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ELETROCARDIOGRAMA equilátero, definido no plano frontal do corpo

pela união dos membros superiores, direito e


Porto
esquerdo, e a sínfise pubiana.
O eletrocardiograma é útil no diagnóstico das
A soma das forças elétricas nele geradas tem
arritmias, das sobrecargas das câmaras
magnitude, direção e sentido em um
cardíacas, das lesões isquêmicas do
determinado instante e pode ser
miocárdio, dos processos inflamatórios e
representada por vetores.
distúrbios eletrolíticos.
Cada um destes pode ser representado por
Bases eletrofisiológicas
uma linha reta que nasce no centro do
As células vivas, particularmente as fibras triângulo e se dirige ao sentido dado pela
musculares do coração, têm sua membrana soma das forças que os constituem a cada
polarizada, com cargas negativas na instante. O eixo elétrico médio da
superfície interna e positivas na externa. A despolarização do coração é a soma dos
membrana atua como uma resistência que eixos elétricos instantâneos.
torna possível o armazenamento de forças
Manual prático de eletrocardiograma
elétricas (potencial elétrico), de tal modo
que, entre o interior e o exterior da célula, há O papel para registro do ECG
uma diferença de potencial.
O papel para registro do ECG é
A distribuição das cargas elétricas deve-se à quadriculado, com a distância entre cada
presença dos íons de sódio e potássio nos linha horizontal e vertical de 1 mm, formando
meios intra e extracelular, ocorrendo um pequeno quadrado de 1 mm de lado.
contínuas trocas entre ambos, feitas através
O eixo horizontal mede o tempo e o eixo
da membrana celular.
vertical, a amplitude.
Um estímulo aplicado na célula determina,
Tempo e voltagem
naquele local, diminuição da resistência da
membrana celular, o que possibilita a A velocidade-padrão com que o papel
migração das cargas elétricas. As cargas milimetrado se desloca sob a agulha do
negativas migram para neutralizar as cargas aparelho é de 25 mm/s.
positivas, determinando redução da
resistência da membrana (efeito dielétrico). Nessa velocidade de deslocamento do ECG
define-se que um quadrado menor
Ao ativar a célula, o sódio passa para o corresponde a 0,04 s e um quadrado maior,
interior da fibra, deslocando o potássio para 0,2 s, sendo possível determinar a duração do
seu exterior. Esta migração de íons torna o evento registrado.
lado ativado eletricamente negativo com
relação ao outro lado, ainda em repouso, Quanto à amplitude dos traçados
estabelecendo-se, então, uma diferença de eletrocardiográficos, cada linha vertical
potencial, que pode ser medida e registrada. corresponde a 0,1 mV.
Este processo chama-se despolarização.

Uma sequência de fenômenos físico-


químicos ocorre após a despolarização,
refazendo-se a distribuição das cargas
elétricas na superfície da membrana. A isto se
chama repolarização, a qual se deve
também às trocas iônicas, com saída de Na +
da célula e entrada de K +.

Potenciais elétricos.

O coração pode ser considerado uma fonte


elétrica situada no centro de um triângulo
A saída de K+ da célula, até que a força
elétrica (para dentro) e a força difusional
(para fora) sejam equivalentes, cria uma
diferença de potencial entre o meio
intracelular e o meio extracelular de cerca de
–90 mV, mantendo o interior celular negativo
em relação ao meio extracelular; essa
diferença de potencial de –90 mV mantém a
célula cardíaca em repouso com a condição
polarizada.

Potencial de ação

Durante o repouso, todos os pontos da


membrana extracelular possuem o mesmo
NOÇÕES DA ELETROFISIOLOGIA DO
potencial, bem como o meio intracelular,
CORAÇÃO
mantendo-se a diferença entre as cargas
A atividade elétrica cardíaca provém das elétricas intra e extracelulares. Esse potencial
diferenças na composição ou concentração de repouso é mantido pela resistência e pela
iônica entre os meios intra e extracelular e da condutância específicas aos íons envolvidos
sucessão cíclica de ativação celular no processo.
(inversão do potencial de membrana)
condicionada pelos fluxos transmembrana Quando ocorre a ativação do potencial de
desses íons. Os principais responsáveis pelos membrana, há redução da resistência e
eventos da atividade elétrica cardíaca são aumento da condutância aos íons intra e
sódio, potássio, cálcio, magnésio e cloro, extracelulares, permitindo seu deslocamento
sendo potássio e sódio os mais relevantes. em sintonia com seus gradientes
eletroquímicos, gerando inversão da
Potencial de repouso polaridade (de –90 mV para +30 mV) e
consequente despolarização celular.
Durante o estado de repouso da membrana
celular, a distribuição iônica entre os meios A despolarização celular configura o
intra e extracelular apresenta: potencial de ação registrado no gráfico:
 O íon potássio (K+) em maior
concentração no meio intracelular, com
tendência, portanto, a migrar para fora da
célula (por diferença de concentração),

 O íon sódio (Na+) em maior concentração


no meio extracelular, com tendência a migrar
para o interior celular.

O potencial de ação é dividido em cinco


Nesse cenário, considerando o tamanho do fases, de acordo com a ativação de canais
íon e o fato de a permeabilidade ser cerca iônicos específicos, o fluxo iônico e a
de cinquenta vezes maior que a do Na+, o K+ consequente polaridade transmembrana, a
é considerado em seus fluxos transmembrana saber:
o principal íon para a manutenção da
condição de potencial de repouso.
 Fase 0: fase ascendente rápida, quando despolarização de maneira gradual
corre a despolarização pela entrada (despolarização diastólica), que atinge
rápida de Na+ na célula. potenciais diastólicos máximos de –65 mV
 Fase 1: repolarização precoce, quando (nas células de resposta rápida é de –90 mV)
há um pequeno deslocamento da curva (Figura 1.9). A despolarização nessas células
em direção à linha de potencial zero por ocorre quando os limiares em torno de –45 mV
uma diminuição abrupta da a –40 mV são alcançados.
permeabilidade ao Na+ , da saída de K+
ATIVAÇÃO DO CORAÇÃO
e da entrada de Íons Cloro (Cl– ).
 Fase 2: repolarização lenta, também Introdução
conhecida como “meseta” ou “plateau”.
Nesta fase há uma relativa estabilização Após sua gênese pelas células do marca-
em torno da linha de potencial zero, passo cardíaco locadas no nó sinusal, o
havendo saída de K+ e entrada de Íons potencial de ação será propagado pelo
Cálcio (Ca2+). coração, mais especificamente pelo sistema
 Fase 3: repolarização rápida, quando há excito-condutor, como uma onda de
deslocamento da curva para a linha de despolarização que será responsável pela
base, voltando o potencial da membrana ativação e, consequente, potencial de
ao valor de –90 mV. É decorrente contração cardíaco.
principalmente do grande efluxo de K+ da A ativação do coração se dá pela
célula. Ao final desta fase o potencial propagação do estímulo elétrico gerado
basal da membrana está recuperado, pela diferença de potencial de membrana
porém com uma distribuição iônica através do sistema excito-condutor; essa
invertida. propagação de corrente se orienta por meio
 Fase 4: repouso elétrico ou fase diastólica, de vetores direcionados habitualmente no
estando a linha estável em –90 mV, há sentido das regiões de maior musculatura e,
troca de íons com a saída de Na+ e a potencial de ativação e diferença de
entrada de K+ com gasto energético, potenciais de membrana. Sendo assim faz-se
além da saída de Ca2+, para haver muito importante reconhecer como
recuperação do perfil iônico inicial. acontece a ativação cardíaca, e a
Potencial de ação de resposta rápida e de orientação de seus vetores, para a
resposta lenta compreensão da morfologia de ondas do
eletrocardiograma.
As células cardíacas podem apresentar dois
tipos distintos de potencial de ação, o de Anatomia do sistema de condução
resposta rápida e o de resposta lenta. O O sistema de condução cardíaco (Figura 2.1)
potencial acima descrito (que possui as fases é formado em disposição sequencial para
de 0 a 4) é o de resposta rápida, encontrado configuração do estímulo por:
nas células contráteis e nos sistemas
especializados de condução.

O potencial de ação de resposta lenta é o


encontrado principalmente no nó sinusal e no
nó atrioventricular (AV). A principal diferença
é a ausência dos canais rápidos de Na+ ,
sendo o influxo de Ca2+, através de canais
especializados, o responsável pela
despolarização. A repolarização ocorre de
maneira semelhante, pelo influxo de K+ para
dentro da célula após a interrupção do
influxo de Ca2+. Outra diferença relevante  Nó sinusal: locado posteriormente ao
está no fato de que essas células não ângulo de junção da veia cava superior
possuem potencial de repouso fixo, havendo com o átrio direito.
 Feixes internodais anterior, médio e ECG como o intervalo PR). O nó AV está
posterior: responsáveis pela propagação localizado logo abaixo do endocárdio
do estímulo nos átrios e nó atrioventricular. posterior do AD, na frente do orifício do seio
 Nó atrioventricular (AV): emaranhado de coronário e acima da inserção da valva
fibras com ação de potencial bloqueio e tricúspide.
retardo na condução do estímulo
Depois desse atraso, o impulso segue pela
proveniente dos átrios, antes de seu
porção penetrante do feixe His e seus ramos
acesso ao ventrículo.
direito e esquerdo. O ramo direito se
 Feixe de His: precede à bifurcação para
subdivide em anterior, média e posterior e,
os ramos direito e esquerdo.
posteriormente, nas redes de Purkinje
 Ramos e sistema His-Purkinje: ramo
subendocárdica direita. O ramo esquerdo se
esquerdo, composto de dois ou três
separa em três divisões anatomofuncionais:
ramos, a saber: anteroposterior e póstero
os fascículos anterosuperior, anteromedial e
inferior (e medial), e ramo direito (Figura
posteroinferior. Esses fascículos se arborizam
2.2).
na rede de Purkinje esquerda (Figura 2.5).
Ativação e despolarização atrial
A despolarização ventricular é registrada no
O estímulo tem origem no nó sinusal (ou nó ECG por deflexões rápidas para cima e para
sinoatrial) dentro de limites normais da baixo da linha de base, o complexo QRS,
frequência cardíaca (de 50 a 100 batimentos sendo resultado de infinitos vetores de
por minuto). A partir da propagação do ativação que podem ser sintetizados em três
estímulo para os feixes internodais o átrio principais (Figura 2.6):
direito é ativado, seguido pelo septo
Vetor 1: este vetor, que se manifesta nos
interatrial e pelo átrio esquerdo (Figura 2.3),
primeiros 20 ms, é decorrente da ativação
composto dos feixes internodais anterior,
septal (primeiro septo esquerdo e depois
médio e posterior e do fascículo de
direito). Pelo fato de o septo interventricular
Bachmann.
esquerdo ser mais espesso e pela
É essa sequência de ativação atrial, antecipação de sua despolarização, o vetor
inicialmente somente do AD, posteriormente resultante se origina na superfície septal
concomitante do AD e do AE e por fim esquerda com direção para o músculo
ativação isolada do AE, que promove o papilar anterior do ventrículo direito.
traçado da onda P no eletrocardiograma
Vetor 2: a resultante da ativação dos
(Figura 2.4).
ventrículos direito e esquerdo é responsável
Considerando a localização do nó sinusal, a pelo vetor 2, que ocorre após os primeiros 20
posição anatômica dos átrios (direito mais ms da ativação ventricular. Como em
verticalizado e esquerdo mais posterior e corações saudáveis a massa muscular e a
horizontalizado), a sequência de ativação espessura do ventrículo esquerdo são maiores
atrial direita e esquerda e seus vetores, que do ventrículo direito, a resultante orienta-
teremos a alça de despolarização atrial, se para trás, para a esquerda e para baixo.
tendo o vetor médio (SÂP) orientado de cima
Vetor 3: este vetor projeta-se entre 60 e 80 ms
para baixo, da direita para a esquerda e
após o início da ativação ventricular e é
discretamente para a frente.
decorrente da ativação das porções basais
A partir do SÂP e da posição dos átrios na dos ventrículos, que são as últimas a serem
caixa torácica entendemos a configuração ativadas por serem mais grossas e menos ricas
da onda P nas derivações. em fibras de Purkinje. O vetor 3 se direciona
para cima, para trás e para a direita.
Ativação e despolarização ventricular
Na prática clínica, o vetor avaliado é a
Após a ativação atrial, a onda de
resultante dos três vetores acima descrito, o
despolarização chega ao nó AV, onde
SÂQRS, que representa o vetor médio da
sofrerá um retardo fisiológico de
ativação ventricular como um todo. Pela
aproximadamente 20-40 ms (manifestado no
orientação espacial de cada vetor e pelo dessas resultantes isoelétricas podem ofertar
fato de o vetor 2 possuir maior amplitude, o traçados ricos em informação dos efeitos de
vetor resultante direciona-se para a região determinada patologia ou alteração sobre a
apical do ventrículo esquerdo (Figura 2.6). atividade elétrica do coração.

DERIVAÇÕES Derivações no plano frontal

Porto O corpo humano possui infinitas derivações


em sua superfície, sendo necessário
Derivações eletrocardiográficas e sistemas
convencionar os resultados coletados destas
de referência
para objeto de estudo e comparação. Dessa
As derivações eletrocardiográficas forma, Eithoven, em 1913, por convenção e
compreendem as bipolares dos membros, as pragmatismo, estabeleceu três derivações
unipolares dos membros e as precordiais. bipolares (derivações que possuem dois
polos: um negativo e um positivo), que
As derivações bipolares dos membros, representavam os lados de um triângulo,
designadas D1, D2 e D3, registram a diferença chamado “triângulo de Eithoven”, a saber: DI,
de potencial entre dois pontos no plano DII e DIII.
frontal do corpo.

As derivações unipolares dos membros são


designadas aVR, aVL e aVF e obtidas
conectando-se as três extremidades a uma
central terminal, para que o galvanômetro
registre um potencial de aproximadamente
zero. Coloca-se o eletrodo explorador no
braço direito (aVR), no braço esquerdo (aVL)
e na perna esquerda (aVF).

As derivações precordiais unipolares


representam as diferenças de potencial das
forças elétricas do coração no plano
horizontal e são registradas colocando-se o
eletrodo explorador em diferentes pontos da
região precordial, designados V1, V2, V3, V4,
V5 e V6.

Manual prático de eletrocardiograma

Introdução
Em 1933, Wilson e colaboradores perceberam
A ativação elétrica do coração gera na que, quando se uniam as derivações clássicas
superfície corporal uma diferença de de Eithoven pelo centro, adquiria-se um
potencial passível de registro, mensuração e potencial resultante muito próximo de zero.
análise. Por meio de fios e eletrodos é possível Nesse ponto de união, eles conectavam o
a construção de pontos de referência que eletrodo explorador, definindo assim mais três
permitem a captação, o estudo e a análise derivações unipolares (o vetor é gerado no
desses registros, ditos derivações. centro do coração e aponta para a área de
Tais derivações são divididas em dois grupos: mais positividade): aVR, aVL e aVF.
horizontais e verticais, em que por convenção
são registradas medidas positivas (quando o
eletrodo explorador está orientado e
captando regiões próximas da origem de
vetores) e negativas (quando o eletrodo
capta a extremidade de vetores). As somas
Derivações no plano horizontal

O coração é um órgão tridimensional com


vetores que assumem uma posição espacial.
Em análise física, por definição, há a
necessidade de dois planos perpendiculares
para orientação espacial de um vetor; assim,
como anteriormente foi apresentado o plano
frontal e suas derivações, agora é
Sistema de eixos apresentado o plano horizontal com mais seis
derivações (V1, V2, V3, V4, V5 e V6)
O sistema de eixos, como o nome sugere, une rotineiramente usadas. Há que se citar,
as seis derivações do plano frontal (DI, DII, DIII, adicionalmente, que mais três derivações
aVR, aVL e aVF) pelo eixo comum. colaboram nesse plano para diagnósticos
Esse sistema de eixos oferece uma ferramenta mais precisos da parede posterior do coração
com distância precisa entre cada vetor (30°) (V7, V8 e V9) quando necessário.
e a presença maior de vetores positivos Essas derivações, denominadas
abaixo do vetor transversal DI. Dessa forma, a “precordiais”, exploram a face anterior do
graduação de cada vetor nessa região adota tórax e têm pontos anatômicos específicos
números positivos e, acima dela, o mesmo para seu posicionamento e análise.
vetor transversal, pela maior quantidade de
vetores negativos, adota uma quantificação
negativa.

V1: Cruzamento entre a linha paraesternal


esquerda e 4° espaço intercostal.

V2: Cruzamento entre a linha paraesternal


direita e o 4° espaço intercostal.

V3: No meio do caminho entre V2 e V4.

V4: Cruzamento entre o 5º espaço intercostal


e a linha hemiclavicular esquerda.
V5: Cruzamento entre o 5° espaço intercostal simples: 1 minuto de traçado a uma
e a linha axilar anterior. velocidade de 25 mm/s apresenta cerca de
1500 quadrados menores, basta então dividir
V6: Cruzamento entre 5° espaço intercostal e
esse valor pelo número de quadrados
linha axilar média.
menores entre o pico de duas ondas R
sequenciais. Apesar de não ser um cálculo
fácil de executar, ele é mais preciso quando
comparado a outros métodos.

Uma outra forma de avaliação da FC pode ser


feita de maneira rápida e já permite a
imediata definição de um paciente em
taquicardia (FC > 100 bpm) ou bradicardia
(FC < 50 bpm, descartando situações
especiais). Esta forma consiste em procurar
complexos QRS sequenciais que estejam
posicionados sobre o traçado maior que
divide os blocos de cinco quadrados
O ECG NORMAL menores e contato. Na sequência, os valores
de 300, 150, 100, 75 e 60 a cada linha maior
O eletrocardiógrafo registra por meio de uma de quadrados.
agulha térmica a leitura da atividade elétrica
do coração. Assim, enquanto a agulha oscila, Em seguida determina-se o ritmo: no adulto, o
o papel corre a uma velocidade de 25 mm/s, ritmo sinusal é aquele originado no nó sinusal,
no caso dos eletrocardiógrafos de papel “em conduzido aos ventrículos com intervalo entre
fita”. Apesar de os aparelhos de ECG mais 120 ms e 200 ms. Em sua normalidade o ECG
modernos registrarem de maneira simultânea registra ritmo sinusal de uma maneira muito
as derivações, essa velocidade permaneceu simples: presença de ondas P positivas nas
como padrão e é registrada nas bordas do derivações DI, DII e DaVF e a mesma onda P
papel, seguindo como orientação para evitar negativa em aVR.
erros de leitura quanto à frequência cardíaca.

O papel onde é traçada a linha do ECG é


padronizado: um quadriculado composto de
quadrados maiores (linhas grossas)
preenchidos com quadrados menores (linhas O eixo cardíaco normal
finas). Essa delimitação em gráfico com x e y
permite a leitura, no eixo x (vertical), de
medidas de amplitude calculadas em milivolt
(mV) e, no eixo y (horizontal), de medidas de
tempo calculadas em segundo (s). Os
quadrados maiores (linha grossa) possuem
0,5 mV de amplitude, ou seja, cada um dos
cinco quadrados menores que compõem um
quadrado maior tem 0,1 mV. Quanto à
grandeza tempo, o quadrado maior
representa 0,20 s, e cada quadrado menor
dos cinco que o compõem representa 0,04 s.

Definidas as medidas do papel de registro, é


possível calcular as variações de frequência
cardíaca com precisão. Há várias maneiras O registro eletrocardiográfico do complexo
de realizar esse cálculo, contudo uma das QRS representa a resultante de três vetores da
mais simples consiste em uma divisão despolarização ventricular, sendo
denominado como SQRS. Sua interpretação O eixo normal do coração se localiza entre –
permite avaliar situações em que o coração 30° e + 90°. Na presença do desvio do eixo
apresenta mudança de rotação sobre seu para a esquerda o eixo cardíaco varia de –
eixo, determinando assim o desvio do eixo 30° e –90°. Na ocorrência de desvio do eixo
para direita ou para esquerda. para a direita o eixo está entre +90° e +180°.

No capítulo de derivações foi observada e Para a determinação do eixo, devemos


construída com as derivações do plano considerar a predominância do QRS, se
frontal e periféricas a “rosa dos ventos”, agora positivo, negativo ou isoelétrico nas
será utilizada a orientação do eixo elétrico derivações DI e aVF, o que permitirá inferir em
normal do coração. qual quadrante está o QRS, de acordo com
as projeções da roda dos ventos. Verifique a
Trata-se de um método que exige especial
derivação DII, caso esta esteja positivo
atenção, pois seu resultado pode ser
significa que o eixo encontra-se no quadrante
esclarecedor a diversos quadros do paciente.
inferior direito. Para definir aproximadamente
De maneira prática utiliza-se o complexo QRS
o eixo dentro deste quadrante, observa-se
para construir a resultante nessa projeção:
em qual derivação o QRS está mais
dessa maneira simplesmente avaliam-se a
isoelétrico, pois será na derivação
altura do complexo e sua predominância
perpendicular a esta que o eixo estará.
(predominantemente positivo ou negativo) e
transpõe-se o vetor a sua respectiva
derivação perpendicular. Podem ser
utilizadas todas as derivações do plano frontal
para detalhar a posição correta do eixo final.

Vale lembrar que o desvio do eixo elétrico


para a direita ou para a esquerda muitas
vezes não está relacionado com patologias e
sim com o biotipo. Por exemplo, em
Com o vetor resultante em mãos, basta indivíduos brevilíneos o eixo tende a ficar
interpretá-lo para saber o sentido de seu horizontalizado devido ao fato de o coração
deslocamento: direita, esquerda ou normal. repousar uma maior parte sobre o diafragma,
em indivíduos longilíneos ocorre o inverso,
tornando o eixo verticalizado.

Compreendendo as ondas

Onda P

Porto

Onda P. A onda P, que representa a


despolarização da musculatura atrial,
precede o complexo QRS e sua duração
varia de 0,06 a 0,10 s, medida nas derivações
do plano frontal (D2). Valores acima de 0,10 s
são considerados anormais.

É considerada normal uma amplitude de 2,5


mm, no máximo. No coração em posição
intermediária, a onda P tem maior amplitude Polaridade: as ondas P na superfície corporal
em D2. podem ter registro positivo ou negativo,
dependendo da orientação do eletrodo
Nas derivações precordiais, ela é medida em
explorador, normalmente positiva nas
V1, em que não deve exceder 2,5 mm.
derivações DI, DII e DIII, sempre negativa em
Geralmente, é positiva em V1, V2 e V3,
aVR; as demais derivações variam de
podendo ser bifásica (±) em V1 e V2 e
indivíduo para indivíduo.
negativa em V1; Nas derivações V4, V5 e V6,
sempre é positiva. Intervalo PR

Manual prático de eletrocardiograma Porto

Onda P Segmento PR e intervalo PR. Trata-se de um


segmento isoelétrico que vai do término da
onda P ao início do complexo QRS. Sua
duração depende da idade e da frequência
cardíaca. Na prática, mede-se a duração do
intervalo PR, que vai do início da onda P ao
início do complexo QRS (q ou R). Deve ser
medido na derivação bipolar dos membros
em que for mais longo. Sua duração vai de
0,12 a 0,20 s, sendo os menores valores
registrados em crianças e nas taquicardias, e
os maiores, nas bradicardias e em pessoas
idosas.

Para determinar o valor normal do intervalo


PR, existem tabelas correlacionando-o com a
frequência cardíaca e a idade do paciente.
A onda P é a primeira onda registrada em Manual prático de eletrocardiograma
qualquer derivação do ECG, ela representa a
ativação dos átrios e é composta, na Intervalo PR
verdade, do registro da ativação de cada Na prática diária, a medida do intervalo PR é
átrio apresentado como uma única onda.
dada pelo início da onda P até o ínicio do
Duração: a duração da onda P geralmente é complexo QRS. O significado eletrofisiológico
obtida em DII e tende a ser maior conforme a disso seria o tempo de condução através do
idade do indivíduo: nó AV.

 0,06-0,09 s em crianças; O intervalo PR varia com a idade e a FC do


 0,08-0,11 s em adultos; indivíduo, ou seja, mais curto em crianças e
 É considerada patológica quando > 0,09 s mais alongado em idosos. Em adultos,
(para < 10 anos), > 0,10 s (entre 10 e 15 normalmente, esse intervalo não ultrapassa
anos) e > 0,11 s (em adultos). 0,20 s; o valor mínimo para crianças não
ultrapassa 0,09 s e para adultos 0,12 s. Abaixo
Morfologia: a onda P normal é arredondada, desses valores deve-se suspeitar de ritmo
monofásica, pode apresentar ectópico, iniciando-se fora do nó sinusal, ou
ocasionalmente pequenos entalhes, sem que síndrome de Wolf-Parkinson-White. E para
a distância entre esses entalhes exceda 0,03 valores acima de 0,20 s deve-se pensar em
s. atrasos de condução, como bloqueio
Amplitude: a voltagem normal da onda P atrioventricular do 1ª grau (BAV 1ª grau).
varia entre 0,25 mV e 0,30 mV (avaliada em Complexo QRS
DII).
Porto
Complexo QRS. O complexo QRS traduz a Polaridade: a polaridade média deste
despolarização ventricular. A orientação do complexo em indivíduos normais apresenta
eixo elétrico de QRS varia com relação ao um caráter predominantemente positivo em
biotipo. regiões anteroesquerdas e posteroesquerdas
do tórax e, predominantemente, negativo à
A voltagem ou a altura do complexo QRS
direita do precórdio e em regiões próximas do
sofre influência de vários fatores cardíacos e
ombro direito.
extracardíacos. Nos indivíduos com enfisema
pulmonar e derrame pericárdico, observa-se Segmento ST
baixa voltagem (quando nenhuma onda é
Porto
maior que 5 mm nas derivações clássicas [D1,
D2 e D3]). Nas precordiais, reconhece-se Segmento ST. O segmento ST representa o
baixa voltagem se a amplitude da maior tempo que decorre do fim da despolarização
reflexão não ultrapassar 9 mm. Não há até o começo da repolarização da
critérios para alta voltagem. musculatura ventricular, ou seja, do fim do
complexo QRS ao início da onda T. O ponto
A duração normal do complexo QRS vai de
de junção entre o QRS e o segmento ST é
0,06 a 0,11 s.
denominado ponto J.
A morfologia dos complexos ventriculares nas
Normalmente, o segmento ST é isoelétrico ou
derivações bipolares e unipolares depende
apresenta pequenos desnivelamentos que
da posição do coração. A direção do vetor
não ultrapassam 1 a 1,5 mm. Desnivelamentos
resultante no plano frontal retrata a direção
maiores ocorrem em distúrbios secundários
das forças elétricas em torno do eixo
da repolarização ventricular, nas hipertrofias
anteroposterior.
ventriculares e nas alterações isquêmicas.
Manual prático de eletrocardiograma
Manual prático de eletrocardiograma
Complexo QRS
Segmento ST
O complexo QRS representa a ativação
O segmento ST é observado imediatamente
ventricular e apresenta uma morfologia
no final do complexo QRS e início da onda T,
pontiaguda, ao contrário das arredondadas P
geralmente ele adota um caráter isoelétrico,
e T.
tolerando um desnivelamento máximo de 1
Duração: este complexo possui uma duração mm.
normal entre 0,05 s e 0,11 s, com uma média
Onda T
de 0,07 s. Como na onda P, o complexo QRS
tende a ser maior quanto maior a idade. De Porto
forma prática, a duração de complexo QRS
não deve execeder 2,5 quadrados menores Onda T. A onda T representa a repolarização
do papel do ECG. ventricular; É arredondada, assimétrica, com
o ramo ascendente lento e o descendente
Morfologia: a morfologia deste complexo é rápido.
altamente diferenciada, assim não há um
padrão que possamos ditar como Manual prático de eletrocardiograma
normalidade. Onda T
Amplitude: também é variável, dependendo Esta onda representa a repolarização
das condições cardíacas e extracardíacas ventricular e tal processo se realiza no mesmo
do paciente. Obesidade, enfisema pulmonar, sentido da ativação ventricular.
derrames pericárdicos, miocardiopatia
dilatada e edemas são situações que Duração: deve-se enfatizar que as
favorecem o registro de baixa voltagem características normais da onda T não devem
deste complexo. ser medidas isoladamente, estando tal
medida embutida no cálculo do intervalo QT.
Morfologia: esta onda é arredondada e O QTC deve ser menor 0,45 em homens e
assimétrica, sendo a primeira porção mais menor que 0,46 em mulheres.
lenta que a segunda.
Onda U
Amplitude: relativamente menor que QRS,
Porto
quase sempre abaixo de 6 mm nas
derivações inferiores. Onda U. A onda U apresenta-se arredondada
e larga, de baixa voltagem, não
Polaridade: normalmente a polaridade da
ultrapassando 0,5 mm nas derivações
onda T adota um caráter positivo na maioria
clássicas. Representa a repolarização das
das derivações, contudo em situações
fibras distais de Purkinje. É mais bem
especiais ele adota um caráter diferente e
observada nas derivações precordiais,
não patológico.
principalmente em V5 e V6. Em geral, é
Intervalo QT positiva nas derivações nas quais o complexo
QRS é positivo. Onda U negativa aparece na
Porto
cardiopatia isquêmica, na hipertrofia
Intervalo QT. Este intervalo vai do início do QRS ventricular esquerda e nos distúrbios
ao final da onda T. Representa a sístole hidreletrolíticos.
elétrica, pois inclui a despolarização e a
Manual prático de eletrocardiograma
repolarização ventricular. A duração do QT
varia com a idade, o sexo e a frequência Onda U
cardíaca, existindo muitas fórmulas e tabelas
Esta onda pode ser observada no final da
para o cálculo dos valores do QT.
onda T especialmente nas derivações V3 e
Manual prático de eletrocardiograma V4. Ela é pequena e arredondada,
geralmente de baixa frequência, é positiva
Intervalo QT
nas derivações inferiores e precordiais e
É o período de tempo entre o início do negativa em aVR, sua amplitude alcança
complexo QRS e o final da onda T e cerca de 5-25% da onda T e suas maiores
corresponde à duração total da sístole amplitudes são notadas em V2 e V3,
elétrica ventricular. Esse intervalo é maior em podendo alcançar 2 mm, mas atinge em
mulheres do que em homens, aumentando média 0,33 mm. Ela é inversamente
em ambos com a FC, para os limites de 45-115 proporcional a FC, assim é comum encontrá-
bpm; os limites normais desse intervalo giram la maior em atletas e bradicárdicos e menor
em torno de 0,46-0,30 s. O intervalo QT em crianças.
aumenta conforme o avanço da idade e
SOBRECARGAS OU CRESCIMENTOS ATRIAIS
durante o sono. O internado QT deve ser
melhor mensurado comumente em V2 e V3 e As doenças cardíacas que produzem
deve ser corrigido pela frequência (QTC ou crescimento atrial são acompanhadas de
QT corrigido) já que a sístole elétrica aumenta alterações eletrocardiográficas típicas da
com a diminuição da frequência cardíaca. onda P, seja a expressão do crescimento do
átrio direito, do esquerdo ou de ambos. Tais
A fórmula de Bazett, embora sujeita a críticas
alterações modificam a morfologia, a
é a mais empregada:
voltagem e a duração da onda P.

Ou pela fórmula derivada:


O vetor de ativação atrial determina ondas
positivas em todas as derivações, exceto em
aVR.
Em qualquer um dos casos de crescimento  Lesões valvares múltiplas com ou sem
atrial (direito, esquerdo ou biatrial) não é lesão tricúspide, com hipertensão
correta a expressão hipertrofia atrial, sob o pulmonar;
ponto de vista do traçado  Lesões tricúspides;
eletrocardiográfico, já que a ativação dos  Miocardiopatia dilatada;
átrios se faz tangencialmente à parede, de  Cor pulmonale agudo e crônico.
modo que a hipertrofia atrial não tem
Crescimento ou sobrecarga atrial esquerda
expressão eletrocardiográfica. Convém
ainda evitar que hipertrofia seria um
diagnóstico anatômico ou
anatomohistológico e não eletrofisiológico.

Crescimento ou sobrecarga atrial direita

Conceito

Quando ocorre crescimento ou sobrecarga


do átrio direito, o vetor médio do AD aumenta
sua amplitude, deslocando-se mais para a
frente e para a direita. E estas ocorrências
levarão aos seguintes achados
eletrocardiográficos:

 Aumento da amplitude da onda P (maior


que 2,5 mm em DII e VI);
 Onda P apiculada em muitas derivações
(DII, DIII, aVF e VI); Conceito
 Desvio do vetor médio de P para a direita Quando ocorre o crescimento do átrio
(60º a 90º). esquerdo, o seu vetor médio se dirige mais
para trás, para cima e para a esquerda, e isso
levará aos seguintes achados
eletrocardiográficos:

 Aumento da duração da onda P (maior


que 0,10 s);
 Presença de entalhes bem marcados,
separados por mais de 0,03 s,
principalmente em DI e DII;
 Desvio do eixo elétrico de P para a
esquerda;
 Fase negativa da onda P em V1 > 0,03
mm/s (índice de Morris).

Etiologia

As principais etiologias são:

 Insuficiência mitral;
 Estenose mitral;
 Miocardiopatia dilatada;
 Cardiopatias hipertensivas.

Crescimento biatrial
Etiologia

O crescimento atrial direito pode ser


observado nas seguintes patologias:
QRS em acordo com a posição do eletrodo
de registro.

A variação morfológica ocorre por causa da


disposição do eletrodo explorador no gradil
torácico, sempre considerando todos os
quatro vetores de ativação ventricular, que
Neste caso, há uma combinação podem ser revistos em capítulos anteriores.
morfológica com crescimento de ambos os
átrios. O crescimento biatrial pode ser Considerações sobre as sobrecargas
observado nas lesões tricúspides, na dupla ventriculares
lesão mitral e na insuficiência cardíaca. A sobrecarga ventricular é a situação na qual
Alterações eletrocardiográficas mais comumente ocorre o aumento da
amplitude do QRS. No entanto, o QRS pode
O crescimento biatrial se manifesta no estar aumentado em indivíduos normais nas
eletrocardiograma pela associação dos seguintes situações:
sinais do crescimento atrial direito e
esquerdo: a) crianças, adolescentes e adultos jovens;

 Onda P se torna mais apiculada e com b) longilíneos;


duração maior, em torno de 0,12 s, em DII, c) atletas;
DIII e aVF.
 Onda P bifásica em V1 com início d) mulheres mastectomizadas;
apiculado positivo (> 1,5 mm), com o e) vagotonia.
componente final negativo com mesma
altura (≥ 0,04 s) e profundidade de pelo Os vetores de ativação ventricular esquerda
menos 1 mm. fisiologicamente predominam. Por outro lado,
 O eixo elétrico pode estar desviado para quando há grande sobrecarga ventricular
a direita ou para a esquerda ou estar na direita haverá sensível alteração do ECG
faixa normal. normal. Mas para que ocorra a
predominância do VD é necessário que o
SOBRECARGAS VENTRICULARES aumento da massa ventricular exceda em
O estudo das sobrecargas ventriculares exige três vezes a massa do ventrículo esquerdo.
a breve revisão de alguns conhecimentos O diagnóstico de HVE (Hipertrofia Ventricular
básicos da ativação ventricular normal e da Esquerda) incipiente é difícil, desta forma, o
amplitude do complexo QRS, do seu eixo sistema de escore pode ser mais confiável.
médio e da sua repolarização. A Tabela 6.1
permite relembrar itens discutidos Sobrecarga Ventricular Esquerda (SVE)
previamente nos capítulos anteriores.
Há várias causas para SVE uma maneira
adequada para estabelecer esse
diagnóstico eletrocardiográfico é usar um
sistema de escore, como o de Romhilt.

Acompanhando a ativação e a
repolarização ventricular por meio da Convém citar que há também outros índices
morfologia do QRS nas derivações do plano para a verificação da ocorrência de SVE
horizontal na Figura 6.1, é possível detectar a sendo o escore de Romhilt o considerado
progressão de alterações da morfologia do mais adequado.
Há diversos critérios disponíveis para padrão strain, significam sobrecarga sistólica
avaliação da HVE, sendo os de voltagem os (HAS, estenose aórtica).
mais utilizados. Cada critério tem
Críticas a esse padrão de classificação se
sensibilidade diagnóstica diferente, sendo
devem ao fato de que nem sempre a
assim analisando-se um mesmo paciente
apresentação inicial de distinção da onda T é
poderá haver o diagnóstico de HVE por um
única, e por vezes são necessários anos para
critério e não por outro.
observar a mudança de padrão. Por
exemplo, um paciente com hipertensão
arterial sistêmica pode inicialmente
apresentar padrão diastólico e somente após
anos de doença não controlada apresentar o
padrão sistólico.

Sobrecarga ventricular direita

Há diversas causas de SDV, como:

 Estenose valvar pulmonar


 T4F
 Hipertensão pulmonar
 Comunicação interatrial
 Drenagem anômala de veias pulmonares
 Insuficiência tricúspide
 Insuficiência pulmonar

De acordo com Fisch, há três morfologias em


V1, descritas na Tabela, que sugerem
Sobrecarga Ventricular Direita (SVD).

A morfologia como se nota é variada (R, Rs,


rRs, R entalhado, RR’ e qR) e memorizar os
padrões é desnecessário. Outro dado
interessante é que se a segunda onda R for
maior que onda R inicial, em indivíduos acima
de 30 anos, normalmente há doença
pulmonar associada.

Os parâmetros de SVD ao ECG estão descritos


Sobrecarga ventricular sistólica e diastólica na Tabela:

Inicialmente as ondas T se tornam simétricas,


altas e pontiagudas, além de um ST côncavo
ou supradesnivelado, nas situações que
configuram a sobrecarga diastólica
(insuficiência aórtica, Comunicação
intraventricular, Persistência do canal
anterior), foram relevantes para a sobrecarga
ventricular. Por sua vez, onda T invertida e
segmento ST infradesnivelado, chamado
isquemia, extensão, localização topográfica
e até mesmo correlação com a anatomia
coronariana. O eletrocardiograma deve ser
solicitado o mais precocemente possível, em
no máximo dez minutos da chegada ao
atendimento médico. Diante da avaliação do
traçado eletrocardiográfico três hipóteses são
possíveis:

1. ECG normal ou não diagnóstico, em que a


estratificação de risco adicional se faz
necessária para traçar a melhor conduta;

2. ECG com alterações sugestivas de


isquemia, como inversão de onda T simétrica
Algumas patologias que acometem o VD, ou infradesnivelamento de ST, correlaciona
causando apresentações situação que se fisiopatologicamente com a
eletrocardiográficas de sobrecarga suboclusão da artéria coronariana.
ventricular:

3. ECG com supradesnivelamento de ST,


acima de 1 mm em duas ou mais derivações,
ou presença de bloqueio de ramo esquerdo
Sobrecarga Biventricular (SBV) novo, que corresponde àqueles pacientes
Por fim apresentamos os critérios para a SBV: com trombo intracoronariano totalmente
oclusivo.

ECG NAS SÍNDROMES CORONARIANAS


AGUDAS (SCA)
A avaliação repetida do ECG se faz
ECG nas Síndromes Coronarianas Agudas necessária nas primeiras horas do
(SCA) atendimento inicial, principalmente na
O ECG tem papel fundamental no recorrência dos sintomas, uma vez que o
diagnóstico, classificação, definição da quadro clínico do paciente pode passar de
estratégia terapêutica e no prognóstico dos uma SCA sem supra de ST para um infarto com
pacientes com suspeita de infarto. O ECG supra de ST. Além disso, estes pacientes estão
inicial no diagnóstico do IAM apresenta mais propensos a apresentar arritmias
alterações clássicas em 50% dos casos, a cardíacas complexas.
repetição do ECG aumenta a detecção de Alterações isquêmicas agudas
alterações em 85%. O ECG permite
determinar aspectos como duração da
Algumas alterações decorrentes do processo Q inicia seu aparecimento com o segmento
isquêmico miocárdico são observadas no ST ainda mantendo sua concavidade
ECG, a saber: superior. A onda Q sinaliza que houve perda
das forças elétricas no tecido necrótico,
 Retificação do segmento ST em duas ou
formando o complexo QS, que reflete a
mais derivações contiguas;
ausência de tecido viável sobre a área
 Inversão de onda T simétrica em duas ou
necrótica. Há diminuição progressiva do
mais derivações contíguas;
supradesnivelamento retornando à linha de
 Infradesnivelamento do segmento ST de
base com inversão simétrica da onda T. Após
pelo menos 1 mm.
a fase de resolução, há normalização da
Depressão do segmento ST e alterações da onda T e manutenção da onda Q. Essas
onda T em derivações contíguas ocorrem em alterações são passíveis de serem alteradas
mais de 50% dos pacientes com angina na sua evolução com o uso de estratégias de
instável ou IAM sem supra do segmento ST. reperfusão coronária, seja quimicamente
Quando esse infradesnivelamento se mostra pelo uso de fibrinolíticos, seja
com característica descendente, a mecanicamente pela intervenção coronária
correlação com evento isquêmico é mais percutânea.
forte do que quando o infra é ascendente.

Inversões de onda T maiores que 2 mm ou


presença de ondas Q patológicas (maiores
que 40 ms ou maiores que 25% da amplitude
do R) configuram fator de risco intermediário.

Alterações do segmento ST

O supradesnivelamento do segmento ST
consiste na elevação no ponto J do segmento
ST em duas ou mais derivações contíguas
maior que 2 mm nas derivações precordiais
ou maior que 1 mm nas periféricas; na
presença de outros achados é altamente
sugestivo de infarto.
A mortalidade nos casos de TAM aumenta de
A presença de Bloqueio de Ramo Esquerdo acordo com o número de derivações com
(BRE) novo ou presumivelmente novo sugere supradesnivelamento do ST. Além das doze
fortemente a presença de Infarto Agudo do derivações habituais é importante avaliar
Miocárdio (IAM). outras derivações não usuais, como V7 e V8
(avaliação da parede posterior), e
A presença de elevação do ST ao ECG é de
derivações direitas (V3R, V4R).
grande importância, uma vez que traçará a
conduta e o prognóstico do paciente. A A ocorrência de elevação do segmento ST
avaliação do segmento ST na presença do não ocorre exclusivamente nos casos de IAM,
BRE está prejudicada e o seu aparecimento existem outras condições clínicas que podem
súbito é altamente indicativo de oclusão apresentar essas características
coronariana, por isso sua ocorrência é eletrocardiográficas:
considerada IAM.

A análise de um ECG prévio do paciente, se


possível, é de grande utilidade para definir se
as alterações são antigas ou não. O supra de
ST na fase hiperaguda se caracteriza pela
presença da ascensão assimétrica do
segmento ST em direção à onda T positiva e
pontiaguda. Na evolução do infarto, a onda
São inúmeros os fatores diretamente
relacionados à fisiopatologia desses
distúrbios, tais como: doenças das artérias
coronárias, doenças do músculo cardíaco,
doenças valvares, alterações eletrolíticas,
doenças infecciosas (doença de chagas,
miocardites), doenças infiltrativas
(sarcoidose), pós-cirurgia cardíaca ou
congênita. Além disso, as arritmias também
podem surgir muitas vezes por fatores
externos, como cafeína, bebidas alcoólicas,
energéticos, cigarro, drogas e estresse.

A eletrocardiografia é imprescindível no
diagnóstico das arritmias.

Ritmo normal

O ritmo sinusal é o ritmo fisiológico do


A avaliação do supra de ST no ECG é capaz coração. Apresenta RR regular com
de definir a topografia da parede ventricular frequência entre 60 e 100 batimentos por
acometida e, consequentemente, inferir qual minuto. Origina-se no átrio direito sendo
coronária está possivelmente envolvida na visualizado no eletrocardiograma pela
gênese do evento: presença de ondas P positivas nas derivações
inferiores (DII, DIII e aVF). Toda onda P deve
ser sucedida por um intervalo PR, com
duração entre 120 e 200 ms e pelo complexo
QRS-T.

Tipos de arritmias cardíacas

As arritmias podem ser classificadas conforme


os seguintes critérios que facilitam o manuseio
clínico:

Frequência cardíaca: arritmias por aumento


da frequência – taquicardia: FC > 100 bpm –
ou por redução – bradicardia, FC < 60 bpm.
Nos casos de suspeita de infarto de parede
Denomina-se taquiarritmia uma arritmia
posterior deve-se realizar o ECG com as
rápida e bradiarritmia uma arritmia lenta
derivações V7 e V8, que consistem em
ambas em ritmo regular ou irregular.
modificar a posição dos eletrodos V1 e V2 no
cruzamento do quinto espaço intercostal Território de origem: são supraventriculares
esquerdo com a linha axilar posterior (para quando originadas no território
V7) e com a linha hemiclavicular esquerda supraventricular (podem ser atriais ou
(para V8). Para avaliar o comprometimento juncionais) e ventriculares quando originadas
do ventrículo direito, são utilizados os no território ventricular.
eletrodos V3 e V4 no lado direito (V3R e V4R).
Forma de instalação: são paroxísticas as
ARRITMIAS CARDÍACAS arritmias de instalação súbita (mais
frequentemente utilizado para taquicardias) e
As arritmias cardíacas são distúrbios no ritmo
não paroxísticas quando têm início gradual.
do coração caracterizados por batimentos
rápidos, lentos ou irregulares. Essas alterações Duração da arritmia: são consideradas
podem surgir por anormalidades na gênese sustentadas as arritmias que permanecem
e/ ou na condução do impulso elétrico. por longo tempo (> 30 s por convenção), que
dependem de intervenção médica para sua
reversão ou quando provocam colapso Considera-se pausa um intervalo entre dois
hemodinâmico. Consideram-se não batimentos maior que o intervalo do ritmo
sustentadas as arritmias autolimitadas e de fundamental. A pausa pode terminar com um
curta duração. batimento sinusal, com um batimento
ectópico, frequentemente juncional ou com
Duração do QRS: são divididas em arritmias
um batimento ventricular, conhecido como
com QRS largo – quando o QRS tem mais de
batimento de escape.
120 ms – e arritmias de QRS estreito – quando
o QRS é igual ou menor que 120 ms.

Periodicidade: denominam-se intermitentes


quando aparecem e desaparecem
espontaneamente e permanentes quando se
instalam em definitivo.

Mecanismo: muitas são as origens das


arritmias cardíacas, entretanto, a maioria
absoluta é originada pelos seguintes
mecanismos:

a) distúrbios do automatismo – aumento ou


diminuição;

b) distúrbios do dromotropismo (condução) – Eventualmente, se o ritmo sinusal não se


pré-excitação (aceleração ou vias recupera o batimento de escape pode se
acessórias de condução) ou bloqueios repetir regularmente, constituindo um ritmo
(retardo ou interrupção); de escape, que também pode ser juncional
ou ventricular. Caso não haja ritmo de
c) reentrada (reexcitação pelo mesmo
escape, pode ocorrer uma assistolia
estímulo entre várias células);
normalmente acompanhada de sintomas
d) atividade deflagrada (reexcitação pelo graves, como síncope ou risco de morte
mesmo estímulo numa única célula). súbita.

Número de batimentos envolvidos:

a) batimentos isolados ou pareados:


extrassístoles (batimentos antecipados) ou
batimentos de escape (batimentos tardios);

b) sucessão de três ou mais batimentos:


taquicardia (ritmo acelerado) ou ritmo de
escape (ritmo lento).

Batimentos ectópicos

São aqueles que nascem fora do nó sinusal.


Podem ser tardios (batimentos de escape) ou
precoces (extrassístoles). Os batimentos de
escape são batimentos atrasados e as Denomina-se bradicardia o ritmo regular com
extrassístoles são adiantados em relação ao frequência < 60 bpm e bradiarritmia uma
ritmo fundamental (normalmente sinusal). bradicardia com ritmo irregular.
Quanto ao local de origem podem ser atriais,
Extrassístoles e taquicardia
juncionais (nodais AV ou hissianos),
fasciculares ou ventriculares. As extrassístoles são batimentos ectópicos
adiantados em relação ao ritmo sinusal.
Pausas, batimentos de escape, ritmo de
Comumente são originadas por reentrada.
escape e bradicardia
Tipicamente, as extrassístoles têm um QRS acima ou abaixo da bifurcação do feixe de
estreito quando são de origem His, respectivamente.
supraventricular e largo quando de origem
ventricular. Entretanto, as extrassístoles
supraventriculares podem ter QRS alargado
devido ao fenômeno de aberrância de
condução.

Taquicardias

As taquicardias, assim como as extrassístoles,


Eventualmente, a extrassístole pode se repetir são originadas por três mecanismos
com frequência alta originando uma principais: a reentrada, a atividade
taquicardia. Denomina-se taquicardia um deflagrada e o automatismo.
ritmo regular com frequência maior que 100
Reentrada: é o fenômeno de retorno do
bpm em repouso e taquiarritmia uma
mesmo estímulo elétrico quando existem duas
taquicardia com ritmo irregular ou presença
vias de condução com direções opostas.
de extrassístoles. Tipicamente a taquicardia
Tipicamente origina taquicardias iniciadas
ventricular tem QRS largo e a supraventricular
por uma extrassístole ou por aumento súbito
tem QRS estreito, exceto quando apresenta
da frequência sinusal. É o mecanismo mais
aberrância de condução.
frequente das taquicardias paroxísticas.
Depende da presença de um circuito de
reentrada constituído pelo menos por duas
vias de condução. Durante o ritmo sinusal o
estímulo é conduzido anterogradamente
pelas duas vias.

Territórios das arritmias

O território supraventricular é o conjunto de


estruturas cardíacas excitáveis acima da Atividade deflagrada: são oscilações
bifurcação do feixe de His (nó sinusal, despolarizantes do potencial de repouso da
paredes atriais, nó atrioventricular e feixe de membrana das células cardíacas (não
His). dotadas de automatismo) induzidas pelo
potencial de ação precedente que, ao
A taquicardia é classificada como atingirem uma voltagem mínima acima do
supraventricular ou ventricular desde que sua
manutenção seja dependente das estruturas
potencial limiar, deflagram um novo
potencial de ação.

Para esclarecer os mecanismos das


taquicardias supraventriculares é necessária
a análise detalhada do traçado
eletrocardiográfico, que deve levar em
consideração os seguintes passos:
Automatismo: pode ser normal ou anormal. O
automatismo normal é típico do nó sinusal, 1. Identificar a atividade atrial.
que é o marca-passo natural, responsável
pela ativação periódica do coração graças 2. Definir a relação entre o número de ondas
à despolarização diastólica espontânea. Em P e de complexo QRS.
menor grau, essa característica também 3. Avaliar os intervalos RP e PR.
existe nas células do nó atrioventricular (AV) e
do sistema His-Purkinje. Esses últimos são 4. Analisar a morfologia da onda P nas doze
considerados marca-passos subsidiários já derivações.
que são inibidos pela frequência mais alta do a. Reentrada nodal
nó sinusal. Esses marca-passos auxiliares são
liberados quando o nó sinusal para ou diminui É a forma mais comum de taquicardia
muito sua frequência. A exacerbação dessa paroxística supraventricular regular. Nesses
propriedade gera o fenômeno de pacientes existem pelo menos duas vias de
hiperautomatismo. Quando a ativação condução nodal AV, uma lenta e uma rápida
elétrica espontânea ocorre em células dos (dupla via nodal). A primeira, conhecida
átrios ou dos ventrículos que naturalmente como via alfa, tem condução lenta e período
não a exibiriam, considera-se existir refratário curto (se recupera rapidamente); a
automatismo anormal. segunda, conhecida como via beta,
apresenta condução rápida e período
refratário longo (tarda um tempo maior para
estar apta a receber novo estímulo). A forma
típica da reentrada nodal ocorre com a
descida do estímulo pela via lenta e a subida
pela via rápida. O sentido inverso é raro e
constitui a forma atípica.

Na maioria dos casos a taquicardia é regular,


entre 130 e 250 batimentos por minuto, com
Taquicardias supraventriculares QRS estreito. Como o átrio e o ventrículo são
ativados quase ao mesmo tempo a partir do
São taquicardias cuja manutenção depende
nó AV, a onda P cai dentro ou no final do QRS,
do território supraventricular. Comumente
sendo pouco visível. Muitas vezes é possível
ativam os ventrículos pelo sistema de
identificar a onda P como uma pequena onda
condução natural do coração, originando
r’ no QRS de V1 (simulando um bloqueio
ECG com QRS estreito igual ao sinusal.
incompleto de ramo direito) ou como uma
Todavia, podem apresentar QRS largo na
onda s em DII.
presença de aberrância de condução,
bloqueio de ramo preexistente ou de feixe
anômalo (conexão muscular anormal entre o
átrio e o ventrículo fora do sistema de
condução).
c. Juncional automática

Origina-se comumente por hiperautomatismo


do nó AV. O QRS tem a mesma morfologia do
ritmo basal. Geralmente tem início e término
b. Reentrada atrioventricular
gradativos. Ao ECG a onda P pode coincidir
É o segundo tipo mais frequente de com o QRS ou ocorrer após ele, sendo
taquicardia supraventricular paroxística em comumente negativas DII, DIII e aVF.
pacientes com o coração aparentemente
normal. O substrato essencial dessa
taquicardia é o feixe anômalo, uma conexão
muscular anormal entre átrio e ventrículo, fora
do sistema de condução, que pode
apresentar condução bidirecional ou
unidirecional (AV – atrioventricular)
(anterógrada) ou (VA – ventrículo atrial)
(retrógrada). Pode ser: Taquicardias atriais

 Ortodrômica: quando desce pelo sistema a. Atrial ou sinoatrial


de condução normal (QRS estreito) e sobe
Comumente apresentam frequências atriais
pela via acessória no sentido retrógrado.
de 150 a 200 batimentos por minuto e onda P
Na ausência de aberrância o QRS é igual
precedendo o QRS com morfologia diferente
ao sinusal.
da onda P sinusal (denominada onda P’). Pelo
 Antidrômica: quando desce pela via
fato de induzir um bloqueio AV transitório, a
acessória no sentido anterógrado (QRS
manobra vagal pode facilitar a visualização
largo) e sobe pelo sistema de condução
da onda P durante a taquicardia. Onda P’
no sentido retrógrado. O QRS é aberrante
positiva ou bifásica em aVL sugere originar-se
e difere do ECG basal do paciente. Esses
no átrio direito, enquanto onda P’ positiva em
casos tipicamente apresentam onda
V1 sugere originar-se no átrio esquerdo.
delta em ritmo sinusal (síndrome de Wolf-
Parkinson-White).
c) Fibrilação atrial

É caracterizada por ritmo atrial


desorganizado e de alta frequência. É visível
no ECG com uma linha de base com
irregularidades finas, grosseiras ou ambas,
constituídas por ondas f de frequências entre
450 e 600 batimentos por minuto.

b. Flutter atrial

É um tipo de taquicardia atrial que se


caracteriza por apresentar frequência atrial
muito rápida, comumente 300 batimentos por
minuto, porém pode variar de 240 a 430
batimentos por minuto. Baseado
essencialmente na frequência atrial e nos
padrões da reentrada pode ser classificado
em tipos I e II.

 Flutter tipo I: é a forma mais típica. O ECG


apresenta ondas F com aspecto de
“dentes de serra”, negativas em DII, DIII e
aVF e positivas em V1, sendo normalmente
de baixa voltagem em DI e aVL.
 Flutter tipo II: apresenta frequências atriais
muito altas. Tem o padrão característico
ondulado do flutter, mas sem preencher os
critérios da forma comum. Apresenta ritmo
instável podendo reverter para a forma
comum ou degenerar em fibrilação atrial. Taquiarritmias ventriculares

São constituídas por:

1. Extrassístoles ventriculares.

2. Taquicardias ventriculares.

3. Flutter ventricular.

4. Fibrilação ventricular.

Extrassístole ventricular: também


denominada complexo ventricular
prematuro, é um batimento ventricular
prematuro (precoce) em relação ao ciclo
básico. Ocorrem devido aos três mecanismos
deflagradores das arritmias citados
anteriormente: reentrada, atividade
deflagrada ou automatismo. A reentrada é o
mecanismo mais frequente, geralmente
relacionada a fibrose, cicatriz, aneurisma,
bloqueio de ramo, etc. A atividade
deflagrada está comumente relacionada a
distúrbios eletrolíticos, intoxicação
medicamentosa e síndrome do QT longo. O
automatismo é favorecido pelas
catecolaminas ou por isquemia, sendo
mecanismo frequente das extrassístoles do
coração normal.

As extrassístoles ventriculares são batimentos


aberrantes com morfologia, duração e eixo
diferentes dos batimentos sinusais. O QRS e a
onda T são geralmente alargados e tem
polaridades opostas entre si. A morfologia das
extrassístoles depende do local de origem do
foco, do grau de participação do sistema de
condução e da presença de batimentos de São decorrentes dos três mecanismos citados
fusão. Podem ser classificadas conforme os anteriormente: reentrada, atividade
critérios mostrados na Tabela: deflagrada e automatismo. As taquicardias
ventriculares originadas por reentrada
geralmente são monomórficas paroxísticas e
na forma típica são deflagradas por
extrassístoles.

O eletrocardiograma pode se apresentar de


duas formas principais.

A forma mais comum são as taquicardias


monomórficas: ritmo regular com FC > 100
batimentos por minuto, QRS largo (> 120 ms) e
com desvio do seu eixo elétrico.

A outra forma são as taquicardias


polimórficas, exemplo típico é a torsade de
pointes, que se apresenta em surtos de alta
frequência e complexos QRS largos com
inversão progressiva da polaridade.

Taquicardia ventricular

É caracterizada pela sucessão de três ou mais


batimentos ventriculares com frequência
acima de 100 batimentos por minuto. São
divididas de acordo com duração,
morfologia, regularidade e forma de início.

Flutter ventricular

É uma arritmia extremamente grave


caracterizada por taquicardia ventricular
muito rápida com frequência acima de 220
batimentos por minuto. O traçado carotídeo. Nestas, a bradiarritmia ocorre por
eletrocardiográfico apresenta uma onda ação do sistema nervoso autônomo, mesmo
sinuosa sem evidência clara de onda R ou T. com a ausência de lesões do sistema
Os complexos QRS são bastante alargados, excitocondutor cardíaco.
de morfologia uniforme e a atividade atrial
Síncope neurocardiogênica
dificilmente é visualizada.
Nesta condição ocorre síncope por
bradicardia, assistolia e/ou vasodilatação
severas, em decorrência de diversos
estímulos como dor, emoções, estresse,
parada súbita de esforço físico, sangramento,
permanência em posição ortostática,
estimulação simpática, etc.

Síndrome do seio carotídeo

É observada tipicamente em idosos. Doenças


degenerativas, principalmente a
eteroesclerose, comprometem a parede das
artérias ocasionando endurecimento que
Fibrilação ventricular provoca uma hipersensibilidade dos
pressorreceptores. Nesses pacientes, a
Arritmia fatal caracterizada por atividade
compressão ou o estiramento das artérias
elétrica ventricular excessivamente rápida e
toracocervicais provoca intensa resposta dos
desorganizada resultando em ausência de
pressorreceptores com bradicardia intensa
contração eficaz e parada circulatória. O
(bradicardia sinusal e/ou bloqueio nodal AV
eletrocardiograma evidência um sinal
funcional) e vasodilatação generalizada com
elétrico de alta frequência, totalmente
hipotensão grave, tonturas e/ou síncope a
irregular, sem ondas R ou T.
compressão ou massagem do seio carotídeo
pode originar em portadores da síndrome,
pausas de relevante tempo nos batimentos
cardíacos.

Bradicardias

De forma simplificada, as bradicardias


podem ser agrupadas, conforme critérios
Bradicardia sinusal
anátomo-funcionais, em quatro divisões:
A bradicardia sinusal pode ser funcional,
1. Autonômicas.
orgânica ou farmacológica. A de origem
2. Doença do nó sinusal. orgânica corre na doença do nó sinusal
devido à degeneração e destruição das
3. Bloqueio atrioventricular. células P, de transição e de Purkinje,
4. Bloqueios intraventriculares. frequentemente ocasionadas por
miocardioesclerose, coronariopatias,
Bradicardias autonômicas miocardiopatias, doenças infiltrativas ou
São representadas pela síncope ainda por traumatismo do nó sinusal, durante
neurocardiogênica e pela síndrome do seio cirurgia cardíaca.
Bloqueio atrioventricular de terceiro grau:
nesta situação não existe relação entre as
ondas P e os complexos QRS. A localização
do bloqueio de terceiro grau é quase sempre
na junção atrioventricular na forma
congênita e no feixe de His e nos ramos do
sistema His-Purkinje na forma adquirida. Nos
Bloqueios atrioventriculares casos, “pré-hisianos”, manifesta-se com QRS
estreito e frequência ventricular mais alta; nos
casos “pós-hisianos” manifesta-se com
frequência mais baixa e QRS largo.

Os bloqueios atrioventriculares podem causar


bradicardia, apesar de a frequência sinusal
ser normal (nos casos sem doença sinusal
associada) e, quando irreversíveis,
frequentemente necessitam de implante de
marca-passo. São divididos em bloqueios de
primeiro, segundo e terceiro graus:

Bloqueio atrioventricular do primeiro grau: o


eletrocardiograma mostra o intervalo PR > 200
m/s e fixo. Localiza-se mais frequentemente
no nó atrioventricular, sendo comumente
ocasionado por processos inflamatórios,
isquêmicos ou farmacológicos, geralmente
reversíveis.

Bloqueio atrioventricular de segundo grau:


neste tipo existem algumas ondas P
bloqueadas. O tipo I ou Wenckebach se
caracteriza por aumento progressivo do
intervalo PR até o surgimento de uma onda P
bloqueada e encurtamento do próximo
intervalo PR, que inicia então um novo ciclo
de alargamento e bloqueio. Tipicamente se
localiza no nó atrioventricular. O tipo II ou
Mobitz II caracteriza-se pelo aparecimento
de P bloqueada sem alargamento prévio do
intervalo PR, ou seja, o bloqueio ocorre de
forma inesperada. Pode se manifestar
também sob forma temporal de ondas P
bloqueadas com 2:1.

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