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PRINCÍPIOS BÁSICOS O aclive ascendente durante o repouso (fase 4 da figura A) demonstra o

automatismo de suas células, pois ele é capaz de gerar despolarização


POTENCIAL DE AÇÃO espontânea. Quanto mais acentuado o aclive, maior a frequência de
despolarização intrínseca, e ele diminui ao longo do sistema de
Os cansais iônicos presentes nas células cardíacas mantém um gradiente
condução:
de concentração de íons entre meios intra e extracelular, com
predomínio de K⁺ no meio interno e de Na²⁺ o meio externo. Nó sinusal > Nó atrioventricular > Feixe de His e ramos

Quando em repouso, há predomínio de carga negativa internamente, em


relação ao exterior da célula. Já ao atingir certo “limiar de ação”, ocorre
VETORES ELETROCARDIOGRÁFICOS
despolarização, o que leva o potencial transmembrana a ficar positivo.
Em seguida, há reequilíbrio de cargas, na chamada repolarização. É a As alterações dos potenciais de ação e a transmissão dos impulsos
essa movimentação de íons se dá o nome de potencial de ação. elétricos são eventos a nível celular. Já a nível macroscópico, quando
diversas células se agrupam para realizar a mesma função
Quanto à despolarização das células cardíacas, ela pode ocorrer:
simultaneamente, esses potenciais transmembrana se coalescem,
A. Espontaneamente: caso das células especializada em gerando um vetor elétrico.
contratilidade, que geram a força mecânica do coração (nó
Os vetores elétricos cardíacos, assim como qualquer vetor, possuem as
sinusal, nó atrioventricular).
seguintes propriedades que permitem a análise do eletrocardiograma:
B. Provinda da despolarização de outra célula: caso das células
especializadas em gerar e conduzir a atividade elétrica. • Direção: dependem dos eletrodos e das derivações;
• Intensidade: representada no eixo vertical do ECG (amplitude);
OBS: as fibras de Purkinje apresentam um potencial intermediário
• Duração: representada no eixo horizontal do ECG (tempo).
entre as células do nó sinusal e as células de contração.

A B
ONDAS E INTERVALOS

No eletrocardiograma, os vetores elétricos cardíacos são representados


por ondas elétricas.
Intervalo é constituído por
• Onda P: Despolarização atrial. ondas e segmentos
segmento é a linha de base
• Complexo QRS: Despolarização ventricular.
• Onda T: Repolarização ventricular.

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• Onda U: Pode ocorrer depois da onda T. Acredita-se represente • Onda Q: Onda negativa precedendo uma positiva.
a repolarização do sistema Hiss-Purkinje, porém, na maioria das • Onda S: Onda negativa após uma positiva.
vezes, não está presente. • Onda R’: Segunda onda positiva dentro do QRS.
• Intervalo PR: Começo da onda P até o começo do QRS.
Classifica-se, então: “Complexo QRS com morfologia ____”
• Intervalo QT: Começo do QRS até o fim da onda T.
• Intervalo RR: Distância entre dois complexos QRS consecutivos; PADRONIZAÇÃO
• Ponto J: Término do QRS, na junção com segmento ST;
No ECG, padronização corresponde à escala utilizada para medir os
eixos horizontal (duração) e vertical (intensidade) dos vetores elétricos.

A mais utilizada é a com duração de 25 mm/s e com intensidade de 10


mm/mV, ou seja, 25 mm na horizontal representam 1 segundo e 10 mm
na vertical representam 1mV. A partir disso, por regra de três simples,
temos que:

Cada milímetro na horizontal (1 quadrado pequeno) =

0,04 s no eixo horizontal e 0,1 mV no eixo vertical

Na prática, isso significa que:


O complexo QRS possuirá uma nomenclatura diferente a depender
de sua onda ser negativa ou positiva: • 1 quadrado grande = 0,2 segundos
• 5 quadrados grandes = 1 segundos

• Onda R: Onda positiva dentro do complexo QRS. Deflexão para cima


• Onda QS: Onda totalmente negativa.

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Onda isoelétrica: quanto menor, mais isoelétrica.

ELETRODOS E DERIVAÇÕES O ECG padrão com 12 derivações possui as listadas a seguir:

Eletrodos são condutores metálicos por meio dos quais é possível


detectar atividade elétrica. Na eletrocardiografia, os eletrodos são
colocados em áreas específicas do corpo:
Eletrodos são os polos
• 1 em cada membro superior
• 1 em cada membro inferior
• 6 no tórax
o V1: 4º espaço intercostal (EIC), paraesternal à direita
o V2: EIC, paraesternal à esquerda OBS: aVR, aVL e aVF são ditas derivações com voltagem aumentada
o V3: Entre V2 e V4 (augmented voltage leads). TCW (central terminal de Wilson) é um
o V4: 5º EIC, linha hemiclavicular esquerda eletrodo composto formado pelos eletrodos de MSE, MSD e MIE,
o V5: Mesma linha horizontal de V4, linha axilar anterior localizando-se no centro do tórax.
o V6: Mesma linha horizontal de V4, linha axilar média
Representação gráfica das derivações do plano frontal e do plano
horizontal:

Já derivações são linhas elétricas, em uma direção formada pela conexão


de dois ou mais eletrodos. Sua função é registrar a corrente elétrica nessa
dada direção. Elas possuem um polo positivo e um negativo, sendo o
negativo formado por apenas um eletrodo ou pela combinação de dois
ou mais eletrodos (eletrodo composto).

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DIREÇÃO DOS VETORES ELÉTRICOS EIXO CARDÍACO
A interpretação dos vetores elétricos depende do conhecimento das
É o eixo (direção) de despolarização dos ventrículos no plano frontal
derivações e de seus respectivos ângulos (coronal).

No ECG, o complexo QRS representa a despolarização dos ventrículos,


portanto, a direção do vetor resultante do QRS indica também o eixo
cardíaco.

Dessa forma, o eixo pode se encontrar:

• Normal: quando está entre -30º e +90º


• Esquerda: quando está entre -30º e -90º
• Direita: quando está entre +90º e +180º
• Extrema direita: quando está entre +180º e -90º/+270º

Veja os seguintes vetores. O primeiro, indo a 60 graus, projeta na parte


positiva de I e aVF (linhas pontilhadas). Já o segundo vetor, indo a 140
graus projeta na parte positiva de aVF, mas na parte negativa de I (linhas
pontilhadas).

Se está perpendicular é isoelétrico


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DERIVAÇÕES PERPENDICULARES NO PLANO FRONTAL • D1 (-) e aVF (+): Eixo para a direita
• D1 (-) e aVF (-): Eixo para a extrema direita

Justificativa:

• D1 (0º) e aVF (90º)


• D2 (60º) e aVL (-30º)
• D3 (120º) e aVR (-150º)

DETERMINANDO O EIXO CARDÍACO Origem no nó sinusal

1. Identificar a derivação com vetor mais isoelétrico no plano


frontal.
2. Achar a derivação perpendicular à derivação onde o vetor está
isoelétrico.
3. Verificar se o vetor nessa derivação perpendicular é positivo ou
negativo. Se for positivo, o eixo é exatamente no sentido dessa
derivação. Se negativo, o eixo do vetor é no sentido oposto (180º)
dessa derivação.

MÉTODO RÁPIDO

O valor clinico de encontrar o eixo cardíaco está em saber se está normal


ou não. Assim, torna-se muito útil a seguinte regra:

Observando-se a polaridade do complexo QRS nas derivações D1, D2 e


aVF, faz-se a seguinte análise:

• D1 (+) e D2 (+): Eixo normal


• D1 (+) e D2 (-): Eixo para a esquerda

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CAUSAS DE DESVIO DO EIXO CARDÍACO FREQUÊNCIA CARDÍACA
• Para a esquerda:
RITMOS REGULARES
o Sobrecarga de ventrículo esquerdo
o Bloqueio de ramo esquerdo Com base na padronização usual, mencionada anteriormente, de 25
o Infarto de parede inferior mm/s, é possível calcular quantos milímetros do ECG correspondem a 1
o Bloqueio divisional de parede anterossuperior esquerdo minuto, chegando-se à conclusão de que 1 minuto corresponde a 1500
• Para a direita: milímetros, ou seja, 300 quadrados.
o Sobrecarga de ventrículo direito A partir disso, existem alguns métodos para cálculo da frequência
o Infarto prévio de parede lateral cardíaca para ritmos regulares:
o Bloqueio divisional de parede posteroinferior esquerdo
• Para a extrema direita: MÉTODO 1: Para saber quantos complexos QRS estão presentes em 1
o As mesmas de desvio para direita (causas ventriculares) minuto (frequência cardíaca), basta contar quantos complexos QRS estão
o Dextrocardia presentes em 1500 mm de papel. Para esse cálculo, dividimos 1500 pela
o Inversão de eletrodos em membros superiores distância em mm entre dois complexos QRS (intervalo RR).

OBS: Diferenciação das causas de desvio para extrema direita FC = 1500 / intervalo RR (em mm)

• Eixo da onda P normal (onda P (+) em D1 e D2): Trata-se de


MÉTODO 2: O ECG tem uma linha espessa a cada 5 linhas de 1 mm, ou
causas ventriculares.
seja, essas linhas espessas estão a 5 mm de distância umas das outras.
• Eixo da onda P desviado (onda P (-) em D1): Dextrocardia ou
Sendo assim:
inversão de eletrodos.
• Olha-se as derivações no plano horizontal (plano precordial) 1) Encontre um complexo QRS que coincida em cima ou o mais
(V1 a V6). próximo possível de uma linha espessa.
o O eixo normal de QRS sofre transição de negativo para 2) Se o próximo QRS cair na primeira linha espessa após o 1º QRS,
positivo através dessas derivações. a distância entre os dois complexos é de 5mm. Utilizando o
• Portanto: primeiro método, calcula-se que a FC seria 1500/5 = 300 bpm.
o Se o eixo de QRS estiver normal no plano horizontal: 3) Seguindo esse raciocínio, é possível calcular a frequência de cada
Inversão de eletrodos no MMSS. linha seguinte.
o Se o eixo de QRS estiver trocado no plano horizontal:
Dextrocardia.

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Exemplo: o traçado abaixo tem 30 quadrados grandes, ou seja, 6
segundos. Neste intervalo, há 8 complexos QRS. Portanto, podemos
estimar que em 60 segundos haverá 80 complexos QRS (8 x 10). A FC
então é de 80 bpm.

• 2ª linha espessa (10 mm, 1500/10): 150 bpm


• 3ª linha espessa (15 mm, 1500/15): 100 bpm
• 4ª linha espessa (20 mm, 1500/20): 75 bpm
• 5ª linha espessa (25 mm, 1500/25): 60 bpm
• 6ª linha espessa (30 mm, 1500/30): 50 bpm
• 7ª linha espessa (35 mm, 1500/35): 43 bpm

RITMOS IRREGULARES

Nesse caso, é necessário contar o número de complexos QRS em um


período mais longo de tempo (6 ou 10 segundos) e multiplicar por um
fator, para estimar o número de complexos QRS em um minuto.

Para saber contar o tempo no ECG, baseia-se na padronização:

1 quadrado maior = 0,2 s, então 6 segundos = 30 quadrados maiores


e 10 segundos = 50 quadrados maiores (todo o ECG).

Logo, para calcular a FC em batimentos por minuto, basta contar o


número de QRS em 6 segundos (30 quadrados maiores) e multiplicar por
10.

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Eletro A: Homem, 23 anos de idade, estudante universitário sem queixas.

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Eletro B: Mulher, 32 anos, chega sem queixas para exame de rotina

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Eletro C: Homem de 81 anos, tabagista, hiperlipidêmico, com dor torácica aguda no PS. Troponina I 22 ng/mL.

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Eletro D: Mulher de 41 anos apresentando dispneia aos esforços

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Eletro E: Mulher jovem de 21 anos com antecedente de transposição das grandes artérias.

12
Eletro F: Mulher, 24 anos, estudante de medicina, relata episódio de síncope durante aula prática de técnica cirúrgica.

13
Eletro G: Homem de 24 anos, atleta profissional de natação.

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