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Mortalidade

de bezerros
MANEJO E PREVENÇÃO
A mortalidade de bezerros é um dos gargalos enfrentado pelos
produtores, afetando de forma direta e indireta os índices de
produtividade e causando prejuízos, seja no setor de carnes como
no de leite. O tema é complexo, pois existem várias causas, desde
nutricionais, infecciosas (bacterianas e virais) e parasitárias, até
genéticas e, principalmente, atribuídas a falhas de manejo. Portanto,
o médico-veterinário tem papel fundamental para auxiliar o produtor
a identificar as possíveis causas dessa mortalidade, levantando os
dados, índices produtivos, reprodutivos e manejo do rebanho.
Em alguns casos, a causa é multifatorial. Com base nos dados obtidos
poderá solicitar auxílio aos laboratórios para que contribuam na
conclusão do caso e para a tomada de medidas de controle.

1. Causas de mortalidade de bezerros


O primeiro passo é identificar
Mortalidade de bezerros
se as mortes dos bezerros
ocorreram na forma de surtos Ocorreram outos Coleta de dados
Epidêmico? casos em anos
(epidêmico) ou existem relatos anteriores?
do rebanho

em períodos anteriores, que


possam indicar se houve
 Sistema de criação: semi-intensivo ou intensivo ou extensivo;
entrada da causa recentemente -- Manejo sanitário:
(ex.: introdução de novo animal -- Esquema de vacinação
 Esquema de vermifugação
na propriedade) ou se já
 Manejo reprodutivo
houve casos de mortalidade
na propriedade ou na região, Esquema representativo para levantamento da
anteriormente. mortalidade de bezerros em uma propriedade.
Levantamento de dados da propriedade: além de obter os dados
zootécnicos dos animais, manejo sanitário e reprodutivo da propriedade,
é importante saber o sistema de criação, pois este pode influenciar na
transmissão de doenças infecciosas. Por exemplo: o risco de transmissão
de doenças é maior quando os animais são criados intensivamente, pois
o contato entre os animais aumenta. Outro fator é o manejo sanitário
adotado na propriedade, como quarentena para os animais recém-
adquiridos, vacinas utilizadas, esquema de vermifugação e manejo
reprodutivo, pois algumas doenças também podem ser transmitidas
sexualmente e, dependendo delas, podem levar ao nascimento de
animal infectado.

2. Doença neonatal
A mortalidade de bezerros neonatos está principalmente associada às
falhas de manejo, como partos distócicos, desmame, genéticos e doenças
infecciosas. Umbigo mal curado é uma das causas de mortalidade de
neonato, pois não sendo feita uma boa assepsia após o corte do cordão
umbilical, propicia a entrada de micro-organismos, principalmente
bactérias, e associado à baixa imunidade (exemplo: falta de colostro)
permite que um agente infeccioso possa ganhar a corrente circulatória,
levar à sepse e morte do animal.
Partos distócicos comprometem a recuperação do bezerro, principalmente
os mais pesados, que tiveram maior sofrimento no parto.
Causas genéticas, por sinal, pouco estudadas, podem levar ao nascimento
de animais fracos ou neonatos com malformação genética.
A falta de planejamento nos cruzamentos genéticos (exemplo: touro de
1 tonelada para uma novilha primípara) também pode acarretar em
partos distócicos e morte do animal.
Falhas na amamentação bem como falta de habilidade materna
também podem comprometer o desenvolvimento ponderal do bezerro e,
consequentemente, provocar sua morte.
3. Causas infecciosas
Atribui-se às doenças infecciosas a principal causa de mortalidade de
bezerros. Entretanto, normalmente, o que se observa são associações de
fatores, que permitiram a entrada daquele agente infeccioso.
As doenças infecciosas vão contribuir para o desenvolvimento de várias
síndromes sistêmicas ou locais que contribuirão para a morte do animal,
levando em consideração, o estado imunitário desse animal.

Dentre as causas infecciosas, as


bacterianas são as primeiras a serem
incriminadas, seguidas das virais.
Dentre as doenças bacterianas, temos a colibacilose e a salmonelose,
causando diarreia nos bezerros, e a pasteurelose, causando doença
respiratória grave.
No caso das doenças entéricas causadas por vírus temos
rotavírus, coronavírus, diarreia viral bovina (BVD) e
rinotraqueíte infecciosa bovina/vulvovaginite pustular
infecciosa (IBR/IPV), sendo essas duas últimas
também associadas com quadros de doença
respiratória, juntamente com vírus sincicial
respiratório e parainfluenza bovina.
Destaca-se que a BVD, por ser uma doença
imunossupressora, permite a instalação de
outros agentes infecciosos, como a Pasteurella
multocida, levando ao quadro respiratório
grave e morte do animal.
4. Causas
parasitárias
A presença de parasitas
gastrointestinais é fator limitante
para o desenvolvimento ponderal
dos bezerros e grande problema
enfrentado pelos produtores. Nos
casos em que ocorre alta infestação
no animal, podem ocorrer obstrução,
hemorragia e morte do animal. Dessa
forma, é importante fazer o exame
coproparasitológico associado ao controle
estratégico de vermífugos.
As coccidioses também podem causar imunossupressão e
permitir infecções secundárias, levando ao quadro de mortalidade.

5. Causas tóxicas
A presença de plantas tóxicas na propriedade, como samambaia (Pteridium
aquilinum), que leva ao quadro de hematúria enzoótica, pode ocasionar a
morte do animal.

6. Doenças neurológicas
As encefalites também são causa importante de mortalidade, mesmo
em bezerros jovens, sendo a raiva, a principal a ser investigada. Contudo,
existem outros agentes relacionados, como listeriose, clostridiose,
meningoencefalite herpética (BoHV-5), BVD e neosporose.
7. Diagnóstico
Na anamnese, o médico-veterinário deverá obter o maior número de
informações para direcionar o diagnóstico:

 Manejo: sanitário e reprodutivo,

 Sintomas clínicos observados pelo proprietário e funcionários que


lidam diariamente com os animais,

 Entrada de animais novos,

 Vacinas utilizadas na propriedade,

 Mudança na alimentação,

 Problemas reprodutivos, respiratórios, gastrointestinais e neurológicos,

 Esquema de vermifugação,

 Presença de plantas tóxicas.

O médico-veterinário, em muitos casos, necessitará do apoio laboratorial


para identificar a causa da mortalidade em bezerros. Para tanto, durante
a necropsia deve observar atentamente o estado dos tecidos: aumentado,
presença de petéquias, hemorragias, friável ou rígido, malformação.
Quais materiais colher para diagnóstico?
Consultar o Manual Veterinário de Colheita e Envio de Amostras,
desenvolvido pela Organização Pan-Americana da Saúde e pelo Instituto
Biológico (http://www.biologico.sp.gov.br/exames_triagemanimal/manual_
veterinario.pdf).

Colheita de soro, sangue total (anticoagulante EDTA


ou citrato de sódio) e tecidos para diagnóstico de mortalidade de bezerros.
Tecidos de eleição
 intestinos delgado e grosso com conteúdo (amarrar as
extremidades para evitar vazamentos);

 pulmão: congesto, necrose, presença de secreções


nos bronquíolos;

 fígado (observar bordos aumentados, congestos);

 baço (observar aumento de tamanho e principalmente


polpa branca);

 rins: friável, congesto;

 cérebro: congesto.

No caso de tecidos é recomendado acondicionar parte refrigerado/


congelado (exame bacteriano e viral) e parte em formol a 10% para
o histopatológico.
Encaminhar os materiais em caixa de isopor com gelo reciclável,
devendo chegar ao laboratório, em até, no máximo 72 horas,
juntamente com a ficha de requisição geral de exames (http://www.
biologico.sp.gov.br/exames_animal.php) solicitando os exames.

8. Controle e prevenção
De modo geral, adotar medidas de biossegurança,
como quarentena, controle de acesso de pessoas
aos animais, bem como remover as carcaças
das pastagens, é recomendado como medida
de controle para evitar transmissão de doenças,
inclusive interespécies.
A aquisição de novos animais mediante laudo
atestando sobre o estado sanitário, controle de
brucelose e tuberculose (obrigatório) e vermífugos
utilizados é importante para o controle de doenças.
A adoção de vacinas deve ser incluída mediante
levantamento da situação, para evitar gastos
desnecessários, com exceção das vacinas
obrigatórias dos programas oficiais (brucelose e
febre aftosa).
Uma vez identificado o agente causal deve-se
enfrentar o problema, buscando a colaboração do
médico-veterinário e, sempre que necessário, do
laboratório e diagnóstico. Nem sempre o resultado
é imediato, sendo importante a persistência para
minimizar e evitar a mortalidade de bezerros.
Governador do Estado
Geraldo Alckmin

Secretário de Agricultura e Abastecimento


Arnaldo Jardim

Informações
Liria Hiromi Okuda
Centro de P & D de Sanidade Animal/Instituto Biológico
okuda@biologico.sp.gov.br
(11) 5087-1786
Tiragem: 1.000 / Julho 2017

Instituto Biológico
Av. Cons. Rodrigues Alves, 1252
Vila Mariana - CEP 04014-900 - São Paulo - SP
www.biologico.agricultura.sp.gov.br

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