Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
tuação, e até mesmo dentro de uma classe social específica. Ora, pode-
se afirmar que as HS sáo fundamentais para a capacidade do indivíduo
de desenvolver e formar relações duradouras e se integrar a uma comu
nidade (Beauchamp & Anderson, 2010).
Todavia, Caballo (2006) aponta que o termo habilidades refere-
se à justaposição entre a conduta interpessoal e a capacidade de atua
ção aprendida. Já o comportamento habilidoso pode ser compreendi
do como um conjunto de comportamentos que propiciam que o indi
víduo exprima sentimentos, desejos e opiniões de forma coerente com
cada contexto, levando a um convívio adequado e satisfatório com os
demais. De forma semelhante, Dei Prette e Dei Prette (2008) obser
vam que as HS consistem em classes de comportamentos sociais de
um indivíduo, que se relacionam à sua competência social, fomentan
do relacionamentos funcionais com outros indivíduos. Por sua vez, as
HS, para Gresham (1981a), podem ser conceituadas como aqueles
comportamentos que, dentro de determinadas situações, maximizam a
probabilidade de obtenção e manutenção de reforço e/ou diminuem a
probabilidade de punição ou extinção de um comportamento social.
Neste sentido, reconhece-se ainda que existem delimitações con
ceituais de tópicos circunscritos na temática que envolve as HS que
devem ser observadas. Há que se discernir, por exemplo, os conceitos
como desempenho social e competência social. Segundo Dei Prette e
Dei Prette (2001; 2008) o primeiro detém sentido lato, referindo-se à
emissão de comportamento em quaisquer situações sociais, sendo esse
construto mais descritivo do que avaliativo. Ainda segundo estes auto
res, a competência/ habilidade social, ao contrário, volta-se a uma
questão avaliativa na qual contemplam-se os efeitos do desempenho
social vivenciado pelo indivíduo, relacionando-se, por exemplo, a um
déficit de comportamento. Assim, sob essa perspectiva, assume-se que
um indivíduo possa ser detentor de distintas habilidades, podendo não
utilizá-las, contudo, em seu desempenho. Gresham (1986) ressalta ain
da que a competência social compreende três subdomínios: o compor
tamento adaptativo, as habilidades sociais e a aceitação de pares. Para
Estratégias Psicoterapias e a Terceira Onda em Terapia Cognitiva 155
vos diversos, no entanto, o enfoque dado aqui será no seu uso para
promover a interação e o desempenho social. Cabe ressaltar, no entan
to, que o presente trabalho não esboça a pretensão de apresentar exaus
tivamente as técnicas, nem de relacionar todas as técnicas existentes
para o trabalho de treinar as habilidades sociais dos pacientes em clíni
ca. Assim, serão apresentadas, a seguir, algumas das técnicas mencio
nadas na literatura e que compõem os programas de THS utilizados
para manejo dos transtornos mais comuns à clínica.
Modelagem
1 A técnica, predominantemente empregada com crianças, consiste na busca por atingir metas
que, por sua vez, levará à obtenção de recompensa: na medida em que o paciente realiza
tarefas que são propostas, serão concedidos pontos dentro de um escore, sendo que, quando
se atinge o escore máximo necessário, a recompensa é disponibilizada (Para mais informa
ções, ver Capítulo 19).
Estratégias Psicoterápicas e a Terceira Onda em Terapia Cognitiva 169
Fazer perguntas
Fornecer respostas
elogio recebido com outro igual dirigido à terceiros, pois pode soar su
perficial ou como resultado de obrigação (Caballo, 2006).
Como treinamento da técnica, sugere-se que o paciente, de for
ma autônoma, faça elogios a distintas pessoas, tais como familiares,
amigos, cônjuge e/ou expresse algo positivo. Nesse sentido, agradecer
itens como favores, gentilezas, ajuda prestada, etc. são especialmente
boas formas de treinar esta habilidade.
Dessensibilização sistemática
Também denominada por “Reestruturação Racional Sistemáti
ca” (Dobson & Dozois, 2006), a técnica, no THS, tem como objetivo
primordial trabalhar sentimentos como ansiedade e medo nas relações
e exposições sociais. Goldfried (1979) enfatizou quatro elementos ca
tegóricos para a técnica, sendo eles: I) A descrição da fundamentação
terapêutica; II) O emprego de técnicas de relaxamento enquanto mé
todos de enfretamento; III) Estruturação e uso de hierarquias temáti
cas; IV) Treinamento de relaxamento progressivo induzido por ele
mentos ansiogênicos. De forma semelhante, observaram Dei Prette e
Dei Prette (2001; 2008), a aplicação da técnica pressupõe as seguintes
etapas estruturadas: I) definição do problema; II) hierarquização dos
elementos ansiogênicos; III) emprego de técnica de relaxamento; IV)
exposição aos itens da hierarquia e avaliação do relaxamento.
De forma mais específica, a técnica emprega diretamente a ela
boração da hierarquização de medos (na qual os aversivos deverão ser
dispostos em ordem crescente) daqueles estímulos que geram temor
ou ansiedade e, concomitantemente, ensina-se ao paciente respostas
alternativas por meio de relaxamento. Em seguida, o paciente deverá
ser exposto, paulatina e sucessivamente, aos itens indicados na escala
(dos menos ansiogênicos aos mais), tanto quanto for razoavelmente
possível (em alguns itens pode-se recorrer à imaginação da exposição,
ou seja, ao ensaio cognitivo) (para mais informações, ver Capítulo 4).
Segundo Dobson e Dozois (2006), há que se salientar que a técnica
176 Treino de Habilidades Sociais
Feedback
Relaxamento muscular
Direitos humanos
Civilidade
A civilidade refere-se à habilidade de emitir comportamentos
adequados em situações sociais. No senso comum a civilidade é cha
mada de “boa educação” ou “boas maneiras” (Dei Prette & Dei Prette,
2009). Essa habilidade acaba por ser muitas vezes esquecida na propo
sição de THS para os pacientes adultos na clínica, por se hipotetizar
que tal habilidade já esteja sedimentada no adulto. Discutir e encenar
situações corriqueiras nas quais o paciente tenha a oportunidade de
conhecer as respostas esperadas frente ao comportamento dos outros
em situações sociais formais ou corriqueiras pode auxiliar na aquisição
dessa habilidade (Neufeld et al., 2014). Exemplos dessa habilidade são:
agradecer a uma gentileza, anteceder ou finalizar todo pedido com
180 Treino de Habilidades Sociais
Treino de empatia
Automonitoramento
Tarefas de casa
Considerações finais
Referências
Angélico, A.P., Crippa, J.A.S., & Loureiro. Beauchamp, M. & Anderson, V. (2010). So
S.R. (2010). Social anxiety disorder and so cial: An integrative framework for the devel
cial skills: A critical review of the literature. opment of social skills. Psychological Bulletin,
International Journal of Behavioral Consulta 136(1), 39-64.
tion and Therapy, 6(2), 95-110.
Beck, A.T., Rush, A.J., Shaw, B. F., & Em
Baggen, D., & Kraaimaat, F. (2000). Group ery, G. (1997). Terapia cognitiva da depressão.
social skills training of cognitive group ther Porto Alegre: Artmed.
apy as the clinical treatment of choice for
generalized social phobia. Journal ofAnxiety Becker, R. E., Heimberg, R. G., & Bellack,
Disorders, 14(5), 437-431. A. S. (1987). Social skills treatmentfor depres
sion. Nova York: Pienun.
Banda, D., Hart, S., & Liu-Gitz, L. (2009).
Impact of training peers and children with Bolsoni-Silva, A. T., Salina-Brandão, A., Versud-
autism on social skills during center time ac Stoque, E, & Rosin-Pinola, A. R. (2008). Avalia
tivities in inclusive classrooms. Research in ção de um programa de intervenção de habilida
Autism Spectrum Disordes, 4, 619-625. des sociais educativas parentais: Um estudo-pilo-
to. Psicologia Ciência e Profissão, 28(1), 18-33.
Bandura, A., Azzi, R. G., & Polydoro, S.
(2008). Teoria social cognitiva-. Conceitos bá Braswell, L., & Kendall, P.C. (2004). Terapia
sicos. Porto Alegre: Artmed. Cognitivo-Comportamental para Jovens Em
184 Treino de Habilidades Sociais
Abreu, C.N; Guilhardi, H. J. (2004) Terapia comportamental — Práticas clínicas. São Pau
comportamental e cognitivo-comportamen- lo: Roca.
tal - Práticas clínicas. São Paulo: Roca.
Dobson, K.S; Dozois, D.J-A (2006). Funde
Caballo, V.E., & Irurtia, M.J. (2004). Treina mentos históricos e Filosóficos das terapias co't
mento em habilidades sociais. In P. Knapp nidvo-comportamentais. In Dobson, K.S. (2004'
(Org.). Terapia cognitivo-comportamental na Manual de terapias cognitivo comportamen
prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed. tais. Porto Alegre: TVrtmed.
Caballo, V E. (2006). Manual de avaliação e Falcone, E. (1999). A avaliação de um pro
treinamento das HS. São Paulo: Editora Santos. grama de treinamento da empatia com uni
versitários. Revista Brasileira de Terapia Com
Chambon, O., Cardine, M., & Dazord, A.
portamental e Cognitiva, 7(1), 23-32. Recu
(1996). Social Skills training for chronich
perado em 21 de fevereiro de 2014, d
psychotic patients: a French study. European
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.phplscrip
Psychiatry, 77(2), 77s-84s.
=sci_arttext&pid=Sl 517-55451999000 li
Chung, K., Reavis, S., Mosconi, M., Dewry, 0003&lng=pt&tlng=pt.
J., Matthews, T., & Tassé, M. (2006). Peer-
Falcone, E. (2000). Habilidades Sociais: par
mediated social skills training program for
além da assertividade. In R. C. Wielensk
young children with high-functioning au
(Org.). Sobre comportamento e cognição: Ques
tism. Research in Developmental Disabilities,
tionando e ampliando a teoria e as interven
28,423^36.
ções clínicas e em outros contextos. São Pau
Crowe, L., Beauchamp, M., Catroppa, C., lo: SET Editora.
& Anderson, V. (2011) Socialfunction assess
Goldfried, M.R (1979). Anxiety reduetio:
ment tools for children and adolescents-. A sys
through cognitive-behavioral intervention. L
tematic review from 1998 to 2010. Clinical
Kendall, P.C; Hollon, D. (Eds). Cognitive
Psychology Review, 31, 767-785.
behavioral interventions: Theory, research
Del Prette, Z.A.P. & Del Prette, A. (2001). and procedures. New York: Academic Press.
Psicologia das relações interpessoais-. Vivências
Gorayeb, R. (2002). O ensino de habilidade
para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes.
de vida em escolas no Brasil. Psicologia, Saú
Dei Prette, Z. A. P. & Dei Prette, A. (2008). de e Doenças, 3, 213-217.
Psicologia das habilidades sociais: Terapia, edu
Granholm, E., McQuaid, J., Link, P., Fish
cação e trabalho. Petrópolis: Vozes.
S., Patterson, T., & Jeste, D. (2008). Neu
Dei Prette, Z. A. P. & Dei Prette, A. (2009). ropsychological predictors of functional out
Psicologia das HS na infância: Teoria e práti come in cognitive behavioral social skills trai
ca. Petrópolis: Vozes. ning for older people with schizophrenia. Schi
Dei Prette, Z. A. P., Dei Prette, A., 8c Barre zophrenia Research, 100, 133-143.
to, M. C. M. (2006). HS de Estudantes de Gresham, F. M. (1981a). Assessment of chil
Psicologia: Um estudo multicêntrico. Psicolo drens social skills. Journal ofSchool Psycholo
gia: Reflexão e Crítica, 17(3), 341-350. gy, 79, 120-133.
Derdyk, P.R; Groberman, S.S. (2004). Imi Gresham, F. M. (1981b). Social skills train
tação. Em Abreu, C.N; Guilhardi, H. J. ing with handicapped children: A review. Re
(2004) Terapia comportamental e cognitivo- view ofEducation Research, 51, 139-176.
Estratégias Psicoterapias e a Terceira Onda em Terapia Cognitiva 185