Você está na página 1de 72

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“Júlio de Mesquita Filho”


Campus de Ourinhos

ESTUDO DA VARIAÇÃO DO USO DO SOLO ENTRE 1954 E 2012 NA BACIA


DO RIBEIRÃO FUNDO, EM ITAPEVA (SP)

FRANCISCO VASCONCELOS DE ARAUJO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado para obtenção do título de
Especialista em Gerenciamento de
Recursos Hídricos e Planejamento
Ambiental em Bacias Hidrográficas pela
UNESP – Campus de Ourinhos.

Ourinhos – SP
Outubro/2012
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“Júlio de Mesquita Filho”
Campus de Ourinhos

ESTUDO DA VARIAÇÃO DO USO DO SOLO ENTRE 1954 E 2012 NA BACIA


DO RIBEIRÃO FUNDO, EM ITAPEVA (SP)

FRANCISCO VASCONCELOS DE ARAUJO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado para obtenção do título de
Especialista em Gerenciamento de
Recursos Hídricos e Planejamento
Ambiental em Bacias Hidrográficas pela
UNESP – Campus de Ourinhos.

Ourinhos – SP
Outubro/2012
AGRADECIMENTOS

Quando nos dedicamos a realizar uma tarefa temos que contar com o apoio
daqueles que convivem conosco, pois estas pessoas que estarão muitas vezes ao nosso
lado, mas sabem que nossa mente viaja pelos questionamentos e soluções tentando
encontrar o meio mais correto e elegante de atingirmos nosso objetivo.
Assim agradeço minha família, Maria José, Victor e Edith que estavam ao meu
lado cuidando para que minha missão terminasse como imaginei.
Agradeço também a todos os professores do curso que nos transmitiram seu
conhecimento e ética e e principalmente ao Prof. Dr. Rodrigo Lilla Manzione que
muitas vezes perdeu a esperança que este relatório terminasse, mas teve paciência de
esperar que conseguisse terminar minha meta.

ii
RESUMO

Este trabalho, sobre as mudanças do uso do solo ocorridas entre 1954 e 2012 na
bacia hidrográfica do Ribeirão Fundo, foi idealizado e executado para que seja a
semente de um plano de aproveitamento racional do manancial que abastece quase cem
mil pessoas com água de qualidade e quantidade. Para conseguir que estes
levantamentos fossem realizados com fidelidade às realidades das épocas estudadas,
foram utilizados diversos levantamentos e com a ajuda de Geoprocessamento foi
possível que todos se encaixassem e permitissem alcançar os objetivos pretendidos.

iii
ABSTRACT

This paper, about the changes in land use occurred between 1954 and 2012 in the
drainage basin of Ribeirão Fundo, was idealized and executed to be the seed of a
rational recovery plan for river source that supplies nearly one hundred thousand people
with water of quality and quantity. To achieve this surveys were conducted with fidelity
to the realities of the studied times, several surveys were used and with the help of
geoprocessing was possible that all things would fit and allow achieving the desired
goals.

iv
LISTA DE FIGURAS
Pag.
1 Modelo de Geossistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 Localização da Bacia e do Município no Estado .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3 Localização da Bacia na UGRHI 14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
4 Vista Obliqua da Bacia do Ribeirão Fundo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
5 Área de lavra da Cia de Cimento Itaú. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
6 Mapa Geológico do Estado de São Paulo. Escala 1:500.000 (Ampliada). . . . 11
7 Localização da bacia sobre o aquíferos Tubarão e Cristalino. . . . . . . . . . . . . 12
8 Levantamento Pedológico do município de Itapeva (detalhe) . . . . . . . . . . . . 16
9 Diagrama das Temperaturas médias para Itapeva e outras cidades
da Região de Sorocaba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
10 Diagrama das Precipitações para Itapeva e outras cidades
da Região de Sorocaba. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
11 Levantamento Planialtimétrico da Bacia do Ribeirão Fundo. . . . . . . . . . . . . 19
12 Tela do site Regionalização Hidrológica do Estado de São Paulo . . . . . . . . 20
13 Perfil Longitudinal do canal do Ribeirão Fundo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
14 Hierarquia fluvial da rede de drenagem da Bacia do Ribeirão Fundo . . . . . . 25
15 Modelo Hipsométrico GDEM Sensor Aster . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
16 Mapa das classes de declive . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
17 Detalhe da Carta 1:10000 – DAEE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
18 Legenda Carta DAEE 1954/55 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
19 Gráfico das porcentagens do Uso do Solo pelo Levantamento 1954/55 . . . . 31
20 Planta de Uso do Solo em 1954/55 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
21 Aerofoto 1:30000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
22 Áreas e porcentagens dos Usos do Solo em 2012. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
23 Planta de Uso Atual do Solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
24 Detalhe da Planta da Região de Sorocaba do Levantamento da Cobertura
Vegetal e do Reflorestamento do Estado de São Paulo (1974). . . . . . . . . . . . 37
25 Detalhe do Inventario Florestal do Estado de São Paulo (Atlas),
mostrando a área de interesse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
26 Quadro Comparativo das porcentagens plantadas em 1954 e 2012 . . . . . . . . . 39

27 Plantação de milho em primeiro plano e ao fundo área ocupada por soja. . . . 40

v
28 Várzeas próximas à cabeceira do Ribeirão Fundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
29 Áreas urbanas de Itapeva e Alto da Brancal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
30 Detalhe da planta da Lei de Uso e Ocupação do Solo na região onde o
Ribeirão Fundo atravessa a Zona Urbana de Itapeva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
31 Parque Pilão D’Água, local de captação de água para abastecimento
da zona urbana do município de Itapeva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

vi
LISTA DE TABELAS

1 Declividade dos trechos do Ribeirão Fundo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23


2 Quantidade de canais, hierarquia e respectivos comprimentos . . . . . . . . . . . . 26
3 Hierarquia de canais correlacionada com relação de bifurcação. . . . . . . . . . . 26
4 Áreas e porcentagens das classes de declive . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5 Usos áreas e porcentagens obtidas a partir do Levantamento 1954/55. . . . . . . 31
6. Áreas e porcentagens dos Usos do Solo em 2012 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
7 Quadro Resumo da variação do Uso do Solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

vii
SUMÁRIO
Pag.

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS .................................................................................. 1

2. METODOLOGIA DE TRABALHO............................................................................ 4

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ........................................................ 6

3.1 Localização e características geográficas ........................................................... 6

3.2 Caracterização Geológica e Geotécnica ................................................................. 9

3.2.1 Geologia .......................................................................................................... 9

3.2.2 Estratigrafia ................................................................................................... 10

3.2.3 Hidrogeologia ............................................................................................... 12

3.2.4 Geomorfologia ............................................................................................... 14

3.2.5 Pedologia ....................................................................................................... 15

Figura 8: Levantamento Pedológico do município de Itapeva (detalhe) .................... 16

3.3 Caracterização Climatológica .............................................................................. 17

3.4 Caracterização Hidrológica .................................................................................. 18

3.5 Balanço Hídrico .................................................................................................... 20

3.6 Caracterização Física da Bacia ............................................................................. 21

3.6.1 Características Geométricas da Bacia................................................................ 21

3.6.2 Hierarquia da rede de drenagem ........................................................................ 24

3.6.3 Caracteristicas do Relevo .................................................................................. 26

4. LEVANTAMENTO DO USO DO SOLO EM 1954/55 ............................................ 30

5. LEVANTAMENTO DO USO DO SOLO EM 2012 ................................................ 33

6. INVENTARIOS E LEVANTAMENTOS DA COBERTURA VEGETAL DO


ESTADO DE SÃO PAULO ........................................................................................... 36

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 39

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 43

9. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 45

ANEXOS ........................................................................................................................ 47

viii
ix
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

Estamos em mundo modificado pela ação homem, onde a paisagem é


transformada de forma rápida e pouco se preserva das características originais. As ações
do homem se sobrepõem aos processos naturais afetando profundamente, de forma
direta ou não, as características dos ecossistemas. Bertrand apresentou em 1968 na
revista “Revue Geógraphique des Pyrénées et du Sud-Ouest” o trabalho “Paisagem e
Geografia Física Global“, traduzido no Brasil por Olga Cruz. Neste estudo, o autor
apresenta um esboço da definição teórica de Geossistemas e mostra claramente a ação
antrópica modificando os ecossistemas. Bertrand criou o sistema tripolar GTP
(Geossistema, Território e Paisagem) (Figura 1). Este método de estudo considera a
paisagem não apenas natural, mas também a formada pela ação do homem, restringindo
o mapeamento ao Geossistema e ao território.

Figura 1: Modelo de Geossistema


Fonte: Bertrand (1971)

Em seu trabalho, Bertrand diz que “A paisagem não é a simples adição de


elementos geográficos disparatados. É, em uma determinada porção do espaço, o
resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e
antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um
conjunto único e indissociável, em perpétua evolução.” Esse dinamismo da feição das
paisagens é bem retratado por levantamentos efetuados em épocas distintas.

1
Apoiado nesse referencial teórico este trabalho teve como objetivo estudar as
modificações no uso e ocupação do solo na Bacia do Ribeirão Fundo, município de
Itapeva (SP) no período de 1954 até 2012. Esta região do é motivo de polêmicas entre a
população, pois acolhe o Ribeirão Fundo, fornecedor da água que abastece a cidade.
Esta bacia ainda é bem preservada, sem grandes fontes poluidoras e merece um estudo
evolutivo do uso do solo que desmistifique ou confirme algumas afirmações e conceitos
hoje comuns entre os habitantes da cidade. O trabalho pode mostrar direções para ações
de preservação da bacia e ser elemento importante na proposição de ações
metodológicas técnicas, sociais e educacionais para condução de futuros trabalhos, seja
como trabalho inicial na organização de audiências publicas, necessários ao correto
diagnóstico e proposição de ações na preservação deste ribeirão, importante fornecedor
de recursos hídricos à área urbana da cidade.

Este trabalho não é sobre como utilizar o método GTP na área de estudo, mas foi
elaborado para ser um dos elementos importantes para o entendimento da evolução da
paisagem e proposição das diversas etapas necessárias a transformar a área numa região
preservada, sem descaracterizar as ações socioeconômicas hoje executadas ali.

Pela importância desta bacia hidrográfica, é necessária sua preservação como


fonte de abastecimento prioritário e, para que isso aconteça, o Plano de Bacia é
fundamental como instrumento técnico-jurídico de implantação de uma política de uso
racional, devendo ter como objetivos:

• Assegurar à população de Itapeva água de qualidade e na quantidade necessária,


implementando para tanto medidas que protejam os mananciais superficiais e
subterrâneos da Bacia do Ribeirão Fundo.

• Conservar a qualidade dos corpos d’água da bacia, propondo medidas para uso
racional da água.

• Implantar sistemas de infra-estrutura eficientes de drenagem e controle de


cheias.

2
Segundo Lima (1976), o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica
é função de suas características morfológicas, ou seja, área, forma, topografia, geologia,
solo, cobertura vegetal, ações antrópicas etc. A fim de entender as inter-relações
existentes entre esses fatores de forma e os processos hidrológicos de uma bacia
hidrográfica, tornam-se necessários expressar as características da bacia em termos
quantitativos.

Assim, o presente trabalho se propôs a analisar o uso e evolução da cobertura do


solo na Bacia do Ribeirão Fundo no município de Itapeva (SP), no período de 1954 a
2012, procurando estabelecer relações entre o desenvolvimento do município e as
mudanças encontradas.

3
2. METODOLOGIA DE TRABALHO

Nossa pesquisa se configura como um estudo da evolução do uso do solo em um


período compreendido entre a mais antiga carta da bacia hidrográfica encontrada e a
situação atual deste usos.

A metodologia a ser utilizada será, basicamente, a digitalização das informações


existentes e sua quantificação em softwares de geoprocessamento, coleta de dados em
campo e principalmente a reambulação para verificação da exatidão dos dados da
situação atual.

A pesquisa começa com a aquisição de material relevante, tomando-se por base


o que já foi publicado em relação ao tema, de modo que se possa delinear uma nova
abordagem sobre o mesmo, chegando a conclusões que possam servir de embasamento
para pesquisas futuras. Antes dos inicios dos trabalhos foram adquiridas plantas dos
levantamentos aerofotogramétricos, imagens de satélites e mapas cartográficos e
trabalhos científicos que possibilitaram fazer o estudo da evolução dos usos. São eles:

 Carta 1:10000 – Vale do Ribeira – Serviço n°134 executada pela Prospec


– Levantamentos, Prospecções e Aerofotogrametria para DAEE
Departamento de Águas e Energia Elétrica, publicada em 1956, a partir
de fotografias aéreas 1:45000 tomadas em 1954/55.

 Fotografias Aéreas 1962 –Escala 1: 25000- Secretaria da Agricultura do


Estado de São Paulo – Instituto Agronômico de Campinas.

 Fotografias Aéreas 1972 – Escala 1:25000-Secretaria da Agricultura do


Estado de São Paulo – Instituto Agronômico de Campinas, patrocinadas
pelo IBC –Instituto Brasileiro do Café, tomadas entre 1971 e 1973.

 Levantamento da Cobertura Vegetal Natural e do Reflorestamento no-


Estado de São Paulo –Boletim Técnicos n° 11- Secretaria da Agricultura
do Estado de São Paulo- Instituto Florestal.

4
 Cartas do Brasil 1:50000 – IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, utilizado como base cartográfica.

Os produtos adquiridos foram registrados, georreferenciados e analisados usando


os softwares Spring (Câmara et al), Quantum Gis e Global Mapper . Para confecção do
trabalho final foram executadas as seguintes etapas:

 Levantamento cartográfico das plantas e mapas existentes, com a


definição dos limites da bacia hidrográfica, definição e classificação da
rede hidrográfica, definição e classificação do sistema viário, definição
das áreas urbanizadas.

 Levantamento dos recursos naturais, geologia, hidrologia, climatologia


utilizando os trabalhos e informações existentes.

 Levantamento do uso do solo através dos trabalhos de campo e internos


para definição dos limites nas várias épocas estudadas.

 Levantamento quantitativo dos usos para estabelecer os valores de áreas


em 1954 e em 2012 quanto ao uso dos solo.

 Análise e discussão dos resultados obtidos.

5
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1 Localização e características geográficas


O Rio Paranapanema tem como um de seus principais afluentes o Rio Taquari. Na
sub-bacia do Rio Taquari tem-se o Ribeirão Fundo, que nasce no Bairro da Fazenda
Velha, a 1000 m de altitude, no município de Ribeirão Branco. Este segue por uma
várzea, atravessando a Rodovia SP- 249 e passa pelo Bairro dos Frias, onde forma outra
grande várzea. Em continuação, segue seu caminho entre os Bairros Alto da Brancal e
Palmeirinha e a seguir desaba em uma cachoeira. Neste trecho, desce 100 m de altitude
em 250 m de leito. Depois o mesmo continua por 20 km, entre vales e várzeas, até
chegar na Represa do Pilão D’Água, situada na área urbana de Itapeva-SP, onde fica o
Recanto Pilão D’Água, construído em 1971 para ser um parque turístico.

Localizada no Sudoeste do Estado de São Paulo, está compreendida entre os


paralelos 23°56’ e 24°10’ latitude Sul e os meridianos 48°44’ 48°53’ de longitude
Oeste, a Bacia Hidrográfica do Ribeirão Fundo fica a leste da área urbana de Itapeva e é
responsável pelo abastecimento de água da cidade (Figura 2). Tem área de 13.709,25 ha
e perímetro de 74.015,16 m, tendo 90% da área no município de Itapeva e 10% no
município de Ribeirão Branco. O corpo principal tem orientação Norte Sul.

Figura 2: Localização da Bacia e do Município no Estado

6
Esta região está na UGRHI (Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos)
14, Alto Paranapanema, conhecida pelo seu alto grau de conservação ambiental e por
ser a cabeceira de um dos rios mais importantes dos Estados de São Paulo e do Paraná
(Figura 3). É conhecida na região por sua beleza natural, resultante do desnível abrupto
entre a região do Alto da Brancal e a região do Bairro dos Antunes, que forma
cachoeiras e corredeiras. No Bairro das Pedras temos a ocorrência de formações
rochosas nas cabeceiras e divisores de água, no espigão entre as Bacias do Ribeirão
Fundo e Apiaí Guaçu.

Figura 3: Localização da Bacia na UGRHI 14


Fonte: Situação dos Recursos Hidricos do Estado de São Paulo (2009)

A Figura 4, obtida pelo satélite “QuickBird” e disponível no “Google Earth”,


mostra em primeiro plano a área urbana da cidade e ao fundo, o planalto do Alto da
Brancal, nascente do ribeirão. A mesma ilustra a exploração mineral da Lavrinha,
pertencente à Companhia de Cimento Portland Itaú, do grupo Votorantim. Uma vista
área desta lavra, demonstrada pela Figura 5, ocupa cerca de 100 ha representando 0,7 %
da área da bacia.

7
Figura 4: Vista Obliqua da Bacia do Ribeirão Fundo

Figura 5: Área de lavra da Cia de Cimento Itaú

8
3.2 Caracterização Geológica e Geotécnica
3.2.1 Geologia

A região de estudo se insere numa área que sofreu grande perturbação tectônica,
com ação de grandes ciclos. A reativação Wealdeniana foi o último e principal ciclo que
atingiu a região. No final do Jurássico, um diatrofismo de caráter germanótipo inaugura
nova fase da história tectônica da Plataforma. Tal fenômeno [...] acarretou apreciável
movimentação ao longo das falhas, vasto magmatismo basáltico [...]. A criação de bens
minerais metálicos na área da Plataforma Brasileira processou-se em ação direta do
tectonismo que afetou a plataforma nos vários ciclos, principalmente na reativação
Wealdeniana (ALMEIDA, 1974)

Segundo Almeida et al. (1974), a região em estudo pertence ao Grupo Itaiacoca,


que constitui parte dos terrenos supracrustais do extremo sul da Faixa Móvel Ribeira. A
Formação Itaiacoca é constituída por terrenos metassedimentares, divididos em dois
conjuntos litoestratigráficos denominados Grupo Açungui e Formação Setuva, que na
região do Vale do Ribeira, compõem a Faixa de Dobramentos Apiaí: a unidade do topo
é constituída por metassedimentos clastos-químicos e a da base, por uma unidade
vulcano-sedimentar de composição básica a ultrabásica. Os contatos litológicos e as
superfícies tectônicas, na Faixa Apiaí, têm orientação geral NE-SW (nordeste-sudoeste).

A área estudada está inserida em uma região que apresenta rochas com idades
entre Proterozóicas médias a superior, atribuídas ao Grupo Itaiacoca, Unidade C
(TAKAHASHI et al, 1985), representadas pela associação de metapelitos e meta
psamopelitos, contendo, localmente, níveis subordinados de material ferrífero e de
carbonato-filitos; metarritimitos, metacherts e quartzitos finos; associação de
metacalcários silicosos, metacherts e metapelitos; metacalcários dolomíticos localmente
estromatolíticos e subordinamente metacalcários calcíticos, por vezes carbonosos;
filitos, as quais são limitadas a norte por sedimentos Paleozóicos da Bacia do Paraná,
representados por arenitos esbranquiçados com granulometria variando de grossa a
muito grossa, por vezes conglomerática, pouco trabalhados, mal selecionados;
caulínicos, intercalado com camadas siltico argilosas a arenosas finas, micáceos,
apresentando estratificação plano paralela, cruzada plana, cruzada acanalada e
lenticular, pertencentes à Formação Furnas, concernente ao Grupo Paraná (Devoniano),
e por arenitos da Formação Itararé, pertencente ao Grupo Tubarão, os quais não

9
apresentam uma idade perfeitamente estabelecida, mas as relações estratigráficas
indicam idade Paleozóico Superior, relacionada ao fato desta sequência regionalmente
recobrir sedimentos do Devoniano e ser recoberta por sedimentos de Idade Permiana.
Portanto conclui-se que a sedimentação da Formação Itararé provavelmente iniciou-se
durante o Carbonífero Superior e continuou até o Permiano Inferior.

As rochas ígneas básicas estão representadas na região sob a forma de diques


intrusivos, alojados em juntas e falhas, geralmente com direção NW-SE, verticais ou
subverticais, com espessuras variadas, cortando discordantemente os litotipos regionais,
acima descritos, compondo o “Lineamento Estrutural de Guapiara”, definido por
Ferreira et al (1981) com idade Jurássico- Cretácea, correlacionando-as ao vulcanismo
básico da Formação Serra Geral.

Os diabásios constituem o litotipo presente nas imediações da área estudada, que


macroscopicamente mostram-se com coloração cinza escura, sendo que quando
alterados, ganham uma coloração amarelo-avermelhada. Eles apresentam granulação de
fina a média, estrutura maciça isotrópica, sendo fortemente magnéticos.

3.2.2 Estratigrafia
No grupo Itaiacoca, foi enfeixada uma expressiva sequência metavulcano-
sedimentar distribuída no prolongamento nordeste da faixa tradicionalmente
considerada como pertencente à Formação Itaiacoca por Almeida et al (1984b).

Na área do Projeto Engenheiro Maia – Ribeirão Branco, além da seqüência clasto-


química, característica do Grupo Itaiacoca, por apresentar similaridades estruturais e
metamórficas foi englobado uma seqüência de rochas metavulcanosedimentares que no
projeto Guapiara foi considerada como Grupo Setuva (Faixa Itapeva – Itaiacoca) por
Takahashi et al (1984). Obedecendo-se critérios de distinção litológica o Grupo
Itaiacoca foi subdividido em três unidades, as quais devido aos complicados efeitos de
dobramentos e falhamentos, bem como pela ausência de afloramentos contínuos que
impedem o estabelecimento de uma secção completa foram informalmente
denominados de Unidade A (supostamente basal) de constituição predominantemente
psamopelitica com vulcanismo associado; Unidade B (de posição intermediária)

10
constituída predominantemente de rochas de ascendência vulcânica e Unidade C (de
topo) de constituição química-pelítica.

A Idade admitida, Proterozóico Médio ao Superior para sua evolução, deve-se à


correlação com o Grupo Açungui, cujas datações geocronológicas disponíveis apóiam
essa idade, bem como pelas estruturas estromatolíticas reconhecidas na faixa as quais,
segundo Fairchild (1977), sugerem uma possível idade entre 850 e 1.700 m.a. para sua
formação.

As rochas enfeixadas no grupo Itaiacoca apresentam baixo grau de metamorfismo,


com direção preferencialmente NE e mergulhos variando desde SE, subverticalizadas,
verticalizadas até NW. Sotopostas às rochas enfeixadas no Grupo Itaiacoca encontra-se
as rochas sedimentares da Bacia do Paraná, estando representada pelos sedimentos
devonianos da Formação Furnas (Grupo Paraná) e pelos sedimentos permo-carboníferos
da Formação Itararé (Grupo Tubarão). Ainda é assinalada a presença de diques básicos,
associados ao magmatismo juro-cretáceo da plataforma.

De acordo com o exposto, foi estabelecida, para a área estudada a coluna


estratigráfica apresentada na figura 6.

Figura 6: Mapa Geológico do Estado de São Paulo. Escala 1:500.000 (Ampliada)


Fonte: IPT Volume II Divisão de Minas e Geologia Aplicada IPT (1981).

11
3.2.3 Hidrogeologia

As drenagens que cortam a área do empreendimento deságuam no Rio Taquari


que corta grande parte da região e apresenta padrão de drenagem predominantemente do
tipo dentrítico a dentrítico retangular.

O ponto de monitoramento da qualidade das águas operado pela CETESB


localiza-se no Rio Taquari após a confluência deste com o Rio Taquari Mirim, sendo,
portanto de pouca utilidade para o conhecimento da hidrologia local, porém de grande
valia para melhorar o conhecimento da hidrologia regional.

Quanto ás águas subterrâneas, regionalmente ocorrem na parte norte as águas do


Aquífero Tubarão que são fracamente salinas, como provável reflexo da alta
pluviosidade e densa rede de drenagem e ao sul as do Aquífero Cristalino onde o
armazenamento da água subterrânea ocorre nas fraturas da rocha.

Figura 7: Localização da bacia sobre o aquíferos Tubarão e Cristalino


Fonte: As Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo– Instituto Geológico

12
O Aqüífero Tubarão é um aqüífero sedimentar de extensão regional. Aflora em
uma faixa estreita de aproximadamente 20.700 km2, que se estende do nordeste ao sul
do Estado de São Paulo, passando por cidades como Casa Branca, Itapetininga, Itu e
Itararé.

Ocorrências localizadas de litologias mais arenosas e, eventualmente, associadas


ao fraturamento das rochas, são responsáveis por maiores produtividades de água, cujas
vazões sustentáveis recomendadas podem atingir até 40 m3/h (Oda 2005 in
DAEE/IG/IPT/CPRM 2005). Aqüífero fraturado é onde o armazenamento da água
subterrânea ocorre nas fraturas da rocha Algumas áreas mais produtivas foram
identificadas na região entre Araras e Casa Branca e nas cidades de Barão de Antonina,
Itapeva, Pilar do Sul, Iperó, Tietê e Capivari.

O Cristalino é um aqüífero fraturado, onde o armazenamento da água


subterrânea ocorre nas fraturas das rochas. Formado há mais de 550 milhões de anos, é
composto pelas rochas mais antigas do Estado de São Paulo. Aflora na porção leste do
território paulista, é de extensão regional com área de 53.400 km2.

Os poços que o exploram estão concentrados nesta parte aflorante, com


comportamento de aqüífero livre. Estes poços atingem, em geral, 100 a 150 metros de
profundidade, uma vez que a ocorrência de fraturas abertas ao fluxo da água tende, na
maioria dos casos, a diminuir em níveis mais profundos. (Fonte: As Águas Subterrâneas
do Estado de São Paulo– Instituto Geológico)

De acordo com levantamento da DAEE (Departamento de Águas e Energia


Elétrica) existem dois poços plotados na folha topográfica Itapeva (SF-22 -Z-D-V-3) e
um poço na folha Ribeirão Branco (SG-22-X-B-II-1). Através da análise de dados
destes poços conclui-se que a área é pobre em relação à quantidade significativa de água
subterrânea.

Os termos litológicos da Formação Furnas e unidade C são em geral permeáveis


tendo em vista serem constituídos predominantemente de arenitos de granulação média
a grosseira, intercalados com camadas síltico arenosas a arenosas finas e associações de
metacherts e quartzitos finos por vezes fraturados.

13
3.2.4 Geomorfologia

A área de estudo encontra-se nos limites do Planalto Atlântico, que abrange


parte do Cinturão Orogênico do Atlântico, circunscrito na grande Plataforma Sul-
Americana, nas proximidades da Depressão Periférica Paulista que o circunda em sua
porção sul, leste e norte. O Planalto Atlântico caracteriza-se geomorfologicamente como
uma região de terras altas, constituídas predominantemente por rochas cristalinas pré-
cambrianas e cambroordovicianas, cortadas por intrusivas básicas e alcalinas mesozóico
terciárias, e pelas coberturas das bacias sedimentares de São Paulo e Taubaté. O
modelado dominante do Planalto Atlântico constitui-se por formas de topos convexos,
elevada densidade de canais de drenagem e vales profundos, corresponde à classificação
morfoclimática de Mar de Morros, empregada por Ab’Sáber (1966).

O Planalto de Guapiara é uma estreita e elevada faixa montanhosa de 220 km e


com cerca de 5.200km². Ocupa uma região elevada do alto da Serra de Paranapiacaba e
estende-se até as áreas cobertas pelos sedimentos da Bacia do Paraná. Nesta Província,
as formas de relevo que se destacam encontram-se condicionadas à natureza e
disposição dos corpos rochosos e à situação em relação às superfícies de aplainamento
que nivelaram suas estruturas (ALMEIDA, 1974; IPT, 1981)

Como o planalto apresenta grande diversidade litológica, as formas de relevo


refletem esta configuração regional da geologia. Escarpas, como a Serra do Mar e serras
sustentadas pelo Arenito Itararé, apresentam significativo destaque na paisagem. Em
patamares mais rebaixados, abaixo dos escarpamentos, observam-secolinas e morros
tipicamente mamelonares (Mar de Morros) e, em alguns pontos, apresentam diversidade
de formas típicas de terrenos cársticos, como dolinas e lapies, entre outras.

O Planalto de Guapiara é irrigado por uma densa rede de drenagem, cujos


coletores principais têm mananciais na sua borda sul, na serra de Paranapiacaba, e se
dirigem em busca da Depressão Periférica. Praticamente toda a drenagem é tributária do
rio Paranapanema e apresenta padrão dendrítico, adaptado às direções estruturais do
planalto. Seus rios possuem fortes gradientes, em cursos perturbados por acidentes
rochosos. Seus vales, quando encaixados nas áreas graníticas e quartzíticas, formam
profundas gargantas. Especificamente na área de estudo, observam-se, nos topos mais

14
elevados, onde afloram calcários. Em alguns pontos, a dissolução coloca à mostra a
rocha e constrói formas de relevo “ruiniformes”, típicas de terrenos cársticos, como
ocorre no município de Bom Sucesso de Itararé. No entanto, em outros pontos de menor
elevação, condicionado pela litologia, é raro encontrar afloramentos significativos,
possivelmente por se tratar de um carste encoberto. Isso se deve ao manto de alteração
muito profundo, conseqüência da ação do clima tropical úmido e da densa rede de
drenagem.

3.2.5 Pedologia

Na região estudada, os solos são fortemente marcados pela diferenciação da


geomorfologia, caracterizada pela presença da Serra do Paranapiacaba e também pela
rocha matriz.

Segundo o Mapa Pedológico do Estado de São Paulo (OLIVEIRA, 1999)


(Figura 8) , as duas principais classes de solos que se destacam na região estudada são
os Latossolos (L), ocorrentes nas áreas de relevo menos acidentado e os Cambissolos
(C) que predominam em áreas de relevo de forte ondulado, ondulado e suave ondulado.
Os Cambissolos observados na região constituem um “enclave” em meio à ocorrência
dos Latossolos.

15
Figura 8: Levantamento Pedológico do município de Itapeva (detalhe)
Fonte: Projeto PATEM - IPT

16
3.3 Caracterização Climatológica
A caracterização climatológica da região foi elaborada baseando-se nos dados
climáticos obtidos do banco de dados do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Analisou-se a variabilidade temporal e espacial dos dados de evapotranspiração,
temperatura e precipitação para um tempo de recorrência de 20 anos. Deste modo,
estimaram-se os valores estatísticos tais como média mensal, desvios-padrão, moda e
coeficiente de variação, necessários para a realização do balanço hidrológico do aterro.
Buscou-se a estimativa dos mesmos, através da correlação comportamental (magnitude
de padrão de variação) das estações de Itapeva, Capão Bonito, Itararé e Tatuí. Como
exemplo apresenta-se os padrões de variação de temperatura e precipitação das estações
meteorológicas analisadas para o ano de 2001.

E desta forma podemos analisar a relação de temperatura e precipitação nas


áreas, o que corrobora para adaptar o planejamento das ações a serem implantadas na
gestão da bacia.

Figura 9: Diagrama das Temperaturas médias para Itapeva e cidades da região de


Sorocaba.

17
Figura 10: Diagrama das Precipitações para Itapeva e cidades da região de Sorocaba.

3.4 Caracterização Hidrológica


O município de Itapeva pertence à Bacia Hidrográfica do Alto Paranapanema,
bacia esta considerada de Conservação dentro das unidades de gerenciamento dos
recursos hídricos do estado. O Ribeirão Fundo deságua na represa do Pilão D’Água,
local onde a concessionária dos serviços de saneamento faz a captação de água para
consumo público.

A rede de drenagem da bacia em análise é composta pelo ribeirão principal, o


Ribeirão Fundo, pelo Ribeirão Vermelho, e pelos córregos Mato Dentro, das Pedras,
dos Buracos, do Salto, Palmital e por grande quantidade de riachos que não possuem
uma denominação registrada (Figura 11).

De acordo com dados da SABESP (Saneamento Básico do Estado de São


Paulo), Itapeva tem cobertura em sua área urbana de 98% de serviços de água, e de
aproximadamente 93% de coleta de esgoto, sendo que destes 100% são tratados e
devolvidos a Bacia do Rio Taquari (Relatório CETESB – 2007).

18
Figura 11: Levantamento Planialtimétrico da Bacia do Ribeirão Fundo
Fonte: Folhas 1:50000-IBGE-SF-22-Z-D-V-3 e SG-22-X-B-II-1.

19
3.5 Balanço Hídrico
Foi considerada a área contribuinte à montante do ponto de captação de água
pela Concessionária SABESP. A área da bacia foi traçada sobre plantas 1:50.000 IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), folha SF-22-Z-D-V-3, Itapeva e folha
SG-22-X-B-II-1,Ribeirão Branco, com curvas de nível de 20 metros de equidistância
vertical, meridiano central 51º. Foi utilizada também imagem georreferenciada e
ortorretificada do satélite “QuickBird” e imagem do “Google Earth”. A vista oblíqua em
3D desta ferramenta permitiu identificar pontos duvidosos na definição do perímetro da
bacia pela carta do IBGE. No “website” SIGRH (Sistema de Informações para o
Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo), dadas as coordenadas de
um ponto é possível calcular o balanço hidrológico da bacia (Figura 12).

Foi tomado o ponto de captação da SABESP na barragem da represa do Pilão


D’Água para análise dos dados acima e obteve-se o seguinte resumo:
 Vazão Media de longo termo: 1,463 m³/s
 Vazão Firme Qf : 0,732 m³/s
 Vazão Q7,10: 0,577 m³/s

A vazão Q7,10 corresponde a vazão mínima anual durante 7 dias consecutivos


com 10 anos de período de retorno.

Figura 12: Tela do site Regionalização Hidrológica do Estado de São Paulo


20
3.6 Caracterização Física da Bacia
No livro Hidrologia Aplicada Villela & Mattos, (1975), destacam que “o
conhecimento físico das bacias é de grande importância, já que, apoiados nesses
parâmetros, o técnico ira decidir-se, juntamente com os agricultores, pelos métodos de
controle de erosão, técnicas de preservação, bem como poderá comparar esta bacia com
as demais. Desse modo, o aproveitamento dos recursos hídricos pode ser feito de
maneira mais racional com maiores benefícios à sociedade em geral.

3.6.1 Características Geométricas da Bacia


Segundo Cruz, J.C. “a caracterização da bacia hidrográfica define objetivamente
as medidas, gráficas e índices fisiográficos mais difundidos na literatura científica que
podem ser estabelecidos através de cartas que contém curvas de nível (topografia) e a
rede de rios (hidrografia). Portanto, o ponto de partida para extrair as informações
fisiográficas é a individualização da bacia hidrográfica”.

Área de drenagem: 13.709,25 ha


Perímetro da Bacia: 74.015,16 m
Comprimento do canal principal: 34.457,00 m
Comprimento da rede total: 172.697,00 m
Desnível total: 324 m

Forma da bacia
 Coeficiente de Compacidade ou Índice de Gravelius
É o coeficiente que relaciona a forma da bacia com o perímetro do circulo de
mesma área que a bacia.


Isto nos dá um Coeficiente de Compacidade de 1,78. Bacia com Coeficiente de
Compacidade 1,00 representa bacia com formato circular.

 Fator de Forma

21
É um índice de forma que avalia o grau de alongamento da bacia. O fator de
forma demonstra uma relação da bacia com um retângulo e também indica a maior ou
menor probabilidade de enchente

Para os valores de área e comprimento acima temos Kf = 0,11


Como Kf ≤ 1, a bacia é menos sujeita a enchentes que outra de mesmo tamanho,
porém com maior fator de forma. Isso se dá porque a bacia é estreita e longa. Portanto,
analogamente ao índice anteriormente descrito, a contribuição dos tributários atinge o
curso d’água principal em vários pontos ao longo do mesmo, causando a chegada da
água ao mesmo em tempos diferentes: Além disso, há menos possibilidade de
ocorrência de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda sua extensão.

Densidade da drenagem
É o comprimento total (L) de todos os cursos d’água da bacia dividido pela sua
área contribuinte. A densidade de drenagem varia diretamente com a extensão do
escoamento superficial e, portanto, fornece uma indicação da eficiência da drenagem da
bacia.
L
Dd 
A

Dd = 198.70 km/137 km² = 1,45 km/km²

Vilella & Matos (1975) estabeleceram um parâmetro de análise da densidade de


drenagem que varie 0,5 km/km² para bacias de drenagem pobre, a 3,5 km/km² ou mais
para bacias excepcionalmente bem drenadas. Segundo Christofoletti (1980), o cálculo
da densidade é importante para o estudo das bacias hidrográficas por que apresenta
relação inversa com o comprimento dos rios. À medida que aumenta o valor numérico
da densidade há diminuição quase proporcional do tamanho dos componentes fluviais
das bacias de drenagem.

Declividade Equivalente
É a declividade uniforme cujo tempo de translação da água é o mesmo do perfil
longitudinal irregular natural. É o calculo da média harmônica dos trechos.

22
Onde Li e Ii representam, respectivamente, o comprimento e a declividade de cada sub-
trecho com declividade uniforme do perfil longitudinal do rio (Figura 13)

Figura 13: Perfil Longitudinal do canal do Ribeirão Fundo

Tabela 1: Declividade dos trechos do Ribeirão Fundo

Li Hi Ii Li/√Ii
741,00 25,20 0,03401 4018,16
2352,00 37,18 0,01581 18707,40
4494,00 6,93 0,00154 114420,59
843,00 5,40 0,00640 10534,01
344,00 96,32 0,28000 650,10
477,00 30,74 0,06444 1879,11
2430,00 30,12 0,01240 21825,41
9185,00 38,65 0,00421 141593,16
3092,00 28,83 0,00933 32018,73
10499,00 24,54 0,00234 217162,94
34457,00 323,91 562.809,62

( )

Declividade Equivalente Ieq = 0,00373 m/m = 3 m/km

23
Tempo de concentração
Tempo de concentração é o tempo necessário para que toda a bacia contribua
para a sua saída após uma precipitação. Quanto maior o tempo de concentração, menor
a vazão máxima de enchente (VILLELA & MATTOS, 1975).

É calculado pela formula de Kirpich:

Para L = 34,45 km e Ieq = 0,00373 m/m ou 0,37 m/km temos o Tc = 524 min.

Este tempo de 524 min é o tempo onde ocorrerá a maior vazão no ponto mais ã jusante
da bacia estudada.

3.6.2 Hierarquia da rede de drenagem


Neste trabalho utilizou-se a metodologia proposta por Strahler (1952 apud
Christofoletti, 1980) para determinação da hierarquia fluvial da bacia hidrográfica do
Ribeirão Fundo. Assim, cursos d'água de primeira ordem que são aqueles que não
possuem tributários. Os de segunda ordem têm apenas afluentes de primeira ordem. Os
de terceira ordem recebem afluência dos de Segunda ordem, podendo receber afluência
direta de cursos d’água de primeira ordem a-1 até 1, desde a sua nascente até sua seção
final. Ela mostra a extensão da ramificação na bacia (Figura 14).

24
Figura 14: Hierarquia fluvial da rede de drenagem da Bacia do Ribeirão Fundo.

25
A partir dos dados obtidos com a hierarquização da bacia hidrográfica do
Ribeirão Fundo definiu-se que esta bacia é de 4ª ordem, sendo classificada como uma
bacia hidrográfica pequena, ou seja, uma microbacia. Possui ao todo 209 canais, que
estão distribuídos segundo as suas ordens hierárquicas. (Tabela 2).

Tabela 2: Quantidade de canais, hierarquia e respectivos comprimentos

Ordem N° de canais Comprimento (km)

1ª ordem 167 107,48

2ª ordem 36 43,34

3ª ordem 5 26,37

4ª ordem 1 21,51

TOTAL 209 198,70

Relação de bifurcação
A razão de bifurcação (Rb) é definida como a relação entre o número de canais
de uma dada ordem (n) e o número de canais de ordem imediatamente superior (n+1)
(CHRISTOFOLETTI, 1974).

Tabela 3: Hierarquia de canais correlacionada com relação de bifurcação


Ordem Relação Bifurcação
1ª e 2 ª ordem 4,63
2ª e 3 ª ordem 7,20
3ª e 4 ª ordem 5,00

3.6.3 Caracteristicas do Relevo


O conhecimento dos aspectos físicos e principalmente da morfologia de uma
bacia torna-se indispensável para estudos que mostrem realmente sua dinâmica. Essas
características são definidas por muitos fatores como clima, relevo, forma, tipo de
drenagem, solos e declividade da bacia. O relevo de uma bacia hidrográfica, elencando

26
sua declividade exerce grande influência na bacia, pois determina, por exemplo, a
velocidade do escoamento superficial (Paes e Manzione, 2011)

Figura 15: Modelo Hipsométrico GDEM Sensor Aster

Classes de Declive
A aptidão agrícola do solo é importante para a conservação das bacias
hidrográficas num nível desenvolvido de tecnologia e a declividade é importante na
escolha das culturas a serem desenvolvidas, assim as culturas anuais devem estar nas
classes com menores declives.

27
Para execução das cartas com as classes de declives utilizamos as cortas
topográficas na escala 1:50.000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
datadas de 1974, imagens do sensor “ASTER GDEM Worldwide Elevation Data” (1.5
arc second de resolução). As cartas foram georreferenciadas no “QUANTUM GIS” e o
modelo hipsométrico tratado no “GIS Global Mapper 13”; as classes foram geradas no
SIG SPRING (Câmara et al., 1996) e exportadas para o QUANTUM GIS para geração
de produtos finais de impressão.

Para definição das classes de declividade adotamos os intervalos propostos


baseados nos intervalos em porcentagem propostos por Ramalho Filho e Beek (1995),
que são: 0 – 3% (plano), 3 – 8% (suave ondulado), 8 – 13% (moderadamente ondulado),
13 – 20% (ondulado), 20 – 45% (forte ondulado), e maior que 45% (montanhoso). Esses
intervalos são definidos pelos autores conforme o grau de limitação de uso do solo em
função da susceptibilidade a erosão.

A Figura 16 mostra a carta gerada pela classificação das classes de declive e a


tabela4 mostra os resultados das somas das áreas das classes em cada intervalo.

Tabela 4: Áreas e porcentagens das classes de declive


CLASSE DECLIVE (%) ÁREA (km²) ÁREA (%)
0-3 8,2629 6,03
3-8 38,6284 28,18
8-13 43,0459 31,40
13-20 33,1716 24,20
20-45 13,9158 10,15
>45 0,0654 0,05
Area Total 137,0900 100,00

28
Figura 16: Mapa das classes de declive.

29
4. LEVANTAMENTO DO USO DO SOLO EM 1954/55

Para este levantamento utilizou-se o Carta 1:10000 – Vale do Ribeira – Serviço


n°134 executada pela Prospec – Levantamentos, Prospecções e Aerofotogrametria para
DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica, publicada em 1956, a partir de
fotografias aéreas 1:45000 tomadas em 1954/55.

Figura 17: Detalhe da Carta 1:10000 - DAEE

Pela legenda das cartas vemos que na época o levantamento levou em


consideração os seguintes usos: capão de mato, arbustos, árvores isoladas pântanos,
brejo e cultura anual. Como o uso predominante à época, como se pode observar nas
aerofotos 1962 e por conversas com pessoas que conheceram o local, eram as pastagens,
deduz-se que pastos foram considerados cultura anual.

Figura 18:Legenda Carta DAEE 1954/55

30
Foi necessário complementar o levantamento de época com fotografias de 1962
pois este trabalho foi até a latitude 24°, como visto na figura 19. Esta área não coberta
pelo levantamento representa 5,1% da área total e pode ser restituída com fotos
fotografias aéreas 1962 – Escala 1: 25000 – Secretaria da Agricultura do Estado de São
Paulo – Instituto Agronômico de Campinas-SP.

A seguir apresentamos a Tabela 5 com as porcentagens e os usos da carta


1:10000 DAEE 1954/55.

Tabela 5: Usos áreas e porcentagens obtidas a partir do Levantamento DAAE- 1954/55

USO AREA %
PASTO 10.603,81 77,35
CULTURA 79,39 0,58
EXP. MINERAL 36,88 0,27
AREA URBANA 152,03 1,11
CAPOEIRA 2.515,39 18,35
MATA 188,15 1,37
VARZEA 133,60 0,97
REPRESA 0,00 0,00
REFLORESTAMENTO 0,00 0,00
AREA SEM USO DEFINIDO 0,00 0,00
AREA TOTAL BACIA 13.709,25 100,00

USO DO SOLO - 1954/55


90,00
80,00
PASTO
70,00
60,00 CULTURA
50,00 EXP. MINERAL
40,00 AREA URBANA
30,00
CAPOEIRA
20,00
MATA
10,00
0,00 VARZEA
REPRESA
REFLORESTAMENTO

Figura 19: Gráfico das porcentagens do Uso do Solo pelo Levantamento DAEE 1954/55

31
Figura 20: Planta de Uso do Solo em 1954/55

32
5. LEVANTAMENTO DO USO DO SOLO EM 2012

Para este levantamento foram utilizadas fotografias aéreas, cobertura 1:30.000


Base S.A. de 2004, imagem “QuickBird” Ortorretificada, imagens “Landsat TM” de
Agosto 2008. A imagem “QuickBird” ortorretificada possibilitou a digitalização com
muito detalhe dos usos atuais, traçando um retrato fiel da realidade local.

Figura 21: Aerofoto 1:30000


Fonte: Base Aerofotogrametria S.A.

Para auxiliar no melhor ajuste do georreferenciamento das imagens e plantas nos


softwares de geoprocessamento, foi feito apoio com GPS submétrico, levantando todas
as estradas vicinais e caminhos, pontes e outros detalhes relevantes.

Após a execução das plantas com as respectivas divisas do uso, partiu-se para a
reambulação no campo para conferência dos usos que foram modificados entre as datas
das imagens e a realidade atual, resultando em plantas atualizadas, corrigidas quanto ao
uso e quanto à forma. A Tabela 6 um resumo de todos os usos definidos encontrados na
bacia.

33
Tabela 6: Áreas e porcentagens dos Usos do Solo em 2012

USO AREA (há) %


PASTO 3.026,63 22,08
CULTURA 3.694,13 26,95
EXP. MINERAL 106,04 0,77
AREA URBANA 321,97 2,35
CAPOEIRA 3.021,38 22,04
MATA 0,00 0,00
VARZEA 354,13 2,58
REPRESA 89,27 0,65
REFLORESTAMENTO 2.894,19 21,11
Area sem uso definido 201,51 1,47
AREA TOTAL BACIA 13.709,25 100,00

USO DO SOLO ATUAL


30,00

25,00
PASTO
20,00 CULTURA
EXP. MINERAL
15,00
AREA URBANA
10,00 CAPOEIRA
MATA
5,00
VARZEA
REPRESA
0,00
REFLORESTAMENTO
Area sem uso definido

Figura 22: Áreas e porcentagens dos Usos do Solo em 2012

Algumas pequenas áreas não tinham usos definidos, como carreadores muito
largos, áreas reservadas no reflorestamento para depósito de lenhas para transporte,
pátios de fazendas ou serrarias e foram englobadas no mesmo item.

34
Figura 23: Planta de Uso Atual do Solo

35
6. INVENTARIOS E LEVANTAMENTOS DA COBERTURA VEGETAL DO
ESTADO DE SÃO PAULO

Foram consultados vários levantamentos da cobertura vegetal e de uso do solo


do Brasil e do Estado de São Paulo. A revista online Confins apresenta no numero
9 2010 artigo do Prof. Marcello Martinelli, «Estado de São Paulo: aspectos da
natureza», que cita como um primeiro mapa da vegetação do Brasil o trabalho
intitulado Mattas e campos no Brasil de autoria do Serviço Geológico e Mineralógico
publicado em 1911. Representa as seguintes formações: Matas (incluindo as que têm
sido devastadas), Campos, Caatingas, Vegetação costeira e Pantanal.

Um trabalho foi importante no mapeamento da vegetação paulista e foi


executado pela equipe de pesquisadores do Instituto Florestal e Instituto Agronômico de
Campinas, coordenado por Serra Filho et al. (1974) editado pelo Instituto Agronômico
denominado “Levantamento da Cobertura Vegetal Natural e do Reflorestamento no
Estado de São Paulo” foi produzido a partir das aerofotografias verticais,
pancromáticas, em escala de 1: 25.000, da cobertura aerofotogramétrica do Estado
realizada no período de 1971 a 1973. Foi feito pelo método da amostragem sistemática
por grade de pontos, sendo fotointerpretados os tipos de vegetação natural nas formas
de mata, capoeira, cerradão, cerrado, campo cerrado, campo e de reflorestamento.

No trabalho foram apresentados os conceitos de cada tipo de vegetação


reconhecido em território paulista, destacando os presentes na Bacia em estudo:
“Mata: Formação vegetal inteiramente dominada por árvores, de estrutura
complexa apresentando grande riqueza de espécies, em três estratos distintos: estrato
superior, relativamente pouco denso formado por indivíduos de 15 a 20 metros de
altura, de troncos cilíndricos, com esgalhamento médio e alto; estrato intermediário,
com alta densidade, constituído por indivíduos de 10 a 15 metros, com copas mais
fechadas; estrato inferior constituído por ervas e arbustos de até 3 metros de altura. Tais
formações apresentam, em função da umidade, maior ou menor riqueza em espécies e
presença de epífitas e lianas”
“Capoeira: Vegetação secundária que sucede à derrubada das florestas,
constituída principalmente por indivíduos lenhosos de segundo crescimento, na maioria,
da floresta anterior e por espécies espontâneas que invadem as áreas devastadas,
apresentando porte desde arbustivo até arbóreo, porém, com árvores finas e
compactamente dispostas”
A figura 22 mostra um detalhe da planta de Sorocaba, especificamente a região
estudada, e mostra que este trabalho já detectava a intensa ocupação de áreas com
reflorestamento.

36
Figura 24: Detalhe da Planta da Região de Sorocaba
Fonte: Levantamento da Cobertura Vegetal e do Reflorestamento do Estado
de São Paulo (1974).

37
Também deve ser destacado o Inventário Florestal do Estado de São Paulo,
destacado trabalho de mapeamento da vegetação atual executado pela equipe de
pesquisadores do Instituto Florestal, publicado em 2005 e importante fonte de consulta
disponível em formato digital, fator importante para contribuir para contribuir com a
pesquisa da vegetal natural.

Figura 25: Detalhe do Inventario Florestal do Estado de São Paulo (Atlas), mostrando a
área de interesse.

Pelo Inventario Florestal vemos que na região estudada destaca-se a Floresta


Ombrófila Mista e a Floresta Ombrófila Mista em contato Savana/Floresta Ombrófila
Mista.

38
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultado final deste relatório, procurou-se enfatizar os pontos mais


significativos encontrados nestes levantamentos. A tabela 7 resume as tabelas
anteriores.

Tabela 7: Quadro Resumo da variação do Uso do Solo

USO 1954/55 USO 2012 VARIAÇÃO NO PERÍODO


USO AREA (ha) % AREA (ha) % HECTARES PORCENTAGEM
PASTO 10603,81 77,35 3026,63 22,08 -7577,18 -55,27
CULTURA 79,39 0,58 3694,13 26,95 3614,74 26,37
EXP. MINERAL 36,88 0,27 106,04 0,77 69,16 0,50
AREA URBANA 152,03 1,11 321,97 2,35 169,94 1,24
CAPOEIRA 2515,39 18,35 3021,38 22,04 505,99 3,69
MATA 188,15 1,37 0,00 0,00 -188,15 -1,37
VARZEA 133,60 0,97 354,13 2,58 220,53 1,61
REPRESA 0,00 0,00 89,27 0,65 89,27 0,65
REFLORESTAMENTO 0,00 0,00 2894,19 21,11 2894,19 21,11
Area sem uso definido 0,00 0,00 201,51 1,47 201,51 1,47
AREA TOTAL BACIA 13709,25 100,00 13709,25 100,00

Figura 26: Quadro Comparativo das porcentagens plantadas em 1954 e 2012

39
Analisando os dados vemos que variação mais significativa dos usos ocorreu na
redução da área de Pasto e aumento da área destinada à Cultura Anual, pois em 1954
tínhamos 75% da área da bacia ocupada com pastos e hoje temos apenas 22,08%
enquanto as Culturas Anuais que ocupavam 0,58% no levantamento de 1955 hoje
ocupam 26,95%. Destacamos nestas culturas anuais a soja, milho e trigo que tiveram
aumento significativo em sua área plantada em todo sudoeste paulista (Figura 25).

Figura 27: Plantação de milho em primeiro plano e ao fundo área ocupada por soja.

A ocupação com culturas anuais aconteceu na porção leste da bacia onde estão
as terras mais planas, mostrando que a influência econômica da agricultura procura os
lugares com melhores manchas de capacidade de uso (Anexo 8).
Nas áreas ocupadas pela vegetação natural, houve um pequeno aumento das
áreas de capoeira, resultado da transformação das poucas matas existentes em 1954/55
com o corte das árvores maiores. Hoje podemos dizer que não temos matas nesta bacia e
sim florestas em recuperação pois grande parte destas áreas são fundo de vale (áreas de
preservação permanente) e reservas florestais das fazendas, pois o Código Florestal
exige 20% de área de preservação e principalmente as maiores matas são áreas de
compensação ambiental do Grupo Itaú que explora calcário na mina da Lavrinha.
Outro fato que contribuiu para a conservação da área de vegetação natural foi o
intenso plantio de Reflorestamento, principalmente pelo mesmo Grupo Itaú que
necessita destas florestas artificiais para produção de cal em suas fábricas localizada
dentro da mina e na área urbana de Itapeva. Esta área de Reflorestamento ocupa hoje

40
21,11% da área de toda bacia, estando concentrada no seu setor intermediário,
principalmento no entorno da exploração mineral. Aqui também houve ocupação
correta das áreas segundo sua classe de declive. Os grandes reflorestamentos estão
situados na porção centro-oeste da bacia, onde estão os declives mais acentuados
(Anexo 8). Assim, considerando a vegetação natural e reflorestamento temos 43,15 %
da área ocupada por vegetação de porte alto em oposição à situação de 1954/55 que era
de 19,72 %.
As áreas de várzea foram agora corretamente classificadas, pois no levantamento
de 1954/55 eram 0,97% da área da bacia e agora estão com 1,61%. Estas áreas eram
antigamente parte integrante dos pastos e hoje estão preservadas como áreas de
conservação ambiental (figura 26)

Figura 28: Varzeas próximas á cabeceira do Ribeirão Fundo

As áreas urbanas cresceram 1,11 para 1,24 principalmente pelo fato de haver
uma aglomeração urbana, Alto da Brancal próxima à mina de calcário e também pelo
crescimento da área urbana da sede do município ao norte da bacia.

Figura 29: Áreas urbanas de Itapeva e Alto da Brancal

41
Quanto às áreas ocupadas pelos barramento de água - represas e lagoas – não
foram mapeadas em 1954/55 e hoje representam 0,65% da área. Este aumento foi
provocado pela necessidade de irrigação de culturas atuais que hoje ocupam o setor
leste da bacia e que tem grande influência na economia da região.

42
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O gerenciamento de uma bacia hidrográfica é complexo e envolve diversos


interesses conflitantes. Para isso deve ser executado um Plano de Bacia, que aproveite
as potencialidades turísticas e ecológicas e não impeça o crescimento social dos
moradores do entorno e que tenha como metas ações que promovam a conservação
ambiental tais como:

• Instalação de estações pluviométricas e fluviométricas para monitoramento da


bacia

• Obras de infraestrutura de controle de enchentes e escassez hídrica

• Mobilização dos habitantes da bacia na defesa dos recursos hídricos, fauna,


flora locais, com implantação no curriculum das escolas locais de disciplina de
Educação Ambiental.

• Conservação das APPs e criação de corredores ecológicos

• Aplicação de técnicas que perenizem as estradas rurais internas à bacia.

• O Plano da Bacia possibilitará mais credibilidade busca de recursos junto aos


orgàos estaduais e federais.

• Ampliação das Zona de Controle Ambiental no Zoneamento, Uso e Ocupação


do Solo de Itapeva - Lei Nº 2520/07

• Aprovação de Lei de Zoneamento Agrícola na bacia do Ribeirão Fundo

O trecho da Bacia do Ribeirão Fundo, dentro da área urbana de Itapeva, está


protegido pela Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo de Itapeva – Lei 2520/07,
como Zona de Controle Ambiental, onde só é possível parcelamento de chácaras de
lazer com no mínimo 1000 m² , taxa de ocupação máxima de 60% e taxa de
permeabilidade mínima de 40%, como forma de evitar que haja ocupação habitacional
descontrolada (Figura 30 e 31).

43
Figura 30: Detalhe da planta da Lei de Uso e Ocupação do Solo na região onde o
Ribeirão Fundo atravessa a Zona Urbana de Itapeva

Figura 31: Parque Pilão D’Água, local de captação de água para abastecimento
da zona urbana do município de Itapeva.

44
9. BIBLIOGRAFIA

AB'SÁBER, A.N. O domínio morfoclimático dos mares de morro no Brasil.


IGEOG-USP Geomorfologia. 1966, 9p.

ALMEIDA, F.F.M. Fundamentos Geológicos do Relevo Paulista, Universidade de São


Paulo, Instituto de Geografia, Série Teses e Monografias nº14. São Paulo, 1974.

ALMEIDA, F.F.M. de & HASUI, Y. O Pré-cambriano do Brasil. São Paulo, Edgard


Blucher, 1984a, 378p.
CALIJURI, M.C.; BUBEL, A.P.M. Conceituação de Microbacias. In: LIMA, W de P.;
ZAKIA, M.J.B. (Orgs.) As florestas plantadas e a água: Implementando o conceito da
microbacia hidrográfica como unidade de planejamento. São Carlos: Ed. RiMA, 2006.
226 p.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia: a análise de bacias hidrográficas, 2ª edição.


São Paulo: Editora Edgard Blucher, 1980. 188 p.

FERREIRA, F.J.F., MORAES, R.A.V., FERRARI, M.P., VIANNA R.B., 1981,


Contribuição ao estudo do Alinhamento Estrutural de Guapiara, SBG, Núcleo São
Paulo, Simpósio Regional de Geologia 3, Curitiba, Atas, (1):226-240.

DEPARTAMENTO DE AGUAS E ENERGIA ELÉTRICA. Legislação de Recursos


Hídricos – Política Estadual. 2006.

FAIRCHILD, T.R. 1977. Conophyton and other columnar stromatolites from the
Upper Precambrian Açungui Group near Itapeva, SP, Brazil. In: SBG, Simpósio
Regional de Geologia, 1, São Paulo, Atas, p. 179-198.

IRITANI, M. A.; EZAKI, S.: As águas subterrâneas do Estado de São Paulo.


Secretaria do Meio Ambiente – SMA. 2. Ed. São Paulo SMA, 2009. 104 p.

IPT – Mapa Geológico do Estado de São Paulo, São Paulo, vol I e II, escala
1:500.000, 1981.

ODA, G. H. (Coord. IG/SMA); DAEE; IPT; CPRM. Mapa Hidrogeológico do Estado


de São Paulo (1: 1.000.000). 2a Reunião sobre Pesquisa Ambiental na SMA. Boletim
SMA, São Paulo: DAEE/IPT/CPRM, 1999. p. 99;

PAES, C. O.; MANZIONE, R. L. Geração de mapas de declive e análise dos padrões


geomorfológicos na bacia do Ribeirão da Onça, Brotas/SP a partir de dados
topográficos em diferentes escalas. In: Simpósio Brasileiro De Sensoriamento Remoto –
SBSR, 15., 2011, Curitiba. Anais. São José dos Campos: INPE, 2011. p. 5148-5154.

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Cobrança Pelo Uso Dos Recursos Hídricos-


Legislação de Referência.

45
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Situação dos Recursos Hídricos no Estado
de São Paulo. 2009.

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO SUL. Plano de Bacia


do Rio Caí. 2008. Disponível em: <http://www.comitecai.com.br>. Acesso em 11 out
2012.

SERRA FILHO, R. et al. Levantamento da Cobertura Vegetal Natural e do


Reflorestamento no Estado de São Paulo. Boletim Técnico IF. São Paulo: n. 11, p. 1-
56, 1975.

STRAHLER, A. N. Hypsometric (area-altitude) analysis of erosional topology.


Geological Society of America Bulletin 1952. N. 63. p. 1117–1142.

VILLELA, S.M.; MATOS, A. Hidrologia aplicada. 1 ed. São Paulo: McGraw-Hill,


1975. 245 p.

SECRETARIA DE SANEAMENTO E RECURSOS HÍDRICOS; Coordenadoria de


Recursos Hídricos. Relatório de Situação dos Recursos Hídricos do Estado de São
Paulo - São Paulo : SSRH/CRHi, 2011. 208 p. 29,7 x 27,6cm.

SISTEMA DE INFORMAÇÕES PARA O GERENCIAMENTO DE RECURSOS


HÍDRICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO – SIGRH. Regionalização Hidrológica
do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.sigrh.sp.gov.br/cgi-
bin/regnet.exe?lig=podfp>. Acesso em 11 out 2012.

SHERMAN GE, SUTTON T, BLAZEK R, HOLL S, DASSAU O, MORELY B,


MITCHELL T AND LUTHMAN L. 2011. Quantum GIS User Guide - Version 1.7
“Wroclaw”.

CÂMARA, G., SOUZA,R.C.M., FREITAS, U.M., GARRIDO, J., MITSUO II,F.,


SPRING: Integrating Remote Sensing and GIS by Objectoriented Data
Modelling. Image Processing Division (DPI), National Institute for Space Research
(INPE), Brazil

TAKAHASHI, A.T., FERREIRA, J.C.G., THEDORIVICZ, A. 1984. Projeto


Guapiara. Projeto Final. CPRM/PROMINERIO

46
ANEXOS

ANEXO 1 - LEVANTAMENTO DAEE 1954/55

ANEXO 2 - VISTA DA BACIA DO RIBEIRÃO FUNDO

ANEXO 3 - LEVANTAMENTO USO DO SOLO EM 1954/55

ANEXO 4 - LEVANTAMENTO DO USO DO SOLO EM 2012

ANEXO 5 - BASE CARTOGRÁFICA: CARTAS IBGE 1:50.000

ANEXO 6 - PLANTA HIPSOMÉTRICA DA BACIA DO RIBEIRÃO FUNDO

ANEXO 7 - LEVANTAMENTO DA VEGETAL NATURAL E


REFLORESTAMENTO

ANEXO 8 - LEVANTAMENTO USO EM 2012 E CLASSES DE DECLIVE

47
ANEXO 1 - LEVANTAMENTO DAEE 1954/55

48
49
ANEXO 2 - VISTA DA BACIA DO RIBEIRÃO FUNDO

50
51
ANEXO 3 - LEVANTAMENTO USO DO SOLO 1954/55

52
53
ANEXO 4 - LEVANTAMENTO DO USO DO SOLO EM 2012

54
55
ANEXO 5 - BASE CARTOGRÁFICA: CARTAS IBGE 1:50.000

56
57
ANEXO 6 - PLANTA HIPSOMÉTRICA DA BACIA DO RIBEIRÃO FUNDO

58
59
ANEXO 7 - LEVANTAMENTO DA VEGETAL NATURAL E
REFLORESTAMENTO

60
61
ANEXO 8 - LEVANTAMENTO USO EM 2012 E CLASSES DE DECLIVE

62

Você também pode gostar