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Disciplina: Microbiologia aplicada à Medicina Veterinária

Curso: Medicina Veterinária


Docente: Profa. Dra. Ana Carolina da Silva

ANTIMICROBIANOS

UM BREVE HISTÓRICO

A quimioterapia no tratamento de doenças infecciosas tem sido utilizada há vários


séculos. Em 1465 o mercúrio foi utilizado no tratamento da sífilis, desde 1630 os
europeus utilizavam a quinina no tratamento da malária. Somente no início do século XX
novas drogas revolucionaram o tratamento de doenças infecciosas.
Alguns pesquisadores daquela época são referências conceituais e históricas. Paul
Ehrlich considerou a toxicidade seletiva como uma base no uso eficaz de drogas no
tratamento de doenças infecciosas. Assim a droga ideal seria aquela que destrói o agente
infeccioso e que não seja tóxica para o paciente. Salvarsan, arsênico combinado com
compostos orgânicos, foi o primeiro quimioterápico elaborado em laboratório e foi
utilizado por muito tempo utilizado no tratamento da sífilis e que concedeu ao
pesquisador o Prêmio Nobel de medicina em 1908. Somente em 1935 Gehard Domagk,
trabalhando na Alemanha na Companhia Bayer com corantes na cura de
camundongos infectados com estreptococos sem intoxicá-los, descobriu um corante
vermelho chamado de Prontozil. Esta descoberta também conferiu o prêmio Nobel em
1939. Mais tarde, verificou-se que este composto era uma sulfonamida. Até 1945
produziram-se milhares de derivados da sulfonamida e alguns são utilizados até hoje no
tratamento de algumas infecções. A descoberta acidental da penicilina
por Alexander Fleming em 1929 baseou-se na observação de que culturas e
de estafilococos eram inibidas por um bolor contaminante (Penicillium). Mas somente
em 1941, obteve-se uma purificação bruta do composto por Chain e Florey. Em seguida
a droga começou a ser aplicada geralmente com sucesso como agente antimicrobiano no
tratamento de infecções bacterianas. Em 1945, os pesquisadores ganharam o
prêmio Nobel. Diversas outras descobertas importantes nesta área ocorreram e ainda
ocorrem.

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1. DEFINIÇÕES
Basicamente os agentes antimicrobianos podem ser conceituados como
compostos produzidos por microrganismos que possuem atividade
antimicrobiana bactericida ou bacteriostática. Os antimicrobianos são divididos em
duas categorias quanto a sua toxicidade seletiva, ou seja, a propriedade de uma substância
ser tóxica para a bactéria e ser inócua para o hospedeiro, sendo os antimicrobianos
inespecíficos os que atuam sobre os microrganismos, patogênicos ou não, e nas células
do organismo hospedeiro, por exemplo desinfetantes e antissépticos, enquanto os
antimicrobianos específicos atuam sobre os microrganismos responsáveis pelas doenças
que acometem os animais como os antibióticos e quimioterápicos.
Os antimicrobianos também podem ser classificados quanto a sua origem, sendo
os mais conhecidos:

Antibióticos: substâncias químicas produzidas por microrganismos (geralmente fungos)


que em pequenas doses matam ou inibem a reprodução de espécies de microrganismos
causadores de doenças.

Quimioterápicos: são os antimicrobianos que são produzidos por via sintética.

Antibióticos biossintéticos: obtidos a partir de cultura de microrganismos, na qual se


acrescentam substâncias químicas capazes de alterar a estrutura molecular do antibiótico
que está sendo produzido.

Antibióticos semissintéticos: obtidos em laboratório acrescentando-se radicais químicos


ao núcleo ativo de um ATB isolado de um meio de cultura, na qual cresce um
microrganismo.

Sintobióticos: antibióticos obtidos exclusivamente por síntese laboratorial, porém a partir


dos estudos dos precursores obtidos de microrganismos.

Os antimicrobianos possuem atividade antibacteriana, antifúngica, antiparasitária,


antiviral e antiblástica (usualmente utilizados no tratamento de neoplasias ). O resultado
é a morte microbiana (microbiocida) ou causam inibição de

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crescimento (microbiostático). Existem antimicrobianos de largo espectro, que têm
atividade contra diversos microrganismos, e os de curto espectro que agem contra poucas
espécies e os específicos para determinados grupos bacterianos. Os antimicrobianos
podem ser agrupados
em betalactâmicos, aminoglicosídios, tetraciclinas, rimfamicinas, macrolídios, clora
nfenicol, quinolônicos, sulfonamidas, trimetropim e metronidazol.
A diversidade da estrutura química destas drogas
confere farmacodinâmicas e farmacocinéticas variadas. Certos compostos apresentam
alta toxicidade e são aplicados às vezes apenas topicamente ou após a sua administração,
os pacientes devem receber monitoramento hospitalar. Além disso, deve ser considerada
o tipo e a localização da infecção, tipo de microrganismo envolvido, tipo de infecção, a
via de inoculação (intramuscular, venosa, oral ou parenteral), dose, peso, idade, existência
de gravidez ou outro estado do paciente. A associação de antimicrobianos é realizada em
situações não usuais e esta alternativa deve ser bastante criteriosa. Pode ocorrer um
sinergismo ou antagonismo na atividade antimicrobiana entre as drogas. Em algumas
infecções importantes onde há facilmente o diagnóstico clínico administra-se o
antimicrobiano sem o exame laboratorial, pois alguns antibióticos são de largo espectro
e o controle da doença deve ser rápido.
Em situações menos frequentes ainda, os antimicrobianos podem ser utilizados na
prevenção de infecções como nos procedimentos pré-cirúrgicos ou em indivíduos que se
dirigem a locais onde existe uma epidemia conhecida e a vacinação é ineficaz ou não
existe tempo suficiente para adquirir proteção pela vacina (Ex. militares, grupos de
pesquisadores, expedicionários ou voluntários que se dirigem emergencialmente a um
local com epidemia).
Considerando a importância da toxidade seletiva apresentamos resumidamente os
principais mecanismos de ação dos antimicrobianos contra bactérias e que servem como
modelos. Os mecanismos de ação dos antimicrobianos (antibióticos) possuem os
seguintes principais alvos na célula bacteriana;
a) Síntese da parede celular
b) Interferência na integridade da membrana celular
c) Interferência na síntese proteica
d) Atividade antimetabólica
e) Síntese e integridade de ácidos nucleicos.

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2. MECANISMOS DE AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS ESPECÍFICOS
PAREDE CELULAR:
Esta estrutura inicia sua síntese intracelularmente na formação de seus percursores
seguida de etapas de transporte através da membrana e a sua finalização. Assim
a penicilina, cefalosporina, monobactâmicos e carbapenemas são conhecidos como
antibióticos betalactâmicos que são estruturalmente semelhantes à transpeptidase enzima
que permite a obtenção da rigidez da parede. Estes antibióticos por competição
substituem a atividade da transpetidase e interferem principalmente na rigidez da parede
levando a célula a lise osmótica. De maneira geral as bactérias gram positivas são
mais sensíveis. Especialmente estafilococos e estreptococos. Outros mecanismos de ação
das penicilinas são descritos como a sua fixação as “proteínas fixadoras de penicilinas
(PBPs) e na ativação de autolisinas. Deve-se, no entanto, lembrar de que, se a bactéria se
encontrar em ambiente isotônico a célula bacteriana pode sobreviver e se multiplicar em
forma de esferoplasto ou protoplasto. Ainda neste contexto temos
os Mollicutes (micoplasmas) que também são resistentes a estes antibióticos por não
possuírem naturalmente a parede celular. A bacitracina, cicloserina, fosfomicina e
vancomicina interferem na síntese da parede celular interferindo nos percursores da
parede celular. A bacitracina por exemplo, interfere na etapa do transporte dos
percursores pela membrana tornando-se, portanto relativamente tóxica para célula do
hospedeiro pois as membranas biológicas são semelhantes. A bacitracina pode ser
utilizada topicamente em forma de pomada nas infecções cutâneas, mas não nas
sistêmicas.
A penicilina em termos de toxicidade seletiva, pelo mecanismo de ação, seria um
antibiótico ideal, pois as células humanas não possuem a parede celular. Os efeitos
colaterais (alergias) das penicilinas são mediados por mecanismos de resposta
imunológica do hospedeiro à droga.

MEMBRANA CELULAR:
Esta estrutura pode ser outro alvo microbiano, mas a toxicidade seletiva torna-se
mais crítica pela semelhança das membranas celulares entre eucariotos e procariotos. As
polimixinas, por exemplo, são polipeptídios cíclicos e agem como detergentes catiônicos
rompendo a estrutura fosfolipídica das membranas. Estas drogas possuem melhor eficácia
contra bactérias gram negativas, especialmente Pseudomonas aeruginosa.
A Anfotericina B e Nistatina são antifúngicos que apesar de agirem sobre o ergosterol

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das membranas celulares dos fungos, possuem também toxidade ao hospedeiro. A
anfotericina B por exemplo é administrada sob monitoramento hospitalar. Os
Cetoconazóis inibem a síntese do ergosterol e são utilizados no tratamento de micoses
superficiais e sistêmicas.

SÍNTESE PROTÉICA
Diversas drogas interferem a síntese proteica sem interferir nesta maquinaria em
células eucarióticas principalmente pela variação das subunidades ribossomais. Contudo
deve-se lembrar, que os ribossomos de mitocôndrias são semelhantes e por esta razão
alguns antibióticos podem apresentar hepatotoxidade, nefrotoxidade, toxicidade
vestibular no 8° nervo craniano entre outras interferências.

A) Atividade na subunidade 30S

Aminoglicosídios: Estreptomicina, Neomicina, Canamicina, Tobramicina, Gentamicina


e Sisomicina. Amicacina e Netilmicina são derivados sintéticos
da Canamicina e Sisomicina respectivamente. Estas drogas bactericidas são pouco
absorvidas no intestino e, portanto, não devem ser administradas via oral. Basicamente
estes compostos ligam-se as proteínas ribossomais 30S resultando na inibição da
iniciação da síntese proteica ou na produção de proteínas defeituosas decorrente da
leitura errada dos codons. A estreptomicina é utilizada na terapia da tuberculose causada
por bactéria multirresistente e a gentamicina pode ser associada com penicilina G por
exemplo contra enterococos.

Tetraciclinas: antimicrobianos bacteriostáticos atuam basicamente na inibição da


incorporação de aminoácidos na cadeia peptídica do RNAt. Apesar destes compostos
inibirem igualmente a síntese proteica de células procarióticas e eucarióticas, as bactérias
mostram-se mais susceptíveis as tetraciclinas do que células dos hospedeiros.
As tetraciclinas interferem na microbiota normal causando diarreia e na coloração
dentaria, pois são agentes quelantes do cálcio. Desta maneira este antibiótico é
contraindicado para animais prenhes ou gestantes.

B) Atividade nas subunidades 50S

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Cloranfenicol: possui largo espectro de ação (bactérias gram positivas e gram negativas).
Este antimicrobiano é bacteriostático contra Salmonella thyphi, mas é bactericida
contra Haemophylus influenza, Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis.
Basicamente a droga age inibindo o alongamento da cadeia peptídica. Esta droga possui
toxicidade sobre a medula óssea e um a cada 30.000 pacientes que recebem altas doses
podem desenvolver anemia aplástica irreversível.

Eritromicina e derivados (macrolídios): bacteriostático de amplo espectro, adere à


unidade 50s e bloqueia o deslocamento do RNAt após a formação da ponte peptídica. A
droga possui toxicidade menor e é utilizada via oral nas infecções gastrointestinais.

Clindamicina: bacteriostático usualmente utilizado contra anaeróbios. Impede a


formação da ponte peptídica por um mecanismo desconhecido, esta droga não adere a
unidade 60S de células eucarióticas. Causa supressão da microbiota intestinal
favorecendo o desenvolvimento de amostras resistentes Clostridium difficile que por sua
vez elimina uma exotoxina e causa pseudomembrana no cólon.

ANTIMETABÓLITOS

Sulfonamidas: bacteriostáticos análogos ao ácido paraminobenzóico (PABA) e por


competição interferem na produção de ácido fólico, principal doador de carbono na
síntese de nucleotídios. As células do hospedeiro são incapazes de sintetizar seu próprio
ácido fólico e portanto, possui toxicidade seletiva ideal. Utilizada no tratamento de
infecções urinárias por E.coli, otites por S. pneumoniae ou H. influenza em
crianças, shigeloses, nocardiose e cancro mole. É também utilizada no tratamento da
toxoplasmose e pneumonias. Raramente causa febre medicamentosa, exantemas e
supressão da medula óssea.

Trimetropim: inibe a síntese do ácido fólico em etapa posterior desta via de síntese
(inibe a enzima dihidrofolato redutase). Usualmente utilizado em associação com
sulfonamida, pois resulta em efeito sinérgico. Com espectro e funções semelhantes das
sulfonamidas a combinação é utilizada também na profilaxia de infecções oportunistas
em pacientes granuloleupênicos.

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ÁCIDOS NUCLEICOS

Quinolonas: bactericidas que inibem a ação das girases bacterianas. As girases de células
procarióticas são diferentes das células eucarióticas e, portanto, apresentam toxicidade
seletiva. As girases impedem o enrolamento do DNA. Assim temos a norfloxacina,
ciproflaxicina entre outras quinolonas. Utilizada em infecções respiratórias, intestinais,
urinárias, tecidos esqueléticos e moles. O ácido nalidíxico é o menos eficaz e pela sua
propriedade de se concentrar na urina é usualmente utilizado no tratamento de
infecções urinárias.

Rifampim: bloqueia a síntese de RNAm inibindo a polimerase das bactérias e não das
células do hospedeiro apresentando também toxicidade seletiva. Inicialmente utilizada no
tratamento da tuberculose em associação com outras drogas e na profilaxia de
contactantes com indivíduos com meningite meningocóccica ou por Haemophilus
influenza. É usada em combinação com outros antimicrobianos contra bactéria mutantes.
É uma droga de cor vermelha e, portanto, um pigmento de cor laranja é eliminado na
saliva e urina de pacientes medicados com este antimicrobiano. Rifabutin, um derivado
do Rifampim, é utilizado na prevenção da tuberculose por Mycobacteruim avium em
pacientes humanos HIV positivos.

PODE SER CLASSIFICADO DE ACORDO COM SEU ESPECTRO DE


ATIVIDADE E NATUREZA QUÍMICA:

I - antibióticos que atuam predominantemente sobre bactérias Gram +;

II - antibióticos que atuam predominantemente sobre bactérias Gram -;

III- antibióticos de largo espectro;

IV- antibióticos de ação antimicobacteriana;

V - antibióticos de ação antimicótica;

A pesquisa de um novo antibiótico normalmente tem seu início no solo – fonte natural
para captar os microrganismos produtores de antibióticos e seguem as seguintes etapas:

- Seleção de estirpes;

- Otimização à escala laboratorial;

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- Teste em instalações piloto;

- Caracterização química e estrutural do composto;

- Modificação química do composto ativo;

- Teste de formulações em animais e seres humanos;

- Produção industrial do antibiótico.

3. ESCOLHA DE UM ANTIMICROBIANO

Quando for realizar a escolha de um antimicrobiano deve-se levar considerações


fatores relacionados a o medicamento em si, o agente etiológico e ao paciente.

Agente etiológico: identificado sempre que possível, senão, presumi-lo com base nos
dados como quadro clínico, localização do processo infeccioso, faixa etária, achados
epidemiológicos e laboratoriais; utiliza-se o antimicrobiano que é sabidamente capaz de
atuar naquele microrganismo;

Antimicrobiano: deve ser fundamentada no conhecimento de suas propriedades e o mais


próximo do ideal, como:
• Destruir o microrganismo (bactericida);
• Possuir amplo espectro de ação sobre os microrganismos patogênicos;
• Ter alto índice terapêutico;
• Exercer atividade em presença de fluídos do organismo;
• Não perturbar as defesas do organismo;
• Não produzir reações de sensibilização alérgica;
• Não favorecer o desenvolvimento de resistência bacteriana;
• Distribuir-se por todos os tecidos e líquidos do organismo, em concentrações adequadas;
• Poder ser administrado por diferentes vias;
• Posologia e duração do tratamento;
• Preço acessível;

Paciente: idade, condições patológicas prévias (alguma doença crônica como doença
hepática ou renal), prenhez, fatores genéticos (ausência de alguma enzima no organismo),

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alergias (dos componentes da fórmula), vias de administração disponíveis (oral, tópica,
endovenosa, intramuscular).

4. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA BACTERIANA AOS


ANTIMICROBIANOS

Ao discutirmos a resistência bacteriana é conveniente considerar tanto os mecanismos


de ação dos antimicrobianos quanto as propriedades necessárias para a sua eficácia. Os
antimicrobianos devem ser capazes de:

1. alcançar os alvos moleculares, que são primariamente intracelulares. Para isso, o


antimicrobiano, em quantidades suficientes, precisa ultrapassar a membrana celular
bacteriana;
2. interagir com uma molécula-alvo de modo a desencadear a morte da bactéria;
3. evitar a ação das bombas de efluxo que jogam os antimicrobianos para fora da célula
bacteriana;
4. evitar a inativação por enzimas capazes de modificar o fármaco no ambiente
extracelular ou no interior da célula bacteriana.

Com frequência bactérias utilizam mais de uma estratégia para evitar a ação dos
antimicrobianos; assim, a ação conjunta de múltiplos mecanismos pode produzir um
acentuado aumento da resistência aos antimicrobianos. A resistência a
determinado antimicrobiano pode constituir uma propriedade intrínseca de uma espécie
bacteriana ou uma capacidade adquirida. Para adquirir resistência, a bactéria deve alterar
seu DNA, material genético, que ocorre de duas formas:

1. indução de mutação no DNA nativo;


2. introdução de um DNA estranho - genes de resistência - que podem ser transferidos
entre gêneros ou espécies diferentes de bactérias.

Os genes de resistência quase sempre fazem parte do DNA de plasmídeos


extracromossômicos, que podem ser transferidos entre microrganismos. Alguns genes de

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resistência fazem parte de unidades de DNA denominadas transposons que se movem
entre cromossomos e plasmídeos transmissíveis. O DNA estranho pode ser adquirido
mediante transformação, resultando em trocas de DNA cromossômico entre espécies,
com subsequente recombinação interespécies. A seguir você conhecerá os principais
mecanismos de resistência:

1. Alteração de permeabilidade

A permeabilidade limitada constitui uma propriedade da membrana celular


externa de lipopolissacarídeo das bactérias Gram-negativas. A permeabilidade dessa
membrana reside na presença de proteínas especiais, as porinas, que estabelecem canais
específicos pelos quais as substâncias podem passar para o espaço periplasmático e, em
seguida, para o interior da célula. A permeabilidade limitada é responsável pela
resistência intrínseca dos bacilos Gram-negativos à penicilina, eritromicina, clindamicina
e vancomicina e pela resistência de Pseudomonas aeruginosa ao trimetoprim. As
bactérias utilizam esta estratégia na aquisição de resistência. Assim, uma alteração na
porina específica da membrana celular externa de P. aeruginosa, pela qual o imipenem
geralmente se difunde, pode excluir o antimicrobiano de seu alvo, tornando P.
aeruginosa resistente ao imipenem.

2. Alteração do sítio de ação do antimicrobiano

A alteração do local-alvo onde atua determinado antimicrobiano, de modo a


impedir a ocorrência de qualquer efeito inibitório ou bactericida, constitui um dos mais
importantes mecanismos de resistência. As bactérias podem adquirir um gene que
codifica um novo produto resistente ao antibiótico, substituindo o alvo
original. Staphylococcus aureus resistente à oxacilina e estafilococos coagulase-
negativos adquiriram o gene cromossômico Mec A e produzem uma proteína de ligação
da penicilina (PBP ou PLP) resistente aos β-lactâmicos, denominada 2a ou 2', que é
suficiente para manter a integridade da parede celular durante o crescimento, quando
outras PBPs essenciais são inativadas por antibimicrobianos β-lactâmicos.
Alternativamente, um gene recém-adquirido pode atuar para modificar um alvo,
tomando-o menos vulnerável a determinado antimicrobiano. Assim, um gene
transportado por plasmídeo ou por transposon codifica uma enzima que inativa os alvos
ou altera a ligação dos antimicrobianos como ocorre com eritromicina e clindamicina.

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3. Bomba de efluxo

O bombeamento ativo de antimicrobianos do meio intracelular para o extracelular,


isto é, o seu efluxo ativo, produz resistência bacteriana a determinados antimicrobianos.
A resistência às tetraciclinas codificada por plasmídeos em Escherichia coli resulta deste
efluxo ativo.

4. Mecanismo enzimático

O mecanismo de resistência bacteriano mais importante e freqüente é a


degradação do antimicrobiano por enzimas. As β-lactamases hidrolisam a ligação amida
do anel beta-lactâmico, destruindo, assim, o local onde os antimicrobianos β-lactâmicos
ligam-se às PBPs bacterianas e através do qual exercem seu efeito antibacteriano. Foram
descritas numerosas β-lactamases diferentes. Essas enzimas são codificadas em
cromossomos ou sítios extracromossômicos através de plasmídeos ou transposons,
podendo ser produzidas de modo constitutivo ou ser induzido. A resistência quase
universal de S. aureus à penicilina é mediada por uma β-lactamase induzível, codificada
por plasmídeo. Foram desenvolvidos β-lactâmicos capazes de se ligarem
irreversivelmente às β-lactamases, inibindo-as. Esses compostos (ácido clavulânico,
sulbactam, tazobactam) foram combinados com as penicilinas para restaurar sua
atividade, a despeito da presença de β-lactamases em estafilococos e hemófilos.
Nas bactérias Gram-negativas, o papel das β-lactamases na resistência bacteriana
é complexo e extenso. Verifica-se a presença de quantidades abundantes de enzimas;
muitas delas inativam vários antimicrobianos β-lactâmicos, e os genes que codificam
essas β-lactamases estão sujeitos a mutações que expandem a atividade enzimática e que
são transferidos de modo relativamente fácil. Além disso, as β-lactamases de bactérias
Gram-negativas são secretadas no espaço periplasmático, onde atuam em conjunto com
a barreira de permeabilidade da parede celular externa, produzindo resistência
clinicamente significativa a antimicrobianos. As β- lactamases de espectro astendido
(ESBL), mediadas por plasmídeos, inativam as cefalosporinas de terceira geração e os
monobactâmicos como ocorre em cepas de Klebsiella pneumoniae. As β-lactamases
mediadas por cromossomos são produzidas em baixos níveis por P. aeruginosa,
Enterobacter cloacae, Serratia marcescens e outros bacilos Gram-negativos; quando
esses microrganismos são expostos a antimicrobianos β-lactâmicos, são induzidos altos

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níveis de β-lactamases, produzindo resistência às cefalosporinas de terceira geração,
cefamicinas e combinações de β-lactâmicos/ácido clavulânico ou sulbactam.

O uso indiscriminado de antimicrobianos exerce uma enorme pressão seletiva para a


manutenção e ampliação da resistência bacteriana. O uso extenso de antimicrobianos é
seguido de frequência aumentada de bactérias resistentes que passam a se disseminar em
consequência de medidas insuficientes de prevenção de infecções. Embora não se possa
eliminar o uso de antimicrobianos, a administração racional desses agentes não apenas
exige uma seleção criteriosa do antimicrobiano e da duração da terapia, como também sua
indicação apropriada.

RESPONDA UTILIZANDO AS SUAS PALAVRAS:

1- Como os antimicrobianos podem ser classificados quanto a sua origem?


2- Os mecanismos de ação dos antimicrobianos (antibióticos) possuem alvos na
célula bacteriana. Quais são eles? Explique brevemente sobre esses mecanismos
de ação e cite um exemplo de antibiótico usado em animais.
3- Qual classificação dos antibióticos de acordo com seu espectro de atividade e
natureza química? Dê um exemplo de medicamento usado em animais para cada
um deles.
4- Na escolha de um antimicrobiano deve-se levar considerações fatores
relacionados ao medicamento em si, ao agente etiológico e ao paciente. Explique
quais são essas considerações.
5- Quais são os critérios para considerar um antimicrobiano eficiente?
6- Quais os principais mecanismos de resistência bacteriana aos antimicrobianos?
Explique resumidamente cada um deles.

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