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6 Agentes antimicrobianos

Aldo Matos

Introdução
Os fármacos antimicrobianos incluem os antibacterinos, os antifúngicos e os antivirais.
Essas são drogas de utilização frequente e seu desenvolvimento impactou intensamente na
longevidade da população, uma vez que, até então as infecções por diferentes micróbios
ceifava precocemente muitas vidas.
Apesar de até hoje as infecção bacterianas, fúngicas ou virais figurarem como causas de
morte, os agentes microbianos são um importante recurso terapêutico, seja para cura ou
para o controle dessas infecções.
Para compreender o mecanismo de ação desses fármacos, bem como suas potenciais
reações adversas e interações medicamentosas é necessário conhecer a constituição e o
metabolismo de bactérias, fungos e vírus, além da fisiologia e bioquímica humanas.
É importante ter atenção especial ao uso adequado desses recursos terapêuticos para não
favorecer a resistência dos micro-organismos a esses fármacos.

Objetivos
Ao finalizar o estudo desse capítulo, você deverá ser capaz de:

 Elencar os principais fármacos antibióticos, antifúngicos e antivirais;


 Identificar as classes de antibióticos;
 Descrever o mecanismo de ação das classes de antibióticos;
 Identificar as reações adversas e as interações medicamentosas dos prinicpais
antibióticos;
 Descrever o mecanismo de ação das classes de antifúngicos;
 Identificar as reações adversas e as interações medicamentosas dos prinicpais
antifúngicos;
 Idenficar as principais classes de antivirais:
 Descrever o mecanismo de ação das classes de antivirais;
 Descrever como surge e como se propaga a resistência aos antimicrobianos.

Esquema
6.1 Antibióticos
6.1.1 Antibióticos que atuam na parede bacteriana e na membrana
6.1.1.1 Antibióticos β-lactâmicos
6.1.1.1.1 Penicilinas
6.1.1.1.2 Cefalosporinas e cefamicinas
6.1.1.1.3 Outros fármacos β-lactâmicos
6.1.1.2 Outros antibióticos que atuam na parede e na membrana celular
6.1.2 Antibióticos que atuam no ribossomo
6.1.2.1 Aminoglicosídeos
6.1.2.2 Lincosamidas, tetraciclinas e cloranfenicol
6.1.2.3 Macrolídios
6.1.3 Antibióticos que atuam na síntese dos ácidos nucléicos
6.1.4 Quimioterápicos
6.2 Antifúngicos
6.3 Antivirais
6.4 Conclusão

6.1 Antibióticos

O termo antibiótico, em conceito amplo, refere-se a qualquer substância produzida por um


ser vivo, que mate ou iniba o crescimento de outro. Contudo, no jargão da área de saúde,
esse termo tem sido usado para se referir aos agentes antibacterianos, isto é, às
substâncias capazes de inibir o crescimento de bactérias ou matá-las.
Desde 1928, quando o médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming descobriu
acidentalmente a penicilina, produzida pelo fungo Penicillium notatum, vários outros
antibióticos foram descobertos e sintetizados. Segundo a sua origem, os antibióticos podem
ser classificados em naturais, semi-sintéticos ou sintéticos. Os naturais são extraídos
diretamente das culturas de fungos. Os semi-sintéticos, passam por reações químicas após
a extração, que alteram sua estrutura química para melhorar sua ação e sua
farmacocinética. Já os sintéticos, são cópias de substâncias naturais produzidas por síntese
química.
A descoberta dos antibióticos revolucionou o tratamento das doenças infecciosas
bacterianas, que eram uma frequente causa de morte. Assim, a descoberta de Fleming e os
trabalhos desenvolvidos por seus sucessores colaborou para a redução da mortalidade e a
elevação da expectativa de vida.
No entanto, a utilização desses fármacos apontou a existência de bactérias resistentes aos
antibióticos. Esse é um fenômeno evolutivo que pode também ser observado em outros
agentes infecciosos, como protozoários, fungos e vírus, em relação às drogas utilizadas
para tratar as respectivas infecções.
A resistência pode ser natural ou intrínseca, ou pode ser adquirida. A resistência natural
mostra que alguns micro-organismo sempre foram resistentes. Isso significa dizer que,
sempre existirá algum micro-organismo previamente resistente a qualquer novo
antimicrobiano desenvolvido. Como a ocorrência de bactérias naturalmente resistente é
muito baixa, a resistência natural não tem grande importância clínica. Já a resistência
adquirida, que significa a transformação de uma bactéria sensível em resistente, tem grande
importância clínica. Esse tipo de resistência depende da natureza do antibiótico e da
bactéria. A resistência surge por mutação e o antibiótico utilizado seleciona o mutante
resistente. Algumas bactérias, como os coliformes e o Mycobacterium tuberculosis
desenvolvem resistência rapidamente. A disseminação da resistência bacteriana ocorre pela
transferência de bactérias resistente entre as pessoas, pela recombinação genética com
transferência de genes entre as bactérias ou por transferência de genes de resistência entre
elementos genéticos dentro das bactérias, através de transposons.

Importante!
O uso dos antibióticos de forma indiscriminada e sem critérios, e a interrupção precoce ou
incorreta do tratamento, colaboram para resistência bacteriana.
Existe uma diversidade de antibióticos, que estão agrupados segundo seu mecanismo de
ação. Um elemento importante do mecanismo de ação dos antibióticos é o local de ação,
isto é, o seu alvo ou sobre qual estrutura bacteriana o antibiótico atua.
O alvo ou local de ação do antibiótico pode ser a parede bacteriana, a membrana, o
ribossomo- impedindo a síntese de proteínas, ou ainda o DNA- impedindo a duplicação
desse ácido nucleico.
Considerando o seu efeito final, um antibiótico pode ser classificado como bactericida ou
bacteriostático. Os antibióticos bactericidas são aqueles capazes de matar as bactérias. Já
os bacteriostáticos inibem a multiplicação da bactéria, que morrerá ao completar seu tempo
de vida.
Ao avaliar se um antibiótico é indicado para tratar uma determinada infecção bacteriana é
necessário considerar seu espectro de ação e a resistência bacteriana. O espectro de ação
significa o conjunto ou grupos de bactérias contra as quais o antibiótico consegue atuar.

6.1.1 Antibióticos que atuam na parede bacteriana e na membrana

Os antibióticos β-lactâmicos e os glicopeptídeos são capazes de inibir a síntese da parede


bacteriana. Como a parede é fundamental para a sobrevivência das bactérias, a inibição da
sua síntese provoca a morte desses micro-organismos.

6.1.1.1 Antibióticos β-lactâmicos

Essa classe de antibióticos inclui as penicilinas, as cefalosporinas, os carbapenêmicos e os


monobactâmicos. Estruturalmente são caracterizadas por possuírem um anel beta
lactâmico, destacado na figura 1.

Figura 1: Estrutura de antibiótico β-lactâmicos

O mecanismo de ação dos β-lactâmicos consiste na inibição da reação de transpeptidação


impedindo a formação da parede bacteriana.
Na figura 2 encontra-se esquematizada a estrutura da parede de uma bactéria gram
negativa. A parede é constituída por um complexo de polissacarídeos e polipeptideos de
ligações cruzadas. Na figura está representada também a proteína ligadora de penicilina
(PBP- do inglês Penicilin Biniding Protein), que é na verdade uma enzima que participa na
reação de transpeptidação. Justamente a PBP é o alvo dos antibióticos β-lactâmicos. Ao se
ligar na PBP, os β-lactâmicos inibem essa enzima impedindo a formação das ligações
cruzadas nas camadas de peptidioglicano.
Na parede das bactérias gram positivas, não há a membrana externa, porém existe uma
camada mais espessa de peptidioglicano e a PBP está presente, sendo também o alvo dos
β-lactâmicos.
Figura 2: Estrutura da parede das bactérias gram negativas
Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 771)

A resistência das bactérias à penicilinas ocorre através de quatro mecanismos gerais


 Inativação do antibiótico por β-lactamases (também chamadas penicilinases) que
são enzimas produzidas por algumas bactérias;
 Modificação da PBP, impedindo a ligação do antibiótico;
 Penetração reduzida do antibiótico, que ocorre em bactérias gram negativas, devido
à baixa permeabilidade da membrana externa;
 Efluxo, ou remoção do antibiótico, devido a uma bomba de efluxo que pode ser
encontrada em bactérias gram negativas.

Foram identificadas centenas de β-lactamases diferentes. Algumas delas, como as


produzidas por Staphylococcus aureus, Haemophilus influenzae e Escherichia coli,
apresentam especificidade de substrato relativamente estreita, preferindo as penicilinas às
cefalosporinas. Outras b-lactamases, como a β-lactamase AmpC produzida por
Pseudomonas aeruginosa e Enterobacter sp., e as β-lactamases de espectro ampliado
(ESBL), hidrolisam as cefalosporinas e as penicilinas (KATZUNG e TREVOR, 2017, p. 772)

6.1.1.1.1 Penicilinas

O primeiro antibiótico identificado foi uma penicilina. Considerando a importância e


frequência da produção de β-lactamases como mecanismo de resistência aos β-lactâmicos,
vamos agrupar as penicilinas em sensíveis às penicilinases e resistentes. Também, ao
classificá-las, vamos considerar seu espectro de ação.

Penicilinas sensíveis às penicilinases

Benzilpenicilina ou Penicilina G
Encontra-se na formulação injetável para administração IM ou EV. Por via oral é inativada
pelo suco gástrico e a absorção é imprevisível, restringindo o uso dessa via de
administração.
Atua contra cocos gram positivos que não produzam penicilinases.
A benzilpencilina é apresentada com a concentração denominada em unidades. Uma
unidade desse antibiótico equivale a 0,6µg.
Pode ser encontrada na forma de benzilpenicilina potássica ou sódica para uso IM ou EV;
penicilina G procaína e penicilina G benzatina para administração IM.

Importante!
A escolher um antibiótico, assim como ocorre em qualquer outra classe de fármacos, é
preciso considerar sua farmacocinética. A penicilina G procaína, por exemplo, concentra
mais em tecido subcutâneo que penicilina G benzatina, sendo a primeiro mais adequada
para tratar infecções nesse sítio, por cocos gram positivos não produtores de penicilinases.

Penicilina V
Essa é uma penicilina semissintética, com a vantagem de não ser inativada pelo suco
gástrico. Portanto, é uma penicilina para uso VO.

Penicilinas resistentes às penicilinases

Como penicilinas que resistem a inativação pelas β-lactamases, temos a meticilina, a


nafclina, oxacilina, cloxacilina e dicloxacilina. São também chamadas de penicilinas
antiestafilocócicas, por serem eficientes contra Staphylococcus aureus produtores de
pencilinases.
A meticilina tem a desvantagem de ser inativa pelo suco gástrico, devendo ser administrada
por via parenteral. A naficilina pode ser usada por via oral, porém a absorção é imprevisível,
motivo pelo qual prefere-se administrar por via parenteral. Já a oxacilina pode ser
administrada VO, IM ou EV.

Penicilinas de espectro aumentado

A maioria das penicilinas, como as mencionadas até agora, são eficientes apenas contra
cocos gram positivos. Porém fexistem penicilinas, em geral semissintéticas, que são
eficientes contra bacilos gram negativos. Como exemplo temos ampicilina, amoxicilina e
bacampicilina, ticarcilina e piperacilina.

Penicilinas antipseudomonas

Esse grupo de penicilinas inclui a carbenicilina, ticarcilina, azlocilina e piperacilina. Apesar


de, em geral, serem menos ativas que a ampicilina contra a maioria das bactérias de seu
espectro de ação, têm a vantagem de serem ativas contra diversas cepas de Pseudomonas
aeruginosa, motivo pelo qual são chamadas de penicilinas antipseudomonas.

Apesar da ampliação do espectro de ação, atuando também contra gram negativos, ser um
grande avanço, isso não significa que essas penicilinas sejam resistentes às β-lactamases.
Para contornar esse mecanismo de resistência, desenvolveram-se fármacos inibidores de
penicilinases, que podem ser associados aos antibióticos sensíveis a essas enzimas,
possibilitando sua atuação e consequentemente, o sucesso terapêutico. É o caso do ácido
clavulânico, o sulbactam e o tazobactam. Veja abaixo alguns exemplos de associação de
uma penicilina com inibidor de β-lactamases:

• amoxicilina + ácido clavulânico


• ampicilina + sulbactam
• ticarcilina + ácido clavulânico
• piperacilina + tazobactam
As penicilinas em geral são fármacos de índice terapêutico elevado e relativamente atóxica
para humanos. Porém, algo em torno de 1% a 10% dos pacientes pode desenvolver reação
alérgica a esses antibióticos, registrando-se mortalidade em 0,02% das pessoas
hipersensíveis. Considera-se que uma pessoa que desenvolveu alergia a uma penicilina
pode ser alérgico a todas e que, 5% a 10% dos pacientes hipersensíveis às penicilinas são
alérgicos às cefalosporinas.

6.1.1.1.2 Cefalosporinas e cefamicinas

Estruturalmente as cefalosporinas assemelham-se às penicilinas, porém são mais estáveis


em relação às β-lactamases e por isso, apresentam espectro mais amplo de ação. No
quadro 1, encontram-se consolidados exemplos e algumas propriedades das gerações de
cefalosporinas.

Quadro 1: Exemplos e propriedades das gerações de cefalosporinas


Espectro de ação e penetração na
Geração Fármacos
barreira hematoencefálica
Ação contra cocos estafilococos e
cefazolina, cefadroxila, cefalexina,
Primeira estreptococos, exceto estafilococos
cefalotina, cefapirina e cefradina
resistentes a meticilina.

Cefalosporinas: Ação contra os cocos gram positivos


sensíveis às cefalosporinas de primeira
cefaclor, o cefamandol, cefonicida,
geração e com ampliação do espectro
cefuroxima, cefprozila, loracarbefe,
Segunda incluindo micro-organismos gram
ceforamida
negativos.
Cefamicinas:
As cefamicinas têm ação contra
cefoxitina, cefmetazol, cefotetana anaeróbios.
Comparadas às cefalosporinas de
segunda geração, apresentam espectro
cefoperazona, cefotaxima, ceftazidima, mais amplo contra gram negativo.
ceftizoxima, ceftriaxona, cefixima, Algumas atravessam a barreira
Terceira cefpodoxima proxetila, cefdinir, hematoencefálica.
cefditoreno pivoxila, ceftibuteno e
moxalactam São destruídas por β- lactamase de
espectro ampliado.

Atua contra P. aeruginosa,


Enterobacteriaceae, S. aureus e
Streptococcus pneumoniae. Mostra-se
altamente ativa contra Haemophilus sp.
Quarta cefepima e Neisseria sp.
Penetra bem no líquido cerebrospinal.
São destruídas por β- lactamase de
espectro ampliado.

6.1.1.1. 3 Outros fármacos β-lactâmicos


Monobactâmicos

Estruturalmente, os monobactâmicos apresentam anel β-lactâmico monocíclico.


São ativos apenas contra bacilos gram negativos anaeróbios, inclusive contra P. aeruginosa.
O fármaco representante desse grupo é o aztreonam.

Carbapenêmicos

Os antibióticos desse grupo são estruturalmente relacionados aos β-lactâmicos, e têm


amplo espectro de ação que inclui gram negativos, inclusive P. aeruginosa, microrganismos
gram positivos e anaeróbios. Possuem também a vantagem serem altamente resistentes à
hidrólise pelas β- lactamases. São representantes dessa classe: doripenem, ertapenem,
imipenem, meropem.

O imipenem é inativado por desidropeptidases nos túbulos renais, resultando em baixas


concentrações urinárias. Por isso, é administrado em associação com a cilastatina, que é
um inibidor da desidropeptidase renal.

Glicopeptídeos

Assim como os β-lactâmicos, os antibióticos glicopeptídeos inibem a síntese da parede


bacteriana. Os representantes dessa classe são vancomicina, teicoplaimina, telavancina e
dalbavancina, cujas propriedades estão consolidadas no quadro 2.

Quadro 2: Propriedades dos glicopeptídeos


Glicopeptídeo Propriedades
Ação contra gram positivos, inclusive os que produzem β-lactamase e os
resistentes à nafcilina e meticilina.
Vancomicina Ativa contra vários gram positivos anaeróbios, incluindo Clostridium difficile.
Pouco absorvida no trato gastrointestinal. A administração parenteral deve
ser EV.
Espectro de ação semelhante ao da vancomicina.
Teicoplamina
Pode ser administrada tanto EV quanto IM.
É um lipoglicopeptídeo derivado da vancomicina.
Além de inibir a síntese da parede bacteriana, altera o potencial da
Telavancina membrana celular, aumentando sua permeabilidade.
Ação contra vários gram positivos e pode ser eficiente contra micro-
organismos com sensibilidade reduzida à vancomicina.
É um lipoglicopeptídeo derivado da teicoplamina.
Apresenta melhor atividade contra inúmeras bactérias Gram-positivas,
inclusive S. aureus resistente à meticilina e de resistência intermediária à
Dalbavancina
vancomicina.
Não tem atividade contra a maioria das cepas de enterococos resistentes à
vancomicina.

6.1.1.2 Outros antibióticos que atuam na parede e na membrana celular


Daptomicina

O seu mecanismo de ação ainda não é totalmente elucidado. Sabe-se que a daptomicina
liga-se à membrana celular pela inserção dependente de cálcio de sua cauda lipídica. Isso
resulta em despolarização da membrana celular, com efluxo de potássio e rápida morte
celular, como representado na figura 3.
Seu espectro de ação é semelhante ao a vancomicina, sendo uma alternativa a esse
glicopeptídeo.

Figura 3: Representação do mecanismo de ação da daptomicina


Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 784)

Fosfomicina

A fosfomicina trometafol inibe a enzima citoplasmática enolpiruvato transferase, inibindo


assim, uma fase muito inicial da síntese da parede bacteriana. Esse fármaco tem se
mostrado eficiente contra micro-organismos gram positivos e também contra os gram
negativos.
Pode ser uma alternativa para tratamento, em dose única, de infecções não agravadas do
trato urinário em mulheres.

Bacitracina

Esse fármaco inibe a formação da parede celular ao interferir na desfosforilação no ciclo do


transportador lipídico, que transfere subunidades de peptidoglicano à parede celular em
crescimento.
A bacitracina tem alta nefrotoxidade, limitando seu uso à aplicação tópica. É pouco
absorvida, tendo apenas ação local. Em associação com polimixina ou neomicina, tem
indicação para suprimir a microbiota bacteriana mista em lesões superficiais de pele, em
feridas, ou nas mucosas.

Ciclosserina
Apesar de ser bastante ativa contra micro-organismo gram positivos e também contra os
gram negativos, é usada exclusivamente para o tratamento da tuberculose causada por
cepa de Mycobacterium tuberculosis resistente ao tratamento de primeira linha.
A ciclosserina pode provocar grave toxicidade no sistema nervoso com manifestação de
cefaleias, tremores, psicose aguda e convulsões. Essa neurotoxidade é dependente da
dose, motivo pelo qual o tratamento é feito com doses abaixo de 0,75 g/dia.

Polimixina B

Esse antibiótico tem efeito detergente, desestruturando a membrana bacteriana, sendo


classificado com bactericida.
Sua neurotoxidade e nefrotoxidade restringem a utilização.
Interage com outras drogas neurotóxicas e nefrotóxicas, especialmente com estreptomicina,
neomicina, canamicina, gentamicina, tobramicina, amicacina, cefaloridina, paramomicina,
viomicina e colistina.
O uso concomitante com relaxantes musculares e outras drogas neurotóxicas como éter,
tubocurarina, succinilcolina, galamina, decametano, e citrato de sódio, pode provocar
depressão respiratória.

6.1.2 Antibióticos que atuam no ribossomo

Os antibióticos cujo alvo é o ribossomo bacteriano, inibem a síntese de proteínas, impedindo


assim o crescimento bacteriano. Esse mecanismo de ação é encontrado nos
aminoglicosideos, nas lincosamidas, tetraciclinas e no cloranfenicol.
Ao considerar o mecanismo de ação desses antibióticos, é necessário lembrar que o
ribossomo dos procariotos tem estrutura diferente do ribossomo de eucariotos. Essa
organela possui duas subunidades com coeficientes de sedimentação distintos. O
ribossomo bacteriano possui uma subunidade 30S e outra 50S. Já os ribossomos de
eucariotos apresentam uma subunidade 40S e outra 60S. Isto reflete diferenças bioquímicas
entre os ribossomos de bactérias e de mamíferos, que explicam o porquê desses
antibióticos não inibirem a síntese de proteínas nas células do paciente.

6.1.2.1 Aminoglicosídeos

Essa classe de antibióticos inclui as famílias químicas apresentadas no quadro 3. Em sua


maioria, são produzidos por espécies de fungos dos gêneros Streptomyces e
Micromonospora.
Todos os antibióticos dessa classe fazem inibição irreversível da síntese de proteína ao se
ligarem à subunidade 30S do ribossomo bacteriano.

Quadro 3: Famílias químicas dos antibióticos aminoglicosídeos


Família Membros
Estreptomicina
Canamicina A
Canamicina B
Estreptomicina
Amicacina
Tobramicina
Dibecacina
Gentamicina Gentamicina
Sisomicina
Netilmicina
Isepamicina
Neomicina
Neomicina
Paramocmicina

Fonte: SILVA (2010, p. 983)

A resistência bacteriana aos aminoglicosídeos ocorre por síntese de enzimas modificadoras


(fator R) ou mudança nos sítios de ligação na subunidade do ribossomo bacteriano.
As reações adversas incluem raros casos de hipersensibilidade, assim como de flebite (em
administração EV). Mas podem promover lesão no sistema auditivo e renal.

6.1.2.2 Lincosamidas, tetraciclinas e cloranfenicol

Esses são antibióticos produzidos, cada qual, por uma determinada espécie do gênero
Streptomyces. Como mecanismo de ação, inibem a síntese de proteínas na célula
bacteriana ao se ligarem às subunidades do ribossomo, sendo que as lincosamidas e o
cloranfenicol ligam-se à subunidade 50S e as tetraciclina à subunidade 30S. No quadro 4,
encontram-se antibióticos classificados com lincosamida e como tetraciclina.

Quadro 4: Lincosaminas e tetraciclinas


Classe Fármacos

Lincomicina
Lincosamidas
Clindamicina

Ação curta
Tetracicilina
Oxitetraciclina

Ação intermediária
Tetracicilina Demeclociclina
Metaciclina

Ação longa
Doxiciclina
Minociclina

As lincosamidas podem provocar diarreia, hipersensibilidade e bloquear a transmissão


neuromuscular. Essa última reação adversa sinaliza também interação com fármacos
bloqueadores neuromusculares, devendo ser evitado o uso concomitante.
Os alimentos interferem na absorção das tetraciclinas, tendo-se indicado a formação de um
complexo desses fármacos com o cálcio. A redução da absorção é maior para tetraciclina,
clortetraciclina, metacliclina e demeclociclina. Já para doxiciclina e menociclina, a redução
estimada é de 20%. Dentre as tetraciciclinas, a doxiciclina é a única que pode ser
administrada a pacientes com insuficiência renal, porque é excretada por via gastrintestinal
nessa condição.
O cloranfenicol pode apresentar como reações adversas dois tipos de depressão da medula
óssea: reversível e muito frequente, dose dependente e desaparecendo com a suspensão
do antibiótico; idiossincrática, produzindo anemia aplástica, sendo irreversível e geralmente
fatal. O uso de cloranfenicol tem sido associado à ocorrência de leucemia na infância. Em
neonatos pode provocar a síndrome do bebê cinza com distensão abdominal, vômitos,
flacidez, hipotermia, pigmentação cinzenta, colapso circulatório e morte.

<INSERIR EM GLOSSÁRIO>Idiossincrasia: refere-se às características peculiares de um indivíduo ou


grupo. Em medicina significa característica particular de um organismo que faz um indivíduo reagir de
maneira pessoal a um estímulo externo, como um medicamento ou alimento.
Anemia aplástica: é uma doença das células-tronco hematopoiéticas que resulta na perda dos
precursores dos eritrócitos, hipoplasia ou aplasia da medula óssea e citopenia de duas ou mais
linhagens celulares (eritrócitos, leucócitos e/ou plaquetas).<FECHAR GLOSSÁRIO>

6.1.2.3 Macrolídios

Esses são antibióticos que agem inibindo a síntese proteica na bactéria ao se ligarem na
subunidade 50S do ribossomo. Fazem parte dessa classe a eritrocimina, claritromicia e a
azitromicina e seus derivados.
A eritromicina é um antibiótico de baixa toxidade, com raros casos de hipersensibilidade,
que se manifesta com febre e exantema. Em altas doses pode provocar desconforto
gastrintestinal com cólica, vômito, diarreia e desconforto epigástrico. Esse antibiótico faz
interação com a varfarina (anticoagulante) e a teofilina.
A azitromicina tem uma boa segurança para pacientes a partir de 16 anos de idade, sendo
contraindicados para os menores. Diarreia, náusea e vômito são as queixas mais frequentes
nos pacientes em tratamento com esse antibiótico. Perda reversível de audição foi
observada em altas doses utilizadas para o tratamento da infecção pelo Mycobacterium
avium.
A claritromicina é tão eficiente quanto as penicilinas para o tratamento da faringite
estreptocócica e para a sinusite maxilar aguda. Apresenta as mesmas interações
medicamentosas que a eritromicina e as mesmas reações adversas que a azitromicina.
A figura 4 apresenta esquematicamente a síntese de proteínas nas bactérias e os sítios de
ação dos antibióticos que a inibem.
Figura 4: Etapas da síntese proteica e alvos de diversos antibióticos
Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 789)

6.1.3 Antibióticos que atuam na síntese dos ácidos nucléicos

Essa classe de antibióticos inclui a rifampicina e as quinolonas.


A rifampicina inibe a enzima RNA polimerase, impedindo assim, a síntese de RNA.
Já as quinolonas, apresentadas no quadro 5, inibem a enzima Topoisomerase II (DNA
girasse), inibindo a síntese do DNA.

Quadro 5: Classificação das quinolonas


Primeira geração Segunda geração Terceira geração Quarta geração
Norfloxacino Levofloxacino Trovafloxacino
Enoflorxacino Esparfloxacino Clinafloxacino
Ciprofloxacino Grepafloxacino Gatifloxacino
Ácido nalidíxico
Lomefloxacino Moxifloxacino
Ácido oxolínico
Ofloxacino
Cinoxacino
Flerofloxacino
Pefloxacino
Rufloxacino
Fonte: SILVA (2010, p.1028)

As reações adversas mais comuns das quinolonas são gastrintestinais- anorexia, vômitos,
diarreia, desconforto gástrico, dispepsia e flatulência. Também são relatadas reações
adversas referidas as sistema nervoso central- tontura, cefaleia, agitação, insônia ou
sonolência, ansiedade ou depressão, alterações do paladar ou do olfato. Em doses
elevadas, pode ocorrer confusão mental, alucinações convulsões e psicoses tóxicas.
São contraindicadas para crianças, gestantes e nutrizes devido à possibilidade de
desenvolver erosão das cartilagens. Também foram associadas à ruptura de tendão.
A rifampicina é utilizada para o tratamento da tuberculose com infecções por micobactérias
atípicas. As reações adversas mais comuns são erupção cutânea, náuseas e vômitos. Esse
fármaco é hepatotóxico, mas esse efeito geralmente só é detectado através da dosagem
das enzimas hepáticas, e não costuma ser necessário suspender o tratamento.

6.1.4 Quimioterápicos

Classificam-se como quimioterápicos antimicrobianos aqueles cuja estrutura química foi


desenvolvida em laboratório, não existindo produto natural semelhante. Os representantes
dessa classe são as sulfonamidas e as pirimidinas. Entre as sulfonamidas, apresentadas no
quadro 6, os principais representantes são o sulfamentoxazol e a sulfadiazina de prata. As
pirimidinas são a trimetoprima, com ação intermediária (11h) e a pirimetamina, com ação
longa (4 a 6 dias).

Quadro 6: Classificação das sulfonamidas


Sulfonamidas de aplicação
Sulfonamidas sistêmicas
tópica
De ação curta (até 9h) Ação intemediária (9 a 17h) Ação prolongada (4 a 9 dias)
Sulfacetamida sódica
Sulfissoxazol Sulfametoxipiridazina Sulfassoxazol diolamina
Sulfametizol Sulfametoxazol Sulfadoxina Sulfadiazina de prata
Slfaclorpiridazina Sulfafenazol Sulfametoxipirmidina Cloridrato de mafeinida
Sulfacetamida Sulfamoxol Acetato de mafenida
Sulfamerazina Sulfadizina
Sulfametazina
Sulfatizol

As sulfonamidas são análogos do ácido para-aminobenzóico (PABA) utilizado pelas


bactérias e outros micro-organismos na produção do ácido fólico. Inibem a via de produção
de timidina e purinas (bases nitrogenadas dos ácidos nucleicos), ao inibir a enzima di-
hidropteroato sintetase.
A trimetoprima inibe a enzima di-hidrofolato redutase, em outra etapa da via de produção da
timidina e purinas. Observe na figura 5, a via de produção de timidina e purinas, com a
indicação dos locais de ação das sulfonamidas e trimetoprima.

Figura 5: Ações das sulfonamidas e da trimetoprima.


Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 808)

A associação do sulfametoxazol com a trimetriprima produz um efeito bem superior ao uso


isolado da sulfonamida. No entanto, precisa-se considerar que, se a estratégia terapêutica
exigir o tratamento por mais de dez dias, poderá ocorrer inibição da produção de purinas
nas células de humanos, devido à ação da trimetoprima. Esse efeito sobre as células
humanas é evitado associando ácido fólico ao medicamento.
Os efeitos adversos mais relatados referem-se às sulfonamidas e incluem cefaleia, tontura,
depressão mental, zumbido e vertigem. Também pode ocorrer aumento da sensibilidade em
mucosas, discrasias sanguíneas, anemia hemolítica ou aplástica, erupções cutâneas e
síndrome de Stevens-Johnson. Icterícia no feto e no recém-nascido é apontada como uma
reação potencialmente tóxica das sulfonamidas. Interagem com anticoagulantes
cumarínicos, com barbitúricos e com o metotrexato, deslocando esses fármacos da ligação
com a proteínas plasmáticas, potencializando a ação dessas drogas. Interage com a
tolbutamida podendo produzir acentuada hipoglicemia.

Faça uma busca na internet usando o termo “Síndrome de Stevens-Johnson”, para


conhecer mais sobre esse quadro, que pode ser desenvolvido por uma diversidade de
fármacos.

6.2 Antifúngicos

Os fármacos antifúngicos, também chamados de antimicóticos apresentam-se em menor


diversidade que os antibacterianos. A figura 6 apresenta os alvos dos antifúngicos. Exceto a
flucitosina e a griseofulvina (não representada na figura), os antimicóticos atuam na
membrana citoplasmática ou na parede fúngica.

Figura 6: alvos dos medicamentos antifúngicos.


Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 827)

Grande parte dos antimicóticos são apenas de uso tópico, úteis portanto para tratamento de
dermatofitoses. Porém, alguns podem ser utilizados por via oral ou parenteral no tratamento
de micoses sistêmicas.
Segundo a estrutura química, os antifúngicos podem ser classificados em:

 Antibióticos polienos – anfotericina B e nistatina


 Antibióticos benzofurano heterocíclico- griseofulvina
 Antimetabólito – flucitosina
 Azóis imidazóis- clotrimazol, econazol, miconazol e cetoconazol
 Azóis triazóis- fluconazol, itraconazol, voriconazol e posaconazol
 Alilamina- terbinafina
 Outros fármacos (todos de uso tópico)- tolnaftato, ácido benzóico, ciclopirox olamina,
tiossulfato de sódio.

Flucitosina

A flucitosina é um análogo da primidina. Dentro da célula do fungo, esse fármaco é


convertido em monofosfato de 5-fluorodeoxiuridina (FdUMP), que inibe a síntese de DNA e
trifosfato de fluorouridina (FUTP), que inibe a síntese de RNA. As células humanas são
incapazes de converter o fármaco nesses metabólitos ativos e portanto, não há efeito sobre
a síntese do ácidos nucleicos em humanos.
Sua utilidade clínica resume-se a criptococose, candidíase e a cromoblastomicose. É
utilizado em associação com outros antifúngicos, devido ao efeito sinérgico.
Essa droga é tóxica para a medula óssea podendo induzir anemia, leucopenia e
trombocitopenia. O paciente em uso desse antimicótico pode ainda apresentar uma
enterocolite tóxica.

Azóis

Esse grupo é subdivido em imidazóis e triazóis. Ambos têm como mecanismo de ação a
inibição de enzimas do citocromo P450 fúngicas, reduzindo assim, a síntese do ergosterol,
que é um componente da membrana citoplasmática. O efeito é seletivo sobre o fungo,
devido à maior afinidade pelas enzimas fúngicas que pelas enzimas do citocromo P450
humano.
Comparando os subgrupos, os triazóis apresentam maior seletividade pelas enzimas
fúngicas, espectro de ação mais amplo e utilidade clínica para micoses sistêmicas.
Os efeitos adversos e interações medicamentosas manifestam-se no uso sistêmico, e
portanto, nos triazóis. O voriconazol é um inibidor da CYP3A4 dos mamíferos, sendo
necessária a redução da dose de vários fármacos em uso concomitante, especialmente a
ciclosporina, o tacrolimo e os inibidores da HMG-CoA redutase. Como reações adversas
pode ocorrer exantema e elevação das enzimas hepáticas. Na administração endovenosa, a
visão pode ficar turva.

Anfotericina B

A anfotericina B é um antibiótico macrolídeo poliênico que se liga ao ergosterol e altera a


permeabilidade da célula ao formar poros na membrana celular. Também é capaz de se
ligar aos esteróis das membranas das células humanas, colaborando para as reações
adversas.
A absorção oral é muito baixa e por isso, sua utilidade por essa via de administração
restringe-se a eliminar fungos que se encontram na luz do trato gastrintestinal.
Tem um amplo espectro de ação sendo eficiente contra Candida albicans, Cryptococcus
neoformans, Histoplasma capsulatum, Blastocystis dermatitidis, Coccidioides immitis,
Aspergillus fumigatus, entre outros.
As reações adversas e esse antifúngico podem ser categorizadas em reações imediatas e
reações tardias, também chamadas de toxidade tardia. As reações imediatas ocorrem
durante a infusão, são frequentes e se manifestam como febre, calafrios, espasmos
musculares, vômitos, cefaleia e hipotensão. Essas reações diminuem na infusão lenta.
Também, podem ser administrados previamente antitérmicos, anti-histamínicos, petidina ou
corticosteroides. Já a toxidade tardia, deve-se ao efeito cumulativo de várias doses e se
manifesta como lesão renal reversível, decorrente da redução da perfusão renal, ou
irreversível, resultante de necrose tubular. A forma irreversível pode ocorrer em uso
prolongado. Ainda na toxidade tardia, pode ocorrer anemia, em grau variado, devido a
redução da produção de eritropoietina pelas células tubulares lesadas.
Existem dois tipos de formulações de anfotericina B- a formulação convencional e as
formulações lipídicas. Estas últimas podem ser lipossomal, dispersão coloidal ou complexo
lipídico, e apresentam menor risco de toxidade tardia.

Nistatina

A nistatina é um macrolídeo poliênico, muito semelhante à anfotericina B, como espectro de


ação similar a esta.
É muito tóxica para administração parenteral e seu uso restringe-se a aplicação tópica.
Sua principal indicação é para o tratamento local da infecção por diferentes espécies de
Candida.
Praticamente não é absorvida pela pele, mucosas e no trato gastrintestinal. Justamente por
isso, apresenta pouca toxidade.

Griseofulvina

É um fungistático, muito pouco solúvel. Seu mecanismo de ação ainda não é bem
conhecido, mas sabe-se que se liga à queratina na pele recém formada, impedindo nova
infecção. Sua indicação clínica é para o tratamento sistêmico de dermatofitoses. A sua
absorção aumenta com a ingestão de alimentos gordurosos.

Terbinafina

A terbinafina é um medicamento queratofílico, diferenciando-se da griseofulvina por ser


fungicida. Sua ação fungicida deve-se ao fato desse fármaco interferir na biossíntese do
ergosterol, porém, por um mecanismo diferente dos azóis. A terbinafina inibe a enzima
esqualeno epoxidase levando ao acúmulo do esterol esqualeno, que é tóxico para o fungo.
As reações adversas são raras e restringem-se ao trato gastrintestinal. Como não interfere
no citocromo P450, não foi identificada interação medicamentosa.

Equinocandinas

Esse grupo inclui a caspofungina, micafungina e anidulafungina.


As equinocandinas atuam parede celular fúngica inibindo a síntese do β(1-3)-glicano, o que
provoca a ruptura da parede celular fúngica. São drogas de última linha em casos de
candidíase disseminada ou mucocutânea, candidíase esofágica, candidemia e aspergiolose-
cada um dos fármacos tendo sua indicação específica. Essas indicações podem ser revistas
e mesmo ampliadas com os estudos de acompanhamento clínico.
Esses fármacos são bem tolerados pelo organismo humano, podendo ocorrer apenas
reações adversas gastrintestinais leves e raramente, rubor facial.

6. 3 Antivirais

Os vírus são os menores agentes infecciosos conhecidos. Sua estrutura é muito simples,
compondo-se por um capsídeo proteico, que contém o seu material genético (DNA ou RNA).
Alguns vírus são revestidos por um envelope de constituição lipoproteica. Essa estrutura os
classifica como acelulares e por não terem maquinário celular, são parasitas intracelulares
obrigatórios.
Para se replicar, o vírus primeiramente liga-se à superfície da célula hospedeira. A fase
seguinte é a penetração, podendo ocorrer com a entrada da estrutura completa do vírus ou
apenas do seu material genético. A seguir, o material genético viral é associado ao DNA da
célula hospedeira. Nessa fase, caso o vírus possua RNA como material genético, ocorrerá a
síntese de DNA a partir do RNA viral, através da ação da enzima transcriptase reversa, e só
então esse “DNA viral” será anexado ao DNA da célula hospedeira. A partir desse momento,
o material genético viral usará o maquinário da célula parasitada para produzir todos dos
componentes de sua estrutura e formar novas unidades virais, ou vírions. Como última
etapa de um ciclo viral lítico, a célula hospedeira é rompida, liberando os vírus replicados.
Na figura 7, encontra-se esquematizado o ciclo viral e apontados os locais de ação dos
fármacos antivirais.
Os fármacos antivirais são classificados de acordo com seu mecanismo de ação. O quadro
7 apresenta essa classificação para diversos antivirais.

Figura 7: Principais locais de ação dos fármacos antivirais


Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 836)

Quadro 7: Classificação dos fármacos antivirais


Classe segundo o mecanismo de ação Fármacos antivirais
Amantadina
Rimantadina
Interferon α-2a
Inibidores da ligação, da penetração do vírus e da
Interferon α-2b
replicação viral inicial
Interferon y
Zanamivir
Oseltamivir
Aciclovir
Valaciclovir
Ciclofovir
Citarabina
Fanciclovir
Fomivirsen
Drogas que interferem com a replicação do ácido
Foscarnet
nucleico viral
Ganciclovir
Idoxuridina
Ribavirina
Trifluorotimidina
Vidarabina
Penciclovir

Drogas que afetam a tradução nos ribosomos Metizona

Inibidores nucleosídicos da
transcriptase reversa
Zidovudina
Didanosina
Didesoxiadenosina
Zalcitabina
Estavudina
Abacavir
Inibidores da transcriptase reversa do HIV
Tenofovir
Lamivudina

Inibidores não nucleosídicos


da transcriptase reversa
Nevirapina
Delarvidina
Efavirenz
Saquinavir
Ritonavir
Inidinavir
Inibidores da protease do HIV Nelfinavir
Amprenavir
Lopinavir/Ritonavir
Atazanir
Fonte: SILVA (2010, p. 1088)

6.4 Conclusão

Os antimicrobianos incluem uma diversidade de drogas com diferentes mecanismos de


ação. O conhecimento desses mecanismos, bem como de seu espectro de ação, é condição
necessária para a escolha adequada da estratégia terapêutica para uma determinada
infecção. O uso adequado desse recurso terapêutico também é outra questão importante,
frente a possibilidade de selecionar agentes infecciosos resistentes aos antimicrobianos.

Resumo
Os fármacos antimicrobianos incluem os antibacterinos, os antifúngicos e os antivirais.
Essas são drogas de utilização frequente e seu desenvolvimento impactou intensamente na
longevidade da população. No entanto, a utilização desses fármacos apontou a existência
de micro-organismos resistentes. A resistência é um fenômeno evolutivo que pode ocorrer
de forma natural ou intrínseca, ou pode ser adquirida.
O alvo ou local de ação do antibiótico pode ser a parede bacteriana, a membrana, o
ribossomo- impedindo a síntese de proteínas, ou ainda o DNA- impedindo a duplicação
desse ácido nucleico. Os antibióticos β-lactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), os
monobactâmicos e os glicopeptídeos atuam na parede bacteriana e a polimixina B tem
efeito detergente sobre a membrana celular. As Lincosamidas, tetraciclinas, o cloranfenicol,
os macrolídios e os aminoglicosídeos atuam no ribossomo da bactéria, inibindo a síntese
proteica. Já as quinolonas e os quimioterápicos inibem a síntese de ácido nucleico.
Os fármacos antifúngicos, também chamados de antimicóticos apresentam-se em menor
diversidade que os antibacterianos. Exceto a flucitosina e a griseofulvina, os antimicóticos
atuam na membrana citoplasmática ou na parede fúngica. Os principais grupos de
antimicóticos são os antibióticos poliênicos e os azóis que agem na membrana do fungo. As
equinocandinas são a última linha de tratamento e atuam na parede fúngica. Os antivirais
são classificados de acordo com seu mecanismo de ação e cada um atua inibindo alguma
fase da replicação viral.

Referências
KATZUNG, Bertram G. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre (RS): AMGH,
2017. 1046 p.

SILVA, Penildon (Org.). Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2010.1325 p.

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