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Isabelle Marques e Luísa Mourad - 2020

Meio Interno 1

A membrana em repouso, quando se fala de uma célula excitável, é uma


membrana que não está gerando potencial de ação, então, a célula fica em apenas
dois estados diferentes: célula com membrana em repouso ou célula com
membrana excitada e em potencial de ação. A célula pode estar despolarizando e
ainda assim estar em repouso, desde que ela não atinja o limiar de excitabilidade
(sinais subliminares) e, quando a célula atinge o potencial de ação (sinais
supralimiares) eles tiram a membrana do estado de repouso.

MOVIMENTO DOS ÍONS


Para que exista uma diferença de voltagem é necessário que haja uma
corrente e que ela tenha um sentido, para que gere um movimento através do circuito
e consiga criar uma diferença de potencial. Como não existe um gerador externo de
eletricidade na célula, é preciso pensar como a célula consegue gerar uma corrente
e como ela consegue transportar cargas.
O transporte de cargas é feito através da difusão de íons (elementos
eletricamente carregados podendo ser positiva ou negativa) que se movimentam
através da membrana de acordo com a sua corrente elétrica ou sua diferença de
concentração. Logo, a difusão é o movimento que depende da diferença de
concentração química, ou seja, para que um íon atravesse a membrana de um lado
para o outro é necessário que essas concentrações não estejam iguais, e que um
lado, estando mais concentrado que o outro, tenha uma força que impulsione o íon
para o outro lado pela agitação das suas moléculas. Além disso, é necessário que o
íon tenha um tipo de proteína específica que permita a sua passagem através da
membrana, pois como seu interior é apolar, não permite a passagem de cargas
facilmente através da membrana, sendo assim, a presença dessas proteínas integrais
de membrana (canais iônicos) facilita e torna a membrana mais permeável a
determinados íons.
Além do transporte difusional, como os íons são carregados, no momento em
que eles se movimentam através da membrana, eles geram uma corrente, que é o
movimento de cargas que, naturalmente, em um circuito, ocorre do ânodo para o
cátodo, ou seja, do elemento positivamente carregado para aquele negativamente
carregado.
Já o potencial elétrico (voltagem) é a força exercida sobre uma partícula
carregada, assim como a diferença entre as cargas. Quanto maior for essa diferença,
maior é a voltagem e a corrente. Dessa forma, quando há uma diferença de gradiente
de concentração, maior é a passagem do íon do lado mais concentrado para o menos
concentrado, ou seja, maior é a corrente elétrica e, assim, maior a diferença de
voltagem na membrana da célula.
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Para que o sinal passe ao longo da membrana é preciso que ela possua
condutância, que é a habilidade relativa de uma carga ir de um ponto a outro. Essa
condutância depende do número de partículas disponíveis para carregar a carga
elétrica e a facilidade que elas têm de viajar pelo espaço. Então, é necessário que
a membrana tenha canais iônicos em uma quantidade que não permita a dispersão
da corrente elétrica, ou seja, quanto maior for a condutância de uma membrana, mais
longe o potencial de ação percorre.
Em contrapartida, a resistência é movimento oposto à condutância, sendo
definida como a dificuldade relativa de uma carga elétrica em migrar por esse espaço.

DIFUSÃO - GRADIENTE QUÍMICO


A difusão é o movimento de cargas iônicas através da membrana do lado mais
concentrado para o menos concentrado.
Na solução aquosa ao lado há, do lado esquerdo, uma
solução com cloreto de sódio. Como o cloreto de sódio possui um
alto potencial ionizante, dissocia-se e forma dois íons, o sódio
(positivo) e o cloreto (negativo). Nesse exemplo há uma membrana
impermeável a qualquer tipo de passagem de soluto e para que
ocorra a difusão é necessário que haja permeabilidade, que será
gerada através da abertura de canais iônicos específicos para
sódio e cloreto, criando a possibilidade que esses íons se
movimentem do lado mais concentrado para o menos concentrado.
Dessa forma, essas moléculas agitadas se chocam umas com as
outras e se repelem até que a molécula passe para o outro lado.
Do lado direito, a repulsão é menor pois a concentração
também é menor, logo, se há uma permeabilidade igual de sódio e
cloreto, ambos passam pela membrana ao mesmo tempo, sendo
assim, não há diferença de cargas e quando isso acontece existe
um movimento iônico sem carga (movimento do gradiente
químico). Esse movimento se estabiliza quando a célula atinge um
equilíbrio químico (equilíbrio de concentrações dos dois lados).

DIFUSÃO - GRADIENTE ELÉTRICO


No exemplo ao lado, em um primeiro momento, há cloreto de sódio
dos dois lados da solução e uma membrana impermeável no meio. Nesse
caso há uma pilha que permite a criação de um dipolo (pois é um
elemento gerador) e possui um lado positivo, que atrai cargas negativas
(ânodo), e um negativo que atrai cargas positivas (cátodo). Como a
membrana é impermeável, não há a passagem dos íons de um lado para
o outro e a corrente não é gerada.
Para que haja corrente é necessário que haja permeabilidade e,
para isso, abrem-se canais iônicos na membrana para que seja possível
realizar a difusão, com o movimento livre de íons pela membrana do lado
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mais concentrado para o menos concentrado, porém, nesse caso, as partículas estão
sendo reorganizadas.
O polo negativo atrai as cargas positivas e o positivo atrai as cargas
negativas, e, nesse momento, há um fluxo direcional com um sentido de corrente
elétrica e a criação de um dipolo. Esse dipolo é responsável por criar a diferença de
voltagem, sendo possível medi-la através da voltagem gerada pela pilha.

POTENCIAL DE EQUILÍBRIO DE UM ÍON


Na célula, como não existe uma pilha, o movimento do íon já gera uma
diferença de carga. Então, por exemplo, quando o potássio se move do lado mais
concentrado para o menos concentrado carrega com carga positiva o lado em que
ele estava menos concentrado, enquanto que o lado mais concentrado perde carga e
fica mais negativo em relação ao lado que está recebendo essas cargas e no
momento em que esse lado está ganhando uma carga iônica ele cria uma força
contrária responsável por “empurrar” o potássio de volta para dentro da célula. Logo,
existe uma força difusional (gradiente de concentração) que empurra o potássio
para uma direção e uma força elétrica que, graças a carga, começa a repelir cargas
positivas para onde o potássio está mais concentrado. Dessa forma, o equilíbrio de
um íon só é atingido quando a força difusional for igual em módulo e oposta à força
elétrica.
O equilíbrio é atingido sem atingir a igualdade de concentrações, ou seja, há
uma diferença de cargas e, por isso, é possível medir eletricamente o potencial de
equilíbrio de um íon. A diferença de potencial leva em consideração o desequilíbrio
entre cargas elétricas, seja de um íon ou de vários íons diferentes.

POTENCIAL DE EQUILÍBRIO DO POTÁSSIO


O potássio é muito mais concentrado no interior da célula (20x). Em um
primeiro momento, existe essa concentração maior no meio interno e, como a
membrana é impermeável, não há movimento de cargas. Logo, se a voltagem for
medida na membrana seu valor será igual a zero, pois não há corrente.
Essa corrente é criada a partir da passagem do íon para outra direção,
seguindo um fluxo de corrente elétrica. Na fase de repouso, o potássio é muito mais
permeável do que todos os íons e essa é a grande diferença que pode gerar a
modificação de estágios de potenciais de ação. Porém, se a permeabilidade de sódio
for aumentada e invertida a ponto dela ser maior do que a de potássio, o sentido de
corrente é invertido gerando o potencial de ação.
Na célula, nem todos os canais estarão abertos ao mesmo tempo, pois há
canais que estão sempre abertos (potássio), canais que se abrem e se fecham muito
rapidamente (sódio voltagem dependente), canais que se abrem tardiamente e se
fecham depois (potássio voltagem dependente), canais que demoram muito para
abrir mas depois ficam um tempo abertos (canais de cálcio), logo, cada canal abre
em um determinado momento da célula de acordo com seu estágio e, essa
modificação na permeabilidade de determinados íons é a chave do entendimento do
potencial de ação.
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Como há a maior permeabilidade à potássio, em uma solução em que o ânion


e o potássio foram dissociados, o ânion não consegue passar pela membrana, sendo
assim, o potássio se move para o lado menos concentrado (para fora da célula)
aumentando as cargas positivas do lado externo e criando um dipolo. Quando o
potássio sai da célula, ele cria um ambiente carregado positivamente próximo a face
externa da membrana que começa a tentar empurrá-lo de volta para o interior da
célula. No começo ele não possui força, pois a corrente de saída de potássio
causada pela diferença de concentração é maior do que a força elétrica. Porém,
quando essas forças se igualam, o potencial de equilíbrio para o potássio é atingido
e ele pode entrar e sair da célula até que alguma coisa mude.
Caso a quantidade de potássio aumenta dentro da célula, o gradiente de
concentração aumenta e saí mais potássio da
célula e ela hiperpolariza, ficando mais
negativa no seu interior e gerando uma
corrente ainda maior de saída. Caso haja mais
potássio no exterior da célula há uma menor
diferença de concentração e menos potássio
sai da célula. Dessa forma a corrente é menor
e a diferença de potencial diminui,
despolarizando a célula.

POTENCIAL DE EQUILÍBRIO DO SÓDIO


O sódio, por sua vez, é mais concentrado
no exterior da célula (10x). Na prática, ele se
move do seu local mais concentrado para o
menos concentrado. Por ser uma carga positiva,
ao se mover, gera uma carga positiva para o
interior da célula e retira uma carga no exterior.
Porém, como ele é inverso ao potássio, ao
aumentar a permeabilidade seletiva a sódio em
relação ao potássio, o sentido da corrente é invertido, mudando a diferença de
potencial e gerando o potencial de ação.

DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS ATRAVÉS DA MEMBRANA


No final desses movimentos de íons, ao observar o interior da célula, percebe-
se que não existe uma grande dispersão de cargas, o que mantém o interior da célula
completamente neutro assim como o exterior. O ponto entre o interior e o exterior,
deveria ser neutro, porém a membrana presente no meio realiza uma divisão de
cargas criando um dipolo.

EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO
o Equação de Nernst → equação do potencial de equilíbrio para um determinado
íon
• Cada íon possui o seu potencial de equilíbrio e uma direção
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•O potencial de equilíbrio (E) é uma razão entre uma constante (dos gases),
a temperatura (Kelvin) a valência de um íon (positiva ou negativa) e outra
constante (Faraday)
▪ Tudo isso é multiplicado por uma razão na base logarítmica de
concentração de um íon e a concentração externa desse mesmo íon
o Equação de Goldman → calcula a voltagem da membrana
• Realiza uma média ponderada dos potenciais de equilíbrio dos íons
• O resultado da voltagem da membrana em repouso é de -65 mV (sentido
da corrente elétrica para o exterior da membrana o que torna o interior mais
negativo que o exterior)

FATORES QUE INFLUENCIAM O POTENCIAL DA MEMBRANA


o Canais sempre abertos
o Bomba Na+/K+ → gera uma carga de +1 íon para o meio externo
• Ao inibí-la é causada uma leve despolarização
o Canais dependentes de ligante
o Canais dependente de voltagem → responsáveis por gerar o potencial de ação
e pela volta ao potencial de repouso

CANAIS IÔNICOS
o Importância da hidratação de um íon:
Os íons são capazes de passar por determinados canais, mas podem não
conseguir passar por outros, pois os canais possuem filtros de seletividade, que
atraem basicamente 2 tipos de íons: positivos ou negativos. Para isso, há um filtro de
seletividade de carga (se negativo, atrai positivo e vice versa). Além disso, o tamanho
do íon que irá passar por esses canais também é um fator relevante. Sódio e potássio
são íons que fazem parte da mesma família da tabela periódica (IA), logo, possuem
valência +1, que faz com que o filtro de carga não seja diferente, ou seja, atrai tanto
sódio quanto potássio (sem seletividade) e o que faz diferença é o tamanho do íon.
Como o sódio é menor do que o potássio, a tendência é que o canal iônico de sódio
seja menor do que o de potássio, porém, isso não é o que acontece na prática, porque
ambos estão em solução aquosa (diluídos em água) e as moléculas de água se
atraem a esses íons, formando uma camada de solvatação ou hidratação do íon.
Essa camada de hidratação é maior conforme menor for o íon, ou seja, quando a
água se liga ao sódio, ela se liga bem próximo ao núcleo do sódio e permite que
outras moléculas de água se liguem. Assim, a camada de hidratação do sódio é maior
que do potássio. Quando o sódio passa através do seu canal iônico, ele passa
hidratado, enquanto que o potássio perde mais água e, por isso, o canal iônico de
sódio é maior do que o de potássio, podendo permitir, também, a passagem de
potássio. Por isso, quando houver, no repouso, apenas canais de potássio aberto, é
muito provável que o sódio não seja capaz de passar.
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o Importância da bomba de sódio e potássio:


A função da bomba de sódio e potássio é fazer o movimento de 3 íons sódio
para o lado de fora da célula e 2 íons potássio para o lado de dentro (aumenta
concentração de sódio do lado de fora e a de potássio do lado de dentro). Isso ocorre
para reorganizar as quantidades de íons. Como o potássio sai passivamente da célula
para manter a concentração, a bomba coloca novamente para dentro da célula
ativamente e, como o sódio entra passivamente, a bomba o coloca para fora de forma
ativa. Assim, a bomba de sódio e potássio é imprescindível para manter o gradiente
de concentração desses 2 ions. Porém, isso gera uma carga residual, já que saem 3
íons sódio positivo e entram apenas 2 íons potássio positivo. Essa carga é de 1 íon
positivo, o que faz com que a célula se mantenha um pouco mais negativa no seu
interior o que no exterior. Logo, se for feito um bloqueio da bomba de sódio e
potássio, a célula irá despolarizar.

CANAIS IÔNICOS NO REPOUSO


Nesse exemplo da primeira imagem abaixo, há uma célula em repouso onde
não há permeabilidade nenhuma, ou seja, não há corrente e a voltagem é zero. Para
que haja corrente, é preciso ter permeabilidade e, no repouso, essa permeabilidade
é maior para o potássio. Quando isso ocorre, o potássio sai da célula até alcançar
seu potencial de equilíbrio (2ª imagem abaixo). Quando atingido, atinge-se a voltagem
de repouso (interior negativamente carregado em relação ao exterior, que encontra-
se ávido por cargas positivas), representando na 3ª imagem abaixo. Nesse caso, se
houver um íon positivo concentrado no lado de fora, se houver permeabilidade, ele
irá entrar com toda velocidade. Isso é o que acontece com o íon sódio. O sódio entra
na célula em uma determinada etapa e, para que ela ocorra, é preciso mudar a
conformação do canal de sódio voltagem dependente.

Assim, na célula em repouso, é preciso atingir uma voltagem para que o canal
de sódio voltagem dependente possa abrir. Para isso, é preciso que entre algum íon
positivo. No músculo, por exemplo, isso ocorre com a abertura dos canais
dependentes de ligantes dos receptores nicotínicos. A abertura de canal de sódio
desses receptores faz com que a célula sofra uma despolarização e, se essa
despolarização atingir o limiar (potencial supra limiar), essa pequena mudança de
carga positiva irá empurrar os sítios compostos por pequenas porções de
aminoácidos e proteínas carregadas positivamente e voltadas para a face interna da
membrana celular, que está carregada negativamente no repouso. Assim, quando
começa-se a entrar um pouco de carga positiva na célula, há um processo de repulsão
dessas cargas dos sítios, que serão repelidas e o sítio será empurrado para fora,
mudando a conformação do canal iônico, que se abre. Nesse momento, como o lado
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interno da célula está mais negativo e o sódio está mais concentrado no meio externo,
esse íon sódio irá entrar rapidamente na célula. O sódio, por sua vez, tende a atingir
seu potencial de equilíbrio, porém, não atinge, pois ele é interrompido por um sítio de
inativação ligado a esse canal iônico. Por isso, esse canal é chamado de voltagem
tempo dependente, já que após aproximadamente 1 mili segundo, esse canal é
inativado. Nesse momento, o canal estará aberto, porém, inativo, não sendo possível
a passagem de sódio e, assim, não gerando um novo potencial de ação. Isso
corresponde ao período refratário absoluto da célula.
Para que essa célula possa voltar a gerar potencial de ação, é preciso refazer
as estruturas de repouso desse canal de sódio voltagem dependente e isso ocorre
trazendo novamente a voltagem da membrana para o seu estado de repouso. Para
isso, há o canal de potássio voltagem dependente, que será aberto quando a célula
está despolarizada.

FASE ASCENDENTE DO POTENCIAL DE AÇÃO


No gráfico ao lado, a linha verde pontilhada corresponde ao limiar de
excitabilidade, que é a voltagem que precisa ser atingida para que o canal de sódio
voltagem dependente se abra. Existem diversas formas para que essa voltagem seja
atingida como, por exemplo, aumentando a concentração de potássio
extracelular, o que torna mais difícil para o potássio sair e, assim, mais cargas
positivas permanecem dentro da célula, despolarizando a célula. Além disso, ao abrir
um canal dependente de ligante e esse ligante for o sódio ou o cálcio, por
exemplo, mais íons positivos entram na célula, despolarizando a célula e também
tornando a voltagem mais próxima do limiar de excitabilidade.
Assim, sempre que esse limiar de excitabilidade for atingido, o potencial de
ação será gerado. Se esse limiar não for atingido, o potencial não será gerado e, por
isso, o potencial de ação é tudo ou nada: abaixo da linha verde, a célula está em
repouso e, acima, há o potencial de ação. O espaço entre a célula em repouso e o
limiar de excitabilidade, que gera o potencial de ação, é chamado de potencial limiar.
Ao atingir o potencial limiar, gera-se o potencial de ação, pois os canais de sódio
voltagem dependente começam a se abrir. Como o interior da célula está mais
negativo, o sódio, que é mais concentrado do lado de fora e é um íon positivo, começa
a entrar com toda a força na célula, gerando a fase ascendente do potencial de
ação (aproxima-se de 0mV, podendo até mesmo passar e atingir até +30 mV). Isso
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ocorre até atingir o ponto em que inativa-se o canal de sódio voltagem dependente.
Nesse momento, no fim da fase ascendente, já há o estímulo necessário para abrir
os canais de potássio voltagem dependente. Além disso, há os canais de potássio
que estão sempre abertos, mas esses canais que estão sempre abertos não são
suficientes para trazer a célula de volta para o repouso em um tempo adequado,
demorando muito tempo, se funcionando sozinhos, para fazer com que a célula
retorne para o repouso.

ULTRAPASSAGEM E FASE DESCENDENTE DO POTENCIAL DE AÇÃO


Com a abertura dos canais de potássio voltagem dependente, inicia-se a fase
do potencial de ação chamada de pico ou ultrapassagem. Nesse momento, há um
equilíbrio entre as cargas de potássio e sódio. A medida que a permeabilidade ao
potássio aumenta mais do que ao sódio, a célula começa a repolarizar, entrando na
fase descendente.
Nesse momento, da fase descendente, como há canais de potássio sempre
abertos mais os canais de potássio voltagem dependente, a permeabilidade ao
potássio é muito maior. Com esse aumento da permeabilidade, a corrente também
irá aumentar e, consequentemente, aumenta-se a diferença de potencial. Por isso, na
fase descendente, o potencial irá, inclusive, passar do potencial de repouso (-70 mV),
hiperpolarizando a célula mais do que o normal em repouso. Esse é o período de
pós hiperpolarização. Nesse momento, é possível gerar potenciais de ação, porque
os canais de sódio voltagem dependentes voltam à sua conformação fechada. Logo,
a célula não encontra-se em um período refratário absoluto, porém, não é fácil gerar
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o potencial de ação, pois precisa-se de uma força de potencial de ação maior do que
o normal. À esse período, chama-se período refratário relativo.
Com o fechamento dos canais de sódio e potássio voltagem dependente, a
célula volta ao seu potencial de repouso, graças ao movimento de íons gerados tanto
pela bomba de sódio e potássio quanto pelos canais de potássio sempre abertos.

PERÍODOS REFRATÁRIOS DO POTENCIAL DE AÇÃO


● Período refratário absoluto → momento em que é impossível gerar um novo
potencial de ação
○ Canais de sódio voltagem dependente inativados
○ Representado no gráfico abaixo pela faixa amarela claro
● Período refratário relativo → momento em que é possível gerar potencial de
ação, mas há uma maior dificuldade para isso
○ Célula hiperpolarizada
○ Representado no gráfico abaixo pela faixa amarelo escuro/laranja

OBS: Neste gráfico acima é possível perceber que o sódio é o íon responsável pela
fase ascendente (curva azul escura) e o potássio é o íon responsável pela fase
descendente (curva azul clara). No momento em que a permeabilidade à sódio e
potássio estão iguais, há a fase de pico ou ultrapassagem do potencial de ação.

RESUMO: TEORIAS DO POTENCIAL DE AÇÃO


● Limiar de excitabilidade → potencial de membrana (Pm) no qual um número
suficiente de canais de sódio dependentes de voltagem se abrem, de forma
que a permeabilidade iônica relativa da membrana favoreça o sódio sobre o
potássio
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○ A célula só é capaz de gerar potencial de ação ao atingir seu limiar de


excitabilidade
○ Canais de sódio se abrem rapidamente e em cascata, fazendo com que a
permeabilidade ao sódio aumente e ultrapasse a permeabilidade ao
potássio
● Fase ascendente → ocorre quando o lado citosólico da membrana está
negativo em relação ao exterior, logo, há uma grande força impulsora sobre o
sódio para dentro da célula
● Ultrapassagem ou período de pico → ponto onde o Pm se aproxima do ENa+,
que é maior do que 0 mV
○ Canais de sódio voltagem dependentes inativos (período refratário
absoluto)
○ Abertura dos canais de potássio voltagem dependentes
○ Potencial de equilíbrio do sódio quase é alcançado pelo potencial de
membrana (sempre maior do que 0 mV)
● Fase descendente → com a inativação dos canais de sódio, há grande força
impulsora sobre os íons potássio para fora da célula, ainda mais com a
abertura dos canais de potássio dependentes de voltagem
○ Canais sempre abertos de potássio + canais de potássio voltagem
dependentes abertos
○ Hiperpolariza a célula
● Pós hiperpolarização → como a permeabilidade ao potássio aumentou ainda
mais do que no repouso, o Pm se aproxima ainda mais do EK+, tornando o Pm
ainda mais negativo
● Período refratário absoluto → canais de sódio estão inativados, portanto, é
impossível gerar um novo potencial de ação
● Período refratário relativo → neste ponto, a membrana está ainda mais
hiperpolarizada que no repouso, logo, a força despolarizante tem que ser bem
maior

PROPAGAÇÃO DO POTENCIAL
O potencial de ação é gerado e conduzido
através da membrana celular e essa condução
ocorre do ponto da sua formação para um lado
específico ou seja, é unidirecional. Isso ocorre
porque o potencial de ação é gerado próximo ao
corpo celular de um neurônio e se propaga para
as porções terminais do axônio. Isso se repete
continudamente após cerca de 1 milissegundo,
propagando-se o potencial.
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PROPAGAÇÃO PONTO A PONTO


Quando a propagação do potencial de ação ocorre em um neurônio não
mielinizado, ela ocorrerá imediatamente no ponto seguinte à produção do potencial
de ação. A partir do momento em que há a propagação do potencial de ação para o
ponto seguinte, não é mais possível retornar ao ponto anterior, pois este já se
encontra no período refratário absoluto e relativo.

PROPAGAÇÃO SALTATÓRIA
Quando o axônio do neurônio é mielinizado, a propagação do potencial de
ação ocorre de forma saltatória. Nesses casos, a perda iônica é menor. Além disso,
com a bainha de mielina, cria-se um fator de isolamento que reduz a resistência
interna e aumenta a resistência externa da membrana, fazendo com que os íons
passem pelo interior do axônio, local onde a resistência é bem menor e, por isso, o
potencial de ação de propagação saltatória passa com uma velocidade maior do que
a propagação ponto a ponto.
Conforme o potencial passa com uma maior velocidade através do neurônio,
ele excita áreas onde há os canais disponíveis, que se situam em regiões não
mielinizadas chamadas nós/nódulos de Ranvier. Assim, ao gerar um potencial de
ação nesses nós, os íons passam por dentro dos axônios até atingirem outro nódulo
de Ranvier, onde irá gerar outro potencial de ação. Dessa forma, os íons saltam pela
bainha de mielina, sendo chamada de propagação saltatória, que é uma propagação
muito mais rápida.

OBS: Se esses axônios, além de mielinizados, forem mais calibrosos, a velocidade


de propagação do potencial de ação é ainda mais rápida.

CORRELAÇÃO CLÍNICA: INATIVAÇÃO DOS CANAIS DE SÓDIO


A inativação dos canais de sódio voltagem dependente pode ser boa ou ruim.
Uma pequena inativação, como por exemplo em anestesias, causa uma pequena
dormência e parestesia (formigamento), absolutamente normais quando há uma
intervenção cirúrgica ou odontológica, que funciona através da inativação seletiva de
alguns canais de sódio voltagem dependentes.
Porém, existe um prato da culinária japonesa que utiliza carne de baiacu, que
possui uma glândula com uma vesícula que contém uma toxina chamada de
tetrodotoxina (TTX). Essa toxina inativa os canais de sódio voltagem dependentes e
pode causar envenenamento. O primeiro sintoma de envenenamento é a dormência
e paralisação dos lábios e da língua, que surge entre 20 minutos e 3 horas após a
ingestão. Depois, aparece dor de cabeça, rubor facial, dor epigástrica, náusea,
diarreia e/ou vômitos. Dentro de 4-6 horas, a pessoa intoxicada apresenta
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convulsões, contração muscular, pupilas


dilatadas e insuficiência respiratória,
podendo até vir à óbito.
Não existe um antídoto para esse
tipo de intoxicação, sendo o tratamento a
lavagem gástrica e medicação específica.
A TTX pode ser até 1,2 mil vezes mais
mortal que o cianeto e a toxina presente
em apenas um baiacu pode matar de 30-
50 pessoas, especialmente crianças,
idosos e pessoas com doenças
preexistentes do sistema nervoso.

o Fisiopatologia → como o TTX inativa os canais de sódio voltagem


dependentes, não alcança-se o limiar de excitabilidade da célula e, com isso,
não há potencial de ação
o Sintomas:
• Grau 1 → dormência na região perioral, parestesias e, por vezes, sintomas
gastrointestinais
• Grau 2 → dormência da face e de outras zonas, parestesias, paralisia das
extremidades, descoordenação motora, discurso arrastado e reflexos
normais
• Grau 3 → descoordenação muscular, afonia, disfagia, dispneia, cianose,
diminuição da pressão sanguínea e dilatação das pupilas, mas com o
indivíduo ainda consciente
• Grau 4 → hipóxia, falência respiratória, hipotensão severa, bradicardia e
arritmias cardíacas

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