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CALICIVIROSE FELINA – REVISÃO DE LITERATURA

COSSETIN, Aline¹; VEIGA, Fabiane¹; SPEROTTO, Vitor da Rocha².

INTRODUÇÃO
O calicivírus felino (FCV) é um patógeno comum em gatos e possuí distribuição
Mundial. É um vírus RNA, com grande variabilidade genética e antigênica podendo gerar
cepas virais de virulência variável que podem ser responsáveis por um amplo espectro de
manifestações clínicas (BRICE et al., 2009). A infecção causa uma doença de trato
respiratório superior causado por um vírus da família Caliciviridae e gênero Calicivírus sendo
uma grande família de vírus que inclui agentes patogênicos significativos tanto para o homem
como para os animais (STUDDERT, 1978). Essa patologia esta associada com febre,
claudicação, descarga nasal e ocular, conjuntivite, assim como úlceras na cavidade oral
(BRICE et al., 2009). Os sinais clínicos dependem muito da via de infeção (oral ou
respiratória), além da cepa do vírus. Pode se dizer que a infeção por via oral torna-se mais
leve em relação à via respiratória (PEDERSEN et al,. 2000).
Existe a possibilidade de o calicivírus felino ocorrer de forma mais grave, com sinais
clínicos mais preocupantes. Esses gatos são aqueles que vivem nas ruas ou em gatis que não
possuem higiene regular e vacinação resultando então em maior prevalência do vírus
(HURLEY et al., 2004).
Normalmente não leva o animal ao óbito, porém os animais jovens acabam tendo
complicações como pneumonias ou com alguma infecção grave do trato respiratório superior,
além disso, a existência de gatos portadores do vírus também é bem comum (BATTILANI et
al., 2013).
Uma vez infectados, os gatos permanecem portadores e acabam disseminando a
doença por dias, semanas, meses ou até pela vida inteira. A transmissão se dá principalmente
pelo contato direto ou pela inalação de fômites, por exemplo, (POVEY et al., 1970).
O diagnóstico torna-se difícil por possuir a presença de outros agentes causadores de
doenças do trato respiratório superior. Podemos citar a Rinotraqueite infeciosa. O diagnóstico
laboratorial é realizado pelo isolamento do vírus de "swabs" oculares, nasais ou faringeanos,
coletados enquanto o animal apresentar secreção serosa (GILLESPIE et al., 1973).
Em 1998, um surto de infecção com uma cepa altamente virulenta e vacina resistente
do calicivírus felino ocorreu no norte da Califórnia, dando inicio a uma cepa muito mais
patogênica semelhante a uma febre hemorrágica virulenta com o nome de calicivírus
¹ Acadêmicas do curso de medicina veterinária - UNICRUZ: line.aline06@hotmail.com;
fabianevargasveiga@hotmail.com
² Professor do curso de medicina veterinária – UNICRUZ: vrocha@unicruz.edu.br
Campus Universitário Dr. Ulysses Guimarães - Rodovia Municipal Jacob Della Méa, km 5.6 –
Parada Benito. CRUZ ALTA/RS - CEP- 98005-972 I UNICRUZ.EDU.BR
sistêmico (VS-FCV). Desde então, essa cepa esta infectando gatos nos EUA e Europa, porém
não se tem casos dessa cepa no Brasil (HURLEY et al., 2004).
Essa cepa é altamente contagiosa e patogênica não havendo relatos ainda no Brasil,
porém, a importação de gatos de criação é crescente e o tráfego de animais com seus tutores
entre países também, aumentando a possibilidade desses gatos carregarem cepas mutantes
desse vírus (SMITH et al., 2008).
Este trabalho tem o objetivo de fazer uma revisão bibliográfica sobre a cepa menos
virulenta e também a cepa de alta virulência (VS-FCV) que pode chegar ao país por vários
motivos, por exemplo, o tráfego dos felinos com seus tutores.

SINAIS CLÍNICOS
Figura 1
Sobre os sinais clínicos, a cepa da
calicivirose nos felinos menos patogênica se
caracteriza por alterações do sistema
respiratório superior, como a presença de
secreções nasais e orais, úlceras orais (Figura
1) estomatite, febre e por vezes, claudicação,
sendo, geralmente, uma doença auto
limitante e raramente fatal (LOWSON,
2004). Se tratando da cepa mais virulenta e
contagiosa, os sinais se mostram mais
agressivos. Além de demostrar os sinais de
trato respiratório superior podem causar
febre alta, edema facial e de membros,
dispneia devido ao edema pulmonar,
dermatite ulcerativa com alopecia no focinho, ponta da orelha e coxins, enterite, pneumonia,
alterações renais, além de icterícia devido à hepatite necrótica e pancreatite e anorexia
(HURLEY et al., 2004).
Gatos infectados pelo VS-FCV podem ter o sistema vascular comprometido,
ocasionando uma vasculite secundária associada a sinais de febre hemorrágica devido à
invasão viral do epitélio e endotélio, juntamente com as respostas de citocinas hospedeiras
(FOLEY et al., 2006).
DIAGNÓSTICO
O RNA do FCV pode ser encontrado em partes orais ou nasais, porém podem dar
falsos por ter presença de outros agentes. Utiliza-se o PCR onde devem ter cuidados com os
resultados positivos, visto poderem dever-se a excreção de baixo nível por portadores
persistentemente infectados. O isolamento é sensível que o PCR, mas um resultado positivo
indica a presença do vírus vivo. Já o diagnóstico de VS-FCV é desafiador e deve ser baseado
nos sinais clínicos, na sua contagiosidade e na alta mortalidade. A confirmação do vírus é
dada com as demonstrações nos tecidos mediante as técnicas de imuno-histoquímica, cultura e
PCR. A confirmação é pela detecção da mutação do vírus (BATTILANI et al., 2013).

CONTROLE
Animais precisam da terapia de suporte, higienização do local onde os gatos
infectados estão. Pois o vírus permanece no local por mais de mês e são resistentes a muitos
desinfetantes. São sensíveis ao hipoclorito de sódio a 5% na diluição 1:3 (SCHORR-EVANS
et al,. 2003).
Gatos que são infectados com o vírus VS-FCV precisam ter isolamentos dos animais,
deve-se manipular com luvas, também fazer a desinfeção do local. Assim, o ciclo de
transmissão do vírus pode ser quebrado evitando-se a transmissão por fômites e
implementando procedimentos de limpeza e de manuseio mais rigorosos (SCHORR-EVANS
et al,. 2003). Se o surto ocorrer em uma comunidade, abrigo ou gatil, e os animais são
vacinados adequadamente, somente poderão ser introduzidos novos gatos no local se a
desinfecção for realizada corretamente. Os gatos afetados devem permanecer isolados por
mais ou menos 3 meses pela capacidade de atuarem como portadores assintomáticos e
espalharem o vírus (FOLEY et al., 2006).
Embora as vacinas atuais contra calicivírus não protejam contra todas as cepas de
FCV, porque são usadas cepas antigas, essa medida é indispensável porque não se conhece
outra forma mais eficiente para o FCV. As mutações que produzem cepas associadas à doença
causada pelo VS-FCV podem alterar a estrutura dos principais antígenos vacinais protetores,
adquirindo assim, resistência as vacinas aplicadas nesses animais (HURLEY et al., 2004).

CONCLUSÃO
Os casos de FCV podem ser minimizados através da vacinação que os tutores devem
fazer nos primeiros dias de vida dos gatos saudáveis. O que seria a recomendação para todos
os gatos que não tivessem contaminados. O controle da doença é muito importante. Limpeza
dos locais que os animais vivem é essencial. A cepa do vírus VS-FCV ainda não tem relatos
no Brasil, porém a é uma doença altamente fatal, de grande importância, e que consiste em
um ameaça para a população geral de felinos de todo o mundo. Essa patologia é considerada
um desafio para os clínicos tanto no diagnóstico quanto no tratamento desses animais quando
se tem a certeza dos animais acometidos. Portanto, a prevenção é de suma importância e
continua sendo o método mais eficaz para evitar a disseminação.

REFERÊNCIAS
BATTILANI M.; VACCARI F.; CARELLE M. S. et al. Virulent feline calicivirus disease in
a shelter in italy: A case description. Res. Veterinary Science. 2013, http://
dx.doi.org/10.1016/j.rvsc.2013.01.025

BRICE S.R., POULET H., PINGRET J.L., JAS et al. A nosocomial outbreak of feline
calicivirus associated virulent systemic disease in France. Journal of Feline Medicine and
Surgery v. 11, p. 633 – 644, 2009.
FOLEY J.; HURLEY K.; PESAVENTO P. A.; POLAND A.; PEDERSEN N. C. Virulent
systemic feline calicivirus infection: local cytokine modulation and contribution of viral
mutants. Journal of Feline Medicine and Surgery. v. 8 p. 55 - 61, 2006.
GILLESPIE, J.H.; SCOTT, F.W, Feline viral infections. Advanc Vet Sei, v. 17, p.163-
200, 1973.
HURLEY K. F., PESAVENTO P. A., PEDERSEN N. C., POLAND A. M., WILSON E.,
FOLEY J. E. An outbreak of virulent systemic feline calicivirus disease. JAVMA. v. 224, no.
2, 2004.
PEDERSEN N.C., ELLIOTT J.B., GLASGOW A., POLAND A., KEEL K. An isolated
epizootic of hemorrhagic-like fever in cats caused by a novel and highly virulent strain of
feline calicivirus. Veterinary Microbiology. v. 73 p. 281 – 300, 2000.
POVEY, R.C.; JOHNSON, R.H. Observations on the epidemiology and control of viral
respiratory disease incats. J Small Anim Pract, v.11, p. 485-494, 1970.
SCHORR-EVANS; POLAND A.; JOHNSON W.E.; PEDERSEN N.C. An epizootic of
highly virulent feline calicivirus disease in a hospital setting in New England. Journal of
Feline Medicine and Surgery v. 5 p. 217–226, 2003.
SMITH A.W.; IVERSEN P.L.; O’HANLEY P.D. et al. Virus-specific antiviral treatment for
controlling severe and fatal outbreaks of feline calicivirus infection. AM J VET RES v. 69 p.
23-32, 2008.
STUDDERT, M.J. Caliciviruses: Brief review. Arch Virol, v. 58, n. 3, p. 157-191, 1978.

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