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APOSTILA
PATOLOGIA GERAL
Medicina Veterinária
Uniara
Organizadores:
Profª Drª Ana Carolina da Silva
Luiz Guilherme Dercore Benevenuto
Essa apostila foi confeccionada a partir da 5ª edição do livro “Bases da Patologia em Veterinária” e do material apresentado nos slides. A
reprodução e produção parcial ou total desse material não pode ser realizada sem a autorizaçõ prévia dos organizadores.
MÓDULO 4
NOME:
Nº MATRÍCULA:
TURMA:
2022
MÓDULO 4 93
Muitas células neoplásicas não mais respondem aos ✓ Fatores ambientais – atmosfera, alimentação, hábito
sinais extrínsecos ou intrínsecos dirigidos a elas na fase G0 de fumar, poluição.
não expressando mais um p53 funcional, levando a uma ✓ A sociedade moderna encontra-se exposta a uma
proliferação descontrolada. grande variedade de produtos tóxicos com grande
Além disso, uma vez que as células tumorais não potencial carcinogênico.
sofrem parada do ciclo celular após a lesão do DNA, elas
CARCINOGÊNESE
progressivamente acumulam lesões potencialmente
mutagênicas do DNA. Processo de conversão de uma célula normal a uma
O resultado final é que as células tumorais não são mais célula maligna.
responsivas às necessidades do organismo como um todo e Os carcinógenos são os agentes que induzem esse
desenvolvem a capacidade de dirigir a sua própria processo.
replicação. Em geral, ocorre lentamente, podendo levar vários
anos para que uma célula cancerosa se prolifere e dê
MORTE CELULAR origem a um tumor visível. Esse processo passa por vários
Apoptose é uma forma de “morte celular programada” estágios antes de chegar no tumor.
que serve tanto como um processo fisiológico normal
CARCINOGÊNESE QUÍMICA
quanto uma resposta aos estímulos nocivos.
A lesão do DNA também pode induzir apoptose; neste O principal mecanismo de ação dos carcinógenos
caso, a apoptose é deflagrada pelo gene p53. químicos consiste na formação de compostos covalentes
com o DNA que aumentam a probabilidade de ocorrerem
APOPTOSE erros na hora de inserção de bases durante a replicação.
Todas as células normais no corpo podem sofrer Resumindo: os carcinógenos químicos se ligam ao
apoptose em resposta a sinais fisiológicos apropriados. DNA, causando mutações e inibindo a atividade das
Contudo, muitas células cancerosas adquirem enzimas de reparo do DNA.
resistência à apoptose. Esses eventos predispões a possibilidade da perda da
Essa resistência aumenta a taxa de crescimento global homeostasia celular.
do tumor. Carcinógeno químico + DNA = adulto de DNA
Muitas células cancerosas adquirem resistência à
apoptose.
Muitos tipos tumorais contornam a apoptose através
da inativação funcional do gene p53, removendo, assim,
uma molécula pró-apoptótica essencial.
As células tumorais podem desenvolver mecanismos
para a inativação das vias de sinalização do fator de morte,
escapando, assim, da apoptose em resposta a sinais
homeostáticos do ambiente celular.
HÁBITO DE FUMAR
Associado a 90% dos casos do câncer de pulmão.
O cigarro contém mais de 4000 substâncias químicas,
dentre elas: alcatrão, benzeno e arsênio.
O tabagismo e o hábito de fumar expõe o indivíduo a
nitrosaminas.
Nicotina – carcinógeno químico.
Figura 4 - Diferenças RUV quanto ao efeito biológico. Fonte:
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAeiqAAJ/ultravioleta. ÁLCOOL
O metabolismo do álcool gera como produto final o
EFEITO DA RADIAÇÃO NAS CÉLULAS
acetaldeído, um composto carcinogênico e mutagênico.
✓ Inibição da proliferação celular
O acetaldeído pode acarretar em:
✓ Inativação enzimática
✓ Adultos de DNA – mutações
✓ Indução de mutações
✓ Aumenta a quantidade de ROS
✓ Morte celular
✓ Quebras ou perdas cromossômicas
✓ Mutações em oncogenes e genes supressores tumorais
✓ Amplificação gênica
(RAS e TP53)
✓ Rearranjo cromossômico
✓ Leva a cirrose – carcinoma hepatocelular.
USO TERAPÊUTICO DA RADIAÇÃO
POLUIÇÃO
Radioterapia
O processo de urbanização tem aumentado a
Uso terapêutico para o tratamento de neoplasias. A
exposição do homem aos gases produzidos pelos motores
radioterapia ideal deve concentrar na neoplasia a maior
dos veículos a combustão que contêm diversos poluentes
dose com o menor dano possível aos tecidos normais. A
genotóxicos como óxidos de nitrogênio, monóxido de
unidade gray (Gy) é utilizada para medir a dose de
carbono, óxidos de enxofre, hidrocarboneto e seus
radioterapia. Ela expressa a dose de radiação absorvida por
derivados.
qualquer material ou tecido biológico. As doses ideais para
Estes agentes aumentam o nível de células com danos
cada tumor podem ser fracionadas.
no DNA.
FATORES DE RISCO DE NATUREZA AMBIENTAL
ATIVIDADE OCUPACIONAL
INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO Agentes carcinogênicos no ambiente de trabalho.
A alimentação constitui de uma mistura complexa de Agrotóxicos, amianto, benzeno, xileno e tolueno.
diferentes agentes químicos. Profissionais expostos a estes agentes são
Algumas substâncias encontradas nos alimentos principalmente: agricultores, operários da indústria
podem induzir mutações no DNA. química e construção civil, trabalhadores de laboratório e
O consumo de alimentos ricos em lipídios é mineradores.
relacionado à indução de tumores de mama, cólon e
próstata. Alterações Genéticas no Câncer
O hábito de consumir alimentos como gorduras, carne
O desenvolvimento de processos neoplásicos é
vermelha, produtos com conservantes pode favorecer a
decorrente de mutações em oncogenes e genes supressores
formação de microambiente adequada para o crescimento
de tumor.
da célula tumoral crescer, multiplicar e migrar.
A descoberta de alterações genéticas associadas ao
câncer tem possibilitado a identificação de alvos
MÓDULO 4 99
moleculares seletivos. Desta forma, o tratamento pode ser ALTERAÇÕES GENÉTICAS EM PEQUENA
direcionado contra a alteração molecular específica. ESCALA
CONCEITOS E DEFINIÇÕES
• O processo de tumorigênese e metástase depende do
acúmulo de alterações em dezenas ou centenas de genes,
que podem ser ativados ou inativados por:
✓ Mecanismos genéticos – mutações gênicas,
quebras e perdas cromossômicas, amplificações
gênicas.
✓ Mecanismos epigenéticos – metilação do
DNA, acetilação de histonas e microRNAs).
Os dois principais grupos de genes envolvidos neste
processo são: oncogenes e genes supressores de tumor.
Figura 6 - Tipos de mutações pontuais. Silenciosa (A), de sentido trocado (B) ou
sem sentido (C). Todas envolvem a substituição de uma base. Adaptado de The
ALTERAÇÕES GENÉTICAS DE GRANDE ESCALA Cancer Genome. Nature. 2009; 458:719-724.
alteração em somente uma de suas cópias pode contribuir No câncer hereditário, a transmissão de uma mutação
para o desenvolvimento do fenótipo de malignidade. germinativa ocorre de uma geração a outra (transmissão
Os oncogenes codificam: vertical), por meio de um padrão de herança mendeliano
✓ Proteínas que atuam como fatores de crescimento bem definido, em geral do tipo autossômico dominante, ou
ou receptores de fatores de crescimento, seja, 50% de risco e transmissão para prole em cada
participam na transdução de sinal, atuam como gestação, independente de sexo.
fatores de transcrição e codificam proteínas
quinases. CÂNCER ESPORÁDICO
Alterações nesses oncogenes levam à sua ativação A grande maioria dos cânceres é de ocorrência
constitutiva mesmo na ausência de seus ligantes. esporádica, ou seja, sem associação ao fator hereditário.
Mutações encontradas nas células tumorais são
MODO DE ATIVAÇÃO DOS ONCOGENES adquiridas ao longo da vida e podem ocorrer em qualquer
✓ Rearranjo cromossômico (translocações, inversões fase da vida, desde o momento da fecundação do oócito.
e deleções). No processo de divisão celular, o DNA das células
✓ Amplificações normais é constantemente danificado por carcinógenos de
✓ Mutações pontuais origens intrínsecas (ex., oxidação do metabolismo celular).
✓ Inserção de DNA viral Os carcinógenos extrínsecos aumentam as taxas de
Exemplos: mutação (ex., substâncias presentes na fumaça do cigarro,
• Mutações nas proteínas da família Ras (N, K, H- álcool ou formas de radiação).
Ras) que permanecem ligados ao GTP resultando em uma
sinalização ininterrupta da membrana ao núcleo e levando O Metabolismo da Célula
a proliferação celular descontrolada e à formação do
fenótipo neoplásico.
Tumoral
• Amplificação gênica de EGFR resultando em INTRODUÇÃO
aumento de expressão e ativação constitutiva da atividade
O QUE É METABOLISMO CELULAR?
de tirosina quinase.
Metabolismo celular – conjunto de reações químicas
Gene supressor de tumor – genes que codificam que ocorrem na célula, responsável pela síntese e
proteínas que estão envolvidas no controle do ciclo celular, degradação de nutrientes, permitindo a sobrevivência e
reparo de danos do DNA e indução da apoptose. Atuam no proliferação celular.
processo de tumorigênese de maneira recessiva, ou seja,
O metabolismo pode ser dividido em duas categorias:
quando a perda de ambos os alelos.
catabolismo e anabolismo. A principal fonte de energia
MODO DE INATIVAÇÃO DE GENE SUPRESSOR para que essas reações ocorram, é o ATP.
DE TUMOR
Processos catabólicos – quebram moléculas maiores
✓ Mutações pontuais. (polissacarídeos, lipídios, ácidos nucleicos e proteínas) em
✓ Deleção. moléculas menores (monossacarídeos, ácidos graxos,
✓ Metilação. nucleotídeos e aminoácidos), liberando energia.
✓ Inserção viral.
Exemplos: Processos anabólicos – utilização de energia para
construção de componentes celulares como proteínas e
• TP53 – codifica a proteína p53, envolvido no processo
ácidos nucleicos.
do controle do ciclo celular, na apoptose e na manutenção
da estabilidade genética. Mutações neste gene estão A célula tumoral apresenta diferenças metabólicas em
descritas em mais da metade dos diversos tipos de câncer. comparação com as células não transformadas.
• Rb – gene que codifica proteínas reguladoras do ciclo
celular.
CÂNCER HEREDITÁRIO
Uma pequena porcentagem dos tumores (5-10%) está
envolvida com o fator hereditário, ou seja, ocorre a partir
de alterações germinativas e que estão presentes em todas
as células do indivíduo, conferindo ao seu portador uma
maior predisposição em desenvolver os diferentes tipos de
câncer.
MÓDULO 4 101
Figura 8 – Metabolismo na célula eucariótica: glicólise, ciclo dos ácidos E quais seriam as vantagens de uma via que produz
tricarboxilílicos e cadeia transportadora de elétrons/fosforilação oxidativa. Fonte:
Adaptado de Levy, 2018. menos ATP frente a um metabolismo aumentado com alta
taxa de proliferação, demandante de energia? Dentre as
✓ No entanto, em baixas tensões de O2, o piruvato é vantagens, estão:
convertido em lactato ou etanol e dióxido de carbonoo,
com a produção de apenas duas moléculas de ATP. RÁPIDA GERAÇÃO DE ATP
• Além de grandes quantidades de energia, células
altamente proliferativas requerem formas rápidas de
produção de energia. Nesse sentido, a via glicolítica
MÓDULO 4 102
produz ATP mais rápido que a fosforilação oxidativa, poros presentes nesta membrana permitindo a saída de
sendo mais vantajosa desde que a disponibilidade de íons de hidrogênio, provenientes da cadeia transportadora
glicose não seja um fator limitante. de elétrons.
• Além disso, as células tumorais apresentam Nas células tumorais, o baixo fluxo de elétrons resulta
superexpressão de proteínas transportadoras de glicose em um maior potencial de membrana mitocondrial que
para maximizar a captação dessa molécula, favorecendo a pode ao mesmo tempo dificultar a saída de fatores pró-
rápida produção de ATP. apoptóticos dessa organela.
A inibição da fosforilação oxidativa compromete a
GERAÇÃO DE BIOMASSA PARA O ativação de proteínas Bcl-2 pró apoptóticas (Bax e
CRESCIMENTO CELULAR Bak), que modulam a permeabilidade da membrana
• O metabolismo de glicose resulta na geração de ATP e mitocondrial, protegendo a célula tumoral da indução da
biomassa, pois a glicólise produz intermediários morte celular.
moleculares que são necessários para a produção de
macromoléculas importantes para a duplicação do material ADAPTAÇÃO AO MICROAMBIENTE TUMORAL:
genético. HIPÓXIA E ACIDOSE
• A via glicolítica resulta em intermediários metabólicos O metabolismo glicolítico também pode ser entendido
que são importante fonte de precursores para síntese de como um processo de adaptação tumoral ao surgimento de
aminoácidos, lipídios e ácidos nucleicos. regiões de hipóxicas.
• Se toda glicose fosse metabolizada via fosforilação Os principais produtos da glicólise aeróbica são o
oxidativa na mitocôndria, não haveria produção de lactato e íons H+.
macromoléculas necessárias para a construção de novas Esses produtos promovem a acidificação do meio
células. intracelular, o que pode ser letal a célula.
• Portanto, apesar de ser menos eficiente Logo, as células tumorais passam a superexpressar
energeticamente, esse processo permite a formação de bombas que transportam estes subprodutos para fora da
biomassa necessária para a proliferação tumoral. célula neoplásica.
Como CONSEQUÊNCIA, o pH do meio
OTIMIZAÇÃO DO FITNESS CELULAR extracelular se torna acídico (pH: 6,5 – 6,9).
A glicólise é uma via que requer menos energia A acidificação do microambiente tumoral favorece o
quando comparada a fosforilação oxidativa. processo de invasão e metástase, já que estudos mostram
Quando há abundância de nutrientes, o processo de que o baixo pH aumenta a expressão do fator
glicólise, que requer investimento energético menor, angiogênico VEGF (vascular endhotelial growth factor),
parece ser mais vantajoso para célula. É uma opção favorecendo a formação de novos vasos, ou seja, a
metabólica mais barata. formação de vias que podem permitir a saída de células
Desse modo, a célula tumoral pode redirecionar a tumorais do tumor primário, facilitando o processo de
energia sobrenadante a outros processos. metástase.
A acidose extracelular também induz o aumento
MINIMIZAR A PRODUÇÃO E ACÚMULO DE ROS da expressão de metaloproteinases, as quais auxiliam na
A indução de glicólise aeróbica protege as células degradação da matriz extracelular e da membrana basal,
tumorais das espécies reativas de oxigênio (ROS) abrindo espaço para que a célula tumoral possa migrar e
geradas pela fosforilação oxidativa, que é a principal fonte encontrar um vaso para metastizar.
de ROS celular. A acidose ocasionada pelo acúmulo de lactato pode
Desse modo, a indução da via de glicólise aeróbica resultar na inibição de células T citotóxicas, contribuindo
auxilia na prevenção de danos oxidativos e na para o escapa das células tumorais ao sistema imune.
detoxificação de drogas antineoplásicas ou até mesmo para
METABOLISMO DO MACROAMBIENTE
antagonizar seus efeitos.
TUMORAL
PROTEÇÃO CONTRA APOPTOSE • A formação de novos vasos sanguíneos é crucial para
A indução da glicólise aeróbicas pelas células a entrega de oxigênio e nutrientes para as células tumorais,
tumorais também pode proteger estas da morte celular permitindo o crescimento tumoral.
através da diminuição da sápida de fatores pró-apoptóticos • No entanto, esses vasos também permitem a
da mitocôndria. comunicação do microambiente tumoral com os órgãos do
Durante a fosforilação oxidativa, o potencial de corpo do paciente através do transporte de fatores
membrana mitocondrial é alterado e ocorre a abertura de
MÓDULO 4 103
CAQUEXIA
A caquexia é uma síndrome multifatorial
caracterizada pela perda progressiva de massa muscular
esquelética, que pode ou não estar associada a perda de
gordura corporal, e que não é revertida com a
suplementação nutricional convencional.
O crescimento tumoral contribui para a indução
de caquexia, pois citocinas liberadas pelas células
tumorais promovem vias de degradação de tecido Figura 11 - Modelo de evolução clonal durante a progressão do tumor.
muscular esquelético e adiposo. Dentre elas estão: IL-6, Adaptado de Oncologia Molecular 2 ed, 2015.
TNF-alfa, IL-1 e IFN-y.
CÉLULAS ESTROMAIS E IMUNES ASSOCIADAS
PERDA DE TECIDO ADIPOSO AO TUMOR
Pacientes com caquexia apresentam como resultado da O microambiente tumoral tem papel fundamental na
perda de tecido adiposo maiores níveis de ácidos graxos e progressão do câncer sendo constituído por células de
glicerol circulante, devido ao aumento de lipólise. múltiplas linhagens que interagem entre si.
Porém, esse microambiente não é composto apenas de
ATROFIA MUSCULAR células tumorais, mas também de células não malignas que
A perda de massa muscular em pacientes com caquexia compõe o estroma tumoral.
é resultado do desbalanço entre síntese e o catabolismo de
FIBROBLASTOS ASSOCIADOS AO CÂNCER
proteínas musculares. (CAF)
Além da quebra de proteínas, a diminuição das taxas Os fibroblastos são células alongadas predominantes
de síntese de proteínas musculares também pode ser no estroma e essenciais na elaboração da maior parte dos
observada em pacientes com perda de peso. componentes da matriz extracelular do tecido conjuntivo.
Dentre os componentes, estão: colágeno e
Introdução ao Microambiente proteoglicanas estruturais, bem como várias enximas
proteolíticas e fatores de crescimento.
Tumoral Desse modo, os fibroblastos são responsáveis pela
síntese, deposição e remodelamento da matriz
HETEROGENEIDADE TUMORAL extracelular.
Os fibroblastos associados ao câncer (CAF)
• Em 1976, Peter Nowell sugeriu que a instabilidade
facilitam o processo de transformação maligna. Os CAFs
genética e a aquisição sequencial de mutações constituem
apresentam diferenças como capacidade proliferativa e
a base da progressão tumoral caracterizada pela seleção de
secretória exacerbadas, quando comparados a fibroblastos
subpopulações derivadas de uma única célula de origem.
normais.
• Ao longo da progressão, surgem variantes celulares
Uma vez no sítio tumoral, essas células sofrem um
com novas alterações genéticas que favorecem a
processo de reprogramação induzido pelas células
proliferação, a sobrevivência, o crescimento e a invasão.
tumorais por meio de vários fatores como IL-6 e TGF-
• Pressões eletivas no microambiente tumoral permitem a
beta.
expansão de clones melhores adaptados ao microambiente.
Como resultado, os fibroblastos começam a secretar
• Múltiplas mutações se acumulam nas células tumorais,
uma série de fatores de crescimento e citocinas
gerando subclones com capacidades variadas.
normalmente produzidos em processos inflamatórios, que
• Conforme a neoplasia progride, a diversidade de clones
culmina no estabelecimento de um microambiente
de células tumorais deve aumentar.
propício para o crescimento tumoral.
✓ Os CAFs podem atuar como célula guia, degradando a de crescimento endotelial vascular) em situações de
matriz e estimulando a migração das células tumorais. Este hipóxia.
fato é importante na transição epitélio-mesênquima, sendo, ✓ Induzem a degradação de matriz extracelular.
portanto, responsáveis em parte para que o processo de ✓ Induzem a migração das células tumorais, aumentando
metástase ocorra. a capacidade invasiva dessas células.
✓ Os CAFs também podem alterar a sensibilidade das ✓ Através da secreção de VEGF, aumentam a
células tumorais aos quimioterápicos, contribuindo para a permeabilidade vascular do vaso, auxiliando no
resistência das células tumorais a protocolos terapêuticos. estabelecimento de focos metastáticos.
✓ Secretam o fator de crescimento de fibroblastos ✓ Se acumulam nas regiões de hipóxia e necrose,
(FGFs), que estimula a proliferação de células epiteliais. removendo debris celulares e estimulando o processo de
reparo.
ADIPÓCITOS ASSOCIADOS AO CÂNCER (CAA)
Uma vez no microambiente tumoral, os adipócitos CÉLULAS ENDOTELIAIS DA VASCULATURA
TUMORAL (TEC)
passam por uma reprogramação celular, isto é, um
processo de diferenciação, originando pré-adipócitos que As células endoteliais, revestem a parede interna dos
se assemelham a fibroblastos. Estes adipócitos são vasos e monitoram o transporte de nutrientes e ativam as
denominados CAA. moléculas entre o plasma e o tecido.
A formação de novos vasos sanguíneos a partir de
AÇÕES DO CAA vasos pré-existentes é chamado de angiogênese e, no
✓ Os CAAs secretam diversos fatores de crescimento, câncer, a mesma é necessária para progressão tumoral e
hormônios e citocinas inflamatórias que influenciam de metástase.
maneira direta ou indireta no crescimento dos tumores. O grau de angiogênese é determinado pelo balanço
✓ Os CAAs também contribuem para o crescimento do entre as moléculas reguladores negativas e positivas que
tumor através do fornecimento de ácidos graxos livres, que são liberadas tanto pelas células tumorais quanto pelas
oferece uma alternativa para a glicólise, suprindo a energia células não tumorais, ambos presentes no microambiente.
requerida para a rápida proliferação das células A liberação dessas moléculas leva ao recrutamento
neoplásicas. das células endoteliais e à formação de novos vasos.
É importante, porém salientar, que a vasculatura
MACRÓFAGOS ASSOCIADOS AO CÂNCER (TAM) tumoral apresenta importantes diferenças em relação a
Os macrófagos representam um dos principais tipos vasculatura normal como:
celulares do sistema imune que se infiltram nos tumores e • Revestimento reduzido por pericitos.
constituem o principal elo entre inflamação e câncer. • Maior permeabilidade vascular.
Uma densidade aumentada de macrófagos • Membrana basal descontínua ao longo da
intratumorais correlaciona-se com um pior prognóstico. extensão do vaso.
A grande maioria dos TAM’s é originado dos
monócitos circulantes que possuem origem na medula AÇÕES DA TEC
óssea ou em sítios extra-hematopoiéticos como o baço. ✓ Maior poder de migração celular.
Tanto as células tumorais quanto as células estromais ✓ Maior poder de proliferação celular.
secretam uma gama de fatores de crescimento e ✓ Mais responsivas ao VEGF e ao EGF.
quimiocinas que recrutam esses monócitos. ✓ Fornecem nutrição e oxigênio as células tumorais
Dependendo dos fatores ali secretados, os monócitos através da formação de novos vasos.
diferenciam-se em TAM M1 (antitumoral) ou TAM M2 ✓ Promovem metástase.
(pró-tumoral).
Os macrófagos M1 intercedem na supressão do tumor MATRIZ EXTRACELULAR (MEC)
através da produção de citocinas tipo I, enquanto os A MEC é constituída de proteínas (proteínas
macrófagos M2 promovem a progressão dos tumores pela estruturais fibrosas, ex: colágeno), proteoglicanos e
fabricação de citocinas tipo II. proteínas metricelulares.
O colágeno é a proteína mais abundante da MEC,
AÇÕES DO TAM M2 responsável por conferir as células suporte estrutural que
✓ Auxiliam no crescimento tumoral e na metástase. direciona a migração e quimiotaxia celular, sendo
✓ Estimulam o processo de angiogênese através da sintetizado pelos fibroblastos residentes no estroma.
produção de fatores pró-angiogênicos como VEGF (fator
MÓDULO 4 105
Os proteoglicanos preenchem grande parte do espaço Os pericitos são derivados de células mesenquimais,
intersticial, formando um gel hidratado no qual os outros têm a função de auxiliar as células endoteliais e produzem
componentes da matriz estão imersos. fatores responsáveis pela homeostase dos vasos.
As proteínas matricelulares são definidas como
proteínas da MEC não estruturais que modulam a
interação célula-matriz e outras funções celulares.
A membrana basal represente uma forma
especializada de matriz extracelular que, além de constituir
um ponto de ancoragem para as células epiteliais, atua
também como um ponto de comunicação com o endotélio
vascular.
A MEC NO DESENVOLVIMENTO TUMORAL Figura 12 – Estrutura dos vasos tumorais. Adaptado de Bin Jiang and Eric MB.
Intech 2011.
O microambiente tumoral é caracterizado pelo
remodelamento ativo de sua matriz. O processo de indução da angiogênese ocorre a partir
A MEC derivada de tumores é bioquimicamente de:
distinta da MEC encontrada em tecidos sadios. • Hipóxia – estimula as células locais a aumentar a
A MEC em neoplasia apresenta maior rigidez, como produção de fatores pró-angiogênicos.
resultado da maior deposição de colágeno I e fibronectina • Sinalização extracelular que estimula as células
quando comparados a matriz em estado sadio. endoteliais.
Essa alteração na composição da MEC de tumores • Recrutamento de células precursoras. – tumores sólidos
pode resultar em mudanças na topografia da matriz, o que liberam fatores quimiotáticos que recrutam células
pode facilitar a migração das células cancerosas. provenientes da medula óssea, que migram para o sítio
A infiltração, diferenciação e a ativação das células tumoral ou metastático e auxiliam na tumorigênese.
do sistema imune podem ser alteradas em função de Através da produção de fatores de crescimento e pela
mudanças nas propriedades físicas e químicas da matriz, diferenciação das células da vasculatura tumoral
devido ao comprometimento da migração dessas células. completando a construção de novos vasos pelo tumor.
A MEC anormal pode evitar que as células imunes
FATORES ANGIOGÊNICOS
sofram o processo de diferenciação e maturação,
essenciais para o reconhecimento e erradicação de células Durante a hemostasia os fatores pró e antiangiogênicos
transformadas. encontram-se em equilíbrio.
A presença e ativação constante de proteases que No momento em que esse equilíbrio é deslocado em
podem ser produzidas por fibroblastos, células do sistema favor dos fatores angiogênicos, dispara-se o gatilho
imune e pelas próprias células tumorais no microambiente, angiogênicos. Este momento é que o tumor começa a
somada a síntese e secreção exacerbadas de elementos da induzir a angiogênese.
matriz, leva à destruição progressiva da MEC sadia com
consequente substituição por uma MEC “doente” que
auxilia na progressão tumoral.
Angiogênese Tumoral
que há ativação da formação de vasos a partir de sinais fator de transcrição de fatores de crescimento, induzindo a
frequentemente estromais. angiogênese via transcrição de fatores pró-mitóticos e
Alguns dos fatores pró angiogênicos incluem: angiogênicos como os fatores de crescimento do endotélio
✓ VEGF – fator de crescimento endotelial vascular. vascular (VEGFs).
✓ PDGF – fator de crescimento derivado de plaquetas.
✓ FGFs – fatores de crescimento fibroblásticos. VEGF-A /VEGF-B
Estes fatores podem ser produzidos pelas células • Função: alargamento, ramificação, brotamento dos
tumorais e pelas células do mciroambiente tumoral. vasos e manutenção da homeostase celular.
A liberação desses fatores costuma ocorrer em situação • A densidade de vasos está diretamente relacionada com
de: as taxas de VEGF.
✓ Hipóxia. • Os receptores do fator de crescimento epidérmico
✓ Acidose. (EGFR/HER-2) encontram-se alterados em diversos
✓ Ativação de oncogenes. tumores e sua alta ativação induz a expressão de genes
✓ Inativação de supressores tumorais. como VEGF e bFGF, que induzem a angiogênese.
✓ Ativação da resposta imune inflamatória.
PDGF
Os 3 agentes principais indutores do processo de • Fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF).
angiogênese são: as células tumorais, as células do sistema • Função – envolvido na vasculogênese e arteriogênese.
imune e o estroma (representado pelos fibroblastos). Este fator tem como principal função angiogênica a
manutenção dos vasos recentes, atraindo células da
musculatura lisa dos vasos e pericitos.
FGF
• Fator de crescimento de fibroblasto.
• Função – possuem propriedade de angiogênese e
arteriogênese. A ativação dos receptores em células
endoteliais e outras do microambiente tumoral induzem a
proliferação e diferenciação, além de manter a indução de
angiogênese por induzir as células a produzir fatores
angiogênicos como VEGF.
liberação de fatores de crescimento vascular, como o As paredes dos vasos tumorais podem ser até 10x
VEGF, que normalmente fica sequestrado na matriz. A mais permeáveis que os vasos normais, permitindo
liberação desses fatores induz a formação de novos vasos. constantes vazamentos e disseminação de metástases.
A degradação da matriz ainda é necessária para abrir Essas características são devido a produção desregulada
espaço para a migração dos novos capilares sanguíneos. dos fatores de crescimento e a superprodução de fatores
Uma importante fonte de MMPs são células do sistema angiogênicos.
imune, que atuam como caráter pró-tumoral ao liberarem
MMPs, principalmente macrófagos e mastócitos.
Invasão Tumoral e Metástase
ESTROMA COMO INDUTOR DA ANGIOGÊNESE
O estroma é composto pela MEC e pelas células de
PROCESSO METASTÁTICO
suporte como fibroblastos e pericitos.
As células tumorais produzem fatores que estimulam O processo metastático envolve múltiplas etapas como a
a proliferação delas próprias e das células do estroma. O disseminação de células cancerosas para órgãos
estroma também produz fatores mitóticos para as células anatomicamente distantes e sua posterior adaptação ao
tumorais. novo microambiente tecidual.
As células tumorais atuam sobre o estroma a Para a metástase ser formada, a célula tumoral necessita
produzirem o fator de crescimento derivado de plaquetas passar por uma sucessão de eventos complexos, chamada
(PDGF) que estimula o fenômeno de proliferação das de cascata de invasão e metástase. Nessa cascata, as
células do estroma, conhecido como estromalização. células do tumor:
O PDGF também é responsável por atrair pericitos e
células musculares lisas, conhecidas como células murais, 1. Perdem a adesão celular.
que complementam os vasos inicialmente formados por 2. Invadem localmente a matriz extracelular.
células endoteliais, tornando esses vasos maduros. Esse 3. Migram ativamente pelo estroma.
fenômeno de maturação dos vasos é conhecido como 4. Invadem a membrana basal.
arteriogênese. 5. Intravasam o endotélio dos vasos sanguíneos.
Outro fator liberado é o fator de crescimento 6. Sobrevivem ao rigoroso ambiente da circulação.
transformante beta (TGF-beta), que atrai os CAFs, e os 7. Extravasam pelo endotélio vascular.
induz a produzir metaloproteínases que degradam a matriz 8. Sobrevivem no parênquima do órgão-alvo.
extracelular, permitindo a remodelagem da estrutura do 9. Reiniciam seus programas proliferativos.
tumor, abrindo espaço para seu crescimento. 10. Geram neoplasias clinicamente detectáveis.
O TGF-beta estimula os fibroblastos a se
INVASÃO
diferenciarem em miofibroblasto, que auxiliam na
angiogênese por liberarem o fator derivado de estroma 1 • A invasão local envolve a entrada das células tumorais
(SDF-1) e o ligante de receptor de quimiocina 12 que são no estroma associado ao tumor primário e em seguida ao
usados para atrair e recrutar células precursoras parênquima do tecido normal adjacente ao tumor.
endoteliais circulantes (PECs – células provenientes da • Par invadir o estroma, a célula tumoral deve alterar as
medula óssea). interações célula-célula (caderinas e integrinas) e violar a
O fator de crescimento BEGF também produzido por membrana ou lâmina basal.
estes miofibroblastos ajuda a induzir as PECs a se • A perda funcional de E-caderina está associada ao
diferenciarem em células endoteliais para formarem a nova desenvolvimento de diversas neoplasias. Nesse momento,
vasculatura tumoral. as células passam a expressão N-caderina, que está
relacionada em diversas neoplasias com o aumento da
CARACTERÍSTICAS DOS VASOS TUMORAIS motilidade e invasão.
Os capilares de tumores sólidos ou adjacentes
apresentam estrutura diferenciada, não organizada e
com diâmetro variando em até três vezes maior que os
capilares comuns.
Os vasos tumorais são tortuosos e colapsados, que
circulam de volta para o mesmo vaso e ainda terminam em
bolsas sem saída.
PAPILOMA
Papiloma é uma neoplasia benigna de origem epitelial. Histologicamente há proliferação acentuada do epitélio formando
projeções acima da superfície da mucosa que são sustentadas por tecido conjuntivo. A superfície do epitélio geralmente é
coberta por camada de hiperqueratose. Algumas células das camadas superiores do epitélio podem apresentar coilocitose
(célula com citoplasma claro e núcleo picnótico sugestivo de infecção viral).
O carcinoma espoinocelular também denominado como carcinoma das células escamosas é um dos tumores malignos de pele
mais comuns em animais domésticos e ocorrem mais em áreas despigmentadas e expostas ao sol. Na microscopia observa-se
uma massa neoplásica caracterizada por formação de ninhos de células escamosas, com formação de pérolas de queratina no
centro de vários, a célula caracteriza-se por núcleo arredondado, basofílico, nucléolo central e proeminente, citoplasma
anfofílico e escasso. Estroma discreto e infiltrado inflamatório linfoplasmocitário também podem ser observados.
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MELANOMA - PELE
O melanoma é um tumor altamente maligno que se origina de melanócitos na camada basal da epiderme e infiltra a derme.
Histologicamente, pode haver uma área pigmentada (melanótica), onde as células neoplásicas produzem abundante melanina,
e outra onde a melanina é escassa (área amelanótica). Ainda se observa figuras de mitose e epiderme hiperplásica. Pode
haver casos em que não há produção de melanina em nenhuma parte do tumor (melanomas amelanóticos). Notar que a
produção ou não de melanina não está relacionada ao prognóstico do melanoma.
HEMANGIOMA
Hemangioma é uma neoplasia benigna caracterizada pela proliferação de vasos sangüíneos. Alguns autores consideram como
anomalia de desenvolvimento ou hamartoma. Microscopicamente caracteriza-se pela presença de numerosos vasos dilatados,
com parede delgada. Nos hemangiomas cavernosos, os vasos são mais calibrosos, mas a parede é delgada.
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O T.V.T., é uma neoplasia geralmente maligna e transmissível, que acomete principalmente os genitais externos de cães
machos e fêmeas, onde nestas pode também afetar os órgãos genitais internos. Microscopicamente, observa-se tecido
necrótico com núcleo picnótico, cariorrexia e cariolise. Células arredondadas infiltrativas, com destruição de tecidos
tambpem são observadas. Pode-se encontrar um processo de neovascularização com crescimento difuso infiltrante. O
diagnóstico diferencial deve incluir linfomas cutâneos e carcinoma espinocelular.
LIPOMA
O lipoma é um tumor benigno de tecido adiposo, encontrado com freqüência nos tecidos subcutâneos. As principais
características histológicas são a presença de células adiposas maduras, número variável de fibras colágenas que sustentam
os vasos sangüíneos ocasionais.
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ADENOCARCINOMA MAMÁRIO
As principais características da neoplasia mamária maligna são: crescimento infiltrativo e/ou destrutivo para os tecidos
adjacentes; invasão dos vasos sanguíneos e linfáticos; marcação imunoistoquímica do fator de Von Willebrand;
descontinuidade ou ausência das membranas basais; focos de necrose; elevados índices de figuras mitóticas; grande
proporção de aneuploidia do DNA; presença de anaplasia e pleomorfismo celular e nuclear.
As características histopatológicas da metástase do tumor de mama no pulmão são as mesmas do tumor primário na mama,
porém instalada em um sítio secundário que é o pulmão e que tem o seu tecido invadido por células com características das
células de origem, a glândula mamária.
MÓDULO 4 114
QUESTIONÁRIO