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Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal


do Paraná
Campus Medianeira

TRATAMENTO DE
RESÍDUOS LÍQUIDOS III

PROF. JULIANA BORTOLI R. MEES


Tecnologia em Gerenciamento Ambiental

MEDIANEIRA – PARANÁ
2004
SUMÁRIO

1 COMPOSIÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS -


(LÍQUIDOS).........................................................................................................................01
1.1 COMPOSIÇÃO.................................................................................................................01
1.2 CARACTERIZAÇÃO.........................................................................................................03
1.3 TOXICIDADE E TESTES NOS RESÍDUOS LÍQUIDOS...................................................07
2 NÍVEIS DE TRATAMENTO.................................................................................................13
2.1 TRATAMENTO: PRELIMINAR, PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO.........................................13
2.2 TRATAMENTO TERCIÁRIO OU AVANÇADO (Teoria)...................................................14
2.2.1 Adsorção........................................................................................................................14
2.2.2 Tecnologias de Membranas..........................................................................................16
2.2.2.1 Osmose Inversa ou Reversa .....................................................................................19
2.2.2.2 Nanofiltração (NF).......................................................................................................21
2.2.2.3 Ultrafiltração (UF)........................................................................................................21
2.2.2.4 Microfiltração (MF)......................................................................................................21
2.2.3 ELETRODIÁLISE...........................................................................................................21
2.2.4 TROCA IÔNICA.............................................................................................................23
2.2.5 OXIDAÇÃO....................................................................................................................25
2.2.5.1 Oxidação Química......................................................................................................25
2.2.5.2 Oxidação Física..........................................................................................................30
3 DIMENSIONAMENTO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE EFLUENTES E
SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS..............................................................31
3.1 INDUSTRIAS DE LATICÍNIOS.........................................................................................33
3.1.1 Constituintes presentes no Efluente .............................................................................33
3.3.2 Características dos Efluentes de Laticínios...................................................................33
3.3.3 Sistemas de Tratamento de Despejos de Laticínios ....................................................33
3.3.4 Tópicos a serem observados ao enfrentar o Problema de Tratamento dos Efluentes .35
3.2 MATADOUROS E FRIGORIFICOS .................................................................................36
3.2.1 Características dos Efluentes de Matadouros e Frigoríficos ........................................36
3.2.2 Sistemas de Tratamento dos Despejos de Matadouros e Frigoríficos .........................37
3.2.3 Recuperação de Resíduos – obtenção de subprodutos ...............................................37
3.3 CURTUMES .....................................................................................................................39
3.3.1 Características dos Efluentes de Curtumes..................................................................39
3.3.2 Sistemas de Tratamento dos Despejos Curtumes .......................................................40
3.3.3 Recuperação de Subprodutos ......................................................................................42
3.4 CERVEJARIAS.................................................................................................................44
3.4.1 Características dos Efluentes de Cervejarias ...............................................................44
3.4.2 Sistemas de Tratamento dos Despejos de Cervejarias ................................................45
3.4.3 Possibilidades de Recuperação dos Despejos de Cervejarias ....................................46
4 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO, MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS E REUSO DE ÁGUAS ...47
4.1 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO..........................................................................................47
4.2 MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS .......................................................................................49
4.2.1 Objetivos de um Programa de Minimização de Resíduos.............................................49
4.2.2 Benefícios da Minimização de Resíduos.......................................................................50
4.2.3 Técnicas de Minimização de Resíduos .......................... .............................................52
4.3 REUSO DE ÁGUAS.................. .......................................................................................62
4.3.1 Reuso de Águas para fins Industriais............................................................................63
4.3.2 Reuso de Águas para fins Agrícolas.............................................................................64
5 REFERÊNCIAS...................................................................................................................66
1

1 COMPOSIÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS - LÍQUIDOS

1.1 COMPOSIÇÃO

Os despejos industriais se caracterizam por uma enorme variedade de poluentes,


tanto em tipo, composição, como em volumes e concentrações. Variam de indústria para
indústria, e muitas vezes dentro do mesmo grupo de fabricação. Podem ocorrer, além disso,
variações diárias e horárias, que fazem com que cada caso de poluição industrial deva ser
investigado individualmente.
Os quadros a seguir apresentam os principais parâmetros que devem ser
investigados para a caracterização dos despejos, em função da soma de atividades da
indústria e as características das águas residuárias de algumas Indústrias.

Quadro: Principais parâmetros de importância nos efluentes industriais, em função


do ramo de atividade da indústria
DBO ou Óleos e
Gênero Tipo DQO SS Graxas Fenóis pH CN - Metais

- Usinas de açúcar e álcool X X X X


- Conservas (carne/lpeixes) X X X
- Laticínios X X X X
Produtos X X X
- Matadouros e Frigoríficos
Alimentares - Conservas (frutas/vegetais) X X X
- Moagem de grãos X X

Bebidas - Refrigerantes X X X X
- Cervejaria X X X X
- Algodão X X
Têxtil - Lã X X X
- Sintéticos X X
- Tingimento X X X X

Couros e - Curtimento vegetal X X X X X


- curtimento ao Cromo X X X X X
Peles
Papel - Processo da polpa-celulose X X X X
- Fabric. de Papel e papelão X X X X

Produtos - Vidros e espelhos X X X X


- Fibra de vidro X X X X
Minerais não
- Cimento X X X
metálicos - Cerâmica X X X

Borrachas - Artefatos de borracha X X X X


- Pneus e câmaras X X X X
- Produtos químicos (vários) X X X X
- Laboratório fotográfico X
Produtos - Tintas e corantes X
Químicos - Inseticidas X X
- Desinfetantes X X
Plásticos - Plásticos e resinas X X X X X

Perfumes e - Cosméticos, detergentes e X X X


sabões
sabões

Professora: Juliana Bortoli Rodrigues Mees


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Mecânica - Produção de peças metálicas X X


- Produção de ferro gusa X X X X X X X
- Siderúrgicas X X X X X
Metalúrgica - Tratamento de superfícies X X X X X X

Mineração - Atividades extrativas X X

Derivados de - Combustíveis e lubrificantes X X X X


- Usinas de asfalto X X
Petróleo
Artigos
- Artigos elétricos X X
Elétricos
Madeiras - Serrarias, compensados X
Serviços - Lavanderias X X X
Pessoais
Fonte: SPERLING, 1996.

Quadro: Características das águas Residuárias de algumas Indústrias

Consumo Carga Concentração Carga Carga


Unidade de específico específica de de DBO específica específica
Gênero Tipo Produção de água DBO (mg/L) de SS de SDT
(m3/unid) (Kg/unid) (Kg/unid) (Kg/unid)

- Conservas (frutas/leg umes) 1 ton 4 - 50 30 600 - 7.500 - -


- Doces 1ton 5 - 25 2-8 200 - 1.000 - -
- Açúcar de cana 1 ton açúcar 0,5 - 10,0 2,5 250 - 5.000 4 -
- Laticínio sem queijaria 1000 L leite 1 - 10 1-4 300 - 2.500 20 - 250 -
Alimentícia - Laticínio com queijaria 1000 L leite 2 - 10 5 - 40 500 - 4.000 300 - 400 -
- Margarina 1ton 20 30 1.500 - -
- Matadouros 1 boi/ 2,5porcos 0,3 - 0,4 4 - 10 15.000 - 20.000 5 -
- Produção de levedura 1 ton 150 1100 7.500 19 2.250
- Destilação de Álcool 1 ton 60 220 3.500 260 400
- Cervejaria 1 m3 5 - 20 8 - 20 500 - 4.000 1.400 -
Bebidas - Refrigerantes 1 m3 2-5 3-6 600 - 2.000 - -
- Vinho 1 m3 5 0,25 - - -

- Algodão 1 ton 120 - 750 150 200 - 1.500 70 200


- Lã 1 ton 500 - 600 300 500 - 600 200 480
- Rayon 1 ton 25 - 60 30 500 - 1.200 55 100
Têxtil - Nylon 1 ton 100 - 150 45 350 30 100
- Polyester 1 ton 60 - 130 185 1.500 - 3.000 100 150
- Lavanderia de lã 1 ton 20 - 70 100 - 250 2.000 - 5.000 - -
- Tinturaria 1 ton 20 - 60 100 - 200 2.000 - 5.000 - -
- Alvejamento de tecidos 1 ton - 16 250 - 300 - -

Couro e - Curtume 1 ton pele 20 - 40 20 - 150 1.000 - 4.000 220 - 300 350 - 400
- Sapatos 1000 pares 5 15 3.000 - -
Curtume

- Fabric de polpa sulfatada 1 ton 15 - 200 30 300 18 170


Polpa e - Fabricação de Papel 1 ton 30 - 270 10 - - -
Papel - Polpa e papel integrados 1 ton 200 -250 60 - 500 300 - 10.000 400 - 1.000 -

- Tinta 1 empregado 0,110 1 10 - -


Indústria - Sabão 1 ton 25 - 200 50 250 - 2.000 - -
- Refinaria de Petróleo 1 barril (1171) 0,2 - 0,4 0,05 120 - 250 - -
Química
- PVC 1 ton 12,5 10 800 1,5 -

Indústria - Vidro e subprodutos 1 ton 50 - - 0,7 8


- Cimento (processo seco) 1 ton 5 - - - 0,3
Não-Metálica
- Fundição 1 ton gusa 3-8 0,6 - 1,6 100 - 300 - -
Siderúrgica - Laminação 1 ton 8 - 50 0,4 - 2,7 30 - 200 - -
Fonte: CETESB (1976), Braile e Cavalcanti (1977), Arceivala (1981), Hosang e Bischof (1984), Salvador (1991),
Weltzenfeld (1984). OBS: Dados não preenchidos (-) podem significar dados não significativos ou não obtidos.

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1.2 CARACTERIZAÇÃO

A caracterização das fontes poluidoras e dos poluentes em uma indústria deve


obedecer a uma metodologia objetiva, para a qual se recomenda.
§ Estabelecer uma estratégia de investigação;
§ Conhecimento de todas as atividades de fabricação, fluxograma de processo,
matéria-prima, produtos consumidos, consumo de água, etc.;
§ Conhecimento dos produtos fabricados e respectivas quantidades já existe, para
diversos grupos de indústrias, um relacionamento genérico de produção x poluição, que
pode ser utilizado como indicador inicial da avaliação das vazões e cargas de poluição;
§ Identificação das diversas localizações de saída dos efluentes líquidos, águas de
processo, de utilidades, pluviais, e esgotos sanitários;
§ Medição de vazão e amostragem das diversas fontes de efluentes, de acordo com
metodologia adequada de medição e amostragem;
§ Preparo de balanço de massa das descargas na indústria, para os vários
processos de geração de efluentes;
§ Verificação das variações diárias, horárias e sazonais típicas.

A caracterização propriamente dita deve levar em conta os grupos de poluentes mais


comuns, que podem ser classificados como:
- Poluentes convencionais;
- Poluentes não convencionais; e
- Poluentes prioritários.

Os poluentes convencionais são os que tipicamente caracterizam a matéria orgânica


e a matéria sólida e em suspensão nos esgotos, e o pH. São assim:
- Demanda Bioquímica e Oxigênio, DBO;
- Sólidos em Suspensão;
- Óleos e Graxas;
- pH.

Os poluentes prioritários constituem um conjunto de 129 poluentes potencialmente


tóxicos, identificados pela EPA (USA), que em razão de possíveis efeitos carcinogênicos,
mutagênicos, ou de alta toxicidade, devem merecer atenção particular em relação a sua
possível presença nos despejos industriai. A tabela apresenta na página 06 (EPA Effluent

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Guidelines Division List of Priority Pollutants for B.A.T. Revision Studies), apresenta a
relação desses 129 poluentes , os quais podem ainda ser caracterizados como:
- Metais;
- Compostos orgânicos voláteis (CVO);
- Compostos orgânicos semi-voláteis;
- Pesticidas, herbicidas e outros produtos semelhantes.

Os mecanismos de remoção, transformação, geração, dos poluentes prioritários


orgânicos, nos sistemas de tratamento, ou na rede de coleta, podem ser:
- Volatilização;
- Degradação;
- Integração ao lodo;
- Geração como sub-produtos;
- Simples passagem sem sofrer qualquer modificação.

Hoje em dia constitui motivo de particular preocupação a formação e perda na


atmosfera de compostos orgânicos voláteis (CVO), uma vez que geram na atmosfera risco
potencial ambiental e à saúde pública, aumentam o teor de hidrocarbonetos na atmosfera, e
podem atingir, ainda que em baixas concentrações, uma extensa área de influência.
Pesquisa recente identificou os principais grupos destes CVOs presentes nas estações de
tratamento de esgotos domésticos que recebem também contribuição de esgotos industriais,
podendo se caracterizar ainda como voláteis não degradáveis (clorofórmio, tetracoroeteno,
1,1,1-tricloroetano, outros); voláteis degradáveis (benzeno, tolueno, xileno, outros); pouco
voláteis, degradáveis (acetona, outros). As emissões atmosféricas decorrentes são fontes
de odores , substâncias tóxicas, gases orgânicos reativos, óxidos de nitrogênio (NO X), de
enxofre, etc.
Nas estações de tratamento de resíduos industriais a presença destes compostos
pode ser significativa; nas de esgoto doméstico apenas é raro encontrar CVOs com
concentração próxima dos limites tolerados; nas de esgotos domésticos que recebem
contribuição significativa de resíduos industriais, sua presença é igualmente detectada.
As principais unidades nas estações de tratamento onde estes compostos voláteis
são identificados costumam ser:
- Na área de tratamento preliminar: grades de barras, caixas de areia, canais,
tanques de equalização;

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- Na área do tratamento biológico: particularmente nos casos de aeração superficial


mecânica;
- Na área do tratamento do lodo: adensadores por gravidade e por flotação,
digestores anaeróbicos, sistema fechados de desidratação mecânica.

Os poluentes não convencionais podem ser classificados com o os que não se acham
enquadrados nas categorias anteriores, e podem ser relacionados como:
- Compostos nitrogenados, amônia, nitrogênio orgânico, nitratos;
- Fósforo;
- Demanda Química de Oxigênio (DQO), Carbono Orgânico total (COT);
- Cromo hexavalente;
- Fenóis;
- Fluoretos;
- Manganês;
- Outros.

Há dois gêneros de preocupação especial com a presença e a disposição final


destes resíduos:
- Os efeitos nos corpos receptores em geral, os riscos ambientais, e os riscos à
saúde pública. A preocupação, que se originou com os efluentes líquidos, já se estendeu
aos produtos semi-sólidos, pastosos, e resíduos sólidos, que possuem componentes com
particularidades de lenta degradação e elevada toxicidade, entre esses produtos inclui-se o
lodo gerado nas estações de tratamento de efluentes. Com a preocupação voltada para tais
tipos de poluentes, uma nova classe de resíduos foi estabelecida, a que se denominou
“resíduos perigosos” (na terminologia inglesa “hazardous wastes”), regulamentada por
norma;
- Os efeitos do lançamento dos efluentes líquidos na rede pública de esgotos e nas
estações de tratamento de esgotos sanitários, que por sua localização em relação às
industriais e por sua capacidade instalada podem receber este tipo de contribuição.

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COMPONENT NAME

1 * acenaphthene 40 4-chlorophenyl phenyl ether 85 *tetrachloroethylene


2 * acrolein 41 4-bromophenyl phenyl ether 86 *toluene
3 * acrylonitrille 42 bis(2-chloroisopronyl) ether 87 *trichlorethylene
4 * benzene 43 bis(2-chloroethoxy) rethane 88 *vinyl chlgride (chlorethylene)
5 * benzidine *halomethanes (other than those pesticides and metabolites
6 *carbon tetrachloride listed elsewhere) 89 *aldrin
(tetrachloromethene) 44 rethylene chloride (dic hloro- 90 *dieldrin
* chlorinated benzenes other than methane) 91 *chlordane (technical mixture &
dichlorobenzenes) 45 methyl chloride (chloromethane) metabolites)
7 chlorobenzene 46 methyl bromide *DDT and metabolites
8 1, 2, 4-trichlorobenzene (bromomethane) 92 4,4´-DDT
9 hexachlorobenzene 47 bromoform (tribromomethane) 93 4,4´-DDE (p,p´-DDX)
*chlorinated ethanes (including 1,2 48 dichlorobromomethane 94 4,4´-DDD (p,p´- TDE)
dichloroethane, 1,1,1-thrichloro- 49 trichlorofluoromethane *endosulfan and metabolites
ethane and hexachloroethane) 50 dichlorodifluoromethane 95 a-endosulfan-Alpha
10 1,2-dichloroethane 51 chlorodibromometh ane 96 b-endosulfan-Beta
11 1,1,1-trichloroethane 52 *hexachlorobutadiene 97 endosulfan sulfate
12 hexachloroethane 53 *hexachlorocyclopentadiene *endrin and metabolites
13 1,1-dichloroethane 54 *isophorone 98 endrin
14 1,1,2-trichloroethane 55 *naphthalene 99 endrin aldehyde
15 1,1,2,2- tetrachloroethane 56 *nitrobenzene *heptachlor and metabolites
16 chloroethane *nitrophenols (including 2,4- 100 heptachlor
*chloroalkyl ethers (chloromethyl, dinitrophenol and dinitrocresol) 101 heptachlor epoxide
chloroethyl and mixed ethers) 57 2-nitrophenol *hexachlorocyclohexane (all isomers)
17 bis (chloromethyl) ether 58 4-nitrophenol 102 a-BHC-Alpha
18 bis (2-chloroethyl) ether 59 *2,4-dinitrophenol 103 b-BHC- Beta
19 2-chloroethyl vinyl ether (mixed) 60 4,6-dinitro-o-cresol 104 r-BHC (lindane)-Gamma
*chlorinated naphthalene *nitrosamines 105 g-BHC- Delta
20 2-chloronaphthalene 61 N- nitrosodimethylamine *polychlorinated b iphnyls (PCB´s)
*chlorinated phenols (other than 62 N- nitrosodiphenylamine 106 PCB-1242 (Arochlor 1242)
those listed elsewhere: includes 63 N- nitrosodi-n-propylamine 107 PCB-1251 (Arochlor 1254)
trichlorophenols and chlorinated 64 *pentachlorophenol 108 PCB-1221 (Arochlor 1221)
cresols) 65 *phenol 109 PCB-1232 (Arochlor 1232)
21 24,6-trichloroohenol *phthalate esters 110 PCB-1248 (Arochlor 1248)
22 parachlorometa cresol 66 bis(2-ethylhexyl) nhthalate 111 PCB-1260 (Arochlor 1260)
23 *chloroform (trichloromethane) 67 butyl benzyl phthalate 112 PCB-1016 (Arochlor 1016)
24 *2-chlorophenol 68 di-n-butyl ohthalate 113 *toxaphene
*dichlorobenzenes 69 di-n-octyl phthalate 114 *antimony (total)
25 1,2-dichlorobenzene 70 diethyl phthalate 115 *arsenic (total)
26 1,3-dichlorobenzene 71 dimethyl phthalate 116 *asbestos (fibrous)
27 1,4-dichlorobenzene *polynuclear aromatic 117 *beryllium (total)
*dichlorobenzidine hydrocarbons 118 *cadmium (total)
28 3,3- dichlorobenzidine 72 benzo(a)anthracene (1,2- 119 *chromium (total)
*dichloroethylenes (1,1-dichloroeth- benzanthracene) 120 *copper (total)
ylene and 1,2-dichloroethylene) 73 benzo(a)pyrene (3,4- 121 *cyanide (total)
29 1,1-dichloroethylene benzopyrene) 122 *lead (total)
30 1,2-trans -dichloroethylene 74 3,4-benzofluoranthene 123 *mercury (total)
31 *2,4-dichlorophenol 75 benzo(k)fluoranthane (11,12- 124 *nickel (total)
*dishloropropane and dichloro- benzofluoranthene) 125 *selenium (total)
propene 76 crysene 126 *silver (total)
32 1,2-dichloropropane 77 acenaphthylene 127 *thallium (total)
33 1,2-dichloropropylene (1,3- 78 anthracene 128 *zinc (total)
dichloropropene) 79 benzo(qhi)perylene (1,12- 129 **2,3,7,8-tetrachlorodibenzo-p-
34 *2,4-dimethylphenol benzoperylene) dioxin (TCDD)
*dinitrotoluene 80 fluorene
35 2,4-dinitrotoluene 81 phenanthrene
36 2,6-dinitrotoluene 82 dibenzol (a.h)anthracene (1,2,5,6-
37 *1,2-diphenylhydrazine dibenzanthracene)
38 *ethylbenzene 83 indeno (1,2,3-cd) pyrene (2,3-o-
39 *fluoranthene phenylenepyrene)
*haloethers (other than those listed 84 pyrene
elsewhere)
* Secific compounds and chemical classes as listed in the Consent Decree (BERC 2120).
** This compound was specifically listed in the Consent Decree. Because of the extreme toxicity
(TCDD), EPA recommends that laboratories not acquire analytical standard for this compound.

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1.3 TOXICIDADE E TESTES NOS RESÍDUOS LÍQUIDOS (Efluentes Líquidos)

Toxicidade
A toxicidade é uma propriedade inerente do agente químico que produz efeitos
danosos a um organismo quando este é exposto, durante um certo tempo, a determinadas
concentrações.
Concentrações ambientais são aquelas resultantes das contribuições pontuais e não
pontuais, modificadas pelos processos físicos, químicos e biológicos no ambiente.
Estes conceitos relacionados às substâncias químicas, são válidos também para os
efluentes líquidos, e são importantes na medida em que neles se baseia o estabelecimento
dos critérios para controlar o nível de agentes tóxicos em efluentes. (GHERARDI-
GOLDSTEIN,1990).

Toxicidade em Efluentes Líquidos


Os testes toxicológicos realizados em efluentes líquidos visam a determinar os
efeitos deletérios para a comunidade aquática, causado pela emissão de materiais tóxicos,
sem preocupação de identificá-los. Sua utilização como instrumento de controle avalia a
condição de um determinado tipo de água de atender ou não a sua finalidade preponderante
de preservação e proteção das comunidades aquáticas.
Estes testes devem ser aplicados para identificar as fontes responsáveis pela
ocorrência de efeitos tóxicos, ou que apresentem potencial risco de poluição desta natureza
aos recursos hídricos. Portanto, estes testes são aplicados ao controle de poluição hídrica
em sistemas em que os efluentes são direta ou indiretamente lançados corpos d’água de
classes 2 e 3 (Legislação Federal).
Os testes de toxicidade, que avaliam os efeitos causados às espécies-teste,
consistem na exposição dos organismos aquáticos representativos do ambiente à várias
concentrações de uma ou mais substâncias, durante um determinado período de tempo. Até
pouco tempo, estes testes foram denominados de bioensaios, ou ensaios biológicos. estes
testes, quando orientados a um objetivo prático bem definido, podem subsidiar ações de
controle de poluição, estimando os efeitos potenciais de agentes tóxicos a uma determinada
comunidade de seres vivos.
Por meio de estudos de toxicidade, observa-se que nem todos os efeitos verificados
nos organismos vivos podem ser usados como objetivo prático e, por isso, é necessário que
os mesmos tenham significados ecológicos bem definidos.
Usualmente realiza-se estes testes com três organismos pertencentes a diferentes
níveis tróficos do ambiente. Por exemplo: os produtores primários, representados por algas,

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os consumidores primários, representados por microcrustáceos e os consumidores


secundários, representados por alguns peixes, que tem sido espécies utilizadas para o
estado de São Paulo.
Dependendo da sua composição química, alguns efluentes são tóxicos apenas a
peixes, outros a microcrustáceos e outros a ambos os organismos.
Nos efeitos deletérios de um agente tóxico são utilizados os termos “efeito agudo” e
“efeito crônico”.

Ø Efeito Agudo
No caso da determinação da toxicidade aguda, estuda-se o efeito de uma única
dose, em concentração maior.
É uma resposta severa e rápida dos organismos aquáticos a um estímulo que se
manifesta num intervalo de 0 a 96 horas, apresentando efeito letal ou alguma manifestação
que a antecedam. Para avaliação desses efeitos em agentes tóxicos em testes de
toxicidade usa-se geralmente a concentração letal (CL50) ou concentração efetiva (CE50) a
50% dos organismos em testes, que é a resposta mais significativa para ser extrapolada a
uma população.

Ø Efeito Crônico
A determinação da toxicidade crônica envolve pequenas quantidades diárias por um
determinado período de tempo, em geral meses. Neste caso, cita-se o exemplo de uma
literatura americana que calcula que o consumo de 2 litros de água com THM
(trihalometanos - resíduos considerados cancerígenos) durante 40 anos, implica em 70% de
probabilidade de adquirir câncer na bexiga. Após 60 anos, a probabilidade é de 100%.
Quando efluentes líquidos, até mesmo tratados, são lançados continuamente a um
corpo d’água, podem ocorrer efeitos crônicos uma vez que os organismos são expostos a
baixas concentrações do poluente durante longos períodos de tempo.
Uma das referências estudadas classifica os ensaios utilizados na avaliação da
toxicidade em estações de tratamento de águas residuárias em duas categorias, sendo
estas subdivididas segundo os fundamentos dos testes em:
- Testes bioquímicos: testes enzimáticos e ensaios com adenosina Trifosfato
(ATP).
- Testes bacterianos: ensaios de bio-luminesência bacteriana; ensaios baseados
na inibição do crescimento, respiração e viabilidade das células; ensaios de efeitos
biológicos.

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Princípios básicos
A toxicidade de uma substância ou efluente varia com o tempo de exposição e a
concentração do agente tóxico ao organismo vivo.
A confiabilidade do resultado dos testes depende diretamente do controle das
condições adequadas do mesmo, que se baseiam e podem ser agrupadas em fatores
bióticos e abióticos, bem definidos nos métodos padronizados.

Métodos padronizados disponíveis


Os métodos mencionados a seguir, são adotados por instituições estrangeiras
responsáveis pela proteção ambiental e controle da poluição, assim como por instituições
nacionais e internacionais de desenvolvimento e padronização de métodos.
Estes métodos foram testados e aprovados e constituiem-se em normas da
CETESB. Dentre elas a L5-018 já aprovada na ABNT (nº 1:62-05.001).
- L5.018 - teste de toxicidade aguda com Daphnia similis;
- L5.019 – teste de toxicidade aguda com peixes. Parte I – Sistema Estático;
- L5.019 – Parte II – Sistema semi-estático;
- L5.019 – Parte III – Sistema de fluxo contínuo;
- L5.020 – teste de toxicidade com Chlorella vulgaris;
- L5.022 – avaliação da toxidade crônica com Ceriodaphnia dubia;
- L5.227 – bioensaio de toxicidade aguda com Photobacterium phosphoreum –
Sistema microtox;
- L5.228 – teste de toxicidade aguda utilizando Spirillum volutans.

Aplicação dos métodos: escolha dos testes apropriados


Para determinar a toxicidade de um efluente é necessário coletar amostra(s)
representativa(s) dos processos industriais e submetê-las aos testes de toxicidade a nível
agudo e/ou crônico.
Normalmente, o primeiro teste a ser aplicado é com Daphnia similis, com duração de
48 horas, para avaliar a toxicidade aguda por tratar-se de um teste rápido e sendo a espécie
estritamente sensível a uma certa diversidade de poluição.

Aplicação dos resultados dos testes de toxicidade


Os resultados dos testes de toxicidade aguda são expressos em CE50 e/ou CL50 –
concentração efetiva ou letal média, isto é, a concentração do efluente que causa efeito
agudo, por exemplo, imobilidade ou letalidade a 50% dos organismos teste, num
determinado período de exposição.

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10

O controle da toxicidade dos efluentes líquidos deve ser exercido de forma a evitar a
toxicidade crônica nos organismos aquáticos. Determinado o valor de CE50 e/ou CL50, é
possível estimar a toxicidade crônica, expressa em CENO (concentração de efeito não
observado), sendo: CENO = CE50 /10 ou CENO = CL50 /10.
A CENO também pode ser obtida através de testes de toxicidade crônica com 7 dias
de exposição dos microrganismos, experimentalmente. Assim, pode-se verificar o índice que
correlaciona a CE50 e/ou CL50 com a CENO, admitindo em 1/10, conforme recomendações
das bibliografias técnicas. Assim, tanto para a verificação dos impactos que um efluente
líquido causa num corpo receptor, como para que sejam evitados efeitos tóxicos crônicos à
flora e a fauna, deverá ser utilizada a relação: CER ≤ CE50 /10 ou CL50 /10 ou CER ≤ CENO
Onde: CER (conc. do efluente no Rio) = [Vazão efluente x 100] / [Vazão efluente + Vazão mínima do Rio]

Sendo que a vazão mínima do rio a ser adotada é o Q7,10 (vazão mínima anual do rio, média
de 7 dias consecutivos, com probabilidade de retorno de 10 anos). Nos casos onde os
dados históricos de vazão não estão disponíveis, adota-se o método de determinação do
Q7,10, através da pluviosidade na bacia hidrográfica. Por outro lado, para cursos d’água cuja
vazão é influenciada por descargas de represas, deverá ser adotada a vazão mínima de
manejo. Na impossibilidade de obtenção destes dados, deve-se sempre adotar um valor de
vazão mínima, representativa da condição crítica do corpo receptor.
A relação: CER ≤ CE50 /10 ou CL50 /10 ou CER ≤ CENO somente será utilizada
quando forem eliminados 2 fatores de incerteza. O primeiro se refere à variação de
sensibilidade das espécies e o segundo a variabilidade da toxicidade do efluente líquido.
A eliminação dos fatores de incerteza pode ser feita testando-se o efluente com no mínimo 3
espécies de organismos aquáticos e conhecendo-se a toxicidade crítica dos efluentes
líquidos. Ao lado destes estudos, deverá também ser verificada a dispersão dos efluentes
líquidos no corpo receptor, haja visto que o critério exposto considera a mistura completa do
efluente no manancial. Caso estes fatores de incerteza não sejam eliminados, como
também os estudos de dispersão não forem efetuados, deverá ser adotada a seguinte
relação para garantir que não haja efeito tóxico à biota aquática.
CER ≤ CE50 /100 ou CL50 /100 ou CER ≤ CENO/10

Redução de Toxicidade
Alguns estudos têm demonstrado que uma significativa redução da toxicidade de
efluentes brutos pode ser obtida através de tratamentos convencionais. No entanto, mesmo
após tratamento, os efluentes podem apresentar toxicidade remanescente. Neste caso, a
fonte responsável deverá apresentar um Plano de Estudos e Implantação de medidas

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11

Corretivas com cronograma a ser avaliado pelo órgão público responsável, visando a
redução da toxicidade a níveis aceitáveis.
O quadro a seguir mostra Concentração de algumas substâncias tóxicas à vida
aquática comparadas com padrão de emissão especificado no artigo 18 do Decreto 8468 de
08/09/1976 e no Artigo 21 da Resolução CONAMA nº 20 de 18/06/1986. No entanto, ao se
considerar a grande quantidade de substâncias passíveis de serem lançadas no ambiente
aquático por atividades industriais, verifica-se que o número em relação as quais foram
estabelecidos padrões, por meio de legislação, está muito aquém do que seria necessário
para um controle efetivo.

Quadro: Concentração de algumas substâncias tóxicas à vida aquática comparadas com


padrão de emissão
Padrão de emissão
Concentração que causa
Substâncias (mg/L), Artigo 18 Decreto
efeito agudo
8468/76
Alumínio 3,9 -
Bário 410 5
Boro 133 5
Cádmio 0,065 0,2
Chumbo 0,45 0,5
Cianeto 0,10 0,2
Cloreto 1470 -
Cobalto 1,10 -
Cobre 0,009 1
Cromo VI 0,037 0,1
Estanho 55 4
Fenol 62 0,5
Ferro 9,6 15
Fluoreto 128 10
Manganês 9,8 1
Mercúrio 0,01 2
Níquel 2,6 2
Nitrogênio amoniacal 85,1 -
Prata 0,0009 0,02
Selênio 0,43 0,02
Sulfeto 0,02 -
Surfactantes 3 -
Zinco 0,5 5
Compostos orgânicos clorados 0,01 -
Compostos orgânicos não especificados 1 -
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio ambiente.

Testes de Toxicidade
DL50 (Oral, ratos): Dose letal para 50% da população dos ratos testados quando
administrados por via oral.
CL50 (Concentração Letal 50): Concentração de uma substância que, quando administrada
por via respiratória, acarreta a morte de 50% da população exposta.
DL50 (Dérmica, coelhos): Dose letal para 50% da população de coelhos testados quando
administrados em contato com a pele.

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Seleção de Indústrias a serem controladas

A toxicidade de efluentes líquidos pode ser ocasionada por substâncias orgânicas e


inorgânicas, utilizadas nos processos produtivos e auxiliares, nos diversos segmentos das
atividades industriais. Outros fatores, tais como a biodisponibilidade e a interação das várias
substâncias, podem também determinar a ocorrência e a intensidade de um efeito tóxico, ou
seja em efluentes tratados ou não. Outro aspecto a ser considerado é a vazão de
lançamento do efluente, em relação à do corpo receptor, pois é a partir desta relação que se
estabelecerão os níveis de toxicidade aceitáveis para o efluente.
Desta forma, para a seleção das indústrias a serem controladas, os seguintes
aspectos devem ser considerados:
1º) Indústrias cujos efluentes líquidos são lançados continuamente com vazão
significativa em relação ao corpo receptor. Quando o lançamento não for contínuo
(batelada), a seleção das indústrias deverá considerar a vazão média no período de
descarte.

2º) Em função da conhecida complexidade dos efluentes líquidos, as seguintes


atividades industriais devem ser, prioritariamente, selecionadas:
- Química, petroquímica e farmacêutica;
- Celulose e papel;
- Têxtil;
- Curtume;
- Galvanoplastia;
- Plásticos;
- Outras que contenham em seus efluentes líquidos substâncias em quantidades
tóxicas (quadro da página 11).

3º) Indústrias localizadas em áreas de ocorrência de mortandade de peixes ou outros


episódios que indicam possibilidade de efeito tóxico no corpo d’água.

4º) Efluentes de estações de tratamento de Esgotos de sistemas públicos que


promovem o tratamento conjunto de esgotos domésticos e industriais.

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2 NÍVEIS DE TRATAMENTO

2.1 TRATAMENTO: PRELIMINAR, PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO

O tratamento preliminar objetiva apenas a remoção dos sólidos grosseiros, enquanto


o tratamento primário visa a remoção de sólidos sedimentáveis e parte da matéria orgânica.
Em ambos predominam os mecanismos físicos de remoção de poluentes. Já no tratamento
secundário, no qual predominam mecanismos biológicos, o objetivo é principalmente a
remoção de matéria orgânica e eventualmente nutrientes (nitrogênio e fósforo). O
tratamento terciário objetiva a remoção de poluentes específicos (usualmente tóxicos ou
compostos não biodegradáveis) ou ainda, a remoção complementar de poluentes não
suficientemente removidos no tratamento secundário. O tratamento terciário é bastante raro
no Brasil (SPERLING, 1996).

NÍVEL REMOÇÃO
PRELIMINAR Sólidos em suspensão grosseiros (materiais de
maiores dimensões e areia).

PRIMÁRIO Sólidos em Suspensão sedimentáveis;


DBO em suspensão (matéria orgânica componente
dos sólidos em suspensão sedimentáveis).

DBO em suspensão (matéria orgânica em suspensão


SECUNDÁRIO fina, não removida no tratamento primário;
DBO solúvel (matéria orgânica na forma de sólidos
dissolvidos).

TERCIÁRIO Nutrientes;
Patogênicos;
Compostos não biodegradáveis;
Metais pesados;
Sólidos Inorgânicos dissolvidos;
Sólidos em Suspensão remanescentes.
Fonte: SPELING, 1996.

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2.2 TRATAMENTO TERCIÁRIO OU AVANÇADO

2.2.1 Adsorção em Carvão Ativado e Outras Substâncias Adsorventes

Transferência física de um soluto de uma solução gasosa ou líquida para uma


superfície sólida onde ele fica retido em razão das interações microscópicas com as
partículas do sólido (microporos e/ou sítios ativos), por afinidade química ou por forças de
atração superficiais intermoleculares (força de Vander Walls e Pontes de Hidrogênio).
As forças de adsorção variam consideravelmente com a natureza da superfície e das
moléculas e a intensidade da força é base da subdivisão entre adsorção química e física.

Adsorção Química
Na adsorção química há reação química entre as moléculas adsorvidas e as da
superfície sólida, geralmente irreversível. O que não é economicamente praticável, uma vez
que os adsorventes são utilizados uma única vez ou é requerida muita energia para
regeneração.

Adsorção Física
É o resultado de forças intermoleculares entre o sólido e a substância adsorvida. Na
adsorção física por sua vez, é a mais utilizada por não apresentar os problemas levantados
anteriormente, sendo conseqüentemente muito mais fácil à regeneração do adsorvente.
Existem substâncias que agem como adsorventes, fixando em sua superfície outras
substâncias que produzem gosto, odor e matéria orgânica dissolvida. Entre as substâncias
adsorventes citamos a turfa, cinza, areia, carvão vegetal, casca de extração de tanino,
flocos de hidróxido férrico, permutadores iônicos granulados (usado na remoção de
detergentes não biodegradáveis).
Os materiais adsorventes devem apresentar:
• Grandes áreas superficiais →· altas taxas de remoção;
• Ser altamente poroso → a substância adsorvida penetra nestes interstícios.

Os adsorventes mais usados industrialmente são: Carvão ativado; alumina ativada;


sílica gel e peneiras moleculares.
O carvão ativado é uma substância adsorvente, possuindo uma elevada área
superficial muito porosa, com grande vantagem de possibilidade de poder de regenerar, ou
seja, é possível reativar seu poder de adsorção. Além de remover as substâncias citadas

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acima, remove também cor (característica física, devido à existência de matéria dissolvida),
fenóis (50 Kg de carbono para cada 5 a 12 Kg de fenóis), nutrientes (fosfatos, nitratos),
sólidos em suspensão, matéria orgânica não biodegradável, etc... Os processos de gosto e
odor são utilizados no tratamento de água potável.
Lora (2000), cita os seguintes compostos que apresentam boa adsortividade no
carvão ativado:
- Solventes orgânicos: solventes clorados (tricloroetileno) e solventes aromáticos
(tolueno);
- Compostos de alto peso molecular: aromáticos polinucleados, aminas e
surfactantes de alto peso molecular;
- Metais pesados (esta aplicação tem sido demonstrada em escala piloto e
industrial. Porém, existem poucos dados sobre a eficiência deste processo).
Compostos solúveis em água, tais como álcoois e aldeídos apresentam baixa
adsortividade.

O carvão ativado pode ser utilizado em duas formas:


Pulverizado: geralmente adicionado a uma corrente, e logo removido por filtração;
pode também ser adicionado durante o processo de lodo ativado (objetivando minimizar a
interferência de substâncias tóxicas neste processo).
Em forma granular: geralmente disposto num leito fixo tipo downflow.
Nunes (2001), cita que o tempo de contato no leito deve ser de 15 a 40 minutos,
sendo o efluente anteriormente filtrado. O leito deve ser periodicamente lavado para
desobstrução.
A figura abaixo demonstra um leito de carvão ativado.

Fonte: JOSÉ ANTUNES ALVES, 2001.

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Ampliações da superfície de contato do carvão ativado

Aplicações da Adsorção com Carvão ativado


A adsorção em carvão ativado é usada onde se requer tratamento em alto grau. É
indicado para sistemas de qualquer porte, tratando toda ou parte da vazão. Seu uso tem
sido adotado em diversas fases do tratamento. Como após o tratamento biológico para
remoção de matéria orgânica, ou após tratamento físico-químico por coagulação, floculação,
sedimentação e filtração, que remove o material que poderia obstruir seus poros. Esse
último arranjo é particularmente indicado para remoção de poluição industrial, inibidora do
tratamento biológico.

2.2.2 Tecnologias de Membranas

É o nome genérico dado a todos os processos de filtração. Dependendo da


espessura dos poros usados no processo esta tecnologia é categorizada como ultrafiltração,
osmose reversa ou inversa, nanofiltração.
§ Filtragem micrónica (microfiltração): aquela que retém partículas de dimensão
entre 0,1 e 1 mícron.
§ Ultrafiltragem (ultrafiltração): retenção de partículas de 0,01 a 0,1 mícron.
§ Nanofiltragem (nanofiltração): retenção de partículas de 0,1 a 0,001 mícron.
§ Osmose reversa: retenção de partículas de dimensão inferior a 0,01 mícron.

Sendo que abaixo de 40 mícron não distinguimos partículas a olho nu.


Pelo citado acima, o processo de osmose inversa ou reversa representa o grau mais
fino de filtragem de um líquido conseguido até hoje.

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Pode-se observar na figura abaixo, as dimensões das partículas retidas nos


processos de microfiltração, ultrafiltração e osmose inversa.

FONTE: http:// www.peq.coppe.ufrj.br/areas/pam/old

A tecnologia de membranas é utilizada em diferentes ramos da indústria para


separação seletiva de diferentes compostos de um efluente. O filtrado obtido é cristalino
sem o uso de produtos químicos.Podem envolver gradiente de temperatura e pressão.

Membranas – apresentam grande variedade de:


- Textura: densas ou porosas;
- Origens: naturais ou artificiais;
- Composições: orgânicas ou inorgânicas;
- Estruturas: homogêneas ou assimétricas;
- Formas: plana, tubular, espiral.

Vantagens da separação por Membranas (MANCUSO, 2003):


- Processo geralmente realizado à temperatura ambiente, preservando os
compostos de alterações ou degradações;
- Fracionamento sem mudança de fase, muito econômica energeticamente;
- Processo físico, não há necessidade de aditivos químicos;

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- Permite instalação modulável;


- Não há necessidade de regeneração: a separação ocorre sem acumulação de
impurezas no interior da membrana.

Aplicações (Meio ambiente):


- Clarificação de águas naturais e de processos de (Microfiltração tangencial);
- Extração de partículas metálicas (Microfiltração tangencial);
- Tratamento e reciclagem das águas de lixiviação (Microfiltração tangencial,
Ultrafiltração);
- Tratamento de efluentes oleosos (Ultrafiltração );
- Dessalinização de águas (Osmose Inversa ou Reversa), entre outros.

O quadro a seguir mostra os compostos possíveis de separar em um efluente com


diferentes tipos de membranas:

Operações Industriais Tecnologias Tecnologia de Membrana


Selecionadas Convencionais

Lavagem de peças de Trat. químico, separadores Ultrafiltragem (UF),


caminhões água/óleo, evaporação,
Microfiltragem (MF)
flotação por ar dissolvido.

Concentração de alimentos/ Evaporação, centrifugação, Ultrafiltragem (UF),


cristalização
Purificação de açúcar Osmose Inversa (OI)

Recuperação de Metais Troca iônica Ultrafiltragem (UF),


Microfiltragem (MF)

Suavizamento da água Eletrodiálise inversa, cal, Nanofiltragem (NF)


troca iônica

Tratamento das águas salobras Eletrodiálise inversa e troca Osmose Inversa (OI)
iônica

Dessalinização da água do mar Evaporação, cristalização Osmose Inversa (OI)

Fonte: DIETRICH, 1995 apud LORA, 2000

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A figura abaixo demonstra a utilização de tecnologia de membranas (Microfiltração) e


o processo de lavagem reversa da membrana.

Fonte: ELECTRO EDUARDO SILVA LORA, 2000.

2.2.2.1 Osmose Inversa ou Reversa

A osmose inversa foi desenvolvida a partir da descoberta, há mais de 200 anos, de


que materiais naturais como parede celular de vegetais, apresentam permeabilidade à água,
mas não permitem passagem de materiais nela dissolvidos.
Inicialmente a osmose inversa foi empregada com o objetivo de dessanilizar água do
mar. Entre os anos 60 e 70 esta tecnologia começou a ser usada na indústria de alimentos,
sendo a indústria leiteira a pioneira.
Através de um processo que usa uma pressão superior à pressão osmótica, a água
atravessa uma membrana semipermeável, passando de uma solução de baixa
concentração de sal, esta membrana é uma barreira semipermeável composta de
polímeros, por exemplo, acetato de celulose ou poliamida.
A Osmose Inversa é um processo de fracionamento completo, utilizado para
tratamento de água que permite remover a maioria dos contaminantes orgânicos e até 99%
de todos os íons. Remove ainda, até 99,9%, os vírus, as bactérias e colóides, usando uma
pressão superior à pressão osmótica para forçar a passagem de água através da
membrana semipermeável no sentido inverso ao da osmose natural. A pressão osmótica é a

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diferença de pressão e de energia do potencial que existe entre duas soluções, em um outro
lado de uma membrana semipermeável, devido à tendência da água a fluir por osmose.
O processo de osmose reversa ao contrario da filtração convencional, em que os
contaminantes ficam retidos dentro ou na superfície do filtro, o soluto e os sólidos são
eliminados pelo fluxo transversal do rejeito. A porcentagem de água de alimentação que é
permeada, recebe denominação de taxa de recuperação, que dependerá do sistema
utilizado. O processo pode ser observado na figura abaixo.

SOLUÇÃO

Fonte: MACÊDO, Jorge Antônio Barros (2001).

É um processo já bastante utilizado para:


- Reciclagem e recuperação de água;
- Desmineralização e deionização;
- Potabilização e dessalinização (águas salobras);
- Preparação de água de processo;
- Preparação de água ultrapura;
- Tratamento de efluentes (recobrimentos metálicos);
- Fracionamento de soro de fabricação de queijo, além de outras aplicações.

Quando dois fluidos de diferentes concentrações iônicas são separados por uma
membrana semipermeável que permite a água, mas não os íons a passar, a água escoa da
solução diluída para o interior da solução concentrada, equalizando a concentração iônica.
Quando o equilíbrio é alcançado, a diferença de pressão entre as duas câmaras separadas
pela membrana é chamada de pressão osmótica. Caso uma pressão hidráulica, superior à
pressão osmótica, seja aplicada sobre a solução concentrada, então o fluxo é invertido e a
água escoa da solução concentrada para a diluída. Os solutos são assim separados dos
seus solventes.

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Normalmente uma unidade de filtragem de filtragem por osmose inversa, é composta


por um pré-filtro de partículas finas (para proteção de membrana) e pode ainda ter um
terceiro corpo com um cartucho de carvão ativado para retenção de ozônio e cloro.

2.2.2.2 Nanofiltração (NF)

Também chamada de osmose reversa de baixa pressão ou abrandamento por


membranas, situa-se entre a osmose reversa e a ultrafiltração, em termos de seletividade. É
especialmente indicada para o abrandamento de água, na remoção de íons multivalentes
(cálcio e magnésio) e, mais recentemente, no controle de substâncias orgânicas presentes
na água.
Na NF, os íons monovalentes são fracamente rejeitados pelas membranas, o que
explica a contrapressão osmótica inferior àquela presente na OR. Como conseqüência, as
pressões usadas em NF são bastante inferiores às usadas em OR: tipicamente entre 5 e 15
Kg/cm2.

2.2.2.3 Ultrafiltração (UF)

Alguns autores referem-se à UF como uma “operação de clarificação e desinfecção


por membrana”, meios porosos que permitem a rejeição de solutos maiores –
macromoléculas – e de vários tipos de microrganismos, como vírus e bactérias.
Como solutos com baixos pesos moleculares não são retidos, a pressão osmótica
não é um fator importante, trabalhando com baixas pressões operacionais: 0,5 a 5,0 Kg/cm2.

2.2.2.4 Microfiltração (MF)

A maior diferença entre a UF e a MF é o tamanho dos poros que, neste última, é da


ordem de 0,1 mm. Com relação às pressões operacionais, são equivalentes às da UF. A
principal aplicação para essa operação é na remoção de material particulado, ou seja, na
clarificação.

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2.2.3 Eletrodiálise

MACEDO, 2000, descreve a eletrólise como o efeito que se consegue quando uma
corrente elétrica contínua passa por uma solução salina e numa sucessão de membranas
trocadoras de cátions e ânions, alternadamente colocadas.
Para NUNES, 2001, a eletrodiálise é um processo de separação em que a solução é
submetida a um potencial elétrico por dois eletrodos, ocasionando uma corrente elétrica de
cátions para o eletrodo negativo (cátodo) e de ânions para o eletrodo positivo (ânodo). No
interior da célula de eletrodiálise, há membranas seletivas de um só tipo de ânions, existindo
membranas permeáveis e cátions somente, e permeáveis a ânions somente, como mostra a
figura a seguir.

Fonte: JOSÉ ALVES NUNES, 2001.

As membranas não deixam atravessar os íons de sinais iguais aos delas, ou seja,
ânions não atravessam as negativas e cátions não atravessam as positivas. A eficiência de
remoção dos sais dissolvidos aumenta com o número de membranas instaladas e células
em série.
A alimentação com a solução se dá nos compartimentos centrais, excluídos os
compartimentos dos eletrodos e a saída pelo lado oposto à entrada nos compartimentos de
solução diluída, seguindo a célula subseqüente.
A eletrodiálise é utilizada na dessalinização e desminaralização de águas. Segundo
Ramalho (1991), é um método prometedor na eliminação de nutrientes inorgânicos de
águas residuárias como fósforo e nitrogênio.
Para evitar problemas de obstrução das membranas, é necessário pré-tratamento,
devendo ser removidos sólidos em suspensão. A obstrução acarreta também redução da

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corrente elétrica, aumentando a resistência e, conseqüentemente, menor eficiência do


equipamento. Periodicamente, é necessário efetuar limpeza das membranas, retirando o
sistema de operação.

2.2.4 Troca Iônica

Os íons contidos nas águas residuárias como fosfatos, nitratos, sais minerais dissolvidos
(cloretos, por exemplo), amônia NH4+, cobre Cu+2, zinco Zn +2, níquel Ni+2, podem ser
separados das águas residuárias por processos de troca iônica. O íon amônia geralmente é
encontrado nos sistemas biológicos de tratamento, provenientes da decomposição da
matéria orgânica nitrogenada (pH em torno de 6,5), enquanto os outros íons (CrO4-2, Cu+2,
Zn +2, Ni+2 , etc.) são encontrados em efluentes de acabamento de metais.
O processo consiste na fixação, em uma superfície sólida (fase estacionária), de
íons, que se trocam por íons da solução de outra espécie (fase móvel) NUNES (2001).
Atualmente são utilizadas resinas sintéticas, existindo dois tipos de trocadores que
são: Trocadores Catiônicos e os Trocadores Aniônicos.

Trocadores Catiônicos
São capazes de reter cátions da solução, permutando-os por íons de sódio ou de
hidrogênio.
Na2R + M+2 MR + 2 Na+ (com íon de sódio)
H2R + M+2 MR + 2 H+ (com íon hidrogênio)
Em que:
R = é a resina;
M+2 = são os cátions (Cu+2, Zn +2, Ni+2 , etc.) retidos da solução.

Trocadores Aniônicos
São capazes de reter ânions da solução, permutando-os por íons oxidrila.
R(OH) 2 + A-2 RA + 2 OH
Em que:
R = é a resina;
A-2 = são os ânios (SO 4-2, CrO4-2 , etc.) retidos da solução.

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Regeneração das Resinas


As resinas quando perdem sua capacidade de troca, podem ser regeneradas. No
caso de trocadores catiônicos, antes se faz a lavagem da coluna em contracorrente para
retirar os sólidos, e logo após, com uma solução de cloreto de sódio NaCl, se for utilizado o
ciclo do sódio; ou com uma solução de ácido sulfúrico ou de ácido clorídrico, ser for utilizado
o ciclo do hidrogênio. Já para trocadores aniônicos, antes se faz a lavagem da coluna em
contra corrente para retirar os sólidos, após se faz à lavagem da coluna com uma solução
de hidróxido de sódio ou hidróxido de amônio.
Do processo de regeneração, gera um pequeno volume de líquido com alta
concentração de contaminantes que pode ser recuperada. Caso não seja possível sua
recuperação, o mesmo deverá ser disposto adequadamente como resíduo perigoso.
Quando na solução são encontrados cátions e ânions, se utilizam trocadores em
série.
A figura abaixo demonstra um diagrama de um esquema de troca iônica, com uma
torre catiônica e outra aniônica, aplicada para desmineralização da água.

Fonte: SANTOS FILHO (1985), apud MACÊDO (2001).

Como demonstra o esquema apresentado acima, em geral passa-se primeiro a água


pelas resinas catiônicas, em função de sua resistência química e física, elas funcionam
como um filtro que protege as resinas aniônicas. Porém pode-se passar apenas por resinas
aniônicas ou só por catiônicas, o esquema abaixo mostra a utilização de resinas catiônicas

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para abrandamento de água.


Fonte: Adaptado de SHREVE e BRINK Jr; SANTOS FILHO (1985), apud MACÊDO (2001).

Aplicações
Segundo NUNES (2001), no processo de galvanoplastia, a troca iônica poderá ser
empregada com vantagens econômicas, quando há recuperação e reuso.

2.2.5 Oxidação

2.2.5.1 Oxidação Química

Embora como oxidação entenda-se fundamentalmente a oxidação química, é preciso


reconhecer que este é um conceito muito mais amplo, sendo que o tratamento biológico e a
incineração também constituem tecnologias baseadas nos processos de oxidação.
O objetivo da oxidação é obter produtos finais ou intermediários de mais fácil bio-
degradação, ou removíveis por adsorção.
De acordo com LORA (2000), são muitos os oxidantes químicos conhecidos. Os
mais utilizados em processos de tratamento de efluentes por oxidação são:
§ Oxigênio: seu baixo custo de operação faz a oxidação por oxigênio uma opção
atrativa em algumas aplicações. Um exemplo é a chamada Wet Oxidation (oxidação
por ar úmido) ou hidroxidação à pressão;
§ Cloro: é um oxidante forte e econômico. Ás vezes requer doses consideráveis.
Pode formar compostos organoclorados indesejáveis como subproduto;
§ Permanganato de Potássio: oxidante forte, mas muito caro;
§ Ozônio;
§ Peróxido de Hidrogênio: é considerado um oxidante de propósito geral.
O tratamento efetivo com H2O2 requer freqüentemente um ativador, como é o caso
de um catalisador à base de ferro (reativo Fenton), luz ultravioleta ou ozônio.

Na prática industrial os poluentes de possível remoção por oxidação são:


- Ferro (provoca a coloração na água);
- Manganês (potencialmente tóxico);
- Cianetos (altamente tóxicos);
- Orgânicos refratários (pesticidas).

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Ozonização

A ozonização é amplamente usada na Europa, nos processos de desinfecção de


água potável. Atualmente seu uso, em tratamento de esgoto, vem aumentando rapidamente,
existindo somente neste continente cerca de 1000 instalações (CULP, 1980 apud
MANCUSO, 2003)
O ozônio (O 3) é um gás produzido por meio de ruptura na molécula de oxigênio,
formando dois fragmentos, oxigênio atômico, que podem se combinar a outras moléculas
também de oxigênio. Esta quebra pode ocorrer devido à passagem do oxigênio molecular
em altas descargas elétricas, ou em altas radiações, que se decompõe rapidamente no ar,
formando intermediários que, quando oxidados, são potentes agentes bactericidas.
O2 D 2 [O] + 2 O2 D 2 O3
A propriedade bactericida do ozônio foi observada pela primeira vez em 1891,
através da destruição de microrganismos em água.
Sob o aspecto toxicológico ressalta-se:
- Concentrações acima de 0,3mg/L provocam efeitos tóxicos ao trato respiratório e à
mucosa ocular;
- Concentrações acima de 1 mg/L possuem toxicidade, podendo levar ao edema
pulmonar.

Vantagens do uso do Ozônio:


- Redução de problemas complexos de sabor, odor e cor;
- É um poderoso oxidante com atuação rápida sobre a matéria orgânica;
- Ação rápida sobre bactérias;
- A não existência de riscos à saúde humana em casos de doses excessivas;
- Não forma trihalometanos.

Desvantagens do uso do Ozônio:


- É um gás venenoso, que não apresenta odor nem cor perceptível. A concentração
máxima permissível (CMP) desse gás na atmosfera é de 0,1 mg/m3. Logo, necessita de
mão de obra especializada para sua manipulação (MACÊDO, 2001).
- Não existem técnicas analíticas suficientemente específicas ou sensíveis para o
controle de residual de forma imediata e eficiente após sua aplicação;

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- Não apresenta ação sanificante posterior;


- Os custos operacionais, onde se incluem energia elétrica, instalação e operação
são altos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda o uso de ozônio em águas


que contém brometos. Estes se oxidam para bromatos e são considerados carcinogênicos e
genotóxicos, conforme dados de pesquisas realizadas por Bull e Kofler, em 1991 (GRAY,
1994) apud MACÊDO, 2001.
Em sistemas de reuso, a utilização do ozônio é indicada em aplicações onde são
desejáveis altos níveis de desinfecção, incluindo a destruição de vírus cloro resistentes e
cistos. Também é onde se deseja controlar a formação de compostos organoclorados
(MANCUSO, 2003).

Derivados Clorados

A hidrólise dos principais derivados clorados é representada pelas equações (a), (b),
(c) e (d) (MACÊCO, 2001).

(a) Cl2 + H2O D HClO + HCl


Gás cloro

(b) NaClO + H2O D Na+ + ClO - + H2O


Hipoclorito de sódio

Na+ + ClO - + H+ + OH- D HClO + NaOH

(c) Ca(ClO)2 + H2O D Ca+2 + 2ClO - + H2O


Hipoclorito de cálcio

Ca+2 + 2ClO - + 2H+ + 2OH- D 2HClO + Ca(OH) 2

(d) = N - Cl + H2O D HClO + = N - H


Dicloroisocianurato
de sódio

A ação oxidante e sanificante são controladas pelo ácido hipocloroso (HClO), que é
um produto da hidrólise da substância clorada, como demonstrado nas equações acima.

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O dióxido de cloro (ClO 2) é derivado clorado que não hidrolisa em solução aquosa,
sendo que sua ação sanificante é associada somente a sua molécula (TCHOBANOGLOUS
e BURTON, 1991; TARQUINI e RITTMANN, 1992; RITTMANN, 1997; AMBERGER E
BAUMGÄRTNER, 1995) apud MACÊDO,2001.

As equações (e) e (f) apresentam as reações de obtenção do ClO 2.


(e) 2NaClO 2 + Cl2 D 2ClO2 + 2NaCl
Clorito de sódio gás

(e) 2NaClO 2 + HClO D 2ClO2 + NaCl + NaOH


Clorito de sódio gás

O ácido hipocloroso é um ácido fraco, cuja constante de dissociação (pKa), a 30ºC é


3,18x10- 8 e que em solução aquosa se dissocia para formar o íon hidrogênio e o íon
hipoclorito.
HClO D ClO - + H+
Portanto, os compostos clorados são mais efetivos em valores de pH baixos quando
a presença de ácido hipocloroso é dominante.

A figura a seguir mostra as porcentagens de ácido hipocloroso em água em função


do pH à 20ºC (TCHOBANOGLOUS e BURTON, 1991; RITTMANN, 1997; McPHERSON,
1993) apud MACÊDO,2001.

Fonte: MSPHERSON,1993 apud MACÊDO,2001.

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Existe basicamente três métodos de aplicação de cloro: a cloração simples, a amônia


cloração e a cloração “break-point”.
- Cloração simples: não existe a preocupação de satisfazer a demanda,
simplesmente aplica-se o derivado clorado, que ao fim de determinado tempo de contato
residual esteja entre 0,1 e 0,2 mg/L, que é considerado suficiente para garantia da qualidade
microbiológica da água (RICHTER E AZEVEDO NETTO, 1991).
- Amônia cloração: corresponde à adição de amônia e do derivado clorado
simultaneamente. É o processo utilizado em água que contém matéria orgânica na forma de
fenóis, evitando a formação de chamados clorofenóis, que são responsáveis por odores e
sabores (RICHTER E AZEVEDO NETTO, 1991; SANTOS FILHO, 1985).
- Break-point: ocorre sob condições controlada, adicionando cloro até que a
demanda seja satisfeita. O cloro continua a ser adicionado até que os compostos cloro-
nitrogenados (cloraminas) também sejam oxidados, pois estes compostos são os
responsáveis por sabor e odor característicos dos derivados clorados.
O ponto em que o cloro adicionado libera somente HClO e ClO - , com a finalidade
somente de desinfecção, ‘e denominado ponto de quebra ou “break-point”.
O processo de desinfecção com a cloração ao “break-point” pode ser aplicado na
pré-cloração, ou na pós-cloração. Na pré-cloração a adição do derivado clorado faz-se antes
de qualquer tratamento, ou seja, logo após a captação da água do manancial. Na pós-
cloração o derivado clorado é aplicado após o processo de filtração, neste caso o consumo
de cloro é menor, pois grande quantidade de matéria orgânica é retida pelo processo de
clarificação (sedimentação com agentes floculantes), reduzindo a demanda de cloro.

A figura a seguir demonstra a cloração acima do ponto de quebra.

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2.2.5.2 Oxidação Física

Um dos processos físicos de oxidação é a utilização da radiação ultravioleta, esta


possui tanto a função de oxidação da matéria orgânica como a de desinfecção, essas
funções são definidas de acordo com o comprimento de onda utilizado.

Oxidação por Ultra – Violeta (UV)

A fonte UV, emite luz em comprimento de onda igual a 185 nm. Tem a finalidade de
transformar TOC (Compostos Orgânicos Totais) em gás carbônico; o processo se
caracteriza pela alta eficiência quando empregado em águas que possuem menos de 5 ppb
(parte por bilhão) de TOC.
O processo é utilizado como pós-tratamento, não tem função de remover sólidos
ionizados dissolvidos, gases ionizados dissolvidos, nem material particulado em suspensão.

Desinfecção por Ultra – Violeta (UV)

O processo físico de desinfecção por UV é capaz de inativar quase todos os


microrganismos encontrados na água, principalmente bactérias coliformes. Sua utilização é
recente, sendo questionada, pois atua somente a nível superficial, sua eficiência decresce
com o tempo de utilização da lâmpada e pela não manutenção de residual, o que permite
futuras recontaminações da água. Outro fator que impede sua maior utilização é o custo,
que atualmente esta muito acima do cloro e do ozônio, ressalta-se que, o UV não forma
trihalometanos (BLATCHLEY III, e XIE, 1995; BLATCHLEY III, BASTIAN, DUGIRALA, et. al.,
1996; KUO e SMITH, 1996) apud MACÊDO (2001).
Para o processo de desinfecção a fonte de UV deve emitir luz com comprimento de
onda igual a 254 nm. O processo de desinfecção por UV, deve levar em consideração a
intensidade da luz que é relacionada com a vida útil da lâmpada, à distância da lâmpada ao
local de desinfecção, o tempo de desinfecção e a vazão da água (quantidade de água a
sofrer o processo de desinfecção).

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3 DIMENSIONAMENTO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE EFLUENTES E


SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS (Industrias de Diversas Naturezas)

Os processos industriais são os principais responsáveis pela contaminação das


águas, quando lançam efluentes sem tratamento aos cursos naturais, produzindo uma série
de danos ao meio ambiente e ao homem. Aliás, muitos destes efluentes estão a
temperaturas elevadas, causando o que vem sendo chamado de “poluição térmica” , isto é,
provocando variações de temperatura de água, cujos efeitos não são resistidos por alguns
dos peixes ou organismos que aí vivem, provocando uma corrente de mortes.
Entre os principais despejos industriais que precisam de atenção para evitar a
contaminação ou poluição das águas, estão os de laticínios, de lavanderias, de tinturarias,
de cervejarias e destilarias, de curtumes, de indústrias têxteis, metalúrgicas e siderúrgicas,
de fábricas de papel e celulose, de tintas e vernizes, de refinações de cereais, de
matadouros e frigoríficos, de fábricas de conservas e outros compostos orgânicos. A tabela
a seguir mostra a variação da vazão e características dos efluentes de algumas destas
indústrias.

Variação da vazão e características dos efluentes de algumas indústrias representativas.


3 3 Sólidos em suspensão
Vazão, m /Unid.Prod. DBO, m /Unid. Prod. 3/
m /Unid.Prod.
Resíduos %de freqüência %de freqüência
%de freqüência
10 50 90 10 50 90 10 50 90
1
Papelão 28,35 41,6 103,9 4,53 12,71 20,87 11,34 21,78 29,95

Papel e
1
41,61 162,5 279,7 7,71 26,3 49,9 11,8 47,64 181,51
celulose
2
Matadouros 0,62 3,02 16,25 1,72 5,90 19,96 1,36 4,44 14,06
3
Cerveja 0,49 1,39 2,27 0,36 0,91 19,96 0,11 0,54 1,11
4 * * * * * *
Curtume 0,016 0,034 0,051 260,92 442,43 635,30 272,27 862,18 1452,11
FONTE: Adaptado de ECKENFELDER, 1989.
Observação: 1 – Toneladas de papel produzido; 2 – 1000 libras de peso vivo; 3 – Bilhão de litros de
-1
cerveja; 4 – Libras de couro; * - como mg.L

Os métodos de tratamento destas águas incluem métodos estatísticos, aplicáveis a


operações industriais que produzem resíduos líquidos de matéria descontínua e em
quantidades variáveis, e os métodos, dinâmicos, ou contínuos, nos quais os despejos vão
sendo tratados à medida que vão sendo produzidos. O tratamento consiste em se

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neutralizar, através de processos físicos, químicos ou biológicos, os possíveis efeitos


nocivos sobre as águas em que os despejos serão lançados.
Em geral, a segregação dos efluentes de uma indústria é realizada nas seguintes
linhas fundamentais:
- Águas pluviais (contaminada e não contaminadas);
- Águas servidas de utilidades;
- Esgotos sanitários;
- Despejos ou efluentes líquidos (águas de rejeito de processo).

Tratamento dos Despejos Industriais

Uma estação de tratamento de efluentes tem por objetivo reduzir a carga poluidora
ou baixar a carga contaminante a um nível compatível com o corpo receptor, ou seja, os
efluentes tratados não irão provocar degradação do meio ambiente e nem riscos à saúde
humana, ou à vida animal e vegetal.
A finalidade do tratamento de esgotos é, portanto, proteger o corpo receptor dos
efeitos da poluição. Tal proteção deve ser feita pelas seguintes razões:
§ Razões de saúde pública: para evitar que a população das regiões a jusante
adquira doenças de veiculação hídrica, seja por contaminação direta ou indireta.
§ Razões ecológicas: para manter, no corpo receptor, condições favoráveis à vida
animal e vegetal, evitando a degradação do meio ambiente.
§ Razões econômicas : como a água é utilizada em várias atividades econômicas,
um grau de poluição elevado pode torná-la imprestável para certos usos, ou exigir um
tratamento de água muito caro.
§ Razões estéticas: prejuízos para turismo, mau aspecto, mau cheiro, presença de
materiais flutuantes.
§ Razões legais: as comunidades e proprietários de terras a jusante têm direitos
legais ao uso da água em estado natural; por isso existem padrões de qualidade de água e
lançamento de efluentes estipulados por autoridades sanitárias.
§ Razões individuais: as empresas ou instituições devem, necessariamente, atender
à legislação e promover melhoria contínua de seus processos, se desejarem se enquadrar
nas normas NBR/ISO 14001.

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3.1 INDUSTRIAS DE LATICÍNIOS

3.1.1 Constituintes presentes no Efluente

- Substâncias orgânicas associadas ao leite (Gorduras, proteínas, carboidratos, ...)


- Detergentes e desinfetantes usados nas operações de lavagem e sanitização;
- Areia, poeira removidas nas operações de lavagem de pisos e latões de leite;
- Lubrificantes empregados em determinados equipamentos.
Pode ainda dependendo do processo, estar presentes ingredientes como açúcar,
pedaços de frutas, essências, condimentos diversos, subprodutos como produção do soro
(produção de queijos) e leitelho (produção de manteiga).

3.3.2 Características dos Efluentes de Laticínios

Apresentam grande variação de vazão, carga, composição, temperatura, pH e alta


demanda de oxigênio inicial, como demonstra a tabela abaixo.
VALORES EM mg/L
AUTOR PRODUTOS DBO DQO SST SSV NTK OG PH

Wilson e Queijo, leite em


Murphy pó e creme 1900 3390 850 760 130 290 6-7
(1986)
Cocci et al. Queijo, sorvete,
(1991) creme e iogurte 4800 12000 400 - - - 4 - 12

Ozturk et Leite
al. (1993) pasteurizado, 500 - 950 - 90 - - 7 - 85 110 - 5 - 9,5
iogurte, queijo e 1300 2400 450 260
manteiga.
Kasapgil et Leite
al. (1994) pasteurizado e 1200 - 2000 - 350 - 330 - 50 - 60 300 - 8 - 11
creme. 4000 6000 1000 940 500
Monroy et.
al. (1995) Queijo 3000 4430 1110 - - - 7,3

Fonte: 20º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental,1999.

3.3.3 Sistemas de Tratamento de Despejos de Laticínios

O tratamento dispensado às águas residuárias de indústrias de laticínio é, em sua


grande maioria, do tipo biológico. Este tipo de tratamento é o normalmente usado em virtude

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da grande quantidade de matéria orgânica facilmente biodegradável, presente em sua


composição.
Os processos biológicos são caracterizados de acordo com a maneira como se dá o
contato da matéria orgânica com a microflora e a presença ou ausência de oxigênio
molecular. Os processos aeróbios são universalmente usados para o tratamento de
despejos de laticínios. Os sistemas mais utilizados neste tipo de tratamento são:
- Lodos ativados;
- Filtros biológicos;
São também referidos em literatura os seguintes métodos de tratamento e
disposição:
- Lagoas de estabilização tanto facultativas como aeradas;
- Valos de oxidação;
- Disposição sobre o terreno, irrigação por aspersão;
- Digestão anaeóbia;
- Exportação de despejos.
Algumas operações preliminares são também citadas:
- Gradeamento;
- Equalização de vazões;
- Remoção de óleos e gordura;
- Tratamento químico;
- Sedimentação primária.
O método de tratamento a ser empregado por qualquer indústria dependerá de
diversos fatores, entre eles o volume e a carga do despejo, o tamanho da unidade industrial,
sua localização e o tipo de produtos produzidos, existência ou não de estação de tratamento
dos esgotos domésticos da municipalidade, da legislação local e estadual e,
finalmente,razões econômicas limitantes.

Pré-tratamento e tratamento primário


Tais tratamentos dependem essencialmente das características tanto dos despejos
como do sistema de tratamento biológico a ser adotado. Sua função é minimizar o efeitos de
cargas de choque em estações tipo lodos ativados e filtros biológicos.
O processo de gradeamento é empregado para remoção de coágulos de leite em
fábricas de queijo,sendo a equalização de vazões empregada especialmente em indústrias
de laticínios onde o período de trabalho é curto, ou onde os despejos são intermitentes.

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Fábricas que empregam soluções alcalinas fortes, uma vez ao dia, na limpeza dos
equipamentos, podem utiliza-las para manter o pH do despejo dentro de uma faixa desejada
e que não interfira no tratamento biológico. O processo de sedimentação é normalmente
usado para a remoção dos sólidos suspensos,existindo referências para dimensioamento de
decantadores, principalmente secundários, com um tempo de detenção substancialmente
maior do que o empregado nos decantadores convencionais (em decorrência da formação
de flocos biológicos leves).
Os óleos e gorduras, removidos, em geral, pelas caixas de gordura ou equipamentos
de flotação mais sofisticados (que retiram também parte dos óleos emulsionados,
aumentando a eficiência de tratamento), devem ter destinação apropriada, sendo
encaminhados para reaproveitamento ou para aterro sanitário.
O tratamento químico, através da utilização de sulfato de alumínio e óxido de cálcio
(e mesmo sais de ferro) produzindo-se flocos que são passíveis de sedimentação, reduz a
DBO dos despejos em cerca de 85%. Todavia, suas restrições devidas ao custo elevado e a
dificuldade de disposição do lodo formado são grandes.

3.1.4 Tópicos a serem observados ao enfrentar o Problema de Tratamento dos Efluentes

A minimização do volume e da carga poluidora dos despejos é ponto fundamental no


que diz respeito às dimensões finais do sistema de tratamento. Isto Pode ser conseguido
utilizando-se de boa tecnologia, de imaginação e de muitas tentativas. Algumas
recomendações neste sentido são apresentadas a seguir:
- Segregação da maior parte dos despejos em condutos separados, quando
necessário, incluindo-se nos projetos de todas as novas indústrias e naquelas que sofreram
remodelações;
- Recirculação da água não poluente (resfriamento, etc.);
- Aproveitamento das primeiras águas de lavagem dos tanques e das linhas, bem
como das operações de limpeza, para as operações de partida e de parada da unidade
pasteurizadora;
- Redução da concentração de substâncias empregadas nas operações de
limpeza (“CIP” – cleaning inplace) e desinfecção. Esta redução pode ser conseguida
utilizando-se um sistema automático de limpeza provido de controle de concentrações de
detergentes e de desinfetantes;

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- Utilização da última água de lavagem com água de reposição para desinfecção


e/ou limpeza inicial;
- Recolhimento do material derramado nas enchedeiras e o proveniente da quebra
de embalagens, em tanque para essa finalidade;
- Coleta e regeneração de lubrificantes;
- Disposição adequada de soro.
Além dessas recomendações, não se deve deixar de lado a alternativa de utilização
dos despejos para outros fins rentáveis, tais como:
- Produção de proteínas;
- Alimentação de porcos;
- Transformação (através de fermentação) em substâncias comercializáveis.

3.2 MATADOUROS E FRIGORIFICOS

3.2.1 Características dos Efluentes de Matadouros e Frigoríficos

Os abatedouros frigoríficos caracterizam -se pela necessidade de grandes volumes


de água em suas atividades, o que varia de um para outro, sendo difícil estimar um valor
aproximado. Entretanto, utiliza-se como base para estimativas de vazão os seguintes dados,
segundo BRAILE, (1993):
- Abate bovino: 2.500 litros por cabeça;
- Abate suíno: 1.200 litros por cabeça;
- Abate de aves: 20 – 30 litros por cabeça;
- Contribuição percapita por funcionário: 70 litros por dia.

Hoje considera-se esses valores excessivos, por isso as indústrias buscam a


otimização de processos para redução do consumo de água por cabeça abatida.
Uma análise das características dos despejos de frigoríficos não é tarefa simples.
Devido a muitos fatores operacionais é difícil caracterizar uma instalação típica e seus
despejos. Os despejos de matadouros e frigoríficos possuem valores altos de DBO, sólidos
em suspensão, material flotável e graxas. Além disso, esses despejos apresentam-se com
temperatura elevada e contém sangue, pedaços de carne, gorduras, entranhas e vísceras.
Processos importantes como recuperação do sangue, das gorduras e do conteúdo

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estomacal e intestinal, fragmentos de ossos, tecidos e cerdas suínas, podem reduzir


substancialmente as cargas poluidoras e ainda produzir subprodutos vendáveis.
As águas residuárias oriundas da lavagem (limpeza) contêm pequenas quantidades
destes resíduos.
De acordo com BRAILE (1993), os despejos têm grande carga e sólidos em
suspensão, nitrogênio orgânico e uma DBO que oscila entre 800 e 32.000 mg/L, de acordo
com o grau de reaproveitamento e cuidados na operação.
Os sólidos sedimentáveis podem chegar a várias dezenas de ml/L ou até 15 g/L. O
aspecto dessas águas residuárias é desagradável, tendo cor avermelhada, pelancas e
pedaços de gordura e suspensão; são praticamente opacas e em sua parte coloidal contam
com a presença de microrganismos patogênico, sempre que os animais abatidos não
estiverem em perfeito estado de saúde.

3.2.2 Sistemas de Tratamento dos Despejos de Matadouros e Frigoríficos

Os processos de tratamento comumente usados na depuração dos despejos de


matadouros e frigoríficos são:
- Processos anaeróbios;
- Sistema de lagoas aeróbias;
- Lodos ativados e suas variações;
- Filtros biológicos de alta taxa;
- Discos biológicos rotativos (biodiscos).
Todos esses processos reduzem a DBO de 70-95% e os sólidos em suspensão de
80-95%. Cada um desses sistemas tem vantagens e desvantagens. Geralmente, o grau de
tratamento exigido , as condições locais, limitação de área, custos de capital e operacionais,
irão determinar a seleção do sistema a ser adotado.

3.2.3 Recuperação de Resíduos – obtenção de subprodutos

A quase totalidade dos resíduos de matadouro e frigoríficos se torna subprodutos


industriais.

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Couros: os couros retirados das carcaças, via de regra, têm os seguintes destinos:
venda direta do couro fresco ou verde para curtumes ou utilização do processo de salga e
desidratação para constituição de estoque ou transporte de longo percurso.
Sangue: o sangue dos animais abatidos constitui um volume considerável de
resíduos, embora uma parcela pequena possa ser utilizada na fabricação de produtos
comestíveis.
O sangue, tal como os couros, podem ter dois destinos: venda direta do produto “in
natura” para indústrias porque se dedicam ao beneficiamento, ou seu processamento no
próprio matadouro frigorífico. No caso da segunda alternativa, o sangue recém coletado é
bombeado para a área de processamento onde é secado para a obtenção de farinha de
sangue, ou processado para a obtenção de albuminas, sangue solúvel em pó e corantes.
Peças condenadas: ao longo das linhas de trabalho, um grande número de
pequenas partículas de carcaça atinge o piso e, por esta razão, são desclassificadas para
consumo humano. Esses resíduos, juntados às peças ou cortes condenados por razões
sanitárias e às peças tradicionalmente não utilizadas como produtos comestíveis.,
constituem a matéria-prima para a produção de graxas (sebos) e farinhas.
Ossos duros: os ossos duros (também chamados ossos longos) constituem
subproduto de valor quando desengordurados e secos. Essa preparação é feita por via
úmida, sendo os ossos submetidos a um cozimento, à pressão atmosférica, para a
separação de gorduras e resíduos carnosos aderentes. A gordura sobrenadante é
recuperada. Os ossos são lavados e secos, estando assim prontos para serem vendidos.
Cascos e chifres: os cascos e chifres são recuperados de forma simples, por via
úmida, que favorece a separação das partes. Tanto os cascos como os chifres são
submetidos a um aquecimento em água ferventes. Esse aquecimento facilita a separação
dos “sabugos” ou suportes ósseos. Os “sabugos” entrarão na composição de produtos
graxos e farinhas. Os chifres e cascos, depois de secos, podem ser vendidos “ in natura” ou
convertidos em farinha, por via seca.
Pêlos: os pêlos da cauda e da orelha são recuperados manualmente constituindo a
crina de cauda e pêlo de orelhas. O suporte desses pêlos, ponta de cauda e apara de
orelha, são processados juntamente como os resíduos destinados a produtos graxos e
farinhas.
Problemas de pequenos matadouros quanto à recuperação: A obtenção de
subprodutos a partir de resíduos pressupõe a existências de quantidades mínimas de
resíduos para que possam ser recuperados individualmente de forma econômica.

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3.3 CURTUMES

A indústria de curtimento de peles animais é tida como uma das mais agressivas ao
meio ambiente devido à produção de grandes quantidades de resíduos tóxicos. Porém,
desempenha um importante papel social, manufaturando o couro originado no abate de
animais, cuja disposição final seria inexistente.

3.3.1 Características dos Efluentes de Curtumes

A indústria do couro produz aproximadamente 200.000 toneladas por ano no Brasil.


Deste processo demanda um consumo de água elevado ao longo das suas diversas fases,
de onde são geradas grandes quantidades de resíduos líquidos amplamente contaminantes
do meio ambiente devido às suas características.
Os despejos de curtume contêm grande quantidade de material putrescível e de
substâncias tóxicas que podem tornar as águas receptoras impróprias para fins de
abastecimento público, usos industriais, agrícolas e recreacionais.
Os metais pesados presentes neste efluente se acumulam nos organismos e, muitas
vezes, seus efeitos só serão percebidos quando houver uma contaminação acima de um
nível suportável.
De acordo com CASTRO E MAGGI (2002), os curtumes são tidos como industrias
poluidoras em potencial por dois motivos básicos:
1. Durante o processo de depilação das peles, tecnicamente chamado de processo
de caleiro, é utilizado o sulfeto de sódio, produto este com odor característico semelhante a
“ovo podre”. Este odor pode ser atenuado, mas, até hoje, não se conseguiu exclui-lo, pois é
característico do sulfeto de sódio, onde há a formação do gás sulfídrico em contato com o
ar. Desta forma o odor característico do processo pode ser sentido na vizinhança e isto
prejudica muito a imagem dos curtumes.
2. Outro produto químico utilizado para o curtimento das peles é o sulfato de cromo,
um sal básico a base de cromo trivalente.
Para a definição de um tratamento eficiente dessa água, ou até mesmo a reutilização
de alguns compostos presentes (cromo, tanino, etc.), é extremamente necessário que se
conheça todas as características deste resíduo (físicas, químicas e biológicas) sendo de
fundamental importância a pesquisa da composição química do mesmo para se determinar
o que deve ser removido e através de quais alternativas de tratamento isto deve ser feito.

Professora: Juliana Bortoli Rodrigues Mees


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As principais características dos despejos de curtumes são:


- Cal e sulfetos livres;
- Elevado pH;
- Cromo potencialmente tóxico;
- Matéria orgânica (sangue, soro, produtos de decomposição de proteínas),
traduzida por elevada DBO;
- Elevado teor de sólidos em suspensão (principalmente pêlos, graxa, fibras,
proteínas, sujeira);
- Coloração leitosa devida à cal, verde-castanho ou azul devida ao curtimento e
cores variadas do tingimento;
- Dureza das águas de lavagem;
- Elevada salinidade (sólidos dissolvidos totais);
- Elevada demanda química de oxigênio (DQO).
Aproximadamente 65% do volume dos despejos são devidos ao curtimento da
operação de ribeira (remolho, caleação, lavagem, piquelagem, purga), cabendo os restantes
35% ao curtimento e lavagem final.
Quanto a DBO, a situação se inverte; cerca de 40% é devida às operações de ribeira
e 60% ao curtimento e acabamento.

3.3.2 Sistemas de Tratamento dos Despejos Curtumes

Como foi visto, os resíduos líquidos e sólidos dos curtumes podem causar tremendos
inconvenientes, requerendo tratamento em grau elevado.
Os custos desse tratamento são muitos elevados e não podem ser suportados pela
maioria dos curtumes pequenos e médios, devido ao pouco lucro que este tipo de indústria
oferece, em decorrência do uso cada vez maior de plásticos em lugar do couro. Atualmente,
a quase totalidade das indústrias do couro é suportada pelos fabricantes de calçados. Ouso
do couro para fins industriais (correias de transmissão, tacos para teares, dobradiças, etc),
bem como para selaria, vestuário e outros é, atualmente, insignificante.
Por esse motivo é necessário pesquisar processos de tratamento de custo suportável
para a indústria. Para o futuro, deverão ser encontradas medidas paralelas para a redução
da carga poluidora durante a fabricação de couro.
Os processos de tratamento aplicáveis aos curtumes podem ser os seguintes:
- Tratamento preliminar: gradeamento (para reter materiais grosseiros: carnaças e
pelancas, podem também ser utilizadas peneiras com malha de 2 a 3mm), mistura e

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homogeneização (os tanques de homogeneização podem ser empregados também como


reguladores de vazão), retenção de sebo (os tanques de retenção de sebo devem apenas
reter o sebo e não os sólidos sedimentáveis, sendo o tempo de detenção mínimo de 3
minutos) , lançamento em vazão regularizada.
- Tratamento primário: tratamento preliminar seguido de decantação (tempo de
detenção do decantadores de 1 a 2 horas com remoção manual ou mecanizada do lodo) e
disposição do lodo por secagem e/ou aterro (a secagem pode ser efetuada em leitos de
secagem e em curtumes maiores pode ser desidratado em filtros-prensa ou filtros à vácuo,
após tratamento químico com sais férricos e cal para que perca a gelatinosidade que reduz
a permeabilidade).
- Tratamento Químico: tratamento preliminar ou primário, seguido ou precedido da
adição de reagentes de baixo preço, principalmente CO2, SO2, e sais e ferro, para ajustar o
pH e eliminar cal, sulfetos e matéria orgânica em dispersão coloidal. Pode ser acompanhado
e aeração artificial para oxidar os sulfetos e os sas de ferro.
O tratamento químico mais empregado na Europa é a precipitação com sulfato ferroso.
- Tratamento biológico: lodos ativados (convencional), lodos ativados por aeração
prolongada, lagoas aeradas e filtros biológicos com meio filtrante de plástico. Porém, este
tipo de tratamento é raramente utilizado na indústria do couro, devido ao seu elevado custo,
pois, em geral, só é possível quando for precedido de tratamento químico, ou quando o
efluente do curtume pode ser diluído com quantidade suficiente de esgoto doméstico.

Eficiência do Tratamento - Curtumes


A tabela a seguir mostra a eficiência da aplicação de vários tipos de tratamentos
Unidade de Porcentagem de Remoção (%)
Tratamento DBO SS Cor Cromo Sulfetos
Gradeamento 5 5 – 10 0 0 0

Tanques de 0 0 0 5 – 10 0
Homogeneização

Sedimentação 25 – 62 69 – 96 5 – 10 5 – 30 5 – 20

Tratamento Químico 41 – 70 70 – 97 6 – 90 50 – 80 14 – 50

Lagoas de
Estabilização 70 80 25 10 – 20 0

Filtros Biológicos 65 – 80 85 – 90 15 – 70 25 – 75 75 – 100

Lodos ativados 85 – 95 80 – 95 75 75 75 – 100

Fonte: Ministério do interior dos EUA, 1967.

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3.3.3 Recuperação de Subprodutos

Material Aplicação

Extração de gorduras, sebo para sabão.


Aparas ou courinhos e carnaças Transformação em produtos comestíveis (gelativnas de
qualidade, tripas artificiais para salsicharia) – gelatina hidrolizada.
Ração protéica – Proteína famacêutica.
Fabricação de cola industrial.

Pêlos Produção de tapetes, feltros, etc.

Solvente para Reutilização do solvente.


desengorduramento

Após sedimentação e eliminação dos resíduos sulfídricos, o lodo


pode ser misturado com outros resíduos sólidos do curtume e
Despejo de caleação
vendido como fertilizante.

Em tempos passados, esta solução era utilizada muitas vezes.


Hoje, entretanto, a tendência é de abrir mão da utilização pelo
Solução de piquelagem usada
uso da purgagem e piquelagem e curtimento em tamborões.

Retenção e reutilização no curtume.


Resíduos líquidos do curtimento Precipitação de hidróxido crômico, filtração, redissolução com
ao cromo H2SO4 para obtenção do sulfato de cromo. (A maior parte dos
curtidores, considera esta recuperação como economicamente
desvantajosa).

Resíduos líquidos do curtimento Evaporação para venda como aditivos para caldeiras.
ao tanino

Casca residuária da extração de Algumas vezes empregado na fabricação de papelão e de


tanino pigmento de zinco branco (carbonato de zinco hidratado).

Fonte: Levantamentos executados pelo Ministério do Interior dos Estados Unidos, através
da Superintendência Federal de controle da Poluição da água (atualmente incorporada a
EPA) apud BRAILE, 1993.

Nessa relação, falta o sebo que é recuperado em alguns curtumes brasileiros, com
grande vantagem econômica. O sebo provém principalmente da descarnagem e da
caleação. Pode ser facilmente separado da água por eio de tanque retentores muito
simples. No caso de descarnação manual, os descarnadores podem separara as carnaças
mais gordas que serão utilizadas na operação de recuperação.
O sebo bruto das carnaças e dos tanques retentores contém cerca de 40% de ácido
graxo. O restante é constituído de fibras musculares, proteínas, água e impurezas.

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ATIVIDADES:

Um processo industrial de um Curtume gera uma vazão total de águas residuárias de


1000m 3/d, formada por três correntes, sendo:

§ Corrente A – 10% da vazão diária – 100m 3/d

§ Corrente B – 40% da vazão diária - 400m 3/d


§ Corrente C – 50% da vazão diária - 500m 3/d

CORRENTE DQO DBO SST pH OG Cromo


mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L
A 5000 1500 100 4,0 - 2000

B 6000 3800 1200 5,0 400 -

C 5000 2500 2000 5,0 50 -

§ As operações que geram a corrente A são em batelada.


§ Dimensionar um sistema de tratamento de efluentes em que a parte secundária
tenha pelo menos 2 alternativas. A área disponível para tratamento é de 1,5 hectares
(15.000m 2), de modo que tratamentos compactos são preferidos.
§ O despejo, devidamente pré-tratado, apresenta boas condições de tratabilidade
biológica, mas quer se evitar grande geração de lodo.
§ A eficiência do sistema de tratamento deverá ser tal a permitir uma DBO final
inferior a 150mg/L.
§ Os demais parâmetros deverão estar de acordo com a Legislação Federal para
lançamentos em rios.

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3.4 CERVEJARIAS

3.4.1 Características dos Efluentes de Cervejarias

Nas cervejarias, os resíduos líquidos provêm, em sua maioria, das máquinas de lavar
garrafas, das dornas de fermentação, do bolo das centrífugas, da lavagem dos panos dos
filtros-prensa e das descargas das máquinas de pasteurização.
As descargas do pasteurizador e das lavagens das garrafas acontecem
periodicamente, ocorrendo, geralmente, no encerramento do período semanal de
fabricação. Os outros efluentes são contínuos durante o período de fabricação.
De maneira geral, o consumo de água por litro de cerveja está na faixa de 8 a 40
litros, com uma média de 13 litros.
Nas cervejarias americanas, o volume total dos despejos por litro de cerveja
produzido varia de 13 a 17 litros.

A tabela a seguir discrimina, dentro das diferentes fases do processo, a origem e a


composição dos diferentes tipos de resíduos.

Tabela: Origem e Composição dos Resíduos


Fase de Fabricação Origem do Resíduo Composição

Cozimento Restos de mosto e lavagem dos Solução aquosa de açúcares, dextrina,


equipamentos proteínas, taninos, resinas.

Fermentação Lavagem dos tanques Álcool etílico, gás carbônico, ácidos,


aldeídos, cetonas, ésteres, gorduras,
bactérias.

Maturação Fundo das cubas Líquido enriquecido de proteínas e


produtos derivados de sua
degradação.

Fonte: BRAILE, 1993.

A tabela a seguir discrimina os tipos de Resíduos característicos dos Despejos de


cervejaria e porcentagem de carga poluidora.

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Tabela: Tipos de Resíduos e porcentagem de carga poluidora


L de despejo / DBO % da carga de

Características dos Despejos 100L de cerveja (mg/L) DBO

Líquido proveniente de prensagem dos grãos 1,41 – 2,37 15.000 3,5

Líquido proveniente da prensagem do lúpulo 0,9 7.340 1,1

Água de lavagem do pano de filtro do malte 5,9 4.930 4,6

Água de lavagem do fermento 1,2 7.400 1,2

Cerveja filtrada do fermento 1,2 69.000 13,3

Lavagem dos equipamentos/ Despejos de


cerveja/ Água de resfriamento/ Esgotos
- - 76,6
sanitários

Fonte: BRAILE, 1993.

3.4.2 Sistemas de Tratamento dos Despejos de Cervejarias

O tratamento das águas residuárias das cervejarias e maltarias pode ser realizado
por processos semelhantes aos empregados na depuração dos esgotos domésticos, graças
ao seu elevado conteúdo de matéria orgânica e de nutrientes. Às vezes, entretanto , há falta
de nitrogênio.
Às vezes, antepõe-se ao tratamento biológico, um tratamento químico a fim de aliviar
a parte biológica. Este tratamento consiste numa precipitação química com silicato de sódio
ou sulfato ferroso e cal.
Principais etapas do tratamento plicado a Cervejarias:
- Tratamento Preliminar: utiliza-se normalmente grades (finas) para retenção de
sólidos grosseiros.
- Tratamento Primário: decantação (com período de retenção inferior a 1 hora);
indica-se um processo de digestão e posterior secagem para o lodo removido do decantador
primário.
- Tratamento Secundário: o tratamento biológico dos despejos de cervejaria tem
sido realizado por filtração biológica, lodos ativados e, em um limitado número de casos,
por tratamento anaeróbio.

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Utilizando-se a filtração biológica, obteve-se a remoção de DBO superior a 90%,


numa taxa da ordem de 150L/m 3.dia. Este processo é, todavia, sensível às rápidas
alterações de pH e choques de cargas orgânicas.
O processo de lodos ativados, vem sendo empregado, com sucesso, resultando na
remoção da DBO na ordem de 90%. Sendo necessário, o nitrogênio deve ser adicionado
como nutriente suplementar.

3.4.3 Possibilidades de Recuperação dos Despejos de Cervejarias

As águas residuárias, tanto das maltarias como das cervejarias, contêm materiais
que, por sua possibilidade de aplicação como alimento, fertilizantes (lúpulo), combustível
para caldeiras (lúpulo) e medicamentos (fermento), justificam sua recuperação antes de se
incorporar aos esgotos.
As substâncias possíveis de recuperação são: grãos de cevada, lúpulo gasto,
fermento em excesso, bolos dos filtros, sólidos estabilizadores de cerveja e o lodo cáustico
de lavagem de garrafas. Entretanto, a recuperação de tais materiais só é compensadora em
grandes instalações onde o volume dos despejos é muito grande, justificando os
equipamentos de secagem. Nestes casos a recuperação, além de economicamente viável
contribuiria para aliviar a concentração dos efluentes.

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4 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO, MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS E REUSO DE ÁGUAS

4.1 PREVENÇÃO À POLUIÇÃO

A estratégia de redução ou eliminação de resíduos ou poluentes na fonte geradora


consiste no desenvolvimento de ações que promovam a redução de desperdícios, a
conservação de recursos naturais, a redução ou eliminação de substâncias tóxicas
(presentes em matérias-primas ou produtos auxiliares), a redução da quantidade de
resíduos gerados por processos e produtos, e conseqüentemente, a redução de poluentes
lançados para o ar, solo e águas.
Diversos termos, tais como: Produção mais Limpa (Cleaner Production), Prevenção à
Poluição (Pollution Prevention), Tecnologias Limpas (Clean Technologies), Redução na
Fonte (Source Reduction) e Minimização de resíduos (Waste Minimization) têm sido
utilizados, ao redor do mundo, para definir este conceito. Algumas vezes, estes termos são
considerados sinônimos, e, às vezes, complementares, requerendo uma análise
aprofundada das ações e das propostas inseridas dentro de cada contexto.

Conceitos importantes
§ Resíduo: material inútil, indesejável ou descartado, na forma sólida, líquida ou
gasosa, de origem domiciliar, industrial, agrícola, comercial, de serviços ou de serviços de
saúde (farmácias, clínicas, hospitais, etc.).
§ Minimização: técnica, processo ou atividade que serve para evitar, eliminar, ou
reduzir o resíduo na fonte, ou permitir o reuso ou a reciclagem.
§ Reciclagem: é a obtenção de materiais a partir de resíduos introduzindo-os
novamente no ciclo e reutilização.(Glossário de Saneamento e Ecologia, 1981). É qualquer
técnica ou tecnologia que permite o reaproveitamento de um resíduo, após ter sido
submetido a um tratamento físico ou químico.
§ Reutilizar / Reuso: implica dar nova função ao material ou utilizá-lo novamente
para armazenar o mesmo produto. É qualquer prática ou técnica que permite a reutilização
de um resíduo, sem que este seja submetido a um tratamento prévio.
§ Tratamento: os métodos de tratamento dividem-se em operações e processos
unitários, e a integração destes compõe os sistemas de tratamento. Operações físicas
unitárias: métodos de tratamento no qual predomina aplicação de forças físicas; processos
químicos unitários: métodos de tratamento nos quais a remoção ou conversão de
contaminantes ocorre pela adição de produtos químicos ou devido a reações químicas;

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processos biológicos unitários: métodos de tratamento nos quais a remoção de


contaminantes ocorre por meio da atividade biológica.
§ Tecnologia Limpa: refere-se a uma medida de redução na fonte aplicada para
eliminar ou reduzir significativamente a geração de resíduos.

As figuras a seguir, mostram esquematicamente, um modelo de gerenciamento


ambiental (apresentado pela Comunidade Européia e pela CETESB), cuja estratégia visa
priorizar as ações de Prevenção da Poluição dentro do contexto da minimização de resíduos
e /ou poluentes. Na impossibilidade de implementar ações de Prevenção da Poluição
outras medidas de minimização de resíduos, tais como reciclagem e reuso fora do processo,
devem ser consideradas, pois promovem a conservação de recursos naturais e reduzem os
impactos ambientais causados pelo armazenamento, tratamento e disposição final de
resíduos.
Finalmente, medidas adequadas de controle ambiental devem ser consideradas para
o tratamento e disposição final ambientalmente segura dos resíduos e/ou poluentes
remanescentes .

A comunidade Européia, através de uma Resolução oficial, apresenta a Hierarquia


nas opções de Gerenciamento de Resíduos:

PREVENÇÃO MELHOR

MINIMIZAÇÃO NA FONTE

RECICLAGEM

TRATAMENTO

DISPOSIÇÃO
PIOR

Fonte: Resolução Oficial da Comunidade Européia.

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Hierarquia de Gerenciamento Ambiental de Resíduo

Fonte: CETESB, 2004.

4.2 MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS

Envolve qualquer técnica, processo ou atividade que serve para evitar, eliminar, ou
reduzir o resíduo na fonte, usualmente dentro da unidade produtiva, ou permitir o reuso ou
reciclagem do resíduo para um propósito útil.

Minimização de Resíduos – vantagem financeira


- O resíduo representa uma perda de matérias-primas ou energia que o produtor
pagou, além disso, o produtor gasta no manuseio, gestão e disposição final;
- O resíduo pode causar prejuízo ambiental, direta ou indiretamente;
- A legislação ambiental vem se tornando mais severa no tratamento e disposição final
de resíduos.

4.2.1 Objetivos de um Programa de Minimização de Resíduos

Ø Reduzir a quantidade de material e energia desperdiçada:


- Reduzir a periculosidade;

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- Reduzir os custos financeiros associados;


- Enquadrar-se nas exigências legais;
- Reduzir os impactos ambientais.

Ø Reduzir resíduos através de medidas na produção ao invés das técnicas de fim de


tubo, podem incluir:
- Operação cuidadosa;
- Otimização de processo;
- Substituição de materiais;
- Redimensionamento do processo;
- Redimensionamento do produto;
- Reciclagem de materiais e energia no processo produtivo.

Ø Reduzir a disposição de resíduos / descarga / emissão para:


- Água;
- Solo;
- Ar.

4.2.2 Benefícios da Minimização de Resíduos

Ø Benefícios ambientais
- Conservação de recursos (materiais e energia);
- Imagem melhorada;
- Ser melhor do que as exigências;
- Minimizar o impacto ambiental.

Ø Custos reduzidos
- Menor custo de capital para o tratamento final;
- Mudança dos custos variáveis de produção;
- Mudanças dos custos fixos (mão-de-obra, manutenção);
- Melhoria da estabilidade do processo.

Ø Redução de riscos
- Reduzir o risco associado ao processo;

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- Reduzir a exposição dos operadores;


- Reduzir a quantidade de resíduos manuseada;
- Reduzir o inventário de resíduos perigosos.

Ø Melhores processos e produtos:


- Mudar reagentes;
- Mudar a especificação do produto;
- Mudar aspectos de fabricação.

Ø Relações públicas
- Tornar públicos os relatórios de desempenho ambiental.

Os programas de minimização de resíduos são realizados através de uma abordagem


preferencial de redução na fonte; reuso de materiais e ainda se possível reciclagem em um
circuito fechado. O quadro abaixo demonstra as opções para um correto gerenciamento de
resíduos:

QUADRO: OPÇÕES PARA O GERENCIAMENTO AMBIENTAL DE RESÍDUOS


Método de Exemplo de atividade Exemplo de aplicação
gerenciamento

- projetos para novos produtos - modificações no produto para


ambientalmente corretos; evitar o uso do solvente;
- mudanças no processo; - modificar o produto para
- eliminação na fonte; aumentar a vido do
Redução na fonte - reaproveitamento “outputs” revestimento;
em produtos e dos não- - recuperação do solvente e
produtos; retorno ao processo;
- reciclagem em circuito - reaproveitamento dos “output’s”
fechado. em produtos e dos não-produtos
como matéria-prima.
- bolsa de resíduos industriais;
Reciclagem - recuperação. - recuperação de metal;
- recuperação/regeneração de
catalisador.
- estabilização; - destruição térmica do solvente
Tratamento - neutralização; (incineração);
- precipitação. - precipitação de um produto
químico;
- disposição numa instalação
autorizada; - disposição do lodo no solo;
Disposição - descarga através dos esgotos - local de processamento de
públicos; resíduos.
- descarga nos cursos d’água.

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A prevenção da poluição é a redução máxima viável de todas as espécies de resíduos


gerados nos locais de produção. Envolve a aplicação das melhores práticas de
gerenciamento. Algumas técnicas de redução na fonte são úteis num programa de
prevenção da poluição, como pode ser visto no fluxograma apresentado no item 4.2.3.

4.2.3 Técnicas de Minimização de Resíduos

O fluxograma apresentado a seguir mostra as principais técnicas utilizadas para


minimização de Resíduos, desde a redução na fonte até a reciclagem.

TÉCNICAS DE MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS

MINIMIZAÇÃO NA FONTE RECICLAGEM

BOAS MUDANÇA DE MUDANÇA DE MUDANÇA DE FORA LOCAL


PRÁTICAS TECNOLOGIA MATÉRIAS- PRIMAS PRODUTOS LOCAL

READEQUAÇÃO PROCESSOS
DO PROCESSO MAIS LIMPOS

Fonte: U. S. Environmental Agency (EPA), 1988.

4.2.3.1 Minimização na fonte

Boas Práticas
1. Aumentar a reciclagem de água nos sistemas de trocas térmicas;
2. Eliminar vazamentos e melhorar a manutenção;
3. Eliminar resfriamento por contato direto para vapores, substituindo por trocadores de
contato indireto;
4. Especificar e publicar os procedimentos de boas práticas;
5. Fazer monitoramento automático;
6. Treinar pessoal em minimização de resíduos;
7. Ter auditorias periódicas de compras de materiais;

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8. Ter programas de manutenção preventiva;


9. Ter procedimentos técnicos que assegurem a qualidade de matérias-primas e
produtos;
10. Correlacionar a geração de resíduos com a produção;
11. Segregar resíduos, notadamente os perigosos, para evitar a contaminação cruzada;
12. Coletar e separar resíduos nas unidades onde são produzidos;
13. Reutilizar embalagens no próprio processo produtivo;
14. Minimizar o volume das amostras para o laboratório;
15. Identificar produtos e reagentes nas embalagens;
16. Minimizar o número de embalagens pelo uso de unidades maiores;
17. Responsabilizar os departamentos pela disposição de seus resíduos;
18. Estudar a programação da produção para diminuir a freqüência das limpezas dos
equipamentos;
19. Avaliar e reavaliar as condições de transferência e transporte de produtos dentro da
área industrial;
20. Pressurizar água de lavagem.

Mudanças Tecnológicas
As mudanças tecnológicas podem levar a minimização de resíduos, à tecnologia
mais limpa ou uma combinação de ambas.

Ø Mudanças nos processos existentes: exemplos


- Controle das condições operacionais como vazão e temperatura para melhorar a
conversão;
- Redimensionar os equipamentos e tubulações;
- Introduzir sistemas de recuperação de vapor;
- Usar limpeza mecânica para evitar o uso de solventes.

Ø Processos mais Limpos: Projetos de tecnologias que produzem menos resíduos e


usam menos energia
- Necessitam de uma abordagem com estrutura integrada e requerem a observação
de alguns pontos importantes:
- A identificação de poluentes chaves e correntes poluídas;
- A aplicação de métodos de dimensionamento de processos que incluem
especificamente a minimização de resíduos;

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- A implementação de técnicas seletivas de processamento, reciclagem e


recuperação.

Diagrama TIPO CEBOLA


O diagrama circular tipo CEBOLA serve para estimular o projetista a reconhecer que
são geradas distintas classes de resíduos:
- Resíduos do Processo;
- Resíduos das utilidades.
As reações e separações em conjunto com as reciclagens internas produzem
resíduos do processo como produtos indesejados, lavagens e fluxos de descarte.
Os resíduos de utilidades englobam produtos da combustão, tratamento de água,
purgas dos sistemas de água de refrigeração e condensadores, etc.
O projeto do sistema de utilidades está muito relacionado às necessidades de troca
de calor, trabalho e outras formas de energia de uma maneira eficaz.
O diagrama do tipo CEBOLA demonstra que o coração do processo todo está no
centro, isto é, no reator. O ótimo projetor do reator significa a mínima geração de emissões
tanto no processo quanto nas utilidades.

Onion Diagram
Design hierarchy
Process Waste

Reactor

Separation and
recycle system

Heat exchanger
network

Utilities Utility Waste

Mudança
Fonte: de Matérias-primas
IChemE Waste Minimisation Training package.

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Esta técnica visa substituir uma substância tóxica utilizada como matéria-prima em
um processo industrial, por outra menos tóxica e que produza os mesmos efeitos desejados
no produto final, sem prejuízo da sua qualidade.

Mudanças do Produto
Enquanto muda os processos de produção, a transição para a Produção Limpa
também requer o exame de produto. Apesar de tradicionalmente o projeto técnico de um
produto visar a minimizar custos de produção, a sociedade de hoje deve passar a
contabilidade de custo total como forma de compreender os custos ambientais, sociais e
monetários do esgotamento de recursos e da geração de resíduos.

4.2.3.2 Reciclagem

Reciclagem Fora do Local


O Resíduo é encaminhado para reciclagem fora do local onde é gerado.

Reciclagem no Local
Efetuada no próprio local onde o resíduo é gerado.
Reciclagem interna ao processo (é qualquer técnica ou tecnologia que permite a
reutilização de um resíduo, como matéria-prima ou insumo em um processo industrial, após
o mesmo ter sido submetido a um tratamento que seja incorporado ao processo).

Exemplos de Geração de Resíduos e Minimização:

Ø Geração de Resíduos na indústria Eletrônica e Computadores


Na produção de um CHIP DE SILICONE, que pesa 10 gramas:
- são usados 28 Kg de reagentes líquidos;
- os mesmos requerem 11 Kg de hidróxido de sódio para serem neutralizados.

Ø Minimização de Resíduos na indústria Química


- Usar matérias-primas mais puras para gerar menos resíduos;
- Alterar as condições de reação para obter maior conversão no reator;
- Examinar possibilidades de integração de transferência de calor para a conservação
de energia;
- Segregar correntes de resíduos para possibilitar oportunidades de reciclagem.

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ATIVIDADES: Questão para discussão em grupo:

Uma firma produz tintas e resinas para a industria automobilística. Gera por ano 100
milhões de litros de produtos, 5 milhões de litros de despejos líquidos para disposição final,
140 milhões de litros de resíduos líquidos lançados na rede de esgotos e 6 milhões de litros
de resíduo seco para aterro. O custo anual para disposição é de US$ 320.000,00 e a tarifa
para lançamento em rede está em alta acentuada.
A fabricação da linha de tintas brancas foi priorizada. A unidade foi dimensionada para
produzir 30 milhões de litros por ano. Corantes são adicionados para produzir as diversas
tonalidades de branco. O processo esta esquematizado na figura a seguir. As etapas no
processo incluem dispersão do dióxido de titânio, mistura da resina látex, dispersão de
pigmento, água e corantes, filtração, envasamento e distribuição. A geração de efluentes é
da ordem de 3 milhões de litros por ano e provém da limpeza de cada tanque após cada
batelada de produção, usando água limpa.
A programação da produção das diversas tonalidades é determinada pelo departamento de
vendas.
Matérias-primas são recebidas em embalagens compostas de filme plástico e papelão.
Tendo em vista a alta concentraç ão de poluentes a Companhia teve que dispor o efluente
num aterro especial a um custo de US$ 160.000,00 por ano, excluindo a perda de matérias-
primas e produtos.

Perguntas:
Sugerir maneiras de reduzir o volume dos resíduos e a vazão das águas residuárias.
Classificar as sugestões nas categorias de minimização de resíduos e tecnologias limpas.

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Esquematização do Processo - indústria automobilística (tintas e resinas)

Dispersant
Washwater
TiO 2

Water

High – speed disperser (4 x 10m3)

Resin
Washwater
Water

Colour / tinter

Mixer (8 x 20m3)

Washwater

Washwater
Filter

Containers

Dirty water effluent pit Filling machine

Warehouse
Packaging skip
Fonte: IChemE Environmental Protection Bulletin July, 1995.

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METODOLOGIA DE APLICAÇÃO PARA MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS

NECESSIDADE RECONHECIDA DE MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS


A EMPRESA POSSUI POLÍTICA E ESTRATÉGIA A SER
IMPLEMENTADA PELA MINIMIZAÇÃO DOS RESÍDUOS.

REAVALIAR PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO


OBJETIVOS GERAIS
- COMPROMETIMENTO DA ALTA ADMINISTRAÇÃO;
- ESTABELECER OBJETIVOS E METAS;
- FORMAR EQUIPE DE LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO.

FASE DE AVALIAÇÃO
- COLETA DE DADOS;
- ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES;
Projetos
- IDENTIFIC AÇÃO DAS FONTES DE GERAÇÃO DE RESÍDUOS;
de menor - REVISÃO NOS LOCAIS.
prioridade

POSIÇÃO PRELIMINAR DAS OPÇÕES PRÁTICAS DE


MINIMIZAÇÃO

FASE DE ANÁLISE DE VIABILIDADE


- AVALIAÇÃO TÉCNICA;
- AVALIAÇÃO ECONÔMICA.

RELATÓRIO SOBRE LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO


- IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE MINIMIZAÇÃO;
- REVISÃO E AUDITORIA DOS PROJETOS DE MINIMIZAÇÃO.

INFORMAÇÃO DE RETROALIMENTAÇÃO
“FEEDBACK” DE INFORMAÇÕES

FONTE: Adaptada de CRITTENDEN & KOLACZKOWSKI, 1995.

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COMENTÁRIOS SOBRE A METODOLOGIA DE MINIMIZAÇÃO

POLÍTICA DA ORGANIZAÇÃO
A política ambiental da organização pode ser concisa e aparentemente não muito
específica em relação à implementação de projetos de minimização e de tecnologias limpas.
Por exemplo: “a empresa está comprometida com a minimização dos prejuízos ambientais
causados no seu dia-a-dia operacional e na segurança de suas matérias-primas, produção,
embalagem e disposição dos produtos”.

ESTABELECENDO OBJETIVOS E METAS


As mesmas devem ser bem quantificadas, ou seja, quando serão iniciadas, em
quanto tempo os resíduos serão reduzidos, quando as previsões serão atingidas, se todos
os ambientes serão alvo e ainda quais serão as ações prioritárias.
Adicionalmente, os objetivos e metas deveriam ser flexíveis e adaptáveis a desafios
futuros, capazes de serem refinados com o conhecimento adquirido, devem ser facilmente
entendidos pelos colaboradores e demais da organização e pelo público e ainda ser
desafiadores para motivação do pessoal.
Exemplo de objetivos e metas: “os projetos de minimização assegurarão que a
quantidade de resíduos sólidos da cidade de Floriano será reduzida em 25% baseados no
ano de 1998 até o final de 2000”.

FORMAÇÃO DA EQUIPE DE LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO


O tamanho da equipe vai depender do tamanho da organização. Será necessário um
líder para ser o representante do gerenciamento e da equipe como um todo, em especial o
líder deve ter, entre outras características, um grande comprometimento com projetos de
minimização, prevenção da poluição e tecnologias limpas, conhecer bem a instituição, seus
sistemas de trabalho e seus processos, ser capaz de planejar e gerenciar e ter habilidades
de trabalhar com todos os níveis hierárquicos da organização.

ETAPAS DE LEVANTAMENTO
Nos projetos de minimização de resíduos e prevenção da poluição o levantamento é
feito quando uma atividade existente está sendo revisada. Uma auditoria é feita para saber
se os objetivos previstos foram atingidos. Portanto, pode-se afirmar que um levantamento
ocorre para uma revisão inicial. Alguns pontos são importantes e devem ser observados:
cuidados operacionais gerais, com ênfase em derramamentos, vazamentos, odores,

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fumaças, limpeza, etc.; Procedimentos de paradas, reinício de operações, mudanças de


produtos; visita aos diferentes turnos; procedimentos de manutenção durante a operação;
organização local assim como os procedimentos administrativos, como contabilidade de
custos, coleta de resíduos, entre outros.
A equipe de levantamento e avaliação tem a responsabilidade de identificar todas as
fontes de geração de resíduos de qualquer estado físico, para tanto, é necessário considerar
todos os aspectos da operação devem ser considerados, incluindo o processo produtivo,
tubulações, operações de manutenção, áreas de estocagem de matérias-primas, produtos e
resíduos.

CLASSIFICAÇÃO PRELIMINAR DAS OPÇÕES


Após ter completado o levantamento é possível fazer uma seleção preliminar de
oportunidades antes de comprometer uma equipe maior para uma avaliação completa.
Pode-se chegar a seleção preliminar de opções através de técnicas mais formais de tomada
de decisão como o “brainstorming” ou ainda com a utilização de questões básicas, por
exemplo: Qual é o maior benefício a ser ganho com a implementação de projetos de
minimização? É financeiro, obediência à legislação ou segurança? Há outros benefícios a
serem ganhos? A tecnologia já está disponível? Podem as mudanças serem feitas sem
causar significativa interrupção nas operações existentes? A opção escolhida tem suficiente
aprovação?

ANÁLISE DE VIABILIDADE
A avaliação técnica deve determinar se a opção escolhida vai ter desempenho
satisfatório no campo. Em geral, algumas questões devem ser respondidas: É a opção
considerada segura? A qualidade do produto será melhorada ou piorada? Serão
necessários novos trabalhadores e/ou especialistas? A opção introduz problemas
ambientais adicionais? Pode a operação da opção apresentar algum efeito sobre a
operação das unidades vizinhas?
Já em relação à avaliação econômica, pode-se dizer que sempre que houver um
investimento de capital haverá a necessidade de realizar alguma forma de análise
custo/benefício.

RELATÓRIO DO LEVANTAMENTO E AVALIAÇÃO


Mesmo se tratando de pequenos projetos, é importante a elaboração de um relatório
para documentar e servir de referência para futuros projetos e auditorias. Este deve constar

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de algumas partes básicas, que são elas: resumo das recomendações; as metas
estabelecidas; as normas e regulamentos que devem ser seguidos; os principais resultados
do levantamento das opções; as avaliações técnicas e econômicas consideradas;
recomendações sobre as opções a serem implementadas vêm com suas prioridades e ainda
um resumo das condições que foram estabelecidas para chegar as conclusões.

IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE MINIMIZAÇÃO E DE TECNOLOGIAS LIMPAS


Pode-se afirmar que a implementação de tais projetos envolve as seguintes fases:
§ Planejamento;
§ Autorização financeira;
§ Dimensionamento;
§ Projeto executivo;
§ Construção civil;
§ Montagem dos equipamentos;
§ Testes gerais.
Adicionalmente haverá necessidade de treinamento de pessoal.

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4.3 REÚSO DE ÁGUAS

De maneira geral, o reuso da água pode ocorre de forma direta ou indireta, por meio
de ações planejadas ou não. O reuso direto consiste em encaminhar o efluente final ao local
onde será empregado; já o reuso indireto consiste em encaminhar o efluente final a um
corpo receptor e deste aduzir a água para algum tipo de atividade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (1973), tem-se:
- Reúso Indireto: ocorre quando a água já usada, uma ou mais vezes para uso
doméstico ou industrial, é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas e
utilizada novamente a jusante; de forma diluída;

- Reúso Direto: é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para certas


finalidades como irrigação, uso industrial, recarga de aqüífero e água potável;

- Reciclagem Interna: é o reúso da água internamente a instalações industriais,


tendo como objetivo a economia de água e o controle da poluição.

A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) adota a


classificação de reúso de águas em duas grandes categorias: potável e não potável
Ø Reúso Potável
- Reúso potável direto: quando o esgoto recuperado, por meio de tratamento
avançado, e diretamente reutilizado no sistema de água potável;
- Reúso potável indireto: caso em que o esgoto, após tratamento, é disposto na
coleção de águas superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação natural e
subseqüente captação , tratamento e finalmente utilizado como água potável.

Ø Reúso Não Potável


- Reúso não potável para fins agrícolas: embora, quando se pratica essa
modalidade de reúso, via de regra haja, como subproduto, recarga do lençol
subterrâneo, o objetivo principal dela é a irrigação de plantas alimentícias, tais como:
árvores frutíferas, cereais, etc. , e plantas não alimentícias tais como: pastagens e
forrações, além de ser aplicável para dessedentação de animais.
- Reúso não potável para fins industriais: abrange os usos industriais de
refrigeração, águas de processo, para utilização em caldeiras, etc.

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- Reúso não potável para fins recreacionais: classificação reservada à irrigação de


plantas ornamentais, campos de esportes, parques e também para enchimento de
lagoas ornamentais, recreacionais, etc.
- Reúso não potável para fins domésticos: são considerados aqui os casos de
reúso de água para rega de jardins residenciais, para descargas sanitárias e
utilização deste tipo de água em grandes edifícios.
- Reúso para manutenção de vazões : a manutenção de vazões de cursos de água
promove a utilização planejada de efluentes tratados, visando a uma adequada
diluição de eventuais cargas poluidoras a eles carreadas, incluindo-se fontes difusas,
além de propiciar uma vazo mínima na estiagem.
- Aqüicultura: consiste na produção de peixes e plantas aquáticas visando a
obtenção de alimentos e/ou energia, utilizando-se os nutrientes presentes nos
efluentes tratados.
- Recarga de aqüíferos subterrâneos: é a recarga dos aqüíferos subterrâneos com
efluentes tratados, podendo se dar de forma direta (pela injeção sob pressão) ou de
forma indireta (utilizando-se águas superficiais que tenham recebido descargas de
efluentes tratados a montante).

4.3.1 Reúso para Fins Industriais

O reúso para fins industriais pode ser visualizado sob diversos aspectos, conforme
as possibilidades existentes no contexto interno ou externo às industrias.

Reúso Macroexterno
Os usos industrias que apresentam possibilidade de viabilização em áreas de
concentração industrial significativa são (basicamente) os seguintes:
- Torres de resfriamento;
- Caldeiras;
- Lavagem de peças e equipamentos, principalmente nas industrias mecânica e
metalúrgica;
- Irrigação de áreas verdes de instalações industriais, lavagem de pisos e veículos;
- Processos industriais.

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Reúso Macrointerno
Os custos elevados da água industrial no Brasil, particularmente nas regiões
metropolitanas, têm estimulado as industrias nacionais a avaliar a possibilidade interna de
reúso.
O reúso interno consiste em efetuar a reciclagem de quaisquer processos industriais,
nos próprios processos nos quais são gerados, ou em outros processos que se
desenvolvem em seqüência e que suportam qualidade compatível com o efluente em
condensação.
De maneira geral, reúso e conservação devem ser sempre estimulados nas próprias
industrias pela utilização de processos industriais e de sistemas de lavagem com baixo
consumo de água.

4.3.2 Reúso para Fins Agrícolas

A demanda atual de água para o setor agrícola brasileiro representa, atualmente


70% do uso consumptivo total, com forte tendência para chegar a 80% até o final desta
década. Portanto, ante o significado que essas grandes vazões assumem, em termos de
gestão de nossos recursos hídricos , é de extrema importância que se atribua prioridade
para institucionalizar, promover e regulamentar o reúso para fins agrícolas, em âmbito
nacional (MANCUSO, 2003).
Durante as duas últimas décadas, o uso de esgotos para irrigação de culturas
aumentou significativamente, em razão dos seguintes fatores:
- Dificuldade crescente de identificar fontes alternativas de águas para irrigação;
- Custo elevado de fertilizantes;
- A segurança de que os riscos de saúde pública e impactos sobre o solo são
mínimos, se as precauções adequadas são realmente tomadas;
- Os custos elevados dos sistemas de tratamento, necessários para descarga de
efluentes em corpos receptores;
- A aceitação sócio-cultural da prática do reúso agrícola;
- O reconhecimento, pelos órgãos gestores de recursos hídricos, do valor
intrínseco da prática.

Arthur (1993), citado por Kellner (1998), apresenta os padrões para efluentes
normalmente usados para irrigação, mostrados na tabela a seguir.

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Tabela: Padrão do Efluente recomendado para a irrigação


DBO Coliformes Fecais*
Método de Reúso (mg/L) (NMP/100mL)

Irrigação de árvores, algodão e outras 60 50.000


plantações não comestíveis

Irrigação de citricultura, forragens e 45 10.000


castanhas

Irrigação de cana de açúcar, campos de


esportes, vegetais que não necessitam
35 1.000
de cozimento **

Irrigação irrestrita, incluindo parques e 25 100


gramados
Fonte: KELLNER, 1998.
Observações: * Estas concentrações não devem exceder a 80 % das amostras.
** A irrigação deve ser interrompida duas semanas antes da colheita; além disso, nenhuma
fruta deve ser pega no chão.

Especificadamente para o reúso na agricultura, o efluente deve ser constantemente


monitorado e analisado, principalmente em termos da DBO 5, organismos patogênicos,
alcalinidade, pH e presença de alguns elementos químicos, que podem influenciar
significativamente a produção de determinadas culturas (Metcalf e Eddy, 1991), a alta
concentração de sódio no solo pode deteriorar sua condição física, formando crostas e
reduzindo sua permeabilidade.
Além dessas observações, ao reusar o efluente na agricultura, deve-se manter
controlado o acesso de funcionários as áreas de cultivo, mantendo-os constantemente
avisados e realizando um efetivo acompanhamento médico da saúde de cada um deles. O
rodízio das áreas agricultáveis, irrigadas com o efluente tratado, é desejável.

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REFERÊNCIAS

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Industriais. São Paulo: CETESB, 1993.
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com.br> Acesso em: 06 de janeiro, 2003.
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toxicidade no controle de efluentes líquidos. São Paulo: CETESB, 1990. ISSN-0103-
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JORDÃO, Eduardo Pacheco. Gerenciamento de Resíduos Industriais. Escola de
Engenharia: EFRJ/ABES, 1995.
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Janeiro, 1995.
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Rio de Janeiro: ABES, 1998.
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MANCUSO, P.C.S; SANTOS dos, H.F. Reuso de Água. São Paulo: Manole, 2003.
MENDONÇA, Sérgio Rolim. Lagoas de Estabilização e Aeradas Mecanicamente: novos
conceitos. João Pessoa, PB: S. Rolim Mendonça, 1990.
NUNES, José Alves. Tratamento físico-químico de águas residuárias industriais. 3. ed.
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