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O coração é um órgão capaz de gerar energia elétrica, como uma bateria. Essa
energia elétrica é gerada pelo fluxo de íons que entram e saem da membrana celular do
cardiomiócito, e é conduzida por uma rede especial de células cardíacas que se comportam
de maneira semelhante a fios elétricos que transmitem a corrente elétrica de uma tomada
elétrica para um aparelho eletrônico. Essa rede especial de células forma o Sistema de
Condução Elétrico do Coração, tendo os seus principais componentes representados a
seguir:
• Fase 0: (despolarização
celular): entrada de Na⁺;
• Fase 1: interrupção da
entrada de Na⁺ e saída
de K⁺;
• Fase 2: entrada de Ca⁺⁺
e saída de K⁺;
• Fase 3: interrupção da
entrada de Ca⁺⁺ e saída
de K⁺;
• Fase 4: a célula alcança
a voltagem basal (-90
mV).
A frequência de despolarização das células cardíacas vai ser determinada pela parte
do coração que libere a maior quantidade de pulsos de energia por minuto. Essa estrutura é
chamada de marca-passo e, normalmente, é o nó sinusal (50-100 impulsos/min). O estímulo
elétrico gerado vai percorrer primeiro as vias internodais do átrio direito, seguindo-se também
para o átrio esquerdo pelo feixe interatrial (feixe de Bachmann). Nesse momento, no ECG,
será gerada a onda P.
Formam o plano horizontal e permitem saber se o vetor se desloca para trás ou para
a frente. Nesse exame, o eletródio negativo (indiferente) fica conectado aos membros,
e o eletródio positivo, ligado ao terminal positivo, fica sobre o tórax.
• Identificação do paciente
• Padrão de gravação
Lembre-se de que o papel do ECG é milimetrado, marcado por linhas verticais e horizontais
que formam um plano cartesiano. Nesse sistema, o eixo horizontal representa tempo em
segundos e o eixo vertical corresponde à diferença de potencial em milivoltagem (mV). No
ECG, cada quadradinho disposto tem 0,04 s e 0,1 mV. Desse modo, sabendo que cada
quadrado grande tem 5 quadradinhos de comprimento e 5 de largura, um quadrado grande
tem 0,2 s e 0,5 mV.
Para que haja uma melhor interpretação do exame, é essencial checar a amplitude e a
velocidade do registro. Usualmente, os ECGs são registrados em um padrão em que 1,0 mV
corresponde ao deslocamento de 10 quadradinhos. Essa padronização é representada pela
letra N. A velocidade padrão de deslocamento é de 25 mm/s, em que o deslocamento de
1mm, no sentido vertical, corresponde a 0,04 s.
• Ritmo
Além de observar o tipo de ritmo, é preciso verificar sua regularidade. Para isso, deve ser
considerado que o ritmo cardíaco é regular quando os intervalos R-R forem iguais e
irregulares se forem inconstantes ou desiguais. Na prática, é comum de observar arritmia
fásica em crianças, ou seja, os intervalos R-R são diferentes, variando conforme o ciclo
respiratório, que também determina alterações na frequência cardíaca. Já em pacientes
idosos, a arritmia é comumente não-fásica, sendo relacionada à disfunção do nó sinusal.
• Frequência Cardíaca
Nota: para traçar seis segundos, é preciso lembrar que um segundo corresponde a cinco
quadrados grandes ou 25 quadradinhos.
• Eixo Cardíaco
O eixo cardíaco nada mais é do que o vetor resultante da despolarização dos ventrículos. Ou
seja, para determiná-lo, é necessário que se observe o complexo QRS nas derivações
periféricas.
Geralmente, existe uma certa dificuldade para se definir o eixo cardíaco aproximado, mas é
possível calculá-lo seguindo alguns passos simples:
IAM inferior CD ou CX
REFERÊNCIAS:
CAVALCANTI LAPA SANTOS, EDUARDO, CÔRTES REMISIO FIGUINHA, FERNANDO,
MASTROCOLA, FABIO. Manual de eletrocardiografia cardiopapers. 1. ed. Rio de Janeiro:
Atheneu, 2017.
Fourth Universal Definition of Myocardial Infarction (2018). Kristian Thygesen, Joseph S.
Alpert, Allan S. Jaffe, Bernard R. Chaitman, Jeroen J. Bax, David A. Morrow, Harvey D. White,
The Executive Group on behalf of the Joint European Society of Cardiology (ESC)/American
College of Cardiology (ACC)/American Heart Association (AHA)/World Heart Federation
(WHF) Task Force for the Universal Definition of Myocardial Infarction. J Am Coll Cardiol.
2018 Oct, 72 (18) 2231-2264.
• Arritmia Sinusal:
Condição também de natureza benigna de um modo geral, caracterizada por variação
dos intervalos PP (acima de 160 ms segundo Katz e acima de 120 ms de acordo com
Bellet) durante o ritmo sinusal. Nesse caso, existe uma frequência de disparos
elétricos anormal no nó sinusal.
Observe que a variação entre os intervalos PP é de 400ms (1120-720), caracterizando uma arritmia sinusal
• Parada Sinusal:
Existe uma falha no nó sinusal que gera uma desordem na formação do impulso
elétrico. As pausas possuem intervalos que não são múltiplos de intervalos PP durante
o ritmo sinusal, geralmente sendo seguidas por um batimento de escape.
→ BAV de 2o grau 2:1: Ocorre quando existe uma proporção de 2 ondas P para
1 complexo QRS, ou seja, a cada 2 ondas P, uma é bloqueada e outra é
conduzida
Referências bibliográficas
1. CAVALCANTI LAPA SANTOS, EDUARDO, CÔRTES REMISIO FIGUINHA, FERNANDO,
MASTROCOLA, FABIO. Manual de eletrocardiografia cardiopapers. 1. ed. Rio de Janeiro:
Atheneu, 2017.
2. THALER, MALCOLM S. ECG essencial [recurso eletrônico] : eletrocardiograma na prática
diária. Tradução e revisão técnica: de Jussara N. T. Burnier. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
3. FELDMAN, JOSÉ P. GOLDWASSER, GERSON. Eletrocardiograma: recomendações para a
sua interpretação. Revista da SOCERJ, v.17, n. 4, 2004.
4. Bradicardia (Bradiarritmia): Resumo completo com fluxograma! - Sanar Medicina. Disponível
em: <https://www.sanarmed.com/bradicardia-bradiarritmia-resumo-fluxograma-yellowbook>.
Acesso em: 20 jun. 2020.
5. Sinoatrial (SA) Exit Block ECG Review - Criteria and Examples | LearntheHeart.com.
Disponível em: <https://www.healio.com/cardiology/learn-the-heart/ecg-review/ecg-topic-
reviews-and-criteria/sinoatrial-exit-block>. Acesso em: 20 jul. 2020.
TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES
As taquicardias supraventriculares são definidas no eletrocardiograma por apresentarem FC
> 100 bpm e complexo QRS estreito (< 120 ms), salvo exceções.
Um importante conceito na classificação dessas arritmias, é o de P’R e RP’. Como sabemos,
a onda P representa a contração do miocárdio atrial em ritmo sinusal. A classificação de P’
ocorre quando a onda P é decorrente de ativação ectópica atrial. Dessa forma, enquanto o
intervalo P’R representa o intervalo entre a onda P que antecede o QRS e a onda R, o RP’
corresponde ao intervalo entre a onda R a próxima onda P, conforme representado na figura
abaixo:
Tanto no ritmo sinusal, como nas taquicardias supraventriculares, o intervalo P’R costuma
ser maior que o RP’.
TAQUICARDIA SINUSAL
Uma das arritmias mais presentes na prática clínica e que não indica, necessariamente,
cardiopatia associada, visto que costuma acontecer devido ao aumento da atividade
simpática. Portanto, exercício físico, ansiedade e dor, por exemplo, podem ser condições
precipitantes dessa taquiarritmia.
CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS:
TAQUICARDIA JUNCIONAL
Trata-se de uma taquicardia típica da intoxicação digitálica, apesar de ter outras possíveis
etiologias (IAM, pós-op de cirurgia cardíaca, cardite reumática). Seu mecanismo é o
hiperautomatismo do nódulo AV.
CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS:
• RR regular
• Geralmente a onda P não é visível
• Quando P é visível, pode ser de ativação anterógrada ou retrógrada, isto é, P’R pode
ser maior ou menor do que RP’
• É comum a presença de dissociação atrioventricular
CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS:
Figura 4 – Taquicardia atrial. Notar P negativas em DII e aVF, e positiva em aVR, indicando
que não se trata de um ritmo sinusal.
CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS:
Figura 7 – Fibrilação Atrial de alta resposta ventricular (FC cerca de 170 bpm).
FLUTTER ATRIAL
O mecanismo do flutter é o de macrorreentrada, geralmente ao redor do istmo
cavotricuspídeo. Não apresenta ondas P, mas ondas F com aspecto serrilhado, que podem
ser bem observadas nas derivações inferiores. Caso as ondas F sejam negativas, denomina-
se flutter típico (tipo I), se positivas, flutter atípico (tipo II). É importante salientar que as ondas
F costumam ter uma frequência de 300 bpm, e como geralmente o flutter apresenta uma
condução 2:1, a FC gira em torno de 150 bpm.
CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS:
• Intervalo RR regular
• Ausência de linha isoelétrica entre ondas atriais (ondas F), o que pode dar um aspecto
de “dentes em serra”
• A FC costuma ser de 150 bpm
• QRS estreito, caso não haja bloqueio de ramo associado.
Figura 9 – Flutter atrial atípico que se apresentou inicialmente com condução 2:1. Após uma manobra vagal, as ondas
de flutter puderam ser facilmente visualizadas em D II.
TAQUICARDIA POR REENTRADA NODAL
Trata-se de uma arritmia comum na prática médica e pode acometer pacientes de qualquer
idade, se concentrando, principalmente, em mulheres jovens. O mecanismo dessa arritmia
depende da presença de dupla via nodal (presente em cerca de 25% da população, mas
apenas uma pequena parcela dessa população desenvolve a referida arritmia). Para que a
taquicardia por reentrada nodal se desenvolva, é necessário que haja um estímulo,
geralmente uma extrassístole atrial. Devido a disparidade entre os períodos refratários da
dupla via de condução nodal, o estímulo elétrico ao atingir o nódulo AV encontra a via rápida
(beta) em período refratário, passando pela via lenta (alfa). Como a condução é lentificada
na via alfa, quando o impulso elétrico acaba de percorrê-la, acaba o período refratário da via
beta, permitindo que o impulso suba por ela e encontre novamente o início da via lenta,
completando o circuito de reentrada. A TRN apresenta início e término súbitos e pode ser
revertida com uma manobra vasovagal, se não houver contra indicações.
CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS:
• RR regular
• Sem onda P aparente ou com pseudo-S (em DII, DIII e aVF) e pseudo-R’ (em V1)
• RP’ < P’R
Figura 10 – Representação do mecanismo da taquicardia supraventricular paroxística (TSVP) por reentrada nodal.
TAQUICARDIA POR REENTRADA EM VIA ACESSÓRIA
Assim, como a taquicardia por reentrada nodal, faz parte do grupo das taquicardias
supraventriculares paroxísticas. Essa arritmia é caracterizada pela presença de um feixe
anômalo (feixe de Kent), localizada no sulco atrioventricular. A via acessória costuma ter uma
condução retrógrada (do ventrículo para o átrio) mais eficaz do que a anterógrada (do átrio
para o ventrículo). Por isso em quase 90% dos casos essa é a forma predominante da arritmia
– também chamada de forma ortodrômica, enquanto a forma antidrômica é caracterizada pela
condução anterógrada altamente eficaz. Vejamos suas diferenças eletrocardiográficas:
CRITÉRIOS ELETROCARDÍOGRAFICOS:
FORMA ORTODRÔMICA (mais prevalente):
FORMA ANTIDRÔMICA:
SOBRECARGA ATRIAL:
Onda P normal:
A onda P representa a despolarização atrial, e o intervalo PR representa o intervalo
entre a despolarização das células do nó sinusal até o início da despolarização dos
ventrículos. A duração normal da onda P é 80 a 110ms (~2-3mm), com amplitude de até
2,5mm em DII. Lembre-se que a onda P é formada, inicialmente, pela despolarização do átrio
direito, onde está localizado o nó sinusal, e então pelo átrio esquerdo. Para avaliar o aumento
atrial, basicamente devemos olhar para as derivações D2 e AV1.Observe a imagem:
Índice de
Morris +
SOBRECARGA VENTRICULAR:
Nós devemos saber alguns índices para aplicar na prática. Existem inúmeros índices
utilizados para avaliar a sobrecarga de ventrículo esquerdo. Abaixo, alguns critérios para
sobrecarga ventricular esquerda com suas respectivas sensibilidades e especificidades:
Os critérios são:
• Desvio do eixo para direita (> +90º em adultos e > +110º em crianças). Isso reflete
uma nova dominância elétrica do ventrículo direito, que em geral é submisso do
ponto de vista elétrico;
• Desvio do eixo para frente (QRS positivo em V1);
• Ondas S em V5 / V6 ≥ 7mm;
• Alterações de Repolarização – Strain de VD.
REFERÊNCIAS:
CAVALCANTI LAPA SANTOS, EDUARDO, CÔRTES REMISIO FIGUINHA, FERNANDO,
MASTROCOLA, FABIO. Manual de eletrocardiografia cardiopapers. 1. ed. Rio de Janeiro:
Atheneu, 2017.
MARTINS, M. A. et al. Clínica Médica Vol 2: Doenças Cardiovasculares, Respiratórias,
Emergências. São Paulo: Manole, 2009.
Sokolow M, Lyon TP. The ventricular complex in left ventricular hypertrophy as obtained by
unipolar precordial and limb leads. Am Heart J. 1949;37(2):161-86.
THALER, MALCOLM S. ECG essencial: eletrocardiograma na prática diária. Tradução e
revisão técnica: de Jussara N. T. Burnier. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.