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OBJETIVOS
Sendo a morte universal, o luto se torna uma experiência pela qual todo ser humano
capaz de elaborar vínculos emocionais inevitavelmente passará. Algumas pessoas
apresentam facilidade para a desvinculação e conseguem seguir em frente com
suas vidas após a perda com tranquilidade, ao passo que outras apresentam
dificuldades para se readaptar diante da ausência do ser perdido.
O tema do luto tem ganhado maior destaque na literatura científica nos últimos
anos, e se anteriormente predominavam estudos teóricos, atualmente pode-se
observar um aumento no número de estudos disponíveis,2 com metodologias mais
sofisticadas, considerando aspectos epidemiológicos, busca de maior compreensão
sobre a presença e a gravidade de diferentes sinais e sintomas, evidências para a
adequada classificação diagnóstica e avaliação de resultados de aplicações
terapêuticas tanto de base psicológica quanto farmacológica.
LEMBRAR
LEMBRAR
Com o avançar na linha do tempo, a morte se torna mais “aceitável” e até mesmo
“esperada”. Assim, a morte de uma pessoa já em idade avançada é considerada
natural e “parte da vida”, como relatado por muitos. Por outro lado, a morte de idoso,
principalmente quando após certo período de adoecimento, é considerada parte do
fluxo natural da vida.
LEMBRAR
Alguns tipos específicos de luto patológico são descritos como luto crônico, luto
exagerado, luto mascarado e luto adiado.
LUTO CRÔNICO
Nesse tipo de luto, os sintomas do luto podem permanecer presentes ao longo de
anos e acabam sendo incorporados à vida cotidiana do sujeito com grande desgaste
para a pessoa. O enlutado consegue identificar claramente que os sintomas têm
relação direta com a perda, assim como sua dificuldade em superar essa perda por
conta própria.
LEMBRAR
Sujeitos com esse tipo de luto são os que procuram ajuda profissional com mais
frequência.
LUTO EXAGERADO
Nessa modalidade de luto, não há a questão da prolongação da duração dos
sintomas, no entanto, eles surgem com grande intensidade, e os enlutados se
sentem sobrecarregados com a experiência. Como no luto crônico, os sujeitos
conseguem relacionar os sintomas à perda e também podem buscar auxílio
profissional especificamente para lidar com o luto.
LUTO MASCARADO
No luto mascarado, diferente dos anteriores, a presença de sintomas físicos
costuma ser mais frequente, assim como de comportamento ou padrões de
pensamentos que não são parte do padrão usual do sujeito. Geralmente o paciente
não relaciona os sintomas à perda e é pouco frequente que procure auxílio
psicológico ou psiquiátrico para a elaboração do luto. Esse paciente costuma chegar
ao profissional de saúde mental por caminhos indiretos.
LEMBRAR
LUTO ADIADO
Nesse tipo de luto, também denominado como “luto inibido” ou “luto postergado”,
algumas reações típicas do enlutamento podem se manifestar no período
imediatamente posterior à perda, porém, de modo insuficiente para o fechamento do
processo do luto. Nesse caso, os sintomas relativos ao luto podem aparecer em
momentos futuros da vida do sujeito e, devido ao tempo passado desde a perda,
nem sempre são claramente reconhecidos em sua relação com a situação, o que
pode dificultar o diagnóstico.
LEMBRAR
Luto adiado: P., 42 anos. Queixa principal: sonhos frequentes com o marido morto,
dores de cabeça, dificuldades de concentração e choro frequente. Diz que a
situação teve início aproximadamente três meses antes da consulta, período que
coincide com o ingresso do filho mais novo na universidade.
P. teve o primeiro filho com 17 anos, o segundo com 19 anos e o terceiro com
22 anos. Vivia em casa cuidando exclusivamente dos afazeres domésticos e
dos filhos. Não tinha parentes em condições de auxiliá-la nos cuidados com as
crianças pequenas. O orçamento doméstico era muito “curto”, e ela se
perguntava constantemente se haveria condições de continuar alimentando os
filhos adequadamente. Segundo ela, “o que a gente ganhava num dia gastava
no outro”. O marido era o provedor principal e sustentava a família vendendo
na praia comida que ela ajudava a preparar.
Teve o primeiro sonho com o marido morto duas noites após saber do
resultado do filho no vestibular. Sentiu grande tristeza, pois, pela primeira vez,
se deu conta que “perdi o amor da minha vida e nem pude me despedir
direito”. “Fui soterrada pela vida...”. Relata culpa por acreditar não ter se
despedido adequadamente, não ter parado por um tempo para “chorar a morte
dele”. Diz sentir uma “tristeza paralisante” todas as vezes em que pensa nele e
que agora, pela primeira vez em anos, fica imaginando como seria se tivessem
ficado juntos. Passa muitas horas do dia pesando sobre como teria sido a vida
deles e em tudo que pensaram em fazer e não pôde ser realizado.
O luto antecipatório é marcado por ter seu início antes que a morte aconteça. É
observado com frequência em familiares e cuidadores de pacientes de adoecimento
crônico em fase terminal. Nesse tipo de luto, um grande diferencial é o tempo para
despedida e a possibilidade de ensaios de papéis prevendo as alterações na
dinâmica familiar e social que ocorrerão após a morte.
LEMBRAR
No luto não autorizado, termo proposto ainda na década de 1980 por Kenneth J.
Doka,12 a principal característica é o fato de a situação não ser socialmente aceita
ou reconhecida. Nesses casos, pode ser a perda em si que não é reconhecida, que
o enlutado não seja reconhecido ou que a relação existente entre eles não seja
aceita ou legitimada. Como exemplo, podem-se citar, entre outros, os casos de:
As situações referidas dizem respeito a perdas que não podem ser francamente
comunicadas, e o pesar não encontra espaço para ser socialmente compartilhado.
Esse tipo de perda também não encontra qualquer tipo de suporte social. Por suas
características, apesar de as reações ao luto não autorizado serem semelhantes ao
que ocorre em outros tipos de perda, sua duração tende a ser mais longa e existe
maior vulnerabilidade para abertura de quadro patológico.
Luto não autorizado: B., 65 anos, morte de amante. A paciente relata ter tido um
relacionamento que durou 30 anos com um homem 10 anos mais velho do que ela
casado com outra pessoa. No período em que ficaram juntos, tiveram um filho, que
atualmente mora com a própria família e com quem a paciente tem uma relação
difícil, pois o filho nunca aceitou a situação familiar.
LEMBRAR
ATIVIDAD
ES
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a IV.
C) Apenas a II e a III.
D) Apenas a III e a IV.
7. Qual dos exemplos a seguir pode ser classificado como luto não
autorizado?
A) mistanásia.
B) distanásia.
C) ortotanásia.
D) eutanásia.
DIAGNÓSTICO DO LUTO
Avaliação de caso de luto: P., 24 anos, passou por experiência de perda gestacional
há quatro meses. Relata extrema tristeza, dificuldades de concentração, falta de
apetite, pensamentos intrusivos referentes à perda, dores no corpo e sensação
constante de fraqueza.
Apesar de até o momento não ter sido identificada evidência de que intervenções
visando à prevenção do luto complicado sejam efetivas, o tratamento do luto
buscando redução de sintomas tem se mostrado eficaz em diversos estudos.20
Estudos envolvendo TCC,3,21,22 utilizando psicoeducação, reestruturação
cognitiva, exposição, técnicas comportamentais diversas e mesmo suporte pela
Internet23 têm obtido bons resultados no tratamento de enlutados. Apesar disso,
deve-se considerar que o número de estudos ainda é escasso quando comparado à
quantidade de trabalhos publicados sobre tratamento com TCC para outros
transtornos mentais.
Em alguns casos, veem-se pacientes enlutados que relatam que antes da perda em
questão nunca tiveram contato com um morto ou nunca participaram de um ritual
fúnebre ou, mesmo se participaram, relatam a experiência mais como uma
formalidade social na qual pouco se envolveram. Alguns pacientes chegam a
acreditar que estão “enlouquecendo” quando têm alucinações com referência ao ser
perdido, que são comuns no período de luto. A compreensão de que algumas
experiências, se não universais, são bastante comuns no período de enlutamento já
produz algum alívio para o sujeito e funciona também como um fator de redução de
ansiedade.
■ distúrbios do sono;
■ distúrbios do apetite;
■ comportamento “aéreo”;
■ busca ou evitação de objetos ou locais ou situações que lembrem a pessoa
morta;
■ isolamento social.
LEMBRAR
LEMBRAR
LEMBRAR
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
I – Distúrbios de leitura.
II – Desejo de ampliar as relações sociais.
III – Comportamento aéreo.
IV – Distúrbios do apetite.
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a IV.
C) Apenas a II e a III.
D) Apenas a III e a IV.
A) V – V – V – F
B) V – V – F – V
C) V – F – V – V
D) F – V – V – V
CASOS CLÍNICOS
A seguir, serão apresentados dois casos clínicos, ambos tratados com base no que
foi apresentado no presente artigo. Todos os pacientes passaram por avaliação
psicodiagnóstica antes da primeira sessão de TCC, na qual foram utilizados:
■ entrevista clínica;
■ entrevista estruturada para avaliação de possíveis comorbidades
psiquiátricas;
■ escalas específicas para avaliação de luto;
■ escalas clínicas para avaliação de aspectos de humor, ansiedade,
qualidade de vida e quadro geral de saúde.
Os pacientes concordaram com a divulgação dos casos para fins didáticos e/ou
científicos, sendo preservado o anonimato. Desse modo, nomes foram modificados,
assim como características que permitissem a identificação dos sujeitos. Antes do
início do tratamento com TCC, ambos os pacientes passaram por avaliação médica,
não tendo sido encontrado qualquer problema clínico que requeresse intervenção
nesse sentido. Nos dois casos aqui apresentados, não houve tratamento
psicofarmacológico concomitante ao tratamento com TCC, e os pacientes não
estavam em uso de nenhum medicamento dessa natureza.
CASO CLÍNICO 1
Dados do caso clínico 1:
■ nome: R.;
■ idade: 34 anos;
■ pessoa perdida: filho mais velho – H. (7 anos);
■ causa da perda: adoecimento, câncer, após recidiva (sic);
■ tempo da perda: cinco meses;
■ determinantes: morte esperada;
■ tipo de luto: luto antecipatório;
■ observações: tem outros dois filhos.
História do caso
A morte de H. ocorreu quando ele tinha 7 anos, durante internação por recidiva de
câncer. Anteriormente, já havia feito tratamento oncológico, sendo submetido à
radioterapia e à quimioterapia. Após melhora, foi dada alta médica e fez-se controle
ambulatorial.
Após dois anos, houve a recidiva do câncer, o que gerou a necessidade de nova
internação. Foram tentados tratamentos, porém, devido à agressividade com que o
quadro se manifestou, não havia mais a possibilidade de intervenções visando à
cura, e a situação foi comunicada aos pais pela equipe médica, que recomendou
tratamento paliativo, pare evitar que H. sentisse dor ou desconfortos decorrentes do
adoecimento. R. relata que no momento se percebeu “sem chão”, pois, apesar de
saber que o câncer é uma doença grave, ainda tinha esperanças de que o quadro
fosse revertido e que o filho pudesse voltar bem para casa, como ocorreu na
primeira internação.
Diz que gostaria de ter passado mais tempo com o filho, mas era difícil, pois não
podia deixar de trabalhar, já que sua família dependia financeiramente dele. Além
disso, sentia-se “pressionado” pela família (esposa e pais – os avós paternos de H.)
a conseguir dinheiro para oferecer o que “houvesse de melhor” nos momentos finais
da criança. Acrescenta que, paradoxalmente, sua esposa o acusava de não se
importar, devido ao fato de ele não tirar mais dias de dispensa no trabalho.
Seus outros filhos só voltaram para casa uma semana após o enterro. R. e a esposa
só contaram a eles o que tinha ocorrido nesse momento e de modo breve, pois R.
diz que tem dificuldades para falar sobre o assunto e sempre evita as perguntas que
os filhos fazem. Diz que os filhos estão mais agitados do que o habitual e com
dificuldades para dormir desde que voltaram para casa.
Em relação a si mesmo, enfatiza que o mais difícil agora é lidar com a “culpa” por,
em alguns momentos, “ter acreditado que seria melhor assim”. Apesar disso, e da
falta que relata sentir do filho, acredita que foi preferível “isso ter acontecido” do que
ele “continuar naquela vida”. Acrescenta que gostaria de se reaproximar da esposa,
pois o casamento “só piora”. Teme que os problemas no relacionamento possam
levar a um divórcio no futuro próximo caso “nada seja feito”. Também busca ajuda
para conseguir ajudar os filhos a superar a perda do irmão.
Tratamento e resultados
R. foi encaminhado para tratamento psicoterápico no enfoque da TCC, sendo
utilizado um protocolo terapêutico específico para luto. Ao longo do processo, o
progresso terapêutico foi avaliado com o Inventario Beck de Depressão (BDI), o
Inventario Beck de Ansiedade (BAI), a BHS e o QSG.
A redução do fator ligado ao estresse psíquico foi mais discreta (de 87 para 70%),
porém, deve-se acrescentar aqui a presença de dificuldades no momento atual que
são consequências da morte da criança, principalmente em seu ambiente familiar.
Essas dificuldades, mais do que o processo de elaboração da perda em si,
colaboram para que esse fator se mantenha elevado.
ATIVIDA
DE
CASO CLÍNICO 2
Dados do caso clínico 2:
■ nome: M.;
■ idade: 53 anos;
■ pessoa perdida: marido;
■ causa da perda: infarto agudo do miocárdio (IAM);
■ tempo da perda: quatro meses;
■ determinantes: morte inesperada;
■ observações: não houve oportunidade para despedida.
História do caso
M. conta que conheceu o marido ainda na adolescência e que namoraram por seis
anos e se casaram quando ela tinha 19 anos. Pela sua vontade, teria se casado até
antes, mas seu pai, na época, só autorizaria a união quando ela fosse “maior”. O
marido foi a única pessoa com quem teve relação de base romântica e/ou sexual.
Tinham uma boa relação e sempre foram muito amigos, mesmo “nas épocas de
dificuldades”, e, apesar de “desentendimentos” esporádicos, tinham uma
convivência harmoniosa.
Durante todo o tempo em que ficaram juntos, diz que nunca chegaram a considerar
a hipótese de se afastarem um do outro. Acrescenta ainda que ele era a única
família que ela possuía, já que seus pais já haviam morrido e ela não tem irmãos.
Como seus pais também eram ambos filhos únicos, ela não conta com tios, primos
ou outros parentes próximos.
Seu marido era dez anos mais velho do que ela e possuía boa saúde física,
praticava caminhada quatro vezes na semana, encontrava-se com amigos para
jogar futebol todo sábado e mantinha hábitos de boa alimentação. Não apresentava
fatores de risco para cardiopatia, tais como etilismo, tabagismo, obesidade,
hipertensão ou diabetes melito, e era uma pessoa saudável que realizava exame
médico, como revisão, anualmente.
M. acrescenta que ela “não era tão disciplinada quanto ele”, evitava a prática de
exercícios, consumia alimentos gordurosos, frituras, chocolates e doces, além de ter
hábitos de sono considerados “errados” pelo marido, pois gostava de ficar até tarde
na madrugada assistindo filmes na televisão. Diz que não entende como “isso pôde
acontecer”, pois, “se tivesse que acontecer com alguém, seria com ela, que nunca
se preocupou em se cuidar”.
M. conta que, a princípio, não conseguia acreditar no que estava ouvindo e que o
amigo do marido que estava lá a apoiou bastante, ficando ao lado dela durante todo
o tempo. Diz que chorou muito e que só depois conseguiu pedir para falar com o
médico novamente. Ao conversar com o médico, disse que gostaria de ver seu
marido morto, mas ele já havia sido levado para o necrotério, e que ela só estava
sendo mantida em espera ali ainda porque teria que pegar o atestado de óbito.
Ficou desesperada, pois só então “caiu a ficha de que nunca mais o veria ou
poderia falar com ele”, e lhe ocorreu que “nem teve a chance dizer que o amava
antes de ele ir embora de vez”. Diz que gostaria de “poder se despedir”.
M. foi rapidamente ao necrotério “resolver papéis”, o que diz ter feito “de modo
automático” e “graças à ajuda do amigo do marido”, que depois levou-a para casa,
já que ela não se achava em condições de dirigir e não queria pegar um táxi, pois
“não queria ficar chorando na frente de estranhos”.
Ao mesmo tempo, não se sentia à vontade para sair, pois estava “sempre com os
olhos inchados de chorar”. “Passava horas chorando e já não queria mais viver”.
Sonhava com seu marido todas as noites e acordava assustada. Relata sentir-se
“inútil e incompleta” e “não encontrar sentido na vida”, pois “desde sempre” eles
“faziam tudo juntos”. Ao mesmo tempo, tentava imaginar o motivo de estar
passando por tudo aquilo.
Tratamento e resultado
Para o tratamento de M., foi utilizado o protocolo básico apresentado neste artigo. A
avaliação do progresso terapêutico foi realizada com o BDI, o BAI, a BHS e o QSG.
A sessão oito, junto com suas tarefas a serem executadas ao longo da semana,
mostrou-se bastante difícil para M., que manifestou sentimento de culpa ligado a
pensamento de que seria errado seguir em frente na vida diante da ausência do ser
amado. A redistribuição de papéis tornou a perda mais concreta para a paciente,
que teve que montar um novo esquema de vida, considerando essa ausência.
Diferentemente do que ocorre com outros pacientes, a sessão de número nove, que
trata da busca de amparo social, foi vivenciada com tranquilidade, sem aumento dos
escores de ansiedade, o que pode ser explicado pelo fato de a paciente ter recebido
apoio desde o início do processo, sendo, em seu caso, o trabalho ligeiramente
diferente do habitual, ou seja, enquanto em grande parte dos casos a busca de
amparo é estimulada, nesse caso específico, busca-se evitar a dependência da
paciente em relação aos que lhe oferecem auxílio.
Em relação ao QSG, observou-se queda em seu fator de saúde geral (de 94 para
67%), no fator relativo ao estresse psíquico (de 90 para 65%) e nos distúrbios
psicossomáticos (de 85 para 60%). A redução dos índices de distúrbios do sono
mostrou-se bem mais discreta (de 100 para 85%), merecendo posterior atenção.
O desejo em relação à morte ainda se mostra presente, apesar de mais discreto (de
100 para 77%), o que também foi observado ao se analisar o item nove da BDI.
Apesar de qualquer tipo de ideação ligada ao desejo de morte merecer especial
cuidado, deve-se enfatizar aqui que o desejo de morte da paciente está diretamente
ligado à busca pelo ser perdido, o que é esperado na fase de luto em que ela se
encontra.
Deve-se considerar que, apesar do desejo, não propriamente da morte em si, mas
de poder reunir-se a seu marido, a paciente demonstra não ter intenção de colocar
em prática qualquer ideia quanto a provocar sua morte, devido as suas crenças
religiosas/espirituais, o que é evidenciado em sua escala, quando em momento
algum assinala item que possa indicar tendência a colocar em prática tais ideias.
A paciente foi atendida em período bastante recente à perda, que ocorreu por uma
morte inesperada, rompendo uma relação de forte vinculação afetiva. Desse modo,
é esperado que, apesar da melhora na funcionalidade, assim como da redução de
sua ansiedade e depressão, alguns sinais e sintomas ainda permaneçam por mais
tempo, até que ocorra a total interiorização e reorganização.
ATIVIDA
DE
18. Na TCC realizada com M., duas situações diametralmente opostas foram
constatadas nas sessões oito e nove. Por quê?
CONCLUSÃO
Como seres sociais, as pessoas estabelecem vínculos afetivos com aqueles que as
cercam. A morte, tema ainda tabu na atualidade, e única certeza da existência
humana, apresenta a todos a necessidade de encerramento dessas relações
individualmente construídas. Se a morte é parte natural da vida, então, nesse
contexto, o luto também o é. A perda irreversível de um ser amado, apesar disso,
costuma ser um evento doloroso e, para muitos, difícil de ser elaborado.
■ idade;
■ momento do ciclo de vida;
■ gênero;
■ presença de outros estressores;
■ conflitos existentes na época da morte;
■ características da morte.
A TCC, por sua abordagem diretiva, estruturada e focal, mostra-se uma boa opção
para acompanhamento terapêutico de pacientes em luto, devendo ser adotados
procedimentos e técnicas, visando acessar demandas particulares das diferentes
fases do enlutamento, e tarefas a serem realizadas pelo enlutado, visando facilitar a
elaboração do luto. Tipos específicos de luto podem requerer procedimentos
terapêuticos diferenciados para melhor atendimento das necessidades dos
pacientes.
Atividade 2
Resposta: Os comportamentos considerados frequentes no luto são: choro,
hiperatividade, distúrbios do sono, distúrbios do apetite, comportamento “aéreo”,
isolamento social, sonhos com a pessoa morta, evitação ou busca de coisas que
lembrem a pessoa morta.
Atividade 3
Resposta: A
Comentário: Alguns fatores aparecem como determinantes no curso do luto, sendo
eles o gênero do enlutado, a idade do enlutado e do morto, a qualidade da relação
existente entre eles e o tipo de morte ocorrida. Por outro lado, a morte de idoso,
principalmente quando após certo período de adoecimento, é considerada parte do
fluxo natural da vida.
Atividade 4
Resposta: Considerando o ciclo de vida, mortes ligadas a períodos de início
costumam ser mais difíceis de manejar do que aquelas ligadas a términos. Assim, a
morte na infância é considerada a mais difícil de ser elaborada. Em si, é um tipo de
morte que suscita a ideia de “quebra da ordem natural”, de que “filhos deveriam
enterrar seus pais”. Em situação de luto disfuncional, uma mãe poderia buscar gerar
um novo filho para “substituir” o que morreu, passando à nova criança todas as
expectativas anteriormente depositadas naquela que faleceu. Em alguns casos,
pode ser atribuído o mesmo nome e gerada a expectativa de que a “nova” criança
tenha os mesmos gostos e atributos da “anterior”. Por outro lado, com o avançar na
linha do tempo, a morte se torna mais “aceitável” e até mesmo “esperada”; assim, a
morte de uma pessoa já em idade avançada é considerada natural e “parte da vida”,
como relatado por muitos.
Atividade 5
Resposta: C
Comentário: Apesar de os demais tipos de luto expostos nas alternativas serem
fatores de vulnerabilidade para o luto complicado, alguns sujeitos conseguem
elaborar esses lutos sem que isso ocorra. O luto adiado, assim como os lutos
exagerado, mascarado e crônico, classifica-se como um tipo de luto complicado.
Atividade 6
Resposta: D
Comentário: Sujeitos que assumem o papel de cuidadores apresentam maior
incidência de sintomas de luto complicado quando os pacientes que acompanham
mostram dificuldades em aceitar o adoecimento e apresentam maior medo da
morte. Sugere-se a abordagem desse paciente enquanto a morte ainda não
ocorreu, com o objetivo de reduzir os sintomas de depressão presentes no período
que antecede a morte e já preparando o acesso do enlutado ao suporte social que
será necessário após a perda ocorrer de fato.
Atividade 7
Resposta: A
Comentário: Aquele que “ainda não nasceu” não é reconhecido socialmente.
Dependendo do período gestacional e do peso do concepto, a perda não existe nem
mesmo em termos legais, e o concepto é descartado como lixo hospitalar. Em casos
em que já é exigido registro civil e enterro, as cerimônias tendem a ser simples e
rápidas, sem o apoio social comum em outras perdas.
Atividade 8
Resposta: B
Comentário: Na distanásia, a morte é prolongada. Na eutanásia, a morte é
antecipada. Mistanásia é um termo utilizado quando há antecipação da morte em
decorrência de aspectos sociais. Ortotanásia é o termo usado para denominar uma
morte que ocorre “no tempo certo”.
Atividade 9
Resposta: No DSM-5, a preocupação com a diferenciação entre luto normal e
depressão ainda se faz presente. No início do capítulo sobre transtornos
depressivos, é recomendada atenção para a diferença entre a tristeza manifesta no
primeiro quadro e o que é observado no TDM. De acordo com a literatura científica
internacional, o texto alerta que, havendo concomitância entre os quadros, os
sintomas depressivos serão mais graves e com pior prognóstico se comparados aos
quadros de luto sem comorbidade com depressão. Um ponto de destaque é a
eliminação do critério, existente no DSM-III e no DSM-IV, de “exclusão do luto” para
o diagnóstico de depressão maior no período dos dois primeiros meses após a
perda. Assim, recomenda-se atenção especial ao diagnóstico diferencial entre luto e
depressão, pois, se ainda não há evidências suficientes para total ausência de
confusão entre o luto normal e a depressão, no caso do luto complicado sua
diferenciação para a depressão maior é bastante clara.
Atividade 10
Resposta: D
Comentário: Para satisfazer um dos critérios do DSM-5 para transtorno do luto
complexo persistente, o seguinte sintoma deve ser experimentado em um grau
clinicamente significativo na maioria dos dias e persistir por pelo menos 12 meses
após a morte no caso de adultos enlutados e por seis meses no caso de crianças
enlutadas: saudades persistentes do falecido. Em crianças pequenas, a saudade
pode ser expressa em brincadeiras e no comportamento, incluindo comportamentos
que refletem ser separado de e também voltar a se unir a um cuidador ou a outra
figura de apego; intenso pesar e dor emocional em resposta à morte; preocupação
com o falecido; preocupação com as circunstâncias da morte. Em crianças, essa
preocupação com o falecimento pode ser expressa por meio dos temas de
brincadeiras e comportamento e pode se estender à preocupação com a possível
morte de outras pessoas próximas a elas.
Atividade 11
Resposta: Recomenda-se o início do processo de avaliação com entrevista
clínica/anamnese. Nessa entrevista, além de todos os aspectos cobertos pela
entrevista tradicionalmente realizada para outras condições clínicas (queixa principal
do sujeito, investigação sobre história pessoal pregressa, história educacional,
familiar, social, conjugal/de relacionamentos, laboral etc.), são incluídas questões
específicas referentes à perda, como tipo de morte, características do falecido,
tempo e tipo de relação, possíveis conflitos, pendências e problemas, impactos
percebidos da perda, papel do morto na vida do atual enlutado, funcionamento do
sujeito antes e após a perda e mudanças percebidas, se houve possibilidade de
despedida e rituais funerários etc.
Atividade 12
Resposta: C
Comentário: Todos os instrumentos adotados devem ter sido padronizados,
validados e terem sua fidedignidade aferida com constatação de bons parâmetros
para a população-alvo.
Atividade 13
Resposta: O tratamento cognitivo comportamental voltado para o atendimento de
enlutados deve considerar a classificação diagnóstica (luto normal, luto complexo
persistente), o tipo de luto, seus determinantes e a presença de comorbidades
psiquiátricas ou a existência de outros elementos estressores no momento da perda
e no momento presente. Portanto, considera-se fundamental que antes do início de
qualquer procedimento psicoterápico seja feita uma ampla e adequada avaliação
psicodiagnóstica.
Atividade 14
Resposta: D
Comentário: O modelo ABC pode ser empregado para auxiliar na compreensão de
como a experiência do luto pode ativar crenças individuais que, por sua vez,
provocarão consequências em termos comportamentais, emocionais e mesmo
fisiológicas. Assim, o paciente deve receber orientação e ser treinado em técnicas
que o ajudem a manejar alterações comportamentais, tais como distúrbios do sono,
distúrbios do apetite, comportamento “aéreo”, busca ou evitação de objetos ou
locais ou situações que lembrem a pessoa morta e isolamento social.
Atividade 15
Resposta: A
Comentário: Os seguintes procedimentos e técnicas fazem parte do modelo básico
para atendimento em casos de luto: auxiliar a readaptação da pessoa à vida
cotidiana, organizar horário de atividades semanais (usar registro de atividades
diárias), incentivar o investimento em novos objetivos de vida e novas relações;
ajudar a pessoa a identificar novos interesses, fornecer instrumentos para que a
pessoa seja capaz de implementar novos projetos, desfazer crenças disfuncionais
que impeçam a pessoa de investir em novas relações e fazer a prevenção de
recaída.
Atividade 16
Resposta: Havendo queixas físicas, recomenda-se que o paciente seja
encaminhado para avaliação médica. Caso as queixas sejam diversas e gerais, um
médico generalista poderia ser mais indicado para o encaminhamento. Caso seja
detectado algum sintoma específico, por exemplo, “dor no peito”, indica-se o
encaminhamento para um cardiologista, que poderá avaliar a angina de modo
apropriado. Em muitos casos, os sintomas apresentados não requerem intervenção
médica e reduzem naturalmente com o avanço da terapia e a resolução do luto. No
entanto, pode haver casos em que o paciente já possua um problema de saúde
anterior ao luto e que se agravou diante da crise ou mesmo que ele tenha
desenvolvido um problema orgânico que requeira cuidados de um especialista.
Assim sendo, é uma questão de responsabilidade profissional realizar o
encaminhamento quando necessário, de modo a garantir a segurança do paciente.
Atividade 17
Resposta: B
Comentário: Um ponto que distingue o luto antecipatório dos demais tipos de luto é
o fato de que os enlutados podem começar a se preparar para a vida considerando
a ausência daquele que está morrendo antes que a morte de fato ocorra. Pode
ocorrer ansiedade por parte dos enlutados diante da ocorrência da morte,
dependendo de sua própria vulnerabilidade e fatores diversos nesse momento.
Apesar disso, essa não é uma característica distintiva desse tipo de luto. O não
reconhecimento social da morte é uma característica de outro tipo de luto, chamado
de “não autorizado”.
Atividade 18
Resposta: A sessão oito, junto com suas tarefas a serem executadas ao longo da
semana, mostrou-se bastante difícil para M., que manifestou sentimentos de culpa
ligados a pensamentos de que seria errado seguir em frente na vida diante da
ausência do ser amado. A redistribuição de papéis tornou a perda mais concreta
para a paciente, que teve que montar um novo esquema de vida, considerando essa
ausência. Diferentemente dos outros pacientes, a sessão de número nove, que trata
da busca de amparo social, foi vivenciada com tranquilidade, não aumentando os
escores de ansiedade de M., o que pode ser explicado pelo fato de a paciente ter
recebido apoio desde o início do processo, sendo, em seu caso, o trabalho
ligeiramente diferente do habitual; ou seja, enquanto em grande parte dos casos a
busca de amparo é estimulada, nesse caso específico, busca-se evitar a
dependência da paciente em relação aos que lhe oferecem auxílio.
REFERÊNCIAS
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