADIS Tetraplan 123


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Tabela 3-10 Municípios componentes da Bacia por grau de inserção

Municípios parcialmente Municípios parcialmente


Municípios completamente
inseridos, com sede municipal inseridos, com sede
inseridos
dentro da bacia municipal fora da bacia

Grau Grau Grau


UF Município UF Município UF Município
(%) (%) (%)

Peixoto de
MT Feliz Natal 100,0 MT Nova Ubiratã 95,0 MT 85,0
Azevedo

MT Gaúcha do Norte 100,0 MT Canarana 86,1 MT Paranatinga 81,3

MT Querência 100,0 PA Porto de Moz 85,5 MT Campinápolis 70,2

MT Santa Carmem 100,0 MT Marcelândia 82,0 PA Anapu 68,7

Santa Cruz do
MT 100,0 PA Medicilândia 76,0 MT Alto Boa Vista 58,1
Xingu

São Félix do
MT União do Sul 100,0 MT Água Boa 68,6 MT 57,5
Araguaia

PA Altamira 100,0 MT Cláudia 67,5 MT Vila Rica 51,5

Bom Jesus do
PA Bannach 100,0 MT 61,9 MT Confresa 50,8
Araguaia

Santo Antônio do
PA Brasil Novo 100,0 MT 42,9 MT Matupá 41,8
Leste

Ribeirão
PA Cumaru do Norte 100,0 MT 28,9 MT Vera 41,7
Cascalheira

Ourilândia do Guarantã do
PA 100,0 MT Nova Santa Helena 27,5 MT 30,0
Norte Norte

São Félix do
PA 100,0 MT Sinop 22,6
Xingu

São José do Primavera do


MT 100,0 MT 18,0
Xingu Leste

Senador José Canabrava do


PA 100,0 MT 12,4
Porfírio Norte

PA Tucumã 100,0 PA Gurupá 10,7

ARCADIS Tetraplan 124


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Municípios parcialmente Municípios parcialmente


Municípios completamente
inseridos, com sede municipal inseridos, com sede
inseridos
dentro da bacia municipal fora da bacia

Grau Grau Grau


UF Município UF Município UF Município
(%) (%) (%)

Porto Alegre do
PA Vitória do Xingu 100,0 MT 7,9
Norte

PA Prainha 2,9

MT Nova Xavantina 2,0

MT Itaúba 2,0

MT Planalto da Serra 1,8

MT Sorriso 0,7

MT Nova Brasilândia 0,6

Elaboração: ARCADIS Tetraplan

ARCADIS Tetraplan 125


Legenda
56°W 54°W 52°W 50°W

Gurupá
UHE Belo Monte
Almeirim
Breves
PCHs
Porto
Oriximiná Prainha de Moz Melgaço
Óbidos Curuá Oeiras Capital Estadual
Alenquer Monte Portel
Rio Amazonas do Pará
AM Sedes Municipais
2°S

2°S
Alegre
Rio
Juruti Rio Rio Amazonas
Tapajós SANTARÉM
Xingu Outras estradas
Senador
PA
-3 José Rodovia em pavimentação
Belterra 7 0 Porfírio
Vitória Rodovia não pavimentada
do Xingu
Rodovia pavimentada

41 A-
Belo

P
Altamira

5
Brasil Monte
Novo BR Bacia do Xingu
Rio 23 - Anapu
- Medicilândia 0
BR 0 Xingu Terras Indígenas
Aveiro 23
Uruará
Pacajá Unidade de Conservação de Proteção Integral
Placas
Unidades de Conservação de Uso Sustentável
4°S

4°S
Rurópolis Novo
Itaituba Repartimento Massa D'Água

Trairão Rio Iriri Limite Estadual


Limites Municipais

PA

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach
BR-15 8

Cumaru
do Norte

Pau
D'Arco
8°S

8°S

Redenção
-150

Salto
Salto Três
8/PA

Buriti
de Maio Salto
5

Curuá
BR-1

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
MT-3

Nova Azevedo Rio Araguaia


Guarita
Santa
20

Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte
Luciára
TO
3
BR- 16

15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Lucas do Rio Ribeirão Araguaçu


Rio Verde Nova ARS Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
3
-16

do Norte 1:4.250.000
BR

km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Cocalinho
-164

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.16 Localização Municípios
GO

Nova
da Serra
MT-33 6

Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
BR-

Brasilândia
15 8
13 0

Chapada dos
MT-

Guimarães Fontes:
CUIABÁ
GO-

MT-07 0 Primavera Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)


Várzea do Leste BR-0 IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
GO

Campo Dom 7 0 General Compilação de dados MMA e ICMBIO


173

Grande Verde Aquino Poxoréo


-16

Carneiro ANEEL, 2008


Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
4

56°W 54°W 52°W 50°W


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3.2.1.2. Rede Urbana e Acessibilidade

A) Rede Urbana
Dentre os 50 municípios da bacia, somente Sorriso e Sinop, no Mato Grosso, e Altamira e
São Félix do Xingu, no Pará, têm população acima de 50.000 habitantes. Dentre os demais
municípios, 28 têm população entre 10 e 50 mil habitantes e os 17 municípios restantes
abaixo de 10 mil, conforme mostra a Tabela 3-11.

Tabela 3-11 Evolução da População, Taxa de Crescimento e Contribuição ao


Crescimento no período 2000-2007

Taxa Contribuição ao
População População
Município UF Crescimento Crescimento
2000 2007
2000-2007 2000-2007
Altamira PA 88.146 92.733 0,73 -1,34
Anapu PA 9.142 17.778 9,97 -2,52
Bannach PA 3.118 3.882 3,18 -0,22
Brasil Novo PA 15.934 18.756 2,36 -0,82
Cumaru do Norte PA 2.910 10.359 19,89 -2,17
Gurupá PA 22.181 24.384 1,36 -0,64
Medicilândia PA 42.127 23.502 -8,00 5,44
Ourilândia do Norte PA 13.333 20.417 6,28 -2,07
Porto de Moz PA 32.844 26.470 -3,04 1,86
Prainha PA 18.961 26.697 5,01 -2,26
São Félix do Xingu PA 51.913 59.339 1,93 -2,17
Senador José Porfírio PA 14.727 14.370 -0,35 0,10
Tucumã PA 5.473 26.481 25,26 -6,13
Vitória do Xingu PA 17.111 9.709 -7,78 2,16
Água Boa MT 28.585 18.994 -5,67 2,80
Alto Boa Vista MT 88.146 5.066 -33,51 24,25
Bom Jesus do Araguaia MT 35.633 4.479 -25,64 9,09
Campinápolis MT 93.844 13.663 -24,06 23,40
Canabrava do Norte MT 14.110 5.401 -12,82 2,54
Canarana MT 14.110 17.183 2,85 -0,90
Cláudia MT 12.497 10.648 -2,26 0,54
Confresa MT 20.911 21.350 0,30 -0,13
Feliz Natal MT 7.922 10.313 3,84 -0,70
Gaúcha do Norte MT 25.890 5.780 -19,28 5,87
Guarantã do Norte MT 27.659 30.920 1,60 -0,95

ARCADIS Tetraplan 127


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Taxa Contribuição ao
População População
Município UF Crescimento Crescimento
2000 2007
2000-2007 2000-2007
Itaúba MT 102.483 4.634 -35,75 28,56
Marcelândia MT 25.043 14.080 -7,90 3,20
Matupá MT 62.371 12.928 -20,13 14,43
Nova Santa Helena MT 8.877 3.368 -12,93 1,61
Nova Brasilândia MT 24.918 4.877 -20,79 5,85
Nova Ubiratã MT 17.177 7.768 -10,72 2,75
Nova Xavantina MT 17.177 18.657 1,19 -0,43
Paranatinga MT 69.209 20.074 -16,21 14,34
Peixoto de Azevedo MT 8.023 28.917 20,10 -6,10
Planalto da Serra MT 10.274 2.752 -17,15 2,20
Porto Alegre do Norte MT 38.297 38.095 -0,08 0,06
Primavera do Leste MT 9.350 44.757 25,07 -10,33
Querência MT 10.764 10.682 -0,11 0,02
Ribeirão Cascalheira MT 64.926 8.677 -24,99 16,42
Santa Carmem MT 14.472 4.324 -15,85 2,96
São José do Xingu MT 10.170 4.198 -11,87 1,74
Santa Cruz do Xingu MT 4.983 2.116 -11,52 0,84
Santo Antonuio do Leste MT 24.108 18.859 -3,45 1,53
São Félix do Araguaia MT 26.857 10.699 -12,32 4,72
Sinop MT 14.727 105.762 32,53 -26,57
Sorriso MT 14.727 55.121 20,75 -11,79
União do Sul MT 3.678 3.993 1,18 -0,09
Vera MT 7.835 9.183 2,29 -0,39
Vila Rica MT 17.111 18.929 1,45 -0,53
Fonte: IBGE, Contagem Populacional, 2007
Elaboração: ARCADIS Tetraplan

Conseqüentemente, a rede urbana na bacia é extremamente frágil, contando com um


pequeno número de núcleos urbanos cuja posição merece certo destaque. Ressalte-se ainda
que se deva levar em consideração também as condições de acessibilidade e as grandes
distâncias a serem percorridas entre um núcleo urbano e outro; o que torna ainda mais difícil
os fluxos entre eles. Apenas quatro municípios da bacia exercem alguma polarização sobre
as cidades em seu entorno: Altamira, no Pará, e São Félix do Araguaia e Sinop, no Mato
Grosso, conforme mostra a Figura 3-18 – Hierarquia Funcional/ Polarização.

A cidade de Belém, por ser a capital do Estado do Pará, concentra serviços de administração
pública e grande diversidade de serviços urbanos e exerce, assim, influência em todo o

ARCADIS Tetraplan 128


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

território do Estado. Entretanto, surgiram nos últimos anos outros três subsistemas com
núcleos urbanos de menor importância, mas ainda assim com fortes ligações com as cidades
de seu entorno: Santarém, Itaituba e Marabá.

Com exceção dos municípios de Altamira, ao norte da bacia, e Sinop e São Félix do
Araguaia, ao sul, o restante do território não apresenta núcleos urbanos com posição
relevante no sistema de cidades da região. Isso pode ser explicado parcialmente pela
existência de grandes extensões ocupadas por Unidades de Conservação e Terras
Indígenas, com pouca ou nenhuma concentração demográfica, que representam, em
condições normais, um entrave à circulação de mercadorias e pessoas.

Nesse contexto, na porção ao norte da bacia, destaca-se o município de Altamira, com


infraestrutura urbana mais consolidada, e que oferece uma gama de bens e serviços a uma
população estimada em 92.733 habitantes no ano 2007.

Ainda no Estado do Pará, o município de São Félix do Xingu tem importância regional
relativa, não apresentando, no entanto, o mesmo grau de organização de Altamira, pois
carece de infraestrutura urbana e básica organizadas.

Já a porção mais ao sul da bacia, no Estado do Mato Grosso, apresenta um dinamismo mais
forte, tanto econômico quanto demográfico. Nesta região os municípios dinâmicos são
principalmente aqueles surgidos com os projetos de colonização predominantemente
privados, que atraíram população migrante de diversas regiões do país, com destaque para
as regiões Sul e Sudeste. Os principais municípios deste grupo são Sinop e Sorriso.

As Figuras 3-17 e 3-18 mostram respectivamente a população e a hierarquia


funcional/polarização da Bacia.

ARCADIS Tetraplan 129


56°W 54°W 52°W 50°W

Legenda
Gurupá UHE Belo Monte
Almeirim

Oriximiná
Porto Breves PCHs
Prainha de Moz Melgaço
Óbidos Curuá Oeiras
Rio Amazonas Alenquer Monte Portel
do Pará Capital Estadual
AM
2°S

2°S
Alegre

Juruti
Rio Sedes Municipais
Rio Rio Amazonas Xingu
Tapajós SANTARÉM
Senador Rodovia em pavimentação
PA José
-3
Belterra 7 0 Porfírio Rodovia não pavimentada
Vitória
do Xingu Rodovia pavimentada

41 A-
Belo
Outras estradas

P
Altamira

5
Brasil Monte
Novo BR
Rio 23 - Anapu Bacia do Xingu
- Medicilândia 0
BR 0 Xingu
Aveiro 23 Massa D'Água
Uruará
Placas Pacajá Limite Estadual
4°S

4°S
Rurópolis Novo População Residente
Repartimento
Itaituba 2.100 a 9.500

Trairão Rio Iriri 9.500 a 30.000


30.000 a 50.600
50.600 a 71.200
71.200 a 10.600
PA Limites Municipais

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach
BR-15 8

Cumaru
do Norte

Pau
D'Arco
8°S

8°S

Redenção
-150

Salto
Salto Três
8/PA

Buriti
de Maio Salto
5

Curuá
BR-1

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
MT-3

Nova Azevedo Rio Araguaia


Guarita
Santa
20

Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte
Luciára
TO
3
BR- 16

15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Lucas do Rio Ribeirão Araguaçu


Rio Verde Nova ARS Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
3
-16

do Norte 1:4.250.000
BR

km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Cocalinho
-164

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.17 População residente em 2007
GO

Nova
da Serra
MT-33 6

Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
BR-

Brasilândia
15 8
13 0

Chapada dos
MT-

Guimarães Fontes:
CUIABÁ
GO-

MT-07 0 Primavera IBGE, Cotagem Populacional, 2007


Várzea do Leste BR-0 Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
GO

Campo Dom 7 0 General IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005


173

Grande Verde Aquino Poxoréo


-16

Carneiro ANEEL, 2008


Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
4

56°W 54°W 52°W 50°W


54°W 52°W 50°W

Laranjal
do Jari
AP Anajás
Cachoeira
do Arari
Vitória
do Jari

Gurupá
Legenda
Muaná
Almeirim
UHE Belo Monte
Porto Breves Limoeiro
Prainha de Moz Melgaço do Ajuru
Óbidos Curuá Alenquer Monte Portel
PCHs
Oeiras
Igarapé-
2°S

2°S
Alegre do Pará
Miri Capital Estadual
Cametá
SANTARÉM Sedes Municipais
Senador
José Mocajuba
Belterra
Porfírio
Bacia do Xingu
Vitória Baião
do Xingu Tailândia Limite Estadual
Belo
Brasil Altamira Monte Limites Municipais
Novo
Medicilândia Anapu
Hierarquia Funcional
Aveiro Relação entre Cidades
Uruará Tucuruí
Placas Pacajá Breu Muito Forte
Branco Goianésia
do Pará Forte
4°S

4°S
Rurópolis
Novo
Repartimento Forte para Médio
Jacundá Médio
Nova
Ipixuna Médio Fraco
Itupiranga Fraco
PA
MARABÁ Muito Fraco

Parauapebas
6°S

6°S
Curionópolis Eldorado
dos Carajás
Canaã dos
São Félix Carajás
do Xingu Tucumã Água Azul
Ourilândia do Norte Sapucaia
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach Pau
D'Arco
Floresta
Cumaru Arapoema
do Norte Pau
D'Arco
Redenção Juarina
8°S

8°S

Conceição
do Araguaia
Couto de
Salto Magalhães
Salto Três Buriti
de Maio Salto Araguacema
Curuá Santa
Maria das
Caseara Barreiras
Santana do Dois Irmãos
Araguaia do Tocantins
Abreulândia
Marianópolis
do Tocantins Monte
Guarantã Divinópolis do Tocantins Santo
Novo do Norte do Tocantins
Vila
Mundo
10°S

10°S

Rica Chapada
Matupá Peixoto de de Areia Localização
Nova Azevedo 60°W 45°W
Guarita Pium
Santa
Terezinha Cristalândia
Nova Canaã Terra Nova Confresa Porto
do Norte do Norte Lagoa da
São José Confusão
TO
Alegre do
Colíder

do Xingu Norte 0°

Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte
Luciára Dueré

Cláudia União
do Sul São Félix Formoso do
15°S

15°S

Alto Boa Gurupi


do Araguaia Araguaia
Vista
Sinop Cariri do
Santa Tocantins
12°S

12°S

Carmem Sucupira
Figueirópolis
Vera Feliz
Alvorada
30°S

30°S

Natal
Sorriso Sandolândia
Querência

MT
Talismã 60°W 45°W

Nova ARS Ribeirão Araguaçu


Ubiratã Cascalheira
Gaúcha
do Norte

Canarana
1:4.500.000
Paranatinga II km
Paranatinga I 0 50 100 200 300
14°S

14°S

Ronuro Água Boa


Sistema de Coordenadas Geográficas
Datum horizontal: SAD 69
Paranatinga Cocalinho
Campinápolis
Planalto Culuene
Nova
da Serra Xavantina
Novo São Figura 3.18 Hierarquia funcional entre cidades
GO
Nova
Joaquim
Brasilândia

Chapada dos
Guimarães Campo
Primavera
Verde do Leste General
Fontes: IPEA/UNICAMP/I.E.NESUE/IBGE - Campinas - SP,
Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil
Dom Carneiro
Aquino São Pedro Poxoréo (Coleção Pesquisas nº3 de 1999);
da Cipa Barra do Pontal do (2) FIRBE, Região de Influência de Cidades de 1993
Garças Araguaia Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
16°S

16°S

Jaciara Juscimeira Tesouro IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005


Torixoréu ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Estes dois municípios apresentam altas taxas de crescimento populacional devido, em


grande parte, à sua localização privilegiada na área de influência das rodovias BR-163, MT-
319 e MT-220. Além disso, dadas as grandes distâncias até os principais centros
polarizadores da região (Brasília, Goiânia, Cuiabá e Campo Grande), essas cidades formam
um subsistema econômico com funções terciárias ampliadas.

O destaque fica por conta de Sinop, considerado um centro urbano regional isolado, mas que
exerce alguma polarização com relação aos municípios em seu entorno.

Cabe ressaltar ainda que algumas cidades, situadas fora dos limites da bacia, apresentam
diferentes graus de polarização com aquelas que integram a bacia. São elas Marabá e
Redenção, que polarizam São Félix do Xingu e cidades próximas, e Barra do Garça, que
apresenta um grau médio de polarização de cidades ao sul da bacia.

Finalmente, destacam-se ainda, em termos de polarização, algumas capitais estaduais nas


proximidades dos limites da bacia: a nordeste, Belém, capital do Estado do Pará; a sudoeste,
Cuiabá, capital do Estado do Mato Grosso; e, a sudeste Goiânia, capital de Goiás; além do
Distrito Federal.

B) Acessibilidade
A rede de polarização tem relação direta com a acessibilidade. Neste sentido, reforçando a
análise feita anteriormente, a Bacia Hidrográfica do rio Xingu apresenta uma rede de
transporte rodoviário bastante incipiente. Em seu interior são poucos, senão inexistentes, os
eixos viários de importância supra-regional, como mostra a Figura 3-19 – Sistema Viário.

Associadas às capitais estaduais próximas aos limites da bacia destacam-se, no sentido


Norte-Sul, dois eixos rodoviários regionalmente importantes e que viabilizam a acessibilidade
entre a região Norte e o Centro-Oeste brasileiro: (i) a oeste da bacia, a rodovia BR-163,
conhecida como Cuiabá-Santarém, faz a ligação rodoviária entre esses dois importantes
centros regionais; (ii) a leste, a rodovia BR-158, conhecida por Belém-Brasília e a PA-150.

No sentido Leste-Oeste, a rodovia BR-230, conhecida como Rodovia Transamazônica, é o


principal eixo de transposição transversal da Bacia. Localizada na porção norte da Bacia, no
Estado do Pará, tem como principal papel interligar as regiões norte e nordeste do país.
Neste percurso, destaca-se a interligação de Altamira-PA às cidades de Marabá-PA (458km),
Jacareacanga-PA e Humaitá-AM.

Ao sul da Bacia há outra conexão Leste-Oeste, porém extremamente precária, feita entre
Canabrava do Norte e Peixoto de Azevedo, interligando os dois eixos rodoviários norte-sul
compostos pela BR-163 e BR-158 e PA-150.

Destaca-se que a região, além de apresentar uma incipiente rede viária, tem sérios
problemas para a implantação e a manutenção de sua rede viária, especialmente em função
da densa rede hídrica local que, aliada ao regime pluviométrico, impossibilita o tráfego
durante algumas épocas do ano, além de dificultar e elevar o custo de manutenção.

Deve-se ainda mencionar a presença de incontáveis estradas ditas endógenas, abertas pelos
agentes econômicos locais, principalmente por madeireiros e garimpeiros, e de forma ilegal.
Estas estradas atravessam, em muitos casos, áreas de proteção especial, como a Terra do
Meio e outras Unidades de Conservação, com sérios danos ambientais.

ARCADIS Tetraplan 132


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Em termos de transporte fluvial, o único trecho navegável do rio Xingu tem 298 quilômetros
de extensão e restringe-se ao baixo Xingu que abrange o trecho compreendido entre sua foz
e Belo Monte14. Nos demais trechos, localizados no curso superior, a navegação atende
principalmente as populações locais como a de São Felix do Xingu, além dos ribeirinhos e
populações indígenas, que em embarcações menores se servem do rio para deslocamentos
de curta e média distância, localizados entre as cachoeiras.

A hidrovia do rio Xingu é considerada de fundamental importância para o desenvolvimento da


região, assim como para o incremento do comércio do estado do Pará, pois serve como via
de escoamento de grande quantidade de combustível e carga geral que abastece as regiões
adjacentes e populações ribeirinhas3.

Existem dois portos no baixo Xingu: um em Altamira, administrado pela Companhia Docas do
Pará, e outro no município de Vitória do Xingu.

A pavimentação da rodovia PA-415, que interliga os municípios de Altamira e Vitória do


Xingu, transformou o porto fluvial do município de Vitória do Xingu, denominado Dorothy
Stang, em porto da Rodovia Transamazônica, facilitando a entrada e saída dos produtos na
região.

Em muitos casos, o transporte aéreo ainda é a opção mais rápida e segura em muitas
localidades e em determinadas épocas do ano, o que explica a presença de aeroportos e
inúmeras pistas de pouso na maioria dos municípios. Alguns aeroportos apresentam uma boa
infra-estruturapara aviação doméstica, como é o caso de Sinop, Alta Floresta, Altamira e São
Félix do Xingu.

Finalmente, não existe na bacia nenhuma ferrovia ou trecho ferroviário. A mais próxima é a
Estrada de Ferro Carajás, a leste da bacia, que termina em Parauapebas-PA, município
vizinho de São Félix do Xingu. Entretanto, o acesso a esta ferrovia a partir de qualquer centro
urbano da bacia do Xingu é bastante difícil e longo dado à precariedade do sistema rodoviário
da região, conforme pode ser verificado na Figura 3-19.

14
AHIMOR - ADMINISTRAÇÃO DAS HIDROVIAS DA AMAZÔNIA ORIENTAL - Atualizado em janeiro de 2007

ARCADIS Tetraplan 133


56°W 54°W 52°W 50°W
Legenda
Gurupá UHE Belo Monte
Almeirim
Porto Breves PCHs
Oriximiná Prainha de Moz Melgaço
Rio Amazonas
Óbidos Curuá
Alenquer Monte Portel
Oeiras
do Pará
Capital Estadual
AM
2°S

2°S
Alegre
Rio Sedes Municipais
Juruti Rio Rio Amazonas Xingu
Tapajós SANTARÉM Ferrovia
Senador
PA José
-3 Rodovia em pavimentação
Belterra 7 0 Porfírio
Vitória
do Xingu Rodovia não pavimentada

41 A-
Belo Rodovia pavimentada

P
Altamira

5
Brasil Monte
Novo BR
Rio 23 - Anapu
0
Outras estradas
- Medicilândia
BR 0 Xingu
Aveiro 23 Bacia do Xingu
Uruará
BR- 23 0 Placas Pacajá Terras Indígenas
3
/BR-1 6 BR
BR-23 0 -23 Unidade de Conservação de Proteção Integral
4°S

4°S
- Rurópolis
BR 0 0
23 BR-2
Itaituba 3 0 Novo Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Repartimento
Trairão Rio Iriri Massa D'Água
Limite Estadual
Limites Municipais

PA

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach
BR-15 8

Cumaru
do Norte
Pau
D'Arco
8°S

8°S

Redenção
-150

Salto
Salto Três
8/PA

Buriti
de Maio Salto
5

Curuá
BR-1

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
MT-3

Nova Azevedo Rio Araguaia


Guarita
Santa
20

Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba
do Norte
Luciára
TO
3
BR- 16

15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Lucas do Rio Ribeirão Araguaçu


Nova ARS
Rio Verde Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
3
-16

do Norte 1:4.250.000
BR

km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Cocalinho
-164

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.19 Sistema Viário
GO

Nova
da Serra
MT-33 6

Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
BR-

Brasilândia
15 8
13 0

Chapada dos
MT-

Guimarães Fontes:
CUIABÁ
GO-

MT-07 0 Primavera Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)


Várzea do Leste BR-0 IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
GO

Campo Dom 7 0 General Compilação de dados MMA e ICMBIO


173

Grande Verde Aquino Poxoréo


-16

Carneiro ANEEL, 2008


Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
4

56°W 54°W 52°W 50°W


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3.2.1.3. Estrutura Fundiária


A realidade fundiária da Amazônia Legal como um todo, e do Pará em particular, é bastante
complexa, em função de diversos fatores, entre eles a existência de grandes extensões de
florestas nativas e a disparidade socioeconômica. A indefinição sobre a propriedade da terra
representa um sério obstáculo ao desenvolvimento econômico e social da região, uma vez
que inibe os investimentos, prejudica a produção agropecuária, além de favorecer os conflitos
pela posse da terra.

A criação de projetos de assentamentos atraiu para a região um grande número de famílias,


entretanto, na maioria das vezes, isto não resultou na obtenção de título definitivo de
propriedade. Dessa forma a maior parte das comunidades encontra-se em situação de
carência, principalmente em função da falta de infraestrutura, da má qualidade dos solos e
das precárias condições de produção.

A estrutura fundiária no Mato Grosso é resultado, principalmente, da política de ocupação


levada a cabo no período de 1970 a 1979, que, para assegurar a soberania nacional, deu
origem à concentração fundiária, muitas vezes com superposição de áreas.

Muitos dos pequenos proprietários estabelecidos na região na época dos projetos de


colonização não foram bem sucedidos na empreitada. No final da década de 1970, esses
projetos já começavam a ser pressionados pelos grandes empreendimentos agropecuários,
de tal forma que muitos pequenos e médios proprietários desistiram de suas terras.

Nos municípios mato-grossenses, as grandes propriedades (mais de 2.000 ha.) representam


somente 7,3% dos imóveis cadastrados, mas ocupam 74,6% da área agrícola. Inversamente,
69,0% dos estabelecimentos representados pelas pequenas propriedades (com menos de
200 ha.) ocupam apenas 6,5% da área total.

Já nos municípios paraenses essa disparidade é um pouco menos significativa: as pequenas


propriedades representam 87,4% dos estabelecimentos rurais, ocupando 32,5% da área. Não
obstante, as grandes propriedades, que representam apenas 0,9% dos imóveis, ocupam
39,2% da área agrícola. Assim, apesar de apresentar uma estrutura fundiária um pouco
menos desequilibrada, ainda predominam no Estado as médias e grandes propriedades, em
detrimento dos pequenos proprietários de terra.

Inúmeros são os desajustes de dados entre os órgãos públicos responsáveis pela gestão
fundiária que, aliados à falta de controle e fiscalização na demarcação das terras, propiciam
falta de transparência e corrupção nos processos de regularização fundiária.

Estudo do INCRA15 aponta que na região Norte do país, 0,2% dos imóveis suspeitos de
grilagem abrangem 26% da área dessa região, com destaque para o Estado do Pará, onde
0,3% dos imóveis é responsável por 34% da área suspeita de grilagem.

15
SABBATO, Alberto Di. Perfil dos Proprietários/Detentores de Grandes Imóveis Rurais que não atenderam à
notificação da Portaria 558/99. Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO – projeto UTF/051/BRA, janeiro/2001.

ARCADIS Tetraplan 135


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

As terras não contabilizadas pelo governo começaram a ser identificadas depois que o
INCRA passou a examinar as áreas menores que 10 mil hectares registradas em cartório
imobiliário. Os três maiores grileiros de terras no Estado do Pará alegam possuir cerca de 20
milhões de hectares (Carlos Medeiros – 13 milhões, grupo CR Almeida – 6 milhões e Jarí
Celulose – cerca de três milhões de hectares). Conforme o estudo mais recente sobre a
questão fundiária16, apenas uma pessoa (Carlos Medeiros) declara possuir cerca de 1.200
títulos de propriedade falsos, em mais de 83 municípios.

Na região Centro-Oeste, onde 29% dos imóveis são suspeitos de irregularidade, sobressai o
Estado do Mato Grosso, onde 0,6% dos imóveis abrange 17% da área. A área média por
proprietário é bem menor que no Pará (25.965,5 ha), sendo que o número médio de imóveis
por proprietário também é inferior.

A questão da grilagem de terras na Amazônia foi objeto de investigação pelo governo federal
em 1999, no âmbito do INCRA, seguida, em 2002, por uma CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) na Câmara dos Deputados. Concluiu-se pela existência de aproximadamente 100
milhões de hectares de terras com documentação suspeita, tendo o INCRA cancelado o
registro de pelo menos 70 milhões de hectares17. Cabe destacar que cerca de 20,8 milhões
de hectares destas terras estão divididos entre 422 fazendas no Estado do Pará, muito
provavelmente com maior intensidade nas áreas de Porto de Moz e Terra do Meio.

No Mato Grosso, assim como no Pará, as invasões e ocupações irregulares de terras estão
associadas à exploração madeireira ilegal, ao avanço da pecuária e à produção crescente de
grãos, notadamente a soja.

3.2.1.4. Condicionantes e Restrições de Ocupação


O processo histórico de ocupação dos municípios da Bacia Hidrográfica do rio Xingu
determinou, em grande parte, suas atividades econômicas predominantes, na medida em que
a ocupação foi direcionada à exploração dos recursos naturais e à agropecuária.

Observa-se, na maior parte dos municípios, a substituição das atividades econômicas por
outras, em ciclos que se sucedem ao longo do tempo. Nota-se claramente a seqüência
extrativismo-pecuária-agricultura (notadamente a soja ou grãos na parte matogrossense da
bacia). A lógica que se segue é a ocupação do território por meio do desmatamento para
venda da madeira, seguida da implantação de áreas de pastagens para a criação de gado de
forma extensiva, que dá lugar então à plantação de grãos, notadamente a soja.

A) Áreas Legalmente Protegidas


Uma das maiores condicionantes de ocupação das terras da Bacia Hidrográfica do rio Xingu,
no sentido de restringir seu uso, é a presença de grandes parcelas do território ocupadas por
áreas protegidas e de destinação específica: as Unidades de Conservação (UCs) e as Terras

16
Violação dos Direitos Humanos na Amazônia: conflito e violência na fronteira paraense. Comissão Pastoral da
Terra – CPT, Justiça Global, Terra de Direitos, novembro/2005.

17
Estas ações resultaram a partir da Portaria 558/99.

ARCADIS Tetraplan 136


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Indígenas (TIs), que representam porções do território municipal sobre as quais o poder local
não possui nenhum tipo de autonomia.

Na bacia, as Unidades de Conservação ocupam uma área de 87.503,65 km² (cerca de 17%
da bacia), divididas em UCs de Proteção Integral (42.313,73 km²) e UCs de Uso Sustentável
(45.189,92 km²).

As Unidades de Proteção Integral têm um perfil mais restritivo, já que seu objetivo maior é a
preservação da natureza. São unidades de uso indireto em relação ao consumo, coleta, dano
ou destruição dos recursos naturais e à presença de populações humanas. Essas unidades
representam pouco menos da metade das UCs presentes na bacia (cerca de 48,4%).

Já as Unidades de Uso Sustentável têm como objetivo compatibilizar a conservação da


natureza com o uso sustentável de uma parcela dos seus recursos naturais. Ou seja, são
UCs de uso direto, onde a coleta e uso, comercial ou não, dos seus recursos naturais é
permitida, assim como a presença de diferentes níveis de atividades humanas.

Por sua vez, as Terras Indígenas ocupam uma parcela ainda mais significativa da bacia,
somando 203.557 km², ou seja, aproximadamente 40% de sua área total. Essas terras, em
termos de área, concentram-se basicamente no Estado do Pará, em grande parte nos
municípios de Altamira e São Félix do Xingu, os maiores municípios paraenses na bacia.

Juntas, as Terras Indígenas e as Unidades de Conservação ocupam mais da metade da área


da bacia. Em termos práticos, essa presença traz conseqüências socioeconômicas
importantes para os municípios nos quais estão localizadas, pois compromete a possibilidade
de expansão econômica dos municípios, notadamente no que tange à agricultura e pecuária.

Por outro lado, essas áreas apresentam funções essenciais na região, principalmente no que
tange ao uso sustentável da floresta e recursos naturais, à valorização da biodiversidade, à
manutenção de serviços ambientais e ao respeito aos direitos dos povos indígenas e outras
populações tradicionais (ribeirinhos e extrativistas, entre outros).

A Figura 3-20 – Áreas Legamente Protegidas permite uma melhor visualização dessas
informações.

ARCADIS Tetraplan 137


56°W 54°W 52°W 50°W
Legenda
APA do
Gurupá UHE Belo Monte
Arquipélago
do Marajó PCHs
Porto
Prainha de Moz Melgaço
Rio F.N. Portel Capital Estadual
Rio Amazonas Amazonas Caxiuanã
AM RESEX
2°S

2°S
Verde para Rio Sedes Municipais
Rio Xingu
Tapajós Sempre Limite Estadual
Senador
José
Vitória Porfírio Limites Municipais
do Xingu
Belo Massa D'Água
Monte
Sítio
Brasil Bacia do Xingu
Novo
de Pesca
Altamira
do Xingu Terras Indígenas
Medicilândia Anapu
Arara da UCs Proteção Integral
Rio
Uruará Arara Xingu
Volta Grande
Placas do Xingu APA UCs Uso Sustentável
Koatinemo Tucuruí
4°S

4°S
Rurópolis Kararaô Novo
Itaituba Repartimento
Cachoeira Seca
Trairão RESEX Trincheira
do Rio Iriri Bacaja
RESEX Arawete
Riozinho do RESEX Igarapé
Anfrisio ESEC do Rio Ipixuna
Terra do Xingu
Meio
Xipaya
PA R.B.
Apyterewa do Tapirapé
Kuraya P.N. da F.N. Tapirapé-
F.N. Serra do Rio F.N. Aquiri
Altamira Pardo Xingu Iatacaiúnas Parauapebas
6°S

6°S
Xikrin do
FLOTA
APA Triunfo Cateté
do Iriri
do Xingu São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
Rio do Norte
Novo Iriri Rio
Progresso Maria
Baú Bannach

Pau
Cumaru
Kayapo do Norte
D'Arco
Redenção
8°S

8°S

Salto
Salto Três Menkragnoti
Buriti
de Maio Salto
R.B. Curuá Badjonkore
Nascentes da Serra
do Cachimbo Santana do
Araguaia
Panará
Rio Xingu

Guarantã
Vila
do Norte
10°S

10°S

Rica Localização
Matupá Peixoto de
Capoto/Jarina Rio Araguaia
60°W 45°W
Azevedo
Santa
Confresa Terezinha
Urubu
Rio Porto


São José
Alegre do Branco
Arrais/BR do Xingu
Norte
Marcelândia 080 Canabrava
Itaúba
do Norte

TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Wawi Maralwat Vista
Sinop Santa Sede
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz Parque
Natal do Xingu 60°W 45°W
Sorriso
Querência

ESEC MT Rio Xingu Ribeirão


Nova
ARS Rio Batovi Cascalheira
Ubiratã Naruwota
Ronuro Gaúcha
do Norte Pimentel 1:4.250.000
Barbosa km
Canarana 0 50 100 200 300
RESEC do
Marechal CulueneParanatinga II Sistema de Coordenadas Geográficas
Datum horizontal: SAD 69
Rondon
14°S

14°S

Ronuro Paranatinga I Água Boa

Bakairi
Paranatinga
Parabubure
Planalto Culuene Chão Campinápolis Figura 3.20 Áreas Legalmente
Nova
da Serra Preto Xavantina
Protegidas
Nova

APA
Brasilândia
GO
Chapada
dos Guimarães Fontes:
CUIABÁ Primavera Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
do Leste IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
Compilação de dados MMA e ICMBIO
PES da Serra Azul ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3.2.2. Base Econômica


A caracterização econômica da Bacia Hidrográfica do rio Xingu seguiu etapas em uma
seqüência lógica que permitiu compreender não somente a situação econômica dos diversos
municípios que a compõe, mas a dinâmica da evolução dos principais fatores econômicos, o
que permite traçar conjecturas acerca da sua evolução futura.

Primeiramente importa conhecer e compreender a Bacia Hidrográfica do rio Xingu em termos


da magnitude dos PIBs municipais, a fim de verificar o porte econômico dos municípios, ou,
onde se localizam as maiores gerações de valor. Mais do que isso, verificou-se como se
distribui a geração de valor municipal pelos 3 setores da economia, o setor primário
(basicamente agropecuária e extração mineral e vegetal), o secundário (indústria) e o
terciário (serviços), de forma a avaliar a magnitude das economias municipais e também os
principais ramos de atividade que as suportam, que são desenvolvidas em cada localidade.

Visto isso, passou-se a identificar e caracterizar as principais atividades produtivas da bacia,


com especial atenção para aquelas do setor primário da economia, dada sua predominância
e seu potencial para alterações na base de recursos naturais.

Por fim a análise da base econômica centrou atenção nas finanças municipais, a fim de
verificar o grau de dependência dos municípios com relação aos governos estadual e federal
e avaliar sua capacidade de gerar recursos a partir de suas capacidades de arrecadação, que
são determinadas pela base econômica do município.

Magnitude e Evolução Recente do PIB

Verificando-se o valor dos PIBs setoriais para cada município, de acordo com as informações
e categorias fornecidas pelo IBGE (agropecuária, indústria e serviços), constata-se que os
municípios da Bacia Hidrográfica do rio Xingu possuem uma estrutura econômica dominada
pela agropecuária. No entanto, alguns municípios apresentam um setor de serviços
relativamente desenvolvido e, em proporção muitíssimo menor, também um setor industrial
com alguma importância, como se observa na Tabela 3-12 – PIB 2005 e Evolução do PIB
Setorial 2000-2005.

ARCADIS Tetraplan 139


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Tabela 3-12 PIB 2005 e Evolução do PIB Setorial 2000-2005

PIB PIB Crescimento PIB PIB Crescimento PIB PIB Crescimento


PIB
Município UF Agroindústria Agroindústria Agropecuária Serviços Seviços Serviços Industrial industrial indústria
2005
2001 2005 2001-2005 2001 2005 2001-2005 2001 2005 2001-2005
Altamira PA 232.054,83 85.260,52 30.130,14 -22,90 90.589,98 152.897,00 13,98 27.422,56 30.220,25 2,46
Anapu PA 25.889,61 22.525,31 8.286,59 -22,12 8.709,91 11.648,10 7,54 8.564,58 4.703,79 -13,91
Bannach PA 20.780,41 49.996,65 14.400,71 -26,74 7.254,34 5.639,77 -6,10 608,67 401,67 -9,87
Brasil Novo PA 37.158,72 41.166,19 15.359,18 -21,84 15.281,53 18.404,72 4,76 893,08 2.415,42 28,24
Cumaru do PA 44.001,91 53.152,79 33.099,64 -11,17 8.896,35 9.460,60 1,55 321,73 720,75 22,34
Norte
Gurupá PA 29.718,59 20.981,72 7.701,68 -22,16 15.830,11 18.933,74 4,58 1.216,06 2.448,60 19,12
Medicilândia PA 49.986,62 81.371,28 18.797,83 -30,67 23.064,90 25.685,53 2,73 3.450,40 3.987,76 3,68
Ourilândia do PA 43.747,96 46.959,46 14.954,98 -24,88 21.976,13 22.904,17 1,04 2.547,84 3.874,65 11,05
Norte
Porto de Moz PA 33.376,19 19.976,70 6.498,34 -24,48 20.087,41 22.139,65 2,46 3.377,81 3.573,02 1,41
Prainha PA 54.902,36 23.768,30 23.625,72 -0,15 18.692,56 25.375,02 7,94 2.784,06 4.859,43 14,94
São Félix do PA 158.593,99 273.772,30 96.428,76 -22,96 50.634,60 52.867,34 1,08 3.481,77 5.474,62 11,98
Xingu
Senador PA 21.240,56 11.849,35 5.804,75 -16,34 10.486,57 12.329,16 4,13 3.676,24 2.390,15 -10,20
José Porfírio
Tucumã PA 77.543,19 65.343,05 24.027,91 -22,13 30.830,50 42.023,30 8,05 7.172,05 6.565,94 -2,18
Vitória do PA 37.069,90 36.960,19 15.320,47 -19,76 15.786,82 17.811,28 3,06 717,86 1.424,76 18,69
Xingu
Água Boa MT 166.639,98 32.698,43 49.803,43 11,09 39.494,69 75.552,22 17,61 7.673,31 22.194,80 30,41
Alto Boa MT 22.155,49 5.106,30 12.376,28 24,77 4.659,12 7.435,52 12,40 790,40 1.380,88 14,97
Vista
Bom Jesus MT 35.003,11 3.669,82 23.681,78 59,38 4.596,89 8.361,21 16,13 413,73 1.140,59 28,86
do Araguaia
Campinápolis MT 43.443,42 14.494,98 14.825,03 0,56 18.491,51 21.457,17 3,79 1.258,08 5.189,25 42,51
Canabrava MT 34.685,34 11.940,09 23.887,17 18,93 6.434,41 8.291,70 6,55 430,14 1.265,52 30,97
do Norte
Canarana MT 149.975,36 38.822,68 57.467,30 10,30 40.605,80 62.944,10 11,58 10.214,98 15.782,87 11,49

ARCADIS Tetraplan 140


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

PIB PIB Crescimento PIB PIB Crescimento PIB PIB Crescimento


PIB
Município UF Agroindústria Agroindústria Agropecuária Serviços Seviços Serviços Industrial industrial indústria
2005
2001 2005 2001-2005 2001 2005 2001-2005 2001 2005 2001-2005
Cláudia MT 67.808,19 5.851,13 27.180,21 46,81 16.858,37 25.496,48 10,90 7.228,49 9.987,54 8,42
Confresa MT 86.730,03 27.862,30 41.442,95 10,44 23.104,33 34.143,82 10,26 5.278,82 7.395,63 8,80
Feliz Natal MT 67.707,69 4.135,50 21.133,36 50,35 12.211,16 25.389,27 20,08 8.270,14 15.503,59 17,01
Gaúcha do MT 44.367,79 17.222,40 24.677,89 9,41 7.072,75 14.797,20 20,27 704,75 1.682,57 24,30
Norte
Guarantã do MT 115.609,90 21.227,90 24.949,65 4,12 49.502,39 59.903,06 4,88 18.022,62 23.411,84 6,76
Norte
Itaúba MT 42.547,32 11.699,60 24.295,86 20,04 9.628,23 12.492,88 6,73 4.295,16 3.449,45 -5,33
Marcelândia MT 85.560,81 10.606,31 37.039,69 36,70 21.881,68 31.620,95 9,64 12.510,99 11.958,78 -1,12
Matupá MT 107.230,80 14.481,91 33.654,15 23,47 18.798,99 36.220,96 17,82 3.099,39 28.542,48 74,20
Nova Santa MT 15.881,12 8.260,67 8.007,67 -0,77 5.060,72 6.103,47 4,80 365,58 1.026,21 29,44
Helena
Nova MT 18.291,35 8.295,36 8.141,48 -0,47 7.740,50 8.032,84 0,93 1.130,43 1.271,12 2,98
Brasilândia
Nova Ubiratã MT 142.949,29 21.287,79 104.512,55 48,85 13.662,41 24.676,93 15,93 3.025,93 6.491,44 21,02
Nova MT 103.878,96 24.694,30 40.838,23 13,40 36.619,15 48.252,25 7,14 4.886,07 5.957,55 5,08
Xavantina
Paranatinga MT 103.964,87 32.506,18 47.801,49 10,12 34.735,97 40.757,30 4,08 3.489,85 7.915,67 22,72
Peixoto de MT 71.782,40 15.701,37 22.829,91 9,81 35.288,45 37.480,73 1,52 5.271,24 7.061,37 7,58
Azevedo
Planalto da MT 15.255,21 7.455,52 8.862,46 4,42 3.716,68 5.063,90 8,04 392,25 703,22 15,71
Serra
Porto Alegre MT 32.577,40 10.043,01 10.829,47 1,90 11.610,59 16.943,49 9,91 1.947,28 2.269,25 3,90
do Norte
Primavera do MT 821.320,39 78.850,41 293.929,73 38,95 217.557,94 365.977,23 13,89 38.947,56 59.060,77 10,97
Leste
Querência MT 124.104,73 22.977,05 51.006,52 22,06 12.349,00 49.898,37 41,78 2.985,05 9.243,56 32,65
Ribeirão MT 40.763,07 16.890,57 19.241,92 3,31 11.390,69 16.559,41 9,81 1.377,27 2.138,35 11,63
Cascalheira
Santa MT 48.051,54 8.465,32 28.580,40 35,55 7.340,29 13.178,44 15,75 3.038,96 3.248,97 1,68
Carmem

ARCADIS Tetraplan 141


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PIB PIB Crescimento PIB PIB Crescimento PIB PIB Crescimento


PIB
Município UF Agroindústria Agroindústria Agropecuária Serviços Seviços Serviços Industrial industrial indústria
2005
2001 2005 2001-2005 2001 2005 2001-2005 2001 2005 2001-2005
São José do MT 43.896,22 23.396,07 28.188,41 4,77 8.683,86 11.977,69 8,37 1.053,49 1.589,54 10,83
Xingu
Santa Cruz MT 14.518,41 1.536,85 8.262,87 52,27 1.660,04 4.913,11 31,16 110,04 552,69 49,70
do Xingu
Santo MT 132.123,79 39.392,49 102.988,35 27,16 6.893,92 19.066,11 28,96 798,92 5.035,70 58,45
Antonuio do
Leste
São Félix do MT 83.725,92 14.654,18 48.624,67 34,97 15.511,63 27.725,81 15,63 1.763,48 3.223,41 16,27
Araguaia
Sinop MT 711.159,64 23.169,56 71.986,32 32,76 282.462,37 385.285,00 8,07 94.433,59 164.763,76 14,93
Sorriso MT 789.825,92 155.078,85 224.766,18 9,72 174.566,45 373.504,65 20,94 53.713,26 82.162,09 11,21
União do Sul MT 32.218,55 5.072,11 16.352,63 34,00 6.398,70 9.756,08 11,12 5.089,54 4.305,34 -4,10
Vera MT 90.141,09 12.869,14 47.849,55 38,86 16.526,68 27.239,10 13,31 7.341,67 8.838,48 4,75
Vila Rica MT 106.478,25 27.793,47 41.425,48 10,49 32.094,03 42.167,60 7,06 8.699,45 16.472,75 17,31
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas.
Elaboração ARCADIS Tetraplan.

ARCADIS Tetraplan 142


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Os municípios do Estado do Mato Grosso concentram a maior parte do PIB da bacia – 84,2%
contra 15,8% dos municípios do Pará. Apesar da concentração do PIB no Estado do Mato
Grosso, o mesmo apresenta uma área territorial útil, excluindo-se as áreas de Unidades de
Conservação e as das Terras Indígenas onde as atividades produtivas mercantis não são
autorizadas ou são limitadas, de 35,8% da bacia, contra 18,1% de participação de terra
disponível para aplicações econômicas no Estado do Pará.

Apesar desse aparente equilíbrio na geração de renda entre os dois Estados, 4 municípios
concentram praticamente 50% do PIB total da bacia. No Estado do Mato Grosso, Primavera
do Leste, Sorriso e Sinop são os municípios mais importantes do ponto de vista de geração
do PIB, ou geração de renda, com respectivamente 15%, 14,4% e 13% do PIB total da bacia.
Seguem-lhes em importância o município paraense Altamira que apresenta PIB equivalente a
4,2%, e o município mato-grossense Água Boa com 3% de participação no PIB da bacia

A composição do PIB da bacia evidencia o quanto a base econômica da região assentava-se


no setor primário, principalmente para o caso dos municípios paraenses, onde a participação
desse setor chegava a 67,3% em 2001. No caso dos mato-grossenses, a maior participação
em 2001 era do setor de serviços com 52,5%.

Percebe-se que o cenário econômico vem se alterando ao longo dos anos na região de
estudo. Na área da bacia correspondente ao Estado do Pará nota-se uma forte queda no
setor agropecuário, e um forte desenvolvimento dos setores de serviço e indústria. Já na
porção pertencente ao Estado do Mato Grosso ocorre o contrário, o setor agropecuário
apresenta crescimento, com respectiva redução do setor de serviços na composição do PIB.
A Tabela 3-13 mostra a composição e participação do PIB na Bacia e nos Estados.

Tabela 3-13 Composição e Participação do PIB na Bacia e nos Estados

Agropecuária Serviço Indústria Total


(% na participação) (% na participação) (% na participação) (em milhões R$)

2001 2005 2001 2005 2001 2005 2001 2005


Bacia 45,38 39.49 43,74 48,15 10,88 12,36 3.550 4.978
Pará 67,32 38,09 27,32 53,07 5,35 8,85 1.237 826
Mato 52,53 47,17 13,83 13,06 2.314 4.152
Grosso 33,64 39,77
Fonte: IPEA, 2008

Apesar da queda na participação do PIB Total, verifica-se que o PIB agrícola cresceu entre
2001 e 2005 uma média anual de 5,1%. Porém, ainda assim, os setores industrial e de
serviços vem assumindo uma importância relativa na bacia, apresentando taxas de
crescimento média anual acima dos 11%, e ganhando espaço na participação do PIB.

Ainda hoje, notadamente, as principais atividades econômicas geradoras de renda na região


são aquelas intrinsecamente relacionadas à base de recursos naturais, especificamente a
agricultura, a pecuária, o extrativismo mineral e vegetal. Enquanto o setor de serviços não
apresenta uma forte inter-relação direta com o meio ambiente, o setor industrial pode ter forte
relação, considerando que no caso fazem parte da cadeia de processamento da produção
agropecuária, como o processamento de grão e frigoríficos, por exemplo, ou ainda da

ARCADIS Tetraplan 143


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

indústria da mineração que já se consolida como atividade típica da região do Estado do


Pará. Dado que o setor industrial contabiliza apenas 13,06% do PIB dos municípios mato-
grossenses da bacia e 8,85% dos paraenses, conclui-se que as atividades econômicas que
exercem maior pressão sobre os recursos naturais da bacia são efetivamente as atividades
primárias.

Em linhas gerais, pode-se afirmar que a economia paraense baseia-se, sobretudo, no setor
agropecuário, no qual se assiste a um crescimento da pecuária bovina, principalmente no
município de São Felix do Xingu e das atividades extrativistas e uma diminuição da
agricultura. A indústria ainda é pouco desenvolvida e em grande medida relacionada ao setor
primário da economia – agroindústria e indústria extrativa.

Com a mudança do cenário econômico nos municípios do Mato Grosso participantes da


Bacia Hidrográfica do rio Xingu nota-se que a distribuição dos setores passou a assemelhar-
se com o perfil dos municípios do Pará. Neste Estado, o setor de serviços é mais
desenvolvido. Não obstante, é o setor agropecuário, já dominante, que vem ganhando
importância, com um crescimento não desprezível do rebanho bovino, embora em menor
medida que nos municípios do Pará, e um crescimento bastante acentuado da agricultura.

Dinâmica da Agropecuária

Verifica-se que o setor primário da bacia contém a presença significativa de atividades


extrativistas, principalmente a vegetal e, em menor escala, a mineral. Entretanto, do ponto de
vista da geração de valor, de emprego e de impostos, a agricultura e a pecuária são de fato
os subsetores mais expressivos.

Agricultura e Pecuária

Enquanto a área plantada nos municípios do Estado do Mato Grosso vem crescendo
constantemente nos últimos anos, nos municípios do Pará houve crescimento até o ano
2000, quando a tendência se reverte e passa a ocorrer um decréscimo da área plantada, que
se aproxima então dos níveis de 1990. Em 2007, 95,4% da área plantada total na Bacia
Hidrográfica do rio Xingu se encontrava nos municípios do Mato Grosso.

A diferença na agricultura dos municípios dos dois Estados não se resume somente à
evolução no período e à sua magnitude, mas também na composição dos produtos agrícolas
cultivados. Nos municípios do Pará, as principais culturas são o cacau (que ocupava 25% da
área plantada nestes municípios em 2007), o milho (24%), o arroz (14%), a mandioca (11%),
a banana (9%) e o café (7%), que, em conjunto, ocupavam aproximadamente 91% da área
plantada nos municípios paraenses da Bacia Hidrográfica do rio Xingu no ano de 2004.

Já nos municípios do Mato Grosso, a principal cultura é a soja, que ocupava sozinha 68% da
área plantada nestes municípios em 2007, seguida pelo milho (19%) e pelo arroz (6%). Neste
ano, essas três culturas ocupavam aproximadamente 93% da área plantada dos municípios
mato-grossenses, que formam parte da Bacia Hidrográfica do rio Xingu. A soja, apesar de
praticamente inexistir nos municípios paraenses, é responsável por 65% de toda a área
plantada na bacia.

O Gráfico 3-1 mostra a evolução da área plantada entre 1990 e 2007 nos municípios do Pará
e do Mato Grosso pertencentes a Bacia do Xingu, bem como no total da bacia. Neste se pode

ARCADIS Tetraplan 144


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observar que a área plantada nos municípios mato-grossenses vem evoluindo ao longo dos
anos em um expoente muito superior à área plantada nos municípios paraenses e, além
disso, cresceu em proporções bastante superiores no período. Assim, é de se esperar que a
agricultura continue a se desenvolver no Mato Grosso, com retração ou estabilidade no Pará.

Gráfico 3-1 Evolução da Área Plantada 1990 - 2007

3.500.000
Bacia do Xingu
Municípios do Pará
3.000.000
Municípios do Mato Grosso

2.500.000
em mil hectares

2.000.000

1.500.000

1.000.000

500.000

0
90

91

92

93

94

95

96

97

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99

00

01

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03

04

05

06

07
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20
Fonte: IPEA, 2009.

A evolução da atividade pecuária no período de 1990 a 2007, por outro lado, apresenta
padrões distintos aos da agricultura. Embora o número de animais seja maior nos municípios
mato-grossenses do que nos paraenses, o crescimento do rebanho no período foi muito mais
intenso nestes últimos.

Em 1990 o tamanho do rebanho (medido em equivalente bovino) nos municípios paraenses


era inferior a 1 milhão de animais conforme se observa no gráfico. Nos municípios do Mato
Grosso o rebanho era próximo a 2 milhões de animais. Em 2007, os rebanhos eram de
aproximadamente 4,2 e 6,6 milhões de animais repectivamente. Ou seja, a diferença tornou-
se proporcionalmente menor ao passar dos anos.

Portanto, ao se observar o Gráfico 3-2, verifica-se que nos municípios paraenses o rebanho
cresceu a taxas muito superiores às dos municípios mato-grossenses, a despeito do rebanho
deste ser superior.

ARCADIS Tetraplan 145


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Gráfico 3-2 Evolução do Rebanho 1990 - 2007

12.000.000
Bacia do Xingu
Municípios do Pará
10.000.000
Municípios do Mato Grosso
em bovino equivalente

8.000.000

6.000.000

4.000.000

2.000.000

0
90

91

92

93

94

95

96

97

98

99

00

01

02

03

04

05

06

07
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20
Fonte: IPEA, 2009.

Seguindo a tendência observada, pode-se inferir que haverá, para o futuro breve, um
crescimento ainda acentuado do rebanho paraense e um crescimento reduzido do rebanho
mato-grossense.

Em suma, espera-se para o futuro breve no panorama agropecuário da Bacia Hidrográfica do


rio Xingu um crescimento acentuado da agricultura e reduzido da pecuária, em sua porção
meridional, e um crescimento acentuado da pecuária na parte norte.

Produção Extrativa Vegetal

Existe, na região amazônica, uma atividade extrativista vegetal ampla e diversificada, não
apenas em termos de produtos explorados, mas também na forma de exploração. Existem
desde comunidades tradicionais e indígenas que extraem produtos para subsistência,
passando por experiências comunitárias de extração e comercialização; até experiências de
comunidades que beneficiam produtos da floresta e atividades extrativistas vegetais de larga
escala conduzida por grandes grupos, como é o caso da atividade madeireira.

No entanto, é bastante difícil empreender uma análise quantitativa destas atividades. Por um
lado, existem poucas estatísticas sobre a extração vegetal de produtos realizada pelas
comunidades tradicionais. Por outro lado, o volume da extração vegetal total é amplamente
dominado pela madeira e pela lenha, de forma que o volume de outros produtos extrativos,
tais como a seringa e o açaí, cuja exploração ocorre de forma mais artesanal, é muito
pequeno se comparado a estes.

Embora a extração desses produtos florestais não madeireiros seja de fundamental


importância para a geração de renda de muitas comunidades tradicionais, bem como para a
manutenção da floresta de pé, pois adquirem um valor de mercado, atualmente o valor

ARCADIS Tetraplan 146


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econômico destes produtos é muito pequeno se comparado ao valor gerado com a


exploração da madeira.

Embora exista extração de madeira e lenha, em maior ou menor medida, em toda a Bacia
Hidrográfica do rio Xingu, verifica-se que no extremo nordeste da bacia, nos municípios de
Gurupá, Porto de Moz, Senador José Porfírio e Anapu, essa é a atividade principal. Também
se verifica forte extração de madeira e lenha, ainda que não seja a atividade principal, nos
município do Mato Grosso localizados a oeste do Parque Indígena do Xingu. O Gráfico 3-3
mostra a evolução da extração de madeira em tora entre 1990 e 2007.

Gráfico 3-3 Evolução da Extração de Madeira em Tora 1990 - 2007

4.000.000 Bacia do Xingu


Municípios do Pará
3.500.000 Municípios do Mato Grosso

3.000.000
madeira em tora

2.500.000

2.000.000

1.500.000

1.000.000

500.000

0
90

91

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93

94

95

96

97

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99

00

01

02

03

04

05

06

07
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

Fonte: IPEA, 2009.

Atividades Industriais

Ao se analisar as informações sobre o número de pessoal empregado disponibilizada pelo


Ministério do Trabalho por meio da Relação Anual e Informações Sociais (RAIS), verifica-se
que três ramos de atividade aparecem com absoluta dominância na bacia. O mais importante
é o da indústria de madeira e de mobiliário, que empregou 8.833 pessoas, ou 35,35% de todo
o pessoal empregado na indústria no ano de 2007. Apesar da importância significativa, o
setor vem perdendo força nos últimos anos, quando registrava 14.209 empregos e
participação de 58,5% em 2004.

Em seguida, a indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico, que inclui, entre
outras, toda a agroindústria, empregou 7.848 pessoas, ou 31,4% do pessoal empregado na
indústria no ano de 2007. A evolução desse setor é significativa quando comparado com os
índices do ano de 2004, que registrava 4.939 pessoas empregadas, ou 20,3% do pessoal
empregado na indústria.

ARCADIS Tetraplan 147


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Por fim, a indústria da construção civil, que empregou 4.643 pessoas, o equivalente a 18,58%
do total. Comparativamente, esse setor, assim como a indústria de alimentos, vem
expandindo nos últimos anos. Em 2004 registrava 2.228 pessoas, 9,2% do total de empregos
na indústria.

Com isso, percebe-se que houve uma mudança no perfil da indústria, e nas economias
regionais, onde houve uma expansão dos setores de construção civil e indústria alimentícia,
sobre a indústria da madeira e mobiliário.

As atividades industriais concentram-se fortemente nos municípios do Estado do Mato


Grosso, e dentro destes, alguns poucos municípios despontam dos demais, com especial
destaque para Sinop, que emprega 27,7% de todo pessoal ocupado no setor industrial da
bacia, sendo claramente o município com maior atividade industrial na região. No Pará, o
único município que aparece com alguma atividade industrial de relevância é Ourilândia do
Norte, com uma indústria relativamente importante no subsetor de construção civil.

Setor de Serviços

No setor serviços, quatro municípios aparecem com destaque: Sinop, Sorriso, Primavera do
Leste e Altamira, que, juntos, respondem por 53,8% do pessoal empregado no setor serviços
na Bacia Hidrográfica do rio Xingu.

Verifica-se que a distribuição do pessoal ocupado por ramos de atividade é mais homogênea
que no setor industrial. Ainda assim, dois setores destacam-se dos demais: comércio
varejista, e administração pública direta e autárquica, que contabilizam respectivamente
38,5% e 32,9% do pessoal ocupado no setor serviços, na Bacia Hidrográfica do rio Xingu.

Potencialidades da Bacia do Rio Xingu

As potencialidades da Bacia Hidrográfica do rio Xingu podem ser consideradas sob um duplo
enfoque. Por um lado, a presença de grandes extensões de terras, que ainda podem ser
aproveitadas para uso agropecuário ou para fins de extrativismo vegetal, atividades
predominantes nos municípios da bacia. Por outro, necessitam também ser consideradas as
extensas jazidas minerais já em exploração ou ainda em fase de pesquisa.

Além da exploração da madeira em tora, já abordada em item anterior, a região apresenta um


forte potencial para a exploração extrativista em geral, por meio de manejo florestal e de
sistemas agroflorestais ou agrosilvipastoris, principalmente nos municípios do Estado do
Pará, onde se encontra o maior potencial para tais atividades.

No que diz respeito à agropecuária foram identificadas algumas áreas de potencial agrícola,
com base, principalmente, nas características e atributos dos sistemas de terreno presentes
na bacia (ver Figura 3-3 – Sistemas de Terreno). No Estado do Pará existem terras aptas
para a agricultura e pastagens, mas que necessitam de práticas complementares de
melhoramento, correção e adubação, apesar da fertilidade ser considerada de média a alta
que, além disso, não apresentam restrições à mecanização. No entanto, boa parte desse
potencial não pode ser aproveitada, dadas as restrições legais relativas à presença de
Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

ARCADIS Tetraplan 148


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Já na porção relativa ao Estado do Mato Grosso, predominam terras planas, aptas para a
agricultura e pastagens, mas que necessitam de práticas complementares de melhoramento
e correção dos solos, com baixa suscetibilidade à erosão e que não apresentam restrições
para a mecanização, característica fundamental para a produção da soja, predominante na
região.

No tocante aos recursos minerais, a Bacia Hidrográfica do rio Xingu é rica em reservas
minerais de diversos tipos, sendo que as maiores reservas encontram-se no Estado do Pará,
com destaque para o alumínio, no município de Porto de Moz, e o cobre e o ouro na região
próxima a São Félix do Xingu. No Estado do Mato Grosso, destaca-se apenas uma grande
reserva de diamante industrial no município de Paranatinga. A Figura 3-21 mostra os títulos
minerários da Bacia.

Além disso, pode-se destacar ainda o grande potencial para a exploração turística no rio
Xingu e na floresta Amazônica, incluindo suas cavernas e sítios arqueológicos.

Estes últimos, ainda pouco estudados, guardam inestimável potencial de informações para a
compreensão do processo de ocupação humana das terras altas da Amazônia devido a
quantidade e qualidade de preservação das dezenas de sítios ali já encontrados.

Quanto ao turismo, destaca-se o turismo ecológico e cultural, sendo este último focado na
história e na cultura do índio brasileiro. Destaca-se o “Roteiro do Xingu”, com visita ao Parque
Nacional do Xingu que inclui visita à aldeia dos Waurá e Trumai no qual os visitantes são
recebidos pelos próprios índios e são convidados a assistirem a danças e outros rituais,
conhecer histórias e lendas indígenas e participar do dia-a-dia da aldeia.

A pesca esportiva é outro atrativo turísco e se diferencia pela utilização de técnicas indígenas
de localização e captura.

ARCADIS Tetraplan 149


56°W 54°W 52°W 50°W

Legenda
Gurupá
Almeirim
UHE Belo Monte
Breves
Oriximiná Prainha
Porto
de Moz Melgaço
PCHs
Óbidos Curuá Oeiras
Rio Amazonas Alenquer Monte Portel
do Pará Capital Estadual
AM
2°S

2°S
Alegre

Juruti Rio
Rio Sedes Municipais
Rio Amazonas Xingu
Tapajós SANTARÉM
Senador Bacia do Xingu
José
Belterra
Porfírio Massa D'Água
Vitória
do Xingu Limite Estadual
Belo
Brasil Altamira Monte Limites Municipais
Novo
Medicilândia Rio
Anapu Títulos Minerários
Xingu
Aveiro Autorizacao de Pesquisa
Uruará
Placas Pacajá Concessao de Lavra
Disponibilidade
4°S

4°S
Rurópolis Novo
Repartimento
Itaituba Lavra Garimpeira
Trairão Rio Iriri Licenciamento
Req. de Lavra Garimpeira
Req.de Reg. de Ext.
Requerimento de Lavra
PA Requerimento de Pesquisa

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach

Pau
Cumaru D'Arco
do Norte
Redenção
8°S

8°S

Salto
Salto Três Buriti
de Maio Salto
Curuá

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
Nova Azevedo Rio Araguaia
Guarita
Santa
Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba
do Norte
Luciára
TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Rio Ribeirão Araguaçu


Nova ARS
Lucas do Xingu Cascalheira
Ubiratã
Rio Verde
Gaúcha
do Norte 1:4.250.000
km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Paranatinga Cocalinho

Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.21 Títulos minerários


Nova
da Serra Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
Brasilândia

Chapada dos
Guimarães Campo Fontes:
CUIABÁ Verde Primavera DNPM, 2005
do Leste Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
Várzea Dom General IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
Grande Aquino Poxoréo Carneiro ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3.2.3. Finanças Municipais


Com relação às finanças municipais, no que se refere às receitas, é fundamental avaliar a
capacidade que os municípios possuem de gerar recursos a partir de suas capacidade de
arrecadação considerando-se os impostos e taxas de sua competência.

No campo das despesas, o mais importante é averiguar a capacidade de investimento que os


municípios possuem.

Assim, a análise utilizou dos seguintes elementos da receita e despesa: Receita total, Receita
tributária, Despesa total e Despesa de Investimento.

O primeiro indicador, Receita Total Média, evidencia que o município de Altamira localizado
ao norte da bacia, dadas suas funções e porte econômico avaliados, assim como os
municípios da parte sudoeste da bacia (Nova Ubiratã, Santa Carmem, Querência Santo
Antonio do Leste, Primavera do Leste, Sorriso, Vera e Sinop) situam-se no patamar mais
elevado de geração de Receita Total. Quanto à evolução no tempo da Receita Total, ressalta-
se a forte expansão havida nesses municípios nos últimos anos.

Todos os demais municípios situam-se num patamar bem inferior de Receita Total, e
apresentam pequenas oscilações, com uma tendência levemente crescente, explicada
parcialmente pela inflação do período, na medida em que são valores correntes.

O segundo indicador, Receita Tributária / Receita Total, retrata o quanto as receitas


tributárias - aquelas de competência municipal e, portanto, sob sua administração,
capacidade e interesse de arrecadar - participam na receita total dos municípios.

Quanto maior for este coeficiente, maior será o potencial do município em arrecadar receitas
a partir de sua base local e/ou menor será seu potencial em apresentar dependência dos
recursos provindos das transferências para o município para compor a sua receita total.

Posto isso, verifica-se que os municípios que apresentam os melhores resultados, com base
neste segundo indicador, são novamente aqueles localizados na porção mais ao sul da bacia,
cuja atividade predominante é a cultura de grãos, já consolidada ou em consolidação e a
pecuária.

Estão neste caso: Nova Ubiratã, Santa Carmem, Querência Santo Antonio do Leste,
Primavera do Leste, Sorriso, Vera, Sinop, Água Boa e Canarana. Em posição oposta,
encontra-se o município de Medicilândia, com baixos resultados para este indicador.

O terceiro indicador, já no campo das Despesas, relaciona a despesa de Investimento com a


Despesa Total. Avalia, portanto, a capacidade que o município tem de investir, ou seja, de
criar nova capacidade produtiva dos serviços que estão sob sua competência, como o ensino
fundamental, postos de saúde, urbanização, estradas vicinais etc.

Verifica-se que o município de Altamira aparece novamente em primeiro lugar, com alta
capacidade de investimento no contexto da bacia, seguido pelos municípios de Claudia, Feliz
Natal, União do Sul, Marcelândia, Itaúba, Nova Ubiratã, Santa Carmem, Querência Santo
Antonio do Leste, Primavera do Leste, Sorriso, Vera e Sinop.

ARCADIS Tetraplan 151


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Evidentemente, caso a bacia venha receber algum empreendimento hidrelétrico, tem-se no


horizonte a possibilidade de impactos significativos sobre a receita de certos municípios da
bacia, seja no campo de suas receitas tributárias, seja no campo das transferências, seja por
conta de compensações financeiras.

3.2.4. Modos de Vida


Neste item são apresntados os aspectos que conformam as condições de vida tais como a
infra-estrutura básica e social e as relações econômicas e sociais, bem como a dinâmica
sócio-econômica, que determina as várias formas de apropriação desses recursos e serviços.

Os comportamentos demográficos sintetizam uma grande variedade de fenômenos


econômicos e sociais. As variações populacionais dos municípios expressam processos
sociais complexos, nem sempre capturáveis por outras estatísticas. A Figura 3-22 mostra as
taxas de crescimento da população no período de 2000 a 2007.

A região da qual faz parte a Bacia Hidrográfica do rio Xingu passou por um alto dinamismo a
partir dos 70, em função principalmente dos programas de ocupação da região, levados a
cabo pelo Governo Federal.

No Estado do Pará, a população apresentou um aumento bastante expressivo no período:


cresceu de 2.166.998, em 1970, para 6.192.307 habitantes no ano de 2000, um acréscimo de
cerca de 185,0%.

Também o Estado de Mato Grosso apresentou taxas de crescimento no referido período com
um ritmo menos acelerado nos anos subseqüentes a 1980, mas não menos importantes:
10,3% entre 1991 e 1996 e 12,0% entre 1996 e 2000.

Tabela 3-14 Evolução da População, Taxa de Crescimento e Contribuição ao Crescimento no


Período 2000-2007.

Taxa Contribuição ao
População População Crescimento Crescimento
Município UF
2000 2007
2000-2007 2000-2007
Altamira PA 88.146 92.733 0,73 -1,34
Anapu PA 9.142 17.778 9,97 -2,52
Bannach PA 3.118 3.882 3,18 -0,22
Brasil Novo PA 15.934 18.756 2,36 -0,82
Cumaru do Norte PA 2.910 10.359 19,89 -2,17
Gurupá PA 22.181 24.384 1,36 -0,64
Medicilândia PA 42.127 23.502 -8,00 5,44
Ourilândia do Norte PA 13.333 20.417 6,28 -2,07
Porto de Moz PA 32.844 26.470 -3,04 1,86
Prainha PA 18.961 26.697 5,01 -2,26
São Félix do Xingu PA 51.913 59.339 1,93 -2,17
Senador José Porfírio PA 14.727 14.370 -0,35 0,10
Tucumã PA 5.473 26.481 25,26 -6,13

ARCADIS Tetraplan 152


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Taxa Contribuição ao
População População Crescimento Crescimento
Município UF
2000 2007
2000-2007 2000-2007
Vitória do Xingu PA 17.111 9.709 -7,78 2,16
Água Boa MT 28.585 18.994 -5,67 2,80
Alto Boa Vista MT 88.146 5.066 -33,51 24,25
Bom Jesus do Araguaia MT 35.633 4.479 -25,64 9,09
Campinápolis MT 93.844 13.663 -24,06 23,40
Canabrava do Norte MT 14.110 5.401 -12,82 2,54
Canarana MT 14.110 17.183 2,85 -0,90
Cláudia MT 12.497 10.648 -2,26 0,54
Confresa MT 20.911 21.350 0,30 -0,13
Feliz Natal MT 7.922 10.313 3,84 -0,70
Gaúcha do Norte MT 25.890 5.780 -19,28 5,87
Guarantã do Norte MT 27.659 30.920 1,60 -0,95
Itaúba MT 102.483 4.634 -35,75 28,56
Marcelândia MT 25.043 14.080 -7,90 3,20
Matupá MT 62.371 12.928 -20,13 14,43
Nova Santa Helena MT 8.877 3.368 -12,93 1,61
Nova Brasilândia MT 24.918 4.877 -20,79 5,85
Nova Ubiratã MT 17.177 7.768 -10,72 2,75
Nova Xavantina MT 17.177 18.657 1,19 -0,43
Paranatinga MT 69.209 20.074 -16,21 14,34
Peixoto de Azevedo MT 8.023 28.917 20,10 -6,10
Planalto da Serra MT 10.274 2.752 -17,15 2,20
Porto Alegre do Norte MT 38.297 38.095 -0,08 0,06
Primavera do Leste MT 9.350 44.757 25,07 -10,33
Querência MT 10.764 10.682 -0,11 0,02
Ribeirão Cascalheira MT 64.926 8.677 -24,99 16,42
Santa Carmem MT 14.472 4.324 -15,85 2,96
São José do Xingu MT 10.170 4.198 -11,87 1,74
Santa Cruz do Xingu MT 4.983 2.116 -11,52 0,84
Santo Antonio do Leste MT 24.108 18.859 -3,45 1,53
São Félix do Araguaia MT 26.857 10.699 -12,32 4,72
Sinop MT 14.727 105.762 32,53 -26,57
Sorriso MT 14.727 55.121 20,75 -11,79
União do Sul MT 3.678 3.993 1,18 -0,09
Vera MT 7.835 9.183 2,29 -0,39
Vila Rica MT 17.111 18.929 1,45 -0,53
Fonte: IBGE, Contagem Populacional, 2007.

Os casos de redução de população em municípios especificamente, podem ser atribuídos à


divisão do território para criação de novos municípios. Dentre os municípios que sofreram

ARCADIS Tetraplan 153


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

decréscimo e que deram origem a outros municípios no período, pode-se citar Medicilândia,
Ourilândia do Norte e Senador José Porfírio.

Note-se que alguns municípios foram criados após o ano de 1989 e, posteriormente, eles
próprios deram origem a novos municípios, como é o caso, por exemplo, de Alto Boa Vista,
criado em 1993 e que, em 1999, deu origem ao município de Bom Jesus do Araguaia.

Inversamente, alguns municípios não seguem a tendência de perda de população ao serem


desmembrados. É o caso de São José do Xingu, Alto Boa Vista e Marcelândia, entre outros.
Cabe ainda destacar o caso de Altamira que, apesar de ser um município que tem se
notabilizado pelo seu dinamismo, apresentou uma taxa de crescimento populacional que
sinaliza estagnação de sua população, o que pode ser resultado do desmembramento para a
criação dos municípios de Brasil Novo e Vitória do Xingu, ambos no ano de 1993.

É interessante notar ainda que Tucumã apresenta alta taxa de crescimento populacional, a
segunda maior dentre os municípios da bacia.

Os municípios que apresentaram as maiores taxas são: Sinop, Tucumã, Primavera do Leste,
Sorriso, Peixoto de Azevedo e Anapu. No extremo oposto, com decréscimo populacional,
tem-se os municípios de Itaúba, Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia, Ribeirão
Cascalheira, Campinápolis, Nova Brasilândia e Matupá.

De modo geral, entre os anos de 2000 e 2007 houve decréscimo populacional na área da
bacia, atingindo taxa de crescimento média anual de -4,22%.

No que se refere à contribuição ao crescimento populacional ocorrido no período, os


municípios que representaram maior dinâmica populacional na bacia foram: Sinop, Primavera
do Leste e Sorriso.

Cabe ressaltar que os três primeiros municípios localizam-se na porção ao sul da bacia, no
Estado do Mato Grosso, e são os mais dinâmicos, em termos econômicos. Estão fortemente
relacionados com a expansão do complexo de grãos, principalmente o da soja e da
agroindústria a ela relacionada.

Já no caso do município de Tucumã, nota-se também uma forte expansão de sua base
econômica, centrada no comércio e serviços, e na indústria alimentícia.

No caso de São Félix do Xingu, o município apresenta um baixo crescimento populacional,


porém, por seu porte acaba influenciando de certo modo na taxa de contribuição ao
crescimento. Justifica-se pelo fato do município deter um grande rebanho bovino e extensas
áreas de pastagem, resultantes de grandes desmatamentos, havidos e em curso. Além disso,
o município tem a presença da atividade madeireira, que inclui o corte, o beneficiamento e o
envio para os mercados.

Em termos de densidade populacional, apresentada na Figura 3-23, a bacia possui uma


densidade demográfica bastante reduzida, de 1,54 hab/km2, muito abaixo da média brasileira
(23 hab/km2) e até mesmo da média para a Amazônia Legal (4,5 hab/km2). Este fenômeno
pode ser explicado, em parte, pela concentração da população em poucas porções do
território, geralmente nas áreas urbanas, e pelas vastas áreas de unidades de conservação e
terras indígenas protegidas na bacia.

ARCADIS Tetraplan 154


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Além disso, a forma tradicional de ocupação dos ribeirinhos, bastante rarefeita, não configura
cidades propriamente ditas. Adicionalmente, da forma como são praticadas, as atividades
econômicas predominantes, seja com uso intensivo de capital, como a soja, ou de forma
extensiva, como a pecuária, não absorvem grandes contingentes de mão-de-obra.

ARCADIS Tetraplan 155


56°W 54°W 52°W 50°W
Legenda
Gurupá UHE Belo Monte
Almeirim
Porto Breves PCHs
Oriximiná Prainha de Moz Melgaço
Rio Amazonas
Óbidos Curuá
Alenquer Monte Portel
Oeiras
do Pará
Capital Estadual
AM
2°S

2°S
Alegre
Rio Sedes Municipais
Juruti Rio Rio Amazonas Xingu
Tapajós SANTARÉM
Senador
Rodovia em pavimentação
PA José
-3
Belterra 7 0 Porfírio Rodovia não pavimentada
Vitória
do Xingu Rodovia pavimentada
Belo
Brasil Altamira Monte
Bacia do Xingu
Novo
Medicilândia Rio Massa D'Água
Anapu
Xingu
Aveiro Limite Estadual
Uruará
Placas Pacajá Limites Municipais
Taxa de Crescimento da População 2000-2007
4°S

4°S
Rurópolis Novo
Repartimento
Itaituba -36,0 a -25,3
Trairão Rio Iriri -25,3 a -10,8
-10,8 a 0,0
0,0 a 3,8
3,8 a 18,3
PA 18,3 a 32,5

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach
BR-15 8

Cumaru
do Norte
Pau
D'Arco
8°S

8°S

Redenção
-150

Salto
Salto Três
8/PA

Buriti
de Maio Salto
5

Curuá
BR-1

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
MT-3

Nova Azevedo Rio Araguaia


Guarita
Santa
20

Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba
do Norte
Luciára
TO
3
BR- 16

15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Lucas do Rio Ribeirão Araguaçu


Nova ARS
Rio Verde Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
3
-16

do Norte 1:4.25
BR

km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Cocalinho
-164

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.22 Taxa de crescimento da
GO

população 2000-2007
Nova
da Serra
MT-33 6

Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
BR-

Brasilândia
15 8
13 0

Chapada dos Fontes:


MT-

Guimarães IBGE, Cotagem Populacional, 2007


CUIABÁ
GO-

MT-07 0 Primavera IBGE, Censo Demográfico, 2000


Várzea do Leste BR-0 Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
GO

Campo Dom 7 0 General IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005


173

Grande Verde Aquino Poxoréo


-16

Carneiro ANEEL, 2008


Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
4

56°W 54°W 52°W 50°W


56°W 54°W 52°W 50°W

Almeirim
Gurupá Legenda
Porto Breves UHE Belo Monte
Oriximiná Prainha de Moz Melgaço
Óbidos Curuá Oeiras
Rio Amazonas Alenquer Monte Portel
do Pará PCHs
AM
2°S

2°S
Alegre

Juruti
Rio Capital Estadual
Rio Rio Amazonas Xingu
Tapajós SANTARÉM
Senador Sedes Municipais
PA José
-3
Belterra 7 0 Porfírio Rodovia em pavimentação
Vitória
do Xingu Outras estradas

41 A-
Belo
Rodovia não pavimentada

P
Altamira

5
Brasil Monte
Novo BR
Rio 23 - Anapu Rodovia pavimentada
- Medicilândia 0
BR 0 Xingu
Aveiro 23 Bacia do Xingu
Uruará
Placas Pacajá Massa D'Água
4°S

4°S
Rurópolis Novo Limite Estadual
Itaituba Repartimento
Densidade Demográfica (hab./km2)
Trairão Rio Iriri 0,35 a 0,53
0,53 a 5,37
5,37 a 10,21
10,21 a 33,0
PA Limites Municipais

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach
BR-15 8

Cumaru
do Norte

Pau
D'Arco
8°S

8°S

Redenção
-150

Salto
Salto Três
8/PA

Buriti
de Maio Salto
5

Curuá
BR-1

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
MT-3

Nova Azevedo Rio Araguaia


Guarita
Santa
20

Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte
Luciára
TO
3
BR- 16

15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Lucas do Rio Ribeirão Araguaçu


Rio Verde Nova ARS Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
3
-16

do Norte 1:4.25
BR

km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Cocalinho
-164

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.23 Densidade Demográfica 2007
GO

Nova
da Serra
MT-33 6

Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
BR-

Brasilândia
15 8
13 0

Chapada dos
MT-

Guimarães Fontes:
CUIABÁ
GO-

MT-07 0 Primavera IBGE, Cotagem Populacional, 2007


Várzea do Leste BR-0 Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
GO

Campo Dom 7 0 General IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005


173

Grande Verde Aquino Poxoréo


-16

Carneiro ANEEL, 2008


Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
4

56°W 54°W 52°W 50°W


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Fluxos Migratórios

O fluxo migratório para a região da bacia foi intenso e este fenômeno acompanhou os surtos
de expansão da fronteira agrícola, a incorporação de terras à produção primária (extrativismo
vegetal, pecuária, grãos) e os projetos de colonização, tanto públicos quanto privados,
responsáveis pela ocupação do Estado e pela criação de novos municípios no período.

Esses movimentos migratórios trouxeram à região contingentes populacionais de vários


Estados do Brasil, fator relevante da determinação dos modo de vida prevalecentes.

Em termos estaduais, o Mato Grosso como um todo possui cerca de 40% do total de sua
população composta por migrantes. Ao contrário, no Estado do Pará, a população é
predominantemente composta por pessoas provenientes do próprio Estado, sendo migrante
apenas aproximadamente 17,0% de sua população.

O modo de vida resultante derivou da interação entre a cultura de origem dos migrantes e as
formas de sobrevivência e/ou de relação com a natureza. Na formação da cultura da região o
componente indígena teve papel fundamental, mesmo fora de seus territórios formais ou
legalmente definidos.

Note-se que as cidades absorveram a maior parte do acréscimo populacional, assim como a
quase totalidade de suas atividades econômicas, principalmente aquelas relativas aos
setores secundário e terciário, bem como os sistemas decisórios.

Apesar disso, com exceção dos municípios de Primavera do Leste, Vera, Sinop, Sorriso e
Nova Xavantina, no Estado Mato Grosso, e Altamira no Estado do Pará, todos os demais
municípios possuem taxa de urbanização abaixo da média nacional (81%).

Condições de Vida

Para a análise das condições de vida da população dos municípios integrantes da Bacia
Hidrográfica do rio Xingu, optou-se por verificar o comportamento do Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)18, como mostra a Figura 3-24.

Conforme mostra a Tabela 3-15, para o ano de 2000, apenas quatro municípios da bacia
apresentam um IDH-M que corresponde a alto desenvolvimento humano: Sorriso, Cláudia,
Sinop e Primavera do Leste. Estes municípios estão todos localizados na porção mais ao sul
da bacia, no Estado do Mato Grosso, além disso são estes, também, os municípios que
concentram as atividades econômicas mais dinâmicas e consolidadas, com base no
agronegócio (produção de grãos e pecuária).

18
O IDH-M é obtido pela média aritmética simples de três subíndices, referentes a Longevidade (IDH-Longevidade), Educação
(IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda). O índice de Longevidade é obtido a partir do indicador esperança de vida ao nascer,
através da fórmula: (valor observado do indicador - limite inferior) / (limite superior - limite inferior), onde os limites inferior e
superior são equivalentes a 25 e 85 anos, respectivamente. O índice de Educação é obtido a partir da taxa de alfabetização e da
taxa bruta de freqüência à escola, convertidas em índices por: (valor observado - limite inferior) / (limite superior - limite inferior),
com limites inferior e superior. Finalmente, o índice de Renda é obtido a partir do valor da renda per capita municipal média.
Considera-se baixo valores de IDH-M entre 0 e 0,499; médio entre 0,500 e 0,799; e alto entre 0,800 e 1.

ARCADIS Tetraplan 158


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Também no ano de 2000, nenhum município da bacia apresentou IDH-M que o classifique
como de baixo desenvolvimento social. Todos eles, com exceção dos quatro citados,
apresentam IDH-M considerado médio. Cabe ressaltar que fica clara a diferença entre o
Estado do Mato Grosso e do Pará, sendo que o primeiro apresenta de uma forma geral
melhores resultados que o segundo.

Na análise entre os resultados de 1991 e de 2000, todos os município da Bacia apresentaram


melhora no IDH-M. Apesar dos resultados encontrados, vale dizer que estes índices,
meramente quantitativos, não refletem toda a realidade, pois não levam em conta fatores
como a qualidade dos estabelecimentos de ensino ou de atenção à saúde, nem a qualidade
dos serviços prestados por estes estabelecimentos.

Tabela 3-15 Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M, 1991 e


2000

UF IDH 1991 IDH 2000 Contribuição


Município
no período
Altamira 0,625 0,737 0,112
Anapu 0,531 0,645 0,114
Bannach 0,657 0,700 0,043
Brasil Novo 0,591 0,674 0,083
Cumaru do Norte 0,585 0,672 0,087
Gurupá 0,506 0,631 0,125
Medicilândia PA 0,606 0,710 0,104
Ourilândia do Norte 0,631 0,698 0,067
Porto de Moz 0,521 0,650 0,129
Prainha 0,555 0,621 0,066
São Félix do Xingu 0,605 0,709 0,104
Senador José Porfírio 0,544 0,638 0,094
Tucumã 0,606 0,747 0,141
Vitória do Xingu 0,546 0,665 0,119
Média do Estado do Pará 0,650 0,723 0,073
Água Boa MT 0,651 0,776 0,125
Alto Boa Vista 0,600 0,708 0,108
Bom Jesus do Araguaia DI DI DI
Campinápolis 0,571 0,673 0,102
Canabrava do Norte 0,577 0,693 0,116
Canarana 0,710 0,761 0,051
Cláudia 0,726 0,813 0,087
Confresa 0,563 0,704 0,141
Feliz Natal 0,661 0,748 0,087
Gaúcha do Norte 0,545 0,702 0,157
Guarantã do Norte 0,664 0,757 0,093
Itaúba 0,635 0,740 0,105
Marcelândia 0,667 0,771 0,104
Matupá 0,686 0,753 0,067
Nova Santa Helena DI DI DI
Nova Brasilândia 0,622 0,710 0,088
Nova Ubiratã 0,703 0,779 0,076
Nova Xavantina 0,680 0,760 0,080

ARCADIS Tetraplan 159


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

UF IDH 1991 IDH 2000 Contribuição


Município
no período
Paranatinga 0,615 0,724 0,109
Peixoto de Azevedo 0,678 0,719 0,041
Planalto da Serra 0,595 0,738 0,143
Porto Alegre do Norte 0,583 0,709 0,126
Primavera do Leste 0,739 0,805 0,066
Querência 0,631 0,750 0,119
Ribeirão Cascalheira 0,599 0,694 0,095
Santa Carmem 0,744 0,787 0,043
São José do Xingu 0,608 0,681 0,073
Santa Cruz do Xingu DI DI DI
Santo Antonio do Leste DI DI DI
São Félix do Araguaia 0,624 0,726 0,102
Sinop 0,764 0,807 0,043
Sorriso 0,742 0,824 0,082
União do Sul 0,710 0,768 0,058
Vera 0,741 0,772 0,031
Vila Rica 0,680 0,723 0,063
Média do Estado do Mato Grosso 0,685 0,773 0,088
DI: Dado Inexistente. Municípios Instalados em 01/01/2001.
Fonte: PNUD - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2000
Elaboração: ARCADIS Tetraplan

ARCADIS Tetraplan 160


Legenda
56°W 54°W 52°W 50°W

Gurupá UHE Belo Monte


Almeirim
Porto Breves PCHs
Oriximiná Prainha de Moz Melgaço
Óbidos Curuá
Alenquer Monte Portel
Oeiras Capital Estadual
Rio Amazonas do Pará
AM
2°S

2°S
Alegre
Rio
Sedes Municipais
Juruti Rio Rio Amazonas Xingu
Tapajós SANTARÉM Rodovia em pavimentação
Senador
PA
-3 José Outras estradas
Belterra 7 0 Porfírio
Vitória Rodovia não pavimentada
do Xingu
Rodovia pavimentada

41 A-
Belo

P
Altamira

5
Brasil Monte
BR
Novo
Rio 23 - Anapu Bacia do Xingu
- Medicilândia 0
BR 0
Aveiro 23
Xingu
IDH
Uruará
Placas Pacajá 0,620 a 0,647
0,647 a 0,697
4°S

4°S
Rurópolis Novo
Itaituba Repartimento 0,697 a 0,747

Trairão Rio Iriri 0,747 a 0,797


0,797 a 0,830
Massa D'Água
Limite Estadual
PA Limites Municipais

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach
BR-15 8

Cumaru
do Norte

Pau
D'Arco
8°S

8°S

Redenção
-150

Salto
Salto Três
8/PA

Buriti
de Maio Salto
5

Curuá
BR-1

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
MT-3

Nova Azevedo Rio Araguaia


Guarita
Santa
20

Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte
Luciára
TO
3
BR- 16

15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Lucas do Rio Ribeirão Araguaçu


Rio Verde Nova ARS Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
3
-16

do Norte 1:4.25
BR

km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Cocalinho
-164

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.24 IDH
GO

Nova
da Serra
MT-33 6

Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
BR-

Brasilândia
15 8
13 0

Chapada dos
MT-

Guimarães Fontes:
CUIABÁ
GO-

MT-07 0 Primavera Ministério da Saúde - DATASUS, 2005


Várzea do Leste BR-0 Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
GO

Campo Dom 7 0 General IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005


173

Grande Verde Aquino Poxoréo


-16

Carneiro ANEEL, 2008


Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
4

56°W 54°W 52°W 50°W


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Saúde

Para a realização do diagnóstico de saúde foram utilizados os dados do DATASUS/Ministério


da Saúde.

No que se refere às doenças mais freqüentes, na porção norte da bacia, são a malária e a
gripe. Com relação à ocorrência de doenças de veiculação hídrica, as principais doenças são
a dengue, a hepatite, além da já citada malária.

Existem ainda dados sobre a ocorrência de cólera, febre tifóide e paratifóide e leptospirose. A
maior incidência de doenças de veiculação hídrica, tanto no Estado do Pará quanto no
Estado do Mato Grosso, é a malária, que atingiu um pico de mais de 3.600 casos em 1995,
diminuindo progressivamente ao longo do tempo, até chegar a 77 casos em 2008.

Os casos de dengue também evoluíram de forma decrescente nos anos considerados,


principalmente nos municípios do Pará. Mesmo assim, nesse Estado os casos de dengue
atingiram 320 internações no ano de 2008. No Mato Grosso, pode-se dizer que houve um
surto de dengue entre os anos de 2001 e 2003, quando o número de casos chegou a 273,
apresentando, no ano seguinte, uma tendência de queda, até atingir 27 casos no Estado em
2008.

Mais especificamente, dos municípios do Estado do Pará pertencentes a bacia do rio Xingu,
São Félix do Xingu apresentou 12 casos de internação por dengue, seguido de Tucumã com
5 casos e Banach e Carminópolis apresentando 1 caso cada no ano de 2008. No Mato
Grosso os únicos municípios com casos de dengue em 2008 foram Alto Boa Vista com 4 ,
Carminópolis e Porto Alegre do Norte com 1 caso cada.

No geral, o total de internações por doenças infecciosas e parasitárias foi de 5.847 no Estado
do Pará e 1.377 no Estado do Mato Grosso. Desse total, foram registrados 1.185 óbitos no
Estado do Pará e 601 no Estado do Mato Grosso.

Nos municípios pertencentes a bacia do rio Xingu foram contabilizadas 437 internações nos
municípios do Pará e 284 nos mato-grossenses.

Como podemos observar na Figura 3-25 , os índices mais altos de mortalidade referem-se a
doenças do aparelho circulatório. Os altos índices de mortalidade por causas externas
mostra, também, uma outra preocupação que atinge o campo da saúde pública, que é a
violência, que alcança 20% dos casos nos dois Estados.

Percebe-se, também, que apesar de não serem as principais causas de mortalidade no ano
de 2006, as doenças infecciosas e parasitárias são mais incidentes no Estado do Pará, por
conta do maior número de ocorrências de dengue e malária.

ARCADIS Tetraplan 162


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Figura 3-25 Mortalidade Proporcional (Todas as Idades) – 2006

Estado do Mato Grosso

Mortalidade Proporcional (todas as idades)


5,7%

18,2%
13,6%

20,3%

29,4%

3,6%

9,1% infecciosas e parasitárias


I. Algumas doenças
II. Neoplasias (tumores)
IX. Doenças do aparelho circulatório
X. Doenças do aparelho respiratório
XVI. Algumas afec originadas no período perinatal
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade
Demais causas definidas

Estado do Pará

Mortalidade Proporcional (todas as idades)


7,3%
18,1%

12,8%

19,2%

24,6%

7,7%
I. Algumas doenças infecciosas
10,1% e parasitárias
II. Neoplasias (tumores)
IX. Doenças do aparelho circulatório
X. Doenças do aparelho respiratório
XVI. Algumas afec originadas no período perinatal
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade
Demais causas definidas

Fonte: DATASUS/Ministério da Saúde. Caderno de Informações de Saúde, 2008

ARCADIS Tetraplan 163


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

A precariedade no âmbito da saúde pública se reflete nas altas taxas de mortalidade infantil
da região. O Estado do Pará, com taxa de 24,5 no ano de 2005, está ligeiramente abaixo da
taxa da Região Norte que é de 25,5, entretanto acima da taxa do País, de 21,2. Já o Estado
do Mato Grosso, com taxa de 19,6 para o mesmo ano, está acima da taxa da Região Centro-
Oeste que é de 17,8, mas abaixo da taxa do País. De qualquer forma, os valores
apresentados estão bastante acima daqueles preconizados como aceitáveis pela OMS19.

Tabela 3-16 Taxas de Mortalidade Infantil – 2000 e 2005

Variação
Unidade Territorial 2000 2005
2000-2005
BRASIL 26,8 21,2 -5,6
REGIÃO NORTE 28,7 25,5 -3,2
Pará 29,0 24,5 -4,5
REGIÂO CENTRO-OESTE 21,0 17,8 -3,2
Mato Grosso 23,5 19,6 -3,9
Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde - MS

Tabela 3-17 Taxa de Mortalidade Infantil por Município da Bacia do rio Xingu - 2006

Município UF Mortalidade Infantil


Altamira 24,11
Anapu 39,83
Bannach 16,95
Brasil Novo 20,47
Cumaru do Norte 10,20
Gurupá 1,43
Medicilândia PA 22,53
Ourilândia do Norte 39,89
Porto de Moz 15,72
Prainha 9,74
São Félix do Xingu 20,28
Senador José Porfírio 22,51
Tucumã 29,47
Vitória do Xingu 4,69
Água Boa MT 16,29
Alto Boa Vista 25,64
Bom Jesus do Araguaia 22,73
Campinápolis 87,50
Canabrava do Norte 14,93
Canarana 12,86
Cláudia 36,04
Confresa 13,64
Feliz Natal DI
Gaúcha do Norte 11,63

19
O índice considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde - OMS é de 10 mortes para cada mil nascimentos.

ARCADIS Tetraplan 164


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Município UF Mortalidade Infantil


Guarantã do Norte 13,28
Itaúba DI
Marcelândia 15,38
Matupá 13,22
Nova Santa Helena DI
Nova Brasilândia 49,18
Nova Ubiratã DI
Nova Xavantina 4,07
Paranatinga 54,79
Peixoto de Azevedo 24,69
Planalto da Serra DI
Porto Alegre do Norte 20,30
Primavera do Leste 15,86
Querência 14,42
Ribeirão Cascalheira 7,52
Santa Carmem 12,82
São José do Xingu 11,24
Santa Cruz do Xingu DI
Santo Antonio do Leste DI
São Félix do Araguaia 22,73
Sinop 12,71
Sorriso 9,04
União do Sul 25,64
Vera 19,87
Vila Rica 18,23
DI: Dado Inexistente.

Fonte: Cálculo de Mortalidade realizado pela Arcadis TETRAPLAN apartir dos dados do MS/SVS/DASIS - Sistema
de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC e MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Mortalidade –
SIM. Cálculo Direto = (Número de óbitos de residentes com menos de um ano de idade)/ Número de nascidos
vivos de mães residentes) x 1000.

Em 2006, de acordo com a Tabela 3-17, dos 49 municípios pertencentes à bacia, 25


apresentam taxas de mortalidade consideradas baixas,15 apresentam taxas consideradas
médias, 2 municípios apresentam taxas consideradas altas20 e 7 não possuíam dados
disponíveis.

20
As taxas de mortalidade infantil são geralmente classificadas em altas (50 por mil ou mais), médias (20-49) e baixas (menos
de 20). Fonte: DATASUS apud Pereira, MG. Mortalidade. In: Epidemiologia: Teoria e Prática. Capítulo 6, pág. 126. Guanabara
Koogan, Riode Janeiro, 1995.

ARCADIS Tetraplan 165


56°W 54°W 52°W 50°W Legenda
UHE Belo Monte
Gurupá
Almeirim PCHs
Breves
Oriximiná Prainha
Porto
de Moz Melgaço
Capital Estadual
Óbidos Curuá Oeiras
Rio Amazonas Alenquer Monte Portel
do Pará Sedes Municipais
AM
2°S

2°S
Alegre

Juruti Rio
Rio Rodovia em pavimentação
Rio Amazonas Xingu
Tapajós SANTARÉM
Senador Outras estradas
PA José
-3
Belterra 7 0 Porfírio Rodovia não pavimentada
Vitória
do Xingu Rodovia pavimentada

41 A-
Belo

P
Altamira

5
Brasil Monte
BR
Bacia do Xingu
Novo
23 - Anapu
- Medicilândia Rio 0 Massa D'Água
BR 0 Xingu
Aveiro 23 Limite Estadual
Uruará
Pacajá
Placas
Mortalidade até 1 ano de vida
por mil nascidos vivos
4°S

4°S
Rurópolis Novo
Repartimento
Itaituba 6,5 a 16,8

Trairão Rio Iriri 16,8 a 27,6


27,6 a 38,3
38,3 a 49,1
49,1 a 68,7
PA Limites Municipais

Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Canaã dos
Carajás
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Xinguara
Novo Rio
Progresso Maria
Bannach
BR-15 8

Cumaru
do Norte

Pau
D'Arco
8°S

8°S

Redenção
-150

Salto
Salto Três
8/PA

Buriti
de Maio Salto
5

Curuá
BR-1

Santana do
Araguaia
Caseara

Rio Xingu

Alta Guarantã
Floresta Novo do Norte
Vila
Mundo
10°S

10°S

Carlinda Rica Localização


Matupá Peixoto de 60°W 45°W
MT-3

Nova Azevedo Rio Araguaia


Guarita
Santa
20

Terezinha
Nova Canaã Terra Nova Confresa
do Norte do Norte Porto

São José 0°
Colíder Alegre do
do Xingu Norte
Marcelândia Canabrava
Itaúba do Norte
Luciára
TO
3
BR- 16

15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Vista
Sinop Santa
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz
Natal
MT
Sorriso Sandolândia 60°W 45°W
Querência

Lucas do Rio Ribeirão Araguaçu


Rio Verde Nova ARS Xingu Cascalheira
Ubiratã
Gaúcha
3
-16

do Norte 1:4.25
BR

km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Nova Sistema de Coordenadas Geográficas
Mutum Paranatinga I Datum horizontal: SAD 69
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Cocalinho
-164

Paranatinga
Planalto Culuene Campinápolis Figura 3.26 Mortalidade Infantil
GO

Nova
da Serra
MT-33 6

Xavantina
Novo São
Nova
GO
Joaquim
BR-

Brasilândia
15 8
13 0

Chapada dos
MT-

Guimarães Fontes:
CUIABÁ
GO-

MT-07 0 Primavera Ministério da Saúde - DATASUS, 2005


Várzea do Leste BR-0 Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
GO

Campo Dom 7 0 General IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005


173

Grande Verde Aquino Poxoréo


-16

Carneiro ANEEL, 2008


Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
4

56°W 54°W 52°W 50°W


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Com relação a infraestrutura em saúde, foram contabilizados em 2005 no Estado do Pará


2.281 estabelecimentos de saúde e 13.387 leitos hospitalares. Já no Estado do Mato Grosso
foram registrados 1.811 estabelecimentos de saúde e 6.706 leitos hospitalares.

Segundo os padrões nacionais, o coeficiente de leitos por mil habitantes no país encontra-se
na ordem de 2,4, enquanto que a OMS estabelece que o número aceitável para o coeficiente
de leitos por mil habitantes está na ordem de 4,5. Nota-se que os dois Estados estão abaixo
dos padrões internacionais, sendo 1,9 no Estado do Pará e 2,4 no Estado do Mato Grosso,
este último acompanhando os índices nacionais.

Conclui-se que a infraestrutura em saúde ainda encontra-se abaixo dos níveis desejados para
a região, principalmente na área norte da bacia. A precariedade nos serviços de saúde pode,
inclusive, atingir a rede de influência das cidades no que diz respeito à polarização exercida
por um município que possua maior oferta e diversificação de estabelecimentos e de
profissionias de saúde. A pressão nos equipamentos públicos aumenta nessas cidades,
ocasionando a migração da população a procura de atendimento adequado às suas
necessidades, muitas vezes, básicas.

No Estado do Pará, este fenômeno é verificado com maior intensidade em Belém que possui
1.157 estabelecimentos cadastrados. Em seguida vem os municípios de Santarém (165
estabelecimentos) e de Marabá (118 estabelecimentos). Dentro da Bacia do rio Xingu, o
município com maior oferta de estabelecimentos é Altamira, com 57 estabelecimentos, que
ocupa a 8ª possição no Estado. No Mato Grosso, o município polarizador em saúde é Cuiabá
com 1.086 estabelecimentos, seguido de Rondonópolis com 289 estabelecimentos e Sinop
com 14121, sendo este último localizado dentro da Bacia.

Educação

Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE (2008), a taxa de analfabetismo


funcional22 no Estado do Mato Grosso é de 24,9%, e no Estado do Pará de 27,5%. Essa
realidade reflete-se nos municípios componentes da bacia do rio Xingu.

Como podemos notar na Figura 3-27, que mostra o percentual de anos de estudo acumulado
entre as faixas de idade da população, as faixas da população acima dos 30 anos

21
Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil – CNES, fevereiro 2009.

22
O analfabetismo funcional é um conceito criado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura), em 1978, que indica se pessoas que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não tem as habilidades
necessárias para viabilizar o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Existem três níveis distintos de alfabetização funcional:
Nível 1, também conhecido como alfabetização rudimentar, concebe aqueles que apenas conseguem ler e compreender títulos
de textos e frases curtas; e apesar de saber contar, têm dificuldades com a compreensão de números grandes e em fazer as
operações aritméricas básicas. Nível 2, também conhecido como alfabetização básica, concebe aqueles que conseguem ler
textos curtos, mas só conseguem extrair informações esparsas no texto e não conseguem tirar uma conclusão a respeito do
mesmo; e também conseguem entender números grandes, conseguem realizar as operações aritméticas básicas, entretanto
sentem dificuldades quando é exigida uma maior quantidade de cálculos, ou em operações matemáticas mais complexas. Nível
3, também conhecido como alfabetização plena, concebe aqueles que detêm pleno domínio da leitura, escrita, dos números e
das operações matemáticas (das mais básicas às mais complexas).

ARCADIS Tetraplan 167


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apresentam um aumento gradativo das categorias com baixa ou nenhuma instrução. Em


contrapartida, as faixas de população mais jovens, entre 15 e 30 anos de idade, já
contemplam pessoas com mais anos de estudo.

Essa perspectiva da educação mostra uma tendência de melhoria no nível de escolaridade


da população local, já que essa população virá a compor as faixas de maior idade
futuramente.

Mesmo assim, os níveis de escolaridade ainda continuam baixos quando comparados com os
índices do Brasil, tanto no contingente populacional com menos anos de escolaridade, como
no total da população com mais de 15 anos de estudo, níveis esses alcançados pela
população com nível superior de escolaridade, principalmente no que diz respeito à
população com mais idade.

Figura 3-27 Percentual de Anos de Estudo Acumulado

Municípios do PARÁ Municípios do MATO GROSSO

100% 100%

90% 90%

80% 80%

70% 70%

60% 60%

50% 50%

40% 40%

30% 30%

20% 20%

10% 10%

0% 0%
5e6 7a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 anos 5e6 7a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 anos
anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais

Bacia do Xingu Brasil

100% 100%

90% 90%

80% 80%

70% 70%

60% 60%

50% 50%

40% 40%

30% 30%

20% 20%

10% 10%

0% 0%
5e6 7a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 anos 5e6 7a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 anos
anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais

Sem instrução e menos de 1 ano 1 a 3 anos 4 a 7 anos


8 a 10 anos 11 a 14 anos 15 anos ou mais
Não determinados

Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 2000

Na infraestrutura de ensino, o Estado do Pará apresenta-se melhor estruturado na educação


de base e profissionalizante para jovens, conforme a Tabela 3-18.

ARCADIS Tetraplan 168


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Por outro lado, o Estado do Pará conta com um total de 30 instituições de ensino superior,
enquanto que o Estado do Mato Grosso apresenta 58 estabelecimentos, 28 a mais que o
Estado do Pará.

Tabela 3-18 Educação de Base e Profissionalizante para Jovens

TOTAL URBANA

Estado Total Federal Estadual Municipal Privada Total Federal Estadual Municipal Privada
Educação Básica
Pará 12.363 9 1.054,0 10.763,0 537 3.065 9 746 1.798 512
Mato Grosso 2.762 3 661,0 1.765,0 333 1.672 1 530 814 327

Educação Infantil
Pará 5.576 2 - 5.138 436 1.527 2 - 1.109 416
Mato Grosso 1.132 - 9 889 234 881 - 8 643 230

Ensino Fundamental
Pará 11.104 2 817 9.896 389 2.227 2 522 1.327 376
Mato Grosso 2.227 - 597 1.430 200 1.167 - 477 494 196

Ensino Médio
Pará 596 5 451 3 137 549 5 411 2 131
Mato Grosso 530 3 405 6 116 431 1 316 1 113

Educação Especial
Pará 192 - 53 121 18 160 - 52 90 18
Mato Grosso 185 - 72 41 72 178 - 70 36 72

Educação de Jovens e Adultos


Pará 2.766 4 419 2.314 29 1.086 4 367 690 25
Mato Grosso 597 1 328 252 16 452 - 282 154 16

Educação Profissional
Pará 28 7 9 1 11 26 7 8 1 10
Mato Grosso 10 2 - 2 6 6 1 - - 5
Fonte: INEP, 2007

Saneamento

A Figura 3-28 mostra que foi positiva a evolução dos domicílios da área urbana dos
municípios mato-grossenses com banheiro e água encanada entre os anos analisados, 1991
e 2000. Novamente, os municípios que apresentam melhores condições são: Primavera do
Leste, Santa Carmem, Sinop e Sorriso. No entanto, todos os municípios apresentam aumento
do atendimento no período, sendo que mais da metade deles possui mais de 50% dos
domicílios com água encanada e banheiro.

Inversamente, no caso dos municípios paraenses, a grande maioria apresenta uma grande
carência em termos desse quesito estreitamente associado à qualidade de vida. Com

ARCADIS Tetraplan 169


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exceção de Altamira e Tucumã, todos os outros apresentam um percentual baixíssimo de


cobertura, que não chega a 20%, como mostra a Figura 3-28.

Figura 3-28 Percentual de Domicílios com Água Encanada e Banheiro - MT

Abastecimento de Água
Municípios do Mato Grosso

1991 2000

100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
%

40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
Santa Carmem

Feliz Natal
Primavera do Leste

Canabrava do Norte
Nova Ubiratã

Guarantã do Norte

Ribeirão Cascalheira

Gaúcha do Norte
Campinápolis
União do Sul

Nova Brasilândia

São José do Xingu


Querência

Canarana

Cláudia

Nova Xavantina

Matupá

Itaúba

Marcelândia

Paranatinga

Planalto da Serra

Porto Alegre do Norte


São Félix do Araguaia
Sinop

Sorriso

Confresa
Peixoto de Azevedo

Vila Rica
Vera

Água Boa

Alto Boa Vista


Fonte: Censos Demográficos 1991 e 2000, Características da População e dos Domicílios. IBGE, 2000.
Nota: Dados brutos trabalhados pela Arcadis/Tetraplan, 2006.

Figura 3-29 Percentual de Domicílios com Água Encanada e Banheiro – PA

Abastecimento de Água
Municípios do Pará

1991 2000

100,00

90,00

80,00

70,00

60,00

50,00
%

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00
Cumaru do

Tucumã
Porto de Moz

Senador José
Brasil Novo

Gurupá

Medicilândia

Ourilândia do

Prainha

São Félix do
Altamira

Bannach
Anapu

Vitória do Xingu
Norte

Porfírio
Xingu
Norte

Fonte: Censos Demográficos 1991 e 2000, Características da População e dos Domicílios. IBGE, 2000.

Nota: Dados brutos trabalhados pela Arcadis/Tetraplan, 2006.

Em uma visão mais abrangente da infraestrutura básica (saneamento e energia elétrica),


observa-se o mesmo contraste entre os dois Estados. Mesmo não atingindo a totalidade da
população, os municípios ao sul da bacia, especificamente no Estado do Mato Grosso,

ARCADIS Tetraplan 170


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nitidamente oferecem condições mais adequadas à população, que consequentemente


apresentam melhores níveis de saúde, educação e renda.

As Figuras 3-30 e 3-31 apresentam os níveis de cobertura da infraestrutura em saneamento


básico e energia elétrica nos municípios pertencentes à bacia dos dois Estados.

Figura 3-30 Cobertura da infraestrutura básica nos municípios do Pará

100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Água Esgoto Lixo Energia Elétrica

1991 2000

Fonte: Censos Demográficos 1991 e 2000, Características da População e dos Domicílios. IBGE, 2000.

Figura 3-31 Cobertura da infraestrutura básica nos municípios do Mato Grosso

100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Água Esgoto Lixo Energia Elétrica

1991 2000

Fonte: Censos Demográficos 1991 e 2000, Características da População e dos Domicílios. IBGE, 2000.

ARCADIS Tetraplan 171


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Sistemas de Produção

Verifica-se que o setor primário é o mais importante do ponto de vista da geração de renda na
bacia, bem como aquele que apresenta maior interferência sobre o ecossistema. Vale dizer
que, apesar da existência de atividades extrativistas minerais e vegetais na Bacia
Hidrográfica do rio Xingu, a agricultura e a pecuária dominam claramente o setor primário. O
setor secundário, por sua vez, está voltado para a transformação de produtos oriundos da
agricultura e da pecuária. Finalmente, o setor terciário, pouco diferenciado se comparado às
regiões sul e sudeste do país, atende a população rural e urbana, principalmente a de mais
baixa renda.

Na porção Mato-grossense da bacia, verifica-se a expansão de um modelo de ocupação


típico desse Estado nas últimas três décadas, onde a agricultura de subsistência e a pecuária
extensiva estão cedendo espaço para uma agricultura moderna e uma pecuária
especializada.

Nos municípios Mato-grossenses que formam parte da Bacia Hidrográfica do rio Xingu, a
agricultura consiste no cultivo de grãos em conjunto ou não com a pecuária, conduzida por
grandes e médios produtores. Entre a produção de grãos, predomina o cultivo da soja, que
ocupava 68% da área plantada nestes municípios em 2007, seguida pelo milho (20%) e pelo
arroz (6%). Somando-se essas três culturas têm-se aproximadamente 93% da área plantada
desses municípios.

O sistema de produção de grãos na região é caracterizado pelo uso intensivo de capital,


baseado em altas tecnologias, bastante mecanizado e, normalmente, associado à presença
de economias de escala e poupadora de mão-de-obra, fator escasso nessas regiões. Os
sistemas mecanizados associados ao uso de herbicidas, restringem os gastos com mão-de-
obra àqueles que possuem formação técnica ou exercem cargos administrativos, além dos
operadores de máquinas, exigindo, portanto, maior nível de qualificação desses
trabalhadores.

Na porção média da bacia verifica-se grande expansão da pecuária de corte, motivada


principalmente por taxas de retorno de investimento maiores que em outras regiões
produtoras do Brasil. Os principais fatores para essa maior rentabilidade são: (i) a melhor
produtividade resultante de boas condições agro-climáticas, ligadas à abundância e
distribuição de chuvas – o que aumenta a disponibilidade de capim, e (ii) o relativo baixo
preço da terra na Amazônia.

Historicamente, a pecuária de corte paraense é uma atividade extensiva. Com a chegada das
grandes rodovias estaduais e federais e suas vicinais, passou-se à pecuária bovina de terra
firme, com a implantação de pastagens em áreas de floresta. Atualmente, verifica-se que
convive nessas regiões grande diversidade quanto ao sistema produtivo e à produtividade
alcançada pela atividade pecuária.

A pecuária de baixa produtividade na Amazônia pode ser explicada por dois motivos
principais. Primeiro, os ocupantes iniciais, que desmatam e queimam a floresta – geralmente
não investem na limpeza apropriada do solo. Os pastos relativamente sujos resultam do baixo
investimento, seja por falta de capital ou porque esses ocupantes apenas querem estabelecer
a posse da área para vendê-la posteriormente. A produtividade nessas áreas também é
reduzida, devido à baixa adoção de tecnologias de criação animal.

ARCADIS Tetraplan 172


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A segunda causa resulta da degradação das pastagens é compactação do solo, a baixa


resistência da espécie de capim plantada inicialmente e ao esgotamento dos solos em
regiões de ocupação antiga. Fenômeno observado tanto em grandes propriedades como em
pequenas, conferindo sempre as características de sistemas bastante extensivos, com baixa
lotação das pastagens.

Já na porção norte da bacia, de características mais nitidamente amazônicas, predomina o


extrativismo. O corte de madeira para uso industrial é praticado com mais utilização de
capital, preponderantemente de forma predatória e sem manejo adequado da floresta. O
corte para lenha é praticado pelos pequenos produtores, ribeirinhos ou não, para utilização
própria.

A castanha-do-pará e o açaí são colhidos pela população nativa e apenas recentemente


começam a ser exportados, seja para o sul do país ou, no caso da castanha, para o mercado
internacional.

Já o sistema de produção dos ribeirinhos assemelha-se à estratégia indígena de


sobrevivência: praticam diversas atividades econômicas em pequena escala agricultura de
subsistência e extrativismo. Estas atividades geram um pequeno excedente que permite a
compra do mínimo necessário às famílias.

Quanto às culturas permanentes, as mais comuns são: manga, cupuaçu, laranja, jaca, caju,
banana e acerola. As famílias não vivem exclusivamente das culturas permanentes,
plantando juntamente com culturas anuais, como arroz, feijão, milho e mandioca, sendo o
excedente é vendido.

Essa policultura é uma herança do sistema de produção caboclo. Grande parte das famílias
pratica a caça, que reforça os laços de compadrio e vizinhança, visto que muitas vezes é
praticada em grupo, visto tratar-se de uma atividade de risco – oriundo de raios, animais
selvagens ou peçonhentos.

ARCADIS Tetraplan 173


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3.2.5. Sistemas de Produção e Formas de Organização Social


Predominantes

Inicialmente, há que se considerar que a complexidade das relações sociais presentes na


Bacia do rio Xingu está diretamente vinculada às lutas sociais pela preservação ambiental
dessa região, ao conflito pelo reconhecimento das populações tradicionais ocupantes desse
território, aos contraditórios projetos governamentais de desenvolvimento para a Amazônia e
ao expressivo grau de ilegalidade e irregularidade da posse da terra, que colocam a bacia
como um dos cenários do território brasileiro mais propenso a conflitos pela posse e uso da
terra.

Vale ressaltar que a ação do Estado tem se modificado expressivamente em comparação aos
anos 70, – seja pelas mudanças na política nacional, pelos ditames da globalização, por
pressões associadas ao aquecimento global, pela integração de mercados –, passando a
buscar a articulação de políticas que relacionem ações em escalas local, regional e nacional
em sintonia com práticas de preservação socioambiental. É o caso, por exemplo, dos ZEEs -
Zoneamentos Ecológico-Econômicosjá promovidos e em elaboração, do PAS – Plano
Amazônia Sustentável e de algumas ações do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento.

Isso implica que a dinâmica socioeconômica, a memória cultural dos migrantes que habitam a
Bacia Hidrográfica do rio Xingu, assim como os condicionantes ambientais que atualmente se
impõem, determinam a existência de grupos de interesse na bacia, com organizações sociais
distintas e que estabelecem relações entre si muitas vezes conflitantes.

Nesse contexto, destacam-se: i) os agricultores familiares, pequenos produtores, entre eles,


os remanescentes do processo de colonização dos anos 1970 e 1980; ii) grandes produtores
rurais, vinculados ao complexo dos grãos, principalmente da soja, e da prática da pecuária de
corte em caráter extensivo e a iii) as populações indígenas e outras populações tradicionais
(ribeirinhos23, por exemplo).

De maneira geral pode-se afirmar que o modelo de desenvolvimento assumido ao longo da


Bacia Hidrográfica do rio Xingu tem caminhado na direção da implantação de uma agricultura
muito tecnificada em culturas como arroz e soja, na sua porção sul, e o incremento da
pecuária extensiva e do extrativismo, na sua porção mais ao norte, onde se concentram os
grandes produtores. É importante sinalizar algumas distinções no modo de vida dos que
vivem na porção sul da bacia, especialmente no que tange ao perfil dos grandes produtores
rurais. As propriedades são empresas rurais com área superior a 1.000 hectares e chegam
até 20.000 hectares, com utilização intensiva de fertilizantes químicos combinada com o uso
de sementes selecionadas, processos mecânicos de reestruturação e condicionamento dos
solos, emprego sistemático de controle de pragas e ervas e baixa utilização de mão-de-obra,
pois todas as fases do cultivo são mecanizadas.

Ainda na porção norte, estão os pequenos produtores, tanto aqueles que receberam lotes
nas décadas de 1970 e 80, quanto os posseiros, que desenvolvem atividades ligadas à
agricultura de subsistência, cujo modo de produção baseia-se na mão-de-obra familiar. As

23
Decreto Presidenial No. 6.040 de 2007

ARCADIS Tetraplan 174


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propriedades variam de tamanho, em média de 50 a 100 ha, podendo chegar a cerca de 300
ha, o que é raro devido às dificuldades em manter a terra livre de invasões e grilagem.

Interessa assinalar que a origem dos pequenos produtores – migrantes ou caboclos – influi
em sua forma de produzir, de ver e de utilizar os recursos naturais, assim como é um dos
fatores determinantes em suas relações sociais. Esses modos de vida caracterizam o
chamado “homem amazônico”.

Há muitas similaridades entre a maneira de viver desses pequenos produtores e a dos


ribeirinhos. São capazes de sobreviver a partir dos recursos do rio e da floresta (o peixe, a
caça, a coleta de frutos, raízes, sementes, ervas e outros alimentos e medicamentos),
podendo praticar também o cultivo em regime familiar da mandioca, milho, arroz etc.
Utilizando-se das várzeas dos rios, de acordo com o regime de cheias, criaram um modo de
vida que depende do regime hidrológico, típico da Amazônia.

Entre as populações tradicionais, estão os ribeirinhos, localizados nas margens dos rios
Xingu, Iriri e Curuá, em habitações isoladas umas das outras, desenvolvendo basicamente
atividades extrativistas, como a pesca e a coleta da castanha, para a qual são realizados
percursos de até 40 km, atividades essas que não alteram significativamente a cobertura
florestal. Essa população está submetida a condições precárias de subsistência, entre outros
fatores, devido à ausência do Estado e de políticas públicas de apoio, o que os tornae
vulneráveis aos processos de invasão de terras, grilagem e violência.

No que se refere à população indígena, as informações censitárias disponíveis hoje sobre a


Bacia do rio Xingu registram a presença de duas etnias, que somam uma população de
18.504 indivíduos, distribuída em 28 Terras Indígenas, situadas total ou parcialmente na
bacia. Adicionalmente, a lista de povos pode ser alterada devido ao aparecimento de novas
etnias. Existem até o momento três registros de índios isolados dentro da Bacia Hidrográfica
(vide Tabela 3-19). Vale ressaltar que 90% das Terras Indígenas da Bacia do Rio Xingu já
estão homologadas ou registradas, ou seja, o processo formal de reconhecimento jurídico-
administrativo dessas TIs já foi encerrado.

Quanto à população quilombola, o Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, em seu


artigo 2º, considera os remanescentes das comunidades de quilombos, os grupos étnico-
raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de
relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra, relacionada com a
resistência à opressão histórica sofrida. No Estado do Mato Grosso, as comunidades
remanescentes de quilombos existentes, oficialmente cerca de 60, não estão situadas na
abrangência da Bacia do rio Xingu. Já no Estado do Pará, 39 municípios abrigam
comunidades remanescentes de quilombos, localizados nos municípios de Gurupá e Porto de
Moz, em direção à foz do rio Xingu, no rio Amazonas. No município de Gurupá, há o registro
oficial da existência de 12 comunidades quilombolas, sendo que, dessas, 10 foram
reconhecidas e tituladas entre 2004 e 2006 pela Fundação Cultural Palmares – FCP e pelo
Instituto de Terras do Pará – ITERPA. No município de Porto de Moz, há o registro oficial de 9
comunidades quilombolas, porém, ainda sem reconhecimento ou titulação. O sistema
produtivo adotado pelas comunidades quilombolas da região, em geral, combina a prática da
pequena agricultura, caça e pesca de subsistência com a exploração extrativista,
caracterizando-se pelo uso sustentado dos recursos naturais, assemelhando-os, assim, com

ARCADIS Tetraplan 175


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os ribeirinhos e pequenos produtores familiares. Suas condições de vida também estão a


merecer a aplicação de políticas públicas de apoio.

A dinâmica das representações dos atores sociais da Bacia do rio Xingu

A dinâmica da organização dos atores sociais da bacia está umbilicalmente relacionada às


formas diferentes de apropriação, uso e gestão do território e dos recursos naturais ali
disponíveis e dos conflitos daí decorrentes, que se explicitam por meio de organizações
sociais e de representações de classe formalizadas ou de movimentos sociais, que
normalmente têm uma atuação para além dos limites da bacia.

A organização política dos pequenos produtores rurais se dá por meio das Associações de
Produtores (AP) e dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR). Nos STRs, encontram
apoio para os problemas jurídicos e, principalmente, para fins de previdência social. Já nas
Associações de Produtores acontecem os debates e examinam-se alternativas para
financiamento agrícola e outras questões relativas à produção e às preocupações quanto ao
futuro.

A Igreja Católica desempenha um papel aglutinador em toda a extensão da bacia do rio


Xingu, por meio da Comissão Pastoral da Terra, atuante na região. A Igreja Luterana tem
apoiado as causas sociais na região de Altamira, o que não ocorre no resto da bacia. O
Movimento pela Defesa da Transamazônica e do Xingu (MDTX), com sede em Altamira,
reúne tanto pequenos produtores, organizados nos sindicatos STRs, quanto os povos
indígenas, ligados ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI), além de trabalhadores
urbanos. Esse movimento tem como objetivo, além da defesa da posse legítima da terra,a
crítica da exploração de classe e os modos de vida das populações locais, que têm na mão-
de-obra familiar seu eixo principal.

Por sua vez, a Associação Comercial, Industrial e Agropastoril de Altamira (ACIAPA)


congrega os grandes proprietários, fazendeiros, compradores de gado bovino, arroz, cacau,
andiroba e madeira, que se auto-denominam empresários do setor rural.

Há que se registrar que em função da significância que possui a região Amazônica para além
das fronteiras do território brasileiro, muitas das mobilizações que lá ocorrem associam-se a
redes sociais internacionais, o que resulta em ampla visibilidade e transparência dos conflitos
existentes. Também algumas organizações não governamentais, vinculadas a essa dinâmica,
desempenham um expressivo papel, tanto na formulação de projetos quanto na produção de
informações e diagnósticos, dadas as suas reconhecidas capacidades técnica e analítica,
com destaque para o IMAZON – Instituto do Homem Amazônico e o ISA – Instituto
Socioambiental.

Conflitos e violência no campo, trabalho escravo e grilagem

Como se pode observar, os conflitos estão de certo modo associados a um quadro no qual
predomina a pressão sobre os recursos territoriais e naturais disponíveis na região
Amazônica. Nesse contexto, as pressões decorrentes da expansão da soja e da pecuária
trazem mais tensão e tendem a mobilizar os mesmos sujeitos sociais na defesa de seus
interesses.

ARCADIS Tetraplan 176


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Adicionalmente, os conflitos não ocorrem de forma isolada, muitas vezes uma única atividade
gera tensões que se sobrepõem numa mesma localidade. Por exemplo, o cultivo de soja,
geralmente, envolve conflitos relacionados à posse de terras, expulsão ou extinção de
comunidades locais.

No âmbito desse conflito, grupos empresariais se articulam no sentido da defesa de


empreendimentos em torno de atividades agropecuárias, de exploração madeireira e de
incremento do turismo, grandes pólos mecanizados para produção de grãos; e grandes
investimentos em infra-estrutura fazem parte de seus interesses. A ação desse segmento é
um dos fatores que levam à concentração fundiária na região, além disso a abertura de
novas fronteiras para exploração madeireira não tem se pautado pelo uso sustentado da
floresta e de outros biomas. Esses atores freqüentemente têm o apoio de setores políticos
regionais e locais (deputados, prefeitos, vereadores) e é comum exercerem sua influência
nos governos estaduais e federal.

Opõem-se a esse tipo de exploração econômica dos recursos naturais entidades


representativas dos trabalhadores rurais, como a Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do MS - FETAGRI, organizações sindicais diversas, a Igreja Católica, ONGs
ambientalistas e outras instituições.

Os registros da Comissão Pastoral da Terra – CPT (SAUER, 2005) denunciam que mais de
setecentos trabalhadores rurais e líderes defensores dos direitos humanos foram
assassinados nos últimos trinta anos no Pará, principalmente no sul e sudeste do Estado.

A problemática que envolve os conflitos e a violência nos Estados do Pará e Mato Grosso
está diretamente relacionada à concentração de terras e à prática da grilagem, em um estado
com grande parcela das terras em situação irregular e ilegal. Observam-se práticas
criminosas de extração dos recursos naturais e expulsão de populações tradicionais, sendo
esse quadro é agravado quando a ele se soma a evidência da prática de trabalho escravo em
algumas fazendas.

Em 24/07/2006, a Comissão Pastoral da Terra do Alto Xingu, localizada em Tucumã (PA),


enviou carta ao Ministério Publico Federal (MPF), à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e
à Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal (SEDH), cobrando uma
atitude das autoridades contra a situação de violência em São Félix do Xingu, no sul do
Estado.

Dados de 2002 do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que o município
era o que apresentava a maior extensão de área desmatada. Enquanto isso, relatórios de
fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontam que, entre 2002 e 2004,
São Félix do Xingu foi o município com o maior número de ações de libertação de escravos.

De acordo com estudo do Greenpeace, o processo de ocupação irregular de terras


geralmente tem início com a extração ilegal de madeira24. A retirada da cobertura vegetal dá

24
O Imazon registra que 95% da madeira na Amazônia é produzida de forma predatória, com um índice bastante
alto de destruição – 18 mil Km2 por ano. O estudo do Greenpeace aponta que o Pará responde por mais de 1/3 do
desmatamento de todo o Brasil, sendo também responsável por 40% da produção madeireira do país,

ARCADIS Tetraplan 177


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lugar a pastagens para criação de gado. O avanço da pecuária, por sua vez, ocasiona mais
derrubada de florestas e a venda ilegal de madeira, completando então um processo que se
repete, promovendo o gradativo empobrecimento do solo, a expulsão das comunidades
tradicionais e reduzindo as possibilidades de crescimento da economia local. Sem
alternativas, as comunidades se vêem submetidas a condições precárias de trabalho, muitas
vezes recebem propostas de trabalho em fazendas em troca de baixos salários,
comprometem seu patrimônio mínimo endividando-se, gerando um ciclo de dependência e
subordinação a práticas ilegais.

A questão da grilagem de terras na Amazônia foi objeto de investigação pelo Governo


Federal em 1999, no âmbito do INCRA, seguida, em 2002, por CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito) na Câmara dos Deputados. Concluiu-se pela existência de aproximadamente
100 milhões de hectares de terras com documentação suspeita, tendo o INCRA cancelado o
registro de pelo menos 70 milhões de hectares25. Destas, cerca de 20,8 milhões de hectares
divididos entre 422 fazendas situavam-se no Pará, muito provavelmente com maior
intensidade nas áreas de Porto de Moz e Terra do Meio.

Por outro lado, destaca-se que reputar a toda ação empresarial na região em estudo,
processos predatórios, mecanismos ilegais de posse da terra e desrespeito a direitos
humanos e leis trabalhistas não se revela verdadeiro. Já se observa que grupos que focam
sua atuação no mercado exportador cada vez mais vêm exigindo práticas sociais e
ambientalmente sustentáveis, o aumento de ações de monitoramento e controle, que revelam
sua responsabilidade com os vários elos da sua cadeia produtiva – fornecedores,
funcionários, colaboradores terceirizados, clientes e comunidades locais.

Há, portanto, independentemente de empreendimentos hidrelétricos, tais como os que são


objeto da presente AAI, um cenário potencial de conflitos. Figuram, entre os elementos da
correlação de forças em torno desses conflitos, diversos interesses, como os daqueles que
buscam retorno de grandes investimentos, para os quais a região teria como contrapartida o
crescimento econômico; e os daqueles que buscam outro modelo de desenvolvimento, que
privilegie o fortalecimento da economia regional com base na produção familiar e em
sistemas produtivos locais, por exemplo.

De certo modo hoje sobressaem às riquezas e potencialidades da região da Bacia do rio


Xingu, suas fragilidades, das quais os conflitos existentes, pontuados ao longo do estudo, são
reflexos. Os processos de ruptura social, econômica e cultural já transcorridos na bacia,
envolvem em grande medida desigualdades, ilegalidades, discriminação e políticas públicas
pouco eficazes.

O desenvolvimento sustentável da região, precisará de fato basear-se na diversidade cultural


e social, na aplicação da legislação ambiental, que abrace a constatação de que o
desenvolvimento depende da existência de ecossistemas naturais para fornecer os serviços
ecológicos essenciais ao desenvolvimento humano. Para isso, são fundamentais o

representando 60% das exportações da Amazônia. Conforme imagens de satélite divulgadas pelo INPE (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) em 2003, a região mais afetada pelo desmatamento situa-se na Terra do Meio.
25
Essas ações resultaram da Portaria 558/99 acima mencionada.

ARCADIS Tetraplan 178


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ordenamento territorial da Bacia, a legalização da posse das terras e políticas aplicáveis a


cada segmento social, de modo a viabilizar o desenvolvimento com base na diversidade.

3.2.6. Sociedades Indígenas


As disposições constitucionais de 1988 constituem a base legal para definir a propriedade e a
proteção do Estado quanto à preservação, demarcação, integridade e respeito à
territorialidade indígena.

Em particular no artigo 231, estão definidas as características dos vínculos de posse,


ocupação e domínio. Assim as terras indígenas são:

ƒ Bens da União;
ƒ Destinadas à posse permanente por parte dos índios;
ƒ Nulos e extintos quaisquer atos jurídicos que afetem esse direito de posse, exceto
relevante interesse público da União;
ƒ Somente aos índios cabe usufruir as riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes;
ƒ A exploração dos recursos hídricos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais só
poderão ser efetivadas com a autorização do Congresso Nacional, ouvidas as
comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada a participação nos resultados da lavra;
ƒ Gravadas de inalienabilidade e indisponibilidade, sendo o direito sobre elas imprescritível;
ƒ Os índios não poderão ser removidos de suas terras, a não ser em casos excepcionais e
temporários, previstos no § 6º do artigo 231.
Desde que o Brasil se tornou signatário da Convenção 169 (Decreto, n.º 5.051, de 19 de abril
de 2004), o Governo Brasileiro, por meio do Ministério da Justiça e da FUNAI, vem adotando
medidas para reconhecimento oficial de diversos grupos étnicos e unidades territoriais que
aguardavam estudos etno-históricos especiais para seus reconhecimentos, como medida de
enquadramento àquela Convenção.

A legislação que hoje rege a questão indígena busca de alguma forma compensar os
habitantes nativos do território, com história marcada pela violência, competição por recursos
e desrespeito à diversidade étnica. Um número razoável de entidades não-governamentais e
alguns órgãos e entidades internacionais também caminham lado a lado com o Estado
brasileiro na luta pelo reconhecimento da importância cultural desses povos.

3.2.6.1. Terras indígenas na Bacia do Rio Xingu


A Bacia do Rio Xingu abriga 28 Terras Indígenas (TIs), num total de 203.566 km², ou seja,
cerca de 40% da área total da bacia. As Terras Indígenas da bacia apresentam situações
jurídicas bastante diferenciadas. De forma geral, as Terras Indígenas são classificadas
segundo sua situação legal, que podem ser:

ƒ Terras em identificação - Terras Indígenas para as quais a FUNAI criou um Grupo


Técnico (GT) para Identificação, cujos trabalhos estão em andamento. Permanecem
nessa categoria até que o relatório de identificação elaborado pelo GT seja aprovado pelo
presidente da FUNAI.
ƒ Terras Identificadas - Terras cujo relatório, elaborado pelo Grupo Técnico (GT)
constituído pela FUNAI, foi aprovado pelo presidente do órgão e publicado no Diário

ARCADIS Tetraplan 179


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Oficial da União. A partir da publicação, abre-se um período de 90 dias para contestação


de terceiros, após o qual, respondidas eventuais contestações pela FUNAI, o processo é
remetido para apreciação ao Ministro da Justiça.
ƒ Terras Declaradas – Após análise do Ministério da Justiça do processo de identificação
da TI e das eventuais contestações de terceiros e pareceres da FUNAI, o Ministro da
Justiça edita e publica Portaria no Diário Oficial da União, declarando a terra como de
posse permanente indígena, ensejando o inicio de sua demarcação física pela FUNAI.
ƒ Terras Homologadas – São aquelas cuja demarcação física é homologada, por decreto,
pelo Presidente da República.
ƒ Terras Registradas – São as Terras Indígenas que após receberem a homologação do
Presidente da República, são registradas no Cartório de Registro de Imóveis (CRI) dos
municípios pertinentes e no Serviço de Patrimônio da União (SPU);
A Tabela 3-19 a seguir apresenta as Terras Indígenas localizadas na Bacia do Rio Xingu,
com a indicação do respectivo grupo indígena, número de habitantes, e situação fundiária
atual de suas terras.

ARCADIS Tetraplan 180


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Tabela 3-19 Terras Indígenas segundo municípios da Bacia do Rio Xingu

Unidade Situação
Terra Nº de Municípios
Etnia da Base Legal Fundiária Área (ha) OBS
Indígena habitantes abrangidos
Federação Atual

Dec 343 de 21/05/96/


TI. Àgua CRI em 11/07/88/
Xavante Parabubure 3354 Boa/Campinópolis MT SPU em 26/08/87 Registrada 224.447 Parabubure
Decreto Homologação
TI. Chão S/N de 30/04/2001/
Preto 56 Campinópolis MT Registrada SPU e CRI Registrada 12.740 Chão Preto
Decret de Hologação
Santo Antônio do 974 de 29/11/2001 –
TI. Ubawawe 349 Leste MT Registrada SPU e CRI Registrada 52.234 Ubawawe
Dec. 93.147 de
20/08/86 / CRI em
TI. Pimentel Água 05/05/94 / SPU em
Barbosa 1667 Boa/Canarana MT 17/06/94 Registrada 328.966
Dec. S/N de 03/10/96 /
TI. Marechal CRI em 16/12/96 / Marechal
Rondon 500 Paranatinga MT SPU em 30/10/97 Registrada 98.500 Rondon
Dec S/N de 11/12/98
TI. homologa
Maraiwatsede Alto da Boa Vista MT demarcação Registrada 165.241 Maraiwatsede

São Félix do
Parque Indígena
Araguaia/
do Xingu e TIs Dec. S/N de 25/01/91 /
Marcelândia/
anexas. TI. Parque CRI em 27/07/87, em 2.642.003
União do Si/
Indígena do 05/11/87, em 21/09/87
Canarana/
Xingu / SPU-MT em
Aweti/ Kayabi/ Paranatinga/ Feliz
Waurá/ Kuikuro/ 5.020 Natal/ Gaúcha do MT 18/05/87 Registrada 5.020

ARCADIS Tetraplan 181


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Unidade Situação
Terra Nº de Municípios
Etnia da Base Legal Fundiária Área (ha) OBS
Indígena habitantes abrangidos
Federação Atual
Ikpeng/ Yudjá/ Norte/ São José
Yawalapiti/ Trumai/ do Xingu/ Nova
Kisêdjê/Tapaiuna Ubiratã
Matipu/ Mehinako/
Kamayurá/
Kalapalo/
Naruwota/Nahukwá
Multi ètnico

Dec. S/N de 08/09/98


Querência e São homologa Homologada
Kisêdje- (Suyá) TI. Wawi Felix do Araguaia MT demarcação/ 150.329 Wawi
Dec. S/N de 08/09/98
Waurá homologa
TI. Batovi Paranatinga PA demarcação Registrada 5.159 Batovi
Portaria Identificação
Narowata Canarana e FUNAI em
TI. Naruwota Gaucha do Norte MT 11/01/2006 Identificada 27.980 Naruwota

Kayabi/Yudja TI. Rio


Arraias-BR- Marcelândia / Em Rio Arraias-
080 União do Sul MT identificação BR-080

Kayapó/Sub-
Grupos

Kuben Kran Ken/


Kikretun/ Gorotire/
Kokraimoro/ Dec. 316 de 29/10/91 /
Moikarako/ Aukre São Félix do CRI em 21/12/87/SPU
TI. Kayapo 3.096 Xingu PA em 27/10/87 Registrada Kayapo

ARCADIS Tetraplan 182


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Unidade Situação
Terra Nº de Municípios
Etnia da Base Legal Fundiária Área (ha) OBS
Indígena habitantes abrangidos
Federação Atual
3.284.005

Dec. S/N de 19/08/93 /


CRI em 26/06/95/ CRI
em 09/02/96/ CRI em
27/09/93 / CRI em
12/12/93/SPU-MT em
TI. Altamira/ São 03/05/94 / SPU-PA em
Mekragnoti Menkragnoti 1.028 Félix do Xingu PA 05/07/94 Registrada 4.914.255 Menkragnoti

Peixoto de Decreto Homologação


Azevedo/S. José S/N
TI. Capoto do Xingu e Santa 28/01/1991/Registrada
Metuktire Jarina 1.068 Cruz do Xingu. MT SPU e CRI Registrada 634.915 Capoto/Jarina
Port. Min. 874 de
Mekragnoti 11/12/98 declara
TI. Baú 165 Altamira PA posse permanente Declarada 1.543.000 Baú

São Félix do Decreto S/N de


TI. Xingu/Cumaru do 23/06/2003
Kuben Kran Ken Badjônkôre 230 Norte PA Registrada SPU e CRI Homologada 221.981 Badjonkore
Decreto de
Homologação S/N de
14/04/98 e Registrada
Kararaô
TI. Kararao 28 Altamira PA SPU e CRI Registrada 330.837 Kararao

Senador José
Xicrin do Bacajá TI. Trincheira Porfírio/ São Félix Dec. S/N de 03/10/96/ Trincheira
Bacaja 382 do Xingu/ Pacajá PA CRI em 04/05/98 Registrada 1.650.939 Bacaja
Decreto de
Homologação S/N
Guarantã do 30/04/2001 e
Panará
TI. Panará 306 Norte/ Altamira MT/PA Registrada SPU e CRI Registrada 495.000 Panará

ARCADIS Tetraplan 183


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Unidade Situação
Terra Nº de Municípios
Etnia da Base Legal Fundiária Área (ha) OBS
Indígena habitantes abrangidos
Federação Atual

Port. Min.26 de
Arara TI. Cachoeira Rurópolis/ 22/01/93 declara Cachoeira
Seca 72 Altamira/ Uruará PA posse permanente Identidicada 760.000 Seca
TI. Arara da Senador José Port. Identificação – Arara da
Volta Grande 80 Porfírio PA FUNAI- 28 Identificada 25.500 Volta Grande
Altamira/ Dec.399 de 24/12/91 /
Medicilândia/ CRI em 15/07/92 /
TI. Arara 199 Uruará PA SPU de 22/06/94 Registrada 274.010 Arara

Altamira/ São Dec. Pres. F.H.C de


Félix do Xingu/ 05/01/96 / CRI em
TI Arawete Senador José 09/02/96/ CRI em Arawete
Igarapé Porfírio 04/03/96/ SPU em Igarapé
Araweté Ipixuna 320 PA 20/05/97 Registrada 940.900 Ipixuna
Paraknã Portaria Declaratória
Altamira/ São MJ . 1.213 de
TI. Apyterewa 248 Félix do Xingu PA 20/09/2006 Declarada 773.000 Apyterewa

Dec. S/N de 05/01/96 /


Asurini TI. Koatinemo 124 Altamira PA CRI em 05/02/96 Registrada 387.304 Koatinemo
Xipaya Portaria FUNAI de
Identificação em
TI. Xipaya 48 Altamira PA 23/03/2005 Identificada 178.624 Xipaya
Kuruáya Decreto de
TI. Kuruáya 129 Altamira PA Homologação S/N em Homologada 166.784 Kuruaya

ARCADIS Tetraplan 184


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Unidade Situação
Terra Nº de Municípios
Etnia da Base Legal Fundiária Área (ha) OBS
Indígena habitantes abrangidos
Federação Atual
18/04/2006

Dec. 338 de 24/12/91 /


TI. Senador José CRI em 12/11/90/
Juruna Paquiçamba 35 Porfírio PA SPU em 05/04/94 Registrada 4.348 Paquiçamba

TOTAL 28 TIs 18.504 19.798.496

Índios Isolados
Rio Tapirapé/ Senador José Rio Tapirapé/
Tuere Pofírio PA a identificar Tuere
Rio
Liberdade Luciara/ Vila Rica MT a identificar Rio Liberdade
Rio Merure Altamira PA a identificar Rio Merure
Fonte:Instituto Socioambiental – ISA
Elaboração: ARCADIS Tetraplan

ARCADIS Tetraplan 185


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3.2.6.2. Estimativas sobre a População Indígena na Bacia do Rio Xingu


As informações censitárias disponíveis hoje sobre a Bacia do Rio Xingu registram a ocupação
de 36 etnias, que somam uma população de 18.504 indivíduos, distribuídas em 28 terras
indígenas (situadas total ou parcialmente na bacia). A lista de povos pode ser alterada devido
ao aparecimento de novas etnias. Existem até o momento três registros de índios isolados
dentro da bacia hidrográfica do Xingu (vide Tabela 3-19). Vale ressaltar que 90% destas
Terras Indígenas já estão homologadas ou registradas, ou seja, o processo formal de seu
reconhecimento jurídico/administrativo já foi encerrado.

3.2.6.3. Sociodiversidade e biodiversidade da Bacia do Xingu


A região do Rio Xingu tem sido palco de importantes mudanças nos últimos 30 anos. A
abertura de novas rodovias impulsionou a criação e a expansão de núcleos urbanos, a
implantação de grandes projetos pecuários, a formação de pólos de exploração madeireira,
assentamentos de pequenos agricultores e, mais recentemente, projetos de agricultura
decorrentes da expansão da soja no Estado do Mato Grosso.

Trata-se de uma região complexa, do ponto de vista étnico, territorial e ambiental. São 36
etnias, 28 Terras Indígenas, ocupando uma área de 19.798.496ha (ISA, 2009), o que
equivale a aproximadamente 40% do total da extensão territorial da bacia do Xingu (ISA,
2009 e FUNAI, 2009). Todos os quatro macro-troncos lingüísticos do Brasil (Tupi-Guarani, Jê,
Karíb e Aruak) encontram-se representados na região, o que torna a bacia hidrográfica do
Xingu extremamente representativa da diversidade lingüística e cultural dos índios da
Amazônia.

Ao longo dos rios Xingu, Iriri, Curuá e seus afluentes, na região do baixo Xingu, podem ser
encontrados dezenas de sítios arqueológicos (cerâmicos, de produção de líticos e sítios com
inscrições rupestres), no entanto, trata-se de uma região pouco estudada do ponto de vista
arqueológico.

A bacia do rio Xingu é uma região onde há uma forte relação entre biodiversidade e sócio
diversidade. Há fortes evidências de que parte da diversidade biológica existente está
associada à ocupação indígena milenar da bacia. Como exemplo, há o caso das áreas de
terra preta de origem antrópica, que ocorrem no Parque Xingu, no seu entorno, na região do
rio Iriri e em muitos outros lugares dentro da bacia, resultantes de práticas de manejo e da
presença de aldeamentos antigos.

Entre 2005 e 2006, o governo federal criou um Mosaico de Unidades de Conservação na


região denominada Terra do Meio – localizada no baixo curso do rio Xingu, formada por um
Parque Nacional, uma Estação Ecológica, três Reservas Extrativistas e uma Floresta
Nacional, que juntos somam mais de seis milhões de hectares. Os estudos que embasaram a
criação deste Mosaico apontam para a importância da região inter fluvial dos rios Iriri e Xingu,
que funciona como uma barreira geográfica para a dispersão das espécies, contribuindo de
maneira fundamental para os processos de especiação.

O mosaico da bacia hidrográfica do Xingu é formado por quatro grandes blocos contíguos:
bloco das TIs do Médio Xingu (TI Koatinemo, TI Kararaô, TI Arara, TI Cachoeira Seca, TI
Trincheira, TI Araweté, TI Apyrerewa e TI Trincheira Bacajá); bloco da Terra do Meio; bloco
Kayapó do sul do Pará e norte do MT (Kayapó, Mekragnoti, Baú, Badjonkore, Panará e

ARCADIS Tetraplan 186


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Capoto-Jarina) e Parque Indígena do Xingu (ver Figura 3-9 Terras Indígenas e Unidades de
Conservação).

3.2.6.4. Antecedentes históricos das relações dos povos indígenas com a sociedade
envolvente
No século XVIII, os Kuruaya foram conduzidos pelos jesuítas em descimentos forçados até a
aldeia-missão Imperatriz ou Tauaquara (ou ainda Tavaquara), que veio a ser o embrião da
cidade de Altamira. A história dos Kuruaya na área que hoje compreende a cidade de
Altamira começa com a chegada na região do Xingu do Padre Roque Hunderfund, da
Companhia de Jesus, em 1750, responsável pela criação da “Missão Tavaquara” (ou
“Itaquara”, ou “Tauaquara”), que concentrou índios Kuruaya, Xipaia, Arara, Juruna e,
provavelmente outros povos que a historiografia não registrou.

Em 1755, pela Lei Régia, o Ministro de Portugal, Marquês de Pombal, expulsou a Companhia
de Jesus; todos os trabalhos que eram mantidos pelos jesuítas foram abandonados, inclusive
a incipiente missão Tauaquara. Mas o local não deixou de ser habitado pelos povos
indígenas acima citados, sendo mencionado em documentos de viajantes e cientistas.

A história da invasão das terras dos Yudjá (Juruna) e dos seus vizinhos, data da época da
fundação de Belém. Em meados do século XVIII, já era evidente o resultado dos primeiros
cem anos de história de aprisionamento, escravização, guerra e redução no baixo Xingu. De
acordo com Nimuendajú, pode-se presumir que os Yudjá (Juruna) fugiram para montante,
enquanto um povo tupi-guarani, os Waiãpi, seus vizinhos das margens do Xingu,
atravessaram o Amazonas e partiram rumo ao Oiapoque, aonde vivem até hoje.

Na sua expedição ao Xingu, em 1896, o viajante Henri Coudreau menciona a existência de


"Araras bravos" - subgrupos então sem qualquer contato com os brancos, à oeste do Xingu,
na região entre o rio Curuá e o Amazonas.

Sobre a região da Volta Grande do Xingu, Henri Coudreau, em 1896, informa: “Altamira,
vilarejo em formação, na saída da estrada pública do Tucuruí-Ambé, consta apenas de três
casas, na margem ocidental esquerda do Xingu, rodeadas por extensos terrenos cultivados,
que a cada ano, mais se espalham para o interior”.

As primeiras notícias sobre os Asurini, habitantes da TI Koatinemo, na confluência dos rios


Xingu e Iriri, datam de fins do século XIX. Em 1894, foi atribuído a eles o ataque a um local
chamado Praia Grande, acima da boca do Rio Bacajá (Nimuendajú,1963). No final do século
XIX esses índios também foram atacados diversas vezes por brancos (provavelmente
extratores de caucho), que atearam fogo às suas aldeias (Mancin,1979).

As constantes migrações dos Kayapó rumo à foz do rio Xingu, a expansão dos Munduruku
para leste somaram-se à frente de expansão seringalista, que entrou pela foz do rio
Amazonas e subiu o rio Xingu, percorrendo seus afluentes e tomando contato com as etnias
que ali viviam. Nimuendajú mencionou que as aldeias no rio Iriri e Curuá foram atacadas
pelos Kayapó-Gorotire em 1918, mas foi apenas em 1934 que o local foi tomado, obrigando
os Kuruaya a se espalharem.

O mesmo autor, que viajou pelos rios Xingu, Iriri e Curuá, de 1916 a 1919, informou que os
Kuruaya faziam parte de um grande grupo de etnias que viviam no baixo e médio Xingu, junto

ARCADIS Tetraplan 187


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com os Xipaia, os Arupaí (extintos), os Tucunyapé (extintos), os Arara, os Asurini e os Juruna


(Yudjá).

Os Juruna (Yudjá) da TI Paquiçamba na Volta Grande do Xingu eram 2.000 em 1842; 200 em
1884; 150 em 1896; 52 em 1916 (segundo, respectivamente, Adalberto, Steinen, Coudreau e
Nimuendajú). Atualmente, de acordo o Estudo Etno-ecológico sobre os Juruna da TI
Paquiçamba, que compõe a Peça Antropológica no âmbito do EIA/RIMA do AHE Belo Monte,
a população da TI é de 62 pessoas.

Ao longo desse processo histórico, os relatos descrevem uma migração pendular, marcada
pelo movimento de ida e vinda do rio Iriri e Curuá para as margens do Xingu, próximo ao
igarapé Panelas, local da antiga missão Tauaquara que originou Altamira. Atualmente, o
bairro de São Sebastião localiza-se nesta região, com população predominante de índios
citadinos.

A região dos rios Ronuro, Batovi, Culiseu, Culuene (justamente os formadores do rio Xingu) é
o lugar mais provável da dispersão original dos Arara. Seu deslocamento pela bacia do Xingu
parece ter coincidido com um movimento migratório Kayapó, que partiu dos campos do rio
Araguaia em meados do século passado e atingiu a região do médio Xingu já no início deste
século.

Toda a região entre o Tapajós e o Tocantins (e particularmente o vale do Xingu) parece ter
sido um lugar de movimentação constante de grupos indígenas, até o início do segundo
quartel do século XX, quando levas migratórias oriundas do nordeste brasileiro começam a
alterar a dinâmica demográfica da região afetando as populações indígenas já ali instaladas.

O histórico territorial da bacia do rio Xingu, desde o século XVII, é uma história de conflitos e
alianças entre as sociedades indígenas, que por sua vez resistiram às investidas dos
colonizadores europeus e mais tarde à ocupação progressiva da sociedade nacional, sendo
impossível separar o histórico de ocupação dos relatos de conflitos.

“Mas foi somente entre 1966-85 que se deu o planejamento regional efetivo da região. O
Estado tomou para si a iniciativa de um novo e ordenado ciclo de devassamento amazônico,
num projeto geopolítico para a modernidade acelerada da sociedade e do território nacionais.
Nesse projeto, a ocupação da Amazônia assumiu prioridade por várias razões. Foi percebida
como solução para as tensões sociais internas decorrentes da expulsão de pequenos
produtores do Nordeste e do Sudeste devido à modernização da agricultura. Sua ocupação
também foi percebida como prioritária em face da possibilidade de nela se desenvolverem
focos revolucionários (BECKER, 2001)”.

“A implantação concreta das rodovias alterou profundamente o padrão da circulação e do


povoamento regional. As conexões fluviais perpendiculares à calha do rio Amazonas foram,
em grande parte, substituídas por conexões transversais das estradas que cortaram os vales
dos grandes afluentes e a floresta. As distâncias e o tempo de conexões reduziram-se de
meses para horas. Mas a violência dessa ocupação acelerada resultou em duas
concentrações em termos de áreas: a) o conhecido ciclo de desflorestamento/exploração da
madeira/pecuária associado a intensos conflitos sociais e ambientais; b) as concentrações
representadas pelos projetos de colonização, marcados pela instabilidade, alto grau de
evasão – gerando grande mobilidade intra-regional da população.” (Becker, 2001).

ARCADIS Tetraplan 188


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Fazendo contraponto a este modelo de desenvolvimento econômico com vetor de


desflorestamento, as terras indígenas da bacia hidrográfica do Xingu desempenham um
papel cada vez mais importante para o equilíbrio e conservação biológica da região. No
entanto, elas encontram-se ameaçadas pelos seguintes fatores:

ƒ A maior parte das TIs está localizada no centro da bacia, ficando fora dos seus limites as
cabeceiras dos principais rios, tornado-as vulneráveis à degradação ambiental que vem
ocorrendo ao seu redor;
ƒ O desmatamento na região das nascentes e das matas ciliares dos formadores do Xingu
pode trazer desdobramentos para a saúde da rede hídrica do Alto Xingu, afetando as
formas tradicionais de subsistência das populações indígenas.
ƒ O desmatamento que avança em torno das estradas, travessões, vicinais e devido à
exploração de madeira já invade terras indígenas como são exemplos as TI Arara, TI
Cachoeira Seca e TI Apyterewa.
A questão da sustentabilidade econômica dessas populações, que possuem uma economia
de subsistência com baixa interface com o mercado regional, já dependendo de artigos
manufaturados, depende de Programas de monitoramento das Fronteiras das TIs, capazes
de resguardar seus recursos naturais, constantemente ameaçados por práticas ilegais, como
são exemplos a pesca e a extração de madeira nas TIs.

Na Figura 3-32 são apresentadas as Terras Indígenas da bacia Rio Xingu, descritas neste
item. Note-se que o Grupo Juruna do km 17 não se encontram em terras oficialmente
demarcadas.

ARCADIS Tetraplan 189


56°W 54°W 52°W 50°W
Legenda
Gurupá UHE Belo Monte
Porto PCHs
Prainha de Moz Melgaço
Rio Capital Estadual
Portel
Rio Amazonas Amazonas
AM
2°S

2°S
Rio Sedes Municipais
Rio Xingu
Tapajós Limite Estadual
Senador
José
Porfírio Limites Municipais
Vitória
do Xingu Massa D'Água
Belo Bacia do Xingu
Brasil Altamira Monte
Novo
Rio Terras Indígenas
Medicilândia Anapu
Xingu Arara
Uruará Arara da Volta Grande
Placas do Xingu
Koatinemo
4°S

4°S
Rurópolis Kararaô Novo
Itaituba Repartimento
Cachoeira Seca
Trairão Rio Iriri Trincheira
Bacaja
Arawete
Igarapé
Ipixuna

Xipaya
PA
Apyterewa
Kuraya
Rio
Xingu Parauapebas
6°S

6°S
Xikrin do
Cateté
São Félix
Rio do Xingu Tucumã Água Azul
Curuá Ourilândia do Norte
do Norte
Novo Rio
Progresso Maria
Baú Bannach

Pau
Cumaru
Kayapo do Norte
D'Arco
Redenção
8°S

8°S

Salto
Salto Três Buriti Menkragnoti
de Maio Salto
Curuá Badjonkore

Santana do
Araguaia
Panará
Rio Xingu

Guarantã
Vila
do Norte
10°S

10°S

Rica Localização
Matupá Peixoto de
Capoto/Jarina Rio Araguaia
60°W 45°W
Azevedo
Santa
Confresa Terezinha
Urubu
Rio Porto


São José
Alegre do Branco
Arrais/BR do Xingu
Norte
Marcelândia 080 Canabrava
Itaúba
do Norte

TO
15°S

15°S

Cláudia União
do Sul São Félix
Alto Boa
do Araguaia
Wawi Maralwat Vista
Sinop Santa Sede
Carmem Rio
Rio
12°S

12°S

Xingu das
30°S

30°S

Mortes
Vera Feliz Parque
Natal do Xingu 60°W 45°W
Sorriso
Querência

MT Rio Xingu Ribeirão


Nova ARS Batovi Cascalheira
Ubiratã Naruwota
Gaúcha
do Norte Pimentel 1:4.250.000
Barbosa km
Canarana 0 50 100 200 300
Paranatinga II
Marechal Paranatinga I
Sistema de Coordenadas Geográficas
Datum horizontal: SAD 69
Rondon
14°S

14°S

Ronuro Água Boa

Bakairi
Paranatinga
Parabubure
Planalto Culuene Chão Campinápolis Figura 3.32 Terras Indígenas
Nova
da Serra Preto Xavantina
Nova
Brasilândia
GO
Fontes:
IBGE, Censo Demográfico, 2001
CUIABÁ Primavera Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005)
do Leste IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005
Compilação de dados MMA e ICMBIO
ANEEL, 2008
Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009
56°W 54°W 52°W 50°W
AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

3.2.6.5. Etnografia básica dos povos indígenas da bacia


As informações sobre os povos indígenas foram resumidas dos verbetes escritos
pelos principais especialistas destes povos, encontradas na Enciclopédia dos Povos
Indígenas do Instituto Socioambiental – ISA26.

Kuruaya

Na história do contato com o colonizador, os Kuruaya perderam sua vida tradicional


nas aldeias, no rio Curuá, devido ao trabalho forçado nos seringais e castanhais. No
século XVIII foram conduzidos pelos jesuítas em descimentos forçados até a aldeia-
missão Imperatriz ou Tauaquara, que veio a ser o embrião da cidade de Altamira.

As conseqüências desse processo foram desastrosas e os Kuruaya chegaram a ser


considerados extintos na década de 1960. Nos anos seguintes, tiveram sua identidade
étnica questionada, mas a conquista de suas terras garantiu seu reconhecimento.

A Terra Indígena Kuruaya, na margem direita do rio Curuá, subafluente da bacia do


Xingu, é constituída atualmente de uma aldeia e quatro agrupamentos familiares. A
atual aldeia Cajueiro tem 91 moradores. Possui posto indígena, escola, posto de
saúde, casa de farinha, campo de futebol, depósito, cemitério, roças familiares e
comunitárias e um local reservado à Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais -
CPRM (ISA, 2009)

Há também os Kuruaya citadinos, que moram em Altamira, juntamente com outros


grupos étnicos: Juruna, Kayapó, Arara, Xucuru, Karajá, Guarani, Guajajara, Xavante,
Kanela e Xipaia. Os indígenas citadinos têm laços de parentesco com os povos
indígenas que moram nas TIs. Particularmente, as histórias dos Kuruaya e dos Xipaia
se mesclam em Altamira.

Os velhos Kuruaya lembram que a pesca é praticada durante todo o ano, sendo os
peixes mais apreciados a traíra, o trairão, o mandi, a piranha branca, o babão (peixe
que parece o tucunaré), piau, curimatá, pacu, pescada, surubim fidalgo, filhote,
pintadinho, piranha, cadete e matrinxã. As águas do rio Curuá permanecem ricas em
peixe e continuam sendo fonte de alimento para a população da aldeia.

Atualmente, os Kuruaya que moram na TI de mesmo nome, estão certos que a


reconquista de suas terras, além de assegurar um futuro melhor para seus filhos,
permitiu-lhes recuperar a auto-estima enquanto grupo e reavivou sua identidade
étnica. Mas também estão cientes que ainda há um longo caminho a ser percorrido. A
criação da Associação do Povo Indígena Kuruaya (APIK), como entidade jurídica,
trouxe esperança de aprimorar os mecanismos de negociação com outras instituições
governamentais e não-governamentais, particularmente no que concerne ao
financiamento de seus projetos.

26
A fonte “Enciclopédia dos Povos Indígenas” do Instituto Socioambiental – ISA (www.
Socioambiental.org.br, consultada em fevereiro de 2009), disponibiliza para os pesquisadores
informações etnográficas recentes sobre os povos indígenas, redigidas a partir de teses de mestrado e
doutorado dos antropólogos especialistas nestes povos.

ARCADIS Tetraplan 191


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Xipaya

Desde o século XVII, os Xipaya foram perseguidos pelos colonizadores, que os


escravizaram para trabalhar nos ciclos extrativistas, como é exemplo a extração da
borracha. Foram aldeados na Missão Tauaquara, na região em que posteriormente
cresceu a cidade de Altamira, onde sempre foram marginalizados e viram negados
seus direitos indígenas. Hoje estão distribuídos entre esta cidade e as aldeias, e lutam
por seus direitos territoriais e de cidadania.

Os Xipaya são da família lingüística Juruna, tronco Tupi. Grande parte dos Xipaya hoje
fala o português, sendo que alguns velhos na cidade de Altamira ainda sabem a
língua, mas não a falam cotidianamente. Como houve época em que foram forçados a
migrar para a terra dos Mebengokre, muito deles sabem comunicar-se na língua
Kayapó (tronco Jê), mas isso não é uma prática rotineira.

Por volta das décadas de 1940-50 a população Xipaya passou por uma redistribuição.
Naquele período as doenças, as mortes, os casamentos entre Xipaya, Kuruaya,
Juruna e os nordestinos vindos como "soldados da borracha" já haviam imprimido um
novo perfil à região. As sucessivas mudanças forçadas e a dispersão do grupo
passaram a idéia de que os Xipaya haviam desaparecido como grupo étnico. Na
década de 1970, iniciaram um movimento que resultou na unificação do grupo e na
conquista de seu antigo território. A chegada ao rio Iriri e a reorganização da
comunidade marcou um novo momento na vida deste povo indígena.

A presença dos Xipaya na cidade de Altamira data de meados do século XVIII, quando
o padre jesuíta Roque Hunderfund criou a missão Tauaquara. No século XX a aldeia
transformou-se em um bairro conhecido por Muquiço; atualmente o bairro chama-se
São Sebastião, em homenagem ao Santo Padroeiro da cidade.

Os indígenas foram aos poucos perdendo o território, à medida que o bairro


incorporava-se à cidade e que havia uma dinâmica de ocupação dos grupos que se
revezavam entre o Xingu-Iriri-Curuá, para a realização do trabalho nos seringais e
castanhais, seja como gateiros (capturando gatos do mato e onças para a venda de
peles) ou como pilotos de barco. As mulheres que ficavam na cidade trabalhavam
como empregadas domésticas, lavadeiras, criadas de companhia, principalmente as
mais jovens. Nessa época, as epidemias de gripe e sarampo dizimaram boa parte da
população indígena.

A criação da Associação Arikafu tem sido o veículo jurídico utilizado para que se
relacionem com a sociedade local e os órgãos governamentais e não governamentais.
Quanto à situação dos Xipaya urbanos, seus direitos estão sendo alcançados
gradativamente. A Associação dos Indígenas Moradores de Altamira (AIMA) abriu
espaço para uma maior visibilidade das questões que antes não eram consideradas.

Arara

Os Arara se auto-denominam Ukarãngmã (ou Wokorongma), que literalmente significa


"povo das araras vermelhas" (ISA, 2006). A designação genérica "Arara", por sua vez,
provavelmente refere-se aos motivos que estes índios tatuavam na própria face
(Teixeira Pinto, 1988).

ARCADIS Tetraplan 192


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Não há relação entre os Arara aqui abordados e o povo Arara da Volta Grande,
descendente dos Arara do rio Bacajá, com língua, localização histórica e história do
contato diferentes (Patrício, Marlinda, 1996 - Relatório Circunstanciado de
Identificação e Delimitação da TI Arara da Volta Grande do Xingu)

Considerados extintos por volta da década de 1940, quando escasseiam notícias


sobre sua movimentação pela região, os índios conhecidos por "Arara" no vale do
médio Xingu voltaram à cena com a construção da rodovia Transamazônica, no início
dos anos de 1970. O trecho que hoje liga as cidades de Altamira a Itaituba, no Estado
do Pará, passou a poucos quilômetros de uma das grandes aldeias onde vários
subgrupos Arara se reuniam no período de estiagem. A estrada cortou plantações,
trilhas e acampamentos de caça, tradicionalmente utilizados pelos índios. A "estrada
da integração nacional": seu leito principal, suas vicinais, seus travessões, suas
picadas e clareiras acessórias formaram barreiras, impedindo o trânsito dos índios
pelas matas e impondo limites à tradicional interação entre os subgrupos que antes,
vivendo dispersos pelo território, articulavam-se numa rede coesa. (TEIXEIRA PINTO,
M. s/d)

Os Arara ficaram famosos por sua belicosidade e pelos troféus que capturavam dos
corpos dos inimigos - cabeças para flautas, colares de dentes e escalpos de face. Mas
há muito tempo também que sua facilidade de interação com o mundo exterior, e
mesmo para a incorporação de estranhos ao mundo nativo chama atenção para outros
aspectos de seu modo de vida.

A consolidação do longo processo de atração, a partir de fevereiro de 1981,


desembocou em duas áreas legalmente definidas para os Arara, com situação jurídica
e fundiária distinta: a Terra Indígena Arara e a Terra Indígena Cachoeira Seca do Iriri.
A primeira é relativa aos subgrupos contatados entre 1981 e 1983, e a segunda, ao
subgrupo contatado somente em 1987.

Parte dos Arara vivem numa aldeia levantada pela FUNAI após o contato, dentro da TI
Arara, localizada nas proximidades do igarapé Laranjal; sua população soma pouco
mais de 100 indivíduos. Uma pequena parcela da população, em torno de duas
dezenas de pessoas, que antes também viviam na aldeia do Laranjal, foi deslocada
para um posto de vigilância da FUNAI, construído às margens do leito da
Transamazônica, formando outro "grupo residencial". A TI Arara tem um total de 236
habitantes, segundo o Componente Indígena dos Povos Arara, Kararaô, Asurini,
Araweté e Parakanã, no âmbito da peça Antropológica do EIA/RIMA do AHE Belo
Monte.

A demarcação da TI Cachoeira Seca está emperrada há vários anos em virtude de


uma série de problemas com relação a seu limite norte. A Portaria Declaratória 26/93
MJ define o limite norte da TI como uma grande linha seca encerrando uma área de
760.000 ha, ligada a TI Arara. Mas, segundo relatórios da própria FUNAI e de outros
informantes, praticamente todo o limite norte é ocupado por não índios, o que é
facilitado pelos travessões da Transamazônica que adentram a Terra Indígena. O
último documento do Processo sobre a TI Cachoeira Seca é o Parecer
150/DID/DAF/95, que aprovou o relatório do re-estudo, nos termos da Portaria 26/93
MJ, com alteração no Limite Norte e manutenção do Limite Leste, o que permite unir

ARCADIS Tetraplan 193


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

as duas Terras Arara. A população desta TI é de 81 habitantes, segundo a mesma


fonte de demografia da TI Arara.

Desde então, a FUNAI não se posicionou mais a respeito da continuidade do processo


de regularização fundiária da TI Cachoeira Seca. Como não houve nova Portaria
Declaratória, continua valendo a de 1993, publicada antes do re-estudo. Legalmente
existe uma área Declarada e, oficialmente, as contestações foram julgadas
improcedentes (Despacho n° 38 MJ, de 10/07/96).

Asurini do Xingu

Em 1932 há notícia de um ataque de índios Asurini na foz do Igarapé Bom Jardim. Em


1936, foram atacados pelos índios Gorotire, subgrupo Kayapó, durante sua expansão
em direção ao norte (Nimuendajú,1963). Pressionado pelos Kayapó, os Asurini
passaram a habitar as margens do Rio Ipixuna durante um longo período.

Entre 1965 e 1970, os Asurini foram desalojados dessa área pelos índios por eles
denominados Ararawa (Araweté). Há notícia de que os Xikrin do Bacajá atacaram os
Asurini em 1966 (Cotrim, 1971b e Lukesch,1971:13) na região do Rio Branco, afluente
do Bacajá. Na década de 1960, a caça ao gato selvagem e a extração da seringa
levaram os regionais a adentrarem os afluentes da margem direita do Rio Xingu,
provocando encontros hostis com a população indígena. Reocupando a região do Rio
Ipiaçava e Piranhaquara, os Asurini continuaram mantendo relações de hostilidade
com os brancos, todavia, em encontros rápidos e fugidios.

Na década de 1970, intensificou-se a presença dos brancos com a finalidade de


contatar os grupos indígenas da região e decorrente do surgimento de novas
atividades econômicas: mineração, agropecuária e projetos do governo (em especial a
construção da Rodovia Transamazônica).

Cotrim enfatiza a perspectiva de extensão da província ferrífera da Serra dos Carajás


até a margem direita do Rio Xingu, trazendo "ao cenário de disputas do território
indígena, novos protagonistas: a Meridional Consórcio United States Steel-CVRD"
(Soares,1971b: 4). Segundo o sertanista, através de sobrevôos aéreos foram
localizados diversos aldeamentos e estabelecido um programa de "pacificação"
financiado pela referida empresa, ficando a cargo dos missionários católicos Anton e
Karl Lukesch a responsabilidade da missão.

Na década de 1970 os Asurini aceitaram o contato. Conta o padre Lukesch (1976:18)


que um índio fazia gestos pedindo que fosse embora, no momento do primeiro
encontro, mas outro Asurini assumiu a dianteira e tentou estabelecer relações diretas
e amistosas com os brancos.

Após o contato com a sociedade nacional, em 1971, os Asurini do Xingu -


denominação dada pelas frentes de atração - sofreram uma baixa populacional
significativa. Contudo, o perigo eminente de sua extinção física sempre contrastou
com uma extrema vitalidade cultural, manifesta na realização de extensos rituais,
práticas de xamanismo e um elaborado sistema de arte gráfica. Atualmente, a
população da TI Koatinemo é de 144 habitantes, de acordo com a fonte Componente
Indígena dos Povos Arara, Kararaô, Asurini, Araweté e Parakanã, no âmbito da peça
Antropológica do EIA/RIMA do AHE Belo Monte.

ARCADIS Tetraplan 194


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

A única aldeia dos Asurini do Xingu localiza-se à margem direita do rio Xingu, onde
fica a Terra Indígena Koatinemo, homologada em 1986. Desde os anos 1980, os
Asurini passaram a relacionar-se mais estreitamente com outros índios, por meio de
casamentos e da decorrente convivência, em sua própria aldeia, com indivíduos de
outros grupos étnicos da região, como os Arara, os Parakaña e os Kararaô (subgrupo
Kayapó). Conseqüentemente, tem havido o incremento acelerado da taxa de
natalidade, com um aumento significativo da população infantil.

Nas últimas décadas, os contatos dos Asurini com os habitantes brancos das margens
do rio Xingu tornaram-se mais freqüentes e mais tensos, particularmente em relação
aos madeireiros que constantemente invadem a área. Os Asurini não têm se
esquivado aos enfrentamentos com os regionais, exigindo-lhes, por exemplo, que não
pesquem em suas terras nem retirem madeira na região, que é rica em mogno.

Araweté

Em meados da década de 1960, os Araweté deslocaram-se das cabeceiras do rio


Bacajá, a sudeste, em direção ao Xingu, no Estado do Pará. Eram oficialmente
desconhecidos até o começo da década de 1970. Seu 'contato' realizado pela FUNAI
data de 1976, quando buscaram as margens do Xingu fugindo do assédio dos
Parakanã, outro grupo tupi-guarani.

É possível que eles os Araweté sejam habitantes há muitos anos, talvez séculos, na
região de florestas entre o médio curso dos rios Xingu e Tocantins. Embora
considerados, até o contato em 1976, como "índios isolados", o fato é que os Araweté
conhecem o homem branco há muito tempo.

A história dos Araweté tem sido pelo menos desde o início do século XX, uma história
de sucessivos conflitos com tribos inimigas e de deslocamentos constantes. Eles
saíram do Alto Bacajá devido a ataques dos Kayapó e dos Parakanã. Por sua vez, ao
chegarem ao Ipixuna e demais rios da região (Bom Jardim, Piranhaquara),
afugentaram os Asurini ali estabelecidos, que acabaram se mudando para o rio
Ipiaçava, mais ao norte. Em 1970, com a construção da rodovia Transamazônica, o
governo brasileiro começou um trabalho de "atração e pacificação" dos grupos
indígenas do médio Xingu. Os Araweté começaram a ser notados oficialmente em
1969. Em 1971 a Funai estabeleceu a "Frente de Atração do Ipixuna", que manteve
contatos esporádicos com os Araweté até 1974, sempre sem conseguir visitar suas
aldeias.

Em janeiro de 1976, ataques dos Parakanã levaram os Araweté a procurar as


margens do Xingu, resolvidos a "amansar" (mo-kati) os brancos (pois não se
consideram 'pacificados' pelos brancos, e sim o contrário). A FUNAI encontrou-os ali
em maio daquele mesmo ano, acampados precariamente junto às roças de alguns
camponeses, famintos e já doentes devido ao contato com os caboclos do "beiradão".

Em março de 1977, o primeiro censo realizado pela FUNAI contou 120 pessoas. Em
1996, foi homologada a TI Araweté, com a extensão de 940.900 hectares. Entretanto,
a concepção Araweté de territorialidade é aberta; estes índios não tinham, até bem
pouco tempo, a noção de um domínio exclusivo sobre um espaço contínuo e
homogêneo.

ARCADIS Tetraplan 195


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

Depois de mais de duas décadas na mesma aldeia, em outubro de 2001, os Araweté


transferiram-se para um novo local no baixo rio Ipixuna, próximo a sua foz. A
disposição de partir foi acirrada por uma epidemia de varicela (doença virótica
popularmente conhecida como catapora) no segundo semestre de 2000, que
contaminou pelo menos 218 dos então 278 habitantes da aldeia, ocasionando nove
mortes. Atualmente a população Araweté é de 398 habitantes, segundo o
Componente Indígena dos Povos Arara, Kararaô, Asurini, Araweté e Parakanã, no
âmbito da peça Antropológica do EIA/RIMA do AHE Belo Monte.

Parakanã

Os Parakanã são habitantes tradicionais do interflúvio Pacajá-Tocantins. Falam uma


língua tupi-guarani pertencente ao mesmo subconjunto do Tapirapé, Avá (Canoeiro),
Asurini e Suruí do Tocantins, Guajajara e Tembé. São tipicamente índios de terra
firme, não canoeiros, e exímios caçadores de mamíferos terrestres.

Dividem-se em dois grandes blocos populacionais, Oriental e Ocidental, que se


originaram de uma cisão ocorrida em finais do século XIX. Os orientais foram
reduzidos à administração estatal em 1971, durante a construção da Transamazônica;
os ocidentais foram contatados em diversos episódios e localidades entre 1976 e
1984.

Os Parakanã teriam sido avistados pela primeira vez em 1910 no rio Bacajá, acima da
cidade de Portel, e posteriormente identificados como os índios que, na década de
1920, surgiam entre a cidade de Alcobaça e o baixo curso do rio Pucuruí para saquear
colonos e trabalhadores da Estrada de Ferro do Tocantins.

Os Parakanã Orientais e Ocidentais somam aproximadamente 900 indivíduos, vivendo


em duas áreas indígenas diferentes, divisão que não corresponde à dos blocos
oriental e ocidental. A primeira área, denominada TI Parakanã, localiza-se na bacia do
Tocantins, municípios de Repartimento, Jacundá e Itupiranga, no Pará, com uma
extensão de 351 mil hectares, encontra-se demarcada e com sua situação jurídica
regularizada.

A segunda área, denominada TI Apyterewa, localiza-se na bacia do Xingu, nos


municípios de Altamira e São Félix do Xingu, também no Pará. Com 981 mil hectares,
foi declarada de posse permanente dos Parakanã em 1992, porém a portaria do
Ministério da Justiça que a garantia foi revogada, e a terra identificada pela FUNAI
reduzida, de seu tamanho original, para 773 mil hectares. Uma nova portaria do
Ministério da Justiça foi assinada em 21/09/2004. Mas a área encontra-se, hoje,
bastante invadida por madeireiros, fazendeiros, colonos e garimpeiros. Assistida pela
Administração Regional de Altamira (FUNAI), contava em fins de 2003 com uma
população de 314 pessoas, segundo a FUNASA, vivendo em duas aldeias (Apyterewa
e Xingu). Todos os seus habitantes são oriundos do bloco ocidental e foram
contatados entre 1983 e 1984.

No final de 1993, os Parakanã da TI Apyterewa dividiram-se, formando duas aldeias: o


'Grupo de Ajowyhá', inflado pelo crescimento demográfico e por novas adesões,
abandonou o Posto Apyterewa na margem direita do igarapé Bom Jardim e se instalou
na beira do Xingu. Em 1995, aqueles que haviam permanecido no interior também se
mudaram para o rio, onde o pescado é mais fácil e as chances de contato com os

ARCADIS Tetraplan 196


AAI – Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu

brancos, maior. A partir daí, a FUNAI perdeu o controle sobre essa interação,
iniciando-se uma nova fase de relações entre os Parakanã e a população regional.

Em 1996, alguns índios começaram a negociar com garimpeiros instalados no igarapé


São José, limite sul da TI Apyterewa. Pela liberação das atividades extrativistas,
recebiam algumas gramas de ouro, alguns reais e 'rancho' (arroz, feijão, farinha, óleo
etc.). No final daquele ano, iniciaram entendimentos com madeireiros de São Félix do
Xingu para liberar a exploração na parte da reserva ainda não atingida. Atualmente a
situação na TI Apyterewa é de grande tensão, com invasões fundiárias e extração de
madeira.

A TI Apyterewa conta com a população de 411 habitantes, dado atualizado pela


mesma fonte citada anteriormente.

Kayapó

A configuração atual dos grupos Kayapó resulta de um longo processo de mobilidade


social e espacial, marcado pela constante formação de facções e cisões políticas.

Após sua cisão do grupo ancestral Apinayé, ocorrida aproximadamente no começo do


século XVIII e após ter atravessado o rio Araguaia, os Kayapó cindiram-se no final
daquele século. O grupo original permaneceu ocupando a região do Pau d´Arco,
afluente do Araguaia, e o grupo denominado Pore-kru, ancestral dos atuais Xikrin,
rumou em direção ao norte, para a região do rio Parauapebas e Itacaiúnas.

Mais tarde, o grupo Pore-kru cindiu-se em dois: os Kokorekré que ficaram na região do
rio Parauapebas, e os Put-Karôt que se deslocaram para a região do rio Cateté, no
Alto Itacaiúnas. Os Kokorekré começaram a estabelecer relações de troca com os
regionais que subiam o Parauapebas, sendo vitimados por doenças, além de sofrer,
por volta de 1910, uma matança por parte de uma expedição punitiva de regionais.

Com a exploração da borracha, as relações dos Put-Karôt com os regionais


deterioraram-se e os índios retiraram-se do Cateté para as cabeceiras do Itacaiúnas.
Foi nesta aldeia que um grupo debilitado do Kokorekré se juntou aos Put-Karôt. Por
volta de 1926, com medo dos Kayapó-Gorotire, com quem tiveram um longo período
de hostilidade, eles migraram para o norte e se instalaram na região do rio Bacajá.
Pouco depois, entre 1930 e 1940, um grupo que não se agradara do lugar, separou-se
e voltou para o rio Cateté.

Calcula-se que a chegada dos Xikrin na região do Bacajá ocorreu em 1926 ou 1927.
Quando chegaram ao Bacajá, perambularam bastante pelas duas margens do rio,
erguendo diversas aldeias e enfrentando, em alguns momentos, os Araweté, os
Asurini e os Parakanã, três grupos do tronco lingüístico Tupi. Os confrontos com estes
últimos são mais recentes e todos os adultos se lembram deles.

O primeiro contato formal dos Xikrin do Cateté com os regionais ocorreu em 1952, no
Posto Las Casas, do Serviço de Proteção ao Índio - SPI, próximo à vila de Conceição
do Araguaia. O contato dos sertanistas do SPI com os Xikrin do Bacajá ocorreu no
final 1959, quando foram vitimados por epidemias que ocasionaram muitas mortes, e
os índios embrenharam-se novamente nas matas.

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Nas últimas duas décadas, os dados demográficos demonstram que os Xikrin têm tido
crescimento populacional constante, devido ao grande número de nascimentos, ao
lado do número reduzido de morte de adultos e da redução considerável da
mortalidade infantil. Isto se deve ao abandono de certos tabus de controle de
natalidade e à assistência do órgão oficial indigenista. Em 1985, a população Xikrin
totalizava 472 pessoas, 304 na área catete e 172 na área Bacajá. Atualmente, a
população na área catete é de 690 habitantes e na área Bacajá, 362 habitantes.

Um exame etno-histórico mostra que os Kayapó viviam divididos em três grandes


grupos: os Irã'ãmranh-re ("os que passeiam nas planícies"), os Goroti Kumrenhtx ("os
homens do verdadeiro grande grupo") e os Porekry ("os homens dos pequenos
bambus"). Os dois primeiros grupos contavam cada um com três mil pessoas, e o
último cerca de mil, ou seja, uma população total de aproximadamente sete mil
pessoas.

As conseqüências dos primeiros contatos diretos entre os Kayapó e a sociedade


envolvente, fez com que os vários grupos Kayapó abandonassem seu território
tradicional, fugindo para oeste.

A fronteira da colonização deslocava-se sem cessar, deflagrando, cisões internas


entre os simpatizantes e os opositores do estabelecimento de relações amistosas com
a "tribo dos estrangeiros pálidos". Os simpatizantes permaneciam visivelmente
seduzidos pelos numerosos bens de que dispunham os conquistadores. Os
opositores, por sua vez, enfatizavam os perigos envolvidos em tais transações. Com
efeito, os Kayapó já haviam constatado que cada contato direto com os "brancos", por
mais curto que fosse, era seguido de um período em que muita gente morria por
causas desconhecidas: as doenças ocidentais.

Essas tensões internas redundaram em uma série de divisões sucessivas, provocando


a fragmentação dos três grupos principais em diversos subgrupos. Note-se que os
grupos que decidiram viver em amizade com os brancos desapareceram, antes de
1930, dois dos três subgrupos Porekry foram extintos e todo o grande grupo
Irã'ãmranh-re teve a mesma sorte.

Os Goroti Kumrenhtx e os Porekry remanescentes recusaram-se formalmente a


estabelecer contatos amistosos com os brancos, optando pela fuga. Em seu
deslocamento para o Oeste, abandonaram o território recém-ocupado, chegando a
uma região de transição entre a floresta equatorial e as planícies sertanejas. Uma vez
estabelecidos, começaram a atacar sistematicamente todos aqueles que se
aproximavam de seu território. Muito rapidamente, tornaram-se conhecidos por sua
agressividade.

Sob a pressão de políticos locais, o governo decidiu, nos anos 1950 e 1960, enviar
equipes com missão de pacificação. A ameaça da aproximação dos oficiais do
governo conduziu mais uma vez à discórdia, e os grupos kayapó dividiram-se
novamente em pequenas comunidades. Alguns desses grupos, como os Mekrãgnoti
("os homens com grandes pinturas vermelhas no rosto"), embrenharam-se mais para
oeste, estabelecendo-se em um território quase exclusivamente coberto pela floresta
equatorial. Os Kayapó vivem atualmente ao longo do curso superior dos rios Iriri,
Bacajá, Fresco e de outros afluentes do Xingu.

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As aldeias kayapó tradicionais são compostas por um círculo de casas construídas em


torno de uma grande praça descampada. No meio da aldeia, há a casa dos homens,
onde as associações políticas masculinas reúnem-se cotidianamente. Esse centro é
um lugar simbólico, origem e coração da organização social e ritual dualista dos
Kayapó.

Nos anos 1980 e 90, os Kayapó tornaram-se célebres na mídia nacional e


internacional pela ativa mobilização em favor de seus direitos políticos, da demarcação
de suas terras, e também pela forma intensa como se relacionam com os mercados
locais, em busca de produtos industrializados. Suas visitas a Brasília, durante o
processo da Assembléia Constituinte, e sua intensa movimentação em articulações no
Brasil e no exterior marcaram o período. O ponto culminante foi o encontro pan-
indígena de Altamira, em fevereiro de 1989, de grande repercussão na imprensa, em
que lideranças de comunidades Kayapó, junto com representantes de 24 povos
indígenas, além de grupos ambientalistas de vários países, reuniram-se para impedir a
construção do complexo hidrelétrico no rio Xingu, em particular AHE Kararaô.

Na ausência de uma política governamental para a questão indígena, os Kayapó


trataram de obter por conta própria recursos (simbólicos, políticos e econômicos)
fundamentais para sua reprodução social. Não apenas bens de consumo, serviços,
atendimento médico, mas também possíveis parceiros e colaboradores. Deve-se a
isso a necessidade de chamar atenção internacional para o problema da demarcação
de suas terras e de negociar parte dos recursos naturais de suas terras com grandes
empresas.

Parque Indígena do Xingu – PIX

O Parque Indígena do Xingu (PIX) foi oficialmente criado pelo governo federal em
1961, com uma área de 2,8 milhões de hectares. Na década de 1990, com a
demarcação das TI Batovi e Wawy, e mais recentemente com a TI Narowuto, a área
cresceu para cerca de 2,9 milhões de hectares.

O PIX encontra-se numa região de transição ecológica, o que propicia o contato de


diferentes ecossistemas e uma alta diversidade de espécies. Das savanas e florestas
semi-deciduais mais secas ao sul, para a floresta ombrófila amazônica ao norte,
havendo cerrados, campos, florestas de várzea e florestas de terra firme.

O PIX é reconhecido atualmente como refúgio de um conjunto de etnias, abrigando


cerca de 5.020 índios de 16 etnias, com 15 línguas distintas e culturas, distribuídos em
mais de 50 localidades.

Internamente, é dividido em duas regiões: o complexo cultural do Alto Xingu, formado


por nove etnias, como os Yawalapiti, Kamayurá, Wauja, Kalapalo, Narowuto, Kuikuro,
Matipu, Nahukua, Mehinako e Aweti; e o Baixo Xingu (ou região norte), que congrega
algumas das etnias tradicionais na região, como os Kisedje, Tapaiuna e Yudja, além
de outros grupos que foram transferidos para o Parque em períodos mais recentes da
história regional, como os Kaiabi. Entre estas duas regiões situa-se o Médio Xingu,
onde estão presentes os Ikpeng e os Trumai, que dividem o espaço com algumas
aldeias Kaiabi e Kamayurá. Cada grupo possui uma relação muito particular com o
ambiente natural, que inclui conhecimentos peculiares sobre a natureza e os
processos tecnológicos para transformá-la segundo sua necessidade.

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Os limites do Parque sofreram sucessivas alterações até ser formulado seu


anteprojeto, em 1952, e após sua decretação em 1961. Sua delimitação, tal como se
apresenta hoje, não abrange a totalidade dos territórios de ocupação histórica de
povos indígenas tradicionais do Xingu. Além desse fato, entre 1955 e 1975, ocorreram
transferências de outros grupos indígenas (Kayabi, Ikpeng, Tapaiuna e Panará),
moradores das regiões circunvizinhas da bacia do Xingu, para dentro dos limites do
Parque. A configuração final da demarcação do Parque acabou deixando de fora as
cabeceiras dos principais rios formadores do Xingu, colocando-o numa situação de
extrema vulnerabilidade em face da ocupação crescente do seu entorno.

As nascentes dos formadores do rio Xingu vêm sofrendo vários tipos de impactos em
decorrência dos desflorestamentos e da expansão da pecuária e de culturas cíclicas.
Devido a ameaça à sustentabilidade das populações do PIX, algumas iniciativas
(Instituto Sociambiental – ISA; EMBRAPA), tem sido desenvolvidas, com vistas à
recuperação e conservação das matas ciliares e das nascentes do rio Xingu.

Xavantes

Os Xavantes, autodenominados Akwe, constituem, com os Xerente do Tocantins, o


ramo Acuen dos povos da família lingüística Jê do Brasil Central. Atualmente, são
aproximadamente 5.926 pessoas, habitando mais de 70 aldeias nas seis áreas da
parcela de seu território que coincide com a bacia do rio Xingu, na região
compreendida pela Serra do Roncador e pelos vales dos rios das Mortes, Culuene,
Couto de Magalhães e Botovi, no leste matogrossense. Dentro da bacia estão
abrigados nas TIs Chão Preto, Maraiwatsede, Ubawawe, Marechal Rondon,
Parabubure e Pimentel Barbosa.

Na literatura antropológica os Xavantes são conhecidos, principalmente, por sua


organização social de tipo dualista, estando permanentemente divididos em metades
opostas e complementares.

A experiência Xavante de convívio com outros povos indígenas e, principalmente, com


não-índios, vem sendo documentada desde o final do século XVIII. Os Xavantes foram
forçados a migrações constantes, sempre em busca de novos territórios onde
pudessem refugiar-se e, neste percurso, em choque ou alianças circunstanciais com
outros povos.

Trata-se de um povo que aceitou e experimentou convívio cotidiano com os não-índios


no século XIX, quando viveram, ao lado de outros povos da região, em aldeamentos
oficiais mantidos pelo governo da província de Goiás e controlados pelo Exército e
pela Igreja. Posteriormente, rejeitaram o contato e distanciaram-se dos regionais,
migrando, em algum momento entre 1830 e 1860, em direção ao atual Estado do Mato
Grosso, onde viveram sem serem intensivamente assediados até a década de 1930
do século passado. A partir de então, aumentou o interesse de particulares sobre suas
terras, para serem incorporadas na expansão agrícola regional.

Na década de 1970 os Xavantes, envolveram-se com projetos de monocultura


mecanizada de arroz. Logo essa experiência mostrou-se catastrófica, pela
impossibilidade de gerenciarem um modelo de produção altamente dependente de
insumos, e que exigia uma lógica de gestão que lhes foi impossível assimilar e que os
levou a abandonar práticas tradicionais de subsistência, e a se envolver numa disputa

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sem fim com a FUNAI pelos bens e implementos necessários à manutenção deste
modelo de produção. Essa disputa pelos bens gerou também inúmeras cisões
políticas internas, ocasionando o surgimento de dezenas de pequenas aldeias.

Esse período deixou marcas profundas nos Xavantes. Hoje enfrentam um conjunto de
questões que colocam em risco sua sustentabilidade e que estão relacionadas ao
confinamento, ao crescimento populacional, ao sedentarismo de suas aldeias, à
escassez de terras férteis e à diminuição dos recursos que tradicionalmente utilizam
para sua subsistência.

Índios Isolados

No Brasil de hoje, há pelo menos 46 evidências de "índios isolados". Assim são


chamados aqueles cujo contato com o órgão indigenista oficial, a FUNAI, não foi
estabelecido. Há 26 dessas evidências dentro de Terras Indígenas já demarcadas, ou
com algum grau de reconhecimento pelos órgãos federais. Do total das 46
referências, 12 já foram confirmadas pela FUNAI.

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