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MÓDULO 4 92

APOSTILA
PATOLOGIA GERAL
Medicina Veterinária
Uniara
Organizadores:
Profª Drª Ana Carolina da Silva
Luiz Guilherme Dercore Benevenuto

Essa apostila foi confeccionada a partir da 5ª edição do livro “Bases da Patologia em Veterinária” e do material apresentado nos slides. A
reprodução e produção parcial ou total desse material não pode ser realizada sem a autorizaçõ prévia dos organizadores.

MÓDULO 4

NOME:

Nº MATRÍCULA:

TURMA:

2022
MÓDULO 4 93

2 – Sinal de proliferação contínuo: superexpressão de


Introdução ao Câncer receptores a fatores de crescimento ou receptores de
INTRODUÇÃO crescimento mutados de modo a permanecerem ativados
de maneira constante. O sinal também é sustentado pela
 Neoplasia: “crescimento novo”. O termo neoplasia
capacidade da célula tumoral em auto secretar fatores de
refere-se ao crescimento anormal e não coordenado das crescimento, mantendo de modo contínuo o estímulo para
células em um tecido. Esse crescimento independe de que a proliferação ocorra.
estímulos como fatores de crescimento ou receptores 3 – Evasão de supressores tumorais: bloqueio dos sinais
celulares a estes mediadores, tornando seu crescimento e de genes supressores de tumor, que são responsáveis pela
proliferação independentes. Neste grupo, pode ocorrer o codificação de proteínas que regulam o ciclo celular e os
desenvolvimento de neoplasias benignas e malignas sinais de supressão de crescimento.
4 – Resistência a morte celular: bloqueio do mecanismo
(também conhecidas como câncer), cujas características e
de apoptose, o que contribui para que a célula neoplásica
diferenças serão discutidas ao decorrer desse módulo. não seja eliminada e continue se proliferando, mesmo
diante de mutações em seu material genético.
O termo neoplasia abriga um conjunto de distúrbios 5 – Desregulação energética celular: redirecionamento
proliferativos que apesar de apresentarem características do seu metabolismo energético de fosforilação oxidativa
em comum, são diferentes em: para o metabolismo de glicose, favorecendo a geração de
• Origem genética. biomassa, menor quantidade de radicais livres, menor
• Histopatologia. gasto energético para o processo e produção constante de
energia para sustentação da alta atividade metabólica.
• Progressão.
6 – Evasão da resposta imune: fuga dos mecanismos de
• Grau de agressividade. vigilância e resistência aos mecanismos efetores do
• Prognóstico. sistema imune.
• Tratamento. 7 – Indução de angiogênese: estímulo para garantir aporte
• Resposta terapêutica. de nutrientes sanguíneos que sustente o acelerado
crescimento do tecido neoplásico, exigente de grande
quantidade de nutrientes e oxigênio.
 Neoplasia maligna: neoplasia com valor prognóstico
8 – Ativação e invasão de metástase: capacidade
reservado a desfavorável. Em geral, este tipo neoplásico infiltrativa e de colonizar novos órgãos, originando
possui a possibilidade de invadir outros tecidos tumores secundários
(metástase), possuem células com alto grau de
indiferenciação resultante do alto pleomorfismo celular e
nuclear, núcleos hipercromático e nucléolos evidenciados.
Também é presente atividade mitótica aumentada podendo
ocorrer apresentação de mitoses atípicas e perda da coesão
celular. Todos critérios morfológicos e as diferenças entre
estes e os tipos neoplásicos, serão discutidas ao decorrer
deste módulo.
 Neoplasia benigna: neoplasia com valor prognóstico
favorável a reservado (a depender do tipo tumoral).
Geralmente, tumores benignos apresentam células bem
diferenciadas com velocidade de crescimento menor que
neoplasias malignas. Seus efeitos muitas vezes revelam
Figura 1 - Hallmarks of Cancer: New Dimensios. Adaptado de Cancer Discov.
seu caráter expansivo e compressivo em estruturas 2022;12(1):31-46. doi:10.1158/2159-8290.CD-21-1059.
adjacentes, não possuindo capacidade infiltrativa.
INSTABILIDADE GENÔMICA
CARACTERÍSTICAS COMUNS AO CÂNCER
 O câncer pode ser definido como causa resultante da
 Pesquisas apontam que existem oito características instabilidade genômica somado ao acúmulo de mutações
comuns à maioria e possivelmente todas as neoplasias. ao longo de determinado período de tempo.
Estas características estariam sobretudo associadas ao
conjunto de habilidades necessárias para transformação de  A instabilidade genômica e as mutações são
uma célula em seu estado fisiológico ao estado de célula resultados de diferentes tipos de alterações genéticas que
maligna. podem modificar a sequência de DNA, afetando a
expressão gênica. Também pode ocorrer a expressão de
1 – Imortalidade replicativa: reflete a capacidade da
célula em se manter dividindo, mesmo na ausência de um conjunto de genes sem afetar a sequência de
estímulos fisiológicos. nucleotídeos (epigenética).
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 Os mecanismos genéticos e epigenéticos envolvidos no


Classificação e Nomenclatura
câncer interagem em dois grandes grupos de genes: os Anátomopatológica dos Tumores
proto-oncogenes e os genes supressores de tumor.

Protoncogenes - genes principalmente ligados as vias de PATOLOGIA: DEFININDO UMA NEOPLASIA


proliferação e diferenciação celular que, quando  Histopatologia dos tumores: permite estabelecer uma
mutados ou superexpressos de maneiras descontroladas
(oncogenes) contribuem para o aparecimento das relação entre as características clínicas e microscópicas de
neoplasias. um tumor.
 Principal caracterização:
Gene supressor de tumor - genes que codificam • Tumores que não invadem os tecidos adjacentes e
proteínas importantes nas vias reguladoras do ciclo crescem localmente denominam-se como tumores
celular e da apoptose. Quando mutados, deletados ou
benignos.
silenciados, a probabilidade da formação do tumor
aumenta. • Tumores que invadem estruturas vizinhas e
originam metástases designam-se como tumores
 Agentes físicos, químicos, biológicos e hereditários
malignos.
podem resultar em um conjunto de alterações genéticas e
 Embora os termos “neoplasia” e “tumor” possam se
epigenéticas que dão origem ao fenótipo celular tumoral.
referir a crescimentos benignos ou malignos, o termo
• Físicos (epigenética) – metilação de DNA,
“câncer” sempre denota um crescimento maligno.
acetilação de histonas e microRNAs.
 A carcinogênese envolve uma série de mudanças nas
• Químicos e biológicos (genética) –
quais as células normais adquirem uma morfologia
mutações e amplificações gênicas.
diferente. A análise histopatológica permite a definição
• Hereditários (cromossômicas) – quebras
dos limites nessa sequência de eventos.
e perdas cromossômicas.
 O diagnóstico histopatológico auxilia na
 Todos os fatores acima, irão gerar a superexpressão
determinação do prognóstico e orientação do tratamento de
de oncogenes e a supressão de genes supressores de tumor.
um paciente com tumor.
CÂNCER A NÍVEL CELULAR E TECIDUAL ALTERAÇÕES PRÉ-NEOPLÁSICAS
 Transformação celular: processo de aquisição das
 Alterações pré--neoplásicas frequentemente indicam
características do câncer. Momento em que a célula um aumento do risco ou da probabilidade de progressão
adquire características citológicas microscópicas para uma neoplasia no tecido afetado.
observáveis em laboratório.
• Hiperplasia - constitui um aumento do número de
• Células mitóticas mal definidas - constante células em um tecido através da divisão mitótica, em
divisão com células de tamanhos e formas outras palavras, através de proliferação celular.
diferentes. • Hipertrofia - aumento do tamanho da célula
• Núcleos de maior tamanho - que albergam maior individual através da adição de citoplasma (citosol) e
quantidade de material genético. organelas associadas.
• Núcleos de diferentes tamanhos e formas. • Metaplasia - transformação de um tipo celular
• Variação no tamanho e número das células. diferenciado em outro, é mais comumente observada em
• Perda da diferenciação celular - perca da tecidos epiteliais. Por exemplo, em várias espécies
capacidade em exercer sua função. animais, a deficiência da vitamina A se caracteriza pela
• Perda da organização celular - células transformação dos epitélios colunar ou cuboidal
cancerosas compões arranjos celulares respiratório e digestivo em epitélio escamoso (metaplasia
desorganizados. escamosa).
• Limites do tumor mal definidos. • Displasia - padrão anormal de crescimento tecidual e
geralmente se refere a um arranjo desordenado de células
dentro do tecido.
• Anaplasia - termo usado para descrever a perda da
diferenciação celular e a reversão para características
morfológicas celulares mais primitivas; a anaplasia
frequentemente indica uma progressão irreversível para a
neoplasia.
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TIPOS TUMORAIS elementos neoplásicos epiteliais ou glandulares, incluindo


 Microscopicamente, a maior parte dos tumores o epitélio luminal e o mioepitélio e elementos
consiste de um único tipo celular, mesenquimal ou mesenquimais, incluindo o tecido conjuntivo fibroso,
epitelial, e o nome da neoplasia reflete o tipo celular a gordura, cartilagem e osso
partir do qual se acredita que o tipo celular tenha se
Anexo 1 – Nomenclatura tumoral.
originado.

TUMORES MESENQUIMAIS Características Tumorais


 Esses tumores geralmente são compostos por células TUMORES BENIGNOS VS MALIGNOS
fusiformes arranjadas em grupos ou feixes.
DIFERENCIAÇÃO
 Os tumores benignos que se originam a partir de células
mesenquimais geralmente recebem os seus nomes  Tanto os tumores benignos quanto os malignos são
adicionando-se o sufixo –oma para designar a célula de compostos por células em proliferação, mas os tumores
origem. malignos possuem um potencial essencialmente ilimitado
 Um tumor maligno de origem mesenquimal é um de replicação
sarcoma.
MORFOLOGIA
TUMORES EPITELIAIS  As células tumorais, especialmente as células
 Todas as três camadas embrionárias, endoderma, tumorais malignas, podem exibir anaplasia ou atipia
mesoderma e ectoderma, podem dar origem a tecidos celular.
epiteliais e a tumores derivados desses tecidos.  As células anaplásicas são células pobremente
 Os termos adenoma, papiloma e pólipo se referem a diferenciadas com uma ampla variação do tamanho celular
tumores epiteliais benignos. (anisocitose) e da forma (pleomorfismo).
 Todos os tumores malignos de origem epitelial são  Em alguns tumores, há células tumorais gigantes
denominados carcinomas bizarras com núcleos muito grandes (cariomegalia).
 Os tumores denominados “carcinomas” podem conter  Também pode haver uma extrema variabilidade do
ninhos, cordões, ou ilhas de células epiteliais neoplásicas. tamanho nuclear (anisocariose).
 O termo mais específico adenocarcinoma se refere a  Os núcleos podem se apresentar anaplásicos e
carcinomas com um padrão de crescimento glandular frequentemente possuem uma coloração escura
distinto, conforme o indicado pela presença de túbulos ou (hipercromasia).
ácinos.  Muitas células tumorais apresentam um citoplasma
 A expressão carcinoma in situ, contudo, se refere a uma basofílico perceptível como resultado da presença de um
forma pré-invasiva de carcinoma que permanece no grande número de ribossomos necessários para o rápido
interior da estrutura epitelial a partir da qual ele se origina crescimento celular e a frequente divisão celular.
e que não penetra a membrana basal ou invade o estroma
FUNÇÃO
subjacente
 A perda da função especializada frequentemente
TUMORES INDIFERENCIADOS acompanha a perda das características morfológicas
 Tumores malignos que não fornecem indícios da sua diferenciadas em tumores.
célula de origem, são denominados indiferenciados ou PROLIFERAÇÃO
neoplasias anaplásicas.
CRESCIMENTO TUMORAL
TUMORES MISTOS
 As células neoplásicas escapam dos limites normais
 Um tumor que contenha múltiplos tipos celulares é da divisão celular, se tornam independentes do
denominado um tumor misto. crescimento externo estimulatório e de fatores inibitórios,
 Acredita-se que os tumores mistos provenham de uma perdendo a sua susceptibilidade aos sinais apoptóticos.
única célula-tronco pluripotente ou totipotente capaz de se
diferenciar em uma variedade de tipos celulares mais DIVISÃO CELULAR
maduros.  Nas células, parada do ciclo celular é iniciada pelo
 O tumor benigno misto da glândula mamária de cães produto do gene supressor funcional multifuncional p53 e
constitui um bom exemplo de um tumor misto, uma vez dá à célula tempo para reparar o DNA.
que ele tipicamente contém uma mistura variável de
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 Muitas células neoplásicas não mais respondem aos ✓ Fatores ambientais – atmosfera, alimentação, hábito
sinais extrínsecos ou intrínsecos dirigidos a elas na fase G0 de fumar, poluição.
não expressando mais um p53 funcional, levando a uma ✓ A sociedade moderna encontra-se exposta a uma
proliferação descontrolada. grande variedade de produtos tóxicos com grande
 Além disso, uma vez que as células tumorais não potencial carcinogênico.
sofrem parada do ciclo celular após a lesão do DNA, elas
CARCINOGÊNESE
progressivamente acumulam lesões potencialmente
mutagênicas do DNA.  Processo de conversão de uma célula normal a uma
 O resultado final é que as células tumorais não são mais célula maligna.
responsivas às necessidades do organismo como um todo e  Os carcinógenos são os agentes que induzem esse
desenvolvem a capacidade de dirigir a sua própria processo.
replicação.  Em geral, ocorre lentamente, podendo levar vários
anos para que uma célula cancerosa se prolifere e dê
MORTE CELULAR origem a um tumor visível. Esse processo passa por vários
 Apoptose é uma forma de “morte celular programada” estágios antes de chegar no tumor.
que serve tanto como um processo fisiológico normal
CARCINOGÊNESE QUÍMICA
quanto uma resposta aos estímulos nocivos.
 A lesão do DNA também pode induzir apoptose; neste  O principal mecanismo de ação dos carcinógenos
caso, a apoptose é deflagrada pelo gene p53. químicos consiste na formação de compostos covalentes
com o DNA que aumentam a probabilidade de ocorrerem
APOPTOSE erros na hora de inserção de bases durante a replicação.
 Todas as células normais no corpo podem sofrer  Resumindo: os carcinógenos químicos se ligam ao
apoptose em resposta a sinais fisiológicos apropriados. DNA, causando mutações e inibindo a atividade das
 Contudo, muitas células cancerosas adquirem enzimas de reparo do DNA.
resistência à apoptose.  Esses eventos predispões a possibilidade da perda da
 Essa resistência aumenta a taxa de crescimento global homeostasia celular.
do tumor.  Carcinógeno químico + DNA = adulto de DNA
 Muitas células cancerosas adquirem resistência à
apoptose.
 Muitos tipos tumorais contornam a apoptose através
da inativação funcional do gene p53, removendo, assim,
uma molécula pró-apoptótica essencial.
 As células tumorais podem desenvolver mecanismos
para a inativação das vias de sinalização do fator de morte,
escapando, assim, da apoptose em resposta a sinais
homeostáticos do ambiente celular.

Carcinogênese Química e Física


Figura 2 - Eventos importantes para carcinogênese química. Adaptado de
A NATUREZA DO CÂNCER SINGH and FARMER., 2006.
 Diferentes fatores de risco estão associados ao
desenvolvimento do câncer. ETAPAS DA CARCINOGÊNESE QUÍMICA
 Existe uma variação na incidência do câncer ao redor • A carcinogênese química é composta de três etapas
do globo. distintas, desde o contato com o carcinógeno até a
 A variação da incidência de um tipo de tumor através formação do tumor.
das populações reflete a influência de fatores hereditários • As substâncias químicas carcinogênicas podem ser
e ambientais. de origem natural ou sintética, sendo dividias em dois
✓ Fatores hereditários – alelos susceptíveis ao câncer grupos:
são distribuídos com frequências diferentes nas populações
humanas.
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1. Compostos de ação direta – dispensam CARCINOGÊNESE FÍSICA


transformações químicas para agir como carcinógeno. • Compreende diversos tipos de radiação, que podem
Atuam direto no DNA. transformar células in vitro e induzir neoplasias in vivo,
2. Compostos de ação indireta – requerem uma conversão em modelos animais e humanos.
metabólica para conversão de carcinógenos finais, que por o Radiação Ultravioleta (UV)
sua vez exercem efeito carcinogênico. Geralmente o Radiação eletromagnética (Raios X e Gama)
metabolizados no fígado. o Radiação de partículas (partículas alfa e gama)
Iniciação: a substância química é processada
metabolicamente pelo hospedeiro e acoplada ao DNA,  Os principais agentes físicos que podem levar ao
transformando a célula alvo em célula iniciada. É uma desenvolvimento tumoral são: energia solar, energia
condição necessária, mas não suficiente para o radiante e ionizante.
desenvolvimento do tumor.  O mecanismo de carcinogênese por radiação reside na
sua capacidade em induzir mutações.
Promoção: ocorre a expressão dos genes que foram
mutados na iniciação, determinando o surgimento das  A mutação pode derivar de efeito direto ou de efeito
características próprias das neoplasias como proliferação e indireto intermediado pela produção de radicais livres a
migração descontroladas, perda da adesão celular, partir da água ou do oxigênio.
resistência a morte entre outros.  As radiações em forma de partículas (como alfa e
Progressão: proliferação consequente onde as neoplasias nêutrons) são mais carcinogênicas de que a radiação
eletromagnética (raios X, raio gama).
 Os efeitos das radiações ionizantes dependem: da
dose absorvida pelo indivíduo (alta/baixa), da taxa de
exposição (aguda/crônica) e da forma de exposição (corpo
inteiro ou lacalizada).

Radiação não ionizante: luz ultravioleta.


Radiação ionizante: Raios X, luz visível.
Figura 3 - Etapas da Carcinogênese. Adaptado de Cancer Progression, the
National Cancer Institute (NIH). RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA
 A depender de seu comprimento de onda, é dividido
sofrem alterações qualitativas em seus fenótipos, em 3 grupos:
acumulando mutações que culminam na heterogeneidade o RUV-A (320 a 400nm)
observada nos tumores. o RUV-B (280 a 320nm)
HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS o RUV-C (100 a 280nm)
POLICÍCLICOS  Estes três comprimentos de onde diferem em relação
ao comportamento e efeito biológico que exercem no
 Engloba alguns dos carcinógenos químicos mais
tecido.
potentes.
 O principal método pelos quais as RUV podem
 Estes compostos derivam da combustão incompleta
induzir o surgimento do câncer é devido à quebra de
do carvão mineral (alcatrões), petróleo, tabaco dentro
ligações fosfodiéster no DNA.
outros. São carcinógenos de ação indireta.
 Formados pela combustão de diversos compostos RUV-B
que contém carbono: carvão, petróleo e seus derivados,
 São carcinogênicos e sua ocorrência tem aumentado
produtos alimentícios principalmente os defumados,
com a destruição da camada de ozônio.
tabaco e outros.
 Produzem danos direto no DNA,
AFLATOXINAS fotoimunossupressão, eritema, espaçamento da camada
córnea e melanogênese.
 Carcinógenos químicos derivadas de produtos do
metabolismo do fungo Aspergillus. Essa toxina se
RUV-A
desenvolve em grãos, cereais e castanhas, quando
armazenadas em condições inadequadas. Possuem papel  Não sofrem influência da camada de ozônio.
mutagênico.  Causam câncer de pele quando indivíduos são
expostos a doses altas por longo período de tempo.
 Causa danos ao sistema vacular periférico.
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RUV-C  Nitritos e nitratos – encontrados em conservas,


 São utilizadas em fontes de luz germicidas. enlatados e embutidos sofrem reações químicas no
 Não chegam naturalmente à superfície terrestre. estômago, que tem como produto final as nitrosaminas.
 Possuem baixo poder de penetração.  Estas substâncias possuem efeito carcinogênico e são
responsáveis pela indução do câncer de estômago.
 Alimento exposto a fumaça do carvão como
defumados e churrascos, contém alcatrão impregnado,
que possuem efeito carcinogênico.

HÁBITO DE FUMAR
 Associado a 90% dos casos do câncer de pulmão.
 O cigarro contém mais de 4000 substâncias químicas,
dentre elas: alcatrão, benzeno e arsênio.
 O tabagismo e o hábito de fumar expõe o indivíduo a
nitrosaminas.
 Nicotina – carcinógeno químico.
Figura 4 - Diferenças RUV quanto ao efeito biológico. Fonte:
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAeiqAAJ/ultravioleta. ÁLCOOL
 O metabolismo do álcool gera como produto final o
EFEITO DA RADIAÇÃO NAS CÉLULAS
acetaldeído, um composto carcinogênico e mutagênico.
✓ Inibição da proliferação celular
 O acetaldeído pode acarretar em:
✓ Inativação enzimática
✓ Adultos de DNA – mutações
✓ Indução de mutações
✓ Aumenta a quantidade de ROS
✓ Morte celular
✓ Quebras ou perdas cromossômicas
✓ Mutações em oncogenes e genes supressores tumorais
✓ Amplificação gênica
(RAS e TP53)
✓ Rearranjo cromossômico
✓ Leva a cirrose – carcinoma hepatocelular.
USO TERAPÊUTICO DA RADIAÇÃO
POLUIÇÃO
 Radioterapia
 O processo de urbanização tem aumentado a
 Uso terapêutico para o tratamento de neoplasias. A
exposição do homem aos gases produzidos pelos motores
radioterapia ideal deve concentrar na neoplasia a maior
dos veículos a combustão que contêm diversos poluentes
dose com o menor dano possível aos tecidos normais. A
genotóxicos como óxidos de nitrogênio, monóxido de
unidade gray (Gy) é utilizada para medir a dose de
carbono, óxidos de enxofre, hidrocarboneto e seus
radioterapia. Ela expressa a dose de radiação absorvida por
derivados.
qualquer material ou tecido biológico. As doses ideais para
 Estes agentes aumentam o nível de células com danos
cada tumor podem ser fracionadas.
no DNA.
FATORES DE RISCO DE NATUREZA AMBIENTAL
ATIVIDADE OCUPACIONAL
INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO  Agentes carcinogênicos no ambiente de trabalho.
 A alimentação constitui de uma mistura complexa de  Agrotóxicos, amianto, benzeno, xileno e tolueno.
diferentes agentes químicos.  Profissionais expostos a estes agentes são
 Algumas substâncias encontradas nos alimentos principalmente: agricultores, operários da indústria
podem induzir mutações no DNA. química e construção civil, trabalhadores de laboratório e
 O consumo de alimentos ricos em lipídios é mineradores.
relacionado à indução de tumores de mama, cólon e
próstata. Alterações Genéticas no Câncer
 O hábito de consumir alimentos como gorduras, carne
 O desenvolvimento de processos neoplásicos é
vermelha, produtos com conservantes pode favorecer a
decorrente de mutações em oncogenes e genes supressores
formação de microambiente adequada para o crescimento
de tumor.
da célula tumoral crescer, multiplicar e migrar.
 A descoberta de alterações genéticas associadas ao
câncer tem possibilitado a identificação de alvos
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moleculares seletivos. Desta forma, o tratamento pode ser ALTERAÇÕES GENÉTICAS EM PEQUENA
direcionado contra a alteração molecular específica. ESCALA

CONCEITOS E DEFINIÇÕES
• O processo de tumorigênese e metástase depende do
acúmulo de alterações em dezenas ou centenas de genes,
que podem ser ativados ou inativados por:
✓ Mecanismos genéticos – mutações gênicas,
quebras e perdas cromossômicas, amplificações
gênicas.
✓ Mecanismos epigenéticos – metilação do
DNA, acetilação de histonas e microRNAs).
 Os dois principais grupos de genes envolvidos neste
processo são: oncogenes e genes supressores de tumor.
Figura 6 - Tipos de mutações pontuais. Silenciosa (A), de sentido trocado (B) ou
sem sentido (C). Todas envolvem a substituição de uma base. Adaptado de The
ALTERAÇÕES GENÉTICAS DE GRANDE ESCALA Cancer Genome. Nature. 2009; 458:719-724.

 Afetam um gene, alterando um ou pouco


nucleotídeos.
 As alterações pontuais podem ser pontuais ou indels.
 Dentre as mutações pontuais, estão:
✓ Silenciosas – troca de um nucleotídeo, porém,
sem alterar o aminoácido codificado. Em geral, esse
tipo de mutação não está associado a doença.
✓ De sentido trocado (missense) – troca de um
nucleotídeo, acarretando na codificação de outro
Figura 5 – Alterações genéticas em grande escala. Adaptado de The Cancer aminoácido. Pode ou não ser patogênica.
Genome. Nature. 2009; 458:719-724. ✓ Sem sentido (nonsense) – troca de um
nucleotídeo em um códon que codifica para um
 Afetam os cromossomos.
aminoácido de terminação. Desta forma, a síntese
 Este tipo de alteração pode desencadear alterações proteica é interrompida antes de seu término.
em: Geralmente é patogênica.
✓ Número – aneuploidia (perda ou ganho de
 Os INDELs são pequenas inserções ou deleções de
um cromossomo) /euploidia (aumento ou perda
nucleotídeos. Esse tipo de mutação altera o código de
de lotes cromossômicos completos).
leitura da sequência de DNA a partir da posição onde
✓ Estrutura – duplicação, deleção, inversão e
foram inseridos ou deletados.
translocação.
• Deleção – parte do cromossomo deletada. O efeito de uma mutação depende do local do genoma em
• Duplicações – duplicação da região cromossômica. que ocorreu e da função da proteína codificada pelo gene
• Inversões – parte do cromossomo é invertido. afetado. Em sua grande maioria, as mutações relacionadas
à doença ocorrem nos éxons.
• Translocações – parte do cromossomo é translocada
(trocada) com outra. ONCOGENES E GENES SUPRESSORES DE
TUMOR
• Alterações nestes genes estão associadas à proliferação
celular descontrolada e ao desenvolvimento tumoral.
 Em condições fisiológicas, oncogenes e genes
supressores de tumor precisam atuar coordenadamente no
controle de proliferação, da diferenciação e morte celular.

Oncogenes – são versões alteradas de genes presentes nas


células normais conhecidos como proto-oncogenes
apresentando-se no câncer irregularmente expressos ou
mutados em relação aos seus equivalentes normais. Atuam
de forma dominante no processo de tumorigênese, e
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alteração em somente uma de suas cópias pode contribuir  No câncer hereditário, a transmissão de uma mutação
para o desenvolvimento do fenótipo de malignidade. germinativa ocorre de uma geração a outra (transmissão
Os oncogenes codificam: vertical), por meio de um padrão de herança mendeliano
✓ Proteínas que atuam como fatores de crescimento bem definido, em geral do tipo autossômico dominante, ou
ou receptores de fatores de crescimento, seja, 50% de risco e transmissão para prole em cada
participam na transdução de sinal, atuam como gestação, independente de sexo.
fatores de transcrição e codificam proteínas
quinases. CÂNCER ESPORÁDICO
 Alterações nesses oncogenes levam à sua ativação  A grande maioria dos cânceres é de ocorrência
constitutiva mesmo na ausência de seus ligantes. esporádica, ou seja, sem associação ao fator hereditário.
 Mutações encontradas nas células tumorais são
MODO DE ATIVAÇÃO DOS ONCOGENES adquiridas ao longo da vida e podem ocorrer em qualquer
✓ Rearranjo cromossômico (translocações, inversões fase da vida, desde o momento da fecundação do oócito.
e deleções).  No processo de divisão celular, o DNA das células
✓ Amplificações normais é constantemente danificado por carcinógenos de
✓ Mutações pontuais origens intrínsecas (ex., oxidação do metabolismo celular).
✓ Inserção de DNA viral  Os carcinógenos extrínsecos aumentam as taxas de
 Exemplos: mutação (ex., substâncias presentes na fumaça do cigarro,
• Mutações nas proteínas da família Ras (N, K, H- álcool ou formas de radiação).
Ras) que permanecem ligados ao GTP resultando em uma
sinalização ininterrupta da membrana ao núcleo e levando O Metabolismo da Célula
a proliferação celular descontrolada e à formação do
fenótipo neoplásico.
Tumoral
• Amplificação gênica de EGFR resultando em INTRODUÇÃO
aumento de expressão e ativação constitutiva da atividade
O QUE É METABOLISMO CELULAR?
de tirosina quinase.
 Metabolismo celular – conjunto de reações químicas
Gene supressor de tumor – genes que codificam que ocorrem na célula, responsável pela síntese e
proteínas que estão envolvidas no controle do ciclo celular, degradação de nutrientes, permitindo a sobrevivência e
reparo de danos do DNA e indução da apoptose. Atuam no proliferação celular.
processo de tumorigênese de maneira recessiva, ou seja,
 O metabolismo pode ser dividido em duas categorias:
quando a perda de ambos os alelos.
catabolismo e anabolismo. A principal fonte de energia
MODO DE INATIVAÇÃO DE GENE SUPRESSOR para que essas reações ocorram, é o ATP.
DE TUMOR
Processos catabólicos – quebram moléculas maiores
✓ Mutações pontuais. (polissacarídeos, lipídios, ácidos nucleicos e proteínas) em
✓ Deleção. moléculas menores (monossacarídeos, ácidos graxos,
✓ Metilação. nucleotídeos e aminoácidos), liberando energia.
✓ Inserção viral.
 Exemplos: Processos anabólicos – utilização de energia para
construção de componentes celulares como proteínas e
• TP53 – codifica a proteína p53, envolvido no processo
ácidos nucleicos.
do controle do ciclo celular, na apoptose e na manutenção
da estabilidade genética. Mutações neste gene estão  A célula tumoral apresenta diferenças metabólicas em
descritas em mais da metade dos diversos tipos de câncer. comparação com as células não transformadas.
• Rb – gene que codifica proteínas reguladoras do ciclo
celular.

CÂNCER HEREDITÁRIO
 Uma pequena porcentagem dos tumores (5-10%) está
envolvida com o fator hereditário, ou seja, ocorre a partir
de alterações germinativas e que estão presentes em todas
as células do indivíduo, conferindo ao seu portador uma
maior predisposição em desenvolver os diferentes tipos de
câncer.
MÓDULO 4 101

Figura 7 – Processos que compõem o metabolismo. Fonte: Adaptado de Levy,


2018.

Figura 9 – Efeito Pasteur. Adaptado de Vander Heiden MG, Cantley LC,


METABOLISMO DA GLICOSE – O EFEITO Thompson CB. Science 2009.
WARBURG
✓ Células não transformadas na presença de oxigênio  Contudo, em 1920 foi obervado por Otto Warburg
metabolizam a glicose preferencialmente através da que as células tumorais metabolizam glicose de uma
fosforilação oxidativa, onde o piruvato resultante da maneira diferente. Warburg demonstrou que mesmo na
glicólise é convertido em acetil-CoA e este é presença de oxigênio, as células tumorais convertem
direcionado para o ciclo de Krebs, que junto com a piruvato preferencialmente em lactato, o que ficou
cadeia transportadora de elétrons, resulta na produção conhecido como “Efeito Warburg” ou glicose aeróbica.
de 36 ATPs.

Figura 10 - Esquema representando a diferença entre glicólise anaeróbica e


aeróbica. Adaptado de Vander Heiden MG, Cantley LC, Thompson CB. Science
2009.

Figura 8 – Metabolismo na célula eucariótica: glicólise, ciclo dos ácidos  E quais seriam as vantagens de uma via que produz
tricarboxilílicos e cadeia transportadora de elétrons/fosforilação oxidativa. Fonte:
Adaptado de Levy, 2018. menos ATP frente a um metabolismo aumentado com alta
taxa de proliferação, demandante de energia? Dentre as
✓ No entanto, em baixas tensões de O2, o piruvato é vantagens, estão:
convertido em lactato ou etanol e dióxido de carbonoo,
com a produção de apenas duas moléculas de ATP. RÁPIDA GERAÇÃO DE ATP
• Além de grandes quantidades de energia, células
altamente proliferativas requerem formas rápidas de
produção de energia. Nesse sentido, a via glicolítica
MÓDULO 4 102

produz ATP mais rápido que a fosforilação oxidativa, poros presentes nesta membrana permitindo a saída de
sendo mais vantajosa desde que a disponibilidade de íons de hidrogênio, provenientes da cadeia transportadora
glicose não seja um fator limitante. de elétrons.
• Além disso, as células tumorais apresentam  Nas células tumorais, o baixo fluxo de elétrons resulta
superexpressão de proteínas transportadoras de glicose em um maior potencial de membrana mitocondrial que
para maximizar a captação dessa molécula, favorecendo a pode ao mesmo tempo dificultar a saída de fatores pró-
rápida produção de ATP. apoptóticos dessa organela.
 A inibição da fosforilação oxidativa compromete a
GERAÇÃO DE BIOMASSA PARA O ativação de proteínas Bcl-2 pró apoptóticas (Bax e
CRESCIMENTO CELULAR Bak), que modulam a permeabilidade da membrana
• O metabolismo de glicose resulta na geração de ATP e mitocondrial, protegendo a célula tumoral da indução da
biomassa, pois a glicólise produz intermediários morte celular.
moleculares que são necessários para a produção de
macromoléculas importantes para a duplicação do material ADAPTAÇÃO AO MICROAMBIENTE TUMORAL:
genético. HIPÓXIA E ACIDOSE
• A via glicolítica resulta em intermediários metabólicos  O metabolismo glicolítico também pode ser entendido
que são importante fonte de precursores para síntese de como um processo de adaptação tumoral ao surgimento de
aminoácidos, lipídios e ácidos nucleicos. regiões de hipóxicas.
• Se toda glicose fosse metabolizada via fosforilação  Os principais produtos da glicólise aeróbica são o
oxidativa na mitocôndria, não haveria produção de lactato e íons H+.
macromoléculas necessárias para a construção de novas  Esses produtos promovem a acidificação do meio
células. intracelular, o que pode ser letal a célula.
• Portanto, apesar de ser menos eficiente  Logo, as células tumorais passam a superexpressar
energeticamente, esse processo permite a formação de bombas que transportam estes subprodutos para fora da
biomassa necessária para a proliferação tumoral. célula neoplásica.
 Como CONSEQUÊNCIA, o pH do meio
OTIMIZAÇÃO DO FITNESS CELULAR extracelular se torna acídico (pH: 6,5 – 6,9).
 A glicólise é uma via que requer menos energia  A acidificação do microambiente tumoral favorece o
quando comparada a fosforilação oxidativa. processo de invasão e metástase, já que estudos mostram
 Quando há abundância de nutrientes, o processo de que o baixo pH aumenta a expressão do fator
glicólise, que requer investimento energético menor, angiogênico VEGF (vascular endhotelial growth factor),
parece ser mais vantajoso para célula. É uma opção favorecendo a formação de novos vasos, ou seja, a
metabólica mais barata. formação de vias que podem permitir a saída de células
 Desse modo, a célula tumoral pode redirecionar a tumorais do tumor primário, facilitando o processo de
energia sobrenadante a outros processos. metástase.
 A acidose extracelular também induz o aumento
MINIMIZAR A PRODUÇÃO E ACÚMULO DE ROS da expressão de metaloproteinases, as quais auxiliam na
 A indução de glicólise aeróbica protege as células degradação da matriz extracelular e da membrana basal,
tumorais das espécies reativas de oxigênio (ROS) abrindo espaço para que a célula tumoral possa migrar e
geradas pela fosforilação oxidativa, que é a principal fonte encontrar um vaso para metastizar.
de ROS celular.  A acidose ocasionada pelo acúmulo de lactato pode
 Desse modo, a indução da via de glicólise aeróbica resultar na inibição de células T citotóxicas, contribuindo
auxilia na prevenção de danos oxidativos e na para o escapa das células tumorais ao sistema imune.
detoxificação de drogas antineoplásicas ou até mesmo para
METABOLISMO DO MACROAMBIENTE
antagonizar seus efeitos.
TUMORAL
PROTEÇÃO CONTRA APOPTOSE • A formação de novos vasos sanguíneos é crucial para
 A indução da glicólise aeróbicas pelas células a entrega de oxigênio e nutrientes para as células tumorais,
tumorais também pode proteger estas da morte celular permitindo o crescimento tumoral.
através da diminuição da sápida de fatores pró-apoptóticos • No entanto, esses vasos também permitem a
da mitocôndria. comunicação do microambiente tumoral com os órgãos do
 Durante a fosforilação oxidativa, o potencial de corpo do paciente através do transporte de fatores
membrana mitocondrial é alterado e ocorre a abertura de
MÓDULO 4 103

liberados pelas células tumorais. Este evento, resulta em


efeitos biológicos sistêmicos ao paciente.

CAQUEXIA
 A caquexia é uma síndrome multifatorial
caracterizada pela perda progressiva de massa muscular
esquelética, que pode ou não estar associada a perda de
gordura corporal, e que não é revertida com a
suplementação nutricional convencional.
 O crescimento tumoral contribui para a indução
de caquexia, pois citocinas liberadas pelas células
tumorais promovem vias de degradação de tecido Figura 11 - Modelo de evolução clonal durante a progressão do tumor.
muscular esquelético e adiposo. Dentre elas estão: IL-6, Adaptado de Oncologia Molecular 2 ed, 2015.
TNF-alfa, IL-1 e IFN-y.
CÉLULAS ESTROMAIS E IMUNES ASSOCIADAS
PERDA DE TECIDO ADIPOSO AO TUMOR
 Pacientes com caquexia apresentam como resultado da  O microambiente tumoral tem papel fundamental na
perda de tecido adiposo maiores níveis de ácidos graxos e progressão do câncer sendo constituído por células de
glicerol circulante, devido ao aumento de lipólise. múltiplas linhagens que interagem entre si.
 Porém, esse microambiente não é composto apenas de
ATROFIA MUSCULAR células tumorais, mas também de células não malignas que
 A perda de massa muscular em pacientes com caquexia compõe o estroma tumoral.
é resultado do desbalanço entre síntese e o catabolismo de
FIBROBLASTOS ASSOCIADOS AO CÂNCER
proteínas musculares. (CAF)
 Além da quebra de proteínas, a diminuição das taxas  Os fibroblastos são células alongadas predominantes
de síntese de proteínas musculares também pode ser no estroma e essenciais na elaboração da maior parte dos
observada em pacientes com perda de peso. componentes da matriz extracelular do tecido conjuntivo.
 Dentre os componentes, estão: colágeno e
Introdução ao Microambiente proteoglicanas estruturais, bem como várias enximas
proteolíticas e fatores de crescimento.
Tumoral  Desse modo, os fibroblastos são responsáveis pela
síntese, deposição e remodelamento da matriz
HETEROGENEIDADE TUMORAL extracelular.
 Os fibroblastos associados ao câncer (CAF)
• Em 1976, Peter Nowell sugeriu que a instabilidade
facilitam o processo de transformação maligna. Os CAFs
genética e a aquisição sequencial de mutações constituem
apresentam diferenças como capacidade proliferativa e
a base da progressão tumoral caracterizada pela seleção de
secretória exacerbadas, quando comparados a fibroblastos
subpopulações derivadas de uma única célula de origem.
normais.
• Ao longo da progressão, surgem variantes celulares
 Uma vez no sítio tumoral, essas células sofrem um
com novas alterações genéticas que favorecem a
processo de reprogramação induzido pelas células
proliferação, a sobrevivência, o crescimento e a invasão.
tumorais por meio de vários fatores como IL-6 e TGF-
• Pressões eletivas no microambiente tumoral permitem a
beta.
expansão de clones melhores adaptados ao microambiente.
 Como resultado, os fibroblastos começam a secretar
• Múltiplas mutações se acumulam nas células tumorais,
uma série de fatores de crescimento e citocinas
gerando subclones com capacidades variadas.
normalmente produzidos em processos inflamatórios, que
• Conforme a neoplasia progride, a diversidade de clones
culmina no estabelecimento de um microambiente
de células tumorais deve aumentar.
propício para o crescimento tumoral.

AÇÕES DO CAF (MIOFIBROBLASTO)


✓ Dentre os fatores secretados, está a CXCL12, uma
quimiocina que pode induzir a angiogênese e aumentar a
capacidade proliferativa das células cancerosas.
MÓDULO 4 104

✓ Os CAFs podem atuar como célula guia, degradando a de crescimento endotelial vascular) em situações de
matriz e estimulando a migração das células tumorais. Este hipóxia.
fato é importante na transição epitélio-mesênquima, sendo, ✓ Induzem a degradação de matriz extracelular.
portanto, responsáveis em parte para que o processo de ✓ Induzem a migração das células tumorais, aumentando
metástase ocorra. a capacidade invasiva dessas células.
✓ Os CAFs também podem alterar a sensibilidade das ✓ Através da secreção de VEGF, aumentam a
células tumorais aos quimioterápicos, contribuindo para a permeabilidade vascular do vaso, auxiliando no
resistência das células tumorais a protocolos terapêuticos. estabelecimento de focos metastáticos.
✓ Secretam o fator de crescimento de fibroblastos ✓ Se acumulam nas regiões de hipóxia e necrose,
(FGFs), que estimula a proliferação de células epiteliais. removendo debris celulares e estimulando o processo de
reparo.
ADIPÓCITOS ASSOCIADOS AO CÂNCER (CAA)
 Uma vez no microambiente tumoral, os adipócitos CÉLULAS ENDOTELIAIS DA VASCULATURA
TUMORAL (TEC)
passam por uma reprogramação celular, isto é, um
processo de diferenciação, originando pré-adipócitos que  As células endoteliais, revestem a parede interna dos
se assemelham a fibroblastos. Estes adipócitos são vasos e monitoram o transporte de nutrientes e ativam as
denominados CAA. moléculas entre o plasma e o tecido.
 A formação de novos vasos sanguíneos a partir de
AÇÕES DO CAA vasos pré-existentes é chamado de angiogênese e, no
✓ Os CAAs secretam diversos fatores de crescimento, câncer, a mesma é necessária para progressão tumoral e
hormônios e citocinas inflamatórias que influenciam de metástase.
maneira direta ou indireta no crescimento dos tumores.  O grau de angiogênese é determinado pelo balanço
✓ Os CAAs também contribuem para o crescimento do entre as moléculas reguladores negativas e positivas que
tumor através do fornecimento de ácidos graxos livres, que são liberadas tanto pelas células tumorais quanto pelas
oferece uma alternativa para a glicólise, suprindo a energia células não tumorais, ambos presentes no microambiente.
requerida para a rápida proliferação das células  A liberação dessas moléculas leva ao recrutamento
neoplásicas. das células endoteliais e à formação de novos vasos.
 É importante, porém salientar, que a vasculatura
MACRÓFAGOS ASSOCIADOS AO CÂNCER (TAM) tumoral apresenta importantes diferenças em relação a
 Os macrófagos representam um dos principais tipos vasculatura normal como:
celulares do sistema imune que se infiltram nos tumores e • Revestimento reduzido por pericitos.
constituem o principal elo entre inflamação e câncer. • Maior permeabilidade vascular.
 Uma densidade aumentada de macrófagos • Membrana basal descontínua ao longo da
intratumorais correlaciona-se com um pior prognóstico. extensão do vaso.
 A grande maioria dos TAM’s é originado dos
monócitos circulantes que possuem origem na medula AÇÕES DA TEC
óssea ou em sítios extra-hematopoiéticos como o baço. ✓ Maior poder de migração celular.
Tanto as células tumorais quanto as células estromais ✓ Maior poder de proliferação celular.
secretam uma gama de fatores de crescimento e ✓ Mais responsivas ao VEGF e ao EGF.
quimiocinas que recrutam esses monócitos. ✓ Fornecem nutrição e oxigênio as células tumorais
 Dependendo dos fatores ali secretados, os monócitos através da formação de novos vasos.
diferenciam-se em TAM M1 (antitumoral) ou TAM M2 ✓ Promovem metástase.
(pró-tumoral).
 Os macrófagos M1 intercedem na supressão do tumor MATRIZ EXTRACELULAR (MEC)
através da produção de citocinas tipo I, enquanto os  A MEC é constituída de proteínas (proteínas
macrófagos M2 promovem a progressão dos tumores pela estruturais fibrosas, ex: colágeno), proteoglicanos e
fabricação de citocinas tipo II. proteínas metricelulares.
 O colágeno é a proteína mais abundante da MEC,
AÇÕES DO TAM M2 responsável por conferir as células suporte estrutural que
✓ Auxiliam no crescimento tumoral e na metástase. direciona a migração e quimiotaxia celular, sendo
✓ Estimulam o processo de angiogênese através da sintetizado pelos fibroblastos residentes no estroma.
produção de fatores pró-angiogênicos como VEGF (fator
MÓDULO 4 105

 Os proteoglicanos preenchem grande parte do espaço  Os pericitos são derivados de células mesenquimais,
intersticial, formando um gel hidratado no qual os outros têm a função de auxiliar as células endoteliais e produzem
componentes da matriz estão imersos. fatores responsáveis pela homeostase dos vasos.
 As proteínas matricelulares são definidas como
proteínas da MEC não estruturais que modulam a
interação célula-matriz e outras funções celulares.
 A membrana basal represente uma forma
especializada de matriz extracelular que, além de constituir
um ponto de ancoragem para as células epiteliais, atua
também como um ponto de comunicação com o endotélio
vascular.

A MEC NO DESENVOLVIMENTO TUMORAL Figura 12 – Estrutura dos vasos tumorais. Adaptado de Bin Jiang and Eric MB.
Intech 2011.
 O microambiente tumoral é caracterizado pelo
remodelamento ativo de sua matriz.  O processo de indução da angiogênese ocorre a partir
 A MEC derivada de tumores é bioquimicamente de:
distinta da MEC encontrada em tecidos sadios. • Hipóxia – estimula as células locais a aumentar a
 A MEC em neoplasia apresenta maior rigidez, como produção de fatores pró-angiogênicos.
resultado da maior deposição de colágeno I e fibronectina • Sinalização extracelular que estimula as células
quando comparados a matriz em estado sadio. endoteliais.
 Essa alteração na composição da MEC de tumores • Recrutamento de células precursoras. – tumores sólidos
pode resultar em mudanças na topografia da matriz, o que liberam fatores quimiotáticos que recrutam células
pode facilitar a migração das células cancerosas. provenientes da medula óssea, que migram para o sítio
 A infiltração, diferenciação e a ativação das células tumoral ou metastático e auxiliam na tumorigênese.
do sistema imune podem ser alteradas em função de Através da produção de fatores de crescimento e pela
mudanças nas propriedades físicas e químicas da matriz, diferenciação das células da vasculatura tumoral
devido ao comprometimento da migração dessas células. completando a construção de novos vasos pelo tumor.
 A MEC anormal pode evitar que as células imunes
FATORES ANGIOGÊNICOS
sofram o processo de diferenciação e maturação,
essenciais para o reconhecimento e erradicação de células  Durante a hemostasia os fatores pró e antiangiogênicos
transformadas. encontram-se em equilíbrio.
 A presença e ativação constante de proteases que  No momento em que esse equilíbrio é deslocado em
podem ser produzidas por fibroblastos, células do sistema favor dos fatores angiogênicos, dispara-se o gatilho
imune e pelas próprias células tumorais no microambiente, angiogênicos. Este momento é que o tumor começa a
somada a síntese e secreção exacerbadas de elementos da induzir a angiogênese.
matriz, leva à destruição progressiva da MEC sadia com
consequente substituição por uma MEC “doente” que
auxilia na progressão tumoral.

Angiogênese Tumoral

MECANISMOS GERAIS DA ANGIOGÊNESE


TUMORAL

Angiogênese – envolve o brotamento de vasos a partir de


outros pré-existente.

Vasculogênese – envolve a formação de novos vasos a


partir de células da medula óssea.
Figura 13 -Gatilho angiogênicos. Adaptado de Bergers G, Benjamin LE. Nat
Arteriogênese – envolve a maturação dos vasos pela Rev Cancer 2003.

migrção de células da musculatura lisa e dos pericitos.


Gatilho angiogênicos – condição fisio(pato)lógica, em
MÓDULO 4 106

que há ativação da formação de vasos a partir de sinais fator de transcrição de fatores de crescimento, induzindo a
frequentemente estromais. angiogênese via transcrição de fatores pró-mitóticos e
 Alguns dos fatores pró angiogênicos incluem: angiogênicos como os fatores de crescimento do endotélio
✓ VEGF – fator de crescimento endotelial vascular. vascular (VEGFs).
✓ PDGF – fator de crescimento derivado de plaquetas.
✓ FGFs – fatores de crescimento fibroblásticos. VEGF-A /VEGF-B
 Estes fatores podem ser produzidos pelas células • Função: alargamento, ramificação, brotamento dos
tumorais e pelas células do mciroambiente tumoral. vasos e manutenção da homeostase celular.
 A liberação desses fatores costuma ocorrer em situação • A densidade de vasos está diretamente relacionada com
de: as taxas de VEGF.
✓ Hipóxia. • Os receptores do fator de crescimento epidérmico
✓ Acidose. (EGFR/HER-2) encontram-se alterados em diversos
✓ Ativação de oncogenes. tumores e sua alta ativação induz a expressão de genes
✓ Inativação de supressores tumorais. como VEGF e bFGF, que induzem a angiogênese.
✓ Ativação da resposta imune inflamatória.
PDGF
 Os 3 agentes principais indutores do processo de • Fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF).
angiogênese são: as células tumorais, as células do sistema • Função – envolvido na vasculogênese e arteriogênese.
imune e o estroma (representado pelos fibroblastos). Este fator tem como principal função angiogênica a
manutenção dos vasos recentes, atraindo células da
musculatura lisa dos vasos e pericitos.

FGF
• Fator de crescimento de fibroblasto.
• Função – possuem propriedade de angiogênese e
arteriogênese. A ativação dos receptores em células
endoteliais e outras do microambiente tumoral induzem a
proliferação e diferenciação, além de manter a indução de
angiogênese por induzir as células a produzir fatores
angiogênicos como VEGF.

Figura 14 – Eventos indutores de angiogênese. FC – Fatores de crescimento. /


ANGIOPOIETINAS (ANG 1/ ANG 2)
MMPs – Metaloproteináses. Adaptado de Oncologia Molecular 2 ed, 2015. • Função – estímulo e recrutamento de pericitos para os
vasos recém-formados.
 As células tumorais secretam fatores de crescimento
que ativam as células endoteliais para iniciar o processo de • ANG 1 – participa da maturação dos vasos, migração,
angiogênese. adesão e sobrevivência das células endoteliais.
 As metaloproteinases degradam a matriz extracelular. • ANG 2 – funciona de maneira antiangiogênica,
 As quimiocinas atraem células provenientes da rompendo a interação entre o endotélio e as células
medula para povoar o sítio de brotamento e se transformar perivasculares, promovendo a morte celular.
em células endoteliais.
EFRINAS E SEMAFORINAS
IMPORTÂNCIA DA VASCULATURA PARA O
TUMOR • Função – responsáveis pela distribuição organizada dos
✓ Suporte nutricional. vasos do tumor, tendo funções de separar os vasos e deixá-
✓ Trocas gasosas. los em distâncias confortáveis para distribuição de
✓ Retirada de metabólitos. oxigênio e nutrientes.
✓ Porta de entrada e saída e do sistema imune.
✓ Migração das células provenientes da medula óssea. LIBERAÇÃO DE FATORES PRÓ-ANGIOGÊNICOS
✓ Disseminação metastática.  Em alguns modelos tumorais, foi observado o
aumento de fatores pró-angiogênicos mesmo não havendo
INDUÇÃO DE FATORES PRÓ-ANGIOGÊNICOS aumento na expressão de VEGF.
 Isso ocorre pela ação das metaloproteinases (MMPs),
 Em situações de hipóxia, as células tumorais induzem
proteases que degradam a matriz extracelular e iniciam a
o fator induzido por hipóxia 1 (HIF-1) que funciona como
MÓDULO 4 107

liberação de fatores de crescimento vascular, como o  As paredes dos vasos tumorais podem ser até 10x
VEGF, que normalmente fica sequestrado na matriz. A mais permeáveis que os vasos normais, permitindo
liberação desses fatores induz a formação de novos vasos. constantes vazamentos e disseminação de metástases.
 A degradação da matriz ainda é necessária para abrir  Essas características são devido a produção desregulada
espaço para a migração dos novos capilares sanguíneos. dos fatores de crescimento e a superprodução de fatores
 Uma importante fonte de MMPs são células do sistema angiogênicos.
imune, que atuam como caráter pró-tumoral ao liberarem
MMPs, principalmente macrófagos e mastócitos.
Invasão Tumoral e Metástase
ESTROMA COMO INDUTOR DA ANGIOGÊNESE
 O estroma é composto pela MEC e pelas células de
PROCESSO METASTÁTICO
suporte como fibroblastos e pericitos.
 As células tumorais produzem fatores que estimulam O processo metastático envolve múltiplas etapas como a
a proliferação delas próprias e das células do estroma. O disseminação de células cancerosas para órgãos
estroma também produz fatores mitóticos para as células anatomicamente distantes e sua posterior adaptação ao
tumorais. novo microambiente tecidual.
 As células tumorais atuam sobre o estroma a  Para a metástase ser formada, a célula tumoral necessita
produzirem o fator de crescimento derivado de plaquetas passar por uma sucessão de eventos complexos, chamada
(PDGF) que estimula o fenômeno de proliferação das de cascata de invasão e metástase. Nessa cascata, as
células do estroma, conhecido como estromalização. células do tumor:
 O PDGF também é responsável por atrair pericitos e
células musculares lisas, conhecidas como células murais, 1. Perdem a adesão celular.
que complementam os vasos inicialmente formados por 2. Invadem localmente a matriz extracelular.
células endoteliais, tornando esses vasos maduros. Esse 3. Migram ativamente pelo estroma.
fenômeno de maturação dos vasos é conhecido como 4. Invadem a membrana basal.
arteriogênese. 5. Intravasam o endotélio dos vasos sanguíneos.
 Outro fator liberado é o fator de crescimento 6. Sobrevivem ao rigoroso ambiente da circulação.
transformante beta (TGF-beta), que atrai os CAFs, e os 7. Extravasam pelo endotélio vascular.
induz a produzir metaloproteínases que degradam a matriz 8. Sobrevivem no parênquima do órgão-alvo.
extracelular, permitindo a remodelagem da estrutura do 9. Reiniciam seus programas proliferativos.
tumor, abrindo espaço para seu crescimento. 10. Geram neoplasias clinicamente detectáveis.
 O TGF-beta estimula os fibroblastos a se
INVASÃO
diferenciarem em miofibroblasto, que auxiliam na
angiogênese por liberarem o fator derivado de estroma 1 • A invasão local envolve a entrada das células tumorais
(SDF-1) e o ligante de receptor de quimiocina 12 que são no estroma associado ao tumor primário e em seguida ao
usados para atrair e recrutar células precursoras parênquima do tecido normal adjacente ao tumor.
endoteliais circulantes (PECs – células provenientes da • Par invadir o estroma, a célula tumoral deve alterar as
medula óssea). interações célula-célula (caderinas e integrinas) e violar a
 O fator de crescimento BEGF também produzido por membrana ou lâmina basal.
estes miofibroblastos ajuda a induzir as PECs a se • A perda funcional de E-caderina está associada ao
diferenciarem em células endoteliais para formarem a nova desenvolvimento de diversas neoplasias. Nesse momento,
vasculatura tumoral. as células passam a expressão N-caderina, que está
relacionada em diversas neoplasias com o aumento da
CARACTERÍSTICAS DOS VASOS TUMORAIS motilidade e invasão.
 Os capilares de tumores sólidos ou adjacentes
apresentam estrutura diferenciada, não organizada e
com diâmetro variando em até três vezes maior que os
capilares comuns.
 Os vasos tumorais são tortuosos e colapsados, que
circulam de volta para o mesmo vaso e ainda terminam em
bolsas sem saída.

Figura 15 - Etapas do processo metastático. Adaptado de Reymond N, d'Água


BB e Ridley AJ, 2013.
MÓDULO 4 108

TIPOS DE INVASÃO INTRAVASÃO


 Na maioria das neoplasias malignas existem dois  A intravasão envolve a entrada das células tumorais
tipos de invasão: a invasão por agregados celulares na luz dos vasos sanguíneos e/ou linfáticos.
(invasão coletiva) e por célula única (invasão individual).  A intravasão pode ser facilitada por alterações
moleculares que permitem que as células tumorais
Invasão coletiva – as células unidas por interações célula- atravessem o pericito e a barreira das células endoteliais
célula formam uma unidade assimétrica onde, no front da
migração, encontram-se células com características mais que formam as paredes dos vasos.
migratórias, as quais “arrastam” as demais células pela  Os novos vasos formados, estimulados pelas
força motriz gerada. neoplasias, são tortuosos e com tendência para
vazamentos. A interação fraca entre as células endoteliais
Invasão individual – ocorre por dois processos distintos: adjacentes que formam a microvasculatura tumoral
(I) invasão mesenquimal dependente de proteases e facilitam a intravasão.
integrinas ou (II) invasão ameboide independente de
proteases e integrinas, mas dependente de quinases.  As células tumorais circulantes podem apresentar
crescimento intraluminal e formar microcolônias que
eventualmente rompem as paredes ao redor dos vasos,
TRANSIÇÃO EPITÉLIO-MESÊNQUIMA
ocorrendo formação tumoral em contato direto com o
• Processo que envolve a dissolução das junções parênquima do tecido.
aderentes e perda da polaridade celular para que a célula
tumoral de origem epitelial passe a expressar um conjunto
de genes característicos de células de origem mesenquimal EXTRAVASÃO
e, dessa forma, adquira capacidade de migrar e invadir o • Para iniciar a formação de micrometástases, as células
estroma adjacente tumorais circulantes devem sobreviver no parênquima do
• Em resumo, nessa transição, a célula passa de um tecido em que se encontram. O microambiente desse
fenótipo menos migratório, epitelial, para um mais tecido difere do local de formação do tumor primário em
migratório, fibroblástico. relação ao tipo de células presentes no estroma, os
• A transição envolve a aquisição de fatores de constituintes da matriz extracelular, fatores de crescimento
motilidade. e citocinas disponíveis.
• Na modificação da matriz extracelular, uma das • As células tumorais revertem esse problema através do
primeiras barreiras que devem ser quebradas é a perda da estabelecimento de um nico pré-metastático
membrana basal dando acesso ao estroma onde estão • Porém, a sobrevivência das células tumorais no
localizados os vasos sanguíneos. microambiente do tecido invadido não garante o sucesso
• Essa degradação é devida a proteólise ativa efetuada de proliferação e na formação de metástases
por metaloproteinases e outras enzimas que degradam macroscópicas necessariamente.
polissacarídeos. As células tumorais interferem no controle
da atividade das metaloproteínases, aumentando suas
funções de degradação da membrana basal, promoção da TEORIA SEMENTE E SOLO
invasão e proliferação das células cancerosas.  O que determina que as células tumorais tenham
• Uma vez que as células tumorais conseguem preferência por órgãos específicos e não por outros?
ultrapassar a membrana basal, elas se inserem no estroma.  O fenômeno de metástases nos órgãos, não é um
• As células tumorais estimulam a formação de um processo randômico.
estroma inflamado e este retribui reforçando o fenótipo  O processo metastático depende tanto das
maligno das células neoplásicas características das células tumorais como da presença de
um “solo fértil” para ter germinação.

NICHO PRÉ METASTÁTICO

O que seria para uma célula tumoral um solo fértil?


 Por definição, solo fértil não é somente o ambiente
que já tem as condições necessárias para semente
desenvolver-se, mas também aquele capaz de fornecer o
que ela vai precisar conforme cresce. No contexto tumoral
Figura 16 - Características da transição epitélio-mesênquima. Adaptado de R. esse solo é conhecido como microambiente hospedeiro.
Aroeira LS et al. J Am Soc Nephrol. 2007;18(7): 2004-13.
MÓDULO 4 109

 Mesmo antes da célula tumoral ter saído para formar


lesões secundárias o microambiente do tecido-alvo já está
em processo de “fertilização”. Inicia com o nicho pré
metastático, que, em outras palavras, é a preparação do
lugar para o recebimento da célula tumoral.
 Estudos apontam que como parte do processo ocorre
o aumento de fibronectina nos órgãos-alvo mediada por
células do estroma e/ou stroma like-cells sob o controle
das células do tumor primário.
 As células progenitoras hematopoiéticas derivadas da
medula óssea que expressam receptor 1 de VEGF migram
nesses órgãos, induzidas por sinalização quimiotáticas, e
aderem à fibronectina através de ligações mediadas por
VLA-4. Essa interação aumenta a expressão de
metaloproteinases, que vão degradar a membrana basal e
alterar o microambiente em favor da colonização deste por
outras células.
 No final, o nicho pré metastático é formado e terá um
número de fibroblastos aumentados, além de uma matriz
extracelular provisional apresentando citocinas, adequada
para o recebimento das células tumorais migratórias.
 Dependendo do tipo de tumor primário, serão
formados nichos em regiões específicas.
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AULA PRÁTICA DE PATOLOGIA GERAL


LÂMINAS DE HISTOPATOLOGIA

PAPILOMA

Papiloma é uma neoplasia benigna de origem epitelial. Histologicamente há proliferação acentuada do epitélio formando
projeções acima da superfície da mucosa que são sustentadas por tecido conjuntivo. A superfície do epitélio geralmente é
coberta por camada de hiperqueratose. Algumas células das camadas superiores do epitélio podem apresentar coilocitose
(célula com citoplasma claro e núcleo picnótico sugestivo de infecção viral).

CARCINOMA ESPINOCELULAR - PELE

O carcinoma espoinocelular também denominado como carcinoma das células escamosas é um dos tumores malignos de pele
mais comuns em animais domésticos e ocorrem mais em áreas despigmentadas e expostas ao sol. Na microscopia observa-se
uma massa neoplásica caracterizada por formação de ninhos de células escamosas, com formação de pérolas de queratina no
centro de vários, a célula caracteriza-se por núcleo arredondado, basofílico, nucléolo central e proeminente, citoplasma
anfofílico e escasso. Estroma discreto e infiltrado inflamatório linfoplasmocitário também podem ser observados.
MÓDULO 4 111

MELANOMA - PELE

O melanoma é um tumor altamente maligno que se origina de melanócitos na camada basal da epiderme e infiltra a derme.
Histologicamente, pode haver uma área pigmentada (melanótica), onde as células neoplásicas produzem abundante melanina,
e outra onde a melanina é escassa (área amelanótica). Ainda se observa figuras de mitose e epiderme hiperplásica. Pode
haver casos em que não há produção de melanina em nenhuma parte do tumor (melanomas amelanóticos). Notar que a
produção ou não de melanina não está relacionada ao prognóstico do melanoma.

HEMANGIOMA

Hemangioma é uma neoplasia benigna caracterizada pela proliferação de vasos sangüíneos. Alguns autores consideram como
anomalia de desenvolvimento ou hamartoma. Microscopicamente caracteriza-se pela presença de numerosos vasos dilatados,
com parede delgada. Nos hemangiomas cavernosos, os vasos são mais calibrosos, mas a parede é delgada.
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TUMOR VENÉRO TRANSMISSÍVEL - TVT

O T.V.T., é uma neoplasia geralmente maligna e transmissível, que acomete principalmente os genitais externos de cães
machos e fêmeas, onde nestas pode também afetar os órgãos genitais internos. Microscopicamente, observa-se tecido
necrótico com núcleo picnótico, cariorrexia e cariolise. Células arredondadas infiltrativas, com destruição de tecidos
tambpem são observadas. Pode-se encontrar um processo de neovascularização com crescimento difuso infiltrante. O
diagnóstico diferencial deve incluir linfomas cutâneos e carcinoma espinocelular.

LIPOMA

O lipoma é um tumor benigno de tecido adiposo, encontrado com freqüência nos tecidos subcutâneos. As principais
características histológicas são a presença de células adiposas maduras, número variável de fibras colágenas que sustentam
os vasos sangüíneos ocasionais.
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ADENOCARCINOMA MAMÁRIO

As principais características da neoplasia mamária maligna são: crescimento infiltrativo e/ou destrutivo para os tecidos
adjacentes; invasão dos vasos sanguíneos e linfáticos; marcação imunoistoquímica do fator de Von Willebrand;
descontinuidade ou ausência das membranas basais; focos de necrose; elevados índices de figuras mitóticas; grande
proporção de aneuploidia do DNA; presença de anaplasia e pleomorfismo celular e nuclear.

METÁSTASE DE TUMOR DE MAMA NO PULMÃO

As características histopatológicas da metástase do tumor de mama no pulmão são as mesmas do tumor primário na mama,
porém instalada em um sítio secundário que é o pulmão e que tem o seu tecido invadido por células com características das
células de origem, a glândula mamária.
MÓDULO 4 114

QUESTIONÁRIO

1. O que é neoplasia? Defina neoplasia benigna e neoplasia maligna.


2. Quais são as 8 características comuns a maioria das neoplasias? Explique cada uma delas.
3. O que são os protocongenes e os genes supressores de tumor?
4. Quais são as características citológicas microscópicas das células cancerígenas?
5. Quais são as alterações neoplásicas? Explique cada uma delas.
6. Defina os tipos tumorais e as principais características de cada tipo.
7. Das características tumorais: explique sobre a diferenciação, proliferação e morte celular.
8. O que é carcinogênese? Explique sobre a carcinogênese química e carcinogênese física.
9. O que são oncogenes? Como são ativados?
10. Quais as diferenças do câncer hereditário e do câncer esporádico?
11. O que é metabolismo celular? Defina os processos catabólicos e anabólicos.
12. Explique o que é o “Efeito Warburg”.
13. Baseado na heterogeneidade tumoral, explique quais células fazem parte do microambiente tumoral, quais
suas características e o papel de cada uma delas no processo de formação tumoral.
14. O que é angiogênese, vasculogênese e arteriogênese?
15. O que induz o processo de angiogênese?
16. Quais são os fatores angiogênicos?
17. Quais as características dos vasos tumorais?
18. Quais são os eventos pelos quais as células tumorais passam para realizar a metástase?
19. Como ocorre a invasão no processo metastático e quais os tipos de invasão que podem ocorrer?
20. Explique o que é intravasão e extravasão na formação das metástases.
21. O que é a “teoria semente solo”?

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