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Fisiologia geral – excitação elétrica, contração

2 muscular e sistema nervoso autônomo

Gláucia Helena Fortes

Introdução
Existe uma distribuição desigual de solutos dissolvidos no líquido entre os dois lados
separados pela membrana plasmática. No lado intracelular, dissolvido em água, encontramos como
principais solutos o cátion K+ e os diversos ânions orgânicos, com destaque para as proteínas
citossólicas e metabólitos fosfatados. Já no lado extracelular, o principal soluto dissolvido é o cloreto
de sódio (Na+Cl-), o sal de cozinha, que ao se dissolver, se ioniza e nos seres pluricelulares se
apresenta com as concentrações aproximadas de 140mM para o Na+ e de ~108mM para o Cl-.
Havendo diferenças de concentração e também permeabilidade na membrana, haverá
difusão das substâncias em direção ao lado de menor concentração. Por exemplo, a glicose, com
gradiente de concentração de 90mg/dL (no extracelular) para ~10mg/dL (no intracelular), entra
continuamente dentro da célula por difusão facilitada mediada pelos transportadores de glicose
(GLUT) da membrana. Em um sistema fechado, a difusão da glicose ocorrerá até que as
concentrações se igualem. Este comportamento difusional vale para todas as moléculas não
carregadas dissolvidas em ambos os lados da membrana. Ao longo deste capítulo veremos que
para os íons, quando ocorre diferença de concentração entre os dois lados da membrana, a difusão
iônica também ocorrerá. Porém, por possuírem cargas elétricas, sua difusão acaba por gerar
correntes elétricas e diferenças de potencial elétrico, que levam ao acúmulo de carga elétrica na
membrana plasmática.

Objetivos
Esperamos que ao final do estudo deste capítulo, você seja capaz de:
• Compreender os mecanismos da difusão iônica através da membrana plasmática;
• Conhecer como é gerado o potencial de membrana de repouso das células;
• Entender a gênese e a função dos potenciais de ação em células excitáveis;
• Compreender os emcanismos envolvidos na contração muscular em músculos esquléticos,
cardíacos e lisos;
• Conhecer a estrutura e o funcionamento sistema nervoso autonômico.

Esquema

2.1 Excitação elétrica das células


2.1.1 Difusão iônica e potencial de equilíbrio
2.1.2 Potencial de membrana de repouso
2.1.3 O potencial de ação
2.2 Contração muscular
2.2.1 Musculatura esquelética
2.2.1.1 Características moleculares da miosina
2.2.1.2 Características moleculares da actina
2.2.1.3 Mecanismos de exposição e ativação dos sítios ativos da actina – Papel do Ca++
2.2.1.4 Etapas do mecanismo excitação-contração da musculatura esquelética
2.2.1.5 Tipos de musculatura esquelética
2.2.2 A musculatura cardíaca
2.2.3 A musculatura lisa
2.2.3.1 Acoplamento excitação-contração da musculatura lisa
2.3 Sistema nervoso autônomo (SNA)
2.3.1 O sistema nervoso simpático
2.3.2 O sistema nervoso parassimpático
2.4 Conclusão

2.1 Excitação elétrica das células


Em decorrência da distribuição desigual de íons através da membrana plasmática e de sua
difusão, carga elétricas acumulam-se nos dois lados da membrana plasmática em todas as células
do corpo (potencial elétrico de repouso). Em neurônios e células musculares esqueléticas,
cardíacas e lisas, conhecidas como células excitáveis, este acúmulo de cargas é elevado. Nestas
células, variações bruscas nestas cargas acumuladas (potenciais de ação) induzidas por estímulos
na membrana plasmática são usadas para ativar a função destas células.

2.1.1 Difusão iônica e potencial de equilíbrio


Se analisarmos os diferentes íons entre os dois lados da membrana plasmática (Figura 1),
veremos que existem diferenças de concentração. E a membrana plasmática possui canais iônicos
permeáveis especificamente aos íons (capítulo 1).

Figura 1: Composição química dos líquidos intra- e extracelular em seres humanos,


Fonte: Da autora.

Assim, também entre os íons haverá difusão através dos canais em direção ao lado de
menor concentração. Porém aqui, devemos introduzir um componente adicional, que é o fato de os
íons possuírem cargas elétricas. Ao se movimentarem para o lado menos concentrado, cria-se um
fluxo de cargas elétricas (corrente elétrica) que se move no líquido e através do canal, oferecendo
uma certa resistência elétrica e gerando uma diferença de potencial elétrico. E esta diferença de
potencial elétrico começa a atuar sobre o íon em difusão, criando uma força elétrica em sentido
contrário. A figura 2 abaixo ilustra a difusão do íon K+ entre os dois líquidos intra- e extracelular,
através de uma membrana permeável apenas ao íon K+. Quando a força elétrica atuando sobre o
íon atinge o mesmo valor da força difusional de concentração, o íon então cessa seu movimento
difusional efetivo e o sistema torna-se estável. Neste instante diz-se que o íon atingiu o equilíbrio
difusional eletroquímico (figura 2). Dados os valores de K+ nos lados intra- e extracelular, a
temperatura de 37oC e a valência do potássio igual +1, teremos como resultado um potencial de
equilíbrio para o íon potássio de ~-95mV (figura 2). A aplicação desta mesma equação para outros
íons permeantes na membrana plasmática, permite o cálculo dos potenciais elétrico que equilibram
a difusão do Na+ (aprox. +70mV) e do Ca++ (aprox. +120mV), por exemplo.

2.1.2 Potencial de Membrana de Repouso


Se considerarmos agora a membrana de uma célula real e os principais íons permeantes
em suas respectivas concentrações e potenciais de equilíbrio iônico, além de seus respectivos
canais com diferentes permeabilidades, notaremos que a difusão conjunta dos diferentes íons gera
um potencial de membrana, chamado de potencial de membrana de repouso (figura 3).
Como nas células reais, e mais especificamente nas células excitáveis, neurônios e células
musculares esqueléticas, cardíaca e lisas, a permeabilidade dos canais de K+ no repouso é cerca
de 100x maior que os de Na+ e de Ca++, o K+ tem uma grande liberdade difusional em direção ao
seu potencial de equilíbrio de cerca de -95mV. Porém, ainda que pouco permeantes, o Na+ e o Ca++,
principalmente através de canais de vazamento acabam por se difundir um pouco, entrando dentro
da célula. Esta pequena entrada de Na+/Ca++ acaba neutralizando levemente a saída de K+,
impedindo que o mesmo atinja seu potencial de equilíbrio de -95mV, atenuando este valor em cerca
de +10mV, fazendo com que o potencial da membrana atinja cerca de -85mV. Como o K+ não atinge
então seu equilíbrio, por causa do vazamento de Na+/Ca++, ele continuará saindo levemente ao
longo do tempo. E ainda que os canais de vazamento de Na+/Ca++ sejam muito pouco permeáveis,
Na+ e Ca++ entram um pouco ao longo de um tempo prolongado.

Figura 2: Difusão do íon K+ nas concentrações intra- e extracelulares em uma membrana permeável apenas
ao K+. (A): Início da difusão, com a voltagem na membrana (Vm) igual a zero. (B): variação da Vm durante a
difusão. (C): Final do processo de difusão com o potássio em equilíbrio eletroquímico com a força química
(seta azul) igual à força elétrica (seta preta). A Vm após o equilíbrio é determinada pela equação de Nernst,
com EK= -95mV. (EK = potencial de equilíbrio do potássio, R= constante dos gases, T= temperatura, n=
valência ou carga do íon, F=constante de Faraday, ln = logaritmo natural).
Fonte: Da autora.

Tal situação, num tempo muito longo poderia resultar na inteira saída de K+ e grande entrada
Na+ para dentro da célula, com modificação de seu equilíbrio osmótico, aumento excessivo de
volume e lise celular. No entanto, como discutido no capítulo 1, a contínua perda de K+ e o contínuo
ganho de Na+ para dentro da célula é revertido pela existência na membrana plasmática da bomba
de Na+ e K+ (Na+/K+ ATPase), a qual usando a energia de quebra do ATP por transporte ativo coloca
2 íons e K+ para o intracelular e 3 íons Na+ para o extracelular. Em termos líquidos de carga elétrica
transportada, a bomba acaba por retirar sempre uma carga elétrica positiva para fora (3 Na+ menos
2 K+). E a contínua retirada ativa desta carga elétrica positiva gera um pequeno potencial elétrico
negativo dentro das células de cerca de -5mV (bomba de Na+ e K+ eletrogênica), que somados aos
-85mV, acima descrito, acaba por gerar um potencial elétrico final de repouso da célula de cerca de
-90mV, em neurônios e em células musculares esqueléticas e cardíaca (figura 3). Portanto, o
potencial (voltagem) de equilíbrio eletroquímico de células nervosas grandes e células musculares,
inclusive esquelética e cardíaca, é de -90 mV. Entretanto, esse potencial é diferente para outras
células, sendo que células nervosas pequenas têm o potencial (voltagem) elétrico da membrana da
célula em repouso de aproximadamente -70 ou -80 mV.

Figura 3: Participação dos diferentes íons e seus movimentos através da membrana plasmática para gerar o
potencial de membrana de repouso de uma célula excitável.
Fonte: Da autora.

Em células nodais cardíaca e células musculares lisas, o potencial é um pouco menos


negativo (entre -50MV e -70mV), devido a um maior vazamento de Na+ e Ca++. Já nas demais
células do corpo, não excitáveis, devido a uma menor diferença de permeabilidade entre os canais
de K+ em relação aos canais de vazamento de Na+ e Ca++, os potenciais elétricos da membrana
variam entre -10 e -40mV.
O potencial elétrico de repouso é sujeito a variações locais em seu valor decorrentes do
acréscimo de cargas positivas ou negativas no lado interno da membrana. Se cargas negativas, tal
como o Cl-, são introduzidas em um dado ponto interno da membrana, o potencial de membrana
naquele ponto torna-se mais negativos ainda que o potencial de repouso, ou seja, a polaridade da
membrana aumenta ainda mais, tornando-se hiperpolarizada (por exemplo com potencial de
aproximadamente -100mV) (figura 4). Ao contrário, se cargas positivas, tais como Na+ e Ca++, são
introduzidas em um dado ponto da membrana, sua polaridade de -90mV é parcialmente
neutralizada, havendo então uma redução da polaridade (para valores de -85mV, -75mV, etc). Neste
estado, a célula encontra-se então pouco polarizada e o processo de redução da polaridade é
chamado de despolarização (figura 4). Ambos a hiperpolarização e a despolarização são eventos
locais na membrana exatamente no ponto de acréscimo ou retirada de cargas elétricas.
Os efeitos destas modificações são passageiros, pois tão logo a modificação das cargas é
interrompida, o potencial elétrico tende ao repouso novamente (figura 4). Além disso, do ponto de
modificação das cargas para áreas adjacentes, o efeito sobre o potencial de membrana vai se
dissipando (condução dissipativa ou eletrotônica), de modo que em pontos distantes da membrana,
os efeitos hiper- ou despolarizantes são pouco detectados.
Figura 4: Efeitos locais de estímulos elétricos sobre o potencial de membrana da célula.
Fonte: http://questoesbiologicas.blogspot.com/2020/12/biologia-ueg.html.

Estas variações locais de cargas na membrana podem ser introduzidas por estímulos que
modificam a permeabilidade de diferentes canais iônicos mediados por estímulos elétricos,
químicos, como neurotransmissores e neuromoduladores, por temperatura ou mesmo por
estiramento mecânico da membrana (ver capítulo 1).

2.1.3 O potencial de ação


Em células excitáveis, nervosas e musculares, se o estímulo despolarizante aplicado atinge
um certo valor durante a despolarização, chamado de voltagem limiar (que em neurônios grandes
e célula muscular esquelética está em torno de -50 a -70mV), uma despolarização adicional súbita,
rápida e intensa do potencial de membrana em direção ao potencial elétrico zero acontece, sendo
esta causada pela entrada rápida de Na+ na célula. Tal despolarização é tão intensa que ao atingir
o valor de potencial igual a zero, ela continua na mesma direção invertendo a polaridade da
membrana, que chega a atingir em neurônios valores da ordem de aproximadamente +30mV (esta
inversão de polaridade é chamada de “overshoot” ou ultrapassagem (figura 5). Porém, uma vez
atingido este valor máximo positivo no lado interno da membrana, subitamente o potencial elétrico
interno começa um processo inverso de retorno ao estado de polaridade de repouso (do +30mV ao
-90mV). Este evento elétrico, um pouco mais lento que o evento inicial, é denominado repolarização
da membrana, sendo ocasionado pela difusão de K+ para o extracelular (figura 5). Diferente das
hiperpolarizações e despolarizações subliminares acima descritas, os quais são eventos locais na
membrana (figura 4), essa rápida, súbita e ampla variação do potencial elétrico da membrana em
duas fases, a despolarização seguida da repolarização, é um evento que se propaga sem perda de
amplitude ao longo de toda a extensão da membrana plasmática da célula excitável (axônios dos
neurônios e células musculares), colocando as células excitáveis em ação. E é por isso que este
evento é denominado de potencial de ação celular (figura 5). Portanto, o potencial de ação é um
evento elétrico que ocorre na membrana de células excitáveis, caracterizado por mudanças muito
rápidas no potencial elétrico da membrana, tendo como funções gerar impulsos nervosos e
contrações musculares.
As bases físico-químicas do potencial de ação foram pela primeira vez descritas por
Hodgkin e Huxley no final dos anos 40 do século XX, estudando neurônios gigantes da lula
marinha. Estes pesquisadores mostraram que a primeira fase do potencial de ação, a rápida e
ampla despolarização decorre da abertura de canais de Na+ voltagem-dependentes, presentes na
membrana dos neurônios e outras células excitáveis. Tais canais, no potencial elétrico de repouso
das células de -90mV encontram-se todos fechados e a membrana da célula encontra-se
polarizada, com eletronegatividade na face interna da membrana e eletropositividade na face
externa. Porém, a aplicação de um estímulo despolarizante na membrana, com intensidade
suficiente para provocar uma despolarização limiar, que faça a membrana atingir o potencial limiar
de aproximadamente -70mV, é capaz de abrir o canal de Na+ voltagem-dependente. Uma vez
aberto, como o Na+ encontra-se muito mais concentrado no extracelular e a célula internamente
encontra-se negativamente carregada, tanto a força química de concentração quanto a força elétrica
negativa interna impelem os íons Na+ para dentro da célula, em alta velocidade em direção ao seu
potencial de equilíbrio. Ao final da despolarização rápida da membrana, ocasionada pela entrada
rápida de Na+ no interior da célula, há uma inversão da polaridade elétrica da membrana, a qual
agora adquire eletropositividade na face interna da membrana e eletronegatividade na face externa
a membrana. Além disso, o potencial (voltagem) elétrica da membrana chega ao final da
despolarização à aproximadamente +30 mV. Por volta do potencial de aproximadamente +30mV, o
canal de Na+ se fecha e a membrana volta à sua formatação original de repouso com maior
permeabilidade ao K+. Nessa voltagem de aproximadamente +30mV, alcançada ao final da
despolarização da membrana, são abertos os canais de K+ voltagem-dependentes, sendo que
difusão ou saída de K+ para o extracelular faz a membrana repolarizar, ou seja, ela retorna à
eletronegatividade na face interna da membrana e eletropositividade na face externa e o potencial
(voltagem) elétrica da membrana também retorna rapidamente ao valor de repouso, que é de
aproximadamente -90 mV na membrana dessas células excitáveis (figura 5).
A duração dos dois eventos ou fases do potencial de ação, despolarização e repolarização,
é curta e bastante variável podendo durar 1-2 milissegundos em neurônios corticais a até 250
milissegundos em células cardíacas.
Como a indução do potencial de ação depende da membrana da célula atingir uma certa
voltagem limiar (ou limiar de excitação), abaixo do qual não se gera o potencial de ação e acima do
qual o potencial de ação tem a sua amplitude máxima sem perda, o potencial de ação obedece à
chamada lei do tudo ou nada, ou seja, em estímulos subliminares não se gera o potencial de ação,
e em estímulos limiares ou mesmo supraliminares, a resposta é sempre a mesma e máxima.

Figura 5: Potencial de ação típico de um neurônio registrado com micropipeta inserida intracelularmente.
Fonte: Guyton e Hall, 2017.
A condução do potencial de ação se faz ao longo de toda a extensão da membrana
plasmática (condução contínua) na maioria das células excitáveis e é tanto maio quanto maior for o
calibre ou diâmetro da célula, uma vez que quanto mais larga for a célula, mais rapidamente o Na+
que entra no local do estímulo, pode se difundir lateralmente para a membrana adjacente ativando
mais canais de Na+ e assim por diante (figura 6). Em axônios neuronais isso significa que quanto
mais espesso axônio, mais rápida é a velocidade de condução do potencial de ação. Além da largura
do axônio, a velocidade de condução do potencial de ação em neurônios também é influenciada
pela bainha de mielina presente nos axônios dos neurônios chamados mielinizados (figura 6).
Nestes neurônios, a membrana do axônio é recoberta por uma bainha de mielina rica em
componentes lipídicos de altíssima resistência elétrica, que se estende a intervalos regulares ao
longo do axônio. A bainha de mielina é formada em torno do axônio pelo enrolamento da membrana
plasmática das células de Schwann em neurônios periféricos ou dos oligodendrócitos em neurônios
centrais. Nos locais em que a bainha está recobrindo o axônio, não há fluxo iônico através da
membrana. Os canais de Na+ e K+ voltagem-dependentes estão expressos apenas nas regiões
livres de bainha, os nodos de Ranvier. A excitação limiar ou supralimiar da membrana plasmática
nos nodos de Ranvier desencadeia do potencial de ação como acima descrito. O sódio que entra
pela membrana na despolarização vai se difundir pelo citossol axonal até atingir o próximo nodo de
Ranvier, onde ele leva à despolarização de mais canais de Na+ ali presentes, desencadeando o
potencial de ação no próximo nodo de Ranvier. Assim, o potencial de ação vai sendo conduzido de
forma saltatória, saltando a cada nodo de Ranvier em direção à extremidade sináptica do neurônio.
A condução saltatório é muito mais rápida que a condução contínua (figura 6).
O potencial de ação em músculo esquelético é muito parecido com o de neurônios grandes,
com as duas fases de despolarização e a repolarização similares, ainda que a duração seja um
pouco mais prolongada (5-10 milissegundos). Já nas células cardíacas a duração do potencial de
ação é muito maior, cerca de 250 milissegundos. E a razão de maior duração reside na participação
de um terceiro canal na gênese do potencial de ação cardíaco, que é o canal de Ca++ voltagem-
dependente lento e de longa duração (ver capítulo 4 – Fisiologia Cardiovascular). Já em células
nodais cardíaca e em músculos lisos, a despolarização em geral decorre da abertura de canais de
Ca++ ao invés de Na+, com potenciais de ação com despolarizações mais lentas, sendo nessas
células, esta entrada de Ca++ também é fundamental para desencadear a contração do músculo
liso.

Figura 6: (A a D): Condução contínua do potencial de ação. Em (A) célula está em repouso e a membrana
polarizada, em (B) e (C) a membrana está despolarizando e em (D) a membrana está repolarizando. (E):
Bainha de mielina e nodo de Ranvier em axônio mielinizado. (F): Condução saltatória em axônio mielinizado.
Fonte: Guyton e Hall, 2017.

2.2 Contração muscular


O tecido muscular estriado esquelético constitui a maior parte da musculatura do organismo
dos vertebrados. Ele recobre totalmente o esqueleto e está preso aos ossos, daí ser chamado de
musculatura esquelética. Diferentemente da musculatura lisa e cardíaca, a esquelética apresenta
contração voluntária. Aproximadamente 40 % do organismo humano é constituído por músculo
esquelético e 10% pelos músculos liso e cardíaco.
2.2.1 Musculatura esquelética
A contração da musculatura esquelética de controle voluntário depende dos impulsos
nervosos que incidem sobre o músculo, ou seja, depende da liberação de acetilcolina (ach) sobre o
músculo, neurotransmissor produzido e armazenado dentro de vesículas nos terminais dos
neurônios motores (motoneurônios α).
A musculatura esquelética é formada por inúmeras células (ou fibras) musculares grandes
e alongadas, de aproximadamente 10 a 80 m de diâmetro, onde cada uma delas é uma célula
dotada de muitos núcleos periféricos, chamadas de miócitos multinucleados, circundadas pelo
sarcolema, a membrana plasmática dos músculos. O sarcolema faz invaginações profundas para o
interior das fibras, denominadas de túbulos “T” - transversos, os quais propagam a despolarização
da membrana superficial do músculo para a porção central desta célula, estando intimamente
posicionados adjacentes as cisternas do retículo sarcoplasmático (RS), uma organela extensa em
rede que armazena o Ca++ utilizado para ativar a contração muscular (figura 7). Na membrana
dessas cisternas estão os “canais de Ca++ voltagem-dependentes”.
Essas fibras apresentam RS extenso, em rede e em paralelo, as várias centenas ou milhares
de miofibrilas de proteínas polimerizadas contráteis, principalmente de actina e miosina, as quais
estão dispostas longitudinalmente no interior das fibras. Essas proteínas estão organizadas de tal
modo que formam bandas transversais, claras e escuras, as quais vão fornecer à musculatura
esquelética seu aspecto estriado (figura 7). Cada miofibrila contém aproximadamente 3.000
filamentos de actina e 1.500 de miosina, os quais por ficarem parcialmente interdigitados, geram
faixas claras e escuras nas miofibrilas. A actina ou filamento delgado forma a banda clara,
denominadas de bandas I por ser isotrópica à luz polarizada, enquanto a banda escura, constituídas
por actina e miosina, é denominada de banda A visto ser anisotrópica à luz polarizada. As
extremidades da actina estão presas ao disco Z, uma proteína filamentosa que atravessa
transversalmente as miofibrilas e células musculares. A porção da miofibrila situada entre dois
discos Z sucessivos é chamada de sarcômero, a unidade funcional dos músculos. Cada sarcômero,
quando em repouso, apresenta 2m de comprimento, estando os filamentos de actina e miosina
apenas começando a se sobrepor entre si. O sarcoplasma é formado pelos constituintes
intracelulares usuais como o líquido sarcoplasmático, as mitocôndrias e as miofibrilas imersas no
líquido sarcoplasmático (figura 7).

Figura 7: Organização da célula muscular esquelética.


Fonte:https://static.wikia.nocookie.net/infomedica/images/5/55/Figura_1_contra%C3%A7%C3%A3o.jpg/revis
ion/latest?cb=20091125225514&path-prefix=pt-br).

2.2.1.1 Características moleculares da miosina


O filamento de miosina é formado por aproximadamente 200 ou mais moléculas de miosina,
cada uma com o peso molecular de aproximadamente 480.000 g/mol. A molécula de miosina
(filamento grosso) é composta por seis cadeias polipeptídicas, duas cadeias pesadas, cada uma
com peso molecular de 200.000 g/mol e por 4 cadeias leves, cada uma com peso molecular de
20.000 g/mol. As duas cadeias pesadas se enrolam entre si, em espiral, para formar uma dupla
hélice denominada “cauda” da miosina enquanto as quatro cadeias leves fazem parte das
“cabeças”. A parte helicoidal de cada molécula de miosina se estende para o lado, junto com a
cabeça, formando “braços” que mantém a cabeça afastada do corpo. O conjunto de cabeça e braço
da miosina são denominadas de “pontes cruzadas”, elas ficam deslocadas axialmente formando
ângulo de 120, o que assegura que alas se estendam em todas as direções em torno do filamento
(figura 8). O filamento de miosina é uma estrutura articulada visto que cada ponte cruzada é flexível
em dois pontos (dobradiças), estando um entre o corpo e o braço e o outro entre o braço e as
cabeça. Os braços dobráveis permitem que a cabeça seja afastada para longe do corpo do filamento
ou que seja trazida para junto dele, sendo esses movimentos fundamentais para gerar a contração
muscular. O comprimento total do filamento de miosina é de 1,6m (figura 8). Outra característica
da cabeça de miosina é que ela funciona como uma enzima miosina ATPase, permitindo que a
cabeça clive o ATP e utilize a energia derivada da ligação fosfato de alta energia (Pi) para energizar
o processo da contração muscular.

Figura 8: micro-estrutura do miofilamento grosso de miosina das células esqueléticas.


Fonte: https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRpSbpTmXZN_3i5Mrx0x_SVBHbMVabru5BJLA&usqp=CAU e
https://1.bp.blogspot.com/-
JE8CZD0GlOI/XLcmIGCePII/AAAAAAAAauc/qBDL52PTh0UwX8Nqe4uRyDaCqWcLdnOAgCLcBGAs/s1600
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2.2.1.2 Características moleculares da actina


O filamento de actina é composto por três componentes proteicos: actina, tropomiosina e
troponina. O filamento de actina é formado por duas cadeias de actina-F enroladas em hélice, onde
cada cadeia da dupla hélice de actina-F é formada por moléculas polimerizadas de actina-G, cada
uma com peso molecular de aproximadamente 42.000 g/mol. Presas as moléculas de actina-G,
estão as moléculas de ADP, as quais formam sítios ativos com os quais interagem as “pontes
cruzadas” dos filamentos de miosina para promover a contração muscular. Existem sítios ativos a
cada 27nm de todo o filamento de actina. Cada filamento tem comprimento de 1m. As bases dos
filamentos de actina ficam inseridas nos discos Z, enquanto as extremidades se projetam, em
ambas as direções, para os sarcômeros adjacentes, estando a actina localizada entre as moléculas
de miosina.
Os filamentos de actina também contêm a proteína tropomiosina, onde cada molécula tem
peso molecular de 70.000 g/mol e comprimento de 40 nm. Essas moléculas ficam frouxamente
presas à actina F, enrolando-se, de forma espiralada, em torno dela. Quando a musculatura
esquelética se encontra relaxada ou repouso, cada molécula de tropomiosina recobre
aproximadamente 7 sítios ativos na actina F, ou seja, os mesmos se encontram escondidos ou
inativados, de modo que a miosina não tem como interagir com a actina para produzir contração
muscular. Ainda nos filamentos de actina existe a troponina, uma molécula proteica presa à uma
das extremidades de cada molécula de tropomiosina, formando o complexo troponina-tropomiosina.
A troponina consiste de um complexo de três subunidades proteicas (troponina I, troponina T e
troponina C), frouxamente interligadas entre si, cada qual com sua função específica no processo
de contração muscular. A subunidade denominada troponina I tem afinidade pela actina, a troponina
T pela tropomiosina e a troponina C pelo Ca++.

2.2.1.3 Mecanismos de exposição e ativação dos sítios ativos da actina – Papel do Ca++
Como já anteriormente descrito, quando o músculo se encontra relaxado, o complexo
troponina-tropomiosina recobre e esconde os sítios ativos no filamento de actina, ou seja, esses
sítios ficam inibidos ou inativados, uma vez que se encontram fisicamente recobertos, o que impede
a interação da miosina com a actina para que ocorra a contração muscular. Entretanto, o Ca ++,
proveniente exclusivamente do RS, interage com a “troponina C” e promove uma alteração
conformacional do complexo, o qual descobre e expõe os sítios ativos, deixando-os em estado
ativado, o que vai permitir a interação da miosina com a actina para que o músculo possa contrair.

2.2.1.4 Etapas do acoplamento excitação-contração da musculatura esquelética


Na figura 9 abaixo podemos ver as etapas da contração muscular esquelética:
1. Um potencial de ação trafega ao longo da membrana do motoneurônio até suas terminações,
resultando na liberação de Ach para a fenda sináptica da junção neuromuscular;
2. A Ach se difunde através desta e liga-se aos receptores colinérgicos nicotínicos, localizados
na região da placa motora terminal, ocasionando difusão ao Na+ e K+ através da membrana do
músculo.
3. As correntes iônicas sobre a fibra muscular promovem inicialmente a geração de um
potencial da placa motora (PPM), o qual é responsável por estimular a abertura de canais de Na+
voltagem-dependentes, localizados na membrana da fibra muscular;
4. A entrada rápida de Na+ através dos canais voltagem-dependentes geram a despolarização
da membrana muscular, que se espalha através de toda extensão da fibra muscular, inclusive
através dos túbulos “T”, que são invaginações profundas da membrana;
5. A despolarização da membrana dos túbulos “T” ocasiona a abertura dos canais de Ca++-
rianodina voltagem-dependentes na membrana das cisternas do RS (organela armazenadora de
Ca++), adjacentes aos túbulos;
6. Então ocorre a difusão de Ca++ para fora do RS e subsequente ligação do Ca++ à troponina
C, ocasionando a alteração conformacional do complexo troponina-tropomiosina, onde ele
desloca-se para expor ou descobrir os sítios de ligação na actina F, ativando-os;
7. As cabeças energizadas da miosina e os braços elevam-se e ligam-se, perpendicularmente
aos sítios de ligação na actina F (formação da ponte cruzada), movimento dependente da
dobradiça entre o corpo e os braços da miosina;
8. Após esta ligação, as cabeças da miosina dobram-se em direção aos seus braços, através
do movimento da dobradiça entre os braços e as cabeças de miosina, gerando a tensão ou força
que faz a miosina tracionar a actina, denominado de movimento de tensão (Power stroke);
9. A liberação do fosfato de elevada energia (Pi) do sítio ATPase na cabeça de miosina resulta
na energia que faz a miosina tracionar a actina em direção à porção central do sarcômero;
10. Neste instante em que as cabeças da miosina tracionam a actina, é que ocorre o
deslizamento a actina sobre a miosina, ou seja, o músculo contrai;
11. Ao término da força de deslizamento da actina sobre a miosina, o ADP é liberado da cabeça
de miosina, fazendo-a entrar em estado de baixa energia;
12. Uma molécula nova de ATP se fixa aos sítios ATPase da cabeça de miosina, fazendo-a
desligar-se da actina e, em seguida, o ATP é hidrolisado em ADP e Pi para fazer a cabeça de
miosina ficar novamente energizada, voltando à posição de repouso, para iniciar o próximo ciclo
da ponte cruzada;
13. O Ca++ é bombeado ativamente de volta ao retículo sarcoplasmático através de bombas de
++
Ca , presentes na membrana dessa organela, quando novamente a tropomiosina esconde ou
recobre os sítios de ligação na actina F, inativando-os;

Figura 9: Desenho esquemático do acoplamento excitação contração no músculo esquelético.


Fonte:https://i.em.com.br/Rc8tpaPHYeAx3TRP0cNsYBWNuVo=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia
_127983242361/2015/11/10/706110/20151110100812795849a.jpg.

O fenômeno cíclico em que as cabeças da miosina se ligam à actina, dobram-se em direção


aos seus braços, tracionando a actina e, então, se desligam da actina, é denominado “ciclos das
pontes cruzadas”. Após o primeiro ciclo, a cabeça da miosina novamente se fixa num sítio ativo
mais adiante e um novo ciclo da ponte cruzada ocorre, fazendo com que as extremidades dos
filamentos de actina sejam puxadas em direção ao centro do filamento de miosina. Ciclos muito
rápidos das pontes cruzadas é que geram o deslizamento efetivo da actina sobre a miosina, e
consequentemente, a contração muscular, uma vez que um único ciclo da ponte cruzada isolado
não é capaz que ocasionar a contração do músculo esquelético. Quanto maior for o número de
pontes cruzadas, maior é a força da contração.

2.2.1.5 Tipos de musculatura esquelética


As características da fibra muscular esquelética, como diâmetro, quantidade de
mitocôndrias, tamanho do RS, concentração e variação de enzima miosina ATPase, vascularização
e quantidade de mioglobina, definem se a fibra muscular é do tipo vermelha (tipo I), branca (tipo IIb)
ou intermediária (tipo IIa). As diferenças na velocidade da contração dessas fibras dependem
diretamente das isoformas variadas da miosina ATPase, que pode ser lenta, rápida ou moderada,
mas também da liberação de Ca++ do RS. As principais diferenças entre os tipos de fibras
musculares esqueléticas estão listadas na tabela 1 abaixo.

Tabela1: Características morfo-fisiológicas dos diferentes tipos de fibras musculares esqueléticas


Fonte: https://museuescola.ibb.unesp.br/images/tabela_tipos_de_fibramusc.png.

2.2.2 A musculatura cardíaca


Da mesma forma que a musculatura esquelética, a cardíaca apresenta aspecto estriado,
contendo miofibrilas de actina e miosina quase idênticos aos encontrados na musculatura
esquelética; onde os filamentos de proteínas contráteis se interdigitam e deslizam uns sobre os
outros, da mesma forma como o fazem na musculatura esquelética. Entretanto, diferentemente da
musculatura esquelética, a cardíaca é de controle involuntário, sendo a frequência da contração
determinada pela frequência dos estímulos elétricos (potenciais de ação) gerados de forma
espontânea (automatismo) e rítmica pelas células marcapasso cardíaca (nodo sinusal). Por outro
lado, a contração cardíaca é modulada principalmente pela atividade parassimpática e simpática do
sistema nervoso autônomo (SNA). As células musculares cardíacas (cardiomiócitos) são mais
curtas e de menor diâmetro quando comparadas com as esqueléticas, variando de 10-20 µm de
diâmetro e 85-100 µm de comprimento. Costumam ter apenas um ou, no máximo, dois núcleos,
localizados na porção central da fibra. Essas células se ramificam, fazendo projeções longitudinais,
transversais e obliquas e se fundem em série umas às outras através dos discos intercalares ou
junções comunicantes do tipo “gap”, que são junções de baixa resistência à corrente elétrica, gerada
pela célula do marcapasso natural, permitindo que essa corrente elétrica se propaga facilmente por
todo o coração, resultando na contração e batimento cardíaco. Portanto, o coração forma um
sincício elétrico, uma grande massa de células que estão eletricamente acopladas entre si.
As fibras musculares cardíacas também apresentam uma quantidade muito maior de
mitocôndrias em seu citoplasma, do que se comparado com as fibras musculares esqueléticas.
Diferentemente das células esqueléticas, algumas células cardíacas, tais como as ventriculares,
apresentam potencial de ação prolongado, denominado de “em platô”, o que gera uma contração
três a quinze vezes mais prolongada. Nessas fibras, o Na+ entra rápido pelos canais “rápidos” de
Na+ para despolarizar a membrana das células musculares e, em seguida, o Ca++ entra mais
lentamente através dos canais “lentos” de Ca++, também denominados de canais de Ca++do tipo L.
O Ca++ que entra lentamente na célula auxilia o Na+ na manutenção de um período de
despolarização prolongado da membrana dessas células, mas também têm participação importante
na excitação do processo contrátil da musculatura cardíaca (figura 10).
Figura 10: Desenho esquemático das etapas do mecanismo acoplamento excitação contração no músculo
cardíaco. Fonte: https://www.ufjf.br/laura_leite/files/2019/05/Sistema-cardiovascular-2.pdf

Quando comparados aos túbulos “T” da musculatura esquelética, os da cardíaca são mais
rasos e amplos, tendo diâmetro cinco vezes maior e volume 25 vezes maior. Eles também estão
conectados as cisternas do RS, entretanto de forma menos intensa do que nas fibras musculares
esqueléticas. Além disso, o RS não é tão desenvolvido como do esquelético, nem armazena Ca++
suficiente para produzir uma contração forte, sendo, portanto, um músculo que contrai não apenas
utilizando o Ca++ do RS, mas também, o Ca++ oriundo do sarcoplasma, e que entra na célula
muscular através dos abundantes canais de Ca++do tipo L, presentes na membrana dessas células.
Por fim, os canais de Ca++-rianodina, presentes na membrana do RS são “Ca++-dependentes”, mas
não voltagem-dependentes como os da musculatura esquelética. Vale ressaltar que nos indivíduos
que apresentam um quadro de aumentada concentração de Ca++ no sangue (hipercalcemia), a
difusão aumentada de Ca++ para o interior dos cardiomiócitos pode aumentar significativamente a
frequência, mas principalmente, a força da contração cardíaca, arritmia que sobrecarregar o
coração e colaborar para um possível aumento da pressão arterial já que o bombeamento de
sangue pelo coração a cada minuto (denominado de débito cardíaco) pode estar aumentado (figura
10).

2.2.3 A musculatura lisa


O músculo liso é um tipo de músculo encontrado nas vísceras como as do trato
gastrointestinal, bronquíolos pulmonares e outros tecidos como vasos sanguíneos, útero, ureter,
bexiga; lhes conferido um certo movimento característico. Por ser um músculo involuntário, recebe
inervação autonômica simpática e parassimpática. Não há um sistema preciso de junções
neuromusculares (placa motora) sendo que os axônios dos nervos autônomos se dilatam por entre
as células musculares lisas, podendo estar próximas ou distante da musculatura. Quanto mais
inervado for a musculatura lisa, mais rápido e preciso é seu movimento. Por outro lado, a contração
da musculatura lisa é modulada por ampla variedade de estímulos, tais como, estímulos mecânicos,
térmicos, mas principalmente químicos (hormônios). Por exemplo, a musculatura lisa do trato
gastrointestinal que tem sua atividade modulada por hormônios do próprio trato como o peptídeo
inibidor gástrico (GIP), motilina e acetilcolina. Outros hormônios que podem influenciar na atividade
da musculatura lisa são: adrenalina, angiotensina II, vasopressina, endotelina, ocitocina e óxido
nítrico.
O músculo liso não se parece em nada com o modelo clássico de músculo estriado, sendo
a disposição física interna das células musculares lisas inteiramente diferente dos outros músculos.
A musculatura lisa é composta por células muito pequenas de 2 a 5 m de diâmetro e 20 a 500 m
de comprimento, sendo essas alongadas e fusiformes com extremidades finas. Os núcleos dessas
células musculares lisas são alongados e centralizados. As células apresentam quinze vezes mais
filamentos de actina do que de miosina, embora os filamentos de miosina apresentam maior
diâmetro do que os filamentos de actina. Os miofilamentos leves de actina são constituídos de actina
F e tropomiosina, a troponina não está presente na musculatura lisa, mas existe com função similar
a ela, a calmodulina. Os miofilamentos pesados de miosina também são diferentes dos filamentos
de miosina dos músculos estriados, pois na musculatura lisa os filamentos de miosina II que são
enrolados. Os miofilamentos de actina e miosina estão dispostos no citoplasma da célula de forma
paralela, descontinua e espiralada. Os filamentos de actina ficam presos aos corpos densos
(regiões amorfas e arredondas), proteína similar ao disco Z da musculatura esquelética, estando
eles fixados à membrana ou dispersos no interior da célula, além de estarem unidos através de
pontes proteicas intercelulares. Quando uma célula se contrai as outras também são estimuladas a
se contrair pois são puxadas por esses corpos denso. No sarcolema existem junções comunicantes
que podem ajudar na propagação de um potencial de ação de uma célula lisa para outra (figura 11).
Ao invés dos túbulos “T”, a musculatura lisa apresenta cavéolas, que são invaginações
superficiais da membrana, além de apresentarem RS também pequeno, com baixa capacidade de
armazenar Ca++. Portanto, ao contrário dos músculos estriados o RS não está envolvido no
sequestro de Ca++ e na sua liberação para contração muscular, não formando assim um modelo de
RS clássico presente nos músculos estriados. O Ca++ necessário para a contração muscular vem
do sarcolema que apresenta certas depressões, chamadas cavéolas que são reservatórios desse
íon na musculatura lisa (figura 11).
Existem dois tipos de músculo liso, multiunitário e unitário. O multiunitário é composto por
fibras musculares individuais, inervadas e controladas principalmente por estímulos neurais
autonômicos, podendo contrair independemente umas das outras e que raramente apresentam
contrações espontâneas. Esse tipo de músculo forma a musculatura ciliar do olho, a íris do olho e
a musculatura piloeretora. O tipo unitário é composto por uma massa sincicial de centenas a
milhares de fibras agregadas em camadas, onde suas membranas estão acopladas por junções
abertas, de modo que os potenciais de ação possam facilmente se propagar de uma fibra para a
seguinte, permitindo que elas contraiam ao mesmo tempo, como uma só unidade. Em geral, essas
células compõem as vísceras do trato gastrointestinal, as vias biliares, ureteres, útero e vasos
sanguíneos, sendo por isso, muitas vezes denominados de músculo liso visceral.

2.2.3.1 Etapas do acoplamento excitação-contração da musculatura lisa (figura 11).

Embora os filamentos de proteínas contráteis se interdigitam e deslizam uns sobre os outros,


como nos outros músculos, o mecanismo acoplamento excitação contração da musculatura lisa é
diferente:
1. As células musculares lisas, ao receberem um estímulo, geralmente a ação de
neurotransmissores do sistema nervoso autônomo ou hormônios, permitem a entrada de Ca++ das
cavéolas para o sarcoplasma;
2. O Ca++ se liga à calmodulina, proteína no citossol, formando o complexo Ca++-calmodulina;
3. O complexo Ca++-calmodulina ativa então a enzima miosina quinase, presente próxima à
cabeça da miosina (cadeia leve de miosina II), a qual promove fosforilação da cabeça de miosina
através da fixação de um fosfato de elevada energia (Pi) à cabeça de miosina;
4. A fosforilação (energização) da cabeça de miosina a faz estirar sobre o filamento de actina
para formar as pontes cruzadas, quando a cabeça da miosina liga-se à actina, formando o complexo
actina-miosina;
5. O ATP é hidrolisado pela ATPase da miosina II com liberação da energia para mover a
cabeça da miosina, fazendo a actina deslizar sobre a miosina;
6. Quando a concentração de Ca++ fica novamente reduzida no sarcoplasma do músculo tanto
pelo fechamento dos canais de Ca++ na membrana do músculo (sarcolema) como pelo
bombeamento do Ca++ (bombas de Ca++) de volta ao interstício, o complexo Ca++-calmodulina se
desfaz, resultando em inativação da enzima miosina quinase;
7. Com a inativação da enzima miosina quinase, a enzima miosina fosfatase promove a
desfosforilação da cabeça da miosina (cadeia leve de miosina II), redução da afinidade e
desligamento da cabeça de miosina, desfazendo a ponte cruzada;
Como os miofilamentos de actina e de miosina II estão ligados a uma rede de estruturas
chamadas corpos densos, que são regiões amorfas e arredondas espalhadas pelo citoplasma da
célula muscular. Quando uma célula se contrai as outras também são estimuladas a se contrair pois
são puxadas por esses corpos denso. Como a interação entre as moléculas de actina e miosina
demoram mais tempo para se desfazer, devido aos ciclos das pontes cruzadas muito lentos, as
contrações são lentas e prolongadas, podendo provocar contrações que demoram horas ou dias.
Alguns Vários hormônios podem atuar sobre o músculo liso, podendo ter efeito na
concentração citoplasmática de AMPcíclico que leva à ativação de enzimas cinases independente
da entrada de Ca++ na célula, as quais podem também fosforilar a cadeia leve de miosina II, ativando
a contração do músculo liso. Vale ressaltar que nos indivíduos que apresentam um quadro de
aumentada concentração de Ca++ no sangue (hipercalcemia), a difusão aumentada de Ca++ para o
interior das células de musculatura lisa dos vasos sanguíneos pode aumentar significativamente a
contração desse músculo, podendo gerar vasoconstrição sistêmica (periférica) e
consequentemente aumentar a pressão arterial.

Figura 11: Desenho esquemático do acoplamento excitação contração no músculo liso.


Fonte: https://files.passeidireto.com/f096f9ee-0c13-4d41-b3c5-1586b535ae29/bg3.png

2.3. Sistema nervoso autônomo (SNA)

Enquanto os nervos motores somáticos oriundos da coluna anterior da medula espinhal são
fundamentais no controle dos músculos esqueléticos, o controle motor da musculatura cardíaca, da
musculatura lisa de inúmeras vísceras e de glândulas secretoras diversas espalhadas pelo corpo é
feito por um sistema motor visceral denominado sistema nervoso autônomo, o qual tem este nome
em razão de sua independência do controle voluntário cortical. Este conjunto de neurônios
periféricos controlam uma série de funções autonômicas (ações involuntárias), que vão desde a
frequência dos batimentos cardíacos, a pressão arterial, a sudorese, a piloereção, a motilidade,
secreção e a absorção gastrointestinal, a árvore brônquica, as vias urinárias, a motilidade uterina,
etc.
Ainda que seus neurônios sejam considerando periféricos, uma série de estruturas e núcleos
centrais participam ativamente do controle do SNA, com destaque para o hipotálamo, sistema
límbico, amígdala, córtex insular e vários núcleos do tronco encefálico, com destaque para núcleos
autonômicos bulbares e formação reticular no tronco encefálico. Além destes controladores
centrais, uma série de sinais aferentes viscerais que se projetam para os núcleos de controle
autonômico centrais mediam repontas reflexas autonômicas, que são fundamentais na manutenção
constância do meio ambiente interno. Desta forma, o SNA desempenha um papel central na
homeostasia corporal, sendo de fundamental importância para o adequado funcionamento de
inúmeras funções corporais. Os neurônios autonômicos estão agrupados em duas grandes divisões
periféricas: o sistema nervoso simpático e parassimpático (figura 12 e figura 13). Ambos possuem
características anatômicas e fisiológicas distintas e na grande maioria das vezes inervam
simultaneamente uma série de órgãos- alvo, onde em geral possuem efeitos antagônicos.

Figura 12: visão geral das duas divisões do sistema nervoso autônomo: simpático e parassimpático. Note que
vários órgãos-alvo são inervados pelos dois sistemas ao mesmo tempo.
Fonte: Kandel, 2014.

2.3.1 O sistema nervoso simpático


O sistema nervoso simpático inerva difusamente praticamente todos os órgãos do corpo.
Suas terminações nervosas atingem os órgãos caminhando na adventícia dos vasos sanguíneos
em todo o corpo, tendo assim uma presença difusa nas estruturas corporais. Ele tem sua origem
em neurônios centrais localizados na coluna intermédio-lateral da medula espinhal torácica e lombar
(em geral até o segmento L2 e L3), de onde surgem as fibras simpáticas pré-ganglionares
Figura 13: As duas divisões do sistema nervoso autônomo: simpático e parassimpático. Note que origem,
neurônios pré- e pós-ganglionares, gânglio simpático e parassimpático e neurotransmissores secretados
dentro dos gânglios e tecido-alvo. Fonte:
http://www.uel.br/laboratorios/lefa/aulasfisiogeral/SISTEMANERVOSOPARTE7sistemaautonomo.pdf

Estas fibras mielinizadas se projetam para a periferia via nervos espinhais ventrais que
deixam a medula espinhal em cada segmento da medula. Após emergirem nos forames vertebrais,
ramos comunicantes brancos (contendo as fibras simpáticas pré-ganglionares mielinizadas) saem
dos nervos espinhais ventrais e vão em direção aos gânglios simpáticos para- e pré-vertebrais, os
quais são estruturais neurais localizados em uma cadeia de gânglios simpáticos (chamada de tronco
simpático), próximos e em paralelo à coluna vertebral, os quais se estendem do pescoço (gânglio
cervical superior) até aos gânglios lombares inferiores, bilateralmente (figura 13). No abdômen,
alguns gânglios não são bilaterais para-vertebrais, mas sim únicos e pré-vertebrais, surgindo nas
proximidades de emergência de grandes artérias abdominais, as quais dão nomes a estes gânglios,
como por exemplo o gânglio céliaco (ou solar), o gânglio mesentérico superior, o gânglio aórtico-
renal e o gânglio mesentérico inferior. Sejam nos gânglios para-vertebrais bilaterais ou nos gânglios
pré-vertebrais abdominais, as fibras pré-ganglionares colinégicas (secretoras de acetilcolina) são
curtas já que os gânglios estão localizados na vizinhança da coluna vertebral e fazem sinapse com
fibras pós-ganglionares, em geral noradrenérgicas (secretoras de noradrenalina) e amielínicas,
localizadas no interior dos gânglios simpáticos (figura 13). A sinapse entre as fibras pré- e pós-
ganglionares é uma sinapse colinérgica, onde a acetilcolina liberada interage com receptores
nicotínicos ganglionares presentes na membrana pós-sináptica da fibra pós-ganglionar. Estas fibras
deixam então os gânglios simpáticos em direção aos nervos espinhais ventrais, como ramos
comunicantes cinzento, e daí junto com os nervos espinhais se espalham por todas as estruturas
corporais. Estas fibras, em sua grande maioria noradrenérgicas e com axônios pós-ganglionares
muito longos atingem a intimidade das vísceras e ali desenvolvem em suas terminações livres
varicosidades sinápticas as quais se aproximas das células-alvo. Dentro das varicosidades
sinápticas existem um conjunto de vesículas secretoras ricas em noradrenalina (o principal
neurotransmissor do simpático, junto com uma proporção menor de adrenalina e dopamina, além
de ATP e neuropeptídeo Y, um neuromodulador simpático) (ver tabela 2).
A chegada de um potencial de ação na varicosidade sináptica desencadeia a exocitose das
vesículas noradrenérgicas para a fenda sináptica, onde então a noradrenalina se difundirá em
direção aos receptores localizados na membrana pós-sináptica da células-alvo. Os receptores ali
localizados podem ser do tipo alfa1, alfa2, beta1, beta2 ou beta3-adrenérgico, dependendo do órgão
alvo. Por exemplo, no coração a noradrenalina, liberada durante a estimulação simpática, atua em
receptores beta1-adrenérgicos localizados na membrana do cardiomiócito, desencadeando uma
série de processos químicos intracelulares com aumento do AMPc e ativação da proteína quinase
A, que resulta em aumento da frequência cardíaca (exercido diretamente pelo AMPc) e da força
contrátil (exercida pela proteína quinase A). Os efeitos nos diferentes órgãos-alvo vão depender do
receptor noradrenérgico presente, bem como das vias de sinalização intracelulares acionadas na
resposta à estimulação (ver tabela 3 e 4).

Tabela 2: Semelhanças e diferenças entre as fibras simpáticas e parassimpáticas.

Fonte:
http://www.uel.br/laboratorios/lefa/aulasfisiogeral/SISTEMANERVOSOPARTE7sistemaautonomo.p
df)

Em geral, mas nem sempre, as respostas simpáticas são de natureza geral e difusa atuando
ao mesmo tempo sobre vários órgãos-alvo. O intuito desta resposta simpática geral relaciona-se ao
suporte que o sistema nervos simpático dá ao corpo em situações de estresse agudo nas reações
de alerta e de luta e fuga. O objetivo da ativação simpática conjunta em vários órgãos é promover
um maior aporte energético aos músculos esqueléticos, coração e cérebro, os quais precisam
trabalhar adequadamente no estado de alerta e nas reações à luta e /ou fuga. Em uma tal situação,
o simpático leva a taquicardia, aumento da força contrátil cardíaca (com maior débito cardíaco),
aumento da pressão arterial, em decorrência da vasoconstricção periférica, broncodilatação para
melhorar as trocas gasosas, midríase, vasoconstrição sistêmica (periférica) sobretudo em áreas
não vitais como pele (exceto na pele glabra), couro cabeludo e vísceras do trato gastrointestinal,
resposta que associada à taquicardia aumenta a pressão arterial e desloca o sangue dessas áreas
não vitais para as áreas vitais. Daí porque em situação de emergência, envolvendo desde medo,
dor ou reações à luta e /ou fuga, o indivíduo geralmente pode apresentar palidez da pele.
Concomitante a essa vasoconstrição sistêmica, a noradrenalina promove vasodilatação regional,
em áreas vitais como musculatura esquelética, cardíaca e encéfalo, respostas que melhoram a
perfusão desses tecidos nessas situações. Além dessas respostas, a noradrenalina promove
inibição da atividade motora e secretora gastrointestinal e geniturinária, etc. (ver tabela 4).
Figura 14: Regulação do sistema nervoso autônomo pelo encéfalo.
Fonte: http://www.uel.br/laboratorios/lefa/aulasfisiogeral/SISTEMANERVOSOPARTE7sistemaautonomo.pdf.

As respostas simpáticas são moduladas centralmente por núcleos neuronais localizados no


tronco encefálico, com destaque para a região ventral rostral lateral bulbar, o hipotálamo, a amígdala
(componentes do sistema límbico), córtex insular (figura 14); os quais podem se projetar direta ou
indiretamente via núcleos bulbares para os neurônios pré-ganglionares da coluna intermédio-lateral
toracolombar. Fibras sensoriais periféricas que se projetam para o sistema nervoso central podem
atuar direta ou indiretamente sobre os vários núcleos autonômicos centrais e mediar assim uma
série de reflexos autonômicos simpáticos importantes. Essa ligação íntima entre essas áreas
cerebrais superiores, geralmente envolvidas no controle emocional e do padrão comportamental,
podem afetar a atividade das vísceras de forma a causar inúmeras doenças. Daí porque quando
sob alterações emocionais, o indivíduo pode apresentar doenças psicossomáticas que afetam
significativamente a atividade das vísceras e que ocasionam doenças como gastrite nervosa,
síndrome do cólon irritado, síndrome do pânico, etc (figura 14).

Tabela 3: Neurotransmissores do sistema nervoso autônomo e seus principais receptores.


Fonte: Kandel et al., 2014.

2.3.2 O sistema nervoso parassimpático ou subdivisão crâneo-sacral


O sistema nervoso parassimpático cranianos tem seus neurônios pré-ganglionares longos
mielinizados e colinérgicos (secretam acetilcolina dentro do gânglio parassimpático) surgindo em
diversos núcleos do tronco encefálico dentro do crânio emergindo do crânio nos nervos cranianos
oculomotor (para controlar o movimento da pupila e da íris e do cristalino), facial (o qual controla
principalmente a secreção salivar nas glândulas submandibular e sublingual), o glossofaríngeo
(controle da secreção salivar na glândula parótida) e o nervo vago (controle parassimpático do
coração, pulmões, esôfago e várias vísceras abdominais incluindo estômago, intestino delgado,
intestino grosso até colón transverso, fígado, pâncreas, rins, etc.). Além desta origem craniana,
existem as fibras parassimpáticas sacrais, que apresentam neurônios pré--ganglionares
mielinizadas longas e colinérgicos (secretam acetilcolina dentro do gânglio parassimpático), que
saem da coluna intermédio-lateral da medula espinhal sacral (principalmente S1, S2 e S3). De lá,
elas partem junto aos nervos espinhais ventrais sacrais para gânglios vizinhos às vísceras-alvo
localizados nos plexos nervosos pelvinos. Nestes gânglios, sinapse colinérgica mediada por
receptor nicotínico ganglionar é acionada, levando à ativação de neurônios pós-ganglionares
amielínicos curtos colinérgicos (secretam acetilcolina nas vísceras) que vão em direção aos órgãos-
alvo localizados principalmente na porção inferior do abdômen e pelve, incluindo o cólon
descendente e demais componentes finais do intestino grosso, o sistema pielocalicial renal, os
ureteres, a bexiga urinária, uretra, órgãos reprodutores, vasos penianos, etc. Esses gânglios
parassimpáticos são pequenos e ficam localizados próximos das vísceras inervadas por essas
fibras (ver tabela 2).
A ativação parassimpática em geral é mais circunscrita a um determinado órgão alvo e,
portanto, menos generalizada. Os objetivos finais da ativação parassimpática em geral estão
relacionados com o repouso corporal e um estímulo à digestão e absorção intestinal com o intuito
de armazenar energia no corpo. Ou então, eles estão voltados para a reprodução, visto a
importância do parassimpático sacral na ereção peniana, essencial para a cópula e a reprodução.
As fibras pós-ganglionares do parassimpático, originárias nos gânglios vizinhos ou intramurais
dentro da parede das vísceras-alvo, são em geral colinégicas, com as respostas sendo mediadas
por uma miríade de receptores colinérgicos muscarínicos distintos, a depender do órgão-alvo
(Tabela 2). Mas podem ser também nitrégicas (óxido nítrico como neurotransmissor) nas artérias
penianas, VIPérgicas (VIP como neurotransmissor) na cárdia, piloro, etc. (ver tabela 3 e 4).
Fibras sensoriais de diferentes vísceras via o SNC podem integrar reflexos parassimpáticos
muito importantes, como os reflexos da salivação, os reflexos barorreceptores, os reflexos da
defecação, da micção etc. Nos intestinos, algumas destas fibras sensoriais podem integrar reflexos
curtos diretamente com neurônios pós-ganglionares parassimpáticos do plexo miontérico e
submucoso, formando pequenas alças reflexas intramurais locais independentes de influência do
sistema nervoso central.

Tabela 4: Ações do sistema nervoso simpático e do parassimpático em seres humanos.

Fonte:
http://www.uel.br/laboratorios/lefa/aulasfisiogeral/SISTEMANERVOSOPARTE7sistemaautonomo.p
df)

2.4 Conclusão
No presente capítulo estudamos processo fisiológicos gerais incluindo a excitação elétrica
das células e a geração do potencial de ação, a contração muscular em músculos esqueléticos,
cardíacos e lisos e o papel do sistema nervoso autônomo no controle das funções internas de
vísceras e órgãos do corpo humano. Este conhecimento de processos fisiológicos gerais será muito
importante e bastante utilizado ao aprofundarmos nossos conhecimentos sobre os diversos
sistemas fisiológicos a serem estudados nos próximos capítulos.

Referências
KANDEL, E. et al. Princípios de Neurociências. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
GUYTON & HALL. Tratado de fisiología médica. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan,
2021.
AIRES, MM et al. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2018.

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