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UTILIZAÇÃO DE ARGILAS NA

ALIMENTAÇÃO ANIMAL

  Artigos
Prof. Édison José Fassani (UNIFENAS)
Jerônimo Ávito Gonçalves de Brito (Mestrando em Zootecnia/UFLA)
Lavras - MG
Março/2004

Índice

INTRODUÇÃO
CLASSIFICAÇÃO E PRINCIPAIS PROPRIEDADES DAS ARGILAS
PRINCIPAIS USOS DAS ARGILAS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL
1. ARGILAS COMO ADSORVENTES
2. ARGILAS ABSORVENDO ÁGUA E AMÔNIO DAS EXCRETAS
3. ARGILAS MELHORANDO A DIGESTIBILIDADE DOS NUTRIENTES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA

INTRODUÇÃO

A ampla expansão na produção animal brasileira associada à intensificação de


algumas atividades produtivas exige produção de rações de alta qualidade,
sendo um dos principais fatores relacionados com o sucesso, visto que, a
nutrição animal é uma ferramenta eficiente para melhorar índices zootécnicos e
que o custo com alimentação é altamente significativo nas principais atividades
zootécnicas (avicultura, suinocultura,
bovinocultura de leite, equinos, peixes, etc.).

A maioria dos ingredientes usados na fabricação de rações apresenta funções


próprias e estas, geralmente são do conhecimento dos técnicos e produtores
(fornecimentos de nutrientes, prevenção contra patógenos etc.). No entanto,
alguns ingredientes utilizados em quantidades variadas e em casos específicos
não têm suas funções totalmente esclarecidas. Um exemplo seria o uso de
argilas em rações destinadas à alimentação animal, a forma mais clássica de
seu uso geralmente é como aditivo, pois não colabora diretamente com o
fornecimento de nutrientes e desta forma estão presentes na maioria dos casos
como inerte ou veículo em misturas de minerais e/ou vitaminas. Porém,
algumas funções são sugeridas na literatura científica e serão descritas nesta
revisão bibliográfica. Portanto, objetivou-se esclarecer as principais funções e
usos de argilas (alumíniosilicatos) na alimentação animal, visando contribuir
com informações sobre este assunto seja para fábricas de rações, produtores
rurais e produtores do próprio ingrediente em questão, salientando que no
Brasil, tais informações ainda não estão totalmente sólidas tanto no meio
científico, quanto na cadeia produtiva de aves e suínos, que são os principais
consumidores de rações no nosso país.
CLASSIFICAÇÃO E PRINCIPAIS PROPRIEDADES DAS ARGILAS

Existe uma ampla variedade de argilas no meio ambiente, no entanto, nem


todas têm aplicação prática, ou seja, função própria a ser usada para
fabricação de rações. Para que possamos conhecer as diversas formas e/ou
funções que as argilas são utilizadas na alimentação animal, é necessário que
conheçamos algumas de suas características e propriedades. Através destas
pode-se efetuar uma classificação das argilas.

Segundo Castaing (1998) as argilas atualmente são classificadas em função da


disposição dos átomos de silício (silicatos) em sua estrutura. Ainda segundo
Castaing (1998) a maioria das argilas utilizadas na alimentação animal são
pertencentes ao grupo dos filossilicatos (esmectita, caulim, bentonitas, talco,
sepiolita e atapulgita). Todos filossilicatos apresentam estruturas laminares
exceto a sepiolita e a atapulgita que têm estruturas pseudolaminares ou
tubulares devido à diferenciação na estrutura de camadas específicas, as
tornando mais porosas e com maior superfície específica. A argila caulinítica,
geralmente difere das demais por apresentar duas camadas (uma octaédrica
de alumínio e outra tetraédrica de silício) enquanto que as demais apresentam
três camadas sendo duas tetraédricas de silício, uma de alumínio (esmectita),
ou de magnésio (talco e sepiolita) ou de magnésio e alumínio juntos e, devido a
essa constituição e arranjo as argilas geralmente são chamadas tecnicamente
de alumíniosilicatos. Algumas propriedades são importantes para explicar
possíveis efeitos do uso das argilas como a digestibilidade de nutrientes,
adsorção de toxinas, formação de complexos insolúveis etc. entre elas,
destacam-se:

• Capacidade de Troca Catiônica (CTC. Meq./100g)

A maioria das argilas apresenta somente cargas negativas, ou seja alta CTC e
desse modo são classificadas como polares sendo que as principais são:
montmorilonitas, esmectitas, bentonitas e zeolitas. Da mesma forma, poucas
argilas têm cargas positivas e negativas, classificadas como bipolares, entre
elas as mais comuns são as cauliníticas, ilitas e cloritas. Por apresentar mesmo
número de cargas positivas e negativas, as cauliníticas são consideradas
isoelétricas (Butolo, 2002).

• Superfície específica

A superfície específica trata-se da área de contato externo, ou seja, quanto


maior a superfície específica, maior poderão ser interações com outras
substâncias, por isso é imprescindível associar a superfície específica com a
CTC, pois se ambos forem altos podese maximizar os efeitos de interações das
argilas com substâncias com valor nutritivo e /ou terapêutico afetando o valor
da dieta.

• pH

Segundo Tamames (2000), o pH é uma das características mais importantes,


quando a finalidade do uso das argilas está relacionada com a adsorção de
micotoxinas. Nas argilas com pH ácido a maior parte da adsorção das
micotoxinas ocorre no intestino grosso, fato este, não muito favorável, pois
possibilita a absorção destas no intestino delgado, podendo atingir a corrente
sanguínea e consequentemente ocasionando problemas de ordem fisiológica
afetando negativamente o desempenho.

• Absorção/adsorção

De acordo com Castaing (1998) a capacidade de absorção de água e retenção


de amônio, são propriedades também muito importantes a serem considerados
para utilização das argilas na alimentação animal em casos específicos, que
serão tratados posteriormente. Segundo esse autor, existem diferentes
mecanismos de absorção para diferentes argilas. Para a sepiolita e a atapulgita
a água e o amônio são retidos mediante a formação de pontes de hidrogênio,
ao passo que a esmectita e a maioria das zeolitas a água é retida pela
hidratação dos cátions que estão ligados na camada superficial e o amônio é
retido através do intercâmbio catiônico, tornando as zeolitas com reconhecido
valor para se utilizar na piscicultura como aditivo amenizando a poluição das
águas.

PRINCIPAIS USOS DAS ARGILAS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

As principais funções das diferentes argilas utilizadas na alimentação animal


terão destaque apartir deste item, no qual mostraremos resultados e relatos de
trabalhos científicos e neste sentido buscaremos tratar da forma mais
abrangente possível os diferentes usos e funções das diferentes argilas.

1. ARGILAS COMO ADSORVENTES

Um dos mais tradicionais usos de argilas na alimentação animal,


principalmente considerando rações de animais não-ruminantes está
relacionado à capacidade de adsorção de micotoxinas e neste sentido, Abo-
Norag (1995) ao avaliar os efeitos da utilização de bentonita (alumíniosilicatos
de sódio e cálcio hidratado) em rações de frangos de corte até 28 dias de idade
(0,5% na ração) contaminadas com aflatoxina (3ppm), verificou melhoria nos
índices zootécnicos e também em características anatômicas e fisiológicas
(peso relativo do fígado e moela, atividade da creatina quinase, concentrações
plasmáticas de albumina, proteína total, colesterol, ácido úrico e fósforo
inorgânico) que são afetadas quando estas aves são alimentadas com rações
contaminadas com aflatoxina. Utilizando apenas bentonita o autor verificou que
o desempenho superou o tratamento controle (ração contaminada)
promovendo proteção de aproximadamente 75% e ao associar a bentonita com
virginiamicina (16,5ppm), esse valor foi 87%. Winfre e Allred (1993) citado por
Castaing (1998) afirmam mediante estudos in vitro que o uso de até 10% de
bentonita reduz cerca de 30% a contaminação por aflatoxina em alimentos
destinados a peixes. Além de melhorar resultados zootécnicos de leitões
alimentados com rações contendo milho contaminado. Voss et al. (1993),
citado por Inal et al. (2000), ao conduzir estudo com bentonita, relatam que
além de não ser tóxica a bentonita proporcionou proteção significativa contra
aflatoxina e melhorou (aumentou) o consumo de ração em até 2,5%. Tamames
(2000), faz questão de salientar que é errôneo afirmar que todo tipo de argila é
capaz de adsorver micotoxinas. Tanto pelas diferenças entre as argilas
encontradas, como pelas diferentes micotoxinas encontradas normalmente.

As argilas são adicionadas às rações não sendo absorvidas no trato


gastrointestinal, tendo por objetivo nessa ocasião, ligar-se a micotoxinas de
modo a transportá-las total ou parcialmente para fora do trato digestório,
impedindo dessa maneira que venha a ocorrer à intoxicação dos animais (aves,
suínos, equinos, peixes, bovinos...). Ao longo dos anos tem sido lançada a
idéia que as argilas são capazes de adsorverem uma série de micotoxinas
devido a algumas propriedades específicas das argilas (Butolo, 2002).

As argilas cauliníticas por serem bipolares e isoelétricas apresentam maior


espectro de adsorção de micotoxinas (ocratoxina, T2, DON, fumonisina,
zearalenona, DAS... são bipolares), sendo que apenas a aflatoxina tem forte
carga positiva e, portanto pode ser adsorvida por uma argila polar (esmectitas,
bentonitas, montmorilonitas e zeolitas). Huff et al., (1992) citado por Vieira
(2003) verificaram que bentonita de sódio e cálcio (alumíniosilicatos de sódio e
cálcio hidratados com 0,5% na ração), não se mostrou efetiva para controlar
simultaneamente aflatoxina e ocratoxina A, em rações de frangos de corte
contaminadas com 3,5 e 2ppm das respectivas micotoxinas. Por outro lado
efeitos parciais benéficos foram observados como o controle da aflatoxina,
baseado em maior ganho de peso das aves deste tratamento (65% mais
pesadas). Quando há contaminação da dieta por mais de uma espécie de
micotoxina, há dificuldade de controlar os danos causados pelas mesmas.
Neste sentido Kubena et al., (1990) demonstraram através de um estudo que
frangos de corte alimentados com rações contaminadas com aflatoxina e toxina
T2 em conjunto, apresentaram desempenho ruim mesmo com adição de
alumíniosilicatos de sódio e cálcio hidratado em 0,5% nas rações.

Convém ressaltar que a utilização de argilas como adsorventes necessita de


fundamento técnico e resultados científicos in vitro e in vivo comprovados.
Segundo Butolo (2002), é também fundamental que não adsorvam nutrientes,
como vitaminas e microminerais e que tenham sido caracterizadas quanto à
sua estrutura química, carga elétrica, polaridade, pontos de adsorção e
expansibilidade, origem e formação, capacidade de troca catiônica, pH e
tamanho de partículas.

2. ARGILAS ABSORVENDO ÁGUA E AMÔNIO DAS EXCRETAS

É de conhecimento geral que as excretas quando muito úmidas causam


grandes perdas na avicultura (corte e postura). O ambiente torna-se propício
para a liberação de amônia altamente tóxica para esta espécie.
Já na década de 60 do século passado, os pesquisadores Quinsenberry e
Bradley (1964) citado por Homer (1980) demonstram a redução do teor de
água nas excretas através de um experimento utilizando poedeiras alimentadas
com rações contento 2,5 e 5% de bentonita comparadas a uma dieta controle
sem adição dessa argila no inverno e no verão. No inverno o teor de umidade
das excretas do tratamento basal e do tratamento contendo 5% de bentonita foi
de 79,6 e 75,5% respectivamente, ao passo que no verão foi de 81,5 e 76,3%
respectivamente indicando a eficiência dessa argila no controle e diminuição do
teor de água nas excretas.
Segundo Sellers et al.,(1980) houve uma redução significativa da umidade das
excretas de poedeiras e frangos de corte alimentados com rações contendo
caulim, sem afetar, no entanto, o desempenho (ganho de peso e produção de
ovos) e também para qualidade de casca. Neste sentido o caulim é citado na
literatura exercendo prevenção a diarréias do tipo osmótica, apresentando
efeitos ainda não muito bem esclarecidos no estomago e no intestino.

Essa função específica é bem vista por avicultores que produzem ovos, pois,
melhorar a consistência das excretas, diminuindo sua umidade, faz parte do
manejo para impedir ou controlar a proliferação de moscas, pois em granjas
onde os dejetos das aves estejam muito líquidos, ocorrerá com muita facilidade
a proliferação das moscas, além de acelerar a volatilização de amônia para o
ambiente o que pode acarretar uma série de problemas sanitários, que
acometerão o desempenho das poedeiras, considerando principalmente o
verão e poedeiras em primeiro ciclo de postura, abrindo parêntese também
para a coturnicultura que está em ampla expansão no Brasil e em particular,
produzem excretas com maior teor de nitrogênio em relação a galinhas,
estando o ambiente dessa forma mais propício à contaminação. Não podemos
esquecer que a amônia é responsável por prejuízos à avicultura de corte,
principalmente no sul do país onde existem muitas criações que utilizam
galpões fechados (semi climatizados), para evitar temperaturas muito baixas no
inverno.

De forma geral a alta umidade das excretas é prejudicial na avicultura industrial


seja direta ou indiretamente (ambiente propício a patógenos e parasitas e
potencialmente maléfico aos humanos). Castaing (1998) relata, com auxílio de
uma série de trabalhos científicos, que e excreção de nitrogênio (urina) de
suínos é diminuída entre 8 e 10% com adição de 2% de sepiolita na dieta
destes animais. Uma consequência direta de uma menor excreção de
nitrogênio é a melhor utilização deste elemento pelos animais que é
comprovada nos experimentos. O autor afirma ainda, que empresas privadas,
tem encontrado resultados semelhantes ao trabalhar com frangos de corte,
tendo observado menor excreção de ácido úrico.

3. ARGILAS MELHORANDO A DIGESTIBILIDADE DOS NUTRIENTES

A característica ou função de melhorar a digestibilidade de nutrientes e


consequentemente a obtenção de resposta positiva sobre o desempenho ao se
empregar argilas na alimentação animal tem sido motivo de grandes
controvérsias entre pesquisadores no meio científico. Novamente é importante
considerarmos as diferentes argilas existentes e suas características e
propriedades para que se verifique a efetividade deste conceito.

Quisenberry et al. (1967), citado por Homer (1980), encontraram resposta


positiva na produção de ovos ao estudar dois tipos de argilas em dietas de
poedeiras. Bentonita e Montmorilonita em dois níveis cada (2,5 e 5%),
contrastando com um tratamento controle sem adição de argila. A bentonita foi
mais eficiente, melhorando em cerca de 6% a taxa de postura quando
adicionada em 5% na ração. As variáveis peso médio dos ovos e eficiência
alimentar não foram influenciados pela adição das argilas. O efeito positivo
sobe a produção de ovos, foi sugerida pelo autor devido à adsorção de
substâncias tóxicas e dessa forma melhorando a eficiência de aproveitamento
da energia e da proteína da dieta. Homer (1980), relata que a associação entre
o uso de bentonita (2,5%) e níveis mais elevados de energia melhoraram o
desempenho de frangos de corte durante a fase de crescimento. Este estudo,
no entanto, foi realizado com frangos das raças New Hampshire e Delaware,
que normalmente não são mais usados na avicultura industrial. Ao conduzir um
experimento com poedeiras Olver (1989), verificou resposta positiva sobre o
peso no início de postura co a adição de bentonita sódica, porém a produção
de ovos e a eficiência alimentar foram prejudicadas. A adição da argila também
aumentou o consumo de ração.

Ao trabalhar com suínos, Tracker et al., (1989) citado por Castaing (1998),
observaram aumento na energia digestível da ração quando há associação da
bentonita sódica com enzimas (beta-glucanases) em dietas contendo trigo.
Porém efeitos isolados dos produtos (argila e enzimas) não foram observados.
Um amplo estudo conduzido por Southern et al., (1994) verificaram os efeitos
da adição ou não de bentonita sódica (0,5%), alumíniosilicatos de sódio e
cálcio hidratados (HSCA 0,5%) em arranjo fatorial (3X4) com um tratamento
controle e com dietas deficientes (em macrominerais, vitaminas e proteína
bruta) de frangos de corte de 5 a 19 dias de idade. As dietas deficientes em
macrominerais e vitaminas reduziram o ganho de peso o consumo de ração e
pioraram a conversão alimentar, ao passo que, a dieta deficiente em proteína
bruta afetou negativamente o ganho e a conversão, porém, não afetou o
consumo de ração. A bentonita sódica aumentou o consumo de ração de todas
dietas e dessa forma aumentou o ganho de peso. O HSCA não afetou o
desempenho das aves. Nenhuma das argilas afetou o ter de cinzas, e a % de
cálcio e fósforo da tíbia. Os autores concluíram que a bentonita sódica e HSCA
não afetaram negativamente o desempenho nem a concentração de minerais
na tíbia de frangos de corte na fase de crescimento alimentados com dietas
nutricionalmente deficientes. A utilização de bentonita em rações de poedeiras
comerciais vermelhas foi estudada por Inal et al., (2000) que avaliou a adição
desta argila em quatro níveis (0; 1,5; 2,5;e 3,5%). Os resultados permitiram que
os autores concluíssem que a inclusão da bentonita em rações de poedeiras
não afetou a produção de ovos, o peso médio dos ovos, a gravidade específica
dos ovos e a eficiência alimentar. Por outro lado os níveis 1,5 e 2,5% de
bentonita diminuíram a taxa de perdas de ovos de forma generalizada ficando
bastante evidenciada no segundo período experimental (30 a 60 dias). Os
autores também afirmam que a bentonita pode ser usada em rações de
poedeiras em até 2,5% sem que se verifiquem efeitos negativos.

A sepiolita é outra argila usada na nutrição animal que apresenta


características relativamente diferentes por ser pseudofilosilicato esta argila
possui uma maior superfície específica. Castaing (1998), verificou efeitos
positivos na adição desta argila em rações de leitões. Este efeito foi mais
pronunciado em rações de alta energia (3300 Kcal/kg). Segundo esse mesmo
autor a primeira consequência da adição da sepiolita em rações de suínos foi
aumentar a matéria mineral reduzindo o coeficiente de digestibilidade da
matéria seca, sem afetar o coeficiente de digestibilidade da matéria orgânica e
da proteína. Este mesmo autor verificou uma melhora na utilização da energia
metabolizável de rações de frangos de corte contendo farelo de trigo em sua
composição.
Uma possível explicação desta melhoria utilização da energia da ração é
relatada por Tortuero (1993) citado por Castaing (1998), que verificou redução
na taxa de trânsito da digesta quando houve adição de 1,5% de sepiolita em
dietas de frangos de corte devido a propriedades adsorventes e de
expansibilidade desta argila. Castaing (1998), relata uma série de benefícios
zootécnicos na adição da sepiolita (até 2%) para poedeiras (maior consumo,
maior peso de ovo, maior massa de ovos e melhoria na qualidade interna no
final de postura), frangos de corte (2% de sepiolita nos primeiros 21 dias) e
leitões (fase de crescimento - melhor aproveitamento da dieta). No Brasil, o
caulim é a principal argila usada em rações, no entanto, pesquisas
evidenciando seu efeito sobre o desempenho animal, ou sobre a digestibilidade
de nutrientes são escassos. O Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento (2003) regularizam o uso limite de 5% deste ingrediente (inerte)
como padrão para rações para animais monogástricos.

Segundo Silva et al. (2001), ao conduzirem ensaios de metabolismo com galos,


verificaram que a energia metabolizável aparente corrigida para nitrogênio das
rações não foi afetada significativamente até o nível de 6% de caulim nas
rações. Este experimento sugere que o caulim mesmo em níveis relativamente
altos não interfere na energia da ração para aves. No entanto, atualmente é
consenso geral que se devem considerar as diferentes fases fisiológicas das
aves (idade) para determinação de valores energéticos visto que as argilas de
forma geral podem alterar o trânsito do alimento no trato digestório entre outros
aspectos.

4. ARGILAS COMO AGLUTINANTE

Algumas argilas, especialmente o caulim e a bentonita são utilizados em


indústrias que produzem rações peletizadas, com a função de melhor a
qualidade dos pelets (dureza e resistência). Esta função das argilas está
associada à expansibilidade e capacidade de reter água das argilas além da
estrutura (superfície específica e CTC). Butolo (2002) relata que a utilização de
algumas argilas como coadjuvante de elaboração traz benefícios ao processo
de peletização, no entanto, há relatos no meio científico indicando que este tipo
de aglutinante pode adsorver vitaminas do complexo B no intestino, fazendo
com que elas fiquem indisponíveis, principalmente para aves. Ainda neste
aspecto Casting (1998) afirma que podem ocorrer interações entre bentonita e
vitamina A, sugerindo possíveis correções desta vitamina quando se utiliza
nível maior de 2,5% nas rações seja para ruminantes ou não ruminante, no
caso específico de galinhas e essa interação com a vitamina A pode ocasionar
problemas de descoloração da gema dos ovos. Apesar de encontrarmos
inúmeros relatos na literatura sobre este uso, atualmente outros produtos são
utilizados com maior freqüência também mais eficientemente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de argilas na alimentação animal no Brasil apresenta um bom


potencial devido às nossas condições: altas perdas por alimentos
contaminados, perdas em produtividade devido à ambiente contaminado
(amônia), alimentos com baixa digestibilidade, facilidade em adequar rações
experimentais (pesquisa) entre outras. Diante do exposto, é valido ressaltar
que os benefícios da utilização de argilas na alimentação animal são diversos.
No entanto, são necessários mais estudos de pesquisa para validar cada
função específica das argilas existentes no Brasil e antes de tudo caracterizar
físico-quimicamente as argilas aqui existentes de forma a tornar rotineira a
utilização deste ingrediente-aditivo em rações deixando claro os conceitos para
produtores rurais, fábricas de rações e as jazidas de argilas que as
comercializam para uso na alimentação animal.

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