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DIREITOS EDUCACIONAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Esta obra tem como objetivo analisar os direitos edu-


cacionais das crianças e dos adolescentes com a premissa
de compreender suas necessidades. O estudo desses di-
reitos é indispensável para realizar o trabalho adequado
ao desenvolvimento escolar, essencial para garantir a pro-
moção das capacidades e das liberdades dos indivíduos.
Para tanto, é discutida a proteção estabelecida na
Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA) e são estudados os mecanismos de prote-
ção assegurados pelo Conselho Tutelar e pelo Ministério
Público, bem como o papel da justiça em relação ao direi-
to à educação, além, é claro, da observação dos demais
direitos fundamentais.

ANELIZE PANTALEÃO PUCCINI CAMINHA


Código Logístico

59551

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6677-3

9 788538 766773
Direitos educacionais
de crianças e
adolescentes

Anelize Pantaleão Puccini Caminha

IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
C191d

Caminha, Anelize Pantaleão Puccini


Direitos educacionais de crianças e adolescentes / Anelize Pantaleão
Puccini Caminha. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020.
98 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6677-3

1. Direito à educação. 2. Direito das crianças - Brasil. 3. Brasil. [Estatuto


da criança e do adolescente (1990)]. I. Título.
CDD: 379.26
20-65429
CDU: 37.014.12

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Anelize Pantaleão Doutoranda em Direito pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná́ (PUCPR). Mestre em Direito pela
Puccini Caminha Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e
especialista em Processo Civil pela mesma instituição.
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atua como
professora no ensino superior há́ quatro anos. É
docente em um centro universitário e em diversas
especializações e cursos preparatórios. Autora de
artigos científicos e livros na área, é também sócia-
proprietária de um escritório de advocacia.
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SUMÁRIO
1 Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência  9
1.1 Evolução dos conceitos de criança e de adolescente   10
1.2 A teoria da situação irregular  14
1.3 A teoria da proteção da criança e do adolescente   18

2 Direitos fundamentais da criança e do adolescente  26


2.1 Proteção constitucional da criança e do adolescente   26
2.2 Direitos fundamentais   31
2.3 Direito à educação  35

3 Relação entre criança, adolescente, escola e família  43


3.1 Condições peculiares de desenvolvimento escolar   44
3.2 Responsabilidade da instituição de ensino   48
3.3 Responsabilidade da família   54

4 Direito ao desenvolvimento escolar  61


4.1 Direito das crianças e dos adolescentes com deficiência  61
4.2 Acessibilidade e sistema educacional inclusivo  67
4.3 Bullying e cyberbullying  72

5 Proteção da criança e do adolescente  79


5.1 Direito à profissionalização e à proteção no trabalho   79
5.2 Política de atendimento   85
5.3 Atos infracionais   87
5.4 Medidas de proteção e medidas socioeducativas   91
APRESENTAÇÃO
Esta obra tem como objetivo analisar os direitos educacionais das crianças
e dos adolescentes com a premissa de compreender suas necessidades. O
estudo desses direitos é indispensável para realizar o trabalho adequado ao
desenvolvimento escolar.
Nesse sentido, no primeiro capítulo, analisa-se a evolução dos direitos das
crianças e dos adolescentes. Para tanto, foi necessário abordar a já superada
teoria da situação irregular e a compreensão da atual teoria, chamada de
teoria da proteção integral. Esses esclarecimentos são essenciais para que se
compreenda a importância da proteção e da atenção para o desenvolvimento
escolar adequado.
Os direitos fundamentais da criança e do adolescente presentes no
ordenamento jurídico brasileiro são tema do segundo capítulo. ­Evidencia-se
a importância de entender a proteção estabelecida na Constituição Federal
e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para o direito à educação,
além, é claro, da observação dos demais direitos fundamentais.
No terceiro capítulo, propõe-se uma reflexão sobre a relação entre a
criança, o adolescente, a escola e a família. A intenção é entender quais são
as obrigações e atribuições da instituição de ensino e as responsabilidades
da escola e da família. Destaca-se a necessidade da verificação das condições
peculiares de desenvolvimento escolar.
O direito ao desenvolvimento escolar é essencial para garantir a
promoção das capacidades e das liberdades dos indivíduos, por isso é objeto
de análise do quarto capítulo. São abordadas as questões que envolvem a
educação inclusiva e os estudantes com deficiência, principalmente após
as mudanças legislativas resultantes do Estatuto da Pessoa com Deficiência
(EPD). As condições necessárias para o desenvolvimento das crianças e dos
adolescentes no ambiente escolar, bem como o papel da escola e da família
nos casos de bullying e cyberbullying, também são assunto desse capítulo.
Por fim, o quinto capítulo estuda a proteção da criança e do adolescente
no trabalho e as formas como isso se efetua na legislação vigente. Os
mecanismos de proteção assegurados pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério
Público e o papel da justiça são igualmente discutidos nesse capítulo.
Bons estudos!
1
Evolução histórico-sociológica
da infância e da adolescência
Neste capítulo, iniciam-se os estudos sobre os direitos edu-
cacionais da criança e do adolescente. Se discorrerá sobre como
surgiram as garantias e proteções, e de que modo a escola e a so-
ciedade devem trabalhar para protegerem a infância e a juventude.
Para se atingir este objetivo, é necessário primeiramente co-
nhecer os conceitos de criança e de adolescente. É importante
verificar a evolução e a transformação da proteção jurídica para
compreender suas garantias atuais. Será estudado efetivamente
esta evolução ao longo da sociedade, iniciando com a Antiguidade,
passando pela Idade Média e chegando até os dias atuais.
Em seguida, será analisada a teoria da situação irregular, apli-
cada no Brasil durante muitos anos até a promulgação da atual
Constituição Federal (1988). Serão abordadas as quatro fases dos
conceitos de criança e de adolescente e dos seus respectivos direi-
tos e garantias, bem como serão debatidos os conceitos da teoria
da proteção integral.
Se conhecerá, por fim, a teoria aplicada atualmente, que sur-
giu com a Constituição de 1988. O intuito principal é de proteção
e de preservação dos direitos das crianças e dos adolescentes.
Com base neste conceito, ainda, surgiu o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), importante instrumento de direitos e garantias
fundamentais, que busca corroborar com os direitos fundamentais
elencados na Constituição.

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 9


1.1 Evolução dos conceitos de
Vídeo criança e de adolescente
Os conceitos de criança e de adolescente passaram por diversas
transformações ao longo da história da humanidade. As crianças e os
adolescentes nem sempre tiveram uma proteção jurídica efetiva e, em
alguns momentos, nem proteção alguma. Neste contexto, é importan-
te estudar a evolução do seu tratamento para melhor compreender o
momento em que se vive atualmente.

Na Grécia e na Roma antiga, a criança e o adolescente não possuíam


qualquer proteção jurídica, pois eram considerados uma propriedade
do Estado e da família e, entre os séculos XVI ao XIX, eram tratados
como seres sem qualquer relevância; o alto índice de mortalidade dos
jovens, por exemplo, não era encarado como uma tragédia. Do mesmo
modo, a infância não era tratada com importância.

Como mencionado, por muitos séculos a criança foi tratada como


uma propriedade do chefe da família, devendo obedecer às suas von-
tades. Não havia qualquer ilicitude em castigar de maneira imoderada
que, porventura, resultasse na morte.

Independentemente da idade, os filhos viviam sob a autoridade dos


pais enquanto morassem na casa da família. O chefe da família era
sempre o homem mais importante do clã, assim, na falta do pai, quem
assumia era o avô. Como eram considerados propriedade e, não, sujei-
to de direitos, os pais podiam decidir o destino dos seus filhos, inclusive
sua vida e morte (AMIN; MACIEL, 2010).

Durante a antiguidade, não havia qualquer distinção no tratamen-


to de crianças e adolescentes. Para os gregos, só eram mantidas vivas
as crianças saudáveis (AMIN; MACIEL, 2010). Na cidade de Esparta, por
exemplo, as crianças eram consideradas patrimônio do Estado, por-
tanto, estavam sob sua responsabilidade. Já no oriente era costume
sacrificar algumas crianças por serem impuras.

Na Idade Média, iniciou-se uma importante evolução no reconhe-


Atividade 1 cimento da dignidade das crianças e dos adolescentes. Embora ainda
Qual foi o papel da igreja na fossem considerados objeto de direito, desenvolveu-se um tratamento
garantia de direitos das crianças com respeito. Esse fato ocorreu em virtude da influência da religião
e dos adolescentes?
cristã que cresceu durante esse período.

10 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


A Igreja Católica exerceu um papel importante nesta evolução,
pois foi pioneira no reconhecimento de direitos para as crianças,
defendendo à dignidade e atenuando o tratamento severo dado pe-
los pais aos filhos. Entretanto, também salientou o dever de respei-
to, como leciona o quarto mandamento bíblico: “honrar pai e mãe”
(AMIN; MACIEL, 2010).

Foi justamente nesse momento que surgiu a concepção assisten-


cialista. Com a influência da Igreja Católica, houve a criação de diversas
entidades com o objetivo de prestar auxílio aos vulneráveis e, entre
eles, às crianças que estavam em situação de marginalização.

No que tange aos tratados internacionais, nota-se uma importante


Leitura
evolução. No século XX foram criados diversos diplomas com o obje-
tivo de positivar uma especial proteção às pessoas em situações de A Declaração Universal dos
Direitos Humanos, proclamada
vulnerabilidade. A Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres na Assembleia Geral das Nações
e Crianças (1921) foi o primeiro diploma internacional que expressou a Unidas, em Paris, no dia 10 de
dezembro de 1948, estabeleceu,
tutela de crianças e adolescentes.
pela primeira vez na história, a
Em 1924, pela primeira vez, os direitos das crianças foram referen- proteção aos direitos humanos.
Desde então, uma série de
ciados na Declaração de Genebra. Em 1948, a Declaração Universal dos
tratados internacionais buscam
Direito Humanos implementou, além de diversas garantias fundamen- expandir a sua proteção e,
tais, a proteção à maternidade e a assistência social às crianças, inde- inclusive, diversas constituições
utilizam o seu escopo como
pendentemente de suas origens biológicas. Com isso, implementou-se inspiração. Recomendamos a
uma importante mudança na garantia dos direitos humanos. leitura integral do documento
que está disponível em: https://
Em 1946, foi criado o Fundo das Nações Unidas para a Infância www.ohchr.org/EN/UDHR/
(Unicef), agência das Nações Unidas que tem por objetivo promover a Pages/Language.aspx?LangI-
D=por. Acesso em: 9 jul. 2020.
defesa dos direitos das crianças. O Unicef, vale ressaltar, é a única or-
ganização destinada exclusivamente às crianças. Logo após, em 1959,
foram fixados diversos princípios basilares, com a aprovação do Unicef,
referentes à proteção dos direitos das crianças.
Site
No Brasil, levando em consideração a importante mudança no que
Você pode conhecer mais sobre
tange aos direitos da criança e do adolescente na esfera mundial, po- a atuação do Unicef em: https://
demos verificar que a evolução do conceito e dos direitos transcorreu www.unicef.org/brazil/o-que-
-fazemos. Acesso em: 9 jul.
em quatro importantes fases: 2020.

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 11


A primeira fase é conhecida como a fase da indiferença absoluta,
em que não havia a tutela dos direitos das crianças e adolescentes e
transcorreu até o início do século XVI.

Saiba mais Na história da colonização do Brasil, as crianças tiveram um papel


essencial na catequização dos índios pelos jesuítas. Como aprendiam
As Ordenações do Reino eram
normas, ordens e decisões de modo mais simples, os filhos educavam e catequizavam os pais. Por
portuguesas que, por muitos isso, as crianças receberam atenção especial dos colonizadores (AMIN;
anos, foram utilizadas pelo Brasil
MACIEL, 2010).
como até a formulação de uma
legislação própria. Neste momento, ainda se aplicavam as Ordenações do Reino, nas
quais o pai era considerado autoridade máxima na família. Assim, ele
tinha autoridade para castigar o filho da forma que entendesse melhor.
Logo, se o filho falecesse ou sofresse alguma lesão em decorrência do
castigo, era excluída a ilicitude da conduta (AMIN; MACIEL, 2010).

A segunda fase é conhecida como a fase da mera imputação penal,


momento que foram implementadas punições para as condutas
praticadas por crianças e adolescentes, período ocorrido entre o século
XVI até o Código de Menores, de 1979.

Foi neste momento que surgiu a preocupação com os infratores


menores de idade e uma política repressiva que se baseava no temor
das penas. Nas Ordenações Filipinas – parte das Ordenações do Reino
de Portugal, utilizada como legislação no Brasil até 1870 –, aos 7 anos
de idade, era alcançada a imputabilidade penal; entre 7 e 17 anos, apli-
cava-se um tratamento semelhante ao do adulto com atenuação na
aplicação da pena; e, dos 17 aos 21 anos, considerava-se jovens adul-
tos, os quais poderiam sofrer a pena de morte natural. O crime de
Glossário
falsificação era uma exceção e se aplicava a pena de morte a partir dos
Pena de morte natural: pre- 14 anos de idade (AMIN; MACIEL, 2010).
vista nas Ordenações Filipinas,
era a morte após a sentença por Séculos adiante, mais precisamente em 1830, o Código Penal do Im-
enforcamento. pério foi alterado, incluindo o exame de capacidade de discernimento
Inimputável: que não se
para a aplicação de penas. As pessoas com menos de 14 anos foram
pode imputar, isto é, atribuir
responsabilidade. consideradas inimputáveis.

Na primeira metade do século XX, as crianças e os adolescentes co-


meçaram a receber tutela do Estado. Neste momento, entrou em vigor
o Código Civil de 1916 e o Decreto n. 17.943-A de 1927, conhecido como

12 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


o primeiro Código de Menores do Brasil. Ressalta-se que esse diploma 1
legal resguardava apenas aqueles que se encontravam em situação O art. 26 considerava
abandonado o menor: que
irregular (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017). Os menores considerados abando-
1 2
não tinha habitação certa, nem
nados ou delinquentes eram distinguidos dos demais de maneira meios de subsistência; com
discriminatória. responsável impossibilitado
ou incapaz de cumprir os seus
Em 1948, como já mencionado, a Declaração Universal dos Direitos deveres; responsáveis com
Humanos reconheceu a dignidade a todos os membros da família, ga- prática de atos contrários à
moral e aos bons costumes;
rantindo direitos iguais e inalienáveis. Foi assegurada a igualdade de aquele em estado de vadiagem,
tratamento perante a lei, os cuidados necessários à infância e o trata- mendicidade ou libertinagem;
mento igualitário aos filhos independentemente da sua origem, dentre que frequentava lugares de jogo
ou de moralidade duvidosa, ou
outras garantias previstas (LIMA; POLI; JOSÉ, 2017). andasse em má companhia; que
se encontrava em situação de
crueldade, abuso, negligência,
A terceira fase é denominada como a fase da tutela. Este momento
maus tratos ou exploração;
é caracterizado pela proteção por meio de assistencialismo e práticas
empregado em ocupações
segregatórias de crianças e adolescentes em situação irregular, essa
proibidas ou contrarias à moral
situação se estendeu desde a edição do Código de Menores de 1979 até
e aos bons costumes; excitado
a Constituição de 1988. A proteção assistencialista tinha como prática
para a gatunice, mendicidade ou
rotineira a retirada do menor do seio familiar e a sua colocação na
libertinagem; com responsável
instituição. Essas crianças e adolescentes eram segregados das demais,
condenado por sentença irrecor-
que permaneciam no seio familiar.
rível e encobridor ou receptador
de crime cometido.
A partir do Código de Menores de 1979, instalou-se a teoria da
situação irregular que ainda mantinha o conceito de marginalidade. 2
Embora considerasse a criança e o adolescente como incapazes de O art. 28 do considerava vadio o
responder por seus atos, considerava perigosos os menores que ti- menor que: resistente a receber
nham propensão à delinquência e, em algumas situações, inclusive, instrução ou entregar-se a
trabalho sério e útil, vagando
os provenientes de famílias carentes. Os menores nessas circunstân- habitualmente pelas ruas;
cias eram considerados como “menores em situação irregular” (LIMA; deixado sem causa legítima
o domicilio do pai, mãe ou
POLI; JOSÉ, 2017, p. 324).
tutor, não tendo domicílio nem
Livro alguém por si. Os mendigos
eram os que habitualmente
A obra Capitães de areia – clássico do escritor
pedem esmola para si ou para
baiano Jorge Amado (1912-2001), publicado pela
primeira vez no ano de 1937 – retrata o dia a dia
outrem. Por fim, os libertinos
de meninos de rua abandonados e marginalizados eram os que perseguiam ou
na cidade de Salvador. Ao ler a obra, é interessante convidavam para a prática de
notar o cotidiano das crianças e adolescentes que atos obscenos; entregam-se
viviam em situação de vulnerabilidade durante o à prostituição em seu próprio
período que vigorava a teoria da situação irregular. domicílio, vivem em casa de
AMADO, J. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. prostituição, ou frequentam casa
de tolerância; praticantes de
atos obscenos ou que vivem da
prostituição de outrem.

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 13


A quarta e atual fase é a da proteção integral, a qual considera
as crianças e os adolescentes como sujeito de direitos e assegura,
em conjunto com o Estado, sociedade e família, esses direitos como
prioridade absoluta. Essa fase teve início com a Constituição de 1988 e
perdura até os dias de hoje.

A Figura 1 a seguir sintetiza a evolução dessas quatro fases.

Figura 1
A evolução dos direitos da criança e do adolescente
Tutela
(do Código de
Indiferença absoluta Menores de 1979 até a
(até o início do século XVI) Constituição de 1988)

Mera imputação penal Proteção integral


(do século XVI até o (a partir da Constituição
Código de Menores de de 1988)
1979)

Fonte: Elaborada pela autora.

A evolução dos direitos da criança e do adolescente é um proces-


so que atravessou pelo menos quatro séculos. Após a Constituição
(1988), como veremos nas seções a seguir, houve uma importante
mudança com a aplicação do princípio da proteção integral. O objeti-
vo é garantir a proteção plena da criança e do adolescente indepen-
dentemente da situação.

1.2 A teoria da situação irregular


Vídeo Para o adequado estudo da evolução histórico-sociológica dos di-
reitos das crianças e dos adolescentes, é necessário primeiramente o
estudo da teoria da situação irregular, a qual vigorou no Brasil durante
anos e só foi superada com a atual Constituição e com a teoria da pro-
teção integral.

A primeira legislação sobre menores no Brasil é o Decreto n. 17.943-A,


também conhecido por Código Mello Matos (BRASIL, 1927). Nessa legis-
lação, foram implementadas algumas inovações no tratamento dado
aos menores infratores, e as decisões passaram a ser centralizadas na
figura do juiz de menores.

14 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Entretanto, ainda assim não se verificava o papel da família no de-
senvolvimento da criança e do adolescente. Nesse momento, era mais
importante proteger a sociedade dos infratores do que compreender o
motivo pelo qual os menores seguiam o caminho da marginalidade. Este
tipo de postura ficou conhecido como doutrina da situação irregular.

A política de proteção era voltada para a sociedade e não para a


recuperação dos menores, os quais eram retirados do seio de suas fa-
mílias. Com a influência da Igreja Católica, aos poucos, esses jovens
passaram a adquirir alguns direitos.

Durante esse período, o objetivo principal era deter o menor, uti-


lizando o regime de internações, com quebra dos vínculos familiares,
para não acarretar maiores danos à sociedade. Na Constituição de 1937,
houve a criação de programas de assistência social, o que ampliou a
proteção às crianças e aos adolescentes infratores e desfavorecidos.

Anos após, já durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), o pro-


gresso foi interrompido e muitos dos institutos utilizados para a proteção
da infância e da juventude serviram para restringir ameaças e pressões
recebidas. Nesta época, a maioridade foi reduzida para 16 anos.

No Direito brasileiro, a teoria da situação irregular surgiu apenas de ma-


neira implícita no Código de Menores, influenciado pelo juiz Mello Mattos,
e foi positivada anos depois no Código de Menores de 1979.

Em razão da falta, ação ou omissão dos pais ou responsáveis, o menor


poderia ser privado de condições essenciais à sua subsistência. Os jovens
submetidos à situação irregular estavam descritos no artigo 2º como:
privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e ins-
trução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a)
falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta im-
possibilidade dos pais ou responsável para provê-las; II – vítima
de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou
responsável; III – em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de
modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b)
exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV – priva-
do de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos
pais ou responsável; V – Com desvio de conduta, em virtude de
grave inadaptação familiar ou comunitária; VI – autor de infração
penal. (BRASIL, 1979)

Com base nesse excerto, verifica-se que o Código de Menores prote-


gia aqueles que eram vítimas de maus-tratos e que estavam sujeitos a

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 15


perigo moral por se encontrarem em ambientes ou atividades
contrárias aos bons costumes. Ainda havia a hipótese que
o menor autor de infração penal apresentasse “desvio de
conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou
comunitária” (BRASIL, 1979).

Outra peculiaridade desse dispositivo foi a desig-


nação de um juiz de menores, ou seja, um juiz espe-
cializado para este tipo de processo. Entretanto, essa
prática resultou em uma segregação entre os próprios
menores, pois tanto aqueles que foram abandonados
AL
FA
TE
HP
quanto os que foram detidos iam para a mesma institui-
A L/
Shu
tt ersto
ck
ção: a Fundação Estadual do Menor (Febem). Atualmente,
A legislação a Febem não existe mais, ela foi substituída por fundações esta-
não encarava efetivamente duais que tem como objetivo o atendimento socioeducativo da crian-
as causas que geravam a
carência ou a delinquência, ça e do adolescente.
mas, sim, atia-se ao binômio
carência-delinquência. A O juiz de menores atuava apenas nos casos que envolviam menores
atuação do Estado se restringia em situação de delinquência ou abandono. Nas demais questões que
à consequência dos atos
praticados pelos menores ou envolvessem crianças e adolescentes, a competência era da Vara de
contra eles. 4
Família , que utilizava o Código Civil como fundamento legal. Havia
uma clara distinção entre as crianças e os adolescentes que estavam
4
sob os cuidados das suas famílias e aqueles abandonados e infratores.
Na justiça estadual, geralmente
existe uma vara especializada No modelo da teoria da situação irregular, é importante ressaltar,
em processos envolvendo não havia nenhuma preocupação em manter os vínculos familiares.
conflitos familiares.
Entendia-se que se a criança ou o adolescente chegou ao ponto de pre-
cisar do amparo do Código de Menores não eram necessários esforços
Atividade 2
para verificar e tentar manter os vínculos consanguíneos.
Quais eram as principais falhas
da teoria da situação irregular? Além disso, não havia uma garantia de direitos, mas, sim, uma atua-
ção nas consequências das atitudes. Portanto, essa política não era
voltada à educação do menor infrator ou à proteção do menor aban-
donado, ela serviria apenas para estabelecer medidas restritivas. O ob-
jetivo era a proteção da sociedade perante o menor, e não do menor
perante a situação em que ele se encontrava.
No ano de 1964, surgiu a Política Nacional do Bem-estar do Menor
(Pnbem), a qual contava com uma gestão centralizadora e verticalizada
para a atuação das Febem. Entretanto, era nítida a contradição entre
a prática e a técnica. Em alguns casos, a única opção para a tutela de
carentes e delinquentes era a internação, que gerava, na maior parte
das vezes, a segregação (AMIN, 2010).

16 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Deve-se ressaltar que a cultura da internação não distinguia infrato-
res de abandonados, pelo contrário, mantinham todos internados no
mesmo local. Não havia outra alternativa que não fosse a internação,
eram raras as situações em que o menor conseguia a colocação em
uma família substituta.

Em outras palavras, não havia uma política de atendimento efetivo


visando libertar a criança e o adolescente da condição em que se en-
contravam. Logo, suas dificuldades e necessidades não eram levadas
em consideração no sentido emancipador. Não era escopo do Estado
elevá-los à condição de cidadãos emancipados (SAUT, 2007).

É importante ressaltar que esse modelo se deu no Brasil mesmo após


os diversos tratados internacionais sobre direitos humanos, como a pró-
pria Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que garantiu
diversos direitos, inclusive a proteção da criança e do adolescente.

Entre o período da Declaração Universal dos Direitos do Humanos


de 1948 e a Constituição Federal de 1988, houve uma intensa mobili-
zação a fim de modificar o modelo de sistema jurídico restrito aos me-
nores abandonados ou em estado de delinquência. No Brasil, diversas
organizações populares nacionais e a pressão de organismos interna-
cionais, como o Unicef, tornaram o legislador constituinte sensível à
causa (AMIN, 2010). A Declaração dos Direitos Humanos destaca o con-
ceito de família como um núcleo natural e fundamental da sociedade
que tem direito à proteção da sociedade e do Estado (SAUT, 2007).

Importante
No cenário nacional, é possível verificar diversos diplomas que contemplam a prote-
ção da criança e do adolescente, como a Declaração de Genebra (1924), que, como
mencionado, foi o primeiro documento que trouxe a necessidade de proteção especial
à criança e ao adolescente; a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (1969)
e as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e
da Juventude – Regras Mínimas de Beijing (1985). Salienta-se que, em decorrência
desses diplomas legais, a teoria da situação irregular foi superada pela teoria da pro-
teção da criança e do adolescente (AMIN, 2010).
Outros importantes diplomas internacionais que tratam sobre direitos da criança e do
adolescente são: Direitos das Nações Unidas para a prevenção da delinquência juve-
nil – Diretrizes de Riad (1990); Regras mínimas das Nações Unidas para proteção de
jovens privados de liberdade (1990); e Convenção das Nações Unidas sobre os direitos
das crianças – promulgada no Brasil pelo Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de
1990 (BRASIL, 1990).

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 17


Em decorrência dessa mudança de paradigma, houve, no Brasil,
uma importante mobilização nacional chamada Movimento Nacional dos
Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), a qual realizou, no ano de 1984, o
primeiro Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua. A intenção
era debater sobre questões relativas a crianças e adolescentes rotulados
como menores abandonados ou meninos de rua (AMIN, 2010).

Logo após, em 1986, a Comissão Nacional da Criança Constituin-


te surgiu com o objetivo de incluir direitos infanto-juvenis e reuniu
1 milhão e 200 mil assinaturas a fim de promover a sua emenda. Com
isso, a Comissão garantiu um intenso lobby para a inclusão dos respec-
tivos direitos na nova Constituição (AMIN, 2010, p. 8). Após esse intenso
movimento, deu-se o fim da teoria da situação irregular no Brasil, e o
início da teoria da proteção da criança e do adolescente.

Artigo

https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/1947/2017.

No artigo Entre a doutrina da situação irregular e a da proteção integral: o


conceito de vulnerabilidade e a aplicação de medidas socioeducativas a partir da
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, publicado na Revista Brasileira
de Direito (2018), Ana Paula Motta Costa, Sofia de Souza Lima Safi e Roberta
Silveira Pamplona desenvolvem uma importante análise da evolução da dou-
trina da situação irregular para a teoria da proteção integral. É importante
verificar que a análise se dá utilizando a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça.

Acesso em: 1 jul. 2020.

1.3 A teoria da proteção da criança


e do adolescente
Vídeo No Brasil, a doutrina da proteção integral da família teve, como mar-
co definitivo, a Constituição Federal de 1988. No ordenamento, está
referido no artigo 227:
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona-
lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel-
dade e opressão. (BRASIL, 1988)

18 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Desta maneira, foi rompido qualquer vestígio da teoria da situação
irregular e, a partir de então, todo o ordenamento jurídico se estru-
turou para garantir a proteção integral da criança e do adolescente.
Pode-se verificar que os direitos previstos devem ser assegurados com
absoluta prioridade e é necessário levar em consideração o desenvolvi-
mento da criança e do adolescente.

É importante ressaltar que a Constituição também garantiu impor-


tantes mudanças no que tange aos direitos humanos fundamentais.
Houve a implementação dos direitos fundamentais individuais, coleti-
vos e difusos.

Esse movimento se deu, embora atrasado, em consonância com o Saiba mais


cenário internacional. Em 20 de novembro de 1959, foi publicada a De- A Organização das Nações
claração dos Direitos das Crianças pela Organização das Nações Unidas Unidas é uma organização
intergovernamental que
(ONU), documento que originou a doutrina da proteção integral no âm- busca promover a cooperação
bito internacional e do qual o Brasil é signatário. internacional. A ONU tem como
objetivo promover a segurança
Na referida Convenção, a teoria da proteção integral apareceu pela e a paz mundial, ainda, busca
primeira vez, fundada em três pilares importantes: expandir os direitos humanos, o
desenvolvimento econômico, o
I. reconhecimento da tutela da proteção integral, tendo em vista progresso social, entre outros.
que a criança e o adolescente são pessoas em desenvolvimento;
II. o direito à convivência familiar; e
III. a obrigação das nações signatárias de assegurar os direitos da
Convenção com prioridade absoluta.

Em 1990, entrou em vigor o Decreto n. 99.710, que reconheceu a im-


portância do documento internacional e garantiu que a Convenção so-
bre os Direitos da Criança fosse executada e cumprida integralmente.

Após esse importante movimento no Brasil, seguindo a imple-


mentação da proteção jurídica da criança e do adolescente no cená-
rio internacional, houve a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), Lei n. 8.069, em 13 de julho de 1990. O estatuto
consolidou as importantes diretrizes da Constituição, com importante
proteção aos direitos humanos.

Assim, foram implementados alguns importantes conceitos, dentre


estes, direitos e garantias fundamentais da proteção da criança e do
adolescente. Ainda, é necessário destacar que a doutrina da proteção
integral é ligada diretamente ao princípio do melhor interesse da crian-
ça ou do adolescente (BARROS, 2019).

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 19


Filme Essa importante postura adotada pela Constituição, pelo Estatu-
to da Criança e do Adolescente e, posteriormente, pelo Código Civil
(BRASIL, 1988; 1990; 2002) prioriza sempre o melhor interesse da
criança. Isto se dá perante a sua família, o Estado e a sociedade em
que se encontra. Os diversos instrumentos protetivos implementados
buscam priorizar a situação da criança, ou do adolescente, para que
ela seja protegida.

O primeiro conceito positivado na Constituição e também no Estatuto


O filme Um sonho possível da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1988; 1990) foi o de criança. Com
(2009) retrata a vida de
um jovem que foi acolhi-
base na Convenção dos Direitos das Crianças (1990), considera-se criança
do pela família de Leigh todo ser humano com menos de 18 anos de idade. No ECA (art. 2º), temos
Anne Tuohy. A narrativa
retrata os problemas
a divisão dos conceitos de criança e de adolescente: criança é a pessoa até
que os jovens encontram 12 anos incompletos e adolescente pessoa entre 12 e 18 anos.
para a adoção com idade
avançada e a importância Como disposto no artigo 3º do ECA, todos os direitos fundamentais
do acolhimento na vida
de Michael Oher.
inerentes à pessoa humana devem ser gozados pelas crianças e ado-
lescentes. É importante observar que a proteção integral não pode ser
Direção: John Lee Hancock. Estados
Unidos: Alcon Entertainment; Fortis prejudicada e devem ser asseguradas todas as oportunidades e facili-
Films, 2009.
dades para garantir seu pleno desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social. Salienta-se que as garantias devem ser preservadas
em condições de liberdade e de dignidade.

Ainda nesse artigo, os direitos e garantias da criança e do adoles-


cente serão implementados sem prejuízo da proteção integral, a qual
não se esgota no estatuto. Em outras palavras, qualquer outro diploma
legal deverá preservar o pleno desenvolvimento e garantir a dignidade
da pessoa humana (BARROS, 2019).

A mudança de paradigma ensejou um novo modelo jurídico que


privilegia a dignidade da pessoa, decorrente da Constituição de 1988,
que deverá ser observado em todo o ordenamento jurídico brasileiro.
O tratamento adequado e digno das crianças e adolescentes deve ser
realizado por meio de políticas públicas.

Após anos de segregação dos menores infratores e abandonados,


o modelo de internação da Fundação Nacional do Bem-estar do Menor
(Funabem) já estava completamente desgastado e foi substituído pelo
Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência (CBIA) em 1990 (AMIN,
2010). Ocorreu, ainda, uma mudança terminológica em consonância
com a Constituição e os documentos internacionais: atualmente não se

20 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


utiliza o termo menor (considerado estigmatizado), mas, sim, os termos
criança e adolescente.

Com base no ECA, surgiram diversas políticas públicas a fim de pri-


vilegiar a proteção garantida na lei. Assim, imperou-se o princípio da
municipalização, tendo em vista que os municípios estão mais próxi-
mos da realidade das crianças e adolescentes. Com isso, há uma atua-
ção ativa do Ministério Público, do Poder Judiciário e dos Conselhos
Tutelares com o objetivo de proteção dos direitos das crianças e ado-
lescentes. Há a preocupação, ainda, com os vínculos familiares, tentan-
do restaurá-los sempre que possível.

O surgimento do ECA rompeu com diversos paradigmas da teoria


da situação irregular. Vale mencionar que o sistema atual busca cons-
tantemente educar e proteger o jovem em situação de vulnerabilidade.
As crianças que estão em situação de vulnerabilidade e necessitam de
amparo se sujeitarão às medidas de proteção, já os adolescentes que
praticarem atos infracionais estão sujeitos às medidas socioeducativas.
A intervenção judicial acontecerá em determinadas hipóteses.

O objetivo principal da teoria da proteção integral é assegurar os Atividade 3


direitos fundamentais previstos na Constituição. Para tanto, deve ser “Qual a principal mudança que
a teoria da proteção integral
levado em consideração que a infância e a juventude é um período de
trouxe no tratamento da criança
desenvolvimento do ser humano. Do mesmo modo, é dever da famí- e do adolescente? Justifique sua
lia preservar o desenvolvimento, entretanto, ressalta-se que a comu- resposta”.
nidade, a sociedade e o poder público possuem importante papel
nessa proteção.

Outra importante mudança decorrente da teo-

ProStockStudio/Shutterstock
ria da proteção integral é a atuação
do Estado, pois gerou-se autorida-
de estatal para garantir a proteção
dos direitos, agindo como um dos
protagonistas. Foram desenvol-
vidas diversas políticas públicas
fundamentais, sobretudo na cria-
ção de órgãos e instâncias com
atribuições definidas. Entretanto, é
necessário enfatizar que é dever da
família e do poder público priorizar
a criança e o adolescente. Todos que estiverem próximo da criança e do adolescente e verificarem
alguma violação aos seus direitos fundamentais devem alertar a autoridade
competente.

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 21


Conforme o artigo 4º do ECA, a garantia de prioridade absoluta
compreende:
a. primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias;
b. precedência de atendimento nos serviços públicos ou de rele-
vância pública;
c. preferência na formulação e na execução das políticas sociais
públicas;
d. destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relaciona-
das com a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, 1990)

A criança e o adolescente terão prioridade no atendimento em caso


de proteção e socorro, bem como nas políticas sociais públicas. As po-
líticas sociais deverão atuar de maneira prioritária no desenvolvimento
infanto-juvenil e os recursos públicos terão destinação privilegiada à
sua proteção efetiva.

Como exemplo de aplicação da garantia da prioridade absoluta, po-


de-se constatar que, em situação de urgência, caso só haja um leito
no hospital, entre atender um adulto ou uma criança, a criança será
atendida antes. Evidentemente que, nesse caso, é necessário verificar
a urgência do atendimento, se o adulto tiver um risco elevado de morte
e a criança não, ele será atendido antes.

O Quadro 1 elenca as principais mudanças decorrentes da evolução


histórico-sociológica da infância e da adolescência:

Quadro 1
Teoria da situação irregular e teoria da proteção integral: principais mudanças

Código de Menores Estatuto da Criança e do Adolescente

Doutrina Situação irregular Proteção integral

Início 1927 e positivado em 1979 Constituição Federal de 1988

X
Atuação Agia nas consequências Age nas causas

Não havia preocupação com Tentativa de manutenção dos vínculos


Família
os vínculos familiares familiares

Fonte: Elaborado pela autora.

22 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


O processo de evolução dos direitos das crianças e adolescentes
passou por constantes alterações ao longo dos séculos. A principal e
mais importante mudança se deu com a teoria da proteção integral
implementada pela Constituição. Atualmente, a proteção deve ser im-
plementada sempre observando o pleno desenvolvimento e com prio-
ridade absoluta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foi possível conhecer a evolução dos conceitos de
criança e de adolescente. De objeto considerado propriedade dos pais,
com absoluta indiferença, passou-se para a noção de mera imputação
penal dos infratores, em seguida, para a ideia de tutela assistencial e, por
fim, chegou-se ao conceito atual de sujeito de direitos. Foi possível verificar
que os papéis do Estado, da sociedade e, inclusive, da família mudaram.
No Brasil, tivemos alguns diplomas legais referentes aos direitos da in-
fância e da juventude, entretanto, nem sempre em consonância com os
diplomas internacionais. Com isso, surgiu o Código de Menores de 1927,
o qual centrava forças no destino dos menores infratores. Já, no ano de
1979, o Código de Menores tinha como objeto de proteção as vítimas
de maus tratos e positivou efetivamente a teoria da situação irregular.
A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de
1990 trouxeram a noção de proteção integral.
A teoria da proteção integral é baseada em dois importantes funda-
mentos: a prioridade absoluta e o pleno desenvolvimento da criança e do
adolescente. Ela envolve todas as questões em que interesses e direitos
estejam envolvidos, sempre observando com prioridade o melhor inte-
resse da criança e do adolescente, inclusive perante a família, o Estado e
a sociedade.

REFERÊNCIAS
AMIN, A. R.; MACIEL, K. R. F. L. A. (coord.). Curso de Direito da Criança e do Adolescente:
aspectos teóricos e práticos. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Saraiva: 2010.
BARROS, G. F. de M. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei 8.069/90. 13. ed. rev. atual. e
ampl. Salvador: Editora JusPodivm. 2019.
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5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 22 jun. 2020.
BRASIL. Convenção Americana de Direitos Humanos (1969). Disponível em: http://www.
pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm. Acesso em: 7
jul. 2020.

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 23


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br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-
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www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm. Acesso em: 6 jul. 2020.
COSTA, A. P. M. C.; SAFI, S. de S. L. S.; PAMPLONA, R. S. Entre a doutrina da situação
irregular e a da proteção integral: o conceito de vulnerabilidade e a aplicação de medidas
socioeducativas a partir da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Revista Brasileira
de Direito, Passo Fundo, v. 14, n. 3, p. 55-75, set./dez. 2018. ISSN 2238-0604
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furb.br/ojs/index.php/juridica/article/viewFile/441/400. Acesso em: 22 jun. 2020.

24 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


GABARITO
1. A Igreja Católica tem um importante papel na evolução dos direitos das crianças e dos
adolescentes, pois iniciou a garantia de proteção à família e à dignidade ao amparar
aqueles que estavam em situação de vulnerabilidade e pregar proteção aos que estão
com as famílias. Isso ocorreu inclusive por meio dos 10 mandamentos bíblicos, que
salientou o dever de respeito entre os entes familiares.

2. Umas das principais falhas da teoria da situação irregular era a segregação das crian-
ças e adolescentes que necessitavam de acolhimento institucional, e a discriminação
entre crianças e adolescentes que estavam em situação de marginalidade.

3. A principal mudança que a teoria da proteção integral trouxe para o tratamento das
crianças e dos adolescentes é a de que os direitos previstos devem ser assegurados
com absoluta prioridade. Portanto, é necessário levar em consideração o seu pleno
desenvolvimento.

Evolução histórico-sociológica da infância e da adolescência 25


2
Direitos fundamentais da
criança e do adolescente
Neste capítulo, vamos desenvolver o estudo dos direitos funda-
mentais da criança e do adolescente. A Constituição Federal esta-
beleceu – pela primeira vez, no ordenamento jurídico brasileiro – a
especial proteção. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
positivou essas garantias visando o pleno desenvolvimento.
A evolução da proteção da criança e do adolescente se deu
após o rompimento da doutrina da situação irregular do menor,
que estava em vigor desde o Código de Menores de 1927. Com
isso, verificamos o surgimento da responsabilidade em conjunto
com o Estado, a sociedade e a família na proteção e na garantia do
pleno desenvolvimento dos indivíduos em formação.
Observamos, também, a necessidade de diálogo e de trabalho
juntamente com todos os agentes envolvidos na educação da crian-
ça e do adolescente, tendo em vista a sua importância para a forma-
ção de novos indivíduos na sociedade. Portanto, é imprescindível a
atenção plena e efetiva na sua proteção e no seu desenvolvimento.

2.1 Proteção constitucional da


criança e do adolescente
Vídeo
A Constituição alterou significativamente o ordenamento jurídico
brasileiro. Surgido após a ditadura militar, esse documento é um marco
no que tange às garantias e aos direitos fundamentais no Brasil. Com
ele, diversos princípios foram implementados e, entre eles, um dos
Importante
mais importantes é o da dignidade da pessoa humana. Esse princípio
Neste capítulo, toda a nossa dis-
deve ser aplicado a todos os indivíduos da sociedade, em todas esferas,
cussão é voltada ao documento
constitucional atual, de 5 de e, inclusive, às crianças e aos adolescentes.
outubro de 1988.

26 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


O atual diploma constitucional tem um importante papel em relação
aos direitos das crianças e dos adolescentes. Por meio da constituinte,
em que foi determinada a forma de criação da Constituição, deu-se
a positivação da teoria da proteção integral. Essa doutrina é uma im-
portante conquista para o direito brasileiro, tendo em vista que já era
garantida pelos diplomas internacionais. Com isso, determinou-se que Saiba mais

é dever do Estado brasileiro, da sociedade e da família a proteção ple- A Assembleia Nacional Consti-
tuinte é o órgão colegiado que
na, com absoluta prioridade da criança e do adolescente, por meio da
tem a função de redigir a nova
proteção constitucional. constituição. No Brasil, a última
constituinte foi a de 1987.
A doutrina da proteção integral substituiu a doutrina da situação
irregular, a qual vigorava oficialmente desde o Código de Menores, de
1979, mas já estava subentendida no Código Mello Matos, de 1927.
Atividade 1
Além da alteração no documento, houve uma mudança de paradigma:
Qual foi a principal mudança
a doutrina anterior era restrita aos menores infratores e àqueles em
implementada pela atual Cons-
situação de perigo, já a Constituição de 1988 estabelece uma proteção tituição na proteção da criança
plena a todos os indivíduos em desenvolvimento. e do adolescente? De quem é a
responsabilidade sobre isso?
O rompimento do antigo modelo de proteção do menor foi importante,
pois absorveu os valores da Convenção dos Direitos das Crianças (UNICEF,
1990) e ampliou a atuação. De um direito restrito aos menores que neces-
sitavam de atenção, tendo em vista as suas condições de vulnerabilidade
e marginalidade, passou-se para a garantia de um direito da criança e do
adolescente de maneira ampla, universal e exigível (AMIN, 2010).

A família é considerada a base da sociedade e, portanto, há pro- Importante


teção especial do Estado, conforme disciplina o artigo 226 da Consti- Neste capítulo, toda a nossa
discussão é voltada ao Código
tuição (BRASIL, 1988). Entretanto, por conta do superior interesse pela
Civil atual, de 10 de janeiro de
criança e a sua prioridade absoluta, em alguns momentos é necessária 2002.
a intervenção do Estado no seio familiar. O Código Civil (2002) também
determina o importante papel da família na formação do indivíduo.

No artigo 227 da Constituição, podemos perceber que:


é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona-
lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel-
dade e opressão. (BRASIL, 1988)

Com a análise desse excerto, é possível compreender que tudo que é


necessário para o pleno desenvolvimento do indivíduo deve ser assegura-

Direitos fundamentais da criança e do adolescente 27


Importante do. Assim, foram elencados, de maneira particular, os direitos fundamen-
Quando mencionamos o Estatuto tais necessários à formação da criança e do adolescente – esses direitos
da Criança e do Adolescente, nos ainda foram positivados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
referimos à lei n. 8.069, de 13 de
julho de 1990. Além disso, a lei n. 8.069 põe a salvo que nenhuma criança ou ado-
lescente será objeto de negligência, discriminação, exploração, violên-
cia, crueldade e opressão, conforme estabelece o artigo 5º (BRASIL,
1990). Deverão ser observados os direitos e deveres individuais e cole-
tivos, preservando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,
como determina o artigo 6º. Assim, pode-se verificar que a criança e o
adolescente deverão ser protegidos em todos os sentidos.

No parágrafo 4º, do artigo 227, da Constituição (BRASIL, 1988), verifi-


Glossário ca-se a implicação de normas punitivas para qualquer forma de abuso,
lei infraconstitucional: qual- violência ou exploração sexual da criança e do adolescente. A lei infra-
quer lei que não está incluída na
constitucional se encarrega de tipificar, especificamente, cada conduta
Constituição Federal e que não
possui status constitucional. que deverá ser punida. Essas tipificações estão dispostas no Código Penal,
na Lei Maria da Penha (BRASIL, 1940; 2006) e em outros dispositivos legais.

Na Constituição, é possível constatar diversos aspectos de proteção,


como os dispostos no artigo 227, no seu parágrafo 3º:
I – idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho,
observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
II – garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III – garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à
escola;
IV – garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de
ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar
específica;
V – obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade
e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,
quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
VI – estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica,
incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimen-
to, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou
abandonado;
VII – programas de prevenção e atendimento especializado à
criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecen-
tes e drogas afins. (BRASIL, 1988)

Observa-se que, para fins de trabalho, há proteção constitucional e


proibição do trabalho infantil, com exceção apenas dos casos de menor

28 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


aprendiz, que deverão seguir regulamentação específica. Ainda, nas hi-
póteses em que é possível o trabalho, após os 14 anos de idade, devem
ser afirmados os direitos trabalhistas e previdenciários e a proteção do
direito à educação, assegurando, portanto, o acesso à escola, indepen-
dentemente da atividade laboral.

Isso significa dizer que, nas hipóteses em que o adolescente tra-


balha, deve-se garantir o acesso à educação no turno oposto, ainda 2
que seja necessário o ensino noturno, como dispõe o artigo 208, VI, da
2
“Oferta de ensino noturno
Constituição . Assim, nas situações em que o adolescente trabalha ao regular, adequado às condições
longo do dia e precisa frequentar a escola durante o período da noite, do educando” (BRASIL, 1988).
deve ser assegurado o acesso à educação.
Glossário
Nas hipóteses de ato infracional da criança e do adolescente, é
possível verificar uma mudança de comportamento da legislação bra- ato infracional: conduta des-
crita como crime ou contravenção
sileira em decorrência da atual Constituição. Antes, nos casos de in- penal, isto é, todos os atos consi-
fração, o menor era submetido ao acolhimento institucional, de modo derados crimes ou contravenção
a retirá-lo da sociedade. Atualmente, devem ser assegurados o pleno penal pela legislação, desde que
praticados por menores de 18
conhecimento da atribuição do ato infracional, a igualdade na relação anos (BRASIL, 1990).
processual e a defesa técnica por profissional habilitado.

Desse modo, mesmo nos casos em que é necessária a medida priva-


tiva de liberdade, garante-se a obediência aos princípios da brevidade
e, de suma importância, a observância e o respeito da condição pecu-
liar de pessoa em desenvolvimento do infrator. No ECA, há previsão es-
pecífica nesse sentido, pois dispõe de que maneira serão determinadas
as medidas em relação aos atos infracionais praticados por crianças e
adolescentes. Salienta-se que qualquer medida será tomada observan-
do a dignidade da pessoa humana.

Nas hipóteses em que é necessário o acolhimento da criança e do


adolescente, o Poder Público deverá incentivar o seu cuidado sob a for-
ma de guarda. O estímulo poderá ser realizado por meio de incentivos
fiscais e subsídios, no formato da lei.

Nos casos em que há uma dependência química de entorpecentes


ou drogas, o jovem, a criança ou o adolescente receberão atendimento
diferenciado em programas de prevenção. Portanto, sempre que hou-
ver uma pessoa em formação nessa situação, é preciso lhe dar uma
atenção especial, visando a sua proteção.

A Constituição ainda estabelece, como forma de proteção da criança


e do adolescente, as promoções de programas de assistência integral

Direitos fundamentais da criança e do adolescente 29


da saúde, principalmente nos percentuais de recursos públicos, que
serão destinados à saúde materno-infantil e aos programas de atendi-
mento às pessoas com deficiência.

No que tange aos jovens, o diploma constitucional estabelece que se-


rão determinados por lei o Estatuto da Juventude e o Plano Nacional da Ju-
ventude (BRASIL, 2013; 2018), os quais deverão ser articulados por todas
as esferas do Poder Público, como disposto no artigo 227 da Constituição.

Ainda, verifica-se que a Constituição (1988) e, consequentemente,


todas as normas infraconstitucionais que estão no ordenamento ju-
rídico brasileiro devem preservar o princípio do melhor interesse da
criança e do adolescente. Desse modo, toda e qualquer decisão envol-
vendo essa faixa etária sempre será determinada de modo a preservar
os seus interesses da melhor forma possível. Isso se aplica, inclusive,
no seio familiar e em detrimento aos interesses dos seus genitores.

Vídeo Esse princípio também está disposto no ECA, em seu artigo 4º:
O vídeo 29 anos do ECA | é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
Conexão, publicado pelo
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
Canal Futura, discorre
sobre os avanços e as dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educa-
conquistas obtidas com ção, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à digni-
o Estatuto da Criança e dade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
do Adolescente (ECA) nos
comunitária. (BRASIL, 1990)
últimos 29 anos.

Disponível em: https:// Como mencionado, a Constituição trouxe uma importante mudan-
www.youtube.com/
ça na proteção da criança e do adolescente. A doutrina da proteção
watch?v=Fy5nkC638oA. Acesso
em: 13 jul. 2020. integral e a inclusão de diversos direitos foram implementadas a fim de
preservar a condição de pessoa em desenvolvimento.
ESB Professional/Shutterstock
Com isso, houve a implementação de
diversos direitos fundamentais da
pessoa humana, incluindo-se os
da criança e do adolescente,
os quais serão discutidos na
próxima seção.

Em todas as esferas, deve ser


preservado o interesse com absoluta
prioridade da criança e do adolescente.

30 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


2.2 Direitos fundamentais
Vídeo São considerados direitos fundamentais aqueles inerentes a todos
os seres humanos. Atualmente, estão previstos na Declaração Universal
dos Direitos Humanos (ONU, 2009) e afirmados na Constituição (BRASIL,
1988). Esses direitos são oponíveis ao Estado, com a
Glossário
sua atuação limitada e condicionada (AMIN, 2010).
oponível: “passível de se opor
Os direitos fundamentais podem ser classificados ou de funcionar em oposição”
em gerações ou dimensões. Os direitos de primeira (HOUAISS, 2009).
geração são os individuais e coletivos, assegurados
no artigo 5º da Constituição, por exemplo, o direito à
liberdade. Os direitos de segunda geração se referem aos direitos so-
ciais, elencados nos artigos 6º e 7º da Constituição, como o direito à
educação. Por fim, os direitos de terceira geração são os direitos difu-
sos, dispostos ao longo do documento, como é o caso do direito ao
meio ambiente (BRASIL, 1988).
No que tange à proteção da criança e do adolescente, os direitos so-
ciais são de suma importância, pois são aqueles que o Estado deve asse-
gurar, tais como: o direito à vida, à educação, ao lazer, à alimentação, à
saúde, à cultura, ao respeito, à dignidade e à convivência familiar e comu-
nitária. É importante salientar que os direitos funda-
mentais são de aplicação imediata, como estabelece o
Livro
artigo 227 da Constituição.
Ainda, os direitos fundamentais, assegurados na
Constituição e estabelecidos no ECA, são de respon-
sabilidade do Estado, da família e da sociedade. Nes-
se sentido, todos possuem o encargo de proteção de
seus direitos. Nas situações de afronta, devem ser
encaminhadas as medidas necessárias, levando sem-
Na obra A eficácia dos
pre em consideração o melhor interesse da criança e direitos fundamentais:
do adolescente. uma teoria geral dos
direitos fundamentais na
Os direitos fundamentais também estão dispos- perspectiva constitucional,
Ingo Sarlet realiza um
tos no ECA, mais especificamente entre os artigos 7º
estudo aprofundado dos
e 69º, livro I, título II (BRASIL, 1990). Nele, estão elen- direitos fundamentais
na perspectiva da atual
cados detalhadamente o direito à vida e à saúde, à
Constituição Federal.
liberdade, ao respeito e à dignidade, à convivência
SARLET, I. 13. ed. Porto Alegre:
familiar e comunitária, à educação, à cultura, ao es- Livraria do Advogado, 2018.
porte e ao lazer e à profissionalização e à proteção
ao trabalho.

Direitos fundamentais da criança e do adolescente 31


O direito à vida pode ser considerado como o mais fundamental
e absoluto de todos, pois sem ele não é possível exercer todos os de-
mais. Esse direito significa viver com dignidade e não, simplesmente,
sobreviver.

O direito à saúde não diz respeito apenas à ausência de doenças,


mas, sim, ao bem-estar físico, mental e social (AMIN, 2010). É dever da
família o cuidado com a saúde da criança e do adolescente, garantindo
uma vida saudável. No ECA, o direito à vida e à saúde está disposto no
artigo 7º e, por meio de políticas sociais públicas, deve garantir condi-
ções dignas de existência, para que sejam permitidos o nascimento e
o desenvolvimento sadio e harmonioso da criança e do adolescente.

O Poder Público é obrigado a garantir a tutela daqueles que ainda


não nasceram e que não têm amparo suficiente, como nos casos em
Site
que a família não possui condições financeiras ou não desejam manter
O SUS é um sistema
inovador, que abrange o filho em sua companhia. Nesse contexto, verificamos que o ECA esta-
desde o atendimento belece, em seu artigo 8º, o apoio à mulher e à gestante.
mais simples até cirurgias
mais complexas. O Brasil, Foi por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) que o Brasil imple-
no que tange à saúde,
pode ser considerado mentou o acesso à política de saúde. Qualquer gestante tem acesso à
uma referência mundial. nutrição adequada, à atenção humanizada à gravidez, ao atendimento
Você pode conhecer mais
sobre isso no site do pré-natal, perinatal e pós-natal, ao parto e ao puerpério (NUCCI, 2018).
Ministério da Saúde.
Ainda, nos artigos 9º e 10º do ECA, verifica-se o amparo ao aleita-
Disponível em: http://www.saude.
gov.br/sistema-unico-de-saude. mento materno, inclusive nos casos de pena privativa de liberdade, e
Acesso em: 13 jul. 2020. as obrigações inerentes aos hospitais e estabelecimentos de atenção à
saúde da gestante (BRASIL, 1990). Toda a proteção à gestante é deter-
3
minada no ECA, pois é uma garantia do direito à vida do nascituro .
3 A proteção à vida também é realizada nas hipóteses de interferên-
O ser humano concebido, cia do Estado no seio familiar, como nas situações de castigo físico, de
que ainda está em gestação, tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos, conforme o artigo
é chamado de nascituro. O nasci-
turo ainda não é considerado 13 do ECA (BRASIL, 1990). Esses casos deverão ser encaminhados ao
uma pessoa natural; contudo, Conselho Tutelar e poderão ser aplicadas outras providencias legais.
a legislação brasileira adota a
teoria natalista para determinar Em relação ao direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, verifica-
o início da personalidade jurí- -se que, conforme define o artigo 15 do ECA, a criança e o adolescente
dica. Portanto, existem direitos
preservados ao nascituro antes devem ser tratados como pessoas humanas em processo de desenvol-
do seu nascimento com vida. vimento. Além disso, eles devem ser entendidos como sujeitos de direi-
tos civis, humanos e sociais, os quais estão garantidos na Constituição
Federal (1988) e nos demais dispositivos legais.

32 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


O direito à liberdade pode ser compreendido, conforme o artigo 16
(BRASIL, 1990), como:
I. ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários,
ressalvadas as restrições legais;
II. opinião e expressão;
III. crença e culto religioso;
IV. brincar, praticar esportes e divertir-se;
V. participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI. participar da vida política, na forma da lei;
VII. buscar refúgio, auxílio e orientação.

Em linhas gerais, o excerto ressalta que deve ser assegurada a li-


berdade de se desenvolver de maneira plena, expandido as suas ca-
pacidades individuais.
O direito ao respeito, como estabelecido no ECA em seu artigo 17, Glossário
é a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e inviolabilidade: qualidade ou
do adolescente. Para tanto, é necessário, ainda, preservar sua imagem, caráter do que é inviolável.
sua identidade, sua autonomia de valores, suas ideias e crenças, seus
espaços e seus objetos pessoais.
Esse direito não é reproduzido para os maiores de 18 anos e trata- Saiba mais
-se de uma novidade em matéria de direitos individuais (NUCCI, 2018).
A família substituta é aquela
Pode-se verificar que o direito ao respeito é considerado de maneira que ficará com a guarda, tutela
ampla, visando a garantia do seu desenvolvimento, com base em seus ou adoção da criança ou do
valores e suas vontades. adolescente que não tem
condições de ficar com seus pais
A criança e o adolescente têm o direito de serem criados e educados e, tampouco, com a sua família
no seio da sua família, assim como elenca o artigo 19 do ECA (BRASIL, extensa, biológica.
1990), que está em consonância com o dispositivo 229 da Constituição
(1988). Ambos defendem que a convivência entre pais e filhos deve ser
assegurada para garantir seu pleno desenvolvimento. Ressalta-se que,
apenas de modo excepcional, é possível retirar os filhos da convivência
com os pais para colocá-los em uma família substituta.
Com base na Constituição, no artigo 227, parágrafo 6º, os filhos
serão tratados da mesma forma, independentemente da sua origem.
Nessa mesma direção, o ECA, em seu artigo 20, afirma que os filhos
havidos ou não do casamento ou por adoção terão os mesmos direitos
Atividade 2
e qualificações – portanto, é proibido o tratamento discriminatório.
Qual é o papel da família na
Outra importante mudança que decorre da Constituição e foi imple- garantia dos direitos da criança
e do adolescente? É possível a
mentada pelo ECA, em seu artigo 20, é a condição de igualdade entre os
intervenção do Estado no seio
sexos e, no caso da família, entre o pai e a mãe, definindo que ambos familiar?
exercem, em condições de igualdade, o poder familiar (BRASIL, 1990).

Direitos fundamentais da criança e do adolescente 33


Ainda, qualquer divergência será solucionada pela autoridade judiciá-
ria. Na falta de qualquer um deles, poderá ser determinado o seu
cumprimento por determinações jurídicas. Igualmente, visto
que a responsabilidade dos genitores sobre seus descenden-
GoodStudio/Shutterstock

tes é compartilhada, inclusive o cuidado e a educação, ambos


têm o direito de transmitir as suas crenças e culturas, como esta-
belece o artigo 22, parágrafo único, do ECA (BRASIL, 1990). Portanto,
não é possível a interferência externa no que se refere aos costumes
de cada família – desde que, obviamente, esteja sendo resguardada
a dignidade da pessoa humana, principalmente dos filhos.

A legislação brasileira também prevê as hipóteses de perda


ou suspensão do poder familiar, elencadas de maneira clara no
Tendo em vista o importante Código Civil (2002), dispostas a seguir.
papel da família no
desenvolvimento da criança e Lei
do adolescente, é função dos
genitores garantir o sustento, a Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles ineren-
guarda e a educação dos seus tes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério
filhos menores. Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres,
até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe con-
denados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I. castigar imoderadamente o filho;
II. deixar o filho em abandono;
III. I praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV. incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
V. entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção.
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que:
I. praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar:
b. homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte,
quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou me-
nosprezo ou discriminação à condição de mulher;
c. estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão
IV. praticar contra filho, filha ou outro descendente:
a. homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte,
quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou me-
nosprezo ou discriminação à condição de mulher;
b. estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à
pena de reclusão.

34 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Entretanto, é importante salientar que não constitui motivo para a
perda ou suspensão do poder familiar a falta de recursos financeiros,
conforme dispõe o artigo 23 do ECA, pois não ter condições de susten-
tar não significa deixar em desamparo. Nessas situações, é possível o
amparo do Estado e de seus programas de assistência. Glossário
contraditório: é o direito
Os casos em que é possível retirar o filho do poder de seus genito-
a contraditar a acusação no
res envolvem situações de grave ameaça ou violação dos direitos fun- processo judicial. Consiste no
damentais. Como exemplo, podemos citar as ocorrências elencadas na direito à defesa de todos os
pontos suscitados na ação.
Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006), em que há violência doméstica tanto
em relação ao filho quanto em relação ao outro genitor. família extensa ou ampliada:
“aquela que se estende para
Diante das circunstâncias apresentadas, a retirada da criança ou além da unidade pais e filhos ou
do adolescente da sua família de origem será realizada apenas excep- da unidade do casal, formada por
parentes próximos com os quais a
cionalmente e em situações de extrema necessidade. O procedimento criança ou adolescente convive e
será realizado por via judicial, com a atuação do Ministério Público e mantém vínculos de afinidade e
afetividade” (BRASIL, 1990).
garantindo o contraditório e a ampla defesa dos genitores.

No que tange aos direitos fundamentais da criança e do adolescen-


te, podemos verificar que o ECA estabelece a atuação do Estado no Monkey Business Images/Shutterstock

seio da família natural e na atuação da família extensa e da


família substituta.

Por fim, é direito fundamental da criança e do adolescente


o acesso à profissionalização e à proteção no trabalho, sem-
pre garantindo a condição de pessoa em desenvolvimento.
Nas hipóteses de trabalho de menores de 18 anos, serão ob-
servados os dispostos no ECA e na Constituição.

O direito à profissionalização
da criança e do adolescente é
garantido por lei.

2.3 Direito à educação


Vídeo O direito à educação é considerado um direito fundamental social,
conforme estabelece a Constituição, artigo 227, caput:
é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissiona-
lização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda

Direitos fundamentais da criança e do adolescente 35


forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruel-
dade e opressão. (BRASIL, 1988)

Na leitura do excerto, verifica-se que o direito fundamental à educa-


ção é um dever compartilhado entre família, sociedade e Estado. Isso
se dá, como já mencionado, devido à condição de pessoa em desenvol-
vimento, da criança e do adolescente, e à importância da educação na
sua formação como indivíduo.

No ECA, o artigo 53 estabelece que, tendo em vista a importância da


educação para o exercício da cidadania e para a qualificação ao traba-
lho, é necessário garantir:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às
instâncias escolares superiores;
IV – direito de organização e participação em entidades
estudantis;
V– acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência,
garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação bá-
sica. (BRASIL, 1990)

O ECA estabelece relevantes proteções no que se refere ao direito à


educação da criança e do adolescente. O acesso e a permanência na es-
cola significam a obrigatoriedade do ensino gratuito em todos os níveis,
incluindo o ensino fundamental. É importante, portanto, uma política
pública efetiva, com foco na garantia do acesso à educação para todas
as crianças e todos os adolescentes.

Alguns governos utilizam a política educacional denominada pro-


gressão continuada, constituída por ciclos de ensino, com o objetivo de
manter o aluno na escola por meio de anos; no caso do insucesso do
estudante, ele não irá reprovar, mas, sim, fazer a recuperação por meio
de aulas extras (NUCCI, 2018).

No que diz respeito aos educadores, o ECA afirma que o aluno não
pode ser destratado pelo professor em hipótese alguma. O mesmo se
aplica aos dirigentes da instituição de ensino, que devem tratar todos
os alunos com dignidade e respeito. Entretanto, é importante ressaltar
que o direito ao respeito é uma via de mão dupla e, por isso, os educa-
dores também devem ser respeitados pelos alunos e famílias.

36 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Na sequência, é observado o direito de contestar os critérios avaliati-
Glossário
vos. Esse dispositivo significa que não é permitida a discricionariedade
abusiva nas avaliações escolares (NUCCI, 2018). Porém, salienta-se que discricionariedade: agir de
maneira livre, arbitrária.
isso não impede a liberdade de cátedra, assegurada aos profissionais
do ensino na Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), apenas compreen-
de a aplicação de critérios claros e lógicos nos padrões avaliativos.

Além disso, é assegurada a liberdade para organização e participa-


ção em entidades estudantis, ou seja, grêmios, diretórios ou centros
acadêmicos. Logo, desde que compatível com as regras de convivência
impostas pela instituição de ensino, é livre o funcionamento de entida-
des estudantis (NUCCI, 2018).

Destaca-se que o direito ao acesso à escola está disposto no inciso


Atividade 3
I e V do ECA (BRASIL, 1990); a sua promoção deve ser pública e gratuita
e próxima ao local de residência do aluno. Ainda, no caso do estudante No que se refere ao direito à
educação, o acesso deverá ser
possuir irmão(s), é necessário verificar se eles estão na mesma insti- realizado de que modo?
tuição de ensino, devendo garantir vaga para ambos no mesmo local.
Além disso, no que tange ao direito à educação, que o Estado deve
assegurar, conforme o artigo 54 do ECA:
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os
que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao en-
sino médio;
III – atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a
cinco anos de idade;
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do
adolescente trabalhador;
VII – atendimento no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimen-
tação e assistência à saúde. (BRASIL, 1990)

Desse modo, pode-se compreender que o Estado tem o dever de


garantir, efetivamente, todas as formas de educação, desde o ensino
fundamental, passando pelo ensino médio e chegando aos níveis mais
elevados de ensino. Entretanto, os atendimentos em creche e pré-esco-
la também são de sua responsabilidade, bem como no ensino noturno
regular, visando à adaptação aos horários de trabalho do adolescente.

Direitos fundamentais da criança e do adolescente 37


Ressalva-se, ainda, que é de responsabilidade do Estado o apoio
com material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde,
ou seja, ele deve suprir todas as necessidades do aluno, para que não
haja empecilhos no acesso ao estudo.

No estudo do direito à educação, é importante a leitura do ECA em


conjunto com a Lei de Diretrizes e Bases. Na LDB, estão previstos os pro-
cessos formativos, os princípios e os fins da educação nacional. Assim,
deve-se seguir os princípios estabelecidos no seu artigo 3º para a edu-
cação brasileira:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu-
ra, o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII – valorização do profissional da educação escolar;
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e
da legislação dos sistemas de ensino;
IX – garantia de padrão de qualidade;
X – valorização da experiência extraescolar;
XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas
sociais.
XII – consideração com a diversidade étnico-racial.
XIII – garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo
da vida. (BRASIL, 1996)

Os direitos fundamentais, assegurados às crianças e aos adolescen-


tes no ECA, também estão previstos na seara da educação na LDB. Te-
mos o direito ao respeito, à igualdade, à liberdade, ao ensino gratuito,
entre outros, elencados em ambos diplomas legais.
O direito ao respeito e o direito à liberdade consistem em poder
expressar, livremente, sua cultura, seus hábitos e seus valores. Além
disso, devem ser respeitados desde que condizentes com a dignidade
da pessoa humana. São alguns critérios de educação, também estabe-
lecidos na LDB (BRASIL, 1996):

Educação básica:
• obrigatória e gratuita;
• entre 4 e 17 anos;
• pré-escola, ensino fundamental e ensino médio.

38 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


É de responsabilidade da família a matrícula, conforme dispõe o arti-
go 55 do ECA, e o acompanhamento do aluno. Nesse sentido, o parágra-
fo 1º, do artigo 53, do ECA afirma que: “o acesso ao ensino obrigatório e
gratuito é direito público subjetivo” (BRASIL, 1990). O mesmo está dispos-
to na Constituição, em seu artigo 208.

Salienta-se, ainda, que a não matrícula do filho na escola pode in-


cidir, inclusive, em delito de abandono intelectual, tipificado no artigo
246 do Código Penal. Nesse caso, reflete nas hipóteses de não Daniel M Ernst/Shutterstock

promoção do ensino primário sem justa causa a seguinte pe-


nalidade: “deixar, sem justa causa, de prover à instrução
primária de filho em idade escolar: Pena – detenção, de
quinze dias a um mês, ou multa” (BRASIL, 1940).

Ainda, a falta de matrícula no ensino básico pode en-


sejar a perda do poder familiar por abandono intelectual,
como dispõe o Código Civil (2002), no seu artigo 1.638,
inciso II. Portanto, a matrícula na escola é de suma impor-
tância e essencial para todas as famílias.

Diante desse cenário – e levando em consideração a res-


O Poder Público deve
ponsabilidade em conjunto com a sociedade sob as crianças e os assegurar, com prioridade, o
adolescentes –, no ECA estão elencadas as responsabilidades dos di- ensino básico obrigatório, que
será realizado dos 4 aos 17
rigentes de estabelecimento de ensino. O artigo 56 estabelece que se anos, isto é, durante a infância
deve comunicar ao Conselho Tutelar casos de maus-tratos, situações e a juventude.

de faltas reiteradas e injustificadas ou de evasão escolar, desde que


esgotados os recursos escolares ou nas hipóteses de elevados níveis
de repetência (BRASIL, 1990).

Ressalta-se que a falta de comunicação ao Conselho Tutelar pode


ensejar, inclusive, infração administrativa da instituição de ensino,
conforme o artigo 245 do ECA. Não é necessário o esgotamento da
busca pela solução por parte da escola para a comunicação ao Con-
selho Tutelar.

É inegável a importância da educação no desenvolvimento da crian-


ça e do adolescente. Assim, o artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases de-
termina a abrangência da educação da seguinte forma: “a educação
abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes-
quisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais” (BRASIL, 1996).

Direitos fundamentais da criança e do adolescente 39


Artigo

https://revistas.ufpr.br/jpe/article/view/49964/32545.

O artigo Vinte anos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de Jamil


Cury, publicado no Jornal de Políticas Educacionais (2016), explicita os princí-
pios, as finalidades e as diretrizes da educação no que diz respeito à criança
e ao adolescente.

Acesso em: 9 jul. 2020.

É possível verificar o papel da família e da sociedade na educação da


criança e do adolescente. A educação não abrange apenas as intuições
de ensino, sendo uma responsabilidade que deve ser trabalhada em
conjunto com os demais setores da sociedade.
Assim, conclui-se que o direito à educação é um direito essencial de
todas as crianças e adolescentes e deve ser assegurado pelo Estado. A
responsabilidade da família no que tange à matrícula na escola é es-
sencial, tendo em vista a importância do ensino na formação do indiví-
duo. Qualquer violação a esse direito deve ser reportada ao Conselho
Tutelar, a fim de proteger a criança e o adolescente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, estudamos a mudança da teoria da situação irregular
do menor para a doutrina da proteção integral da criança e do adolescen-
te, implementada na atual Constituição. O atual diploma constitucional
realizou mudanças significativas, sempre levando em conta a plena prote-
ção da criança e do adolescente e os considerando pessoas em desenvol-
vimento. Com isso, vimos que é dever do Estado, da sociedade e da família
a plena proteção dos indivíduos dessa faixa etária.
Com isso, e no mesmo sentido do texto constitucional, houve a imple-
mentação de importantes direitos fundamentais, como a proteção espe-
cial à vida, saúde, alimentação e educação. Além disso, deve-se garantir
que a criança e o adolescente estejam salvos de toda forma de negligên-
cia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O direito à educação é de suma importância para o desenvolvimento
dos indivíduos, tanto que a educação está protegida na Constituição Fede-
ral, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e no Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA).
Na legislação brasileira, há diversas proteções e garantias à educação
da criança e do adolescente, como o ensino básico obrigatório e gratuito,
a obrigatoriedade da matrícula – verifica-se, inclusive, que a falta desta
pode gerar um delito penal, punível pelo Código Penal –, dentre outros.

40 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


REFERÊNCIAS
AMIN, A. R. Curso de Direito da Criança e do Adolescente: aspectos teóricos e práticos. 4. ed.
Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010.
BARROS, G. F. de M. Estatuto da Criança e do Adolescente. 13. ed. Salvador: Editora
JusPodivm, 2019.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 29 jun. 2020.
BRASIL. Decreto n. 17.943-A, de 12 de outubro de 1927. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Rio de Janeiro, 12 out. 1927. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/1910-1929/d17943a.htm. Acesso em: 14 jul. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 29 jun. 2020.
BRASIL. Lei n. 6.697, de 10 de outubro de 1979. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 11 out. 1979. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-
1979/l6697.htm. Acesso em: 14 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
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BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.
htm. Acesso em: 29 jun. 2020.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislatio,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406.htm. Acesso em: 29 jun. 2020.
BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 8 ago, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 14 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 12.852, de 5 de agosto de 2013. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 6 ago. 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2013/Lei/L12852.htm. Acesso em: 14 jul. 2020.
BRASIL. Secretaria de Governo. Secretaria Nacional de Juventude. Plano Nacional de
Juventude: proposta de atualização da minuta do Projeto de Lei nº 4.530/2004. Brasília, DF:
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SNJ_atualização_plano_nacional_juventude_2018.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020.
NUCCI, G. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2018.
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UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância. Convenção para os direitos da criança.
Brasília: 2020. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-
da-crianca. Acesso em: 14 jul. 2020.

Direitos fundamentais da criança e do adolescente 41


GABARITO
1. A principal mudança da Constituição Federal (BRASIL, 1988) no que tange aos direitos
da criança e do adolescente é a doutrina da proteção integral. É dever do Estado, da
sociedade e da família a proteção dos direitos fundamentais da criança e do adoles-
cente.

2. A família tem um importante papel na proteção dos direitos fundamentais da criança e


do adolescente; entretanto, nas hipóteses de violação ou abuso é possível a interven-
ção do Estado no seio familiar, sendo passível, inclusive, de perda do poder familiar.

3. O acesso à educação básica da criança e do adolescente é realizado de modo obri-


gatório e gratuito. Trata-se de uma obrigação do Estado garantir o desenvolvimento
escolar das crianças e dos adolescentes.

42 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


3
Relação entre criança,
adolescente, escola e família
Neste capítulo, estudaremos o direito à proteção das condições
peculiares de desenvolvimento escolar da criança e do adolescen-
te. É necessário atenção especial a essa temática, tendo em vista
a responsabilidade conjunta da família, do Estado e da sociedade.
Analisaremos, também, a responsabilidade da instituição de
ensino. Para tanto, é importante verificar a maneira como é ofe-
recida a educação e como é dividida a responsabilidade do Poder
Público. Vamos examinar, ainda, a responsabilidade civil na hipóte-
se de prática de ato ilícito que gere dano a outra pessoa durante o
período em que estiver na escola.
Por fim, estudaremos a responsabilidade da família em relação
à criança e ao adolescente. Sobre essa questão, conheceremos os
fundamentos para a responsabilidade na reparação civil do genitor
por ato ilícito praticado pelos filhos menores e, em adição, a res-
ponsabilidade no que tange à matrícula e às consequências da não
observância desta obrigação.
Com isso, podemos verificar a importância da proteção do de-
senvolvimento da criança e do adolescente para a garantia dos
seus direitos e para o seu pleno desenvolvimento escolar. A escola
possui um importante papel na garantia dos direitos analisados a
seguir.

Relação entre criança, adolescente, escola e família 43


3.1 Condições peculiares de
desenvolvimento escolar
Vídeo Os direitos e as garantias da criança e do adolescente – conquista-
dos após a doutrina da proteção integral, implementada com a Consti-
tuição e positivada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei
n. 8.069/1990) – estabelecem três premissas básicas: respeito aos direi-
tos, proteção integral e efetivação dos direitos fundamentais.
Importante Com isso, todos os diplomas legais que protegem a criança e o ado-
Neste capítulo, quando lescente estabelecem uma proteção especial. Isso significa dizer que de-
mencionamos a Constituição
vem ser assegurados os seus direitos com absoluta prioridade, além de
Federal, toda a nossa discussão é
voltada ao documento atual, de o Estado, a família e a sociedade serem responsáveis por preservá-los.
5 de outubro de 1988. Já quando
Nesse sentido, a Constituição, em seu artigo 227, estabelece as con-
mencionamos o Estatuto da
Criança e do Adolescente, nos dições que devem ser observadas para o seu pleno desenvolvimento:
referimos à Lei n. 8.069, de 13 “à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionali-
de julho de 1990, que está em
vigência. zação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária” (BRASIL, 1988).

Qualquer ato prejudicial ao desenvolvimento ideal deve ser imuni-


zado e, por isso, preconiza-se o princípio da proteção integral. Além dos
direitos assegurados a todos os indivíduos, as crianças e os adolescen-
tes terão proteção especial que será constante e inalterável. Tanto as
crianças quanto os adolescentes possuem o que chamamos de hiper-
dignificação de suas vidas, isto é, qualquer obstáculo que possa gerar
uma afronta e limitar o gozo dos seus bens ou direitos deve ser impe-
dido; a proteção à vida deve ser maximizada.

Atividade 1 As crianças e os adolescentes são compreendidos como pessoas

No que consiste a condição em condições peculiares de desenvolvimento. Esse conceito está es-
peculiar de desenvolvimento? tabelecido de modo claro no artigo 6º do ECA: “Na interpretação desta
Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências
do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condi-
ção peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvi-
mento” (BRASIL, 1990a).

Portanto, sempre que houver um conflito entre direitos de um adul-


to e de uma criança ou um adolescente, o último deverá prevalecer.
Inclusive, aplica-se o princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente estabelecido no texto constitucional.

44 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Com a observância da condição peculiar, considera-se que cada in-
divíduo necessita de condições adequadas para se desenvolver. Assim,
rompeu-se o paradigma da incapacidade, pois é necessário respeitar as
peculiaridades de cada indivíduo.

Do mesmo modo, o artigo 3º estabelece que:


a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamen-
tais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção in-
tegral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e so-
cial, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 1990a)

Esses dispositivos devem ser interpretados de maneira conjunta sem-


pre que for necessário. O parágrafo único do artigo 3º ainda deixa cla-
ro que os direitos elencados devem ser aplicados sem discriminação de
sexo, raça, etnia ou cor, religião, idade, nascimento ou condição familiar.

Considera-se que o Estado, a família e a sociedade devem proteger


as crianças e os adolescentes, visto que são indivíduos que necessitam
de amparo e, como já mencionado, estão em condições peculiares de
desenvolvimento. Nesse sentido, a escola possui um papel essencial na
sua proteção e no seu desenvolvimento.

A Constituição (1988) estabelece a garantia do direito fundamental à


educação como um dos principais instrumentos para o desenvolvimen-
to da criança e do adolescente. A educação básica possui regulação
própria e deve observar os dispositivos legais do ordenamento jurídico
brasileiro.
Importante
A regulamentação que estabelece a educação básica é a Lei de Dire-
Quando mencionamos a LDB,
trizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei 9.394/1996. Nela, está
toda a nossa discussão é voltada
disciplinada de que forma se dará a educação escolar e quais proces- à lei atual, de 20 de dezembro de
sos formativos devem ser observados e desenvolvidos. 1996 (BRASIL, 1996).

A educação também é legislada no Plano Nacional de Educação – Lei


n. 13.005, de 25 de junho de 2014, que estabeleceu o PNE, o qual está
sendo desenvolvido com a vigência de 10 anos com vistas ao cumpri-
mento de metas nacionais para a área da educação (BRASIL, 2014a).

Relação entre criança, adolescente, escola e família 45


A relevância da educação na formação do ser humano é indiscu-
tível, pois é necessária à capacitação para o trabalho e para a forma-
ção como cidadão. A educação é uma das únicas formas de reduzir a
desigualdade social e fomentar o desenvolvimento econômico.

Quando se trata de crianças e de adolescentes, é necessário levar em


consideração que as etapas de formação se estabelecem de maneiras
distintas. Assim, o ensino é assegurado nos diversos níveis e respeitan-
do o desenvolvimento de cada aluno, e a Constituição prevê a universa-
lização da educação básica para garanti-la a todos os indivíduos.

Além disso, sempre que existir a necessidade de se interpretar o


que está disposto no ECA, a forma mais adequada será em prol da
criança e do adolescente. O Poder Judiciário sempre deverá observar o
que é mais benéfico para as pessoas em desenvolvimento.

Ainda nesse sentido, a criança e o adolescente possuem todos os


direitos aplicáveis em relação aos adultos, mas devem ser observados
fatores como idade e grau de desenvolvimento físico e mental. Por-
tanto, a aplicação desses direitos será desenvolvida em conformidade
com a sua capacidade de autonomia e de discernimento.

Como estabelece o artigo 6º do ECA, o conceito de condição peculiar


da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento deve ser
utilizado como critério em todas as interpretações dos direitos e das
demais normas. Um exemplo que retrata essa interpretação é caso de
guarda entre os pais: a guarda nunca será estipulada de modo a bene-
ficiar os genitores, mas sempre será levada em consideração a melhor
forma para a criança ou o adolescente.

Desse modo, a Constituição, no seu artigo 205, estabelece de ma-


neira clara o papel da educação no desenvolvimento do indivíduo: “a
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promo-
vida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).

O ECA estabelece no seu artigo 53 que é objetivo da educação o ple-


no desenvolvimento da pessoa. O artigo 2º da LDB também elenca os

46 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


mesmos objetivos; ambos priorizam, em todas as situa-
ções, o melhor interesse da criança ou do adolescente.

No que diz respeito às condições peculiares, po-


demos elencar as hipóteses em que é necessária a
acessibilidade para a educação dos alunos com defi-
ciência. Nesse caso, deverá ser assegurada a acessi-
bilidade plena em todas as esferas de ensino. A LDB
estabelece essa questão nos termos do artigo 4º; na
mesma direção é elaborado o Estatuto da Pessoa com
Deficiência (BRASIL, 2015). Ambos os ordenamentos afir- toc
k
utt ers
mam que o acesso pleno é responsabilidade da escola. e/Sh
Monkey Business Imag

Os princípios norteadores dos direitos das crianças e dos Os direitos devem ser assegurados tendo
em vista as condições peculiares de
adolescentes – princípio da prioridade absoluta e da prote- desenvolvimento escolar da criança e do
ção integral – devem ser lidos e interpretados em conjunto adolescente.
com o princípio da condição peculiar de desenvolvimento. Vídeo
A Professora Anelize
Assim, o desenvolvimento escolar necessariamente observará ple-
­Caminha discorre, no
no desenvolvimento do aluno, garantindo o seu acesso ao ensino e à vídeo a seguir, sobre a
evolução dos direitos da
profissionalização. Deve-se, neste sentido, ressalvar as diferentes fases
pessoa com deficiência.
de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social.
Disponível em: https://www.
Se a todas as crianças e os adolescentes é assegurado o acesso ao youtube.com/watch?v=sobI_
tCFLUw&t=3s. Acesso em: 6 ago.
ensino básico, independentemente da sua situação, é dever do Estado 2020.
a manutenção desse ensino. Entretanto, a sociedade e a família pos-
suem importante papel na garantia dos direitos e deverão ser respon- Desafio
sabilizados em determinadas situações.
Segundo o Estatuto da
Pessoa com Deficiência, “a
Um exemplo de responsabilidade da sociedade são casos em que
educação constitui direito
ocorre suspeita de violação aos direitos fundamentais. Nessa situação, da pessoa com deficiên-
cia, assegurados sistema
qualquer pessoa tem o dever de denunciar ao Conselho Tutelar mais
educacional inclusivo em
próximo ou à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Todos todos os níveis e aprendi-
zado ao longo de toda a
são responsáveis por denunciar e proteger a criança e o adolescente, e é
vida” (BRASIL, 2015). Com
dever do dirigente do estabelecimento de ensino denunciar suspeitas de base nessa premissa, leia
os artigos 27 a 30 desse
maus tratos da família, como estabelece o artigo 56 do ECA.
estatuto e reflita se os
Já quanto à responsabilidade da família, um exemplo é a obrigação de direitos são efetivados
na comunidade em que
matrícula, na rede de ensino regular, por parte de pais ou responsáveis, es- você vive.
tabelecido no artigo 55 do ECA. A família não pode deixar de cumprir a obri- Disponível em: http://www.
gação, pois o não cumprimento pode acarretar a perda do poder familiar. planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2015/lei/l13146.
htm. Acesso em: 4 ago. 2020.

Relação entre criança, adolescente, escola e família 47


3.2 Responsabilidade da instituição de ensino
Vídeo Como visto anteriormente, a educação possui papel importante na
formação do indivíduo. Devido a essa importância, a instituição de en-
sino é responsável por garantir a efetividade da educação.

A Constituição, além de estabelecer que a educação atua de manei-


ra essencial no desenvolvimento da pessoa, estabelece os princípios
básicos que serão observados no fornecimento do ensino, previstos
no artigo 206:
I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II. liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensa-
mento, a arte e o saber;
III. pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência
de instituições públicas e privadas de ensino;
IV. gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V. valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos,
na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente
por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
VI. gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII. garantia de padrão de qualidade.
VIII. piso salarial profissional nacional para os profissionais da edu-
cação escolar pública, nos termos de lei federal. (BRASIL, 1988)

Atenção A instituição de ensino é responsável pelo aluno e por garantir sua

A guarda da escola acontece no integridade física enquanto estiver com a guarda dele. Ao receber o
momento em que a escola está aluno no estabelecimento, a escola se torna responsável por cumprir
com a posse de fato do aluno. todos os objetivos educacionais estabelecidos na Constituição. Desse
Ou seja, sob a vigilância da
instituição de ensino. modo, segundo o artigo 208, é dever do Estado a garantia de:
I. educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (de-
zessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
II. progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III. atendimento educacional especializado aos portadores de defi-
ciência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV. educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)
anos de idade;
V. acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da cria-
ção artística, segundo a capacidade de cada um;
VI. oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do
educando;
VII. atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica,

48 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


por meio de programas suplementares de material didático escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde. (­BRASIL, 1988)

O acesso ao ensino é um direito público subjetivo e, desta forma,


deverá ser obrigatório e gratuito. Caso não tenha sido ofertado ou a
oferta pelo Poder Público seja irregular, a autoridade competente será
responsabilizada. Todas as crianças e os adolescentes devem ingressar
no ensino básico e ter pleno acesso a ele.

Dessa forma, o parágrafo terceiro do artigo 208 da Constituição es- Glossário


tabelece que é responsabilidade do Poder Público recensear os alunos
recensear: relacionar, por em
pela frequência escolar e fazer a sua chamada e zelo em conjunto com lista, arrolar.
pais e responsáveis.

As escolas privadas podem oferecer o ensino de maneira livre, des-


de que cumpram as normas gerais da educação nacional e sua qualida-
de seja avaliada e autorizada pelo Poder Público. Portanto, deverão ser
respeitados os conteúdos mínimos fixados e assegurada a formação
básica comum.

É de responsabilidade da instituição de ensino o respeito aos valores


culturais e artísticos, nacionais e regionais. Em relação a esse aspecto,
determina-se, na Constituição, que o Ensino Religioso será de matrícula
facultativa e oferecido nos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental, como estabelece o artigo 210. É estabelecido, ain-
da, que o ensino fundamental será ministrado em língua portuguesa;
para as comunidades indígenas, no entanto, são assegurados a apren-
dizagem em língua materna e projetos próprios.
Leitura
A ordem de colaboração do sistema de ensino entre União, estados,
Recomenda-se a leitura
Distrito Federal e municípios é estabelecida no texto constitucional. A
do texto Educação: o que
União possui a responsabilidade de organizar todo o sistema de ensi- é responsabilidade do
município?, do portal Po-
no federal e dos territórios. Além disso, deve financiar as instituições
litize!. A análise do texto
de ensino públicas federais e possuir função redistributiva e supletiva é essencial, pois mostra
a distinção da obrigação
em matéria educacional para garantir a equalização de oportunidades
de oferta do ensino
educacionais e o padrão mínimo de qualidade de ensino. regular do Poder Público
brasileiro.
Ressalta-se que a União deve, por meio de assistência técnica e fi-
Disponível em: https://www.
nanceira, assistir estados, Distrito Federal e municípios. É estabelecido, politize.com.br/educacao-no-
na Constituição, que os municípios atuarão prioritariamente no ensino municipio/. Acesso em: 6 ago. 2020.

fundamental e na educação infantil; já os estados e o Distrito Federal,


no ensino fundamental e médio. Entretanto, deve haver a colaboração

Relação entre criança, adolescente, escola e família 49


de todos com o objetivo de garantir a universalização do ensino obriga-
Importante tório; o ensino regular terá atendimento prioritário na educação básica.
Quando mencionamos o Código
Relativamente à esfera civil, a escola, ao se tornar responsável pela
Civil, toda a nossa discussão
é voltada à lei atual, de 10 de guarda e pela integridade física do aluno, também se torna responsá-
janeiro de 2002. vel por qualquer dano material ou moral enquanto o aluno estiver no
seu estabelecimento. Nesta situação, podemos utilizar o Código Civil no
que tange à responsabilidade civil. Seu artigo 927 estabelece que
Lei
aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
art. 186: “Aquele que, por ação fica obrigado a repará-lo. Assim, o seu parágrafo único estabele-
ou omissão voluntária, negli-
ce que haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
gência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
ainda que exclusivamente moral, normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
comete ato ilícito”. natureza, risco para os direitos de outrem. (BRASIL, 2002)
art. 187: “Também comete ato
ilícito o titular de um direito Portanto, toda pessoa que praticar algo que cause danos a outra e
que, ao exercê-lo, excede mani- viole um direito deverá reparar o dano que causou. No caso das esco-
festamente os limites impostos
las e em relação aos alunos, verifica-se que a instituição escolar tem o
pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons dever de guarda e de zelo, logo são responsáveis pela reparação civil
costumes” (BRASIL, 2002). sempre que acontecer algo na sua dependência.

Neste sentido, o artigo 932 afirma que “são também responsáveis


Atividade 2 pela reparação civil: [...] os donos de hotéis, hospedarias, casas ou esta-
Em qual situação a instituição de belecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de edu-
ensino poderá ser responsabi- cação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos” (BRASIL, 2002). A
lizada por ato praticado pelo
aluno? reparação civil consiste na obrigação de reparar o dano pelo ato ilícito
praticado e pode ser por dano material, moral ou estético.

Glossário Com a leitura dos artigos elencados, pode-se perceber que as esco-
las são responsáveis pela reparação civil mesmo que o ato seja prati-
dano material: ocorre quando
o ato ilícito acarreta prejuízo ou cado por um educando, isto é, um aluno. Qualquer acontecimento que
perda patrimonial a alguém. ocorra dentro do estabelecimento educacional é responsabilidade da
dano moral: ocorre quando o instituição, que também deverá reparar os danos.
ato ilícito ofende bens de ordem
moral de uma pessoa que gerem Nos julgados do Superior Tribunal de Justiça (STJ), é possível perce-
abalo à imagem, à honra, à ber que, mesmo em condutas omissivas, a responsabilidade da institui-
imagem etc.
ção de ensino é objetiva. Veja um exemplo na jurisprudência a seguir:
dano estético: ocorre quando
o ato ilícito causa deformação
humana externa ou interna.

50 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Jurisprudência
ADMINISTRATIVO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MATERIAIS E MORAIS.
AFOGAMENTO DE ADOLESCENTE. ALUNA DE COLÉGIO ESTADUAL EM EX-
CURSÃO ESCOLAR. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. CONDUTAS COMISSIVAS
E OMISSIVAS. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REVISÃO. POSSIBILIDADE IN
CASU. PRECEDENTES. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ADEQUAÇÃO EM RAZÃO
DA REDUÇÃO DA VERBA INDENIZATÓRIA. JULGAMENTO ULTRA PETITA NÃO
CONFIGURADO.

I. Na origem, trata-se de ação de reparação por danos morais e mate-


riais em decorrência de falecimento de filha, menor de idade, dos au-
tores da demanda, enquanto sob a tutela de profissionais de escola
estadual.

II. Decisão de 1º Grau de procedência da ação, posteriormente modificada em


sede recursal, com a redução do valor fixado a título de indenização por da-
nos morais, com a consequente minoração da condenação do ente estatal
em verba honorária.

III. A pretensão de revisão da verba indenizatória fixada na origem só tem per-


tinência no âmbito do recurso especial, nos moldes dos precedentes do STJ,
em situações excepcionais: quando irrisória ou exorbitante, sob pena de
malferimento à Súmula 7/STJ.

IV. A redução da verba indenizatória por danos morais efetuada pelo Tribunal
a quo em grau recursal, de fato se mostra destoante do que vem sendo
fixada ou mantida por esta Corte em casos análogos, diante da situação
específica dos autos. Precedentes jurisprudenciais que permitem a preten-
dida revisão.

V. Acolhida a pretensão, no sentido de majorar a verba indenizatória por da-


nos morais, adequando-a aos valores estabelecidos pela jurisprudência do
STJ. Dissídio jurisprudencial configurado.

VI. No que diz respeito à alegação de julgamento ultra petita relativamente à


redução da verba honorária determinada pelo acórdão recorrido, o recurso
não merece acolhida, considerando que o decisum apenas procedeu ao
ajustamento da verba diante da factível redução da indenização por danos
morais na ocasião.

VII. Agravo conhecido para dar parcial provimento ao recurso especial, somen-
te no que diz respeito à majoração da verba indenizatória por danos morais.
Fonte: Brasil, 2020, grifos nossos.

Nesse caso, verifica-se que a escola foi responsabilizada pelo fale-


cimento de uma aluna que estava sob a sua tutela. Na situação julga-
da, a aluna estava em uma excursão escolar, portanto, não aconteceu
nas dependências da escola. Entretanto, da mesma forma, levando em
consideração que o passeio estava sob a tutela dos profissionais da

Relação entre criança, adolescente, escola e família 51


instituição de ensino, a escola foi condenada sob o fundamento da res-
ponsabilidade objetiva.

Em um outro caso, mas no mesmo sentido, o STJ decidiu:

Jurisprudência
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MORTE DE FILHO
MENOR. CHOQUE ELÉTRICO EM EQUIPAMENTO DE ESCOLA PÚBLICA. FUNDA-
MENTO CONSTITUCIONAL NÃO IMPUGNADO. SÚMULA 126/STJ. REVISÃO DO
VALOR DA CONDENAÇÃO POR DANOS MORAIS. INEXISTÊNCIA DE EXORBITÂN-
CIA. SÚMULA 7/STJ.

1. Cuida-se, na origem, de demanda reparatória de danos morais e ma-


teriais ajuizada pelos pais de criança que veio a óbito causado por
choque elétrico em bebedouro instalado nas dependências da Escola
Básica Estadual Marina Vieira Leal.

2. O Tribunal a quo manteve a sentença de parcial procedência e, no


que concerne ao reconhecimento da responsabilidade civil do Estado,
adotou fundamentação constitucional não impugnada pelo Recurso Ex-
traordinário cabível, o que atrai o óbice da Súmula 126/STJ: “É inadmissível
recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos
constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só,
para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário”.

3. É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que, ressalvadas as hipóte-


ses de irrisoriedade ou de exorbitância, não se pode revisar, em Recurso
Especial, o valor da condenação por danos morais (Súmula 7/STJ).

4. In casu, não há como reconhecer, de plano, que houve exorbitância na


condenação em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), em favor de cada um
dos pais, pela morte de filho menor.

5. Agravo Regimental não provido.


Fonte: Brasil, 2014b, grifos nossos.

Nesse segundo caso, o aluno estava nas dependências da institui-


ção de ensino e tomou um choque elétrico ao utilizar o bebedouro,
fato que o levou a óbito. Tendo em vista a responsabilidade objetiva
da escola, a instituição foi condenada ao pagamento de danos mo-
rais e materiais.

Na responsabilidade civil, temos o modelo dualista, que se trata


de duas formas de imputar a responsabilidade ao agente causador do
dano: as formas subjetiva e objetiva. A forma subjetiva demanda ave-
riguar a culpa do agente, isto é, verifica-se a vontade de praticar o ato
ilício que gerou o dano. Já a forma objetiva consiste em hipóteses inde-
pendentemente da culpa, ou seja, da vontade do agente. Nessa última

52 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


forma, o Código Civil estabelece quem possui a obrigação de reparação
no caso de dano a outrem. Ressalta-se que não é verificada a culpabili-
dade do agente.

No mesmo sentido, o Código de Defesa do Consumidor (BRASIL,


1990b) estabelece que, no fornecimento de serviços ou produtos, a res-
ponsabilidade pelo dano decorrente da sua atividade é objetiva. Tanto
no Código de Defesa do Consumidor quanto no Código Civil, as institui-
ções de ensino são responsáveis por qualquer dano causado dentro do
seu estabelecimento ou durante a sua vigilância.

O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor ainda estabelece que


o fornecedor de serviços responde, independentemente da exis-
tência de culpa, pela reparação dos danos causados aos con-
sumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos (BRASIL, 1990b).

A lei compreende que, nessas situações, o risco da atividade econô-


mica é assumido e responde-se objetivamente por todos os danos cau-
sados decorrentes dela. Podemos classificar como responsabilidade
civil objetiva atos de terceiros, que, pela doutrina, também é denomina-
da responsabilidade civil indireta.

Neste contexto, é adotada a teoria do risco, pois, como visto ante-


riormente, independe da culpa. Ainda que não seja culpa da escola, ela
deverá responder pelos atos ali praticados. Entretanto, destaca-se que é
necessária a prova da culpa dos res-
ponsáveis pelo ato ilícito, ou seja,
do aluno que praticou o ato. Assim,

Daniel M Ernst/Shutterstock
qualquer dano ocorrido sob a res-
ponsabilidade da escola deverá ser
reparado por ela. São exemplos ca-
sos de agressão física, acidentes so-
fridos nas dependências etc.

A responsabilidade da escola se
limita ao período em que está com
a guarda e o zelo do aluno. Nas de-
mais hipóteses, a responsabilidade
cabe aos genitores – como vamos Durante o período em que a criança ou o adolescente estiver na escola, não será
de responsabilidade dos genitores os atos praticados por seus filhos, pois, para
atestar na próxima seção. eles, não é possível exercer efetivamente a guarda.

Relação entre criança, adolescente, escola e família 53


3.3 Responsabilidade da família
Vídeo A responsabilidade da família, assim como a responsabilidade da
escola, também é objetiva; aplica-se, igualmente, a responsabilidade
objetiva indireta. Assim, é necessário provar a culpa do filho para efeti-
vamente responsabilizar seus genitores.

Quando se trata de tutores, é aplicável a mesma regra da responsa-


bilidade objetiva, como lecionado no artigo 932 do Código Civil:
são também responsáveis pela reparação civil: I – os pais, pelos
filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua com-
panhia; II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que
se acharem nas mesmas condições (BRASIL, 2002).

Sempre que os filhos ou pupilos praticarem um ato ilícito, a respon-


sabilidade será objetiva dos pais ou tutores, como leciona o artigo 933:
“as pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que
não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos
terceiros ali referidos” (BRASIL, 2002). Em outras palavras, haverá a res-
ponsabilidade civil por fato de terceiro.
Glossário Os representantes deverão responder com o seu patrimônio, pois a
subsidiária: acontece quando o sua responsabilidade é subsidiária. O incapaz só responderá pelo pre-
primeiro devedor não consegue juízo causado se os seus responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo
cumprir a obrigação. Nesses
casos, o responsável subsidiário ou não possuírem recursos suficientes, como disposto no artigo 928.
responde. A indenização, vale ressaltar, será arbitrada de maneira equitati-
va, ou seja, em um valor que não prive a subsistência do incapaz e de
Lei quem depender dele economicamente, como estabelece o artigo 928

Art 928: “o incapaz responde


no seu parágrafo único: “a indenização prevista neste artigo, que de-
pelos prejuízos que causar, se verá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou
as pessoas por ele responsáveis as pessoas que dele dependem” (BRASIL, 2002). Desse modo, pode-se
não tiverem obrigação de fazê-lo
ou não dispuserem de meios concluir que o incapaz só será responsável pela indenização se os seus
suficientes” (BRASIL, 2002). responsáveis não tiverem a obrigação, como no caso de responsabili-
dade da instituição de ensino ou de terceiro que estava em vigilância.

Nesse mesmo sentido, estabelece o Enunciado 40 da I Jornada de


Direito Civil, artigo 928:
o incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira sub-
sidiária ou excepcionalmente, como devedor principal, na hipó-
tese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem

54 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


atos infracionais, nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e
Curiosidade
do Adolescente, no âmbito das medidas socioeducativas ali pre-
vistas. (CJF, 2002a) Todos os anos, o Conselho da
Justiça Federal (CJF) realiza as
Se o ato ilícito for considerado um ato infracional – aqueles elencados Jornadas de Direito Civil, nas
na legislação penal –, o próprio adolescente deverá responder pelos pre- quais os participantes propõem
e aprovam enunciados que
juízos que causar. Fala-se em adolescente, pois a responsabilidade, nesse servem como referência para
caso, recai sobre aqueles que possuem entre 12 e 18 anos de idade. julgados e para a doutrina do
direito brasileiro.
Outra exceção encontra-se na hipótese de emancipação – como es-
tabelece o artigo 5, parágrafo único, I, do Código Civil –, única em que é
possível a responsabilidade solidária entre os pais e o menor de 18 anos,
como afirma o Enunciado n. 41, I Jornada de Direito Civil (CJF, 2002b).
Essa situação se estabelece para que a emancipação não seja utilizada
para eximir os pais ou responsáveis do dever de zelo e de guarda.

Em relação à responsabilização dos genitores, o Enunciado 590 Atividade 3


da VII Jornada de Direito Civil (CJF, 2015) afirma que a responsabilidade
Em quais hipóteses os pais são
dos pais pelos atos dos filhos menores – prevista no artigo 932, inciso I, responsáveis pelos atos ilícitos
do Código Civil –, embora objetiva, pressupõe a demonstração de que praticados pelos filhos menores
de 18 anos?
a conduta imputada ao menor, caso fosse ao agente imputável, seria
hábil para a sua responsabilização. Em outras palavras, a responsabi-
lidade dos pais ocorre apenas caso a conduta praticada pelo filho seja
passível de responsabilização, portanto é necessário que se prove o
nexo causal entre o ato ilícito e o dano.

A regra geral, conforme o Código Civil, artigo 932, II, é que, quando
a criança ou o adolescente pratica um ato ilícito que cause danos a
Glossário
outrem, a responsabilidade de indenizar é dos genitores. Em um jul-
REsp: sigla para Recurso
gado REsp 1.436.401 (BRASIL, 2017), por exemplo, foi decidido que o Especial.
responsável pelo incapaz deverá reparar os anos causados pelos seus litisconsórcio: ocorre quando
atos ilícitos. duas ou mais pessoas estão no
mesmo polo da demanda, ou
Nesse mesmo julgado, foi decidido que a reparação será de modo seja, no processo judicial existem
substitutivo, exclusivo e não solidário, inexistindo litisconsórcio ne- dois ou mais autores e dois ou
mais réus.
cessário entre eles. Em outras palavras, apenas o responsável deverá
responder pela indenização, e o patrimônio do incapaz não será afeta-
do – salvo nas hipóteses em que o responsável não tem condições de
arcar com a indenização.

Ainda, o litisconsórcio não é necessário, pois a vítima não é obrigada


– nem por lei e nem pela relação jurídica – a ingressar com o pedido de

Relação entre criança, adolescente, escola e família 55


reparação civil contra o incapaz e o responsável. Isso só poderá acon-
tecer por faculdade, formando, assim, um litisconsórcio facultativo e
não necessário.

Desse modo, vale dizer que a responsabilidade do incapaz é subsi-


diária, apenas na impossibilidade de seu responsável. Além de “condi-
cional, mitigada e equitativa”, pois a indenização não pode ultrapassar
o limite humanitário de seu patrimônio, nem privá-lo do mínimo neces-

Glossário sário para a sobrevivência digna (BRASIL, 2017).

poder familiar: autoridade pa- Esse entendimento se aplica mesmo que o incapaz não esteja sob a
rental que os genitores possuem sua companhia, pois decorre do poder familiar. Logo, não é possível afas-
em relação ao seus filhos.
tar a sua responsabilidade, ainda que não esteja com a guarda do filho.
Livro Entretanto, a doutrina se divide quanto a esse posicionamento, pois,
como explica Tartuce (2019), o pai que não tem a guarda do filho não
pode ser responsabilizado, uma vez que, para isso, é necessário tê-lo
em sua guarda e companhia. O Superior Tribunal de Justiça também
decidiu dessa forma no REsp 1.232.011 (BRASIL, 2016). Nesse caso, a
mãe não residia no mesmo local que o filho, apenas o pai possuía de
fato autoridade. Portanto, embora ainda tenha o poder familiar sobre o
filho, não foi responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito.

Sobre este tipo de situação, foi aprovado, na V Jornada de Direito


A obra Direito Civil: Direito
das Obrigações e Respon- Civil, o enunciado 450:
sabilidade Civil, de Flávio
Tartuce, desenvolve o Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos dano-
estudo sobre a responsa- sos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa
bilidade dos pais que não presumida, ambos os genitores, no exercício do poder familiar,
estão com a guarda de
fato do filho no momento
são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda
da prática do ato infra- que estejam separados; ressalvado o direito de regresso em caso
cional. Recomenda-se a de culpa exclusiva de um dos genitores. (CJF, 2011)
leitura.

TARTUCE, F. 14. ed. Rio de Janeiro: Como dito anteriormente, no entanto, os tribunais se posicionam
Forense, 2019. v. 2. de maneira diversa. Inclusive, o Superior Tribunal de Justiça adotou o
posição contrária ao seu próprio posicionamento em outro julgamen-
to, como podemos observar a seguir:

56 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Jurisprudência
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO ENVOL-
VENDO MENOR. INDENIZAÇÃO AOS PAIS DO MENOR FALECIDO. ENTENDIMEN-
TO JURISPRUDENCIAL. REVISÃO. ART. 932, I, DO CÓDIGO CIVIL.

1. A responsabilidade dos pais por filho menor – responsabilidade por ato


ou fato de terceiro –, a partir do advento do Código Civil de 2002, passou
a embasar-se na teoria do risco para efeitos de indenização, de forma que
as pessoas elencadas no art. 932 do Código Civil respondem objetivamen-
te, devendo-se comprovar apenas a culpa na prática do ato ilícito daquele
pelo qual são os pais responsáveis legalmente. Contudo, há uma exce-
ção: a de que os pais respondem pelo filho incapaz que esteja sob sua
autoridade e em sua companhia; assim, os pais, ou responsável, que
não exercem autoridade de fato sobre o filho, embora ainda dete-
nham o poder familiar, não respondem por ele, nos termos do inciso
I do art. 932 do Código Civil.

2. Na hipótese de atropelamento seguido de morte por culpa do condutor


do veículo, sendo a vítima menor e de família de baixa renda, é devida
indenização por danos materiais consistente em pensionamento mensal
aos genitores do menor falecido, ainda que este não exercesse atividade
remunerada, visto que se presume haver ajuda mútua entre os integran-
tes dessas famílias.

3. Recurso especial conhecido parcialmente e, nessa parte, provido também


parcialmente.
Fonte: Brasil, 2016, grifos nossos.

Nesse caso, entendeu-se que o genitor não possuía a autoridade


de fato sobre o filho no momento do ato ilícito, por isso não poderia
ser responsabilizado pelo dano causado. O genitor não seria capaz de
impedir o ato ilícito, visto que não estava em sua companhia.

Assim, podemos concluir que os tribunais adotam posicionamen-


tos contrários no que diz respeito à responsabilidade dos genitores
que não estão com a guarda do filho no momento da prática do ato
ilícito. O que se pode verificar é que, em regra, quando ambos os ge-
nitores possuem condições de impedir a prática do ato ilícito, os dois
são responsabilizados. Só não se responsabiliza nos casos em que é
efetivamente comprovado que o genitor não tinha condições de im-
pedir a sua prática.

No que se refere à responsabilidade dos pais em relação à educa-


ção dos seus filhos, observa-se que é obrigatória a matrícula durante a
idade escolar. Desta forma, estabelece o artigo 55 do ECA que “os pais

Relação entre criança, adolescente, escola e família 57


ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na
rede regular de ensino” (BRASIL, 1990a).

A falta dessa obrigação pode ensejar, inclusive, em abandono inte-


lectual, que tem como consequência a perda do poder familiar, confor-
me estabelece o artigo 1.638 do Código Civil: “perderá por ato judicial o
poder familiar o pai ou a mãe que: [...] II – deixar o filho em abandono”
(BRASIL, 2002). A perda ocorre apenas após processo judicial, no qual
será assegurado o contraditório e a ampla defesa dos genitores, bem
como será ouvido o Ministério Público.

Nesta situação, verifica-se a interferência do Poder Público no seio


familiar, de modo a, em situações de total abandono e desamparo da
família, retirar a criança e o adolescente dos seus genitores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, verificou-se que todas as crianças e adolescentes de-
vem ter preservadas suas condições peculiares de desenvolvimento. No
que tange ao desenvolvimento escolar, observa-se que também são apli-
cáveis as condições peculiares, carecendo da proteção integral e da prio-
ridade absoluta.
Analisou-se, ainda, a responsabilidade das instituições de ensino. Pri-
meiramente, conferiu-se a responsabilidade do Poder Público e da rede
particular no oferecimento do ensino básico. Com isso, concluiu-se que
ambos devem ofertar um ensino de qualidade e necessitam fazê-lo de
maneira acessível a todos os alunos.
Depois, tratou-se da responsabilidade civil por atos ilícitos praticados
durante o período de guarda e zelo da escola. A instituição de ensino,
como regra geral, deverá ser responsabilizada pelos atos praticados pelos
alunos durante o momento em que estiver sob seus cuidados.
Por fim, conferiu-se a responsabilidade da família em relação à criança
e ao adolescente. Os genitores ou os tutores respondem objetivamente
por qualquer ato ilícito praticado pelo menor. Entretanto, a doutrina se
divide quanto à responsabilidade do genitor ou guardião que não estava
com a guarda de fato no momento da prática do ato ilícito.

58 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


REFERÊNCIAS
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CJF – Conselho da Justiça Federal. Enunciado 40. In: I Jornada de Direito Civil, 2002a.
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em: https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/381#:~:text=Considerando%20que%20
a%20responsabilidade%20dos,de%20regresso%20em%20caso%20de. Acesso em: 7 ago.
2020.
CJF – Conselho da Justiça Federal. Enunciado 590. In: VII Jornada de Direito Civil, 2015.
Disponível em: https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/840. Acesso em: 7 ago. 2020.
TARTUCE, F. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. v. 2.

Relação entre criança, adolescente, escola e família 59


GABARITO
1. A condição peculiar de desenvolvimento significa compreender que a criança e o ado-
lescente terão todas as suas fases de desenvolvimento físico, psíquico, moral e social
observadas, garantindo-se a proteção integral e a prioridade absoluta dos seus direi-
tos.

2. A instituição de ensino poderá ser responsabilizada nas hipóteses em que ela estiver
com a guarda e o zelo da criança ou do adolescente, ainda que não esteja nas suas
dependências, mas sob a sua responsabilidade.

3. Os genitores serão responsabilizados de maneira objetiva pelos atos ilícitos pratica-


dos pelos filhos menores de 18 anos. Entretanto, a doutrina é divergente quanto à
responsabilidade de quem está com a guarda de fato do filho ou dos genitores.

60 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


4
Direito ao desenvolvimento
escolar
Neste capítulo, serão analisadas questões importantes do âm-
bito escolar. Nos últimos anos, houve diversas mudanças no que
tange ao direito das crianças e dos adolescentes com deficiência,
desde a modificação do conceito de pessoa com deficiência até uma
mudança de paradigma.
Desse modo, será estudada a evolução dos direitos das pes-
soas com deficiência e os conceitos mais importantes para a sua
proteção e participação plena e efetiva na sociedade. Para tanto,
é necessária a atuação de todos e a implementação das regras de
acessibilidade.
Também serão analisados a acessibilidade e o sistema educa-
cional inclusivo. A educação é uma das principais formas de incluir
a pessoa com deficiência na sociedade, portanto é necessária
atenção específica. O ordenamento jurídico brasileiro estabelece
diversas regras para a inclusão plena da criança e do adolescente
com deficiência no ambiente escolar.
Por fim, serão estudados o bullying e o cyberbullying. É preciso
compreender esses conceitos e como é atribuída a responsabili-
dade por suas consequências. Os pais e a instituição de ensino de-
vem atuar em conjunto a fim de impedir condutas violentas. Assim,
será apresentada a legislação brasileira sobre esse tema.

4.1 Direito das crianças e dos


Vídeo adolescentes com deficiência
Os direitos das pessoas com deficiência evoluíram de maneira signi-
ficativa nos últimos anos. Consequentemente, os direitos das crianças
e dos adolescentes com deficiência também evoluíram.

Direito ao desenvolvimento escolar 61


As pessoas com deficiência foram tratadas de quatro formas distin-
tas ao longo da história. Em um primeiro momento, foram vistas com
intolerância; em algumas culturas, os bebês que nasciam com deficiên-
cia eram inclusive sacrificados.

Em um segundo momento, passaram a ser tratadas de maneira invisí-


vel, isto é, não tinham qualquer assistência, mas também não eram mais
sacrificadas. No terceiro momento, iniciou-se uma fase assistencialista, de-
corrente principalmente do contexto pós-guerras mundiais, em que a defi-
ciência passou a ser considerada uma doença, um modelo médico.

Atualmente, a humanidade está pautada na quarta fase, a da valo-


rização dos direitos humanos, na qual a sociedade precisa trabalhar
em conjunto a fim de eliminar as barreiras existentes e promover o seu
pleno exercício de direitos. Contudo, se existir a necessidade de alterar
alguns paradigmas no cenário internacional, para efetivar a garantia do
seu pleno desenvolvimento, podem ser realizadas modificações.

A Figura 1 sintetiza a evolução dessas quatro fases.

Figura 1
Evolução dos direitos das pessoas com deficiência
Intolerância Assistencialista

Atividade 1
Qual é a principal mudança
nos direitos das pessoas com
deficiência no que tange ao Invisível Valorização dos
direitos humanos
modelo atual? Fonte: Elaborada pela autora.

A alteração de paradigmas e o início da fase de valorização dos di-


Lei
reitos humanos teve início com a Convenção Internacional sobre os
O Estatuto da Pessoa com Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2009) – promovida pela
Deficiência (EPD), também
chamado de Lei Brasileira de Organização das Nações Unidas (ONU) – e seu protocolo facultativo, as-
Inclusão, é instituído por meio sinado em Nova Iorque no ano de 2007. Alguns anos após, em virtude
da Lei n. 13.146, de 6 de julho de uma grande pressão internacional da ONU, o Brasil implementou,
de 2015.
no ano de 2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD).

Importante No Brasil, os direitos das pessoas com deficiência já eram garanti-


dos na Constituição. Entretanto, houve uma importante mudança no
Neste capítulo, quando mencio-
namos a Constituição Federal, ordenamento jurídico brasileiro após a Convenção, pois ela foi com-
toda a nossa discussão é voltada preendida com status de emenda constitucional, conforme o artigo 5º,
ao documento atual, de 5 de
outubro de 1988. parágrafo 3º da Constituição. Em outras palavras, a Convenção Interna-
cional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência tem no Brasil for-

62 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


ça normativa de Constituição Federal e, dessa forma, deve prevalecer
no conflito com todas as demais normas.

O regime de tutela das pessoas com deficiência migrou do refe-


rencial dignidade-vulnerabilidade para o da dignidade-igualdade ou
dignidade-inclusão (TARTUCE, 2016). Assim, adotou-se o critério socioló-
gico, em que a deficiência é considerada conforme a sociedade em que
está inserida. Com isso, abandonou-se o antigo modelo assistencialista,
que considerava a pessoa com deficiência vulnerável ao observar a sua
inclusão social.

O número de pessoas com deficiência no mundo é expressivo. O re-


latório apresentado pelas Nações Unidas aponta que em 2018 existiam
mais de 1 milhão de pessoas com deficiência (ONU, 2018). No Brasil,
segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística (IBGE) de 2010, pelo menos 24% da população brasileira possui
alguma deficiência.

Nesse último percentual, o IBGE dividiu da seguinte maneira: pes-


soas que em razão da deficiência não conseguem realizar nenhuma
atividade; pessoas que possuem grande dificuldade; e pessoas com al-
guma dificuldade. É possível verificar esses dados no Gráfico 1.

Gráfico 1
Dados sobre pessoa com deficiência (IBGE, 2010)
Pessoas com deficiência no Brasil por Deficiência por modalidade e graus de
grau de dificuldades – IBGE 2010 dificuldade – BRASIL
50.000.00 35.000.00
45.617.878 45.606.048
45.000.00
30.000.00
40.000.00

35.000.00 25.000.00

30.000.00
20.000.00
25.000.00

20.000.00 15.000.00

15.000.00 10.000.00
10.963.109
10.000.00
4.196.539 5.000.00
5.000.00

0 0
Pessoas Pessoas Pessoas Pessoas
506.377
5.465.219
29.211.482

344.205
1.798.964
7.574.149

734.420
3.698.926
8.832.247

2.611.537

com com com com


deficiência deficiência deficiência deficiência
não grande alguma total
consegue dificuldade dificuldade
de modo Visual Auditiva Física Intelectual
algum

Não consegue Grande Alguma


Fonte: Brasil, 2019. de modo algum dificuldade dificuldade

Direito ao desenvolvimento escolar 63


Ainda no Censo de 2010, além da divisão por grau de dificuldade,
houve a divisão por modalidade de deficiência. Com base no levanta-
mento, pode-se verificar o número de pessoas com deficiência visual,
auditiva, física e intelectual. Assim, é possível direcionar de maneira
mais assertiva as políticas inclusivas.

A principal mudança em relação aos direitos – com base na Con-


venção e no EPD – é a do conceito de pessoa com deficiência. O EPD,
em seu artigo 2º, afirma que:
considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedi-
mento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igual-
dade de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015a).
Série
Com base na definição do EPD, podemos verificar que se deixou de
lado o modelo médico de deficiência, no qual a pessoa era classificada
como tal por meio de um laudo médico com a CID (Classificação Inter-
nacional de Doenças) correspondente. Atualmente, a pessoa com de-
ficiência é aquela que não consegue viver em sociedade em condições
de igualdade, tendo em vista as diversas barreiras existentes. Nesse
sentido, é importante refletir sobre a readaptação da sociedade para
eliminar essas barreiras.

A série Special, dispo- O EPD implementou a garantia de direitos fundamentais às pes-


nível na plataforma de soas com deficiência de maneira objetiva. Os direitos sociais garanti-
streaming Netflix, retrata
a vida de um jovem gay dos no artigo 6º da Constituição – como educação, saúde, alimentação,
com paralisia cerebral. trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança e previdência social –
A narrativa é interessante,
pois demonstra as dificul- precisam de efetiva implementação; o EPD tem como objetivo efetivar
dades cotidianas desse essa proteção.
jovem e como a socieda-
de lida com as diferentes O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), embora anterior à
barreiras encontradas ao
longo da vida dele.
Convenção e ao EPD, estabelece que não haverá qualquer discrimina-

Criação: Ryan O’Connell. Estados


ção ao gozo dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes
Unidos: Netflix, 2019. com deficiência, como dispõe o seu artigo 3º, parágrafo único. Em seu
artigo 11, também está previsto o acesso integral ao Sistema Único de
Importante Saúde (SUS), respeitando suas necessidades.
Quando mencionamos o Estatu- No que tange à proteção da criança e do adolescente, verificamos
to da Criança e do Adolescente,
referimo-nos à Lei n. 8.069, de que as pessoas até os 16 anos são consideradas absolutamente incapa-
13 de julho de 1990, a qual está zes; já aqueles entre 16 e 18 anos são relativamente incapazes. Quando
em vigência. se trata de maiores de 18 anos, nos casos de falta de discernimento

64 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


ou discernimento reduzido, é possível recorrer à proteção jurídica da
curatela ou da tomada de decisão apoiada. Glossário
curatela: instrumento jurídico
No que se refere à representação da criança ou do adolescente com
em que uma pessoa é nomeada
ou sem deficiência para os atos da vida civil, não há diferença. Todas as curador de outra que não conse-
pessoas, independentemente de terem deficiência, são representadas gue exprimir a sua vontade por
causa transitória ou permanente,
até os 16 anos e assistidas entre os 16 e 18 anos de idade. ébrios habituais e viciados em
Outra importante mudança decorrente do EPD é a avaliação reali- tóxicos ou pródigos. Os limites
da curatela serão avaliados pelo
zada na criança ou no adolescente com deficiência. No novo paradig- juiz competente conforme o
ma, não se utiliza apenas a avaliação médica, mas sim uma avaliação Código Civil.
biopsicossocial, como estabelece o artigo 2º, § 1º do EPD. Na avaliação, tomada de decisão apoiada:
a pessoa com deficiência elege
são elencados os seguintes fatores: “I. os impedimentos nas funções e duas ou mais pessoas da sua
nas estruturas do corpo; II. os fatores socioambientais, psicológicos e confiança para apoiá-la em atos
pessoais; III. a limitação no desempenho de atividades; e IV. a restrição da vida civil.

de participação” (BRASIL, 2015a).

O tratamento dispensado em relação à pessoa com deficiência deve


ser realizado de maneira personalizada, buscando diminuir as barrei-
ras existentes na sociedade em que essa pessoa vive.

Para tanto, a legislação estabeleceu conceitos importantes para ga-


rantir que os direitos das crianças e dos adolescentes sejam atendidos,
os quais são elencados no Quadro 1.

Quadro 1
Elementos fundamentais para a garantia dos direitos das pessoas com deficiência

ACESSIBILIDADE
“Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança
e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,
4LUCK/Shutterstock

edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus


sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações
abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto
na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida.”

DESENHO UNIVERSAL
Macrovector/Shutterstock

“Concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem


usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de
projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva.”

(Continua)

Direito ao desenvolvimento escolar 65


TECNOLOGIA ASSISTIVA
OU AJUDA TÉCNICA
“Produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,

Macrovector/Shutterstock
estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a
funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com
deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia,
independência, qualidade de vida e inclusão social.”

BARREIRAS

“Qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou


SchottiU/Shutterstock

impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o


exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e
de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão,
à circulação com segurança, entre outros.”

Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2015a.

Esses elementos são essenciais para a compreensão dos instru-


mentos necessários para eliminar os obstáculos existentes entre as
pessoas com deficiência e a sociedade. Desse modo, a legislação es-
tabelece algumas normas específicas quanto à acessibilidade e à eli-
minação de barreiras.

O desenho universal e a tecnologia assistiva são utilizados para


promover a inclusão por meio de produtos e equipamentos que visem
garantir que as barreiras existentes em determinadas circunstâncias
sejam eliminadas. São exemplos a utilização de próteses e o uso de
tecnologias para auxiliar na movimentação motora da pessoa, sempre
com o objetivo de garantir a sua independência.

Um importante ponto é a alteração da nomenclatura. Antes,


as pessoas com deficiência eram chamadas de portadoras de deficiên-
cia, porém esse termo remete a uma doença, o que não corresponde
ao conceito de deficiência, pois, como visto anteriormente, a deficiência
é um impedimento, e não uma enfermidade. Assim, o EPD trouxe o
termo pessoa com deficiência, considerado mais adequado para a reali-
dade, embora a Constituição ainda utilize o termo anterior.

Igualmente, o termo deficiente não deve ser utilizado, pois remete


a uma incapacidade em relação à sociedade. A pessoa não é incapaz;
ela apenas possui uma barreira que deverá ser, na medida do possível,
superada. Também não devem ser utilizados os termos necessidades
especiais e, tampouco, apenas especial.

66 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Nesse contexto, a educação também teve modificações. O sistema
educacional inclusivo sofreu uma importante mudança, decorrente do
EPD, a qual será analisada na seção a seguir.

4.2 Acessibilidade e sistema


Vídeo educacional inclusivo
A educação, e sua promoção – disposta na Constituição de 1988,
em seu artigo 205 –, está prevista como um direito de todos e dever
do Estado e da família. Com o objetivo do pleno desenvolvimento
da pessoa, a educação é extremamente importante para as pessoas
com deficiência.

O artigo 206, I, da Constituição estabelece que o ensino será realiza-


do em condições de igualdade de acesso e permanência. Desse modo,
a pessoa com deficiência tem direito constitucional de participar do
ensino regular; uma vez que o princípio da educação em igualdade de
condições é positivado na Constituição.

O direito à educação também está estabelecido na Convenção Inter-


nacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, no seu artigo 24
(BRASIL, 2009). A Convenção determina aos estados signatários orien-
tações obrigatórias para as políticas públicas, efetivando, nesse senti-
do, a educação inclusiva.

A primeira questão que deve ser compreendida Leitura


é a diferença entre educação inclusiva e educa- O texto O que é educação
ção especial. A principal distinção é que a primeira inclusiva? Um passo a pas-
so para inclusão escolar,
tem como objetivo a inclusão das demais pessoas da do Instituto Itard, discorre
sociedade; já a segunda tem o escopo de garantir o de maneira clara sobre
como deve ser realizada
atendimento especial. a inclusão, analisando os
conceitos inseridos pelo
Desse modo, podemos definir educação especial EPD. Ainda, apresenta o
como uma modalidade específica para pessoas que é educação inclusiva
no Brasil e de que manei-
com deficiência que tem o objetivo de provocar ra deve ser realizado o
suas potencialidades. Já a educação inclusiva tem Projeto Político Pedagógi-
co nessa perspectiva.
como objetivo promover, na medida do possível,
Disponível em: https://institutoitard.
o mesmo ensino para todos, independentemente com.br/o-que-e-educacao-
da deficiência. inclusiva-um-passo-a-passo-para-
a-inclusao-escolar/. Acesso em: 30
jul. 2020.

Direito ao desenvolvimento escolar 67


Na educação especial, não há estudantes sem deficiência e, igual-
mente, não há a promoção da inclusão em condições de igualdade na
sociedade. Assim, o EPD optou por estabelecer como regra a educação
inclusiva para promover a diversidade no ensino regular.

As escolas especiais são mantidas no Brasil, pois algumas situações


demandam atenção especializada. Para tanto, temos o Atendimento
Educacional Especializado (AEE), que pode acontecer concomitan-
temente ao ensino escolar, em outro turno. Ambas escolas deverão
trabalhar em conjunto de maneira complementar e com o apoio ne-
cessário. O Ministério da Educação (MEC) estabelece essa parceria na
Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 2008).

O objetivo da inclusão no ensino regular é de que toda a socieda-


de se adapte e trabalhe em conjunto para a promoção da acessibili-
dade. A convivência com pessoas com deficiência auxilia na inclusão
efetiva, entretanto, é necessário que dentro do sistema de ensino
todas as pessoas convivam igualmente, independentemente dos
impedimentos.

A educação inclusiva estabelecida no EPD compreende diversos cri-


térios que serão desenvolvidos ao longo do estudo. Os primeiros con-
ceitos importantes de diferenciar são: atendente pessoal, profissional de
apoio e acompanhante.

Atendente pessoal é a “pessoa, membro ou não da família, que,


com ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados básicos e essen-
ciais à pessoa com deficiência no exercício de suas atividades diárias,
excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas” (BRASIL, 2015a). Em linhas gerais, o atenden-
te pessoal é qualquer pessoa que esteja encarregada de acompanhar a
pessoa com deficiência, ainda que seja da família.

O profissional de apoio escolar é quem irá acompanhar o aluno


com deficiência durante suas atividades. O EPD o define como o pro-
fissional que
exerce atividades de alimentação, higiene e locomoção do estu-
dante com deficiência e atua em todas as atividades escolares
nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades
de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as técni-
cas ou os procedimentos identificados com profissões legalmen-
te estabelecidas. (BRASIL, 2015a)

68 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Ermolaev Alexander/Shutterstock
Por fim, o acompanhante é “aquele que acom-
panha a pessoa com deficiência, podendo ou não
desempenhar as funções de atendente pessoal”
(BRASIL, 2015a). O acompanhante pode auxiliar
nas funções e cuidados básicos da pessoa com
deficiência, contudo sua principal atribuição é a
de lhe fazer companhia.

O direito à educação é assegurado na Consti-


Quando se trata de sistema educacional inclusivo e
tuição como direito social no artigo 6º, entretanto, acessibilidade na educação, é necessário observar quais
quando se trata de criança ou adolescente com profissionais irão atuar em cada momento.

deficiência, é necessária a atenção para garantir


a acessibilidade na educação. O Estatuto da Pessoa com Deficiência
estabelece mecanismos que devem ser assegurados para garantir o
desenvolvimento escolar da criança e do adolescente com deficiência.

Dessa forma, o artigo 27 estabelece que


a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegu-
rados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e apren-
dizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo
desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas,
sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, in-
teresses e necessidades de aprendizagem. (BRASIL, 2015a)

Com base no excerto, visualiza-se que deve ser garantido que a edu-
cação será ofertada conforme a individualidade de cada aluno. Com
isso, é assegurada a educação de qualidade.

Nesse sentido, é de responsabilidade do Poder Público assegurar,


criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar o
“sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem
como o aprendizado ao longo de toda a vida” (BRASIL, 2015a).

Um dos principais objetivos, portanto, é assegurar o acesso e a


permanência do aluno, por isso devem ser ofertados recursos de
acessibilidade e serviços. Porém, verifica-se que, na prática, embora a
legislação já tenha um certo período, as escolas ainda não conseguem
garantir integralmente a permanência e a inclusão plena.

É necessário aprimorar o projeto pedagógico de atendimento edu-


cacional especializado e todos os demais serviços oferecidos na insti-
tuição de ensino. Para tanto, o EPD estabeleceu que a educação deverá

Direito ao desenvolvimento escolar 69


ser bilíngue, ofertando Libras como primeira língua e Língua Portugue-
sa, na modalidade escrita, como segunda.

Em relação aos tradutores e intérpretes de Libras, o artigo 27, pará-


grafo segundo, estabelece que esses profissionais:
I. [...] atuantes na educação básica devem, no mínimo, possuir ensi-
no médio completo e certificado de proficiência na Libras;
II. [...] quando direcionados à tarefa de interpretar nas salas de aula
dos cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível
superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e Inter-
pretação em Libras. (BRASIL, 2015a)

Sempre que necessário, devem ser adotadas medidas individualiza-


das e coletivas com o escopo de maximizar o desenvolvimento escolar
dos estudantes com deficiência. Portanto, pesquisas para o desenvolvi-
mento de técnicas de aprendizado, metodologias e recursos de tecno-
logia assistiva devem ser incentivadas.

O sistema educacional inclusivo deve garantir que os estudantes


com deficiência participem das aulas e do convívio escolar em condi-
ções de igualdade com os demais. Com isso, as pessoas com deficiência
serão efetivamente incluídas na sociedade; é importante lembrar que a
educação é uma das principais formas de inclusão.

Nesse sentido, o EPD estabelece que todas as instituições de ensino


devem obrigatoriamente implementar:
VIII. participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias
nas diversas instâncias de atuação da comunidade escolar;
IX. adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento
dos aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e profissionais,
levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades e os
interesses do estudante com deficiência;
X. adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de
formação inicial e continuada de professores e oferta de forma-
ção continuada para o atendimento educacional especializado;
XI. formação e disponibilização de professores para o atendimento
educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras,
de guias intérpretes e de profissionais de apoio;
XII. oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de re-
cursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades
funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e parti-
cipação. (BRASIL, 2015a)

70 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


A educação superior e a profissional e tecnóloga devem seguir as
mesmas normas de acessibilidade e igualdade de oportunidades para
que, após concluir a educação básica, o aluno com deficiência possa
continuar os estudos e ser inserido no mercado de trabalho.

A acessibilidade é um ponto de absoluta importância que deve ser


observado em todos os seus níveis, desde o acesso a jogos e atividades
recreativas, esportivas e de lazer dentro do sistema escolar em condi-
ções de igualdade até a acessibilidade às edificações, aos ambientes e
às demais atividades em todas etapas e níveis de ensino.

Desse modo, em todos os níveis escolares devem estar disponíveis


profissionais de apoio escolar, visando auxiliar na superação das bar-
reiras. Esses profissionais são de suma importância no desenvolvimen-
to escolar da criança e do adolescente com deficiência.

Todas as normas referenciadas no EPD também são aplicáveis às


instituições privadas obrigatoriamente, e é vedada a cobrança de va- Atividade 2
lores adicionais de qualquer natureza. Sobre essa questão, inclusive, É possível haver cobrança de
houve um importante julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), valores diferenciados dos alunos
com deficiência nas instituições
conforme disposto a seguir: de ensino privado? Justifique sua
resposta.
Notícia
A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen)
ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 5.357 (ADI 5357) com o
escopo de questionar a constitucionalidade do artigo 28 e do caput do ar-
Saiba mais
tigo 30 do EPD. O objetivo da ação era justamente impugnar a vedação à
cobrança de valores diferenciados e a obrigatoriedade de fornecer todos O Supremo Tribunal Federal
os mecanismos de acessibilidade. (STF) é o órgão máximo do
Poder Judiciário brasileiro, o qual
O Plenário do Supremo Tribunal Federal votou, por maioria, pela impro- tem como função a proteção
cedência da ação, alegando que as escolas particulares também devem da Constituição Federal. Assim,
construir uma sociedade inclusiva e que a oferta do ensino a todos é um qualquer afronta à norma consti-
mecanismo importante para essa construção. Apenas o Ministro Marco tucional, em última instância,
Aurélio votou pela parcial procedência, afirmando que o Estado deveria deve ser julgada pelo STF.
arcar com esse dever.

Dessa forma, todos os dispositivos impugnados são considerados consti-


tucionais e devem ser observados pelo ensino particular. Tanto o ensino
público quanto o particular devem ofertar todas as formas necessárias
de aprendizagem e promover a inclusão dos estudantes com deficiência
em todos os níveis, assegurando, assim, a sua permanência em condi-
ções de igualdade e observando as normas estabelecidas no EPD e na
Política de Educação Inclusiva.
Fonte: STF, 2016.

Direito ao desenvolvimento escolar 71


A notícia corrobora com o que estabelece o artigo 28, item XVIII,
do EPD: “articulação intersetorial na implementação de políticas públi-
cas” (BRASIL, 2015a). Assim, todos devem auxiliar na implementação
das políticas públicas inclusivas.

No Brasil, embora a educação plenamente inclusiva ainda não seja


uma realidade, tanto por falta de políticas públicas efetivas quanto
por falta de capacitação adequada, o caminho está sendo trilhado.
O primeiro passo já foi realizado, que é a obrigatoriedade; assim, res-
ta implementá-la da melhor forma possível, sempre com o objetivo
da inclusão plena.

4.3 Bullying e cyberbullying


Vídeo O bullying é um grande problema nas instituições de ensino; com
o avanço da tecnologia, o cyberbullying também se tornou um pro-
blema grave. O bullying é conceituado como um conjunto de atos vio-
lentos praticados durante um determinado período. Nas escolas, são
geralmente atos entre alunos com o objetivo de agredir verbal, fisica
Filme
e/ou psicologicamente.

O cyberbullying é originário do bullying e tem o mesmo objetivo,


entretanto acontece no meio virtual, por meio de e-mails, redes sociais,
smartphones etc. Uma das principais características é a exposição pú-
blica da violência.

Ambos podem acontecer em diversos locais, entretanto a escola é o


ambiente mais comum. Durante a juventude, ela é o local onde crian-
ças e adolescentes passam mais tempo; o que de certa forma propicia
para que essas situações acontecem. Desse modo, a instituição de en-
O filme Cyberbullying: sino possui um importante papel no combate dessas atitudes.
garota fora do jogo (2005)
retrata a situação ocorrida Em geral, um grupo dominante cria padrões de comportamento, beleza
em uma escola, na qual
algumas alunas criam e atitude dentro do ambiente escolar e exclui todos que não se enquadram
uma página na internet nesses padrões. Como esse grupo dominante tende a ser o mais popular
para ofender uma rival.
O filme retrata de que e todos os alunos desejam participar dele, aqueles que não conseguem
modo o cyberbullying se enquadrar sofrem, por parte dos integrantes desse grupo, intimidação,
pode ocorrer no ambien-
te escolar, um compor- perseguição e, em alguns casos, violência física e psicológica.
tamento muitas vezes
comum entre os jovens.
Assim, os profissionais que trabalham na instituição de ensino de-
vem atuar ativamente com o objetivo de impedir essas atitudes no am-
Direção: Tom McLoughlin. Estados
Unidos: Lifetime, 2005. biente da escola e, nos casos em que é possível a identificação fora do

72 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


ambiente escolar, alertar os responsáveis. No Brasil, levando em consi-
deração esse tipo de comportamento e as suas graves consequências,
foi implementada a Lei n. 13.185, de 6 de novembro de 2015, que criou
o Programa de Combate à Intimidação Sistemática.

Nessa norma, considera-se


intimidação sistemática (bullying) todo ato de violência física ou
psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação
evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais
pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor
e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder
entre as partes envolvidas. (BRASIL, 2015b, grifo do original)

Em relação ao cyberbullying, a norma estabelece que ele ocorre


quando
há intimidação sistemática na rede mundial de computadores
(cyberbullying), quando se usarem os instrumentos que lhe
são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e
dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento
psicossocial”(BRASIL, 2015b, grifo do original).

O objetivo da legislação é prevenir e combater essas práticas com


a capacitação dos docentes e das equipes pedagógicas. Assim, devem
ser estabelecidas formas para implementar campanhas de combate,
orientar as famílias e dar assistência às vítimas e aos agressores.

O alvo é efetivamente barrar qualquer tipo de violência no ambiente


escolar, inclusive as cometidas pelos professores e demais profissio-
nais da instituição de ensino. Para tanto, devem ser produzidos e publi-
cados relatórios bimestrais das ocorrências de bullying nos estados e
municípios, visando ao planejamento de ações para o seu combate,
como estabelece o artigo 6º da legislação (BRASIL, 2015b). Poderão,
também, ser firmados convênios e parcerias para a implementação e
execução das diretrizes.

Para a vítima, as consequências do bullying e


do cyberbullying podem ser devastadoras. Além
Lopolo/Shutterstock

do isolamento social, é possível que ela desenvol-


va transtornos psicológicos, os quais podem, in-
clusive, acompanhá-la na vida adulta. Em alguns
casos, as vítimas dessa violência apresentam

Os alvos dos agressores geralmente são alunos novos, tímidos e


que não se enquadram no padrão físico estabelecido ou que se
destacam com excelentes notas.
Direito ao desenvolvimento escolar 73
tamanha dificuldade que seus casos podem ter consequências drásticas,
como o suicídio. O uso da internet para ataques se torna cada dia mais
comum e causa um grave dano na vida do agredido.

O ato de bullying ou cyberbullying é considerado juridicamente um


ato ilícito, podendo gerar dano moral, patrimonial e/ou extrapatrimo-
nial. Os direitos abalados são considerados direitos personalíssimos,
Glossário pois são abalados os direitos de personalidade.
direitos de personalidade: Nesses casos, deverão ser responsabilizados o agressor e o seu res-
direitos inerentes a pessoas,
portanto irrenunciáveis e ponsável no momento da prática, isto é, os genitores ou a própria esco-
intransmissíveis, como: direito ao la. Para que seja efetivamente considerado um ato ilícito – conforme o
nome, direito à imagem, direito artigo 186 do Código Civil (2002) –, são necessárias a conduta dolosa ou
ao corpo etc.
culposa, o nexo causal e o dano, conforme mostra a Figura 2.

Importante Figura 2
Responsabilidade civil
Quando mencionamos o Código Culposo ou
Civil, toda a nossa discussão é doloso
Ato ilícito
voltada à Lei n. 10.406, de 10 de
janeiro de 2002, a qual está em
vigência.
Nexo causal

Dano

Fonte: Elaborada pela autora.

A vítima precisa comprovar que o dano causado efetivamente foi


gerado pela conduta dolosa ou culposa do agente, confirmando o nexo
causal. Se não houver todos os elementos supracitados, não consistirá
no dever de indenizar, pois não haverá ato ilícito.

É possível caracterizar a conduta ilícita também com fundamento


no artigo 187 do Código Civil, afirmando que há efetivamente um abu-
so do direito no caso de bullying ou cyberbullying. Portanto, não há a
necessidade do elemento culpa para a responsabilidade do agressor.
O simples uso da violência e da agressividade de modo habitual já cor-
responde à conduta abusiva.
Atividade 3 Nos casos de crianças e adolescentes, a legislação civil estabelece
É possível a instituição de ensino de que forma será realizada a responsabilidade dos pais e do próprio
ter responsabilidade em casos de
agressor no artigo 927 do Código Civil. A escola também poderá ser
bullying e cyberbullying?
responsabilizada se não resguardar a integridade física e psíquica do
agredido durante o período em que estiver com a sua guarda.

74 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Portanto, se o aluno sofrer um dano em ambiente escolar, a esco-
la será responsabilizada pela falha. No caso das escolas particulares,
é aplicável o Código do Consumidor (BRASIL, 1990b), pois, uma vez que
se paga por esse serviço, caracteriza-se uma relação de consumo. O ar-
tigo 14 estabelece que o fornecedor deverá responder pelos prejuízos
causados ao consumidor, independentemente da culpa.

Os genitores são responsáveis civilmente de maneira objetiva pelos


atos causados por seus filhos menores, conforme afirma o artigo 933
do Código Civil. Nesse caso, basta comprovar que houve nexo causal
entre a conduta do agressor e o dano do agredido. A responsabilidade
decorre do poder familiar e já foi determinada em diversos julgados.

Entretanto, há uma corrente doutrinária que defende que a respon-


sabilidade é apenas de quem estava com a guarda do filho no momen-
to do ato, isto é, de quem falhou com o dever de vigilância. Porém,
ressalta-se que o bullying decorre também da educação atribuída ao
agressor; nesse sentido, não será facilmente excluído da responsabili-
dade o genitor que não estava com a guarda no momento.

Da mesma forma, a escola pode ser responsabilizada, tendo em vis-


ta sua responsabilidade objetiva como fornecedora, mas, no mesmo
sentido, tendo em vista a obrigação de educar dos genitores, essa res-
ponsabilidade poderá ser solidária. Em outras palavras, tanto os geni-
tores quanto a escola respondem pelos danos causados ao agredido.

A responsabilidade solidária ocorre uma vez que a conduta agres-


siva do aluno que pratica a violência escolar é contribuída pelas con-
dutas praticadas no ambiente familiar. O modelo educativo familiar
é refletido na vida de cada indivíduo, ainda que de maneira omissa.
Assim, entende-se que não é possível excluir a responsabilidade dos
pais nas condutas de bullying ou cyberbullying praticadas no ambiente
escolar. Ainda que a guarda do filho menor tenha sido transferida no
momento para a escola, a omissão ou ação dos pais na educação deve
ser considerada.

A responsabilidade, nessas situações, não será decorrente da guar-


da ou da vigilância, mas do dever de educar. A escola será responsabili-
zada pela falha no dever de vigilância e os pais serão responsabilizados
pela falha na educação. Ressalta-se que essa análise será realizada caso
por caso e poderá variar conforme as circunstâncias apresentadas.

Direito ao desenvolvimento escolar 75


A escola será responsabilizada pelos danos sofridos em decorrência
das agressões e violências no seu dever de guarda e vigilância. Caso a
escola seja pública, será objetiva a responsabilidade do Poder Público,
conforme o parágrafo 6º do artigo 37 da Constituição. Caso a escola
seja particular, também será objetiva a responsabilidade, mas em de-
corrência da relação de consumo, conforme o artigo 14 do Código de
Defesa do Consumidor e os artigos 932, IV, e 933 do Código Civil (BRA-
SIL, 1990a; 2002). Dessa forma, não se discute a culpa da escola; basta
a prova do dano sofrido.

Em algumas situações, é possível incluir, ainda, a criança ou o ado-


lescente que praticou o ato como responsável de maneira mitigada e
subsidiária. Os incapazes serão responsáveis pelos próprios atos nas
hipóteses em que os seus responsáveis não tiverem a obrigação ou os
meios suficientes para responder. Nesse caso, a criança ou o adoles-
cente agressor só será responsabilizado de maneira subsidiária, após
a verificação da responsabilidade pela escola ou pelos genitores, como
estabelece o artigo 928 do Código Civil.

No que tange à vítima, é possível a aplicação de medidas específicas


de proteção que estão previstas no artigo 100 do Estatuto da Criança e
do Adolescente sempre que houver a ameaça ou violação aos direitos
reconhecidos no referido estatuto.

Todas essas medidas são importantes para a proteção do agredido,


para que ele não sofra consequências graves decorrentes do ato ilícito.
Isso deve ocorrer, inclusive, em situações em que é necessário também
o amparo da família das crianças e adolescentes vítimas do bullying e
do cyberbullying.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foi analisado primeiramente a evolução dos direitos
das pessoas com deficiência. Verificou-se que recentemente houve mu-
danças significativas no que tange ao conceito, ao modelo e aos direitos
das pessoas com deficiência. Após a promoção da Convenção Interna-
cional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e do Estatuto da
Pessoa com Deficiência (EPD), entrou-se em uma nova fase dos direitos
da pessoa com deficiência.
Atualmente, a pessoa só é considerada com deficiência se após a ava-
liação biopsicossocial forem confirmadas as barreiras existentes em con-
dições de igualdade com as demais pessoas da sociedade.

76 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Nesse contexto, foi desenvolvido o estudo sobre as mudanças no siste-
ma educacional inclusivo. A acessibilidade na educação tem um importan-
te papel no desenvolvimento das crianças e adolescentes com deficiência.
O sistema educacional inclusivo, embora esteja previsto na Constituição
e no Estatuto da Criança e do Adolescente, sofreu importantes mudan-
ças com o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Os alunos com deficiência
devem ser incluídos em condições de igualdade no ensino regular; essa
inserção é essencial para a inclusão efetiva na sociedade.
Por fim, foram analisados o bullying e o cyberbullying. Estudou-se as
responsabilidades decorrentes dos atos violentos entre alunos. Quando o
ato acontece na instituição de ensino, esta poderá responder de maneira
solidária com os genitores do agressor.

REFERÊNCIAS
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5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
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BRASIL. Decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
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l8078compilado.htm. Acesso em: 30 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
L10406compilada.htm. Acesso em: 26 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 7 jul. 2015a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 26 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 13.185, de 6 de novembro de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 9 nov. 2015b. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13185.htm. Acesso em: 30 jul. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva. Brasília, DF: MEC, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
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BRASIL. Ministério da Saúde. Censo Demográfico de 2020 e o mapeamento das pessoas com
deficiência no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://www2.
camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cpd/documentos/
cinthia-ministerio-da-saude. Acesso em: 24 ago. 2020.
ONU – Organização das Nações Unidas. Realization of Sustainable Development Goals
by, for and with persons with disabilities. 2018. Disponível em: https://www.un.org/
development/desa/disabilities/wp-content/uploads/sites/15/2018/12/UN-Flagship-
Report-Disability.pdf. Acesso em: 27 jun. 2020.
STF – SUPERIOR TRIBUNAL FEDERAL. ADI 5357. 2015. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/
processos/detalhe.asp?incidente=4818214. Acesso em: 5 ago. 2020.

Direito ao desenvolvimento escolar 77


STF – SUPERIOR TRIBUNAL FEDERAL. Escolas particulares devem cumprir obrigações do
Estatuto da Pessoa com Deficiência, decide STF. 2016. Disponível em: http://www.stf.jus.
br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=318570. Acesso em: 24 ago. 2018.
TARTUCE, F. O Estatuto da Pessoa com Deficiência e a capacidade testamentária ativa.
Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, v. 10, n. 2, jul./dez. 2016. Disponível em: https://
fadisp.com.br/revista/ojs/index.php/pensamentojuridico/article/view/63/65. Acesso em:
19 ago. 2020.

GABARITO
1. Atualmente, é utilizado o modelo social, no qual a deficiência é considerada uma bar-
reira que a pessoa tem em relação à sociedade, e não mais o modelo médico. Cada
indivíduo deve ser observado na sua individualidade; dessa forma, devem ser desen-
volvidos os mecanismos de acessibilidade.

2. É vedada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD) a cobrança de valores


diferenciados dos alunos com deficiência. Inclusive, a vedação foi objeto de
discussão do Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Direta de Inconstituciona-
lidade n. 5357.

3. Se o bullying ou cyberbullying ocorrer sob a guarda da instituição de ensino, ela pode-


rá ser responsabilizada. Portanto, nos casos em que a violência ocorre no ambiente
escolar, a escola deve ser responsabilizada, mas isso não retira a responsabilidade dos
genitores, pois essa violência decorre de uma falha na educação.

78 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


5
Proteção da criança
e do adolescente
Neste capítulo, vamos analisar os mecanismos encontrados na
legislação brasileira para proteção da criança e do adolescente.
Desse modo, é importante lembrar que, por serem considerados
pessoas em desenvolvimento, tanto as crianças quanto os adoles-
centes necessitam de atenção especial.
Assim, vamos discutir as formas de proteção no trabalho e o di-
reito à profissionalização. A proteção decorre desde a Constituição
e se desenvolve no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e
na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Na sequência, serão observadas as políticas de atendimento,
que têm um importante papel na garantia dos direitos fundamen-
tais, sendo o Estado fundamental no desenvolvimento e na garan-
tia desses direitos.
Em seguida, vamos estudar os atos infracionais e as medidas
de proteção. É necessário observar que a prática de ato ilícito por
uma criança ou um adolescente terá um tratamento diferente do
conferido à do adulto.

5.1 Direito à profissionalização e


à proteção no trabalho
Vídeo A Constituição, no seu artigo 6º, estabelece o
Importante
direito ao trabalho como um direito social funda-
mental e, desse modo, tem especial proteção asse- Neste capítulo, quando
mencionamos a Constitui-
gurada. O artigo 7º desenvolve os direitos que devem ção Federal, toda a nossa
ser observados a fim de melhorar a condição social. discussão é voltada ao
documento atual, de 5 de
outubro de 1988.

Proteção da criança e do adolescente 79


Esse artigo, no inciso XXXIII, estabelece a “proibição de trabalho no-
turno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer tra-
balho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a
partir de quatorze anos” (BRASIL, 1988). Esta redação ocorreu após a
reforma realizada por meio da Emenda Constitucional n. 20, de 15 de
dezembro de 1998.
Importante No mesmo sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) esta-
Quando mencionamos o Estatu- belece, no artigo 60, que “é proibido qualquer trabalho a menores de qua-
to da Criança e do Adolescente,
torze anos de idade, salvo na condição de aprendiz” (BRASIL, 1990). Assim,
nos referimos à Lei n. 8.069, de
13 de julho de 1990, que está verifica-se que deve ser realizada a leitura dos dispositivos em conjunto.
em vigência.
O menor de 14 anos de idade, levando em consideração o disposto
nos artigos referidos, não pode trabalhar em nenhuma hipótese, nem
em condição de aprendiz. Isso acontece porque a Constituição deve
prevalecer e, embora o ECA permita o trabalho dos menores de 14
anos, a Constituição, por meio da Emenda Constitucional n. 20, proíbe.

Com a leitura dos dispositivos, ainda podemos compreender que


o adolescente entre 14 e 16 anos de idade pode ser aprendiz. A partir
dos 16 anos, ele pode trabalhar desde que em atividade não perigosa,
insalubre ou noturna. Nesse sentido, é necessário observar a atividade
laborativa que será desenvolvida pelo adolescente. O quadro a seguir
traz a síntese dessa questão.

Quadro 1
Trabalho da criança e do adolescente

Boyko.Pictures/Shutterstock
Menor de 14 anos de idade

Não pode exercer atividade laborativa.

14 a 16 anos de idade

Pode exercer atividade laborativa apenas


como aprendiz.

A partir dos 16 anos de idade

Pode exercer atividade laborativa não perigosa, insalubre


ou noturna.

Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 1988; 1990.

80 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


O trabalho doméstico não é considerado prestação de serviços a
terceiros, portanto é classificado como colaboração entre os familiares
– ressalvados, evidentemente, casos de abuso, em que é necessária a
intervenção estatal.

O artigo 61 do ECA estabelece que a proteção ao trabalho dos ado-


lescentes terá regulamentação por meio de lei especial. No direito bra-
sileiro, a legislação que protege o trabalhador é a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), que estabelece os deveres dos responsáveis legais
de menores e dos empregadores da aprendizagem (BRASIL, 1943).

Em relação à regulamentação do trabalho do menor aprendiz, ainda


temos as importantes alterações no dispositivo da CLT realizadas pela
Lei n. 10.097, de 19 de dezembro de 2000. Nessa lei, foram estabeleci-
dos critérios que precisam ser observados na contratação e no desen-
volvimento das atividades do aprendiz.

A aprendizagem é considerada pelo artigo 62 do ECA “[a] formação


técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legis-
lação de educação em vigor” (BRASIL, 1990). A formação profissional é
aquela que tem como objetivo o mercado de trabalho, proporcionando
ao adolescente o seu desenvolvimento para apreender uma profissão.
Já a formação técnica envolve o processo educacional. Importante
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) estabelece, Quando mencionamos a
no artigo 39: LDB, toda a nossa discussão é
voltada à Lei n. 9.394, de 20 de
A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos ob- dezembro de 1996.
jetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e
modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciên-
cia e da tecnologia.
§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão
ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a constru-
ção de diferentes itinerários formativos, observadas as normas
do respectivo sistema e nível de ensino.
§ 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguin-
tes cursos:

I. de formação inicial e continuada ou qualificação profissional;


II. de educação profissional técnica de nível médio;
III. de educação profissional tecnológica de graduação e
pós-graduação.

§ 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de graduação


e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos,

Proteção da criança e do adolescente 81


Filme características e duração, de acordo com as diretrizes curricula-
res nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação.
(BRASIL, 1996)

O trabalho do adolescente, quando se trata de educação profissio-


nal, precisa observar todos os elementos desse artigo para garantir o
cumprimento de sua formação técnico-profissional. E deve, ainda, se-
guir a LDB em vigor, como aponta o artigo 62.

Dessa forma, toda a formação técnico-profissional precisa observar


O filme Ausência retrata a os princípios reguladores do ensino profissionalizante previstos no ar-
vida de Serginho, um me-
nino de 14 anos de idade tigo 63: “I – garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regu-
que precisa trabalhar na lar; II – atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; III
feira em São Paulo para
auxiliar em casa após o – horário especial para o exercício das atividades” (BRASIL, 1996).
abandono do seu pai. A
sugestão é válida para A menção à frequência obrigatória e ao acesso ao ensino regular
demonstrar que, embora significa que o trabalho não pode, de maneira alguma, atrapalhar o en-
o trabalho infantil seja
crime, ainda é a realidade sino; assim, há essa obrigatoriedade porque
de diversas crianças no ambos devem se complementar. Além
Brasil.
disso, o desenvolvimento do adoles-
Direção: Chico Teixeira. Brasil:
Imovision, 2015. cente deve ser observado na ativida-
de que será executada – portanto,
como mencionado, não pode ser
perigosa, insalubre ou noturna.
Precisa ainda, ser em horário

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compatível com o ensino regular;

erst
em nenhuma hipótese poderá ser

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inconciliável.

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go

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O disposto no artigo 64 do ECA,
O trabalho não pode, em hipótese nenhuma,
que afirma que é assegurada bolsa atrapalhar o estudo do adolescente, uma vez
de aprendizagem ao adolescente até que deve ser respeitada a condição de pessoa
em desenvolvimento. Devem ser assegurados
14 anos de idade, não se aplica, pois, os direitos trabalhistas e previdenciários.
como exposto anteriormente, confor-
me o artigo 7, inciso XXXIII, da Constituição, o menor de 14 anos não
pode trabalhar.

O artigo 66 do ECA prevê o trabalho protegido ao adolescente com


deficiência e deve ser lido em consonância com a Constituição, como
dispõe o artigo 227:
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral
à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a

82 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


participação de entidades não governamentais, mediante políti-
cas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos:
[...]
II – criação de programas de prevenção e atendimento especia-
lizado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial
ou mental, bem como de integração social do adolescente e do
jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o
trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e ser-
viços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e
de todas as formas de discriminação.
[...]
(BRASIL, 1990)

O trabalho tem um importante papel na integração da pessoa com


deficiência na sociedade, sendo necessário que se observem e se de-
senvolvam programas de atendimento especializado, sempre visando
eliminar as barreiras existentes na sociedade.

Levando em consideração a especial proteção do adolescente no


trabalho, é vedado trabalho, conforme o artigo 67 do ECA:
I. noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as
cinco horas do dia seguinte;
II. perigoso, insalubre ou penoso;
III. realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desen-
volvimento físico, psíquico, moral e social;
IV. realizado em horários e locais que não permitam a frequência à
escola. (BRASIL, 1990)

O trabalho noturno, conforme a CLT, no seu artigo 73, § 2º, é “o


trabalho executado entre as 22 horas de um dia e as 5 horas do dia
seguinte” (BRASIL, 1943). Quanto ao trabalho perigoso, concebe-se
aquele que apresenta riscos de danos à integridade física ou à vida.
Já o trabalho insalubre é aquele com riscos para os direitos à saúde
do trabalhador. Por fim, o trabalho penoso é aquele excessivamente
desgastante e incompatível com a idade do adolescente.

No que diz respeito aos lugares prejudiciais ao desenvolvimento


do adolescente, pode-se realizar a leitura em conjunto com o Código
Penal, que no seu artigo 247 estabelece:
Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder
ou confiado à sua guarda ou vigilância:

I. frequente casa de jogo ou mal afamada, ou conviva com pessoa


viciosa ou de má vida;

Proteção da criança e do adolescente 83


II. frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o
pudor, ou participe de representação de igual natureza;
III. resida ou trabalhe em casa de prostituição;
IV. mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública:

Pena – detenção, de um a três meses, ou multa. (BRASIL, 1940)

Todos os lugares listados no artigo são inadequados para adoles-


centes e crianças. Embora esteja em vigência, a lei em questão é antiga
– e, por isso, carrega a linguagem da época –, sendo importante expli-
car alguns termos.

Casa de jogo ou mal afamada podem ser as casas em que são pra-
ticados jogos ilegais, como jogo do bicho, ou aquelas que, como o
próprio nome sugere, carregam má fama, como os locais para uso de
drogas ilícitas. Do mesmo modo, o inciso I menciona a convivência com
pessoas viciosas ou de má vida, que são aquelas com vícios em tóxicos
e entorpecentes ou que vivam uma vida inapropriada para as crianças
e os adolescentes.

Quando a legislação se refere a espetáculo capaz de pervertê-lo, como


dispõe o inciso II, um exemplo são casas de prostituição. Isso ocorre
também no inciso seguinte, que dispõe sobre residir ou trabalhar em
casa de prostituição.

Por fim, utilizar a comiseração pública da criança e do adolescente


significa usá-los para causar comoção pública. Isto acontece nos casos
em que famílias utilizam seus filhos para pedir esmolas de modo que
as pessoas se comovam com seu sofrimento. Nesse sentido, a vedação
ao trabalho em lugares e horários incompatíveis à escola é necessária
para que se mantenha o desenvolvimento escolar.
Atividade 1
Como mencionado, as leis levam em consideração que deve ser res-
O que deve ser observado no em peitada a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e a capaci-
relação ao trabalho da criança e
do adolescente? tação profissional adequada ao mercado de trabalho do adolescente.
Esse é o principal objetivo da proteção ao direito à profissionalização e
ao trabalho previsto no ECA.

84 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


5.2 Política de atendimento
Vídeo A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente
deve observar uma série de ações realizadas com o objetivo de propi-
ciar proteção e atendimento especializado. Essas ações estão elenca-
das na parte especial do ECA.

Nesse sentido, o artigo 86 estabelece que “a política de atendimento


dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto
articulado de ações governamentais e não governamentais, da União,
dos estados, do Distrito Federal e dos municípios” (BRASIL, 1990).

A política de atendimento pode ser observada nas seguintes ações:


I. políticas sociais básicas;
II. serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social
de garantia de proteção social e de prevenção e redução de vio-
lações de direitos, seus agravamentos ou reincidências;
III. serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicos-
social às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso,
crueldade e opressão;
IV. serviço de identificação e localização de pais, responsável, crian-
ças e adolescentes desaparecidos;
V. proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da
criança e do adolescente;
VI. políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o perío-
do de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exer-
cício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes;
VII. campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda
de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e à
adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de
adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com de-
ficiências e de grupos de irmãos. (BRASIL, 1990)

As políticas sociais básicas referem-se a observar o que está dis-


posto no artigo 227 da Constituição, ou seja, o mínimo existencial para
a sobrevivência. Além disso, o Estado deve proporcionar a assistência
social para garantir a proteção social da criança e do adolescente, que
deve ser realizada por meio de serviços, programas, projetos e benefí-
cios de assistência social.

Quando se trata de proteção à criança e ao adolescente, observa-se


o papel fundamental do município, pois trata-se do ente que está mais

Proteção da criança e do adolescente 85


próximo do seu dia a dia – contudo, isso não isenta os demais entes de
garantirem a sua proteção. Vale ainda ressaltar que deve haver, nas
ações da política de atendimento, o amparo especial às vítimas de vio-
lência, com serviços especiais de prevenção e atendimento médico.

Para a criança e o adolescente, é essencial que se tente manter o con-


vívio familiar. Portanto, sempre que pais, responsáveis e crianças e ado-
lescentes estejam desaparecidos ou não estiverem encontrando a sua
família, será realizado o serviço de busca. Desse modo, devem ser imple-
mentados programas visando garantir o exercício do convívio familiar.

Um dos principais pontos da política de atendimento é o estímulo,


por meio de campanhas, ao acolhimento familiar e à adoção de crian-
ças e adolescentes que não estão sob o convívio familiar. Isso acontece
devido a diversos fatores, como abandono, agressão, maus-tratos, ex-
Glossário ploração sexual, entre outros. Nesses casos, há duas formas de realizar

família acolhedora: são as o acolhimento: por meio de abrigo institucional em entidades governa-
famílias que recebem crianças mentais ou não governamentais e por meio de famílias acolhedoras.
e adolescentes afastados da
família de origem. A política de atendimento possui diretrizes específicas que estão
elencadas no artigo 88 do ECA. A primeira delas é a municipalização do
atendimento, o que ocorre, como dito anteriormente, pela proximida-
de do município.

Há, ainda, a criação de conselhos em todas as esferas, assegurando


a participação popular por meio de organizações representativas. Le-
vando em consideração essa disposição, foi promulgada a Lei n. 8.242,
de 12 de outubro de 1991, que criou o Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente (Conanda) para estabelecer uma políti-
ca nacional de atendimento (BRASIL, 1991). Por meio dos conselhos,
também é possível a criação de programas específicos para atender os
menores de 18 anos que serão vinculados a esses. Além disso, podem
ser criados fundos para a manutenção desses programas.

Glossário Quando se trata de crianças e de adolescentes, é necessária absolu-

celeridade: agilidade, rapidez, ta celeridade, e a isso se deve a integração operacional realizada entre
velocidade. Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Segurança Pú-
blica e Assistência Social.

Já em situações de vulnerabilidade, a integração acontece de ma-


neira diversa entre Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pú-
blica, Conselho Tutelar e outros entes. O objetivo dessa integração é
assegurar a agilidade na reestruturação da criança na família ou no seu

86 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


encaminhamento para a adoção. Infelizmente, a realidade brasileira
atual não é essa, pois ainda é possível verificar lentidão extrema nos
atendimentos.

A formação profissional em geral também é uma das metas da po- Atividade 2


lítica de atendimento, bem como a mobilização da opinião pública. Por De que forma serão
isso, é necessária a capacitação adequada dos profissionais que aten- implementadas as políticas de
atendimento para crianças e
dam a criança e o adolescente, além da realização e da divulgação de adolescentes?
pesquisas sobre desenvolvimento e prevenção de violência.

5.3 Atos infracionais


Vídeo Os atos infracionais são considerados atos ilícitos para o direito
penal, portanto a tipificação adequada está estabelecida no Código
­Penal (1940). Em outros termos, ato infracional é toda conduta descrita
como crime ou contravenção penal, conforme estabelece o artigo 103
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Os atos infracionais são previstos em lei penal,


inclusive na legislação extravagante, e praticado Saiba mais
por criança ou adolescente. A Lei n. 12.594, de 18 A legislação extravagante
de janeiro de 2012, instituiu o Sistema Nacional de engloba as chamadas leis
Atendimento Socioeducativo (Sinase), que tem como especiais, que são aquelas que
não estão inclusas no Código
objetivo ordenar princípios, regras e critérios que Penal. Um exemplo é a Lei Maria
são utilizados na execução de medidas socioeducati- da Penha, que é uma legislação
penal, mas que, por ser posterior
vas aos adolescentes.
ao Código Penal, é considerada
O Sinase propõe a criação de uma rede de aten- extravagante.
dimento à criança e ao adolescente em conflito com
a lei com base no sistema de garantia de direitos e
seus princípios primordiais (Figura 1).

Proteção da criança e do adolescente 87


Figura 1
Sistema de garantia de direitos

Sistema SUS – Sistema


Educacional Único de Saúde

SINASE
Sistema Nacional
de Atendimento
Socioeducativo
Sistema de Justiça SUAS – Sistema
e Segurança Único da
Pública Assistência Social

Fonte: Mato Grosso, 2020.

Neste contexto, com o Sinase, também se busca garantir a natureza


pedagógica da medida socioeducativa. Assim, as medidas aplicadas aos
atos infracionais são diversas daquelas aplicadas aos adultos. O quadro
a seguir elenca os principais atos praticados e suas respectivas medidas.

Quadro 2
Legislação, ato praticado e medida aplicada

Pessoa Legislação aplicável Ato praticado Medida

Criança (até 12 anos) ECA Ato Infracional Medida de proteção

Adolescente (12 a 18 ECA Ato Infracional Medida de proteção e


anos) medida socioeducativa

Código Penal; Código Crime ou contravenção


Maior capaz (18 anos de Processo Penal; Leis Pena privativa de
completos) Penais extravagantes liberdade, restritiva de
direitos e multa

Fonte: Elaborado pela autora.

São penalmente inimputáveis os menores de 18 anos, e somen-


te eles estão sujeitos às medidas previstas no ECA; em nenhuma
­hipótese o ECA pode ser aplicado a maiores de 21 anos. Só podem ser
aplicadas medidas socioeducativas aos maiores de 18 anos se o ato

88 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


tiver sido praticado antes de o menor completar a maioridade – isso
está elencado no artigo 2º, parágrafo único do ECA. O adolescente, na
execução da medida socioeducativa, não poderá receber tratamento
mais gravoso que o adulto que pratica a mesma conduta ilícita.

A medida de privação de liberdade só pode ser adotada se for ve-


rificada em flagrante a prática do ato infracional ou por ordem escrita
e fundamentada do juiz, como estabelece o artigo 106 do ECA. Em fla-
grante significa, de modo análogo ao Código de Processo Penal, em seu
artigo 302:
I. está cometendo a infração penal;
II. acaba de cometê-la;
III. é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por
qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
infração;
IV. é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam presumir ser ele autor da infração. (BRASIL,
1941)

A ordem escrita e fundamentada se refere ao disposto no artigo 5º,


LXI, da Constituição. Assim, o menor não pode ser apreendido sem que
a autoridade judicial competente o determine de maneira clara.

Ainda em relação à apreensão do adolescente, será informada ime-


diatamente à autoridade judicial e à família do apreendido ou à pessoa
por ele indicada. Desse modo, será examinada a possibilidade de libe-
ração imediata, como estabelece o artigo 107 do ECA. Essa possibilida-
de não deve prosperar se o ato infracional for de natureza grave ou se
o adolescente tiver antecedentes.

O adolescente está sujeito a internação provisória – isto é, antes da


sentença – de no prazo máximo de 45 dias, como afirma o artigo 108 do
ECA. Essa decisão deve ser fundamentada e garantir os requisitos do
artigo 174 do ECA, equivalentes à garantia da ordem pública do artigo
312 do Código de Processo Penal.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já estabeleceu a improrrogabili-


dade, ou seja, impossibilidade de prorrogação, do prazo da internação
provisória. Assim, o período de 45 dias da internação provisória não
pode, em hipótese alguma, ser prorrogado.

Ainda no que tange ao flagrante, se o ato infracional for cometido


sob grave ameaça ou violência, o artigo 173 do ECA dispõe que a auto-

Proteção da criança e do adolescente 89


Lei ridade policial deverá, sem prejuízo do disposto nos artigos 106 e 107
Art. 106. Nenhum adolescente do ECA:
será privado de sua liberdade
senão em flagrante de ato I. lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;
infracional ou por ordem escrita II. apreender o produto e os instrumentos da infração;
e fundamentada da autoridade III. requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da
judiciária competente. materialidade e autoria da infração.
Art. 107. A apreensão de Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratu-
qualquer adolescente e o local ra do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência cir-
onde se encontra recolhido serão cunstanciada. (BRASIL, 1990)
incontinenti comunicados à
autoridade judiciária competente A formalização do auto de apreensão ocorrerá apenas na hipótese
e à família do apreendido ou à
de violência ou grave ameaça. Dessa maneira, será realizado somente
pessoa por ele indicada.
nas hipóteses de violência pessoal.

Os atos infracionais devem respeitar as garantias processuais. Logo,


será observado o devido processo legal, disposto no artigo 5º, LIV, da
Constituição. Em outras palavras, ninguém será privado da liberdade
ou dos seus bens sem o processo adequado, conforme estabelecido na
legislação processual.

Também se deve assegurar o contraditório (direito de resposta) e a


ampla defesa, elencados na Constituição no seu artigo 5º, LV. É impor-
tante garantir o direito à defesa em todas as suas formas asseguradas
legalmente, bem como à resposta de todos os atos em todos os meios
de defesa admitidos em direito.

Ao adolescente ainda é assegurado, como dispõe o artigo 111 do


ECA, as seguintes garantias:
I. pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional,
mediante citação ou meio equivalente;
II. igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com ví-
timas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à
sua defesa;
III. defesa técnica por advogado;
IV. assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na
forma da lei;
V. direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI. direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em
qualquer fase do procedimento. (BRASIL, 1990)

Dessa forma, o autor do ato infracional deve ter conhecimento do que


lhe foi imputado. Ele também terá direito a igualdade processual e garan-
tia de produção de provas. A defesa técnica será realizada pelo advogado
e é assegurada a assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados.

90 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


A prática do ato infracional terá medidas socioeducativas – como
estabelece o artigo 112 do ECA –, que poderão ser advertência, obriga-
ção de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade
assistida, regime de semiliberdade e internação.

A Súmula n. 342 do Superior Tribunal de Justiça (STJ, 2007a) estabe-


lece que é nula a desistência de outras provas diante da confissão do
adolescente, exceto a remissão e a advertência. Em outras palavras,
mesmo que o adolescente confesse a prática do ato infracional, serão
realizadas as demais provas.

As medidas podem ser cumuladas ou aplicadas isoladamente. As-


sim, a Lei n. 12.594, de 18 de janeiro de 2012, ressalta que o objetivo da
medida é, conforme o artigo 1º, parágrafo 2º:
I. a responsabilização do adolescente quanto às consequências le-
sivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua
reparação;
II. a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos
individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano in-
dividual de atendimento; e
III. a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições
da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade
ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei.
(BRASIL, 2012)

Assim, deverá ser incentivada a reparação da consequência do ato


infracional. Isso acontece de maneira educacional, visando à compreen-
são da consequência do ato que foi praticado pelo adolescente. É sem-
pre necessário observar o objetivo pedagógico da medida imputada.

5.4 Medidas de proteção e medidas


socioeducativas
Vídeo
As medidas de proteção têm um importante papel no resguardo da
criança e do adolescente. Ela será aplicada sempre que os seus direitos
forem ameaçados ou violados, como estabelece o artigo 98 do ECA: “I
– por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II – por falta, omis-
são ou abuso dos pais ou responsável; III – em razão de sua conduta”
(BRASIL, 1990).

Proteção da criança e do adolescente 91


Estas medidas têm como objetivo tutelar aqueles que estão em si-
tuação de vulnerabilidade. Nesses casos, o artigo 101 do ECA estabele-
ce quais medidas devem ser realizadas:
I. encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II. orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III. matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial
de ensino fundamental;
IV. inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de pro-
teção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente;
V. requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em
regime hospitalar ou ambulatorial;
VI. inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orienta-
ção e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII. acolhimento institucional;
VIII. inclusão em programa de acolhimento familiar
IX. colocação em família substituta. (BRASIL, 1990)

As medidas elencadas no artigo 101 se aplicam tanto aos que


praticaram ato infracional quanto aos que estão em situação de vul-
nerabilidade. Desse modo, são aplicadas tanto àqueles que foram
abandonados material e intelectualmente pela família quanto àqueles
que praticaram atos ilícitos.

Essas medidas são necessárias para a proteção e a reeducação da


criança e do adolescente, sendo de competência da Vara da Infância e
Juventude. Já os casos que envolvem guarda, tutela, alimentos, visita
e demais conflitos familiares são de competência da Vara da Família.

Nesse sentido, sempre que houver ameaça ou violação a direito ou


garantia da criança e do adolescente, é necessária a intervenção do Es-
tado e, assim, proteção estatal. O Ministério Público possui um impor-
tante papel ao intervir nas ações em que há interesse de incapaz. Dessa
forma, o Ministério Público atua como fiscal da lei tanto nos processos
que tramitam na Vara da Infância e Juventude quanto nos processos
que tramitam na Vara da Família envolvendo incapaz.

Nos casos em que é necessária a aplicação de medidas socioeduca-


tivas, elas podem ser aplicadas de modo isolado, isto é, somente uma
delas, ou de maneira cumulativa, bem como instituídas a qualquer
tempo. Além disso, quando necessário, é possível sua substituição.

92 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


As autoridades competentes para determinar as medidas são o
Conselho Tutelar e o Poder Judiciário – este, inclusive, pode rever a de-
cisão do primeiro caso algum legitimado (elencado no artigo 137 ECA)
requeira. A colocação em acolhimento institucional ou familiar e em
família substituta é de competência exclusiva do juiz.

Como regra, as medidas protetivas podem ser aplicadas de ofício


pela autoridade competente, sem requerimento. Já as medidas que en-
volvam terceiro, como pais ou responsáveis, devem assegurar o contra-
ditório e a ampla defesa realizados por procedimento próprio.

Caso a criança ou o adolescente esteja em situação de vulnerabilida-


de, será encaminhado aos pais ou responsáveis um termo de respon-
sabilidade elencando, de maneira clara, a situação de risco e o alerta
adequado com as propostas de solução. Os pais assumem a respon-
sabilidade pelos atos dos filhos e, caso estes retornem à situação an-
terior, é cabível a instauração de processo de perda ou suspensão do
poder familiar.

Essa é uma forma de alertar os pais e responsáveis e, também, de


responsabilizá-los pelos atos dos seus filhos e tutelados. É ­possível, ain-
Saiba mais
da, realizar uma medida de advertência e devem ser feitos, por uma
equipe interprofissional, a orientação, o apoio e o acompanhamento A família acolhedora também é
chamada de guarda subsidiada.
temporário. Sempre que necessário, deve-se realizar o tratamento mé- No programa Família Acolhedo-
dico, psicológico ou psiquiátrico adequado. ra, como o próprio nome sugere,
famílias acolhem crianças e
Ressalta-se que também é cabível a medida de proteção nos casos adolescentes que não estão no
em que não foi realizada a matrícula no ensino fundamental. Se não seio da sua família de origem.
O programa prevê período de
houver vaga em escolas municipais ou estaduais, os pais devem procu-
acolhimento é de seis meses,
rar a autoridade competente – Conselho Tutelar ou Ministério Público podendo ser prorrogado por
– para ter o seu pedido atendido. até dois anos (caso exceda deve
haver justificativa do juiz); a fa-
O acolhimento institucional é conhecido como abrigo de crianças mília recebe um salário mínimo
e adolescentes. Essa deve ser sempre a última opção e ocorrer de ma- por mês do governo para ajuda
de custo. Incorporado na Lei de
neira breve. Trata-se de um lugar seguro de acolhimento, mas que não Adoção (Lei n. 13.509/17), o
pode ser de vivência permanente. É necessário que haja locais seguros Programa Família Acolhedora
para o abrigo dos jovens em perigo. é organizado por municípios.
Em Curitiba, é possível obter
Já o acolhimento familiar é um misto entre acolhimento institucio- mais informações por meio do
site da Fundação de Ação Social
nal e família substituta. Nesse caso, as famílias, que são previamente
(FAS): http://www.fas.curitiba.
cadastradas no Programa Família Acolhedora, recebem crianças e ado- pr.gov.br/conteudo.aspx?idf=79.
lescentes em caráter temporário. Esse programa deve ser analisado Acesso em 24 set. 2020.

Proteção da criança e do adolescente 93


pelo juiz da Vara da Infância e Juventude e, assim, a família se torna
guardiã da criança ou do adolescente.

A família substituta, como o próprio nome sugere, é aquela que


substitui a natural ou biológica. Na falta dos pais, se houver parentes
interessados em assumir a sua responsabilidade, confere-se a eles a
tutela. Portanto, a família substituta advém da tutela ou, nos casos em
que há efetivamente a perda do poder familiar, da adoção.

É importante salientar que a adoção rompe de modo definitivo o


vínculo com a família de origem e, assim sendo, só ocorre em casos
excepcionais e após a perda do poder familiar, em hipóteses nas quais
não é possível restabelecer o vínculo com a família de origem. O proce-
dimento é realizado de maneira cuidadosa e apenas nos casos em que
foram esgotadas as tentativas de reaproximação.

A diferença entre guarda, tutela e adoção estão elencadas no qua-


dro a seguir.

Quadro 3
Guarda, tutela e adoção: principais características.

• Obriga a prestação de assistência material, moral e


educacional à criança ou ao adolescente.
Glossário • Posse de fato.
• Acolhimento temporário de crianças e adolescentes.
múnus público: originário Guarda
do latim, significa a obrigação, • A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante
dever imposto por lei. Portanto, ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.
beneficia a coletividade e deve • É um múnus público.
ser observado o seu cumprimen- • Deferido pelo juiz.
to pelo poder público.
• Tutor nomeado em testamento ou qualquer outro documento
autêntico tem até 30 dias após a abertura da sucessão.
• Só será deferida a tutela se restar comprovado que a medida
Tutela
é vantajosa e que não existe outra pessoa em melhores
condições de assumir.
• Também pode ser nomeado pelo juiz.

• Medida excepcional e irrevogável, quando esgotados os


recursos para a manutenção na família natural ou extensa.
• Prevalecem os interesses do adotando.

Adoção • Adotado com no máximo 18 anos, salvo se já estiver sob


guarda ou tutela dos adotantes.
• Atribui condições de filho, com mesmos direitos e deveres,
desligando qualquer vínculo com os pais e parentes, salvo os
impedimentos matrimoniais.
Fonte: Elaborado pela autora.

94 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


O ECA estabelece um tratamento diferente aqueles que estão em
situação de vulnerabilidade e aqueles que praticam atos infracionais,
diferentemente do que ocorria durante a teoria da situação irregular.
Nesse sentido, nas situações em que o adolescente pratica um ato in-
fracional, são implementadas medidas socioeducativas. As medidas
são implementadas conforme a necessidade e a gravidade do ato, e
estão dispostas no artigo 112:

I. advertência;
II. obrigação de reparar o dano;
III. prestação de serviços à comunidade;
IV. liberdade assistida;
V. inserção em regime de semi-liberdade;
VI. internação em estabelecimento educacional;
VII. qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

Também será considerada a capacidade do adolescente em cum-


prir a medida.

A medida socioeducativa, quando for de prestação de serviços à


comunidade, será de no máximo seis meses, e a liberdade assistida
será de no mínimo seis meses. Já a medida de internação apenas será
aplicada conforme o artigo 122 do ECA, quando: “I – tratar-se de ato
infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II
– por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III – por
descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente
imposta” (BRASIL 1990).

Assim, poderá ser agravada a medida nas referidas hipóteses. En-


tretanto, a Súmula n. 265 (STJ, 2002) estabelece que é necessária a oiti-
va do menor infrator. Em outras palavras, deve-se ouvir o depoimento
do adolescente a fim de que se preserve o seu direito de relatar o fato.

A seguir, faz-se um comparativo entre as medidas de s­ emiliberdade


e internação.

Proteção da criança e do adolescente 95


Figura 2
Semiliberdade x internação

O adolescente trabalha e estuda de dia e fica


Semiliberdade
recolhido de noite.

Precisa de autorização judicial para atividades


Internação
externas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Tanto a semiliberdade quanto a internação serão realizadas por


prazo indeterminado com reavaliações periódicas em intervalos de, no
máximo, seis meses. A medida de internação é a mais gravosa, pois
o adolescente não pode realizar atividades externas sem a devida
autorização.

É possível, ainda, a concessão da remissão, que se trata de uma es-


pécie de perdão. Ela será concedida, quando realizada antes do pro-
cesso, pelo Ministério Público e, com isso, será excluído o processo.
Se realizada durante o processo, deverá ser feita por autoridade judi-
ciária, e o processo será suspenso ou extinto. Essa remissão não im-
plica reconhecimento da responsabilidade, nem prevalecem efeitos de
antecedentes, e o juiz poderá discordar da remissão concedida pelo
Ministério Público. Ela pode, também, ser cumulada com uma medida
socioeducativa, desde que não de semiliberdade ou internação.
Atividade 3 Na medida socioeducativa, também se aplica a prescrição, que
Em quais hipóteses serão aplica- significa a perda da pretensão. Portanto, não poderá ser imputada a
das as medidas de proteção da
medida socioeducativa correspondente – como estabelece a Súmula
criança e do adolescente?
n. 338 (STJ, 2007b); aplica-se a mesma do direito penal. Assim, o adoles-
cente não irá cumprir a medida socioeducativa se já tiver transcorrido
o tempo de cumprimento da medida no ECA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foi analisado o direito ao trabalho e à profissionalização
da criança e do adolescente. Para tanto, é necessário observar as proteções
impostas na legislação e compatibilizá-lo com a obrigatoriedade do ensino.
Em seguida, foram estudadas as políticas de atendimento necessárias
para a garantia dos direitos fundamentais da criança e do adolescente.
Nesse sentido, o Estado tem papel essencial no seu desenvolvimento.

96 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


Foram analisados, ainda, os atos infracionais que são os atos ilícitos
praticados pelos menores de 18 anos de idade. Considerando-se que se
trata de pessoas em desenvolvimento, as medidas adotadas devem ser
observadas com atenção e aplicadas de maneira adequada, sempre com
o caráter educativo.
Por fim, discorreu-se sobre medidas adotadas nas práticas dos atos
infracionais. Para tanto, existem as medidas de proteção, que também
são adotadas para os adolescentes em situação de vulnerabilidade, e as
medidas socioeducativas. O objetivo dessas medida é sempre a educação
do adolescente e a sua socialização. Ressalva-se que sempre deve ser in-
centivado o estudo e a participação na sociedade.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em 14 set. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 14 set. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 13 out. 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: 14 set. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º maio de 1943. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del5452.htm. Acesso em: 14 set. 2020.
BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.
htm. Acesso em: 14 set. 2020.
BRASIL. Lei n. 18.242, de 12 de outubro de 1991. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 16 out. 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8242.
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BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.
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BRASIL. Lei n. 10.097, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 20 dez. 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10097.
htm. Acesso em: 14 set. 2020.
BRASIL. Lei n. 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 19 jan. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Lei/L12594.htm. Acesso em: 14 set. 2020.
STJ – Superior Tribunal de Justiça. Súmula 265. Diário da Justica, 29 maio 2002. Diponível
em: https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2011_20_
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capSumula338.pdf. Acesso em 1 set. 2020.
STJ – Superior Tribunal de Justiça. Súmula 342. Diário da Justiça, 27 jun. 2007b. Disponível

Proteção da criança e do adolescente 97


em: https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2012_29_
capSumula342.pdf. Acesso em: 23 set. 2020.
MATO GROSSO. Secretaria do Estado de Segurança Pública. Entendendo o SIPIA/SINASE.
2020. Disponível em: http://www.sesp.mt.gov.br/sipia-/-sinase. Acesso em: 14 set. 2020.

GABARITO
1. No que tange ao trabalho da criança e do adolescente, levando em consideração a
sua condição de pessoa em desenvolvimento, é necessário observar a matrícula e a
frequência no ensino regular e a vedação ao trabalho noturno e insalubre.

2. Segundo o artigo 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as políticas de


atendimento serão implementadas por um “conjunto articulado de ações governa-
mentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos muni-
cípios” (BRASIL, 1990). O objetivo principal da política de atendimento é concretizar os
princípios norteadores do ECA e garantir a sua execução.

3. Segundo o artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as medidas de pro-


teção da criança e do adolescente serão aplicadas por “ação ou omissão da sociedade
ou do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; e em razão de sua
conduta” (BRASIL, 1990). Em outras palavras, sempre que houver omissão ou abuso
em relação à criança e ao adolescente, será necessária uma medida adequada de pro-
teção com o objetivo de garantir que seus direitos sejam efetivamente preservados.

98 Direitos educacionais de crianças e adolescentes


DIREITOS EDUCACIONAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
ANELIZE PANTALEÃO PUCCINI CAMINHA
Código Logístico

59551

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6677-3

9 788538 766773

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