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FUNÇÕES BIOLÓGICAS 2019

POTENCIAL DE REPOUSO

Problema 1 Um neurônio em repouso é mais positivo exteriormente em relação ao


interior da célula. Essa diferença de concentração de cargas é chamada de
potencial de membrana em repouso. No exterior da célula, existe uma
OBJETIVOS
grande quantidade de íons sódio (Na+). No interior da célula, há íons
potássio (K+), os quais também possuem carga positiva; entretanto, estão
1) Conceituar os termos desconhecidos.
2) Identificar as subdivisões e funções do SNA e do sistema
misturados com proteínas negativamente carregadas. Assim, levando em
neurovegetativo. conta que existem mais íons sódio no exterior da célula do que íons potássio
3) Identificar os receptores e neurotransmissores, analisando suas no interior, consideramos que o interior é “negativo” e o exterior é
funções. “positivo” quando o neurônio está em repouso. Portanto, a membrana
4) Descrever o funcionamento de potencial de membrana e de ação. celular é polarizada (apresenta separação espacial entre as cargas positivas e
negativas). Essa polarização é mantida pela bomba de sódio-potássio nas
POTENCIAIS DE MEMBRANA E POTENCIAIS DE A ÇÃO membranas celulares.

No líquido extracelular (LEC), para cada íon positivo existe um íon negativo BOMBA DE SÓDIO-POTÁSSIO
próximo que o neutralize; caso contrário, apareceriam potenciais de bilhões
de volts. Voltagem/tensão/ddp é a medida da energia potencial gerada por Todas as membranas celulares apresentam essa bomba de sódio-potássio,
cargas separadas, a diferença de potencial entre dois pontos. Potencial que é uma proteína transcelular que realiza transporte ativo de íons. Ela
elétrico é a capacidade de um corpo energizado de realizar trabalho, isto é, bombeia continuamente Na+ para o exterior da célula e K+ para o interior,
atrair ou repelir cargas elétricas. Quando nos referimos a células, dizemos numa razão de 3 para 2, de modo que o lado de fora fica com mais cargas
“potencial de membrana”. Quanto maior a diferença entre as áreas positivas positivas e, portanto, mais positivo. 3 Na + entram na bomba; então, 1 ATP
e negativas, maior a voltagem e maior o potencial. Além da voltagem, no também se ligará a ela para ser hidrolisado, liberando energia e fosforilando
corpo existe corrente de eletricidade de um ponto a outro, sendo corrente a bomba. Isso altera a conformidade da proteína: ela fecha sua entrada
= voltagem/resistência. A corrente elétrica é o movimento ordenado de intracelular e abre a saída extracelular; perdendo a afinidade com os íons
cargas positivas ou negativas.A resistência elétrica é a dificuldade oferecida Na+. Os íons sódio são lançados no meio extracelular e íons K+ se ligam à
à passagem dessas cargas. No caso das células, as membranas celulares bomba. Depois disso, a bomba é desfosforilada, retornando à sua
representam a resistência. conformação original, de forma que não haverá mais afinidade pelos íons
potássio, os quais serão liberados no meio intracelular.
Ou seja, o ambiente é eletricamente neutro (cargas positivas = cargas
negativas), mas algumas áreas são mais positivas ou negativas que outras. No entanto, não é apenas a bomba de sódio-potássio que determina o
Os íons são mantidos separados para garantir a formação de potencial potencial elétrico das membranas celulares. Chamamos de gradiente
elétrico, a fim de fornecer energia para a passagem de uma corrente eletroquímico o conjunto de fatores que favorecem a movimentação dos íons
elétrica. Os íons mais importantes no desenvolvimento dos potenciais de Na+ para dentro da célula, sendo estes fatores o gradiente de concentração e
membrana são os íons sódio, potássio e cloreto. Quando um neurônio é o gradiente elétrico, causados pela ação da bomba. Esse gradiente
estimulado o suficiente, ele envia um impulso elétrico, o qual tem sempre a eletroquímico é usado pelas células como uma fonte de energia potencial.
mesma força e a mesma velocidade; o que pode variar é a frequência com Um exemplo do uso dessa energia e da importância de uma maior
que esse impulso é enviado. Os sinais nervosos são transmitidos por concentração de íons sódio no meio externo é garantir outros transportes
potenciais de ação, que são variações rápidas do potencial de membrana. A ativos, como o cotransporte de glicose para dentro da célula. A esse tipo de
diferença necessária de potencial em fibras nervosas normais de mamíferos processo damos o nome de transporte ativo secundário, pois há utilização de
é de aproximadamente 90 mV, com negatividade na face interna da energia armazenada de outro transporte ativo; no caso, a bomba de sódio-
membrana. potássio.

Existem nas membranas celulares proteínas de canal por onde podem vazar
íons sódio ou potássio; no entanto, cabe ressaltar que a permeabilidade para
o potássio em condições normais é cerca de 100 vezes maior que a

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permeabilidade para o sódio. Desse modo, conclui-se que a difusão do difundam para dentro da célula, neutralizando o potencial de repouso
potássio contribui muito mais para o potencial de membrana que a difusão mencionado. Em outras palavras, a despolarização é quando o interior da
do sódio. célula fica menos negativo graças à entrada de íons Na +. No estágio de
repolarização, os canais de sódio se fecham e os canais de potássio se
O movimento de íons através da membrana alterando o potencial elétrico é a abrem, de forma que a difusão de Na + para o meio intracelular pare e
chave para todos os eventos elétricos nos neurônios. O potencial de ação ocorra uma rápida difusão de íons K+ para o exterior, fazendo com que o
acontece basicamente quando ocorre a despolarização da membrana celular, potencial de repouso seja restabelecido.
causando uma variação no potencial elétrico que abre os canais
transportadores de íons, os quais permanecem normalmente fechados O canal de sódio regulado pela voltagem e o canal de potássio regulado pela
(potencial de membrana em repouso). A permeabilidade do sódio e do voltagem são agentes responsáveis pela despolarização e pela repolarização
potássio são primariamente responsáveis pela transmissão de sinais nos da membrana, bem como atuam de forma adicional com a bomba de sódio-
neurônios, pois a permeabilidade dos canais de cloreto não se altera muito potássio e com os canais de vazamento de K+/Na+.
durante a transmissão dos impulsos nervosos. A rápida alternância de íons,
então causa os sinais nervosos. Além dos íons sódio e potássio, é necessário considerar a participação dos
ânions negativos e os íons cálcio na geração do potencial de ação. Na
POTENCIAIS DE AÇÃO membrana de quase todas as células existe uma bomba de cálcio semelhante
à de sódio, que em algumas células contribui para a formação do potencial
de ação. Existem também canais de cálcio regulados pela voltagem, que
“vazam” esses íons para o lado de dentro, visto que o meio extracelular
possui concentração de Ca2+ maior que o meio intracelular. A principal
função desses canais é contribuir para a fase de despolarização do potencial
de ação em algumas células. Os canais de cálcio são muito numerosos no
músculo cardíaco e no músculo liso.

O potencial de ação ocorre quando algum evento (distúrbio mecânico na


membrana, efeitos químicos, passagem de eletricidade) provoca o aumento
inicial do potencial de membrana de -90 mV para o nível zero, causando a
abertura de canais de sódio regulados pela voltagem. O influxo de íons sódio
aumenta mais ainda o potencial de membrana, causando a abertura de mais
canais de sódio, num ciclo vicioso de feedback positivo. Entretanto, o
potencial de ação só ocorre se o aumento inicial do potencial de membrana
for intenso o suficiente para desencadear a abertura dos canais de sódio e
causar o feedback positivo, ou seja, quando se atinge o limiar de excitação;
normalmente um aumento abrupto de -90 mV para -65 mV.

Um potencial de ação provocado em qualquer parte da membrana excitável


excita as porções adjacentes, propagando o potencial de ação por toda a
membrana. Uma vez atingido o limiar de excitação e ocorrido o potencial de
ação em alguma parte da membrana, ou esse potencial se espalha por toda a
membrana ou não se difunde de modo algum. Esse fenômeno é chamado de
“princípio do tudo ou nada”.
Cada potencial de ação começa por alteração súbita do potencial de
membrana normal (de repouso, negativo) para um potencial positivo e Alguns anestésicos locais, como a lidocaína, têm efeito sobre os canais de
termina com o retorno para o potencial negativo. No estágio de repouso, sódio regulados pela voltagem: ao se ligarem forte e especificamente ao
antes do início do potencial de ação, a membrana está polarizada, com canal, alteram sua permeabilidade e impedem a condução do estímulo
potencial de cerca de 90 mV. No estágio de despolarização, a membrana se nervoso.
torna muito permeável aos íons sódio, fazendo com que muitos íons Na + se

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Em alguns casos, por exemplo, nas fibras musculares do coração, a SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
membrana estimulada não se repolariza de imediato após a despolarização;
o potencial permanece como platô por vários milissegundos e só então a O sistema nervoso autônomo (SNA) é a parte do sistema nervoso que
repolarização começa. controla as funções viscerais do organismo. Uma de suas características é a
rapidez e a intensidade com que ele pode alterar essas funções. O SNA
A hiperpolarização refere-se ao efluxo excessivo do K+, porque a comporta
também opera reflexos viscerais: sinais sensoriais subconscientes de órgão
de inativação desse íon é lenta, fazendo com que saia mais potássio que o
visceral podem chegar aos gânglios autônomos, no tronco cerebral ou no
necessário para atingir o potencial de repouso. Assim, o neurônio fica com
hipotálamo e então retornar como respostas reflexas subconscientes
um potencial mais negativo que o de repouso. Isso é corrigido pela bomba
diretamente de volta para o órgão visceral. Os sinais autônomos eferentes
de sódio-potássio. Nesse momento, há um período refratário.
são transmitidos aos diferentes órgãos do corpo por meio de duas grandes
divisões: o sistema nervoso simpático (SNS) e o sistema nervoso
Em alguns tecidos, ocorrem descargas repetitivas espontâneas. Essas
parassimpático (SNP).
descargas rítmicas causam o batimento ritmado do coração, o peristaltismo
rítmico dos intestinos e alguns eventos neuronais, como o controle ritmado
SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO
da respiração. Para que a ritmicidade espontânea ocorra, é necessário que a
membrana seja suficientemente permeável aos íons, mesmo em seu estado
normal, a fim de permitir a despolarização automática.

Os íons não são capazes de passar pela bainha de mielina que existe nas
fibras nervosas de maior calibre, todavia, podem passar facilmente através
dos nodos de Ranvier. Portanto, os potenciais de ação só ocorrem nos nodos
de Ranvier e são passados de um nodo a outro. Por esse motivo, dizemos
que os impulsos nervosos são “saltatórios”.

Esse mecanismo é importante porque permite que a onda de despolarização


seja mais rápida, pois salta longos trechos da fibra nervosa que estão
cobertos pela bainha de mielina, e também conserva energia para o axônio,
pois uma vez que apenas os nodos são despolarizados, menos íons são
perdidos e, por conseguinte, o metabolismo para repolarizar a membrana
após uma série de impulsos nervosos é menos intenso.

Cada via simpática, da medula ao tecido estimulado, é composta por dois


neurônios, um pré-ganglionar e um pós-ganglionar. O corpo celular de cada
neurônio pré-ganglionar se localiza no corno intermediolateral da medula
espinhal; sua fibra passa pela raiz anterior da medula para o nervo espinhal
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correspondente. Após deixar o canal espinhal, as fibras simpáticas pré-  Fibras parassimpáticas do NC IX (glossofaríngeo): glândula
ganglionares deixam o nervo espinhal e passam pelo canal comunicante parótida.
branco para um dos gânglios da cadeia simpática. Um gânglio é um  Fibras parassimpáticas do NC X (vago): coração, pulmões,
aglomerado de corpos celulares e neurônios situados fora do SNC; esôfago, estômago, intestino delgado, a metade proximal do
geralmente aparecem como pequenas dilatações em certos nervos. Então, as cólon, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rins e porções superiores
fibras podem seguir um dos três caminhos a seguir: sinapse com neurônios dos ureteres.
simpáticos pós-ganglionares no gânglio em que entra; fazer sinapse com
outro gânglio na cadeia; ou sair da cadeia por meio de um dos nervos O sistema parassimpático possui também neurônios pré-ganglionares e pós-
simpáticos para fazer sinapse com um gânglio simpático periférico. O ganglionares, porém, salvo algumas exceções, as fibras pré-ganglionares
neurônio pós-ganglionar se origina nos gânglios da cadeia simpática ou nos passam ininterruptamente até o órgão a ser controlado. Na parede do órgão,
gânglios simpáticos periféricos e se dirigem para seus destinos nos órgãos. ficam os neurônios pós-ganglionares, com os quais as fibras pré-
ganglionares realizam sinapse.
SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO
NEUROTRANSMISSORES

Os neurotransmissores são compostos químicos produzidos pelos neurônios


que possuem a função de transmitir informações. Os neurotransmissores
podem ser aminas (dopamina, serotonina, melatonina, epinefrina,
norepinefrina), aminoácidos (glutamato, aspartato, GABA) ou peptídeos
(calcitonina, glucagon, vasopresssina, oxitocina, beta-endorfina).

As fibras do SNS e do SNP secretam principalmente dois tipos de


substâncias transmissoras sinápticas: acetilcolina (fibras colinérgicas) e
norepinefrina (fibras adrenérgicas). Todos os neurônios pré-ganglionares
são colinérgicos. Todos ou quase todos os neurônios pós-ganglionares
parassimpáticos são colinérgicos e a maioria dos neurônios pós-ganglionares
simpáticos é adrenérgica. Por isso, a acetilcolina (ACh) é chamada de
transmissor parassimpático e a norepinefrina é chamada de transmissor
simpático. Quase todas as fibras simpáticas e muitas das parassimpáticas não
tocam as células efetoras dos órgãos que inervam ou terminam em meio ao
tecido conjuntivo adjacente às células que devem ser estimuladas. Nesses
locais, os filamentos nervosos possuem varicosidades, que são dilatações
bulbosas onde ocorre síntese e armazenamento de vesículas transmissoras
de acetilcolina e norepinefrina, bem como um grande número de
mitocôndrias, as quais participam na síntese de ATP que é necessário para
fornecer energia à síntese desses neurotransmissores.

Os neurotransmissores são liberados sob estímulo dos íons cálcio, os quais


As fibras parassimpáticas deixam o SNC pelos nervos cranianos III, VII, IX e são difundidos para as terminações nervosas (varicosidades) durante a
X; sendo que aproximadamente 75% das fibras nervosas parassimpáticas despolarização, que aumenta a permeabilidade para os íons cálcio. Então, a
cursam pelo nervo vago (décimo par de nervos cranianos). despolarização da membrana durante o potencial de ação causa a difusão de
Ca2+ para as varicosidades, o que causa a liberação dos neurotransmissores.
 Fibras parassimpáticas do NC III (óculo-motor): esfíncter pupilar
e músculo ciliar do olho.
 Fibras parassimpáticas do NC VII (facial): glândulas lacrimais,
nasais e submandibulares.

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Para que exerça sua função corretamente, a acetilcolina, bem como os subdivididos em beta 1, beta 2 e beta 3. A norepinefrina excita sobretudo os
demais neurotransmissores, deve ser removida ou inativada de acordo com receptores alfa, mas também os receptores beta em menor grau; ao passo
as demandas de tempo para cada resposta sináptica específica pretendida. que a epinefrina excita igualmente os receptores alfa e beta. Portanto, os
Portanto, a acetilcolinesterase catalisa a quebra da acetilcolina em acetato e efeitos desses neurotransmissores secretados pela medula adrenal serão
colina, de forma que a colina possa ser aproveitada novamente na síntese determinados pelos receptores presentes nos órgãos efetores.
desse neurotransmissor. Dessa forma, essa enzima é capaz de modular a
intensidade da resposta sináptica ao evitar a difusão lateral e a ativação EFEITOS ESPECÍFICOS DA ESTIMULAÇÃO SIMPÁ TICA E
sequencial dos receptores envolvidos. PARASSIMPÁTICA

RECEPTORES  Olho: SNS contrai as fibras meridionais da íris, causando


midríase (dilatação da pupila). SNP contrai o músculo circular
Para que os neurotransmissores possam estimular algum órgão efetor, eles da íris, causando miose (dilatação da pupila).
precisam se ligar a receptores específicos nas células. Quando isso ocorre, a  Glândulas: SNS estimula a maioria das glândulas digestórias a
molécula proteica receptora sofre alteração conformacional, excitando ou produzirem secreção concentrada em enzimas, porém causa
inibindo a célula. Em geral, isso pode se dar por dois mecanismos: alteração vasoconstrição dos vasos sanguíneos que irrigam essas
da membrana à permeabilidade iônica (abertura ou fechamento de canais) glândulas, de forma que às vezes diminuem a quantidade de
ou ativação/inativação de uma enzima (segundo mensageiro) ligada ao outro secreção. SNP estimula as glândulas nasais, lacrimais, salivares e
lado do receptor, dentro da célula. muitas outras gastrointestinais, sobretudo do trato digestório
superior, a produzirem secreções aquosas em grande
A acetilcolina ativa principalmente os receptores muscarínicos, encontrados quantidade. As glândulas apócrinas são estimuladas pelo SNS e
em todas as células efetoras estimuladas pelos neurônios colinérgicos pós- não respondem a estímulos do SNP. As glândulas sudoríparas
ganglionares do SNP e do SNS; e os nicotínicos, encontrados nos gânglios são estimuladas por fibras colinérgicas do SNS, entretanto, a
autônomos nas sinapses entre os neurônios pré e pós-ganglionares do SNS e maioria dessas glândulas é estimulada principalmente por
do SNP. A norepinefrina e a epinefrina ativam principalmente os receptores centros do hipotálamo considerados parassimpáticos.
alfa, sendo estes subdividos em alfa 1 e alfa 2; e beta, sendo estes

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 Plexo nervoso intramural do sistema gastrointestinal: a função


normal do SGI não é muito afetada pelo SNS, mas estímulos
fortes podem causar inibição do peristaltismo e contração dos
esfíncteres; por conseguinte, passagem muito lenta do alimento
pelo trato, secreção diminuída, constipação. O estímulo do SNP
geralmente aumenta a atividade do SGI, promovendo aumento
do peristaltismo e relaxamento dos esfíncteres.
 Coração: SNS aumenta a frequência e a força da contração
cardíaca. SNP causa diminuição da frequência e da força de
contração.
 Vasos sanguíneos sistêmicos: SNS causa contração dos vasos.
SNP quase não tem efeitos, exceto na área ruborizante do rosto.
 Pressão arterial: SNS causa aumento agudo da PA e variação
pequena a longo prazo, a menos que os efeitos simpáticos
causem retenção de água e sal pelos rins. Estímulo moderado do
SNP causa leve diminuição da PA, mas estimulação
parassimpática vagal muito forte pode quase parar ou para o
coração por alguns segundos, causando perda total de toda ou
quase toda a PA.
 Outros efeitos: em geral, o SNS inibe a maioria das estruturas de
origem endodérmica (ex.: vesícula, ductos biliares, bexiga,
uretra, brônquios), ao passo que o SNP estimula. SNS também
estimula a liberação de glicose pelo fígado, aumenta a
concentração de glicose no sangue, aumenta a glicogenólise
hepática e muscular, aumenta a força de contração
musculoesquelética, aumenta o metabolismo basal e aumenta a
atividade mental.
MEDULAS ADRENAIS

A estimulação das medulas adrenais pelos nervos simpáticos causa a


liberação dos hormônios epinefrina e norepinefrina, que juntos tem quase
todos os mesmos efeitos da estimulação simpática direta, porém com efeitos
mais prolongados. A liberação desses hormônios ocorre praticamente ao
mesmo tempo que os outros órgãos são estimulados simpaticamente, ou
seja, ocorrem dois estímulos: pelo SNS e pelos hormônios liberados pelas
medulas adrenais. Esses dois meios de estimulação se apoiam mutuamente e
na maioria das vezes um pode substituir o outro.

FARMACOLOGIA DO SNA

Praticamente todos os fármacos que atuam no SNC produzem seus efeitos ao


modificar alguma etapa da transmissão sináptica química. Os fármacos que
atuam na síntese, no armazenamento, no metabolismo e na liberação de
neurotransmissores estão incluídos na categoria pré-sináptica. Na região
pós-sináptica, o receptor do transmissor proporciona o principal local de

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ação dos fármacos. Os fármacos podem atuar como agonistas do pulmonar (16% do volume sanguíneo, considerando coração [7%] e pulmões
neurotransmissor ou podem bloquear a função do receptor. O antagonismo [9%]).
dos receptores constitui um mecanismo de ação comum dos fármacos do
SNC. PARTES FUNCIONAIS DA CIRCULAÇÃO

A acetilcolina é inativada por meio de degradação enzimática, e não pela sua  Artérias: transportam sangue sob alta pressão para os tecidos; possuem
recaptação. As anticolinesterases bloqueiam a degradação da acetilcolina e, paredes vasculares fortes; sangue flui em alta velocidade.
portanto, prolongam a sua ação.  Arteríolas: agem como condutos de controle nos quais o sangue é liberado
para troca nos capilares; possuem paredes musculares fortes, que podem
Atropina é antagonista da acetilcolina. Muscarina e nicotina são agonistas. ocluir ou dilatar seu diâmetro a fim de alterar o fluxo sanguíneo conforme
necessário.
Prazosina, iombina, atenolol, practolol e butoxamina são antagonistas da  Capilares: possuem paredes finas com muitos poros capilares permeáveis à
norepinefrina. Fenilefrina, clonidina, isoprotenerol, dobutamina, albuterol e água e outras moléculas, pois sua função é a troca de líquidos, nutrientes,
salbutamol são agonistas. eletrólitos, hormônios e outras substâncias entre o sangue e o tecido
intersticial.
REFERÊNCIAS  Vênulas: coletam o sangue dos capilares e gradualmente formam veias
maiores.
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de  Veias: transportam sangue sob baixa pressão; possuem paredes finas;
carregam o sangue de volta ao coração; são musculares o suficiente para ter
fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
capacidade de se contrair e se expandir para armazenar sangue extra
conforme as necessidades circulatórias.
KATZUNG, Bertram G.; TREVOR, Anthony J. Farmacologia básica e
clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017.

SRINIVASAN, A. V. P Propranolol: A 50-year historical perspective. Annals


of Indian Academy of Neurology. 2019

Problema 2.1
OBJETIVOS

1) Conceituar velocidade, fluxo, pressão e resistência de líquidos.


2) Correlacionar hemodinâmica e determinantes da pressão arterial.
3) Descrever a regulação do controle vascular.
4) Analisar a formação de edemas e o sistema linfático.

CIRCULAÇÃO

A função da circulação é suprir as necessidades dos tecidos corporais, seja


transportando nutrientes e hormônios, eliminando metabólitos ou mantendo
o ambiente apropriado para que as células sobrevivam de maneira ótima;
portanto, a intensidade do fluxo é controlada principalmente em resposta à
necessidade dos tecidos de receber ou eliminar substâncias.

A circulação pode ser dividida em grande circulação, circulação sistêmica ou


periférica (84% do volume sanguíneo) e pequena circulação ou circulação

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FLUXO SANGUÍNEO progressivamente até cerca de 0 mmHg no fim das veias cavas que levam o
sangue até o átrio direito. Isso acontece porque ocorre perda de energia
como consequência da resistência ao fluxo oferecida pelos vasos.

Uma vez que o bombeamento do sangue pelo coração é pulsátil, a pressão


arterial altera entre pressão sistólica de cerca de 120 mmHg e pressão
diastólica de cerca de 80 mmHg. Nos pulmões, as pressões são baixas de
acordo com suas necessidades de expor o sangue dos capilares pulmonares
ao oxigênio e aos outros gases alveolares.

Fluxo sanguíneo é a quantidade de sangue que passa por determinado ponto


da circulação durante certo intervalo de tempo. Normalmente é expresso em
mililitros por minuto ou litros por minuto, mas pode ser expresso em outras
unidades. O fluxo sanguíneo total na circulação de um adulto em repouso é
de cerca de 5L/min. Chamamos isso de débito cardíaco, que é a quantidade
de sangue bombeada pelo coração para a aorta em cada minuto. O fluxo
sanguíneo pode ser medido por muitos aparelhos mecânicos e
eletromecânicos, os fluxômetros. Dentre eles, estão o fluxômetro
eletromagnético e o fluxômetro doppler ultrassônico.

O fluxo laminar ocorre quando o sangue flui de forma estável por vaso
sanguíneo longo e uniforme, organizando-se em linhas de corrente, com
camadas de sangue equidistantes das paredes do vaso, com a porção mais
central do sangue no centro do vaso. Nesse caso, a velocidade do fluxo pelo
centro do vaso é maior que nas proximidades das paredes. Esse perfil
parabólico ocorre porque as moléculas de sangue que tocam as paredes
vasculares sofrem aderência com o endotélio e, por isso, se movimentam
mais devagar.

O fluxo turbulento ocorre quando a intensidade do fluxo sanguíneo é muito


elevada ou quando o sangue passa por obstrução no vaso, por ângulo
fechado ou por superfície áspera. Nesse caso, o sangue flui na direção
longitudinal e na direção perpendicular, formando redemoinhos.

PRESSÃO SANGUÍNEA

A pressão sanguínea representa a força exercida pelo sangue contra


qualquer unidade de área da parede vascular. Geralmente é medida em
mmHg.

A pressão média na aorta é de cerca de 100 mmHg, mas à medida que o


sangue flui pela circulação sistêmica, a pressão média do sangue cai

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Quando o sangue chega nas veias, a pressão diminui por causa do atrito e vaso. Portanto, maior será a pressão necessária para que o fluxo corra pelos
não há mais uma onda de pressão. O sangue sob baixa pressão das veias vasos.
localizadas abaixo do coração precisa fluir contra a gravidade para retornar
ao coração. Para auxiliar o retorno venoso, algumas veias possuem valvas PRINCÍPIOS BÁSICOS DA FUNÇÃO CIRCULATÓRIA
unidirecionais que garantem que o sangue que passe por elas não retorne. O
fluxo de sangue venoso é constante ao invés de pulsátil. O retorno venoso ao 1) A velocidade do fluxo sanguíneo para cada tecido corporal é quase sempre
coração é auxiliado pela bomba muscular esquelética e pela bomba controlada em relação às atividades teciduais. Os microvasos em cada tecido
monitoram a disponibilidade de oxigênio e de outros nutrientes e o acúmulo
respiratória.
de dióxido de carbono e outros metabólitos; os quais agem diretamente sobre
os vasos sanguíneos locais, dilatando-os ou contraindo-os. Outro mecanismo
Se a pressão sanguínea estiver muito baixa (hipotensão), a força propulsora
para a regulação do fluxo sanguíneo tecidual é o controle neural, pelo SNC e
para o fluxo do sangue é incapaz de superar a oposição gerada pela
pelos hormônios.
gravidade, de forma que o fluxo sanguíneo e a oferta de oxigênio para o
2) O débito cardíaco é controlado principalmente pela soma de todos os fluxos
encéfalo são prejudicados, podendo causar tontura ou desmaios. Se a locais. O coração responde às demandas teciduais, porém frequentemente
pressão estiver cronicamente elevada (hipertensão), a alta pressão sobre a precisa de auxílio na forma de sinais nervosos especiais para bombear a
parede dos vasos sanguíneos pode fazer com que áreas enfraquecidas sofram quantidade necessária de fluxo sanguíneo.
rupturas e ocorra sangramento nos tecidos. 3) A regulação da PA é geralmente independente do fluxo sanguíneo local ou do
débito cardíaco. O sistema circulatório tem extensivo controle da PA. No caso
RESISTÊNCIA AO FLUXO SANGUÍNEO de alguma alteração que possa ser prejudicial, um conjunto de reflexos
nervosos desencadeia mudanças na circulação para normalizar a pressão.
A resistência é o impedimento ao fluxo sanguíneo pelo vaso, sendo calculada
pelas medidas do fluxo e da diferença de pressão entre dois pontos no vaso. INTER-RELAÇÕES DA PRESSÃO, FLUXO E RESISTÊNCIA
A resistência de toda a circulação sistêmica (resistência periférica total –
RPT) depende da viscosidade do sangue, do comprimento dos vasos e do O fluxo sanguíneo por um vaso é determinado pela diferença de pressão
raio dos vasos, sendo proporcional ao inverso da quarta potência do raio. entre as extremidades do vaso (gradiente de pressão) e pela resistência
Essa relação mostra que mesmo uma pequena alteração no calibre do vaso vascular. O gradiente de pressão é a força que impulsiona o sangue pelo
possui um grande impacto na resistência. vaso e a resistência vascular é o impedimento ao fluxo sanguíneo pelo vaso.
A resistência ocorre como resultado do atrito entre o sangue em movimento
Quanto mais hematócrito (a proporção de glóbulos vermelhos no sangue), e o endotélio intravascular em todo o interior do vaso.
mais viscoso fica o sangue e maior será a resistência à sua passagem pelo

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aumentando o fluxo. Estímulo forte do SNP pode contrair os vasos a tal


ponto que o fluxo sanguíneo se reduza a zero por alguns segundos, apesar
da alta PA.

DISTENSIBILIDADE VASCULAR

O fluxo pelo vaso pode ser calculado pela lei de Ohm: F=ΔP/R, sendo que F Todos os vasos sanguíneos são distensíveis, sendo as veias os vasos com
é o fluxo sanguíneo, ΔP é a diferença de pressão entre as extremidades do maior distensibilidade. Dessa forma, as veias desempenham papel de
vaso (P1-P2) e R é a resistência. reservatório de grandes quantidades de sangue que podem ser mobilizadas
para uso quando necessário. As paredes das artérias são bem mais fortes que
O aumento da PA não aumenta só a força que impulsiona o sangue pelos as das veias e, portanto, menos distensíveis.
vasos, mas também inicia aumentos compensatórios da resistência vascular.
Portanto, o aumento da PA não aumenta proporcionalmente o fluxo A estimulação simpática aumenta a pressão por causa do aumento do tônus
sanguíneo. Essa capacidade de cada tecido de ajustar sua resistência do músculo liso vascular, bem como a inibição simpática causa a diminuição
vascular é denominada autorregulação. da pressão. isso é importante para diminuir as dimensões de um segmento
da circulação, transferindo sangue para outros segmentos, por exemplo,
Em vasos sanguíneos que não possuem autorregulação, variações da PA fazendo mais sangue chegar ao coração para aumentar o bombeamento
podem ter grande influência no fluxo sanguíneo. A pressão arterial cardíaco.
aumentada não aumenta apenas a força que empurra o sangue pelos vasos,
mas também distende os vasos elásticos, diminuindo a resistência vascular. Um vaso exposto a maior volume irá inicialmente apresentar grande
Reciprocamente, a diminuição da PA em vasos sanguíneos passivos aumenta aumento da pressão, mas o estiramento retardado da parede vascular
a resistência, à medida que os vasos elásticos gradualmente colapsam devido permitirá que a pressão retorne a seu valor normal em minutos ou horas.
à pressão distensora reduzida. Quando a pressão cai abaixo da pressão Esse efeito é chamado de relaxamento por estresse.
crítica de fechamento, o fluxo cessa.
Sem a distensibilidade das artérias, o fluxo sanguíneo só ocorreria durante a
sístole. A combinação da distensibilidade arterial com a resistência ao fluxo
sanguíneo reduz as pulsações da pressão a quase zero no momento em que
o sangue chega aos capilares.

PULSAÇÕES DA PRESSÃO ARTERIAL

A diferença entre a pressão no ponto máximo de cada pulsação (pressão


sistólica) e a pressão em seu ponto mais baixo (pressão diastólica) é
chamada de pressão de pulso ou pressão diferencial. Ela é afetada
principalmente por dois fatores: o débito sistólico cardíaco e a complacência
ou distensibilidade total da árvore arterial.

De forma geral, quanto maior for a complacência de cada segmento vascular,


menor será a velocidade de transmissão do pulso de pressão nas artérias.
Isso explica a transmissão lenta na aorta e a transmissão muito mais rápida
nas artérias distais, que são menos complacentes. A diminuição progressiva
das pulsações nos territórios periféricos é chamada de amortecimento dos
pulsos de pressão e é causada por dois fatores: a resistência ao movimento
As variações do fluxo sanguíneo podem ser causadas por estímulo do SNP, do sangue e a complacência dos vasos.
que contrai os vasos sanguíneos, assim como hormônios vasoconstritores
(norepinefrina, angiotensina II, vasopressina ou endotelina). Então, a
inibição da atividade simpática causa grandes dilatações nos vasos,

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AS VEIAS E SEU FUNCIONAMENTO movimento do líquido recebe o nome de filtração. A filtração capilar é
causada pela pressão hidrostática que força o líquido a sair dos capilares
O sangue, em todas as veias sistêmicas, flui para o átrio direito. A pressão no através de junções celulares permeáveis. A maioria dos capilares apresenta
átrio direito é chamada de pressão venosa central. Qualquer coisa que afete uma transição da filtração resultante na extremidade arterial para a
a pressão no átrio direito também afeta a pressão venosa em todo o corpo na absorção resultante na extremidade venosa. Exceções são os capilares de
maioria das vezes. A fraqueza do coração aumenta a pressão do átrio direito, parte dos rins que filtram líquidos ao longo de todo o seu comprimento e
bem como qualquer efeito que produza influxo rápido do sangue nas veias alguns capilares intestinais que são somente absortivos.
para o átrio direito. Alguns fatores que podem causar isso são o volume
sanguíneo aumentado, o aumento do tônus dos vasos sanguíneos mais SISTEMA LINFÁTICO
calibrosos com consequente aumento das pressões venosas periféricas e
dilatação das arteríolas, que diminui a resistência periférica. Os mesmos Os vasos do sistema linfático interagem com outros três sistemas: o
fatores que regulam a pressão no átrio direito também participam da circulatório, o digestório e o imunitário. As funções do sistema linfático são:
regulação do débito cardíaco. A pressão do átrio direito normal é restituir de volta ao sistema circulatório os líquidos e proteínas filtrados
aproximadamente 0 mmHg. para fora dos capilares; capturar a gordura absorvida no intestino delgado e
transferi-la para o sistema circulatório; e atuar como um filtro para ajudar a
Mais de 60% do sangue fica nas veias, por isso dizemos que elas funcionam capturar e destruir patógenos.
como reservatório de sangue para a circulação. Quando sangue é perdido
pelo corpo e a PA começa a cair, reflexos de pressão são ativados e
produzem sinais neurais simpáticos para as veias, causando vasoconstrição e
retirando grande parte da folga no sistema circulatório causada pela perda
de sangue. Certas partes do sistema sanguíneo são tão extensas e
complacentes que recebem a denominação de reservatórios sanguíneos, por
exemplo, o baço, que é também um reservatório para o armazenamento de
glóbulos vermelhos; o fígado, as grandes veias abdominais, os plexos
venosos subcutâneos, o coração e os pulmões.

TROCAS NOS CAPILARES

Uma vez que o sangue atinge os capilares, as células e o plasma trocam


materiais através das paredes dos capilares, as quais são muito finas. A
densidade de capilares em cada tecido está diretamente relacionada coma
taxa metabólica de suas células, sendo que músculos e glândulas têm a
densidade mais elevada. A permeabilidade do capilar é determinada pelas
junções celulares entre as células endoteliais e varia de tecido para tecido.

As trocas entre o plasma e o líquido intersticial ocorrem pelo movimento


entre as células endoteliais (via paracelular) ou através das células
(transporte transendotelial). Pequenos solutos dissolvidos e gases movem-se
por difusão entre ou através das células, dependendo de sua solubilidade
lipídica. Solutos maiores e proteínas movem-se principalmente por
transporte vesicular.

Uma terceira maneira de os capilares realizarem trocas é o fluxo de massa


ou fluxo sob pressão. Fluxo de massa refere-se ao movimento de massa do
líquido como resultado de gradientes de pressão hidrostática ou osmótica.
Se a direção do fluxo de massa é para dentro dos capilares, recebe o nome O sistema linfático permite movimento unidirecional do líquido intersticial
de absorção; ao passo que se a direção do fluxo é para fora dos capilares, o desde os tecidos até a circulação. Os vasos linfáticos com extremidades cegas
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(capilares linfáticos) ficam próximos de todos os capilares sanguíneos, (como resultado de desnutrição grave ou insuficiência hepática) ou aumento
exceto os dos rins e do SNC. Existem grandes lacunas entre as células dos nas proteínas intersticiais.
vasos linfáticos, as quais permitem o fluxo de massa através das paredes
desses vasos. Uma vez dentro do sistema linfático, o líquido é chamado de RESUMO DAS CAUSAS DE EDEMA EXTRACELULAR
linfa.

Os vasos linfáticos nos tecidos unem-se uns aos outros a fim de formarem
vasos linfáticos maiores. Esses vasos possuem um sistema de valvas
semilunares semelhantes às valvas venosas. Os ductos linfáticos maiores
desembocam na circulação venosa logo abaixo das clavículas, onde as veias
subclávias direita e esquerda juntam-se ás veias jugulares internas. Em
intervalos ao longo do percurso, os vasos penetram nos linfonodos, que são
nódulos que possuem uma cápsula externa fibrosa e uma coleção interna de
células ativas imunitariamente, como macrófagos e linfócitos.

Diferente do sistema circulatório, o sistema linfático não possui uma bomba


como o coração, portanto seu fluxo depende basicamente de ondas de
contração do músculo liso da parede dos vasos linfáticos maiores; sendo que
este é auxiliado pelas fibras contráteis das células endoteliais, pelas valvas
unidirecionais e pela compressão externa gerada pelos músculos
esqueléticos.

EDEMA Existem três fatores de segurança que evitam acúmulo de líquido nos
espaços intersticiais: baixa complacência do interstício, quando a pressão
Edema refere-se à presença de excesso de líquido nos tecidos do corpo. Na intersticial for negativa; a capacidade do fluxo linfático de aumentar por 10
maioria das vezes, o edema ocorre no compartimento de líquido a 50 vezes o normal; e a diluição das proteínas do líquido intersticial,
extracelular, mas pode também envolver o líquido intracelular. O edema é quando a filtração capilar aumenta, o que causa a redução da pressão
um sinal de que as trocas normais entre os sistemas circulatório e linfático coloidosmótica do líquido intersticial.
estão alteradas, geralmente por drenagem inadequada da linfa ou filtração
capilar sanguínea excede muito a absorção capilar. A drenagem inadequada MECANISMOS DE CONTROLE DO FLUXO SANGUÍNEO
da linfa ocorre por obstrução do sistema linfático, particularmente nos
linfonodos. Os fatores que afetam o equilíbrio entre a filtração e a absorção O fluxo sanguíneo para cada tecido é usualmente mantido no nível mínimo
capilares incluem aumento na pressão hidrostática capilar (comumente por suficiente para suprir as suas necessidades. O controle do fluxo sanguíneo
insuficiência cardíaca), diminuição na concentração de proteínas plasmáticas garante que os tecidos quase nunca passem por deficiência nutricional de
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oxigênio e a carga de trabalho do coração seja mantida no menor nível SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem
possível. integrada. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

Problema 2.2
Os vasos que mais participam na regulação da velocidade do fluxo sanguíneo
por todo o corpo são designados vasos de resistência (arteríolas). As paredes
das arteríolas são em grande parte constituídas por músculo liso, que torna
possíveis as variações do diâmetro da luz vascular.
OBJETIVOS
O controle local do fluxo sanguíneo pode ser dividido em duas fases:
controle agudo e a longo prazo. O controle agudo é realizado por meio de 1) Descrever ciclo cardíaco, circulação coronariana, histologia e
variações rápidas da vasoconstrição/vasodilatação local das arteríolas, organização funcional cardíaca.
metarteríolas e esfíncteres pré-capilares, que ocorre em segundos ou 2) Descrever débito cardíaco, volume sistólico e retorno venoso.
minutos para permitir a manutenção muito rápida do fluxo sanguíneo
tecidual local apropriado. O controle a longo prazo consiste em variações ANATOMIA, HISTOLOGIA E ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL
lentas e controladas do fluxo ao longo de dias, semanas ou até mesmo CARDÍACA
meses, como resultado de aumento ou diminuição nas dimensões físicas e
no número de vasos sanguíneos que suprem os tecidos, causando um LOCALIZAÇÃO
melhor controle do fluxo em proporção às necessidades teciduais.
O coração se localiza no centro da caixa torácica, mais precisamente no
Grande parte dos vasodilatadores (bradicinina, histamina) e dos
mediastino, que e o espaço entre o dois pulmões. Seus limites são
vasoconstritores (norepinefrina, epinefrina, vasopressina, angiotensina II)
determinados pelo diafragma inferiormente, pelos pulmões lateralmente,
exerce pouco efeito a longo prazo no fluxo sanguíneo, a menos que alterem
pela coluna vertebral posteriormente e pelo esterno e costelas
a intensidade metabólica dos tecidos. Os tecidos possuem capacidade de
anteriormente. O coração tem o formato de uma pirâmide inclinada, com o
autorregular seu fluxo sanguíneo conforme suas necessidades, desde que a
ápice na direção anteroinferior e para a esquerda e a base oposta ao ápice.
pressão arterial seja adequada para a perfusão desses tecidos.

Muitos íons e outros fatores químicos diferentes podem dilatar ou contrair ENVOLTÓRIOS
os vasos sanguíneos locais, embora a maioria tenha pequena função na
regulação geral da circulação. O pericárdio é um saco fibrosseroso que reveste a cavidade serosa que
circunda o coração. O pericárdio fibroso e inelástico, esta fixado anterior e
Quando uma artéria ou veia é bloqueada em praticamente qualquer tecido inferiomente ao esterno e ao diafragma, e funde-se com a túnica externa dos
do corpo, em geral surge um novo canal vascular que se desenvolve ao grandes vasos quando estes entram ou saem desse saco. Assim, mantém o
redor do bloqueio e permite pelo menos uma nova irrigação parcial de coração em sua posição mediastinal média e limita sua capacidade de
sangue para o tecido afetado. O desenvolvimento de uma circulação enchimento. A ocupação do pericárdio por líquido ou tumor compromete o
contralateral é um fenômeno a longo prazo da regulação local do fluxo enchimento do coração. A inflamação do pericárdio (pericardite) causa a
sanguíneo. diminuição do líquido pericárdico, de forma que o coração sofra mais com o
atrito conforme se movimenta.
REFERÊNCIAS
O pericárdio seroso reveste o pericárdio fibroso e pode ser divido em duas
DAVIS, Joshua P. Scallan Scott D. Zawieja Jorge A. Castorena‐gonzalez lâminas: visceral e parietal. O pericárdio seroso tem uma superfície
Michael J.. Lymphatic pumping: mechanics, mechanisms and brilhante lubrificada que permite que o coração tenha a liberdade necessária
malfunction. The journal of physiology, Columbia, v. 594, p. 5749- para seus movimentos de contração com torção. Entre os pericárdios
5768, mai. 2016 visceral e parietal está a cavidade pericárdica, onde se localiza o liquido
pericárdico, no qual o coração desliza quando se move. A lâmina parietal do
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de pericárdio seroso é sensível. Os impulsos álgicos originados nela e
Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. conduzidos pelos nervos frênicos somáticos resultam em sensações de dor
referida.

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ORGANIZAÇÃO FUNCIONA L CARDÍACA As paredes das artérias e veias também possuem três camadas: túnica intima
(tecido epitelial), túnica media (músculo liso) e túnica externa (tecido
O coração é uma bomba dupla de sucção e pressão, que impulsiona o sangue conjuntivo). Portanto, pode-se dizer que essas camadas são análogas as do
pela dupla alça infinita formada pelos circuitos pulmonar e sistêmico. Cada coração.
lado do coração tem uma câmara de recepção (átrio) e uma câmara de
Entre o AD e o AE existe o septo interatrial, que impede a comunicação entre
sucção, compressão e expulsão (ventrículo). As câmaras bilaterais são
essas câmaras. Da mesma forma, entre o VD e o VE está localizado o septo
separadas por um septo cardíaco formado principalmente por tecido
interventricular. A comunicação interatrial (CIA) e a comunicação
muscular, mas parcialmente membranáceo. Existem valvas
interventricular (CIV) são anomalias congênitas que podem adquirir maior
atrioventriculares (AV) entre as câmaras unilaterais para facilitar o
ou menor importância clínica, de acordo com seu tamanho e localização.
bombeamento em duas fases (acumulo e ejeção). Na saída de cada lado,
existem valvas arteriais unidirecionais semilunares (pulmonar e aórtica) que
O nodo sinusal ou sinoatrial (SA) é uma faixa pequena, achatada e elipsoide
impedem o refluxo (exceto aquele que enche as artérias coronárias) e
de músculo cardíaco especializado. Está situado na parede posterolateral do
mantêm a pressão diastólica das artérias.
AD, imediatamente abaixo e pouco lateral à abertura da VCS. O nodo AV está
situado na parede posterior do AD, imediatamente atrás da valva tricúspide.
Entre o AD e o VD, a válvula existente é chamada de tricúspide. Entre o AE e
o VE, mitral ou bicúspide. Essas valvas fazem com que o sangue flua
HISTOLOGIA CARDÍACA
somente dos átrios para os ventrículos e não no sentido contrário. Na saída
do VD para a artéria pulmonar, esta a valva pulmonar. Na saída do VE para a
artéria aorta, está a valva aórtica.

A parede de cada câmara cardíaca e composta por três camadas: endocárdio,


uma fina camada interna ou membrana de revestimento do coração que
também recobre suas valvas, composta por endotélio e tecido conectivo
subendotelial; miocárdio, uma camada intermediária helicoidal e espessa,
formada por músculo estriado cardíaco; e epicárdio, uma camada externa O coração é formado por dois tipos de células musculares: contráteis e
fina (mesotélio) formada pela lâmina visceral do pericárdio seroso. As condutoras. As células contráteis formam a maior parte dos tecidos atriais e
paredes do VE são mais grossas que a do VD, pois estão sujeitas a uma ventriculares; são responsáveis pelo trabalho cardíaco. Os potenciais de ação
pressão maior. nessas células produzem contração e geração de força ou pressão. As células

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condutoras são encontradas no nodo AS, nos tratos internodais, no nodo AV,
no feixe de His e no sistema de Purkinje.
CIRCULAÇÃO CORONARIA NA
As fibras musculares cardíacas são muito menores que as fibras musculares
esqueléticas e em geral possuem um núcleo por fibra. As células musculares Nos seres humanos, o fluxo sanguíneo coronário corresponde de 4 a 5% do
cardíacas individuais se ramificam e se juntam com as células vizinhas débito cardíaco total. O infarto do miocárdio ocorre basicamente quando o
criando uma rede complexa. As junções celulares (discos intercalares, que fluxo de algumas artérias que irriga o coração fica obstruída, levando à
são sinciciais) consistem em membranas interdigitadas com dois isquemia de uma parte do coração. As artérias coronárias são inicialmente
componentes: os desmossomos e as junções comunicantes. Os desmossomos duas (esquerda e direita) e possuem seus óstios presentes nas válvulas da
são conexões fortes que mantêm as células adjacentes unidas permitindo valva aórtica.
que a força criada em uma célula seja transferida para a célula vizinha.
A artéria coronária direita (ACD) e seus ramos são responsáveis por nutrir o
As junções comunicantes conectam eletricamente as células umas às outras, AD e o VD, o septo interatrial e os nodos SA e AV. Alguns ramos irrigam
permitindo a passagem das ondas de despolarização de forma rápida; assim, parte das câmaras esquerdas, principalmente a parte posterior do VE e um
quase todas as células do músculo cardíaco se contraem quase pouco do septo interventricular. Os principais ramos da ACD são o ramo
simultaneamente. Os túbulos T das células miocárdicas são maiores que os atrial, o ramo do nodo sinoatrial, o ramo do cone arterial, os ramos AV
do músculo esquelético e se ramificam dentro das células miocárdicas. O anteriores, o ramo marginal direito, os ramos AV posteriores, os ramos
retículo sarcoplasmático miocárdico é menor que o do músculo esquelético; interventriculares e o ramo do nodo AV. A artéria coronária esquerda (ACE) é
por isso, o músculo cardíaco depende, em parte, do Ca2+ extracelular para mais calibrosa que a ACD e é responsável por irrigar as câmaras direitas do
iniciar a contração. As mitocôndrias ocupam cerca de um terço do volume coração, boa parte do septo interventricular e o sistema de Purkinje. Seus
celular de uma fibra contrátil cardíaca, porque a demanda energética do principais ramos são a artéria interventricular anterior (ou artéria
coração é alta. descendente anterior - DA), da qual também saem ramos ventriculares,
sendo o mais significativo o ramo lateral ou diagonal; e a artéria circunflexa
(CX), da qual sai o ramo marginal esquerdo.

A drenagem do coração é realizada pelo seio coronário que recebe o sangue


de suas tributárias e despeja-o no átrio direito. O seio coronário tem de 2 a 3
cm de comprimento e se localiza no sulco coronário, posteriormente às
câmaras esquerdas. São quatro as tributárias principais: a veia cardíaca
parva, a veia cardíaca posterior, a veia cardíaca magna e a veia
interventricular posterior. Além disso, existem as veias cardíacas mínimas
que drenam o sangue de diversas regiões para as quatro cavidades do
coração.

ELETROFISIOLOGIA CARDÍACA

A eletrofisiologia cardíaca inclui todos os processos envolvidos na ativação


elétrica do coração: os potenciais de ação cardíacos, a condução dos
As fibras de Purkinje encontram-se sob o endocárdio que reveste as duas
potenciais de ação ao longo dos tecidos especializados de condução, a
faces do septo interventricular. Elas podem ser distinguidas das fibras
excitabilidade e os períodos refratários, os efeitos de modulação do sistema
musculares cardíaca por conterem um número reduzido de microfibrilas
nervoso autônomo na frequência cardíaca, velocidade de condução e
localizadas na periferia da fibra e pelo diâmetro da fibra ser maior. Além
excitabilidade e o eletrocardiograma (ECG).
disso, elas promovem uma reação positiva para aceti1colinesterase e contêm
muito glicogênio. As fibras de Purkinje perdem estas características
POTENCIAIS DE AÇÃO CARDÍACOS
específicas quando se fundem com as fibras musculares cardíacas. Assim
como estas, as fibras de Purkinje são estriadas e unidas entre si por discos
O potencial de ação se propaga por todo o miocárdio, na seguinte sequência:
intercalares atípicos.
nodo AS; tratos internodais e átrios; nodo AV; feixe de His, sistema de
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Purkinje e ventrículos. O potencial de ação também se propaga de uma As células ventriculares, atriais e de Purkinje possuem potenciais de ação de
célula muscular cardíaca à outra por meio de vias de baixa resistência entre longa duração e, por conseguinte, longos períodos refratários. Além disso,
as células (junções abertas ou gap junctions). Um ritmo sinusal normal seus potenciais de repouso são estáveis e os potenciais de ação são
significa que o padrão e o momento da ativação elétrica do coração são caracterizados por um platô. Quanto maior a duração do potencial de ação,
normais. Para se qualificar o ritmo sinusal como normal, os três critérios a maior o período refratário.
seguir devem ser atendidos: o potencial de ação tem de se originar no nodo
SA; os impulsos nodais SA devem ocorrer regularmente na frequência de 60 FASES DO POTENCIAL DE AÇÃO
a 100 impulsos por minuto; e a ativação do miocárdio deve ocorrer na
sequência correta e com o momento e atrasos corretos.  Fase 0: deflexão inicial ou fase ascendente. O potencial de ação
nas células supramencionadas começa por uma despolarização
O potencial de membrana das células cardíacas é determinado pelas muito rápida, chamada de deflexão inicial ou upstroke. Essa
condutâncias relativas (ou permeabilidades) a íons e pelos gradientes de despolarização causa um aumento transitório da condutância ao
concentração para os íons permeantes. O potencial da membrana em Na+ e a abertura dos canais de Na+. Assim, ocorre a corrente de
repouso das células cardíacas é determinado principalmente pelos íons K+. influxo de Na+, despolarizando o potencial de membrana até
Alterações no potencial de membrana são causadas pelo fluxo de íons para valor da ordem de + 20 mV.
dentro ou para fora da célula. Para que ocorra o fluxo de íons, a membrana  Fase 1: repolarização inicial. Ocorre uma corrente de efluxo dos
da célula deve ser permeável ao íon. A despolarização ocorre quando íons Na+. As comportas dos canais de Na+ fecham, cessando seu
acontece movimento efetivo de cargas positivas para dentro da célula influxo; além de que ocorre uma corrente de efluxo de íons K+,
(corrente de influxo). A hiperpolarização ocorre quando há movimento causando por forças motrizes tanto químicas quanto elétricas (a
efetivo de carga positiva para fora da célula (corrente de efluxo). concentração intracelular de K+ é superior à concentração
extracelular de K+, e o interior da célula é eletricamente
POTENCIAIS DE AÇÃO DOS VENTRÍCULOS, ÁTRIOS E positivo).
SISTEMA DE PURKINJE  Fase 2: platô. Durante o platô, ocorre longo período (150 a 200
ms) de potencial de membrana despolarizado relativamente
estável, particularmente nas fibras ventriculares e de Purkinje.
Os canais de Ca2+, que se abrem durante o platô,são canais tipo L
e são inibidos pelos bloqueadores do canal de Ca2+ nifedipina,
diltiazem e verapamil. Para contrabalancear a corrente de
influxo de Ca2+, ocorre a corrente de efluxo de K+, impulsionada
pela força motriz eletroquímica sobre os íons K+. Assim, durante
o platô, a corrente efetiva é zero e o potencial de membrana
permanece em um valor despolarizado estável.
 Fase 3: repolarização. Ocorre redução da condutância de Ca 2+ e o
aumento da condutância de K+, causando diminuição do influxo
de Ca2+ e aumento do efluxo de K+. No fim dessa fase, a corrente
de efluxo de K+ diminui.
 Fase 4: potencial de membrana em repouso (diástole elétrica). O
potencial de membrana se repolariza, totalmente, durante a fase
3 e volta ao nível de repouso de cerca de −85 mV. Durante a
fase 4, o potencial de membrana fica de novo estável, e as
correntes de influxo e de efluxo são iguais.

POTENCIAIS DE AÇÃO N O NODO SINOATRIAL

O nodo SA é o marca-passo normal do coração. As seguintes características


do potencial de ação do nodo SA diferem das encontradas das fibras atriais,

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ventriculares e dos ramos subendocárdicos: o nodo SA apresenta velocidade de despolarização da fase 4.


automaticidade, ou seja, pode gerar espontaneamente potenciais de ação
sem estímulo neural; tem potencial de membrana em repouso instável; e Além do nodo SA, outras células (células do nodo AV, do fascículo AV e as
não tem qualquer platô sustentado. fibras de Purkinje) têm a capacidade de despolarização espontânea da fase 4
e são chamadas de marca-passos latentes. Os marca-passos latentes têm a
FASES DO POTENCIAL DE AÇÃO oportunidade de produzir o ritmo cardíaco somente se o nodo SA for
suprimido ou se a frequência de disparo intrínseca do marca-passo latente
 Fase 0: fase ascendente. A deflexão ascendente resulta de um ficar mais rápida do que a do nodo SA. Como a frequência intrínseca dos
aumento da condutância do Ca2+ e do aumento da corrente de marca-passos latentes é mais lenta do que a do nodo SA, o coração irá bater
influxo desse íon. em frequência mais lenta, se for controlado por marca-passo latente.
 Fase 1: ausente.
 Fase 2: ausente. VELOCIDADE DE CONDUÇÃO
 Fase 3: repolarização. Aumento da condutância ao K+ e efluxo de
K+, que repolariza o potencial de membrana. A velocidade de condução determina quanto tempo demora para o potencial
 Fase 4: despolarização espontânea ou potencial do marca-passo. de ação se propagar para vários locais do miocárdio. Diferenças da
Essa é a fase mais longa e responsável pela automaticidade das velocidade de condução entre os tecidos cardíacos têm implicações para as
células do nodo SA. Ocorre lenta despolarização causada pela suas funções fisiológicas. Por exemplo, a velocidade de condução lenta do
abertura dos canais de Na+ e por uma corrente de influxo de nodo AV garante que os ventrículos não sejam ativados antes que tenham
Na+. A velocidade da despolarização nessa fase define a FC. Os tempo de se encher de sangue. Por outro lado, a velocidade de condução
efeitos do SNA sobre a FC são baseados nas mudanças de rápida dos ramos subendocárdicos garante que os ventrículos possam ser
ativados, rapidamente, e em sequência uniforme para a ejeção eficiente do

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sangue. Quanto maior a corrente de influxo, mais rapidamente as correntes A onda P é causada pelos potenciais elétricos gerados pelos átrios ao se
locais irão se espalhar para áreas adjacentes e despolarizá-las até o limiar. A despolarizarem antes de se contraírem. Representa, portanto, a contração
propagação do potencial de ação depende também das propriedades de cabo atrial.
das fibras do miocárdio.
O intervalo PR é o tempo decorrido desde a despolarização inicial dos átrios
EXCITABILIDADE E PERÍODOS REFRATÁRIOS até a despolarização inicial dos ventrículos. Assim, o intervalo PR inclui a
onda P e o segmento PR, parte isoelétrica (em linha reta) do ECG, que
Excitabilidade é a capacidade do miocárdio de gerar potenciais de ação em corresponde à condução AV.
resposta a correntes despolarizantes de influxo. Os seguintes períodos
O complexo QRS é causado pelos potenciais gerados quando os ventrículos
refratários refletem as diferenças de excitabilidade ao longo da duração do
se despolarizam antes de se contraírem. A duração total do complexo QRS é
potencial de ação:
semelhante à da onda P.
 Período refratário absoluto: durante a maior parte do tempo da
A onda T é causada por potenciais gerados conforme os ventrículos se
duração do potencial de ação, a célula ventricular é
recuperam do estado de despolarização (repolarização).
completamente refratária para disparar outro potencial de ação.
Independentemente do tamanho do estímulo (corrente de O intervalo QT inclui o complexo QRS, o segmento ST e a onda T, e
influxo) que poderia ser aplicado, a célula é incapaz de gerar um representa a primeira despolarização ventricular até a última repolarização
segundo potencial de ação, durante o período refratário absoluto ventricular. O segmento ST é um trecho isoelétrico do intervalo QT que se
(PRA), porque a maior parte dos canais de Na + está fechada. O correlaciona ao platô do potencial de ação ventricular.
período refratário absoluto inclui a deflexão ascendente, todo o
platô e parte da repolarização. Esse período termina quando a EFEITOS AUTONÔMICOS NO CORAÇÃO E VASOS
célula já se repolarizou a aproximadamente -50 mV. SANGUÍNEOS
 Período refratário efetivo: o PRE inclui o período refratário
absoluto e é ligeiramente mais longo que ele. Ao final do período A estimulação do SNS e das catecolaminas circulantes produz aumento da
refratário efetivo, os canais de Na+ começam a se recuperar. A contratibilidade (efeito inotrópico positivo). Esse efeito é mediado por meio
distinção entre os períodos refratários absoluto e efetivo é que da ativação dos receptores beta 1. A estimulação do SNP e da ACh exerce
no absoluto absolutamente nenhum estímulo é suficientemente efeito inotrópico negativo sobre os átrios. Esse efeito é mediado por
grande para gerar outro potencial de ação; e no efetivo, um receptores muscarínicos.
potencial de ação conduzido não pode ser gerado.
 Período refratário relativo: o PRR começa ao fim do PRA e CICLO CARDÍACO
continua até a repolarização total da membrana celular. Durante
o PRR, ainda mais canais de Na+ se recuperaram e é possível A abertura e o fechamento das valvas são processos que estão sempre
gerar segundo potencial, embora seja necessário estímulo maior relacionados à diferença de pressão entre as cavidades comunicantes. Toda
que o normal. Se um segundo potencial de ação é gerado, manifestação mecânica é precedida por uma manifestação elétrica.
durante o PRR, terá fase de platô encurtada.
 Período supranormal: o PSN ocorre após o PRR. A célula é mais DIÁSTOLE
excitável que o normal, ou seja, menos corrente de influxo é
necessária para despolarizar a célula até o potencial limiar. RELAXAMENTO ISOVOLUMÉTRICO

ELETROCARDIOGRAMA Nesse momento, todas as valvas (aórtica, pulmonar, mitral e tricúspide)


estão fechadas. O ventrículo acabou de ejetar o sangue, então a diminuição
O eletrocardiograma (ECG) normal é formado por uma onda P, um complexo da pressão no AD causou o fechamento da valva. Nesse momento, a valva
QRS e uma onda T. mitral também está fechada, mas, com o relaxamento do coração, a pressão
gradativamente diminui, visto que o volume não está variando. Uma vez que
a circulação não para enquanto as valvas estão fechadas, a pressão atrial

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aumenta, pois o volume está aumentando. Quando a pressão do AE supera a representada pela onda P no eletrocardiograma. Essa contração causa o
do VE, a valva mitral se abre. aumento das pressões atriais e as pressões de enchimento do VE. A quarta
bulha (B4) pode ser auscultada.

SÍSTOLE
ENCHIMENTO VENTRICULAR RÁPIDO
CONTRAÇÃO ISOVOLUMÉTRICA
A abertura das valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide) determina o
início dessa etapa. Essa abertura é abrupta e causa o enchimento rápido do
Logo após a contração do AE que ejetou o resto de sangue contido em seu
ventrículo. Nesse momento, a pressão do VE está inferior à do AE. B3 pode
interior, ocorreu a onda R e o aumento das pressões causado pelo aumento
ser auscultado nesse momento, principalmente em adolescentes; sendo um
de volume provoca o fechamento da valva AV, o que acontece de fato quando
marcador de dilatação ventricular e disfunção. B3 representa o choque do
a pressão do VE supera a pressão do AE. Entretanto, a pressão do VE ainda
sangue ejetado pelo AE com a quantidade de sangue represada no VE
não é suficiente para superar a pressão de dentro da aorta; então, o sangue
durante a dilatação isovolumétrica por não ter sido ejetada na contração do
começa a fazer pressão sobre
VE.
as valvas aórticas (semilunares). É o intervalo entre o fechamento da valva
ENCHIMENTO VENTRICULAR LENTO (DIASTASE) AV até a abertura da valva aórtica. As valvas aórtica, pulmonar, mitral e
tricúspide estão fechadas. A valva mitral fecha antes da tricúspide. Os
A valva está aberta e a pressão do AE ainda é maior que a do VE. Como a
ventrículos permanecem com capacidade máxima de volume. É a pressão
circulação não para, o sangue que estava passando pelas veias pulmonares
diastólica final.
continua escorrendo, embora com velocidade menor. Destacam-se a redução
progressiva do gradiente de pressão entre átrios e ventrículos; o aumento do
EJEÇÃO VENTRICULAR RÁPIDA
volume do VE graças à sua complacência; o aumento gradativo das pressões
A valva aórtica se abre porque houve um aumento gradativo da pressão
de enchimento do VE; e o período da perfusão coronariana.
sobre ela. Com a abertura dessa valva, a pressão é liberada para a circulação.
Ocorre o esvaziamento rápido do volume ventricular e a dilatação transitória
CONTRAÇÃO ATRIAL
da raiz de aorta. A pressão nos ventrículos e nas artérias atinge seu maior
nível. Isso acontece imediatamente após o complexo QRS.
A contração atrial inicia-se após estímulo elétrico do nó sinusal,

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EJEÇÃO VENTRICULAR LENTA própria frequência cardíaca, a pré-carga, a pós-carga e a contratilidade do


músculo cardíaco; os três últimos afetam o volume sistólico.
A partir do momento em que a pressão ventricular cai abaixo da pressão na
aorta, a válvula aórtica se fecha. A ejeção ventricular lenta inicia-se a partir A FC pode ser alterada por efeitos cronotrópicos positivos (↑ FC) e por
do ponto de pressão máxima do VE e aorta. Ocorre a redução da tensão e do efeitos cronotrópicos negativos (↓ FC), ocasionados por estímulos do SNA,
esvaziamento ventricular; bem como um fluxo contínuo para aorta até o alterações hidroeletrolíticas ou medicamentos. A pré-carga refere-se à tensão
final da ejeção, por conta da energia cinética gerada. Mesmo após a redução exercida na parede ventricular quando o coração está mais cheio, ou seja,
da força de contração, existe uma força da artéria aorta que causa um fluxo após a contração atrial, no fim da diástole. O aumento da pré-carga otimiza a
anterógrado do sangue pelo recuo aórtico ao seu tamanho normal (efeito função de bomba cardíaca. A pós-carga é a tensão na parede do ventrículo
Windkessel). A valva aórtica se fecha antes da pulmonar. durante sua contração (sístole). Ela é a carga que deve ser vencida para que
o sangue seja bombeado; depende da complacência arterial e da resistência
DÉBITO CARDÍACO, RETORNO VENOSO E VOLUME que determina a PA. O aumento da pós-carga dificulta a ejeção de sangue
SISTÓLICO dos ventrículos. A contratilidade é a capacidade do coração se contrair. Na
insuficiência cardíaca, essa capacidade está diminuída, de forma que o
O débito cardíaco refere-se à quantidade de sangue bombeada pelo coração coração ejeta menos sangue.
para a aorta no intervalo de um minuto. O retorno venoso refere-se à Excetuando alguns batimentos cardíacos, o débito cardíaco e o retorno
quantidade de sangue que flui das veias para o átrio direito a cada minuto. venoso devem ser iguais. O débito cardíaco aumenta de modo
O volume diastólico final é o volume de sangue em seu enchimento máximo, aproximadamente proporcional com a área de superfície corporal. Assim, é
ou seja, no fim da diástole. O volume sistólico final é a quantidade de comumente expresso em termos de índice cardíaco, que é o débito cardíaco
sangue que resta no ventrículo no fim de uma contração. O índice cardíaco é por metro quadrado de superfície corporal.

o débito cardíaco por metro quadrado da área da superfície corporal. O débito cardíaco é controlado basicamente pelo retorno venoso. O retorno
venoso é afetado por quatro fatores: o gradiente de pressão venosa, a
O débito cardíaco é uma medida do desempenho cardíaco e pode ser postura (efeitos gravitacionais), a presença de válvulas venosas e a “bomba”
calculado multiplicando a frequência cardíaca (bpm) pelo volume sistólico muscular esquelética. As veias varicosas têm um calibre maior que o normal
(ml por batimento ou por contração): DC = FC x VS. Levando em e as cúspides de suas válvulas não se tocam ou foram destruídas por
consideração a fórmula, é possível descrever os fatores que afetam o DC: a
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inflamação. Diz-se que elas são válvulas incompetentes, porque são OBJETIVOS
incapazes de desempenhar sua função de forma eficaz. As veias varicosas são
comuns nas partes posterior e medial dos membros inferiores. 1) Descrever mecanismos de controle a curto prazo da pressão
arterial.
O princípio ou lei de Frank-Starling diz que quando quantidades
2) Analisar reação isquêmica do sistema nervoso central.
aumentadas de sangue fluem para o coração, há distensão das paredes das
3) Descrever mecanismos de controle a longo prazo da pressão
câmaras cardíacas. Por conseguinte, o músculo cardíaco se contrai com
arterial.
maior força e esvazia as câmaras quase tanto quanto normalmente. Assim,
todo o sangue adicional que flui para o coração e automaticamente REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL
bombeado para a aorta. Esse princípio independe da regulação pelo SNA. A
regulação do débito cardíaco é a soma de todas as regulações do fluxo
sanguíneo local.

A ocorrência de algumas anormalidades clínicas pode causar débito cardíaco


alto ao baixo. O beribéri, a fístula (derivação arteriovenosa), o
hipertireoidismo e a anemia causam débito cardíaco aumentado; ao passo
que a diminuição do volume cardíaco (comumente por hemorragia), a
dilatação venosa aguda e a obstrução de grandes veias causam débito
cardíaco diminuído. Toda vez que o débito cardíaco cai abaixo do nível
necessário para nutrição adequada dos tecidos, o indivíduo padece de
choque circulatório, podendo vir a óbito dentro de alguns minutos a
algumas horas.

REFERÊNCIAS
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de
fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.

CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

HANSEN, John T. Netter Anatomia para colorir. 1 ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2010.

KIERSZENBAUM, Abraham L. Histologia e biologia celular: Uma A pressão arterial média é a força propulsora do fluxo sanguíneo e precisa
introdução à patologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. ser mantida em valor elevado e constante de aproximadamente 100 mmHg.
A equação para a PA é dada por: PA = DC x RPT, sendo PA a pressão arterial
MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R. Anatomia média (mmHg), DC o débito cardíaco (ml/min) e RPT a resistência periférica
orientada para a clínica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. total (mmHg/ml/min). A partir dessa equação, infere-se que a PA pode ser
alterada pela variação do DC, pela RP ou por ambos. Apesar de parecer
NETTER, Frank H. Atlas de anatomia humana. 6 ed. Rio de Janeiro:
simples, é pertinente ressaltar que essas variáveis não são independentes,
Elsevier, 2015.
pois se afetam mutuamente.
ROY, A. et al. Cholinergic activity as a new target in diseases of the
Os mecanismos rápidos de controle da PA que agem em segundos ou
heart. Molecular medicine. 2014.
minutos consistem quase inteiramente de reflexos nervosos ou outras
SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem respostas
integrada.5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
A PA é regulada por dois mecanismos principais: o reflexo baroceptor (curto
prazo), de mediação neural; e o sistema renina-angiotensina-aldosterona
Problema 2.3 (longo prazo), de mediação hormonal. Entretanto, esses não são os únicos

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sistemas de controle da PA; há diversos sistemas inter-relacionados, cada um


com sua função específica.

BARORRECEPTORES E CONTROLE DA PA

Os mecanismos barorreceptores ou baroceptores são rápidos e tentam


manter a PA constante variando os efeitos do SNS e do SNP sobre o coração
e os vasos sanguíneos.

Nos órgãos periféricos, sobretudo em regiões vasculares como artérias, veias


e câmaras cardíacas, existem barorreceptores (baro = pressão), os quais são
capazes de perceber alterações de impacto sobre si. Os barorreceptores se
localizam principalmente nos seios carotídeos (bifurcação das artérias
carótidas comuns direita e esquerda nas artérias carótidas interna e externa)
e no arco aórtico. Esses barorreceptores são sensíveis ao estiramento e à
pressão; que produzem variações em seus potenciais de membrana. Os
barorreceptores disparam potenciais de ação continuamente durante a
pressão sanguínea normal. É dos barorreceptores que vem o sinal de
entrada sensorial para o centro integrador.
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA
Após os sinais dos barorreceptores atingirem o trato solitário do bulbo,
Esse sistema é bem mais lento que o reflexo baroceptor e regula a PA
surgem sinais secundários que eventualmente inibem o centro
principalmente pela regulação do volume sanguíneo. É mediado por
vasoconstritor do bulbo e excitam o centro parassimpático vagal. Assim,
hormônios e funciona da seguinte maneira:
ocorre vasodilatação das veias e arteríolas periféricas, bem como diminuição
da FC e da força de contração cardíaca. Ou seja, a pressão nas artérias excita 1) A redução da PA causa diminuição da pressão de perfusão renal, o que
os barorreceptores, causando a redução da resistência periférica e do débito é notado pelos mecanorreceptores nas arteríolas aferentes dos rins. A
cardíaco, de modo a diminuir a PA de maneira reflexa. Ao contrário, a baixa diminuição da PA faz com que a pró-renina seja convertida em renina.
pressão produz efeitos opostos, provocando a elevação reflexa da PA. Uma 2) A renina é uma enzima que, no plasma, converte angiotensinogênio
vez que o sistema baroceptor se opõe a reduções e elevações da PA, é em angiotensina I.
chamado também de sistema tampão da pressão ou sistema de 3) Nos pulmões e rins, a angiotensina I é convertida em angiotensina II
tamponamento pressórico. Os nervos dos barorreceptores são chamados de pela enzima conversora de angiotensina (ECA).
nervos tampões. 4) A angiotensina II tem as seguintes ações:
O sistema baroceptor tem grande importância para manter a PA  Na zona glomerulosa do córtex adrenal, estimula a síntese e a
relativamente constante ao longo do dia e durante alterações posturais. Sem liberação de aldosterona, que atua na reabsorção de Na+ no
esse sistema, a PA teria o triplo de variação durante o dia. No entanto, os túbulo renal distal e no ducto coletor, aumentando o volume de
baroceptores são pouco relevante no controle da PA a longo prazo, visto que líquido extracelular (LEC) e volume sanguíneo.
os mesmos se reajustam a qualquer nível de pressão a que estejam  No rim, de forma independente da aldosterona, a angiotensina
expostos, em cerca de um ou dois dias. II estimula a troca Na+ - H+ no túbulo proximal renal e
aumenta a reabsorção de Na+ e de HCO3-.
 No hipotálamo, a angiotensina II aumenta a sede e a ingestão
de água. Além disso, estimula a secreção do hormônio
antidiurético, que aumenta a reabsorção de água nos ductos
coletores. Ao aumentar a água corporal total, esses efeitos
complementam a reabsorção de Na+, aumentando o volume de
LEC, de sangue e a PA.
 Nas arteríolas, a angiotensina II provoca vasoconstrição. O
aumento resultante na RPT causa aumento da PA.
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Em resumo, o sistema renina-angiotensina-aldosterona produz uma série de arterial elevado e seus quimiorreceptores são sensíveis a alterações das
respostas biológicas que aumentam o retorno venoso e o débito cardíaco, o pressões parciais de O2 e de CO2, bem como do pH. A resposta dos
qual causa aumento da PA. Ademais, o efeito de vasoconstrição das quimiorreceptores periféricos à PO2 arterial é maior quando PCO2 está
arteríolas causado pela angiotensina II aumenta a RPT, o que contribui para simultaneamente aumentada ou o pH está reduzido.
o aumento da PA.
Quando a PO2 arterial diminui, os centros de vasoconstrição simpática são
OUTROS MECANISMOS REGULADORES ativados, causando vasoconstrição arteriolar nos leitos vasculares do
músculo esquelético, renais e esplâncnicos. Ademais, ocorre aumento do
HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO fluxo parassimpático para o coração, que produz diminuição transitória da
FC. A diminuição da PO2 arterial também produz aumento da ventilação que
O hormônio antidiurético (ADH) é secretado pelo lobo posterior da hipófise. diminui, de modo independente, o fluxo parassimpático para o coração,
Sua secreção é aumentada por aumento da osmolaridade sérica e pela aumentando a FC (reflexo da insuflação do pulmão).
diminuição do volume de sangue e da PA.
BARORRECEPTORES CARDIOPULMONARES (BAIXA
Existem dois tipos de receptores de ADH. Os receptores V 1 estão presentes no PRESSÃO)
músculo liso vascular e causam vasoconstrição das arteríolas e aumento da
RPT. Os receptores V2 estão presentes nas principais células dos ductos Além dos barorreceptores de alta pressão que regulam a PA (reflexo
coletores renais e estão envolvidos na reabsorção de água, nos ductos barorreceptor), existem barorreceptores de baixa pressão nas veias, nos
coletores e na manutenção da osmolaridade do LEC. átrios e nas artérias pulmonares. Eles se localizam no lado venoso da
circulação, onde a maior parte do volume sanguíneo é mantida; e detectam
QUIMIORRECEPTORES CENTRAIS as variações do volume sanguíneo ou a “plenitude” do sistema vascular. As
respostas ao aumento do volume sanguíneo incluem o seguinte:
Os quimiorreceptores são células sensíveis à falta de oxigênio e ao excesso
de dióxido de carbono e de íons hidrogênio. Se há diminuição do fluxo  Aumento da secreção do peptídeo natriurético atrial (PNA). O
sanguíneo cerebral (isquemia), a PCO2 cerebral aumenta e o pH diminui. Os PNA é secretado em resposta ao aumento da PA e seu principal
quimiorreceptores do bulbo detectam essas mudanças e causam aumento do efeito é o relaxamento da musculatura lisa, resultando em
fluxo simpático, provocando vasoconstrição das arteríolas e aumento da vasodilatação e redução da RPT. Nos rins, isso leva ao aumento
RPT. Assim, o fluxo sanguíneo é redirecionado para o cérebro a fim de da excreção de Na+ e água, diminuindo a concentração
manter sua perfusão. Por conseguinte, a PA aumenta drasticamente. extracelular de Na+, o volume de LEC e o volume sanguíneo.
 Redução da secreção de ADH. Ocorre diminuição da reabsorção
Na reação de Cushing, ocorre o seguinte: quando a pressão do líquido de água nos ductos coletores, resultando em aumento da
cefalorraquidiano (LCR) aumenta ao redor do cérebro e da caixa craniana, as excreção de água.
artérias cerebrais são comprimidas, resultando em diminuição da perfusão
 Vasodilatação renal. Ocorre inibição da vasoconstrição simpática,
cerebral. Se essa pressão se iguala à PA, o suprimento sanguíneo cerebral é
nas arteríolas renais, levando à vasodilatação renal e ao aumento
bloqueado. Então, ocorre aumento imediato da PCO2 e diminuição do pH,
da excreção de Na+ e água.
pois CO2, gerado a partir do tecido cerebral, não é adequadamente removido
 Aumento da FC. Enquanto o aumento nos receptores arteriais de
pelo fluxo sanguíneo. Os quimiorreceptores bulbares respondem a essas
alta pressão produz diminuição da frequência cardíaca (tentando
mudanças, direcionando o aumento do fluxo simpático para os vasos
diminuir a pressão arterial de volta ao normal), o aumento da
sanguíneos. Então, o efeito global das mudanças é aumentar a RPT e
pressão nos receptores venosos de baixa pressão produz
aumentar drasticamente a PA. Com o aumento da PA até superar a pressão
aumento da frequência cardíaca (reflexo de Bainbridge). Os
do LCR, o sangue pode fluir novamente pelas artérias cerebrais, aliviando a
receptores atriais de baixa pressão, sentindo que o volume
isquemia.
sanguíneo está demasiado elevado, produzem aumento da
frequência cardíaca e, portanto, aumento do débito cardíaco; o
QUIMIORRECEPTORES PERIFÉRICOS EM CORPOS
aumento do débito cardíaco leva ao aumento da perfusão renal e
CAROTÍDEOS E AÓRTICOS
aumento da excreção de Na+ e de água.
Os quimiorreceptores periféricos para O2 se localizam nos corpos carotídeos,
RESPOSTA ISQUÊMICA DO SNC
no seio carotídeo; e nos corpos aórticos, no arco aórtico. Eles tem fluxo
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Quando o fluxo sanguíneo para o centro vasomotor no tronco encefálico


diminui a ponto de provocar isquemia cerebral, os neurônios
vasoconstritores e cardiovasculares no centro vasomotor ficam fortemente
excitados e respondem de forma direta à isquemia. Quando isso ocorre, a
PAS frequentemente se eleva até os níveis máximos de bombeamento
cardíaco. Esse aumento em resposta á isquemia cerebral é referido como
resposta isquêmica do SNC. O grau de vasoconstrição simpática causado pela
isquemia cerebral é frequentemente tão elevado que alguns dos vasos
periféricos ficam quase ou totalmente obstruídos. A resposta isquêmica do
SNC é um dos principais ativadores do sistema vasoconstritor simpático.

A reação de Cushing é um tipo especial de reação isquêmica do SNC.

PAPEL DOS RINS NO CONTROLE DA PA E NA HIPERTENSÃO

O controle a longo prazo da PA está intimamente ligado à homeostasia do


volume de líquido corporal, determinado pelo balanço entre ingestão e Os dois determinantes principais do nível da PA a longo prazo são: o nível
eliminação de líquido. de ingestão de água e sal; e o grau de desvio da pressão na curva do débito
renal de água e sal. É impossível alterara PAM a longo prazo sem alterar um
SISTEMA RINS-LÍQUIDOS CORPORAIS desses dois determinantes; no entanto, se algum desses determinantes for
afetado, a PA é regulada em novo nível, onde as duas novas curvas se
Esse sistema atua da seguinte maneira: se o volume sanguíneo aumenta e a cruzam. A quantidade de sal acumulada no corpo é o principal determinante
capacitância vascular não é alterada, a PA aumenta; então, os rins excretam do volume extracelular, do qual pequenos aumentos podem resultar em
o volume excessivo para normalizar a pressão. Sob baixas pressões, os rins grande elevação da PA.
excretam menos líquido do que é ingerido. A elevação da PA em apenas
alguns mmHg é capaz de duplicar o débito renal de água, o que é chamado
de diurese de pressão, bem como duplicar a eliminação de sal, o que é
chamado de natriurese de pressão.

Esse balanço negativo de líquido não cessará até que a pressão caia até
atingir precisamente o ponto de equilíbrio, que é quando o débito de água e
sal se iguala à ingestão. Se a PA cair abaixo do ponto de equilíbrio, a
ingestão de água e sal passa a ser maior que o débito. Portanto, o volume de
água e sal aumenta junto com o volume sanguíneo, e a PA se eleva de novo
até chegar ao ponto de equilíbrio. Isso é chamado de feedback quase infinito
da regulação da PA pelo mecanismo rins-líquidos corporais.

A hipertensão por sobrecarga de volume é causada pelo acúmulo de LEC no


corpo, o qual eleva a PA devido à seguinte sequência de eventos:

 Aumento do volume do LEC;


 Aumento do volume sanguíneo;

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 Aumento da pressão de enchimento da circulação; elementos linfoides.


 Aumento do retorno venoso;
A mucosa nasal, úmida, filtra o ar inspirado. Além de filtrado, o ar é
 Aumento do débito cardíaco;
aquecido e umedecido ao passar sobre a mucosa. Os antígenos e alérgenos
 Aumento da PA.
transportados pelo ar são combatidos pelos elementos linfoides da lâmina
própria. Irritantes químicos e partículas são removidos da cav. nasal pelo
REFERÊNCIAS
reflexo do espirro.
CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. O teto da cav. nasal, constituído pelo aspecto superior do septo nasal, e a
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton& Hall Tratado de concha superior são revestidos por epitélio olfativo. A lâmina própria
fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. contém as glândulas de Bowman, que secretam fluido, um rico plexo
vascular e conjuntos de axônios provenientes das cél. do epitélio olfativo. O
MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R. Anatomia epitélio olfativo é responsável pela percepção de odores e também contribui
orientada para a clínica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. para o sentido da discriminação do gosto.

QIAN, Qi. Salt, water and nephron: mechanisms of action and link to SEIOS PARANASAIS
hypertension and chronic kidney disease. Nephrology (Carlton). 2018.
Os ossos do crânio (etmoide, esfenoide, frontal e maxilar) contêm grandes

Problema 3.1 espaços forrados com mucoperiósteo, os seios paranasais, que se comunicam
com a cav. nasal.

OBJETIVOS

1) Analisar a mecânica da ventilação pulmonar, considerando


as diferenças de pressão, volume e capacidade.
2) Descrever a anatomia e a histologia do sistema respiratório.

ANATOMIA E HISTOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

O sistema respiratório está subdividido em duas partes principais:


condutora e respiratória. A porção condutora, situada dentro e fora dos
pulmões, transporta ar do meio externo para os pulmões. A porção
respiratória atua na troca efetiva de oxigênio por dióxido de carbono e
se localiza exclusivamente dentro dos pulmões.

O sistema respiratório age em conjunto com o sistema circulatório, pois


este depende das trocas gasosas realizadas por aquele. O trajeto que o
ar segue, a partir de sua entrada no organismo, é o seguinte: nariz,
cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e
alvéolos.

CAVIDADE NASAL

Com exceção do vestíbulo (porção anterior da cavidade nasal, próximo


das narinas) e da região olfativa, a cav. nasal é revestida por epitélio
colunar pseudoestratificado. A lâmina própria (TC subepitelial) é
ricamente vascularizada e possui muitas glândulas seromucosas e

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FARINGE de cartilagem hialina, que evitam o seu colabamento. A traqueia, o brônquio


e os bronquíolos possuem revestimento de muco e é notável a ação dos
O orifício entre a cav. nasal e a faringe é chamado de coana. Na entrada da cílios, que é um mecanismo de defesa assim como o reflexo da tosse e o
faringe, existe uma válvula chamada epiglote, a qual fica aberta para a reflexo do espirro.
passagem do ar. A faringe é uma cavidade contínua que está subdividida em
três regiões: nasofaringe, orofaringe e laringofaringe. A nasofaringe está ÁRVORE BRÔNQUICA
revestida por epitélio respiratório, que é composto por seis tipos de células:
células caliciformes, células colunares ciliadas, células basais, células em A árvore brônquica começa na bifurcação da traqueia, que ocorre ao nível
escova, células serosas e células o sistema neuroendócrino difuso (DNES). da articulação manúbrio-esternal (ângulo de Louis) e forma os brônquios
primários. Os brônquios se ramificam progressivamente. A primeira
As células caliciformes produzem mucina. As células colunares ciliadas ramificação dos brônquios principais origina os brônquios lobares ou
movem o muco e partículas presas a ele em direção à nasofaringe, onde são secundários e a ramificação destes origina os brônquios segmentares ou
eliminados. As células basais são consideradas como células-tronco. As terciários. As vias respiratórias diminuem progressivamente de tamanho.
células em escova têm função desconhecida, mas foram associadas a Junto a isso, observa-se que a quantidade de cartilagem, o número de
terminações nervosas. As células serosas produzem um fluido seroso células caliciformes e a quantidade de glândulas diminui, bem como que há
elétron-denso. As células DNES são de vários tipos e liberam agentes aumento do músculo liso e do tecido elástico.
farmacológicos, que se acredita controlarem as funções e outras células do
epitélio respiratório. BRÔNQUIOS PRIMÁRIOS

Todas essas células estão em contato com a lâmina basal, mas nem todas Os brônquios primários apresentam estrutura igual à da traqueia, porém,
chegam ao lúmen. A lâmina própria é composta por tecido conjuntivo com menor diâmetro e paredes mais delgadas. O brônquio direito é mais
variando de frouxo a denso não modelado, vascularizado, contendo reto que o brônquio esquerdo e se divide em três brônquios lobares,
glândulas seromucosas e elementos linfoides. A faringe é um órgão enquanto o brônquio esquerdo se divide em dois. Esses brônquios penetram
muscular. Da laringe em diante, o tecido predominante é o cartilaginoso. no parênquima dos pulmões e passam a constituir os brônquios
intrapulmonares.
LARINGE
BRÔNQUIOS INTRAPULMONARES (SECUNDÁRIOS E
A laringe é um tubo rígido cilíndrico, com cerca de 4 cm de comprimento, TERCIÁRIOS)
localizado entre a faringe e a traqueia. Ela é responsável pela fonação e
impede a entrada de comida no sist. respiratório. A laringe é revestida por Cada brônquio intrapulmonar constitui a via aérea que supre um lobo do
epitélio colunar pseudoestratificado ciliado. pulmão. Estas vias aéreas são semelhantes aos brônquios primários, mas os
anéis cartilaginosos em C são substituídos por placas irregulares de
A parede da laringe é reforçada por várias cartilagens hialinas (a tireoidea, cartilagem hialina que envolvem completamente a luz dos brônquios
as cartilangens cricoideas e o aspecto inferior do par de aritenoides) e intrapulmonares.
cartilagens elásticas (a epiglote, as cartilagens corniculadas e cuneiformes, e
a região superior da cartilagem aritenoide). Estas cartilagens estão ligadas Existem nos brônquios intrapulmonares glândulas seromucosas e elementos
entre si por ligamentos e seus movimentos são controlados por músculos linfoides na lâmina própria e na submucosa. Os ductos dessas glândulas
esqueléticos intrínsecos e extrínsecos. A luz da laringe é caracterizada pela lançam o produto da secreção na superfície de revestimento epitelial
presença das pregas vestibulares (superiores) e das cordas vocais pseudoestratificado ciliado, voltado para a luz. Nódulos linfáticos são
(inferiores). particularmente evidentes nos locais de ramificação dos brônquios
intrapulmonares.
TRAQUEIA
Ao entrarem nos lobos pulmonares, os brônquios secundários subdividem-se
nos brônquios terciários ou segmentares, os quais se arborizam e vão para
A traqueia é um tubo de aproximadamente 12 cm de comprimento que
uma seção definida de tecido pulmonar denominada segmento
começa na cartilagem cricoide da laringe e termina ao se bifurcar formando
broncopulmonar. Os ramos dos brônquios terciários se arborizam,
os dois brônquios primários ou principais (direito e esquerdo). O ponto de
diminuem de tamanho e tornam-se bronquíolos.
bifurcação da traqueia é chamado de carina. A traqueia tem três camadas:
mucosa, submucosa e adventícia. Na camada adventícia, existem anéis em C
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BRONQUÍOLOS MECÂNICA VENTILATÓRIA

Os bronquíolos são considerados como sendo a 10ª a 15ª gerações de As duas principais funções da respiração são captar para oferecer aos tecidos
ramificações da árvore brônquica. Eles não possuem cartilagem em sua e remover o dióxido de carbono. Para isso, a respiração pode ser dividida
parede e sua lâmina própria não possui glândulas. em quatro grandes eventos: a ventilação pulmonar; a difusão de O 2 e CO2
entre alvéolos e sangue; o transporte de O2 e CO2; e a regulação da
BRONQUÍOLOS TERMINAIS ventilação.

Os bronquíolos terminais formam a região menor e mais distal da porção A ventilação pulmonar é o movimento do ar entre a atmosfera e os alvéolos
condutora do sistema respiratório. Eles se ramificam dando origem aos pulmonares, que se dá por meio da diferença de pressão entre os dois
bronquíolos respiratórios. ambientes através de características elásticas próprias do tecido pulmonar e
da contração muscular esquelética.
BRONQUÍOLOS RESPIRATÓRIOS
MÚSCULOS DA RESPIRAÇÃO
Os bronquíolos respiratórios são a primeira região do sistema respiratório
em que pode ocorrer troca gasosa. Sua estrutura é semelhante à dos Os pulmões são contraídos e expandidos de duas maneiras: pelo movimento
bronquíolos terminais, mas sua parede está interrompida pelos alvéolos, nos do diafragma para baixo e para cima alongando ou encurtando a cavidade
quais pode haver troca de O2 por CO2. Após ramificar-se várias vezes, cada torácica; e pela elevação ou depressão das costelas aumentando e
bronquíolo respiratório termina em um duto alveolar, que é um arranjo diminuindo o diâmetro ântero-posterior e transversal da cavidade torácica.
linear de alvéolos.
Quando o diafragma se contrai na inspiração, ele é rebaixado, aumentando o
ALVÉOLOS diâmetro supero-inferior e diminuindo a pressão intra-torácica, favorecendo
a entrada do ar. Na expiração, o diafragma relaxa e move-se para cima,
Os alvéolos são pequenos sacos constituídos por pneumócitos tipo I e diminuindo o volume da cavidade torácica e aumentando a pressão,
pneumócitos tipo II. Eles constituem a unidade estrutural e funcional favorecendo a saída do ar. A inspiração tanto no indivíduo em repouso
primária do sistema respiratório, pois suas paredes delgadas possibilitam a quanto na respiração intensa é um processo ativo. A expiração no repouso é
troca de CO2 por O2 entre o ar na sua luz e o sangue dos capilares adjacentes. um processo majoritariamente passivo (relaxamento do diafragma), mas a
A região entre dois alvéolos adjacentes é denominada septo interalveolar, o expiração forçada inclui esse mecanismo passivo e a atuação de forma ativa
qual contém um extenso leito capilar. de outros músculos que auxiliam na ventilação, chamados de músculos
acessórios da respiração.

A elevação da caixa torácica é o segundo mecanismo de expansão pulmonar.

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Em repouso, as costelas ficam inclinadas para baixo e o esterno se projeta contraídas, estado ao qual tendem a retornar quando os pulmões estão
posteriormente. Na inspiração forçada, a elevação da caixa torácica provoca expandidos, com as fibras elasticamente alongadas.
a projeção anterior do gradil costal deslocando o esterno no mesmo sentido
(afastando-se da coluna vertebral), de forma que há aumento do diâmetro A tensão superficial dos alvéolos resulta das forças de atração entre as
ântero-posterior do tórax em 20% (inspiração máxima em relação à moléculas de líquido que os revestem internamente; e é responsável por 2/3
expiração). Todos os músculos que elevam a caixa torácica são inspiratórios: das forças elásticas totais. Quando se forma uma interface entre água e ar, as
intercostais externos, auxiliados por esternocleidomastoideo, serrátil moléculas de água situadas na superfície têm atração especialmente forte
anterior e escaleno. Os músculos que deprimem a caixa torácica são os umas pelas outras. Nos alvéolos, a superfície de água também está tentando
expiratórios: retos abdominais e intercostais internos. se contrair (princípio da tensão superficial), o que tende a forçar o ar para
fora dos alvéolos, através dos brônquios e, assim, fazer com que os alvéolos
PRESSÕES PULMONARES entrem em colapso. Quanto menores forem os alvéolos, maior será a força de
colapso.
O pulmão é uma estrutura elástica que só se prende ao mediastino por meio
O surfactante é um agente tensoativo que não se dissolve uniformemente na
de seu hilo, mas não se fixa às paredes torácicas. Na ausência de força
água, espalhando-se sobre ela. O surfactante é sintetizado pelos pneumócitos
contrária, ele expulsará o ar.
tipo II e consiste principalmente no fosfolipídio dipalmitoilfosfatidilcolina
O movimento do ar tem relação direta com a pressão pleural, que é a (DPPC). O surfactante reveste internamente os alvéolos e reduz a tensão
pressão do líquido existente no espaço entre a pleural visceral e a pleura superficial ao romper as forças intermoleculares do líquido interalveolar.
parietal. Como existe um ligeiro grau de sucção deste líquido pelos canais
linfáticos, essa pressão é ligeiramente negativa. Durante a inspiração, essa RELAÇÕES ENTRE PRESSÃO, FLUXO DE AR E RESISTÊNCIA
pressão diminui de - 5 cmH2O para - 7,5 cmH2O, evento que contribui para a
entrada do ar. Na expiração, ocorre o oposto. As relações entre pressão, fluxo de ar e resistência são análogas às relações
entre PA, fluxo sanguíneo e resistência no sistema cardiovascular. O fluxo de
A pressão alveolar é a pressão no interior dos alvéolos. Quando a glote está ar é impulsionado pela diferença de pressão e é inversamente proporcional à
aberta e não há entrada e nem saída de ar dos pulmões, as pressões em resistência das vias respiratórias. O principal local de resistência das vias
todas as partes dos pulmões, incluindo os alvéolos, são iguais à pressão respiratórias são os brônquios de calibre médio.
atmosférica. Para que o ar entre nos alvéolos, durante a inspiração, a
pressão interalveolar deve cair para valor ligeiramente menor à P atm. Uma vez que a inspiração é ativa e a expiração é normalmente passiva, pode-
se dizer que só há trabalho na inspiração, considerando um indivíduo em
A pressão transpulmonar é a diferença entre a pressão alveolar e a pressão repouso. O trabalho inspiratório pode ser dividido em três partes: trabalho
pleural, ou seja, é a diferença entre a pressão nos alvéolos e na superfície da complacência ou trabalho elástico, que é o trabalho necessário para
externa dos pulmões. Ela fornece uma medida das forças elásticas nos vencer as forças elásticas dos pulmões e do tórax; trabalho da resistência
pulmões que tendem a produzir colapso dos pulmões a cada momento da tecidual, que é o trabalho necessário para vencer a viscosidade do pulmão e
respiração, a chamada pressão de retração. das estruturas da parede torácica; e trabalho da resistência ao fluxo de ar
pelas vias respiratórias. No repouso, maior trabalho é o usado para vencer a
COMPLACÊNCIA complacência e a resistência dos tecidos. Na respiração intensa, mais
trabalho é exigido para vencer a resistência nas vias respiratórias.
A complacência dos pulmões refere-se ao grau de expansão dos pulmões que
ocorre para cada unidade de aumento da pressão transpulmonar, ou seja, a Na respiração normal, cerca de 3 a 5% da energia total do corpo é
distensibilidade dos pulmões e da parede torácica. É a mudança de volume necessária. No exercício, a quantidade de energia pode chegar a ser 50 vezes
em consequência de determinada alteração da pressão As características da maior. Portanto, uma das principais limitações à intensidade do exercício
complacência são determinadas pelas forças elásticas dos pulmões que que uma pessoa pode executar consiste na sua capacidade de fornecer
podem ser divididas em dois grupos: as forças elásticas do próprio tecido energia suficiente aos músculos apenas para o processo respiratório.
pulmonar; e a força elástica da tensão superficial do líquido alveolar.

As forças elásticas do próprio tecido pulmonar devem-se ao entrelaçamento


das fibras de elastina e colágeno do tecido conjuntivo do parênquima
pulmonar. Quando os pulmões estão vazios, as fibras estão elasticamente

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CICLO RESPIRATÓRIO que se movimenta pelas vias aéreas a cada minuto. Um indivíduo
pode viver por um curto período de tempo com volume-minuto
 Antes de a inspiração começar: a pressão alveolar é igual à de apenas 1,5 L/min e FR de 2 a 4 irpm. Se a FR se eleva para 40
pressão atmosférica e o volume pulmonar é igual à CRF. A a 50 irpm e o volume corrente ficar tão grande quanto a
pressão intrapleural é negativa. capacidade vital (4600 ml), o volume-minuto será superior a 200
 Durante a inspiração: os músculos respiratórios se contraem, L/min, 30 vezes maior que o normal. A maioria das pessoas não
causando aumento do volume do tórax e diminuição da pressão consegue sustentar mais da metade a dois terços desses valores
alveolar para um valor menor que a pressão atmosférica, por mais de um minuto. VMR = VC x FR
provocando o fluxo de ar para dentro dos pulmões. A pressão  Espaço morto anatômico: é o volume das vias respiratórias de
intrapleural torna-se mais negativa. condução e normalmente corresponde a cerca de 150 ml.
 Durante a expiração: a pressão alveolar torna-se maior que a  Espaço morto fisiológico: é o volume dos pulmões que não
pressão atmosférica, causando a saída do ar. A pressão participa na troca gasosa. É aproximadamente igual ao espaço
intrapleural retorna a seu valor de repouso durante a expiração morto anatômico nos pulmões normais, mas pode ser maior em
normal, mas na expiração forçada ela se torna positiva. O volume certas doenças pulmonares.
pulmonar retorna à CRF.  Ventilação alveolar por minuto: é o volume total de ar fresco que
penetra nos alvéolos e áreas adjacentes de trocas gasosas a cada
VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES minuto. VA = FR x (VC – volume do espaço morto).

Os volumes pulmonares referem-se à quantidade de ar que entra ou sai dos As capacidades pulmonares são a combinação de dois ou mais volumes
pulmões. pulmonares.

 Volume corrente (VC): é o volume de ar inspirado ou expirado em  Capacidade inspiratória: refere-se à quantidade de ar (3500 ml)
cada incursão respiratória normal; seu valor é cerca de 500 ml. que a pessoa pode inspirar, começando no nível expiratório
 Volume de reserva inspiratório (VRI): é o volume máximo de ar normal e distendendo ao máximo os pulmões. CI = VC + VRI
adicional que pode ser inspirado além do volume corrente  Capacidade residual funcional (CRF): refere-se á quantidade de ar
normal; em geral é igual a cerca de 3000 ml. É utilizado durante (2300 ml) que permanece nos pulmões ao final da expiração
o exercício físico. funcional. CRF = VRE + VR
 Volume de reserva expiratório (VRE): é o volume máximo de ar  Capacidade vital (CV): refere-se à quantidade máxima de ar que a
adicional que pode ser eliminado por expiração forçada, após o pessoa pode expelir dos pulmões após enchê-los ao máximo e,
término da expiração corrente normal; em condições normais é em seguida, expirar completamente (4600 ml). CV = VRI + VC
cerca de 1100 ml. +VRE
 Volume residual (VR): é o volume de ar que permanece nos  Capacidade pulmonar total (CPT): refere-se ao volume máximo
pulmões após esforço expiratório máximo; em média, é igual a que os pulmões podem alcançar com o maior esforço possível
1200 ml. O VR não pode ser medido na espirometria e é o que (5800 ml). CPT = CV + VR
impede o colabamento dos pulmões.
 Volume minuto respiratório (VMR): é a quantidade total de ar Todos os volumes e capacidades pulmonares são cerca de 20 a 25% menores
em mulheres que em homens, além de serem maiores em pessoas de grande

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porte e de porte atlético do que em pessoas de pequeno porte e sedentárias. mais baixo; passando às partes mais baixas, esse fluxo aumenta
progressivamente, atingindo um pico próximo à base e diminuindo um
CIRCULAÇÃO PULMONAR pouco nas bases.

O volume sanguíneo dos pulmões é igual a cerca de 450 ml (9% do sangue Sob diferentes condições pulmonares, qualquer uma das três zonas ou
corporal), dos quais 70 ml encontram-se nos capilares pulmonares e o padrões de fluxo pulmonar pode ser encontrada.
restante é dividido entre veias e artérias. Os pulmões possuem uma
quantidade variável de reservatório de sangue, que varia desde a metade até  Zona 1: ausência de fluxo sanguíneo durante todas as partes do
o dobro do normal, por causas fisiológicas ou patológicas. ciclo cardíaco. Essa zona ocorre quando a PA sistólica pulmonar
é muito baixa ou quando a pressão alveolar é muito alta para
O pulmão tem duas circulações. A circulação de alta pressão e fluxo baixo permitir o fluxo.
supre a traqueia, a árvore brônquica, os tecidos de sustentação do pulmão e  Zona 2: fluxo sanguíneo intermitente (intermediário). Ocorre
as camadas externas dos vasos sanguíneos, artérias e veias com sangue durante os picos da PA pulmonar porque a pressão sistólica é
arterial sistêmico. As artérias brônquicas, que são ramos da artéria torácica, maior que a pressão do ar alveolar, mas a pressão diastólica é
suprem a maior parte de sangue arterial sistêmico, com pressão um pouco menor.
menor que a aórtica. A circulação de baixa pressão e fluxo elevado leva  Zona 3: fluxo sanguíneo contínuo. A pressão capilar alveolar
sangue venoso de todas as partes do corpo para os capilares alveolares, o permanece mais alta que a pressão do ar alveolar durante todo o
local das trocas gasosas. O sangue permanece nos capilares pulmonares, em ciclo cardíaco.
situações normais, por cerca de 0,8 segundo, podendo diminuir para 0,3
segundo quando o DC aumenta. A artéria pulmonar e seus ramos levam Durante o exercício, as pressões vasculares pulmonares aumentam o
sangue para os capilares alveolares e as veias pulmonares levam o sangue suficiente para converter os ápices pulmonares de padrão zona 2 para
para o AE. Os vasos linfáticos estão presentes em todo o tecido do pulmão e padrão de fluxo zona 3. No exercício intenso, o fluxo sanguíneo aumenta de
cursam sobretudo em direção ao ducto linfático torácico direito. quatro a sete vezes e é acomodado pelos pulmões mediante os seguintes
mecanismos: aumento do número de capilares abertos; distensão de todos os
O fluxo de sangue pelos pulmões é essencialmente igual ao débito cardíaco e capilares e aumento da velocidade de fluxo; e aumento da pressão arterial
é controlado pelos mesmos fatores que controlam o DC. Quando a pulmonar.
concentração de oxigênio no ar dos alvéolos cai abaixo do normal, os vasos
sanguíneos adjacentes se contraem, aumentando a resistência vascular, ao REFERÊNCIAS
contrário do que acontece na circulação sistêmica, em que a baixa de O2
causa vasodilatação. Isso acontece para que o sangue seja direcionado para CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
onde ele seja mais eficiente, ou seja, para as áreas do pulmão mais bem
GARTNER, Leslie P.; HIATT, James L. Tratado de Histologia em cores. 3
aeradas.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de


fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.

Problema 3.2
OBJETIVOS

1) Analisar a hematose e as pressões envolvidas.


2) Descrever o transporte de gases dos pulmões para os tecidos.
O fluxo sanguíneo em diferentes níveis do pulmão de um indivíduo em pé 3) Descrever a regulação da função respiratória.
varia, por causa da diferença de pressão hidrostática. No ápice dos pulmões,
tanto em repouso quanto durante o exercício, o fluxo sanguíneo pulmonar é

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HEMATOSE maior em área que outra, haverá difusão efetiva da área de alta pressão para
a área de baixa pressão. Ou seja, a diferença de pressão causa difusão. A
As trocas gasosas no sistema respiratório referem-se à difusão de O2 e de CO2 difusão efetiva do gás da área de alta pressão para a área de baixa pressão é
nos pulmões e nos tecidos periféricos, respeitando as características igual ao número de moléculas que se move nessa direção menos o número
químicas e físicas dos gases, bem como os fatores relacionados à condição de moléculas que se move na direção oposta.
atual do indivíduo (saúde, doença, repouso, exercício). Os mecanismos das
trocas gasosas são baseados nas propriedades fundamentais dos gases e LEI DE FICK
incluem seu comportamento quando em solução.
Além da diferença de pressão, a solubilidade de gás no líquido, a área de
corte transversal do líquido, a distância pela qual o gás precisa se difundir,
LEIS DOS GASES
o peso molecular do gás e a temperatura do líquido influem na difusão
gasosa em líquido.
LEI DE BOYLE
Pela lei de Fick, temos que VX = (D x A xΔP) / ΔX, sendo que VX é o
É um caso especial da lei geral dos gases. Ela estabelece que, para uma
volume de gás transferido, por unidade de tempo; D, o coeficiente de difusão
determinada temperatura, o produto da pressão pelo volume, para um gás, é
do gás; A, a área da superfície; ΔP a diferença de pressão parcial do gás; e
constante: P1V1 = P2V2
ΔX a espessura da membrana. Ressalta-se que a força propulsora, para a
LEI DE DALTON difusão de um gás, é a diferença de pressão parcial do gás, não a diferença
de concentração. O coeficiente de difusão de um gás é uma combinação do
A pressão é diretamente proporcional à concentração das moléculas de gás. coeficiente de difusão usual, que depende do peso molecular, com a
Na fisiologia respiratória, lidamos com misturas de gases, sobretudo O 2, N2 e solubilidade do gás.
CO2. A pressão parcial de um gás, em uma mistura de gases, é a pressão que
esse gás iria exercer se ocupasse todo o volume da mistura. As pressões AR ALVEOLAR X AR ATMOSFÉRICO
parciais de cada gás dissolvido na água ou nos tecidos corporais são
designadas da mesma forma que as pressões parciais no estado gasoso. O ar alveolar guarda várias diferenças em relação ao ar atmosférico, as quais
podem ser explicadas pelas seguintes razões:
Segundo a lei das pressões parciais (lei de Dalton), a soma das pressões
parciais de todos os gases, em uma mistura, é igual à pressão total da  Umidificação do ar nas vias respiratórias. O vapor d’água dilui
mistura (pressão barométrica). Assim, temos que PX = (PB – PH2O) x F, todos os gases no ar inspirado, diluindo também a pressão
sendo PX a pressão parcial do gás; PB, a pressão barométrica; PH2O, a pressão parcial do O2 e do N2.
do vapor d’água a 37 °C (47 mmHg); e F, a concentração fracional do gás.  Intensidade com que o ar alveolar é renovado pelo ar
atmosférico. O volume do ar alveolar substituído por ar
LEI DE HENRY atmosférico novo a cada respiração é de apenas um sétimo do
total. Isso é importante para evitar mudanças repentinas nas
A lei de Henry é usada para a conversão da pressão parcial de um gás, na
concentrações de gases no sangue, tornando o controle do
fase líquida, na concentração do gás no líquido. No equilíbrio, a pressão
mecanismo respiratório mais estável.
parcial de um gás, na fase líquida, é igual à sua pressão parcial, na fase
 Concentração de oxigênio e pressão parcial nos alvéolos. Esses
gasosa. Cabe ressaltar que a concentração de um gás em solução só se aplica
fatores são controlados pela intensidade de absorção de oxigênio
ao gás que esteja livre na solução, não incluindo qualquer gás que esteja
pelo sangue e pela intensidade de entrada de novo oxigênio nos
presente em forma fixa. Assim, para o sangue: CX = PX x solubilidade, sendo
pulmões pelo processo ventilatório.
CX a concentração do gás dissolvido (ml de gás / 100 ml de sangue); PX, a
 Concentração e pressão parcial de CO2 nos alvéolos. Assim como
pressão parcial do gás (mmHg) ; e solubilidade, a solubilidade do gás no
no tocante ao oxigênio, esses fatores são controlados pela
sangue (ml de gás / 100 ml de sangue / mmHg).
intensidade de absorção e de excreção do gás.
DIFUSÃO
MEMBRANA RESPIRATÓRIA
A transferência de gases, através de membranas celulares ou das paredes
Todas as membranas que o ar precisa atravessar para realizar troca gasosa
capilares ocorre por difusão simples. Quando a pressão parcial do gás é
são coletivamente denominadas membrana respiratória. Elas são:
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1) Camada de líquido revestindo o alvéolo e contendo surfactante;


2) Epitélio alveolar;
3) Membrana basal epitelial; CAPACIDADE DE DIFUSÃ O DA MEMBRANA RESPIRATÓRIA
4) Espaço intersticial entre o epitélio alveolar e a membrana
capilar; A capacidade da membrana respiratória de trocar um gás entre os alvéolos e
5) Membrana basal capilar; o sangue pulmonar é definida como o volume de gás que se difundirá
6) Membrana endotelial capilar.
através da membrana a cada minuto, para a diferença de pressão parcial de
A despeito do grande número de camadas, a espessura total da membrana 1 mmHg.
respiratória tem em média 0,6 micrômetro. A área de superfície total é de
cerca de 70 m2 num indivíduo normal do sexo masculino. No enfisema, a capacidade de difusão do pulmão (DL) diminui porque a
destruição dos alvéolos resulta em menor área de superfície. Na fibrose ou
no edema pulmonar, a DL diminui porque a distância de difusão (espessura
da membrana ou volume intersticial) fica aumentada. Na anemia, a DL
diminui porque a quantidade de hemoglobina fica diminuída. Durante o
exercício, a DL aumenta porque capilares adicionais são perfundidos com
sangue, o que aumenta a área de superfície para as trocas gasosas.

TRANSPORTE DE GASES

Normalmente, as quantidades de O2 e de CO2 que são transferidas entre os


alvéolos e o sangue capilar pulmonar correspondem às necessidades do
corpo. O oxigênio é transportado para os capilares dos tecidos periféricos
quase completamente em combinação com a hemoglobina (Hb). O dióxido de
carbono é também combinado com substâncias químicas no sangue.

TRANSPORTE DO OXIGÊN IO

O oxigênio é transportado pelo sangue de duas formas: dissolvido e


associado à Hb. O O2 dissolvido livre em solução representa cerca de 2% do
total de O2 no sangue. Essa é a única forma de O2 que contribui para sua
pressão parcial. O O2 dissolvido é maciçamente insuficiente para atender às
necessidades dos tecidos. Assim, é necessário um mecanismo adicional para
o transporte de grandes quantidades de oxigênio pelo sangue: a
hemoglobina (Hb).

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98% do conteúdo de O2 do sangue é transportado pelo corpo acoplado de Essa diferença de afinidade também ajuda a explicar por que o O 2 é
forma reversível à hemoglobina, no interior das hemácias. A Hb é uma carregado para o sangue capilar pulmonar e descarregado do sangue capilar
proteína globular com quatro subunidades, encontrada apenas nas sistêmico: nos pulmões, a cooperatividade positiva é máxima, ao passo que
hemácias, cuja função é transportar O2 dos pulmões até os capilares dos nos tecidos a hemoglobina está apenas 75% saturada e a afinidade por O 2
tecidos. Cada subunidade contém um radical heme (um complexo de está diminuída, o que facilita a descarga de O2 para os tecidos.
protoporfirina IX e ferro, o qual está preso no centro da molécula do heme)
e uma cadeia polipeptídica denominada alfa ou beta. A hemoglobina adulta Uma série de fatores pode deslocar a curva de saturação oxigênio-
ou hemoglobina A é também conhecida como alfa2beta2, pois contém duas hemoglobina para a direita ou para a esquerda. Esses desvios refletem
cadeias alfa e duas beta. Cada subunidade pode fixar uma molécula de O 2, de alterações da afinidade da Hb pelo O2. Os desvios para a direita ocorrem
forma que uma Hb pode transportar quatro moléculas de O2. Para as quando há menor afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, o que facilita a
subunidades possam fixar O2, o ferro nos radicais heme deve estar no estado descarga de O2 para os tecidos. Os desvios para a esquerda ocorrem quando
ferroso (Fe2+). há aumento da afinidade da hemoglobina pelo O2, tornando a descarga de O2
para os tecidos mais difícil.
CURVA DE DISSOCIAÇÃO OXIGÊNIO-HEMOGLOBINA

A capacidade de fixação de O2 é a quantidade máxima de O2 que pode se


combinar à Hb, por volume de sangue, considerando que a Hb fique
saturada, ou seja, com um oxigênio em cada radical heme. Nessa
configuração, a saturação é de 100%. Se menos de quatro moléculas de O 2
estão presas aos radicais heme, a saturação será menor. No sangue arterial
sistêmico, a saturação usual de oxigênio é em média de 97%. A pressão
parcial de O2 necessária para obter metade da saturação dos sítios de ligação
(P50) é de aproximadamente 26 mmHg. Quanto maior a afinidade por O 2,
menor a P50.

À medida que a PO2 do sangue aumenta, há aumento progressivo da


porcentagem de hemoglobina ligada ao oxigênio (percentual de saturação da
hemoglobina). No entanto, esse aumento não é linear; portanto a curva de
dissociação oxigênio-hemoglobina tem forma sigmoide. Isso acontece
Causam desvio para a direita: aumento da PCO2, aumento da temperatura,
porque há uma variação da afinidade dos radicais heme pelo O 2, conforme
aumento da concentração de 2,3-BPG e diminuição do pH. Causam desvio
cada molécula sucessiva de O2 se prende a um radical heme (cooperatividade
para a esquerda: diminuição da PCO2, diminuição da temperatura,
positiva ou interação heme-heme).
diminuição da concentração de 2,3-BPG, aumento do pH e hemoglobina F
(fetal).

O 2,3-BPG (2,3-bifosfoglicerato) é um importante regulador da ligação do


oxigênio à hemoglobina. O 2,3-BPG é o fosfato mais abundante nas hemácias
e é sintetizado a partir de um intermediário na via glicolítica. Uma molécula
de 2,3-BPG se liga a uma fenda no centro do tetrâmero da desoxiemoglobina
(a Hb não ligada a O2) e é expelido na oxigenação da hemoglobina. A
molécula de Hb da qual o 2,3-BPG foi removido possui alta afinidade com O 2,
de forma que a hemoglobina deficiente em 2,3-BPG atua mais como
captadora do que como transportadora de O2. A presença de 2,3-BPG reduz
significantemente a afinidade da Hb pelo O2, permitindo que a Hb libere o O2
eficientemente nas pressões parciais encontradas nos tecidos. A
concentração de 2,3-BPG aumenta em resposta à hipoxia crônica (DPOC,
altitudes elevadas) e também na anemia crônica, em que menos hemácias

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que o normal estão disponíveis para suprir as necessidades de oxigênio do TRANSPORTE DO CO2 COMO ÍON BICARBONATO
organismo. Níveis elevados de 2,3-BPG diminuem a afinidade da
hemoglobina pelo oxigênio, possibilitando uma descarga maior de O 2 nos O CO2 no sangue reage com a água formando ácido carbônico (H2CO3-), reação
capilares dos tecidos. catalisada pela anidrase carbônica. Em seguida, o ác. carbônico se dissocia
em íons hidrogênio (H+) e em íons bicarbonato (H2CO3-), Grande parte dos
O monóxido de carbono (CO) liga-se fortemente ao ferro da hemoglobina, íons hidrogênio se combina com a hemoglobina nas hemácias, pois a
formando carboxiemoglobina (HbCO). Quando o CO se liga a um ou mais dos hemoglobina é um poderoso tampão ácido-básico. Por sua vez, grande parte
quatro grupos heme, a Hb muda sua conformação, de modo que os grupos dos íons bicarbonato se difunde das hemácias para o plasma, enquanto íons
remanescentes se ligam ao O2 com maior afinidade. Por conseguinte, a Hb cloreto (Cl-) se difundem para as hemácias, tomando seu lugar. Isso é
torna-se incapaz de liberar O2 para os tecidos. O envenenamento por CO é possibilitado pela presença da proteína carreadora de bicarbonato-cloreto,
tratado com terapia hiperbárica de oxigênio, que facilita a dissociação do CO na membrana das hemácias, que lança esses dois íons em direções opostas
da hemoglobina. muito rapidamente. Assim, o conteúdo de cloreto das hemácias venosas é
maior que o das hemácias arteriais, o que é conhecido como desvio do
A hemoglobina fetal (hemoglobina F) é composta por duas cadeias alfa e
cloreto.
duas cadeias gama (alfa2gama2). Ela é a principal hemoglobina encontrada
no feto e no recém-nascido. A síntese hemoglobina A inicia na medula óssea O ácido carbônico reduz o pH do sangue. Entretanto, a reação desse ácido
a partir do oitavo mês de gestação e substitui gradualmente a Hb F. Em com os tampões ácido-básicos do sangue evita que a concentração de H+
condições fisiológicas, a Hb F possui uma afinidade maior por oxigênio que aumente muito, o que faria com que o pH caísse demais.
a Hb A, porque se liga apenas fracamente ao 2,3-BPG, cuja função é diminuir
a afinidade da Hb ao O2. A maior afinidade da Hb F pelo O2 em comparação Cerca de 70% do carbono transportado dos tecidos para os pulmões se
com a Hb A facilita a transferência de oxigênio da circulação materna para combina reversivelmente com água nas hemácias. Quando um inibidor da
as hemácias do feto através da placenta. anidrase carbônica (acetazolamida) é administrado a um animal para
bloquear a ação da enzima, o transporte de CO2 fica muito deficiente.
TRANSPORTE DO DIÓXIDO DE CARBONO
CARBAMINOEMOGLOBINA
O CO2 é transportado pelo sangue sob três formas: dissolvido, como
carabaminoemoglobina (CO2 ligado à Hb) e como bicarbonato (HCO3-). Além de reagir com a água, o CO2 reage diretamente com radicais amina da
Dessas formas, o bicarbonato é quantitativamente mais importante. molécula de hemoglobina, formando carbaemoglobina (CO2HgB). Essa
combinação é uma reação reversível que ocorre com elo fraco, de modo que

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o dióxido de carbono é facilmente liberado para os alvéolos, onde a PCO 2 é encefálico. Há quatro componentes nesse sistema: quimioceptores para O 2 e
menor do que nos capilares pulmonares. H+ (CO2); mecanorreceptores nos pulmões e nas articulações; centros
controladores da respiração no tronco encefálico (bulbo e ponte); e os
CURVA DE DISSOCIAÇÃO DO CO 2 músculos respiratórios, cuja atividade é controlada pelos centros do tronco
encefálico. Além disso, comandos voluntários podem ser exercidos pelo
córtex cerebral.

CENTRO RESPIRATÓRIO BULBAR

O centro respiratório bulbar se localiza na formação reticular e é formado


por dois grupos neuronais: o centro inspiratório (grupo inspiratório dorsal)
e o centro expiratório (grupo expiratório ventral).

CENTRO INSPIRATÓRIO

Esse centro controla o ritmo básico da inspiração. Os neurônios do grupo


inspiratório dorsal recebem aferências sensoriais dos quimioceptores
A curva de dissociação do dióxido de carbono registra a dependência do
periféricos, por meio do NC IX e do NC X; e dos mecanorreceptores
dióxido de carbono sanguíneo total, em todas as suas formas, da PCO2. A
pulmonares, por meio do NC X. O centro inspiratório envia sua eferência
PCO2 do sangue normal varia entre os limites de 40 mmHg no sangue arterial
motora para o diafragma pelo nervo frênico.
e 45 mmHg no sangue venoso, o que é uma faixa muito estreita.

A concentração normal de CO2 no sangue em todas as suas formas é de 50 CENTRO EXPIRATÓRIO


volumes percentuais, mas apenas 4 volumes percentuais são trocados
O centro expiratório é localizado nos neurônios respiratórios ventrais. Uma
durante o transporte normal do CO2 dos tecidos para os pulmões.
vez que a expiração normalmente é um processo passivo, esses neurônios
ficam inativos durante a inspiração normal em repouso e são ativados no
REGULAÇÃO DA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA
exercício, quando a expiração passa a ser ativa. Ocorre transmissão dos
impulsos para o nervo frênico e para os nervos dos músculos intercostais.
A respiração é regulada para que os pulmões possam manter as PO 2 e PCO2
dentro de suas faixas normais de variação, adaptando a oferta à demanda
ventilatória do indivíduo. A respiração é controlada por centros no tronco

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CENTRO APNÊUSTICO

A apneuse é um padrão respiratório anormal, com esforços inspiratórios


(inspiratory gasps) prolongados, seguidos por mov. exp. muito breves. A
estimulação desse centro, na parte inferior da ponte, excita o centro
inspiratório no bulbo, prolongando a duração da rajada de potenciais de
ação pelo nervo frênico, aumentando, portanto, a duração da contração do
diafragma.

CENTRO PNEUMOTÁXICO

Esse centro desliga a inspiração. O centro pneumotáxico se localiza na parte


superior da ponte e limita o valor normal do volume corrente, regulando
secundariamente a FR. Na ausência desse centro, persiste o ritmo
respiratório normal.

CÓRTEX CEREBRAL

Comandos originados no córtex cerebral podem temporariamente se


sobrepor aos centros automáticos do tronco encefálico. Por exemplo, uma
pessoa pode voluntariamente hiperventilar ou hipoventilar por algum
tempo.

QUIMIOCEPTORES

O tronco encefálico controla a respiração ao processar a informação


sensorial (aferente) e enviar informação motora (eferente) para o diafragma.
Entre todas as informações sensoriais que chegam ao tronco encefálico, as
mais importantes são as referentes à PO2, à PCO2 e ao pH arterial.

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QUIMIOCEPTORES CENTRAIS aumentar o ritmo respiratório. Isso é importante para produzir


uma resposta antecipatória ao exercício.
Esses quimioceptores se localizam no tronco encefálico, na superfície  Receptores de irritação: ficam situados entre as cél. epiteliais
ventral do bulbo, próximos ao ponto de emergência do NC IX e do NC X, bem que revestem os alvéolos. A informação desses receptores
perto do centro inspiratório bulbar; e são os mais importantes para o (estímulos nocivos, sejam químicos ou particulados) trafega até
controle minuto a minuto da respiração. Esses quimioceptores se o bulbo pelo NC X e produz constrição reflexa do músculo liso
comunicam diretamente com o centro inspiratório, uma vez que estão (broncoconstrição), bem como aumento do ritmo respiratório.
situados muito perto. Esse reflexo protetor dos pulmões está relacionado com o espirro
e com a tosse.
Os quimioceptores do tronco encefálico são extremamente sensíveis às  Receptores J (justacapilares): esses receptores se localizam nas
variações do pH do LCR, sendo que a diminuição do pH causa paredes alveolares e, por conseguinte, próximos aos capilares. O
hiperventilação e o aumento causa hipoventilação. As respostas dos ingurgitamento dos capilares pulmonares com sangue e aumento
quimioceptores centrais ao pH e indiretamente à PCO 2 consideram as do líquido intersticial pode ativar esses receptores, causando
seguintes etapas: aumento do ritmo respiratório.

1) No sangue, o CO2 se combina reversivelmente com H2O,


REFERÊNCIAS
formando H+ e HCO3-. Esses íons ficam retidos no
compartimento vascular, pois a barreira hematoencefálica
CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
é impermeável a eles. O CO2, no entanto, passa pela
barreira hematoencefálica e entra no LEC do encéfalo. HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de
2) A barreira encéfalo-raquidiana também é permeável ao CO2, fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
o qual entra para o LCR.
3) No LCR, o CO2 é convertido em H+ e HCO3-. Então, pode-se HARVEY, Richard A.; FERRIER, Denise R. Bioquímica ilustrada. 5 ed.
dizer que o aumento da PCO2 arterial causa aumento da Porto Alegre: Artmed, 2012.
PCO2 no LCR, levando à diminuição do pH do LCR.
4) Os quimioceptores centrais estão próximos do LCR e SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana – uma abordagem
detectam esse aumento na concentração de H+. integrada. 5 ed. São Paulo: Artmed, 2010.

Problema 4.1
5) Esse estímulo sinaliza o centro inspiratório para causar
hiperventilação.

QUIMIOCEPTORES PERIFÉRICOS
OBJETIVOS
Nos corpos carotídeos e nos corpos aórticos existem quimioceptores
periféricos para O2, CO2 e H+. Informação sobre a PO2, a PCO2 e o pH arteriais 1) Descrever a anatomia e a histologia do sistema urinário.
é transmitida para o centro inspiratório bulbar por meio dos NC IX e NC X. A 2) Identificar os principais exames de avaliação da função renal.
diminuição da PO2, o aumento da PCO2 e a redução do pH nas artérias são 3) Descrever o que é a urina, sua composição e formação.
detectadas pelos quimioceptores periféricos, produzindo aumento do ritmo 4) Analisar a regulação do sistema renal.
respiratório. 5) Descrever o fluxo sanguíneo renal e a filtração glomerular.
6) Relacionar edema, hipertensão e sistema renal.
OUTROS RECEPTORES
ANATOMIA E HISTOLOGIA
 Receptores pulmonares de estiramento: são mecanorreceptores
localizados no músculo liso das vias aéreas. Quando estimulados, O sistema urinário é formado pelos rins, ureteres, bexiga e uretra.
causam redução reflexa do ritmo respiratório (reflexo de Hering-
Breuer).
 Receptores musculares e articulares: mecanorreceptores situados
nas articulações e nos músculos detectam o movimento para
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RINS eritropoetina que estimulam a produção de hemácias);


 Secreção, metabolismo e excreção de hormônios (os rins
Os rins são órgãos pares, grandes, avermelhados, com formato semelhante produzem a forma ativa de vitamina D, A 1,25-di-hidroxiditamina
ao de um grão de feijão, que se localizam retroperitonealmente na parede D3 ou calcitriol, que é essencial para a absorção de cálcio pelo
posterior do abdômen. Por causa do fígado, o rim direito é um pouco mais trato gastrointestinal e pela deposição normal de cálcio nos
baixo que o esquerdo. Os rins são envolvidos pela gordura perirrenal e ossos);
possuem seus hilos côncavos situados medialmente. Ramos das artérias e  Gliconeogênese (em períodos de jejum prolongado, a capacidade
veias renais, vasos linfáticos e os ureteres penetram no rim ao nível do hilo. de gliconeogênese dos rins é equivalente à do fígado).
Os rins são revestidos por uma cápsula fina e frouxamente aderida,
composta principalmente de TC denso não modelado. Os rins desempenham O rim é subdivido em córtex e medula. A medula contém de seis a doze
muitas funções homeostáticas importantes, dentre elas: regiões de formato piramidal, denominadas pirâmides renais. A base de cada
pirâmide aponta parta o córtex e o ápice (papila renal) aponta para o hilo. O
 Excreção de produtos indesejáveis do metabolismo e de ápice é envolvido por um cálice menor que, ao se unir com dois ou três
substâncias químicas estranhas (ureia, creatinina, ácido úrico, outros cálices, forma um cálice maior. Os três ou quatro cálices maiores
produtos finais da degradação da hemoglobina, metabólitos de desembocam na pelve renal, que é a continuação expandida da porção
vários hormônios, pesticidas, fármacos, aditivos alimentícios); proximal do ureter. As pirâmides vizinhas são separadas umas das outras
 Regulação do balanço de água e dos eletrólitos; pelas colunas corticais ou de Bertin, que são um parênquima semelhante ao
 Regulação da osmolalidade dos líquidos corporais e da presente no córtex. A porção do córtex localizada na base de cada pirâmide
concentração de eletrólitos; é chamada de arco cortical.
 Regulação da PA;
 Regulação do balanço ácido-básico; No córtex, podem ser observados três tipos de substâncias: grânulos
 Regulação da produção de hemácias (os rins secretam puntiformes vermelhos, os corpúsculos renais; túbulos contorcidos, que

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formam o labirinto cortical; e estrias longitudinais, os raios medulares. nos capilares glomerulares resulta na filtração rápida de líquidos e
eletrólitos; ao passo que a pressão hidrostática mais baixa nos capilares
peritubulares permite sua rápida reabsorção.
Os capilares peritubulares se esvaziam nos vasos do sistema venoso que
circulam paralelamente aos vasos arteriolares. Os vasos do sistema venoso
progressivamente formam a artéria interlobular, a veia arqueada, a veia
interlobar e a veia renal, que é tributária da VCI.

TÚBULO URINÍFERO

O túbulo urinífero é a unidade funcional do rim, composta por um néfron e


um tubo coletor. Diversos néfrons são drenados por um único túbulo
coletor, e múltiplos túbulos coletores se unem na porção mais profunda da
medula para formar ductos cada vez mais calibrosos. Os ductos mais
calibrosos, os ductos de Bellini, perfuram a papila renal ao nível da área
crivosa. O túbulo urinífero inteiro é de natureza epitelial.

Os rins são irrigados pelas artérias renais, as quais entram no hilo e se NÉFRON
ramificam em artérias interlobares, artérias arqueadas, artérias
interlobulares ou radiais, e arteríolas aferentes, que terminam em capilares Há dois tipos de néfrons, segundo a localização dos seus corpúsculos renais
glomerulares. As extremidades distais dos capilares glomerulares coalescem e do comprimento da alça de Henle: os néfrons corticais, mais curtos; e os
para formar a arteríola aferente, que forma segunda rede de capilares, os néfrons justamedulares, mais longos, cujo corpúsculo renal está situado no
capilares peritubulares, que circundam os túbulos renais. A circulação córtex e cujas partes tubulares estão localizadas na medula. As partes que
renal é única, visto que tem dois leitos capilares. A alta pressão hidrostática constituem o néfron estão modificadas para executar funções fisiológicas

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específicas. O corpúsculo renal, com o glomérulo associado a ele, forma um permeabilidade do endotélio glomerular, o que pode ser causado por lesão
fluido filtrado sob pressão do sangue. As partes subsequentes do néfron vascular, hipertensão, envenenamento por mercúrio e exposição a toxinas
modificam o filtrado formando a urina. bacterianas.

CORPÚSCULO RENAL TÚBULO PROXIMAL

O corpúsculo renal é composto por um tufo de capilares, o glomérulo, que O espaço de Bowman drena para o túbulo proximal no polo urinário. Este
está invaginado dentro da cápsula de Bowman, a extremidade proximal, túbulo possui duas regiões: o túbulo contorcido proximal ou pars convoluta
dilatada e em forma de bolsa. O espaço dentro da cápsula de Bowman é e o ramo espesso descendente da alça de Henle ou pars recta. Cerca de 67%
chamado de espaço urinário ou espaço de Bowman. a talvez 80% do sódio, cloreto (Cl=) e água são reabsorvidos do ultrafiltrado
glomerular e transportados para o estroma do tecido conjuntivo pelas
GLOMÉRULO células do túbulo proximal. O sódio é bombeado ativamente para fora da
célula ao nível das membranas plasmáticas basolaterais por uma bomba de
O glomérulo é irrigado pela arteríola glomerular aferente e drenado pela sódio associada a um sódio potássio adenosina trifosfatase (Na +/K+
arteríola glomerular eferente; portanto, seu leito capilar é totalmente ATPase). O sódio (Na+) é acompanhado pelo cloreto a fim de manter a
arterial. A região na qual os vasos entram e saem do glomérulo é o polo neutralidade elétrica, e pela água, para manter o equilíbrio osmótico.
vascular; a região na qual há continuação do corpúsculo renal com o túbulo
proximal é o polo urinário. O glomérulo é formado por vários tufos de RAMOS FINOS DA ALÇA DE HENLE
capilares anastomosados originados de ramos da arteríola glomerular
aferente. As células dos capilares do glomérulo são endoteliais com grandes Os segmentos delgados ou ramos finos da alça de Henle possuem três
poros, que agem como uma barreira para os elementos figurados do sangue. regiões: o ramo fino descendente, a alça de Henle e o ramo fino ascendente.
O ramo fino descendente é altamente permeável à água devido à presença de
numerosos canais de aquaporina-1; ele é razoavelmente permeável à ureia,
sódio, cloreto e outros íons. A principal diferença entre os ramos finos
ascendentes e descendentes é que os ramos finos ascendentes são apenas
moderadamente permeáveis à água.

TÚBULO DISTAL

O túbulo distal é subdivido em três regiões: porção reta, pars recta ou


segmento espesso ascendente da alça de Henle; mácula densa; e porção
contorcida, pars onvoluta ou túbulo contorcido distal. A mácula densa se
interpõe entre a pars recta e a pars convoluta do túbulo distal.
Uma lâmina basal envolve o glomérulo e é constituída por três camadas: a
lâmina rara interna, situada entre as células endoteliais do capilar e a A pars recta do túbulo distal é composta por células epiteliais cuboides
lâmina densa; a lâmina densa; e a lâmina rara externa, situada entre a impermeáveis á água e à ureia. Além disso, essas células possuem bombas
lâmina densa e o folheto visceral da cápsula de Bowman. O folheto visceral de cloreto e talvez de sódio. Assim, quando o filtrado chega ao córtex renal
da cápsula de Bowman é constituído por podócitos, que são células epiteliais no interior do lúmen do túbulo distal, sua concentração de sais é baixa e a
modificadas. O folheto parietal é a parede externa que envolve o espaço de de ureia é alta.
Bowman, constituída por células epiteliais simples.
A pars convoluta do túbulo distal também é impermeável á água e à ureia.
O fluido que deixa os capilares globulares através dos poros ou fenestras é No entanto, nas suas células há uma alta atividade da Na+/K+ ATPase que
filtrado pela lâmina basal. A lâmina densa prende as moléculas maiores. O impulsiona o bombeamento de troca de sódio-potássio. Assim, em resposta
fluido que penetra na lâmina densa é denominado ultrafiltrado glomerular. ao hormônio aldosterona, essas células podem reabsorver ativamentr quase
As células mesangiais intraglomerulares atuam na fagocitose da lâmina todo o sódio restante e, passivamente, o cloreto, do lúmen tubular em
basal, evitando que ela fique entupida devido ao seu papel de prender as direção ao interstício renal. Além disso, íons K+ e H+ são ativamente
macromoléculas maiores. A albuminúria resulta do aumento da

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secretados para dentro do lúmen, controlando respectivamente o nível de URETRA


potássio no fluido extracelular e a acidez da urina.
A uretra é uma estrutura tubular que se comunica com o meio externo e
APARELHO JUSTAGLOMERULAR possibilita a eliminação da urina pelo corpo. Ao cruzar o períneo, fibras
musculares esqueléticas formam o músculo do esfíncter externo, que
O aparelho justaglomerular possui três componentes: a mácula densa do
envolve a uretra. Este músculo torna possível o controle voluntário da
túbulo distal, as células justaglomerulares da arteríola glomerular aferente e
micção. A incontinência urinária é uma condição que afeta primariamente
as células mesangiais extraglomerulares.
mulheres idosas.
As células justaglomerulares são células musculares lisas modificadas que se
FILTRAÇÃO GLOMERULAR
localizam na túnica média da arteríola glomerular aferente (e,
ocasionalmente, eferente). Elas são ricamente inervadas por fibras nervosas
A filtração glomerular (FG) é a primeira de três etapas na formação da urina
simpáticas. Elas contêm grânulos que convertem pró-renina em renina. A
(filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular). Conforme o
enzima conversora de angiotensina, a angiotensina I e a angiotensina II
FSG atinge os capilares glomerulares, parte do sangue é filtrada para o
também estão presentes nessas células.
espaço urinário na cápsula de Bowman. O líquido filtrado é chamado de
TÚBULO COLETOR ultrafiltrado e é semelhante ao líquido intersticial, contendo água e todos os
pequenos solutos do sangue, mas não contém proteínas e células
Os túbulos coletores não fazem parte do néfron. Eles têm origem sanguíneas.
embriológica diferente e são compostos por epitélio cuboide simples. Os
As características físicas da parede capilar glomerular determinam a
túbulos coletores transportam e modificam o ultrafiltrado do néfron para os
cálices menores do rim. intensidade da FG e as características do ultrafiltrado. Há três camadas no
capilar glomerular, de dentro para fora: endotélio, membrana basal e
CÁLICES epitélio. O endotélio possui fenestras grandes que impedem a filtração de
células sanguíneas, mas permitem a passagem do líquido, dos solutos em
solução e de proteínas plasmáticas. A membrana basal é composta por três
A papila renal de cada pirâmide se encaixa em um cálice menor, o qual se
camadas: a lâmina rara interna, fundida ao endotélio; a lâmina densa, que
une com outros cálices menores para formar cálices maiores. Os cálices
previne a filtração das proteínas plasmáticas; e a lâmina rara externa,
maiores se juntam na pelve renal, uma região expandida e proximal dos
fundida ao epitélio. A camada de epitélio é composta pelos podócitos, que
ureteres.
são células especializadas que se prendem à membrana basal por meio de
prolongamentos podais. Entre esses prolongamentos, existem fendas de
URETERES
filtração.
Os ureteres são órgãos tubulares pares que levam a urina dos rins para ser
Outra característica da barreira glomerular é a presença de glicoproteínas
armazenada na bexiga. Os ureteres são constituídos por uma camada mucosa
com carga negativa, que promovem a adição de um componente
cheia de dobras que reveste a luz do tubo; uma camada muscular composta
eletrostático à filtração. Os solutos com carga positiva serão atraídos pelas
por duas camadas de células musculares lisas nos dois terços proximais e
cargas negativas na barreira e filtrados com mais facilidade, ao passo que os
três camadas no terço distal; e uma capa fibrosa externa.
solutos com carga negativa serão repelidos pela barreira e, portanto,
filtrados com mais dificuldade. Para os pequenos solutos como Na+, K+,
BEXIGA
Cl- e HCO3-, o efeito da carga sobre sua filtração não é importante, pois
independentemente da carga os pequenos solutos são livremente filtrados.
A bexiga é uma câmara de músculo liso cuja função é armazenar a urina. O
Em algumas doenças glomerulares, as cargas negativas da barreira são
principal suprimento nervoso da bexiga é feito pelos nervos pélvicos, que
removidas, resultando em filtração aumentada das proteínas plasmáticas e
contêm fibras sensoriais e fibras motoras parassimpáticas. A mucosa interna
proteinúria.
da bexiga possui pregas, as quais possibilitam que a bexiga se expanda.

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FORÇAS DE STARLING SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO

Como acontece nos capilares sanguíneos, as pressões que provocam o As arteríolas aferentes e eferentes são inervadas por fibras nervosas
movimento do líquido pelos capilares glomerulares são as pressões de simpáticas e a vasoconstrição de qualquer um dos dois grupos aumenta a
Starling ou forças de Starling. Teoricamente, existem quatro pressões de resistência vascular renal e, por conseguinte, reduz o FSR. Por exemplo,
Starling, duas hidrostáticas (uma no sangue capilar e uma no líquido numa resposta à hemorragia, há perda de volume sanguíneo com
intersticial) e duas pressões oncóticas (uma no sangue capilar e uma no consequente queda na PA. Assim, a estimulação simpática aos receptores
líquido intersticial). Quando essas pressões são aplicadas aos capilares alfa 1 adrenérgicos nas arteríolas aferentes provoca vasoconstrição,
glomerulares, existem duas modificações: o espaço urinário é considerado aumentando a resistência e diminuindo o FSR e a FG. A desidratação ou
análogo ao líquido intersticial e sua pressão oncótica é considerada zero, fortes estímulos emocionais, como o medo e a dor, ativam os nervos
visto que a filtração de proteínas é desprezível. simpáticos. A renalase, um hormônio metabolizador de catecolaminas,
produzido pelos rins, facilita a degradação dessas substâncias.
A pressão hidrostática nos capilares glomerulares favorece a filtração. A
pressão hidrostática no espaço urinário se opõe a filtração. A pressão ÓXIDO NÍTRICO
oncótica nos capilares glomerulares favorece a filtração. A pressão efetiva de
ultrafiltração, a força propulsora, é a soma algébrica das três pressões de O NO, o fator de relaxamento derivado do endotélio, é um importante
Starling. Quanto maior for a pressão efetiva de ultrafiltração, maior será a vasodilatador, em condições basais, contrabalançando a vasoconstrição
intensidade da filtração glomerular. A única pressão que varia é a pressão provocada pela angiotensina II e pelas catecolaminas. Quando ocorre
oncótica do sangue nos capilares glomerulares. O sangue capilar peritubular aumento do fluxo, as células endoteliais das arteríolas são submetidas a
terá, consequentemente, pressão oncótica, que se torna força propulsora maiores forças de cisalhamento, o que aumenta a produção de NO. Além
para a reabsorção no túbulo proximal do néfron. disso, diversos hormônios vasoativos, como a acetilcolina, a histamina, a
bradicinina e o ATP, facilitam a liberação de NO, pelas células endoteliais. O
aumento da produção de NO provoca dilatação das arteríolas aferente e
eferente dos rins. Enquanto níveis elevados de NO reduzem a resistência
periférica total, a inibição da produção de NO aumenta a resistência
periférica total.

ANGIOTENSINA II

A angiotensina II é um potente vasoconstritor das arteríolas aferentes e


eferentes, sendo as arteríolas aferentes mais sensíveis. Na hemorragia, há
maior secreção de renina, em resposta à diminuição da PA. A renina
converte angiotensina I em angiotensina II, a qual constringe as arteríolas
renais, diminuindo o FSR. Os antagonistas do receptor de angiotensina II,
como a losartana, são usados para tratar a PA elevada. Eles bloqueiam a
ligação da angiotensina II ao seu receptor e, portanto, bloqueiam os efeitos
FLUXO SANGUÍNEO RENAL E FILTRAÇÃO GLOMERULAR vasoconstritores da angiotensina II sobre a arteríola aferente, aumentando o
FSR.
Os rins recebem cerca de 25% do débito cardíaco, ou 1,25 litro/min numa
pessoa cujo débito cardíaco é de 5litros/min. O fluxo sanguíneo renal (FSR) PROSTAGLANDINAS
é diretamente proporcional ao gradiente de pressão entre a artéria e a veia
renais e é inversamente proporcional à resistência dos vasos renais, a qual é Os mesmos estímulos que ativam o SNS e aumentam os níveis circulantes de
determinada principalmente pelas arteríolas. Cabe ressaltar que os rins angiotensina II na hemorragia ativam a produção renal de prostaglandinas,
possuem um sistema porta, com dois conjuntos de arteríolas, as aferentes e que atuam como vasodilatadoras de arteríolas aferentes e eferentes. Os
as eferentes. O principal mecanismo para variar o FSG é variar a resistência efeitos vasodilatadores das prostaglandinas contrabalançam a ação da
arteriolar. angiotensina II e do SNS; e protegem contra a redução acentuada do FSR,
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que poderia causar insuficiência renal. Os anti-inflamatórios não esteroidais causa aumento da resistência arteriolar aferente. Isso contrabalança o
(AINEs), como aspirina e ibuprofeno, inibem a síntese das prostaglandinas. aumento da PA, mantendo o FSR constante.
Assim, a administração de tais fármacos durante a isquemia renal e o
choque hemorrágico é contraindicada, pois, por bloquearem a produção de O feedback tubuloglomerular funciona da seguinte maneira: quando há
prostaglandinas, reduzem o FSR e aumentam a isquemia renal. aumento da PA, o FSR e a FG também aumentam. O aumento da FG resulta
em chegada aumentada de soluto e de água á região da mácula densa, no
BRADICININA início do túbulo distal, que detecta algum componente da carga aumentada
que chega. A mácula densa é parte do aparelho justagloomerular responde a
A calicreína é enzima proteolítica produzida pelos rins, que cliva o esse estímulo secretando uma substância vasoativa, que contrai as arteríolas
cininogênio em bradicinina circulantes, que é vasodilatador que atua aferentes e reduz o FSG e a FG de volta a seus níveis normais.
estimulando a liberação de NO e prostaglandinas, aumentando o FSR. A ECA
degrada a bradicinina, inativando-a, e transforma a angiotensina I,
hormônio inativo, em angiotensina II, que é ativa. Assim, a ECA aumenta os
níveis de angiotensina II e reduz os de bradicinina. Os fármacos chamados
inibidores da ECA (penalapril, captopril), que reduzem a pressão arterial
sistêmica, em pacientes com hipertensão, diminuem os níveis de
angiotensina II e elevam os de bradicinina. Esses dois efeitos reduzem a
resistência vascular sistêmica, a pressão arterial e a resistência vascular
renal, aumentando o FSR.

ENDOTELINA

A endotelina é um potente vasoconstritor secretado pelas células endoteliais


dos vasos renais, células mesangiais e células do túbulo distal, em resposta
à angiotensina II, à bradicinina, à epinefrina e ao estresse de cisalhamento.
A endotelina causa intensa vasoconstrição das arteríolas aferente e eferente,
reduzindo o FSR.
EXAMES
HISTAMINA
As intensidades com que diferentes substâncias são depuradas do plasma
A liberação local de histamina modula o FSR durante o estado de repouso e representam uma forma útil de quantificar a eficiência com que os rins
também durante inflamações e lesões. A histamina reduz a resistência das excretam várias substâncias. O clearance é, portanto, a proporção entre a
arteríolas aferente e eferente, aumentando o FSR. excreção renal e a concentração plasmática de determinada substância. Se
uma substância é filtrada livremente e não é absorvida ou secretada pelos
AUTORREGULAÇÃO DO FSR túbulos renais, a intensidade com que essa substância é excretada na urina é
igual à intensidade da filtração da substância pelos rins.

A inulina é uma substância que obedece a esses critérios, pois seu clearance
Acredita-se que na autorregulação renal a resistência seja regulada é exatamente igual à intensidade de filtração glomerular (FG). A inulina é
primariamente em nível das arteríolas aferentes. As principais teorias um polímero de frutose não produzido pelo corpo humano e encontrado nas
explicativas da autorregulação do FSR dependem do mecanismo miogênico e raízes de certas plantas. Sua administração intravenosa pode ser útil para a
do feedback tubuloglomerular. medida da filtração glomerular. Por essas razões, a inulina é uma substância
de referência, chamada de marcador glomerular. Além da inulina, podem
A hipótese miogênica propõe que aumento da pressão na artéria renal estira
as paredes das arteríolas aferentes, que respondem com contração, o que
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ser usados para medir a eficiência da FG o iotamalato radioativo e a


creatinina.

A creatinina é subproduto do metabolismo muscular, sendo quase


totalmente depurada dos líquidos corporais por filtração glomerular. Desse
modo, o clearance de creatinina também pode ser utilizado para avaliar a
taxa de filtração glomerular. Esse método é usado de forma mais ampla que
a inulina, porque a creatinina não requer infusão intravenosa.

REFERÊNCIAS

CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

GARTNER, Leslie P.; HIATT, James L. Tratado de Histologia em cores. 3


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de


Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.

KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A. Berne & Levy Fisiologia. 6. ed. MECANISMOS DE TRANSPORTE
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Para que a substância seja reabsorvida, ela deve primeiramente ser
NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 6 ed. Rio de Janeiro: transportada através das membranas epiteliais tubulares para o líquido
Elsevier, 2015. intersticial renal e, depois, através da membrana dos capilares

Problema 4.2 peritubulares, retornar ao sangue. Água e solutos podem ser transportados
tanto através das próprias membranas celulares (via transcelular) quanto
através dos espaços juncionais entre as junções celulares (via paracelular).
OBJETIVOS
TRANSPORTE ATIVO
1) Analisar o transporte de íons, água e solutos pelos túbulos
O transporte ativo pode mover o soluto contra gradiente eletroquímico e
renais.
requer energia derivada do metabolismo. O transporte que é acoplado
2) Descrever os mecanismos de ação dos diuréticos.
diretamente à fonte de energia é chamado de transporte ativo primário; e o
transporte que é acoplado indiretamente à fonte de energia é chamado de
REABSORÇÃO E SECREÇÃ O TUBULARES
transporte ativo secundário (exemplo: reabsorção de glicose pelo túbulo
renal). A água é sempre reabsorvida por mecanismo físico passivo (osmose).
Após o filtrado glomerular entrar nos túbulos renais, ele flui pelas porções
sucessivas do túbulo antes de ser excretado como urina. A urina total A importância especial do transporte ativo primário é que ele pode mover
formada representa a soma de três processos renais básicos: excreção solutos contra seu gradiente eletroquímico. Os transportes ativos primários
urinária = filtração glomerular – reabsorção tubular + secreção tubular. conhecidos nos rins incluem a sódio-potássio ATPase, a hidrogênio-sódio
As alterações na reabsorção tubular e na filtração glomerular são ATPase, a hidrogênio-potássio ATPase e a cálcio ATPase.
precisamente coordenadas, de forma que grandes variações na excreção
urinária são evitadas. A reabsorção resultante dos íons Na+ envolve pelo menos três etapas: a
difusão através da membrana luminal para dentro da célula a favor do
gradiente eletroquímico estabelecido pela bomba sódio-potássio ATPase, na
porção basolateral da membrana; o transporte através da membrana
basolateral contra o gradiente eletroquímico pela bomba sódio-potássio
ATPase; reabsorção de sódio, água e outras substâncias para os capilares
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peritubulares por ultrafiltração, processo passivo movido pelos gradientes


de pressão hidrostática e coloidosmótica. A reabsorção ativa do sódio pela
bomba sódio-potássio ATPase ocorre na maioria dos segmentos do túbulo.
Existem também proteínas transportadoras de sódio que se ligam aos íons
Na+ na superfície luminal da membrana e os liberam dentro da célula,
provendo difusão facilitada do sódio para dentro da célula.

No transporte ativo secundário, duas ou mais substâncias interagem com


uma proteína transportadora de membrana e são ambas transportadas
através da membrana. Uma vez que uma das substâncias se difunde por seu
gradiente eletroquímico, a energia liberada é utilizada para mover outra
substância contra seu gradiente eletroquímico.

Algumas substâncias são secretadas nos túbulos por transporte ativo


secundário. Isso envolve, frequentemente, o contratransporte da substância
com íons Na+. No contratransporte, a energia liberada do movimento
dissipativo de uma das substâncias permite o movimento ativo da segunda
substância, na direção oposta. Um exemplo disso é a secreção ativa de íons
H+ acoplada á reabsorção de Na+ na membrana luminal do túbulo proximal,
evento mediado pela proteína trocadora de sódio-hidrogênio.

Na pinocitose, a proteína se adere à borda em escova da membrana luminal


e essa parte da membrana se invagina para o interior da célula, até que
esteja completamente envolvida e destacada e seja formada uma vesícula
contendo a proteína. Então, a proteína é digerida em seus aminoácidos
constituintes, que são reabsorvidos através da membrana basolateral para o
líquido intersticial. Como a pinocitose requer energia, é considerada uma
forma de transporte ativo.

Para a maioria das substâncias reabsorvidas ou secretadas ativamente, existe


um limite para a intensidade com que o soluto pode ser transportado
(transporte máximo). Esse limite é devido à saturação dos sistemas de
transporte envolvidos, quando a quantidade de soluto liberada para o túbulo
(carga tubular) excede a capacidade das proteínas transportadoras e de
enzimas envolvidas no processo de transporte.
TRANSPORTE PASSIVO
Algumas substâncias que são reabsorvidas passivamente não apresentam
Quando solutos são transportados para fora do túbulo por transporte ativo
transporte máximo, pois sua intensidade de transporte é determinada por
tanto primário quanto secundário, suas concentrações tendem a diminuir no
outros fatores, como o gradiente eletroquímico para difusão da substância
túbulo, enquanto aumentam no interstício renal. Isso cria diferença de
através da membrana, a permeabilidade da membrana para a substância e o
concentração que causa osmose, na mesma direção em que os solutos são
tempo que o líquido que contém a substância permanece no túbulo. O
transportados.
transporte desse tipo é denominado transporte gradiente-tempo. Algumas
substâncias transportadas ativamente também possuem características de Grande parte do fluxo osmótico de água nos túbulos proximais ocorre das
transporte gradiente-tempo. junções oclusivas entre as células epiteliais, bem como através das próprias
células. À medida que a água se desloca pelas junções oclusivas, ela também
pode carregar consigo alguns dos solutos, processo conhecido como arrasto
de solvente (solvent drag). Assim, a movimentação de água, através do
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epitélio tubular, só ocorre se a membrana for permeável á água, não


importando qual o gradiente osmótico. No túbulo proximal, a
permeabilidade à água é sempre alta e, no ramo ascendente, sempre baixa.
Nos túbulos distais, nos túbulos coletores e nos ductos coletores, a
permeabilidade vai depender da presença ou da ausência de ADH.

Quando o sódio é reabsorvido através da célula epitelial tubular, íons


negativos são transportados junto do sódio, devido ao potencial elétrico.
Isso faz com que íons cloreto se difundam passivamente pela via
paracelular. Os íons Cl- também podem ser reabsorvidos por transporte ativo
secundário. A ureia também é reabsorvida passivamente do túbulo, mas em
menor grau que os íons Cl-. Em algumas partes do néfron, especialmente no
ducto coletor medular interno, a reabsorção passiva de ureia é facilitada por
transportadores de ureia específicos. Entretanto, somente cerca de metade
da ureia filtrada é reabsorvida. Praticamente toda creatinina filtrada é
excretada na urina.

REABSORÇÃO E SECREÇÃ O AO LONGO DE PORÇÕES


DIFERENTES DO NÉFRON

Após a absorção que ocorre através das células epiteliais tubulares para o
líquido intersticial, a água e os solutos são transportados pelo restante do
caminho através das paredes dos capilares peritubulares para o sangue, por
meio de ultrafiltração, a qual é resultante do balanço de forças hidrostáticas
e oncóticas. diuréticos entra no líquido tubular por esse sistema saturável e compete
com os ácidos orgânicos endógenos pela excreção, o que explica, por
TÚBULO PROXIMAL exemplo, a hiperuricemia observada no uso de certos diuréticos. O sistema
secretor de bases orgânicas é responsável pela secreção de creatinina e
Os túbulos proximais têm elevada capacidade para a reabsorção ativa e colina.
passiva. Normalmente, cerca de 65% da carga filtrada de sódio e água e
porcentagem ligeiramente menor de Cl- são reabsorvidos pelo túbulo RAMO DESCENDENTE DA ALÇA DE HENLE
proximal.
A osmolaridade aumenta ao longo da porção descendente da alça de Henle,
Praticamente toda glicose, bicarbonato, aminoácidos e outros metabólitos em decorrência do mecanismo de contracorrente, que é responsável pela
são reabsorvidos nesse trecho. Aproximadamente 2/3 do Na + também são reabsorção de água. Isso resulta em um líquido tubular com uma
reabsorvidos. O cloreto entra no lúmen do túbulo em troca de um ânion, concentração de sal triplicada. Os diuréticos osmóticos exercem parte de sua
como o oxalato, bem como de forma paracelular através do lúmen. A água ação nessa região.
segue passivamente, do lúmen para o sangue, para manter o equilíbrio
osmolar. O Na+ reabsorvido é bombeado para o interstício pela Na +/K+ RAMO ASCENDENTE DA A LÇA DE HENLE
ATPase. A anidrase carbônica na membrana luminal e nas cél. do túbulo
proximal modula a reabsorção do bicarbonato. As células do ramo ascendente da alça de Henle são impermeáveis à água e
essa região é o principal local de reabsorção de sal; portanto, esse é um
Os sistemas de secreção de ácidos e bases orgânicas estão localizados no local de diluição do líquido tubular. A reabsorção ativa de Na +, K+ e Cl- é
túbulo proximal, no terço médio e nos segmentos superior e inferior, mediada por um cotransportador de Na +/K+/2 Cl-. Mg2+ e Ca2+ entram no
respectivamente. O sistema secretor de ácidos orgânicos secreta vários líquido intersticial pela via paracelular.
ácidos, como o ácido úrico, alguns antibióticos e diuréticos, do leito
sanguíneo para o lúmen do túbulo proximal. A maioria dos fármacos
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TÚBULO CONTORCIDO DISTAL A angiotensina II pode ser considerada o hormônio de retenção de sódio
mais potente do organismo. O aumento da formação da angiotensina II
As células do túbulo contorcido distal também são impermeáveis à água. permite a retenção de sódio e água pelos rins, sem causar retenção dos
Cerca de 10% do NaCl filtrado são reabsorvidos por meio de transporte de produtos residuais metabólicos. Sua formação é estimulada pela baixa
Na+/Cl-. A reabsorção de cálcio ocorre pela passagem através de um canal e, pressão sanguínea e/ou por volume de LEC diminuído. A angiotensina II
então, ele é transportado pelo mecanismo de troca Na +/Ca2+ para o líquido possui três efeitos principais:
intersticial. A excreção de Ca2+ é regulada pelo hormônio da paratireoide.
 Estímulo à secreção de aldosterona, que aumenta a reabsorção
TÚBULO E DUCTO COLETOR de sódio.
 Contração das arteríolas eferentes, o que reduz a pressão
As células principais do túbulo e do ducto coletor são responsáveis pelo hidrostática dos capilares peritubulares, aumentando a
transporte de Na+, K+ e água; e as células intercaladas são responsáveis pela reabsorção tubular efetiva; e
secreção de H+. O sódio entra nas células principais através de canais de reduz o FSR, aumentando a FG, bem como a concentração de
sódio epiteliais. Uma vez dentro da célula, a reabsorção do sódio depende da proteínas e a pressão coloidosmótica nos capilares tubulares, o
Na+/K+ ATPase para ser transportado ao sangue. Os receptores de que aumenta a reabsorção tubular de sódio e água.
aldosterona nas células principais influenciam a reabsorção de Na + e a  Estímulo à reabsorção de sódio nos túbulos proximais, nas alças
secreção de K+. de Henle, nos túbulos distais e nos túbulos coletores, por
estimular a sódio-potássio ATPase, a troca de sódio-hidrogênio e
REGULAÇÃO DA REABSORÇÃO TUBULAR o cotransporte de sódio e bicarbonato.

BALANÇO GLOMERULOTUBULAR HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO

O balanço glomerulotubular refere-se à capacidade intrínseca dos túbulos de A ação renal mais importante do ADH é a de aumentar a permeabilidade à
aumentar sua intensidade de reabsorção quando o influxo tubular aumenta. água dos epitélios do túbulo distal, do túbulo coletor e do ducto coletor. O
A importância desse mecanismo é que ele ajuda a evitar a sobrecarga dos ADH se liga a receptores V2 específicos nesses locais, aumentando a formação
segmentos tubulares distais quando a FG aumenta. de AMPC e ativando proteinocinases. Isso estimula o movimento da proteína
intracelular aquaporina-2 (AQP-2) para o lado luminal das membranas
CONTROLE HORMONAL celulares. As moléculas de AQP-2 se agrupam e se fundem à membrana
celular por exocitose, formando canais para água que permitem a difusão
rápida de água para as células.
ALDOSTERONA
Aumentos crônicos dos níveis de ADH aumentam a formação de AQP-2 pela
A aldosterona é secretada pelas células da zona glomerulosa do córtex
estimulação da transcrição do gene dessa proteína. Quando a concentração
adrenal e é um importante regulador da reabsorção de sódio e da secreção
de ADH diminui, as moléculas de AQP-2 são deslocadas de volta para o
de potássio pelos túbulos renais. A aldosterona estimula a bomba sódio-
citoplasma, removendo, assim, os canais de água da membrana luminal e
potássio ATPase, aumentando a reabsorção de sódio e a secreção de
diminuindo a permeabilidade à água.
potássio. Além disso, ela aumenta a permeabilidade ao sódio da face luminal
da membrana.
HORMÔNIO DA PARATIREOIDE
Os estímulos mais importantes para a aldosterona são a concentração de
A ação principal desse hormônio é aumentar a reabsorção tubular de cálcio,
potássio extracelular aumentada e níveis elevados de angiotensina II. Na
sobretudo nos túbulos distais. O hormônio da paratireoide também inibe a
ausência de aldosterona, como na doença de Addison, ocorre perda
reabsorção de fosfato pelo túbulo proximal e estimula a reabsorção de
acentuada de sódio do corpo e acúmulo de potássio. Inversamente, o excesso
magnésio pela alça de Henle.
de aldosterona, como na síndrome de Conn, ocorre retenção de sódio e
diminuição da concentração plasmática de potássio.

ANGIOTENSINA II

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tendem a elevar a pressão hidrostática dos capilares e diminuir a capacidade


PEPTÍDEO NATRIURÉTICO ATRIAL de reabsorção. O aumento da resistência das arteríolas aferentes ou eferentes
reduz a pressão hidrostática dos capilares peritubulares e tende a aumentar
Células específicas dos átrios cardíacos, quando distendidas pela expansão a intensidade de reabsorção.
do volume plasmático, secretam o peptídeo natriurético atrial (PNA). Níveis
elevados de PNA inibem a reabsorção de sódio e água pelos túbulos renais, A pressão coloidosmótica dos capilares peritubulares é determinada pela
especialmente nos ductos coletores. O PNA também inibe a secreção de pressão coloidosmótica plasmática sistêmica e pela fração de filtração. O
renina e, consequentemente, a formação de angiotensina II. Na insuficiência aumento da concentração proteica plasmática do sangue sistêmico tende a
cardíaca congestiva, os níveis desse peptídeo ficam muito aumentados. aumentar a pressão coloidosmótica dos capilares peritubulares, aumentando
a reabsorção. Quanto maior a fração de filtração, maior a fração de plasma
SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO filtrada pelo glomérulo e, por conseguinte, mais concentrada fica a proteína
plasmática que permanece no capilar. Assim, o aumento da fração de
A ativação do SNS, se intensa, pode reduzir a excreção de sódio e água, ao filtração também tende a aumentar a intensidade de reabsorção.
contrair as arteríolas aferentes, reduzindo a FG. A estimulação do SNS
aumenta a liberação de renina e a formação de angiotensina II, o que se O outro fator que contribui para a alta intensidade de reabsorção de líquido
soma ao efeito global para aumentar a reabsorção tubular e diminuir a nos capilares peritubulares é o grande coeficiente de filtração (K f), devido à
excreção de sódio. grande condutividade hidráulica e á grande área de superfície dos capilares.
Alterações no Kf dos capilares peritubulares também podem influenciar a
FORÇAS FÍSICAS DO LÍQUIDO PERITUBULAR E filtração, pois esse coeficiente é medida da permeabilidade e da área de
INTERSTICIAL RENAL superfície dos capilares. Aumentos do Kf aumentam a reabsorção, enquanto
diminuições do Kf reduzem a reabsorção.
Forças hidrostáticas e coloidosmóticas controlam a reabsorção ao longo dos
capilares peritubulares, da mesma forma que controlam a filtração nos EFEITOS DA PRESSÃO ARTERIAL
capilares glomerulares. A força líquida de reabsorção representa a soma de
forças hidrostáticas e coloidosmóticas que podem tanto favorecer quanto se Mesmo pequenos aumentos da PA podem causar grandes aumentos da
opor à reabsorção. Essas forças incluem a pressão hidrostática nos capilares excreção urinária de sódio e água, fenômenos chamados respectivamente de
peritubulares (_), a pressão hidrostática no interstício renal (+), a pressão natriurese pressórica e diurese pressórica. Além disso, a PA renal aumentada
coloidosmótica das proteínas plasmáticas nos capilares peritubulares (+) e diminui a porcentagem da carga filtrada de sódio e água que é reabsorvida.
a pressão coloidosmótica das proteínas no interstício renal (_). Subtraindo Isso acontece porque há aumento da pressão hidrostática capilar peritubular
as forças hidrostáticas que se opõem à reabsorção das forças efetivas e aumento subsequente da pressão hidrostática do líquido intersticial renal.
coloidosmóticas que favorecem a reabsorção, a força efetiva resultante é de A PA aumentada também diminui a formação de angiotensina II, o que
cerca de 10 mmHg. As alterações das forças físicas dos capilares contribui para a diminuição da reabsorção tubular de sódio.
peritubulares influenciam a reabsorção tubular por alterarem as forças
físicas no interstício renal que circunda os túbulos. DIURÉTICOS

A pressão hidrostática dos capilares peritubulares é influenciada pela PA e Os diuréticos são fármacos que aumentam o fluxo urinário por inibirem os
pelas resistências das arteríolas aferentes e eferentes. Aumentos da PA transportadores renais de íons e diminuírem a reabsorção de Na + em

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diferentes partes do néfron. Os principais usos clínicos dos diuréticos são no DIURÉTICOS DE ALÇA OU POTENTES
tratamento de alterações que envolvem a retenção anormal de líquidos
(edema) ou no tratamento da hipertensão, na qual a ação diurética causa A butmetanida, a furosemida, a torsemida e o ácido etacrínico, comparados
uma diminuição do volume de sangue, que diminui a resistência periférica com as outras classes de diuréticos, apresentam a maior eficácia na
e, por conseguinte, baixa a PA. mobilização de Na+ e Cl- do organismo. Os diuréticos de alça inibem o
cotransporte de Na+/K+/2 Cl- na membrana luminal no ramo ascendente da
TIAZÍDICOS E CORRELA TOS alça de Henle, de modo que a reabsorção desses íons diminui. Eles são os
fármacos de escolha para a redução de edema pulmonar agudo da
Os tiazídicos são os fármacos diuréticos mais amplamente utilizados. Eles insuficiência cardíaca. Os diuréticos de alça acompanhados de hidratação são
são derivados da sulfonamida e afetam a região cortical do ramo ascendente úteis no tratamento da hipercalcemia, pois estimulam a excreção tubular de
da alça de Henle e o túbulo distal, diminuindo a reabsorção de Na +. Os Ca2+. Eles também são úteis na hiperpotassemia.
diuréticos tiazídicos causam diurese com aumento da excreção de Na + e Cl-,
o que pode resultar na excreção de uma urina muito hiperosmolar. Como os Os diuréticos de alça atuam rapidamente, mesmo em pacientes com função
tiazídicos aumentam o Na+ no filtrado, mais K+ também é trocado por Na+, renal prejudicada ou em pacientes que não responderam a outros diuréticos.
resultando em perda contínua de K+ do organismo com o uso prolongado Os diuréticos potentes diminuem a resistência vascular renal, aumentam o
desses fármacos. Portanto, é imperativo medir o K+ sérico com frequência FSR e a síntese de prostaglandinas. A furosemida e o ácido etacrínico
para assegurar que não ocorra hipopotassemia. Frequentemente o K+ pode competem com o ácido úrico pelos sistemas secretores biliar e renal,
ser suprido somente pela dieta, com o aumento da ingestão de frutas causando ou agravando os ataques de gota. A audição pode ser afetada pelos
cítricas, bananas e ameixas. Dietas pobres em sódio abrandam a depleção de diuréticos de alça, particularmente quando usados em conjunto com
potássio causada pelos tiazídicos. antibióticos aminoglicosídeos. Os diuréticos de alça causam redução rápida e
grave do volume sanguíneo, com possibilidade de hipotensão, choque e
Os tiazídicos diminuem o conteúdo de Ca2+ na urina por promoverem sua arritmias cardíacas. A elevada oferta de Na + no túbulo coletor causa
reabsorção. Pode ocorrer deficiência de magnésio no uso crônico de aumento da troca de Na+ por K+, podendo induzir hipopotassemia.
tiazídicos. Além disso, esses fármacos aumentam o ácido úrico sérico pela
diminuição da quantidade de ácido excretado pelo sistema secretor de ácido DIURÉTICOS POUPADORES DE POTÁSSIO
orgânico.
Os diuréticos poupadores de potássio atuam no túbulo coletor inibindo a
Há muito tempo os tiazídicos (clorotiazida, hidroclorotiazida) têm sido a
reabsorção de Na+ e a excreção de K+. A espironolactona deve ser evitada
principal medicação anti-hipertensiva, pois são baratos, fáceis de
em pacientes com disfunção renal devido ao risco de hiperpotassemia, mas é
administrar e bem tolerados. A clortalidona, a metolazona e a indapamida
o diurético de escolha em pacientes com cirrose hepática. É extremamente
são compostos desprovidos de estrutura tiazídica, mas, como os tiazídicos,
importante que os pacientes em tratamento com algum diurético poupador
apresentam grupo sulfonamídico não substituído e compartilham seu
de potássio sejam cuidadosamente monitorados quanto aos níveis desse íon.
mecanismo de ação.

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A espironolactona é um esteroide sintético que antagoniza a aldosterona no aguda decorrente de choque, toxicidade por drogas e traumatismo. A
receptor intracelular citoplasmático, por evitar a translocação do complexo manutenção do fluxo urinário preserva a função renal em longo prazo e
receptor para o interior do núcleo das células-alvo, de forma que ele não se pode salvar o paciente da diálise. Os efeitos adversos incluem expansão da
ligue ao DNA. Como resultado, há falha na produção de proteínas que água extracelular e desidratação.
normalmente são sintetizadas em resposta à aldosterona, as quais em geral
estimulam a troca Na+/K+ no túbulo coletor. Assim, a falta dessas proteínas REFERÊNCIAS
evita a reabsorção de Na+ e a secreção de K+ e H+. A espironolactona
frequentemente é administrada junto com o diurético tiazídico ou de alça, CLARK, Michelle A.; FINKEL, Richard; REY, Jose A.; Whalen, Karen.
para evitar a excreção de K+. Farmacologia ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

A espironolactona pode causar distúrbios gástricos, bem como pode induzir CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
ginecomastia em homens e irregularidades menstruais em mulheres, porque
se assemelha quimicamente a alguns esteroides sexuais, podendo atuar em GARTNER, Leslie P.; HIATT, James L. Tratado de Histologia em cores. 3
receptores de outros órgãos. Nesse viés, esse fármaco não deve ser usado em ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
doses elevadas por períodos prolongados. O triantereno e a amilorida
KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A. Berne & Levy Fisiologia. 6. ed.
bloqueiam os canais de transporte de Na+, resultando em diminuição na
troca de Na+/K+, mas diferem da espironolactona porque não dependem da Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
presença da aldosterona.
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de
Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
INIBIDORES DA ANIDRA SE CARBÔNICA

A acetazolamida inibe a anidrase carbônica nas células epiteliais do túbulo


proximal. Os inibidores da anidrase carbônica são usados com mais
frequência por suas outras ações farmacológicas do que por seu efeito
diurético, pois são muito menos eficazes que os tiazídicos e os diuréticos de
alça. O uso mais comum da acetazolamida é reduzir a pressão intraocular
elevada no glaucoma de ângulo amplo. Menos comumente, a acetazolamida
pode ser usada na profilaxia da doença aguda das montanhas, para evitar a
fraqueza, a dificuldade respiratória, a vertigem, a náusea e o edema cerebral
e pulmonar.

A diminuição na capacidade de troca entre Na+ por H+ na presença de


acetazolamida resulta em diurese leve. Além disso, o HCO 3- é retido no
lúmen, com grande elevação no pH da urina. A perda de HCO 3- causa acidose
metabólica hipoclorêmica e redução da eficácia diurética após alguns dias
de tratamento. A excreção de fosfato é aumentada. Podem ocorrer depleção
de potássio, formação de cálculos renais, sonolência e parestesia. A
acetazolamida deve ser evitada em pacientes com cirrose hepática, pois pode
levar à diminuição da excreção de NH4+.

DIURÉTICOS OSMÓTICOS
Inúmeras substâncias químicas hidrofílicas simples que são filtradas pelos
glomérulos, como manitol e ureia, resultam em algum grau de diurese. Isso
se deve à sua propriedade de carregar água consigo para o interior do
líquido tubular. Os diuréticos osmóticos são o principal tratamento em
pacientes com aumento de pressão intracraniana ou com insuficiência renal

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Problema 4.3
OBJETIVOS

1) Explicar a regulação da osmolalidade e dos volumes dos líquidos


corporais.
2) Analisar os mecanismos de controle da concentração de solutos e
íons.
3) Descrever os mecanismos de ação do ADH e suas alterações.
4) Descrever os processos de diluição e concentração da urina.
5) Explicar a fisiopatologia e as alternativas de tratamento do
diabetes insipidus.

LÍQUIDOS CORPORAIS E OSMOLALIDADE

ENTRADA E SAÍDA DE LÍQUIDOS

A entrada de água ocorre por duas fontes principais: a ingestão, que


constitui cerca de 2100 mL/dia, e a síntese como resultado da oxidação de
carboidratos, cerca de 200 mL/dia. Algumas formas de saída de água do LÍQUIDO EXTRACELULAR
corpo não podem ser precisamente reguladas, como a perda de água por
evaporação no trato respiratório e por difusão através da pele; a chamada Os líquidos por fora das células constituem cerca de 20% do peso corporal.
perda insensível de água. A perda insensível de água pela pele ocorre O líquido intersticial corresponde a mais de três quartos do LEC, enquanto o
independentemente da sudorese e ocorre mesmo em indivíduos que plasma é responsável por quase um quarto. O plasma e o líquido intersticial
nasceram sem as glândulas sudoríparas. são separados apenas pela membrana capilar altamente permeável a íons, de
forma que suas composições iônicas são similares, embora haja maior
A quantidade de água perdida no suor é muito variável, sendo de concentração de proteínas no plasma. O LEC contém grandes quantidades de
normalmente 100 mL/dia e podendo chegar até 1 a 2 litros por hora em íons sódio e cloreto, quantidade razoavelmente grande de íons bicarbonato e
climas muito quentes ou exercícios pesados. A perda de água nas fezes pequena quantidade de íons potássio, magnésio, fosfato e ácidos orgânicos.
normalmente é pequena, mas pode aumentar vários litros por dia em
pessoas com diarreia grave, a qual pode ameaçar a vida se não tratada em SANGUE
poucos dias. O meio mais importante pelo qual o corpo mantém o balanço
entre entrada e saída de água, bem como de eletrólitos, é pelo controle da O sangue contém tanto LEC (plasma, 60% do sangue) quanto LIC (dentro das
intensidade com que os rins excretam essas substâncias. hemácias, cerca de 40% do sangue). O sangue é considerado um
compartimento líquido separado por conter sua própria câmara, o sistema
DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA ENTRE OS LÍQUIDOS CORPORAIS circulatório. O hematócrito (volume total das hemácias) pode variar
consideravelmente conforme sexo, peso e outros fatores, como anemia e
O líquido corporal total está distribuído principalmente em dois policitemia.
compartimentos, o intracelular e o extracelular, sendo este dividido em
plasma sanguíneo e líquido intersticial. Outro compartimento é o de líquido LÍQUIDO INTRACELULAR
transcelular (1 a 2 litros), que inclui o líquido dos espaços sinoviais,
O líquido intracelular constitui cerca de 40% do total do peso corporal em
peritoneais, pericárdicos, intraoculares e o LCR. Cabe ressaltar que existem
variações dependentes da idade, do gênero e da porcentagem de gordura pessoa “média”. Ele contém pequenas quantidades de Na + e Cl-; entretanto,
corporal. apresenta grandes quantidades de K+ e Po43-, além de quantidades

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consideráveis de Mg2+ e SO42-. As células contêm quase quatro vezes mais potássio e o restante é dividido entre as diversas outras substâncias
proteínas que o plasma. intracelulares.

MEDIDA DOS VOLUMES DOS COMPARTIMENTOS LÍQUIDOS EQUILÍBRIO OSMÓTICO

Para cada miliosmol no gradiente de concentração de soluto impermeante


na membrana, 19,3 mmHg de pressão osmótica são aplicados à membrana
celular. Portanto, alterações relativamente pequenas na concentração de
solutos impermeantes do LEC podem causar grandes alterações no volume
da célula.

Diferentes concentrações de solutos impermeantes produzem diferentes


efeitos sobre os volumes das células. Uma solução isotônica, como a de
cloreto de sódio a 0,9% ou a de glicose a 5% não altera o volume celular.
Em uma solução hipotônica, a água irá se difundir do LEC para a célula. Se a
célula for colocada numa solução hipotônica, a água irá sair da célula para o
LEC.

Soluções com a mesma osmolaridade que a célula são ditas isosmóticas,


O volume de líquido nos diferentes compartimentos do corpo pode ser independentemente do soluto poder penetrar na membrana celular. Os
calculado pelo princípio de indicador-diluição. Ao se colocar uma substância termos hiperosmótico e hiposmótico referem-se às soluções com maior e
indicadora no compartimento e permitindo que o indicador se disperse menor osmolaridade em relação à do LEC normal, se os solutos não forem
igualmente por todo o líquido do compartimento, é possível medir a permeantes.
concentração da substância e, por regra de três, o volume total de líquido
do compartimento.

DESLOCAMENTO DA ÁGUA ENTRE OS COMPARTIMEN TOS

As quantidades relativas de LEC distribuídas entre o plasma e o interstício


são determinadas, sobretudo, pelo equilíbrio das forças hidrostáticas e
coloidosmóticas através das membranas capilares. A distribuição dos
líquidos entre os compartimentos intra e extracelular é determinada
principalmente pelo efeito osmótico de solutos menores agindo através da
membrana celular. A osmose é a difusão efetiva de água através de uma
membrana seletivamente permeável, de região de menor concentração para
a região de maior concentração. A intensidade da difusão da água é chamada
de intensidade da osmose.

O número total de partículas em uma solução é medido em osmóis. Um


osmol (osm) é igual a 1 mol (6,02 x 1023) de partículas de soluto. Em geral,
o osmol é a unidade muito grande para expressar a atividade osmótica de Alguns fatores que podem causar alterações consideráveis nos volumes do
solutos nos líquidos corporais. A concentração osmolar de uma solução é LEC e do LIC são a ingestão de água, a desidratação, a perda de grandes
chamada de osmolalidade quando a concentração é expressa em osmóis por quantidades de água pelo TGI e a perda de quantidades anormais de água
quilograma de água; quando a concentração é expressa em osmóis por litro através do suor ou dos rins. A principal medida rapidamente disponível ao
de solução, é referida como osmolaridade. Quase 80% da osmolaridade total médico para avaliação do status dos líquidos do paciente é a concentração
do líquido intersticial e do plasma são devidos aos íons sódio e cloreto, ao de sódio no plasma. Quando a concentração de sódio no plasma é reduzida
passo que para o LIC quase a metade da osmolaridade é devida aos íons por mais do que alguns miliequivalentes abaixo do normal (cerca de 142

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mEq/L), o indivíduo tem hiponatremia. Quando a concentração de sódio no detectam alguma alteração do volume do LEC, enviam sinais para os rins, a
plasma está acima do normal, o paciente tem hipernatremia. fim de que ocorra o ajuste apropriado da excreção do NaCl e da água.
Doenças do córtex adrenal podem alterar os níveis de aldosterona e
HIPONATREMIA dificultar a habilidade dos rins de manter o balanço de Na + e euvolemia.

A hiponatremia pode ser causada por diarreia, vômito, uso excessivo de


diuréticos, doença de Addison ou secreção excessiva de hormônio
antidiurético. Variações rápidas no volume celular, como resultado da
hiponatremia, podem apresentar efeitos intensos nos tecidos e na função dos
órgãos, especialmente no cérebro. A redução rápida do sódio plasmático
pode causar, por exemplo, edema das células cerebrais e sintomas
neurológicos como dor de cabeça, náusea, letargia e desorientação, bem
como convulsões, coma, dano cerebral permanente e morte. A hiponatremia
é a causa mais comum de distúrbios eletrolíticos encontrados na prática
clínica e pode ocorrer acima de 15% a 25% dos pacientes hospitalizados.
Quando ocorre a expansão de volume do LEC, sinais neurais e hormonais são
HIPERNATREMIA enviados para os rins, para aumentar a excreção de NaCl e água e restaurar a
euvolemia. Quando o volume do LEC se contrai, são enviados sinais para os
A hipernatremia é muito menos comum que a hiponatremia, e sintomas
rins para diminuir a excreção de NaCl e água. O SNS, o sistema renina-
graves geralmente ocorrem apenas com o aumento muito rápido e muito
angiotensina-aldosterona e os peptídeos natriuréticos atrial e cerebral são
alto da concentração plasmática de sódio. A razão disso é que a
componentes importantes do sistema necessário para manter o balanço
hipernatremia promove sede intensa que protege contra grande aumento de
equilibrado de Na+.
sódio no plasma e no LEC. Entretanto, a hipernatremia grave pode ocorrer
em pacientes com lesões hipotalâmicas que comprometem seu sentido de
sede, em crianças que podem não ter acesso imediato á água, ou pacientes
idosos, com estado mental alterado.

BALANÇO DE ÍONS

SÓDIO

Os solutos principais no LEC são os sais de Na+, dentre os quais o NaCl é o


mais importante Os rins são a principal via para excreção do NaCl (90% da
excreção).

A resposta dos rins às mudanças abruptas da ingestão de NaCl em geral leva


de várias horas a diversos dias, dependendo da amplitude da mudança.
Durante esse período de transição, a ingestão e a excreção de Na + não estão
pareadas, como estão no estado estável. Assim, o indivíduo experimenta
balanço positivo de Na+ (ingestão > excreção) ou balanço negativo de Na+
(ingestão < excreção). No fim da transição, novo equilíbrio é estabelecido.
Quando o ADH e os sistemas de sede estão intactos e normais, as alterações
no balanço do Na+ mudam o volume, mas não a [Na+] do LEC. POTÁSSIO

O volume do LEC é monitorado por múltiplos sensores que respondem ao A manutenção do balanço do potássio é essencial para o funcionamento
estiramento induzido pela pressão nas paredes do receptor (vasos normal dos tecidos excitáveis. A maior parte do conteúdo corporal total de
sanguíneos ou átrios cardíacos). Quando os sensores vasculares de volume
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K+, cerca de 98%, fica situada no LIC. Esse grande gradiente de ativação de receptores beta-adrenérgicos. Inversamente, o
concentração é mantido pela Na+-K+ ATPase. tratamento da hipertensão com beta-bloqueadores, como o
propranolol, causa a saída de K+ das células, gerando tendência
Uma das dificuldades de manter a baixa concentração extracelular de K + é a para a hipercalemia.
grande quantidade de K+ presente no interior das células. A distribuição do  Anormalidades ácido-básicas: a acidose metabólica aumenta a
K+ através das membranas celulares (balanço interno do K+) é alterada por concentração extracelular de K+, enquanto a alcalose metabólica
hormônios, fármacos e diversas condições patológicas, afetando, aumenta a concentração intracelular do íon.
consequentemente, a concentração extracelular de K+. A excreção urinária  Aldosterona: a aldosterona promove a captação de K+ pelas
de K+ deve ser igual à sua ingestão para manter o balanço do íon. Os células. Aumento dos níveis de aldosterona causa hipocalemia,
mecanismos renais que permitem essa variabilidade são chamados de ao passo que redução dos níveis desse hormônio, como na
balanço externo do K+. doença de Addison, causa hipercalemia.

BALANÇO INTERNO DO K + BALANÇO EXTERNO DO K +

O deslocamento de K+ para fora das células produz aumento da A manutenção do balanço de K+ é um desafio especial, visto que a ingestão
concentração sanguínea de K+ (hipercalemia ou hiperpotassemia). O de K+ na dieta é muito variável. O potássio é processado pelos rins por
deslocamento de K+ para dentro das células baixa a concentração sanguínea combinação de mecanismos de filtração, reabsorção e secreção.
de K+ (hipocalemia ou hipopotassemia).

 Insulina: a insulina estimula a captação de K+ pelas células, o


que pode causar hipocalemia. No DM-I, há deficiência de insulina
e diminuição da captação celular de K+ e hipercalemia.
 Osmolaridade: a hiperosmolaridade causa deslocamento do K+
para fora das células. CÁLCIO
 Lise celular: a lise celular (queimaduras, ruptura da estrutura do
99% do cálcio corporal estão armazenados nos ossos; cerca de 1% no LIC; e
músculo esquelético e células malignas destruídas durante
0,1% no LEC. A concentração adequada desse íon é mantida em limites
quimioterapia) libera grande quantidade de K+ no LEC,
muito estreitos. A hipocalcemia aumenta a excitabilidade dos nervos e das
produzindo hipercalemia.
células musculares, podendo levar à tetania hipocalcêmica. Isso ocorre
 Exercício: o exercício provoca o deslocamento do K+ para fora
porque a hipocalcemia desloca o potencial limiar para valores mais
das células, o que é revertido durante o período subsequente de
próximos do potencial da membrana em repouso. Da mesma forma, a
repouso. Nas pessoas com comprometimento da função renal, o
hipercalcemia pode diminuir a excitabilidade ou produzir arritmias
exercício extenuante pode produzir hipercalemia.
cardíacas, letargia, desorientação e até a morte.
 Estimulação beta-adrenérgica: a secreção elevada de
catecolaminas, especialmente da epinefrina, pode provocar o A homeostasia do cálcio depende de dois fatores: a quantidade total de Ca 2+
deslocamento de K+ do LEC para o LIC, principalmente pela no corpo, regulada pela ingestão, pela absorção intestinal e pela excreção na
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urina e nas fezes; e a distribuição do Ca2+ entre o osso e o LEC, regulada os solutos são reabsorvidos, a água também se difunde por osmose.
pelo paratormônio, pelo calcitriol e pela calcitonina. Portanto, a osmolaridade do líquido permanece quase a mesma do FG.

Os diuréticos tiazídicos aumentam a reabsorção de Ca 2+ e diminuem sua RAMO DESCENDENTE DA ALÇA DE HENLE
excreção, razão pela qual esses fármacos são usados no tratamento de
hipercalciúria idiopática. As outras classes de diuréticos diminuem a O ramo descendente é muito permeável à água, porém muito menos
reabsorção de Ca2+. permeável ao NaCl e à ureia. Portanto, a osmolaridade do líquido que flui
pela alça descendente aumenta de forma gradativa até se tornar próxima à
FOSFATO do líquido intersticial adjacente, quando a concentração plasmática de ADH
é elevada.
85% do fosfato está presente na matriz óssea, 15% no LIC e menos de 0,5%
no LEC. Os rins regulam a concentração de fosfato no sangue. Cerca de 15% RAMO ASCENDENTE DELGADO DA ALÇA DE HENLE
da carga filtrada de fosfato são excretados, um valor relativamente alto. A
importância fisiológica disso é que o fosfato não absorvido será utilizado O ramo ascendente delgado da alça de Henle é basicamente impermeável à
como tampão urinário de H+ (ácido titulável). água. Assim, o líquido tubular fica mais diluído, já que o NaCl se difunde
para fora do túbulo e a água permanece no túbulo. Parte da ureia
O paratormônio (PTH) regula a reabsorção do fosfato no túbulo proximal,
reabsorvida pelo interstício medular a partir dos ductos coletores também
inibindo o cotransportador Na+-fosfato, causando fosfatúria, uma vez que os
se difunde pelo ramo ascendente delgado, retornando a ureia para o sistema
segmentos adiante do túbulo proximal têm pouca ou nenhuma capacidade
tubular e auxiliando na manutenção da medula hiperosmótica por impedir
de reabsorver esse íon.
que o interstício medular seja diluído (reciclagem da ureia).

MAGNÉSIO
RAMO ASCENDENTE ESPESSO DA ALÇA DE HENLE

A reabsorção global do Mg2+, pelo néfron, é de 95%, deixando 5% para a


O ramo ascendente espesso da alça de Henle também é impermeável à água,
excreção, que é porcentagem mais alta em comparação a outras substâncias.
mas grande quantidade de soluto é reabsorvida, de forma que esse também
O principal local de reabsorção do Mg2+ é o ramo ascendente espesso da alça
é um segmento diluidor.
de Henle, onde 60% da carga filtrada são absorvidos. Assim, os diuréticos de
alça inibem fortemente a reabsorção de Mg 2+ e aumentam sua excreção,
PORÇÃO INICIAL DO TÚBULO DISTAL
podendo levar à hipomagnesia.
A porção inicial do túbulo distal tem propriedades similares ao ramo
CONCENTRAÇÃO E DILUIÇÃO DA URINA
ascendente da alça de Henle.

Os rins mantêm a osmolalidade e o volume dos fluidos corporais, dentro de


PORÇÃO FINAL DO TÚBULO DISTA L E TÚBULOS COLETORES
faixa estreita, regulando a excreção de água e de NaCl, respectivamente. Os
CORTICAIS
rins são os responsáveis por regular o balanço de água e, na maioria das
condições, formam a principal via de eliminação de água do corpo. Sob
Nesse segmento, a osmolaridade do líquido depende do nível de ADH. Com
condições normais, os rins controlam a excreção de água,
altos níveis desse hormônio, esses túbulos ficam muito permeáveis à água,
independentemente de sua capacidade para controlar a excreção de várias
ocorrendo reabsorção significativa de água. A ureia, no entanto, não é muito
outras substâncias. Essa capacidade é necessária para a sobrevivência, por
permeável nessa parte do néfron, resultando em aumento de sua
permitir o balanço da água, que pode ser atingido sem alterar outras
concentração à medida que água é reabsorvida.
funções homeostáticas dos rins.
DUCTOS COLETORES MEDULARES INTERNOS
TÚBULO PROXIMAL
A concentração de líquido pelos ductos coletores da medula interna depende
Cerca de 65% dos eletrólitos filtrados são reabsorvidos no túbulo proximal.
do ADH e da osmolaridade do interstício medular que os circundam, que foi
Contudo, uma vez que esse segmento é muito permeável à água, sempre que
estabelecida pelo mecanismo de contracorrente.

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Embora o NaCl seja um dos principais solutos que contribuem para a vasos pulmonares) e de pressão alta (arco aórtico e seio carotídeo), no
hiperosmolaridade do interstício medular, o rim pode, quando necessário, sistema circulatório. Esses dois grupos de receptores são sensíveis ao
excretar urina muito concentrada com pouca quantidade desse sal Por outro estiramento e são chamados de barorreceptores. Quando a pressão ou o
lado, grandes quantidades de urina diluída podem ser excretadas sem volume diminuem, esses barorreceptores enviam sinais pelas fibras
aumentar a excreção de sódio. aferentes dos NC IX e X ao núcleo do trato solitário no bulbo, que controla a
FC e a PA. Então, sinais são emitidos do bulbo para as células secretoras de
Devemos considerar a existência de um volume urinário obrigatório, ditado ADH nos núcleos supraóptico e paraventricular do hipotálamo.
pela capacidade máxima de concentração de urina pelo rim e pela
quantidade de soluto deve ser excretada. Consequentemente, se a excreção
de grande quantidade de soluto for necessária, ela deverá ser acompanhada
por quantidade mínima de água necessária para excretá-lo.

ADH

O hormônio antidiurético (ADH) ou vasopressina é um peptídeo de nove


aminoácidos sintetizado em células neuroendócinas localizadas nos núcleos
supraóptico e paraventricular do hipotálamo. Ele atua sobre os rins,
regulando o volume e a osmolalidade da urina. Sua secreção pela neuro-
hipófise é influenciada por vários fatores, dentre eles a osmolalidade dos MECANISMOS DE AÇÃO DO ADH
fluidos corporais e a pressão do sistema vascular. Outros fatores que podem
alterar a secreção do ADH incluem a náusea (+), peptídeo natriurético atrial A ação primária do ADH sobre os rins é aumentar a permeabilidade do ducto
(_) e a angiotensina II (+). Diversos fármacos também afetam a secreção de coletor à água. Além disso, o ADH aumenta a permeabilidade da porção
ADH. Por exemplo, a nicotina estimula a secreção, enquanto o etanol a inibe. medular do ducto coletor à ureia e estimula a reabsorção de NaCl pelo ramo
O limiar para a secreção do ADH é de cerca de 285 mOsm/kg H2O. ascendente espesso da alça de Henle, pelo túbulo distal e ducto coletor. O
ADH também regula a expressão do gene de AQP-2.
Existem células no hipotálamo anterior que detectam as variações na
osmolalidade do fluido corporal: os osmorreceptores, que respondem SEDE
somente a solutos no plasma que são osmóis efetivos. Quando a
osmolalidade efetiva do plasma aumenta, os osmorreceptores estimulam a Os centros neurais envolvidos na regulação da captação de água (centro da
síntese e a secreção de ADH. sede) estão localizados na mesma região do hipotálamo envolvida na
regulação da secreção do ADH. Quando a osmolalidade do fluido corporal
Uma diminuição no volume sanguíneo ou da pressão também estimula a
está aumentada ou o volume ou a pressão estão reduzidos, o indivíduo
secreção de ADH. Os receptores responsáveis por essa resposta estão
percebe a sede. A angiotensina II também provoca sensação de sede. O
localizados em ambos os lados de pressão baixa (átrio esquerdo e grandes
limiar da sede é mais alto que o limiar para a secreção do ADH, cerca de 295
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mOsm/kg H2O, de modo que a sede é estimulada quando a secreção de ADH O PH DOS LÍQUIDOS CORPORAIS
já é máxima. A sensação de sede é satisfeita pelo ato de beber água, mesmo
antes que água suficiente para corrigir a osmolalidade do plasma seja A concentração de íons hidrogênio (H+) dos líquidos corporais é
absorvida pelo TGI. extremamente baixa. Uma vez que é complicado usar números tão pequenos,
a concentração de H+ pode ser expressa como uma função logarítmica, o pH:
DIABETES INSIPIDUS pH = -log10 [H+]. À medida que a concentração de H+aumenta, o pH
diminui; entretanto, cabe ressaltar que essa não é uma relação linear, mas
O diabetes insipidus central pode ocorrer secundariamente a um trauma logarítmica.
cranioencefálico em que há depleção das reservas de ADH da neuro-hipófise.
O túbulo distal e os ductos coletores ficam impermeáveis à água, de modo A faixa de variação normal do pH arterial é de 7,37 a 7,42. Abaixo de 7,37
que não ocorre a reabsorção de água nesses trechos e ocorre excreção de até diz-se que há uma acidemia e, acima de 7,42, uma alcalemia. A faixa de pH
15 L/dia de urina muito diluída. O tratamento consiste na administração de compatível com a vida é de 6,8 a 8,0. Os mecanismos que mantém o pH
um análogo do ADH, como a 1-desamino-8-D-arginina vasopressina (dDAVP). dentro de sua faixa normal incluem o tamponamento do H+ tanto no LEC
quanto no LIC, a compensação respiratória e a compensação renal.
No diabetes insipidus nefrogênico, embora a secreção de ADH seja normal,
um defeito no receptor, na proteína GS ou na adenilciclase faz com que as PRODUÇÃO DE ÁCIDO PELO CORPO
células principais fiquem insensíveis ao ADH. A água não é reabsorvida no
túbulo distal e nos ductos coletores, a osmolaridade plasmática aumenta e a
CO 2
neuro-hipófise é estimulada a secretar ainda mais ADH. Os níveis circulantes
de ADH ficam anormalmente altos, mas ainda sem efeito sobre as células
O CO2, também chamado de ácido volátil, por si só não é um ácido.
principais.
Entretanto, ao reagir com água forma um ácido fraco, o ácido carbônico:

REFERÊNCIAS CO2 + H2O ↔ H2CO3↔ H+ + HCO3-

CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. O H2CO3 se dissocia em HCO3-e H+, o qual deve ser tamponado. Nos pulmões,
essas reações ocorrem na direção inversa, regenerando o CO 2 que é expirado.
KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A. Berne & Levy Fisiologia. 6. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. ÁCIDO FIXO

HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de


O catabolismo das proteínas e dos fosfolipídios resulta na produção de 40 –
Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
60 mM/dia de ácido não-volátil ou fixo, como ácido sulfúrico e ácido
fosfórico. Eles devem ser tamponados nos líquidos corporais antes de serem
PALUMBO, C. et al. Asociación de diabetes insípida central y diabetes mellitus
tipo 2. Medicina, Buenos Aires, v. 78, p. 127-130, 2018. excretados pelos rins. Além dessa produção normal de ácido, em estados
fisiopatológicos, outros ácidos podem ser produzidos excessivamente, como
Problema 4.4 o ácido beta-OH-butírico e o ácido acetoacético, ambos cetoácidos gerados no
DM não controlado; e o ácido láctico, que pode ser gerado no exercício
intenso ou na hipoxia. Outrossim, outros ácidos fixos podem ser ingeridos: o
OBJETIVOS ácido salicílico (aspirina), o ácido fórmico (metanol) e os ácidos glicólico e
oxálico (etilenoglicol).
1) Descrever os mecanismos de regulação acidobásica e os
mecanismos compensatórios renais. TAMPONAMENTO
2) Relacionar o sistema respiratório com o sistema renal e o
equilíbrio acidobásico. Um tampão é uma mistura de um ácido fraco e de sua base conjugada ou de
3) Descrever como o profissional de saúde poderia ajudar o uma base fraca e seu ácido conjugado. As duas formas do tampão são
paciente. chamadas de par-tampão. A forma ácida é doadora de H+ e a forma básica é
aceptora de H+. Uma solução tamponada resiste às alterações do pH, por

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isso os líquidos corporais contêm uma grande variedade de tampões, que REABSORÇÃO DO HCO 3 - FILTRADO
atuam como uma primeira linha de defesa contra as variações do pH. A
segunda linha de defesa é o controle da respiração e a terceira linha é A membrana luminal contém um trocador Na+/H+. Conforme Na+ é
constituída pelos mecanismos renais. reabsorvido, H+ é secretado e se combina com HCO3- filtrado, formando
H2CO3. A anidrase carbônica da borda em escova catalisa a decomposição do
As compensações respiratória e renal tentam normalizar o pH pela criação
H2CO3 em CO2 e H2O, que atravessam a membrana luminal e entram na célula.
de valores anormais da PCO2 e da concentração de HCO3-, que podem
Dentro da célula, a anidrase carbônica intracelular catalisa a combinação do
produzir valores normais ou quase normais do pH, ou seja, restabelecem o
CO2 com a água para formar novamente H2CO3, que é convertido em H+ e
equilíbrio. A acidemia estimula os quimioceptores centrais, produzindo
HCO3-. O H+ vai ser secretado para participar da reabsorção de outro HCO3- e
hiperventilação, de modo que o excesso de CO2 é expirado. Os rins ainda são
o HCO3- é transportado pela membrana basolateral ao sangue.
necessários parta o restabelecimento total do balanço acidobásico, pois
excretam o H+ e repõem o HCO3- consumido no tamponamento. Qualquer HCO3- filtrado que não possa ser reabsorvido é excretado. A
expansão do volume do LEC inibe a reabsorção isosmótica no túbulo
TAMPÕES DO LEC proximal e, assim, inibe a reabsorção de HCO3-. As diminuições do volume do
LEC estimulam o sistema renina-angiotensina-aldosterona: a angiotensina II
TAMPÃO HCO 3 - /CO 2 estimula a troca Na+/H+ no túbulo proximal, estimulando a reabsorção de
HCO3- e aumentando sua concentração sanguínea. Isso explica a alcalose de
O tampão extracelular mais importante é o HCO3-+/CO2. Quando um ácido contração, que é a alcalose metabólica secundária à contração de volume do
forte (com alto grau de ionização) como o HCl é adicionado ao LEC, o H+ se LEC.
combina com parte do HCO3-, formando H2CO3, que é um ácido fraco (com
baixo grau de ionização). O ácido carbônico é dissociado em CO 2 e H2O, e O aumento da PCO2 aumenta a reabsorção de HCO3-, ao passo que a redução
ambos são expirados pelos pulmões. da PCO2 diminui. Na acidose respiratória, a PCO2 fica aumentada. Uma vez
que mais CO2 está disponível para as células renais gerarem H+ para ser
TAMPÃO HPO 4 2 - /H 2 PO 4 - secretado pelo trocador Na+/H+, mais HCO3- é reabsorvido.

Esse par atua basicamente como o HCO3-+/CO2, porém o bicarbonato é mais


eficiente porque está presente em concentração bem maior que o fosfato e a
forma ácida do HCO3-+/CO2, o CO2, é volátil e pode ser excretada pelos
pulmões.

TAMPÕES DO LIC

Os tampões intracelulares incluem os fosfatos orgânicos (ATP; ADP; AMP;


glicose-1-P; 2,3-BPG) e as proteínas. Radicais com carga negativa nas
proteínas plasmáticas, como a albumina, podem fixar o H+ ou o Ca2+. Na
acidemia, como há excesso de H+, mais H+ é fixado pelas proteínas
plasmáticas e, portanto, menos Ca2+. Dessa forma, há mais Ca2+ livre, o que
pode gerar um quadro de hipercalcemia. Na alcalemia, o oposto acontece; e
podem ocorrer sintomas de hipocalcemia: formigamento, dormência,
tetania.

MECANISMOS RENAIS PARA O BALANÇO ACIDOBÁ SICO

As funções dos rins para a manutenção do equilíbrio acidobásico são a


excreção do H+ e a reabsorção do HCO3-. A excreção de H+ é sempre
acompanhada pela síntese e reabsorção de novo HCO 3-, a fim de reconstituir
as reservas de HCO3- usadas para o tamponamento do H+ fixo.
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EXCREÇÃO DO H + COMO ÁCIDO TITULÁVEL  Ramo ascendente grosso: o NH4+ é reabsorvido por substituir o
K+ no cotransportador Na+/K+/2Cl-. Como resultado, o íon
O ácido titulável é o H+ excretado com tampões urinários pelo túbulo amônio participa da multiplicação por contracorrente e é
proximal, pelo túbulo distal e pelos túbulos coletores. O fosfato é o mais concentrada na medula interna e nas papilas renais.
importante desses tampões.  Ducto coletor: há dois mecanismos de transporte ativo primário
que secretam H+ para o líquido tubular: a H+ ATPase,
A membrana luminal contém H+ ATPase, que secreta H+ da célula para o estimulada pela aldosterona; e a H+/K+ ATPase.
lúmen. O H+ se combina com o HPO42-, formando H2PO4-, que é o ácido Simultaneamente à secreção de H+ por essas bombas, NH3 se
titulável que será excretado. O H+ secretado pela H+ ATPase é produzido a difunde de sua alta concentração para o lúmen do túbulo
partir do CO2 e da H2O, que se combinam na presença da anidrase carbônica coletor, onde se combina com o H+ para formar NH4+. Somente
e formam H2CO3. O H2CO3 se dissocia em H+ que é reabsorvido e HCO3-, que é a amônia é lipossolúvel e pode se difundir para o lúmen do
reabsorvido. Para cada H+ excretado como ácido titulável, um novo HCO3- é túbulo, ao passo que o íon amônio não é lipossolúvel, de forma
sintetizado e reabsorvido. que fica retido no túbulo e é excretado. A origem do H +
secretado pelas células intercaladas alfa é o CO2 e a H2O. Para
A quantidade de H+ excretado como ácido titulável depende da quantidade cada H+ secretado, um novo HCO3- é sintetizado e reabsorvido.
disponível de tampão urinário. O pH mínimo da urina é de 4,4.

EXCREÇÃO DO H + COMO NH 4 +
A intensidade da síntese do NH3 depende da quantidade de H+ a ser
Três segmentos do néfron participam da excreção de H+ como NH4+: o excretada. A hipercalemia inibe a síntese de NH3 e reduz a capacidade de
túbulo proximal, o ramo ascendente grosso da alça de Henle e as células excretar NH4+, porque na hipercalemia o K+ entra nas células renais
intercaladas alfa dos ductos coletores. enquanto o H+ sai. O aumento resultante do pH inibe a síntese de amônia a
partir da glutamina.
 Túbulo proximal: o metabolismo da glutamina produz NH3 e alfa-
cetoglutarato, que por sua vez é metabolizado em glicose, a qual Nas pessoas normais, todo o ácido fixo produzido é excretado. Nas pessoas
é degradada a CO2 e H2O e, em seguida, a HCO3-. Dentro da célula, com cetoacidose diabética, a produção de ácido pode estar aumentada em
o NH3 é convertido em NH4+, que é secretado para o lúmen pelo até dez vezes, aumentando também a excreção de NH4+. Na insuficiência
trocador Na+/H+, no lugar do H+. O HCO3- é reabsorvido. Parte renal crônica, a excreção de ácido fixo diminui porque há diminuição da FG
do NH4- é excretada diretamente na urina; o restante segue pelo e diminuição da quantidade de fosfato. A excreção de NH 4+ é diminuída
túbulo e é excretada indiretamente. graças ao comprometimento da síntese de NH3 nas células renais doentes.
Por consequência da incapacidade dos rins de excretar todo o H + fixo
produzido diariamente, ocorre acidose metabólica.
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DISTÚRBIOS ACIDOBÁSICOS Na cetoacidose diabética, frequentemente se observa hiponatremia, ou


redução da [Na+] sanguínea. Como a [glicose] do LEC está aumentada, a
Os distúrbios acidobásicos são caracterizados por concentrações anormais de osmolaridade também está elevada, causando movimento de água para fora
H+no sangue. O pH sanguíneo é determinado pela proporção entre as das células, promovendo equilíbrio osmótico entre o LEC e o LIC, diluindo os
concentrações de HCO3- e de CO2, portanto, as variações desses elementos solutos do LEC e diminuindo a [Na+] sanguínea. A causa mais provável de
produzirão alterações no pH. A redução do pH é chamada de acidemia e a hipercalemia é a falta de insulina. Além disso, o movimento da água causado
elevação do pH é chamada de alcalemia. pela hiperosmolaridade pode carregar consigo K+, causando mais
hipercalemia. O tratamento consiste na injeção de insulina, que diminui a
Se o distúrbio metabólico for do tipo metabólico, a resposta compensatória [glicose] sanguínea do paciente, corrige sua cetoacidose e sua hipercalemia.
será respiratória. Se for respiratório, a resposta será renal (ou metabólica). Também é recomendada solução salina para repor a perda de Na+ e água
produzida pela diurese osmótica.

ALCALOSE METABÓLICA

A alcalose metabólica é causada pela perda de H+ fixo, pelo TGI ou pelos


rins; pela administração de soluções que contenham HCO 3- ou pela contração
de volume do LEC.

Em pacientes com quadro de vômitos, HCl é perdido do estômago. As células


parietais gástricas produzem H+ e HCO3-. O H+ é secretado junto com o Cl-
para o lúmen gástrico, ao passo que o bicarbonato passa para o sangue. Nas
pessoas normais, esse bicarbonato seria removido pelas secreções
pancreáticas em resposta ao baixo Ph no intestino delgado; no entanto,
ACIDOSE METABÓLICA como o H+ está sendo perdido pelos vômitos, não chega ao intestino
delgado, de modo que a secreção de bicarbonato não é estimulada. Portanto,
A acidose metabólica é causada por excesso de H+ fixo, o que diminui a a [HCO3-] aumenta.
concentração de HCO3-, por causa do tamponamento. Esse distúrbio pode ser
causado pela produção excessiva de H+ ou por perda de base. Há, então, tamponamento no LEC e no LIC. Para se utilizarem os tampões do
LIC, o H+deve sair da célula por troca com o K+, o que causa hipocalemia. O
O excesso de ácido fixo produz aumento da [H+] no LEC. O excesso de H+ é Ph diminuído inibe os quimioceptores centrais, o que produz hipoventilação
tamponado. No LEC, o tamponamento por bicarbonato produz diminuição da e aumento da PCO2. A compensação renal para a alcalose metabólica é
[HCO3-] e, por conseguinte, diminuição do pH. No LIC, o excesso de H + é complicada quando associada à perda de volume do LEC. A contração do
tamponado pelos fosfatos orgânicos e proteínas. Para tal, ele precisa entrar volume do LEC produz aumento da reabsorção de bicarbonato pelo túbulo
na célula, por troca com o K+, causando hipercalemia. O pH arterial proximal, por meio das forças de Frank-Starling. Além disso, ocorrem níveis
diminuído estimula os quimioceptores centrais, que respondem com aumentados de angiotensina II, a qual estimula a troca Na + - H+ e promove
hiperventilação, que reduz a PC02. A compensação renal leva vários dias. O a reabsorção de HCO3-. Os níveis elevados de aldosterona estimulam a
excesso de H+será excretado como ácido titulável ou NH4+. secreção de H+. Quando combinados, esses efeitos mantêm a alcalose
Simultaneamente, novo HCO3- será sintetizado e reabsorvido pelos rins para metabólica mesmo após a cessação dos vômitos. Em resumo, a perda de H+
substituir o bicarbonato consumido no tamponamento. gástrico gera a alcalose metabólica e a contração de volume do LEC a
mantém, por impedir a excreção de HCO3- na urina.
A acidose metabólica no DM1 não controlado se deve à produção excessiva
de ácidos fixos, que são gerados porque os produtos da lipólise, estimulada Algum K+ é perdido nos líquidos gástricos. Na alcalose metabólica, o H + se
pela falta de insulina, são os ácidos graxos, os quais são convertidos em desloca para dentro das células enquanto o K+ entra, causando hipocalemia.
ácido beta-OH-butírico e ácido acetoacético. Esses ácidos fixos são Por fim, a contração de volume do LEC aumenta a secreção de aldosterona, a
tamponados pelo HCO3- extracelular, o que diminui sua concentração qual por sua vez aumenta a secreção de K+ pelas células principais renais. O
extracelular e diminui o pH. A PCO2 diminuída é resultado da tratamento imediato consiste em solução salina por via venosa e K+. Para
hiperventilação, que é a compensação respiratória para a acidose metabólica corrigir a alcalose, deve haver correção da contração de volume do LEC e
(respiração de Kussmaul). interrupção dos vômitos.
Letícia Teixeira Guimarães
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ACIDOSE RESPIRATÓRIA HORMÔNIOS

A hipoventilação causa retenção de CO2 e aumento da PCO2, com A integração celular e tecidual depende do inter-relacionamento de vários
consequentes aumentos das concentrações de HCO3- e de H+, com baixa do tipos de mensageiros químicos: os neurotransmissores, os hormônios
pH. Para ser tamponado pelas proteínas intracelulares e pelos fosfatos endócrinos, os neuroendócrinos, os parácrinos, os autócrinos e as citocinas.
orgânicos, o CO2 se difunde para dentro das células, onde é convertido em A palavra hormônio vem do grego “hormon”, que significa “aquilo que
H+ e em HCO3-. A compensação renal consiste em aumento da excreção de coloca em movimento, estimula”. Os hormônios são transportados pelo
H+ como ácido titulável e NH4+, bem como síntese e reabsorção aumentadas sistema circulatório em baixas concentrações (biocatalíticas) e atuam em
de HCO3-. A acidose respiratória pode ser causada por inibição do centro receptores específicos, pelos quais têm alta afinidade e alta especificidade.
respiratório bulbar, paralisia dos músculos respiratórios, obstrução das vias
aéreas ou falha na troca de CO2 entre o sangue capilar e o ar alveolar.

ALCALOSE RESPIRATÓRIA

A hiperventilação causa perda excessiva de CO2 e redução da PCO2, com


consequente redução das concentrações de HCO3- e de H+, com aumento do
pH. O tamponamento ocorre exclusivamente no LIC, em especial nas
hemácias. O CO2 sai das células e o pH aumenta. A compensação renal
consiste na redução da excreção de H+, como ácido titulável e NH4+, além
da diminuição da síntese e da reabsorção de novo HCO3-. A alcalose
respiratória pode ser causada por estimulação direta do centro respiratório
bulbar, por hipoxemia, ou por ventilação mecânica.

REFERÊNCIAS

CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA. Estratégias para o cuidado da pessoa


com doença crônica: Diabetes mellitus. Brasília-DF: Editora Ministério
da Saúde, 2013.

CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A. Berne & Levy Fisiologia. 6. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de


Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.

Problema 5.1
OBJETIVOS

1) Descrever a anatomia e a histologia do hipotálamo e da hipófise. ESTRUTURA QUÍMICA E SÍNTESE


2) Analisar a produção, a secreção e a regulação do eixo
Existem três classes gerais de hormônios: proteínas e peptídeos; esteroides;
hipotálamo-hipófise.
e derivados do aminoácido tirosina.
3) Analisar os distúrbios do eixo hipotálamo-hipófise.

Letícia Teixeira Guimarães


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FUNÇÕES BIOLÓGICAS 2019

HORMÔNIOS PEPTÍDICOS E PROTEICOS seguinte maneira: depois que o estímulo causa liberação do hormônio,
condições ou produtos decorrentes da ação do hormônio tendem a suprimir
A maioria dos hormônios no corpo é dessa classe. Os hormônios peptídicos e sua liberação adicional, para impedir a hipersecreção do hormônio ou sua
proteicos são sintetizados no retículo endoplasmático rugoso; geralmente hiperatividade no tecido-alvo.
são secretados como pré-pró-hormônios e clivados para formar pré-
hormônios menores no RE. Os pró-hormônios são transferidos para o No feeedback positivo, a ação biológica do hormônio causa sua secreção
aparelho de Golgi para armazenamento em vesículas secretoras. Nesse adicional. É o caso do LH: sua secreção ocorre em decorrência do efeito
processo, as vesículas clivam os pró-hormônios para produzir hormônios estimulatório do estrogênio sobre a adeno-hipófise antes da ovulação. O LH
menores biologicamente ativos e fragmentos inativos. As vesículas são secretado estimula os ovários a secretarem mais estrogênio, que causam
armazenadas no citoplasma e muitas ficam ligadas à membrana celular até mais secreção de LH. Quando o LH atinge a concentração apropriada, ocorre
que sua secreção seja necessária; então, as vesículas se fundem com a controle por feedback negativo.
membrana e seu conteúdo é expelido no interstício ou no sangue por
Existem variações periódicas da liberação de hormônio que se sobrepõem ao
exocitose.
controle por feedback positivo e negativo. Essas variações são influenciadas
HORMÔNIOS ESTEROIDES por alterações sazonais, etapas do desenvolvimento e do envelhecimento,
ciclo circadiano e sono.
A estrutura química dos esteroides é semelhante à do colesterol e na maioria
das vezes, eles são derivados do colesterol. Embora normalmente não sejam TRANSPORTE DE HORMÔN IOS NO SANGUE
muito armazenados, um estímulo pode rapidamente mobilizar grandes
Os hormônios hidrossolúveis são dissolvidos no plasma e transportados de
quantidades de colesterol dos vacúolos para a síntese dos hormônios. Por
seus locais de síntese até os tecidos-alvo, onde se difundem dos capilares,
serem muito lipossolúveis, uma vez sintetizados os esteroides se difundem
entram no interstício e então às células-alvo. Os hormônios lipossolúveis e
através da membrana celular, entram no interstício e depois, no sangue.
da tireoide circulam no sangue, em grande parte, ligados ás proteínas
HORMÔNIOS DERIVADOS DA TIROSINA plasmáticas; no entanto, nesse estado não são capazes de se difundirem
facilmente pelos capilares para as células-alvo, de modo que são inativos até
Os dois grupos de hormônios derivados da tirosina são os tireoidianos e os que se dissociem das proteínas plasmáticas.
adrenais.
DEPURAÇÃO DE HORMÔNIOS NO SANGUE
Os hormônios da tireoide são sintetizados e armazenados na glândula
tireoide e incorporados a macromoléculas da proteína tireoglobulina, que é Após exercerem seus efeitos, deve haver interrupção da atividade hormonal,
armazenada em grandes folículos na tireoide. A secreção hormonal ocorre por mecanismos que levam à inibição da atividade hormonal. Dentre esses
quando as aminas são eliminadas da tireoglobulina e os hormônios livres mecanismos, estão a degradação total ou parcial do hormônio, os
são liberados no sangue. Então, a maior parte dos hormônios da tireoide se mecanismos compensatórios (fosfatases/fosfodiesterases), ubiquitinação,
combina com proteínas plasmáticas, em especial a globulina de ligação à retroalimentação negativa intracelular, inativação e/ou degradação do
tiroxina, que lentamente libera os hormônios para os tecidos-alvo. hormônio, ações contrarregulatórias e depuração hormonal.

A epinefrina e a norepinefrina são formadas na medula das glândulas Os hormônios são depurados do plasma por vários modos, incluindo
suprarrenais, que geralmente secretam cerca de 4x mais epinefrina que destruição metabólica pelos tecidos, ligação com os tecidos, excreção na bile
norepinefrina. As catecolaminas ocupam as vesículas pré-formadas que são pelo fígado e excreção na urina pelos rins. Os hormônios são algumas vezes
armazenadas até serem secretadas, por exocitose. As catecolaminas podem degradados em suas células-alvo por processos enzimáticos que causam
existir no plasma na forma livre ou conjugadas com outras substâncias. endocitose do complexo hormônio-receptor na membrana; o hormônio é
então metabolizado na célula e os receptores em geral são reciclados de
SECREÇÃO, TRANSPORTE E DEPURAÇÃO volta à membrana celular. Hormônios que se ligam a proteínas são
removidos do sangue com intensidade muito menor e podem continuar na
CONTROLE DA SECREÇÃO POR FEEDBACK circulação por várias horas ou mesmo dias.

Na maioria dos casos, o controle da concentração de hormônio no sangue é


assegurado por mecanismos de feedback negativo, que funcionam da

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MECANISMOS DE AÇÃO RECEPTORES LIGADOS A CANAIS IÔNICOS

Os receptores ligados a canais iônicos são proteínas transmembrana que


ATIVAÇÃO DE RECEPTORES
formam uma passagem para uma certa molécula em determinada condição.
A primeira etapa da ação do hormônio é a ligação a receptores específicos na A ligação hormônio-receptor, nesses casos, abre ou fecha canais para íons. A
célula-alvo. O hormônio só terá ação sobre células que expressem alteração do movimento desses íons pelos canais causa os efeitos
receptores; e as células só respondem a hormônios para os quais expresse subsequentes nas células.
receptores. O aumento da concentração de hormônios e o aumento da
ligação aos receptores das células-alvo pode causar tanto uma regulação RECEPTORES LIGADOS À PROTEÍNA G
para cima (up-regulation), em que o tecido-alvo se torna cada vez mais
Muitos hormônios ativam receptores que regulam, indiretamente, a
sensível aos efeitos de estimulação do hormônio; ou uma regulação para
atividade de proteínas-alvo por acoplamento com grupos de proteínas da
baixo (down-regulation), que diminui a responsividade do tecido-alvo ao
membrana celular, chamadas de proteínas heterotriméricas de ligação a GTP
hormônio.
(proteínas G). Algumas partes do receptor que fazem protrusão para o
citoplasma celular são acopladas às proteínas G que incluem três partes: as
SINALIZAÇÃO INTRACELULAR
subunidades alfa, beta e gama.
Quase sem exceção, o hormônio afeta seus tecidos-alvo formando primeiro
Quando o hormônio se une á parte extracelular do receptor, ocorre alteração
um complexo hormônio-receptor. Isso altera a função do próprio receptor e
da conformação no receptor, ativando as proteínas G e induzindo sinais
o receptor ativado inicia os efeitos hormonais. A ativação hormonal pode se
intracelulares que abrem ou fecham os canais iônicos da membrana celular
dar por modificação pós-traducional, conversão enzimática à forma ativa
ou mudam a atividade de uma enzima no citoplasma da célula. Dependendo
e/ou dissociação de transportadores ou moléculas inibitórias. A sinalização
do acoplamento do receptor hormonal a proteína G inibitória ou
celular refere-se aos eventos que acoplam a ligação hormônio-receptor à
estimuladora, o hormônio pode aumentar ou diminuir a atividade da
resposta biológica, o que pode acontecer das seguintes maneiras:
enzima.
 ação direta;
 fosforilação; RECEPTORES LIGADOS A ENZIMAS
 associação/interação; Alguns receptores, quando ativados, funcionam diretamente como enzimas
 geração de segundos-mensageiros: ou se associam estreitamente ás enzimas que ativam. Os receptores ligados
 íons (Ca2+, Cl-); às enzimas têm seu local de ligação ao hormônio no exterior da membrana
 fosfatidil-inositóis (IP3,IP2, Pi); celular e seu local catalítico ou de ligação à enzima no interior da célula.
 fosfonucleotídeos cíclicos (AMPC, GMPC); Quando o hormônio se liga á parte extracelular do receptor, é ativada (ou
 lipídios (ceramidas, ácidos fosfolipídicos); inativada) uma enzima, imediatamente dentro da membrana celular.
 gases (NO).
RECEPTORES INTRACELULARES A ATIVAÇÃO DE GENES
A resposta biológica a um hormônio consiste em alterações na fisiologia da
célula em resposta a esse hormônio; e pode se dar por diferentes Vários hormônios se ligam a receptores no citoplasma ou no núcleo. O
mecanismos: complexo hormônio-receptor ativado então se liga à sequência do DNA
regulador (promotor) específico chamado de elemento de resposta hormonal
 alteração do potencial de membrana e, assim, ativa ou reprime a transcrição de genes específicos e a formação de
 alteração na atividade de proteínas; RNAm. Então, aparecem proteínas recém formadas na célula, que passam a
 translocação de proteínas; ser as controladoras das funções celulares novas ou alteradas. As respostas
 rearranjo do citoesqueleto; de diferentes tecidos ao hormônio são determinadas, portanto, mão somente
 alteração da expressão gênica; pela especificidade dos receptores, mas também pela expressão dos genes
 splicing alternativo; que o receptor regula.
 modificações pós-traducionais.

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FUNÇÕES BIOLÓGICAS 2019

SEGUNDOS MENSAGEIROS nucleares que iniciam a transcrição de DNA e síntese de novas proteínas. Em
contraste ainda maior com os hormônios peptídicos, que agem rapidamente
Um dos meios pelos quais os hormônios exercem ações intracelulares é pelo sobre suas células-alvo (em minutos), os hormônios esteroides agem
estímulo da formação de segundo mensageiro na face interna da membrana lentamente (demoram horas).
celular, que causa efeitos subsequentes do hormônio. Dessa maneira, o
único efeito direto que o hormônio tem sobre a célula é ativar um só tipo de HIPÓFISE E HIPOTÁLAMO
receptor de membrana e o segundo mensageiro faz o restante. A importância
dos segundos-mensageiros é que eles aumentam a resposta biológica na O hipotálamo é parte do diencéfalo e se dispõe nas paredes do II ventrículo,
ordem de 109, garantindo economia energética, multiplicação do sinal e um abaixo do sulco hipotalâmico, que o separa do tálamo. Ele é constituído
controle fino. fundamentalmente de substância cinzenta que se agrupa em núcleos. O
hipotálamo tem um papel regulador sobre o SNA e o sistema endócrino,
ADENILIL CICLASE – AMPC além de controlar vários processos importantes, como o controle da
temperatura corporal, do comportamento emocional, do sono e da vigília, da
A ligação dos hormônios ao receptor permite o acoplamento a uma proteína ingestão de alimentos, da ingestão de água e da diurese, bem como a
G. Se essa proteína G estimular o sistema adenilil ciclase - AMPC, ela será geração e a regulação dos ritmos circadianos. O hipotálamo tem conexões
chamada de proteína Ge (estimuladora). Se a ligação do hormônio a seus com o sistema límbico, com a área pré-frontal do córtex cerebral, com a
receptores for acoplada a uma proteína Gi (inibitória), a adenilil ciclase será hipófise e com as vísceras.
inibida.
A hipófise é uma glândula pequena situada na sela túrcica, uma cavidade
A estimulação da adenilil ciclase catalisa a conversão de uma pequena óssea localizada na base do cérebro e que se liga ao hipotálamo pelo
quantidade ATP em AMPC dentro da célula, o que ativa a proteína-cinase pedúnculo hipofisário. Seis hormônios peptídeos importantes são secretados
dependente de AMPC, que fosforila proteínas específicas da célula, pela parte anterior da hipófise (adeno-hipófise) e diversos outros hormônios
desencadeando reações bioquímicas que, finalmente, produzem a resposta de menor importância; da parte posterior da hipófise (neuro-hipófise), são
da célula ao hormônio. secretados dois hormônios peptídeos importantes. Em geral, existe apenas
um tipo celular para cada hormônio principal na adeno-hipófise, e pelo
FOSFOLIPÍDIOS DA MEMBRANA CELULAR
menos cinco tipos celulares podem ser identificados com corantes especiais:
Alguns hormônios ativam receptores transmembranas que ativam a enzima os somatotropos (GH), os corticotropos (ACTH), os tireotropos (TSH), os
fosfolipase C. O mecanismo envolve a ligação do hormônio o receptor e o gonadotropos (LH e FSH) e os lactotropos (PRL). Os corpos das células que
acoplamento por proteína Gq à fosfolipase C. Os níveis intracelulares de Ca2+ secretam os hormônios da neuro-hipófise se localizam em neurônios
e de IP3 são aumentados, produzindo as ações fisiológicas finais. grandes (magnocelulares), nos núcleos supraópticos e paraventriculares do
hipotálamo.
CÁLCIO-CALMODULINA
RELAÇÕES HIPOTÁLAMO-HIPOFISÁRIAS
A entrada de cálcio pode ser iniciada por alterações do potencial de
membrana que abrem os canais de cálcio, ou hormônios interagindo com O hipotálamo tem apenas conexões eferentes com a hipófise, que são feitas
receptores de membrana que abrem os canais de cálcio. Ao entrar na célula, através dos tratos hipotálamo-hipofisário e túbero-infundibular. O trato
os íons cálcio se ligam à proteína calmodulina. Essa proteína tem quatro hipotálamo hipofisário é formado por fibras que se originam nos neurônios
sítios para a ligação de cálcio; quando três ou quatro desses locais se magnocelulares dos núcleos supraópticos e paraventriculares e terminam na
ligaram ao cálcio, a calmodulina altera sua forma e inicia múltiplos efeitos neuro-hipófise. Os neurônios magnocelulares sintetizam o ADH e a ocitonina,
dentro da célula, iniciando ativação ou inibição de proteinocinases. Isso, por bem como a neurofisina, proteína que serve como “portadora” desses
sua vez, causa ativação ou inibição de proteínas envolvidas na resposta hormônios até a neuro-hipófise.
celular ao hormônio.

MECANISMO DE AÇÃO DOS HORMÔNIOS ESTEROIDES E DA


TIREOIDE

Os hormônios esteroides e os hormônios da tireoide têm o mesmo


mecanismo de ação, que envolve ligação aos receptores citosólicos ou
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O hipotálamo regula a secreção dos hormônios da adeno-hipófise por um


mecanismo que envolve uma conexão nervosa e outra vascular. Através da
primeira, neurônios neurossecretores situados no núcleo arqueado e áreas
vizinhas do hipotálamo tuberal secretam substâncias ativas que descem por
um fluxo axoplasmático nas fibras do trato túbero-infundibular e são
liberadas em capilares especiais situados na eminência mediana e na haste
infundibular. Inicia-se então a conexão vascular, através do sistema porta-
hipofisário. As substâncias liberadas pelo hipotálamo na primeira das redes
capilares passam para a segunda rede capilar situada na adeno-hipófise,
onde atuam regulando a liberação dos hormônios da hipófise anterior. Isso
pode ser feito mediante fatores de liberação ou fatores de inibição, dentre os
quais estão o hormônio liberador de tireotropina (TRH), o hormônio
liberador de corticotropina (CRH ou FLC – fator de liberação de
corticotropina), o hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH),
o hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH) e o hormônio inibidor da
prolactina (PIH).

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 Aumento da secreção de insulina


HORMÔNIO DO CRESCIMENTO
O excesso de GH pode produzir alterações metabólicas semelhantes às
O hormônio do crescimento, hormônio somatotrópico, somatotropina ou GH encontradas nos pacientes com DM2. A atividade apropriada da insulina e
é produzido nos somatotrofos da adeno-hipófise e é secretado de forma disponibilidade adequada de carboidratos são necessárias para a atividade
pulsátil. Ele provoca crescimento em quase todos os tecidos do corpo. Além do GH.
disso, possui efeitos metabólicos diversos;
O efeito mais óbvio do GH é o de aumentar o crescimento esquelético. Em
 Aumento da deposição de proteínas nos tecidos resposta ao GH, os ossos longos crescem em comprimento, nas cartilagens
 Aumento do transporte de aminoácidos através das epifisárias. Esse crescimento provoca primeiro a deposição de nova
membranas celulares cartilagem, seguida por sua conversão em osso novo, aumentando, assim, a
 Aumento da tradução do RNA para provocar a síntese parte longa e empurrando as epífises cada vez para mais longe. Ao mesmo
de proteínas pelos ribossomos tempo, a cartilagem epifisária passa por consumo progressivo, de modo que,
 Aumento da transcrição nuclear do DNA para formar no fim da adolescência, quase não resta cartilagem epifisária para permitir o
RNA crescimento adicional do osso. Nesse momento, ocorre a fusão das epífises
 Redução do catabolismo das proteínas e dos em cada uma de suas extremidades. Além disso, o GH é um forte estimulador
aminoácidos dos osteoblastos.
 Aumento da utilização de gorduras como fonte de energia
O GH leva o fígado a formar diversas proteínas pequenas, as somatomedinas
 Aumento da mobilização de ácidos graxos do tecido
ou fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFS), que apresentam o
adiposo
efeito potente de aumentar todos os aspectos do crescimento ósseo. A
 Aumento do nível de ácidos graxos no sangue
somatomedina mais importante é a somatomedina C ou IGF-1. A maior parte
 Aumento da conversão de ácidos graxos em acetil-
dos efeitos do GH resulta dos efeitos das somatomedinas. O hormônio do
coA e sua utilização como fonte de energia
crescimento apresenta ligação fraca com as proteínas plasmáticas no sangue
 Redução da utilização de carboidratos
e tempo de meia-vida de menos de 20 minutos. Em contraste, a
 Diminuição da captação de glicose pelos tecidos
somatomedina C apresenta ligação forte ás proteínas plasmáticas no sangue
 Aumento da produção de glicose pelo fígado
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FUNÇÕES BIOLÓGICAS 2019

e sua meia-vida é de cerca de 20 horas. Os pigmeus da África apresentam Antes da puberdade, os níveis excessivos do hormônio do crescimento
incapacidade de sintetizar quantidades significativas de somatomedina C, causam gigantismo. Após a puberdade, quando o crescimento linear está
assim como ocorre em outros tipos de nanismo. completo e não pode mais ser influenciado, os níveis anormalmente altos de
GH causam aumento do crescimento ósseo do periósteo, aumento do
A secreção do GH é controlada por dois fatores secretados pelo hipotálamo: tamanho dos órgãos, aumento do tamanho das mãos e dos pés, aumento da
um estimulante, o GHRH; e um inibitório, a somatostatina ou fator de língua, embrutecimento das características faciais, resistência à insulina e
inibição da liberação de somatotrofina (SRIF). O GHRH estimula a secreção intolerância à glicose. O tratamento é feito com análogos da somatostatina,
do GH ao se ligar a receptores nas superfícies dos somatotrofos: ocorre a que inibem a secreção de GH.
ativação do sistema adenilil ciclase, com efeitos a curto e longo prazo. A
curto prazo, há aumento do transporte de íons cálcio para a células, levando ACTH
à fusão das vesículas secretoras do GH com a membrana celular e à liberação
do hormônio no sangue. A longo prazo, há aumento da transcrição dos O hormônio adrenocorticotrófico ou ACTH é um polipeptídeo sintetizado nas
genes responsáveis pela estimulação da síntese do GH. Além disso, pode-se células corticotróficas da hipófise anterior. Os efeitos biológicos do ACTH se
afirmar que a secreção do GH está sujeita a controle de feedback negativo resumem na estimulação da síntese e secreção de glicocorticoides,
típico, de modo que o maior controlador do GH é o próprio estado de mineralocorticoides e esteroides androgênicos pelo córtex da adrenal.
nutrição tecidual a longo prazo, especialmente o estado de nutrição
proteica. A secreção de ACTH é influenciada, basicamente, pelos neuropeptídios
hipotalâmicos e pelo sistema de retroalimentação negativa, representado
pelos glicocorticoides. O CRH estimula a síntese e a secreção do ACTH; o ADH
também estimula e aumenta a resposta do ACTH ao CRH.

TSH

O TSH, hormônio tireotrófico, também conhecido como hormônio


tireoestimulante ou tireotrofina, é uma glicoproteína sintetizada nos
tireotrofos. A função primária do TSH consiste em induzir alterações
A fisiopatologia do hormônio de crescimento inclui deficiência ou excesso morfológicas e funcionais nas células foliculares tireoidianas, como
do hormônio, com efeitos previsíveis sobre o crescimento linear, hipertrofia e hiperplasia dessas células, estímulo da síntese de
crescimento do órgão e metabolismo de carboidratos e lipídios. A deficiência tireoglobulina e estímulo da síntese de proteínas-chave envolvidas na
do hormônio do crescimento, em crianças, resulta na falha no crescimento, síntese e secreção dos hormônios tireoidianos.
baixa estatura, obesidade branda e puberdade tardia. As causas da O controle da secreção do TSH se dá por feedback negativo envolvendo os
deficiência do hormônio do crescimento incluem defeitos em cada etapa do hormônios tireoidianos e por hormônios liberadores e inibidores produzidos
eixo hipotálamo-adenohipófise-tecido-alvo. A deficiência do hormônio de no hipotálamo, que chegam à adeno-hipófise pelo sistema porta.
crescimento em crianças é tratada com reposição de GH.
PROLACTINA
O excesso de GH provoca acromegalia e, muito frequentemente, é
decorrente de adenoma hipofisário secretor de GH. As consequências
A prolactina é um polipeptídio produzido pelos lactotrofos na adeno-
diferem, dependendo se o excesso ocorrer antes ou depois da puberdade.
hipófise. A prolactina, junto com a progesterona, atua com o objetivo de
Letícia Teixeira Guimarães
Turma 73
FUNÇÕES BIOLÓGICAS 2019

promover o desenvolvimento do sistema lóbulo-alveolar e induzir a


expressão de enzimas relacionadas com a síntese de lactose e caseína, e a
lactação propriamente dita. A PRL é capaz de induzir a galactogênese após o
preparo prévio da mama.

Nas últimas semanas de gravidez, apesar dos altos níveis de PRL, não ocorre
a síntese de leite. O fato de que esse fenômeno só ocorre após o parto pode
ser explicado pelo quadro hormonal resultante. Acredita-se que a queda
acentuada dos níveis de estrógenos e progesterona interrompa a inibição da
O ADH se associa aos receptores V2 nas membranas das células principais dos
expressão dos receptores para a PRL, permitindo que esse hormônio possa
túbulos distais finais e dos ductos coletores, ativando a adenilil ciclase,
atuar.
levando à formação de AMPC no citoplasma. Isso leva à fosforilação dos
A prolactina é secretada em pulsos. Sua secreção está sob o controle de elementos nas vesículas especiais, que se inserem nas membranas celulares
fatores hipotalâmicos inibidores e estimulantes que alcançam a adeno- formando canais de aquaporina-2, fornecendo muitas áreas de alta
hipófise pelo sistema porta-hipofisário. Os estrógenos aumentam a secreção permeabilidade à água. Na ausência de ADH, o processo é revertido.
de prolactina e os glicocorticoides, bem como os hormônios tireoidianos,
tendem a suprimir a secreção de PRL induzida por TRH. A estimulação do OCITOCINA
mamilo em mulheres não grávidas também provoca liberação da PRL.
A ocitocina estimula poderosamente a contração do útero grávido, sobretudo
GONADOTROFINAS (LH E FSH) no fim da gestação. O estímulo do colo uterino desencadeia a liberação de
sinais neurais que se dirigem para o hipotálamo e causam aumento da
As gonadotrofinas são glicoproteínas produzidas pelos gonadotropos. Esses secreção de ocitocina que, ao atuar na musculatura uterina, induz novas
hormônios agem fundamentalmente sobre as gônadas, estimulando seu contrações e realimenta o processo que leva à sua secreção por um
crescimento e diferenciação, tornando-as aptas para sua função reprodutiva mecanismo de feedback positivo; esse mecanismo perdura até a expulsão do
e endócrina. feto.

A secreção das gonadotrofinas é regulada pela concentração plasmática dos Na lactação, a ocitocina faz com que o leite possa ser expulso pelos alvéolos
produtos de secreção das glândulas-alvo (esteroides sexuais e peptídeos) e para os ductos da mama, de modo que o bebê pode obtê-lo por meio da
também pelos neuropeptídios produzidos no hipotálamo. O feedback sucção. O estímulo da sucção sobre o mamilo mamário provoca a
negativo que os esteroides sexuais exercem no eixo hipotálamo-hipófise- transmissão de sinais por nervos sensoriais para os neurônios
gônadas ocorre tanto na hipófise, onde é mais efetivo, quanto no ocitocinérgicos nos núcleos paraventricular e supraóptico no hipotálamo, o
hipotálamo, onde promove inibição da secreção de GnRH. que leva à liberação da ocitocina pela neuro-hipófise. A ocitocina é então
transportada pelo sangue para as mamas, onde provoca a contração das
ADH células mioepiteliais que se localizam externamente e formam malha em
volta dos alvéolos das glândulas mamárias. Em menos de um minuto depois
ADH, hormônio antidiurético ou vasopressina é o principal hormônio do começo da sucção, o leite começa a fluir (ejeção do leite ou descida do
relacionado à regulação da osmolaridade do LEC. O ADH é secretado pela leite).
neuro-hipófise em resposta ao aumento da osmolaridade sérica. O ADH age
sobre as células principais do túbulo distal final e do ducto coletor, Apesar de ser tradicionalmente associada a funções reprodutivas, vem sendo
aumentando a reabsorção de água e diminuindo, assim, a osmolaridade dos demonstrado que a ocitocina também participa da regulação da função
líquidos corporais de volta ao normal. cardiovascular, uma vez que se detectou a presença de receptores de
ocitocina em todos os compartimentos do coração e na vasculatura. Também
foi demonstrado, que a ocitocina induz a liberação do PNA e do óxido nítrico
(NO) de coração perfundido e fatias de átrios. As ações cardiovasculares da
ocitocina incluem: natriurese, queda da pressão arterial, efeitos inotrópicos
e cronotrópicos negativos, neuromodulação parassimpática, bem como
vasodilatação desencadeada pelo NO.

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REFERÊNCIAS glândula é constituída por dois lobos situados em posição anterolateral em


relação à faringe e à traqueia, unidos por um istmo.
AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
A tireoide é altamente vascularizada; sua irrigação se dá pelas artérias
Koogan, 2012.
tireoideas superiores (os primeiros ramos das carótidas externas) e pelas
CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. artérias tireoideas inferiores (ramos dos troncos tireocervicais que se
originam das artérias subclávias). A drenagem venosa se dá por um plexo
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de venoso tireoideo na face posterior da glândula, anteriormente à traqueia. As
Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. veias tireoideas superiores drenam os polos superiores; as veias tireoideas
médias drenam a região intermédia; e as veias tireoideas inferiores drenam
KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A. Berne & Levy Fisiologia. 6. ed.
os polos interiores. As veias tireoideas superiores e médias drenam para a
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
veia jugular interna e as veias tireoideas inferiores drenam para as veias
MACHADO, Angelo B. M. Neuroanatomia funcional. 2 ed. São Paulo: braquiocefálicas. Os nervos da glândula tireoide são derivados dos gânglios
Atheneu, 2006. simpáticos cervicais superiores, médios e inferiores.

Problema 5.2
OBJETIVOS

1) Descrever a anatomia e a histologia da tireoide e das


suprarrenais.
2) Analisar a síntese, a secreção e os mecanismos de ação dos
hormônios da tireoide e das suprarrenais.
3) Discutir os principais distúrbios hormonais da tireoide e das
suprarrenais.

ANATOMIA E HISTOLOGIA DA TIREOIDE

HORMÔNIOS METABÓLICOS TIREOIDIANOS

Para formar uma quantidade normal de tiroxina, e necessária a ingestão de


cerca de 1 mg/semana de iodo. O iodeto ingerido por via oral é absorvido
pelo TGI para o sangue. Em condições normais, a maioria do iodeto é
excretada pelos rins, mas cerca de um quinto é seletivamente removido do
sangue para as células da tireoide e usado para a síntese dos hormônios
tireoidianos.

A membrana basal dessas células realiza simporte de sódio-iodeto (NIS), que


cotransporta um íon iodeto com dois íons sódio do plasma para a célula. A
A tireoide é a maior glândula endócrina do corpo e é responsável por energia para transportar iodeto contra o gradiente de concentração vem da
secretar T3, T4 e calcitonina. Tem origem endodérmica e se localiza bomba e sódio-potássio ATPase. O TSH estimula a captação de iodeto porque
profundamente aos músculos esternotireoideo e esterno-hioideo, estimula a atividade da bomba de iodeto. O iodeto é transportado para fora
anteriormente à traqueia. A tireoide é composta por epitélio cuboide das células da tireoide pela membrana apical para o folículo, por meio de
simples, que delimita uma grande quantidade de folículos fechados cheios uma molécula cotransportadora de íons cloreto-iodeto chamada pendrina.
de coloide. O coloide é constituído sobretudo por uma glicoproteína
chamada tireoglobulina, cuja molécula contém os hormônios tireoidianos. A

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O retículo endoplasmático e o aparelho de Golgi sintetizam e secretam para hormonal tireoidiana no DNA. Ao se ligarem ao hormônio tireoidiano, os
os folículos a tireoglobulina; cada molécula contém cerca de 70 aminoácidos receptores são ativados e iniciam o processo de transcrição; há formação de
tirosina, que se combinam com o iodo para formar os hormônios grande número de diferentes RNAm que são traduzidos e formam novas
tireoidianos. O primeiro estágio da formação dos hormônios tireoidianos é a proteínas. O efeito geral dos hormônios tireoidianos consiste em ativar a
oxidação do iodeto para a forma oxidada do iodo ou iodo nascente (I0) ou I3-. transcrição nuclear de grande número de genes e, como resultado, há
A enzima responsável é a peroxidase, acompanhada de peróxido de aumento generalizado da atividade funcional de todo o organismo. As ações
hidrogênio. Quando esse sistema é bloqueado ou quando está não genômicas incluem a regulação de canais iônicos e fosforilação
hereditariamente ausente das células, não há produção de hormônios oxidativa.
tireoidianos.

No intervalo de tempo em que a tireoglobulina demora para ser liberada


Os hormônios tireoidianos aumentam a atividade metabólica de quase todos
pelo aparelho de Golgi ou para ser secretada pela membrana apical da célula
os tecidos corporais, bem como a velocidade do crescimento de pessoas
para o folículo, o iodo se liga a cerca de um sexto de seus aminoácidos
jovens, o transporte ativo de íons através das membranas celulares, o
tirosina (organificação da tireoglobulina). A tirosina é inicialmente iodada
número e a atividade das mitocôndrias; há estímulo aos processos mentais e
para monoiodotirosina (MIT)e, então, para di-iodotirosna (DIT). O principal
à atividade da maior parte das glândulas endócrinas.
produto da reação de acoplamento entre resíduos de iodotirosina é a
molécula de tiroxina (T4). Outra possibilidade é a tri-iodotironina (T3). Em crianças que apresentam hipotireoidismo, o crescimento fica muito
Pequenas quantidades de T3 reverso (RT3) são formadas, mas sem aparente retardado, ao passo que nas com hipertireoidismo frequentemente ocorre
significância funcional m humanos. crescimento esquelético excessivo. Entretanto, a duração do crescimento e a
altura final podem ser reduzidos. Um importante efeito do hormônio
A tireoide possui a capacidade de armazenar quantidade suficiente de
tireoidiano é a promoção do crescimento e desenvolvimento do cérebro
hormônios para suprir as necessidades normais do organismo por 2 a 3
durante a vida fetal e os primeiros anos de vida pós-natal.
meses. A superfície apical das células da tireoide emite pseudópodos que
cercam pequenas porções do coloide, formando vesículas pinocíticas que
EFEITOS DO HORMÔNIO TIREOIDIANO SOBRE OS
penetram pelo ápice da célula. Então, lisossomos se fundem com as
MECANISMOS CORPORAIS ESPECÍFICOS
vesículas e múltiplas proteases digerem as moléculas de tireoglobulina,
liberando T3 e T4, que se difundem pela base das células tireoidianas para os
 Estímulo do metabolismo de carboidratos
capilares adjacentes. Cerca de três quartos da tirosina iodada na
tireoglobulina não se tornam hormônios e permanecem como MIT e DIT. A  Estímulo do metabolismo de lipídios
enzima deidocinase cliva o iodo dessas moléculas a fim de que seja
reciclado. Na ausência dessa enzima, muitas pessoas podem apresentar  Redução da concentração de colesterol, fosfolipídios e
deficiência de iodo. triglicerídeos no plasma

Cerca de 93% dos hormônios secretados são tiroxina; entretanto, metade  Aumento da concentração de ácidos graxos livres no plasma
dessa tiroxina é desiodada formando tri-iodotironina. Ambos os hormônios
se ligam a proteínas plasmáticas, principalmente a globulina ligadora de  Aumento da secreção de colesterol na bile
tiroxina, mas também a pré-albumina ligadora de tiroxina e a albumina.
 Indução de maior número de receptores de LDL nas células
Pelo fato de essas ligações serem de alta afinidade, a liberação para as
hepáticas
células teciduais ocorre lentamente. Ao penetrarem nas células, novamente
os hormônios se ligam a proteínas; portanto, são novamente armazenados e  Necessidade aumentada de vitaminas
usados lentamente pelas células-alvo. A ação dos hormônios tireoidianos tem
início lento e duração longa.  Aumento do metabolismo basal

EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS  Redução do peso corporal

 Aumento da respiração
Os receptores de hormônio tireoidiano estão ligados às fitas de DNA ou se
localizam perto delas. O receptor, em geral, forma heterodímero com o  Aumento da motilidade gastrointestinal
receptor de retinoide X (RXR) nos elementos específicos de resposta
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 Efeitos excitatórios sobre o SNC (aumento da velocidade do supercrescimento da tireoide, o que pode levar ao desenvolvimento de
pensamento, porém, frequentemente o dissocia) bócio.

 Efeito sobre a função muscular (leve aumento do hormônio: O propiltiouracil reduz a formação de hormônio tireoidiano por bloquear a
vigor. Excesso de hormônio: enfraquecimento muscular devido peroxidase, necessária para a iodização da tirosina, e por bloquear a
ao catabolismo proteico) conjugação de duas tirosinas iodadas para formar T3 ou T4. Altas
concentrações de iodeto (100 vezes mais que o nível plasmático normal)
 Tremor muscular leve (hipertireoidismo) reduzem a atividade tireoidiana e o tamanho da tireoide.

 Efeito sobre o sono (hipertireoidismo: cansaço e dificuldade para


dormir; hipotireoidismo: sonolência extrema)

 Aumento da secreção de outras glândulas endócrinas, porém


com aumento das necessidades teciduais por tais hormônios

EFEITOS SOBRE O SISTEMA CARDIOVASCULAR

 Aumento do fluxo sanguíneo e do débito cardíaco

 Aumento da FC

 Aumento da força cardíaca

 Pressão arterial normal

REGULAÇÃO DA SECREÇÃ O DE HORMÔNIO TIREOIDIANO

O TSH se liga a seus receptores na superfície das células tireoidianas e ativa


a adenilil-ciclase, que aumenta a produção de AMPC, o qual atua como
segundo mensageiro ativando a proteinocinase que provoca fosforilações
múltiplas em toda a célula. O TSH aumenta a secreção tireoidiana pelos seus
seguintes efeitos: aumento da proteólise da tireoglobulina, aumento da
atividade da bomba de iodeto, aumento da iodização da tirosina, aumento
do tamanho e atividade secretória das células tireoidianas, aumento do
número de células tireoidanas.

O TSH, por sua vez, é controlado pelo TRH. O TRH se liga a seus receptores
na membrana das células hipofisárias que ativa o sistema de segundo
mensageiro da fosfolipase C, que por sua vez desencadeia uma cascata de
outros segundos mensageiros incluindoCa2+ e DAG. Porfim, hásecreção de
TSH. A exposição ao frio aumenta a secreção de TRH pelo hipotálamo e, por
DOENÇAS DA TIREOIDE
consequência, a secreção de TSH pela hipófise anterior. Condições que
estimulam intensamente o SNS causam redução aguda da secreção de TSH. A
elevação dos hormônios tireoidianos nos líquidos corporais causa efeito de HIPERTIREOIDISMO
feedback negativo sobre o TSH.
A doença de Graves é a forma mais comum de hipertireoidismo. É uma
Os íons tiocianato reduzem a capacidade de captação de iodeto. Assim, doença autoimune em que anticorpos chamados de imunoglobulinas
tireoglobulina não pode ser iodada e os hormônios tireoidianos não podem estimulantes da tireoide (TSIs) se formam contra o receptor de TSH na
ser formados. Isso causa maior secreção de TSH, provocando o glândula tireoide. Esses anticorpos se ligam aos receptores e induzem a

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ativação contínua do sistema da adenilil-ciclase. Com o alto nível de secreção ocasionalmente aumento de peso, constipação, lentidão mental, insuficiência
de hormônio tireoidiano, a secreção de TSH fica inibida. O hipertireoidismo de muitas funções tróficas do organismo, evidenciada por redução do
ocasionalmente resulta de tumor que se desenvolve no tecido tireoidiano e crescimento do cabelo e descamação da pele, desenvolvimento de rouquidão
secreta grande quantidade de hormônio tireoidiano. e, em casos graves, aparência edematosa em todo o corpo. O mixedema se
desenvolve no paciente com ausência quase total da função do hormônio
Os sintomas do hipertireoidismo são estado de alta excitabilidade, tireoidiano. Muitospacientes com hipotireoidismo, particularmente os com
intolerância ao calor, aumento da sudorese, perda de peso ligeira a extrema, mixedema, desenvolvem aterosclerose, que por sua vez resulta em doença
graus variáveis de diarreia, fraqueza muscular, nervosismo ou outros vascular periférica, surdez e DAC, com a consequente redução da expectativa
transtornos psíquicos, fadiga extrema acompanhada de insônia, tremor nas de vida.
mãos, exoftalmia.
Os exames já descritos para o hipertireoismo apresentam resultados opostos
O exame diagnóstico mais preciso é a medida direta da concentração da no hipotireoidismo. O tratamento consiste na ingestão oral de um ou mais
tiroxina livre no plasma, usando procedimentos apropriados de comprimido contendo tiroxina.
radioimunoensaio. Outros exames ocasionalmente usados são o metabolismo
basal, a concentração de TSH e a concentração de TSI no plasma.O O cretinismo é causado por hipotireoidismo extremo em fetos, bebês ou
tratamento mais direto para o hipertireoidismo é a remoção cirúrgica da crianças. Esse distúrbio é caracterizado pela deficiência do crescimento
maior parte da glândula. corporal e por retardo mental; resulta da ausência congênita da tireoide, de
sua incapacidade de produzir hormônio tireoidiano devido a defeito
HIPOTIREOIDISMO genético, ou da ausência de iodo na dieta (cretinismo endêmico). A menos
que o cretinismo seja tratado a partir de algumas semanas após o
O hipotireoidismo é provavelmente iniciado por autoimunidade contra a nascimento, o desenvolvimento mental permanece retardado de forma
tireoide (doença de Hashimoto). A tireoide da maioria desses pacientes permanente. Isso ocorre devido ao retardo no crescimento, ramificação e
apresenta "tireoidite" autoimune, com destruição progressiva e, por fim, mielinização das células neuronais do SNC nesse momento crítico do
fibrose da glândula. desenvolvimento. O crescimentoesquelético da criança com cretinismo está
caracteristicamente mais inibido que o do tecido mole. Consequentemente, a
Em certas regiões do mundo, como nos Alpes Suíços, nos Andes e na região
criança com cretinismo apresenta aparência obesa, estrutura brevilínea e
dos Grandes Lagos nos EUA, existe quantidade insuficiente de iodo no solo,
baixa estatura. Ocasionalmente, a língua se torna tão grande em relação ao
de modo que os alimentos não possuem a quantidade mínima necessária
crescimento esquelético que obstrui a deglutição e a respiração, induzindo
para a formação de quantidade adequada de hormônio tireoidiano. Nesse
respiração gutural característica, que às vezes sufoca a criança.
viés, nos tempos anteriores ao sal de cozinha iodado, muitas pessoas dessas
áreas desenvolviam tireoides muito aumentadas, ou bócios endêmicos. A
ANATOMIA E HISTOLOGIA DAS SUPRARRENAIS
falta de iodo impede a produção de T3 e de T4, de modo que não há
hormônios que inibam o TSH, que por sua vez estimula as células
tireoidianas a secretarem grande quantidade de coloide de tireoglobulina
nos folículos; e a glândula torna-se cada vez maior.

Pode ocorrer também o bócio coloide idiopático, em pessoas que não


apresentam deficiência de iodo. Em algumas pessoas com bócio coloide, a
tireoide apresenta anormalidade no sistema enzimático necessário para a
formação dos hormônios tireoidianos: deficiência do mecanismo de captação
de iodeto, deficiencia do sistema da peroxidase, deficiência da conjugação
de tirosinas iodadas com a tireoglobulina, deficiência da enzima deiodinase.

Alguns alimentos contêm substancias bociogênicas com atividade


antitireoidiana, como o propiltiouracil;por exemplo, algumas variedades de
nabo e de repolho.

O hipotireoidismo é caracterizado por sonolência extrema, extrema lentidão


muscular, redução da FC, do débito cardíaco e do volume sanguíneo,
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SÍNTESE E SECREÇÃO DOS HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS

As glândulas adrenais ou suprarrenais (SR) são órgãos pares que se


Os hormônios do córtex das SR são derivados do colesterol. As LDLs, com
localizam postero-superiormente aos rins e inferiormente ao diafragma. São
alta concentração de colesterol, se difundem do plasma para o líquido
revestidas pela fáscia renal e circundadas pelas cápsulas suprarrenais, que
intersticial e ligam-se a receptores específicos, contidos em estruturas
constituem um invólucro fibroso. A glândula SR direita é posterior à VCI, de
chamadas de depressões revestidas na membrana das células
formato piramidal, menor e apresenta relação com o fígado. Já a direita é
adrenocorticais. As depressões revestidas são endocitadas, formando
maior, com formato de meia lua ou vírgula invertida, mais achatada e
vesículas que se fundem com lisossomos celulares e liberam o colesterol
apresenta relação com o baço, o estômago e o pâncreas.
para a síntese hormonal. O transporte do colesterol para as células é
Cada glândula tem um hilo em sua margem medial, pelo qual saem as veias regulado por feedback.
e os vasos linfáticos. As artérias e os nervos entram na glândula em diversos
Uma vez dentro da célula, o colesterol é transportado para as mitocôndrias e
locais. A SR direita é drenada pela veia suprarrenal direita diretamente à
clivado pela enzima colesterol [desmolase, formando pregnenolona, que é a
VCI, ao passo que a SR esquerda é drenada para a veia suprarrenal esquerda,
etapa limitante da síntese de adrenocorticosteroides. Praticamente todos os
para a veia renal esquerda e só então à VCI. A inervação das adrenais é feita
estágios subsequentes ocorrem nas mitocôndrias e no reticulo
pelos plexos celíaco e aórtico renal, pelos nervos esplâncnico-torácicos e
endoplasmático.
lombares. A irrigação é feita pelas artérias SR superiores, artérias SR
inferiores e pela artéria frênica inferior. Aproximadamente 90 a 95% do cortisol se ligam a proteínas plasmáticas
(globulina ligadora de cortisol), ao passo que cerca de 60% da aldosterona
As glândulas SR podem ser divididas em duas partes: a medula, mais
se liga a proteínas. Uma consequência é a diferença no tempo de meia-vida
interna; e o córtex, mais externo. A medula produz as catecolaminas
desses hormônios: do cortisol, 60 a 90 minutos; da aldosterona, cerca de 20
(epinefrina e norepinefrina). O córtex é subdividido em três zonas. A zona
minutos. A ligação dos adrenocorticosteroides a proteínas plasmáticas pode
glomerulosa, imediatamente abaixo da cápsula, possui a enzima aldosterona
servir como reservatório dos hormônios.
sintase e, por essa característica, é a única região do corpo capaz de
produzir secretar aldosterona, um mineralocorticoide. A zona fasciculada, a Os esteroides adrenais são degradados, principalmente, pelo fígado. Doenças
camada do meio e mais larga, constituída de espongiócitos, células que hepáticas reduzem acentuadamente a inativação dos hormônios
armazenam grande quantidade de colesterol. A zona fasciculada secreta adrenocorticais e doenças renais diminuem a excreção dos conjugados
glicocorticoides (cortisol e cortisona) e uma pequena quantidade de inativos.
androgênios e estrogênios adrenais. A zona reticulada, a camada mais
profunda, secreta os androgênios adrenais desidroepiandrosterona (DHEA) e
androstenediona, bem como pequena quantidade de estrogênios e alguns
glicocorticoides.
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MINERALOCORTICOIDES – ALDOSTERONA MECANISMO DE AÇÃO CELULAR DA ALDOSTERONA

A aldosterona se difunde para dentro das células epiteliais tubulares renais,


FUNÇÕES DA ALDOSTERONA
por ser muito lipossolúvel. Então, ela se liga a receptores
A aldosterona exerce cerca de 90% da atividade mineralocorticoide das mineralocorticoides (MR). O complexo aldosterona-receptor ou um produto
secreções adrenais, mas o cortisol também contribui nesse sentido. As desse complexo se difunde para o núcleo, onde pode passar por mais
células epiteliais renais contêm a enzima 11-beta-hidroxiesteroide alterações, induzindo finalmente a formação de RNAm, o qual se difunde para
desidrogenase do tipo 2, que converte o cortisol em cortisona, a qual não se o citoplasma e age junto com os ribossomos na formação de proteínas.
liga tão avidamente aos receptores mineralocorticoides. Em pessoas com Dentre essas proteínas, estão a adenosina trifosfatase sódio-potássio, a parte
deficiência genética da atividade dessa enzima, o cortisol pode ter efeitos principal da bomba de sódio-potássio nas membranas basolaterais das
substanciais, causando a síndrome do excesso aparente de células tubulares renais; e as proteínas dos canais epiteliais de sódio (ENaC),
mineralocorticoide (AME). A ingestão de grandes quantidades de alcaçuz inseridas na membrana luminal das mesmas células tubulares, que
pode causar AME por bloquear a atividade da enzima em questão. permitem a rápida difusão de Na+ do lúmen tubular para o interior da
célula, para que então a bomba de sódio-potássio bombeie o sódio para fora
A aldosterona aumenta a reabsorção de sódio e a secreção de potássio pelas da célula através da membrana basolateral.
células epiteliais tubulares renais. Portanto, o efeito final da aldosterona é o
aumento do sódio e a diminuição do potássio no LEC. Sem os REGULAÇÃO DA SECREÇÃ O DA ALDOSTERONA
mineralocorticoides, a concentração de K+ no LEC se eleva acentuadamente,
Na+ e Cl- são rapidamente eliminados do organismo e os volumes totais do A regulação da secreção de aldosterona é quase inteiramente independente
LEC e do sangue são muito reduzidos. Então, o indivíduo pode vir a padecer da regulação do cortisol e dos androgênios. Há quatro fatores que atuam na
por choque circulatório caso não receba reposição considerável de sal ou regulação da aldosterona, em sua ordem de importância:
injeção de mineralocorticoides.
1) Aumento da [K+] no LEC (+)
O excesso de aldosterona aumento o volume do LEC e a PA, mas apresenta
pequeno efeito na concentração plasmática de sódio, porque ocorre a 2) Aumento da [angiotensina II] no LEC (+)
absorção osmótica de quantidade equivalente de água ao sódio reabsorvido.
3) Aumento na [Na+] no LEC (+)
A liberação excessiva de aldosterona causa somente retenção temporária de
sódio, porque o aumento consequente da PA provoca diurese e natriurese de 4) ACTH é necessário para a secreção da aldosterona, mas tem
pressão, processo conhecido como escape da aldosterona. pouco efeito sobre sua regulação
O excesso de aldosterona estimula, além da perda de K+ na urina, o
transporte desse íon do LEC para dentro das células, ocasionando GLICOCORTICOIDES – CORTISOL
hipocalemia. Então, ocorre fraqueza muscular grave, causada pela alteração
da excitabilidade elétrica das membranas das fibras musculares e nervosas, FUNÇÕES DO CORTISOL
impedindo a transmissão normal dos potenciais de ação. Quando há
Pelo menos 95% da atividade glicocorticoide é produzida pelo cortisol
deficiência de aldosterona, a [K+] no LEC pode se elevar muito acima do
(hidrocortisona); pequena embora significativa atividade glicocorticoide é
normal, causando toxicidade cardíaca, com diminuição da força de
produzida pela cortisona.
contração e desenvolvimento de arritmias, podendo chegar a causar IC.

O excesso de aldosterona também provoca a secreção de H + em troca do MECANISMO DE AÇÃO CELULAR


Na+ nas células intercaladas dos túbulos corticais, reduzindo a [H +] no LEC,
O cortisol se liga a seu receptor no citoplasma e vai para o núcleo. O
causando alcalose metabólica.
complexo hormônio-receptor interage com elementos de resposta a
A aldosterona apresenta praticamente os mesmos efeitos sobre as glândulas glicocorticoides (sequências regulatórias específicas do DNA) induzindo ou
sudoríparas e salivares que sobre os túbulos renais. Além disso, estimula reprimindo a transcrição gênica, alterando a síntese de RNA m que gera as
intensamente a absorção intestinal de sódio, impedindo a perda de sódio nas proteínas que medeiam seus múltiplos efeitos fisiológicos. Outras proteínas
fezes. celulares, os fatores de transcrição, também são necessárias para que o

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FUNÇÕES BIOLÓGICAS 2019

complexo hormônio-receptor interaja adequadamente com os elementos de RESISTÊNCIA AO ESTRESSE E À INFLAMAÇÃO


resposta a glicocorticoides.
Praticamente qualquer tipo de estresse físico ou neurogênico (trauma,
EFEITOS SOBRE O METABOLISMO DE CARBOIDRA TOS infecção, calor ou frio intensos, injeção de norepinefrina e outros fármacos
simpatomiméticos, cirurgia, injeção de substâncias necrosantes sob a pele,
O efeito mais notável do cortisol e de outros glicocorticoides é o aumento da praticamente qualquer doença debilitante, restrição dos movimentos)
gliconeogênese hepática. Isso acontece devido ao aumento das enzimas provoca aumento imediato e acentuado da secreção de ACTH pela adeno-
gliconeogênicas e a mobilização de aminoácidos dos tecidos extra-hepáticos, hipófise e consequente aumento da secreção de cortisol.
sobretudo dos músculos. Com isso, há também aumento acentuado das
reservas de glicogênio hepático. O cortisol também provoca redução Quando os tecidos são lesados por trauma, infecção bacteriana ou outros
moderada da utilização de glicose pela maior parte das células do fatores, quase sempre ficam “inflamados”. Quando uma grande quantidade
organismo. de cortisol é secretada ou injetada, ocorrem dois efeitos anti-inflamatórios
básicos: o bloqueio dos estágios iniciais do processo inflamatório, mesmo
Os efeitos supramencionados causam elevação da [glicose] no sangue, o que antes do início da inflamação; ou, s a inflamação já se iniciou, a rápida
por sua vez estimula a secreção de insulina, a qual mesmo em níveis resolução da inflamação e o aumento da velocidade de regeneração. Nesse
elevados não é tão eficiente nessa situação. Isso é conhecido como diabetes contexto, o cortisol apresenta papel importante no combate a certas
adrenal. doenças, como artrite reumatoide, febre reumática e glomerulonefrite
aguda. Todas essas doenças se caracterizam por intensa inflamação local e
EFEITOS SOBRE O METABOLISMO DE PROTEÍNAS
os efeitos danosos sobre o organismo se devem sobretudo à inflamação e
O cortisol causa diminuição dos depósitos de proteínas em praticamente não à doença em si.
todas as células do corpo, exceto as do fígado, mediante redução da síntese
e aumento do catabolismo proteico. Na presença de altos níveis de cortisol, OUTROS EFEITOS
os músculos podem ficar tão fracos que o indivíduo não consegue se O cortisol bloqueia a resposta inflamatória a reações alérgicas e reduz o
levantar da posição agachada. Além disso, as funções imunológicas dos número de eosinófilos e linfócitos no sangue. A administração de grandes
tecidos linfoides podem ser reduzidas. doses de cortisol provoca atrofia significativa de todos os tecidos linfoides
O cortisol aumenta as concentrações plasmáticas e hepáticas de proteínas, do organismo, o que reduz sua produção de células T e de anticorpos. Por
porque há aumento dos aminoácidos sanguíneos, redução do transporte de conseguinte, há diminuição da imunidade. O cortisol também aumenta a
aminoácidos para as células extra-hepáticas e aumento do transporte para as produção de hemácias.
células hepáticas.
REGULAÇÃO DA SECREÇÃ O DO CORTISOL
EFEITOS SOBRE O METABOLISMO DE ÁCIDOS GRAXOS
O ACTH secretado pela adeno-hipófise regula a secreção de cortisol, e por
O cortisol mobiliza os ácidos graxos do tecido adiposo, elevando a [AGL] no sua vez é regulado pelo CRH (fator liberador de corticotropina), secretado
plasma, o que também aumenta sua utilização para geração de energia. A pelo hipotálamo.
maior mobilização de gorduras junto à maior oxidação de AG nas células
O principal efeito do ACTH nas células adrenocorticais é a ativação da
contribui para que as células deixem de usar a glicose para geração de
adenililciclase na MP, que induz a formação de AMPC, que ativa a proteína
energia e passem a usar os AG em momentos de jejum ou estresse.
cinase A, que ativa a colesterol desmolase, enzima que catalisa a formação
Apesar de o cortisol poder provocar grau moderado de mobilização de AG do de pregnenolona a partir do colesterol (etapa limitante da síntese de
tecido adiposo, muitas pessoas com excesso de secreção de cortisol adrenocorticosteroides). O estímulo em longo prazo do córtex adrenal pelo
desenvolvem um tipo peculiar de obesidade, com deposição excessiva de ACTH também provoca hipertrofia e hiperplasia das células adrenocorticais,
gordura no tórax e na cabeça, gerando sinais como a “giba de búfalo” e a especialmente as das zonas fasciculada e reticulada. O estresse fisiológico
“face em lua cheia”. aumenta a secreção de ACTH.

O cortisol apresenta efeitos de feedback negativo sobre o hipotálamo,


reduzindo a formação de CRH; e na hipófise anterior, reduzindo a formação

Letícia Teixeira Guimarães


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de ACTH. As intensidades secretoras do CRH, do ACTH e do cortisol são altas secretados em pequenas quantidades. Normalmente, os androgênios
no início da manhã, mas baixas no fim da noite. adrenais têm um efeito fraco em humanos.

ANORMALIDADES DA SECREÇÃO ADRENOCORTICAL

DOENÇA DE ADDISON

A doença de Addison resulta da incapacidade do córtex adrenal de produzir


adrenocorticoides, o que é normalmente causado por atrofia primária ou
lesão do córtex adrenal, podendo também ocorrer por destruição
tuberculosa das adrenais ou por invasão do córtex por câncer. E, alguns
casos, a insuficiência adrenal é secundária ao comprometimento da hipófise,
que apresenta falha na produção de ACTH.

A ausência da secreção de aldosterona reduz muito a reabsorção tubular


renal de sódio, de modo que este e outros íons, bem como a água, sejam
eliminados em grande quantidade na urina. Há redução do volume de
líquido extracelular, hiponatremia, hipercalemia e acidose leve, devido à
incapacidade da secreção de K+ e H+ em troca da reabsorção de Na+. O
volume plasmático cai, a concentração de hemácias aumenta
acentuadamente, o débito cardíaco e a pressão sanguínea diminuem e o
paciente morre por choque.

A perda da secreção de glicocorticoides torna impossível aos pacientes


alcançar a normalização da [glicose] no sangue entre as refeições, pois a
gliconeogênese fica inibida. Além disso, as pessoas com doença de Addison
são muito suscetíveis aos efeitos deletérios de vários tipos de estresse.
SÍNTESE E SECREÇÃO DE ACTH EM ASSOCIAÇÃO AO MSH,
LIPOTROPINA E ENDORFINA Outra característica da maioria dos pacientes com essa doença é a
pigmentação por melanina das mucosas e da pele, comumente em manchas.
Quando o ACTH é secretado, diversos outros hormônios com estruturas Quando a secreção de cortisol é inibida, o feedback normal ao hipotálamo e
químicas semelhantes são secretados simultaneamente. Isso ocorre porque o à adeno-hipófise também fica inibida, permitindo uma grande secreção de
gene transcrito para formar a molécula de RNA que provoca a síntese de ACTH e, simultaneamente de MSH, precursor da melanina. A grande
ACTH causa inicialmente a formação de um pré-pró-hormônio chamado de quantidade de ACTH estimula a formação de melanina pelos melanócitos.
pró-opiomelanocortina (POMC), que é precursor do ACTH, do hormônio
melanócito-estimulante (MSH), beta-lipotropina, beta-endorfina e alguns O tratamento é a administração diária de mineralocorticoides e de
outros. glicocorticoides.

Quando a secreção de ACTH está aumentada, como na doença de Addison, a DOENÇA DE CONN
formação de alguns dos outros derivados do POMC também pode aumentar.
Nos melanócitos localizados em abundância entre a derme e a epiderme, o Ocasionalmente ocorre um pequeno tumor das células da zona glomerulosa
MSH estimula a formação do pigmento negro melanina. que secreta grandes quantidades de aldosterona, causando o aldosteronismo
primário ou doença de Conn. Além disso, em alguns casos, o córtex adrenal
ANDROGÊNIOS ADRENAIS hiperplásico secreta aldosterona em vez de cortisol.

Diversos hormônios sexuais masculinos moderadamente ativos, chamados Os efeitos incluem hipocalemia, alcalose metabólica leve, ligeira redução do
androgênios adrenais, são continuamente secretados pelo córtex adrenal, volume de LEC e sangue, aumento muito pequeno na [Na +] no plasma e
sobretudo durante a vida fetal. Progesterona e estrogênios também são
Letícia Teixeira Guimarães
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quase sempre hipertensão. Podem haver períodos ocasionais de paralisia características que na mulher (crescimento de barba, masculinização da voz,
muscular, por causa da hipocalemia. distribuição masculina dos pelos corporais, deposição de proteínas na pele e
especialmente nos músculos). No homem adulto, as características
Um dos critérios diagnósticos é a redução da [renina] plasmática, porque há virilizantes são geralmente obscurecidas pela virilização normal causada
supressão por feedback da secreção de renina devido ao excesso de pela testosterona secretada pelos testículos.
aldosterona ou LEC e da PA resultantes do aldosteronismo. O tratamento
consiste em remoção cirúrgica do tumor ou de quase todo o tecido adrenal; REFERÊNCIAS
ou tratamento farmacológico com antagonista do receptor de
mineralocorticoide (espironolactona, epierenona). HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall Tratado de
Fisiologia Médica. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
SÍNDROME DE CUSHING
KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A. Berne & Levy Fisiologia. 6. ed.
A síndrome de Cushing é caracterizada por altos níveis plasmáticos de ACTH Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
e cortisol. Quando a síndrome é secundária à secreção excessiva de ACTH
pela hipófise anterior, é chamada de doença de Cushing. Na síndrome de SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem
Cushing independente de ACTH, os pacientes geralmente apresentam níveis integrada. 5 ed. São Paulo: Artmed, 2010.
baixos ou indetectáveis de ACTH; ao passo que na doença de Cushing tanto
os níveis de cortisol quanto os de ACTH encontram-se elevados no sangue.

A síndrome de Cushing também pode ocorrer quando grandes doses de


glicocorticoides são administradas durante longos períodos por razões
terapêuticas. Uma característica da síndrome de Cushing é a mobilização de
gordura da parte inferior do corpo e sua deposição concomitante nas regiões
torácica e epigástrica, gerando aparência de giba de búfalo. Além disso, há
uma aparência edematosa na face e, às vezes, hirsutismo. Cerca de 80% dos
pacientes apresentam hipertensão, presumidamente devido aos leves efeitos
mineralocorticoides do cortisol.

Há elevação da gliconeogênese e redução da utilização de glicose pelos


tecidos. O catabolismo proteico também está aumentado, com grande
redução das proteínas teciduais em todo o corpo, exceto o fígado. Há
fraqueza intensa, supressão do sistema imunológico e redução das fibras de
colágeno no tecido subcutâneo, resultando em fragilidade dos tecidos
subcutâneos e provocando grandes estrias arroxeadas nos locais lesados.
Frequentemente a diminuição da deposição de proteínas nos ossos pode
causar osteoporose.

O tratamento consiste em remoção do tumor adrenal, casos seja a causa da


síndrome, ou redução da secreção de ACTH. Fármacos que bloqueiam a
esteroidogênese ou que inibem a secreção de ACTH podem ser utilizados se a
cirurgia for impraticável.

SÍNDROME ADRENOGENITAL

Ocasionalmente, o tumor adrenocortical secreta quantidades excessivas de


androgênios, causando efeitos masculinizantes intensos em todo o corpo. Se
esse fenômeno ocorrer em mulher, ela desenvolverá características viris. No
homem pré-puberal, o tumor adrenal virilizante provoca as mesmas

Letícia Teixeira Guimarães


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