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VAMOS FALAR SOBRE
DIVÓRCIO
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P03 Vamos falar sobre divórcio
Falar
Falar sobre
DIVÓRCIO
sobre
DIVÓRCIO
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Mesmo nas melhores circunstâncias, alguns
aspectos do processo de separação ou divór- DIVÓRCIOS
cio podem ser difíceis e desafiantes. Ninguém
se casa esperando que o casamento não resul- • Em 2020, em Portugal, o rácio de
te. Fazemos projectos, traçamos metas e objec- divórcios por 100 casamentos foi de
tivos de vida nunca incluindo a separação ou o 91,5% (PORDATA, 2021).
divórcio como uma etapa que ansiamos viver.
Portanto, este é um acontecimento de vida que • Entre 80 a 85% dos adultos superam
surge porque algo não correu tão bem, ou como o divórcio de forma saudável e positiva.
planeado, numa relação. E representa uma mu-
dança e uma ruptura na vida de ambas as • A maior parte das crianças com pais
pessoas – quer para quem tomou a iniciativa, divorciados tem tanto sucesso e bem-
quer para quem tem de aceitar a separação. estar quanto as crianças de pais não
divorciados.
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• Dificuldades financeiras e discussões sobre
dinheiro.
• Violência física e/ou psicológica.
FACTO FACTO
impactos negativos
na vida dos filhos/
O divórcio é uma As relações conjugais as, mas para a maior
experiência difícil parte das crianças
FACTO a nível emocional
podem ter muitos
benefícios para esses impactos não
As pessoas não e pode envolver a Saúde Psicológica são graves, nem
tomam a decisão de discórdia entre os e o bem-estar perduram no tempo.
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se divorciarem de ex-cônjuges. No das pessoas – No espaço de um ou
ânimo leve. Muitas entanto, grande quando funcionam dois anos adaptam-
vezes, é uma decisão parte dos casais bem e existe se saudavelmente
ponderada durante consegue gerir as companheirismo, às mudanças e os
anos. O sentimento suas emoções e entreajuda, afecto níveis de bem-estar
de culpa é um comunicar de uma e empatia. No entanto, são semelhantes aos
dos sentimentos forma equilibrada o casamento também de crianças cujos pais
mais prevalentes que lhes permite pode ser uma fonte não estão divorciados.
nas pessoas que ir fazendo um de insatisfação, Para além disso, a
iniciam um processo processo de divórcio medo e stresse. permanência dos
de divórcio – saudável1. Em particular, os progenitores num
frequentemente as cônjuges que viviam relacionamento
pessoas sentem que 1
Lebow, J. (2019). Treating the
difficult divorce: A Practical Guide com parceiros/as insatisfatório e/
o casamento deveria for Psychotherapists. American
abusivos/as, violentos/ ou conflituoso pode
Psychological Association.
ser “até que a morte as e emocionalmente ter efeitos mais
nos separe”. Os instáveis sentem- nocivos para a sua
divórcios acontecem se mais felizes e Saúde Psicológica
porque é legítimo satisfeitos depois do do que lidar com um
que as pessoas divórcio, adoptando processo de divórcio.
considerem que a
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mais comportamentos
relação chegou ao promotores da sua
seu limite e já não Saúde (física
corresponde às suas e psicológica) e
necessidades. bem-estar.
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O divórcio pode ser uma das experiências mais intenso. Os pais e mães sentem que pas-
mais stressantes e dolorosas da nossa vida. sar menos tempo com os filhos/as é uma das
Seja qual for o motivo para o divórcio (e quer perdas mais difíceis.
tenhamos sido nós ou não a iniciar o processo),
o fim de uma relação pode virar a nossa vida O divórcio pode ainda provocar uma disrupção
do avesso e despoletar emoções e sentimentos da nossa rotina e responsabilidades, alterações
muito intensos, tais como: na nossa relação com familiares e amigos e até
na nossa identidade. Traz também inquietações
Raiva, Dor, Culpa, Frustração, Arrepend- e incertezas quanto ao futuro (por exemplo,
imento Desilusão, Ansiedade, Medo, Con- como será viver sozinho/a?, encontraremos
fusão, Tristeza, Exaustão, Solidão, Alívio, outra pessoa?, ficaremos sozinhos/as?). Ini-
Esperança, Liberdade. cialmente, este “desconhecido” pode até pare-
cer-nos pior do que manter uma relação pouco
A situação de divórcio está, frequentemente, satisfatória.
associada a um conjunto de perdas. Podemos
perder amigos, relações familiares, um projecto O término de uma relação conjugal pode amea-
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partilhado para o futuro, segurança financeira. çar a Saúde Psicológica e o bem-estar quer
Mesmo se considerarmos apenas as questões das pessoas directamente envolvidas, quer dos
logísticas (por exemplo, dividir os bens ou en- seus familiares (por exemplo, os filhos/as). No
contrar uma solução de habitação), o divórcio é entanto, a intensidade destas emoções e sen-
um grande factor de stresse. Quando existem timentos é natural e, na maior parte dos ca-
filhos/as, o stresse do divórcio pode ser ainda sos, com o passar do tempo, vai diminuindo.
Passamos por
diferentes fases
num processo
de divórcio?
O processo de divórcio implica várias fases e cear não conseguir encontrar o equilíbrio e a
é vivido de formas diferentes e a ritmos di- estabilidade emocional desejável. Podem tam-
ferentes por cada pessoa, com mais ou menos bém surgir sentimentos de ambivalência e de
sofrimento. esperança numa reconciliação, principalmente
se não foram ainda esgotadas as estratégias de
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Antes do divórcio pode existir um processo de negociação (seja em relação aos filhos/as, seja
afastamento e/ou desligamento, aumentando em relação a questões materiais) com a outra
sentimentos negativos e o descomprometimen- parte, fazendo acreditar que ainda é possível
to. É frequente as pessoas adiarem e não quere- um desfecho diferente. Nesta fase, por vezes
rem pensar sobre a relação. Podem existir sen- de grande instabilidade emocional, é muitas ve-
timentos de insegurança, dúvida e ambivalência; zes aconselhável recorrer a ajuda profissional
medo da mudança que a ruptura provocaria. As – um Psicólogo ou Psicóloga pode ajudar a lidar
pessoas podem sofrer por não se sentirem bem com a perda e o vazio que se instala e facilitar o
com o relacionamento actual. Caso a decisão avanço da pessoa no processo de divórcio.
de separação seja unilateral, um dos elementos
pode sentir-se abandonado e rejeitado e o outro
sentir-se muito culpado. Após a superação da intensidade emocional
e das inseguranças provocadas pela ruptura,
Quando a decisão é tomada e existe a sepa- frequentemente as pessoas vivem uma sensa-
ração podem surgir sentimentos fortes e alívio, ção de alguma liberdade e independência. Pode
bem como questões como “Quem foi respon- haver pessoas que buscam o prazer imediato e
sável?”, “Porque é que esta relação não resul- experienciam e emoções e comportamentos que
tou?”. Nem todas as perguntas terão resposta associam a uma segunda adolescência. Outras,
e o mais importante é que a pessoa seja capaz mantém-se mais reservadas, refugiando-se nos
de procurar formas de ultrapassar a situação. ambientes e nas pessoas que já conhecem ou
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Nesta fase também podem existir comporta- isolando-se. Em ambos os casos é necessário
mentos menos adequados, surgindo a descon- investir no autocuidado, evitar ultrapassar al-
fiança e o desejo de vingança (“quero que sofra guns limites (por exemplo, consumo de drogas
mais do que eu”, “não lhe vou facilitar a vida”). ou adopção de comportamentos sexuais de ris-
Há medo do futuro e o fantasma de uma pos- co) e descurar responsabilidades e obrigações.
sível não superação do divórcio, podemos re-
Numa fase posterior, de nova maturidade, as
pessoas tendem a identificar aquilo que lhes traz
verdadeiro equilíbrio e estabilidade e a tomar
decisões de forma consciente. Frequentemente,
concluem que o relacionamento que terminou
faz parte do seu percurso e também contribuiu
para formar quem são enquanto pessoas.
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Como podemos
construir
um divórcio
saudável?
Embora o divórcio seja um acontecimento po-
tencialmente traumático que pode ter conse-
quências negativas para a Saúde Psicológica e
o bem-estar, também é possível superá-lo de
forma saudável e bem-sucedida. Para isso é
importante:
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emoções é importante para recuperar do pro-
cesso de divórcio e avançar com a nossa vida.
Pelo contrário, tentar ignorar, suprimir ou lutar
contra os nossos sentimentos só atrasará o
processo de recuperação do divórcio. Pessoas
diferentes precisam de tempos e formas de ex-
pressão diferentes para lidar com os seus sen-
timentos e emoções. Embora a sua intensidade
diminua com o passar do tempo, é natural que
continuemos a ter de lidar com os nossos senti-
mentos face ao divórcio (e as ramificações das
nossas perdas) durante os meses (ou anos) que
se seguem ao divórcio.
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ções de conflito. Pode ser a última coisa que nos um divórcio podem ser paralisantes. No entanto,
apetece fazer, mas a comunicação e a coopera- pouco a pouco, a tristeza e outros sentimentos
ção tornam o processo de divórcio mais fácil intensos começam a diminuir, recomeçamos a
e saudáveis para todas as pessoas envolvidas. sentir esperança e a adaptarmo-nos a uma nova
Reconhecer que o processo de divórcio é difícil realidade. Quando isso não acontece, é preciso
para ambos e manter alguma empatia facilita o procurar ajuda. Podemos estar a lidar com pro-
processo de negociação. blemas de Saúde Psicológica, como a depres-
são. Um Psicólogo ou Psicóloga podem ajudar.
• Priorizar. Apesar do nosso sofrimento, con-
tinuamos a ter de viver, realizar tarefas e pagar
contas. Existe ainda um novo conjunto de tare-
fas que temos de realizar que podem aumentar
o nosso nível de stresse (por exemplo, procurar
casa, alterar documentos legais, tratar da buro-
cracia relacionada com o divórcio, etc.). Criar
uma lista com estas tarefas e organizá-las por
ordem de importância pode ajudar-nos a orga-
nizar e a sentir menos stresse.
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divórcio dos pais.
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estarem zangados é minha”). poníveis para escutar as suas reacções (sejam
elas fazer perguntas, chorar, gritar ou pedir um
abraço).
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çar que ambos continuam a amá-los/as e que
continuarão sempre a protegê-los/as e a cuidar
deles/as. É fundamental que os filhos/as sintam
que os pais, apesar de todas as dificuldades, os
amam incondicionalmente, não os/as vão aban-
donar e estão prontos para os/as ajudar naquilo
que precisarem, independentemente de já não
estarem juntos como casal. Lembrar a criança
de que os pais e os filhos/as não se divorciam
uns dos outros e nunca deixam de se amar. É
igualmente importante sublinhar que não vão
ter de escolher entre os dois progenitores.
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ou revolta em relação à decisão dos pais e que trar disponibilidade para conversar (mesmo que
façam perguntas às quais os pais podem não eles não o queiram fazer).
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• Podem ter alterações no sono ou na
alimentação.
O impacto do divórcio nas crianças e jovens tanto, os pais devem estar atentos às mudanças
pode verificar-se a vários níveis, nomeadamen- de comportamento e às reacções emocionais,
te nas suas emoções, comportamentos e rela- porque para algumas crianças e adolescentes
ção com os pais. Os filhos podem desenvol- lidar com a separação dos pais é uma tarefa
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em partilhar o que realmente sentem por medo
de magoarem o pai ou a mãe. Assegure-lhes
que tudo o que possam sentir é natural, que vai
compreender e que poderão ultrapassar esses
sentimentos juntos.
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• Envolver a criança/jovem. É importante que • Manter uma boa comunicação com o ex-
as crianças/jovens possam participar na nova -cônjuge. Manter uma boa relação e uma co-
organização familiar, sendo envolvidos/as, sem- municação saudável com o ex-parceiro/a pode
pre que possível e consoante a sua idade, nos ajudar as crianças a sentir que ambos os pais
processos de decisão. Por exemplo, uma crian- continuam a amá-la e a cuidar dela. Os ex-côn-
ça de 5 anos pode escolher (mediante orienta- juges devem comunicar directamente entre si,
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ção dos pais) que objectos colocar no seu quar- sem envolver os filhos/as como mensageiros do
to em casa da mãe e em casa do pai, se quer pai ou da mãe.
levar um brinquedo para casa da mãe ou deixá-
-lo ficar em casa do pai. Um jovem de 12 anos
pode participar mais activamente nas decisões
quanto à decoração do seu quarto.
• Evitar conflitos. Quaisquer discordâncias,
discussões ou conflitos entre os ex-cônjuges
devem acontecer longe dos filhos. Expor as
crianças/jovens ao conflito entre os pais pode
fazê-las sentir que fizeram algo errado e que
a culpa é delas. É o conflito entre os pais que
aumenta o risco de problemas de Saúde Psico-
lógica nas crianças e jovens. Tendencialmente,
as crianças mantêm a sua Saúde Psicológica e
bem-estar quando é possível terem uma relação
próxima e saudável com ambos os pais.
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dem também ser uma fonte de apoio para as
crianças/jovens.
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o suficiente”). Ter auto-compaixão significa que der os nossos sentimentos relativamente ao di-
sentimos empatia por nós mesmos, que com- vórcio e já não sentimos raiva, ódio ou desejo de
preendemos as decisões que tomámos e acei- vingança; quando conseguimos planear a nossa
tamos a experiência pela qual estamos a passar. vida e ter objectivos para o futuro como pessoas
individuais; quando conseguimos (r)estabelecer
• Autocuidado. O autocuidado é ainda mais im- uma relação estável e saudável com o pai/mãe
portante num processo de recuperação de um dos nossos filhos/as e connosco próprios/as.
divórcio – que corresponde a um período de
maior intensidade emocional, mudanças rápidas
e alguma conflitualidade. Muitas pessoas rela-
tam que passam a alimentar-se de forma menos
saudável, a ser mais sedentárias e a ter proble-
mas de sono. Por isso, investir em acções que
protegem a nossa Saúde (física e psicológica)
e o nosso bem-estar é fundamental: escolher
uma alimentação saudável, fazer actividade fí-
sica regularmente e ter uma boa rotina de sono
deve ser prioritário.
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• Focar a comunicação nas necessidades dos mente, podem ocorrer por e-mail, por chama-
filhos/as. As conversas devem ter como objec- da ou mensagens. Em situações de discórdia a
tivo o bem-estar dos filhos e para serem mais comunicação deverá manter-se ou em caso de
eficientes devem ser conduzidas com cordiali- necessidade poder-se-á pedir ajuda a um me-
dade, respeito e neutralidade. O enfoque deve diador ou Psicólogo/a.
estar nas necessidades dos filhos e não nas ne-
cessidades da mãe ou do pai.
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com o progenitor com quem não estão sempre
que quiserem (desde que não exista numa con-
tra-indicação por parte de serviços especiali-
zados). Não há como competir pelo amor dos
filhos/as, ambos os progenitores têm um papel
fundamental e insubstituível.
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bem-estar dos filhos/as, quando existe. A me-
diação é diferente da psicoterapia ou terapia de
casal, tendo como objectivo chegar a um acordo
sobre as responsabilidades parentais e finan-
ceiras associadas ao divórcio, assegurando a
manutenção de uma boa relação e comunica-
ção no processo de negociação, entre todas as
partes envolvidas.
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