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Sistema Nervoso – II Parte

Prof. Miguel Trigo

01 – Propagação do Impulso Nervoso


Organização Funcional do Tecido Nervoso
 Para comunicar e integrar informações, dependemos de sinais elétricos produzidos pelas células -
chamados potenciais de ação
 Por exemplo, estímulos – como luz, som, e pressão – agem em células sensoriais especializadas
no olho, orelha, ou pele, para produzir potenciais de ação, que são conduzidos dessas células para
a medula espinal e encéfalo
 A contração de músculos e a secreção de algumas glândulas, por exemplo, ocorrem em resposta à
geração de potenciais de ação

A capacidade de responder a estímulos depende dos potenciais de ação.

 Conhecimento básico das propriedades elétricas das células é necessário para o entendimento de
muitas funções normais e doenças do organismo.

 As propriedades elétricas das células ocorrem devido a:

a) Diferença de concentração iónica da membrana


plasmática
 A concentração de iões Na+ e Cl- é muito
maior fora da célula do que dentro
 A concentração de K+ e moléculas
carregadas negativamente, como as
proteínas, é muito maior dentro da célula do
que fora

b) Características de permeabilidade da membrana plasmática


 Bomba sódio – potássio (3 Na+ são transportado para fora da célula e 2 K+ são
transportados para dentro da célula por cada molécula de ATP)
 Membrana plasmática é seletivamente permeável
 O tamanho e a solubilidade determinam a difusão das partículas através da
membrana
 Necessidade de canais iónicos para passagem de determinadas substâncias

Diferenças na concentração intracelular e extracelular dos iões resultam principalmente da bomba


sódio-potássio e das características de permeabilidade da membrana plasmática.

À diferença de carga elétrica através da membrana denomina-se diferença de potencial

Numa célula não estimulada, ou em repouso, a diferença de potencial é chamada de potencial de


repouso da membrana
Potencial de Repouso
 Os canais iónicos de vazamento (ou passivos), estão sempre abertos e são responsáveis pela
permeabilidade da membrana plasmática aos iões, quando a membrana plasmática está em
repouso, ou sem estímulos. Anatomofisiologia I Sistema Nervoso Potencial de repouso

 Numa célula em repouso, há uma maior concentração de K+ na parte interna da membrana celular,
e uma concentração maior de Na+ na parte externa da membrana.
 Como a membrana não é permeável a proteínas negativamente carregadas, elas ficam isoladas no
lado interno da membrana
 Existem mais canais iónicos de vazamento de K+ do que canais iónicos de vazamento de Na+ • Na
membrana em repouso, apenas os canais de vazamento estão abertos; os canais com portão (não
mostrado) estão fechados.

 Por causa das diferenças de concentração iónicas na membrana, o K+ difunde-se para fora da
célula, em direção ao seu gradiente de concentração, e o Na+ se difunde para dentro da célula, em
direção ao seu gradiente de concentração.
 O interior da célula é mais negativo do que o exterior da célula.

Portanto, diz-se que a membrana plasmática é polarizada por causa das cargas opostas, ou pólos,
através da membrana.

 Bomba Na+ e K+ (Transporte Ativo)


o A bomba de sódio-potássio ajuda a manter a diferença nos níveis de Na + e K +,
bombeando 3 Na + para fora da célula em troca de 2 K + para dentro da célula
o A bomba é acionada pela hidrólise de ATP
o A bomba também e responsável por uma pequena porção do potencial de repouso da
membrana, normalmente menos de 15 mV
o A bomba também e responsável por uma pequena porção do potencial de repouso da
membrana, normalmente menos de 15 mV.
Diferença de potencial de aproximadamente 70
mV, com o interior da membrana plasmática
negativo em relação ao exterior da membrana

Potencial de Repouso – Sistematização


 A concentração de K+ é mais elevada dentro da célula do que fora, e a concentração de Na+ é
mais elevada fora do que dentro da célula.
 Devido aos canais de vazamento de K+, a membrana plasmática é de 50-100 vezes mais
permeável ao K+ do que a outros iões carregados positivamente, como o Na+
 A membrana plasmática é impermeável a moléculas grandes, intracelulares, carregadas
negativamente, como proteínas. Em outras palavras, esses aniões estão "presos" dentro da célula.
 Iões de potássio tendem a difundir-se através da membrana plasmática, de dentro para fora da
célula
 Já que moléculas carregadas negativamente não podem seguir o K+ carregado positivamente, uma
pequena carga negativa desenvolve-se dentro da membrana plasmática.
 A carga negativa dentro da célula atrai o K+ carregado positivamente. Quando a carga negativa
dentro da célula é grande o suficiente para prevenir que K+ adicional se difunda para fora da célula
através da membrana plasmática, é estabelecido um equilíbrio
 A diferença de carga através da membrana plasmática em equilíbrio é refletida como diferença de
potencial, que é medida em milivolts (mV): -70mV
 O potencial de repouso da membrana é proporcional ao potencial do K+ se difundir para fora da
célula, mas não à taxa real do fluxo do K+
 Em equilíbrio, pouco iões K+, ou outros iões, atravessam a membrana plasmática

O ião que tem mais influência no potencial de repouso da membrana é o K+ , outros iões, como Na +,
Cl - e Ca2+ exercem menor influência

Modificação do Potencial de Membrana – Potencial graduado (potenciais locais)


 É uma mudança no potencial de membrana localizado numa área da membrana
 Distúrbios locais no potencial de membrana permitem a mudança de potencial e podem resultar de:
(1) sinais químicos ligando a seus recetores
(2) mudanças na voltagem através da membrana
(3) estimulação mecânica
(4) mudanças na temperatura
(5) abertura espontânea de canais iónicos
 A magnitude dos potenciais graduados pode variar de pequena a grande, dependendo da força do
estímulo ou da somação
 Um potencial graduado pode ser tanto uma despolarização (acima de - 55mV) quanto uma
hiperpolarização
 O potencial de repouso da membrana pode tornar-se mais positivo, ou
mais negativo.
 Despolarização ocorre quando o potencial de membrana se torna mais
positivo e é o movimento do potencial de membrana para perto do zero
(Fig. a)

Potenciais graduados proporcionais à força do estímulo. Um estímulo fraco


aplicado brevemente causa pequena despolarização, o que rapidamente
retorna para o potencial de repouso da membrana (1). Estímulos
progressivamente mais fortes resultam em maior despolarização (2-4)

Um estímulo aplicado à célula causa pequena despolarização. Quando um


segundo estímulo é aplicado antes de a despolarização desaparecer, a
despolarização causada pelo segundo estímulo é somada à despolarização
causada pelo primeiro, resultando numa maior despolarização

Potenciais Graduados – Sistematização


 Um estímulo causa a abertura de canais iónicos, aumentando a permeabilidade da membrana para
Na+, K+, ou CI-
 O aumento da permeabilidade da membrana para o Na+ resulta em despolarização. O aumento da
permeabilidade da membrana ao K+ ou CI- resulta em hiperpolarização
 A magnitude do potencial graduado é proporcional à força do estímulo. Potenciais graduados
podem somar-se
 Potenciais graduados são conduzidos de forma decremental, ou seja, a sua magnitude diminui
assim que ele se espalha pela membrana plasmática.
 Um potencial graduado despolarizado pode causar um potencial de ação

Potenciais graduados são importantes porque podem somar-se para gerar potenciais de ação

Potencial de Ação
 Produção de um potencial de ação

 Potencial graduado provoca despolarização da membrana


que atinge um limiar (- 55mV), gerando um potencial de ação
 Potencial de ação consiste numa grande modificação do potencial de membrana celular, que se
propaga por uma longa distância ao longo da membrana celular, sem alteração da sua amplitude
 Demora 1 a 2 milissegundos
 Potenciais graduados despolarizadores podem gerar potenciais de ação, ao contrário dos
hiperpolarizadores
 Quanto maior a amplitude, maior a probabilidade de produzir um potencial de ação.

 Princípio do Tudo ou Nada


o Um estímulo produz um potencial de despolarização suficientemente intenso para atingir o
limiar, todas as alterações da permeabilidade responsáveis por um potencial de ação
prosseguirão, sem parar e terão uma amplitude constante
o Um estímulo fraco produz pequenas alterações, e regressa ao seu nível de repouso, sem
produzir potencial
Potencial Refratário
 Após um potencial de ação, a sensibilidade dessa área da
membrana a uma estimulação posterior diminui durante um
período de tempo.
 Períodos refratários relativo e absoluto de um potencial de ação
 Em algumas células, o período refratário absoluto termina
durante a fase de repolarização do potencial de ação
 Período refratário absoluto: inicia-se com o desencadear do
potencial de ação e termina perto do final da repolarização
 Há uma insensibilidade da membrana a outros estímulos; garante que um estímulo forte não possa
conduzir uma despolarização prolongada da membrana e que não se inicie outro potencial de ação
enquanto as fases de despolarização ou repolarização estejam completas, ou quase completas

Permite que a condução do impulso nervoso seja unidirecional.

 Período refratário relativo: inicia-se após o período refratário absoluto


 Um estímulo acima do limiar pode iniciar outro potencial de ação; a membrana está mais
permeável ao K+, pois mantém a abertura dos canais com portão de voltagem; quando estes
encerram, o período refratário termina
 No neurónio, os potenciais de ação são normalmente produzidos na zona de disparo e propagam-
se numa direção ao longo do axónio
 A velocidade da condução do potencial de ação ao longo do axónio depende da mielinização do
axónio
 Potenciais de ação são conduzidos mais rapidamente em axónios mielinizados do que em não
mielinizados porque são formados rapidamente em cada sucessivo nódulo de Ranvier, em vez de
serem propagados mais lentamente, em cada parte da membrana do axónio, como em axónios
não mielinizados

A condução do potencial de ação num axónio mielinizado é como um salto de gafanhoto e num axónio
não mielinizado é como um passo de gafanhoto. O gafanhoto (potencial de ação) aos saltos, move-se
mais rapidamente.

Potencial de Ação – Sistematização


 Potenciais de ação são produzidos quando potenciais graduados atingem o limiar (- 55mV)
 Potenciais de ação funcionam como “tudo ou nada”
 Despolarização é o resultado do aumento da permeabilidade da membrana ao Na+ e movimento
de Na+ para dentro da célula. Portões de ativação dos canais de Na+ dependentes de voltagem
abrem para a sua entrada
 Repolarização é o resultado da diminuição da permeabilidade da membrana ao Na+ e aumento da
permeabilidade da membrana ao K+, o que cessa o movimento de Na+ para dentro da célula e
aumenta o movimento de K+ para fora da célula. Os portões de inativação dos canais de Na+
dependentes de voltagem fecham-se, e os canais de K+ dependentes de voltagem abrem-se
 Durante o período refratário absoluto, nenhum potencial de ação é produzido por um estímulo, não
importa o quão forte possa ser
 Durante o período refratário relativo, um estímulo supralimiar (mais forte que o limiar) pode produzir
um potencial de ação
 Potenciais de ação são propagados e, para um determinado axónio ou fibra muscular, a magnitude
do potencial de ação é constante
 A força do estímulo determina a frequência dos potenciais de ação

Velocidade de Condução do Potencial de Ação


 A velocidade de condução do potencial de ação depende:
o do grau de mielinização: são conduzidos mais rapidamente nos axónios mielinizados do que
nos não mielinizados
o do diâmetro do axónio: quanto maior for o diâmetro, menor a resistência à propagação de
ação, maior a velocidade de propagação; porque axónios de grande diâmetro possuem uma
maior área de superfície
Potencial de Ação em Axónio Mielinizado

Potencial de Ação de um Axónio Não Mielinizado

1. O potencial de ação propaga-se


em direção ao longo do axónio.

2. Um potencial de ação (em cor de


laranja da membrana) gera corrente
local (setas a preto) que tendem a
despolarizar a membrana
imediatamente adjacente ao
potencial de ação

3. Quando a despolarização
causada pela corrente local atinge o
limiar, um novo potencial de ação é
produzido adjacente ao local onde o
potencial de ação ocorreu.

4. A propagação do potencial de
ação ocorre numa direção porque o
período refratário absoluto do
potencial de ação anterior previne
que se gere um novo potencial de
ação na direção inversa.
Sinapses e Transmissão Sináptica
 Junção entre duas células, onde os potenciais de ação de uma podem causar a produção de
potenciais de ação na outra
 Sinapses são regiões especializadas de contato entre um neurónio e outro neurónio, ou célula
muscular ou glandular
 Células pré sinápticas: transportam os potenciais de ação para a sinapse
 Células pós sinápticas: transportam os potenciais de ação para longe da sinapse
 Sinapses são regiões especializadas de contato entre um neurónio e outro neurónio, ou célula
muscular ou glandular
 Podem ser elétricas (junções celulares, músculo cardíaco, retina, músculo liso) ou químicas (mais
comuns)
 Sinapse Elétrica
o São junções comunicantes (gap junctions) que
permitem o fluxo da corrente local entre as células
adjacentes
o Nestas junções, as membranas de células adjacentes
estão separadas por um hiato de 2 nm cruzado por
proteínas tubulares: conexónios ou conexons
o O movimento dos iões através dos conexónios pode
gerar uma corrente local que gera um potencial de
ação na célula adjacente, quase como se as duas
células tivessem a mesma membrana
o Não são comuns no sistema nervoso de vertebrados,
mas algumas existem em seres humanos, sendo
exemplo as células musculares cardíacas adjacentes
o Sinapses elétricas também são muito importantes em
diversos tipos de musculo liso
o Vantagens: comunicação mais rápida, sincronização e
transmissão bidirecional

 Sinapse Química
o Os componentes essenciais de uma sinapse química são
o terminal pré-sináptico, a fenda sináptica e a membrana
póssináptica.
 terminal pré-sináptico: final de um axónio
 fenda sináptica: espaço que separa o final do
axónio e a célula em que ele faz sinapse
 membrana pós-sinápica: membrana da célula
póssináptica oposta ao terminal pré-sináptico
 Em geral, as células pós-sinápticas são outros
neurónios, células musculares, ou células
glandulares

 Recetores Sinápticos
1. Canais iónicos ativados por ligante: canais iónicos proteicos transmembranares que se
abrem diretamente em resposta a ligação do ligante
2. Recetores Metabotrópicos: não são canais iónicos; a ligação do neurotransmissor ativa
uma via de sinalização, que pode indiretamente abrir ou fechar canais (ou outro efeito);
associados a proteínas G

Neurotransmissores e Neuromodeladores
 Neurónios são capazes de segregar mais que um tipo de neurotransmissor;
 Neuromoduladores: substâncias libertadas pelos neurónios que podem, ao nível pré ou pós
sináptico, influenciar a probabilidade de um potencial de ação no terminal pré sináptico resultar na
produção de um potencial de ação na célula pós sináptica

 Fármacos podem modular a ação de neurotransmissores


na sinapse. Por exemplo, cocaína e anfetaminas
aumentam a libertação e recaptação de noradrenalina, resultando na superestimulação dos
neurónios pós-sinápticos e efeitos deletérios no corpo
 O seu efeito é dependente do tipo de recetor da célula pós-sináptica a que se fixam
Neurotransmissores e neuromoduladores
 Tipos de neurotransmissores:
1. Acetilcolina (ACh)
2. Aminoácidos (Glutamato, GABA)
3. Monoaminas (Serotonina, Histamina)
4. Polipéptidos (Ópioides, substância P)
5. Outros (Óxido Nitrico , Peróxido de Hidrogénio, ATP)
 Sinapse Química
o Libertação de Neurotransmissores
 Nas sinapses químicas, os potenciais de ação não passam diretamente de um
terminal pré-sináptico para a membrana pós-sináptica
 Os potenciais de ação no terminal pré-sináptico causam a libertação de
neurotransmissores no seu terminal
 Os terminais pré-sináptico são especializados em sintetizar e libertar
neurotransmissores
 As organelas citoplasmáticas mais importantes dentro do terminal pré-sináptico são
a mitocôndria e as numerosas vesículas sinápticas ligadas a membrana, que contêm
neurotransmissores, como a acetilcolina

1. Potenciais de ação que chegam ao


terminal pré-sináptico causam abertura de
canais de Ca2+ dependentes de voltagem
2. O Ca2+ difunde-se para dentro da célula
e causa libertação de moléculas
neurotransmissoras das vesículas
sinápticas
3. Moléculas neurotransmissoras difundem-
se do terminal présináptico pela fenda
sináptica
4. Moléculas neurotransmissoras encaixam
no seu recetor e causam abertura dos
canais de Ca2+ dependentes de ligante.
O Na+ difunde-se para dentro da célula
ou para fora da célula e causam uma
mudança no potencial de membrana
o Remoção de Neurotransmissores
 Quando a concentração do neurotransmissor na fenda sináptica é alta, muitas das
moléculas recetoras têm moléculas neurotransmissoras ligadas a elas
 Quando a concentração de neurotransmissor é reduzida, as moléculas de
neurotransmissores difundem-se para longe das moléculas recetoras
 Os neurotransmissores têm efeito de curta duração na membrana pós-sináptica porque o
neurotransmissor é rapidamente destruído ou removido da fenda sináptica

a) Em algumas sinapses,
neurotransmissores são destruídos por
enzimas e reciclados para dentro do
terminal pré-sináptico.

b) Em outras sinapses, os
neurotransmissores são completamente
captados para o terminal pré-sináptico

Exemplos Clínicos da Função Sináptica


Potenciais Excitatórios e Inibitórios
 A combinação de neurotransmissores com os seus recetores específicos causa tanto
despolarização quanto hiperpolarização da membrana pós-sináptica´
 Quando a despolarização ocorre, a resposta é estimulatória, e o potencial graduado é chamado de
potencial excitatório pós-sináptico (PEPS)
 Neurónios que libertam substâncias neurotransmissores que causam PEPS são neurónios
excitatórios
 Anestésicos locais, como a procaína (novocaína), atuam no local de aplicação para prevenir
sensações de dor. Essa ação deve-se ao bloqueio os canais de Na+ dependentes de voltagem,
que previne potenciais de ação para se propagar ao longo dos neurónios sensoriais
 Os neurotransmissores não são libertados dos terminais pré-sinápticos dos neurónios sensoriais
 PEPS não são produzidos nos neurónios do SNC
 Quando a combinação de neurotransmissores com os seus recetores resulta em hiperpolarização
da membrana pós-sináptica, a resposta e inibitória, e a hiperpolarização local é chamada de
potencial inibitório pós-sináptico (PIPS)
 Neurónios que libertam substâncias neurotransmissoras que causam PIPS, são chamados de
neurónios inibitórios
 O PIPS resulta num aumento na permeabilidade da membrana plasmática ao Cl- ou K+

Somatório Espacial e Temporal


 Potenciais de ação pré-sinápticos produzem potenciais graduados em neurónios póssinápticos por
meio dos neurotransmissores
 O potencial graduado pode somar-se para produzir um potencial de ação na zona de disparo

Dois tipos de somatório são possíveis:

 Somatório espacial: quando múltiplos potenciais de ação chegam


simultaneamente a dois terminais pré-sinápticos diferentes que fazem
sinapse com o mesmo neurónio pós-sináptico
 Somatório temporal: quando dois ou mais potenciais de ação chegam
em sucessão a um único terminal pré-sináptico

 Somatório espacial: potenciais de ação 1 e 2 causam a produção de potenciais graduados em duas


dendrites diferentes
 Estes potenciais graduados somam-se na zona de disparo para produzir um potencial graduado
que excede o limiar, resultando num potencial de ação
 Somatório temporal: dois potenciais de ação em sucessão na membrana pós-sináptica
o O primeiro potencial de ação causa a produção de um potencial graduado, que não atinge o limiar na
zona de disparo
o O segundo potencial de ação resulta na produção de um segundo potencial graduado que se soma
com o primeiro para atingir o limiar, resultando na produção de um potencial de ação

Para produzir a perceção de uma sensação, os potenciais de ação devem ser transmitidos através das
sinapses, enquanto viajam pelo SNC até ao córtex cerebral, onde a informação é interpretada
Estímulos que não resultam em transmissão de potencial de ação através das sinapses não são
percebidos porque a informação nunca atinge o córtex cerebral

CheckPoint
Verdadeiro ou Falso
a) O exterior da célula é mais negativo do que o interior da célula
b) Numa célula em repouso, há uma maior concentração de K+ na parte interna da membrana
celular
c) A membrana plasmática é permeável a proteínas
d) O ião que tem mais influência no potencial de repouso da membrana é o Ca2+
e) Despolarização ocorre quando o potencial de membrana se torna mais negativo
f) A velocidade da condução do potencial de ação ao longo do axónio depende da mielinização do
axónio

Respostas: a) F (mais positivo) ; b) V ; c) F (não é permeável) ; d) F (não é o Ca2+) ; e) F


(Repolarização) ; f) V
02 – Medula espinhal – Descrição funcional
Fibras nervosas
Reflexos

Medula Espinhal – descrição funcional


 A medula espinhal encontra-se dividida em 31
segmentos, sendo que cada segmento inerva um par
de dermátomos (exceto C1, que apenas apresenta uma
raiz dorsal rudimentar)
 Um dermátomo é a área da pele suprida com inervação sensorial por um par de nervos espinais.
Cada nervo espinal, exceto C1, possui uma distribuição sensorial cutânea específica
 No tronco, pares de dermátomos formam feixes que rodeiam o tronco e o abdómen: os segmentos
da medula espinhal passam a estar relacionados sistemicamente com áreas da pele, músculos e,
em alguns casos, ossos
 Ao nível dos membros, a inervação por dermátomos, torna-se mais complexa, devido ao
crescimento dos brotos que originam os membros
 O conhecimento da inervação segmentar de músculos e regiões cutâneas pode ser útil no
diagnóstico do local da lesão na medula espinhal, ou próximo desta

Regionalização da Medula Espinhal


 A medula espinhal apresenta uma regionalização dorso-
ventral
 As fibras aferentes entram na medula espinhal por via de
raízes dorsais, terminando, quase exclusivamente do lado
ipsilateral do SNC
 Estas fibras podem chegar ao seu término estabelecendo
apenas sinapses com neurónios na substância cinzenta
ipsilateral da medula espinhal
 Estas fibras podem ascender diretamente, estabelecendo
sinapses no bulbo raquidiano
 Cada fibra aferente primária origina vários ramos e alimenta
mais que uma via sensitiva ascendente
 As fibras dos neurónios motores e sensitivos encarregues do
transporte de informação aferente até à medula espinhal
podem ser classificadas de acordo com a sua mielinização, diâmetro e velocidade de transporte
 Os neurónios motores, que inervam os músculos esqueléticos,
encontram-se no corno anterior da medula espinhal
 Os axónios dos neurónios motores abandonam a medula espinhal nas
suas raízes ventrais, sendo a atividade desses neurónios modulada por
circuitos reflexos locais, por vias que descem através da substância
branca raquidiana, desde o córtex cerebral e por vários núcleos do
tronco cerebral e diencéfalo

Fibras Nervosas
Fibra nervosa = axónio + célula de revestimento → organizam-se em
feixes → formam os nervos (espinhais ou cranianos)

 Células de revestimento ○ SNC – oligodendrócitos ○ SNP – células


de Schwann
 Se produzem mielina (substância lipídica) → fibras mielinizadas
com aspeto esbranquiçado
 Axónios pequeno diâmetro → amielínicos
 Axónios de neurónios somáLcos de maior calibre → mielinizados
 Estrutura dos nervos periféricos:
o Feixes de axónios, células de Schwann e tecido conjuntivo, envolvido pelo endoneuro
o grupos de axónios são rodeados por perineuro (tecido conjuntivo)
o forma fascículos nervosos ou feixes nervosos; epineuro – camada de tecido conjuntivo
denso que liga os feixes nervosos

 Interrupções na bainha de mielina a cada 0.3 a 1.5mm - nódulos de Ranvier


 Condução saltatória: potenciais de acção só ocorrem nestas zonas – o impulso “salta” de um
nódulo para outro
 Áreas cobertas de mielina – internódulos
Arco Reflexo
 Certos inputs aferentes específicos estão associados a outputs motores tipicos – os reflexos.
Vários reflexos envolvem circuitos neurais, que se encontram contidos na sua totalidade, dentro da
espinal medula
 Um reflexo é uma resposta involuntária e estereotipada a um input
sensitivo; é uma resposta automática para um estimulo produzido por
um arco reflexo
 Todas as vias reflexas, para além dos reflexos axonais, devem
envolver, pelo menos, uma estrutura recetora com um neurónio
aferente associado (com o seu corpo celular num gânglio de raiz
dorsal, ou noutro gânglio sensitivo) e um neurónio eferente (cujo corpo
celular se encontra no SNC)
 Com exceção do reflexo de estiramento, todos os reflexos envolvem
também um ou mais interneurónios
 Unidade funcional básica do SN - capaz de receber um estímulo e produzir uma resposta
 Porção mais pequena e simples capaz de
receber um estímulo e desencadear uma
resposta → reflexo
 Não se manifestam corticalmente, para o
córtex cerebral – desempenham funções
subcorticais
 5 componentes:
o Recetor sensorial
o Neurónio aferente (sensorial)
o Neurónio de associação
o Neurónio eferente (motor)
o Orgão efetor

Nota: Os arcos reflexos mais simples não


envolvem interneurónios
 Os reflexos:
o São homeostáticos: contribuem para a manutenção da pressão sanguínea, os níveis
sanguíneos de dióxido de carbono e ingestão de H2O
o Retiram o corpo de estímulos dolorosos, prevenir quedas ou deslocamentos súbitos
o Variam na sua complexidade (vias neuronais simples a vias complexas com centros de
integração)
o São integrados na espinal medula ou no encéfalo
o Podem envolver neurónios excitatórios ou neurónios inibitórios
o Centros encefálicos superiores podem influenciar os reflexos, suprimindo-os ou

Neurónios excitatórios → ex: contracção


muscular

Neurónios inibitórios → ex: relaxamento


muscular

exagerando-os
 Integrados no encéfalo ou medula
o Principais reflexos medulares:
 Extensão
 Reflexo dos orgãos tendinosos de Golgi
 Reflexo de retirada
 Reflexo extensor contralateral
Arco Reflexo – Reflexo de Extensão
 Reflexo mais simples, não exige neurónio de associação
 Contração muscular em resposta a força de estiramento
o Fusos musculares (recetor sensorial) detetam o
estiramento
o Neurónio sensorial conduz potencial ação para a
medula
o Sinapse com neurónio motor alfa (axónios de
grande diâmetro)
o Na junção neuromuscular há contração do
musculo
 Axónios colaterais dos nervos aferentes sinapsam com
feixes ascendentes → encéfalo
 Medula espinal → modulação da atividade reflexa ○
Manutenção da postura e coordenação atividade
muscular
Arco Reflexo - Reflexo dos órgãos tendinosos de Golgi
 Evita tensão excessiva no tendão de um músculo em contração
 Orgãos tendinosos: terminações nervosas encapsuladas localizadas nos tendões na junção com o
músculo
o Tensão estimula potenciais de ação nos seus neurónios sensoriais
o Limiar de estimulação elevado → Estiramento intenso
 Neurónios sensoriais → potencial ação → espinal medula → sinapse com neurónios de associação
(libertam neurotransmissores inibitórios) → sinapse com neurónios motores alfa → relaxamento
muscular e alívio da tensão no tendão
o Ex: halterofilista que, depois do esforço de levantar, larga um grande peso de repente

Arco Reflexo – Reflexo de Retirada


 Arco reflexo protetor (ex: colocar mão no fogo); Somatosensitivo
 Afastamento de uma parte do corpo de um estimulo doloroso ○ Recetores da dor – deteção do
estimulo doloroso
o Neurónios sensoriais conduzem potencial de ação à medula
o Sinapse com neurónios de associação excitatórios
o Sinapse com neurónios motores alfa (estimulam músculos, ++ flexores)
o Contração dos flexores → ex: retirada do membro
 Ramificações laterais dos neurónios aferentes sinapsam com fibras ascendentes → encéfalo →
consciência do estimulo doloroso
 Associa-se ao reflexo de retirada e reforça a sua eficiência
 Envolvido no reflexo de extensão, em que são inibidos os músculos opositores

Arco Reflexo – Reflexo Extensor Contralateral


 Associado ao reflexo de retirada
 Os mesmos neurónios de associação que estimulam os neurónios
motores alfa (fuga do membro) tem axónios colaterais que se
estendem para o lado oposto da medula e estimulam neurónios
motores que inervam os músculos extensores do lado oposto do
corpo
 Reflexo adaptativo

CheckPoint
Perguntas:
1. Que tipo de fibras nervosas correspondem às não
mielinizadas?
R: Fibras C
2. Que células revestem a fibra nervosa no SNC, e são
responsáveis pela produção de mielina?
R: Oligodendrócitos
3. O Perineuro é responsável por rodear que estrutura?
R: Axónios
4. Quais são os principais reflexos medulares?

03 – Vias e Circuitos Neuronais


Vias e Circuitos Neuronais
 O padrão organizacional dos neurónios dentro do SNC varia de relativamente simples para
extremamente complexo
 A organização mais simples é uma via em série, onde a entrada viaja ao longo de apenas uma via.
Entretanto, a maior parte das vias são mais complexas e são chamadas de vias paralelas, onde a
entrada viaja ao longo de muitas vias
 Apesar de sua complexidade variar, quatro padrões básicos de vias paralelas podem ser
reconhecidos:
o Vias convergentes
o Vias divergentes
o Circuitos reverberante
o Circuitos paralelos pós-descarga

 A direção da propagação do potencial de ação está representada pelas setas cor de laranja.
a) Modelo geral de uma via convergente; muitos neurónios convergem e fazem sinapse
com um pequeno número de neurónios.
b) Modelo geral de uma via divergente; poucos neurónios fazem sinapse com um grande
número de neurónios
c) Modelo simples de um circuito reverberante; entradas de potencial de ação resultam em
produção de um grande número de saídas de potenciais de ação porque os neurónios
dentro do circuito são estimulados repetidamente a produzir potenciais de ação.
d) Modelo simples de um circuito paralelo pós-descarga; muitos neurónios em paralelo que
integram processos complexos estimulam uma célula de saída em comum.

Vias Espinhais
 Os reflexos não atuam como entidades isoladas
 As suas atividades são integradas com as funções do sistema nervoso como um todo, devido às
vias divergentes e convergentes
 Um estimulo doloroso inicia um reflexo de retirada e também permite a perceção da dor como o
resultado de potenciais de ação enviados ao encéfalo

Vias de Condução Nervosas – Termos e Conceitos


 A medula espinal atua como um dos principais canais através dos quais o corpo e o cérebro trocam
informações
 A medula espinal tem numerosos grupos de fibras nervosas que se dirigem ou partem do cérebro
 Estes são chamados tratos ascendentes e descendentes da medula espinal, respetivamente
 Os setores são responsáveis por transportar estímulos motores e sensoriais de e para a periferia,
respetivamente
 Via neural: feixe de axónios que liga dois ou mais neurónios diferentes, facilitando a comunicação
entre eles
 Tratos: vias localizadas no cérebro e na medula espinhal (SNC). Podem ser chamados de
“lemniscos”, "pedúnculos" ou "fascículos"
 Os tratos são formados por neurónios que fazem sinapse uns com os outros, e esses neurónios
podem ser classificados em: neurónios de primeira ordem, segunda ordem ou terceira ordem,
dependendo de sua localização e ordem dentro do trato
 Os tratos são nomeados de acordo com a sua origem (primeira metade do termo) e terminação
(parte restante do termo)
o Ex. Trato espinotalâmico - começa na medula espinhal (“espino”) e termina no tálamo
(“talâmico”); trato corticoespinhal - começa no córtex
cerebral e termina na medula espinha
 A direção seguida pelos tratos ascendentes é do local do estímulo
(fora do SNC, na periferia) até a área designada no cérebro
 A direção dos tratos descendentes é a oposta
 Ao nível de muitas vias aferentes e eferentes, verifica-se a
passagem de fibras para o lado contralateral
 Quando ocorre um cruzamento de fibras, trata-se de uma
comissura (corpo caloso)
 Quando ocorre um cruzamento de fibras verifica-se a presença de
uma decussação
 Propriocepção: informação relativa à posição do corpo, ou seus
constituintes Exe de recetores proprioceptivos: recetores
musculares, das cápsulas articulares, ou os recetores vestibulares do ouvido interno
 Interocepção: monitorização dos eventos que ocorrem dentro do corpo, tais como a distensão do
estômago ou mudanças do pH no sangue
 Exterocepção: estímulos que advêm de fora do corpo, sendo considerados extroceptores, os
recetores envolvidos do tacto, audição e visão

Vias de Condução – Generalidades


 ASCENDENTES
o Vias de sensibilidade geral
 Exteroceptiva
 Proprioceptiva
 Interoceptiva
 DESCENDENTES
o Voluntárias ou Piramidais
 Via cortico-espinal
 Via cortico-nuclear ○ Involuntárias ou
Extra-Piramidais

Vias de Condução Ascendentes – Generalidades


 Vias aferentes, sensitivas – vias óptica, acústica, gustativa e olfativa
 O 1º neurónio está localizado nos gânglios dos nervos espinhais ou cranianos
 Terminam geralmente no giro pós-central do cérebro (via consciente) ou no cerebelo (inconsciente)
 Apresentam sensibilidade:
o Exteroceptiva = estímulos externos: sensibilidades tácteis protopática (grosseira), epicrítica
(fina) e a sensibilidade termoálgica (térmica e dolorosa)
o Proprioceptiva = estímulos próprios tecidos mais profundos - ossos, articulações e músculos
(essencial para coordenação muscular, graduação da contração muscular e manutenção do
equilíbrio); consciente ou inconsciente
o Interoceptiva, estímulos das vísceras, glândulas e vasos (importante para a regulação do
fluxo sanguíneo e controlo da respiração)
 1. Trato Espinotalamico:
o Trato Espinotalamico Anterior
o Trato Espinotalamico Lateral
 2. Coluna branca posterior:
o Fascículo grácil
o Fascículo cuneiforme
 3. Tratos Espinocerebelares:
o Trato espinocerebelar anterior
o Trato espinocerebelar posterior
Vias de Condução Ascendentes
Feixes de fibras nervosas sensoriais na substância branca.

 Duas principais vias aferentes:


o Tracto espinotalâmico anterior (Ventrolateral)
 Função: Localizaçao e intensidade da dor e temperatura, tato~
o Cordões posteriores
 Função: Propiocepção consciente, Sensibilidade discriminativa (2pontos) e sensação
vibratória

 Trato espinotalâmico
o O trato espinotalâmico divide-se em lateral e anterior
o Reconhece informações de dor, temperatura, pressão e tato
o O trato espinotalâmico lateral está relacionado com
informações de dor e temperatura
o O trato espinotalâmico anterior está mais relacionado ao tato
leve e pressão

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