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em Educação Ambiental
Resíduos Sólidos e Animais em Meio Urbano
Financiamento: 1
Fundo Social Europeu /Estado Português/POEFDS
Os problemas ambientais e a consciência ecológica
2
Prefácio
O Director Municipal,
Ângelo Mesquita
3
Os problemas ambientais e a consciência ecológica
4
Sumário
INTRODUÇÃO 13
I AMBIENTE E RESÍDUOS SÓLIDOS
P
15
1. Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica 17
1.1. Os Recursos Naturais 18
1.2. A Atmosfera 20
1.2.1. Camada do Ozono 20
1.2.2. Efeito de Estufa e Alterações Climáticas 22
1.2.3. Chuvas Ácidas 24
1.3. O Solo 25
1.3.1. Poluição por Resíduos 25
1.3.2. Desflorestação/Desertificação 27
1.4. A Água 28
1.4.1. Poluição das Águas 28
1.5. A Consciência Ecológica 31
1.5.1. No Mundo 31
1.5.2. A Política do Ambiente na Europa 40
1.6. Linhas Orientadoras da União Europeia face aos Resíduos 42
1.7. A Política dos três R's 46
1.7.1. Reduzir 47
1.7.2. Reutilizar 50
1.7.3. Reciclar 52
1.8. A prevenção na produção de RSU`S 55
1.8.1. Aspectos gerais 55
1.8.2. Estratégias para a prevenção 56
1.8.2.1. Estratégias Nacionais e Regionais/Locais 56
1.8.2.2. A prevenção na produção dos Resíduos
no Sector Industrial 59
1.8.2.3. As embalagens 59
2. Resíduos Sólidos: Tipos, Composição e Propriedades 67
2.1 Classificação por Tipos 67
Sumário
EM LISBOA 291
Sumário
10
Sumário d e A nexos
[também em suporte digital]
A. Informação Complementar*
anexo A1 § Informação Estatística
anexo A2 § Resenha Legislativa
anexo A3 § Curiosidades Ambientais
anexo A4 § Documentos de Referência na Área do Ambiente
[apontadores]
B. Materiais de Apoio**
anexo B1 § Plano de Apoio para Exploração do Caderno
do Formador
anexo B2 § Apresentações Temáticas
ACTIVIDADES LÚDICO-DIDÁCTICAS:
anexo B3 § Animação com Grupos
anexo B4 § Visitas de Estudo
anexo B5 § Ateliers de Reutilização de Materiais
RECURSOS COMPLEMENTARES [B6]:
anexo B6.1 § Base de Imagens
anexo B6.2 § Vídeos
Sumário de Anexos
12
Introdução
14
I Ambiente e Resíduos Sólidos
P
Os problemas ambientais e a consciência ecológica
16
1. Os Problemas Ambientais
e a Consciência Ecológica
1
A terra, incluindo todos os seres vivos, a água, a atmosfera e o solo.
17
Contudo, nos nossos dias já é possível poluir menos:
controlar as emissões poluentes das fábricas, tratar a água
utilizada e antes de ser lançada nos rios e mares, tratar
de forma correcta os resíduos produzidos podendo fazer
destes verdadeiras fontes de riqueza, em detrimento da explo-
ração de recursos naturais para a produção de novos bens
de consumo.
Sem querer tratar exaustivamente todos os problemas am-
bientais globais, como por exemplo a explosão demográ-
fica, as assimetrias Norte-Sul, os conflitos raciais e a xeno-
fobia, que encerram em si factores de carácter político
e social que transcendem os objectivos destas páginas,
referem-se, de seguida, alguns dos problemas ambientais
directamente relacionados com o consumo humano e modos
de vida de modelo ocidental, ordenando-os, para uma
maior facilidade de consulta e orientação, consoante o seu
maior impacte ou influência sobre os Recursos, o Solo,
a Água e a Atmosfera.
Porém, quer as causas, quer as consequências dos factores
que mais contribuem para a degradação do ambiente,
não se esgotam num dos componentes da biosfera sendo
transversais e podendo ter incidência nos seres vivos, nos
solos, na atmosfera e na água.
e microrganismos.
18
P Factores abióticos - Todos os factores sem vida que inter-
vêm na biosfera: clima, luz, radiação, água, minerais, rochas;
em suma, os aspectos físicos do ambiente.
Os recursos que a natureza providência e que se exploram
para suprir as necessidades humanas dividem-se, de forma
genérica, em recursos não renováveis e recursos renováveis.
P Os recursos não renováveis - são os que têm uma
capacidade de renovação menor de que a exploração
de que são alvo e permitem a obtenção de energia ou
de outras matérias-primas de forma fácil; são por isso
os mais intensamente explorados. Sabe-se, contudo, que
se esgotam e que, por isso, são insubstituíveis à escala
da vida humana. Neste domínio situam-se os combustíveis
fósseis e os materiais inertes, tais como os mármores, gra-
nitos, areias, minerais nobres ou não, tais como a bauxite
[alumínio], ferro, ouro, prata, etc.
P Os recursos renováveis - são os que mais facilmente É, pois, urgente que
se renovam ou, à escala da vida humana, são inesgotáveis. se equacione a
exploração dos
Requerem para além de uma exploração controlada, recursos numa
grandes investimentos que dificilmente são ressarcidos perspectiva
no curto prazo, pelo que têm sempre subjacente uma deci- sustentável:
"...minimizar
são política. Neste domínio citam-se, a título de exemplo, o esgotamento dos
as fontes de energia proporcionadas pela radiação solar, recursos não3
renováveis” , gerir
pelo vento, pelas marés e pela energia geotérmica e, racionalmente todos
ainda, enquanto recursos para a produção de bens, várias os recursos, em
espécies vegetais e animais que, exploradas de forma especial os que mais
dificilmente se
controlada e eficaz, podem permitir o seu usufruto sistemá- renovam ou
tico: as explorações florestais em ecossistemas2 naturais, regeneram e
estabelecer como
os recursos piscícolas e cinegéticos. prioridade a obtenção
Na última metade do século XX, verificou-se uma sobre- de energia de forma
alternativa aos
-exploração dos recursos esgotáveis [fruto da procura cada combustíveis fósseis.
vez mais exigente e da afirmação social do Homem, e do
consumo] para a produção de produtos sinteticamente trans-
formados que, por sua vez, deram origem a grandes quanti-
dades de materiais rejeitados - a sociedade de consumo
caracterizada pela prática de “usar e deitar fora”.
2
Ecossistema - o todo formado pelos organismos [componente biótica]
e pelo meio [componente abiótica]. Uma espécie endémica significa que
pertence naturalmente ao meio, não foi introduzida. Por exemplo
o eucalipto é endémico na Austrália mas é uma espécie introduzida
em Portugal [embora se adapte bem ao meio, não é endémica].
In: Caring for the earth - IUCN/UNEP/WWF.
3
19
Tem-se assistido a uma constante delapidação dos recursos
naturais esgotáveis e a uma má gestão dos recursos reno-
váveis, o que põe em causa a sobrevivência de várias
espécies, contribuindo para a diminuição da biodiversidade.
1.2. A Atmosfera
1.2.1. Camada do Ozono
O ozono é um gás que existe na atmosfera, constituído
por três átomos de oxigénio [O3]. O ozono estratosférico
forma-se por acção da radiação solar ultravioleta nas molé-
culas de oxigénio [O2], segundo um processo denominado
fotólise: as moléculas de oxigénio são quebradas dando
origem a átomos de oxigénio, que por sua vez se combinam
com outras moléculas de oxigénio formando-se deste modo,
a molécula triatómica do ozono.
A quantidade de ozono presente na estratosfera é mantida
num equilíbrio dinâmico, por processos naturais, através
dos quais é continuamente formado e destruído. Mas este
equilíbrio natural de produção e destruição do ozono
estratosférico tem vindo a ser perturbado devido, essencial-
mente, às emissões de compostos halogenados, tais como
os clorofluorcarbonetos [CFC's] e os halons4.
Na troposfera [estrato da atmosfera, desde a superfície até
aos 10km de altitude], o ozono em elevadas concentrações
pode exercer um efeito tóxico nos animais, originando
problemas respiratórios e irritação ocular e um efeito
corrosivo em diversos materiais. Misturado com outros
gases e partículas, ele é responsável pela formação do smog
fotoquímico [nevoeiro fotoquímico que cobre os grandes
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
4
MAOT. Estado do Ambiente 2000. Lisboa: MAOT, 2003.
5
REIS, Maria do Carmo. Fonte: www.naturlink.pt [Março’06].
20 PIT
[parte do espectro electromagnético das radiações emitidas
pelo sol, que têm efeitos negativos], preservando da sua acção
nefasta todas as formas vivas6.
Se a camada de ozono não existisse, as radiações ultravioleta
A Agência
não teriam nenhuma barreira entre a sua fonte de emissão Norte-Americana
e a superfície da Terra e nenhuma forma de vida, das que de Protecção Ambiental
conhecemos, poderia sobreviver. No entanto, mesmo a peque- estima que a redução
de apenas 1%
na fracção que atinge a superfície da Terra é potencial- na espessura
mente perigosa para quem a ela se expõe por períodos da camada de ozono
é suficiente
prolongados, podendo afectar as defesas imunológicas para cegar
do homem e de outros animais, permitindo o desenvolvi- 100 mil pessoas
mento de doenças infecciosas e de carcinomas. por cataratas
e desencadear
Níveis elevados de radiação podem diminuir a produção um aumento
de 5% no número 7
agrícola, com a consequente redução na produção alimentar. de cancros de pele .
As radiações ultravioleta também afectam microrganismos,
embora não se tenha a noção da extensão de tais altera-
ções, já que estes organismos intervêm na decomposição dos
resíduos, no ciclo dos nutrientes e interagem com as plantas
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
6
Idem.
7
Ibidem.
21
A radiação ultravioleta afecta igualmente os ciclos biogeo-
químicos, como o ciclo de carbono, do azoto e o ciclo dos
nutrientes minerais, entre outros, lesando globalmente toda
a biosfera do planeta.
Apesar de a camada de ozono se ter mantido inalterada
por milhões de anos, nas últimas décadas tem-se assistido
à sua rápida degradação, com o aparecimento dos “buracos
de ozono”, zonas da estratosfera onde a camada se apre-
senta extremamente fina, com redução óbvia dos seus efeitos
protectores.
O maior responsável por esta situação é o Cloro, presente
nos clorofluorcarbonetos [CFC's], utilizados em sprays, em-
balagens de plástico, chips de computador, solventes para
Entre 1980 e 1989, a indústria electrónica e, especialmente, nos aparelhos
o número de novos de refrigeração e climatização, como os frigoríficos e os ares
casos praticamente
duplicou nos EUA. condicionados.
Em 1995 observou-se
um aumento A proibição da utilização de CFC's, a pesquisa de alterna-
do número de novos tivas inócuas para o ambiente e o decretar do “Dia Interna-
casos de cancro cional do Ozono”, com o objectivo de reduzir a utilização
em regiões
do Hemisfério Sul, de substâncias destruidoras do ozono, são algumas das
como a Austrália, medidas a adoptar. No entanto, mesmo pondo em prática
a Nova Zelândia,
África do Sul estas e outras medidas que visem a redução das emissões
e Patagónia. de Cloro e Bromo, irão ainda ser necessárias várias décadas
No Chile, os casos para que os níveis de ozono voltem a aumentar na estra-
de carcinoma da pele
aumentaram 133 % tosfera. Efectivamente, embora a utilização de compostos
desde o aparecimento halogenados tenha sofrido um decréscimo desde os anos 80,
do buraco do ozono
8 como resultado da implementação dos compromissos
sobre o Pólo Sul .
preconizados pelo Protocolo de Montreal sobre as Substân-
cias que Deterioram a Camada de Ozono [PNUA, 1987]
e suas Emendas, esperava-se que a concentração de Cloro
e Bromo na estratosfera atingisse um máximo por volta
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
8
REIS, Maria do Carmo. Fonte: www.naturlink.pt [Março’06].
9
MAOT. Estado do Ambiente 2000.
22
permitem a passagem da radiação solar em direcção
à Terra e absorvem o calor libertado por esta, reflectindo-
-o, criando deste modo um tecto, que impede que o calor
se liberte para o espaço - é a este fenómeno natural
que se dá o nome de efeito de estufa da atmosfera
terrestre e que permite a vida na Terra na forma que
actualmente a conhecemos.
Porém, desde a Revolução Industrial e principalmente nos
últimos anos a acumulação de gases responsáveis pelo efeito
de estufa tem aumentado. Tal deriva da queima de combus-
tíveis fósseis nos processos de fabrico, com a consequente
libertação de CO2. O trânsito automóvel é uma das causas
de libertação de dióxido de carbono e também de outros
gases, como por exemplo o dióxido de azoto [NO2]. A par
destes gases, o metano [CH4], proveniente da decomposição
da matéria orgânica e de processos agrícolas, os CFC's
e o ozono da troposfera têm aumentado a camada de gases
que causam o efeito de estufa. Refere-se, a título de exemplo,
que o dióxido de carbono e o metano são responsáveis
pelo aumento de cerca de 80 % da temperatura terrestre.
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
24
Assim, quando chove caem verdadeiras cargas de água
ácida que destroem culturas e património construído e que
são nocivas para a saúde humana.
Em locais onde a concentração de gases é muito alta
chegam a ocorrer chuvas com pH muito baixo. Foram de-
tectados alguns charcos de água com origem na pluviosi-
dade com pH que ronda os 3,0. A existência de vida
nessas condições torna-se impossível.
1.3. O Solo
1.3.1. Poluição por Resíduos
Desde as últimas décadas do século XX, os resíduos10 sólidos
têm assumido proporções preocupantes a nível global, quer
derivadas do aumento crescente dos quantitativos produzidos
quer pela perigosidade que representam para o ambiente.
Até meados do século passado os resíduos sólidos eram
essencialmente orgânicos facilmente decompostos pela
natureza.
Lembremos que os materiais de difícil decomposição, como
por exemplo o vidro e os metais, eram reutilizados inúmeras
vezes, tendo praticamente todas as embalagens depósito
ou tara; ou seja só eram chamadas lixo quando, por
acidente, alguma delas se deteriorava.
Porém, devido à introdução de plásticos e demais materiais
processados sinteticamente em bens de consumo genera-
lizado, fabrico de vestuário, mobiliário e muitos outros
de uso corrente [nomeadamente nas embalagens que são
produzidas em larga escala com padrões atractivos e que
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
10
Resíduos - são quaisquer substâncias ou objectos que o seu detentor
não usa e que por isso se quer desfazer ou tem obrigação legal de se
desfazer.
25
dos resíduos, até uma nova fase em que se integram os resí-
duos na política de ambiente. As preocupações são actual-
mente de carácter mais preventivo, embora não se descure
a saúde pública. Assim, primeiramente deve reduzir-se
a quantidade de resíduos produzidos, depois reutilizar o mais
possível os materiais e finalmente adoptar políticas de trata-
mento adequadas, que possibilitem a reciclagem dos mate-
riais rejeitados.
Os resíduos tornaram-se num dos factores que mais contribui
para a poluição, caso não sejam alvo de um tratamento
adequado, não só dos solos mas também dos lençóis
freáticos [águas subterrâneas], por percolação através dos
solos e ainda da atmosfera pela libertação de compostos
voláteis. Por tal e na sequência da Conferência do Rio
de Janeiro - ECO’92, a gestão integrada dos resíduos
assumiu particular importância e prioridade para os go-
vernos que se comprometeram com a intenção de reduzir,
por um lado os quantitativos dos resíduos e, por outro,
a toxicidade dos mesmos.
Em Portugal, a classificação dos resíduos é feita tendo por
base a origem da sua produção e consideram-se: resíduos
sólidos urbanos, resíduos industriais, resíduos hospitalares
e outros resíduos. Há também a classificação de resíduos
perigosos e estes podem estar presentes em qualquer uma
das categorias anteriormente referidas.
Se é quase imediata a ligação de resíduo perigoso aos
resíduos hospitalares e aos industriais, tal não parece tão
evidente quando se trata de resíduos sólidos urbanos.
Porém, estes englobam igualmente pequenas quantidades
de resíduos perigosos que vão de tintas a solventes,
passando por medicamentos fora de uso e pilhas e mesmo
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
1.3.2. Desflorestação/Desertificação
Muitos dos problemas ambientais globais passam pelo
fenómeno da desflorestação, saelização e desertificação Saelização
dos solos. processo regressivo
em que
Nos primórdios da humanidade a influência do Homem os ecossistemas
tendem
sobre os ecossistemas permitiu-lhe a descoberta da agri- para o pré-deserto.
cultura e do pastoreio e, por consequência, a sedentari-
Desertificação
zação. Contudo, este grande salto da humanidade fez-se processo regressivo
e continua ainda a fazer-se à conta da devastação de em que
grandes áreas de coberto vegetal, para a disponibilização, os ecossistemas
tendem para
cada vez mais exigente, de terrenos agrícolas. o deserto,
quase sempre
Esta prática, associada à agricultura extensiva e de monocul- deserto quente.
tura, tem vindo a esgotar os solos, fazendo com que cada
vez mais o homem continue a desbravar as florestas
visando obter novas terras férteis. Este é o processo artifi-
cial e galopante de desflorestação.
A desflorestação pode acontecer de forma natural, através
de incêndios e outras catástrofes, ou de forma artificial
como vimos atrás, através da redução da área coberta com
um qualquer sistema natural, para proveito humano imediato.
O processo de saelização daí decorrente é regressivo e con-
duz os ecossistemas a situações de pré-deserto. O processo
de desertificação é igualmente um processo regressivo em
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
27
temperaturas médias mais elevadas, geralmente sem estações
do ano tão diferenciadas, com humidade atmosférica prati-
camente inexistente e com baixos índices de pluviosidade.
Os solos são rochosos ou de areias soltas, praticamente
sem matéria orgânica, o que impossibilita qualquer prática
agrícola.
Uma floresta com biodiversidade, sendo alvo de desflores-
tação e de um processo de desertificação torna-se numa
área árida e pobre. O empobrecimento dos solos acaba
por conduzir ao empobrecimento económico e ao afasta-
mento ou abandono por parte dos residentes.
As principais causas da saelização e da desertificação
prendem-se com a desflorestação, a sobre-exploração da
fertilidade dos terrenos, com as alterações efectuadas aos
regimes hídricos e com a poluição dos solos. Constituindo
simultaneamente causa e consequência destes processos
refira-se o aquecimento global [provoca desertificação e ao
mesmo tempo é uma consequência desta, pela falta de
coberto vegetal].
A perda de nichos ecológicos e de biodiversidade tem forte
repercussão no desenvolvimento das populações podendo
desencadear o aumento da pobreza extrema, situações
de fome, de doença e fenómenos de migração conducentes
à desertificação humana.
1.4. A Água
1.4.1. Poluição das Águas
A água, conjuntamente com o ar, é fundamental para a exis-
tência de vida na terra.
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
11
DELÉAGE, Jean-Paul. Uma Nova Era de Perigos. In: BEAUD, Michel;
BEAUD, Calliope e BOUGUERRA, Mohamed Larbi. O Estado do Ambiente
no Mundo. Lisboa: Instituto Piaget, Perspectivas Ecológicas, 1995, p. 23.
12
Referenciam-se alguns elementos: Garcia da Horta [1501-1568], na sua
visita ao oriente, estudou as espécies vegetais. Georges Louis Leclerc
[1749-1789] publica a primeira versão naturalista da história da Terra.
Thomas Robert Malthus [1766-1834] no “Ensaio sobre os Princípios das
Populações” alerta para a importância do controlo da natalidade.
31
O Desenvolvimento Sustentável
Segundo Lawrence [1993]13 os objectivos centrais do desen-
volvimento sustentável podem sintetizar-se da seguinte forma:
1 Satisfazer as necessidades humanas básicas - sobre-
P
13
LAWRENCE, Luis Chesney. Lecciones sobre desarollo sustentable.
Venezuela: Fundación de Educatión Ambiental, 1993, p. 40-44.
32
nos Estados Unidos [1872], o Parque Nacional de Banff no
Canadá [em 1887]. Com o século XX, estas preocupações
atravessaram o oceano Atlântico e na Europa foram criados
os primeiros parques nacionais europeus - na Alemanha
em 1910 [parque de Luneburger Heide], na França em
1913 e, com os Parques Naturais de Covadonga e Ordesa,
na Espanha em 1918. Em Portugal, apenas em 1971 foi
fundado o primeiro Parque Natural - o da Peneda Gerês.
O associativismo ambientalista apareceu, também, no final
do século XIX com a fundação de organizações que ainda
hoje constituem entidades de referência: o Sierra Club
[1892], cujo objectivo era a protecção da Serra Nevada e
a Royal Society for Protection of Birds [1889], no Reino
Unido. Fazendo eco de alguma agitação da consciência
internacional provocada pelo lançamento da primeira
bomba atómica em 1945, em 1948 foi fundada a Inter-
nacional Union for the Protection of Nature [a IUPN14].
Em Portugal [e também nesse ano] foi criada a Liga de
Protecção para a Natureza, a primeira associação ambien-
talista portuguesa.
É que: “o azul do céu transformou-se subitamente num
clarão ofuscante. Os seres vivos adquirem então a auto-
consciência da possibilidade de destruição completa do
planeta. É assim que Einstein,
em 1955, afirma:
Após o dia 6 de Agosto, a bomba acabava de plantar “a poderosa
desintegração
as primeiras sementes do ambientalismo contemporâneo. do átomo veio
Estava-se entrando na idade ecológica”15. modificar tudo,
salvo o nosso modo
Com a criação das Nações Unidas e de organizações a ela de pensar,
associadas17 e através da realização de eventos por ela fazendo-nos assim
deslizar para uma
patrocinados, a questão ambiental foi-se firmando [princi- catástrofe nunca vista.
palmente a partir dos anos 60] na agenda pública. A sobrevivência
da humanidade exige
uma nova 1maneira
de pensar” .
14 6
Em 1956 esta associação transforma-se na IUCN - Internacional Union
for the Conservation Nature and Natural Resources e que hoje constitui
a World Conservation Union.
15
Worster, 1992, citado por Louro, 2002.
16
Einstein, prefácio do livro “L'Heure H, a-t-elle sonné pour le Monde?”,
editado em 1955, da autoria do físico francês Charles-Nöel Martin. Citado
por GRINEVALD; Jacques. Os pioneiros da Ecologia. In: BEAUD, Michel;
BEAUD, Calliope e BOUGUERRA, Mohamed Larbi. O Estado do Ambiente
no Mundo. Lisboa: Instituto Piaget, Perspectivas Ecológicas, 1995, p. 29.
17
A Unesco [Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura]
é criada em 1946. O Programa das Nações Unidas para o Ambiente
e Desenvolvimento será criado na década de 70.
33
A evidência dos problemas ambientais18 com determinantes
da acção humana contribuiu para a discussão da temática
em documentos científicos e fóruns internacionais, onde,
lentamente, a questão ambiental passou a ser vista não
apenas como um problema com relevância política, eco-
nómica e/ou tecnológica associado à conservação dos
recursos naturais, mas também como um problema de ética
e de consciências, a que se vem juntar a educação
ambiental [cfr. Capítulo III].
A apresentação cronológica de alguns acontecimentos
expressa a evolução do sentir durante a segunda metade
do século XX:
P Em 1949, a UNESCO impulsiona a realização de um estudo
em 24 países focalizado no uso do ambiente como
recurso pedagógico.
P As Nações Unidas proclamam a década de 60 como
a Década do Desenvolvimento.
P Em 1961, com o apoio das Nações Unidas é fundada
a World Wildlife Fund [WWF], cuja actividade está dirigida
para a conservação das espécies.
P O ano de 1962 é um momento de charneira para a emer-
gência de uma consciência ambiental contemporânea, com
a publicação do livro The Silent Spring da bióloga
americana Rachel Carson [1907-1964], centrado na temá-
tica do uso dos pesticidas [DDT] na agricultura, que quali-
fica como “biocidas”. Esta obra produziu um grande
impacte na opinião pública e comunidade científica. Roger
Heim [1900-1979], presidente do Museu de História Natural
[França] e da Academia das Ciências, escreveu na altura:
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
18
Alguns exemplos: a combustão dos produtos derivados do petróleo gera
vários gases tóxicos que influenciam o clima da Terra; a descarga de des-
perdícios nos rios, lagos e mares, alteram os bio-sistemas de sobrevivên-
cia de inúmeras espécies aquáticas e terrestres; os acidentes não-naturais
com a energia atómica e a devastação por eles provocada [Hiroshima -
1944, Three Miles Island - 1979, Tchernobyl - 1986, …], a poluição
de solos e aquíferos causadas por descargas industriais, pesticidas, etc.
34
agente, das consequências desta nova guerra desencadeada
pelo Homem contra a Natureza, deste conflito que surge
na sequência das batalhas gigantescas que os grandes tra-
varam entre si, por duas vezes, sobre quase toda a super-
fície das terras, das águas e dos céus planetários”19.
P Em 1968, Paris é mais uma vez palco de um evento inter-
nacional dirigido à problemática ambiental20. Nesse ano,
a UNESCO promove a Conferência da Biosfera, de que
resulta a institucionalização da educação ambiental. Por
consequência, o Reino Unido, a Suécia e a Noruega forma-
lizam a sua prática através da criação de estruturas
governamentais [Reino Unido] ou da sua integração nos
currículos escolares.
P Promovida pelas Nações Unidas, em 1972 tem lugar
a Conferência de Estocolmo, a qual culmina com a criação
do Programa das Nações Unidas para o Ambiente [PNUA]
e com a afirmação da centralidade da prática da educação
ambiental. Nesta linha, é desenhado o Programa Interna-
cional de Educação Ambiental [PIEA] cujos trabalhos virão
a servir de base à Conferência de Belgrado, a realizar
na Jugoslávia no ano de 1975.
Neste mesmo ano é também publicado o Relatório
Meadows, encomendado pelo Clube de Roma21. Neste
documento, onde era defendido o “crescimento zero”,
atendendo à conservação das espécies e à preservação
da biodiversidade.
Os Limites do Crescimento
Este relatório foi produzido a pedido do Clube de Roma.
Nesta obra era defendido que para atingir a estabilidade
económica e ecológica seria necessário “congelar” o cresci-
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
19
GRINEVALD; Jacques. Os pioneiros da Ecologia. In: BEAUD, Michel; BEAUD,
Calliope e BOUGUERRA, Mohamed Larbi. O Estado do Ambiente no
Mundo. Lisboa: Instituto Piaget, Perspectivas Ecológicas, 1995, p. 31
20
A 1.ª Conferência Internacional sobre a Protecção da Natureza tivera lugar
nesta cidade no ano de 1913, sendo organizada pela Liga Suíça para
a Protecção da Natureza.
21
O Clube de Roma foi constituído em 1968 e integrava especialistas
do MIT [Massachussets Institute of Technology] e alguns industriais.
35
de poluição aceitáveis com incidência na redução dos
níveis de produção alimentar, de energia e produção
industrial [ttese 1]; o declínio do desenvolvimento é um
facto inevitável [ttese 2]; se se investir nesse sentido, ainda
será possível a inversão da tendência e rumar para
uma sociedade técnica e economicamente sustentável
[ttese 3]. MEADOWS, H. et al. Além dos Limites. Lisboa:
Difusão Cultural, 1993.
P Conferência de Belgrado [Jugoslávia] 1975 - conferência
internacional que produziu e aprovou a Carta de Belgrado
e o Programa Internacional de Educação Ambiental
[PIEA] “Este programa mantém uma base de dados
com informações sobre instituições e projectos envolvidos
com a Educação Ambiental, bem como promove eventos
e publicações específicas sobre esta temática”.
P Promovida pela UNESCO e pelo PNUA, em 1987 tem lugar
a Conferência de Tblisi22 [Geórgia, ex-URSS]. Neste encontro
são abordadas as alterações climáticas e, pela primeira
vez, o problema ambiental do buraco na camada de ozono.
Esta conferência constituiu um marco para a educação
ambiental.
P Em 1987 é publicado O Relatório de Brundtland23, o qual
define o conceito de Desenvolvimento Sustentável24 como
“o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes
sem comprometer a capacidade das gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades”.
P Protocolo de Montreal, em 1988 - Neste encontro inter-
nacional é assinado um compromisso por 40 Países, onde
as Nações se comprometem a alcançar a redução das
emissões de CFC's em 50 % até 1999, em ordem à preser-
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
22
Este fórum internacional foi um marco para a educação ambiental [ver
capítulo III].
23
BRUNDTLAND. O Nosso Futuro Comum. Lisboa: Meribérica/Liber Editores,
1991.
24
O conceito de desenvolvimento humano e desenvolvimento sustentável serão
desenvolvidos no ponto 2 do capítulo III.
36
P A Comissão das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desen-
volvimento promove em 1992, a Conferência das Nações
Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento25 [Rio de Janeiro,
Junho de 1992] - A ECO’92 “… envolveu muita polémica
durante a sua realização e aprovou cinco acordos oficiais
internacionais sobre temas como Meio Ambiente e Desen-
volvimento, Florestas, Mudanças Climáticas, Diversidade
Biológica, além da famosa Agenda XXI, que contém pressu-
postos para a implementação da Educação Ambiental,
visando a sobrevivência dos povos para o século XXI. Neste
documento foram apresentados compromissos e intenções
para uma melhoria da qualidade de vida e para a sua
sustentabilidade”26.
Agenda 21
Documento saído em 1992 da Conferência do Rio [Rio
de Janeiro, Brasil, de 3 a 14 de Junho de 1992].
Apresentou-se como um documento de referência para
a acção política, reflectindo o consenso entre os países
que assinaram o documento e o seu compromisso político
com o desenvolvimento e cooperação ambiental.
A denominação decorre do estabelecimento de metas
ambientais para o Século XXI, para que propõe linhas
de acção e antevê situações problemáticas e mudanças
futuras subsequentes.
Reconhece que o desenvolvimento sustentável é prima-
riamente da responsabilidade dos governos. Tal requer
a implementação de estratégias nacionais e planos
específicos adequados às várias nações, a concretizar sob
a forma de Estratégias Nacionais de Desenvolvimento
Sustentável [ENDS].
A Agenda 21 possui 40 capítulos, divididos em quatro sec-
ções distintas:
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
Dimensões socioeconómicas;
P
Groups];
P Formas/Estratégias [Means] de Implementação.
25
Mais de 178 Países adoptaram, na Cimeira da Terra, a Agenda 21, a
Declaração do Rio e a Declaração de Princípios de Gestão Sustentável das
Florestas. [Earth Summit - Agenda 21 - The United Nations Programme
of Action from Rio -1992, New York: United Nations Reproduction Section].
26
Fonte: http://www.scielo.br [Setembro´05].
37
No Capítulo 36 trata de, uma forma exaustiva, as linhas
de acção “Promoção da educação, consciencialização
pública e formação”. Como linha de programática define
a orientação da educação para o desenvolvimento susten-
tável, enunciando o seguinte princípio de acção:
“… tanto a educação formal como a não formal são indis-
pensáveis para mudar as atitudes das pessoas de modo
a elas terem a capacidade de acesso e de resposta
às suas preocupações sobre o ambiente sustentável.
É igualmente decisiva para se chegar à consciencialização
ecológica e ética e para se alcançarem valores e atitudes,
aptidões e comportamentos compatíveis com o desenvolvi-
mento sustentável e para a eficaz participação pública
em processos de tomada de decisão [...]. [...] deverá
empregar métodos formais e não formais e meios
eficazes de comunicação” [Ponto 36.3. da Agenda 21].
P
27
De referir que elementos desta Comissão estiveram presentes na Conferên-
cia de Estocolmo, em 1972.
28
As competências deste Instituto vêm a ser integradas no Instituto
do Ambiente no início do milénio. Todavia, esta questão será desenvolvida
no enquadramento relativo à educação ambiental no capítulo III.
39
1.5.2. A Política do Ambiente na Europa
Os tratados que deram origem à Comunidade Económica
Europeia em 1957, não incluíam qualquer política ambiental.
Na sequência da Conferência das Nações Unidas sobre
Ambiente Humano de Estocolmo [1972] os Chefes de Estado
e de Governo da Comunidade Económica Europeia lançaram,
quase do zero, uma política de ambiente comunitária.
Em 1973, foi aprovado o primeiro Programa Comunitário
de Acção para a área do ambiente e lançada legislação
comunitária - sobretudo na área da prevenção e combate
à poluição e gestão de resíduos perigosos.
Com o Acto Único Europeu, em 1987, o Tratado de Roma
foi alterado pela introdução de um novo objectivo associado
à política do ambiente.
Já após a Conferência do Rio [1992] e da Agenda 21, em
1997 com o Tratado de Amesterdão, o desenvolvimento sus-
tentável passou a integrar os objectivos da União Europeia.
No dia 1 de Janeiro de 1986, Portugal deu entrada na
Comunidade Económica Europeia, o que também significou
a adesão do país aos objectivos e estratégias preconizados
pela Europa na área do Ambiente.
Nos últimos 30 anos, a União Europeia procurou assumir
um papel de liderança na política de ambiente. Desde muito
cedo, Portugal teve uma participação activa em diversos
grupos de trabalho, comissões, e plenários europeus, trans-
pondo para o direito nacional os desafios preconizados
para a Europa.
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
40
Entre as acções desenvolvidas na área do ambiente pela
União Europeia destaca-se:
“ Os seis programas comunitários de acção que se torna-
P
P
29
SOROMENHO MARQUES, V. et al. Cidadania e Construção Europeia. Lisboa,
Ideias e Rumos, 2005, p. 190.
30
PIMENTA, Carlos. A Política de Ambiente da União Europeia - Evolução
e Desafios, 2005.
42
Evolução da Produção e Destino Final RSU Portugal
[1995-2004]
45
Para atingir esses objectivos é importante a realização
de campanhas de sensibilização, que se pretendem concertadas,
continuadas e esclarecedoras dos materiais a depositar
e a evitar, e ainda, intensificar a recolha porta-a-porta de
RSU junto das entidades consideradas “Grandes Produtores”.
O aumento das taxas de reciclagem de embalagens e resí-
duos de embalagem está, igualmente, dependente da altera-
ção das limitações actualmente existentes ao nível da triagem
de determinadas embalagens de plástico e do seu escoa-
mento para reciclagem.
1.7.1. Reduzir
A melhor forma de minimizar os efeitos negativos dos resí-
duos no ambiente é a diminuição da sua produção, bem
como a redução ou eliminação de produtos geradores
de poluição [por ex.: resíduos perigosos]. Pode falar-se
de redução a vários níveis - industrial, agrícola, etc.
Reduzir é a primeira forma de minimizar os impactes cau-
sados quer pelos quantitativos de resíduos, quer pela sua
toxicidade. As indústrias podem fazer muito para minimizar
o impacte ambiental dos seus produtos através da utilização
de novas tecnologias, do eco-design do produto e pela
opção de materiais com menor toxicidade.
O consumidor tem um papel fundamental. Pode evitar consu-
mos supérfluos e exprimir junto das entidades responsáveis
a sua opinião quanto ao tipo de produtos que são postos
à venda no mercado.
O consumidor é um dos agentes mais importantes na
redução da quantidade de RSU, ao tomar atitudes que
contribuam para a não produção de resíduos, de que são
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
exemplo:
POptar por produtos reciclados, biodegradáveis, recarregáveis
e de tamanho familiar e evitar os produtos descartáveis.
47
Rótulos
A preocupação com o ambiente começa a ser um factor
relevante na decisão de compra, cada vez mais, um acto
esclarecido por parte dos consumidores. Estes são cada vez
mais exigentes e procuram o máximo de informação sobre
os produtos antes de os adquirir.
Os símbolos e menções nos produtos não garantem, só por si,
que sejam mais “verdes” ou ecológicos.
Reciclado
48
Este símbolo indica que o produto favorece
Comburente* Corrosivo*
a inflamação de matérias combustíveis.
Pode provocar incêndios. Pode explodir quando
misturado com matérias combustíveis.
Este símbolo indica
que o produto pode provocar queimaduras.
Inflamável* Inflamável*
é facilmente inflamável. Em contacto com o ar
é espontaneamente inflamável. Em contacto com a água
liberta gases extremamente inflamáveis.
Extramente
Extremamente inflamável
Nocivo*
de efeitos irreversíveis muito graves. Riscos de efeitos
graves para a saúde em caso de exposição prolongada.
Possíveis riscos de comprometer a fertilidade e, durante
a gravidez, de efeitos indesejáveis na descendência.
Xi
Este símbolo indica que o produto é irritante
Irritante*
[*] De acordo com a Portaria n.º 732-A/96, de 11 de Dezembro e a Portaria n.º 1159/97,
de 12 de Novembro. [Fonte: Miguel, Alberto Sérgio S. R., Manual de Higiene e Segurança
do Trabalho, 5.ª Ed., Porto Editora]
49
PNo quotidiano praticar gestos simples que estão ao alcance
de todos os cidadãos, de que são exemplo:
A utilização do papel de ambos os lados da folha;
P
de papel;
Optar por produtos feitos de papel reciclado;
P
de pilhas;
Usar pilhas recarregáveis e com baixo teor de mercúrio;
P
1.7.2. Reutilizar
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
50
eles económicos ou naturais. “Naturalmente” as pessoas
reutilizavam o vestuário, o calçado, passando-os de pais para
filhos e entre irmãos; usavam “até quase ao impossível”
o papel, o qual acabava muitas vezes a ensopar fritos;
vendiam ao ferro-velho, o que já não tinha utilidade, etc.
Hoje vivemos na sociedade do comprar e deitar fora, sendo
este um valor de consumo apregoado pela publicidade e,
muitas vezes, visto como sinónimo de aquisição de status
social. O reutilizar adquiriu uma conotação negativa,
incentivando o “usar e deitar fora”, o que teve efeitos
directos na quantidade de resíduos rejeitados/produzidos pelo
consumidor. É assim que se impôs um novo reconheci-
mento desta prática ancestral através da sua integração
na política dos 3 R's. Nesta óptica Reutilizar:
P “É aquilo que pode ser usado várias vezes [as garrafas
de vidro, por exemplo, ou as caixas de ovos] antes dos
materiais serem reciclados, queimados para reaver
energia, ou simplesmente deitados fora”31;
P “Utilizar um produto mais de uma vez para o mesmo fim
para que foi concebido. Fala-se normalmente de reutili-
zação no caso das embalagens, que são projectadas para
perfazer um número mínimo de viagens ou rotações
no seu ciclo de vida. É o caso das garrafas de vidro com
tara”32.
A reutilização assume particular importância nos proces-
sos de fabrico e, fazendo um balanço ambiental desta
opção versus reciclagem, pode afirmar-se que, por exemplo
para o vidro, a poupança de energia33 lhe é favorável
em cerca de 30 %.
Optar por produtos reutilizáveis diminui, a curto prazo,
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
31
ELKINGTON, John; HAILES, Júlia. Guia do Jovem Consumidor Ecológico.
Lisboa: Gradiva Jovem.
32
In: Guia do BCE, 1995 e 1996 - CML-DHURS.
33
Os indicadores utilizados são: para a garrafa retornável - transporte e
lavagem; para a garrafa reciclada - transporte do casco, tratamento
[limpeza e fragmentação], fusão, produção e transporte [cfr. MARTINHO,
M.ª da Graça.; GONÇALVES, M.ª da Graça P. Gestão de Resíduos. Lisboa:
Universidade Aberta, 2000, p. 136].
51
Deixamos algumas sugestões e dicas sobre práticas de reu-
tilização associadas aos resíduos:
P Os frascos de vidro ou de plástico, podem ser reutilizados
para armazenar bebidas, ingredientes, parafusos, pregos,
como porta-lápis ou como jarra para flores;
P As caixas de cartão podem ser reutilizadas para arma-
zenar roupa, calçado, louça, revistas e livros;
P Os envelopes em bom estado podem ser reaproveitados,
colando etiquetas por cima do que estiver escrito;
P A roupa pode ser oferecida a quem precisa ou transfor-
mada em panos e esfregões;
“Utilização do lixo
[isto é, P As latas podem ser utilizadas como vasos para plantas
vidro, metais, ou recipientes para guardar objectos domésticos;
plástico, papel,
restos de comida] P Alguns componentes de computadores obsoletos podem
para que possa ser ser reutilizados para fazer melhorias noutros computa-
transformado em dores, tais como: placas gráficas, placas de memória, discos
qualquer outra coisa rígidos, fontes de alimentação, placas de som, proces-
com utilidade
[por exemplo, garrafas, sadores, cabos, dissipadores, torre do computador, etc.
latas, plástico, papel,
composto para34
a agricultura]” . 1.7.3. Reciclar
A reciclagem é um processo de transformação física, química
ou biológica que permite valorizar um determinado resíduo,
convertendo-o num novo bem de consumo.
34
ELKINGTON, John; HAILES, Júlia. Guia do Jovem Consumidor Ecológico. Lisboa:
Gradiva Jovem.
35
MAOT. Relatório do Estado do Ambiente em Portugal 2000. Lisboa: MAOT,
2003. e MAOT. Relatório do Estado do Ambiente em Portugal 2003. Lisboa:
MAOT 2005.
52
Vantagens da Reciclagem de Materiais
36
In: Guia do BCE 1995 e 1996 - CML-DHURS.
37
Para informação mais desenvolvida, ver o ponto 4.1.2. do presente capítulo,
onde é abordada a reciclagem de uma forma mais alargada.
54
P A diminuição da poluição atmosférica;
P A redução no consumo de água associado à produção
do bem.
Tornar perceptível a relação entre a prática individualizada
do cidadão na deposição selectiva de resíduos e a redução
dos impactes ambientais traduz-se, normalmente, no uso
de unidades de medida que tornam esta associação mais
tangível e perceptível.
Para obter estas vantagens ambientais, a colaboração
na recolha selectiva é central. Desta forma:
P Os resíduos devem ser separados e depositados por tipo
de material: papel, vidro, embalagens de metal, plástico
e cartão para líquidos alimentares e pilhas e depositados
no equipamento adequado;
P Todos os resíduos encaminhados para reciclagem devem
apresentar-se limpos, vazios, espalmados e sem tampa.
Produtos/Materiais Resíduos
Eliminação
Valorização Confinamento
e Redução Reutilização Reciclagem
Energética Técnico
na Fonte
Prevenção de Resíduos
55
Segundo Barros, N. [2006], a hierarquização da gestão dos
resíduos deveria ser a seguinte: Prevenção [Redução], seguida
da Reutilização, Reciclagem Multimaterial e Orgânica, Valo-
rização Energética e finalmente Confinamento Técnico.
A redução quantitativa dos resíduos pode ser conseguida
através da eliminação e redução dos resíduos na fonte e da
reutilização de produtos.
A redução qualitativa pode ser alcançada através do incentivo
à redução da perigosidade dos resíduos.
e Acumuladores];
P Definição de objectivos de reutilização; normalizar as embala-
gens e os resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos;
P Substituição de substâncias perigosas por outras menos
poluentes na fase de concepção dos produtos;
P Recorrer ao eco-design e à utilização de tecnologias mais
limpas nos processos produtivos.
A adopção de medidas regulamentares e normativas consiste
em estipular objectivos de prevenção, tais como: Estabilizar
a capitação da produção de RSU's e separar na origem
56
os resíduos perigosos presentes nos RSU's; Reforçar metas
de reutilização no canal Horeca; Incentivar a compostagem
caseira; Desmaterializar [ex: SIMPLEX], Implementar legis-
lação e procedimentos de consumo sustentáveis; e Implemen-
tar medidas de gestão de RSU'S ao nível da Administração
Pública Central e Local [Pinheiro, L., 2006].
Relativamente à Aplicação do princípio do poluidor-pagador
“Pay as you Throw”, o Instituto dos Resíduos propõe um
sistema diferenciado de tarifação fixo e variável, consoante
os destinos.
Para a sensibilização dos produtores e da população em
geral, o Instituto dos Resíduos propõe a realização de uma
Campanha Nacional de Comunicação, elaboração de dossiers
temáticos no âmbito escolar e incentivos à realização
de projectos inovadores.
A Associação das Cidades para a Reciclagem [ACR+] lançou
recentemente um projecto ambicioso intitulado “Produzir
menos 100 kg/habitante/ano”. A LIPOR, como membro
desta Associação, está a implementar este projecto na área
metropolitana do grande Porto, que irá ter uma duração
de dois anos [2006-2008].
Segundo Barros, N. [2006], a estratégia para implementar
a Prevenção e a Redução da Produção e da Perigosidade
dos RSU's tem de assentar:
P No estabelecimento de parcerias entre todos os agentes
envolvidos na gestão de RSU's;
P Na promoção de tecnologias mais limpas;
P Na reutilização de produtos;
No estabelecimento de limites para a utilização de produ-
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
ganhos de eficiência
Recentemente muitas foram as empresas que introduziram
optimizações na concepção das embalagens primárias,
sobretudo ao nível da sua dimensão e peso. A concepção
das embalagens passou a ser vista pelos industriais como
um ponto estratégico de investimento.
1.8.2.3. As embalagens
Por definição, uma boa embalagem é aquela que consegue
proteger e conservar o produto, ao mesmo tempo que
informa o consumidor, diferencia a marca e permite,
59
em fase pós-consumo, a sua reutilização, valorização
[ex: energética] ou fácil reciclagem [Media Monitor - Especial
Embalagem, Julho de 2005].
A embalagem pode ser dividida em 3 géneros:
P Embalagem primária: foi feita de modo a constituir uma
unidade de venda para o utilizador final ou consumidor
em qualquer estabelecimento comercial;
P Embalagem secundária: constitui uma grupagem de deter-
minado grupo de embalagens, quer sejam vendidas ao
consumidor final ou ao estabelecimento comercial;
P Embalagem terciária: facilita a movimentação e o transporte
de uma série de unidades ou embalagens agrupadas,
evitando danos físicos durante a movimentação e trans-
porte.
Segundo a Media Monitor - Especial Embalagem [Julho de
2005], o princípio de que uma embalagem reutilizável,
e portanto normalizada, é sempre preferível está errado,
uma vez que a normalização limita a criatividade das
marcas. Em termos económicos e ambientais, a reutilização
pode, eventualmente, também não ser a melhor solução.
A embalagem de tara perdida que colocamos habitual-
mente nos vidrões pode ser valorizada através da recicla-
gem, compostagem ou valorização energética, o que não
acontece com a embalagem reutilizável. Por outro lado, as
embalagens reutilizáveis precisam de aumentar os seus
níveis de resistência, o que implica a utilização de mais
matéria-prima, podendo tornar-se mais dispendiosa do que
a de tara perdida, uma vez que acarreta custos adicionais
no processo produtivo. Por outro lado, uma embalagem
reutilizável utiliza pouco transporte ao nível local ou
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
Embalagens de Plástico
O plástico é um material que se apresenta com diversas
vantagens na concepção de uma embalagem:
P É um material asséptico;
60
P É um isolante térmico durável e fiável;
P É um material leve, com elevada maleabilidade e imper-
meabilidade;
P Pode ser reciclado ou valorizado com recuperação de energia;
P Permite a várias combinação com diferentes plásticos
e materiais.
Na fase de concepção das embalagens de plástico, deve
pensar-se em utilizar polímeros compatíveis em termos de
reciclagem [PET com o PP e não com o PVC] e sempre
que possível um só tipo de material na embalagem. Por
outro lado, devem-se utilizar rótulos compatíveis, em termos
de reciclagem, com o corpo da embalagem e utilizar colas
solúveis em água. As cores das embalagens devem igual-
mente estar normalizadas. A marcação internacional SPI
deve, também, ser utilizada por todos os embaladores, uma
vez que facilita o encaminhamento para reciclagem ou
valorização energética.
A título de curiosidade refere-se que as garrafas de água,
sumos, detergentes e produtos de higiene são habitualmente
feitas em PET. As garrafas de amaciador, champô,
detergente, álcool e iogurte líquido são de PEAD. Os sacos
e filme de paletes são de PEBD e os copos de iogurte
sólido, esferovite e tabuleiros são feitos de PS.
Uma empresa do sector dos detergentes, passou a comercia-
lizar o produto concentrado, garantindo o mesmo número
de lavagens. Com esta alteração, deixou de necessitar de
uma garrafa de 2 litros de capacidade, passando a utilizar
uma embalagem de apenas 500 ml, o que conduziu a uma
poupança no custo da embalagem de cerca de 75 %. Esta
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
Embalagens de Vidro
O vidro apenas pode ser utilizado nas embalagens primárias
e apresenta as seguintes vantagens:
P É inerte e permite preservar as características do produto
embalado, nomeadamente o sabor;
P É higiénica e transparente, permitindo visualizar o produto
embalado;
É hermética;
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
P É resistente;
P O vidro de cor tem capacidade de protecção solar, garan-
tindo a qualidade do produto;
P É infinitamente reciclável, dado que a qualidade do vidro
produzido a partir do vidro usado não se altera;
P O preço da embalagem é competitivo, quando comparado
com outros materiais;
P Contribui positivamente para a economia Portuguesa,
porque o vidro de embalagem é fabricado em Portugal;
62
P É mais apelativo nas prateleiras dos Super e Hiper-
mercados porque permite visualizar o produto [as sal-
sichas, os produtos hortícolas e as conservas de peixe],
podendo a embalagem ser posteriormente reciclada.
A título de curiosidade refere-se que no total de vendas
de 2004, o sector do vinho consumiu 50 % das embalagens
de vidro produzidas em Portugal, o sector das cervejas
consumiu 26 %, o dos refrigerantes, as águas e os sumos
14 %, o dos vinagres, óleos e azeite 3 %, as conservas 2 %
e os molhos 1 %.
No conjunto dos países da UE, a França é o país que
apresenta o maior consumo do vidro de embalagem [57 %],
seguido da Suíça [43 %] e da Alemanha [41 %], Reino
Unido e Espanha [37 %], Portugal [36 %], Itália [34 %],
Holanda [32 %], Bélgica [31 %], Áustria [29 %], Polónia
[22 %] e República Checa [15 %].
Numa situação particular, a simples melhoria no processo
de fabrico da garrafa e a alteração do formato da emba-
lagem, permitiram reduzir o seu peso em 30 gramas.
Com esta alteração conseguiu-se diminuir o consumo
das matérias-primas, optimizar a utilização das paletes
e consequentemente reduzir os custos de transporte
e distribuição e ainda introduzir melhorias ao nível
da imagem do produto. As alterações introduzidas
na concepção da embalagem traduziram-se portanto
em evidentes benefícios ambientais e económicos.
Embalagens de Metal
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
Embalagens de Madeira
As embalagens de madeira são constituídas por um material
limpo e higiénico, são resistentes e recicláveis. São leves
e fáceis de manipular e melhora a imagem do produto
colocado directamente [frutas e legumes]. Possibilita ainda
impressão directa.
As embalagens de madeira podem ser classificadas em vários
tipos: caixas, paletes, contentores-palete, bobines e barris
de madeira.
86 % das embalagens de madeira têm destino desco-
nhecido. Dos resíduos que tem destino conhecido, 80 % são
reciclados, 8 % são incinerados ou depositados em aterro.
Em 2002, 11 % dos resíduos de paletes foram reciclados,
1 % valorizados com recuperação de energia, 2 % foram
depositados e 85 % destes resíduos tiveram outros destinos.
10 % dos resíduos das outras embalagens de madeira
foram recicladas, 1 % foi depositado em aterro e 89 %
tiveram outros destinos.
Os Problemas Ambientais e a Consciência Ecológica
66
2.Resíduos S ólidos: T ipos,
Composição e P ropriedades
38
Catálogo Europeu dos Resíduos - recentemente substituído pela Lista
Europeia de Resíduos [LER]. Os diferentes tipos de resíduos incluídos na
lista são totalmente definidos pelo Código LER [um código de seis dígitos
e que visa uma linguagem e tratamento comum dos resíduos no espaço
europeu]. Inclui, também, a lista dos resíduos perigosos e quais as
características de perigo que lhes são atribuíveis.
67
b] Resíduos perigosos - os resíduos que apresentem
características de perigosidade para a saúde ou para
o ambiente, nomeadamente os definidos em Portaria
dos Ministros da Economia, da Saúde, da Agricultura,
do Desenvolvimento Rural e das Pescas e do Ambiente,
em conformidade com a Lista de Resíduos Perigosos,
aprovada por decisão do Conselho da União Europeia;
c] Resíduos industriais - os resíduos gerados em actividades
industriais, bem como os que resultem das actividades
de produção e distribuição de electricidade, gás e água;
d] Resíduos urbanos - os resíduos domésticos ou outros
resíduos semelhantes, em razão da sua natureza ou
composição, nomeadamente os provenientes do sector
de serviços ou de estabelecimentos comerciais ou indus-
triais e de unidades prestadoras de cuidados de saúde,
desde que, em qualquer dos casos, a produção diária
não exceda 1100 litros por produtor;
e] Resíduos hospitalares - os resíduos produzidos em uni-
dades de prestação de cuidados de saúde, incluindo
as actividades médicas de diagnóstico, prevenção e tra-
tamento da doença, em seres humanos ou animais,
e ainda as actividades de investigação relacionadas;
f] Outros tipos de resíduos - os resíduos não considerados
como industriais, urbanos ou hospitalares.
Situemo-nos, pois, nos resíduos classificados por este norma-
tivo e, mais em particular, nos resíduos sólidos urbanos.
Partindo da definição geral de Resíduos e de Resíduos
Urbanos, resultam os Resíduos Sólidos Urbanos [RSU].
Resíduos Sólidos: Tipos, Composição e Propriedades
39
Fileira - corresponde aos materiais componentes dos resíduos.31
69
Em Lisboa separam-se os resíduos com vista à sua poste-
rior valorização ou tratamento adequado para eliminação,
do seguinte modo:
PResíduos indiferenciados;
PPapel/cartão [de embalagem ou outros formatos, tipo jor-
nais e revistas];
PEmbalagens [plástico, metal e tetra brik];
PPilhas [alcalinas, níquel-cádmio, lítio e outras];
PVidro de embalagem;
PResíduos orgânicos;
PEntulhos [resíduos provenientes de construções ou demo-
lições];
PMonstros [sofás, colchões, móveis velhos etc.];
PResíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos [REEE];
PLinha Branca frigorífica e outra linha branca [fornos,
fogões, esquentadores, etc.];
PResíduos de jardim;
PPneus;
PBaterias;
PÓleos usados;
PLâmpadas;
PEmbalagens de madeira [paletes e caixas de fruta].
Esta classificação mistura algumas das anteriormente
referidas, seja a de fluxo e fileira, seja ainda a de material
constituinte ou de proveniência. Porém, dados os destinos
finais dos resíduos de Lisboa, é a que melhor se adequa
para que, claramente, se possa entender que tipo de mate-
rial temos em presença.
Resíduos Sólidos: Tipos, Composição e Propriedades
40
Capitação - no caso dos resíduos refere-se à quantidade produzida por
habitante e por dia ou por habitante e por ano.
70
de 750 gramas na de 80, atingindo-se na dealbar
do século XX uma capitação diária de 1,5 Kg, em Lisboa.
Paralelamente, os resíduos orgânicos, fracção desde sempre
maioritária no lixo [uma vez que representa o excedente
do consumo primário dos indivíduos] deu lugar a outro
tipo de resíduos que assumiram lugar de destaque, em
peso relativo, mas especialmente em volume: os plásticos
e o papel.
41
A recolha hermética faz uso de contentores herméticos que têm tampa
para evitar espalhamentos de resíduos e proliferação de vectores.
As viaturas de recolha têm adufas que evitam igualmente o espalhamento
de resíduos e proliferação de maus cheiros ou vectores, dado que encos-
tam, no momento do despejo, completamente à “boca do contentor”.
72
equipamentos de deposição colectiva [ecopontos, vidrões
e contentores de grandes capacidades].
No caso dos contentores de grandes capacidades a recolha
é efectuada, quer por substituição do equipamento de depo-
sição [ou seja, a viatura que efectua a recolha deixa no local
um contentor vazio e transporta o que está cheio], quer
por esvaziamento, o que requer a utilização de viaturas com
sistema de elevação, à semelhança das utilizadas para
ecopontos e vidrões.
É vulgar classificar-se a recolha conforme a sua periodici-
dade, o tipo de resíduos a que se destina e o tipo de conten-
torização adoptado.
Podemos, pois, ter uma recolha individual, diária para resí-
duos indiferenciados, associada à recolha individual selectiva
não diária ou à recolha selectiva colectiva. Ou seja são
várias as conjugações que um sistema de gestão de resí-
duos permite e que normalmente são efectuadas para
responder à produção de resíduos de um aglomerado
urbano, às suas características sociais, urbanísticas e topo-
gráficas, bem como para optimizar os recursos humanos
e materiais desse mesmo sistema.
78
os 90 e os 1000 litros. A recolha destes resíduos é
efectuada conjuntamente pela Câmara Municipal de Lisboa
e pela Valorsul.
P
viatura;
P Localização dos contentores - nos contentores de 90
a 340 litros e nos sacos a localização é efectuada por
quarteirão, nos restantes a localização é exacta;
P Localização das garagens e dos postos de limpeza;
P Localização do destino dos resíduos;
P Horário de remoção nos pontos de recolha e horário
de trabalho dos Condutores de Veículos Pesados e dos Can-
toneiros de Limpeza;
P Em cada ponto de recolha: quantidade e tipo de resíduos,
quantidade e tipo de contentores;
P Periodicidade de recolha em cada ponto de recolha;
79
3.2.4. Recolha de Informação
Após a realização dos circuitos de recolha são inseridos
em suporte informático os seguintes dados:
P Data, quantidades recolhidas, com local de descarga e res-
pectivo horário;
P N.º da viatura, quilómetros percorridos;
P Horário de partida e chegada da garagem e do posto
de limpeza e o tempo gasto no trabalho;
P Na recolha selectiva é indicada a taxa de enchimento de
cada equipamento [vidrão ou ecoponto] e as anomalias
à remoção que foram verificadas [equipamento dani-
ficado, inacessibilidade ao equipamento, entidade encer-
rada, existência de contaminantes, se existe lixo no chão,
etc.];
Aquando da análise desta informação ou quando se registam
restrições à optimização dos circuitos, se se verificar a neces-
sidade de intervenção no sistema, há uma actualização, com
a respectiva correcção nos circuitos de remoção recorrendo-
-se, para tal, a um software de optimização.
42
Em 2005 o sistema porta-a-porta está a funcionar na Baixa Pombalina
[em entidades comerciais], urbanização da Alta de Lisboa, Freguesia de
Santa Maria dos Olivais, Bairros de Caselas, Alvalade [vivendas], St.ª Cruz
de Benfica, Restelo, Bairro Alto e parte das Freguesias de S. Domingos
de Benfica e Carnide.
80
para os Serviços Municipais quer para os utentes, fazendo
diminuir as quantidades passíveis de serem recolhidas:
PEstacionamento anárquico - que compromete a recolha;
PColocação de resíduos fora do contentor - o que compro-
mete o acesso de mais participantes na deposição e consti-
tui verdadeiros focos de insalubridade;
PDificuldade na colocação deste tipo de equipamento em
vários locais da cidade [topografia acidentada, ruas
estreitas, cabos eléctricos, etc.].
Para além das recolhas selectivas efectuadas em Lisboa,
os munícipes ou entidades podem utilizar o Ecocentro
da Valorsul, de acordo com o regulamento daquela instituição.
Mas, por mais ajustados que estejam os tecnossistemas
de resíduos, só a participação activa dos munícipes na depo-
sição selectiva fará Portugal atingir as metas de reciclagem
a que está vinculado.
Ano Aterro [t] Outros [t][a] Incineração Compostagem Rec. Selectiva [b] Total [t]
]t] [t] + Ecocentros [t]
43
No ponto 6 deste capítulo encontram-se definidos os conceitos de redução
e reutilização de materiais.
44
O Anexo A2 onde se encontra sistematizada a legislação de enquadramento.
85
sário proceder a uma separação mais fina e à retirada
de materiais contaminantes45. Para tal existem as estações
de triagem.
45
Objectos ou substâncias comprometedores no posterior processo de
transformação ou reciclagem.
46
Embora o PVC [policloreto de vinilo] possa ser separado do PET [poli-
terftalato de etileno] pelo uso de sensores de raio X e o PP [polipro-
pileno] possa de igual forma ser separado do PEAD [polietileno de alta
densidade].
86
Para além da zona de descarga e da zona de proces-
samento em que se separam os resíduos, uma estação
de triagem dispõe também de uma zona de enfardamento
e armazenagem de materiais recuperados para reciclagem
e de um local de armazenamento dos materiais rejeitados
para posterior condução a destino final adequado.
Em Lisboa os resíduos provenientes das recolhas selectivas
são conduzidos à estação de Triagem da Valorsul onde são
separados por tipos e aos quais são retirados os conta-
minantes. Refere-se que a contaminação é muito frequente
- ou seja na deposição quando os munícipes não respeitam
ou desconhecem as regras de separação e por tal misturam
4.1.2.1. Vidro
O vidro é um material muito homogéneo que é composto
por sílica [material vitrificante], carbonato de cálcio [esta-
bilizante e que confere resistência], carbonato de sódio
[favorece a fusão], óxidos e sais metálicos [que são corantes
e estabilizantes]. Para o fabrico de vidro estes produtos
são misturados e fundidos a temperaturas que podem
atingir os 1500ºC.
O processo de reciclagem de vidro consiste na fusão do casco
velho do vidro de embalagem, limpo de contaminantes.
Desta forma estão a introduzir-se no forno os mesmos
constituintes que formaram o vidro inicial. As gotas fundidas
são insufladas de ar, dando forma a novas embalagens.
A percentagem de casco velho introduzido no processo
Tratamento e Valorização de Resíduos: Reciclagem, Incineração e Valorização Energética, Aterro Sanitário
4.1.2.2. Papel/cartão
O papel e o cartão têm como componente fundamental
a celulose, cujas fibras provêm do algodão [que possui
cerca de 90 % de celulose], da madeira [com 60 %
88
de celulose] ou das palhas de cereais [que chegam a possuir
cerca de 50 % de celulose].
Para o fabrico de papel usam-se diferentes selecções
de matérias-primas, que dependem do tipo de papel que
se visa obter. Para além da celulose, na produção do papel
e do cartão, são usados outros produtos, como por exemplo,
resinas e colas, para conferir maior resistência, sais, materiais
inertes e corantes.
O processo de produção de papel a partir das fibras
celulósicas é bastante poluente, dado que é necessária a uti-
lização de branqueadores, maioritariamente à base de cloro.
O branqueamento pode, igualmente, ser conseguido através
de um processo que tem por base o ozono ou o oxigénio
e do qual resultam efluentes menos poluentes.
No caso do papel, a reciclagem não pode ser integral porque,
quer durante o uso do papel, quer durante o processo
de reciclagem, acontece a ruptura das fibras de celulose,
Processo de Reciclagem.
A partir do papel usado
é possível fazer papel com elevada qualidade, Apresentação das vantagens da reciclagem.
papel de jornal, cadernos, cartão, Permite o abate de menos árvores.
cartão canelado e isolante na construção civil, Necessidade de menos água.
entre outros Consome 2 a 3 vezes menos energia.
Diminuição da poluição atmosférica
e da de aquíferos.
90
Várias acções e/ou objectos Deposição no ecoponto Transporte para a unidade
com a utilização do plástico com visualização de triagem e envio para
da prévia selecção em casa as indústrias de reciclagem
91
Vantagens Ambientais da Reciclagem do Papel47
Papel de Papel de
Papel Reciclado
1.ª Qualidade 2.ª Qualidade
Área de floresta [ha] 5,3 3,8 0
Árvores 15 10 0
Madeira [kg] 2 400 1 700 0
Água [litros] 200 000 100 000 1 000
Energia [KW/h] 7 500 5 000 2 500
Poluição da água Elevada Média Baixa ou nula
Poluição do ar Elevada Média Nula
1,5 a 2 m3 1,5 a 2 m3
Produção de RSU Baixa ou nula
em aterro em aterro
4.1.2.3. Plástico
O plástico é fabricado a partir do petróleo. Estima-se que
para fabricar um quilo de plástico sejam necessários dois
quilos de petróleo.
A maior parte dos plásticos não é biodegradável e por tal
a sua eliminação é dispendiosa e danosa para o ambiente.
47
Centro de Informação de Resíduos da Quercus. Formação de Professores
na Área dos Resíduos Sólidos Urbanos. Quercus.
Fonte: http://www.quercus.pt [Setembro’05].
92
Mas a reciclagem dos plásticos também não é um processo
simples, como os que vimos atrás, relativamente ao vidro
e ao papel.
Diariamente somos confrontados com imensos objectos
de plástico e nem nos apercebemos que são plásticos
de diferentes tipos, provenientes de diferentes polímeros48,
com características distintas, e que para serem reciclados
têm de ser devidamente separados.
Na tabela seguinte referem-se os plásticos mais correntes,
os termoplásticos, e que podem ser fundidos e remoldados.
Embalagens
PVC de detergente,
Cloreto água e óleo, tubos
de Polivinilo e perfis de estores
PS Copos de iogurte,
Poliestireno embalagens de ovos,
esferovite, e tabuleiros
48
Polímeros - corpos formados pela reunião de muitas moléculas numa só.
93
Estes plásticos são também os que têm menor grau
de polimerização. Para além destes existem também os plás-
ticos termoendurescíveis, que pelas suas características [alto
grau de polimerização] são resistentes ao calor e à pressão,
não podendo, por isso, ser reciclados.
A reciclagem dos plásticos assenta em tecnologias físico-
-mecânicas ou químicas. Da mistura de diferentes plásticos
podem obter-se produtos com alta resistência e que
podem competir com a madeira em bancos de jardim
e outro mobiliário urbano, com os metais, em tubagens
e outras aplicações, ou mesmo com o cimento para
a construção de pavimentos. Quando se requer a obtenção
de produtos com características análogas aos produtos
de origem, a selecção dos plásticos tem que ser muito
cuidadosa para se garantirem os mesmos polímeros.
A reciclagem química promove, então, a quebra das estru-
turas poliméricas até se chegar às moléculas de origem que
podem, assim, ser recicladas. Este processo pode ter por
Tratamento e Valorização de Resíduos: Reciclagem, Incineração e Valorização Energética, Aterro Sanitário
49
Hidrogenação - quebra das correntes polímeras com hidrogénio e calor.
50
Gaseificação - aquecimento dos plásticos com ar ou oxigénio.
51
Pirólise - quebra das moléculas a quente mas em vácuo.
52
Idem.
94
4.1.2.4. Metal
Os metais que fazem parte do nosso dia-a-dia de con-
sumidores dividem-se em dois tipos distintos: uns são
metais ferrosos, maioritariamente o aço [ou seja provêm
do ferro], os outros, os não ferrosos, são essencialmente
os de alumínio [que têm por base a bauxite].
A reciclagem do metal tem alguma tradição no nosso país
e é um processo simples de fusão para a produção de novos
bens metálicos.
A recuperação dos metais enviados para reciclagem é quase
total, devido ao seu elevado valor económico. É efectuada
a recuperação do cobre, do latão e do alumínio. O cobre
é utilizado na metalurgia, o latão para a produção de, por
exemplo, contadores de água e o alumínio é fundido sendo
novamente utilizado com excelente qualidade.
Para além de outras, tal como temperaturas de fusão infe-
riores para a reciclagem, a grande vantagem de reciclar
o metal está na poupança dos recursos naturais que estão
53
Ibidem, p. 34-35.
95
Para produzir uma tonelada de alumínio são necessários
17 600 KW/h de energia. Por seu lado a reciclagem de uma
tonelada de alumínio necessita, apenas, de 700 KW/h. Este
diferencial garante energia a 160 pessoas durante um mês
[ABA - Associação Brasileira do Alumínio - www.abal.org.br].
formas:
P Uma que tritura e mistura todos os componentes das
embalagens, que depois de prensados podem ser usados
na produção de diferentes aglomerados;
P E uma outra que separa os constituintes [essencialmente
a fibra de celulose] para serem reciclados separadamente.
No caso do aproveitamento conjunto, e por um processo
de extrusão, obtêm-se tacos para paletes e briquetes
[utilizadas como um combustível pelas indústrias]. Desde
há vários anos que na Alemanha e na Suécia, se fabricam
a partir das embalagens usadas aglomerados com a marca
registada Tectan. Este aglomerado não necessita de colas,
é impermeável e termoformável, sendo utilizado para
a produção de vários produtos comerciais, nomeadamente
bases para copos, pastas, dossiers, suportes de relógios,
quadros, caixas, tabuleiros de jogos, mobiliário e acaba-
mentos para soalhos.
No caso da reciclagem separativa de cada componente, que
é o processo utilizado na fábrica da Tetra pak em Espanha,
o principal objectivo é a recuperação da fibra celulósica.
54
Características organoléticas - o cheiro, o sabor, a cor, a textura e o aspecto,
as que são detectadas pelos sentidos.
96
A separação da componente celulósica realiza-se num
hidropulper com um sistema de filtragem, obtendo-se uma
fibra sem branqueamento do tipo kraft de alta qualidade.
A fracção de alumínio e plástico é transportada até uma
caldeira onde se realiza o aproveitamento do polietileno
através da utilização do seu calor na secagem do papel.
O alumínio, em forma oxidada, pode ser aproveitado para
a produção de sulfato de alumínio que tem diversas
aplicações industriais. Este processo possibilita uma
poupança energética de 156 kg de fuel por tonelada de
papel. Em Portugal e Espanha este papel kraft, produzido
pela reciclagem das embalagens Tetra brik, é utilizado
para fazer bolsas de papel para fins comerciais e sacos
para fins industriais.
As embalagens Tetra brik provenientes das recolhas
selectivas de resíduos são enviadas, depois de seleccionadas
e enfardadas nas estações de triagem, para a fábrica
de Espanha onde são recicladas utilizando o processo
4.1.2.6. Pilhas
As pilhas têm alguns constituintes que são nocivos à saúde
e ao ambiente, como o cádmio e o mercúrio.
Perspectiva-se que cada vez mais sejam consumidas pilhas
recarregáveis que são mais económicas, e que estas deixem
de incorporar o cádmio, passando preferencialmente a ser
constituídas por hidróxido de níquel.
As pilhas de mercúrio têm vindo a ser retiradas do mercado
devido à perigosidade deste componente e são substituídas
por pilhas de zinco-ar ou de óxidos de prata.
As tecnologias de recuperação dos constituintes das pilhas
baseiam-se na separação dos diversos metais para a sua
posterior utilização no fabrico de novas pilhas.
Em Portugal as pilhas são todas importadas, não havendo
nenhuma indústria que as retome e incorpore nos seus
processos de fabrico/reciclagem. Deste modo é comum exis-
55
Fonte de informação: http://www.consultorioct.mct.pt [Março de 2006].
97
tirem acordos de exportação destes materiais para países
que os possam processar correctamente.
No caso de Portugal, as pilhas e acumuladores [segundo
a Ecopilhas] são encaminhados para a Áustria para serem
recicladas.
Dada a perigosidade destes resíduos, o seu transporte e ex-
portação para reciclagem obedecem a um normativo legal
específico para este tipo de resíduos [resíduos perigosos].
4.1.3.1. Compostagem
“A compostagem é a degradação aeróbia dos resíduos
orgânicos até à sua estabilização, produzindo uma substância
húmida [composto] utilizada como corrector de solos”56.
Numa instalação de tratamento por compostagem estão
presentes três operações básicas até se chegar à última eta-
pa e que é a da afinação do composto para a aplicação
na agricultura e que são: a preparação, a decomposição
Numa e a maturação.
Central de Triagem
ou Estação A preparação visa a reti-
de Compostagem
a separação rada de resíduos indesejá-
de embalagens veis das fracções orgânicas
de metal faz-se compostáveis e pode ser
por correntes
de Foucault efectuada com recurso a
[não ferrosas] trabalho manual conjunta-
ou por eletro-íman
[ferrosas]. § mente com equipamentos
diversos, como por exemplo:
separadores electromagnéticos [que retiram os metais
ferrosos], separadores de contracorrente [para a retirada
de metais não ferrosos], crivos de malhas diversas [que
56
Segundo Lobato Faria, et al, 1997.
98
Processo de decomposições e maturação de resíduos orgânicos
Fonte: CARAPETO, Cristina [coord. Científica]; ALVES, Fernando Louro; CAEIRO, Sandra.
Educação Ambiental. Lisboa: Universidade Aberta, 1999. [Adaptado]
4.1.3.2. Biometanização
A biometanização é tam-
bém um processo de re-
ciclagem das fracções orgâ-
nicas dos resíduos, mas é
ETVO - efectuado sem a presença
Estação de Tratamento
e Valorização Orgânica de oxigénio. Este processo
da Valorsul requer uma tecnologia
[fase de construção]. §
mais sofisticada que o de
compostagem e o produto
Tratamento e Valorização de Resíduos: Reciclagem, Incineração e Valorização Energética, Aterro Sanitário
57
Valorsul. Regulamento de Utilização da Central de Tratamento de Resíduos
Sólidos Urbanos. 2003.
108
nam duas incineradoras, a
da Valorsul [empresa para
o tratamento dos resíduos
da Área Metropolitana Vista aérea
[Aterro Sanitário
de Lisboa Norte] e a da
de Mato da Cruz
LIPOR [Empresa para o § - Valorsul].
tratamento dos resíduos
do Grande Porto]. Porém, como vimos atrás, o PERSU
estabelecia que em 2005 apenas 13 % do total de resíduos
do país seriam conduzidos directamente a aterro sanitário.
Na eliminação dos resíduos em aterro sanitário têm que ser
executadas com segurança as várias operações, de forma
a não se pôr em causa a saúde humana ou o ambiente.
É frequente a confusão dos termos “lixeira” e “aterro sani-
tário”. Porém são grandes as diferenças entre um vazadouro
e um aterro sanitário. Na lixeira ou vazadouro os resíduos
são depositados a céu aberto ao passo que um aterro
sanitário obedece a normas estreitas, que visam a protecção
da saúde e a redução ao mínimo de contaminações ou
58
LOBATO FARIA et al. [1997], citado por M.ª da Graça Martinho [1999].
59
Efluentes resíduais líquidos, ou seja as águas que percolam através dos
resíduos. Estas águas são portadoras de elevadas concentrações de matéria
orgânica e outros poluentes.
109
P É feita a monitorização do impacte ambiental durante
a operação do aterro e após o seu encerramento.
Um aterro sanitário deve, assim, obedecer às seguintes con-
dições técnicas:
P Vedação total;
P Cobertura diária dos resíduos;
P Impermeabilização do fundo do aterro e respectivos taludes;
P Drenagem, recolha, tratamento e posterior rejeição no siste-
ma de esgotos municipais das águas lixiviantes;
P Drenagem do biogás [com ou sem aproveitamento ener-
gético];
P Plano de monitorização durante a operação do aterro
e após o seu encerramento;
P Plano de recuperação paisagística após o encerramento
da instalação.
Estas condições visam assegurar a redução dos incómodos
Tratamento e Valorização de Resíduos: Reciclagem, Incineração e Valorização Energética, Aterro Sanitário
60
Cabeças, 1996; Martinho 2000 [adaptado].
112
P Sistema de recepção para concentrar e acumular todas
as águas lixiviantes drenadas;
P Sistema de tratamento para esses efluentes que permita
o seu lançamento no meio receptor natural em condições
admissíveis;
P Sistema de drenagem de biogás em tubagem de polieti-
leno de alta densidade colocada horizontal e verticalmente
e ligada por “estrelas” que permita a saída para o exterior
dos efluentes gasosos;
P Sistema de condução do
biogás captado para uma Queimador de biogás
unidade de queima ou para [Aterro Sanitário
um sistema de aproveita- de Mato da Cruz
§ - Valorsul].
mento de energia.
Igualmente na fase de exploração do aterro devem ser
observadas normas básicas que permitam o bom funcio-
namento da estrutura e das quais se destacam:
114
5.Instrumentos Económicos na Gestão
dos Resíduos Sólidos Urbanos
61
ACRR. Conferência Internacional: Financing Models for Municipal Waste
Management based on Taxes, Charges, Volume-bbased Rates. Viena, Áustria,
1997.
115
P A taxa específica foi concebida para a recolha de resíduos,
mesmo que as facturas-recibo não estejam necessariamente
relacionadas com a gestão dos resíduos. Os parâmetros
de análise podem ser a dimensão da habitação ou do
agregado familiar, o consumo de água ou o imposto de pro-
priedade. Esta taxa é aplicada fundamentalmente nos
seguintes países: França, Grécia, Itália, Espanha e Portugal;
P A taxa fixa destina-se a cobrir os custos dos serviços
efectuados. Não é feita nenhuma distinção em relação
à produção de resíduos. Esta taxa é utilizada na Bélgica,
Dinamarca e Irlanda;
P A taxa variável não relacionada com a produção de resí-
duos é determinada em função dos serviços prestados
e cobre os seus custos, mas os parâmetros de análise
não estão relacionados com a produção de resíduos
[dimensão da habitação ou do agregado familiar, consumo
de água, valor da renda]. Esta taxa é utilizada na Bélgica,
França, Holanda e Suíça;
P A taxa variável relacionada com a produção de resíduos
cobre os custos dos serviços prestados. Reflecte o princípio
do poluidor-pagador, estando os parâmetros de análise re-
lacionados com a gestão de resíduos, tais como o volume,
frequência de recolha ou peso. Esta última subcategoria é
a que tem maior impacto na alteração do comportamento
dos cidadãos. Esta taxa é largamente utilizada na Áustria,
Bélgica, Finlândia, Alemanha, Luxemburgo, Suécia e Suíça.
A aplicação de taxas variáveis relacionadas com a produção
Instrumentos Económicos na Gestão de Resíduos Sóliods Urbanos
tagem individual;
Presença de efeitos adversos, que podem ser minimizados
P
Transparência do sistema;
[
[
62
MARTINHO, M. G. Factores Determinantes Para os Comportamentos de
Reciclagem. Tese de Doutoramento. Caso de Estudo: Sistema de Vidrões.
Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente. Faculdade de Ciências
e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, 1998.
118
des produzidas, desviar os resíduos valorizáveis para a re-
colha selectiva e a matéria orgânica para a compostagem
e incentivar o consumo de produtos com menos embalagens.
Contudo, a aplicação de taxas por serviços prestados pode
ser injusta, uma vez que é difícil estimar as quantidades
de RSU produzidas por família. Em muitos Municípios,
o cálculo do tarifário de RSU, não é proporcional à produção
de RSU, mas sim ao consumo da água e à dimensão do
agregado familiar. Porém, na prática, este sistema tem-se
revelado injusto, uma vez que as famílias que poupam água,
não produzem necessariamente menos resíduos; as famílias
que têm jardins consomem mais água, mas podem colocar
menos resíduos à remoção, porque podem utilizar os resí-
duos orgânicos como fertilizantes ou como alimento para
animais. Por outro lado, as famílias que triam os resíduos
valorizáveis não são beneficiadas com este tipo de tarifário.
Todavia nos EUA, no Canadá e em algumas cidades
europeias, foram adoptadas formas mais justas, embora
mais dispendiosas, que consistem na aplicação do “princípio
do poluidor-pagador” ou seja na cobrança de tarifários
proporcionais à quantidade de resíduos depositada em
cada contentor. O mecanismo utilizado consiste na instalação
de um sistema de identificação de frequências de rádio
[sistema RFID] no veículo de recolha. Os contentores são
identificados e pesados no momento em que são elevados
para descarga. Este sistema identifica ainda os contentores
vazios, o tempo de descarga de cada recipiente e o tempo
gasto entre pontos de recolha, o que aumenta a eficácia
Instrumentos Económicos na Gestão de Resíduos Sóliods Urbanos
63
McADAMS, C.; RFID. The Missing Link To Comprehensive Automated Refuse
Collection Recycling. In: Waste Age, 25[4], 1994, p. 143-147.
119
e o resíduo colocado pesado, sendo o seu peso registado
numa base de dados com o código do respectivo utilizador.
Deste modo, é possível saber os quantitativos depositados,
por tipo de material, e por habitação, num determinado ano.
O cálculo do tarifário proporcional à quantidade de resíduos
produzidos pode, igualmente, basear-se no pagamento
prévio de recipientes para deposição, cujo preço poderá ser
fixo ou variável em função da capacidade dos recipientes
ou da frequência de recolha. Num relatório da EPA64,
é referido que em Perkasie e Llion [EUA], a utilização de
taxas baseadas no número e no tamanho de contentores
ou sacos induziu uma redução igual ou superior a 10 %
da quantidade de resíduos produzidos e a um aumento
superior ao dobro da reciclagem previamente verificada
e reduziu, ainda, em cerca de 30 % a quantidade de resíduos
misturados. A aplicação deste tarifário apresenta, no entanto,
alguns inconvenientes nos casos em que a deposição é co-
lectiva, uma vez que é difícil taxar cada família em função
das quantidades realmente produzidas. Por outro lado,
podem favorecer deposições ilegais, para além dos custos
financeiros associados, de recolha e deposição, sem contudo
incluir os custos externos65.
Para finalizar, destaca-se o impacte que poderá ter para
os sistemas de gestão de resíduos a reforma fiscal que
a União Europeia pretende realizar. Esta reforma, ainda em
estudo e debate na UE, pretende reduzir ou deslocar os
tradicionais impostos e taxas sobre o capital e o trabalho,
Instrumentos Económicos na Gestão de Resíduos Sóliods Urbanos
64
USEPA. Charging Households for Waste Collection and Disposal: The
Effects of Weight or Volume-Based Pricing on Solid Waste Management.
In: Environmental Protection Publication 530-SW-90-047, U.S. Printing
Office, Washington, D.C., 1990.
65
BRISSON. Externalities in Solid Waste Management: Values, Instruments and
Control. PhD Thesis: University College London Department of Economics,
1994.
66
GEE, D. Economic Tax Reform in Europe: Opportunities and Obstacles.
In: O'RIORDAN, T., CSERGE, University of Esat Anglia e University College
London [eds], Ecotaxation. Earthscan Publications, 1997.
120
5.2. Taxas sobre Produtos
As taxas sobre produtos baseiam-se num princípio directa-
mente relacionado com o princípio do poluidor-pagador, uma
vez que procura incluir no produto final os custos de re-
colha, tratamento ou de deposição final. Refere-se, portanto,
à obrigatoriedade de pagamento de uma taxa adicional,
por parte dos produtores ou importadores de um produto,
com o objectivo de se assegurar um destino final adequado.
Contudo, como os produtores transferem a taxa para
o consumidor, existe o risco de não se realizarem esforços
no sentido de reduzir as quantidades de embalagens dos
produtos. Por outro lado, a taxa representa uma ínfima
parcela do preço final pelo que dificilmente terá efeito nos
comportamentos.
A Alemanha adoptou uma taxa deste tipo para as embala-
gens, as quais constituem cerca de 35-40 % do peso total
de RSU. A conhecida “Packaging Ordinance”, introduzida
pela Lei Topfer, em 1991, estipula dois grandes princípios:
primeiro, atribui aos produtores a responsabilidade de recupe-
rar as embalagens dos produtos que colocam no mercado;
segundo, os resíduos que são recolhidos devem ser reciclados
ou reutilizados e não podem ser incinerados ou enviados
para aterro.
A recolha e reciclagem dos resíduos de embalagem são
organizadas pelo “Duales Systems Deutchland” [DSD],
uma rede nacional independente67.
As empresas que contribuem para
Instrumentos Económicos na Gestão de Resíduos Sóliods Urbanos
67
FAZERKERLEY, E. Profile: the German packaging ordinance. European
Environment, 2 [5], 1992, p. 12-13.
121
sucedido que a indústria alemã se viu incapacitada para
absorver todo o papel e o plástico recolhidos, tendo come-
çado a enviar estes produtos para outros países, nomea-
damente para Portugal68.
A França também utiliza o símbolo “Ponto Verde” mas,
ao contrário da Alemanha, não estipulou metas quantificadas
para a reciclagem e a estrutura de funcionamento da orga-
nização “Eco-Embalagens” é diferente.
Em Novembro de 1996, surge em Portugal a Sociedade
Ponto Verde para implementação do Sistema Integrado
de Gestão de Resíduos de Embalagens, previsto no Decreto-
-Lei n.º 322/95, de 28 de Novembro e na Portaria n.º 313/96,
de 29 de Julho.
68
COLLINS, L. Recycling and the Environmental Debate: A Question of Social
Conscience or Scientific Reason? In: Journal of Environmental Planning
and Management, 39 [3], 1996, p. 333-355.
69
KPMG Peat Marwick. Market Mechanisms. In: Environment Briefing Note,
Autum, 1992, p. 9.
122
Pearce e Brisson70 afirmam, no entanto, que as experiências
de aplicação desta medida indicam que as taxas de retorno
não são muito sensíveis ao valor do depósito. Muito mais
importante é o número, conhecimento e conveniência
dos pontos de recolha para os consumidores.
Em Portugal o Sistema Ponto Verde, ou melhor, o Sistema
Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens [SIGRE],
tem como principal objectivo fazer a gestão dos resíduos
de embalagens que, no pós-consumo, não são reutilizadas.
Isto é, na sequência da publicação do Decreto-Lei n.º 366-A/97
[que estabelece os princípios e as normas aplicáveis ao
sistema de gestão de embalagens e resíduos de embalagens],
foi constituído, a nível nacional, um dispositivo que garante
a valorização, essencialmente, através da reciclagem [prece-
dida de recolha selectiva] do fluxo de resíduos de embala-
gens que não são reutilizáveis. O funcionamento deste sistema
integrado pauta-se pelas regras definidas na Portaria
n.º 29-B/98. Este mesmo diploma estabelece, igualmente, as
regras a observar no sistema alternativo, designado sistema
de consignação, destinado a gerir os resíduos de emba-
lagens reutilizáveis.
No âmbito do sistema integrado, os operadores económicos
[os embaladores e importadores de embalagens] que colo-
cam as embalagens no mercado, sendo por isso co-res-
ponsáveis pela gestão destes resíduos, transferem a sua
responsabilidade na correcta eliminação dos resíduos prove-
nientes do consumo dos seus produtos para a entidade
Instrumentos Económicos na Gestão de Resíduos Sóliods Urbanos
70
PEARCE, D. W.; BRISSON, I. The Economics of Waste Management. In:
Hester, R.E e Harrison, R.M. [eds.], Waste Treatment and Disposal, The
Royal Society of Chemistry, 1995.
123
Câmaras Municipais efectuam a recolha selectiva e trans-
P
71
MacLEAN, J.C. Tax Exempt Debt Financing for privately Owned Facilities.
In: Biocycle. 1988; Turner e Brisson, August, 61-64.
72
FERNANDEZ, V.; TUDDENHAM, M. The Landfill Tax in France. In: GALE, R.;
BARG, S.; GILLIES, A. [Editores], Green Budget Reform: An International
Casebook of Leading Pratices. London: Earthscan, 1995.
124
No caso do objectivo ser o de reduzir as quantidades de RSU
produzidos na fonte e aumentar as quantidades recicladas
[reduzindo ao mínimo os custos económicos e ambientais]
então vários grupos de instrumentos económicos devem ser
aplicados de uma forma complementar e integrada. As inter-
-relações técnico-económicas entre os vários elementos
da cadeia dos RSU e os diferentes materiais presentes exi-
gem uma abordagem integrada e multisectorial73.
73
ZABOLI. The integrated use of economic instruments in the policy of muni-
cipal solid waste. In: Curzio, A.; Prospetti, L; Zoboli, R., Developments in
Environmental Economics. Volume 5: The Management of Municipal Solid
Waste in Europe: Economic, Technological and Environmental Perspectives.
ELSEVIER, 1994.
74
Cfr. Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano [Estocolmo,
1972] - princípios 1 a 8. Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvi-
mento [Rio de Janeiro, 1992] - princípios 2,3,4, 7,8,10 e 17 [ver anexo A3].
125
acesso adequado às informações relativas ao ambiente
detidas pelas autoridades, incluindo informações sobre
produtos e actividades perigosas nas suas comunidades,
e a oportunidade de participar em processo de tomada
de decisão. Os estados deverão facilitar e incentivar a sensi-
bilização e a participação do público, disponibilizando
amplamente as informações. O acesso efectivo aos processos
judiciais e administrativos, incluindo os de recuperação
e de reparação, deve ser garantido”75.
A AIA é um instrumento de política de ambiente gene-
ralizada nos países desenvolvidos e recomendada por
organismos internacionais suportada pelo princípio da pre-
venção ambiental na implementação de planos, programas
e projectos de desenvolvimento, mediante:
“Uma avaliação sistemática dos efeitos previsíveis [efeitos
directos e indirectos] causados por um dado projecto no
ambiente - fauna, flora, solo, água, atmosfera, paisagem,
factores climáticos, bens materiais, património arquitectó-
nico e população76, sendo para o efeito suportado por um
Estudo de Impacte Ambiental [EIA]”.
Sustentado pelo princípio da participação, a AIA é tão mais
eficaz quanto a sociedade integre cidadãos conscientes dos
seus direitos e deveres e, mais e melhor informados este-
jam sobre a problemática ambiental, capacitando-os para
uma participação substantiva na discussão pública.
“Desejando promover a educação ambiental para um melhor
conhecimento do ambiente e do desenvolvimento sustentável
e no sentido de encorajar uma maior sensibilização do
público e a sua participação nas decisões que afectam
o ambiente e o desenvolvimento sustentável”77, bem como
consumidores com práticas ambientalmente informadas,
a Convenção de Aarhus78 encerra um conjunto de princípios
que devem informar a participação em matérias ambientais.
Avaliação de Impacte Ambiental
75
Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, princípio 10
[cfr. anexo A3].
76
ANTUNES, Paula. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova
de Lisboa. Fonte: http://www.iapmei.pt [Setembro 2005].
77
Preâmbulo da “Convenção sobre o acesso à informação, participação do
público no processo de tomada de decisão e acesso à justiça em matéria
de Ambiente”, promovida pela Comissão Económica para a Europa
das Nações Unidas, a 26 de Junho de 1998, em Aarhus [Dinamarca]
- cfr. anexo A3.
126
6.2. Metodologia
78
Portugal aprova para ratificação esta Convenção em 2003 [Resolução da
Assembleia da República n.º 11/2003, publicada no DR I Série - A, n.º 47,
de 2003/02/25]. A Directiva 2005/370/CE, de 17 de Fevereiro, valida-a, em
nome da Comunidade Europeia, sendo confirmada por Portugal através
do Decreto do Presidente da República, de 25 de Fevereiro, publicado
no DR I Série - A, n.º 47, de 2005/02/25 - Ratifica a Convenção de Aarhus.
[a Convenção vigora em Portugal desde 2003/09/07] - cfr. anexo A3.
127
conjunto de vantagens79:
P Ainda na fase de concepção do projecto assegura-se
o estudo aprofundado e a ponderação das soluções
a adoptar e dos efeitos que são passíveis de produzir;
PIdentificam-se problemas e prevêem-se soluções numa fase
inicial do projecto, contribuindo para reduzir os custos
da protecção ambiental pela adopção de medidas
de prevenção em vez de medidas correctivas;
P Contribui para uma tomada de decisões suportada pela
articulação entre razões técnicas e sociais e pela partici-
pação dos interessados.
Favorece a equidade social e económica a par de uma
melhor gestão dos recursos naturais em articulação.
Desta forma, a Avaliação de Impacte Ambiental é mais
eficiente quando o Estudo de Avaliação de Impacte Ambi-
ental é exaustivo80, as instituições e as comunidades locais
são ambientalmente informadas, de forma a participar
substantiva e efectivamente, quer na fase de decisão sobre
a implementação do projecto, quer nas fases ulteriores
associadas à monitorização dos efeitos, onde a manutenção
de níveis adequados de informação é central para a
verificação dos níveis de eficácia ambiental com impactes
mínimos no ambiente natural, social, cultural e psicossocial
dos indivíduos, a par de um desenvolvimento económico
que contribua para um bem-estar e conforto material81.
A AIA é uma metodologia de apoio à decisão com um con-
79
MELO, João Joanaz. Metodologia de Avaliação de Impactes Ambientais.
In: Centro de Estudos Judiciários. Ambiente e Consumo. II volume, 1996.
80
Onde a par da avaliação das soluções técnicas propostas sejam ponde-
rados os efeitos nos seres humanos, fauna, flora, solo, ar, água, clima,
paisagem, bens materiais, património cultural e social, de curto e longo
prazo, directos e indirectos, desenvolvendo para o efeito análise de risco
e de custo benefício.
Avaliação de Impacte Ambiental
81
Nesta acepção, o processo de AIA pode contribuir efectivamente para o
que hoje é entendido como qualidade de vida: “este conceito compreende
a abundância material e o conforto económico como componentes a não
desprezar, mas onde não [se] pode esquecer, ao mesmo tempo, os
aspectos não materiais das condições de vida, como sejam as próprias
apreciações que delas se faz, as condições sanitárias, os serviços e as
condições de saúde, a família e as relações sociais, ou ainda, a qualidade
do ambiente natural envolvente” [FERRÃO, João; GUERRA, João; HONÓRIO,
Fernando. Municípios, sustentabilidade e qualidade de vida. Lisboa:
Observa, 2004, p. 4].
128
junto de procedimentos chave. Assim, em qualquer processo
de AIA são sempre intervenientes82:
P O dono da obra ou proponente, que propõe o projecto
[de que faz parte o Estudo de Impacte Ambiental - EIA];
P Os consultores ou peritos, presentes em diferentes fases
do processo, estando presentes quer no Estudo de Impacte
Ambiental, quer nas comissões que realizam a apreciação
técnica dos processos na Administração Pública;
P A sociedade civil, neste caso todas as organizações que
possam estar interessadas no processo decisório [Autarqui-
as Locais, Associações de Defesa do Ambiente, Associa-
ções de Moradores, profissionais ou económicas locais,
o cidadão].
Referencialmente, o processo de AIA de um projecto de de-
senvolvimento inclui as fases de definição do âmbito do EIA,
a sua preparação83, a consulta pública84 e a decisão.
O desenvolvimento de um sistema de monitorização asso-
ciado ao funcionamento da instalação ou do projecto, acom-
panhado de auditorias ambientais [externas e/ou internas]
constituem instrumentos promotores de boas práticas
e promotores da prossecução de objectivos ambientais
e de um desenvolvimento sustentável.
82
MELO, João Joanaz, ob.cit.
83
Processo complexo onde se identifica e prevê a amplitude dos impactes,
avalia as alternativas para a acção, [atendendo ao espaço e ao tempo],
se identificam as medidas mitigadoras, bem como a metodologia do
processo de monitorização. A utilização de índices ambientais de medição
permite a articulação entre estes diversos níveis de análise. São exemplo
de índices utilizados nestes estudos: índices de emissão, de qualidade
ambiental, socioeconómicos de qualidade de vida, de sensibilidade
[ecológica, paisagem, …], tecnológicos, etc. Idem.
84
Ibidem. A consulta pública assenta no uso de dois conjuntos de técnicas:
Avaliação de Impacte Ambiental
85
Na Holanda e Países Escandinavos [1970], a AIA passou a existir em
todos os projectos de grandes dimensões; na Alemanha, em 1971, passou
a ser obrigatória a sustentação das decisões federais pela “análise de
Compatibilidade Ambiental”; no Canadá, em 1973 - o Environmental
Assessment and review process; na Austrália, em 1974 - o Environmental
Protection Act; na Irlanda, em 1976, com a publicação do Local
Government Planing and Development Act, a AIA foi introduzida em todos
os projectos públicos e privados com um orçamento superior a 5 milhões
Avaliação de Impacte Ambiental
87
Revoga a Directiva 90/313/CE.
88
Ratifica a Conferência de Aarhus e determina a sua complementaridade
em relação a aspectos específicos enquadrados pela Directiva 2003/04/CE,
de 28 de Janeiro.
89
Melo, João Joanaz, ob.cit.
131
legal e toda a legislação complementar foi revogado pela
entrada em vigor de novo diploma legal enquadrador do
processo de Avaliação de Impacte Ambiental: o Decreto-Lei
n.º 69/2000, de 3 de Maio. Este diploma transpõe para a
legislação nacional as Directivas comunitárias e estabelece
o novo regime jurídico da avaliação de impacte ambiental
em projectos públicos e privados susceptíveis de
produzirem efeitos significativos no ambiente91.
Tendo por referência o Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio,
e legislação acessória, o processo de Avaliação de Impacte
Ambiental [AIA] segue um faseamento específico, inte-
grando os critérios técnicos da avaliação dos projectos
[a nível da concepção do projecto na participação de peritos
em determinadas fases do processo], com a audição dos
interessados internos e externos. Assim, de forma sistemática,
o AIA deve respeitar o seguinte faseamento:
1 Selecção dos projectos - atendendo à enunciação cons-
P
90
Este enquadramento foi complementado e alterado por legislação publicada
posteriormente: Portaria n.º 590/97, de 5 de Agosto, pelo Decreto Regula-
mentar n.º 38/90, de 27 de Novembro, pelo Decreto-Lei n.º 278/97,
de 8 de Outubro e Decreto Regulamentar n.º 42/97, de 10 de Outubro.
91
ANTUNES, Paula. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova
de Lisboa. In: http://www.iapmei.pt [Setembro’05].
132
P Análise de impactes;
P Interpretação e apreciação dos impactes;
P Minimização e gestão de impactes;
P Descrição dos programas de monitorização.
4 Apreciação técnica do EIA - que avalia o cumprimento
P
92
A tipologia dos projectos abrangidos por AIA está definida nos anexos I
e II do Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, de que são exemplo:
refinarias de petróleo bruto, centrais térmicas, centrais nucleares,
instalações químicas ou ligadas à actividade mineira, vias de comuni-
cação, instalações de tratamento de vários tipos de resíduos, de trata-
mento de águas e efluentes, instalações industriais; bem como [anexo 2]
projectos de emparcelamento rural, de desenvolvimento agrícola com
Avaliação de Impacte Ambiental
95
Ver capítulo III sobre Educação Ambiental.
96
LAMY, Michel. As camadas ecológicas do homem. Lisboa: Instituto Piaget,
Perspectivas ecológicas, 1996.
97
Idem, p. 101.
137
Todavia, onde quer que esteja o Homem é acompanhado
por outros ser vivos, encontre-se ele no campo ou na cidade.
Aves, insectos, mamíferos e outros animais acompanham-
-no de uma forma mais ou menos visível, beneficiando dos
locais de refúgio por ele proporcionados, adaptando-se
às novas condições.
Em casa, desejando-o ou não, o homem conviveu com nume-
rosos ser vivos. A par dos animais domésticos [galináceos,
ovinos, etc.] e de companhia [cães, gatos…], numerosos
invertebrados convivem dia-a-dia com o homem - tais como
insectos, aranhas, ácaros e mamíferos [ratos]. Também
fungos e bactérias potenciais causadores de fenómenos
alérgicos são uma presença forte no quotidiano humano.
O convívio equilibrado entre espécies colocou desafios.
Nas cidades o controlo de pragas e a intimidade com
animais de companhia em nome da saúde pública sus-
tentou o desenvolvimento de métodos e técnicas que supor-
tam a partilha do espaço, onde o equilíbrio entre espécies
é conseguido pela adopção de métodos mais ou menos
ofensivos dos ecossistemas.
A segunda metade do século XX assiste ao reconhecimento
público dos direitos dos animais através da proclamação
da “Declaração Universal do Direitos dos Animais”98 pela
UNESCO, em 1978. Em França, pela primeira vez, surgira
em 1924 a publicação da Declaração dos Direitos dos Ani-
mais [André Géraud]99.
A reflexão filosófica sobre as relações Homem-Natureza
teve ao longo dos tempos abordagens diversificadas.
Do Homem. Dos Direitos do Animal e dos Animais na Cidade
98
Cfr.: http://www.lpda.pt [Novembro 2005]. Esta declaração coloca-se por
oposição à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclama-
dos pela 1.ª vez na Revolução Francesa [1789]. Em 1948, a Assembleia
Geral das Nações Unidas, a 10 de Dezembro de 1948, proclamou, no
pós-II Guerra Mundial, a Declaração Universal dos Direitos do Homem
Cfr.: http://www.unhchr.ch [Novembro 2005].
99
Cfr. prefácio da obra de FERRY, L. A Nova Ordem Ecológica. Lisboa:
Edições Asa, 1993, p. 61.
100
Idem.
138
judiciais no século XV para julgar a devastação causada
por animais em povoações101, sendo estes constituídos réus
e julgados à luz dos valores da época, podendo “…a sen-
tença variar consoante os animais fossem considerados
como criaturas de Deus limitando-se a seguir a lei natural,
como flagelo enviado aos homens em castigo dos seus
pecados, ou como instrumento do demónio opondo-se
frontalmente à própria autoridade eclesiástica”102.
Descartes103, sustentado pela sua visão racional do mundo,
reconhece ao homem todos os direitos e nenhum à nature-
za; defendia “é que o animal como todas as máquinas
bem feitas, «funciona» melhor do que o homem: «bem sei
- escreve Descartes - fazem coisas muito melhor do que nós,
mas tal não me admira, pois isso mesmo serve para provar
que eles agem natural e mecanicamente, assim como um
relógio que mostra as horas com mais exactidão do que
o nosso julgamento. E não há dúvida de que, quando as ando-
rinhas voltam na Primavera, estão a agir como relógios»”104.
Durante o século XVIII surgem alguns pensadores105 que,
numa postura anti-cartesiana, ensaiam a defesa do “Direito
dos Bichos”, depois continuada no século XIX, centrando as
suas teses na concepção de que o animal pensa e sofre e,
nessa medida possui direitos e cria deveres à humanidade106.
101
São exemplos: o processo levantado pela aldeia de Saint-Jean-de
Maurienne contra uma colónia de gorgulhos; a cidade de Coire contra
as larvas.
102
Ibidem, p. 13.
103
Do Homem. Dos Direitos do Animal e dos Animais na Cidade
1596-1650.
104
Citado por FERRY, p. 57-58.
105
Maupertuis nas Mémoires pour servir l' histoire des Insectes [1734]
e Condillac no Traité des Animaux são alguns dos autores centrais desta
linha de pensamento.
Pierre-Louis Moreau de Maupertuis [1698-1759] - “No Sistema da
natureza [1752], o autor apresenta uma ampla teoria que pretende
explicar, a partir de um princípio gerativo universal, como os organismos
actuais são gerados, como as espécies podem conservar-se ao longo do
tempo e como ocorre a formação de novas espécies a partir de uma
dada linhagem de organismos.” [RAMOS, Maurício de Carvalho. Origem da
vida e origem das espécies no século XVIII: as concepções de Maupertuis.
São Paulo: Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo.
In: http://www.fflch.usp.br [Novembro 2005].
Tienne Bonnot de Condillac [1714-1780]. Publicou 2 trabalhos: Ensaio
das origens do conhecimento humano [1746], Tratado das Sensações
[Treatise on Sensations, de 1754].
106
FERRY, ob. cit., p. 60. Identifica como autores relevantes: Rousseau e Kant,
entre outros.
139
No seu tempo, J. Bentham107 equacionava o problema nos
seguintes termos: “a questão é: não podem raciocinar? Nem
podem falar? Mas podem sofrer?”.
Ferry sintetiza do seguinte modo a evolução do pen-
samento filosófico em relação à problemática do direito
dos animais:
“ A posição cartesiana, segundo a qual a natureza, incluin-
P
2. Animais de Companhia
107
1748-1842. Principal obra: Introduction to the Principles of morals and
legislation [1789].
108
Idem, p. 65.
109
São obras de referência deste autor: Animal Liberation [1975] e Practical
ethics [Ética Prática]. Gradiva, 2002.
140
legais110 que regulam de uma forma muito precisa a acti-
vidade institucional nesta área de acção.
A Convenção Europeia para a Protecção dos Animais de
Companhia, assinada por todos os Estados-Membros do Con-
selho da Europa, constitui o documento internacional de
referência, tendo sido transposto para a legislação portu-
guesa em 1993.
110
Animais de Companhia
Cfr. o anexo A2, que inclui um capítulo com uma síntese da legislação
de enquadramento [Portaria n.º 81/2002, de 24 de Janeiro; Portaria
n.º 899/2003, de 28 de Agosto; Decretos-Leis n.ºs 312/2003, 313/2003,
314/2003 e 315/2003, de 17 de Dezembro; Portarias n.ºs 421/2004
e 422/2004, de 24 de Abril; Portaria n.º 585/2004, de 29 de Maio].
111
Foi publicada legislação específica para este tipo de animais [Decreto-
-Lei n.º 312/2003, de 17 de Dezembro] - cfr. anexo A2.
141
P Tenha ferido gravemente ou morto um outro animal fora
da propriedade do detentor;
P Tenha sido declarado voluntariamente pelo seu detentor,
à Junta de Freguesia da área da sua residência, que tem
um carácter ou comportamento agressivos;
P Tenha sido declarado pela autoridade competente como um
risco para a segurança de pessoas ou animais, devido
ao seu carácter agressivo ou especificidade fisiológica.
Campanha P Cães e Gatos Adultos - Todos os
de sensibilização animais destas espécies, com idade
sobre os animais igual ou superior a 1 ano de idade.
de companhia dirigida
à cidade de Lisboa. § P Cão Guia - Todo o cão devida-
mente treinado, através de ensino especializado mi-
nistrado por entidade reconhecida para o efeito, para
acompanhar como guia pessoas invisuais e que tem o
direito de acompanhar o invisual, com entrada, sem quais-
quer restrições, em todos os locais públicos e privados.
P Cão de Caça - Cão que pertence a um indivíduo habilitado
com carta de caçador actualizada e que é declarado como
tal pelo seu dono ou detentor.
P Animal com Fins Económicos - Animal que se destina
a objectivos e finalidades utilitários, guardando rebanhos,
edifícios, terrenos, embarcações ou outros bens ou ainda
utilizado como reprodutor nos locais de selecção e multi-
plicação.
P Animal para Fins Militares ou Policiais - Animal que é pro-
priedade das Forças Armadas ou de entidades policiais ou de
segurança e se destina aos fins específicos destas entidades.
P Açaime Funcional - Utensílio que, aplicado ao animal sem
lhe dificultar a função respiratória, não lhe permita comer
nem morder.
P Animal suspeito de Raiva - Qualquer animal susceptível
que, por sinais ou alterações de comportamento exibidos,
seja considerado como tal por um Médico-Veterinário. São
sempre considerados como suspeitos de raiva todos os
animais que agridem pessoas ou outros animais.
Animais de Companhia
112
No caso da esgana e parvovirose, já existem vacinas que podem ser
dadas logo às 4-5 semanas, conferindo assim um início de imunidade mais
cedo contra duas doenças que têm elevada mobilidade e mortalidade.
145
coleira ou peitoral, onde deve estar colocado, por qualquer
forma, o nome e morada ou telefone do dono do detentor;
P Uso de trela ou açaimo - É proibida a presença na via
pública [ou em quaisquer outros lugares públicos] de cães
sem açaimo funcional, excepto quando conduzidos à trela;
ou, tratando-se de animais utilizados na caça, durante
os actos venatórios ou em provas e treinos. Nos termos
da lei, nos animais perigosos ou potencialmente perigosos
é sempre obrigatório o uso de açaimo e trela curta
[inferior a 1 metro] em material resistente113;
Dever especial de cuidado - Incumbe ao detentor do animal
P
113
No ponto 2.8. deste capítulo encontra-se desenvolvida a temática dos
animais perigosos ou potencialmente perigosos.
Animais de Companhia
114
Art.º 6.º do D.L. n.º 276/2001, de 17 de Outubro, com a redacção dada
pelo D.L. n.º 315/2003, de 17 de Dezembro. A violação do dever
de cuidado é punível com coima que varia entre 500,00€ e 3740,00€
- cfr. anexo A2.
115
Contra-ordenação por abandono, punível com coima de 500,00€
a 3740,00€ - cfr. anexo A2.
146
Nos domínios da Defesa da Saúde Pública e do Ambiente
é atribuição das Autarquias proceder à captura dos cães
e gatos vadios ou errantes, encontrados na via ou em quais-
quer lugares públicos. Para o efeito deverá ser utilizado
o método de captura mais adequado a cada caso, recolhen-
do os animais no Canil ou Gatil Municipal.
Os animais capturados são submetidos a exame clínico pelo
Médico-Veterinário Municipal, que do facto elabora relatório
síntese e decide do seu ulterior destino. Os animais devem
permanecer no Canil ou Gatil
Municipal durante o período
mínimo de 8 dias.
Animais
Durante o período de recolha capturados e entregues
no canil/gatil, todas as despe- no Canil/Gatil
sas de alimentação e alojamento
§ Municipal.
são da responsabilidade do dono ou detentor do animal,
bem como o pagamento das multas e coimas corres-
pondentes aos ilícitos contra-ordenacionais verificados.
Caso estes pagamentos não sejam efectuados, as Câmaras
Municipais podem dispor livremente destes animais.
Os animais recolhidos só podem ser entregues aos presumí-
veis donos ou detentores depois de identificados, submetidos
às acções de profilaxia consideradas obrigatórias para o ano
em curso e sob termo de responsabilidade escrito do dono
ou detentor com a sua identificação completa.
Quando não reclamados, as A CML possui
Câmaras Municipais deverão uma linha de adopção
disponível na sua
publicitar, pelos meios própria página
usuais, a existência destes da internet:
animais com o objectivo de www.cm-lisboa.pt
§ [link da Lisboa Limpa].
cedência a particulares ou
a entidades [públicas ou privadas] que demonstrem possuir
os meios necessários à sua manutenção. Se mesmo assim
não forem reclamados/cedidos, as Autarquias podem
dispor deles livremente. Atendendo à salvaguarda de
quaisquer riscos sanitários para as pessoas ou outros
animais, por parecer do Médico-Veterinário Municipal,
podem até decidir a sua occisão através de métodos que
não impliquem dor ou sofrimento ao animal.
Se conhecida a identidade dos detentores dos cães e gatos
capturados, aqueles são notificados para o seu levantamento
e punidos pelo abandono de animais, nos termos da legis-
lação em vigor.
147
2.3.2. Controle da Reprodução
Entre os animais de companhia, o Homem permite a re-
produção excessiva dos animais, nomeadamente do cão
e do gato, o que tem implicações no elevado número
de abandonos e de animais errantes, causa de sofrimento
para os animais, mas também um risco para a saúde pública.
É competência das Câmaras Municipais promover a captura
de animais vadios ou errantes na via pública, fazendo-os
recolher ao Canil e/ou Gatil Municipais. A captura de animais
na via pública e a sua occisão não pode ser considerada
como a maneira mais eficaz de lidar com o excesso de ani-
mais vadios, pois não tem qualquer efeito na origem
do problema: “excesso de produção de animais”. A captura
de animais errantes reduz apenas temporariamente a sua
população num determinado local, o que aumenta a probabi-
lidade de sobrevivência dos restantes e encoraja a migração
de outros para essas “zonas limpas”.
É necessário que sejam tomadas medidas a longo prazo,
as quais incluem:
P Uma correcta identificação animal;
P O controle da reprodução através da esterilização;
P Sensibilização e educação da população.
A razão porque muitos Governos evitam a introdução de um
programa mais humanitário de controlo da população vadia
ou errante, prende-se com o custo destas operações. Trata-
-se de uma falsa economia se tivermos em conta os custos
que advêm dos programas pouco efectivos, como sejam:
P Os acidentes de tráfego;
P As despesas médicas provocadas pelas mordidelas;
P O custo da eutanásia em si;
P Outras implicações a nível da Saúde Pública, como sejam
a propagação de certas zoonoses, nomeadamente a raiva.
O Canil/Gatil de Lisboa deu início a um programa de este-
rilização de animais vadios para adopção. O programa
Animais de Companhia
consiste em:
P Relativamente aos Gatos - Um casal de gatos pode ter
2 ou mais ninhadas por ano o que, exponencialmente,
pode representar 420.000 animais no final de um período
148
de 7 anos. Perante este facto, torna-se evidente a im-
portância da adopção de medidas eficazes de controlo,
as quais podem passar por:
P Captura dos animais;
P Despiste das principais doenças e, no caso dos gatos
saudáveis, a esterilização e libertação de novo no local.
Este método apresenta as seguintes vantagens:
P Estabiliza o número de animais nas colónias;
P Elimina os comportamentos ruidosos associados ao aca-
salamento;
P É mais eficaz, dado que os animais não são retirados
do local, reduzindo a possibilidade de migrações e de
futura procriação;
P Ajuda a combater os roedores;
P Menor custo;
P Pode proporcionar uma vida melhor a esses animais.
Estas colónias deverão ser supervisionadas por grupos de
moradores ou por pessoal das Associações de Protecção
dos Animais.
Para evitar a propagação de doença a outros membros
da colónia ou a gatos da vizinhança, só devem ser libertados
animais saudáveis nas zonas supervisionadas e eutanasiados
os animais com doenças fatais ou contagiosas.
Relativamente aos Cães:
P Captura dos animais;
P Despiste das suas principais doenças;
P Esterilização das fêmeas saudáveis e com possibilidades
de adopção;
P Os machos, em princípio, só serão castrados aqueles cujos
donos o solicitarem. Encara-se a possibilidade de esteri-
lização dos outros, o que impede a sua reprodução sem
Animais de Companhia
ser adulterado;
P Pode migrar, embora sejam obrigados a conter dispositivos
anti-migração;
P Necessita de um leitor.
151
O microship [transponder] é aplicado por injecção subcutâ-
nea na face lateral esquerda do pescoço, sendo a agulha
de grosso calibre. Apresenta um conjunto de 15 dígitos,
em que os primeiros 3, correspondem ao código do País.
Aquando da identificação electrónica efectua-se o preenchi-
mento de uma ficha, em que o original e o duplicado são
para o proprietário [fazendo este posteriormente a entrega
de um dos exemplares na Junta de Freguesia, para esta pro-
ceder à inserção dos dados na Base de Dados - SICAFE]
e o triplicado na posse do médico-veterinário que procedeu
à identificação. No caso do SIRA, a ficha é em quadrupli-
cado, em que o triplicado é para o veterinário enviar à base
de dados [SIRA] e o quadruplicado fica na posse do médico.
Na ficha constam dados relativos a:
P Animal - espécie, sexo, cor, raça, nome, data de nascimento,
sinais particulares e n.º de registo/pedigree;
P Proprietário - nome, telefone, morada, localidade, freguesia,
concelho, código postal, bilhete de identidade e país;
P Médico-Veterinário - nome, telefone, cédula profissional,
morada, localidade, código postal, país, data, carimbo
e assinatura.
A Câmara Municipal de Lisboa tem realizado campanhas
gratuitas de identificação electrónica de canídeos desde 1997,
destinadas aos animais vacinados contra a raiva no Posto
Móvel de Vacinação [PMV], bem como para os animais que,
não tendo aí sido vacinados, os seus proprietários residam
no concelho de Lisboa. A Autarquia tem, também, procedido
à identificação electrónica gratuita dos canídeos adoptados
no Canil/Gatil Municipal, desde essa data.
Desde o ano 2004 [altura em que a identificação electrónica
se tornou obrigatória para algumas categorias de animais]
existe igualmente uma campanha oficial de identificação
electrónica, promovida pelo Ministério da Agricultura,
a qual é feita em simultâneo com a vacinação anti-rábica.
Animais de Companhia
2.5.1. Sintomas
O período de incubação é variável, podendo ir de 15 a
90 dias no cão e de 14 a 60 dias nos gatos. Pensa-se que
a distância a percorrer pelo vírus entre o local da inoculação
e o cérebro tenha influência no período de incubação, mas
o que seguramente tem importância, é a quantidade de vírus
Animais de Companhia
2.5.2. Tratamento
Animais de Companhia
116
Nos termos do Decreto-Lei n.º 314/2003, de 17 de Dezembro, que
aprova o Plano Nacional de Luta e Vigilância Epidemiológica da Raiva
Animal e Outras Zoonoses [PNLVERAZ] - cfr. anexo A2.1
156
Os felinos pagam sempre a taxa N, independentemente
da época do ano em que são vacinados.
Estão isentos do pagamento das taxas de vacinação e do
boletim sanitário de cães e gatos:
P Cães-guias;
P Cães-guardas de estabelecimentos do Estado, de corpos
administrativos, de instituições de beneficência e de utili-
dade pública;
P Cães dos serviços de caça da Direcção-Geral das Florestas;
P Cães de autoridades militares, militarizadas e policiais.
A vacinação anti-rábica é anunciada através de editais,
afixados até ao dia 15 de Fevereiro de cada ano, indicando
os locais, dias e horas das concentrações, bem como o valor
das taxas a pagar.
No acto de vacinação, os cães devem estar açaimados ou
imobilizados pelo peito, pescoço e cabeça, devendo o proprie-
tário apresentar o boletim sanitário de cães e gatos, excepto
se for a primeira vez que o animal é vacinado. É então
colocado no respectivo boletim, o selo comprovativo da acção
de profilaxia efectuada117.
117
A Câmara Municipal de Lisboa dispõe de um posto Móvel de Vacinação,
que entre Março a Outubro, diariamente e segundo um calendário pre-
estabelecido, disponibiliza os seus serviços. No período de Novembro a
Fevereiro, a vacinação só é efectuada no Canil/Gatil Municipal. O calendário
anual encontra-se disponível no site da CML: http://www.cm-llisboa.pt
[Março 07].
157
e deverão ser objecto de observação médico-veterinária obri-
gatória e imediata, e permanecer em sequestro durante, pelo
menos, 15 dias.
Se o animal se encontrar vacinado contra a raiva e dentro
do prazo de validade imunológica da vacina, a vigilância
clínica pode ser domiciliária, sempre que haja garantias
para o efeito, devendo neste caso o dono ou detentor do
animal entregar no Canil/Gatil Municipal, um termo de res-
ponsabilidade, passado por Médico-Veterinário, onde o clínico
se responsabiliza pela vigilância sanitária do animal durante
15 dias, comunicando no fim do período, o estado do animal
vigiado.
O dono do animal é responsável por todos os danos causados
e por todas as despesas relacionadas com o transporte
e manutenção do animal, durante o período de sequestro.
2.6.1. Leishmaniose
A leishmaniose canina é uma doença parasitária, provocada
por um protozoário do género Leishmania, transmitida
Animais de CompanhiaAs fases da Nova Modernidade
2.6.2. Leptospirose
A leptospirose é uma doença bacteriana, provocada por
microorganismos do género Leptospira. Frequentemente
as leptospiras localizam-se no rim e são eliminadas em
grande número pela urina, durante meses ou anos.
É uma doença que afecta várias espécies animais, sendo
os roedores, especialmente, os murídeos [ratos], os seus
hospedeiros naturais.
A penetração no organismo faz-se através de erosões da pele,
Animais de Companhia
2.6.4. Equinococose
Também designada por Hidatidose, é uma doença parasi-
tária, provocada por um pequeno céstodo [ténia], com cerca
de 1,5 a 6 milímetros de comprimento.
O verme adulto vive no intestino delgado do cão [ou outros
carnívoros, como o lobo] e a forma larvar, o Echinococcus
granulosus, designado vulgarmente por quisto hidático,
pode localizar-se em vários órgãos, sendo mais frequente
a localização ao nível do fígado e pulmão do homem,
ruminantes [vaca, ovelha e cabra] e roedores, funcionando
estes como hospedeiros intermediários.
O Echinococus é especialmente importante como parasita
pela prevalência dos quistos hidáticos em pessoas que
vivem em estreita relação com os cães, que se alimentam
Animais de Companhia
169
Os ácaros vivem na pele dos hospedeiros, causando uma
dermite com grande prurido. Este é devido à acção mecânica,
pois cavam galerias na pele, onde a fêmea realiza a postura
de 40-50 ovos, dando origem a larvas ao fim de 3-5 dias,
mas também a substâncias pruriginosas por elas secretadas
[saliva] e a reacções de hiper-sensibilidade do hospedeiro.
As escamas e espinhas existentes na parte dorsal do corpo
impedem-nos de recuar.
O ácaro adulto mede 0,2-0,4 mm, tem uma forma circular
e possui 2 pares de membros na parte cranial e 2 pares
na parte caudal, sendo estes de menores dimensões, pelo
que faz lembrar a forma de uma tartaruga minúscula.
O parasita completa o seu ciclo de vida [ovo-larva-ninfa-
-adulto] em 17-21 dias e o adulto vive cerca de 4 semanas.
É uma doença altamente contagiosa e transmitida sobretudo
por contacto directo.
Como sintomas, para além do prurido [o qual é intenso,
pois os ácaros utilizam as patas e os dentes até surgir
sangue, esfregando-se contra tudo] há também as alopécias
resultantes da acção dos ácaros sobre os folículos pilosos
e pela acção da coceira, e as crostas resultantes do processo
inflamatório, devido à produção de exsudados e de sangue
provocados pela comichão intensa. O sangue aglutina os
produtos de descamação da pele e o suor, formando crostas
acastanhadas. Estas aumentam de tamanho, podendo cobrir
todo o corpo. Em alguns casos, há infecções bacterianas
secundárias que causam piodermites [infecção purulenta da
pele, forma crónica marcada com alopécia], escamas, crostas
e lenhificação.
As lesões aparecem primeiramente na parte ventral do corpo
e face. As áreas classicamente afectadas são as espáduas,
focinho, parte ventral do tórax e tronco do animal.
No homem, as áreas do corpo mais afectadas são as que
contactam com os animais, tais como as palmas das mãos
[sobretudo as zonas interdigitais], pulsos, braços e tronco.
O diagnóstico da doença baseia-se nos sinais clínicos, acom-
Animais de Companhia
2.6.6. Dermatomicoses
São doenças cutâneas provocadas por fungos dos géneros
Trichophyton ou Microsporum, designando-se também por
tinhas.
As zonas do corpo mais afectadas são a cabeça e o pescoço,
formando placas de depilação mais ou menos circulares -
especialmente à roda dos olhos - podendo confluir e dar
depilação total dessas regiões. A extremidade das patas
também é frequentemente atingida. Estas situações são
normalmente acompanhadas de prurido. Em certos casos
aparecem pústulas, nas zonas depiladas ou normalmente
desprovidas de pêlo. Os animais jovens são os mais
susceptíveis de contrair esta doença.
Os tratamentos podem ser locais [à base de cremes,
pomadas, sprays ou banhos] ou sistémicos [de duração
longa], tendo frequentemente a duração de 30-45 dias.
118
Preâmbulo da Portaria n.º 421/2004, de 24 de Abril - cfr. anexo A2.
171
O registo será efectuado mediante a apresentação dos
seguintes documentos:
P Boletim sanitário de cães e gatos;
P Duplicado [ou original] da ficha de registo de identificação
electrónica, quando aplicável.
Os cães e gatos classificam-se nas seguintes categorias:
A Cão de companhia;
P
E Cão de caça;
P
F Cão-guia;
P
H Cão perigoso;
P
I Gato.
P
119
Punível com coima de 50 a 1850 € [pessoa singular] ou 22 € [pessoa
colectiva] - Decreto-Lei n.º 314/2003, de 17 de Dezembro.
173
condições e ausência de riscos higio-sanitários relati-
vamente à conspurcação ambiental e doenças transmissíveis
ao Homem.
Nos prédios urbanos podem ser alojados até 3 cães ou
4 gatos adultos por cada fogo, não podendo no total
ser excedido o número de 4 animais, excepto se, a pedido
do detentor, e mediante parecer vinculativo do médico-
-veterinário municipal e do Delegado de Saúde, for autori-
zado alojamento até ao máximo de 6 animais adultos,
desde que se verifiquem todos os requisitos higio-sanitários
e de bem-estar animal legalmente exigidos.
No caso de fracções autónomas em regime de proprie-
dade horizontal, o Regulamento do Condomínio pode esta-
belecer um limite de animais inferior ao previsto por lei.
Nos prédios rústicos ou mistos podem ser alojados até 6 ani-
mais adultos, número que pode ser excedido se a dimensão
do terreno o permitir e desde que as condições de aloja-
mento obedeçam aos requisitos legalmente exigíveis.
Sempre que se verifiquem situações que colidam com as
condições acima referidas, as Câmaras Municipais notificam
os detentores dos animais para correcção das situações
detectadas. No caso de incumprimento, após vistoria conjunta
do Delegado de Saúde e do Médico-Veterinário Municipal.
As Autarquias podem retirar os animais para o Canil ou Gatil
Municipal, se o dono não optar por outro destino.
No caso da criação de obstáculos ou impedimentos à retirada
dos animais em situação que desrespeite as condições,
o Presidente da Câmara Municipal pode solicitar a emissão
de mandado judicial para permitir o acesso ao local e à sua
remoção.
os cães perigosos.
Para a obtenção da referida licença, o detentor tem de ser
maior de idade e apresentar a seguinte documentação:
P Boletim Sanitário;
174
P Vacina anti-rábica actualizada [efectuada há menos de
um ano];
P Ficha de identificação electrónica;
P Termo de responsabilidade no qual declara as condições
do alojamento, as medidas de segurança e o historial
de agressividade do animal;
P Registo criminal do qual resulte não ter sido o detentor
condenado por sentença transitada em julgado, poor crime
contra a vida ou a integridade física, quando praticados
a título de dolo;
P Documentação que certifique a formalização de um
seguro de responsabilidade civil relativamente ao animal120.
A licença tem de ser renovada todos os anos.
Os alojamentos destinados a animais perigosos ou poten-
cialmente perigosos devem possuir medidas de segurança
reforçadas, nomeadamente para não permitir a fuga dos
animais e acautelar de forma eficaz a segurança de pessoas,
outros animais e bens.
O detentor fica obrigado à afixação no alojamento, em local
visível, de uma placa de aviso relativa à presença e peri-
gosidade do animal.
Estes animais não podem circular sozinhos na via pública
ou lugares públicos, devendo ser conduzidos por pessoas
maiores de 16 anos, com açaimo e trela curta [até 1 metro
de comprimento] fixa à coleira ou peitoral, no caso
dos cães. Tratando-se de outras espécies, a sua circulação
deverá fazer-se com meios de contenção adequados à
espécie e à raça, nomeadamente caixas, jaulas ou gaiolas.
Refira-se que, de acordo com a Lei, incumbe ao dono do
animal o dever de o vigiar, de forma a evitar que este
ponha em risco a vida ou a integridade física de outras
pessoas ou animais121.
As Câmaras Municipais podem regular as condições de au-
torização de circulação e permanência destes animais nas
ruas, parques, jardins e outros locais públicos. Nestes
Animais de Companhia
120
Valor mínimo de 50 000 € - Decreto-Lei n.º 314/2003, de 17 de
Dezembro - cfr. anexo A2.
121
Punível com coimas que variam entre 500 e 3740 €, se estiverem em
causa pessoas. Entre os 25 e 3740 €, se estiverem em causa animais.
175
termos as Autarquias podem determinar zonas onde
é proibida a permanência e circulação destes animais,
assim como definir as àreas e horas onde é permitida,
estabelecendo para o efeito as condições em que se pode
fazê-lo sem o uso de trela ou açaimo funcional.
Os animais que tenham agredido pessoas ou outros animais
são obrigatoriamente recolhidos para um centro de recolha
oficial [canil], onde permanecerão por um período mínimo
de 15 dias, a expensas do detentor, ficando a situação
registada no cadastro do animal. Findo o prazo, se tiver
causado ofensas graves à integridade física de uma pessoa
[devidamente comprovadas através de relatório médico],
o animal é obrigatoriamente abatido.
Se as ofensas à integridade física de uma pessoa não forem
graves, o animal pode ser entregue ao detentor, sendo
requisito obrigatório a realização de provas de socialização
e/ou de treino de obediência.
Entende-se por ofensas graves à integridade física, as ofen-
sas ao corpo ou à saúde de uma pessoa, de forma a:
P Privá-lo de órgão ou membro, ou a desfigurá-lo grave
e permanente;
P Tirar-lhe ou afectar-lhe, de forma grave, a capacidade
de trabalho, as capacidades intelectuais ou de procriação,
ou a possibilidade de utilizar o corpo, os sentidos ou
a linguagem;
P Provocar-lhes doença particularmente dolorosa ou perma-
nente, ou anomalia psíquica grave ou incurável, ou pondo
em perigo a sua vida.
Todo o animal que não é controlado pelo seu dono
e constitua um risco grave à integridade física de uma
pessoa, pode ser imediatamente abatido pelas autoridades,
não tendo o detentor direito a qualquer indemnização.
Os detentores de animais perigosos ou potencialmente peri-
gosos devem promover o seu treino com vista à sua domes-
ticação e socialização, não podendo, em caso algum, ter por
objectivo a participação em lutas ou o reforço da sua agres-
sividade para com as pessoas, outros animais ou bens122.
Animais de Companhia
122
Punível com coima de 500 a 3740 €, no caso de pessoas singulares;
ou 500 a 44 890 €, no caso de pessoas colectivas.
176
2.9. Actividades desenvolvidas pelo Canil/Gatil Municipal
Nos termos da legislação em vi-
gor, as Autarquias deverão pos-
suir um Canil ou Gatil Municipal,
o qual deverá possuir condições
técnicas adequadas ao exercício O Canil/Gatil
de um conjunto de competências:
§ de Lisboa.
123
N.º 1 do art. 21.º da Portaria n.º 1427/2001, de 15 de Dezembro.
124
Localização: Canil/Gatil Municipal, Estrada da Pimenteira [Monsanto],
1300 Lisboa. Telf. 213 617 700.
Animais de Companhia
125
As taxas associadas aos serviços prestados pelo Canil/Gatil Municipal
estão integradas na “Tabela de taxas e outras receitas municipais”,
sendo anualmente actualizadas por deliberação da Assembleia Municipal.
126
No valor de 5,35 € [ano de 2005].
127
São cobradas as taxas de recolha e de occisão, nos valores de: 5,35 €
e 8,55 € [ano de 2005].
177
Actividade clínica dos animais
P
§ Passaporte.
Animais de Companhia
131
Nestas situações a Câmara Municipal de Lisboa, mediante a apresentação
de declaração comprovativa, pode receber os animais, encaminhando
os saudáveis para adopção.
179
por abandono dos seus donos. Todavia, há que ter em
conta que é quando o tempo está melhor que os animais
se expõem mais, sendo então mais fácil capturá-los;
P Caça - O fim da caça é apontado como um dos períodos
de grande abandono de animais - sobretudo no Alentejo,
Ribatejo e na zona interior de Portugal. Este fenómeno
não é sentido em Lisboa, por ser apenas um fornecedor
de caçadores e não um local de caça;
P Crescimento excessivo do animal - ao decidir-se adquirir
um animal de companhia, frequentemente, o animal é
muito jovem, não se tendo a noção do seu futuro
crescimento. Quando cresce e se verifica que este não se
adequa ao espaço que lhe estava destinado, esta pode
ser uma razão que induz ao abandono;
P Alterações do comportamento do animal - o animal co-
meça a tornar-se agressivo, a roer objectos em casa, ladra
ou uiva com frequência, urina ou defeca dentro da habi-
tação em locais inapropriados [principalmente os felinos
machos, não castrados], causando incómodo aos donos
e/ou vizinhos;
P Doença do animal - esta é uma das grandes causas de
abandono, sobretudo se a esse facto se aliar a elevada
idade do animal;
P Doença do[s] proprietário[s] - A doença impede o seu
dono de cuidar do seu animal, não tendo normalmente
ninguém a quem o entregar. Numa população cada vez
mais envelhecida, esta é uma situação geralmente associa-
da aos mais idosos. É também frequente e determinante
a presença de elementos na família com problemas
de saúde ou doença alérgica, sendo os animais uma
das primeiras vítimas [seja por iniciativa própria ou por
conselho médico], muitas das vezes sem serem causa
directa de doença;
P Reprodução descontrolada - o animal não foi esterilizado
ou castrado, tendo ninhadas com frequência. Nesta
Animais de Companhia
132
Sobretudo nas acções de adopção de animais promovidas em locais
onde supostamente não deveriam existir animais - tais como Hiper-
mercados ou Centros Comerciais.
181
P Sexo - Os machos são muito procurados, o que se rela-
ciona com ausências de problemas com a reprodução.
O facto de ser fêmea é, com frequência, motivo de rejei-
ção de um animal, mesmo que tenha sido previamente
escolhido;
P Estado de saúde - Aqui podemos dizer que os extremos
tocam-se. Existe por um lado o “cidadão normal” que quer
adoptar um animal, preferindo ou exigindo apenas animais
saudáveis. Por outro os auto-designados “protectores dos
animais” [normalmente adultos do sexo feminino] com
problemas de solidão ou de relacionamento social, com
o objectivo de impedir a eutanásia.
Como forma de estimular a adopção de animais133,
a Câmara Municipal de Lisboa divulga alguns dos animais
existentes para adopção através da página da Internet134.
3. Pragas Urbanas
3.1. Conceitos gerais
O ser humano, na maior parte dos locais onde
vive, contacta com várias espécies animais. Algumas
delas são benéficas enquanto produtoras de alimentos,
companhia ou como predadores de espécies indesejáveis.
Outras podem ocasionar situações de risco para o Homem,
porque mordem, picam, transmitem doenças, destroem
ou danificam alimentos e outros bens, ou causam repulsa
ou pânico; isto é, por diversas formas, directa ou indi-
rectamente, provocam incómodo ao homem. A este grupo
chamamos pragas.
As pragas podem classificar-se em agrícolas e não agrícolas
ou urbanas.
Definem-se como pragas urbanas as que afectam as cidades,
perturbando as actividades que aí se desenvolvem afectando
a envolvente, transmitindo doenças infecciosas, estragando
ou perturbando o habitat e o bem-estar humano.
133
A adopção de animais até aos 4 meses de idade é gratuita. A partir
Pragas Urbanas
135
Por oposição aos animais domésticos designam-se de sinantrópicos os
animais que se adaptam a viver junto do homem, a despeito da sua
vontade.
183
aumenta-se o número de aplicações e a dosagem dos produtos
biocidas, reaplicando-os nos ambientes de forma intensiva.
Desta forma cria-se um ciclo vicioso:
reinfestação
aumento do
aplicação maciça número de aplicações
infestação reinfestação
reaplicação com o aumento
da dose de biocidas aplicada
de esgoto vivem
P Os Ratos: Leptospirose, tifo, peste bulbónica; em média 2 anos
As Pulgas: peste e tifo; e seis meses
e chegam a produzir
P
Cauda 5 a 7 cm
Características físicas
Peso 10 a 20 gramas
Focinho Pontiagudo
Grandes
Orelhas [ultrapassam os olhos quando rebatidas]
Cinzento a castanho
Cor da pelagem [diversificada de acordo com o habitat ]
Fezes Grão de arroz [6 mm]
Informação específica Odor típico devido ao cheiro da urina
Gestação 21 dias
Ninhada 6 a 8 crias
Número de ninhadas/ano 8
Esperança de vida 2 anos
Espécie Omnívora
Cereais, alimentos secos, aves
Alimentos preferidos e animais de companhia
Alimentação
abertas;
4 Colocar protecções nos esgotos;
P
sua colocação:
P Usar caixas de isco para proteger o produto e diminuir
o risco para crianças e animais domésticos;
194
P Colocar o raticida em locais que facilitem a sua ingestão
pelos roedores [ninhos, locais de passagem e locais de refú-
gio]. Assim, as distâncias a respeitar são:
P Para os ratos - 1 a 2 metros;
P Para as ratazanas - 7 a 10 metros.
P Sinalizar, em planta de localização, os iscos para facilitar
a monitorização.
Ao colocar com frequência um determinado isco no trilho
dos ratos, estes animais desenvolvem um reflexo condicio-
nado que os leva a continuar a procurá-lo. Alguns roedores
possuem uma resistência natural aos raticidas, ingerindo-
-os durante várias semanas, sem qualquer efeito.
O uso de aparelhos de ultra-sons é um outro processo de
controlo de pragas. Este equipamento emite sons imper-
ceptíveis para o ouvido humano [acima de 18-20 kHz],
mas desagradáveis para os roedores. Se acontecer habi-
tuação, o método perde eficácia, apresentando-se o ultra-
-sons como uma das soluções a integrar num programa
de controlo de roedores [por exemplo, alterando o padrão
de deslocações dos roedores de forma a atraí-los para
as ratoeiras].
As armadilhas para roedores [ratoeiras] são úteis em locais
de risco, como por exemplo na indústria alimentar, para
capturar sobreviventes isolados depois de uma desinfes-
tação ou para capturar exemplares com vista à sua identi-
ficação. Este processo tem a vantagem de impedir a morte
dos roedores em locais inacessíveis, com os consequentes
maus odores ou surtos de moscas.
Assim, deve utilizar-se uma gama variada de métodos, se
se pretende identificar a espécie envolvida. Embora sejam
criaturas de hábitos [utilizam sempre os mesmos percursos],
os ratos são também muito curiosos, abertos a novos ali-
mentos e a novidades. Assim a combinação destes dois
factores com a colocação de um número adequado de rato-
eiras, favorece o êxito elevado na captura destes animais136.
Pragas Urbanas
136
Por exemplo, se forem vistos um ou dois ratos na cozinha de uma
habitação devem colocar-se seis ratoeiras; no caso de um restaurante
deverão colocar-se 24 a 36 ratoeiras.
195
As superfícies que contenham materiais pegajosos constituem
um outro processo de controlo das pragas de roedores
e tem por objectivo eliminar sobreviventes ocasionais
de uma desinfestação. Devem observar-se cuidados idênticos
aos da colocação de ratoeiras, sendo desaconselhado o seu
uso em locais com muito pó ou com temperaturas muito
baixas ou muito elevadas. São mais eficazes com os ratos
do que com as ratazanas.
196
Classes Insectos Aracnídeos Crustáceos Quilópodes Diplópodes
mosca aranha
mosquitos escorpião
Exemplo bicho de conta centopeia maria-Café
formiga ácaros
pulga carraças
filotraquéias e
Respiração traqueias brânquias traqueias traqueias
traqueias
túbulos de
túbulos de glândulas verdes túbulos de túbulos de
Excreção Malpighi e
Malpighi ou antenais Malpighi Malpighi
glândulas coxais
197
Os conhecimentos de sistemática e de chaves para a iden-
tificação de espécies é de grande importância para os pro-
fissionais de controlo de pragas. Além da apreciação das
características morfológicas que permitem identificar uma
praga - utilizando chaves de identificação - o conhecimento
dos hábitos [alimentares e outros] das espécies e caracte-
rísticas biológicas é imprescindível para a sua identificação,
nomeadamente quando não são capturados elementos das
espécies.
A maioria dos insectos desenvolve-se a partir de ovos.
Estes são depositados pelas fêmeas nos hospedeiros numa
cápsula [ou ooteca, como é o caso das baratas], individual-
mente ou em massas, soltos ou fixos a objectos diversos,
normalmente em locais protegidos do meio.
O crescimento dos insectos faz-se em estádios separados
por mudas; ou seja, pela substituição do esqueleto rígido
externo que possuem. O número de mudas varia com
a espécie. Além das alterações do tamanho, muitas espécies
mudam a sua forma durante o crescimento - processo que
é conhecido por metamorfose. Relativamente a esta apa-
rência existem quatro tipos de insectos:
P Sem metamorfoses - Ao longo do crescimento verifica-se
apenas um aumento de tamanho, sem ocorrerem
alterações da forma. Exemplo: peixinhos de prata;
P Metamorfose gradual - Distinguem-se três etapas de desen-
volvimento: ovos, ninfas e adultos. As ninfas assemelham-se
aos adultos na forma e hábitos alimentares, entre outros.
As alterações na aparência são graduais, excepto nas asas
que só atingem desenvolvimento completo nos adultos.
Exemplos: baratas, percevejos das camas;
P Metamorfose incompleta - As alterações da forma são
superiores às que se verificam nos artrópodes de meta-
morfose gradual. Os jovens têm uma forma e hábitos
diferentes dos adultos. Exemplo: algumas moscas;
P Metamorfose completa - Distinguem-se quatro etapas de
desenvolvimento: ovos, larvas [com vários estádios], pupas
e adultos. Exemplo: escaravelhos, traças, algumas moscas,
pulgas, formigas, abelhas, vespas. A larva [forma que sai
Pragas Urbanas
[ Conserto da canalização;
[ Vedação de frestas e buracos [como azulejos
quebrados, rachas, tampa de esgoto, etc.];
202
[Ventilar o local, mantendo o local sempre seco e are-
jado.
As Pulgas Estes animais ocupam um lugar importante
P
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infectar o homem. é Felis Ctenocephalides.
Esta é a pulga
Referem-se as espécies domésticas importantes: que encontramos
nos animais
Pulex Irritan - É uma espécie cosmopolita. O hospedeiro
P de estimação [gatos,
primário desta espécie é o homem, podendo ser encontrada cães, coelhos
e a outras espécies].
em vários animais [cães, gatos e outros, onde raramente
se alimentam];
Ctenocephalides Felis e Ctenocephalides Canis - Espécie
P
3.4. Pombos
3.4.1. Contexto da Problemática
O pombo convive com o homem
desde tempos imemoráveis, exis-
tindo a convicção de que, já no
tempo de Noé, foi um pombo
Pragas Urbanas
137
Nas cidades, os pombos põem ovos praticamente todo o ano pro-
duzindo cerca de 8 a 10 filhotes por ano. A fêmea coloca um a dois
ovos de cada vez, que ficam a encubar cerca de 18 dias. Depois da
eclosão dos ovos os filhotes são alimentados com uma dieta ofereci-
Pragas Urbanas
139
Esta metodologia será desenvolvida de forma mais aprofundada no
ponto 3.5 deste capítulo.
206
P Os parasitas naturais que carregam no corpo podem
causar alergias e outros incómodos;
P Os pombos podem provocar danos ao património ao abri-
garem-se em casas, prédios, telhados, torres de igreja
e parques. As suas fezes ocasionam a descoloração de
pinturas, corrosão de superfícies de alvenaria e metal,
além do apodrecimento de madeiras devido à composição
química das secreções.
Como proceder:
P Limpar os locais com acumulação de dejectos destes
animais usando máscara, luvas e produtos desinfectantes;
P Humedecer as fezes antes de as remover, o que evita
a dispersão de partículas que podem provocar doenças;
P Não dar comida às aves. Assim, elas procurarão alimentos
em ambientes naturais, longe das cidades;
P Não deixar restos de comida, grãos ou lixo ao alcance
dos pombos;
P Impedir a formação de ninhos, removendo-os sempre;
P Fechar com tela os espaços onde as aves se possam abrigar.
207
Doenças dos pombos
Salmonelosis ou Paratifosis
Bacterianas Pasteurelosis ou Cólera
[bactéria] Coriza
Ornitosis
Micoplasmosis
Micóticas Aspergilosis
[fungos] Candidiasis ou Muguet
Coccidiosis
Ascariosos
Internos
Capilariosos
Teniasis
Plasmodiosis ou Malária
Parasitárias Protozoários Haemoproteosis
Trichomoniasis
Piolhos
Ácaros
Externos
Dípteros [moscas]
Carraças
3.4.4.1. Salmonelose
P Agente etiológico - Bactéria do género Salmonela.
P Fonte - Vivem no tubo digestivo dos animais.
Pragas Urbanas
3.4.4.2. Histoplasmose
P Agente etiológico - Um fungo dimórfico chamado Histo-
plasma Capsulatum.
P Fonte - Solos e pisos com dejectos de animais.
P Modo de transmissão - Pela inalação dos esporos suspensos
no ar. Quanto mais excrementos ressequidos e pulverizados
no ambiente, maior a probabilidade de o homem apre-
sentar a doença. Por exemplo, o forro do telhado de uma
casa, se frequentado por pombos, é um ambiente insalubre
repleto de microorganismos patogénicos inaláveis.
P Patologia que pode provocar no homem - A histoplasmose
é uma micose sistémica de gravidade variada. A infecção
é comum, mas a doença não. Isto é, estamos sempre expos-
tos aos esporos, em maior ou menor quantidade, podendo
desenvolver sensibilidade sem apresentar doença sintomá-
tica. Quando há sintomas, pode ser uma enfermidade
respiratória benigna ou, nos casos mais graves, os órgãos
internos podem ser afectados de forma aguda ou crónica.
P Como evitar a doença - Mantendo a higiene dos locais
que frequentamos e destinando adequadamente os dejectos
dos animais domésticos e peridomiciliares, como os pombos.
Importante: Na acção de limpeza dos excrementos,
Pragas Urbanas
3.4.4.3. Criptococose
P Agente etiológico - O fungo Cryptococcus Neoformans.
P Fonte - Como na histoplasmose.
P Modo de transmissão - Como na histoplasmose.
P Patologia que pode provocar no homem - Uma micose
sistémica que geralmente se apresenta como meningite
subaguda ou crónica. A seguir ocorre o comprometimento
dos pulmões, baço, articulações, músculos, pele e gânglios
linfáticos.
P Como evitar a doença - Como na histoplasmose.
P Grupo de risco - Como na histoplasmose.
3.4.4.5. Alergias
P Agentes - Poeira com resíduos orgânicos [pêlos, penas,
escamas de pele, plumas, secreções corporais e excre-
mentos] e/ou ectoparasitas de pombos [ácaros de pele
ou penas, carrapatos, piolhos, pulgas e moscas].
P Fonte - Aves e outros animais que frequentam os
mesmos ambientes que pessoas sensíveis.
P Sensibilização - Pela inalação e pelo contacto com
os agentes irritantes ou picadas dos ectoparasitas.
P Patologia que pode provocar no homem - Alergias com
diversos sintomas que vão desde a irritação e pruridos
da pele, à coriza ou à sufocação por edema de glote.
É comum a bronquite asmática alérgica, principalmente
em crianças e idosos.
P Como evitar a doença - Manter limpos e ventilados os
locais frequentados por pessoas sensíveis e impedir a proxi-
midade dos agentes irritantes.
Pragas Urbanas
140
Como forros e sótãos onde os pombos fazem os seus ninhos ou se
abriguem.
211
3.5. Controlo da População de Pombos na Cidade
de Lisboa
O aumento do número de pombos e de queixas dos resi-
dentes em Lisboa, é um facto. Os incómodos causados pelas
aves que se traduzem na destruição do património edifi-
cado, dos monumentos e dos pavimentos e a identificação
de agentes patogénicos nas aves [com eventual risco para
a Saúde Pública] levaram a CML a tentar controlar a popu-
lação columbófila na cidade.
Tendo por objectivo atingir o equilíbrio da espécie pelo
controlo da reprodução das aves, a solução adoptada
replicou [com as devidas alterações] uma metodologia tes-
tada com êxito, em algumas cidades europeias, nomea-
damente Veneza e Treviso.
Este método de controlo assenta na utilização de um contra-
ceptivo oral que agindo como factor de selecção natural,
não esteriliza as aves, mas apenas diminui a sua capacidade
reprodutiva141 permitindo, assim, controlar a população,
de uma forma humanitária. Substitui os predadores utilizados
em várias cidades.
A metodologia utilizada observou os seguintes aspectos:
I Fase - Caracterização do problema [situação de referência]:
P Censo da população de pombos na Cidade de Lisboa;
P Levantamento dos locais com maior número de reclama-
ções de munícipes, relacionadas com os pombos;
P Identificação dos locais com elevado número de aves;
P Contagem do número de animais que poisam em cada um
dos locais [contagem directa e por fotografia feita duran-
te a distribuição de milho simples].
II Fase:
P Avaliação da informação recolhida, mapeamento e defi-
nição de áreas prioritárias;
P Definição do programa de alimentação [estimativa da quan-
tidade de produto a utilizar142, locais, etc.];
141
Sendo faseado, este método inicia-se com uma distribuição de milho
Pragas Urbanas
143
A distribuição teve duas fases: Abril, Maio e Junho [1.ª fase] e Setembro,
Pragas Urbanas
100
III Da Cidadania à Educação Ambiental
P
1. Da Cidadania
da Polis Grega, por volta do ano 800 a.C. Contudo, foi entre
os séc. V e IV a.C., em pleno apogeu da democracia grega,
217
que o exercício da cidadania atinge a sua maior expressão.
Apesar da associação generalizada da noção de cidadania
a este período da história da humanidade, a verdade é que
a própria formação da Polis é já fruto do espírito embrio-
nário da cidadania e da democracia: a discussão pública.
Os habitantes encontravam-se no Ágora145 onde discutiam
os vários problemas, principalmente os de natureza política.
Começa-se, assim, a ganhar consciência de que a adminis-
tração é uma coisa pública, que interessa a todos e que
todos devem dar a sua opinião. É desta forma que a cidade
se encaminha para uma abertura à participação dos
cidadãos146 e ensaia a tão paradigmática democracia grega.
Para Aristóteles, o elemento central da cidadania é efectiva-
mente a participação na comunidade política, cujo objectivo
último é o Bem comum. Mas para os gregos “comunidade
política” abrangia todos os aspectos da vida dos indivíduos
desde as questões familiares, religiosas e mesmo lazer, até
aos assuntos puramente públicos. O Homem é definido como
“um animal político” por natureza que vive em conjunto
com os seus semelhantes e que, portanto, “nasceu para
a cidadania”. Esta definição dá à noção de cidadania,
enquanto participação na comunidade política, um sentido pro-
fundo, ligado à própria noção do “ser” da pessoa humana.
Sendo a natureza de um ser o fim último da sua existência,
isto é, o estado em que cada ser se encontra desde o mo-
mento do seu nascimento até ao seu perfeito desenvolvi-
mento147, o exercício da cidadania é a possibilidade do
desenvolvimento das capacidades humanas e da plena reali-
zação do homem. Para se ser verdadeiramente humano era
necessário ser cidadão, mas, mais do que isso, era necessário
ser cidadão activo.
Estando a noção de cidadania tão intimamente ligada à na-
tureza humana, facilmente se depreende que dela fazem parte
todos os aspectos da polis: a vida política, económica, reli-
giosa, social e familiar, formando uma ideologia cívica cujos
valores são vistos como imutáveis e de origem divina.
Utilizando uma terminologia contemporânea podemos dizer
que a noção aristotélica de cidadania era essencialmente
baseada em obrigações e não em direitos. Contudo, em rigor,
145
Inicialmente praça pública e mais tarde mercado.
Da Cidadania
146
PENEDOS, Álvaro J. Introdução aos Pré-SSocráticos. Lisboa: Rés-Editora,
Lda, 1984.
147
CRESSON, André. Aristóteles. Lisboa: Edições 70, 1943.
218
no contexto grego, não deveríamos falar em “obrigações” ou
“direitos” mas sim em deveres morais e possibilidades de
desenvolver a nossa natureza humana ou oportunidades para
exercer a virtude cívica, como referimos anteriormente.
O carácter holístico da concepção grega de cidadania não
permite a noção de “direitos” e “obrigações” porque estes
pressupõem uma cisão ou oposição entre quem concede
direitos e quem está obrigado a algo. Ora, em Atenas, os in-
teresses individuais e os interesses da comunidade são total-
mente coincidentes e interdependentes. Nada escapa à auto-
ridade da polis porque, simplesmente, não há divisão entre
Estado e sociedade, público e privado ou lei e moralidade,
como nas sociedades contemporâneas. A própria liberdade só
existe na participação da vida da cidade e na procura
do bem comum. Por isso, não há na Grécia a noção de “obri-
gações” e muito menos a de que estas são um mal
necessário ou mesmo formas de limitar a liberdade. Além
disso, apesar do Estado ter características de protecção dos
seus cidadãos, não era essa a sua essência.
Na democracia grega todos os cidadãos participavam
directamente na gestão da cidade e alguns cargos eram
mesmo atribuídos por sorteio. Por conseguinte, todos tinham
a capacidade de regular [construir normas] mas, também,
eram regulados e fiscalizados. Assim, para Châtelet148
“a democracia não é a força do povo, é a extensão da cida-
dania a todo o homem livre, é a equiparação da condição
de cidadão a todos, sejam quais forem os rendimentos
e a origem”. Mas não nos iludamos com a noção de “ori-
gem”: na Atenas clássica, esta diz respeito apenas aos cida-
dãos [cerca de 10 % da população] pois, como é sabido,
os escravos, os estrangeiros, as mulheres e as crianças,
não têm este estatuto.
O grande senão da concepção grega de cidadania era, obvia-
mente, o facto de ser altamente exclusiva e o facto desta,
para além de aceite com grande naturalidade, se encontrar
perfeitamente justificada à luz dos valores da época.
As mulheres não eram seres suficientemente racionais para
a participação política e os escravos nem sequer eram verda-
deiramente humanos.
Da Cidadania
148
CHATELÊT, François. História da Filosofia de Platão a S. Tomás de Aquino.
Lisboa: Círculo de Leitores, 1986.
219
1.2. A Concepção Romana
Ao falar da concepção romana de cidadania devemos ter
presente que esta diz respeito a um longo período de tempo
e a um espaço geográfico muito alargado [inicialmente Roma
e depois todo o Império Romano]. Contudo, se deixarmos
de lado as várias nuances que o conceito foi adquirindo
ao longo do espaço e do tempo, podemos dizer que a noção
romana de cidadania é, genericamente, menos filosófica
e bastante mais pragmática.
No tempo de Roma, a cidadania estava também ligada à par-
ticipação política semelhante ao que vimos na Grécia.
Contudo, com a expansão do império foi-se desligando cada
vez mais deste ideal, tornando-se um conceito legalista
e utilitário que facilitava o controlo e a pacificação dos
povos conquistados, bem como a cobrança de impostos.
Comparativamente com a concepção Grega, a noção romana
de cidadania é assim inclusiva, mas desligada da ética
e da participação. Abrangendo povos longínquos e de múl-
tiplas culturas, transforma-se numa mera expressão das leis
do Império e reflecte-se quase exclusivamente na simples
guarda e segurança judicial. O aspecto legalista do Império
Romano foi de tal forma marcante que o legado do direito
romano no nosso sistema legal e judicial é ainda hoje
vastíssimo.
Apesar da “inclusividade” que caracteriza a concepção romana
de cidadania, esta só muito lentamente foi alargada a todo
o Império acabando, pelo menos teoricamente, com a desi-
gualdade entre cidadãos e não cidadãos.
Segundo Coulanges149 só depois de oito a dez gerações terem
ansiado por ela, surgiu um decreto imperial a concedê-la
a todos os homens livres sem distinção. Embora paradoxal,
esta situação não contraria o que atrás foi dito. Quando
este decreto surgiu já todos os homens com algum valor
tinham conseguido o pleno direito de cidadania. Coulanges
considera espantoso que, apesar de na história quase não
se encontrar decreto mais importante do que este [que
suprimia a desigualdade entre povo dominador e povos subju-
gados] tenha passado completamente despercebido. Não se
Da Cidadania
149
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. Lisboa: Clássica Editora, 1988.
220
de quem o promulgou. Por isso, Coulanges conclui que se não
impressionou os seus contemporâneos e não é referido pelos
que então escreviam a história, é porque a modificação,
da qual é expressão legal, há muito estava estabelecida.
Sendo a igualdade um conceito fundamental na noção de
cidadania, convém sublinhar que se tratava apenas de uma
igualdade que eliminava a diferença formal entre povo
dominador e povo dominado. Continuavam a existir partes
da população que não estavam incluídas [os escravos, por
exemplo] e as desigualdades entre cidadãos e não cidadãos
eram tomadas como naturais e imutáveis.
Para melhor compreender a importância da “inclusividade”
que caracteriza a concepção romana de cidadania, acres-
centamos que das cerca de 1000 cidades da Grécia e de
Itália, Roma foi a única capaz de subjugar todas as outras.
Em vez de impôr os seus deuses, Roma adoptou os das
cidades vizinhas, passando a viver em harmoniosa comunhão
religiosa com todos os povos. Esta abertura foi fundamental,
quer durante a expansão do Império, quer durante o declínio
da velha religião. À medida que esta ia perdendo o seu peso
na forma como as cidades se organizavam, perdia-se também
o patriotismo. Já não se amava a pátria pela sua religião
e os seus deuses mas, somente, pelas suas leis, instituições
e segurança. A terra já não era sagrada e se as suas leis
e instituições não agradassem, era muito fácil aceitar
o império romano ou mudar de urbe.
Mais tarde o cristianismo com o seu Deus único assinalou
o fim da sociedade antiga e concluiu a transformação social
iniciada seis ou sete séculos antes. Um dos aspectos mais
importantes foi a separação entre o Estado e a religião,
tendo esta vivido três séculos completamente fora do Estado.
Esta independência foi particularmente importante na história
do direito romano que há muito tentava libertar-se da
velha religião.
Na perspectiva de Nogueira e Silva150, o contributo da con-
cepção romana de cidadania para a nossa questão [Como
definir cidadania?] está relacionado com o facto de ser
o primeiro exemplo da utilização da cidadania como instru-
mento de controlo social e, em segundo lugar, permitir
Da Cidadania
150
NOGUEIRA, Conceição; SILVA, Isabel. Cidadania - Construção de Novas
Práticas em Contexto Educativo. Lisboa: Edições Asa, 2001.
221
discutir se um sentido profundo de cidadania só será possível
em comunidades pequenas e homogéneas como a de Atenas.
Mas a abertura e o carácter de inclusividade romana
parece-nos, também, fundamental para o actual debate da noção
de cidadania.
151
TOUCHARD, Jean. História das Ideias Políticas. Lisboa: EA, vol. I, 1981.
223
filósofos Thomas Hobbes152 e John Locke153, desde o século
anterior, bem como o direito à vida e à liberdade foram
preconizados por diversos filósofos e outros humanistas
também depois da Revolução Francesa.
A insegurança provocada pela violência das guerras religiosas
e da guerra civil inglesa levaram à concepção de soberanias
absolutas como forma de garantir a paz. O cidadão é,
então, um sujeito a quem compete obedecer em troca
de protecção. Contudo, ao longo dos séculos XVII e XVIII
assume-se cada vez mais a ideia de que o poder tem por
base um contrato social através do qual os cidadãos
transferem para a comunidade os seus direitos e interesses
individuais para que esta possa garantir os direitos e inte-
resses de todos. Mas se no início esta filosofia esteve na
origem do absolutismo, as discussões em torno dela criaram
as bases da democracia.
Hobbes considera que só uma soberania
absoluta é capaz de pôr fim àquilo que
considera ser o estado natural do Ho-
mem: a guerra perpétua de uns contra
Rousseau, os outros. Mas, ao afirmar que todos
filósofo francês têm este potencial, permite a Locke
do século XVIII. §
introduzir a noção de igualdade. Estas
ideias têm continuidade e são reforçadas por Rousseau154 no
Contrato Social, obra escrita em 1762, onde defende que,
se todos transferem para a comunidade todos os seus
direitos, então são iguais e livres porque se sujeitam às leis
que eles próprios consentiram no contrato social. Por outro
lado, o facto de transferirem os seus direitos para o Estado
não significa que abdiquem deles. Muito pelo contrário,
significa que concordam com a protecção desses direitos.
Portanto, a soberania continua a ser do povo.
A partir do séc. XVII iniciou-se uma profunda mudança no
significado da cidadania que passa a estar muito mais
ligada à noção de “protecção” do que à noção de “partici-
pação”. Esta tendência foi ainda mais acentuada depois
do séc. XVIII, através de sucessivas reivindicações e lutas
sociais que, no séc. XX, deram origem aos direitos sociais
Da Cidadania
152
Filósofo inglês, fundador da filosofia moral, que viveu entre 1588 e 1679.
153
Filósofo inglês, iniciador do iluminismo, que viveu entre 1632 e 1704.
154
Filósofo francês que viveu entre 1712-1778.
224
nos Estados-Providência, em muitos países da Europa.
Assim, se nas primeiras versões da modernidade encon-
tramos a troca de benefícios por serviços, ou protecção por
fidelidade, nas democracias liberais contemporâneas encon-
tramos a troca de direitos por obrigações. Com a definição
das fronteiras, durante o séc. XVIII assiste-se, também,
à associação da noção de cidadania à de nacionalidade,
gerando fenómenos de inclusão e exclusão de pessoas.
Ao atingir os direitos sociais [por exemplo, direito à saúde,
educação, habitação, etc.] o processo de construção da
cidadania parecia concluído. Thomas Marshall155 formulou
mesmo uma teoria sobre a evolução da cidadania moderna
composta por três estádios:
PO primeiro concretizou-se no séc. VII d.C. e diz respeito
à conquista da cidadania civil face ao absolutismo [liber-
dade da pessoa, liberdade de expressão, pensamento e fé
e direito à propriedade e à justiça];
Mesas de voto,
PO segundo teve lugar entre os instaladas no átrio
sécs. XVII e XIX com o desenvolvi- principal da Câmara
mento da democracia parlamen- Municipal de Lisboa,
para as eleições
tar e diz respeito à cidadania § autárquicas. AFL.
política [direito à participação
na vida política como eleitor através do sufrágio universal
e como eleito];
PE, por último, a cidadania social.
Mesmo sem abordar aqui as discussões que esta teoria tem
gerado - no nosso caso, basta pensar que as primeiras elei-
ções livres só aconteceram depois do 25 de Abril de 1974
- podemos então perguntar: por que razão, nas últimas
décadas se fala tanto de cidadania? Porquê uma tão grande
ênfase sobre a importância da educação para a cidadania?
Para uma melhor abordagem desta questão, voltemos
à génese da cidadania moderna sintetizada no primeiro
parágrafo deste tema.
O séc. XVIII [ou Século das Luzes, como ficou conhecido]
foi o século da afirmação da racionalidade humana, da li-
bertação do dogmatismo da religião e da metafísica, da afir-
Da Cidadania
155
Professor de Sociologia da Universidade de Londres. A sua obra princi-
pal foi Classe, Cidadania e Status [1950]. Citado por: NOGUEIRA, Concei-
ção; SILVA, Isabel. Cidadania - Construção de Novas Práticas em Contexto
Educativo. Lisboa: Edições Asa, 2001.
225
mação do conhecimento científico. A Revolução Francesa,
marco fundamental deste século, foi considerada por Kant156
como o maior acontecimento jamais verificado no mundo,
a livre auto-determinação de um povo e símbolo do pro-
gresso moral da Humanidade. A nível científico a civilização
moderna concretizou, finalmente, o ideal de manipulação
e domínio da Natureza pelo Homem preconizado pelos
filósofos do séc. VII [Descartes157 exaltava esta relação técnica
do Homem com a Natureza e Bacon158 proclamou como
ideal científico que “saber é poder”]. A ciência passa a ser
vista como um instrumento ao serviço da melhoria das con-
dições de vida e eliminação de todas as preocupações e mi-
sérias da Humanidade. O progresso científico e tecnológico
alcançado, sobretudo no séc. XIX, alimentou este optimismo
e a crença exacerbada no poder da razão e no progresso
generalizado. Esta concepção instrumentalista do conheci-
mento levou a um pragmatismo e individualismo egoísta,
próprios da ordem económica reinante: o capitalismo.
A modernidade revela-se um
projecto ambicioso e carrega-
A descoberta do de contradições. Em vez
da máquina a vapor
marcou o início da harmonia e da qualidade
da Revolução de vida que prometia, trouxe
Industrial. §
o agravamento da injustiça
social, da concentração da riqueza e consequente desi-
gualdade e exclusão social, bem como a devastação eco-
lógica que afecta a qualidade de vida e até a sustentabilidade
do Planeta.
O Estado-Providência procurou atenuar algumas destas
contradições - por exemplo, assegurando uma melhor distri-
buição da riqueza e garantindo os direitos básicos. Todavia,
no final da década de 70 do século XX existia já a cons-
ciência de que muitas das expectativas da modernidade
seriam irrealizáveis. Paradoxalmente, a dominação da Natu-
reza com todos os seus efeitos perversos e consequente
crise ecológica excedeu em muito todas as expectativas.
Da Cidadania
156
Immanuel Kant, filósofo alemão que viveu entre 1724-1804.
157
Filósofo francês que viveu entre 1596-1650.
158
Francis Bacon [1561-1626], filósofo iniciador do empirismo em Inglaterra.
226
Depois dos anos 80 a globalização introduz uma nova
relação entre a economia e a sociedade, criando incertezas
e acentuando as desigualdades. A concentração de capi-
tais [multinacionais e cartéis] põe em causa o Estado-
-Providência e tende a tornar os Estados impotentes face
a problemas como a emigração, crime organizado, doenças
infecciosas, poder nuclear e problemas ambientais que têm
impacto planetário e escapam ao controlo de qualquer país.
As fragilidades e inconsistências do paradigma da moderni-
dade estão à vista. Será possível reformulá-lo e reiterar
as promessas da modernidade de melhoria das condições
de vida e do bem-estar para todos? Ou vivemos, como
alguns defendem, uma época de transição de paradigmas,
de dúvidas e incertezas que urge esclarecer? Seja qual for
a verdadeira resposta parece claro que são os problemas
acima expostos e a procura de alternativas para ultrapassar
o vazio da modernidade e enfrentar as questões decisivas
para o futuro da humanidade, o motivo das crescentes dis-
cussões em torno da cidadania.
No cenário actual Nogueira e Silva159 identificam várias
acepções de cidadania, padecendo todas de fragilidade
e limitações. Contudo, segundo as referidas autoras e a pró-
pria definição apresentada na generalidade dos dicio-
nários da língua portuguesa, a concepção dominante define
cidadania como vínculo jurídico-político de um indivíduo
a um Estado traduzido num conjunto de direitos e obri-
gações - que nas sociedades ocidentais se refere essencial-
mente à liberdade de expressão, voto, benefícios sociais,
pagar impostos e servir nas forças armadas. Está associada
a interpretações legais e formais que são válidas na caracte-
rização de um cidadão mas, do ponto de vista sociológico,
é bastante pobre e promove a cisão entre o indivíduo
e a comunidade.
Para alguns autores, no contexto da tradição liberal onde
se enquadra a modernidade, esta cisão constituiu a principal
dicotomia que origina o individualismo, a desresponsabili-
zação e o entendimento da cidadania como uma mera ma-
nutenção dos direitos adquiridos. Os direitos são entendidos
como a representação dos interesses dos indivíduos, por
exemplo, os que dizem respeito à sua autonomia, à proprie-
Da Cidadania
159
NOGUEIRA, Conceição; SILVA, Isabel. Cidadania - Construção de Novas
Práticas em Contexto Educativo. Lisboa: Edições Asa, 2001.
227
dade e ao livre desenvolvimento das actividades económicas.
Os deveres representam os interesses da comunidade e,
como tal, podem colidir com os interesses individuais.
Desta dicotomia decorrem as contradições sucintamente
referidas que são fonte e consequência de uma forte apatia
face ao exercício da cidadania por egoísmo, desinteresse,
desconhecimento dos direitos ou por incapacidade de apro-
priação desses direitos e, por conseguinte, de participação
social.
Ultrapassar as contradições da modernidade exige uma
nova cidadania baseada no conhecimento e exercício
efectivo de direitos e deveres, perspectivando-os de uma
forma conjunta e interdependente, onde um dos principais
deveres é a participação activa dos indivíduos - nomeada-
mente no que se refere à defesa contínua dos direitos de
todos - de forma a garantir uma igualdade efectiva e não
apenas a sua consagração nas leis dos estados ou princípios
internacionais. Direitos e deveres são duas faces de uma
mesma moeda. Por isso usufruir dos primeiros implica neces-
sariamente aceitar os segundos. Implica reaprender a ser
cidadão, construir uma cidadania partilhada e orientada pelo
princípio da solidariedade, responsável e efectivamente parti-
cipada a nível político, social, cultural e ambiental. Se dos
ideais da Revolução Francesa a “liberdade” foi fundamental
para assegurar os direitos individuais e a “igualdade” para
assegurar a democracia e garantir a liberdade, a “frater-
nidade” ou a solidariedade - na sua versão linguística mais
avançada - é hoje uma exigência.
A inquietação ecológica ultrapassa largamente as preocupa-
ções da década de 70, praticamente confinada às conta-
minações da actividade industrial e agrícola em deter-
minadas regiões do Globo, deterioração dos espaços naturais
considerados únicos ou a ameaça de determinadas espécies.
A crise ecológica é desde o final da década de 80 enten-
dida como um fenómeno planetário e não localizado, ana-
lisado a partir de uma visão complexa e interdependente
das realidades ambientais, dos seus significados sociais,
económicos e culturais. A pobreza que afecta um número
cada vez maior de pessoas, quer nos países ricos, quer nos
Da Cidadania
160
Idem.
229
direitos e responsabilidades. Se os direitos são fundamentais
para a apropriação e exercício da cidadania, assumir res-
ponsabilidades é a própria cidadania. Temos, pois, o dever
de participar activamente na defesa do bem comum [por
exemplo, na protecção do ambiente], numa repartição mais
justa dos recursos e fazendo-nos ouvir - por nós e pelos
outros. Só desta forma será possível recuperar o princípio
mais esquecido da Revolução Francesa: a “solidariedade”.
E não se pense que se trata de uma utopia ou de algo
impossível de concretizar a nível individual. Defender o bem
comum pode passar por medidas políticas ou grandes
movimentações de origem social a nível nacional ou inter-
nacional [às quais, de qualquer modo, também podemos
aderir], ou também por gestos tão simples como separar
os resíduos para reciclar, rejeitar produtos sobre-embalados
ou, na rua, apanhar os dejectos dos nossos animais
de estimação. Ser solidário e defender uma repartição
mais justa dos recursos não significa apenas “dar”. Evitar
o desperdício, rejeitar produtos provenientes da exploração
Da Cidadania
161
A Idade Média valorizou mais os valores religiosos; a partir do Renasci-
mento valorizaram-se mais os valores humanistas; hoje tendemos a valo-
rizar mais aos valores estéticos e os que se relacionam com o bem-estar.
230
próprio ou cria novos valores face aos problemas que vão
surgindo e cada homem vive, também a sua própria histori-
cidade, criando valores que dão sentido à sua existência.
Vivemos numa sociedade pluralista, onde o respeito pelo
outro, pela sua identidade cultural e religiosa, em suma,
pela diferença, assumem um papel preponderante na educa-
ção para a cidadania. Mas também vivemos numa sociedade
marcada pelo desenvolvimento científico e tecnológico que
provocou o desmoronamento de valores próprios de socie-
dades que já não existem e o reescalonamento, reorientação
e mesmo a criação de novos valores que permitam res-
ponder aos novos desafios que se nos deparam.
Lipovetsky162, considera que alguns dos valores da moder-
nidade que dominaram até à actualidade foram o trabalho,
o progresso, a norma universal, a disciplina e a obediência,
entre outros. Hoje temos um conjunto de valores relacio-
nados “Bioética, caridade mediática, acções humanitárias,
defesa do meio ambiente, moralização dos negócios, da polí-
tica e dos meios de comunicação, debates em torno
do aborto e do assédio sexual, cruzadas contra a droga
e o tabaco: por toda a parte a revitalização dos “valores”,
e o espírito de responsabilidade são brandidos como o impe-
rativo primeiro da época. Ainda há pouco as nossas socie-
dades electrizavam-se com a ideia de libertação individual
e colectiva. Actualmente, vão proclamando que não há mais
utopia possível a não ser a moral. Todavia, não se trata
de nenhum “retorno da moral”. A época do dever rigorista
e categórico eclipsou-se em benefício de uma cultura
inédita que difunde as normas do bem-estar de prefe-
rência às obrigações supremas do ideal, que metamor-
foseia a acção moral em show recreativo e em comunicação
de empreendimento, que promove os direitos subjectivos,
mas faz cair em desgraça o dever dilacerante. Eis-nos
comprometidos no ciclo pós-modernista das democracias
que repudiam a retórica do dever austero e integral
e celebram os direitos individuais à autonomia, ao desejo,
à felicidade”163.
É neste contexto que a educação para a cidadania
assume uma importância fundamental na preparação
dos indivíduos.
Da Cidadania
162
LIPOVETSKY, G. A Era do Vazio. Lisboa: Relógio de Água, 1988.
163
Idem.
231
2. Do Desenvolvimento
164
ANTUNES, Manuel de Azevedo. Do Crescimento Económico ao Desenvol-
vimento Humano. In: Campos Social - Revista Lusófona de Ciências
Sociais. Lisboa: Universidade Lusófona, N.º 1, 2004, p. 73.
165
GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade. Oeiras: Celta Editora,
1992, p. 45.
233
São quatro as linhas que caracterizam a globalização dos
séculos XX e XXI166:
Novos mercados de câmbio e de capitais traduzidos numa
P
166
Do Desenvolvimento
169
PNUD. Relatório de Desenvolvimento 1998. Lisboa, Trinova Editora, 1998,
p. 29.
170
Idem, p. 29.
235
Num mundo global a riqueza dos países está dependente
das grandes empresas e das movimentações do capital que
frequentemente circula à margem dos Estados. Ultrapassam
a especificidade de um determinado território enquanto
unidade de produção e consumo e, ao alterar os mecanismos
associados a estes dois processos, a globalização afecta não
só a organização económica mas, também, a organização
social, política e cultural.
Os Estados deparam-se com situações pouco confortáveis.
Controlam cada vez menos os fluxos de capital, de mercado-
rias e de informação, embora continuem a ser responsa-
bilizados por áreas altamente dependentes de capital tais
como a educação, a segurança e a saúde. Isto significa que
as políticas económicas e sociais são cada vez mais
determinadas pelo mercado global e cada vez menos efi-
cazes para enfrentar, entre outras, a problemática ecológica
cujas causas e consequências vão muito para além do seu
território.
O industrialismo171, “… enquanto difusão universal das
tecnologias da máquina […] não está limitado à esfera
de produção … afecta muitos aspectos da vida quotidiana,
além de influenciar o carácter genérico da interacção
humana com o ambiente”172. “O Estado já não é totali-
tário, porém a economia, na era da mundialização, tende
cada vez mais a sê-lo”173.
Deste modo, a globalização emerge, também, como uma
entidade macrossocial que integra as especificidades das
populações: a sua riqueza cultural e social, a sua organi-
zação política e até os seus aspectos psicológicos.
As tecnologias de informação e comunicação de massas
assumem uma importância decisiva e convertem-se num
instrumento de homogeneização cultural que visa estimular
o consumo e criar novos mercados para produtos iguais:
tanto aqui como do outro lado do mundo, os jovens ouvem
as mesmas músicas, vêem os mesmos filmes, seguem os mes-
mos ídolos, vestem as mesmas marcas ... aderem a valores
que lhes são apresentados de forma descontextualizada.
Do Desenvolvimento
171
Entendido por Giddens como “a transformação da natureza: desenvolvi-
mento do “ambiente produzido” [ob. cit.].
172
Idem, p. 59.
173
RAMONET, citado por CARIDE e MEIRA, ob. cit.
236
A globalização contribui para a diluição da identidade
colectiva e também para a alteração dos papéis da escola
e da família a quem, por tradição, cabia aquela função.
Não obstante os aspectos positivos e negativos174 frequen-
temente apontados por autores com posições divergentes
sobre a globalização, ela não se pode evitar. Contudo,
é uma realidade para a qual não dispomos de referências
que nos permitam compreender ou prever os seus efeitos.
A globalização e a inerente “… problemática ambiental
colocam a necessidade de interiorizar um saber ambiental
emergente num conjunto de disciplinas, tanto das ciências
naturais como sociais, para construir um saber capaz de
captar a multi-causalidade e as relações de interdependência
dos processos de ordem natural e social que determinam
as mudanças socio-ambientais, assim como para construir
um saber e uma racionalidade social orientados para
os objectivos de um desenvolvimento sustentável, equitativo
e duradoiro”175.
A crise ambiental é demasiado complexa e não pode ser
“resolvida só com mudanças marginais na esfera económica
e tecnológica; qualquer alternativa viável de mudança
deverá repor em profundidade os pressupostos éticos
[avançar de uma moral antropocêntrica para moralidades
bio- ou eco-cêntricas], económicos [limitar e redistribuir
o crescimento], sociais [potenciar a participação real das
comunidades nas decisões que afectam o meio ambiente
e o desenvolvimento], culturais [mudar os estilos de vida
174
As teorias positivas enfatizam o progresso da humanidade alicerçado no
crescimento económico florescente e num planeta unificado sem bar-
reiras económicas, comunicativas ou ideológicas. O mercado global é
uma inquestionável fonte de riqueza - a expandir e a alargar a todos
os países para que possam fazer frente à pobreza, à desigualdade, aos
problemas ambientais e a todas as preocupações que ainda persistem.
A degradação do ambiente está intimamente relacionada com a pobreza,
a qual exerce fortes pressões sobre a Natureza para angariar sustento,
não dispondo de meios para aplicar na sua protecção. Só com a riqueza
gerada pela globalização será possível assegurar as necessidades básicas
das populações e desviar recursos para a recuperação e preservação do
ambiente.
Do Desenvolvimento
237
baseados no consumo crescente de bens e serviços por
uma cultura de “escassez” na qual se replante a noção
de necessidade], tecnológicos [implementar tecnologias mais
eficientes e com menos custos] e políticos [situar as questões
do ambiente e do desenvolvimento adiante dos imperativos
do mercado e reforçar a tomada de decisões democráticas
a nível mundial]. No seu conjunto, são mudanças que
pressupõem questionar e abandonar a racionalidade econó-
mica e instrumental dominante para construir e preservar
a manutenção de uma racionalidade ecológica-ambiental
emergente”176.
176
Ibidem [realces nossos].
238
Por outro lado, a visibilidade dos problemas ambientais
a partir da década de 70 - a desertificação de grandes áreas
do planeta, o buraco da camada do ozono, os acidentes
nucleares, as marés negras, as chuvas ácidas, etc. - contri-
buíram para aprofundar a reflexão sobre o desenvolvimento.
Neste contexto, o desafio que se coloca à humanidade não
é o de travar o desenvolvimento, mas sim o de encontrar
formas de partilhar os seus benefícios entre todos os povos
e grupos sociais e de o fazer protegendo o ambiente.
Trata-se de promover um desenvolvimento ao serviço das
pessoas e não do lucro que vem exigindo um compromisso
cada vez mais forte entre a noção de desenvolvimento
económico e desenvolvimento humano, sem o qual não
poderá existir um verdadeiro desenvolvimento sustentável.
A associação entre desenvolvimento e ambiente começou
a ganhar centralidade ideológica e política com o contributo
da publicação da obra “Os Limites do Crescimento” do casal
Meadows, bem como a realização de fóruns internacionais
onde estiveram presentes as temáticas do desenvolvimento
e do ambiente. A Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente
Humano, em 1972, contribuiu de forma efectiva para a divul-
gação da integração do desenvolvimento com a sustenta-
bilidade social, económica e ecológica.
Nesta linha de preocupações, o Relatório de Brundtland177,
publicado em 1987, define o conceito de Desenvolvimento
Sustentável como “o desenvolvimento que satisfaz as neces-
sidades presentes sem comprometer a capacidade das gera-
ções futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.
A partir de então, o desenvolvimento sustentável insinua-se
como uma nova estratégia de desenvolvimento, influenciando
posições e a produção de documentos de referência na área
política.
A partir de 1990, através do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento e da publicação anual do Rela-
tório de Desenvolvimento Humano, as Nações Unidas assu-
mem, também, uma concepção de desenvolvimento pluri-
-dimensional, onde estão presentes as dimensões humana
e ecológica:
“Para enfrentar o crescente desafio da segurança humana
é necessário um novo modelo de desenvolvimento que colo-
Do Desenvolvimento
177
BRUNDTLAND. O Nosso Futuro Comum. Lisboa: Meribérica/Liber Editores,
1991.
239
Relatórios
do Desenvolvimento
Humano [PNUD]. §
178
PNUD. Relatório de Desenvolvimento Humano, 1994. Lisboa: Tricontinental
Editora, 1994, p. 4. As dimensões que compõem o índice de desenvolvi-
mento humano são: longevidade [esperança de vida à nascença], conhe-
cimento [taxa de alfabetização de adultos e taxa de escolaridade
combinada], padrão decente de vida [rendimento per capita ajustado
em dólares PPC - Paridade do Poder de Compra]. - In: PNUD. Relatório
de Desenvolvimento Humano 1998. Lisboa: Trinova Editora, 1998, p. 15.
179
Produziu cinco documentos importantes: 2 acordos internacionais -
“Convenção de Mudanças Climáticas” e a “Convenção sobre Diversidade
Biológica”; duas declarações de princípios - “O Guia da Gestão da
Conservação e do Desenvolvimento Sustentável de Todo o Tipo de
Florestas” e a “Declaração do Rio”; e ainda uma agenda global para
o desenvolvimento sustentável - “Agenda 21”. Esta Conferência reuniu
um elevado número de representantes de todo o mundo, tendo assinado
as convenções mais de 150 países.
Do Desenvolvimento
180
Que se assume como um instrumento que visa “identificar actores, par-
ceiros, e metodologias para a obtenção de consensos e os mecanismos
institucionais necessários para sua implementação e monitorização”
In: Agenda 21.
181
O anexo A3 incluiu a menção a endereços electrónicos para consulta
dos textos originais.
240
a vertente social como terceiro pilar do conceito de desen-
volvimento sustentável. Assim, […] a sua implementação
é realizada com base em três dimensões essenciais: o desen-
volvimento económico, a coesão social e a protecção do
ambiente”182. A estas acresce uma dimensão institucional,
onde se integram as vertentes governativa, legislativa [flexi-
bilidade, transparência e democracia] e participativa [sindi-
catos e associações empresariais, bem como organizações
não-governamentais]183.
“O desenvolvimento humano não é um conceito separado
do desenvolvimento sustentável - mas pode ajudar a salvar
“o desenvolvimento sustentável” da falsa ideia de que este
envolve apenas a dimensão ambiental”184. É um processo
de alargamento das escolhas dos indivíduos que pressupõe
a possibilidade de acesso a uma vida longa e saudável,
ao conhecimento e a recursos que lhe permitam uma melhor
qualidade de vida.
Para além destas dimensões básicas - sem as quais não
há verdadeira escolha - o desenvolvimento humano pres-
supõe também oportunidades sociais e políticas que conferem
a cada cidadão um sentimento de pertença a uma socie-
dade. Deste modo, o desenvolvimento humano abarca todas
as questões já antes abordadas, tais como: as que se rela-
cionam com a cidadania, os valores, os direitos humanos,
as responsabilidades individuais e colectivas, a equidade -
na repartição de riqueza e na igualdade de oportunidades
- e o desenvolvimento sustentável.
O esgotamento de recursos e o crescimento demográfico
exponencial que afecta principalmente os países mais
pobres, são factores fundamentais de desequilíbrio e fazem
com que este seja o maior desafio jamais colocado à huma-
nidade. A população mundial é hoje de 6 mil milhões de
habitantes, estimando-se que em 2050 atinja os 9,5 mil
milhões - dos quais mais de 8 mil milhões viverá nos
países em vias de desenvolvimento. Por seu lado, os países
Do Desenvolvimento
182
AAVV. Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável 2005-
2015. Lisboa: Pandora, 2005, p. 14.
183
Idem, p. 14.
184
PNUD, 1998, p.14.
241
desenvolvidos, representando apenas 20 % da população
mundial, consomem 80 % dos recursos do planeta e
produzem a maior parte dos gases poluentes e de resíduos
tóxicos185.
Paradoxalmente a degradação do ambiente deve-se tanto
à pobreza quanto à riqueza. Nos países em vias de
desenvolvimento, para sobreviverem, as populações exercem
uma pressão sem precedentes sobre os recursos naturais,
ao passo que nos países mais desenvolvidos a pressão
social se faz no sentido da manutenção de elevados níveis
de consumo que, por sua vez, influenciam o aumento
da pobreza e da exclusão.
Num planeta fisicamente limitado, os níveis de consumo
verificados nos países desenvolvidos não se podem alargar
aos países em vias de desenvolvimento. Todavia, estes
precisam de expandir drasticamente as suas economias
para suprir as necessidades das suas populações, promover
o desenvolvimento humano e canalizar recursos para a
protecção e recuperação do ambiente.
O equilíbrio só será possível se os países mais pobres
puderem prosperar economicamente, ao mesmo tempo que
os mais ricos abrandem ou diminuam o consumo e a
quantidade de resíduos produzidos. Porém, num planeta
global altamente competitivo e marcado por fortes cliva-
gens, o desenvolvimento dos países mais pobres - onde os
países doadores disponibilizam para a cooperação para
o desenvolvimento apenas 0,25 % do total do seu PNB, de
22 milhões de dólares EUA186- exige um forte compromisso
dos mais desenvolvidos ao nível da solidariedade e da
defesa do bem-estar comum, como objectivo último do
progresso “e de o fazer através do esforço colectivo, do uso
racional dos recursos e dos direitos em que assentam as
liberdades, a justiça, a solidariedade e a equidade social”187.
Surgindo o desenvolvimento sustentável, a nível internacional,
como um imperativo para enfrentar a crise social e ambi-
ental, em Setembro de 2000 as Nações Unidas aprovaram
os Objectivos de Desenvolvimento para o Milénio, voltan-
do “… a afirmar a responsabilidade colectiva de apoiar
Do Desenvolvimento
185
Idem, p. 5.
186
Ibidem, p. 37.
187
CARIDE e MEIRA, 2004.
242
As prioridades do mundo
[despesa anual em dólares]
*Custo anual adicional estimado para atingir o acesso universal aos serviços sociais básicos
em todos os países em desenvolvimento. PNUD 1998, tendo como fonte Euromonitor 1997;
UN 1997g; UNDP, UNFRA e UNICEF 1994; Worldwide Research, Advisory
and Business Intelligence Services 1997.
Fonte: PNUD; Relatório do Desenvolvimento Humano 1998, p. 37 [adaptado]
nas mulheres;
Do Desenvolvimento
188
AAVV. Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável 2005-
2015. Lisboa: Pandora, 2005.
243
5 Melhorar a saúde materna;
P
189
PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2003. Queluz [Lisboa]:
Mensagem - Serviço de Recursos Editoriais, Lda., p. 3.
190
Idem, p. 3.
191
Ibidem, p. 5.
244
3. Da Educação Ambiental
192
Cfr. Capítulo I.
193
Da Educação Ambiental
196
PALMER, J. Environmental Education in the 21st Century - Theory,
Practice, Progress and Promise. 1998.
246
A fertilização
dos solos a partir
da decomposição
de matéria orgânica
foi um processo
de fertilização usado
§ durante gerações.
197
Fonte: http://www.scielo.br [Setembro’05].
198
Idem. De referir que Tbilisi se localiza na Geórgia [ex-URSS].
248
P Motiva a clarificação de va-
lores e o desenvolvimento
de valores sensíveis ao am-
biente;
P Preocupa-se em desenvolver
uma ética ambiental.
A animação de rua
A focalização da educação am- cria cumplicidade
biental progrediu desde então e afectividade
no espaço público,
e até aos nossos dias, nas para os temas am-
suas metodologias e temáticas § bientais.
centrais. Esta evolução enraíza
na problematização da relação Homem-Natureza, na consti-
tuição de uma ética ambiental, na formação para a cida-
dania - onde se inscreve uma polarização mais ou menos
acentuada das questões ambientais de acordo com os
entendimentos de cada época e da participação na própria
concepção do desenvolvimento, temas já abordados.
Nos anos 80, consolidando desenvolvimentos anteriores, foi
lançada a Estratégia de Conservação Mundial [pela IUCN -
International Union for the Conservation of Nature and
Natural Resources/The World Conservation Union, pelo PNUA
e pela WWF], documento esse que reafirmava a importância
da conservação dos recursos, através do desenvolvimento
sustentável e enfatizava a ideia de que a conservação e o
desenvolvimento são mutuamente interdependentes. Incluía,
igualmente, um capítulo dedicado à educação ambiental,
com a seguinte mensagem: “No fundo, o comportamento
de sociedades inteiras em relação à biosfera precisa de
ser transformada se quisermos assegurar que os objectivos
de conservação sejam atingidos ... a tarefa a longo prazo
da educação ambiental é a de estimular e reforçar as atitudes
e os comportamentos compatíveis com uma nova ética”199.
Foi na Cimeira da Terra [Rio 92] que a educação ambiental
tomou corpo documental, fruto do reconhecimento da sua
urgência e importância, constituindo-se num compro-
misso para os países que assinaram os acordos subjacentes
Da Educação Ambiental
à Agenda 21200.
199
PALMER, J. Environmental Education in the 21st Century - Theory,
Practice, Progress and Promise. 1998, p. 15.
200
Cfr. capítulo 1.
249
“O Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades
Sustentáveis e Responsabilidade Global [TEASSRG]201 em
coordenação com a Agenda 21 definem os públicos-alvo
prioritários da educação ambiental202, integram os princípios
do desenvolvimento sustentável com os da participação,
da formação de competências e apresentam um plano
de acção para a educação ambiental. Nesses documentos
enfatiza-se o processo participativo na promoção do ambi-
ente, orientado para a sua recuperação, conservação
e melhoria, bem como para uma melhor qualidade
de vida”203.
O Tratado de Educação Ambiental [TEASSRG] apresenta
os seguintes princípios básicos para a educação ambiental:
a A educação ambiental deve ter como base o pensa-
P
201
Documento produzido pelo fórum internacional das ONG's que decor-
reu em simultâneo à Conferência do Rio, onde se reconhece a educação
como direito dos cidadãos, capaz de transformar a relação do Homem
com a Natureza - porque indutora de uma responsabilização individual
e colectiva. A educação ambiental tem como objectivos contribuir para
a construção de sociedades sustentáveis, igualitárias ou socialmente jus-
tas, assim como ecologicamente equilibradas e geradoras de mudanças
na qualidade de vida [Fórum Internacional das ONGs, 1995].
202
As crianças, os jovens, as mulheres e as comunidades locais.
203
JACOBI, Pedro. Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade. In:
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.º 118, Março 2003, p. 194. De referir
a existência de algum paralelismo na evolução conceptual entre os con-
ceitos de desenvolvimento e qualidade de vida. Hoje, a conceptualização
sobre a qualidade de vida assume-se como relevante, na medida em
Da Educação Ambiental
As parcerias locais
e activas favorecem
a formação
de uma consciência
§ ambiental.
204
GADOTI, M. ECO-92 e educação ambiental. In: Revista de Educação
Pública, Cuiabá, Editora Universitária da UFMT, vol. 2, n.º 2, Out 1993
Da Educação Ambiental
206
SCHMIT, Luísa. Educação Ambiental e Educação para o Desenvolvimento
Sustentável - Um Futuro Comum. In: ASPEA; XII Jornadas Pedagógicas
de Educação Ambiental da ASPEA, 2005, p.20.
207
ALVES, Fernando Louro. A Educação Ambiental em Portugal. In: Carapeto,
C., Cadernos de Educação Ambiental, Lisboa: Universidade Aberta, 1998.
252
vinte e um anos mais tarde, em 1969, o Governo Português L Louro Alves (1998)
cria um estrutura ligada à protecção do ambiente e à refere “situações
que surgiram muitas
conservação da natureza, que deu pelo nome de Comissão vezes de uma forma
Nacional de Ambiente [CNA]. Foi a resposta encontrada espontânea,
algumas vezes
ao pedido das Nações Unidas, para a definição de um com uma certa
interlocutor, na área ambiental. confusão de conceitos,
mas curiosamente
A partir desta data a prática da educação ambiental no envoltas de um certo
secretismo ...”.
país surge muito timidamente e sempre muito localizada,
seja em áreas protegidas, seja numa escola ou grupo de
escolas, sensíveis às questões ambientais.
O mesmo autor208 situa em 1975 o surgimento das primei-
ras preocupações com a educação ambiental através da
publicação do Decreto-Lei n.º 550/75, de 30 de Setembro, e da
criação do Serviço Nacional de Participação das Populações
[SNPP], cuja missão era “… a realização de campanhas
de divulgação, participação e formação da população em
geral e da juventude em particular em ordem à consecução
e concretização de uma política nacional, regional e local
do ambiente”209.
Relativamente à educação ambiental no nosso país, em 1983,
José de Almeida Fernandes210 referia: “… à partida podemos
afirmar que não existe uma Educação Ambiental minima-
mente estruturada em Portugal, quer consideremos o ensino
formal quer o não-formal”211.
Desde a criação da Comissão Nacional de Ambiente [CNA],
a situação evoluiu com a criação do INAMB - Instituto
Nacional do Ambiente [mais tarde, 1994, denominado de
IPAMB - Instituto de Promoção Ambiental, que integrou, em
conteúdo e propósito a Direcção-Geral de Ambiente, até Abril
de 2007 e agora a Associação Portuguesa de Ambiente],
sobretudo entre os anos de 1993 a 1999, observando-se
um forte impulso na área da educação ambiental.
O INAMB, de âmbito nacional, teve por objectivos a promo-
ção da qualidade de projectos de educação ambiental, assim
Da Educação Ambiental
208
Idem.
209
Ibidem.
210
José de Almeida Fernandes foi o primeiro director do Instituto Nacional
de Ambiente [INAMB].
211
FERNANDES, José de Almeida. Manual de Educação Ambiental. Lisboa: Secre-
taria de Estado do Ambiente\Comissão Nacional de Ambiente, 1983, p. 42.
253
Formação
de Animadores
de Educação Ambiental:
Visita de Estudo
ao Parque Ecológico
de Monsanto. §
como a gestão e investimento em projectos e acções que
exibissem indicadores de eficácia.
Decorrente de um acordo estabelecido entre o Ministério
do Ambiente e o Ministério da Educação212, o IPAMB
concretizou um modelo de apoio a acções e projectos
de educação ambiental - para incentivar a crescente
adesão à educação ambiental dinamizada por entidades
públicas e privadas213 - para além de manter uma visão
estratégica a favor da sustentabilidade e da continuidade
de acções orientadas para o desenvolvimento sustentável,
em geral.
A par destas surgiram, também, em Portugal outras estru-
turas de âmbito nacional, regional ou local na área do
ambiente, vocacionadas para a educação ambiental em áreas
de intervenção privilegiada: os resíduos, a indústria, a água,
as energias renováveis, os centros de observação e recupe-
ração de animais, entre outros214.
Por outro lado, programas e projectos de educação ambien-
tal começaram a ser uma realidade, dentro e fora da escola,
visando a informação dos cidadãos e a sua focalização na
preservação e gestão equilibrada dos recursos naturais.
Apesar desta perspectiva, não podemos deixar de referir
a existência de várias iniciativas condutoras à actual situação
212
Este acordo deu início a um novo processo de elaboração de uma
“Estratégia Nacional de Educação Ambiental [ENEA]”, a ser inserida
na Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Portugal.
Da Educação Ambiental
213
Durante estes anos foram criadas diversas Organizações Não Governa-
mentais de Defesa do Ambiente [ONGA], tendo muitas delas uma acção
privilegiada em projectos/acções de educação.
214
Refere-se, a nível central, o Instituto de Conservação da Natureza,
Parques Naturais [Gerês, Serra da Estrela, etc.]; a nível empresarial,
empresas intermunicipais de gestão de resíduos, associações empresari-
ais na área da reciclagem de materiais, etc.
254
Informar,
criar proximidade
e empatia com
as causas ambientais
junto de alunos,
professores
e auxiliares
§ de educação.
215
Para um conhecimento mais aprofundado sobre este tema sugere-se a
leitura do “Bloco 5” do livro Educação Ambiental. [CARAPETO, Cristina
Da Educação Ambiental
217
A primeira ONG - Organização Não Governamental, criada em Portugal,
foi a ASPEA: Associação Portuguesa de Educação Ambiental.
218
ALMEIDA, J.F. [org.]. Os Portugueses e o Ambiente: I Inquérito Nacional
Da Educação Ambiental
219
Tendo por referência a actividade da Câmara Municipal de Lisboa,
refere-se a título meramente exemplificativo, a acção do Espaço
Monsanto na área da Conservação da Natureza e das Espécies, a Quinta
Pedagógica numa perspectiva agro-cultural e a actividade do Departa-
mento de Higiene Urbana e Resíduos Sólidos [neste último caso cfr.
anexo A5].
258
As Autarquias têm, também, disponível como princípio para
a acção a implementação da Agenda 21 Local, a qual
traduz, para o nível autárquico, as orientações e recomen-
dações da Agenda 21 [Rio, 1992]. Aquela apresenta-se
como um instrumento que contribui para o uso racional
dos recursos naturais, sem hipotecar as necessidades das
gerações futuras220. A Agenda 21 Local reúne as seguintes
características:
P Potencia políticas de proximidade;
P Promove a abertura dos governantes ao envolvimento
dos cidadãos;
P É flexível, cooperante, participativa, pedagógica e dinâmica;
P Envolve num mesmo processo, empresas, serviços públicos,
instituições educativas, religiões, comunidades científicas,
associações, sindicatos, vários grupos de interesse e cidadãos;
P Monitoriza e avalia - com base em relatórios de progresso
regulares, de consenso estatístico e de leitura acessível
a todos os cidadãos. Desta avaliação decorre o aumento
do conhecimento das realidades locais, um superior envolvi-
mento de todos os intervenientes na procura de soluções
e, ainda, uma maior adequação das políticas implemen-
tadas face às necessidades locais.
A Agenda 21 Local é promovida a nível Europeu pela Cam-
panha Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis [ICLEI]
e a nível internacional pela Organização das Nações Unidas,
pela Organização Mundial de Saúde e pelo Banco Mundial,
entre outras organizações.
A Agenda 21 Local é um programa de acção promotor
da participação e envolvimento entre o poder e os agentes
locais, nas dinâmicas de desenvolvimento económico, social
e ambiental, à escala autárquica. Traduz-se num programa
de acção integrado e pluridimensional e requer a partici-
pação dos cidadãos nas decisões.
Da Educação Ambiental
220
Princípio da Sustentabilidade.
259
bilidade ambiental221, o papel das Autarquias revela-se
fundamental, não só pela maior proximidade ao cidadão e
mais profundo conhecimento das realidades locais mas,
também, porque podem ser o apoio, a regulação e a
garantia de continuidade de políticas sociais e educativas
que incluam a educação ambiental e a educação para a
cidadania, como elementos integradores dos seus projectos
para a população.
O Município de Lisboa tem vindo a desenvolver, nas
últimas duas décadas, esforços adicionais na área da
educação ambiental, onde se integra a acção desenvolvida
na área da higiene urbana e animais em meio urbano222.
São disso exemplo:
PCampanhas de informação e divulgação;
PAcções de sensibilização para munícipes, escolas, públicos
profissionais específicos [educadores e professores,
técnicos de equipamentos sociais, pessoal de apoio
diverso, porteiros, auxiliares de acção educativa, ajudantes
domiciliários, entre outros];
PAcções de formação para professores [no âmbito das
escolas] e para munícipes [animadores e monitores de edu-
cação ambiental];
PVisitas de estudo de vária índole;
PConcursos diversos;
PIntervenção comunitária com jovens enquanto agentes
de mudança de comportamentos, junto dos munícipes
[na área dos Resíduos Sólidos Urbanos];
221
Como também “das capacidades sociais, económicas, políticas e cultu-
rais potenciadoras do desenvolvimento endógeno, como da compreensão
e manejo das possibilidades e dos limites que estabelece o ambiente
para garantir a satisfação adequada das necessidades básicas a médio
e a longo prazo” RAMOS PINTO, Joaquim & MEIRA CARTEA, Pablo.
Processos Participativos e Educação Ambiental: Estratégias para a sus-
tentabilidade Local. In: Revista ASPEA, Lisboa: ASPEA, 2005, p. 6-7.
222
O anexo A5 integra uma síntese descritiva das principais acções, pro-
jectos, programas e campanhas de informação e sensibilização desen-
volvidos desde 1979 nesta última área de competências. A experiência
acumulada constitui também a base da informação operativa constante
Da Educação Ambiental
223
A este respeito, importa referir que as iniciativas executadas no âmbito
da educação ambiental são descritas, também, no relatório anual de
Experiências Educativas da Cidade de Lisboa, editado pelo Departamento
de Educação e Juventude da Câmara Municipal de Lisboa.
224
EarthWorks Group. 30 coisas simples que você pode fazer com energia
para salvar a terra, 1993.
225
Lema estratégico que surgiu com a Agenda 21, em 1992.
261
“Chuva de Ideias”. §
informando e desenvolvendo o sentido crítico, valorizando
o sentido de equilíbrio e de percepção dos limites [do meio].
Sendo um vector educativo particular, insere-se na educação
para a cidadania dos indivíduos uma vez que também ela,
e a propósito do meio e da Natureza que nos rodeia, nos
“exige” valores, participação e cooperação, de forma restrita
e/ou alargada.
Ao promover uma chuva de ideias226, alguns dos registos
possíveis sobre a definição de Educação Ambiental seriam:
“Um processo dinâmico/interactivo que pretende moderar
a relação homem/natureza, promovendo comportamentos
pró-ambientais, através da mudança e/ou “conservação”
de atitudes face ao ambiente.”
L “A Educação
Ambiental, “A Educação Ambiental visa sensibilizar e alertar a socie-
como parte integrante
da educação cívica, dade para os problemas ambientais, promovendo competên-
deverá contribuir cias e comportamentos pró-ambientais, com o intuito de
para uma melhor
compreensão propiciar uma melhoria da qualidade de vida. É educar para
das formas mais a prevenção, preservação e reabilitação do meio ambiente
adequadas de actuar
perante o ambiente, mobilizando, assim, a sociedade para as questões ambientais.”
alertando,
sensibilizando e “Educação Ambiental passa pela sensibilização de grupos,
educando as pessoas,
envolvendo-as no sentido de os alertar para problemas ambientais, que
e informando-as.” podem ser melhorados ou superados com um maior envol-
vimento e acção participada, por parte de todos, promovendo
estratégias facilitadoras da modificação de comportamentos.”
226
As definições que se apresentam sem autor referenciado, resultaram
de uma chuva de ideias promovida entre alunos finalistas da licencia-
tura de Psicologia [área Educacional] do Instituto Superior de Psicologia
Aplicada, no ano lectivo 2003/2004.
262
“Educação Ambiental ... sensibilização sobre as formas de
preservar, melhorar e modificar o ambiente, mediante uma
componente de educação cívica, alertando para algumas
estratégias concretas como a reutilização dos materiais
ou a reciclagem, consciencializando as pessoas para o facto
de que as suas motivações e comportamentos influenciam
o meio ambiente e os seus ciclos naturais.”
“Educação Ambiental ... deve ser uma passagem social que
assenta na sensibilização das pessoas para a mudança
de atitudes ambientais e na chamada de atenção para
o facto dos seus comportamentos influenciarem o ambiente.
Ensinar estratégias [ex: reciclagem, ...], para prevenir, melhorar
e proteger o ambiente, tendo em conta as expectativas e re-
presentações das pessoas, de modo a que estas elaborem
objectivos e estratégias de intervenção ambiental.” L “Educação Ambiental
é um processo
“Educação Ambiental ... interactivo e dinâmico
no âmbito da
1] Promover atitudes/comportamentos que facilitem
P
educação cívica,
que, com base
um melhor viver; na motivação, visa
informar, sensibilizar
2] Preservação, Reabilitação ... Criar um melhor ambiente
P e educar através
natural e social!” do desenvolvimento
de competências
“Educação Ambiental é uma forma de sensibilizar e alertar pró-ambientais, no
sentido de produzir
para as questões ambientais e para os seus problemas, mudanças de
envolvendo e informando as pessoas, de modo a que estas comportamentos
e atitudes”.
compreendam as formas mais adequadas de actuar no quo-
tidiano, prevenindo e remediando algumas situações, em
ordem a um ambiente cada vez melhor e a uma melhor
qualidade de vida.”
“Educação Ambiental? Uma definição possível: é uma com-
ponente da educação cívica que tem como objectivo educar,
sensibilizar e alterar atitudes/comportamentos da população,
face às práticas ambientais, contribuindo desta forma para
uma melhor qualidade de vida.”
“A Educação Ambiental é um processo interactivo e dinâ-
mico, parte integrante da educação cívica, que através
Da Educação Ambiental
227
Não devemos esquecer que o poder da educação na transformação dos
Da Educação Ambiental
228
LOURO ALVES, Fernando. O Conceito de Educação Ambiental. In: Edu-
cação Ambiental. Lisboa: Universidade Aberta, 1998.
229
NOVA, Elisa Vila. Educar para o Ambiente: projectos para a área-eescola.
Lisboa: Texto Editora, 1994, p. 17.
265
As crenças, os valores, as representações que todos temos
a propósito do ambiente, são o nosso ponto de partida
para o desenvolvimento de um processo educativo que se
pretende que seja válido e eficaz. É muito importante, por
isso, atender às percepções que os indivíduos tem de si
próprios, dos outros, do ambiente que os rodeia, às repre-
sentações que elege como suas, às suas crenças, aos valores
que persegue, como percebem e resolvem as situações do
quotidiano, que valor dão à sua participação social e como
a avaliam. Todas estas e outras dimensões são válidas tanto
para os mais novos como para os mais velhos, pois todos
nós aprendemos [dimensão cognitiva], sentimos [dimensão
sensorial] e estabelecemos relações [dimensão afectiva] com
o ambiente.
A educação ambiental deve, então, privilegiar estratégias
activas que atinjam e mobilizem senão todas, pelo menos
uma de três dimensões: cognitiva, sensorial e afectiva,
sendo que, segundo a prática de quem já se envolveu
amplamente em projectos de educação ambiental de vária
índole, tanto no planeamento, como no acompanhamento
e realização de projectos, como ainda na área da inves-
tigação, é a dimensão afectiva aquela que evidencia mais
resultados.
Segundo Alves “se atestarmos a eficácia de cada uma das
vertentes [ou dimensões], verificamos que aquela que perdura
após uma acção, na maior parte das situações, é a que
tocou no ponto emocional/afectivo do participante. Na maior
parte dos casos, aquela que menos perdura é a que se
prende com os conhecimentos. Valeria a pena, em função
disso, repensar algumas técnicas mais habitualmente empre-
gues pelos pedagogos”230.
Conhecer e compreender
como se organiza
e realiza a limpeza
urbana, ajuda à for-
mação de valores
e atitudes orientadas
para a qualidade
de vida urbana. §
230
LOURO ALVES, Fernando. Técnicas de Acção/Actuação em Educação
Ambiental. In: CARAPETO, C. [coord. Cient.]. Educação Ambiental. Lisboa:
Universidade Aberta,1998.
266
A este propósito, e tendo presente o que foi referido sobre L Essa valoração pode
a educação para a cidadania, gostaríamos de atender à estar ancorada numa
proposição emocional,
questão das crenças e dos valores subjacentes à actividade a que chamamos
humana e à sua importância em todos os processos de crença, que por sua
vez emerge de uma
ensino-aprendizagem. Importa, por isso, dar atenção à ques- matriz de valores
tão dos valores quando falamos de educação ambiental. sobre objectos e
pessoas, e o papel
O homem é um ser criador e cria e re-cria valores, através que os mesmos têm
dos quais dá sentido à sua existência. Viver é resolver no comportamento
dos indivíduos.
problemas teóricos e práticos. As crenças individuais
podem ou não estar
A relação primeira e primordial do homem com o mundo associadas a questões
que o rodeia é utilitária, prática e afectiva. O homem religiosas, culturais ou
valoriza o que o rodeia, aprecia as coisas que o cercam étnicas. Por exemplo:
uma pessoa pode
e a sua vida está sempre relacionada com os valores. acreditar numa
A sua relação com o mundo não é só teórica e o Homem entidade divina e não
perfilhar nenhuma
anseia sempre por ir mais além do simples conhecer. Sabe religião, ou realizar
o valor utilitário das coisas e atribui valor àquilo com que determinado ritual
se relaciona. porque é tradição e
culturalmente aceite.
E porque cada um se relaciona com o mundo à sua ma-
neira, a valorização é diferente de pessoa para pessoa,
de cultura para cultura, embora possamos identificar alguns
traços comuns de valores entre vários indivíduos de um
mesmo grupo, sociedade ou nação. Estaremos então
perante valores sociais internalizados231 por todos os indiví-
duos desse grupo, mais ou menos alargado, para além da
criação ou recriação dos seus próprios valores individuais.
Através da educação para a cidadania, na família, na escola,
e ao longo da vida, perpetuam-se esses valores comuns
que orientam os grupos, as sociedades, o mundo.
Fazendo a educação ambiental parte integrante da edu-
cação para a cidadania, é necessário atendermos aos valores
dominantes do indivíduo, da sociedade e contexto em que
está inserido, para que o processo educativo que se lhe
propõe, para além de motivar uma mudança de compor-
tamentos individual, se estenda a uma acção mais abran-
gente e social, na relação com os outros e com o meio
ambiente.
Da Educação Ambiental
231
Mais do que incluir, ou integrar a internalização de algo implica
aceitação - que pode não ser adopção - de crenças, valores, atitudes
e práticas, como sendo do próprio. O conceito é oriundo das ciências
sociais, e muito utilizado na psicossociologia, querendo significar o nível
ou grau que um indivíduo [ou grupos de indivíduos] atribui aos seus
motivos comportamentais.
267
Se a relação do Homem com o mundo é uma relação
valorativa, se o Homem valora espontaneamente coisas
e acontecimentos, se uns consideram que os valores estão
nas coisas [valorização utilitária] e outros atribuem valor
às coisas, então podemos facilmente imaginar, só através
das premissas referidas, que exista uma pluralidade imensa
de valores individuais cruzados com outra imensidão de
valores societais que se “concentram” em questões como
a dignidade humana, o respeito por outrém, a liberdade,
a saúde, a educação, a justiça, a solidariedade, a cidadania,
o ambiente, ...
António Gedeão lembra-nos bem essa nossa diversidade
de interpretação e relação com o Mundo:
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
Não vêem escolhos nenhuns.
Nas ruas ou nas estradas
Onde passa tanta gente, uns vêem pedras pisadas, mas outros
gnomos e fadas
Num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
Quem diz escolhos diz flores,
de tudo o mesmo se diz,
onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
Da Educação Ambiental
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.
[A. Gedeão [s/data], Poesias Completas, Lisboa, Portugália, p. 7-8]
268
O ambiente liga,
facilmente, com todas
§ as áreas disciplinares.
232
Dialéctica porque o Homem é um ser relacional, e os elementos da sua
consciência são complexos, amadurecem em função dos resultados das suas
experiências, e interagem uns com os outros, intensificando-se ou inibindo-se,
e os sentimentos e raciocínios pessoais constituem-se em função
das pressões e normas sociais.
269
a falar de uma dimensão humana não estática e que
se desenvolve com o próprio Homem.
Nas sociedades democráticas, de que fazem parte valores
como a liberdade e a responsabilidade, podemos fazer
escolhas e tomar decisões, o que significa que temos consciên-
cia dos nossos actos e por isso podemos ser responsabili-
zados por eles.
A educação ambiental, enquanto dimensão integrante
da cidadania, não pode descurar este aspecto sob pena
de estar a criar um falso contexto de acção/reacção, tipo
bolha de ar, que não compromete os indivíduos a agir
responsavelmente sobre o ambiente, independentemente
da valência a que nos referirmos. Ou seja, é imperativo
mantermos uma perspectiva holística233, em todas as
situações e contextos, aliada a uma motivação para a
acção, para participação de um e de todos na resolução
dos problemas ambientais.
233
Em ambiente não existem “mundos isolados”. Aqui e ali as intersecções
sucedem-se em número incalculável, sem limite.
234
IPAMB. Guia de Recursos em Educação Ambiental. Lisboa: IPAMB.
270
Dia da Árvore:
plantação de árvores
com a participação
de associações locais
e estabelecimentos
§ de ensino.
235
Consciência ecológica e ética ambiental - Capítulo I.
271
Na educação ambiental, o que se pretende é que a participa-
ção não seja pontual, antes se revele contínua, responsável,
crítica e adaptável às mudanças e evoluções constantes.
Nesta perspectiva a educação ambiental é um processo edu-
cativo em permanente evolução, exigente e sem limite à vista.
236
Optamos por considerar a educação ambiental um processo de ensino-
-aprendizagem porque acontecem ganhos em ambos os lados, quem trans-
mite a nova informação e conhecimentos também recebe novas pers-
pectivas e modos de agir e sentir o ambiente. É na evolução espiralada
desta relação de dar e receber que a construção sustentada da educação
deverá assentar para catalizar a consolidação de conhecimentos e com-
petências adquiridas e internalizadas pelos indivíduos.
274
em palco as dimensões da educação para a cidadania,
deveremos assegurar que o processo seja:
Motivador que estimule a participação em todas
P
Acções de sensibilização
para moradores. §
276
Transmitir a informação da forma mais adequada ao nosso
público alvo ter em atenção, idades, escolaridade, hábitos
P
3.3.5. Motivação
Podemos encontrar indivíduos auto-motivados para partici-
parem em eventos a favor do ambiente, desde a redacção
de um artigo num jornal, à elaboração de uma exposição,
à construção de uma casa gerida através de energias
renováveis, à representação de uma peça de teatro ... Para
estas pessoas, a gratificação emerge da satisfação de alcan-
çarem com êxito os objectivos a que se propõem, derivados
da sua motivação pessoal.
No entanto, muitos de nós, embora com sensibilidade para
L A educação para a as questões ambientais, necessitamos de um investimento
cidadania propõe-se
desenvolver nos extra para nos envolvermos em questões desta natureza.
alunos regras de É neste campo “fértil” que pode ser largada a semente
convivência, respeito
mútuo para além de da educação ambiental, por agentes persistentes, informados
promover a sua auto- e entusiastas.
estima e autonomia,
de forma a que se Para além do que já foi referido, a propósito da partici-
tornem cidadãos
responsáveis, pação, interessa-nos aqui salientar que a motivação dos
participativos e indivíduos poderá ser induzida do exterior mas o seu locus
informados na vida
da escola e da de controle deverá ser sobretudo interno. É a motivação
comunidade em que endógena [ou mesmo internalizada] que leva o indivíduo
estão inseridos,
reflectindo também a agir, mais do que uma simples instrução de realização
sobre os princípios de um conjunto de tarefas que, até podem ser lúdicas,
democráticos que lhes mas não acarretam consigo ganhos cognitivos e emocionais
estão associados.
para o indivíduo.
278
3.3.6. Crianças e Jovens - Agentes de Mudança
O sucesso de alcançarmos uma sociedade em harmonia
com o ambiente, dependerá da vontade e engenho das nossas
crianças e jovens.
Não esquecendo outros grupos da população, as crianças
devem ser o alvo principal do investimento educativo em
cidadania e educação ambiental, maximizando-se essa poten-
cialidade no espaço e vida da escola.
Apesar da sua pouca idade, as crianças podem agir como
catalizadores significativos de mudança de atitudes e com-
portamentos ambientais, tanto na comunidade, como no
meio familiar - se apoiadas por processos continuados
e eles próprios promotores da mudança.
As crianças revelam desde muito cedo a sua capacidade
de imitação dos adultos e também o seu desejo e ansiedade
para terem o seu próprio papel e reconhecimento. A inter-
venção das crianças nas atitudes e comportamentos ambien-
tais tem elevadas probabilidades de eficácia, se sentirem que
têm poder e que são apoiadas por adultos significativos.
Devemos mostrar-lhes a possibilidade de serem “Amigos da
Terra”, através de pequenas acções “amigas do ambiente”.
Deixá-las experimentar e sentir a satisfação que também
nós sentimos quando realizamos algo que sabemos ser
correcto ou bem feito, evitando a todo o custo que se
instale um sentimento de impotência do tipo “não vai servir
de nada!”.
O nível de consciencialização e conhecimento pode elevar-
-se através da ajuda dos pais aos filhos, tal como acontece
com os deveres escolares e actividades extracurriculares,
o nível de consciencialização e conhecimento pode elevar-
“Utilize o ecoponto”,
dizem as crianças
§ no Desfile de Carnaval.
279
Construção
de maquetes
a partir de materiais
de desperdício. §
-se por esta via. A discussão sobre temáticas ambientais
mais próximas [exemplo: porque é que nem toda a água
é potável?] pode, também, tornar-se parte do quotidiano
familiar e revelar simetrias de conhecimento benéficas
para pais e filhos. No entanto, nos estudos realizados por
Fontes et al.237, as crianças não iniciam espontaneamente
este tipo de discussões, a menos que o tema surja a propó-
sito do relato de uma actividade realizada na escola,
a pedido dos pais.
Já em relação aos jovens a perspectiva é ligeiramente dife-
rente. Quase adultos, já conseguem relativizar os problemas
apresentados e agir em conformidade com aquilo em que
acreditam ou representam poder ser a realidade. Sendo
detentores de informação correcta e apoiados nos seus pro-
jectos ou integrados em projectos já estruturados e dirigidos
a jovens238, podem cativar os adultos para as causas que
defendem com o seu entusiasmo.
237
UZZEL, David: FONTES, Patricia Joyce; JENSEN, Bjarne Bruun; VOGNSEN,
Christian; UHRENHOLDT, Jean; KOFOED, Jens. As Crianças como Agentes
de Mudança Ambiental. Porto: Campo das Letras Editores, S.A., 1998.
238
Nestes projectos, a [in]formação, aquisição de competências próprias, acom-
panhamento e monitorização estão previstos.
280
alunos, ao longo de toda a escolaridade239. A Lei de Bases
do Sistema Educativo240 [no respeito absoluto da Consti-
tuição da República Portuguesa241] estabelece objectivos
de aprendizagem para a escolaridade obrigatória. As orien-
tações curriculares incluem a definição de competências trans-
versais e essenciais para cada disciplina e área curricular,
em cada um dos níveis de ensino.
Sendo a Escola um lugar privilegiado de aprendizagem,
é inegável a importância da educação para a cidadania
no meio escolar, em todas as suas etapas. Se nos lembrarmos
de que passamos parte significativa dos nossos dias na
escola [10 anos em média242], então a educação para a cida-
dania, a par da instrução lectiva, revela-se não só importante
como fundamental. Espaço relacional, de convivência social
e de formação pessoal243, a Escola é determinante para a for-
mação de cidadãos interventores e participativos.
Apesar de assuntos como os Direitos Humanos, o Ambiente,
a Saúde, o Emprego, entre outros, poderem [e deverem]
ser abordados em qualquer área curricular, pode também
acontecer que - num ou noutro momento - a escola sinta
necessidade de tratar academicamente e de forma isolada
um ou mais temas relacionados com o bem-estar dos indiví-
duos em sociedade, com tudo o que isso implica [o bem-
-estar físico, psíquico, social, económico, cultural, étnico
e religioso].
Através do Projecto Curricular de Escola244, ou mesmo do
239
Em 2005/2006, a escolaridade obrigatória em Portugal é o 9.º ano de
escolaridade [com os anos de ensino pré-escolar recomendados mas ainda
opcionais], mas aqui referimo-nos ao período de escolaridade desde o pré-
-escolar até ao ingresso numa escola técnico-profissional, ensino superior
ou outras formações específicas.
240
Lei de Bases do Sistema Educativo: Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro.
241
A nova Constituição da República Portuguesa entrou em vigor em 1976
[ após o período revolucionário iniciado a 25 de Abril de 1974] .
A Constituição a que nos referimos é a revista em 2004.
242
Valor médio [do pré-escolar ao final da escolaridade - 12.º ano].
Da Educação Ambiental
243
A Escola pretende a promoção de aprendizagens que levem ao conheci-
mento e à compreensão da realidade, para que os indivíduos desenvolvam
sentido crítico em relação ao mundo que os rodeia.
244
Projecto Curricular de Escola: É a adequação do currículo nacional ao con-
texto de cada estabelecimento de ensino. A responsabilidade é da Direcção
da Escola, do Conselho Directivo ou Executivo, ou de estrutura local respon-
sável pela gestão da escola.
281
Projecto Curricular de Turma245, as escolas podem optar por
desenvolver áreas vocacionadas para a valorização da Edu-
cação para a Cidadania. No primeiro e segundo ciclos de es-
colaridade, o projecto da escola pode passar por temas tão
abrangentes como: Higiene, Alimentação, Reciclagem de Resí-
duos, Água, Energias, Estações do Ano, Hortas Pedagógicas,
entre outros. Qualquer um destes temas permite um traba-
lho de exploração junto dos alunos, e de acordo com as suas
capacidades e potencialidades, de forma isolada ou inte-
grado nas próprias aprendizagens do “ler, escrever e contar”246.
Já no 3.º ciclo e no ensino secundário, a organização e fun-
cionamento das escolas é diferente. Os tempos lectivos podem
divergir e ser priorizados de diferente forma, entre discipli-
nas como a Formação Cívica e a Área Projecto; os Clubes
de Ambiente, a Aprendizagem Intercultural [Jornalistas,
Rádio, Investigadores]; para além das conhecidas visitas
de estudo e o estudo acompanhado. Em todas estas áreas,
a educação para a cidadania pode [e deve] acontecer, tendo
aqui a educação ambiental um lugar privilegiado. Sabendo-
-se que, frequentemente, os problemas ambientais resultam
da incúria da acção humana, é necessário preparar os indi-
víduos [e sobretudo, as crianças e os jovens] para agir
a favor de um desenvolvimento sustentável, quando iniciarem
o período de vida activa.
A concretização de acções e actividades educativas de edu-
cação ambiental ou educação para a cidadania depende
da iniciativa do docente - em regime de mono-docência,
como acontece no 1.º ciclo de escolaridade, ou em colabo-
ração com o Conselho de Turma, como é o caso dos 2.º
e 3.º ciclos e ensino secundário. Exceptuam-se as situações
em que são planificadas disciplinas específicas, onde o pro-
fessor responsável pela cadeira será o principal agente
- como no caso da Formação Cívica.
245
Projecto Curricular de Turma: Trata-se do Projecto Curricular da Escola,
especificado ao nível de uma turma particular. A responsabilidade deste
projecto é do/a professor/a titular da turma, em colaboração com a
direcção da escola ou conselho de docentes ou de turma, ou, no caso do
Da Educação Ambiental
Jogo “Missão
Ambiente”:
§ actividade de grupo.
247
N.º 2, art..º 47.º, Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro.
283
informação ambiental integrada nas disciplinas [por exem-
plo: nas ciências naturais e na Área-Escola]. Todavia, continua
a ser necessário um maior investimento na formação dos
processos de participação cívica, regras de jogo democrático,
dos direitos e deveres, desde a comunidade escolar, à Autar-
quia, à escala nacional e outras.
Dependendo da maior ou menor sensibilidade relativa-
mente às questões ambientais, haverá uma diferenciação
de investimento nas acções educativas transversais que
versem sobre matérias ambientais, já que não há a nível
nacional, o estabelecimento de objectivos específicos a cum-
prir, por determinados períodos de tempo - tal como acon-
tece, por exemplo, com os manuais escolares. Face a esta
realidade, professores e formadores de educação para a cida-
dania, de formação pessoal e social e mesmo de educação
ambiental, muitas vezes optam por contextualizar apenas
localmente a sua intervenção, perdendo-se aqui e ali a noção
do impacto que o conjunto destas acções isoladas pode ter.
Deste modo uma Estratégia Nacional de Educação Ambiental
carece da definição por anos lectivos, segundo níveis de
ensino, o que constituirá uma mais-valia a considerar num
futuro próximo.
Recorrendo aos recursos existentes, os professores e as escolas
podem, todavia248:
a] Desenvolver sessões de sensibilização para grupos de
P
248
Ver exemplos de actividades já desenvolvidas no anexo 5.
284
c] Dinamizar projectos específicos com a colaboração
P
intercâmbios escolares;
g] Elaborar e distribuir materiais de informação com
P
249
De que são exemplos o estudo das alterações climáticas, movimento
dos glaciares, forças eólicas, movimentos tectónicos, sismologia, estudos
sobre o desenvolvimento das diversas espécies de animais e plantas, força
das marés, poluição atmosférica, poluição dos recursos hídricos, ruído, etc.
286
Formação
para técnicos
de Gabinete
de instituições
com actividade junto
§ das comunidades locais.
3.4.1.5 A Família
A família é o primeiro agente educativo de qualquer
indivíduo, por isso, faz sentido não esquecer este “micro-
sistema” que tanta influência tem na educação e desen-
volvimento das crianças e dos jovens. Independentemente
do seu tipo de organização ou estrutura, mais restrita
ou mais alargada, mais ou menos convencional, influência
e é influenciável pelos seus elementos mais novos.
Se podemos “levar” a educação ambiental até cada família,
através das crianças e dos jovens com quem trabalhamos,
também devemos promover a sua participação enquanto
Da Educação Ambiental
250
Importa aqui ressaltar o aumento de projectos para pais em todo o país
através das “Escolas de Pais”.
251
Alguns exemplos são: os Museus; o Oceanário - em Lisboa; O Jardim
Zoológico - Lisboa; as Quintas Pedagógicas - um pouco espalhadas por
Da Educação Ambiental
289
Os problemas ambientais e a consciência ecológica
180
IV A História da Higiene e Limpeza Urbana em Lisboa
P
CAPIT
31
Os problemas ambientais e a consciência ecológica
292
1. Até ao Terramoto de 1755
253
Até ao Terramoto de 1755
293
o rei de então, D. Fernando, mandou construir uma segunda
muralha, à frente da primeira, do lado do rio, e que
devidamente prolongada envolvia toda a cidade […].
Com o decorrer dos anos foi-se procedendo ao aterro
da praia até que D. Manuel [séc. XVI] mandou aplanar
a parte central e fazer daí um terreiro onde se instalou
um mercado, em melhores condições, não só do peixe
como de tudo o mais.
Nesse tempo o palácio real, que já vinha dos antigos reis,
ficava situado no cume da colina onde hoje se encontra
o Castelo de São Jorge [reconstruído] e daí D. Manuel
descia, frequentemente, até ao terreiro para ver trabalhar
os carpinteiros das naus […] no sítio denominado RIBEIRA
DAS NAUS.
[…] o rei mandou construir um palácio, ali mesmo,
na zona ribeirinha.
[…] Não se passou muito tempo sem que o rei sentisse
a exiguidade das instalações, não só pela consciência
da grandeza pessoal que ia adquirindo com a expansão
dos descobrimentos, como pela intensificação do comércio
com a Índia […].
Foi a partir da construção do paço que o terreiro da ribeira
passou a ser conhecido por TERREIRO DO PAÇO […].
Pela sua vastidão era aí que se efectuavam as corridas
de touros e que desfilavam as intermináveis procissões
do Santo Ofício […].
Em 1609, durante a ocupação castelhana, Filipe II [em Por-
tugal] mandou fazer obras no paço da Ribeira […].
O aspecto do conjunto melhorou muito, mas o açougue
que distribuía a carne para toda a Lisboa, continuava
a funcionar no Terreiro do Paço, e era também aí que
se iam lançar as imundícies da cidade.
D. João IV, após a Restauração, proibiu tais desacatos,
mandou limpar o terreiro e pôs-lhe ao centro um chafariz
de quatro bicas, encimado por um Apolo […].
Foi nessa época, e nesse local, que se iniciou a revolução
Até ao Terramoto de 1755
257
GRAÇA, Luís. Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Prati-
cantes da Arte Médica nos Provérbios em Língua Portuguesa. 2000.
Fonte: http://www.ensp.unl.pt - [Setembro 2005].
258
À data da conquista da cidade, Lisboa tinha 15 000 habitantes
Até ao Terramoto de 1755
259
Crise de 1383-1385 que veio culminar na proclamação de D. João I dando
início à dinastia de Aviz.
260
Até ao Terramoto de 1755
265
Que coincide com o período que vai de D. João I a D. João II, durante
o qual se inicia o expansionismo português, primeiro para África
e depois através da Descoberta de novas Terras.
266
1481-1495.
Até ao Terramoto de 1755
267
Ibidem.
268
Nas palavras de Ricardo Jorge citado por GRAÇA, Luís. Representações
Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica
nos Provérbios em Língua Portuguesa. 2000.
Fonte: http://www.ensp.unl.pt [Setembro 2005].
269
Demografia. In: SERRÃO, Joel. Dicionário de História de Portugal. Porto,
Livraria Figueirinhas, 1979, Tomo II, p. 281-286.
297
fixando o “logar onde se deveriam lançar os estercos” ora
obrigando todos, sem excepção, a contribuir para a limpeza
e higiene da cidade.
Contrariamente à prática generalizada de enterramento
da época, este monarca também determinou, para sanear
a cidade, a abertura de dois poços para colocar os cadáveres
da colónia negra existente em Lisboa271, que até então
[1515] eram lançados no monturo de Santa Catarina, na
praia de Santos ou atirados para herdades dos arredores272.
Apesar das preocupações dos reis, segundo dados de 1552,
o número de “homês que andã cõ suas carretas pela cidade,
allimpando da lama e as mais sugidades” não passara ainda
de quatro.
No reinado de D. Sebastião273 - que considerava a limpeza
como “cousa principal” e importante - foi emitido um
Alvará determinando que “homes com carretões, e bestas
na parte em que os carretões não poderem servir, limpem
as imundices e as levem aos lugares para isso deputados,
à custa dos moradores das ditas ruas, travessas e becos”.
Esta determinação isentava do pagamento da contribuição
os “visitados pelas Misericórdias e outras semelhantes”.
Como forma de melhorar quer a execução e fiscalização
da limpeza quer a gestão deste serviço, aumentou em
dois o número de almoçatéis da limpeza, que ficaram
a perfazer o número de seis, e repartiu a Cidade em seis
bairros274.
Pestes sucessivas assolaram o final dos anos de Mil e Qui-
nhentos [1580, 1598 e 1599]275. Em 1607, o Senado deter-
minou que as intervenções da limpeza se fizessem por conta
do “real da água”276 e que, em todos os bairros, se utili-
270
1494-1521.
271
O Poço dos Mouros e o Poço dos Negros. O topónimo de “Poço dos
Negros” existente ao fundo da Calçada do Combros [MARQUES, António.
Os negros na Lisboa quinhentista. In: Jornal de Artes e Letras. Fonte:
http://www.eomais.cjb.net [Setembro 2005] e GRAÇA, Luís. Representações
Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica nos Provér-
Até ao Terramoto de 1755
276
O real da água surgiu no tempo de D. João em substituição da anú-
duva que no tempo se dirigia à edificação. “O real de água atravessou
diversas fases, tanto no valor das taxas cobradas, como na sua apli-
cação. Às câmaras competiam sempre os encargos da cobrança e da
administração, mas o produto do imposto revertia, no todo ou em
parte, em benefício da coroa” [SERRÃO, Joel. “Dicionário da História
de Portugal.” Porto, Livraria Figueirinhas, Tomo 1, 1979, p. 238].
277
OLIVEIRA, Eduardo Freire de. Elementos para a História do Município
Até ao Terramoto de 1755
281
“Em 1702 adicionou-se mais um real no vinho e outro na carne, mas
com a condição, imposta por D. Pedro II [1683-1706], em 10 de Julho
daquele ano, de que o novo tributo se aplicaria exclusivamente à
limpeza da cidade e à reparação dos caminhos públicos e calçadas
extramuros. Recebeu este novo imposto o nome de realete ou realete
da limpeza”. In: SERRÃO, Joel. Dicionário da História de Portugal. Porto,
Livraria Figueirinhas, Tomo 1, 1979, p. 238.
De 1755 ao final do Século XIX
282
OLIVEIRA, Eduardo Freire de. Elementos para a História do Município
de Lisboa. Lisboa, Tipografia Universal, 1898.
283
FRANÇA, José Augusto. Lisboa Pombalina e o Iluminismo. Lisboa, 2.ª ed.,
Bertrand, 1977, p. 296; FRANÇA, José Augusto; Lisboa Oitocentista. Lisboa,
Academia Nacional de Belas-Artes/Fundação Calouste Gulbenkian
[exposição documental] - [Citado por FERREIRA, Vítor Matias. A cidade
de Lisboa: de capital do império a centro da metrópole. Lisboa, Dom
Quixote, 1987, p. 75].
300
[…]. Só no ocaso Rosa Araújo esboçou idealisticamente
um novo destino urbano de que Ressano Garcia tirou
consequências, na charneira materialista dos dois séculos”.
Sob o traço de Eugénio dos Santos e Carlos Mardel, a nova
Lisboa foi reconstruída com a orientação da racionalidade
iluminista da época, conferindo à cidade uma estrutura
orientada pela funcionalidade, onde a par de áreas de habi-
tação e mercantis se evidencia as da gestão político-admi-
nistrativa - o Terreiro de Paço - e a convivial - o Passeio
Público.
“… o Passeio Público foi, no dizer de Júlio Castilho, um
dos filhos dilectos do Marquês de Pombal; um dos instru-
mentos mais eficazes que teve o grande pensador para
amalgamar as classes”284.
E ao mesmo tempo que reconstruía a cidade, o Marquês
de Pombal decidiu concentrar a limpeza, a iluminação e a
guarda a cavalo da cidade, numa única instituição, a In-
tendência de Polícia, atribuindo as despesas aos habitantes
de Lisboa - “segundo o aluguel que pagarão” as lojas
e casas de pasto, as estalagens e os estrangeiros que de
novo entram na cidade285.
Por Decreto de 20 de Maio de 1780 foram transferidas,
também, para a Intendência Geral da Polícia, a adminis-
tração e arrecadação dos reais e realete da carne. Este
produto era aplicado às despesas de reedificação e con-
serto de pontes, bem como às calçadas, fontes e limpeza
da cidade. Ficou assim a administração do concelho sem
estes serviços e rendimentos286.
Em 1823, por Carta de Lei de 7 de Abril, o serviço da
limpeza da cidade passou a ser, conjuntamente com a ilu-
minação, uma competência do Município de Lisboa. Para
tal, pagava o Governo, a dotação anual de oitenta e quatro
contos de réis: sessenta contos para a iluminação e vinte
e quatro para a limpeza287.
De 1755 ao final do Século XIX
284
DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida. Lisboa, Quimera Editores,
7.ª ed., Vol. I, 1991, p. 51.
285
Idem.
286
SERRÃO, Joel. Dicionário de História de Portugal. Porto, Livraria Figueirinhas,
omo 1, 1979.
287
Idem.
301
Sabemos que em 1835, de acordo com Lisboa Antiga
de Júlio de Castilho, a remoção do lixo era efectuada
“... por meio de carroças numeradas e puxadas a muares,
que através do toque da campainha anunciavam aos mora-
dores a passagem dos carretões”.
Carroça
“Carro de recolha
de lixo puxado por
boi” [In: Costume of
Portugal - Henri L'
Êveque, 1806(?)
mencionado por
Nuno Madureira.
In: Luxo e Distinção,
ed. Fragmentos]. §
O Pelouro da Limpeza.
1855.
Autor: D. Fernando II. §
de 983 cv288.
A política de transportes da Regeneração289 [caminhos
de ferro e estradas] liga o país e abre-o ao exterior.
288
Ibidem, Regeneração.
289
Inicia-se em 1850.
302
Lisboa cresce e acompanha este movimento. Entre 1852
e 1857290 é construída a Estrada da Circunvalação, o que
constitui um facto política e administrativamente signi-
ficativo “abstraindo as cercas medievais construídas para
fins defensivos da Cidade” e que “pela primeira vez, foi
o Município de Lisboa demarcado por uma linha de limites,
contínua e nitidamente definida”, atingindo uma área
de 1278 hectares291. À iluminação pública a azeite do tempo
de Pina Manique292 sucede a de óleo de purgueira [1842],
rapidamente substituída pela do gás [1848]. No final
do século [1880] surgiu a luz eléctrica, sendo que os últimos
candeeiros a gás do centro de Lisboa se apagaram perto
do Campo de Santana, já nos anos de 50 do século XX293.
O transporte público vulgarizou-se294 e a tracção animal é
sucessivamente substituída pela tracção a vapor [1867],
pelo carro eléctrico [1873] e no século XX pela motorização.
A abertura da Avenida da Liberdade - por que tanto se
bateu o Vereador e depois Presidente da Câmara Rosa Araújo
- e da Av.ª 24 de Julho, ajudam a expandir os horizontes
da cidade.
290
Incluía as áreas de Alcântara, Prazeres, Campolide, São Sebastião da
Pedreira, Arco Cego, Arroios, Penha de França, Cruz da Pedra e Santa
Apolónia e, numa outra área, a estrada militar da Ameixoeira, Lumiar,
Sete Rios e Chelas.
291
Vieira da Silva. Os Limites de Lisboa: Dispersos. vol. I, p. 61. Citado
por: FERREIRA, Vítor Matias. A Cidade de Lisboa. Lisboa, Publicações
Dom Quixote, 1987, p. 80.
292
1780.
293
DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida. Lisboa, Quimera, vol. 4,
1994, p. 151.
294
Em 1837 é fundada a Companhia dos Transportes Públicos de Lisboa.
303
“Nesse tempo295, a praia de Lisboa estendia-se desde
Xabregas até Belém. O aspecto da área que englobava
Alcântara e a Ribeira Nova não era famoso: estava coberta
de toldos e barracões, servia de vazadouro e, em vez
de areia, ensopava-se em lama”296.
À organização da limpeza de Pina Manique sucede a do
Município de Lisboa, em meados do século XIX, sendo
assegurada por um grupo de serventuários [varredores
e carroceiros]. Percorrendo a cidade de lés-a-lés competia-
-lhes varrer as ruas durante a noite e retirar tanto os lixos
das habitações como o estrume das cavalariças, condu-
zindo o lixo recolhido na cidade até ao Vazadouro. Assen-
tando na força humana e animal, a limpeza da cidade
estava organizada em sete distritos, cabendo a cada um
quatro giros.
Regulamento da
Administração da
Limpeza do Município
de Lisboa, aprovado
em Dezembro 1855,
sendo a Edilidade
presidida por
Damasceno Monteiro. §
295
Meados do século XIX.
296
DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida. Lisboa, Quimera, vol. 3, 1992,
p. 121.
297
Por sua vez, o arrematante contratava, particularmente, diversos indi-
víduos que, sob as suas ordens, executavam a limpeza da cidade.
298
DIAS, Marina Tavares. Lisboa Desaparecida. Lisboa, Quimera, vol. 3, 1992,
p. 127.APIT
304
Todavia, e segundo os registos da Exposição “O Povo de
Lisboa”299, no final do século XIX “Lisboa era ainda uma
cidade suja, desordenada e malcheirosa. Encantava pela sua
beleza e pitoresco, mas decepcionava pelo aspecto caótico
das suas ruas e o atraso em que vivia a população.
As ruas estreitas e tortuosas dos bairros populares para onde
se lançavam detritos de toda a espécie, formando autên-
ticas lixeiras, apresentavam-se esburacadas, com poças de
água suja ...”.
299
Exposição promovida pelo Município de Lisboa, em 1978.
300
FERREIRA, Vítor Matias. A Cidade de Lisboa: de Capital do Império
a Centro da Metrópole. Lisboa, Dom Quixote, 1987, p. 85.
301
BARROS, M.ª Armanda. O desenvolvimento de Lisboa 1890 a 1940.
In: Revista Municipal, n.º 71, p. 26-31. Citado por: FERREIRA, Vítor
Matias. A Cidade de Lisboa: de Capital do Império a Centro da
Metrópole. Lisboa, Dom Quixote, 1987, p. 86.
305
Fotografia aérea
da Avenida dos Estados
Unidos da América
e arredores [Alvalade],
1950-1959. Autor: Mário
de Oliveira. AFL §
302
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa entre 1938 e 1943, a par
da orientação do Ministério das Obras Públicas.
303
A Avenida de Ceuta em Alcântara e a Marginal e a auto-estrada para
o Estoril, vias de acesso à zona do Estoril.
As Fases de uma Nova Modernidade
304
Do Sítio de Alvalade, da Encosta da Ajuda, da Encosta de Palhavã
e da Estrada de Benfica e Circunvalação.
305
De que a Cidade Universitária e o Instituto Superior Técnico são
exemplo.
306
De acordo com a Lei n.º 10/2003, de 13 de Maio, actualmente a Área
Metro-politana de Lisboa abrange os seguintes concelhos: Alcochete,
Almada, Amadora, Azambuja, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita,
Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra e Vila
Franca de Xira. Para mais informação consultar: http://www.aml.pt
[Setembro 2005].1 CCAPIT
306
Construção
da Ponte sobre o Tejo,
§ na década de 60,
do séc. XX.
assume-se como pólo de concentração de serviços, o que,
a par da diminuição da população residente e do aumento
da dos concelhos limítrofes, justifica um elevado número
de deslocações diárias.
Sob o ponto de vista urbanístico assinalam-se alguns ele-
mentos que podem ajudar a compreender a organização
da higiene e limpeza urbana de Lisboa neste final de século:
P A densificação da malha urbana, pela criação de novas
áreas residenciais [Lumiar, Charneca, Ameixoeira, Olivais, etc.];
P A renovação urbanística da zona oriental da cidade
motivada pela Exposição Mundial dos Oceanos em 1998;
P A premência da renovação urbana dos núcleos históricos
da Cidade [Alfama, Chiado, Bairro Alto, Madragoa, etc.];
P A construção de novas áreas de habitação social, que per-
mitiu a demolição das construções degradadas instaladas
nos terrenos expectantes pertença da Edilidade.
307
Ver capítulo I e anexo A2.
307
3.2.1. Até ao PPLL308
No início do século XX [1907], a Câmara Municipal de
Lisboa chamou a si, de novo, a organização da limpeza
da cidade, integrando o pessoal que, até então, executava
essa tarefa.
Varredor
varrendo a rua
em finais do séc. XIX,
início do séc. XX. AFL §
Trabalhador da limpeza
a remover o lixo
depositado em caixas,
Rua dos Sapateiros
[início séc. XX]. AFL §
As fases de uma
Nova
308
Plano a Curto Prazo para o Lixo de Lisboa. 3
308
Nos arruamentos que permitiam a sua passagem, as car-
rinholas e carroças-pipa aliviavam o trabalho exclusivamente
manual. Os locais mais estreitos, eram limpos sem qualquer
meio auxiliar.
Por volta dos anos 20, e no sentido de verificar as soluções
encontradas para o problema dos lixos nas cidades, os res-
ponsáveis pela limpeza deslocaram-se a vários Países da
Europa Ocidental, donde resultou posteriormente a mecani-
zação da limpeza urbana. E foi assim que entraram em fun-
cionamento os primeiros veículos de remoção motorizados.
Em meados dos anos 30, os Serviços de Limpeza dispõem
de 30 veículos automóveis e 439 hipomóveis309 e em 1939
é adquirido o primeiro veículo automóvel adaptado à apa-
nha de canídeos. Os hipomóveis continuaram a ser utili-
zados até finais dos anos 50, tendo coexistido com os
primeiros veículos motorizados na remoção e lavagem
de ruas, durante quase duas décadas.
Nos anos da II Grande Guerra devido às restrições no
fornecimento de combustíveis e de todo o tipo de peças,
parte das viaturas motorizadas ficou imobilizada. Foi
necessário recorrer ao gasogénio para conseguir que funcio-
nassem alguns dos veículos, bem como reactivar os
hipomóveis que já não se encontravam em utilização plena.
Nesses tempos difíceis, alguns dos atrelados a tracção
mecânica foram transformados em hipomóveis. Por exemplo
um atrelado para recolha de lixo da marca Scammel -
de tapete rolante - foi adaptado à tracção animal, puxado
por três cavalos.
A varredura das ruas da cidade era efectuada por
varredores, com o apoio de carros em ferro, empurrados
pelas acidentadas colinas da cidade. No Pós-Guerra foi
adoptado um novo modelo de carro de cantoneiro que,
por ser dotado de rodados pneumáticos tornava este
equipamento muito mais leve e, consequentemente mais
ligeiro que os anteriores.
As Fases de uma Nova Modernidade
309
Veículo de tracção animal, com condutor. Em Lisboa estes veículos eram
utilizados para a recolha do lixo.
309
Cantoneiro na varredura
junto à Igreja
de São João da Praça,
fachada principal.
Autor: José Artur
Leitão Bárcia. AFL
Cantoneiro de limpeza,
1944 [Colecção
de Fardamentos].
Autor: António
Passaporte. AFL §
Balde. AFL §
Carros de Remoção
de Lixo, 1939. Autor:
António Passaporte. AFL §
310
Dando provimento à Postura de 15 de Agosto de 1939, aprovada durante
a presidência de Duarte Pacheco.
310
§
Veículo para Transporte
de Lixo. Belém. 1959. AFL
Com esta medida pretendia-se evitar que os lixos se
espalhassem pela rua, uma vez que contribuíam para a
propagação de doenças como a cólera, difteria e tétano.
No mesmo sentido, as autoridades impuseram outras normas
de higiene sancionando, por exemplo, cuspir no chão, sacudir
o tapete à janela e deixar o lixo ao abandono.
Paralelamente, as actividades comerciais que aconteciam
em plena rua, como a venda de peixe, legumes, pão, figos,
etc., passaram, também, a utilizar estes recipientes, o que
contribuiu para uma melhoria significativa do aspecto
e higiene das ruas de Lisboa.
Em 1959, os Serviços de Limpeza possuíam quatro estações
centrais de apoio à actividade dos Serviços de Salubridade
e a cidade estava dividida em 12 Postos de Limpeza.
Por esta altura, o número de funcionários a recolher o lixo,
varrer e lavar as ruas de Lisboa era já de, aproximada-
mente, 1430.
Em finais dos anos 60 foram adquiridos os primeiros veí-
culos de recolha de lixo do tipo rotativo e caixa de carga,
bem como a primeira viatura equipada com elevador de
As Fases de uma Nova Modernidade
contentores.
Em 1967 foram admitidas pela primeira vez auxiliares
da limpeza e guardas de sentinas do sexo feminino, que
vieram reforçar a mão-de-obra masculina. Em Dezembro de
1967 eram já 200 as mulheres afectas a estas actividades.
Em 8 de Agosto de 1966, deixou de actuar a última viatura
hipomóvel utilizada na recolha de lixo.
311
No início dos anos 70 fez-se um grande esforço de moder-
nização da frota de apoio à limpeza urbana, tendo sido
adquiridas viaturas de remoção com capacidades que
variavam entre os 6 e os 14 m3, as primeiras máquinas
de varrer de pequena dimensão e também viaturas para
desobstrução de colectores.
e papeleiras, de forma
a tornar Lisboa uma ci-
dade mais limpa. Ensinar
hábitos de higiene e sa-
lubridade era o objectivo Materiais de Sensibilização
prosseguido junto da po- §
para a população em geral
e público escolar.
pulação escolar311.
311
Ver anexo A4.31
313
3.2.3. O Destino dos Lixos da Cidade de Lisboa
Durante grande parte do séc. XX, mais precisamente até
meados da década de 60, os lixos produzidos na cidade
de Lisboa eram transportados para a Margem Sul do rio
Tejo, para serem aproveitados no melhoramento dos terre-
nos agrícolas, como fertilizantes. Os lixos eram levados
pelos veículos motorizados e hipomóveis até aos batelões
[ao serviço do arrematante] e faziam a travessia até um
ancoradouro na margem esquerda do rio.
Estação de Tratamento
§
de Resíduos Sólidos,
em Beirolas.
312
Toneladas por dia.1
313
Sociedade concessionária responsável pela gestão integrada dos resíduos
sólidos urbanos da Área Metropolitana de Lisboa Norte [ver: Capítulo I].
314
Destinada à incineração dos resíduos sólidos urbanos, iniciou a sua
actividade em 2000.
315
P CTE - Centro de Triagem e Ecocentro - Vale do Forno
[Lisboa]315;
P AS - Aterro Sanitário de Mato da Cruz [Vila Franca
de Xira]316;
P ITVE - Instalação de Tratamento e Valorização de Escórias
[Vila Franca de Xira]317;
P ETVO - Estação de Tratamento e Valorização Orgânica
[Amadora]318.
Recolha de Ecopontos. §
As Fases de uma Nova Modernidade
315
Unidades que permitem, respectivamente, a separação selectiva dos resí-
duos sólidos urbanos recolhidos nos 5 concelhos que integram a Valorsul
e a recepção de resíduos. A sua actividade iniciou-se em 2002.
316
Iniciou actividade em 1998.
317
Esta unidade recepciona e trata as escórias da CTRSU, tendo sido inau-
gurada em 2000.
318
Entrou em funcionamento em Fevereiro de 2005.
319
Ver anexos A1 e B2.
320
Ver capítulo I.
316
Entre 1988 e 1989, inicia-se em Lisboa a recolha selectiva
de vidro para reciclagem, através da colocação de vidrões
[do tipo “igloo”] na via pública. Em 1993, foi lançada
a primeira campanha para a reciclagem do papel, em
simultâneo com a abertura de 40 Centros de Recepção
de Papel. Deu-se início à recolha porta-a-porta de papel
na área de Telheiras e no eixo da Baixa Pombalina - com
enfoque na participação das empresas, serviços da CML
e Escolas, para além da população em geral.
Em 1997 são instalados ecopontos na cidade, atingindo-se
em 1999 um universo de 990 unidades. Entre 1997 e 2000
foram recolhidas para reciclagem 2516 toneladas de resí-
duos de embalagens de plástico, metal e cartão para
líquidos alimentares; 20 796 toneladas de vidro e 30 629
de papel/cartão.
Em 2003 iniciaram-se as recolhas selectivas porta-a-porta
em locais da cidade onde a morfologia urbana e o tipo
de edificado o permitiam, facto que contribuiu para o
aumento dos quantitativos de resíduos entregues para
reciclagem, a que esteve associada uma forte componente
de sensibilização.
321
Deliberação n.º 64/AM/98. In: Boletim Municipal, n.º 241, de 1 de Outubro
de 1998. Disponível para consulta no site da CML: http://www.cm-llisboa.pt
[Setembro 2005].
322
A acção do Gabinete de Fiscalização foi reconhecida como exemplar,
tendo-lhe sido atribuído o Prémio Nacional de Excelência Autárquica 1999.
318
Materiais de campanhas
de divulgação [cartazes,
§
agenda e folhetos],
1998-2005.
323
Ver anexo A5.
324
Este Gabinete foi reconhecido como entidade com Boas Práticas de Mo-
dernização Administrativa Autárquica, em 2003, 2004 e 2005.
325
Ver capítulo 3.
319
Materiais Didácticos:
programa Lisboa Limpa
Tem Outra Pinta,
1997-1998.
programa Escola a Escola,
Pró-Ambiente,
2002-2003. §
326
Iniciado no ano lectivo de 1993-1994, dirigida ao 1.º ciclo e alargado
aos Jardins de Infância em 1998-1999. [Ver anexo A5].
327
Iniciou-se no ano lectivo de 1997-98, tendo como público alvo priori-
tário as escolas dos 2.º e 3.º ciclos do ensino oficial, apoiando igual-
mente iniciativas de estabelecimentos oficiais e particulares de ensino
secundário e técnico-profissional. [Ver anexo A5].
328
Ver anexo B3 - Actividades Lúdico-Didácticas: animação com grupos;
anexo B4 - Actividades Lúdico-Didácticas: visitas de estudo; anexo B5 -
Actividades Lúdico-Didácticas: ateliers de reutilização de materiais.
320
Programa Escola a Escola,
Pró-Ambiente:
Visita de estudo
§
à Estação de Triagem
da Valorsul.
Trabalho nas
comunidades locais:
actividade
de animação,
§ Ambiente sem Fronteiras.
329
Ver Anexo A5.
330
Idem.
321
Sensibilização Sanitária e Ambiental
322
Bibliografia
327
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