Você está na página 1de 180

CONTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Janaína Gabrielle M. C.

da Cunha Amarante / Karla Regina Santos Ribeiro

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6377-2
Código Logístico
Contabilidade Socioambiental

Janaína Gabrielle M. C. da Cunha Amarante


Karla Regina Santos Ribeiro

IESDE BRASIL S/A


2018
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das
autoras e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A51c
Amarante, Janaína Gabrielle M. C. da Cunha
2. ed.
Contabilidade socioambiental / Janaína Gabrielle M. C. da
Cunha Amarante, Karla Regina Santos Ribeiro. - 2. ed. - Curi-
tiba [PR] : IESDE Brasil, 2018.
176 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6377-2

1. Auditoria ambiental. 2. Contabilidade. I. Ribeiro, Karla


Regina Santos. II. Título.
CDD: 657.4
17-46694
CDU: 657.6

Capa: IESDE BRASIL S/A.


Imagem da capa: avian/Shutterstock

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Apresentação

Atualmente, os assuntos mais discutidos no âmbito corporativo


perpassam, inevitavelmente, por uma busca de profissionais preparados
para o dinamismo mercadológico, pelo domínio da gestão patrimonial,
pela alocação dos recursos e pela operacionalização das atividades orga-
nizacionais, de forma sistêmica e integrada, com foco na efetiva respon-
sabilidade socioambiental. Tal interesse é decorrente das preocupações
relativas aos impactos ambientais gerados pelas atividades empresariais,
à redução dos recursos naturais disponíveis e ao crescimento progressi-
vo populacional. Além disso, emerge a responsabilidade da condução e
da avaliação patrimonial, a gestão de registro, a contabilização e a trans-
parência ligadas aos eventos socioambientais, bem como as necessárias
ações para redução ou eliminação dos impactos gerados pelo sistema
produtivo empresarial.

Sob essa perspectiva, com o perfil direcionado para a gestão contábil


baseada nas preocupações socioambientais, esta obra apresenta a conta-
bilidade ambiental, vertente da contabilidade, visando à atuação profis-
sional contábil de maneira mais ampla, com o aprimoramento dos pro-
cedimentos contábeis que atendem às exigências das normativas legais
ambientais, às necessidades, às expectativas e aos anseios da sociedade e,
concomitantemente, fazendo parte das estratégias organizacionais.

Contabilidade socioambiental, obra de cunho didático-acadêmico,


aborda a importante integração entre a gestão do patrimônio, o meio
ambiente e as exigências relacionadas ao tema, revelando a missão da
contabilidade ambiental ao evidenciar, de forma clara, o desempenho so-
cioambiental atrelado aos procedimentos contábeis, como um mecanis-
mo propulsor da transparência às partes interessadas.

Com uma leitura facilmente compreensível, esta obra apresenta uma


estrutura lógica sequencial para o entendimento da temática, compreen-
dendo desde o início das noções gerais de meio ambiente e contabilidade
ambiental até os aspectos relativos a registros, legislações, auditorias e
tributações da área.

Boa leitura!
Sobre as autoras

Karla Regina Santos Ribeiro

Mestranda em Direito pela Uninter. Especialista em Gestão Pública


pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Pós-graduada
em Direito Ambiental pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Graduada em Direito pela Faculdade Dom Bosco, em Curitiba. Graduada
em Tecnologia em Gestão Pública pelo Instituto Federal Tecnológico do
Paraná (IFPR). Professora no ensino superior e autora de livros nas áreas
de Ciências Sociais, Direito e Gestão.

Janaína Gabrielle M. C. Da Cunha Amarante

Doutoranda e mestre em Administração pela Pontifícia Universidade


Católica do Paraná (PUCPR), pós-graduada em Administração e
Sustentabilidade pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar), ba-
charel em Administração com habilitação em Gestão Portuária e em
Ciências Contábeis pela Unespar. É docente de cursos de graduação pre-
senciais e a distância, cursos de pós-graduação lato sensu presenciais,
além de membro do corpo editorial da Revista Livre de Sustentabilidade
e Empreendedorismo (Relise) e avaliadora de periódicos e de congressos
de expressão nacional, como o EnANPAD. Atuou como consultora em
implementação de programas de qualidade, normatização e mapeamen-
to de processos. Possui experiência profissional corporativa, tendo atua-
do nas áreas de administração, controladoria (governança corporativa,
compliance, riscos patrimoniais e controle de ações tributárias), gestão am-
biental, gestão da qualidade e gestão de terceiros.
Sumário

1 Noções gerais de meio ambiente 9


1.1 O meio ambiente 10
1.2 Princípios ambientais 13
1.3 Dano ou impacto ambiental 18

2 Introdução à contabilidade ambiental 25


2.1 Conceito e finalidade da contabilidade ambiental 26
2.2 Sistema de Gestão Ambiental 33

3 Patrimônio ambiental 41
3.1 Ativo e passivo ambientais 42
3.2 Patrimônio Líquido (PL) 46
3.3 Custos, despesas, perdas e receitas ambientais 49

4 Fatos ambientais 57
4.1 Fatos ambientais 58
4.2 Plano de contas ambientais 61
4.3 Lançamentos contábeis de eventos ambientais 64

5 EIA/RIMA 73
5.1 Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA 74
5.2 Relatório de Impacto Ambiental – RIMA 78
5.3 Responsabilidade pela elaboração do EIA/RIMA 80

6 Contabilidade Socioambiental
Sumário

6 Balanço Social 91
6.1 Demonstração do Valor Adicionado (DVA) 92
6.2 Balanço Social 95
6.3 Case de Balanço Social 99

7 Auditoria ambiental 111


7.1 Normas ambientais brasileiras 112
7.2 ISO 14001 e gestão de resíduos 114
7.3 Proteção do meio ambiental x progresso a todo custo 119

8 Responsabilidade ambiental 129


8.1 Responsabilidade socioambiental: a evolução histórica 130
8.2 Normas de responsabilidade social corporativa 133
8.3 Responsabilidade socioambiental 136

9 Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental 149


9.1 Instrumentos econômicos e financeiros para conservação ambiental no Brasil 150
9.2 Correlação entre os sistemas econômicos e as dimensões de direitos fundamentais 151
9.3 O meio ambiente e sua vinculação jurídica aos sistemas econômicos 153

10 Aspectos tributários ambientais 161


10.1 A relevância da contabilidade ambiental no Brasil 162
10.2 O tributo ambiental 166
10.3 A tributação ambiental como instrumento de defesa do meio ambiente 168

Contabilidade Socioambiental 7
1
Noções gerais de
meio ambiente

Introdução

Neste primeiro capítulo são apresentadas as definições conceituais de meio


ambiente e seus fundamentos introdutórios e basilares, sob a perspectiva histórica,
assim como as legislações e implicações relacionadas.

Os conhecimentos destacados neste capítulo são importantes para desenvolver o


entendimento do que é meio ambiente, buscando-se o aprimoramento das habilidades
e das ações relativas à gestão dos recursos naturais.

Contabilidade Socioambiental 9
1 Noções gerais de meio ambiente

1.1 O meio ambiente


Vídeo
Os estímulos aos debates sobre questões ambientais já avançaram mais
de um século. Sobretudo as últimas décadas foram marcadas por discussões
mais resolutas e consistentes, em virtude das preocupações com o cresci-
mento progressivo populacional e o sistema capitalista de produção.
Em 1987, a população mundial consistia em 5 bilhões de pessoas; em
1999, 6 bilhões; e, atualmente, a população é estimada em mais de 7 bilhões de indivíduos
(ONU BRASIL, 2017), o que tem como consequência natural o aumento do consumo e o
necessário atendimento às demandas sociais.
Desde os primórdios da civilização, os seres humanos utilizam os recursos naturais
para sobrevivência. Contudo, a partir do período da Revolução Industrial (séculos XVIII
e XIX), esses recursos passaram a ser explorados de maneira exaustiva, em decorrência do
aumento da oferta de produtos. Isso se deu devido à adoção de sistemas mecanizados de
produção e à utilização do vapor como força motriz de engenhos e equipamentos. O sistema
de produção decorrente da Revolução Industrial configurou-se como crescente e desenfrea-
do e, consequentemente, as indústrias passaram a se apropriar dos recursos naturais em um
ritmo frenético, mais rápido do que o meio ambiente era capaz de recompor.
De acordo com Vanalle e Santos (2014), o consumo descontrolado dos recursos natu-
rais e a geração de resíduos e emissões atmosféricas, originados a partir do século XVIII,
desencadearam sérios desequilíbrios ambientais, intensificados em épocas posteriores. A
trajetória da transição da Revolução Industrial para a revolução tecnológica destacou a rele-
vância da energia elétrica, uma vez que todo desenvolvimento está atrelado ao crescimento
da demanda da energia elétrica, bem como dos demais recursos naturais.
Naquele período após a Revolução Industrial, os recursos da natureza eram consi-
derados, erroneamente, inesgotáveis, e sua exploração desenfreada desencadeou o início
dos problemas ambientais que são vivenciados até hoje, no século XXI. Segundo Martins
e Ribeiro (1995), o pensamento empresarial no período do desenvolvimento tecnológico e
econômico pós-Revolução Industrial baseava-se na gratuidade dos recursos, não se dando
importância ao fato de estes serem renováveis ou não. Nessa época não havia a consciência
de que um dia tais recursos poderiam ser escassos, acarretando problemas futuros, e só se
pensava na utilização de recursos naturais em grandes proporções.
A crescente degradação ambiental resultou em consideráveis impactos, os quais se ma-
terializaram em alterações na natureza, como enchentes, falta d’água e outras inúmeras ca-
lamidades derivadas do denominado efeito estufa. Barsano, Barbosa e Viana (2014) alegam
que o desenvolvimento tecnológico industrial, a busca descontrolada por riquezas naturais
e a ausência de um planejamento de recuperação ambiental consistem nas principais ori-
gens de um conjunto de repercussões negativas ao meio ambiente, como grandes catástrofes
naturais, poluição extrema e um aquecimento global como nunca vislumbrado.

10 Contabilidade Socioambiental
Noções gerais de meio ambiente 1
Diante da crise ambiental instaurada, muitas discussões são levantadas acerca do
tema no âmbito do Estado. A sociedade, em geral, passa a exigir maiores cuidados com
o meio ambiente, bem como novas formas de preservar sua estrutura. De acordo com
Kneipp et al. (2012, p. 53), “o desenvolvimento econômico e tecnológico trouxe reflexos
para a sociedade e para o meio ambiente, criando novas exigências e condicionantes
para a atividade industrial”.
Dessas discussões resultaram vários conceitos e dispositivos legais para tutelar1 os
recursos naturais nos diversos países do globo, cujo denominador comum se encontra
na ideia de um desenvolvimento sustentável, pautado no dever de manter equilibrado
o meio ambiente.
Com a inquietude universal no que se refere ao uso dos recursos naturais de forma
saudável e sustentável, a ONU – Organização das Nações Unidas –, em 1972, convocou, em
Estocolmo (Suécia), a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, na qual
definiu o meio ambiente como “conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e
sociais capazes de causar efeitos diretos e indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os
seres vivos e as atividades humanas” (SCHWANKE, 2013, p. 30). Desde então, existe um
movimento mundial para solucionar os problemas relacionados ao meio ambiente.
No Brasil, a Lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981) instituiu a Política Nacional do Meio
Ambiente (PNMA) brasileira, objetivando-se a proteção e a preservação de todos os tipos
de vida. Em seguida, no ano de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, o Estado
eleva o meio ambiente sadio à condição de direito de todos os cidadãos.
Segundo a Constituição, o meio ambiente é patrimônio de utilidade pública. Entre os
pontos que resultaram como fruto desse debate legislativo está o artigo 225, que expressa
diretrizes sobre a defesa ambiental e o patrimônio genético, destacando-se: a regularização
dos estudos de impactos do meio ambiente; o zoneamento ambiental; o esclarecimento do
poluidor-pagador; a base da precaução e prevenção como norma organizacional; o conceito
de meio ambiente e do desenvolvimento sustentável; e a elaboração de lei específica para os
crimes ambientais (BRASIL, 1988a).
Em 1992, o Brasil foi protagonista da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92), no Rio de Janeiro. Nesse encontro ocorreu a cons-
cientização dos representantes políticos das nações, bem como uma considerável sensibili-
zação de toda a sociedade. Também foram elaborados documentos oficiais, dentre os quais
se destaca a Agenda 21 (ONU, 1992), um programa de ação que promove um novo paradig-
ma de desenvolvimento ambiental, pautado pela ideia de proteção, justiça e eficiência.
Feita essa contextualização, cabe perguntarmos: O que efetivamente é meio ambiente?
A PNMA, em seu artigo 3°, inciso I, define o meio ambiente como “o conjunto de condi-
ções, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga
e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981).
1 Proteger, defender.

Contabilidade Socioambiental 11
1 Noções gerais de meio ambiente

Já o Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente (IBGE, 2004) o define


como: “conjunto dos agentes físicos, químicos, biológicos e dos fatores sociais susceptíveis
de exercerem um efeito direto ou mesmo indireto, imediato ou a longo prazo, sobre todos
os seres vivos, inclusive o homem” .
Por sua vez, Stein (2017, p. 14) afirma que meio ambiente é o “conjunto de unidades
ecológicas que funcionam como um sistema natural, o qual inclui vegetação, animais, mi-
cro-organismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem ocorrer em seus
limites. Meio ambiente também compreende recursos e fenômenos físicos, como ar, água e
clima, assim como energia, radiação, descarga elétrica e magnetismo”.
Quando o legislador promove leis com a finalidade de proteger o meio ambiente é por-
que o Estado quer salvaguardar o espaço que abriga todas as formas de vida. Esse espaço é
a consequência de uma interseção de elementos e recursos bióticos e abióticos, fundamen-
tais para a qualidade de vida. O artigo 3°, inciso V, da PNMA (BRASIL, 1981), define que
os recursos ambientais são: “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”.
Logo, a proteção do meio ambiente se estende à tutela de todo o meio biótico, que são os
seres vivos, e o meio abiótico – como o ar, a água, as rochas –, pois é dessa integração que
resulta a formação do meio ambiente.
Para compreensão da conceituação de bioma, biosfera e ecossistema, Stein (2017, p.16) ex-
plica que
quando há uma extensão de terra com condições bióticas e abióticas similares,
ou seja, as grandes paisagens homogêneas da Terra, tem-se um bioma, isto é, o
conjunto dos seres vivos de uma determinada área, além de ser entendido tam-
bém como o conjunto de ecossistemas terrestres. É na biosfera que se encontram
os biomas, associações relativamente homogêneas de plantas, animais e outros
seres vivos, com equilíbrio entre si e com o meio físico. (grifos nossos)
Um exemplo é a Floresta Amazônica, a qual se constitui um bioma com inúmeros e
diferentes ecossistemas.
Outra questão importante revela-se quando pensamos sobre o que especificamente é
considerado um bem que deve ser tutelado pelo Direito. Para analisarmos tal ideia, é im-
portante voltarmos ao artigo 225 da Constituição de 1988, que diz: “Todos têm direito a um
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Com base nesse dispositivo constitucio-
nal, pode-se verificar que o meio ambiente é um bem protegido pelo direito pátrio.
Para assegurar a efetividade desse direito de todos, cabe ao Poder Público:
I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

12 Contabilidade Socioambiental
Noções gerais de meio ambiente 1
III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus com-
ponentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão per-
mitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de im-
pacto ambiental, a que se dará publicidade;
V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, mé-
todos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida
e o meio ambiente;
VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscien-
tização pública para a preservação do meio ambiente;
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que colo-
quem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou sub-
metam os animais a crueldade.
(BRASIL, 1988)
Compete destacar que o meio ambiente não é estático e único. Existem várias formas
de ecossistemas que sustentam a manutenção de diversas formas de vida. Um dano, mesmo
que pequeno, pode gerar outros danos em vários ecossistemas, visto suas inter-relações.
O mesmo artigo 225 determina que: “§ 3° As condutas e atividades consideradas lesivas
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Nesse
contexto, é importante que seja identificado cada um dos elementos do meio ambiente e, por
consequência, tutelar cada um dos recursos ambientais e suas relações.
Essa análise dos componentes bióticos e abióticos que integram o meio ambiente confi-
gura-se como imprescindível, visto que a proteção não pode somente levar em consideração
os itens que foram alvo do dano, mas toda a repercussão no equilíbrio ecológico.

1.2 Princípios ambientais


Vídeo
Os princípios ambientais norteiam o entendimento dos dispositivos le-
gais que envolvem a proteção ao meio ambiente. De acordo com o Direito
Ambiental (RODRIGUES, 2016), alguns princípios devem ser analisados,
dentre os quais se destacam:
2 princípio da ubiquidade;
2 princípio da cooperação entre os povos;
2 princípio do desenvolvimento sustentável;
2 princípio da participação;
2 princípio da informação;
2 princípio da Educação Ambiental;

Contabilidade Socioambiental 13
1 Noções gerais de meio ambiente

2 princípio da prevenção;
2 princípio da precaução;
2 princípio da função socioambiental da propriedade;
2 princípio do poluidor-pagador;
2 princípio do usuário-pagador;
2 princípio da responsabilidade ambiental.

1.2.1 Princípio da ubiquidade


Esse princípio traz o entendimento de que o “bem ambiental” não pode ser visto como
algo isolado, com limitações ou mesmo com período determinado. Em suma, esse princípio
revela que a conservação do meio ambiente não pode ser estática, pautada apenas na geo-
grafia e no tempo do dano.

1.2.2 Princípio da cooperação entre os povos


Um item relevante da ubiquidade é o “princípio da cooperação dos povos”, cujo con-
teúdo declara que o meio ambiente não apresenta limitação geográfica. Assim, por conse-
quência, deve ocorrer a união entre os povos para a proteção e preservação do meio am-
biente. Nessa perspectiva, a criação de políticas com finalidade específica de cooperação
internacional focada na preservação do meio ambiente e de seu entorno promove suporte
para a efetividade dessa cooperação.

1.2.3 Princípio do desenvolvimento sustentável


O princípio do desenvolvimento sustentável está relacionado à ideia de que todo de-
senvolvimento econômico necessita de recursos naturais (de forma indireta ou direta) para
a produção de bens. Todavia, os recursos naturais são escassos e, em decorrência disso, a ex-
ploração dos bens naturais, sem nenhum controle, pode comprometer as gerações futuras.
Nesse contexto, o princípio do desenvolvimento sustentável baseia-se em três pilares
primordiais: 1) evitar a produção de bens em excesso e de bens nocivos ao meio ambiente;
2) conscientizar os consumidores quanto ao uso de bens nocivos ao meio ambiente; e 3) esti-
mular o uso de tecnologias não poluentes ou degradantes ao meio ambiente.
Resumidamente, esse princípio tem como finalidade a utilização racional dos recursos
ambientais, sem que haja comprometimento das gerações futuras quanto à satisfação das
suas necessidades.

1.2.4 Princípio da participação


Esse princípio refere-se à participação da sociedade na proteção do meio ambiente, o qual
está postulado no artigo 225 da Constituição de 1988, caput, impondo a toda a coletividade o

14 Contabilidade Socioambiental
Noções gerais de meio ambiente 1
“dever de defendê-lo e preservá-lo”. Tal premissa tomou força com a Declaração do Rio de
Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no ano de 1992, que traz no seu princípio
n. 10: “A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no nível
apropriado, de todos os cidadãos interessados [...]” (BIBLIOTECA..., 1992). Desse princípio,
derivam dois subprincípios: o da informação ambiental e o da educação ambiental.

1.2.5 Princípio da informação


O princípio da informação ambiental concebe que a participação da população nas po-
líticas públicas implica no amplo acesso da sociedade a todas as informações sobre meio
ambiente. Logo, a informação é um instrumento fundamental para a defesa e preservação
ambiental. A lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981) aponta para a necessidade de as empresas apre-
sentarem informações e relatórios sobre preservação ambiental, tais como: o Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA); o Selo Ruído; o Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a
ser divulgado anualmente pelo Ibama (art. 9°, X, da Lei n. 6.938/81); a obrigatoriedade de
publicação do pedido de licenciamento ambiental (art. 10°, § 1°) e de avisos publicitários dos
males causados à saúde por produtos, como, por exemplo, o cigarro.

1.2.6 Princípio da educação ambiental


Esse princípio relaciona-se à noção de que o Estado, conforme o artigo 225, § 1°, VI, da
Constituição, deve promover a educação ambiental, uma vez que isso viabiliza a consciência
ecológica populacional e, concomitantemente, busca uma nova postura da sociedade quan-
to ao uso dos recursos naturais.

1.2.7 Princípios da prevenção e da precaução


Com enfoque específico em evitar a ocorrência da degradação e prejuízos ambientais,
os princípios da prevenção e da precaução constituem a atuação antecipada, baseada em
medidas preventivas. O princípio da prevenção, um dos princípios seminais do Direito
Ambiental, é pautado na antecipação com foco no afastamento do dano, em sua destituição
ou que ele nem mesmo possa ser produzido (trabalha com o perigo concreto). O princípio da
precaução, por sua vez, atua na incerteza científica do prejuízo, isto é, na gestão dos riscos
ou impactos desconhecidos (perigo abstrato). Alguns instrumentos de precaução podem são
o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e o Licenciamento Ambiental, os quais serão detalha-
dos posteriormente neste livro.

1.2.8 Princípio da função socioambiental da propriedade


Este princípio evidencia a função social da propriedade, ou seja, mesmo que uma pro-
priedade seja privada, ela deve se constituir em fator de progresso e bem-estar de todos.
Nesse princípio, a legitimidade de entidade privada somente é garantida mediante o cum-
primento de sua função social.

Contabilidade Socioambiental 15
1 Noções gerais de meio ambiente

1.2.9 Princípios do poluidor-pagador e do usuário-pagador


Os princípios do poluidor-pagador e do usuário-pagador estão diretamente relacio-
nados à assunção das responsabilidades das custas pela reparação dos danos causados ao
meio ambiente, visto que os valores de produtos/mercadorias advindos dos recursos natu-
rais devem refletir os valores da manutenção e do recurso escasso.
Toda pessoa que se utilize do bem ambiental assume o dever de preservar o meio am-
biente e, por consequência, deve somar os ônus dessa proteção para a sociedade.
É importante destacar que o indivíduo que provoca prejuízos ao meio ambiente não
tem o direito de fazê-lo, nem mesmo mediante a reparação representada pelo pagamento
aos danos causados (não existe “permissão para poluir”). Esses princípios apresentam o ca-
ráter de proteção ao meio ambiente com a imposição da indenização ao ato danoso, e jamais
como uma liberação para poluição a partir de compensação pecuniária.
Na realidade, a preocupação com a prevenção será sempre mais eficaz do que o paga-
mento de valores caracterizados como punição (repressão). Por exemplo, a preservação de
determinada vegetação é muito mais eficaz do que valores destinados para ações e progra-
mas de restauração após eventual desmatamento.
Temos dois tipos de pagadores: o poluidor-pagador e o ­usuário-pagador. O primeiro
inclui, nos custos dos bens de consumo, os prejuízos com a degradação do meio ambiente e
divide com a sociedade as despesas (tem como preocupação a qualidade dos recursos am-
bientais). O segundo imputa a quem utiliza os bens ambientais o custo por seu uso e, logo,
focaliza as atividades que não poluem o meio ambiente (sua preocupação é voltada para o
volume de recursos na natureza).

1.2.10 Princípio da responsabilidade ambiental


O princípio da responsabilidade ambiental está relacionado à repressão quando da
ocorrência de um dano ambiental. Nesse contexto, quanto mais afetado o meio ambiente,
maior deverá ser a responsabilidade do agressor ambiental.
A seguir, são apresentados, de forma sintetizada, os princípios ambientais, com base
em Rodrigues (2016):

Quadro 1 – Princípios ambientais.

Princípio Definição
O bem ambiental não se submete a qualquer fronteira, seja ela espacial,
territorial ou temporal.
Ubiquidade
Torna-se, então, difícil mensurar a real extensão de qualquer dano ambien-
tal e, assim, a reparação deve ser a mais ampla possível.

Reconhece a necessidade de se estabelecer uma verdadeira política mundial


Cooperação
de proteção e preservação do meio ambiente, com regras menos preocupa-
entre os povos
das com a soberania nacional e mais vinculadas às necessidades ambientais.

16 Contabilidade Socioambiental
Noções gerais de meio ambiente 1
Princípio Definição
Preconiza que, para o progresso econômico e social, seja mais racional a
Desenvolvimento utilização dos recursos ambientais, de forma a satisfazer não apenas as
Sustentável necessidades das gerações presentes, mas também das gerações futuras
(solidariedade intergeracional).
É dever de toda a sociedade defender e preservar o meio ambiente. Por
Participação isso, deve ser assegurado à coletividade o direito de participar ativamente
da tomada de decisões relativas à proteção ambiental.
Justamente para possibilitar sua participação social, deve ser assegurado
Informação
aos indivíduos o acesso às informações relativas à preservação ambiental.
Deve ser promovida, em todos os níveis de ensino e também de maneira
Educação informal, uma educação capaz de conscientizar a população da necessida-
de de proteção do meio ambiente.

Dado o caráter difuso e esgotável dos bens ambientais, todos aqueles que
sejam responsáveis pela utilização desses bens em seu proveito (e em de-
trimento da sociedade) devem arcar com esse deficit da coletividade.
Poluidor- p​ agador Esse prejuízo ambiental, quando possível de ser suportado e trouxer be-
nefícios para a sociedade, deve ser internalizado por aquele que usa do
meio ambiente em seu proveito. Se, entretanto, não houver a possibilidade
dessa internalização, o produto não pode ser fabricado ou consumido.

Busca imputar ao usuário dos recursos ambientais o custo pela utilização


de um bem que a todos pertence.
Diferentemente do poluidor-pagador, incide nos casos em que há simples-
Usuário-pagador mente o uso do bem ambiental, ainda que não haja qualquer degradação.
Preocupa-se, assim, mais com a quantidade dos recursos naturais do
que com a sua qualidade (esta, por sua vez, é objeto das atenções do
poluidor​-pagador).

Dado o caráter irreversível de qualquer dano ambiental, sempre que se


Prevenção saiba que uma dada atividade apresenta riscos de dano ao meio ambiente,
ela não poderá ser desenvolvida.

Visa evitar qualquer risco de dano ambiental, nos casos em que não há
certeza científica sobre a potencialidade lesiva de um empreendimento.
Precaução Inverte-se, com isso, o ônus da prova, cabendo ao empreendedor demons-
trar que a atividade que propõe não apresente qualquer risco de lesão ao
meio ambiente.

O exercício do direito de propriedade não pode prejudicar a função ecoló-


Função so- gica dos bens ambientais. Afinal, o equilíbrio ecológico a todos pertence.
cioambiental da Assim, sempre que o uso incomum de um bem ambiental puder prejudicar o
propriedade uso comum a que faz jus toda a população e, acima de tudo, seu papel na ma-
nutenção do equilíbrio ecológico, é a função ecológica que deve prevalecer.

Contabilidade Socioambiental 17
1 Noções gerais de meio ambiente

Princípio Definição
Visa reprimir os comportamentos contrários às normas de proteção am-
biental. Para tanto, podem ser aplicadas concomitantemente sanções nas
esferas penal, cível e administrativa, sem que isso represente qualquer jul-
Responsabilidade gamento repetitivo, já que cada qual possui objeto de tutela específico.
Contudo, por se tratar de instrumento de proteção do meio ambiente, há
certa unidade de fins entre as três espécies de sanções: todas visam, em
última instância, à reparação do dano ambiental e à educação do infrator.
Fonte: Elaborado pelas autoras, com base em RODRIGUES, 2016, p. 232.

1.3 Dano ou impacto ambiental


Vídeo
O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 declara que uma pessoa,
seja ela física ou jurídica, pública ou privada, pode configurar um poluidor
e, por consequência, conforme o § 3°, pode ser responsabilizada civil, pe-
nal ou administrativamente. Por isso a importância de se determinar quem
é o poluidor, para que a sanção seja imputada coerentemente ao devido
responsável.
O entendimento predominante admite que o usuário desse meio ambiente, ao utilizar esse
sistema, pode se tornar um poluidor. Em consonância com o artigo 3°, IV, da Lei n. 6.938/81
(BRASIL, 1981), poluidor é “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, respon-
sável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.
Outro ponto importante é que a responsabilidade pela degradação do meio ambiente
pode ser solidária, ou seja, todos os indivíduos que direta ou indiretamente causarem danos
ao ambiente ecologicamente equilibrado deverão, juntos, responder pela degradação.
Além disso, os atos que geram danos à natureza provenientes de ações originárias da
própria natureza não serão constituídos como atos de poluidor (exemplo: queimada por
raios). Ressalta-se que um poluidor pode ser uma pessoa que aja com licitude ou não.
Independentemente de o indivíduo que causou a degradação do meio ambiente agir
com boa ou má-fé, ele será responsabilizado civilmente pelas perdas do ambiente ecológico.
A responsabilidade penal e administrativa, no entanto, somente ocorrerá quando o indiví-
duo agir de má-fé.
Também será responsabilizado aquele que atentar contra o meio ambiente, conside-
rando-se que este deve ser preservado antes do dano, visto que, muitas vezes, é impossível
retornar ao estado original do ambiente. Logo, também será considerada poluidora a pessoa
física ou jurídica que apresentar indícios evidentes da tentativa de poluir.
Conforme o art. 3°, III, da PNMA, a poluição consiste em:
[...] degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da popula-
ção; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem

18 Contabilidade Socioambiental
Noções gerais de meio ambiente 1
desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambien-
tais estabelecidos [...]. (BRASIL, 1981)
O conceito de poluição é firmado no caput desse dispositivo (“a degradação da quali-
dade ambiental”). E as alíneas trazem de forma exemplificativa, e não taxativa, os efeitos
da poluição. Nesse contexto, todas as atividades realizadas por pessoa jurídica ou física, de
forma direta ou indireta, lícita ou ilícita, que resultam em dano ao meio ambiente são consi-
deradas poluentes (MOURA, 2007).
O conceito de poluição estabelecido na PNMA (BRASIL, 1981) está intrinsecamente li-
gado à noção de dano ambiental, o que se refere à alteração das características do meio am-
biente. Isso porque não existe poluição e poluidor sem danos ao meio ambiente.
O dano pode ser gerado como uma consequência, imediata ou não, de uma conduta le-
siva. Por exemplo, uma consequência imediata ocorre quando há um derramamento de óleo
no mar (conduta lesiva), causando danos ao meio ambiente no momento em que o óleo inva-
de as águas marinhas. Nesse caso, a conduta é simultânea ao dano gerado ao meio ambiente.
A prática do ato ilícito pode ser considerada um ato de poluição, visto os princípios da
prevenção e da precaução ambiental. Nesses termos, o conceito de poluição ou de poluidor
está vinculado ao ato de contrariedade à legislação, e o dano será considerado o ato de sub-
meter o meio ambiente ao risco.
Em uma situação em que uma empresa submete a população e o meio ambiente (en-
torno da empresa) a alguma exposição a riscos, motivada, por exemplo, pelos benefícios
advindos dos lucros financeiros gerados por sua atividade, é configurada a obrigação de
indenização à sociedade. Desse modo, todos os atos gerados pela atividade mercantil que
venham gerar riscos ao meio ambiente serão vinculadas à indenização.

Figura 1 – Poluidor e reparação do dano ambiental.

Se há poluidor, é
porque houve
poluição.

Se houve poluição,
há dano ambiental
a ser reparado.

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Conforme demonstra a Figura 1, quando houver o poluidor, existe a obrigatoriedade do


reparo do dano ambiental, logo, o dano tem por consequência a responsabilidade civil do
indivíduo, o qual deve ressarcir os prejuízos causados.
Cumpre evidenciarmos que uma lesão ao meio ambiente não pode ser reparada de
forma isolada, a reparação deverá ser coletiva, destinada a cada pessoa que o dano afetar.
Um exemplo recente ocorrido no Brasil foi o acidente no município de Mariana (MG), em
5 de novembro de 2015, no qual ocorreu o rompimento de uma barragem da mineradora

Contabilidade Socioambiental 19
1 Noções gerais de meio ambiente

Samarco. O rompimento originou uma inundação de lama em todo o distrito de Bento


Rodrigues, resultando na liberação de uma quantidade excessiva de rejeitos de mineração
(60 milhões de metros cúbicos) que, ao secar, transformou-se em um tipo de “cimento”,
devastando toda a vegetação do local. Outra consequência do referido desastre foi o de-
ságue dessa substância no Rio Doce, causando a morte dos organismos vivos e sérios
problemas para a população local. Cidades do estado de Minas Gerais e do Espírito Santo
foram afetadas.
Com esse exemplo, o qual se configurou como um lamentável desastre nacional, consi-
derado o maior registrado no país, é possível evidenciarmos a grave lesão causada ao meio
ambiente e, concomitantemente, sua imprescindível reparação. As ações de reparação do
meio ambiente consistem em prevenção, educação e a reparação do dano propriamente dito,
tanto na esfera coletiva, quando considerada a limpeza dessas substâncias no meio ambien-
te, quanto na esfera individual.
Ao calcular a reparação individual, é necessário identificar todos os indivíduos que,
de forma direta ou indireta, foram atingidos. Nesse exemplo, são suscetíveis de indeni-
zação os pescadores do Rio Doce, os agricultores do Distrito de Bento Rodrigues cujos
terrenos se tornaram inférteis, os donos de imóveis destruídos, entre outros que foram
comprovadamente prejudicados.
Ademais, de acordo com os noticiários nacionais, além de muitas famílias desabriga-
das, o “mar de lama” provocou o falecimento de 19 pessoas, e as indenizações dos respon-
sabilizados se estenderam aos danos materiais (no formato de pensão) e danos morais (às
famílias, pelas perdas humanas irreparáveis).

Conclusão

As discussões acerca da abordagem ambiental vêm crescendo consideravelmente nos


últimos anos. Os primeiros sinais de preocupação com os efeitos devastadores do cresci-
mento desordenado e cujos processos relegavam questões ambientais apresentam uma or-
dem cronológica natural. Tratam-se das históricas catástrofes ambientais que propulsaram
as ações e discussões acerca do tema, como: o acidente nuclear de Chernobyl, cujo material
altamente radioativo foi lançado no ambiente, em 1986, na Ucrânia; o grande nevoeiro de
Londres, em 1952, causado pela queima excessiva de carvão de má qualidade, causando sé-
rios problemas respiratórios e até mortes; e a contaminação da baía de Minamata, no Japão,
desde 1930, causada pelo lançamento de dejetos contendo mercúrio por uma indústria local,
fato que só foi descoberto em 1956, quando alguns pacientes começaram a ter convulsões,
febre alta e acabaram morrendo, devido à contaminação.
A despeito das ações reparadoras relativas aos desastres supracitados, como eva-
cuação da população, operações de combate à poluição pelas autoridades, ações de mi-
tigação dos riscos e estudos ambientais, tais eventos, somados a outros de magnitude
semelhante ou superior nos anos de 1980 e 90, promoveram uma nova consciência am-
biental, de abrangência global.

20 Contabilidade Socioambiental
Noções gerais de meio ambiente 1
As pressões políticas e socioeconômicas mundiais ganharam forças e estimularam no-
vas discussões sobre a temática ambiental, chamando atenção para novas diretrizes basea-
das no reposicionamento dos países e governos em relação à geração da poluição e às emis-
sões atmosféricas, com o estabelecimento de metas de redução dos impactos ambientais.
Fica evidente que o desenvolvimento sustentável demanda um efetivo compromisso
dos atores sociais envolvidos, principalmente ao se considerar a necessária sinergia entre
o ser humano, a natureza e as atividades econômicas. Emerge então, nesse contexto, mas
sem que essa enunciação seja limitativa, a responsabilidade ambiental na esfera empresarial,
com a incorporação da gestão socioambiental e o compromisso com as questões inerentes
à sustentabilidade, cuja abordagem será aprofundada nos capítulos seguintes desta obra.

Ampliando seus conhecimentos

A situação ambiental da atualidade resulta das más relações do homem com


o meio ambiente, degradando-o e corrompendo os recursos naturais. O texto
de Cunha e Suarte (2017), que apresentamos a seguir, discorre um pouco mais
sobre essa temática.

Conceito de impacto ambiental


(CUNHA; SUARTE, 2017, p. 77-78)

[...]

O conceito de impacto ambiental pode ser buscado na terminologia da


palavra, a qual se origina do latim: impactu e significa choque ou coli-
são de substâncias nos três estados físicos da matéria (sólido, líquido e
gasoso), de radiações ou formas variadas de energia, vindas de obras ou
atividades realizadas com danosas alterações do ambiente natural, artifi-
cial, cultural ou social. Estas mudanças podem ser provocadas por diver-
sas formas de energia ou matéria resultante de atividades antrópicas que
afetam direta ou indiretamente a saúde, segurança da população, ativida-
des econômicas e sociais, a biota e a disposição dos recursos do ambiente.
(PLANTENBERG, 2002; CUSTÓDIO, 1995; SPADOTTO, 2002).

A visão dos autores acima assemelha-se muito com o que diz a Resolução
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), artigo 1, definindo
impacto ambiental como sendo

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológi-


cas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que, direta ou indireta-
mente, afetam:

Contabilidade Socioambiental 21
1 Noções gerais de meio ambiente

I. A saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II. As atividades sociais e econômicas;

III. A biota;

IV. As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V. A qualidade dos recursos ambientais.

[...]

Há na literatura visões diferenciadas de impacto ambiental, bem como opi-


nião de que o homem pode viver em harmonia com o meio ambiente. Assim,
Barbosa (2006) ressalta que os impactos ambientais podem ser de forma
positiva ou negativa, causando degradações significativas do ambiente ou
degradações bem menores não tão significativas, não deixando é claro, de
ser impacto ambiental. É notável que o homem usa os recursos da natureza
para a manutenção da própria vida (sobrevivência) e, como consequência
disso, promove o desarranjo ambiental. No entanto algumas atividades
podem ser satisfatórias, as quais o homem adapta ao meio ambiente para
atender seus interesses sem causar danos significativamente negativos, e se
ainda assim houver algum dano, que este seja compensado.

[...]

O Conceito de Derani (2001) é bem prático e diz que impacto ambiental


é simplesmente a interferência do homem no meio ambiente. E para que
sejam vistos os dois lados possíveis do impacto (positivo e negativo), com
intuito de ampliação do lado positivo e mitigação dos efeitos contrários,
atingindo assim a homeostase dos reflexos das ações humanas no meio
natural, no meio social e também no meio econômico, a Avaliação de
Impacto Ambiental então foi idealizada e inserida pelos governos como
um forte instrumento de política ambiental.

Atividades
1. O que é meio ambiente?

2. O acidente decorrente do rompimento da barragem da mineradora Samarco no


município de Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, provocou consideráveis
impactos ambientais, os quais se refletem em todo o entorno da localidade ainda
nos dias de hoje. Nesse caso específico, é possível realizar uma análise de maneira
isolada? Justifique.

22 Contabilidade Socioambiental
Noções gerais de meio ambiente 1
3. O princípio do poluidor/usuário-pagador está ligado à ideia de prevenção e repres-
são, visto que os custos das mercadorias advindas do ambiente devem refletir os
valores da manutenção e do recurso escasso. Nesse contexto, qual a diferença entre
o poluidor-pagador e o usuário-pagador?

4. É evidente que as ações humanas resultaram em alterações no meio ambiente, consi-


derando os aspectos físicos, biológicos e sociais. O crescimento das indústrias e dos
processos produtivos afetou consideravelmente a normalidade da estrutura ambien-
tal. Com base nessa afirmação, indique três catástrofes ambientais históricas.

Referências
BARSANO, Paulo Roberto; BARBOSA, Rildo Pereira; VIANA, Viviane Japiassú. Biologia Ambiental.
São Paulo: Erica, 2014.
BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS. Declaração sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – 1992. Rio de Janeiro, 1992. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/
index.php/Meio-Ambiente/declaracao-sobre-meio-ambiente-e-desenvolvimento.html>. Acesso em: 2
out. 2017.
BERTOLI, Ana Lúcia; RIBEIRO, Maisa de Souza. Passivo ambiental: estudo de caso da Petróleo
Brasileiro S.A - Petrobrás. A repercussão ambiental nas demonstrações contábeis, em consequência
dos acidentes ocorridos. Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 117-136, 2006.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552006000200007>. Acesso em: 10 set. 2017.
BRAGA, Célia (Org.). Contabilidade ambiental: ferramenta para a gestão de sustentabilidade. São
Paulo: Atlas, 2010.
BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 31 ago. 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em:
2 out. 2017.
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.
CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. Contabilidade ambiental: teoria e prática. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2008.
CUNHA, Elida Lucia da; SUARTE, Jackeline da Silva Moreira. Impacto ambiental: uma perspecti-
va dos conceitos relacionados à efetividade dos princípios usados pelo EIA-RIMA. Disponível em:
<http://fng.edu.br/1Arquivos/Doc/Menu/Revista/2017.1/IMPACTO%20AMBIENTAL%20-UMA%20
PERSPECTIVA%20DOS%20CONCEITOS%20RELACIONADOS%20%C3%80%20EFETIVIDADE%20
DOS%20PRINCIPIOS%20USADOS%20PELO%20EIA-RIMA.pdf>. Acesso em: 8 set. 2017.
FERREIRA, Aracéli Cristina de Souza. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvi-
mento sustentável – inclui certificados de carbono. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portugue-
sa. 3. ed. totalmente rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Vocabulário Básico de Recursos Naturais e
Meio Ambiente. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/
presidencia/noticias/vocabulario.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2017.
KNEIPP, Jordana Marques et al. Gestão para a sustentabilidade em empresas do setor mineral. Revista
de Ciências da Administração, v. 14, n. 33, p. 52-67, 2012.

Contabilidade Socioambiental 23
1 Noções gerais de meio ambiente

MARTINS, Eliseu; RIBEIRO, Maisa de Souza. A informação como instrumento de contribuição da con-
tabilidade para a compatibilização do desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente.
Revista Interamericana de Contabilidade, n. 60, p. 1-7, out./dez.1995.
MOURA, Paulo André Pereira. Responsabilidade civil por danos ambientais na indústria do
Petróleo. Rio de Janeiro: E-papers, 2007.
ONU – Organização das Nações Unidas. Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento. 1992. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/responsabilidade-
socioambiental/agenda-21/agenda-21-global>. Acesso em: 17 nov. 2017.
ONU BRASIL. A ONU e a população mundial. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/acao/
populacao-mundial/>. Acesso em: 8 set. 2017.
PAIVA, Paulo Roberto de. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com trans-
parência e focada na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. Coord. Pedro Lenza. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
SCHWANKE, Cibele. Ambiente: conhecimentos e práticas. São Paulo: Bookman, 2013. (Série Tekne).
STEIN, Ronei Tiago. Recuperação das áreas degradadas. Porto Alegre: Sagah, 2017.
VANALLE, Rosangela Maria; SANTOS, Leandro Blanco dos. Análise das práticas de sustentabilidade
utilizadas na gestão da cadeia de suprimentos: pesquisa de campo no setor automotivo brasileiro.
Gestão & Produção, v. 21, n. 2, p. 323-339, 2014.

Resolução
1. O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

2. No caso exemplificado, não é possível realizar uma análise isolada, visto que o prin-
cípio da ubiquidade traz direcionamentos de que o bem ambiental não pode ser vis-
to como algo isolado, com limitações ou mesmo com período determinado, pois um
evento pode causar influências não somente no ambiente atingido e os danos podem
refletir e seguir várias gerações. Além disso, um dano ambiental pode afetar toda a
comunidade, de modo individual ou geral.

3. Poluidor-pagador e usuário-pagador. O primeiro visa a incluir nos custos dos bens


de consumo os prejuízos com a degradação do meio ambiente – logo, divide com a
sociedade as despesas e tem como preocupação a qualidade dos recursos ambien-
tais. Já o segundo tem como ideia imputar a quem utiliza os bens ambientais o custo
por seu uso – logo, tem como foco as atividades que não poluem o meio ambiente e
sua preocupação é com o volume de recursos na natureza.

4. Três exemplos de acidentes ambientais/catástrofes: o acidente nuclear de Chernobyl,


o nevoeiro de Londres e a contaminação da baía de Minamata, no Japão.

24 Contabilidade Socioambiental
2
Introdução à
contabilidade ambiental

Introdução

O objetivo deste capítulo é proporcionar a compreensão dos fundamentos essen-


ciais da contabilidade ambiental, com base nos principais conceitos relacionados à
informação ambiental, entre eles, passivo ambiental, ativo ambiental e fatos contábeis
ambientais. Tais conhecimentos são importantes para desenvolver o entendimento
prático da contabilidade ambiental, observando as diretrizes estabelecidas pelas prin-
cipais normas contábeis.

Contabilidade Socioambiental 25
2 Introdução à contabilidade ambiental

A proposta deste capítulo é viabilizar o entendimento dos procedimentos elementares


da contabilidade ambiental e os mecanismos de gestão ambiental empresarial, mais especi-
ficamente o sistema de gestão ambiental (SGA) e a ISO 14001.

2.1 Conceito e finalidade da contabilidade


ambiental
Vídeo
As profundas transformações ocorridas na sociedade, ocasionadas por
novos posicionamentos socioambientais e novos estímulos aos debates sobre
questões ambientais, são reflexos das preocupações advindas do crescimento
populacional, do aumento do consumo e, consequentemente, da necessidade
de atendimento às demandas relativas às necessidades humanas, sob a ótica
da utilização mais eficiente dos recursos naturais, na perspectiva da gestão
empresarial.
O contexto organizacional sofreu intensas transformações, especialmente ao longo das
duas últimas décadas. No Brasil, as empresas se viram obrigadas a adequar-se a uma série
de mudanças advindas da abertura de mercado promovida no início dos anos 1990. Tais
mudanças foram pautadas, sobretudo, na entrada de novos concorrentes, o que modificou
as estratégias organizacionais. A responsabilidade socioambiental emerge nesse período,
trazendo preocupações adicionais em meio à necessidade imediata de crescimento e manu-
tenção em um mercado altamente competitivo.
Detendo-se nessa questão, a responsabilidade ambiental destaca-se como um as-
sunto em evidência nas últimas décadas, principalmente ao ponderar que os recursos
naturais são finitos.
Em um panorama histórico, em consonância com os autores Guimarães e Fontoura
(2012), os debates relacionados essencialmente ao meio ambiente recebem maior relevân-
cia em 1972, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) promove a Conferência de
Estocolmo, evento que suscitou a discussão sobre “desenvolvimento e ambiente” e o concei-
to de ecodesenvolvimento. Nessa Conferência, projetou-se o PNUMA – Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente –, cujo objetivo consistiu especificamente na conservação do
meio ambiente e na utilização sustentável dos recursos. Em 1983, a ONU cria a Comissão

26 Contabilidade Socioambiental
Introdução à contabilidade ambiental 2
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced), a qual, após estudos, desen-
volveu estratégias para que as empresas, a longo prazo, desenvolvam suas atividades eco-
nômicas de forma sustentável.
A Conferência de Estocolmo refletiu em tamanha relevância que, como resposta, o Brasil
criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente, por meio do Decreto n. 73.030/73 (BRASIL,
1973). Essa secretaria foi criada como órgão autônomo da administração direta no âmbito
do Ministério do Interior, orientada para a conservação do meio ambiente e o uso racional
dos recursos naturais.
A despeito de sua originalidade, o que efetivamente consolidou o desenvolvimento
sustentável foi o Relatório da Comissão Brundtland, no ano de 1987, sendo este o documen-
to final da World Commission on Environment and Development (WCED), reconhecido
mundialmente. A partir da publicação desse relatório, o desenvolvimento sustentável passa
a ser definido como “o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem com-
prometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”
(WCED, 1987, p. 8). Já o World Business Council for Sustainable Development é uma coli-
gação de empresas internacionais comprometidas com os três pilares da sustentabilidade:
igualdade social, crescimento econômico e ambiental (WBCSD, 2000).
Um marco evidenciado no ano de 1988 foi a criação do IPCC (Intergovernmental Panel
on Climate Change, ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), elaborado
pela Organização Meteorológica Mundial, em Genebra. Pela primeira vez a meteorologia
passou a abordar questões acerca do aquecimento global e da influência dos seres humanos
no clima.
Outro evento estruturado para que as instituições lucrativas se desenvolvam pautadas na
ideia de preservação ambiental foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, que aconteceu no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1992. Essa conferência pro-
moveu a elaboração da já citada Agenda 21 (ONU, 1992), um importante passo para o desen-
volvimento do conceito de sustentabilidade. Sob a perspectiva da contabilidade ambiental,
Guimarães e Fontoura (2012) ressaltam que a Agenda 21 traz, como uma de suas diretrizes, o
desenvolvimento de um sistema de contabilização que integra temas sociais, ambientais e eco-
nômicos (o tripé da sustentabilidade), por parte dos países e organismos internacionais.

Contabilidade Socioambiental 27
2 Introdução à contabilidade ambiental

Não obstante os relevantes eventos descritos acima, para melhor compreensão acerca
do panorama histórico, a seguir é apresentado um quadro com a cronologia de eventos im-
portantes relacionados às questões sustentáveis:

Quadro 1 – Cronologia dos eventos importantes relacionados às questões sustentáveis.

Século Ano Evento


Proposta por Ernst Haeckel a expressão ecologia para as
1869 pesquisas concernentes à investigação da relação entre as
Século XIX espécies e seu respectivo ambiente.
1872 Inauguração do “Yellowstone”, nos Estados Unidos.
Criação da União Internacional, com o objetivo de conser-
1947
var a natureza.
Acidente ambiental provocado pela poluição do ar em
1952
Londres, ocasionando na morte de 1.600 pessoas.
Assembleia Geral da ONU e o Pacto Internacional sobre os
1966
Direitos Humanos.
Conferência de Estocolmo – debates concernen-
1972 tes ao desenvolvimento e ambiente, conceituação de
ecodesenvolvimento.
Reconhecimento da Educação Ambiental no ensino
1974 de forma integral, no Seminário de Educação Ambiental,
na Finlândia.

Século XX Congresso de Belgrado – determinação das metas da


1975 Educação Ambiental e suas respectivas premissas. PIEA –
Programa Internacional de Educação Ambiental.
1976 Congresso de Educação Ambiental Brasarville, na África.

Primeira Conferência Asiática sobre Educação Ambiental,


1980
em Nova Delhi, Índia.

Divulgação do Relatório da Comissão Brundtland, Nosso


Futuro Comum.
Congresso Internacional da Unesco – PNUMA sobre
1987 Educação e Formação Ambiental, em Moscou, realiza a
avaliação dos avanços desde Tbilisi, reafirma os prin-
cípios de Educação Ambiental e assinala a importância
e necessidade da pesquisa e da formação em Educação
Ambiental.

28 Contabilidade Socioambiental
Introdução à contabilidade ambiental 2
Século Ano Evento
Declaração de Caracas – Orpal – PNUMA, sobre Gestão
Ambiental na América, que denuncia a necessidade de
mudar o modelo de desenvolvimento. Criação do IPCC
1988
(Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas),
elaborado pela Organização Meteorológica Mundial,
em Genebra.
Primeiro Seminário sobre Materiais para a Educação
Ambiental – Orleac – Unesco – PIEA, em Santiago do
Chile.
1989
Declaração de Haia, preparatório da RIO 92, aponta a
importância da cooperação internacional nas questões
ambientais.
Conferência Mundial sobre Ensino para Todos – satisfação
das necessidades básicas de aprendizagem, em Jomtien,
1990 Tailândia, destaca o conceito de analfabetismo ambiental.
ONU declara o ano 1990 como o Ano Internacional do
Meio Ambiente.
Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
UNCED, Rio/92 – Criação da Agenda 21.
Século XX Tratado de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis.
1992
Fórum das ONGs – compromissos da sociedade civil com
a Educação Ambiental e o Meio Ambiente.
Carta Brasileira de Educação Ambiental aponta as necessi-
dades de capacitação na área.
Congresso Sul-Americano continuidade da Eco/92 –
1993 Argentina, 1993. Conferência dos Direitos Humanos, em
Viena.
Conferência Mundial da População – Cairo, Egito.
1994 I Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental –
Guadalajara, México.
Conferência para o Desenvolvimento Social – Copenhague,
Dinamarca.
Criação de um ambiente econômico-político-social-cultu-
1995 ral e jurídico que permita o desenvolvimento social.
Conferência Mundial da Mulher – Pequim, China.
Conferência Mundial do Clima – Berlim, Alemanha.

Contabilidade Socioambiental 29
2 Introdução à contabilidade ambiental

Século Ano Evento


1996 Conferência Habitat II – Istambul, Turquia.
II Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental –
Guadalajara, México.
Conferência sobre Educação Ambiental Nova Delhi, India.

1997 Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e


Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a
Século XX Sustentabilidade – Thessaloniki, Grécia.
A 3ª Conferência das Partes da Convenção do Clima –
Kyoto, Japão, em dezembro.
Lançada a revista Tópicos en Educación Ambiental, uma pu-
blicação internacional editada no México, a qual apresenta
1999
informações sobre as variadas vertentes e áreas da educa-
ção ambiental.
Lançamento do Pacto Global da ONU, iniciativa que reúne
empresas comprometidas a alinhar operações e estratégias
2000
com dez princípios nas áreas de direitos humanos, condi-
ções de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.
Em dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas,
durante sua 57ª sessão, estabeleceu a resolução n° 254,
declarando 2005 como o início da Década da Educação
para o Desenvolvimento Sustentável, depositando
2002 na Unesco a responsabilidade pela implementação
Século XXI
da iniciativa.
Rio + 10 – Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável (Earth Summit 2002), promovida pela ONU.
15ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças
2009 Climáticas (COP-15), realizada em Copenhague, Dinamarca,
apresenta discussões acerca do futuro do planeta.
Rio de Janeiro sedia a Conferência das Nações Unidas so-
2012
bre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
Fonte: BRASIL, 2017. Adaptado.

Analisando esses eventos e desdobramentos, fica evidente que toda a esfera empresa-
rial necessita dispor do legítimo comprometimento com as novas práticas relacionadas à
mitigação da degradação do patrimônio ambiental da humanidade. Em decorrência disso,
não é possível mais gerir os negócios sem considerar a proteção ao meio ambiente e o equi-
líbrio ambiental. A importante integração entre a gestão do patrimônio, o meio ambiente e
as exigências mercadológicas revela a missão da contabilidade ambiental ao demonstrar e
evidenciar, de forma clara, o desempenho socioambiental atrelado aos procedimentos con-
tábeis, como um mecanismo propulsor da transparência.
Nesse contexto, verifica-se o imprescindível papel da contabilidade ambiental.
Guimarães e Fontoura (2012) ressaltam que a Agenda 21 tem como escopo que os países e

30 Contabilidade Socioambiental
Introdução à contabilidade ambiental 2
organismos internacionais desenvolvam um sistema de contabilização que integrem temas
sociais, ambientais e econômicos (tripé da sustentabilidade).
A contabilidade ambiental é configurada como uma vertente da contabilidade. Dessa
forma, faz-se necessário entender, primeiramente, a definição basilar de contabilidade,
para prosseguirmos com os aprofundamentos necessários. De acordo com o Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (BRASIL, 2013), a contabilidade é uma ciência social cujo obje-
to de estudo é o patrimônio de uma instituição. Logo, a contabilidade quantifica e analisa as
riquezas, registrando as mutações/variações patrimoniais, quantitativas e/ou qualitativas,
de determinado período (exercício). Pode ser conceituada, também, como um sistema de in-
formação, cuja finalidade consiste na demonstração e análise financeira de uma instituição.
Nessa perspectiva, a contabilidade é um instrumento de informação de que os gestores,
de instituições públicas ou privadas, se respaldam com intuito de gerenciar os recursos em-
presariais de forma eficaz.
Carvalho (2008, p. 111) define a contabilidade ambiental como:
o destaque dado pela ciência aos registros e evidenciações da entidade referentes
aos fatores relacionados com o meio ambiente. Não se configura em nenhuma
nova técnica ou ciência, a exemplo da auditoria ou da análise de balanços, mas
em uma vertente da contabilidade, a exemplo da contabilidade comercial ou in-
dustrial, que estuda fatos mais específicos de uma determinada área, no caso, a
área ambiental.
A contabilidade ambiental tem a atribuição de registrar as informações pertinentes às
operações oriundas ao meio ambiente, no que se refere às interferências das atividades da
empresa no meio ambiente, contabilizando os recursos naturais, bem como os gastos e as
despesas utilizados para a manutenção e preservação ambiental.
Ribeiro (2006, p. 45) esclarece que o objetivo da contabilidade ambiental consiste em
“identificar, mensurar e esclarecer os eventos e transações econômico-financeiros que este-
jam relacionados com a proteção, preservação e recuperação ambiental, ocorridos em um
determinado período, visando à evidenciação da situação patrimonial de uma entidade”.
Assim, a finalidade da contabilidade ambiental é propiciar informações regulares aos
usuários internos e externos acerca dos eventos ambientais que causaram modificações na
situação patrimonial da respectiva entidade, quantificada em moeda. Nesse aspecto, a con-
tabilidade ambiental é responsável pela emissão dos relatórios necessários ao usuário da
informação para o processo de tomada de decisão.
A contabilidade ambiental está em constante desenvolvimento em todo o mundo.
Conforme Antonovz (2014), na Dinamarca, desde 1996, a legislação exige a apresentação de
relatórios ambientais das empresas que realizam suas atividades e, por consequência, geram
impactos ambientais. Em 1999, na Noruega, surge uma lei que direciona a contabilidade e
tem como objetivo, entre outros, o estabelecimento de mecanismos de informação das em-
presas sobre a relação de trabalho e os impactos ambientais, sendo que os principais dados

Contabilidade Socioambiental 31
2 Introdução à contabilidade ambiental

disponibilizados consistem na quantidade de energia elétrica e matéria-prima utilizadas,


bem como os níveis de poluição.
As informações relacionadas ao meio ambiente devem ser objeto também da contabi-
lidade. No Brasil, o marco histórico foi a aprovação da NPA 11 – Norma de Auditoria 11, a
qual objetivou estabelecer premissas relacionadas ao balanço patrimonial e o meio ambien-
te. Tal norma foi revogada quando foi estabelecida a Norma Brasileira de Contabilidade
(NBC), determinando a adoção da contabilização dos processos de gestão ambiental, com o
devido registro dos Ativos e Passivos ambientais (BRASIL, 2013).
Cumpre evidenciar que a contabilidade ambiental tem sido modificada no intuito de al-
cançar a padronização, ou seja, que as informações e as práticas contábeis ambientais sejam
uniformizadas. Outra norma relevante para as questões contábeis ambientais é a NBT 15, a
qual foi atualizada pela NBC TE XXX (2012) (BRASIL, 2013).
No que se refere à legislação brasileira, a Lei n. 11.941/2009 (BRASIL, 2009) promove
algumas alterações na Lei n. 6.404/1976 (Lei das S/A), prevendo uma nova estrutura de ba-
lanço patrimonial, com a inclusão do grupo intangível para as sociedades de grande porte,
bem como as companhias abertas e fechadas.
O artigo 179 da Lei n. 6.404/76, VI, evidencia que as contas do intangível dizem respeito
aos “direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da compa-
nhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido” (BRASIL,
1976). Esse assunto é disciplinado pelo CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) 04
– Ativo Intangível. Outra evolução da contabilidade ambiental refere-se ao CPC 29, que dis-
põe sobre o ativo biológico e o produto agrícola, no qual se estabelece o reconhecimento do
ativo ainda que vivo, até o seu processamento (BRASIL, 2013).
Somando-se à Lei n. 6.938/81, da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) brasilei-
ra, e à Constituição Federal, podemos compreender o principal conjunto de legislações que
norteiam a contabilidade, o meio ambiente e sua respectiva integração e sinergia.
O objetivo dessa ramificação da contabilidade é detectar, verificar e esclarecer as mu-
tações patrimoniais e financeiras originadas pelas ações de preservação e recuperação am-
biental, ocorridas em determinado momento. Além disso, também é objetivo da contabili-
dade ambiental verificar o cumprimento da legislação ambiental por parte da empresa, bem
como identificar a evolução da instituição no que se refere à sustentabilidade ambiental.
Ademais, Tinoco e Kraemer (2011, p. 127-128) afirmam que existem três razões essen-
ciais para a adoção da contabilidade ambiental por parte das empresas:
Gestão interna: está relacionada com uma ativa gestão ambiental e seu contro-
le, visando reduzir custos e despesas operacionais e melhorar a qualidade dos
produtos;
Exigências legais: a crescente exigência legal e normativa pode obrigar os ad-
ministradores a controlarem mais seus riscos ambientais, sob pena de multas e
indenizações;
Demanda dos parceiros sociais: a empresa está submetida cada vez mais a pres-
sões internas e externas. Essas demandas podem ser dos clientes, empregados,

32 Contabilidade Socioambiental
Introdução à contabilidade ambiental 2
organizações ecológicas, seguradoras, comunidade local, acionistas, administra-
ção pública, bancos, investidores etc.
A informação contábil deve compreender desde o investimento efetuado pela empresa,
como é o caso da aquisição de bens de proteção ao meio ambiente, até os danos causados
por sua atividade, ou, ainda, a manutenção de espaços ecológicos e obrigações contraídas
por decisão judicial, por conta do não cumprimento das determinações estabelecidas na Lei
n. 9.605/1998 (BRASIL, 1998), entre outras.
É importante destacar que, em muitos casos, a realização da contabilidade ambiental se
torna uma tarefa árdua, visto o distanciamento entre as informações de natureza ambiental
e as demais informações da empresa, bem como a classificação das informações contábeis
ambientais. Santos (apud BERGAMINI JÚNIOR, 1999) assevera que existem outras condi-
ções que dificultam a realização da contabilidade ambiental, as quais são elencadas a seguir:
2 Ausência de definição clara de custos ambientais.
2 Dificuldade em calcular um passivo ambiental efetivo.
2 Problemas em determinar a existência de uma obrigação no futuro por conta de
custos passados.
2 Falta de clareza no tratamento dos “ativos de vida longa”, como, por exemplo,
uma usina nuclear.
2 Reduzida transparência com relação aos danos provocados pela empresa em seus
ativos próprios e demais informações relacionadas.

2.2 Sistema de Gestão Ambiental


Vídeo
É evidente que discussões acerca da abordagem ambiental vêm crescen-
do consideravelmente, colocando em evidência a ideia de um mundo eco-
logicamente equilibrado. Contudo, a pluralidade de estruturas e direciona-
mentos quanto ao modelo de gestão ideal vem provocando debates sobre as
vantagens e os reveses ao se adotar sistemas de gestão, principalmente quan-
do atrelados às estratégias organizacionais e à ampliação do market share (fatia de mercado).
A gestão ambiental, nesse contexto, consiste na condução gerencial de uma organiza-
ção, quanto aos assuntos concernentes ao meio ambiente, como, por exemplo, a forma com
que a empresa gerencia a destinação de seus resíduos, monitora e analisa suas emissões
atmosféricas, realiza o tratamento de efluentes gerados e demais problemas relacionados à
poluição ambiental. Nessa perspectiva, as empresas são levadas a reexaminar seus proces-
sos produtivos e investir em tecnologias menos poluentes ou, ainda, realizar processos que
reaproveitem recursos.
A questão ambiental deve consistir em uma preocupação não somente da sociedade,
mas do âmbito corporativo. Tal afirmação pode ser corroborada pelo fato de as organiza-
ções, de um modo geral, buscarem a melhor gestão de seus recursos mitigando eventuais
impactos ambientais oriundos do seu processo produtivo.

Contabilidade Socioambiental 33
2 Introdução à contabilidade ambiental

Ademais, existe uma tendência de inclusão da dimensão ecológica nos negócios cor-
porativos, visto que ela traz benefícios interessantes, como: redução de multas e penalida-
des por danos ambientais; possibilidade de expansão mercadológica (crescente aumento de
consumidores que preferem marcas e produtos fabricados com base no comprometimento
ambiental empresarial); e preservação da imagem e reputação organizacional. Assim, pa-
dronizações de normas são estabelecidas para efetiva implantação de um sistema de gestão,
como abordado a seguir.

2.2.1 International Organization for Standardization (ISO) –


Organização Internacional de Normalização
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, autoridades de 25 nações reuniram-se em Londres,
em 1946, e decidiram pela efetivação de uma organização internacional de regularização, a
qual denominaram International Organization for Standardization (ISO), que iniciou suas ações
em 23 de fevereiro de 1947 (MARSHALL JUNIOR et al., 2010). A ISO é uma organização não
governamental, localizada em Genebra, na Suíça, constituída por uma rede de organizações
de normalização de 157 países (um membro por país). A instituição que trabalha no Brasil
como representante da ISO é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), criada
em 1940 e constituída por 28 comitês por departamento de atividade. Essa instituição tem
como princípio o estímulo ao progresso da ciência, da indústria, do comércio e da tecnologia
(HUTCHINS, 1994). O papel da ISO é impulsionar o desenvolvimento da regularização, por
meio de acordos técnicos globais veiculados como regras institucionais.

2.2.2 A ISO 14001


A norma NBR ISO 14001 (ABNT, 2004b) visa estabelecer padrões relativos às atividades
organizacionais e à proteção do meio ambiente e especifica os requisitos para a implementa-
ção de um sistema de gestão ambiental (SGA), de forma estruturada e completa, direcionan-
do a integração e o alcance das metas ambientais e econômicas, em um processo contínuo
de melhorias.
Já em seu princípio, a ISO 14001 esclarece que ela foi elaborada para se encaixar em
todos os padrões e portes de organizações, como também para se adaptar às diferentes cir-
cunstâncias culturais, geográficas e sociais. A norma habilita uma organização a especificar
e avaliar a concretização de processos para definir uma política ambiental e os objetivos a
atingir com suas conformidades. O principal intuito é estimular a proteção ambiental e a
prevenção da poluição, equilibrando-a com as urgências socioeconômicas (ABNT, 2004b).
Assim, qualquer organização que intencione conseguir a certificação ambiental de suas
atividades, seus produtos e serviços, deve, antes de qualquer realização, implantar um sis-
tema de gestão ambiental e, na sequência, pedir o monitoramento externo de certificação a
outra instituição credenciada.
A recente atualização da ISO 14001, atualmente denominada ISO 14001:2015, eviden-
ciou diretrizes associadas: à compreensão específica da esfera da organização, às demandas

34 Contabilidade Socioambiental
Introdução à contabilidade ambiental 2
e às expectativas dos interessados; à observação de um ponto de vista de ciclo de vida;
ao destaque em uma abordagem de riscos; à autoridade como função primordial para o
atingimento dos objetivos do sistema de gestão; à relevância para o fortalecimento do de-
sempenho ambiental da instituição, por meio da melhoria constante do sistema de gestão
ambiental (FIESP, 2017)
Cumpre evidenciar que, para a efetiva implementação do Sistema de Gestão Ambiental,
é necessário compreender as etapas essenciais desse processo. Nesse processo, a ISO 14001
segue os princípios do ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act), conforme detalhamento a seguir
(ABNT, 2015a):
1. Política ambiental – Definição das metas e objetivos ambientais.
2. Planejamento – Formulação de um plano de ação com o intuito de realizar
sua Política Ambiental. Nesse plano devem ser considerados os seguintes
itens: 1) Aspectos Ambientais; 2) Requisitos legais e outros requisitos; 3)
Objetivos e metas; 4) Programas de Gestão Ambiental.
3. Implementação e operação – Para a concreta implementação da ISO 14001,
é importante estabelecer políticas, metas e objetivos. Os agentes internos,
dentro da estrutura organizacional, devem ser definidos. A disseminação
do projeto e constituição periódica de treinamentos tornam a implementa-
ção mais sólida. Outros pontos imprescindíveis consistem na comunicação
e controle documental. Por fim, a empresa deve se preparar para eventuais
situações emergenciais.
4. Verificação e ação corretiva – A norma ISO 14001 estabelece que a empresa
deve verificar o programa de gestão ambiental, na prática, e manter medi-
das de ajustes, visando à mitigação dos impactos ambientais. A Verificação
e Ação Corretiva são orientadas por quatro etapas do processo de gestão
ambiental, a saber: Monitoramento e Medição, Não conformidade e Ações
Corretivas e Preventivas, Registros e Auditoria do SGA.
5. Análise crítica – Refere-se à etapa seguinte à realização de auditoria. Momento
em que se identifica as necessidades de alteração da Política Ambiental para
adequações e melhorias.

Conclusão

Diante de um cenário globalizado cada vez mais exigente, as organizações buscam


estratégias para se diferenciar no mercado e consequentemente melhorar seus resultados.
Considerando a preocupação com o equilíbrio ambiental como um fator preponderante nes-
se cenário de negócios, a efetiva gestão ambiental destaca-se como uma ferramenta essencial
de interação e atendimento às normativas legais pertinentes, às necessidades, às expectati-
vas e aos anseios da sociedade, fazendo parte das estratégias organizacionais.

Contabilidade Socioambiental 35
2 Introdução à contabilidade ambiental

Seguramente, a efetiva avaliação e gestão patrimonial atrelada aos aspectos ambientais


empresariais evidencia a contabilidade ambiental como um mecanismo de transparência
aos atores sociais, com foco específico no meio ambiente. As informações disponibilizadas
pela contabilidade ambiental viabilizam seguridade ao processo de tomada de decisão, pro-
porcionam maior eficiência na gestão de materiais e recursos, redução dos passivos ambien-
tais, redução dos custos operacionais relacionados, além de transmitir a confiabilidade aos
players de mercado quanto a possíveis investimentos.
O alinhamento da contabilidade ambiental com um consistente sistema de gestão am-
biental (SGA) permite assegurar a integração entre atividade empresarial, produtividade,
controle patrimonial e meio ambiente. É possível asseverar, também, que ela consiste em
uma necessária tendência para a perenidade organizacional, a preservação da imagem da
empresa e de sua reputação mercadológica.

Ampliando seus conhecimentos

Para uma melhor compreensão da proposta da contabilidade ambiental, temá-


tica central deste livro, sugerimos a breve leitura, proposta por Souza e Ribeiro
(2004), acerca da relevância da relação das questões ambientais com a gestão
contábil empresarial:

Contabilidade Ambiental
(SOUZA; RIBEIRO, 2004, p.56)

De acordo com Ribeiro (1992:56), as questões ambientais devem ser “alvos


de preocupações específicas da contabilidade”, podendo assim contribuir
para a conciliação de um “desenvolvimento econômico sustentável” de
acordo com as especificações estabelecidas por entidades governamentais
e não governamentais, nacionais e internacionais.

É evidente o aumento, considerável, nos últimos anos, das discussões con-


cernentes à melhor forma das empresas conciliarem seus processos pro-
dutivos com questões ambientais, existindo grande conscientização por
parte das principais instituições, de que a preservação do meio ambiente
é fator determinante para a continuidade e sobrevivência empresarial.

A Contabilidade assume, diante dessa contextualização, papel funda-


mental de subsídio a todos os agentes envolvidos no processo. Esta deve
auxiliar os administradores, no que tange ao gerenciamento empresarial

36 Contabilidade Socioambiental
Introdução à contabilidade ambiental 2
das relações com o meio ambiente, por ser considerada, atualmente,
uma das principais ferramentas de gestão de negócios. Cabe a ela a ela-
boração e fornecimento de informações aos usuários internos e exter-
nos acerca dos eventos ambientais que causam modificações na situação
patrimonial das entidades.

As informações de caráter ambiental a serem divulgadas pela


Contabilidade, segundo Martins & De Luca (1994:25),

[...] vão desde os investimentos realizados, seja em nível de aquisi-


ção de bens permanentes de proteção a danos ecológicos, de despe-
sas de manutenção ou correção de efeitos ambientais do exercício
em curso, de obrigações contraídas em prol do meio ambiente, e até
de medidas físicas, quantitativas e qualitativas, empreendidas para
sua recuperação e preservação.

[...]

Atividades
1. “Ao mesmo tempo em que é indispensável preservar, é necessário produzir”. Esse
é, aparentemente, um complexo paradoxo empresarial, quanto à integração entre o
aspecto econômico e o ambiental, o que reflete na desafiadora missão de gerenciar
as atividades produtivas sem degradar ou trazer prejuízos ao meio ambiente. Pon-
derando tal conjuntura, explique o que é gestão ambiental e quais responsabilidades
são atribuídas às organizações empresariais nesse contexto.

2. Ao separarmos o termo contabilidade ambiental, é possível identificar duas palavras in-


dependentes, com significados distintos. ­Contudo, a junção dessas palavras direciona
a um ramo específico da gestão contábil empresarial. Nesse aspecto, apresente a dife-
rença existente entre a conceituação de contabilidade e a de contabilidade ambiental.

3. A implantação de um sistema de gestão ambiental (SGA) exige o cumprimento de


etapas bem estruturadas para obtenção de efetivos resultados. Cite e explique cada
uma das etapas que norteiam a implantação de um SGA.

4. O que a ISO 14001 especifica para as organizações? Existe relação entre a ISO 14001
e o Sistema de Gestão Ambiental (SGA)?

Contabilidade Socioambiental 37
2 Introdução à contabilidade ambiental

Referências
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001:2004. Sistemas de
gestão ambiental: especificações e diretrizes para uso. Rio de Janeiro, 2004.
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Sistemas de gestão ambiental: re-
quisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro, 2015.
ANTONOVZ, Tatiane. Contabilidade ambiental. 1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2014.
BERGAMINI JÚNIOR, Sebastião. Contabilidade e risco ambientais. 1999. Disponível em: <http://
www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/
revista/rev1105.pdf>. Acesso em: 10 set. 2017.
BRAGA, Célia (Org.). Contabilidade ambiental: ferramenta para a gestão de sustentabilidade. São
Paulo: Atlas, 2010.
BRASIL. Decreto n. 73.030, de 30 de outubro de 1973. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 30 out. 1973. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/
decreto-73030-30-outubro-1973-421650-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 3 out. 2017.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 15 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso
em: 3 out. 2017.
BRASIL. Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 13 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.
htm>. Acesso em: 10 de setembro de 2017.
BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 maio 2009.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11941.htm>. Acesso em
10 de setembro de 2017.
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos
técnicos contábeis 2012. Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 2013.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Histórico mundial. Disponível em: <http://www.mma.gov.
br/educacao-ambiental/politica-de-educacao-ambiental/historico-mundial>. Acesso em: 27 set. 2017.
BERTOLI, Ana Lúcia; RIBEIRO, Maísa de Souza. Passivo ambiental: estudo de caso da Petróleo
Brasileiro S.A – Petrobrás. A repercussão ambiental nas demonstrações contábeis, em consequên-
cia dos acidentes ocorridos. Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 117-136, 2006.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552006000200007. Acesso em: 10 set. 2017.
CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. Contabilidade ambiental: teoria e prática. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2008.
FERREIRA, Aracéli Cristina de Souza. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvi-
mento sustentável – inclui certificados de carbono. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Departamento de Meio Ambiente. ISO
14001:2015: saiba o que muda na nova versão da norma. Disponível em: www.fiesp.com.br/arquivo-
download/?id=198712. Acesso em: 4 set. 2017.
GUIMARÃES, Roberto Pereira; FONTOURA, Yuna Souza dos Reis da. Rio+20 ou Rio-20? Crônica de
um fracasso anunciado. Ambiente e Socidade, v. 15, n. 3, p. 19-39, 2012. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/S1414-753X2012000300003>. Acesso em: 17 jan. 2017.
HUTCHINS, Greg. ISO 9000: um guia completo para o registro, as diretrizes da auditoria e a certifica-
ção. São Paulo: Makron Books, 1994.

38 Contabilidade Socioambiental
Introdução à contabilidade ambiental 2
MARSHALL JUNIOR, Isnard et al. Gestão da qualidade. 10. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
(Série Empresarial).
PAIVA, Paulo Roberto de. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com trans-
parência e focada na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003.
RIBEIRO, Maísa de Souza. Contabilidade ambiental. São Paulo: Saraiva, 2006.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. Coord. Pedro Lenza. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
SANTOS, Adalto de Oliveira et al. Contabilidade ambiental: um estudo sobre sua aplicabilidade em
empresas Brasileiras. Revista de Contabilidade e Finanças, v. 12, n. 27, p. 89-99, 2001. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1519-70772001000300007>. Acesso em: 17 nov. 2017.
SOUZA, Valdiva Rossato de; RIBEIRO, Maisa de Souza. Aplicação da contabilidade ambiental na in-
dústria madeireira. Revista de Contabilidade e Finanças, v. 15, n. 35, p. 54-67, 2004. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1519-70772004000200005>. Acesso em: 17 nov. 2017.
SILVA, Benedito Gonçalves da. Contabilidade ambiental. Curitiba: Juruá, 2011.
TINOCO, João Eduardo Prudêncio; KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e gestão am-
biental. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
ONU – Organização das Nações Unidas. Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento. 1992. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade-
socioambiental/agenda-21/agenda-21-global>. Acesso em: 17 nov. 2017.
VALLE, Cyro Eyer do. Qualidade ambiental: ISO 14000. ed. rev. e ampl. São Paulo: Senac, 2002.
WBCSD – World Business Council for Sustainable Development. Measuring Eco-efficiency: A guide
to reporting company performance. Geneva: WBCSD, 2000.
WCED –WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our Common
Future. New York: Oxford University Press, 1987.

Resolução
1. A gestão ambiental é uma ferramenta essencial da gestão dos recursos e redução dos
impactos ambientais, consistindo na condução gerencial de uma organização quan-
to aos assuntos concernentes ao meio ambiente, como à forma com que a empresa
gerencia a destinação de seus resíduos, monitora e analisa suas emissões atmosfé-
ricas, realiza o tratamento de efluentes gerados e demais problemas relacionados à
poluição ambiental. Nessa perspectiva, as empresas são levadas a reexaminar seus
processos produtivos e investir em tecnologias menos poluentes, ou, ainda, realizar
processos que reaproveitem recursos.

2. A contabilidade é uma ciência social cujo objeto de estudo é o patrimônio de uma ins-
tituição. Logo, ela quantifica e analisa as riquezas, registrando as mutações/variações
patrimoniais, quantitativas e/ou qualitativas, de determinado período (exercício).

Por sua vez, a contabilidade ambiental tem como objeto de estudo o patrimônio
ambiental (bens, direitos e obrigações ambientais) da instituição e sua finalidade
consiste em fornecer informações das modificações do patrimônio ambiental da ins-
tituição – por meio de identificação, mensuração e evidenciação – aos seus usuários.

Contabilidade Socioambiental 39
2 Introdução à contabilidade ambiental

3. As etapas que compreendem a implantação de um sistema de gestão ambiental


(SGA) consistem em:

I. Política ambiental: definição das metas e dos objetivos ambientais.


II. Planejamento: formulação de um plano de ação com o intuito de realizar sua
política ambiental. Nesse plano devem ser considerados os seguintes itens: 1)
aspectos ambientais; 2) requisitos legais e outros requisitos; 3) objetivos e metas;
e 4) programas de gestão ambiental.
III. Implementação e operação: para a concreta implementação da ISO 14001, é im-
portante estabelecer políticas, metas e objetivos. Os agentes internos, dentro da
estrutura organizacional, devem ser definidos. A disseminação do projeto e a cons-
tituição periódica de treinamentos tornam a implementação mais sólida. Outros
pontos imprescindíveis consistem na comunicação e no controle documental. Por
fim, a empresa deve se preparar para eventuais situações emergenciais.
IV. Verificação e ação corretiva: a norma ISO 14001 estabelece que a empresa deve
verificar o programa de gestão ambiental, na prática, e manter medidas de ajus-
tes, visando à mitigação dos impactos ambientais. A verificação e a ação corre-
tiva são orientadas por quatro etapas do processo de gestão ambiental, a saber:
monitoramento e medição, não conformidade e ações corretivas e preventivas,
registros e auditoria do SGA.
V. Análise crítica: refere-se à etapa subsequente à realização de auditoria, momento
em que se identificam as necessidades de alteração da política ambiental para
adequações e melhorias.

4. Sim, existe total relação entre a ISO 14001 e o sistema de gestão ambiental (SGA). A
ISO 14001 especifica os requisitos para a implementação de um sistema de gestão
ambiental, o qual possibilite às organizações as doutrinas concretas que têm proba-
bilidade de relacionarem-se a outros requisitos de gestão, com o objetivo de auxiliar
no alcance das metas ambientais e econômicas. A norma habilita uma organização a
especificar e avaliar a concretização de processos para definir uma política ambien-
tal e os objetivos a atingir com suas conformidades. O principal intuito é estimular
a proteção ambiental e a prevenção da poluição, equilibrando-a com as urgências
socioeconômicas.

40 Contabilidade Socioambiental
3
Patrimônio ambiental

Introdução

Este capítulo aborda a estruturação dos elementos patrimoniais oriundos de even-


tos ambientais, proporcionando a compreensão da contabilização e do registro patri-
monial com base nos princípios contábeis.

Para melhor compreensão, são abordadas as principais definições e apresenta-


das as operacionalizações da contabilidade ambiental, considerando as atividades e
os processos operacionais da entidade, enfocando as contas patrimoniais e de resul-
tados: Ativo e Passivo Ambiental, Patrimônio Líquido, Custos, Despesas, Perdas e
Receitas Ambientais.

Contabilidade Socioambiental 41
3 Patrimônio ambiental

3.1 Ativo e passivo ambientais


Vídeo
Aspectos relacionados a degradação ambiental, impactos ambientais,
desperdícios de recursos e ineficiência produtiva podem refletir em conside-
ráveis perdas pecuniárias (monetárias) e materiais para qualquer organiza-
ção. Por outro lado, investimentos em programas ambientais, mitigação dos
impactos ambientais, processo produtivo ecoeficiente e um posicionamento
voltado para ações socioambientais efetivas, embora sejam oriundos de investimentos, con-
figuram-se como grandes oportunidades de resultados mais promissores.
Obviamente, a primeira pergunta que vem à mente consiste em: Como é possível lidar
com questões ambientais no âmbito da gestão contábil?
Primeiramente, para responder a tal pergunta, é preciso lembrar que a contabilidade
ambiental (environmental accounting) consiste em uma vertente da contabilidade. Nesse ali-
nhamento, as classificações e os registros das contas patrimoniais concernentes ao meio am-
biente precisam seguir as mesmas diretrizes estabelecidas na contabilidade, cujos conjuntos
informacionais decorrentes da aquisição de bens, despesas com preservação e manutenção,
investimentos em projetos socioambientais, custos, contração de obrigações e compromissos
ambientais devem consistir em atribuições da contabilidade ambiental, com base na devida
classificação dos elementos patrimoniais de bens e direitos (ativos) ambientais, obrigações
(passivo) ambientais e patrimônio líquido ambiental.

3.1.1 Ativos ambientais


Na concepção de Ribeiro (2006, p. 61), os ativos ambientais consistem em “todos os bens
e direitos possuídos pelas empresas, que tenham capacidade de geração de benefício eco-
nômico em períodos futuros e que visem à preservação, proteção e recuperação ambiental”.
De forma semelhante, Tinoco e Kraemer (2011, p. 154) apresentam a definição de ativos
ambientais como “os bens adquiridos pela companhia que têm como finalidade controle,
preservação e recuperação do meio ambiente”. Tais autores ainda esclarecem, com exem-
plos, o que representam esses ativos:
2 os estoques dos insumos, peças e acessórios etc. utilizados no processo de elimina-
ção ou redução dos níveis de poluição e de geração de resíduos;
2 os investimentos em máquinas, equipamentos, instalações etc. adquiridos ou pro-
duzidos com intenção de amenizar os impactos causados ao meio ambiente;
2 os gastos com pesquisas, visando ao desenvolvimento de tecnologias modernas,
de médio e longo prazo, desde que constituam benefícios ou ações que irão refletir
nos exercícios seguintes.
A configuração dos ativos ambientais é distinta entre as entidades, obviamente, pelas
diferentes atividades econômicas e pelos processos envolvidos. Não obstante, a estruturação
do balanço patrimonial segue a mesma lógica prevista nas convenções contábeis, de modo

42 Contabilidade Socioambiental
Patrimônio ambiental 3
a classificar os ativos ambientais em ativo circulante (bens e direitos ambientais de curto
prazo) e ativo não circulante (bens e direitos ambientais de longo prazo). Ambos englobam
os bens destinados especificamente para o controle, a proteção e a preservação ambiental.
Cumpre evidenciar que a contabilização do evento ou da transação relativa aos aspec-
tos ambientais passa a ser efetivada no momento em que a entidade obtém o controle ou
a posse do ativo ambiental. Segundo a Norma Brasileira de Contabilidade NBC TE XXX –
Interação da Entidade com o Meio Ambiente (CFC, 2012), a classificação do ativo ocorrerá
da seguinte forma:
2 Ativos circulantes ambientais referem-se aos estoques de insumos (bens e servi-
ços), os quais serão utilizados no processo operacional, ou ao final deste, com o
objetivo de reduzir ou eliminar a produção de poluentes, ou, ainda, aqueles com a
finalidade de recuperar danos ambientais.
2 Estoques operacionais ambientais devem ser segregados entre ambientais, recicla-
dos e reutilizados, visando proporcionar maior transparência sobre a relação da
entidade com o meio ambiente.
2 Ativos não circulantes podem ser formados por contas de Investi­mento Ambiental,
Imobilizado Ambiental e Intangível Ambiental.
2 Ativos não circulantes ambientais são aqueles cuja realização se dará no longo
prazo e associados com a proteção e a recuperação ambiental.
2 Investimentos ambientais são caracterizados por aplicação de recursos na aqui-
sição de áreas de conservação de recursos naturais com o objetivo específico de
promover a preservação da fauna e da flora – ressalte-se que, mudando a intenção,
o ativo tem que ser reclassificado.
2 Imobilizado ambiental são os itens utilizados ao longo de vários períodos, especi-
ficamente, para tratar os poluentes oriundos do processo operacional da entidade,
durante a operação ou após o final desta. Pode incluir, também, os ativos de longa
duração, destinados, exclusivamente, à recuperação de áreas degradadas pela en-
tidade em períodos anteriores, enquanto estiverem em atividade.
2 Intangíveis ambientais são os itens incorpóreos controlados pela entidade capazes
de produzir fluxos de caixa futuros e que estejam vinculados à interação com o
meio ambiente.
É importante destacar que os desembolsos relativos às intervenções (tratamentos) de
contaminação ao meio ambiente, em decorrência das atividades e operações da entidade,
deverão ser classificados como ativo não circulante em situações em que: (i) apresentar ca-
racterística recuperável; (ii) oportunizar a capacidade ou melhoria da segurança e economia
dos ativos, bem como o prolongamento de vida útil; ou (iii) ter um momento de preparação
do ativo para destiná-lo à vendas.
Ainda sob a perspectiva do ativo não circulante, as contas do ativo imobilizado
(bens corpóreos) merecem uma tratativa diferenciada, em função de que esses bens so-
frem desgastes ou perda com o passar do tempo (diminuição do valor). Contabilmente,

Contabilidade Socioambiental 43
3 Patrimônio ambiental

grande parte dos ativos imobilizados, ­excetuando-se terrenos, configuram em ativo fixo
de limitada vida útil contábil, e tal classificação é denominada depreciação, amortização ou
exaustão. Com base nas diretrizes da Lei n. 6.404/76 (Lei das S.A) (BRASIL, 1976), pode-se
conceituar esses itens como:
2 Depreciação acumulada ambiental: registro de perda de valor de direitos de bens
físicos relativos à preservação e à recuperação ambiental.
2 Amortização acumulada ambiental: registro de perda de valor de capital aplicado
na aquisição de direitos de propriedade e quaisquer outros com existência ou exer-
cício de duração limitada, ou cujo objeto sejam bens de utilização por prazo legal
ou contratualmente limitado.
2 Exaustão acumulada ambiental: registro da perda do valor de recursos florestais
ou minerais, decorrentes das explorações que resultam no esgotamento dos recur-
sos no transcorrer do tempo. Exemplo: jazidas ou minas.
Como o procedimento contábil de exaustão é característico de exploração de recursos
minerais ou florestais, merecendo certo destaque na contabilidade ambiental, um exemplo
prático do processo de exaustão de um ativo (jazidas) é demonstrado a seguir:

Informações disponíveis:

Valor contábil das jazidas = R$ 100.000,00

Estimativa total de minérios da jazida = 200.000 t

Extração neste exercício = 20.000 t

Cálculo contábil de exaustão:

Relação da extração do ano – 20.000 t =10% de 200.000 t

Exaustão contábil = 10% sobre R$ 100.000,00 = R$ 10.000,00

3.1.2 Passivo ambiental


Com amplas discussões na literatura contábil, o passivo ambiental muitas vezes é apre-
sentado em um sentido negativo, frequentemente relacionado às indenizações a terceiros
ou a multas decorrentes de poluições, danificações e degradações ambientais por parte das
atividades empresariais, ou seja, as obrigações da entidade em relação aos compromissos de
restituição dos prejuízos ambientais causados.
Contudo, essa é uma visão limitada, pois os passivos ambientais também compreen-
dem ações como a implantação de sistemas de gestão ambiental, a empregabilidade de pes-
soal especializado na área ambiental (engenheiros ambientais, biólogos, químicos, e outros
relacionados) e os financiamentos de novos maquinários que contribuam para a mitigação

44 Contabilidade Socioambiental
Patrimônio ambiental 3
de impactos ambientais e promovam a preservação ambiental. Tais assertivas são corrobora-
das por Ribeiro e Gratão (2000) e Carvalho (2008), os quais alegam que os passivos ambien-
tais não possuem origem apenas em fatos de conotação negativa, mas podem se originar de
atitudes ambientalmente responsáveis (positivas).
Silva (2011 apud VANZO, 2017, p. 35) define passivo ambiental como “todas as obriga-
ções, contraídas de forma voluntária ou involuntária, que exigirão em um momento futuro
entrega de ativos, prestação de serviços ou sacrifício de benefícios econômicos, em decor-
rência de transações ou operações, passadas ou presentes, que envolveram a instituição com
o meio ambiente e que acarretaram algum tipo de dano ambiental”. O passivo ambiental é
constituído de: (i) passivo circulante (curto prazo), no qual são classificadas as obrigações
de cunho ambiental, cujo vencimento ocorra até o final do exercício seguinte ou conforme o
ciclo operacional, se superior a este prazo; e (ii) passivo não circulante ou passivo exigível
a longo prazo, o qual abarca as obrigações da entidade, cujo vencimento ocorra em prazo
superior ao exercício seguinte.
A composição das contas do passivo ambiental é estruturada de acordo com a seguinte
configuração (VANZO, 2017):
2 Passivo circulante: Fornecedores de bens e serviços de proteção e recuperação am-
biental; Financiamentos Ambientais; Multas por Danos Ambientais; Indenizações
por Danos Ambientais, Impostos Verdes; Gastos Ambientais a Pagar; Meio
Ambiente a Recuperar; Indenizações por Doenças Causadas; etc.
2 Passivo exigível a longo prazo: Consiste nas contas do passivo circulante que
tenham o vencimento (prazos de exigibilidades) após 365 dias (um exercício/
um ano).
Tinoco e Kraemer (2011) classificam as obrigações derivadas do passivo ambiental em
três tipos:
2 Legais ou implícitas: Obrigação legal, emanada de legislação, contrato ou outro
instrumento legislativo, cuja configuração se apresente como existente no presen-
te, contudo resultante de um evento anterior (passado), como: utilização de recur-
sos naturais como solo e água ou geração de resíduos que contaminam a natureza.
2 Construtivas: Constituem ações da entidade que excedem às exigências legais,
cujo cumprimento ocorre de forma espontânea.
2 Justas: Cumprimento pautado nos fatores éticos e morais, com base em práticas de
responsabilidade socioambiental.
Ribeiro e Lisboa (2000, p. 11), de forma elucidativa, relacionam alguns exemplos de
práticas que, ao serem admitidas pelas empresas, resultarão em sacrifícios de recursos eco-
nômicos, configurando-se como obrigações que devem constar na classificação das contas
do passivo ambiental:
2 aquisição de ativos para contenção dos impactos ambientais (chaminés, depura-
dores de águas químicas etc.);
2 aquisição insumos que serão inseridos no processo operacional para que este não
produza resíduos tóxicos;

Contabilidade Socioambiental 45
3 Patrimônio ambiental

2 despesas de manutenção e operação do “departamento” de gerenciamento am-


biental (inclusive mão de obra);
2 gastos para recuperação e tratamento de áreas contaminadas (máquinas, equipa-
mentos, mão de obra, insumos em geral etc.);
2 pagamento de multas por infrações ambientais;
2 gastos para compensar danos irreversíveis, inclusive os relacionados à tentativa de
reduzir o desgaste da imagem da empresa perante a opinião pública etc.
O passivo oriundo do meio ambiente não tem sua mensuração quantificada e mensu-
rada de forma pontual, no que se refere à ocorrência do dano; todavia, levando em consi-
deração o princípio da oportunidade, os registros devem ser realizados detalhadamente em
notas explicativas de potenciais passivos. Conforme consta na NBC TE XXX (CFC, 2012),
“O método de mensuração das obrigações ambientais deve ser divulgado em nota explica-
tiva. Para calcular o valor do passivo, pode ser usada a experiência da entidade com TAC
(Termo de Ajustamento de Conduta) e mecanismos de compensações voluntárias, entre ou-
tras alternativas”.
Nessa perspectiva, um ponto que merece considerável atenção são os efetivos registros
contábeis de passivos, custos e despesas ambientais, uma vez que a ausência de tais regis-
tros, ou o registro, incorreto destes, resultará na posição econômica inverídica da entidade,
além de originar lucros impróprios aos acionistas, refletindo no descrédito das demons-
trações financeiras da entidade, além da perda de confiança e credibilidade por parte dos
stakeholders (partes interessadas).
Para tanto, a identificação e a mensuração do passivo ambiental devem considerar to-
das as proporções dos impactos ou prejuízos ambientais de característica negativa, ampa-
rando-se no Princípio Contábil da Prudência. Nessa perspectiva, a Resolução CFC 750, de
1993, esclarece que tal princípio determina a “adoção do menor valor para os componentes
do Ativo e do maior para os do Passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente
válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido”.
Acerca da baixa do passivo ambiental, esta deve ocorrer à medida que as obrigações são
devidamente cumpridas.

3.2 Patrimônio Líquido (PL)


Vídeo
Sob a perspectiva ambiental, o patrimônio líquido é constituído por pe-
culiaridades específicas, cujas provisões, reservas e a destinação de recursos
para questões concernentes ao meio ambiente, indispensavelmente, preci-
sam ser contabilizadas de modo coerente, com base nos processos relativos
ao capital próprio da entidade e seus encadeamentos com os eventos am-
bientais. Por meio dos embasamentos contábeis, aprenderemos, a seguir, a classificação con-
tábil das contas que compõem esse elemento Patrimônio Líquido.

46 Contabilidade Socioambiental
Patrimônio ambiental 3
3.2.1 Reservas de lucros ou prejuízos
As reservas são constituídas pelos lucros ou prejuízos da entidade. Tais lucros ou pre-
juízos são transferidos para a conta de Lucros ou Prejuízos Acumulados, a qual está inserida
no Patrimônio Líquido. Quando considera as questões relativas ao meio ambiente, o resul-
tado do exercício será apurado dos elementos das receitas, das despesas, dos ganhos e das
perdas concernentes ao meio ambiente.

3.2.2 Reserva para contingências ambientais


De acordo com Carvalho (2008, p. 138) “a conta reserva para contingências é uma
das Reservas de Lucros constantes no Patrimônio Líquido, tendo a conta Reserva para
Contingências Ambientais como uma de suas subdivisões”.
Em consonância com a NBC TE XXX (CFC, 2012), a contingência ambiental “é o risco
de natureza ambiental a que se sujeita a entidade em função de sua interação com o meio
ambiente. Tal risco envolve aspectos econômicos financeiros e sua definição depende de fato
futuro”. A conta de Reserva para Contingências Ambientais “é uma das Reservas de Lucros
constantes no Patrimônio Líquido, tendo a conta Reserva para Contingências Ambientais
como uma de suas divisões” (ANTONOVZ, 2014, p. 116). Tal conta está relacionada às per-
das que podem afetar o patrimônio e que não estão sob controle da instituição (ex: fenôme-
nos naturais), as quais devem ser contabilizadas, embora não sejam precisas quanto à monta
(valor) e ao período (tempo), suscetíveis à possibilidade de eventual ocorrência (podendo
ocorrer ou não). Essa conta e sua respectiva contabilização é pautada pela Lei n. 6.404/76.
Na concepção de Iudícibus, Martins e Gelbcke (2007), a contingência constitui a cir-
cunstância em que existe o risco, mas também certo grau de incerteza quanto à sua con-
creta ocorrência, e que, em função de um evento futuro, resultará em ganhos ou perdas
para a entidade.
É preciso compreender a diferença entre provisão para contingência e reserva para con-
tingência, cuja definição está pautada na análise do seu fato gerador contábil. A NPC 22
(IBRACON, 2005) define o fato gerador contábil como um evento passado que cria uma
obrigação presente para uma entidade (legal ou não formalizada). Assim, a classificação
contábil de reserva ou provisão dependerá exclusivamente da ocorrência do fato gerador.
Por exemplo, se o fato gerador efetivamente ocorreu, a provisão deve ser lançada, com refle-
xo no passivo. A contrapartida, por sua vez, consistirá na redução do resultado do exercício.
Na eventualidade de não ocorrer o fato gerador, a reserva deve ser aplicada.

Exemplo prático 1 – Provisões para contingências:

Supondo que a empresa Rodagem Rápida Transportes S.A., em função de um acidente


com um de seus caminhões por falta de manutenção preventiva, contamina uma área am-
biental por meio de vazamento de combustível. As despesas previstas para a recuperação da
área contaminada configuram responsabilidade integral da empresa, por se tratar de uma

Contabilidade Socioambiental 47
3 Patrimônio ambiental

exigência legal. Fica evidente que o fato gerador ocorreu (contaminação da área ambiental),
emergindo então a necessidade de se efetuar a provisão para contingências, com a seguinte
operação contábil:
Débito: Recuperação do Meio Ambiente (Despesa);
Crédito: Provisão Responsabilidade Ambiental (PC).

Exemplo prático 2 – Reservas para contingências

A empresa Manutenções Eficientes S.A. atua no segmento de manutenção e lavagem


de empilhadeiras e maquinários portuários. A empresa dispõe de estações de tratamento
de efluentes (nesse caso, separação da água e do óleo gerados), o que configura o tratamen-
to da água que é utilizada para lavagem dos maquinários e das manutenções realizadas,
sem impactos ambientais, atendendo às diretrizes do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama) com análise laboratorial periódica. Contudo, as instalações estão localizadas a 2
km do Rio Sul, o qual, em épocas de grande volume de chuvas, pode ter um aumento de
nível, comprometendo o escoamento das águas pluviais da região. Isso danifica o sistema de
drenagem com alagamentos, que atingem as instalações, promovendo prejuízos aos equi-
pamentos, bem como gerando impactos ambientais, em função do comprometimento do
sistema de tratamento e pela contaminação com as instalações (ambiente de oficina), o que
corrompe as águas do Rio Sul e resulta em prejuízos para a comunidade local.
O evento nunca aconteceu, mas apresenta possibilidades de ocorrência. Nesse caso, o
registro contábil seria estruturado na forma disposta a seguir:
Débito: Lucros ou Prejuízos Acumulados (PL);
Crédito: Reserva para Contingências Ambientais (PL).

3.2.3 Lucro ambientalmente correto


Outra conta existente no Patrimônio Líquido, de acordo com os pressupostos da con-
tabilidade ambiental, é o Lucro Ambientalmente Correto, na qual a entidade demonstra a
apuração do custo, da despesa e das receitas ambientais. Na concepção de Antonovoz (2014,
p. 117), o lucro ambiental “é a capacidade que tem a empresa de gerar resultados econômi-
cos positivos, respeitando o meio ambiente, isto é, sem causar poluição”.

3.2.4 Resultado líquido negativo apurado


Obviamente, as entidades estão comumente sujeitas aos prejuízos oriundos de suas
atividades e respectivos impactos ambientais. Nesse cenário, a classificação desse eventual
prejuízo é direcionada à conta Resultado Líquido Negativo Apurado. Em formato similar,
o lucro também pode ser mensurado, após a apuração dos valores e dos registros de todos
os fatos contábeis.
Outro ponto que merece destaque é que a entidade pode destinar uma parte do Capital
Social ou do Patrimônio Líquido para aplicabilidade na preservação, no monitoramento e

48 Contabilidade Socioambiental
Patrimônio ambiental 3
na recuperação do meio ambiente, bem como para estabelecer as contingências, doações
e subvenções.
A conta de reservas de contingência, como abordado anteriormente, deve proporcionar
a possibilidade de ocorrência de um fato gerador a se concretizar no futuro e considerar os
componentes extraordinários que atingem o patrimônio da entidade, desde que sejam rela-
cionados ao meio ambiente.

3.2.5 Doações e subvenções para investimento no meio


ambiente
Nas contas de doações e subvenções devem ser registrados os valores originários de
investimentos do Estado, nos âmbitos federal, estadual e municipal, em atividades relacio-
nadas à ecologia – logo, são consideradas reservas de capital ambiental.

3.3 Custos, despesas, perdas e receitas ambientais


Vídeo
O tratamento contábil e a divulgação das informações relativas a cus-
tos, despesas, perdas e receitas são norteados com base em uma classifica-
ção definida, uma vez que consistem em contas diretamente relacionadas
aos resultados patrimoniais. Iudícibus (2004) afirma que essa classificação
é muito complexa, dada a distinção entre as terminologias. Nesse aspecto,
para amplitude dos ensinamentos aqui expostos, torna-se oportuno apresentar em sub-
seções cada uma das abordagens concernentes a esse grupo de contas, sob a perspectiva
ambiental.

3.3.1 Custos ambientais


Os custos e as despesas ambientais configuram-se nos gastos aplicados à manutenção, à
preservação ou à restauração do meio ambiente relativos ao processo produtivo da empresa,
de forma direta ou indireta. Tais gastos devem ser reconhecidos na contabilidade ambiental
como despesa na oportunidade em que o uso do recurso ocorrer de forma indireta e como
custo quando esse gasto for utilizado de forma direta.
Por outro lado, os custos são intangíveis, logo, são de difícil mensuração. Na maioria
das vezes os custos ambientais são somados aos custos operacionais, o que gera certa difi-
culdade de visualização. A norma NBC TE XXX observa que “Os custos ambientais devem
ser reconhecidos no período em que houver o consumo do recurso, confrontado com a re-
ceita a que está associado” (CFC, 2012).
No entendimento de Antonovz (2014), os custos podem ser divididos em:
2 Custo de Prevenção: refere-se aos gastos utilizados para a diminuição de poluen-
tes produzidos no processo produtivo, como é o caso do investimento em tecno-
logias limpas.

Contabilidade Socioambiental 49
3 Patrimônio ambiental

2 Custo de Controle: recursos utilizados para manter o controle do limite do de-


sequilíbrio ambiental previsto anteriormente. Exemplo: análise periódica dos pa-
drões de poluição.
2 Custos de Correção: gastos com recuperação de danos ambientais, como, por
exemplo, o reflorestamento.
2 Custos de Falha: custos decorrentes das falhas no processo produtivo e que geram
danos ao meio ambiente. Exemplo: multas e sanções.
2 Custos das externalidades: gastos que têm como escopo os impactos ao meio am-
biente que poderão surgir no futuro. Exemplo: os males gerados à saúde em de-
corrência da poluição.

3.3.2 Despesas ambientais


Segundo Antonovz (2014, p. 118), são consideradas despesas ambientais os gastos rela-
cionados ao processo produtivo, como os exemplificados a seguir:
2 prevenção de contaminação;
2 tratamento de resíduos;
2 tratamento de emissões atmosféricas;
2 descontaminação;
2 restauração;
2 materiais auxiliares e de manutenção de serviço;
2 depreciação de equipamento;
2 exaustação ambiental;
2 pessoal envolvido na produção;
2 gestão do meio ambiente;
2 investigação e desenvolvimento;
2 desenvolvimento de tecnologias mais limpas;
2 auditoria.
As despesas estão correlacionadas com a preservação do meio ambiente, bem como os
ativos utilizados nas ações ambientais. Ademais, podem estar ligadas com a verificação dos
procedimentos ambientais, como é o caso das auditorias ambientais.
De acordo com a NBC TE XXX (CFC, 2012), “as despesas devem ser reconhecidas na
medida em que haja consumo de recursos para suprir a relação da entidade com o meio
ambiente e que seja de característica genérica e, não, associada com nenhum produto ou
processo específico”.

3.3.3 Perdas ambientais


As perdas ambientais podem ser compreendidas como perdas econômicas não re-
lacionadas com qualquer espécie de benefício para a empresa. A natureza dessa conta se

50 Contabilidade Socioambiental
Patrimônio ambiental 3
relaciona com a imprevisibilidade, como, por exemplo, o fenômeno da chuva ácida em uma
plantação, que resulta em sérios prejuízos relativos ao negócio. A norma NBC TE XXX (CFC,
2012) estabelece que, além dos ativos ambientais, o balanço patrimonial deve conter contas
redutoras dos ativos operacionais para retratar as provisões a perdas por causas ambientais,
as quais devem refletir o processo de desgaste acelerado dos ativos em função da exposição
ao meio ambiente poluído.
Cumpre ressaltar que os valores utilizados para pagamento de multas ou indenizações
não podem ser considerados como perdas ambientais, visto que a entidade que causa danos
ao meio ambiente deve estar preparada para tais consequências. Logo, os referidos gastos
são considerados como despesas.

Exemplo prático – Para entendimento da diferença entre perdas e


despesas ambientais

No mês de abril do ano de 2015, o incêndio no Terminal Alemoa, em Santos (SP), re-
sultou em multa, imputada pelo órgão ambiental estadual, à empresa Ultracargo, em um
montante de R$ 22,5 milhões, pelo lançamento de efluentes líquidos no estuário de Santos,
compreendendo os manguezais e a lagoa localizada ao lado do terminal. Além disso, para
a aplicação da multa, também foram consideradas as emissões de efluentes gasosos na at-
mosfera e a exposição aos riscos relativos à segurança de todo o entorno. Nesse exemplo
real, a empresa pode interpor recurso judicial quanto ao valor da multa imputada e demais
aspectos relacionados. Contudo, o ponto que merece destaque neste momento consiste no
pagamento do valor da multa, o qual, contabilmente, não configurará em perdas ambien-
tais, mas em despesas ambientais.

3.3.4 Receitas ambientais


De acordo com o International Accounting Standards Board – IASB (apud IUDÍCIBUS;
MARION, 2000, p. 173), a receita pode ser definida como: “[...] o acréscimo de benefícios
econômicos durante o período contábil na forma de entrada de ativos ou decréscimo de
exigibilidade e que redunda num acréscimo do patrimônio líquido, outro que não o relacio-
nado a ajustes de capital [...]”
Nessa concepção, as receitas ambientais integram o aumento/ganho de benefícios eco-
nômicos em determinado momento contábil, em decorrência da atividade operacional da
entidade, configurando-se como um valor econômico acrescentado no ativo, cuja origem
está relacionada a aspectos ambientais.
Na concepção de Tinoco e Kraemer (2011), as receitas ambientais são decorrentes das
seguintes ações:
2 prestação de serviços especializados em gestão ambiental;
2 venda de produtos cuja matéria-prima consiste em insumos do processo produtivo;
2 venda de produtos reciclados;
2 receita de aproveitamento de gases e calor;

Contabilidade Socioambiental 51
3 Patrimônio ambiental

2 redução do consumo de matérias-primas;


2 redução do consumo de energia;
2 redução do consumo de água;
2 participação no faturamento total da empresa que se reconhece como sendo devi-
da à sua atuação responsável para com o meio ambiente.
As notas explicativas podem ser utilizadas para evidenciação e detalhamento dos valo-
res economizados pela empresa, decorrentes de serviços de recuperação e prevenções rela-
tivas aos gastos ambientais.
Para maior esclarecimento, dois exemplos fictícios são apresentados:

Exemplo 1

A companhia de grande porte Novo Amanhecer dispõe de um arquivo físico, com um


elevado acervo documental de aproximadamente 200 mil caixas. Anualmente, são geradas
aproximadamente 25 mil caixas de arquivo pelos setores administrativos da empresa e são
incineradas 20 mil caixas, a partir do vencimento do período de vigência documental pe-
rante os órgãos solicitantes e mediante pagamento à empresa autorizada para o processo
de incineração. Um especialista da área ambiental explicou à diretoria da companhia que as
caixas poderiam ser destinadas à reciclagem, mantendo a confidencialidade dos documen-
tos, além do recebimento monetário, e, consequentemente, evitando custos decorrentes dos
serviços de incineração. Com o procedimento de reciclagem adotado, a empresa passou a
receber os valores relativos aos pesos do valor comercial do papel, não incorrendo em des-
pesas de incineração e gerando receitas de cunho ambiental.

Exemplo 2

Após um estudo de viabilidade local, a fábrica de perfumaria Novo Mundo investiu


em um sistema de placas para captação de energia solar. Inicialmente, o valor do projeto era
consideravelmente alto e o payback period ocorreria apenas após cinco anos do investimento.
O projeto foi implantado e, após cinco anos, a empresa passou a receber o retorno sobre esse
investimento, ficando evidente a economia de energia, além de passar a trabalhar com ener-
gia limpa e renovável. A economia financeira advinda do novo sistema pode ser classificada
como receitas ambientais e passa a ser mensurada, nesse caso, a partir do payback period.

Conclusão

Ao considerar as transformações advindas da globalização e das correspondentes res-


ponsabilizações ambientais imputadas às entidades, as exigências contábeis evidenciam o
necessário aprimoramento do profissional de contabilidade em relação aos registros das
transações patrimoniais de forma clara e precisa. Isso reflete em demonstrações contábeis
legítimas e que efetivamente retratam a realidade patrimonial organizacional e suas respec-
tivas tratativas com os eventos ambientais.

52 Contabilidade Socioambiental
Patrimônio ambiental 3
Decorre de tais argumentos que a classificação dos valores correspondentes aos ele-
mentos patrimoniais, a correta utilização de provisões e as informações adicionais em
notas explicativas são componentes essenciais para estruturação das demonstrações fi-
nanceiras, em alinhamento com a perspectiva ambiental. Fica evidente que a natureza
dos eventos determinará os detalhamentos e tratamentos necessários; contudo, é pre-
missa básica o domínio da contabilidade ambiental para atendimento e controle dessa
nova realidade contábil empresarial.

Ampliando seus conhecimentos

No texto a seguir são apresentadas algumas interpretações quanto aos recursos


empregados no processo de recuperação de danos ambientais e sua respec-
tiva agregação ao valor do ativo, de modo que uma mesma transação pode
ser registrada de forma diferenciada. Essa variação decorre do país de origem,
ocasionando impactos diferentes nas contas patrimoniais e de resultados.

Contabilidade ambiental
(RIBEIRO, 2005, p. 64-66)

Posição da ONU (Organização das N


­ ações Unidas)

Para a ONU, os gastos ambientais necessários à restauração de áreas con-


taminadas, decorrentes de danos ocorridos na preparação de um ativo,
ou atividade operacional, que tenham sido apurados no momento em que
foram provocados, podem ser capitalizados. O Pronunciamento explica
que, em muitas situações, o dano ocorre antes de a empresa iniciar uma
determinada atividade ou ao longo do desenvolvimento. É o caso da
exploração de minérios, em que as operações não podem começar sem
que haja os trabalhos de escavações, os quais representam um prejuízo
ao meio ambiente. As empresas, com frequência, são obrigadas a provi-
denciar a restauração da área, depois de encerradas as atividades. Tais
gastos podem ser provisionados pelo total, quando o dano estiver sendo
realizado. O total poderá ser capitalizado e amortizado no resultado dos
períodos durante a vida útil da atividade.

Posição dos Estados Unidos

O Emerging Issues Task Force – EITF 90-8, do Financial Accounting


Statement Board – FASB, estabelece que, em geral, os gastos recuperáveis
com o tratamento de contaminação ambiental podem ser registrados
como Ativo Imobilizado se no momento da aquisição ou do término da
construção ou desenvolvimento:

Contabilidade Socioambiental 53
3 Patrimônio ambiental

• Proporcionarem um prolongamento da vida útil, aumento da capaci-


dade ou melhoria da segurança ou eficiência do bem;

• Contribuírem para a redução ou prevenção decorrente dos danos das


operações da empresa;

• Forem incorridos no preparo para a venda da propriedade. Caso con-


trário, serão tratados como consumo do período.

Posição do Canadá

Um estudo realizado no Canadá mostra que os gastos relacionados com


a recuperação de danos ambientais serão agregados ao valor do ativo
somente se, no momento da aquisição, houver conhecimento da sua
necessidade ou exigência legal. Caso contrário, quando a necessidade de
recuperação ou restauração de danos ambientais ocorridos anteriormente
à aquisição é identificada em momentos posteriores, os gastos representa-
rão uma perda do período em que forem realizados.

[...]

Atividades
1. Atualmente, as empresas, de modo geral, buscam ações que envolvem a preservação
ambiental e a respectiva redução dos impactos inerentes ao seu processo produtivo,
o que, por consequência, demanda recursos financeiros e interfere no patrimônio
organizacional. Nesse contexto, considerando a demonstração contábil Balanço Pa-
trimonial, diferencie passivo ambiental e ativo ambiental.

2. É evidente que as organizações podem agredir o meio ambiente, em decorrência de


suas atividades (por vezes, potencialmente p
­ oluidoras). Contudo, com a conscienti-
zação e a responsabilização ambiental, tais empresas buscam desenvolver projetos
de recuperação do ambiente ecologicamente afetado. Com essa abordagem, expli-
que a diferença de custos ambientais e despesas ambientais.

3. “A maioria das empresas tem buscado diferenciais no mercado e determinadas polí-


ticas adotadas podem fazer uma diferença determinante no futuro delas. Uma des-
sas, é a contabilidade ambiental, que surge como uma nova área da contabilidade
com diversas vantagens não somente para as organizações, mas para a sociedade
como um todo” (REDE JORNAL CONTÁBIL, 2016).

Considerando as afirmações do texto citado, conceitue a contabilidade ambiental no


âmbito empresarial.

54 Contabilidade Socioambiental
Patrimônio ambiental 3
4. A contingência consiste em uma situação em que o resultado final decorre de possí-
veis eventos futuros. Sob esse aspecto, conceitue e explique a importância da conta
Reserva para Contingências sob a perspectiva ambiental.

Referências
ANTONOVZ, Tatiane. Contabilidade ambiental. 1. Ed. Curitiba: Intersaberes, 2014.
ARAÚJO, Adriana Maria Procópio; ASSAF, Alexandre. Introdução à contabilidade. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.
BERTOLI, Ana Lúcia; RIBEIRO, Maísa de Souza. Passivo ambiental: estudo de caso da Petróleo
Brasileiro S.A - Petrobrás. A repercussão ambiental nas demonstrações contábeis, em consequência
dos acidentes ocorridos. Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 117-136, 2006.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552006000200007>. Acesso em: 18 set. 2017.
BRAGA, Célia (Org.). Contabilidade ambiental: ferramenta para a gestão de sustentabilidade. São
Paulo: Atlas, 2010.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 15 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso
em: 3 out. 2017.
CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. Contabilidade ambiental: teoria e prática. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2008.
CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Minuta da Norma Brasileira de Contabilidade NBCTE
XXX: interação da entidade com o meio ambiente. Brasília, DF: CFC, 2012. Disponível em: <http://cfc.
org.br/uparq/nbc_te_interacao_da_entidade_meio_ambiente.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2017.
FERREIRA, Aracéli Cristina de Souza. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvi-
mento sustentável – inclui certificados de carbono. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil. NPC 22: provisões, passivos, contin-
gências passivas e contingências ativas. Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.ibracon.com.br/
ibracon/Portugues/detPublicacao.php?cod=140>. Acesso em: 20 nov. 2017.
IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Introdução à teoria da contabilidade. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2000.
IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Curso de contabilidade para não contadores. 7. ed. São
Paulo: Atlas, 2011.
IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto R. Manual de contabilidade das socie-
dades por ações (aplicável às demais sociedades). 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
PAIVA, Paulo Roberto de. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com trans-
parência e focada na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003.
REDE JORNAL CONTÁBIL. Contabilidade ambiental: conheça os benefícios sociais e ecológicos.
18 out. 2016. Disponível em: <https://www.quorumcontabil.com/noticias/ver/145/contabilidade-
ambiental>. Acesso em: 18 set. 2017.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. Coord. Pedro Lenza. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
RIBEIRO, Maisa de Souza. Contabilidade ambiental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
RIBEIRO, Maísa de Souza; GRATÃO, Ângela Denise. Custos ambientais: o caso das empresas dis-
tribuidoras de combustíveis. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 7., 2-4 ago. 2000, Recife

Contabilidade Socioambiental 55
3 Patrimônio ambiental

(PE). Anais... Recife, 2000. Disponível em: <https://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/


view/3020/3020>. Acesso em: 20 nov. 2017.
RIBEIRO, Maisa de Souza; LISBOA, Lázaro Plácido. Passivo ambiental. Revista Brasileira de
Contabilidade, Brasília, DF, n. 126, p. 8- 19, nov./dez. 2000.
SILVA, Benedito Gonçalves da. Contabilidade ambiental. Curitiba: Juruá, 2011.
TINOCO, João Eduardo Prudêncio; KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e gestão am-
biental. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
VANZO, Geni Francisca dos Santos. Contabilidade socioambiental. São Paulo: Senac-SP, 2017.

Resolução
1. Ativo ambiental é o recurso controlado pela entidade, cujos benefícios futuros espe-
rados estejam diretamente associados com a proteção do meio ambiente ou com a
recuperação daquele já degradado. Incluem-se, também, as áreas nativas mantidas
para conservação.

Já o passivo ambiental compõe as obrigações para com terceiros, resultantes de im-


pactos causados ao meio ambiente. Pode se constituir na obrigação de recuperação
de áreas degradadas, indenização de terceiros em função dos efeitos de danos am-
bientais, obrigações de criar meios de compensação para minimizar danos ambien-
tais e, ainda, multas e penalidades semelhantes por infração à legislação ambiental.

2. A despesa ambiental consiste nos gastos gerais relativos ao meio ambiente, reali-
zados no período, e que não estejam relacionados especificamente com o processo
produtivo da entidade.

O custo ambiental compreende os consumos de recursos incorridos e reconhecidos


pela entidade relacionados ao processo produtivo que tenham por objetivo mitigar e
prevenir danos ambientais causados pelas atividades operacionais ou outros consu-
mos vinculados à produção.

3. A contabilidade ambiental tem o objetivo de identificar, mensurar, reconhecer e di-


vulgar os aspectos econômico-financeiros inerentes aos eventos e às transações re-
lacionados à interação da entidade com o meio ambiente. Está inserida no sistema
contábil, não se configurando como uma contabilidade à parte, mas como uma ver-
tente da contabilidade.

4. A conta Reservas para Contingências está relacionada às perdas que podem


afetar o patrimônio e que não estão sob controle da instituição (ex.: fenômenos
naturais), as quais devem ser contabilizadas, embora não sejam precisas quan-
to à monta (valor) e o período (tempo), suscetíveis à possibilidade de eventual
ocorrência. A importância dessa conta consiste justamente no fato de a empresa
provisionar contabilmente eventos que podem ocorrer, não afetando, de modo
imprevisível, as demonstrações financeiras.

56 Contabilidade Socioambiental
4
Fatos ambientais

Este capítulo pretende apresentar ao leitor a dinâmica do patrimônio refletida nas


alterações patrimoniais decorrentes dos fatos contábeis ambientais. Com foco no regis-
tro desses fatos, é abordado o planejamento contábil apoiado na estruturação e na
projeção do plano de contas ambiental, de modo a elencar as contas adaptadas ao meio
ambiente e os respectivos lançamentos contábeis relativos aos eventos ambientais.

Contabilidade Socioambiental 57
4 Fatos ambientais

4.1 Fatos ambientais


Vídeo
Ao considerar a dinâmica refletida nas constantes alterações patrimo-
niais relacionadas às atividades e interferências da administração das entida-
des, Silva (2011) define os fatos contábeis como eventos que ocasionam tais
modificações no patrimônio. O autor ainda explica que os fatos contábeis
não necessariamente modificam continuamente o Patrimônio Líquido, uma
vez que essas alterações podem ocorrer, em alguns casos, devido a uma simples permuta
entre as espécies dos elementos patrimoniais (alterações específicas).
Nessa perspectiva, os fatos contábeis ambientais podem ser compreendidos como todos
os eventos que ocorrem na entidade, mensurados monetariamente, cujo registro contábil
está estritamente relacionado ao contexto do meio ambiente.
Pode-se citar como exemplo a seguinte situação fictícia: a empresa Alfa S.A., atuante no
segmento de fabricação de celulose, não atendeu às normativas ambientais relacionadas às
atividades de extração de eucalipto e, dado a esse fato, uma multa foi aplicada à empresa
pelo órgão ambiental responsável. Tal situação (a penalidade imposta) constitui-se como um
fato contábil ambiental.
Os fatos contábeis ambientais podem ser de três tipos: permutativos, modificativos e
mistos, como descritos a seguir.

4.1.1 Permutativos
São aqueles fatos contábeis que modificam os valores do Ativo e do Passivo, mas sem al-
terar o Patrimônio Líquido. Essa modificação de valores pode ocorrer entre as contas, como
entre as do Caixa e de Duplicatas a receber. Logo, ocorre uma permuta de valores entre duas
contas patrimoniais.
Exemplo prático: a empresa MM possui alguns hectares de mata nativa e no ano de 2017
o gerente entrou com um processo judicial solicitando a restituição de uma parte do IPTU,
isso em virtude de um incentivo da prefeitura para que as empresas mantenham sua área
verde intacta. Assim, no dia 10 de janeiro de 2017, o Balanço Patrimonial da MM apresenta-
va a configuração mostrada no Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Balanço Patrimonial da empresa MM em 10/01/2017.

ATIVO PASSIVO
BENS 380.000 OBRIGAÇÕES 540.000
Caixa 400.000 Duplicatas a pagar 40.000
Estoque 160.000 Salários a pagar
Móveis e utensílios 60.000
Veículos 200.000
Imóveis PATRIMÔNIO LÍQUIDO
DIREITO Capital inicial 800.000
Imposto Verde a restituir 240.000 Lucros acumulados 60.000
Total Ativo 1.440.000 Total Passivo 1.440.000
Fonte: Elaborado pelas autoras.

58 Contabilidade Socioambiental
Fatos ambientais 4
Já no dia 10 de outubro de 2017, a prefeitura restituiu o valor de R$ 40.000. Nesse mo-
mento, ocorreu a modificação apenas do Ativo, com o aumento do valor do Caixa (entrou R$
40.000) e a redução do valor do Direito a receber (Imposto Verde a restituir).
Assim, observa-se no Quadro 2 a seguir que o valor do Patrimônio Líquido não foi alterado:

Quadro 2 – Balanço Patrimonial da empresa MM em 10/10/2017.

ATIVO PASSIVO
BENS 380.000 OBRIGAÇÕES 540.000
Caixa 440.000 Duplicatas a pagar 40.000
Estoque 160.000 Salários a pagar
Móveis e utensílios 60.000
Veículos 200.000
Imóveis PATRIMÔNIO LÍQUIDO
DIREITO Capital inicial 800.000
Imposto Verde a restituir 200.000 Lucros acumulados 60.000
Total Ativo 1.440.000 Total Passivo 1.440.000
Fonte: Elaborado pelas autoras.

4.1.2 Modificativos
Os fatos contábeis modificativos são aqueles que modificam o Patrimônio Líquido da
empresa, conforme o exemplo prático nos Quadros 3 e 4:

Quadro 3 – Balanço Patrimonial da empresa MM no dia 10/01/2017.

ATIVO PASSIVO
BENS 380.000 OBRIGAÇÕES 540.000
Caixa 440.000 Duplicatas a pagar 40.000
Estoque 160.000 Salários a pagar
Móveis e utensílios 60.000
Veículos 200.000
Imóveis PATRIMÔNIO LÍQUIDO
DIREITO Capital inicial 800.000
Imposto Verde a restituir 200.000 Lucros acumulados 60.000
Total Ativo 1.440.000 Total Passivo 1.440.000
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Quadro 4 – Balanço Patrimonial da empresa MM no dia 10/10/2017, ao pagar uma multa ambiental
de R$ 1.000,00.

ATIVO PASSIVO
BENS 380.000 OBRIGAÇÕES 540.000
Caixa 339.000 Duplicatas a pagar 40.000
Estoque 160.000 Salários a pagar
Móveis e utensílios 60.000
Veículos 200.000

Contabilidade Socioambiental 59
4 Fatos ambientais

ATIVO PASSIVO
Imóveis PATRIMÔNIO LÍQUIDO
DIREITO Capital inicial 800.000
Imposto Verde a restituir 200.000 Lucros acumulados 59.000
Total Ativo 1.439.000 Total Passivo 1.439.000
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Percebe-se que, ao pagar a multa, a empresa desembolsou da conta Caixa o valor de R$


1.000 e, consequentemente, o valor da conta Lucros acumulados também diminuiu R$ 1.000,
ocorrendo a alteração de ambos os elementos contábeis no Balanço Patrimonial.

4.1.3 Mistos
Quando os fatos contábeis são mistos, quer dizer que eles são, ao mesmo tempo, modi-
ficativos e permutativos. Logo, modificam o Patrimônio Líquido e as contas que podem ser
alteradas entre o Passivo e Ativo – ou, ainda, entre si.
Exemplificando: a empresa MM recebeu uma multa de um órgão fiscalizador ambiental
que deveria ser paga até o dia 15 de agosto de 2017. Mas, por algum motivo, ela não foi liquidada.

Quadro 5 – Balanço Patrimonial da empresa MM do dia 15/08/2017.

ATIVO PASSIVO
BENS 380.000 OBRIGAÇÕES 540.000
Caixa 440.000 Duplicatas a pagar 40.000
Estoque 160.000 Salários a pagar
Móveis e utensílios 60.000
Veículos 200.000
Imóveis PATRIMÔNIO LÍQUIDO
DIREITO Capital inicial 800.000
Imposto Verde a restituir 200.000 Lucros acumulados 60.000
Total Ativo 1.440.000 Total Passivo 1.440.000
Fonte: Elaborado pelas autoras.

No dia 15 de setembro de 2017, a empresa pagou a multa ambiental, todavia com 10%
de juros, ou seja, o montante a ser pago ficou em R$ 11.000, sendo R$ 1.000 de acréscimo
devido ao atraso no pagamento.

Quadro 6 – Balanço Patrimonial da empresa MM no dia 15/09/2017.

ATIVO PASSIVO
BENS 380.000 OBRIGAÇÕES 530.000
Caixa 429.000 Duplicatas a pagar 40.000
Estoque 160.000 Salários a pagar
Móveis e utensílios 60.000
Veículos 200.000

60 Contabilidade Socioambiental
Fatos ambientais 4
ATIVO PASSIVO
Imóveis PATRIMÔNIO LÍQUIDO
DIREITO Capital inicial 800.000
Imposto Verde a restituir 200.000 Lucros acumulados 59.000
Total Ativo 1.429.000 Total Passivo 1.429.000
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Verifica-se que ocorreu a diminuição do Patrimônio Líquido, do Passivo e também do


Ativo, representando a categoria de fato contábil misto.
Apresentar as demonstrações contábeis de maneira transparente e clara, considerando
todas as interferências patrimoniais cotidianas (que afetam o patrimônio e o meio ambiente)
às partes interessadas, configura-se como a evidenciação dos fatos contábeis ambientais.
De acordo com Tinoco e Kraemer (2011, p. 256), essa evidenciação consiste em “divulgar
informações do desempenho econômico, financeiro, social e ambiental das entidades aos
parceiros sociais, aos stakeholders, considerando que os demonstrativos financeiros e outras
formas de evidenciação não devem ser enganosos”.
Por outro lado, cumpre destacar que a contabilização e a evidenciação dos fatos contá-
beis ambientais exigem a análise cuidadosa de cada situação, uma vez que a mensuração de
tais fatos pode ocorrer futuramente, em longo prazo, e com característica possível, provável
ou até mesmo remota.
De forma a exemplificar tal dificuldade, imagine uma situação em que a empresa de
operações portuárias LXZ foi arrolada judicialmente por um passivo ambiental relativo à
contaminação marítima de óleo decorrente de vazamento do guindaste. Contudo, a empre-
sa dispõe de evidências de sua conduta preventiva de mitigação de riscos ambientais, trei-
namento dos funcionários e até mesmo de um sistema de gestão ambiental com simulações
constantes em caso de acidentes por contaminação da flora marinha. Nesse mesmo processo
judicial, está envolvida outra operadora, pois a utilização do guindaste era compartilhada
com mais uma empresa de operação portuária.
Em casos como esse, em específico, ações judiciais levam certo tempo, por muitas vezes
alguns anos, e a comprovação do culpado, as considerações acerca de um tratamento mais
tênue e benéfico na aplicação das sanções para as empresas que disponham de programas
ambientais, bem como o valor da ação e as eventuais indenizações, devem ser mensurados
com a maior acuracidade possível. As provisões contábeis de tais fatos devem ser regis-
tradas com a estimação dos custos que, de forma possível, provável ou remota, possam se
configurar como responsabilidade da empresa LXZ.

4.2 Plano de contas ambientais


Vídeo
Considerado como um dos mais importantes instrumentos para o pla-
nejamento contábil, o plano de contas consiste em um “[...] conjunto de con-
tas que as empresas utilizam para registrar os fatos econômico-financeiros
ocorridos na entidade e gerar os relatórios contábeis para os usuários inter-
nos e externos da empresa” (SILVA, 2011, p. 59).

Contabilidade Socioambiental 61
4 Fatos ambientais

Por sua vez, Tinoco e Kraemer descrevem-no da seguinte maneira:


Plano de Contas é um conjunto estruturado de contas, enumeradas ou codifica-
das racionalmente, o qual permite seu uso em sistemas de contabilidade mecâ-
nicos, ou ainda sistemas contábeis eletrônicos, podendo ainda sê-lo em sistemas
manuais, o que é raro presentemente. Contempla contas sintéticas, por exemplo:
Ativo, Ativo Circulante, Passivo e Patrimônio Líquido, Despesas, Receitas e Contas
Analíticas, por exemplo: Caixa, Clientes, Clientes Ambientais, M
­ atérias-primas,
Insumos Ambientais, Equipamentos Ambientais, Provisões para Contingências
Ambientais, Multas por Danos Ambientais, Indenizações por Danos Ambientais,
Receitas de Resíduos Ambientais etc., a fim de permitir que a Contabilidade use
todo o seu potencial no sentido de atender aos pressupostos exigidos por seus
usuários da informação. (TINOCO; KRAEMER, 2011, p. 57)
Sob a perspectiva ambiental, os impactos ambientais, como as multas provenientes de
danos ao meio ambiente, são considerados fatos ambientais que devem ser representados
no plano de contas e, consequentemente, registrados no elemento contábil Passivo. Cumpre
evidenciar que os impactos ambientais são contabilizados no momento de sua ocorrência, e
não quando as consequências do dano aparecem.
Na projeção do plano de contas, é imprescindível a estruturação de um rol (lista) de
contas que contemple todas as possibilidades e atividades existentes, mesmo aquelas que
não são comumente utilizadas, mas que, eventual ou futuramente, possam vir a ser utiliza-
das. Esse é, obviamente, um desafio ao contador, uma vez que devem ser considerados os
circunstanciais eventos ambientais.
Com o objetivo de apresentar uma proposta prática dessa temática, a seguir é apre-
sentado um plano de contas adaptado ao meio ambiente proposto por Tinoco e Kraemer
(2011, p. 57).

PLANO DE CONTAS
1. ATIVO
1. 1 Ativo Circulante
1.1.1 Disponível
1.1.1.01 Caixa
1.1.1.02 Banco Conta Movimento
1.1.2 Clientes
1.1.2.01 Clientes Ambientais
1.1.2.02 Subvenções Ambientais a Receber
1.1.2.03 Créditos por Serviços de Assessoria Ambiental
1.1.3 Outros Créditos
1.1.3.01 Investimentos Temporários
1.1.4 Estoques
1.1.4.01 Matérias-primas
1.1.4.02 Produtos em Processo

62 Contabilidade Socioambiental
Fatos ambientais 4
PLANO DE CONTAS
1.1.4.03 Produtos Acabados
1.1.4.04 Produtos Reciclados e Subprodutos
1.1.4.05 Insumos Ambientais
1.1.4.06 Embalagens Ambientais
1.2 Ativo não Circulante
1.2.1 Investimentos
1.2.1.01 Participações em Outras Ações Ambientais
1.2.1.02 Participações em Fundos de Investimentos Ambientais
1.2.2 Imobilizado
1.2.2.01 Terrenos
1.2.2.02 Jazidas e Minas
1.2.2.03 Obras Civis
1.2.2.04 Equipamentos Ambientais
1.2.2.05 Instalações Ambientais
1.2.2.06 (-) Depreciação, Amortização e Exaustão Acumulada
2. PASSIVO
2.1 Passivo Circulante
2.1.1 Empréstimos e Financiamentos
2.1.1.01 Financiamentos Ambientais
2.1.2 Fornecedores
2.1.2.01 Fornecedores de Bens e Serviços de Proteção e Recuperação Ambiental
2.1.3 Outras Obrigações
2.1.3.01 Multas por Danos Ambientais
2.1.3.02 Indenizações por Danos Ambientais
2.1.3.03 Impostos Verdes
2.1.4 Provisões
2.1.4.01 Multas por Danos Ambientais
2.1.4.02 Indenizações por Danos Ambientais
2.1.4.03 Aquisições de Bens e Serviços de Proteção e Recuperação Ambiental
2.1.4.04 Impostos
2.2 Passivo não Circulante
2.2.1 Empréstimos e Financiamentos
2.2.1.01 Financiamentos Ambientais
2.2.2 Fornecedores
2.2.2.01 Fornecedores de Bens e Serviços de Proteção e Recuperação Ambiental
2.2.3 Outras Obrigações
2.2.3.01 Multas por Danos Ambientais
2.2.3.02 Indenizações por Danos Ambientais
2.2.3.03 Impostos Verdes
2.2.4 Provisões

Contabilidade Socioambiental 63
4 Fatos ambientais

PLANO DE CONTAS
2.2.4.01 Multas por Danos Ambientais
2.2.4.02 Indenizações por Danos Ambientais
2.2.4.03 Aquisições de Bens e Serviços de Proteção e Recuperação Ambiental
2.2.4.04 Impostos
3. PATRIMÔNIO LÍQUIDO
3.1 Capital Social
3.2 Reserva de Lucros
3.2.1 Reserva Contingencial para Multas por Danos Ambientais
3.2.2 Reserva Contingencial para Indenizações por Danos Ambientais
3.2.3 Reserva Contingencial para Aquisição de Bens e Serviços para Proteção e
Recuperação Ambiental
3.2.4 Reserva Contingencial para Impostos Verdes
3.3 Prejuízos Acumulados
3.3.1 Lucros Acumulados (conta transitória)
3.3.2 Prejuízos Acumulados
Fonte: TINOCO; KRAEMER, 2011, p. 57. Adaptado.

Na estruturação coerente de um plano de contas, alguns pontos devem necessariamen-


te ser considerados, os quais são elencados a seguir:
2 Cada organização deve elaborar seu plano de contas em conformidade com sua
situação estrutural.
2 A classificação das contas deve ser realizada do geral para o específico.
2 As informações do plano de contas devem ser fornecidas em conformidade com a
necessidade do usuário.
2 A hierarquia do plano de contas pode ser desenvolvida com base em um código
próprio da empresa.
2 A nomenclatura das contas deve ser facilmente relacionada aos elementos
patrimoniais.
Ribeiro (2002) deixa claro que o plano de contas deve ser construído de modo particular
para cada entidade, considerando suas necessidades e características específicas, respeitan-
do sempre os princípios e as normas contábeis.
Assim, após compreendermos a estruturação de um plano de contas ambiental, é neces-
sário avançarmos para a representatividade e o lançamento dessas contas, com uma aborda-
gem mais detalhada, como apresentado na sequência.

4.3 Lançamentos contábeis de eventos ambientais


Vídeo
A mensuração dos atos contábeis que derivam do meio ambiente não
é uma tarefa fácil, visto que isso significa medir ou avaliar o quanto vale,

64 Contabilidade Socioambiental
Fatos ambientais 4
economicamente, cada impacto, positivo ou negativo. Conforme Costa e Marion (2007), a
dificuldade em medir economicamente os recursos naturais advém do fato de que esses são
bens intangíveis. Assim, a forma mais correta de fazer essa mensuração seria por meio do
custo histórico, como no caso, por exemplo, de gastos gerados com o reflorestamento. Logo,
o valor mensurado será o valor gasto, estipulado no momento que a empresa contrai o dever
de pagamento.
As dificuldades em mensurar os fatos contábeis ambientais também podem estar na
inexistência de uma padronização do mercado quanto à valoração ambiental. Por exemplo:
qual o valor do desmatamento de um terreno com floresta nativa, em plena cidade, que
afeta a flora e a fauna daquele local? Perceba que o valor do terreno é possível de ser men-
surado em função do mercado imobiliário. Entretanto, o valor do dano ambiental não é de
fácil mensuração. Logo, algumas vezes tal mensuração ambiental é realizada por meio de
estimativas e simulações.
Embora existam alguns desafios ao contador quanto ao entendimento dos eventos am-
bientais e seu respectivo registro contábil, os lançamentos e registros podem ocorrer de for-
ma natural por meio de uma rotina contábil recorrente.
Ao tomarmos o plano de contas apresentado na seção anterior, trabalharemos a seguir o
entendimento de alguns eventos e contas ambientais que geram certas dúvidas no momento
de seu lançamento contábil.

4.3.1 Lançamentos contábeis em Ativos


As contas do elemento contábil Ativo constituem todos os bens e direitos relativos às
finalidades ambientais da entidade. Exemplificando: a empresa MMM, fabricante de produ-
tos plásticos, todos os meses vende seus resíduos ambientais para uma empresa menor, que
atua na fabricação de sacolas plásticas recicláveis. A venda desses resíduos resultará em um
aumento de caixa no valor médio de R$ 20.500,00. Logo, no lançamento contábil se debitará
a conta Caixa (Ativo Circulante), pois se acrescenta esse valor na referida conta no momento
do recebimento financeiro.
Sob a perspectiva das contas do Ativo Circulante, os disponíveis (Caixa e Banco) são
responsáveis por todos os recebimentos e pagamentos relativos aos fatos contábeis ambien-
tais. O débito ocorre com base nos recebimentos e o crédito com base nos pagamentos.
No tocante à conta Clientes, esta faz referência às Duplicatas a receber oriundas de ven-
das a prazo, por exemplo, de resíduos de característica reciclável, sucatas ou prestações de
serviços de cunho ambiental. Na contabilidade, o registro ocorre com o débito das vendas a
prazo e crédito por parte dos recebimentos.
As Subvenções Ambientais – representadas pela contribuição, de cunho pecuniário,
para cobrir despesas com a manutenção e o custeio de fins ambientais – devem ser debitadas
na ocasião do reconhecimento da subvenção, e sua contrapartida encontra-se na conta de
Receita Ambiental. São creditadas pelo efetivo recebimento da subvenção em contrapartida
com uma conta do Disponível (Caixa ou Banco).

Contabilidade Socioambiental 65
4 Fatos ambientais

Os Créditos por Serviços de Assessoria Ambiental consistem nos direitos a receber por
prestação de serviços relativos a assessorias ambientais, cujo débito ocorre por ocasião do
reconhecimento da receita ambiental e o crédito quando acontecem os recebimentos, tendo
como contrapartida uma conta do Disponível (Caixa ou Banco).
Os Equipamentos Ambientais consistem em ativos com o fim de redução dos impac-
tos ambientais gerados pelas atividades organizacionais. Nesse caso, deve ser debitada a
aquisição em contrapartida, comumente, de um passivo de longo prazo (financiamentos).
Tais bens estão sujeitos à depreciação e à exaustão – estes, por exemplo, em cenários de in-
vestimentos para mineração. Destaca-se, ainda, que outras categorias de investimentos em
bens tangíveis, como construções, terrenos e outros semelhantes, apresentam configuração
similar à conta Equipamentos Ambientais.
A conta Estoques constitui as entradas e saídas do estoque de materiais destinados
para fins ambientais. Os componentes dessa conta são debitados pela entrada dos refe-
ridos materiais, e a contrapartida configura-se como uma conta do Disponível (Caixa ou
Banco) ou, até mesmo, do Passivo, comumente Clientes Ambientais. Nesse caso, a conta é
creditada com base na utilização dos materiais, em contrapartida à conta relacionada aos
custos ambientais.
Na abordagem do Ativo não Circulante, as Participações em Outras Ações Ambientais
correspondem aos investimentos de longo prazo em outras empresas/ações ambientais. No
lançamento contábil, ocorre o débito do investimento e, em contrapartida, uma conta do
Disponível (Caixa ou Banco).
Já as Participações em Fundos de Investimentos Ambientais configuram as aplicações
de recursos em fundos ambientais de longo prazo. Nessa conta, são debitados os investi-
mentos e, em contrapartida, uma conta do Disponível (Caixa ou Banco).
Uma atenção especial deve ser reservada às Provisões para Depreciação, Amortização
e Exaustão. Em grande parte, excetuando-se terrenos, elas configuram investimentos em
ativos fixos de limitada vida útil contábil. Em decorrência disso, os custos desses ativos
devem ser contabilizados mensal e anualmente (regime de competência), com a redução de
seus respectivos valores.
De modo a exemplificar, os ativos fixos que possuem características depreciáveis com-
preendem equipamentos de recolha, sistemas de exaustão, estações de tratamento de efluen-
tes e demais equipamentos relacionados. Na contabilidade, representam contas redutoras
do ativo fixo e sua contrapartida constitui contas de despesas de depreciação ou então de
exaustão – no caso de jazidas ou minas, por exemplo.
Na conta Investimentos pode surgir a utilidade da subconta Projetos de Gestão
Ambiental, correspondendo aos investimentos realizados em conta do ativo diferido,
como é o caso de tecnologias específicas para melhorias relativas a aspectos ambientais.
Nesse cenário, tais investimentos são debitados em Projetos de Gestão Ambiental e a
contrapartida está em uma conta do Disponível, ou, dependendo do caso, em contas do
Passivo (Obrigações).

66 Contabilidade Socioambiental
Fatos ambientais 4
4.3.2 Lançamentos contábeis em Passivos
As contas do elemento contábil Passivo constituem todas as obrigações relativas às fi-
nalidades ambientais da entidade. A conta Empréstimos Ambientais está relacionada aos
empréstimos para recomposição do fundo de caixa ambiental. Sua contabilização ocorre da
seguinte forma: 1) os empréstimos são creditados e sua contrapartida encontra-se na conta
Caixa ou Banco; 2) no ato do pagamento dos empréstimos são debitados os pagamentos e a
contrapartida constará como Caixa ou Banco.
Os Financiamentos Ambientais funcionam semelhantemente à conta de empréstimos.
Comumentemente, existem para atender à política de investimentos organizacionais. A con-
ta é debitada em Caixa ou Banco. Quando do pagamento de parte, ou do financiamento
total, a conta é debitada, tendo como contrapartida a conta Caixa Ambiental.
A conta Multas por Danos Ambientais é oriunda das infrações lavradas pelos órgãos
reguladores ambientais. Essa conta tem como contrapartida lançamentos a débito da conta
Multas Ambientais. Na ocorrência de pagamento da multa, é debitada a conta do Passivo
Multas por Danos Ambientais e creditada a conta Caixa ou Banco.
A configuração da conta Imposto Verde está relacionada aos impostos fundamenta-
dos na estimativa do dano causado por eventual poluição ou prejuízos ao meio ambiente,
recaindo na configuração de compensação. Os impostos são creditados pelo lançamento ou
pela eventual provisão, e sua contrapartida constituirá uma conta de despesa. No ato do
pagamento, os valores são debitados e a contrapartida está na conta Caixa ou Banco.
O grupo de contas Provisões Ambientais configura as exigibilidades contra a empresa
considerando os riscos ambientais existentes, mas que representam certa incerteza quanto
ao efetivo acontecimento e que, em função de um fato futuro, pode eventualmente resultar
em perdas. Contabilmente, a ocorrência do fato gerador é creditada, e a contrapartida confi-
gurará uma conta de despesa ou custo. No momento em que se define o valor, é efetuada a
transferência para a obrigação (débito) ou, caso o fato não seja configurado como responsa-
bilidade da entidade, o saldo não utilizado deve ser estornado.
Exemplificando: a empresa MMM, fabricante de produtos plásticos, devido a um vaza-
mento de resíduos químicos no solo por meio de um tubo que se rompeu, foi multada por
um órgão estatal em R$ 100.000,00. Tal valor deve ser pago em 30 dias. Nesse momento, o
contador da empresa realizou o lançamento contábil (crédito) do valor da multa no Passivo
Circulante, na subconta de Multas Ambientais.

4.3.3 Lançamentos contábeis no Patrimônio Líquido


Especificamente para o elemento contábil Patrimônio Líquido, reservaremos uma aten-
ção especial para as Reservas de Lucros e as Receitas Ambientais, em função de suas parti-
cularidades que merecem uma disposição maior para seu entendimento.
As Reservas de Lucros são constituídas de reservas associadas à apropriação dos lucros
da entidade. Notadamente, existem diferentes tipos de reservas de lucros previstos em lei,

Contabilidade Socioambiental 67
4 Fatos ambientais

contudo nosso foco está direcionado especialmente para as Reservas para Contingências
(ou Contingencial). Elas representam a expectativa de eventuais perdas ou prejuízos relati-
vos a impactos ou passivos ambientais, ou seja, que ainda não ocorreram, porém são previs-
tos, funcionando como um posicionamento de cautela e prudência. Na contabilização ocorre
o crédito das contas propostas no plano de contas, com a contrapartida da conta de Lucros
Acumulados. Na ocorrência da efetiva perda, as receitas são debitadas, reduzindo, concomi-
tantemente, o lucro. Do contrário, as Reservas para Contingências devem ser revertidas para
a conta de Lucros Acumulados.
Por sua vez, as Receitas Ambientais representam aquelas derivadas, por exemplo, de
programas de aproveitamento de água, de vendas para reciclagem, do consumo de energia
no processo operacional da entidade e de outras ações nessa configuração, as quais são re-
sultados da estrutura de gestão ambiental da entidade. A contabilização ocorre a partir do
crédito da sua ocorrência e sua contrapartida consiste na conta Clientes Ambientais.

Conclusão

À medida que os fatos ambientais e os compromissos contábeis ocorrem, o contador é


designado a proceder com os lançamentos contábeis ambientais com base nas diretrizes e
normas contábeis vigentes. Fica evidente que, por não se tratar de lançamentos de caracte-
rísticas comuns entre todas as empresas, há peculiaridades específicas de cada atividade,
objeto social, potencial poluidor e dos próprios fatos que ocorrem (respeitando, obviamente,
o código de taxonomia destinada à conta agregadora).
A atenção aos registros contábeis configura um fator primordial na demonstração real
do patrimônio. Na perspectiva ambiental, tal cuidado deve ser maior, uma vez que, depen-
dendo da magnitude da circunstância ocorrida – ao desconsiderar, por exemplo, provisões
de longo prazo, como ações judiciais ambientais – ela pode impactar consideravelmente os
resultados financeiros da entidade caso a sentença resulte como procedente, proporcionan-
do eventuais surpresas e incertezas às partes interessadas pela ausência do planejamento
financeiro, além de gerar descrédito ao mercado.
Por outro lado, o real conhecimento acerca da estrutura do plano de contas, o coerente
registro dos fatos contábeis ambientais e o planejamento das provisões ambientais levam à
seguridade das informações contábeis e à credibilidade dos resultados organizacionais.

Ampliando seus conhecimentos

Com base no entendimento acerca dos fatos contábeis ambientais, da estrutura-


ção de um plano de contas e dos lançamentos contábeis dos eventos ambientais,
o excerto a seguir retrata a externalização de todas essas informações desenvol-
vidas internamente pela entidade, com a devida evidenciação contábil.

68 Contabilidade Socioambiental
Fatos ambientais 4
A uniformidade na evidenciação das
informações ambientais
(COSTA; MARION, 2007, p. 26)

[...]

Evidenciar significa “tornar evidente, mostrar com clareza, comprovar”


(AURÉLIO, 1999), ou seja, evidenciação consiste em tornar claro algo que
não ofereça dúvida. Portanto, evidenciação contábil refere-se às informa-
ções que a empresa torna disponível através das demonstrações e relató-
rios contábeis. Tinoco e Kraemer (2004, p. 256) explicam que o objetivo
da evidenciação contábil seria: “o de divulgar informações do desempe-
nho econômico, financeiro, social e ambiental das entidades aos parceiros
sociais, os stakeholders, considerando que os demonstrativos financeiros e
outras formas de evidenciação não devem ser enganosos”.

Essa evidenciação contábil, para Hendriksen e Van Breda (1999, p. 512),


acaba sendo interpretada de maneira restrita pelos contadores ao afirma-
rem que “os contadores tendem a utilizar essa palavra num sentido ligei-
ramente mais restrito, tratando da veiculação de informação financeira a
respeito de uma empresa dentro de um relatório financeiro, geralmente o
relatório anual”.

Para esses autores, as demonstrações financeiras representam apenas um


componente de um sistema de divulgação muito mais amplo. O Conselho
Federal de Contabilidade (CFC), através do item 1.4 da Resolução 774, de
16 de dezembro de 1994, comenta que a contabilidade tem por objetivo:

[...] prover os usuários com informações sobre aspectos de natu-


rezas econômicas, financeira e física do patrimônio da entidade e
suas mutações, o que compreende registros, demonstrações, análi-
ses, diagnósticos, expressos sob a forma de relatos, pareceres, tabe-
las, planilhas e outros meios.

Através dessa resolução, percebe-se que a contabilidade tem o objetivo


de evidenciar não só informações econômicas e financeiras, mas também
físicas, e utilizar, inclusive, outras formas para evidenciá-las, como tabelas
e outros meios. Devido às exigências do mercado, as empresas buscam
evidenciar, isto é, tornar clara sua responsabilidade social e ambiental. O
que acontece é que muitas vezes as empresas não fazem uso das demons-
trações contábeis devido à restrição de algumas normas contábeis. Mesmo
que não seja possível a evidenciação das informações ambientais nas

Contabilidade Socioambiental 69
4 Fatos ambientais

próprias demonstrações contábeis, é papel da contabilidade evidenciá-las


em outros meios para que os usuários possam tomar decisões mais corre-
tas sobre a empresa.

Quando as empresas divulgam informações não atreladas com as


demonstrações contábeis, acabam comprometendo a sua confiabili-
dade. O Relatório da Administração, por exemplo, é um relatório cuja
elaboração e publicação são obrigatórias segundo o art. 133 da Lei
6.404/76, mas que utiliza uma linguagem menos técnica com o obje-
tivo de atingir um número maior de usuários. Por isso, Ribeiro (2005,
p. 107) afirma que esse relatório “normalmente, limita-se a apresentar
dados qualitativos e sujeitos, portanto, a certa dose de subjetivismo e
às conveniências da empresa”.

Uma outra questão a ser analisada é a da essência sobre a forma. A


Resolução CFC 750, de 29 de dezembro de 1993, em seu art. 1°, § 2°, deter-
mina que “na aplicação dos Princípios Fundamentais de Contabilidade
a situações concretas, a essência das transações deve prevalecer sobre
seus aspectos formais”. Se a contabilidade tem por objeto o patrimônio
das entidades, as informações ambientais, por estarem intrinsecamente
relacionadas ao patrimônio, devem ser evidenciadas, independentemente
da forma de divulgação, isto é, na essência; são informações que podem
modificar o patrimônio das entidades e, sendo assim, precisam constar nas
demonstrações contábeis não importando a forma ou maneira utilizada.

A evidenciação segregada das informações ambientais pode ser conside-


rada como uma das contribuições da contabilidade para a preservação e
proteção ambiental. Portanto, em relação ao balanço patrimonial, segundo
Ribeiro (2005, p. 111), “os ativos ambientais devem ter classificação, con-
trole e divulgação destacados nos grupos do Ativo”.

[...]

Atividades
1. Toda empresa deve estruturar de forma contabilmente adequada seu plano de con-
tas. Tal afirmativa remete à responsabilidade da estruturação de um coerente plano
de contas para cada entidade. Nesse contexto, apresente a definição de plano de contas
e aponte sua importância na contabilidade.

70 Contabilidade Socioambiental
Fatos ambientais 4
2. A empresa JM S.A. registra seus fatos contábeis ambientais conforme a demanda
necessária, de modo que o plano de contas é estruturado com o passar dos anos, de
acordo com a eventual necessidade de criar a conta contábil no sistema. Nesse caso
fictício da JM S.A., o procedimento de elaboração do plano de contas é o mais coe-
rente? Justifique sua resposta.

3. A empresa Maravilhas S.A. possui uma jazida mineral e, em seu primeiro exercício,
o contador precisa realizar o lançamento da redução do valor contábil. Qual é a conta
específica para esse procedimento?

4. O grupo de contas de Provisões Ambientais configura as exigibilidades contra a em-


presa, considerando os riscos ambientais existentes, que representam certa incerteza
quanto ao efetivo acontecimento e que, em função de um fato futuro, pode even-
tualmente resultar em perdas. Contabilmente, como ocorrem os lançamentos desse
grupo de contas?

Referências
BRAGA, Célia (Org.). Contabilidade ambiental: ferramenta para a gestão de sustentabilidade. São
Paulo: Atlas, 2010.
CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. Contabilidade ambiental: teoria e prática. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2008.
COSTA, Rodrigo Simão da; MARION, José Carlos. A uniformidade na evidenciação das informações
ambientais. Revista de Contabilidade e Finanças, v. 18, n. 43, p. 20-33, 2007. Disponível em: <http://
dx.doi.org/10.1590/S1519-70772007000100003>. Acesso em: 3 nov., 2017.
FERREIRA, Aracéli Cristina de Souza. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvi-
mento sustentável – inclui certificados de carbono. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
PAIVA, Paulo Roberto de. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com trans-
parência e focada na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. Coord. Pedro Lenza. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade geral fácil: para concursos de contabilidade e concursos em
geral. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
SILVA, Benedito Gonçalves da. Contabilidade Ambiental. Curitiba: Juruá, 2011.
TINOCO, João Eduardo Prudêncio; KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e gestão am-
biental. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

Resolução
1. Considerado como um dos mais importantes instrumentos para o planejamento con-
tábil, o plano de contas consiste em um conjunto de contas que as empresas utilizam
para registrar os fatos econômico-financeiros ocorridos na entidade e gerar os relató-
rios contábeis para os usuários internos e externos da empresa.

Contabilidade Socioambiental 71
4 Fatos ambientais

2. No caso exemplificado, o procedimento de elaboração do plano de contas não é


o mais coerente, uma vez que na projeção do plano de contas é imprescindível a
estruturação de um rol (lista) de contas que contemple todas as possibilidades e
atividades existentes, mesmo aquelas que não são comumente utilizadas, mas que,
eventual ou futuramente, possam vir a ser utilizadas. A circunstancial necessidade
de inserção de uma conta não seria um problema, contudo sua ocorrência recorrente
demonstra que não houve um efetivo planejamento anterior das contas contábeis.

3. A conta específica no caso de uma jazida mineral é a Exaustão Acumulada.

4. A ocorrência do fato gerador é creditada, e a contrapartida configurará uma conta de


despesa ou custo. No momento em que se define o valor, é efetuada a transferência
para obrigação (débito) ou, caso o fato não seja configurado como responsabilidade
da entidade, o saldo não utilizado deve ser estornado.

72 Contabilidade Socioambiental
5
EIA/RIMA

Introdução

A proposta deste capítulo é proporcionar a compreensão dos aspectos relativos


aos estudos ambientais exigidos para os empreendimentos com potencial de geração
de impactos ao meio ambiente. Os estudos abordados consistem no Estudo Prévio de
Impacto Ambiental (EIA) e no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Especificamente,
discorre-se acerca dos requisitos legais, do conteúdo necessário a essas análises, da res-
ponsabilidade por sua elaboração e das dinâmicas envolvidas nesse processo.

Contabilidade Socioambiental 73
5 EIA/RIMA

5.1 Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA


Vídeo
O conceito de estudos ambientais está determinado na Resolução Conama
n. 237, de 19 de dezembro de 1997, artigo 1°, inciso III, que os define como:
todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à loca-
lização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimen-
to, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como:
relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental
preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de
área degradada e análise preliminar de risco. (BRASIL, 1997)
Mais especificamente acerca do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, a Resolução
Conama n. 001, de 23 de janeiro de 1986 (BRASIL, 1986b), institui a obrigatoriedade desse
estudo e estabelece diretrizes para sua efetiva elaboração.
Mas, afinal, o que é Estudo Prévio de Impacto Ambiental?
O Estudo Prévio de Impacto ambiental ou Estudo de Impacto Ambiental, também co-
nhecido como EIA, é definido por Cavalcanti (2017, p. 98) como “um documento único de
análise de degradação potencial e significativa do meio ambiente, decorrente do exercício de
atividades ou instalação de obras”.
Ramos (2009, p. 156), sob uma percepção de um documento preventivo, alega que:
Com a criação deste instrumento foram percorridos novos caminhos “preven-
tivos” no mundo jurídico, pois no EIA está implícita uma tentativa de evitar o
surgimento do dano ambiental. A base jurídica para a avaliação ou estudo é,
assim, em primeiro plano, a melhoria qualitativa e quantitativa das condições
ambientais. O EIA caracteriza uma resposta jurídica internacional que reconhece
que não pode ser tolerável esperar que o dano ambiental ocorra para depois
combatê-lo. Em segundo plano, esse estudo serve também para tentar resgatar o
estado natural primário, ou então para criar um prognóstico sobre as violações
ambientais futuras.
Nesse aspecto, esse estudo tem o propósito de diminuir os impactos ambientais,
bem como encontrar alternativas para a conservação do meio ambiente preliminarmente
equilibrado.
O EIA torna-se legalmente obrigatório por conta da Lei n. 6.803/80, artigo 10, §3°, com a
apresentação de “estudos especiais de alternativas e de avaliações de impacto”. Além disso,
o §2° determina que:
Caberá exclusivamente à União, ouvidos os Governos Estadual e Municipal
interessados, aprovar a delimitação e autorizar a implantação de zonas de uso
estritamente industrial que se destinem à localização de polos petroquímicos,
cloroquímicos, carboquímicos, bem como a instalações nucleares e outras defi-
nidas em lei.

74 Contabilidade Socioambiental
EIA/RIMA 5
Após a promulgação dessa lei, outras legislações de caráter infraconstitucional tam-
bém determinaram a obrigação da elaboração do EIA (Leis n. 6902/81 e 6938/81, Decreto n.
99274/90 e Lei Complementar n. 140/2011). Entretanto, essa exigência do Estado só se tornou
constitucional com o estabelecido da Constituição Federal, que aponta, no seu artigo 225,
inciso IV: “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente cau-
sadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental,
a que se dará publicidade” (BRASIL, 1988a).
De acordo com Antonovz (2014), a elaboração do EIA deve ser realizada sempre que for
solicitado um licenciamento para execução de uma atividade com potencial poluidor, por
exemplo, no caso de mineradoras, indústrias, usinas etc. Cavalcanti (2017, p. 98) esclarece
que,
com parecer multidisciplinar, o EIA é um instrumento que deve ser anterior à
autorização da obra e/ou atividade, não podendo ser concomitante nem pos-
terior à obra ou atividade, ou seja, deve dar-se necessariamente antes da reali-
zação ou início do funcionamento de planta industrial ou atividade que possa
sugerir qualquer degradação ambiental ou, ainda, apresentar dúvida quanto à
realização segura da mesma, sob enfoque do meio ambiente, o que inclui a vida,
dignidade e saúde humana.
Com relação às atividades que compreendem a exigência de elaboração de estudo de
impacto ambiental, o artigo 2° da Resolução Conama n. 001/86 orienta que:
Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório
de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão esta-
dual competente e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de ativida-
des modificadoras do meio ambiente, tais como:
I – Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
II – Ferrovias;
III – Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV – Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei n°
32, de 18.11.66;
V – Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgo-
tos sanitários;
VI – Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
VII – Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barra-
gem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação,
abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos
d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques;
VIII – Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX – Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de
Mineração;

Contabilidade Socioambiental 75
5 EIA/RIMA

X – Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou


perigosos;
Xl – Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia pri-
mária, acima de 10MW;
XII – Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, side-
rúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recur-
sos hídricos);
XIII – Distritos industriais e zonas estritamente industriais – ZEI;
XIV – Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100
hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais
ou de importância do ponto de vista ambiental;
XV – Projetos urbanísticos, acima de 100 ha. ou em áreas consideradas de rele-
vante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e esta-
duais competentes;
XVI – Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a
dez toneladas por dia.
(BRASIL, 1986b)
Para tanto, a Resolução Conama n. 237/97 evidencia a definição de licença ambiental
como:
ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as con-
dições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas
pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar
e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer
forma, possam causar degradação ambiental. (BRASIL, 1997)
De acordo com essa mesma resolução, no seu artigo 3°, parágrafo único, compete ao
Ibama a obrigação de verificar a destruição do ambiente, estabelecendo quais os estudos que
devem ser feitos para obtenção, por parte do empreendimento, do licenciamento ambiental.
O artigo 11 e o parágrafo único da Resolução n. 237/97 prevê que “os estudos necessá-
rios ao processo de licenciamento deverão ser realizados por profissionais legalmente habi-
litados, às expensas do empreendedor”, bem como que “o empreendedor e os profissionais
que subscrevem os estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas infor-
mações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais”. Logo, esse
estudo de impacto deve ser realizado por profissional que seja devidamente qualificado,
podendo este ser responsabilizado legalmente. Dentre esses profissionais, podemos citar:
engenheiros ambientais, agrônomos, biólogos e outros de áreas afins.
Desse modo, verifica-se que o EIA tem seu objetivo pautado na preservação e na pre-
caução. Somente após os resultados do estudo, o Estado pode ou não autorizar o início da
construção de um empreendimento. De acordo com Antonovz (2014), o EIA está pautado no
princípio da precaução (conforme abordado no Capítulo 1, refere-se à ideia de prevenção).

76 Contabilidade Socioambiental
EIA/RIMA 5
Assim, o EIA é um relatório baseado em muitas informações técnicas, de difícil com-
preensão para a sociedade em geral. Por isso, existe outro importante documento que o
acompanha, o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente, também conhecido como RIMA.
Esse documento consiste em uma versão do EIA, com uma linguagem facilitada e objetiva
para a compreensão de todos (na seção 5.2, o RIMA será abordado com mais profundidade).
No momento da realização desses dois diagnósticos (documentos), verificam-se os da-
nos ambientais e também possíveis maneiras de diminuir os impactos ou, ainda, compen-
sar os problemas que sejam decorrentes do empreendimento, visando diminuir ao máximo
quaisquer desses danos.
Quando uma empresa solicita o licenciamento ambiental a um órgão ambiental com-
petente, para a construção e futura operação de um empreendimento, o processo deve ser
administrativo. Isso significa que este será desenvolvido pelo Poder Executivo, não excluin-
do, obviamente, os demais tipos de procedimentos, como é o caso do processo judiciário, de
acordo com os dispositivos constitucionais, para que o EIA/RIMA seja obrigatório.
A obrigatoriedade desse estudo prévio, bem como sua importância no que diz respeito
à conservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, tem sido demonstrada inclusi-
ve pelo Supremo Tribunal Federal, que declarou a inconstitucionalidade das leis (estaduais
ou municipais) que preveem a dispensa do EIA/RIMA. Um exemplo foi a Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 1.086/SC, a qual declara a inconstitucionalidade da lei catarinense
que estabelecia a dispensa de “elaboração de estudo prévio de impacto ambiental no caso de
áreas de florestamento ou reflorestamento para fins empresariais” (BRASIL, 2001).
O EIA refere-se a um trabalho de configuração técnica, cujas diretrizes são pautadas
em várias fases e, por consequência, consome uma quantidade considerável de recursos e
tempo. De acordo com Prado Filho (2001), essas atividades consistem em:
1. Apresentação e descrição do empreendimento – tais descrições devem ser carac-
terizadas nas diversas fases do empreendimento, isto é, na fase em que o estabele-
cimento está em planejamento, implementação, operação, bem como em eventual
desativação, ressaltando, principalmente, os tipos de insumos e combustíveis que
serão utilizados.
2. Levantamento e análise da legislação – nesse momento, ocorre a verificação de to-
das as normas legislativas, nos âmbitos federal, estadual e municipal, relacionadas
a cada momento da obra do empreendimento.
3. Elaboração do diagnóstico ambiental – nessa atividade, verificam-se os elementos
que constituem o meio ambiente, bem como as interações nesse ambiente ecologi-
camente equilibrado. Essa etapa tem como finalidade a observação da situação do
ambiente antes das atividades de elaboração do empreendimento.
4. Identificação e análise dos impactos ambientais – nessa etapa ocorre a verificação
de possíveis impactos que o empreendimento pode causar. Nessa análise é identi-
ficada e detalhada a abrangência dos resultados desses impactos.
5. Previsão e mensuração dos impactos identificados – tem como finalidade estabe-
lecer uma estimativa dos possíveis impactos que o empreendimento pode causar.

Contabilidade Socioambiental 77
5 EIA/RIMA

Essa estimativa pode ser definida por meio de indicadores, de forma quantitativa ou
qualitativa, e deve ser mensurada para todas as etapas de vida do empreendimento.
6. Valoração e interpretação da significância dos impactos previstos – nesse mo-
mento do estudo será definido o valor de cada impacto ambiental.
7. Proposição das medidas de gerenciamento ambiental – nessa fase são verificadas
algumas possibilidades de minimizar ou eliminar possíveis impactos ambientais.
8. Apresentação – consiste na demonstração dos resultados da análise de impactos
ambientais realizados pelos técnicos, a qual deve ser feita em formato documental.
9. Revisão do Estudo de Impacto Ambiental – os órgãos ambientais devem avaliar
os resultados dos estudos ambientais e tomar a decisão quanto ao empreendimen-
to. Todavia, num primeiro momento, esses órgãos devem verificar se o estudo
apresentado está de acordo com a legislação vigente e em conformidade quanto
à avaliação do impacto, às medidas de proteção e ao monitoramento ambiental
estabelecido.
Desse modo, o EIA, como um instrumento estabelecido pelas normas legais, deve, im-
preterivelmente, apresentar: informações consistentes acerca do problema analisado; os
dados do empreendimento; os planos estatais; a legislação pertinente; a descrição da área
em que será construído o empreendimento; o diagnóstico ambiental; o levantamento e a
avaliação dos impactos resultantes da implantação e operacionalização do projeto; e as refe-
rências bibliográficas utilizadas (WATANABE, 2010). Além disso, deve estar acompanhado
do RIMA, conforme apresentado na sequência.

5.2 Relatório de Impacto Ambiental – RIMA


Vídeo
De acordo com Antonovz (2014, p. 56), o objetivo do RIMA “é apresen-
tar à sociedade os resultados alcançados no EIA, relatando se estes trazem
benefícios ou não à comunidade. Nesse documento também são apresenta-
dos os efeitos ambientais, com base nos quais é possível verificar quais são
os custos inerentes”.
Obviamente o EIA e o RIMA também podem ser solicitados para outras atividades,
ficando a critério da previsão de outras normas legais ou, ainda, dos órgãos ambientais sua
efetiva necessidade. Um exemplo é o caso do aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos e
industriais, o qual está previsto nas Portarias SSMA n. 12/95 e n. 10/96 (RIO GRANDE DO
SUL, 1995, 1996).
A diferença básica entre o EIA e o RIMA se encontra na sua forma escrita, conforme
explicado anteriormente. Nesse aspecto, o RIMA é um documento composto pelo resumo
do EIA, em uma linguagem mais acessível, visto que é destinado a toda a sociedade.
Além de ser exposto de forma objetiva e acessível a qualquer cidadão, o RIMA deve ser
ilustrado com técnicas de comunicação visual, como, por exemplo, mapas, quadros, gráficos
etc. Sob a perspectiva ambiental, devem ser evidenciadas as vantagens e desvantagens da

78 Contabilidade Socioambiental
EIA/RIMA 5
realização do projeto de forma lúdica, para que haja clareza quanto aos eventuais impactos
ambientais que o empreendimento possa causar com sua efetivação.
Conforme o artigo 9° da Resolução Conama n. 001, de 23 de janeiro de 1986, o RIMA
espelha todo o EIA, todavia, de forma simplificada, com no mínimo os seguintes tópicos
(BRASIL,1986b):
• objetivo e justificativa do projeto;
• descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas;
• matéria-prima, fonte de energia, processo e técnicas a serem utilizadas em cada
etapa da construção do empreendimento;
• possíveis influências causadas por esse empreendimento, bem como os resíduos
de energia e os empregos diretos e indiretos a serem gerados;
• resumo do diagnóstico das áreas afetadas pelo projeto do empreendimento;
• descrição dos impactos ambientais que podem ocorrer por consequência da imple-
mentação do projeto, destacando um cronograma;
• descrição da qualidade do ambiente caso o projeto seja executado, bem como se
ele não for realizado;
• descrição dos efeitos que não podem ser evitados, apesar das medidas mitigadoras;
• método de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
• recomendações, conclusões e comentários.
Essa avaliação preliminar, conforme Antonovz (2014), obriga o empreendedor a de-
monstrar, por meio de estudos anteriores, como será realizada a construção e a execução
do empreendimento, os possíveis danos que a construção, a instalação e o funcionamento
podem acarretar ao meio ambiente e à sociedade e que estágio de impacto ambiental pode
ser esperado da instalação dessa obra na natureza. Para ser realizada essa avaliação, o em-
preendedor deverá trazer todos os estudos que englobam a possível obra, inclusive o dese-
nho arquitetônico.
Acerca das licenças ambientais (federais ou estaduais), de acordo com o artigo 8° da
Resolução Conama n. 237, (BRASIL, 1997), elas podem ser de três tipos diferentes.
A Licença Prévia (LP) consiste na licença a ser obtida na fase inicial do empreendimen-
to, visto que por meio dela o empreendedor tem a permissão de uso do local em que será
estabelecido o seu projeto. Já a Licença de Instalação (LI) consiste na permissão para execu-
ção da obra. Logo, com a LI o empreendimento pode começar a “sair do papel”. E, por fim, a
Licença de Operação (LO) estabelece o funcionamento do empreendimento já estabelecido
e executado.
Para que seja liberada quaisquer uma dessas licenças, o empreendedor deve seguir to-
das as ações determinadas e acordadas com os órgãos ambientais, as quais são claramente
estipuladas no EIA/RIMA.
Outro procedimento para a obtenção das licenças ambientais são as audiências públi-
cas, que devem ser divulgadas nos meios de comunicação de maior circulação na região

Contabilidade Socioambiental 79
5 EIA/RIMA

onde o empreendimento será construído. Essas audiências são reuniões abertas ao público
interessado, com o objetivo de expor os resultados do EIA e do RIMA.
Resumidamente, pode-se entender que o EIA e o RIMA são elaborados em conformi-
dade com o Termo de Referência que o órgão ambiental responsável estabelece. Ressalta-se
que, quando o empreendedor verifica a necessidade do EIA e do RIMA para a efetivação
de seu projeto, a solicitação do licenciamento deve ser publicada no Diário Oficial do Estado
onde ocorre o pleito da execução do projeto. Cumpre evidenciar que as demais etapas, até a
obtenção da licença, também devem ser divulgadas no mesmo canal de comunicação.

5.3 Responsabilidade pela elaboração do EIA/RIMA


Vídeo
O EIA/RIMA gera um vínculo de responsabilidade entre as pessoas
que o elaboram e as consequências do empreendimento que será executado.
Logo, todos os envolvidos no processo de obtenção da licença podem ser
responsabilizados pelo dano ambiental resultante de um erro ou dolo.
No que concerne à responsabilização pelos estudos ambientais, a
Resolução Conama n. 237/97, artigo 11, parágrafo único, deixa claro “que o empreendedor
e os profissionais que subscrevem os estudos necessários o processo de licenciamento serão
responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se as sanções administrativas, ci-
vis e penais” (BRASIL,1997).
Além da responsabilidade do profissional que elaborou o estudo, fica evidente que essa
responsabilização também é direcionada ao empreendedor ou à administração da empresa
(ou proponente do projeto), evidenciando que a punição imposta busca coibir a omissão
de dados, a manipulação ou inserção de informações falsas ou relatórios enganosos com a
intenção de “facilitar” o processo de licenciamento ambiental. Cumpre evidenciar que o EIA
e o RIMA são documentos pautados na lei e, portanto, jamais podem ser elaborados com
parcial ou total falsidade ou engano.
No caso de detecção de informações falsas ou enganosas, por dolo ou culpa, a equipe
envolvida comete o crime previsto na Lei n. 11.284, de 2006, em seu art. 82, como acrésci-
mo ao artigo 69-A da Lei n. 9065, de 1998, ficando sujeito a penas de reclusão ou detenção
(BRASIL, 2006):
Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qual-
quer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental
total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1°. Se o crime é culposo:
Pena – Detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2°. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se há dano signifi-
cativo ao meio ambiente, em decorrência de uso da informação falsa, incompleta
ou enganosa.

80 Contabilidade Socioambiental
EIA/RIMA 5
Ou seja, no artigo 69-A, existem duas classificações de crime:
• uso da informação falsa ou enganosa, sem intenções de dano ao meio ambiente;
• uso da informação falsa ou enganosa, resultando em dano significativo ao
meio ambiente.
No segundo caso, para tal crime será acrescido 2/3 da pena, tanto para crime doloso
quanto culposo.
No que tange às sanções previstas, Singulane (2011, p. 2) alega que “na esfera adminis-
trativa, se sujeita o empreendedor às sanções estabelecidas no art. 72° da lei n. 9065/1998,
enquanto seus técnicos, através de procedimentos próprios de sanção, respondem aos
Conselhos Profissionais de sua respectiva categoria e ao IBAMA”. Sob o aspecto criminal,
o mesmo autor afirma que “responderão, tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas que,
de qualquer modo, por culpa tenham concorrido para verificação do dano, já que a Lei n.
9605/98 superou o caráter individual exclusivo da responsabilidade penal, possibilitando
desta forma alcançar também a pessoa jurídica como sujeito ativo do crime ecológico (art.
3°)” (SINGULANE, 2011, p. 2).
Outro ponto importante acerca da responsabilidade jurídica decorrente da confecção
do EIA/RIMA refere-se aos atos que o empreendedor realizou sem a obtenção de uma li-
cença. Nesse caso, o empreendedor será responsabilizado conforme previsto no artigo 72
da Lei n. 9.605/98 (BRASIL,1998) e no artigo 3° do Decreto n. 6.514/2008 (BRASIL, 2008a),
prevendo-se sanções administrativas, penais e civis:
Art. 3o As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções:
I – advertência;
II – multa simples;
III – multa diária;
IV – apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora e demais
produtos e subprodutos objeto da infração, instrumentos, petrechos, equipa-
mentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V – destruição ou inutilização do produto;
VI – suspensão de venda e fabricação do produto;
VII – embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;
VIII – demolição de obra;
IX – suspensão parcial ou total das atividades; e
X – restritiva de direitos. (BRASIL, 2008a)
Quanto às sanções penais, elas serão regidas pelo artigo 60 da Lei n. 9.605/98:
Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do
território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluido-
res, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contra-
riando as normas legais e regulamentares pertinentes:

Contabilidade Socioambiental 81
5 EIA/RIMA

Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativa-


mente. (BRASIL, 1998)
No que se refere à responsabilidade civil, o empreendedor pode ser condenado a pagar
indenizações caso sua atividade gere danos a terceiros, conforme previsto no artigo 14, § 1°,
da Lei n. 6.938/81:
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação
de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
(BRASIL, 1981)
A responsabilização será analisada de forma diferente quando o EIA tiver sido elabora-
do de forma ineficiente, porém aprovado pelos órgãos ambientais competentes. Nesse caso,
o empreendedor realiza todas as ações previstas no EIA e no RIMA, mas, por uma ineficácia
desses documentos, ocorre o dano ambiental. Logo, a equipe multidisciplinar será respon-
sabilizada pela elaboração incompetente do estudo, bem como será responsabilizada por
negligência a Administração Pública.
A empresa também responde pelos danos causados conforme o artigo 37 da Constituição
Federal e o artigo 14 da Lei n. 6.938/81, que estabelecem essa responsabilização mesmo que o
sujeito causador não tenha culpa do impacto ambiental. No que diz respeito à Administração
Pública, a Resolução n. 237 do Conama estabelece que o Estado não pode ser responsabiliza-
do pela elaboração inconsistente dos documentos (EIA e RIMA).
A Administração Pública também contrata os serviços de terceiros para a realização do
EIA e do RIMA. Nesses casos, o Estado não pode ser acionado judicialmente por dano gera-
do em função de documentos que apresentarem falhas técnicas. Ou seja, o Estado só pode
ser responsabilizado pelos atos administrativos nulos ou anuláveis, consequência de dolo
ou erro da própria Administração Pública, por meio de seus agentes públicos.
O licenciamento ambiental, previsto na Resolução Conama n. 237/97, consiste em um
procedimento administrativo que permite que uma empresa possa desenvolver uma ati-
vidade em determinado local. De configuração legal, para o processo de abertura de uma
empresa e a respectiva legalização de suas atividades, as etapas do licenciamento ambiental
constituem um conjunto de exigências burocráticas, que resultam, ou não, na concessão das
licenças ambientais (necessárias para cada fase), pela Administração Pública.
O ato administrativo de conceder a licença pode ser também um ato vinculado (e não
discricionário). Nessa situação, a conclusão do estudo de impacto ambiental vai de encontro
ao resultado favorável à instalação do empreendimento, o que resulta na concessão sem
argumentação da licença ambiental por parte dos órgãos responsáveis. Sempre que o EIA
estabelecer que as obras ou atividades estudadas não geram nenhum tipo de dano ambien-
tal, a autoridade deve fornecer a licença para o empreendimento. Nas hipóteses em que o

82 Contabilidade Socioambiental
EIA/RIMA 5
Estado não forneça a licença, verifica-se abuso de poder por parte do servidor responsável
e, portanto, esse ato será considerado ilegal.
Quando a licença ambiental é concedida com o resultado favorável do EIA e do RIMA,
o Estado não tem participação na responsabilidade pelo dano ambiental, visto que, nesse
caso, o ato de conceder a licença é um ato vinculado e não discricionário. Logo, a responsa-
bilidade quanto aos impactos ambientais resultantes da obra será apenas dos técnicos que
elaboraram o estudo e do empreendedor.

Conclusão

A construção de um empreendimento e o respectivo início das atividades de determina-


do segmento estão submetidos aos desdobramentos e às exigências relativas aos eventuais
impactos socioambientais que sejam capazes de gerar. Empreendimentos com potencial po-
luidor são, obrigatoriamente, submetidos à elaboração do EIA/RIMA, em consonância com
as normas específicas do tema: Política Nacional do Meio Ambiente, Constituição Federal e
Resoluções Conama n. 001/86 e n. 237/97.
O EIA e o RIMA representam a preocupação com a preservação ambiental em relação à
expansão das atividades empresariais e seus respectivos potenciais de poluição, como prer-
rogativa básica das etapas de licenciamento ambiental nos órgãos competentes.
Obviamente, não é função dos órgãos ambientais promover a interrupção das ativi-
dades econômicas empresariais ou impedir sua expansão, mas sim analisar a viabilidade
ambiental do empreendimento e as eventuais proposições de medidas mitigadoras, a elimi-
nação das alterações negativas do meio ambiente e os benefícios socioambientais resultantes
do projeto.
Seguramente, de modo metafórico, é possível asseverar que as implicações de um po-
sicionamento sustentável se iniciam no planejamento de um empreendimento, com se fosse
um embrião, e a responsabilidade ambiental perdura durante toda a existência organizacio-
nal, assim como o ciclo de uma vida inteira.

Ampliando seus conhecimentos

Como leitura complementar, o trecho da pesquisa de Marcelo Leite Meira


(2013) evidencia as exigências necessárias, previstas na legislação, quanto à
estruturação e ao conteúdo do EIA/RIMA. Fica evidente que o delineamento de
padrões específicos para a elaboração esse estudo estabelece diretrizes comuns
a todos os empreendimentos que almejam iniciar um processo de licencia-
mento. Confira a seguir:

Contabilidade Socioambiental 83
5 EIA/RIMA

Estudo de Impacto Ambiental


(LEITE, 2013, p. 283-284)

[...]

A Resolução Conama 01/86, art. 2°, lista alguns casos de atividades ou


empreendimentos sujeitos ao EIA e ao RIMA. Entretanto, cabe ao órgão
ambiental competente identificar as atividades e os empreendimentos
para os quais há a necessidade da elaboração deste estudo e a emissão do
EIA/RIMA.

O EIA também deve atender às seguintes exigências contidas na lei de


Política Nacional do Meio Ambiente:

1.Observar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto,


levando em conta a hipótese da não execução do projeto.

2.Identificar e avaliar os impactos ambientais gerados nas fases de implan-


tação e operação das atividades.

3.Definir os limites da área geográfica a ser afetada pelos impactos (área


de influência do projeto), considerando principalmente a “bacia hidrográ-
fica” na qual se localiza;

4.Levar em conta planos e programas do governo, propostos ou em


implantação na área de influência do projeto e se há a possibilidade de
serem compatíveis.

Outra condição fundamental é que o EIA seja feito por vários profissio-
nais de diferentes áreas, trabalhando em conjunto. Espera-se que a visão
multidisciplinar faça com que o estudo seja feito da forma mais completa
possível, de modo a sanar todas as dúvidas e problemas.

De acordo com o art. 6° da Resolução Conama 237/97, o EIA deve ser com-
posto obrigatoriamente por quatro seções:

1.Diagnóstico ambiental da área de influência do empreendimento: deve


descrever e analisar as potencialidades dos meios físico, biológico e socioe-
conômico da área de influência do empreendimento, inferindo sobre a
situação desses elementos antes e depois da implantação do projeto;

2.Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas: con-


templa a previsão da magnitude e a interpretação da importância dos

84 Contabilidade Socioambiental
EIA/RIMA 5
prováveis impactos relevantes do empreendimento, discriminando os
impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos,
imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; o grau de
reversibilidade desses impactos; suas propriedades cumulativas e sinérgi-
cas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais;

3.Medidas mitigadoras dos impactos negativos: devem ter sua eficiência


avaliada a partir da implementação dos programas ambientais previstos
para serem implementados durante a vigência da LI; e

4.Programa de acompanhamento e monitoramento: deve abranger os


impactos positivos e negativos, indicando os padrões de qualidade a
serem adotados como parâmetros. Considerando a extensão, o nível de
detalhamento do EIA e o fato de ele ser redigido em linguagem técnica, o
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) é elaborado, em linguagem mais
acessível, com o objetivo de atender à demanda da sociedade por infor-
mações a respeito do empreendimento e de seus impactos.

Ao determinar a necessidade da realização do Estudo de Impacto


Ambiental (EIA), o órgão responsável emite o Termo de Referência, esta-
belecendo todo o escopo do estudo a ser apresentado.

Atividades
1. A Resolução Conama n. 237/97 estabelece que os estudos ambientais “são todos e
quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, ins-
talação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado
como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental,
plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico
ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise pre-
liminar de risco” (BRASIL, 1997). Nesse sentido, explique a finalidade do Estudo
Prévio de Impacto ambiental.

2. O Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental são partes do


procedimento de licenciamento ambiental. Logo, a confecção desses documentos é
uma etapa para a obtenção da licença ambiental de uma atividade com potencial de
poluição. Nesse contexto, pode-se entender que o Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA) e o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) consistem no mesmo documento?
Justifique sua resposta.

3. Existem empreendimentos que podem solicitar o licenciamento ambiental sem a


realização do EIA ou do RIMA, pois não são causadores de danos ambientais, em

Contabilidade Socioambiental 85
5 EIA/RIMA

conformidade com o artigo 225, § 1°, IV, da Constituição Federal. Porém, se esses
documentos forem realizados com alguma falha e o órgão competente licenciar o
empreendimento, no caso de dano ambiental proveniente de documentos ineficien-
tes, o Estado pode ser responsabilizado? Por quê?

4. Leia a notícia a seguir.

Compensação Ambiental Federal destinou R$ 411,5 milhões a 150 unidades de


conservação em 2016

Brasília (05/06/2017) – A Compensação Ambiental Federal destinou R$ 411,53 mi-


lhões a 150 Unidades de Conservação (UCs) do país em 2016. O Parque Nacional
(PN) do Juruena foi o maior beneficiado, com cerca de R$ 43 milhões para aplicação
em regularização fundiária, seguido pelo PN Lençóis Maranhenses, com R$ 34,6 mi-
lhões. Ambas são UCs federais sob responsabilidade do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Captados a partir de condições estabelecidas para 30 empreendimentos licenciados


pelo Ibama, os recursos foram distribuídos entre as esferas federal (85,5%), estadual
(13,2%) e municipal (1,3%). Atualmente, a compensação ambiental é uma das princi-
pais fontes de recurso para UCs.

O valor da compensação estabelecida na licença é definido com base no grau de im-


pacto do empreendimento, identificado durante a elaboração do Estudo/Relatório
de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).

[...]

Fonte: IBAMA, 2017.

Ao ler a notícia acima, é notável a importância da informação obtida com base no


grau de impacto do empreendimento identificado no EIA/RIMA para definição do
valor da compensação estabelecida. Sob a perspectiva informacional, aponte quais
pontos devem ser imprescindivelmente abordados na estruturação/elaboração de
um EIA/RIMA.

Referências
ANTONOVZ, Tatiane. Contabilidade ambiental. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2014.
BRAGA, Célia (Org.). Contabilidade ambiental: ferramenta para a gestão de sustentabilidade. São
Paulo: Atlas, 2010.

86 Contabilidade Socioambiental
EIA/RIMA 5
BRASIL. Lei n. 6.803, de 2 de julho de 1980. Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento
industrial nas áreas críticas de poluição, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 2 jul. 1980.
BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 31 ago. 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em:
2 out. 2017.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Resolução n. 01, de 23 de janeiro de
1986. Estabelece as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso
e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 fev.
1986.
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Resolução n. 237, de 22 de dezembro de
1997. Regulamenta os aspectos de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio
Ambiente. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 dez. 1997.
BRASIL. Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 13 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.
htm>. Acesso em: 10 de setembro de 2017.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1.086-7
Santa Catarina. Relator: Ministro Ilmar Galvão. Brasília, DF, 7 jun. 2001. Disponível em: <http://redir.
stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266652>. Acesso em: 3 out. 2017.
BRASIL. Lei n. 11.284, de 2 de março de 2006. In: ANGHER, Anne Joyce (Coord.) Legislação de Direito
Ambiental e Constituição Federal. São Paulo: Rideel, 2003, p. 1134-1138.
BRASIL. Decreto n. 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas
ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 jul. 2008. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6514.htm>. Acesso em: 3 out. 2017.
BERTOLI, Ana Lúcia; RIBEIRO, Maísa de Souza. Passivo ambiental: estudo de caso da Petróleo
Brasileiro S.A. – Petrobrás. A repercussão ambiental nas demonstrações contábeis, em consequência
dos acidentes ocorridos. Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 117-136, 2006.
CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. Contabilidade ambiental: teoria e prática. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2008.
CAVALCANTI, Caio César Torres (Coord.). O direito da energia no contexto ibero- brasileiro. Rio
de Janeiro: Synergia, 2017.
FERREIRA, Aracéli Cristina de Souza. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvi-
mento sustentável – inclui certificados de carbono. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Compensação
Ambiental Federal destinou R$ 411,5 milhões a 150 unidades de conservação em 2016. 5 jun. 2017.
Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/noticias/422-2017/1101-compensacao-ambiental-federal-
destinou-r-411-5-milhoes-a-150-unidades-de-conservacao-em-2016>. Acesso em 3 out. 2917.
LEITE, Marcelo Meira. Análise comparativa dos sistemas de avaliação de impacto ambiental. In: LIRA,
W. S.; CÂNDIDO, G. A. (Org.). Gestão sustentável dos recursos naturais: uma abordagem participa-
tiva. Campina Grande: EDUEPB, 2013. p. 273-293.
PAIVA, Paulo Roberto de. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com trans-
parência e focada na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003.

Contabilidade Socioambiental 87
5 EIA/RIMA

PRADO FILHO, José Francisco do. O processo de avaliação do Impacto Ambiental (AIA) de pro-
jetos e empreendimentos minerais como um instrumento de gestão ambiental: estudo de ca-
sos no Quadrilátero Ferrífero (MG). 2001. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.
RAMOS, Erasmo Marcos. Direito ambiental comparado (Brasil – Alemanha – EUA): uma análi-
se exemplificada dos instrumentos ambientais brasileiros à luz do direito comparado. Maringá:
Midiograf, 2009.
RIO GRANDE DO SUL. Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler. Portaria
SSMA n. 12/95. Porto Alegre, 29 nov. 1995. Disponível em: <www.fepam.rs.gov.br/legislacao/arq/
leg0000000024.rtf>. Acesso em: 21 nov. 2017.
RIO GRANDE DO SUL. Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler. Portaria
SSMA n. 10/1996. Porto Alegre, 17 out. 1996. Disponível em: <www.fepam.rs.gov.br/legislacao/arq/
leg0000000025.rtf>. Acesso em: 21 nov. 2017.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. Coord. Pedro Lenza. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
SINGULANE, Viviane de Carvalho. A obrigatoriedade de estudos dos impactos ambientais. Âmbito
Jurídico, Rio Grande, v. 14, n. 91, ago. 2011. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/
index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10167&revista_caderno=5#_ftn12>. Acesso em: 8
nov. 2017.
WATANABE, Carmen Ballão. Impactos ambientais da mineração do folhelho pirobetuminoso nos
meios físico e antrópico em São Mateus do Sul, Paraná. 2010. Tese (Doutorado em Geociências e Meio
Ambiente) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2010. Disponível em: <https://repositorio.
unesp.br/bitstream/handle/11449/102928/watanabe_cb_dr_rcla.pdf?sequence>. Acesso: 18 set. 2017.

Resolução
1. O Estudo Prévio de Impacto Ambiental tem como finalidade distinguir e identificar
os impactos maléficos ou benéficos que determinado empreendimento pode causar
ao meio ambiente. Outro objetivo desse estudo refere-se à exigência estatal para ob-
tenção de autorização às atividades mercantis, desde a sua implementação.

2. O RIMA é um documento composto do resumo do EIA, porém em uma linguagem


mais acessível, visto que é destinado ao público em geral. No que diz respeito ao
EIA, verifica-se que esse é um documento que detalha toda a análise técnica realiza-
da pelos especialistas responsáveis.

3. A Resolução n. 237 do Conama estabelece que o Estado não pode ser responsabili-
zado pela elaboração de documentos (EIA e RIMA) inconsistentes. A Administração
Pública também contrata os serviços de terceiros para a realização do EIA e do RIMA
e, nesse caso, o Estado não pode ser acionado judicialmente por dano gerado se
os documentos tiverem falhas técnicas. Ele só pode ser responsabilizado pelos atos
administrativos nulos ou anuláveis, consequência de dolo ou erro da própria Admi-
nistração Pública, realizados pelos seus agentes públicos.

88 Contabilidade Socioambiental
EIA/RIMA 5
4. Os pontos que devem ser abordados na estruturação/elaboração de um
EIA/RIMA são:

• objetivo e justificativa do projeto;


• descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas;
• matéria-prima, fonte de energia, processo e técnicas a serem utilizadas em cada
etapa da construção do empreendimento;
• possíveis influências causadas por esse empreendimento, bem como resíduos de
energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;
• resumo do diagnóstico das áreas afetadas pelo projeto do empreendimento;
• descrição dos impactos ambientais que podem ocorrer como consequência da
implementação do projeto, destacando um cronograma;
• descrição da qualidade do ambiente caso o projeto seja executado, bem como se
ele não for realizado;
• descrição dos efeitos que não podem ser evitados, apesar das medidas mitigadoras.
• método de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
• recomendações, conclusões e comentários.

Contabilidade Socioambiental 89
6
Balanço Social

Introdução

Neste capítulo abordaremos as principais demonstrações que proporcionam infor-


mações relativas aos resultados empresariais sob os aspectos econômico, financeiro,
social e ambiental, com foco específico na importância e aplicabilidade da divulgação
da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) e do Balanço Social como mecanismos
impulsionadores da transparência informacional.

Contabilidade Socioambiental 91
6 Balanço Social

6.1 Demonstração do Valor Adicionado (DVA)


Vídeo
Atualmente, vivemos em uma época com grande volume de informa-
ções, sob os mais diferentes prismas. Novas tendências combinadas com o
avanço exponencial da tecnologia direcionam ao acesso rápido e fácil de in-
formações, convergindo para a criação de uma nova realidade de transpa-
rência informacional para as organizações em todo o mundo.
Como mecanismos impulsionadores da transparência, existem instrumentos que viabi-
lizam a divulgação e transparência das informações empresariais, como a Demonstração do
Valor Adicionado (DVA) e o Balanço Social. Tais mecanismos buscam evidenciar os dados
necessários quanto ao desempenho empresarial sob as perspectivas econômica, financeira,
social e ambiental.
Nesta primeira seção, trabalharemos especificamente com o entendimento da
Demonstração do Valor Adicionado (DVA), a qual é parte integrante do Balanço Social.
Nesse aspecto, a DVA consiste em um demonstrativo contábil que evidencia os valores ge-
rados e distribuídos pela entidade em determinado período. Segundo De Luca (1998, p. 28),
a “Demonstração do Valor Adicionado é um conjunto de informações de natureza econômi-
ca. É um relatório contábil que visa demonstrar o valor da riqueza gerada pela empresa e a
distribuição para os elementos que contribuíram para sua geração”.
Por sua vez, Tinoco e Kraemer (2011, p. 74) elucidam a definição de DVA como
“valor total da produção de bens e serviços de determinado período, menos o custo dos
recursos adquiridos de terceiros, necessários a essa produção, bem como a forma pela
qual este está sendo distribuído entre os diferentes grupos sociais que interagem com
suas atividades”.
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis, notadamente o pronunciamento CPC 09,
define valor adicionado como “a riqueza criada pela empresa, de forma geral medida pela
diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros. Inclui também o
valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzido por terceiros e transferido à
entidade” (CPC, 2008, p. 3).
Ainda nesse pronunciamento, fica esclarecido que a DVA está fundamentada em con-
ceitos macroeconômicos,
buscando apresentar, eliminados os valores que representam dupla-contagem,
a parcela de contribuição que a entidade tem na formação do Produto Interno
Bruto (PIB). Essa demonstração apresenta o quanto a entidade agrega de valor
aos insumos adquiridos de terceiros e que são vendidos ou consumidos durante
determinado período. (CPC, 2008, p. 4)

92 Contabilidade Socioambiental
Balanço Social 6
Exemplificando as conceituações expostas, podemos imaginar uma empresa que
necessita de recursos para o desenvolvimento e a expansão de seus negócios. Logo,
ela busca a captação de tais recursos, os quais podem ser oriundos das mais diversas
fontes possíveis:
• fornecedores: insumos e serviços;
• acionistas ou terceiros: recursos financeiros;
• pessoal: mão de obra para operacionalização das atividades empresariais;
• utilidade pública: energia elétrica, água, entre outros.
Obviamente, as movimentações contábeis desses recursos são registradas na
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), ao mesmo tempo em que são regis-
tradas as receitas do período. Contudo, essa demonstração restringe-se à discrimina-
ção dos resultados e benefícios dos acionistas. Então, torna-se importante o registro
também na DVA, uma vez que ela evidencia os benefícios proporcionados em favor
da comunidade, considerando o quanto a entidade adicionou de valor aos recursos
adquiridos de terceiros e sua respectiva distribuição.

Para os usuários dessa demonstração (pessoal, acionistas, Estado e os financiadores), o


valor adicionado configura a sua importância de acordo com os interesses dos seus benefi-
ciários, conforme sintetizado no Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Segmentos beneficiários da DVA.

Que aporta trabalho à empresa, recebendo, em contrapartida, salá-


Pessoal
rios e benefícios sociais.
Ao integralizarem o capital da empresa, recebem em troca uma re-
Acionistas muneração repartível (o dividendo) e outra de caráter não repartí-
vel (as reservas).
Estado Via Imposto de Renda e outros impostos diretos e indiretos e taxas.
Aqueles que aportam recursos à empresa a título de financiamento
Financiadores
e são remunerados por juros.
Fonte: TINOCO; KRAEMER, 2011, p. 74. Adaptado.

Fica evidente que a DVA está intrinsecamente relacionada à responsabilidade social


empresarial, uma vez que tal instrumento contábil tem o objetivo de demonstrar aos diver-
sos usuários as informações pertinentes à geração e à distribuição de riqueza de uma empre-
sa (CUNHA; RIBEIRO; SANTOS, 2005). Cumpre evidenciar, ainda, que esse instrumento se
diferencia dos demais mecanismos contábeis, pois a informação gerada pela DVA abrange
o papel social e econômico que a empresa exerce e sua contribuição na formação da riqueza
do País, isto é, no Produto Interno Bruto – PIB (RIBEIRO, 2006).

Contabilidade Socioambiental 93
6 Balanço Social

Em consonância à Lei n. 11.638/07 (BRASIL, 2007), a divulgação da DVA torna-se obriga-


tória para empresas de capital aberto (que dispõem ações na bolsa de valores). Obviamente,
aquelas que não se enquadram nessa configuração podem divulgar sua DVA com objetivos
de gestão dos seus resultados.

Vamos construir uma DVA?


Na prática, as informações que devem ser consideradas na construção de uma DVA são
divididas em duas etapas:

Primeira etapa

• Receita bruta com vendas e os ganhos de capital.


• Insumos que a empresa adquiriu de terceiros.
• A diferença entre o primeiro e o segundo grupo consiste no valor adicionado bru-
to. Na sequência, devem ser descontadas a depreciação, a amortização e a exaus-
tão – e, assim, é possível chegar ao valor adicionado líquido.
• Caso a empresa tenha recebido outros valores por meio de transferência – é o caso
de receitas financeiras (juros) –, é necessário que eles sejam somados ao resultado.
Os valores obtidos acarretarão no valor adicionado para distribuição.

Segunda etapa

• Nessa etapa, a empresa demonstrará como foi distribuída a riqueza: valores com
pessoal, impostos, pagamento a terceiros, lucros retidos e distribuídos aos acionis-
tas, entre outras informações relacionadas.
A seguir, no Quadro 2 podemos visualizar um modelo de DVA, devidamente estrutu-
rada por meio dos passos relacionados acima.
Quadro 2 – Modelo de Demonstração do Valor Adicionado – empresas em geral.
Em milhares
Em milhares
DESCRIÇÃO de reais
de reais 20X0
20X1
1 Receitas
1.1 Vendas de mercadorias, produtos e serviços
1.2 Outras receitas
1.3 Receitas relativas à construção de ativos próprios
1.4 Provisão para créditos de liquidação duvidosa –
reversão/constituição
2 Insumos adquiridos de terceiros (inclui os valores dos
impostos: ICMS, IPI, PIS e COFINS)
2.1 Custos dos produtos, das mercadorias e dos serviços
vendidos

94 Contabilidade Socioambiental
Balanço Social 6
Em milhares
Em milhares
DESCRIÇÃO de reais
de reais 20X0
20X1
2.2 materiais, energia, serviços de terceiros e outros
2.3 Perda/recuperação de valores ativos
2.4 Outras (especificar)
3 Valor adicionado bruto (1-2)
4 Depreciação, amortização e exaustão
5 Valor adicionado líquido produzido pela entidade (3-4)
6 Valor adicionado recebido em transferência
6.1 Resultado de equivalência patrimonial
6.2 Receitas financeiras
6.3 Outras
7 Valor adicionado total a distribuir (5 + 6)
8 Distribuição do valor adicionado1
Fonte: Comitê De Pronunciamentos Contábeis Pronunciamento Técnico – CPC 091

6.2 Balanço Social


Vídeo
O Balanço Social consiste no agrupamento de informações relaciona-
das aos aspectos social, econômico e ambiental das atividades empresariais
(PINTO; RIBEIRO, 2004; VELLANI, 2011). Esse balanço tem como objetivo
viabilizar a transparência informacional dos negócios e, consequentemente,
proporcionar maior confiança em especial a stakeholders (partes interessadas),
mas sem que essa enunciação seja limitativa a acionistas, investidores, clientes, funcionários,
fornecedores, parceiros de negócios e à comunidade de modo geral (VELLANI, 2011).
Historicamente, a participação dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã causou danos
não só aos homens, mas também ao meio ambiente, visto que foi utilizado um arsenal bé-
lico sofisticado e letal. Esse acontecimento gerou um novo paradigma, o qual estabeleceu
uma nova forma de pensar, pautada em uma postura mais ética. Nesse momento, segundo
Antonovz (2014), os pesquisadores europeus e americanos desenvolveram um sistema de
contabilidade social que gerava informações quantitativas e qualitativas, demonstrando a
situação de determinada empresa quanto às condições de trabalho de seus empregados, a
evolução social e do meio ambiente. Em 1970, as empresas francesas começaram a divulgar,
por meio de indicadores sociais, o panorama relacionado aos aspectos financeiros, sua rela-
ção com a sociedade e com seus colaboradores.

1 O resultado obtido na primeira etapa (valor adicionado total para distribuição) deve, necessaria-
mente, ser igual ao resultado da segunda etapa (distribuição do valor adicionado). Caso contrário,
configura-se erro de apuração contábil e, obrigatoriamente, ela precisa ser revista.

Contabilidade Socioambiental 95
6 Balanço Social

Na atualidade, o Balanço Social tem como base a demonstração das ações que geram
cidadania. Contudo, para que essa cidadania seja plena, é necessário que as informações
repassadas publicamente retratem a realidade organizacional e sejam de efetiva qualidade.
É evidente que as empresas têm como função a produção de bens e serviços, visando
à obtenção de lucros. Todavia, essas mesmas companhias também têm obrigações com a
sociedade, tanto na conservação ambiental como no bem-estar dos empregados e seus fami-
liares e de todo o seu entorno.
Diferentemente das demonstrações financeiras/contábeis do exercício – que obriga-
toriamente devem ser publicadas –, no caso de sociedades anônimas (Lei n. 6.404/76), o
Balanço Social não se configura como uma exigência imposta por regulamentações e leis.
Por outro lado, comumentemente as empresas costumam divulgar seus Balanços Sociais
de modo voluntário e espontâneo, uma vez que tal ação é muito bem vista aos olhos dos
stakeholders, de modo geral.
As informações que estão contidas nesse Balanço Social são geralmente estudadas pela
contabilidade no intuito de quantificar o desempenho econômico, social e ambiental de cada
empresa. Logo, pode-se entender que a contabilidade, como ciência, vem sendo desenvol-
vida com a finalidade de aperfeiçoar as informações da gestão econômica e socioambiental,
a fim de fornecer aos investidores – bem como aos financiadores e à sociedade em geral –
dados mais concisos dos recursos empresariais.
Mazzoni, Tinoco e Oliveira (2007, p. 63) afirmam que “o empenho da contabilidade em
responder aos desafios que transcendem os aspectos econômicos e financeiros levou à busca
de uma nova demonstração, de cunho social, que permite identificar e demonstrar os im-
pactos recebidos e causados pelas entidades, relacionados ao ambiente social e ecológico”.
Assim, o Balanço Social é o resultado das ações que a empresa desenvolveu no seu pla-
no estratégico, envolvendo os aspectos socioambientais direta ou indiretamente. Essas ações
sociais desencadeiam alguns benefícios para a organização, entre os quais se destaca a con-
solidação da marca institucional, adquirida por meio do marketing social. A identificação do
cliente com as ações de responsabilidade social e ambiental faz com que ele prefira consumir
os produtos e serviços da empresa. Lembrando que a companhia se utiliza dos recursos na-
turais – que são um bem da sociedade – para o seu processo produtivo, interferindo assim
no meio ambiente, o que pode gerar danos presentes e futuros à humanidade – e isso reflete
nas escolhas dos clientes.
Dentro da organização, o Balanço Social deve demonstrar as ações que a empresa exe-
cuta com a finalidade de proporcionar mais qualidade de vida aos seus empregados. Nesse
sentido, destacam-se como ações as que promovem educação (profissional ou formal), saú-
de, esporte, entre outras.
Percebe-se, portanto, que existem vários indicadores, quantitativos e qualitativos que
podem ser extraídos do Balanço Social. Entre esses indicadores, podemos citar o número de
empregados, as ações internas de bem-estar dos funcionários ou, ainda, os valores econô-
micos investidos em programas de educação continuada. Observaremos exemplos reais na
próxima seção deste capítulo.

96 Contabilidade Socioambiental
Balanço Social 6
O Balanço Social, em conformidade com Tinoco e Kraemer apud Antonovz (2014), é o
melhor exemplo de accountability (prestação de contas de forma transparente), visto que se
refere a uma ferramenta que leva os empresários a prestar contas dos resultados obtidos
quanto à responsabilidade social para seus parceiros dessa área, ou seja, para os stakeholders.
Sobre as informações que devem estar contempladas no Balanço Social, Kroetz (apud
Tinoco 2004, p. 91) estabelece algumas especificações acerca do desempenho empresarial
sob os aspectos econômico, social e ambiental, entre elas:
• revelar em conjunto com as demais demonstrações financeiras a estratégia de so-
brevivência e crescimento da entidade;
• evidenciar (por meio de indicadores econômicos e sociais) as contribuições da em-
presa à qualidade de vida da comunidade;
• abranger todo o conjunto de interações sociais, as contribuições da empresa à qua-
lidade de vida da comunidade;
• divulgar os investimentos realizados no desenvolvimento de pesquisa tecnológica;
• compor um banco de dados confiável para análise e tomada de decisão dos usuá-
rios externos;
• medir os impactos das informações apresentadas no Balanço Social diante da co-
munidade em que mantém relações de negócios;
• servir de instrumento para as negociações laborais entre empresa, sindicatos e re-
presentantes dos empregados;
• clarificar os objetivos e as políticas administrativas que possibilitem avaliar
a entidade em função não apenas do resultado econômico, mas também dos
resultados sociais;
• ampliar o grau de confiança da sociedade em relação à entidade.
Nesse contexto, verifica-se que o Balanço Social apresenta questões relacionadas a da-
dos socioeconômicos e ambientais, consistindo em um rol de informações quantitativas e
qualitativas pertinentes às ações sociais e ambientais. Segundo Tinoco (2001, p. 41), os indi-
cadores de caráter econômico existentes nesse balanço consistem em:
a. valor adicionado por trabalhador;
b. relação entre salários pagos ao trabalhador e o valor adicionado;
c. ligação entre os salários e as receitas brutas da empresa;
d. contribuição do valor adicionado da empresa para o Produto Interno Bruto;
e. produtividade social da empresa;
f. carga tributária da empresa em relação a seu valor adicionado etc.
Ainda de acordo com Tinoco (2001, p. 41), os indicadores de configuração social são:
a. evolução do emprego na empresa;
b. promoção dos trabalhadores na escala salarial da companhia;
c. relação entre a remuneração do pessoal em nível de gerência e os operários;

Contabilidade Socioambiental 97
6 Balanço Social

d. participação e evolução do pessoal por sexo e instrução;


e. classificação do pessoal por faixa etária;
f. classificação por tempo na empresa;
g. nível de absenteísmo;
h. benefícios sociais concedidos (médico, odontológico, moradia, educação);
i. política de higiene e segurança no trabalho;
j. política de proteção ao meio ambiente etc.

6.2.1 Global Reporting Initiative – GRI


Atuante como instituição independente desde 2002 na área de sustentabilidade, a
Global Reporting Initiative, ou GRI, é responsável pela padronização e pelo fornecimento
de informações e diretrizes para elaboração dos Balanços Sociais, fundamentando-se nos
três pilares da sustentabilidade: o econômico, o social e o ambiental (VELLANI, 2011). A
GRI foi fundada em 1997 pela Instituição CERES e pelo Programa Ambiental das Nações
Unidas, tendo como principal propósito viabilizar o suporte e as orientações necessárias às
empresas, resultando na essência da elaboração de relatórios de sustentabilidade em uma
conduta parametrizada entre as organizações (GRI, 2017).
Vellani (2011) assegura que o padrão GRI vem se destacando em virtude de seu nível de
adesão mundial, sendo que muitas empresas se utilizam desse relatório anual para divulgar
de forma transparente suas informações, abrangendo o desempenho econômico (demons-
trações financeiras), pareceres da auditoria independente, informações da gestão da em-
presa, desempenho social (gestão de pessoas) e ambiental (resultados voltados às questões
ecológicas). Bebbington, Larrinaga e Moneva (2008) alegam que os balanços socioambien-
tais, fundamentados nas diretrizes elaboradas pela GRI, além de viabilizar a transparência
informacional organizacional, são utilizados também como um suporte para o processo de-
cisório gerencial.
Para melhor compreensão do funcionamento dos relatórios da GRI, é importante es-
clarecer que cinco conjuntos de diretrizes foram publicados até a realização desta obra.
Inicialmente, as primeiras diretrizes foram divulgadas no ano 2000, entretanto em 2002 já
se lançava uma nova versão. Com o intuito de promover melhorias e novas adequações,
no ano de 2006 a GRI lançou a G3, uma versão que foi logo atualizada pela versão G3.1,
revelada somente em 2011. Atualmente, a publicação mais moderna é a G4, cuja divulgação
ocorreu no ano de 2013, buscando facilitar a aceitação e a adesão das empresas na prática da
publicação de relatórios socioambientais, com alinhamentos voltados aos outros modelos de
relatórios, como o Pacto Global da Organização das Nações Unidas e da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE (GRI, 2017).

98 Contabilidade Socioambiental
Balanço Social 6
Percebe-se, então, que as organizações que adotam esse padrão de relatório procuram
transmitir de maneira transparente e clara a seus stakeholders (partes interessadas) e sharehol-
ders (acionistas) o seu posicionamento sustentável diante de suas atividades organizacio-
nais, impactando diretamente na percepção do mercado de capitais.

6.3 Case de Balanço Social


Vídeo
Com a finalidade de aplicar os ensinamentos dispostos neste capítulo,
vamos analisar o Balanço Social da Universidade do Vale do Itajaí do ano
de 2016. Todavia, antes de fazer de fato essa análise do conteúdo das infor-
mações do balanço, é importante observar alguns dados que caracterizam a
referida instituição.
A Universidade do Vale do Itajaí teve sua trajetória iniciada em 1964, entretanto somen-
te em 1989 passou a exercer suas atividades educacionais como uma universidade. Ela tem
como mantenedora a Fundação Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e sua visão é ser
reconhecida como universidade de excelência na atividade de ensino, no desenvolvimento
e na divulgação de pesquisas e na gestão criativa e empreendedora de projetos sociais.
Sua missão é pautada na ideia de produzir e socializar o conhecimento pelo ensino,
pela pesquisa e extensão, estabelecendo parcerias solidárias com a comunidade em bus-
ca de soluções coletivas para problemas locais e globais, visando à formação do cidadão
crítico e ético. Os valores da instituição englobam o respeito ao pluralismo de ideias, o
compromisso social com o desenvolvimento regional e global, a produção e o uso da tec-
nologia a serviço da humanização, a ética no relacionamento e a formação e profissionali-
zação de vanguarda.
O Balanço Social da Univali de 2016 está divulgado no site da própria instituição2. O
documento é dividido em vários tópicos e começa com uma breve explanação do reitor
Dr. Mário Cesar dos Santos. Em seguida, a mantenedora destaca a missão, a visão e os
valores dessa instituição, além da forma organizacional da empresa. No desenvolvimen-
to, é disposta a estrutura da Univali, destacando sua área de atuação, bem como seus
princípios norteadores.
Na página 15 do Balanço Social de 2016 (UNIVALI, 2016), são evidenciadas as informa-
ções pertinentes aos Recursos Humanos, destacando o número de funcionários que a orga-
nização possui, como pode ser observado na Figura 1. Outro dado destacado nessa mesma
seção é a distribuição desses colaboradores quanto ao gênero e à faixa etária.

2 Veja as informações em: <https://www.univali.br/institucional/balanco-social/Paginas/default.aspx>.


Acesso em: 21 nov. 2017.

Contabilidade Socioambiental 99
6 Balanço Social

Figura 1 – Indicadores de Recursos Humanos da Univali – 2016.

PARTICIPAÇÃO
POR SEXO3

Sexo Docentes Administrativos Total


Homens 662 486 1.148
Mulheres 599 853 1.452
Total 1.261 1.339 2.600 3

PERCENTUAL DE OCUPANTES
DE CARGOS DE CHEFIA

Sexo Docentes Administrativos


Homens 1,43% 2,17%
Mulheres 1,27% 1,49%

FAIXAS
ETÁRIAS4

Faixa de idade Docentes Administrativos Total


De 18 a 35 anos 231 696 927
De 36 a 60 anos 947 622 1.569
Acima de 60
83 21 104
anos
Total 1.261 1.339 2.600
4

TEMPO DE SERVIÇO
NA INSTITUIÇÃO

Tempo Docentes Administrativos Total


Até 1 ano 64 282 346
Acima de 1 até 5 anos 324 502 826
Acima de 5 até 10 anos 173 183 356
Acima de 10 anos 700 372 1072
Total 1.261 1.339 2.600
Fonte: UNIVALI, 2016, p. 15. Adaptada.

3 Destaca-se que, do total de 1.339 colaboradores pertencentes ao corpo técnico-administrativo, 35 exercem


também a função de docência. Por essa razão, no computo geral, eles são considerados uma única vez.
4 Não há funcionários com menos de 18 anos.

100 Contabilidade Socioambiental


Balanço Social 6
Fica evidente a existência de um número maior de homens exercendo a função do
magistério superior em relação ao setor administrativo, em que predominam as mulheres.
Todavia, um ponto importante refere-se ao total de empregados: a Univali, em 2016, empre-
gava mais mulheres do que homens. Outro ponto relevante é que existem mais funcionários
com mais de 60 anos na docência do que na área administrativa.
O Balanço Social da Univali traz ainda os indicadores do Programa de Formação
Continuada para Docentes do ano de 2011 até 2016, conforme a o Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Indicadores do Programa de Formação Continuada para Docentes de 2011 a 2016.


2011/01

2011/02

2012/01

2012/02

2013/01

2013/02

2014/01

2014/02

2015/01

2015/02

2016/01

2016/02
Indi­cador

Total de temas 51 16 19 16 17 17 16 17 8 7 14 8
oferecidos

Total de 113 98 156 141 158 107 113 210 153 188 225 176
oficinas

Docentes 1.256 1.215 1.195 1.211 1.237 1.237 1.246 1.270 1.285 1.344 1.305 1.336
da Univali

Docentes 779 725 872 887 920 937 920 1.058 1.080 1.118 1.160 1.160
participantes

Índice de par- 62,0 59,6 72,9 73,2 74,3 75,7 73,8 83,3 84,0 83,2 88,8 86,8
ticipação (%)

Fonte: UNIVALI, 2017.

No quadro, verifica-se que existe uma evolução crescente da participação dos docentes
em qualificações – em 2011 houve 779 participações, enquanto em 2016 foram 1.160, mesmo
com a redução de temas para estudos. Outras informações que podem ser verificadas no
Balanço Social da Univali relacionam-se aos benefícios que os empregados dessa instituição
recebem, como é o caso do plano de saúde e do plano odontológico.
Em seguida, o balanço evidencia os prêmios que a instituição recebeu como premiação
das ações sociais, é o caso do Selo Social, recebido da Organização das Nações Unidas devi-
do ao fato de a Fundação Universidade do Vale do Itajaí ter cumprido com os 8 Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM)5.
Na sequência, são apresentadas as informações acerca do corpo discente. Nesse sen-
tido, comprova-se que existe um aumento de pessoas afrodescendentes estudando nessa
instituição. Por outro lado, é perceptível a redução da quantidade de pessoas portadoras
de deficiência, bem como de indígenas. Esses dados são confirmados no Quadro 4 a seguir.

5 Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram estabelecidos pela Organização das


Nações Unidas e compreendem: 1) acabar com a fome e miséria; 2) oferecer educação bási-
ca de qualidade para todos; 3) promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;
4) reduzir a mortalidade infantil; 5) melhorar a saúde das gestantes; 6) combater a Aids, a malária e
outras doenças; 7) garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; e 8) estabelecer parcerias
para o desenvolvimento (ODM BRASIL, 2015).

Contabilidade Socioambiental 101


6 Balanço Social

Quadro 4 – Total de alunos na graduação – 2015 e 2016.

TOTAL ALUNOS GRADUAÇÃO


Quantidade % S/total Quantidade % S/total
2015 2015 2016 2016
Total de alunos 29.572 100,00 23.198 100,00
Homens 12.875 43,54 9.873 42,56%
Mulheres 16.697 56,46 13.325 57,44
Brancos 26.305 88,95 20.347 87,71
Pretos 743 2,51 574 2,47
Amarelos 212 0,72 185 0,80
Pardos 2.270 7,68 2.058 8,87
Indígenas 42 0,14 34 0,15
Portadores de necessidades especiais 163 0,55 143 0,62
Ingressantes no período 8.901 30,10 6.495 28,00
Formados no período 2.622 8,87 3.030 13,06
Evasão 8.543 28,86 2.444 10,54
Reprovação 434 1,47 266 1,15
Número de docentes 1.325 1.335
Relação de alunos/docentes 22,32 17,38
Fonte: UNIVALI, 2016, p. 22.

Outra informação observada no Balanço Social da Univali refere-se ao número de cur-


sos de pós-graduação que a instituição oferece para seus alunos. Conforme o gráfico da
Figura 2 a seguir, percebe-se um aumento de cursos de pós-graduação de 2015 a 2016.

Figura 2 – Cursos de pós-graduação da Univali – 2015 e 2016.

Fonte: UNIVALI, 2016, p. 24.

102 Contabilidade Socioambiental


Balanço Social 6
Na dimensão social, o Balanço Social destaca vários programas da Univali, os quais
beneficiam a sociedade. Entre eles, destaca-se o programa denominado Envelhecimento
Saudável, desenvolvido pelos acadêmicos em conjunto com os professores do curso de
Educação Física de Biguaçu, tendo 30 beneficiários diretos (UNIVALI, 2016).
Sob a perspectiva ambiental, o Balanço Social da Univali notabiliza vários programas,
com destaque para o Programa de Reciclagem de Esponjas Domésticas, que se traduz na
conscientização do uso da esponja Scotch-Brite™, da 3M, visto que sua decomposição é in-
determinada. Também se destaca o Programa de Implantação de Jardins Comestíveis como
parte do Projeto Saber Viver, cujo objetivo consiste na implantação de hortas orgânicas como
atividade realizada no Centro de Recuperação Feminino Conviver.
Já na dimensão cultural, o Balanço Social da Univali de 2016 traz informações sobre a
rádio e a televisão educacionais, mantidas pela Fundação Universidade do Vale do Itajaí,
bem como o museu Oceanográfico da Univali.
Nos Quadros 5 e 6 é apresentado o Balanço Social propriamente dito.

Quadro 5 – Demonstração do resultado nos períodos findos de 2015 e 2016.

2016 2015
Univer­ Fun­ Univer­ Fun­
Hospital Hospital
sidade dação sidade dação
Receita Operacional
Mensalidade – 329.853 329.853 – 295.543 295.543
Receita de Serviços 3.097 76.837 79.934 2.946 37.449 40.395
Repasse SUS 2.326 – 2.326 2.042 – 2.042
Atividades Complementares 38 4.307 4.345 40 3.199 3.239
Subvenções, doações e patrocínios 6.209 35.627 41.836 6.357 6.219 12.576
Receita Operacional Bruta 11.670 446.624 458.294 11.385 342.410 343.795

Deduções da Receita Operacional


Bruta
(–) Gratuidades educação – (65.846) (65.846) – (44.172) (44.172)
(–) Outras bolsas concedidas (170) (13.717) (13.887) (45) (12.379) (12.424)
(–) Mensalidades canceladas – (8.756) (8.756) – (8.158) (8.158)
(–) Faturamentos glosados (11) – (11) – – –
(–) Devoluções subvenções – (70) (70) – (151) (151)
(–) Outras deduções – (191) (191) – (149) (149)
Receita Operacional Líquida 11.849 358.044 369.533 11.340 277.401 288.741

Custo dos serviços prestados


Serviços de ensino e hospitalares (7.464) (184.557) (192.021) (6.113) (158.484) (164.597)
Atividades complementares (8.660) (82.611) (91.271) (7.399) (52.277) (59.676)

Resultado Bruto (4.635) 90.876 86.241 (2.172) 66.640 64.468

Despesas operacionais
Gastos com pessoal e encargos (2.020) (32.946) (34.966) (1.740) (28.481) (30.221)
Despesas administrativas (1.008) (27.220) (28.228) (709) (17.337) (18.046)

Contabilidade Socioambiental 103


6 Balanço Social

2016 2015
Univer­ Fun­ Univer­ Fun­
Hospital Hospital
sidade dação sidade dação
Impostos e taxas – (2) (2) – 5 5
(3.028) (60.168) (63.196) (2.449) (45.813) (48.262)

Resultado operacionais antes


(7.663) 30.708 23.045 (4.621) 20.827 16.206
dos efeitos financeiros

Receitas financeiras 18 7.660 7.678 1 7.189 7.190


Despesas financeiras (1) (4.836) (4.837) – (4.674) (4.674)

Resultado Financeiro Líquido 17 2.824 2.841 1 2.515 2.516

Resultado Operacional (7.646) 33.532 25.866 (4.620) 23.342 18.722

Resultado Não Operacional


Líquido
Resultado na venda de
(1) (422) (423) (5) (276) (281)
imobilizado
Outros resultados não
(187) 225 38 (73) 378 305
operacionais

(188) (197) (385) (78) 102 24


Superávit/(deficit) do período (7.834) 33.335 25.501 (4.698) 23.444 18.746
Fonte: UNIVALI, 2016, p. 100.

Quadro 6 – Demonstração do valor adicionado para os períodos findos de 2015 e 2016.

Descrição 2016 2015


1 Receitas 398.937 325.215
Receita com ensino 321.097 287.385
Receita de prestação de serviços 79.934 40.396
Receita com vendas 1.390 1.035
(–) Provisão para créditos de liquidação duvidosa (6.428) (5.805)
Outras receitas 2.944 2.204

2 Insumos adquiridos de terceiros 94.565 57.534


2.1) Materiais e manutenção 28.502 25.577
2.2) Energia elétrica, água, esgoto e telecomunicações 7.851 7.705
2.3) Serviços de terceiros 58.212 24.252

3 Valor adicionado bruto (1-2) 304.372 267.681

4 Depreciação, amortização e exaustão 8.839 8.207

5 Valor adicionado líquido produzido pela entidade (3-4) 295.533 259.474

6 Valor adicionado recebido em transferência 51.579 21.508

104 Contabilidade Socioambiental


Balanço Social 6
Descrição 2016 2015
6.1) Recursos governamentais 10.239 10.183
6.2) Doações recebidas (pessoas físicas e jurídicas) 31.297 1.958
6.3) Patrocínios 39 135
6.4) Convênios 2.326 2.042
6.5) Receitas financeiras 7.678 7.190

7 Valor adicionado total a distribuir (5+6) 347.112 280.982

8 Distribuição do valor adicionado 347.112 280.982


8.1) Pessoal 226.968 194.809
8.1.1) Remuneração direta 164.088 142.274
8.1.2) Férias 20.533 16.331
8.1.3) 13° salário 14.807 12.563
8.1.4) FGTS 16.388 14.205
8.1.5) Benefícios 2.705 1.536
8.1.6) Previdência privada 8.447 7.900
8.2) Impostos, taxas e contribuições 556 310
8.2.1) Tributos 556 310
8.3) Remuneração de capitais de terceiros 14.354 10.521
8.3.1) Juros 4.837 4.674
8.3.2) Aluguéis 9.517 5.847
8.4) Despesas das atividades filantrópicas 65.846 44.173
8.4.1) Educação – bolsas de estudos 65.846 44.173
8.5) Bolsas de estudos/desenvolvimento científico 13.887 12.423
8.5.1) Bolsas de estudos 13.887 12.423
8.6) Retenções 25.501 18.746
8.6.1) Superávit ou déficit das atividades 25.501 18.746
Fonte: UNIVALI, 2016, p. 101.

Cumpre evidenciar que o propósito de analisarmos o Balanço Social da Univali se restrin-


ge às abordagens essenciais que devem integrar os Balanços Sociais. Obviamente este capítulo
não esgota ou encerra o assunto, pelo contrário, apresenta a estruturação das demonstrações
socioeconômicas e ambientais e propulsiona diretrizes para aprofundamentos posteriores.

Conclusão

A pressão dos stakeholders está relacionada com a prática de gestão das empresas e os
reflexos desse cenário nos relatórios econômicos, sociais e ambientais. A crescente apreen-
são empresarial quanto aos impactos ambientais, atrelada à preocupação de manter a
transparência informacional por meio de publicação de relatórios, proporciona ao público
a disposição de informações inerentes ao mundo corporativo e seu respectivo posiciona-
mento socioambiental.

Contabilidade Socioambiental 105


6 Balanço Social

Ademais, os benefícios organizacionais internos e externos se estendem à maior com-


preensão dos riscos e das oportunidades de negócios, à comparação de desempenho interno
com outras organizações e setores, à melhoria da imagem e reputação, além de uma de-
monstração de como a organização influencia e é influenciada pelas expectativas relaciona-
das ao desenvolvimento sustentável.
Fica evidente, assim, que a elaboração das demonstrações que retratam o desempe-
nho organizacional transpõe o atendimento aos requisitos legais e eleva a responsabilidade
da postura comprometida e transparente com as partes interessadas, como acionistas, in-
vestidores, instituições financeiras, organizações trabalhistas e a sociedade como um todo.
Maior transparência sustenta maior confiança, revelada por meio da estruturação real e bem
fundamentada dos relatórios, além de configurar um importante suporte para o processo
decisório gerencial.

Ampliando seus conhecimentos

Na estruturação de um Balanço Social, o padrão GRI (Global Reporting


Initiative), voltado especificamente para o desenvolvimento sustentável, é
mundialmente disseminado e aceito. Por meio do texto a seguir, é possível
entendermos a atuação nacional diante do compromisso com as publicações
dos Balanços Sociais e com o desenvolvimento sustentável.

Relatórios no Brasil
(GRI BRASIL, 2017)

[...]

Atualmente, o Brasil encontra-se em terceiro lugar no mundo em número


de empresas que publicam relatórios de sustentabilidade. Em 2010, mais
de 160 relatórios brasileiros baseados na estrutura da GRI foram registra-
dos na Lista de Relatórios dessa instituição.

Há quase 40 empresas brasileiras no Programa de Stakeholders


Organizacionais da GRI e os especialistas brasileiros estão bem represen-
tados nos órgãos de governança da GRI. O público brasileiro de relató-
rios de sustentabilidade assumiu um papel de liderança por meio de seu
envolvimento no Readers Choice Awards e em conferências da GRI. A
população indígena e a rica biodiversidade do Brasil estão entre os princi-
pais fatores de influência no campo do desenvolvimento sustentável. [...]

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável


(Rio+20) é o desdobramento mais recente na história brasileira de

106 Contabilidade Socioambiental


Balanço Social 6
promoção de transparência e prestação de contas pelas organizações.
Instituições financeiras, empresas de energia elétrica e estatais estão entre
as cada vez mais envolvidas na agenda da sustentabilidade. [...]

Na década de 1990, um grupo de empresários brasileiros engajados fun-


dou o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Em 2000,
o Instituto Ethos lançou os Indicadores Ethos, que ajudam as empresas a
se familiarizar com práticas empresariais responsáveis. No mesmo ano, a
Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) lançou o segmento espe-
cial de listagem Novo Mercado, que classifica as empresas segundo seu
desempenho em governança corporativa.

Ser o anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento (Rio-92) foi um indicativo precoce do compromisso dos
brasileiros com o desenvolvimento sustentável e levou à criação de impor-
tantes organizações no campo da sustentabilidade. A primeira metade
da década de 1990 viu o estabelecimento do Greenpeace no Brasil, do
Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) ou do GIFE (Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas).

[...]

Atividades
1. O valor total da produção de bens e serviços de determinado período, menos o cus-
to dos recursos adquiridos de terceiros, necessários a essa produção, bem como a
forma pela qual este está sendo distribuído entre os diferentes grupos sociais que
interagem com atividades da empresa, são claramente expressos na Demonstração
do Valor Adicionado (DVA). No contexto prático contábil, explique como essas infor-
mações devem ser estruturadas na DVA.

2. Considerando que a DVA e o Balanço Social são mecanismos de transparência in-


formacional, explique acerca da obrigatoriedade de divulgação dessas ferramentas.

3. O Balanço Social consiste no agrupamento de informações relacionadas aos aspec-


tos social, econômico e ambiental. Nesse conjunto, quais especificações relativas ao
desempenho organizacional devem ser consideradas na elaboração desse balanço?

4. É possível padronizar, de maneira global, as informações necessárias para a estrutu-


ração do Balanço Social? Caso sim, qual instituição promove tal padronização?

Contabilidade Socioambiental 107


6 Balanço Social

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 15 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso
em: 3 out. 2017.
BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2007.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm>. Acesso
em: 21 nov. 2017.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Técnico CPC 09: Demonstração
do Valor Adicionado. Brasília, DF, 2008. Disponível em: <http://static.cpc.mediagroup.com.br/
Documentos/175_CPC_09.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2017.
CUNHA, Jacqueline Veneroso Alves da; RIBEIRO, Maisa de Souza; SANTOS, Ariovaldo dos. A de-
monstração do valor adicionado como instrumento de mensuração da distribuição da riqueza. Revista
de Contabilidade e Finanças, v. 16, n. 37, p. 7-23, 2005.
BEBBINGTON, J. Sustainable development: a review of the international development, business and
accounting literature. Accounting Forum, v. 25, n. 2, p. 128-157, 2001.
BERTOLI, Ana Lúcia; RIBEIRO, Maisa de Souza. Passivo ambiental: estudo de caso da Petróleo
Brasileiro S.A - Petrobrás. A repercussão ambiental nas demonstrações contábeis, em consequência
dos acidentes ocorridos. Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 117-136, 2006.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552006000200007>. Acesso em: 11 out. 2017.
BRAGA, Célia (Org.). Contabilidade ambiental: ferramenta para a gestão de sustentabilidade. São
Paulo: Atlas, 2010.
CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. Contabilidade ambiental: teoria e prática. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2008.
DE LUCA, Márcia Martins Mendes. Demonstração do valor adicionado: do cálculo da riqueza criada
pela empresa ao valor do PIB. São Paulo: Atlas, 1998.   
FERREIRA, Aracéli Cristina de Souza. Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvi-
mento sustentável – inclui certificados de carbono. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
GRI – Global Reporting Initiative. GRI’s History. Disponível em: <https://www.globalreporting.org/
information/about-gri/gri-history/Pages/GRI’s%20history.aspx>. Acesso em: 7 out. 2017.
GRI BRASIL. Focal Point Brazil: Relatórios no Brasil. Disponível em <https://www.globalreporting.
org/network/regional-networks/gri-focal-points/focal-point-brazil/Pages/default.aspx>. Acesso em: 21
nov. 2017.
MAZZONI, Sadi; TINOCO, João Eduardo Prudêncio; OLIVEIRA, Antonio Benedito Silva. Informações
evidenciadas no Balanço Social: as percepções dos gestores de forma comparada a literatura. Revista
Contemporânea de Contabilidade, ano 4, n. 7, p. 61-80, jan./jun. 2007.
ODM BRASIL. O Brasil e os ODM. 2015. Disponível em: <http://www.odmbrasil.gov.br/o-brasil-e-os-
odm>. Acesso em: 21 nov. 2017.
PAIVA, Paulo Roberto de. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com trans-
parência e focada na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003.
PINTO, Anacleto Laurino; RIBEIRO, Maisa de Souza. Balanço social: avaliação de informações for-
necidas por empresas industriais situadas no estado de Santa Catarina. Revista Contabilidade &
Finanças, São Paulo, n. 36, p. 21-34, set./dez. 2004.
RIBEIRO, Maisa de Souza. Contabilidade ambiental. São Paulo: Saraiva, 2006.

108 Contabilidade Socioambiental


Balanço Social 6
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. Coord. Pedro Lenza. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
TINOCO, João Eduardo Prudêncio. Balanço social: uma abordagem da transparência e da responsa-
bilidade pública das organizações. São Paulo: Atlas, 2001.
TINOCO, João Eduardo Prudêncio; KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e gestão am-
biental. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2011.
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí. Relatório de responsabilidade social 2016 – Balanço Social.
Porto Alegre, 2016. Disponível em: <https://www.univali.br/institucional/balanco-social/Paginas/
default.aspx>. Acesso em: 11 out. 2017.
VELLANI, C. L. Contabilidade e responsabilidade social: integrando desempenho econômico, social
e ecológico. São Paulo: Atlas, 2011.

Resolução
1. Na prática, as informações que devem ser consideradas na construção de uma DVA
são divididas em duas etapas:

Primeira etapa

• Receita bruta com vendas e os ganhos de capital.


• Insumos que a empresa adquiriu de terceiros.
• A diferença entre o primeiro e o segundo grupo consiste no valor adicionado
bruto. Na sequência, devem ser descontadas a depreciação, a amortização e a
exaustão – e, assim, é possível chegar ao valor adicionado líquido.
• Caso a empresa tenha recebido outros valores por meio de transferência – é o
caso de receitas financeiras (juros) –, é necessário que eles sejam somados ao re-
sultado. Os valores obtidos acarretarão no valor adicionado para distribuição.

Segunda etapa

• Nessa etapa, a empresa demonstrará como foi distribuída a riqueza: valores com
pessoal, impostos, pagamento a terceiros, lucros retidos e distribuídos aos acio-
nistas, entre outras informações relacionadas.

2. Em consonância com a Lei n. 11.638/07, a divulgação da DVA torna-se obrigatória


para empresas de capital aberto (que dispõem ações na bolsa de valores). Obviamen-
te, aquelas que não se enquadram nessa configuração podem divulgar sua DVA com
objetivos de gestão dos seus resultados.

Quanto ao Balanço Social, diferentemente das demonstrações financeiras/contábeis


do exercício – que obrigatoriamente devem ser publicadas –, no caso de socieda-
des anônimas (Lei n. 6.404/76), esse balanço não se configura como uma exigência
imposta por regulamentações e leis. Por outro lado, comumentemente as empresas
costumam divulgar seus Balanços Sociais de modo voluntário e espontâneo, uma
vez que tal ação é muito bem vista aos olhos dos stakeholders, de modo geral.

Contabilidade Socioambiental 109


6 Balanço Social

3. As especificações são:
• revelar em conjunto com as demais demonstrações financeiras a estratégia de
sobrevivência e crescimento da entidade;
• evidenciar (por meio de indicadores econômicos e sociais) as contribuições da
empresa à qualidade de vida da comunidade;
• abranger todo o conjunto de interações sociais, as contribuições da empresa à
qualidade de vida da comunidade;
• divulgar os investimentos realizados no desenvolvimento de pesquisa
tecnológica;
• compor um banco de dados confiável para análise e tomada de decisão dos usuá-
rios externos;
• medir os impactos das informações apresentadas no Balanço Social diante da
comunidade em que mantém relações de negócios;
• servir de instrumento para as negociações laborais entre empresa, sindicatos e
representantes dos empregados;
• clarificar os objetivos e as políticas administrativas que possibilitem avaliar a en-
tidade em função não apenas do resultado econômico, mas também dos resulta-
dos sociais;
• ampliar o grau de confiança da sociedade em relação à entidade.

4. Sim, é possível. Atuante como instituição independente na área de sustentabilida-


de, a Global Reporting Initiative, ou GRI, é responsável pela padronização e pelo
fornecimento de informações e diretrizes para elaboração dos Balanços Sociais de
maneira global, fundamentando-se nos pilares da sustentabilidade: econômico, so-
cial e ambiental.

110 Contabilidade Socioambiental


7
Auditoria ambiental

Neste capítulo, o objetivo é proporcionar o conhecimento das normas que tutelam


o meio ambiente no território brasileiro, bem como analisar as normas que padroni-
zam o sistema de Gestão Ambiental, com destaque para a ISO 14001. Além disso, será
desenvolvido o entendimento sobre a gestão de resíduos, analisando as dicotomias
entre a proteção do meio ambiental e o “progresso a todo custo”.

Contabilidade Socioambiental 111


7 Auditoria ambiental

7.1 Normas ambientais brasileiras


Vídeo
No Brasil, aspectos relativos ao meio ambiente são regidos por um
conjunto de normas e princípios, formais e materiais, contidos no Direito
Ambiental. Tais dispositivos legais foram estruturados, principalmente,
como consequência das preocupações específicas quanto à característica fi-
nita dos recursos naturais. Embora os bens ambientais (água, fauna, flora, ar
etc.) já tenham sido objeto de proteção desde a Antiguidade, tal proteção se limitava ao meio
ambiente constituído em torno do indivíduo e não ao meio ambiente como um todo.
Partindo do pressuposto de que o ser humano necessitava dos recursos naturais para
sua sobrevivência e que haveria prejuízos por conta da extração desses, com a consequente
possibilidade de escassez, surgiram as primeiras normas jurídicas concernentes ao meio am-
biente no âmbito brasileiro, notadamente no período colonial. Embora o foco não consistisse
especificamente na preservação ambiental, a Coroa portuguesa detinha o poder de imposi-
ção de limites para assegurar a continuidade do fluxo de riquezas destinado aos europeus,
surgindo as primeiras normas jurídicas de cunho ambiental nacional (SAMPAIO, 2011). De
caráter repressivo ou de reparação de prejuízos puníveis, o conteúdo dessas normas era
voltado estrategicamente à conservação dos recursos florestais, para a indústria naval e a
construção civil em Portugal (SAMPAIO, 2011).
Cumpre evidenciar que a proteção ao meio ambiente se referia apenas a uma ideia me-
ramente econômica e que esse bem tutelado (meio ambiente), nesse período, era como um
bem privado, pertencente a uma pessoa particular, e não a toda a sociedade.
A referência legal que merece ser destacada no contexto histórico das normativas am-
bientais é o Código Civil promulgado em 1˚ de janeiro de 1916. Analisando os dispositivos
legais do obsoleto Código de 1916, fica evidente a preocupação com o meio ambiente sob
um entendimento individualista, cujos propósitos são destinados aos interesses privados,
ao direito à propriedade e ao interesse econômico.
Entre os anos de 1950 e 1980, a legislação que rege o meio ambiente foi modificada: a
preocupação não era mais econômica, mas com a qualidade da vida humana. Os legislado-
res começam a entender que o ambiente não é capaz de se recuperar sozinho dos impactos
causados pelas atividades humanas. Segundo Rodrigues (2016), essa ideia é evidenciada
quando a saúde humana passa a ser uma nova preocupação.
É nesse momento que o homem reconhece que, para ser tutelado pelo Direito, deverá
rever sua relação com o meio ambiente. Ademais, por consequência, o desenvolvimento
econômico também passa a ser configurado como um “vilão” para manter o ambiente efe-
tivamente “saudável”. Nesse período, foram promulgados os seguintes dispositivos legais:
• Código Florestal – Lei n. 4.771/65 (BRASIL, 1965);
• Código de Caça – Lei n. 5.197/67 (BRASIL, 1967a);
• Código de Mineração – Decreto-Lei n. 227/67 (BRASIL, 1967b);

112 Contabilidade Socioambiental


Auditoria ambiental 7
• Lei de Responsabilidade Civil por Danos Nucleares – Lei n. 6.453/77 (BRASIL, 1977).
Com a evolução da sociedade, a partir da década de 1980 ocorre uma quebra de para-
digma, que retira do centro da sociedade o homem e o meio ambiente se torna um bem con-
siderado por si só. Nesse período, são promulgadas leis importantes, como a Lei n. 6.938/81
(BRASIL, 1981).
Essa lei, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanis-
mos de formulação e aplicação e dá outras providências, foi a primeira norma legislativa que
tutelou o meio ambiente como um direito próprio e autônomo. A Lei n. 6.938/81 foi gerada
com grande influência da Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo,
na Suécia, no ano de 1972. Porém, também teve suas características pautadas pela influên-
cia norte-americana, visto que, na década de 1970, os Estados Unidos instituíram a Política
Ambiental Nacional americana, culminando com a promulgação da “Lei da Água Limpa”
e a criação do estudo de impacto ambiental. Posteriormente, a Política Nacional do Meio
Ambiente brasileira se constituiu como um conjunto de regras que estabelece princípios,
escopos, diretrizes, instrumentos e, principalmente, conceitos gerais sobre o meio ambiente.
A Lei n. 6.938/81 é clara quanto à ideia de que o meio ambiente é um bem único, ima-
terial e indivisível, que deve ser tutelado pelo Poder Judiciário. Essa concepção é verificada
em seu artigo art. 3°, I, que evidencia o meio ambiente como um “conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege
a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Logo, é observado nesse dispositivo que o
legislador é quem tutela todas as formas de vida.
Em suma, com o advento dessa lei, todos os componentes bióticos e abióticos inseridos
no meio ambiente passaram a ser totalmente amparados por essa legislação. Todavia, essa
nova fase de proteção ao meio ambiente deve-se a alguns fatores. Entre eles, destacam-se:
• Conforme o artigo 3°, I, as formas de vidas devem ser tuteladas, logo, verifica-se
um novo conceito ético em relação ao meio ambiente.
• O ser humano passa a fazer parte do meio ambiente, ou seja, está inserido nele.
• O meio ambiente é um objeto autônomo, de modo que os componentes ambientais
devem ser tutelados independentemente dos benefícios econômicos que podem
trazer ao ser humano.
• Estabeleceram-se conceitos que servem de parâmetros para as demais legislações,
nos âmbitos da política ambiental nacional, estadual ou municipal.
• Estabeleceu-se uma política ambiental, com diretrizes, objetivos, com a finalidade
específica de proteção ambiental.
Outro dispositivo importante, concebido pelo Poder Legislativo, consistiu na
Constituição Federal de 1988, a qual trouxe a ideia do Direito Ambiental como um ramo
autônomo da ciência jurídica, haja vista o artigo 225 da Carta Magna, que traz: “Todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e es-
sencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988a). Essa
legislação eleva o Direito Ambiental a uma tutela constitucional, visto que traz em seu corpo

Contabilidade Socioambiental 113


7 Auditoria ambiental

expressamente a proteção ao meio ambiente, principalmente quando o legislador constitu-


cional reserva a este um capítulo inteiro da Carta Magna.
Conforme dispõe o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2008b), as legislações que
tutelam o meio ambiente são, entre outras:
• Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências.
• Constituição Federal de 1988.
• Lei n. 7.797, de 10 de julho de 1989 – Cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente e
dá outras providências.
• Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais) – Dispõe sobre
as sanções penais e administrativas às pessoas, jurídicas e físicas, que causem da-
nos ao meio ambiente.
• Decreto n. 99.274, de 6 de junho de 1990 – Regulamenta a Lei n. 6.902, de 27 de abril
de 1981, e a Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectivamente,
sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a
Política Nacional do Meio Ambiente, e dá outras providências.
• Decreto n. 4.297, de 10 de julho de 2002 – Regulamenta o art. 9°, inciso II, da Lei
n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, estabelecendo critérios para o Zoneamento
Ecológico-Econômico do Brasil – ZEE, e dá outras providências.
• Resolução Conama n. 1, de 23 de janeiro de 1986 – Apresenta resoluções gerais
relativas ao meio ambiente.
• Resolução Conama n. 9, de 3 de dezembro de 1987 – Dispõe sobre a questão de
audiências públicas relacionadas ao meio ambiente.
• Resolução Conama n. 237, de 19 de dezembro de 1997 – Regulamenta os aspectos
de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente.
É importante destacar que a legislação ambiental abrange ainda outras leis, como é o caso
da Lei n. 6.902, de 27 de abril de 1981, que tutela a Área de Proteção Ambiental, e da Lei n. 7.802,
de 10 de julho de 1989, também chamada de “Lei dos Agrotóxicos” (SIRVINSKAS, 2009).

7.2 ISO 14001 e gestão de resíduos


Vídeo
As empresas, de modo geral, estão se adaptando à nova ideia de gestão
ambiental, principalmente por uma exigência de internacionalização de pa-
drões de qualidade. No que se refere a meio ambiente, esses padrões estão
elencados na série da ISO 14000, conforme já apresentado no segundo capí-
tulo desta obra.
Com a globalização atual, as organizações são conduzidas, compulsoriamente, a se-
guir os padrões de qualidade internacionais, visto que a sociedade consumidora, em geral,

114 Contabilidade Socioambiental


Auditoria ambiental 7
torna-se mais consciente quanto à importância dos recursos naturais e quanto à qualidade
de vida, preocupando-se muito mais com a geração atual e as futuras.
Nesse contexto, muitas empresas tentam manter uma imagem ambientalmente condi-
zente com as exigências dos novos consumidores em relação aos aspectos ecológicos. Assim,
com o intuito de mostrar à sociedade esse novo padrão requerido, essas empresas adotam o
Sistema de Gestão Ambiental (SGA).
Em conformidade com a norma NBR ISO 14001:2004, um SGA é definido como: “a
parte de um sistema da gestão de uma organização utilizada para desenvolver e imple-
mentar sua política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais” (ABNT, 2004b).
Desse modo, verifica-se que o SGA é um processo de melhoria contínua, o qual deve ser
trabalhado por meio do sistema PDCA – do inglês Plan, Do, Check, Act. As fases do ci-
clo PDCA, de forma resumida, são explicadas a seguir (ROSA; FRACETO; MOSCHINI-
-CARLOS, 2012; ABNT, 2015a):
• P (Plan) – Planejar: estabelecimento dos objetivos e processos que a empresa neces-
sita para atingir suas metas, em anuência com a filosofia ambiental da organização.
• D (Do) – Executar: execução do que foi planejado na etapa Plan.
• C (Check) – Verificar: verificação do processo em consonância com a metas
estabelecidas.
• A (Act) – Agir: implementação de ações de melhoria contínua visando ao desem-
penho do SGA.
A Figura 1 elucida a estrutura apresentada na norma ISO 14001:2015 e sua respectiva
integração com o ciclo PDCA:

Figura 1: Relação entre o ciclo PDCA e a estrutura da ISO 14001.


Questões internas Necessidades e expectativas
e externas Contexto da organização das partes interessadas
Escopo do sistema de gestão ambiental
P

Planejar

Suporte e
A Melhoria Liderança D
operação

Avaliação
de
desem-
penho

Resultados
pretendidos do sistema
de gestão ambiental

Fonte: ABNT, 2015a, p. 10.

Contabilidade Socioambiental 115


7 Auditoria ambiental

O Sistema de Gestão Ambiental tem o objetivo de evitar impactos ao meio ambiente


e, por consequência, coíbe as empresas de descumprir as leis pertinentes, além de agregar
valor à organização e melhorar o processo de produção, resultando em ganhos financeiros.
Na gestão ambiental, é importante entender alguns conceitos basilares que norteiam a
temática:
• Política ambiental – conjunto de princípios que norteiam a regulamentação, o uso,
o controle, a proteção e a conservação do meio ambiente.
• Planejamento ambiental – Programação de ações que visam à adequação da uti-
lização, ao controle e à proteção ao meio ambiente, cujas diretrizes são fornecidas
pela sociedade ou pela legislação.
• Gerenciamento ambiental – conjunto de atos que são realizados com a finalidade
de gerir o uso, o controle, a proteção e a conservação do ambiente ecológico, sob as
diretrizes dos princípios estabelecidos pela política ambiental.
No Brasil, as normas referentes ao meio ambiente, da série ISO 14000, foram edita-
das pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), conhecidas pela sigla NBR ISO
14000. Esse rol de normas tem como finalidade a preservação da qualidade ambiental, po-
dendo ser analisada sob duas concepções: organização e produto e/ou processo.
Nesse sentido, Antonovz (2014) relata que, apesar de a ISO 14000 ter como abrangência
diversas empresas, em diferentes localidades e culturas, suas duas perspectivas não podem
ser, jamais, desconsideradas:
1. Perspectiva da organização – a norma é utilizada para execução e avaliação dos
parâmetros utilizados pela instituição mercantil.
2. Perspectiva de produtos – as normas são empregadas para mensurar os possíveis
impactos causados pela produção ou, ainda, pelo produto propriamente dito.
As normas da série ISO 14000 possuem algumas peculiaridades, as quais são destaca-
das a seguir (OLIVEIRA, 2014):
• A norma ISO 14001 é a única da série 14000 que tem como objetivo a certificação
do Sistema de Gestão Ambiental, bem como prevê alguns princípios que norteiam
requisitos a serem cumpridos para a certificação da empresa. Na última edição
da norma, ocorrida em 2015, foram determinados os seguintes princípios (ABNT,
2015a): 1) liderança e comprometimento; 2) planejamento; 3) apoio; 4) operação; 5)
avaliação de desempenho; e 6) melhoria.
• A norma ISO 14004 tem como finalidade apresentar algumas orientações para que
a empresa implemente os requisitos da ISO 14001. Tais orientações abordam des-
de a incorporação, a implementação e a manutenção até a melhoria do sistema de
gestão ambiental, além de propiciar a adaptação do SGA aos outros sistemas de
gestão (ABNT, 2015a).
• A norma ISO 19011, que substituiu as normas ISO 14010, 14011 e 14012, tem como
objetivo determinar os procedimentos e os requisitos que os auditores devem se-
guir para realizar as auditorias do Sistema de Gerenciamento Ambiental.

116 Contabilidade Socioambiental


Auditoria ambiental 7
• A ISO 14031 traz como pauta a Avaliação de Desempenho Ambiental dos proces-
sos nas organizações.
• As normas ISO 14001, 14020, 14021 e 14024 têm como enfoque o produto e o pro-
cesso da empresa, bem como estabelecem a obtenção de selos ambientais. Todavia,
a ISO 14001 estabelece a certificação da organização, ao contrário das demais, que
certificam as linhas de produtos e processos das empresas.
• As normas ISO 14040, 14041, 14042, 14043 e 14044 têm como escopo a Avaliação
de Ciclo de Vida, que se inicia pelos insumos e matérias-primas que compõem o
produto e percorre os impactos ambientais e o descarte do produto final após o
término de sua vida útil.
• A norma ISO/TR 14062 tem como diretriz guiar os elaboradores de normativas de
produto para a redução dos impactos ambientais causados por componentes dos
produtos fabricados pela empresa.
Fica evidente que a implantação da série ISO 14001, em qualquer organização, indepen-
dentemente de seu tamanho, refletirá em consequentes melhorias no desempenho ambien-
tal das empresas, de maneira contínua:
[A ISO 14001] auxilia uma organização a alcançar os resultados pretendidos de
seu sistema de gestão ambiental, os quais agreguem valor para o meio ambiente,
a organização em si e suas partes interessadas. Os resultados pretendidos de um
sistema de gestão ambiental coerente com a política ambiental da organização
incluem: aumento do desempenho ambiental; atendimento dos requisitos legais
e outros requisitos; alcance dos objetivos ambientais (ABNT, 2015a, p. 1).

7.2.1 Gestão de resíduos


A geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos tem sido uma preocupação e um
grande desafio para a sociedade moderna. É consenso para os profissionais da área am-
biental que equacionar esse problema é de alta complexidade, devido ao grande número de
variáveis encontradas ao longo desse processo. Dominar ou não algumas dessas variáveis
pode representar o sucesso do planejamento ou o seu fracasso. Tais variantes podem ser
verificadas em vários níveis, como:
• Econômico – gerenciar resíduos pode representar um aumento dos custos da
organização.
• Sociopolítico – há uma dependência da sociedade e do ordenamento político em
unir forças para dominar o processo e resolver o problema do gerenciamento de
resíduos.
• Ecológico – uma infinidade de moléculas sintéticas é encontrada nos resíduos,
como resultado da intervenção antrópica (humana), capazes de agredir a biota,
alterar a saúde pública e desordenar ecossistemas.
• Psicológico – há uma certa reserva dos indivíduos quanto à palavra lixo, conside-
rado algo desprezível e absolutamente sem valor – o que é uma inverdade.

Contabilidade Socioambiental 117


7 Auditoria ambiental

Tendo em vista esses aspectos, e para a compreensão das abordagens que seguem neste
capítulo, é necessário elucidar e distinguir alguns termos e classificações acerca da geração
de resíduos:
Resíduos sólidos: “Resíduos nos estados sólidos e semissólidos, que resultam de ativi-
dades da comunidade de origens industriais, domésticas, hospitalares, comerciais, agrícolas
ou de serviços de varrição. Ficam inclusos nesta definição os lodos provenientes de sistemas
de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de po-
luição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lança-
mento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e
economicamente inviáveis, em face da melhor tecnologia disponível” (ABNT, 2004a, p. 1).
Resíduos Classe I – perigosos: “Aqueles que apresentam periculosidade, e em função
de suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas podem apresentar risco à saú-
de pública ou ao meio ambiente. Podem apresentar as seguintes características: inflamabili-
dade, corrosividade, reatividade, toxidade e patogenicidade”. (ABNT, 2004a, p. 5)
Resíduos Classe II A – não inertes: “Aqueles que não se enquadram nas classificações
de resíduos classe I – perigosos ou de resíduos classe II B – inertes [...] [mas que] podem ter
propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água”
(ABNT, 2004a, p. 5).
Resíduos Classe II B – inertes: “Quaisquer resíduos que, quando amostrados de forma
representativa, [...] e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou
deionizada, à temperatura ambiente, [...] não tiverem nenhum de seus constituintes solu-
bilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se
aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor [...]” (ABNT, 2004a, p. 5). Exemplos desses resíduos
são rochas, tijolos, vidros, plásticos e borrachas que não são decompostos facilmente.
Reciclagem: “é um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descartados,
reintroduzindo-os no ciclo produtivo. É uma das alternativas de tratamento de resíduos
sólidos (lixo) mais vantajosas, tanto do ponto de vista ambiental quanto do social: ela reduz
o consumo de recursos naturais, poupa energia e água, diminui o volume de lixo e dá em-
prego a milhares de pessoas” (BRASIL, 2017).
Compostagem: É a reciclagem dos resíduos orgânicos, “uma técnica que permite a
transformação de restos orgânicos (sobras de frutas e legumes e alimentos em geral, podas
de jardim, trapos de tecido, serragem, etc.) em adubo. É um processo biológico que acele-
ra a decomposição do material orgânico, tendo como produto final o composto orgânico”
(BRASIL, 2017)
A gestão de resíduos de uma entidade visa garantir a redução da geração destes e sua
correta destinação. Nesse aspecto, destaca-se o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
(PGRS) como uma ferramenta de potencial representação do compromisso organizacional
com a geração de resíduos sólidos. De acordo com a Resolução Conama n. 005/1993, o PGRS
é o “documento integrante do processo de licenciamento ambiental que aponta e descreve
as ações relativas ao manejo de resíduos sólidos, contemplando os aspectos referentes à

118 Contabilidade Socioambiental


Auditoria ambiental 7
geração, segregação, acondicionamento, transporte e disposição final, bem como a proteção
à saúde pública” (BRASIL, 1993).
Quando implantado e efetivamente colocado em prática nas empresas, o PGRS pode
ajudar a: minimizar a geração de resíduos por meio de sua segregação na origem (opera-
ções); priorizar a reutilização ou reciclagem dos resíduos; minimizar o consumo de recursos
naturais; minimizar os efluentes para o meio ambiente; providenciar disposição e destina-
ção adequada aos resíduos remanescentes; e conscientizar os colaboradores para as ques-
tões ambientais.
Ademais, a relevância da gestão de resíduos foi ressaltada quando o governo federal
sancionou a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), por meio da Lei n. 12.305/10, que
trouxe avanços muito importantes, principalmente quanto à responsabilização dos agentes
geradores e aos instrumentos econômicos aplicáveis. O artigo 1° esclarece que:
Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus
princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à
gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos,
às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos eco-
nômicos aplicáveis.
§ 1° Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de di-
reito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de
resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou
ao gerenciamento de resíduos sólidos. (BRASIL, 2010)
Desse modo, a Lei n. 12.305 estipula as diretrizes para a realização da gestão dos resí-
duos, bem como prevê o dever de os estados e municípios aderirem à Política Nacional, por
meio da elaboração dos Planos estaduais e muni​cipais, respectivamente, conforme disposto
nos artigos 16 e 18. Destaca-se, ainda, o artigo 21, que aponta os requisitos mínimos a serem
observados na gestão de resíduos sólidos.
A mesma lei estabelece a necessidade de práticas de consumo e desenvolvimento sus-
tentáveis, visando à prevenção e à redução de resíduos, por meio de reciclagem e da reutili-
zação dos resíduos sólidos, bem como o descarte destes de forma ambientalmente adequada.
A responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos também consta na PNRS,
de modo que todos os atores que direta ou indiretamente atuem na cadeia produtiva de
produtos ou bens serão responsáveis pelos resíduos gerados.

7.3 Proteção do meio ambiental x


progresso a todo custo
Vídeo
Ao refletir acerca da palavra progresso, é natural imaginar uma me-
galópole ou, ainda, indústrias, máquinas, entre outros aspectos relaciona-
dos à melhoria das opções de entretenimento, emprego, cultura, lazer etc.
Todavia, em contrapartida, pensar em progresso pode também significar

Contabilidade Socioambiental 119


7 Auditoria ambiental

uma degradação ambiental irreparável, caso isso ocorra em ritmo acelerado, mais rápido do
que a capacidade de recuperação da natureza.
Partindo do pressuposto de que o consumo consiste no modo com a qual as necessida-
des das pessoas podem ser atendidas, o consumismo, por sua vez, refere-se à ação desen-
freada da prática de consumo. Quando essas ações ocorrem em grandes proporções e sem
propósito real, o resultado são os impactos ambientais (GIACOMINI FILHO, 2008).
Para solucionar o problema da degradação ambiental em decorrência do consumo exa-
cerbado, surge a ideia de desenvolvimento sustentável, concebida por meio da conscientiza-
ção ambiental manifestada principalmente entre as décadas de 1960 e 1990. Com a transfor-
mação cultural e social ocorrida nessa época, ficou clara a noção de que os recursos naturais
são finitos e que, portanto, a busca pela proteção ao meio ambiente equilibrado é fator vital
para a humanidade.
Essa nova consciência quebrou paradigmas, modificando a postura da sociedade em
relação ao meio em que vivem, passando de um mero controle da poluição para uma re-
formulação do processo produtivo das organizações, com o fim específico de preservação.
É importante destacar que essa compreensão em relação ao meio ambiente vai além do
cumprimento da legislação, significando também a preservação da imagem e credibilida-
de empresarial.
Portanto, a relação do ser humano com o meio ambiente se modificou ao longo do
tempo e, atualmente, verifica-se que ela está pautada na concepção de que esse ambien-
te deve refletir o mínimo de impactos possíveis. Logo, todas as atividades oriundas do
progresso, como é o caso da produção e comercialização de produtos ou bens, devem ser
direcionadas à preservação do meio natural, visando à sua disponibilidade inclusive para
as gerações futuras.
Diante desse contexto, as empresas estruturam seus processos implementando ações
específicas, como é o caso da reciclagem de materiais, do reaproveitamento dos resíduos ou,
ainda, da utilização de tecnologias “limpas”, que não agridem o meio ambiente. Verifica-se,
assim, que a proteção ao meio ambiente modifica toda a estrutura organizacional, visto que
intervém inclusive no planejamento estratégico institucional.
Em suma, as responsabilidades em relação aos danos ambientais estão modificando o
formato do processo produtivo. Novos procedimentos envolvem a implantação da gestão
da qualidade ambiental e da gestão de custos da qualidade ambiental, pois esses dois meca-
nismos trazem informações que embasam as tomadas de decisão da alta direção das empre-
sas, a fim de que desempenhem suas atividades com o menor impacto ambiental possível.
Em compensação, as empresas que não se estruturarem de modo a evitar a geração de
impactos negativos no meio ambiente podem não se manter ativas, pois os consumidores,
atualmente, cobram delas uma nova postura ambiental.
Assim, as organizações mercantis são pressionadas de várias formas para utilizarem
o meio ambiente adequadamente, destacando-se o ativismo ambiental de grupos que têm

120 Contabilidade Socioambiental


Auditoria ambiental 7
como meta a reivindicação dos cuidados com o meio natural. Os cidadãos mais informados
sobre as consequências de um meio ambiente desequilibrado impõem sua vontade princi-
palmente quando se negam a consumir um produto proveniente de um processo produ-
tivo que gera impacto ambiental. Além disso, muitas vezes, para garantir um parceiro de
negócio, é necessário que os processos da empresa estejam em conformidade com as boas
práticas ambientais, visto que os investidores analisam os custos dispendidos com o meio
ambiente, como é o caso das multas, bem como todos os passivos ambientais e o histórico
de degradação da organização.
Verifica-se, portanto, que existem várias forças que pressionam as empresas a modificar
suas posturas, e, concomitantemente, proteger o meio ambiente, em vez de realizarem atos
para a obtenção do progresso a qualquer custo. Logo, a conscientização sobre a manuten-
ção do ambiente ecologicamente equilibrado, na construção e no desenvolvimento da so-
ciedade, tem conduzido as organizações a uma redução dos impactos ambientais negativos
oriundos de suas atividades operacionais.

Conclusão

A conscientização acerca da responsabilização ambiental sobre ações e atividades com


potencial poluidor é evidente nos últimos anos. Intervenções legislativas e as pressões dos
stakeholders parecem configurar os principais canais impulsionadores das modificações do
pensamento e posicionamento ambiental das entidades.
Se de um lado essa força ganha relevante interferência e adentra as novas configura-
ções do planejamento empresarial, por outro, influi consideravelmente em custos concer-
nentes aos programas ambientais, sistemas de gestão ambiental, certificações, auditorias
e outras ações relativas. Sobretudo, não se figura como uma missão de fácil continuidade,
uma vez que a entidade deve reservar capital específico para manter sua capacidade de
mitigar os impactos ambientais e investir em constantes alternativas sustentáveis e inova-
ções relacionadas.
Para manutenção e regularidade das atividades da empresa, é requisito básico e obri-
gatório o cumprimento das imposições legais quanto à mitigação de impactos socioambien-
tais. Desse modo, é possível asseverar que os retornos gerados por tal comprometimento
também podem ser vislumbrados como consequências positivas ao desenvolvimento e à
expansão organizacional.

Ampliando seus conhecimentos

Ampliando a visão acerca das auditorias ambientais, apresentamos a seguir


um texto que elucida claramente as características de diferentes tipos de audi-
toria ambiental e a relação entre esta e o licenciamento ambiental.

Contabilidade Socioambiental 121


7 Auditoria ambiental

Questões relevantes para o entendimento da


transversalidade da Auditoria Ambiental na
Gestão Ambiental
(FISCHER; DIAS; ANELLO, 2013, p. 144-145)

[...] A Auditoria Ambiental possui diversos intuitos, podendo visar ao


licenciamento, à certificação ou à conservação da biodiversidade. Logo,
torna-se importante conhecermos os tipos de auditorias existentes, que
vão além dos já citados e que se relacionam direta ou indiretamente com
questões ambientais.

Para tal, utilizaremos os tipos de auditoria ambiental destacados por La


Rovere (2011). Segundo o autor, o objetivo das auditorias ambientais é
que define sua classificação, podendo ser as seguintes:

• Auditoria de conformidade legal (compliance): ferramenta utili-


zada para verificar a real situação da empresa mediante a legislação
ambiental vigente no país;

• Auditoria de desempenho ambiental: avalia a conformidade da uni-


dade auditada com a legislação, os regulamentos aplicáveis e os indi-
cadores de desempenho ambientais setoriais aplicáveis à unidade;

• Auditoria de sistema de gestão ambiental: avalia o cumprimento dos


princípios estabelecidos no Sistema de Gestão Ambiental (SGA) da
empresa e suas adequações e eficácias;

• Auditoria de certificação: avalia a conformidade da empresa com


princípios estabelecidos nas normas pela qual a empresa esteja dese-
jando se certificar;

• Auditoria de descomissionamento (decommissioning): avalia os danos


ao ecossistema e à população do entorno de alguma unidade empre-
sarial, em consequência de sua desativação (paralisação definitiva de
suas atividades);

• Auditoria de responsabilidade: destinada a avaliar o passivo ambien-


tal das empresas, ou seja, as responsabilidades ambientais das empre-
sas. Geralmente é usada nas ocasiões de fusões, aquisições diretas ou
indiretas ou de refinanciamento de empresas;

• Auditoria de sítios: destinada a avaliar o estágio de contaminação de


um determinado local;

122 Contabilidade Socioambiental


Auditoria ambiental 7
• Auditoria pontual: destinada a otimizar a gestão dos recursos, a melho-
rar a eficiência do processo produtivo e, consequentemente, minimi-
zar a geração de resíduos, o uso de energia ou de outros insumos.

Além dessa conceituação de tipos de auditorias existentes, é importante


consideramos sua classificação quanto à forma de aplicação da mesma e
ao envolvimento dos profissionais auditores; assim, podem ser classifica-
das como:

• Auditoria Interna: realizada periodicamente pelos funcionários da


própria empresa ou contratados por ela, geralmente, como prepara-
ção para auditorias de terceira ou segunda parte ou para verificação
da conformidade do sistema de gestão;

• Auditoria de Segunda Parte (Externa): são realizadas por terceiros,


que tenham interesse no resultado da auditoria. São, por exemplo,
fornecedores, clientes e outras partes interessadas, porém sem o obje-
tivo de certificação. Geralmente são utilizadas para a verificação de
empresas durante um processo de contratação e por isso podem se
basear em critérios definidos pelo realizador da auditoria;

• Auditoria de Terceira Parte (Externa): são as auditorias de certificação,


recertificação, ou manutenção do certificado. São realizadas sempre
por terceiros independentes, que não tenham interesses no resultado
da auditoria, geralmente um órgão certificador.

Atividades
1. Cite e explique algumas legislações que tutelam o meio ambiente no Brasil.

2. Na perspectiva da gestão de resíduos, defina: resíduos sólidos; resíduos Classe I –


perigosos; resíduos Classe II – não inertes; resíduos Classe III – inertes; reciclagem e
compostagem.

3. Aponte algumas peculiaridades existentes nas normas da série ISO 14000.

4. No Brasil, as normas referentes ao meio ambiente, da série ISO 14000, foram editas
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), conhecidas pela sigla NBR
ISO 14000. Esse rol de normas tem como finalidade a preservação da qualidade am-
biental, podendo ser analisada sob duas concepções. Quais são essas concepções?

Contabilidade Socioambiental 123


7 Auditoria ambiental

Referências
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 10004:2004: Resíduos sólidos –
Classificação. Rio de Janeiro, 2004a.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 14001:2004: Sistemas da gestão ambien-
tal – Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro, 2004b.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Introdução à ABNT NBR ISO14001:2015. Rio
de Janeiro, 2015b. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/publicacoes2/category/146-abnt-nbr-
iso-14001>. Acesso em: 1 nov. 2017.
ANTONOVZ, Tatiane. Contabilidade ambiental. 1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2014.
AVILA, Gilberto Jesus; PAIVA, Ely Laureano. Processos operacionais e resultados de empresas bra-
sileiras após a certificação ambiental ISO 14001. Gestão da Produção, v. 13, n. 3, p. 475-487, 2006.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2006000300010>. Acesso em: 24 out. 2017.
BERTOLI, Ana Lúcia; RIBEIRO, Maisa de Souza. Passivo ambiental: estudo de caso da Petróleo
Brasileiro S.A - Petrobrás. A repercussão ambiental nas demonstrações contábeis, em consequência
dos acidentes ocorridos. Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 117-136, 2006.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552006000200007>. Acesso em: 11 out. 2017.
BRAGA, Célia (Org.). Contabilidade ambiental: ferramenta para a gestão de sustentabilidade. São
Paulo: Atlas, 2010.
BRASIL. Lei n. 4.771, de 15 de setembro de 1965. DOU 16 set. 1965. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771.htm>. Acesso em: 22 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 5.197, de 3 de janeiro de 1967. DOU 5 jan. 1967a. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5197.htm>. Acesso em: 22 nov. 2017.
BRASIL. Decreto-Lei n. 227, de 28 de fevereiro de 1967. DOU 28 fev. 1967b. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0227.htm>. Acesso em: 22 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 6.453, de 17 de outubro de 1977. DOU 18 out. 1977. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6453.htm>. Acesso em: 22 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 31 ago. 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em:
2 out. 2017.
BRASIL. Constituição Federal. 1988. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 5 out. 1988.
BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 ago. 2010.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso
em: 22 nov. 2017.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Resolução n. 005, de 5 de agosto de 1993.
Dispõe sobre o gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviá-
rios e rodoviários. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 ago. 1993.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Legislação Ambiental Básica. Brasília:
MMA/Unesco, 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/secex_conjur/_arquivos/
108_12082008084425.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2017.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Produção de consumo sustentáveis: reciclagem. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/informma/item/7656-reciclagem>. Acesso em: 22 nov. 2017.
CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. Contabilidade ambiental: teoria e prática. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2008.

124 Contabilidade Socioambiental


Auditoria ambiental 7
FISCHER, Jéssica; DIAS, Tanize; ANELLO, Lúcia de Fátima. A importância da auditoria ambiental
como ferramenta de gestão ambiental. Competência, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 135-147, jul./dez. 2013.
GIACOMINI FILHO, Gino. Meio ambiente e consumismo. São Paulo: Senac, 2008.
OLIVEIRA, Celso Maran de. Diretrizes de auditoria ambiental. São Paulo: EdUFSCAR, 2014.
PAIVA, Paulo Roberto de. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com trans-
parência e focada na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003.
POMBO, Felipe Ramalho; Magrini, Alessandra. Panorama de aplicação da norma ISO 14001 no Brasil.
Gestão da Produção, v. 15, n. 1, p. 1-10, abr. 2008.
ROSA, A. H.; FRACETO, L. F.; MOSCHINI-CARLOS, V. (Org.). Meio ambiente e sustentabilidade.
Porto Alegre: Bookman, 2012.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. Coord. Pedro Lenza. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
SAMPAIO, Rômulo Silveira da Rocha. Direito Ambiental: doutrina e casos práticos. Rio de Janeiro:
Elsevier: Ed. FGV, 2011.
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

Resolução
1.
• Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras
providências.
• Constituição Federal de 1988.
• Lei n. 7.797, de 10 de julho de 1989 – Cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente e
dá outras providências.
• Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais) – Dispõe sobre
as sanções penais e administrativas às pessoas, jurídicas e físicas, que causem
danos ao meio ambiente.
• Decreto n. 99.274, de 6 de junho de 1990 – Regulamenta a Lei n. 6.902, de 27 de
abril de 1981, e a Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectiva-
mente, sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, e dá outras providências.
• Decreto n. 4.297, de 10 de julho de 2002 – Regulamenta o art. 9°, inciso II, da Lei
n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, estabelecendo critérios para o Zoneamento
Ecológico-Econômico do Brasil – ZEE, e dá outras providências.
• Resolução Conama n. 1, de 23 de janeiro de 1986 – Apresenta resoluções gerais
relativas ao meio ambiente.
• Resolução Conama n. 9, de 3 de dezembro de 1987 – Dispõe sobre a questão de
audiências públicas relacionadas ao meio ambiente.
• Resolução Conama n. 237, de 19 de dezembro de 1997 – Regulamenta os aspectos
de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente.

Contabilidade Socioambiental 125


7 Auditoria ambiental

2.
• Resíduos sólidos: “Resíduos nos estados sólidos e semissólidos, que resultam
de atividades da comunidade de origens industriais, domésticas, hospitalares,
comerciais, agrícolas ou de serviços de varrição. Ficam inclusos nesta definição
os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em
equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados lí-
quidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de
esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamen-
te inviáveis, em face da melhor tecnologia disponível” (NBR 10004, 2004a, p. 1).
• Resíduos Classe I – perigosos: “Aqueles que apresentam periculosidade, e em
função de suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas podem apre-
sentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente. Podem apresentar as seguintes
características: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade e patogeni-
cidade” (NBR 10004, 2004a).
• Resíduos Classe II A – não inertes: “Aqueles que não se enquadram nas classifica-
ções de resíduos classe I – perigosos ou de resíduos classe II B – inertes [...] [mas
que] podem ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade
ou solubilidade em água” (NBR 10004, 2004a, p. 5).
• Resíduos Classe II B – inertes: “Quaisquer resíduos que, quando amostrados de
forma representativa, [...] e submetidos a um contato dinâmico e estático com
água destilada ou deionizada, à temperatura ambiente, [...] não tiverem nenhum
de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de
potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor [...]”
(NBR 10004, 2004a, p. 5). Exemplos desses resíduos são rochas, tijolos, vidros,
plásticos e borrachas que não são decompostos facilmente.
• Reciclagem: “é um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descar-
tados, reintroduzindo-os no ciclo produtivo. É uma das alternativas de tratamen-
to de resíduos sólidos (lixo) mais vantajosas, tanto do ponto de vista ambiental
quanto do social: ela reduz o consumo de recursos naturais, poupa energia e água,
diminui o volume de lixo e dá emprego a milhares de pessoas” (BRASIL, 2017).
• Compostagem: É a reciclagem dos resíduos orgânicos, “uma técnica que permite
a transformação de restos orgânicos (sobras de frutas e legumes e alimentos em
geral, podas de jardim, trapos de tecido, serragem, etc.) em adubo. É um processo
biológico que acelera a decomposição do material orgânico, tendo como produto
final o composto orgânico” (BRASIL, 2017)

3. As normas da série ISO 14000 possuem algumas peculiaridades:


• A norma ISO 14001 é a única dentro da série 14000 que tem como objetivo a
certificação do Sistema de Gestão Ambiental, bem como prevê a ocorrência da
auditoria, sob seus requisitos obrigatórios.

126 Contabilidade Socioambiental


Auditoria ambiental 7
• A norma ISO 14004 tem como finalidade apresentar algumas orientações para
que a empresa implemente os requisitos da ISO 14001.
• A norma ISO 19011, que substituiu as normas ISO 14010, 14011 e 14012, tem
como objetivo determinar os procedimentos e os requisitos que os auditores de-
vem seguir para realizar as auditorias do Sistema de Gerenciamento Ambiental.
• A ISO 14031 traz como pauta a Avaliação de Desempenho Ambiental dos proces-
sos nas organizações.
• As normas ISO 14001, 14020, 14021 e 14024 têm como enfoque o produto e o
processo da empresa, bem como estabelecem a obtenção de selos ambientais.
Todavia, a ISO 14001 estabelece a certificação da organização, ao contrário das
demais, que certificam as linhas de produtos e processos da empresa.
• As normas ISO 14040, 14041, 14042, 14043 e 14044 têm como escopo a Avaliação
de Ciclo de Vida, que se inicia pelos insumos e matérias-primas que compõem o
produto e percorrem os impactos ambientais e o descarte do produto final após
o término de sua vida útil.
• A norma ISO/TR 14062 tem como diretriz guiar os elaboradores de normativas de
produto para a redução dos impactos ambientais causados pelos componentes
dos produtos fabricados pela empresa.

4.
1. Perspectiva da organização – a norma é utilizada para execução e avaliação dos
parâmetros utilizados pela instituição mercantil.
2. Perspectiva de produtos – as normas são empregadas para mensurar os possíveis
impactos causados pela produção ou, ainda, pelo produto propriamente dito.

Contabilidade Socioambiental 127


8
Responsabilidade
ambiental

Introdução

Já há algum tempo as organizações vêm tomando consciência da necessidade e


dos benefícios proporcionados por um comportamento socialmente responsável.
Atualmente, não é mais possível analisar o desempenho de uma empresa sem verificar
seu comportamento com relação à sociedade e ao meio ambiente em que está inserida.
Evidenciando a importância dessa temática, este capítulo aborda especificamente a
responsabilidade socioambiental, proporcionando o entendimento da evolução his-
tórica, os conceitos e princípios da ISO 26000:2010 (Diretrizes sobre Responsabilidade
Social) e sua relação com as concepções sustentáveis.

Contabilidade Socioambiental 129


8 Responsabilidade ambiental

8.1 Responsabilidade socioambiental: a evolução


histórica
Vídeo
Ao longo das últimas décadas, a temática da responsabilidade socioam-
biental ou responsabilidade social corporativa (RSC) tem gerado uma con-
siderável atenção por parte de acadêmicos e profissionais da área de gestão
empresarial (QUAZI; RICHARDSON, 2012). De acordo com Ashley (2005),
a RSC é o compromisso da organização com a sociedade, considerando as
obrigações de caráter moral e também as estabelecidas em lei, por meio de ações que con-
tribuam e gerem impactos positivos e coerentes quanto ao desenvolvimento e à melhoria
social.
Mas, para compreendermos sua importância nos dias de hoje, precisamos voltar à cons-
trução histórica da responsabilidade social. De acordo com Ferreira e Guerra (2012), ela
começou a ser discutida durante a Revolução Industrial, quando Robert Owen, ao criticar o
capitalismo, propôs o conceito de responsabilidade social. No ano de 1899, Andrew Carnegie
publicou o livro O Evangelho da riqueza, cuja ideia central estava na responsabilidade social
ligada à caridade, à filantropia e ao bem-estar social.
Entretanto, a noção de responsabilidade social só ganhou mais força no ano de 1953,
quando Howard R. Bowen’s (considerado o precursor da responsabilidade social no âmbito
empresarial) conceituou a RSC para as organizações como algo que está diretamente rela-
cionado ao “cumprimento de obrigações dos executivos quanto a políticas, tomadas de de-
cisão ou demais ações que estivessem alinhadas ao atendimento dos valores e objetivos da
comunidade” (CARROL, 1979 apud CUNHA; LEMES; TORTATO, 2015, p. 2). Configurou-
se, assim, uma obrigação social da humanidade em seguir padrões gerenciais que sejam
compatíveis com os valores da sociedade.
Na década de 1960, a RSC foi idealizada pelos estudiosos (MCGUIRE, 1963) como uma
importante ponte de relação entre a sociedade e as organizações, sobretudo levando em
consideração as interferências e os impactos das empresas na sociedade, além de apresentar
os efeitos das ações de uma organização sobre a outra (BORBA, 2005). Essa época foi mar-
cada pela solidificação da RSC quanto à sua efetiva conceituação, abordando a importância
da conciliação entre os interesses econômicos organizacionais e os da sociedade (CARROL,
1979 apud CUNHA; LEMES; TORTATO, 2015).
Milton Friedman, com fundamento na economia neoclássica, marcou a década de 1960
com sua obra denominada Capitalismo e liberdade. Ele detinha um posicionamento que seria
posteriormente criticado por muitos, no entanto, trouxe contribuições para a estruturação
da RSC, tendo inclusive recebido o prêmio Nobel de Economia em 1976. Na concepção de
Friedman (1970), a responsabilidade social teria um caráter puramente econômico, funda-
mentado na maximização de lucros, e, consequentemente, a sociedade seria beneficiada com
isso. Desse modo, Friedman não considerava a empresa como algo meramente social.

130 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
Posteriormente, um estudioso seminal da área, Archie Carroll (1979) – autor que é re-
ferência para pesquisas científicas até os dias atuais, no que tange à responsabilidade social
corporativa, com uma abordagem esclarecedora –, apresenta a RSC estruturada sob quatro
responsabilidades que consistem em expectativas da sociedade em relação às organizações
em determinado período. Elas são detalhadas a seguir:
1. Responsabilidade econômica: a perspectiva econômica é a base de sustentação, for-
necendo apoio para as demais perspectivas, de modo que uma organização é uma
base econômica para a sociedade.
2. Responsabilidade legal: Trata-se de um código de conduta social capaz de orientar
os stakeholders da organização sobre como conduzir e delimitar metas organizacio-
nais, respeitando os valores, os padrões, a evolução e a expectativa social na área
em que a empresa está inserida.
3. Responsabilidade ética: Embora não seja prevista sua obrigatoriedade em lei, a éti-
ca deve configurar como um posicionamento legítimo da empresa, uma vez que
isso é esperado pela sociedade como algo além das questões legais.
4. Responsabilidade discricionária: São as ações de cunho voluntário e não imposto.
Tais perspectivas geraram um modelo denominado Pirâmide de Carroll, a qual é ilus-
trada na Figura 1 a seguir.

Figura 1 – A pirâmide da responsabilidade social corporativa.

Responsabilidade
discricionária

Responsabilidade
ética

Responsabilidade
legal

Responsabilidade
econômica

Fonte: CARROLL, 1979 apud CUNHA; LEMES; TORTATO, 2015, p. 4. Adaptada.

Nos anos de 1970 e 1980, devido ao avanço das preocupações nos âmbitos social e am-
biental, inicia-se a conscientização ecológica, aumentando a exigência das atividades das
empresas e o alinhamento com a responsabilização social. Entretanto, foi somente na déca-
da de 1990 que as empresas se destacaram no âmbito da responsabilidade socioambiental,

Contabilidade Socioambiental 131


8 Responsabilidade ambiental

principalmente com eventos como a Rio-92, sediada no Brasil, na qual se evidenciou a in-
tegração entre a sustentabilidade e as atividades empresariais. Com base nas conjecturas
resultantes dessas discussões, o conceito de responsabilidade social passou a ser perpetuado,
principalmente pelas ideias de preservação e sustentabilidade, em todo o mundo.
Nesse panorama, em 1997 foi criada a norma de certificação SA 8000 (Social Accountability
8000), a qual tinha como finalidade avaliar a responsabilidade social das empresas fornece-
doras e vendedoras. Já em 1999 foi estabelecida a norma AA 1000 (Accountability 1000), com
o objetivo de averiguar o processo de prestação de contas e as informações das empresas nos
âmbitos social, ambiental e financeiro.
Além disso, os anos 1990, de acordo com Schwartz e Carroll (2007), foram marcados
pela disseminação de temas complementares à RSC, como o desempenho social corpora-
tivo, a teoria dos stakeholders, a ética empresarial e a cidadania corporativa. Carroll (1991)
também “trouxe uma nova contribuição com o aperfeiçoamento de sua própria teoria, por
meio da revisão do seu modelo, propondo a substituição do topo da pirâmide, de discricio-
nária para filantrópica, permanecendo inalteradas as demais premissas” (CUNHA; LEMES;
TORTATO, 2015, p. 5).
Na década de 2000, ficou evidente o crescente interesse pelo tema desenvolvimento
sustentável ou sustentabilidade (CARROLL; SHABANA, 2010). O ano 2000 foi marcado
pelo lançamento do Pacto Global pelo secretário da Organização das Nações Unidas
(ONU), tendo o objetivo de estabelecer princípios universais sobre os direitos humanos,
trabalhistas e ambientais.
No ano de 2012, após duas décadas da conferência Rio-92, a ONU promove a Conferência
das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, ou Rio+20, com o intuito de reno-
var os compromissos assumidos na Rio-92. Nesse evento, as esperanças de que as empresas
e a sociedade atuem com responsabilidade ambiental foram restauradas.
Nesse mesmo contexto, muitos foram os marcos referenciais que ajudaram a estrutu-
rar o conceito de responsabilidade social corporativa, os quais são elencados por Oliveira
(2007): a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU; a Declaração da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) sobre os princípios e os direitos fundamentais do trabalho;
a Declaração Tripartite de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social da
OIT; as Diretrizes para as Empresas Multinacionais da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE); a Declaração do Rio; e a Agenda 21 da ONU.
Atualmente, no Brasil a responsabilidade social corporativa vem tomando forma por
meio de várias iniciativas, como a criação e publicação do Balanço Social (conforme ob-
servamos em capítulos anteriores), o qual pode ser fundamentado na estrutura de mode-
los propostos pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais Econômicas (Ibase), pela Global
Reporting Initiative (GRI) e pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
Somandas a isso, outras iniciativas amplamente difundidas são realizadas pelas organiza-
ções, como acontece com o crescimento da quantidade de ações sociais, a busca pela interação

132 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
constante com a sociedade, os estímulos aos clientes e fornecedores para considerarem os prin-
cípios da responsabilidade social corporativa na gestão empresarial, entre outras.
Empresas também buscam estruturar institutos focados em responsabilidade social, como
o Instituto Gerdau, constituído pela empresa de mesmo nome. Ele coordena e realiza progra-
mas de responsabilidade social nas comunidades, com parceiros estratégicos da sociedade nos
diversos locais de atuação da empresa, utilizando o voluntariado organizado como agente trans-
formador em prol do desenvolvimento sustentável. Essas atividades são direcionadas por focos
específicos de atuação: educação, qualidade em gestão e mobilização solidária.
Outro ponto que merece destaque são os benefícios fiscais obtidos por meio de progra-
mas de responsabilidade social voltados para a cultura, como a Lei Rouanet (Lei n. 8.313/91),
a qual instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). Para que cidadãos (pes-
soas físicas) e empresas (pessoas jurídicas) invistam em projetos e ações culturais, o valor do
apoio – total ou em parte – é deduzido do Imposto de Renda.

8.2 Normas de responsabilidade social corporativa


Vídeo
Após compreendermos a evolução histórica da responsabilidade so-
cial corporativa, é possível constatar sua relevância diante das atividades
empresariais e da sociedade. A RSC vem se materializando em ações ade-
ridas pelas organizações, as quais consideram a prática e interação com a
comunidade como um fator preponderante no cenário de negócios. Nesse
sentido, na esfera corporativa atual, o compromisso com as questões inerentes à respon-
sabilidade social tornou-se um ponto de significância estratégica (GOYAL; RAHMAN;
KAZMI, 2013), uma vez que iniciativas e/ou ações sociais criam valor compartilhado
com a sociedade e, consequentemente, vantagem competitiva para as organizações
(PORTER; KRAMER, 2002).
Em decorrência disso, as organizações vêm tomando consciência da necessidade e
dos benefícios trazidos por um comportamento socialmente responsável e, atualmente,
não é mais possível analisar o desempenho de uma organização sem verificar seu com-
portamento com relação à sociedade e ao meio ambiente em que está inserida. Nesse
sentido, a norma ISO 26000 foi elaborada para servir de base a fim de que as organiza-
ções adotem uma postura sustentável, e para fornecer orientações sobre os princípios
relativos à responsabilidade social.
De origem recente, a norma ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social – foi
lançada em Genebra, na Suíça, em 1° de novembro de 2010, como a primeira norma inter-
nacional de responsabilidade social empresarial. O processo de elaboração compreendeu
o envolvimento de um grupo de trabalho de especialistas de 90 países e 40 organizações

Contabilidade Socioambiental 133


8 Responsabilidade ambiental

internacionais. No Brasil, foi lançada a versão em português da norma, a ABNT NBR ISO
26000, no dia 8 de dezembro de 2010 (ABNT, 2010).
Cumpre evidenciar que, embora seja uma norma, a ISO 26000 não é certificável, mas
fornece orientações para as melhores práticas de responsabilidade social, com uma série de
diretrizes e princípios acerca do tema. O conteúdo dos princípios que norteiam essa norma
está sintetizado a seguir (INMETRO, 2017):
• Accountability: responsabilidade pelas consequências das ações e decisões, respon-
dendo pelos impactos na sociedade, na economia e no meio ambiente, prestando
contas a órgãos de governança e demais partes interessadas e declarando os seus
erros e as medidas cabíveis para remediá-los.
• Transparência: fornecimento às partes interessadas – de forma acessível, clara,
compreensível e em prazos adequados – de todas as informações sobre os fatos
que possam afetá-las.
• Comportamento ético: ação de modo aceito como correto pela sociedade, com base
nos valores de honestidade, equidade e integridade, diante das pessoas e da na-
tureza, e de forma consistente com as normas internacionais de comportamento.
• Respeito pelos interesses das partes interessadas (stakeholders): consideração e res-
posta aos interesses de pessoas ou grupos de alguma forma envolvidos nas ativi-
dades da organização ou que por ela possam ser afetados.
• Respeito pelo Estado de Direito: o ponto de partida mínimo da responsabilidade
social é o cumprimento integral das leis do local onde a empresa está operando.
• Respeito pelas Normas Internacionais de Comportamento: adoção de prescrições
de tratados e acordos internacionais favoráveis à responsabilidade social, mesmo
que não haja obrigação legal.
• Direitos humanos: reconhecimento da importância e universalidade dos direi-
tos humanos, cuidando para que as atividades da organização não os agridam
direta ou indiretamente, zelando pelo ambiente econômico, social e natural
que requerem.
Entre esses princípios de responsabilidade social da ISO 26000, o a­ ccountability se desta-
ca como um dos mais importantes, uma vez que, para atender a esse princípio, é necessário
que a organização passe por etapas de fiscalização para avaliar possíveis impactos adversos
e, se necessário, responda publicamente por seus erros, indicando as ações que devem ser
tomadas para assegurar o adequado desenvolvimento sustentável.

134 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
Os temas centrais da ISO 26000, sintetizados no Quadro 1 (DEUS; SELES; VIEIRA, 2014,
p. 797-798), abarcam as responsabilidades das organizações diante dos fatores sociais, am-
bientais e econômicos:

Quadro 1 – Responsabilidade das organizações de acordo com os temas centrais da ISO 26000.

Temas centrais Responsabilidade da organização


Ter um sistema de governança que pratique e supervisione os princípios da res-
ponsabilidade social, estabelecendo uma cultura e um ambiente com atividades
práticas que reflitam seu compromisso. Estratégias, objetivos e metas devem ser
estabelecidos sob uma visão de compromisso com a responsabilidade social,
Governança equilibrando as necessidades imediatas e futuras da organização e de seus sta-
organizacional keholders. Cabe à organização envolver todos os níveis de trabalhadores, equili-
brando os níveis de autoridade, responsabilidade e capacidade das pessoas que
tomam decisões na empresa. Analisar e avaliar processos de governança da or-
ganização, ajustando-os de acordo com os resultados e comunicando as mudan-
ças em toda a organização.
Respeitar a Declaração Internacional dos Direitos Humanos e os direitos fundamen-
tais do trabalho identificados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em
Direitos
uma perspectiva proativa, somar esforços com o governo para viabilizar o cumpri-
humanos
mento dos direitos econômicos, sociais e culturais; facilitar o acesso da comunidade à
educação; adaptar bens e serviços ao poder de compra dos pobres etc.
O cumprimento de normas, princípios e direitos básicos do trabalho estabelecido
pela Organização Internacional do Trabalho contribui para que as empresas não
realizem abusos e concorrência desleal. As organizações também devem seguir as
leis estabelecidas pelos seus países, independentemente de exigências ou apoio ofe-
recido pelos governos. Os trabalhos na empresa devem ser realizados por homens
Práticas de
e mulheres legalmente reconhecidos como empregados ou como autônomos. Os
trabalho
funcionários devem ser tratados com igualdade, sem prática de discriminação, rece-
bendo informações necessárias para desenvolver as atividades esperadas. Quando
a empresa estabelece um código de práticas de trabalho que deve ser observado pe-
los fornecedores e terceirizados, deve-se atentar para sua consistência em relação à
Declaração Universal dos Direitos Humanos e às normas internacionais do trabalho.
Gerenciar o meio ambiente. Responsabilizar-se pelos impactos ambientais causa-
dos pelas atividades organizacionais. Obedecer a legislação e implementar uma
gestão ambiental eficaz. Empregar práticas operacionais, princípios, abordagens
Meio
e estratégias cabíveis para prevenir a poluição, otimizar a utilização de recursos
ambiente
naturais, minimizar resíduos, emissões, efluentes. Contribuir para a mitigação
das mudanças climáticas, preservação do meio ambiente, da biodiversidade e
restauração dos habitats naturais.

Contabilidade Socioambiental 135


8 Responsabilidade ambiental

Temas centrais Responsabilidade da organização


Os resultados positivos podem ser obtidos ao exercer liderança e promover a
adoção de responsabilidade social. A empresa deve implementar políticas e prá-
ticas de combate à corrupção, treinando e conscientizando seus empregados,
representantes, terceirizados e fornecedores a erradicar o suborno e denunciar
violações das políticas da organização. Prepará-los para lidar com atividades
Práticas leais políticas e conflitos de interesse. As políticas organizacionais da empresa de-
de operação vem ser transparentes. As práticas devem influenciar a cadeia a atingir objetivos
socialmente responsáveis. Ações como doações políticas que possam ser perce-
bidas como influências indevidas devem ser evitadas, assim como buscar vanta-
gens competitivas injustas beneficiando-se de condições sociais como a pobreza.
Quando as empresas reconhecem o direito de propriedade, elas estimulam a
criação e a inovação.
Seguir as Diretrizes das Nações Unidas para a Proteção do Consumidor e o Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Sempre disponibi-
lizar as informações precisas, empregar práticas de marketing leais e processos
contratuais justos, transparentes e úteis, promover o consumo sustentável, inves-
Questões
tir no design de produtos e serviços que ofereçam acesso a todos, quando apro-
relativas ao
priado, e cuidar dos mais vulneráveis e desprivilegiados. Buscar a minimização
consumidor
de riscos decorrentes do uso de produtos e serviços, empregando procedimentos
de design, fabricação, distribuição, prestação de informações, serviços de suporte,
retirada de produto do mercado e recall. Proteger a segurança das informações e
a privacidade dos consumidores. Prestar serviço de atendimento ao consumidor.
As empresas precisam considerar-se parte da comunidade, agindo na prevenção
e solução de alguns problemas. Devem reconhecer características culturais, re-
ligiosas, tradições, histórias e as necessidades da comunidade ao interagir com
ela. A expansão e diversificação das atividades econômicas e do desenvolvimen-
to tecnológico trazem contribuições para a comunidade, como geração de em-
pregos, cursos de qualificação, instruções e cuidados com a saúde. A criação de
um ambiente que traga benefícios duradouros promove renda e gera riqueza
por meio do incentivo ao empreendedorismo e cooperativismo. As organizações
devem formular políticas com implementação e avaliação de programas de de-
senvolvimento. Atuar junto à autoridade competente ou a organizações huma-
Envolvimento
nitárias em situações de crise, desastres inesperados e catástrofes. Combater a
e desenvol-
pobreza, atingir a meta de emprego produtivo, adequadamente remunerado e
vimento da
livremente escolhido, e promover a integração social como objetivo primordial
comunidade
de desenvolvimento. A Declaração do Milênio da ONU estabelece objetivos que,
se atingidos, [ajudarão] a resolver os principais desafios mundiais de desenvol-
vimento. Essa declaração salienta que, embora convenha que o desenvolvimento
seja orientado e conduzido principalmente pelas políticas públicas, o processo
de desenvolvimento depende das contribuições de todas as organizações. O en-
volvimento da comunidade ajuda a contribuir, em nível local, para o alcance
desses objetivos. A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
introduziu a Agenda 21, a qual é um processo para desenvolver um plano de ação
abrangente, que pode ser implementado localmente por organizações em cada
área em que atividades humanas impactem a sociedade e o meio ambiente.
Fonte: DEUS; SELES; VIEIRA, 2014, p. 797-798.

136 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
8.3 Responsabilidade socioambiental
Vídeo
Ao longo do tempo, muitos foram os mecanismos legais ou acordos in-
ternacionais firmados cujo foco consistia na melhor convivência entre os po-
vos, abarcando temáticas de cunho social e ambiental, conforme abordamos
em capítulos anteriores. Por meio desses instrumentos, houve a construção
de conceitos como preservação ambiental, ética e responsabilidade socioambiental.
Todavia, percebe-se que alguns conceitos ainda não têm uma definição única, sendo pos-
sível encontrar terminologias como responsabilidade social, responsabilidade social corporativa,
responsabilidade socioambiental, responsabilidade social empresarial e sustentabilidade corporativa
(MONTIEL; DELGADO-CEBALLOS, 2014).
Vale ressaltar que a RSC faz parte de uma das dimensões do triple bottom line (tripé da
sustentabilidade) (ELKINGTON, 2012), de modo que ambas (RSC e sustentabilidade) estão
intimamente ligadas e relacionadas.
Desde a disseminação do conceito de sustentabilidade, ele tem sido empregado em
múltiplos campos de pesquisa e atuação, ou seja, uma mesma denominação abriga diferen-
tes conceitos e práticas. Contudo, todas as definições carregam a noção de que o desenvol-
vimento sustentável é composto das três dimensões: a econômica, a social e a ambiental ou
ecológica (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008).
Elkington (2012) explora tais pilares explicando suas interligações. Ele afirma que, quan-
do trabalhados de forma conexa, o pilar social e o ambiental resultam na justiça socioam-
biental; já a intersecção do pilar econômico com o social resulta na ética empresarial e, por
último, a interação entre o aspecto econômico e o ambiental gera a ecoeficiência. A Figura
2 ilustra de forma sintetizada a exploração do triple bottom line (tripé da sustentabilidade).

Figura 2 – Elementos da sustentabilidade organizacional.


Desenvolvimento sustentável

Social

Inserção socioeconômica Justiça socioambiental


Exemplo Exemplo

• Oferta de bens Econômica Ambiental • Correção e prevenção de impactos


e serviços para ambientais decorrentes de
necessidades sociais comportamento social e de consumo

Exemplo
Ecoeficiência • Otimização das relações entre consumo, geração de
bens e serviços e efeitos ambientais

Fonte: ELKINGTON apud MUNARETTO; AGUIAR; VIERIA, 2017, p. 162. Adaptada.

Contabilidade Socioambiental 137


8 Responsabilidade ambiental

Destaca-se, portanto, que a sustentabilidade se tornou uma área do conhecimento con-


sideravelmente procurada e investigada, tendo em vista as crescentes demandas e soluções
imediatistas para resolver os problemas inerentes aos impactos ambientais e a necessidade
de sobrevivência humana. A pauta principal de discussões políticas mundiais volta-se ao
ponto de conciliar o crescimento econômico sem comprometer ou esgotar os recursos natu-
rais insubstituíveis, preservando as riquezas ambientais e os sistemas ecológicos, além de
promover a redução das desigualdades sociais (DE SIMONE; POPOFF, 2000), um desafio
que exige novas ferramenta e abordagens (HOFFRÉN; APAJALAHTI, 2009).
Gerir de forma sustentável – sem que para isso se comprometa o desempenho empre-
sarial e o meio ambiente – é o grande desafio das organizações. Seguindo essa concepção, os
pesquisadores da escola neoclássica argumentavam que o desempenho socioambiental está
vinculado a dispêndios adicionais à organização, considerando que a melhoria e o investi-
mento no aspecto ambiental acarretam em custos (WALLEY, WHITEHEAD, 1994; PALMER;
OATES; PORTEY, 1995). Contudo, Porter e Van Der Linde (1999) afirmam que as regula-
mentações ambientais e o seu respectivo atendimento oportunizam inovações que podem
cobrir de forma integral ou parcial os custos incorridos com tais investimentos, além de
proporcionar vantagem competitiva.
Por sua vez, Vellani (2011) explica que, além de reduzir o risco relativo ao negócio, os
ganhos econômico-financeiros podem ser obtidos com a manutenção das ações socioam-
bientais. O mesmo autor ainda assegura que “[...] certamente, gerentes conscientes ecolo-
gicamente terão maiores possibilidades de encontrar soluções lucrativas para os problemas
ambientais do que outros sem conhecimento ambiental” (VELLANI, 2011, p. 5).
Ao compreendermos a responsabilidade socioambiental como um pilar da sustentabi-
lidade, podemos constatar que ela consiste na gestão baseada em mecanismos de transpa-
rência de informações para a sociedade, por meio de práticas pautadas na ética social e am-
biental. Sobretudo, a gestão sob a ótica de responsabilidade socioambiental se estabelece por
metas empresariais com finalidades específicas de desenvolvimento sustentável, na qual a
prioridade não consiste apenas na lucratividade, mas na manutenção e preservação do meio
ambiente ecologicamente equilibrado, atentando-se à continuidade das gerações futuras.
Na visão de De Benedicto, Rodrigues e Penido (2008), a estruturação da responsabilida-
de socioambiental deve passar por três importantes estágios, a saber:
Maximização dos lucros – a administração da empresa deve concentrar-se no
uso eficiente dos recursos para produzir bens ou serviços desejados pelos con-
sumidores de modo a vendê-los a preços que estes estivessem dispostos a pagar,
visando assim maximizar lucros no curto prazo.
Equilíbrio de interesses – o objetivo era maximizar os lucros à longo prazo,
equilibrando assim os interesses dos acionistas, funcionários, consumido-
res, comunidade.
Administração socioeconômica – o objetivo aqui deixa de ser apenas o lucro em
si, mas também a busca concreta da melhoria da qualidade de vida ou do bem-
-estar da sociedade. (DE BENEDICTO; RODRIGUES; PENIDO, 2008, p. 8)

138 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
Quanto a isso, Vellani (2011, p. 4) afirma que “[...] ao mesmo tempo em que proporciona
valor aos seus acionistas, a empresa também pode fornecer educação, cultura, lazer e justiça
social à comunidade; e proteção da diversidade e dos ecossistemas”.
Por fim, Santana, Périco e Rebellato (2006) afirmam que a implementação de responsabili-
dade socioambiental vem como um atendimento, por parte das empresas, às exigências deriva-
das da globalização. Contudo, a responsabilidade socioambiental também influencia nas trans-
formações organizacionais, as quais são um conjunto de ações que refletem como um diferencial
no mercado e, consequentemente, contribuem também com o desenvolvimento social.
Como complementação dessa temática, e sob uma visão mais teórica, abordaremos a
denominada teoria dos stakeholders, cuja indicação principal é que a empresa, para preservar
seu desempenho financeiro e perdurar com sua imagem no mercado, deve buscar atender
às necessidades das partes interessadas (stakeholders).

8.3.1 Teoria dos stakeholders


Essa teoria pode ser considerada como um instrumento que propicia uma perspec-
tiva teórica para a ligação entre os esforços das organizações em cumprimento das suas
obrigações socioambientais e o seu respectivo desempenho (MOORE, 2001; ORLITZKY;
SCHMIDT; RYNES, 2003; RAMANATHAN; AKANNI, 2010).
Com seu início na área da estratégia e defendida por Richard Edward Freeman em
1984, um dos seus mais influentes precursores, tal teoria vem sendo abordada na litera-
tura nos mais diversos contextos e discussões (CINTRA et al., 2014). A partir da seminal
definição de stakeholder “[...] qualquer grupo ou pessoa cujos interesses podem afetar ou
ser afetados pelas realizações dos objetivos de uma organização” (FREEMAN, 1984, p. 46),
a temática passou a influenciar e se tornar fonte de debates profundos entre os pesquisa-
dores quanto a quem seria esse grupo ou pessoa que afeta ou é afetado pela organização.
Além disso, o nível de importância dos stakeholders para as empresas também é ponto de
discussão e investigação.
Há autores que asseguram que a compreensão de stakeholders foi disseminada em diver-
sas áreas e para propósitos diferentes, acarretando em um direcionamento confuso a respei-
to de sua conceituação e análise (REED; GRAVES; DANDY, 2009). Decorrem de tais discus-
sões alguns estudos que vieram a contribuir com a evolução da teoria, entre eles a pesquisa
de Clarkson (1995), que sugere a classificação dos stakeholders em primários e secundários,
de modo que os primários se configuram nos motivadores do propósito da empresa, o qual
consiste na criação de riqueza e valor para aqueles.
De acordo com o autor, o grupo primário é consubstanciado por aqueles que sustentam
a sobrevivência da empresa: acionistas, empregados, fornecedores, clientes e governo, os
quais estabelecem leis e normas que devem ser obedecidas, proporcionam infraestrutura e
mercado e exigem atendimento das obrigações e dos compromissos. Por outro lado, o grupo
secundário é composto daqueles que não dispõem de uma relação direta com a empresa
nem intervêm em sua sobrevivência, todavia, exercem influência ou afetam a organização
ou também são influenciados – como é o caso de ONGs e a mídia.

Contabilidade Socioambiental 139


8 Responsabilidade ambiental

Contrastando com o posicionamento mais estreito de Clarkson (1995), Mitchell, Agle


e Wood (1997) trazem uma contribuição mais abrangente e significante para a evolução da
teoria em relação à conceituação de Freeman, sobretudo ao revelar a classificação das partes
interessadas em função de atributos de poder, legitimidade e urgência quanto às reivindica-
ções dos s­ takeholders, sugerindo, então, uma original tipologia.
Os autores trazem as essenciais diferenças abordadas – estreitas e amplas – a respeito
do termo, as quais são diretamente influenciadas pela essência da preocupação dos stakehol-
ders e também da empresa. A definição estreita da expressão direciona-se aos grupos que re-
presentam os interesses econômicos da relação entre partes interessadas e empresa, enquan-
to a definição mais ampla conduz à veracidade empírica quanto à dimensão (tudo e todos)
do que a empresa pode afetar e influencia – ou do contrário, do que pode ser influenciada
e afetada. Os autores ainda asseguram que se torna limitativo caracterizar o termo entre
primários e secundários, conforme proposto por Clarkson (1995).
Na visão de Carroll (1991) e Jamali (2008), a teoria dos stakeholders evidencia que as
organizações têm obrigações não somente com os seus acionistas, mas também com outros
grupos de interesse.
Consolidando as discussões realizadas até então, Donaldson e Preston (1995), com a im-
portante contribuição do mapeamento dos estudos realizados sobre a teoria dos stakeholders,
propõem sua divisão da teoria, caracterizando-a em instrumental, descritiva e normativa.
Em síntese, a teoria instrumental tem por prerrogativa básica a ligação entre ambas as partes
no que tange à interferência dos stakeholders no desempenho organizacional e seus respecti-
vos objetivos, com foco específico nos esclarecimentos estratégicos e políticos direcionados
à melhoria do atendimento aos stakeholders independente de associações positivas ou não
com desempenho corporativo.
Já a teoria descritiva, também denominada como empírica, conduz às pesquisas que
consistem em descrever as características e os posicionamentos organizacionais em relação
aos seus stakeholders. Por fim, mas não menos importante, a teoria normativa é estabelecida
na investigação da função organizacional quanto à moral ou o direcionamento filosófico que
orienta a administração e operação das empresas.
A partir dessas discussões teóricas, Borba (2005) alega que as pesquisas vêm se voltan-
do consideravelmente à perspectiva instrumental da teoria dos stakeholders proposta por
Donaldson e Preston (1995), em função da necessidade de investigações e inquietações a
respeito do desempenho socioambiental das organizações e seu respectivo desempenho fi-
nanceiro. Tal afirmativa pode ser corroborada pelo volume de estudos recentes desenvolvi-
dos na área da sustentabilidade.

Conclusão

A adoção de um posicionamento socioambiental pelas organizações, com a redu-


ção de seus insumos e de seus impactos ambientais, pode promover uma gestão ambien-
tal eficiente e sustentável, bem como criar valor para as partes interessadas (stakeholders)

140 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
(HARRINGTON; KNIGHT, 2001). Nesse contexto, o desempenho socioambiental promove
um melhor relacionamento com os stakeholders, sustentado pela confiança mútua e coope-
ração entre a empresa e suas partes interessadas, viabilizando maior vantagem competitiva
em relação à concorrência (JONES, 1995).
Contudo, o tema tem sido muito discutido nas mais variadas esferas, de modo que a
responsabilidade social corporativa é um assunto consideravelmente debatido no meio
acadêmico e empresarial, pois ainda suscita muitas questões a serem esclarecidas, além
de lacunas do conhecimento a serem preenchidas, como é o caso da delimitação da di-
mensão da responsabilidade social corporativa no âmbito dos negócios. Logo, este capí-
tulo não encerra ou esgota o assunto, pelo contrário, promove o incentivo ao aprofun-
damento na área.

Ampliando seus conhecimentos

O tema responsabilidade social corporativa (RSC) contempla diversas defini-


ções. Fica evidente que, por não possuir um sentido único, estando sujeito a
várias interpretações, ele gera muitas discussões e divergências a respeito da
sua definição. Nesse aspecto, o trecho do texto de Orellano e Quiota (2011)
tenta esclarecer algumas visões de autores da área.

O conceito de responsabilidade
socioambiental empresarial
(ORELLANO; QUIOTA, 2011, p. 472-473)

O conceito de RSE é bastante abrangente. Mesmo entre os muitos estudio-


sos do tema, não existe um consenso sobre como defini-lo de uma forma
única e precisa. Apesar de se observar um envolvimento crescente das
empresas nas questões socioambientais, os modelos adotados por cada
empresa diferem consideravelmente conforme motivações e estímulos
que levam seus executivos a se engajarem nelas. Existem, no entanto,
alguns aspectos comuns entre as várias definições de RSE. O principal
deles é o que argumenta que a empresa deve aprimorar seu modelo de
gestão no sentido de atingir múltiplos objetivos, não apenas financeiros,
mas também não financeiros.

Segundo Ursini e Bruno (2005, p. 32), o Instituto Ethos define a RSE da


seguinte forma:

Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se


define pela relação ética e transparente da empresa com todos os
públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de

Contabilidade Socioambiental 141


8 Responsabilidade ambiental

metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentá-


vel da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para
as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigualdades sociais.

Para Holme e Watts (2000, p. 8), “responsabilidade social corporativa é um


compromisso contínuo das empresas para agir de forma ética e contribuir
para o desenvolvimento econômico enquanto melhora a qualidade de
vida da sua força de trabalho e suas famílias, bem como da comunidade
local e da sociedade como um todo”. McWilliams e Siegel (2001), por sua
vez, definiram a responsabilidade social corporativa como um conjunto
de ações que resultam em benefícios sociais futuros, sendo que tais ações
não devem se limitar apenas a atender os requisitos legais.

O principal desafio para a adoção de um modelo de gestão inspirado nes-


ses conceitos e valores diz respeito à forma como as decisões estratégicas
podem ser tomadas, de modo a conciliar as expectativas dos stakeholders
por uma gestão mais responsável e as expectativas dos shareholders (acio-
nistas) pela maximização do retorno financeiro. Os mais céticos argumen-
tam que, na tentativa de atender às pressões dos s­ takeholders, os executivos
passam a dedicar excessivo tempo e dinheiro visando a atingir os objeti-
vos não financeiros, indo na direção oposta aos objetivos financeiros.

Nesse debate, o que se pergunta é se a responsabilidade socioambiental


das empresas é sustentável no longo prazo. Por um lado, a estratégia de
se posicionar como um líder na questão socioambiental pode trazer van-
tagens competitivas às empresas, na medida em que o seu público de inte-
resse, sejam os consumidores ou os investidores, torne-se mais exigente e
criterioso na escolha dos produtos e no destino do seu investimento. Por
outro lado, não se pode ignorar um possível aumento expressivo de cus-
tos decorrentes de investimentos socioambientais.

[...]

Atividades
1. Na estruturação histórica da RSC, Archie Carrol apresenta-se como um autor semi-
nal na área. Qual modelo de RSC Carrol criou? Explique as quatro premissas estabe-
lecidas em sua pirâmide.

2. O que é a ISO 26000? Quais os seus princípios mais importantes?

3. De acordo com Benedicto, Rodrigues e Penido (2008), a estruturação da responsa-


bilidade socioambiental deve passar por três importantes estágios. Quais são eles?

142 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
4. Quais são os três pilares da sustentabilidade? Quais os resultados da integração en-
tre eles?

Referências
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 26000:2010: diretrizes sobre responsa-
bilidade social. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/
sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-filefield-description%5D_65.pdf>. Acesso em:
3 nov. 2017.
ASHLEY, P. A. Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
BORBA, P. R. F. Relação entre desempenho social corporativo e desempenho financeiro de em-
presas no Brasil. 2005. Dissertação (Mestrado em Administração) – Programa de Pós-Graduação em
Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2005.
BOWEN, H. R. Social responsibilities of the businessman. New York: Harper & Row, 1953.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Legislação Ambiental Básica. Brasília:
MMA/Unesco, 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/secex_conjur/_arquivos/
108_12082008084425.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2017.
CARROLL, A. B. Three-Dimensional Conceptual Model of Corporate Performance. Academy of
Management Review, v. 4, n. 4, p. 497-505, 1979.
CARROLL, A. B. The pyramid of corporate social responsibility: toward the moral management of
organizational stakeholders. Business Horizons, v. 34, n. 4, p. 39-48, 1991.
CARROLL, A. B.; SHABANA, K. M. The Business Case for Corporate Social Responsibility: A re-
view of concepts, research and practice. International Journal of Management Reviews, v. 12, n. 1,
p. 85-105, 2010.
CLARKSON, Max B. E. 1995. A stakeholder framework for analyzing and evaluating corporate social
performance. The Academy of Management Review, v. 20, n. 1, p. 92-117, Jan. 1995.
CINTRA, R., et al. “Stakeholder theory”: análise nos periódicos brasileiros a partir da bibliome-
tria. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, v. 13, n. 4, p. 44-55, 2014.
CLARO, P. B. O; CLARO, D. P.; AMÂNCIO, R. Entendendo o conceito de sustentabilidade nas orga-
nizações. RAUSP, v. 43, n. 4, 2008.
CUNHA, J. G. M.; LEMES, S. V. D.; TORTATO, U. Responsabilidade social corporativa: uma revi-
são sistemática da literatura internacional e nacional. In: SEMEAD, 18., nov. 2015, São Paulo (SP).
Anais... São Paulo, 2015. Disponível em: <http://sistema.semead.com.br/18semead/resultado/trabalhos
PDF/1114.pdf >. Acesso em: 28 nov. 2017.
DE BENEDICTO, S. C. de; RODRIGUES, Â. C.; PENIDO, A. M. Surgimento e evolução da respon-
sabilidade social empresarial: uma reflexão teórico-analítica In: ENCONTRO NACIONAL DE
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 28., 13-16 out. 2008, Rio de Janeiro, RJ. Anais... Rio de Janeiro:
Enegep/Abepro, 2008.
DE SIMONE L. D.; POPOFF, F. Eco-efficiency: the business link to sustainable development.
Massachusetts: First MIT Press Paperback Edition, 2000.

Contabilidade Socioambiental 143


8 Responsabilidade ambiental

DEUS, R. M.; SELES, B. M. R.; VIEIRA, K. R. As organizações e a ISO 26000: revisão dos conceitos, dos
motivadores e das barreiras de implementação. Gestão & Produção, São Carlos, v. 21, n. 4, p. 793-809,
2014.
DONALDSON, T.; PRESTON, L. E. The stakeholder theory of the corporation: concepts, evidence.
Academy of Management Review; v. 20, n. 1, p. 65-91, Jan. 1995.
ELKINGTON, J. Sustentabilidade: canibais com garfo e faca. São Paulo: M. Books do Brasilv, 2012.
FERREIRA, B. S.; GUERRA, J. A. de P. Responsabilidade socioambiental: um olhar sistêmico em uma
organização estatal. Gestão & Conhecimento, Ed. Especial, nov. 2012.
FREEMAN, E. R. Strategic Management: a stakeholder approach. London: Pitman Publishing, 1984.
FREEMAN, R. E. The stakeholder approach revisited. Zeitschrift für Wirtschafts-und
Unternehmensethik, v. 5, n. 3, p. 228-241, 2004.
FRIEDMAN, M. The Social Responsibility of Business is to increase its profits. The New York Times
Magazine, New York, n. 33, p. 122-126, 1970.
HARRINGTON, H. J.; KNIGHT, A. A implementação da ISO 14000: como atualizar o SGA com eficá-
cia. Trad. F. G. Barroso e J. G. de Araújo. São Paulo: Atlas, 2001.
HOLME, R; WATTS, P. Corporate social responsibility: making good business sense. World Business
Concil for Sustainable Development Publication, p. 8, Jan. 1st, 2000.
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial. ISO 26000: co-
nheça alguns pontos da norma – princípios. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/qualidade/
responsabilidade_social/pontos-iso.asp>. Acesso em: 28 nov. 2017.
JAMALI, D. A stakeholder approach to corporate social responsibility: a fresh perspective into theory
and practice. Journal of Business Ethics, v. 82, n. 1, p. 213-231, 2008.
JONES, T. M. Instrumental stakeholder theory: A synthesis of ethics and economics. Academy of ma-
nagement review, v. 20, n. 2, p. 404-437, 1995.
MCGUIRE, J. W. Business and society. New York: McGrraw-Hill, 1963.
MCWILLIANS, A; SIEGEL, D. Corporate social responsibility: a theory of the firm perspective. The
Academy of Management Review, v. 26, n. 1, p. 117-127, 2001.
GOYAL, P.; RAHMAN, Z.; KAZMI, A. A. Corporate sustainability performance and firm performance
research: Literature review and future research agenda. Management Decision, v. 51, n. 2, p. 361-379,
2013.
HOFFRÉN, J.; APAJALAHTI, E. L. Emergent eco‐efficiency paradigm in corporate environment ma-
nagement. Sustainable Development, v. 17, n. 4, p. 233-243, 2009.
MITCHELL, R. K.; AGLE, B. R.; WOOD, D. J. Towards a theory of stakeholder identification and sa-
lience: defining the principle of who and what really counts. Academy of Management Review, v. 22,
n. 4, p. 853-886, 1997.
MONTIEL, I.; DELGADO-CEBALLOS, J. Defining and measuring corporate sustainability: are we
there yet? Organization & Environment, v. 27, p. 113-139, 2014.
MOORE, G. Corporate social and financial performance: an investigation of the UK supermarket in-
dustry. Journal of Business Ethics, v. 34, p. 299-315, 2001.
MUNARETTO, L. F.; AGUIAR, J. T; VIERIA, J. P. Implementação de práticas de sustentabilidade am-
biental em uma empresa do setor mecânico. Revista Metropolitana de Sustentabilidade, v. 7, n. 3,
p. 159-174, set. 2017. Disponível em: <http://www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/rms/article/
view/1024/html>. Acesso em: 27 nov. 2017.

144 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
OLIVEIRA, L. G. L. et. al. Responsabilidade Social Corporativa: estudo comparativo das normas
socioambientais. Revista Contemporânea de Economia e Gestão, v. 5, n. 2, p. 41-54, jul./dez. 2007.
Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Leonel_Oliveira/publication/50854509_
Responsabilidade_Social_Corporativa_estudo_comparativo_das_normas_socioambientais/
links/0a85e5397086cecf5a000000/Responsabilidade-Social-Corporativa-estudo-comparativo-das-
normas-socioambientais.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2017.
ORELLANO, V. I. F.; QUIOTA, S. Análise do retorno dos investimentos socioambientais das empresas
brasileiras. Revista de Administração de Empresas, v. 51, n. 5, p. 471-484, 2011. Disponível em: <http://
dx.doi.org/10.1590/S0034-75902011000500005>. Acesso em: 6 nov. 2017.
ORLITZKY, M.; SCHMIDT, F. L.; RYNES, S. L. Corporate social and financial performance: A meta-
analysis. Organization studies, v. 24, n. 3, p. 403–441, 2003.
PALMER, K., OATES, W. E., PORTEY, P. R. Tightening environmental standards: the benefit cost or
the no-cost paradigm? Journal of Economic Perspectives, v. 9, n. 4, p. 119–132, 1995.
PORTER, M. E.; KRAMER, M. R. The competitive advantage of corporate philanthropy. Harvard bu-
siness review, p. 5-16, Dec. 2002. Disponível em: <https://hbr.org/2002/12/the-competitive-advantage
-of-corporate-philanthropy>. Acesso em: 6 nov. 2017.
PORTER, M. E.; VAN DER LINDE, C. Green and competitive: ending the stalemate. Journal of
Business Administration and Policy Analysis, v. 1, p. 215, 1999.
QUAZI, A.; RICHARDSON, A. Sources of variation in linking corporate social responsibility and fi-
nancial performance. Social Responsibility Journal, v. 8, n. 2, p. 242-256, 2012.
RAMANATHAN, R. AKANNI, A. O. The moderating effects of operations efficiency on the links
between environmental performance and financial performance. Research Paper Series, Nottingham
University Business School, n. 11, 2010.
REED, M. S.; GRAVES, A.; DANDY, N. Who’s in and why? A typology of stakeholder analysis
methods for natural resource management. Journal of Environmental Management, v. 90, n. 5,
p. 1933-1949, 2009.
SANTANA, N. B.; PÉRICO, A. E.; REBELATTO, D. A. N. Investimento em responsabilidade socioam-
biental de empresas distribuidoras de energia elétrica: uma análise por envoltória de dados. Revista
Gestão Industrial, v. 2, n. 4, p. 124-139, 2006.
SAVITZ, A. W; WEBER, K. A empresa sustentável: o verdadeiro sucesso é lucro com responsabilidade
social e ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
SCHWARTZ, M.; CARROL, A. Integrating and unifying competing and complementary frameworks:
The search for a common core in the business and society field. Business Society, v. 20, n. 10, p. 1-39,
2007.
URSINI, T. R; BRUNO, G. O. A gestão para a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável.
Revista da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT), p. 32, 2005.
VELLANI, C. L. Contabilidade e responsabilidade social: integrando desempenho econômico, social
e ecológico. São Paulo: Atlas, 2011.
WALLEY, N; WHITEHEAD.B. It’s not easy being green. Harvard Business Review, v. 72, n. 3, p. 2-7,
1994.

Contabilidade Socioambiental 145


8 Responsabilidade ambiental

Resolução
1. Archie Carroll (1979) – autor que é referência para pesquisas científicas até os dias
atuais, no que tange à responsabilidade social corporativa, com uma abordagem es-
clarecedora –, apresenta a RSC estruturada sob quatro responsabilidades, que con-
sistem em expectativas da sociedade em relação às organizações em determinado
período. Elas são detalhadas a seguir:

1. Responsabilidade econômica: a perspectiva econômica é a base de sustentação,


fornecendo apoio para as demais perspectivas, de modo que uma organização é
uma base econômica para a sociedade.
2. Responsabilidade legal: trata-se de um código de conduta social capaz de orien-
tar os stakeholders da organização sobre como conduzir e delimitar metas orga-
nizacionais, respeitando os valores, os padrões, a evolução e a expectativa social
na área em que a empresa está inserida.
3. Responsabilidade ética: embora não seja prevista sua obrigatoriedade em lei, a
ética deve configurar como um posicionamento legítimo da empresa, uma vez
que isso é esperado pela sociedade como algo além das questões legais.
4. Responsabilidade discricionária: são as ações de cunho voluntário e não imposto.

2. A ISO 26000 surgiu como a primeira norma internacional de responsabilidade social em-
presarial. O conteúdo dos princípios que norteiam essa norma está sintetizado a seguir:

• Accountability: responsabilidade pelas consequências das ações e decisões, res-


pondendo pelos impactos na sociedade, na economia e no meio ambiente, pres-
tando contas a órgãos de governança e demais partes interessadas e declarando
os seus erros e as medidas cabíveis para remediá-los.
• Transparência: fornecimento às partes interessadas – de forma acessível, clara,
compreensível e em prazos adequados – de todas as informações sobre os fatos
que possam afetá-las.
• Comportamento ético: ação de modo aceito como correto pela sociedade, com base
nos valores de honestidade, equidade e integridade, diante das pessoas e da na-
tureza, e de forma consistente com as normas internacionais de comportamento.
• Respeito pelos interesses das partes interessadas (stakeholders): consideração e
resposta aos interesses de pessoas ou grupos de alguma forma envolvidos nas
atividades da organização ou que por ela possam ser afetados.
• Respeito pelo Estado de Direito: o ponto de partida mínimo da responsabilidade
social é o cumprimento integral das leis do local onde a empresa está operando.

146 Contabilidade Socioambiental


Responsabilidade ambiental 8
• Respeito pelas Normas Internacionais de Comportamento: adoção de prescrições
de tratados e acordos internacionais favoráveis à responsabilidade social, mesmo
que não haja obrigação legal.
• Direitos humanos: reconhecimento da importância e universalidade dos di-
reitos humanos, cuidando para que as atividades da organização não os agri-
dam direta ou indiretamente, zelando pelo ambiente econômico, social e na-
tural que requerem.

3.

1. Maximização dos lucros: a administração da empresa deve concentrar-se no uso efi-


ciente dos recursos para produzir bens ou serviços desejados pelo consumidor, de
modo a vendê-los a preços que ele esteja disposto a pagar, visando a maximizar lucros
no curto prazo.
2. Equilíbrio de interesses: o objetivo é maximizar os lucros a longo prazo, equilibrando
assim os interesses de acionistas, funcionários, consumidores e da comunidade.
3. Administração socioeconômica: o objetivo nesse caso deixa de ser apenas o lucro em
si, mas também a busca concreta da melhoria da qualidade de vida ou do bem-estar
da sociedade.

4. Pilares da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Quando trabalhados de


forma conexa, o pilar social e o ambiental resultam na justiça socioambiental; já a in-
tersecção do pilar econômico com o social resulta na ética empresarial e, por último,
a interação entre o aspecto econômico e o ambiental gera a ecoeficiência.

Contabilidade Socioambiental 147


9
Aspectos econômicos
e sociais sobre
exploração ambiental

Introdução

Este capítulo proporciona a compreensão acerca dos aspectos econômicos e sociais


da exploração dos recursos naturais, apresentando os instrumentos econômicos e
financeiros para conservação ambiental no Brasil. Além disso, revela a correlação entre
a economia e a dimensão dos direitos fundamentais e a vinculação jurídica do meio
ambiente aos sistemas econômicos.

Contabilidade Socioambiental 149


9 Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental

9.1 Instrumentos econômicos e financeiros para


conservação ambiental no Brasil
Vídeo
Os instrumentos econômicos, na concepção de May et al. (2005, p. 11),
consistem em instrumentos cujo objetivo é “incentivar e atrair os atores eco-
nômicos, que não necessariamente são fundamentados em políticas públi-
cas ambientais, mas que têm claros impactos sobre a qualidade ambiental”.
Quanto aos instrumentos econômicos voltados a questões ambientais, eles
são iniciativas de proteção ao sistema ecológico e operam nos custos de produção e con-
sumo dos agentes econômicos, compreendendo pagamentos, compensação ou concessão
de benefícios fiscais a estes. Em outras palavras, os instrumentos econômicos incentivam a
conservação e a restauração dos ecossistemas na atividade produtiva (produtos e serviços),
por meio de compensações, por exemplo, em valores monetários.
As políticas estatais utilizam instrumentos econômicos e financeiros muitas vezes com
o intuito de corrigir falhas mercadológicas. Nesse sentido, o Estado, por meio de ações go-
vernamentais, intervém na economia com a intenção de modificar uma situação específica.
Por exemplo: quando o feijão, elemento da cesta básica, está com preço elevado e o trabalha-
dor encontra dificuldades financeiras para a compra desse item, o Estado realiza ações de in-
tervenção para reduzir o preço de mercado, como a diminuição de impostos de importação.
Assim, as políticas públicas têm como finalidade regular o mercado nos momentos em
que os agentes econômicos não conseguem atuar sozinhos. Essas políticas são aplicadas
principalmente em áreas nas quais, sem a mediação do Estado, não se obtém um equilíbrio,
como é o caso da pobreza do país ou, ainda, a proteção do meio ambiente.
Existem outros mecanismos que favorecem os que atuam no mercado com a perspec-
tiva de preservação ambiental, entre eles destaca-se a implantação do ICMS Ecológico1 e a
isenção do Imposto de Renda para as empresas que se utilizam de tecnologias de aprovei-
tamento sustentável. Perceba que a importância desses incentivos econômicos recai na ideia
de estímulo às empresas para que atuem pautadas na sustentabilidade, o que em médio e
longo prazos pode gerar emprego, renda e receitas para a instituição.
Para atingir esses resultados, os instrumentos econômicos devem atuar em quatro fren-
tes complementares, conforme May et al. (2005):
1. imposição de ônus às práticas predatórias do meio ambiente;
2. concessão de vantagens a empresas que estimulem a sustentabilidade em
suas práticas;
3. compensação tributária dos municípios que são afetados por políticas de preserva-
ção ambiental;
4. apoio a iniciativas de desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.

1 Veja mais sobre esse assunto no Capítulo 10 desta obra.

150 Contabilidade Socioambiental


Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental 9
Dito isso, é importante destacar os instrumentos econômicos no âmbito da legislação
ambiental. Nesse sentido, verifica-se que a Lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981) teve uma amplia-
ção no seu artigo 9°, inciso XIII, incluído pela Lei n. 11.284/2006 (BRASIL, 2006b), asseguran-
do como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente “instrumentos econômicos,
como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros”.
No caso da servidão ambiental, ela se caracteriza quando um proprietário rural renun-
cia ao seu direito de uso e exploração dos recursos naturais presentes em sua propriedade.
Já a concessão florestal está elencada no artigo 3° da Lei n. 11.284/2006, que traz:
Art. 3° Para os fins do disposto nesta Lei, consideram-se: [...] VII – concessão
florestal: delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de prati-
car manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços numa
unidade de manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não,
que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e demonstre capa-
cidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado.
(BRASIL, 2006b)
Esse instituto legal tem como objetivo a preservação e o uso sustentável das florestas
públicas, visto a ineficiência do Estado em mantê-las resguardadas.
O seguro ambiental, outro dispositivo importante para a preservação do meio ambien-
te, responsabiliza o poluidor. Esse mecanismo pauta-se no princípio da preservação e tem
como finalidade assegurar que a pessoa que cause danos, física ou jurídica, seja responsabi-
lizada pela poluição gerada.
Esses instrumentos, em uma sociedade capitalista, muitas vezes são medidas paliativas,
pois nem sempre a atuação estatal na economia protege o meio ambiente como deveria.
Todavia, na visão de May et al. (2005), o papel esperado dos instrumentos econômicos é
que eles modifiquem os padrões de consumo, reeducando os consumidores para que não
adquiram produtos nocivos ao meio natural.
O Estado, por meio dos instrumentos econômicos, tende a conduzir as ações institucio-
nais das empresas, todavia, muitas vezes, para que essa finalidade seja atingida, diferentes
nações devem compartilhar tecnologias limpas entre si.

9.2 Correlação entre os sistemas econômicos e as


dimensões de direitos fundamentais
Vídeo
No período da Revolução Industrial, na concepção de Zulauf (2000), o
meio ambiente era considerado, erroneamente, um recurso natural inesgotá-
vel, o que desencadeou o início dos problemas ambientais, conforme obser-
vamos em capítulos anteriores.
Atualmente, as consequências do sistema capitalista de produção, in-
cluindo a degradação ambiental, são experimentadas pela humanidade, que está sofrendo
os efeitos desses impactos ao meio ambiente, como se constata nos casos das enchentes, do

Contabilidade Socioambiental 151


9 Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental

efeito estufa, da falta de água e de outras inúmeras calamidades. Por esse motivo, é necessá-
rio que o meio ambiente seja protegido e preservado.
Nesse contexto de crise ecológica, muitas discussões ambientais, do Estado e da socie-
dade em geral, têm como resultado normativas e leis nacionais e internacionais. Pode-se
observar, na prática, que o meio ambiente está sendo incluído como um novo direito consti-
tucionalmente protegido, inserido no âmbito dos direitos fundamentais de terceira geração2.
Ou seja, foi atribuída aos Estados, bem como às populações como um todo, a responsabili-
dade de manter o meio natural sadio e equilibrado.
Sobre essas normatizações, ressalta-se que são diferentes as maneiras com que os
Estados soberanos instituem as normas jurídicas para tutelar os recursos naturais em seus
territórios. Porém, o denominador comum entre esses países se refere à ideia de que o dever
de manter o meio ambiente sadio e equilibrado significa sobrevivência. Logo, ele, como bem
comum da população, torna-se um dos direitos fundamentais aos indivíduos, assim como a
liberdade, a dignidade da pessoa, a solidariedade, a fraternidade.
A partir dos anos de 1970, várias nações criaram um Estado Ambiental de Direito, ou
seja, despertou-se na sociedade o sentido do meio ambiente como bem vital para a humani-
dade. De acordo com Varella (2004, p. 22),
mesmo já existindo normas para proteção da natureza, o direito internacio-
nal do meio ambiente viu verdadeiramente a luz do dia no final dos anos
60 e início dos anos 70, e foi apenas a partir dos anos 80 que ele tomou uma
dimensão realmente mundial, com instrumentos aceitos pela maior parte da
comunidade internacional.
No que se refere ao Brasil, em 1981 é instituída a Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei n. 6.938) e, em 1988, a Constituição traz em seu texto a implementação de um Estado
Ambiental de Direito. Os direitos humanos foram postulados na Carta Magna, tornan-
do-os direitos fundamentais. Logo, são diferentes no que se refere à sua eficácia, visto
que os direitos fundamentais são aqueles positivados em determinado sistema jurídico,
ou seja, que estão em melhor condição de serem efetivados e geram efeitos concretos. Já
os direitos humanos, reconhecidos internacionalmente, dependem de sua recepção na
ordem jurídica interna e, consequentemente, não produzem efeitos na mesma proporção
que os direitos fundamentais.
Portanto, os direitos fundamentais têm como premissa proteger pessoas físicas e
jurídicas e sua atuação ocorre dentro do território do Estado, que constitui as normativas
positivadas, porém eles intentam limitar a atuação deste diante da liberdade individual.
Dito isso, é importante destacar que esses direitos estão divididos em gerações – ou
dimensões. Conforme Sarlet (2009, p. 37), “a primeira geração ou dimensão dos direitos
fundamentais é justamente aquela que marcou o reconhecimento de seu status constitu-
cional material e formal”.

2 Em relação à definição conceitual dos direitos de terceira geração, Azevedo (2005, p. 47) afirma que “a
terceira geração pode ser entendida como os Direitos de Solidariedade, onde figuram os direitos à paz, ao
desenvolvimento, à autodeterminação dos povos e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”.

152 Contabilidade Socioambiental


Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental 9
Advinda do pensamento burguês-liberal, a primeira geração dos direitos fundamentais
se consolida como um direito de defesa do cidadão diante do Estado, portanto, eles são de
característica “negativa”, ou seja, o Estado se frente a tais direitos. O caráter dessa geração é
individualista, visto que se refere ao indivíduo como “pessoa humana”.
Há um rol vasto de direitos de primeira dimensão, por exemplo o direito à vida, à
liberdade, à propriedade, à igualdade diante da lei. Ressalta-se que o direito à liberdade
contempla as liberdades de expressão e de participação política, já o que se refere à igualda-
de engloba a igualdade formal, ou seja, quanto à lei e a algumas garantias processuais. Pelo
exposto, pode-se dizer que os direitos fundamentais são direitos civis e políticos.
Entretanto, a segunda geração se consolida em um contexto marcado pela desigual-
dade gerada pela industrialização e pelo sacrifício imposto a uma parcela da sociedade:
os trabalhadores. Diante dessa situação, os direitos fundamentais de primeira geração não
traziam uma garantia efetiva. Segundo Fachin (2006, p. 52): “A reação aos limites dos direi-
tos de cunho individualista e a necessidade de sua complementação marcam a transição de
Estado Liberal para o Estado Social que consagrará a passagem da dita primeira à segunda
geração de direitos”.
Por sua vez, no que se refere aos direitos fundamentais da terceira geração, pode-se di-
zer que são direitos que estabelecem o homem como um indivíduo participante de uma so-
ciedade. Essa geração de direitos traz a fraternidade e a solidariedade como ideias centrais.
É nesse rol de direitos que se encontra aquele relativo ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, visto que é um direito de todos viver em um ambiente não poluído e saudável.
No Brasil, o direito ao meio ambiente só foi considerado um direito fundamental
com a Constituição de 1988, que estabeleceu um capítulo inteiro para tutelar esse bem.
A ideia do legislador constitucional foi ampliar a proteção desse bem, para que seja mais
efetiva e ampla.

9.3 O meio ambiente e sua vinculação jurídica aos


sistemas econômicos
Vídeo
A Constituição brasileira de 1988 prevê, no seu artigo 5°, inciso XXIII,
que a propriedade deve atender à sua função social (BRASIL, 1988a). Nesse
sentido verifica-se que, no que tange ao meio ambiente, a utilização da pro-
priedade deve também estar em consonância com o princípio do meio am-
biente ecologicamente equilibrado.
Vale lembrar que o princípio do meio ambiente sadio está elencado no artigo 225 da
Constituição vigente, que traz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-
librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futu-
ras gerações” (BRASIL, 1988a).

Contabilidade Socioambiental 153


9 Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental

Em suma, o princípio da propriedade privada (artigo 5°, inciso XXII) e o princípio do


meio ambiente (artigo 225) devem ser analisados em conjunto, uma vez que é previsto que a
propriedade privada seja utilizada sem prejuízos ao ambiente natural. Logo, a propriedade
e o meio ambiente, conforme determina a Constituição, são interdependentes.
O Estado, nesse contexto, deve defender e socorrer a flora e a fauna por meio de me-
didas que blindem atos nocivos ao meio ambiente. Todavia, essas medidas que coíbem
os danos ambientais não eximem o Poder Público da obrigação de compensar (indeni-
zar) os proprietários de imóveis que são afetados economicamente por alguma ação da
Administração Pública.
Outro ponto importante a ser destacado é que a proteção legal estabelece que o
proprietário do imóvel pode adequar a vegetação que reveste seu imóvel, nos limites
estabelecidos pelo Código Florestal – Lei n. 12.651/2012 (BRASIL, 2012) –, ou seja, quem
tem o direito à propriedade pode utilizar a terra com intuito econômico, como é o caso
do agricultor, que planta hortaliças para vender. Nesse caso, a pessoa que está em posse
da propriedade tem o direito de utilizar a superfície de sua propriedade rural, porém
observando o artigo 12 do Código Florestal, que estabelece a manutenção de pelo menos
20% da vegetação nativa a título de Reserva Legal, nos casos em que a propriedade esti-
ver situada em área de campos gerais.
Quando o proprietário de um terreno constituído de matas ou revestido de florestas
tiver seus imóveis empossados pelo Poder Público ou, ainda, sofrer restrições por meio de
atos estatais, por garantia constitucional ele deve ser indenizado. Nesse sentido, o Recurso
Extraordinário RE 134.297, de 1995, dispôs que:
A circunstância de o Estado dispor de competência para criar reservas florestais
não lhe confere, só por si – considerando-se os princípios que tutelam, em nos-
so sistema normativo, o direito de propriedade –, a prerrogativa de subtrair-se
ao pagamento de indenização compensatória ao particular, quando a atividade
pública, decorrente do exercício de atribuições em tema de direito florestal, im-
pedir ou afetar a válida exploração econômica do imóvel por seu proprietário.
(BRASIL, 1995)
Esse texto deve ser interpretado de forma equilibrada com o ordenamento jurídico tra-
zido pelo artigo 5°, XXII, da Constituição Federal, que traz a ideia de propriedade privada
e, consequentemente, o bem imobiliário particular só pode ser convertido em bem público
quando houver compensação por parte do Estado (BRASIL, 1988).
A indenização deve ocorrer por parte do Estado, inclusive nos casos de proteção da
Floresta Amazônica brasileira, da Mata Atlântica, da Serra do Mar, do Pantanal Mato-
Grossense e da Zona Costeira, visto que o cidadão de boa-fé não pode ser prejudicado no
seu âmbito econômico, mesmo que seja em prol de toda a sociedade, pois não cabe ao parti-
cular o ônus pela preservação do meio ambiente.
Desse modo, destaca-se que existe uma ligação íntima entre o direito à propriedade
privada e o direito à proteção do ambiente. Nesse contexto, os artigos 18 a 24 do Código
Florestal de 2012 referem-se à exploração econômica da Reserva Legal, que pode ser por:

154 Contabilidade Socioambiental


Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental 9
• manejo sustentável sem propósito comercial para consumo na propriedade; e
• manejo sustentável com propósito comercial.
Nesse contexto, verifica-se um processo de gestão ambiental que tem como finalidade
a exploração do meio ambiente. Todavia, conforme dispositivo legal, essa exploração deve
ser sustentável. Observa-se essa ideia de manejo sustentável na leitura do artigo 3°, VII, do
mesmo Código:
Para os efeitos desta Lei, entende-se por: [...] VII – manejo sustentável: adminis-
tração da vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e
ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto
do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de
múltiplas espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da
flora, bem como a utilização de outros bens e serviços; [...]. (BRASIL, 2012)
Como a exploração econômica na Reserva Legal pode ocasionar lesão ao meio ambiente
equilibrado, logo pode-se entender que o plano de manejo deve ser aprovado pelo órgão
competente e, por isso, dependendo do caso, é preciso ser realizado o Estudo de Impacto
Ambiental (EIA/RIMA).
Conforme o artigo 17, § 2°, da Lei n. 12.651/2012, mesmo que o manejo seja rústico, em
uma propriedade pequena ou rural, ele deve ser autorizado por órgão competente. Nos ca-
sos em que o manejo em Reserva Legal não tenha intuito econômico, pois o manejo susten-
tável é utilizado para consumo interno da propriedade, não há necessidade de autorização
por parte da Administração Pública, visto o artigo 23 da mesma legislação, que diz:
O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem propósito comer-
cial, para consumo no próprio imóvel, independe de autorização dos órgãos
competentes, devendo apenas ser declarados previamente ao órgão ambiental a
motivação da exploração e o volume explorado, limitada a exploração anual a 20
(vinte) metros cúbicos (BRASIL, 2012).
Outro ponto importante refere-se à exploração florestal. Conforme Rodrigues (2016), a
Lei n. 12.651/2012 não é protetiva, visto que fixa regras de exploração das florestas nativas e
formações sucessoras, sejam essas propriedades públicas ou privadas. Todavia, o controle
da origem dos produtos florestais é assunto preocupante para o Poder Público.
Quando foi promulgado o Decreto n. 5.975/2006 (BRASIL, 2006a), ele trouxe ao ordena-
mento jurídico uma abordagem mais sistemática e segura no que se refere à exploração das
florestas e ao controle da origem dos produtos florestais. No Código Florestal de 2012, ob-
serva-se o mesmo entendimento, sendo que, no seu Capítulo VIII, dispõe-se sobre os produ-
tos que devem ser submetidos ao controle ambiental, bem como as formas de fiscalizá-los.
Constata-se, portanto, que os dispositivos legais trazem a ideia de exploração ambien-
tal, observando o direito à propriedade privada, porém com limites, visando a um meio
ambiente ecologicamente equilibrado.

Contabilidade Socioambiental 155


9 Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental

Conclusão

A aplicação de instrumentos econômicos e sociais como mecanismos de mitigação


da degradação ambiental é considerada uma das grandes estratégias sustentáveis nos
últimos anos com relação ao tema. Nessa perspectiva, as políticas ambientais têm papel
essencial de articulação das dimensões socioeconômicas, tendo por objetivo o desenvol-
vimento sustentável.
Sob a vertente econômica, tais mecanismos voltam-se especificamente à aplicação de
tributos, como taxas, impostos e demais encargos relativos às atividades consideradas po-
tencialmente poluidoras. Além disso, programas de incentivo que promovem benefícios so-
cioeconômicos e/ou ambientais voltados à preservação dos recursos naturais também acar-
retam resultados positivos.
Já em se tratando do aspecto social, medidas de compensação por serviços ambientais
podem também resultar em melhores condições de vida para a população cercada de patri-
mônios naturais.
Assim, novos mecanismos devem corresponder à ascensão dos mercados, direcionando
compensações ambientais à comunidade local ou global, além de instrumentos econômicos
efetivos que estimulem e orientem os principais agentes envolvidos. Obviamente, os desa-
fios futuros não podem ser desconsiderados e critérios socioambientais devem ser exigidos
como uma forma de alinhamento entre pressões sociais, aumento populacional, atividades
comerciais empresariais e o compromisso com a sustentabilidade.

Ampliando seus conhecimentos

A compreensão da integração entre os aspectos relativos aos interesses econô-


micos e o ambiente torna-se fundamental na formação do profissional contábil.
Assim, complementando o presente capítulo, apresentamos, a seguir, um tre-
cho do estudo de Menuzzi et al. (2015) sobre a interação entre economia e meio
ambiente, possibilitando maior reflexão a respeito do tema.

A economia ecológica e a busca por


uma nova economia
(MENUZZI et al., 2015, p. 14-15)

[...]

A economia ecológica é uma abordagem preventiva contra os problemas


ambientais, buscando a conservação dos recursos naturais através de uma
ótica que considere as necessidades potenciais das gerações futuras.

156 Contabilidade Socioambiental


Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental 9
A relação entre economia e ecologia ainda está para ser totalmente cons-
truída, sendo que alguns pontos são evidentes, conforme ressalta Tiezzi
(1988): a) a ecologia indica à economia que existem custos econômicos dis-
tantes no espaço – em escala planetária – e no tempo – gerações futuras;
b) a ecologia evidencia a não redutibilidade de muitos custos ambientais e
humanos a unidades econômicas; c) se a produção obedecer apenas as leis
econômicas clássicas, o que se produzir não será necessariamente favorá-
vel ao homem. Não ocorrem milagres na natureza e que a economia deve
necessariamente submeter-se às leis da natureza.

Se as teorias econômicas não levaram em conta esses vínculos tão fun-


damentais, isso se dá simplesmente porque os níveis de crescimento (da
população, da exploração dos recursos energéticos e da terra cultivável,
do consumo dos recursos naturais em geral) estavam até a poucos anos
abaixo dos níveis de alarme. No entanto, a economia não pode deixar de
lado as leis da entropia e da biologia. Tiezzi reforça:

Não se deve renunciar ao desenvolvimento e ao bem-estar, mas


deve-se ter a coragem de reestruturar completamente a produção:
descentralização produtiva, tecnologias soft e apropriadas, agricul-
tura e artesanato. A sociedade de amanhã necessita de gente que
produza maior quantidade de alimentos e não mais automóveis
(trata-se de chegar a uma produção de automóveis que mantenha
constante o número destes e de favorecer os transportes públicos).
(TIEZZI, 1988, p. 173)

Cavalcanti (2004, p. 1) acrescenta: “trata-se de promover a economia (e


o bem-estar dos humanos) sem causar estresses que o sistema ecológico
não possa absorver”. O processo econômico, operando dentro de um sub-
sistema aberto, envolvido pelo ecossistema global, deve respeitar limites,
seja fornecendo recursos ou absorvendo dejetos. Para Norgaard (1997),
sendo consciente de como a lógica econômica tem sido distorcida pelas
crenças modernas, pode-se pelo menos começar novamente e construir,
a partir da importância crescente da convicção da sustentabilidade eco-
lógica, justiça ambiental, estrutura econômica e cultura global, que são
cruciais para o bem-estar da nossa progênie. O mesmo autor enfatiza que
a economia ecológica tem a oportunidade de usar a teoria econômica em
sua plenitude e de forma correta para abordar as questões ambientais. O
aspecto mais excitante dessa oportunidade é que esta também requer uma
reconfiguração da forma como a economia trabalha com o discurso moral
e a ética. [...]

Contabilidade Socioambiental 157


9 Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental

Atividades
1. Existem alguns mecanismos que favorecem os agentes envolvidos no mercado, com
a perspectiva de preservação ambiental. Cite alguns desses mecanismos.

2. No intuito de que os resultados sejam os almejados, de acordo com May et al. (2005),
os instrumentos econômicos devem atuar em quatro frentes complementares. Quais
são elas?

3. Explique a responsabilidade do Estado quanto à sua relação com o meio ambiente.

4. Muitas discussões no âmbito do Estado e da sociedade em geral têm como pauta a


manutenção do meio ambiente equilibrado, bem como a busca de formas de preser-
vá-lo. Quais são os resultados dessas discussões?

Referências
AZEVEDO, P. F. de. Ecocivilização: ambiente e direito no limiar da vida. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005.
BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 31 ago. 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em:
2 out. 2017.
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.
BRASIL. Decreto n. 5.975, de 30 de novembro de 2006. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1 dez.
2006a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5975.
htm>. Acesso em: 29 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 11.284, de 2 de março de 2006. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 mar. 2006b.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=485>. Acesso em: 29
nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 maio 2012.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso
em: 29 nov. 2017.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Legislação Ambiental Básica. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente/Unesco, 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/
secex_conjur/_arquivos/108_12082008084425.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2017.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Primeira Turma. Recurso Extraordinário RE 134.297. Julgado em
16 jun. 1995. Relator Min. Celso de Mello. DJ 22 set. 1995. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/
jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000143966&base=baseAcordaos>. Acesso em: 29 nov. 2017.
FACHIN, M. G. Todos os nomes e um só sentido: a aproximação dos direitos humanos aos direi-
tos fundamentais tendo em vista sua efetivação prática. Revista Brasileira de Direito Internacional-
RBDI, v. 3, n. 3, 2006.
MAY, P. H. et. al. (Org.). Instrumentos econômicos para o desenvolvimento sustentável na Amazônia
brasileira: experiências e visões. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/port/conama/reuniao/dir894/SeminAMA_InstrumEconom.pdf>. Acesso em: 29
nov. 2017.

158 Contabilidade Socioambiental


Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental 9
MENUZZI, T. S. et al. Interação entre economia e meio ambiente: uma discussão teórica. Revista
Eletrônica em Gestão e Educação e Tecnologia Ambiental, Santa Maria, v. 19, n. 1, p. 9-17, jan./abr.
2015.
RODRIGUES, M. A. Direito ambiental esquematizado. Coord. Pedro Lenza. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
SARLET, I. W. A Eficácia dos direitos fundamentais. 10 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
VARELLA, M. D. Direito internacional econômico ambiental. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
ZULAUF, W. E. O meio ambiente e o futuro. Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n. 39, p. 85-100,
aug. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142
000000200009&lng=en&nrm=iso>. Accesso em: 2 nov. 2017.

Resolução
1. Existem alguns mecanismos que favorecem os agentes envolvidos no mercado, com
a perspectiva de preservação ambiental. Entre eles, destaca-se a implantação do
ICMS Ecológico e a isenção do Imposto de Renda para as empresas que se utilizam
de tecnologias de aproveitamento sustentável.

2. São elas: 1. imposição de ônus às práticas predatórias do meio ambiente; 2. concessão


de vantagens a empresas que estimulem a sustentabilidade em suas práticas; 3. com-
pensação tributária dos municípios que são afetados por políticas de preservação
ambiental; e 4. apoio a iniciativas de desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.

3. O Estado tem a obrigação de manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado e,


consequentemente, deve defender e socorrer a flora e a fauna por meio de medidas
que blindem atos nocivos ao meio ambiente. Todavia, essas medidas que coíbem os
danos ambientais não eximem o Poder Público da obrigação de compensar (indeni-
zar) os proprietários de imóveis que são afetados economicamente por alguma ação
da Administração Pública.

4. Dessas discussões resultaram várias normativas, leis infraconstitucionais, constitu-


cionais e internacionais.

Contabilidade Socioambiental 159


10
Aspectos tributários
ambientais

Este capítulo discorre sobre a contabilidade ambiental no âmbito nacional, pro-


porcionando uma perspectiva histórica da evolução dessa temática no Brasil e as nor-
mativas correspondentes. Além disso, apresenta o conteúdo da tributação ambiental
desenvolvida no país em conformidade com as legislações nacionais pertinentes, bem
como o reflexo desses tributos para as empresas cujas atividades são precedidas da
exploração de recursos naturais.

Contabilidade Socioambiental 161


10 Aspectos tributários ambientais

10.1 A relevância da contabilidade ambiental no


Brasil
Vídeo Como já abordamos anteriormente ao longo desta obra, é evidente a ne-
cessária conciliação dos aspectos econômicos e ecológicos, dado que ambos
constituem um sistema de interação, não sendo excludentes – ou seja, não é
possível separar o meio ambiente saudável e o desenvolvimento econômico,
posto que são complementares (RIBEIRO, 2006). Em decorrência desse fato,
a contabilidade ambiental assume a função de alinhar a conduta patrimonial
das empresas diante da responsabilidade com o meio ambiente.
Segundo Antonovz (2014), a contabilidade ambiental no Brasil surge em 1970, como
uma consequência da exigência da sociedade em relação às questões ambientais e aos im-
pactos negativos gerados no meio ambiente pelas atividades empresariais.
No ano de 1977, a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE) organi-
za um encontro nacional, proporcionando discussões pertinentes sobre Balanço Social. Em
1980, a mesma associação organizou outro evento, o Seminário Internacional de Balanço
Social, com a participação de palestrantes internacionais da área, o que resultou nas primei-
ras iniciativas relativas à publicação desse tipo de balanço. A seguir, no Quadro 1, mostra-
mos alguns dados significativos a respeito do desenvolvimento do Balanço Social no Brasil,
de acordo com Ribeiro (2006).

Quadro 1 – Evolução do Balanço Social no Brasil

Ano Ocorrências
1984 Primeira publicação de Balanço Social no Brasil – pela empresa Nitrofértil.
Lançamento do Balanço Social no mercado de capitais, patrocinado pelo Comitê
1986
de Divulgação do Mercado de Capitais (Codimec).
1991 Primeira publicação da Demonstração do Valor Adicionado – pela empresa Telebras.
A extinta Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e o
1993
Banespa publicam sua Demonstração do Valor Adicionado do setor bancário.
Uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase)
busca evidenciar o Balanço Social e propõe um modelo, o qual foi gradativamen-
te adotado pelas empresas. Com o tempo, tal modelo foi aprimorado a fim de
melhorar a demonstração das ações sociais.
O Instituto Brasileiro de Contadores (Ibracon, atual Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil) aprova a Norma de Auditoria Ambiental NPA n.
1996 11, a qual determina a correlação entre a contabilidade e o meio ambiente e a
participação dos esforços para defesa e proteção contra poluição e agressões
à vida humana e à natureza. O estabelecimento desse documento pode ser
considerado como um marco da contabilidade ambiental no Brasil, visto que
recomendava que as demonstrações contábeis e os relatórios da administra-
ção refletissem o posicionamento ecológico organizacional, mediante o cum-
primento rigoroso das metas ambientais, além das econômicas.

162 Contabilidade Socioambiental


Aspectos tributários ambientais 10
Ano Ocorrências
O Projeto de Lei n. 3.116 e as discussões da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) apresentam proposições de obrigatoriedade de publicação do Balanço
1997
Social. Contudo, o projeto foi arquivado e a discussão não chegou a um consen-
so, visto que o tema era muito polêmico.
Fonte: Elaborado pelas autoras com base em RIBEIRO, 2006.

Fica evidente que a implementação da obrigatoriedade da publicação do Balanço Social


não é uma ideia recente. Propostas de instituir projetos e leis já são discutidas há mais de
duas décadas e ainda continuam, nos dias de hoje, como um assunto em aberto.
Embora não haja obrigatoriedade, atualmente a esfera empresarial, em especial as or-
ganizações de capital aberto, têm divulgado o Balanço Social juntamente com suas demons-
trações contábeis com o intuito de evidenciar seu posicionamento e suas ações relativos aos
aspectos socioambientais (RIBEIRO, 2006).
No ano de 2004, foi aprovada a Norma Brasileira de Contabilidade Técnica n. 15 (NBC
T15) pelo Conselho Federal de Contabilidade, que estabeleceu parâmetros para a divulga-
ção das informações de natureza social e ambiental (a geração e a distribuição de riqueza, os
recursos humanos, a interação da entidade com o ambiente externo e com o meio ambiente)
de forma complementar às demonstrações contábeis (CFC, 2004).
Destacam-se na NBC T15 as seguintes informações:

15.2.1 – Geração e distribuição de riqueza


15.2.1.1 – A riqueza gerada e distribuída pela entidade deve ser apresentada con-
forme a Demonstração do Valor Adicionado, definida na NBC T3.
15.2.2 – Recursos humanos
15.2.2.1 – Devem constar dados referentes a remuneração, benefícios concedidos,
composição do corpo funcional e contingências e passivos trabalhistas da entidade.
15.2.2.2 – Quanto à remuneração e os benefícios concedidos aos empregados, ad-
ministradores, terceirizados e autônomos, devem constar:
a. remuneração bruta segregada por empregados, administradores, terceiriza-
dos e autônomos;
b. relação entre a maior e a menor remuneração da entidade, considerando os
empregados e os administradores;
c. gastos com encargos sociais;
d. gastos com alimentação;
e. gastos com transporte;
f. gastos com previdência privada;
g. gastos com saúde;
h. gastos com segurança e medicina do trabalho;

Contabilidade Socioambiental 163


10 Aspectos tributários ambientais

i. gastos com educação (excluídos os de educação ambiental);


j. gastos com cultura;
k. gastos com capacitação e desenvolvimento profissional;
l. gastos com creches ou auxílio-creche;
m. participações nos lucros ou resultados.
15.2.2.3 – Essas informações devem ser expressas monetariamente pelo valor total
do gasto com cada item e a quantidade de empregados, autônomos, terceirizados e
administradores beneficiados.
15.2.2.4 – Nas informações relativas à composição dos recursos humanos, devem
ser evidenciados:
a. total de empregados no final do exercício;
b. total de admissões;
c. total de demissões;
d. total de estagiários no final do exercício;
e. total de empregados portadores de necessidades especiais no final do exercício;
f. total de prestadores de serviços terceirizados no final do exercício;
g. total de empregados por sexo;
h. total de empregados por faixa etária nos seguintes intervalos: menores de 18
anos; de 18 a 35 anos; de 36 a 60 anos; e acima de 60 anos.
i. total de empregados por nível de escolaridade, segregados por: analfabe-
tos; com Ensino Fundamental; com Ensino Médio; com Ensino Técnico; com
Ensino Superior; e Pós-Graduados.
j. percentual de ocupantes de cargos de chefia, por sexo.
15.2.2.5 – Nas informações relativas às ações trabalhistas movidas pelos emprega-
dos contra a entidade, devem ser evidenciados:
a. número de processos trabalhistas movidos contra a entidade;
b. número de processos trabalhistas julgados procedentes;
c. número de processos trabalhistas julgados improcedentes;
d. valor total de indenizações e multas pagas por determinação da justiça.
15.2.2.6 – Para o fim dessa informação, os processos providos parcialmente ou
encerrados por acordo devem ser considerados procedentes.
15.2.3 – Interação da entidade com o ambiente externo
15.2.3.1 – Nas informações relativas à interação da entidade com o ambiente exter-
no, devem constar dados sobre o relacionamento com a comunidade na qual a entida-
de está inserida, com os clientes e com os fornecedores, inclusive incentivos decorren-
tes dessa interação.

164 Contabilidade Socioambiental


Aspectos tributários ambientais 10
15.2.3.2 – Nas informações relativas à interação com a comunidade, devem ser
evidenciados os totais dos investimentos em:
a. educação, exceto a de caráter ambiental;
b. cultura;
c. saúde e saneamento;
d. esporte e lazer, não considerados os patrocínios com finalidade publicitária;
e. alimentação.
15.2.3.3 – Nas informações relativas à interação com os clientes, devem ser
evidenciados:
a. número de reclamações recebidas diretamente na entidade;
b. número de reclamações recebidas por meio dos órgãos de proteção e defesa
do consumidor;
c. número de reclamações recebidas por meio da justiça;
d. número das reclamações atendidas em cada instância arrolada;
e. montante de multas e indenizações a clientes, determinadas por órgãos de
proteção e defesa do consumidor ou pela justiça;
f. ações empreendidas pela entidade para sanar ou minimizar as causas
das reclamações.
15.2.3.4 – Nas informações relativas aos fornecedores, a entidade deve informar se
utiliza critérios de responsabilidade social para a seleção de seus fornecedores.
15.2.4 – Interação com o meio ambiente
15.2.4.1 – Nas informações relativas à interação da entidade com o meio ambiente,
devem ser evidenciados:
a. investimentos e gastos com manutenção nos processos operacionais para a
melhoria do meio ambiente;
b. investimentos e gastos com a preservação e/ou recuperação de ambien-
tes degradados;
c. investimentos e gastos com a educação ambiental para empregados, terceiri-
zados, autônomos e administradores da entidade;
d. investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade;
e. investimentos e gastos com outros projetos ambientais;
f. quantidade de processos ambientais, administrativos e judiciais movidos con-
tra a entidade;
g. valor das multas e das indenizações relativas à matéria ambiental, determina-
das administrativa e/ou judicialmente;
h. passivos e contingências ambientais.

Fonte: CFC, 2004.

Contabilidade Socioambiental 165


10 Aspectos tributários ambientais

Em 2009, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis aprovou o Pronunciamento Técnico


CPC 25, que trata especificamente de provisões, ativos contingentes e passivos contingen-
tes (CPC, 2009). Nesse mesmo ano, também foi aprovada a Resolução CFC n. 1180, a qual
aprova a NBC T19.7 e aponta a importância de os procedimentos contábeis brasileiros de
divulgação convergirem com as normas contábeis internacionais (CFC, 2009).
Finalmente, no ano de 2016, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) torna pública
a NBC TE XXX – Interação da Entidade com o Meio Ambiente –, cujo objetivo consiste na
definição dos conceitos e critérios para a contabilização de eventos e transações que reflitam
as interações da entidade com o meio ambiente, conforme apresentamos em capítulos ante-
riores (CFC, 2012).
Com base nessa perspectiva histórica do contexto brasileiro, podemos, portanto, cons-
tatar que a contabilidade ambiental está em constante evolução, na busca da padronização e
do atendimento das exigências previstas nas normas nacionais de contabilidade.
Além dessas normas contábeis instauradas, é importante destacar que o Estado insti-
tuiu órgãos de proteção e fiscalização ao meio ambiente, estabelecendo diretrizes para di-
vulgação das informações ambientais, com destaque para o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama), criado pela Lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981).
Outro importante órgão é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais (Ibama), o qual foi criado pela Lei n. 7.735/1989 (BRASIL, 1989), constituído como
uma autarquia de regime federal cujo objetivo principal é a fiscalização da flora e da fauna
de âmbito federal. Não obstante, em cada estado brasileiro existe o órgão ambiental de com-
petência estadual. Como exemplo, podemos citar o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e a
Fundação do Meio Ambiente (FATMA), de Santa Catarina.

10.2 O tributo ambiental


Vídeo
Os tributos tiveram sua origem na Antiguidade e servem para regular e
possibilitar a vida em sociedade. Porém, no caso da tributação ambiental, ela
surge somente vários séculos depois, com as legislações ambientais, confor-
me abordamos em capítulos anteriores.
Para entendimento do contexto da tributação ambiental, inicialmente evi-
denciamos um trecho da obra de Oliveira et al. (2012, p. 1) acerca da carga tributária no Brasil:
Além da pesada carga que reduz a competitividade dos nossos produtos no ex-
terior, a sistemática tributária nacional implica em altos custos para o controle
e gestão, por parte dos empresários, dos assuntos pertinentes à apuração, paga-
mento e prestação de contas dos tributos quinzenais, mensais ou anuais. Cada
vez mais são representativos, na grande maioria das empresas, os incentivos em
capital humano, equipamentos e recursos de informática para a gestão tributá-
ria, visando evitar consequências danosas e pesadas multas impostas pelas auto-
ridades fiscais nos diversos níveis da esfera do Poder Público.

166 Contabilidade Socioambiental


Aspectos tributários ambientais 10
Nesse cenário apresentado, destaca-se que, sob a perspectiva dos tributos ambientais,
existem duas formas de arrecadação tributária:
1. Fiscalidade ambiental: refere-se à arrecadação estatal pela utilização dos recursos
naturais por meio de prestação de serviço ambiental e que tem como fato gerador
o uso do bem ambiental. Logo, consiste na cobrança pela utilização de um bem
ambiental, e não pela poluição.
2. Extrafiscalidade ambiental: é composta dos tributos dos quais o Estado se utili-
za para gerir as condutas da sociedade de acordo com seu planejamento: “[...] o
Estado, no uso de suas atribuições tributárias, aplica um sistema de incentivo às
atividades que possam reduzir a degradação ambiental” (MATTHES, 2011, p. 48).
A perspectiva do princípio do usuário-pagador, discutida em capítulos anteriores,
apresenta a ideia central do pagamento pelo uso dos recursos naturais, visto que todos os
componentes que fazem parte do meio ambiente ecologicamente correto pertencem à coleti-
vidade. Ao utilizar os bens ambientais de forma incomum (sem causar nenhum tipo de dano
a eles), deve-se pagar por tal empréstimo. Ou seja, o usuário paga à sociedade, por meio de
tributo extrafiscal, pelo uso do bem ambiental de forma incomum.
O imposto ecológico tem como fato gerador a poluição, ou melhor, a ação de contami-
nação do meio ambiente equilibrado. Logo, esse imposto diz respeito à prática de taxar a
atividade produtiva da empresa, de modo que o pagamento dessa obrigação tributária terá
relação com o sujeito passivo, denominado poluidor. O sujeito ativo, por sua vez, consistirá
na Administração Pública, por uma normativa constitucional.
É importante ressaltar que os tributos não são vinculados e a arrecadação do imposto
ecológico não tem outra função além de aumentar os recursos estatais. Isso porque não há
uma destinação como a criação de mecanismos para combater, controlar, reparar e impedir
as externalidades ambientais negativas, mas sim a motivação de uma nova mentalidade nos
responsáveis pela produção e/ou pelo consumo, de modo que a consciência ambiental, por
si só, propulsione a mudança de comportamento.
Todavia, na extrafiscalidade ambiental o tributo não é meramente arrecadador, pois, por
meio dele, o Estado direciona o comportamento da sociedade. Os tributos relativos à extrafiscali-
dade têm como objetivo a transformação social, visando a uma maior consciência ambiental e de
preservação do meio ambiente durante o processo produtivo, bem como no consumo dos bens.
Analisando a Constituição de 1988, verifica-se vários dispositivos legais que abordam os
tributos extrafiscais ambientais. Entre eles, destaca-se o artigo 153, o qual dispõe que: “Compete à
União instituir impostos sobre: [...] IV – produtos industrializados; [...] § 3° O imposto previsto no
inciso IV: I – será seletivo, em função da essencialidade do produto” (BRASIL, 1988).
Nesse artigo se destaca o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que evidencia
que os itens ecologicamente corretos, ou seja, que não trazem danos ao meio ambiente, são
enquadrados com a redução de impostos em comparação com os outros produtos – é o caso
da redução de IPI para eletrodomésticos de linha branca, reconhecidos como ecologicamen-
te corretos ou “produtos verdes”, uma vez que consomem menos energia.

Contabilidade Socioambiental 167


10 Aspectos tributários ambientais

Verifica-se, nesse contexto, que o Estado busca moldar uma nova concepção do proces-
so produtivo dos fabricantes, ou seja, estimula o uso de tecnologias que não causem danos
ao meio ambiente. Logo, isso faz com que o meio ambiente seja preservado na fabricação do
bem ou serviço fabril.
Outro tributo extrafiscal que atua em favor do meio ambiente é o Imposto de Renda (IR),
pois permite que o contribuinte deduza os gastos realizados em prol da proteção ambiental,
conforme a Lei n. 5.106/66, que dispõe sobre os incentivos fiscais concedidos aos empreen-
dimentos florestais (BRASIL, 1966). Há, ainda, os decretos n. 93.607/86 (BRASIL, 1986a) e
n. 96.233/88 (BRASIL, 1988b), que preveem a dedução, no IR dos contribuintes, dos gastos
gerados pelos projetos de reflorestamento.
O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) configura-se também
como um imposto extrafiscal ambiental, visto que ele é menor para os veículos que não
geram poluição ao ambiente, como é o caso da redução do IPVA de veículos automotores
movidos a gás natural veicular (GNV), considerado o combustível mais limpo do mercado
e que reduz a emissão de gases nocivos à atmosfera.
Já em relação à legislação que regula a cobrança do Imposto Territorial Rural (ITR), a Lei
9.393/96 traz no seu artigo 10, § 1°, que:
A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte, indepen-
dentemente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e
condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitando-se a ho-
mologação posterior: § 1° Para os efeitos de apuração do ITR, considerar-se-á: a)
construções, instalações e benfeitorias; b) culturas permanentes e temporárias; c)
pastagens cultivadas e melhoradas. (BRASIL, 1996)
Logo, verifica-se a isenção e a redução de tributos das áreas de interesse ambiental, vis-
to que o legislador pretende, com isso, que o proprietário do bem preserve o meio ambiente.

10.3 A tributação ambiental como instrumento de


defesa do meio ambiente
Vídeo
O Direito Ambiental é pautado na preservação do meio ambiente, por
meio da justiça social. Conforme o artigo 225 da Constituição Federal, verifi-
ca-se que o meio ambiente deve ser preservado, antes de tudo, por meio da
precaução. Logo, para que ele se mantenha equilibrado, a sociedade deve
agir antes de o dano acontecer, adotando mecanismos de precaução quanto
aos impactos ambientais. Nota-se que esse dispositivo constitucional prevê que é dever do
Estado e da própria sociedade defender e preservar o meio ambiente. Nesse contexto, o
Direito Tributário tem uma importante função quanto à fiscalidade, pois, com as verbas tri-
butárias, a Administração Pública pode exercer sua função social. Entretanto, a Constituição
de 1988 não prevê nenhum tipo de tributo que tenha como fato gerador a degradação do
meio ambiente ou, ainda, o uso dos elementos ambientais.

168 Contabilidade Socioambiental


Aspectos tributários ambientais 10
Nesse sentido, a legislação estipula o tributo de forma indireta, ou seja, por meio da
concessão de incentivos fiscais, para estimular o contribuinte a preservar o meio ambiente.
Verifica-se, também, que o Estado exerce seu Poder de Polícia para induzir os contribuintes
a manter o ambiente sadio.
O tributo ambiental no Brasil tem como finalidade a intervenção na situação financeira
do cidadão e, nessa condição, estimula ou desestimula os consumidores. Por esse motivo,
muitas vezes o tributo é considerado um elemento importante na preservação do meio am-
biente ecologicamente equilibrado. Todavia, essa tributação só pode operar em conformida-
de com a Constituição em sua função extrafiscal.
É importante lembrar que a tributação extrafiscal tem por objetivo conduzir as pessoas
jurídicas e físicas, por meio dos incentivos fiscais, a agirem em conformidade com o artigo
3°, I, da Carta Magna, para que assim criem “uma sociedade livre, justa e solidária”.
Outro aspecto importante é que o meio ambiente deve ser protegido inclusive pelos
agentes econômicos. Assim, as legislações tributárias também se configuram como meca-
nismo de preservação. Entretanto, é importante ponderar a utilização do sistema tributário
como forma de preservação ambiental, visto que, ao se estipular uma carga tributária muito
elevada, restringe-se a liberdade dos indivíduos.
Desse modo, observa-se que os tributos não são apenas um instrumento estatal de
arrecadação, mas mecanismos de políticas públicas, pois interferem no cotidiano da so-
ciedade, estimulando ou desestimulando o consumo e, consequentemente, a produção
de bens e serviços.
Nesse contexto, de acordo com Ávila (2013), o chamado princípio da seletividade é aplica-
do ao sistema tributário brasileiro especificamente nos tributos indiretos, como é o caso do
IPI e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), embutidos nos valores
cobrados do consumidor final pelos produtos. Esse princípio se refere à ideia de que os pro-
dutos ditos essenciais para a sobrevivência do indivíduo na sociedade devem ter alíquotas
mais baixas que os demais, para que as pessoas possam consumir os itens necessários e, em
contrapartida, diminuir o consumo de artigos supérfluos.
Ainda conforme Ávila (2013), vários são os impostos utilizados com a finalidade de
manter os bens ambientais preservados. Entre eles, destacam-se o IPVA – como exem-
plificado anteriormente – e ainda o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), com
diminuição de alíquota conforme a preservação ambiental. O IPTU introduz incentivos
fiscais aos municípios que colaborem em sua propriedade imobiliária com a preserva-
ção da natureza (o IPTU Ambiental Preservacionista) ou gera encargos fiscais àque-
les que agem no sentido oposto (o IPTU Ambiental Repressivo, ou o IPTU Ambiental
Progressivo no tempo).
Todavia, é o ICMS que se sobressai na função ambiental, com a configuração do ICMS
Ecológico. Esse tipo de ICMS é um mecanismo tributário voltado para o repasse de recursos
financeiros (redistribuição do imposto) aos municípios que atendem aos critérios ambien-
tais previstos nas leis estaduais – por exemplo: com unidades de conservação ambiental em
seu território.

Contabilidade Socioambiental 169


10 Aspectos tributários ambientais

O estado pioneiro na implementação do ICMS Ecológico foi o Paraná, por meio da Lei
Complementar n. 59/91 (PARANÁ, 1991), tornando-se modelo para a multiplicação do im-
posto nos demais estados brasileiros. No exemplo paranaense, o sistema de funcionamento
do ICMS Ecológico está baseado em dois importantes critérios: as áreas protegidas e os
mananciais de abastecimento, sendo que o repasse de recursos ocorre da seguinte forma:
Do total do ICMS arrecadado pelo Estado do Paraná, 5% é destinado para os mu-
nicípios, proporcionalmente às unidades em função do tamanho, importância,
grau de investimento na área, manancial de captação e outros fatores.
Estes 5% são destinados aos municípios da seguinte forma:
• 50% para municípios que tenham em seu território Mananciais de Abastecimento,
cuja água se destina ao abastecimento da população de outro município;
• 50% para municípios que tenham integrado em seu território Unidades de
Conservação, Áreas de Terras Indígenas, Reservas Particulares do Patrimônio
Natural, Faxinais, Reservas Florestais Legais. (IAP, 2017)
Outro mecanismo estatal, em conformidade com o Código Nacional Tributário, é o tributo
do tipo taxa, cobrado pelo Estado pelo exercício do Poder de Polícia ou pela utilização de um
serviço público prestado ao contribuinte. No caso específico das taxas no âmbito da preservação
ambiental, é importante destacar que elas fazem com que o contribuinte que se utiliza do bem
ecológico pague por esse uso, além de serem empregadas na fiscalização e no monitoramento
das atividades mercantis que possam lesionar o meio ambiente. Logo, por meio das taxas, o
Estado repassa os custos de preservação e recuperação do meio ambiente aos contribuintes.
A Lei n. 10.165, de 27 de dezembro de 2000, pode ser considerada um exemplo da utili-
zação da taxa no âmbito ambiental, visto que institui como fato gerador o Poder de Polícia
exercido quando o Ibama fiscaliza as atividades que podem gerar dano ambiental ou que se
utilizam de recursos do meio ambiente (BRASIL, 2000).
Outro tipo de tributo que é utilizado como mecanismo de prevenção ou reparação a
danos ambientais é a contribuição de melhoria. Esse imposto tem como fato gerador a va-
lorização dos imóveis particulares. Logo, quando o Estado faz uma obra que valoriza um
imóvel, esse custo pode ser cobrado do indivíduo dono do imóvel. Dessa forma, quando
uma obra estatal tiver como objetivo a preservação do meio ambiente e implicar no aumento
do valor do imóvel dos vizinhos, o Estado poderá, por meio de contribuição de melhoria,
cobrar o custo da obra dos que são donos dos imóveis valorizados.
Assim, por meio da cobrança da contribuição de melhoria, o Estado tem o ressarcimen-
to dos custos com a preservação ou a recuperação ambiental, mas somente nos casos em
que ocorrem valorização do imóvel do contribuinte. Pode-se entender, portanto, que muitas
vezes os poluidores podem deixar de causar danos, visto que serão responsáveis pelo paga-
mento desses custos.
Em suma, verifica-se que os tributos podem ser um mecanismo de defesa ambiental, a
fim de que a exploração econômica seja feita de forma sustentável. Desse modo, o Estado
deve atuar não só na economia, mas também na manutenção do direito a um meio ambiente
equilibrado para toda a sociedade.

170 Contabilidade Socioambiental


Aspectos tributários ambientais 10
Conclusão

A contabilidade ambiental brasileira está em constante evolução. Por se tratar de um


tema relativamente novo, em termos de normativas específicas, é perceptível a estruturação
de procedimentos contábeis voltados ao alinhamento das mutações patrimoniais e dos fatos
contábeis ambientais e o posicionamento no que diz respeito ao equilíbrio ecológico.
Nesse contexto, os fundamentos da tributação ambiental no Brasil apresentam a extra-
fiscalidade como uma ferramenta de compatibilização entre o desenvolvimento econômico
e o sustentável. A tendência para os próximos anos é o aumento dos debates quanto à im-
plementação de novos tributos de configuração ecológica, de uma maneira mais sistemática
e organizada, com foco específico na chamada economia verde (MONTERO, 2014).

Ampliando seus conhecimentos

Com o intuito de ampliar o conhecimento acerca dos tributos ambientais, apre-


sentamos a seguir um excerto do artigo de Barichello e Araújo (2007), o qual
apresenta uma excelente discussão a respeito do tema.

Tributação ambiental: o tributo extrafiscal


como forma de proteção do meio ambiente
(BARICHELLO; ARAÚJO, 2007, p. 115-116)

[...]

A tributação ambiental pode ser conceituada como “o emprego de instru-


mentos tributários para orientar o comportamento dos contribuintes a pro-
testo do meio ambiente, bem como para gerar recursos necessários à presta-
ção de serviços públicos de natureza ambiental” (COSTA, 1998, p. 297).

Conforme Modé, a tributação ambiental diferencia-se do caráter sanciona-


tório por “não se aplicar a atividades ilícitas. A tributação ambiental apli-
ca-se tão somente a atividades lícitas, assim consideradas pelo legislador
porque necessárias, em que pese o impacto causado ao meio ambiente”
(2003, p. 123).

O tributo ambiental é um instrumento de intervenção na atividade eco-


nômica do qual o Estado pode se valer para a construção da sustentabili-
dade. “Tem uma função muito importante no processo de reforma social
não só como fonte de receita, mas, sobretudo, como forma de conscienti-
zação das pessoas acerca da importância e necessidade de preservação do
meio ambiente” (ALMEIDA, 2003, p. 103).

Contabilidade Socioambiental 171


10 Aspectos tributários ambientais

Carneiro (2003, p. 80) aborda as modalidades de tributação ambien-


tal “enquanto instrumentos de viabilização de políticas públicas de
meio ambiente que permitem uma razoável integração das variáveis
da política ambiental à política econômica”, apresentando suas vanta-
gens em termos de gestão de recursos ambientais. Segundo ele, esses
tributos podem proporcionar, primeiramente, incentivos aos produ-
tores e aos consumidores finais, resultando em uma readequação de
seus processos, comportamentos e hábitos com vistas a uma utilização
mais eficiente e equilibrada dos insumos naturais e dos produtos deles
oriundos. Em segundo lugar, os tributos podem originar as receitas
necessárias aos investimentos públicos em projetos de melhoria da
qualidade ambiental, permitindo, ainda, a desoneração progressiva
dos encargos incidentes sobre o trabalho e sobre o capital. E, em ter-
ceiro lugar, podem constituir mecanismos eficientes para o controle da
proliferação de fontes não estacionárias ou difusas de poluição.

Nesse sentido, Oliveira percebe que o sistema tributário “pode atuar com-
plementarmente ao sistema administrativo de licenças ambientais, que é
indispensável à preservação e ao combate da poluição; também se revela
útil na preservação dos recursos ambientais, adequando as espécies tribu-
tárias à tributação ambiental” (1995, p. 27).

Na doutrina espanhola, os tributos ambientais são caracterizados por


Molina como “tributos de ordenamento” e “tributos pelo uso dos bens
ambientais”, valendo transcrever seus ensinamentos:

Os autênticos tributos ambientais [...] são aqueles que constituem


um incentivo ao cuidado com o meio ambiente (tributos de ordena-
mento). O que sucede [...] é que tal incentivo pode consistir precisa-
mente na cobrança de uma quantidade pelo uso de bens ambientais
que equivalha ao custo de evitar a contaminação (tributos pelo uso
dos bens ambientais). (MOLINA, 2000, p. 58, tradução nossa)

De acordo com Almeida (2003), a tributação ambiental consiste em um


instrumento de que o Estado pode se valer para intervir no domínio eco-
nômico, de forma a incentivar ou não incentivar comportamentos e indu-
zir os agentes econômicos na adoção de condutas ambientalmente susten-
táveis. A aplicação do tributo ambiental não visa punir o descumprimento
de um comando normativo, visa sim, diante de uma atividade econômica
que possa trazer algum dano ao meio ambiente, proceder a um ajuste bus-
cando a sua realização de forma menos danosa possível.

172 Contabilidade Socioambiental


Aspectos tributários ambientais 10
Atividades
1. O que estabelece a NPA n. 11? Por que a emissão desse documento pode ser conside-
rada um marco na história da contabilidade ambiental brasileira?

2. Quais parâmetros de divulgação de informações de natureza social e ambiental são


previstos na Norma Brasileira de Contabilidade Técnica n. 15 (NBC T15)?

3. O CPC 25 foi aprovado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis no ano de 2009.


Do que trata especificamente esse pronunciamento técnico?

4. Sob a perspectiva dos tributos ambientais, quais são as duas formas de arrecadação
tributária? Explique as particularidades de cada uma.

Referências
ANTONOVZ, Tatiane. Contabilidade ambiental. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2014.
ÁVILA, K. B. A tributação ambiental como forma de garantir o desenvolvimento econômico e a pro-
teção ao meio ambiente. Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. 16, n. 111, abr. 2013. Disponível em: <http://
ambito-juridico.com.br/site/index.php/Ricardo%20Antonio?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=12723&revista_caderno=5>. Acesso em: 9 nov. 2017.
BARICHELLO, S. E.; ARAÚJO, L. E. B. de. Tributação ambiental: o tributo extrafiscal como forma de
proteção do meio ambiente. Scientia Iuris, Londrina, v. 11, p. 113-131, 2007 Disponível em: <http://
dx.doi.org/10.5433/2178-8189.2007v11n0p113>. Acesso em: 9 nov. 2017.
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 9 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 5.106, de 2 de setembro de 1966. Dispõe sobre os incentivos fiscais concedidos a em-
preendimentos florestais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 set. 1966. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L5106.htm>. Acesso em: 9 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 2 set. 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>.
Acesso em: 9 nov. 2017.
BRASIL. Decreto n. 93.607, de 21 de novembro de 1986. Disciplina a aplicação dos recursos dos Fundos
de Investimento, de que trata o Decreto-Lei n. 1.376, de 12 de dezembro de 1974, e dá outras providên-
cias. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 nov. 1986. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/1980-1989/1985-1987/D93607.htm>. Acesso em: 9 nov. 2017.
BRASIL. Decreto n. 96.233, de 28 de junho de 1988. Dispõe sobre a aplicação dos incentivos fiscais para
o desenvolvimento florestal do País. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 jun. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D96233.htm>. Acesso em 9 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 fev. 1989.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7735.htm>. Acesso em: 28 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 9.393, de 19 de dezembro de 1996. Dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade
Territorial Rural – ITR, sobre pagamento da dívida representada por Títulos da Dívida Agrária e dá

Contabilidade Socioambiental 173


10 Aspectos tributários ambientais

outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9393.htm>. Acesso em: 9 nov. 2017.
BRASIL. Lei n. 10.165, de 27 de dezembro de 2000. Altera a Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação,
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2000. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10165.htm>. Acesso em: 9 nov. 2017.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Legislação Ambiental Básica. Brasília,
DF: MMA/Unesco, 2008. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/estruturas/secex_conjur/_arquivo/
108_12082008084425.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2017.
CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução CFC n. 1.003/04. Aprova a NBC T15 – Informações
de Natureza Social e Ambiental. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 set. 2004. Disponível em:
<http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/res1003.ht>. Acesso em: 28 nov. 2017.
CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução CFC n. 1.108/09. Aprova a NBC TG 25 –
Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 ago.
2009. Disponível em: <http://cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1180.doc>. Acesso em: 9 nov. 2017.
CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Minuta da Norma Brasileira de Contabilidade NBCTE
XXX: Interação da Entidade com o Meio Ambiente. Brasília, DF: CFC, 2012. Disponível em: <http://cfc.
org.br/uparq/nbc_te_interacao_da_entidade_meio_ambiente.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2017.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Técnico CPC 25: Provisões, Passivos
Contingentes e Ativos Contingentes. Brasília, DF, 16 set. 2009. Disponível em: <http://static.cpc.
mediagroup.com.br/Documentos/304_CPC_25_rev%2006.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2017.
IAP – Instituto Ambiental do Paraná. Unidades de Conservação – ICMS Ecológico. Disponível em
<http://www.iap.pr.gov.br/pagina-291.html>. Acesso em: 26 nov. 2017.
MATTHES, R. A. Extrafiscalidade como instrumento de proteção ambiental no Brasil. Veredas do
Direito, Belo Horizonte, v. 8, n. 16, p. 47-62, jul./dez. 2011.
MONTERO, C. E. P. Tributação ambiental: reflexões sobre a introdução da variável ambiental no
sistema tributário. Rio de Janeiro: Saraiva, 2014.
OLIVEIRA, L. M. et al. Manual de Contabilidade Tributária: textos e testes com respostas. São Paulo:
Atlas, 2012.
PARANÁ. Casa Civil. Lei Complementar n. 59, de 1 de outubro de 1991. Diário Oficial do Estado,
Curitiba, 1 out. 1991. Disponível em: <http://www.legislacao.pr.gov.br/legislacao/listarAtosAno.do?
action=exibir&codAto=8383&codItemAto=77876>. Acesso em: 28 nov. 2017.
RIBEIRO, M. de S. Contabilidade ambiental. São Paulo: Saraiva, 2006.

Resolução
1. A NPA n. 11 determina a correlação entre a contabilidade e o meio ambiente e a par-
ticipação dos esforços para defesa e proteção contra poluição e agressões à vida hu-
mana e à natureza. O estabelecimento desse documento pode ser considerado como
um marco da contabilidade ambiental no Brasil, visto que recomendava que as de-
monstrações contábeis e os relatórios da administração refletissem o posicionamento
ecológico organizacional, mediante o cumprimento rigoroso das metas ambientais,
além das econômicas.

174 Contabilidade Socioambiental


Aspectos tributários ambientais 10
2. Os parâmetros para a divulgação das informações de natureza social e ambiental
consistem em: geração e distribuição de riqueza; recursos humanos; interação da
entidade com o ambiente externo; e interação com o meio ambiente.

3. O Pronunciamento Técnico CPC 25 trata especificamente de provisões, ativos con-


tingentes e passivos contingentes.

4. A fiscalidade ambiental se refere à arrecadação estatal pela utilização dos recursos


naturais por meio de prestação de serviço ambiental e tem como fato gerador o uso
do bem ambiental. Logo, consiste na cobrança pela utilização de um bem ambiental,
e não pela poluição. Já a extrafiscalidade ambiental se refere aos tributos dos quais
o Estado se utiliza para gerir as condutas da sociedade de acordo com seu planeja-
mento: “[...] o Estado, no uso de suas atribuições tributárias, aplica um sistema de
incentivo às atividades que possam reduzir a degradação ambiental” (MATTHES,
2011, p. 48).

Contabilidade Socioambiental 175


CONTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Janaína Gabrielle M. C. da Cunha Amarante / Karla Regina Santos Ribeiro

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6377-2
Código Logístico

Você também pode gostar