UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

CRR DOENÇAS INFECCIOSAS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS

COLETA, TRANSPORTE E PROCESSAMENTO DE MATERIAL DO SISTEMA DI-

GESTÓRIO

SIMONE WAGNER MENEGOTTO

REALEZA
2020
COLETA, TRANSPORTE E PROCESSAMENTO DE MATERIAL DO SISTEMA DI-
GESTÓRIO

Em quais situações, você como médica (o) veterinária (o) coletaria alimentos para envio a
um laboratório de diagnóstico veterinário? Responda, de modo fundamentado, pensando
em doenças infecciosas.

A cavidade oral é uma das principais vias de entrada para o organismo, dando oportu-
nidade também para entrada de inúmeros patógenos através da água ou alimentos. Tendo em
vista a importância da alimentação para os animais de produção e a alta incidência de problemas
com ela relacionados, faz-se necessária uma avaliação do manejo e das instalações, assim como
uma inspeção dos alimentos, armazéns e áreas de pastoreio (MAPA/OPASPANAFTOSA,
2010).

Em casos de surtos de doenças que envolvem o trato gastrointestinal, pode-se suspeitar

que a enfermidade seja oriunda daquilo que os animais estão ingerindo. Um exemplo são casos
de botulismo, resultante principalmente da ingestão de toxina previamente formada pela bacté-
ria anaeróbia Clostridium botulinum. Essa bactéria pode ser ingerida devido ao hábito da oste-
ofagia ou mesmo pela ingestão de alimentos contaminados com matéria orgânica em decom-
posição (LOBATO, 2008) como silagens mal fechadas, rações e cama de frango contaminadas
com carcaças de animais. Nesses casos, uma amostra do alimento deve ser coletada e enviada
a um laboratório de diagnóstico veterinário para se confirmar a presença da toxina botulínica.

Outro exemplo em que é importante a coleta de alimento para envio ao laboratório de

diagnóstico veterinário são casos de salmonela, uma enfermidade importante na avicultura que
pode causar graves perdas ambientais e econômicas, além do problema de saúde pública (PI-
GATTO, 2009).

Além das rações das aves, há a possiblidade de as rações, petiscos, saches e guloseimas
de cães e gatos estarem contaminados com salmonela, devido a gordura que é posta no alimento
para dar mais sabor. É sugerido que várias gorduras e óleos podem atuar como veículos para a
contaminação microbiana na indústria de ração seca por meio de capacidades tampão experi-
mentadas durante os tratamentos térmicos (LAMB K et al., 2018).
 Por conseguinte, em casos de surtos, onde mais do que um animal apresenta os mesmos
sinais clínicos tendo uma mesma rotina, uma mesma fonte de água e alimento, muito provavel-
mente a causa da enfermidade pode ser encontrada naquilo que os animais ingeriram. Por isso,
ações como verificar as instalações, áreas de pastejo, manter sacos de ração bem fechados são
extremamente importantes, inclusive para precaução da ingestão de outras bactérias, fungos e
vírus, além de intoxicações por plantas tóxicas, ureia, etc.

Para uma boa análise laboratorial dos alimentos, é preciso retirar amostras parciais dos
alimentos de interesse a serem analisados (ração comercial, grãos, silagem, feno, restos de cul-
tura, palhadas e suplementos) em vários pontos do local de interesse (campo, armazém, saca-
rias, cocho, silos etc.). Após a coleta dessa amostra, deve-se homogeneizar e coletar uma única
amostra que irá representar a média de toda amostra inicial. A amostra final então deve ser
encaminhada ao laboratório em até 48 horas para análise química e pesquisa de agentes como
toxinas e bactérias, entre outros agentes (MAPA/OPASPANAFTOSA, 2010).
REFERÊNCIAS

DUTRA, Iveraldo S.; DÖBEREINER, Jürgen; SOUZA, Aires M. Botulismo em bovinos de

corte e leite alimentados com cama de frango. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 25, n. 2, p.
115-119, 2005.

Embrapa Gado de Corte. Esclarecimento sobre Silagem de milho úmido na alimentação de

bovinos. Disponível em: https://www.embrapa.br/documents/1355108/25977269/Esclareci-
mento+-+Silagem+e+Botulismo.pdf/4627b299-ed74-de16-614f-b6ee13e5af47?ver-
sion=1.0&download=true. Acessado em: 26 de outubro de 2020.

LAMB K, Morgan M et al. A Brief History of Pet Foods, the Pathogenic Organisms of Con-
cern, and the Potential Harboring Capacity of Animal Derived Fats. Journal of Food:
Microbiology, Safety & Hygiene 3: 136, 8 maio 2018.

LOBATO, Francisco Carlos Faria et al. Botulismo em ruminantes causado pela ingestão de
cama-de-frango. Ciênc. rural, p. 1176-1178, 2008.

MANUAL VETERINÁRIO DE COLHEITA E ENVIO DE AMOSTRAS: MANUAL

TÉCNICO. Cooperação Técnica MAPA/OPASPANAFTOSA para o Fortalecimento dos Pro-
gramas de Saúde Animal do Brasil. Rio de Janeiro: PANAFTOSA - OPAS/OMS, 2010.

PIGATTO, Caroline Peters et al. Surto de salmonella enteritidis/enteridis em granja pro-

dutora de frango caipira na região sul do maranhão. Archives of Veterinary Science, v. 14,
n. 4, 2009.

WALDNER, Cheryl L.; CAMPBELL, John R. Disease outbreak investigation in food animal
practice. The Veterinary clinics of North America. Food animal practice, v. 22, n. 1, p. 75-101,
2006.