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Universidade Federal da Bahia

Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia


MEV C90 – Casos Clínicos em Toxicologia Veterinária

Relatório de Aula

Nome do Discente: Ana Clara Florentino El Sarraf e Camile Silva Andrade


Caso Clínico: Relatório nº 5
Diagnóstico

Aflatoxicose crônica em cão da raça Pastor Alemão com 8 anos de idade por
ingestão de Aflatoxina flavus.

Fisiopatologia

A partir de exposição à condições adequadas de temperatura e, principalmente,


umidade, todos os fungos podem dar origem às chamadas micotoxinas. Estas toxinas
de origem fúngica podem causar danos ao organismo desde sinais clínicos leves, como
vômito e mal estar, até os mais severos, também sendo capaz de conduzir o indivíduo
ao óbito. Dentre as micotoxinas mais comuns no Brasil, está a aflatoxina, presente em
fungos que contaminam grãos, como o Aspergillus flavus, Aspergillus parasiticus ou
Aspergillus nominus, os quais tipicamente geram tais subprodutos quando expostos ao
clima tropical ou subtropical (MUZOLON, 2008).
As aflatoxinas (AFB1, AFB2, AFM1, AFG1 e AFG2) posuuem destaque entre
as micotoxinas por sua alta toxicidade, capacidade carcinogênica e grande frequência
de casos, sendo que está presente em alimentos como cereais, milho, amendoim e arroz,
também podendo ser facilmente detectado em rações para animais. Vale ressaltar que,
no Brasil, o limite de aflatoxinas presentes nos alimentos para animais é de 50 µ/kg e
a contaminação dos alimentos por esta toxica traz consequências de importância
sanitária e econômica (MUNHOZ & SAKATE, 2015).
A AFB1 é considerada a aflatoxina com mais alta toxicidade, seguida por
AFM1, AFG1, AFB2 e AFB2. Após a ingestão do alimento, a aflatoxina é
biotransformada no fígado, onde esta é ativada pelo citocromo P450 de forma
irreversível. O citocromo P450 também está envolvido no processo de oxidação do
epóxido da AFB1. Em cães, a dose letal mediana ou DL50 é de 1,0 ml/kg, sendo esse o
parâmetro levado em consideração para determinar se há ou não uma susceptibilidade
à aflatoxicoses agudas (CAMPOS, 2007).
Quanto aos sinais clínicos os mais significativos estão relacionados aos danos
hepatotóxicos, carcinogênicos, teratogênicos e imunodepressivos, sendo que variam de
acordo com espécie, raça, idade, estado nutricional, quantidade ingerida e o período
pelo qual foi exposto à micotoxina. Animais mais jovens e gestantes são mais
susceptíveis à aflatoxicose por AFB1. As aflotoxicoses podem ser classificadas como
aguda, subaguda ou crônica, sendo a primeira ocasionada por súbita ingestão de alta
quantidade da substância, a segunda por ingestão moderada durante poucas semanas e
a última por ingestão contínua ou intermitente de baixa a moderada quantidade de
alimento contendo aflatoxinas (MUNHOZ & SAKATE, 2015).
Uma observação que merece destaque é que grande parte das micotoxinas
sintetizadas antes do processamento dos alimentos são altamente resistentes e podem
ainda estar presentes na ração após seu processamento. A contaminação por fungos,
além de trazer o perigo à saúde do animal que irá consumir o alimento pela
possibilidade de micotoxicoses, caso a quantidade de micotoxinas presentes exceda o
limite, o animal também vai consumir um alimento com menos nutrientes e validade
mais curta. Com isso, é muito importante o cuidado na indústria avaliando a presença
e se afeta a ração que vai ser disponibilizada ao animal, assim como às condições de
armazenamento dos alimentos depois de comprados pelos tutores (CAMPOS, 2008).

Tratamento

Segundo Puschner (2002), o tratamento para intoxicação por aflatoxinas ou


micotoxinas de modo geral se resume ao tratamento suporte e sintomatológico (no caso
de aflatoxina, que comumente cursa com dano hepático, tratamento com base em
fluidoterapia, suplementação com vitaminas do complexo B e glicose). Para
manutenção, indica-se solução por administração intrevenosa de ringer lactato com
potássio à 20 mEq/L. O autor também recomenda, caso haja hipoalbuminemia, a
administração de Dextrose e, devido à deficiência na coagulação pela disfunção
hepática, recomenda a transfusão de plasma ou de sangue total.
Stenske e colaboradores (2006), acompanharam os casos de cães
diagnosticados com aflatoxicoses na Escola Veterinária da Universidade de Tennesy.
Foi realizado um tratamento suporte por via IV de solução eletrolítica com cloreto de
potássio, suplementos nutricionais, como vitamina K e S-adenosil-L-metionina, o
protetor gástrico famotidina e o antibiótico ampicilina, além de transfusão de plasma.

Prevenção
Levando em consideração o fato da aflatoxicose ser subdiagnosticada, é
importante salientar a conscientização da população de modo geral e especialmente dos
tutores, por parte do médico veterinário, sobre os devidos cuidados quanto ao
armazenamento de alimentos e rações animais, não permitindo assim que diversos
fatores, principalmente a umidade, façam com que seus animais de companhia sejam
expostos às micotoxicoses. Também é importante que o profissional passe a incluir na
sua rotina clínica, se possível, métodos que identifiquem a pesença de micotoxinas,
inclusive em amostras das rações ofertadas aos animais (GUTERRES, 2017).
Referências

- CAMPOS, Sérgio Gaspar de. Monitoramento de aflatoxinas, fungos toxigênicos e


níveis de contaminação em matérias primas e alimentos balanceados. Aflatoxicose
natural em cães no estado do Rio de Janeiro. 2007. 96 f. Tese (Doutorado em Ciências
Veterinárias) - Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Seropédica - RJ, 2007. Disponível em: https://tede.ufrrj.br/handle/tede/809.

- CAMPOS, S. G., CAVAGLIERI, L. R, FERNÁNDEZ JURI, M. G., DALCERO, A. M.,


KRÜGER, C., KELLER, L. A. M., MAGNOLI, C. E., ROSA, C. A. R. Mycobiota and
aflatoxins in raw materials and pet food in Brazil. Journal of Animal Physiology and
Animal Nutrition, v. 92, p. 377-383, 2008. Disponível em: https://doc-00-b0-apps-
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80k65h10flnhh3oq51p4i19fcpja9/1607713425000/drive/16923272140972852309/ACFrO
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6ajW2KwUNMVbRgFMoUdrLlw_9I7lVu?print=true.

- GUTERRES, Karina, SILVA, Cristine, GIORDANI, Claudia, MATOS, Caroline,


ATHAYDE, Cristiane, DILKIN, Paulo, GRECCO, Fabiane e CELFF, Marlete. Surto de
aflatoxicose aguda em cães no município de Pelotas/RS. Pesq. Vet. Bras., v. 37, n. 11, p.
1281-1286, novembro 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pvb/v37n11/1678-
5150-pvb-37-11-01281.pdf.

- MUNHOZ, Patrícia Marques, SAKATE, Michiko. Micotoxicoses em Pequenos Animais.


In: JERICÓ, Márcia Marques; ANDRADE NETO, João Pedro de; KOGIKA, Márcia Mery.
Tratado de medicina interna de cães e gatos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 3519-3553.

- MUZOLON, P. 2008. Micotoxicoses em cães. Dissertação de Mestrado, Universidade


Federal do Paraná, Curitiba, 94 p, 2008. Disponível em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/16686/DISSERTA%C3%87%C3%83
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- PUSCHNER, B. Mycotoxins. Veterinary Clinics of North America: Small Animal


Practice, v.32, n.2, p.409–419, 2002. Disponível em:
https://www.vetsmall.theclinics.com/article/S0195-5616(01)00011-0/pdf.
- STENSKE, K. A., SMITH, J. R., NEWMAN, S. J., NEWMAN, L. B., & KIRK, C.
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Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 228, n.11, p.1686–1691,
2006. Disponível em: https://avmajournals.avma.org/doi/full/10.2460/javma.228.11.1686.

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