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INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA

Apontamentos
de
Zootecnia

Curso de Engenharia Alimentar


Orientação Animal

Fernando Manuel Santos Mota


Professor Adjunto do Departamento
de Produção e Protecção Animal

2003
2

NOTA DO AUTOR

Esta compilação, pelo carácter geral que norteia a abordagem das matérias nela tratadas,

destina-se exclusivamente aos alunos da Disciplina de Zootecnia, do 3º Semestre do Curso de

Engenharia Alimentar, Orientação Animal.

Não está de modo nenhum aconselhada aos alunos de disciplinas, que pela sua especificidade,

exijam um estudo mais aprofundado, ainda que as matérias versadas nessas disciplinas, possam ter

alguma correspondência titular com partes da presente compilação.

Beja, Setembro de 2003

(Fernando Manuel Santos Mota)


3

ÍNDICE
Pag.
1. Conceitos Introdutórios 1
1.1. Noções Reprodutivas das Espécies Domésticas 1
1.2. Parâmetros Reprodutivos 8
1.3. Possibilidades Étnicas da Exploração Animal 9
1.4. Métodos de Fertilização 12
1.5. Pastoreio e Forragens 16
1.6. Estabulação Sistemas Exploração 20
1.7. Relações Animal / Ambiente 21a

2. Noções de Produção de Ovinos 22


2.1 Origem e História 22
2.2 Características Biológicas da Espécie 23
2.2.1 Comportamento Alimentar 23
2.2.2. Características Reprodutivas 24
2.2.3. Produção de Carne Leite e Lã 26
2.2.3.1. Produção de Carne 26
2.2.3.2 Produção de Leite 28
2.2.3.3. Produção de Lã 29
2.3. O Tronco Merino 32
2.4 Raças Ovinas Portuguesas 34
2.5. Raças Ovinas de Maior Expansão Mundial 40
2.6. Sistemas de Produção de Ovinos 45
2.6.1. Tipo de Animais Utilizados 46
2.6.1.1. Linha Pura 46
2.6.1.1. Cruzamento 46
2.6.2. Tipo de Instalação 47
2.6.2.1. Estabulação Permanente 48
2.6.2.2. Semi-estabulação 48
2.6.2.3. Pastoreio 48

3. Noções de Produção de Caprinos 49


3.1. Origem e História 49
3.2. Características Biológicas da Espécie 50
3.2.1. Comportamento Alimentar 50
3.2.2. Comportamento Reprodutivo 51
3.2.3. Produção de Carne Leite e Pêlo 53
3.2.3.1. Produção de Carne 53
3.2.3.2. Produção de Leite 54
3.3. Raças Caprinas Portuguesas 57
3.4. Raças Caprinas Estrangeiras 62
3.5. Sistemas de Produção de Caprinos 65
3.5.1. Tipos de Animais Utilizados 65
3.5.2. Tipos de Instalações 67

4. Noções de Produção de Bovinos 71


4.1. Origem e História 71
4.2. Características Biológicas da Espécie 72
4.2.1. Comportamento Alimentar 72
4.2.2. Comportamento Reprodutivo 73
4.3. Produção de Carne e Leite 76
4.3.1. Produção de Carne 76
4.3.2. Produção de Leite 79
4.4. Raças Bovinas Portuguesas 80
4.5. Raças Bovinas de Maior Difusão Mundial 85
4.6. Sistemas de Produção de Bovinos 91
4.6.1. Sistemas de Produção de Carne 91
4

4.6.2. . Sistemas de Produção de Leite 92

5. Noções de Produção de Suínos 95


5.1. Origem e História 95
5.2. Características Biológicas da Espécie 97
5.2.1. Comportamento Alimentar 97
5.2.2. Comportamento Reprodutivo 99
5.3 Raças Suínas Portuguesas 101
5.4. Raças Suínas Estrangeiras de Maior Difusão 105
5.5. Sistemas de Produção de Suínos 108
5.5.1. Sistema Intensivo 108
5.5.2. Sistema Extensivo 112
5.5.2 1. Caracterização do animal obtido neste Sistema 112
5.6 Produção de Carne 114

6. Noções de Produção de Coelhos 118


6.1. Caracterização da Espécie 118
6.2. Características Biológicas da Espécie 118
6.2.1.Comportamento Alimentar 118
6.2.2. Características Reprodutivas 119
6.3. Produção de Carne 121
6.4. Produção de Peles 121
6.5. Produção de Pêlo 121
6.6 Raças de maior interesse 122
6.7. Sistemas de Produção de Coelhos 124
6.7.1. Tipo de Instalações 124

BIBLIOGRAFIA 127
5

1- CONCEITOS INTRODUTÓRIOS
A Zootecnia é uma ciência que em termos gerais se ocupa de todos os
aspectos que concernem à Produção Animal, estando incluídos nos seus aspectos
fundamentais o conhecimento dos comportamentos reprodutivo e alimentar das
diversas espécies exploradas pelo Homem.
Não sendo o objectivo desta disciplina, o estudo pormenorizado quer da
Reprodução Animal, quer dos Sistemas de Pastoreio e de Estabulação a que os
animais domésticos são sujeitos, torna-se no entanto necessário introduzir alguns
conceitos destas áreas, conducentes a uma total compreensão das matérias adiante
tratadas.

1.1- NOÇÕES REPRODUTIVAS DAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS

Durante o longo processo de Evolução os Mamíferos sofreram notáveis


modificações anatómicas endocrinológicas e fisiológicas, cujo efeito foi garantir a
continuidade das espécies (Hafez, 1988). A reprodução numa espécie dióica,
implica a participação de dois indivíduos diferentes entre si anatómica e
fisiologicamente, dizendo-se de sexos diferentes (Simões, 1984).
Desde a Antiguidade que o conhecimento da reprodução dos animais é
preocupação dos povos, como o atestam textos de Hipócrates e Aristóteles
(McDonald, 1978; Simões, 1984). No entanto só no séc. XIX se chegou ao
reconhecimento definitivo da existência do espermatzóide através dos trabalhos de
Prévost e Dumas em 1924 e do oócito pelo conhecimento dos trabalhos de von
Bauer e de Dumas ambos divulgados em 1927 (Asdel, 1969, cit. in Simões, 1984).
As descrições mais ou menos exactas da penetração do espermatzóide no oócito
começaram a surgir em meados do séc. XIX (Bishop e Walton, 1960, cit. in Simões,
1984).
Lataste em 1887, reconheceu a natureza cíclica dos fenómenos sexuais na
fêmea e em 1900, Heape definiu e designou as fases do ciclo éstrico (Asdel, 1969,
cit. in Simões, 1984).
O sucesso reprodutivo em qualquer espécie, está dependente de muitos
factores entre os quais se contam a existência ou não de estação sexual e a
extensão desta, a frequência dos cios, o número de óvulos produzidos, o número de
crias nascidas, os períodos de gestação e de amamentação, a idade à puberdade e
6

a estabilidade do período reprodutivo na vida do animal. Por outro lado a eficiência


reprodutiva, pode declinar em consequência de factores estacionais, genéticos,
nutricionais, anatómicos, hormonais, neurais, imunológicos ou patológicos (Hafez,
1988).
A partir de determinada altura da sua vida, os animais começam a manifestar
comportamentos associados à actividade sexual, acompanhados da aparição dos
caracteres sexuais secundários e do aumento dos órgãos reprodutivos (McDonald,
1978). O aparecimento dessas manifestações é conhecido por Puberdade, estando
dependente entre outros factores da raça, da idade do animal, do clima, da época
do ano e do seu estado de nutrição e do sexo a que pertence (McDonald, 1978;
Simões, 1984; Hafez, 1988).
Os processos reprodutivos no seu conjunto são condicionados de maneira
extraordinariamente complexa, por mecanismos que incluem os Sistemas Nervoso e
Endócrino, os quais operando em integração fisiológica fazem a coordenação das
estruturas e órgãos neles participantes, directa ou indirectamente (Simões, 1984).
O Hipotálamo e a Hipófise são dois órgãos integrados no cérebro que actuam
em interdependência e desempenham uma acção primordial na regulação de
numerosos fenómenos fisiológicos, nomeadamente os sexuais, do crescimento e da
lactação (McDonald, 1978; Simões, 1984).
O hipotálamo é o órgão responsável pela produção e libertação de hormonas
que vão regular a produção e libertação de hormonas pela hipófise. Entre estas
encontram-se a FSH (hormona estimulante dos folículos) e a LH (hormona
luteínizante) implicadas directamente nos fenómenos sexuais, a Somatrotropina
(hormona do crescimento), a Prolactina e a Oxitocina (hormonas implicadas na
produção e libertação do leite) (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).
Nas fêmeas, o alvo da acção das hormonas hipofisárias FSH e LH são os
ovários, aos quais chegam pelo sangue e nos quais vão produzir alterações
fisiológicas e anatómicas que constituem o Ciclo Éstrico (McDonald, 1978 ; Hafez,
1988).
De modo simplista e generalizado pode assumir-se a seguinte descrição, como
resumo dos complexos fenómenos processados no ovário : a FSH libertada na
hipófise vai promover o crescimento de um folículo (ou vários conforme a espécie).
7

Grosso modo, podemos comparar o folículo a uma bolha na superfície do


ovário, no interior da qual se encontram basicamente um líquido viscoso e um oócito
ou óvulo. Este líquido é rico em estrogéneos, designação que engloba um conjunto
de substâncias hormonais responsáveis pelo comportamento sexual exibido pelas
fêmeas em cio e pela manutenção dos caracteres sexuais secundários, nas fêmeas.
A LH vai promover o rompimento do folículo maduro, com a consequente
libertação do óvulo (fenómeno designado por Ovulação), e a formação de uma
substância designada por Corpo Lúteo ou por vezes por Corpo Amarelo (assim
designado na generalidade pela sua cor em algumas espécies), que cresce no local
onde existiu o folículo e começa a produção de uma substância hormonal, a
Progesterona (McDonald, 1978).
A Progesterona tem como funções principais, a inibição da produção de FSH
e a manutenção da gestação, actuando sobre o útero. Se há fecundação o corpo
amarelo permanece activo produzindo progesterona durante todo o período até ao
parto (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).
Na situação de não ter havido fecundação a progesterona é produzida durante
alguns dias, até que por ausência de estímulo do embrião no útero, este produz uma
substância a PGF2 a qual provoca a regressão do corpo amarelo, fazendo cessar
deste modo a produção de progesterona (McDonald, 1978). Ao cessar a produção
de progesterona, cessa o seu efeito inibitório sobre o hipotálamo, levando de novo à
possibilidade da produção e libertação das hormonas percursoras da libertação de
FSH e LH pela hipófise (Hafez, 1988).

Depois do exposto introduzem-se alguns conceitos :

Puberdade é a altura em que um animal amadurece sexualmente ficando apto a


reproduzir-se, o que acontece quando os machos começam a produzir
espermatzóides e as fêmeas experimentam o primeiro Ciclo éstrico (McDonald,
1978).

Ciclo Éstrico é uma sequência combinada de acontecimentos fisiológicos


(McDonald, 1978), com um ritmo e duração característico para cada espécie, em
que se processam modificações do aparelho genital e do comportamento sexual
8

(Simões, 1984), que é composto de quatro fases, Proestro, Estro, Metaestro e


Diestro (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).
- Proestro período que se inicia com a estimulação e o crescimento do folículo
por acção da FSH (McDonald, 1988), podendo dizer-se que é a fase do ciclo
éstrico em que se processa a transição entre o declínio da actividade secretora
do corpo lúteo e o início da influência dominante dos folículos em crescimento,
através da produção de estrogéneos (Simões, 1984).

- Estro, também designado por cio, é a fase que termina com o


amadurecimento do folículo e em que, em geral tem lugar a ovulação (Simões,
1984). Neste período devido à alta concentração de estrogéneos, as fêmea
tornam-se receptivas sexualmente, desenvolvendo comportamentos que as
levam a procurar os machos e a deixar-se montar por eles, seguindo cada
espécie os seus padrões de comportamento próprios (McDonald, 1988 ;
Simões, 1984). Em algumas espécies animais, a ovulação ocorre no fim do
Estro, enquanto que noutras ocorre imediatamente a seguir a este (McDonald,
1988).

- Metaestro, corresponde à formação e entrada em funcionamento do corpo


lúteo com o início da produção de progesterona, a qual aumenta rapidamente
(Simões, 1984).

- Diestro, corresponde em princípio à plenitude funcional de corpo lúteo e à


consequente influência dominante da progesterona sobre os órgãos acessórios
(Cupps et al., cit. in Simões, 1984).
É em geral o período mais longo do ciclo éstrico, ocorrendo nesta fase um
desenvolvimento das glândulas mamarias e do útero, cujas glândulas
segregam um material viscoso e espesso, que irá servir de nutrição ao ovo, no
caso de sobrevir uma fecundação. Na ausência de fecundação o corpo
amarelo permanece funcional na vaca a té ao 17.º dia do ciclo, regredindo
após esta data, permitindo deste modo o início de um novo ciclo éstrico
(McDonald, 1988).

- Anestro - se após a fase de diestro e na ausência de gestação, não se verifica


o início de um novo ciclo éstrico, estamos em presença de uma situação de
9

Anestro. O Anestro pode ser provocado por vários factores, entre os quais a
Espécie a que pertence o animal, o clima, doenças, desnutrição. Durante a
primeira fase da lactação, acontece em algumas espécies um anestro,
designado nesta situação anestro de lactação (McDonald, 1978 ; Hafez,
1988).

A duração do ciclo éstrico é variável nas espécies domésticas :

Espécie Duração do ciclo éstrico Duração do cio


Bovinos de carne 17-24 dias 12-30 horas
Bovinos de leite 17-24 dias 13-17 horas
Equinos 16-24 dias 2-11 dias
Ovinos 14-19 dias 26-42 horas
Caprinos 18-22 dias 26-42 horas
Suínos 19-23 dias 40-60 horas

Adaptado de Hafez, 1988.

Época Reprodutiva

Na nossa latitude e em condições naturais, existem determinadas espécies


animais, em que os ciclos éstricos podem suceder-se ao longo de todo o ano, com a
periodicidade característica, para cada uma dessas espécies. Nas espécies
domésticas, este fenómeno acontece com as fêmeas dos Suínos e dos Bovinos,
que são por isso designadas quanto ao seu comportamento reprodutivo por
Poléstricas sem sazonalidade reprodutiva (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ;
Hafez, 1988).

Outras espécies só exibem comportamento sexual, numa época do ano bem


determinada, sendo virtualmente impossível a ocorrência de fenómenos
reprodutivos fora desse período, dizendo-se que possuem Sazonalidade
reprodutiva. Nesta situação estão os Ovinos e os Caprinos pertencentes a raças
originárias do Norte da Europa, que possuem a estação reprodutiva no início do
Outono, em que exibem vários ciclos éstricos (Speedy, 1984 ; Hafez, 1988 ; Fraser
e Stamp, 1989), o mesmo sucedendo com os Equinos, embora estes tenham a sua
estação reprodutiva no início da Primavera (McDonald, 1978 ; Simões, 1984 ; Hafez,
10

1988). Estes factos justifica para ambos a designação de Poliéstricos sazonais


(Simões, 1984).
No entanto, algumas das espécies que respeitam este princípio da
Sazonalidade reprodutiva, só exibem um ciclo éstrico pelo que são designados
Monoéstricas sazonais, estando neste caso as cadelas (Hafez, 1988).

Em certas espécies, apesar da maioria dos seus membros mostrarem uma


marcada tendência, para exibirem comportamento sexual em épocas do ano bem
determinadas, existem algumas raças que fogem em maior ou menor grau a esta
tendência, quer por possuírem uma época reprodutiva mais dilatada, quer pela
possibilidade de exibirem ciclos éstricos em outras épocas do ano, sob
determinadas condições. Estão nesta situação os Ovinos e Caprinos pertencentes a
raças originárias das margens do Mediterrâneo, que podem experimentar cios em
várias épocas do ano (Quittet, 1965 ; Mason, 1967 ; Avó, 1983 ; Hafez, 1988 ;
Portulano, 1990 ; Quittet, 1990), dizendo-se que possuem Sazonalidade
reprodutiva mal marcada.

Importa nesta fase clarificar e introduzir alguns conceitos :

Sazonalidade reprodutiva - é sinónimo de sazonalidade sexual ou de


estacionalidade sexual, sendo um termo que se usa para uma espécie ou raça,
em que o ciclo éstrico ou os ciclos éstricos somente costumam ocorrer numa
determinada época do ano. Esses animais são considerados Monoéstricos
sazonais no primeiro caso (um ciclo éstrico por estação reprodutiva) e Poliéstricos
sazonais no segundo caso (vários ciclos éstricos por estação reprodutiva).

Sazonalidade reprodutiva mal marcada - designa a espécie ou raça que pode


experimentar ciclos éstricos em mais de uma época no ano, embora estes
maioritariamente se verifiquem numa época determinada.

Ausência de sazonalidade reprodutiva - caracteriza os animais de espécies que


podem experimentar ciclos éstricos consecutivos ao longo de todo o ano. São
designados como Poliéstricos.
11

Fotoperiodismo - é um termo usado como sinónimo de sazonalidade reprodutiva.


A razão desta sinonímia, reside no facto de actualmente ser aceite que os
processos fisiológicos que conduzem à produção e libertação das hormonas do
hipotálamo, são desencadeados pela acção cumulativa das radiações
infravermelhas irradiadas do Sol (Tamarkin et al., 1985 ; Hafez, 1988), as quais
atravessando pêlo, pele, ossos e massa encefálica, estimulam a acção
hipotalâmica.
Se o início da estação reprodutiva de determinada espécie ou raça, coincide
com a época em que os dias vão tendo sucessivamente mais horas de luz
(Primavera), diz-se que esses animais possuem fotoperiodismo positivo, sendo
designados de fotoperiodismo negativo, se acontece o contrário (Outono).

Fêmeas monotocas - diz-se das fêmeas pertencentes a espécies que por regra
dão à luz uma cria em cada gestação. A ocorrência de partos gemelares, não
invalida esta designação. Das espécies domésticas, são espécies monotocas os
Bovinos, os Ovinos, os Caprinos e os Equinos.

Fêmeas politocas - são as fêmeas pertencentes a espécies que por regra dão à luz
várias crias em cada gestação. Das espécies domésticas, são espécies politocas os
Suínos, os Coelhos e os Cães e os Gatos.

Fêmeas nulíparas - são as fêmeas de qualquer espécie que ainda não tiveram uma
gestação. Podem ser as fêmeas jovens ainda não submetidas à reprodução ou
fêmeas velhas que devido a variadas condicionantes ainda não tiveram uma
gestação.

Fêmeas primíparas - são as fêmeas de qualquer espécie que pariram ou que se


apresentam pela primeira vez, sendo na gíria conhecidas por "fêmeas de primeira
barriga".

Fêmeas multíparas - são as fêmeas de qualquer espécie que já pariram mais que
uma vez ou que se apresentam numa gestação de número superior a um.
12

Índices Reprodutivos

Os resultados reprodutivos de um conjunto de fêmeas, quer formem uma


espécie, uma raça, de um efectivo ou de um lote, podem ser encontrados através de
determinados índices produtivos. Os índices são a Fertilidade, a Produtividade, a
Prolificidade, a Mortalidade e a taxa de Abortos, representados sob a forma de
taxas. Para a sua obtenção são utilizados todos os dados relativos ao número de
fêmeas do efectivo, o número de abortos, o número de partos, o número de crias
nascidas vivas e mortas e o número de crias desmamadas (Borrego, 1986 ;
Senante, 1988).

- A Taxa de Fertilidade dá-nos a percentagem de partos ocorridos entre as


fêmeas do efectivo que entrou à reprodução. É calculada do seguinte modo :
Taxa de Fertilidade = n.º de partos x 100 / n.º de fêmeas do efectivo

- A Taxa de Produtividade dá-nos a percentagem de crias nascidas vivas em


relação ao número de fêmeas do efectivo que entrou à reprodução. É
calculada do seguinte modo :
Taxa de Produtividade = n.º de crias nascidas vivas x 100 / n.º de fêmeas do efectivo

- A Taxa de Prolificidade dá-nos a percentagem de crias nascidas (vivas e


mortas) em relação ao número partos. É calculada do seguinte modo :
Taxa de Prolificidade = n.º total de crias nascidas x 100 / n.º de partos do efectivo

Fonte : (Urries,1988).
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1.2- PARÂMETROS PRODUTIVOS

Em termos zootécnicos cada animal por si e cada raça são caracterizados por
determinados parâmetros produtivos, como a sua precocidade, a velocidade de
crescimento, a rusticidade ou a capacidade de produção de leite. Impõe-se deste
modo a introdução destes conceitos.

Precocidade - pode ser definida como o tempo que decorre até o animal atingir a
puberdade (precocidade reprodutiva), ou o estado adulto.

Velocidade de crescimento - é uma noção muito próxima da precocidade, sendo


amiúde usada em seu lugar, sendo traduzida pelo ganho médio diário.

Ganho médio diário - é o peso diário ganho em média pelo animal em determinado
período, obtido por meio de duas pesagens, uma efectuada no dia inicial do período
considerado e outra no dia final do mesmo período. Este parâmetro obtêm-se
dividindo o ganho de peso total no período considerado, pelo número de dias do
período. Um animal será tanto mais precoce quanto maior for o seu ganho médio
diário, o que aumenta a sua velocidade de crescimento, verificando-se estarem
deste modo os três parâmetros intimamente relacionados.

Rusticidade - pode ser definida como a capacidade de determinado animal


conseguir subsistir ou produzir em condições climatéricas e alimentares difíceis. É
uma qualidade possuída por todas as raças autóctones de regiões com condições
climáticas difíceis, de solos pobres, situações que condicionam a disponibilidade
alimentar. Nestas situações dá-se uma selecção natural em que só os animais mais
resistentes sobrevivem e por consequência se reproduzem, transmitindo essas
características aos descendentes.

Lactação - é definida como o período após o parto, em que a fêmea se encontra a


produzir leite. Como as necessidades alimentares da cria variam ao longo do tempo,
lógico será pensar que a produção de leite não será uniforme. De facto não é,
aumentando desde o parto até um valor máximo, designado pico da lactação,
decrescendo desde esse momento até ao fim da lactação. Se efectuarmos a
representação gráfica da produção leiteira diária de uma fêmea de qualquer
14

espécie, teremos uma curva que começa com um valor inicial maior que zero logo
após o parto, tem uma fase ascendente a partir daí até um valor máximo (pico da
lactação), após o que vai decrescendo mais ou menos bruscamente até um valor
perto de zero (altura em que se desmama ou se deixa de ordenhar).

Fonte : (Mota, 1994)


Fig. 1 - Exemplo de duas curvas de lactação, obtidas a partir da produção de cabras
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1.3- POSSIBILIDADES ÉTNICAS DA EXPLORAÇÃO ANIMAL

Qualquer das espécies domésticas de interesse zootécnico comporta várias


raças, podendo essas espécies ser exploradas usando animais de uma só raça ou
animais de duas ou mais raças, na persecução dos objectivos de cada tipo de
produção, carne, leite, trabalho, lã, peles ou mista.

Linha Pura - consiste na criação de animais em que todos os machos e todas as


fêmeas são da mesma raça. O tipo de produção em linha pura é utilizada quer para
animais produtores de carne, quer para os produtores de leite, em núcleos para
obtenção de reprodutores ou comerciais.

Cruzamento - como o nome indica consiste numa união de um reprodutor


masculino de uma raça com outro feminino de outra raça diferente.
Os cruzamentos são na prática, efectuados com o recurso a machos de uma
raça pura, considerada melhoradora, num efectivo de fêmeas pertencentes a outra
15

raça, em linha pura ou hibridada, em que se pretende melhorar qualquer das


vocações produtivas conforme a espécie e a raça.
Os produtos de um cruzamento tendem a mostrar características mais
próximas da linha pai, (melhoradora) chamemos-lhe assim e gozam dos efeitos de
um fenómeno designado por "heterose", na gíria conhecido por "vigor híbrido", que
pode ser entendido como a expressão em maior grau, das qualidades apresentadas
pelos progenitores.
Existem vários tipos de cruzamento, sendo os mais usados o cruzamento de
absorção, duplo, alternativo e o industrial.

Cruzamento de absorção - pode ser efectuado com a intenção de substituir o


rebanho das fêmeas de base, por outro, de características étnicas idênticas às do
reprodutor masculino, substituição esta que se dá de modo gradual, à custa dos
animais nascidos nos passos intermédios e finais do cruzamento. Este intento só se
consegue à 5ª geração pelo que quase só se utiliza em programas de selecção.

Cruzamento duplo - também designado de dois andares, este tipo de cruzamento


tem a interveniência de três raças, pretendendo-se obter um produto final de maior
valor produtivo, que qualquer uma das raças iniciais. Suponhamos que temos três
raças de ovinos, uma rústica, uma prolífica e uma boa produtora de carne. Cruzando
as duas primeiras raças numa primeira fase, obter-se-iam fêmeas rústicas e
prolíficas que cruzadas com a terceira raça, dariam como resultado numa segunda
fase, origem a um maior número de borregos e com boa conformação. Este tipo de
cruzamento terá forçosamente que seguir continuamente este esquema, utilizando
as três raças, para dar os resultados propostos no início.
É de resultados muito mais rápidos que o cruzamento de absorção, sendo
utilizado para melhorar quer a produção de leite, quer a produção de carne.

Cruzamento alternativo - também designado por retrocruzamento, nele intervêm


duas raças. Denominemo-las X e Y por exemplo, de ambas se pretendendo
aproveitar algumas características. Vai efectuar-se o 1º cruzamento, do qual
resultam híbridos que vão ser cruzados com reprodutores de uma das raças, por
exemplo a raça X, sendo os produtos deste segundo cruzamento cruzados com a
16

raça Y. À 7ª geração todos os indivíduos terão o mesmo genótipo. Este tipo de


cruzamento tem sido utilizado na obtenção de novas raças.

Cruzamento industrial - é o tipo de cruzamento de resultados mais rápidos,


fazendo-se para a obtenção de produtos melhorados, a partir de fêmeas de uma
raça local rústica, bem adaptada à região e de reprodutores masculinos de uma raça
especializada numa determinada produção. É frequentemente efectuado para a
produção de carne, utilizando machos de raças pesadas em rebanhos de fêmeas de
raças autóctones.
A descendência apresenta em geral as características de conformação da
carcaça e de precocidade próximas da raça do pai. A justificação da utilização tão
frequente deste tipo de cruzamento, reside na possibilidade de obter mais carne a
partir de uma raça rústica, numa região em que devido às condições edafo-
climáticas seria difícil ou mesmo impossível criar animais especializados nessa
função.
É de regra que todos os animais resultantes deste cruzamento, ou seja os F1,
devem ser inexoravelmente mandados para o matadouro, devido ao facto de, se
forem usados para fins reprodutivos entre si, ou com o progenitor masculino se
verifica uma perda de qualidade em termos de rusticidade, tanto nos F1 como nos
F2, originando prejuízos futuros à capacidade de sobrevivência no meio para o qual
a raça mãe estava bem adaptada, levando deste modo ao abastardamento do seu
património genético, muitas vezes com consequências irreparáveis.
Por este princípio não ter sido respeitado no passado, levou-se a uma
descaracterização parcial das nossas raças autóctones, as quais em parte e na
tentativa de reparar parcialmente os danos causados, têm sido alvo de alguma
selecção no sentido de as aproximar o mais possível da sua antiga linha.
Temos como exemplo nos ovinos, o caso da raça Campaniça, em que o
abastardamento com a etnia Merina foi de tal modo, que na actualidade a raça está
considerada em vias de extinção, havendo no entanto algumas perspectivas de no
futuro ultrapassar esta situação drástica em que ainda se encontra.

O cruzamento industrial pode ainda ser implementado por outros motivos,


como seja a obtenção de fêmeas mais prolíficas, melhores produções de leite, etc.,
devendo todos os machos F1 serem enviados para abate e as fêmeas destinadas
17

ao fim que norteou o cruzamento. A descendência das fêmeas F2 terá que ser
totalmente abatida devido aos distúrbios morfológicos e produtivos que a sua
heterogeneidade genética acarreta.

Na prática deste tipo de cruzamento põe-se o problema da obtenção das


fêmeas de substituição no efectivo, devido ao inevitável refugo anual de parte das
fêmeas em linha pura, problema que se resolve por aquisição dos animais
necessários a outro criador, ou por manutenção na exploração de um pequeno
núcleo em linha pura, expressamente para esse fim, se o rebanho tiver dimensão
suficiente e fôr economicamente rentável.

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1.4- MÉTODOS DE FERTILIZAÇÃO

Os métodos de fertilização usados em zootecnia são a cobrição natural ou monta


natural e a inseminação artificial

Monta natural - consiste na reprodução natural, em que os machos emparelham


com as fêmeas segundo os princípios comportamentais próprios de cada espécie.
Pode ser efectuada em liberdade ou condicionada pelo homem.

Monta em liberdade - constitui o método mais prático e mais simples, sendo


praticado na esmagadora maioria dos nossos rebanhos consistindo em deixar os
machos junto com as fêmeas durante toda a época de cobrição.
Desde que cada rebanho tenha mais do que um macho não é possível
estabelecer a paternidade dos filhos. Num rebanho comercial este facto não é
importante e embora haja sempre necessidade de fazer uma certa selecção, esta é
feita através da mãe, procurando-se deixar para a reprodução filhos de fêmeas boas
produtoras.

Monta condicionada ou dirigida - este tipo de monta consiste em fazer cobrir as


fêmeas por um macho conhecido, podendo praticar-se duas modalidades :
Em lotes - juntam-se um certo número de fêmeas com um único macho o que
garante a paternidade dos filhos nascidos dessas fêmeas. Este procedimento é
18

obrigatório quando se pretende inscrever a descendência nos Livros Genealógicos


ou quando se faz a testagem de um macho.

À mão - consiste no despiste dos cios, isto é identificar as fêmeas em cio, usando
para isso um macho da mesma espécie, sem que se possibilite ao mesmo a
realização da cópula.
Nos grandes animais o despiste é feito por um macho conduzido por uma
corda, o qual se faz passar perto de todas as fêmeas, as quais se marcam depois
de identificadas.
Nos suínos, animais em que é visível o inchaço vaginal, leva-se essa fêmea ao
macho, podendo utilizar-se um artifício que consiste em o tratador sentar-se sobre o
dorso da porca, a qual se estiver em cio imediatamente se imobiliza.
Nos pequenos ruminantes o despiste é efectuado por um animal equipado com
um arreio marcador com almofada de tinta e impossibilitado de praticar uma cópula
fértil, como seja o caso de machos vasectomizados, machos criptorquídios ou
animais usando um avental. Este último caso é o mais falível pois o carneiro com
avental sabe que não pode cobrir e que se magoa ao tentá-lo e pode defender-se
não saltando a ovelha, não se ficando por isso a saber se esta se encontra ou não
em cio, correndo-se o risco de este passar e a fêmea não ser marcada.
Depois de marcada por meio do arreio marcador a ovelha é retirada e
introduzida numa divisão onde se encontra o carneiro seleccionado para realizar a
cópula.

Inseminação artificial - Consiste na introdução artificial no tracto genital de uma


fêmea, de sémen colhido de um macho, igualmente de modo artificial. Em regra
tanto o macho do qual foi colhido o sémen, como a fêmea na qual é introduzido,
pertencem à mesma espécie. Como excepção temos a possível fertilização de
éguas com sémen de burros, ou burras com sémen de cavalos, além das
experiências efectuadas com animais selvagens em cativeiro em Jardins Zoológicos.
Em muitas situações, quer no âmbito de programas de selecção ou de
melhoramento das raças, ou ainda em certos tipos de produção, é imperioso ou
vantajoso usar a inseminação artificial como procedimento de rotina.
A inseminação artificial é um procedimento que envolve necessariamente
diversas fases, que são a recolha do sémen, a sua conservação (por curtos
19

períodos para o sémen fresco ou longos períodos para o sémen congelado), e a


aplicação do mesmo no tracto genital da fêmea ou fêmeas a inseminar.
A situação de utilização da inseminação artificial em esquemas rotina na
produção das diversas espécies, envolve outras fases além das já citadas, como a
sincronização dos cios das fêmeas a inseminar.
Resumindo a prática da inseminação artificial envolve em termos gerais as
seguintes fazes : sincronização de cios ; colheita de sémen ; diluição ;
acondicionamento do sémen ; aplicação do sémen.

Sincronização de cios - é uma técnica que permite desencadear o cio


simultâneamente e em data pré-determinada, das fêmeas submetidas ao
tratamento. Baseia-se no conhecimento de que a progesterona (hormona
segregada pelo corpo lúteo durante a gravidez), impede o desencadear de novo
ciclo sexual, devido ao bloqueio da ovulação e do cio, por impedimento da formação
das hormonas hipofisárias FSH e LH. O que se passa de forma natural, pode ser
simulado artificialmente com o recurso a hormonas de síntese, que têm idêntica
acção que a hormona progesterona natural designadas progestagéneos.
Deste modo administra-se simultâneamente a todas as fêmeas envolvidas no
processo, uma determinada dose de progestagéneos. Ora suspendendo a
administração de progestagéneos a todas as fêmeas de modo simultâneo, a
actividade ovárica manifesta-se rapidamente e dentro de um curto espaço de tempo
devido à acção das hormonas hipofisárias FSH e LH. produzindo-se o crescimento
dos folículos, o cio, e consequentemente a ovulação.
Associando no final da acção dos progestagéneos uma outra hormona de
síntese, a PMSG (assim designada por ter sido identificada em urina de éguas em
gestação), ou a FSH, provoca-se um estímulo nos ovários que provoca um
incremento do número de folículos que crescem e amadurecem e logicamente há
um aumento no número de fetos por gestação.
Os métodos usados para promover uma sincronização de cios, envolvem a
utilização de esponjas destinadas à aplicação intravaginal, as quais estão
embebidas de um soluto contendo as hormonas a aplicar e / ou injecções dessas
hormonas, conforme a espécie animal considerada. Normalmente as esponjas
vaginais são utilizadas nos pequenos ruminantes.
20

O recurso à técnica de sincronização de cios permite :

1- uma mais fácil e fecunda aplicação da inseminação artificial


2- programar cobrições para obter partos na altura desejada, concentrando-os
num período muito curto de apenas alguns dias
3- o planeamento das parições em épocas e grupos pré determinados
4- a produção de lotes de borregos mais uniformes, facilitando assim sua
venda
5- melhor assistência aos partos, devido à sua concentração temporal
6- uma maior produtividade e rentabilidade da exploração pecuária

Colheita de sémen - consiste como o nome indica na recolha do sémen do macho,


directamente para um reservatório. É feita com o recurso a uma fêmea em cio ou a
um manequim (nome dado a um macho castrado ou a uma estrutura inerte em
forma de banco alto e comprido), no qual foi vertida urina de uma fêmea em cio,
utilizando-se uma vagina artificial, aquecida por água quente à temperatura ideal
para a espécie em causa, a qual é provida de um reservatório destinado à recolha
do sémen.

Diluição do sémen - é efectuada no sentido de dilatar o número de doses de


sémen a utilizar nas fêmeas, partindo da dose fornecida por uma ejaculação. Para
tal são utilizadas várias substâncias como o ácido cítrico, a glucose ou a frutose,
antibióticos, glicerol, gema de ovo, e água destilada. As funções destas substâncias
são fornecer fontes energéticas aos espermatzóides, protegê-los contra o choque
térmico causado pelos abaixamentos de temperatura ultra, manter o pH do sémen
congelado idêntico ao do sémen fresco e proteger os espermatzóides contra a
acção de microorganismos.
O número de doses de sémen para inseminação artificial, obtidas com uma só
ejaculação, varia com a espécie animal considerada, sendo o número de fêmeas
passíveis de serem fecundadas por um só macho, com este método, muito superior
ao possível com a monta natural, como se verifica no quadro seguinte.

Doses de sémen para inseminação obtidas por ejaculação


Touro Carneiro Bode Varrasco
300 15 15 10
(Adaptado de Hafez, 1988)
21

Como exemplo diremos que enquanto um carneiro em sistema de monta


natural, fecunda por época de cobrição um número de cerca de 50 fêmeas, com a
inseminação artificial esse número pode estender-se até 300-400 ovelhas, devido ao
facto de cada ejaculação depois de diluída dá origem a 15 doses de inseminação.
As doses de sémen para inseminação artificial são acondicionadas em
palhetas de 0,25 a 0,5 ml de capacidade e com uma forma aproximada a uma carga
de esferográfica.

Acondicionamento do sémen - é feito com o recurso a cápsulas de azoto líquido,


nas quais se atingem temperaturas, da ordem dos –196 ºC, podendo teoricamente
conservar-se indefinidamente, existindo inclusivamente relatos de inseminações
realizadas com êxito e efectuadas com sémen congelado durante 20 anos.

Inseminação - consiste na introdução do conteúdo da dose de sémen no útero da


fêmea receptiva, efectuada por um técnico com o auxílio de uma seringa
transformada para esse fim. A inseminação pode ser realizada com sémen fresco
ou sémen congelado, necessitando este de breve período de aquecimento a 37 ºC,
o que normalmente se faz com recurso a água a essa temperatura.
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1.5- RELAÇÕES ANIMAL / AMBIENTE

Os principais factores ambientais que afectam os animais, são a Temperatura, a


Humidade Relativa, a Velocidade do Ar, a Pureza do Ar e a Iluminação.
Para melhor compreensão dos efeitos ambientais, há que introduzir alguns
conceitos ligados à Homeotermia e aos seus mecanismos.

Homeotermia
Os animais domésticos são homeotérmicos, isto é tendem a manter uma
temperatura corporal constante, reagindo para isso às variações externas de
temperatura, para o que se servem dos chamados "mecanismos homeotérmicos".
Estes mecanismos têm a função de estabelecer um balanço calórico entre o calor
produzido e o calor perdido, conduzindo assim a variações da temperatura corporal,
sempre que há alterações deste balanço.
22

As condições ambientais ao influenciar a quantidade de calor trocado entre ele


e os animais, determina os ajustamentos fisiológicos que o animal deve realizar para
manter o seu balanço de calor corporal.
Se o animal está sujeito a temperaturas ambientes muito diferentes da sua
temperatura corporal normal (ou seja está em "stress térmico"), os esforços para a
manter são consideráveis, levando a uma utilização de energia para a regulação da
seu balanço calórico, facto que se vai reflectir no seu crescimento, produção e
saúde. O esquema seguinte ilustra a partição da energia utilizada pelos animais:

Energia dos alimentos


(calor de combustão)

Energia das fezes Energia digestível

Energia da urina e metano


Energia metabolizável

Incremento de calor
(efeito calórico da comida)
Energia Limpa
(manutenção e produção)

Deste modo são as condições ambientais que determinam a extensão com


que a Energia Limpa é utilizada para a manutenção, para a termorregulação e para
a produção, sendo a resistência de um organismo em relação ao seu ambiente,
proporcional à sua capacidade de manter constante a sua temperatura corporal.
O sangue representa um papel fundamental em todo o processo, dado que
todas as zonas corporais mantêm a sua temperatura constante graças à irrigação e
temperatura sanguíneas.

Temperaturas corporais típicas de alguns animais homeotérmicos


Aves pequenas 43 ºC Bovinos 38,5 ºC
Galinhas 41,7 ºC Cães e Gatos 38,5 ºC
Caprinos 40 ºC Equinos 38 ºC
Ovinos 39 ºC Homem 36,5-37ºC
Suínos 39 ºC Elefante 36 ºC
23

Regulação dos mecanismos homeotérmicos

O balanço calórico "calor produzido / calor perdido" possui um mecanismo de


"retro-alimentação" ou "feed-back", constituído por sensores, controladores e
efectores, controlados pelo hipotálamo.
O hipotálamo, ao receber a informação a partir dos sensores de temperatura
espalhados por todo o corpo e transmitida pelos neurónios, transmite-a à tiróide
(que parece ser a responsável pela regulação da produção de calor), a qual em
colaboração com os sistemas nervoso central e somático, vai provocar alterações
comportamentais por parte do animal, no sentido de voltar a ter a temperatura
corporal normal.

Termorregulação
A regulação da temperatura corporal envolve respostas fisiológicas e de
comportamento. Quando o animal está sujeito a um ambiente de temperatura mais
baixa que a sua temperatura corporal, de acordo com as leis físicas de transferência
de calor, mais calor é removido do seu corpo. Se este processo continuar sem
nenhuma compensação fisiológica a temperatura corporal descerá inevitavelmente.
No entanto o animal pode compensar esta perda de calor, aumentando a sua
produção interna ou reduzindo as suas perdas.
As perdas de calor podem ser reduzidas através de uma diminuição da
superfície de pele exposta, através de uma cobertura de pêlo ou penas, diminuindo
as perdas por evaporação, diminuindo a área exposta ao ambiente e se está alojado
em grupo, promovendo o ajuntamento.
A produção de calor é regulada por mecanismos tais como o tremer,
alterações do tónus muscular e secreções de glândulas endócrinas, que aumentam
a produção de calor metabólico.
Os animais homeotérmicos realizam estes ajustamentos através do sistema
nervoso central podendo-se distinguir dois tipos de respostas, do comportamento e
fisiológicas.
Respostas do comportamento que envolvem :
Movimentos do animal
Ajustamentos de postura
24

Agrupamentos
Trocas na ingestão de água e comida

Respostas fisiológicas que envolvem alterações :


No metabolismo e utilização dos alimentos
Na circulação sanguínea periférica
Na taxa respiratória
Na taxa de evaporação pelos pulmões
Na taxa de transpiração

Conforme o ambiente em que se encontra o animal pode utilizar diferentes


mecanismos :
Em ambiente frio - aumenta a produção de calor e / ou reduz as suas perdas,
através das seguintes estratégias :Treme, executa mais exercício físico, os animais
agrupam-se diminuindo as superfícies de perda de calor, aumenta o isolamento,
quer depositando gordura sob a pele, quer através do crescimento do pêlo, etc.
diminui a circulação sanguínea periférica, aumenta o seu metabolismo, aumenta a
ingestão alimentar e procura alimentos muito energéticos

Em ambiente quente - diminui a produção de calor e aumenta as suas perdas


usando os seguintes estratagemas : não executa exercício físico, reduzindo os seus
movimentos ao, diminui o seu metabolismo, aumenta o ritmo respiratório e a
evaporação pelos pulmões, aumenta a ingestão de água, aumenta a taxa de
circulação sanguínea periférica e diminui a ingestão alimentar

Apesar de estes mecanismos serem generalizados, nem todos os animais os


utilizam do mesmo modo, pois uns têm penas, outros pêlo, outros pele quase nua,
uns possuem glândulas sudoríparas, outros não, etc.

Zona Termoneutral e Zona de Conforto Térmico

Existe uma gama de temperaturas dentro da qual os animais conseguem


manter a temperatura corporal, mas para além dos limites inferior e superior deste
intervalo a temperatura corporal respectivamente baixa e sobe, sem que haja algum
controlo eficiente da sua temperatura, entrando o animal respectivamente em
25

hipotermia ou hipertermia, sobrevindo a morte, se não houver rápida mudança de


ambiente ou das condições deste. Esta gama de temperaturas tem o nome de Zona
de Homeotermia.

Zona de Homeotermia, podendo ser definido como o intervalo de temperaturas


dentro do qual o animal consegue manter a sua temperatura normal, utilizando os
seus mecanismos homeotérmicos e de comportamento para fazer a sua
termorregulação.
Neste intervalo podem ser verificadas variações da temperatura corporal
média, que resultam das oscilações de temperatura registadas nos tecidos
periféricos, mas que não afectam a temperatura corporal interna.
Englobadas dentro da Zona de Homeotermia podemos distinguir duas outras
zonas, a Zona Termoneutral e dentro desta, a Zona de Conforto Térmico.

Zona Termoneutral - corresponde à gama de temperaturas em, que o animal


consegue manter a homeotermia por meio de mecanismos físicos,
correspondendo ao intervalo em que a taxa de metabolismo animal é mínima,
constante e independente da temperatura ambiente.
Os seus limites inferior e superior designam-se respectivamente Temperatura
Crítica Inferior e Temperatura Crítica Superior.

Zona de Conforto Térmico - corresponde a uma zona dentro da Zona


Termoneutral onde o animal não necessita de recorrer a quaisquer mecanismos
físicos ou de comportamento para modificar o seu balanço de energia. Pode ser
caracterizada do seguinte modo :

- Ausência de fenómenos de vasodilatação ou vasoconstrição


- Produção mínima de vapor de água proveniente da respiração pulmonar, da
respiração cutânea ou da transpiração.
- Nula ou mínima erecção de pêlos.
- Inexistência de comportamento contra o frio ou calor.

Homeotermia e idade
26

Após o nascimento, os mecanismos da homeotermia começam a ser


utilizados, apesar de estarem muito pouco desenvolvidos. Esta parece ser a razão
pela qual em muitas espécies domésticas só se tornarem eficientes algum tempo
depois, tempo esse variável com a espécie animal. Pode assumir-se dentro da
mesma espécie que quanto mais jovem fôr o animal, maior é a perda de calor por
unidade de peso.
Este fenómeno é devido a vários factores, entre os quais o facto de os
mecanismos homeotérmicos estarem pouco desenvolvidos ao nascimento, e o facto
da superfície corporal exposta às perdas de calor, ser maior em termos relativos que
nos animais mais velhos e mais volumosos, pois a razão entre a superfície corporal
e o peso é maior nos animais jovens que nos adultos.

A taxa metabólica - que é a produção de calor por unidade de tempo, não está
directamente relacionada com o peso corporal, existindo sim uma relação entre o
tamanho corporal e a quantidade de calor produzida por m 2 de área superficial.

Factores ambientais

Como anteriormente foi referido, os principais factores ambientais que afectam


os animais em qualquer ambiente são a Temperatura, a Humidade do Ar e a
Velocidade do Ar.
A temperatura ambiental numa exploração pecuária constitui um dos factores
físicos ambientais com maior influência no comportamento produtivo dos animais.
Os animais confinados, seja qual fôr a sua espécie, só conseguem alcançar os
seus índices máximos de produção, a temperaturas dentro da sua zona
termoneutral, mais precisamente dentro da sua zona de conforto.
Os valores de temperatura que se situam da Zona Termoneutral e da Zona de
Conforto variam de animal para animal, ou de grupo para grupo, existindo uma série
de factores como a espécie, a raça, a idade, o peso, e o nível alimentar que
dificultam a definição de valores absolutos.

As condições de temperatura dentro das instalações, representam uma


solução de compromisso entre o custo de manutenção de temperaturas ambientais
27

dentro de uma certa gama e o rendimento obtido as produções (carne, leite e ovos)
nessas condições.
Em termos produtivos, "o bom é inimigo do óptimo", significando isto que
regra geral, não se torna rentável assumir os custos da manutenção de uma
temperatura ambiental óptima, pois esses custos não são compensados em termos
económicos, pelo aumento de produção experimentado pelos animais ao serem-lhe
fornecidas as melhores condições ambientais.
Por outro lado existe uma série de relações entre distintos parâmetros, como a
humidade relativa e a velocidade do ar, que interferem em conjunto, diminuindo ou
aumentando o efeito das altas ou das baixas temperaturas.

Velocidade do ar
Um aumento de velocidade do ar a baixas temperaturas faz baixar a
temperatura, implicando um aumento do dispêndio de energia para a conservação
da temperatura corporal, devido ao aumento das perdas de calor que originam, o
que na prática se traduz num aumento da ingestão alimentar, para fazer face ao
incremento de gasto energético. Logicamente, a diminuição da velocidade do ar leva
a menor gasto de energia para o mesmo fim, ficando maior quantidade da energia
ingerida para a produção.

Em situações de altas temperaturas, um aumento da velocidade do ar funciona


de maneira benéfica para os animais, ao aumentar as perdas de calor, o que leva a
um abaixamento da temperatura corporal. A diminuição da velocidade do ar ajuda
ao aumento do desconforto do animal, e em último caso ao "stress" térmico. A
ingestão alimentar diminui, na tentativa de o animal reduzir a produção de calor
endógeno, incrementando-se a ingestão hídrica.
Em qualquer das situações referidas a "performances" produtivas saem
prejudicadas.

Humidade relativa
Um aumento do teor de humidade relativa do ar faz diminuir a possibilidade de
perdas por evaporação por parte dos animais, dificultando deste modo um
abaixamento da temperatura, através da evaporação.
28

Factores que influenciam as perdas de calor pelo animal

- Superfície corporal
- Revestimento corporal e condutividade térmica.
- Balanço Hídrico
- Condições climáticas
- Raça
- Sexo
- Modo de vida

- Superfície corporal
A medição tridimensional da superfície corporal permite estimar a produção e a
dissipação de calor. Quanto maior fôr a superfície corporal, maior será a dissipação
de calor quer sensível, quer latente. A taxa de calor transmitido a partir de um corpo
é proporcional à sua superfície corporal, sendo igualmente importantes a sua forma
e o seu peso.
Quanto maior fôr a razão entre a superfície corporal e o peso de um animal,
maiores serão as perdas de calor.
A razão entre a superfície corporal externa e o peso vivo aumenta quando o
peso vivo diminui, sendo maior nos animais mais pequenos, os quais perdem assim
mais calor, isto dentro da mesma raça.
Os bovinos da espécie Bos indicus, são mais resistentes ao calor, entre outras
razões pôr terem muitas pregas na pele, possuindo uma superfície corporal superior
em 12 % em relação aos da espécie Bos taurus e dissipando assim maior
quantidade de calor.
- Revestimento corporal e condutividade térmica
No corpo de um animal a temperatura não é homogénea, pois que a nível do
pêlo, pele, zona subsuperficial, rectal, do aparelho respiratório, do sangue, etc.
aquela varia, possuindo cada componente corporal uma determinada condutividade
térmica, oferecendo desse modo várias resistências à passagem de calor, da qual
depende em última análise a transferência de calor das zonas internas para a zona
superficial.
O pêlo dá certo grau de isolamento, dependendo este do tipo de pêlo, sua
orientação, espessura, comprimento, inserção na pele, e da relação entre a inserção
29

na pele, o comprimento e a densidade. Ex. : os pêlos longos diminuem a velocidade


do ar e as perdas pôr convecção. Pôr outro lado a radiação solar é absorvida pela
pele, de acordo com a sua côr, indo de 20% numa pele branca a 100% numa pele
negra.

- Balanço Hídrico
A quantidade de água ingerida pelos animais depende também da temperatura
ambiente, estando o vapor de água expirado, relacionado com o consumo de água
e as perdas de calor.

- Condições climáticas
Dentro dos limites fisiológicos o aumento da temperatura tende a diminuir as
perdas totais de calor, favorecendo mais as perdas de calor latente que sensível.
A humidade tem igualmente influência sob as perdas de calor a temperaturas
elevadas. A temperaturas ambientais superiores à temperatura corporal, o
movimento do ar ao aumentar o transporte de calor do meio para o organismo,
tende a reduzir as perdas de calor.
Pelo contrário a baixas temperaturas do ambiente, o movimento do ar favorece
as perdas pôr convecção. Nesta situação, o animal perde facilmente calor sensível.
No entanto isto em termos de perda de calor total, é compensado pôr uma redução
na produção de calor latente.
A temperaturas elevadas há mais dificuldade em perder calor sensível,
acelerando-se o ritmo cardíaco-respiratório e aumentando a perda de calor latente
pela transpiração.

Quando a temperatura ambiente se aproxima da temperatura crítica superior, a


perda de calor latente atinge o máximo, havendo uma tendência da temperatura
interna para aumentar, provocando por sua vez um aumento da produção de calor,
como resultado do incremento da velocidade das reacções químicas (efeito de Van
Hoff). Temperaturas desta ordem levam a uma diminuição da produção, motivada
pelo facto de baixar o consumo alimentar.
Qualquer animal só conserva o seu estado sanitário e de produção, quando a
razão entre o calor sensível libertado e a quantidade de vapor libertado se mantém
constante.
30

- Raça
Tem muita influência no comportamento do animal em termos ambientais, em
termos da produção de calor metabólico, havendo diferenças interrácicas muito
significativas, da ordem dos 5-10%, sendo o que se verifica nos bovinos de carne
em relação aos leiteiros.

- Sexo
O metabolismo basal e logo a produção de calor, é superior nos machos em
relação às fêmeas e machos castrados, sendo de 5% em bovinos e de 10% em
coelhos.

- Modo de vida
O pastoreio aumenta as necessidades de manutenção em relação à
estabulação fixa, sendo este facto conhecido como incremento da actividade.
Os outros factores que influenciam a produção de calor ao nível da
conservação. também influenciam a produção de calor ao nível das despesas da
produção.
Entende-se por produção o crescimento e engorda, a gestação, a produção de
leite, de lã, de ovos e de trabalho.

Qualquer animal para produzir, necessita de ter um nível alimentar superior ao


nível de manutenção.
Devido aos processos de mastigação e digestão o aproveitamento dos
nutrientes faz-se sempre com uma eficiência inferior aos 100%, dependendo o seu
grau de eficiência do tipo de produção. O incremento de calor resultante da
eficiência alimentar, é designado acção dinâmica específica dos alimentos.
O nível alimentar tem muita influência nas perdas de calor, pois a
sobrealimentação aumenta a produção de calor e a subalimentação vai diminuí-la.

Interacção nutrição temperatura

O nível de alimentação influência a temperatura corporal. Abaixo da


temperatura crítica inferior o aumento da produção de calor dá-se à custa da
31

diminuição da energia disponível para a produção. A taxa de conversão do alimento


em produto nesta situação desce.

O factor nutricional mais importante na definição da temperatura crítica inferior


é o nível energético alimentar. Como exemplo cita-se o caso de um suíno de 30 kg
de peso vivo, alimentado com uma dieta de energia quatro vezes maior que as
necessidades de manutenção, o qual experimenta uma produção de calor dupla da
obtida com a energia de manutenção.

É um facto que quando a ingestão de alimentos aumenta, a produção de calor


aumenta proporcionalmente a uma taxa que é definida pelo tipo de alimento. Este
aumento da produção de calor é devida ao aumento das necessidades de
manutenção e à consequente diminuição da eficiência de utilização da energia
metabolizável para a produção, pois que maior quantidade de alimentos são
utilizados na produção de calor.

O incremento da produção de calor resultante de um nível de energia alimentar


mais elevado, traduz-se numa ampliação da zona termoneutral, pôr abaixamento da
temperatura crítica inferior.
Este raciocínio é igualmente válido em situações de temperaturas elevadas,
levando neste caso a uma diminuição voluntária do consumo de ração, numa
tentativa por parte do animal de baixar a produção de calor e assim facilitar a perda
de calor corporal.
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1.6- PASTOREIO E FORRAGENS

A forma mais rentável e mais correcta de produzir carne ou leite, consiste na


alimentação dos animais essencialmente à base de erva de qualidade. A erva pode
ser proveniente de pastagens ou de forragens, importando desde já fazer a distinção
entre as duas :

Pastagens - igualmente designada por prados, são conjuntos de plantas em


geral herbáceas, podendo comportar igualmente plantas subarbustivas ou
arbustivas, que ocupam uma certa área e se destinam a ser comidas pelos
32

animais no local onde crescem. Podem no entanto ser cortadas em determinadas


épocas do ano, para servir de alimento a animais que se encontram noutro local,
quer no estado natural, quer após conservação sob a forma de feno ou de
silagem.

Forragens - igualmente designadas culturas forrageiras são plantas geralmente


herbáceas destinadas ao corte, para serem consumidas pelo gado noutro local,
quer no estado natural, quer após conservação sob a forma de feno ou de
silagem. Eventualmente uma área de forragem pode ser pastoreada, mas por
princípio uma forragem destina-se a ser cortada.

A diferença entre uma pastagem e uma forragem radica unicamente na forma


como as plantas são utilizadas pelos animais.
Existem espécies vegetais mais apropriadas para pastagens, com porte
prostrado ou sub-prostrado, sendo mais resistentes ao pisoteio do gado e outras
mais apropriadas para forragens, de porte erecto e sub-erecto, servindo no entanto
algumas espécies para ambos os fins.

As pastagens possuem além da importância directa na alimentação animal,


outras vantagens, como a sua capacidade para defender os solos contra a erosão,
pela protecção que as plantas oferecem ao embate directo das gotas de chuva e
pela melhoria que as raízes provocam na estrutura do solo aumentando a
resistência dos agregados terrosos à fragmentação pela chuva ; o aumento da
fertilidade dos solos, pelo aumento no teor de matéria orgânica provocado quer
pelos componentes das plantas que ficam no solo, quer pelos dejectos dos animais
apesar da sua distribuição não ser uniforme.
As pastagens podem ser espontâneas, melhoradas e semeadas e estas
podem ser de sequeiro ou regadio.

Pastagens espontâneas são consideradas todas as que crescem sem qualquer


intervenção do homem, possuindo composição florística e desenvolvimento
inteiramente dependentes das condições de solo e clima. Por vezes são
formadas por plantas ricas e abundantes, constituindo fonte alimentar muito
importante, pelo menos temporáriamente.
33

São também consideradas pastagens espontâneas as que crescem nos


pousios das zonas cerealíferas. A carga animal em pastagens deste género é
baixa, não passando de 0.15 Cabeças Normais* por hectare e por vezes menos.
Este tipo de pastagem pode ser melhorado através de adubação, facto que
aumenta tanto o volume da massa herbácea, como o seu valor nutritivo,
permitindo o aumento directo da carga animal por hectare.

* A Cabeça Normal é uma forma de calcular encabeçamentos, sendo 1 Cabeça


Normal correspondente a uma vaca adulta. Uma ovelha adulta, ou uma cabra
adulta correspondem a 0,15 C.N., ou seja cerca de seis vezes menos que uma
vaca.

Pastagens melhoradas é a designação para as pastagens espontâneas que


foram adubadas, sofrendo deste modo um aumento da massa herbácea.

Pastagens semeadas como o próprio nome indica são todas as pastagens


semeadas pelo homem, sendo designadas por temporárias se ficam no terreno de
3 a 5 anos, ou por permanentes se excedem este período, permanecendo estas
no terreno geralmente 7 a 10 anos, podendo inclusivamente ter maior duração.
As espécies vegetais a semear variam com as condições de solo e clima
locais, devendo sempre usar-se para a sua composição uma mistura de gramíneas
(plantas ricas em hidratos de carbono e pobres em proteínas) e leguminosas
(plantas ricas em proteínas e pobres em hidratos de carbono), no sentido de obter
uma alimentação mais rica e equilibrada.
Este artifício permite eliminar a necessidade de adubos azotados por parte
das plantas, pois as leguminosas possuem a capacidade como simbiontes, de fixar
o azoto atmosférico, o qual ao ser por esse meio incorporado no solo fica
disponível também para as gramíneas. É no entanto vantajoso fazer adubações
com adubos contendo fósforo, potássio e outros elementos como cálcio e
magnésio.
Um facto indesmentível é que numa pastagem em que as leguminosas
dominem, a produção de carne é sempre superior.
34

As condições em pastagens semeadas com tratamento correcto, melhoram


de tal modo que a carga animal pode em certos casos, atingir as 2 Cabeças
Normais / ha.
O maneio das pastagens assume uma enorme importância, devendo praticar-
se de uma forma racional, tendo em conta as variedades botânicas existentes, o
seu grau de desenvolvimento, a época do ano, além de outros factores, devendo o
pastoreio ser orientado de modo a que não seja excessivo nem insuficiente, pois
que ambas as situações levam à degradação da pastagem.

Pastoreio - entende-se como pastoreio o acto de pastar, ou seja o deambular


dos animais pelos campos em busca do alimento.
Na esmagadora maioria das nossas explorações os animais pastam durante
todo o ano, recebendo no entanto suplementos de ração ao fim do dia, em
períodos nos quais as suas necessidades alimentares não possam ser totalmente
satisfeitas durante o pastoreio.
Os principais sistemas de pastoreio são : Pastoreio contínuo, pastoreio
diferido, pastoreio rotacional e pastoreio em faixas.

Pastoreio contínuo considera-se aquele em que o gado está na pastagem de


modo permanente, vivendo durante todo o ano do aproveitamento das ervas verdes
durante o seu período vegetativo e da erva seca, até que as primeiras chuvas
originem nova rebentação, sendo a carga animal calculada de acordo com as
potencialidades da pastagem.
No nosso clima o crescimento da erva é reduzido nos meses de Setembro a
Novembro, sofrendo as plantas um adormecimento nos meses frios de Dezembro e
Janeiro e experimentando um rápido e intenso crescimento na Primavera. Temos
assim um período de relativa escassez, seguido de um período de abundância em
que os animais têm um excesso de alimentação.
As plantas que constituem esse excesso podem ser consumidas em seco no
verão ou ainda cortadas e transformadas em feno ou silagem, destinados a ser
utilizados como suplementação nos períodos de carência de alimentos.

Pastoreio deferido é caracterizado por se retirarem os animais da pastagem após a


ocorrência das primeiras chuvas, quando da rebentação das ervas, voltando
35

aqueles à pastagem algumas semanas depois, seguindo na pastando até virem de


novo as primeiras chuvas no fim do Verão.
A este tipo de pastoreio são apontados dois inconvenientes, corporizados no
facto de o gado ter de alimentar-se noutro local de forma mais dispendiosa durante
o tempo em que não está na pastagem e a possibilidade de durante esse tempo, as
ervas infestantes livres da pressão do pastoreio, experimentarem um incremento
degradando a pastagem.

Pastoreio rotacional é a forma mais racional de aproveitamento de uma pastagem,


apresentando contudo o inconveniente, de para ser praticado, necessitar da
presença de cercados. Consiste em fazer o gado passar sucessivamente de umas
cercas a outras, à medida que a erva vai sendo consumida, de tal modo que quando
termina a erva do último cercado, a do primeiro experimentou um crescimento tal,
que está de novo apta para ser consumida.
Este sistema apresenta como vantagem adicional o facto de em anos de boa
produção de erva, se poder guardar um cercado destinando-o à produção de feno
ou silagem, para ser consumida nos períodos de fraco crescimento da erva.

Pastoreio em faixas é um sistema intensivo em que se obrigam os animais a pastar


intensivamente numa pequena parcela, mudando-os diariamente para outra. É um
sistema utilizado vulgarmente em rebanhos leiteiros, sendo a parcela em que os
animais pastam, delimitada por cancelas ou mais modernamente por recurso a
cercas eléctricas.
Após terem sido anteriormente mencionados termos como feno e silagem,
importa esclarecer que são alimentos conservados de diferentes propriedades.
Assim temos:
Feno - é o resultado do corte, secagem e posterior enfardação de plantas
forrageiras ou eventualmente de plantas provenientes de pastagens. Não é
mais do que as plantas cortadas e enfardadas depois de alguns dias de
secagem no campo na altura da Primavera, conservando-se devido ao seu
baixo teor em água, sendo destinado ao consumo em épocas de carência
alimentar, geralmente o Outono e o Inverno.
36

Silagem - é o resultado da acção de microorganismos anaeróbios, sobre a


forragem finamente fragmentada, por acção de uma máquina específica no
campo e imediatamente transportada para silos, onde é fortemente
compactada a fim de eliminar os espaços com ar e posteriormente
completamente tapada. A massa herbácea sofre uma fermentação anaeróbia,
que transforma os glúcidos das plantas em ácido láctico, o qual ao baixar o pH
do meio até cerca 4, actua como agente conservante impedindo o
desenvolvimento de outros tipos de microorganismos. Tal como o feno, a
silagem destina-se a ser consumida preferencialmente no período de Outono-
Inverno.
---------- / - / - / - / ----------

1.7- ESTABULAÇÃO E SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO

Quanto às instalações usadas para animais, o que motiva o tipo utilizado é o


sistema de exploração a que os animais estão sujeitos, aliado ao tipo de animal que
estamos considerando.
Basicamente os sistemas de exploração são três, Extensivo, Semi-
extensivo ou Semi-estabulação e Estabulação permanente.
Extensivo

É um sistema de exploração que se confunde com o conceito de pastoreio


extensivo, em que os animais andam todo o ano na pastagem, podendo recolher
durante a noite ao curral, podendo este ser de variados tipos, quase sempre simples
e baratos, desde uma simples cerca em local abrigado dos ventos dominantes e
com capacidade de escorrência de águas pluviais, até barracões fechados, obtidos
com o recurso às mais avançadas técnicas de construção de alojamentos para
animais, passando por telheiros fechados por três lados, com parque anterior os
quais abrigam da chuva e dos ventos, factor que só por si melhora bastante as
condições de produção dos animais.

Semi - Estabulação

Este sistema é muito utilizado nos países frios do Norte da Europa, durante o
Inverno nas condições em que o solo se encontra totalmente coberto de neve, tendo
37

os animais que ficar confinados, recebendo então a totalidade da sua alimentação


no estábulo, do qual só saem quando a neve desaparecer. Outra situação é a de
rebanhos leiteiros de alta produção, que passam parte do dia dentro do estábulo e
parte pastando erva de alta qualidade em parques próximos daquele, que se situa
geralmente numa posição central preferencialmente em relação aos parques para
que os animais não necessitem andar muito.
Estabulação Permanente

É o sistema utilizado nas explorações de engordas intensivas de animais


jovens, e nas explorações intensivas.
Nas instalações de engorda intensiva, procura-se que os animais façam o
mínimo de exercício, para que gastem o mínimo de energia possível e assim
experimentarem um máximo de aumento de peso.
As explorações intensivas visam a obtenção de altas produções, sendo para o
efeito utilizados animais de grandes capacidades produtivas, mas que
simultâneamente necessitam de óptimas condições, situação que requer instalações
caras e programas de maneio elaborados, que só se conseguem obter na prática
com o recurso a mão-de-obra especializada.
A exploração intensiva é certamente o sistema de produção que envolve
maiores encargos económicos, por vezes com condicionamento ambiental,
alimentação e água distribuídas automaticamente, etc. e que por essa razão envolve
mais riscos.
38

2- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE OVINOS

2.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os ovinos pertencem à Família Bovidae, Subfamília Ovidae, Género Ovis e


Espécie aries. Contam-se entre os primeiros animais a serem domesticados pelo
Homem, pensando-se que remonta a 9000 a.C. a sua domesticação, logo a seguir à
domesticação dos cães (Williamson e Payne, 1980). Os ovinos domésticos têm a
sua origem em três grupos de ovinos, o muflão europeu (Ovis aries musimon), o
muflão da Ásia Menor ou urial (Ovis urial) e o argali (Ovis arcal) (Avó, 1983).
O centro original de domesticação desta espécie, tanto quanto hoje se sabe,
parece estar situado nas estepes entre os mares Aral e Cáspio, tendo-se
posteriormente dispersado para a zona hoje ocupada pelo Irão, para o
subcontinente Indiano e Sudeste da Ásia, Ásia Menor e daqui para a África e
Europa (Williamson e Payne, 1980). Em vastas regiões da Europa encontram-se
antigos vestígios de ovinos, sendo no entanto mais importantes nas áreas que
ladeiam o Mediterrâneo, nomeadamente no Sul de França e na Itália.
Documentos históricos da mais remota antiguidade dão-nos ideia da
importância que esta espécie teve na vida dos povos e do lugar que ocupavam,
inclusivamente nas confissões religiosas. A atestar este facto temos os relatos de
sacrifícios e oferendas feitas aos deuses da mitologia da Antiguidade Clássica. O
culto Muçulmano tem estes animais em grande conta, pois foi em escápulas de
carneiro que Maomé escreveu o Alcorão (Avó, 1983). O Cristianismo honra também
esta espécie, como símbolo da inocência, colocando-o até ao lado de S. João
Baptista.
A importância dos ovinos provém das utilidades que a espécie proporciona ao
Homem desde tempos imemoriais, traduzidas em peles, lã, leite e carne, aliando a
estas potencialidades um temperamento dócil, grande rusticidade e facilidade de
deslocação, podendo deste modo acompanhar o Homem nas frequentes mudanças
em busca de melhores condições de vida ou fugindo dos seus inimigos, factos que
fizeram desta espécie um aliado até aos nossos dias.
As estimativas da população mundial de ovinos rondam o bilião de animais
(FAO, 1991).
2.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE
39

2.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Os alimentos habituais dos ovinos, mais apropriados e económicos são as


ervas pastadas directamente, constituindo a pastagem o factor económico mais
importante da sua exploração, pois estes animais utilizam toda a vegetação
espontânea ou semeada e todos os restos de culturas de cereais ou legumes, bem
como subprodutos de indústrias ou culturas várias, como repiso da indústria do
tomate, bagaço de uva , restolhos de girassol, etc.
A principal vantagem dos ovinos reside assim na sua capacidade de utilização
das pastagens para a produção de carne, leite e lã, quer em regiões montanhosas,
nas terras de fraca fertilidade que de outro modo não teriam qualquer utilidade para
fins agrícolas, quer nas terras de planície onde aproveitam as ervas que nascem nos
pousios das terras aráveis, tal como aproveitam durante o verão os restos das
colheitas de cereais que ficam no terreno.
O principal papel do gado ovino consiste portanto na utilização de pastagens,
sendo subsequentemente o principal objectivo de uma ovinicultura eficiente, a
obtenção do maior rendimento possível das pastagens, o que não impede que
sempre que necessário se recorra a suplementação com fenos, silagens, farinhas
ou cereais. O consumo de silagens em ovelhas leiteiras em produção, está
desaconselhado, pelas características negativas que este alimento confere ao leite.
Está igualmente desaconselhado em ovelhas aleitantes, enquanto os borregos
estão na fase de pré-ruminante, pois em termos digestivos, estes comportam-se
como monogástricos, sendo portanto o consumo de silagem letal para eles.

Os ovinos são ruminantes cujo comportamento alimentar é caracterizado pela


marcada preferência por erva baixa (sendo por este facto designados por "grazers"),
a qual ingerem depois de a cortarem com um movimento brusco da cabeça para
cima e para a frente. Apesar desta preferência pela erva, estes animais não
desdenham rama de árvores, arbustos, bolota e inclusivamente azeitona em
períodos de escassez alimentar.
Têm um comportamento alimentar selectivo, preferindo determinadas espécies
herbáceas em detrimento de outras, existindo ainda algumas que nunca são
ingeridas a não ser em casos extremos de escassez de alimento. Apesar de
40

selectivos são-no muito menos do que os caprinos, o que por conseguinte os torna
mais aptos para um melhor aproveitamento de pastagens à base de plantas
herbáceas.
As 24 horas do dia, grosso modo, são passadas 9-11 horas a pastar, 8-10
horas a ruminar e as horas remanescentes a descansar, isto em condições de
alimento abundante, alterando-se estas proporções sempre que se alterem as
condições de disponibilidade alimentar.

2.2.2- CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS

Puberdade
Os ovinos atingem a puberdade cerca dos 7-8 meses nos machos e entre os 5
e os 7 meses nas fêmeas, havendo variabilidade quanto a este evento entre raças e
dentro da mesma raça, podendo ser condicionado o seu aparecimento pelo clima,
estação reprodutiva e efeitos da nutrição, condicionando esta o início da puberdade,
sobretudo pelo peso vivo e pela condição corporal, esta designada amiúde por
"estado de carnes". Esta situação nas fêmeas, corresponde na prática e para este
fim em boas condições de nutrição, a uma percentagem entre 40 a 60% do peso
vivo adulto da raça, sendo esta condição considerada imprescindível para que se
verifique a passagem ao estado fértil. Na prática corrente encara-se a percentagem
de 65% do peso vivo adulto, como o peso considerado correcto, para que se inicie a
reprodução de modo efectivo e viável.

Estacionalidade reprodutiva
As fêmeas dos ovinos domésticos são poliéstricas de ovulação espontânea,
apresentando vários ciclos éstricos consecutivos ao longo da estação reprodutiva,
com duração média igual a 16,5 dias, tendo os cios a duração de 24 a 36 horas.
São considerados animais de "fotoperiodismo negativo", o que significa que entram
em cio quando as condições de luminosidade diária começam a diminuir, ou seja no
fim do Verão / início do Outono.
As raças de ovinos originárias das regiões mais frias do hemisfério Norte
apresentam estacionalidade sexual bem marcada, facto que tem uma simples
explicação em termos puramente biológicos, já que os borregos vão nascer durante
41

a Primavera, com muito maiores probabilidades de sobrevivência comparadas com


as que teriam se o nascimento se desse no fim do Verão / início do Outono.
Existe no entanto um grupo de raças ovinas que não apresentam
estacionalidade sexual bem marcada, as quais são todas originárias das regiões
marginais do Mediterrâneo, onde as condições climáticas são mais amenas,
facultando aos recém nascidos condições de sobrevivência durante quase todo o
ano.
Nas raças deste grupo, uma grande parte das fêmeas pode entrar em cio sob
certas condições, no período em que os dias têm maior duração e por consequência
se verificam condições de luminosidade crescentes.
Um determinante factor para que o efeito referido se verifique, consiste na
utilização do fenómeno designado por "Efeito macho" ou "Efeito carneiro", que não é
mais do que a reintrodução na Primavera dos machos no rebanho das fêmeas após
um período de alguns meses de ausência, nos quais permanecem o mais
separados possível das fêmeas. A presença dos machos e seu cheiro provoca em
grande parte das ovelhas o aparecimento de cios e a consequente entrada em
estação reprodutiva.
Este artifício é utilizado em muitas das regiões onde existem raças com
estacionalidade sexual mal marcada, para iniciar os cios na Primavera e condicionar
os nascimentos dos borregos no período de Setembro a Novembro. Nesta situação,
normalmente o primeiro cio é anovulatório e portanto infértil, mas o segundo cio é já
um cio com ovulação, logo fértil e portanto passível de dar origem a uma gestação
se fôr efectuada cópula viável.
A este grupo de raças ovinas possuindo estacionalidade mal marcada os
Merinos, Karakul e os Persas de cabeça negra, entre outros.

Os machos da espécie ovina, apresentam produção de espermatzóides


durante todo o ano, ainda que se verifique em algumas raças uma certa inactividade
das gónadas durante o período estival. No entanto o ardor sexual dos machos é
mais evidente no fim do Verão / início do Outono, o que não é de estranhar dado
que as altas temperaturas influenciam negativamente a produção de sémen, devido
à temperatura óptima do interior do testículo ser de 36 ºC enquanto que a
temperatura corporal é de 38-39 ºC.
42

Gestação
A gestação nos ovinos tem a duração média de 5 meses, sendo a sua duração
tanto menor quanto maior o número de fetos. As fêmeas dos ovinos são monotocas,
sendo no entanto comuns os partos gemelares, experimentando o número de fetos
importantes variações interrácicas e interindividuais dentro da mesma raça. Apesar
destas diferenças, os partos são normalmente simples na maioria das raças, mas,
mesmo nas raças menos prolíficas é frequente a ocorrência de partos múltiplos.
Podemos assim dizer que o número de fetos é mais influenciado pela raça que pela
a espécie em si.

Sistemas de Reprodução
A reprodução dos ovinos pode fazer-se em sistema de monta natural, nas
suas diversas variantes, ou por recurso à inseminação artificial.
Nos sistemas extensivos de produção de carne é normalmente utilizada a
monta natural, em de liberdade.
Quando se trabalha com raças puras para a obtenção de reprodutores, é
muitas vezes utilizada a monta natural condicionada em lotes ou à mão.
Nos sistemas de produção de leite em grandes efectivos utiliza-se
preferencialmente a inseminação natural.

2.2.3- PRODUÇÃO DE CARNE, LEITE E LÃ

Os ovinos podem ser explorados para a produção de carne, leite e lã.

2.2.3.1- PRODUÇÃO DE CARNE

A produção de carne de ovinos em Portugal é mais ou menos equivalente ao


consumo ou ligeiramente deficitário. O mercado destes animais é no entanto e
actualmente complexo sobretudo no Sul do País, região em que é corrente a
exportação de borregos para Espanha, França e menos correntemente Itália
destinados à engorda. Dos animais exportados para Espanha, uma parte deles
retorna ao nosso País após o período da engorda, in vivo destinados ao abate ou
em carcaça. Verifica-se igualmente a importação de carcaças de ovino refrigeradas,
provenientes da República da Irlanda e da Nova Zelândia, as quais são vendidas a
43

preços muito competitivos, sendo no entanto preteridas pelos consumidores, devido


às suas características sobretudo de gordura.
Os ovinos para abate são apresentados ao consumidor no nosso País sob três
tipos principais :

- Borrego de leite com idade entre 1 e 2 meses e peso de inferior a 12 kg de

carcaça

- Borrego de pasto com idade entre 4 e 6 meses e peso superior a 12 kg de

carcaça

- Animais adultos de refugo com idade variável e um peso superior a 18 kg de

carcaça

O borrego de leite é um produto com tradição nas regiões em que os ovinos


são explorados na sua vocação leiteira, sendo precocemente desmamados, para a
utilização integral do leite para a confecção de queijo. Tem na Serra da Estrela e
regiões limítrofes a designação de "anho".

O borrego de pasto é o borrego tradicional de toda a zona Sul de Portugal, em


que as raças e as condições climáticas não permitem senão de modo reduzido a
exploração do leite, efectuada após o desmame. As épocas de maior consumo de
borrego de pasto coincidem com o Natal e a Páscoa.

Os animais de refugo são todos os adultos que ou por terem terminado a sua
vida útil produtiva por idade, transtornos reprodutivos ou produtivos (caso das
ovelhas leiteiras que tiveram mamites irreversíveis), são destinados ao abate.

As carcaças de ovinos são apresentadas sem cabeça e inteiras segundo


normativa Comunitária. A sua classificação é efectuada de acordo com duas
grelhas, uma de utilização geral no âmbito da Comunidade Europeia, utilizada para
as raças estrangeiras e seus cruzamentos com as raças autóctones e outra de
aparecimento bastante posterior à primeira, de utilização somente nas carcaças dos
animais de raças autóctones mediterrânicas.
Ambas as grelhas classificativas, baseiam os seus critérios de avaliação na
conformação da carcaça, na gordura de cobertura e na gordura cavitária ou interna,
44

sendo no entanto as carcaças dos dois tipos de animais, classificadas de modo


diferencial por cada uma das Grelhas de Classificação.
Esta dualidade de critérios é justificada pelas diferenças verificadas nas
carcaças dos dois tipos de animais, saindo sempre prejudicadas as carcaças de
animais das raça autóctones quando comparadas com as carcaças dos animais de
raças mais seleccionadas e seus híbridos, devido à melhor conformação e
possuindo maior deposição de gordura, quer de cobertura, quer cavitária.

A carne de ovino não é utilizada na confecção de produtos industriais, se


exceptuarmos um ou outro prato regional em conserva, como o caso do borrego
com ervilhas, tendo contudo uma importância insignificante no cômputo do consumo
nacional.
Pelo contrário o intestino delgado dos ovinos, tem grande aplicação na
indústria salsicheira de carácter não artesanal, para a confecção de diferentes tipos
de chouriços e linguiças industriais e igualmente nas salsichas frescas.

2.2.3.2- PRODUÇÃO DE LEITE

A produção de leite é uma das mais valiosas dos ovinos atingindo na


actualidade este produto, preços da ordem dos 230$00 a 250$00 por litro,
constituindo um factor de uma grande importância na economia de determinadas
regiões e apesar de actualmente não estar contabilizado, sabe-se que atingiu o
número de 42,6 milhões de litros em 1979 (FAO, 1991).
O leite de ovelha representa uma grande contribuição para a economia e
alimentação dos povos da bacia do Mediterrâneo, tendo no entanto uma importância
insignificante em outras regiões do Mundo.
O leite de ovelha tem características de sabor e conteúdo em matéria gorda,
que o distinguem do leite das outras fêmeas domésticas com destino à alimentação
humana, sendo canalizado de modo exclusivo para a produção de queijo, produto
em cuja transformação atinge o mais alto rendimento económico. Este facto deve-se
às elevadas percentagens de gordura e proteína, o que origina um alto teor de
resíduo seco, permitindo fazer um quilograma de queijo com 1,5 a 2 meses de cura
com 5 a 6 litros de leite.
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Em termos médios a composição do leite de ovelha é a seguinte:

Água 80,8 %
Matéria gorda 7,7 %
Lactose 4,4 %
Proteína 6,0 %
Sais minerais 0,9 %
Densidade a 15 ºC 1,038

(Adaptado de Sá e Barbosa, 1990)

A produção de leite é em alguns casos como na Serra da Estrela e em Azeitão


o motivo principal da criação de ovinos, pelo que os borregos são considerados
nestas regiões como um subproduto e desmamados precocemente, sendo então
consumidos como borregos de leite ou sujeitos a aleitamento artificial, seguido de
acabamento intensivo.
Actualmente assiste-se a um incremento de efectivos leiteiros, em regiões de
grande tradição no fabrico artesanal de queijo de ovelha, como a região de Serpa,
onde já são frequentes explorações de ovelhas francesas da raça Lacaune, muito
produtivas e de tetos bem adaptados morfologicamente à ordenha mecânica.
Regista-se deste modo, a uma gradual substituição de efectivos de raças
autóctones, tradicionalmente exploradas em produção mista carne / leite, sendo
este somente recolhido depois do desmame tardio tradicional do Alentejo.
Esta substituição das raças autóctones por raças estrangeiras de vocação
leiteira, deve-se a dois factores, a maior produtividade destas e a impossibilidade de
continuar a explorar as raças tradicionais nas vertentes carne e leite, por imposição
Comunitária, facto que se prende com a atribuição de Ajudas Compensatórias à
Perda de Rendimento, muito maiores na produção de carne, sendo quase irrisórias,
se é efectuado o aproveitamento do leite, no período pós-desmame.
Assim, estamos perante uma substituição de efectivos, por uma causa
exógena ao próprio sistema de produção.
A ordenha das ovelhas pode fazer-se manual ou mecanicamente, sendo até
um passado recente, a modalidade manual a mais utilizada na esmagadora maioria
das explorações. Hoje, pelas razões expostas, são muito poucas as explorações
que a praticam.
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A ordenha manual, tem a desvantagem de ser um trabalho árduo e demorado,


com cada ovelha a dar por vezes menos de um decilitro de leite por ordenha, sendo
de 40 a 50 o número de ovelhas ordenhadas por um homem por hora. Por outro
lado o custo da mão-de-obra cada vez mais elevado, aliado ao facto de ser um
trabalho especializado, logo raro na realidade agro-pecuária alentejana, está
igualmente a levar, mau grado o preço elevado do leite, a que cada vez mais
rebanhos não especializados na produção de leite, como são os rebanhos de raças
autóctones, não sejam ordenhados, sendo assim o leite integralmente aproveitado
pelos borregos.
O sistema de ordenha mecânica, se por um lado tem imensas vantagens
quanto à redução do custo de mão-de-obra, por outro lado é bastante caro e só se
justifica economicamente para efectivos numerosos, sendo usual considerar o
número mínimo de 150 ovelhas leiteiras, para justificar economicamente, uma
instalação deste tipo. Também a conformação do úbere de algumas ovelhas,
especialmente de raças não leiteiras, não é a mais adequada a este tipo de
ordenha.
As salas de ordenha para ovelhas, podem compor-se de uma ou duas linhas
(ver fig. 13), isto é de uma ou duas filas de animais, dando um rendimento de 180-
432 ovelhas ordenhadas por hora, conforme comportem 24 ou 72 pesebres, ou seja
lugares de ordenha.
Devido ao facto de nem todas as ovelhas terem igual produção, e a máquina
exercer um sucção contínua, há o perigo real de danos nos tetos, por traumatismo
causado pela sucção em seco. Este facto representa um acréscimo adicional de
problemas de patologia da glândula mamária, pela frequente ocorrência de
mamites, tendo como consequência uma diminuição da higiene microbiológica do
leite, pela ocorrência neste dos microorganismos provenientes das infecções. Além
da perda de qualidade do leite, regista-se ainda a perda parcial ou total do animal
como produtor de leite nessa lactação ou para toda a vida, o que a todos os níveis,
representa uma forte perda económica, quer pelo preço do leite, quer pelo preço
elevado que as ovelhas de raças especializadas na produção de leite atingem.

2.2.3.3- PRODUÇÃO DE LÃ

A produção de lã não pode considerar-se uma produção autónoma, sendo


antes uma produção acessória, já que os animais a produzem seja qual fôr a sua
47

aptidão. Se no passado ela representava uma riqueza para o agricultor, hoje quase
não passa de um incómodo, dado que a sua obtenção se não ocasiona prejuízo,
origina um lucro insignificante, devido ao facto de o produto da sua venda na
generalidade dos casos, não cobrir os encargos da tosquia. Esta operação no
entanto torna-se indispensável pelos prejuízos advindos aos animais pela sua não
realização. Têm sido estudados métodos que evitem a tosquia, nomeadamente com
recurso a fármacos, os quais pura e simplesmente ocasionam a queda da lã,
levando no entanto a que em certas ocasiões, esta fique espalhada pelos terrenos,
ficando temporariamente os animais com o aspecto insólito de ovinos com "pele de
porco".
O corpo dos ovinos é recoberto por uma camada de lã que no seu conjunto
tem o nome de "velo" e cuja função é proteger o animal das variações de
temperatura e de outros elementos climáticos a que o mesmo está sujeito.
O velo é um conjunto de fibras lanares de dois tipos : as primárias e as
secundárias, produzidas pelos folículos primários e secundários existentes no
interior da pele dos animais, os quais dão origem respectivamente às fibras lanares
primárias de maior diâmetro e meduladas e às fibras lanares secundárias, mais
finas.
Cada fibra compõe-se de uma raiz e de uma haste. Esta haste que constitui a
porção têxtil, é revestida de escamas sobrepostas que lhe dão um aspecto rugoso,
conferindo à lã as qualidades têxteis que permitem a fabricação de fios, com os
quais se fabricam os tecidos. A presença das fibras primárias meduladas constitui
um factor de desvalorização do velo, que será tanto pior quanto menor fôr a
proporção entre fibras secundárias e fibras primárias, sendo num velo merino de 15-
20 / 1 e num velo cruzado de 2-8 / 1.
Externamente as fibras lanares estão cobertas de uma substância gordurosa
designada "suarda", resultante das secreções das glândulas sudoríparas e
sebáceas conferindo à lã maior ou menor maciez e impermeabilizando-a ao mesmo
tempo. No velo existem ainda outros filamentos que são os pêlos, caracterizados
pela ausência de ondulações e crescimento descontínuo, os quais não possuem
qualidades têxteis, nem admitem serem tingidos, pelo que têm que ser eliminados
antes da fiação, pois a sua presença desvaloriza o "velo".
As lãs caracterizam-se por vários elementos classificativos entre os quais se
destacam a finura, o comprimento, o frisado, a resistência e elasticidade, o toque e
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a côr, mas de forma principal é a finura que determina a classificação das lãs, que
entre nós se classificam em merinas (com espessuras compreendidas entre 12 e
27 microns), cruzadas (com espessuras compreendidas entre os 25 e 36 microns) e
churras (com diâmetros superiores a 30, 50 ou mais microns).
Cada uma destas divisões comporta ainda algumas subdivisões, como as
extra, fina, média e forte para as lãs merinas ; prima, cruzada fina, média e comum,
para as lãs cruzadas ; lustrosa, churra super e churra ordinária para as lãs churras.

Tosquia - era feita no passado à tesoura, sendo hoje efectuada com o recurso a
máquinas de tosquiar mecânicas ou eléctricas, estando estas mais difundidas
devido ao maior rendimento que possibilitam.
Os velos após a tosquia devem ser enrolados e libertados de todos as porções
que mostrem defeitos, bem como de todos os corpos estranhos, como palhas etc.
A lã proveniente das cabeças e barrigas, designadas na gíria por "apartes",
não deve ser incluída no velo pois vai desvalorizá-lo, devendo ser armazenada à
parte, o mesmo acontecendo com a lã da parte traseira do animal designada por
"rabejas", devido a estar conspurcada com fezes e urina, levando a fermentações
microbianas no velo, daí resultando desvalorização das fibras lanares. Deve dizer-se
em abono da verdade que esta regra não é sempre seguida, pelo que constitui
como se disse, mais um factor de desvalorização da lã produzida no nosso País.
Apesar de a situação do nosso país em relação à lã ser caótica e esta pouco
valorizada, em parte pela deficiente homogeneidade dos lotes devido à sua
elaboração e pela baixa qualidade de uma grande parte da produção, na Austrália
criam-se animais exclusivamente para a produção de lã. Isto não significa que neste
país, que possui o maior rebanho ovino do Mundo, não se faça produção de carne,
mas esta tem uma ínfima importância no âmbito da sua produção ovina total. Como
explicação sumária desta afirmação, temos vários factos :

- A Austrália é o maior produtor e exportador mundial de lã, enquanto que a carne


de ovino não é bem aceite na generalidade dos consumidores australianos, que
preferem a carne bovina e também que este país tem uma muito baixa densidade
populacional.
49

- A Nova Zelândia país vizinho da Austrália, tem também um grande rebanho ovino
mas mais virado para a produção de carne, que exporta preferencialmente para a
Inglaterra ao abrigo de acordos da "Commonwealth", apesar da Inglaterra fazer
parte da Comunidade Europeia. Assim e via Inglaterra, a carne de muitos milhares
de ovinos produzidos na Nova Zelândia, acaba na mesa de muitos consumidores
da Comunidade Europeia

Estes factos têm como consequência uma falta de procura para a carne do
borrego australiano. É do conhecimento geral, que uma fêmea tem maiores
necessidades alimentares anuais que um macho, apesar da maior corpulência e do
maior metabolismo basal deste, devido às maiores necessidades das fêmeas
durante a gestação e amamentação. Acrescentando a isto, que a lã produzida pelos
machos castrados, é em maior quantidade e de melhor qualidade que a produzida
pelas fêmeas e pelos machos inteiros, é fácil deduzir que utilizando machos
castrados especializados na produção de lã, se obtém um maior encabeçamento e
logicamente maior produção de lã por hectare.
A Austrália tem assim numerosos rebanhos de carneiros castrados, que vivem
no limiar da fome (mas sempre produzindo lã), rebanhos esses que só com muito
boa vontade, poderiam não ser considerados especializados na produção de lã, pois
são constituídos por animais de etnia merina, seleccionados cuidadosamente para a
produção de lã em solo Australiano. Como resultado dessa selecção, apareceu a
determinada altura um animal mutante, que foi designado por "Booroola", o qual não
é mais que um carneiro com uma pele "grande de mais para o corpo", apresentando
numerosas pregas cutâneas, cobertas de folículos produtores de fibras lanares.

Fig 2 - Carneiro Merino Booroola


50

Todos estes factos aliados ao cuidado posto, por profissionais altamente


credenciados, trabalhando a tempo inteiro, na constituição de lotes e partidas de lã,
conduzem à situação indesmentível, de que a lã australiana não tenha concorrente
à altura a nível mundial, quer em termos de preço, quer em termos de qualidade.

2.3- O TRONCO MERINO

O "Tronco Merino" não é uma raça, mas sim um conjunto de raças, que teve
segundo alguns autores, origem numa etnia formada em Espanha, desde a
Antiguidade e que foi posteriormente, já nos nossos dias exportada para todo o
mundo, tendo participado na formação de várias raças em inúmeros países, estando
hoje todas as raças ovinas com sangue "Merino" no seu conjunto, englobadas sob a
designação de "Tronco Merino".

A génese do "Merino", encontra-se nas relações ancestrais com a primitiva


forma domesticada, o Ovis aries vigney, pigmentada, com os cornos em espiral,
com fibras meduladas externas e fibras internas ameduladas. A formação do
"Merino" consta de três etapas: mutacional, selectiva e de cruzamento.
A fase mutacional consistiu na perda do estrato externo piloso e a conservação
do estrato interno lanoso, medulado o que deu origem a uma lã isenta de pêlo. Não
se sabe ao certo o local onde se deu a mutação, aproveitada zootecnicamente,
situando-a nas margens do Mar Morto a tese mais difundida.
A fase selectiva constitui a etapa principal da génese do "Merino",
correspondendo à necessidade de manter os efeitos mutantes, acentuá-los e
perpetuá-los, tornando-os compatíveis com as exigências da produção ovina.
Segundo os peritos nesta matéria, a Península Ibérica é indiscutivelmente a zona
onde se deu esta fase selectiva, a partir de ovinos originários do Leste e do Sul do
contorno do Mediterrâneo, trazidos pelos Fenícios e pelos Cartagineses. Este
processo de selecção, parece ter sido iniciado com os Tartesos de 1000-500 a.C. e
continuado pelos Turdetanos de 500-200 a.C..
A selecção de animais efectuada pela conservação de fibras ameduladas,
permitiu um aumento da produção de lã por expansão da superfície cutânea, devido
à formação de rugas em consequência da falta de folículos primários.
51

A fase de cruzamento perseguiu o objectivo da côr branca, dado a lã branca


poder ser tingida enquanto que a lã de côr preta não pode. O estado residual do
factor pigmentado no genótipo Merino, determina actualmente ainda nascimentos de
borregos pretos, após séculos de sistemática eliminação destes exemplares.
Segundo alguns autores, mais tarde no início do séc. XII houve introdução de
ovinos provenientes do Norte de África, pela tribo Muçulmana dos Beri-Merines que
passou do Magreb para Espanha no período dos Almohades, sendo aceite que o
nome desta etnia derivado do nome daquela tribo.
Certo é que na Idade Média já se exportava lã de Espanha para toda a Europa,
tendo esta origem nos animais de raça Merina. Estes animais eram explorados em
grandes rebanhos em regime de transumância (possuindo por vezes 80 000
cabeças ou mais), pertencentes a grandes senhores ou a comunidades, que se
dedicavam a desenvolver e seleccionar as qualidades naturais destes ovinos
rústicos e que se aclimatam facilmente em muitas regiões pobres e secas. Durante
muito tempo os Merinos permaneceram confinados à Península Ibérica, havendo
sanções Reais para quem vendesse animais desta raça para o estrangeiro.
Foi somente no séc. XVII e no seguimento da política mercantilista de Colbert,
que saíram os primeiros exemplares Merinos de Espanha, os quais viajaram a pé
desde Segóvia em Espanha, até Rambouillet, perto de Orléans. No entanto só no
séc. XVIII os Merinos começaram a invadir a Europa tendo, entrado quer por
simples selecção, quer por cruzamento com raças locais, na constituição de
inúmeras raças que fazem parte do "Tronco Merino".
Quanto aos aspectos reprodutivos os animais de etnia Merina possuem
"estacionalidade sexual mal marcada", que consiste em não possuírem
"fotoperiodismo negativo" estrito, podendo desenvolver cios na Primavera com o
recurso ao "efeito macho", qualidade esta transmitida aos filhos inclusive em
cruzamento com outras raças.
Este facto permite nas nossas regiões vender borregos pelo Natal (os quais
nascem em Setembro / Outubro sendo altamente valorizados economicamente
nesta altura), permitindo deste modo a ordenha posterior no período de maior
existência de erva verde de alto valor nutritivo.
É graças a esta qualidade dos animais de etnia Merina que existe o famoso
"Queijo Serpa", dado que se as ovelhas do Alentejo "respeitassem" o
"fotoperiodismo negativo" somente fariam cios em Outubro/Novembro (o que
52

acontece com muitas fêmeas nulíparas), sendo os borregos desmamados pela


Páscoa, não havendo desse modo tempo suficiente para produzir leite, devido a que
não poderiam ser ordenhadas mais que um mês, pois em Maio acaba a erva
cessando a produção de leite.

2.4- RAÇAS OVINAS PORTUGUESAS

São três os grupos étnicos de ovinos portugueses :

Merinos - engloba as raças "Merino da Beira Baixa", "Merino Branco" e "Merino


Preto".

Bordaleiros - engloba as raças "Entre Douro e Minho", "Serra da Estrela", "Saloia" e


"Campaniça".

Churras - engloba as raças "Galego Bragançano", "Galego Mirandês", "Badano",


"Mondegueiro", "Churra do Campo", e "Churra Algarvia".

Devido à sua importância relativa somente nos ocuparemos das raças "Merino
Branco", "Merino Preto", "Serra da Estrela", "Saloia" e "Campaniça".

2.4.1- MERINO BRANCO - os animais desta raça ocupam uma grande parte das
províncias do Alentejo, Ribatejo e Estremadura. Compreendem
aproximadamente metade do efectivo ovino nacional, ascendendo a perto de
meio milhão de cabeças. O Merino Branco actual é o resultado das acções
exercidas sobre as primitivas populações ovinas que povoavam o Sul do país,
por outros tipos da etnia merina, seleccionados em Espanha e França e
introduzidos por cruzamento, no sentido de melhorar a qualidade da lã e a
precocidade da raça.
São animais eumétricos e mediolíneos, possuem côr branca e
caracterizam-se pela grande extensão do velo e pela boa qualidade da lã,
classificada de "merino extra" a "merino forte", possuindo um velo extenso e
tochado com madeixas cilíndricas ou quadradas, regularmente homogéneo,
recobrindo a cabeça, todo o pescoço, o ventre, os membros até quase às
unhas e os testículos.
53

Nos machos podem ocorrer ou não cornos, enquanto que nas fêmeas
eles estão sempre ausentes. Podem contudo em algumas poucas fêmeas de
fenótipo merino, ocorrer cornos residuais, facto que só por si é
desclassificativo, dado tratar-se de manifestações de genes de outras etnias,
demonstrativos de antigos cruzamentos.
Podem porém encontrar-se nos nossos rebanhos de Merino Branco,
registados no Livro Genealógico da Raça Merino Branco, de quando em vez,
ovelhas que apresentem estes cornos residuais, sendo por isso designadas de
"cornichas". As ovelhas que apresentem estes cornos residuais, mesmo que
filhas de pais registados no Livro Genealógico da Raça, não são admitidas
para registo nesse Livro.

Fig 3 - Ovelha da Raça Merino Branco Rebanho da Raça Merino Branco

Os animais desta raça possuem grande rusticidade, característica que


lhes permite suportar as difíceis condições de grande amplitude térmica e a
fraca e irregular distribuição das chuvas próprias da sua região de origem,
factores que comprometem a sua alimentação durante grande parte do ano.
Os rebanhos desta raça, são actualmente de dimensão média a grande,
com 500 a 1000 cabeças, sendo exploradas na grande maioria dos casos, em
regime extensivo com pastoreio permanente.
As fêmeas desta raça não têm estacionalidade sexual bem marcada, pelo
que podem ser utilizadas em regimes reprodutivos diversos.

Características produtivas

Idade ao 1º parto 18-20 meses


Fertilidade 80-85 %
Prolificidade 110-115 %
Peso ao nascimento 3,5-4 kg
54

Peso aos 120 dias 25-30 kg


Peso dos machos 80-85 kg
Peso das fêmeas 45-60 kg
Produção de leite 20-25 l durante 90-100 dias
Peso do velo :machos 4,5-5 kg
fêmeas 2,5-2,8 kg

Por fertilidade entende-se a razão entre o número de fêmeas paridas e o


número de fêmeas presentes à cobrição. A prolificidade é a razão entre o
número de crias nascidas e o número de fêmeas paridas.
As fêmeas desta raça eram no passado, sujeitas a ordenha depois de
terem amamentado os seus borregos borrego durante 4 a 5 meses.
Actualmente poucos são os efectivos desta raça sujeito a ordenha.
Grande parte do leite destes efectivos, era utilizado no fabrico do famoso
"Queijo Serpa", sendo o restante canalizado para a produção de queijos
pequenos, tradicionais em todo o Alentejo.

2.4.2- MERINO PRETO - esta raça possui características morfológicas e funcionais


idênticas às do Merino Branco, residindo a principal diferença entre ambos, na
pigmentação da pele e lã, a qual igualmente classificada de "merino extra" a
"merino forte".
Igualmente nesta raça os machos podem ou não possuir cornos,
enquanto que nas fêmeas eles estão sempre ausentes. Contudo, actualmente
o merino preto possui menor corpulência que o seu congénere branco, facto a
que certamente não é alheia a ausência de influências de tipos mais pesados e
ainda por ser mantido em zonas menos favorecidas. Tem uma maior
rusticidade e maior resistência às doenças que o merino branco. Recorde-se
que no passado remoto todos os merinos eram pretos, constituindo o fenótipo
branco uma mutação que devido ao facto de a sua lã poder ser tingida, foi
sendo preferido até chegar a constituir a quase totalidade do efectivo merino.
55

Fig. 4 – Rebanho da Raça Merino Preto Carneiro da Raça Merino Preto

Características produtivas

Idade ao 1º parto 20-22 meses


Fertilidade 80-85 %
Prolificidade 110-120 %
Peso ao nascimento 3-4 kg
Peso aos 120 dias 20-25 kg
Peso dos machos 70-80 kg
Peso das fêmeas 40-50 kg
Produção de leite 20-25 l durante 90-100 dias
Peso do velo :machos 4,5 kg
fêmeas 2,5 kg
As características da lã são muito similares às da lã do merino branco, e
hoje em dia o seu preço está uniformizado. Analogamente ao que acontecia
com o Merino Branco, também a produção de leite referida, é após o desmame
do borrego e grande parte do seu leite era utilizado no fabrico dos queijos
tradicionais e de "Queijo Serpa".

2.4.3- CAMPANIÇA – o nome desta raça foi originado no nome da região do Campo
Branco, no distrito de Beja, onde mais se concentra. Esta região que
compreende os concelhos de Ourique, Castro Verde, Mértola, e Almodôvar, é
caracterizada por vastas áreas de terrenos pobres e de clima muito seco,
pouco favorável à agricultura e à abundância de pastagens, sendo por esse
motivo o gado Campaniço, de pequena estatura e de modestas produções.
56

Trata-se de animais elipométricos a eumétricos, brevilíneos mas bem


proporcionados e explorados na maioria dos casos na sua tripla função : carne,
leite e lã. Têm velo de côr branca, geralmente não possuem barbela, têm
membros finos e deslanados abaixo dos curvilhões e velo extenso e tochado,
com madeixas quadradas, só não cobrindo a cabeça e as extremidades dos
membros. A sua lã é classificada como "cruzado fino". Nesta raça só os
machos possuem cornos.
Estes animais pela sua extraordinária e inigualável rusticidade ocuparam
um lugar de notável destaque na agricultura das áreas a Sudeste do distrito de
Beja e áreas anexas das serras do Algarve, sobretudo no Sotavento. A sua
área de dispersão compreendia os concelhos de Mértola, Almodôvar, Ourique,
Castro Verde, as zonas serranas de Odemira e Serpa e os concelhos Algarvios
de Alcoutim, Castro Marim, Loulé, Tavira e Silves.

Fig. 5 – Ovelha da Raça Campaniça Rebanho da Raça Campaniça


Infelizmente hoje em dia, os efectivos desta raça estão tão reduzidos
devido ao abastardamento com outras raças mais pesadas, que a raça esteve
a ponto de ser considerada em extinção e apesar dos esforços para aumentar
o seu efectivo, não é de esperar que alguma vez deixe esta pouco invejável
situação. A razão deste facto prende-se com o facto de que os animais
registados existentes, são pouco mais do que 4000, originados em somente
três núcleos. Sabendo-se como a variabilidade genética é indispensável à
manutenção de uma população saudável, e que esta população é
manifestamente pequena, acrescendo ainda o facto de muitos dos animais
serem aparentados entre si, é lógico pensar que a sua situação nestes termos,
não melhore a curto prazo.
57

Características produtivas
Idade ao 1º parto 18-20 meses
Fertilidade 90,6 %
Prolificidade 110,4%
Peso ao nascimento 2,9 kg
Peso aos 105 dias 23 kg
Peso dos machos 65 kg
Peso das fêmeas 35-40 kg
Produção de leite 12-15 l durante 60-90 dias
Peso do velo :machos 2,8 kg
fêmeas 2 kg

A reduzida quantidade leite que produziam após o desmame dos


borregos, era igualmente utilizado no fabrico de queijos tradicionais e também
de Queijo Serpa.

2.4.4- SALOIA - Esta raça é constituída por um pequeno número de animais


rondando os 70.000, com características do tipo bordaleiro, produtores de lãs
finas classificadas de "merino médio" a "cruzado médio". É também conhecido
por gado "Brusco" devido ao muito sugo da lã ao qual se prendem facilmente
poeiras e outros corpos estranhos que a sujam.
Os machos apresentam cornos fortes e rugosos e as fêmeas podem
apresentar cornos ou não.
Tem esta raça o seu solar numa região de solos férteis de basaltos e
calcários em ambiente de humidade relativa apreciável ocupando os concelhos
limítrofes de Lisboa, tendo irradiado para os concelhos de Setúbal, Mafra, Vila
Franca de Xira e Torres Vedras. Com o leite desta raça fabricam-se alguns
famosos queijos regionais tal como o de Azeitão e o Saloio.
Os animais desta raça são rústicos e bem adaptados às condições de
exploração, possuindo um grande instinto gregário o que permite uma fácil
condução dos rebanhos quando se pastoreiam em parcelas dispersas. Estes
animais são particularmente explorados na sua vocação leiteira.
58

Fig. 6 – Rebanho da Raça Saloia Ovelhas e borregos da Raça Saloia

Os animais desta raça são rústicos e bem adaptados às condições de


exploração, possuindo um grande instinto gregário o que permite uma fácil
condução dos rebanhos quando se pastoreiam em parcelas dispersas. Estes
animais são particularmente explorados na sua vocação leiteira.

Características produtivas
Idade ao 1º parto 13-15 meses
Fertilidade 90-95 %
Prolificidade 105-120%
Peso ao nascimento 3-4 kg
Peso aos 60 dias 17-20 kg
Peso dos machos 50-70 kg
Peso das fêmeas 35-40 kg
Produção de leite 60-80 l durante 170-200 dias *
Peso do velo :machos 4-5 kg
fêmeas 2,5-3,5 kg
*Após o desmame do borrego com idade entre 1,5 e 2 meses

2.4.5- SERRA DA ESTRELA - os animais desta raça constituem o grupo étnico mais
numeroso depois do merino branco com um efectivo de cerca de 280.000
animais, sendo criados desde tempos imemoriais em toda a área da Serra da
Estrela facto que se reflecte no seu nome, nomeadamente nos concelhos de
Seia, Gouveia, Celorico da Beira, Guarda, Oliveira do Hospital, Tábua,
Mangualde, Nelas, Viseu e Arganil. Distribuem-se ainda por todo o campo do
59

baixo Mondego, havendo exemplares desta raça em regiões em que se


pretende uma maior produção de leite como Tomar, Torres Novas, península
de Setúbal arredores de Lisboa e até no Alentejo.

Fig. 7 – Ovelhas Serra da Estrela brancas Carneiro Serra da Estrela, variedade preta

Estes animais pertencem ao grupo étnico bordaleiro, são de corpulência


média e possuem características morfofuncionais bem definidas, em que o
principal objectivo da sua exploração é a produção de leite. Podem ter
indistintamente côr branca ou preta, com velo não muito extenso, deixando a
cabeça, o bordo inferior do pescoço, a barriga e as extremidades livres de lã.
Verifica-se a ocorrência de cornos nos dois sexos. A sua lã é classificada na
categoria de "cruzado fino".

Características produtivas

Idade ao 1º parto 14-16 meses


Fertilidade 90-95 %
Prolificidade 120-150%
Peso ao nascimento 3-4 kg
Peso aos 60 dias 15-20 kg
Peso dos machos 60-80 kg
Peso das fêmeas 40-60 kg
Produção de leite 140-180 l durante 210-240 *
Peso do velo :machos 2-3,5 kg
fêmeas 1,5-2 kg

*A produção de leite é reputada ao período depois do desmame do


borrego com idade entre 1,5 e 2 meses.
60

Os animais desta Raça são sobretudo explorados em explorações de tipo


familiar, numa região caracterizada pela dimensão reduzida e dispersão das
propriedades, na qual constituem a principal actividade dos agricultores
regionais, os quais embora possuindo efectivos pequenos de 30 a 100
cabeças, auferem apreciável rendimento com a venda do leite produzido, que
constitui por vezes a única fonte de rendimento de algumas famílias serranas.
O leite das ovelhas desta raça é exclusivamente destinado ao fabrico do
famoso queijo "Serra da Estrela".

2.5- RAÇAS OVINAS DE MAIOR DIFUSÃO MUNDIAL

Existem várias raças de ovinos que pela sua difusão no mundo adquiriram uma
importância tal, que não podem deixar de ser lembradas no âmbito desta disciplina.
São elas : "Suffolk", "Southdown", "Merino de Rambouillet e "Ile de France". Uma
raça que não pode deixar de ser aqui focada pela sua vocação leiteira e importância
regional cada vez maior no Alentejo é a raça francesa "Lacaune".

2.5.1- SUFFOLK - é uma raça de origem inglesa, caracterizada por ter a pele
pigmentada de preto e lã branca, com a cabeça totalmente deslanada e
desprovida de cornos nos dois sexos, possuindo os animais desta raça boa
precocidade e uma conformação ideal para a produção de carne. Os animais
desta raça, são muito utilizados em cruzamentos industriais, pois transmitem
aos seus produtos um marcado bom tipo de carcaça, tendo por esse motivo
sido exportados para muitos países do Mundo.

Fig. 8 – Ovelhas e borregos Suffolk Ovelhas Suffolk


61

No nosso país, sobretudo no Alentejo, fizeram-se importações de


exemplares desta raça, mas apesar das suas óptimas características de
produção de carne, verificou-se que não conseguiam aguentar as duras
condições a que os nossos rebanhos de raças autóctones estão sujeitos
(sobretudo no Verão, dado serem oriundos de climas mais frescos), vindo por
esse motivo mais tarde a ser preteridos em favor de outras raças pesadas,
mais resistentes às condições climáticas.
Características produtivas

Prolificidade 150 % ou mais


Peso ao nascimento 4,5 kg
Peso aos 110 dias 35 kg
Peso dos machos aos 360 dias > 60 kg
Peso das fêmeas aos 360 dias > 45 kg
Peso do velo: machos 3,6-5 kg
fêmeas 2,9-4 kg

2.5.2- SOUTHDOWN - é outra raça de origem inglesa, vocacionada para a produção


de carne, possuindo uma carcaça muito bem conformada muito apreciada.
Possui igualmente alto poder de transmissão de características corporais à
descendência, originando por cruzamento borregos muito bem conformados,
de boa precocidade e bom rendimento em carne. Nesta raça estão ausentes
os cornos tanto em machos como em fêmeas.

Fig. 9 – Carneiros da Raça Southdown Ovelhas e borregos da Raça Southdown


Esta raça é muito importante na Nova Zelândia, país do qual a Inglaterra
importa um grande número de carcaças refrigeradas, ao abrigo de acordos no
âmbito do Commonwealth.
62

Exemplares desta raça foram importados para Portugal, mas todas as


tentativas de produzir cruzados desta raça foram mal sucedidas, pois os
animais no Alentejo pura e simplesmente morriam por acção do calor do
Verão.
Características produtivas

Prolificidade 155 %
Peso aos 90 dias 25-30 kg
Peso dos machos 80-100 kg
Peso das fêmeas 50-80 kg
Peso do velo :machos 3-4 kg
fêmeas 2-2,5 kg

2.5.3- MERINO DE RAMBOUILLET - Esta raça francesa teve origem num núcleo de
334 ovelhas e 42 carneiros da etnia merino de Espanha, compreendendo
várias origens não aparentadas entre si, os quais saíram de Segóvia em
Espanha a 15 de Julho de 1786, com destino a Rambouillet (perto de Orleans,
onde se situava a exploração Real de ovinos de França), local a que chegaram
três meses depois. Da selecção bastante cuidada deste efectivo, resultou uma
raça muito apreciada quanto à produção de lã e carne, cujos animais são o
protótipo do animal produtor de lã, possuindo um velo branco, extenso de lã
muito fina, elástica e resistente, sendo considerados melhoradores em
cruzamento com animais de lãs grosseiras.

Fig. 10 – Carneiros Merino de Rambouillet Ovelha Merino de Rambouillet

Como Merinos não possuem estacionalidade sexual, característica que


transmitem à descedência por cruzamento. É uma raça muito rústica que se
63

adapta a todos os climas especialmente os secos e a todos os regimes de


exploração.
Devido a estas características, exportaram-se no Séc. XIX centenas de
exemplares para a Austrália, EUA, Argentina, Uruguai, Peru, Portugal e
inclusivamente Espanha, países onde participaram na arquitectura de novas
raças, como na Austrália, ou no simples melhoramento de raças autóctones,
como foi o caso do "melhoramento das lãs" do nosso Merino Branco.
Os machos desta raça possuem cornos, enquanto que estes se
encontram ausentes nas fêmeas.
Características produtivas

Idade ao 1º parto 14-16 meses


Fertilidade 90-95 %
Prolificidade 110-115%
Peso ao nascimento 3,5-4 kg
Peso dos machos 70-90 kg
Peso das fêmeas 45-60 kg
Peso do velo :machos 5,6-9 kg
fêmeas 3,6-6 kg

2.5.4- ILE DE FRANCE - esta raça é o resultado de cruzamentos entre carneiros


ingleses da raça Leicester (seleccionados pelo major Dishley sendo também
conhecidos por este nome), com Merino de Rambouillet, fixada por um longa e
cuidadosa selecção, tendo sido criados na tentativa de obter um animal
Dishley (de óptima conformação e precocidade o que faz deles animais com
extraordinária capacidade para produção de carne), com o velo de um Merino
de Rambouillet.
O mentor desta raça foi um veterinário francês de seu nome Yvart, que
iniciou os cruzamentos em 1833. Depois de várias vicissitudes a raça
encontrava-se fixada em 1922, ano em que foi fundado o Livro Genealógico
em França. Na actualidade esta raça está perfeitamente fixada e tornou-se
uma das grandes raças francesas mais apreciadas em todo o Mundo.
Os animais desta raça são brancos, desprovidos de cornos muito
compactos, possuindo um velo extenso com lã de boa qualidade.
64

Fig. 11 – Carneiros da Raça Ile de France

Possuem em termos produtivos um conjunto notável de qualidades, que


passam por uma óptima conformação, grande velocidade de crescimento (que
pode chegar aos 600 g / dia), boa capacidade leiteira (só em termos de
alimentação dos borregos) e estacionalidade sexual mal marcada tal como os
Merinos, que estiveram na origem desta raça. Apesar de adaptados a um
regime de semi-estabulação, estes animais suportam bem a vida ao ar livre e
em condições de pastoreio em extensivo.

Características produtivas
Fertilidade 95-99 %
Prolificidade 135-160 %
Peso ao nascimento 4-5 kg
Peso aos 90 dias 30-35 kg
Peso dos machos 120-160 kg
Peso das fêmeas 65-85 kg
Peso do velo :machos 5-6 kg
fêmeas 4-4,5 kg

Pelas características apontadas estes animais são muito apreciados para


cruzamentos industriais dando produtos de alta qualidade. Nesta perspectiva
esta raça foi exportada para inúmeros países da Europa incluindo Portugal,
África do Sul, Brasil, China e EUA entre outros.
65

2.5.5- LACAUNE - Esta raça originária do Sudoeste da França a Norte dos Pirinéus
tirou o seu nome dos montes Lacaune. A origem destes animais parece estar
nos Pirinéus, datando de 1294 as primeiras referências aos queijos desta
região. Posteriormente estes animais sofreram a infiltração de sangue Merino,
Southdown e Lauraguais, tendo no entanto sido limitadas no tempo e no
espaço. A partir de 1870 iniciou-se uma selecção leiteira metódica. Em 1902
os caracteres rácicos estavam fixados, em 1937 foi introduzido o contraste
leiteiro e em 1947 foi iniciado o Livro Genealógico da raça.

Fig. 12 – Carneiro da Raça Lacaune Ovelhas da Raça Lacaune


A Raça Lacaune é de aptidão mista, em que a produção leiteira é
predominante. Os animais possuem côr branca, com velo pouco extenso que
não cobre a cabeça, ventre e extremidades. Os borregos são desmamados às
4-5 semanas e a partir desse momento as ovelhas começam a ser
ordenhadas, o que acontece durante 4 a 6 meses. Em virtude da selecção a
que têm vindo a ser sujeitos, estes animais estão muito bem adaptados às
condições da ordenha mecânica.
O efectivo desta raça calcula-se em cerca de 450 000 fêmeas, grande
parte das quais está permanentemente sujeita a contraste leiteiro, situando-se
a produção média por ovelha e lactação em 160 litros, havendo animais que
chegam aos 350 litros. O mundialmente famoso e mais conhecido dos queijos
franceses, o "Roquefort" é fabricado a partir do leite das ovelhas desta raça.
Esta raça está a assumir cada vez maior importância no Alentejo, na zona
demarcada do "Queijo Serpa", sobretudo nos concelhos de Serpa e Mértola,
na tentativa por parte dos produtores de aumentar a produção de leite para o
fabrico do referido queijo.
66

São animais de alta produção e como tal requerem condições de


produção especiais, com pastagens de alto valor nutritivo e suplementação
energética e proteica e pernoita em apriscos abrigados.
Diga-se que é voz corrente que o leite das ovelhas desta raça, dá menor
rendimento em queijo, que o leite das raças regionais, nomeadamente o
Merino Branco, o Merino Preto e a Campaniça, o que é correcto. Mas por esse
facto o leite desta Raça é pago a preços inferiores aos atingidos pelo leite
produzido por animais daquelas raças.
Apesar deste facto, como a quantidade de leite produzida pelas ovelhas
Lacaune é em muito maior, esta raça está a ter cada vez maior aceitação entre
os produtores que têm a possibilidade de fornecer aos seus animais, as
condições superiores de tratamento, que estes requerem para exibirem todas
as suas capacidades produtivas. A problemática desta situação foi atrás
descrita, no sub-capítulo 2.2.3.2.

Fig. 13 – Aspecto de uma sala de ordenha, com ovelhas da Raça Lacaune

Características produtivas
Idade ao 1º parto 16-18 meses
Prolificidade 130-150 %
Peso ao nascimento 3-4 kg
Peso aos 90 dias 25-30 kg
Peso dos machos 80-100 kg
Peso das fêmeas 50-65 kg
Peso do velo :machos 2,5 kg
fêmeas 1,5 kg
67

2.6- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE OVINOS

Os ovinos são como se disse os animais com maior capacidade de


aproveitamento das pastagens e como tal são explorados preferencialmente em
regimes de pastoreio. No entanto na exploração de ovinos nas suas vocações
carne, leite ou mista poder ser utilizados quer a semi-estabulação e até mesmo a
estabulação. O sistema de pastoreio é o sistema utilizado quase universalmente na
produção de carne, sendo igualmente muito corrente na produção de leite, produção
em que é utilizado em maior escala a semi estabulação, ou inclusive a estabulação
permanente, esta em casos muito particulares.
Exactamente como qualquer outra espécie doméstica, os ovinos podem ser
explorados em linha pura ou em cruzamento, nos seus vários tipos, utilizados
segundo as condições e pretensões dos produtores.

2.6.1.- TIPO DE ANIMAIS UTILIZADOS

Os ovinos domésticos são explorados em raça pura ou em sistema de


cruzamento. Os tipos de cruzamento utilizados em cada situação, são fruto do
interesse, grau de conhecimento e importância atribuída aos animais por parte do
proprietário.
Os tipos de cruzamentos passíveis de serem utilizados na produção de ovinos
são logicamente todos os que existem : cruzamento de absorção, cruzamento duplo,
retrocruzamento e cruzamento industrial.

2.6.1.1- Linha pura - a exploração em raça pura, é utilizada sobretudo em


programas de selecção, em explorações comerciais de animais de alta
produção leiteira e em explorações de raças autóctones, situação muito
corrente no nosso país, em que os produtores recebem um prémio adicional às
Ajudas Compensatórias à Perda de Rendimento, só por utilizarem raças
autóctones.

2.6.1.2 - Cruzamento
68

Cruzamento de absorção - a filosofia suprajacente a este tipo de cruzamento, é a


substituição do rebanho das fêmeas de base, por outro de características étnicas
iguais às do reprodutor masculino, à base das fêmeas nascidas do cruzamento
durante algumas gerações. Esta opção tem sido praticada actuando em ovelhas de
raças autóctones, com machos de raças de raças seleccionadas para a produção
de carne. Poderá ter uma hipotética vantagem em relação à utilização da raça
pura, por parte de quem já possui um rebanho de base, de não ter de investir uma
soma considerável e muitas vezes insuportável do ponto de vista económico. No
panorama actual da Ovinicultura Portuguesa, não se justifica, excepto em efectivos
leiteiros e em situações pontuais.
Cruzamento duplo - este tipo de cruzamento em que recorde-se intervêm três
raças, é de resultados muito mais rápidos que o cruzamento de absorção. Tem
sido pouco utilizado em ovinos, devido ao facto de na sua essência envolver quase
obrigatoriamente, uma raça de carne e uma raça prolífica. Foram no passado
recente, implementados no centro do País, cruzamentos deste tipo em ovinos
estabulados explorados intensivamente, envolvendo três raças estrangeiras, uma
muito prolífica, uma de grande produção leiteira e outra pesada de produção de
carne, na tentativa de obter uma grande prolificidade em que os borregos tinham
grande peso.

Cruzamento alternativo - este tipo de cruzamento não é utilizado em ovinos no


nosso País, tendo no passado recente utilizado na tentativa de obter ovelhas
leiteiras de grande produção, designadas "Friserra", utilizando as raças Serra da
Estrela e raça Frísia, uma raça finlandesa, muito prolífica e de muito boas
produções leiteiras. Este programa foi abandonado, não restando actualmente
quaisquer animais daquele tipo.

Cruzamento industrial - tem sido em Portugal, utilizado indiscriminadamente, não


no sentido de utilizar deliberadamente duas raças em linha pura, para obtenção de
híbridos de valor em determinada função, mas sim na utilização totalmente
aleatória de machos de raças pesadas e dos seus híbridos, devido à ausência
desde sempre em Portugal de uma Política Agrícola. Este facto pôs em perigo as
69

populações das raças autóctones de produção de carne, sobretudo as do Sul de


Portugal, devido aos híbridos (F1,F2,F3, etc.) terem sido utilizados na reprodução,
diminuindo deste modo as qualidades dessas raças, por abastardamento com
genes das raças estrangeiras utilizadas.
Para qualquer dúvida surgida acerca dos tipos de cruzamentos aqui
mencionados, remete-se o leitor para o capítulo Noções Introdutórias, onde este
assunto se encontra explanado com a profundidade necessária, ao âmbito desta
disciplina.

2.6.2- TIPO DE INSTALAÇÃO

Os ovinos, são como se disse animais com grande capacidade de


aproveitamento em regimes de pastoreio e como tal são explorados
preferencialmente neste sistema. Apesar desta capacidade inerente aos ovinos,
existem sistemas de produção em que os animais estão em regime de confinamento
permanente, outros em que passam parte do tempo estabulados e outros ainda em
que não usufruem de qualquer tipo de estabulação ou sómente recolhem ao ovil
para passar a noite. Os sistemas utilizados na exploração de ovinos continuam a ser
a estabulação permanente, a semi-estabulação e o pastoreio.

2.6.2.1- ESTABULAÇÃO PERMANENTE

Este sistema é utilizado para ovinos, quer nas recrias e engordas intensivas,
quer em explorações leiteiras com animais de alto valor produtivo, embora não seja
comum no nosso País.
Nestas explorações visa-se a obtenção da maior quantidade de leite possível,
sujeitando-se os animais a um tipo de vida em confinamento que é contrário à
natureza da espécie, mas que algumas raças suportam bem, em virtude da
selecção a que têm vindo a ser sujeitas. As instalações são caras e o maneio é
elaborado. Devido às razões apontadas, a exploração intensiva envolve custos fixos
muito elevados, só sendo praticável em condições muito especiais.

2.6.2.2- SEMI-ESTABULAÇÃO
70

É utilizado nos países frios do Norte da Europa e em rebanhos leiteiros de alta


produção, que passam parte do dia estabulados, pastando uma pequena parte do
dia, erva de alta qualidade em parques próximos ou adjacentes ao ovil.

2.6.2.3- PASTOREIO

Pelo que atrás foi dito quando se tratou do comportamento alimentar dos
ovinos, chega-se facilmente à conclusão que estes animais são utilizadores
preferenciais de sistemas extensivos com plantas herbáceas.
Na esmagadora maioria das nossas explorações os animais pastam durante
todo o ano, recebendo no entanto suplementos de ração ao fim do dia, sempre que
as suas necessidades alimentares não possam ser totalmente satisfeitas durante o
pastoreio.
As pastagens podem ser espontâneas ou semeadas, podendo estas ser de
sequeiro ou regadio e consumidas em pastoreio contínuo, pastoreio deferido,
pastoreio rotacional e pastoreio em faixas.

Pastoreio contínuo é um sistema em que o gado vive durante todo o ano do


aproveitamento dos recursos da pastagem, devendo a carga animal ser calculada
de acordo com as potencialidades da pastagem, tendo o inconveniente de requerer
a presença constante de um pastor.

Pastoreio condicionado - é o sistema actualmente mais utilizado, já que dispensa


a presença permanente do pastor, sendo eficiente sempre que o encabeçamento
seja bem calculado o que se traduz num bom maneio das pastagens.
71

3- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE CAPRINOS

3.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os caprinos pertencem à Família Bovidae, Subfamília Ovidae, Género Capra,


que compreende cinco espécies : Capra hircus, considerada a verdadeira cabra,
que inclui o bezoar (Capra hircus aegragus), Capra ibex, ou ibex, Capra prisca, ou
tur do Cáucaso, Capra pyrenaica ou ibex espanhol e Capra falconeri, ou markor
(Williamson e Payne, 1980).
Apesar da origem das cabras domésticas necessitar ainda de uma maior
clarificação, existem evidências, segundo alguns autores, que indicam o bezoar
(Capra hircus aegragus) como seu principal ancestral (Sá, 1978).
Segundo outros autores desde recuadas épocas se diferenciaram três troncos:

- o tronco asiático proveniente da Capra falconeri ou da Capra prisca;

- o tronco europeu proveniente da Capra hircus aegragus;

- o tronco africano proveniente da Capra nubiana, estando provavelmente


envolvidos na origem desta espécie, o ibex da Abissínia e o bezoar
(Williamson e Payne, 1980).

Quanto à cronologia da sua domesticação, existem diversas opiniões, referindo


umas que a espécie foi domesticada cerca de 5.000 a.C., depois dos cães e dos
ovinos, e outras que foi domesticada na mesma altura que os ovinos, logo depois
dos cães, cerca de 4.000 anos antes (Williamson e Payne, 1980).

Os métodos de classificação das cabras domésticas têm sido implementados


com base na sua origem, aptidão, tamanho corporal, e tamanho e forma das
orelhas. No tocante às origens e aptidão existem atributos e limitações,
especialmente devido ao facto de grande parte das cabras dos Trópicos não
possuírem aptidão ou vocação especializada e a sua origem permanecer obscura,
devido à inexistência de dados que possibilitem esse conhecimento.
72

Na tentativa de classificar as raças caprinas relativamente ao seu tamanho


corporal foram constituídos três grupos :
grande - animais de altura superior a 65 cm e peso de 20 a 63 kg
pequeno - animais de altura entre 51 e 65 cm e peso de 19 a 37 kg
anão - animais de altura inferior a 50 cm a peso de 18 a 37 kg (Sá, 1978)

Na classificação relativa ao tamanho e forma das orelhas estão constituídos


quatro grupos :

1º grupo - animais de orelhas curtas e erectas;


2º grupo - animais de orelhas chatas, compridas e pendentes;
3º grupo - animais de orelhas inclinadas e de pelagem frisada;
4º grupo - animais de orelhas largas, semi inclinadas e de pelagem abundante

De qualquer modo a caracterização em raças dos vários troncos, origina


diversas interpretações, levando a designar por raça determinadas variedades (Sá,
1978). A população mundial de caprinos atinge números da ordem dos 400 milhões
de cabeças.

3.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

3.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

O comportamento alimentar dos caprinos é sem dúvida a sua característica


mais marcante, pois são extremamente selectivos e exigentes na escolha do
alimento, sendo esta característica tão vincada no seu carácter, que a palavra
capricho deriva do seu nome latino capra.
Este comportamento expressa-se plenamente em regime de pastoreio
extensivo, em que os animais se alimentam dos recursos naturais que aproveitam
directamente, estando esse aproveitamento condicionado por factores quer relativos
ao animal, quer aos alimentos disponíveis e ao maneio da carga animal.
Os factores relativos ao animal são expressos por lábios extremamente móveis
e língua preênsil, que aliados a uma grande agilidade, lhe possibilitam alcançar e
consumir uma grande variedade de alimentos localizados até uma altura de 2
metros ou em sítios pouco acessíveis e inclusivamente subir às árvores para obter o
que desejam.
73

O comportamento alimentar dos caprinos, distingue-se assim do dos outros


ruminantes domésticos, sejam quais forem as condições do meio, devido à maior
selectividade posta na escolha dos alimentos, embora a sua dieta seja constituída
por uma gama muito mais variada de espécies vegetais, incluindo também plantas
lenhosas. Normalmente e particularmente em anos secos os caprinos escolhem
mais sistematicamente as lenhosas que os ovinos.
Quanto às preferências os caprinos são assim muito mais "browsers" (utilizam
preferencialmente plantas arbustivas) que "grazers" (utilizam preferencialmente
plantas herbáceas).
Quando as disponibilidades do meio são fracas, exigindo longas caminhadas
diárias, estes animais podem apresentar um consumo alimentar superior ao dos
ovinos, quer em quantidade quer em qualidade, graças à sua capacidade de marcha
e selectividade, permitindo-lhes encontrar e escolher mais facilmente os melhores
alimentos. Deste modo preferem as folhas aos caules e plantas com menos teor em
glúcidos parietais e mais matéria azotada, sendo deste modo capazes de
compensar o baixo valor alimentar das pastagens pobres e a menor ingestabilidade,
com a selecção das partes mais nutritivas, melhorando assim a qualidade do
alimento ingerido.
Comparando os caprinos com os ovinos, submetidos a regimes de baixos
teores em fibra e altos teores em azoto, ambos consomem e digerem com igual
eficiência, mostrando contudo os caprinos maior digestibilidade em regimes com
altos teores em fibra e baixos teores em azoto. Este facto deve-se a que os caprinos
reciclam por unidade de tempo, maiores quantidades de azoto endógeno e ainda a
outros factores susceptíveis de influenciar os fenómenos digestivos nos ruminantes,
como sejam a mais elevada ingestão de matéria seca, fraco consumo de água (a
necessidade de água dos caprinos parece ser inferior em 10 a 25 % à dos ovinos de
igual aptidão), ruminação mais eficaz e secreção salivar mais importante (originando
uma maior reciclagem da ureia), tendo estas características como consequência
uma melhor aptidão para o pastoreio e refeições mais frequentes.

3.2.2- COMPORTAMENTO REPRODUTIVO


74

Os caprinos são animais poliéstricos, caracterizados na generalidade por uma


estacionalidade sexual dita de "fotoperiodismo negativo", significando isto que
mostram marcada tendência para um reinicio ou aumento da actividade sexual,
quando o período de luminosidade diurna diminui, o que acontece no Outono, o
mesmo é dizer, que têm a sua estação sexual preferencialmente nesta altura do
ano.
Esta tendência pode estar expressa em maior ou menor grau, existindo raças
que experimentam cios durante grande parte do ano, enquanto outras têm um
comportamento de "fotoperiodismo negativo" estrito. As raças de climas frios estão
nesta última situação, sendo um bom exemplo a raça "Angora", enquanto que as
raças de caprinos das regiões tropicais e subtropicais, mostram grande tendência
para experimentar actividade sexual tanto no Outono como na Primavera.

Puberdade

A puberdade nestes animais é atingida dos 4 aos 6 meses tanto nos machos
como nas fêmeas, existindo importantes variações interrácicas, de modo que nas
cabras pigmeias a puberdade pode ser atingida aos 3 meses nas fêmeas. No
entanto dentro da mesma raça, o aparecimento da puberdade pode ser
condicionado pelo clima, estação reprodutiva e efeitos da nutrição, exercendo o
"estado de carnes" e a percentagem de peso em relação ao peso adulto, nesta
espécie tal como nos ovinos, enorme importância.
As fêmeas dos caprinos são poliéstricas de ovulação espontânea,
experimentando vários ciclos éstricos com a duração de 18 a 22 dias, com média
igual a 20,6 dias, ao longo da estação de reprodução. Os cios têm a duração de 26
a 42 horas, apresentando uma média de 35 horas, excepto na raça "Angora" que
tem cios mais curtos, com duração média de 22 horas.
O efeito designado por "Efeito macho", atrás referido quando do estudo dos
ovinos, verifica-se igualmente nas raças caprinas sem estacionalidade sexual ou
com estacionalidade sexual mal marcada, sendo verdade para estas raças, o que é
verdade para as raças de ovinos que não apresentam estacionalidade sexual, no
respeitante às épocas de cobrição e períodos de nascimento dos cabritos.
Os machos caprinos ou bodes, apresentam produção de espermatzóides
durante todo o ano, verificando-se no entanto uma depressão na actividade do
75

testículo durante a estação quente. Do mesmo modo que nos carneiros, o ardor
sexual também é maior no período do fim do Verão e início do Outono.
Gestação

O período de gestação nos caprinos tem uma duração média de 153 dias,
podendo ir de 147 a 165 dias, período este que é tanto maior quanto menor fôr o
número de fetos. A variação interrácica do número de fetos por parto, é menos
importante que nos ovinos, sendo ao primeiro parto normalmente de um, número
que sobe usualmente a dois nos partos seguintes, sendo mais frequente nas raças
de vocação leiteira, a ocorrência de partos triplos e mais raramente quádruplos.

Métodos de reprodução

Os sistemas de reprodução usados na produção de caprinos são a monta


natural e a inseminação artificial. A monta natural pratica-se tal como nos ovinos,
quer em liberdade, quer em sistema de monta condicionada, sendo contudo a
monta em liberdade, o sistema mais amplamente utilizado, não devendo o número
de cabras por bode, ultrapassar as 50 a 60, podendo eventualmente chegar às 70.
Do mesmo modo que nos ovinos, a fertilidade dos machos é menor nos jovens e
nos animais velhos.
A inseminação artificial é sobretudo utilizada em programas de selecção e em
explorações de cabras de raças de vocação leiteira, permitindo uma maior
rentabilização económica, pelo controlo que introduz na temporização dos
processos produtivos.
Todos os preceitos e princípios que são válidos para o uso da inseminação
artificial em ovinos são-no igualmente ao tratar-se dos caprinos.
76

3.2.3- PRODUÇÃO DE CARNE, LEITE E PÊLO

3.2.3.1- PRODUÇÃO DE CARNE

Ao contrário do que acontece com os ovinos, não existem raças caprinas de


verdadeira vocação para a produção de carne, resumindo-se os animais destinados
ao talho, aos cabritos desmamados precocemente, com um peso de carcaça
rondando os 4 a 6 kg, aos animais fracos produtores de leite e aos animais de
reforma.
Esta situação tem a sua explicação, a qual é decorrente de vários factos :

- por um lado a produção de maior importância económica dos caprinos é sem


qualquer sombra de dúvida o seu leite, que na actualidade e nas nossas
latitudes, é integralmente destinado à produção de queijo (se exceptuarmos
algum pequeno consumo de leite em natureza por parte das populações
serranas mais afastadas dos centros populacionais);

- os caprinos são animais com carcaças mal conformadas, facto que se alia ao
cheiro forte quase repulsivo, resultante das secreções das glândulas anais,
cheiro este que se transmite à carne tornando-a muito pouco apetecida por
parte dos potenciais consumidores, logo de baixo valor económico. Este
inconveniente do sabor e cheiro desagradável da carne, só se põe em animais
de idade superior a 6 meses;

- A maioria dos cabritos nascidos nas nossas latitudes estão em idade de ser
precocemente desmamados e sacrificados cerca do Natal e da Páscoa, alturas
em que o cabrito se tornou prato tradicional, sendo altamente valorizados.

Juntando estes factos, facilmente se chega à conclusão que a decisão mais


rentável económicamente na exploração de caprinos, é vender os cabritos logo que
possível, pois na idade de 1,5-2 meses são bem valorizados, ao mesmo tempo que
todo o leite produzido pelas mães fica disponível para fabrico de queijo, produto bem
valorizado.
Em países como a França, é usual fazer a castração dos machos e submetê-
los a aleitamento artificial e posterior engorda, junto com as fêmeas destinadas a
77

venda, sendo enviados para o talho com a idade de 4 a 6 meses e peso vivo de 25-
30 kg, sendo a sua carne muito apreciada.
Não devemos esquecer que o gosto dos consumidores é soberano e
direcciona o mercado em determinada direcção, muitas vezes de maneira que nada
tem a ver com a lógica. Há sim que estar atento às preferências do mercado e
aproveitar as potencialidades representadas pelas possibilidades de colocação dos
produtos.

A classificação das carcaças de caprinos é efectuada com base na mesmas

grelhas normativas Comunitárias utilizadas para as carcaças dos ovinos.

3.2.3.2- PRODUÇÃO DE LEITE

A produção de leite, é a contribuição mais valiosa dos caprinos, constituindo


em muitas regiões áridas e semiáridas a única fonte de proteína animal a que têm
acesso numerosas populações.
Na Europa a cabra foi e ainda é, em muitas regiões considerada a "vaca do
pobres", sendo comum, outrora mais que actualmente, a existência em zonas rurais
de uma e às vezes duas cabras mantidas em casa, o que assegurava o
fornecimento de leite à família. Vários factores contribuíram para o desaparecimento
deste fenómeno, entre os quais avultam o acesso fácil a leite de vaca embalado e a
disseminação da Brucelose, não necessariamente por esta ordem.
As qualidades da cabra como animal produtor de leite são incontestáveis, pois
é o animal que relativamente ao seu peso vivo, consegue atingir as mais altas
produções, não sendo tão raro quanto isso, ocorrerem produções, por parte de
cabras pertencentes a raças especializadas de vocação leiteira e sujeitas a
selecção, da ordem dos 2000 kg de leite por lactação de 255 dias.
O leite de cabra possui algumas características, que fazem dele um alimento
aconselhável para doentes padecendo de problemas a nível do aparelho digestivo,
pois possui uma maior digestibilidade que o leite de vaca, facto que reside no
tamanho relativo e na composição dos seus glóbulos de gordura. Tanto na vaca
como na cabra os teores de gordura podem considerar-se similares e tanto numa
como noutra as dimensões dos glóbulos estão contidos na mesma escala
78

dimensional (1-10 microns), no entanto a proporção de glóbulos de gordura de


dimensão não superior a 1,5 microns é de 10 % na vaca e 28 % na cabra, o que
obviamente facilita a sua digestão. Por outro lado a composição da gordura do leite
de cabra é mais rica em ácidos gordos de cadeia curta, que a gordura do leite de
vaca, o que contribui igualmente para facilitar a sua digestão.
De salientar ainda, a diferença registada no leite de cabra para os leites das
outras fêmeas de ruminantes domésticos, que reside no facto daquele não possuir
beta carotenos, o que origina a transmissão da côr branca ao queijo produzido a
partir do seu leite, pois a côr amarelada apresentada pelos queijos, é devida a
compostos derivados dos beta carotenos.
A composição do leite de cabra em termos médios pode considerar-se :

Água 86,1 %
Matéria gorda 4,8 %
Lactose 4,4 %
Proteína 3,9 %
Sais 0,8 %
Densidade a 15 º C 1,030
(Adaptado de Sá e Barbosa, 1990)

A legislação Portuguesa, por razões que se prendem com a Saúde Pública


(directamente relacionadas com a ocorrência da brucelose, na gíria conhecida como
a "febre de Malta", por ter sido diagnosticada nesta ilha que pela primeira vez), não
permite a fabricação de queijo de cabra utilizando leite crú, havendo a
obrigatoriedade de tratar pelo calor todo o leite destinado à fabricação deste
produto. Este facto, se por um lado origina um aumento do rendimento industrial na
obtenção de queijo, por outro leva a um empobrecimento da potencial diversificação
da produção de queijo (por razões que saem fora do âmbito desta disciplina),
reduzindo-se os queijos fabricados em Portugal com leite de cabra, a queijos
pequenos para consumo em fresco, queijos do mesmo tipo que não foram vendidos
em fresco e sofreram um processo de cura para posterior venda e um tipo de queijo
originário da Beira Baixa, produzido a partir de uma mistura de leites de ovelha e
cabra.
79

Deve salientar-se que em França alguns dos queijos de maior nome,


inclusivamente a nível mundial, são fabricados com leite de cabra crú e sujeitos a
maturação. Por essa e outras razões a França é o maior produtor mundial de queijo
de cabra e o país onde a selecção de raças caprinas atingiu maior expoente, sendo
francesas as raças de cabras de maior importância na produção de leite.

Em Portugal, os preços atingidos por litro de leite de cabra, rondam conforme


os anos, os 90$00 a 120$00, preços que se por um lado, são cerca de metade dos
atingidos pelo leite de ovelha, por outro lado, mesmo as cabras não especializadas
na produção leiteira (que são a maioria das existentes sobretudo no Alentejo),
produzem 1-1,3 litros de leite por ordenha em plena lactação enquanto as ovelhas
(igualmente não especializadas) produzem 2-3 decilitros, pendendo deste modo a
balança nitidamente para o lado das cabras.

Ordenha

A ordenha dos caprinos pode fazer-se tal como nos ovinos manualmente ou
mecanicamente, sendo mais uma vez o sistema manual o mais difundido.
Exactamente como os ovinos, a utilização de uma instalação de ordenha mecânica,
só se justifica em efectivos especializados na vocação leiteira, ainda que nesta
espécie e devido a razões anatómicas, que se prendem com o tamanho e a forma
do úbere e dos tetos, a ordenha mecânica seja facilitada.
As cabras constituem por tudo o que foi dito, os animais de maior rendimento
potencial, no aproveitamento de ecossistemas de fracos recursos, assumindo no
âmbito da política agrícola actual, fortemente direccionada pela PAC (Política
Agrícola Comum), uma crescente importância, pois são cada vez mais os terrenos
pobres, que por o serem são retirados da produção agrícola, podendo no entanto
suportar uma exploração pecuária. No entanto a par deste potencial, uma
importante restrição emerge, fruto da necessidade de cada efectivo ter um tratador
com disponibilidade permanente, situação que hoje já rareia, sendo previsivelmente
pior no futuro.

Produção de pêlo e Peles


80

Existem raças de cabras que são exploradas principalmente para a produção


de pêlo, o qual pelas suas características de maciez, é utilizado na confecção de
alguns dos mais caros tecidos do mundo, luxo que está ao alcance da bolsa de
muito poucos. Temos como exemplo os famosos e caríssimos abafos, conhecidos
no mercado como Angora e Cachemira, nomes que derivam directamente dos
nomes por que são conhecidas as raças que os produzem.
No nosso país existem algumas explorações em número reduzidíssimo, de
animais da raça Angora, explorados nesta função.
As peles dos caprinos são muito valorizadas na indústria de confecção do
vestuário designado por "cabedal".

3.3- RAÇAS CAPRINAS PORTUGUESAS

As raças caprinas Portuguesas são a "Bravia", a "Serpentina", a "Charnequeira",


a "Algarvia " e a "Serrana". Por ordem decrescente de importância em termos
numéricos temos a Serrana, a Serpentina, a Charnequeira, a Algarvia e a Bravia.
Quanto à produção de leite temos por ordem decrescente de importância a raça
Serrana, a Algarvia, a Charnequeira e a Serpentina. A raça Bravia não é
considerada em termos da produção de leite, já que a produção é tão baixa que é
totalmente consumida pelos cabritos.

3.3.1- BRAVIA - são animais de conformação muito delicada e graciosa, de grande


agilidade, de pelagem preta ou castanha, apresentando os animais desta côr,
tonalidades mais escuras na cabeça, ao longo do dorso, ventre e
extremidades. Existem ainda animais com malhas, de localização e extensão
variável. O pêlo é curto nas fêmeas e mais comprido e áspero nos machos.
Ambos os sexos possuem cornos finos e erectos ou ligeiramente
inclinados para trás, têm o tronco pouco desenvolvido e o úbere é pequeno e
bem ligado.
A sua distribuição geográfrica compreende as penedias do Gerês e Trás-
os-Montes, vivendo em zonas muito inóspitas, o que só é possível devido à
sua enorme rusticidade.
81

Fig. 14 – Cabras da Raça Bravia

Esta raça é somente explorada para a produção de carne, concentrando-


se os nascimentos nos meses de Outono e em Fevereiro / Março, sendo os
cabritos vendidos respectivamente pelo Natal e pela Páscoa.
Características produtivas

Fertilidade 80-85 %
Prolificidade 100 %
Peso dos machos 35-40 kg
Peso das fêmeas 25-32 kg

Os partos múltiplos nesta raça são pouco frequentes.

3.3.2- SERPENTINA - a área de dispersão desta raça estende-se por todos os


distritos Alentejanos.
São animais longilíneos de perfil subconcâvo, geralmente de grande
estatura. Possuem pelagem branca ou creme com um listão preto disposto
longitudinalmente no dorso, podendo alargar-se na parte posterior, por vezes
de tal modo que parece uma "albarda". Têm orelhas grandes e semi-
pendentes, podendo ocorrer barbas em ambos os sexos, o mesmo
acontecendo com os cornos.
O tronco é bem desenvolvido, com linha dorsal quase horizontal, úbere
de tamanho médio, em forma de bolsa e tetos diferenciados de tamanho
médio.
82

Fig. 15 – Cabras da Raça Serpentina Bode da Raça Serpentina

As fêmeas não apresentam estacionalidade sexual, verificando-se duas


épocas de cobrição, uma em Maio / Junho e outra em Setembro / Outubro.
O efectivo desta raça ascende a mais de 100.000 animais, tendo os
rebanhos em geral de 100 a 200 cabeças.
São animais de vocação dupla carne / leite, sendo considerados a raça
portuguesa mais apta para a produção de carne, pelos seus pesos e tamanho,
recorrendo-se frequentemente ao cruzamento industrial com bodes desta raça,
quando se pretende aumentar a produção de carne. São explorados em
sistema de pastoreio extensivo, em terrenos bastante pobres e de clima
caracterizado por fortes insolações, sendo dotados de uma extrema rusticidade
e resistência.

Características produtivas
Idade ao 1º parto 14-15 meses
Fertilidade 80-85 %
Prolificidade 110 a 130 %
Peso dos machos 75-85 kg
Peso das fêmeas 55-60 kg
Produção de leite 120-180 l em 120 a 180 dias
A produção de carne resulta sobretudo dos cabritos ou chibos, que são
vendidos com idades de 1,5 a 2 meses e um peso vivo de 9 a 12 kg, sendo
então as cabras sujeitas a ordenha até ao fim da lactação.

3.3.3- CHARNEQUEIRA - esta raça deve o seu nome à zona da Charneca da região
Ribatejana, onde era explorada. Hoje em dia e devido às diferenças do meio
em que vivem consideram-se dois ecotipos diferentes, sendo um explorado no
Baixo Alentejo e o outro no Alto Alentejo e na Beira Baixa, caracterizando-se
83

os animais do segundo ecotipo por serem mais encorpados, sendo designados


na gíria por "cabra beiroa".
Esta raça agrupa, animais eumétricos e sub-hipermétricos de perfil
rectilíneo ou sub-côncavo, de pelagem uniforme de côr vermelha, com tons
que vão desde o claro até ao retinto e pêlo curto, apresentando-se mais hirsuto
nos machos. Ambos os sexos possuem geralmente cornos, que são grandes,
largos, juntos na base e espiralados, sendo mais pequenos e por vezes
estando ausentes no ecotipo "beiroa".
As fêmeas possuem úberes ensacados e pendentes ou globosos, de
desenvolvimento regular, não apresentando estacionalidade sexual, pelo que
são normalmente efectuadas duas épocas de cobrição, uma na Primavera e
outra no Outono.

Fig. 16 – Cabras da Raça Charnequeira

Esta raça é explorada na dupla aptidão carne / leite em sistema


extensivo. Os cabritos são vendidos com cerca de mês e meio de idade e peso
vivo de 8-10 kg, passando então as mães para o regime de ordenha.
O efectivo da raça ascende a cerca de 35.000 animais, que são
explorados no Alentejo em efectivos de 150 a 250 animais e na Beira em
efectivos de 10 a 50 animais, geralmente familiares.

Características produtivas
84

Idade ao 1º parto 14-15 meses


Fertilidade 85-90 %
Prolificidade 130-135 %
Peso dos machos 60-70 kg
Peso das fêmeas 45-55 kg
Produção de leite 220-250 l em 180 a 210 dias

A ordenha é efectuada após o desmame do cabrito com 1,5 a 2 meses de idade.

3.3.5- ALGARVIA - esta raça deve o seu nome à região onde foi formada, sendo
constituída por animais de estatura média, e perfil côncavo, de marcada
aptidão leiteira.
O pêlo curto de côr branca, com pêlos castanhos ou mais raramente
negros, que se agrupam em malhas ou podem aparecer disseminados de
forma irregular por todo o corpo.
As orelhas dos animais desta raça podem ser de quatro tipos distintos
(compridas, abertas e pendentes ; médias em corneto lançadas para fora ;
curtas em corneto e direitas ; muito curtas e erectas), apresentando cornos nos
dois sexos e barba nos machos, só muito raramente aparecendo esta nas
fêmeas. O úbere é formado por mamas cónicas, pendentes, com têtos pouco
destacados e paralelos ou por mamas globosas com têtos destacados e
dirigidos para a frente e para fora.
O efectivo da raça compreende cerca de 15.000 animais, a grande
maioria dos quais explorados nas serras Algarvias, aparecendo alguns poucos
núcleos na região de Beja.
85

Fig. 17 – Cabras da Raça Algarvia, malhadas de castanho e de preto

Esta raça é explorada em regime extensivo em rebanhos de 50 a 100


cabeças, mostrando-se estes animais extremamente rústicos e resistentes. As
fêmeas experimentam uma reprodução sem estacionalidade sexual,
registando-se duas épocas de cobrição, uma na Primavera e outra no Outono.
Os cabritos são vendidos com 1,5 a 2 meses e peso vivo de 7-10 kg.
Características produtivas
Idade ao 1º parto 13-14 meses
Fertilidade 90-95 %
Prolificidade 140-210 %
Peso dos machos 50-60 kg
Peso das fêmeas 35-40 kg
Produção de leite 350-650 l em 210 a 270 dias

3.3.5- SERRANA - esta raça é originária da Serra da Estrela e povoa a maior parte
do país, predominando a norte do Tejo, exceptuando o distrito de Castelo
Branco. Tem ainda um número significativo de animais na península de
Setúbal. O efectivo desta raça ronda os 243.000 animais.
Esta raça compreende animais de côr preta, castanha e ruça, podendo
apresentar coloração amarela nas regiões superiores do abdómen, membros,
focinho, face e arcadas orbitarias. Podem possuir ou não cornos, sendo estes
em forma de sabre, de secção triangular, paralelos ou divergentes. Possuem
úbere bem desenvolvido, globoso, por vezes pendente, com têtos pequenos e
cónicos.

Fig. 18 – Cabras da Raça Serrana


86

Como resultado da diversidade de ecossistemas onde vive, distinguem-se


quatro ecotipos : Jarmelista, da Serra, Ribatejano e Transmontano.
Trata-se de uma raça bastante rústica, que expressa as suas
potencialidades genéticas mesmo em condições mais ou menos agrestes. As
fêmeas não têm estacionalidade sexual, havendo normalmente duas épocas
de cobrição, uma na Primavera e outra no Outono. Os cabritos são vendidos
aos 30-40 dias de idade com peso vivo de 6 a 8 Kg.
As produções médias calculadas das fêmeas desta raça, situam-se entre
os 540 e os 600 litros em lactações de 210 dias.

Características produtivas
Idade ao 1º parto 14-16 meses
Fertilidade 90-95 %
Prolificidade 170-180 %
Peso dos machos 60-70 kg
Peso das fêmeas 30-45 kg
Produção de leite 540-600 l num período de 210 dias

Os efectivos médios de animais desta raça por exploração, situam-se entre


as 40 e as 70 cabeças.

3.4- RAÇAS CAPRINAS ESTRANGEIRAS

As raças caprinas de maior difusão mundial são a "Saanen" e a "Alpine",


constituindo ainda objecto de estudo no âmbito desta disciplina, as raças "Murciana-
Granadina", como grande produtora de leite e as raças "Angora" e "Caxemira",
como raças produtoras de pêlo, embora sejam raças de muito reduzida expansão.

3.4.1- SAANEN - esta raça é originária do Vale de Sâane na Suíça, tendo-se


implantado pelas suas qualidades como produtora de leite.
São animais corpulentos, de pêlo curto, denso e sedoso, de côr branca. A
cabeça possui um perfil quase recto, com ou sem cornos, de olhos grandes e
claros, podendo ou não possuir barbas.
87

O peito é profundo, largo e comprido, caracterizando uma grande


capacidade torácica. A espádua é larga e bem ligada e o garrote é forte e
musculado, possuindo linha dorsal próxima da horizontal, garupa ligeiramente
inclinada e abdómen bem desenvolvido.

O úbere é globoso, bem ligado e muito largo na parte superior, com


grande desenvolvimento em largura. Os têtos são bem desenvolvidos e
paralelos entre si.

Fig. 19– Cabra da Raça Saanen

Esta raça adapta-se muito bem a sistemas de exploração intensivos,


qualidade que aliada a uma grande docilidade faz dela a raça por excelência
da produção leiteira intensiva.

Características produtivas
Fertilidade 95 %
Prolificidade 140-180 %
Peso dos machos 80-120 kg
Peso das fêmeas 50-90 kg
Produção de leite 680-1050 kg em 240 dias

Esta raça é de todas as raças caprinas, a que experimentou uma maior


difusão a nível Mundial, tendo sido exportada para muitos países da Europa,
EUA, Brasil e África do Sul, entre outros.
88

3.4.2- ALPINE - é originária do Maciço Alpino, sendo uma raça muito apreciada
pelas suas qualidades leiteiras e de cria.
Os animais desta raça têm pêlo raso e côr variada, indo do castanho
claro ao avermelhado e mesmo preto, sendo no entanto a côr mais frequente a
"chamoisée", ou côr de camurça, com um listão preto longitudinal no dorso e
extremidades negras. Podem possuir cornos ou não, possuem peito profundo,
linha do dorso recta, garupa larga e pouco inclinada, com extremidades
sólidas, articulações secas e aprumos correctos.

Fig. 20 – Cabras da Raça Alpine Fig. 21 – Bode da Raça Alpine

O leite das cabras desta Raça, é volumoso, bem inserido tanto atrás
como à frente, retraindo-se bem após a ordenha, possuindo tetos bem
diferenciados paralelos e dirigidos para a frente.
Esta raça possui inegáveis qualidades de produção leiteira e embora se
adapte bem a sistemas de produção intensivos, possui grande rusticidade, o
que faz dela uma raça muito procurada para sistemas de produção semi-
intensivos.

Características produtivas
Fertilidade 95 %
Prolificidade 140-180 %
Peso dos machos 80-100 kg
Peso das fêmeas 50-70 kg
Produção de leite 580-850 kg em 8 meses
89

Esta raça encontra-se espalhada por toda a Europa, EUA, Brasil, etc.
Ambas as raças atrás descritas, foram e são, em França, sujeitas a selecção,
visando melhorar as suas potencialidades e qualidades leiteiras. Cerca de 140.000
cabras pertencentes às raças Saanen e Alpina estão sujeitas a contraste leiteiro.
Estas práticas permitiram até agora que 20 % das explorações sujeitas a contraste,
tenham alcançado produções médias entre os 850 e os 1050 kg de leite por
lactação, enquanto que 10 % das lactações sujeitas a contraste, são superiores a
1000 kg de leite, havendo algumas que atingem os 2000 kg de leite por lactação.
Diga-se que estas lactações têm em geral uma duração de 255 dias.
3.4.3- MURCIANA - esta raça é originária das províncias de Múrcia e Granada, em
Espanha, constituindo grande polémica regional a sua província de origem,
pelo que os de Múrcia a chamam de Murciana e os de Granada, de Granadina.
Parece que a solução de consenso consiste na designação de Murciana-
Granadina ou Granadina-Murciana.
São animais de côr geralmente negra, havendo exemplares de coloração
castanho escura designada por "caoba". Possuem perfil recto, órbitas salientes
e orelhas erectas, grandes, pontiagudas e muito móveis. Só muito raramente
possuem cornos, o mesmo acontecendo com as barbas. A linha do dorso é
ligeiramente ascendente na direcção da garupa, o garrote é muito destacado e
o tronco amplo e de grande perímetro torácico em relação ao seu tamanho,
possuindo espádua forte e inclinada e bem aderente ao corpo. A garupa é
curta e inclinada. O úbere é amplo e volumoso, formando duas bolsas muito
distintas, com tetos pequenos e dirigidos ligeiramente para a frente e para fora.
90

Fig. 22 – Cabra da Raça Murciana-Granadina

Esta raça possui grande vocação leiteira, tendo sido dito acerca dela por
um inglês, que é tão perfeita que não há necessidade de ser melhorada. É
uma raça rústica, no entanto adapta-se muito bem a sistemas de produção
intensivos.

Características produtivas
Fertilidade média 90-95 %
Prolificidade média 200 %
Peso dos machos 60-75 kg
Peso das fêmeas 50-60 kg
Produção de leite 720 kg em 210 dias

3.4.4- CACHEMIRA - esta raça é originária das regiões montanhosas do Paquistão,


mais propriamente da província de "Cachemira". Os animais desta raça são de
tamanho médio, com 70-80 centímetros de altura.
A sua principal característica reside na existência de uma pelagem
exterior formada por pêlos compridos, ásperos e desbotados, contendo
debaixo destes uma maior quantidade de pêlo finíssimo de comprimento
regular, o qual é a matéria prima dos famosos tecidos que são conhecidos por
Caxemira.
Este pêlo obtêm-se não por tosquia, mas sim penteando as cabras. A
quantidade de pêlo obtida por animal é de 200 a 250 gramas, facto que muito
contribui para o alto custo dos tecidos com ele confeccionado.

Fig. 23 – Cabras da Raça Cachemira


91

A experiências de aclimatação de animais desta raça em outros países


falharam rotundamente.

3.4.5- ANGORA - é uma raça originária da Turquia, sendo constituída por animais
pequenos, de pêlo muito comprido e sedoso o qual possuem em abundância.
Este pêlo é conhecido no mercado por "mohair", nome pelo qual a raça é
algumas vezes designada.

Fig. 24 – Cabras da Raça Angorá

Debaixo desta camada de pêlo fino e comprido possuem outra de pêlo


denso, forte e curto, sem qualquer aplicação industrial. O pêlo fino tem o
aspecto de lã, podendo alcançar o comprimento de 75 centímetros, de côr
branca ou preta e muito brilhante.
Nesta raça e ao contrário do que se passa noutras raças de cabras, o
pêlo é obtido por tosquia.
Experiências de aclimatação com animais desta raça em Espanha e
Portugal, foram bem sucedidas. No Alentejo existem duas explorações de
caprinos Angora, em que os animais se mostram sem problemas de
aclimatação, o que não é de estranhar, visto que estes animais são originários
de uma região de grandes amplitudes térmicas e muito seca, sendo sensíveis
à humidade.

3.5- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE CAPRINOS

Os sistemas de produção caprinos utilizados, são exactamente os mesmos


que podem ser utilizados na produção de ovinos, pelo que neste capítulo somente
serão referidas características passíveis de constituir diferença.
92

Os sistemas de produção de caprinos são igualmente considerados quanto à


natureza genética dos animais utilizados, bem como quanto ao tipo de instalações a
que estão sujeitos e modo de obtenção de alimentos.

3.5.1- TIPO DE ANIMAIS UTILIZADOS

Os caprinos domésticos são explorados em raça pura ou em sistema de


cruzamento. Os tipos de cruzamento utilizados em cada situação, são fruto do
interesse, grau de conhecimento e importância atribuída aos animais por parte do
proprietário.
Os tipos de cruzamentos passíveis de serem utilizados na produção de
caprinos são logicamente todos os que existem: cruzamento de absorção,
cruzamento duplo, retrocruzamento e cruzamento industrial.

3.5.1.1- LINHA PURA - a exploração em raça pura, é utilizada sobretudo em


programas de selecção, em explorações comerciais de animais de alta
produção leiteira e em explorações de raças autóctones, situação muito
corrente no nosso país, em que os produtores recebem um prémio adicional às
ajudas compensatórias à perda de rendimento, só por utilizarem raças
autóctones.
93

3.5.1.2- CRUZAMENTO

Cruzamento de absorção - a filosofia suprajacente a este tipo de cruzamento, é a


substituição do rebanho das fêmeas de base, por outro de características étnicas
iguais às do reprodutor masculino, à base das fêmeas nascidas do cruzamento
durante algumas gerações. Esta opção tem sido praticada actuando em cabras de
raças autóctones, com machos de raças de alta produção leiteira. Poderá ter a
vantagem em relação à utilização da raça pura, por parte de quem já possui um
rebanho de base, de não ter de investir uma soma considerável e muitas vezes
insuportável do ponto de vista económico.

Cruzamento duplo - este tipo de cruzamento em que recorde-se intervêm três


raças, é de resultados muito mais rápidos que o cruzamento de absorção. Tem
sido pouco utilizado em caprinos, devido ao facto de na sua essência envolver
quase obrigatoriamente, uma raça de carne e uma raça prolífica. Ora os caprinos
são já bastante prolíficos, não se registando as diferenças interrácicas quanto a
esta característica, que se registam em ovinos e não existem raças que possam
ser consideradas de produção de carne, razões que contribuem para que este tipo
de cruzamento seja pouco utilizado

Cruzamento alternativo - este tipo de cruzamento interveio no "melhoramento" de


algumas raças de caprinos estrangeiras, levados a cabo no Reino Unido.

Cruzamento industrial - tem sido em Portugal, utilizado indiscriminadamente, não


no sentido de utilizar deliberadamente duas raças em linha pura, para obtenção de
híbridos de valor em determinada função, mas sim na utilização totalmente
aleatória de animais, machos e fêmeas, sem qualquer preocupação de raça. Este
facto tem a ver sobretudo, com o tratamento dado na esmagadora maioria dos
casos, à exploração da espécie caprina no nosso País, em que é considerado o
parente pobre da produção animal.
O facto desta espécie ser tradicionalmente utilizada, devido às suas
capacidades de rusticidade e resistência, em zonas de terrenos marginais, nos
quais mais nenhuma outra espécie doméstica seria economicamente viável, levou
a que fosse olhada como animais de pouco interesse e deste modo sem grandes
preocupações quanto à raça.
94

A escolha dos animais para produção é/era feita pelas características


morfológicas, sobretudo pela conformação e tamanho do úbere, e a escolha dos
machos pelo seu tamanho e muitas vezes por serem filhos de cabras consideradas
boas produtoras, sendo esta tarefa amiúde entregue ao "cabreiro", tarefa que estes
levaram a cabo com mais ou menos sucesso, mas que está muito longe de ser a
correcta do ponto de vista zootécnico.
A descendência apresenta-se deste modo com um grau de heterogeneidade
genética de tal modo, que é frequente observar numa cabrada inúmeros fenótipos
diferentes, com os custos inerentes à utilização de animais mestiços, criados sem
qualquer critério.
Para qualquer dúvida surgida acerca dos tipos de cruzamentos aqui
mencionados, remete-se o leitor para o capítulo Noções Introdutórias, onde este
assunto se encontra explanado com a profundidade necessária, ao âmbito desta
disciplina.

3.5.2- TIPO DE INSTALAÇÃO

Os caprinos, mais ainda que os ovinos, são como se disse os animais com
maior capacidade de aproveitamento dos alimentos escassos, em regimes de
pastoreio e como tal são explorados preferencialmente neste sistema. Apesar desta
capacidade inerente aos caprinos, existem sistemas de produção em que os
animais estão em regime de confinamento permanente, outros em que passam
parte do tempo estabulados e outros ainda em que não usufruem de qualquer tipo
de estabulação ou somente recolhem ao capril para passar a noite. Os sistemas
utilizados na exploração de caprinos continuam a ser a estabulação permanente, a
semi-estabulação e o pastoreio.

3.5.2.1- ESTABULAÇÃO PERMANENTE

Este sistema é utilizado para caprinos, quer nas recrias e engordas intensivas
de cabritos, quer em explorações leiteiras com animais de alto valor produtivo.
Nestas explorações visa-se a obtenção da maior quantidade de leite possível,
sujeitando-se os animais a um tipo de vida em confinamento que é contrário à
natureza da espécie, mas que algumas raças suportam muito bem, em virtude da
selecção a que têm vindo a ser sujeitas.
95

As instalações são caras e o maneio é elaborado. Devido às razões


apontadas, a exploração intensiva envolve custos fixos muito elevados, só sendo
praticável em condições muito especiais.
O comportamento alimentar dos caprinos em estabulação, caracteriza-se por
um exame prévio dos alimentos que lhes são administrados, só depois elegendo as
partes que irão ser consumidas. Este comportamento selectivo é causador de
desperdícios de alimentos, que podem chegar aos 40 % do total que lhes é posto à
disposição. Esta dificuldade pode ser em parte torneada, dado que os caprinos em
estabulação aceitam bem as forragens sob a forma de granulados e "pellets", bem
como silagens finamente picadas.

3.5.2.2- SEMI-ESTABULAÇÃO

É utilizado nos países frios do Norte da Europa e em rebanhos leiteiros de alta


produção, que passam parte do dia estabulados, pastando uma pequena parte do
dia, erva de alta qualidade em parques próximos ou adjacentes ao capril.

3.5.2.3- PASTOREIO

Pelo que atrás foi dito quando se tratou do comportamento alimentar dos
caprinos, chega-se facilmente à conclusão que estes animais são utilizadores
preferenciais de sistemas extensivos com plantas arbustivas, em que possam
exercer a sua acção selectiva, sobre plantas e partes de plantas, que escolhem de
acordo com a época do ano.
Na esmagadora maioria das nossas explorações os animais pastam durante
todo o ano, recebendo no entanto suplementos de ração ao fim do dia, sempre que
as suas necessidades alimentares não possam ser totalmente satisfeitas durante o
pastoreio.
As pastagens podem ser espontâneas ou semeadas, podendo estas ser de
sequeiro ou regadio e consumidas em pastoreio contínuo, pastoreio deferido,
pastoreio rotacional e pastoreio em faixas.

Pastoreio contínuo é o sistema de eleição para a produção de caprinos, em que o


gado vive durante todo o ano do aproveitamento dos recursos da vegetação, quer
96

seja herbácea, quer seja arbustiva ou arbórea, devendo a carga animal ser
calculada de acordo com as potencialidades da pastagem.
Nas vegetações do tipo dos matos e floresta, onde se encontrem
representados os estratos herbáceo, subarbustivo e arbustivo, os caprinos
mostram em determinadas alturas, preferência pelos subarbustos e arbustos,
independentemente da disponibilidade dos outros tipos de vegetação.
Este comportamento depende contudo das variações do valor nutritivo das
espécies vegetais com a estação do ano, não devendo a disponibilidade de
determinado tipo de vegetação, de uma estação para outra, ser encarado como um
indicador do seu estado de utilização pelos animais.
Na prática muito poucas espécies vegetais são rejeitadas pelos caprinos,
dependendo as preferências alimentares mais da acessibilidade das partes das
plantas apetecidas, que da espécie vegetal propriamente dita. As cabras têm
tendência para consumir, dentro das plantas herbáceas, as anuais durante a
Primavera e as plantas perenes durante o resto do ano, consumindo das
gramíneas preferentemente, as inflorescências. Dos arbustos as folhas são na
Primavera consumidas de preferência aos ramos e frutos, quando os arbustos
novos ultrapassam os 60 centímetros de altura. Em cada caso os caprinos
realizam um autêntico consumo selectivo da vegetação, consumindo rebentos,
flores, gomos ou sementes, que constituem as partes mais nutritivas.
É assim mais que evidente que os sistemas de exploração de caprinos mais
eficientes do ponto de aproveitamento da pastagem são sem dúvida os sistemas
de pastoreio contínuo em extensivo.

Pastoreio condicionado - o comportamento alimentar desta espécie, se por um


lado constitui uma inexcedível vantagem em situações de exploração extensiva
com escassez de alimentos, que são próprias das zonas desfavorecidas áridas e
semiáridas em que normalmente são explorados, por outro lado torna-se uma
desvantagem em sistemas de intensificação forrageira, prados permanentes ou
temporários.
Em pastagens semeadas, permanentes ou temporárias, com existência de
abundante vegetação, os caprinos começam a pastar durante os primeiros 60-90
minutos, seguindo posteriormente a um ritmo de consumo muito mais lento, devido
à selecção que fazem do alimento, de tal modo que não consomem a massa
97

forrageira de forma regular, deixando antes áreas ou manchas de erva com tal
frequência, que a parte não aproveitada pode representar até 50 % do total da
produção do prado. Esta característica dos caprinos conduz a um mau maneio das
pastagens, o que leva estas a degradarem-se, com as desvantagens daí inerentes
em termos de produção futura, a qual será sempre muito menor do que seria
normal.
98

4- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE BOVINOS

4.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os bovinos domésticos pertencem à Família Bovidae, Subfamília Bovinae e


Géneros Bos e Bubalus. O Género Bos compreende as Espécies taurus e indicus,
enquanto que o Género Bubalus engloba entre outras Espécies a bubalis
(Williamson e Payne, 1980).
O termo Bos taurus designa os bovinos Europeus, representados pelos
bovinos que desde sempre nos são familiares.
Os bovinos englobados na designação Bos indicus, são os animais na gíria
conhecidos como zebús, existindo em grande número na Ásia África e América
Latina, distinguindo-se à primeira vista pela característica bossa na cernelha.
Os animais pertencentes à Espécie Bubalus bubalis são os búfalos domésticos
Asiáticos, designados de “búfalos de água”, nas suas variedades de rio e de
pântano, sendo esta designação originada pela marcada tendência em
permanecerem imersos grande parte do dia, com preferência respectivamente pelas
águas correntes e águas paradas.

A origem dos bovinos é, como muitos assuntos da área da paleontologia, ainda


algo controversa. Segundo uns autores, os bovinos europeus provêm de um animal
primitivo, o Bos primigenius.
Parece que o centro de domesticação dos bovinos, se situou na região que é
actualmente o Nordeste do Turquestão cerca de 8.000 a.C. Há evidências de que
cerca de 2000 anos mais tarde, outro tipo do bovino o Bos brachyceros, foi
"originado" na mesma área. Do que parece não haver dúvida, é que a espécie Bos
indicus teve origem na Ásia Ocidental e não, como se julgou em tempos, no
Subcontinente Indiano (Williamson e Payne, 1980).

O efectivo Mundial de bovinos englobava há cerca de uma década, perto de


1.300.000.000 animais, sendo distribuídos por ordem decrescente, pela Ásia com
cerca de 510 milhões de cabeças, América do Norte, Central e do Sul com cerca de
430 milhões de cabeças, África com 160 milhões de cabeças, Europa com 140
milhões de cabeças e Oceânia com 40 milhões de cabeças (FAO, 1991).
99

Os bovinos são encarados nas várias regiões do Mundo, sob diversas


perspectivas, que vão desde simples animais destinados quer à produção de leite,
quer ao talho, na Europa, América do Norte, América do Sul, e Ásia (Athanassof,
1957), até ao estatuto de animal sagrado, por parte dos muitos milhões de indianos
que professam a religião Hindu, passando por uma situação em que confere
estatuto social (estando nesta situação a esmagadora maioria dos bovinos do
continente Africano), sendo impensável por parte dos seus possuidores, a morte
para consumo de qualquer dos seus animais, por esse facto originar perda de parte
do seu prestigiante património (Williamson e Payne, 1980).
Não se pense no entanto, que na Índia não se consome carne de bovino ou
que os bovinos não são utilizados na produção leiteira, pois o estatuto de animal
sagrado só se refere a animais da espécie Bos indicus, existindo em zonas
climaticamente favoráveis, como as zonas de altitude, vacas leiteiras da espécie
Bos taurus importadas da Europa, sendo nas outras regiões, a produção de carne e
de leite, assegurada por animais pertencentes à espécie Bubalus bubalis ou sejam
os búfalos domésticos (Williamson e Payne, 1980).

4.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

4.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Os bovinos como ruminantes, são animais que fazem a sua alimentação à


base de pasto e forragem, não desdenhando no entanto rama de árvores e
arbustos, bem como bolotas e outros frutos. A maneira de pastar dos bovinos é bem
peculiar, pois enrolam a língua à volta das plantas herbáceas, cortando-as em
seguida com um golpe dos incisivos, acrescendo ainda a falta de mobilidade dos
lábios apresentada por estes animais
Este facto faz, com que as pastagens próprias para bovinos devam ser altas,
cerca dos 15-20 centímetros de altura. No entanto, ao contrário do que está
estabelecido e vem escrito na literatura sobre bovinos, estes animais têm a
capacidade de apreender ervas de poucos centímetros, facto sobejamente
verificado nos recentes anos de seca no Alentejo.
Os bovinos não são de todo eficientes no aproveitamento das pastagens
pobres, sendo menos selectivos na pastagem que os ovinos e muito menos que os
caprinos.
100

A falta de selectividade e a grande quantidade de matéria alimentar necessária


para estes animais, remetem-nos para áreas forrageiras de maior valor que as
zonas pobres, passíveis de serem aproveitadas com maior sucesso pelos ovinos e
caprinos.
O seu comportamento em pastagem, caracteriza-se por comer quase tudo o
que está ao alcance da boca, sem grandes preocupações quanto à natureza do
pasto, deixando no entanto no terreno uma boa porção da parte inferior das ervas
que consomem, visto que as cortam altas. Esta situação foi aproveitada no passado
no Alentejo, quando nos grandes latifúndios havia bovinos e ovinos na mesma
exploração, fazendo estes últimos o aproveitamento da pastagem residual, depois
da passagem dos bovinos.
Os bovinos como ruminantes, aproveitam com sucesso quer a silagem, quer o
feno, quer ainda a palha de cereais.

4.2.2- COMPORTAMENTO REPRODUTIVO

As fêmeas dos bovinos domésticos são animais poliéstricos de ovulação


espontânea, com reprodução não estacional. A maioria das raças bovinas de carne
e leiteiras hoje existentes, foram desenvolvidas de raças ancestrais comuns, na
Europa e Ilhas Britânicas. Por este facto, os bovinos de carne e leiteiros, possuem
características reprodutivas similares, atribuindo-se as variações fisiológicas
existentes entre os animais de diferentes aptidões produtivas, quer à selecção
efectuada nos últimos séculos, quer a diferenças que se vêm verificando nas
práticas de maneio.
A puberdade nesta espécie é como nas espécies já estudadas, influenciada
pela raça e estado de nutrição, podendo iniciar-se dos 5 aos 20 meses, com uma
idade mais comum de 9 a 11 meses nas fêmeas e 9 a 12 meses nos machos,
havendo tendência para a puberdade ser atingida um pouco mais cedo nas raças
leiteiras, relativamente às raças de carne.
As fêmeas não gestantes, experimentam ciclos éstricos com a duração de 17 a
24 dias, com cios de 12 a 30 horas, assumindo uma média de 20 horas nas raças
de carne e de 15 horas nas raças leiteiras.

A gestação tem uma duração de cerca de 9 meses, podendo ir de uma média


de 278 dias na raça "Ayrshire", até uma média de 292 dias na raça "Brown Swiss",
101

sendo a duração da gestação, influenciada por factores maternais (idade da mãe),


factores ligados ao feto (número de fetos e sexo) e factores ambientais (estado de
nutrição, temperatura e estação do ano).

O número de crias por parto é geralmente de uma, sendo no entanto


frequentes os partos gemelares. Quando se verificam partos gemelares, em que as
crias são de sexos diferentes, acontece que a fêmea é estéril em 90 % dos casos,
possuindo os órgãos genitais internos atrofiados, apresentando no entanto os
genitais exteriores com normal desenvolvimento. Este fenómeno é conhecido por
"Free-martinismo", sendo causado pelo mais precoce desenvolvimento das gónadas
do feto macho, o que influência de forma negativa o desenvolvimento do aparelho
reprodutivo da sua irmã. O macho apresenta todas as condições para ser fértil.

O cio nas fêmeas bovinas tem sintomatologia bem evidente, sendo sinais
inequívocos de cio, a vulva tumefacta, vermelha e brilhante, com eliminação de um
exsudado pegajoso e brilhante, urinando a vaca com frequência e apresentando
tendência para levantar a cauda arqueando simultâneamente o dorso, mostrando
ainda especial tendência para saltar sobre as companheiras. Se está solta, corre
desordenadamente com a cauda e cabeça levantadas, orelhas erectas e salivando
bastante. Por todos estes sinais, a descoberta do cio não é difícil para o tratador ou
técnico habituados a estes animais.

Os tipos de reprodução praticados em bovinos, são a monta natural e a


inseminação artificial.

4.2.2.1- Monta natural - este tipo de reprodução é praticada quase de modo


universal, nos sistemas de produção de bovinos de raças de carne. A
modalidade mais utilizada é a monta em liberdade, sendo corrente o emprego
simultâneo de vários touros, no rebanho com as fêmeas, realizando-se as
cobrições à medida que as vacas vão entrando em cio.
Em explorações intensivas de raças leiteiras, sempre que se verifica a
monta natural, esta é praticada na modalidade que pode ser considerada de
monta dirigida, dado que o touro está numa boxe, à qual se leva a vaca logo
que é detectado o cio, neste caso pelo tratador, com base nos sinais
evidenciados pelo animal.
102

4.2.2.2- Inseminação artificial - este tipo de reprodução atingiu na espécie bovina o


seu expoente máximo, tendo sido estudadas e implementadas todas as
técnicas ligadas à inseminação artificial, na espécie bovina e só depois de
dominadas, foram extrapoladas para as outras espécies.
Espécie alguma foi sujeita a uma tão grande pressão de selecção como
os bovinos, nomeadamente os bovinos leiteiros e dentre estes os pertencentes
à raça "Holstein-Frisian", selecção esta que teve e tem na inseminação artificial
o seu principal instrumento.
A esmagadora maioria das vacas leiteiras são sujeitas a inseminação
artificial, efectuada com sémen proveniente de touros de alto valor genético
para a produção leiteira. Este sémen é recolhido, diluído e conservado, em
centros existentes para esse fim, sendo depois vendido para os mais variados
pontos do mundo, transportado em cápsulas arrefecidas por azoto líquido.
Hoje em dia, existem centros experimentais dotados da mais sofisticada
tecnologia, que além de sémen, produzem embriões quer frescos quer
congelados.
Os embriões podem resultar da aplicação de duas técnicas.
Uma é a fecundação de vacas de alta produção, nas quais é induzida
superovulação através de tratamento hormonal apropriado, sendo
artificialmente inseminadas com sémen de touros de alto valor genético. Após
a fecundação, os embriões são retirados do útero por lavagem, podendo ser
transferidos em fresco para outras vacas ou congelados para posterior
utilização.
A outra é a indução de superovulação igualmente em vacas de alta
produção, com o recurso igualmente a tratamento hormonal, sendo retirados
os óvulos do útero e posteriormente fecundados in vitro com sémen de touros
de alto valor genético.
A viabilidade dos embriões congelados pode atingir os 80 %, sendo no
entanto mais comuns taxas de viabilidade de 50 a 60 %. A percentagem de
êxito em termos de gravidez, utilizando embriões congelados atinge em
bovinos uma taxa média de 71 %.
Para realizar uma transferência de embriões frescos, é imprescindível a
realização da sincronização de cios, entre a dadora de embriões e as
receptoras, condição indispensável para o êxito da operação.
103

Em termos muito gerais a transferência de embriões pode descrever-se


do seguinte modo: uma ou várias vacas de alta produção muito acima da
média da raça e que vão actuar como dadoras de embriões, recebem
tratamento hormonal conducente a uma sincronização de cios,
simultâneamente com várias vacas que podem ser da mesma raça ou não e
que vão actuar como receptoras desses embriões.
A sincronização dos cios tem como fim preparar as vacas receptoras para
a recepção dos embriões, pois teoricamente quando os recebem estão na
mesma fase que as dadoras. Estas são sujeitas a tratamento hormonal com
PMSG ou FSH, visando a superovulação ou seja, a libertação simultânea do
maior número possível de óvulos, sendo em seguida inseminadas
artificialmente com sémen de alto valor genético para o fim em vista. Após
efectuada a inseminação, entre 4 a 8 dias após o cio, procede-se à recolha e
implantação dos embriões nos úteros das vacas receptoras.
Estas vacas vão actuar como mães desses embriões, desenvolvendo
gravidez normal, não sendo como é óbvio, mães biológicas dos vitelos que
darão à luz.
O recurso a esta técnica possibilita aumentar extraordinariamente o
número de filhos de vacas com alto potencial de produção, que de outro modo
dariam à luz não mais de 5 a 7 filhos, podendo deste modo originar largas
dezenas. É possível deste modo obter grande número de animais provenientes
de pais com grande aptidão produtiva. Este método efectua-se no âmbito de
programas de selecção e melhoramento de raças quer de carne, quer de
aptidão leiteira.

4.3- PRODUÇÃO DE CARNE E DE LEITE

4.3.1- PRODUÇÃO DE CARNE

A carne de bovino ocupa sem dúvida a posição mais importante a nível


mundial, sendo a que tem mais aceitação por parte do consumidor, embora seja a
mais cara e por esse facto nem sempre a escolhida.
A produção de carne de bovino tem características diferentes, conforme se
considerem os países da Europa, da América do Norte, Austrália e África do Sul,
104

ditos desenvolvidos, ou os países da América do Sul, África e Ásia, conhecidos por


países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.
Nos países ditos desenvolvidos, a carne de bovino é sobretudo proveniente de
animais jovens, a maioria com idade compreendida entre os 14 e os 18 meses,
engordados e acabados à base de concentrados provenientes de cereais e
proteaginosas.
Os animais pertencem indistintamente a raças de produção de carne ou a
raças de vocação leiteira, sendo destinados ao abate os animais jovens, machos e
fêmeas não utilizados na renovação dos efectivos, bem como as vacas de reforma.
As vacas de reforma, atingem taxas anuais da ordem dos 15 a 25 % nas raças
especializadas na produção de carne e 10 a 15 % nas raças leiteiras, dependendo
estes números de vários factores como a velocidade de renovação dos efectivos, a
raça e o nível de produção, entre outros.
As estratégias para aumentar a produção de carne são muito variadas,
dependendo das condições de mercado, das condições locais de exploração e do
tipo de animais existentes. Exemplos dessas estratégias são :

1- o cruzamento industrial de vacas de efectivos leiteiros com touros de raças


pesadas de produção de carne, o que implica um aumento de peso dos
vitelos em relação aos vitelos de raças leiteiras
2- o cruzamento industrial de vacas de raças rústicas com touros de raças
pesadas de produção de carne
3- o abate de novilhas leiteiras com um parto. Estas novilhas destinadas ao
abate são inseminadas artificialmente com cerca de 12 meses e abatidas
cerca de três meses após o parto, ganhando-se com esta técnica um vitelo
adicional
4- a engorda e acabamento dos novilhos e novilhas que são abatidos com
idades entre os 14 e os 20 meses
5- a utilização de vacas leiteiras de baixa produção, para cruzamento industrial
em vez de irem para o talho, sujeitando-as a aleitamento de vitelos adicionais,
resultantes de compra em efectivos leiteiros
6- a engorda criteriosa das vacas de reforma
105

Durante bastantes anos o abate de vitelos por regra não era efectuado, sendo
inclusivamente penalizado, visto ser uma forma de não vender uns meses mais
tarde, umas largas dezenas de quilogramas de carne. Actualmente devido à
depressão do mercado de carne de bovino, devido à problemática da Encefalopatia
Espongiforme Bovina (BSE), já se abatem vitelos, devido ao baixo preço que
atingem para recria, motivado pelo baixo preço no produtor, da carne de novilho.
Nos países subdesenvolvidos os bovinos destinados ao talho, são produzidos
em sistemas de pastoreio extensivo, dadas as condições de carência alimentar
generalizada que os caracterizam, sendo extremamente difícil canalizar para a
produção animal, cereais e proteaginosas, quando estes alimentos são
manifestamente poucos para consumo humano.
Os animais apresentam ao abate uma idade de 2-3 anos, tratando-se nas
regiões tropicais, principalmente de animais mestiços de Bos taurus e Bos indicus.
Este fenómeno largamente difundido na América Central e do Sul, teve origem no
facto dos animais Bos taurus não se adaptarem às condições climáticas existentes
nestas regiões, resistindo muito mal às elevadas temperaturas e baixa humidade
relativa, morrendo simplesmente ou sobrevivendo apenas, desaparecendo nestas
condições como é óbvio qualquer capacidade produtiva.
Pelo contrário os animais Bos indicus, originários que são de regiões tropicais,
resistem muito bem a estas condições, devido a vários factores, entre os quais
diferenças na pigmentação da pele e maior número de glândulas sudoríparas. No
entanto estes animais apresentam precocidade e velocidade de crescimento
inferiores aos animais Bos taurus o que implica o seu abate a idades superiores à
daqueles. No entanto apresentam maior rusticidade, radicada em diferenças
fisiológicas a nível digestivo.
A qualidade de carne depende da sua textura ou "tenrura" como é
erradamente designada na gíria, a qual está intimamente relacionada com a idade
do animal, com a quantidade de gordura intermuscular e sobretudo intramuscular,
responsável pala textura macia. Por antítese a carne muito magra torna-se muito
seca à mastigação.
As carcaças de bovinos apresentam-se sem cabeça e divididas em duas meias
carcaças, ficando a cauda na meia carcaça direita. São valorizadas segundo uma
grelha normativa, designada por EUROPE, que contempla seis classes de carcaças,
com base na qual são classificadas quanto à conformação e estado de engorda. A
106

cada letra da designação da grelha corresponde uma situação, que vai desde a
carcaça classificada como excelente, até à carcaça classificada como má e
destinada à indústria.

4.3.2- PRODUÇÃO DE LEITE

A produção de leite de bovino, tem enorme importância no cômputo da


produção mundial de leite, sendo tal a sua importância que quando se fala de leite,
se subentende o leite de vaca.
Por leite entende-se a secreção da glândula mamária de fêmeas da
espécie bovina, em estado hígido (isto é gozando de boa saúde), produzida
desde os 7 dias após o parto até ao fim da lactação.
A secreção da glândula mamária produzida desde o momento do parto, até
aos 6 dias é o colostro, substância com composição muito diferente do leite,
sobretudo ao nível das proteínas e cuja missão é conferir imunidade à cria através
de proteínas específicas do grupo das globulinas, como as ,  e  globulinas,
estando a venda de colostro proibida, pelo facto de ser uma substância imprópria
para consumo humano.
Nos países Ocidentais s vacas exploradas para a produção de leite, pertencem
sobretudo a raças específicas de aptidão leiteira, embora existam raças de aptidão
mista, responsáveis por uma grande parte do leite produzido em certos países como
a França (raça Normanda), Alemanha (raça Fleckvieh) e Suíça (Simmental e Brown
Swiss).
A constituição do leite experimenta importantes variações interrácicas,
sobretudo no tocante à gordura, podendo-se no entanto considerar como
composição média do leite a seguinte :

Água 87,2 %
Matéria gorda 3,6 %
Lactose 4,5 %
Proteína 3,0 %
Sais 0,7 %
Densidade a 15 ºC 1,030
(Adaptado de Sá e Barbosa, 1991)
107

O leite destina-se ao consumo em natureza (quer seja pasteurizado,


ultrapasteurizado ou esterilizado, em batidos ou leite com aromas), ao fabrico de
manteiga, de variadíssimos tipos de queijo, de iogurte, requeijão, leite evaporado,
leite em pó, kefir, leitelho, etc.
No Extremo Oriente o leite de búfala é utilizado em larga escala, sendo
naquelas regiões tão importante quanto o leite de vaca. Na Europa, mais
concretamente em Itália na região de Nápoles, existe um considerável número
destes animais da raça "Murrah" (que é uma raça de búfalos de pântano), cujo leite
é a matéria prima do verdadeiro queijo "Mozzarella", mundialmente conhecido por
entrar na confecção das "pizzas". Noutros países, o queijo "Mozzarella" é fabricado
com leite de vaca.

4.4- RAÇAS BOVINAS PORTUGUESAS

O nosso País possui mercê da sua variabilidade em termos edafoclimáticos,


uma grande variedade de raças bovinas, que não seria de esperar em tão pequeno
espaço geográfico. Figuram como raças bovinas autóctones as seguintes : a
"Alentejana", a "Arouquesa", a "Barrosã", a "Brava de Lide", a "Galega", a
"Marinhoa", a "Maronesa", a "Mertolenga", a "Mirandesa", e a "Preta".
Dada a sua importância relativa e a natureza desta disciplina somente iremos
estudar as raças "Alentejana", a "Barrosã", a "Mertolenga" e a "Mirandesa".
3.4.1- ALENTEJANA - é uma raça vocacionada para a produção de carne, que foi
originada no Tronco Aquitânico, sendo constituída por animais convexilíneos,
eumétricos, do tipo longilíneo, rústicos, enérgicos e mansos, de pelagem
vermelha, desde o claro ao retinto com cabos vermelhos ou brancos.

Fig. 25 - Vaca da Raça Alentejana com vitelo Toiro da Raça Alentejana


108

A raça Alentejana foi tradicionalmente explorada na função de trabalho,


tendo a seu cargo no passado a quase totalidade das lavouras do Alentejo.
Esta tarefa era desempenhada por machos castrados que eram adestrados
para esta função, constituindo as vacadas a fonte de animais para o trabalho.
Os bois de trabalho eram no fim da sua vida útil, engordados na pastagem em
extensivo na Primavera e posteriormente vendidos.
Os animais desta raça tinham nessa altura uma conformação diferente da
que apresentam hoje em dia, possuindo um grande desenvolvimento do terço
anterior o que é sinónimo de força de tracção. Actualmente a conformação
apresentada pela raça transmite a intenção para que é explorada, possuindo
um maior desenvolvimento do terço posterior (onde se localizam os músculos
que mais influenciam no rendimento em carne).
Esta conformação é resultante da orientação selectiva dada às vacadas,
que teve como resultado a criação de um animal vocacionado para a produção
de carne, tanto em regime intensivo, como extensivo, tendo havido um registo
de um macho desta Raça que atingiu 1417 kg de peso, o que demonstra
grande potencial produtivo. A sua carne é de boa qualidade, apresentando
moderada quantidade de gordura intermuscular e intramuscular.
O efectivo de reprodução desta Raça é de cerca de 20.000 vacas,
distribuídas sobretudo pelo Alto e Baixo Alentejo.

Características produtivas :

Fertilidade 85-90 %
Prolificidade 1
Peso ao nascimento 30 a 33 kg
Peso dos touros 900 a 1100 kg
Peso das vacas 600 kg
Fecundidade 80 a 90 %
Ganho médio diário * 1252 g

Alguns dos animais desta raça estão registados no "Livro Genealógico da


Raça Alentejana", sendo uma parte substancial das fêmeas utilizadas em
cruzamento industrial com touros de raças pesadas especializadas de
produção de carne, como a "Charolesa", a "Salers" ou a "Limousin". Diga-se
109

que as vacadas inscritas no Livro Genealógico estão obrigadas à reprodução


em linha pura.
* Os ganhos médios diários são referidos a animais entre os 11 e os 17 meses

4.4.2- MERTOLENGA - esta raça é originária do termo de Mértola e Martinlongo,


zona de solos paupérrimos, sendo uma raça extraordinariamente rústica, tendo
no passado sido explorada na função trabalho, exercida por machos castrados.

Fig. 26 - Vacas da Raça Mertolenga com vitelos, variedades “Malhada” e “Rosilho”

A sua área de dispersão é constituída pela charneca do Ribatejo, por


parte da região de Elvas, Distritos de Évora e Beja, sobretudo na margem
esquerda do rio Guadiana.
São animais de tamanho mediano e de formas harmoniosas e esqueleto
fino, com pelagem variada, havendo três variedades : vermelha, rosilho mil-
flores e malhada de vermelho, possuindo o contorno das aberturas naturais e
mucosas de côr clara ou ligeiramente pigmentada, constituindo defeitos
eliminatórios, malhas na cabeça e cabos brancos.
É como se disse uma raça muito rústica, o que lhe permite aproveitar os
recursos forrageiros inaproveitáveis por outras raças e que por essa
característica é explorada nos terrenos mais pobres em regime extensivo.
110

Fig. 27– Toiro da variedade “Malhada” Novilhos da variedade “Vermelha”

Os seus vitelos são muito vigorosos, sendo praticamente inexistentes


nesta raça os partos distócicos (partos anormais, difíceis), mesmo em
cruzamento com touros de raças pesadas. A sua capacidade maternal é
notável, sendo uma boa leiteira mesmo em condições de alimentação difícil,
permitindo facilmente criar um vitelo proveniente de cruzamento industrial.
A carne desta raça é de extraordinária qualidade, tendo inclusivamente
ganho alguns concursos frente às mais variadas raças e cruzamentos,
apresentando notáveis qualidades organolépticas.
Os principais inconvenientes desta Raça, são o temperamento muito
nervoso e a idade ao 1º parto tardia, que ronda os três anos. No entanto, foi
recentemente provado por ensaios realizados no Centro de Experimentação e
Reprodução Animal do Baixo Alentejo, na Herdade da Abóbada na freguesia
de Vila Nova de S. Bento, que a idade tardia do primeiro parto, está muito mais
ligado ao sistema de exploração a que são submetidas as novilhas, que às
características raça em si.
O Registo Zootécnico desta Raça é feito desde 1977, tendo sido
posteriormente criado o "Livro Genealógico da Raça Mertolenga", o qual
actualmente se encontra fechado, o que significa que somente podem ser
inscritos no "Livro Genealógico" animais filhos de animais registados.

Esta raça esteve em perigo de desaparecimento, devido ao cruzamento


irracional e indiscriminado com raças mais pesadas nacionais e estrangeiras,
nomeadamente a "Alentejana", a "Charolesa", e "Limousin". Foi fundamental
na recuperação da raça o programa de selecção e melhoramento levados a
cabo na antiga "Estação de Reprodução e Selecção Animal do Baixo Alentejo,"
hoje "Centro de Experimentação do Baixo Alentejo", sito na Herdade da
Abóbada, Vila Nova de São Bento, representando o efectivo da raça
actualmente cerca de 20.000 vacas.
A variedade que mais foi afectada pelo programa de selecção, é a rosilho
mil-flores, pelo que estes animais mostram hoje capacidades produtivas nos
testes de "performances" superiores aos das outras duas variedades.
111

No panorama bovino da Zona Sul do nosso País, esta raça assume cada
vez maior importância devido a vários factores :

1- os criadores desta raça recebem uma adicional ajuda compensatória no


valor de 26.000$00 / ano por criarem uma raça autóctone
2- é dada uma ajuda compensatória de 42.000$00 aos criadores de vacas
aleitantes independente da sua raça;
3- as vacas Mertolengas devido seu pequeno tamanho, têm menor consumo
alimentar, sendo possível ter mais vacas desta raça que de outra raça
qualquer;
4- como foi provado num estudo realizado no "Centro de Experimentação do
Baixo Alentejo" consegue-se obter mais quilogramas de vitelo desmamado
por hectare com vacas desta raça, que com vacas da raça Alentejana;
5- utilizando um touro de raça pesada especializada na produção de carne,
ainda mais quilogramas de vitelo desmamado se conseguem por hectare;
Deste modo é perfeitamente perceptível que se torna mais rentável
explorar esta raça, que por exemplo a Alentejana ou as suas cruzas com
touros das raças Charolesa ou Salers, tão comuns nesta região. Deve
salientar-se no entanto que os vitelos Mertolengos mesmo cruzados, têm
menor peso ao desmame que os vitelos das raças e cruzas citadas, obtendo-
se com eles menor rendimento unitário. Acresce ainda o facto, de os
compradores de gado depreciarem os vitelos e novilhos das Mertolengos,
puros ou cruzados, sendo mais mal pagos que os animais de outras raças e
cruzas.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 24 a 26 kg
Peso dos touros 450 a 600 kg
Peso das vacas 300 a 400 kg
Fecundidade 85 a 95 %
Ganho médio diário 800 g

4.4.3- MIRANDESA - é originária da região de Miranda do Douro, muito pobre e de


clima agreste, apresentando os seus animais notáveis qualidades de trabalho,
112

pelo que se dispersaram para outras terras Transmontanas e Beirãs, tendo


inclusivamente descido abaixo do rio Tejo.

Fig. 28 – Toiro da Raça Mirandesa Vaca da Raça Mirandesa com vitelo

Os animais desta raça têm pelagem castanha, com a parte anterior e a


cabeça e extremidades castanho-escuro quase preto.
As qualidades desta raça como produtora de carne foram também
reconhecidas, apresentando-se ainda hoje e apesar das modificações
operadas no sector bovino nacional, uma das nossas principais raças de
produção de carne, sendo famosa a "Posta Mirandesa".
Foi no passado e ainda o é, explorada como raça de aptidão mista
trabalho / leite / carne, no seu solar de origem e nas regiões de minifúndio do
Norte de Portugal, sendo também, embora em pequena escala utilizada como
produtora de carne, integrada em vacadas mistas, exploradas em cruzamento
industrial com touros de raças pesadas especializadas na produção de carne.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 37 a 39 kg
Peso dos touros 800 a 1000 kg
Peso das vacas 450 a 550 kg
Ganho médio diário 1200 g

O efectivo desta raça ronda as 50.000 vacas, sendo a raça mais


numerosa no panorama bovino Nacional

4.4.4- BARROSÃ - esta é a raça emblemática da Bovinicultura Portuguesa, sendo


considerada uma raça pura absolutamente original no Continente Europeu. A
113

sua origem parece remontar à ocupação da Península Ibérica pelos Árabes,


tendo sido encontrado no Norte de África o seu ancestral paleontológico
denominado Bos pimigenius mauritanicus.

Explorados na produção de trabalho e leite foi contudo na produção de


carne que se notabilizaram estes animais, tendo preços diferenciados das
outras raças, tendo-se inclusivamente imposto pelas qualidades organolépticas
da sua carne, no mercado Inglês, para o qual foi intensivamente exportado até
há bem pouco tempo.

Estes animais possuem pelagem castanha, indo as vacas da côr palha ao


acerejado, sendo os touros mais escuros, particularmente no terço anterior.
A principal característica morfológica distintiva desta raça, é o tamanho e
a forma dos cornos, de tamanho excessivo quer em comprimento, quer em
espessura, projectando-se quase verticalmente, desviando-se para os lados,
para a frente e para fora, apresentando a forma de lira quando vistos de frente.
A armação atinge a sua maior expressão nos animais castrados, chegando a
ter 1 metro de comprimento e 35 centímetros de perímetro, com a envergadura
de 1,5 metros, valores frequentemente atingidos.

Fig. 29 – Toiro da Raça Barrosã Vacas da Raça Barrosã

A Raça Barrosã é considerada uma raça de montanha, que produz muito


bem nas condições tradicionais de pastoreio da sua região de origem. Apesar
dos seus padrões de produtividade, da óptima qualidade da sua carne e da
sua grande adaptação ao meio, exacta Raça necessita de uma orientação
realista, para evitar o seu desaparecimento por mestiçagem indiscriminada.
114

Características produtivas :

Peso ao nascimento 26 a 28 kg
Peso dos touros 500 a 700 kg
Peso das vacas 350 a 400 kg
Ganho médio diário 875 g

O efectivo de produção desta raça é constituído por cerca de 35.000 vacas.


115

4.5- RAÇAS BOVINAS DE MAIOR DIFUSÃO MUNDIAL

As raças que vão ser objecto de estudo no contexto desta disciplina são : a
"Holstein-Frisian" por ser a raça leiteira mais importante, no Mundo, a "Jersey" pelas
características do seu leite, a "Hereford" por ser a raça bovina de carne mais
numerosa e dispersa no Mundo, a "Charolais", a "Limousin" e a "Salers" pela
importância no Mundo e em Portugal, na produção de carne.

4.5.1- HOLSTEIN-FRISIAN - é originária de uma região que ocupa as zonas


costeiras dos Países Baixos (conhecida como Frísia) e uma parte da Alemanha
(conhecida como Holstein), tendo alcançado devido às suas características
produtivas uma expansão mundial de tal ordem, que é hoje a raça leiteira mais
importante em termos numéricos e em termos de produção.

Fig. 30 –Vacas da Raça Holstein-Frisian

A pelagem destes animais é branca malhada de preto ou preta malhada


de branco, sendo animais de esqueleto fino e mediolíneos, possuindo grande
capacidade de adaptação a diferentes zonas climáticas e sistemas de
exploração.
Esta raça é a raça bovina que foi objecto de mais processos de selecção,
orientada no princípio para a produção leiteira, tendo sofrido depois vários
processos selectivos, visando uma melhoria na conformação da carcaça, no
aumento do teor em matéria gorda e proteína do leite, na forma do úbere
visando uma conformação própria para a ordenha mecânica, no aumento da
capacidade ingestão de alimentos e novamente o aumento da produção
leiteira.
116

O resultado de todos estes processos de selecção, é uma raça de grande


produção leiteira, com elevados teores de proteína e gordura, de boa
conformação e precocidade, de temperamento dócil, de úberes com grande
facilidade de ordenha, partos fáceis e grande capacidade de ingestão
alimentar, o que lhe permite atingir uma grande produção láctea.
A produção média numa lactação de 305 dias é de cerca de 11.000 kg,
com 3.93 % de proteína e 4 % de gordura. Foram registadas lactações de
17.000 kg de leite.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 28 a 33 kg
Peso dos touros 900 a 1200 kg
Peso das vacas 600 a 700 kg
Ganho médio diário 875 g

4.5.2- JERSEY - esta raça é originária da ilha do mesmo nome, situada na costa da
Grã-Bretanha. Estes animais são de pequeno tamanho, muito compactos, com
cornos pequenos, esqueleto fino e cascos duros e resistentes, atingindo em
média os machos o peso de 600-700 Kg e as fêmeas 350-450 kg.
A sua côr é a parda, desde o tom claro ao escuro, uniforme ou malhada
de branco, com círculos mais escuros à volta dos olhos, que são grandes e de
expressão doce.

Fig. 31 – Vacas da Raça Jersey

Foi seleccionada desde tempos imemoriais para a produção


manteigueira, possuindo um leite com 5,8 a 6 % de gordura, e 3,9 % de
117

proteína, produzindo em média cerca de 5.000 kg de leite por lactação de 305


dias.
As vacas possuem excelentes qualidades maternais, boa precocidade,
boa fertilidade, partos fáceis e boa capacidade de adaptação, possuindo os
vitelos uma carne muito apreciada. Os touros possuem caracter violento,
tornando-se muito agressivos entre si e em relação ao homem.
O leite destes animais, pela sua composição e pelo diâmetro dos seus
glóbulos de gordura é muito saboroso e a nata e a manteiga são igualmente
apreciados, de tal modo que estas vacas pelo elevado teor butiroso do seu
leite, ganharam a alcunha de "fábricas de manteiga". O elevado teor proteico
do seu leite, torna-o matéria prima para a indústria queijeira.
A sua capacidade de adaptação aliada à sua resistência, contribuíram
para a sua expansão geográfica, sendo explorada quer em raça pura, quer em
cruzamento, em muitos países da América Latina (sobretudo na América
Central), África, Ásia e Austrália.

4.5.3- HEREFORD - é originária do Condado de Hereford na Grã-Bretanha, sendo


conhecida desde tempos imemoriais pelo seu tamanho, resistência e aptidão
para a produção de carne, tendo o melhoramento desta raça sido iniciado nos
meados do séc. XVIII, por Benjamin Tompkins.

Fig. 32 –Toiro da Raça Hereford

São animais de perfil convexo, tamanho grande, de pelagem


característica vermelha com a cabeça branca e muito frequentemente um
listão branco longitudinal médio, desde a cabeça até à região lombar.
118

Esta raça é considerada em termos mundiais a mais importante raça


bovina para a produção de carne, com elevados ganhos médios diários,
possuindo uma carcaça bem conformada, com o inconveniente de
experimentar uma deposição precoce de grande quantidade de gordura
intermuscular e subcutânea, que pode atingir em relação ao peso da carcaça,
percentagens de 30 %. No entanto esta característica é apreciada pelos povos
de influência anglo-saxã. Estes animais atingem pesos de 700 a 1000 kg, os
touros e de 450-700 kg as vacas.
Estes animais são muito rústicos, sendo explorados em regimes variados,
mas sobretudo em regime extensivo, desde as montanhas dos EUA e do
Canadá sob intensos frios de Inverno, até às estepes áridas da Austrália,
passando pelas pampas Argentinas. As vacas têm partos fáceis e boas
qualidades maternais, dando leite suficiente para um bom crescimento do
vitelo.
Esta raça é utilizada quer em linha pura, quer em cruzamento industrial
com Bos indicus em regiões tropicais ou com Bos taurus em regiões
temperadas. Em cruzamento transmitem à descendência, a sua característica
cara branca e as extremidades igualmente brancas.

4.5.4- CHAROLAIS – entre nós designada de Charolesa, esta raça originária da


região de Charol, situada no Saône-et-Loire, em França. Era originalmente
uma raça de trabalho, que foi seleccionada no início deste século para a
produção de bois de trabalho, pesados e que demonstrassem facilidade de
engorda. Posteriormente sofreu novo processo de selecção, com vista à
especialização na produção de carne, apresentando grande desenvolvimento
do terço posterior.
Na actualidade é uma das raças especializadas na produção de carne,
mais apreciadas em todo o mundo, devido às suas características
melhoradoras, tendo contribuído para a formação de algumas raças modernas,
como a Santa Gertrudes e a Brahman americanas, sendo utilizada em
cruzamentos com Bos indicus e Bos taurus em mais de 70 países.
São animais compactos, de grande tamanho, pescoço curto e linha do
dorso horizontal, muito musculados, de pelagem branca uniforme, podendo
igualmente ser creme, apresentando mucosas claras e sem manchas.
119

Fig. 33 –Toiro da Raça Charolais Vaca e vitelo da Raça Charolais

Características produtivas :

Peso ao nascimento 47 kg
Peso dos touros 1000 a 1400 kg
Peso das vacas 700 a 800 kg
Ganho médio diário 1450 a 1550 g

As vacas desta raça têm excelentes qualidades maternais, com óptima


produção leiteira superior a 1700 kg de leite por lactação, possuindo
igualmente grande longevidade, dando frequentemente 10-12 vitelos na sua
vida útil, sendo a percentagem de nascimentos gemelares desta raça de cerca
de 4%.
Quanto à capacidade de produzir carne, o Charolês quando comparado
com as outras raças, dá as mais pesadas carcaças, com altas percentagens
de músculo e depósitos adiposos muito limitados, de gordura
predominantemente intermuscular (facto que muito contribui para a falta de
sapidez da sua carne), qualquer que seja a idade de engorda. Em cruzamento
transmite à descendência estas características.
Os vitelos desta raça com idades de 14 a 16 meses podem atingir
rendimentos de carcaça de 67,5 a 69 %.
O Charolais ou Charolês como é conhecido entre nós, é largamente
utilizado em cruzamentos, seja com raças leiteiras, seja com raças de carne,
no intuito de aumentar a produção de carne a partir de efectivos leiteiros ou a
partir de vacas de raças rústicas. No Brasil e na África do Sul, esta raça é
largamente utilizada em cruzamento industrial com zebús (Bos indicus),
120

transmitindo aos F1, um tal aumento de peso e precocidade, que estes


chegam a apresentar aumentos de 100 Kg de carcaça, em relação aos Bos
indicus puros, sendo abatidos um ano mais cedo.
Uma desvantagem da raça Charolesa em cruzamento industrial, é o peso
dos vitelos ao nascimento, o que a torna não recomendável para padrear
novilhas, pela quase certeza de dificuldade de parto que vão experimentar,
com as inerentes perdas económicas, representadas quer pela perda de
alguns vitelos e algumas vacas, quer pela conta de serviços veterinários.

4.5.5- LIMOUSINE - esta raça originária do Maciço Central Francês, teve origem em
animais de tiro de grande rusticidade, adquirida numa região de chuvas
abundantes e solos graníticos muito pobres.
São animais de grande formato, musculosos, de esqueleto fino e bons
aprumos, de pelagem castanho clara que é mais escura nos machos, e
mucosas claras sem manchas.

Fig. 34 –Toiro da Raça Limousin

As vacas desta raça têm fertilidade de cerca de 95 %, sendo o intervalo


médio entre dois partos consecutivos de 375 dias. Os partos são fáceis, em
grande parte devido ao tamanho da cria, mais pequena que as crias das
demais raças especializadas na produção de carne, característica que
transmite por cruzamento.
Como produtora de carne, esta raça é excelente, possuindo muito boa
conformação, grande precocidade, bom rendimento de carcaça e óptima
qualidade da carne.
121

Os animais desta raça têm a particularidade de manter uma composição


da carcaça constante, desde vitelos até à idade de 20-22 meses, com
moderado estado de gordura, intermuscular e intramuscular, sendo a carne
destes animais, considerada a mais sápida de todas.

Fig. 35 – Vacas e vitelos da Raça Limousin

Em cruzamento industrial transmitem as características de constância da


composição da carcaça, a grande velocidade de crescimento e o pequeno
tamanho do vitelo ao nascer. Esta última característica torna os touros desta
raça particularmente indicados para padrear novilhas de primeira barriga.
Devido a todas as características apontadas, esta raça é muito
procurada, encontrando-se difundida em mais de 50 países, sendo explorada
em cruzamento industrial ou em linha pura.

Características produtivas :

Peso ao nascimento 37 a 39 kg
Peso dos touros 1000 a 1200 kg
Peso das vacas 650 a 750 kg
Ganho médio diário 1390 g

4.5.6- SALERS - é outra raça originária de França, tendo o seu solar de origem na
região de Cantal, onde com o seu leite contribui para o fabrico dos queijos do
mesmo nome, que tornaram famosa aquela região. Tal como as outras raças
de origem francesa já estudadas, teve origem em animais vocacionados para a
produção de animais de tiro, posteriormente seleccionados para a produção de
carne.
122

São animais dóceis, grandes, robustos e rústicos, de pelagem vermelho


escura uniforme e cabos brancos.

Fig. 36 –Vacas da Raça Salers

Fig. 37 - Vaca da Raça Salers sujeita a ordenha manual

A capacidade leiteira desta raça é notável, sendo a média das lactações


em França de 2978 kg de leite em 271 dias, havendo registos de vacas que
produziram 4600 kg de leite no mesmo período. Na região de origem, esta raça
é explorada na função mista carne / leite, sendo comum uma vaca amamentar
o seu vitelo e simultaneamente outro como ama de leite.
Como produtores de carne, os animais desta raça são notáveis,
experimentando ganhos médios de 1350 a 1450 g, entre os 6 e os 12 meses,
apresentando rendimentos de carcaça, a frio de 64 % dos 14 aos 16 meses, e
pesos de carcaça de 380 a 400 kg aos 18 meses.
Devido às suas características produtivas os animais desta raça foram
exportados para vários países entre os quais EUA, Canadá, México, Espanha
e Portugal entre outros.
No nosso País esta raça assume grande importância, dado o grau de
mestiçagem que se verifica nas vacadas alentejanas, havendo muito poucos
123

exemplares de raça Alentejana que não possuam sangue "Salers", introduzido


na tentativa de melhorar a conformação e as "performances" maternais da
citada raça, na tentativa de manter a rusticidade perdida devido a cruzamentos
irracionais e desordenados.

Características produtivas :
Peso ao nascimento 39 a 43 kg
Peso dos touros 900 a 1200 kg
Peso das vacas 650 a 750 kg
Ganho médio diário 1350 a 1450 g

4.6- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BOVINOS

Os sistemas de produção de bovinos são diferentes conforme se considere a


produção de leite ou a produção de carne.

4.6.1- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE CARNE

Os bovinos para a produção de carne são provenientes, como atrás se disse,


de bovinos de raças vocacionadas para a produção de carne, de bovinos explorados
em aptidão mista trabalho / leite / carne e de bovinos provenientes de raças de
produção de leite.
Os bovinos de raças produtoras de leite utilizados para a produção de carne,
são provenientes de sistemas intensivos de produção de leite, nos quais os vitelos
machos e fêmeas são olhados como subprodutos da produção leiteira.
Os bovinos de raças de carne são provenientes das vacadas de raças rústicas,
exploradas em cruzamento industrial com raças pesadas especializadas na
produção de carne ou em linha pura, das vacadas formadas por vacas cruzadas
padreadas com touros de raças pesadas especializadas na produção de carne e
das vacadas de raças especializadas, sendo desmamados com idades
compreendidas entre os 7 e os 9 meses.
Os animais de raças exploradas em aptidão mista trabalho / leite / carne,
provêm das regiões onde impera o minifúndio, sendo os vitelos vendidos
precocemente para recria e engorda, para possibilitar a venda do leite.
As vacas de raças produtoras de animais destinados ao talho, são exploradas
em regime de pastoreio, que pode ser contínuo, diferido ou rotacional, recebendo
124

suplementação de farinha e feno, palha ou silagem, nas épocas de carência de


alimentos, que correspondem ao fim do Verão e princípio do Outono, em anos de
pluviosidade normal. Os partos devem realizar-se com intervalos de cerca de doze
meses.
Os vitelos machos e fêmeas após o desmame são submetidos a confinamento
em parques denominados "feed lots", separados por sexos, idades e pesos,
entrando numa exploração intensiva.
Neste sistema de engorda intensiva, os animais recebem uma alimentação rica
em energia e proteína à base de concentrados de cereais e proteaginosas com feno
e/ou silagem, que lhes permita exibir todas as potencialidades permitidas pelo seu
património genético, experimentando assim grande aumento de peso.
Normalmente os novilhos e novilhas estão preparados para o abate a idades
compreendidas entre os 14 e os 20 meses, sendo o seu peso tão variado quanto as
condições genéticas, de idade e ambientais o permitem.
Nas vacadas exploradas para a produção de animais destinados ao talho, o
tipo de reprodução largamente utilizado é a monta natural, em linha pura ou como
repetidamente se disse atrás, em cruzamento industrial com touros de raças
pesadas, especializadas na produção de carne.

4.6- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE

As vacas utilizadas na produção de leite no Mundo, são submetidas aos mais


variados tratamentos, consequência das condições locais, raça, condições
climáticas, etc. No entanto em traços gerais e qualquer que seja a situação, há
normas e preceitos zootécnicos que provavelmente em múltiplas situações, não
poderão pelas mais variadas razões, ser respeitados.
Como não se pretende fazer um estudo exaustivo de todos os sistemas de
produção de leite, o que seria desajustado do âmbito desta disciplina, iremos focar o
sistema intensivo nalgumas das suas inúmeras possibilidades, precisamente as que
são mais adoptadas na Europa Ocidental e na América do Norte.
O conceito de regime intensivo de produção de leite, compreende a
estabulação permanente e a semi-estabulação. As vacas exploradas neste regime
devem ter partos com uma periodicidade de doze meses, produzindo leite durante
dez meses e permanecendo seca nos dois meses seguintes, que antecedem o
parto, altura de maior crescimento do feto e de maiores necessidades energéticas,
125

proteicas minerais. O nível de produção na futura lactação depende muito do nível


de alimentação nesta época.
Estabulação permanente - neste regime as vacas estão, como o próprio nome
indica, permanente estabuladas, não saindo do estábulo senão para ir para o talho,
existindo várias opções :

- estabulação fixa - os animais permanecem presos a um local no interior


do estábulo;

- estabulação livre - os animais encontram-se soltos dentro de um recinto


limitado, sendo uma parte coberta, designada por área de repouso e
outra descoberta designada por área de exercício.

Semi-estabulação - é também designada estabulação mista e neste regime os


animais dispõem da possibilidade de se deslocarem a pastagens necessariamente
muito perto do estábulo, nas quais permanecem determinadas horas do dia,
recolhendo depois ao estábulo, que pode ser de estabulação convencional ou livre.
O sistema de pastoreio mais indicado nestas explorações é o pastoreio em faixas
A alimentação das vacas submetidas a sistemas intensivos de produção
leiteira têm uma alimentação muito rica em energia e proteína, à base de
concentrados de cereais e proteaginosas, com feno de boa qualidade, forragem
verde e/ou silagem, na tentativa de fornecer todas as possibilidades de exprimirem
na totalidade as suas potencialidades produtivas.
O tipo de reprodução quase exclusivamente utilizado é a inseminação artificial,
devendo no entanto haver em todas as explorações deste tipo um touro, que se
destina a cobrir todas as vacas que fazendo cio, não haja possibilidades de efectuar
a inseminação em tempo útil, a exemplo do que acontece aos fins de semana.
O facto de haver um touro para este fim na exploração pode representar um
enorme benefício em termos económicos, pois como se disse atrás, o cio das vacas
leiteiras é curto, e durante o cio, deve a vaca ser coberta ou inseminada. Se o não
fôr, somente fará cio dentro de 21-22 dias, período correspondente ao atraso na
data próximo parto e consequentemente do próximo período de lactação. Durante o
período adicional em que irá nessa circunstância permanece seca, a vaca terá que
comer e os empregados terão que ser pagos, recebendo o empresário menos
dinheiro proveniente da produção de leite.
126

A ordenha nestas explorações é feita mecanicamente, sendo o tipo da sala de


ordenha escolhido de acordo com as características da exploração nomeadamente
o número de vacas, o tipo de estabulação, etc.
Os vitelos podem mamar o colostro ou este ser-lhes apresentado em aleitador
artificial. Em explorações deste tipo os vitelos são considerados um subproduto e
como tal são olhados como concorrentes do empresário, na obtenção da matéria
prima, o leite. Assim ou são vendidos para explorações que se dedicam à cria de
vitelos ou são criados na exploração, sendo em qualquer dos casos submetidos a
aleitamento artificial com leite de substituição (farinha de leite, em pó, contendo
proteína vegetal, gorduras, vitaminas de síntese, etc.).
Posteriormente e a seu tempo serão recriados e engordados, destinando-se ao
talho, situação já focada no ponto respeitante à produção de carne.
É situação corrente fazer a inseminação de vacas leiteiras em explorações
deste tipo, com sémen de touros de raças especializadas na produção de carne,
para aumentar o peso dos vitelos e consequentemente a produção de carne.
Qualquer que seja a opção de produção, todas as decisões técnicas têm em
vista a maximização dos lucros, situação em que se insere a menor utilização
possível de mão-de-obra, no sentido de diminuir os custos fixos e variáveis da
produção.
127

5- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS

5.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os suínos pertencem à Ordem Artiodactyla, Sub-ordem Bunontia, Família


Suidae, Género Sus, Espécie scrofa e a várias Subespécies, entre as quais a Sus
scrofa ferus (javali Europeu), a Sus scrofa cristatus (porco selvagem Asiático) e a
Sus scrofa domesticus (porco doméstico) (Williamson e Payne, 1980).
A origem dos porcos domésticos é ainda hoje controversa, sabendo-se no
entanto que formas ancestrais dos suínos existiam há 40 milhões de anos.
Actualmente existem duas teorias contraditórias a este respeito, defendendo uma
que os suínos foram domesticados de modo independente em várias regiões,
enquanto a outra indica um centro de domesticação mais ou menos bem localizado.
Segundo esta última teoria, a domesticação desta espécie ocorreu na região
ocidental da Ásia, de onde se teria gradualmente dispersado para o Sudeste
Asiático, para a Europa e para a África. A confirmar parcialmente esta teoria, foram
encontrados vestígios de porcos domésticos em Cayöny na Turquia, mais
precisamente no Sudeste da Anatólia, os quais foram datados de 7000 a.C., sendo
anteriores a quaisquer outros vestígios conhecidos, destes animais em outros
lugares (Williamson e Payne, 1980).
Desde a mais remota Antiguidade que os suínos domésticos são apreciados
pelo Homem, sendo prova disso as ossadas de porcos domésticos encontradas nas
mais antigas estações pré-históricas e palustres.
Os Gregos atribuíam ao porco a amamentação de Júpiter e imolavam-no a
Ceres, Marte e Cíbeles enquanto os Romanos o incluíram nos baixos relevos
designados Suovitaurilia e o imolavam aos deuses, sendo considerado este animal
por estes dois povos, símbolo de abundância (Andrade, 1965).
O porco é tratado nos antigos livros Chineses, tal como na Bíblia e no Alcorão,
embora as referências a esta espécie nestas duas últimas obras tenha um cunho
negativo, pois proscrevem-no como animal imundo (Andrade, 1965). Supõe-se que
esta proscrição na Bíblia e no Alcorão, proviria de este animal ter sido julgado pela
civilização de então, como transmissor da lepra e da triquinose (Andrade, 1965 ;
Williamson e Payne, 1980). Na realidade porco nada tem a ver com a transmissão
da lepra, doença provocada pelo "bacilo de Hansen", sendo no entanto o
128

transmissor da Trichinella spiralis, agente da triquinose e do Cystircercus cellulosae,


forma larvar da Taenia solium. A transmissão destas duas parasitoses é motivada
pelo consumo de carne insuficientemente, cozinhada proveniente de animais
portadores (Leitão, 1979; Borchet, 1981 ; Soulsby, 1986).
Actualmente é muito vasta a dispersão geográfica de suínos selvagens e
assilvestrados (termo que classifica os animais domésticos fugidos à tutela humana
e que se tornaram autónomos), sendo geralmente aceite que todas as raças actuais
de suínos domésticos, derivaram de uma forma ou de outra de dois tipos selvagens
: o Sus vitatus (sinónimo de Sus scrofa cristatus) ou porco selvagem Asiático e o
Sus scrofa ferus ou porco selvagem Europeu, o qual pode ter existido no passado,
na Ásia Ocidental (Williamson e Payne, 1980).
Aceita-se hoje que alguns exemplares do tipo do Sus vitatus podem ter sido
introduzidos na Europa por criadores do Neolítico oriundos do Leste.
O que é hoje dado como certo, é que o porco Siamês (que é por vezes
identificado pelo nome específico de Sus indicus), foi introduzido na região do
Mediterrâneo na era Romana tendo sido utilizado em cruzamentos com porcos
locais, produzindo um tipo de suíno que mais tarde ficou conhecido por porco
Napolitano.
Mais tarde no fim do séc. XVIII porcos Chineses, crê-se que originários da
região de Cantão, foram introduzidos na Inglaterra (país na altura com fortes
relações com a China) e cruzados com os suínos de tipo antigo Inglês
caracterizados por serem pouco precoces, terem orelhas compridas e caídas, côr
amarelada ou vermelha acastanhada e pêlo áspero.
Estes suínos asiáticos tinham na sua maioria côr branca, havendo alguns
pretos e malhados, de orelhas pequenas e erectas, tendo a sua introdução razões
sediadas na sua grande prolificidade, grande rusticidade e boa precocidade,
associadas à capacidade de engordarem facilmente.
Alguns porcos Siameses foram importados pela Inglaterra na mesma altura,
sendo estes do mesmo tipo que os porcos Chineses, mas possuindo cerdas pretas
e pele acobreada.
Mais tarde porcos do tipo Napolitano, pretos e sem cerdas foram também
introduzidos em Inglaterra e cruzados com os tipos de porcos locais.
129

Foi do cruzamento de porcos Chineses, Siameses e Napolitanos, com os


porcos Ingleses de tipo antigo, que se originaram os ancestrais das modernas raças
de porcos Ingleses.
No período colonial da América do Norte, foram importados da Europa porcos
de tipo antigo Inglês, tendo os descendentes desses porcos sido mais tarde
cruzados com porcos Ingleses de raças modernas, bem como com porcos
importados do Sudeste Asiático e de outras partes do Mundo.
Apesar de haver suínos selvagens indígenas na Europa, na Ásia e
possivelmente no Norte e Noroeste de África, os suínos foram introduzidos pelo
Homem na América do Norte, América Central e América do Sul, nas Caraíbas, na
Australásia e nas ilhas do Oceano Pacífico e Índico, onde existem formas
assilvestradas.
Na actualidade os porcos estão distribuídos praticamente por todo o Mundo,
exceptuando-se as zonas áridas e as regiões em que as questões religiosas o
impõem, estando praticamente ausentes de todas as regiões do Mundo, de culto
Muçulmano.
Os Suínos são a terceira espécie doméstica mais numerosa a nível Mundial,
logo a seguir aos Bovinos e aos Ovinos, representando o seu número cerca de 30 %
do número dos ruminantes. O efectivo mundial de suínos está computado em
qualquer coisa como 800 milhões de cabeças, dos quais cerca de 120 milhões estão
sediados na Comunidade Europeia, correspondendo 73 % deste número à
Alemanha, França, Holanda e Dinamarca (FAO, 1991).

5.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

5.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Os suínos são monogástricos omnívoros, sendo de certo modo competidores


com Homem pelo alimento. No entanto não existe nenhuma espécie pecuária que
utilize tamanha variedade de alimentos, consumindo desde erva verde, bagaço de
uva, azeitona, bagaço de azeitona, bagaço de girassol e de outras leguminosas,
cascas, bolotas, glandes de sobreiro e de carvalho, castanhas, frutos secos, frutos
deteriorados, legumes, cereais alterados (e logicamente em bom estado),
tubérculos, raízes, silagens, soro de leite, lavagens de cozinha ou leitaria, farinha de
carne, farinha de peixe, farinha de sangue, gorduras, etc.
130

Devido a este ecletismo, o número de suínos é geralmente maior, onde a


comida humana é barata e existe em quantidade, e em todos os locais onde existam
grandes quantidades de sobras e subprodutos alimentares.
Os suínos em liberdade, pastam, ingerem cadáveres de animais abandonados,
caça miúda, ninhos, invertebrados, répteis, batráquios, fungos e toda a espécie de
bolbos e raízes que desenterram com o seu focinho terminado em tromba,
"ferramenta" com a qual removem incansavelmente a terra na busca de qualquer
possível fonte alimentar vegetal ou animal, detectados pelo seu apuradíssimo
olfacto.
Estes animais têm o sentido do olfacto de tal modo apurado, que são utilizados
em França na detecção de trufas, trabalho que conseguem desempenhar com
bastante êxito. As trufas são fungos que por vezes estão enterrados a mais de um
metro e meio de profundidade (diga-se a título de informação, que as trufas são
consideradas o alimento mais caro do mundo, atingindo um quilograma destes
fungos várias dezenas de milhares de escudos) e só uma grande com acuidade
olfactiva se consegue nestas circunstâncias detectá-las. Igualmente devido ao seu
olfacto, têm sido feitas várias tentativas de adestramento destes animais na
detecção de drogas, tarefa na qual se mostram superiores aos cães.

Existem actualmente suínos de raças modernas seleccionadas, que têm como


nenhuma outra espécie (exceptuando algumas aves), uma grande eficiência
alimentar (ou seja a capacidade de conversão de alimentos em substâncias
corporais, conceito inverso do índice de conversão definido como a quantidade de
alimentos necessários ao aumento de um quilograma de peso corporal), sendo a
quantidade de alimentos necessária para a obtenção de 1 kg de peso vivo, inferior a
2,62 kg, experimentando ganhos médios diários que podem ser superiores a 850 g.

Como monogástricos os suínos têm uma fisiologia digestiva totalmente


diferente dos ruminantes, caracterizada, no que ao metabolismo dos lípidos se
refere, pela inclusão dos ácidos gordos ingeridos na dieta, directamente nos tecidos
de reserva na forma em que foram ingeridos, não se verificando alterações em
termos de saturação/instauração, dos referidos ácidos gordos.
Este facto condiciona grandemente a qualidade do produto final, pois se os
lípidos provêm de alimentos alterados, isto vai reflectir-se nas qualidades
131

organolépticas da carne. Podemos então dizer que o sabor da carne de suíno é


substancialmente condicionado pelo alimento, de tal modo que se este contém
substância favoráveis, a carne é sápida, sendo o contrário igualmente verdade.
A título meramente ilustrativo, diremos, que esta característica é responsável
por três produtos muito apreciados, o "Presunto de Montado", os "Enchidos
Artesanais" e parodiando um pouco, a "Carne de Porco à Alentejana", prato muito
apreciado.

A "Carne de Porco à Alentejana" é um prato dito tradicional, que erradamente


se julga oriundo do Alentejo. Ora bem, como no Alentejo profundo não há amêijoas
e no Algarve as há, fácil é concluir que este prato será Algarvio, o que na realidade
acontece. O antigo manjar local, de amêijoas com carne de porco foi apelidado
deste modo, devido ao facto de a carne dos porcos criados à beira-mar ter um sabor
acentuado e desagradável a peixe, devido aos restos de peixe que consumiam,
circunstância que levava os utentes dos restaurantes a fugir do consumo deste tipo
de carne. Para pôr cobro a esta situação, importavam-se porcos do Alentejo e
anunciava-se em letreiros às portas dos restaurantes «Carne de porco Alentejano»,
situação que com o tempo converteu este anúncio no nome do citado prato.

Com os presuntos e os enchidos Alentejanos de cariz artesanal, acontece algo


similar mas pela positiva, pois o sabor tão apreciado nestes produtos, é-lhes
transmitido pelos ácidos gordos contidos nas bolotas, que devido à característica
dos suínos ibéricos genética de deposição de gordura intramuscular, adquirem
assim um sabor inigualável e muito apreciado.
Devem igualmente salientar-se os famosos presuntos de “Chaves" e de
"Lamego", os quais adquiriram a sua justa fama devido ao facto dos porcos de que
provêm, serem acabados à base de uma alimentação formada por castanhas, cujos
ácidos gordos são os principais responsáveis pelos sabores da sua carne.
Facto análogo se passa com o internacionalmente famoso "Presunto de
Parma" de proveniência Italiana, igualmente proveniente de porcos acabados com
castanhas.
132

5.2.2- COMPORTAMENTO REPRODUTIVO

As fêmeas dos suínos domésticos são politocas (têm ovulações e partos


múltiplos) e poliéstricas (cios múltiplos ao longo da época reprodutiva), de ovulação
espontânea, com reprodução não estacional, estando aptas para reproduzir-se ao
longo de todo o ano, processo que é somente interrompido pela gestação ou
disfunções endócrinas (McDonald, 1975 ; Hafez, 1988).
Puberdade
O aparecimento da puberdade é influenciado pela raça, nível nutricional, peso
corporal, estação do ano, doenças, parasitismo e práticas de maneio (Hafez, 1988).
As fêmeas atingem a puberdade entre os 190 e os 250 dias de vida enquanto que
os machos a atingem dos 150 aos 180 dias, aumentando a produção de sémen até
aos 18 meses (McDonald, 1975).
A fertilidade das fêmeas mantém-se por um período de 6 a 10 anos em regra,
altura a partir da qual se fazem sentir os sinais de senilidade que começam a afectar
a função ovárica (McDonald, 1975).
Os ciclos éstricos repetem-se de 19 a 23 dias, com média de 22 dias, sendo
mais curtos nas fêmeas jovens. O período do cio vai de 40 a 60 horas, tendendo
nas fêmeas jovens a ser mais curto que nas porcas adultas. A raça, a estação do
ano e anormalidades endócrinas afectam a duração do cio (McDonald, 1975 ;
Simões, 1984 ; Hafez, 1988).

Ciclo éstrico
Os sinais de que uma porca está em cio, são caracterizados por uma mudança
de comportamento em que os animais mostram inquietação, montando outros
animais da mesma espécie, apresentando a vulva congestionada e com descargas
de muco (McDonald, 1975 ; Hafez, 1988).. Um sinal inequívoco de que uma porca
está em cio é o facto de se imobilizar perante uma forte pressão exercida no dorso
(por exemplo o peso do tratador sentado sobre o dorso), fenómeno usado de forma
muito comum, na prática da monta dirigida e em alguns casos na inseminação
artificial (Hafez, 1988).
A ovulação tem lugar de 38 a 42 horas depois do começo do cio, acontecendo
cerca de 4 horas mais cedo nas multíparas que nas primíparas. O número de óvulos
libertados em cada cio está associado com a raça, número de cios, idade à cobrição
133

e peso à cobrição (Hafez, 1988). O número de óvulos regista um aumento até ao


terceiro cio, não tendo sido observados aumentos nos cios subsequentes
(McDonald, 1975; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).
A fertilidade dos suínos é geralmente elevada, superior a 90 %, verificando-se
amiúde mortalidade embrionária. Os embriões mortos nos primeiros estágios da
gestação são absorvidos, ocorrendo abortos se a morte embrionária se verifica
depois dos 50 dias de gestação (Hafez, 1988).

Gestação
A gestação nas porcas tem uma duração média de 114 dias (três meses, três
semanas e três dias), dependendo esta duração do número de fetos do número do
parto e da idade da fêmea, entre outros factores. Normalmente as porcas têm dois
partos por ano (McDonald, 1975 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).
Os tipos de reprodução praticados em suínos, são a monta natural e a
inseminação artificial.

Monta natural - este tipo de reprodução é praticada quase de modo universal, nos
sistemas extensivos. A modalidade mais utilizada nestes sistemas é a monta em
liberdade, utilizando-se um varrasco para 10 porcas.
Em explorações intensivas sempre que se verifica a monta natural, esta é
praticada na modalidade de monta dirigida, dado que o varrasco está numa boxe, à
qual se leva a porca logo que é detectado o cio pelo tratador, com base nos sinais
evidenciados pelo animal.

Inseminação artificial - este tipo de reprodução é utilizado em sistemas intensivos


de produção de porcos, sendo o seu procedimento nesta espécie similar em termos
gerais, aos referidos nos capítulos das espécies já estudadas.

5.3- RAÇAS DE SUÍNOS PORTUGUESAS

5.3.1- BÍSARA - é uma raça do tipo céltico, corpulenta, de dorso longo e convexo,
testa curta e chata, tromba comprida, orelhas grandes e pendentes sem cobrir
os olhos, de esqueleto espesso e pernas altas, sendo uma raça pouco
precoce, mesmo tardia e de difícil engorda.
134

O seu desenvolvimento completa-se somente por volta dos dois anos e


meio a três anos, atingindo pesos de carcaça da ordem dos 250 kg, com um
rendimento em carne magra de cerca de 50 %. É muito apreciada pela textura
da sua carne, pela sua prolificidade e corpulência.
Esta raça que dominou em toda a região a norte do rio Tejo, vive bem
quer em pocilgas quer em liberdade restrita, sendo tradicionalmente explorada
para consumo familiar, em número reduzido de animais, grande parte das
vezes somente um, aproveitando os restos da alimentação humana, a erva dos
lameiros, onde lhe permitem andar e umas quantas batatas cozidas, bem
como abóboras e outros legumes de sobra da alimentação familiar,
contribuindo esta alimentação pobre para a dificuldade em engordar.

Fig. 38 - Porco de Raça Bísara Porca e Leitões da Raça Bísara

Nas regiões em que predomina o castanheiro, estes animais são


acabados a castanha, o que confere uma grande qualidade à carne e aos
produtos com ela obtidos.
A raça Bísara Portuguesa tem duas variedades que são a Galega, de côr
branca predominando na raia Minhota e a Beiroa em geral de côr malhada e
disseminada por Trás-os-Montes, Beiras e Estremadura.
Esta raça em Portugal esteve praticamente à beira da extinção, devido a
ter sido submetida a cruzamentos, e ainda à concorrência das raças selectas
estrangeiras, possuidoras de melhores características produtivas,
nomeadamente mais precoces, e de fácil e rápida engorda. O aumento e
disseminação do uso dos alimentos concentrados, permitindo a obtenção de
135

animais mais pesados e com melhores características de carcaça, concorreu


igualmente de maneira decisiva para o abandono progressivo desta raça, em
benefício das raças estrangeiras.
Actualmente está a decorrer um programa de recuperação da raça,
patrocinado pela Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, que pensa-se
vir no médio prazo a reabilitar definitivamente esta raça tão característica do
Norte do País.

5.3.2- ALENTEJANA - apesar de como tal ser tratada, não se pode dizer de modo
absoluto que esta raça seja Portuguesa, dado que também existe em
Espanha, sendo aí estes animais designados de "Cerdo Ibérico".
Os animais desta raça registam uma certa variabilidade fenotípica,
sobretudo no tocante à côr, que pode ser preta ou avermelhada, à existência
ou não de número considerável de cerdas e à existência de maior ou menor
número de pregas de pele.

Fig. 39 – Porca aleitante da Raça Alentejana Porca com leitões da Raça Alentejana

São animais de estatura média, harmoniosos, deficientes em


comprimento e altura, com cerdas de comprimento médio, finas, pretas,
castanhas ou ruivas, de dorso curto, linha dorso-lombar rectilínea ou
ligeiramente enselada.
Possuem garupa curta, pouco larga e descaída em demasia e coxas de
deficiente espessura e comprimento, insuficientemente descidas, membros de
ossos delgados e curtos e patas medianamente desenvolvidas com unhas
rijíssimas.
136

São animais de deficiente precocidade, baixa prolificidade (5 a 6 leitões


por parto em média), com medíocre capacidade de aleitamento, baia
velocidade de crescimento e altos índices de conversão.

Fig. 40 – Porcos da Raça Alentejana na fase de acabamento

A carne dos animais desta raça é contudo possuidora de extraordinárias


qualidades organolépticas, que lhe são conferidas pela existência de gordura
intermuscular e sobretudo intramuscular, característica que lhe transmite
sapidez inigualável para consumo em fresco e sobretudo para a confecção de
produtos de salsicharia.

Fig. 41 – Porcos da Raça Alentejana em “Montanheira”

Engordam facilmente, possuindo uma capacidade de ingestão e


transformação tal, que podem duplicar o seu peso vivo num curto período de
60 a 80 dias. Cerca de 55 % do peso da carcaça pode ser constituído por
137

gordura (toucinho e banha), obtendo-se deste modo um baixíssimo rendimento


em carne.
No entanto e não obstante as características produtivas pouco favoráveis
atrás enunciadas, estes animais são possuidores de uma adaptação
inigualável às condições de alimentação e maneio a que têm sido sujeitos ao
longo de séculos.
Este suínos, são detentores de uma grande capacidade de
movimentação em pastoreio, de busca de água e alimento e de uma especial
capacidade para seleccionar a bolota, bem como descascá-la.
A sua adaptação ao campo é tal, que inclusivamente utilizam até as
zonas mais declivosas, possuindo uma rusticidade somente superada pelo
javali.

Características da raça :

Peso nascimento 1,250 kg


Peso aos 56 dias 10,450 kg
Peso adulto médio dos machos 150 – 180 kg
Peso adulto médio das fêmeas 110 – 130 kg
Prolificidade 6,24
Idade 1.º parto 12 a 14 meses

O produto final o "porco gordo", é consequência de três factores


principais :
a - Marcada tendência da raça para depositar gordura, a qual chega a
constituir 55 % da carcaça
b - Alimentação desequilibrada, pobre em proteína e fibra e muito rica em
hidratos de carbono, a qual deprecia a formação de músculo
c - Engorda tardia, quando o animal já é adulto, facto que impossibilita
qualquer incremento da sua massa muscular

Esta raça é tradicionalmente explorada desde tempos imemoriais, em


sistema extensivo, com abate entre os 18 e os 24 meses e apesar da
inigualável aptidão para rentabilizar os pobres recursos dos ecossistemas dos
montados de sobreiros e de azinheiras, tem vindo a desaparecer
progressivamente, mau grado a alta qualidade dos produtos de caracter
138

artesanal elaborados com a sua carne, nomeadamente o presunto hoje


denominado de "Pata Negra".
A diminuição drástica da raça Alentejana verificada nas décadas de 60,
70 e 80 do século XX não pode imputar-se a uma única causa, mas sim a
várias causas, contando-se entre elas:

1-a mudança de hábitos alimentares das populações, que reduziu


drasticamente o autoconsumo de porcos, devido ao cada vez mais reduzido
consumo de gordura, provocando forte descida das matanças familiares, ao
mesmo tempo que crescia a procura de novos produtos de salsicharia
industrial como fiambres, mortadelas, etc.;

2-o crescente desflorestamento sofrido pelos montados de azinheiras, cujos


terrenos foram hipotecados à cultura cerealífera, inserido numa política de
auto-suficiência de cereais, implementada no nosso País, que ficou
conhecida como “Campanha do Trigo”;

3-o encurtamento dos ciclos produtivos, com a utilização de raças estrangeiras


em regime extensivo, com abates a idades entre os 9 e os 12 meses;

4-a mecanização dos processos agrícolas, com diminuição do valor alimentar


dos restolhos e consequente aumento dos custos de produção de porcos de
raça Alentejana, devido ao ciclo de produção mais longo próprio desta raça,
frente às raças estrangeiras mais precoces, mais magras, e de maior
rendimento em carne, o que levou à consequente depreciação dos porcos de
côr escura;

5-a perda de rentabilidade dos montados, devido ao aparecimento da Peste


Suína Africana, que motivou a substituição do sistema extensivo por sistemas
de exploração intensiva em confinamento, nos quais as raças estrangeiras
são muito mais eficientes que a raça Alentejana.

A Peste Suína Africana é uma doença causada por um vírus cujas


características não permitem o uso de vacinas e cujo hospedeiro
intermediário é uma carraça, mais propriamente um ixodídeo, o
139

Ornithodorus erraticus, o qual tem fácil acesso aos porcos em regime


extensivo, sendo nestas condições impossível travar a disseminação desta
doença, que causa 100 % de mortalidade. Como meio de limitar os efeitos
drásticos e totais desta doença nos suínos, confinaram-se estes em pocilgas
fechadas, sendo a raça Alentejana neste sistema, claramente desvantajosa
frente a raças de suínos seleccionadas neste ambiente (Botija, 1963 a, b;
Botija e Botija 1965; Botija, 1982).

Actualmente, a situação da raça Alentejana é muito diferente, estando de


novo em recuperação, devido a circunstâncias relacionadas com a PAC
(Política Agrícola Comum) e à importância dada às raças tradicionais, situação
a que se alia o apreço atribuído aos produtos regionais de cariz artesanal e de
qualidade comprovada.

5.4- RAÇAS SUÍNAS ESTRANGEIRAS DE MAIOR DIFUSÃO

As raças suínas de maior importância a nível da produção mundial são a


"Large White", a "Landrace" e a "Duroc Jersey", sendo no entanto também objecto
deste estudo, devido suas características morfológicas e seu uso em cruzamento
com raças autóctones nalguns países, a raça "Piétrain".

5.4.1- LARGE WHITE - é uma raça Inglesa oriunda do Condado de York o qual deu
o nome à raça inicial. Os porcos autóctones sofreram a influência de porcos
Chineses e Napolitanos, nos finais do século XIX., tendo levado o resultado
destes cruzamentos e a consequente e contínua selecção morfológica, ao
estabelecimento de dois agrupamentos raciais :
Yorkshire - porcos brancos ou malhados de orelhas erectas e grande
desenvolvimento;
Leicestershire - porcos negros apresentando maior influência das raças
estrangeiras citadas.
140

Fig. 42 – Varrasco da Raça Large White Porca da Raça Large White

Do cruzamento entre animais oriundos destes agrupamentos raciais


surgiram três tipos de porcos : Small White ; Middle White ; Large White.
O tipo Large White hoje tratado como raça, consolidou-se e expandiu-se
em toda a Europa e EUA, constituindo actualmente 50 % dos reprodutores da
Europa Ocidental.
Possuem perfil côncavo, orelhas erectas, grande volume, linha dorso-
lombar recta, boa morfologia dos terços anterior e posterior, bons aprumos,
patas curtas, mamas bem implantadas com o mínimo de 6 de cada lado e
grande perímetro toráxico.
Características da raça :

Peso médio dos machos 400 a 500 kg


Peso médio das fêmeas 280 a 350 kg
Média de leitões desmamados/ano 20,2
Índice de conversão 2,7
Ganho médio diário dos 35 aos 90 kg 880 g

As carcaças dos animais desta raça são do tipo "pork", não sendo bem
conformadas, e não satisfazendo totalmente as exigências do mercado, pois
são espessas, relativamente curtas e sobretudo com "pouco presunto".
No entanto os porcos desta raça possuem muitas características
favoráveis, como as excelentes qualidades maternais, facilidade de adaptação,
boa rusticidade, altas fecundidade e fertilidade e boa qualidade da carne, pelo
que são muito utilizados em cruzamentos duplos, para obtenção de fêmeas
híbridas para reprodução, as quais por sua vez são cruzadas com varrascos de
outras raças.
141

5.4.2- LANDRACE - é uma raça de animais brancos, de origem Dinamarquesa,


resultante de cruzamentos e posterior selecção entre as raças de suínos
existentes naquele país. Foi exportada para toda a Europa, EUA e Canadá,
podendo dizer-se que uma grande parte dos animais em produção intensiva no
Mundo, possuem sangue Landrace.

Fig. 43 – Varrasco da Raça Landrace Porca gestante da Raça Landrace

Possuem perfil sub-côncavo, orelhas grandes, caídas, geralmente


tapando os olhos, linha dorso-lombar recta, excelente morfologia dos terços
anterior e posterior e pequeno perímetro torácico. Atingem um alto nível de
produção e são sexualmente muito precoces. A sua silhueta é afilada no
sentido dos anteriores e comprida, características apreciadas por muitos
criadores.
A característica que mais se destaca nesta raça é o comprimento,
havendo animais que possuem 16 e inclusivamente 17 pares de costelas,
existindo inclusivamente uma estirpe de origem Alemã denominada "Europa
16", devido a possuir 16 pares de costelas.

Características da raça :

Peso médio dos machos 350 a 450 kg


Peso médio das fêmeas 260 a 300 kg
Média de leitões desmamados/ano 19,7
Índice de conversão 2,8
Ganho médio diário dos 35 aos 90 kg 845 g

A carcaça dos animais desta raça é muito comprida, pouco gorda, muito
bem conformada, possuindo excelente desenvolvimento das massas
142

musculares dos terços anterior e posterior, sendo claramente uma carcaça de


tipo "bacon".
Pelas suas boas características é muito usada em cruzamentos quer
industrial, quer em cruzamento duplo, para obtenção respectivamente de
produtos para o talho e reprodutoras híbridas.

5.4.3- PIÉTRAIN - raça de origem Belga, possuindo os animais côr branca, com
grandes manchas negras e cinzentas, as quais dão um aspecto azulado a
certas partes do corpo. Possuem boa precocidade baixa e prolificidade (16
leitões desmamados/porca/ano).
Distinguem-se sobretudo pelo seu comprimento e pelas massas
musculares muito redondas, tanto no terço posterior como no anterior,
assumindo na porção caudal dos membros posteriores o aspecto designado de
"cullote" (grande desenvolvimento das massas musculares dando aspecto de
ter umas cuecas vestidas, daí o termo).
Os animais desta raça dão um grande rendimento quer de carcaça quer
em carne, devido à pouca quantidade de gordura subcutânea, intermuscular e
intramuscular, representando o expoente máximo das raças "bacon".

Fig. 44 – Varrasco da Raça Piétrain Porca gestante da Raça Piétrain

Apesar de todas as características apontadas, esta raça não está tão


difundida como seria de supor, pois além da baixa prolificidade, requer um
maneio difícil e devido à baixa quantidade de gordura que possui, a sua carne
é baixa qualidade, dura e de textura bastante "seca".
No entanto esta raça é muitas vezes utilizada em cruzamento duplo,
como elemento da linha macho, sendo cruzada com fêmeas de raças de
grande crescimento, boa qualidade da carne e boa prolificidade.
143

5.4.4- DUROC JERSEY – raça de origem Norte Americana, de côr avermelhada a


avermelhada escura, de aptidão mista, não podendo considerar-se uma raça
do tipo "pork" nem tampouco do tipo "bacon", sendo assim passível de ter as
duas utilizações.

Fig. 45 – Varrasco da Raça Duroc-Jersey

Teve origem em múltiplos cruzamentos de porcos americanos,


descendentes das raças Inglesas de tipo antigo e moderno, nos quais também
intervieram porcos ibéricos importados de Portugal e de Espanha. Os animais
oriundos do nosso País, eram da antiga linha “Ervideira”, os quais tinham
cerdas fartas e avermelhadas, razão pela qual alguns autores atribuem a cor
avermelhada dos animais Duroc Jersey a estes ancestrais.
Os produtos desses cruzamentos foram posteriormente sujeitos a uma
apurada selecção, possuindo hoje esta raça boa rusticidade, boa resistência
ao calor e uma carcaça muito magra, com um bom desenvolvimento muscular.
Actualmente animais desta raça, são utilizados em cruzamento com
animais de raça Alentejana, na tentativa de obter carcaças mais magras e
melhor conformadas, com maior "presunto". No entanto o cruzamento tem um
impacto negativo na qualidade do produto final, pois a carne dos animais
cruzados tem nítidas desvantagens organolépticas, quando comparada com a
dos animais de raça Alentejana, facto que como é lógico resulta numa menor
qualidade dos produtos com ela elaborados.
Apesar deste facto, experiências efectuadas por investigadores
espanhóis, provaram que a carne dos animais possuidores de sangue de
144

Duroc-Jersey numa percentagem não superior a 25 %, mantinha quase


intactas as características organolépticas indispensáveis para a confecção de
produtos artesanais de alta qualidade. Por este facto, é permitido pela lei
daquele país, a produção de híbridos, na citada proporção, destinada à
confecção de produtos designados de “Ibérico”. Este fenómeno tem maior
expressão em Espanha que em Portugal, pois a produção e o consumo deste
tipo de animais é muito superior no país vizinho.

5.5- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS

Os suínos são sobretudo explorados em sistemas intensivos e extensivos.

5.5.1- Sistema Intensivo

Em produção animal, qualquer sistema que vise uma intensificação (maior


quantidade de produto por unidade de área) sujeita os animais a um ambiente
artificial, confinado, promiscuo, muito diferente das condições naturais e por isso
conducente a situações de "stress".
Os animais estabelecem entre si hierarquias sociais, em que uns são
"dominantes" e outros são "dominados", sendo estes fortemente prejudicados pelos
"dominantes", devido à exiguidade das instalações que os obriga ao convívio
estreito.
Neste sistema existem explorações que se dedicam a vários fins, dependendo
das condições existentes nas regiões onde estão implantadas :
- explorações para produção de reprodutores de alto rendimento, em linha pura
ou cruzamento
- explorações produtoras de leitões destinados a engorda
- explorações de recria e engorda que compram animais às explorações de
tipo anterior
- explorações de ciclo fechado que executam todas as operações dos três
tipos anteriores

Para garantir o êxito de uma exploração intensiva, temos que ter instalações
em que o ambiente seja totalmente controlado nomeadamente em relação a:
145

- Temperatura - é um factor fundamental nas pocilgas, devendo manter-se


constante, variando o seu valor de 10 a 15 ºC em instalações de
reprodutores, 15 a 18 ºC em engorda e de 24 a 30 ºC em leitões, variando
neste caso as necessidades térmicas na razão inversa da idade. Para manter
a temperatura é necessário isolar paredes, tectos, pavimentos, portas e
janelas, havendo ainda necessidade de sistemas de aquecimento e de
sistemas conducentes a um abaixamento da temperatura sempre que
necessário.

- Humidade relativa - é um factor bastante importante, possibilitando o seu


controlo, evitar a existência de ambientes muito húmidos ou demasiado
secos. A condensação, formada em condições de humidade relativa elevada,
deve-se evitar a todo o custo visto criar condições favoráveis ao
desenvolvimento de fungos e de outros microorganismos, passíveis de
conduzir nomeadamente ao aparecimento de afecções respiratórias.
Por outro lado, ambientes muito secos conduzem a um aumento do
consumo de água e diminuição do consumo de ração, com consequências
desastrosas ao nível dos desempenhos produtivos.
Por estas razões é imperioso manter a humidade relativa entre valores,
que permitam evitar as situações atrás apontadas, valores esses que
dependem do tipo de animais utilizados (reprodutores 60-70 %, leitões 60 % e
animais em fase de engorda 60-80 %)

- Ventilação e velocidade de circulação do ar - são factores fundamentais no


controlo da temperatura e da humidade relativa, bem como das emanações
de amoníaco, provenientes das fezes e urina e de dióxido de carbono,
proveniente da respiração. A ventilação é conseguida com recurso a técnicas
de construção (ventilação natural) e a forçagem de ar (ventilação artificial),
devendo evitar-se a ocorrência de correntes de ar, que provocam
abaixamentos da temperatura e desconforto que se reflectem igualmente nos
desempenhos produtivos.

- Iluminação - é feita naturalmente (janelas, painéis, clarabóias) e


artificialmente (lâmpadas).
146

- Disponibilidade de água e alimentos - administrados segundo os esquemas


de maneio sendo a água ad libitum por meio de bebedores automáticos. A
alimentação dos animais explorados em sistemas intensivos deve ser rica em
energia, proteína, minerais e vitaminas, devendo proporcionar todos os
nutrientes necessários a um rápido crescimento e grande desenvolvimento
muscular.

- Todas as condições que interditem o acesso a insectos, roedores e outros


animais, inclusivamente o Homem, devendo existir no acesso às instalações
rodilúvios e pedilúvios, respectivamente para automóveis e pessoas (tanques
contendo líquido desinfectante pelos quais passam), redes mosqueiras nas
janelas e demais aberturas, devendo ser fortemente condicionado o acesso a
estranhos, pois todos os intrusos são passíveis de actuarem como veículos
de diversas doenças.

Por todas estas razões, os sistemas intensivos exigem um maneio cuidado e


difícil, com custos elevados, sendo de primordial importância ter instalações
apropriadas e usar animais com boa capacidade de adaptação a estas condições,
tão diferentes das condições naturais.
Para que sejam plenamente utilizadas as potencialidades de um sistema deste
tipo, é necessário "fabricar" o maior número de quilogramas de porco possível por
unidade de tempo, rentabilizando ao máximo as instalações. Estas são diferentes na
sua estrutura interna, tipo de maneio, valores de temperatura e de humidade
relativa, etc. segundo o tipo de produção :

- instalações de reprodutores - neste tipo de instalações tem que haver


instalações para machos, fêmeas vazias e fêmeas em gestação, existindo
necessariamente uma maternidade. As instalações destes animais, estão
separadas por categorias devido às necessidades específicas de cada grupo.
O arranjo interior de cada um destes tipos de instalações é diferente segundo
o conceito geral da instalação.

- instalações de recria - os leitões ficam com a mãe um período de tempo que


está dependente do tipo maneio e que pode ir de 21 a 60 dias, embora o
período mais corrente seja 30 a 35 dias. Após este tempo os leitões passam
147

ao período de recria, na mesma empresa onde nasceram ou noutra que se


dedique exclusivamente a compra de leitões para recria e engorda. A recria
estende-se até aos três meses, atingindo os animais no final desta fase
pesos da ordem dos 30-35 kg.

- instalações de engorda - a engorda pode durar em média até aos 6 meses de


idade, com pesos de 90 a 100 kg, sendo por vezes mais curta, atingindo os
animais neste caso pesos de 65 a 80 kg.
O peso a que os animais são abatidos é fortemente influenciado pelo
gosto dos consumidores, que ao preferirem carcaças mais leves ou mais
pesadas, condicionam a idade ao abate e consequentemente o seu tempo de
permanência na exploração, embora existam fortes razões económicas
radicadas na rentabilização das instalações, que limitam o tempo que os
animais podem permanecer nestas.

Os animais usados em Sistemas Intensivos pertencem a raças bem


conformadas, precoces, com fertilidade e prolificidade altas e boa capacidade de
adaptação a regimes confinados
Embora se possam utilizar raças puras na produção de animais para o abate, o
mais corrente é a produção de híbridos de duas ou três raças, usadas
respectivamente em cruzamento industrial e duplo, havendo certas vantagens em
relação às raças puras.
As porcas utilizadas em cruzamento duplo são híbridos F1, que são
posteriormente cruzadas com varrascos de outra raça, na busca das características
mais rentáveis, em função da procura de mercado (tipo de cruzamento está descrito
no Cap. 1).
Como exemplo usaremos uma situação em que se pretende obter porcos tipo
"bacon", com grande precocidade, pesos altos, carcaças magras, carne de boa
qualidade e em grande número. Iremos cruzar varrascos da raça "Land Race" com
porcas "Large White", para obter fêmeas híbridas com boa prolificidade, compridas,
de peso alto, boa qualidade da carne e carcaça mista "pork" / "bacon". Ao
cruzarmos estas fêmeas F1 com varrascos "Piétrain" de carcaça magra e má
qualidade da carne, vamos obter maior número de leitões, pois as porcas têm boa
prolificidade que lhe veio da raça mãe; grande precocidade de ambos os pais; peso
148

alto por parte da linha mãe; carcaças compridas por parte da linha mãe; carcaças
magras tipo "bacon" da linha pai e carne de melhor qualidade por parte da linha
mãe.

5.5.2- Sistema Extensivo

É um sistema em que os animais vagueiam pelos campos em busca de


alimento, recolhendo por vezes a um curral para passar a noite, regressando ao
campo pela manhã. Baseia-se no aproveitamento dos recursos naturais existentes
em grandes superfícies, de forma natural ou melhorada pelo Homem, como os
restos de culturas aproveitados durante o Verão, a poda dos montados, etc. sendo
característica deste sistema o consumo directo ou "a dente", como é igualmente
conhecido. O sistema tradicional de produção de porcos para abate, utilizado no
Alentejo e conhecido por "montanheira", é perfeitamente enquadrado neste
conceito.
Exceptuando quaisquer culturas específicas efectuadas para esse efeito, o
sistema extensivo em montado proporciona aos animais erva durante a Primavera,
que funciona como ração de manutenção, o aproveitamento dos restos das culturas
de cereais conhecidas como "restolhos", que são um recurso muito importante no
Verão e a bolota, fruto fornecido pelas Quercíneas, que são no Alentejo a azinheira
(Quercus rotundifolia), o sobreiro (Quercus suber) e o carrasco (Quercus lusitanica),
cuja maturação acontece de Outubro a Fevereiro.
Além dos recursos apontados, os porcos em regime de pastoreio consomem
uma grande variedade de alimentos quer de origem animal, como caça miúda,
ninhos, répteis, batráquios, insectos, vermes, gastrópodes, cadáveres, etc. quer de
origem vegetal, como todos os frutos, grãos, sementes, bolbos e raízes, quer ainda
outros alimentos como cogumelos e outros fungos.

5.5.2.1- Caracterização do animal obtido neste sistema

A raça indissociável deste Sistema e ao mesmo tempo produto dele,


rentabilizando os seus recursos como nenhuma outra é a "Alentejana".
No sistema extensivo a cobrição é efectuada, de modo que os partos se
realizem numa altura que permita o abate dos animais engordados em montanheira,
149

isto é de Dezembro a Fevereiro, com idades que vão dos 10 meses (portanto com
uma só montanheira) até aos 18-20 meses (com duas montanheiras).
O desmame faz-se usualmente aos 45 dias, com pesos entre 13 e 17 kg.
Cerca de um mês a mês e meio mais tarde, período durante o qual os leitões têm
uma alimentação à base de rações e aumentam o seu peso até aos 23 a 26 kg,
entra-se na fase da recria.
A recria é a fase que medeia entre o peso de cerca de 25 kg e a fase de
engorda. É um período extraordinariamente importante, pois é nesta fase que se
desenvolve o esqueleto do animal. Um porco bem recriado, deve ser um animal
comprido e magro, de ventre recolhido, submetido ao pastoreio e com desenvolvido
hábito de procurar o alimento no campo, exercitando deste modo a sua
musculatura.
A engorda é a última fase da vida do animal, a mais transcendental de todo o
processo, dependendo sobretudo dela, a qualidade atingida pelos produtos
elaborados com a sua carne, quer sejam frescos ou curados.
Como foi referido quando do estudo desta raça, a presença de grande
quantidade de gordura nas carcaças de porcos da raça Alentejana, deve-se além de
características genéticas desta raça, a características inerentes à espécie suína.
Obtêm-se deste modo animais com pesos que chegam aos 180 kg, um terço dos
quais é adquirido nos últimos 2 ou 3 meses de vida, durante a engorda em
montanheira.
Entre as razões conducentes a uma grande deposição de gordura durante a
fase da engorda, avultam o estado de enfraquecimento dos animais em termos
nutricionais, os quais quando submetidos a uma alimentação final intensa,
experimentam reposições diárias muito elevadas, bem como uma alimentação
deficiente em aminoácidos essenciais, pobre em fibra bruta e rica em lípidos e
hidratos de carbono, contribuindo em última análise, para canalizar grande parte da
proteína ingerida para a produção de gordura, além da produção de gordura,
motivada pela ingestão de grandes quantidades de hidratos de carbono lípidos.

5.5.2.2- Instalações

As instalações para reprodutores, para a recria e para a engorda são


diferentes das existentes no sistema intensivo. Assim temos :
- Instalações para reprodutores - podem ser de três tipos :
150

Sistema de "Camping" - com pequenas cabanas de secção triangular em


chapa galvanizada, com uma densidade de 10 cabanas por hectare no
interior de uma cerca, em que os leitões acompanham a mãe;

Sistema Funcional - com celas de alvenaria no interior de um pavilhão de


uma nave, com pequenos currais exteriores para exercício dos leitões;

Sistema Moderno - com estabulação permanente das fêmeas reprodutoras,


monta dirigida ou inseminação artificial, desmames precoces, etc. em tudo
similares às explorações intensivas de raças selectas;

- Instalações para animais de recria e engorda, que podem ser de


variadíssima natureza, constando usualmente de um telheiro fechado de três
lados, aberto na frente e com parque descoberto anexo.

5.6- PRODUÇÃO DE CARNE

A produção Mundial de carne de suíno estimada, é de cerca de 56 milhões de


toneladas, num total de cerca de 112 milhões de toneladas (número no qual não
figura a produção de carne de aves e coelhos, sendo assim responsáveis por este
número os bovinos, ovinos, caprinos e suínos ) (FAO, 1991), cifra que representa 50
% do total da carne produzida no Mundo.
Este facto é tanto mais espectacular se nos lembrarmos que 50 % da carne, é
produzida por 25 % do efectivo mundial de grandes animais, o que só é possível
pela prolificidade, velocidade de crescimento e elevado rendimento de carcaça
desta espécie.

O porco proporciona mais pratos comestíveis que qualquer outra espécie


animal. A carcaça de suíno possui grande quantidade de gordura, composta pela
gordura de cobertura designada "toucinho", a gordura cavitária chamada "banha",
além da gordura intermuscular e da gordura intramuscular.
Na carcaça estão incluídos a cabeça, rabo e patas, apresentando-se dividida
em duas meias carcaças estando a cauda na meia carcaça direita. As carcaças de
suíno são classificadas de acordo com uma Grelha Normativa Comunitária em cinco
151

classes, em função da sua conformação, comprimento e espessura de toucinho no


dorso.
A composição da carne de suíno pode variar, dependendo essa variação de
factores intrínsecos como a raça sexo, idade, parte da carcaça considerada, etc. e
de factores extrínsecos como o habitat, o maneio e a alimentação, entre outros.
Entre os factores intrínsecos, a raça é o factor de maior influência na
composição da carne, sobretudo no que se refere à quantidade de gordura, que é o
componente com maior peso em termos de sapidez. A quantidade de gordura é
sempre maior nas raças que não foram submetidas a selecção ou que o foram em
pequeno grau.
Na linguagem específica internacional, a carne de porco fresca é denominada
"pork" e uma vez elaborada ou curada é denominada "bacon". Estas designações
levaram com o tempo, a que as raças de porcos mais preparadas para produzir
cada um destes tipos de carne, tivessem adquirido a mesma designação do tipo de
carcaça que produzem.
Hoje, devido à procura crescente de carcaças magras, o mercado está virado
em grande parte para as carcaças de raças tipo "bacon", tanto para consumo em
fresco, como para indústria.

Dentro das carcaças de suínos, temos que distinguir entre carcaças


provenientes de raças com aptidão para a elaboração de produtos industriais, como
fiambres (da perna e da pá), mortadela, salsichas, filete afiambrado, galantina,
chouriços industriais, paio de lombo, bacon, presuntos, etc. e as carcaças
provenientes de raças com aptidão para a elaboração de produtos de cariz
artesanal, os quais embora possam ser produzidos em instalações industriais,
reproduzem na sua essência os processos artesanais.

As raças que produzem carcaças com um alto rendimento em peças nobres e


logicamente em carne, são preferidos pelos empresários da Indústria de Salsicharia
e Charcutaria. As peças nobres são neste caso, as que contêm as massas
musculares dos membros anteriores e posteriores, e ainda os músculos que formam
o lombo. São designadas de “nobres”, por serem as que possuem maior qualidade
em termos de peso, textura e sapidez, originando assim maior rendimento em
termos económicos. São estas peças que têm o maior peso no valor da carcaça, e
152

das quais se fazem o fiambre da pá e da perna e ainda o paio de lombo, que são de
longe os produtos mais valorizados.
Todas as outras peças que se podem retirar de uma carcaça de porco vão
entrar na confecção de produtos menos valorizados. Assim o toucinho da barriga
(músculos da parede abdominal e a gordura que os reveste) é utilizado na
confecção de bacon, enquanto todas as partes magras restantes e grande parte da
gordura, vão entrar na confecção de mortadela, salsichas, filete afiambrado,
galantina, chouriços industriais, etc. produtos de menor preço, sendo deste modo
muito menos valorizadas.
Os porcos de raças selectas, criados em explorações intensivas são
particularmente indicados para a confecção de produtos industriais de origem não
artesanal, devido ao facto de possuírem carcaças mais magras e com maior
rendimento em carne mas de pior qualidade da carne, menos sápida, sendo estas
características sobretudo de origem rácica.
Para o fabrico de produtos de cariz artesanal de qualidade reconhecida, estão
indicadas as carcaças provenientes de porcos de raças autóctones, que possuem
grande infiltração de gordura nas massas musculares e um inevitável excesso de
gordura de cobertura. Este facto que parece à primeira vista paradoxal, baseia-se no
facto de a gordura intramuscular, ser a principal responsável pelo sabor da carne.
Os produtos de origem artesanal por excelência são os presuntos da perna, os
presuntos da mão (chamados paletas) e os paios elaborados com os lombos
inteiros, chamados “canhas de lombo”, por curroptela da designação espanhola.
Se soubermos que os presuntos e as paletas destes animais, representam
respectivamente cerca de 14% e 9% do peso das carcaças, terão estes que ser
muito bem valorizados para que a actividade se mostre rentável, pois que o
toucinho, entrecosto e cabeças são vendidos a preços quase irrisórios para
consumo em fresco. Esta é uma das razões dos elevados preços alcançados pelos
produtos artesanais.
As qualidades gustativas destes produtos artesanais, residem segundo os
peritos, nos processos de laboração sem adição de substâncias químicas (além de
sal), na quantidade e composição e localização da gordura e nos processos
utilizados na maturação a que são sujeitos estes produtos e que faz parte do
processo de cura de cada um deles.
153

Enquanto a distribuição intermuscular e intramuscular relativa da gordura na


carcaça tem uma origem genética, a composição da gordura e a sua riqueza em
determinados ácidos gordos poliinsaturados, nomeadamente o ácido oleico e
linoleico, são motivados pelo tipo de alimentação. Estes dois ácidos gordos
poliinsaturados, constituem marcadores de origem, na actual acreditação destes
produtos, tendo que ultrapassar determinados valores mínimos, para os produtos
poderem ser considerados de origem em bolota. Este facto prende-se com a
condição de monogástricos dos suínos, nos quais recorde-se como característica
fundamental, a passagem ao tecido adiposo dos ácidos gordos, na forma em que
são ingeridos.
Na maturação destes produtos, principalmente dos presuntos e paletas, têm
lugar processos químicos muito importantes, causados nomeadamente pela acção
de fungos com acção lipolítica, assumindo os compostos intermédios resultantes da
lipólise, um papel decisivo a nível das qualidades organolépticas finais.
Como já foi referido, têm vindo a ser efectuados cruzamentos da raça
Alentejana com a raça Duroc Jersey, visando diminuir a percentagem de gordura
na carcaça, e aumentar o tamanho dos membros posteriores e anteriores, na
tentativa de obter maior peso de presuntos, paletas e lombos, o que se por um
lado se consegue, por outro lado desvirtua a qualidade destes produtos quando
provenientes dos animais cruzados, pois as qualidades organolépticas são
diferentes das apresentadas pelos produtos provenientes de animais da raça
Alentejana, ainda que com alimentação idêntica, devido à diferença de deposição
de gordura sobretudo intramuscular, mas também devida à diferente composição
do músculo, características de marcada origem genética (Pereda e Hoz, 1992).
Os presuntos de origem artesanal são constituídos por todo o membro pélvico
ou torácico com o pé e unhas, para supostamente comprovar a autenticidade de
proveniência da raça "Alentejana", visto que as unhas desta raça são negras, por
oposição às unhas da maioria das raças seleccionadas que são brancas, sendo
inclusivamente mais conhecidos pela designação de "pata negra".
O uso da raça Duroc Jersey representa uma vantagem para o vendedor pouco
escrupuloso, pois como os animais são pigmentados, possuem unhas pretas, facto
que possibilita no acto da venda dos presuntos e paletas, reeditar o eterno "gato por
lebre".
154

No entanto como atrás foi dito, é legal em Espanha (Portugal infelizmente não
possui legislação nesse campo), produzir produtos de cariz artesanal, a partir de
porcos híbridos, com 75% de Ibérico e 25 % de Duroc, facto que é motivado pela
pequena alteração da composição do músculo e da distribuição relativa da gordura,
quando este cruzamento é efectuado, em comparação com o Ibérico puro. Mas
apesar de legal, os produtos têm necessariamente de mencionar a raça dos animais
de que provêm, sendo o seu preço diferenciado.
155

6- NOÇÕES DE PRODUÇÃO DE COELHOS

6.1- ORIGEM E HISTÓRIA

Os coelhos domésticos têm a sua origem em exemplares domesticados do


coelho bravo europeu, (Oryctolagus cuniculus) o qual pertence à classe Mammalia,
ordem Lagomorpha e família Leporidae e género Oryctolagus, que compreende
duas subespécies, o Oryctolagus cuniculus cuniculus e Oryctolagus cuniculus
algirus (Ferrand et al., 1998).
A origem do coelho está hoje bem determinada, tendo os primeiros ancestrais
dos lagomorfos surgido na Ásia durante o Paleoceno, há cerca de 55 milhões de
anos, donde se expandiram para a América do Norte, tendo posteriormente
desaparecido do Continente Asiático. Durante o Mioceno surgiram na América do
Norte os primeiros leporídeos de que há vestígios conhecidos, os quais colonizaram
a Ásia através do estreito de Behring, tendo chegado assim à Europa. Neste
Continente há registos fósseis com cerca 5 milhões de anos, situados portanto no
Plioceno.
Os primeiros vestígios atribuídos directamente a Oryctolagus cuniculus,
apareceram há cerca de 900 mil anos no final do Pleistoceno no Sul de Espanha.
Depois da última glaciação esta espécie ficou confinada ao Sul de França e
Sudoeste da Península Ibérica, tendo sido nesta época que se deu a diferenciação
das duas subespécies conhecidas (Câmara, 1998; Ferrand et al., 1998).
Os fenícios chamaram à Península Ibérica “i-shephan-im” que significa “terra
de coelhos”, designação que depois de latinizada pelos Romanos deu origem ao
vocábulo “Hispania“ (Câmara, 1998; Ferrand et al., 1998).
Devido à acção humana esta espécie colonizou toda a Europa, a América e a
Oceânia (Croman, 1997; Ferrand et al., 1998).

A criação de coelhos era outrora uma actividade de tipo familiar, virada para o
autoconsumo e venda dos excedentes vivos, em mercados próximos.
Actualmente a produção de coelhos adquiriu um grande estatuto produtivo,
proveniente de uma orientação industrial da actividade, mercê de trabalhos de
índole genética, zootécnica e económica, que conduziram não só ao melhoramento
das raças existentes, no tocante a velocidade de crescimento, índice de conversão,
156

relação entre as partes posterior e anterior da carcaça, mas também a uma


selecção das raças que possuem uma melhor capacidade de utilização.

O coelho é actualmente um animal de grande interesse do ponto de vista


económico, assumindo tal importância, que a produção de carne de coelho era há
cerca de uma década da ordem de 300.000 toneladas em França, 100.000 ton. em
Itália, 50.000 ton. em Espanha, 30.000 ton. na Alemanha, 20.000 ton. na Inglaterra
e 3.000 ton. na Suíça (FAO,1991).

6.2- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE

6.2.1- COMPORTAMENTO ALIMENTAR

O coelho é um herbívoro monogástrico, com um grande desenvolvimento


intestinal, possuindo um intestino delgado com o comprimento entre 2 e 3 metros e
um intestino grosso que pode atingir até 3 metros no animal adulto. Tem ainda um
ceco bastante desenvolvido, o qual chega a ter uma capacidade de 600 centímetros
cúbicos, volume enorme num animal deste tamanho.
A característica mais marcante do comportamento alimentar desta espécie é
um fenómeno designado de coprofagia, que é um hábito instintivo que consiste no
consumo das próprias fezes. O coelho produz dois tipos de fezes, umas no período
diurno (das 8 às 16 horas) grandes e consistentes e outras no período nocturno (das
16 às 8 horas), pequenas, moles e revestidas de muco, que o animal recolhe
directamente do ânus com a boca. Este procedimento permite-lhe aproveitar ao
máximo as vitaminas do complexo B e o alimento em geral, aumentando a sua
digestibilidade.
O alimento do coelho é constituído por matérias vegetais, que um
monogástrico não pode de modo nenhum aproveitar eficientemente, devido ao facto
de grande parte da digestão da fibra bruta ser efectuada no intestino grosso, que
como é óbvio, possui uma fraca capacidade de absorção de nutrientes, perdendo-se
nas fezes os nutrientes resultantes dessa digestão.
A coprofagia é um comportamento inato, mediante o qual na prática, o coelho
tem a possibilidade de digerir duas vezes o mesmo alimento, conseguindo assim
aumentar drasticamente a absorção dos nutrientes resultantes da primeira digestão.
157

As fezes moles contêm 4 a 6 vezes mais vitaminas do complexo B que as


fezes duras, além de uma maior riqueza em nutrientes que está sintetizada do
seguinte modo :

Fezes Diurnas Fezes Nocturnas


Matéria seca (%) 58,9 29,3
Proteína Bruta (%) 10,7 32,3
Lípidos (%) 2,7 2,2
Fibra Bruta (%) 51,1 28,5
Cinzas (%) 5,2 7,9

(Adaptado de Ruiz, 1980)

Os coelhos consomem de bom grado todas as forragens e produtos hortícolas,


feno, sementes de oleaginosas, sementes de leguminosas e grãos de cereais, não
devendo ser-lhe administrado trigo ou se o fôr, só em pequena proporção, devido
aos transtornos digestivos que lhe provoca.
Este tipo de alimentação pode servir para coelhos destinados ao autoconsumo,
mas nunca para coelhos produzidos em explorações comerciais. A alimentação
neste tipo de explorações deve ser constituída exclusivamente por rações
formuladas e produzidas em fábricas, expressamente para esta espécie, sendo
suposto que o seu conteúdo está de acordo com as necessidades da espécie, para
as diferentes idades e tipos de produção, com as correctas quantidades e
proporções dos diversos nutrientes.

6.2.2- CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS

As fêmeas desta espécie são poliéstricas e politocas, mostrando as formas


selvagens alguma tendência para experimentarem quase que uma reprodução
sazonal, com duas épocas de reprodução principais, uma no fim do Inverno e outra
no início da Primavera. As fêmeas pertencentes a raças domésticas exploradas em
ambiente controlado, mostram actividade reprodutiva ao longo de todo o ano.
Os ciclos éstricos têm a duração de 15 a 16 dias, podendo a fecundação
realizar-se durante 12 ou 13 dias, sendo o primeiro ou os dois primeiros e os dois
últimos dias do ciclo infecundos. A ovulação nesta espécie não é espontânea mas
158

sim induzida, sendo desencadeada pela cópula e ocorrendo 8 a 12 horas após esta,
estando os óvulos em condições de serem fecundados durante 12 horas.
O tempo de gestação das coelhas tem a duração de 29 a 32 dias.

A puberdade nas fêmeas é alcançada nas raças pesadas aos 6-7 meses, nas
raças médias aos 5 meses e nas raças leves e nas híbridas aos 4 meses, enquanto
que nos machos ela é alcançada cerca de um mês mais tarde. Para que se proceda
a um correcto maneio reprodutivo, as fêmeas nunca deverão ser sujeitas à cobrição
com menos de 80 % do peso adulto.
Os machos devem ter uma alimentação de tal ordem que não lhes permita
engordar, pois esse facto faz com que diminuam o ardor sexual

A aceitação do macho pela fêmea verifica-se de uma forma cíclica, cada seis
ou sete dias e durante 1 a três dias.
A cobrição deve fazer-se levando a fêmea à jaula do macho e não o contrário,
pois este ao ser retirado da sua jaula, pode estranhar e não realizar a cópula.
O macho deve realizar dois saltos, devendo o segundo salto ser realizado 15 a
20 minutos após o primeiro, e se possível por um segundo macho, no sentido de
promover uma maior quantidade de óvulos fecundados.
Se a fêmea urinar nos 10 minutos seguintes à cópula, esta não deve ser
considerada válida por haver a possibilidade de os espermatzóides serem
eliminados com a urina. Os melhores momentos para a realização da cópula são ao
nascer e ao pôr do Sol.
Os maiores níveis de fertilidade obtêm-se na Primavera e no Verão.

Os sistemas de cobrição utilizados na produção de coelhos são a monta


dirigida e a inseminação artificial.
A inseminação artificial tem uma dupla vantagem, ao permitir diminuir a
quantidade de machos na exploração e permite fecundar no mesmo dia um grande
número de coelhas, tirando maior proveito de coelhos seleccionados, difundindo
assim as suas boas qualidades.
Uma ejaculação pode ser diluída de modo a fecundar 20 coelhas, pois contém
em média 250 a 300 milhões de espermatzóides, sendo dez milhões suficientes
para a fecundação.
159

A inseminação tem contudo a desvantagem, de muitas vezes ter que ser


totalmente efectuada na exploração, havendo grandes probabilidades de insucesso,
pelo grau de conhecimento técnico que exige.

6.3- CLASSIFICAÇÃO DOS COELHOS

O tamanho é o critério mais utilizado na classificação das raças e suas


variedades, dependendo do tamanho do esqueleto. O peso reflecte o crescimento
do todo ou de parte dos tecidos, devendo sempre tender para um perfeito equilíbrio
estrutural do animal, o qual mostra impressas na sua aparência, as suas faculdades
produtivas e de adaptação.
Em função do seu tamanho, os coelhos classificam-se em 5 categorias: Raças
grandes; Raças médias; Raças de pêlo característico; Raças pequenas e Raças
anãs.
Outras classificações podem ser efectuadas, baseando-se em três outros
critérios, a côr, a pelagem e o tipo do animal.
Para realizar a classificação segundo a côr dos animais, utiliza-se um modelo
de comparação, como elemento de categorização. São reconhecidos sete modelos
de coloração, nos quais se posicionam os diferentes padrões de côr: Cutia (pelagem
idêntica à de estes animais); Unicolores; Albinos; Himalaias; Prateados; Matizados e
Multicolores.
A classificação segundo o tipo de pelagem, permite agrupar os animais em
quatro grupos : Raças ditas de pelagem normal; Raças de pelo longo; Raças de
pelagem com carácter acetinado e Raças de pelagem com carácter rex (é uma
pelagem muito mais curta que o normal, tomando um aspecto de veludo).
Solução igualmente possível para diferenciar as características dos diferentes
grupos de raças, é classificá-las segundo o Tipo. O aspecto geral, o tamanho de um
coelho e o seu peso, formam as coordenadas do tipo do animal. Assim, podemos
classificar estes animais nos seguintes tipos: Tipo esbelto; Tipo cilíndrico; Tipo
cónico; Tipo ultraconvexo; Tipo encurtado ou brevilíneo e Tipo alongado ou
longilíneo.

6.3- PRODUÇÃO DE CARNE


160

A carne de coelho é como foi atrás referido, produzida em grande quantidade,


não correspondendo contudo as estatísticas à realidade, por nelas não ser incluída
a carne de coelho utilizada no autoconsumo familiar, que nas zonas rurais
representa uma quantidade importante.
Para a produção de carne são preferidas raças de grande precocidade, sendo
os coelhos preferencialmente vendidos com um peso médio de 2,2 Kg, atingindo um
rendimento de carcaça de 57 a 62 % com cabeça e possuindo um bom
desenvolvimento dos posteriores.
A carne de coelho possui o mais baixo nível de colesterol de todas as carnes,
tendo a mais baixa percentagem de gordura (10 %), a mais elevada percentagem de
proteína (21 %) e a mais elevada percentagem de minerais (1,2 %), frente às carnes
das outras espécies.

6.4- PRODUÇÃO DE PELES

A pele de coelho é muito apreciada para o fabrico de vestuário, sendo as peles


brancas preferidas, pela possibilidade de admitir qualquer tipo de preparação.
A qualidade deste produto pode ser afectada pela raça, densidade do pêlo,
estação do ano (sendo melhor no Inverno), alimentação, estado sanitário (existência
de peladelas motivadas por sarnas e feridas desvalorizam-na), sexo (a pele dos
machos é mais forte, mais pesada e mais difícil de trabalhar que a da fêmea), idade
(as peles dos láparos e dos animais velhos têm menos aceitação), etc.
Todas as raças produtoras de carne são acessoriamente potenciais produtoras
de peles, embora como é lógico, sejam mais valorizadas as raças especializadas
produtoras de peles.

6.5- PRODUÇÃO DE PÊLO

Existem raças de coelhos produtoras de pêlo, sendo a mais importante a raça


"Angorá". A recolha do pêlo faz-se por tosquia ou por depilação quatro vezes por
ano, sendo a depilação um processo preferível à tosquia, por permitir obter um pêlo
mais comprido e portanto mais valorizado.
A produção Mundial de pêlo deste tipo, anda à volta das 2.000 toneladas,
1.500 das quais provenientes da China.
161

O pêlo é utilizado no fabrico de abafos, geralmente misturado com lã de ovino,


sendo estes tecidos muito apreciados devido à sua textura macia e às suas
qualidades térmicas.

6.6- RAÇAS MAIS EXPLORADAS

Actualmente na produção industrial de carne de coelho, são quase


exclusivamente utilizados animais híbridos, dos quais existe grande variedade,
sendo os coelhos conjuntamente com as galinhas e os porcos e quase ao nível
destas últimas espécies, dos animais mais sujeitos a selecção e possuindo maior
número de híbridos e estirpes. Todas estas estirpes são provenientes de
cruzamentos entre as raças de maior produção, seguidos de selecção mais ou
menos intensas.
As raças puras de coelhos de maior disseminação e interesse na produção
racional são a "Gigante de Espanha", a "Fulvo de Borgonha", a "Borboleta", a
"Neozelandesa", a "Californiana" e a "Angorá".

6.6.1- COELHO COMUM - esta raça ou melhor dizendo este tipo de coelho, ganhou
o direito a figurar neste estudo devido à sua disseminação nos meios rurais e
ao papel que tem desempenhado na economia familiar, ao nível do
autoconsumo e dos mercados locais.

Fig. 46 – Exemplares de Coelho comuns.

Possui orelhas compridas, cauda de tamanho médio, pelagem de côr


cinzenta ou parda, unhas de côr parda ou negra, tamanho médio e peso entre
2,8 e 3,5 Kg, sendo uma raça de tamanho pequeno. Tem prolificidade baixa,
de 6 a 8 láparos por parto e é muito rústica, consumindo de tudo um pouco,
quer sejam cereais, legumes ou erva.
162

6.6.2- GIGANTE DE ESPANHA - é como o nome indica, originária de Espanha


sendo uma raça de tamanho grande que foi sujeita a selecção. Caracteriza-se
pelas orelhas grandes e largas, cabeça grande e acarneirada, e olhos grandes
côr rubi com membrana branca. A cauda é grossa, as patas são sólidas e
unhas pardas ou negras.

Fig. 47 – Coelho da Raça Gigante de Espanha

A pelagem pode ser de três cores fulva, branca ou parda. Possui peso variável
oscilando entre os 5,5 e os 8 Kg, com bons rendimentos de carcaça e boa
conformação. As fêmeas são muito prolíficas (9 a 12 láparos por parto), possuindo
óptimas qualidades maternais.

6.6.3- FULVO DA BORGONHA - é uma raça de tamanho médio, possuindo os


machos cabeça volumosa, que é mais pequena nas fêmeas.

Fig. 48 – Coelho da Raça Fulvo da Borgonha

As orelhas são fortes e abertas, tocado-se na base e os olhos são de


coloração cinzento acastanhada com pupila azul escura. As patas são fortes e
curtas e a cauda é direita encontrando-se encostada à anca. A pelagem desta
raça é de côr vermelho forte, apresentando-se as patas, cauda e região
abdominal de côr branca.
163

É uma raça de tamanho médio, com peso à volta dos 4 Kg, rústica e
prolífica, com boa conformação, sendo indicada para cruzamento com raças
puras para produção de animais com boas características de produção de
carne.

6.6.4- BORBOLETA - é uma raça de tamanho médio (5 Kg no macho e 6 Kg na


fêmea), cuja origem é controversa, pretendendo os Alemães, Ingleses e
Franceses para si a origem da raça.

Fig. 49 – Coelho da Raça Borboleta Francês

Tem uma papada desenvolvida, orelhas compridas, direitas e de côr


quase preta em toda a sua extensão, os olhos são castanho escuros rodeados
de uma mancha bem delimitada e simétrica de côr preta. A pelagem desta raça
é a sua característica mais marcante, pois é branca possuindo uma faixa
escura longitudinal no dorso e uma mancha no nariz muito característica,
fazendo lembrar uma borboleta.
A sua prolificidade é boa, tal como as capacidades maternais.

6.6.5- NEOZELANDÊS - esta raça é possivelmente a mais explorada no Mundo,


sendo produto de intensos programas de selecção. É uma raça de pêlo denso
e de coloração branca, olhos vermelho rosados, cabeça grande, orelhas de
tamanho médio e extremidades arredondadas. As patas são robustas, de
unhas brancas e a cauda direita e forte.
164

Fig. 50 – Coelho da Raça Neozelandês

Tem grande aptidão para a produção de carne, é muito prolífica, sendo


os animais dotados de grande precocidade, bem proporcionados, de dorso
amplo e anca arredondada, de tamanho médio com pesos de 4,5 Kg no macho
e 5 Kg na fêmea.

6.6.6- CALIFORNIANA - raça é procedente dos EUA sendo bem proporcionada,


sobretudo no dorso e lombos, de tamanho médio (4-4,5 Kg os machos e 4,5-5
Kg as fêmeas), sendo muito apreciada pela qualidade da sua carne e
conformação da sua carcaça. Possui pelagem branca, com orelhas, pata e
focinho pretos, nascendo contudo. as crias brancas. Tem boa prolificidade e
boas qualidades maternais.

Fig. 51 – Coelha e láparos da Raça Californeana


165

6.6.7- ANGORÁ - , atribui-se amiúde a sua origem à Turquia, embora nada o prove.
Esta raça é explorada para a produção de pêlo, devido ao alto preço alcançado
por este. Cada coelho dá em média 1200 a 1500 gramas de pêlo por ano,
sendo a produção de 1 Kg de pelo por cada 7 Quilogramas de carne.

Fig. 51 – Coelho da Raça Angorá Gigante Coelho da Raça Angorá Inglês

As fêmeas são de prolificidade média, não devendo contudo deixar-se


mais de quatro láparos por parto, devido à fraca produção de leite desta raça.
Os láparos são desmamados aos 2 meses de idade, fazendo-se nesta altura a
primeira recolha de pêlo, operação que se repete cada três meses.
As jaulas destes animais devem ter fundo em rede de arame, para evitar
o feltramento do pêlo e também que este se suje.

6.7- SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE COELHOS

6.7.1- TIPO DE INSTALAÇÕES


Temos que considerar na produção de coelhos a criação familiar para
autoconsumo e a exploração racional em ambiente controlado.
Quanto às primeiras, desprovidas de qualquer pretensiosismo, as instalações
vão desde gaiolas em madeira e inclusivamente até galinheiros, onde os coelhos
convivem com as galinhas.
Para as explorações racionais de ambiente controlado, as instalações mais
simples e funcionais são pavilhões de uma nave, com 8 a 12 metros de largura, e
um pé direito de 2,2 a 2,5 metros, sendo o comprimento variável. As instalações
deste tipo devem obedecer em termos de controlo ambiental, a quatro princípios
essenciais, que são de crucial importância nos processos produtivos :
- Os coelhos são menos sensíveis ao frio do que ao calor
166

- Ressentem-se bastante com as correntes de ar


- Sofrem bastante com a humidade
- Gostam de ver sem ser vistos

As variações térmicas diárias e anuais deverão ser pouco amplas e nada


bruscas, situando-se a temperatura ambiente óptima, entre os 18 e os 20 ºC nas
instalações de maternidade e cria e entre 15 e 18 ºC nas instalações de engorda
A humidade relativa deve situar-se entre os 60 e os 80 % e a ventilação deve
fazer-se com boa velocidade de entrada de ar, sem correntes de ar que devem ser
evitadas pelos efeitos nefastos que exercem na saúde dos animais e logicamente
nos níveis produtivos.
As instalações devem possuir sistemas de aquecimento e de ventilação que
permitam a renovação de uma quantidade de ar entre 1 e 4 metros cúbicos por hora
e quilograma de peso vivo, dependendo da temperatura interior da instalação.
Os animais devem estar em jaulas de rede metálica galvanizada de 1,8 mm de
diâmetro, que são adoptadas universalmente, pois permitem uma boa higiene e fácil
recolha das dejecções, devendo ser dispostas em baterias de dois ou três pisos
cada um constituído por uma gaiola ou em piso simples, sistema este que
logicamente ocupa muito mais espaço, o qual é um bem escasso, devido ao alto
preço das instalações e dos equipamentos. As dimensões das baterias variam
conforme o seu uso.

- As jaulas para coelhas de reprodução com ninhada podem ter 0,8 m x 0,5 m
x 0,4 m, podendo variar conforme o fabricante e a colocação de ninho,
interno ou externo. Como o fundo da gaiola é de malha metálica, o ninho de
dimensões de 0,3 m x 0,4 m x 0,3 m, deve conter palha ou aparas de
madeira, onde a coelha vai parir.
- As jaulas para machos reprodutores devem ser idênticas às das fêmeas para
facilitar a sua colocação no local. A normalização das dimensões das
gaiolas é uma das grandes vantagens deste sistema de baterias.
- As jaulas de engorda devem ser de tamanho suficiente para conter 12 a 15
coelhos após o desmame, não devendo ser ultrapassado o peso de 40 kg /
metro quadrado de piso. As baterias de engorda podem ter até 3 ou 4 pisos.
167

Fig. 52 – Planta de um pavilhão para produção intensiva de coelhos em jaulas

Fig. 53 – Corte de um Pavilhão para produção intensiva de coelhos em jaulas


É indispensável a existência de água limpa e de boa qualidade sempre em
sistema de ad libitum, pois as necessidades em água dos coelhos são muito
grandes. Para este efeito as jaulas devem estar providas de bebedouros
automáticos, colocados a uma altura que permita o acesso fácil aos láparos recém
desmamados. Estes bebedouros podem ser dos sistemas de gota de gota ou de
chupeta, disponíveis em metal ou plástico, sendo preferível usar os de metal, dado
que a propensão dos coelhos para roer é incontornável, sendo os de plástico mais
tarde ou mais cedo alvo dessa propensão e logicamente destruídos.
168

BIBLIOGRAFIA

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