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RELATÓRIO FINAL
PIBIC
RESUMO
Os diversos usos múltiplos dos recursos hídricos tem provocado a ocorrência de conflitos entre os variados
usuários de água. Nesse contexto, a bacia hidrográfica se destaca como a unidade territorial da gestão e do
planejamento, mas, para isso, é necessário conhecer e entender a dinâmica dos usos e ocupações do solo e sua
contribuição para poluição dos recursos hídricos. Conhecer também, os fatores hidrológicos como intensidade e
duração das precipitações; e, regime pluviométrico e fluviométrico anual. A forma como estes fatores se
relacionam na bacia podem contribuir para a poluição dos cursos hídricos em maior ou menor quantidade.
Levando em conta o exposto acima, esta pesquisa realizou um diagnóstico ambiental na bacia do Rio das
Fêmeas, a fim de se analisar a variação qualitativa e quantitativa da água do referido rio, considerando as
interferências naturais e antrópicas. Para tanto, realizou-se as seguintes atividades de pesquisa na bacia: obtenção
e avaliação das características morfométricas, utilizando geotecnologias como técnicas de apoio; análise da
ocupação do solo para os anos de 2008, 2011 e 2012, através da classificação supervisionada; caracterização
pluvi-fluviométrica, utilizando série histórica com 29 anos dados (1985 a 2013); e, análise dos efeitos da
ocupação do solo na qualidade da água do Rio das Fêmeas, utilizando-se de 20 parâmetros físicos, químicos e
microbiológicos monitorados pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia em quatro
campanhas durante os anos de 2011 e 2012. Na análise da ocupação do solo, observou-se que em todos os
trechos, exceto o T3, houve aumento de área antropizada de 2008 a 2012. Na caracterização pluvi-fluviométrica
anual e mensal, percebeu-se uma tendência geral de redução para as duas variáveis hidrológicas. Na análise da
qualidade da água observou-se que a maioria dos parâmetros situou-se abaixo do valor máximo permitido,
conforme referenciados na literatura. Este trabalho foi desenvolvido em parceria com pesquisadores do mestrado
da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), e teve como objetivo avaliar a interferência sazonal da
precipitação na vazão do rio e na qualidade da água no trecho do Rio das Fêmeas, onde se encontra localizada a
PCH Sítio Grande na bacia do Rio das Fêmeas - BRF, município de São Desiderio – BA. Como frutos, obteve-se
uma dissertação de mestrado de duas publicações.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, vem ocorrendo vários fóruns de discussão sobre questões relacionadas ao uso dos recursos
hídricos em função do crescimento demográfico e econômico do Brasil. Além do aumento da demanda, que tem
gerado conflitos de utilização em várias regiões do país, houve progressiva degradação da qualidade das águas
dos rios em virtude da intensificação das atividades industriais, agropecuárias e de mineração (BRASIL, 2013).
De acordo com Tundisi (2006) todos os usos múltiplos da água produzem impactos complexos e com efeitos
diretos e indiretos na economia, na saúde humana, no abastecimento público e na qualidade de vida das
populações humanas e na biodiversidade.
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Pensando em uma adequada gestão dos recursos hídricos os legisladores brasileiros aprovaram a Lei 9.433/97 a
qual institui a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH. Segundo essa Lei, a unidade territorial onde deve
se dar o gerenciamento dos recursos hídricos para atuação e implementação da PNRH é a bacia hidrográfica.
As bacias hidrográficas constituem unidades ambientais de fundamental importância nos estudos
interdisciplinares, visando o seu manejo sustentável. A gestão eficiente desta unidade é um fator básico e
fundamental para o planejamento e uso racional de seus recursos naturais, principalmente o manejo eficaz da
água que é um recurso de vital importância para os seres vivos (DE SÀ et al., 2012).
A adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento se faz indispensável, não apenas pelos aspectos
hidrológicos, como também, pelo fato de que dentro de uma bacia ocorrem inúmeras interações entre aspectos
bióticos, abióticos e antrópicos que influenciam direta e indiretamente a dinâmica dos recursos hídricos,
fazendo-se necessário o conhecimento de todos esses aspectos (características morfométricas, climáticas,
pedológicas, geomorfológicas, bem como, o uso e ocupação dos solos) e das respostas do ambiente as alterações
dos mesmos (SILVA et al., 2015).
Tendo em vista a necessidade de uma gestão adequada dos recursos hídricos, o monitoramento ambiental da
qualidade destes recursos é um importante instrumento para qualquer processo de gerenciamento, assegurando o
acompanhamento das pressões antrópicas, do estado da água e ambientes aquáticos e das respostas ou resultados
do sistema de gestão e ações efetivadas no controle e proteção dos recursos hídricos (MAGALHÃES JÚNIOR,
2007).
Nesse âmbito, esse projeto teve como objetivo geral avaliar os efeitos da sazonalidade pluvi-fluviométrica e do
uso e ocupação do solo na qualidade da água à jusante do reservatório da PCH Sítio Grande localizada na bacia
do Rio das Fêmeas - BRF, município de São Desiderio – BA; e objetivos específicos: Investigar a influência
qualitativa da sazonalidade pluvi-fluviométrica sobre os parâmetros da qualidade da água avaliados; e realizar a
identificação dos usos e ocupação no entorno da área estuda e correlacioná-los com os parâmetros de qualidade
da água no trecho.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Área de Estudo
A Sub-bacia hidrográfica do rio das Fêmeas localiza-se entre os paralelos 11° 15’ S e 13º 30’S e os meridianos
43º 45’W e 46º 30’W, dentro da bacia do rio Grande, e possui uma área de 5.825 km², que compreende 42% do
município de São Desidério, no oeste do estado da Bahia, como mostra a Figura 1 abaixo. A vegetação
dominante na sub-bacia é o cerrado e os solos predominantes são os Latossolos. O clima da região classifica-se
como Aw (Köppen) (clima tropical com chuvas de verão), com temperatura média anual de 23,2 °C, e umidade
média relativa do ar variando entre 45% a 79%.
Para o preenchimento das falhas utilizou-se o Método de Ponderação Regional descrito por Bertoni e Tucci
(2007) apresentado pela Equação 1. O método da ponderação regional é geralmente utilizado para o
3
preenchimento de séries mensais e anuais. Para o preenchimento das séries mensais foi importante selecionar
postos vizinhos àqueles que apresentaram falhas, visto que estes auxiliaram na determinação dos valores que
complementaram as séries.
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1 M M M
Px x Pa x Pb x Pc equação (1)
3 Ma Mb Mc
Em que,
Px = precipitação mensal na estação com falha;
Mx = precipitação anual na estação com falha;
Ma, Mb, Mc = precipitação anual nas estações vizinhas; e
Pa, Pb, Pc = precipitação mensal nas estações vizinhas no mês a ser corrigido.
A homogeneidade dos dados pluviométricos foi determinada através do método das duplas massas desenvolvido
pela Geological Survey (USA), o qual visa corrigir erros sistemáticos. Posteriormente ao preenchimento de
falhas e análise de homogeneidade procedeu-se a espacialização da precipitação média anual na sub-bacia
hidrográfica utilizando-se o método de interpolação inverso do quadrado da distância (IQD) com o auxilio do
ArcGIS 10.
Para o preenchimento das falhas realizou-se primeiramente a caracterização das mesmas. Assim, observou-se a
existência de 84 falhas no período de 1985 a 2013, correspondendo a 24, 2% dos dados, sendo que as mesmas
ocorreram principalmente no ano de 2006.
Seguido o preenchimento das falhas nas séries mensais de cada estação, procedeu-se a análise de homogeneidade
pelo método das duplas massas. Sendo assim, utilizando o Excel, foram calculados os totais anuais acumulados e
posteriormente os valores foram plotados no sistema cartesiano, em um gráfico do tipo dispersão, no qual o eixo
das ordenadas (Y) corresponde aos valores das precipitações anuais acumuladas de cada posto e no eixo das
abscissas (X) os totais médios da precipitação anual acumulada da bacia em questão.
- Seleção de imagens
A evolução temporal da ocupação da bacia do Rio das Fêmeas foi observada através do processo da classificação
supervisionada. Para tanto, utilizou-se imagens dos satélites Landsat 5, sensor TM (Thematic Mapper) e IRS-P6,
também conhecido como RESOURCESAT-1 do sensor LISS-III. As imagens do Landsat e do IRS-P6 foram
obtidas do catálogo de imagens do INPE. Na Tabela 2 estão apresentados os dados de cada imagem.
DATA DO
ANO SATÉLITE ÓRBITA/PONTO
IMAGEAMENTO
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A escolha dos períodos de avaliação do processo de evolução da ocupação da bacia basearam-se no estudo de
alteração hidrológica, que utilizou o ano de 2008 como separador entre os período pré e pós-impacto e nas
campanhas de qualidade de água, realizadas em 2011 e 2012.
- Composição Colorida
As imagens são originalmente formadas no modo monocromático, em que cada detector é sensível à
determinada faixa do comprimento de onda. O olho humano é sensível apenas na região do visível, neste aspecto
o processo da composição colorida foi realizado para deixar os alvos da imagem perceptíveis ao olho humano. O
processo da composição colorida das imagens foi realizado no software ArcGIS 9.3, utilizando-se as bandas
TM1, TM2, TM3, TM4, TM5, e TM7, (no caso do Landsat 5). No satélite IRS-P6 a composição foi feito com as
todas as bandas.
- Processo de Classificação
Nesta etapa, as imagens orbitais passaram pelo processo de classificação automática do tipo supervisionada, pelo
fato de se ter conhecimento da área estudada. Assim, com a utilização do software Erdas Imagine 2010, a área de
estudo foi classificada em duas classes: Classe I, correspondente a áreas antropizadas e Classe II referentes a
áreas naturais.
A Classe I englobou as áreas desmatadas, com atividades agrícolas, aglomerados populacionais e queimadas
com limites definidos. Já a Classe II, referente à vegetação natural, englobou os cursos d’água da bacia do Rio
das Fêmeas, todos os tipos de formações naturais, áreas regeneradas e queimadas sem limites definidos (ou seja,
de ocorrência natural, fenômeno típico do Cerrado).
Para definição das Classes I e II foram indicados ao classificador o que caracterizava determinada classe, ou seja,
foram definidas as assinaturas através do comando Classifer > Signature editor > AOI. Dessa forma, para cada
uma das classes foram definidas amostras simples, cuja média entre elas permitiu a definição de uma amostra
composta que foi utilizada no processo de classificação, o qual foi feito através do comando Classify >
Supervised. A fim de melhorar a separabilidade entre as Classes I e II utilizou-se nas imagens, um filtro
majoritário de 5x5, também com a utilização do software Erdas Imagine 2010.
O classificador utilizado nesse processo foi o Máxima Verossimilhança (MaxVer) que é muito utilizado em
sensoriamento remoto para classificação digital de imagens multiespectrais e que segundo Meneses e Almeida
(2012), considera a ponderação das distâncias entre as médias dos valores dos pixels das classes, utilizando
parâmetros estatísticos.
avaliados.
LIMITE DE
PARÂMETROS
QUANTIFICAÇÃO
Carbono orgânico total 0,2 mg L-1
Clorofila “a” --
Compostos Organofosforados e
0,15 % IAE
carbanatos totais
Demanda Bioquímica de
0,30 mg L-1
Oxigênio
Demanda Química de Oxigênio 0,03 mg L-1
Fósforo total 0,004 mg L-1
Nitratos 0,10 mg L-1
Nitrogênio Amoniacal total 0,002 mg L-1
Bactérias heterotróficas --
Coliformes termotolerantes --
Alcalidade 1,00 mg L-1
Cálcio total 0,08 mg L-1
Chumbo total 0,003 mg L-1
Cloreto total 0,5 mg L-1
Potássio total 0,01 mg L-1
Sódio total 0,10 mg L-1
Turbidez 0,21 UNT
Sólidos totais dissolvidos 1,00 mg L-1
Sólidos suspensos totais 1,00 mg L-1
Cor verdadeira 1,00 mg Pt L-1
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3. RESULTADOS
3.1 Caracterização pluviométrica da Bacia do Rio das Fêmeas
Na Tabela 4 apresentam-se as caraterísticas das estações utilizadas nesta pesquisa.
Na Figura 3 apresentam-se as curvas das duplas massas para todos os postos pluviométricos estudados, nas quais
foi analisada, em cada estação, a consistência da série histórica com a média das estações vizinhas, e logo abaixo
a Tabela 5 apresenta os coeficientes de determinação (r²) obtidos para cada estação.
Na Figura 4 apresenta-se a variabilidade espacial das precipitações na sub-bacia hidrográfica do Rio das Fêmeas.
Figura 4: Distribuição da precipitação média anual na Sub-bacia do rio das Fêmeas, BA.
Figura 5: Precipitações médias anuais na bacia do Rio das Fêmeas no período de 1985 a 2013.
A próxima figura apresentam as vazões (Q) médias, mínimas e máximas anuais para o período de 1985 a 2013.
Figura 6: Vazões anuais na bacia do Rio das Fêmeas no período de (1985 a 2013).
Figura 7: Localização dos trechos avaliados e o processo de ocupação do solo nos anos de 2008, 2011 e 2012.
3.4 Condições pluvi-fluviométricas nos períodos de análise dos parâmetros de qualidade da água
A Figura abaixo mostra a relação entre a quantidade de vazão e precipitação na época das análises dos
parâmetros de qualidade da água.
4. DISCUSSÃO
4.1 Caracterização pluviométrica da Bacia do Rio das Fêmeas
Pela Tabela 4 pode-se observar que as estações Sítio Grande, Derocal e Roda Velha, que se localizam dentro da
sub-bacia do Rio das Fêmeas, apresentaram falhas variando de 0,29 a 5,56%. As estações (Audora do Norte, São
Domingos Fazenda Johá, Fazenda Redenção e fazenda Prainha) que se encontram fora da sub-bacia
apresentaram índice de falha variando de 2,3 a 4,31%. Embora o percentual de falhas de todas as estações tenha
sido baixo, o preenchimento é necessário para avaliação dos dados pluviométricos.
Através da Figura 3 observou-se que para todas as estações uma consistência das séries históricas, visto que estas
apresentaram comportamento linear e os coeficientes de determinação (r²) obtidos estavam todos próximos de 1
(Tabela 5), garantindo assim uma boa homogeneidade dos dados preenchidos.
A Figura43 mostra que os valores médios anuais de precipitação variaram entre 976,9 mm a 1.744,8 mm. Pode-
se observar que o gradiente de precipitação tende a aumentar da foz, que se localiza no município de São
Desidério (BA), em direção às nascentes da sub-bacia, região que limita com os estados de Tocantins e Goiás.
Os valores de precipitação condizem com estudos já realizados na área que apresentam valores semelhantes aos
das médias anuais encontradas, conforme Pimentel et al. (2000) que encontrou médias anuais entre 1.100 e 1.700
mm.ano-¹.
Na Figura 6 deve-se dar atenção especial a partir de 1992, pois entre os anos de 1992 e 2013, as vazões médias
variaram entre 64,72 m³ s-1e 37,27m³ s-1, respectivamente. As mínimas variaram entre 46,01 m³ s-1e 24,20 m³ s-
1
, correspondente aos anos de 1992 e 2011, respectivamente, e as máximas variaram entre 173,17 m³ s -1 e 58,18
m³ s-1, correspondentes aos anos de 1992 e 2008, respectivamente.
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Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Brasília, 1997. Disponível em:
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2015.
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