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O FORO

...

DE SAO
PAULD
GRAÇA SALGUEIRO

a FDRD ...

DE SAD
PAUL D
A MAIS PERIGOSA ORGANIZAÇÃO
REVOLUCIONÁRIA DAS AMÉRICAS
1. edição- Primavera2016

O Foro de São Paulo: A mais perigosa organização


revolucionária das Américas

Copyright©2016 por Graça Salgueiro

Editores
Alex Pereira e Graça Salgueiro

© Os direitos desta edição pertencem ao Observatório Latino


www.observatoriolatino.com

ISBN 978-0-692-80388-2

Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e


qualquer reprodução desta edição, total ou parcial, por meio
ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação,
ou qualquer outro meio de reprodução, sem a autorização
expressa dos editores.
·�primeira regra é: não acredite no que é
oficialmente mostrado; procure o que está oculto".

(Viktor Suvorov - "O grande culpado")


A meu.filho Matheus, amor da vida inteira.
SUMÁRIO

1. Apresentação ...................................................... 11

2. O pré-Foro de São Paulo ..................................... 17

3. Histórico.............................................................. 21

4. Partidos e organizações: ontem e hoje .. ..... ..... 27

5. Cronologia dos encontros e criação do Grupo de


Trabalho (GT) .......................................................... 42

6. Objetivos de cada encontro............................... 5 1

7 . As sucursais do Foro de São Paulo: Fórum Social


Mundial, Mercosul, Alba, Unasur e Celac............ 96

8. Desfazendo mitos e mentiras ......................... 169

9. Análise de conjuntura ..................................... 179

10. Conclusão ........................................................ 198

11. Bibliografia............................ .......................... 211


CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO
"Na Academia fomos ensinados a não confiar
em ninguém, questionar todo e qualquer fato,
verificar cada detalhe, duvidar de tudo. Se uma
centena de agentes secretos relatava determinada
ocorrência de um modo, e apenas um relatasse
diferente, mesmo semfazer sentido, deveríamos
conversar com ele. Ninguém acreditaria nele nem
em você; todos ririam e caçoariam. Mas é assim
que grandes descobertas são feitas. Éfácil repetir
fatos conhecidos, mas é muito mais difícil descobrir
algo que ninguém sabe. Sefor você a descobrir, será
mal interpretado e muito desmentido no princípio.
Mas, quando você encontrar provas, convencerá os
superiores. Foi exatamente o que fiz".
(Viktor Suvorov, "O grande culpado")

uando em 1 99 9 telefonei para Olavo de

Q Carvalho, meu então professor de filosofia,


virtual, ele falou-me de uma mega-organização
chamada "Foro de São Paulo" da qual ninguém
comentava mas que estava interferindo nos go­
vernos das nações latino-americanas para im­
plantar o falido modelo comunista. Fiquei mui­
to impressionada e tomei a decisão de pesquisar
e estudar a respeito. Foi o que fiz desde então até
os dias de hoje, com dedicação exclusiva.

11
O FORO DE SÃO PAULO

Olavo tomou conhecimento dessa organiza­


ção através do advogado Dr. José Carlos Graça
Wagner e durante 1 5 anos falava praticamen­
te para as paredes em suas colunas de grandes
jornais do Brasil e, por conta disso, foi declarado
persona non grata, ao mesmo tempo em que ia
sendo demitido desses órgãos de imprensa com
as desculpas mais descabidas possíveis. Sabía­
mos que era por sua insistência em falar daqui­
lo que deveria permanecer oculto do público por
ordens do próprio Lula, uma vez que nos outros
países envolvidos não só a imprensa, mas estu­
diosos e pessoas comuns, falava-se abertamente
sem qualquer restrição.

Quando comecei a pesquisar e estudar o Foro,


havia farto material no site da organização por­
que esse era um tema que ninguém comentava,
e então eles não tinham porque ter receio de
que as informações sobre seus planos fossem
cair inadvertidamente em mãos não desejáveis.
Porém, quando Olavo começou a denunciar pu­
blicamente e eu o ajudava divulgando seus ar­
tigos enquanto pesquisava, a situação começou
a mudar. Eles passaram a trocar o nome do site,
depois a não divulgar todas as resoluções esta-

12
1 - Apresent ação

belecidas nos Encontros e no Grupo de Trabalho


e ficávamos como numa briga de gato e rato: eu
"perseguindo" as informações, e eles mudando o
domínio e o nome constantemente para que eu
não as encontrasse. Mas minha persistência me
rendeu bons frutos, urna vez que os documen­
tos relativos aos primeiros anos foram compi­
lados e publicados no site Mídia Sem Máscara1,
onde podem ser vistos até hoje.

Em julho de 2005 quando o Foro completou


1 5 anos, Lula disse em seu discurso: "Foi assim
que nós pudemos atuar junto a outros países com
os nossos companheiros do movimento social, dos
partidos daqueles países, do movimento sindical,
sempre utilizando a relação construída no Foro de
São Paulo para quepudéssemos conversar sem que
parecesse e sem que as pessoas entendessem qual­
quer interferência política"2• Nesse momento foi
dada a "luz verde" para que a imprensa pudesse
falar na organização, e assim fizeram como se
desde a fundação, em 1 9 90, esse fosse um tema
recorrente em suas páginas e redações.
1 www.midiasemmascara.org
2 Leiam o discurso completo em: http://www.info.planalto.
gov.br/download/discur sos/pr812a.doc

13
O FORO DE SÃO PAULO

A citação de Viktor Suvorov posta acima, em­


bora se referisse à Rússia e ao ex-KGB de onde
foi membro ativo, descreve com exatidão o que
Olavo (primeiro) e eu (depois) passamos duran­
te todo esse tempo de encobrimento do Foro de
São Paulo e agora, que já não é mais segredo, pe­
de-se o fim do Foro em qualquer manifestação
pública que haja Brasil afora, sem de fato saber
quem é este inimigo tão temível que deve ser
exterminado do planeta, qual seu raio de ação
e seus mecanismos de atuação. A imprensa pas­
sou da "não-existência" à referência corriquei­
ra, sem contudo denunciar os malefícios e as
pretensões criminosas da organização, até que
a expressão "Foro de São Paulo" se esvaziasse
totalmente de seu conteúdo, sentido e maligni­
dade.

Este livro se propõe a desmascarar mitos e


desmontar muitas mentiras existentes em tor­
no ao tema de forma clara e sucinta, de modo
que qualquer pessoa, por mais simples e incul­
ta que seja, possa lê-lo e compreender a ameaça
que nos ronda, suas origens, estratégias empre­
gadas, quem são seus membros participantes e
os êxitos que já obteve nesses 26 anos de exis-

14
1 - Apresentação

tência. Esse é o primeiro de uma série que virá


em seguida, numa trilogia intitulada "O Conti­
nente Vermelho". Espero que seja de utilidade e
que aproveitem.

Agradeço antes de tudo a Deus, que me ilumi­


nou , protegeu e me deu as condições para que
este trabalho fosse concretizado.

Não posso deixar de registrar minha mais


profunda gratidão a Alex Pereira pela insistên­
cia para que eu escrevesse esse livro, quando
não me sentia capaz ainda, e todo o apoio, res­
peito e carinho nessa jornada que empreende­
mos juntos na Rádio Vox3• A Heitor De Paola,
meu "fratello", pela amizade e companheirismo
de mais de uma década, apoio constante que
nunca me deixou desanimar. A Edson Camargo,
meu "bossinho" e amigo, que sempre deu des­
taque aos meus artigos no Mídia Sem Máscara e
sonhou esse livro junto comigo. A Roxane Car­
valho, minha "hermanita", por sempre torcer
e acreditar em mim. A Alejandro Pena Esclu­
sa, meu amigo venezuelano - hoje preso-poli-

3 www.radiovox.org

15
O FORO DE SÃO PAULO

tico da ditadura chavista em prisão domiciliar


e amordaçado por força de lei, por denunciar
incessantemente os crimes dessa organização
em seu país -, a primeira pessoa de fora do Bra­
sil que falou do Foro de São Paulo comigo e com
quem troquei muitas informações e experiên­
cias valiosas.

Agradeço ainda, postumamente, a dois ami­


gos-irmãos que não viveram o suficiente para
ver a coroação do meu trabalho através dessa
obra, do qual sempre foram grandes incentiva­
dores: Claudio Buchholz Ferreira e Márcio Del
Cístia.

E, finalmente, ao filósofo e escritor Olavo de


Carvalho, meu professor e amigo, por ter-me
mostrado o caminho das pedras ainda no século
passado, e por ter acreditado que eu cumpriria
a "missão" de desmascarar o Foro de São Paulo,
em nome da verdade.

A todos, meu sincero agradecimento.

A autora

16
CAPÍTULO 2
O PRÉ-FORO
DE SÃO PAULO

Quando se fala no Foro de São Paulo a maioria


das pessoas que tem algum conhecimento da
organização crê que ela surgiu em 1 990, a con­
vite de Luiz Inácio Lula da Silva e do ditador Fi­
del Castro. Isto é uma meia-verdade, posto que
seu embrião foi gerado bem antes disso, sua se­
mente plantada décadas atrás.

Em 3 de janeiro de 1967, Cuba organizou em


Havana um evento denominado Conferência
Tricontinental dos Povos Africanos, Asiáticos e
Latino-Americanos, que reuniu 83 grupos de
vários países dos três continentes, com 5 1 3
Delegados, 6 4 Observadores e 7 7 Convidados
representando 24 países, sendo a delegação da
União Soviética - que há pouco havia criado o
que se denominou a "Crise dos Mísseis" contra
os Estados Unidos em 1 962 -, a mais numerosa,
com 40 membros. Havana foi designada para
ser o quartel-general para "apoiar, dirigir,

17
O FORO DE SÃO PAULO

intensificar e coordenar operações guerrilheiras e


terroristas nos três continentes". 1

A Resolução Geral, aprovada naquele encon­


tro, serviu de base para todo o projeto do que
viria a ser mais tarde o Foro de São Paulo. Ob­
servem que os males do universo inteiro eram
o "imperialismo ianque" e por isso urgia des­
truí-lo. Senão, vejamos:

1 . Condenação do imperialismo ianque;


2. O imperialismo ianque é o maior inimigo de
todos os povos do mundo;
3. O imperialismo ianque constitui a base para
a opressão dos povos;
4. Proclamou o direito dos povos de enfrentar o
imperialismo com violência revolucionária, as
"guerras de libertação nacional";
5. Condenou vigorosamente o imperialismo
ianque pela "agressão" ao Vietnã do Sul;
6. Proclamou a solidariedade com a luta arma­
da dos povos da Guatemala, Peru e Colômbia;
7. Condenou a política agressiva do governo
americano e seus aliados ''fantoches" contra o

1 "O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial",


De Paola, Heitor. 2ª Edição, Editora Observatório Latino, 201 5,
p. 1 5 5 .

18
2 - O pré-Foro de São Paulo

Camboja e outros povos da Indochina;


8. Condenou o embargo americano contra
Cuba. O brado final foi ''formar vários Vietnãs
em escala tricontinental para a derrota final
do imperialismo". 2

Com o êxito da Conferência Tricontinental,


meses depois, em agosto de 1967, foi criada a
OLAS (Organización Latinoamericana de Soli­
daridad), composta por diversos movimentos
revolucionários e "anti-imperialistas" da Amé­
rica Latina que compartilhavam os ideais e pro­
postas estratégicas da Revolução Cubana.

Em sua primeira declaração a OLAS fez um


balanço sobre as estratégias empregadas até o
momento e apostou na luta armada e na guerra
de guerrilhas como forma de estender a revolu­
ção em toda a América Latina. Com a morte de
Che Guevara na Bolívia, entretanto, em 8 de ou­
tubro desse mesmo ano os ânimos arrefeceram,
pois contavam com ele para organizar e coorde­
nar o projeto guerrilheiro, esfriando os planos
da OLAS até que, em 1970, ela havia se trans­
formado em apenas um centro de divulgação

2 Ibid., p. 156

19
O FORO DE SÃO PAULO

das lutas havidas sem nenhuma capacidade de


uma coordenação efetiva que pudesse dar con­
tinuidade ao projeto revolucionário comunista.
Então, congelaram o embrião até que o momen­
to oportuno surgisse para "ressuscitá-lo".

Em 1 989 Lula perde as eleições presidenciais


para Fernando Collor de Melo e de 31 de maio a
3 de junho de 1990, ocorre o VII Encontro Na­
cional do PT, onde o tema central debatido foi
a situação no Leste Europeu, o iminente fim da
URSS e o crescimento do "neoliberalismo" na
região. Foi assim que Lula resolveu convocar,
junto com Fidel Castro, um encontro com todos
os partidos e organizações comunistas-socia­
listas da América Latina e do Caribe para discu­
tir essas questões, que viria a ocorrer entre os
dias 2 e 4 de julho de 1 990, e que se conhece hoje
por Foro de São Paulo.

20
CAPÍ TULO 3
HISTÓRICO
"Em outubro de 1917 separamo-nos do mundo
antigo, rejeitando-o de uma vez por todas.
Vamos em direção a um novo mundo, um
mundo de comunismo. Nós nunca desistiremos
desse caminho".
(Trecho final do discurso OFICIAL de Mikhail
Gorbachev sobre a Perestroika, que o mundo
democrático não conheceu).

Na década de 80 do século passado a situa­


ção econômica da Rússia não andava bem, as­
sim como as relações deste país com Cuba. Em
1985 Mikhail Gorbachev propôs uma política
à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS) que denominou de "Perestroika", desen­
cadeando mobilizações pela independência de
vários países do bloco, o que viria a gerar o fim
da URSS em 31 de dezembro de 1 9 9 1 .

E m 1986 o s negócios dos irmãos Castro com


o tráfico de drogas ia de vento em popa, po­
rém, numa visita que Gorbachev fez aos Esta­
dos Unidos em 1988 os americanos comenta­
ram a esse respeito e lhe disseram que, se não
pusesse um fim nisso, eles seriam obrigados

21
O FORO DE SÃO PAULO

a fazer com Cuba o mesmo que fizeram com o


general Noriega no Panamá. Pouco depois, em
princípios de 1989, Gorbachev visita Cuba e o
que resultou disso foi a detenção e execução
por fuzilamento do General Arnaldo Ochoa,
dentre outros, transmitido em cadeia nacional
de televisão, para que servisse de exemplo aos
cubanos e os Estados Unidos engolissem a far­
sa de que os Castro não tinham nada a ver com
aquilo e combatiam com rigor esse tipo de deli­
to. A idéia funcionou e o DEA (departamento de
repressão ao tráfico de drogas americano) acre­
ditou na farsa e desistiu de investigar Cuba.

Em 9 de novembro de 1989 foi derrubado o


Muro de Berlim e a "Guerra Fria", confronto en­
tre Estados Unidos (capitalismo) e União Sovi­
ética (comunismo), chegava ao fim. Com a Pe­
restroika 1, a queda do Muro de Berlim, e o fim
da ajuda econômica da União Soviética a Cuba,
Fidel Castro temeu pelo fim do comunismo. O
1 Perestroika significa "ree struturação", mas não foi do mo­
delo econômico, agora aberto para o mercado como se acredi­
tou, e sim da estrutura interna do Kremlin e do KGB, que pas­
sou a chamar-se FSB. Foi apenas uma máscara com aparência
de "mudança", ao velho estilo "mudar tudo para não mudar
nada", conforme atesta a epígrafe acima.

22
3 - Histórico

negócio com as drogas ia bem, pois a transação


era feita de madrugada em águas internacio­
nais mas, como era uma atividade ilícita, ele
não podia revelar essa fonte de renda, que ser­
via apenas para encher as arcas pessoais dele,
e continuou alegando dificuldades econômicas
por falta de apoio da Rússia e o embargo ame­
ricano para justificar a miséria e as condições
precárias da própria ilha, que parecia haver
congelado no tempo. Por outro lado, as expor­
tações de açúcar cada vez diminuíam mais,
pois de tanto explorar a terra para esse cultivo,
o solo já não rendia tanto e em conseqüência
entrava pouco dinheiro desse comércio. 2

Fidel Castro já havia visitado o Brasil e fez-se


amigo do pseudo-frei Betto. Diante dessas pre­
ocupações financeiras e ideológicas, Betto vai a
Cuba com um convidado e ali apresenta ao di­
tador Castro seu amigo Lula, naquela ocasião
líder sindical do ABC paulista e presidente do
recém-criado e ainda desacreditado Partido
dos Trabalhadores (PT). Dessa visita, muito
frutífera para eles, Fidel resolve "descongelar"
2 La Mafia de La Habana - Nuestra Cosa Nostra, de Peralta
Morell, Luis Grave. 1 st Books, 2002 .

23
O FORO DE SÃO PAULO

a falida OLAS e propõe um novo encontro para


"recuperar na América Latina o que perdeu-se no
Leste Europeu". Naquela altura talvez só Fidel
Castro, raposa velha e matreira, imaginava que
esse encontro não seria apenas uma reunião
casual como tantas já havidas anteriormente,
mas que teria continuidade e selaria o futu­
ro das Américas se estabelecendo como uma
mega organização que garantisse, não só a so­
brevivência do comunismo, como também a
sua própria.

Foi então que o PT, junto com o Partido Co­


munista Cubano, convocou seus aliados para o
"Encontro de Partidos e Organizações de Esquer­
da da América Latina e do Caribe", que ocorreria
entre os dias 2 e 4 de julho de 1 990, no Hotel
Danúbio (hoje extinto) em São Paulo capital. A
esse encontro compareceram 48 delegações de
14 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia,
Chile, Cuba, El Salvador, Equador, México, Pa­
raguai, Peru, República Dominicana, Uruguai
e Venezuela.

Esse encontro foi marcado por uma certa dis­


persão, uma vez que estava ocorrendo o final

24
3 - Histórico

da Copa do Mundo onde disputavam Argenti­


na e Itália no mesmo horário marcado para a
sessão de trabalho e encerramento, e os brasi­
leiros estavam tristes com a derrota já sofrida
pelo Brasil. Como atrasaram a reunião para
assistir ao jogo, o delegado do Peru teve que se
ausentar antes da assinatura da "Declaração
de São Paulo" porque não conseguiu adiar seu
vôo. Essa declaração foi confeccionada pelo PT
do Brasil, a Frente Farabundo Martí de Liberta­
ção Nacional (FMLN) de El Salvador, o Partido
Comunista de Cuba (PCC) e o Partido Unificado
Mariateguista do Peru (PUM).

A Declaração de São Paulo deixou claro que os


ideais dos participantes eram "de esquerda, so­
cialistas, democráticos, populares e anti-imperia­
listas". Os temas abordados foram, além do "em­
bargo norte-americano" que se discute até hoje:
primeiro, "As alterações na ordem internacional
e seu significado para a América Latina e o Cari­
be", subdividido para tratar, por uma parte, "As
mudanças no sistema capitalista mundial" e "O
impacto da ofensiva neoliberal" e por outra, "A
crise do chamado socialismo real"; segundo, "Ba­
lanço das lutas pela democracia e o socialismo no

25
O FORO DE SÃO PAULO

continente", e terceiro, "Os problemas estratégi­


cos da luta pelo socialismo". 3

Além da Declaração de São Paulo, acordou-se,


ainda, que fariam um segundo Encontro na ci­
dade do México em finais de fevereiro e prin­
cípios de março de 1 991, um seminário para
discutir temas econômicos e o capitalismo no
Uruguai, em novembro de 1 990, e em dezem­
bro de 1990, em São Paulo, um intercâmbio
de experiências dos partidos de esquerda que
exerciam governos locais.

3 Encuentros y desencuentros de la izquierda latinoamericana


- Una mirada desde el Foro de Sao Paulo, Regalado, Roberto,
Editora Ocean Sur, 2008, p. 37 e 38.

26
CAPÍTULO 4
PARTIDOS E
ORGANIZACÕES: >

ONTEM E HOJE

No primeiro Encontro, em 1990, comparece­


ram 48 delegações representando 14 países, se­
gundo informa Roberto Regalado, fundador do
Foro na delegação de Cuba. Entretanto, confor­
me ele mesmo diz, esse dado não é preciso uma
vez que - só para citar um exemplo -, a delegação
da Frente Ampla (FA) do Uruguai abrigava vá­
rias organizações-membros com direito a voz e
voto. Quer dizer, como veremos mais adiante,
muitas organizações terroristas pertenceram e
ainda pertencem oficialmente ao Foro, mas não
aparecem porque estão abrigadas dentro de ou­
tras siglas.

Enumero então, só para ilustrar1, alguns


partidos ou organizações dos países mais rele­
vantes que participaram da fundação do Foro,
e que hoje não mais aparecem no site para não
revelar o verdadeiro caráter dessa organização
1 A lista completa encontra-se no livro já citado de Roberto
Regalado, às páginas 264 e 265.

27
O FORO DE SÃO PAULO

e maquiar - ou negar - que desde o princípio o


Foro abrigou - e ainda abriga - organizações ter­
roristas. Hoje só se encontra a relação atual dos
países e partidos-membros2•

Argentina: compareceu com 9 organizações,


dentre as quais se destacam: Partido Comunista
Argentino, Partido Intransigencia Revoluciona­
ria, Partido Revolucionario de los Trabajadores e
Unidad Socialista.

Bolívia: 2 partidos/organizações: Eje de Con­


vergencia Patriótica e Partido Comunista Boli­
viano.

Brasil: Partido dos Trabalhadores (PT), Parti­


do Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Comu­
nista Brasileiro (PCB), Partido Democrático Tra­
balhista (PDT), afiliado à Internacional Socialis­
ta, e Partido Socialista Brasileiro (PSB) fundado
por Miguel Arraes.

Colômbia: Partido Comunista Colombiano


(PCC) e União Patriótica (UP). Vale salientar
que as FARC foram criadas pelo PCC e que a

2 http://forodesaopaulo.org/partidos/

28
4 - Partidos e organizações: ontem e hoje

UP foi o primeiro partido político desse bando


narcoterrorista. Quer dizer, embora as FARC
não apareçam ainda, e só tenham entrado
oficialmente como membros do FSP poucos
anos depois, elas já estavam presentes através
do PCC.

Chile: Partido Comunista do Chile e


Movimiento de lzquierda Revolucionária (MIR).
A propósito do MIR, vale ressaltar que quando
ingressou no FSP esse bando terrorista já havia
se extinguido. Em 1 9 86, após derrotas e perda
em combate de seus líderes, dividiu-se em duas
partes: o MIR-militar e o MIR-político, ambos se
dissolvendo em 1 990. Depois surgiram o MIR­
Ejército Guerrillero del Pueblo (MIR-EGP) e o
MIR-Juventud Rebelde Miguel Enríquez (MIR­
JRME) que funcionou na clandestinidade por
um certo tempo mas abandonou a estratégia

da luta armada em 1 9 9 7. Atualmente exercem


"trabalho" junto aos estudantes e sindicatos e
continuam publicando uma revista chamada El
Rebelde.

Cuba: Partido Comunista Cubano

29
O FORO DE SÃO PAULO

El Salvador: Frente Farabundo Martí de Libe­


ración Nacional (FMLN)

Equador: Partido Comunista do Equador, Par­


tido Socialista do Equador.

México: Partido de la Revolución Democráti­


ca (PRD) e Partido Popular Socialista.

Paraguai: Corriente Patria Libre (que depois


viria a ser o Partido Patria Libre, braço político
do bando terrorista EPP - Ejército del Pueblo Pa­
raguayo) e Partido Comunista Paraguayo.

Peru: Partido Comunista Peruano, Partido


Unificado Mariateguista e Partido Comunista
Revolucionário.

República Dominicana: Partido Comunista


Dominicano

Uruguai: Frente Amplio

Venezuela: Partido Comunista da Venezuela e


Causa R.

30
4 - Partidos e organizações: ontem e hoje

Apenas 3 anos depois, no Encontro em Hava­


na, Cuba, já participavam 30 países e o número
de participantes por partido-organização havia
se multiplicado exponencialmente3• Do Brasil
passou a integrar como membro pleno o Par­
tido Popular Socialista (PPS) de Roberto Frei­
re, que recebia ajuda direta do antigo KGB; da
Colômbia entrou a Alianza Democrática M- 1 9
(M- 1 9), que naquela altura havia feito um acor­
do com o governo e "deixado as armas", sendo
anistiados de todos os seus crimes, inclusive o
que ficou conhecido como o Holocausto do Pa­
lácio da Justiça; do México entrou o Partido del
Trabajo (PT), que hoje pensa em fundir-se com
o PRD.

A Nicarágua, que não havia participado do


Primeiro Encontro, incorporou-se a partir do
segundo com a Frente Sandinista de Liberación
Nacional (FSLN) do terrorista Daniel Ortega.
O Paraguai foi quem compareceu com mais
organizações. Além dos partidos comunistas e
socialistas já citados, aderiram "organizações"
reconhecidamente terroristas: MLN Tupamaros,
Frente de Izquierda de Liberación, Movimiento

3 Ibid., p. 265 a 269.

31
O FORO DE SÃO PAULO

Revolucionário Oriental e Movimiento 26


de Marzo. O PPL seguia em sua transição
apenas no nome, passando de "Corriente" para
"Movimiento", sem contudo abandonar sua
prática terrorista.

No IX Encontro, ocorrido em 2000 em Maná­


gua, Nicarágua, (que pode ser visto apenas no
site Mídia Sem Máscara4 já citado, que salvou os
documentos originais que o site do Foro já não
publica mais), pode-se ver a presença do Movi­
miento Revolucionário Tupac Amam e dos ban­
dos narco-terroristas FARC (Fuerzas Armadas
Revolucionárias de Colombia) e ELN (Ejército de
Liberación Nacional), ambos da Colômbia que o
PT tanto se esmera em negar a participação.

Conforme nos relata Alejandro Pena Esclusa5,


"Em dezembro de 1994, depois de sair da prisão
pelas intentonas golpistas de 1992, Hugo Chá­
vez viajou a Cuba, onde foi recebido com honras
de chefe de Estado, para selar publicamente uma
aliança com Fidel Castro. (. . .) Posteriormente, em
4 http://www.midiasemmascara .org/attachments/007 _
atas_foro_sao_paulo.pdf
5 El Foro de Sao Paulo contra Álvaro Uribe, Peii.a Esclusa,
Alejandro. Ediciones Fuerza Produtiva C. A., primeira edição,
abril de 2008, p. 16.

32
4 - Partidos e organizações: ontem e hoje

maio de 1 995, Chávez viajou a Montevidéu para


se inscrever no Foro de São Paulo, que fazia lá seu
V Encontro. Os membros do FSP decidiram dar
seu apoio ao tenente-coronel golpista, em troca de
uma retribuição uma vez chegasse ao poder na Ve­
nezuela".

Em 2008, quando foi abatido Raúl Reyes, o nú­


mero dois das FARC, nas selvas do Equador em
fronteira com a Colômbia, Chávez fez esta decla­
ração que confirma o afirmado por Pena Esclu­
sa: de que as FARC eram membros do FSP. Ele
apenas se confunde quanto ao ano do Encontro
de El Salvador, que foi em 1 9 96. Leiam a trans­
crição:

"Nós rendemos um tributo a um bom revolu­


cionário quefoi Raúl Reyes. O conheci pessoal­
mente. O conheci pessoalmente. O conheci.
Lembro que quando saí da prisão em 19 94 e
andava por estas ruas de Caracas, na Praça
Caracas, bairros, aqueles povoados, eu rece­
bi um convite em 1 99 5 para assistir ao Foro
de São Paulo, que se instalou naquele ano em
San Salvador. O convite me foi foi feito por
um bom amigo, comandante revolucionário,

33
O FORO DE SÃO PAULO

falecido há pouco, Shafik Handal. E aí eu fui


a San Salvador e um.a das pessoas que conhe­
d foi - naquela ocasião eujá conheda Lula,
entre outros - e chegou alguém em meu lugar
ali na reunião, a uma mesa de trabalho onde
estávamos um grupo conversando, e lembro
que ele pôs a mão por aqui (aponta para o
braço esquerdo) e me disse: "homem, quero
falar com você". E eu lhe disse: "quem é você?".
"Raúl Reyes, um dos com.andantes das Forças
Armadas Revoludonárias da Colômbia". Nos
reunimos nessa mesma noite em algum bairro
humilde de San Salvador. Nunca mais o vi, até
que surgiu aquele processo do Caguán". 6

Lula sempre negou a existência do FSP,


enquanto lhe foi necessário e o PT sempre
negou a participação das FARC na organização
criminosa, mas estas não-somente eram
membros, com direito a voz e voto, como
presidiram um dos Encontros. Numa entrevista
dada a Fabiano Maisonave, da Folha de São Paulo
em 24 de agosto de 2003, Raúl Reyes confirma
pertencer ao Foro e conhecer não apenas Lula
mas outros brasileiros "ilustres". Leiam um
6 Reações ante a morte de Raúl Reyes (https:/ /www.youtube .
com/watch?v=4ehPQ30ByyE)

34
4 - Partidos e organizações: ontem e hoje

trecho muito revelador dessa entrevista, dada


"em algum ponto da Amazônia colombiana": 7

"Folha de S.Paulo O sr. conheceu Lula?


-

Reyes - Sim, não me recordo exatamente em


que ano, foi em San Salvador, em um dos
Foros de São Paulo.

Folha de S.Paulo - Houve uma conversa?


Reyes - Sim,.ficamos encarregados de presi­
dir o encontro. Desde então, nos encontra­
mos em locais diferentes e mantivemos con­
tato até recentemente. Quando ele se tomou
presidente, não pudemos maisfalar com ele.

Folha de S.Paulo - Qualfoi a última vez que


o sr.falou com ele?
Reyes Não me lembro exatamente. Faz uns
-

três anos.

Folha de S.Paulo - Fora do governo, quais


são os contatos das Farc no Brasil?
Reyes As Farc têm contatos não apenas
-

no Brasil com distintas forças políticas e


governos, partidos e movimentos sociais. Na

7 http://wwwl.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u62119 .shtml

35
O FORO DE SÃO PAULO

época do presidente [Fernando Henrique]


Cardoso, tínhamos uma delegação no
Brasil8•

Folha de S.Paulo - O sr. pode nomear as


mais importantes?
Reyes - Bem, o PT, e, claro, dentro do PT há
uma quantidade deforças; os sem-terra, os
sem-teto, os estudantes, sindicalistas, inte­
lectuais, sacerdotes, historiadores, jorna­
listas...

Folha de S.Paulo - Quais intelectuais?


Reyes [O sociólogo] Emir Sader, frei Betto
-

[assessor especial de Lula] e muitos outros".

Mais uma confirmação da pertinência das


FARC ao FSP, numa exposição feita em 2007,
no XIII Encontro em El Salvador. O presidente
Álvaro Uribe estava apertando o cerco e as
FARC vinham mantendo um baixo perfil, não
podendo ter participação presencial e por isso
8 A "delegação" a que ele se refere é ao terrorista Francisco An­
tonio Cadena Collazos, vulgo "Oliverio Medina", também conhe­
cido como "Cura Camilo" ou "Padre Camilo", que recebeu asilo
político dado pelo CONARE e continua vivendo livremente no
Brasil, enquanto continua articulando a entrada de terroristas
das FARC em nosso território, assim como a entrada de armas,
drogas e até outras práticas ilícitas, como seqüestro.

36
4 - Partidos e organizações: ontem e hoje

enviaram por escrito suas opiniões e sugestões


que pedem sejam consideradas: 9

"Mesa Diretora, Companheiros Delegados e


Companheiras Delegadas ao XIII Foro.

San Salvador, El Salvador.

Recebam nossa carinhosa e bolivariana sau­


dação, muitos êxitos em suas deliberações.

Ao não podermos nos fazer presentes em


tão importante evento, lhes entregamos este
documento com nossos pontos de vista e
agradecemos de antemão ofato de tê-lo em
conta nas deliberações . . . ".

Do mesmo modo, o Primeiro-Comandante


do ELN, Nicolás Rodríguez Bautista, vulgo
"Gabino"1º, também prova sua filiação ao FSP,
9 A publicação original já não se encontra disponível no site
das FARC mas foi recuperado através do http:/ /web.archive.
org/web/200703 1 02 15 800/www.farcep.org/?node= 2,25 13, 1 .
Outra publicação d o mesmo texto pode-se encontrar n o site
do Pravda russo em português: http:/ /port.pravda.ru/mundo/
25-01-2007/ 1 5 1 6 8-farcsaudacao-O.
10 Publicado no site próprio do ELN, traduzido por núm:
https://www.eln-voces.com/j 15/index.php?option=com_cont
ent&view=article&id= 1294:saludo-del-eln-al-xviii-encuentro­
del-foro-de-sao-paulo&catid = 2 6:artculos&Itenúd = 6 9

37
O FORO DE SÃO PAULO

enviando uma mensagem aos "camaradas"


membros do XVIII Encontro que aconteceu em
Caracas em 2 0 1 2, provando que estava a par
do Documento Base e do que ia ser discutido
naquela ocasião:

"Em um entorno mundial complexo e volá­


til, que bem recolhe o Documento Base para
o debate neste Encontro, a construção de um
bloco sul-americano e regional é uma obri­
gação de sobrevivência e responsabilidade
histórica".

(. . .) "Neste XVIII Encontro nos encontramos


com muitos Partidos do Foro, que tiveram
experiências de governo em nível nacional
ou local, depois de lutar contra as oligar­
quias de seus países com as armas na mão".

"O Exército de Libertação Nacional da


Colômbia, como destacamento do povo
colombiano em armas, avalia indispen­
sável refletir com vocês sobre a urgência da
paz como imperativo para a Colômbia".

Montanhas da Colômbia, pelo Comando


Central do ELN, Nicolás Rodríguez Bautista".

38
4 - Partidos e organizações: ontem e hoje

O que demonstra a pertinência à organização


não é a presença física, pois em várias ocasiões
era necessário manter um baixo perfil, do mes­
mo modo que para o Foro não era conveniente
que o mundo soubesse da presença dessas orga­
nizações terroristas em seu meio, e naquele ano
muitas denúncias de que tanto as FARC como o
ELN tinham bases e acampamentos em territó­
rio venezuelano cobriam os noticiários locais e
internacionais, até denúncias feitas à ONU. Por
isso eles enviavam suas propostas que eram dis­
cutidas e levadas em conta pelos membros ofi­
ciais do Foro, pois tratava-se das reivindicações
de outro "respeitado" membro. Tudo isso me
remete a um trecho do livro "O grande culpado
-O plano de Stalin para iniciar a Segunda Guerra
Mundial" de Viktor Suvorov11, porque ele refle­
te perfeitamente o que se observa em relação ao
Foro de São Paulo:

"Em 1 9 1 9, em Moscou, Lenin e Trotsky cria­


ram a Internacional Comunista, abreviada
para 'Komintern'. Essa organização definia­
-se como 'quartel-general da revolução mun­
dial'. O objetivo da Internacional Comunista
11 "O grande culpado - O plano de Stalin para iniciar a Segunda
Guerra Mundial", Viktor Suvorov, Ed. Amarilis, p. 17

39
O FORO DE SÃO PAULO

era a criação de uma 'República Socialista


Soviética Mundial'. Assim começou o proces­
so de criar e fortalecer partidos comunistas
em todos os continentes. Tais partidos cons­
tituíam braços da Internacional Comunista e
a ela estavam subordinados".

"Supostamente, todos os partidos comunistas


do mundo, incluindo o da Rússia, eram do
mesmo nível. Todos contribuíam para o
banco comunal da Internacional Comunis­
ta. Delegados de todos os partidos comunis­
tas do mundo organizavam congressos, de­
senvolviam estratégias e táticas, e elegiam
um grupo líder comum - o Comitê Execu­
tivo da Internacional Comunista. Esse ór­
gão supervisionava todos os comunistas do
mundo. Oficialmente, o Partido Comunista
da Rússia era o braço da Internacional Co­
munista, em pé de igualdade com os demais
partidos, e sujeito a aceitar as decisões for­
muladas em comum".

Quer dizer, do mesmo modo que o Partido


Comunista da Rússia "parecia" atuar em pé de
igualdade com os outros partidos do mundo, era

40
4 - Partidos e organizações: ontem e hoje

seu Comitê Executivo quem tinha o controle de


todas as ações a serem postas em prática pelos
restantes países-membros, quem dava a última
palavra a quem deviam obediência. Do mesmo
modo, é a Secretaria Executiva do PT quem ocu­
pa a Secretaria Executiva no Foro de São Paulo e
quem tem o controle de todas as ações a serem
postas em prática pelos países-membros, como
se observará mais adiante.

E do Brasil, hoje, participam do Foro de São


Paulo, além do PT, o PDT, o PCdoB, o PCB, o PPS,
o PSB, o MST e o bando terrorista MR-8 que re­
centemente foi oficializado como "Partido Pá­
tria Livre", copiando o mesmo nome do partido
paraguaio "Partido Pátria Libre", braço político
do bando terrorista EPP já citado.

41
CAPÍTULO 5
CRONOLOGIA DOS
ENCONTROS E CRIACÃO DO JI

GRUPO DE TRABALHO (GT)


"O povo foi domado aos poucos, e tudo foi lacrado.
Ensinado a gritar quando deveria estar silente,
quieto ficou quando deveria esbravejar".
("Medo" - Yevtushenko)

1. São Paulo, Brasil - 2 a 4 de julho de 1 9 9 0

I I . Cidade d o México, México - 1 2 a 1 5 d e ju­


nho de 1 9 9 1
III. Manágua, Nicarágua - 1 6 a 1 9 de julho de
1 9 92
IV. Havana, Cuba - 2 1 a 2 4 de julho de 1 9 9 3
V. Montevidéu, Uruguai - 25 a 28 de maio de
1 9 95
VI. São Salvador, El Salvador - 2 6 a 2 8 de julho
de 1 9 96
VII. Porto Alegre, Brasil - 31 de julho a 0 3 de
agosto de 1 9 9 7
VIII. Cidade do México, México - 29 a 31 de ou­
tubro de 1 9 9 8
IX. Manágua, Nicarágua - 1 7 a 2 1 d e fevereiro
de 2000
X. Havana, Cuba - 4 a 7 de dezembro de 200 1
42
5 - Cronologia dos encontros e criação do Grupo de Trabalho (GT)

XI. Antigua, Guatemala - 2 a 4 de dezembro


de 2002
XII. São Paulo, Brasil - 1 a 4 de julho de 2005
XIII. San Salvador, El Salvador - 12 a 1 4 de ja­
neiro de 2007
XIV. Montevidéu, Uruguai - 2 2 a 25 de maio de
2008
XV. Cidade do México, México - 20 a 2 3de agos­
to de 2009
XVI. Buenos Aires, Argentina - 17 a 20 de agos­
to de 2 0 1 0
XVII. Manágua, Nicarágua - 1 5 a 20 d e maio de
20 1 1
XVIII. Caracas, Venezuela - 4 a 6 de julho de
20 1 2
XIX. São Paulo, Brasil - 31 de julho a 4 de agosto
de 2 0 1 3
XX. La Paz, Bolívia - 25 a 29 de agosto de 2 0 1 4
XXI. Cidade do México, México - 2 9 d e julho a 1
de agosto de 201 5
XXII. El Salvador - 2 3a 2 6 de junho de 20 1 6

Bem, durante esses 2 6 anos de existência do


Foro não houve Encontros em cinco ocasiões:
1 9 94, 1 9 99, 200 3, 2004 e 2006. As razões para
tal nunca foram expostas no site e certamente

43
O FORO DE SÃO PAULO

só o núcleo duro da mega-organização sabe os


motivos. A propósito disso, sempre afirmei que
nem tudo o que se discutia nos Encontros esta­
ria acessível ao público através do site, mesmo
à militância dos partidos e organizações-mem­
bros, mas era restrito a um grupo seletíssimo
que chamo de "núcleo duro" onde, naturalmen­
te, encontram-se o PT e o PC cubano.

Isto se confirma em pelo menos duas ocasiões:


primeiro, escrito por Valter Pomar - Secretário
de Relações Internacionais do PT e Secretário
Executivo do FSP de 2005 até 2 0 1 3 - em seu
blog, ao expor o "Plano de Ação" aprovado e de­
batido no XIX Encontro ao qual toda a militân­
cia deveria tomar conhecimento, menos uma
parte, "secreta", que ficaria reservada ao núcleo
duro. Disse ele (traduzido): "Não se inclui, por­
tanto, as ações que serão executadas pelas organi­
zações-membros" .1

E no livro já citado do cubano Roberto Regala­


do, ele é explícito em seus esclarecimentos:

1 Ler em: http://valterpomar.blogspot.eom.br/20 1 3/08/


plan-de-accion_ 13 .html

44
5 - Cronologia dos encontros e criação do Grupo de Trabalho (GT)

"Neste livro não há "revelações" dos "se­


gredos" do Foro, nem "denúncias públicas"
das atitudes de uma ou outra pessoa ou
força política, embora devo confessar que,
ao repassar alguns fatos, tive a tentação
de fazê-lo. Entretanto, consegui vencê-la e
espero que o resultado seja um texto que
aporta toda a informação necessária para
fundamentar suas conclusões, e no qual se
omitem os elementos desimportantes que
podem afetar pessoas ou forças políticas
que, à margem das diferenças ideológicas
que tenhamos, merecem - como merecemos
todos - um trato ético".2

Quer dizer, o que foi publicado no livro já pas­


sou por um filtro rigoroso, de modo que as de­
cisões mais importantes e secretas não sejam
conhecidas das pessoas comuns - e até inimi­
gas - que queiram ler a obra. O que ele chama de
"elementos desimportantes" é aquilo que não
tem importância para a militância obreira, que
só executa ordens sem discussão.

2 Encuentros y desencuentros de la izquierda latinoamericana


- Una mirada desde el Foro de Sao Paulo, Regalado, Roberto.
Editora Ocean Sur, 2008, p. 9

45
O FORO DE SÃO PAULO

O Encontro ocorrido em São Paulo não tinha, a


princípio, a intenção de ser um foro permanente
e por isso, segundo Valter Pomar, participaram
partidos e grupos de várias correntes ideológi­
cas. Entretanto, ao concluir o evento com a "De­
claração de São Paulo", os participantes deixam
claro que aquele foi o primeiro de muitos outros
que viriam para solidificar essa aliança em prol
do socialismo. E assim estabeleceu-se que no
ano seguinte repetiriam o evento a ser realizado
no México.

Nos parágrafos finais de tal declaração, lê-se:

"Neste marco, renovamos hoje nossos pro­


jetos de esquerda e socialistas, nossos com­
promissos são a conquista do pão, da beleza
e da alegria, nosso afã de conseguir a sobe­
rania econômica e política de nossos povos
e a primazia de valores sociais, baseados na
solidariedade. Declaramos nossa plena con­
fiança em nossos povos, que mobilizados,
organizados e conscientesforjarão, conquis­
tarão e defenderão um poder que tome rea­
lidade a justiça, a democracia e a liberdade
verdadeiras.

46
5 - Cronologia dos encontros e criação do Grupo de Trabalho (GT)

Aprendemos dos erros cometidos, assim


como das vitórias. Armados de um inegociá­
vel compromisso com a verdade e com a cau­
sa de nossos povos e nações, nos colocamos a
andar, seguros de que o espaço que abrimos
agora o encheremos junto aos demais agru­
pamentos da esquerda latino-americana e
caribenha com novos esforços de intercâm­
bio e de unidade de ação como cimentos de
uma América Latina livre,justa e soberana". 3

O segundo encontro marcado para o ano se­


guinte no México seguia sem uma definição do
nome. Alguns queriam chamá-lo de "Encontro
de Partidos e Organizações Democráticas e Po­
pulares da América Latina e do Caribe" mas não
vingou. Então, o Comitê Organizador pediu a
Lula e Cuauhtémoc Cárdenas, anfitrião do en­
contro no México, que conversassem com os di­
vergentes e no final esse "agrupamento" político
passou a chamar-se oficialmente "Foro de São
Paulo", por ter sido nessa cidade brasileira que a
organização nasceu.

O Encontro do México contou com a partici-


3 http://forodesaopaulo.org/WJXontent/uploads/2014/07/01 -
Declaracion-de-Sao-Paulo-1 990 l .pdf

47
O FORO DE SÃO PAULO

pação de 68 organizações e partidos políticos


provenientes de 22 países da América Latina e
Caribe, mais a assistência de 1 2 organizações e
partidos políticos da Europa, Canadá e Estados
Unidos.

Desde o primeiro encontro criou-se um Grupo


de Coordenação que decidia quais os temas a se­
rem debatidos, onde seria o evento, normas para
o funcionamento do Foro etc., mas as divergên­
cias - talvez a ganância por protagonismo - so­
bre "quem" poderia participar da coordenação,
fizeram com que apenas dois dias antes do III
Encontro este grupo fosse rebatizado de Grupo
de Trabalho (GT).

O Grupo de Trabalho seria o órgão coordenador e


executivo dos acordos do Foro de São Paulo entre
um encontro e outro. Assim que, a cada 3meses,
o GT se reúne para estabelecer metas, preparar
a pauta para o Encontro seguinte, emitir notas
de apoio, etc. Esse GT é reorganizado a cada ano
pelo plenário do Foro com base na proposta
apresentada pelo GT anterior, após um processo
de consulta ampla com os membros do Foro,
sendo o partido ou movimento anfitrião do

48
5 - Cronologia dos encontros e criação do Grupo de Trabalho (GT)

próximo Encontro um participante obrigatório.


Vale salientar que, embora haja um rodízio nos
participantes do GT, o PT sempre participa em
todos, o que corrobora a citação anterior de
Viktor Suvorov acerca do Partido Comunista da
Rússia.

Foi o GT quem elaborou o projeto de normas


para o funcionamento do Foro de São Paulo e
seu Grupo de Trabalho. Segundo este projeto,
eram membros do Foro de São Paulo "os movi­
mentos e partidos políticos da América Latina e
Caribe que aderissem e apoiassem as resoluções
dos Encontros, e contribuíssem à unidade dos po­
vos da América Latina e Caribe". 4

E é tão rigorosa a seleção daqueles que serão ad­


mitidos como membros da organização que, se­
gundo palavras do Secretário Executivo do Foro,
Valter Pomar, "As normas do Foro, normas que nos
permitiram chegar inteiros até aqui, estabelecem
que para que uma organização ingresse, é neces­
sário o consenso de todos os partidos nacionais,
depois o consenso do Grupo de Trabalho e depois

4 Foro de São Paulo - Construindo a integração latino-america­


na e caribenha. Pomar, Valter e Regalado, Roberto. Editora Fun­
dação Perseu Abramo, 2 0 1 3 , página 36.

49
O FORO DE SÃO PAULO

o consenso da Assembléia do Foro". Ora, se exis­


tem "normas", "consenso" e um filtro tão rigoro­
so e praticamente unânime para a admissão de
um novo membro na organização, é porque ela é
muito mais do que uma simples reunião de pes­
soas que pretendem "discutir" política e trocar
opiniões entre pessoas com as mesmas idéias
como ocorrem em seminários e congressos!

'� política do Foro seria a de não fazer convites.


Todavia, poderiam assistir como observadores to­
das as forças políticas que o desejassem, dentro de
um quadro construtivo e de respeito em relação
às deliberações e objetivos do Foro"5•Quer dizer,
quando Lula afirmava que o Foro de São Paulo
não passava de um grupo de partidos e movi­
mentos de esquerda que se reuniam para "discu­
tir" a conjuntura política da América Latina e do
Caribe ele sabia que estava mentindo, uma vez
que essa organização tem caráter deliberativo,
ou seja, toma decisões que devem ser acatadas,
assinadas e postas em prática por todos os mem­
bros permanentes do Foro, como veremos mais
adiante.

5 Id.

50
CAPÍ TULO 6
OBJETIVOS DE
CADA ENCONTRO

"Confundir o inimigo e o público: esta é a tarefa,


enquanto sefaz o que deve ser feito".
(Vladimir Ilyitch Ulianov - Lenin)

Cada vez que o FSP realiza um Encontro se esta­


belecem os objetivos gerais e os específicos. Du­
rante um certo tempo foi possível encontrar no
site a "Resolução Final" e as "resoluções específi­
cas" (sobre gênero, negros, juventude, mudança
climática, de apoio a países, governantes e/ou
causas, etc.), porém, como eu disse anteriormen­
te, depois de um certo tempo eles passaram a pu­
blicar apenas a Resolução Final, o que dificultava
mais ainda saber quais seriam seus próximos
planos.

Assim sendo, enumero a seguir o que me pa­


receu mais relevante nesses Encontros - não
necessariamente todos -, pois em sua quase to­
talidade são textos repetitivos, cansativos, ten­
do como mote principal em todos eles, o apoio
à revolução cubana, a condenação ao "bloqueio

51
O FORO DE SÃO PAULO

estadunidense" e a exigência de que libertem


os "cinco heróis cubanos"; a luta contra o "im­
perialismo", o neoliberalismo e o capitalismo;
a defesa dos "direitos humanos", defesa da so­
berania, "auto-determinação dos povos" e a
"não-intervenção", embora tudo isso não pas­
se de palavras soltas, frases de efeito, uma vez
que eles mesmos foram e são os primeiros a
interferir de maneira vergonhosa nos assun­
tos internos dos países-membros, como se verá
mais adiante, e de jamais respeitar os direitos
individuais de quem é considerado "contra-re­
volucionário". Tais Resoluções Finais podem
ser vistas na íntegra no site do próprio Foro,
enquanto eles permitirem a consulta pública. 1

III Encontro

Demandas:

. O encerramento do "bloqueio" contra


Cuba;
. A restituição de Jean Bertrand Aristide à
presidência do Haiti;

. Condenação do "golpe militar" que impôs

1 http://forodesaopaulo.org/declaraciones_finales/

52
6 - Objetivos de cada encontro

um regime ditatorial e militarizado no


Peru; 2
• Agilização no processo de paz na Guate­
mala - uma proposta de "solução pacífica"
ao conflito armado;
. Cessar a ingerência e intromissão dos Es­
tados Unidos nos assuntos internos da Ni­
carágua;
• Desconhecimento do governo ilegítimo
imposto no Panamá pela invasão dos Es­
tados Unidos, retirada de todas as tropas e
respeito ao tratado Torrijos-Carter;
. Respeito ao povo de Porto Rico à livre de­
terminação e à independência, e o fecha­
mento das bases militares nesse país;
• Restituição das Ilhas Malvinas à Argentina;
. Continuidade do processo de negociação,

2 Alberto Fujimori foi eleito presidente do Peru de 1 990 a


2000. Em 5 de abril de 1 99 2 ele dissolveu o Congresso, fechou o
Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal Constitucio­
nal e o Conselho da Magistratura, em colaboração com as Forças
Armadas, que ficou conhecido como o "auto-golpe de 1 9 9 2".
Os comunistas odeiam Fujimori porque ele exterminou o ban­
do terrorista "Sendero Luminoso" - que hoje já se reergueu -, e
foi condenado a 25 anos de prisão por "crimes de lesa-humani­
dade", onde é responsabilizado por dois massacres. Entretanto,
os terroristas do Sendero, das FARC e do ELN são tratados como
"insurgentes" e os ditadores Castro como presidentes, todos
gozando de plena liberdade e muito respeito, exatamente pelos
seus "grandes feitos" criminosos.

53
O FORO DE SÃO PAULO

para uma solução política e não militar ao


conflito interno da Colômbia, e a retoma­
da do diálogo entre o Governo e a Coorde­
nadora Simón Bolívar;

Decisões:

· "Dar a conhecer as posições políticas e eco­


nômicas expressadas em nossos trabalhos
e eventos, promovendo o reconhecimento
institucional do Foro e o estabelecimento
de uma comunicação permanente com fo­
ros e instâncias análogas";
· "Promover a ação unitária dos parlamen­
tares, dos partidos do Foro de São Paulo,
nos parlamentos regionais, no Parlamen­
to Latino-Americano e na União Inter-Par­
lamentar Mundial".

IV Encontro

Participaram 1 1 2 organizações-membros, 2 5
observadores da região, observadores repre­
sentantes de 44 instituições e forças políticas
da América do Norte, Europa, Á sia e África. As
discussões e deliberações foram praticamente

54
6 - Objetivos de cada encontro

as mesmas dos Encontros anteriores, destacan­


do-se apenas:

· "A integração deve ocorrer em primeiro


lugar, no interior da América Latina e
do Caribe, como um processo político e
econômico que nos articule como um
bloco político e que nos potencialize com
vontade de complementar e compensar
as diferenças de nossas economias"; 3

· Críticas à guerra do Iraque, à ocupação na


Somália, à ameaça imperialista sobre a
Coréia do Norte e às sanções à Líbia;

· Denúncia da cumplicidade do Conselho de


Segurança da ONU com as agressões de Is­
rael contra os palestinos.

Em 1 º de janeiro de 1 9 9 3, o Foro de São Paulo


criou a revista ''América Libre" para difundir o
pensamento e as deliberações dos Encontros,

3 Quer dizer, os países que têm mais, "ajudam" os países que


têm menos ou, "a cada um conforme sua necessidade", e isso
se evidenciou muito claramente em pelo menos duas ocasiões:
no pagamento ilegal ao Paraguai pela energia de Itaipu, exigido
pelo então presidente Fernando Lugo; e mais tarde, na invasão e
expropriação da Petrobras na Bolívia, pelo presidente cocaleiro
Evo Morales, com total aquiescência do então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.

55
O FORO DE SÃO PAULO

no qual se incluem realizar seminários, oficinas,


debates, comemorar datas importantes, etc. A
publicação está dividida em sessões que enfocam
artigos, entrevistas, eventos e história, tudo de
acordo com a visão deles, não necessariamente
a realidade.

Lá é possível encontrar uma entrevista muito


reveladora feita a Manuel Marulanda Vélez,
"Tirofijo", Comandante-em-Chefe do Estado
Maior Central das FARC, pelo jornalista Patrício
Echegaray, Secretário-Geral do Partido Comunista
Argentino em 1 99 84• Nessa entrevista evidencia­
se o vínculo das FARC com o Foro de São Paulo,
uma vez que Echegaray diz na apresentação que
Tirofijo "integra o Conselho Editorial" da revista
- e seu nome permanece até hoje, mesmo depois
de sua morte -, fato que até hoje é reiteradas vezes
negado, seja por Lula, Valter Pomar, José Dirceu
("Comandante Daniel"), Marco Aurélio Garcia
(MAG) ou qualquer outro membro do PT.

A revista é pautada por Emir Sader e (pseudo)


Frei Betto, e coordenada por Rubens Paolucci
Jr. do CEPIS no Brasil. É editada na Argentina,
4 http://www.nodo 5 0.org/americalibre/anteriores/ 1 3 /
echegaray l 3.htm

56
6 - Objetivos de cada encontro

impressa no Chile e distribuída para todos os


países do continente. Constam ainda como
membros do Conselho Editorial, além de Tiro­
fijo das FARC: Leonardo Boff, Chico Buarque de
Hollanda, Antonio Cândido, Gilberto Carvalho,
João Pedro Stédile e Luís Eduardo Greenhalgh
do Brasil; Fernando Cardenal e Miguel D'Esco­
to da Nicarágua; Shafik Handal de El Salvador
(falecido); Marta Hamecker, Volodia Tetelboim
(falecido) e Gladys Marín (falecida) do Chile; Ri­
goberta Menchú da Guatemala; Bispo da Igreja
Evangélica Metodista Federico Pagura e Patri­
cio Echegaray da Argentina; Narciso Isa Conde
da República Dominicana; James Petras dos
Estados Unidos; Alí Rodríguez Araque da Vene­
zuela; cantor Sílvio Rodríguez de Cuba e Milton
Hemández (falecido) do ELN da Colômbia.

Ao que tudo indica a revista parou de ser edita­


da ou então deixaram de atualizar a versão ele­
trônica, pois os artigos mais recentes são referen­
tes ao número 22, de 2007. Muitos artigos cons­
tantes, sobretudo nos primeiros números, estão
sem link, o que dificulta o acesso, mesmo pesqui­
sando em buscadores eletrônicos, mas ainda é
possível encontrar artigos bastante reveladores.

57
O FORO DE SÃO PAULO

Nesse mesmo ano, em janeiro de 1 99 3 , Lula e


Fernando Henrique Cardoso tiveram um encon­
tro em Princeton, Estados Unidos, com o então
Secretário de Estado do presidente Bill Clinton,
Warren Christopher. Nesse encontro firmaram
um pacto entre o Foro de São Paulo e o Diálogo
Interamericano (DI).

O DI tinha propostas para a América Latina


que percebia como enfraquecida politicamente
após a dissolução da URSS. Da parte dos Estados
Unidos, havia um temor da massiva imigração
latino-americana ao seu país, então, Warren
Christopher propôs que bandos guerrilheiros se
transformassem em partidos políticos tomando
o poder pelo voto, acreditando que isso evitaria
uma guerra revolucionária e diminuiria a imi­
gração.

A partir daí o Foro começou sua campanha


para que os bandos terroristas fizessem acordos
de paz e se legalizassem como partidos políticos,
obtendo êxito em países como El Salvador, Gua­
temala e Nicarágua, no passado, e atualmente
luta pela mesma conquista com as FARC e o ELN
na Colômbia.

58
6 - Objetivos de cada encontro

Como esse é um tema correlato ao Foro de


São Paulo e do qual meus conhecimentos não
são tão profundos, sugiro aos leitores o livro
"O Eixo do Mal latino-americano e a Nova Ordem
Mundial" , do Heitor De Paola.5

VI Encontro

Esse foi um dos Encontros mais importantes


dentro do espectro do Foro, porque foi aí que as
FARC presidiram o evento e houve a primeira
participação de Chávez como membro efetivo,
conforme já citado no Capítulo 4. As delibera­
ções foram as mesmas já repetidas nos Encon­
tros anteriores, por isso, destaco apenas as se­
guintes que foram específicas desse Encontro:

· "O Foro se afirma em sua caracterização


como um espaço anti-imperialista de en­
contro, ação, solidariedade e formulação
de projetos alternativos no movimento
democrático e revolucionário da região,
no qual convergem correntes de origens
diversas. A diversidade que no passado foi
5 "O Eixo do Mal latino-americano e a Nova Ordem Mundial",
De Paola, Heitor. Ed. Observatório Latino, 21 edição, 20 1 5 . Ler
o Capítulo XII:"O pacto entre o Foro de São Paulo e o Diálogo
Interamericano", da página 2 2 7 à 249.

59
O FORO DE SÃO PAULO

a causa de muitas divisões, hoje se con­


verte em um fator de enriquecimento do
debate de idéias, de propostas e ações co­
muns, partindo da imperiosa necessida­
de de derrotar o neoliberalismo";

Primeiro Encontro dos Jovens da America


Latina e do Caribe do Foro de São Paulo.

VII Encontro

· "Para que as forças de esquerda sejamos


conseqüentes articuladores de amplos
movimentos de oposição e coalizões de
governo, resulta fundamental que pos­
suamos nitidez programática, flexibili­
dade tática e instrumentos de ação capa­
zes de assegurar nosso peso específico e
independência";

· "As organizações políticas do Foro estamos


derrubando definitivamente as barreiras
artificiais entre o político e o social corno
elemento imprescindível de verdadeiras
alternativas. Esta perspectiva coloca a luta
de classes no centro de nossa atividade
e reflete urna vontade expressa de urna
nova maneira de fazer política";
60
6 - Objetivos de cada encontro

· "Precisamos promover uma efetiva de­


mocratização dos meios de comunicação
massiva";6

· "Devemos estabelecer políticas de ação


afirmativa que assegurem o acesso das
mulheres aos postos de decisão em todos
os níveis";

· "No Foro existem organizações que


optaram pela luta armada e outras
que, sem praticá-la, a consideram
como uma opção válida para deter­
minados contextos e ainda os que se
opõem a essa forma de luta. As dife­
renças baseiam-se na inexistência de
um consenso na valoração das novas
expressões de luta armada, e o quê re­
presentam estas expressões nesta fase
das lutas sociais".

VIII Encontro

· "Nossa meta é a revolução, quer dizer,


uma profunda transformação da socieda­
de, a qual haverá de se realizar reafirmando
6 Observem que desde 1 9 9 7 eles tentam controlar os meios
de comunicação, seja a mídia impressa ou eletrônica, assim
como a internet e as redes sociais. "Democratização", é quando
o Partido-Estado controle tudo com mão de ferro.

61
O FORO DE SÃO PAULO

e recriando a democracia, aspecto essen­


cial de todo projeto alternativo".

· "O objetivo não é meramente chegar ao


governo, senão chegar para transformar
a sociedade. E como isso não é tarefa
de uns poucos anos, senão um processo
complexo e longo, será imprescindível
consolidar e ampliar os respaldos
sociais para a construção de um projeto
estratégico que permita manter-se no
governo e realizar as grandes mudanças
revolucionárias que nossas sociedades
demandam".

IX Encontro

• "A esquerda deve assumir os novos pro­


blemas que a intelectualidade progressis­
ta estabelece em torno da defesa da uni­
versidade e da educação públicas como
patrimônio da cultura democrática".

· Que o seqüestro em Miami do menino


cubano Elián González7 é uma mostra da
7 Elián González é um balsero sobrevivente, cuja mãe faleceu
no Mar do Caribe tentando fugir do "paraíso cubano" e foi en­
contrado pela Guarda Costeira em Miami. Na época ele tinha 5
anos. O objetivo da mãe de Elián era ir viver com os parentes que
já moravam nos Estados Unidos mas não teve sorte. A familia

62
6 - Objetivos de cada encontro

irracionalidade e do ódio contra o povo


cubano.

· "Saudamos as importantes medidas do


governo venezuelano para garantir a
soberania nacional e rechaçamos qualquer
ingerência estrangeira que possa pôr
em perigo o desenvolvimento e avanço
pacífico desde processo revolucionário".

Bem, com o que foi estabelecido nesse pri­


meiro item pode-se observar a intensificação

o acolheu, realizando o desejo de sua mãe. Fidel Castro aprovei­


tou-se da publicidade que a mídia deu ao caso e resolveu fazer
disso uma bandeira para culpar os Estados Unidos, mais uma
vez, pela miséria imperante na Ilha-Cárcere.
O presidente Bill Clinton, comunista como Fidel, acabou ceden­
do as pressões e mandou seqüestrarem Elián à força, numa des­
proporcional operação de "resgate" digna dos melhores filmes
policiais, com uma tropa militar armada de metralhadoras, com
grande cobertura da midia. O pai de Elián, até então mais um
"cubano a pé", cuja existência não passava de um número e que
já não vivia com Elián e sua mãe há tempo, foi levado aos Esta­
dos para buscar o filho numa encenação bizarra, com direito a
litros de lágrimas e transmissão direta para a televisão estatal
cubana em 29 de junho de 2000.
Ao chegar em Cuba foram tratados como heróis com direito a
recepção direta de Fidel no aeroporto, mas o tirano não estava
minimamente preocupado com a vida ou a felicidade dessa
criança, apenas em usá-lo para mostrar o seu poder e o da sua
"revolução". Elián foi feito "pionerito" e mais tarde entrou para
as Forças Armadas cubanas. Seu sorriso de felicidade enquanto
viveu em Miami com seus parentes deu lugar a uma profunda
tristeza, refletida no olhar e em todo seu semblante após lavagem
cerebral severa de que foi vitima desde que voltou a Cuba.

63
O FORO DE SÃO PAULO

da doutrinação marxista nas escolas e universi­


dades, de modo especial no Brasil, assim como
a introdução da ideologia de gênero e aulas de
"orientação sexual" para crianças do pré-primá­
rio. Passados 1 6 anos dessa determinação, é pra­
ticamente impossível encontrar hoje em dia um
jornalista formado depois de 2000 que reporte
fatos da realidade como ela é. A sua quase tota­
lidade é incapaz de escrever um texto ou artigo
de opinião que não esteja repleto de chavões co­
munistas (como "oligarquia", "polícia truculen­
ta", "homofóbico", "misógino", "direita fascista",
"comunidade carente", "ativista de direitos hu­
manos", "grupos insurgentes ou rebeldes", "mo­
vimentos sociais", etc.) e termos "politicamente
corretos", quando não descaradamente omitin­
do a verdade em prol da defesa de um partido
político comunista.

X Encontro

Onze anos depois de fundado o FSP, o X Encon­


tro ocorrido mais uma vez em Havana contou
com 5 1 8 delegados provenientes de 8 1 países
da América Latina e Caribe, América do Norte,
Europa, Ásia, África, Oriente Médio e Austrália,

64
6 - Objetivos de cada encontro

representantes de 7 4 partidos e movimentos


políticos-membros e de 1 2 7 partidos e organi­
zações convidadas. Como se pode ver, o número
de partidos, organizações e participantes cres­
ceu bastante mas, ainda assim, a mídia nacional
não divulgava nada, como se um aglomerado de
presidentes de tantos países juntos num even­
to que durava em média 4 dias, não era motivo
para, no mínimo, curiosidade em saber do que
se tratava! Este foi também o ano da criação do
Fórum Social Mundial, um braço operacional do
FSP, do qual falarei mais adiante.

· "O X Encontro do FSP confirma a vitali­


dade, pertinência e vigência deste espaço,
que se identifica de esquerda, anti-impe­
rialista, anti-neoliberal, contra todas as
manifestações de colonialismo, solidário
e participativo na formação de projetos
alternativos para os povos da América La­
tina e do Caribe, convencidos de que "um
mundo melhor é possível" . 8

· "O FSP se solidarizou de imediato com as


vítimas desses atos criminosos e recla­
mou o caminho da paz e da justiça, como
8 Este é o slogan do Fórum Social Mundial, desde sua criação
até hoje.

65
O FORO DE SÃO PAULO

o único válido para derrotar o terrorismo,


reiterando sua solidariedade com todos
aqueles que sofrem suas conseqüências". 9

· "Rechaçamos toda tentativa de apresen­


tar como terroristas os movimentos de
libertação nacional, ao chamado movi­
mento anti-globalização, a esquerda, os
movimentos sociais e progressistas".

• "Reafirmamos o direito de nossos povos


a saber a verdade e a conseguir justiça
acerca dos terroristas de Estado que hoje
continuam impunes". 10

• "Os partidos do FSP assumem o compromis­


so de desenvolver estratégias, programas

9 Isto é de um cinismo repugnante, pois enquanto o mundo


assistia estarrecido e paralisado pelo horror ao ataque terrorista
às Torres Gêmeas em 1 1 de setembro, Fidel Castro e a terrorista
"avó da Praça de Maio" argentina, Hebe de Bonafini, dançavam
e gargalhavam felizes com a "derrota" infligida aos "malditos
yanques".
1 0 Isto se refere às comissões da "Verdade, Reparação e Justiça"
implantadas na Argentina - que depois seria copiada também
no Brasil e no Chile -, cuja finalidade única era transformar
terroristas em heróis nacionais com direito a gordíssimas
indenizações. Para beneficiar todos os camaradas, inventou-se
o absurdo e falso número de 30.000 pessoas dadas como mortas
ou desaparecidas, mentira que se repete até hoje como um
mantra, e que foi desmentida por Luis Labra:ii.a, autor da cifra
mentirosa no Prólogo do livro "Mentirás tus muertos" de José
D'Angelo, El Tatú Ediciones, Buenos Aires, 2015.

66
6 - Objetivos de cada encontro

e políticas públicas dirigidas a fomentar a


igualdade de direitos e oportunidades entre
os gêneros".

• "Propomos a criação de bancos inter-esta­


tais de desenvolvimento".

XI Encontro

• Sobre a vitória de Lula nas eleições pre­


sidenciais: "Assinalamos com satisfação
que a maior parte dos partidos integran­
tes da aliança têm ativa participação no
Foro de São Paulo desde sua origem".

• "Ao triunfo de Lula soma-se a vitória de


Ludo Gutiérrez, candidato da aliança So­
ciedade Patriótica 21 de Janeiro, e o Movi­
mento Pachakutik".

A propósito da vitória de Ludo Gutiérrez, é


interessante demonstrar o caráter decisório e a
influência que o Foro exercia e continua exer­
cendo sobre os países-membros, uma vez que
elegeu e depois, insatisfeito com sua "indepen­
dência" de ação contrária aos planos do Foro,
esta organização estabeleceu estratégias para

67
O FORO DE SÃO PAULO

inviabilizar o governo equatoriano ao ponto de


forçar o presidente a renunciar, rotulando-o de
"ditador" em pouco mais de 2 anos de manda­
to. Eles têm o poder de pôr e tirar, fazer e des­
fazer a seu bel-prazer. Observem as duas notas,
do antes e depois:

"RESOLUCIÓN SOBRE EL TRIUNFO EN EL


ECUADOR 1 1

E l XI Encuentro del Foro d e Sao Paulo reu­


nido en Antigua, Guatemala del 2 al 4 de
diciembre de 2002, aprobó la siguiente re­
solución sobre el Ecuador:

1 . Saluda a las fuerzas populares y de


izquierda del Ecuador que, con ocasión del
proceso electoral, lograron un espacio de
unidad para alcanzar el triunfo presidencial
del Coronel Ludo Gutiérrez.

2. Aspira que este acuerdo electoral, sefor­


talezca para coadyuvar favorablemente en
las expectativas de cambio que la inmensa
mayoría de Ecuatorianos expresó al votar
mayoritariamente por las candidaturas que

1 1 http://www.midiasemmascara.org/attachments/007_
atas_foro_sao_paulo.pdf

68
6 - Objetivos de cada encontro

confrontaron el modelo neoliberal todavía


prevaleciente en el Ecuador.

Antigua, Guatemala, 4 de diciembre de


2002".

12
"Declaração Política

Os Partidos políticos da região mesa-ame­


ricana: FMLN de El Salvador, FSLN da Ni­
carágua, UD de Honduras e ANN e URNG
da G uatemala, membros do Foro de São
Paulo, reunidos em Antigua, Guatemala,
nos dias 23 e 24 de abril do 2005:

8. Expressamos nosso reconhecimento e


solidariedade aos partidos políticos e orga­
nizações populares de Equador que saíram
às ruas na luta pela defesa de sua dignida­
de e que logrou depor o ditador Lucio Gu­
tierrez e reivindicar os direitos dos povos
_
desse irmão país. Também demandamos
aos governos e à OEA o respeito ao direito
da autodeterminação do povo equatoriano.

Reivindicamos o papel que os partidos po­


líticos de esquerda tivemos na democrati­
zação de nossos países e a contribuição que
12 Ibid.

69
O FORO DE SÃO PAULO

estamos fazendo para construir uma espe­


rança de mudanças em nossos povos.

Os partidos do Foro de São Paulo da re­


gi.ão mesa-americana agradecem à URNG e
ANN, da Guatemala, pelo esforço e êxito na
organização desteforo.

Antigua, Guatemala, 24 de abnl do 2005"

· "Avançar nas propostas de mudança dos


atuais processos do MERCOSUL, Comu­
nidade Andina de Nações e CARICOM".

· "Os partidos do FSP, além disso, deverão


implementar mecanismos de seguimen­
to que assegurem o cumprimento des­
ses programas e planos".

• "O FSP rechaça a política do Estado de Is­


rael deocupação e genocídio nos territó­
rios palestinos, em violação reiterada das
resoluções da ONU. Ao mesmo tempo, se
pronuncia contra toda forma de violên­
cia que provoque vitimas civis13 e reitera
1 3 Mais uma vez o cinismo dos comunistas fala mais alto. Nas
resoluções escritas dizem "rechaçar toda forma de violência
que provoque vítimas civisn, entretanto, não se ouviu UMA SÓ
PALAVllA de rechaço ao brutal ataque das FARC a uma igreja
repleta de civis em Bojayá-Chocó, em 02 de maio de 2002,
portanto nesse mesmo ano da declaração, que deixou um saldo

70
6 - Objetivos de cada encontro

a necessidade da retomada das negocia­


ções de paz".

XII Encontro 1 S anos


-

do Foro de São Paulo

Apesar desse ter sido o Encontro de comemo­


ração dos 1 5 anos de fundação do FSP, o núme­
ro de participantes foi menor que o décimo: 3 64
participantes de cerca de 1 50 partidos políti­
cos, entidades e organizações sociais. Como foi
no Brasil, houve participação de seu fundador,
Lula, em cujo discurso afirma o que negou du­
rante 1 5 anos: que "participou desde o começo e
de todos os Encontros". 14

de 1 1 9 mortos pela explosão de um cilindro-bomba. As vítimas


eram em sua maioria mulheres, crianças e idosos cujos corpos
dilacerados ficaram pregados nas paredes, e que estavam ali
para se abrigar das balas a convite do padre da paróquia.
As FARC, membros ativos do FSP, disputavam com as
AUC (Auto-defensas Unidas de Colombia) o controle da
zona e o acesso ao Rio Atraco para escoar as drogas. Jogar
esse cilindro-bomba num local onde não havia nenhum
terrorista abrigado, ou soldado, e que eles sabiam só haver
civis, demonstra bem o caráter inumano desta gente. A
"paz" das FARC e do Foro de São Paulo é a paz dos cemitérios.
Vídeo com as imagens do terrível massacre de Bojayá-Chocó:
https://youtu.be/MjSUl-nkvhM
14 Aqui a parte destacada em que Lula afirma sua participa­
ção em todos os Encontros:
https://www.youtube.com/watch?v=XaWz_BuN48Q&featu­
re=youtu.be

71
O FORO DE SÃO PAULO

Nesse evento deu-se destaque ao Brasil - pelo


rompimento com o FMI e pelo "combate impla­
cável à corrupção por parte do governo Lula" -, Ve­
nezuela, Uruguai e as eleições presidenciais na
Argentina, onde. venceu Néstor Kirchner. Esses
são os destaques desse Encontro:

• Enaltecem a luta do povo chileno pela bus­


ca da "verdade e justiça" contra o governo
Pinochet.

• Ressaltam o derrocamento dos Governos


de Gonzalo Sánchez de Lozada (Bolívia
2003), Ludo Gutiérrez (Equador 2005)
e Carlos Mesa (Bolívia 2005), com o qual
somam 6 governos neoliberais derroca­
dos pelos movimentos populares desde
1 997.

· Destacam a resistência da Revolução


Cubana; a derrota da tentativa de desesta­
bilizar e derrocar a Revolução Bolivariana
da Venezuela e o governo de Hugo Chávez;
o triunfo eleitoral de Lula em 2002 e Taba­
ré Vázquez em 2004; o triunfo das esquer­
das nas eleições municipais na Colômbia e
no Equador.

72
6 - Objetivos de cada encontro

· Destacam o impulso gerado desde o GT­


FSP para a visita de parlamentares de
diferentes países a· fim de impulsionar
uma agenda negociada ao conflito interno
e o acordo humanitário, para fazer sentir
a solidariedade da América Latina com a
Colômbia.

· Criticam a declaração de Condoleezza Rice


sobre a Venezuela, de que esse país é "um
estorvo para os Estados Unidos".

· Ressaltam os sistemas de integração que


exercem um papel importante na "lógica
integral": a Comunidade Andina de Na­
ções (CAN), o MERCOSUL, agora com vá­
rios países-membros associados: Bolívia,
Chile, Peru, Venezuela, Colômbia e Equa­
dor, e a Comunidade Sul-Americana de
Nações, criada em 2004.

· Destacam a criação da ALBA (Alternativa


Bolivariana para as Américas), TeleSul, Pe­
tro-Sul e Petro-Caribe, salientando que um
princípio importante é "promover ações
para conseguir uma adequada eqüidade"
-quer dizer, os países mais abastados de­
vem ajudar os mais pobres, à revelia e em
73
O FORO DE SÃO PAULO

detrimento da vontade do povo.

• Denunciam a exploração sexual infantil.15

XIII Encontro

• Comemoração das vitórias eleitorais para


a Presidência da República de camaradas
de partidos-membros: reeleição de Lula,
no Brasil; reeleição de Hugo Chávez, na
Venezuela; eleição de Rafael Correa, no
Equador; eleição de Daniel Ortega, na
Nicarágua.

• Citação de vitórias anteriores: Taba­


ré Vázquez, do Uruguai em 2 004; e em
2005, Evo Morales, da Bolívia; Michelle
Bachelet, do Chile; Néstor Kirchner, da
Argentina e René Preval, do Haiti.

• Luta contra o Plano Colômbia e a Iniciativa


Regional Andina de combate ao narro-tráfico.

1 5 Os países e organizações-membros do FSP denunciam


esse abuso no mundo mas fecham os olhos, criminosamente
cúmplices, aos abusos cometidos pelos chefões das FARC
contra meninas seqüestradas para servir de escravas sexuais
a degenerados pedófilos, incontáveis vezes denunciado
pela mídia colombiana há décadas, e que depois, se
engravidam, as obrigam a abortar. Aqui apenas um exemplo:
http:/ /www.eltiempo.com/politica/justicia/delitos-sexuales­
de-las-farc/ 1 5 5 1 6882

74
6 - Objetivos de cada encontro

• Homenagem ao recém-falecido Shafik


Handal, fundador do FMLN e membro
destacado do Foro de São Paulo desde a
primeira hora.

O GT-FSP estabeleceu como metas para o ano


de 2007:

• Publicação de um boletim eletrônico


mensal;

• Constituição de uma escola continental


de formação política;

• Realização de um festival político­


cultural;

• Criação de um observatório eleitoral;

• Desenvolver uma política dirigida à


juventude16 e de promoção de arte e
cultura.

16 Foi dessa maneira que começaram a aparecer livros de


clara doutrinação marxista nas escolas e universidades, além
de outros de conteúdos obscenos visando a uma ueducação
sexual" desde a mais tenra idade.

75
O FORO DE SÃO PAULO

XIV Encontro

Nesse Encontro realizado em Montevidéu, sob


a consigna "não vivemos uma época de mudança
mas uma mudança de época", compareceram 844
delegados de 3 5 países. Havia uma certa "euforia"
com o sucesso do Foro uma vez que, tendo atingi­
do a maioridade, quem começou com apenas um
país com governante membro da organização,
agora contava com 1 2 diretamente vinculados ao
Foro e 2 que não eram eles mesmos membros mas
os partidos com os quais fizeram coalizão. São
eles: Raúl Castro, que se tornara ditador hereditá­
rio com o afastamento em 2006 do ditador-mor
de Cuba, Fidel Castro; Luiz Inácio Lula da Silva,
do Brasil; Hugo Chávez, da Venezuela- o primeiro
eleito depois da fundação do Foro -; Tabaré Váz­
quez, do Uruguai; Evo Morales, da Bolívia; Rafael
Correa, do Equador; Daniel Ortega, da Nicarágua;
Martín Torrijos, do Panamá, René Preval, do Hai­
ti e Fernando Lugo, do Paraguai, recém-eleito.
Apoiados na coalizão por partidos-membros do
FSP, Cristina Kirchner, da Argentina e Michelle
Bachelet, do Chile.

Havia também uma certa consternação soma-

76
6 - Objetivos de cada encontro

da à revolta pois meses antes, em 1 º de março, as


Forças Militares da Colômbia haviam dado baixa
no número 2 das FARC, Raúl Reyes, e nesse mes­
mo mês, no dia 26, fora anunciada a morte por
problemas cardíacos do fundador e Chefe do Es­
tado-Maior Central das FARC, Manuel Marulanda,
"Tirofijo". Houve discursos chorosos lamentando
a morte de dois "grandes combatentes", o "exem­
plo" que eles deram e o "legado" que deixaram.
Dentre as resoluções destacam-se:

• Condenam a "ofensiva direitista" comanda­


da pelos Estados Unidos, no ataque que deu
baixa a Raúl Reyes no Equador.17

1 7 Quando o Exército da Colômbia deu baixa em Raúl Reyes,


atacando seu acampamento localizado em Santa Rosa de Su­
cumbíos, Equador, o então presidente Álvaro Uribe telefonou
para Rafael Correa para informá-lo de que havia sido abatido
pelas Forças Militares colombianas em seu território, um ter­
rorista das FARC. A operação foi realizada em solo colombiano,
desde a cidade fronteiriça de Putwnayo, a 1 .800 quilômetros de
Sucurnbíos, e nesse momento tudo o que Correa disse é que suas
fronteiras eram bem guarriecidas e que desconhecia esse acam­
pamento.
Horas depois, quando Chávez toma conhecimento, diz a Correa
que não deve aceitar o comunicado de Uribe e, por determinação
do FSP, a Venezuela, o Equador, a Bolívia e a Nicarágua voltam­
-se contra a Colômbia, alegando "invasão do território nacional
equatoriano", como se o ataque tivesse partido de dentro do
Equador.
Na ocasião o Notalatina acompanhou e reportou tudo, conforme
pode-se ler aqui: http://notalatina.blogspot.com.br/2008/03/
edicao-do-notalatina-de-hoje-traz_6044.html#links

77
O FORO DE SÃO PAULO

• Saudação ao povo paraguaio pela eleição de


Fernando Lugo.

• Impulsionam os projetos de integração:


MERCOSUL, COMUNIDADE ANDINA, CA­
RICOM, ALBA-TCP e UNASUL.

• Saúdam a criação da UNASUL que engloba


iniciativas como o Banco do Sul e o
Conselho Sul-Americano de Defesa.

· Luta contra o narcotráfico, incluindo os


países conswnidores como co-responsá­
veis e a não-criminaliza dos cultivos.

Nesse último item fica demonstrada a mentira


como método, urna vez que os maiores produtores
e comercializadores de coca do mundo são as
FARC e seus sócios no FSP, sobretudo Venezuela,
Cuba e Equador, além da Bolívia que tem
produção própria, e o Brasil que é um dos maiores
produtores de maconha da região e o segundo
maior conswnidor de cocaína das FARC, dito por
seus próprios chefões.

78
6 - Objetivos de cada encontro

XV Encontro

Esse encontro ocorreu logo após a deposição


do ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya
que, como vinha sendo subornado e orientado
por Chávez e o FSP para para burlar as leis do
país e preparar um referendo para instituir uma
Assembléia Constituinte que é proibido pela
Carta Magna daquele país, foi legal e constitu­
cionalmente deposto. Mas seus camaradas logo
gritaram, como aqui no Brasil: "Égolpe!"

Nesse Encontro ocorreu a primeira reunião de


"Escolas e Fundações do Foro de São Paulo".

· Avaliar permanentemente as estratégias


da direita para evitar que prosperem.

• Denunciam golpe de Estado em Hondu­


ras, apoiando a luta do povo para exigir a
restituição imediata e incondicional do
presidente Zelaya ao cargo de presidente.

• Brasil permite que Zelaya ocupe sua em­


baixada em Honduras.18

1 8 A esse respeito, leiam este meu artigo publicado n o Mídia


Sem Máscara: http:/ /www.midiasemrnascara.org/artigos/
governo-do-pt/ 8 9 3 5-brasil-opcao-preferencial-pela-ilegali­
dade-parte-2.html

79
O FORO DE SÃO PAULO

· Denunciam a IV Frota americana como


uma ameaça direta ao Equador, Venezuela
e Bolívia.

• Criação de organismos supra-nacionais de


gestão política, econômica, social e ecoló­
gica.

· Apoiar os processos eleitorais de 2009


e 2 0 1 0, com dois objetivos: não ceder
nenhum governo à direita e ampliar o
espaço da esquerda.

· Reformar a Secretaria Executiva (SE) do


Foro de São Paulo para que adiante se com­
ponha de uma SE indicada pelo GT.

• Realizou-se pela primeira vez, de modo pa­


ralelo, o Primeiro Encontro de Juventudes
do FSP.

XVI Encontro

• Ressaltam as mudanças devido à ALBA e


UNASUL, que teve um papel importante na
Bolívia no caso de Pando19, e na reconciliação

19 Sobre esse fato e o monstruoso relatório feito pela UNA­


SUL, recomendo o artigo "O massacre de Pando e a esquerda bo­
liviana" escrito por Alejandro Pena Esclusa, traduzido por mim

80
6 - Objetivos de cada encontro

entre a Colômbia e a Venezuela com a


ascensão de Juan Manuel Santos.

· Afirmam que a CELAC é o escalão supe­


rior da dinâmica de integração.

Avanços:
· Reeleição em 2009 na Bolívia e no
Equador, nova vitória no Uruguai, com a
eleição de José Mujica, e em El Salvador,
com Mauricio Funes.

Metas:

· Consolidar os governos e não ceder ne­


nhum espaço para a direita.

· Apoiar os partidos de esquerda que ainda


não são governo.

· Acelerar o processo de integração.

· Universalizar a luta contra o racismo e a


xenofobia.

· Reconhecem o papel estratégico da cultu­


ra na luta política.

e publicado no Mídia Sem Máscara: http:/ /www.midiasemmas­


cara.org/artigos/internacional/america-latina/ 7 5 5 8--o-mas­
sacre-de-pando-e-a-esquerda-boliviana.htrnl

81
O FORO DE SÃO PAULO

· O FSP recebeu Manuel Zelaya e decidiu in­


corporar a Frente Nacional de Resistência
Popular (FNRP) como membro do Foro.

• Reclamam a necessidade do respeito ao Di­


reito Internacional Humanitário e os Direi­
tos Humanos.

• Que se acabe com a prática dos seqüestros,


do desaparecimento forçado e as detenções
arbitrárias, o direito das vítimas à verdade e
à justiça, à reparação e à não-repetição des­
ses fatos. 20

· Saúdam o surgimento do Conselho Sul­


Americano de Defesa da UNASUL.

XVII Encontro

· Apoio às eleições na Argentina, Peru - apoio


explícito a Ollanta Humala -, Nicarágua, e a

20 Vendo-se dessa maneira, parece que estão se referindo


às FARC mas não é, pois estes são seus sócios nos "negócios"
e membros efetivos do Foro. Na verdade eles se referem aos
militares colombianos que são acusados pelas FARC de cometer
os crimes que eles cometem, como o caso dos "falso-positivos",
onde alegam que os militares foram pagos para matar inocentes
dizendo que eram milicianos das FARC. Por causa disso, há
incontáveis militares honrados e inocentes condenados a até
30 anos de prisão, julgados por uma justiça parcializada pró­
terroristas, e baseadas em testemunhas e testemunhos falsos.

82
6 - Objetivos de cada encontro

Rigoberta Menchú na Guatemala.

• Felicitaram Rafael Correa pela vitória no re­


ferendo que permite a reeleição indefinida.

· Felicitaram os processos revolucionários


contra o imperialismo da Revolução Cuba­
na, Revolução Sandinista da Nicarágua,
Revolução Bolivariana da Venezuela, cons­
trução do Estado Pluri-Nacional da Bolívia,
Revolução Cidadã do Equador, mudanças
no Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina.

• Reafirmam que enquanto Zelaya não for


restituído ao cargo, não aceitam Honduras
nos espaços internacionais como a OEA.

• Denunciam violação à soberania da Líbia.

· Rendem homenagem ao falecido Néstor


Kirchner, primeiro secretário da UNASUL.

XVIII Encontro

• Denunciam duas tentativas de "golpe de


Estado" e um de magnicídio na Bolívia e em
2 0 1 0 no Equador.

83
O FORO DE SÃO PAULO

· Denunciam o derrocamento de Fernando


Lugo, do Paraguai, alegando que "a direita
está disposta a utilizar vias violentas e/ou
,
manipulação das vias institucionais para
derrocar governos que não sirvam aos seus
interesses". 2 1

· Saúdam as vitórias nas eleições presiden­


ciais de Dilma Rousseff do Brasil, Daniel
Ortega da Nicarágua, Cristina I<irchner da
Argentina e Danilo Medina da República
Dominicana.

· Suspensão do Paraguai do MERCOSUL, por


considerar o novo governo golpista e apro­
vação da Venezuela como membro pleno
da organização.

· Apoio à Venezuela e ao chanceler Nicolás


Maduro, contra acusações do Paraguai de
"ingerencismo". 22

21 Explico a legalidade da depa.s�ção de Lugo neste artigo:


http:/ /www.midiasemmascara.org/artigos/internacional/
america-latina/ 1 3 1 9 2-o-golpe-do-mercosul-e-do-foro-de-sao­
paulo.html
22 O FSP tem como premissas - ao menos verbalmente - a "au­
to-determinação dos povos" e a "não-intervenção nos assuntos
internos" de outros países. Entretanto, foi exatamente o que
fez Nicolás Maduro, então chanceler da Venezuela, no dia 22
de junho quando seria votado no Senado do Paraguai a desti­
tuição de Fernando Lugo como presidente. Uma hora antes de

84
6 - Objetivos de cada encontro

· Apóiam o povo paraguaio, desconhecendo


o governo de Federico Franco e anunciam
ações continentais em favor da "demo­
cracia".

• Expressam solidariedade aos candidatos


Xiornara Zelaya, Rafael Correa e Hugo
Chávez que concorrem à eleição para a
Presidência da República.23
se dar o veredicto, Maduro, junto com Julie Prado, embaixador
equatoriano no Paraguai, participou de uma reunião na sala do
Gabinete Militar do Palácio do Governo, convocada pelo chefe
de gabinete, o general-de-divisão Angel Vallovera, que convi­
dou ainda os comandantes das três Forças. Maduro queria que
os comandantes se sublevassem e assinassem um documento
reconhecendo Lugo como o legítimo presidente.
Esse encontro foi filmado pelas câmeras de segurança e foi en­
tregue à Ministra da Defesa, Maria Liz García que, por ordens
de Federico Franco tão logo tomou posse, entregou copia da
gravação à imprensa porém sem o som, que fora editado. Nele,
é possível ver Maduro chegando e entrando numa sala acom­
panhado de vários militares, e depois de 10 minutos sair. Os
militares não aceitaram a "proposta" mas mesmo assim foram
destituídos de seus cargos. As provas são insofismáveis, mas
para o Foro de São Paulo, tudo não passa de uma farsa montada
pelo "império".
Aqui o vídeo: https:/ /youtu.be/7E9Yy7MeGxs
2 3 Chávez havia se candidatado à terceira reeleição e como
estava com um câncer avançado, que acabou vitimando-o em
30 de dezembro de 20 1 2 - embora só fosse anunciado no ano
seguinte, em 5 de março, data da provável morte de Stalin -,
antecipou-se as eleições de 6 de dezembro para 7 de outubro.
Para o FSP era fundamental garantir a eleição de Chávez, mes­
mo sem as mais minimas condições físicas de concorrer, por­
que com a costumeira fraude eles sabiam que teriam a vitória
e poderiam garantir que ele tomasse posse e elegesse seu vice,
para perpetuar o poder nas mãos dos ditadores Castro, do PSUV
e do Foro.

85
O FORO DE SÃO PAULO

• Convocam as forças progressistas e de es­


querda a respaldar a democracia venezue­
lana e a rechaçar as tentativas de desesta­
bilização da direita.

• Opõem-se à intervenção armada na Síria e


no lrã.

XIX Encontro

· Enfrentar e vencer as disputas eleitorais


presidenciais, em: Honduras, Chile, El
Salvador, Costa Rica, Colômbia e Panamá.

· Exigem que se retire Cuba das lista de países


terroristas.

• Advogam pela incorporação de "outros in­


surgentes" no processo de paz na Colômbia.

· Denunciam as manobras políticas da di­


reita brasileira de tentar sabotar o gover­
no de Dilma.

· Rendem homenagem a Chávez.

· Manifestam integral apoio e solidarieda­


de a Maduro, rechaçando as ações da di­
reita que denunciam o golpe.

86
6 - Objetivos de cada encontro

• Solidarizam-se com Evo Morales pelo se­


qüestro de 4 governos europeus.

· Felicitam Correa pela sua reeleição.

• Felicitam os nicaragüenses pelos 34 anos


da Revolução Sandinista.

• Solidarizam-se com os africanos pela en­


fermidade de Nelson Mandela.

• Mônica Valente, mulher do ex-tesoureiro


do PT, Delúbio Soares, assume a Secreta­
ria de Relações Internacionais do PT e Se­
cretaria Executiva do Foro de São Paulo,
substituindo Valter Pomar que exerceu
ambos os cargos de 2 005 a 20 1 2 .

XX Encontro

• Saúdam as vitórias eleitorais em: El Sal­


vador, com Salvador Sánchez Cerén, Costa
Rica, com Luis Guillermo Solís e Chile, com
Michelle Bachelet.

· Condenam as ações golpistas contra Nicolás


Maduro, ressaltando que na Venezuela o
povo é consciente, mobilizado e organizado,

87
O FORO DE SÃO PAULO

e tem umas Forças Armadas cuja disciplina


tem como fundamento "sua consciência
patriótica em defesa da Revolução".

• Rechaçam a tentativa do governo dos Es­


tados Unidos de seqüestrar o general Hugo
Carvajal em Aruba. 24

· Solidarizam-se com o povo venezuelano


que enfrenta uma guerra econômica
e midiática promovida pelos grupos
oligárquicos e o Departamento de Estado
norte-americano. 25
24 O general Carvajal foi preso n o Aeroporto Internacional
Queen Beatrix, de Aruba, pois já constava na lista do Departa­
mento do Tesouro dos Estados Unidos, desde 2008, pela parti­
cipação no narcotráfico em conluio com as FARC. Carvajal ha­
via sido nomeado cônsul em Aruba desde janeiro mas até então
não havia ido tomar posse. Ao saber da prisão do juiz venezue­
lano Benny Palmeri-Bachi em Miami, quando ia com a família
para a Disney, "el Pollo" Carvajal fugiu para Aruba e quando viu
que estava sendo preso, apresentou um passaporte diplomáti­
co falso com sua foto, negando que já havia entregado antes o
verdadeiro.
Ele era considerado o Pablo Escobar venezuelano, um dos cabe­
ças do "Cartel dos Sóis", que é formado por militares de alta pa­
tente do Exército Venezuelano, que atua no narcotráfico junto
com as FARC a quem sempre deram abrigo e proteção dentro do
território venezuelano e até mesmo dentro dos quartéis.
Após conversações de Nicolás Maduro com autoridades holan­
desas, de quem Aruba depende, Carvajal foi liberado e voltou
para o seu país, livre.
25 Os comunistas nunca admitem seus fracassos - assim
como seus crimes - e sempre atribuem a outros os erros de­
correntes de sua incapacidade, inépcia e corrupção. Com o dó­
lar controlado pelo CADIV que limita a utilização a quem não

88
6 - Objetivos de cada encontro

• Alertam sobre o perigo da "restauração


conservadora" que introduz uma ampla
gama de instrumentos subversivos
dirigidos e coordenados pelos Estados
Unidos.26

· Denunciam os "fundos abutres" da Argentina


como planos anti-democráticos, que
constituem uma ameaça à soberania política

pertence à Nomenklatura, os empresários não estão podendo


comprar matéria-prima ou mercadorias, promovendo o de­
sabastecimento. A inflação fechou o ano de 2 0 1 5 em 800%,
as prateleiras dos supermercados vivem vazias e as filas para
adquirir um frango, ou um rolo de papel higiênico chegam às
vezes a quilômetros. Mas, como tudo o mais, a culpa é do "im­
pério"!
26 Quando começaram as manifestações de rua em 201 3 , sob
a alegação de que protestavam pelo aumento das passagens de
ônibus, nem o governo, nem o PT, nem o FSP fizeram qualquer
comentário porque sabiam que aquele movimento havia sido
orquestrado por eles mesmos. Pouco depois, Wladimir Pomar
escreveu um artigo defendendo o "povo nas ruas" (http:/ /fo­
rodesaopaulo.org/o-povo-voltou-as-ruas-lamu/) e a Executiva
Nacional do PT - que é a mesma do FSP - emitiu uma nota em
apoio aos vândalos, ao prefeito Fernando Haddad (do PT), e
condenando a ação da Polícia do estado de São Paulo (http:/ /
www.pt.org.br/noticias/view/comissaeo_executiva_do_pt_
sp_divulga_nota_oficial_sobre_manifestacoes_na_ci - versão
copiada: http://archive.is/N6fPQ ). Entretanto, quando o povo
insatisfeito com o governo começou a ir às ruas em manifesta­
ções cada vez mais numerosas, desde o Foro acenderam os alar­
mes de que poderiam perder o controle da situação. E apesar de
serem sempre absolutamente pacíficas, para o PT e o Foro só o
fato de "ousarem" se manifestar contra já se configurava "sub­
versão" que, também como sempre previsível, eram "dirigidas
e coordenadas pelos Estados Unidos".

89
O FORO DE SÃO PAULO

e econômica da América Latina e Caribe.27

• Destacam o protagonismo de Cuba na II


Cúpula da CELAC.

• Chamam a acelerar o processo do Banco do


Sul do MERCOSUL.

• Respaldam o diálogo de paz em Havana e a


abertura formal de negociações com o ELN
e o EPL.

• Convocam a batalhade respaldo às eleições


presidenciais no Brasil, Bolívia e Uruguai.

XXI Encontro

Nesse Encontro os membros do Foro se gabam


de nunca terem perdido governos conquistados,
entretanto, não sabiam que seu declínio
estava apenas começando. Os governos que

2 7 "Fundos abutres" foi a denominação dada pelos Estados


Unidos a wna operação de calote dado pela Argentina a in­
vestidores americanos - mas também argentinos - que aplica­
ram suas economias e quando foram fazer o resgate não havia
nada. A Argentina havia se apossado de todo o dinheiro, uma
soma bilionária que não lhe pertencia absolutamente, mas não
queriam pagar e a presidente Cristina Kirchner ainda se sen­
tiu "ofendidan com a cobrança feita pelo Tesouro Nacional dos
Estados Unidos. Passados quase dois anos, a situação continua
pendente.

90
6 - Objetivos de cada encontro

conquistaram a vitória conseguiram-na através


de massivas e grosseiras fraudes, pois o povo,
cansado de tantas promessas mentirosas, de
viver numa miséria implacável promovida pelo
socialismo-comunismo já não se ilude mais,
nem aceita estar subjugado a uma meia-dúzia
de tiranos. A Venezuela é hoje o cartão postal de
toda essa desgraça.

Participaram 1 05 partidos de 26 países e o


evento espera a participação de mais de 200
pessoas. Os anfitriões desse Encontro foram os
partidos PRD e PT do México.

Um fato curioso ocorreu um dia antes da aber­


tura desse Encontro. O grupo terrorista ETA bas­
co (Euskadi Ta Askatasuna - que se denomina
um "exército de libertação nacional") através de
seu braço político, Euskal Herria, enviou emis­
sários mas estes não puderam entrar no México
por determinação do presidente Enrique Pena
Nieto e tiveram que voltar do aeroporto mesmo.
Depois enviaram esta mensagem que foi lida no
plenário:

"Por mais que lamentemos não estar presentes,


tenham por certo que a voz e a mensagem de

91
O FORO DE SÃO PAULO

Euskal Herria se escutarão no XXI Encontro do


Foro de São Paulo". Com isso, fica demonstrado
que esta organização pertence ao FSP, por mais
que Lula, Pomar ou Marco Aurélio Garcia (MAG)
insistam em negar.

É isso o que exigem na Resolução Final:

• "É necessário ter claro que nosso inimigo é


o imperialismo e a direita oligárquica".

· "Continua sendo um desafio para os parti­


dos de esquerda e revolucionários o reco­
nhecimento da agenda feminista como
um eixo transversal da agenda das mulhe­
res e um correto enfoque de gênero nas
políticas, programas e ações que se dese­
nham na luta contra a direita, o capitalis­
mo opressor, depredador e patriarcal, e a
contra-ofensiva imperial destes tempos".

· Exigem do Conselho de Segurança da ONU


a vigilância dos Direitos Humanos nos ter­
ritórios ocupados pelo Marrocos.

· Saúdam o presidente da RASO (República


Árabe Saharauí Democrática), Mahmud
Abdelaziz, instando os países da América
Latina e Caribe a reconhecer este governo
92
6 - Objetivos de cada encontro

e permitir a abertura de sedes diplomáticas


em seus países.

• Solidariedade ao povo grego.

· Respaldam a decisão de Cuba de restabele­


cer as relações diplomáticas com os Esta­
dos Unidos sem fazer concessão alguma.

· Demandam a suspensão do "bloqueio" e a


desativação e devolução da base militar de
Guantánamo.

· Exigem a libertação dos presos-políticos


em Honduras e Guatemala.

· Solidarizam-se com o governo de Michelle


Bachelet pela idéia de uma Assembléia Na­
cional Constituinte. 28

· Acompanhar as eleições municipais da Ve­


nezuela em 6 de dezembro.

• Denunciam a "tentativa de golpe" contra o

28 Esse é o objetivo de todos os países-membros do Foro, pois


é a partir daí que reformam a Constituição onde subordina-se
todos os poderes ao governo, fecha-se o Congresso Nacional
promovendo eleições onde apenas o partido do Governo e ou­
tros comwtistas sejam eleitos, permite-se a reeleição indefini­
da - como já acontece na Venezuela, Nicarágua e Equador -, ple­
nos poderes ao presidente para que possa governar por Decreto,
dentre outras medidas autoritárias ditatoriais.

93
O FORO DE SÃO PAULO

PT, o governo Dilma e o ex-presidente Lula


por parte das forças da direita, com o apoio
do Poder Judiciário, da imprensa e dos Po­
deres Públicos, se solidarizando com a es­
querda em defesa da "democracia, legali­
dade constitucional e do legítimo mandato
da presidente Dilma".

• Demandam respaldar a "Proclama da Amé­


rica Latina e o Caribe como Zona de Paz e
Livre do Colonialismo", aprovado na II Cú­
pula da CELAC.

· Apóiam os esforços da CELAC no caminho


da consttução de um projeto estratégico
de integração genuinamente latino­
americano e caribenho.

· Pedem para acelerar os processos de in­


tegração e as cadeias de fornecimento re­
gionais, a integração energética e de infra­
-estrutura, os planos estratégicos, a ação
social e a consolidação do Banco do Sul.

· Convocação de todos pela batalha nas


eleições presidenciais na Argentina,res­
paldando e apoiando o candidato do Foro
Daniel Scioli.

94
6 - Objetivos de cada encontro

• Grande preocupação pelo retrocesso pro­


duzido pelo governo do Peru que, havendo
ganhado as eleições com as forças de es­
querda que formam parte do Foro de São
Paulo e os movimentos sociais, está atual­
mente alinhado com as forças ideológicas
e econômicas do neoliberalismo extrativis­
ta. 29

29 Cabe aqui lembrar do que ocorreu com o Coronel Lucio Gu­


tiérrez, no Equador, e alertar que é muito provável que no pró­
ximo Encontro, a ocorrer em maio em El Salvador, Ollanta Hu­
mala seja escrachado e banido da organização, embora as novas
eleições presidenciais ocorram um mês antes do Encontro e ele
não esteja concorrendo à reeleição.

95
CAPÍTULO 7
AS SUCURSAIS DO FORO DE
SÃO PAULO: FÓRUM SOCIAL
MUNDIAL, MERCOSUL, ALBA,
UNASUR E CELAC

Fórum Social Mundial

Quando o Foro de São Paulo foi inaugurado


em 1 9 90, dos partidos e organizações - terroris­
tas ou não - que tornaram-se membros, apenas
Fidel Castro governava o país com mão de ferro
e à ponta dos fuzis. Em 1 9 9 8 elegeu-se Chávez,
cujo país era um dos mais ricos em petróleo do
mundo, mas que até então não tinha qualquer
influência no resto do continente, quer seja em
termos políticos ou geo-estrategicamente.

Em 200 1 é fundado o "Fórum Social Mundial",


em Porto Alegre, que viria a ser, embora todos
neguem, um braço operacional do FSP. Seu fun­
dador é o empresário do ramo de brinquedos e
presidente da ABRINQ, Oded Grajew, um isra­
elense naturalizado brasileiro, que foi assessor
especial de Lula entre janeiro e novembro de
96
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

2003 e é membro do Conselho de Desenvolvi­


mento Econômico e Social.

Como bem explica o site CubDest, "o Fórum So­


cial Mundial (FSM) é um evento alter-mundialis­
ta organizado por movimentos sociais de muitos
continentes, com objetivo de elaborar alternativas
para uma transformação socialglobal111• Seu slo­
gan é "Um mundo melhor é possível" e foi conce­
bido para ser um "contraponto" ao Fórum Eco­
nômico de Davas na Suíça, que se realiza anual­
mente em janeiro. Durante um certo tempo as
datas dos dois eventos coincidiam, mas o FSM
fez seu último evento consecutivo em 20 1 2 .

O trabalho do FSM é pôr e m prática a s ativida­


des programadas nos Encontros do FSP embora
haja debates, seminários e oficinas durante os
eventos. A forma de atuação é o das chamadas
"redes transversais", um tipo de "(des)organiza­
ção que não possui estruturas hierárquicas nem
centro de direção, contando apenas com 'nós'
em cujas intercessões unem-se 'horizontalmente'
centenas e milhares de organizações contestatá-

1 http://www.cubdest.org/0306/gfsm03redp.html

97
O FORO DE SÃO PAULO

rias" (sic), do mesmo modo que operam o "Fora


do Eixo", a "Mídia Ninja", os "Anonymous" e o
"Movimento Passe Livre", por exemplo.

Os organizadores afirmam que essa "rede


transversal" ''funciona como uma estratégia 'lili­
putiana� reportando-se à história de Gulliver, que
consiste em tecer uma rede mundial tão abran­
gente quanto possível, ganhando constantemen­
te espaços de influência ante a opinião pública
para obter isolamento, desprestígio e cerco 'sem­
pre mais estreito e denso' em torno do Gulliver
atual, representado pelo governo conservador
norte-americano e pelo chamado neoliberalis­
mo". 2

Ainda segundo os organizadores do FSM, ou­


tra tática das redes é a "invisibilidade" na ação,
inspirada nas guerrilhas zapatistas de Chiapas,
"que torna difícil ao adversário detectar a iden­
tidade do que se lhe opõe". Isso foi claramente
observado nas primeiras manifestações de rua
em 20 1 3, com a desculpa de protestar contra o
aumento das passagens de ônibus. Via-se mui­
tas pessoas mascaradas ou com os rostos enco-

2 Ibid.

98
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

bertos por camisa, garantindo o anonimato e


não-vinculação a qualquer movimento já esta­
belecido, como os conhecidos MST, MTST, mili­
tância petista e assemelhados, mas que usavam
táticas de guerrilha urbana3 depredando patri­
mônio público e privado, explodindo coquetéis
Molotov, queimando pneus, etc. Por não se co­
nhecer a identidade dos vândalos e por coni­
vência com o governo do PT que os estimulava
a praticar aqueles atos de barbárie e selvageria
- embora nunca faltasse o discurso de "paz" e de
que era uma "manifestação pacífica" -, nunca se
soube de alguém que tenha sido punido legal­
mente ou que tenha pago pelos prejuízos cau­
sados.

Durante um dos Fóruns ocorrido na Univer­


sidade Federal de Porto Alegre, um amigo meu,
estudante daquela universidade, contou abis­
mado que o ambiente lembrava um Woodsto­
ck tupiniquim, pois o que mais se via era sexo,
drogas (sobretudo maconha) e revolução. Mul­
tidões de zumbis com olhos vidrados e camisas

3 Ver o "Mini Manual do Guerrilheiro Urbano" do terrorista


Carlos Marighela: http://www.docurnentosrevelados.corn.br/
wp-content/uploads/20 1 5 /08/carlos-marighella-manual-do­
-guerrilheiro-urbano.pdf

99
O FORO DE SÃO PAULO

e boinas do porco Che Guevara, chinelões e bol­


sa a tiracolo, perambulavam pelos corredores
da universidade sempre gritando palavras de
ordem e louvando a revolução cubana.

Nesse ano de 2 0 1 6 houve uma re-edição sem


muito sucesso, comemorando os 1 5 anos de
fundação. Analisando-se as "declarações de
princípios" e resoluções do FSM, não resta dú­
vida de que suas propostas e ideologia são as
mesmas do FSP4• Além disso, o sociólogo Emir
Sader, que é o Diretor Geral da revista ''América
Libre"5, órgão de difusão do Foro de São Paulo, é
desde 200 1 o representante pelo CLACSO (Con­
selho Latino-Americano de Ciências Sociais)
no Conselho Internacional do Fórum Social
Mundial.

MERCOSUL

Somente com a eleição de Lula, em 2002, a si­


tuação do Foro começou a mudar, considerando
que o Brasil é um país continental, o mais rico
e expressivo entre seus vizinhos que o conside-
4 Aqui pode-se ler as coberturas e Carta de Princípios do Fó­
rum: https:/ /pt.wikipedia.org/wiki/Fórum_Social_Mundial
5 http://www.nodoSO.org/americalibre

1 00
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

rarn o "império" sul-americano.

Logo depois da eleição de Lula, ainda antes


da posse, em dezembro de 2002, os petrolei­
ros venezuelanos estavam em greve. Através
de acordos de bastidores do FSP Lula faz o pre­
sidente Fernando Henrique Cardoso, seu par­
ceiro no Diálogo Interamericano, enviar dois
navios petroleiros à Venezuela para suprir as
necessidades daquele país, "furando" a greve
dos venezuelanos que foram punidos com uma
demissão em massa de 22.000 trabalhadores
qualificados, sendo imediatamente substitu­
ídos por cubanos sem qualquer conhecimento
do mister. Lula esqueceu seu passado de líder
de greves no ABC Paulista para atender as ne­
cessidades do seu camarada no Foro.

A partir de 2003, quando Lula já havia as­


sumido seu primeiro mandato, o MERCOSUL
(Mercado Comum do Sul) começou a mudar.
Criado em 2 6 de março de 1 9 9 1 com a assinatu­
ra do Tratado de Assunção no Paraguai, Argen­
tina, Brasil, Paraguai e Uruguai uniram-se para
formalizar a construção de um bloco aduanei­
ro de zona de livre comércio e integração entre

1 01
O FORO DE SÃO PAULO

os países-membros, uniformizando as taxas de


juros, índices de déficit e taxas de inflação. Os
presidentes na época eram Carlos Menen, da
Argentina, Fernando Collor de Melo, do Brasil,
Andrés Rodríguez, do Paraguai e Luís Alberto
Lacalle, do Uruguai.

Transformado em mais um braço do FSP, o de­


sejo de Lula era trazer para dentro do MERCOSUL
todos os países-membros dessa organização e
foi assim que, aos poucos, foi-se "empurrando"
a Venezuela do "companheiro" Chávez, primei­
ro participando das reuniões anuais onde era
recebido como personagem de honra, até a vo­
tação entre os países-membros originais. Para o
ingresso de outro país no bloco é necessário que
haja unanimidade na aceitação, e como o Con­
gresso do Paraguai recusou-se, alegando faltar
democracia na Venezuela, o ingresso desse país
ficou em compasso de espera.

Após a deposição de Lugo da presidência o


Paraguai foi suspenso do bloco, até que se "de­
volvesse" o governo ao presidente legalmente
deposto, e imediatamente os três países restan­
tes - Argentina, Brasil e Uruguai - aprovaram o

1 02
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

ingresso da Venezuela. Esse foi mais um golpe


do Foro de São Paulo - nisso eles são mestres! -,
uma vez que não só a Venezuela mas qualquer
outro país só pode ser admitido no bloco se o
Congresso de todos os demais países-mem­
bros estiverem de acordo. Em 2 0 1 3 a Bolívia e o
Equador manifestaram seu desejo de ingressar
no MERCOSUL e têm participado dos encontros
como "ouvintes", e já mostram o mesmo inte­
resse o Chile e o Peru.

A respeito da suspensão do Paraguai do MER­


COSUL, o ex-presidente do Uruguai, José "Pepe"
Mujica, conta em seu livro "Una oveja negra al
poder - Confesiones e intimidades de Pepe Muji­
ca"6 que quando Lugo foi destituído do poder e
antes de ocorrer a reunião da Cúpula do MER­
COSUL, certo dia recebeu um telefonema de
Marco Aurelio Garcia (MAG) dizendo que Dilma
desejava ter uma conversa com ele. O funcio­
nário da presidência do Uruguai disse, muito
solícito, que poderia pôr os dois presidentes
em contato, ao que MAG retrucou dizendo que
6 Una oveja negra ai poder - Confesiones e intimidades de Pepe
Mujica", Danza, Andrés e Tulbovitz, Ernesto, páginas 226 e
227.

103
O FORO DE SÃO PAULO

Dilma desejava falar pessoalmente, que não po­


deria "haver comunicação nem por telefone, nem
por e-mail. É pessoalmente". Para evitar suspei­
tas num encontro assim tão repentino e sem
nenhum motivo protocolar agendado, Dilma
mandou um avião brasileiro (provavelmente da
Força Aérea Brasileira) a Montevidéu para tra­
zê-lo até Brasília.

Lá chegando, tiveram dois minutos de con­


versa formal e em seguida Dilma interrompeu
dizendo que queria conversar "coisas nossas". O
intérprete que acompanhava o presidente uru­
guaio tomou um bloco e começou a anotar, ao
que Dilma interrompeu dizendo "sem anota­
ções", mandou o rapaz rasgar o papel e em se­
guida disse: "Essa reunião nunca existiu".

Durante a conversa Dilma apresenta fotos e


gravações telefônicas, e diz a Mujica que aque­
le material foi conseguido com os serviços de
Inteligência do Brasil (provavelmente ABIN),
de Cuba e da Venezuela que registravam como
foi gestado o "golpe de Estado da máfia fascis­
ta" no Paraguai. Se trabalhando coordenada­
mente não fica claro mas, de todo modo, ela ti-

104
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

nha acesso ao que os serviços secretos daqueles


países faziam e vice-versa. Depois dessa reve­
lação, Dilma diz a Mujica que "o Brasil necessita
que o Paraguaifiquefora do MERCOSUL", porque
o Foro de São Paulo queria a Venezuela como
membro definitivo do bloco. E foi o que aconte­
ceu em princípios de julho de 2 0 1 2 . A conversa
que "nunca existiu" vazou nesse livro, pois Mu­
jica "esqueceu" que ele não era mais presidente
mas a autora do encontro, Dilma Rousseff sim,
e continuou exercendo seu cargo, e com isso ex­
pôs um dado gravíssimo que os brasileiros nun­
ca deveriam ter tomado conhecimento. Melhor
para nós!

Para que se tenha uma idéia da importância


de MAG7, tanto no FSP como no Partido-Estado
(PT), transcrevo parte de uma entrevista que
ele deu em 2 0 1 1 ao jornal O Estado de São Paulo:

"Há rumores de que, com a transição en­


tre Lula e Dilma, o senhor perdeu espaço no
governo.

7 Entrevista completa aqui: http://forodesaopaulo.org/entre­


vista-marco-aurelio-garcia---asesor-especial-de-la-presiden­
cia-del-brasil-para-asuntos-internacionales/
Arquivado em http://archive.li/LbGBN

105
O FORO DE SÃO PAULO

Meu gabinete continua do mesmo tama­


nho (risos). Em novembro, havia um movi­
mento quase consensual para que eu substi­
tuísse o ex-presidente argentino Néstor Kir­
chner como Secretário-Geral da UNASUL.
Vários governos haviam se manifestado
nessa direção. Como a eleição (de Dilma) já
havia ocorrido, eu expus a situação à pre­
sidente. Ela me pediu que eu continuasse
como assessor de política externa. Eu acei­
tei e aproveitei para solicitar uma estrutura
maior. A presidente esteve de acordo".

Marco Aurélio Garcia é o homem todo-pode­


roso, o cérebro por trás do PT e do FSP. Esteve
no Foro desde a sua fundação, junto com Lula
e Fidel, e permanece hoje articulando tudo que
diz respeito às Relações Exteriores e, embora te­
nha o pomposo cargo de "Assessor Especial da
Presidência do Brasil para assuntos internacio­
nais", seu verdadeiro cargo é o de Chanceler do
ltamaraty de fato, não de direito. Ele é a figura
invisível, onisciente e onipresente que conduz
todos os movimentos do PT-FSP desde a criação
de ambos.

1 06
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

Em 2006 escrevi um artigo para o Mídia Sem


Máscara em que demonstrava como o MERCO­
SUL havia se transformado numa sucursal do
Foro de São Paulo que me parece bastante perti­
nente ainda hoje, sobretudo depois que a mídia
"descobriu" que essa organização está tomando
rumos distintos daqueles para o qual foi criado_
Chama-se "O Mercosul e o Foro de São Paulo".

Ao comemorar seu 2 5 º aniversário, nada mu­


dou mas tudo mudou. Mudou a essência, os ob­
jetivos, criou um passaporte e placas de carro
unificadas que começaram nesse 1 º de abril a
funcionar na Argentina e muito em breve será
obrigatório nos demais países-membros. As fa­
cilidades aduaneiras, a flexibilização das taxas
de juro para o comércio com os países do bloco
que eram seus objetivos precípuos, isso foi joga­
do na lata do lixo porque, afinal, não serve para
a unificação da "pátria grande bolivariana" tão
cara a Chávez e ao Foro de São Paulo.

O Mercosul e o Foro de São Paulo


© 2006 MidiaSemMascara.org

Uma semana após o encerramento da XXX


Cúpula do Mercosul muitas análises, críticas e
107
O FORO DE SÃO PAULO

opiniões ainda circulam pela mídia, entretanto,


nenhuma delas vai ao fulcro da questão que é
a relação direta e indelével do "novo" Mercosul
com o Foro de São Paulo, organização da qual
nenhum jornal brasileiro ousa sequer admitir
a existência, obedecendo religiosamente ao pa­
trulhamento ideológico a serviço do comunis­
mo internacional.

Só para lembrar, já que estamos em ano elei­


toral, o Foro de São Paulo foi criado em julho de
1 990, por Fidel Castro e Lula da Silva, após o fim
da URSS e para substituir a falida OLAS, pois era
necessário "recuperar na América Latina o que se
perdeu no Leste europeu", segundo palavras de
Castro em sua fundação. 8

O coração e o cérebro do Foro de São Paulo re­


sidem no Grupo de Trabalho que se reúne três
vezes ao ano, com o objetivo de traçar as metas
para os encontros anuais do Foro. Essas metas
são mais tarde debatidas nos Encontros e de lá
saem as resoluções que vão ser postas em prá-

8 Quanto a essa frase, há controvérsias: há quem afirme que


foi cunhada por Marco Aurélio Garcia (MAG), enquanto outros
afirmam que foi dita por Fidel Castro. Infelizmente, nunca tive
como comprovar quem é o verdadeiro autor.

1 08
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

tica, em ações coordenadas, por todos os países


membros do Foro.

Explicados esses detalhes técnicos, vejamos


desde quando o Mercosul é objeto de desejo do
Foro de São Paulo. Em 24 de julho de 2000, o
presidente Chávez deu uma declaração ao infor­
mativo "La insígnia" em que dizia ser partidário
de uma união política, econômica e militar do
Grupo Andino e do MercosuL

"Deve ser uma integração plena, não só


econômica. Há que avançar para a integra­
ção, não só para a integração econômica
e política". Continuou o presidente: "Há
um ano eu dizia: se existe a OTAN, por que
não pode existir a OTAS, uma Organização
do Tratado do Atlântico Sul, que se some à
África do Sul?".

Mais tarde, em setembro de 2003, reuniram­


-se nas instalações da Escola Militar de Monta­
nha em Bariloche, Argentina, os Comandantes
dos Exércitos da Argentina, Bolívia, Brasil, Chi­
le, Paraguai e Uruguai para tratar da "integra­
ção militar no Mercosul". Estiveram presentes

1 09
O FORO DE SÃO PAULO

os comandantes:

Tenente-general Roberto Bendini (Argenti­


na), General-de-Exército Francisco Albuquer­
que (Brasil), Juan Cheyre Espinosa (Chile), San­
tiago Pomoli (Uruguai), Luís Barreiro Spaini
(Paraguai) e César López Saavedra (Bolívia).

Nesta ocasião, o general Francisco Albuquer­


que teria dito: "Esse é um exemplo para o mun­
do", referindo-se à "integração militar" que
mais tarde Chávez iria sugerir a criação das
Forças Armadas da América Latina, coordena­
das pelo Mercosul.

Nos dias 1 6 e 1 7 de fevereiro de 2004, o Grupo


de Trabalho do Foro de São Paulo reuniu-se na
cidade de São Paulo e em sua Declaração comu­
nica, dentre outras tantas metas, a seguinte:

" 1 . Os partidos e as forças políticas partici­


pantes do Grupo de Trabalho debateram a
estratégia comum dos movimentos sociais e
da esquerda frente aos temas da integração
e do comércio global.

1 10
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

Com relação a isso, reafirmam a neces­


sidade de uma verdadeira integração de
nosso continente e rechaçam a proposta da
ALCA, da forma apresentada pelo Governo
dos EUA, assim como os tratados de comér­
cio sub-regionais e bilaterais promovidos
por este país.

Defendemos uma integração e relações co­


merciais solidárias, que respeitem a sobera­
nia dos países de nossa região e promovam
o direito inalienável dos povos ao desenvol­
vimento econômico e social, deixando claro
nossa posição a favor da inclusão de Cuba
no sistema inter-americano e condenação
do bloqueio estadunidense a esta nação".

Como se pode observar, a inclusão de Cuba ao


Mercosul já era uma meta antiga e determinada
pelo Foro de São Paulo.

Em dezembro de 2004, o sociólogo comunis­


ta germano-mexicano Heinz Dieterich, guru
de Chávez e Fidel, em uma entrevista cedida ao
site de extrema-esquerda Rebelión afirmava o
seguinte:

111
O FORO DE SÃO PAULO

"Bem, a única forma de resistir a esta im­


posição dos tratados de livre comércio é esse
Bloco de Poder, com um programa próprio.
A luta contra a ALCA tem sido defensiva
porém, com a defensiva não se ganha uma
guerra e esta é uma guerra contra o Império.

Necessita-se de uma proposta estratégica


própria. Hugo Chávez a formulou na ALBA :
Alternativa Bolivariana para a América
Latina. Tem-se dado passos para integrar
um eixo Venezuela-Cuba, por uma parte,
e um eixo Venezuela-Argentina por outra,
porém não há sustentação teórica; é uma
integração bilateral que segue a lógica das
vantagens comparativas de David Ricardo,
e o que necessitamos é um salto qualitativo
para conseguir a constituição de um Esta­
do regional que é o MERCOSUL ampliado,
aprofundado, democratizado com a Vene­
zuela, com Cuba e em uma segunda fase
com Evo Morales na Bolívia e com a CO­
NAIE (Confederação de Nacionalidades In­
dígenas do Equador) no Equador, que rea­
lize a integração o quanto antes nas quatro
esferas sociaisfundamentais do ser huma-

112
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

no: a econômica, a política, a cultural e a


militar".

E, finalmente, na reunião da Região Cone Sul


do Grupo de Trabalho do Foro, ocorrida em
Montevidéu em 7 de dezembro de 2005, em sua
"Declaração" ficou acordado o que retransmito
no original, em espanhol, para que não reste
qualquer dúvida:

"REUNIÃO DA REGIÃ O CONE SUL - 2005


DECLARAÇÃO - (Original unicamente em
espanhol)

Montevideo, diciembre 7 de 2005

A los Presidentes y Cancilleres de los paí­


ses del MERCOSUR y asociados,

Los pueblos de América Latina avanzan


hoy con firmeza hacia su integración ha­
ciendo por fin realidad los esfuerzos de los
próceres de nuestra independencia para lo­
grar la unión continental.

En este Primer Encuentro de la regional

1 13
O FORO DE SÃO PAULO

Sur del Foro de Sao Paulo realizado en Mon­


tevideo los días 6 y 7 de diciembre de 2005
y en la Cumbre de Presidentes del MERCO­
SUR que se reúne en Montevideo el 9 y 1 O de
diciembre, se consagran muchas iniciativas
que son decisivas para nuestra integración:

- La incorporación de Venezuela como


miembro pleno del MERCOSUR, que signi­
fica que toda la costa atlántíca de América
del Sur se integra en un solo bloque regional
de más de 250 millones de habitantes.

- La creación del Parlamento regional,


que significa que de la unión económica y
comercial se avanza en la integración polí­
tica e institucional.

- La puesta en práctica defondos estructu­


rales y el anillo energético.

En la Cumbre de Mar del Plata se demos­


tró que el MERCOSUR era capaz por príme­
ra vez de defender los intereses de la región
frente a los planes de los países del norte,
representados en el proyecto del ALCA, con

1 14
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

el apoyo de la Cumbre de los Pueblos y una


extraordinaria movilización.

Los partidos políticos de izquierda y pro­


gresistas tenemos una tarea fundamental
en esta nueva etapa en que ciudadanos y
ciudadanas de nuestros países deberán dar
sustento a un MERCOSUR que defienda y
profundice la democracia y la vigencia de
los derechos humanos en la regi.ón. El res­
peto a la diversidad y el desarrollo de po­
líticas activas contra la discriminación de
todo tipo deberán ser base sustancial de este
MERCOSUR ciudadano.

Saludamos los esfuerzos de nuestros go­


biernos para desarrollar una política de paz
para la regi.ón y el mundo, en contraposición
a las políticas de guerra desplegadas por la
potencia hegemónica y asimismo manifes­
tamos nuestra preocupación por la presen­
cia de tropas y bases militares extranjeras
en la regi.ón.

Consideramos fundamental la consolida­


ción de la democracia y el respeto a la libre

115
O FORO DE SÃO PAULO

expresión ciudadana en los comícios a rea­


lizarse en la región, Chile y Bolívia en lo in­
mediato.

Finalmente nuestro MERCOSUR (quer di­


zer, o MERCOSUL do Foro de São Paulo!) se
seguirá ampliando hacia formas más pro­
fundas de integración latinoamericana, por
el desarrollo económico y social, y hará más
justa la distribución de la riqueza y defen­
diendo nuestros recursos naturales, estraté­
gicos y el media ambiente.

Viva la integración de nuestros pueblos!"

Quer dizer, de um bloco de países sul-ameri­


canos reunidos em torno do objetivo único de
fortalecer o intercâmbio comercial entre si, o
Mercosul sofreu um desvio radical de sua ori­
gem, passando a atuar no plano político-ideoló­
gico (e futuramente militar) como uma sucursal
do Foro de São Paulo! Portanto, não foi surpresa
nem foi à toa a inclusão da Venezuela, tampou­
co a presença de Fidel Castro (cujo país situa-se
no Caribe e não na América do Sul) na Cúpula de
Córdoba com vistas à integração no Mercosul.

1 16
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

Na redação inicial do Mercosul, quando da sua


constituição, há uma cláusula que especifica
que só podem participar do grupo países cujo
regime seja democrático e por esta razão, Cuba,
que é inegavelmente uma ditadura, está impe­
dida oficialmente de pertencer ao bloco mas
isto não impediu que se assinasse um acordo
comercial com este país.

Resta saber o quê Cuba tem a oferecer como


mercadoria para os novos sócios e com qual
dinheiro pagará suas dívidas, pois é sabido no
mundo inteiro que Cuba é um Estado falido.

E, para concluir, provando que TODA a políti­


ca latino-americana vem sendo delineada pelo
Foro de São Paulo, lemos no site do próprio Foro
que o próximo encontro do Grupo de Trabalho
será no Uruguai, entre 1 8 e 20 de agosto, para
redigir o texto-base do XIII Encontro que ocor­
rerá em El Salvador, e cujo tema geral será "Inte­
gração latino-americana e caribenha".

A comissão deste Grupo de Trabalho será


composta por membros do Partido da Revo­
lução Democrática (PRD de López Obrador, do

117
O FORO DE SÃO PAULO

México); Partido dos Trabalhadores, do Brasil;


Partido Comunista de Cuba, e Frente Farabundo
Martí de Libertação Nacional, de El Salvador".

ALBA

A ALBA surgiu como uma espécie de contra­


posição à ALCA (Acordo de Livre Comércio para
as Américas). Inicialmente chamada de "Alter­
nativa Bolivariana para as Américas", a ALBA
foi constituída em Havana, Cuba, em 14 de de­
zembro de 2004, num acordo entre Hugo Chá­
vez e Fidel Castro. Em 29 de abril de 2006 a Bo­
lívia somou-se ao grupo, a partir do Tratado de
Comércio dos Povos, e em 25 de junho de 2009
foi rebatizada como "Aliança Bolivariana para
as Américas" ALBA-TCP.

A ALBA se propôs a ser, no início, um órgão


como o MERCOSUL, para a facilitação e inte­
gração do comércio entre os países-membros.
Entretanto, com o tempo e à medida em que o
MERCOSUL sofria drásticas modificações de
seu modelo original, a ALBA resolveu acompa­
nhar. Foi assim que, segundo imaginavam Chá­
vez e Fidel Castro, fortaleceu-se com a criação

118
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

do Acordo de Cooperação Energética Petro-Ca­


ribe que, na realidade, beneficiava apenas os
países que dependiam do petróleo venezuelano.

Em troca de (mais) poder e submissão desses


países a Chávez em votações na ONU ou OEA,
por exemplo, Chávez entregava o petróleo vene­
zuelano - como se fosse seu - a repúblicas fali­
das, miseráveis ou com regime ditatorial a pre­
ço de banana ou muitas vezes de graça, como é
o caso de Cuba, (que Maduro mantém até hoje),
que recebe 1 00 mil barris diários de petróleo,
a maior riqueza do povo venezuelano. Fazem
parte da ALBA e dependem diretamente da Pe­
tro-Caribe: Antigua y Barbuda, Bahamas, Beli­
ze, Cuba, Dominica, Granada, San Cristóbal y
Nieves, San Vicente y Granadinas, Santa Lucía,
Suriname e agora há pouco, El Salvador.

A ALBA ainda coordena "movimentos sociais"


de 2 1 países da América Latina e Caribe, den­
tre os quais encontram-se: Argentina (Quebra­
cho, Piqueteros de Luis D'Elía e assemelhados);
Brasil (em 20 1 4 o ex-vice-presidente Elías Jaua
esteve reunido no Brasil com o MST dando "ins-

1 19
O FORO DE SÃO PAULO

truções" e firmando acordos de cooperação)9,


Chile, Uruguai, Bolívia, Paraguai, Peru, Equa­
dor, Colômbia, Panamá, Costa Rica, República
Dominicana, Cuba, Haiti, Nicarágua, Honduras,
El Salvador, Guatemala, México e Venezuela (os
"Círculos Bolivarianos", as "Milícias Bolivaria­
nas" e os "Coletivos", sendo os mais conhecidos
por número e violência armada "Carapaica",
"Tupamaros" e "Alexis Vive").

Mais tarde, por volta de 2009, a ALBA so­


freu outra mutação em seu nome a passou a
se chamar "Aliança Bolivariana para os Povos
de Nossa América", nome que segue até hoje.
São considerados países-membros: Venezuela,
Cuba, Bolívia, Nicarágua, Domínica, Honduras,
Equador, San Vicente y Granadinas e Antigua y
Barbuda.

Dentre os projetos da ALBA encontram-se o


Banco da Aliança Bolivariana, o Alba Cultural, o
Alba-Med e o Sucre, uma moeda comum criada

Ver meu artigo "O que se pretende esconder com a vi­


sita de Elías ]aua ao Brasil?". http://www.midiasemmas­
cara.org/mediawatch/noticiasfaltantes/foro-de-sao-pau­
lo/ 1 5 5 59-20 14-1 1 - 2 7-22-5 3 -06 .html

1 20
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

para atender a área monetária, mediante o esta­


belecimento da Unidade de Conta Comum (um
Sistema Unitário de Compensação Regional -
SUCRE) e de uma Câmara de Compensação de
Pagamentos. Isto de certa forma isola os países­
-membros dos mercados mundiais que operam
com o dólar, numa estupidez que até hoje não se
tem notícia se vingou ou ficou apenas no papel
porque, como se verá até o final do livro, criam­
-se mil organizações com os mesmos objetivos
e funções que no final das contas não resolvem
nada e que, finalmente, só "vinga" o que já te­
nha sido idealizado pelo Foro de São Paulo.

Como se pôde observar, os projetos e objetivos


da ALBA seguem a mesma linha de postulações
do MERCOSUL, apenas voltado para o Caribe e
os países mais ao norte do continente sul-ame­
ricano e que, por sua vez, seguem as diretrizes
gerais do Foro de São Paulo.

UNASUL

A UNASUL, União das Nações Sul-America­


nas, foi oficialmente fundada em 2 3 de maio
de 2008, na III Cúpula dos chefes de Estado

1 21
O FORO DE SÃO PAULO

em Brasília. 10 O documento foi assinado pela


República Argentina, República da Bolívia, Re­
pública Federativa do Brasil, República do Chile,
República da Colômbia, República do Equador,
República Cooperativista da Guiana, República
do Paraguai, República do Peru, República do
Suriname, República Oriental do Uruguai e Re­
pública Bolivariana da Venezuela e o documen­
to foi escrito em espanhol, português, holandês
e inglês.

Foi acordado que a sede da organização seria


em Quito, Equador, o Parlamento sul-america­
no em Cochabamba, Bolívia, e a sede do Banco
do Sul, em Caracas, Venezuela. Seu primeiro Se­
cretário-Geral, escolhido por unanimidade, foi
o falecido ex-presidente da Argentina Néstor
Kirchner, em 4 de maio de 2 0 1 0, para um man­
dato de dois anos. O Tratado entrou em vigor, de
fato, em 1 1 de março de 2 0 1 1, tornando-se uma
entidade jurídica durante a cúpula de Ministros
dos Negócios Estrangeiros em Mitad del Mundo,
Equador, onde foi colocada a pedra fundamen­
tal para a sede do Secretariado-Geral da União.
1 O http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_integracao/
docs_UNASUL/TRAT_CONST_PORT.pdf

122
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

A idéia mesma da organização surgiu em 8 de


dezembro de 2004 na Cúpula Sul-Americana
onde 1 2 países assinaram a Declaração de Cuz­
co 11, anunciando a fundação da então Comuni­
dade Sul-Americana de Nações. Esses represen­
tantes dos 1 2 países queriam fazer dessa comu­
nidade algo como a União Européia, com unifi­
cação de passaporte, parlamento e futuramente
uma moeda comum a todos como é hoje o Euro.
Em 2 5 de dezembro de 200 5 , o ex-ministro do
Exterior chileno propôs o nome "União das Na­
ções Sul-Americanas" que foi o que vingou até
hoje.

O primeiro Secretário-Geral da UNASUL foi o


ex-presidente equatoriano Rodrigo Borja, mas
ele renunciou alguns dias antes do encontro
em Brasília, em maio de 2008. Foi então eleito
Néstor Kirchner, da Argentina, em 4 de maio de
2 0 1 0 e por isso é considerado o primeiro pre­
sidente de direito e de fato, mas não cumpriu
todo seu mandato de 2 anos pois faleceu em 2 7
de outubro desse mesmo ano. Em 9 de maio de
2 0 1 1 foi nomeada María Emma Mejía, da Co-
1 1 http://www.comunidadandina.org/documentos/dec_
int/cusco_sudamerica.htm

1 23
O FORO DE SÃO PAULO

lômbia, que já foi Ministra da Educação e de Re­


lações Exteriores, pertence ao partido pró-FARC
e membro do Foro de São Paulo, Polo Democrá­
tico Alternativo. Desde há oito anos pertence à
comissão de facilitação entre o governo e o ELN
visando a um processo de "paz" igual ao das
FARC. Presidiu o secretariado até 1 1 de junho
de 2 0 1 2, quando assumiu o terrorista venezue­
lano e amigo íntimo dos chefões das FARC, Alí
Rodríguez Araque.

Araque assumiu o posto em 1 1 de junho de


20 1 2 e permaneceu até 3 1 de julho de 20 1 4.
Atualmente a Secretaria-Geral da entidade está
nas mãos do colombiano e ex-presidente Ernes­
to Samper, desde 1 º de agosto, devendo passar o
bastão no segundo semestre desse ano. Samper
é conhecido na Colômbia por ter tido sua cam­
panha eleitoral financiada pelo poderoso nar­
co-traficante Pablo Escobar e por isso é impe­
dido pelo Governo dos Estados Unidos de pisar
em solo norte-americano.

A UNASUL é estruturada através de Conse­


lhos: Conselho de Economia e Finanças, Con­
selho de Defesa Sul-Americano, Conselho de

1 24
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

Saúde Sul-Americano e Conselho Eleitoral12•


No documento constitutivo da UNASUL, citado
na nota 1 O, pode-se ver detalhadamente todo o
funcionamento da organização mas quero me
deter em apenas dois: o Conselho Eleitoral e o
de Defesa, para demonstrar a estreita relação e
subordinação aos desígnios do Foro de São Pau­
lo.

Conselho Eleitoral

No Estatuto do Conselho Eleitoral13, quanto


aos Princípios, lê-se:

''Artigo 2º O Conselho Eleitoral da UNA­


-

SUL se regerá pelos princípios reitores do


Tratado Constitutivo da UNASUL, de irres­
trito respeito à soberania, auto-determi­
nação dos povos, solidariedade, coopera­
ção, paz, democracia, participação cidadã,
transparência, pluralismo, respeito aos
1 2 http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_integracao/
docs_UNASUL/RES23.20 1 2ANEXOI.pdf

1 3 http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_integracao/
docs_UNASUL/RES23.201 2ANEXOI.pdf - Documento comple­
to no original em espanhol.

125
O FORO DE SÃO PAULO

direitos humanos universais, indivisíveis


e inter-dependentes, e pelos princípios que
inspiram o Protocolo Adicional ao Tratado
Constitutivo da UNASUL sobre Compromis­
so com a Democracia".

E nos Objetivos Específicos:

1. "Promover o intercâmbio e a transferência


de conhecimentos, experiências e assistên­
cia técnica dos organismos, autoridades e
técnicos eleitorais.

2. Propiciar a criação, uso e aplicação de tec­


nologias não-dependentes para o desenvol­
vimento dos sistemas eleitorais em matéria
de inovação e modernização tecnológica,
assim como boas práticas de sistemas nos
processos eleitorais".

No mesmo ano em que a UNASUL redigiu os


Estatutos do Conselho Eleitoral (201 2), do qual
destaquei esses dois "objetivos específicos", o
governo brasileiro, através do Tribunal Supe­
rior Eleitoral (TSE), assinou um contrato com a
empresa Srnartmatic de urnas eletrônicas, por

1 26
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

um período de 1 2 meses e avaliado em aproxi­


madamente US $ 63 milhões14• Essas urnas fo­
ram implantadas por Hugo Chávez na Venezue­
la desde 2005 pois, apesar da empresa garantir
absoluta segurança no sistema informático da
máquina, elas não são auditáveis permitindo
fraudar as eleições como Chávez fez - e Madu­
ro continua fazendo - durante todo o tempo em
que governou a Venezuela. Como elas exigem a
verificação biométrica do eleitor, na Venezue­
la ficaram conhecidas como "máquinas capta
huella - literalmente "capta (ou caça) digital".

Segundo informa o site, entre os serviços pre­


vistos no contrato "estão incluídos o teste das ur­
nas eletrônicas, limpeza, remoção dos selos, testes
funcionais, triagem para manutenção corretiva
e preparação para o armazenamento, entrada
de dados, instalação e atualização de software,
juntamente com outras tarefas. O consórcio ESF
também será responsável por receber e transmitir
os relatórios de mídia do sistema de votação".

Como as urnas não são auditáveis, quer di-

14 Com informações fornecidas pelo site Business Wire:


http://www.businesswire.com/news/home/20120725006689/pt/

127
O FORO DE SÃO PAULO

zer, depois de transmitidos os dados gravados


durante o processo de votação nada mais fica
armazenado, e não temos voto impresso, o go­
verno brasileiro tem renovado o contrato com
a empresa Smartmatic até os dias de hoje. E foi
por saber que essa urna eletrônica é passível de
fraude que o TSE realizou o escrutínio das últi­
mas eleições presidenciais numa sala fechada,
com apenas 2 3 funcionários do TSE escolhidos
a dedo, contrariando o que diz a Lei nº 1 0.408,
de 2002, que é uma alteração da lei anterior de
1 9 9 7, em seu Art. 6 6 e primeiro parágrafo deste
artigo:

"Art. 6 6. Os partidos e coligações poderão


.fiscalizar todas as fases do processo de vo­
tação e apuração das eleições e o processa­
mento eletrônico da totalização dos resul­
tados.

§ 1 ª Todos os programas de computador


de propriedade do Tribunal Superior Eleito­
ral, desenvolvidos por si ou sob encomenda,
utilizados nas urnas eletrônicas para o pro­
cesso de votação e apuração, serão apresen­
tados para análise dos partidos e coligações,

128
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

na forma de programas-fonte e programas­


-executáveis, inclusive os sistemas aplicati­
vo e de segurança e as bibliotecas especiais,
sendo que as chaves eletrônicas privadas e
senhas eletrônicas de acesso se manterão
no sigilo dajustiça Eleitoral" . 1 5

E ainda o Art. 8 7 da Lei nº 9 . 5 04, de 3 0 de se­


tembro de 1 99 7:

''Art. 8 7. Na apuração, será garantido


aos fiscais e delegados dos partidos e coli­
gações o direito de observar diretamente,
a distância não superior a um metro da

mesa, a abertura da urna, a abertura e a


contagem das cédulas e o preenchimento do
boletim" . 1 6

Naquele tempo se utilizava o voto impresso


mas tanto nesta Lei de 1 9 9 7 - que permanece
em vigor, sofrendo alteração apenas em alguns
artigos por causa das urnas eletrônicas - quanto
na mais recente, de 2002, era garantido aos par-
1 5 http : / / ww w.planalto .gov.br/cciv il_O J /l e i s/ 2 0 0 2 /
L10408.htm
16 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9 504.htm

1 29
O FORO DE SÃO PAULO

tidos políticos o direito à participação na apu­


ração dos votos de modo que o resultado fosse
transparente, uma vez que havia observadores
de partidos de todas as tendências e ideologias.
Do modo como foi realizada a apuração nas elei­
ções de 2 0 1 4 para a Presidência da República, a
portas fechadas e sem a presença de observado­
res dos diversos partidos, não se pode aceitar o
resultado apresentado como válido e legítimo
e afirmar que o que foi informado à Nação é o
resultado real, a vontade da maioria do povo
brasileiro. Apuração a portas fechadas sem a
presença de observadores dos partidos, foi a
primeira e maior fraude da eleição presidencial
de 20 1 4 já cometida e que jamais se viu no país!

Foi Chávez quem inventou esse método de


fraudes, de urnas eletrônicas e de apuração sem
a presença de observadores diversos e a portas
fechadas. No seminário internacional "Demo­
cracia Liberal - Democracia, Liberdade e o Impé­
rio das Leis", promovido pelo Mídia Sem Más­
cara e coordenado por Heitor De Paola entre os
dias 1 5 e 1 6 de maio de 2006 em São Paulo, Ale­
jandro Pena Esclusa em sua brilhante exposição
explica como Chávez encontrou a forma de se

1 30
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

perpetuar no poder, usando a democracia para


destruí-la através do voto, um instrumento da
própria democracia. 17

O método foi aprovado pelo Foro de São Paulo


e copiado aqui no Brasil com êxito, apesar dos
reclamos populares que não deram em nada,
uma vez que o Ministro do TSE é egresso do
próprio PT, foi quem decidiu pelo sigilo da apu­
ração e, evidentemente, não aceitou as denún­
cias. Puseram o lobo para cuidar do galinheiro.

Conselho Sul-Americano de Defesa

O site do Itamaraty afirma que a criação do


Conselho Sul-Americano de Defesa ocorreu em
15 de dezembro de 2008, tendo em sua compo­
sição os ministros da Defesa da Argentina, Bra­
sil, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Guiana,
Uruguai, Paraguai, Suriname e Venezuela, com
o objetivo de "elaborar políticas de defesa conjun­
ta, promoção do intercâmbio de pessoal entre as
Forças Armadas de cada país, realização de exer­
cícios militares conjuntos, etc.".

1 7 A partir do minuto 9: 30 Alejandro passa a explicar a questão


das urnas eletrônicas: http:/ /fuerzasolidaria.org/?p= 1 1 1 8

131
O FORO DE SÃO PAULO

Entretanto, nada disso é verdade; nem seus


objetivos e muito menos sua data de criação. O
projeto vem de mais longe. Em maio de 2008,
após a divulgação da criação desse conselho, es­
crevi o artigo abaixo que demonstra mais uma
mentira do Foro de São Paulo.

Conselho Sul-Americano de Defesa:


a serviço de quem?

"No passado 14 de abril o ministro da Defesa,


Nelson Jobim, esteve na Venezuela reunindo-se
com o presidente Hugo Chávez para tratar da
proposta do Conselho Sul-Americano de Defesa,
numa reunião que realizou-se a portas fecha­
das. Jobim negou que houvesse uma carreira ar­
mamentista na América do Sul mas ressaltou a
importância de que os países-membros adqui­
ram armas, porque "a projeção de poder na Amé­
rica do Sul é dissuasiva ante eventuais inimigos".

Lá, Jobim teria dito que a iniciativa da pro­


posta partiu de Lula, depois de a Colômbia ter
atacado uma base das FARC no Equador e que
Chávez mostrou-se muito receptivo, demons­
trando um interesse muito forte neste proje-

132
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

to que será implantado em outubro de 200 8 .


E e m notícia n o site d o PT, diz-se que . . . terá "

o papel de elaborar políticas de defesa conjunta,


intercâmbio de pessoal entre as Forças Armadas
de cada país, realização de exercícios militares
conjuntos, participação em operações de paz das
Nações Unidas, troca de análises sobre os cenários
mundiais de defesa e integração de bases indus­
triais de material bélico".

A história, entretanto, não é bem essa. Ela


remonta, pelo menos, ao ano de 200 1 , quando
Chávez enviou seu então ministro da Defesa,
General Hurtado Sucre à Brasília que apresen­
tou ao presidente Fernando Henrique Cardoso
a proposta de integração militar latino-ameri­
cana; este gostou da idéia mas já estava quase
de saída e o projeto não avançou. Em dezem­
bro de 2004, o marxista germano-mexicano
Heinz Dieterich escreveu um artigo intitulado
''.A doutrina militar e o Bloco Regional de Poder
Militar1ª", onde faz uma análise da situação das
Forças Armadas na América Latina e Caribe, e
afirma que os dois estrategistas militares mais

18 http:/ /www.rebelion.org/noticia. php ?id = 8 2 2 3

133
O FORO DE SÃO PAULO

importantes do continente latino-americano


são Fidel Castro e Manuel Marulanda "Tirofijo",
comandante das FARC. Afirma ainda que Cuba
oferece um paradigma militar para o futuro
Bloco Regional de Poder Militar latino-ame­
ricano (BRPM) que então começa a se delinear.
Diz que o "novo Fidel" é Chávez porque ele "sa­
berá encontrar a fórmula para que a vanguarda
e o bloco do centro [que Dieterich destaca como
sendo Lula, Néstor Kirchner - que era o presi­
dente à época - e Tabaré Vázquez] se encontrem
em uma nova dinâmica de libertação, digna dos
próceres da Pátria Grande".

Entre os dias 2 7 e 2 9 de outubro de 2006 acon­


teceu em Sucre, Bolívia, o encontro fundacional
do Bloco Regional de Poder Popular, organizado
por Dieterich e patrocinado pelo governo boli­
viano de Evo Morales, e que estabelecia quatro
elementos para garantir o "avanço do processo
revolucionário regional". O quarto desses ele­
mentos, diz: "Organização de um plano militar
de caráter defensivo integrado regionalmente,
para enfrentar a eventual agressão e interven­
ção militar direta do imperialismo e que deverá
estar baseado na concepção da 'guerra de todo

134
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

o povo'. Esse organismo seria denominado Bloco


Regional de Poder Militar" (BRPM).

E no artigo intitulado "Brasil, Argentina e Ve­


nezuela constituem um Bloco Regional de Poder
Militar" escrito em 28 de fevereiro deste ano,
Heinz Dieterich não esconde sua alegria pela
decisão de Lula em encabeçar a formação do
BRPM. Afirma ele que o "Conselho Sul-Ameri­
cano de Defesa será o órgão dirigente do BRPM",
quer dizer, este Conselho criado por Lula e Jo­
bim ratifica o BRPM, não vem para fortalecer o
papel das nossas Forças Armadas na defesa do
nosso território e soberania mas para formar,
junto com os outros países do continente, uma
força conjunta preparada para agir contra a "in­
vasão do império".

Dieterich alega que "o império" está perdendo


sua hegemonia financeira, econômica e políti­
ca por isso recorre aos métodos de dominação
pela força militar. Diz ele: "Esta é a mais profun­
da razão histórica e legitimação da constituição
do Bloco Regional de Poder Militar e seu Conse­
lho Sul-Americano de Defesa na Pátria Grande".
Nesse contexto, não é delírio supor que, quando

135
O FORO DE SÃO PAULO

houve o ataque militar colombiano ao acampa­


mento das FARC em 1 º de março, se este Conse­
lho já existisse o Brasil teria, junto com os ou­
tros países do Bloco, se voltado contra a Colôm­
bia desencadeando talvez urna guerra desne­
cessária e insana de proporções inimagináveis.

No dia seguinte, Pedro Echeverría V. exulta


com a criação deste Conselho no artigo, do qual
cito alguns trechos: "Por isso me deu uma enor­
me alegria ler o interessante artigo de Heinz Die­
terich na revista 'Rebelión'. No artigo ele detalha
a formação do Bloco Regional de Poder Militar
(BRPM) latino-americano encabeçado pelo presi­
dente brasileiro, Inácio 'Lula' da Silva". (. .) "Na
.

América Latina e no mundo não deveria haver


exércitos; porém, ante a ameaça e as permanentes
invasões ianques não se pode viver sem um orga­
nismo armado internacional de defesa, organiza­
do por governos anti-imperialistas". (. .) "O exér­
.

cito será nacionalista, anti-imperialista, defen­


derá os interesses dos povos da América Latina
frente ao império ianque ou outro grande país'�

O Brasil possui um "Conselho de Defesa Nacio­


nal", criado em 1 1 de abril de 1 9 9 1 pela Lei nº

136
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

8 . 1 8 3 , que cumpre perfeitamente seu papel de


defender o território e a soberania, claramente
explicitados nos Art. 5º e Parágrafo único deste
artigo:

Art. 5º O exercício da competência do


-

Conselho de Defesa Nacional pautar-se-á


no conhecimento das situações nacional e
internacional, com vistas ao planejamento
e à condução política e estratégica para a
defesa nacional.

Parágrafo único - As manifestações do


Conselho de Defesa Nacional serão funda­
mentadas no estudo e no acompanhamento
dos assuntos de interesse da independência
nacional e da defesa do estado democrático,
em especial aos que se refere:

I - à segurança da fronteira terrestre, do


mar territorial, do espaço aéreo e de outras
áreas indispensáveis do território nacional;

II - quanto à ocupação e à integração das


áreas defaixa de fronteira;

137
O FORO DE SÃO PAULO

III quanto à exploração dos recursos na­


-

turais de qualquer tipo e ao controle dos


materiais de atividades consideradas do in­
teresse da defesa nacional.

Se o interesse real é defender o país de possí­


veis agressões, por quê a necessidade de criar
um outro conselho de defesa? O que será feito
deste já existente, vai ser anulado? Como vimos,
os objetivos deste Conselho Sul-Americano vão
além das nossas fronteiras territoriais. Um do­
cumento do XIV Encontro do Foro de São Paulo
que realiza-se entre os dias 2 2 e 2 5 de maio em
Montevidéu, Uruguai, reafirma a "necessidade"
desta integração. Vejam o que diz este trecho do
documento:

'� maioria dos Governos de esquerda e


progressistas têm entre seus delineamentos
e Programas de ação a Integração Regional
e Continental como objetivo fundamen­
tal . . . ( . . . ) para avançar na coordenação e
execução dos projetos integracionistas e a
conformação de Blocos Regionais". E na V
Cúpula de América Latina, Caribe e União
Européia em Lima, Peru, Lula afirmou

1 38
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

sem pudor que o Foro de São Paulo serviu­


-se da democracia para alcançar seus ob­
jetivos de dominação. Disse ele: "Esseforo,
que nós criamos, esse foro foi educando a
esquerda para compreender que existia a
possiblidade de disputar eleições e ganhar
pela via democrática" .

Ao mesmo tempo, Jobim e Chávez mostram


toda sua valentia ante a Quarta Frota ameri­
cana. Chávez disse à agência russa Ria Novost:
"Vamos enterrar o império americano neste sécu­
lo, quando entrarmos numa nova era de governos
de esquerda", e Jobim vociferou em coro: "Eles
não poderão atuar em áreas jurisdicionais brasi­
leiras. Aqui não entra!". Ambos, como de resto
toda a esquerda e os eternos nacionalistas anti­
-americanistas, seguem o que já ditou Fidel Cas­
tro do fundo de seu sarcófago, em uma de suas
"Reflexões": ". . . os porta-aviões e as bombas nu­
cleares com que se ameaça nossos países servem
para semear o terror e a morte, porém não para
combater o terrorismo e as atividades ilícitas". E
concluiu que os grandes gastos e o destino des­
sas armas "deveriam servir também para enver­
gonhar os cúmplices do império e multiplicar a

139
O FORO DE SÃO PAULO

solidariedade entre os povos".

Lula percebeu que o momento está tenso para


o Brasil com a confirmação da autenticidade
dos documentos encontrados nos computado­
res de Raúl Reyes (não esqueçam que ele rece­
beu uma carta de saudação das FARC19 por oca­
sião de sua reeleição e que isto fatalmente deve
estar lá, pois foi assinada pelo próprio falecido!)
e resolveu então aplicar a estratégia das tesou­
ras: enquanto Chávez e Jobim vociferam fan­
farronices contra "o império", ele tenta - muito
simpático e solícito - uma aproximação com os
presidentes Álvaro Uribe, da Colômbia e Alan
García, do Peru, corroborando a idéia farsesca
para os Estados Unidos de sua "ruptura" com
a esquerda latino-americana mais radical, que
pode apaziguar os arroubos chavistas e assim
continuar agindo sem ser incomodado.

O que não se pode esquecer, em todo este ma­


quiavelismo torpe, é que Lula, seu governo e
o Partido-Estado são membros do Foro de São
1 9 http://lahora.corn.ec/index.php/noticias/show/ 502646/-
1 /FARC_felicita_a_Lula_por_reelección_y_promete_respetar_
soberan%C3%ADa_de_Brasil.html#.Vw-wOmN1 feQ

1 40
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

Paulo e, portanto, jamais irão trair suas delibe­


rações; os dois discursos de Lula, aparentemen­
te antagônicos em Lima neste fim-de-semana,
são as duas faces da mesmíssima moeda fura­
da. Está claro a "quem" servirá este Conselho de
Defesa Sul-Americano?"

E para corroborar que a idéia desse Conselho


é mais antiga do que se afirma e que a sua cria­
ção partiu de Lula, ou seja, do Foro de São Paulo,
traduzo trechos do artigo de Heinz Dieterich ci­
tado no artigo acima:

"Brasil, Argentina e Venezuela consti­


tuem um Bloco Regional de Poder Mili­
tar2º" - Heinz Dieterich

"Em uma importante decisão contra a


Doutrina Monroe, o Presidente brasileiro
Inácio "Lula" da Silva decidiu encabeçar a
formação do Bloco Regional de Poder Mi­
litar (BRPM) latino-americano. Em 1 O de
julho de 200 7 ele havia anunciado a au­
torização dos fundos "para concluir" o

20 http://www.rebelion.org/noticia.php?id= 6 3 862

141
O FORO DE SÃO PAULO

primeiro submarino de propulsão nuclear


da Marinha de Guerra do Brasil. Posterior­
mente, seu Ministro da Defesa declarou que
a soberania da Amazônia 'não é negociável'
e o Comando Militar da Amazônia (CMA)
advertiu que a Amazônia seria defendida
com a 'guerra de guerrilhas"'.

( . . . ) "Não menos importante é a constitui­


ção de um 'Conselho Sul-Americano de De­
fesa' em outubro de 2008, que será o órgão
reitor do BRPM. O Conselho, organismo de
defesa regional latino-americano-caribe­
nho é necessário, disse Jobim, para que as
Forças Armadas dos países da região dei­
xem de 'depender de estrangeiros' em áreas
de defesa".

( . . . ) "No ano de 2003, o Presidente (Chá­


vez) propôs a Lula converter as Marinhas
de Guerra de ambos os países na ponta-de­
-lança de um projeto de integração concreto
sobre a navegação do rio Orinoco com o rio
Amazonas, 'e com isso fortalecer a sobera­
nia da Amazônia'. Posteriormente, os dois
líderes conversaram sobre a instalação de

1 42
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

uma Academia de Guerra latino-america­


na; projeto urgente, porém que não avançou
por rivalidades entre Brasília e Buenos Aires e
inércias burocráticas na Venezuela".

( . . . ) "Outros empenhos do Presidente Chá­


vez foram a proposta de fundar a Organiza­
ção do Tratado do Atlântico Sul (OTAS) e as
'Forças Armadas da ALBA'. Na VI Conferên­
cia dos Ministros de Defesa das Américas em
2004, a Venezuela ajudou o Brasil e as Forças
Armadas do Equador a derrotar o plano de
Bush e Rumsfeld, de converter os militares la­
tino-americanos em uma guarda pretoriana
a serviço de Uribe e do complexo militar- in­
dustrial norte-americano".

( . . . ) "Hoje, .finalmente, amadureceram as


condições objetivas políticas que permitem
realizar a constituição do BRPM em 2008, em
uma tardia consumação dos sonhos integra­
cionistas dos libertadores da Pátria Grande.
Esta é a mais profunda razão histórica e le­
gitimQ.fâO da constituição do Bloco Regional
de Poder Militar (BRPM) e seu 'Conselho Sul­
-Americano de Defesa' na Pátria Grande".

143
O FORO DE S Ã O PAULO

Em 20 1 0 o site chavista "Taringa" publicou


uma matéria onde aponta os números dos sol­
dados de cada país que comporão esse exército
do Conselho que servirá para dar segurança,
prevenção para qualquer país-membro "quer
seja para choque, defesa, solidariedade e ante
eventos onde se os requeira"21• Quer dizer, não sa­
bemos quando, em que situações e contra quem
esses soldados serão chamados a lutar.

Quem esse Conselho de Defesa irá defender?


Contra quem lutarão? Que tipo de eventos ne­
cessitarão de um exército desse porte? Ninguém
sabe ao certo, pois os motivos são tão difusos
quanto os da Constituição cubana que manda
prender quem "desestabilizar a ordem pública"
sem especificar o que significa essa "desordem".
O que assombra verdadeiramente é o contin­
gente de cada país e, sobretudo, a afronta de se
criar um exército paralelo, ou seja, milícia, sem
consultar o Congresso Nacional, sem informar
a população.

Em 20 1 O os números eram os que seguem


2 1 http://www.taringa.net/posts/info/8 1 3 9 1 00/Creacion­
Cascos-Rojos-para-proteger-democracias-U naSur.html

1 44
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

mas não sei se ampliou-se, uma vez que naque­


la ocasião o presidente colombiano era Álvaro
Uribe que se opôs a fornecer seus soldados, pois
já enfrentavam os terroristas das FARC em seu
país. Mas hoje, com Juan Manuel Santos, cujo
partido não pertence (ainda) ao Foro de São
Paulo mas suas políticas seguem a cartilha des­
sa organização criminosa, é possível que tenha
posto à disposição desse Conselho o Exército
Colombiano. Esperava-se ainda naquela ocasião
os contingentes do Uruguai, Paraguai e Peru, e
o Chile ainda mostrava-se um tanto resistente:

· 1 8.600 soldados do Brasil


· 1 5 . 300 soldados da Venezuela
· 1 3.000 soldados da Argentina
· 8.250 soldados da Bolívia
· 5 .000 soldados do Equador

Cabe ainda acrescentar que no dia 30 de agosto


de 20 1 3 , durante a VII Reunião Ordinária do Con­
selho de Chefes de Estado da UNASUL, foi escrita
a "Declaração de Paramaribo" onde se destacava
o trabalho do Conselho de Defesa Sul-Americano
e a iniciativa da criação de uma Escola Sul-Ame­
ricana de Defesa (ESUDE), concebida como um

145
O FORO DE SÃO PAULO

centro de altos estudos e de articulação de redes


entre as iniciativas nacionais dos Estados-mem­
bros, para a ''formação e capacitação de civis e mi­
litares em matéria de defesa e segurança regional,
do nível político-estratégico".

Com a instabilidade política observada em al­


guns países-membros como a Venezuela e agora
o Brasil, e como um dos objetivos é a "solidarie­
dade" entre os membros do bloco, não podemos
descartar a hipótese de que esses "Cascos Ro­
jos" (Capacetes Vermelhos, como são chamados
os soldados dessas tropas) apareçam em nosso
território para "defender a democracia" contra
o "golpe", pois para isso eles foram criados.

CELAC

A "Comunidade de Estados Latino-America­


nos e Caribenhos" (CELAC) alberga 3 3 países
das Américas e Caribe, menos Estados Unidos e
Canadá. É uma remanescente do "Grupo do Rio"
e foi criada em 23 de fevereiro de 2 0 1 0, embo­
ra só tenha tido sua primeira reunião de cúpu­
la entre os dias 1 e 4 de dezembro de 20 1 1 em
Caracas-Venezuela. A Primeira Cúpula, entre-

146
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

tanto, só veio a ocorrer entre os dias 26 a 28 de


janeiro de 2 0 1 3 no Chile. O primeiro presidente
pro tempore foi Sebastián Piiiera. A respeito des­
sa Cúpula, escrevi na ocasião o artigo abaixo:

O trágico destino da América Latina

"De 26 a 28 de janeiro ocorreu no Chile a II Cú­


pula da CELAC (Comunidade de Estados Latino­
-Americanos e do Caribe), organismo fundado
por Chávez em fins de dezembro de 20 1 1 em
Caracas, que é uma espécie de OEA sem os Esta­
dos Unidos e Canadá. Nessa cúpula o presidente
do Chile, Sebastián Piiiera, passou a presidência
pro tempore a ninguém menos que o ditador he­
reditário cubano, Raúl Castro, que foi recebido
com honras de chefe de Estado e eleito para o
cargo por unanimidade.

Quer dizer, 3 3 países livres e democráticos


acordam deixar nas mãos de um sanguinário
ditador, responsável junto com seu irmão Fi­
del pelo assassinato de mais de 1 00 mil pessoas
inocentes, o destino de seus países, sem levar
em conta o sofrimento do povo cubano, escra­
vizado há 54 anos. Causou revolta e estranheza

147
O FORO DE SÃO PAULO

nos cubanos e venezuelanos exilados que Piiie­


ra, que é de direita e foi eleito democraticamen­
te, tenha concordado em que Raúl Castro assu­
ma a direção do organismo, esquecendo que os
Castro são responsáveis pelo assassinato de um
senador chileno e pelo apoio logístico e ideoló­
gico da ditadura de Allende na década de 70.

Mais revolta causou ainda que Raúl Castro


tenha acusado os opositores venezuelanos de
fomentar "uma campanha de descrédito contra
o Governo da Venezuela por parte do império e
da oligarquia golpista". Todos se perguntam
com que direito um ditador que nunca foi elei­
to por ninguém, que se apossou literalmente
do país e tem seu presidente seqüestrado, que
desrespeita absolutamente todos os direitos in­
dividuais e comanda uma ditadura sangrenta,
possa se referir aos venezuelanos, que buscam
apenas que se respeite sua Constituição, venha
lhes afrontar de tal forma. Que moral tem este
homúnculo para criticar quem quer que seja, se
toda a sua vida foi devotada a assassinar, seme­
ar o mal, financiar guerrilhas e ditaduras san­
grentas mundo afora?

1 48
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

Causa estupor que todos os 3 3 governantes


mais seus chanceleres tenham avalizado tal
nomeação, uma vez que dentro das próprias
cláusulas da entidade exige-se que os países­
-membros devam "preservar a democracia e os
valores democráticos, o respeito às instituições
e o Estado de Direito". Quais desses requisitos
Cuba satisfaz plenamente? No entanto, todos
aplaudiram a nomeação ilegítima, e deram seu
aval para que uma ditadura "vigie e sugira pu­
nições" para os que descumpram seus regu­
lamentos. Em seu discurso de posse o ditador
Castro, além de fazer críticas indevidas à opo­
sição venezuelana, declarou seu apoio às pu­
nições sofridas pelo Paraguai pela destituição
do então presidente Fernando Lugo e falou na
possibilidade de "reativar" a pena de morte em
Cuba.

Estas foram suas palavras textuais: "Nossas


leis permitem a pena de morte, está suspensa,
mas está aí, de reserva, porque uma vez a suspen­
demos e a única coisa quefizemos com issofoi es­
timular as agressões e as sabotagens contra meu
país ao longo destes 50 anos".

1 49
O FORO DE SÃO PAULO

E acerca da destituição legal e constitucional


do então presidente Fernando Lugo, metralhou o
ditador: "Compartilhamos e apoiamos a resolução
e oportunidade com que a UNASUL atuou frente ao
golpe parlamentar no Paraguai". E acrescentou:
"Em uma região que sofreu décadas de ditaduras
sangrentas, impostas e mantidas pelos Estados
Unidos, não se pode permitir impunidade aos seto­
res violentos e golpistas". Que ele diga isto é natu­
ral, pois faz parte da mentalidade revolucionária
atribuir aos outros aquilo que ele pratica. Entre­
tanto, é inadmissível que mandatários de países
democráticos, sobretudo o Chile que é considera­
do um dos países mais democráticos do mundo,
aceite, aplauda e avalize isto de alguém que leva
54 anos numa ditadura sangrenta e golpista!

Ao longo de mais de uma década venho estu­


dando o fenômeno da ditadura cubana e sua lon­
gevidade incólume, e nunca consegui entender
o que realmente a mantém até os dias de hoje. A
dissidência interna se expõe até o limite do ini­
maginável, muitos morreram assassinados pelo
regime, outros estão encarcerados e outro tan­
to clama desde o exílio, espalhados e separados
de suas famílias ao redor do mundo. Muitos são

1 50
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

os países de corte comunista que oferecem seu


apoio material ou monetário, mas o que a man­
tém, de fato, é a covardia de dirigentes de países
livres e democratas ante as botas assassinas dos
irmãos Castro.

São pessoas como o senhor Sebastián Pifíera22,


que não se envergonha nem ruboriza em con­
fraternizar e aplaudir o assassino do seu próprio
povo. São homens desfibrados, como o presiden­
te Ricardo Martinelli do Panamá, que cedeu às
pressões cubanas através de Nicolás Maduro e
destituiu seu embaixador perante a OEA, Guiller­
mo Cochez, porque ele exigiu o óbvio e cumpriu
com o seu dever. Ou presidentes cúmplices e se­
dentos de poder, honrarias e glória como o trai­
dor da pátria Juan Manuel Santos da Colômbia
que, sonhando com um Prêmio Nobel da Paz, está
vendendo seu país ao bando narco-comuno-ter­
rorista das FARC com o apoio dos irmãos Castro.
Ou ainda como os presidentes norte-americanos
que acreditam que apenas embargando Cuba
economicamente, todos os problemas daqueles
1 1 milhões de escravos está resolvido, pois eles

22 https://youtu.be/CHtlhmwJQ6o

151
O FORO DE SÃO PAULO

não sabem o que é ter de pedir permissão ao Es­


tado para viajar de uma cidade para outra. De não
ter comida, água corrente na torneira ou energia
elétrica todos os dias.

Todos lavam as mãos e olham para o outro lado,


cúmplices, servis, omissos. É este o destino trá­
gico que se nos avizinha. Que nossas vozes não
se calem, pois, porque não tarda a chegar a nossa
vez".

Em 2014 a CELAC realiza sua II Cúpula em Ha­


vana-Cuba, uma vez que a presidência pro tempo­
re fora dada ao ditador Raúl Castro. Para o even­
to foi construído um mega complexo chamado
Pabexpo, que seria um centro expositivo e de
convenções, com amplo auditório e luxuosa sala
de imprensa. Tudo com o nosso dinheiro, que é
dado a fundo perdido pelo BNDES. O relato da­
quele evento expus no artigo que segue.

Entre Davas e Havana, o coração da


presidente elege o socialismo

''Entre os dias 25 e 29 de janeiro de 2014, a CELAC


(Comunidade de Estados Latino-Americanos

152
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

e Caribenhos) celebra seu II Encontro em


Havana, Cuba, reunindo representantes de 3 3
países para "debater" assuntos de interesse
dessas regiões. Cabe salientar que a CELAC é
mais um braço do Foro de São Paulo (FSP) e foi
criada em 201 1 pelo falecido Hugo Chávez, ex­
presidente da Venezuela. Seu primeiro encontro
deu-se oficialmente no ano passado no Chile,
que ostentava a presidência pro tempore da
organização e foi passada para Cuba, na pessoa
do ditador Raúl Castro.

Do mesmo modo que nos Encontros do FSP, a


CELAC inicia com um encontro entre os coorde­
nadores nacionais, que são os chanceleres dos
países membros, onde estes estabelecem as me­
tas e preparam o "documento final", o que sig­
nifica que nada será de fato debatido nos dias
oficiais que, nesse caso, são 28 e 29, e posterior­
mente mais 20 declarações especiais serão da­
das a conhecer. Como nos tribunais revolucio­
nários, a sentença chega pronta antes do julga­
mento do réu.

A presidente Dilma esteve em Davas, Suíça,


onde participou do encontro com países

153
O FORO DE SÃO PAULO

capitalistas e de lá deveria seguir para Cuba para


participar da CELAC. Entre os endinheirados
do mundo dona Dilma passou o pires, pedindo
que investissem no Brasil, enquanto gasta o
dinheiro desses investimentos com ditadores
de republiquetas comunistas como a Cuba dos
Castro.

Antes de seguir para Havana ela resolveu fa­


zer uma "parada técnica" em Portugal, alegando
necessidade de abastecer o avião, e hospedou­
-se, ela e a enorme comitiva de "aspones", nos
dois hotéis mais caros de Lisboa, cuja despesa
total custou a bagatela de R$ 7 1 .000,00. À noi­
te saiu para jantar no restaurante mais caro da
cidade e no domingo rumou para Havana onde
deveria beijar as botas dos ditadores e inaugu­
rar a primeira etapa do porto de Mariel.

Dentre as asneiras ditas em seu discurso des­


taco as seguintes: "O Brasil acredita e aposta no
potencial humano e econômico de Cuba". "O Bra­
sil quer tornar-se parceiro econômico de primeira
ordem para Cuba ( ... ) parceria bilateral de comér­
cio em equipamentos para a saúde, medicamen­
tos e vacinas, nos quais a tecnologia de ponta é

1 54
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

dominada por Cuba". Dispenso os comentários,


uma vez que todo mundo sabe que Cuba é um
fracasso tecnológico e não tem nada a exportar,
além de sua ideologia assassina e seus espiões
que já se encontram aqui, na forma de "médi­
cos". O discurso completo pode-se ver no final
deste artigo. 23

Além dos bilhões doados aos cofres pessoais


dos Castro com o programa "Mais Médicos",
dona Dilma financiou 80% da construção do
porto de Mariel com dinheiro do BNDES, ou seja,
de todos os brasileiros que sequer foram con­
sultados, sendo - segundo palavras dela própria
- 802 milhões de dólares na primeira etapa, e
290 milhões de dólares na segunda etapa, com
recuperação de rodovias e ferrovias de acesso
ao porto. Enquanto isso, as rodovias federais
brasileiras continuam fazendo vítimas fatais
todos os dias, por falta de sinalização e buracos
no asfalto. Nos hospitais públicos pacientes são
atendidos no chão dos corredores por falta de
leitos disponíveis, e muitos pacientes morrem
por não terem exames e tratamentos atendidos
em tempo de salvar-lhes a vida.

23 https://youtu.be/_VuYCcBxhyw

155
O FORO DE SÃO PAULO

Com toda essa dinheirama caída do céu, cons­


truiu-se um mega edifício especificamente para
a CELAC que diz "buscar aprofundar a integração
política, social e cultural da América Latina e do
Caribe, baseado no pleno respeito pela democra­
cia e direitos humanos". O que Cuba entende por
democracia e que direitos humanos são respei­
tados, uma vez que uma semana antes de ocor­
rer o encontro da CELAC a polícia começou a
"advertir" e perseguir a dissidência, recolheu da
rua os mendigos e as prostitutas, desconectou
os celulares, redobrou a vigilância dos domicí­
lios e prendeu alguns dissidentes? Os opositores
ainda procuram pelo paradeiro de José Daniel
Ferrer e Oscar Elías Biscet que foram detidos
quando se dirigiam às Embaixadas da Espanha
e Hungria em Havana. 72 horas antes do encon­
tro começar, já haviam 2 5 0 dissidentes detidos,
alguns dos quais se desconhece o paradeiro.

O foro paralelo que a dissidência pretendia


fazer foi abortado por vários fatores, dentre
eles a vigilância ostensiva e a prisão domiciliar
compulsória nas residências dos líderes oposi­
tores, além de muitos deles estarem detidos em
lugares completamente desconhecidos de seus

156
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

familiares. A respeito dessa cúpula paralela, o


chanceler Bruno Rodríguez disse em uma cole­
tiva de imprensa: "Não haverá aqui uma cúpula
de governos e uma cúpula alternativa dos povos.
Havana é o lugar onde podem confluir e confluem
naturalmente governos e povos em uma só sala,
em um só lugar, em um só evento", ratificando
o autoritarismo ditatorial que não respeita a
democracia, a divergência de opinião, nem a li­
berdade de expressão, malgrado afirme cinica­
mente que a CELAC é o lugar onde "podem con­
fluir governos e povos".

Cuba ser anfitriã e pertencer a uma organiza­


ção que diz defender esses princípios é uma bo­
fetada na cara dos povos livres, cujos governos
se curvam e se calam ante todos os crimes que
se cometem naquela ilha há 5 5 anos. Nesse en­
contro a OEA foi convidada a participar, e seu
Secretário Geral, José Miguel Insulza, aceitou o
convite. Isso gerou ações de repúdio dos chile­
nos e da velha guarda cubana em Miami, que de­
nunciam a conivência dos países livres com ta­
manha opressão e falta total de liberdades, ale­
gando que Insulza deveria cobrar pluralidade de
partidos, liberdade de expressão, associação e

157
O FORO DE SÃO PAULO

crença religiosa, direito de ir e vir e que se cum­


pra a Carta Democrática Interamericana24• Cuba
foi suspensa da OEA em 1 9 6 2 por ser declara­
damente um país comunista, mas em 2009, por
ser comunista e apreciar a ditadura cubana, o
próprio Insulza retirou a suspensão, mesmo que
NADA tenha mudado no regime, mas os irmãos
Castro rechaçaram a oferta.

Também foi convidado o Secretário Geral da


ONU, Ban Ki-Moon, que em seu discurso fez um
chamado a ''fortalecer o sistema de direitos hu­
manos" e expressou sua confiança de que este
encontro "contribuirá para a paz, o desenvolvi­
mento e os direitos humanos na região". Palavras
ao vento, formalidades protocolares mas ne­
nhuma crítica efetiva ou condenação ao regi­
me de escravidão a que são submetidos 1 1 mi­
lhões de seres humanos. Todos, sem exceção,
se curvam e se rendem aos crimes cometidos
pelos ditadores Castro e os tratam com respei­
to e admiração. TODOS os presentes são coni­
ventes com o genocídio cometido há 5 5 anos
contra gente inocente, ainda hoje, durante este
2 4 http:/ /www.oas.org/OASpage/esp/Documentos/Carta_
Democratica.htm

1 58
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

evento. O presidente do México, Henrique Pena


Nieto, que ainda não havia visitado Cuba desde
sua eleição em 20 1 2 , correu a fazer o beija-mão
(ou beija-botas), e resolveu "anistiar" 70% da
dívida de 48 7 milhões de dólares que a ilha
contraiu há mais de 1 5 anos. TODOS fazem ca­
ridade e financiam uma ditadura maldita com
o dinheiro do povo, desavergonhadamente!

Além de falar dessas abstrações, a CELAC "de­


fende" a "independência" da Costa Rica que, se­
gundo eles, é uma "colônia do império", a erra­
dicação da pobreza e da fome, e uma declaração
de reconhecimento a Chávez como idealizador
da organização. Porém, a mais cínica e sórdida
das proposições desse encontro é a que decla­
ra que a América Latina é uma "zona de paz", e
que "desterra-se para sempre a ameaça e o uso da
força em nossa região ". Certamente isto foi im­
posto pelas FARC que estão lá em Havana com
a farsa do "acordo de paz" com o governo da
Colômbia e que, provavelmente, participarão
dos encontros dos dias 2 8 e 2 9 . Já está agenda­
do oficialmente um encontro entre o terrorista
presidente do Uruguai, José Mujica, com repre­
sentantes das FARC, que disse ter a intenção de

1 59
O FORO DE SÃO PAULO

se colocar como "mediador" entre o bando ter­


rorista e o governo colombiano.

Num encontro ocorrido em Miami com a ve­


lha guarda opositora e convidados, a médica
epidemióloga venezuelana, Dinorah Figuera,
citou a influência cubana em seu país, fazendo
denúncias muitíssimo graves, sobretudo para
o Brasil que agora escancarou suas portas para
a infiltração desses agentes. Disse a doutora Di­
norah:25

"A corrupção e o escasso recurso humano


devastaram a saúde pública na Venezuela.
Hoje a Venezuela tem a mais alta taxa de
mortalidade da América Latina, a primei­
ra taxa de gravidez precoce, há um grave

problema de saúde pública, de malária, de


dengue, de tuberculose que eram enfermi­
dades que haviam sido reduzidas, mas pro­
cura-se remediá-las só com médicos cuba­
nos que substituem os médicos venezuela­
nos".

25 http://www.elnuevoherald.com/noticias/sur-de-la­
florida/article2030340.html

160
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

Cabe salientar que, quando os médicos cuba­


nos começaram a chegar no Brasil, Cuba passa­
va por uma forte epidemia de dengue e cólera
que já vinha de vários anos, mas isso foi cri­
minosamente omitido da sociedade brasileira.
E eles não param de chegar, porque este é um
ano eleitoral e, coincidência ou não, o governo
brasileiro tem como meta contratar 1 3 mil no
total.

E no discurso de abertura o ditador hereditá­


rio Raúl Castro disse com a maior desfaçatez,
de cara para os Secretários da OEA e ONU, de
cujas entidades fazem parte os Estados Unidos,
que aquele grupo que reúne os países das três
Américas, menos Estados Unidos e Canadá,
deveria cooperar entre si como "um ant �doto
contra a espionagem dos Estados Unidos". Ora,
Cuba sempre espionou e continuará espionan­
do quem lhe dá na telha, e todos aplaudem este
engodo talvez porque prefiram ser espionados
por Cuba em vez do império ...

E para este mega evento foi construído um


moderníssimo edifício intitulado Centro de
Imprensa que deve ter custado uma fortuna,

161
O FORO DE SÃO PAULO

mas isso para os Castro não é problema porque


somos nós, os otários brasileiros, que estamos
pagando.

A imprensa nacional não denuncia nada dis­


so, limitando-se apenas a reportar alguns fatos,
com a candura de quem informa um evento es­
portivo. Nada é o que parece, se tomarmos ape­
nas o que sai na mídia. Tal como ocorreu com
o FSP, a CELAC será mais uma organização que
a mídia tratará com displicência enquanto seus
membros conspiram contra a liberdade de sua
própria gente".

A presidência pro tempore para a III Cúpula da


CELAC foi dada à Costa Rica, na pessoa de sua
presidente Laura Chinchilla que não chegou a
participar pois estava em fim de mandato. O
evento ocorreu entre os dias 28 e 29 de janei­
ro de 2 0 1 5 , já sob o governo de Luis Guillermo
Solís e seu ministro de Relações Exteriores, que
passou a presidência pro tempore do IV Encon­
tro ao Equador, na pessoa de seu presidente Ra­
fael Correa.

O "tema" dessa cúpula foi "Como dar segurança

162
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

alimentar e tratar de erradicar a pobreza e a


fome"_ Para o evento foram creditados 1 .200
correspondentes de jornais de todo o mundo,
o que chama a atenção para o fato de o Foro de
São Paulo ter levado 1 6 anos no mais absoluto
sigilo no Brasil, pois em nada difere desses
encontros onde dezenas de chefes-de-Estado
estão presentes e reunidos durante alguns dias.
Como naqueles anos Lula havia proibido até
a simples menção à organização, um evento
dessa magnitude ocorria sem que a impressa
noticiasse uma notinha de rodapé sequer, como
se nunca houvesse existido.

IV Cúpula da CELAC,
Santos, FARC e Maduro

Entre os dias 27 e 28 de janeiro de 20 1 6 ce­


lebrou-se a IV Cúpula da CELAC em Mitad del
Mundo, no Equador, cidade que leva esse nome
por ficar no marco zero da linha do Equador
que divide os hemisférios norte e sul. Seu anfi­
trião, o presidente Rafael Correa, abriu a sessão
no prédio da UNASUR que leva o nome do ex­
-presidente argentino Néstor Kirchner, fazendo
menção às memórias deste e de Hugo Chávez da

1 63
O FORO DE SÃO PAULO

Venezuela. A presidência pro tempore foi entre­


gue por Correa ao presidente da República Do­
minicana, Danilo Medina.

Como nesses encontros de incontáveis si­


glas criadas para dar apoio e reforçar o plano
estratégico do Foro de São Paulo, dos 3 3 países
membros apenas 22 participaram. Na II Cúpu­
la, ocorrida no Chile, Cuba foi a grande estre­
la do evento, talvez porque já se impulsionava
o reatamento de relações diplomáticas com
os Estados Unidos mas este ano não foi men­
cionado o nome de qualquer representante da
ilha-prisão. Os temas citados como pontos de
discussão foram: trabalho, ciência, tecnologia,
desenvolvimento e mudança climática, en­
tretanto, o que estava em questão mesmo era
o apoio irrestrito ao tal "acordo de paz" entre
Santos e o bando terrorista FARC, além do res­
paldo à ditadura venezuelana.

O tempo fechou-se quando a vice-presidente


argentina, Gabriela Michetti, mencionou a
preocupação do seu país e especialmente
do presidente Macri (que não pôde ir em
decorrência de restrições médicas) quanto à

1 64
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

situação dos presos-políticos venezuelanos,


uma vez que, atualmente, a Argentina tornou­
se um peixe fora d'água nesses encontros. Mais
cedo Michetti mencionou a possibilidade, já em
estudo, da extradição do terrorista chileno da
FPMR Galvarino Apablaza que vive em Buenos
Aires na qualidade de "refugiado político", que
responde em seu país pelo assassinato de um
senador em 19 9 1 , do mesmo modo como o
Brasil concedeu status de "refugiado político"
ao terrorista das FARC "Oliverio Medina".

O traidor presidente da Colômbia, Juan Ma­


nuel Santos, pavoneava-se como se fosse a ce­
reja do bolo, pois além de contar com o apoio da
quase unanimidade da CELAC ao seu intento
de entregar o país às FARC, a ONU criou uma
resolução instituindo uma "missão especial"
para avaliar o "cessar fogo bilateral definiti­
vo" e o abandono das armas, coisa que as FARC
sempre anunciaram que não vão cumprir. Ele
afirmou que "a resolução saiu nos termos em que
pedimos, exatamente como se acordou na Mesa de
Conversações", quer dizer: conforme a vontade
dos terroristas, uma vez que os representantes
do Governo estão lá como convidados de pedra

165
O FORO DE SÃO PAULO

que não abrem a boca a não ser para dizer "sim


senhor" às FARC. Ainda segundo Santos, as des­
pesas e segurança dos membros dessa missão,
que será durante um ano, correrão totalmente
por conta do governo colombiano, isto é, pelos
contribuintes que bancam a traição à revelia.

No dia 28, através de uma vídeo-conferên­


cia ante a Euro-Câmara entre o negociador das
FARC, Iván Márquez e o negociador do governo,
Sergio Jaramillo, o Parlamento Europeu apoiou
por unanimidade o acordo de impunidade que
arquivará os crimes das FARC. Márquez aprovei­
tou para pedir aos deputados que tirem o nome
das FARC da lista de organizações terroristas,
que provavelmente será acatado, tão-logo ter­
minem o acordo final em Havana. Dias atrás
as FARC propuseram ao Governo colombiano a
"desmilitarização" das Forças Armadas e de Po­
lícia, alegando que, sem conflito armado, não se
justifica o alto custo que se tem com a manuten­
ção das Forças, cobiçando, sem dúvida, o direito
exclusivo de terem e usarem armas de todos os
tipos e calibres.

E para concluir, a nova Assembléia Nacional

166
7 - As sucursais do Foro de São Paulo

venezuelana está pondo em andamento a


investigação da real nacionalidade de Nicolás
Maduro, amparada em uma petição pública
que conta com o apoio de inúmeras figuras de
destaque da Venezuela, tais como o ex-diplomata
Diego Arria, o empresário Marcel Granier (da
RCTV, expropriada por Chávez), o jornalista
Napoleón Bravo, entre outros. Na petição alegam
que, "segundo o artigo 96 da Constituição Política
da Venezuela, Nicolás Maduro é colombiano de
nascimento, por serfilho de mãe colombiana e por
ter vivido em território colombiano durante sua
juventude. Falta comprovar se ele é venezuelano.
Em caso afirmativo, teria dupla nacionalidade o
que o impediria de exercer o cargo de Presidente da
República, segundo estipula o artigo 41 de nossa
Constituição".

Três anos atrás Maduro negou ser colombiano,


após acusações do ex-embaixador do Panamá
ante a OEA, Guillermo Cochez, que apresentou
um documento supostamente emitido pelo Re­
gistro Civil de Cúcuta, na Colômbia que respalda
essa acusação, motivo pelo qual dirigentes opo­
sitores insistem que Maduro usurpou o cargo.

167
O FORO DE SÃO PAULO

Como se pode ver, Argentina e Venezuela es­


tão retomando o caminho da democracia e a
um passo de mandar para o quinto dos infernos
o maldito totalitarismo comunista. E o Brasil,
quando chegará a nossa vez?

168
CAPÍ TULO 8
DESFAZENDO MITOS
E MENTIRAS
"Os mitos desmoronam por si mesmos, mas só
podem ser totalmente banidos pela verdade".
Dmitri Volkogonov

Tenho visto muitas coisas serem ditas como


sendo "obra" do Foro de São Paulo mas algumas
são tão patéticas e inverídicas que me vi na obri­
gação de corrigir. Quando começaram os proces­
sos da "Lava Jato" muita gente, que não sabe do
FSP nada além da expressão mesma, tem dito:
'�gora vai! Agora vamos derrubar a Dilma,fechar
o PT e acabar com o Foro de São Paulo!". Lamento
dizer mas isso não passa de mito, sonho de uma
noite de verão.

É preciso compreender, antes de tudo, que o


"Foro de São Paulo" não é o "foro jurídico" da ci­
dade de São Paulo mas uma mega organização
supra-nacional com representantes nos quatro
cantos do mundo, com poder e dinheiro, alinha­
da às determinações da ONU e da Nova Ordem
Mundial. Não se acaba com uma instituição des­
sa natureza como se acaba com urna empresa ou
um clube de futebol, a começar pelo fato dela
1 69
O FORO DE SÃO PAULO

não ter urna sede física e, ao que tudo indica, se­


quer tem CNPJ próprio.

Durante muitos anos venho, junto com alguns


amigos, tentando descobrir por todos os meios
legais de que dispusemos, o CNPJ dessa organi­
zação e até a presente data não obtivemos suces­
so. É possível que o Foro de São Paulo, enquanto
tal, não tenha mesmo personalidade jurídica
própria mas seja parte integrante da Secreta­
ria de Relações Internacionais do PT (que, este
sim, tem CNPJ), urna vez que todos os que ocu­
param o cargo de Secretário Executivo do Foro,
desde Marco Aurélio Garcia (MAG), passando
por Valter Pomar e agora Mônica Valente, tam­
bém ocupam o cargo de Secretário de Relações
Internacionais do partido, conforme afirma o
próprio PT: "A Secretaria é também encarregada
da Secretaria Executiva do Foro de São Paulo". 1

Assim sendo, fica difícil de se fazer urna devas­


sa na organização, tal corno uma auditoria nas
contas como sugeriu o professor Olavo tempos
atrás, urna vez que ela não existe juridicamen­
te por si mesma. Quem financia o Foro de São

1 http://www.pt.org.br/secretaria/relacoes-internacionais/

1 70
8 - Desfazendo mitos e mentiras

Paulo? Essa pergunta tem que ser feita ao pró­


prio PT, pois no Encontro ocorrido no Brasil no
ano de 2 0 1 3 a Secretaria Executiva do Foro, quer
dizer, a Secretaria de Relações Internacionais do
PT na pessoa de Valter Pomar, emitiu uma nota
isentando do pagamento de inscrição - que seria
de US$ 50 por membro inscrito - a todos os par­
ticipantes para "ampliar a participação".2

Deve-se considerar como financiadores da or­


ganização, o que envolve Encontros, reuniões
do GT que ocorrem em vários países quatro ve­
zes ao ano, participações como observadores de
eleições nos países-membros, etc., o próprio PT
(hoje sabemos das ações bilionárias que estão
em curso nas operações conjuntas do Ministério
Público e Polícia Federal e que muito raramente
são para proveito próprio), as FARC, os petro-dó­
lares venezuelanos - da época de Chávez porque
hoje a Venezuela está falida -, e do mega-investi­
dor George Soros, através das incontáveis ONG
que pertecem e participam dos eventos, segun­
do nos relata o expert em estratégia de organiza­
ção, o Major da Cavalaria do Exército da Argenti­
na (r), Jorge Mones Ruiz, meu amigo pessoal, na
2 http:/ /forode saopaulo.org/exencion-de-valor-para­
todosas-losas-participantes-del-xix-encuentro/

171
O FORO DE SÃO PAULO

entrevista ao site Pro]usticia. 3

A respeito do poderio financeiro das FARC, em


um artigo publicado em 1 5 de abril de 20 1 6, o
jornal El Colombiano4 refere em um artigo que
a revista britânica The Economist afirma que
as FARC tinham uma fortuna superior a 10 bi­
lhões de dólares no período compreendido en­
tre 1 9 90 e 2000, que podem muito bem ter fi­
nanciado o Foro de São Paulo. Leiam este trecho
que traduzi:

"Em um artigo intitulado "Dinheiro sem


graça", a revista britânica The Economist
afirma que o Governo colombiano tem um
informe secreto no qual estimam que as
FARC têm uma fortuna superior aos 1 O bi­
lhões de dólares. "É um assunto importan­
te, entre.finais de 1 990 e princípios de 2000,
as FARC tiveram 1 8.000 combatentes e uma

http://www.projusticia.org.pe/site.php?plantilla =nove­
dad&ncategoria 1 = 4&ncontenido=65 46
4 http://www.elcolombiano.com/colombia/paz-y-derechos·
humanos/las-farc-tendria-una-fortuna-de- 1 O-billones-de­
dolares-the-economist-LN3 9 7 1 8 7 2 .
Aqui o artigo original e m inglês d o The Economist: http://www.
economist.com/news/americas/2 1 6 9 7008-govemment-may­
never-get-its-hands-guerrillas-ill-gotten-gains-unfunny­
money

1 72
8 - Desfazendo mitos e mentiras

caixa de guerra cheia de dinheiro em espé­


cie produto da extração ilegal de ouro, da
extorsão, do seqüestro e do tráfico de drogas.
Estima-se que os ingressos anuais das FARC
neste períodoforam dos 200 a 3, 5 bilhões de
dólares". Santos disse "desconhecer" esses
dados mas os Estados Unidos continuam
insistindo que são verídicos e que Santos
sabe mas não quer revelar por causa do tal
"acordo de paz" que está realizando com o
bando terrorista em Havana, Cuba, sob as
bênçãos dos ditadores Castro.

Outro mito é o de se atribuir às expressões


"bolivariano" e/ou "bolivarianismo" uma ide­
ologia própria do Foro de São Paulo. Nada mais
falso, a partir do momento em que nem uma
palavra nem a outra expressam em si mesmas
urna nova ideologia. A ideologia por trás do "bo­
livarianisrno" é o velho e criminoso comunis­
mo, sem mais nem menos.

Essa expressão foi criada por Hugo Chávez


pouco tempo depois de assumir o primeiro
mandato, ao referir-se a si próprio como uma
reencarnação de Simón Bolívar, conforme ex-

1 73
O FORO DE SÃO PAULO

pliquei mais acima. Como é comum nos líderes


comunistas se apropriar de um personagem
histórico de seus países, deturpar seus ideais e
transformá-los em "revolucionários", Chávez
reescreveu a história do Libertador das Amé­
ricas (como Bolívar é conhecido), assim como
Fidel Castro reescreveu a história de José Martí,
conhecido como o "Apóstolo de Cuba".

A partir daí, Chávez modificou o nome do país,


que era apenas República da Venezuela, para
"República Bolivariana da Venezuela", e tudo o
que se referia a essa "nova república" teria que
ser "bolivariano". Criou milícias às quais deu o
nome de "Milícias Bolivarianas", depois vieram
os "Círculos Bolivarianos" que abriram suas fi­
liais por todo o continente, inclusive o Brasil, e
mais adiante as FARC, suas aliadas e parceiras
no narcotráfico e no FSP, criaram o "Movimento
Bolivariano" que sustentaria todas as suas ações
práticas como partido político, recrutamento de
militância, atos públicos e de terrorismo, etc.

Portanto, "bolivarianismo" é nada mais que


COMUNISMO, inspirado falsamente em Simón
Bolívar, assim como "guevarismo", "marxis-

1 74
8 - Desfazendo mitos e mentiras

mo", "stalinismo", "maoismo", "leninismo" ou


"castrismo", são todas expressões que indicam
o líder no qual se inspiram para pôr em prática
a ideologia comunista. Tanto é assim, que mes­
mo dentro dos partidos comunistas - e disso o
PT é um ótimo exemplo - há correntes que se
inspiram em cada um desses líderes sanguiná­
rios, porém todas professando a mesma ideolo­
gia assassina.

Outra bobagem enganosa é atribuir o concei­


to de "Pátria Grande Bolivariana" ao Foro de São
Paulo. Isso não é verdade, apesar da organização
ter abraçado essa idéia que também é preconiza­
da por suas sucursais, ALBA, MERCOSUL, UNA­
SUL e CELAC.

Quem primeiro cunhou esse termo foi o soció­


logo e politólogo germano-mexicano Heinz Die­
terich, que durante muitos anos foi o ideólogo
de Fidel Castro e Hugo Chávez, autor também do
malfadado "Socialismo do Século XXI". Segundo
Heinz, com a ascensão de Chávez ao poder seria
possível resgatar o sonho de Simón Bolívar de
que todo o continente Sul-Americano se trans­
formasse numa grande pátria sem fronteiras.

175
O FORO DE SÃO PAULO

Na nossa "Constituição Cidadã" de 1 9 8 8, no


Título 1 - Dos princípios fundamentais, o Art.
4º diz que:

A República Federativa do Brasil rege-se


nas suas relações internacionais pelos se­
guintes princípios:

(. . .) Parágrafo único: A República Fe­


derativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à for­
mação de uma comunidade latino-ameri­
cana de nações".

Este adendo foi posto pelo atual vice-presi­


dente da República, Michel Temer, que decla­
rou orgulhosamente em uma entrevista. Quer
dizer, o sonho de "integração" com os demais
países do continente é um sonho antigo dos
políticos de esquerda também do Brasil.

Ocorre que também nesse aspecto o pensa­


mento de Bolívar foi deturpado, uma vez que o
que ele quis expressar com esse desejo de uma
"pátria grande" não incluía o fim dos Estados

1 76
8 - Desfazendo mitos e mentiras

Nacionais, nem muito menos acabar com as


fronteiras, como querem os partidários desta
excrescência e que foi bem aceita pelos mem­
bros do FSP. O sonho de Bolívar referia-se à
união entre todos os povos, sem conflitos nem
guerras, onde todos pudessem conversar e se
entender como uma grande família que, ape­
sar das discordâncias, convivem em harmo­
nia.

E, finalmente, outra expressão que vejo com


uma freqüência assombrosa ser atribuída ao
Foro de São Paulo, é a URSAL, "União das Re­
públicas Socialistas da América Latina". Essa
expressão é de autoria do meu amigo Heitor
De Paola, sugerida em princípios dos anos
2 000, quando participávamos de um grupo de
estudos estratégicos criados por Olavo de Car­
valho.

Nesse grupo seletíssimo e pequeno com ape­


nas 1 2 membros, investigávamos e fazíamos
análises do avanço do comunismo no mun­
do mas sobretudo na América Latina. Estu­
dávamos as resoluções do Foro de São Paulo
quando, certa vez, em uma de suas brilhantes

177
O FORO DE SÃO PAULO

exposições Heitor sugeriu esse nome para ex­


pressar o que vinha sendo proposto pelos inte­
grantes da organização.

Enfim, espero que depois de conhecer o que é


mito e o que é mentira acerca dessa organização
criminosa as pessoas, ao saírem nas manifesta­
ções pedindo o fim Foro de São Paulo, saibam re­
almente do que estão falando.

1 78
CAPÍ TULO 9
ANÁLISE DE CONJUNTURA

Fazendo uma leitura seqüenciada de tudo


o que ocorreu nessas mais de duas décadas,
posso dizer que assisti à ascensão e ao declínio
do Foro e me parece claro que seu objetivo já
foi cumprido. O FSP teve seu apogeu entre os
anos de 2003 e 20 1 0, quando elegeu 1 5 presi­
dentes, modificou Constituições, fez acordos e
patrocinou ditaduras do Oriente Médio e Áfri­
ca, elevou a ditadura dos Castro a um patamar
nunca antes imaginado. Quando Fidel Castro
resolveu criar essa organização com Lula, seu
desejo, primeiro e último, era colocar Cuba - e
seu nome - no centro do mundo. E conseguiu.

Sagaz e astuto como uma serpente, Fidel es­


colheu Lula não por seus conhecimentos mas
por perceber sua capacidade de aglutinar, de
lidar com as massas tão necessárias e mani­
puláveis para dar robustez aos seus planos. Ele
sabia que Lula era tosco, rude e com um Ego
enorme. Tinha afinidades com ele, pois ambos
sempre usaram o povo da forma mais perversa

1 79
O FORO DE SÃO PAULO

enquanto o desprezava e oprimia, e com elo­


gios e afagos sabia que o conquistaria como seu
fiel aliado.

Depois veio Hugo Chávez, outro indivíduo


grotesco e manipulável que precisava ser con­
quistado para manter a ilha com o petróleo tão
necessário mas inexistente em seu território.
Chávez não era seu delfim, esse era Nicolás Ma­
duro que para tal foi treinado, mas foi o que a
sorte lhe pôs no caminho e Fidel percebeu que
foi melhor do que a encomenda e soube tirar
bom proveito do presente que lhe caíra dos céus.
Fidel sabia que estimulando Chávez com o conto
de ser a "reencarnação de Simón Bolívar" pode­
ria tê-lo na palma de sua mão, realizando todos
os seus caprichos, e foi assim até que perdeu a
serventia e necessitava ser substituído, não per­
mitindo que ele buscasse tratamento adequado
para o câncer porque queria controlá-lo até o
último suspiro, dizer "quando", "como" e "onde"
ele deveria morrer.

Ambos, Lula e Chávez, encantados e se sentin­


do honrados por merecer atenção especial do
"mito" Fidel, fizeram tudo, absolutamente tudo

1 80
9 - Análise de conjuntura

que o velho abutre lhes ordenou: empobrece­


ram seus países financiando a ditadura cubana
e restauraram perante o mundo a imagem de
uma ilha paradisíaca, só faltando nela jorrar lei­
te e mel.

Os Castro conseguiram se manter - sim, por­


que a dinheirama que entrava não era para o
país, que continuava tão miserável quanto an­
tes, mas para os cofres pessoais dos irmãos Cas­
tro e sua Nomenklatura - durante esses 1 7 anos
de governo Chávez-Maduro, através dos petro­
dólares da Venezuela. Do Brasil de Lula-Dilma
sugaram, através do BNDES, o financiamento
da reforma do Porto de Mariel e do Aeroporto
José Martí, a compra milionária de vacinas inó­
cuas ou vencidas, os bilionários contratos dos
espiões disfarçados de "médicos" cubanos que
vieram exportar sua "revolução" e prescrever
remédio para cavalo a pacientes humanos. E,
finalmente, com o muçulmano Barack Hussein
Obama, reatar relações diplomáticas e comer­
ciais porém continuando com a mais férrea e
brutal repressão, sem modificar ou ceder um
milímetro como contrapartida. Conseguiram
que Obama retirasse Cuba da lista de países que

181
O FORO DE SÃO PAULO

apóiam o terrorismo; tiveram seus terroristas


de estimação - os "5 heróis" - devolvidos, livres;
vão receber de volta a base militar de Guantána­
mo e ainda pedem uma bilionária indenização
em dólar pelas indústrias americanas que tive­
ram que deixar a ilha causando-lhes "prejuízos",
mas não falam em reparar as centenas de famí­
lias americanas que tiveram todos os seus bens
- sobretudo imóveis e obras de arte - "expropria­
dos" em nome da revolução comunista.

Agora, a Cuba só falta encerrar o embargo eco­


nômico imposto pelos Estados Unidos que, para
desgraça dos Castro, é decidido pelo Congresso e
não pelo presidente de turno. E, se depender dos
parlamentares cubano-americanos, ou ameri­
canos filhos de cubanos exilados como Ileana
Ros Lehtinen, Maria Díaz Balart ou Marco Rubio,
isso não acontecerá nunca se Cuba permanecer
num regime comunista autoritário-ditatorial,
sem nenhum tipo de liberdade nem respeito pe­
las vidas humanas dos cubanos "a pé".

Não foi à toa que Regalado afirmou no prólo­


go do seu livro "Encuentros y desencuentros de
la izquierda latinoamericana", já citado, que "a

182
9 - Análise de conjuntura

condição preliminar é que, como todo organismo


político, o Foro de São Paulo está submetido à in­
fluência de circunstâncias cambiantes que podem
prolongar sua existência tal como é, obrigá-lo a se
modificar ou fazê-lo desaparecer". Como mem­
bro do Departamento de América do Comitê
Central do Partido Comunista Cubano e pratica­
mente o porta-voz de Cuba no Foro, ele sabia a
que estava se referindo quando falou isso.

Enquanto escrevo esse livro o Congresso Na­


cional brasileiro discute o impeachment da pre­
sidente Dilma Rousseff e a Justiça, através dos
desdobramentos do "Mensalão", vai mostrando
ao país a face mais obscura da política brasileira,
a política da venda de consciências onde cada
um tem seu preço, das negociatas sujas e dos
roubos bilionários que empo1frecem cada vez
mais nossa gente. O Planalto virou um grande
balcão de negócios onde a presidente fica ape­
lando a políticos que aceitem um carguinho
aqui, outro ali, como modo de comprar votos
contrários ao impeachment. Não vai funcionar.
O mundo está de olho no Brasil e essas mazelas
palacianas expõem todo o país ao vexame e es­
cárnio mundial.

183
O FORO DE SÃO PAULO

Dilma pode cair, Lula pode vir a ser preso - se


conseguirem provar seus atos ilícitos, o que me
parece difícil pela blindagem monumental que
o envolve em todas as instâncias de poder -, e
centenas de parlamentares podem perder seus
cargos e serem indiciados como reles ladrões.
Entretanto, isso não resolve o nosso problema
pois não há instituições a serem defendidas do
jeito que se encontram, pois elas todas, a partir
do STF, estão podres, carcomidas pelos cupins
ideológicos do maldito comunismo.

O Congresso Nacional transformou-se num


grande rendez-vous, onde os julgadores do pro­
cesso de impeachment não têm moral nem para
julgar um ladrão de galinhas porque eles mes­
mos, uma centena, são réus nos processos da
Lava Jato e Petrolão, mas agem como se fosse os
últimos bastiões da decência e moralidade do
país.

Se Dilma sofrer o impeachment, a única van­


tagem do ato é que ela passará a ser investigada
e julgada como uma cidadã comum, como qual­
quer um de nós e aí poderá pagar por seus cri­
mes, mas nada mudará enquanto o PT continu-

1 84
9 - Análise de conjuntura

ar existindo. Eles seguem lutando para que isso


não aconteça porque significa sair do centro do
poder, a única coisa que de fato interessa ao PT,
interessa ao comunismo. No XIX Encontro do
Foro que ocorreu no Brasil em 20 1 3 1, Lula deixa
claro que o PT é a peça principal da articulação
entre os países integrantes do FSP no processo
de integração, que ele chama de "animadores do
processo", e cita a falta que Chávez faz porque
os dois juntos é que davam suporte e sustenta­
ção para a concretização desse processo. Chávez
morreu e o PT está agonizante.

O desespero do PT de um modo geral e de Lula


em particular, não é porque sua roubalheira está
sendo investigada e seus crimes envolvendo di­
nheiros mal havidos estejam vindo a público.
Não. O desespero é que isso possa levar à perda
do poder. Manter o poder a qualquer custo re­
correndo à utilização da combinação de todas as
formas de luta, mesmo que isso acarrete em per­
da de seus melhores "quadros" - que não é exata­
mente o caso de Dilma -, como ocorria na Rússia
stalinista e na Cuba castrista, para preservar seu
líder maior, no nosso caso, Lula da Silva.

1 https://www.youtube.com/watch?v=25bxzqkKbi4

185
O FORO DE SÃO PAULO

Quem estudou o processo revolucionário co­


munista internacionaF, sobretudo na União
Soviética, sabe que os membros fiéis ao parti­
do deixam-se até ser imolados em prol de sal­
vaguardar a causa, o partido, para preservar o
"grande líder". Observem o que ocorreu no Bra­
sil desde o início do julgamento do Mensalão:
o PT deixou que fossem julgados e presos José
Genoíno, José Dirceu, Delúbio Soares, João Vac­
cari Neto e Silvio Pereira, seus melhores e mais
importantes "quadros" que se deixaram imo­
lar no altar da fidelidade ao partido e seu pro­
jeto de poder. Nenhum deles abriu a boca para
denunciar Lula, quando indagados e quan­
do puderam, do mesmo modo que em Cuba o
General Arnaldo Ochoa aceitou o veredito de
"traidor da Pátria" e "narcotraficante" que lhe
foi imposto pelo tribunal de exceção castrista,
deixou-se fuzilar sabendo-se inocente e não se
defendeu para preservar o "grande líder" Fidel
Castro. Ele iria morrer para preservar os ideais
revolucionários e o "grande líder", e porque sa­
bia que não passava de um "quadro", uma peça
no xadrez do Partido Comunista Cubano cujas
2 Recomendo para tal o livro "A Hidra Vennelha", Azambuja,
Carlos Ilich Santos. Editora Observatório Latino, 21 Edição,
2016.

186
9 - Análise de conjuntura

movidas eram feitas por aquele que até hoje


vive, o ditador Fidel Castro.

E isso fica bem patente quando o Foro de São


Paulo, através de seu Grupo de Trabalho, emi­
te uma nota oficial no dia 1 8 de março pp.,
em defesa do "povo brasileiro", da presidente
Dilma mas enfaticamente em defesa de Lula,
demonstrando sua importância dentro do pro­
cesso revolucionário comunista. O texto está
original e unicamente em espanhol, por isso
traduzi para que ficasse registrado, conforme
segue abaixo.

"Toda a solidariedade com o povo brasi­


leiro e ao ex-Presidente Lula", pelo Gru­
po de Trabalho do Foro de São Paulo3

"Resolução do GT-FSP:
Os Partidos e organizações do Foro de
São Paulo expressam sua solidariedade
irrestrita com o Brasil, e o governo
nacional da Presidenta Dilma Rousseff e
o ex-Presidente Lula.

http : / /forodesaopaulo.org/toda- solidaridad-con-el­


pueblo-brasileno-y-el-ex-presidente-lula-por-el-grupo-de­
trabajo-del-foro-de-sao-paulo/

187
O FORO DE SÃO PAULO

A ofensiva conservadora, de caráter


continental, assume cada vez mais aber­
tamente um caráter nitidamente golpis­
ta, seja pelo uso de instrumentos como
o terrorismo econômico, a violência, a
fraude, seja atentando contra a própria
democracia. Estas tentativas anti-demo­
cráticas e golpistas no Brasil tendem tam­
bém a modificar a política exterior brasi­
leira em sua relação com os BRICS, CELAC,
UNASUL, MERCOSUL, etc., infringindo
um duro golpe no processo de integração
e, especialmente na América Latina e no
Caribe, onde o Brasil desempenhou um
papel importante nos próprios processos
de integração regional.

No Brasil, uma aliança entre os parti­


dos reacionários e neoliberais, a mídia
empresarial, o capital financeiro, setores
do aparato judiciário e policial, tratam
de perpetrar um golpe midiático-judi­
cial, através da manipulação sem pudor
de uma investigação sobre corrupção na
empresa estatal de petróleo brasileira, a
Petrobras, procurando fomentar o caos,

188
9 - Análise de conjuntura

derrubar a Presidenta legitimamente


eleita, Dilma Rousse:ff, assim como cri­
minalizar o Partido dos Trabalhadores e
seus aliados.

Um novo e ousado passo neste sentido


foi dado em 04 de março quando, igno­
rando-se direitos individuais consagra­
dos pela Constituição Nacional, o ex-Pre­
sidente Lula foi conduzido coercitiva­
mente pela Polícia Federal para, sob falsos
pretextos, prestar esclarecimentos sobre
supostas acusações. O Instituto Lula teve
sua sede invadida pela polícia. Tão grave
violação a princípios básicos levou juris­
tas de diversos matizes a apontar que, ou
estes abusos e parcialidades têm fim, ou o
próprio esqueleto que sustenta as garan­
tias e liberdades dos cidadãos estará em
risco.

O Grupo de Trabalho do FSP reprova


essa ação ilegal e arbitrária contra o
ex-Presidente Luis Inácio Lula da Sil­
va, ao ser um agravo ao Estado de Direi­
to e em si, um agravo ao povo brasileiro.

1 89
O FORO DE SÃO PAULO

Lula, idealizador e fundador do Foro de


São Paulo, foi, junto com Chávez, Fidel e
Néstor Kirchner, um dos responsáveis pela
nova e avançada fase da integração de nos­
so continente. Graças às políticas que Lula
liderou, milhões de brasileiros saíram da
miséria, milhares conquistaram a oportu­
nidade inédita de freqüentar o ensino su­
perior, entre outras conquistas.

Por tudo isso, Lula é hoje o maior líder


popular do Brasil e respeitado em todo
o mundo. A direita partidária, policial e
judiciária, e a mídia hegemônica que lhes
suporta mediante o acosso e incessante
tentativa de destruição da liderança do
ex-Presidente Lula e o projeto do poder
popular iniciado no Brasil em 2003, não
perdoa isso, entretanto, não lhes será fácil
de ser implementado, pois no mesmo 4 de
março, milhares de democratas e patriotas
por todo o país improvisaram atos nas
ruas e sindicatos, que assumiram caráter
massivo, mostrando que a resistência está
crescendo.

1 90
9 - Análise de conjuntura

Os partidos e organizações do Foro de São


Paulo, ao mesmo tempo em que expressam
sua solidariedade, têm confiança na capaci­
dade de luta do povo brasileiro, que não per­
mitirá que os golpistas prosperem em suas
tentativas de solapar a democracia para ata­
car os direitos sociais, a soberania nacional
e a integração solidária da América Latina e
o Caribe.

Em conseqüência, o Grupo de Trabalho


acorda articular de todas as maneiras pos­
síveis, a solidariedade internacional, por
todos os meios segundo as condições de
cada país para manifestar nosso respaldo
a Dilma e a Lula, iniciando no próximo dia
1 8 de março de 2 0 1 6 e com vistas às ações
convocadas no Brasil em 3 1 de março do
mesmo ano.

Lula, os povos da América Latina e do


Caribe estão contigo!".

Nesse mesmo sentido, vários partidos e orga­


nizações membros do FSP enviaram mensagens

191
O FORO DE SÃO PAULO

de solidariedade a Lula4 e não a Dilma como seria


de esperar, afinal, o que está ocorrendo de mais
grave no Brasil hoje é a possibilidade de ser depor
a mandatária, provando o que venho afirmando
nestas linhas sobre a importância de se salvar o
líder, o partido e o projeto de PODER. Isso é o que
de fato importa!

Mais recentemente, no dia 1 3 de abril, a Re­


gional Cone Sul do Foro de São Paulo emitiu esta
nota:

"Declaração da Regional Cone Sul do Foro


de São Paulo a respeito do Bra.sil5

Os representantes dos partidos políticos do


Cone Sul, filiados ao Foro de São Paulo, vem a
público se manifestar em defesa intransigen­
te da democracia e contrariamente ao golpe
de Estado em marcha contra a Presidenta
Dilma Rousse.ff do Brasil por meio da tentati­
va de aprovação de um impeachment no Par­
lamento brasileiro sem causa que ojustifique.

4 http://forodesaopaulo.org/relacao-de-comunicados-em­
a poio-ao-lula-relacion-de-comunicados-en-apoyo-de-lula/
5 http://forodesaopaulo.org/declaracao-da-regional-cone­
sul-do-foro-de-sao-paulo/

1 92
9 - Análise de conjuntura

Esta iniciativa, que conta com a participação


de setores do Poderjudiciário, dos meios de
comunicação e de parlamentares corruptos
como o presidente da Câmara de Deputados
do Brasil, visa extinguir as conquistas polí­
ticas e sociais dos últimos 1 3 anos e levar
de volta ao governo as políticas neoliberais
que tanto mal.fizeram ao Brasil em passado
recente.

Em defesa da democracia, contra a cor­


rupção, contra o arbítrio e em favor da in­
tegração cada vez maior de nossos países e
de seu progresso econômico, político e social
é fundamental que este Golpe de Estado
seja interrompido imediatamente.

Desta forma, nos declaramos em vigí­


lia permanente atentos ao desenrolar dos
acontecimentos. Não vai ter golpe!

São Paulo, 1 3 de abril de 20 1 6 "

O Foro de São Paulo pode se diluir dando lugar


à CELAC, conforme foi insinuado no XVI Encon­
tro quando dizem que ela é "o escalão superior

193
O FORO DE SÃO PAULO

da dinâmica de integração" ou podem inventar


outro organismo, as celas das prisões podem
ficar abarrotadas de políticos "corruptos" bra­
sileiros, mas para os Castro isso não importa
mais porque o Foro já cumpriu sua missão em
relação a Cuba, tanto que a Venezuela foi dei­
xada às moscas por Raúl Castro que só se im­
porta com seu mais novo melhor amigo, os Es­
tados Unidos, até que conquiste todos os seus
objetivos. E tanto isso é verdade que os Castro
não emitiram nenhuma nota e muito menos
demonstraram pessoalmente algum apoio à
Dilma, presidente do país a quem eles devem
tanto, como fizeram inúmeras vezes com Chá­
vez. Apenas o Ministério de Relações Exterio­
res emitiu uma nota de repúdio meio protoco­
lar, mais em apoio a Lula do que propriamente
a Dilma, mas isto foi em 6 de março6 e nunca
mais disseram nada.

Outro dado interessante a registrar é que


durante mais de cinqüenta anos os Estados
Unidos foram odiados por Cuba em razão do
embargo, no entanto, desde que começaram
as negociações pelo degelo no rompimento das
6 http://forodesaopaulo.org/declaracion-del-rninisterio-de­
relaciones-exteriores-de-cuba-en-apoyo-a-lula

1 94
9 - Análise de conjuntura

relações entre os dois países, toda aquela gente


que desde o primeiro Encontro do Foro de São
Paulo não fez outra coisa senão demonizar
o "império", não viu nada de estranho nesse
súbito interesse e imediatamente passou a
apoiar como se fosse a coisa mais natural
do mundo. Para pessoas normais isso soa
incoerente, esquizofrênico, mas em se tratando
de psicopatas comunistas isto é tão correto
e banal quanto assassinar inocentes e pôr a
culpa na vítima.

Esse foi, a meu ver, um dos maiores triunfos


de Fidel Castro desde que fundou o FSP, pois
conseguiu trazer de volta para a ilha uma legião
de falsos capitalistas ávidos por dinheiro que
nunca se questionaram se seus investimentos
iriam melhorar a vida do povo que parece ter
vindo do túnel do tempo, com apenas um canal
de televisão estatal, um jornal do PCC, que so­
fre restrições à literatura, que não sabe o que se
passa no mundo a não ser o que o Partido diz ou
permite saber, que passa fome, que não é dono
nem da própria vida.

Me questiono sobre que espécie de gente é

195
O FORO DE SÃO PAULO

essa que, como nos tempos de "abertura" da


China comunista, brilhava os olhos, escanca­
rava um sorriso medonho e vendia a alma ao
diabo para fazer negócios com aquela ditadura
tão infame e cruel quanto a cubana. A vida do
cubano comum, o "a pé", não vai mudar nada
com o apoio desses abutres dinheiristas que
gozam de total liberdade em seus países e es­
tão pouco se importando com a vida daquelas
pessoas. Eles querem tirar proveito e de vez em
quando visitar o paraíso caribenho com suas
delícias naturais sem se importar que o cubano
que o serve no hotel de luxo sequer pode levar
para casa o sobejo de seu prato, mesmo saben­
do que sua família passa fome, ou vai continuar
vendendo seu corpo por um prato de comida.

É preciso ficar claro que comunista não tem


amigos, mesmo dentre seus camaradas: comu­
nista tem objetivos e planos que podem levar dé­
cadas para se concretizarem, mas eles esperam
e investem, pacientes e disciplinadamente. Os
resultados estão aí para quem quiser ver. Resta
agora saber se o PT do Brasil vai conseguir se li­
vrar de todos esses percalços que surgiram com
as denúncias de corrupção, para se manter no

1 96
9 - Análise de conjuntura

poder (com ou sem Dilma), ou se será finalmente


derrotado. E se isso acontecer, o castelo de cartas
dos membros do Foro de São Paulo vai ruir, justi­
ficando o desespero e o apoio a Lula de todos eles.

197
CAPÍ TULO 1 0
CONCLUSÃO

De tudo que se pôde observar aqui, entre


análises e documentos - muitos deles de fonte
primária ou de pessoas insuspeitíssimas por
serem parte integrante e membros fundadores
do Foro de São Paulo -, espero ter demonstrado
o que é e o que pretende essa organização crimi­
nosa que há 26 anos domina a América Latina.

Em janeiro escrevi o artigo abaixo que refle­


te o momento político que estamos vivendo. O
Foro de São Paulo está cambaleando, com suas
estruturas fortemente abaladas não só pelas
perdas evidentes ocorridas pelos revezes que
lhe ofereceram a Venezuela, com a "limpeza"
na Assembléia Nacional; a Argentina, com o
fim da era Kirchner e ascensão de Mauricio Ma­
cri que, malgrado posições ortodoxas corno o
aumento excessivo das tarifas, está rompendo
com tudo o que respeita aos acordos e concha­
vos feitos por Cristina Kirchner com seus ca­
maradas do Foro de São Paulo, mas sobretudo
pela situação do Brasil, sede e berço do Foro.

1 98
1 O - Conclusão

A Bolívia se enfraqueceu quando os bolivia­


nos deram um rotundo não às pretensões do
cocalero presidente Evo Morales em um refe­
rendo que o permitisse se perpetuar no poder
indefinidamente; e agora o Brasil, com a atua­
ção correta e firme do juiz Sergio Moro e da Polí­
cia Federal na operação Lava Jato, onde figuras
expressivas do PT que antes arrogantemente se
achavam intocáveis e continuavam cometendo
seus crimes, estão sendo levados às barras dos
tribunais, julgados e condenados, além do jul­
gamento de impeachment da presidente frau­
dulentamente eleita Dilma Roussef que, se for
aprovado na Câmara dos Deputados, irá para o
Senado para ser julgado. Isso ainda não é tudo
mas é muito para o prepotente PT.

Se vitorioso o impeachment na Câmara e no


Senado teremos vencido uma batalha mas a
guerra ainda continua, pois não basta tirar o
PT do topo da cadeia de poder: é preciso tirá-lo
definitivamente da vida pública, pois só assim
enfraqueceremos o Foro de São Paulo e suas su­
cursais "irmãs", ALBA, MERCOSUL, UNASUL e
CELAC e com muita luta extinguiremos o co­
munismo do nosso país.

199
O FORO DE SÃO PAULO

E agora, Foro de São Paulo?

"O ano de 20 1 5 fecha com alguns revezes


para o Foro de São Paulo, embora isso não sig­
nifique, como muitos imaginam, o começo do
fim da organização criminosa. Para acabar com
o Foro é preciso mais, muito mais, entretanto,
nada me deixa mais alegre ao vê-lo acumular
perdas significativas. Refiro-me às eleições pre­
sidenciais na Argentina, que destronou a di­
nastia Kirchner elegendo o conservador Mau­
rício Macri, e na Venezuela, onde a coalizão que
conforma a Mesa de Unidade Nacional (MUD)
mudou todo o cenário na Assembléia Nacional
(AN) obtendo 1 1 3 cadeiras do total de 1 6 7, des­
tituindo o poderoso presidente daquela casa
parlamentar, o chefe do "Cartel dos Sóis" Dios­
dado Cabello.

Macri tomou posse no dia 1 O de dezembro e


já nos primeiros dias de seu governo tem de­
monstrado querer "limpar" o país das lamban­
ças criminosas deixadas por sua antecessora.
Criou uma secretaria de Estado para dar segui­
mento à causa AMIA (Associação Mutual Israe­
lita Argentina) e à morte do procurador Alber-

200
1O - Conclusão

to Nisman. Também derrubou, através do pro­


motor Raúl Pleé, a apelação feita por Cristina
Kirchner sobre o tratado internacional com o
Irã, decretando sua inconstitucionalidade, e a
reabertura da denúncia por encobrimento fei­
ta pelo promotor Alberto Nisman, contra a ex­
-presidente e o ex-chanceler Héctor Timerman
em favor dos cinco iranianos acusados de ser
os autores ideológicos do atentado terrorista
de 1 9 94 contra a AMIA.

Na Venezuela Maduro "aceitou" a derrota


contra seu partido (PSUV), depois que acor­
dou-se revelar os resultados reais das urnas.
Nessas eleições a MUD agiu de forma totalmen­
te distinta das outras vezes, pois entendeu que
denunciar as sucessivas e grosseiras fraudes
não surtia o menor efeito, uma vez que todas
as instâncias jurídicas do país foram seqües­
tradas pelo governo ilegítimo, além de serem
referendadas por organismos internacionais
como a OEA e o Centro Carter. Então, decidi­
ram impedir que as fraudes fossem cometidas:
primeiro, criaram o plano "Canta Claro" de in­
teligência eleitoral, onde 7 .000 eleitores foram
treinados para atuar em 4. 500 centros de vo-

20 1
O FORO DE SÃO PAULO

tação como garantidores da transparência do


processo eleitoral, e depois, instalaram 1 .600
bloqueadores de celular nos locais de votação,
impedindo que a militância pudesse realizar a
fraude se comunicando com os comandos ex­
ternos.

Um dia depois de ter "aceitado" a derrota em


cadeia nacional, Maduro volta à carga e tira da
gaveta um projeto antigo de Chávez, que foi
aprovado pela AN mas que até então não havia
sido posto em prática, por eles serem maioria
absoluta no Parlamento: é o chamado "Parla­
mento Comunal". Esse "parlamento" é consti­
tuído por 600 líderes das "comunas", algo do
tipo orçamento participativo, e cuja função é
resolver os problemas das comunas sem a in­
terferência do parlamento. Entretanto, seus
poderes restrigem-se apenas às comunas, não
podendo ser tomado como leis ou decisões com
força de lei.

Maduro armou o golpe para que os novos par­


lamentares não possam legislar, e está fazendo
uso das "Leis Habilitantes" que lhe permitem
governar por decreto. E se aproveitando disso,

202
1 0 - Conclusão

o Comitê de Postulações Judiciais da Assem­


bléia Nacional publicou a vacância de 1 3 car­
gos de magistrados do Tribunal Supremo de
Justiça, que pretendiam mudar com maioria
simples no dia 2 3 de dezembro, antes que se
renove o novo Parlamento. Mas não deu certo,
pois um forte grupo de ex-magistrados e juris­
tas impugnou a candidatura de 3 8 2 aspirantes
por irregularidades no procedimento de postu­
lações judiciais e ausência de informação sobre
as aptidões dos aspirantes ao cargo de magis­
trado.

Esses magistrados destacam fraude constitu­


cional, pois eles consideram que a verdadeira
intenção do Parlamento "não é cumprir o man­
dato da Carta Magna para designar magistrados,
senão cobrir esses cargos alguns não vencidos
-

- com cidadãos que têm vínculos partidaristas


com o Poder Executivo". Esse é um processo que
se estenderá até depois de 1 5 de janeiro e tem
que ser aprovado pela nova Assembléia. Ante­
cipar a eleição, seria mais um golpe para colo­
car magistrados que julgariam não de acordo
com a Lei, mas com a orientação do governo.
Além disso, esses postulantes têm que compro-

203
O FORO DE SÃO PAULO

var ter exercido a advocacia durante um míni­


mo de 1 5 anos, que têm um título universitário
com pós-graduação em matéria jurídica, ou se
foram professores universitários titulares no
mínimo por 1 5 anos. Além disso, como exige
a Constituição, têm que comprovar que foram
juízes superiores por no mínimo 1 5 anos em
exercício.

A ex-magistrada Blanca Rosa Mármol assegu­


rou que o oficialismo só atropela a Constituição
ao pretender designar 1 3 magistrados de for­
ma violenta, e ao instalar um "Parlamento Co­
munal" que busca usurpar funções que não es­
tão na Carta Magna. "Isso não está na Constitui­
ção e, portanto, tão-logo a nova Assembléia tome
posse, pode deixar esse "parlamento" sem efeito".

Como pôde-se ver, ainda há juízes na Vene­


zuela e o Foro de São Paulo perdeu dessa vez.
Como diz o ditado, "não há mal que sempre
dure nem bem que nunca acabe". Ainda não é
o fim, mas já é um bom motivo para se come­
morar 2 0 1 6".

Espero que esse livro ajude os leitores a com-

204
1 O - Conclusão

preender o que de fato é, faz, pretende, planeja


e executa o Foro de São Paulo para, uma vez em­
basado, saber como e com que armas lutar pelo
bem de nossos filhos e netos, pois esta luta ape­
nas começou e dependerá de cada um de nós,
dentro de suas possibilidades, dar o seu melhor
com disciplina e empenho, como fazem os co­
munistas, para mudar o cenário nacional de
nossa Pátria.

Que Deus nos dê força, coragem, sabedoria e


discernimento, nos defenda, proteja e abençoe
a todos!

Nota: O livro já estava pronto quando ocorreu


o julgamento do impeachment, entretanto, como
não havia sido publicado ainda, achei por bem
fazer esta última análise que acredito trará o fe­
chamento de tudo o que foi escrito nesta obra.

O golpe do PT e do Foro de São Paulo

Durante alguns meses que antecederam a vo­


tação final do processo de impeachment con­
tra a presidente Dilma Rousse:ff, o que mais se
ouviu, do PT e dos partidos coligados, foi que

205
O FORO DE SÃO PAULO

estava-se planejando um "golpe" contra a "de­


mocracia" e a "Constituição Cidadã". É preciso
repetir, porque há muitas pessoas que não sa­
bem que, em primeiro lugar, democracia não
faz parte do ideário comunista. É apenas uma
palavra a ser sacada quando necessita-se enga­
nar incautos e ignorantes, sobretudo para ga­
nhar votos em época de eleições. Em segundo
lugar, o PT não assinou a tal Constituição, por­
tanto, não tem o direito de pedir respeito por
algo que eles mesmos desrespeitaram desde
sua criação e mais presentemente conforme se
verá mais adiante.

O PT sabia que essa deposição era fato con­


sumado e pouco importava a "pessoa" Dilma.
O que estava em jogo era, depois de ficar 1 3
anos no poder, vê-lo escorrer por entre os de­
dos. Nunca admitiram que as mega-manifesta­
ções que levaram às ruas mais de 1 milhão de
pessoas só em São Paulo pedindo a cabeça da
presidente, estavam fartas, não só dela mas do
próprio partido.

O Foro de São Paulo (FSP) por sua vez, através


dos partidos e organizações-membros, enche-

206
10 - Conclusão

ram as páginas do site com cartas e notas de


repúdio a este "golpe" orquestrado pela "direita
raivosa"1, mas poucos se referiam a esta nefas­
ta criatura, pois a preocupação era tão-somen­
te a perda do poder. O PT foi o criador do FSP
e foi através dele que muitos outros países­
-membros chegaram também ao poder, muitos
permanecendo até hoje depois de criar uma
Assembléia Nacional Constituinte e implantar
um regime castro-comunista, como Venezuela,
Nicarágua, Bolívia e Equador, por exemplo.

Chegado o dia da votação e diante da iminên­


cia da perda do poder, o PT resolveu desrespei­
tar a Constituição - ao mesmo tempo em que
denunciava a oposição por este "desrespeito"
- e "fatiar" o Art. XV, parágrafo único que diz
textualmente:

"Nos casos previstos nos incisos I e II, fun­


cionará como Presidente o do Supremo Tri­
bunal Federal, limitando-se a condenação,
que somente será proferida por dois terços
dos votos do Senado Federal, à perda do
cargo, com inabilitação, por oito anos, para
1 Para ver todas as mensagens, a maioria em espanhol, acesse
o link: http://forodesaopaulo.org/comunicados-ante-el-golpe­
-de-estado-contra-la-presidenta-dilma-roussef-y-pt-de-brasil/

207
O FORO DE SÃO PAULO

o exercício de função pública, sem prejuízo


das demais sanções judiciais cabíveis".

Ora, jamais se viu na história do Direito Cons­


titucional algo parecido, uma vez que para toda
condenação há uma punição que, neste caso,
foi totalmente abolida e a ré premiada, com a
aquiescência do presidente do STF, o ministro
Ricardo Lewandowski, que seria supostamente
o guardião máximo da Constituição!

Mais incompreensível ainda quando na "pri­


meira parte" do artigo, que trata do impedi­
mento, 6 1 senadores foram favoráveis, enquan­
to no "fatiamento" 42 pediram a inabilitação,
36 pediram a permanência e 3 se abstiveram
mas o presidente do STF deu como vencedor a
permanência dos direitos políticos. Quer dizer,
para a "primeira parte" do artigo era condição
indispensável que dois terços dos votos deci­
dissem o julgamento mas na "segunda" isso
não valeu?

Além disso, vários senadores alegaram - e


Lewandowski sabia disso - que para alterar
qualquer artigo da Constituição seria necessá-
208
1O - Conclusão

ria uma "emenda", que seria primeiro proposta


e depois votada numa sessão própria. Nada dis­
so ocorreu, uma vez que a matéria em votação
naquele momento não era nem a alteração da
Constituição e muito menos a proposta de uma
emenda mas um processo de cassação em cur­
so, que chegava à sua última fase.

E a pergunta que se impõe agora é: como fica


a Constituição com esse artigo que foi crimino­
samente violado, com o único intuito de pro­
teger e beneficiar uma pessoa? Vão criar uma
Comissão para legitimar um ato ilegítimo re­
ferendado pelo presidente do STF ou ele serviu
apenas para essa situação e essa pessoa especí­
fica e nada mais vai ser feito?

O que se viu naquele fatídico 3 1 de agosto de


20 1 6 foi uma vitória de Pirro, um circo maca­
bro e infame quando, dessa vez sim, a Consti­
tuição foi rasgada, pisoteada, manipulada e
escarnecida diante dos olhos de toda a Nação,
num golpe infame urdido pelo PT e o Foro de
São Paulo com as bênçãos do órgão máximo das
Leis do país.

209
O FORO DE SÃO PAULO

Com isto fica claro o que há tempo denuncio:


a saída de Dilma da Presidência não vai mudar
os rumos do país, uma vez que seu vice, agora
Presidente de direito e de fato, Michel Temer, é
parte do problema há 6 anos, e todos os órgãos
foram aparelhados e atuam de acordo com a
ideologia comunista. A última pá de cal foi
dada pelo STF ao permitir essa inconstitucio­
nalidade sem rubor ou peso na consciência.

* * *

2 10
BIBLIOGRAFIA

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latinoamericana - Una mirada desde el Foro de
Sao Paulo, Regalado, Roberto. Editora Ocean
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latino-americana e caribenha, Pomar, Valter e
Regalado, Roberto. Editora Fundação Perseu
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• A estrela najanela - Ensaios sobre o PT e a


situação internacional, Pomar, Valter. Editora
Fundação Perseu Abramo, 2 0 1 4, 1ª edição,
São Paulo - Brasil.

• O Eixo do mal latino-americano e a Nova


Ordem Mundial, De Paola, Heitor. Editora
Observatório Latino, 20 1 5 , 2ª edição, São
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211
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de Peralta Morell, Luís Grave. l st. Books,
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http:/ /www.nodo5O.org/americalibre

www.midiasemmascara.org

www.heitordepaola.com

http:/ /notalatina.blogspot.com

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O FORO DE SÃO PAULO

www.fuerzasolidaria.org

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www.tse.jus.br

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www.taringa.net

http:/ /www.oas.org

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FICHA CATALOGRÁFICA

S 1 64f
Salgueiro, Graça.
O Foro de São Paulo: a mais perigosa organização
revolucionária das américas / Graça Salgueiro. - São
Paulo (SP): Observatório Latino, 2 0 1 6 .
2 1 6 p. : 1 8 x 1 1 cm

Inclui bibliografia.
ISBN 978-0-692-80388-2

1. América Latina - Política e governo. 2 . Foro de


São Paulo (Organização). 3. Socialismo - América
Latina. I. Título.

CDD-320.98

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