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SEDUC, 2000.
1. Educação – Infantil
2. Criança
I – Título
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CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES EDUCIONAIS/SEDUC
Por que resgatar a História
da infância e da educação infantil?
É claro que a História é mais complexa do que o Calvin consegue perceber. E é claro também
que há múltiplos propósitos em jogo que ele, no egocentrismo típico da sua idade, não pode
admitir. Mas numa coisa ele tem total razão: a História é alho muito forte!
Infância, educação
e sociedade
A ideia de infância
Precisamos estar atentos para o fato de que a maneira de se perceber a infância vem
mudando ao longo dos tempos. Através das pesquisas de vários estudiosos, das pinturas, das
fotos, dos objetos, da literatura etc., podemos ter acesso à forma como a criança era vista e
tratada em diferentes épocas e lugares.
Assim, ficamos sabendo que a visão da infância como uma etapa do desenvolvimento da
pessoa, etapa que tem características bem definidas é relativamente recente. Hoje está muito
difundida a ideia de várias etapas do desenvolvimento. Já não se fala apenas em infância,
juventude, maturidade e velhice, mas essas grandes etapas são subdivididas – (outro dia ouvi
uma garotinha de 5 anos referir-se ao seu irmão, de 11 anos, como “pré-adolescente” e isso lhe
parecia muito natural).
Como Ariès (1981) chama a atenção, antigamente, principalmente até a idade média, as
condições de existência (saneamento básico, higiene, conhecimento sobre as doenças etc.)
eram bem mais precárias – e ainda piores para as camadas mais pobres, as quais ainda tinham
que conviver com a precariedade da alimentação; isso fazia com que a taxa de mortalidade
infantil fosse muito grande. Por outro lado, não havia essa longa preparação para ingressar no
mercado de trabalho, que é uma exigência dos tempos atuais; as crianças e jovens aprendiam
as profissões com a própria família ou com algum profissional que lhe tomasse como aprendiz
(o analfabetismo era a regra e isso não fazia tanta diferença no dia a dia das pessoas, pois a
leitura e a escrita não eram necessárias para exercer as atividades mais comuns na época).
Assim, havia uma rápida passagem para a condição de membro participante da sociedade,
inclusive partilhando com os adultos de suas festas, brincadeiras, diversões etc. Acrescente-se a
isso que não existia a mesma noção de família que geralmente temos (composta apenas pelos
pais e filhos) e as relações entre as famílias e a sociedade eram bem mais estreitas e difusas.
Nessas condições (alta taxa de mortalidade infantil, diferentes relações econômicas e sociais
entre adultos e crianças e entre a família e a sociedade), é fácil imaginar que a forma de se ver
a infância fosse diferente.
Na verdade, mesmo numa época, como a nossa, temos maneiras bem diferentes de ver a
criança, também influenciadas pelas condições econômicas e sociais: por exemplo, se nasce uma
criança numa família rica, ela pode ser encarada como alguém que será preparada para assumir
os negócios e, provavelmente, expandi-los; numa família pobre, pode significar uma boca a mais
para ser alimentada, aumentando as preocupações com a sobrevivência da prole.
Por outro lado, é comum vermos as condições de vida dessas famílias serem atribuídas ao
mérito, empenho ou direito de uma (a família rica) ou à imprevidência, desleixo, ou, no máximo,
à falta de sorte de outra (família pobre). Isso não ocorre ao acaso, mas ajuda a preservar o modo
como a sociedade está funcionando. E nessa sociedade, uma das divisões mais frequentes é
entre consumidores e não-consumidores; para a indústria de alimentação, de brinquedos, de
vestuário, de calçados, de diversão etc., a criança é uma ávida consumidora que precisa ser
conquistada – portanto, ela volta-se para a criança cujos pais têm poder aquisitivo e difunde
ideias e modas que estimulem o consumo de seus produtos.
Percebemos, então, que o “sentimento de infância”, a forma como vemos e nos
relacionamos com a infância, é construído social e historicamente, refletindo as condições em
que é gerado e os interesses dominantes presentes num determinado momento.
Não é difícil concluirmos que as imagens difundidas das crianças apenas reforçam as
imagens difundidas sobre as classes sociais às quais elas pertencem.
Educação e sociedade
Desde o início do século XIX, uma das possibilidades de acesso ao sucesso passou a ser a
educação, que por sua vez podia levar a três carreiras: o funcionalismo público, a política e as
profissões liberais. No entanto, a educação não era franqueada a todos, em nenhum país havia
um sistema de educação pública que garantisse a qualquer um obter esse sucesso – em geral,
mesmo onde existia a educação primária, “estava confinada, por razões políticas a um mínimo
de alfabetização, obediência moral e conhecimentos de aritmética” (ibidem, p.211-212). Assim,
era necessário ter algum recurso inicial e uma família pobre precisava submeter-se a grandes
sacrifícios para ver um de seus membros chegar a ser um funcionário público, um intelectual,
um advogado ou médico. Já para as famílias ricas o acesso à educação era bem mais facilitado.
Mas, para os nascentes empresários, que submetiam a massa de novos proletários a uma cruel
disciplina e péssimas condições de trabalho a fim de explorá-los ao máximo, era preferível (como
continua sendo até hoje) passar a ideia de que não havia injustiça na situação, apenas uma
distribuição de acordo com os méritos pessoais de cada um.
É importante destacar dois pontos. Primeiro: embora se propague que “a educação está aí,
não aproveita quem não quer”, podemos ver que, desde muito tempo a verdade é mais cruel.
Segundo: as diferenças que existem refletem e expressam os interesses da classe hegemônica,
isto é, que domina determinada sociedade – e entre esses interesses está continuar o seu
domínio.
É por isso que quando se afirma que a função da educação é distribuir igualmente o saber
que a humanidade acumulou, estamos falando de um ideal. Sabemos pela nossa própria
experiência que a educação oferecida às crianças e jovens ricas é de qualidade inferior àquela
oferecidas às crianças e jovens pobres, que precisam se submeter a aulas em geral menos
estimulantes, em escolas mal equipadas, sem o material didático necessário etc. Além disso, os
primeiros têm acesso a bens culturais, através de viagens, literatura diversificada, cinema,
cursos de línguas estrangeiras, computadores outras opções de canais de TV (porque podem
pagar assinatura) etc., que facilitam o seu sucesso escolar. E, apesar de tudo isso, não é raro que
se ouça autoridades e professores reclamando que as crianças e jovens pobres não saem bem
porque não são aplicados, são desnutridos, as famílias são problemáticas e não se interessam
pelos estudos do filho e várias outras razões que responsabilizam o aluno ou a sua família.
Mas a realidade é que a educação não distribui igualmente os bens culturais; há escolas
diferentes para diferentes classes sociais. As crianças e jovens pertencente a famílias com poder
aquisitivo podem escolher entre as escolas que disputam a sua matrícula enquanto os que não
têm essa possibilidade, dependem da educação que lhes é oferecida pelos equipamentos
públicos. E, nessas escolas diferentes, são transmitidos não só conhecimentos diferentes (no
sentido de mais completos, ricos etc.), mas valores e atitudes diferentes: as crianças e jovens
dos extratos superiores não são preparados apenas para assumir postos de trabalho mais
valorizados, mas também para ter uma posição mais independente e crítica, para assumir
liderança; já as crianças e jovens dos extratos inferiores da nossa sociedade são levados a não
questionar, a se submeterem às regras etc.; de certa forma pode-se dizer que uns são educados
para a autoridade enquanto outros são educados para a subalternidade.
Nesse sentido, é bom lembrar que uma importante função que a escola assumiu desde o
século XV, e especialmente séc. XVII, foi a de disciplinar as crianças e jovens, com o objetivo de
domar os seus impulsos e que aprendessem os modos considerados adequados em cada época
e sociedade.
Educação
A educação infantil não pode ser vista de forma isolada de outras etapas da educação, como
se ela tivesse vida própria. Ambas acontecem num mesmo espaço social, sujeitas às concepções
vigentes, sendo influenciadas por fatores de diversas ordens.
Por outro lado, o atendimento à criança pequena em instituições de educação infantil, faz
parte de uma série de iniciativas em relação à infância e à família que dependem de mudanças
que estão acontecendo desde o início do nosso século, tais como: a crescente urbanização (cada
vez mais pessoas deixam o campo para morar nas cidades), o aumento do número de mulheres
que trabalham fora de casa, a diminuição da taxa de natalidade (número de crianças que as
famílias têm) e os conhecimentos científicos acerca da criança.
• Não é apresentada como direito do trabalhador, “mas como mérito dos que se
mostrassem mais subservientes, segmentando a pobreza, procurando dificultar seu acesso aos
bens sociais. A sua função, de acordo com essa visão preconceituosa, seria disciplinar os pobres
e os trabalhadores” (p.64-65);
• A integração entre a ação do Estado e a iniciativa particular, unidos para praticar a
caridade ou a filantropia (expressão que foi substituindo a primeira);
• A utilização de um método, chamado de científico, através do qual o candidato a
beneficiário dos programas de assistência precisavam mostrar-se merecedores dos seus
benefícios; assim, respondendo a um minucioso questionário, onde expunha toda a sua
condição de vida, a pessoa era avaliada como “indigentes válidos e a prestação de auxílios
eficazes para promover a melhoria da raça e o controle social, na direção predeterminada do
progresso e da civilização” (p.66) 1
Objetivos
De um modo geral, o início do atendimento à infância, teve os seguintes objetivos:
1
É bom lembrar que a escassez desses serviços levava a uma competição entre os que precisavam deles.
• Forma de evitar a criminalidade, o que é decorrente da preocupação jurídica e policial
com a “infância desvalida ou moral e materialmente abandonada”;
• Promoção da tranquilidade das elites; fruto tanto da influência jurídico-policial como da
visão, predominante na época, da Igreja Católica, que, seguindo os ensinamentos da encíclica
Rerum Novarum (1891), via a propriedade privada como inviolável, sendo que os pobres
deveriam sofrer e suportar a sua condição de subalternidade – assim, a dimensão religiosa e
educacional da assistência estava voltada justamente para evitar mudanças sociais, mantendo
os pobres agradecidos aos ricos.
Alguns marcos
As primeiras iniciativas voltadas para o atendimento à criança pequena estiveram a cargo
de particulares. Entre elas, destacamos:
• 1875: 1ª pré-escola (Colégio Menezes Vieira, no Rio de Janeiro); as pré-escolas das elites
passam a utilizar o termo “pedagógico” como estratégia de propaganda para diferenciar-se dos
asilos para pobres;
• 1986: jardim de infância da escola Caetano de Campos (SP) – pública, mais voltada para
as elites;
• 1899: fundação do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (IPAI-
RJ) – entidade particular de caráter médico (puericultura intrauterina e extrauterina), mas que
também tinha preocupações com os aspectos jurídicos e educacionais; em 1929 já tinha filiais
em todo o país;
• 1899: criação da creche da Companhia de Fiação e Tecidos Corcovado (RJ) – primeira
creche brasileira para filhos de operários;
• 1906: inauguração do Patronato de Menores, criado por juristas no Rio de Janeiro, que
fundaram creches para abrigar criancinhas cujas mães busquem trabalho fora do lar;
• Primeiras décadas do séc. XX: começam a se multiplicar creches criadas junto às
indústrias;
• 1919: criação do Departamento da Criança do Brasil-DCB, que pretendia centralizar
informações, estudos e pesquisas sobre a criança.
É importante assinalar que desde esses primórdios, havia basicamente dois tipos de
instituições para o atendimento à criança pequena: a creche, voltada para as crianças das
camadas empobrecidas da população, voltada mais para a sua guarda e alimentação, e as pré-
escolas, em geral direcionadas para as camadas médias e altas da população, com maiores
preocupações com métodos pedagógicos que favorecessem o desenvolvimento das crianças.
O papel do Estado
É interessante destacar o papel do Estado nesse início da breve história da nossa educação
infantil. Praticamente não houve nenhuma iniciativa ou investimento, até 1930. Apesar de
proclamar que “É preciso preparar a criança de hoje para ser o homem de amanhã”, o Estado se
afirmava sem condições financeiras para assumir o atendimento à criança. Apenas em 1940 foi
criado o Departamento Nacional da Criança, vinculado ao Ministério da Saúde, que tinha como
objetivo a proteção à infância, à maternidade e à adolescência, e imprimiu uma tendência
assistencialista e paternalista à proteção à infância. Um ano depois, foi criado o Serviço de
Assistência a Menores, para atender os menores de 18 anos abandonados ou delinquentes,
ligado ao Ministério da Justiça e dos Negócios Exteriores.
No âmbito do Ministério da Educação e Cultura, somente em 1975 foi instituída a
Coordenação de Educação Pré-Escolar.
Esse tipo de percepção deu origem, nos Estados Unidos, a um pensamento que foi
denominado de teoria da privação cultural. Essa pretensa teoria já sofria inúmeras críticas
quando foi importada para o Brasil. Assim, uma vez que a criança pobre era vista como sofrendo
de privação cultural, uma providência necessária era compensar as suas carências – e até hoje
o termo “criança carente” é tão comum! Profundamente influenciado por esse tipo de visão, a
defesa da expansão da educação infantil passou a se basear na necessidade de oferecer uma
oportunidade para que essas crianças superassem as suas dificuldades e, dessa forma, tivessem
sucesso no ensino fundamental.
É preciso deixar claro que uma educação infantil de qualidade deve enriquecer e ampliar
as experiências e os conhecimentos de todas as crianças, o que, provavelmente contribuirá para
o sucesso escolar delas. No entanto, essa visão da carência cultural e a sua decorrente educação
compensatória não consideram todas as habilidades e conhecimentos que a criança pobre
certamente tem e a discrimina, culpando a ela e à sua família por algo que é fruto da injustiça
social: o acesso desigual aos bens culturais.
Há ainda dois outros problemas em relação a esse raciocínio segundo o qual deve-se
proporcionar educação infantil para prevenir problemas no ensino fundamental: primeiro, não
se questiona o ensino fundamental, como se todas as dificuldades que as crianças aí enfrentam
fossem devidas unicamente a características suas e não houvesse nada a ser questionado nessa
etapa da educação (seus métodos, seus materiais pedagógicos etc.); e depois, como pretender
que o sucesso no ensino fundamental esteja vinculado à educação compensatória se apenas
uma porcentagem tão pequena das nossas crianças têm acesso à educação infantil? Por outro
lado, não se pode esperar que a frequência a qualquer tipo de educação possa dar igualdade de
condições a todas crianças, jovens ou adultos; para ser realmente efetiva, a igualdade de
oportunidades precisaria aliar-se à igualdade de condições, o que só será possível quando se
solucionar a injusta distribuição de riquezas e benefícios entre os homens.
A influência de organizações internacionais
A história recente da educação infantil no nosso país foi bastante marcada pela atuação
de organização internacionais, principalmente o Fundo das Nações Unidas para a Infância –
Unicef, criado pela Organização das Nações Unidas.
O Unicef iniciou sua atuação durante as décadas de 40 e 50 em países pobres com
trabalhos assistenciais de caráter emergenciais (campanhas de vacinação, distribuição de leite
etc.). Na década de 60, passou a atuar de maneira mais contínua junto aos governos dos países
ajudados no sentido de promover a melhoria das condições de vida das crianças. Influenciaram
profundamente os programas aqui implantados as recomendações deste organismo para que
os países subdesenvolvidos buscassem novas alternativas para o atendimento à criança
pequena, visando a diminuição dos custos para o atendimento de um maior número de crianças.
Isto deveria acontecer principalmente através de:
Conclusão
O simples fato de ter havido expansão do atendimento às crianças pequenas não
representa a democratização das oportunidades educacionais para essa faixa etária. Quando
analisamos a forma como isso ocorreu e algumas das características atuais desse atendimento
vemos que, ao contrário, as crianças que prioritariamente mereceriam um atendimento de
qualidade (devido à dívida social que temos com elas) são as que são alvo dos programas que
enfrentam os maiores problemas.
O mais triste é pensar que, mantemos um atendimento sem uma boa proposta
pedagógica com profissionais ainda não totalmente habilitados, trabalhando em condições
difíceis (baixos salários, grande número de crianças sob a sua responsabilidade, falta de um
acompanhamento próximo e frequente etc.), em ambientes muitas vezes inadequados
(quentes, pouco iluminados), sem os equipamentos e materiais necessários, com rotinas pouco
interessantes que deixam as crianças boa parte do tempo ociosas ou esperando algo (esperando
por atenção, esperando pela tarefa, esperando pra tomar banho, esperando para ir embora). E,
dessa forma estamos contribuindo para que, como diz Fúlvia Rosemberg (1997), a socialização
para a subalternidade das crianças pobres e negras (pretas ou pardas) se inicie na educação
infantil.
Novidades importantes
2
Em outra ocasião (CRUZ, 1997), já chamei a atenção para essa mudança de concepções. Quase todo o
trecho a seguir é parte deste trabalho.
3
Uma boa novidade que logo chama a atenção nesses documentos é a contribuição, como consultores e
colaboradores, de pesquisadores e profissionais que atuam na área de educação infantil.
Neste sentido, é importante destacar que um dos princípios em que se baseiam as
diretrizes gerais da política de educação infantil assumida pelo MEC é que:
4
Não se pode deixar de registrar o avanço dessa concepção em relação às contidas em documentos
anteriores onde transparecia uma ideia de carência e de falhas que a educação pré-escolar deveria suprir.
Além disso, mostra-se sensível às diferenças individuais entre as crianças.
5
O reconhecimento da realização dessas tarefas pelas famílias e a sua consideração enquanto parceira –
e não a quem se precise substituir ou com quem se deva competir, devido a sua incompetência para tanto
– também precisam se anotados como avanços significativos em relação às concepções anteriormente
em voga.
com a educação; assim, o que antes citado nas leis como amparo e assistência passou a ser um
direito. Nesse sentido, é bom lembrar que a educação infantil é um direito das crianças
(inclusive independente da mãe trabalhar fora ou não) e que deve complementar a ação da
família e da comunidade.
Essas leis (especialmente a LDB) trazem outras referências muito importantes, como:
No entanto, para que isso aconteça, é necessário que se lute para se construir a qualidade
que é específica desse atendimento. O que isso quer dizer? Que não basta proclamar a
necessidade de qualidade no atendimento às crianças pequenas; é preciso deixar claro de que
qualidade estamos falando: a qualidade própria a esse atendimento. Portanto, é preciso
ressaltar essa especificidade para se garantir a qualidade que queremos ajudar a construir.
Na busca da identidade da educação infantil, o desafio atual é afirmar a necessidade de
se integrar educação e cuidado, o que decorre justamente da sua especificidade, isto é, desse
trabalho a ter como alvo a educação da criança de zero a seis anos. Então é imprescindível não
esquecer o que parece tão óbvio: estamos falando de educação e cuidados de bebês e crianças
de até seis anos. Como consequência, é preciso sempre considerar as características e
necessidades desses bebês e crianças que vivem em diferentes contextos socioculturais,
guiando-se pelos direitos fundamentais de todas as crianças (e não tendo como referência o que
as condições das suas famílias lhe permitem oferecer).
A defesa da função pedagógica da Educação Infantil é um avanço, pois todas as crianças
têm direito a enriquecer e ampliar o repertório de conhecimentos que já possuem. Mas
precisamos pensar com cautela o que isso significa e que ações devem ser realizadas para que
essa função se concretize sem que outros direitos que a criança tem, como o direito a brincar,
sejam também assegurados.
Por outro lado, quando nos referimos a cuidados, muitas vezes estamos pensando em dar
comida na hora certa, escovar os dentes, botar pra dormir etc. e nos esquecemos que perguntar
se a mamãe já teve nenen, dar um colo na hora certa, dar atenção a uma pergunta, participar
com alegria de uma brincadeira etc. também expressam cuidados que todas as crianças
precisam.
Para desenvolver um trabalho com boa qualidade as pessoas responsáveis pelo cuidado
e educação de crianças tão pequenas, precisam ter consciência da natureza e importância do
seu trabalho e não só aproveitarem as oportunidades que surgem, mas também lutarem por
melhorar a sua qualificação, entendendo que têm muito o que aprender para que seu trabalho
seja cada vez mais rico e prazeroso para si e para as crianças.
Por último, não podemos esquecer das condições necessárias para que os profissionais
da educação infantil desenvolvam um trabalho de qualidade. Tais condições envolvem diversos
aspectos, relacionados às próprias instalações, aos equipamentos e materiais existentes, ao
funcionamento da instituição e também ao acompanhamento e supervisão sistemáticos das
ações aí desenvolvidas. Tudo isso certamente contribui para que o pessoal de cada instituição
busque de maneira mais eficiente e proveitosa os caminhos de um trabalho de educação infantil
com a qualidade necessária.
Resumindo: na educação infantil, o grande desafio é a busca da sua identidade, que deve
aliar cuidado e educação, mas cuidado e educação com qualidade.
• Limpas e seguras;
• Com espaços amplos e que propiciem o contato com a natureza;
• Aconchegantes, alegres e estimulantes;
• Bem equipadas, inclusive com brinquedos adequados, variados e em quantidade suficiente;
• Que oferecem boa alimentação;
• Arejadas e bem iluminadas;
• Com uma proposta pedagógica.
E por profissionais:
• Habilitados;
• Bem remunerados;
• Motivados e comprometidos;
• Acompanhados frequente e regularmente.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981.
CRUZ, Silvia Helena Vieira. Reflexões acerca da formação do educador infantil. Cadernos de
Pesquisa. São Paulo: n° 97, p. 79-87, maio 1996.
HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 1977.
KUHLMANN JR. Moysés. Infância e educação infantil. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.
KRAMER, Sonia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. Rio de Janeiro: Dois Pontos,
1987.