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DESCRIÇÃO

Intoxicações e doenças causadas pela ingestão de micotoxinas ou cogumelos venenosos e micoses superficiais,
cutâneas, subcutâneas e sistêmicas.

PROPÓSITO
Compreender as doenças causadas pela ingestão de micotoxinas ou de cogumelos venenosos, bem como as doenças
que os fungos causam, um importante subsídio para atuação na prevenção e no diagnóstico desses problemas de
saúde humana e animal.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Descrever o micetismo e a micotoxicose

MÓDULO 2

Identificar as micoses superficiais, cutâneas e subcutâneas

MÓDULO 3

Reconhecer as micoses sistêmicas e oportunistas

INTRODUÇÃO
Os fungos microscópicos (filamentosos, bolores e leveduras) e os macrofungos (cogumelos) podem apresentar diversas
vantagens ecológicas e econômicas com usos variados. Entretanto, muitos deles podem provocar perdas incalculáveis
na agricultura por causa das pragas fúngicas em cultivos ou, então, gerar grande impacto na saúde individual e coletiva
com micoses cada vez mais resistentes ao tratamento.

As doenças fúngicas estão mais presentes no nosso dia a dia do que imaginamos. O conhecido “ "pé de atleta" é uma
micose, assim como o “sapinho”, que costuma aparecer na boca de bebês e crianças pequenas. As principais
manifestações clínicas e os locais acometidos pelos fungos estão intimamente ligados ao modo como eles obtêm seus
nutrientes. Como esses seres secretam suas enzimas no substrato, isso pode lesionar os tecidos vivos quando estão
parasitando animais e humanos, estimulando uma resposta imunológica frente à agressão e presença do patógeno.

As micoses são divididas em grupos, de acordo com as doenças que causam e seus agentes etiológicos.

MICOSES

Infecção causada for fungos, seja na pele, cabelo ou órgãos.

SAPINHO

As crianças pequenas também podem ser acometidas pelas micoses, como é o caso do “sapinho”.

PÉ DE ATLETA

O pé de atleta é uma micose comum que acomete os seres humanos.


MÓDULO 1

 Descrever o micetismo e a micotoxicose

As enzimas secretadas pelos fungos durante seu metabolismo podem, em alguns casos, ser tóxicas ou até mesmo letais
para quem as ingere. A micotoxicose e o micetismo são as doenças relacionadas à ingestão das micotoxinas secretadas
(fungos filamentosos) ou presentes nas estruturas fúngicas (cogumelos), respectivamente. A principal diferença dessas
duas doenças refere-se ao agente causador, e veremos quais são os organismos e mecanismos envolvidos em cada
uma delas.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MICETISMO


Micetismo é o termo utilizado para as intoxicações ocorridas por ingestão de cogumelos venenosos. A causa mais
comum está relacionada ao consumo de cogumelos tóxicos colhido da natureza, que são confundidos com os
comestíveis. Como os compostos tóxicos dos cogumelos são resistentes às alterações físico-químicas, não sendo
destruídas pelo calor da cocção ou do congelamento, seu poder letal continua intacto mesmo após a preparação dos
alimentos.
INGESTÃO DE COGUMELOS VENENOSOS

O micetismo, intoxicação ocasionada pela ingestão de cogumelos venenosos.

PREPARAÇÃO DOS ALIMENTOS

O cozimento dos cogumelos venenosos não é suficiente para neutralizar as toxinas.

A maioria dos envenenamentos ocorre por acidente, mas parte deles também pode acontecer por ingestão proposital de
cogumelos com efeitos alucinógenos. Erro na identificação, no entanto, também pode ser fatal e levar a mais um caso
de micetismo.

Em alguns casos, os sintomas após a ingestão dos cogumelos venenosos serão autolimitados, mas outros poderão ser
fatais. As toxinas desses cogumelos podem ter propriedades psicotrópicas, nefrotóxicas, gastrotóxicas, hemolíticas,
hepatotóxicas, neurotóxicas. Em alguns casos, podem englobar dois ou mais efeitos adversos. Em muitos deles,
também ocorre letalidade, pois não existe um tratamento padronizado ou um antídoto eficaz para os casos dessa
intoxicação.

A maioria das intoxicações por cogumelos venenosos produzirá algum desconforto gastrointestinal, que costuma ser
o primeiro sintoma relatado. Anteriormente, os médicos tentavam prever o curso do micetismo baseados no tempo de
aparecimento dos primeiros sintomas, sugerindo que o surgimento antes de seis horas pós-ingestão mostrava um
prognóstico de toxicidade limitada. Porém, aos poucos, isso vem mudando, pois se percebeu que não existe um
padrão, principalmente à medida que novos cogumelos venenosos são conhecidos e novos casos são relatados.

DESCONFORTO GASTROINTESTINAL
Os primeiros sintomas do micetismo, geralmente, são desconfortos gastrointestinais.

PROGNÓSTICO

Traça um possível desdobramento dos sintomas baseados nas informações clínicas e laboratoriais.

Por isso, a seguir, trataremos dos tipos de micetismo de acordo com os sintomas que estão relacionados, e não com o
tempo de aparecimento deles.

MICETISMO GASTROINTESTINAL

Muitos cogumelos produzem toxinas que causam distúrbios gastrointestinais por possuírem compostos irritantes a esses
órgãos e, mesmo apresentando estruturas químicas distintas, essas toxinas podem causar os mesmos sintomas. Além
disso, muitos macrofungos que produzem toxicidade sistêmica severa também podem gerar toxicidade gastrointestinal
como sintomas iniciais. O tempo para o aparecimento dos primeiros sintomas após a ingestão gira em torno de 20 a 30
minutos, podendo acontecer até quatro horas após a ingestão.

Os principais sintomas podem ser:

1
Náuseas

2
Cólicas

3
Vômitos

4
Mal-estar

5
Algumas vezes, diarreia e dor abdominal

CÓLICAS

Cólicas podem ser um dos sintomas gastrointestinais do micetismo.]

Apesar de todos esses sintomas, na maioria dos casos de micetismo gastrointestinal, o prognóstico é favorável e os
sintomas desaparecem em torno de um ou dois dias. Entretanto, a resposta individual a esse tipo de envenenamento é
muito variada, desde ligeiro desconforto e dor até casos extremos de diarreia intensa com desidratação.
Apesar de ser uma experiência bem desagradável, a desidratação é a complicação mais comum nesse caso de
micetismo. Por causa da perda significativa de fluidos nos vômitos e quadros diarreicos, é necessária a reposição
imediata de água e eletrólitos.

MICETISMO GASTROINTESTINAL

É necessária a reposição de água e eletrólitos nos casos extremos de desidratação por causa do micetismo
gastrointestinal

Apesar das manifestações clínicas serem semelhantes, várias espécies de cogumelos podem desencadear esses
sintomas; inclusive, alguns podem iniciar com esses sintomas e piorarem o quadro com outras manifestações mais
graves. Como ainda existe muito a ser descoberto, são exemplos de cogumelos já descritos por causarem micetismo
gastrointestinais:

RUSSULA EMETICA

O cogumelo Russula emetica já foi descrito como causador do micetismo gastrintestinal.

BOLETUS SATANAS
O micetismo gastrointestinal pode ser causado após a ingesta do cogumelo Boletus satanas.

HYPHOLOMA FASCICULARE

Inúmeros cogumelos Hypholoma fasciculare podem causar micetismo gastrointestinal.


MICETISMO NEUROTÓXICO

Neste caso de micetismo, as toxinas podem atuar causando sintomas diretamente ligados ao sistema nervoso simpático
ou parassimpático, ou, ainda mais precocemente, sintomas gastrointestinais. Para os sintomas relacionados ao sistema
nervoso parassimpático, o início pode ocorrer entre 15 e 30 minutos depois da ingestão, e os primeiros sintomas são
vômitos, sudorese intensa, diarreia, cólicas, salivação profusa, lacrimejamento, podendo causar ainda convulsão,
excitação nervosa, delírio e dispneia.

Apesar de alguns casos resultarem em coma, o micetismo neurotóxico não é tão grave, e poucas vezes o paciente vai a
óbito.

A principal toxina responsável por esse quadro de micetismo neurotóxico do sistema nervoso parassimpático é a
muscarina. Esse composto atua diretamente no estímulo das terminações nervosas, e isso explica a maioria dos
sintomas relacionados. O efeito da muscarina pode ser anulado com atropina, por isso o tratamento dos pacientes
intoxicados com essa toxina é baseado em lavagem gástrica e administração da atropina.

A intoxicação por muscarina é comum, pois baixas doses podem promover o mesmo efeito do haxixe (Cannabis indica
ou C. sativa). Então, buscando pelo efeito recreativo, muitas pessoas acabam se intoxicando e colocando a vida em
risco. Ao contrário do que o nome possa sugerir, a muscarina não é tão abundante no cogumelo Amanita muscaria,
sendo presente em maior quantidade em outros cogumelos, como Clitocybe rivulosa e Inocybe erubescens.

SUDORESE INTENSA

A sudorese intensa pode ser um dos sintomas do micetismo neurotóxico

DISPNEIA

Falta de ar ou dificuldade respiratória.

TERMINAÇÕES NERVOSAS

As terminações nervosas parassimpáticas são os alvos da muscarina, principal toxina que causa o micetismo
neurotóxico.
ATROPINA

É um alcaloide que interfere na ação da acetilcolina.


CLITOCYBE RIVULOSA

O cogumelo Clitocybe rivulosa também produz um composto tóxico chamado muscarina.

INOCYBE ERUBESCENS

O Inocybe erubescens produz a muscarina em altas doses, e seu consumo é potencialmente nocivo.

Já na toxicidade do sistema nervoso central, os sintomas podem começar de 15 a 30 minutos após a ingestão e podem
durar até seis horas. Por atuar nesse sistema, os principais sintomas estão relacionados a alucinações visuais e
auditivas. Também há alteração da percepção de espaço-tempo e extrassensorial, hipertensão, midríase, arritmias,
taquicardia e, em alguns casos mais graves, infarto do miocárdio. A toxina responsável por essa alucinação é a
psilocibina, presente em cogumelos como Psilocybe spp., Paneolus spp., Stropharia spp.
MIDRÍASE

A midríase é a dilatação anormal da pupila e pode estar relacionada ao micetismo neurotóxico do sistema nervoso
central.

PSILOCYBE SPP

Os cogumelos do gênero Psilocybe são os principais produtores de psilocibina.

PANEOLUS SPP
Os cogumelos Panaeoulos também produzem a psilocibina, toxina alucinógena.

STROPHARIA SPP

A psilocibina, toxina alucinógena, também pode ser encontrada em cogumelos do gênero Stropharia.

Por ainda não existir antídoto para as toxinas de ambos os casos, o tratamento é baseado em suporte ao paciente. Caso
ele apresente quadros de convulsão ou agitação, barbitúricos e benzodiazepínicos podem auxiliar no controle.

MICETISMO HEPATOTÓXICO

Nesse caso de micetismo ocorre o comprometimento do fígado, sendo mais grave do que os outros tipos, podendo
desencadear hepatite ou insuficiência hepática aguda.

FÍGADO
No micetismo hepatotóxico, o fígado é o órgão mais comprometido pelas toxinas.

A progressão clínica, neste caso, pode ser dividida em quatro estágios:

Fase quiescente ou latência: é a fase assintomática, que pode durar de 6-24h antes de aparecerem os primeiros
sintomas gastrointestinais.

Fase gastrointestinal: dura entre 1 e 2 dias e é acompanhada por gastroenterites, vômitos, diarreia e dor abdominal.

Remissão clínica: as enzimas hepáticas começam a aumentar dentro de 16-48h após a ingestão e podem aumentar
apesar da aparente melhora clínica.

Insuficiência hepática aguda ou falência múltipla dos órgãos: dentro de 2 a 7 dias ocorre insuficiência hepática ou de
vários órgãos, sendo a insuficiência hepática fulminante à manifestação de toxicidade grave.

Cerca de 4 a 16 dias depois da ingestão do cogumelo, na maioria dos casos fatais, ocorrerá o óbito do paciente. Nos
casos de envenenamento mais leves, os pacientes podem se recuperar, contudo muitos desenvolvem hepatite crônica.

As toxinas envolvidas no micetismo hepatotóxico são as amatoxinas e giromitrinas. Os cogumelos contendo amatoxina
causam a maioria das fatalidades por micetismo, isso porque doses pequenas dessa toxina (0,1mg de amatoxina/kg de
peso corporal) podem ser letais para os indivíduos adultos.

A intoxicação acontece principalmente devido a um equívoco na identificação dos cogumelos comestíveis, que podem
ser confundidos com os tóxicos, como os do gênero Amanita (A. phalloides, A. rubescens, A. verna e A. virosa),
Lepiota (L. brunneoincarnata) e Galerina (G. marginata).

Observe algumas características desses cogumelos:

A. PHALLOIDES

Amanita phalloides é um dos cogumelos mais letais registrado até o momento.

A. RUBESCENS

Os cogumelos Amanita rubescens também figuram entre os cogumelos causadores de micetismo.


A. VERNA

A amatoxina presente no Amanita verna é responsável pelo potencial tóxico desses cogumelos.
A. VIROSA

O micetismo hepático pode ocorrer após a ingestão de cogumelos Amanita virosa.


L. BRUNNEOINCARNATA

O cogumelo Lepiota brunneoincarnata também produz amatoxina.

G. MARGINATA

O cogumelo Galerina marginata por ser frequentemente confundido com cogumelos comestíveis; figura entre as
espécies responsáveis pela intoxicação.

Assim como para os outros casos de micetismo, não existe um antídoto para a intoxicação por esses cogumelos,
tampouco tratamentos padronizados. Então, nos casos de micetismo hepatotóxico, o tratamento inclui cuidados de
suporte intensivo, com atenção aos desequilíbrios de fluidos e eletrólitos, distúrbios de coagulação e hipoglicemia.

MICETISMO NEFROTÓXICO
 A função renal pode ser comprometida em decorrência do mau funcionamento hepático pela intoxicação por
cogumelos venenosos.

O micetismo nefrotóxico acontece muito em decorrência do resultado da lesão hepática, que eleva a liberação de
substâncias que consequentemente estressam e aumentam a função renal. Além desse dano indireto à insuficiência
hepática, existem toxinas que danificam diretamente o tecido do rim, como as orelaninas.

O período de incubação da nefrotoxicidade pode ser de dias ou semanas, por isso é difícil correlacionar os danos renais
com o envenenamento por cogumelos. Inicialmente, o paciente poderá ter dores nas costas e flancos abdominais,
acompanhada de forte sede. Esse paciente pode apresentar hematúria, leucocitúria, proteinúria, poliúria e,
dependendo da gravidade, insuficiência renal progressiva. Nos casos mais raros, ocorre anúria.

O tratamento é de suporte, pois não existe um antídoto para orelaninas. Por isso, o tratamento é sintomático e, para
eliminar as toxinas causadoras da nefrotoxicidade, pode-se realizar hemodiálise. Em casos mais graves, o transplante
renal tem sido recomendado. Os principais cogumelos produtores de orelanina são dos do gênero Cortinarius (C.
speciosissimus, C. rubellus e C. orellanosus).

HEMATÚRIA

Presença anormal de hemácias na urina.

LEUCOCITÚRIA

Aumento do número de leucócitos na urina.

PROTEINÚRIA

Presença anormal de proteínas na urina.


POLIÚRIA

Micção excessiva.

ANÚRIA

Baixa na produção de urina.

CORTINARIUS RUBELLUS

O cogumelo Cortinarius rubellus produz orelanina, que é uma potente nefrotoxina.

MICETISMO HEMATOTÓXICO

A toxicidade para as células sanguíneas pode acontecer pela presença de toxinas com atividade hemolítica ou então
pela produção de anticorpos que deveriam atacar as toxinas do cogumelo, mas também causam hemólise mediada por
imunocomplexos.

No caso da toxicidade mediada pelos imunocomplexos, os sintomas podem começar menos de seis horas após a
ingestão e incluem gastroenterite e choque. Podem ocorrer nefrite intersticial e insuficiência hepatorrenal, sendo
necessária a realização de hemodiálise. Essa forma de micetismo está principalmente associada ao cogumelo Paxillus
involutus. Já para os casos de cogumelos que produzem hemolisinas, o paciente pode apresentar hemoglobinúria
transitória, icterícia e desconforto abdominal. Apesar do prognóstico favorável, podem ocorrer óbitos. Nesse caso, a
transfusão é o tratamento mais adequado. O cogumelo Gyromitra esculenta já foi associado a esse tipo de micetismo.
HEMÓLISE

As hemácias podem sofrer hemólise em alguns casos de micetismo, agravando ainda mais o quadro do paciente.

 ATENÇÃO

O cogumelo Paxillus involutus podem produzir toxinas com atividade hemolítica.

 ATENÇÃO

O cogumelo Gyromitra esculenta podem produzir toxinas com atividade hemolítica.


MICOTOXICOSE E AS MICOTOXINAS
A micotoxicose é a intoxicação ocasionada por ingestão das micotoxinas, que são estruturas químicas de baixo peso
molecular com grande variedade estrutural. De modo geral, quando comparadas às toxinas bacterianas, elas são
relativamente mais simples. Por causa dessa característica, muitas técnicas precisam ser empregadas para a detecção
ou remoção dessas toxinas nos alimentos. Consequentemente, seu controle também é difícil.

As micotoxinas são metabólitos secundários secretados por bolores (fungos filamentosos), e sua ingestão, inalação ou
seu contato podem causar sintomas leves ou outros que podem até levar à morte do paciente. Essas toxinas são
produzidas por fungos microscópicos, que podem crescer como contaminante de vegetais, como cereais e grãos. Essa
contaminação pode acontecer em qualquer etapa: no cultivo, na colheita, no transporte ou até no armazenamento.

Observe mais alguns aspectos das micotoxinas:

BOLORES
Os fungos filamentosos (bolores) são os responsáveis pela produção das micotoxinas.

CEREAIS
Os fungos filamentosos que crescem nos cereais apresentam grande risco à saúde.

GRÃOS
O crescimento de fungos filamentosos nos grãos gera riscos à saúde por causa da produção das micotoxinas.

TRANSPORTE
Os cereais estão expostos a uma possível contaminação por fungos produtores de micotoxinas em todo o processo,
incluindo o transporte.

ARMAZENAMENTO
O armazenamento dos cereais requer controle rigoroso para impedir a contaminação por fungos produtores de
micotoxinas.

Além da bioquímica e fisiologia dos fungos produtores de micotoxinas, condições ambientais podem contribuir
diretamente na produção dessas micotoxinas, como umidade, composição do alimento, pH, temperatura, interação
microbiana e tantos outros fatores que, quando controlados, auxiliam na redução da contaminação. Assim como as
toxinas dos cogumelos, as micotoxinas são termoestáveis e podem permanecer no alimento mesmo depois da morte
dos fungos por cozimento ou congelamento.

O principal problema relacionado às micotoxinas são os efeitos crônicos e cumulativos que podem induzir o
aparecimento de câncer, principalmente hepático. Isso se deve ao fato de essas toxinas interferirem na replicação do
DNA, causando efeitos teratogênicos ou mutagênicos. Historicamente, as micotoxinas vêm ocasionando grandes
perdas, e não só econômicas. Desde a Idade Média, há relatos mortes por causa de micotoxicose, sendo relevante até
os tempos modernos. No esquema a seguir, vemos a linha do tempo dos marcos históricos da micotoxinas.

COZIMENTO
As micotoxinas são termoestáveis e não se degradam mesmo com o cozimento do grão.

TERATOGÊNICOS

Compostos que podem interferir no desenvolvimento fetal.

MUTAGÊNICOS

Compostos que podem mudar o DNA, que não pode ser recuperado, sendo posteriormente transferido para as células
da próxima geração.

MICOTOXINAS

Associada ao consumo de pão feito com farinha de cereais contaminados com fungos.

EUROPA MEDIEVAL

Ergotismo
Associação ao consumo de pão feito com farinha de cereais contaminados por fungos.

1930

Identificação do alcaloide responsável pelo ergotismo

Claviceps purpurea

Claviceps paspali


SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Episódios de intoxicação na Rússia durante a Segunda Guerra Mundial

A aleucia tóxica alimentar matou milhares de soldados na Rússia que consumiram alimentos com cereais cobertos por
neve, atacados por fungos produtores de micotoxinas.

1960

Marco histórico do reconhecimento das micotoxinas

Centenas de aves morreram em várias regiões da Inglaterra, depois de alimentadas com rações contaminadas da África
e do Brasil.

AFLATOXINA

A aflatoxina é uma das micotoxinas mais conhecidas e estudadas. Essas micotoxinas são altamente instáveis e
provenientes de cumarínicos policíclicos insaturados, apresentando alto poder patogênico. A aflatoxina é produzida por
fungos filamentosos do gênero Aspergillus, sendo a principal espécie o A. flavus, que pode ser encontrada em todo o
mundo, preferencialmente em ambientes úmidos e quentes, estando distribuída na África, Austrália, Ásia tropical e
América Latina.

A. FLAVUS

O fungo filamentoso Aspergillus flavus é o principal produtor de aflatoxina.


AFLATOXINA

A aflatoxina apresenta grande risco para a saúde e pode estar presente em muitos grãos.

Atualmente, são conhecidos 17 compostos pertencentes a essa classe de micotoxinas, porém os mais importantes são
as B1, B2, G1 e G2, naturalmente encontradas em alimentos feitos com milho, trigo, feijão, entre outros. As aflatoxinas
também podem ser detectadas nas fezes, urina, nos músculos, tecidos comestíveis e no leite dos animais que se
alimentam de rações contaminadas com essas micotoxinas.

 Aspergillus flavus crescendo em grãos de milho com a coloração esverdeada.

Tanto em humanos quanto em animais, as aflatoxinas podem causar danos hepáticos e tumores. Podem ser ingeridas
com cereais deteriorados e são metabolizadas pelo fígado, tornando-se um potente carcinogênico. São facilmente
absorvidas pelo intestino delgado e duodeno por difusão passiva devido à sua característica lipofílica e baixo peso
molecular.
Após a absorção, essas micotoxinas seguem para o fígado pelo fluxo sanguíneo, acumulando-se nesse órgão por causa
da permeabilidade da membrana do hepatócito. É possível que a eliminação da aflatoxina ocorra, primeiro, pela bile e,
depois, pela urina; já houve detecção em menor quantidade no leite materno.

Já foram detectados níveis preocupantes de aflatoxinas em alimentos como granola e o nosso arroz branco de todos os
dias, podendo causar danos a longo prazo na saúde humana. Outro alimento que é constante alvo do ataque de fungos
produtores de aflatoxina é o amendoim.

ARROZ BRANCO

Aflatoxinas podem ser encontradas no arroz por causa do crescimento de fungos do gênero Aspergillus.

AMENDOIM

Os fungos do gênero Aspergillus também podem crescer em amendoim, liberando aflatoxinas.

Por causa dos efeitos tóxicos, existe legislação própria que visa minimizar os impactos dessas micotoxinas nos
alimentos, bem como protocolos e testes de controle de qualidade para evitar ou diminuir essa contaminação para níveis
mais seguros.
OCRATOXINA

A ocratoxina apresenta principalmente efeitos nefrotóxicos, sendo produzida por fungos do gênero Aspergillus e
Penicillium. Em 1965, foi descrita pela primeira vez como metabólito secundário do A. ochraceu.

Ela se divide em três tipos distintos:

OCRATOXINA A

Apresenta uma molécula de cloro em sua composição.

OCRATOXINA B

Não apresenta potencial tóxico.

OCRATOXINA C

Composto por etil éter da ocratoxina A, sendo menos tóxica do que ela.

PENICILLIUM

Fungos do gênero Penicillium podem produzir ocratoxina.


A ocratoxina A é a mais tóxica e a mais frequente. Além do efeito nefrotóxico, apresenta efeitos carcinogênicos,
teratogênicos e imunossupressores. Essa toxina é comumente encontrada no café, nos cereais ou pães.

NEFROTÓXICO

O principal efeito tóxico da ocratoxina está relacionado aos rins.

CAFÉ

A ocratoxina pode ser encontrada em grãos de café.


A ocratoxina é absorvida lentamente pelo trato gastrointestinal, sendo essa a principal via de contaminação. Geralmente,
ocorre uma absorção rápida no estômago por conta de sua característica ácida e mais lenta ao longo do percurso
intestinal.

Os efeitos nefrotóxicos são observados principalmente nos mamíferos não ruminantes, causando alterações na
osmolaridade da urina, aumento dos rins e poliúria. A função renal é afetada devido ao aumento do rim e pela presença
de necrose tubular renal associada à redução da atividade enzimática, que favorece o surgimento dos adenomas renais
e tumores. Em gestantes, a ocratoxina A pode causar deformações no sistema nervoso do feto.

 Em gestante, o principal risco da ocratoxina está


nas deformações do sistema nervoso central do feto.
CITRINA

Essa micotoxina é encontrada principalmente nos pães mofados, em grãos de aveia mofados, centeio, cevada, milho,
trigo, arroz e em tantos outros grãos e derivados de cereais. Testes laboratoriais mostraram que a citrina tem potencial
nefrotóxico, porém, até o momento, não foram encontradas evidências do impacto desta toxina na saúde humana. As
principais vítimas da citrina são os animais domésticos, especialmente os suínos, quando se alimentam de rações e
cereais contaminados com o fungo Penicillium citrinum.

Conheça mais alguns detalhes dos fungos de citrina e onde são encontrados:

GRÃOS DE AVEIA MOFADOS

O fungo produtor de citrina pode ser encontrado em grãos de aveia mofados.

ANIMAIS DOMÉSTICOS

Os animais domésticos são os que mais sofrem os efeitos da citrina, que pode estar presente nas rações.

PENICILLIUM CITRINUM:
CEREAIS CONTAMINADOS

Observe o Penicillium citrinum, produtor da toxina citrina, crescendo em uma laranja.

ESTERIGMATOCISTINA

Essa micotoxina tem atividade hepatocarcinogênica, e este grupo é composto por oito diferentes toxinas capazes de
inibir a síntese de DNA. Fungos produtores como Aspergillus versicolor, A. nidulans e A. rugulosus têm predileção por
crescer em aveia, trigo e café.

 Fungo filamentoso crescendo nos grãos de trigo.

A. NIDULANS
Aspergillus nidulans produtor da micotoxina esterigmatocistina.

PATULINA

A patulina é uma micotoxina termorresistente e pode ser encontrada em produtos armazenados, onde os fungos do
gênero Aspergillus, Byssochlamys ou Penicillium (P. patulum, P. claviforme e P. expansum) podem crescer. O P.
expansum é estudado desde a década de 1940 por apresentar potencial antibiótico, porém também foi observado que,
quando ele cresce em alimentos, especialmente em frutos em deterioração , apresentam potencial fitotóxico ,
carcinogênico, teratogênico e pode causar lesões nos pulmões, rins e no fígado. Por ser fitotóxico, nas plantas, essa
micotoxina cliva as ligações peptídicas e a celulose, especialmente das maçãs.

A maior incidência de patulina no Brasil é no suco de maçã e nos alimentos para crianças à base dessa fruta, porém
não é observada em alimentos sólidos. Lembrando que, apesar de quase não consumirmos suco de maçã puro,
atualmente a maioria dos sucos industrializados têm suco de maçã em sua composição. A detecção dessas toxinas em
alimentos não é tão simples e necessita de técnicas complexas, como ensaios imunoquímicos e cromatográficos.

FRUTOS EM DETERIORAÇÃO

O Penicillium expansum produdor da micotoxina patulina pode crescer em frutas em deterioração.

FITOTÓXICO

Tóxico para as plantas e vegetais.


SUCO DE MAÇÃ

A patulina é muito encontrada no suco de maçã.

TRICOTECENOS

Nesta classe, estão agrupadas mais de cem micotoxinas por apresentarem a mesma estrutura química e receberam
esse nome por causa do primeiro composto a ser descrito, a tricotecina. Vários fungos podem produzir a micotoxina,
como Trichoderma e Fusarium. Apesar de tantas toxinas e gêneros que as produzem, menos de dez são de interesse
médico por contaminarem os alimentos.

A ação dessas toxinas inibe a síntese de proteínas de RNA e DNA, acarretando efeitos hemorrágicos e
imunossupressores. O os tricotecenos são encontrados geralmente em cevada, no milho, centeio e trigo.

 Os fungos do gênero Trichoderma são produtores da micotoxina tricotecenos.

Após a ingestão dos tricotecenos, os principais sintomas são perda de peso e apetite, diminuição das células
sanguíneas e diminuição do crescimento. Nos suínos, podem ocorrer múltiplos processos hemorrágicos no estômago,
esôfago ou fígado. Além disso, pode apresentar efeito imunossupressor, que impacta diretamente a reprodução desses
animais.

SUÍNOS

Os suínos são susceptíveis aos tricotecenos que podem estar presentes na ração.

ZEARALENONAS
A zearalenona é formada por uma molécula de lactona ácida resorcílica e pode ser produzida por inúmeras espécies de
Fusarium, como F. culmorum e F. graminearum. Essa micotoxina possui afinidade por milho e seus derivados,
principalmente com grão armazenado em local que tem excesso de umidade e temperaturas com oscilações entre dias
quentes e noites frias. O clima do local em que os grãos são armazenados influencia diretamente na produção de
zearalenonas.

 Os fungos do gênero Fusarium podem produzir zearalenonas.

ARMAZENAMENTO EM LOCAL

O clima do local em que os grãos são armazenados influencia diretamente na produção de zearalenonas

Essa toxina não apresenta importância médica, pois não foi comprovado nenhum dano aos seres humanos, porém o
impacto econômico ocorre principalmente na criação de suínos por causar impotência reprodutora. Nesses animais, a
zearalenona tem função estrogênica não esteroide, sendo conhecida por seus efeitos estrogênicos, que inclui
infertilidade, atrofia testicular, desenvolvimento precoce das mamas, redução da gravidez, entre outros, impactando o
rebanho de suínos.

Essa micotoxina é frequentemente encontrada em produtos agrícolas, como farelo de trigo, farelo de arroz, silagem,
milho, trigo e sorgo.

ZEARALENONA

A reprodução dos suínos pode ser afetada quando eles ingerem a zearalenona.

FUMONISINAS
Cerca de 16 toxinas fazem parte da classe das fumonisinas, sendo B1 e B2 as primeiras a serem descritas após
isolamento de culturas de Fusarium moniliforme. Várias espécies do gênero Fusarium podem produzir essa toxina, e
esses fungos são normalmente encontrados no milho.

 O Fusarium moniliforme produz fumosinas


e foi o primeiro a ser descrito.

Os sintomas em humanos e animais são os mais variados, podendo apresentar diarreia, inanição, falta de ar, anorexia,
perda de tônus muscular, encefalopatia e necroses no fígado, podendo evoluir para quadros mais graves. A toxina B1
não é tão bem absorvida pelo trato gastrointestinal quanto a B2, por isso ela é eliminada mais facilmente por excreção
biliar. Apesar do quadro clínico ser grave e inspirar cuidados, mais de 70% dos casos de intoxicação pela fumonisina são
tratáveis.

 O milho pode ser atacado pelo Fusarium spp.


e ser contaminado com a fumosina.
Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre a regulamentação das micotoxinas.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Identificar as micoses superficiais, cutâneas e subcutâneas

Os fungos podem causar doenças a praticamente qualquer organismo vivo, e a infecção em animais e humanos gerada
por esses microrganismos são chamadas de micoses. A pele é um órgão que está em constante contato com o mundo
exterior e, consequentemente, com os mais diversos microrganismos, podendo ser parasitada pelos fungos.

Para entender essa classificação, precisamos revisar como é a estrutura da pele humana (Figura 1), pois a classificação
das micoses está diretamente relacionada à qual porção da pele elas causam doenças.
 Figura 1: A pele pode ser dividida em três camadas, e as micoses podem se desenvolver em cada uma delas.

 ATENÇÃO

As micoses são classificadas de acordo com o local que atingem o hospedeiro e os agentes que a causam.

No vídeo, podemos ver, de modo detalhado, as etapas que englobam o diagnóstico micológico, que é extremamente
importante para a definição da doença e o curso do tratamento que precisa ser realizado.
MICOSES SUPERFICIAIS
As micoses superficiais são as mais comuns, e, com certeza, você já teve ou terá essa doença em algum momento da
sua vida. Essas micoses são mais incômodas do que letais, pois muitas delas podem causar uma aparência
desagradável à pele. Os fungos causadores das micoses superficiais atingem apenas as camadas mais superficiais da
pele. Por não invadirem os tecidos vivos, podem não disparar reações inflamatórias no hospedeiro.

 Esquema das micoses superficiais causadas pelos


fungos que crescem na camada mais superficial da pele.

PITIRÍASE VERSICOLOR

A pitiríase versicolor, popularmente conhecida por “pano branco” ou “micose de praia”, é causada pelas leveduras
lipofílicas do gênero Malassezia. Essa levedura faz parte da microbiota normal da pele e do couro cabeludo, mas, por
causa de algum desequilíbrio, ela começa a crescer mais do que o normal e gera manchas hiperpigmentadas ou
hipopigmentadas.

Conheças alguns aspectos a seguir da pitiríase versicolor:

1
PANO BRANCO

O popular “pano branco” é causado pelas leveduras do gênero Malassezia.

HIPERPIGMENTADAS

A pitiríase versicolor pode apresentar manchar hiperpigmentadas.

2
3

HIPOPIGMENTADAS

Manchas hipopigmentadas causadas pelas leveduras do gênero Malassezia.

Geralmente, essas manchas aparecem em regiões com maior concentração ou produção de sebo. Por isso, é comum
aparecerem em tronco, tórax, pescoço, ombros. Essa micose pode ser crônica e atinge homens e mulheres de igual
forma, sendo mais frequente em adolescentes e jovens adultos. O crescimento exacerbado da Malassezia pode interferir
na produção de melanina e, quando expostas ao sol, as manchas são evidenciadas, por isso são comumente
associadas a uma “doença de praia”.

O diagnóstico dessa micose é simples e pode ser feito coletando-se escamas dessas manchas com posterior tratamento
com hidróxido de potássio (KOH 10-20%) para visualização em microscópio. As leveduras de Malassezia spp. são
redondas ou ovaladas, agrupadas ou isoladas, com brotamento que lembra um pino de boliche.

O cultivo dessas leveduras é mais complexo devido à sua exigência nutricional por lipídeos, necessitando de
suplementação do meio de cultura com ácidos graxos de cadeia longa (exemplos: óleo de girassol, milho e oliva).

PINO DE BOLICHE

Microscopia eletrônica da estrutura das leveduras de Malassezia.


 O uso de shampoo próprio para o tratamento como - shampoo com sulfeto de selênio (2,5%) - pode ser suficiente
para tratar a pitiríase versicolor.

Geralmente, o tratamento pode ser tópico com o uso de hipossulfito de sódio (40%), shampoo com sulfeto de selênio
(2,5%) ou com derivados imidazólicos, sendo indicada administração oral de antifúngicos somente quando as lesões são
muito extensas ou em quadros com recidivas. Mesmo seguindo o tratamento adequadamente, a coloração da pele pode
demorar meses para voltar ao normal.

TINEA NIGRA

A tinea nigra é uma micose assintomática e benigna do extrato córneo, que provoca o aparecimento de manchas
marrom ou enegrecidas, geralmente nas palmas das mãos ou na sola dos pés. Essa micose é causada por uma
levedura melanizada chamada Hortaea werneckii e tem predileção por indivíduos jovens. No Brasil, essa micose foi
descrita em maior número na região Nordeste.
 A tinea nigra é caracterizada pelo aparecimento de
manchas escuras na palma das mãos ou sola dos pés.

Não existe nenhum grande comprometimento fisiológico, sendo apenas necessário o cuidado no diagnóstico diferencial
de fitotomelanose e melanoma. O diagnóstico pode ser feito pelo exame direto das escamas da pele clarificada com
KOH 10-20% e a cultura dessas escamas em Ágar Sabouraud dextrose, apresentando um crescimento lento. O
tratamento da tinea nigra pode ser feito com soluções ceratolíticas, antifúngicos ou ácido salicílico.

 As colônicas da Hortaea werneckii são escuras pela presença de melanina.

PIEDRA BRANCA

A piedra branca, diferente das outras micoses superficiais que atingem a camada mais superficial da pele, acomete
somente os pelos ou fios de cabelos. Também é uma micose benigna, e o principal sintoma está relacionado aos
nódulos claros que aparecem ao redor do fio. Essa micose é comumente confundida com lêndeas dos piolhos, por
sua aparência semelhante, porém, nos casos de pediculose, há prurido intenso e alta taxa de transmissão, o que não
ocorre com a piedra branca.

NÓDULOS CLAROS

A piedra branca pode causar nódulos brancos nos fios do cabelo, parecidos com lêndeas de piolhos.

LÊNDEAS DOS PIOLHOS

Os ovos dos piolhos são facilmente confundidos com piedra branca.

Apesar de já haver relatos no mundo todo, essa micose é mais comum em locais de clima temperado e tropical. O
costume de prender os cabelos ainda molhados e o uso excessivo de cremes favorecem o aparecimento dessa micose
por manter a umidade por mais tempo nos fios.

Seu agente causador é o gêneroTrichosporon e o diagnóstico pode ser feito observando-se os nódulos ao microscópio
após a clarificação com KOH 10-20%, onde serão vistas estruturas hifas com artoconídios e alguns blastoconídios.

A colônia do Trichosporon cresce rapidamente em Ágar Sabouraud com coloração creme ou branca. O principal
tratamento é o corte dos fios para tirar a parte que está com os nódulos, podendo-se associar o uso de imidazólicos
tópicos, e raramente são necessários antifúngicos orais.

TRICHOSPORON

As leveduras do gênero Trichosporon são responsáveis por essa micose

PIEDRA NEGRA

Assim como a piedra branca, a piedra negra é uma micose assintomática, benigna, que acomete os pelos causado o
aparecimento de nódulos escuros, que são firmemente aderidos aos fios. Essa micose é considerada endêmica na
região amazônica, já que a elevada umidade relativa do ar e as altas temperaturas favorecem o aparecimento dessa
micose em ambos os sexos, preferencialmente em jovens.

 O corte do cabelo parasitado é o tratamento mais indicado.

Seu agente causador é o fungo melanizado Piedraia hortae, e o exame direto do nódulo clarificado por KOH 20-40%
evidencia estruturas características desse fungo. O cultivo em meio Sabouraud dextrose com cloranfenicol tem
crescimento lento e apresenta coloração escura. O tratamento mais indicado é o corte do cabelo parasitado com uso
tópico de derivados imidazólicos.
MICOSES CUTÂNEAS

DERMATOFITOSE

A dermatofitose é uma micose causada por fungos denominados “dermatófitos”, e esse grupo fúngico é composto por
microrganismos que têm afinidade com queratina. Por causa dessa exigência nutricional, os dermatófitos são
frequentemente encontrados parasitando tecidos de animais e humanos ricos em queratina, causando lesões em pele e
pelos.

Esses fungos não costumam parasitar tecidos mais profundos, porque não são capazes de crescer em temperaturas
mais elevadas, em torno de 37°C, e necessitam de queratina para sua sobrevivência.

Essa micose é uma das infecções de pele mais prevalentes do mundo, porém, apesar de serem incômodas e muitas
vezes persistentes, não são debilitantes, tampouco fatais. Essa micose também pode ser chamada de “tinha” ou “tinea”
e recebe o nome da localização corporal em que se encontra, geralmente regiões úmidas e quentes do corpo, como
descrito no quadro a seguir.

As lesões com aparência típica dessa micose apresentam borda circular inflamada, com vesículas e pápulas que ficam
ao redor da área de pele ainda não parasitada. Quando os dermatófitos atacam os pelos ou as unhas, é possível
verificar um espessamento e enfraquecimento das unhas e pelos quebradiços.

Imagem Doença Localização

Pele glabra
Tinea corporis
e lisa.
Espaços
Tinea pedis entre os
(pé de atleta) dedos dos
pés.

Tinea cruris
Virilha.
(coceira do jóquei)
Couro
cabeludo ou
fios de
cabelo.
Endótrix:
Tinea capitis fungo dentro
do fio.
Ectótrix:
fungo na
superfície
do fio.

Tinea ungueal
Unhas.
(onicomicose)

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

O grupo dos dermatófitos engloba mais de 40 espécies que pertencem a três gêneros: Microsporum, Epidermophyton e
Trichophyton. De acordo com o habitat, eles podem ser classificados em zoofílicos, geofílicos ou antropofílicos. Os
animais são os hospedeiros principais dos dermatófitos zoofílicos e, quando o humano é parasitado por esses fungos,
ele geralmente adquiriu a infecção por contato direto com animal infectado.
 O Trichophyton mentragrophytes é um dermatófito que pode causar lesões em humanos e animais.

O M. canis é o mais encontrado parasitando gatos e cães, já o T. mentagrophytes var. mentagrophytes pode ser
encontrando causando micoses em pequenos animais, como cobaias ou bovinos. Os dermatófitos geofílicos são
encontrados vivendo no solo, e animais e os humanos infectam-se por meio de contato direto com a área contaminada.

No Brasil, o geofílico mais comum é o M. gypseum. Já os antropofílicos fazem seu ciclo apenas pela passagem humano-
humano. Geralmente, essa transmissão ocorre por contato indireto de objetos contaminados, como roupas, sapatos,
lençóis etc.

Os mais comuns no Brasil são T. mentagrophytes var. interdigitale, T. rubrum, T. tonsurans e E. floccosum. A
transmissão de dermatófitos entre homens, animais e solo pode ocorrer por contato direto com os fungos ou por
escamas da pele e pelos contaminados, como ilustra o diagrama.

 Cultura do dermatófito geofílico Microsporum gypseum.


 Esquema ilustrativo das vias de transmissão dos dermatófitos entre solo, humanos e animais.

Os dermatófitos apresentam características macro e micromorfológicas que são capazes de distinguir seu gênero e sua
espécie. De modo geral, todos apresentam hifas hialinas e septadas, com formação de macro e microconídios, e é por
meio da observação dos macroconídios que podemos diferenciá-los.

Os fungos do gênero Microsporum têm macroconídios fusiformes, septados com paredes espessas e rugosas e poucos
microconídios. O gênero Epidermophyton produz macroconídios piriformes com paredes lisas e 2 a 4 células que podem
estar isolados ou em forma de cachos. Os macroconídios do gênero Trichophyton são multisseptados, cilíndricos, com
paredes lisas, e seus microconídios podem ser piriformes, ovais ou redondos.

Observe algumas características desses fungos a seguir:

MICROSPORUM

Os macroconídios do Microsporum são fusiformes de parede espessa e septados.


EPIDERMOPHYTON

O gênero Epidermophyton apresenta macroconídios piriformes com parede lisas.

3
TRICHOPHYTON

Os macroconídios dos Trichophyton são multisseptados e cilíndricos.

Além das características dos conídios, outras estruturas morfológicas também auxiliam na identificação dos fungos que
não produzem macroconídios, como hifas em raquete, espirais, pectinadas, candelabro fávico e clamidoconídios.

O surgimento das lesões de dermatofitose ocorre em três etapas:

PERÍODO DE INCUBAÇÃO

Após o contato do fungo com o hospedeiro, pode ocorrer um período de incubação variável, que depende de alguns
fatores, principalmente do hospedeiro.

PERÍODO DE INVASÃO RADIAL

Nesse momento, há o crescimento das hifas e a produção das enzimas que degradam a queratina.

PERÍODO REFRATÁRIO

As hifas começam a se fragmentar, produzindo as estruturas de resistência chamadas de “artroconídios”.

Nos pelos, esse processo é mais simples. O dermatófito invade o folículo piloso, o pelo perde o brilho e se quebra com
muita facilidade. Quando a invasão é extensa no couro cabeludo, pode haver o aparecimento de placas de tonsura,
geralmente causadas por Microsporum canis ou Trichophyton tonsurans.
O diagnóstico é realizado pela análise das escamas de pele, fios de cabelo, fragmentos de unhas ou pelos, coletados
preferencialmente das bordas das lesões por serem a área ativa da dermatofitose. Após o material ser clarificado com
KOH 10-30%, é possível observar as hifas hialinas septadas e eventualmente a presença de artroconídios entre as
escamas.

O crescimento das colônias em Ágar Sabouraud com cloranfenicol e cicloheximida auxilia no diagnóstico e na definição
da espécie por meio da análise da micromorfologia. A macromorfologia dos dermatófitos pode ter diversos aspectos,
como algodonoso, aveludado ou pulverulento, e a coloração é variável.

 Os artroconídios podem ser observados entre as


escamas e são característicos dos dermatófitos.

Para alguns dermatófitos, a macromorfologia da colônia é bem típica, como no caso do T. rubrum, que apresenta
coloração vermelho-escura, e do M. canis, com pigmentação amarelo-ouro.

O tratamento das dermatofitoses pode ser sistêmico ou tópico, com uso de ácido salicílico ou antifúngicos, como
cetoconazol ou clotrimazol. O tratamento sistêmico é realizado por via oral com antifúngicos da classe dos azóis, como o
itraconazol e o fluconazol. Por causa da natureza dos fungos e da localização das lesões, principalmente as
onicomicoses, o tratamento, muitas vezes, pode ser demorado, levando até meses, em alguns casos.

T. RUBRUM

O Trichophyton rubrum produz uma coloração avermelhada típica desta espécie.


M. CANIS

O verso do cultivo do Microsporum canis apresenta pigmentação amarela característica dessa espécie.

Além dos fungos do grupo dos dermatófitos, as leveduras do gênero Candida também podem causar micoses de pele,
unhas ou de mucosa em pacientes com alguma predisposição. As leveduras deste gênero já fazem parte da microbiota
de indivíduos saudáveis, seja na mucosa oral, seja na vaginal, seja no trato gastrointestinal. Quando ocorre algum
desequilíbrio no hospedeiro, isso favorece o crescimento da Candida, e elas começam a filamentar e invadir o tecido
saudável.
 A candidíase de pele pode acometer regiões quentes e úmidas, como a região entre os dedos dos pés.

 Leveduras do gênero Candida também podem causar doenças de pele, mucosa e unhas.

A Candida albicans é a espécie prevalente, seguida por outras espécies, como C. parapsilosis, C. glabrata. As principais
regiões acometidas pelas lesões são os espaços entre os dedos das mãos e dos pés, virilha e embaixo das mamas, pois
são locais que retêm maior umidade.

É muito comum o aparecimento da candidíase em crianças pequenas que usam fraldas, decorrente de uma reação da
urina em contato com a pele, causando maior retenção de umidade e, consequentemente, aumento da quantidade de
leveduras, sendo muito incômodo.
 As assaduras dos bebês podem ser causadas pelas leveduras do gênero Candida.

Devido à presença da Candida na microbiota normal de seres humanos, ela tem distribuição mundial, sem predileção
por sexo ou idade. As micoses de unhas causadas por essas leveduras são comuns nas mãos, principalmente de
pessoas que costumam trabalhar com as mãos molhadas o tempo todo ou em constante contato com produtos químicos
abrasivos, que podem lesionar unhas e pele.

DOS PÉS

A candidíase de pele pode acometer regiões quentes e úmidas, como a região entre os dedos dos pés

APARECIMENTO DA CANDIDÍASE

As assaduras dos bebês podem ser causadas pelas leveduras do gênero Candida

Já a candidíase oral é rara em adultos e mais frequente em recém-nascidos, sendo popularmente conhecida como
“sapinho”. Em pacientes adultos, já foi muito associada a casos de HIV/AIDS. Geralmente, as lesões apresentam-se
como placas esbranquiçadas na mucosa oral, localizadas tanto no palato mole quanto na língua . Como a manifestação
clínica mais comum associada às leveduras do gênero Candida, candidíase vaginal causa muito incômodo, corrimento
esbranquiçado e prurido.

Estima-se que cerca de 70% das mulheres podem desenvolver essa micose na fase adulta.
 Língua com placas brancas características da candidíase oral.

MICOSES DE UNHAS

As micoses de unhas causadas pelo gênero Candida acometem principalmente pessoas que trabalham com as mãos ou
os pés molhados por muito tempo.

CANDIDÍASE VAGINAL

A candidíase vaginal é uma das manifestações que acomete comumente as mulheres.


 Coloração de Gram - As leveduras do gênero Candida podem filamentar em parasitismo.

O diagnóstico baseado em exame direto de amostras clínicas pode ser feito utilizando KOH (20 ou 40%), ou coloração
de Gram, que poderá evidenciar estruturas de pseudo-hifas, células de leveduriformes e hifas verdadeiras. Em ágar
Sabouraud dextrose, as Candidas crescem rapidamente, apresentando coloração creme cerca de 48 horas após o
cultivo.

No caso das candidíases, antes de ser feito o tratamento com antifúngicos, é necessário equilibrar os fatores
predisponentes do paciente, afinal de contas a Candida faz parte da microbiota normal. O tipo de tratamento e a
medicação utilizada vão depender principalmente da manifestação clínica, podendo ser feito com uso de nistatina,
compostos de iodo ou antifúngicos azólicos.
 As colônias de Candida apresentam coloração
creme e crescimento rápido.

MICOSES SUBCUTÂNTEAS
As micoses subcutâneas atingem tecidos mais profundos da pele e, em algumas situações, podem até se disseminar
para outros locais a partir do ponto de inoculação. Os agentes dessas micoses têm a característica em comum de serem
saprófitas de solo. Isso significa que esses fungos são principalmente encontrados no solo, associados à matéria
orgânica vegetal em decomposição.

Eventualmente, esses microrganismos causam doenças quando entram em contato com o tecido subcutâneo do
hospedeiro por meio de traumas feitos principalmente por estruturas vegetais contaminadas com esses fungos. Por
causa dessa forma traumática de transmissão, essas doenças são agrupadas e podem ser chamadas de “micoses de
inoculação traumática”.

Seu tratamento depende principalmente do agente etiológico e da localização da lesão.

ESPOROTRICOSE

A esporotricose é a micose subcutânea mais prevalente da América Latina e é classicamente causada por fungos
dimórficos do gênero Sporothrix. Antigamente, acreditava-se que apenas o S. schenckii causava essa micose, mas,
com o avanço tecnológico, foi possível diferenciá-lo em outras espécies. Então, atualmente, as espécies patogênicas
mais importantes desse gênero são S. globosa, S. schenckii e S. brasiliensis.

Os fungos do gênero Sporothrix podem ser encontrados principalmente em zonas tropicais e subtropicais associados à
matéria orgânica em decomposição. O S. schenckii pode ser achado no mundo todo, já o S. globosa é mais encontrado
na Ásia, enquanto o S. brasiliensis ainda é restrito à América do Sul.
Como em todas as micoses subcutâneas, para a transmissão da esporotricose, é necessário um trauma cutâneo,
geralmente causado por alguma matéria orgânica vegetal contaminada com o fungo, que pode ser um espinho, um
tronco de árvore ou um galho. Por conta da transmissão clássica por matéria orgânica vegetal, essa micose é conhecida
como a “doença do jardineiro” ou a “doença das roseiras”, porque é comumente associada a ferimentos ocasionados
por essas plantas.

Apesar dessa via clássica de transmissão, no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, a esporotricose assumiu caráter
zoonótico, o que significa que existe um animal, o gato doméstico com esporotricose, envolvido na transmissão
dessa doença. O gato com esporotricose, ao mesmo tempo em que é um hospedeiro vítima dessa micose, também
pode transmiti-la para outros animais ou humanos a partir de mordidas e arranhões.

DIMÓRFICOS

Os fungos dimórficos são aqueles que conseguem assumir tanto a forma filamentosa com micélio quanto a forma de
levedura, dependendo da situação. No caso do Sporothrix, na natureza, ele é encontrado como filamentoso e, quando
está parasitando um animal ou humano, torna-se levedura.

Observe mais alguns aspectos desse tipo de micose:

DOENÇA DO JARDINEIRO

A esporotricose é conhecida em todo o mundo como a doença do jardineiro por causa da maior exposição desses
profissionais aos fungos.

DOENÇA DAS ROSEIRAS

A esporotricose foi muito associada à manipulação de roseiras, pois seus espinhos podem causar lesões na pele que
inoculam o fungo no tecido subcutâneo.


O GATO DOMÉSTICO COM ESPOROTRICOSE

A briga entre os gatos é a principal forma de transmissão da doença entre esses animais.

ANIMAIS

Outros animais, como os cães, podem ser afetados pela esporotricose quando feridos por um gato doente.

HUMANOS

Os gatos com esporotricose podem transmitir a doença para seus tutores, cuidadores e veterinários.

Em humanos, a manifestação clínica mais comum é a linfangite nodular ascedente, e, a partir do ponto onde ocorreu o
trauma de inoculação, o fungo pode seguir os vasos linfáticos adjacentes, causando nódulos pelo percurso, que podem
ulcerar. Também ocorrem casos de cutânea fixa, disseminada, e muito raramente extracutâneas (por exemplo: ossos,
pulmão).
 Na esporotricose humana, nódulos podem
ulcerar no membro que sofreu o trauma.
As lesões em gatos ocorrem nas patas, na cauda e, principalmente, na cabeça, pois são os locais mais expostos
durante as brigas que favorecem a transmissão da esporotricose, mas é muito comum verificar gatos com a
esporotricose disseminada.

Ao contrário do que é visto para micoses superficiais e cutâneas, o exame direto do material da lesão dos humanos
raramente evidencia a presença das leveduras. Por isso, nesses casos, é sugerido realizar biópsia para análise
histopatológica com ácido periódico de Schiff (PAS) ou metenamina-prata de Gomori.

 As lesões nos felinos são ulceradas e não costumam cicatrizar como um ferimento comum.

ESPOROTRICOSE DISSEMINADA

A manifestação clínica do gato está muito associada ao tempo que o tutor demora para levar esse animal ao veterinário.

Contudo, para gatos com esporotricose, o exame direto pela citologia por imprint com a coloração de Panótico Rápido é
suficiente para evidenciar muitas leveduras e auxiliar no diagnóstico.

O cultivo de Sporothrix é feito em Ágar Sabouraud dextrose acrescido de antibióticos, para inibir o crescimento de
bactérias contaminantes. Ele tem um crescimento rápido, e as colônias podem aparecer em torno de três a sete dias.
Além da observação da micromorfologia característica com conidióforos em forma de margarida e hifas septadas
hialinas, o teste de conversão térmica é extremamente importante para a identificação desse gênero.

Essa termoconversão pode ser feita usando um meio de cultura rico, como o BHI (Infusão de cérebro e coração bovinos)
incubados a 37°C, quando serão observados o aparecimento de colônias cremes, cerebriformes e com micromorfologia
compatível com as leveduras.

O tratamento de escolha da esporotricose humana e felina é a administração oral do itraconazol e pode durar meses.
Nos casos que não respondem bem a essa terapia, são associados iodeto de potássio ou anfotericina B.

MUITAS LEVEDURAS

O exame direto das lesões dos felinos apresenta abundantes leveduras.


MARGARIDA

A micromorfologia do Sporothrix apresenta estruturas em forma de margarida.

COLÔNIAS

As colônias filamentosas do Sporothrix são inicialmente claras e escurecem com o tempo.


CROMOBLASTOMICOSE

A cromoblastomicose ou cromomicose é uma micose subcutânea granulomatosa com evolução lenta, também causada
a partir de um trauma cutâneo. Os agentes causadores dessa micose são fungos demáceos pertencentes aos gêneros
Fonsecaea, Rhinocladiella, Cladophialophora e Phialophora.

A espécie Phialophora verrucosa é mais comum em regiões frias, principalmente na América do Norte. O
Cladophialophora carrionii também já foi isolado em território brasileiro, assim como na Venezuela e na Austrália.

No Brasil, a espécie predominante é a Fonsecaea pedrosoi, e os casos ocorrem principalmente no estado do Pará.
Ainda que sejam vários gêneros e espécies a causar a cromoblastomicose, os sintomas clínicos e as estruturas
parasitárias são os mesmos.

A manifestação clínica é caracterizada pela formação de nódulos cutâneos verrucosos com desenvolvimento lento e,
depois, podem aparecer vegetações papilomatosas, que podem ulcerar ou não. Quando esses nódulos estão em
conjunto, podem ter um aspecto de “couve-flor” nos estágios mais avançados.

CUTÂNEOS VERRUCOSOS

A cromomicose pode apresentar placas ou nódulos que podem ulcerar ou não.


 Os pacientes acometidos pela cromoblastomicose frequentemente são trabalhadores rurais.

Geralmente, localiza-se em membros inferiores por causa do ponto de inoculação, que pode ser um trauma causado por
uma enxada durante o trabalho rural, ou até mesmo um corte ou arranhão por estruturas vegetais contaminadas com
esses fungos.

Por causa da natureza desses fungos, essa doença está comumente associada a trabalhadores rurais, lavradores e
agricultores, que estão diariamente expostos aos nichos ambientais desses fungos.

O diagnóstico micológico direto feito a partir das crostas das escamas ou do pus pode revelar estruturas de coloração
marrom e globosas, que geralmente estão agrupadas. Essas estruturas septadas em dois planos chamadas de corpos
escleróticos ou muriforme são características dessa micose subcutânea.

CORPOS ESCLERÓTICOS

O corpo esclerótico ou muriforme é um achado característico no exame direto da cromoblastomicose.


Para o cultivo laboratorial desses fungos, é necessário o uso do Ágar Sabouraud sem antibióticos, e eles crescem
lentamente, com aparência aveludada ou algodonosa, com coloração que varia de esverdeada a marrom-escura ou
preta. A identificação das espécies ocorre por meio da observação das estruturas de reprodução microscópicas.

 As colônias dos fungos que causam a cromoblastomicose podem ser de esverdeadas a pretas e com crescimento
lento.

Essas estruturas de reprodução podem ser de três tipos distintos associados aos gêneros que os produzem:
TIPO CLADOSPÓRIO - GÊNERO CLADOSPORIUM

A produção dos conídios do tipo cladospório é em cadeia.

TIPO RINOCLADIELA - GÊNERO RHINOCLADIELLA

Os conídios do tipo rinocladiela estão dispostos ao longo do conidióforo em forma de “escova de mamadeira”.

TIPO FIALÓFORA - GÊNERO PHIALOPHORA


Os conídios do tipo fialófora estão dispostos no topo do conidióforo como um “vaso de plantas”.

Curiosamente, o gênero Fonsecaea pode apresentar os três tipos de corpos de frutificação, sendo mais frequentes os
tipos rinocladiela e cladospório.

O tratamento da cromomicose dependerá da forma clínica e do tempo de evolução, que, em alguns casos, pode chegar
a anos. Ao contrário de outras micoses, o tratamento apenas com antifúngicos como anfotericina B, itraconazol ou 5-
fluorocitosina não é suficiente, sendo necessária a associação com eletrocoagulação, tratamento cirúrgico para remoção
dos nódulos ou crioterapia.

MICETOMA

Os micetomas podem ser causados por espécies de bactérias (Nocardia ou Actinomyces) ou por fungos de vários
gêneros. Os micetomas causados por fungos são denominados “eumicetomas” ou “micetoma eumicótico”. Os fungos
causadores do eumicetoma produzem suas hifas emaranhadas como grãos, que apresentam tamanhos diversos, e
coloração que pode ser branca, amarelada a preta.

De modo geral, após o trauma que inocula o fungo no tecido subcutâneo, ocorre aumento da região lesionada com
posterior aparecimento de fístulas e produção dos grãos com pus. No Brasil, os números de casos são baixos, sendo
mais frequentes em países do Oeste da África (Senegal, Congo, Sudão e Madagascar) e na Índia. Os sítios anatômicos
mais acometidos são braços, pernas e pés, pois esses são os locais mais susceptíveis aos traumas cutâneos por onde
o fungo penetra.

Conheça um pouco mais sobre os traumas:

GRÃOS COM PUS


As lesões do eumicetoma podem ulcerar e liberar pus e os grãos característicos dessa micose.

BRAÇOS
Os membros superiores podem ser acometidos após ferimentos com matéria orgânica vegetal contaminada.
PERNAS
As pernas podem ser acometidas pelo eumicetoma por causa do ponto de inoculação.

PÉS
Os pés são frequentemente acometidos por serem mais expostos aos nichos ambientais dos fungos durante os
trabalhos rurais.

Os fungos mais envolvidos nos casos de eumicetomas são Pseudallescheria boydii (grãos brancos), Pirenochaeta
romeroi (grãos pretos), Madurella mycetomatis (grãos pretos) e Acremonium recifei (grãos brancos). Na América do Sul,
o agente mais encontrado é o Madurella grisea. Esses fungos são achados principalmente em madeira, solos e vegetais
e, por isso, também os homens, que são produtores rurais, agricultores e lavradores, são os mais acometidos.

O diagnóstico pode ser confirmado pelo achado dos grãos com diferentes texturas, tamanhos e cores. A observação das
características macroscópicas dos grãos pode ajudar na identificação do fungo, porém a definição exata da espécie
ocorre em associação aos achados da micromorfologia da cultura e do grão. Em alguns casos, são necessários testes
complementares, como bioquímicos, para auxiliar na identificação do fungo.

 O Pseudallescheria boydii
é um dos fungos causadores do eumicetoma.

MODAL

Os trabalhadores rurais são os principais pacientes acometidos pelo eumicetoma

Dentre as micoses subcutâneas, o tratamento do eumicetoma é o mais complicado porque é necessária drenagem
cirúrgica, uso de antifúngicos intralesionais (Anfotericina B, miconazol, cetoconazol, itraconazol, entre outros) e, em
casos mais graves, amputação do membro acometido.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Reconhecer as micoses sistêmicas e oportunistas

MICOSES SISTÊMICAS
Assim como as micoses subcutâneas, as micoses sistêmicas são agrupadas por apresentarem várias características em
comum. Essas micoses têm distribuição geográfica limitada e, por essa característica, também podem ser conhecidas
como “micoses endêmicas”.

Os fungos causadores das micoses sistêmicas podem ser encontrados no solo, em excremento de animais e em matéria
orgânica vegetal rica em nutrientes. A principal forma de transmissão é pela inalação dos esporos fúngicos ou conídios,
sendo o pulmão o primeiro e principal órgão acometido. Apesar disso, a maior parte das infecções pulmonares é
autolimitada e assintomática. Mesmo com alto potencial infeccioso ambiental, um indivíduo com micose sistêmica não
transmite para outros humanos ou animais.

ENDÊMICAS

São endêmicas aquelas doenças que acometem a população de uma região geográfica específica.

 A principal forma de transmissão das micoses sistêmicas ocorre pela inalação dos conídios dispersos no ar.
O tratamento das micoses depende principalmente do agente etiológico e da localização da lesão. Para entender melhor
quais são os antifúngicos e os mecanismos de ação de cada um deles, veja o vídeo.

HISTOPLASMOSE

A histoplasmose clássica é causada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum var. capsulatum e pode ser
encontrada em várias partes do mundo, sendo endêmica nos Estados Unidos (regiões leste e centrais). Na África,
principalmente nos países tropicais, a histoplasmose é causada pelo Histoplasma duboisii. Embora a histoplasmose seja
rara no Brasil, houve aumento no número de casos registrados depois do advento do HIV/AIDS.

A principal característica desse fungo é que ele tem preferência por crescer em solo que é abundantemente
contaminado com fezes de aves ou morcegos. A transmissão ocorre por inalação dos conídios do Histoplasma, que
podem ser dispersos no ar durante a limpeza de locais, como galinheiros, sótãos com morcegos ou então quando são
revirados materiais do solo dentro de cavernas.

Nas regiões endêmicas, é comum um aumento significativo no número de casos após a escavação do solo para
construção ou então por exploração de cavernas infestadas de morcegos.

Após a inalação do conídio, ocorre a primo-infecção no pulmão. Na maioria dos indivíduos, esse quadro inicial é
assintomático, subclínico, e passa despercebido ou é confundido com resfriados ou gripe. Apesar de não apresentar
sintomas claros e debilitantes, esse primeiro contato com o fungo pode deixar sequelas, como calcificações nodulares
residuais no pulmão, parecido com o que acontece com a tuberculose.
 Radiografia torácica mostra infiltrado pulmonar difuso
devido à histoplasmose pulmonar aguda causada por H. capsulatum.

Muito raramente, mas podendo ocorrer, o H. capsulatum se dissemina e atinge outros órgãos, como rins, fígado, baço,
pâncreas, testículos e ainda ocorre a manifestação clássica com lesões na mucosa orofaríngea. Um fator agravante para
a histoplasmose é a ocorrência de coinfecção com outros agentes, como o Mycobacterium tuberculosis, que causa
tuberculose, dificultando ainda mais o tratamento e diagnóstico.

A histoplasmose disseminada pode ocorrer em indivíduos com alguma debilidade imunológica, como pacientes
submetidos a quimioterapias imunossupressoras ou então pacientes com AIDS.

FEZES DE AVES

O Histoplasma capsulatum pode ser encontrado crescendo em fezes de aves

MORCEGOS

As cavernas ou locais onde há morcegos podem ser favoráveis para o crescimento do Histoplasma capsulatum

GALINHEIROS

A limpeza de galinheiros pode dispersar conídios de Histoplasma capsulatum que estejam crescendo nas fezes

SÓTÃOS COM MORCEGOS


Os sótãos com morcegos são locais propícios para o crescimento do Histoplama capsulatum

CALCIFICAÇÕES NODULARES RESIDUAIS NO PULMÃO

Radiografia torácica mostra infiltrado pulmonar difuso devido à histoplasmose pulmonar aguda causada por H.
capsulatum.

 No hospedeiro, o H. capsulatum se transforma em leveduras.

O H. capsulatum é dimórfico, o que significa que, ao parasitar as células do sistema retículo endotelial, transforma-se em
leveduras pequenas, ovais ou redondas. Na natureza, esse fungo cresce como filamentosos com hifas hialinas e
macroconídios mamilonados ou tuberculados, que lembram a semente de mamona.

Em laboratório, é possível observar as duas fases, crescendo o fungo a 25°C, para verificar sua fase filamentosa, e a
37°C, quando observamos as leveduras. O espécime clínico coletado para diagnóstico da histoplasmose pode ser
biópsia, escarro, raspado de lesões superficiais, urina e aspirados de medula óssea, nos casos de histoplasmose
disseminada.

Os cortes histológicos podem ser corados com metenamina-prata de Gomori, calcofluorado branco ou ácido periódico de
Schiff, quando serão observadas estruturas compatíveis com leveduras. O crescimento do Histoplasma em laboratório é
lento, podendo levar até quatro semanas para o aparecimento das primeiras colônias.
 O Histoplasma capsulatum na natureza se apresenta como fungo filamentoso.

FILAMENTOSOS COM HIFAS HIALINAS E MACROCONÍDIOS


MAMILONADOS

O Histoplasma capsulatum na natureza se apresenta como fungo filamentoso.

METENAMINA-PRATA DE GOMORI

A coloração metenamina-prata de Gomori evidencia, em tons de marrom, as células fúngicas e, em azul, as outras
estruturas do hospedeiro

As colônias desse fungo têm aparência algodonosa e branca, sem nenhuma característica muito peculiar que o
identificaria, por isso é muito importante realizar a termoconversão em laboratório para verificar sua mudança para a
fase leveduriforme.

Além dos métodos clássicos de identificação pelo exame direto e cultura, também é possível realizar testes sorológicos,
como o teste de imunodifussão, que detecta anticorpos contra o H. capsulatum no soro dos pacientes infectados.
Quando os anticorpos contra o antígeno M desse fungo são detectados, indicam que a histoplasmose está ativa.

 A coloração metenamina-prata de Gomori evidencia, em tons de marrom, as células fúngicas e, em azul, as outras
estruturas do hospedeiro.

Para os casos assintomáticos ou com sintomas leves, não há indicação de tratamento, porque a resolução da doença
ocorrerá de forma espontânea. Nos casos pulmonares mais graves, é indicado o uso de itraconazol, e, para os casos de
histoplasmose disseminada, o tratamento de escolha é anfotericina B. Não existe uma forma 100% eficaz de prevenção,
mas evitar locais onde o fungo possa crescer ou áreas endêmicas é a melhor forma de evitar a histoplasmose.
PARACOCCIDIOIDOMICOSE

 A paracoccidioidomicose acontece em toda a América Latina.

A paracoccidioidomicose também pode ser conhecida como a “blastomicose da América”, pois essa doença acontece
principalmente na América Latina, estendendo-se da Argentina até o México, já sendo descritos casos aqui no Brasil
em estados como São Paulo, Paraná e Rondônia.

O agente causador dessa micose é o fungo dimórfico Paracoccidioides brasiliensis, porém, como foi poucas vezes
isolado na natureza, ainda não se sabe ao certo seu habitat natural. Embora acredite-se que ele também está associado
à matéria orgânica vegetal, pois muitos dos pacientes acometidos são trabalhadores rurais, também já foi associado à
caça ao tatu. Assim como em todas as micoses sistêmicas, a paracoccidioidomicose não é contagiosa.

 Os trabalhadores rurais são os mais acometidos pela paracoccidioidomicose.

A transmissão ocorre por inalação dos conídios do P. brasiliensis, que pode causar lesões iniciais nos pulmões. Ao
contrário do que acontece com a histoplasmose, nessa lesão inicial, o fungo pode ficar latente dentro de um granuloma
por anos ou décadas, até que possa ser reativado novamente e, enfim, causar a paracoccidioidomicose.

Por essas características, essa micose é considerada crônica e pode disseminar-se para outros locais no organismo a
partir do pulmão, como tecido mucocutâneo, baço, linfonodos, fígado, glândulas suprarrenais etc. Uma manifestação
típica dessa micose são lesões dolorosas na mucosa oral.
 Manifestação mucocutânea da paracoccidioidomicose.

O diagnóstico pode ser realizado pela observação de estruturas leveduriformes características do P. brasiliensis em
amostra de escarro, secreções, pus etc., ou por avaliação histopatológica de biópsias. As leveduras desse fungo podem
apresentar-se isoladas ou com brotamentos ao redor da célula-mãe, lembrando um timão de barcos.

 As leveduras do P. brasiliensis apresentam brotamentos ao redor da célula-mãe.

O crescimento em meio de cultura pode demorar de duas a quatro semanas. Também é possível aplicar testes
sorológicos para auxiliar no diagnóstico e acompanhamento terapêutico da paracoccidioidomicose.
 As leveduras do P. brasiliensis pode demora até 4 semanas para começar a crescer.

O tratamento é baseado na manifestação clínica e no estado geral do paciente, podendo ser feita uma combinação
terapêutica de sulfamidas com itraconazol, trimetoprim, anfotericina B ou miconazol. Por ser uma micose de curso
crônico, seu tratamento também é demorado e, mesmo depois da cura clínica, micológica e sorológica, é necessário
continuar com uma dose de manutenção do antifúngico por cerca de dois anos.

MUCOCUTÂNEO

Manifestação mucocutânea da paracoccidioidomicose.

COM BROTAMENTOS

As leveduras do P. brasiliensis apresentam brotamentos ao redor da célula-mãe.

CRESCIMENTO EM MEIO DE CULTURA

As leveduras do P. brasiliensis pode demora até 4 semanas para começar a crescer.

CURA CLÍNICA

É quando os sintomas desaparecem.


MICOLÓGICA

Ocorre quando não é mais possível evidenciar estruturas fúngicas nas amostras coletadas ou então sem crescimento no
cultivo.

SOROLÓGICA

Acontece quando não há mais detecção de anticorpos contra antígenos do P. brasiliensis.

COCCIDIOIDOMICOSE

A coccidioidomicose é causada por fungos dimórficos do gênero Coccidioides, e as espécies mais conhecidas são
C. immitis e o C. posadasii. Ambas as espécies são endêmicas nos Estados Unidos, mas também podem ser
encontradas no México, na América Central e no Sul. No Brasil, já houve relato de casos nos estados do Piauí, Ceará e
Maranhão.

Diferente dos outros fungos que têm preferência por locais de clima úmido, esse gênero tem predileção por crescer
como saprófita de solo de áreas semidesérticas e desérticas.

 Ao contrário dos outros fungos, o Coccidioides tem


preferência por crescer em locais de clima desértico ou semidesértico.

A infecção ocorre por inalação dos artroconídios, que são dispersos e carreados pelas correntes aéreas. No pulmão,
esse artroconídio transforma-se em esférulas de paredes grossas, contendo muitos endósporos irregulares ou
globosos. Quando a esférula se rompe, libera os endósporos que vão desenvolver novas esférulas, continuando o ciclo
parasitário.
 Os artroconídios são fragmentações das hifas
com função semelhante aos conídios.

Na maioria dos casos, a infecção é assintomática, porém menos da metade dos pacientes pode desenvolver pneumonia
aguda, e uma parcela muito pequena evolui para o quadro pulmonar crônico cavitário. Dificilmente o Coccidioides se
dissemina por via linfo-hematogênica, causando lesões em outros tecidos.

 As esférulas apresentam paredes grossas cheios de endósporos.

O diagnóstico presuntivo dessa micose pode basear-se em sintomas clínicos, dados epidemiológicos e detecção de
anticorpos. O diagnóstico definitivo é estabelecido quando se evidencia a presença das esférulas com endósporos na
amostra clínica ou embiópsias, bem como pelo isolamento do fungo em cultivo.

Geralmente, os pacientes que apresentam a infecção primária pulmonar não precisam de tratamento com antifúngicos,
pois a infecção se resolve espontaneamente. Em pacientes imunocomprometidos, porém, é aconselhável a
administração da anfotericina B sozinha ou em associação com itraconazol.
MICOSES OPORTUNISTAS
As micoses oportunistas ocorrem no mundo todo e são causadas por fungos com baixa virulência, que habitualmente
vivem pacificamente com o hospedeiro, ou então não causariam doenças em indivíduos saudáveis. Porém, quando há
alguma alteração, por exemplo do sistema imunológico, e as condições tornam-se favoráveis ao desenvolvimento
desses microrganismos, eles podem invadir os tecidos, causando doenças.

Os fatores que podem predispor os indivíduos a essas micoses são classificados como:

VIRULÊNCIA

É o grau de patogenicidade de um microrganismo que impacta diretamente na gravidade da doença.

INTRÍNSECOS
Esses fatores são do próprio hospedeiro, como diabetes, neoplasias, hemopatias, AIDS e quaisquer outras doenças ou
condições que possam alterar o bom funcionamento da imunidade celular (velhice, prematuridade, gravidez etc.).

 A gestação pode ser um fator intrínseco que interfere no sistema imunológico.

EXTRÍNSECOS
Indivíduos em tratamento com corticoides, antibióticos, cirurgia de transplante e em ambientes hospitalares
contaminados.
 O ambiente hospitalar pode ser um fator extrínseco que facilita a ocorrência das micoses oportunistas.

Como os fungos que causam micoses oportunistas convivem cotidianamente e, muitas vezes, estão presentes na
microbiota ou no ambiente do nosso dia a dia, o diagnóstico precisa ser muito rigoroso para confirmar que efetivamente
é um desses agentes que está ocasionando a doença e que ele não está apenas contaminando a amostra.

Para atender a essa necessidade, é importante seguir critérios: verificação do fungo em exame direto da amostra clínica,
em várias coletas ou em material de biópsia; cultura seriada positiva com o mesmo microrganismo e ausência de outro
patógeno fúngico.

CANDIDÍASE

A candidíase pode ser causada por várias espécies do gênero Candida, e elas são leveduras encontradas na microbiota
normal do trato gastrointestinal, nas mucosas e na pele. A candidemia (candidíase sistêmica) é a micose prevalente no
mundo todo que acomete outros órgãos, e as espécies mais frequentemente isoladas são C. albicans, C. dubliniensis,
C. tropicalis, C. guilliermondii, C. parapsilosis e C. glabrata.
 Microscopia eletrônica das células leveduriformes do gênero Candida.

LEVEDURAS

Microscopia eletrônica das células leveduriformes do gênero Candida.

A infecção pode ocorrer por causa de dispositivos médicos, como cateteres, cirurgia, lesão da pele ou da mucosa
gastrointestinal, que favorecem a entrada dessas leveduras no organismo. Em pacientes com o sistema imunológico
funcionando perfeitamente, as leveduras que entram nessas situações são eliminadas, e a candidemia pode ser
transitória. No entanto, pacientes debilitados, com comprometimento da defesa fagocítica, podem desenvolver lesões
ocultas em qualquer local do corpo, como rins, olhos, coração, meninges.

 A Candida pode causar inúmeras doenças, e uma debilidade imunológica pode favorecer as formas mais graves.

CATETERES

Os dispositivos médicos de longa duração podem favorecer a candidemia.

A amostra clínica a ser coletada vai depender do local que está sendo acometido, podendo ser coletados swabs de
exsudato, sangue, biópsias, urina, líquido cerebrospinal e material retirado de cateteres. O espécime clínico corado pelo
Gram ou outras colorações histológicas evidenciam pseudo-hifas e células leveduriformes com brotamentos.
 As leveduras de Candida podem filamentar quando estão parasitando.

As colônias têm crescimento rápido, podem ser incubadas em temperatura ambiente ou a 37°C e têm aparência
cremosa, de cor branca ou marfim.

 As culturas de Candida crescem rápido e com aparência cremosa.


 O ágar cromogênico auxilia na identificação das espécies de Candida em que as principais produzem um padrão de
cor distinto.

É possível diferenciar as espécies de Candida utilizando um meio cromogênico em que as colônias assumirão diferentes
colorações, de acordo com a espécie. O teste do tubo germinativo serve para diferenciar a C. albicans das Candida não
albicans, pois somente essa espécie produz essa estrutura.

A principal preocupação a respeito das micoses causadas por Candida é o aumento nos relatos de leveduras resistentes
aos tratamentos disponíveis. Assim como em outras micoses, em que as manifestações clínicas são variadas, na
candidíase, o protocolo terapêutico varia de acordo com a localização das lesões e pode ser baseado em monoterapia
com fluconazol ou em associações com outros antifúngicos, como anfotericina B, flucitosina, clotrimazol, entre outros.

CRIPTOCOCOSE

A criptococose é a micose causada pelas leveduras Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gatii, e a principal
característica que diferencia essas leveduras das demais é a presença de uma grande cápsula polissacarídica. O
C. neoformans é cosmopolita e pode ser encontrado na natureza, sendo facilmente isolado de fezes secas de pombos,
do solo ou em troncos de árvores. Já o C. gatti é mais encontrado em áreas tropicais associadas a árvores.
 O Cryptococcus neoformans pode ser encontrado em fezes seca de pombos.

A transmissão da criptococose ocorre por inalação das células fúngicas que se dispersam no ar com poeira e pó das
fezes dos pombos. Apesar de o pulmão ser o primeiro órgão a entrar em contato com essas leveduras, o sistema
nervoso central é o mais afetado, pois esses fungos têm tropismo pela rede neural, migrando para esse sistema.

Apesar de a criptococose também acometer indivíduos imunocompetentes, essa micose é mais letal para portadores de
HIV/AIDS e outras doenças hematogênicas ou imunossupressoras. Após a inalação das leveduras, ocorre uma infecção
primária dos pulmões, que pode ser assintomática ou com sintomas leves, como os de resfriados comuns com resolução
espontânea.

 O Crytpcoccus tem tropismo pelo sistema nervoso central.

O Cryptococcus multiplica-se nos pulmões e, depois, pode disseminar-se para outras partes do corpo, preferencialmente
o sistema nervoso central, provocando meningoencefalite criptocócica. Além do sistema nervoso central, pele, olhos,
ossos e próstata podem ser acometidos, mas apresentam reação inflamatória mínima ou granulomatosa.
 A manifestação clínica mais grave associada
ao Cryptococcus é a meningoencefalite.

Na meningite crônica causada pelo Cryptococcus, as principais queixas do paciente são dor de cabeça, desorientação e
rigidez da nuca. Em alguns casos, também podem aparecer lesões cutâneas, pulmonares ou em outros órgãos. O
prognóstico é muito variado, porém, se o paciente não for tratado adequadamente, pode ser fatal, mas não é contagiosa.

 A dor de cabeça é um sintoma frequente


dos pacientes com meningite criptocócica.

O diagnóstico pode ser feito a partir de exsudatos, escarro, sangue, urina ou líquido cerebroespinhal. O exame direto
pode ser feito utilizando-se tinta nanquim para maior destaque da cápsula que caracteriza esse gênero fúngico.
 O exame direto corado com tinta nanquim evidencia um halo ao redor da levedura.

O crescimento das colônias em meio de cultura acontece em poucos dias (três a sete dias) e pode ser incubado à
temperatura ambiente ou a 37°C. Também é possível realizar a investigação de antígenos fúngicos em líquor pelo teste
de aglutinação em látex.

 As colônias do Cryptococcus têm aparência mucoide por causa da cápsula rica em polissacarídeos.

A meningite criptocócica é a forma mais grave dessa micose, e o êxito no tratamento depende primordialmente de
diagnóstico precoce e do estado geral do paciente. A anfotericina B pode ser usada sozinha ou em associação a 5-
fluorcitosina, ou, em outros casos, fluconazol também tem sido usado.

TINTA NANQUIM

O exame direto corado com tinta nanquim evidencia um halo ao redor da levedura.
COLÔNIAS

As colônias do Cryptococcus têm aparência mucoide por causa da cápsula rica em polissacarídeos

ASPERGILOSE

A aspergilose é uma micose oportunista que pode causar amplo espectro de doenças e pode ser causada por inúmeras
espécies de Aspergillus, dependendo da localização que infectam, podendo ser olhos, pele, ouvidos ou outros órgãos.
Esses fungos são saprófitas na natureza e podem estar em nossas casas, sendo encontrados no mundo, por isso há
relatos dessa doença globalmente.

O patógeno humano mais comum é o A. fumigatus, mas outras espécies também já foram descritas causando doenças
em humanos, como A. nidulans, A. niger, A. terreus e A. flavus. A transmissão ocorre, principalmente, por inalação dos
conídios, que são abundantes, pequenos e facilmente aerossolizados.

 O Aspergillus fumigatus é o patógeno humano mais comum causador da aspergilose.


 Os conídios produzidos por fungos do gênero Aspergillus podem ser inalados, causando aspergilose.

Em pacientes imunocomprometidos (leucêmicos, transplantados, com uso crônico de corticosteroides etc.), o conídio
pode germinar, criando hifas que podem invadir o tecido pulmonar ou outros adjacentes. Quando o Aspergillus coloniza
a cavidade pulmonar, pode causar uma doença chamada aspergiloma ou bola fúngica. Esse quadro pode ser restrito ou
evoluir para aspergilose invasiva, que geralmente acomete pacientes que estão internados e com importante
comprometimento imunológico.

 O aspergiloma é caracterizado pelo


crescimento do Aspergillus no pulmão.

Na aspergilose, além do dano diretamente associado ao crescimento fúngico no organismo, a alergia é um importante
mecanismo patológico. Pessoas com predisposição a alergias, quando inalam os conídios, comumente desenvolvem
reações alérgicas severas aos antígenos do Aspergillus, chamadas de “aspergilose broncopulmonar alérgica”.

Devido à origem do fungo, o diagnóstico da aspergilose invasiva é um desafio para a equipe médica e laboratorial. O
exame direto do escarro, muitas vezes, pode ser negativo, e é difícil o isolamento do Aspergillus a partir do sangue. As
biópsias são as que apresentam o melhor resultado, mas sua execução pode ser dificultada pela debilidade do paciente.
Por isso, associar histórico clínico, sintomas, microscopia, histopatologia e radiografia são essenciais para o diagnóstico
da aspergilose.

 A cabeça aspergilar verificada no


histopatológico auxilia no diagnóstico da aspergilose.

A análise da amostra clínica pode evidenciar hifas hialinas, septadas e, em alguns raros casos, é possível encontrar a
presença da cabeça aspergilar.

 A micromorfologia da cultura evidencia os corpos de


frutificação característicos do gênero Aspergillus.

Quando essa estrutura característica não é encontrada, é necessária a realização de cultura para confirmação do real
agente causador da doença. Outras técnicas de investigação de antígenos do Aspergillus ou investigação molecular por
PCR podem auxiliar no diagnóstico.

O tratamento da aspergilose depende de quais doenças esses fungos estão causando. No caso da aspergilose invasiva,
o tratamento de escolha é com anfotericina B, porém os resultados podem ser discretos. Na aspergilose ocular, a
pimaricina é o medicamento de escolha, e, nas otomicoses, o fármaco preconizado é o tolciclato. Os casos de
aspergiloma exigem procedimento de remoção cirúrgica.
Os pacientes que desenvolvem a aspergilose broncopulmonar alérgica podem ser tratados com antifúngicos e
esteroides. Devido à natureza desse fungo, não existe uma medida específica e eficaz de prevenção.

CULTURA

A micromorfologia da cultura evidencia os corpos de frutificação característicos do gênero Aspergillus.

PRESENÇA DA CABEÇA ASPERGILAR

A cabeça aspergilar verificada no histopatológico auxilia no diagnóstico da aspergilose.

MUCORMICOSE

A mucormicose, que também pode ser chamada de zigomicose, é uma doença causada por vários fungos filamentosos
do filo Glomerulomytcota, que são saprófitas de solo onipresentes e apresentam boa termotolerância. Os principais
gêneros descritos por causarem essa micose são Rhizopus, Rhizomucor, Cunninghamella, Absidia e Mucor.

Quando os esporos desses fungos são inalados, eles podem germinar nas narinas e invadir os vasos sanguíneos com
as hifas, causando a principal forma clínica, a rinocerebral. A maioria dos casos de mucormicose é rinocerebral, que é a
manifestação clínica mais grave, com altas taxas de mortalidade.

Nesses fungos, por terem características angioinvasivas, suas hifas podem causar obstrução dos vasos sanguíneos,
consequentemente evoluindo para trombose, infarto e necrose tecidual, também podendo atingir os nervos faciais.

 A manifestação clínica mais frequente é a rinocerebral.


Essa evolução pode ser rápida, com comprometimento dos seios nasais, ossos cranianos, olhos e cérebro. Se esses
esporos chegarem aos pulmões, pode ocorrer mucormicose torácica, com invasão dos vasos pulmonares e do
parênquima, com necrose isquêmica e destruição maciça dos tecidos.

O grupo de risco para essa micose são pacientes com risco de acidose (particularmente associada ao diabetes), linfoma,
tratamentos prolongados com corticosteroides, leucemia, queimaduras graves, imunodeficiências e muitos outros
quadros que debilitam o estado geral de saúde do paciente.

RINOCEREBRAL

A manifestação clínica mais frequente é a rinocerebral.

 Os exames a partir da amostra clínica podem evidenciar hifas características desses fungos, conhecidos também
como asseptadas e ramificações irregulares.

O diagnóstico pode ser feito por exame direto de amostras clínicas, como escarro ou secreção nasal, que, quando
clarificadas pelo KOH (10 a 20%), evidenciam a presença de hifas hialinas, largas, asseptadas e ramificações
irregulares. O histopatológico de biópsia corado por metenamina prata (Gomori) ou por ácido periódico de Schiff
também mostram essas estruturas fúngicas e alterações teciduais.

A cultura micológica é a forma mais adequada para a definição da espécie que está causando a mucormicose, pois
permite a observação das características macro (colônias) e micromorfológicas (corpos de frutificação).

O tratamento preconizado consiste em uma associação da anfotericina B com desbridamento cirúrgico agressivo para
remoção do tecido necrosado. É extremamente importante a administração precoce do antifúngico, pois, além da alta
letalidade, os pacientes também podem ficar com sequelas, como perda de um olho ou paralisia parcial da face.
Também é indicada a suspensão de medicações ou tratamentos que debilitem o sistema imunológico. Embora existam
tratamento e medidas cirúrgicas, a taxa de mortalidade continua elevada.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aprendemos que os fungos podem ser nocivos à saúde humana e animal em muitos níveis e de muitas formas. Os
envenenamentos por ingestão de cogumelos tóxicos (micetismo) ou de alimentos contaminados com micotoxinas
(micotoxicose) apresentam grandes riscos para a saúde humana e animal. Já as micoses têm amplo espectro de
manifestações clínicas, que variam de apenas “incômodos estéticos”, como é o caso da pitiríase versicolor, até casos
fatais relacionados à meningoencefalite criptocócica.

 PODCAST

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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GARCIA, J. et al. Amanita phalloides poisoning: Mechanisms of toxicity and treatment. Food and Chemical Toxicology,
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MADIGAN, M. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

TAKAHASHI, J. A.; LUCAS, E. M. F. Ocorrência e diversidade estrutural de metabólitos fúngicos com atividade
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TEIXEIRA, M. M. et al. Comparative genomics of the major fungal agents of human and animal Sporotrichosis:
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TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
TRABULSI, L. R.; ALTERTHUM, F. (eds.). Microbiologia. 6. ed. São Paulo: Atheneu, 2015.

EXPLORE+

Para saber mais informações a respeito de comestibilidade ou toxicidade dos cogumelos busque no site
Fungipedia informações confiáveis sobre o assunto.

O canal do Youtube “MycoTalk” tem uma seleção de vídeos e lives com especialistas em diversas áreas da
micologia ambiental e médica.

Buscando no Google por “Atlas de Micologia”, é possível encontrar alguns livros em PDF disponíveis
gratuitamente.

CONTEUDISTA
Pãmella Antunes de Macêdo Sales

 CURRÍCULO LATTES

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