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MICOTOXINAS E MICOTOXICOSES EM ANIMAIS

DOMÉSTICOS

DILKIN, Paulo & MALLMANN, Carlos Augusto


LABORATÓRIO DE ANÁLISES MICOTOXICOLÓGICAS
Departamento de Medicina Veterinária Preventiva
Universidade Federal de Santa Maria
97105-900 – Campus – Santa Maria, RS.
E-mail: dilkin@lamic.ufsm.br http://www.lamic.ufsm.br

FATORES QUE INTERFEREM NA PRODUÇÃO DE MICOTOXINAS


Micotoxinas são substâncias tóxicas resultantes do metabolismo
secundário de diversas cepas de fungos filamentosos. São compostos
orgânicos de baixo peso molecular e não possuem imunogenicidade. Em
climas tropicais e subtropicais, como o nosso, o desenvolvimento fúngico é
favorecido por fatores como excelentes condições de umidade e
temperatura. Os fungos crescem e se proliferam bem em cereais,
principalmente no amendoim, milho, trigo, cevada, sorgo e arroz, onde
geralmente encontram um substrato altamente nutritivo para o seu
desenvolvimento. O crescimento fúngico e produção de micotoxinas em
cereais podem ocorrer nas diversas fases do desenvolvimento, maturação,
colheita, transporte, processamento ou armazenamento dos grãos. Por isso,
a redução da umidade dos cereais através da secagem é de fundamental
importância para reduzir os níveis de contaminação. Mais de quatrocentas
micotoxinas, conhecidos na atualidade, são produzidas por
aproximadamente uma centena de fungos. As principais micotoxinas podem
ser divididas em três grupos: As aflatoxinas produzidas por fungos do gênero
Aspergillus como A. flavus e parasiticus; as ocratoxinas produzidas pelo
Aspergillus ochraceus e diversas espécies do gênero penicillium; e as
fusariotoxinas, que possuem como principais representantes os tricotecenos,
zearalenona e as fumonisinas, produzidas por diversas espécies do gênero
Fusarium (PINTO &
FIGURA 1- FATORE
FATORES
S QUE
QUE INFLUENCIAM
INFLUENCIAM
NA PRODUÇÃO DAS MICOTOXINAS VAAMONDE , 1996). A
formação de micotoxinas é
dependente de uma série
de fatores (Figura 1), como
a umidade, temperatura,

Crescimento fúngico presença de Oxigênio,


tempo para o crescimento
100

fúngico, constituição do
90
80
70
60
50
40
30
20
substrato, lesões à
10

integridade dos grãos


0 Average
Av e Sil Soj Sor Out Mal Tri Arr Rac Mil Ame
Mallmann
causados por insetos ou
dano mecânico/térmico, quantidade de inóculo fúngico, bem como a
interação/competição entre as linhagens fúngicas. As características
genéticas representam um fator cada vez mais decisivo na solução do
problema. Esta gama de fatores demonstra que o controle dos mesmos, no
sentido de prevenção, muitas vezes se torna, em nossas condições tropicais,
muito difícil. Por exemplo, as condições climáticas brasileiras no período de
colheita dos cereais, em função do regime pluviométrico, não favorecem a
secagem dos grãos, especialmente do milho.
O sistema de secagem e armazenagem instalado também contribuí
para a evolução do problema em nossas condições. A temperatura da massa
de grãos no interior dos silos em muitas situações ultrapassam os 18°C
recomendados, permitindo um crescimento fúngico intenso, especialmente
pela deficiente aeração forçada da maioria das unidades armazenadoras,
que mesmo existindo, pelo excesso e má distribuição das impurezas não são
efetivas no controle dos pontos de calor na massa de grãos.
Esta e muitas outras razões, explicam a alta prevalência de
micotoxinas como as aflatoxinas como contaminantes rotineiros dos cereais
no Brasil e em países de clima similar.
Quando as micotoxinas são ingeridas, os diversos efeitos se devem às
diferentes estruturas químicas das mesmas, influenciados pelo fato de
serem ingeridas por diferentes organismos animais superiores e também
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pela diversidade de espécies, raça, sexo, idade, fatores ambientais, manejo,
condições nutricionais e outras substâncias químicas. A micotoxicose implica
em enormes prejuízos de ordem econômica, sanitária e comercial,
principalmente pelas suas propriedades anabolizantes, estrogênicas,
carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas (HAYES & CAMPBELL, 1986).
Porém, o maior problema das micotoxicoses é atribuído aos prejuízos
relacionados aos diversos órgãos e sistemas dos animais, implicando na
diminuição do desempenho produtivo dos mesmos. As manifestações
agudas ocorrem quando os indivíduos consomem doses moderadas a altas
de micotoxinas. Podem aparecer sinais clínicos, sintomas e um quadro
patológico específico, dependendo da micotoxina ingerida, da
susceptibilidade da espécie, das condições individuais do organismo e
interação ou não com outros fatores. As lesões são dependentes de cada
micotoxina, porém as mais encontradas dizem respeito a hepatites,
hemorragias, nefrites, necrose das mucosas digestivas e morte. A
micotoxicose crônica é a mais freqüente, e ocorre quando existe um
consumo de doses moderadas a baixas. Nestes casos, os animais
apresentam um quadro caracterizado pela redução da eficiência reprodutiva,
diminuição da conversão alimentar, taxa de crescimento e ganho de peso.
Este quadro somente é detectado com cuidados especiais ou através de um
programa de análise de micotoxinas presentes na alimentação. Os sinais
clínicos ainda podem ser confundidos com deficiências de manejo, com
outras doenças, inclusive as decorrentes desta micotoxicose ou com
deficiências nutricionais. Existem poucas estatísticas precisas com relação a
incidência de micotoxicoses, porém há uma consciência geral que o perigo
oculto (intoxicações crônicas) é responsável pela maior parcela de perdas
que se tem nos meios criatórios (OMS, 1983).

OCORRÊNCIA DE MICOTOXINAS NO BRASIL


A ocorrência das micotoxinas, baseado nos dados de análise obtidos
pelo Laboratório de Análises Micotoxicológicas (LAMIC) da Universidade
Federal de Santa Maria, nos últimos 8 anos e de outras instituições oficiais
demostraram ser a Aflatoxina (AF) a de maior incidência, com uma média
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geral de 17,4 ppb (µg/kg). O produto com a maior contaminação é o
amendoim. Este grão foi encontrado com uma positividade de 44,37% e uma
média de 125 ppb, observando-se amostras com níveis de até 16,7 ppm
(mg/kg) (Figura 2).
O milho, principal cereal na dieta animal, nestes últimos anos
apresentou positividade 52,67% para AF em 20048 amostras analisadas,
com um nível máximo
de 14,2 ppm e média
de 16 ppb. Em
conseqüência desta alta Figura 2 – Contaminação por aflatoxinas em matrizes
alimentares.
contaminação, as
rações animais
produzidas no Brasil
apresentaram uma
positividade de 46,66%,
pouco inferior da
incidência encontrada
no milho. A
contaminação média dessas rações foi de 10,2 ppb com valore extremo de
6,7 ppm.
A contaminação por zearalenona (ZEA) é um pouco menos freqüente.
A média da concentração desta micotoxina para todos os produtos positivos
analisados no LAMIC é de 36,0 ppb, obtendo-se um percentual de
positividade de 8,1% das amostras com um nível acima de 10 ppb. O nível
máximo encontrado pelo LAMIC foi de 7,7 ppm.
A presença de ocratoxina A foi constatada com menor freqüência
sendo que a incidência atinge um índice de aproximadamente 0,5%.
A contaminação por fumonisinas (FB) vem sendo monitorada, apenas a
partir de 1996. Durante este período foram avaliadas 2591 amostras,
originárias principalmente da Região Sul do Brasil. Foram encontradas 1024
(39,5%) amostras contaminadas por FB1. A concentração média das
amostras positivas foi de 0,75 ppm com um máximo de 53,7 ppm em
amostras relacionadas a um surto de leucoencefalomalácea eqüina (LEME).
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DIAGNÓSTICO DE MICOTOXINAS
A metodologia mais específica, precisa e confiável é a obtida com o
emprego de processos químicos. Esses procedimentos poderão ser tanto os
dirigidos para a Cromatografia em Camada Delgada (TLC), quanto para a
Cromatografia Líquida de Alta Resolução (HPLC). Ambas apresentam
resultados semelhantes. Os testes de imunoensaio poderão ser empregados
para triagem e em casos excepcionais, para a semiquantificação. O uso dos
testes químicos ainda é a metodologia internacionalmente mais aceita e
recomendada para os laboratórios de diagnóstico de micotoxinas.
Atualmente, o emprego de extração em fase sólida vem trazendo avanços,
principalmente, na padronização e automação das análises
micotoxicológicas.
O sistema de análise empregado no monitoramento “on line” usa o
HPLC acoplado a metodologias automatizadas ou semi-automatizadas de
extração. O tempo necessário para a análise desde a entrada da amostra até
a expedição do laudo final de análise não deve ultrapassar 48 horas para
uma análise padrão, compreendendo aflatoxinas e zearalenona.

AMOSTRAGEM PARA PESQUISA DE MICOTOXINAS.


O procedimento amostral é, sem dúvida o ponto mais importante para
o monitoramento de micotoxinas. Uma amostragem incorreta leva a tomada
de decisão errada na avaliação de um silo, por exemplo. Isto implica em
custos, recusa do produto fora das especificações e micotoxinas nas dietas
que levam a perdas de produtividade e prejuízos econômicos, além dos
riscos à saúde pública. Contudo, a distribuição heterogênea das micotoxinas
nos grãos é outro fator, talvez o principal a interferir na amostragem. Os
estudos de Whitaker et al. (1972) sobre o assunto mostram, que a
variabilidade dos resultados poderá ser diminuída com:
• Amostragem com maior tamanho da amostra e do número de pontos
amostrados;
• Sub-amostragem com o aumento de tamanho (peso) da sub-
amostragem ou pela diminuição do tamanho das partículas pela moagem;
-5-
• Analisando um maior número de amostras.
Por exemplo, se o peso da amostra é dobrado, a variância na
amostragem é reduzida pela metade. Esta relação também é verdadeira
para se obter a redução da variância no processo de sub-amostragem e de
análise.

PLANEJAMENTO DE UM PROGRAMA DE ANÁLISE DE MICOTOXINAS


Este planejamento requer o conhecimento das características da
distribuição das micotoxinas. Os trabalhos de Whitaker et al. (1972) sobre a
distribuição dos resultados das análises de micotoxinas em lotes são leitura
obrigatória. O conhecimento de curvas operacionais (OC) e da forma de
interferirmos na diminuição do risco de amostragem são pressupostos
fundamentais.
A forma mais prática encontrada em nossas condições, para
diminuição do risco de amostragem e com um compromisso entre
custo/benefício encontra-se definida na Figura 3. O programa amostral
empregado na maioria das indústrias assistidas pelo LAMIC é o
recomendado pela Comissão de normas da UE (Amtsblatt der Europäische
Gemeinschaften N L 102/1, TEIL II, 1976 e Futtermittelrecht mit Typenliste
fur Einzel - und Mischfuttermitteln, 1994). Adaptações foram realizadas para
amostrar sempre as matérias primas após serem moídas, possibilitando boa
exeqüibilidade e melhor representatividade. A colheita das amostras ocorre
sempre quando o material se encontra em movimento e moído sendo
realizada em intervalos de tempo pré-estabelecidos, dependendo da
quantidade de toneladas produzidas por turno de produção. Assim, uma
fábrica de rações que produz 100 T/dia, fará uma amostra coletiva mínima
de 45 kg de material moído. Deste material será retirada uma amostra de
no mínimo 1 kg que será enviada ao laboratório. Os responsáveis pela
colheita do material deverão estar constantemente envolvidos no processo
e evidentemente treinados para tal. A participação do amostrador é
fundamental impotância para a operacionalização e bom andamento de um
sistema de controle de micotoxinas.
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A amostra deverá ser enviada imediatamente, ao laboratório, devendo
o material ser acondicionado em embalagem resistente. Para áreas mais
afastadas, recomenda-se o uso do serviço de transporte aéreo. É importante
que o tempo de transporte não ultrapasse 48 horas.
A analise, e principalmente quais as micotoxinas que devem entrar em
um programa de controle, somente poderão ser definidas pelo
conhecimento da incidência das mesmas na área de origem do material a
ser empregado na FIGURA 3 - Programa de Monitoramento e Controle de Micotoxinas

indústria. Em função da Definição de um programa amostral EU prog.

necessidade da tomada Treinamento


Colheita das amostras
de dicisões rápidas nas Tempo e
Envio ao laboratório condições
agroindústrias,
recomenda-se que a Análise de micotoxinas Que micotoxinas?
análise seja realizada o
Avaliação dos resultados Dados de
mais rápido possível, em desempenho a
Envio de resultados e
campo
um tempo não seja Estatística orientação

superior a 48 horas. Freq/intensidade


Decisão
Na avaliação dos
resultados é necessário, inicialmente, estabelecer os limites de confiança
para o sistema amostral. O procedimento usual inicia com a colheita de no
mínimo 3 e máximo 5 amostras por turno de produção. Os resultados são
avaliados em sua amplitude para com isto ajustar-se o número mínimo de
amostras. Após um período inicial, de aproximadamente 1 mês, é possível
reduzir o número de amostras até a uma só por dia, dependendo da
produção total e do cereal empregado.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Um programa de monitoramento de micotoxinas pode apresentar grande
variabilidade associada à análise de produtos como os cereais. A
concentração de micotoxinas não poderá ser determinada com 100% de
exatidão. Isto é o resultado da variância da amostragem (92,7%), sub-
amostragem (7,2%) e da análise (0,1%). Para diminuição desta variabilidade

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de resultados, os seguintes aspectos deverão ser considerados em um
monitoramento:
• Adoção de programa amostral compatível com a realidade, mas
executado integralmente, e em todas as amostras;
• Aumentar o número das sub-amostragens tornando-as sistematizadas
mas com distribuição aleatória;
• Aumentar o número de partículas por unidade de massa através da
moagem de grãos;
• Efetuar o maior número de análises possível;
• Colher as amostras quando o material a ser amostrado encontra-se
em movimento de preferência com amostradores automáticos;
• Nas rações terminadas, nos casos de suspeita de micotoxicose,
recolher as amostras próximas ao ponto final de consumo;
• Protocolar as amostras corretamente, permitindo a localização do sub-
lote contaminado ou sem a presença de micotoxinas.
Para o controle da produção de micotoxinas e micotoxicoses
recomendamos especial atenção aos seguintes fatores:
• Evitar situações estressantes: Observa-se uma maior prevalência de
micotoxinas onde os tratos culturais dispensados a cultura são menores,
a concorrência de ervas daninhas, a restrição hídrica e outros fatores são
responsáveis por maiores contaminações;
• Lesões à integridade do cereal: Os problemas de mau empalhamento
e infestação por insetos, determinam a contaminação ainda nos estágios
iniciais da cultura. A escolha de híbridos com características
morfológicas adequadas deve ser a preocupação inicial na escolha da
semente;
• Colheita: A deficiente regulagem dos equipamentos de colheita,
transporte e manipulação do cereal representam a condenação do
material pela lesão no cereal exposição do nutriente ao fungo;
• Umidade do cereal: Colheita no estado de maturação fisiológica e
secagem imediata em temperatura correta, reduzem o tempo para a

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proliferação fúngica e conseqüente perda de nutrientes, bem como
formação de toxinas;
• Armazenagem: Umidade correta de estocagem e aeração, bem como
o emprego de inibidores fúngicos, pré/pós-produção da ração, devem ser
considerados no programa de prevenção de micotoxinas durante a
armazenagem. A limpeza prévia e criteriosa do silo dever ser rotineira.
• Seleção de híbridos resistentes: Esta nova possibilidade de seleção de
materiais com características intrínsecas de proteção ao crescimento
fúngico e conseqüente possibilidade de produção de micotoxinas,
representa um avanço considerável;
• Neutralização química: O uso de substâncias com capacidade
seqüestrante ou de inativação enzimática em um programa de
prevenção de micotoxinas é em muitas situações a única alternativa
tecnicamente viável para evitar prejuízos sanitários e econômicos.

PRINCIPAIS MICOTOXINAS NA AVICULTURA


AFLATOXINAS
Em surtos de aflatoxicose no campo, uma das características mais
marcantes é a má absorção que se manifesta como partículas de ração mal
digeridas nas excretas das aves. Está associada com esteatorréia ou
excreção aumentada de lipídeos. Esta má absorção prejudica a eficiência de
conversão alimentar e, conseqüentemente, aumenta o custo da produção. A
esteatorréia da aflatoxicose pode ser severa com o aumento de até dez
vezes no teor de gordura no material fecal. Em frangos de corte, a
esteatorréia é acompanhada por uma diminuição nas atividades específicas
e totais da lipase pancreática, principal enzima digestiva das gorduras, e
pela diminuição dos sais biliares, necessários tanto para a digestão como
para a absorção de gorduras, levando a esteatose hepática (fígado
gorduroso). Também se observa, em frangos e poedeiras que recebem
ração contaminada com AF, extrema palidez das mucosas e pernas. Esta
pigmentação deficiente parece ser resultado da menor absorção, diminuição
no transporte e deposição tecidual dos carotenóides da dieta sendo a
aflatoxicose identificada como “síndrome da ave pálida”.
-9-
EFEITO DAS AFLATOXINAS SOBRE A POSTURA:
A percepção dos distúrbios causados pelas aflatoxinas sobre a
produção de ovos é possível somente após alguns dias ou semanas. A
diminuição da postura é precedida pela redução nos níveis sangüíneos de
proteínas e lipídeos. A presença de folículos antes do consumo da
micotoxina no trato reprodutivo das aves, justifica esta resposta tardia.
Poedeiras que consumiram dieta com 20 ppm de aflatoxinas durante 7 dias
apresentam redução na produção de ovos a partir do oitavo dia, baixando
35% na postura uma semana após a retirada da micotoxina da dieta. Além
de reduzir a produção de ovos, a aflatoxicose também é responsável pela
redução do tamanho dos ovos, bem como pela redução proporcional no
tamanho das gemas, devido aos prejuízos causados na síntese protéica e
lipídica. Mas a deposição de cálcio na casca dos ovos por si só não é
afetada. A resistência da casca aumenta quando aves consomem
aflatoxinas devido à redução na casca desses ovos não terem a mesma
proporção da redução ocorrida na clara e gema. Este aumento da espessura
da casca pode afetar a eclodibilidade pela reduções nas trocas gasosas
entre embrião e ambiente.
A melhor explicação para os prejuízos na eclodibilidade de ovos
férteis, produzidos por aves que consumiram aflatoxinas, está na
transmissão destas micotoxinas aos ovos. Aflatoxina B1 (AFB1) pode ser
transmitida tanto às gemas como para as claras. A Aflatoxina B1, AFM1 e o
aflatoxicol podem ser encontrados nos ovos, 24 horas após o início do
consumo de ração contaminada. Portanto, é necessário salientar que,
enquanto o índice postura é afetado somente 8 dias após o início da
intoxicação, a eclodibilidade começa a ser afetada imediatamente após o
início do consumo de ração contaminada.

TRICOTECENOS:
As principais micotoxinas deste grupo compreendem a: Toxina T-2,
Deoxynivalenol (DON), Diacetoxyscirpenol (DAS), todas produzidas por
diversos gêneros de fungos, principalmente por espécies de Fusarium.
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Estudos com intoxicações crônicas envolvendo toxina T-2 ou DAS
revelaram redução no consumo de ração e ganho de peso, lesões orais,
necrose dos tecidos linfóide, hematopoiético e mucosa oral, com eventuais
distúrbios nervosos (posição anormal das asas, falta de reflexos),
empenamento anormal e diminuição na espessura da casca dos ovos.
Particularmente em poedeiras, as lesões orais foram provocadas em 50%
dos lotes quando estas aves receberam 2 ppm da toxina T-2, decrescendo
paralelamente a produção de ovos. E mais, a toxina T-2 é, in vitro, tóxica
para macrófagos de frangos, inibindo a sua capacidade fagocitária. Esta
toxina também pode formar peróxidos a partir dos lipídeos, tendo como
conseqüência a diminuição da concentração de vitamina E nas aves. Outras
aves como perus e gansos são mais susceptíveis a toxina T-2 que frangos de
corte. Em gansos, a partir de 0,1 mg/kg de peso vivo ocorre a queda na
produção de ovos. Os níveis de postura e eclodibilidade diminuíram em
50%, quando foram administrados 300 mg de toxina T-2/kg de peso vivo. As
micotoxinas T-2 e DAS produzem lesões orais em frangos de corte em níveis
a partir de 1 ppm na ração. Ocorreram efeitos tóxicos mais significativos
com níveis de 4 ppm onde as aves apresentam baixo consumo, retardo no
crescimento, alterações no quadro sanguíneo e neurotoxidade. Também
foram observadas lesões orais em peruzinhos alimentados com ração
contendo concentrações de 5 ppm da toxina T-2 e redução de ganho de
peso com 10 ppm da mesma micotoxina. Numa comparação direta,
concluiu-se que peruzinhos são mais sensíveis que frangos de corte.
Contudo, gansos também são muito sensíveis à Toxina T-2 quando em
concentrações próximas de 3 ppm, que podendo ser letal par os animais
desta espécie.
Estudos similares realizados com DON, entretanto tem mostrado que,
com exceção a um decréscimo transitório nos níveis de hemoglobina, ou um
levíssimo efeito na qualidade do ovo, não há evidência significativa que esta
toxina afete o desempenho de aves.
As aves são capazes de tolerar concentrações relativamente altas de
DON na dieta e um pouco menos em relação à toxina T-2 e DAS. Nos níveis
de DON normalmente encontrados em rações contaminadas (0.35 a 8.0
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ppm), não houve indicações de algum problema sanitário perceptível com
frangos. Concentrações de DON acima de 82,8 ppm foram administradas em
poedeiras Legorn por 27 dias sem nenhum efeito sobre o desempenho e
também sem apresentar lesões nas aves. Outros estudos descreveram
lesões muito leves e redução na qualidade de ovos em aves que receberam
18 ppm de DON na dieta.
Os tricotecenos geralmente não induzem aumento de mortalidade
para outras aves, requerendo níveis de várias centenas de partes por milhão
para resultar em mortes. De forma semelhante, em surtos de toxicose,
atribuídos a toxina T-2 que afetaram patos domésticos, gansos, eqüinos e
suínos, somente houve mortalidade em gansos, sugerindo uma grande
sensibilidade desta ave.

FUMONISINAS
Os efeitos tóxicos das fumonisinas em aves foram estudados
primeiramente, usando-se cultivos de Fusarium moniliforme como fonte
desta micotoxina. O cultivo foi administrado às aves junto com a ração.
Foram alimentados de frangos de corte de 1 dia durante 3 semanas com
rações que continham em torno de 525 ppm de fumonisina B1. As aves que
receberam 450 e 525 ppm tiveram uma diminuição significativa no ganho
de peso e conversão alimentar, aumento no peso dos rins, fígado e
concentração de hemoglobina. Comparado-se aos controles, todas as aves
que foram alimentadas com fumonisina B1 apresentaram níveis elevados de
esfinganina e esfingosina (precursores dos esfingosídeos celulares) no soro
sanguíneo. Devido a inibição da biosíntese de esfingolipídeos, por ação das
fumonisinas, os autores sugerem que as dietas contendo mais que 75 ppm
de fumonisina B1 pode ser tóxico para pintos. Mas estes autores também
não enfatizaram que Fusarium moniliforme produz, além de fumonisinas,
outras micotoxinas como moniliformina, fusarina, ácido fusárico e um
número ainda desconhecido de metabólitos citotóxicos. Como eles não
purificaram a fumonisina e sim utilizaram o cultivo “bruto” de Fusarium
moniliforme, deve-se aceitar com reservas estes resultados. Em um estudo
realizado com perus, foi demonstrado que somente houve efeito deletério
- 12 -
de fumonisina B1 em níveis acima de 200 ppm na dieta. Entretanto, outro
trabalho, utilizando metodologia semelhante, mostrou que 75 ppm já
apresenta toxicidade para peruzinhos. O emprego de fumonisina B1
purificada, nas doses de 0, 20, 40 e 80 ppm em frangos de 1 até 21 dias de
idade, demonstrou que estes níveis de toxina não levaram a efeitos
adversos sobre ganho de peso, conversão alimentar ou consumo de água.
Quanto a interações entre fumonisina B1 e outras micotoxinas, não houve
ação sinérgica entre esta e aflatoxina em perus. No entanto este sinergismo
ocorreu com moniliformina em frangos e com toxina T-2 em perus quando
foi administrado 300 ppm fumonisina mais 5 ppm T-2.
Esta relativa inocuidade de fumonisinas foi contestada em estudos
experimentais, intoxicando pintos de 1 dia com 10 mg/kg (ppm) de ração
durante 6 dias. Observaram que fumonisina B1 pode contribuir para o
aparecimento de petéquias, aumentando o tempo de coagulação sanguínea
e diminuindo a concentração de albumina sérica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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