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Eletrofisiologia Potencial de membrana

cardíaca
O potencial de membrana é a diferença de carga
elétrica entre o interior e o exterior de uma célula. Os
dois principais determinantes do potencial de
O coração é um órgão do sistema circulatório membrana são o gradiente de concentração dos íons
responsável por bombear sangue para as demais e permeabilidade da membrana. O potencial de
partes do corpo. Para tanto, apresenta um sistema de membrana corresponde à força elétrica emitida na
condução bastante complexo e importante, membrana em um determinado momento.
permitindo-o gerar os próprios impulsos elétricos.
Potencial de membrana - potencial de
Bioeletrogênese repouso
O potencial de repouso de uma célula ocorre quando
A bioeletrogênese corresponde à formação de o potencial de membrana não é alterado por
eletricidade nos seres humanos. Nos seres humanos, potenciais de ação, ou seja, quando a membrana está
quando se fala em eletricidade, não quer dizer sobre polarizada e não há potenciais sinápticos ou qualquer
elétrons livres percorrendo todo o organismo, mas outra alteração ativa do potencial de membrana. Na
sim movimentação de íons (cátions positivos e ânions membrana das células, o potencial de repouso tem
negativos) por entre as células. Essa movimentação um valor negativo (aproximadamente – 70), o que,
iônica é que gera as correntes elétricas nos seres por convenção, significa que existe um excesso
humanos de carga negativa no interior da membrana
comparado com o exterior.

Potencial de membrana – potencial de


ação
Um potencial de ação é definido como uma alteração
súbita, rápida e transitória do potencial de repouso da
membrana.

O que determina essa movimentação de íons é a


permeabilidade da membrana e a diferença de
concentração dos íons. Como retratado no exemplo
assim com a ilustração do meio intracelular,
extracelular e uma membrana semipermeável (linha
vinho), as diferentes concentrações iônicas que vão
permitir a formação de corrente elétrica. Existe
menos sódio (Na+) dentro das células do que fora das
células. Existe mais potássio (K+) dentro da célula e
menos potássio fora da célula. Existe menos cloreto Para o potencial de ação ser gerado, o potencial
(Cl-) dentro da célula e mais cloreto fora da célula. É graduado deve ser capaz de gerar uma alteração de
essa movimentação de íons que de fato confere a voltagem capaz de alcançar o limiar de excitabilidade,
chamada corrente elétrica que vai ocorrer em que corresponde à voltagem mínima necessária para
determinadas células. abrir novos canais de sódio de voltagem dependente.
OBS: se o limiar de excitabilidade não for alcançado, o  Potencial de repouso: estado em que a célula se
potencial de ação não é gerado. É a lei do tudo ou encontra em repouso, não estimulada. É a
nada: ou gera potencial de ação ou não gera potencial distribuição desigual de íons e a permeabilidade
de ação. da membrana a apenas um íon.

 Características gerais do potencial de ação  Limiar: nível crítico de despolarização que deve
 No potencial de ação, há uma inversão, uma ser alcançado para que o potencial de ação
mudança abrupta e transitória do potencial ocorra. O sensor de voltagem (S4) é acionado e a
elétrico de repouso da célula excitável, onde a abertura de canais de sódio dependentes de
célula passa de – 70 mv a + 30 mv, ocorrendo uma voltagem se inicia e há a entra de Na+ para o
ampla despolarização do potencial elétrico dessa interior da célula.
célula.
 Despolarização: quando o potencial de membrana
 Essa despolarização é causada por transientes torna-se menos negativo, ou seja quando por
iônicos através da membrana frente a estímulos algum estímulo os canais de Na+ se abrem
que atinjam o limiar de excitabilidade da célula. permitindo a entrada dos mesmos. A
Assim como no potencial de repouso, no potencial despolarização de uma célula se refere à saída de
de ação também há um íon que “domina”, e esse repouso pela entrada de íons de Na⁺ na célula.
íon é o Na+. Isso faz com que a célula fique mais positiva

 No potencial de ação, há uma alta permeabilidade  Ápice: no ápice os canais de sódio dependentes
à passagem de sódio, pois os canais PDC (canais de voltagem se tornam inativos (não se fecham) e
dependentes de voltagem) de sódio se abrem, e os canais de potássio voltagem dependente se
então há um grande influxo, fazendo com que a abrem.
célula se torne menos negativa (positiva), e assim
despolarize desencadeando o PA. Então, um OBS: durante o estágio de inativação, o canal de sódio
potencial de ação é disparado dentro de um voltagem dependente não pode se abrir. Durante a
princípio denominado lei do tudo ou nada. etapa de repolarização, o canal de sódio está inativo,
não podendo se abrir. Logo, a célula não consegue
 O potencial de ação ocorre quando o estímulo é despolarizar durante uma repolarização. Quando o canal
suficiente para atingir o limiar de excitabilidade e está inativo, a célula não pode responder a um estímulo
dessa forma gerar a despolarização da membrana (período refratário absoluto).
e propagação do impulso nervoso.
 Repolarização: é o retorno da célula ao potencial
de repouso após a despolarização, quer dizer que,
quando os canais de Na+ estão inativos e os de K+
 Fases do potencial de ação
estão sendo abertos, e o potássio se move para o
O potencial de ação se caracteriza por ocorrer em
meio extracelular devido à grande quantidade de
três etapas: despolarização, repolarização e
cargas no meio intracelular. O potássio começa a
hiperpolarização.
sair da célula (mais dentro do que fora), de modo
que sai carga positiva (K+) da célula, com ela
retornando ao estágio de negativa.

 Hiperpolarização: Momento em que o potencial


de membrana torna-se mais negativo, quando os
canais de K+ estão sendo fechados, mas há ainda
a movimentação desse íon para o meio
extracelular. Abaixo do repouso. A célula fica mais
negativa do que deveria porque os canais de
potássio dependente de voltagem, diferente do
canal de sódio, se fecham lentamente, de modo
que sai da célula mais potássio do que deveria.
Potenciais cardíacos

Os potenciais cardíacos podem ser de resposta lenta


ou resposta rápida.

 Período refratário absoluto e relativo No potencial cardíaco de resposta rápida, o potencial


 Período refratário absoluto: os canais sódio de repouso é mais negativo do que quando
dependentes da voltagem estão inativados, comparado com os potenciais cardíacos de resposta
portanto nessa situação não è possível fazer com rápida.
que ele dispare outro potencial de ação.

 Período refratário relativo: no período refratário


relativo os canais sódios estão fechados, mas
Potencial rápido
podem ser aberto por um estimulo que ultrapassa No potencial de resposta rápida, seguido da
o limiar. O estímulo deve ser maior, uma vez que despolarização, há uma contração muscular. Ou seja,
ela está hiperpolarizada. quando se fala em despolarização de uma
determinada região do coração, se fala também na
contração dessa região. Na etapa de repolarização, há
o relaxamento muscular.

 Fases do potencial rápido


É o potencial encontrado no miocárdio contrátil e
nas Fibras de Purkinje. Apresenta 5 fases:
estabilidade. Ou seja, entra carga positiva e sai
carga positiva, promovendo uma estabilidade
na variação de eletricidade na membrana do
miocárdio ou das fibras de Purkinje. Essa fase
de platô é essencial para garantir um período
refratário maior. Algumas drogas conseguem
bloquear a abertura desses canais de cálcio,
como o verapamil, amlodipina, diltiazem.

 Fase 3: fase de repolarização. Nessa fase, o


canais de cálcio são inativados e os canais de
potássio permanecem ativos. Desse modo, as
 Fase 4: fase de potencial de repouso. Nesse
tendências opostas, que garantem uma
momento, a célula está bastante negativa (-90
estabilidade, são desfeitas. Assim, apenas o
mv). Os canais voltagem dependente de sódio e
potássio sai da célula, deixando-a negativa.
cálcio estão fechados. Porém, os canais de
potássio estão abertos, com potássio (carga
 Fase 4 final: essa fase é caracterizada por ser
positiva) saindo da célula, deixando-a mais
diferente entre o miocárdio contrátil e as fibras
negativa.
de Purkinje. Isso porque as fibras de Purkinje
têm características de automatismo, enquanto
 Fase 0: fase de despolarização. É uma fase e
que o miocárdio não apresenta.
rápida despolarização. Essa fase é determinada
por uma abertura dos canais de sódio voltagem
dependente. Essa abertura faz com que grande
quantidade de sódio (carga positiva) entre na
célula, fazendo com que ela despolarize. A
toxina do baiacu e antiarrítmicos do grupo 1
conseguem bloquear esses canais PDC de sódio.

 Fase 1: fase de repolarização rápida e


transitória. Essa rápida e transitória
repolarização acontece porque os canais de
sódio estão inativos. Nessa fase, além da Enquanto a fase 4 do miocárdio contrátil
inativação desses canais PDC de sódio, há uma mantém o potencial de repouso, a mesma fase
ativação de canal de potássio e cloreto. Essa 4 das fibras de Purkinje é instável (potencial
rápida e transitória repolarização acontece marca passo). Isso se explica porque, assim que
porque parou de entrar carga positiva (sódio), termina a fase 3, nas fibras de Purkinje se tem a
sai carga positiva (potássio) e entra carga ativação espontânea de canais de sódio e cálcio
negativa (cloreto). lentos. Entra sódio e potássio na célula, ela fica
positiva e tende a alcançar o limiar de
 Fase 2: fase de platô. É justamente essa fase de excitabilidade e inicializar a despolarização (fase
platô que diferencia os potenciais cardíacos das 0). Essa despolarização é espontânea, o que
demais estruturas do corpo, como neurônio, explica o automatismo cardíaco. No miocárdio
musculo esquelético. Essa fase de platô é o contrátil, a fase 4 é caracterizada pela
momento que se tem uma estabilidade da manutenção do potencial de repouso.
variação elétrica na fibra cardíaca. A abertura
de canais de cálcio (Ca++) e a ativação dos
canais retificadores tardios de potássio (K+) são
duas tendências opostas (Ca++ entrando e K+
saindo da célula), o que tendem a uma
 Ilustração da movimentação de íons em cada fase  Fase 0: fase de despolarização. Ocorre a
abertura dos canais de cálcio dependente de
voltagem do tipo L. O cálcio entra lentamente,
então a despolarização também é mais lente.

 Fase 3: fase de repolarização. Nesse momento


de repolarização, ocorre a inativação de canais
de cálcio que estavam abertos na fase 0. Com
esse canal de cálcio inativado, as cargas
negativas deixam de entrar na célula. Ocorre
também nessa fase a ativação dos canais de
potássio, o qual tende a sair da célula,
deixando-a mais negativa.

Na fase 0 (despolarização), íons sódio entram na


 Fase 4: é uma fase instável, uma vez que o nó
célula. Na fase 1, apenas o potássio sai, deixando-a
sinoatrial e atrioventricular apresentam
levemente negativa. Fase 2 é caracterizada pelas
automatismo cardíaco. Então existe o chamado
tendências opostas (cálcio entrando e potássio
potencial marca passo.
saindo), garantindo, assim, o platô

Potencial lento
É o potencial encontrado no nó sinoatrial e no nó
atrioventricular. O potencial de repouso é menos
negativo (-60 mv) quando comparado ao potencial
rápido (-90 mv). A despolarização é menos intensa, ou
seja, menos vertical. Essa despolarização não é
realizada por influxo (entrada) de sódio, mas sim pela
abertura de canais de cálcio dependente de voltagem
do tipo L.

 Fases do potencial lento Como visto na imagem acima, o potencial


marca passo, o qual caracteriza a fase 4 do nó
sinoatrial e atrioventricular, é importante para
inicializar um novo potencial de ação,
garantindo um automatismo. Não existe
manutenção do potencial de repouso. A
manutenção de cargas positivas dentro da
célula para que se alcance o limiar de
excitabilidade é garantida pela ativação de
canais de sódio e cálcio lento e, principalmente,
pela desativação das correntes despolarizantes
de potássio, de modo que o potássio positivo
fica dentro da célula, deixando-a ainda mais
positiva.

 A fase 1 não é vista e a fase 2 não apresenta um


platô bem definida. Assim, por vezes, esse
potencial lento apresenta apenas as fases 0, 3 e
4.
Miocárdio especializado
O miocárdio especializado é formado pelas seguintes
estruturas: nó sino atrial (marca passo), nó
atrioventricular, feixe de His e fibras de Purkinje. Essas
estruturas que compõem o miocárdio especializado
têm a capacidade de gerar potenciais de ação, de
gerar potenciais elétricos. Ou seja, apresentam um
automatismo.

Excitabilidade
cardíaca

As fibras cardíacas são excitáveis, ou seja, elas são


capazes responder à estímulos elétricos, químicos,
térmicos ou mecânicos, assim, uma vez que o
potencial da ação chega numa célula muscular
cardíaca, esta reponde a este estímulo contraindo-se.
O miocárdio pode ser subdivido em especializa e OBS: se o coração for retirado do copo, ele
contrátil. Isso porque, apesar de apresentarem o permanece batendo (mesma lógica para a morte
mesmo tecido, algumas características são diferentes. cerebral), uma vez que ele apresenta um
automatismo em função da presença dessas
estruturas especializadas.

OBS: o sistema nervoso controla apenas a frequência


cardíaca e o poder de contração. Agora a capacidade
de contrair está no próprio coração.

 Ritmo sinusal: automatismo assumido pelo nó


sinoatrial.

 Ritmo nodal: automatismo assumido pelo nó


atrioventricular.

 Ritmo ventricular: automatismo assumido pelas


fibras de Purkinje.

 Transmissão do potencial elétrico pelo miocárdio


especializado
No átrio direito, próximo à região da veia cava, o
nó sinoatrial gera potenciais elétricos através das
vias atriais e internodais que se dissipam pelo átrio
direito e esquerdo, fazendo com que se contraiam.
Pelas vias intermodais, o potencial sai do nó
sinoatrial e chega ao nó atrioventricular. Nesse nó
atrioventricular, o potencial de ação é
retransmitido pelo sistema de Purkinje. No O nó sinoatrial produz potenciais de ação que
entanto, o nó atrioventricular retarda o potencial percorre as vias atriais e intermodais. Quando se tem
de ação antes de retransmitir, naquilo que é a despolarização dos átrios, eles vão contrair, fazendo
chamado de retardo nodal, essencial para que as com que o sangue passe dos átrios para os ventrículos
contrações aconteçam no tempo certo, sem a partir da abertura das válvulas atrioventriculares
sobreposições. Assim, enquanto uma câmara está direita e esquerda. Nesse mesmo momento, o
em sístole, a outra está em diástole. potencial elétrico que saiu do nó sinoatrial chega ao
Posteriormente esse potencial de ação é nó atrioventricular. Que vai retardar a retransmissão
retransmitido para o feixe de His, que se bifurca do potencial de ação. Quando retransmitido, o
em feixe direito e esquerdo, até chegar nas fibras potencial de ação chega aos feixe de His e,
de Purkinje. posteriormente, às fibras de Purkinje. Essas fibras
localizadas nas paredes ventriculares garantem a
contração dessa musculatura. Assim, o sangue deixa o
coração.

Inervação cardíaca

O coração é inervado, através do sistema nervoso


autônomo, o qual é dividido em parassimpático e
Essa imagem ilustra a geração do potencial de ação
simpático.
no nó sinoatrial. Esse potencial de ação percorre
então o miocárdio contrátil e o miocárdio
especializado (ambos com capacidade de
condução, dromotropismo). Nessa imagem,
também é possível visualizar os discos intercalares
com junções comunicantes que permitem que o
potencial de ação passe de uma célula cardíaca
para outra adjacente de modo coordewnado.

 Resumo da transmissão do potencial elétrico pelo


miocárdio especializado

O sistema nervoso parassimpático age no nó sinoatrial


e atrioventricular, enquanto que o sistema nervoso
simpático age nas demais estruturas do coração. Logo,
muito mais fibras simpáticas chegam ao coração do
que as fibras parassimpáticas.

Sistema parassimpático
O sistema parassimpático aumenta a saída de
potássio e diminui a corrente de cálcio,
hiperpolarizando ainda mais a célula.
Com a célula mais próxima do limiar, ela despolariza
mais fácil. Isso aumenta a frequência cardíaca.

 Efeitos da ativação simpática na eletrofisiologia


cardíaca

Ao hiperpolarizar a célula, a célula é afastada do limiar


de excitabilidade. Assim, há uma diminuição do
potencial de ação e, consequentemente, a frequência
Centro de controle cardiovascular no
cardíaca.
bulbo
 Efeitos da ativação parassimpática na O sistema nervoso central controla a frequência e o
eletrofisiologia cardíaca poder de contração do contração. A capacidade de o
coração contrair está no próprio coração, não
dependendo do sistema nervoso central.

Sistema simpático
Quando há uma estimulação do sistema nervoso
simpático, há uma maior abertura dos canais de
cálcio. Essa maior abertura reduz a hiperpolarização,
de modo que a célula não fica tão negativa. Eletrocardiograma

Eletrocardiograma (ECG) é a reprodução gráfica da


atividade elétrica do coração durante o seu
funcionamento.

Representação gráfica dos impulsos


elétricos
O nó sinoatrial é a primeira região do coração a ser
ativada pelo impulso elétrico. No entanto, ele não é
representado no cardiograma, uma vez que a ativação
do nó sinoatrial não é capaz de atingir a milésima
parte do volt (milivolt), que é a ordem de
representação do ECG.
 Ondas PQRST  Segmento PR: compreende o final da onda P
até começar o complexo QRS. A junção desse
segmento com a onda P é chamada de intervalo
PR

 Segmento ST: período entre a despolarização e


repolarização ventricular. A junção desse
segmento com a onda T e também o intervalo
QRS forma o intervalo QT. O intervalo QT mede
o ciclo elétrico ventricular, desde o início da
ativação até o final da recuperação.
 Onda P: corresponde à primeira onda de
Fenômeno elétrico dos átrios
ativação do coração do eletrocardiograma. É a
A ativação começa no nó sinoatrial do átrio direito no
onda de ativação atrial, também chamada de
sentido de cima para baixo. No átrio, praticamente a
onda de despolarização atrial.
despolarização ocorre de uma célula para outra. A
OBS: o nó atrioventricular, a representação não é feita despolarização do átrio esquerdo começa no nó
pelo mesmo motivo do nó sinoatrial, uma vez que não sinoatrial (átrio direito) até o lado mais extremo do
há ativações da ordem de milivolt (mv). Depois da átrio esquerdo, tendo um sentido da direita para a
despolarização do nó atrioventricular, o potencial esquerda.
segue para o feixe de His e fibras de Purkinje. Em
ambas, a representação também não ocorre no
eletrocardiograma.

 Onda ou complexo QRS: quando a ativação


chega na grande massa ventricular é que se vai
ter a segunda onda do eletrocardiograma,
chamada de QRS. É a ativação dessa grande
massa ventricular que a principal onda do ECG é
representada. Demarca a ativação do
ventrículo.

OBS: a repolarização atrial não é vista porque ela


acontece no mesmo instante que o ventrículo está O somatório dessas duas ondas de ativação forma a
sendo despolarizado. onda P. Essa onda é formada, então pela
despolarização do átrio direito e esquerdo.
 Onda T: a terceira onda do eletrocardiograma
representa a repolarização ventricular.

 Segmentos do ECG Fenômeno elétrico dos ventrículos


As fibras de Purkinje entregam no endocárdio a
ativação à musculatura ventricular. Diferentemente
dos átrios que apresentam paredes mais finas, a
despolarização dos ventrículos acontece de dentro
para fora, ou seja, do endocárdio até os epicárdio.
Diferente do que acontece no átrio, não há lógica
temporal de repolarização, de modo que, no
ventrículo, a última célula que despolariza é a
primeira a recuperar. É por isso que a onda QRS e a
onda T apresentam a mesma polaridade.
A imagem acima ilustra a relação entre as ondas do
eletrocardiograma e a contração e relaxamento dos
átrios e ventrículos.
Ausculta cardíaca
Ausculta ou Auscultação Cardíaca é a parte da
Semiologia que estuda os sons gerados pelo ciclo
cardíaco e seu significado.

 Pontos importantes para uma boa ausculta


 É necessário um ambiente silencioso.

 O paciente precisa estar com a região de


ausculta descoberta.

 O paciente precisa ser colaborativo, uma vez


que é necessário, em alguma situações,
posicionar o paciente para melhor auscultar  Diafragma: o diafragma é melhor para sons
uma determinada patologia. Além disso, em agudos. Maior contato com a pele. Permite
algumas vezes, será solicitado que o paciente auscultar sons de alta intensidade.
realize manobras especiais para tornar mais
nítido o fenômeno esteto-acústico.  Campânula: a campânula é melhor para sons
graves. Menor contato com a pele. Permite
 Posições do paciente auscultar sons de baixa intensidade.
 Decúbito dorsal: é a posição padrão, na qual o
paciente está deitado de costas, com a cabeça Focos de ausculta
apoiada sobre um pequeno travesseiro. O
médico fica do lado direito do paciente. Os focos de ausculta são os principais pontos de
referência utilizados para posicionar o estetoscópio e
 Paciente sentado: é a melhor posição para obter informações pertinentes relacionados com a
auscultar as regiões da base do coração, ou respectiva valva.
seja, as valvas aórtica e pulmonar e os vasos da
base.

 Decúbito lateral esquerdo: é a melhor posição


para auscultar os fenômenos da valva mitral e
em especial o sopro de estenose mitral.

 Paciente em pé com tórax semifletido: nessa


posição, os sons da base do coração são ainda
melhores auscultados, em especial o sopro de
insuficiência aórtica.

OBS: é importante ressaltar que a ausculta não deve


se restringir aos focos de ausculta, de modo que todo
Estetoscópio o precórdio (a porção do corpo sobre o coração e à
esquerda da porção inferior do esterno) deve ser
auscultado. Muitas vezes, as regiões cervical,
O estetoscópio é um instrumento utilizado para
infraclavicular, axilar e dorso serão auscultadas.
amplificar os sons corporais, sobretudo aqueles que
envolvem o coração e o sistema cardiovascular. OBS: os focos de ausculta não correspondem às
localizações anatômicas exatas.
 Sons cardíacos normais
Na ausculta cardíaca de um paciente normal, é
possível escutar dois sons distintos que se repetem
ao longo do ciclo cardíaco: primeira bulha (B1) e
segunda bulha (B2).

 Foco aórtico: se encontra no segundo espaço


intercostal direito, logo ao lado do esterno.

 Foco pulmonar: se encontra no segundo espaço


intercostal esquerdo, logo ao lado do esterno.
Nesse espaço pode-se avaliar desdobramentos
da 2ª bulha cardíaca.
 Primeira bulha cardíaca (B1): o som da primeira
 Foco tricúspide: se encontra logo à esquerda do bulha ocorre devido ao fechamento das valvas
apêndice xifoide, no quinto espaço intercostal mitral e tricúspide, que são as valvas
esquerdo. Os fenômenos acústicos originados atrioventriculares mitral (M1) e tricúspide (T1).
na valva tricúspide (sopro sistólico) costumam A B1 é representada pelo “TUM”. Essa primeira
ser mais percebidos na área mitral. bulha representa o início da sístole.

 Foco mitral: se encontra no quinto espaço OBS: como desdobramento fisiológico da primeira
intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular. bulha, em alguns indivíduos saudáveis ou patológicos
com bloqueio do ramo direito do feixe de His,
 Foco aórtico acessório: vale lembrar que outra estenose tricúspide e anomalia de Ebstein, é possível
parte importante para se auscultar fenômenos perceber um desdobramento da primeira bulha
relacionados com a valva aórtica é no foco cardíaca. Isso faz com que o som auscultado soe como
aórtico acessório, o qual se situa entre o um "trum tá" em vez do clássico "tum tá". Esse fato
terceiro e quarto espaço intercostal esquerdo geralmente ocorre devido a um fechamento
ao lado do esterno. retardado da valva tricúspide em relação a valva
mitral.

 Segunda bulha cardíaca (B2): som da segunda


Bulhas cardíacas bulha ocorre devido ao fechamento das valvas
semilunares aórtica (A2) e pulmonar
As bulhas, também chamadas de sons cardíacos, são (P2) seguida de um grande silencio
sons geradas pelo impacto do sangue em diversas correspondente ao enchimento ventricular.. A
estruturas cardíacas e nos grandes vasos. B2 é representada pelo “TÁ”. É um som de
curta duração Essa segunda bulha representa o
início da diástole.
OBS: um desdobramento fisiológico da segunda bulha  A quarta bulha, também chamada de bulha
ocorre durante na inspiração e desaparece na atrial, ocorre na fase de contração atrial, ou
expiração. Isso ocorre porque quando inspiramos, há seja, no terço final da diástole. Por isso, é
um aumento do retorno venoso, ocasionando um chamada de som telediastólico ou pré-sistólico.
maior enchimento do ventrículo direito. Se origina pela rápida desaceleração do fluxo
Consequentemente, ele demora mais para esvaziar, sanguíneo que vai dos átrios para os
causando um atraso no fechamento da valva ventrículos. Relacionada com sobrecarga de
pulmonar (P2) em relação ao fechamento da valva pressão.
aórtica (A2). Isso faz com que o som auscultado soe
como um "tum trá" em vez do clássico "tum tá".

Sabendo que a B4 é um som pré-sistólico, ela se


encontra um pouco antes da primeira bulha, no
terço final da diástole.
 Sons cardíacos acessórios
Os raros sons cardíacos acessórios são escutados
tanto em situações normais quanto anormais.
 A terceira bulha ocorre na fase de enchimento
ventricular rápido, no terço inicial da diástole,
sendo, por isso, chamada de ruído
protodiastólico. Se origina das vibrações
produzidas na parede ventricular devido ao
enchimento rápido. Está relacionada com a
sobrecarga de volume. É presentada pelo som
“TU”.

Sabendo que a terceira bulha é um som


protodiastólico, ela se encontrará após a
segunda bulha, no terço inicial da diástole.
Fisiologia da contraçao
muscular
A contração muscular refere-se ao deslizamento da
actina sobre a miosina nas células musculares,
permitindo os movimentos do corpo. No repouso, a actina e miosina não se encostam,
mesmo tendo atração uma pela outra. O complexo
Sarcômero proteico troponina e tropomiosina impedem que haja
uma ligação entre a actina e miosina. Todo esse
A menor estrutura contrátil muscular é o sarcômero. cenário acontece com o músculo durante o repouso.
O sarcômero é um compartimento onde se organizam Para que haja contração muscular, existe uma série de
as principais proteínas musculares (actina e miosina) processos complexos que precisam acontecer para
que estão envolvidas no processo de contração que a miosina consiga encostar na actina, tracionar
muscular. São compostos por proteínas contráteis, seus filamento e, finalmente, realizar a contração do
principalmente a actina e miosina, sarcolema sarcômero em si. Quando a troponina se liga a uma
(membrana plasmática das células do tecido muscular molécula de cálcio, o complexo troponina-
estriado), mitocôndrias (indicando a necessidade de tropomiosina muda sua conformação, permitindo a
produção de energia para a atividade cardíaca), retículo exposição do sítio de ligação entre a actina e miosina.
sarcoplasmática (armazenamento de cálcio, troponina e
tropomiosina. Processo de contração
 Estrutura do sarcômero
A estrutura do sarcômero é uma agregação de A fisiologia da contração muscular é descrita com seu
filamentos de actina (filamentos finos) e miosina início na junção neuromuscular, de modo que a fibra
(filamentos grossos) que, ao interagirem, nervosa motora conduz potencias de ação que
desencadeiam a contração muscular. A disposição despolarizam a membrana do terminal numa região
dessas proteínas é que produz o padrão de faixas especializada chamada placa motora, que corresponde à
escuras e claras do músculo estriado esquelético. junção neuromuscular. Tem início a etapa
de transmissão neuromuscular. Com a despolarização da
membrana pré-sináptica ocorre a liberação do
neurotransmissor, a acetilcolina. Ao atravessar a fenda
sináptica e ligar-se a receptores colinérgicos do tipo
nicótico, estrategicamente situados no segmento da
membrana plasmática da fibra muscular que constitui o
espessamento pós-sinápticos, a acetilcolina promove
a excitação do músculo. O resultado da reação entre o
neurotransmissor e seu receptor, como acontece em
todas as sinapses excitatórias, é a abertura seletivas de
canais de Na+ K+, e a ocorrência de um potencial pós
sináptico despolarizante (chamado nesse caso potencial
de placa motora). Segue-se a excitação das regiões
vizinhas da placa motora, e, se o limiar for atingido,
A linha Z vista na imagem acima representa o ponto surge um potencial de ação muscular que se espalha
em que um sarcômero se liga a um outro sarcômero. rapidamente por todo sarcolema, os espalhamento do
Essa estrutura geral do sarcômero sofre algumas potencial de ação muscular é completo, atingido
modificações quando ele está contraído ou relaxado, inclusive o interior dos túbulos T até o ponto onde eles
haja vista a aproximação e afastamento formam tríades.
característicos dessa ação.
Processo de
relaxamento

Para cessar a contração e o músculo relaxar, o íon


cálcio que saiu do retículo sarcoplasmático precisa
retornar a esse retículo. Esse retorno ocorre por meio
de um transporte ativo chamado de bomba de cálcio
ATPase (SERCA). Então o cálcio sai do retículo
sarcoplasmático de forma passiva e retorna de forma
ativa.

Tipos de contração
muscular

A contração muscular é o estado de atividade


mecânica. A contração muscular pode ser isométrica,
ou isotônica (concêntrica e excêntrica).
A onda de despolarização percorre a região da
membrana eletroexcitável. Essa onda, ao percorrer OBS: força muscular é a tensão gerada pelos músculos
essa membrana, chega até o túbulo T e, por esqueléticos.
consequência, consegue estimular proteínas que
 Contração isométrica
estão associadas ao retículo sarcoplasmático (local de
A contração isométrica é também chamada de
armazenamento de íons cálcio). Essa despolarização
contração estática. Tipo de contração em que não
que percorre o túbulo T é capaz de ativar receptores
há movimento na articulação, mas há tensão nos
de hidropiridina. Quando ativados, há a formação de
músculos.
sinais para a abertura de canais de rianodina (canais
de cálcio). Quando esses canais de rianodina são
abertos, o cálcio sai do retículo sarcoplasmático e vai
de maneira passiva para o sarcoplasma (citoplasma da
célula muscular). Nessa região, o íon cálcio vai se ligar
a uma proteína do filamento fino chamada de
troponina e alterar a conformação do complexo
tropomiosina. Quando esse processo acontece, há Então a contração isométrica ocorre quando a
uma exposição do sítio de ligação da actina com a força está sendo exercida nos pontos de fixação
miosina. Assim, os filamentos de actina deslizam muscular sem o encurtamento significativo das
sobre os filamentos de miosina (essa puxa a actina), fibras musculares. A força muscular é igual à
permitindo a aproximação das linhas Z e, resistência.
consequentemente, o encurtamento de sarcômero,
caracterizando a contração muscular.

OBS: quanto mais cálcio maior a força de contração da


musculatura.
 Contração isotônica
A contração isotônica é também chamada de
dinâmica, de modo que há deslocamento das
fibras musculares. Caracteriza-se como uma
contração em que as fibras musculares se
encurtam (concêntrica, de modo que a força
muscular é maior do que a resistência) ou se
alongam (excêntrica, de modo que a resistência é
maior do que a força muscular).

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