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INSTITUTO PORTUGUÊS DE PSICOLOGIA e outras CIÊNCIAS

Pós-Graduação em
Intervenção em Crise,
Emergência e Catástrofe
Mecanismos de Crise Psicológica
Sílvia Campino
Crise Psicológica

INSPSIC
Mecanismos da Crise Psicológica
Vivência de uma situação exigente, em que os
mecanismos normais de adaptação e resolução de
problemas não têm êxito, resultando num
desequilíbrio psicológico (com sentimentos de
ansiedade, medo, culpa, impotência, etc.) e
diminuição do funcionamento adaptativo.

INSPSIC
Aguilera & Messick, 1994. Pessoa

Episódio desencadeador de Estado de equilíbrio Episódio desencadeador de


stress stress
Estado de desequilíbrio

Necessidade de restabelecer o equilíbrio

Fatores de equilíbrio Fatores de equilíbrio


presentes ausentes
Perceção realista do episódio Perceção distorcida do
episódio
Recursos externos adequados
Ausencia de recursos externos
adequados
Mecanismos de coping
adequados Ausência de mecanismos de
coping adequados
Resolução de problemas
Problema não resolvido

Recuperação do equilíbrio
Desequilíbrio mantém-se

Não há crise CRISE


INSPSIC
Reacções Agudas de Stress (I)
Emocionais Cognitivas
Choque emocional Atenção dispersa
Depressão Dificuldade de concentração
Ansiedade Dificuldade de tomada de decisão
Pânico Baixa auto-eficácia
Culpa Descrença
Raiva Negação
Medo Alteração da memória
Desespero Confusão
Irritabilidade
Distorção
Embotamento afectivo
Pensamentos intrusivos
Sentimento de luto/pesar Vulnerabilidade
Preocupação

INSPSIC
Reacções Agudas de Stress (II)
Físicas Comportamentais
Hipertensão arterial Luta ou fuga
Taquicardia “Congelado ou imobilizado”
Dificuldade respiratória Obediência automática
Fadiga Alienação
Insónia Abandono de actividades
Hiperalerta Desconfiança
Queixas somáticas Problemas no trabalho
Náuseas Conflito
Sede Agitação
Alteração do apetite
Arrepios e suores

INSPSIC
Reacções de Stress no tempo
100

ASR ASD PTSD

50 ASR ASD
PPST
ASR tardio

48/72 horas 1 semana 4 semanas ASR - Reacção Aguda de Stress


3 meses ASD - Distúrbio Agudo de Stress
PTSD - Perturbação de Pós-stress Traumático

INSPSIC
Factores de Risco
Pré-Incidente

• História psiquiátrica (Breslau et al, 1998)


• Características de Personalidade (traços de personalidade evitante) (Schnurr et al.,1993)
• Fraco suporte social (Ruzek et al., 2004)
• Experiência prévia de acontecimentos traumáticos ((Ruzek et al., 2004)
• Estratégias de coping desadaptativas e desadequadas (Haligan e Yehuda, 2000)

INSPSIC
Factores de Risco
Peri-Incidente

• Severidade do acontecimento e exposição a estímulos traumáticos (Raphael et al. 2000)


• Ameaça real ou percebida (Raphael et al. 2000)
• Perdas pessoais (bens, casa, rede social, …) (Raphael et al. 2000)
• Resposta subjetiva de medo, desesperança ou dissociação (Raphael et al. 2000)
• Falta de previsibilidade e controlo dos acontecimento (Raphael et al. 2000)

INSPSIC
Factores de Risco
Pós-Incidente

• Existência de stressores contínuos ou adicionais (fome, frio, fadiga, medo,


desalojamento, …) (Raphael et al. 2000)
• Baixo nível de suporte social e emocional ou elevadas exigências sociais (Raphael et al. 2000)
• Estratégias de coping desadequadas (evitamento, culpabilização, consumo de
substâncias, …) (Young et al., 2001)
• Pouca informação acerca da natureza e razões do acontecimento (Raphael et al. 2000)
• Pouco apoio de follow-up (Raphael et al. 2000)

INSPSIC
Factores de Protecção

• Retomar atividades normais do dia-a-dia e assumir uma postura ativa face às


consequências do incidente (Ommeren et al., 2005)
• Existência e disponibilidade de suporte social
• Sucesso em acontecimentos traumáticos anteriores
• Obtenção de informação adequada sobre o sucedido e sobre o que vai acontecer
(Raphael et al.2000)

INSPSIC
Reações face à situação de emergência

Tal como acontece com as vítimas, também os profissionais podem ser potenciais
vítimas e desenvolver Reações Agudas de Stress – ASR que, apesar de normais,
poderão evoluir para patologia psicológica / psiquiátrica.

INSPSIC
Psicoterapia vs. Intervenção em Crise


Psicoterapia vs. Intervenção em Crise
PSICOTERAPIA INTERVENÇÃO EM CRISE
Reparação, reconstrução e Prevenir, dissipar, restaurar
Contexto
desenvolvimento
Posterior, longe do agente Imediato, próximo do agente
desencadeador da crise ou da desencadeador da crise ou da
Timing
descompensação psicológica descompensação psicológica

Ambiente seguro e calmo Em qualquer local seguro próximo do


Local
incidente
Duração O tempo necessário 1 a 4 contactos

Papel do Orientador, consulta Ativo, diretivo


Terapeuta

INSPSIC
Psicoterapia vs. Intervenção em Crise
PSICOTERAPIA INTERVENÇÃO EM CRISE
Presente, passado Aqui e agora
Focus

Redução de sintomas, Apoio direcionado, redução de


desenvolvimento pessoal, sintomas
Expetativas aconselhamento e colaboração

Tratar psicopatologia, redução de Estabilizar, reduzir sintomas, retorno ao


dificuldade, desenvolvimento e funcionamento anterior, referir ao nível
Objetivos reconstrução da vivência pessoal seguinte de cuidados

INSPSIC
Intervenção em Crise Psicológica
• Grupo de técnicas dirigidas a ajudar a pessoa em crise a recuperar o controlo
sobre a situação.

• Intervenção imediata: Quanto mais precoce é a abordagem, melhor é o


prognóstico.

• Focalizada no momento - “Aqui e agora”.

INSPSIC
Estratégias para lidar com o stress e trauma
Coping Negativo

Tentar abstrair-se do incidente.


Negar sentimentos dolorosos relacionados com o incidente.

Culpa Estende-se a outras


Incidentes críticos Raiva áreas da vida pessoal,
Depressão familiar e profissional.

INSPSIC
Estratégias para lidar com o stress e trauma
Coping Positivo

Analisar as acções realizadas durante o incidente e aprender com os erros realizados.


Aceitar sentimentos relacionados com o incidente.

Ao fim de algum tempo, integramos


a experiência na nossa história de vida.
Os pensamentos e sentimentos são
identificados e expressos, e o
equilíbrio da nossa vida é recuperado.

INSPSIC
Estratégias para lidar com o stress e trauma
Psico-educação

•Falar sobre o que se passou e de como se sente com as pessoas mais próximas ou que
também estiveram envolvidas.
•Voltar à rotina diária. Tentar organizar as actividades para os próximos dias.
•Passar tempo com as pessoas que são importantes.
•Logo que possível, enfrentar os locais e situações que recordam o acontecimento.
•Tentar descansar e dormir o suficiente.
•Fazer uma alimentação saudável. Evitar fumar e consumir álcool em excesso.
•Envolver-se em actividades que habitualmente lhe dão prazer.

INSPSIC
Sinais de Alerta
• Não consegue deixar de pensar no que sucedeu.
• Sente-se muito tenso ou com medo a maior parte do tempo.
• Não consegue ter prazer com nada.
• Não consegue ir trabalhar ou assumir as responsabilidades habituais.
• Comporta-se como se o acontecimento estivesse a acontecer outra vez.
• Irrita-se ou é agressivo com as pessoas que o rodeiam.
• Consome álcool, ou outras drogas, em excesso.
• Faz auto-medicação.
• Comporta-se de forma muito distinta do habitual antes do acontecimento.
INSPSIC
Intervenção em crise
Objectivos
Oferecer protecção e segurança
1
Redução do distress e melhoria da sintomatologia de ASR*

Estabilização emocional
2
Identificar as pessoas em risco de desenvolver ASD* e prevenir o
3
desenvolvimento de PTSD*

INSPSIC
Intervenção em crise
 Restaurar o nível funcional anterior
ao incidente
 Promover uma percepção realista
dos acontecimentos
 Desenvolvimento de estratégias de resolução de
problemas e de coping
 Mobilizar os recursos pessoais e sociais
 Minimizar o impacto do incidente crítico e integra-lo na
vida da pessoa

INSPSIC
Primeiro Contacto / Estabelecimento da
Relação

•As questões devem ser simples,


concretas e factuais.

•Falar calmamente, ser empático,


responsivo e fornecer suporte.

INSPSIC
Primeiro Contacto / Estabelecimento da
Relação
Comunicação não-verbal

• Postura

• Tom de Voz

• Gesticulação

• Contacto Visual

• Toque

INSPSIC
Primeiro Contacto / Estabelecimento da
Relação
Comunicação não-verbal

• Postura – deve revelar tranquilidade, sempre que possível deve colocar-se ao


mesmo nível que a pessoa.

• Tom de Voz – deve ser calmo e transmitir segurança.

• Gesticulação – em excesso deve ser evitada,uma vez que pode revelar ansiedade,
tensão, agitação e agressividade.

INSPSIC
Primeiro Contacto / Estabelecimento da
Relação
Comunicação não-verbal

• Contacto Visual – fundamental no estabelecimento da relação, ajuda a captar a


atenção da pessoa. Deve ser moldado as diferentes situações.

• Toque – deve ser utilizado com moderação e cuidado, uma vez que pode ser
interpretado como uma invasão de espaço. O tocar nos ombros, nos braços ou nas
mãos pode demonstrar empatia e preocupação.

INSPSIC
Primeiro Contacto / Estabelecimento da
Relação
Técnicas de Escuta Ativa

• Clarificação

• Paráfrase

• Reflexão de sentimentos  validação

• Resumos

INSPSIC
Primeiro Contacto / Estabelecimento da
Relação
Situações especiais:
 Indivíduos resistentes à intervenção

 A sua vontade deve ser respeitada, exceto se for uma situação emergente que implique, por
exemplo, risco de vida.

 Deve manter-se por perto e, ainda que esteja ocupado com outras situações deve manter
também a sua atenção direcionada para a vítima.

 É adequado informar a pessoa em causa do local onde pode recorrer, no caso de sentir
necessidade.

INSPSIC
Primeiro Contacto / Estabelecimento da
Relação
Situações especiais:

Crianças

• Se possível, deve ser solicitada autorização aos pais ou adultos responsáveis.

• É adequado envolvê-los no processo de ajuda.

• A linguagem utilizada deve ser sempre adequada à idade da criança.

INSPSIC
Primeiro Contacto / Estabelecimento da
Relação
Situações especiais:

Situações que exijam intérpretes ou tradutores

O Psicólogo deve sempre dirigir-se à pessoa e não ao tradutor /


intérprete.

INSPSIC
Procedimentos na Abordagem da pessoa
em Crise Psicológica
• Apresentar-se (nome, categoria, função).
• Tratar o doente pelo nome e perguntar como prefere ser tratado.
• Evitar, na medida do possível, interrupções e interferências. Tentar manter
privacidade e confidencialidade.
• Afastar objetos distractores, revelando-se perturbadores para doentes confusos.
• Falar com o doente ao mesmo nível (cadeiras de igual tamanho e não estar um de
pé outro sentado)
• Tomar providências de segurança para o psicólogo e para o doente.
• Começar com perguntas abertas e gerais (ex. “O que o traz cá hoje?”)

INSPSIC
Procedimentos na Abordagem da pessoa
em Crise Psicológica
•Utilizar expressões verbais e não-verbais para que o doente possa falar mais sobre o
que se está a passar (olhar para a pessoa e pedir “pode explicar melhor?”)
• Recorrer ao silêncio. Demonstra preocupação e dá tempo à pessoa para estruturar o
que vai dizer.
• Utilizar expressões que transmitam apoio e empatia (ex.: “parece sentir-se culpado
pela sua situação de solidão!”)
• Utilizar a Clarificação e Confrontação, para confirmar o que interpretou e ajudar o
doente a compreender a ligação entre o estado de crise e sintomas (ex. “Pelo que me
disse, parece que fica com um aperto no peito e não consegue respirar quando está
mais ansioso/nervoso!”)

INSPSIC
Procedimentos na Abordagem da pessoa
em Crise Psicológica
• Recorrer à Escuta Ativa, isto é, dar atenção às palavras e ao sentido por trás das
palavras e o que observa (ex. o doente diz estar calmo, mas mostra-se inquieto, olha
para o chão)

• Estabelecer prioridades. Determinar risco de suicídio (ex. Já alguma vez pensou em


fazer mal a si ou a outra pessoa? Pensa em morrer?)

• Explorar mudanças de vida e que podem ser o episódio desencadeador.

• Avaliar antecedentes e episódios anteriores.

• Recolher informação quanto aos recursos externos (familiar e social) .

INSPSIC
Actividade 1
Modelos de Intervenção em Crise
The Seven-Stage Crisis Intervention Model (Roberts, 2005)

Estádio I: Avaliação Psicossocial e Letalidade


Estádio II: Estabelecimento de rapport
Estádio III: Identificar os problemas major ou precipitantes da crise
Estádio IV: Lidar com sentimentos e emoções
Estádio V: Gerar e explorar alternativas
Estádio VI: Implementar um plano de acção
Estádio VII: Follow-Up
Modelos de Intervenção em Crise
MODELO SRP – INEM
SEGURAR – RESTABELECER – PREVENIR

1. Contextualização
2. Primeiro Contacto / Estabelecimento de Relação
3. Segurança e Conforto
4. Avaliação
5. Reaquisição do Controlo sobre Si
6. Reaquisição do Controlo sobre o Processo
7. Activação da Rede Social
8. Promoção do Coping Adaptativo - Psicoeducação
9. Follow-up e Referenciação
Nota: Modelo não publicado

INSPSIC
Bibliografia
• Brett, T. L., Gray, M. J., & Adler A. B. (2002). Early Intervention for Trauma: Current Status and Future Directions. Clinical Psychology:
Science and Practice, 9 (2), pp. 112-134.
• Ehrenreich, J. H., & McQuaide, S. (2001). Coping with Disaster: A Guidebook to Psychological Intervention. New York: Center for
Psychology and Society.
• Everly, G. & Mitchell, J. (1999). Critical incident stress management: A new era and standard of care in crisis intervention (2nd Ed). Ellicott
City, MD: Chevron Publishing.
• James, R. & Gilliland, B. (2013). Crisis Intervention Strategies (7th Ed.). Belmont: Brooks/Cole, Cengage Learning.
• Lerner, M. & Shelton, R. (2005). The 10 Stages of Acute Traumatic Stress Management (ATSM): A Brief Summary. The American Academy
of Experts in Traumatic Stress, Inc. (U.S.A.)
• NSW Health. (2000). Disaster Mental Health Response Handbook. Center for Mental Health (Sidney) & NSW Institute of Psychiatry
(U.S.A.).
• Roberts, A. (2002). Assessment, Crisis Intervention, and Trauma Treatment: the integrative ACT Intervention Model. Rutgers University
(U.S.A.)
• Roberts, A. & Ottens, A. (2005). The Seven-stage Crisis Intervention Model: a road map to goal attainment, problem solving , and crisis
resolution. Brief Treatment and Crisis Intervention 5:329–339
INSTITUTO PORTUGUÊS DE PSICOLOGIA e outras CIÊNCIAS

Pós-Graduação em
Intervenção em Crise,
Emergência e Catástrofe
Mecanismos de Crise Psicológica
Sílvia Campino

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