Você está na página 1de 36

Resistência Bacteriana

Renata Vasconcelos
Roteiro
- Introdução
- Histórico
- Uso indiscriminado de antibióticos
- Ação dos antibióticos e a resistência bacteriana
- Mecanismos de destruição microbiana
- Mecanismos de resistência microbiana frente aos antibióticos
- Mecanismos de transferência genética
- Fatores que contribuem para a resistência bacteriana
- Conclusão
Artigo de revisão que aborda mecanismos de resistência bacteriana
publicados nos últimos 16 anos.
Antibióticos
Os antibióticos são medicamentos de origem
natural ou sintética que inibem o crescimento
ou causam a morte de bactérias.
Resistência a antibióticos
Capacidade de se multiplicar na presença de altas
doses de antibióticos
Por que as bactérias se tornam RESISTENTES?

➢ Grande capacidade de adaptação ao meio


➢ Mutações genéticas que ocorrem com frequência
➢ Troca de material genético entre bactérias
Histórico

Produção e
Van Leeuwenhoek Paul Ehrlich distribuição
observou pela primeira o primeiro antibiótico de origem de semissintéticos
vez bactérias sintética no mercado
farmacêutico
XIX 1928

1670 1910 1960-1980


Louis Pasteur considerou a Alexander Fleming
patogenicidade descobriu a
dos microorganismos. penicilina de origem
Robert Koch isolou micro- natural. Mas só foi
organismos responsáveis pela introduzida no
tuberculose. mercado em 1940.
Uso indiscriminado de antibióticos
➢ Desde a descoberta dos antimicrobianos o seu uso
foi amplamente usado para várias doenças.
➢ Surgimento de bactérias resistentes como a bactéria
KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase)
➢ O uso sem prescrição médica, colaborou para o
crescente surgimento de bactérias resistentes.
➢ Os antibióticos estão entre os medicamentos mais
prescritos no mundo.
➢ Legislação que regulamenta o uso surgiu apenas em
2011.
As bactérias foram criando
resistência a algumas classes de
antibióticos por meio de seus
mecanismos bioquímicos, fazendo
com que esses medicamentos
perdessem a função de matá-la.
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
estima que superbactérias causam cerca de
700 mil mortes anualmente.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura, diz que o uso abundante de antibióticos
em animais no setor agropecuário, aumenta a
resistência bacteriana.
Além disso, o descarte inadequado de medicamentos no
meio ambiente e, consequentemente, a contaminação
do solo e da água também podem gerar superbactérias.
Segundo projeção da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) entre 2015 e 2050, podem morrer
2,4 milhões de pessoas devido a infecções por
supermicróbios.
A ação dos antibióticos e a resistência
microbiana

Segundo o artigo 50% de todos os


antibióticos prescritos são considerados
desnecessários, isso agrava a problemática
da resistência bacteriana.

Não há grande variedade de antibióticos


no mercado, pois o processo de
desenvolvimento é caro e trabalhoso.
Mecanismo de ação dos antibióticos
Figura 1: Esquema de ação de fármacos antimicrobianos

➢ Pela inibição da síntese da parede


celular bacteriana;
➢ Pela inibição da síntese proteica;
➢ Danos à membrana plasmática;
➢ Inibição à síntese de ácidos
nucleicos;
➢ Inibição da síntese de
metabólitos essenciais.

Fonte: TORTORA et al, 2017


Danos à membrana plasmática

Antibióticos que são compostos por Figura 2: Dano à membrana plasmática de levedura.

polipeptídeos provocam alterações na


permeabilidade da membrana plasmática,
o que resulta na perda de metabólitos
necessários pela célula microbiana.

Fonte: TORTORA et al, 2017


Inibidores da síntese de ácidos nucleicos
Ocorre a interferência no processo de replicação e transcrição do DNA. Alguns
fármacos com essa atividade apresentam utilidade extremamente limitada, pois
interferem no metabolismo do DNA e RNA de mamíferos.
Figura 3: Rifampicina Figura 4: Ciprofloxacino

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rifampicina Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciprofloxacina


Inibidores de síntese proteica
Existem medicamentos que afetam os ribossomos das células procarióticas
provocando toxicidade seletiva e afetando a síntese de proteínas. Esses
antibióticos inibem a formação de ligações peptídicas nas
Figura 5: A inibição de síntese proteica por antibióticos

cadeias de polipeptídeos pela reação


com a porção 50S e 30S do ribossomo
70S procarioto. Os fármacos com esse
tipo de mecanismo apresentam uma
potente atividade anaeróbia.

Fonte: TORTORA et al, 2017


Inibidores da síntese de parede celular
A parede celular de uma bactéria consiste em uma camada de
peptideoglicano. A penicilina e alguns antibióticos previnem a síntese dessa
camada, fazendo com que a parede celular enfraqueça e a célula bacteriana
sofra a lise. Figura 6: Inibição da síntese da parede celular bacteriana pela penicilina.

Fonte: TORTORA et al, 2017


Inibição da síntese de metabólitos essenciais
Figura 7: Ação dos fármacos antibacterianos sintéticos trimetoprim e sulfametoxazol.

Ocorre uma inibição competitiva,


onde o fármaco terá ação de
antimetabólito se assemelhando ao
substrato utilizado pelo
microrganismo para uma reação
enzimática.

Fonte: TORTORA et al, 2017


Mecanismos de resistência das bactérias aos antibióticos

➢ Alteração de permeabilidade

➢ Alteração do sítio de ação do antibiótico

➢ Bomba de efluxo

➢ Mecanismo enzimático
Mecanismos de resistência das bactérias aos antibióticos
Figura 8: Esquema de ação da resistência microbiana à fármacos

Fonte: TORTORA et al, 2017


Inativação enzimática do fármaco
Ocorre principalmente em grupos de
antibióticos que são produtos naturais,
como as penicilinas e cefalosporinas.
Estes antibióticos , compartilham uma
estrutura, o anel β-lactâmico, alvo das
enzimas β-lactamases que o hidrolisam
seletivamente. Antibióticos totalmente
sintéticos como as fluoroquinolonas, têm
menor probabilidade de serem afetados
dessa maneira.
Efluxo do antibiótico
Algumas proteínas contidas na membrana
plasmática de bactérias gram-negativas
agem como bombas que expelem os
antibióticos, impossibilitando que se
alcance uma concentração eficaz ao
tratamento. As bactérias apresentam
várias bombas de efluxo para a eliminação
de substâncias tóxicas. Esse mecanismo
foi observado originalmente em
antibiótico do tipo tetraciclinas.
Alteração da permeabilidade da parede celular

As bactérias gram-negativas são relativamente


mais resistentes a antibióticos devido às
propriedades de suas paredes celulares, pois
restringem a absorção de várias moléculas e
suas aberturas (porinas). Bactérias resistentes
modificam a abertura das porinas de maneira
que os antibióticos são incapazes de entrar no
espaço periplasmático.
Alterações no sítio-alvo do fármaco

A síntese de proteínas envolve o movimento de um ribossomo ao longo de uma


fita de mRNA. Antibióticos do grupo aminoglicosídeos e tetraciclinas utilizam
um mecanismo que inibe a síntese proteica nesse sítio. As alterações no sítio-alvo
tem origem em mutações dentro da própria bactéria. Tais alterações impedem a
ligação dos antibióticos, porém não alteram a função do alvo modificado com a
mutação.
Evolução de população bacteriana resistente
Figura 9: Desenvolvimento de microrganismo mutante.

O gráfico apresenta uma infecção causada


por uma bactéria gram-negativa e foi tratado
com estreptomicina. A linha vermelha mostra
a resistência da população bacteriana ao
antibiótico. Até o quarto dia, quase toda a
população bacteriana foi sensível ao
antibiótico. Após o quarto dia, surgem
mutantes resistentes à estreptomicina,
Fonte: TORTORA et al, 2017
substituindo gradativamente a população
normal suscetível.
Mecanismos de transferência genética
➣ Transformações em bactérias;

➣ Conjugação;

➣ Transdução em bactérias;

➣Plasmídeos e transposons.
Transformações em bactérias
Figura 10: Recombinação genética

Existem bactérias na natureza que após a


morte ou lise celular, acabam liberando
seu DNA no ambiente. O que acontece é
que outras bactérias podem encontrar
esse DNA e, algumas espécies,
dependendo das condições de
crescimento, têm a capacidade de captar
fragmentos de DNA e incorporá-los em
seus cromossomos por recombinação.
Fonte: Tortora et al, 2017
Conjugação
Figura 11: Conjugação bacteriana
O mecanismo de conjugação é
realizado por um tipo de plasmídeo,
um fragmento circular de DNA que se
replica de maneira independente do
cromossomo da bactéria. A conjugação
necessita do contato célula a célula e as
células em conjugação precisam ser de
tipos opostos, ou seja, células doadoras
devem transportar o plasmídeo e
células receptoras geralmente, não. Em
bactérias gram-negativas, os
plasmídeos carregam genes para
codificar a síntese de pili sexuais, Fonte: TORTORA et al, 2017

projeções que auxiliam a unir as duas


Figura 12:Conjugação em E.coli

Fonte: TORTORA et al, 2017


Transdução em bactérias
Figura 12: Transdução por um bacteriófago

Nesse mecanismo, o DNA bacteriano é


transferido de uma célula doadora para
uma célula receptora dentro de um
bacteriófago.

Fonte: Tortora et al, 2017


Plasmídeos e transposons

Os plasmídeos e os transposons são elementos genéticos que fornecem


mecanismos adicionais para a modificação genética. Os plasmídeos são
fragmentos de DNA circulares, autorreplicativos encontrados principalmente
em bactérias. Os fatores R transportam genes que conferem à célula
hospedeira resistência a antibióticos, metais pesados ou toxinas celulares. Os
fatores R representam problemas bastante críticos no tratamento de doenças
infecciosas com antibióticos. O uso disseminado de antibióticos na medicina
e na agricultura levou à sobrevivência preferencial (seleção) de bactérias com
fatores R; assim, as populações de bactérias resistentes crescem cada vez
mais.
Transposons
Os transposons são pequenos segmentos de DNA que podem se
mover (ser “transpostos”) de uma região de uma molécula de DNA
para outra. Eles podem se mover de um local para outro no mesmo
cromossomo, ou para outro cromossomo ou plasmídeo. Os transposons
bacterianos podem conter genes para enterotoxinas ou para a
resistência a antibióticos. Plasmídeos, como os fatores R,
frequentemente são compostos de um conjunto de transposons.
Figura 13: gene para a transposase
Figura 15: Inserção do transposon Tn5 no plasmídeo
R100

Figura 14: o Tn5, carreia o gene de resistência à canamicina

Fonte: TORTORA et al, 2017


Conclusão
Fica evidente o avanço no tratamento de doenças após a descoberta de
substâncias antibióticas, entretanto, há perigos devido ao uso indevido
de antibióticos, pois como visto, as bactérias têm mecanismos para
desenvolver resistências a mais de um tipo de substância. Além de ser
necessário o descarte correto de medicamentos, uma forma de prevenir
o uso inadequado seria fazendo um antibiograma com a bactéria que
estaria colonizando o paciente.
Em 1945, ao receber o Prêmio Nobel pela descoberta da
penicilina, Alexander Fleming advertiu em seu discurso:

“Existe o perigo de que um homem ignorante possa


facilmente se aplicar uma dose insuficiente de antibiótico e, ao
expor os micróbios a uma quantidade não letal do
medicamento, os tornem resistentes”.
Referências

TORTORA, Gerard J. Tortora et al. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

VICK, Mariana. Antibióticos: do ‘milagre’ da cura às superbactérias. NEXO, [S. l.], p. 1, 2 dez. 2020.
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/explicado/2019/02/08/Antibi%C3%B3ticos-do-
%E2%80%98milagre%E2%80%99-da-cura-%C3%A0s-superbact%C3%A9rias. Acesso em: 25 jun. 2023.

GARDENAL, Isabel. Ameaça das superbactérias. Unicamp, [s. l.], 30 jan. 2017. Disponível em:
https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2016/12/21/ameaca-das-superbacterias. Acesso em: 25 jun. 2023.

MENEZES , Maíra. Detecção de bactérias resistentes a antibióticos triplicou na pandemia. Portal fiocruz, [S.
l.], p. 1, 23 nov. 2021. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/deteccao-de-bacterias-resistentes-antibioticos-
triplicou-na-pandemia. Acesso em: 25 jun. 2023.

Você também pode gostar