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RESUMO
O presente artigo tem por objetivo abordar os efeitos que a separação conjugal causa para
os pais e filhos, assim como esclarecer a distinção entre parentalidade e conjugalidade e os
desafios da psicologia diante da complexidade desse fenômeno. A partir de uma revisão
bibliográfica, foi possível destacar que o rompimento do laço conjugal origina uma crise no
grupo familiar que pode ser elaborada de uma forma menos ou mais adaptativa. Desse
modo, o estudo evidencia que a separação conjugal repercute diretamente no exercicio
parental dos ex-conjuges podendo causar sérios prejuízos ao desenvolvimento da criança.
Cabe a Psicologia promover espaços de escuta e reflexão para a compreensão das
dificuldades oriundas da separação, viabilizando o reconhecimento da distinção entre a
conjugalidade e a parentalidade.
1. INTRODUÇÃO
Há poucas décadas não enfrentávamos dificuldade alguma para definir família, bem
como, para descrever quem são os seus membros. Hoje, a cada dia, cresce a quantidade
de notícias a respeito de novos arranjos familiares. Estas mudanças no modelo familiar,
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apesar de observadas, não têm sido acompanhadas pelas práticas profissionais, que
permanecem aplicando o entendimento construído a partir do viés do modelo familiar
tradicional. Além disso, a condição da separação conjugal tem contribuído fortemente para o
aumento da diversidade de modelos e estruturas de famílias (WAGNER e LEVANDOWSKI,
2008).
De acordo com Schabbel (2005) o divórcio legaliza um estado de discórdia entre o
casal. Configura um processo de disputa e exige a criação de novas estruturas de
convivência doméstica, principalmente no que tange a pais e filhos. Tanto no âmbito clínico
quanto no forense, estudos demonstram que os conflitos vividos pelos pais antes e durante
o processo de separação, causam problemas de ajustamento nos filhos que vivenciam o
divórcio como um mistério que precisa ser explicado com clareza e objetividade. Todos
familiares, vivenciam incertezas e angústias que ameaçam a estabilidade pessoal, exigindo
a elaboração de uma perda. Esses acontecimentos passam a desencadear falhas na
comunicação e interpretações errôneas permeadas de mágoas e ressentimentos, gerando,
deste modo, inúmeros conflitos, afetando diretamente o exercício parental.
Frente a essa realidade o presente estudo busca através de uma revisão
bibliográfica, reconhecer os efeitos que a separação conjugal causa a pais e filhos. Da
mesma forma, elucidar a distinção entre parentalidade e conjugalidade, sendo que diante do
processo de separação torna-se crucial o reconhecimento da diferença entre o exercicio
parental e conjugal para que a vivência desse processo seja mais saudável para todos
envolvidos. Nessa perspectiva a atuação da Psicologia como ciência e profissão inclina-se
à compreensão dos desafios .da eminência de novos arranjos familiares que instituem a
redefinição dos papéis e da dinâmica tida como tradicional na família.
2. DESENVOLVIMENTO
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indiretamente, podendo ser elaborada de uma forma menos ou mais adaptativa. Cabe
ressaltar também que, algumas pessoas não conseguem lidar facilmente com as alterações
ligadas à separação, pois o rompimento conjugal não envolve apenas o “sair de casa”, mas
a necessidade de assumir responsabilidades legais, sociais e emocionais que este momento
exige.
De acordo com Brito, Cardoso e Oliveira (2010) a separação conjugal é identificada
como um fator responsável por inúmeras mudanças no cotidiano da família, especialmente
quando o casal possui filhos. Segundo Nazareth (2004) esta realidade envolve
transformações na estrutura e na dinâmica familiar, determinando uma nova configuração
familiar sendo que a conjugalidade foi rompida. Com o rompimento conjugal frequentemente
estão presentes conflitos e questões emocionais não resolvidas pelo ex-casal, gerando
sentimentos depreciativos em relação ao ex-companheiro como raiva, traição, desilusão
com o casamento, e uma vontade consciente, ou não, de se vingar pelo sofrimento causado,
tanto para o ex-cônjuge, quanto com relação aos filhos oriundos desta relação (SOUSA,
2010).
Neste contexto, destaca-se também que, a separação conjugal pode causar efeitos
psicológicos estando relacionados ao aumento de doenças físicas e emocionais. De acordo
com Bee apud Romaro e Oliveira (2008) pessoas que recentemente separaram-se estão
vivendo um momento de fragilidade e propensas a sofrerem acidentes automobilísticos, à
tendência a cometerem suicídio, faltar ao trabalho e se deprimir com facilidade. Conforme
apontado, os efeitos psicológicos podem ter consequências desastrosas, sendo fundamental
seu estudo nos serviços de saúde no sentido de caracterizar aspectos da demanda do
grupo de ex - casal.
Além disso, cabe destacar também que o grupo familiar como um todo segundo
Schabbel (2005) acaba sendo prejudicado quando um dos cônjuges resolve sair de casa,
surgindo sentimentos de perda, fracasso, desamparo, abandono, rejeição, medo,
insegurança e incertezas. Assim, o divórcio legaliza um momento de desunião entre o ex-
casal gerando, muitas vezes, um clima de disputa entre o filho, criando novas estruturas de
convivência entre eles e principalmente provocando angústias e incertezas que ameaçam a
estabilidade pessoal de todo o grupo familiar. Já para os filhos a separação representa um
mistério no qual não se tem conhecimento das causas, sendo necessário que esta seja
explicada por ambos os pais com o máximo de transparência e objetividade.
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Até aqui percebe-se que as repercussões que uma separação conjugal causa são
inúmeras, mas cabe ressaltar que uma das grandes dificuldades suscitadas neste momento,
quando o ex casal possui filhos, é o fato de um deles, ou o pai ou a mãe, quererem
desvincular-se, desligar-se completamente, sendo que na verdade isso poderá gerar
grandes repercussões para todos os envolvidos, pois o que termina é a relação conjugal e
não a relação parental. Com isso, é importante que o ex-conjuge preserve as relações
parentais e possa principalmente ser capaz de estabelecer entendimentos mútuos com
relação aos filhos.
Assim, entende-se que a separação causará efeitos no grupo familiar inclusive nos
filhos. Estes efeitos geralmente são negativos para a criança ou adolescente que enfrenta o
medo e as consequências de um lar desfeito. Pesquisas realizadas fora do Brasil apontam a
duas percepções provocadas nos filhos pelo efeito da separação que são “o medo,
inconsciente ou consciente, de que o outro cônjuge também vá embora, e a percepção de
que os adultos não são confiáveis e nem honestos” (SCHABBEL, 2005, p. 14). Além disso,
cabe destacar, como outra conseqüência esperada, os momentos delicados e difíceis que o
casal e os filhos passarão a conviver no que diz respeito às questões práticas como a
guarda e a visita e aos aspectos emocionais como, por exemplo, a perda da convivência
diária com um dos pais e os sentimentos de abandono, rejeição e desamor. Para Cezar-
Ferreira (1995) outra questão relevante é que nesse processo de separação, os filhos
precisam cada vez mais dos pais, só que, muitas vezes, estes se encontram neste momento
fragilizados e vulneráveis pelo rompimento, uma vez que há uma perda a ser elaborada e
inúmeros sentimentos emergem, como a frustração por falharem no casamento, sendo que
além disso, aspectos práticos precisam ser resolvidos.
Segundo Sousa (2010) na medida em que os filhos são maiores eles passam a
assumir responsabilidades nos cuidados da casa e consigo pós-separação e sendo muitas
vezes o confidente de sua mãe. A separação conjugal gera nos filhos uma dependência
física e emocional em relação à mãe, sendo que esta é a única referência parental na casa.
Para a autora uma das queixas dos filhos com relação a separação dos pais é com o
afastamento que, ocorre em relaçao ao conjuge que não mora mais no mesmo lar. De
acordo com Gottman apud Braz, Dessen e Silva (2005) as influências negativas produzidas
nas crianças, em conseqüência de relações conjugais insatisfatórias, incluem desde
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problemas de saúde, depressão, baixa competência social e baixa performance acadêmica
se o filho é um jovem adulto, até vários outros distúrbios de conduta.
Outra situação difícil vivenciada pelos filhos diz respeito ao fato de quando eles são
colocados no meio dos conflitos dos pais, sendo que às vezes o pai ou a mãe, ou ambos
jogam o filho um contra o outro. Segundo Brito (2008) logo após a separação alguns filhos
exercem a tarefa de transmitir recados, informações já que os pais pós separação pouco se
falam. Estes recados dizem respeito a questões financeiras e ao cotidiano dos filhos.
Percebe-se no entanto que mesmo após a separação, os filhos continuam expostos às
brigas.
Em suma, pode-se dizer que com o rompimento conjugal inúmeras mudanças irão
ocorrer no ambiente familiar, especialmente quando o casal possui filhos. Uma nova
realidade estará presente envolvendo transformações na estrutura e na dinâmica familiar,
determinando novas configurações e funcionamentos familiar.
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emocional e o ex-casal continua vivenciando sentimentos de raiva, traição, desilusão com o
casamento, e os filhos, por vezes, são envolvidos no conflito como uma forma de atingir o
ex-companheiro.
Desta forma, faz-se necessário entender as configurações da parentalidade e da
conjugalidade, pois, conforme Grzybowski (2011) casais com carga emocional conflitiva,
provavelmente não conseguirão definir fronteiras nítidas entre a parentalidade e a
conjugalidade, e ficará mais difícil manter a estabilidade necessária para o bem estar dos
filhos. Porém, o que se espera do casal é que, apesar de seus conflitos e divergências, eles
consigam se separar mantendo o respeito mútuo, e com isso, estabelecendo regras de
funcionamento que privilegiem a qualidade de vida dos filhos, amenizando as perdas e o
sofrimento que causa todo o processo de separação.
Mediante isso, destaca-se que a parentalidade continua após a separação, porque
por mais que existam ex-maridos e ex-esposas, jamais existirá ex-mãe e ex-pai, pois o
vínculo parental é para sempre (GRZYBOWSKI, 2011). Além disso, a mesma autora
acredita que a parentalidade implica uma série de responsabilidades essenciais para com os
filhos, e precisa ser remodelada e adequada no contexto de separação conjugal, porque
enquanto pais, o ex-casal, precisa compartilhar a tarefa de educar os filhos, abrindo espaço
para o que denominamos de coparentalidade.
Para Grzybowski e Wagner (2010) a coparentalidade está presente sempre que os
pais, mesmo casados, negociam seus papéis, responsabilidades e contribuições para com
seus filhos e, para que aconteça é necessária a presença de duas pessoas envolvidas
responsáveis pela educação dos filhos, porém, sabe-se que, num contexto de separação
conjugal, isto nem sempre ocorre, porque o que se vê é que muitos pais e mães divorciados
encontram dificuldades em manter um relacionamento coparental saudável.
Mas, para que isso ocorra de maneira mais saudável, acrescenta-se a definição da
coparentalidade, o entendimento de que esta implica num interjogo de papéis que se
relacionam com o cuidado global da criança, e que precisa envolver responsabilidade
conjunta dos pais pelo bem-estar da mesma (GRZYBOWSKI e WAGNER, 2010). Além
disso, para que as modificações, decorrentes do contexto da separação conjugal, ocorram
de uma forma menos dolorosa para os envolvidos, seria importante que pais e filhos
renegociassem as fronteiras em suas relações, combinando poder e intimidade.
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Wagner e Levandowski (2008) destacam que, frente à ruptura conjugal, as famílias
que conseguem construir fronteiras nítidas entre os seus membros e manter uma hierarquia
capaz de preservar a relação de cuidado, proteção e amor para com seus filhos, têm grande
potencial para se reorganizar de forma mais exitosa e saudável. Além disso, fatores como a
manutenção da harmonia entre os pais, o tempo dedicado aos filhos, o estilo de vida dos
progenitores, a presença ou ausência de um projeto de vida familiar, potencializam a família
na formação de hábitos, atitudes e valores dos seus filhos.
Portanto, são importantes medidas que visam favorecer o diálogo no grupo familiar,
ao mesmo tempo em que promovem o respeito aos direitos de pais, mães e filhos na família
pós-divórcio (SOUSA, 2010).
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clareadas e resolvidas, facilitam a negociação das opções mais adequadas para reorganizar
as funções, papéis e obrigações da família.
Desta forma, entende-se que cada família deverá descobrir uma nova forma de
(re)estruturação, cabendo ao profissional da Psicologia auxiliá-la neste caminho singular,
para que os papéis de cada um possam ser redefinidos através do desejo real de assumir
suas próprias vidas. O desafio se constitui na reavaliação dos parâmetros familiares e
pessoais e no reconhecimento destes, pois atualmente novos elementos ampliam o conceito
de família e desafiam o nosso olhar, enquanto profissionais psi, sobre o fenômeno da
separação conjugal e suas repercussões nas relações familiares (WAGNER e cols, 2011).
3. CONCLUSÃO
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campo de intensas mudanças e grandes repercussões causadas pelo término do laço
conjugal.
REFERÊNCIAS
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In:______. Alianças desfeitas, ninhos refeitos: mudanças na família pós-divórcio. Rio
de Janeiro: EdUERJ, 2008. p. 17-47.
BRITO, Leila Maria Torraca de; CARDOSO, Andréia Ribeiro; OLIVEIRA, Juliane Dominoni
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cienc. prof. [online]. 2010, vol. 30, n. 4, pp.810-823. ISSN 1414-9893.
BRAZ, Marcela Pereira; DESSEN, Maria Auxiliadora e SILVA, Nara Liana Pereira.
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baixa e média. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2005, vol.18, n.2, pp. 151-161. ISSN 0102-
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GRZYBOWSKI, L. S. Ser pai e ser mãe como compartilhar a tarefa educativa após o
divórcio? In: WAGNER, A. e cols. Desafios psicossociais da família contemporânea. São
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Nazareth, Eliana R. Família e divórcio. In: Cerveny, Ceneide Maria de Oliveira (Org.),
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São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
SOUSA, Analicia Martins de. Síndrome da alienação parental: um novo tema nos juízos de
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WAGNER, A, Cols. Desafios da família contemporânea. In:______. Desafios Psicossociais
da Família Contemporânea. São Paulo: Artemd, 2011.
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