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Aldo Matos
Introdução
Os fármacos antimicrobianos incluem os antibacterinos, os antifúngicos e os antivirais.
Essas são drogas de utilização frequente e seu desenvolvimento impactou intensamente na
longevidade da população, uma vez que, até então as infecções por diferentes micróbios
ceifava precocemente muitas vidas.
Apesar de até hoje as infecção bacterianas, fúngicas ou virais figurarem como causas de
morte, os agentes microbianos são um importante recurso terapêutico, seja para cura ou
para o controle dessas infecções.
Para compreender o mecanismo de ação desses fármacos, bem como suas potenciais
reações adversas e interações medicamentosas é necessário conhecer a constituição e o
metabolismo de bactérias, fungos e vírus, além da fisiologia e bioquímica humanas.
É importante ter atenção especial ao uso adequado desses recursos terapêuticos para não
favorecer a resistência dos micro-organismos a esses fármacos.
Objetivos
Ao finalizar o estudo desse capítulo, você deverá ser capaz de:
Esquema
6.1 Antibióticos
6.1.1 Antibióticos que atuam na parede bacteriana e na membrana
6.1.1.1 Antibióticos β-lactâmicos
6.1.1.1.1 Penicilinas
6.1.1.1.2 Cefalosporinas e cefamicinas
6.1.1.1.3 Outros fármacos β-lactâmicos
6.1.1.2 Outros antibióticos que atuam na parede e na membrana celular
6.1.2 Antibióticos que atuam no ribossomo
6.1.2.1 Aminoglicosídeos
6.1.2.2 Lincosamidas, tetraciclinas e cloranfenicol
6.1.2.3 Macrolídios
6.1.3 Antibióticos que atuam na síntese dos ácidos nucléicos
6.1.4 Quimioterápicos
6.2 Antifúngicos
6.3 Antivirais
6.4 Conclusão
6.1 Antibióticos
Importante!
O uso dos antibióticos de forma indiscriminada e sem critérios, e a interrupção precoce ou
incorreta do tratamento, colaboram para resistência bacteriana.
Existe uma diversidade de antibióticos, que estão agrupados segundo seu mecanismo de
ação. Um elemento importante do mecanismo de ação dos antibióticos é o local de ação,
isto é, o seu alvo ou sobre qual estrutura bacteriana o antibiótico atua.
O alvo ou local de ação do antibiótico pode ser a parede bacteriana, a membrana, o
ribossomo- impedindo a síntese de proteínas, ou ainda o DNA- impedindo a duplicação
desse ácido nucleico.
Considerando o seu efeito final, um antibiótico pode ser classificado como bactericida ou
bacteriostático. Os antibióticos bactericidas são aqueles capazes de matar as bactérias. Já
os bacteriostáticos inibem a multiplicação da bactéria, que morrerá ao completar seu tempo
de vida.
Ao avaliar se um antibiótico é indicado para tratar uma determinada infecção bacteriana é
necessário considerar seu espectro de ação e a resistência bacteriana. O espectro de ação
significa o conjunto ou grupos de bactérias contra as quais o antibiótico consegue atuar.
6.1.1.1.1 Penicilinas
Benzilpenicilina ou Penicilina G
Encontra-se na formulação injetável para administração IM ou EV. Por via oral é inativada
pelo suco gástrico e a absorção é imprevisível, restringindo o uso dessa via de
administração.
Atua contra cocos gram positivos que não produzam penicilinases.
A benzilpencilina é apresentada com a concentração denominada em unidades. Uma
unidade desse antibiótico equivale a 0,6µg.
Pode ser encontrada na forma de benzilpenicilina potássica ou sódica para uso IM ou EV;
penicilina G procaína e penicilina G benzatina para administração IM.
Importante!
A escolher um antibiótico, assim como ocorre em qualquer outra classe de fármacos, é
preciso considerar sua farmacocinética. A penicilina G procaína, por exemplo, concentra
mais em tecido subcutâneo que penicilina G benzatina, sendo a primeiro mais adequada
para tratar infecções nesse sítio, por cocos gram positivos não produtores de penicilinases.
Penicilina V
Essa é uma penicilina semissintética, com a vantagem de não ser inativada pelo suco
gástrico. Portanto, é uma penicilina para uso VO.
A maioria das penicilinas, como as mencionadas até agora, são eficientes apenas contra
cocos gram positivos. Porém fexistem penicilinas, em geral semissintéticas, que são
eficientes contra bacilos gram negativos. Como exemplo temos ampicilina, amoxicilina e
bacampicilina, ticarcilina e piperacilina.
Penicilinas antipseudomonas
Apesar da ampliação do espectro de ação, atuando também contra gram negativos, ser um
grande avanço, isso não significa que essas penicilinas sejam resistentes às β-lactamases.
Para contornar esse mecanismo de resistência, desenvolveram-se fármacos inibidores de
penicilinases, que podem ser associados aos antibióticos sensíveis a essas enzimas,
possibilitando sua atuação e consequentemente, o sucesso terapêutico. É o caso do ácido
clavulânico, o sulbactam e o tazobactam. Veja abaixo alguns exemplos de associação de
uma penicilina com inibidor de β-lactamases:
Carbapenêmicos
Glicopeptídeos
O seu mecanismo de ação ainda não é totalmente elucidado. Sabe-se que a daptomicina
liga-se à membrana celular pela inserção dependente de cálcio de sua cauda lipídica. Isso
resulta em despolarização da membrana celular, com efluxo de potássio e rápida morte
celular, como representado na figura 3.
Seu espectro de ação é semelhante ao a vancomicina, sendo uma alternativa a esse
glicopeptídeo.
Fosfomicina
Bacitracina
Ciclosserina
Apesar de ser bastante ativa contra micro-organismo gram positivos e também contra os
gram negativos, é usada exclusivamente para o tratamento da tuberculose causada por
cepa de Mycobacterium tuberculosis resistente ao tratamento de primeira linha.
A ciclosserina pode provocar grave toxicidade no sistema nervoso com manifestação de
cefaleias, tremores, psicose aguda e convulsões. Essa neurotoxidade é dependente da
dose, motivo pelo qual o tratamento é feito com doses abaixo de 0,75 g/dia.
Polimixina B
6.1.2.1 Aminoglicosídeos
Esses são antibióticos produzidos, cada qual, por uma determinada espécie do gênero
Streptomyces. Como mecanismo de ação, inibem a síntese de proteínas na célula
bacteriana ao se ligarem às subunidades do ribossomo, sendo que as lincosamidas e o
cloranfenicol ligam-se à subunidade 50S e as tetraciclina à subunidade 30S. No quadro 4,
encontram-se antibióticos classificados com lincosamida e como tetraciclina.
Lincomicina
Lincosamidas
Clindamicina
Ação curta
Tetracicilina
Oxitetraciclina
Ação intermediária
Tetracicilina Demeclociclina
Metaciclina
Ação longa
Doxiciclina
Minociclina
6.1.2.3 Macrolídios
Esses são antibióticos que agem inibindo a síntese proteica na bactéria ao se ligarem na
subunidade 50S do ribossomo. Fazem parte dessa classe a eritrocimina, claritromicia e a
azitromicina e seus derivados.
A eritromicina é um antibiótico de baixa toxidade, com raros casos de hipersensibilidade,
que se manifesta com febre e exantema. Em altas doses pode provocar desconforto
gastrintestinal com cólica, vômito, diarreia e desconforto epigástrico. Esse antibiótico faz
interação com a varfarina (anticoagulante) e a teofilina.
A azitromicina tem uma boa segurança para pacientes a partir de 16 anos de idade, sendo
contraindicados para os menores. Diarreia, náusea e vômito são as queixas mais frequentes
nos pacientes em tratamento com esse antibiótico. Perda reversível de audição foi
observada em altas doses utilizadas para o tratamento da infecção pelo Mycobacterium
avium.
A claritromicina é tão eficiente quanto as penicilinas para o tratamento da faringite
estreptocócica e para a sinusite maxilar aguda. Apresenta as mesmas interações
medicamentosas que a eritromicina e as mesmas reações adversas que a azitromicina.
A figura 4 apresenta esquematicamente a síntese de proteínas nas bactérias e os sítios de
ação dos antibióticos que a inibem.
Figura 4: Etapas da síntese proteica e alvos de diversos antibióticos
Fonte: KATZUNG e TREVOR (2017, p. 789)
As reações adversas mais comuns das quinolonas são gastrintestinais- anorexia, vômitos,
diarreia, desconforto gástrico, dispepsia e flatulência. Também são relatadas reações
adversas referidas as sistema nervoso central- tontura, cefaleia, agitação, insônia ou
sonolência, ansiedade ou depressão, alterações do paladar ou do olfato. Em doses
elevadas, pode ocorrer confusão mental, alucinações convulsões e psicoses tóxicas.
São contraindicadas para crianças, gestantes e nutrizes devido à possibilidade de
desenvolver erosão das cartilagens. Também foram associadas à ruptura de tendão.
A rifampicina é utilizada para o tratamento da tuberculose com infecções por micobactérias
atípicas. As reações adversas mais comuns são erupção cutânea, náuseas e vômitos. Esse
fármaco é hepatotóxico, mas esse efeito geralmente só é detectado através da dosagem
das enzimas hepáticas, e não costuma ser necessário suspender o tratamento.
6.1.4 Quimioterápicos
6.2 Antifúngicos
Grande parte dos antimicóticos são apenas de uso tópico, úteis portanto para tratamento de
dermatofitoses. Porém, alguns podem ser utilizados por via oral ou parenteral no tratamento
de micoses sistêmicas.
Segundo a estrutura química, os antifúngicos podem ser classificados em:
Flucitosina
Azóis
Esse grupo é subdivido em imidazóis e triazóis. Ambos têm como mecanismo de ação a
inibição de enzimas do citocromo P450 fúngicas, reduzindo assim, a síntese do ergosterol,
que é um componente da membrana citoplasmática. O efeito é seletivo sobre o fungo,
devido à maior afinidade pelas enzimas fúngicas que pelas enzimas do citocromo P450
humano.
Comparando os subgrupos, os triazóis apresentam maior seletividade pelas enzimas
fúngicas, espectro de ação mais amplo e utilidade clínica para micoses sistêmicas.
Os efeitos adversos e interações medicamentosas manifestam-se no uso sistêmico, e
portanto, nos triazóis. O voriconazol é um inibidor da CYP3A4 dos mamíferos, sendo
necessária a redução da dose de vários fármacos em uso concomitante, especialmente a
ciclosporina, o tacrolimo e os inibidores da HMG-CoA redutase. Como reações adversas
pode ocorrer exantema e elevação das enzimas hepáticas. Na administração endovenosa, a
visão pode ficar turva.
Anfotericina B
Nistatina
Griseofulvina
É um fungistático, muito pouco solúvel. Seu mecanismo de ação ainda não é bem
conhecido, mas sabe-se que se liga à queratina na pele recém formada, impedindo nova
infecção. Sua indicação clínica é para o tratamento sistêmico de dermatofitoses. A sua
absorção aumenta com a ingestão de alimentos gordurosos.
Terbinafina
Equinocandinas
6. 3 Antivirais
Os vírus são os menores agentes infecciosos conhecidos. Sua estrutura é muito simples,
compondo-se por um capsídeo proteico, que contém o seu material genético (DNA ou RNA).
Alguns vírus são revestidos por um envelope de constituição lipoproteica. Essa estrutura os
classifica como acelulares e por não terem maquinário celular, são parasitas intracelulares
obrigatórios.
Para se replicar, o vírus primeiramente liga-se à superfície da célula hospedeira. A fase
seguinte é a penetração, podendo ocorrer com a entrada da estrutura completa do vírus ou
apenas do seu material genético. A seguir, o material genético viral é associado ao DNA da
célula hospedeira. Nessa fase, caso o vírus possua RNA como material genético, ocorrerá a
síntese de DNA a partir do RNA viral, através da ação da enzima transcriptase reversa, e só
então esse “DNA viral” será anexado ao DNA da célula hospedeira. A partir desse momento,
o material genético viral usará o maquinário da célula parasitada para produzir todos dos
componentes de sua estrutura e formar novas unidades virais, ou vírions. Como última
etapa de um ciclo viral lítico, a célula hospedeira é rompida, liberando os vírus replicados.
Na figura 7, encontra-se esquematizado o ciclo viral e apontados os locais de ação dos
fármacos antivirais.
Os fármacos antivirais são classificados de acordo com seu mecanismo de ação. O quadro
7 apresenta essa classificação para diversos antivirais.
Inibidores nucleosídicos da
transcriptase reversa
Zidovudina
Didanosina
Didesoxiadenosina
Zalcitabina
Estavudina
Abacavir
Inibidores da transcriptase reversa do HIV
Tenofovir
Lamivudina
6.4 Conclusão
Resumo
Os fármacos antimicrobianos incluem os antibacterinos, os antifúngicos e os antivirais.
Essas são drogas de utilização frequente e seu desenvolvimento impactou intensamente na
longevidade da população. No entanto, a utilização desses fármacos apontou a existência
de micro-organismos resistentes. A resistência é um fenômeno evolutivo que pode ocorrer
de forma natural ou intrínseca, ou pode ser adquirida.
O alvo ou local de ação do antibiótico pode ser a parede bacteriana, a membrana, o
ribossomo- impedindo a síntese de proteínas, ou ainda o DNA- impedindo a duplicação
desse ácido nucleico. Os antibióticos β-lactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), os
monobactâmicos e os glicopeptídeos atuam na parede bacteriana e a polimixina B tem
efeito detergente sobre a membrana celular. As Lincosamidas, tetraciclinas, o cloranfenicol,
os macrolídios e os aminoglicosídeos atuam no ribossomo da bactéria, inibindo a síntese
proteica. Já as quinolonas e os quimioterápicos inibem a síntese de ácido nucleico.
Os fármacos antifúngicos, também chamados de antimicóticos apresentam-se em menor
diversidade que os antibacterianos. Exceto a flucitosina e a griseofulvina, os antimicóticos
atuam na membrana citoplasmática ou na parede fúngica. Os principais grupos de
antimicóticos são os antibióticos poliênicos e os azóis que agem na membrana do fungo. As
equinocandinas são a última linha de tratamento e atuam na parede fúngica. Os antivirais
são classificados de acordo com seu mecanismo de ação e cada um atua inibindo alguma
fase da replicação viral.
Referências
KATZUNG, Bertram G. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre (RS): AMGH,
2017. 1046 p.