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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


BACHARELADO EM CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

Amanda Tôrres Sampaio

Recursos Hídricos Subterrâneos no Município de Cruz das Almas-BA

Cruz das Almas


2019
2

Amanda Tôrres Sampaio

Recursos Hídricos Subterrâneos no Município de Cruz das Almas-BA

Trabalho de conclusão de curso, apresentado


à Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia, como parte das exigências para a
obtenção do título de Bacharel em Ciências
Exatas e Tecnológicas.

Orientador: Profº Dr. Jorge Luiz Rabelo


Coorientador: Profº Msc. Vinicius Menezes
Borges

Aprovado em: 01 de março de 2019


3

RESUMO
A água subterrânea é um recurso natural muito importante para o planeta e
bastante estratégico para o abastecimento urbano, contudo, no Brasil esse recurso
ainda é pouco explorado e conhecido. Em Cruz das Almas não é muito diferente, por
esse motivo, o seguinte trabalho tem como objetivo estudar a ocorrência de suas
águas subterrâneas com intuito de fornecer subsídios para gestão dos recursos
hídricos. As águas subterrâneas são formadas pelas águas da chuva que infiltram no
solo preenchendo todos os vazios presente nas rochas e sedimentos. Essas
formações geológicas que armazenam a água são denominadas de aquíferos. Para
caracterização e identificação dos aquíferos foi feito um estudo hidrogeológico a partir
de um inventario com dados e informações secundárias de poços obtidos no SIAGAS,
além de informações auxiliares. O número de poços cadastrados que continham
informações foi muito baixo, porém, foi suficiente para tratar, interpretar e detectar dois
sistemas de aquíferos: sedimentar, localizados nas formações detríticas do Terciário-
Quartenário e cristalino, localizados no escudo cristalino do pré-cambriano existente
por todo território do município.

Palavras-chave: Águas Subterrâneas; Aquíferos Fraturados; Aquíferos


Sedimentares; Estudo Hidrogeológico; Áreas de Explotação.
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação esquemática do ciclo hidrológico ...................................... 10


Figura 2: Esquema demostrando as diferentes zonas horizontais ............................ 12
Figura 3: Representação esquemática dos aquíferos confinados e não confinados. 15
Figura 4: Representação esquemática de um aquífero poroso, fissural e cártico.......16
Figura 5: Representação esquemática dos parâmetros hidrodinâmicos dentro do
poço............................................................................................................................19
Figura 6: Localização do município Cruz das Almas. ................................................ 20
Figura 7: Mapa de elevação do município de Cruz das Alamas. ............................... 21
Figura 8: Normal Climatológica de Cruz das Almas 1981-2010 - Precipitação
Acumulada (mm) ....................................................................................................... 22
Figura 9: Normal Climatológica de Cruz das Almas 1981-2010. Temperatura Média
Compensada - Bulbo Seco, Máxima e Mínima (ºC) .................................................. 22
Figura 10: Mapa de Cruz das almas inserida em duas RPGA .................................. 23
Figura 11: Províncias e subprovíncias hidrogeológicas do Brasil.............................. 25
Figura 12: Mapa domínios hidrogeológicos - Cruz das Almas .................................. 25
Figura 13: Localização dos poços de amostragem. .................................................. 26
Figura 14: Perfil construtivo dos poços 16, 18 e 22 respectivamente. ...................... 34
Figura 15: Mapa de fluxo das águas subterrâneas em Cruz das Almas. .................. 36
Figura 16: Mapa de Cruz das Almas representando os poços com maiores vazões.
.................................................................................................................................. 37

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Pontos e localidades de cada poço cadastrado no SIAGAS. ................... 27


Quadro 2: Resultados dos dados e parâmetros dos poços perfurados em aquíferos
fraturados apresentados de forma percentual. .......................................................... 30
Quadro 3: Resultados dos dados e parâmetros dos poços perfurados em aquíferos
fraturados apresentados na forma de média, quartil e desvio padrão....................... 31
Quadro 4: Poços perfurados em aquíferos porosos .................................................. 32
Quadro 5: Parâmetros dos poços perfurados em aquíferos porosos. ....................... 35
5

LISTA DE ABREVIATURAS

ABAS - Agência Brasileira de Águas Subterrâneas

ANA - Agência Nacional de Águas

CBPM - Companhia Baiana de Pesquisa Mineral

CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

EMBASA - Empresa Baiana de Águas e Saneamento

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INEMA - Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia

MMA - Ministério do Meio Ambiente

PIB - Produto Interno Bruto

RPGA - Região de Planejamento e Gestão das Águas

SGB - Serviço Geológico do Brasil

SIAGAS - Sistema de Informação de Águas Subterrâneas


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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
2 OBJETIVOS..............................................................................................................8
2.1. Objetivo geral........................................................................................................8
2.2. Objetivos Específicos............................................................................................8
3 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................................9
3.1. Águas subterrâneas..............................................................................................9
3.2. Principais vantagens do uso das águas subterrâneas........................................17
3.3. Pesquisa hidrogeológica......................................................................................18
4 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................20
4.1. Caracterização da área de estudo.......................................................................20
4.2. Procedimento metodológico para obtenção e tratamento dos dados para
caracterização das unidades aquíferas......................................................................26
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................29
5.1. Identificação e caracterização dos sistemas de aquíferos..................................29
5.2. Fluxo das águas subterrâneas............................................................................36
5.3. Áreas potenciais de exploração...........................................................................37
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................40
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................41
8 ANEXOS..................................................................................................................45
ANEXO I – QUADRO DE VALORES HIDRODINÂMICOS DOS POÇOS
CADASTRADOS NO SIAGAS (AQUÍFERO FRATURADO).......................................45
ANEXO II – EXEMPLO DE FICHA TÉCNICA COMPLETA DE POÇO
CADASTRADO NO SIAGAS .....................................................................................46
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1. INTRODUÇÃO
A água subterrânea possui grande importância no abastecimento público e
privado de inúmeros municípios brasileiros. Segundo estudos preliminares, no Brasil,
30-40% da população é abastecida com águas subterrâneas. No estado de São Paulo
essa porcentagem chega a 70%, sendo abastecimentos totais ou parciais. No
semiárido do Nordeste, os mananciais subterrâneos possuem grande significativa,
principalmente nas comunidades rurais; assim como para as irrigações e criações de
animais (HIRATA, 2000; HIRATA et al., 2010).

Embora as águas subterrâneas sejam tão importantes e representem 97% da


água doce líquida do planeta, essa importância é contrastada com a carência de
informações dos reservatórios subterrâneos do país. Isso pode ser explicado, pelo
motivo dos rios brasileiros possuírem as maiores descargas de água doce do mundo
e por isto, o país desenvolveu uma cultura tecnológica que tem dado preferência à
utilização das águas superficiais (REBOUÇAS, 2006; MANZIONE, 2015).

Mas com o passar dos anos, grande parte dos rios brasileiros estão se tornando
inaptos para abastecimento, em geral, por conta da poluição e ocorrência de secas,
tornando-se necessário o conhecimento das nossas águas subterrâneas como
alternativa econômica e de integração dos dois recursos para garantir a
sustentabilidade do meio ambiente. Cruz das Almas, como muitas outras cidades
brasileiras, possui sistema de abastecimento urbano por águas superficiais (rio
Paraguaçu) e são poucos os casos de abastecimento por poços registrados, podendo
esse número ser maior na hipótese de existir poços irregulares.

Por esse motivo, afim de fornecer informações sobre a ocorrência de águas


subterrâneas para melhor aproveitamento dos recursos hídricos no município, este
presente trabalho tem como objetivo fazer um levantamento das características do
munícipio, identificar e caracterizar os aquíferos da região para que seja determinado
possíveis áreas de exploração.
8

2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral

Realizar estudo preliminar quantitativo sobre a ocorrência de águas


subterrâneas no município de Cruz das Almas visando fornecer subsídios para gestão
de recursos hídricos no município.

2.2. Objetivos específicos


• Levantamento das principais características fisiográficas e climáticas da
região;
• Identificar e caracterizar os tipos de aquíferos;
• Determinar áreas potenciais de exploração.
9

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Embora os recursos hídricos subterrâneos sejam utilizados a milhares de anos,


foi apenas a partir do século XVII que o homem passou a entender, de fato, como a
água se tornava subterrânea. Muitos acreditavam que o mar era a fonte,
transformando uma parte em água doce e transportando-a por longos canais de baixo
da terra. A ideia de recarga pela infiltração da água da chuva não era muito aceita e
nos dias atuais muitas pessoas ainda tratam as águas subterrâneas como um
mistério, uma vez que, a mesma é completamente invisível até chegar na superfície
em forma de nascentes ou em poços (CLEARY, 2007).

Mesmo no século XXI, com todo avanço tecnológico, existem poucos dados
detalhados e quantitativos sobre a disponibilidade, volume, uso e distribuição
geográfica dos recursos hídricos subterrâneos no Brasil e em todo o mundo (CLEARY,
2007). Nesse capitulo, será feita uma abordagem sobre os conceitos básicos das
águas subterrâneas, sua importância e a relevância de se fazer um levantamento de
dados da mesma para fins econômicos e sociais.

3.1. Águas subterrâneas

Água subterrânea é considerada toda água que está presente no subsolo


abaixo do nível freático preenchendo os espaços vazios entre os sedimentos. Está
presente nos poros das rochas sedimentares e nas falhas, fissuras e fraturas das
rochas compactadas. Esses espaços vazios possuem dimensões milimétricas,
contudo aparecem em tão grande quantidade que armazenam 97% da água doce
liquida do planeta (REBOUÇAS, 2006).

3.1.1. Origem da água subterrânea

No que diz respeito à origem das águas subterrâneas, de acordo com


Rebouças (2006), possuem três principais, sendo elas: conata, juvenil e meteórica.

A água conata, (água de formação) (REBOUÇAS, 2006) ou água fóssil


(MANZIONE, 2015), recebem esse nome por ficarem confinadas nos poros das
rochas sedimentares desde sua formação. Consequência disto é o alto teor de sais
presente na água por conta da falta de recargas e do longo tempo de contato entre
água/rocha. Por fim, essas águas estão presentes a profundidades superiores aos
4.000 m e são mais comuns nas rochas que formam os aquíferos confinados.
10

As águas juvenis ou águas magmáticas, como o próprio nome já diz, é oriunda


dos processos que ocorrem no interior da Terra, no magma. Não se sabe ao certo se
se estas águas participaram do ciclo hidrológico no passado, mas acredita-se que,
pela primeira vez, ela esteja alcançando a superfície do planeta (MANZIONE, 2015).

As de origem meteórica representam 97% dos estoques de água doce


disponível, sendo assim é a mais importante entre as outras. Seu processo de recarga
se dá através do ciclo hidrológico pela infiltração da água da chuva no subsolo
(REBOUÇAS, 2006).

O ciclo hidrológico é encarregado por toda circulação da água no planeta,


principalmente da água subterrânea. De forma simplificada, é um sistema em que a
água evapora dos oceanos pela energia do sol e vai para a atmosfera. Daí, com a
força da gravidade, a água precipita nos continentes e grande parte é infiltrada no
solo, posteriormente serão descarregadas novamente de forma superficial e
subterraneamente nos oceanos (MANOEL FILHO, 2008). Esquema do ciclo
hidrológico pode ser observado na Figura 1.

Figura 1: Representação esquemática do ciclo hidrológico. (Fonte: MANOEL FILHO, 2008)


11

Quando a água precipitada chega à superfície, grande parte infiltra nos solos e
rochas, enquanto a outra escoa por conta do relevo ou saturação do solo. Existem
vários fatores que influenciam na velocidade e na quantidade da água infiltrada
(KARMANN, 2000), sendo os principais:

• Tipo e condições dos materiais terrestres: solos sedimentares e rochas


muito fraturadas ou porosas são bastante permeáveis. Em contrapartida,
rochas cristalinas pouco fraturadas ou solos argilosos dificultam a infiltração.
• Cobertura vegetal: a presença de vegetação contribui para a infiltração, pois
evita a compactação do solo. Além disto, as raízes das árvores e plantas abrem
caminho para a água no solo. No entanto, em áreas bastante florestadas pode
ocorrer interceptação da precipitação na cobertura vegetal;
• Topografia: quanto mais plano o relevo for, maior será a infiltração da água da
chuva no subsolo;
• Precipitação: lugares que possuem chuvas bem distribuídas durante o ano
favorecem a recarga;
• Ocupação do solo: de todos os fatores, esse de longe é o mais preocupante.
A compactação artificial do solo ocasionada pelo homem, prejudica
extremamente a infiltração.

3.1.2. Distribuição vertical da água no subsolo

Durante a infiltração, a água existente nos poros percorre por duas principais
zonas horizontais, correspondentes às zonas não saturadas e saturadas que são
diferenciadas pelo preenchimento de água nos vazios do solo e rocha. Segundo
Manoel Filho (2008) e ABAS (2018), suas características são:

Na zona não saturada, conhecida também como zona de aeração ou vadosa,


está situada entre a superfície do terreno e o lençol freático. Nela, o solo apresenta-
se parcialmente preenchido por água, ou seja, há muita presença de gases e vapor
d’água decorrente de matéria orgânica e da respiração das raízes das plantas, além
de ocorrer o fenômeno de filtração e autodepuração da água. Faz parte dessa zona:
a zona de umidade do solo, a zona intermediária e a franja de capilaridade.

A zona de umidade do solo ou zona de evapotranspiração é a parte mais


superficial, podendo apresentar espessura variando de centímetros, em locais com
12

pouca ou sem vegetação, até vários metros em regiões com cobertura vegetal
excessiva. Nesta zona a água é utilizada pelas plantas e ocorre muita perda para o
meio ambiente.

A zona intermediaria está situada entre a zona de umidade do solo e da franja


de capilaridade, logo, possui mais umidade que a primeira e menos que a segunda
zona. Existem casos onde a zona intermediaria pode não existir por conta do nível
freático está muito próximo da superfície, havendo a ocorrência da zona capilar até a
superfície. Exemplo dessas regiões são os brejos.

A franja de capilaridade se estende até o limite de ascensão capilar da água.


Sua espessura vai depender, principalmente, do tipo de solo e da distribuição dos
tamanhos dos poros. Como a umidade decresce do lençol freático em direção à
superfície, a parte inferior dessa zona se encontra praticamente saturada, enquanto
que a parte superior, apenas os pequenos poros estão preenchidos por água.

A zona saturada encontra-se logo após a franja de capilaridade. É a região em


que todos os poros, fissuras e fraturas presentes no subsolo estão completamente
preenchidos por água. A água que infiltra no solo, chega na zona saturada pela força
da gravidade até que não consegue penetrar mais. A Figura 2 está esquematizando
as duas zonas.

Figura 2: Esquema demostrando as diferentes zonas horizontais. (Fonte: MANOEL FILHO, 2008)
13

A zona saturada e a zona de aeração são separadas pela superfície freática. A


água presente nessa superfície possui pressão atmosférica ou pressão de referência
igual a zero. Dependendo das condições climáticas e geológicas da região, o nível
freático pode permanecer a grandes profundidades ou se aproximar da superfície do
terreno convertendo-se em nascentes (ABAS, 2018).

Além dessas zonas, o subsolo apresenta unidades geológicas que podem


proporcionar ou não no movimento e na ocorrência das águas subterrâneas. Essas
unidades são as camadas confinantes e apresentam comportamentos e
características hidrológicas diferentes (AZEVEDO; ALBUQUERQUE FILHO, 1998
apud MARTELLI, 2012). São elas:

Aquicludes – são formações geológicas que têm capacidade de absorver


lentamente grandes quantidades de água, porém não conseguem transmitir volumes
com velocidade significativa para abastecer poços ou nascentes. Como é o exemplo
das camadas de argilas, que são porosas e não conseguem transmitir água.

Aquitardos – qualquer estrato ou unidade geológica que são capazes de


armazenar e transmitir água de maneira muito lenta, geralmente de um aquífero para
outro. Em regiões muito secas, podem até ser considerados como aquíferos, mesmo
produzindo pequenas quantidades de água. Como exemplo de aquitardo, temos as
camadas de silte, que possuem baixa permeabilidade, podendo armazenar e
transmitir água a baixas taxas.

Aquifugos – unidades geológicas que não absorvem e nem transmitem água


por não possuírem poros interligados. Podem fazer parte dessas camadas todas as
rochas duras, cristalinas (não-fraturadas), granitos, mármores entre outras sem
alteração.

3.1.3. Formações aquíferas

Aquíferos são formações geológicas que têm capacidade de absorver,


armazenar e transmitir quantidades significativas de água, de forma natural, através
de seus poros, fraturas e fissuras. São altamente permeáveis e dependendo das suas
condições de recarga podem abastecer até cidades. A maioria dos aquíferos ao redor
do mundo, que possuem alta vazão, são constituídos de areia e cascalhos
14

inconsolidados. Podem variar quanto à pressão da água e aos tipos de porosidade


(CLEARY, 2007).

3.1.3.1. Classificação quanto ao confinamento

Os aquíferos, segundo a pressão da água, podem sem classificados como


livres ou confinados.

Os aquíferos livres (ou não confinados), ou ainda freático, são aqueles cuja
superfície freática está sob pressão atmosférica. Conforme Manzione (2015) e Manoel
Filho (2008), possuem as seguintes características:

• Seu limite superior é a superfície de saturação ou freática;


• Possui recarga direta em toda extensão de formação;
• Possui alta permeabilidade no topo;
• Suas águas se renovam com mais facilidade que os confinados;
• Estão mais expostos a contaminação e;
• São áreas de recarga dos aquíferos confinados.

Os aquíferos confinados são aqueles cujo o topo da água encontra-se sob


pressão superior à superfície potenciométrica. Conforme Manzione (2015) e Manoel
Filho (2008), possuem as seguintes características:

• Estão sobrepostas por camadas impermeáveis ou semipermeáveis;


• Dependendo das características das camadas limítrofes, podem ser drenantes
ou não-drenantes;
• Os aquíferos drenantes possuem pelo menos uma das camadas limítrofes
semipermeável, permitindo a entrada ou saída de fluxos de água;
• Os não-drenantes possuem as duas camadas limítrofes, superior e inferior,
impermeáveis;
• Suas recargas se dão apenas nos lugares onde o aquífero emerge a superfície.

A representação esquemática dos aquíferos confinados e livres pode ser vista


na Figura 3. Os poços perfurados nos aquíferos confinados possuem o nível
potenciométrico da água maior que a do nível freático, podendo até jorrar água na
superfície, como é o caso dos poços artesianos. Os poços perfurados nos aquíferos
livres são poços comuns com nível da água igual ao do lençol freático.
15

Figura 3: Representação esquemática dos aquíferos confinados e não confinados. (Fonte: KARMANN,
2000)

3.1.3.2. Classificação quanto aos tipos de porosidade

A porosidade é uma característica física que relaciona o volume de poros e o


volume total de um determinado material. Nos materiais terrestres existem dois tipos:
porosidade primaria e porosidade secundaria. A porosidade primaria é aquela em que
os poros surgiram juntamente com a formação da rocha ou sedimento. A porosidade
secundaria, por sua vez, é oriunda da deformação de rochas ígneas, metamórficas ou
sedimentares por fissuras ou fraturas. Ainda na porosidade secundaria, existe um
caso especial de porosidade cárstica, que ocorre em rochas solúveis, abrindo vazios
dentro da rocha por reação química de dissolução (KARMANN, 2000). Sendo assim,
os aquíferos podem ser classificados como:

- Porosos, granulares ou intergranulares, porosidade primaria;

- Fissurais ou de fraturas, porosidade secundaria;

- Cárstico ou de condutos, porosidade cárstica.

A representação esquemática desses aquíferos pode ser vista na Figura 4.


16

Figura 4: Representação esquemática de um aquífero poroso, fissural e cártico, respectivamente, da


esquerda para direita. (Fonte: SILVA, 2018)

Aquífero poroso ou sedimentar – são os aquíferos mais importantes entre os


demais por armazenarem grandes volumes de água e por sua ocorrência em grandes
extensões. São formados geralmente por rochas sedimentares e sedimentos não
consolidados (arenitos, siltitos, areias e cascalhos) (FIESP, 2005). Os aquíferos em
sedimentos inconsolidados possuem muita vantagem no aproveitamento da água,
uma vez que, são fáceis de perfuração e escavação, os níveis de água são geralmente
rasos, situam-se em locais normalmente favoráveis à recarga e possuem elevada
capacidade de infiltração (BORGES, 2018).

Aquífero fissural ou fraturado – são formados, principalmente, a partir de


rochas ígneas e metamórficas que sofreram deformações tectônicas ocasionando
falhas. São mais produtivos nos primeiros 50 metros, pois com a profundidade as
falhas tendem a se fechar. Possuem capacidade de armazenar e conduzir água
apenas em suas fraturas, fissuras e fendas. Por esse motivo, a depender da
quantidade de fraturas, ao perfurar um poço, será muito difícil tal poço ser produtivo.
Irá depender se o poço interceptar uma fratura e essa fratura ser capaz de conduzir
água (FIESP, 2005; MANZIONE, 2015). No Brasil, ocupam uma área de
aproximadamente 4,6 milhões de km², correspondente a 53,8% do território nacional
(ABAS, 2018).

Aquífero cárstico ou de condutos – são os menos comuns no Brasil. Ocorrem


em rochas carbonáticas e constituem um tipo particular de aquífero fraturado. Suas
17

fraturas são geradas a partir da dissolução do carbonato pela água e podem alcançar
enormes aberturas, até mesmo cavernas, como é o caso das regiões com grutas
calcarias (FIESP, 2005).

3.2. Principais vantagens do uso das águas subterrâneas

Já se sabe que as águas subterrâneas representam maior parte da água doce


líquida no planeta e, por esse motivo, deve ser preferida para abastecimento na
maioria dos casos. Porém, existem várias outras vantagens, principalmente
econômicas, para optar pelo seu uso. Algumas vantagens são citadas por Rebouças
(2006):

- Uma das principais vantagens econômicas é que as águas subterrâneas


passam por processos físico-bio-geoquímicos de filtração e depuração que ocorrem
no solo e subsolo não saturado, diminuindo os gastos com tratamentos por
mecanismos convencionais em muitos casos;

- Outro fator referente a sua qualidade, é que os mananciais subterrâneos, em


geral, estão mais protegidos dos agentes de contaminação: vazamento de esgotos,
vazamento dos postos de gasolina, não coleta do lixo que se produz nas cidades e
industrias, uso intensivo de resíduos químicos na agricultura, dentre outros;

- Além disso, o manancial subterrâneo não corre o risco de sofrer os processos


de assoreamento que ao longo do tempo reduzem a capacidade dos reservatórios
naturais ou artificiais de água;

- Uma outra vantagem econômica para o uso das águas subterrâneas é que os
aquíferos podem apresentar grandes extensões de estoque de água, podendo ser
captada onde houver a demanda, sem custos com obras de tratamento ou adução;

- Com os avanços tecnológicos, os riscos dos investimentos e os prazos de


execução de obra com poços são reduzidos rapidamente;

- Ademais, a captação de águas subterrâneas possui um volume inicial de


investimento muito menor, possibilitando ainda o seu escalonamento em função do
crescimento das demandas.
18

Para que a captação e uso das águas subterrâneas sejam feitos de maneira
correta, sem haver superexploração ou prejudicar o meio ambiente, é necessário o
conhecimento hidrogeológico da área.

3.3. Pesquisa hidrogeológica

A pesquisa hidrogeológica é compreendida como um conjunto de estudos que


possibilita a localização e caracterização dos aquíferos, dos quais pode se captar
água em quantidade e qualidade pretendida sem prejudicar o meio ambiente. Dessa
maneira, a pesquisa pode ser dividida em duas vertentes: em hidrogeologia qualitativa
e hidrogeologia quantitativa. A primeira tem como principais objetivos estudar padrões
de qualidade, geoquímica das águas subterrâneas, contaminação das águas
subterrâneas e vulnerabilidade à poluição dos aquíferos, em quanto que a segunda é
voltada para estudos hidrodinâmicos, principalmente para capacidade de explotação
dos aquíferos (FEITOSA et al., 2008).

Ambas necessitam de métodos de estudos básicos voltados para o


conhecimento hidrogeológico, assim como estudos auxiliares relacionados às
características fisiográficas da região (FEITOSA et al., 2008). Nessa seção será feita
uma pequena abordagem aos parâmetros hidrodinâmicos referente a hidrogeologia
quantitativa utilizada nessa pesquisa.

3.3.1. Parâmetros Hidrodinâmicos

Na pesquisa hidrogeológica quantitativa, entre outras, é fundamental o acesso


às águas subterrâneas, do qual normalmente se dá por meio da perfuração de poços.
Além disso, deve-se fazer monitoramento e inventário de todos os poços contendo
informações sobre localização, proprietário, tipo de poço, aquíferos captados,
características construtivas, parâmetros hidrodinâmicos, entre outros (ver exemplo de
ficha técnica completa de poço no ANEXO II), (FEITOSA et al., 2008).

Os parâmetros hidrodinâmicos são uma das principais informações para


caracterizar e calcular a capacidade de exploração do aquífero. São coletadas quando
se inicia a operação do poço e trata-se de medições e observações para avaliar e
acompanhar sua eficiência. De acordo com a FIESP (2005), são alguns deles:
19

• Nível Estático (NE): nível piezométrico do poço, ou seja, é a posição em que a


água se encontra em repouso dentro do poço. É medida em metros a partir da
superfície do terreno;
• Nível Dinâmico (ND): corresponde á profundidade da água dentro poço quando
o mesmo está sendo bombeado. Deve ser medida pelo menos após 12 horas
de bombeamento a vazão constante;
• Vazão (Q): É o volume de água medido durante o bombeamento do poço por
um determinado tempo. A unidade de medida é m³/h ou l/h.
• Rebaixamento (s): é a diferença do nível da água dentro do poço quando está
em repouso e sendo bombeada, ou seja, NE - ND;
• Vazão especifica ou capacidade específica (Q/s): é a relação entre a vazão e
o rebaixamento, está relacionado com a capacidade efetiva de produção de um
poço.

Na Figura 5, pode ser observado os parâmetros hidrodinâmicos de forma


esquemática em dois perfis de poços.

Figura 5: Representação esquemática dos parâmetros hidrodinâmicos dentro do poço. (Fonte: ANA,
2016)

Esses parâmetros são apenas algumas informações que se deve ter para um
estudo hidrodinâmico. Ainda é possível calcular algumas propriedades importantes
dos aquíferos, como a condutividade hidráulica, a transmissividade e porosidade.
20

4. MATERIAIS E METODOS

Esse trabalho se caracteriza como uma pesquisa de cunho descritivo,


buscando um estudo mais detalhado sobre a ocorrência das águas subterrâneas em
Cruz das Almas. Para o desenvolvimento foi necessária a caracterização fisiográfica
e socioeconômica da área de estudo e levantamento de dados secundários de poços
presente na região.

4.1. Caracterização da área de estudo

O município de Cruz das Almas está localizado no estado Bahia, cerca de 146
km de distância da capital, Salvador (Figura 6). Limita-se com os municípios:
Governador Mangabeira (ao norte), São Felipe (ao sul), Conceição do Almeida e
Sapeaçu (ao oeste) e São Felix (ao leste), (CRUZ DAS ALMAS, 2018). Está situado
no recôncavo sul da Bahia, possui extensão territorial de 139,117 km², população
estimada de 62.871 habitantes e densidade demográfica de 402,12hab/km² (IBGE,
2018a).

Figura 6: Localização do município Cruz das Almas. (Fonte: MEDEIROS, 2018)

A economia da cidade é voltada para o setor primario, com destaque para as


plantações de fumo, laranja, limão tahiti e mandioca. Além disso, possui um polo
industrial calçadista e têxtil que emprega centenas de pessoas (CRUZ DAS ALMAS,
2018). Seu PIB per capita em 2016 foi de 14.897,85 reais e o IDHM em 2010 de 0,699
(IBGE, 2018a). O município possui sistema de abastecimento de água e esgotamento
sanitário implantado e operado pela EMBASA (EMBASA, 2018). No censo de 2008 o
total de economias ativas abastecidas residenciais foram de 13.335 (IBGE, 2018b).
21

• Bioma e vegetação

O municipio de Cruz das Almas faz parte do Bioma Mata Atlântica, com
predominância da Floresta Estacional Semidecidual com vegetação secundaria e
bastante atividades agrárias (IBGE, 2004). De acordo com Neves (2014), existem dois
remanescentes de Mata Atlântica no município: Mata de Cazuzinha com 13,6808 ha
e Remanescente da Embrapa Mandioca e Fruticultura com 1,9122 ha.

• Geomorfologia

Cruz das Almas está enserida na região geomorfológica dos Baixos Planaltos,
que pertence ao domínio dos Planaltos Inumados. Sendo assim, seu relevo é formado
predominantemente por superfícies de aplainamento. Faz parte da unidade de
Tabuleiros Interioranos, caracterizado por topos concordantes pouco elevados,
apresentando trechos que já foram submetidos á dissecação intensa devido a uma
considerada densidade de canais fluviais (BRASIL, 1981). A altitude do município
varia entre 140 m e 270 m (Figura 7), (RODRIGUES, 2003).

Figura 7: Mapa de elevação do município de Cruz das Alamas. (Fonte: RODRIGUES, 2003)
22

• Clima

Cruz das Almas possui um clima tropical. De acordo com a classificação de


Köppen-Geiger está no grupo climático Af - Clima Equatorial (CLIMATE, 2018).
Conforme o INMET (2018), existe uma precipitação significativa todos os meses do
ano, com médias máxima de 142,6 mm no mês de junho e mínima de 54,8 mm no
mês de outubro, num total de 1117,4 mm ao ano (Figura 8). Quanto a
evapotranspiração potencial, o município apresenta uma média anual de 127,9 mm.

Ano 1117,4
Dezembro 59,5
Novembro 76,8
Outubro 54,8
Setembro 79,6
Agosto 91,3
Julho 122,8
Junho 142,6
Maio 122,8
Abril 136,5
Março 97,5
Fevereiro 70,2
Janeiro 63,0
0,0 200,0 400,0 600,0 800,0 1000,0 1200,0

Figura 8: Normal Climatológica de Cruz das Almas 1981-2010 - Precipitação Acumulada (mm). (Fonte:
INMET, 2018)

Como pode ser observado na Figura 9, a temperatura do município varia ao


longo do ano entre 18,30ºC e 31,9ºC. Fevereiro é considerado o mês mais quente
com média de 25,9ºC. Enquanto que agosto é o mês mais frio, com média de 21,5ºC.
35,00
Média Máxima Mínima
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano
Média 25,80 25,90 25,80 24,70 23,60 22,20 21,60 21,50 22,50 23,90 24,90 25,50 24,00
Máxima 31,80 31,90 31,30 29,40 28,00 26,20 25,90 26,00 27,50 29,30 30,30 31,30 29,10
Mínima 21,70 21,90 22,00 21,50 20,60 19,30 18,40 18,30 19,00 20,20 21,30 21,70 20,50

Figura 9: Normal Climatológica de Cruz das Almas 1981-2010. Temperatura Média Compensada -
Bulbo Seco, Máxima e Mínima (ºC). (Fonte: INMET, 2018)
23

• Hidrografia

De acordo com a Resolução Nº 32 de 15/10/2003, instituída pelo Conselho


Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), o Brasil está dividido em 12 regiões
hidrográficas e o município de Cruz das Almas encontra-se na Região Hidrográfica
Atlântico Leste (ANA, 2018). Além disso, essa região se divide em 8 unidades
hidrográficas e em 14 RPGA (Regiões de Planejamento e Gestão das Águas). Mais
de 60% do território de Cruz das Almas está inserida na unidade Paraguaçu e na
RPGA do Rio Paraguaçu (Figura 10). Conforme o PERH, 2004/BA, as RPGA foram
criadas por conta da grande extensão do Estado Bahia e complexidade das suas
bacias hidrográficas (ANA, 2015; RPGA, 2014; INEMA, 2019).

Figura 10: Mapa de Cruz das almas inserida em duas RPGA. Ao Norte: RPGA Rio Paraguaçu. Ao Sul:
RPGA do Recôncavo Sul. (Fonte: adaptado de RPGA, 2014)

Os principais afluentes do município, do qual fazem parte do rio Paraguaçu,


são os riachos: Capivari, de Tomaz, Jaguaripe, Caminhoá, Poções, Araçás, da Estiva
e Laranjeira. Encontram-se também lagoas, como a lagoa da Tereza Ribeiro e o
Engenho da Lagoa (CRUZ DAS ALMAS, 2018).

• Geologia e solos

De acordo com o Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM a área de


estudo apresenta duas unidades geológicas distintas, Complexo Granulítico-
charnockitico do arqueano e Coberturas Detríticas do Quaternário e Terciário.
24

Ao Leste predomina-se as rochas ígneas e metamórficas dos complexos


granitoides, como: charnockito, charnoenderbito, enderbito e gnaisse granulítico de
origem pré-cambriana, considerada as formações geológicas mais antigas do planeta
(SILVA, 2002). As Coberturas Detríticas estão associadas aos ciclos de formação dos
aplainamentos do município no final do Fanerozóico recobrindo as unidades pré-
cambrianas. Em geral, estão distribuídas em formatos de “ilhas” predominantemente
á Oeste e são constituídas por material pouco a moderadamente consolidados de
areia, silte e argila (IBGE, 1999).

O solo dominante na região é o latossolo amarelo. As características desse solo


são: profundos, desenvolvidos principalmente de rochas sedimentares, apresenta
composição argilosa ou areno-argilosa e são encontrados nas áreas de relevo plano
e pouco ondulado dos tabuleiros onde estão as principais explorações agrícolas do
município. Em geral, apresentam em seus perfis horizontes coesos - consistência
dura quando seco (RODRIGUES, 2003; OLIVEIRA NETO; SILVA, 2018).

• Hidrogeologia local

O Brasil foi dividido em 10 provincias hidrogeológicas como pode ser visto na


Figura 11. São regiões homogêneas, da qual seus limites não coincidem
necessariamente com os das bacias hidrográficas. Essas provincias são formadas por
sistemas aquiferos que apresentam condições semelhantes de armazenamento,
circulação e qualidade de água (MMA, 2018).

O município de Cruz das Almas se encontra no Escudo Oriental do Nordeste


onde há a predominancia de rochas cristalinas (gnaisses, granitos, quartzitos, entre
outras). Essa província faz parte do sistema de aquiferos fissurais resultante dos
esforços tectônicos sofridos. Esta formação, em geral, possui pequena disponibilidade
hídrica devido às condições deficientes de circulação das águas subterrâneas. Suas
águas possuem alto teor de sais devido as condições de clima semiárido e longo
tempo em contato com a rocha (MENTE, 2008).
25

Figura 11: Províncias e subprovíncias hidrogeológicas do Brasil. (Fonte: MMA, 2007)

Contudo, Cruz das Almas apresenta duas unidades hidrogeológicas (Figura


12), ao leste Caraíba - enderbitos e ao oeste Coberturas detríticas indiferenciadas o
que pode levar a ocorrencia de diferentes aquíferos (SIAGAS, 2019).

Figura 12: Mapa domínios hidrogeológicos - Cruz das Almas. (Fonte: adaptado de SIAGAS, 2019)
26

4.2. Procedimento metodológico para obtenção e tratamento dos


dados para caracterização das unidades aquíferas

• Coleta de dados

Foram utilizados dados secundários a partir da consulta ao banco de dados


geológicos e hidrogeológicos dos poços referentes á área de estudo. Dados esses,
cadastrados através do Sistema de Informação de Águas Subterrâneas – SIAGAS,
programa operado pelo Serviço Geológico do Brasil – SGB. Ele é constituído por uma
base de dados constantemente atualizada, e de módulos capazes de realizar
consulta, pesquisa, entres outros (SIAGAS, 2019).

Foram coletados dados que continham informações sobre a localização dos


poços, geologia (perfil geológico dos poços) e hidrogeologia (parâmetros
hidrodinâmicos). A pesquisa se delimitou aos poços cadastrados no SIAGAS, que
totalizam 36 em diferentes localidades. No Quadro 1 pode ser visto os pontos e
localização de cada poço cadastrado e na Figura 13 a localização no mapa do
município.

Figura 13: Localização dos poços de amostragem. (Fonte: adaptado de SIAGAS, 2019)
27

Quadro 1: Pontos e localidades de cada poço cadastrado no SIAGAS.


Latitude Longitude
Nº Ponto Localização Cota (m)
decimal decimal
1 2900002623 Itapora -12,643056 -39,164722 222
2 2900002624 Cruz Das Almas -12,669444 -39,105555 224
3 2900002625 Cruz Das Almas -12,666666 -39,105555 235
4 2900002626 Cruz Das Almas I -12,655555 -39,105555 206

5 2900002627 Cruz Das Almas 2 -12,654722 -39,106388 186


6 2900005376 Lagoa Seca -12,736944 -39,136666 194
Fazenda Bom Jesus
7 2900005485 -12,723333 -39,106666 226
Da Lapa
8 2900005486 Aracas -12,709444 -39,1275 222
9 2900005607 Piabas -12,646111 -39,198333 212
10 2900005608 Umbaubeira -12,713333 -39,120555 224
11 2900005609 Caminho A II -12,731666 -39,096944 198
12 2900005610 Lagoa Do Cedro -12,639444 -39,175833 219
13 2900005611 Umbaubeira -12,697222 -39,155555 200
14 2900005612 Tua De Baixo -12,727222 -39,132222 220
15 2900005642 Capivari -12,6525 -39,129444 217
16 2900005643 Tereza Ribeiro -12,695833 -39,143888 216
17 2900005644 Caminho A -12,718333 -39,094444 199
18 2900005645 Pumba Dois -12,665 -39,166666 201
19 2900005744 EMBRAPA II -12,680555 -39,086388 220
20 2900005745 EMBRAPA I -12,681111 -39,086944 223
21 2900022783 Tapera/Corta Jaca -12,725 -39,081111 233
22 2900022784 Tiririca -12,668056 -39,180833 214
23 2900022785 UFRB IV -12,657778 -39,088056 218
24 2900022786 Cadete -12,714722 -39,153611 208
25 2900022787 UFRB I -12,657778 -39,083611 216
26 2900022788 UFRB III -12,6575 -39,088889 217
27 2900022789 UFRB II -12,662778 -39,085833 223
28 2900023867 UFRB -12,658333 -39,089167 218
29 2900024463 Sapucainha -12,658056 -39,056389 212
30 2900024464 Engenho São João -12,698333 -39,053889 210
Tuá-Cumbe-
31 2900024466 -12,705 -39,059167 207
Tintureiro
32 2900025017 Umbaubeira -12,711944 -39,13 220
33 2900025019 Araças -12,726111 -39,141667 173
34 2900029992 Boca Da Mata -12,678056 -39,17 222
35 2900029993 Pumba Dois -12,661389 -39,170833 210
36 2900030795 Tintureiro -12,703333 -39,06 201
Fonte: SIAGAS (2019)
28

• Análise dos dados

Os dados coletados foram analisados, interpretados e divididos em duas


planilhas no Microsoft Office Excel referentes aos tipos de aquíferos. Para os dados
quantitativos, como profundidade dos poços, nível estático, número e profundidade de
entradas d’água, vazão específica e vazão de estabilização, foram tratados com
estatística descritiva: média, desvio padrão, quartis e percentis, utilizando as
ferramentas do próprio programa.

• Determinação da superfície freática

Para a determinação da superficie freática no município, foram utilizados dados


de nível estático dos poços bem como suas respectivas cotas. As informações de nível
estático foram extraidas do SIAGAS. Já as cotas foram extraídas do mapa de
altimetria através do software Google Earth Pro. A superfície potenciométrica foi
determinada através da subtração dos valores de cota (altitude) pelo nível estático. A
interpolação dos valores para representação cartográfica foi realizada através do
software ArcGIS 2013 utilizando-se a ferramenta Topo to Raster.
29

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Identificação e caracterização dos sistemas de aquíferos

A identificação e caracterização dos aquíferos foram feitas através de


interpretações dos perfis construtivos dos poços (porções isoladas por cimentação,
filtros, entre outros) e dados hidrogeológicos. Dos 36 poços cadastrados no SIAGAS,
foi possível observar que o sistema de aquiferos fraturados predomina, em geral, em
relação aos aquíferos porosos. Em relação ao uso da água, foi verificado entre os
poços cadastrados que possuiam informações, que a maioria é para abastecimento
urbano, com um único caso de abastecimento doméstico/animal.

• Caracterização Hidrogeológica dos Aquíferos Fissurais

Cruz das Almas apresenta uma predominância de aquíferos fraturados devido


a ocorrência do escudo cristalino (constituido de rochas ígneas e metamórficas) que
se estende por grande parte do nordeste e que está presente em todo município. Suas
águas circulam por meio de fraturas interconectadas, caracterizando um sistema
anisotrópico. De acordo com as características fisiográficas do município, a forma de
recarga é direta e ocorre, principalmente, nas áreas mais dissecadas, onde há uma
densidade maior de canais fluviais e nas regiões mais planas de coberturas
sedimentares, facilitando a infiltação da água da chuva.

Foram identificados 27 poços que continham esse sistema de aquíferos,


desses 27 poços, 3 se encontram secos e 2 em situação precária (Gráfico 1).

Gráfico 1: Situação dos Poços em Sistemas Fraturados Cadastrados no SIAGAS.


Secos
Sem informações 11%
19% Precários
7%

Com informações
63%

Fonte: adaptado de SIAGAS (2019)


30

A quantidade de poços que se encontram nessa circunstância, num total de 27,


mostra a complexidade da perfuração de poços em aquíferos fraturados. Além disso,
para uma análise hidrodinámica foi identificado apenas 17 poços com um número
maior de informações hidrogeológicas, mas suficiente para uma avaliação preliminar
das condições de fluxo no meio fraturado do município. As informações utilizadas
foram: profundidade, nível estático, número e profundidade de entradas d’água, vazão
específica e vazão de estabilização.

Através das informações do Quadro 2, foi possível observar que 73,9% dos
poços possuem profundidade entre 60 e 90 metros. Segundo Costa (2008), estudos
mais antigos sobre perfuração de poços no cristalino do nordeste admitiam um limite
de 80 metros de profundidade para ser economicamente viável e que pesquisas mais
recentes mostram que esse limite varia entre 40 e 60 metros. Isso porque, em
aquíferos fissurais, as fraturas das rochas têm tendência a se fechar a uma
determinada profundidade devido à pressão litostática

Quadro 2: Apresentação dos dados e parâmetros dos poços perfurados em aquíferos


fraturados apresentados de forma percentual.
Dados e
Resultados
Parâmetros

Profundidade
0 a 30 (4,3%) 30 a 60 (4,3%) 60 a 90 (73,9%) >90 (17,4%)
dos Poços (m)
Número das
Entradas 1 (53%) 2 (17,6%) 3 (17,6%) >3 (11,8%)
d’Água (m)
Profundidade
das Entradas 0 a 25 (24,2%) 25 a 50 (51,5%) 50 a 75 (18,2%) >75 (6,1%)
de Água (m)
Fonte: adaptado de SIAGAS (2019)

Os dados obtidos ainda mostram que 51,5% das entradas d’águas variam entre
25 a 50 metros de profundidade, seguindo de 0 a 25 metros (24%). Indicando que
depois dos 50 metros de profundidade, as fraturas dos poços do município tendem a
se fechar, não sendo mais tão produtivas. Identificou-se também que maior parte dos
poços apresentam apenas uma entrada d’água (53%).

Os dados de nível estático apresentaram elevada variabilidade, em 50% dos


casos foi localizado entre 0 e 2 metros de profundidade (Quadro 3). No geral, 75%
31

dos poços possui seu nível estático até 18 metros de profundidade. Os resultados de
nível estático e profundidade das entrada d’água mostram que os aquíferos fraturados
em sua maioria, apresentam caracteristiscas semelhantes de um aquífero confinado
ou semi-confinado. Dessa forma, a água presente nas fraturas se encontram sob
pressão e quando se perfura um poço naquela região, a água tende a subir além da
entrada d’água. Além disso, foi possível identificar dois poços com artesianismo, ou
seja, nível estático acima da cota do terreno.

Outros trabalhos também evidenciam esse comportamento em outros tipos de


aquíferos fraturados, como é o caso de uma pesquisa realizada nos aquíferos
fraturados associados às rochas vulcânicas ácidas no Município de Carlos Barbosa
(RS), onde identificou-se que 41% dos poços possuíam nível estático com
profundidade de 0 a 5 metros, sendo que 79% das entradas d´água apresentam
profundidade maiores que 20 metros (BORTOLIN et al., 2014).

Quadro 3: Resultados dos dados e parâmetros dos poços perfurados em aquíferos


fraturados apresentados na forma de média, quartil e desvio padrão.

Dados e Resultados
Parâmetros 1º quartil Mediana 3º quartil Média Desvio padrão

Nível Estático (m) 0,900 2,000 17,140 9,072 9,522

Capacidade
0,028 0,049 0,282 0,157 0,192
Específica (m3/h/m)
Vazão de
1,380 2,120 5,687 4,049 4,400
Estabilização (m3/h)
Fonte: adaptado de SIAGAS (2019)

De acordo com os resultados, observa-se que 50% dos poços possuem vazões
inferiores a 1,38 m3/h, com mínima de 0,4 m3/h e máxima de 18,3 m3/h. Estudos
realizados em Quixeramobim – Ceará, localizado no escudo cristalino do Nordeste,
apresentam resultados semelhantes a Cruz das Almas. Em 52,05% dos poços
cadastrados em Quixeramobim, as vazões eram inferiores a 2 m3/h, com mínima de
0,15 m3/h e máxima de 12,3 m3/h (SILVA, 2013). As vazões maiores estão
relacionadas a intercepção de fraturas mais produtivas. São vazões que variam muito,
mas que no geral apresentam uma média considerada baixa.
32

A capacidade específica também se comportou de forma bastante


heterogênea, ocorrendo em 50% dos poços valores que variam entre 0,007 e 0,049
m3/h/m, significando produtividade dos aquíferos bem baixa.

Todos os resultados hidrodinâmicos discutidos apresentam bastante


variabilidade, pois correspondem ao sistema de aquífero fissural (anisotrópico).
Quanto a produtividade do aquífero, é importante salientar que é um indicador
importante, porém não permite tirar conclusões seguras, pois a capacidade específica
é um parâmetro que depende do tempo.

• Caracterização Hidrogeológica dos Aquíferos Sedimentares

Os aquíferos sedimentares foram indentificados a partir das caracteristiscas


geológicas constituidas predominantemente de areia, areia-argilosa e argila. A
localização dos poços (Quadro 4) coincidem com as formações detriticas do Terciário-
Quaternário e superfícies de aplainamento do munícipio sobrepostas ao escudo
cristalino. Esses aquíferos estão localizados na zona urbana de Cruz das Almas em
direção ao Oeste. Possuem uma média de profundidade de 22,7 metros, variando dos
7 aos 35 metros.

Quadro 4: Poços perfurados em aquíferos sedimentares

Profundidade dos Nível


Nº Localização Cota (m)
aquíferos (m) estático (m)

1 Itaporã 222 20 -

2 Cruz Das Almas 224 35 13

3 Cruz Das Almas 235 27 15

4 Cruz Das Almas I 206 20 10


5 Cruz Das Almas 2 186 22 10,3
14* Tua De Baixo 220 5a7 0
16* Tereza Ribeiro 216 20 a 22 17,14
18 Pumba Dois 201 18 -
22* Tiririca 214 0 a 12, 18 a 24 1,68
32* Umbaubeira 220 19 a 32 20,21
Fonte: adaptado de SIAGAS (2019).

* Poços perfurados em aquíferos porosos e fraturados simultaneamente


33

Os resultados obtidos condizem com pesquisas realizadas pelo IBGE (1999).


Segundo a Fundação, o sistema de aquíferos em coberturas detríticas apresentam
características heterogênicas e anisotrópicas. Suas espessuras são bem variáveis,
possuindo uma média de 20 a 25 metros, sendo comum ocorrer espessuras bem
menores associadas a litologias mais arenosas.

Quanto ao confinamento, foi possivel identificar 7 poços com aquíferos livres.


A recarga acontece, principalmente, por toda superficie durante as precipitações, a
pressão de suas águas correspondem com a pressão atmosférica e não apresentaram
nenhuma camada limítrofe superior de confinamento.

Já nos poços 16, 18 e 22 (Figura 14), verificou-se, através do perfil construtivo


juntamente com os dados litológicos, formações geológicas de areia sobrepostas por
camadas limítrofes de argila ou rocha cristalina. No poço 16, o aquífero poroso está
a uma profundida de 20 a 22 metros e o nível estático está a uma profundidade de
17,14. O nível d’água pode ter aumentado por uma póssivel camada confinante de
argila denominada de aquiclude no aquifero poroso ou confinamento da água nas
fraturas do aquífero fraturado.

O perfil construtivo do poço 18 apresenta dois filtros de captação de água no


meio poroso que está sobreposto por uma camada limítrofe de argila na parte superior
e rocha cristalina na parte inferior. Contudo, não há informações sobre o nível estático
para caracterizar o aquífero em confinado ou livre.

No perfil construtivo do poço 22 pode ser visualizado dois aquíferos porosos. O


primeiro a 12 metros de profundidade, constituído de areia esbranquiçada média,
caracterizado como livre e o segundo, com profundidade de 18 a 24 metros,
constituído de areia esbranquiçada argilosa, caracterizado como confinado. O
segundo aquífero apresenta duas camadas limítrofes: a superior formada por argila,
ou aquiclude, e a inferior por rocha cristalina, ou aquífugo. O nível estático está a 1,68
metros de profundidade ou 12,32 metros acima do topo do segundo aquífero.
34

Figura 14: Perfil construtivo dos poços 16, 18 e 22 respectivamente. (Fonte: adaptado de SIAGAS,
2019).

Para a análise hidrodinâmica foram utlizados os dados hidrogeológicos dos


poços perfurados apenas em aquíferos porosos, que resultaram em apenas 4 devido
ao baixo número de cadastro no SIAGAS. Apesar da amostra ser bem pequena, foi
possível ter um conhecimento básico da ocorrência da água nessas formações
geológicas. Os dados utilizados se restringiram a profundidade dos poços, nível
estático e vazão de estabilização. Analisando os resultados do Quadro 5, pode-se
perceber que não há muita variação nos valores de profundidade e nível estático, isso
mostra que apesar desses aquíferos apresentarem características heterogêneas e
anisotrópicas, poços localizados próximos um do outro irão possuir comportamento
semelhantes, que são típico de aquíferos porosos.
35

Quadro 5: Parâmetros dos poços perfurados em aquíferos porosos

Dados e Resultados
Parâmetros Poço 2 Poço 3 Poço 4 Poço 5 Média
Profundidade dos
35 27 20 22 26
Poços (m)

Nível Estático (m) 13 15 10 10,3 12,075

Vazão de
0,46 5,04 0,28 1,18 1,74
Estabilização (m3/h)
Fonte: adaptado de SIAGAS (2019).

Segundo o IBGE (1999), a vazão relacionada com as coberturas detríticas são


consideradas baixas e moderadas, situadas em média entre 1 e 4 m3/h. Cruz das
Almas apresentou uma variação entre 0,46 e 5,04 m3/h, com média de 1,74 m3/h,
considerada vazões muito baixas. No município existe uma precipitação significativa
durante o ano, o que deveria contribuir com a recarga dos aquíferos porosos, mas
deve-se ser levado em consideração que os quatro poços utilizados como amostra
estão localizados no centro urbano da cidade. Isso leva a deduzir que a compactação
artificial do solo provocada pela urbanização pode ser um fator que comprometa a
recarga influenciando nos baixos valores de vazão.

• Aquífero Fraturado x Áquifero Sedimentar

Das considerações feitas por Mente (2008), cap. 4.1, pôde-se observar que o
município realmente apresenta uma predominância de rochas cristalinas, o que
resultou em uma ocorrência maior de aquiferos fraturados (Gráfico 2) e
consequentemente de pouca disponibilidade hídrica.

Quanto às vantagens dos aquíferos em sedimentos inconsolidados explicado


por Borges (2018), de fato há um facilidade de perfuração devido aos níveis de água
rasos e litologia. A média de profundida para se obter água nesses aquiferos é 22,7
metros, enquanto que os fraturados é de 76,7 metros, além de possuir menos
facilidade de perfuração relacionada às rochas cristalinas.
36

Gráfico 2: Comparação de parâmetros entre os poços do aquifero fraturado e


sedimentar

Número de ocorrência 27
10

Vazão de Estabilização (m3/h) 4,05


1,74

Nível Estático (m) 9,07


12,07

Profundidade dos Poços (m) 76,7


22,7

0 20 40 60 80 100
Fraturado sedimentar

Fonte: adaptado de SIAGAS (2019)

Com os resultados de vazão média, foi possível observar que os dois aquíferos
(fraturados e sedimentares) possuem vazões muito baixas, porém, os fraturados
obtiveram resultados melhores, de 4,4 m3/h, enquanto que os sedimentares de 1,74
m3/h. Isso significa que nem sempre os aquiferos porosos irão possuir melhores
vazões de explotação. Contudo, deve ser levado em consideração a alta
heterogeneidade dos fraturados, possuindo vazões que variam de 0 a 18,3 m3/h,
situação mais difícil de ocorrer nos sedimentares. A mesma situação ocorre com os
valores de níveis estático.

Em relação aos dois aquíferos foi possível analisar que as informações


fornecidas pelo SIAGAS e CBPM sobre os dominíos hidrogeológicos (Figura12),
apresentam uma escala muito pequena a nível municipal. Pois, foram encontrados
perfis geológicos e dados litológicos de poços que não condiziam com a unidade
hidrogeológica apresentada. Um dos motivos para a realização de estudos
hidrogeológicos mais detalhados como esse.

5.2. Superfície Freática

Para a elaboração do mapa da superfície freática de Cruz das Almas, foi


utilizado dados de profundidade e nível estático de 23 poços. Embora seja uma
quantidade considerada pequena para o tamanho do território, foi possível tirar
algumas informações importantes.
37

De acordo com a Figura 15, estima-se que o fluxo ocorre a partir das isolinhas
de maior nível d’água subterrânea para as isolinhas de menor nível, sendo que as
maiores estão representadas pelas cores mais quentes, com máximas de 235 e 225
metros e as menores pelas cores mais frias, com mínima de 175 metros.

Figura 15: Mapa de superfície frática em Cruz das Almas. (Fonte: adaptado de SIAGAS, 2019)

A partir daí, foi possível supor a existência de um divisor de águas subterrâneas


passando entre os maiores níveis d’água. Nem sempre os divisores hidrogeológicos
coincidem com os divisores hidrológicos, porém, comparando as Figuras 15 e 10,
percebe-se que existe uma semelhança com o divisor hidrográfico apresentado na
Figura 10 (RPGAs) com o suposto divisor hidrogeológico da Figura 15.

5.3. Áreas potenciais de exploração

As possíveis áreas potencias de exploração foram identificadas em poços que


obtiveram melhores vazões, assim, foram selecionadas as vazões superiores a 5
m3/h, contabilizando 6 poços. Na Tabela 1 está representado o número dos poços
com as respectivas vazões e na Figura 16 a localização dos poços no mapa.
38

Tabela 1: Número de poços com as respectivas vazões


Nº do poço Vazão (m3/h)
3 5,04
9 6,62
23 18,3
24 7,1
30 7,9
33 5,69
Fonte: adaptado de SIAGAS (2019).

Figura 16: Mapa de Cruz das Almas representando os poços com maiores vazões. (Fonte: adaptado
de SIAGAS, 2019).

Pode-se perceber que existe uma relação entres os poços mais produtivos e a
localização dos mesmos. Com exceção do poço 3, que representa um sistema poroso,
possuindo recarga direta, os demais poços estão localizados nas regiões com níveis
de águas subterrâneas mais baixas, podendo significar um número maior de fraturas
produtivas nesses lugares.
Quanto a exploração para abastecimento urbano em Cruz das Almas, percebe-
se que as vazões ainda são muito baixas em relação a demanda do centro urbano,
39

apenas seis pontos apresentaram vazões superiores a 5 m3/h. Outro fator são as
características anisotrópicas dos aquíferos, vazões muito variadas, podendo ocorrer
falta de abastecimento diversas vezes, o que seria um problema. Sendo assim, seu
uso é recomendado para abastecer unidades menores, como fazendas, pequenos
aglomerados rurais ou até mesmo poucas residências. Outra forma de utilizar as
águas subterrâneas do munícipio é de forma estratégica, quando o sistema de
abastecimento superficial não consegue suprir a demanda em um determinado
dia/mês ou venha ter algum problema.
40

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste trabalho, foi possível verificar que Cruz das Almas está localizada
em uma região que apresenta dois sistemas de aquíferos (sedimentar e fraturado),
em geral, com baixos potenciais de exploração, dificultando o abastecimento urbano
em larga escala. Outro fator limitante e que deve ser levado em consideração é sua
forma de ocorrência, nos aquíferos sedimentares existe a facilidade de encontrar
água, porém, as coberturas detríticas se encontram espalhadas e isoladas. O sistema
de aquíferos fraturados, apesar de estar presente em todo o território, existe uma
dificuldade de locar os poços em fraturas mais produtivas, necessitando de estudos
hidrogeológicos mais detalhados.

O número de poços cadastrados no SIAGAS, presume uma grande quantidade


de poços clandestinos no município, prejudicando a gestão dos recursos hídricos na
região. Uma vez que, a utilização de forma errada, compromete a qualidade e
quantidade das águas subterrâneas de forma geral, mascarando resultados e
medidas que poderiam ser tomadas para um bom uso.

Por isso, é importante o cadastramento de poços, registrando os parâmetros


necessários para explotação, principalmente os de características químicas, por conta
da vulnerabilidade e risco de contaminação que os aquíferos apresentam. E por fim,
fica claro a necessidade de mais estudos e pesquisas promovendo o conhecimento
da atual condição das águas subterrâneas do município, visando ser um recurso que
está em constante mudança, para que dê início a uma boa gestão, preservando-o,
como também orientando pessoas a utilizarem desse recurso de forma adequada.
41

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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São? Disponível em: http://www.abas.org/educacao.php. Acesso em: 12 nov. 2018.
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misteriosos-caminhos-das-aguas-subterraneas/. Acesso em: 04 dez. 2018.
45

8. ANEXOS

ANEXO I – QUADRO DE VALORES HIDRODINÂMICOS DOS POÇOS


CADASTRADOS NO SIAGAS (AQUÍFERO FRATURADO)

Número
Nível Nível Vazão Vazão de Profundidade
das
Nº Dinâmico Estático Específica Estabilização das Entradas
Entradas
(m) (m) (m3/h/m) (m3/h) de Água (m)
d’Água (m)
6 54,09 1,02 0,037 1,94 31; 40; 54 3
7 79 21 0,011 0,61 25; 44; 79 3
8 - - - - - -
9 30,37 10 0,325 6,62 24; 34; 47 3
10 - - - - - -
11 42,31 0,62 0,044 1,83 - -
12 53,01 15,15 0,114 4,32 19; 46 2
13 61,92 1,8 0,028 1,69 - -
9,5; 27; 35; 70;
14*
73,16 0 0,014 1,04 75 5
15 - - - - - -
16* 60 17,14 0,049 2,12 48 1
17 - - - - 44 1
19 - - - - 40 1
20 - - - - 36 1
21 16,49 0,9 0,282 4,4 6; 8; 9; 12 4
22* 54,6 1,68 0,051 2,7 54; 55 2
23 64,81 25,48 0,465 18,3 64 1
24 13,03 2 0,644 7,1 34; 47 2
25 - - - - - -
26 56,15 22 0,04 1,38 42 1
27 71 15,22 0,007 0,4 84 1
28 - - - - - -
29 - - - - - -
30 20,57 0 0,384 7,9 29 1
31 - - - - - -
32* 55,93 20,21 0,022 0,8 - -
33 36,51 0 0,156 5,687 48 1
Fonte: adaptado de SIAGAS, 2019

* Poços perfurados em aquíferos porosos e fraturados simultaneamente


46

ANEXO II – EXEMPLO DE FICHA TÉCNICA COMPLETA DE POÇO


CADASTRADO NO SIAGAS

Fonte: SIAGAS, 2019


47

Fonte: SIAGAS, 2019

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