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Apontamentos
de
Zootecnia
2003
2
NOTA DO AUTOR
Esta compilação, pelo carácter geral que norteia a abordagem das matérias nela tratadas,
Não está de modo nenhum aconselhada aos alunos de disciplinas, que pela sua especificidade,
exijam um estudo mais aprofundado, ainda que as matérias versadas nessas disciplinas, possam ter
ÍNDICE
Pag.
1. Conceitos Introdutórios 1
1.1. Noções Reprodutivas das Espécies Domésticas 1
1.2. Parâmetros Reprodutivos 8
1.3. Possibilidades Étnicas da Exploração Animal 9
1.4. Métodos de Fertilização 12
1.5. Pastoreio e Forragens 16
1.6. Estabulação Sistemas Exploração 20
1.7. Relações Animal / Ambiente 21a
BIBLIOGRAFIA 127
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1- CONCEITOS INTRODUTÓRIOS
A Zootecnia é uma ciência que em termos gerais se ocupa de todos os
aspectos que concernem à Produção Animal, estando incluídos nos seus aspectos
fundamentais o conhecimento dos comportamentos reprodutivo e alimentar das
diversas espécies exploradas pelo Homem.
Não sendo o objectivo desta disciplina, o estudo pormenorizado quer da
Reprodução Animal, quer dos Sistemas de Pastoreio e de Estabulação a que os
animais domésticos são sujeitos, torna-se no entanto necessário introduzir alguns
conceitos destas áreas, conducentes a uma total compreensão das matérias adiante
tratadas.
Anestro. O Anestro pode ser provocado por vários factores, entre os quais a
Espécie a que pertence o animal, o clima, doenças, desnutrição. Durante a
primeira fase da lactação, acontece em algumas espécies um anestro,
designado nesta situação anestro de lactação (McDonald, 1978 ; Hafez,
1988).
Época Reprodutiva
Fêmeas monotocas - diz-se das fêmeas pertencentes a espécies que por regra
dão à luz uma cria em cada gestação. A ocorrência de partos gemelares, não
invalida esta designação. Das espécies domésticas, são espécies monotocas os
Bovinos, os Ovinos, os Caprinos e os Equinos.
Fêmeas politocas - são as fêmeas pertencentes a espécies que por regra dão à luz
várias crias em cada gestação. Das espécies domésticas, são espécies politocas os
Suínos, os Coelhos e os Cães e os Gatos.
Fêmeas nulíparas - são as fêmeas de qualquer espécie que ainda não tiveram uma
gestação. Podem ser as fêmeas jovens ainda não submetidas à reprodução ou
fêmeas velhas que devido a variadas condicionantes ainda não tiveram uma
gestação.
Fêmeas multíparas - são as fêmeas de qualquer espécie que já pariram mais que
uma vez ou que se apresentam numa gestação de número superior a um.
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Índices Reprodutivos
Fonte : (Urries,1988).
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Em termos zootécnicos cada animal por si e cada raça são caracterizados por
determinados parâmetros produtivos, como a sua precocidade, a velocidade de
crescimento, a rusticidade ou a capacidade de produção de leite. Impõe-se deste
modo a introdução destes conceitos.
Precocidade - pode ser definida como o tempo que decorre até o animal atingir a
puberdade (precocidade reprodutiva), ou o estado adulto.
Ganho médio diário - é o peso diário ganho em média pelo animal em determinado
período, obtido por meio de duas pesagens, uma efectuada no dia inicial do período
considerado e outra no dia final do mesmo período. Este parâmetro obtêm-se
dividindo o ganho de peso total no período considerado, pelo número de dias do
período. Um animal será tanto mais precoce quanto maior for o seu ganho médio
diário, o que aumenta a sua velocidade de crescimento, verificando-se estarem
deste modo os três parâmetros intimamente relacionados.
espécie, teremos uma curva que começa com um valor inicial maior que zero logo
após o parto, tem uma fase ascendente a partir daí até um valor máximo (pico da
lactação), após o que vai decrescendo mais ou menos bruscamente até um valor
perto de zero (altura em que se desmama ou se deixa de ordenhar).
ao fim que norteou o cruzamento. A descendência das fêmeas F2 terá que ser
totalmente abatida devido aos distúrbios morfológicos e produtivos que a sua
heterogeneidade genética acarreta.
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À mão - consiste no despiste dos cios, isto é identificar as fêmeas em cio, usando
para isso um macho da mesma espécie, sem que se possibilite ao mesmo a
realização da cópula.
Nos grandes animais o despiste é feito por um macho conduzido por uma
corda, o qual se faz passar perto de todas as fêmeas, as quais se marcam depois
de identificadas.
Nos suínos, animais em que é visível o inchaço vaginal, leva-se essa fêmea ao
macho, podendo utilizar-se um artifício que consiste em o tratador sentar-se sobre o
dorso da porca, a qual se estiver em cio imediatamente se imobiliza.
Nos pequenos ruminantes o despiste é efectuado por um animal equipado com
um arreio marcador com almofada de tinta e impossibilitado de praticar uma cópula
fértil, como seja o caso de machos vasectomizados, machos criptorquídios ou
animais usando um avental. Este último caso é o mais falível pois o carneiro com
avental sabe que não pode cobrir e que se magoa ao tentá-lo e pode defender-se
não saltando a ovelha, não se ficando por isso a saber se esta se encontra ou não
em cio, correndo-se o risco de este passar e a fêmea não ser marcada.
Depois de marcada por meio do arreio marcador a ovelha é retirada e
introduzida numa divisão onde se encontra o carneiro seleccionado para realizar a
cópula.
Homeotermia
Os animais domésticos são homeotérmicos, isto é tendem a manter uma
temperatura corporal constante, reagindo para isso às variações externas de
temperatura, para o que se servem dos chamados "mecanismos homeotérmicos".
Estes mecanismos têm a função de estabelecer um balanço calórico entre o calor
produzido e o calor perdido, conduzindo assim a variações da temperatura corporal,
sempre que há alterações deste balanço.
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Incremento de calor
(efeito calórico da comida)
Energia Limpa
(manutenção e produção)
Termorregulação
A regulação da temperatura corporal envolve respostas fisiológicas e de
comportamento. Quando o animal está sujeito a um ambiente de temperatura mais
baixa que a sua temperatura corporal, de acordo com as leis físicas de transferência
de calor, mais calor é removido do seu corpo. Se este processo continuar sem
nenhuma compensação fisiológica a temperatura corporal descerá inevitavelmente.
No entanto o animal pode compensar esta perda de calor, aumentando a sua
produção interna ou reduzindo as suas perdas.
As perdas de calor podem ser reduzidas através de uma diminuição da
superfície de pele exposta, através de uma cobertura de pêlo ou penas, diminuindo
as perdas por evaporação, diminuindo a área exposta ao ambiente e se está alojado
em grupo, promovendo o ajuntamento.
A produção de calor é regulada por mecanismos tais como o tremer,
alterações do tónus muscular e secreções de glândulas endócrinas, que aumentam
a produção de calor metabólico.
Os animais homeotérmicos realizam estes ajustamentos através do sistema
nervoso central podendo-se distinguir dois tipos de respostas, do comportamento e
fisiológicas.
Respostas do comportamento que envolvem :
Movimentos do animal
Ajustamentos de postura
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Agrupamentos
Trocas na ingestão de água e comida
Homeotermia e idade
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A taxa metabólica - que é a produção de calor por unidade de tempo, não está
directamente relacionada com o peso corporal, existindo sim uma relação entre o
tamanho corporal e a quantidade de calor produzida por m 2 de área superficial.
Factores ambientais
dentro de uma certa gama e o rendimento obtido as produções (carne, leite e ovos)
nessas condições.
Em termos produtivos, "o bom é inimigo do óptimo", significando isto que
regra geral, não se torna rentável assumir os custos da manutenção de uma
temperatura ambiental óptima, pois esses custos não são compensados em termos
económicos, pelo aumento de produção experimentado pelos animais ao serem-lhe
fornecidas as melhores condições ambientais.
Por outro lado existe uma série de relações entre distintos parâmetros, como a
humidade relativa e a velocidade do ar, que interferem em conjunto, diminuindo ou
aumentando o efeito das altas ou das baixas temperaturas.
Velocidade do ar
Um aumento de velocidade do ar a baixas temperaturas faz baixar a
temperatura, implicando um aumento do dispêndio de energia para a conservação
da temperatura corporal, devido ao aumento das perdas de calor que originam, o
que na prática se traduz num aumento da ingestão alimentar, para fazer face ao
incremento de gasto energético. Logicamente, a diminuição da velocidade do ar leva
a menor gasto de energia para o mesmo fim, ficando maior quantidade da energia
ingerida para a produção.
Humidade relativa
Um aumento do teor de humidade relativa do ar faz diminuir a possibilidade de
perdas por evaporação por parte dos animais, dificultando deste modo um
abaixamento da temperatura, através da evaporação.
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- Superfície corporal
- Revestimento corporal e condutividade térmica.
- Balanço Hídrico
- Condições climáticas
- Raça
- Sexo
- Modo de vida
- Superfície corporal
A medição tridimensional da superfície corporal permite estimar a produção e a
dissipação de calor. Quanto maior fôr a superfície corporal, maior será a dissipação
de calor quer sensível, quer latente. A taxa de calor transmitido a partir de um corpo
é proporcional à sua superfície corporal, sendo igualmente importantes a sua forma
e o seu peso.
Quanto maior fôr a razão entre a superfície corporal e o peso de um animal,
maiores serão as perdas de calor.
A razão entre a superfície corporal externa e o peso vivo aumenta quando o
peso vivo diminui, sendo maior nos animais mais pequenos, os quais perdem assim
mais calor, isto dentro da mesma raça.
Os bovinos da espécie Bos indicus, são mais resistentes ao calor, entre outras
razões pôr terem muitas pregas na pele, possuindo uma superfície corporal superior
em 12 % em relação aos da espécie Bos taurus e dissipando assim maior
quantidade de calor.
- Revestimento corporal e condutividade térmica
No corpo de um animal a temperatura não é homogénea, pois que a nível do
pêlo, pele, zona subsuperficial, rectal, do aparelho respiratório, do sangue, etc.
aquela varia, possuindo cada componente corporal uma determinada condutividade
térmica, oferecendo desse modo várias resistências à passagem de calor, da qual
depende em última análise a transferência de calor das zonas internas para a zona
superficial.
O pêlo dá certo grau de isolamento, dependendo este do tipo de pêlo, sua
orientação, espessura, comprimento, inserção na pele, e da relação entre a inserção
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- Balanço Hídrico
A quantidade de água ingerida pelos animais depende também da temperatura
ambiente, estando o vapor de água expirado, relacionado com o consumo de água
e as perdas de calor.
- Condições climáticas
Dentro dos limites fisiológicos o aumento da temperatura tende a diminuir as
perdas totais de calor, favorecendo mais as perdas de calor latente que sensível.
A humidade tem igualmente influência sob as perdas de calor a temperaturas
elevadas. A temperaturas ambientais superiores à temperatura corporal, o
movimento do ar ao aumentar o transporte de calor do meio para o organismo,
tende a reduzir as perdas de calor.
Pelo contrário a baixas temperaturas do ambiente, o movimento do ar favorece
as perdas pôr convecção. Nesta situação, o animal perde facilmente calor sensível.
No entanto isto em termos de perda de calor total, é compensado pôr uma redução
na produção de calor latente.
A temperaturas elevadas há mais dificuldade em perder calor sensível,
acelerando-se o ritmo cardíaco-respiratório e aumentando a perda de calor latente
pela transpiração.
- Raça
Tem muita influência no comportamento do animal em termos ambientais, em
termos da produção de calor metabólico, havendo diferenças interrácicas muito
significativas, da ordem dos 5-10%, sendo o que se verifica nos bovinos de carne
em relação aos leiteiros.
- Sexo
O metabolismo basal e logo a produção de calor, é superior nos machos em
relação às fêmeas e machos castrados, sendo de 5% em bovinos e de 10% em
coelhos.
- Modo de vida
O pastoreio aumenta as necessidades de manutenção em relação à
estabulação fixa, sendo este facto conhecido como incremento da actividade.
Os outros factores que influenciam a produção de calor ao nível da
conservação. também influenciam a produção de calor ao nível das despesas da
produção.
Entende-se por produção o crescimento e engorda, a gestação, a produção de
leite, de lã, de ovos e de trabalho.
Semi - Estabulação
Este sistema é muito utilizado nos países frios do Norte da Europa, durante o
Inverno nas condições em que o solo se encontra totalmente coberto de neve, tendo
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selectivos são-no muito menos do que os caprinos, o que por conseguinte os torna
mais aptos para um melhor aproveitamento de pastagens à base de plantas
herbáceas.
As 24 horas do dia, grosso modo, são passadas 9-11 horas a pastar, 8-10
horas a ruminar e as horas remanescentes a descansar, isto em condições de
alimento abundante, alterando-se estas proporções sempre que se alterem as
condições de disponibilidade alimentar.
Puberdade
Os ovinos atingem a puberdade cerca dos 7-8 meses nos machos e entre os 5
e os 7 meses nas fêmeas, havendo variabilidade quanto a este evento entre raças e
dentro da mesma raça, podendo ser condicionado o seu aparecimento pelo clima,
estação reprodutiva e efeitos da nutrição, condicionando esta o início da puberdade,
sobretudo pelo peso vivo e pela condição corporal, esta designada amiúde por
"estado de carnes". Esta situação nas fêmeas, corresponde na prática e para este
fim em boas condições de nutrição, a uma percentagem entre 40 a 60% do peso
vivo adulto da raça, sendo esta condição considerada imprescindível para que se
verifique a passagem ao estado fértil. Na prática corrente encara-se a percentagem
de 65% do peso vivo adulto, como o peso considerado correcto, para que se inicie a
reprodução de modo efectivo e viável.
Estacionalidade reprodutiva
As fêmeas dos ovinos domésticos são poliéstricas de ovulação espontânea,
apresentando vários ciclos éstricos consecutivos ao longo da estação reprodutiva,
com duração média igual a 16,5 dias, tendo os cios a duração de 24 a 36 horas.
São considerados animais de "fotoperiodismo negativo", o que significa que entram
em cio quando as condições de luminosidade diária começam a diminuir, ou seja no
fim do Verão / início do Outono.
As raças de ovinos originárias das regiões mais frias do hemisfério Norte
apresentam estacionalidade sexual bem marcada, facto que tem uma simples
explicação em termos puramente biológicos, já que os borregos vão nascer durante
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Gestação
A gestação nos ovinos tem a duração média de 5 meses, sendo a sua duração
tanto menor quanto maior o número de fetos. As fêmeas dos ovinos são monotocas,
sendo no entanto comuns os partos gemelares, experimentando o número de fetos
importantes variações interrácicas e interindividuais dentro da mesma raça. Apesar
destas diferenças, os partos são normalmente simples na maioria das raças, mas,
mesmo nas raças menos prolíficas é frequente a ocorrência de partos múltiplos.
Podemos assim dizer que o número de fetos é mais influenciado pela raça que pela
a espécie em si.
Sistemas de Reprodução
A reprodução dos ovinos pode fazer-se em sistema de monta natural, nas
suas diversas variantes, ou por recurso à inseminação artificial.
Nos sistemas extensivos de produção de carne é normalmente utilizada a
monta natural, em de liberdade.
Quando se trabalha com raças puras para a obtenção de reprodutores, é
muitas vezes utilizada a monta natural condicionada em lotes ou à mão.
Nos sistemas de produção de leite em grandes efectivos utiliza-se
preferencialmente a inseminação natural.
carcaça
carcaça
carcaça
Os animais de refugo são todos os adultos que ou por terem terminado a sua
vida útil produtiva por idade, transtornos reprodutivos ou produtivos (caso das
ovelhas leiteiras que tiveram mamites irreversíveis), são destinados ao abate.
Água 80,8 %
Matéria gorda 7,7 %
Lactose 4,4 %
Proteína 6,0 %
Sais minerais 0,9 %
Densidade a 15 ºC 1,038
2.2.3.3- PRODUÇÃO DE LÃ
aptidão. Se no passado ela representava uma riqueza para o agricultor, hoje quase
não passa de um incómodo, dado que a sua obtenção se não ocasiona prejuízo,
origina um lucro insignificante, devido ao facto de o produto da sua venda na
generalidade dos casos, não cobrir os encargos da tosquia. Esta operação no
entanto torna-se indispensável pelos prejuízos advindos aos animais pela sua não
realização. Têm sido estudados métodos que evitem a tosquia, nomeadamente com
recurso a fármacos, os quais pura e simplesmente ocasionam a queda da lã,
levando no entanto a que em certas ocasiões, esta fique espalhada pelos terrenos,
ficando temporariamente os animais com o aspecto insólito de ovinos com "pele de
porco".
O corpo dos ovinos é recoberto por uma camada de lã que no seu conjunto
tem o nome de "velo" e cuja função é proteger o animal das variações de
temperatura e de outros elementos climáticos a que o mesmo está sujeito.
O velo é um conjunto de fibras lanares de dois tipos : as primárias e as
secundárias, produzidas pelos folículos primários e secundários existentes no
interior da pele dos animais, os quais dão origem respectivamente às fibras lanares
primárias de maior diâmetro e meduladas e às fibras lanares secundárias, mais
finas.
Cada fibra compõe-se de uma raiz e de uma haste. Esta haste que constitui a
porção têxtil, é revestida de escamas sobrepostas que lhe dão um aspecto rugoso,
conferindo à lã as qualidades têxteis que permitem a fabricação de fios, com os
quais se fabricam os tecidos. A presença das fibras primárias meduladas constitui
um factor de desvalorização do velo, que será tanto pior quanto menor fôr a
proporção entre fibras secundárias e fibras primárias, sendo num velo merino de 15-
20 / 1 e num velo cruzado de 2-8 / 1.
Externamente as fibras lanares estão cobertas de uma substância gordurosa
designada "suarda", resultante das secreções das glândulas sudoríparas e
sebáceas conferindo à lã maior ou menor maciez e impermeabilizando-a ao mesmo
tempo. No velo existem ainda outros filamentos que são os pêlos, caracterizados
pela ausência de ondulações e crescimento descontínuo, os quais não possuem
qualidades têxteis, nem admitem serem tingidos, pelo que têm que ser eliminados
antes da fiação, pois a sua presença desvaloriza o "velo".
As lãs caracterizam-se por vários elementos classificativos entre os quais se
destacam a finura, o comprimento, o frisado, a resistência e elasticidade, o toque e
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a côr, mas de forma principal é a finura que determina a classificação das lãs, que
entre nós se classificam em merinas (com espessuras compreendidas entre 12 e
27 microns), cruzadas (com espessuras compreendidas entre os 25 e 36 microns) e
churras (com diâmetros superiores a 30, 50 ou mais microns).
Cada uma destas divisões comporta ainda algumas subdivisões, como as
extra, fina, média e forte para as lãs merinas ; prima, cruzada fina, média e comum,
para as lãs cruzadas ; lustrosa, churra super e churra ordinária para as lãs churras.
Tosquia - era feita no passado à tesoura, sendo hoje efectuada com o recurso a
máquinas de tosquiar mecânicas ou eléctricas, estando estas mais difundidas
devido ao maior rendimento que possibilitam.
Os velos após a tosquia devem ser enrolados e libertados de todos as porções
que mostrem defeitos, bem como de todos os corpos estranhos, como palhas etc.
A lã proveniente das cabeças e barrigas, designadas na gíria por "apartes",
não deve ser incluída no velo pois vai desvalorizá-lo, devendo ser armazenada à
parte, o mesmo acontecendo com a lã da parte traseira do animal designada por
"rabejas", devido a estar conspurcada com fezes e urina, levando a fermentações
microbianas no velo, daí resultando desvalorização das fibras lanares. Deve dizer-se
em abono da verdade que esta regra não é sempre seguida, pelo que constitui
como se disse, mais um factor de desvalorização da lã produzida no nosso País.
Apesar de a situação do nosso país em relação à lã ser caótica e esta pouco
valorizada, em parte pela deficiente homogeneidade dos lotes devido à sua
elaboração e pela baixa qualidade de uma grande parte da produção, na Austrália
criam-se animais exclusivamente para a produção de lã. Isto não significa que neste
país, que possui o maior rebanho ovino do Mundo, não se faça produção de carne,
mas esta tem uma ínfima importância no âmbito da sua produção ovina total. Como
explicação sumária desta afirmação, temos vários factos :
- A Nova Zelândia país vizinho da Austrália, tem também um grande rebanho ovino
mas mais virado para a produção de carne, que exporta preferencialmente para a
Inglaterra ao abrigo de acordos da "Commonwealth", apesar da Inglaterra fazer
parte da Comunidade Europeia. Assim e via Inglaterra, a carne de muitos milhares
de ovinos produzidos na Nova Zelândia, acaba na mesa de muitos consumidores
da Comunidade Europeia
Estes factos têm como consequência uma falta de procura para a carne do
borrego australiano. É do conhecimento geral, que uma fêmea tem maiores
necessidades alimentares anuais que um macho, apesar da maior corpulência e do
maior metabolismo basal deste, devido às maiores necessidades das fêmeas
durante a gestação e amamentação. Acrescentando a isto, que a lã produzida pelos
machos castrados, é em maior quantidade e de melhor qualidade que a produzida
pelas fêmeas e pelos machos inteiros, é fácil deduzir que utilizando machos
castrados especializados na produção de lã, se obtém um maior encabeçamento e
logicamente maior produção de lã por hectare.
A Austrália tem assim numerosos rebanhos de carneiros castrados, que vivem
no limiar da fome (mas sempre produzindo lã), rebanhos esses que só com muito
boa vontade, poderiam não ser considerados especializados na produção de lã, pois
são constituídos por animais de etnia merina, seleccionados cuidadosamente para a
produção de lã em solo Australiano. Como resultado dessa selecção, apareceu a
determinada altura um animal mutante, que foi designado por "Booroola", o qual não
é mais que um carneiro com uma pele "grande de mais para o corpo", apresentando
numerosas pregas cutâneas, cobertas de folículos produtores de fibras lanares.
O "Tronco Merino" não é uma raça, mas sim um conjunto de raças, que teve
segundo alguns autores, origem numa etnia formada em Espanha, desde a
Antiguidade e que foi posteriormente, já nos nossos dias exportada para todo o
mundo, tendo participado na formação de várias raças em inúmeros países, estando
hoje todas as raças ovinas com sangue "Merino" no seu conjunto, englobadas sob a
designação de "Tronco Merino".
Devido à sua importância relativa somente nos ocuparemos das raças "Merino
Branco", "Merino Preto", "Serra da Estrela", "Saloia" e "Campaniça".
2.4.1- MERINO BRANCO - os animais desta raça ocupam uma grande parte das
províncias do Alentejo, Ribatejo e Estremadura. Compreendem
aproximadamente metade do efectivo ovino nacional, ascendendo a perto de
meio milhão de cabeças. O Merino Branco actual é o resultado das acções
exercidas sobre as primitivas populações ovinas que povoavam o Sul do país,
por outros tipos da etnia merina, seleccionados em Espanha e França e
introduzidos por cruzamento, no sentido de melhorar a qualidade da lã e a
precocidade da raça.
São animais eumétricos e mediolíneos, possuem côr branca e
caracterizam-se pela grande extensão do velo e pela boa qualidade da lã,
classificada de "merino extra" a "merino forte", possuindo um velo extenso e
tochado com madeixas cilíndricas ou quadradas, regularmente homogéneo,
recobrindo a cabeça, todo o pescoço, o ventre, os membros até quase às
unhas e os testículos.
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Nos machos podem ocorrer ou não cornos, enquanto que nas fêmeas
eles estão sempre ausentes. Podem contudo em algumas poucas fêmeas de
fenótipo merino, ocorrer cornos residuais, facto que só por si é
desclassificativo, dado tratar-se de manifestações de genes de outras etnias,
demonstrativos de antigos cruzamentos.
Podem porém encontrar-se nos nossos rebanhos de Merino Branco,
registados no Livro Genealógico da Raça Merino Branco, de quando em vez,
ovelhas que apresentem estes cornos residuais, sendo por isso designadas de
"cornichas". As ovelhas que apresentem estes cornos residuais, mesmo que
filhas de pais registados no Livro Genealógico da Raça, não são admitidas
para registo nesse Livro.
Características produtivas
Características produtivas
2.4.3- CAMPANIÇA – o nome desta raça foi originado no nome da região do Campo
Branco, no distrito de Beja, onde mais se concentra. Esta região que
compreende os concelhos de Ourique, Castro Verde, Mértola, e Almodôvar, é
caracterizada por vastas áreas de terrenos pobres e de clima muito seco,
pouco favorável à agricultura e à abundância de pastagens, sendo por esse
motivo o gado Campaniço, de pequena estatura e de modestas produções.
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Características produtivas
Idade ao 1º parto 18-20 meses
Fertilidade 90,6 %
Prolificidade 110,4%
Peso ao nascimento 2,9 kg
Peso aos 105 dias 23 kg
Peso dos machos 65 kg
Peso das fêmeas 35-40 kg
Produção de leite 12-15 l durante 60-90 dias
Peso do velo :machos 2,8 kg
fêmeas 2 kg
Características produtivas
Idade ao 1º parto 13-15 meses
Fertilidade 90-95 %
Prolificidade 105-120%
Peso ao nascimento 3-4 kg
Peso aos 60 dias 17-20 kg
Peso dos machos 50-70 kg
Peso das fêmeas 35-40 kg
Produção de leite 60-80 l durante 170-200 dias *
Peso do velo :machos 4-5 kg
fêmeas 2,5-3,5 kg
*Após o desmame do borrego com idade entre 1,5 e 2 meses
2.4.5- SERRA DA ESTRELA - os animais desta raça constituem o grupo étnico mais
numeroso depois do merino branco com um efectivo de cerca de 280.000
animais, sendo criados desde tempos imemoriais em toda a área da Serra da
Estrela facto que se reflecte no seu nome, nomeadamente nos concelhos de
Seia, Gouveia, Celorico da Beira, Guarda, Oliveira do Hospital, Tábua,
Mangualde, Nelas, Viseu e Arganil. Distribuem-se ainda por todo o campo do
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Fig. 7 – Ovelhas Serra da Estrela brancas Carneiro Serra da Estrela, variedade preta
Características produtivas
Existem várias raças de ovinos que pela sua difusão no mundo adquiriram uma
importância tal, que não podem deixar de ser lembradas no âmbito desta disciplina.
São elas : "Suffolk", "Southdown", "Merino de Rambouillet e "Ile de France". Uma
raça que não pode deixar de ser aqui focada pela sua vocação leiteira e importância
regional cada vez maior no Alentejo é a raça francesa "Lacaune".
2.5.1- SUFFOLK - é uma raça de origem inglesa, caracterizada por ter a pele
pigmentada de preto e lã branca, com a cabeça totalmente deslanada e
desprovida de cornos nos dois sexos, possuindo os animais desta raça boa
precocidade e uma conformação ideal para a produção de carne. Os animais
desta raça, são muito utilizados em cruzamentos industriais, pois transmitem
aos seus produtos um marcado bom tipo de carcaça, tendo por esse motivo
sido exportados para muitos países do Mundo.
Prolificidade 155 %
Peso aos 90 dias 25-30 kg
Peso dos machos 80-100 kg
Peso das fêmeas 50-80 kg
Peso do velo :machos 3-4 kg
fêmeas 2-2,5 kg
2.5.3- MERINO DE RAMBOUILLET - Esta raça francesa teve origem num núcleo de
334 ovelhas e 42 carneiros da etnia merino de Espanha, compreendendo
várias origens não aparentadas entre si, os quais saíram de Segóvia em
Espanha a 15 de Julho de 1786, com destino a Rambouillet (perto de Orleans,
onde se situava a exploração Real de ovinos de França), local a que chegaram
três meses depois. Da selecção bastante cuidada deste efectivo, resultou uma
raça muito apreciada quanto à produção de lã e carne, cujos animais são o
protótipo do animal produtor de lã, possuindo um velo branco, extenso de lã
muito fina, elástica e resistente, sendo considerados melhoradores em
cruzamento com animais de lãs grosseiras.
Características produtivas
Fertilidade 95-99 %
Prolificidade 135-160 %
Peso ao nascimento 4-5 kg
Peso aos 90 dias 30-35 kg
Peso dos machos 120-160 kg
Peso das fêmeas 65-85 kg
Peso do velo :machos 5-6 kg
fêmeas 4-4,5 kg
2.5.5- LACAUNE - Esta raça originária do Sudoeste da França a Norte dos Pirinéus
tirou o seu nome dos montes Lacaune. A origem destes animais parece estar
nos Pirinéus, datando de 1294 as primeiras referências aos queijos desta
região. Posteriormente estes animais sofreram a infiltração de sangue Merino,
Southdown e Lauraguais, tendo no entanto sido limitadas no tempo e no
espaço. A partir de 1870 iniciou-se uma selecção leiteira metódica. Em 1902
os caracteres rácicos estavam fixados, em 1937 foi introduzido o contraste
leiteiro e em 1947 foi iniciado o Livro Genealógico da raça.
Características produtivas
Idade ao 1º parto 16-18 meses
Prolificidade 130-150 %
Peso ao nascimento 3-4 kg
Peso aos 90 dias 25-30 kg
Peso dos machos 80-100 kg
Peso das fêmeas 50-65 kg
Peso do velo :machos 2,5 kg
fêmeas 1,5 kg
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2.6.1.2 - Cruzamento
68
Este sistema é utilizado para ovinos, quer nas recrias e engordas intensivas,
quer em explorações leiteiras com animais de alto valor produtivo, embora não seja
comum no nosso País.
Nestas explorações visa-se a obtenção da maior quantidade de leite possível,
sujeitando-se os animais a um tipo de vida em confinamento que é contrário à
natureza da espécie, mas que algumas raças suportam bem, em virtude da
selecção a que têm vindo a ser sujeitas. As instalações são caras e o maneio é
elaborado. Devido às razões apontadas, a exploração intensiva envolve custos fixos
muito elevados, só sendo praticável em condições muito especiais.
2.6.2.2- SEMI-ESTABULAÇÃO
70
2.6.2.3- PASTOREIO
Pelo que atrás foi dito quando se tratou do comportamento alimentar dos
ovinos, chega-se facilmente à conclusão que estes animais são utilizadores
preferenciais de sistemas extensivos com plantas herbáceas.
Na esmagadora maioria das nossas explorações os animais pastam durante
todo o ano, recebendo no entanto suplementos de ração ao fim do dia, sempre que
as suas necessidades alimentares não possam ser totalmente satisfeitas durante o
pastoreio.
As pastagens podem ser espontâneas ou semeadas, podendo estas ser de
sequeiro ou regadio e consumidas em pastoreio contínuo, pastoreio deferido,
pastoreio rotacional e pastoreio em faixas.
Puberdade
A puberdade nestes animais é atingida dos 4 aos 6 meses tanto nos machos
como nas fêmeas, existindo importantes variações interrácicas, de modo que nas
cabras pigmeias a puberdade pode ser atingida aos 3 meses nas fêmeas. No
entanto dentro da mesma raça, o aparecimento da puberdade pode ser
condicionado pelo clima, estação reprodutiva e efeitos da nutrição, exercendo o
"estado de carnes" e a percentagem de peso em relação ao peso adulto, nesta
espécie tal como nos ovinos, enorme importância.
As fêmeas dos caprinos são poliéstricas de ovulação espontânea,
experimentando vários ciclos éstricos com a duração de 18 a 22 dias, com média
igual a 20,6 dias, ao longo da estação de reprodução. Os cios têm a duração de 26
a 42 horas, apresentando uma média de 35 horas, excepto na raça "Angora" que
tem cios mais curtos, com duração média de 22 horas.
O efeito designado por "Efeito macho", atrás referido quando do estudo dos
ovinos, verifica-se igualmente nas raças caprinas sem estacionalidade sexual ou
com estacionalidade sexual mal marcada, sendo verdade para estas raças, o que é
verdade para as raças de ovinos que não apresentam estacionalidade sexual, no
respeitante às épocas de cobrição e períodos de nascimento dos cabritos.
Os machos caprinos ou bodes, apresentam produção de espermatzóides
durante todo o ano, verificando-se no entanto uma depressão na actividade do
75
testículo durante a estação quente. Do mesmo modo que nos carneiros, o ardor
sexual também é maior no período do fim do Verão e início do Outono.
Gestação
O período de gestação nos caprinos tem uma duração média de 153 dias,
podendo ir de 147 a 165 dias, período este que é tanto maior quanto menor fôr o
número de fetos. A variação interrácica do número de fetos por parto, é menos
importante que nos ovinos, sendo ao primeiro parto normalmente de um, número
que sobe usualmente a dois nos partos seguintes, sendo mais frequente nas raças
de vocação leiteira, a ocorrência de partos triplos e mais raramente quádruplos.
Métodos de reprodução
- os caprinos são animais com carcaças mal conformadas, facto que se alia ao
cheiro forte quase repulsivo, resultante das secreções das glândulas anais,
cheiro este que se transmite à carne tornando-a muito pouco apetecida por
parte dos potenciais consumidores, logo de baixo valor económico. Este
inconveniente do sabor e cheiro desagradável da carne, só se põe em animais
de idade superior a 6 meses;
- A maioria dos cabritos nascidos nas nossas latitudes estão em idade de ser
precocemente desmamados e sacrificados cerca do Natal e da Páscoa, alturas
em que o cabrito se tornou prato tradicional, sendo altamente valorizados.
venda, sendo enviados para o talho com a idade de 4 a 6 meses e peso vivo de 25-
30 kg, sendo a sua carne muito apreciada.
Não devemos esquecer que o gosto dos consumidores é soberano e
direcciona o mercado em determinada direcção, muitas vezes de maneira que nada
tem a ver com a lógica. Há sim que estar atento às preferências do mercado e
aproveitar as potencialidades representadas pelas possibilidades de colocação dos
produtos.
Água 86,1 %
Matéria gorda 4,8 %
Lactose 4,4 %
Proteína 3,9 %
Sais 0,8 %
Densidade a 15 º C 1,030
(Adaptado de Sá e Barbosa, 1990)
Ordenha
A ordenha dos caprinos pode fazer-se tal como nos ovinos manualmente ou
mecanicamente, sendo mais uma vez o sistema manual o mais difundido.
Exactamente como os ovinos, a utilização de uma instalação de ordenha mecânica,
só se justifica em efectivos especializados na vocação leiteira, ainda que nesta
espécie e devido a razões anatómicas, que se prendem com o tamanho e a forma
do úbere e dos tetos, a ordenha mecânica seja facilitada.
As cabras constituem por tudo o que foi dito, os animais de maior rendimento
potencial, no aproveitamento de ecossistemas de fracos recursos, assumindo no
âmbito da política agrícola actual, fortemente direccionada pela PAC (Política
Agrícola Comum), uma crescente importância, pois são cada vez mais os terrenos
pobres, que por o serem são retirados da produção agrícola, podendo no entanto
suportar uma exploração pecuária. No entanto a par deste potencial, uma
importante restrição emerge, fruto da necessidade de cada efectivo ter um tratador
com disponibilidade permanente, situação que hoje já rareia, sendo previsivelmente
pior no futuro.
Fertilidade 80-85 %
Prolificidade 100 %
Peso dos machos 35-40 kg
Peso das fêmeas 25-32 kg
Características produtivas
Idade ao 1º parto 14-15 meses
Fertilidade 80-85 %
Prolificidade 110 a 130 %
Peso dos machos 75-85 kg
Peso das fêmeas 55-60 kg
Produção de leite 120-180 l em 120 a 180 dias
A produção de carne resulta sobretudo dos cabritos ou chibos, que são
vendidos com idades de 1,5 a 2 meses e um peso vivo de 9 a 12 kg, sendo
então as cabras sujeitas a ordenha até ao fim da lactação.
3.3.3- CHARNEQUEIRA - esta raça deve o seu nome à zona da Charneca da região
Ribatejana, onde era explorada. Hoje em dia e devido às diferenças do meio
em que vivem consideram-se dois ecotipos diferentes, sendo um explorado no
Baixo Alentejo e o outro no Alto Alentejo e na Beira Baixa, caracterizando-se
83
Características produtivas
84
3.3.5- ALGARVIA - esta raça deve o seu nome à região onde foi formada, sendo
constituída por animais de estatura média, e perfil côncavo, de marcada
aptidão leiteira.
O pêlo curto de côr branca, com pêlos castanhos ou mais raramente
negros, que se agrupam em malhas ou podem aparecer disseminados de
forma irregular por todo o corpo.
As orelhas dos animais desta raça podem ser de quatro tipos distintos
(compridas, abertas e pendentes ; médias em corneto lançadas para fora ;
curtas em corneto e direitas ; muito curtas e erectas), apresentando cornos nos
dois sexos e barba nos machos, só muito raramente aparecendo esta nas
fêmeas. O úbere é formado por mamas cónicas, pendentes, com têtos pouco
destacados e paralelos ou por mamas globosas com têtos destacados e
dirigidos para a frente e para fora.
O efectivo da raça compreende cerca de 15.000 animais, a grande
maioria dos quais explorados nas serras Algarvias, aparecendo alguns poucos
núcleos na região de Beja.
85
3.3.5- SERRANA - esta raça é originária da Serra da Estrela e povoa a maior parte
do país, predominando a norte do Tejo, exceptuando o distrito de Castelo
Branco. Tem ainda um número significativo de animais na península de
Setúbal. O efectivo desta raça ronda os 243.000 animais.
Esta raça compreende animais de côr preta, castanha e ruça, podendo
apresentar coloração amarela nas regiões superiores do abdómen, membros,
focinho, face e arcadas orbitarias. Podem possuir ou não cornos, sendo estes
em forma de sabre, de secção triangular, paralelos ou divergentes. Possuem
úbere bem desenvolvido, globoso, por vezes pendente, com têtos pequenos e
cónicos.
Características produtivas
Idade ao 1º parto 14-16 meses
Fertilidade 90-95 %
Prolificidade 170-180 %
Peso dos machos 60-70 kg
Peso das fêmeas 30-45 kg
Produção de leite 540-600 l num período de 210 dias
Características produtivas
Fertilidade 95 %
Prolificidade 140-180 %
Peso dos machos 80-120 kg
Peso das fêmeas 50-90 kg
Produção de leite 680-1050 kg em 240 dias
3.4.2- ALPINE - é originária do Maciço Alpino, sendo uma raça muito apreciada
pelas suas qualidades leiteiras e de cria.
Os animais desta raça têm pêlo raso e côr variada, indo do castanho
claro ao avermelhado e mesmo preto, sendo no entanto a côr mais frequente a
"chamoisée", ou côr de camurça, com um listão preto longitudinal no dorso e
extremidades negras. Podem possuir cornos ou não, possuem peito profundo,
linha do dorso recta, garupa larga e pouco inclinada, com extremidades
sólidas, articulações secas e aprumos correctos.
O leite das cabras desta Raça, é volumoso, bem inserido tanto atrás
como à frente, retraindo-se bem após a ordenha, possuindo tetos bem
diferenciados paralelos e dirigidos para a frente.
Esta raça possui inegáveis qualidades de produção leiteira e embora se
adapte bem a sistemas de produção intensivos, possui grande rusticidade, o
que faz dela uma raça muito procurada para sistemas de produção semi-
intensivos.
Características produtivas
Fertilidade 95 %
Prolificidade 140-180 %
Peso dos machos 80-100 kg
Peso das fêmeas 50-70 kg
Produção de leite 580-850 kg em 8 meses
89
Esta raça encontra-se espalhada por toda a Europa, EUA, Brasil, etc.
Ambas as raças atrás descritas, foram e são, em França, sujeitas a selecção,
visando melhorar as suas potencialidades e qualidades leiteiras. Cerca de 140.000
cabras pertencentes às raças Saanen e Alpina estão sujeitas a contraste leiteiro.
Estas práticas permitiram até agora que 20 % das explorações sujeitas a contraste,
tenham alcançado produções médias entre os 850 e os 1050 kg de leite por
lactação, enquanto que 10 % das lactações sujeitas a contraste, são superiores a
1000 kg de leite, havendo algumas que atingem os 2000 kg de leite por lactação.
Diga-se que estas lactações têm em geral uma duração de 255 dias.
3.4.3- MURCIANA - esta raça é originária das províncias de Múrcia e Granada, em
Espanha, constituindo grande polémica regional a sua província de origem,
pelo que os de Múrcia a chamam de Murciana e os de Granada, de Granadina.
Parece que a solução de consenso consiste na designação de Murciana-
Granadina ou Granadina-Murciana.
São animais de côr geralmente negra, havendo exemplares de coloração
castanho escura designada por "caoba". Possuem perfil recto, órbitas salientes
e orelhas erectas, grandes, pontiagudas e muito móveis. Só muito raramente
possuem cornos, o mesmo acontecendo com as barbas. A linha do dorso é
ligeiramente ascendente na direcção da garupa, o garrote é muito destacado e
o tronco amplo e de grande perímetro torácico em relação ao seu tamanho,
possuindo espádua forte e inclinada e bem aderente ao corpo. A garupa é
curta e inclinada. O úbere é amplo e volumoso, formando duas bolsas muito
distintas, com tetos pequenos e dirigidos ligeiramente para a frente e para fora.
90
Esta raça possui grande vocação leiteira, tendo sido dito acerca dela por
um inglês, que é tão perfeita que não há necessidade de ser melhorada. É
uma raça rústica, no entanto adapta-se muito bem a sistemas de produção
intensivos.
Características produtivas
Fertilidade média 90-95 %
Prolificidade média 200 %
Peso dos machos 60-75 kg
Peso das fêmeas 50-60 kg
Produção de leite 720 kg em 210 dias
3.4.5- ANGORA - é uma raça originária da Turquia, sendo constituída por animais
pequenos, de pêlo muito comprido e sedoso o qual possuem em abundância.
Este pêlo é conhecido no mercado por "mohair", nome pelo qual a raça é
algumas vezes designada.
3.5.1.2- CRUZAMENTO
Os caprinos, mais ainda que os ovinos, são como se disse os animais com
maior capacidade de aproveitamento dos alimentos escassos, em regimes de
pastoreio e como tal são explorados preferencialmente neste sistema. Apesar desta
capacidade inerente aos caprinos, existem sistemas de produção em que os
animais estão em regime de confinamento permanente, outros em que passam
parte do tempo estabulados e outros ainda em que não usufruem de qualquer tipo
de estabulação ou somente recolhem ao capril para passar a noite. Os sistemas
utilizados na exploração de caprinos continuam a ser a estabulação permanente, a
semi-estabulação e o pastoreio.
Este sistema é utilizado para caprinos, quer nas recrias e engordas intensivas
de cabritos, quer em explorações leiteiras com animais de alto valor produtivo.
Nestas explorações visa-se a obtenção da maior quantidade de leite possível,
sujeitando-se os animais a um tipo de vida em confinamento que é contrário à
natureza da espécie, mas que algumas raças suportam muito bem, em virtude da
selecção a que têm vindo a ser sujeitas.
95
3.5.2.2- SEMI-ESTABULAÇÃO
3.5.2.3- PASTOREIO
Pelo que atrás foi dito quando se tratou do comportamento alimentar dos
caprinos, chega-se facilmente à conclusão que estes animais são utilizadores
preferenciais de sistemas extensivos com plantas arbustivas, em que possam
exercer a sua acção selectiva, sobre plantas e partes de plantas, que escolhem de
acordo com a época do ano.
Na esmagadora maioria das nossas explorações os animais pastam durante
todo o ano, recebendo no entanto suplementos de ração ao fim do dia, sempre que
as suas necessidades alimentares não possam ser totalmente satisfeitas durante o
pastoreio.
As pastagens podem ser espontâneas ou semeadas, podendo estas ser de
sequeiro ou regadio e consumidas em pastoreio contínuo, pastoreio deferido,
pastoreio rotacional e pastoreio em faixas.
seja herbácea, quer seja arbustiva ou arbórea, devendo a carga animal ser
calculada de acordo com as potencialidades da pastagem.
Nas vegetações do tipo dos matos e floresta, onde se encontrem
representados os estratos herbáceo, subarbustivo e arbustivo, os caprinos
mostram em determinadas alturas, preferência pelos subarbustos e arbustos,
independentemente da disponibilidade dos outros tipos de vegetação.
Este comportamento depende contudo das variações do valor nutritivo das
espécies vegetais com a estação do ano, não devendo a disponibilidade de
determinado tipo de vegetação, de uma estação para outra, ser encarado como um
indicador do seu estado de utilização pelos animais.
Na prática muito poucas espécies vegetais são rejeitadas pelos caprinos,
dependendo as preferências alimentares mais da acessibilidade das partes das
plantas apetecidas, que da espécie vegetal propriamente dita. As cabras têm
tendência para consumir, dentro das plantas herbáceas, as anuais durante a
Primavera e as plantas perenes durante o resto do ano, consumindo das
gramíneas preferentemente, as inflorescências. Dos arbustos as folhas são na
Primavera consumidas de preferência aos ramos e frutos, quando os arbustos
novos ultrapassam os 60 centímetros de altura. Em cada caso os caprinos
realizam um autêntico consumo selectivo da vegetação, consumindo rebentos,
flores, gomos ou sementes, que constituem as partes mais nutritivas.
É assim mais que evidente que os sistemas de exploração de caprinos mais
eficientes do ponto de aproveitamento da pastagem são sem dúvida os sistemas
de pastoreio contínuo em extensivo.
forrageira de forma regular, deixando antes áreas ou manchas de erva com tal
frequência, que a parte não aproveitada pode representar até 50 % do total da
produção do prado. Esta característica dos caprinos conduz a um mau maneio das
pastagens, o que leva estas a degradarem-se, com as desvantagens daí inerentes
em termos de produção futura, a qual será sempre muito menor do que seria
normal.
98
O cio nas fêmeas bovinas tem sintomatologia bem evidente, sendo sinais
inequívocos de cio, a vulva tumefacta, vermelha e brilhante, com eliminação de um
exsudado pegajoso e brilhante, urinando a vaca com frequência e apresentando
tendência para levantar a cauda arqueando simultâneamente o dorso, mostrando
ainda especial tendência para saltar sobre as companheiras. Se está solta, corre
desordenadamente com a cauda e cabeça levantadas, orelhas erectas e salivando
bastante. Por todos estes sinais, a descoberta do cio não é difícil para o tratador ou
técnico habituados a estes animais.
Durante bastantes anos o abate de vitelos por regra não era efectuado, sendo
inclusivamente penalizado, visto ser uma forma de não vender uns meses mais
tarde, umas largas dezenas de quilogramas de carne. Actualmente devido à
depressão do mercado de carne de bovino, devido à problemática da Encefalopatia
Espongiforme Bovina (BSE), já se abatem vitelos, devido ao baixo preço que
atingem para recria, motivado pelo baixo preço no produtor, da carne de novilho.
Nos países subdesenvolvidos os bovinos destinados ao talho, são produzidos
em sistemas de pastoreio extensivo, dadas as condições de carência alimentar
generalizada que os caracterizam, sendo extremamente difícil canalizar para a
produção animal, cereais e proteaginosas, quando estes alimentos são
manifestamente poucos para consumo humano.
Os animais apresentam ao abate uma idade de 2-3 anos, tratando-se nas
regiões tropicais, principalmente de animais mestiços de Bos taurus e Bos indicus.
Este fenómeno largamente difundido na América Central e do Sul, teve origem no
facto dos animais Bos taurus não se adaptarem às condições climáticas existentes
nestas regiões, resistindo muito mal às elevadas temperaturas e baixa humidade
relativa, morrendo simplesmente ou sobrevivendo apenas, desaparecendo nestas
condições como é óbvio qualquer capacidade produtiva.
Pelo contrário os animais Bos indicus, originários que são de regiões tropicais,
resistem muito bem a estas condições, devido a vários factores, entre os quais
diferenças na pigmentação da pele e maior número de glândulas sudoríparas. No
entanto estes animais apresentam precocidade e velocidade de crescimento
inferiores aos animais Bos taurus o que implica o seu abate a idades superiores à
daqueles. No entanto apresentam maior rusticidade, radicada em diferenças
fisiológicas a nível digestivo.
A qualidade de carne depende da sua textura ou "tenrura" como é
erradamente designada na gíria, a qual está intimamente relacionada com a idade
do animal, com a quantidade de gordura intermuscular e sobretudo intramuscular,
responsável pala textura macia. Por antítese a carne muito magra torna-se muito
seca à mastigação.
As carcaças de bovinos apresentam-se sem cabeça e divididas em duas meias
carcaças, ficando a cauda na meia carcaça direita. São valorizadas segundo uma
grelha normativa, designada por EUROPE, que contempla seis classes de carcaças,
com base na qual são classificadas quanto à conformação e estado de engorda. A
106
cada letra da designação da grelha corresponde uma situação, que vai desde a
carcaça classificada como excelente, até à carcaça classificada como má e
destinada à indústria.
Água 87,2 %
Matéria gorda 3,6 %
Lactose 4,5 %
Proteína 3,0 %
Sais 0,7 %
Densidade a 15 ºC 1,030
(Adaptado de Sá e Barbosa, 1991)
107
Características produtivas :
Fertilidade 85-90 %
Prolificidade 1
Peso ao nascimento 30 a 33 kg
Peso dos touros 900 a 1100 kg
Peso das vacas 600 kg
Fecundidade 80 a 90 %
Ganho médio diário * 1252 g
No panorama bovino da Zona Sul do nosso País, esta raça assume cada
vez maior importância devido a vários factores :
Características produtivas :
Peso ao nascimento 24 a 26 kg
Peso dos touros 450 a 600 kg
Peso das vacas 300 a 400 kg
Fecundidade 85 a 95 %
Ganho médio diário 800 g
Características produtivas :
Peso ao nascimento 37 a 39 kg
Peso dos touros 800 a 1000 kg
Peso das vacas 450 a 550 kg
Ganho médio diário 1200 g
Características produtivas :
Peso ao nascimento 26 a 28 kg
Peso dos touros 500 a 700 kg
Peso das vacas 350 a 400 kg
Ganho médio diário 875 g
As raças que vão ser objecto de estudo no contexto desta disciplina são : a
"Holstein-Frisian" por ser a raça leiteira mais importante, no Mundo, a "Jersey" pelas
características do seu leite, a "Hereford" por ser a raça bovina de carne mais
numerosa e dispersa no Mundo, a "Charolais", a "Limousin" e a "Salers" pela
importância no Mundo e em Portugal, na produção de carne.
Características produtivas :
Peso ao nascimento 28 a 33 kg
Peso dos touros 900 a 1200 kg
Peso das vacas 600 a 700 kg
Ganho médio diário 875 g
4.5.2- JERSEY - esta raça é originária da ilha do mesmo nome, situada na costa da
Grã-Bretanha. Estes animais são de pequeno tamanho, muito compactos, com
cornos pequenos, esqueleto fino e cascos duros e resistentes, atingindo em
média os machos o peso de 600-700 Kg e as fêmeas 350-450 kg.
A sua côr é a parda, desde o tom claro ao escuro, uniforme ou malhada
de branco, com círculos mais escuros à volta dos olhos, que são grandes e de
expressão doce.
Características produtivas :
Peso ao nascimento 47 kg
Peso dos touros 1000 a 1400 kg
Peso das vacas 700 a 800 kg
Ganho médio diário 1450 a 1550 g
4.5.5- LIMOUSINE - esta raça originária do Maciço Central Francês, teve origem em
animais de tiro de grande rusticidade, adquirida numa região de chuvas
abundantes e solos graníticos muito pobres.
São animais de grande formato, musculosos, de esqueleto fino e bons
aprumos, de pelagem castanho clara que é mais escura nos machos, e
mucosas claras sem manchas.
Características produtivas :
Peso ao nascimento 37 a 39 kg
Peso dos touros 1000 a 1200 kg
Peso das vacas 650 a 750 kg
Ganho médio diário 1390 g
4.5.6- SALERS - é outra raça originária de França, tendo o seu solar de origem na
região de Cantal, onde com o seu leite contribui para o fabrico dos queijos do
mesmo nome, que tornaram famosa aquela região. Tal como as outras raças
de origem francesa já estudadas, teve origem em animais vocacionados para a
produção de animais de tiro, posteriormente seleccionados para a produção de
carne.
122
Características produtivas :
Peso ao nascimento 39 a 43 kg
Peso dos touros 900 a 1200 kg
Peso das vacas 650 a 750 kg
Ganho médio diário 1350 a 1450 g
Ciclo éstrico
Os sinais de que uma porca está em cio, são caracterizados por uma mudança
de comportamento em que os animais mostram inquietação, montando outros
animais da mesma espécie, apresentando a vulva congestionada e com descargas
de muco (McDonald, 1975 ; Hafez, 1988).. Um sinal inequívoco de que uma porca
está em cio é o facto de se imobilizar perante uma forte pressão exercida no dorso
(por exemplo o peso do tratador sentado sobre o dorso), fenómeno usado de forma
muito comum, na prática da monta dirigida e em alguns casos na inseminação
artificial (Hafez, 1988).
A ovulação tem lugar de 38 a 42 horas depois do começo do cio, acontecendo
cerca de 4 horas mais cedo nas multíparas que nas primíparas. O número de óvulos
libertados em cada cio está associado com a raça, número de cios, idade à cobrição
133
Gestação
A gestação nas porcas tem uma duração média de 114 dias (três meses, três
semanas e três dias), dependendo esta duração do número de fetos do número do
parto e da idade da fêmea, entre outros factores. Normalmente as porcas têm dois
partos por ano (McDonald, 1975 ; Simões, 1984 ; Hafez, 1988).
Os tipos de reprodução praticados em suínos, são a monta natural e a
inseminação artificial.
Monta natural - este tipo de reprodução é praticada quase de modo universal, nos
sistemas extensivos. A modalidade mais utilizada nestes sistemas é a monta em
liberdade, utilizando-se um varrasco para 10 porcas.
Em explorações intensivas sempre que se verifica a monta natural, esta é
praticada na modalidade de monta dirigida, dado que o varrasco está numa boxe, à
qual se leva a porca logo que é detectado o cio pelo tratador, com base nos sinais
evidenciados pelo animal.
5.3.1- BÍSARA - é uma raça do tipo céltico, corpulenta, de dorso longo e convexo,
testa curta e chata, tromba comprida, orelhas grandes e pendentes sem cobrir
os olhos, de esqueleto espesso e pernas altas, sendo uma raça pouco
precoce, mesmo tardia e de difícil engorda.
134
5.3.2- ALENTEJANA - apesar de como tal ser tratada, não se pode dizer de modo
absoluto que esta raça seja Portuguesa, dado que também existe em
Espanha, sendo aí estes animais designados de "Cerdo Ibérico".
Os animais desta raça registam uma certa variabilidade fenotípica,
sobretudo no tocante à côr, que pode ser preta ou avermelhada, à existência
ou não de número considerável de cerdas e à existência de maior ou menor
número de pregas de pele.
Fig. 39 – Porca aleitante da Raça Alentejana Porca com leitões da Raça Alentejana
Características da raça :
5.4.1- LARGE WHITE - é uma raça Inglesa oriunda do Condado de York o qual deu
o nome à raça inicial. Os porcos autóctones sofreram a influência de porcos
Chineses e Napolitanos, nos finais do século XIX., tendo levado o resultado
destes cruzamentos e a consequente e contínua selecção morfológica, ao
estabelecimento de dois agrupamentos raciais :
Yorkshire - porcos brancos ou malhados de orelhas erectas e grande
desenvolvimento;
Leicestershire - porcos negros apresentando maior influência das raças
estrangeiras citadas.
140
As carcaças dos animais desta raça são do tipo "pork", não sendo bem
conformadas, e não satisfazendo totalmente as exigências do mercado, pois
são espessas, relativamente curtas e sobretudo com "pouco presunto".
No entanto os porcos desta raça possuem muitas características
favoráveis, como as excelentes qualidades maternais, facilidade de adaptação,
boa rusticidade, altas fecundidade e fertilidade e boa qualidade da carne, pelo
que são muito utilizados em cruzamentos duplos, para obtenção de fêmeas
híbridas para reprodução, as quais por sua vez são cruzadas com varrascos de
outras raças.
141
Características da raça :
A carcaça dos animais desta raça é muito comprida, pouco gorda, muito
bem conformada, possuindo excelente desenvolvimento das massas
142
5.4.3- PIÉTRAIN - raça de origem Belga, possuindo os animais côr branca, com
grandes manchas negras e cinzentas, as quais dão um aspecto azulado a
certas partes do corpo. Possuem boa precocidade baixa e prolificidade (16
leitões desmamados/porca/ano).
Distinguem-se sobretudo pelo seu comprimento e pelas massas
musculares muito redondas, tanto no terço posterior como no anterior,
assumindo na porção caudal dos membros posteriores o aspecto designado de
"cullote" (grande desenvolvimento das massas musculares dando aspecto de
ter umas cuecas vestidas, daí o termo).
Os animais desta raça dão um grande rendimento quer de carcaça quer
em carne, devido à pouca quantidade de gordura subcutânea, intermuscular e
intramuscular, representando o expoente máximo das raças "bacon".
Para garantir o êxito de uma exploração intensiva, temos que ter instalações
em que o ambiente seja totalmente controlado nomeadamente em relação a:
145
alto por parte da linha mãe; carcaças compridas por parte da linha mãe; carcaças
magras tipo "bacon" da linha pai e carne de melhor qualidade por parte da linha
mãe.
isto é de Dezembro a Fevereiro, com idades que vão dos 10 meses (portanto com
uma só montanheira) até aos 18-20 meses (com duas montanheiras).
O desmame faz-se usualmente aos 45 dias, com pesos entre 13 e 17 kg.
Cerca de um mês a mês e meio mais tarde, período durante o qual os leitões têm
uma alimentação à base de rações e aumentam o seu peso até aos 23 a 26 kg,
entra-se na fase da recria.
A recria é a fase que medeia entre o peso de cerca de 25 kg e a fase de
engorda. É um período extraordinariamente importante, pois é nesta fase que se
desenvolve o esqueleto do animal. Um porco bem recriado, deve ser um animal
comprido e magro, de ventre recolhido, submetido ao pastoreio e com desenvolvido
hábito de procurar o alimento no campo, exercitando deste modo a sua
musculatura.
A engorda é a última fase da vida do animal, a mais transcendental de todo o
processo, dependendo sobretudo dela, a qualidade atingida pelos produtos
elaborados com a sua carne, quer sejam frescos ou curados.
Como foi referido quando do estudo desta raça, a presença de grande
quantidade de gordura nas carcaças de porcos da raça Alentejana, deve-se além de
características genéticas desta raça, a características inerentes à espécie suína.
Obtêm-se deste modo animais com pesos que chegam aos 180 kg, um terço dos
quais é adquirido nos últimos 2 ou 3 meses de vida, durante a engorda em
montanheira.
Entre as razões conducentes a uma grande deposição de gordura durante a
fase da engorda, avultam o estado de enfraquecimento dos animais em termos
nutricionais, os quais quando submetidos a uma alimentação final intensa,
experimentam reposições diárias muito elevadas, bem como uma alimentação
deficiente em aminoácidos essenciais, pobre em fibra bruta e rica em lípidos e
hidratos de carbono, contribuindo em última análise, para canalizar grande parte da
proteína ingerida para a produção de gordura, além da produção de gordura,
motivada pela ingestão de grandes quantidades de hidratos de carbono lípidos.
5.5.2.2- Instalações
das quais se fazem o fiambre da pá e da perna e ainda o paio de lombo, que são de
longe os produtos mais valorizados.
Todas as outras peças que se podem retirar de uma carcaça de porco vão
entrar na confecção de produtos menos valorizados. Assim o toucinho da barriga
(músculos da parede abdominal e a gordura que os reveste) é utilizado na
confecção de bacon, enquanto todas as partes magras restantes e grande parte da
gordura, vão entrar na confecção de mortadela, salsichas, filete afiambrado,
galantina, chouriços industriais, etc. produtos de menor preço, sendo deste modo
muito menos valorizadas.
Os porcos de raças selectas, criados em explorações intensivas são
particularmente indicados para a confecção de produtos industriais de origem não
artesanal, devido ao facto de possuírem carcaças mais magras e com maior
rendimento em carne mas de pior qualidade da carne, menos sápida, sendo estas
características sobretudo de origem rácica.
Para o fabrico de produtos de cariz artesanal de qualidade reconhecida, estão
indicadas as carcaças provenientes de porcos de raças autóctones, que possuem
grande infiltração de gordura nas massas musculares e um inevitável excesso de
gordura de cobertura. Este facto que parece à primeira vista paradoxal, baseia-se no
facto de a gordura intramuscular, ser a principal responsável pelo sabor da carne.
Os produtos de origem artesanal por excelência são os presuntos da perna, os
presuntos da mão (chamados paletas) e os paios elaborados com os lombos
inteiros, chamados “canhas de lombo”, por curroptela da designação espanhola.
Se soubermos que os presuntos e as paletas destes animais, representam
respectivamente cerca de 14% e 9% do peso das carcaças, terão estes que ser
muito bem valorizados para que a actividade se mostre rentável, pois que o
toucinho, entrecosto e cabeças são vendidos a preços quase irrisórios para
consumo em fresco. Esta é uma das razões dos elevados preços alcançados pelos
produtos artesanais.
As qualidades gustativas destes produtos artesanais, residem segundo os
peritos, nos processos de laboração sem adição de substâncias químicas (além de
sal), na quantidade e composição e localização da gordura e nos processos
utilizados na maturação a que são sujeitos estes produtos e que faz parte do
processo de cura de cada um deles.
153
No entanto como atrás foi dito, é legal em Espanha (Portugal infelizmente não
possui legislação nesse campo), produzir produtos de cariz artesanal, a partir de
porcos híbridos, com 75% de Ibérico e 25 % de Duroc, facto que é motivado pela
pequena alteração da composição do músculo e da distribuição relativa da gordura,
quando este cruzamento é efectuado, em comparação com o Ibérico puro. Mas
apesar de legal, os produtos têm necessariamente de mencionar a raça dos animais
de que provêm, sendo o seu preço diferenciado.
155
A criação de coelhos era outrora uma actividade de tipo familiar, virada para o
autoconsumo e venda dos excedentes vivos, em mercados próximos.
Actualmente a produção de coelhos adquiriu um grande estatuto produtivo,
proveniente de uma orientação industrial da actividade, mercê de trabalhos de
índole genética, zootécnica e económica, que conduziram não só ao melhoramento
das raças existentes, no tocante a velocidade de crescimento, índice de conversão,
156
sim induzida, sendo desencadeada pela cópula e ocorrendo 8 a 12 horas após esta,
estando os óvulos em condições de serem fecundados durante 12 horas.
O tempo de gestação das coelhas tem a duração de 29 a 32 dias.
A puberdade nas fêmeas é alcançada nas raças pesadas aos 6-7 meses, nas
raças médias aos 5 meses e nas raças leves e nas híbridas aos 4 meses, enquanto
que nos machos ela é alcançada cerca de um mês mais tarde. Para que se proceda
a um correcto maneio reprodutivo, as fêmeas nunca deverão ser sujeitas à cobrição
com menos de 80 % do peso adulto.
Os machos devem ter uma alimentação de tal ordem que não lhes permita
engordar, pois esse facto faz com que diminuam o ardor sexual
A aceitação do macho pela fêmea verifica-se de uma forma cíclica, cada seis
ou sete dias e durante 1 a três dias.
A cobrição deve fazer-se levando a fêmea à jaula do macho e não o contrário,
pois este ao ser retirado da sua jaula, pode estranhar e não realizar a cópula.
O macho deve realizar dois saltos, devendo o segundo salto ser realizado 15 a
20 minutos após o primeiro, e se possível por um segundo macho, no sentido de
promover uma maior quantidade de óvulos fecundados.
Se a fêmea urinar nos 10 minutos seguintes à cópula, esta não deve ser
considerada válida por haver a possibilidade de os espermatzóides serem
eliminados com a urina. Os melhores momentos para a realização da cópula são ao
nascer e ao pôr do Sol.
Os maiores níveis de fertilidade obtêm-se na Primavera e no Verão.
6.6.1- COELHO COMUM - esta raça ou melhor dizendo este tipo de coelho, ganhou
o direito a figurar neste estudo devido à sua disseminação nos meios rurais e
ao papel que tem desempenhado na economia familiar, ao nível do
autoconsumo e dos mercados locais.
A pelagem pode ser de três cores fulva, branca ou parda. Possui peso variável
oscilando entre os 5,5 e os 8 Kg, com bons rendimentos de carcaça e boa
conformação. As fêmeas são muito prolíficas (9 a 12 láparos por parto), possuindo
óptimas qualidades maternais.
É uma raça de tamanho médio, com peso à volta dos 4 Kg, rústica e
prolífica, com boa conformação, sendo indicada para cruzamento com raças
puras para produção de animais com boas características de produção de
carne.
6.6.7- ANGORÁ - , atribui-se amiúde a sua origem à Turquia, embora nada o prove.
Esta raça é explorada para a produção de pêlo, devido ao alto preço alcançado
por este. Cada coelho dá em média 1200 a 1500 gramas de pêlo por ano,
sendo a produção de 1 Kg de pelo por cada 7 Quilogramas de carne.
- As jaulas para coelhas de reprodução com ninhada podem ter 0,8 m x 0,5 m
x 0,4 m, podendo variar conforme o fabricante e a colocação de ninho,
interno ou externo. Como o fundo da gaiola é de malha metálica, o ninho de
dimensões de 0,3 m x 0,4 m x 0,3 m, deve conter palha ou aparas de
madeira, onde a coelha vai parir.
- As jaulas para machos reprodutores devem ser idênticas às das fêmeas para
facilitar a sua colocação no local. A normalização das dimensões das
gaiolas é uma das grandes vantagens deste sistema de baterias.
- As jaulas de engorda devem ser de tamanho suficiente para conter 12 a 15
coelhos após o desmame, não devendo ser ultrapassado o peso de 40 kg /
metro quadrado de piso. As baterias de engorda podem ter até 3 ou 4 pisos.
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