Você está na página 1de 75

PEDRO HENRIQUE WISNIEWSKI KOEHLER

ANÁLISE ESPACIAL DAS FORMAS DE INTERVENÇÃO ANTRÓPICA NO

PARQUE DA RESTINGA, PONTAL DO PARANÁ - PR

CURITIBA
2006
ii

PEDRO HENRIQUE WISNIEWSKI KOEHLER

ANÁLISE ESPACIAL DAS FORMAS DE INTERVENÇÃO ANTRÓPICA NO

PARQUE DA RESTINGA, PONTAL DO PARANÁ - PR

Monografia apresentada como


requisito parcial à conclusão do Curso
de Especialização em Análise
Ambiental, departamento de Geografia,
Setor de Ciências da Terra,
Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Dr. Everton Passos

CURITIBA
2006
iii
iv

Àqueles que se encantam e


compreendem a restinga...
v

AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente meu pai Henrique Koehler por todo tipo de ajuda
nesta importante fase da vida e por acreditar e investir na minha formação. Valeu
pai! Agradeço também a minha mãe Celina Wisniewski pelos ensinamentos e
incentivo para a conclusão do trabalho e à Luciana pelo amor e companheirismo.
Agradeço ao amigo e companheiro Marcos Alves, pela sua atitude positiva e
pelas divertidas experiências passadas em Rio Branco. E também por me ensinar e
incentivar na utilização das técnicas de Sistemas de Informação Geográficas.
Agradeço ao meu orientador professor Dr. Everton Passos pela
disponibilidade e atenção na fase final do trabalho. E ao professor Dr. Maurício
Noernberg e o Msc. Clécio Quadros do Centro de estudos do Mar, pelo apoio na
fase de levantamento de campo.
Agradeço especialmente a todos os amigos do grupo “Na Trilha do Mar”
(Paula, Luciana, Alexandre, Cássio, Juliane, Marcela, Tami, Birigui, Luana, Lica e
também à Mercedes Wella) pelos grandes e divertidos momentos de aprendizagem
e experiências que compartilhamos juntos e que motivaram a realização deste
trabalho.
vi

SUMÁRIO

RESUMO.....................................................................................................................ix
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................1
2 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................5
2.1 CONSERVAÇÃO DA NATUREZA.........................................................................5
2.1.1 Espaços Protegidos e Unidades de Conservação...................................6
2.1.2 Legislação Ambiental Incidente Sobre Restingas....................................8
2.2 GEOMORFOLOGIA DAS RESTINGAS.................................................................9
2.2.1 Aspectos Geomorfológicos Locais........................................................11
2.3 ECOSSISTEMA DE RESTINGA..........................................................................13
3 ÁREA DE ESTUDO...............................................................................................16
3.1 HISTÓRICO..........................................................................................................16
3.2 CARACTERÍSTICAS NATURAIS.........................................................................16
4 METODOLOGIA....................................................................................................20
4.1 LEVANTAMENTO DE CAMPO............................................................................20
4.2 PROCESSAMENTO DOS DADOS......................................................................21
4.3 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS...............................................................................22
5 RESULTADOS.......................................................................................................25
5.1 DIAGNÓSTICO DE USOS...................................................................................25
5.1.1 Considerações Gerais............................................................................25
5.1.2 Diagnóstico Setorizado...........................................................................28
5.1.3 Sumário..................................................................................................45
5.2 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS...............................................................................45
5.2.1 Descrição................................................................................................45
5.2.2 Síntese dos Impactos.............................................................................51
6 DISCUSSÃO..........................................................................................................55
6.1 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS.............................................................55
6.2 DIAGNÓSTICO E IMPACTOS AMBIENTAIS......................................................55
6.3 CONFLITOS.........................................................................................................58
6.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................60
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................62
ANEXOS....................................................................................................................67
vii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Localização da área de estudo...............................................................17


FIGURA 2 - Fluxograma da metodologia de identificação de impactos.....................23
FIGURA 3 - Divisão da área de estudo em setores...................................................25
FIGURA 4 - Digitalização das ocupações irregulares e áreas alteradas no entorno.27
FIGURA 5 - Alteração topográfica dos cordões dunares e corte da vegetação........32
FIGURA 6 - Área contígua a ZPA do Rio Barrancos.................................................32
FIGURA 7 - Alteração na drenagem pluvial da restinga por trilhas de acesso..........47
viii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Método de georreferenciamento e erros das fotos aéreas analisadas.22


TABELA 2 - Sumário dos resultados totais das intervenções antrópicas na área do
Parque..................................................................................................28
TABELA 3 - Sumário das intervenções antrópicas no setor norte - Pontal do Sul....29
TABELA 4 - Sumário das intervenções antrópicas no setor Barrancos....................31
TABELA 5 - Sumário das intervenções antrópicas no setor Central.........................37
TABELA 6 - Sumário das intervenções antrópicas no setor Sul - Praia de Leste.....41
TABELA 7 - Alterações no ambiente por categoria de intervenção..........................51
TABELA 8 - Índices de impacto total e por categoria de intervenção em cada parcela
da área de estudo..................................................................................52
ix

RESUMO

O Parque Natural Municipal da Restinga é uma unidade de conservação que


engloba um remanescente de restinga no litoral do estado do Paraná, no sul do
Brasil. Porém, diversos usos proibidos pela lei e conflitantes com os objetivos de
conservação são encontrados na área de estudo. Neste contexto, o objetivo do
trabalho foi analisar as formas de intervenção antrópica no Parque da Restinga,
seus conflitos subjacentes e impactos ambientais decorrentes. A identificação das
intervenções na área de estudo foi realizada por meio de um levantamento de
campo, utilizando um GPS, e interpretação de fotografias aéreas. Tais informações
foram armazenadas e processadas num Sistema de Informações Geográficas. Os
impactos associados a cada categoria foram identificados a partir de uma
caracterização prévia da ecologia e geomorfologia do sistema e sintetizados em um
mapa temático. Foram gerados 10 mapas diagnóstico na escala 1:5.000,
contemplando as seguintes intervenções: trilhas; ranchos de pesca; extensão de
jardins; plantio de espécies exóticas; quadras esportivas; ocupações irregulares; e
outras. De maneira geral, ocupações e trilhas são as maiores responsáveis por
impactos ambientais, causando alterações negativas nas estruturas e processos do
ecossistema. A área foi dividida em quatro setores, sendo que dois deles
apresentam alta relevância para conservação. Em contraste, os demais se
encontram fragmentados e sob intensa pressão de uso. Os conflitos na unidade
decorrem da adjacência direta de seus limites a áreas urbanizadas; ao direito de
acesso à praia; ao alto valor da beira-mar; o crescimento populacional do litoral; e
falta de planejamento na implementação da unidade. Muitas intervenções são
anteriores à implementação, caracterizando falta de estudos e envolvimento popular
na delimitação da área. Existem setores com maior potencial ambiental e logístico
(administração, fiscalização) para a conservação. Os conflitos identificados sugerem
uma abordagem integrada na gestão local.
1

1 INTRODUÇÃO

A zona costeira é um espaço complexo devido à sua posição na interface


entre a terra e o mar e aos inúmeros esquemas de desenvolvimento que aí se
instalam. Suas características ecológicas e sócio-econômicas e conflitos decorrentes
criaram uma necessidade crescente por iniciativas de gestão, levando em conta os
diferentes ambientes, recursos e atividades encontradas nestes locais (UNESCO,
2000).
As dinâmicas naturais da zona costeira se caracterizam pela atividade das
forças físicas (ondas, marés, ventos, tempestades), processos biológicos e também
pela existência de alguns dos ecossistemas mais produtivos do mundo, que
comportam uma grande diversidade. De outro lado, existem diversos interesses
econômicos sobre a área como a instalação de portos, indústrias, desenvolvimento
urbano e turístico, além de elevadas taxas de crescimento demográfico (caso do
Paraná e Brasil). Estas particularidades, reflexo da grande diversidade de ambientes
e recursos, compõem o quadro geral da zona costeira.
Segundo ANDRIGUETTO-FILHO (2004), como resultado disso, tal região é
caracterizada pela competição intensa por recursos e espaços terrestres e
marítimos, por vários grupos de interesse, o que freqüentemente resulta em conflitos
severos e destruição da integridade funcional do sistema de recursos. Outro
agravante dos conflitos é que os usos da zona costeira quase sempre afetam ao
mesmo tempo jurisdições de diferentes níveis de governo, do local ao federal, ou
mesmo transnacional. A complexidade das interfaces aumenta com a maior
heterogeneidade de paisagens e gradientes ambientais, usos e grupos sociais.
Sendo um exemplo as densas aglomerações urbanas se interpenetrando com
espaços naturais protegidos.
Assim, o autor citado acima destaca a utilização do conflito como o fio
condutor ou ponto de partida para a pesquisa do meio ambiente na zona costeira
(particularmente àquelas de caráter interdisciplinar), apontando a vantagem de
também satisfazer as necessidades da gestão. Neste sentido este trabalho buscou
abordar um conflito real envolvendo diversos interesses de uso e a preservação de
uma área de restinga no litoral paranaense, sob a ótica da análise ambiental.
2

Por estarem situadas na interface entre os ambientes marinho e continental,


as restingas constituem um dos mais complexos ecossistemas existentes na zona
costeira. E pelo mesmo motivo, ou seja, sua proximidade com o mar, as restingas
vêm sofrendo uma constante exploração ao longo da história, resultando num
intenso processo de degradação das suas condições originais. Atualmente, estes
ambientes estão ameaçados de descaracterização definitiva devido à intensificação
das atividades antrópicas nestas regiões (MORAES, 1999).
A colonização européia causou forte impacto antrópico neste ecossistema,
sendo que quase todas as espécies arbóreas de grande porte foram subtraídas das
matas litorâneas nos primeiros cinqüenta anos de ocupação. Após a extração de
grande parte dos recursos florestais, as restingas próximas aos pólos demográficos
existentes no litoral brasileiro se transformaram no alvo preferencial para o
desenvolvimento urbano e turístico.
O histórico e as tendências de apropriação dos recursos nos ecossistemas
costeiros do país caracterizam-se pelo imediatismo do uso e ocupação do solo,
através da busca irracional da valorização da propriedade, ignorando
completamente as conseqüências tanto para o meio ambiente como para as
populações locais (AB’SABER, 1987). “Como resultado desta exploração de seus
recursos biológicos naturais, pode-se atualmente considerar que as restingas, em
todo o litoral brasileiro, encontram-se de alguma maneira alteradas, a maioria
infelizmente, total ou parcialmente degradada, e são considerados ecossistemas de
grande fragilidade no contexto do macrozoneamento do litoral brasileiro” (MMA,
1996).
A criação de áreas protegidas, por sua vez, é um dos instrumentos de gestão
ambiental, que tem como função conservar segmentos de diferentes ecossistemas,
quando estes comportam importantes recursos naturais e/ou culturais (SNUC, 2000).
No contexto do gerenciamento costeiro integrado, as áreas protegidas
desempenham um importante papel na minimização de conflitos de uso e
salvaguarda de valores ambientais costeiros de diferentes naturezas. O ideal é que
a criação e administração destas áreas ocorram de forma compatibilizada com
outras políticas, programas e iniciativas de conservação do ambiente e
gerenciamento de conflitos. Existem várias categorias de áreas protegidas, cada
uma com objetivos distintos. Ainda assim, são poucas as áreas de restinga com
3

características naturais que são protegidas por unidades de conservação e de


maneira geral, estes ecossistemas são pouco representativos em termos de áreas
de preservação no Brasil.
A partir deste panorama geral, é possível abordar o universo da pesquisa. O
município de Pontal do Paraná, localizado no norte da planície costeira do Paraná
apresenta um dos principais remanescentes de restinga do estado, o que motivou a
criação de um Parque Natural Municipal no ano de 2001. O Parque tem 232 Ha e
cobre grande parte de extensão da orla do município e foi legalmente estabelecido
por meio do decreto municipal nº 706/01. Além da importância desta área na
estabilização dos depósitos arenosos e balanço sedimentar da região, são
encontradas comunidades vegetais em diferentes estágios sucessionais, além de
diversidade de animais, especialmente a avifauna. As comunidades vegetais se
alternam entre os cordões arenosos colonizados por mata arbustiva fechada, e os
brejos entre-cordões, onde há a predominância de plantas aquáticas.
Apesar da categoria em que se enquadra esta unidade no Sistema Nacional
de Unidades de Conservação e de inúmeros outros dispositivos legais em nível
federal, estadual e municipal que protegem o ecossistema, o que se percebe no
caso da área de restinga do Parque Natural Municipal do Perequê em Pontal do
Paraná são diversas formas de uso incompatíveis com os objetivos desta unidade
de conservação. Especulação imobiliária, ocupações irregulares, a extensão dos
jardins de vizinhos à área, a ampliação de vias de acesso à praia, estabelecimento
de ranchos de pesca são exemplos de usos incompatíveis que podem causar
diferentes impactos ao ecossistema e inclusive comprometer a qualidade ambiental
para o uso público destes locais (KOTLER, 2004).
Diante do exposto, o pano de fundo que orientou esta pesquisa foi que a
configuração espacial atual do Parque Natural Municipal da Restinga evidencia
diversos conflitos de utilização com relação aos objetivos e normas legais desta
unidade de conservação e área de preservação. Sendo assim é necessário saber
até que ponto os objetivos de criação desta U.C. estão sendo alcançados; qual a
relevância da área em termos de conservação; quais as principais pressões
existentes e como se manifestam na paisagem. O processo atual de gestão e
preservação desta área vem ocorrendo sem o suficiente conhecimento destes
conflitos, o que intensifica a demanda por subsídios de suporte à tomada de decisão
4

e ordenamento da área, visando à preservação do ecossistema e minimização de


conflitos.
Visando atingir o objetivo deste trabalho, foi realizada uma análise espacial
das formas de intervenção antrópica dentro da área do Parque Natural Municipal da
Restinga, como subsídio ao planejamento e discussão das possibilidades de gestão
da Unidade de Conservação.
Os objetivos específicos, definidos como etapas necessárias ao cumprimento
do objetivo geral, incluíram as seguintes realizações:
- Diagnóstico e mapeamento dos usos incompatíveis com a legislação na área
do Parque;
- Identificação dos impactos associados a cada uso sobre o ecossistema;
- Classificação das áreas quanto ao seu grau de impacto ambiental e
antropização, assim como a identificação das zonas críticas e com potencial
de conservação;
- Com base nas informações geradas, são apresentados elementos para a
elaboração tanto de medidas de mitigação de impactos, quanto propostas de
gestão.
A estrutura do trabalho se inicia com a definição dos conceitos de conservação
da natureza e de áreas territoriais especialmente protegidas. Os principais
instrumentos legais de proteção de restingas são apresentados e esse tipo sistema
é definido e caracterizado com relação a suas características ecológicas e de
geomorfologia. Nos capítulos seguintes é realizada uma descrição da área de
estudo, em termos de características naturais e do histórico de implementação e
administração da UC.
Na seqüência, as metodologias empregadas no levantamento, processamento e
análise das informações são descritas. A seção que apresenta os resultados contém
o diagnóstico das intervenções antrópicas, com a respectiva descrição de cada
intervenção e uma série de mapas. Ainda são apresentados os principais impactos
ambientais de cada intervenção e um mapa síntese com o cruzamento dos impactos
em cada área do Parque.
A discussão trata a análise espacial e também dos conflitos de interesse
subjacente a cada grupo de intervenção, visando fornecer subsídios para a
discussão de medidas de gestão.
5

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CONSERVAÇÃO DA NATUREZA


A definição de conservação e desenvolvimento sustentado proposta pela
União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), do Programa das
Nações para o Meio Ambiente (PNUMA), em sua Estratégia Mundial para a
Conservação (1980, apud Diegues 2001) corresponde: “a gestão da utilização da
biosfera pelo homem, de tal sorte que produza o maior benefício sustentado para as
gerações atuais, mas que mantenha sua potencialidade para satisfazer às
necessidades e às aspirações das gerações futuras. Portanto a conservação é
positiva, e compreende a preservação, a manutenção, a utilização sustentada, a
restauração e a melhoria do ambiente natural. A conservação, bem como o
desenvolvimento se destina aos homens. Enquanto o desenvolvimento procura
alcançar as finalidades do homem, antes de tudo, mediante a utilização da biosfera,
a conservação procura obtê-la por meio da manutenção da referida utilização.
Porém para que não seja contraproducente, o desenvolvimento deverá ser
sustentado e a conservação permite obtê-lo”. A discussão acerca destes dois
conceitos é complexa e carregada de matizes e abordagens diversas. O pano de
fundo em que ela ocorre envolve a constatação da crise ambiental e desequilíbrio
causado pelo uso dos recursos naturais da biosfera (DIEGUES, 2001).
Partindo de preocupações ambientais sentidas no final da década de 60, um
processo político de discussão internacional se desenvolveu, marcado por
documentos (como: The Limits to Growth, de Dennis Meadows) e conferências
internacionais (Estolcomo, 1972; Rio - 92) (ESTADES, 2001). Este processo
envolveu o debate de diferentes correntes ambientalistas e econômicas que
acabaram por convergir de alguma forma na concepção de desenvolvimento
sustentável explícita no Relatório Brundtland de 1987 - Nosso futuro comum, da
Comissão Mundial para o Meio Ambiente, da ONU.
Contudo, o objetivo deste trabalho não é realizar uma discussão a respeito
desta temática, apesar de reconhecer a sua importância. O contexto mais amplo que
engloba a abordagem de análise utilizada nesta pesquisa se refere à utilização de
áreas de proteção como instrumento de gestão e conservação da natureza.
Entendendo como conservação: a preservação, manutenção, recuperação e
6

restauração do ambiente natural e sua utilização sustentável por meio de manejo do


uso humano.

2.1.1 Espaços Protegidos e Unidades de Conservação


Espaços territoriais especialmente protegidos são espaços geográficos,
públicos ou privados, dotados de atributos ambientais relevantes. Por
desempenharem papel relevante na proteção da diversidade biológica existente no
território nacional, são sujeitos por intermédio da legislação a um regime de
interesse público. Este regime se dá através da limitação ou vedação do uso dos
recursos ambientais da natureza por qualquer atividade econômica.
No Brasil, a adoção do modelo de espaços territoriais especialmente
protegidos é anterior ao surgimento da Política Nacional do Meio Ambiente,
estabelecida pela Lei 6.938 no ano de 1981. Tanto o Código Florestal (Lei
4.771/1965), quanto o Código de proteção à fauna (Lei 5.197/1967), já utilizavam
este modelo como instrumento de tutela da natureza (MILARÉ, 2004).
A criação da Constituição Federal de 1988, e particularmente o seu artigo 225
forneceram novos fundamentos para a proteção do meio ambiente de maneira geral,
postulando que todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O
poder Público foi incumbido de preservar e restaurar processos ecológicos
essenciais e prover o manejo ecológico de espécies e ecossistemas. Outra
atribuição estabelecida foi definir nas unidades da Federação, espaços territoriais e
seus componentes especialmente a serem protegidos. As categorias de área de
proteção especial, no contexto de parcelamento do solo urbano; as áreas de
preservação permanente e reservas legais, regidas pelo código florestal; e unidades
de conservação foram os mecanismos legais desenvolvidos para materializar esta
missão (MILARÉ, 2004).
Apesar de existirem no Brasil áreas protegidas desde 1937 (Parque Nacional
de Itatiaia), e de um agrupamento casuístico de unidades de conservação sem rumo
certo impulsionados pela Política Nacional de Meio Ambiente, coube à constituição
de 1988 o papel de verdadeiro divisor de águas. Com base neste estímulo, foi
criado no ano de 2000 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),
por meio da Lei 9.985, visando alcançar os objetivos nacionais de conservação. Esta
Lei instituiu o conceito jurídico de Unidade de Conservação como: “espaço territorial
7

e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características


naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção”.
Entre os objetivos do SNUC se destacam: contribuir para a manutenção da
diversidade biológica; a utilização de princípios e práticas de conservação da
natureza; contribuir para a preservação e restauração da diversidade de
ecossistemas; promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos
naturais; recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; entre outros.
Como diretriz, o SNUC deve assegurar que no conjunto das unidades de
conservação estejam representadas amostras significativas e ecologicamente
viáveis dos diferentes hábitats e ecossistemas. Assim como os procedimentos
necessários para o envolvimento da sociedade no estabelecimento da sua política e
a participação efetiva das populações locais na criação, implementação e gestão
das Unidades de Conservação.
Neste sentido o SNUC comporta diferentes tipos de unidades de
conservação, orientadas por objetivos diversos de conservação, genericamente
chamadas de categorias de manejo. As categorias se dividem em unidades de
proteção integral e de uso sustentável. As primeiras têm o objetivo básico de
proteger a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto de seus recursos, que
não envolve consumo, coleta, dano ou destruição.
Entre as categorias de unidades de proteção integral, se encontram os
Parques Nacionais, que podem ser criadas pelo Estado ou Município, sendo
chamadas então de Parque Estadual ou Parque Natural Municipal, como é o caso
da área de estudo deste trabalho. O objetivo básico dos Parques Naturais
Municipais é preservar ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e
beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, além de
recreação em contato com a natureza e turismo ecológico. As áreas devem ser
públicas, sendo as propriedades particulares desapropriadas. A visitação e uso
público devem ser regidos pelo plano de manejo da unidade.
O plano de manejo é um documento técnico orientado aos objetivos da
unidade de conservação, que estabelece o seu zoneamento, normas de uso e
8

manejo dos recursos naturais da área. Este plano deve ser elaborado no prazo de
cinco anos desde o estabelecimento da unidade, abrangendo toda sua área, sua
zona de amortecimento e corredores ecológicos. Deve estabelecer ainda medidas
que promovam a integração da unidade à vida econômica e social das comunidades
vizinhas.
Por fim, entre os aspectos do SNUC relevantes para a discussão deste
trabalho se encontra a questão da criação, implementação e gestão das unidades de
conservação. O processo de criação de uma unidade de conservação deve ser
precedido por estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a
localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade. Durante a fase
de consulta, o Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas e
inteligíveis à população local e a outras partes interessadas.
Outro artigo dessa lei permite que em casos de licenciamento ambiental de
empreendimentos de significativo impacto ambiental, o empreendedor é obrigado a
apoiar a implementação e manutenção de uma unidade de conservação de Proteção
Integral. Esse foi o caso da implementação do Parque Natural Municipal do Perequê,
em que a empresa Fospar S\A aplicou os recursos de compensação da construção
do seu terminal de fertilizantes no município de Paranaguá na criação desta unidade
de conservação.

2.1.2 Legislação Ambiental Incidente Sobre Restingas


O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em sua resolução
303/2002, define restinga como: “depósito arenoso paralelo à linha da costa, de
forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se
encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, também
consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do substrato
do que do clima. A cobertura vegetal nas restingas ocorre em mosaico, e encontra-
se em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com
o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivos e abóreo, este último mais
interiorizado”.
A restinga é protegida por vários dispositivos legais, tanto a nível federal
quanto estadual e municipal. Partindo numa ordem hierárquica, o art. 225 da
Constituição Brasileira de 1988 afirma que “... a Mata Atlântica, a Serra do Mar, ... e
9

a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei,
dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
quanto ao uso dos recursos naturais”. Uma vez que a Resolução 002/1994 do
CONAMA considera a restinga como parte integrante da Mata Atlântica no Estado
do Paraná, esse ecossistema se encontra protegido pela Constituição.
O Código Florestal (Lei 4.771/1965) inclui no seu texto as restingas, como
fixadoras de dunas e estabilizadoras de mangues. A resolução 303/2002 do
CONAMA estabelece uma faixa mínima de 300 metros, medidos a partir da linha
máxima de preamar, como restingas de preservação permanente. Em nível
estadual, a Lei 7.389/1980, que dispõe sobre o uso do solo do litoral, proíbe
edificações numa faixa de 200 metros em torno de áreas lagunares e restingas.
Já o município de Pontal do Paraná, por intermédio de sua Lei Orgânica
(resolução 014/1997), considera área de proteção permanente mangues,
mananciais, praias, costões e mata atlântica. Além disso, os decretos de
implantação do Parque Natural Municipal (706/2001), reforçam a possibilidade legal
de controle sobre a área.

2.2 GEOMORFOLOGIA DAS RESTINGAS


De maneira geral as restingas abrangem depósitos arenosos de origens variadas
como: cordões litorâneos, praias barreiras, barras, esporões e tômbolos. SUGUIO et
al. (1984) propõe a utilização do termo mais específico de planícies de restingas,
para designar a feição geomorfológica constituída de cordões litorâneos formados
em acrescência lateral. A grande maioria das planícies litorâneas arenosas é
constituída de feixes de cristas praiais, formando uma superfície de relevo muito
suave denominada terraço de construção marinha. Essas superfícies, quando
originadas concomitantemente ao abaixamento gradual do nível do mar, situação
aparentemente mais freqüente nas costas sul e sudeste brasileiras nos últimos
milhares de anos, exibem declividade pouco acentuada rumo ao mar.
Segundo SUGUIO et al. (1984, 1990) os quatro principais fatores associados à
construção da uma planície de restinga são:
a) Fontes de areia: no Brasil as principais fontes atuando neste sentido seriam: as
escarpas arenosas da formação barreiras; os rios que provém do interior e
desembocam no oceano; as escarpas cristalinas da serra do Mar; e as areias
10

relictas que recobrem a plataforma continental. Areias de uma única fonte podem
predominar na constituição de cordões arenosos, porém na maioria dos casos
devem resultar da mistura de sedimentos arenosos de várias fontes. No sudeste as
escarpas cristalinas são um importante contribuinte. No restante do território, e de
forma predominante na configuração da costa brasileira estão as areias vindas da
plataforma continental.
b) Correntes de deriva litorânea: são correntes mais ou menos paralelas à costa,
originadas pela incidência oblíqua das frentes de ondas oceânicas na praia. Carrega
longitudinalmente o sedimento que se ressuspende com a arrebentação das ondas,
desempenhando uma função importante no transporte de areias de várias fontes. Os
sentidos predominantes das correntes podem ser inferidos a partir de indicadores
geomorfológicos, sendo que em muitos trechos da costa brasileira a direção desta
corrente é de sul para norte.
c) Variações no nível relativo do mar: alguns ciclos ocorridos no período do
quaternário foram bem documentados e indicam uma emersão nos últimos 5100
anos para a costa brasileira, sendo importante na compreensão dos processos de
sedimentação ocorridos no Holoceno. A progradação acelerada das planícies rumo
ao mar aberto ocorreu principalmente por acrescência lateral de cordões litorâneos
regressivos. Ocorre uma perturbação do perfil de equilíbrio da zona litorânea com o
abaixamento do mar e as ondas provocariam a transferência de areias da
plataforma. Outras areias podem ser empilhadas por ondas de tempestade,
formando sucessivos cordões litorâneos.
d) Armadilhas para a retenção de sedimentos: são obstáculos que podem causar a
acumulação de sedimentos em transporte paralelo à costa. Geralmente se
apresentam na forma de: zonas reentrantes da costa (formam praias em forma de
enseada no interior de baías ou esporões na entrada); Ilhas ou baixios litorâneos em
zonas de energia; presença de desembocaduras fluviais (o jato funciona como
molhe hidráulico, impedindo a continuação do transporte, bloqueando as areias).
Este fator explica as discrepâncias nas configurações das planícies costeiras que
sofreram variações uniformes do nível do mar, pois em lugares onde as armadilhas
estão presentes as planícies são mais desenvolvidas. Flutuações do nível marinho
durante o quaternário foram muito importantes na evolução das planícies costeiras
11

do Brasil. E existem evidências tanto geomorfológicas, quanto biológicas e pré-


históricas de tais processos (SUGUIO, 1987).
As planícies de restinga são geralmente constituídas por uma sucessão de
cristas e cavas arenosas, que têm o seu aspecto modificado secundariamente
devido ao vento, com a formação de dunas eólicas. As formações arenosas junto ao
mar são designadas também por campinas e cômoros, ocorrendo paralelamente à
praia como um cordão de dunas fixas. Esta forma ondulada na topografia da
restinga tem estrutura eólica típica. A ação dos ventos tende ao nivelamento destas
feições, entulhando os vales e desgastando os cômoros, transformando o seu
aspecto original (BIGARELLA, 1946). Neste ponto vale destacar a importância da
vegetação na fixação do terreno arenoso. Ela atua de forma a estabilizar os
depósitos sedimentares recentes, oferecendo proteção à costa durante eventos de
alta energia e funcionando como reservatório para o balanço de sedimentos natural
do sistema.
E dada à complexidade geomorfológica na formação das planícies de
restinga, vários microhabitats se desenvolvem, oferecendo suporte para
estruturação de diversas comunidades vegetais.

2.2.1 Aspectos Geomorfológicos Locais


No Paraná, a Planície Costeira, estende-se desde o sopé da Serra até o
oceano e tem um comprimento de aproximadamente 90 km, atingindo na região de
Antonina - Paranaguá e uma largura aproximada de 50km. Ela é constituída de
sedimentos de origem marinha, intermediária e terrígena depositados diretamente
sobre o embasamento cristalino. A continuidade desta planície é interrompida pelos
sistemas estuarino-lagunares de Paranaguá e Guaratuba (ANGULO, 1993a;
BIGARELLA, 1946).
Após o afundamento do bloco continental, processo que deu origem a serra do
mar, a costa do litoral do Paraná se situava aproximadamente no contato do
complexo cristalino com a planície litorânea. Então ocorreu um processo de
sedimentação intensa e retificação da linha de costa, onde se formaram cordões
litorâneos em direção ao mar. Este avanço se deu sobre a plataforma continental na
forma de restingas e em decorrência disso houve a formação de lagoas e lagunas,
12

desaparecidas devido ao intenso entulhamento, e também a formação de baías


(BIGARELLA, 1946).
Com relação à morfologia dos sedimentos de origem marinha, BIGARELLA
(1946) relaciona duas classes: de praias e de restingas. Esta última corresponde a
formações arenosas de cordões litorâneos dispostos como feixes paralelos à praia.
Nas regiões mais próximas ao mar, onde as areias conservam ainda certa salinidade
os depósitos são cobertos de vegetação halopsamófila, enquanto que mais para o
interior predominam as matas mais estruturadas. Os aspectos dinâmicos deste
sistema se relacionam principalmente aos processos de variação da linha de costa,
tanto erosivos como de progradação (sedimentação). Muitos fatores atuam nesses
processos como a ação dos ventos, das ondas, correntes e das marés, resultando
em transporte dos sedimentos e modificação das formas do relevo (SOARES et al.
1994).
Segundo ANGULO (1993b), no Paraná é possível distinguir dois tipos
principais de litoral de mar aberto: o de praias próximas à desembocadura das
baías, cuja dinâmica é influenciada pelas correntes de maré que fluem nas
embocaduras; e o das praias mais afastadas, que são dominadas pela ação das
ondas e correntes de deriva. O primeiro tipo é comumente associado a modificações
na linha de costa, explicadas pelo deslocamento de barras e canais de deltas de
maré vazante, que ocorrem associados às desembocaduras.
Neste contexto, segundo NOERNBERG et al. (2003) as margens arenosas da
desembocadura do Complexo Estuarino de Paranaguá apresentam forte e rápida
variação na sua forma. Uma extensa área de restinga pertencente ao Parque
Natural do Perequê se encontra dentro desta área de influência, e
conseqüentemente apresenta um intenso dinamismo. A região de Pontal do Sul
progradou aproximadamente 700m em 40 anos (1953 – 1993), com um avanço
médio anual de 17,5 m/ano. A partir de 1997 esta região apresentou um padrão
erosivo, ocorrendo recuos superiores a 200m entre 1997 e 2000 (SOARES et al.
1994, NOERNBERG et al., 2003).
Estas modificações da linha de costa não são processos contínuos no tempo.
NOERNBERG et al. (2003), analisando oito imagens de satélite em um intervalo de
quinze anos (1985 a 2000), verificou tanto variações de dezenas de metros ao longo
de vários anos, como variações de centenas de metros em 1 ou 2 anos. As
13

alterações morfológicas de desembocadura se relacionam às variações de escalas


interanuais na intensidade e direção do vento, que alteram o estado de agitação do
mar e o seu nível relativo. Isto ressalta a importância de preservação desta faixa
como forma de manter condições adequadas ao balanço sedimentar e proteger as
áreas urbanizadas de processos erosivos.

2.3 ECOSSISTEMA DE RESTINGA


Devido à complexidade dos processos de sedimentação que originam as
restingas e à conseqüente formação de mosaicos ambientais complexos, a
vegetação termina por ser bastante diversificada do ponto de vista fitossociológico,
estrutural e sucessional, resultando na formação de diversos microhabitats
(PEDROSO-JÚNIOR, 2003). Isto permite a existência de diferentes populações de
animais vivendo em conjunto nestas regiões. CORDAZZO (1985) tipifica alguns
micro-habitats do sistema de dunas baseados em topografia, movimentação de
areia, profundidade do lençol freático, salinidade e cátions lixiviáveis. O autor conclui
que a distribuição espacial da vegetação está relacionada com a profundidade do
lençol freático, estabilidade do substrato, salinidade e concentração de nutrientes.
As restingas são caracterizadas por solos arenosos, pobres em argilas e
matéria orgânica. São ecossistemas oligotróficos, que têm necessidade de um
grande e constante aporte de nutrientes. A principal entrada de nutrientes neste
ecossistema é atmosférica, por intermédio de um fluxo originado pela lixiviação
atmosférica realizada pela chuva. Também tem importância a deposição de
partículas de origem marinha (salsugem), provenientes da evaporação de gotículas
de água do mar ejetadas na atmosfera pelo rompimento de bolhas na superfície do
mar. A deposição deste material, por sua vez, depende da distância do oceano e
topografia do local, que também controla a quantidade de nutrientes no solo nas
comunidades dos cordões arenosos mais afastados do mar. Segundo HAY;
LACERDA (1984) a concentração de nutrientes diminui da crista da duna para a
zona posterior devido à ação da maresia e as maiores concentrações de nutrientes
são encontradas nas dunas primárias.
A biomassa, cobertura vegetal e taxas de crescimento da vegetação atingem
o seu máximo próximo ao oceano e decrescem em direção à parte posterior da
duna, refletindo o gradiente nutricional. Algumas espécies apresentam órgãos
14

subterrâneos que acumulam nutrientes e a fixação de nitrogênio ocorre diretamente


por alguns organismos. Neste caso, uma camada logo abaixo da superfície, formada
por matéria orgânica complexada com algas verdes-azuis exerce um papel
importante. A quantidade de matéria orgânica é maior nos locais com vegetação
mais densa, devido ao maior volume de detritos que se acumulam nestes lugares.
Devido ao caráter deste ecossistema, o aporte proveniente da serrapilheira assume
particular importância, pois controla as concentrações dos principais cátions,
diminuindo a sua lixiviação (HAY; LACERDA, 1980, HAY; LACERDA, 1984,
LACERDA et al. 1986, RAMOS; PELLENS, 1993).
A água freática representa uma forma de reservatório de nutrientes para as
restingas, e pode agir tanto como fonte, quanto ‘sink’ para os mesmos, dependendo
da sua posição em relação às raízes. A principal fonte de nutrientes para a água
freática é o próprio ecossistema, e seu nível varia também de acordo com a estação,
relevo e cobertura vegetal. Estas regiões atuam como várzeas, regulando o balanço
hídrico da planície costeira, funcionando como reservatórios temporários durante as
estações chuvosas ou épocas de alta precipitação (HAY; LACERDA, 1984,
LACERDA et al. 1986).
Brejos de água-doce originados por afloramento do lençol freático são feições
características ocorrentes entre cordões arenosos. Estes ambientes apresentam
pouca profundidade e variações sazonais no nível de inundação, podendo secar em
determinadas épocas do ano. Estes apresentam uma cobertura vegetal bastante
densa, característica de ambientes aquáticos, cuja produtividade depende da
variação de parâmetros limnológicos do local como: Flutuação do lençol, nutrientes
dissolvidos, e a dinâmica do material vegetal morto (CARMO et al. 1984). A
profundidade dos brejos de dunas geralmente acompanha as variações climáticas
anuais.
As espécies que colonizam a restinga são principalmente provenientes de
outros ecossistemas (Mata Atlântica, Tabuleiros e Caatinga), porém com variações
fenotípicas devido às condições diferentes do seu ambiente original. Essa vegetação
possui importante papel na estabilização do substrato (CARMO et al. 1984). As
plantas colonizam a areia próxima à linha de maré alta, amenizando a ação dos
agentes erosivos sobre o ecossistema, protegendo o substrato principalmente da
ação dos ventos, um importante agente modificador da paisagem litorânea.
15

Os dados disponíveis na literatura são indicativos de que comparado com


outros biomas, a taxa de endemismos nas restingas é relativamente baixa e isso
pode ser explicado pela idade de formação relativamente recente deste ambiente (o
período Quaternário). Estes ambientes são relativamente abertos, especialmente se
comparados com áreas de floresta de encosta, em geral referenciadas como
Floresta Atlântica sensu strictu (ROCHA, 2000).
Em determinadas restingas existe um padrão de mosaico, formado por moitas
de espécies arbustivas e arbóreas, assim como epífitas. Tais moitas são circuladas
por solo desnudo ou com baixa cobertura vegetal (>5%). RIBAS et al. (1993), como
forma de testar a natureza insular destes conglomerados, utilizaram as equações da
biogeografia de ilhas, onde o número de espécies é função exponencial da área ou
volume (no caso das moitas). Tais variáveis foram medidas, resultando numa alta
correlação que sugere o funcionamento das moitas como ilhas ecológicas de fato.
Os autores sugerem ainda que algumas plantas têm o seu estabelecimento e
ocorrência mais relacionada aos micro-habitats proporcionados pelo aumento de
volume, do que ao simples acréscimo de área plana.
16

3 AREA DE ESTUDO

3.1 HISTÓRICO
O Parque Natural Municipal do Perequê fica localizado em Pontal do Paraná e
compreende duas unidades ambientais distintas: uma área de manguezal no
balneário de Pontal do Sul; e uma área remanescente de restinga ao longo da orla
do município. A primeira proposta de criação de uma unidade de conservação surgiu
em 1996 por sugestão de profissionais do Centro de Estudos do Mar (CEM) da
UFPR, com o objetivo de proteger estes ecossistemas da especulação imobiliária
crescente. No ano de 1999 foi publicado um decreto municipal estabelecendo a área
como reserva biológica - categoria de unidade de conservação excessivamente
restritiva. Em 2001 a Prefeitura de Pontal do Paraná, por sugestão do IBAMA,
reenquadrou a área sob a categoria de Parque Natural Municipal (decreto n° 706 de
2001). Ao final deste ano foi firmado um convênio entre a prefeitura municipal, CEM,
FUNPAR (Fundação da Universidade Federal do Paraná) IBAMA e a empresa de
fertilizantes FOSPAR S.A. Esta aplicou recursos de compensação ambiental da
construção de seu terminal portuário em Paranaguá para a construção da sede do
Parque (no balneário de Pontal do Sul) e em subsídios para o desenvolvimento de
estudos técnicos e científicos visando a criação e implementação do parque.
Apesar de esforços realizados neste sentido, a unidade ainda não conta com
um plano de manejo e uma estrutura administrativa adequada. No ano de 2004,
outro decreto foi publicado, fornecendo base legal para a estruturação de um comitê
gestor para o parque. Esta entidade é constituída por diversos representantes de
atores envolvidos direta ou indiretamente com a unidade de conservação e desde
2005 vem executando importantes atividades para o cumprimento dos objetivos do
Parque.

3.2 CARACTERÍSTICAS NATURAIS


A área de restinga do Parque Natural Municipal do Perequê se localiza na
região adjacente à praia ao longo de toda a faixa de orla de Pontal do Paraná (Fig.
1), entre a avenida beira mar e a areia da praia. A orla pode ser definida como uma
unidade geográfica delimitada pela zona de interface entre a terra firme e o mar,
17

possuindo uma porção marinha e uma porção terrestre (PONTAL DO PARANÁ,


2004a).

Figura 1 – Localização da área de estudo


18

Esta unidade ambiental do Parque possui uma área de aproximadamente 232


ha e 18 km de extensão paralelos à linha de costa, apresentando uma fisiografia
uniforme constituída de uma planície costeira de baixa altitude (terraços arenosos de
origem marinha) (PONTAL DO PARANÁ, 2004a). O tipo climático da região,
segundo a classificação de Köeppen é Cfa – subtropical (mesotémico) com
temperaturas de menos de 18° C no inverno e mais de 22° no verão. Apresenta
verões quentes e com tendência de concentração de chuvas, contudo sem definição
de estação seca, e com poucas geadas. A temperatura média anual é igual a 21,09°,
e a precipitação 2.000 mm, concentradas nos meses de janeiro, fevereiro e março
(PONTAL DO PARANÁ, 2004b).
O sedimento da região é caracterizado por uma textura arenosa e
homogênea, constituído por areias finas a muito finas. Ocorrem alguns cordões
litorâneos regressivos, com morfologia bastante diversa, principalmente na região
Norte, onde a progradação da linha de costa tem preservado os cordões incipientes.
Existem ainda algumas dessas feições mais para o interior do município, na forma
de fragmentos esparsos, uma vez que o processo de ocupação urbana destruiu
grande parte destes cordões de dunas (COLIT, 2002).
A vegetação característica da área é aquela definida pelo IBGE como
Formações Pioneiras de Influência Marinha e em alguns trechos Floresta Ombrófila
Densa de Terras Baixas. Segundo COLIT (2002b), a área da praia e dunas frontais é
ocupada por espécies pioneiras, dotadas de recursos adaptativos às condições
locais, que caracterizam uma restinga herbácea e dão início à fixação do terreno;
mais adentro do continente, o mosaico de dunas baixas e brejos são cobertos de
vegetação herbácea adaptado às condições de aridez das dunas (arbustiva-arbórea)
ou umidade dos brejos (herbáceo-arbustiva). Em alguns locais se destacam alguns
arbustos e arvoretas, eventualmente formando capões, como na região norte do
Parque.
A fauna da área de estudo não abriga somente espécies restritas aos seus
limites, mas sim animais que freqüentam outros ecossistemas. No entanto algumas
espécies de aves como a coruja buraqueira (Speotyto cunicularia), o quero-quero
(Vanellus chilensis) e a batuíra (Charadrius collaris) contribuem para um perfil
característico da região dos sistemas dunares. Ao todo, segundo o estudo realizado
pelo COLIT (2002b), foram inventariadas 27 espécies de aves neste ambiente, das
19

quais 22 residentes, quatro migratórias e uma visitante sazonal. O mesmo estudo


contabilizou mais 37 espécies associadas aos ambientes de brejos entre-cordões, a
maioria delas residentes e que se utilizam de recursos alimentares do solo, água e
estratos da vegetação. MORAES (1995) relacionou 41 espécies de aves associadas
ao ambiente de praia e PEDROSO-JÚNIOR (2003), trabalhando com diferentes
microhabitats, identificou 64 espécies de aves. Existe ainda a ocorrência de répteis e
anfíbios citados pelo COLIT (2002a) nas florestas do município de Pontal do Paraná,
porém não especificamente na área de restinga do Parque.
20

4 METODOLOGIA

Além do levantamento bibliográfico, o procedimento metodológico adotado


para a realização do trabalho foi dividido em três etapas, descritas a seguir: o
levantamento de campo; o processamento dos dados e elaboração dos mapas; os
métodos de avaliação de impactos.

4.1 LEVANTAMENTO DE CAMPO


Com a finalidade de proceder com o diagnóstico e mapeamento da unidade
de conservação, toda a área do parque foi percorrida a pé durante o levantamento
de campo no mês de janeiro de 2006. As campanhas foram orientadas por mapas
do município e pelo conhecimento prévio da área. A identificação e registro das
áreas ocupadas por usos incompatíveis foram realizadas com o auxílio de um GPS
E-Trex da GARMIM, do laboratório de Oceanografia Geológica do Centro de
Estudos do Mar (CEM) da UFPR.
Cada feição foi identificada com uma notação e armazenada na forma de
linhas e/ou pontos. Estas áreas também foram fotografadas com uma máquina
digital e descritas brevemente ainda no campo, por meio de uma ficha específica e
de uma caderneta de campo. Foram anotadas informações relevantes sobre cada
feição, visando à composição do banco de dados da área de estudo, além da
elaboração de croquis para auxiliar na confecção dos mapas.
As principais observações registradas foram relacionadas aos seguintes itens:
condição das trilhas de acesso à praia (tipo de pavimento, largura, infra-estrutura);
alterações na topografia local (terraplanagens, modificação dos cordões dunares);
alterações na vegetação nativa; modificações com finalidades paisagísticas
(extensão de jardins residenciais) e ocorrência de espécies vegetais exóticas;
ocupação por ranchos de pesca; ocupações irregulares (número de casas, tipo de
casas, se pescadores ou não); alteração da área para fins de recreação (quadras
esportivas, aulas de ginástica); presença de infra-estrutura (chuveiros, iluminação,
bancos); presença de resíduos sólidos. Posteriormente, durante a fase de
elaboração dos mapas, estas observações foram agrupadas em sete categorias
para facilitar sua representação: (a) Trilhas de acesso; (b) ranchos de pesca; (c)
21

extensão de jardins; (d) paisagismo com espécies exóticas; (e) quadras esportivas;
(f) ocupações irregulares; (g) outras intervenções.
Durante a fase de levantamento de campo também foram observados, de
forma qualitativa, aspectos relacionados à diversidade de microhabitats de restinga
em diferentes áreas do parque, além da biodiversidade das comunidades vegetais e
da avifauna.

4.2 PROCESSAMENTO DOS DADOS


Os dados coletados em campo foram armazenados no sistema de projeção
de coordenadas UTM, referenciados ao Datum SAD-69 (South American Datum -
1969), fuso 22 S. Cada ponto foi registrado somente quando o erro RMS se
mostrava abaixo de 5 metros (o que significa uma possível imprecisão desta ordem
em qualquer direção no momento de determinação de uma coordenada). Este nível
de acurácia pode diminuir a exatidão das medidas realizadas em mapas de escala
tão grande (1:5.000 e 1:8.000), quanto os gerados neste estudo.
Como forma de melhorar a confiabilidade dos dados foi utilizada uma
segunda metodologia, baseada em interpretação por sensoriamento remoto a partir
de fotos aéreas na escala 1/25.000. Tais imagens são oriundas de um vôo realizado
para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA1) no ano de 2003. As imagens
foram georreferenciadas no software ArcGIS 9.0 (ESRI, 2005), por meio do método
de interpolação bilinear. Foram utilizados pontos de controle (entre 10 e 34 pontos,
dependendo da sobreposição entre os pontos identificáveis na base e as fotos)
extraídos de mapas digitais do município de Pontal do Paraná (PARANACIDADE,
1997). Estes mapas, na escala 1/5.000 e formato CAD, foram produzidos pelo
serviço autônomo Paraná Cidade, do governo do estado e cedidos pela prefeitura do
município2. Os pontos foram ajustados por meio de uma função polinomial de
segundo grau, apresentando RMS inferior a 3 pixels. Os dados referentes ao
georreferenciamento das fotos aéreas são apresentados na Tabela 1.

1
Material cartográfico obtido junto ao Conselho do Litoral - COLIT – Secretaria Estadual de Meio
Ambiente - SEMA.
² Mapas cedidos pela Secretaria Municipal de Urbanismo da Prefeitura de Pontal do Paraná.
22

Tabela 1 - Método de georreferenciamento e erros das fotos aéreas analisadas

Foto RMS Método


fx 041941 1.23 Pol. 2º Ordem
fx 031934 0.51 Pol. 2º Ordem
fx 051805 1.01 Pol. 2º Ordem
fx 051807 1.87 Pol. 2º Ordem
fx 051808 2.1 Pol. 2º Ordem

Toda a base cartográfica foi estruturada com o mesmo sistema de


coordenadas e elipsóide de referência citados anteriormente. A partir dos dados
obtidos em campo e demais materiais cartográficos (fotos aéreas e mapas 1/5.000
Paranacidade) foi criada uma base de dados no programa ArcGIS para a realização
das análises espaciais e elaboração dos mapas temáticos. Inicialmente, a partir dos
pontos descarregados pelo GPS, foram digitalizados layers (planos de informação)
para cada categoria de observações registradas. A etapa posterior foi o ajustamento
destas feições com relação às fotos aéreas, no intuito de refinar as representações e
interpretar outras possíveis alterações. Paralelamente a isto, as informações
descritas no campo foram adicionadas ao banco de dados georreferenciado e as
fotos tiradas em campo associadas a sua respectiva representação no mapa.
Uma vez organizado o banco de dados foram elaborados 9 mapas com
escalas de 1:5000 e 1:8000 para a melhor visualização do diagnóstico. Nesta etapa
foram utilizados os dados primários gerados pelo autor e dados secundários
retirados dos mapas digitais de Pontal do Paraná, como o arruamento do município
e corpos d'água. Foram utilizadas ferramentas disponíveis no software como: buffer
(para a determinação exata da largura das trilhas, medidas no campo), erase e clip
(para o ajuste das feições aos limites do parque), além das ferramentas de cálculo
de área e estatísticas de cada plano de informação, utilizadas na apresentação dos
resultados.

4.3 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS


Como forma de avaliar os impactos associados às intervenções antrópicas
identificados no diagnóstico foi utilizada uma metodologia de interpretação, baseada
nas observações de campo e literatura. A partir da caracterização prévia da
23

geomorfologia e ecologia da área de estudo, buscou-se identificar os impactos


ambientais decorrentes, sob uma perspectiva sistêmica.
Cada categoria de intervenção utilizada no diagnóstico é responsável por uma
série de alterações (como corte da vegetação e alteração no relevo), que por sua
vez acarretam impactos particulares (Fig. 2). Assim, os impactos associados a cada
alteração foram descritos e posteriormente agrupados e atribuídos às categorias de
intervenção.

Figura 2 - Fluxograma da metodologia de identificação de impactos

Categoria de Impactos
intervenção Alterações ambientais

Por fim, a síntese dessas informações foi realizada por meio do mapa
temático de impactos. Seguindo uma adaptação da metodologia utilizada em
diversos trabalhos (GARCÍA-MORA, et al. 2001; WILLIAMS, et al. 2001), o Parque
foi dividido em quinze áreas iguais, sendo que para cada uma delas foram
calculados os pesos relativos ao impacto de cada categoria de intervenção. Foi
elaborado um checklist padrão, com sete itens correspondentes às categorias de
intervenção e diversas variáveis em cada item (ANEXO I) e os pesos relativos de
cada uso foram calculados em relação ao total possível. Utilizando estes pesos
relativos, foi calculada uma média ponderada, gerando um índice de impacto para
cada área, baseada na equação:
Im = Tr + Rc + Pg + Jd + Qd + 2Oc + Ou
7

Em que: Im é o índice de impacto calculado; Tr é o peso relativo da categoria


trilhas de acesso; Rc da categoria ranchos de pesca; Pg das alterações com
finalidade paisagística; Jd da categoria jardins: Qd da categoria quadras esportivas;
Oc da categoria ocupações irregulares; e Ou da categoria outras intervenções. A
categoria Oc recebeu um peso dobrado, porque ocasiona impactos mais intensos e
relevantes.
24

De acordo com os resultados dos índices de impactos, foram estabelecidas


cinco classes com níveis diferentes: a) Baixo impacto, b) Moderadamente baixo, c)
Impacto mediano, d) Moderadamente alto, e) Alto impacto. A cada uma das quinze
áreas (ou parcelas) do Parque foi atribuído o indicador correspondente à sua classe,
gerando dessa forma o mapa síntese de impactos.
25

5. RESULTADOS

5.1 DIAGNÓSTICO DE USOS

5.1.1 Considerações Gerais


A intenção inicial com relação à apresentação dos resultados era dividir a
área de estudo em trechos correspondentes a cobertura de cada mapa diagnóstico
(9 no total), associando os dados quantitativos a cada trecho. Porém, com o decorrer
do processamento e análise dos resultados, concluiu-se que divisão da área em
quatro setores distintos seria interessante. Foram tomados como base critérios de
distribuição das feições observadas em campo, representação cartográfica e
informações disponíveis na literatura. Os seguintes setores foram nomeados de
acordo com sua localização, assim como a de balneários adjacentes (Fig. 3): a)
Norte - Pontal do Sul; b) Barrancos; c) Central – Ipanema; e d) Sul - Praia de Leste.

Figura 3 – Divisão da área de estudo em setores


26

Os resultados do diagnóstico são demonstrados primeiramente a partir de


uma descrição geral das seis categorias de intervenção antrópica cartografadas. Na
seção seguinte são apresentados os detalhes de cada setor explicitado acima com
seus respectivos mapas e tabelas.
a) Trilhas de acesso: constituem uma severa alteração sobre a área, englobando um
conflito de uso entre o direito de acesso à praia e a conservação do ecossistema. As
trilhas de acesso podem ser de areia, pavimentadas de diversas formas ou ainda
cercadas por alterações com finalidade paisagística. Foram identificadas 198 trilhas
de acesso em todo o parque, com larguras entre 0,7 m e 5 m, utilizadas tanto por
automóveis quanto pedestres.
b) Ranchos de pesca: são construções de madeira utilizadas por pescadores
artesanais para proteger as embarcações ou servir de apoio às pescarias realizadas
na praia. São obras de pequeno porte, existentes na região pelo menos desde o
início do século passado (LOUREIRO FERNANDES, 1947), sendo comum o
acúmulo de resíduos sólidos (partes de redes, isopor, garrafas de óleo, caliça, etc.)
próximo a estes locais. Foram quantificados 27 ranchos na área de estudo, com
diferentes tamanhos, alguns servindo como pontos de venda de pescado. A maior
ocorrência esteve associada à existência de núcleos de pescadores entre os
balneários de Shangri-lá e Pontal do Sul, na faixa norte do Parque.
c) Jardins: são áreas de restinga tratadas como extensão dos jardins de casas e
condomínios à beira mar. Geralmente têm a vegetação nativa cortada para dar lugar
a espécies exóticas como palmeiras e vários tipos de flores. Pode ocorrer a
terraplanagem do relevo e a constante roçada das gramíneas, além da presença de
infra-estrutura como bancos e iluminação. Foram mapeadas 12 áreas de jardins e
locais entre 400 e 3.000 m², com maiores ocorrências na porção sul do Parque.
d) Paisagismo: esta categoria foi encontrada paralelamente a trilhas de acesso e
calçadões, assim como dentro de jardins e ao redor de quadras esportivas. São
encontradas principalmente palmeiras, flores e espécies arbustivas. Algumas delas
inclusive pertencem ao domínio da mata atlântica, porém não poderiam ser
plantadas desta forma no Parque, segundo a legislação. Encontram-se 31 trechos
dentro da área de estudo, sujeitos a este tipo de intervenção e estes se concentram
nos balneários de Atami e Guarapari.
27

e) Quadras esportivas: são encontradas 9 áreas com quadras esportivas dentro do


Parque, na forma de gramados, canchas de areia, terra e cimento. Ocorre em maior
número nos balneários de Atami e Praia de Leste Esta intervenção implica na
supressão da vegetação e alteração do relevo, provida por manutenção constante.
Em alguns locais existe a ocorrência de infra-estrutura como iluminação, bancos e
alterações paisagísticas.
f) Ocupações irregulares: correspondem a uma alteração crítica nas características
do sistema ecológico, em confronto com objetivos de preservação. São casas
construídas sobre ou logo após as dunas primárias, juntamente com as extensões
dos terrenos na forma de quintais e jardins (Fig. 4).

Figura 4 - Digitalização das ocupações irregulares e áreas alteradas no entorno

Existem casas de moradores (que se dedicam à pesca ou não) e veranistas,


construídas basicamente de alvenaria e madeira. Nem todas as casas pertencem à
população de baixa renda e as habitações não são atendidas pela rede de esgoto e
água encanada, porém recebem luz elétrica 3. Ocupações incluem a supressão da
vegetação e destruição das dunas, além da disposição de resíduos sólidos

¹ Estas observações foram realizadas com base em evidências (relógio COPEL, presença de fossas
para esgoto, carros novos estacionados em algumas casas), porém não confirmadas com entrevistas
ou abordagens do gênero.
28

domésticos e de construções em áreas próximas. Ao longo do Parque foram


levantadas 23 áreas de ocupação, com 93 construções, entre casas e barracos.
Existem ainda 19 bancas de venda de pescado (peixarias) e dois bares.
g) Outras intervenções: são áreas com relevo e vegetação alteradas com finalidades
diversificadas. Existem áreas para atividades recreativas de crianças e veranistas,
infra-estrutura implementada pela prefeitura, locais onde são promovidos eventos
turísticos durante a temporada, estacionamentos de veículos, mirantes e outdoors
sobre a restinga. Foram diagnosticados 13 trechos enquadrados nesta categoria,
com áreas atingindo até 5.000 m², incluindo uma alteração antiga no balneário
Atami. É o tipo de intervenção mais expressivo em termos de área por englobar
diferentes usos que ocorrem uma única vez. Por este motivo não foram
cartografados como categorias exclusivas, porém são feitas referências
discriminadas a cada uma destas feições.
A tabela abaixo relaciona as áreas totais de cada categoria de intervenção e
sua proporção em relação à área total do parque.

Tabela 2 - Sumário dos resultados totais das intervenções antrópicas na área do Parque

Intervenção Ocorrências Área (m²) % do total


Trilhas de acesso 198 29.219 1,36
Ranchos de pesca 26 - -
Paisagismo 31 31.536 1,26
Jardins 14 24.706 1,06
Quadras esportivas 9 17.236 0,74
Ocupações irregulares 23 53.940 2,33
Outras intervenções 5 195.931 8,45
Total 306 352.568 15,20

5.1.2 Diagnóstico Setorizado


a) Setor Norte - Pontal do Sul
Este setor se encontra no extremo Norte do Parque e é classificado como
parte de uma costa influenciada por desembocadura (ANGULO, 1993b). Apresenta
características de processos geomorfológicos mais dinâmicos do que os demais
setores devido à proximidade com a Baía de Paranaguá, ou mais precisamente aos
deltas de maré. Como resultado há maior instabilidade dos depósitos, que fazem
29

parte de processos não unidirecionais. Para este trecho, são reportados tanto
eventos de erosão quanto acresção ao longo das últimas décadas (SOARES et al.,
1994; NOERNBERG et al., 2003; ANGULO, 1992, 2004).
A faixa de restinga é a mais larga de toda a área de estudo, com uma média
de 194 metros e comporta uma fisiografia mais complexa, com diversos
microhabitats (PEDROSO-JÚNIOR, 2003). Contém uma área total de 78,223 Ha,
sendo a mais estudada em relação às características naturais. Ainda estão
presentes os antigos cordões dunares, brejos entre cordões e algumas moitas no
extremo norte do setor.
De maneira geral é uma região com relativamente poucas intervenções
antrópicas. Dentre estas, as mais representativas em termos de área são as trilhas
de acesso, seguidas pelos alargamentos no contato com a praia e as quadras
esportivas (Tabela 3).
Este setor é representado por um único mapa (mapa 1) e existem 20 trilhas
de acesso, das quais 10 são utilizadas para o tráfego de veículos. As trilhas não tem
pavimentação, sendo que em muitas delas ocorre uma degradação das dunas
quando estas atingem a praia. Neste setor se encontram as trilhas mais largas do
parque (até 5m) e elevado trânsito e estacionamento de veículos durante o verão.
Existem oito ranchos de pescadores, distribuídos próximos às trilhas de
acesso e ocorrência de poucas quadras esportivas, jardins e paisagismo.

Tabela 3 - Sumário das intervenções antrópicas no setor norte - Pontal do Sul

Intervenção Ocorrências Área (m²) % do setor


Trilhas 20 10.774 1,38
Alargamento 7 7.715 0,99
Ranchos 8 - -
Quadras 2 5.663 0,72
Jardins 2 4.503 0,58
Total 39 28.655 3,66
763.600 764.200 764.800 765.400 766.000
7.168.600

7.168.600
Pontal do Sul
7.168.300

7.168.300
*
#
7.168.000

7.168.000
*
#
#
*
7.167.700

7.167.700
*
#
7.167.400

7.167.400
Oceano Atlântico

«
Div

*
#
isa
de
7.167.100

7.167.100
Se

#
*
tor

*
#

*
#

763.600 764.200 764.800 765.400 766.000


*
# 0 75 150 300
Legenda: Escala 1:8.000 Metros
#
*
Arruamento municipal Extensão de jardins Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM
*
#
*
#
Hidrografia Quadras esportivas Areia Mapa 1 - Setor Norte - Pontal do Sul Datum Vertical: SAD 69
* Delimitação do Parque
# Espécies exóticas Bloquete Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
* Ranchos de pesca
# Alargamento da trilha Lajota concreto
PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
31

b) Setor Barrancos
O setor recebe a denominação da uma vila de pescadores e balneário de
mesmo nome. Tem uma área total de 61,240 Ha e a largura média da faixa de
restinga é igual a 90 metros. Este setor encontra-se no trecho da costa classificado
por ANGULO (1993b) como oceânica, apresentando evidências de maior
estabilidade, com algumas variações sazonais. O setor é representado pelos mapas
2, 3 e 4.
Foram encontradas 25 trilhas de acesso, mais da metade pavimentados por
concreto ou lajota. Três acessos mais ao sul permitem a passagem de carros. Foram
verificados 7 ranchos de pescadores, agrupados em dois pontos: ao norte do
balneário Atami e em Barrancos. Existem 4 áreas marcantes de quadras esportivas
em grama, cimento ou terra com a vegetação roçada e a topografia alterada, além
de outras formas de intervenção como: posto salva vidas; outdoor; faixa de
coqueiros e outras espécies plantadas à beira-mar (Tabela 4).

Tabela 4 - Sumário das intervenções antrópicas no setor Barrancos

Intervenção Ocorrências Área (m²) % do setor


Trilhas 41 5.242 0,85
Alargamento 10 4.095 0,66
Ranchos 7 - -
Variadas 3 - -
Quadras 4 4.853 0,79
Terraplanagem 1 181.590 29,41
Total 66 195.780 31,71

Este setor abriga duas regiões com características distintas entre si:
No balneário de Atami, predominam alterações paisagísticas, quadras
esportivas e infra-estrutura como iluminação e bancos em toda a restinga. A
vegetação original foi suprimida e é cortada periodicamente.
Grande parte da área teve a sua topografia alterada por terraplanagens que
destruíram os cordões dunares, restando apenas as dunas primárias, mais recentes.
Esta intervenção é bastante extensa e muito evidenciada na Tabela 4, sendo as
trilhas e quadras um pouco menos pronunciadas. Paralelamente, a diversidade de
32

microhabitats é menor, sendo evidente o predomínio de uma espécie de gramínea


em todo o local (Fig. 5).

Figura 5 - Alteração topográfica dos cordões dunares e corte da vegetação

Em contraste, à parte sul possui um elevado grau de preservação da


vegetação e do ecossistema local. Existem poucas trilhas e ranchos e uma extensa
área natural contígua, ainda bem intacta e não urbanizada, nas proximidades do Rio
Barrancos (Fig. 6). Esta área é considerada como Zona de Proteção Ambiental
(ZPA) segundo o diagnóstico para o plano diretor do município e conta com
Formações Pioneiras e Floresta Ombrófila Densa (COLIT, 2002a).

Figura 6 - Área contígua a ZPA do Rio Barrancos


7.167.100

7.167.100
762.400 763.000 763.600

*
#

Balneário Atami

*
#
7.166.800

7.166.800
*
#

*
#
*
#

*
#

#
Posto Salva-vidas
7.166.500

7.166.500
Oceano Atlântico
7.166.200

7.166.200
*
#
Outdoor

762.400
#

763.000 763.600
0
«
50 100 200
Legenda: Escala 1:5.000 Metros
Arruamento municipal Área terraplanada Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM
Hidrografia Quadras esportivas Areia Mapa 2 - Atami - Setor Barrancos Datum Vertical: SAD - 69
Delimitação do Parque Espécies exóticas Bloquete Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
* Ranchos de pesca
# Alargamento da trilha Lajota concreto
PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
7.166.000 761.200 761.600 762.000

7.166.000
*
#
7.165.600

7.165.600
Balneário barrancos

#
7.165.200

7.165.200
*
#
Ri
oB
arr
a
Oceano Atlântico
nc
os

«
7.164.800

7.164.800

761.200 761.600 762.000

Mapa 3 - Barrancos - Setor Barrancos

0 50 100 200
Legenda: Escala 1:5.000 Metros

Arruamento municipal Ocupações irregulares Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM


Hidrografia Extensão de jardins Areia Datum Vertical: SAD - 69
Delimitação do Parque Espécies exóticas Bloquete Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
* Ranchos de pesca
# Lajota concreto PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
7.164.800 760.000 760.400 760.800

7.164.800
A )
( ZP
l
nta
b ie
A m
ç ão
ote
Pr
de
o na
Z
7.164.400

7.164.400
r
to
se
de
a
vis
Di
7.164.000

7.164.000
Oceano Atlântico

*
#

«
#
*
#
*
#
7.163.600

7.163.600

760.000 760.400 760.800

Mapa 4 - ZPA - Setor Barrancos/Central


0 50 100 200
Legenda: Escala 1:5.000 Metros

Arruamento municipal Ocupações irregulares Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM


Hidrografia Extensão de jardins Areia Datum Vertical: SAD - 69
Delimitação do Parque Espécies exóticas Bloquete Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
* Ranchos de pesca
# Lajota concreto PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
36

c) Setor Central
Este setor apresenta faixa de restinga com largura menor, com média igual a
69 metros e uma área total de 43,01 Ha. É representado pelos mapas 5,6 e 7. Neste
setor se localizam os principais balneários do município de Pontal do Paraná
(Shangri-Lá e Ipanema), altamente urbanizados e com grande afluxo de turistas
durante os meses de temporada. É classificado como costa oceânica (ANGULO,
1993b).
Este setor é o mais crítico em relação às ocupações irregulares para moradia
ou veraneio. Ao todo são 17 áreas com esta intervenção, somando 83 casas que
correspondem a uma área total de 46.103 m², somando as áreas alteradas ao redor,
assim como a delimitação dos jardins. Parte significativa de um loteamento irregular,
conhecido como Ipanema IV ocorre dentro do Parque nesta região. Existe uma
ocupação contínua com mais de 40 casas e dez bancas de pesca sobre a restinga.
A anteduna e o primeiro cordão dunar foram destruídos, com muitos ranchos de
pesca em seu lugar.
As intervenções antrópicas encontradas se concentram nos extremos do
setor, separados por uma faixa mais preservada onde existe a desembocadura de
um pequeno curso d’água a uma área adjacente, indicada como ZPA (PONTAL DO
PARANÁ, 2004b). O número de trilhas de acesso é elevado (74), dentre as quais 21
são pavimentadas e 11 destinadas ao tráfego de veículos. Foram evidenciadas
algumas alterações paisagísticas e uma maior degradação pelo alargamento do
contato das trilhas com a praia. Oito ranchos de pesca ocorrem nesta área, além de
dois mirantes de madeira e playground. Estão presentes ainda jardins, e quadras
(Tabela 5).
A alteração de extensas áreas foi promovida pela prefeitura municipal. Uma
delas recebe um evento nos meses de verão (Festa do Caranguejo) e a segunda
conta com trilhas, playground e chuveiros para atender às demandas dos veranistas.
Outro uso incompatível promovido pelo município é o mercado de peixes de
Shangri-lá, que concentra ranchos de pesca e barracos no seu entorno.
37

Tabela 5 - Sumário das intervenções antrópicas no setor Central

Intervenção Ocorrências Área (m²) % do setor


Trilhas 74 7.134 1,66
Alargamento 25 4.111 0,96
Ranchos 8 - -
Jardins 3 3.920 0,91
Quadras 2 2.094 0,49
Ocupações 17 49.479 11,50
Outras 3 11.514 2,68
Total 132 78.252 18,19
758.400 758.800 759.200 759.600

#
*
#
*
#
7.163.600

7.163.600

i-
gr
an
Sh
7.163.200

7.163.200
io
ár
lne
Ba
7.162.800

7.162.800
Ri
oB
arr
a nc
os

Oceano Atlântico
7.162.400

7.162.400

758.400 758.800 759.200


« 759.600

*
#
Mapa 5 - Shangri-lá - Setor Central
Legenda:
0 50 100 200
Arruamento municipal Ocupações irregulares Trilha de acesso Escala 1:5.000 Metros

Hidrografia Quadras esportivas Areia Sistema de projeção: UTM


Delimitação do Parque Alteração prefeitura Bloquete Datum Vertical: SAD - 69
* Ranchos de pesca
# Terreno cercado Lajota concreto Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
Extensão de jardins PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
757.600 758.000 758.400

*
#

*
#
7.162.000

7.162.000
a
gu
o d'á
l h
O
Rio
7.161.600

7.161.600
7.161.200

7.161.200
*
#

*
#
Oceano Atlântico
7.160.800

7.160.800

757.600 758.000
« 758.400

Mapa 6 - Olho d'água - Setor Central


0 50 100 200
Legenda: Escala 1:5.000 Metros

Arruamento municipal * Ranchos de pesca


# Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM
Hidrografia Ocupações irregulares Areia Datum Vertical: SAD - 69
Delimitação do Parque Quadras esportivas Bloquete Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
Lajota concreto PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
7.160.400 756.000 756.400 756.800 757.200

7.160.400
*
#
7.160.000

7.160.000
ma #
Mirante
ne
o Ipa
ári
lne
Ba
7.159.600

7.159.600
Oceano Atlântico
7.159.200

Divisa de Setor
7.159.200

756.000 756.400 756.800


« 757.200

Mapa 7 - Ipanema - Setor Central


0 50 100 200
Legenda: Escala 1:5.000 Metros
Arruamento municipal Ocupações irregulares Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM
Hidrografia Espécies exóticas Areia
Datum Vertical: SAD - 69
Delimitação do Parque Alteração prefeitura Bloquete
Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
* Ranchos de pesca
# Lajota concreto
PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
41

d) Setor Sul - Praia de Leste


Este setor, classificado como costa oceânica, configura o limite sul do Parque
(mapas 8, 9 e 10). Localiza-se próximo a grandes balneários urbanizados, dentre os
quais o mais importante em termos turísticos é Praia de Leste. Tem uma área de
49,01 Ha e a faixa de largura média de restinga é igual a 77 metros. Na porção norte
do setor existe uma Zona de Proteção Ambiental adjacente ao limite do Parque, que
apesar de sofrer ocupações irregulares, comporta um trecho de Floresta Ombrófila
Densa em estágio inicial de sucessão e Formações Pioneiras de Influência Marinha
bem preservadas (COLIT, 2002b). A característica deste setor é a predominância
dos jardins como forma de intervenção mais ocorrente, em 9 locais (Tab. 6).
Foram encontradas 63 trilhas de acesso, apenas 5 utilizadas para o tráfego
de veículos. A maior parte das trilhas é destinada para pedestres e são
pavimentadas com bloquetes ou lajotas de concreto. A largura destas trilhas é
menor em comparação com outros setores, variando de 0,7 a 2 metros.
Existem apenas três ranchos de pesca aglomerados na parte central do setor
e em três áreas tangentes ao limite do Parque ocorrem alterações paisagísticas e
espécies vegetais de outros ambientes plantadas sobre a restinga. Apenas uma
quadra esportiva foi evidenciada.
Por fim, as ocupações irregulares encontradas neste setor ocorrem em 6
áreas, com 10 casas construídas e 6 bancas de venda de pescados, sempre por trás
o cordão de dunas primário algumas delas rodeadas por lixo e petrechos de pesca.

Tabela 6 - Sumário das intervenções antrópicas no setor Sul - Praia de Leste

Intervenção Ocorrências Área (m²) % do setor


Trilhas 63 6.069 1,24
Alargamento 3 522 0,11
Ranchos 3 - -
Jardins 9 16.283 3,32
Quadras 1 4.626 0,94
Ocupações 6 4.461 0,91
Paisagismo 3 1.887 0,38
Outras 1 2.827 0,58
Total 89 36.675 7,48
7.155.200 753.200 753.600 754.000

7.155.200
te
esL
de
ia
Pra
o
ári
lne
Ba
7.154.800

7.154.800
7.154.400

7.154.400
Oceano Atlântico
7.154.000

7.154.000

753.200 753.600 754.000


«
Mapa 10 - Praia de Leste - Setor Sul
0 50 100 200
Legenda: Escala 1:5.000 Metros
Arruamento municipal Quadras esportivas Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM
Hidrografia Ocupações irregulares Areia Datum Vertical: SAD - 69
Delimitação do Parque Recreação Banestado Bloquete
Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
Extensão de jardins Lajota concreto
PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
7.158.800

7.158.800
755.200 755.600 756.000 756.400

)
PA
(Z
l
ienta
mb
A
ão

ot
Pr
7.158.400

7.158.400
de
na
Zo
7.158.000

7.158.000
#
Desmate

Balneário Guarapari

Oceano Atlântico
7.157.600

7.157.600

«
7.157.200

7.157.200

755.200 755.600 756.000 756.400

Mapa 8 - Guarapari - Setor Sul


0 50 100 200
Legenda: Escala 1:5.000 Metros

Arruamento municipal * Ranchos de pesca


# Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM
Hidrografia Extensão de jardins Areia Datum Vertical: SAD - 69
Delimitação do Parque Bloquete Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
Lajota concreto PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
7.156.800 754.400 754.800 755.200

7.156.800
as
no
oCa
ári
lne

*
#
7.156.400

7.156.400
Ba

*
# *
#

Oceano Atlântico
7.156.000

7.156.000

«
7.155.600

7.155.600

754.400 754.800 755.200

Mapa 9 - Canoas - Setor Sul


0 50 100 200
Legenda: Escala 1:5.000 Metros
Arruamento municipal Extensão de jardins Trilha de acesso Sistema de projeção: UTM
Hidrografia Espécies exóticas Areia Datum Vertical: SAD - 69
Delimitação do Parque Ocupações irregulares Bloquete
Elaborado com dados de campo e mapa base municipal
* Ranchos de pesca
# Lajota concreto
PARANACIDADE 1997 (arruamento e hidrografia).
45

5.1.3 Sumário
O setor norte apresenta características naturais relevantes (microhabitats),
com a faixa de restinga mais larga de toda a área de estudo e instabilidade na linha
de costa. O principal uso são as trilhas de acesso e alguns ranchos de pesca.
O setor Barrancos se distingue entre: Atami, de trilhas pavimentadas,
paisagismo, quadras e terraplanagem; Barrancos, com poucas trilhas e área de
grande interesse ecológico, tangente a uma ZPA em bom estado de conservação.
Na porção central, a faixa de restinga sofre uma diminuição considerável de
largura, amortecendo o contato entre a praia e uma grande urbanização. As
ocupações irregulares são os principais destaques, assim como ações incoerentes
da prefeitura e trilhas de acesso.
No setor sul, a faixa ainda estreita e adjacente à urbanização sofre
principalmente com duas intervenções: as intenções de extensão dos jardins de
casas e condomínios e algumas ocupações irregulares.

5.2 ANÁLISE DE IMPACTOS

5.2.1 Descrição
O conceito de impacto envolve o significado da palavra, no caso 'choque' ou
'colisão', ou ainda no sentido de impingir ou forçar contra. Em relação ao meio
ambiente, seria aquilo que se impinge contra a natureza, forçando ou contrariando
suas leis (MILARÉ, 2004). A definição prática de impacto ambiental, utilizada em
termos legais, corresponde a: "qualquer alteração das propriedades físicas químicas
e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam: a saúde, a
segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota;
as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos
ambientais". Este trabalho utiliza o termo impacto como o resultado de uma ação
causadora de degradação da qualidade ambiental, alterando adversamente as
características do ecossistema.
Segundo GARCÍA-MORA (2001) os impactos humanos em dunas costeiras
podem ser classificados em duas categorias: temporários vs. permanentes, com
46

relação aos danos causados na geomorfologia e vegetação natural. No presente


trabalho, os primeiros correspondem ao tráfego de pedestres e veículos. O segundo
tipo pertence a atividades humanas que envolvem a completa modificação estrutural
e ecológica do ambiente como construção de casas e infra-estrutura. Como a área
de estudo é constituída por feixes de cordões dunares, estes critérios foram
adotados numa primeira abordagem.
Cada categoria de intervenção diagnosticada no item 5.1.1 implica em uma
série de alterações no ambiente, que por sua vez acarretam impactos específicos no
sistema. A identificação destes impactos se baseou na caracterização do ecológica
e geomorfológica do sistema realizada na revisão de literatura e em como as
alterações podem afetar suas estruturas e processos. A abrangência dos impactos
identificados é localizada, sendo consideradas apenas às áreas diretamente
afetadas pelas intervenções. Alguns impactos, por estarem aglomerados, podem ter
efeitos acumulativos ou sinérgicos.
A seguir são apresentados as principais alterações e seus respectivos
impactos, organizados nos itens I a VII. Na seqüência, a tabela 7 retoma as
categorias do diagnóstico, associando as alterações decorrentes de cada uma.

I. Abertura e utilização de trilhas


- Impactos temporários, que tendem a se manter devido à utilização continuada das
trilhas;
- KUTIEL et al. (1999) relatam diminuição na cobertura vegetal, diversidade e
riqueza de espécies, efeitos que aumentam conforme a intensidade de uso das
trilhas. Espécies herbáceas e anuais são mais resistentes;
- Redução da quantidade de detritos e matéria orgânica na camada superior do solo,
que colaboram no aporte de nutrientes neste sistema oligotrófico, além de proteger o
solo;
- Compressão do solo, causada pelo tráfego de visitantes. A redução do volume
resulta na perda da sua porosidade natural, assim como diminui a taxa de
percolação/infiltração causando um aumento no escoamento de água e erosão (Fig.
7);
47

- Destruição das duas frontais, caracterizadas no diagnóstico como alargamento de


trilhas. Prejudicam a estabilização do depósito, favorecendo a erosão eólica;
- Diminuição funcional no amortecimento da energia de ondas e tempestades.
- Aumento do escoamento superficial e alteração do comportamento dos corpos
hídricos, como brejos e sangradouros;
- Instalação de processos erosivos, em decorrência do maior escoamento
superficial.

Figura 7 – Alteração na drenagem pluvial da restinga por trilhas de acesso

II. Corte de vegetação


- Impacto temporário, pois as comunidades podem se restabelecer, porém com
possíveis perdas de espécies em determinados lugares;
- Diminuição da biodiversidade devido à supressão direta de espécies vegetais e
hábitats;
- Perda de microhabitats e microclimas formados por moitas e árvores maiores, de
estágios sucessionais mais avançados;
- Impacto prejudicial na fauna devido à diminuição de hábitats;
- Alteração nas concentrações de nutrientes e matéria orgânica do sistema, pois as
plantas aumentam a deposição dos nutrientes atmosféricos. Elas mantêm esses
nutrientes por mais tempo no solo, devido à retenção de água no caule e raízes. E
ainda agem como fonte, por intermédio da serrapilheira e detritos;
- Instalação de processos de erosão eólica, uma vez que a vegetação atua na
retenção e fixação do sedimento nas dunas;
48

- Instalação de processos de erosão pluvial, pois as raízes e folhas tendem a


diminuir o escoamento e carreamento superficial, aumentando a percolação da
água;
- Diminuição da função de proteção da costa contra a energia de ondas de
tempestade. Efeito indireto, devido à alteração da dinâmica do sistema de dunas.

III. Modificação do relevo


- Impacto permanente, pois as feições geológicas das restingas se formam em
escalas de tempo de milhares de anos;
- Perda considerável de microhabitats1 e diversidade vegetal associada.
- Impacto prejudicial na fauna ocasionado pela perda de hábitats;
- Modificação do balanço hídrico do sistema, devido ao papel exercido pelos brejos e
várzeas na contenção de enchentes e escoamento da água pluvial;
- Alteração na dinâmica de sangradouros que deságuam na praia, podendo refletir
na profundidade do lençol freático;
- Alteração no balanço de sedimentar, uma vez que as dunas representam estoques
de areia;
- Diminuição da eficiência do sistema na proteção contra a energia de ondas de
tempestade;
- Devido aos dois fatores acima, pode causar enchentes localizadas, tanto por águas
pluviais quanto marinhas;
- Desencadeamento de problemas de erosão costeira;
- Diminuição da qualidade estética da paisagem.

IV. Implantação de infra-estrutura


- Causa danos permanentes devido às alterações necessárias a sua implantação;
- A instalação de bancos, piquetes e calçamentos alteram o regime hídrico de
superfície e subsolo, modificando o escoamento e percolação;

1
PEDROSO JR. (2003) identificou quatro ambientes básicos na restinga de Pontal do Sul, e diversos
microhabitats caracterizados por comunidades pioneiras, areia exposta, campos secos e úmidos,
vegetação arbórea e campos sujos. Com a eventual alteração do relevo, esta diversidade cretamente
seria reduzida.
49

- Aumenta a pressão nas áreas de entorno por meio de coleta de plantas, pisoteio,
disposição de resíduos e possibilidade de queimadas acidentais;
- No caso de postes de iluminação, interferem no hábito e comportamento noturnos
de espécies animais como o siri maria-farinha (Ocypodes quadrata) e a coruja-
buraqueira (Speotyto cunicullaria).

V. Construção e utilização para fins de moradia


- Impacto permanente devido às alterações necessárias para a implantação e
dificuldade de sua retirada;
- Envolve a maioria dos impactos descritos para as modificações de relevo e corte
da vegetação;
- Modificação nas características do sistema hídrico devido ao aumento de
escoamento superficial e menor penetração de água no solo;
- Modificação na profundidade do lençol freático, devido à retirada de água por
poços artesianos;
- Contaminação por esgoto doméstico, principalmente das águas subterrâneas,
devido à utilização de sistema de fossas, geralmente sem controle;
- Alteração nas áreas de entorno, utilizadas como quintais e jardins;
- Aumento da pressão nas áreas adjacentes, pela abertura de trilhas, disposição de
resíduos, coleta e pisoteio de plantas;
- Diminuição da qualidade estética proporcionada pela paisagem, ocasionada pelas
ocupações;
- Acúmulo de resíduos de construções e obras de reforma, depositados sobre as
dunas.

VI. Uso intensivo (pisoteio)


- Impacto temporário, causado em áreas de uso intensivo como quadras esportivas,
áreas de recreação ou circulação intensa de pedestres;
- Compressão do solo e diminuição de sua porosidade, aumentando o escoamento
superficial;
- Implantação de processos erosivos eólicos;
- Diminuição da biodiversidade pela supressão direta da vegetação;
50

- Impacto prejudicial na fauna devido à perda de hábitats.

VII. Introdução de espécies exóticas


- Impacto temporário, quando as plantas podem ser retiradas. Pode se caracterizar
como permanente no caso de provocar extinção de uma espécie;
- Instala a competição por recursos como luz e nutrientes com espécies nativas e
podem superar as últimas, dificultando sua sobrevivência;
- Diminuição da biodiversidade e extinção de microhabitats proporcionado pelo
mosaico de espécies nativas;
- Criação de hábitats novos (condições de sombra, umidade, vento).
A tabela 7 relaciona as alterações que cada categoria de intervenção do
diagnóstico acarreta na área do Parque. Estas alterações podem ser exclusivas de
determinada intervenção ou comum a mais de uma, como alteração no relevo e
corte da vegetação.
51

Tabela 7 – Alterações no ambiente por categoria de intervenção

Categoria de intervenção Alterações associadas


Abertura e implantação
Trilhas de acesso Uso intensivo
Implantação de infra-estrutura*
Corte da vegetação
Modificação do relevo
Ranchos de pesca
Abertura e impantação de trilhas
Construção e utilização
Corte da vegetação
Implantação de espécies exóticas
Extensão de jardins residenciais
Modificação do relevo*
Implantação de infra-estrutura*
Corte da vegetação
Paisagismo com espécies exóticas
Implantação de espécies exóticas
Corte da vegetação
Modificação do relevo
Utilização para quadras esportivas
Uso intensivo
Implantação de infra-estrutura*
Corte da vegetação
Modificação do relevo
Ocupação irregular para moradia ou veraneio Construção e utilização
Abertura e impantação de trilhas
Implantação de infra-estrutura*
Corte da vegetação
Modificação do relevo
Outras intervenções
Uso intensivo
Implantação de infra-estrutura

5.2.2 Síntese dos Impactos


De acordo com a metodologia utilizada, para cada uma das quinze áreas em
que o parque foi dividido, foram calculados os índices de impacto relativos às
categorias de intervenção. São valores relativos a uma situação de impacto que
52

varia de mínimo a máximo, entre 0 e 1 respectivamente. Estes índices possibilitam


uma boa discriminação da intensidade das formas de uso particulares por área e
também compõe um valor ponderado, correspondente ao índice de impacto total em
cada uma das quinze parcelas. Os resultados destes cálculos são apresentados na
tabela 8. A identificação das parcelas (de 1 a 15) segue a ordem crescente de sul
para norte.

Tabela 8 - Índices de impacto total e por categoria de intervenção em cada parcela da área de estudo
Índices *
Áreas Tr Rc Jd Qd Oc Ou Im
1 0,625 - 0,286 0,286 0,222 0,429 0,296
2 0,875 0,5 0,429 - 0,333 - 0,353
3 0,875 - 0,714 - - - 0,227
4 0,75 1 - - 0,889 0,571 0,586
5 0,625 0,25 0,286 0,286 0,375 - 0,314
6 0,625 0,5 0,429 0,286 0,750 0,571 0,559
7 0,25 0,25 - - - - 0,071
8 0,375 0,25 - 0,286 - 0,429 0,191
9 0,375 - - 0,429 - 0,714 0,217
10 0,375 0,75 - - - 0,714 0,263
11 0,25 0,75 - 0,429 - - 0,204
12 0,125 - - - - - 0,018
13 0,125 0,25 0,143 - - - 0,074
14 0,125 0,25 - - - - 0,054
15 0,125 0,25 - - - - 0,054

* As denominações dos índices correspondem à: Tr - Trilhas de acesso; Rc - Ranchos de pesca; Jd -


Jardins; Qd - Quadras esportivas; Oc - Ocupações irregulares; Ou - Outros impactos; Im - média
ponderada dos impactos ou índice total.

Cada parcela tem uma área aproximada de 155.000 m² e os índices totais de


impacto variaram entre 0,018 e 0,586. Este intervalo foi dividido em cinco classes:
(0≥0,1) Baixo impacto, (0,1≥0,2) Moderadamente baixo, (0,2≥0,3) Impacto
mediano, (0,3≥0,4) Moderadamente alto e (>0,4) Alto impacto; sendo que para
cada parcela foi atribuído o valor de impacto correspondente à sua classe. Desta
forma foi gerado o mapa síntese de impactos, apresentado na página seguinte. O
mapa apresenta um leve exagero nas dimensões da área de estudo e das parcelas,
como forma de facilitar a visualização dos níveis de impacto de forma integrada,
também apresenta a numeração das áreas listadas na tabela 8 para que as
correlações possam ser consideradas. Em função das diferenças na largura da
restinga as áreas parecem diferentes, mas em relação ao limite do parque, todas as
53

parcelas são virtualmente iguais. A determinação específica de quinze áreas buscou


compatibilizar a divisão realizada no mapeamento do diagnóstico aliada ao critério
de igualdade de áreas, a despeito de uma escolha totalmente arbitrária. Desta
forma, as parcelas correspondem aproximadamente às áreas abrangidas por cada
mapa, com maiores distorções no setor Sul e Central.
756000 760000 764000

« 15
7168000

7168000
14
13
12

á
11

n
ra
10
Pa 9
8
do
al
nt

7
Po

6
7162000

7162000
5

3 Oceano Atlântico

2
7156000

7156000

1
0 1.000 2.000 3.000
Metros

756000 760000 764000

Níveis de impacto Escala 1:80.000


Sistema de projeção: UTM
Baixo Moderadamente alto
Datum: SAD - 69
Moderadamente baixo Alto Elaborado com dados de campo e mapa base munici-
Impacto mediano pal PARANACIDADE 1997 (arruamento).
55

6. DISCUSSÃO

6.1 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS


Como boa prática científica é importante avaliar criticamente o processo de
construção das informações apresentadas neste trabalho. O autor reconhece a
limitação das técnicas utilizadas no levantamento de campo, principalmente com
relação à escala dos mapas apresentados no diagnóstico. O uso de um
equipamento DGPS (diferencial) seria mais indicado, em virtude da maior acurácia
na medição das coordenadas e conseqüentemente dos valores de área gerados. A
identificação dos impactos, por sua vez, recai na dificuldade para mensurar
parâmetros de qualidade ambiental mais objetivos e quantitativos, devido à
sofisticação e ao grau técnico de tais análises. Porém todas as tentativas de
utilização das melhores técnicas foram buscadas no início do projeto.
Apesar destas limitações as informações geradas são de qualidade
inquestionável e acima de tudo representam a realidade existente no campo. Mesmo
que valores das áreas não sejam exatos, os padrões gerais, conflitos e alterações
no ecossistema se apresentam coerentes e suficientemente representados para
cumprir com os objetivos do trabalho. Além disso, no contexto de gestão da área, as
informações trabalhadas suprem uma lacuna e fornecem subsídios aos tomadores
de decisão para um melhor enfrentamento das situações de conflito e manejo da
unidade.

6.2 DIAGNÓSTICO E IMPACTOS AMBIENTAIS


As intervenções que ocorrem sobre a unidade são bastante variadas e
indicam ao mesmo tempo a dificuldade e a necessidade de proteção e
gerenciamento da área. Foi constatado que existem setores com diferentes
potenciais para conservação, seja do ponto de vista ambiental ou da pressão de
uso.
Os setores localizados mais ao norte da unidade (setores Norte/ Barrancos)
apresentam-se ambientalmente mais interessantes e preservados. A existência de
uma zona de preservação ambiental (ZPA), junto ao Rio Barrancos e adjacente à
área do Parque, assim como a maior largura da faixa de restinga, conferem um
maior nível de desenvolvimento da vegetação. Este desenvolvimento reflete na
56

maior diversidade nas comunidades vegetais e de fauna, como pode ser


evidenciado em alguns locais devido à existência de capões e moitas arbustivas
(COLIT, 2002a) e diversidade de avifauna (PEDROSO-JÚNIOR, 2003). Além disso,
o potencial para conservação desta região se apóia sobre o imperativo que a
dinâmica geomorfológica do trecho Norte condiciona, dada a intensidade dos
processos erosivos no caso de uma eventual ocupação. As demais áreas têm esse
tipo de risco minimizado devido ao histórico (relativamente recente) de estabilidade
da linha de costa (ANGULO, 1993b; ANGULO; ARAÚJO, 1996).
Com relação aos resultados encontrados neste trabalho, todas as parcelas
com menores índices de impacto (Baixo impacto e Moderadamente baixo) se
encontram dentro dos dois setores ao norte, sendo que em cinco delas o índice total
foi menor do que 0,1. A pressão de utilização existe, porém é bem menos crítica do
que nos demais setores, caracterizando-se por algumas trilhas e ranchos de pesca.
Apesar deste panorama positivo, os impactos identificados na região do Atami
(parcelas 9 e 10) foram significativamente maiores. Os principais índices relativos
que provocaram este padrão foram as quadras esportivas (com valores de 0,286 e
0,429, Moderadamente alto e Alto impacto) e outros (valores de 0,429 e 0,714 Alto
impacto, associados à alteração no relevo exibida no Mapa 2). Neste ponto caberia
uma discussão em torno dos conceitos mais subjetivos de paisagismo e beleza
cênica, pois as alterações do Atami foram projetadas e realizadas com intenção de
proporcionar conforto aos veranistas. Porém, o custo ambiental destas alterações
recai sobre a diversidade do sistema e sua relevância ecológica em termos de
preservação, além da geração de um conflito direto com as diretrizes legais de
proteção da área.
Os setores Central e Sul, por seu turno, apresentam pressões de utilização
mais intensas e variadas. A menor largura da faixa de restinga foi bem representada
nos resultados dos cálculos de impacto, que variaram de 0,227 a 0,586 (com
impactos entre Mediano e Alto), sendo influenciadas pelas trilhas, jardins, ocupações
e outros. Dois aspectos principais colaboram para diminuir o potencial de
conservação destes dois trechos: a menor integridade e representatividade
ecológica - um objetivo explícito da legislação, e a multiplicidade de usos e conflitos -
que se coloca como desafio para a administração e manejo desta região como uma
área de uso indireto e proteção integral. Neste contexto, os setores do Norte e
57

Barrancos podem ter mais chances de sucesso, uma vez que são menos
urbanizados e tem menor pressão de uso, possibilitando controle e fiscalização mais
efetivos.
Outra questão que se levanta, diz respeito à adequação do Parque Natural
Municipal da Restinga às diretrizes do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação. A análise do processo de criação do Parque sob o ponto de vista do
Artigo 5º do SNUC (2000), leva à conclusão de que muitos conflitos se originaram
devido à falta de estudos, planejamento e participação popular na sua
implementação. A noção de que as ‘unidades de conservação devem representar
amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, hábitats
e ecossistemas, salvaguardando a diversidade biológica’ também pode ser
questionada neste caso, uma vez que os limites da unidade foram estabelecidos
sobre uma área fragmentada, sob intensa pressão e com diversas formas de uso
anteriores à sua criação. Estes fatos também evidenciam a falta de discussão entre
as comunidades locais e os atores que têm interesses sobre esta área, o que
representa um passo admirável para a gestão mais adequada da unidade. Outro
ponto importante da Lei, mas que não ocorre na prática, é que o processo de criação
e gestão da Unidade de Conservação ‘deve ser realizado de forma integrada com as
políticas de administração de terras e águas circundantes, considerando às
necessidades sociais e econômicas locais’. Como o perfil econômico do município é
regido pelos setores imobiliário, de construção civil e comércio ligado à temporada
(ESTADES, 2003), as políticas municipais priorizam e apóiam os interesses de
atividades e serviços associados a funções de turismo e lazer e geralmente vão de
encontro aos objetivos de conservação (DESCHAMPS; KLEINKE, 2000). Além do
que, desconsideram os valores e serviços que uma área preservada pode fornecer à
própria atividade turística (ex.: beleza cênica, qualidade ambiental, balneabilidade,
etc.). Um exemplo disso são as intervenções que a prefeitura do município promove
sobre a restinga, como o Mercado de peixes de Shangri-lá e a realização de eventos
na temporada.
As colocações descritas neste item (principalmente para os setores Central e
Sul do Parque) não expressam uma opinião de que a área não deve ser conservada.
O questionamento é com relação à utilização de uma unidade de proteção integral
municipal como instrumento adequado para este fim, dadas às condições gerenciais
58

e logísticas do órgão de administração da unidade (Diretoria de Meio Ambiente de


Pontal do Paraná, e o comitê gestor do Parque). Esta estrutura, concentrada em
uma área geográfica mais restrita, ao norte do parque,por exemplo, pode surtir
resultados mais efetivos conforme descrito acima. Para as áreas mais impactadas,
existe a necessidade de uma gestão integrada, incluindo a regularização fundiária
do município como um todo, medidas de educação ambiental, aplicação de
metodologias de resolução de conflitos e ações de controle e fiscalização. Vale
ressaltar que este trabalho não buscou apresentar medidas de gestão, mas sim
fornecer subsídios técnicos para que estas medidas sejam concebidas e
implementadas de forma integrada pelos diversos atores envolvidos, contemplando
também as diferentes políticas públicas atuantes sobre a área.

6.3 CONFLITOS
As intervenções antrópicas diagnosticadas na área de estudo são expressões
espaciais de inúmeras dinâmicas conflitantes com a conservação e utilização
sustentável da restinga. Em uma análise mais detalhada, vários fatores surgem
como elementos chave destes conflitos, entre eles:
a) O direito de acesso à praia, fundamentado no direito constitucional de
locomoção ao longo do território brasileiro. A lei que institui o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro (Lei 7.662/1988) considera as praias como bens públicos e
de uso do povo, sendo assegurado o livre e franco acesso a elas. Ressalvam-se os
trechos considerados como de interesse segurança nacional, ou incluídos em áreas
protegidas por legislação específica, como no caso da área de estudo. Assim se
coloca uma questão delicada, pois a atividade balneária de veraneio, da qual o
acesso à praia é uma condição inerente, é um dos principais atrativos do município e
força motriz de sua atividade econômica. A legislação, se cumprida ao pé da letra,
possibilitaria o bloqueio de acesso à praia (e os impactos ambientais associados às
trilhas) através do Parque da Restinga, o que na prática é impossível. Uma
alternativa seria restringir ao mínimo o número de trilhas de acesso e utilizar técnicas
ambientalmente mais adequadas na sua construção, como passarelas suspensas,
ao contrário da pavimentação com concreto.
b) Atividade de veraneio intensiva, de certa forma relacionada com o item acima,
exerce uma influência na medida em que aumenta a demanda por infra-estrutura
59

para atender os turistas (construção de calçadões, chuveiros, quadras, áreas


recreativas). A afluência de turistas, constitui num fenômeno que ocorre o ano todo,
mas se intensifica nas festas de fim de ano e Carnaval quando a população do litoral
chega se multiplicar por seis. Segundo ESTADES (2003), a densidade populacional
da região se altera de 40 hab/km², da população permanente, para 960 hab/km²
durante a temporada. Certos impactos como pisoteio, acúmulo de resíduos sólidos e
abertura de novas trilhas (para pedestres e veículos) são conseqüências diretas da
intensidade do turismo, sendo de difícil solução em curto prazo.
c) A valorização das áreas à beira-mar, também é um fator que contribui para a
geração de conflitos, seja pela ocupação irregular de tais áreas ou pela extensão de
jardins residenciais e implantação de quadras esportivas. Os condomínios de padrão
mais alto e mesmo residências, tendem a enxergar esta área como extensão de
seus próprios terrenos. Assim esta região é alvo de especulação imobiliária, que
busca o aproveitamento do alto valor das terras, ao mesmo tempo em que algumas
ocupações irregulares se beneficiam destes valores subjetivos da beira-mar.
d) A utilização tradicional da área como ranchos de pesca é bastante antiga, já
que relatos indicam a existência de abrigos para vigias de pesca e habitações
pertencentes a pescadores (LOUREIRO-FERNANDES, 1947) muito antes da
implantação de balneários e consolidação das atividades turísticas. Estes relatos
não indicam que sejam os mesmos ranchos, ou que pertençam a populações de fato
tradicionais, todavia é uma atividade arraigada e dificilmente tende a ser realocada.
Como os pescadores necessitam de acesso direto ao mar e as ocupações a beira
mar (fora do Parque) são altamente valorizadas, esta forma de uso requer especial
atenção. Talvez a delimitação de zonas específicas e um trabalho de envolvimento
destes pescadores com as questões do parque seja um caminho possível para a
minimização de impactos decorrentes desta intervenção.
e) Os limites da unidade, em sua maioria diretamente adjacentes a uma zona
altamente urbanizada, por si só acutizam os conflitos existentes. Em unidades de
conservação mais afastadas de centros urbanos, ou com pequenas comunidades no
entorno, as pressões podem ser menores, mas mesmo assim tendem a ocorrer.
Num local como o Parque da restinga, localizado entre uma área densamente
urbanizada e o principal atrativo de descanso e lazer do litoral, estas questões se
60

agravam. Desta forma, o trajeto para uma gestão eficiente da área passa pela
necessidade de um programa de educação ambiental e envolvimento dos atores.
f) Os problemas fundiários do município de Pontal do Paraná são agudos e
interferem na área do Parque da restinga. Segundo estudos realizados para o plano
diretor do município, existem dezessete áreas com ocupação irregular e um total de
3.833 ocupações. Estas correspondem a 40% das construções do município e a
absoluta maioria são casas de veraneio (PONTAL DO PARANÁ, 2004b). As
ocupações presentes no Parque correspondem à extensão de loteamentos
irregulares maiores localizados próximos à praia. Grande parte destas ocupações
provocou ou estão provocando desmatamentos de vegetação de Floresta Ombrófila
Densa e Formações Pioneiras para sua instalação. Os problemas (e soluções) de
regularização fundiária do município são de caráter hierárquico superior à
administração da unidade de conservação, mas constituem um bom exemplo de
integração de políticas públicas para a resolução de conflitos e incremento nas
ações de conservação ambiental.

6.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


As questões ambientais, sobretudo aquelas decorrentes das atividades
humanas sobre o meio ambiente, estão entre os temas modernos que exigem uma
abordagem interdisciplinar. Sem recair sobre a pretensão de atingir este propósito –
dada a sua complexidade inerente e a própria formação do autor, calcada nas
ciências naturais – o trabalho buscou esta aproximação através da delimitação do
problema e da utilização do conflito como pano de fundo para a análise.
Reforçando a tendência atual de utilização das ferramentas de Sistema de
Informações Geográficas em estudos relacionados ao meio ambiente, os resultados
gerados constituem uma boa fonte de informações, a ser trabalhada e integrada com
dados mais apurados sobre as características naturais da área, visando um ganho
qualitativo no planejamento da área. Além disso, os produtos cartográficos
constituem informações valiosas e de fácil linguagem para os tomadores de decisão
e demais atores envolvidos com a gestão desta área.
Por fim, espera-se que o conteúdo aqui apresentado colabore no fomento de
mais uma etapa do processo contínuo de manutenção e melhoria da qualidade
ambiental desta área. Principalmente porque este tipo de ecossistema encerra um
61

de grande valor físico-geológico, biológico, estético e cultural para a espécie


humana.
62

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AB’SABER, A. N. Painel das interferências antrópicas na fachada atlântica do Brasil


- Litoral e retroterra imediata. In. 1° Simpósio de Ecossistemas da Costa Sul e
Sudeste Brasileira, Anais... Águas de Lindóia: ACIESP, 1987.

ANDRIGUETO-FILHO, J. M. Das “dinâmicas naturais” aos “usos e conflitos”: uma


reflexão sobre a evolução epistemológica da linha do “costeiro”. Desenvolvimento e
Meio Ambiente, Curitiba, n.10, p. 187-192, jul./dez. 2004.

ANGULO, R. J. Geologia da planície costeira do estado do Paraná. São Paulo,


1992, 334 f. Tese de Doutorado (Instituto de Geociências, Universidade de São
Paulo).

ANGULO, R. J. Morfologia e gênese das dunas frontais do estado do Paraná.


Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, n. 23 (1), p. 68-80, 1993a.

ANGULO, R. J. Variações na configuração da linha de costa no Paraná nas últimas


quatro décadas. Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, n. 41, p. 52-72,
1993b.

ANGULO, R. J.; ARAÚJO, A. D. Classificação da costa paranaense com base na


sua dinâmica, como subsídio à ocupação da orla litorânea. Boletim Paranaense de
Geociências, Curitiba, n. 44, p. 7-17, 1996.

BIGARELLA, J. J. Contribuição ao estudo da planície litorânea do estado do Paraná.


Brazilian archives of biology and technology. Curitiba, Jubilee Volume (1946-
2001). p. 65-110, 2001.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Capítulo VI – Do Meio Ambiente, Art. 225,


§4°. In: MEDAUAR, O. 2005 (Org.). Coletânea de Legislação ambiental.
Constituição Federal, 4º ed. Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1116 p.

BRASIL. Lei n° 4.771, de 15.11.1965. Institui o Novo Código Florestal. In:


MEDAUAR, O. 2005 (Org.). Coletânea de Legislação ambiental. Constituição
Federal, 4º ed. Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1116 p.

BRASIL. Lei n° 6.938, de 31.08.1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio


Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. In: MEDAUAR, O. 2005 (Org.). Coletânea de Legislação ambiental.
Constituição Federal, 4º ed. Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1116 p.

BRASIL. Lei n° 9.985, de 18.06.2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação e dá outras providências. In: MEDAUAR, O. 2005 (Org.). Coletânea
de Legislação ambiental. Constituição Federal, 4º ed. Ed. Revista dos Tribunais,
São Paulo, 1116 p.
63

CARMO, M. A. M.; LACERDA, L. D. Limnologia de um brejo de dunas em Maricá –


RJ. In.: Lacerda, L. D.; Araújo, D. S. D.; Cerqueira, R. E.; Turq, B. (orgs.) Restinga:
Origem estrutura, processos. CEUFF, Niterói, p. 453 - 458, 1984.

CHERQUES, S. Dicionário do Mar. São Paulo: Globo, 1999.

COLIT - CONSELHO DO LITORAL. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.


Primeiro caderno: inventário do suporte natural e da cultura. Atualização 2002a.
Disponível em: <http://www.pr.gov.br/sema/> Acesso em: 10.02.2006.

COLIT - CONSELHO DO LITORAL. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.


Segundo caderno: inventário social, econômico e institucional. Atualização 2002b.
Disponível em: <http://www.pr.gov.br/sema/> Acesso em: 10.02.2006.

CONAMA. Resolução n° 002 de 18.03.1994. Define formações vegetais primárias e


estágios sucessionais de vegetação secundária, com finalidade de orientar os
procedimentos de licenciamento de exploração da vegetação nativa no Paraná.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/> Acesso em: 05.04.2006.

CONAMA. Resolução n° 303 de 20.03.2002. Dispõe sobre parâmetros, definições e


limites de Áreas de Preservação Permanente. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/> Acesso em: 05.04.2006.

CORDAZZO, C. V. Taxonomia e ecologia da vegetação das dunas costeiras ao


sul do Cassino (RS). Rio Grande. 103 f. Dissertação (Mestrado em Oceanografia
Biológica) FURG, 1985.

DESCHAMPS, M. V.; KLEINKE, M. L .U. Os fluxos migratórios e as mudanças


socioespaciais na ocupação contínua litorânea do litoral do Paraná. Revista
Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n. 99, p. 45-59, jul./dez. 2000.

DIEGUES, A. C. Desenvolvimento sustentado, gerenciamento geoambiental e de


recursos naturais. In: DIEGUES, A. C. Ecologia humana e planejamento costeiro.
2º ed. NUPAUB, USP, São Paulo, p. 71:107, 2001.

ESRI (Environmental Systems Research Institute). ArcGis 9.0. Software de


Sistemas de Informações Geográficas, Registrado para Laboratório de
Gerenciamento Costeiro - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, 2005.

ESTADES, N. P. O processo que conduz à proposta hegemônica de


desenvolvimento sustentável e as alternativas e discussão. Mimeo. 2001.

ESTADES, N. P. O Litoral do Paraná: entre a riqueza natural e a pobreza social.


Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, n. 8, p. 25-41, jul./dez. 2003.

GARCÍA-MORA, M. R.; GALLEGO-FERNÁNDES, J. B.; WILLIAMS, A. T.; GARCÍA-


NOVO, F. A coastal dune vulnerability classification. A case study of the SW Iberian
Peninsula. Journal of Coastal Research, West Palm Beach, n. 17(4): 802-811,
2001.
64

HAY, J. D.; LACERDA, L. D. Alterações nas características do solo após a fixação


de Neorelia cruenta (R. Grah.) L. Smith (Bromeliacea), em um ecossistema de
restinga. Ciência e Cultura. n. 32 (7), p. 863-867, 1980.

HAY, J. D.; LACERDA, L. D. Ciclagem de nutrientes no ecosistema de restinga. In.:


Lacerda, L. D.; Araújo, D. S. D.; Cerqueira, R. E.; Turq, B. (orgs.) Restinga: Origem
estrutura, processos. Niterói: CEUFF, p. 459 -475, 1984.

KOTLER, L. Diagnóstico e propostas de manejo para o Parque Natural


Municipal da Restinga – Pontal do Paraná – PR. Curitiba, Monografia (Graduação
em Oceanografia) UFPR. 114p, 2004.

KUTIEL, P.; ZHEVELEV, H.; HARRISON, R. The effect of recreational impacts on


soil and vegetation of stabilizes Coastal Dunes in the Sharon Park, Israel. Ocean &
Coastal Management, 42: 1041-1060, 1999.

LACERDA, L. D.; ARAÚJO, D. S. D.; CERQUEIRA, R. E.; TURQ, B. (orgs.)


Restinga: Origem estrutura, processos. Niterói: CEUFF, 1984.

LACERDA, L. D.; ARAÚJO, D. S. D.; MACIEL, N. C. Dry coastal ecossistems of the


tropical Brazilian coast. In.: Van der Maarel (ed.), Dry coastal ecossistems of the
world. Amsterdam, Elselvier, 1986.

LOUREIRO FERNANDES, J. Contribuição à geografia da Praia de Leste. Arquivos


do Museu Paranaense, Curitiba, n. 6, p. 3-44, 1947.

MEDAUAR, O. (Org.). Coletânea de legislação de direito ambiental. Constituição


Federal. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1116 p., 2005.

MILARÉ, E. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. São Paulo:


Ed. Revista dos tribunais, 1024 p., 2004.

MORAES, V. S. Aves associadas a ecossistemas de influência marítima no litoral do


Paraná. Arquivos de Biologia e Tecnologia, Curitiba, n. 38 (1): 121-134, 1995.

MORAES, M. E. S. Dinâmica espacial da ocupação antrópica na restinga do


perímetro urbano de Paranaguá – PR. Curitiba,1999, Tese (Doutorado em Meio
Ambiente e Desenvolvimento) UFPR, 280 f.

NOERNBERG, M.A. & MARONE E. Spatial-temporal monitoring of the Paranaguá


Bay inlet margins using multispectral Landsat-TM images. Journal of Coastal
Research. SI, n. 35, p. 221-231, 2003.

PARANÁ. Lei Estadual n° 7.389/80. Dispõe sobre o Uso do Solo do Litoral.

PARANACIDADE/SEDU-SECRETARIA ESTADUAL DE DESENVOLVIMENTO


URBANO. Cartografia 1:5.000 das áreas urbanas do município de Pontal do
65

Paraná, com base em restituição de fotografias aéreas. Paranacidade/SEDU.


Curitiba, 1997.

PEDROSO-JÚNIOR, N. N. Microhabitat Ocuppation by birds in a Restinga Fragment


of Paraná Coast, PR, Brazil. Brazilian Archives of Biology and Technology,
Curitiba, v. 46, n.1, p. 83 -90, 2003.

PONTAL DO PARANÁ. Lei orgânica do município: resolução n° 014 de


19.12.1997. Câmara Municipal, 1997.

PONTAL DO PARANÁ. Prefeitura Municipal. Decreto-lei nº 706/01. Estabelece a


criação de duas Unidades de Conservação do tipo “Parque Natural Municipal”, 2001.

PONTAL DO PARANÁ. Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima. Plano de


Intervenção na Orla Marítima de Pontal do Paraná. Pontal do Paraná: Prefeitura
Municipal de Pontal do Paraná, 2004a. 65 p. (Ministério do Meio Ambiente e
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão). (Anteprojeto) convênio com
Governo Federal não assinado.

PONTAL DO PARANÁ. Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado -


Diagnóstico, 2004b. 218 f.

RAMOS, M. C. L.; PELLENS, R. Produção de serrapilheira em ecossistema de


restinga em Marica – Rio de Janeiro. II Simpósio brasileiro de ecossistemas da
costa brasileira, ACIESP, p. 89 – 98, 1993.

RIBAS, L.A.; HAY, J. D.; CALDAS-SOARES, J. F. Moitas de restinga: Ilhas


ecológicas. II Simpósio brasileiro de ecossistemas da costa brasileira, ACIESP,
p. 79 – 88, 1993.

ROCHA, C. F. D. Biogeografia de répteis de restingas. Distribuição, ocorrência e


endemismos. In.: ESTEVES, F. A.; LACERDA, L. D. eds. Ecologia de restingas e
lagoas costeiras, Rio de Janeiro: Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé-
NUPEM/UFRJ, p. 99 – 116, 2000.

SOARES, C. R. et al. Variações da linha de costa no Balneário Pontal do Sul


no período 1953-1993: um balanço sedimentar. Boletim Paranaense de
Geociências, Curitiba, n. 42, p. 161-171, 1994.
SUGUIO, K. ; TESSLER, M. Planícies de cordões litorâneos quaternários do Brasil:
origem e nomenclatura. In.: LACERDA, L. D.; ARAÚJO, D. S. D.; CERQUEIRA, R.;
TURCQ, B. Restingas: origem, estrutura e processos. Niterói: CEUFF, 1984.

SUGUIO, K.; MARTIN, L. Geomorfologia das restingas. II Simpósio de


ecossistemas da costa sul e sudeste brasileira. Estrutura, função e manejo.
Águas de Lindóia: ACIESP, 1990.
66

SUGUIO, K. Classificação de costa e evolução geológica das planícies litorâneas


quaternárias do sudeste e sul do Brasil. Simpósio de ecossistemas da costa sul e
sudeste do Brasil. Cananéia,1987.

SUGUIO, K. Dicionário de geologia marinha: com termos correspondentes em


inglês, francês e espanhol. São Paulo: T. A. Queiroz, 1992.

UNESCO. Guidelines for vulnerability mapping of coastal zones in the Indian


Ocean. Internacional Oceanographic Comission (IOC) Manuals and Guides nº 38,
2000. 30 p.

WILLIAMS, A. T.; ALVEIRINHO-DIAS, J.; GARCÍA-NOVO, M. R.; GARCÍA-MORA,


M. R.; CURR, R.; PEREIRA, A. Integrated coastal dune management: checklists.
Continental Shelf Research, 21:1937-1960, 2001.

Você também pode gostar