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Mini currículo
Química (UNICAMP, Brasil) com Doutorado em Síntese Orgânica (UNICAMP, Brasil) e Pós-Doutorado em
Toxicologia Celular e Molecular de Radicais Livres (UNICAMP) e em Lesões de Ácidos Nucleicos (CNRS,
França). Certificada no curso "Cosmetics Safety Assessment in the UE" pela Universidade de Bruxelas.
Entre outras atividades no Brasil, foi gerente técnico de Pesquisa Clínica em Allergisa Pesquisa
Dermatocosmética, Especialista HPLC na Alcon Laboratórios, Gerente de Segurança de produtos da
Natura, e Coordenador de Pesquisa na Universidade Bandeirantes (UNIBAN) e docente do Curso de
Especialização em Cosmetologia das Faculdades Oswaldo Cruz. Autora dos livros "Pele - Estrutura,
Propriedades e Envelhecimento" (pele - estrutura, propriedades e envelhecimento) e "Pele - do
nascimento à Maturidade" (Pele - desde o nascimento até à maturidade).
Diretora do Instituto Harris, uma empresa especializada em operação desde 2008, que destaca-se pela
experiência de sua equipe no suporte à criação de ativos e produtos cosméticos desenvolvidos, avaliados
e aprovados como seguros, sem o uso de testes em animais. Idealizadora e Criadora da COSMETOPEIA- A
biblioteca essencial, contendo informações sobre a segurança e restrições regulatórias de mais de 2000
ingredientes cosméticos.
Resumo
Las micotoxinas más estudiadas son aflatoxina B1, ocratoxina A, deoxinoveolenol, zearalenona,
fumonisina B1 y tricotecenos, pero otras pueden ocurrir y todas presentan peligros
característicos. En cuanto a sus aspectos toxicológicos y exposición del consumidor de
cosméticos, sugerimos que el análisis de micotoxinas sea elemento de especificación en materias
primas de origen vegetal.
Introdução
Micotoxinas são compostos tóxicos produzidos por fungos (do grego, mykes = fungo) e que
foram descobertas apenas em 1960, após um surto de mortes de aves de criação (perus) no
Reino Unido, atribuído à ração preparada com amendoins importados da África e Brasil. Hoje já
há mais de 400 micotoxinas identificadas, havendo indicativos de que existem milhares delas.1
Essas toxinas são metabólitos secundários policetônicos resultantes das reações de
condensação que ocorrem quando se interrompe a redução dos grupos cetônicos na biossíntese
dos ácidos graxos realizada pelos fungos. Não são conhecidas exatamente suas funções nos
fungos, mas sabe-se que alguns deles produzem diferentes micotoxinas, e há micotoxinas
comuns a diferentes fungos.2
As micotoxinas existem principalmente em micélios e esporos de estirpes toxigênicas dos
fungos. Elas também podem ser encontradas nos conidiosporos (do grego, konis = poeira), que
são células leves que flutuam no ambiente e que, ao cair em um material apropriado, são
capazes de gerar sozinhas um novo mofo ou bolor.
Condições tropicais, tais como altas temperaturas e umidade, monções, chuvas fora de época
durante a colheita, e enchentes propiciam a proliferação de fungos e produção de micotoxinas.2
Dentre as milhares de espécies de fungos, apenas cerca de 100 pertencentes aos gêneros
Aspergillus, Penicillium, Alternaria e Fusarium são reconhecidos por produzir micotoxinas e,
dentre as aproximadamente 400 micotoxinas conhecidas, as mais importantes são as aflatoxinas
(AFs), zearalenone (ZON), deoxinevalenol (DON ou vomitoxin), fumonisins (FUM), ocratoxinas
(OTs) e tricotecenos (T-2 e HT-2).
Esses fungos produtores de micotoxinas são categorizados em dois grupos principais: os fungos
de campo, que atacam as plantas antes da colheita, e aqueles que se proliferam nas sementes
armazenadas, denominados fungos de armazenamento. Muitos desses fungos são também
encontrados em residências3, levando à ocorrência de doenças imunológicas e neurológicas
diversas, associando-se o maior tempo de exposição diretamente à observação de doenças.
As espécies Aspergillus e Fusarium são provavelmente as mais significativas dentre os fungos de
campo encontrados em países tropicais em desenvolvimento. 4
Depois da colheita, quando os grãos ou sementes ficam dormentes, como resultado do processo
de secagem, desaparecem as associações entre os fungos e as plantas, e os fatores físicos
determinam se membros do outro grupo - os fungos de armazenamento - criarão e/ou
produzirão ou não micotoxinas.
Os fatores primários que influenciam a criação de fungos em produtos armazenados são o
conteúdo de umidade (mais precisamente, a atividade da água) e a temperatura de
armazenamento do produto. Na prática, nos trópicos, a temperatura é quase sempre boa para
fungos de armazenamento. Por isso, é a ação da água que se torna o principal determinante de
invasão e crescimento de fungos4,5. Práticas de colheita, armazenamento, distribuição,
transporte e processamento inadequados também podem contribuir para o crescimento de
fungos e aumentar o risco de produção de micotoxinas.4
Assim, a ameaça de contaminação de produtos de origem vegetal por micotoxinas aumenta,
tornando a intoxicação humana e animal real e de grande preocupação, visto que na América
Latina a contaminação de alimentos leva a uma elevada exposição crônica6, ressaltando que a
aflatoxicose (intoxicação pelo consumo crônico de aflatoxinas) foi reconhecida pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) como a sexta entre as dez maiores ameaças à saúde pública nos países
em desenvolvimento7.
Deve-se ressaltar porém que a contaminação com fungos e suas micotoxinas atinge também
alimentos que nem sempre são arrolados nas listas dos alimentos suspeitos, como por exemplo
o arroz polido. Em um trabalho desenvolvido na Coreia8, se observou uma exposição da
população à ocratoxina A (OTA) presente em arroz, produzida pelo fungo P. verrucosum, a níveis
que representam um risco à saúde daquela população, contudo, no Brasil apenas as micotoxinas
DON e ZON são monitoradas em arroz e derivados. OTA, assim como AFB1 e DON foram também
detectadas em alimentos (massas)9, observando que, embora os níveis encontrados estejam
dentro do aceito para adultos, não são aceitáveis para crianças que, adicionalmente, estariam
mais expostas devido à dieta pouco variada.
Em um estudo com 1360 amostras de alimentos de diferentes regiões (tabela 1)10, se observou
haver grande flutuação no perfil de micotoxinas presentes. Nesse mesmo estudo observou-se
que 89% das amostras analisadas continham ao menos uma micotoxina e 35% continham mais
de uma micotoxina.
Tabela 1: Prevalência das principais micotoxinas no mundo10
Região Afla (%) ZON (%) DON (%) FUM (%) OTA (%)
América do Norte 25 17 60 52 21
América do Sul 9 12 13 63 1
Norte da Europa 0 35 68 36 30
Centro da Europa 33 22 40 60 30
Sul da Europa 26 21 19 69 28
Oriente Médio 39 0 14 67 43
Norte da Ásia 13 64 51 48 72
Sudoeste da Ásia 61 30 43 46 17
Sul da Ásia 75 14 29 46 39
Oceania 4 10 47 6 4
Estudos conduzidos no Brasil mostram que a situação local não se diferencia dos demais países.
Pelo contrário: em algumas situações pode ser considerada pior. Um interessante exemplo onde
essas situações poderiam ser consideradas críticas seria no uso de ingredientes de origem
vegetal, como por exemplo na fitoterapia.
Um estudo analisou Cassia acutifolia Delile (sene) e Peumus boldus (Molina) Lyons (boldo-do-
Chile) comercializadas em farmácias de manipulação e mercados da cidade de Campinas, Brasil,
e evidenciou que 45% das amostras analisadas apresentavam contaminação por fungos acima
de 500 UFC/g, limite preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).11 Dentre os fungos
identificados nessas amostras encontravam-se fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium,
produtores de aflatoxinas.
As aflatoxinas são consideradas as mais perigosas, apresentando diversos efeitos tóxicos, sendo
o mais conhecido seu potencial carcinogênico. Porém, também se observou que diversas
micotoxinas podem atuar como imunomoduladores. A baixas concentrações e exposição
crônica, essas toxinas atuam como agentes imunossupressores aumentando a susceptibilidade
a doenças. Porém, em função da dose e rota de exposição, as micotoxinas podem também atuar
como imunoestimuladores e, em ambas as situações, se observa que são capazes de atuar tanto
na resposta imunológica celular como na resposta humoral.15
Quando as condições ambientais favorecem o crescimento, várias espécies de fungos podem
crescer juntas e a exposição simultânea a múltiplas micotoxinas pode levar à sinergia ou
potenciação das toxicidades individuais. A reação às misturas de toxinas tem sido associada com
a “síndrome da poeira orgânica”. Esta doença, anteriormente conhecida como “pulmão de
fazendeiro”, que geralmente afeta os trabalhadores da zona rural, é uma síndrome inflamatória
aguda das células respiratórias que ocorre após a exposição a uma alta concentração de
microrganismos (1010 esporos/m3). Entre os agentes etiológicos estão os fungos (micotoxinas,
beta-1,3-glucano e proteinases), mas também pode ser causada pela exposição simultânea a
substâncias de origem fônica e endotoxinas da parede celular bacteriana16, 17
Com base nas toxicidades encontradas, foram estabelecidas doses diárias máximas
consideradas aceitáveis, quando não for possível a remoção do contaminante (tabela 2).
Micotoxinas em cosméticos
A ação direta das micotoxinas sobre a pele foi avaliada em vários trabalhos, em que se observou,
por exemplo, que os tricotecenos são potentes irritantes e podem causar vermelhidão a doses
muito baixas.
As principais reações causadas pela exposição dérmica a micotoxinas são irritação e necrose,
induzidas principalmente pelas micotoxinas T2 e satratoxina16. Após a exposição cutânea a
micotoxinas, foram observadas também a indução de tumores na pele e no fígado25, assim como
apoptose das células da epiderme.
Devido ao efeito de reservatório da pele, não apenas as pessoas expostas cronicamente, mas
também aquelas expostas ocasionalmente às micotoxinas apresentam um risco aumentado
para apoptose epiderme, câncer de pele e doenças imunológicas relacionadas.1,26
Existem poucos estudos sobre o tema, embora nas avaliações do CIR existam referências à
presença dessas toxinas em matérias-primas cosméticas27 e exista uma colocação da OMS sobre
a importância da avaliação da exposição dérmica às micotoxinas.28
Um estudo realizado que monitorou a presença de micotoxinas em produtos cosméticos
contendo possíveis substratos para o crescimento de fungos produtores de micotoxinas,
mostrou que 68% das amostras continham entre 0,4 a 78,5 μg aflatoxina/kg, sendo que na
maioria das amostras todos os quatro principais tipos de aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2) estavam
presentes.29
Conclusão
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