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5ª Jornada Científica e Tecnológica da FATEC de Botucatu

24 a 27 de Outubro de 2016, Botucatu – São Paulo, Brasil

MASTITE
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POR PROTOTHECA: RELATO DE CASO
Ana Luísa H. Albuquerque , Helena M.K.F. Petillo1, Beatriz A. Woserow1, Karolina Koether1, Luíza S. Zakia1,
Raphael T. Teixeira1, Amanda S. Cruz Aleixo2, Renato A. Acerra3, Alexandre S. Borges4, Simone B. Chiacchio4,
José P. Oliveira Filho4, Rogério M. Amorim4, Taís Rocha4, Maria Lúcia G. Lourenço4
1 Residentes Clínica de Grandes Animais FMVZ-Unesp-Botucatu
2 Pós graduanda Departamento de Clínica Veterinária FMVZ-Unesp-Botucatu amanda.cruz21@hotmail.com
3 Granduando Curso de Agronegócios Fatec-Botucatu
4 Docentes Departamento de Clínica Veterinária FMVZ-Unesp-Botucatu

1 INTRODUÇÃO
A mastite bovina na sua apresentação clínica ou subclínica é a afecção mais prevalente em
rebanhos leiteiros (ALMEIDA, 2016), ocasionando prejuízos aos produtores, principalmente
devido à redução na produção de leite. Essa redução ocorre em detrimento de alterações nas
células epiteliais secretoras e na permeabilidade vascular do alvéolo secretor durante a
infecção. A extensão da perda é influenciada por diversos fatores como gravidade da infecção,
tipo de microrganismo envolvido, idade do animal, estado nutricional e potencial genético. A
ocorrência de mastite pode acarretar em perdas na produção na lactação atual e também na
lactação seguinte, comprometendo a produção total do animal (CUNHA et al., 2008). Durante
as últimas décadas, o impacto econômico da mastite tem sido motivo de várias pesquisas. A
análise de custos da mastite em rebanhos leiteiros inclui perdas associadas à ocorrência da e
medidas instituídas para o seu controle. No entanto, devido ao seu caráter multifatorial, o
controle e a terapia medicamentosa tornam-se limitados (LOPES et al., 2016).
Mudanças no perfil dos patógenos envolvidos na afecção vem, atualmente, ocorrendo em
fazendas leiteiras modernas e alterando o cenário econômico da produção leiteira. Os
patógenos contagiosos, que até então figuravam como principais causadores da mastite, tem
sido substituídos por patógenos de origem ambiental em razão da implantação de medidas de
controle da mastite contagiosa (ALMEIDA, 2016). Apesar de infrequente, a mastite por
prototecose é considerada emergente e sua maior relevância se deve a ineficiência da ação de
antimicrobianos (YAMAMURA et al., 2008).
As algas do gênero Prototheca perderam o pigmento clorofila e a capacidade de realizar a
fotossíntese, havendo necessidade de fonte heterotrófica de nutrientes, o que pode ter
conferido potencial patogênico à esse microrganismo. O gênero está presente na natureza,
principalmente em ambientes ricos em matéria orgânica. São algas unicelulares e imóveis, de
distribuição mundial. A matéria fecal aumenta a contaminação ambiental, favorecendo a
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transmissão do agente para outros hospedeiros (CAMBOIM etal., 2010).


O objetivo do presente trabalho foi relatar o caso de um animal da espécie bovina, fêmea,
da raça Holandesa, portadora de mastite por Prototheca sp, atendida no Hospital Veterinário
da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, FMVZ-Botucatu. A mastite é uma afecção
comum nas fazendas de gado leiteiro e acarreta impactos econômicos significativos devido à
redução da produção e necessidade de descarte dos animais. Atualmente, as pesquisas em
mastite por Prototheca sp vem aumentando, uma vez que os agentes bacterianos eram
comumentemente relacionados à causa da afecção, porém este cenário alterando-se.

2 RELATO DE CASO

Foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e


Zootecnia-UNESP, campus Botucatu um bovino, fêmea, de aproximadamente 10 anos, da raça
Holandesa com queixa de emagrecimento progressivo, aumento de volume em úbere e
hiporexia. Ao exame físico foi observado escore corporal 2/5, mucosas pálidas, linfonodos
mamários reativos (aumento de volume e quentes à palpação). A classificação da palpação dos
quartos mamários direito anterior foi grau IV, posterior grau V e secreção láctea C de acordo
com notação de Hanover, hipomotilidade ruminal (um movimento incompleto em cinco
minutos), desidratação (7%), claudicação grau quatro em membro torácico esquerdo,
arqueamento de dorso, fezes escuras e normalidade dos demais parâmetros.
Foram realizados hemograma completo, ultrassonografia abdominal, radiografia do
membro torácico esquerdo, cultura microbiológica da secreção láctea e contagem de células
somáticas (CCS) de todos os tetos, além da análise do líquido peritoneal e ruminal como
exames complementares. No hemograma foi observado aumento de proteína plasmática (8,6
g/dL), leucocitose (17,8 x 103/μL), neutrofilia (6,1 x 103/μL de segmentados), linfocitose (10,9
x 103/μL) e monocitose (0,9 x 103/μL). Ao ultrassom abdominal foi observado hipomotilidade
de abomaso, na qual levou-se em consideração abomasite e/ou úlcera de abomaso.
Ao raio-x observou-se alterações ósseas compatíveis com osteíte podal e osteoartite
metacarpo-falangeana. A análise do líquido peritoneal revelou coloração avermelhada e
aspecto turvo, densidade 1.024, coagulação positiva, pH 9.0, 5.8 g/dL de proteínas, 1.200
hemácias e 113 células nucleadas/uL, celularidade com predomínio de neutrófilos
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segmentados (74%), seguido de linfócitos (22%), células mononucleares (03%) e eosinófilos


(01%), além de presença de grande quantidade de hemácias livres e íntegras. Na análise do
líquido ruminal a coloração verificada foi verde oliva, odor aromático, consistência fluida,
redução no azul de metileno maior do que 15 minutos, raros protozoários pequenos e médios.
No cultivo microbiológico da secreção láctea foi isolado Prototheca sp dos quartos do lado
direito e CCS de todos os tetos acima de 8.000.000 cels/mL.
A terapia instituída foi transfaunação (15 L), fluidoterapia com ringer simples (20 L),
anti-inflamatório não-esteroidal (2.2 mg/kg flunixin meglumine ), ducha em úbere (10 minutos
3 vezes ao dia), antibioticoterapia (5 mg/kg - ceftiofur), protetor gástrico (ranitidina 1,5 mg/kg
e omeprazol 4 mg/kg), além de secagem dos tetos com 10 mL de iodo 2% intramamário. Após
quatro dias o animal apresentou normorexia e normalização do leucograma. Após 10 dias, foi
suspensa a antibioticoterapia. Após dois dias o animal permaneceu em decúbito e apresentou
dificuldade de manter-se em estação, sendo realizado ozonioterapia intravenosa diluída em
ringer simples (10L). O mesmo permaneceu estável, porém ocorreu queda na baia, o que
ocasionou ruptura do ligamento redondo do membro pélvico e fratura incompleta de púbis,
como relatado no exame necroscópico, além disso, observou-se no referido exame abomasite
ulcerativa.

3 DISCUSSÃO
Os microrganismos predominantes na etiologia das mastites bovinas de propriedades das
bacias leiteiras do Estado de São Paulo são pertencentes às espécies dos gêneros
Corynebacterium, Staphylococcus e Streptococcus (YAMAMURA et al., 2008). No presente
relato a mastite foi em decorrência da contaminação dos tetos pela alga Prototheca sp.
Segundo Amorim et al. (2010), no Brasil, os primeiros casos de mastite por Prototheca sp.
foram relatados em propriedades leiteiras dos estados de Minas Gerais e São Paulo, sendo que
a afecção vem sendo considerada emergente, pois a sua ocorrência tem aumentado
consideravelmente.
O quadro subclínico se caracteriza pela redução na produção de leite e elevada CCS,
geralmente superior a 1.000.000 CS/mL, podendo atingir valores próximos a 9.000.000
CS/mL (BUENO et al., 2006), sendo que no presente relato a CCS de todos os tetos foi acima
de 8.000.000 cels/mL, condizente com o autor referido. Nos casos clínicos, o tecido conectivo
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interalveolar apresenta infiltração de linfócitos, macrófagos, neutrófilos e focos de eosinófilos


(BUENO et al., 2006). Podem ser encontrados neutrófilos e macrófagos no lúmen alveolar,
contendo o agente fagocitado, além de células gigantes nos infiltrados intersticiais. No
presente relato a análise do líquido peritoneal revelou alta celularidade com predomínio de
neutrófilos seguidos de linfócitos, exacerbando a presença de processo
inflamatório/infeccioso.
A alga prototheca é extremamente resistente aos antimicrobianos, fato que limita a
erradicação e/ou tratamento da afecção. A utilização do ozônio na forma de gás pode ser
benéfica no combate ao agente e possui efeito germicida, porém há necessidade de novas
pesquisas para se determinar concentrações de gases efetivas para cessar o agente (Filho et al.,
2014). Foi instituído terapia com ozônio e houve melhora do quadro clínico do animal pós-
terapia.
O animal do presente relato apresentou melhora com a terapia medicamentosa instituída,
sendo que a antibioticoterapia foi instituída visando evitar infecção bacteriana que o animal
pudesse adquirir durante o tratamento, uma vez que o mesmo encontrava-se com seu status
imunológico comprometido. Houve resposta positiva à terapia, porém uma queda na baia foi a
causa da piora do quadro clínico. Apesar da mastite ser, geralmente, causada por agentes
bacterianos há necessidade de investigação quanto a presença da alga Prototheca, pois a
incidência do agente vem elevando-se. O diagnóstico errôneo do agente pode elevar as perdas
econômicas e o número de animais designados ao descarte.

4 CONCLUSÕES
A mastite causada por Prototheca tem apresentado uma casuística cada vez mais frequente,
o que pode ser em detrimento das condições climáticas favoráveis do país para a manutenção
e desenvolvimento do agente. A afecção acarreta em diminuição da produção leiteira e
descarte dos animais, o que promove impactos econômicos significativos e preocupantes.
Estudos com enfoque nos fatores de risco associados à mastite, principalmente em algas do
gênero Prototheca são necessários, visando-se à prevenção e instituição de métodos de
controle mais eficazes.
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5 REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A.P. Fatores de risco para casos repetidos de mastite clínica em vacas leiteiras de alta produção.

Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2016.

AMORIM, R.N.L. et al. Mastite clínica em bovino causada por Prototheca zopfii no estado do Ceará. Acta

Veterinaria Brasilica, v.4, n.4, p.307-311, 2010.

BUENO, V.F.F.; MESQUITA, A.J.; NEVES, R.B.S.; SOUZA, M.A.; RIBEIRO, A.R.; NICOLAU, E.S.;

OLIVEIRA, A.N. Epidemiological and clinical aspects of the first outbreak of bovine mastitis caused by

Prototheca zopfii in Goiás State, Brazil. Mycopathologia, Den Haag, v. 161, v. 3, p. 141-145, 2006.

CAMBOIM, E.K.A. et al. Prototecose: uma doença emergente. Pesq. Vet. Bras. v30, n.1, p.94-101, 2010

CUNHA, R.P.L. et al. Mastite subclínica e relação da contagem de células somáticas com número de lactações,

produção e composição química do leite em vacas da raça Holandesa. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.60, n.1,

p.19-24, 2008.

FILHO, A.C. et al. Tratamento de mastite em ovino causada por Prototheca sp.através do ozônio: relato de caso.

XXIV Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica – CBEB. p.1625-1627, 2014.

LOPES, M.A. et al. Sistema computacional: Avaliação do impacto econômico da mastite. PUBVET v.10, n.4,

p.312-32, 2016.

YAMAMURA, A.A.M. Fatores de risco associados à mastite bovina causada por Prototheca zopfii. Ciência Rural,

v.38, n.3,p. 755-760, 2008.

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