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1 INTRODUÇÃO
Para melhor compreensão das arritmias cardíacas, é necessária
uma revisão de conceitos importantes.
7.1.1 Sistema de condução elétrico intracardíaco
O sistema de condução intracardíaco é composto pelas seguintes
estruturas: nó sinusal, nó atrioventricular (AV), feixe juncional ou
de His, ramos direito e esquerdo e fibras de Purkinje. Tais
estruturas têm a característica intrínseca de se despolarizarem
automaticamente a uma frequência própria (cronotropismo),
sendo desnecessário algum estímulo externo para gerar essa
despolarização. A característica de condução do estímulo elétrico
cardíaco é chamada de dromotropismo. O batmotropismo é a
condição em que a fibra cardíaca pode ser excitada por um
estímulo externo. O lusitropismo relaciona-se à capacidade de a
fibra miocárdica distender-se, enquanto o inotropismo se refere à
capacidade de contração da fibra miocárdica.
As estruturas mais superiores apresentam frequências de
despolarizações automáticas mais elevadas do que as estruturas
mais inferiores (Figura 7.1). Aquela que fisiologicamente tem a
maior frequência de despolarização é o nó sinusal, de cerca de 80
por minuto, fazendo as estruturas abaixo desse nó serem
despolarizadas pelo estímulo elétrico gerado pelo próprio nó
sinusal.
Em determinadas condições — hipercalemia, degeneração do nó
sinusal, entre outras —, o nó sinusal pode perder tal capacidade
de despolarização automática, determinando, comumente, queda
da Frequência Cardíaca (FC). Isso ocorre porque, na ausência
funcional desse nó, a FC passa a ser determinada pela estrutura
do sistema de condução que tem a maior frequência de
despolarização autônoma, geralmente o nó AV. Caso este não
esteja ativo, a região juncional determina o ritmo cardíaco e assim
por diante.
A frequência cardíaca será determinada pela região do sistema de
condução que tiver a maior frequência de despolarização. Isso
explica por que o nó sinusal, em condições normais, determina o
ritmo cardíaco, perdendo essa propriedade nas situações em que
focos elétricos ectópicos, fora do sistema de condução,
apresentem frequências automáticas de despolarização mais
elevadas que a do sistema de condução elétrica miocárdica, como
acontece na taquicardia ventricular ou na taquicardia atrial.
Figura 7.1 - Estruturas do sistema de condução elétrica intracardíaca e suas
frequências automáticas de despolarização
7.1.2 Onda P
A onda P compreende o registro eletrocardiográfico da
despolarização atrial, determinada, fisiologicamente, pela
despolarização automática do nó sinusal. Na maioria dos
pacientes, a onda elétrica da repolarização atrial, também
chamada onda T atrial, não tem expressão eletrocardiográfica
porque ocorre justamente no período em que o complexo QRS é
registrado, com sobreposição dos traçados.
O intervalo compreendido entre o início da onda P e o início do
QRS é chamado PR, o qual corresponde ao atraso fisiológico na
condução da onda elétrica gerada na despolarização atrial dentro
do nó AV. Tal atraso pode ter a duração máxima de 0,2 segundo —
ou cinco quadrinhos do traçado eletrocardiográfico – cada um
tem duração de 0,04 segundo em decorrência da velocidade do
papel, que é de 25 mm/s.
#importante
A diferença de segmentos e intervalos no
eletrocardiograma é que o intervalo
contém sempre uma onda, enquanto o
segmento, apenas a linha isoelétrica.
7.2 ARRITMIAS
A chave para a interpretação das arritmias é a análise da forma e
das inter-relações da onda P, do intervalo PR e do complexo QRS.
A avaliação do traçado envolve a análise da frequência, do ritmo,
da origem mais constante do estímulo (marca-passo
predominante) e da configuração da onda P e do QRS (estreito ou
largo).
As arritmias cardíacas ocorrem, de forma simplificada, por meio
de três mecanismos possíveis.
7.2.1 Alteração do automatismo cardíaco
Pode ocorrer por aceleração ou desaceleração das estruturas
automáticas do coração, como o nó sinusal — taquicardia ou
bradicardia sinusal —, nó AV ou o próprio miocárdio. Batimentos
ou despolarizações ectópicas podem surgir por distúrbios
elétricos atriais, da junção AV ou dos ventrículos. Também são
possíveis ritmos anormais, como taquicardia atrial ou ventricular.
7.2.2 Distúrbios de condução atrioventricular
A condução pode ser acelerada, como na Síndrome de Wolff-
Parkinson-White (SWPW), ou lenta, como no bloqueio AV.
7.2.3 Combinações de distúrbios de automatismo e de
condução
#importante
As arritmias podem ter origem por
alteração do automatismo cardíaco, por
alteração da condução atrioventricular
ou por uma combinação desses fatores.
#memorize
Quatro Ds para caracterização das
arritmias instáveis ou estáveis: Dizziness
(tontura, sonolência), Dispneia, Dor torácica
e Down pressure (hipotensão).
#importante
O tratamento imediato da fibrilação
ventricular é a desfibrilação elétrica.
7.3.1.2 Assistolia
#importante
Nas taquicardias ventriculares com
repercussão hemodinâmica (hipotensão,
alteração de consciência, dor precordial
ou congestão pulmonar importante), a
cardioversão elétrica imediata é o
tratamento de escolha.
#importante
A fibrilação atrial é a arritmia cardíaca
mais frequente, responsável por 30% das
internações por alteração do ritmo
cardíaco.
Fonte: JY FotoStock.
#importante
O diagnóstico de trombose mesentérica
deve ser descartado nos pacientes
portadores de fibrilação atrial e dor
abdominal aguda sem causa específica
identificada.
#importante
Na associação de FA e SWPW, as drogas
antiarrítmicas devem bloquear a via do
nó AV e a via acessória ao mesmo tempo,
como a amiodarona. Betabloqueadores,
bloqueadores dos canais de cálcio e
digoxina estão contraindicados.
Fonte: JY FotoStock.
7.3.3 Terceira pergunta: existe relação entre a onda P e
o QRS?
Ao ECG normal, todo complexo QRS é precedido de uma onda P, e
o intervalo PR normal é de, no máximo, 0,2 segundo. Os bloqueios
cardíacos são ritmos causados pela condução alterada por meio
do nó AV. À medida que a velocidade de condução por esse nó AV
diminui, o intervalo PR aumenta. Quando o bloqueio é intenso,
algumas ondas P não passam para o ventrículo, e, na pior
situação, nenhuma onda P chega ali. Há três graus possíveis de
bloqueio AV.
7.3.3.1 Primeiro grau
Fonte: JY FotoStock.
#importante
Nos casos em que o paciente apresenta
pulso central, o choque deve ser
sincronizado com o ritmo cardíaco
(cardioversão). Nos casos em que não há
pulso central (parada cardiorrespiratória),
o choque deve ser não sincronizado
(desfibrilação).
Como diferenciar as
arritmias com
comportamento benigno
daquelas que oferecem
risco de morte súbita?
A grande questão em qualquer arritmia (bradi ou taqui)
é observar se o paciente se encontra estável ou instável
hemodinamicamente. Uma maneira simples de fazer
esta avaliação é por meio dos quatro Ds: dispneia, dor
torácica, dizziness (rebaixamento sensório) ou down
pressure (hipotensão). Se qualquer um desses itens
ocorrer, consideramos o quadro como instável
hemodinamicamente e, por isso, a intervenção deve ser
imediata devido ao risco de morte iminente.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira
O Revalida do INEP é composto por uma avaliação em duas
etapas. Na primeira você terá de realizar uma prova objetiva com
100 questões com quatro alternativas cada, enquanto, na
segunda, será uma prova discursiva com cinco questões.
Alguns dos temas mais recorrentes são: transtornos do humor,
tuberculose, cefaleias, infarto agudo do miocárdio, asma, parto,
síndromes hipertensivas na gestação, pré-natal, síndromes
gastrintestinais, imunização, desenvolvimento da criança,
meningites, Medicina Legal, atenção primária, ética médica e
Sistema Único de Saúde.
INEP | 2017
Um homem de 60 anos foi internado em um hospital muni-cipal
com quadro de confusão mental. O paciente reside em outro
município, a 300 km do hospital. Na admissão, o paciente se disse
assintomático, relatou que não costuma procurar atendimento
médico e que preferia morar sozinho no sítio onde nasceu,
cuidando de uma pequena lavoura. Os familiares que o
acompanhavam confi rmaram que ele não apresenta
comorbidades diagnosticadas, mas rela-taram que, há 5 dias, o
paciente apresentou um episódio de confusão mental, tendo sido
levado para internação hospi-talar. Acrescentaram que, na
ocasião, foi diagnosticada e tratada uma infecção do trato urinário
e que, durante o exame físico, detectou-se uma arritmia cardíaca,
confi r-mada por eletrocardiograma, cujo resultado é reproduzido
a seguir. O resultado do eletrocardiograma realizado na
internação atual apresenta o mesmo padrão. Agora, cons-ciente e
orientado, sem queixas, o paciente manifesta desejo de ter alta e
de retornar ao seu sítio, afi rmando que não pretende realizar
outras consultas médicas. Nesse contexto, qual é a conduta
médica indicada?