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VALMIR PEDROSA

A OPERAÇÃO HIDRÁULICA DOS RESERVATÓRIOS DO RIO SÃO FRANCISCO | Valmir Pedrosa

A OPERAÇÃO HIDRÁULICA
DOS RESERVATÓRIOS DO
RIO SÃO FRANCISCO
Para entender os serviços
prestados pelos reservatórios
e o uso múltiplo das águas
VALMIR PEDROSA

A OPERAÇÃO HIDRÁULICA
DOS RESERVATÓRIOS DO
RIO SÃO FRANCISCO
Para entender os serviços prestados
pelos reservatórios e o uso múltiplo das águas

Maceió
2023
COPYRIGHT © VALMIR DE ALBUQUERQUE PEDROSA, 2023
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
LISTA DE SIGLAS
1ª EDIÇÃO, 2023.
AL Alagoas

CONTATOS COM O AUTOR:


ANA Agência Nacional de Águas e Saneamento
valmirpedrosa@ctec.ufal.br Básico
https://www.linkedin.com/in/valmir-pedrosa/
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
APV Agência Peixe Vivo

NORMALIZAÇÃO: Zapter; Organização Documental


BA Bahia

REVISÃO ORTOGRÁFICA E GRAMATICAL: Tríade Comunicação CBHSF Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São
PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO: Bios
Francisco

IMPRESSÃO: GSA Gráfica e Editora CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais


TIRAGEM: 100 exemplares CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DIREC Diretoria Colegiada do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco
GT Grupo de Trabalho

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


GTSF Grupo de Trabalho do São Francisco
(Zapter; Organização Documental, ES, Brasil – contato@zapter.com.br)
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
P372o Pedrosa, Valmir, 1971-
A operação hidráulica dos reservatórios do rio São Recursos Naturais Renováveis
Francisco : para entender os serviços prestados pelos
reservatórios e o uso múltiplo das águas / Valmir de MG Minas Gerais
Albuquerque Pedrosa. – Maceió : Ed. do Autor, 2023.
71p. : 1.865Kb ; il. ; PDF. ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico
ISBN: 978-65-00-67715-7
Acesso: valmirpedrosa.com
PE Pernambuco

1. São Francisco, Rio, Bacia. 2. São Francisco, Rio, SE Sergipe


Bacia – reservatórios. 3. Bacias hidrográficas. 4. Água – uso
sustentável. 5. Desenvolvimento de recursos hídricos. I. SIN Sistema Interligado Nacional
Pedrosa, Valmir de Albuquerque, 1971- II. Título.

CDU: 556
CDD: 553
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Vazões afluentes e defluentes Figura 15 Nível da água no reservatório
no reservatório de Xingó..............................12 de Sobradinho.............................................48

Figura 2 Operação do reservatório de Sobradinho Figura 16 Curva Cota x Volume para o


no primeiro quadrimestre de 2020...............14 reservatório de Sobradinho..........................49

Figura 3 A bacia hidrográfica do rio São Francisco.....16 Figura 17 Vazões defluentes no reservatório
de Xingó no mês de abril de 2020................50
Figura 4 As retiradas de água no rio São Francisco
(Ano de 2019)..............................................17
Figura 5 Níveis de operação no reservatório
de Três Marias.............................................19
Figura 6 Vazões médias mensais na Estação Propriá
(49705000)..................................................20
Figura 7 Diagrama unifilar com os maiores
reservatórios e rios afluentes........................22
Figura 8 Elementos do reservatório de Sobradinho.....24
Figura 9 O sistema de transmissão de energia
elétrica (horizonte 2024)...............................35
Figura 10 Balanço de energia do SIN no dia
6 de dezembro de 2022................................36
Figura 11 Vazões afluentes e defluentes no
reservatório de Sobradinho em 1992............41
Figura 12 Vazões afluentes e defluentes no
reservatório de Três Marias em 2022............42
Figura 13 Vazões defluentes no reservatório
de Xingó de 1º a 20 de janeiro de 2017........46
Figura 14 Curva cota versus descarga da estação
fluviométrica em Propriá (SE).......................47
LISTA DE TABELAS SUMÁRIO
Tabela 1 Características dos maiores reservatórios
da bacia do rio São Francisco......................17
Tabela 2 Níveis de água observados na
operação dos reservatórios...........................18 Apresentação.............................................. 9
Tabela 3 Estruturas de controle de vazões 1 A operação hidráulica de reservatório........ 11
no reservatório de Sobradinho.....................23
2 Os reservatórios do rio São Francisco........ 15
Tabela 4 Restrições no reservatório de
Três Marias (CEMIG)....................................26 3 Restrições hidráulicas no rio
Tabela 5 Restrições no reservatório de São Francisco........................................... 25
Sobradinho (CHESF)....................................27
4 Uso múltiplo das águas............................. 29
Tabela 6 Restrições no reservatório de Itaparica
(CHESF).......................................................28 4.1 Geração de energia elétrica.......................... 33
Tabela 7 Restrições no reservatório de Xingó
4.2 Controle de cheias....................................... 39
(CHESF).......................................................28 4.3 Navegação.................................................... 44
4.4 Saneamento e irrigação................................ 47
Tabela 8 Fontes na capacidade instalada do SIN........34
4.5 Aquicultura, ictiofauna, turismo
Tabela 9 Situação e coordenação da operação............40 e salinização da foz...................................... 51
Tabela 10 Alguns conflitos pelo uso da água 5 Acordos para dirimir conflitos pela água... 59
no rio São Francisco....................................60
Sobre o autor............................................ 62
Referências............................................... 63
APRESENTAÇÃO

Da operação hidráulica dos reservatórios do Rio


São Francisco dependem a geração de energia hidrelé-
trica, a navegação, o controle de cheias, o turismo, a
aquicultura, a proteção da ictiofauna, o abastecimento
de água para as cidades, a irrigação, a indústria e a ma-
nutenção e preservação dos ecossistemas. A construção
de acordos para dirimir alguns dos conflitos pela água
necessita da boa compreensão da operação hidráulica
destes reservatórios. O objetivo central deste livro é au-
xiliar esta compreensão. Para garantir a aderência entre
os conceitos e a prática, todos os exemplos aqui conti-
dos descrevem operações havidas ― tal como elas ocor-
reram ― em reservatórios do rio São Francisco.
A convite do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
São Francisco (CBHSF), da Agência Peixe Vivo (APV) e
da Empresa Água e Solo – Estudos e Projetos –, os pro-
fessores Maria Gravina Ogata e Valmir de Albuquerque
Pedrosa ministraram, em abril e maio de 2023, o curso
Gestão de Conflitos pela Água. Este livro foi escrito para
servir de material de estudo ao longo do treinamento.
Todos os dados de vazões, volumes armazenados e
cotas de água usados neste livro foram obtidos no Sis-
tema de Acompanhamento de Reservatórios da Agência
Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Valmir de Albuquerque Pedrosa
Maio de 2023

9
1
A OPERAÇÃO HIDRÁULICA
DE RESERVATÓRIO

A operação hidráulica do reservatório de uma usina


hidrelétrica consiste em cumprir uma programação de
vazões defluentes, com a água passando pelas turbinas
– gerando energia hidrelétrica –, ou através do conjunto
comporta-vertedor ou dos descarregadores de fundo.
As usinas hidrelétricas têm reservatórios de acu-
mulação de água ou são a fio d’água – possuem peque-
na ou nenhuma acumulação. À guisa de exemplo do
segundo tipo, a usina hidrelétrica de Xingó, localizada
no rio São Francisco, entre os Estados de Alagoas e Ser-
gipe, tem um reservatório com volume útil de apenas 41
milhões de metros cúbicos (m³). A figura 1 mostra a ope-
ração hidráulica havida no reservatório de Xingó entre
os dias 1º de agosto e 30 de setembro de 2022.

11
Figura 1 – Vazões afluentes e defluentes no reservatório de Xingó Francisco, localizada no Estado da Bahia, tem volume
útil de 28,6 bilhões de m3 – o terceiro maior do Brasil
3000

2371
neste quesito. Esta portentosa capacidade de acumula-
2500 ção é capaz de promover um desacoplamento entre as
vazões afluentes e defluentes.
2000
A figura 2 mostra este desacoplamento na opera-
Vazão (m3/s)

1500 ção hidráulica havida no reservatório de Sobradinho no


período de 1º de janeiro a 30 de abril de 2020. No pri-
1000
meiro dia do período, o reservatório acumulava 29,57%
500 de seu volume útil. Após 121 dias de operação – período
em que as vazões afluentes cresceram e as defluentes
0
1º/ago 8/ago 15/ago 22/ago 29/ago 5/set 12/set 19/set 26/set foram mantidas sob controle –, o reservatório passou a
Afluência (m3/s) Defluência (m3/s)
acumular 91,22% de seu volume útil. Houve, portanto,
um reenchimento do reservatório[3] de 17,2 bilhões de
Observa-se que, praticamente, dia a dia as vazões m3 de água.
afluentes (que chegam ao reservatório) se igualam às Esta é a aptidão de um reservatório de acumulação
defluentes (que saem do reservatório) – característica de água – armazenar água no período úmido e cumprir
própria de um reservatório a fio d’água. Uma aritméti- uma programação de vazões defluentes nos meses ou
ca simples explica o fenômeno: no dia 18 de agosto, a mesmo nos anos subsequentes, atendendo ao uso múl-
vazão afluente média diária registrada foi de 2.371 m3/ tiplo das águas.
segundo (s), o que corresponde a um volume afluente[1],
naquele dia, de 204.854.400 m3, ou seja, 4,99 vezes[2] o
volume útil do reservatório. É inequívoca a sua incapa-
cidade de ser um reservatório de acumulação.
À guisa de exemplo de reservatório de acumulação,
a usina hidrelétrica de Sobradinho, também no rio São

[1] 2.371 m³/s x 86.400 s/dia = 204.854.400 m³/dia


[2] 204.854.400 / 41.000.000 = 4,99 [3] (91,22% - 29,57%) x 28,6 bilhões = 17,2 bilhões de m³

12 13
Figura 2 – O
 peração do reservatório de Sobradinho no primeiro
quadrimestre de 2020

5500 100
91,22

5000 90

4500
80

4000
70 2

Volume de água acumulada (% do Volume Útil)


3500
60 OS RESERVATÓRIOS
3000 DO RIO SÃO FRANCISCO
Vazões (m3/s)

50
2500

29,57 40
2000

1500
30
A bacia hidrográfica do rio São Francisco tem uma
área de drenagem de 640 mil quilômetros quadrados
20
1000
(km²) e ocupa áreas dos Estados de Minas Gerais, Bahia,
500 10 Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Há também áreas em
Goiás e no Distrito Federal, mas são pequenas. A figura 3
0 0
1º 5 9 13 17 21 25 29 2 6 10 14 18 22 26 1º 5 9 13 17 21 25 29 2 6 10 14 18 22 26 30 ilustra a bacia hidrográfica, sendo possível avistar os re-
Janeiro Fevereiro Março Abril servatórios de Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo
Afluência Defluência Volume Útil (%)
Afonso e Xingó.
As retiradas de água na bacia do rio São Francisco2 es-
Como notou-se nos parágrafos predecessores, os
tão apresentadas na figura 4, de um modo em sintonia com
reservatórios da bacia hidrográfica do rio São Francis-
a reconhecida e pujante vocação agrícola da região. Entre
co esclareceram os conceitos expostos. Antes de seguir
tantos polos de irrigação, destacam-se os distritos de irriga-
adiante é proveitoso apresentar, ainda que sumaria-
ção de Nilo Coelho (PE), de Jaíba (MG) e da região oeste do
mente, algumas características desta bacia hidrográfica
Estado da Bahia dos rios Carinhanha, Correntes e Grande
e de seus maiores reservatórios.
– afluentes da margem esquerda do rio São Francisco.

14 15
Figura 3 – A bacia hidrográfica do rio São Francisco1 Figura 4 – As retiradas de água no rio São Francisco (Ano de 2019)

Irrigação Abastecimento Abastecimento Indústria Uso Animal Mineração Termelétrica


77,2% Humano 10,1% Rural 1,3% 2,9% 4,1% 3,3% 1%

Total
282(m3/s)

0% 25% 50% 75% 100%

Para entender a operação dos reservatórios das usi-


nas hidrelétricas do rio São Francisco é necessário conhe-
cer algumas de suas características estruturais, tarefa
auxiliada pela tabela 1. Vê-se que os maiores reservató-
rios da bacia no quesito volume útil são Sobradinho, Três
Marias e Itaparica. A usina hidrelétrica com maior potên-
cia instalada é a de Xingó, com 3.160 megawatt (MW).
Tabela 1 – Características dos maiores reservatórios da bacia do rio São
Francisco3

Agente Área de Volume Potência


Início da
Aproveitamento de drenagem útil Instalada
operação
geração (km2) (hm3) (MW)
Três Marias CEMIG 1962 50.560 15.278 396
Sobradinho CHESF 1979 498.425 28.669 1.050
Itaparica (Luiz Gonzaga) CHESF 1988 587.000 3.548 1.500
Moxotó (Apolônio Sales) CHESF 1977 599.200 226 400
Paulo Afonso I-II-III CHESF 1954-61-71 599.200 90 1.423
Paulo Afonso IV CHESF 1979 599.200 30 2.460
Xingó CHESF 1994 608.700 40 3.160

O volume útil é o volume do reservatório compre-


endido entre o nível máximo operativo normal e o nível
mínimo operativo normal. O volume morto é o volume

16 17
do reservatório que fica abaixo do nível mínimo opera- O volume de espera é calculado pela diferença entre o
tivo normal. O nível máximo maximorum é o nível de volume útil total e o volume armazenado, em geral men-
água mais elevado para o qual a barragem foi proje- cionado como uma porcentagem (%) do volume útil. A
tada – geralmente fixado como o nível correspondente figura 5 representa estes conceitos para o reservatório
à elevação máxima quando da ocorrência de cheia de de Três Marias.
projeto. Figura 5 – Níveis de operação no reservatório de Três Marias
Observa-se, na tabela 2, que em Sobradinho a va-
riação do nível da água entre o mínimo e o máximo ope- Nível Máximo Maximorum = 573,40 m

rativo é de 12 metros; em Três Marias é de 23,30 metros Nível Máximo Normal = 572,50 m
e em Moxotó é de apenas 2 metros. Esta amplitude de
variação traz problemas para a aquicultura de tanque- Volume Útil = 15,2 bilhões de m3
-rede, as pousadas e hotéis localizados nas bordas dos
reservatórios, a navegação e a própria geração de ener- Nível Mínimo Operacional = 549,20 m

gia elétrica. Este tema é melhor discutido no próximo Volume Morto = 4,2 bilhões de m3

capítulo.
Tabela 2 – Níveis de água observados na operação dos reservatórios4
As usinas de Três Marias, Sobradinho, Itaparica,
Mínimo operativo Máximo operativo
Máximo Moxotó, Paulo Afonso (I-II-III-IV) e Xingó somam uma
Reservatório maximorum
(m) (m)
(m) capacidade instalada para geração de energia hidrelétri-
Três Marias 549,20 572,50 573,40 ca de 10.389 MW, representando 9,5% do Sistema In-
Sobradinho 380,50 392,50 393,50
terligado Nacional (SIN).
Itaparica 299,00 304,00 305,40
Os reservatórios das usinas hidrelétricas modifi-
Moxotó 250,00 252,00 253,00
cam o regime de vazões a jusante. Todavia, o compor-
Paulo Afonso I-III 228,30 230,30 230,80
tamento das vazões no rio São Francisco depende dos
Paulo Afonso IV 250,00 252,00 253,00
efeitos combinados do armazenamento da água, das
Xingó 137,20 138,00 139,00
regras operativas dos reservatórios, do crescimento do
O volume de espera é a parte do volume útil de um consumo consuntivo da água a montante, da mudança
reservatório abaixo do nível máximo operativo normal, no padrão de chuvas da bacia hidrográfica e das mo-
mantido vazio para ser utilizado no controle de cheias. dificações no uso e na ocupação do solo que provocam

18 19
alterações nas vazões. À guisa de exemplo, a figura 6 2. É possível ver claramente a redução das va-
exibe as vazões médias mensais na estação fluviomé- zões de base nos três principais rios (Grande,
Carinhanha e Corrente) que contribuem para
trica Propriá (SE) – localizada a jusante do reservatório
a manutenção do volume da Usina Hidrelétrica
de Xingó –, para um período contínuo de 540 meses, de Sobradinho através do rio São Francisco;
que vai de janeiro de 1977 até dezembro de 2021.
O leitor perceberá que há uma menor ocorrência 3. 
A explicação mais provável para as reduções
observadas nessas ordens de grandezas, e que
de vazões máximas nos anos recentes e, a partir do ano
ocorrem tanto para as mínimas quanto para as
de 2013, há uma presença persistente de vazões reduzi- máximas, é a redução gradual da precipitação
das. Um debate contemporâneo investiga a relação en- ao longo das últimas décadas na região.
tre as vazões e as mudanças no regime de chuvas na
Para uma visão ampla das vazões na bacia do rio
bacia hidrográfica do rio São Francisco.
São Francisco, é importante ter em mente a posição dos
Figura 6 – Vazões médias mensais na Estação Propriá (49705000) reservatórios ao longo da calha do rio. A figura 7 apre-
10000
senta a sequência dos reservatórios – diagrama unifilar
9000
8000
– da bacia do rio São Francisco. Igualmente importante
7000
é conhecer, para cada reservatório, suas restrições ope-
Vazões (m3/s)

6000
5000
4000 rativas e as características de suas estruturas de con-
3000
2000 trole de vazões.
1000
0
jul/78

jul/81

jul/84

jul/87

jul/90

jul/93

jul/96

jul/99

jul/02

jul/05

jul/08

jul/11

jul/14

jul/17

jul/20
jan/77

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jan/01

jan/04

jan/07

jan/10

jan/13

jan/16

jan/19

O estudo intitulado Entendimento da utilização das


águas na área de influência do aquífero Urucuia e aquí-
fero cárstico na bacia hidrográfica do rio São Francisco5
(2021) apontou que:
1. A irrigação é responsável por 95,6% da água re-
tirada dos rios Carinhanha, Corrente e Grande,
totalizando uma vazão de 55,125 m³/s;

20 21
Figura 7 – D
 iagrama unifilar com os maiores reservatórios e rios afluentes A capacidade do reservatório de cumprir uma pro-
Rio Pará gramação de vazões defluentes é feita por meio de três
Rio Paraopeba (MD) estruturas:
1. Conjunto casa de força-turbina-canal de fuga (vazão
UHE Três Marias
turbinada, que gera energia);
Cidade de
Pirapora Rio Velhas (MD) 2. Vertedor de superfície (vazão vertida, que não gera
Rio Paracatu
Rio Verde Grande energia);
Rio Carinhanha
Cidade de Bom Rio Corrente 3. Descarregador de fundo (vazão vertida, que não gera
Jesus da Lapa Rio Grande
Rio Paramirim (MD) energia).

UHE Sobradinho A figura 8 ajuda o leitor a identificar a posição de


cada uma destas estruturas na usina hidrelétrica de
Cidades de Rio Salitre (MD)
Petrolina e Juazeiro Sobradinho. Na tabela 3, estão apresentadas as carac-
Rio Pajéu
terísticas destes elementos estruturais para o reserva-
UHE Itaparica tório de Sobradinho. Desta forma, a Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco (CHESF) – o agente de geração
Rio Moxotó
de Sobradinho – operará com estas estruturas as vazões
UHE Moxotó turbinadas e as vazões vertidas, de forma a atender os
UHE Paulo Afonso I, II, III, IV
usos múltiplos das águas, conforme instrução do Ope-
rador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
UHE Xingó Tabela 3 – Estruturas de controle de vazões no reservatório de Sobradinho6
Cidade de Turbinas Vertedor de superfície Descarregador de fundo
Piranhas
Rio Ipanema 6 turbinas Kaplan Comprimento de Comprimento de
Cidade de de 175 MW 54 metros 156 metros
Propriá
Queda nominal 4 comportas de 12 comportas de
de 27,2 m 12 x 9,80 m 9,80 x 7,50 m

Oceano Diâmetro de 9,5 m


Vazão de 5.400 m³/s Vazão de 16.680 m³/s
Atlântico para NA = 392,5 m para NA = 392, 5 m

Vazão de 710 m³/s Vazão de 6.460 m³/s Vazão de 17.016 m³/s


para cada turbina para NA = 393,50 m para NA = 393,50 m

22 23
Figura 8 – Elementos do reservatório de Sobradinho

3
RESTRIÇÕES HIDRÁULICAS
NO RIO SÃO FRANCISCO

A operação dos reservatórios do rio São Francisco


é realizada observando-se um conjunto de restrições
hidráulicas, que significam a observância de nível mí-
nimo ou máximo de água em pontos ou trechos espe-
cíficos, bem como suas vazões máximas ou mínimas
associadas7.
A operação de um sistema de reservatórios para o
controle de cheias significa operar as vazões defluen-
tes de modo que não sejam rompidas as restrições de
vazões máximas ou cotas máximas em algum lugar a
jusante ou a montante do sistema de reservatório. Os
locais sujeitos à restrição de vazão máxima (ou nível
máximo) são denominados pontos de controle. Quando
o ponto de controle não está imediatamente a jusante
do reservatório hidrelétrico, a restrição de vazão máxi-

24 25
ma deverá ser variável, pois estará condicionada à vazão Restrições Controle de cheias
incremental entre o reservatório e o ponto de controle. A mínima vazão defluente é de 58 m³/s, podendo ser su- Para vazões em Pi-
Este tema está analisado em detalhes no item 4.2. perior para fins de proteção à ictiofauna. rapora superiores a
2.000 m³/s é neces-
Nas tabelas 4, 5, 6 e 7 – conforme consta no Cadas- Para redução da vazão defluente a valores inferiores a
420 m³/s, devido à existência de pontos passíveis de apri-
sária a comunicação
com o corpo de bom-
tro de Informações Operacionais Hidráulicas da Bacia sionamento de peixe a jusante do vertedouro e à variação
da quantidade de peixes nessa região, faz-se necessário
beiros de Pirapora,
com antecedência de
do Rio São Francisco (vigência de 18 de maio de 2022) – um acompanhamento ambiental para validação e libera-
ção da operação nestes patamares de vazão.
pelo menos 12 horas
e durante o dia, para
estão detalhadas as restrições para o controle de cheias O vertedor da usina hidrelétrica de Três Marias não pode
que seja possível a
retirada de pessoas
ser operado na faixa de vazões vertidas entre 850 e 1.400
e outros usos. m³/s, devido a problemas de turbulência na calha.
destas ilhas.

O leitor inferirá da leitura atenta das tabelas que O Projeto Jaíba, com capacidade de bombeamento de 80
m³/s, irriga cerca de 28 mil hectares da região norte de
existem restrições de naturezas distintas. Há regras Minas Gerais. Para que a captação seja possível, a vazão
do rio São Francisco no ponto de controle Matias Cardoso
operativas para gerar energia hidrelétrica, garantir o deve ser superior a 315 m³/s.
abastecimento de água para cidades, projetos de irriga-
Tabela 5 – Restrições no reservatório de Sobradinho (CHESF)
ção e indústrias, proteger a ictiofauna, controlar cheias,
assegurar a navegação, atender às limitações físicas e Restrições Controle de cheias

eletromecânicas dos equipamentos, entre outras. A taxa máxima recomendável de variação A defluência do reservatório com-
de defluência total (vazão turbinada + vazão binada com a vazão incremental
Tabela 4 – Restrições no reservatório de Três Marias (CEMIG) vertida) é de 1.000 m³/s/dia em condição de não deve ser maior que 8.000
controle de cheia e 500 m³/s/dia em condi- m3/s, em todo o trecho da jusan-
ção normal. te até a foz.
Restrições Controle de cheias
As propagações das vazões defluentes de So- Identifica-se transbordamento da
A taxa máxima recomendável de variação da vazão de- A vazão defluente do bradinho não devem acarretar variações de calha principal para descargas
fluente total (vazão turbinada + vazão vertida) é de: reservatório combina- cota diária superior a 0,50 metro em Jua- superiores a 6.000 m³/s. Descar-
da com a incremen- zeiro-BA. gas superiores a 7.000 m³/s já
50 m³/s/30min se: 250 m³/s ≤ Defluência tal no trecho de Três acarretam inundações em áreas
Marias até a cidade Quando previamente comunicada à CHESF de agricultura bem como casas e
100 m³/s/30min se: 200 m³/s ≤ Defluência < 500 m³/s de Pirapora (MG) não a necessidade de prática da vazão mínima de benfeitorias de fazendas.
deve ser maior que 1.300 m³/s para a navegação de comboios
200 m³/s/30min se: 500 m³/s ≤ Defluência < 900 m³/s 4.000 m3/s. hidroviários, no trecho entre Sobradinho e Havendo indicações de chuvas e
o porto de Juazeiro, a CHESF voltará a res- vazões incrementais de porte, no
500 m³/s/dia se: 900 m³/s ≤ Defluência < 2.500 m³/s Em todo o trecho a peitar esta vazão defluente mínima de 1.300 trecho da bacia do rio São Fran-
jusante da usina até m³/s apenas durante o tempo necessário à cisco compreendido entre os re-
700 m³/s/dia se: 2.500 m³/s ≤ Defluência < 4.000 m³/s a cidade de Pirapo- passagem do comboio. servatórios de Sobradinho e Luiz
ra existem diversas Gonzaga, a operação do reserva-
A população ribeirinha de lugarejos mais distantes utiliza ilhas que são ocu- A vazão defluente média mínima diária deve tório de Sobradinho deverá obje-
transporte embarcado para locomoção à cidade de Pira- padas de forma irre- ser 1.300 m³/s para evitar que ocorram pro- tivar a mitigação de cheias que
pora para as atividades do dia a dia. Vazões inferiores a gular. blemas na navegação (trecho Sobradinho / estejam ocorrendo a jusante de
100 m³/s causam impactos à locomoção destes usuários,
Juazeiro), em diversas captações de indús- Sobradinho e/ou Luiz Gonzaga.
devendo ser evitadas em anos de pluviometria normal.
trias, tomadas d´água para abastecimento
de cidades e projetos agrícolas localizados
no trecho Sobradinho / Itaparica.

26 27
Tabela 6 – Restrições no reservatório de Itaparica (CHESF)

Restrições Controle de cheias

Desde a entrada em operação de Luiz Gonzaga, devido à O ponto de controle


não conclusão das obras de proteção da cidade de Belém constitui-se no tre-
do São Francisco, localizada na extremidade do reserva- cho do rio localizado
tório, a CHESF prioriza a proteção desta cidade efetuando entre Itaparica e a
medidas de prevenção de enchentes. foz do rio São Fran-
cisco, onde a res-
Para atender à restrição de nível do reservatório de Ita- trição de vazão de-

4
parica na cidade de Belém do São Francisco, faz-se ne- fluente máxima é de
cessário um deplecionamento prévio deste lago, para a 8.000 m³/s.
cota 302,00 m, durante os meses de maior probabilidade
de ocorrência de cheias, a fim de evitar que a elevação
do nível d’água causada pelo remanso do lago provoque
transtornos à população da cidade, o que ocorre a partir USO MÚLTIPLO
DAS ÁGUAS
da cota 304,00 m.

Tabela 7 – Restrições no reservatório de Xingó (CHESF)

Restrições Controle de cheias

A vazão defluente média mínima diária deve ser 1.300 Para descargas da
m³/s de captação para abastecimento d’água e projetos ordem de 8.000 m³/s Em 18 de dezembro de 2015, por meio da Porta-
de irrigação. verificam-se inunda-
ções de casas nas ci- ria Nº 414, a ANA criou o Grupo de Trabalho do São
Com o objetivo de reduzir oscilações das vazões defluen- dades de Traipu e São
tes visando minimizar o impacto nas margens do rio, a Brás, assim como gal- Francisco8 (GTSF) com o objetivo de elaborar uma pro-
maior variação da vazão defluente permitida ao longo do gamento da estrada
dia é de 800 m³/s entre o valor máximo e o mínimo, com carroçável entre São posta de condições de operação para os principais re-
um intervalo de pelo menos 10 horas, resguardando uma Brás e Porto Real do
flutuação horária máxima de 300 m³/s. Colégio. servatórios – Três Marias, Sobradinho, Itaparica (Luiz
Caso a Usina de Xingó esteja operando com 2 ou mais má-
quinas, e ocorrer perda de máquinas da usina, não sendo
Gonzaga), Moxotó, Paulo Afonso I, II, III e IV e Xingó – da
possível operar com no mínimo 2 máquinas sincronizadas,
deve-se abrir o vertedouro, num tempo máximo de até 1
bacia do rio São Francisco. Os trabalhos tinham como
hora após a ocorrência, de modo que a vazão defluente
seja igual ou maior que o valor mínimo de 600 m³/s.
premissa que “[...] o compartilhamento dos recursos hí-
dricos da bacia do rio São Francisco deve se inspirar nos
princípios do aproveitamento múltiplo, racional, harmô-
nico e integrado, visando sempre ao benefício de todas
as partes”.
Nas reuniões havidas no âmbito do GTSF partici-
param os representantes, entre outros, dos seguintes
órgãos:

28 29
1. Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico A operação dos reservatórios das usinas hidrelétri-
(ANA); cas da bacia do rio São Francisco10 atende a um conjun-
2. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recur- to de restrições e exigências do uso múltiplo das águas.
sos Hídricos de Alagoas; O primeiro depende das limitações físicas do sistema,
detalhadas no capítulo predecessor. O segundo decor-
3. Secretaria de Estado de Meio Ambiente da Bahia;
re das exigências da produção de energia elétrica e das
4. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvi- necessidades dos demais usos da água na bacia hidro-
mento de Minas Gerais; gráfica.
5. Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Per- É desnecessário expor todos os artigos da Resolu-
nambuco; ção ANA No 2.081/201711, todavia registram-se a seguir
cinco artigos por tratarem de quatro usos distintos da
6. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recur-
geração de energia – vazão mínima, conectividade eco-
sos Hídricos de Sergipe;
lógica entre o rio e as lagoas marginais, navegação e hi-
7. Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco drograma ambiental para a preservação do ecossistema
(CBHSF); da foz.
8. Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS); [...]

9. Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG); Art. 3º Ficam estabelecidos os seguintes limites
para as vazões mínimas médias diárias a serem li-
10. Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF). beradas pelos reservatórios do Sistema Hídrico do
Rio São Francisco:
No que lhe dizia respeito, o Comitê da Bacia Hidro-
gráfica do rio São Francisco – por meio da Resolução [...]
DIREC No 55, de 13 de julho de 20179 – instituiu um III. Três Marias: 100 m³/s;
Grupo de Trabalho (GT) para “elaborar posicionamento
IV. Sobradinho: 700 m³/s; e
sobre a minuta de Resolução proposta pela Agência Na-
V. Xingó: 700 m³/s.
cional de Águas”. O trabalho do GT cumpriu sua missão
com a publicação da Resolução ANA No 2.081, em 4 de [...]
dezembro de 2017. Art. 7° Durante o período úmido, quando o reser-
vatório de Três Marias estiver operando nas Faixas

30 31
de Operação Normal ou de Atenção e as vazões in- o hidrograma aprovado pelo IBAMA e pela ANA no
crementais entre os reservatórios de Três Marias e âmbito das suas atribuições.
Sobradinho permitirem, ou por recomendação da
[...]
ANA, ouvido o órgão ambiental licenciador da Usi-
na Hidrelétrica Três Marias, o reservatório de Três O art. 18 estabelece que o ONS poderá, excepcional-
Marias deverá ser operado para alimentar as la- mente, operar os reservatórios do Sistema Hídrico do Rio
goas marginais localizadas a montante do lago de São Francisco para atendimento de questões elétricas,
Sobradinho, conforme estudo específico elabora-
posteriormente justificadas. Para um acompanhamento
do pelo concessionário do reservatório e aprovado
pelo órgão ambiental licenciador da Usina Hidrelé- regular da operação dos reservatórios, foi criada a Sala
trica Três Marias. de Acompanhamento12 – “[...] ambiente de coordenação
regulatória instalada, normalmente, para acompanhar
[...]
o comportamento de um sistema hídrico após a implan-
Art. 11. Durante o período em que o reservatório
tação de novas condições de operação para os reserva-
de Sobradinho estiver liberando vazões inferiores
a 1.300 m³/s, caso haja necessidade de aumentar
tórios”. Coordenado pela ANA, esse acompanhamento
a vazão defluente para possibilitar a navegação de antecipa possíveis impactos sobre os usos e usuários da
comboios hidroviários, o agente responsável pela água e, caso necessário, estabelece medidas de resposta
operação do reservatório deverá praticar uma va- em tempo hábil.
zão mínima de 1.300 m³/s pelo tempo necessário
Assim como foi feito nos primeiros parágrafos do
à passagem do comboio, desde que previamente
comunicado.
primeiro capítulo, o leitor encontrará, a seguir, a des-
crição de algumas operações hidráulicas havidas nos
[...] reservatórios do rio São Francisco que testemunham o
Art. 13. Durante o período úmido, quando o re- uso múltiplo das águas.
servatório de Sobradinho estiver acumulando no
mínimo 50% do seu volume útil e a média mó-
vel dos três meses anteriores das vazões naturais
afluentes a ele for superior a 80% da média mó- 4.1 Geração de energia elétrica
vel dos três meses anteriores das vazões médias
mensais naturais de longo termo, o ONS deverá Em janeiro de 2023, aproximadamente 85% da
programar, a partir de recomendação da ANA e ou- energia elétrica brasileira era proveniente de fonte re-
vido o IBAMA, a liberação de dois pulsos de vazão novável – a soma da participação da hidrelétrica, eóli-
pelo reservatório de Xingó, em conformidade com

32 33
ca, solar e biomassa –, situação que coloca o Brasil na 9 mostra a rede de transmissão da energia elétrica no
dianteira em tempos que reivindicam a descarbonização território brasileiro.
das atividades produtivas como resposta às mudanças Figura 9 – O sistema de transmissão de energia elétrica (horizonte 2024)15
climáticas. A participação das fontes de energia na ca-
pacidade instalada do SIN13 está ilustrada na tabela 8.
Tabela 8 – Fontes na capacidade instalada do SIN

Fontes Participação no ano de 2023 (%)

Hidrelétrica 60,3%

Eólica 13,1%

Solar 3,9%

Biomassa 8,4%

Nuclear 1,10%

Outras 13,2%

Segundo o ONS14, prevê-se que até dezembro de


2026 a energia eólica alcance 13,9% de participação, e a
solar, 5,3%. Mas a geração de energia solar começa com
a aurora e finda com o arrebol, e a energia eólica apre-
senta geração com variabilidade significativa ao longo
dos meses e das horas do dia. Faltam-lhes a regularida-
de, a disponibilidade da energia hidrelétrica.
As usinas hidrelétricas detêm os maiores reservató- O sistema de produção e transmissão de energia
rios de água do Brasil em distintas bacias hidrográficas. elétrica do Brasil é um sistema hidro-termo-eólico de
A interligação do sistema de transmissão permite que grande porte, com predominância de usinas hidrelétri-
a energia gerada no Sudeste atenda à região Nordeste, cas – 72 usinas hidrelétricas com reservatório de acu-
ou vice-versa. Assim, não é possível analisar a opera- mulação e 88 usinas hidrelétricas a fio d’água16 – e com
ção dos reservatórios do rio São Francisco dissociada múltiplos proprietários. O SIN é constituído por qua-
dos demais reservatórios que formam o SIN. A figura tro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste

34 35
e Norte. A usina hidrelétrica de Três Marias pertence ao Naquele dia, o subsistema do Nordeste tinha uma
subsistema Sudeste/Centro-Oeste, e as de Sobradinho, geração de 15.558 MW, e uma carga verificada de 10.712
Itaparica, Moxotó, Paulo Afonso (I, II, III e IV) e Xingó, MW. Como havia excedente, um total de 3.611 MW foi
ao subsistema Nordeste. A figura 10 mostra o balanço dirigido para o subsistema Norte e 1.248 MW para o
de energia entre os subsistemas no dia 22 de fevereiro subsistema Sudeste/Centro-Oeste[4].
de 2023. Para dar conta de tão complexo e imprescindível
Figura 10 – Balanço de energia do SIN no dia 22 de fevereiro de 202317 serviço à sociedade, a legislação brasileira definiu com-
petências para algumas instituições públicas e privadas
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 22/02/2023 13h19 – ANEEL, ONS e ANA. A Lei Federal no 9.648, de 27 de
maio de 199818, em seu art. 13, estabeleceu que

Nordeste
[...] as atividades de coordenação e controle da
Norte
GERAÇÃO
operação da geração e da transmissão de energia
GERAÇÃO Total 15558,3
Total 14877,8 9089,8 3611,9 Hidráulica 3445,6 elétrica integrantes do Sistema Interligado Nacio-
Eólica 51,7 Térmica 555,7
Hidráulica
Térmica
14025,8
800,2
Eólica
Solar
8429,7
3127,4
nal (SIN) [...] serão executadas, mediante autoriza-
CARGA CARGA ção do poder concedente, pelo Operador Nacional
Verificada 5788,0 Verificada 10712,8
do Sistema Elétrico (ONS), pessoa jurídica de di-
1248,0
reito privado, sem fins lucrativos, fiscalizada e re-
12701,7 gulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica
Sudeste / Centro-Oeste (ANEEL).

Segundo seu Estatuto, o ONS tem como objetivo, en-


GERAÇÃO
Total 35107,4
Hidráulica 23255,4

tre outros, promover a otimização da operação do sistema


Térmica 1640,7
Nuclear 651,9
Itaipu 50Hz 3045,1

eletroenergético, visando o menor custo.


Itaipu 60 Hz 4312,1
Solar 2202,2

No ONS19
CARGA
Verificada 42866,6

Sul
[...] as atividades de programação da operação têm
GERAÇÃO
Intercâmbio Internacional 1649,8 Total 7767,7 6190,4 como insumo as estratégias de operação calcula-
Hidráulica 6553,6
Argentina 1149,9
Paraguai 0,0
Térmica
Eólica
785,2
429,0
das no planejamento da operação energética, as
Uruguai 499,9
CARGA informações atualizadas sobre o cronograma de
Verificada 12308,4
expansão da geração e transmissão, o estado atu-
Todos os valores em MW

[4] 15.571 MW = (10.712 + 3.611 + 1.248) MW

36 37
al de armazenamento dos reservatórios, as previ- Segundo a ANA22,
sões atualizadas de carga de energia por patamar,
[...] a operação hidráulica dos sistemas de reser-
a análise das condições meteorológicas verificadas
vatórios integrantes do SIN é uma atividade de
e previstas nas principais bacias do SIN e as pre-
tempo real que consiste na operacionalização das
visões de afluências aos aproveitamentos hidrelé-
diretrizes hidráulicas que, utilizando a capacidade
tricos.
de regulação dos reservatórios, permite o geren-
A Lei Federal no 9.427, de 9 de dezembro de 199620, ciamento do armazenamento de água nos reser-
no art. 2, definiu que a ANEEL tem por “[...] finalidade vatórios, considerando a otimização energética, o
controle de cheias e o atendimento aos usos múl-
regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribui-
tiplos da água.
ção e comercialização de energia elétrica, em conformi-
dade com as políticas e diretrizes do governo federal”. É um truísmo afirmar que o benefício da oferta de
Ficou estabelecido no art. 31 que energia elétrica alcança todo território brasileiro às cus-
tas da conciliação do uso múltiplo da água na bacia hi-
[...] os órgãos responsáveis pelo gerenciamento
dos recursos hídricos e a ANEEL devem se articu- drográfica onde ela foi gerada. O debate a respeito desta
lar para a outorga de concessão de uso de águas conciliação, associada à repotenciação e modernização
em bacias hidrográficas, de que possa resultar a do parque hidrelétrico e construção de novas usinas hi-
redução da potência firme de potenciais hidráuli- drelétricas, ocupa e ocupará uma parte importante dos
cos, especialmente os que se encontrem em ope-
debates no âmbito do comitê de bacia hidrográfica do rio
ração, com obras iniciadas ou por iniciar, mas já
concedidas. São Francisco e de outros rios brasileiros.

Por sua vez, cabe à ANA, conforme disposto no art.


4, inciso XII, da Lei no 9.984, de 17 de julho de 200021,
[...] definir e fiscalizar as condições de operação
4.2 Controle de cheias
de reservatórios por agentes públicos e privados, O documento do ONS Controle dos Reservatórios
visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hí-
da Região Hidrográfica do São Francisco7 estabelece que
dricos, conforme estabelecido nos planos de recur-
sos hídricos das respectivas bacias hidrográficas, a operação do sistema de reservatórios contém quatro
devendo as condições de operação de reservatórios tipos de situações para o controle de cheias. A tabela 9
de aproveitamentos hidrelétricos ser efetuada em caracteriza tais situações.
articulação com o Operador Nacional do Sistema
Elétrico – ONS.

38 39
Tabela 9 – Situação e coordenação da operação Figura 11 – V
 azões afluentes e defluentes no reservatório de Sobradinho
em 1992
Situação de
Coordenação Algumas características da situação
operação
18000 110
1. N
 ão há indicativo de violação de quaisquer das 16440
restrições operativas hidráulicas máximas ou 16000 100

ONS Normal mínimas registradas pelo Agente junto ao ONS, 73,04 90


ou informadas em tempo real. 14000

Volume acmuluado (% do Volume Útil)


80
2. N
 ão há caracterização de cheias. 12000

Vazão média diária (m3/s)


70
1. N
 ão há indicativo de violação de quaisquer das 10000 60
restrições operativas hidráulicas máximas ou
ONS Atenção mínimas registradas pelo Agente junto ao ONS 8000 50
ou informadas em tempo real. 10523
40
6000
2. H
 á caracterização de cheia.
30
1. H
 á indicativo de violação de quaisquer das 4000
20
Agente de restrições operativas hidráulicas máximas ou
Alerta 2000
geração mínimas registradas pelo Agente junto ao ONS 10
ou informadas em tempo real.
0 0
1. H
 á violação de quaisquer das restrições 00/jan 08/jan 16/jan 24/jan 01/fev 09/fev 17/fev 25/fev 04/mar 12/mar 20/mar 28/mar
Agente de operativas hidráulicas máximas ou mínimas
Emergência Afluência (m³/s) Defluência (m³/s) Volume Útil (%)
geração registradas pelo Agente junto ao ONS ou
informadas em tempo real.

Vê-se que a coordenação, a supervisão e o controle Tal resultado foi possível porque o reservatório no
da operação hidráulica, em tempo real, do reservatório dia 1º de janeiro armazenava 73% do seu volume útil e
que for declarado em situação de operação de Alerta ou no dia 14 de março estava completamente cheio – com
de Emergência, é de responsabilidade do Agente de Ge- 100% de seu volume útil. A diferença de 27% represen-
ração – ou CEMIG ou CHESF, para os reservatórios do tou uma acumulação de 7,56 bilhões de m3, o que per-
rio São Francisco. A seguir, para aclarar como o reser- mitiu o controle da cheia. De outra forma, haveria os da-
vatório é operado para controle de cheias, dois eventos nos do deslocamento de uma vazão de 16.440 m3/s em
na bacia do rio São Francisco são analisados. direção à foz. Assim, prestou-se um importante serviço à
A figura 11 exibe as vazões afluentes e defluentes
sociedade. Em outro momento, na parte alta da bacia, o
no reservatório de Sobradinho nos primeiros três meses
reservatório de Três Marias também cumpriu seu papel.
do ano de 1992, ocasião de uma cheia notável. No dia 6
No final do ano 2021 e começo de 2022 choveu
de março de 1992, a vazão afluente era de 16.440 m3/s,
muito em Minas Gerais, especialmente a montante do
entretanto, a vazão defluente máxima foi de 10.523
reservatório de Três Marias. A figura 12 exibe as vazões
m3/s. A figura demonstra a capacidade do reservatório
afluentes e defluentes no reservatório no intervalo de
da CHESF de controlar a cheia – reduzir a vazão máxi-
1º de dezembro de 2021 até 31 de janeiro de 2022. No
ma que descia o rio – por meio da acumulação de água.

40 41
dia 12 de janeiro de 2022, a vazão afluente era de 7.880 No dia 9 de janeiro de 2023, atuando para o contro-
m3/s. Conforme consta na tabela 4, a vazão defluente le de cheias, a CEMIG23 informou que diante da
do reservatório combinada com a vazão incremental no [...] continuidade de elevação das vazões afluen-
trecho de Três Marias até a cidade de Pirapora (MG) não tes superiores a 3.000 m³/s nesta data, associa-
deve ser maior que 4.000 m3/s. Nota-se que o reserva- do a um volume útil já superior a 70% [...] será
tório foi operado para atender a esta condicionante, por- necessária nova ampliação controlada das vazões
que a vazão máxima defluente foi de 3.037 m3/s, tendo defluentes da UHE Três Marias nos próximos dias,
ocorrido no dia 23 de janeiro de 2022. sendo:

No dia 1º de dezembro de 2021, o volume de água acu- 1. No dia 10 de janeiro, a partir de 8h, amplia-
mulado era de 36% do volume útil. Cinquenta dias depois, ção da vazão defluente total de 800 m³/s para
já no dia 20 de janeiro de 2022, o volume de água acumula- 1.300 m³/s;
do atingiu 93% do volume útil. Desta forma, o reservatório
2. No dia 11 de janeiro, a partir de 8h, amplia-
da CEMIG acumulou 8,6 bilhões de m3 de água[5], manten-
ção da vazão defluente total de 1.300 m³/s para
do a vazão defluente sob controle – prestou-se um serviço 1.650 m³/s.
de grande valor para as comunidades das margens do rio.
O mesmo serviço ocorreu em janeiro de 2023. A vazão defluente total compreende as vazões li-
beradas pelas comportas do vertedor somadas à
Figura 12 – V
 azões afluentes e defluentes no reservatório de Três Marias
vazão turbinada pelas unidades geradoras. A am-
em 2022
pliação tem como objetivo controlar a velocidade
9000 7880,53 93,75 100 Volume acmuluado (% do Volume Útil) de subida de nível do reservatório, evitando que
90
8000 o volume de espera para o período seja ocupado,
7000 80

6000
70 contribuindo para a capacidade de amortecimento
Vazões (m3/s)

5000
60 de maiores vazões no reservatório.
36,01 3037 50
4000
40
3000 30
Atuando no mesmo cenário hidrológico, a CHESF24,
2000 20 no dia 11 de janeiro de 2023, avisou que
1000 10
0 0 [...] o aumento gradual da saída de água dos reser-
Dezembro/2021 Janeiro/2022
vatórios ocorre devido à situação de cheia na Bacia
Afluência (m³/s) Defluência (m³/s) Volume Útil (%) do Rio São Francisco. Na terça-feira (10), foi con-
firmado o aumento da vazão para 3.500 m³/s no
sábado e domingo (14 e 15 de janeiro), passando
para 4.000 m³/s na segunda-feira, dia 16.
[5] 15,2 bilhões de m³ x (93% - 36%) = 8,6 bilhões de m³

42 43
A empresa informou que a operação segue as re- que ocorram problemas na navegação. Há também o
gras e diretrizes vigentes do ONS. desafio do funcionamento regular da eclusa, tema que
Na ocasião, de acordo com as restrições contidas mereceu lei própria no ano de 2015.
na tabela 5, a CHESF reforçou, ainda, A Lei Federal no 13.081, de 201525, em seu art. 1º,
[...] que a Bacia do Rio São Francisco se encontra estabelece que
no período úmido, reafirmando, assim, a impor- [...] construção de barragens para a geração de
tância da não ocupação do leito do rio, conside- energia elétrica em vias navegáveis ou potencial-
rando que a vazão de máxima (de restrição) do vale mente navegáveis deverá ocorrer de forma con-
do São Francisco a partir da Usina Hidrelétrica de comitante com a construção, total ou parcial, de
Sobradinho é de 8.000 m³/s [...]. eclusas ou de outros dispositivos de transposição
de níveis previstos em regulamentação estabele-
cida pelo Poder Executivo do ente da Federação
detentor do domínio do corpo de água.
4.3 Navegação Todavia, a exigência não se aplica aos potenciais
No documento Cadastro de Informações Operacionais hidráulicos cujo aproveitamento hidrelétrico ótimo seja
Hidráulicas da Bacia do Rio São Francisco (2022)4, lê-se que igual ou inferior a 50 MW, às barragens existentes, às
[...] a navegação no Rio São Francisco se encontra
em construção ou às já licitadas por ocasião da publi-
incipiente no trecho Pirapora – Juazeiro. Os pontos cação da Lei.
críticos que podem causar encalhes das embarca- A Confederação Nacional dos Transportes, no docu-
ções foram mapeados e dragados. Contudo, diferen- mento Aspectos Gerais da Navegação Interior no Brasil
ças acentuadas de vazões e nível entre os afluentes
(2019)26, alerta para a necessária ampliação da partici-
principais e o Rio São Francisco podem provocar
novas erosões e assim agravar os pontos críticos.
pação do setor hidroviário nos comitês de bacia hidro-
Segundo acordo firmado entre a CODEVASF e a gráfica, a fim de adicionar às discussões as demandas
CEMIG, as vazões defluentes de Três Marias deve da navegação. Apresenta-se a seguir uma operação hi-
ser de pelo menos 500 m³/s. Entretanto, este valor dráulica havida para atender à navegação.
tem se mostrado insuficiente e, aliado à pouca na-
Em janeiro de 2017, na cidade de Penedo (AL),
vegação, tem-se praticado vazões inferiores.
ocorreu a 136ª programação religiosa e cultural alusiva
No trecho Sobradinho-Itaparica a vazão defluente ao Glorioso Bom Jesus dos Navegantes. Lá, na proxi-
média mínima diária deve ser 1.300 m³/s para evitar midade da foz do rio São Francisco, a profundidade da

44 45
água era insuficiente para garantir a segurança da pro- A figura 14 exibe a curva-chave para seção do rio São
cissão fluvial. Francisco onde está localizada a estação fluviométrica
No dia 5 de janeiro, a CHESF, por meio do SOC (Código 49705000) de Propriá (SE). Por meio desta, vê-
001/2017, comunicou que, em atendimento à solici- -se qual vazão produzirá a profundidade da água exigida
tação da Prefeitura de Penedo, procederia gradual au- para atender a navegação. O mesmo raciocínio aplica-
mento na vazão defluente do reservatório de Xingó, no -se à captação de água para cidades ou irrigação, tema
período das 22 horas do dia 5 de janeiro até às 4h do abordado a seguir.
dia 7 de janeiro, devendo alcançar o patamar máximo Figura 14 – C
 urva cota versus descarga da estação fluviométrica em
de 1.600 m3/s, a fim de assegurar as melhores con- Propriá (SE)

dições de navegabilidade para o tradicional evento. O 8000

pulso de vazão viajou rio abaixo, por 123 km, até che- 7000

6000
gar em Penedo no domingo, dia 8 de janeiro. O resulta-
5000
do da operação está exibido na figura 13.

Vazão (m3/s)
4000

Figura 13 – V
 azões defluentes no reservatório de Xingó de 1º a 20 de 3000

janeiro de 2017 2000

1000
1800 0
1600 1532 0 100 200 300 400 500 600 700
1400 Cota da água (m)
1200
Vazões (m3/s)

943
1000
800 709 714
600
400
200
0
4.4 Saneamento e irrigação
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Janeiro O serviço de saneamento exige uma cota mínima


da água para garantir a sucção, ou uma vazão mínima
O leitor pode estar se perguntado como a definição com a qualidade que atenda às normas. Entretanto, o
de uma vazão defluente associa-se a um nível de água nível da água nos reservatórios pode oscilar de forma
desejado. É o que se mostra a seguir. A curva que re- significativa, trazendo desafios.
laciona o nível da água em uma seção do rio e a vazão A figura 15 mostra a variação do nível da água no
é chamada de curva-chave ou curva cota versus vazão. reservatório de Sobradinho, de janeiro de 2011 até abril

46 47
de 2022. Trata-se do registro de 144 meses ininterrup- Figura 16 – Curva Cota x Volume para o reservatório de Sobradinho

tos. O nível da água registrado no dia 1º de dezembro 100


de 2015 foi de 380,77 metros (correspondente a 1,07% 90

Volume acumulado (% do Volume Útil)


80 Cota = 392,5
do seu volume útil). Quase sete anos depois, no dia 6 70
VU(%) = 100

de abril de 2022, o nível da água foi de 392,5 metros 60


50
(correspondente a 100% do seu volume útil). Portanto,
40
o nível da água pode variar praticamente 12 metros. Se 30
20 Cota = 380,5
a estrutura da captação de água não estiver adaptada VU(%) = 0
10
ficará com a sucção a seco, mesmo que haja água sufi- 0
379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394
ciente no reservatório. Cota da água (m)

Figura 15 – Nível da água no reservatório de Sobradinho27


Nos anos secos de 2015 a 2017, para evitar o de-
394 392,5
392 sabastecimento das cidades devido à flutuação do nível
Cota da água em Sobradinho (m)

390
388
da água no reservatório de Sobradinho, os municípios
386
384
de Casa Nova, Remanso, Rodelas, Santo Sé e Sobradi-
382
380
nho tiveram como indicação a extensão da adutora em
378
376
380,77
direção à parte mais profunda do reservatório ou a ins-
374
talação de flutuadores28. Em outro trecho do rio, a qua-
11/Jan
11/Jul
12/Jan
12/Jul
13/Jan
13/Jul
14/Jan
14/Jul
15/Jan
15/Jul
16/Jan
16/Jul
17/Jan
17/Jul
18/Jan
18/Jul
19/Jan
19/Jul
20/Jan
20/Jul
21/Jan
21/Jul
22/Jan
22/Jul
lidade da água foi o fator limitante.
Em abril de 2020, ocorreu das companhias de sa-
Para associar a cota da água com o volume arma- neamento de Alagoas e Sergipe suspenderem o funcio-
zenado, os reservatórios possuem a curva cota da água namento das estações de tratamento de água devido à
versus volume armazenado. Esta curva para o reserva- elevada turbidez da água. À época, a CHESF, por meio
tório de Sobradinho está na figura 16. É bom recordar da Carta Circular SOO 012/202029, comunicou que, a
ao leitor que a tabela 2 informa os níveis operativos má- partir do dia 5 de abril de 2020, a vazão defluente da
ximo (392,50) e mínimo (380,50) do reservatório de So- UHE Xingó seria elevada para o
bradinho, em acordo com a figura 16. [...] patamar de 1.300 m³/s a fim de atender à soli-
citação da Secretaria de Estado do Desenvolvimen-
to Urbano e Sustentabilidade de Sergipe, em virtu-

48 49
de do elevado teor de turbidez nas águas do Baixo Para o Distrito de Irrigação Nilo Coelho, localiza-
São Francisco, devido às fortes chuvas ocorridas do em Petrolina (PE), a cota considerada limitante é de
nos estados de Alagoas e Sergipe, ocasionando o
383,0 m. Abaixo desta, se inicia o processo de redução
desabastecimento de água para consumo humano
em várias cidades, inclusive parte de Aracaju. da captação até chegar ao ponto crítico que é 380,5 m,
ocasião que o reservatório de Sobradinho atinge o nível
A figura 17 mostra a operação hidráulica mencio-
zero do seu volume útil.
nada.
Desta forma, os projetistas das estruturas de cap-
Figura 17 – V
 azões defluentes no reservatório de Xingó no mês de abril de tação de água – fixa ou flutuante – precisam considerar
2020
tal flutuação em seus cálculos. Atenção especial deve
1350
1301 ser dada à altura de sucção dos conjuntos elevatórios,
1300
Vazão média diária (m3/s)

1250 ponto sensível no projeto hidráulico. A aquicultura de


1200 1159
1150 1114 tanque-rede também sofre efeitos do rebaixamento do
1100
1050
nível da água.
1000
950
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Abril

4.5 Aquicultura, ictiofauna, turismo e


A irrigação também exige uma vazão mínima que salinização da foz
corresponde a uma cota mínima da água em sua cap-
A atividade de aquicultura com tanques-rede é re-
tação. Conforme documento do ONS, o Projeto Jaíba4,
gulada por diversos órgãos. O Decreto 10.576, de 14 de
implantado em 1975,
dezembro de 2020, que dispõe sobre a cessão de uso de
[...] consiste em um canal principal de bombea-
espaços físicos em corpos d’água de domínio da União
mento, em Matias Cardoso-MG, com sete quilôme-
para a prática da aquicultura, harmonizou os aspectos
tros de extensão e capacidade de bombeamento de
80 m³/s, para irrigar cerca de 28 mil hectares da legais da atividade.
região norte de Minas Gerais. Para que a captação Com a ANA, nas águas de domínio da União, é ob-
seja possível, a vazão do rio São Francisco no pon- tida a outorga de direito de uso de recursos hídricos.
to de controle Matias Cardoso deve ser superior a
O Ministério da Agricultura avalia a compatibilidade da
315 m³/s.
produção aquícola e da carga média de fósforo de cada
sistema de cultivo, a ser objeto de cessão de uso de es-

50 51
paço físico, com os limites estabelecidos na outorga. dos vértices do polígono contido no licenciamento, o
A autoridade marítima analisa a segurança do tráfego que certamente trará desassossego e despesas para o
aquaviário. A Secretaria de Coordenação e Governança produtor;
do Patrimônio da União, quando for o caso, analisa e 3. Reposicionar os tanques-rede para áreas com maio-
autoriza o uso da área de domínio da União. O Instituto res profundidades exige o remanejo das sustentações
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais de ancoragem e recolocação da sinalização para se-
Renováveis (IBAMA), sem prejuízo de outras obrigações, gurança do tráfego aquaviário, podendo, conforme o
procede o cadastro técnico federal da atividade e analisa caso, exigir uma reanálise por parte da autoridade
a introdução ou translocação de espécies e reintrodução marítima;
de espécimes oriundos de fora das fronteiras nacionais.
4. Uma postura conservadora para reduzir os riscos
O órgão ambiental responsável pelo licenciamento, sem
com a flutuação do nível da água levaria os tanques-
prejuízo de outras obrigações, definirá um polígono ge-
-rede para as regiões com maiores profundidades de
orreferenciado onde a infraestrutura em terra e em água
água do reservatório. Entretanto, há prejuízos para
pode ser instalada e alertará para a observância dos pa-
posicionar os projetos nestas áreas, porque amplia a
râmetros da classe 2 das águas doces conforme resolu-
distância entre a estrutura em terra (silo com a ração,
ção CONAMA 357. Além destas obrigações, o produtor
administração, galpões, vigilância, monitoramento da
enfrenta, entre outros desafios, o rebaixamento do nível
qualidade da água, etc.) e os tanques-rede, tornando
da água.
a logística demorada e complexa, e, por conseguinte,
As consequências do rebaixamento do nível da
aumentando o custo de produção;
água do reservatório na rotina operacional da aquicul-
tura com tanques-rede são: 5. Tanques-rede em áreas rasas possuem, em geral,
1. As linhas de tanques-rede, especialmente as próxi- uma qualidade da água inferior ao longo do perfil ver-
mas às margens, podem ficar secas e com produção tical, diminuindo a produtividade da atividade;
suspensa; 6. Tanques-rede a fio da água, localizados em trecho de
2. Com o rebaixamento do nível da água, o produtor, ao rio entre reservatórios, podem ser afetados por um
buscar áreas com maior profundidade, pode, de forma aumento brusco da vazão defluente dos reservatórios,
indesejada, romper o limite do polígono autorizado. causando significativa mortandade de peixes.
Esse fato, em última análise, poderá ensejar a revisão

52 53
Não só a flutuação do nível da água afeta a aquicul- Na linha da geração de conhecimento para proteger
tura. O enchimento rápido do reservatório pode causar a ictiofauna nativa, o Programa Peixe Vivo da CEMIG
uma suspensão do material que estava no fundo, dimi- produziu o livro intitulado Avaliação de risco de morte
nuindo a qualidade da água no perfil vertical, causando de peixes em usinas hidrelétricas. No capítulo A arriba-
inclusive mortandade dos peixes, daí as limitações de ção no alto-médio rio São Francisco31, explica-se que
variação de m3/s/dia contidas nas tabelas 4 e 5. [...] após o desenvolvimento inicial nas várzeas e
Em um debate amplo a respeito da aquicultura, lagoas marginais, peixes jovens realizam migração
será necessário discutir a pesca com rede dos peixes de dispersão [...] em busca de locais para terminar
seu desenvolvimento e encontrar alimento e prote-
nativos nos trechos de rio, o aumento de macrófitas nas
ção contra predadores [...]. No rio São Francisco,
margens dificultando as operações dos tanques-rede e essa migração é conhecida como ‘arribação’ [...].
a proteção da ictiofauna nativa. Este último assunto é No seu alto curso, ela tende a acontecer todos os
alvo de uma importante parceria na bacia hidrográfica anos [...] durante e depois das cheias, quando as
do rio São Francisco. várzeas e suas lagoas se conectam com o rio. Os
peixes da arribação se aglomeram imediatamente
A CEMIG, o CBHSF e a Agência Peixe Vivo criaram
a jusante da Usina Hidrelétrica de Três Marias.
o projeto Integridade Ecológica de Lagoas Marginais do
Rio São Francisco de Minas Gerais Integrada com a Ope- No capítulo Recomendações para proteção de pei-
ração Otimizada da Usina Hidrelétrica de Três Marias, xes em novos empreendimentos hidrelétricos32, expõem-
iniciado com o Acordo de Cooperação Técnica, assinado -se que deve ser avaliada a existência de pontos de
em 6 de dezembro de 201830. aprisionamento de peixes em canais de dissipação do
O projeto executa-se no trecho mineiro do rio São vertedouro, canais de fuga e pontos irregulares a jusan-
Francisco, entre a barragem da Usina Hidrelétrica de te de usinas hidrelétricas. Como resposta, desde julho
Três Marias e as cidades de Manga e Matias Cardoso. O de 2007, estão sendo utilizadas grades – barreiras para
objetivo do projeto30 é criar um “[...] Sistema de Previsão a entrada de peixes na sucção – nas paradas progra-
Hidrológica e Hidrodinâmica como suporte à Decisão madas das unidades geradoras da usina hidrelétrica de
Operativa da UHE Três Marias para manutenção e res- Três Marias.
tabelecimento das Lagoas Marginais no trecho mineiro A variação do nível da água também afeta a ativi-
da bacia hidrográfica do rio São Francisco”. dade do turismo nos reservatórios – a maior parte das
reservas dos hotéis e pousadas é cancelada quando o
nível da água desce acentuadamente. O caso desperta

54 55
tanto interesse que, na bacia hidrográfica do rio Gran- m3/s, entre 18 a 25 de fevereiro de 2014 e que no perí-
de, uma Emenda à Constituição do Estado de Minas odo de 2005 a 2017 a cunha salina avançou até 10 km
Gerais33, em dezembro de 2020, acrescentou o artigo continente adentro com salinidade superior a 0,5 g/
084-A com o seguinte teor: kg – limite da potabilidade estabelecida pela Resolução
Art. 084-A - Ficam tombados, para fins de con- CONAMA 357.
servação, o Lago de Furnas e o Lago de Peixoto, Quando se combinam as vazões baixas a períodos
localizados na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, de maré alta, a intrusão salina exige a suspensão da
devendo seu nível ser mantido, respectivamente,
captação da água para os municípios de Piaçabuçu (AL)
em, no mínimo, 762m (setecentos e sessenta e
dois metros) e 663m (seiscentos e sessenta e três
e Brejo Grande (SE). Em julho de 2022, em resposta aos
metros) acima do nível do mar, de modo a assegu- efeitos da intrusão salina, o presidente do CBHSF, Ma-
rar o uso múltiplo das águas, notadamente para o ciel Oliveira35, informou que foram investidos mais de
turismo, a agricultura e a piscicultura. R$ 10 milhões – recurso oriundo da cobrança pelo uso
Entretanto, a Advocacia Geral da União ajuizou da água –, para a melhoria no abastecimento de água
uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 6.889) da população ribeirinha de Piaçabuçu. A obra contem-
junto ao STF alegando que o tombamento ofende a com- pla a implantação de novo sistema de captação, uma
petência privativa da União para legislar sobre águas e elevatória de água bruta e três reservatórios de 275 m³,
energia e explorar os serviços e as instalações de energia totalizando 825 m³ para armazenamento de água bruta.
elétrica. A matéria aguarda julgamento. A redução das vazões no estuário também tem cau-
Outro problema relacionado com as vazões de- sado impacto na atividade de pesca artesanal e na ma-
fluentes é a intrusão salina que afeta a região próxima nutenção das funções ecossistêmicas típicas da região,
à foz do rio São Francisco. A distribuição da salinidade que também enfrenta progressivo processo de erosão na
no estuário depende da vazão do rio, do vento, da maré costa. O leitor que tiver curiosidade nos detalhes da di-
e de outros fatores. Em um artigo de 2020, os pro- nâmica da salinidade na foz, da erosão na costa e do
fessores Geórgenes Cavalcante, Paulo Peter Medeiros e impacto na atividade de pesca deve ler os numerosos
outros autores tratam da relação entre a redução das estudos realizados e disponíveis no site da CHESF, em
vazões e a dinâmica da salinização da foz34. Os autores cumprimento às condicionantes ambientais estabeleci-
explicam que a intrusão salina avançou de 6,8 a 8 km das pelo IBAMA36.
quando a vazão do rio se reduziu de 1.100 para 900

56 57
5
ACORDOS PARA DIRIMIR
CONFLITOS PELA ÁGUA

Outro dia, li o livro Como curar um fanático, do es-


critor Amós Oz. Desta rica leitura, passei a ver com mais
clareza algo que já intuía: os conflitos pelo uso da água
não são uma luta do bem contra o mal. Em muitos ca-
sos, as partes envolvidas têm sólidos e legítimos argu-
mentos para defender seu ponto de vista. Acontece que
os limites da natureza ou da infraestrutura impõem a
necessidade de acordos.
Precisamos de acordos pelo uso da água que pro-
movam a oferta de bens e serviços típicos das sociedades
humanas contemporâneas, sem descuidar do desenvol-
vimento social e da sustentabilidade ambiental em todo
o processo. A experiência mostra que os avanços signifi-
cativos na solução de conflitos pela água foram obtidos
pouco a pouco, com o progressivo acúmulo de pequenos

59
consensos que, ao final, se amalgamaram em acordos Paulo Afonso Penedo Juazeiro Barreiras Três Marias

entre as partes. A Resolução ANA No 2.081, comentada Operação de


Operação de Operação de barragens
Operação de
no capítulo 4, é um exemplo completo. barragens barragens hidroelétricas
Usos múltiplos e barragens
hidroelétricas hidroelétricas X
indiscriminados hidroelétricas
A construção de acordos para dirimir alguns dos X X navegação
X X
navegação navegação abaixo de
preservação navegação
conflitos pela água na bacia do rio São Francisco depen- (redução do (redução do Sobradinho
ambiental (efetividade da
calado, bancos calado, bancos (redução do
hidrovia)
de, na essência, da boa compreensão das operações hi- de areia) de areia) calado, bancos
de areia)
dráulicas dos reservatórios. Em 2013, o CBHSF realizou Operação de
barragens
o evento Oficinas Usos Múltiplos das Águas do Rio São Operação de hidroelétricas Operação de Barragens para
Ausência de
barragens X barragens captar água
Francisco com atividades nas cidades de Paulo Afonso hidroelétricas pesca e hidroelétricas para irrigação
saneamento
básico
X piscicultura X X
(BA), Penedo (AL), Barreiras (BA), Juazeiro (BA) e Três turismo (ausência pesca e pesca
X
qualidade da
(variação de lagoas piscicultura (reprodução
Marias (MG). O objetivo das oficinas era prover o CBHSF imprevisível do marginais e (pesca em áreas dos peixes -
água para os
múltiplos usos
nível) nutrientes para de segurança) piracema)
das informações que iriam subsidiar a construção do reprodução dos
peixes)
texto da deliberação sobre os usos múltiplos das águas
Operação de Operação de Irrigação
Silvicultura
do rio São Francisco. A tabela 10 sintetiza alguns dos barragens barragens barragens X
X
isoladas hidroelétricas hidroelétricas múltiplos
preservação
conflitos pela água destacados em cada uma das cida- X X X usos (uso
ambiental
irrigação e turismo turismo indiscriminado
(proteção de
des onde foram realizadas as oficinas. múltiplos usos (variação (variação de água
nascentes e
(Poço da Cruz) imprevisível do imprevisível do subterrânea e
cachoeiras)
nível) nível) de agrotóxicos)
Tabela 10 − Alguns conflitos pelo uso da água no rio São Francisco

Paulo Afonso Penedo Juazeiro Barreiras Três Marias Ao longo da bacia há conflitos de todos os mati-
Operação de
Operação de Operação de zes . Todavia, os participantes da oficina percebiam a
37
barragens Operação de Operação de
barragens barragens
hidroelétricas barragens barragens
hidroelétricas hidroelétricas predominância de conflitos que envolvem a operação
X hidroelétricas hidroelétricas
X X
captação para X X
múltiplos usos turismo, esporte dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Este livro foi
abastecimento captação para captação para
da população e lazer (no
(entorno abastecimento abastecimento
ribeirinha entorno do lago) escrito para qualificar a participação do leitor na bus-
reservatório)
Energia ca por acordos para superar estes conflitos no rio São
Operação de Operação de Operação de (instalação de
barragens barragens barragens PCHs) Francisco.
hidroelétricas hidroelétricas hidroelétricas PCHs X
X X X X abastecimento
captação e captação e captação e irrigação e múltiplos
bombeamento bombeamento bombeamento usos das
para irrigação para irrigação para irrigação comunidades
atingidas

60 61
SOBRE O AUTOR REFERÊNCIAS

Valmir de Albuquerque Pedrosa é formado em en- 1


BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Projeto
genharia civil e professor titular da Universidade Fede- de integração do rio São Francisco com as bacias
ral de Alagoas. Foi membro do Comitê de Bacia Hidro- hidrográficas do Nordeste Sententrional: relatório
gráfica do Rio São Francisco e participou do Grupo de de impacto ambiental – RIMA. 2004. Disponível em:
Trabalho que tratou das condições para a operação do https://antigo.mdr.gov.br/images/stories/ProjetoRioSaoFrancisco/
sistema hídrico do rio São Francisco. Ministrou diversas ArquivosPDF/documentostecnicos/RIMAJULHO2004.pdf.
edições do curso de gestão de conflitos pela água a con- Acesso em: 6 mar. 2023
vite da ANA. Nos anos recentes atua no desenvolvimento 2
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de estratégia hídrica para empresas públicas e privadas,
usos consuntivos da água no Brasil. Brasília, 2019.
com foco nas ações desenvolvidas na escala da bacia
Disponível no link https://www.snirh.gov.br/portal/snirh/centrais
hidrográfica e na gestão dos conflitos pela água.
-de-conteudos/central-de-publicacoes/ana_manual_de_usos_
No período de 2017 a 2023 foi autor ou coautor dos
consuntivos_da_agua_no_brasil.pdf/view. Acesso em: 6 mar. 2023.
seguintes livros:
3
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil); FUNDO
1. A indústria e a água: Agindo além do perímetro da
PARA O MEIO AMBIENTE MUNDIAL; PROGRAMA
unidade industrial (2023);
DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE;
2. Águas: distintos olhares (2022); ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS.
3. O custo da água (2021); Determinação de subsídios para procedimentos
4. Desafios do professor e do mediador na seara am- operacionais dos principais reservatórios da bacia
biental (2020); do São Francisco: subprojeto 4.4: resumo executivo
do relatório final. São Paulo: ANA, 2002. Projeto de
5. Construindo pactos pelo uso da água (2020);
gerenciamento integrado das atividades desenvolvidas
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62 63
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das águas na área de influência do aquífero Urucuia
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a Agência Peixe Vivo (APV) e a Empresa Água e Solo Estudos e Pro-
jetos realizaram, nas cidades de Paulo Afonso (BA) e Penedo (AL),
nos meses de abril e maio de 2023, o curso Gestão de Conflitos pelo
Uso da Água. Este livro – A operação hidráulica dos reservatórios
do rio São Francisco – Para entender os serviços prestados pelos
reservatórios e o uso múltiplo das águas – foi escrito para servir de
texto básico de apoio ao curso.

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