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Autores

Suzana Portuguez Viñas


Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Santo Ângelo, RS, Brasil
2022
Supervisão editorial: Suzana Portuguez Viñas
Projeto gráfico: Roberto Aguilar Machado Santos Silva
Editoração: Suzana Portuguez Viñas

Capa:. Roberto Aguilar Machado Santos Silva

1ª edição

2
Autores

Suzana Portuguez Viñas


Pedagoga, psicopedagoga, escritora,
editora, agente literária
suzana_vinas@yahoo.com.br

Roberto Aguilar Machado Santos Silva


Membro da Academia de Ciências de Nova York (EUA), escritor
poeta, historiador
Doutor em Medicina Veterinária
robertoaguilarmss@gmail.com

3
Dedicatória
ara todos os pais, mestres, pedagogos, psicopedagogos,

P psicólogos e terapeutas
Suzana Portuguez Viñas
Roberto Aguilar Machado Santos Silva

4
Toda separação é triste. Ela guarda memória de
tempos felizes (ou de tempos que poderiam ter
sido felizes...) e nela mora a saudade.
Rubem Alves

Rubem Azevedo Alves (Boa Esperança, 15 de setembro


de 1933 — Campinas, 19 de julho de 2014) foi um
psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor
presbiteriano brasileiro. Foi autor de livros religiosos,
educacionais, existenciais e infantis. É considerado um
dos principais pedagogos brasileiros da história do
Brasil, junto com Paulo Freire, um dos fundadores da
Teologia da Libertação e intelectual polivalente nos
debates sociais no Brasil.Foi professor da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP).

5
Apresentação

O
divórcio está se tornando cada vez mais prevalente em
nossa sociedade, afetando significativamente todas as
partes envolvidas, principalmente as crianças. A
separação dos pais é muitas vezes a primeira grande mudança na
vida de uma criança.
Ganhar consciência das necessidades dos filhos do divórcio e
como as crianças alcançam a resiliência deve ajudar os alunos a
se tornarem bem ajustados e produtivos. Este livro explora
maneiras pelas quais os sistemas escolares e os conselheiros
escolares podem atender às necessidades dessas crianças.
Suzana Portuguez Viñas
Roberto Aguilar Machado Santos Silva

6
Sumário

Introdução.....................................................................................8
Capítulo 1 - Entendendo as diferenças entre a separação e o
divórcio..........................................................................................9
Capítulo 2 - Impactos da separação dos pais em crianças em
idade escolar...............................................................................13
Capítulo 3 - Efeitos do divórcio em crianças, traços de
resiliência e intervenção escolar..............................................27
Epílogo.........................................................................................58
Bibliografia consultada..............................................................59

7
Introdução

A
separação dos pais é muitas vezes a primeira grande
mudança na vida de uma criança. Esse evento
angustiante altera drasticamente o futuro da família,
trazendo uma sensação de perda devido à interrupção das rotinas
normais, bem como à ausência de contato diário com ambos os
pais.
Distúrbios do desenvolvimento e do comportamento, tanto antes
do divórcio e, em particular, durante os primeiros anos após o
evento, foram relatados. Muitos estudos mostraram que o divórcio
dos pais afeta a saúde física e psicossocial da criança, embora os
resultados sejam diferentes de acordo com o desenho do estudo
e os instrumentos usados para medir os resultados.8-16 Estamos
cientes de que a saúde psicossocial é um construto complexo, de
natureza multidimensional, mas muitas vezes reduzido pelos
pesquisadores a uma estrutura única para fins operacionais que
são afetados por vários fatores, como características dos pais,
estilo de criação dos filhos, valores comunitários, adaptabilidade
infantil, etc.

8
Capítulo 1
Entendendo as diferenças
entre a separação e o
divórcio

C
onforme o site Direito Familiar (2022), quando um
casamento acaba, é comum ouvirmos que o casal “se
separou”. Esta não está totalmente errada, é importante
que, para o direito, tem diferenças entre uma separação e o que
pode ser seguido.
De acordo com os mesmos autores, antigamente, a legislação
buscava garantir que o vínculo criado pelo casamento nunca
fosse desfeito. Ou seja, se uma pessoa fosse casada, ela não
poderia se divorciar ou se separar, pelo menos não “no papel”.
Na prática, é claro que muitas relações acabavam. Contudo, caso
a pessoa passasse a viver com outra após o término do
casamento, esse segundo relacionamento não seria juridicamente
reconhecido como uma relação familiar1, vez que as relações
mantidas fora do matrimônio não recebiam qualquer amparo na
área do Direito de Família.
Até 1977 não era possível pôr fim ao casamento, a não ser por
anulação (saiba mais sobre isso clicando aqui), ou, por desquite2.
Entretanto, no referido ano, foi criada a Lei do Divórcio, quando,
então, surgiu a possibilidade de se separar e de se divorciar.

9
A separação, naquela época, era uma das condições para que se
pudesse efetuar o divórcio. O casal somente poderia entrar com o
pedido de divórcio se comprovasse estar separado judicialmente
há três anos.
Dito isso, passamos à análise de algumas diferenças entre esses
dois institutos.

Separação
A separação põe fim à sociedade conjugal. Isso significa que,
depois de separada judicialmente, a pessoa deixa de ter que
cumprir os deveres conjugais, como o de fidelidade e o de
coabitação. O regime de bens adotado no casamento também
não será aplicado aos bens adquiridos após a separação.
Apesar disso, ainda existe o vínculo matrimonial, que impede as
pessoas de se casarem novamente enquanto estiverem apenas
separadas.

Divórcio
O divórcio, por sua vez, extingue tanto a sociedade conjugal
quanto o vínculo matrimonial. No entanto, desde a sua criação,
em 1977, até os dias atuais, o divórcio sofreu algumas alterações
legislativas.
Quando a Lei do Divórcio foi criada, a determinação era de que
ele só poderia ser decretado depois de passados três anos da

10
separação judicial das partes, como mencionado acima.
Posteriormente, esse período mínimo foi alterado, sendo
necessário estar separado judicialmente por, pelo menos, um ano,
ou separado de fato (o casamento terminou, mas não houve
processo judicial de separação), por mais de dois anos para a
decretação do divórcio.

Conforme o Direito Familiar (2022), uma grande diferença entre


estes dois institutos diz respeito ao restabelecimento da
sociedade conjugal, ou seja, quando as pessoas que puseram fim
à união quiserem voltar a conviver como casados.
Tal medida é possível, mas é diferente para cada instituto.
No caso de o casal ser separado judicialmente, basta entrar com
um pedido de restabelecimento da sociedade conjugal, e
retornará ao status de casado nos mesmos moldes do casamento
já celebrado anteriormente.
No entanto, se o casal se divorciou, mas deseja reatar a união,
deverá casar novamente, ou seja, terá que passar por todo o
processo de habilitação de casamento junto ao cartório de registro
civil, podendo manter os moldes do antigo casamento, ou alterá-
los na nova união, em que se criará um novo vínculo.
Outra questão importante diz respeito à possibilidade de converter
a separação judicial em divórcio. Isso é muito comum nos casos
em que, por exemplo, a pessoa separada judicialmente deseja se
casar novamente, mas com outra pessoa. Para que seja possível
o novo casamento, ela deverá pedir a conversão da separação

11
em divórcio para dissolução do vínculo matrimonial, ficando,
então, livre para uma nova união.

12
Capítulo 2
Impactos da separação dos
pais em crianças em idade
escolar

D
e acordo com Line Lund Laursen e colaboradores
(2019), do Departamento de Saúde Pública da
Universidade de Aarhus, (Dinamarca), nos últimos 20
anos, a dissolução familiar tornou-se mais comum na maioria dos
países ocidentais e estima-se que cerca de metade dos primeiros
casamentos será dissolvido. Um pouco mais da metade de todos
os divórcios envolvem crianças. Em 2015, 27% de todas as
crianças na Dinamarca com menos de 18 anos que moravam em
casa compartilhavam um endereço com apenas um dos pais.
No Brasil, segundo o advogado Diego Castro (2022), entre 2016 e
2017, o número de casamentos caiu cerca de 2,3%, enquanto o
número de divórcios aumentou em 8,3%. Isso semconsiderar as
separações de fato, que não são registradas, mas também
produzem alguns efeitos.
Nas últimas décadas, vários estudos descobriram que crianças
com pais divorciados ou separados tiveram resultados menos
favoráveis, incluindo desempenho acadêmico, bem-estar
psicossocial, autoconceito, além de maior risco de abandonar a
escola do que crianças que vivem em casas intactas. famílias.

13
Esses resultados menos favoráveis em crianças, que são vistos
tanto imediatamente após o divórcio quanto em uma perspectiva
mais longa, são semelhantes aos resultados encontrados no
conflito interparental. De fato, os níveis de conflito entre os pais
antes, durante e após o divórcio dos pais podem explicar mais
sobre a adaptação dos filhos à separação dos pais do que o
próprio evento do divórcio. O conflito interparental pode gerar
problemas de atenção, atribuições de auto-culpabilização, conflito
elevado com os pares, bem como dificuldades emocionais gerais
e de sala de aula, levando a um desempenho acadêmico reduzido
em crianças em idade escolar .
Os pais são recursos importantes para a criança, fornecendo
apoio emocional, assistência prática e orientação e podem servir
como modelos para ensinar habilidades sociais a seus filhos.
Assim, a família constitui um cenário social fundamental e, mesmo
que não haja conflito parental, a ausência de um dos pais pode
ser problemática para a socialização da criança. Nessa
perspectiva, foi levantada a hipótese de que as crianças têm um
nível mais alto de bem-estar social se o divórcio ocorre quando
são mais velhas e não mais jovens, porque uma parte
considerável do processo de socialização ocorre no início da vida
da criança. A dissolução dos pais parece ter relativamente poucas
consequências para os filhos em idade universitária,
presumivelmente devido à sua maturidade e independência da
família.
Estudos transversais e prospectivos anteriores examinaram a
associação entre dissolução familiar e bem-estar social em

14
crianças de 11 a 18 anos. As associações foram estimadas em
tamanhos de amostra variando de 978 a 13.953 crianças e com
base em várias medidas que refletem o bem-estar social,
incluindo popularidade, cooperação, relações com colegas,
solidão, bullying, percepção de desintegração social e falta de
alegria na escola. A maioria desses estudos descobriu que
crianças de famílias dissolvidas têm um resultado pior do que
crianças de famílias intactas; alguns estudos não encontraram
associação. No entanto, a maioria dos estudos baseou-se em
dados autorrelatados sobre dissolução familiar introduzindo um
potencial viés ou apenas incluiriam dados sobre dissolução legal
de famílias por divórcio ou separação, deixando de fora os casais
que vivem juntos, mas não são casados.
Além disso, alguns estudos basearam o bem-estar social das
crianças em relatos de professores ou pais, usando outros
informantes que não as próprias crianças. Muitos dos resultados
sociais em estudos anteriores referem-se ao ambiente escolar,
mas poucos dos estudos se concentraram estritamente nesse
ambiente específico. O ambiente escolar é uma parte central da
vida diária das crianças e pode ser visto como o ambiente social
mais importante fora de casa, onde as crianças passam muitas
horas durante o dia. Em um estudo epidemiológico prospectivo, o
baixo bem-estar social foi associado ao menor desempenho
acadêmico na escola e maior risco de problemas graves de saúde
mental em uma amostra representativa de 2.790 adolescentes. O
ambiente escolar pode desempenhar um papel importante na
identificação precoce de crianças em risco de mal-estar e que

15
necessitam de apoio em caso de separação dos pais. Assim, o
principal objetivo deste estudo foi investigar a associação entre a
dissolução familiar e o bem-estar social das crianças na escola e,
em segundo lugar, investigar como a associação pode variar de
acordo com a idade da criança no momento da dissolução
familiar. Com base no conhecimento baseado em estudos
anteriores, levantamos a hipótese de que crianças de famílias
dissolvidas tinham maior risco de baixo bem-estar social na
escola em comparação com crianças de famílias intactas, e que o
risco aumentava quanto mais jovem a criança era no momento da
dissolução familiar.

Efeitos do divórcio na educação


infantil
Capacidade de aprendizagem
diminuída
Divórcio e separação se correlacionam positivamente:
1) com desempenho e desempenho escolar diminuídos.
2) Daniel Potte (2010), da Universidade da Virgínia, descobriu que
as crianças do ensino fundamental que sofrem o divórcio dos pais
imediatamente começam a ter um desempenho acadêmico pior
do que seus colegas de famílias intactas. Essa lacuna persiste até
o ensino fundamental.

16
3) As crianças expostas ao divórcio unilateral são menos
educadas na idade adulta.
4) As crianças têm aspirações educacionais e resultados de
testes mais baixos durante o processo de ruptura conjugal de
seus pais.
5) Filhos de pais divorciados também são mais propensos a reter
uma série e ter médias de notas (GPAs, do inglês Grade Point
Averages) mais baixas.
6) Estudantes do ensino médio em famílias intactas têm GPAs
11% mais altos do que aqueles de famílias divorciadas,
7) e crianças em famílias casadas intactas têm os GPAs
combinados mais altos de inglês e matemática.
8) Um estudo (controlando a educação dos pais, ocupação dos
pais, tamanho da família, etc.), descobriu que crianças cujos pais
se divorciam recebem cerca de sete décimos de ano a menos de
educação do que crianças de famílias intactas.
9) Os alunos do jardim de infância com pais divorciados têm uma
pontuação média em matemática e leitura cerca de três pontos
menor do que os alunos do jardim de infância com pais não
divorciados.
10) As crianças cujas mães se divorciaram e permaneceram
divorciadas se saíram pior ao longo do tempo nos testes de
reconhecimento de leitura do Peabody Individual Achievement
Test (que avaliam a capacidade das crianças de reconhecer e
pronunciar palavras) do que crianças de famílias casadas
intactas.

17
Teste de Realização Individual Peabody (PIAT-R NU,
do inglês Peabody Individual Achievement Test)
O Peabody é um teste de desempenho padronizado e
referenciado em normas nacionais. A Atualização
Normativa foi publicada em 1998, com base nos
resultados de 1998. É administrado individualmente por
um examinador treinado, com avaliação concluída nas
seguintes áreas de conteúdo: Informações Gerais,
Reconhecimento de Leitura, Compreensão de Leitura,
Matemática e Ortografia (veja abaixo). Os subtestes e
pontuações compostas são calculados imediatamente
com pontuações derivadas indicando equivalentes de
nível de escolaridade e classificação de percentil. O
teste é oral em formato e quase conversacional em tom.
Eu me esforço para manter a experiência do teste
casual e não intimidante para o seu filho. Leva de 60 a
90 minutos para administrar o teste, mas o exame não é
cronometrado. O Peabody pode ser administrado
durante todo o ano e avaliará os níveis de ensino K-121.

11) Aos 13 anos, há uma diferença média de meio ano na


capacidade de leitura entre filhos de pais divorciados e filhos de
famílias intactas.1
12) No CAT (Common Admissions Test) Math/Verbal Percentile
Scores, as crianças de famílias casadas, sempre intactas,
pontuaram no percentil 58, seguidas por crianças de famílias
adotivas casadas e famílias monoparentais divorciadas (percentil
48).
13) No Projeto Impacto do Divórcio da Kent State University, que
usou um estudo de amostra nacional de 699 alunos do ensino
fundamental, as crianças de lares divorciados tiveram um
desempenho pior em leitura, ortografia e matemática e repetiram

1 K–12 (pronuncia-se "k twelve", "k through twelve", or "k to twelve"), é uma
expressão norte-americana para designar o intervalo, em anos, abrangido pelo
Ensino Primário e Ensino Secundário na educação dos Estados Unidos, que é
similar aos graus escolares públicos encontrados, precedendo ao ensino superior,
em países como Afeganistão, Austrália, Canadá, Equador, China, Egito, Índia, Irã,
Filipinas, Coreia do Sul, Turquia.
18
uma série com mais frequência do que as crianças de pais
intactos com dois pais. famílias. As descobertas do projeto
levaram os pesquisadores a concluir que crianças e adolescentes
sofreram efeitos negativos de longo prazo após o divórcio.
14) Adolescentes que vivenciam o divórcio dos pais pontuam mais
baixo do que seus colegas de famílias intactas em testes de
matemática, ciências e história.
15) Alguns estudos mostram que a correlação entre a ruptura
familiar do adolescente e o nível educacional é mais fraca após o
controle do status socioeconômico da família. Esse achado
provavelmente reflete a influência da renda em cada um.
16) Um dos problemas que acompanham o divórcio é a
instabilidade financeira que ele inflige a quem o vivencia.

A falta de transições familiares após o divórcio não elimina o


efeito do divórcio no desempenho acadêmico dos alunos, mas
fornece ao seu desempenho em matemática e estudos sociais um
certo grau de proteção, em comparação com alunos que vivem
em famílias instáveis com múltiplas transições familiares

Idade no divórcio
A pesquisa norueguesa descobriu que as crianças que se
divorciam no início da vida tendem a ter resultados educacionais
mais baixos, descobrindo que o efeito do divórcio na educação é
mais forte quando a criança é jovem. Um estudo americano, por
outro lado, descobriu que aqueles que experimentaram um
19
divórcio tardio (entre a sexta série e eram mais propensos a obter
notas baixas do que as crianças que experimentaram um divórcio
precoce (entre o jardim de infância e a quinta série).

Consequências da mudança
A mobilidade residencial é responsável por 29% da diferença de
desempenho acadêmico entre crianças que vivem em famílias
adotivas e crianças que vivem com ambos os pais biológicos. A
mudança tende a aumentar os problemas comportamentais,
emocionais e acadêmicos dos adolescentes. Isso acontece com
mais frequência para adolescentes com pais divorciados ou
separados e pode contribuir para GPAs mais baixos. No geral,
quanto menos instabilidade de qualquer tipo na vida da criança
após o divórcio, menor o impacto na criança.

Demografia norte-americana relacionada


De acordo com o National Survey of Children's Health (EUA,
2022), as crianças que vivem com ambos os pais biológicos ou
com dois pais adotivos têm apenas um terço da probabilidade de
repetir uma série na escola do que aquelas que vivem apenas
com a mãe, com um pai biológico e padrasto, ou em outras
configurações familiares, como apenas com o pai ou com pais
adotivos.

20
Com base na Pesquisa Nacional Longitudinal da Juventude
(National Longitudinal Survey of Youth, 2022), uma fração maior
de crianças de famílias casadas intactas ganha principalmente A
na escola. Cerca de 28 por cento dos alunos que cresceram em
uma família de casados intactos receberam principalmente notas
A, seguidos por alunos de famílias de coabitação intacta (21 por
cento), famílias de pais solteiros divorciados (18 por cento),
famílias adotivas casadas (15 por cento), famílias adotivas
coabitantes (11 por cento) ), e sempre famílias monoparentais (9
por cento).

21
Envolvimento parental
A família biológica intacta facilita o envolvimento dos pais na
educação dos filhos adolescentes. Adolescentes em famílias
biológicas intactas relataram que seus pais participavam mais da
escola, que discutiam mais sobre a escola com seus pais e que
conheciam mais os pais de seus amigos do que aqueles em
famílias monoparentais e famílias adotivas. Nas famílias
divorciadas, o envolvimento dos pais não pode compensar o
prejuízo à educação dos filhos. Pais em famílias casadas sempre
intactas estão mais envolvidos na lição de casa de seus filhos do
que padrastos.

Comportamento na Escola

Resultados psicossociais
Um estudo descobriu que crianças em famílias pré-rompidas (cujo
relacionamento dos pais se dissolveria mais tarde) exibem mais
problemas acadêmicos, psicológicos, comportamentais e
relacionados a drogas do que crianças cujas famílias
permaneceram intactas. Alunos da primeira série nascidos de
mães casadas são menos propensos a se comportar de forma
perturbadora (ou seja, desobedecer a um professor, ser
agressivos com outras crianças) do que aqueles nascidos de
mães solteiras ou coabitantes. Daniel Potter (2010) também
22
descobriu que o efeito deletério do divórcio no bem-estar
psicossocial das crianças é um fator importante nas notas baixas
em matemática e leitura.

Comprometimento
Crianças e adolescentes em famílias casadas intactas são mais
propensos a se preocupar em ir bem na escola, fazer trabalhos
escolares sem serem forçados, fazer mais do que “apenas o
suficiente para sobreviver” e fazer sua lição de casa.
Adolescentes que vivem em famílias mistas e famílias adotivas
são menos positivamente engajados na escola do que
adolescentes de famílias biológicas intactas.

Ausência
Um estudo descobriu que crianças cujos pais se divorciaram
faltaram quase 60% mais aulas do que crianças de famílias
intactas. As meninas pareciam ser mais afetadas do que os
meninos.

Desistência, suspensão ou expulsão


As crianças que sofreram o divórcio ou a separação dos pais têm
menos probabilidade de concluir o ensino médio. Um estudo
australiano descobriu que os filhos de famílias divorciadas são
26% mais propensos a abandonar a escola secundária do que
23
crianças criadas em famílias intactas, e descobriu que o novo
casamento não aliviou os efeitos do divórcio na realização
educacional das crianças. Oitenta e cinco por cento dos
adolescentes em famílias biológicas intactas concluem o ensino
médio, em comparação com 67,2 por cento em famílias
monoparentais, 65,4 por cento em famílias adotivas e 51,9 por
cento que vivem sem pais.

Realização da faculdade
Crianças cujos pais ou avós se divorciam tendem a ter menos
anos de educação.
O divórcio e a separação reduzem a probabilidade de as crianças
frequentarem a faculdade. Além disso, 33% dos alunos que já
concluíram o ensino médio, mas que experimentaram o divórcio
de seus pais, se formaram na faculdade, em comparação com
40% entre seus colegas de famílias intactas. Mais de 57% das
crianças que vivem em famílias biológicas intactas ingressam na
faculdade, em comparação com 32,5% das crianças em famílias
adotivas, 47,5% das crianças em famílias monoparentais e 31,8%
das crianças que vivem em famílias sem a presença de nenhum
dos pais. No entanto, parece que o divórcio dos pais tem um
impacto maior na probabilidade de concluir o ensino médio do que
a faculdade. As crianças de famílias casadas intactas têm a maior
taxa de conclusão do ensino médio e são mais propensas a obter
mais educação após a conclusão do ensino médio do que aquelas
de outras estruturas familiares.
24
Expectativas da faculdade
Jovens que vivem em famílias adotivas casadas e famílias
adotivas em coabitação (ou seja, com o namorado/parceiro da
mãe) e famílias monoparentais após o divórcio ou separação têm
expectativas universitárias mais baixas do que os jovens que
sempre viveram em famílias intactas. Sessenta por cento das
mães em famílias casadas intactas esperavam que seus filhos se
formassem na faculdade, em comparação com 40 por cento das
mães em famílias adotivas coabitantes e 36 por cento das mães
sempre solteiras. Correspondentemente, 69% das crianças de
famílias biológicas intactas se inscreveram na faculdade, de
acordo com um estudo, em comparação com apenas 60% dos
alunos que não eram de famílias intactas. Cerca de 40% dos
filhos e 44,7% das filhas de famílias biológicas intactas pretendem
obter mais educação após a obtenção do diploma de graduação,
em comparação com 30,7% dos filhos e 35,3% das filhas de
famílias monoparentais.

Demografia americana relacionada


De acordo com o National Longitudinal Survey of Youth, 91 por
cento dos indivíduos que cresceram com pais biológicos casados
receberam um diploma do ensino médio. Eles são seguidos por
aqueles que cresceram em uma família adotiva casada (80%),
aqueles que cresceram com um pai solteiro e divorciado (76%),
25
aqueles que cresceram em uma família adotiva (68%), aqueles
que cresceram com um pai sempre solteiro (63%) e aqueles que
cresceram em uma família intacta (60%).

26
Capítulo 3
Efeitos do divórcio em
crianças, traços de
resiliência e
intervenção escolar

G
anhar consciência das necessidades dos filhos do
divórcio e como as crianças alcançam a resiliência deve
ajudar os alunos a se tornarem bem ajustados e
produtivos. Este capítulo explora maneiras pelas quais os
sistemas escolares e os conselheiros escolares podem atender às
necessidades dessas crianças. Ele retrata os efeitos do divórcio
em crianças com base na literatura, observações de educadores e
esforços de grupos de apoio. Alguns dos efeitos do divórcio
incluem diminuição da auto-estima, auto-imagem e habilidades de
enfrentamento. Essas crianças tendem a ser retraídas, agressivas
e têm dificuldade de concentração. O capítulo concentra-se nos
esforços atuais nas escolas para ajudar as crianças do divórcio e
explora as necessidades dessas crianças durante e após o
divórcio. Examina se a mediação por pares pode ajudar essas
crianças e o que os administradores e funcionários podem fazer.
São apresentadas sugestões de maneiras pelas quais os
educadores podem encorajar os filhos do divórcio a levar uma
vida segura e produtiva; algumas características das crianças
27
resilientes também são detalhadas. Os programas de intervenção
para essas crianças podem incluir terapia de grupo, terapia de
pares, reuniões em sala de aula, aconselhamento individual e
terapia lúdica. Nota-se que a avaliação adequada é um
componente importante desses programas.

Definições
Filhos do divórcio
Neste capítulo, filhos do divórcio são filhos de cinco a dezoito
anos cujos pais estão em processo de divórcio ou obtiveram o
divórcio. Essas crianças podem estar morando com um dos pais
ou os arranjos de moradia divididos são feitos com ambos os pais.

Resiliência
Adaptação excepcionalmente boa em face de estresse severo;
crianças resilientes aprenderam a esperar e lidar com as
dificuldades em suas vidas.

Mediação de pares
Esta é a mediação conduzida por pessoas treinadas para resolver
as preocupações dos alunos. A mediação por pares reduz as

28
referências de escritório, suspensões e possíveis disputas
familiares.

Grupos de apoio
Grupos de apoio são técnicas de aconselhamento em grupo com
líderes de grupo treinados que lidam com tópicos de divórcio, luto,
habilidades de estudo, pressão dos colegas, controle da raiva,
etc.

Aluno em risco
Alunos que são considerados em risco de abandonar a escola por
uma ampla variedade de razões antes da formatura. As razões
incluem gravidez, abuso de substâncias, deficiências acadêmicas,
envolvimento em gangues e divórcio.

Estágios de desenvolvimento
Os estágios de desenvolvimento são os períodos da vida de uma
criança e as experiências de fases físicas, sociais, emocionais e
mentais pelas quais ela passa naquele momento.

Auto estima

29
O valor que se atribui ao que acredita ser verdade sobre si
mesmo.

De acordo com Betty J. Ackerman (1997), chegamos a um


momento em nossa sociedade em que a conscientização sobre
as necessidades das crianças chegou às manchetes. Sua própria
experiência foi ter uma mãe dona de casa, pai agricultor e irmãos
para ter muitos conflitos. Ela aprendeu (ou conquistou) seu lugar
na vida e sabia o que era esperado. Os filhos do divórcio muitas
vezes careciam desse ambiente estável. Eles eram muitas vezes
sobrecarregados com responsabilidades que não eram
apropriadas para a idade. Suas preocupações e sentimentos
eram muitas vezes negligenciados por aqueles que estavam
passando pelo divórcio. Os conselheiros escolares precisam
compreender melhor esse grupo de risco e estar mais bem
preparados para identificar as necessidades dos filhos do divórcio.
Ganhar consciência das necessidades dos filhos do divórcio e dos
filhos se tornarem mais resilientes deve ajudar os alunos a se
tornarem bem ajustados e produtivos nos próximos anos. A
pesquisa sobre o que os filhos do divórcio (COD, do inglês
Children Of Divorce) estavam passando em diferentes idades
ajuda a informar os educadores sobre os sinais de estresse e as
necessidades dos alunos. A escola é o único ambiente estável em
que as crianças podem confiar.
As seguintes questões de pesquisa nortearam este capítulo:
1. As escolas atendem às necessidades dos filhos do divórcio?
2. A mediação entre pares pode ser benéfica para o COD?

30
3. Quais são as necessidades de COD durante/após o divórcio?
4. Com o que os administradores e funcionários lidam em
situações de COD?
5. Como podemos ajudar a encorajar os COD's a levar uma vida
segura e produtiva?
6. O que as crianças resilientes têm que as crianças não
resilientes não têm?

Os descritores-chave para iniciar este capítulo incluíram: filhos de


divórcio, resiliência, grupos de apoio e crianças em risco. À
medida que a pesquisa avançava, também foram utilizados os
seguintes termos: crianças em estresse, ambientes estressantes
e deficiências acadêmicas.
Nos EUA, estatisticamente, a taxa de divórcios tornou-se uma
questão relevante. Entre 1960 e 1980, a taxa de divórcios nos
EUA aumentou 4, quase 250%. Desde então, estabilizou-se a
uma taxa que é de longe a mais alta do mundo industrializado.
Cerca de metade de todos os casamentos realizados hoje
terminarão em divórcio. Antes de atingir a idade adulta, cerca de
metade das crianças de hoje passará por um período de ruptura
conjugal. Desde 1960, o número de filhos diretamente afetados
pelo divórcio saltou de 485.000 para um milhão por ano. A
porcentagem de crianças que vivem em lares só de mães mais
que dobrou. Cerca de quarenta por cento dessas crianças não
viram seus pais durante o ano passado. Uma pequena maioria
daqueles que se divorciaram eventualmente acabaram em uma
família adotiva, mas bem mais de um terço deles pode

31
experimentar o trauma extra de ver o segundo casamento
terminar.
Onde isso deixou as crianças? As crianças eram as vítimas
inocentes e às vezes silenciosas. Os pais, consumidos pelos
problemas do relacionamento, muitas vezes negligenciavam as
necessidades dos filhos. Pais divorciados procuraram ajuda por
meio de aconselhamento individual e em grupo ou por meio de
grupos de ajuda organizados, como Pais Sem Companheiros.
Nos últimos anos, os filhos do divórcio recebiam pouca ajuda
direta. Na maioria dos casos, as crianças foram informadas o
mínimo possível sobre as preocupações da família e foram
instruídas a manter o rompimento em segredo pelo maior tempo
possível.
A professora Jeanne Bise-Lewis entrevistou quase 700 alunos do
ensino médio, pedindo que classificassem vários eventos da vida
em termos de estresse. A única coisa que os alunos classificaram
como mais estressante do que o divórcio foi a morte de um dos
pais ou de um familiar próximo. O divórcio dos pais teve uma
classificação mais alta do que a morte de um amigo, ser agredido
fisicamente por um dos pais, sentir que ninguém gostava deles ou
ser gravemente ferido (Zinsmeister, 1996).
Muitas mães e pais subestimaram o quão prejudicial a dissolução
da família pode ser para seus filhos. Os filhos do divórcio foram
efetivados socialmente, economicamente, psicologicamente e até
legalmente. As crianças estavam sujeitas à separação de um dos
pais e à formação de um relacionamento novo e diferente com o
outro. Uma mudança no status econômico da família,

32
possivelmente uma mudança no ambiente doméstico e escolar,
diferentes estilos parentais e batalhas pela custódia. Às vezes, um
estilo de vida totalmente diferente cria sentimentos que podem ser
positivos ou negativos. As crianças têm suas próprias
necessidades que existem bem à parte das de seus pais.
Pesquisadores importantes, como Wallerstein e Kelly (1980),
observaram que o principal perigo do divórcio era o efeito adverso
no desenvolvimento da criança. Numerosos estudos sugeriram
que o nível de desenvolvimento da criança estava relacionado à
reação que se seguiu à separação. Na pesquisa de Wallerstein,
sessenta famílias divorciadas foram acompanhadas com um total
de 131 crianças por dez anos. Esses estudos sugeriram que os
bebês responderam principalmente à reação emocional de seu
cuidador. Mães ou pais sob estresse transmitiram seus
sentimentos ao bebê por meio do manuseio e da comunicação
verbal. As crianças muito pequenas pareciam ter muitas de suas
necessidades atendidas, independentemente do estresse do
cuidador. Isso parecia verdade porque as crianças muito
pequenas eram dependentes e exigiam atenção às suas
necessidades. Pré-escolares (de três a cinco anos) tinham pouca
compreensão da situação familiar devido ao seu desenvolvimento
cognitivo limitado.
De acordo com Betty J. Ackerman (1997), eles frequentemente se
sentiam assustados e inseguros, experimentavam pesadelos e
regrediam a comportamentos mais infantis. Crianças em idade
escolar, com desenvolvimento cognitivo e emocional mais
avançado, viram a situação com mais precisão. As crianças, de

33
seis a oito anos, muitas vezes acreditavam que o divórcio era
culpa delas. (Se eu não tivesse sido mau, papai não teria ido
embora.) As crianças dessa idade muitas vezes tinham
esperanças irreais de que a família se reconciliasse. Eles podem
ter se sentido perdidos, rejeição, culpa e conflitos de lealdade. A
idade de nove a doze anos era uma época em que as crianças se
desenvolviam rapidamente e dependiam da estabilidade dos pais.
Eles ficaram muito zangados com o pai que culparam pelo
divórcio. Às vezes, eles assumiam o papel de pais, pois se
preocupavam com seus pais problemáticos. Por causa de sua
angústia, essas crianças desenvolveram sintomas somáticos,
envolveram-se em comportamentos problemáticos ou
experimentaram um declínio no desempenho acadêmico.

Divórcio dos pais durante a


adolescência
O divórcio dos pais durante a adolescência dos filhos trouxe um
conjunto diferente de problemas de desenvolvimento. Os jovens
nessa idade estavam lutando pela independência e explorando
sua própria sexualidade. Eles precisavam de estrutura e
orientação para lidar com sua sexualidade. Eles também estavam
preocupados com seus próprios relacionamentos e repetindo os
erros de seus pais (Wallerstein, 1980).
Em seus dez anos de acompanhamento, Wallerstein (1984)
descobriu que as crianças que eram muito pequenas na época do
divórcio pareciam ter sofrido menos. Eles se lembravam menos
34
desses eventos naquela época de suas vidas. Havia outros
fatores que influenciaram os efeitos do divórcio sobre a criança.
Estes incluíam a quantidade de atenção e conflito em casa, o
tempo que a criança conviveu com o conflito, as reações dos pais
ao conflito e o ajuste pessoal dos pais ao divórcio e à retomada
dos papéis parentais.
Wallerstein (1984) afirmou que as tarefas psicológicas da criança
pareciam descrever questões específicas que os filhos do divórcio
devem resolver com sucesso. Eles foram os seguintes:
Reconhecendo a realidade da ruptura conjugal: foi sugerido
que técnicas de aconselhamento de apoio, incluindo escuta,
reflexão, esclarecimento, resolução de problemas. Técnicas de
redução de estresse foram apropriadas para trabalhar com
crianças nessa tarefa.
Afastando-se do conflito e da angústia dos pais e retomando
as atividades habituais: os pais devem trabalhar para ajudar os
filhos a manter suas vidas em ordem e não permitir que o divórcio
ofusque todas as suas atividades. As crianças devem poder
continuar, tanto quanto possível, na mesma rotina de antes da
separação.
Afastando-se do conflito e da angústia dos pais e retomando
as atividades habituais: os pais devem trabalhar para ajudar os
filhos a manter suas vidas em ordem e não permitir que o divórcio
ofusque todas as suas atividades. As crianças devem poder
continuar, tanto quanto possível, na mesma rotina de antes da
separação.

35
Resolução da perda: o divórcio trouxe não apenas a perda do
pai, mas também muitas vezes a perda do ambiente familiar e
possivelmente do estilo de vida ao qual a criança estava
acostumada. Wallerstein (1983) sugeriu que um padrão
consistente de visitação do pai ausente e uma ênfase na
formação de um relacionamento novo e positivo poderiam ajudar
as crianças nesse estágio. Interpretação, marionetes, desenho,
escrita, charadas e outras técnicas podem encorajar as crianças a
expressar seus sentimentos. Sessões individuais e em grupo
focadas na autoestima podem ser úteis.
Resolvendo a raiva e a auto-culpa: a raiva intensa contra um ou
ambos os pais era característica dos filhos do divórcio,
especialmente dos filhos mais velhos. A repetição da raiva e a
tarefa de perdoar andam de mãos dadas com a crescente
maturidade emocional da criança. À medida que a raiva cedeu, a
criança foi capaz de obter tanto encerramento quanto alívio. As
oportunidades de expressar seus sentimentos dentro da família,
em um ambiente escolar ou em agências externas foram úteis.
Aceitando a permanência do divórcio: Wallerstein (1983) havia
concluído que o filho do divórcio enfrentava uma tarefa ainda mais
difícil de aceitar a permanência do que o filho enlutado. A criança
que experimentou a morte sabia que a morte não poderia ser
desfeita. A presença viva de dois pais deu à criança a esperança
de que os pais voltariam a ficar juntos.
Assumindo esperanças realistas em relação aos
relacionamentos: Durante os anos da adolescência, o filho do
divórcio deve resolver questões relacionadas aos

36
relacionamentos. A criança precisaria permitir-se envolver-se em
relacionamentos sabendo muito bem que poderia funcionar ou
que poderia falhar. Fazer isso exigia que a criança se sentisse
amável e agradável. As crianças muitas vezes se sentiam
rejeitadas, não amáveis e indignas, porque se sentiam culpadas
pelo divórcio ou porque acreditavam que um ou ambos os pais as
rejeitavam e se importavam pouco com seus sentimentos e bem-
estar. Wallerstein (1983) observou que alguns adolescentes se
envolviam em comportamentos de atuação (promiscuidade, abuso
de álcool ou drogas) que indicavam baixa auto-estima. Uma tarefa
importante para os adolescentes foi perceber que podem amar e
ser amados. Eles devem aprender a ser abertos nos
relacionamentos, sabendo que o divórcio era possível.

Pesquisas anteriores relataram que os meninos compartilharam


mais momentos de trauma do divórcio durante os anos de
desenvolvimento do que as meninas. Além disso, eles
descobriram um "efeito dorminhoco" nas meninas, um problema
que se tornou mais aparente quando elas entraram na idade
adulta jovem.
Na visão geral de Wallerstein (1984) dos sujeitos, inicialmente,
dois terços de todas as crianças apresentavam sintomas de
estresse, e metade achava que suas vidas haviam sido destruídas
pelo divórcio. Cinco anos depois, mais de um terço ainda estava
seriamente perturbado (ainda mais perturbado do que
inicialmente) e outro terço estava tendo dificuldades psicológicas.
Um número surpreendentemente grande permaneceu com raiva

37
de seus pais. Depois de uma década, quarenta e cinco por cento
das crianças estavam indo bem, quatorze por cento estavam
tendo sucesso em algumas áreas, mas falhando em outras, e
quarenta e um por cento ainda estavam indo muito mal. Este
último grupo estava entrando na idade adulta como homens e
mulheres preocupados, com baixo desempenho,
autodepreciativos e às vezes raivosos. Além de problemas
emocionais e depressão, muitos sentiram tristeza por sua infância
e medo de seu próprio casamento e perspectivas de ter filhos.
Cerca de um terço do grupo tinha pouca ou nenhuma ambição na
marca de dez anos. Muitos expressaram uma sensação de
impotência, carência e vulnerabilidade. A maioria dos que
atingiram a idade adulta considerava o divórcio dos pais como
uma grande influência contínua em suas vidas.
Na amostra de classe média de Wallerstein (1984), um terço das
meninas com pais divorciados engravidaram fora do casamento e
oito por cento tiveram pelo menos dois abortos. Dois terços das
meninas tinham histórico de delinquência e quase trinta por cento
dos meninos foram presos mais de uma vez.
Zinsmeister (1996) afirmou que a escolaridade era outra área
problemática. As crianças expostas ao divórcio eram duas vezes
mais propensas a repetir uma série e cinco vezes mais propensas
a serem expulsas ou suspensas. Mesmo na amostra de classe
média de Wallerstein, treze dos jovens abandonaram a escola
completamente. Apenas metade dos sujeitos de Wallerstein foi
para a faculdade, muito menos do que a média de oitenta e cinco
por cento para estudantes em suas escolas secundárias.

38
Wallerstein (1984) concluiu que sessenta por cento dos filhos
divorciados em seu estudo não conseguiriam igualar as
realizações educacionais de seus pais.
O divórcio perdia apenas para a angústia sofrida pela perda de
um ente querido por morte. Algumas das perguntas que uma
criança teria eram: Quem vai cuidar de mim? Ficarei 4 sozinho?
Onde vou morar? Ainda serei capaz de estar com vocês dois? O
que acontecerá se eu ficar doente? Vamos morar na mesma
casa? Quem vai me alimentar? Estarei com meus irmãos e irmãs?
Seu primeiro medo foi o abandono (Salk, 1978). Quando uma
criança era deixada em uma situação de grande incerteza, ela se
sentia desamparada, frustrada e com raiva. Seu único alívio veio
com expressões diretas de agressão e destruição (Salk, 1978).

Sintomas de crianças sob estresse


Alguns dos sintomas de crianças sob estresse foram: insônia,
esgotamento mental, devaneios, choro, fraqueza muscular,
exaustão física, falta de apetite, dores de estômago, expressões
faciais tristes, talvez aparência desleixada, mais suscetível a
infecções e doenças, em geral (Salk, 1978). As crianças precisam
da ajuda dos adultos. Mais de um terço das crianças sentiu que a
mãe estava inteiramente ciente de sua angústia. A partir dos nove
anos de idade estavam cientes dos lapsos na paternidade e
sentiam-se prejudicados e negligenciados. Quase todos os
meninos de nove a dez anos sentiram que o pai não estava
disponível para eles. As meninas mais velhas se sentiam
39
emocionalmente abandonadas por suas mães. Menos de dez por
cento das crianças receberam ajuda de adultos da comunidade ou
de amigos da família (Wallerstein, 1980).

Tipos de família
A proximidade com a família foi identificada em termos de cinco
tipos de família:
Coesão monoparental (onde as crianças também viam sua
unidade familiar monoparental como próxima);
Coesão biparental (onde as crianças perceberam laços estreitos
entre si, ambos os pais e seus/irmãos);
Dividido (onde as crianças percebiam a divisão entre seus pais e
podiam se apegar tanto à mãe quanto ao pai);
Coalizão de pais (onde os filhos perceberam alguma divisão
familiar, com um grupo coeso formado pelos pais e outro pelos
filhos);
Criança isolada (onde as crianças se percebiam isoladas dentro
da família) (Cooper et al., 1983).

Auto-estima das crianças e


percepções de felicidade familiar
Questionários avaliando a auto-estima das crianças e as
percepções de felicidade e apoio da família foram administrados a
467 crianças de quinta e sexta séries. O conhecimento dos

40
professores sobre o relacionamento familiar também foi medido.
Os resultados indicaram que crianças de diferentes tipos
familiares experimentaram graus variados de proximidade e
apoio. Além disso, as crianças que relataram pouco apoio familiar
tendiam a pontuar baixo nível de auto-estima (Cooper et al.,
1983).

Conexão da harmonia conjugal e


bem-estar dos filhos
A conexão da harmonia conjugal com o bem-estar dos filhos foi
corroborada também por estudos que se basearam nos relatos
das crianças sobre o relacionamento dos pais. Aqueles que
relataram alta incidência de conflito parental ou familiar eram mais
propensos a apresentar mau ajustamento e baixa auto-estima,
mesmo quando esse conflito ocorreu vários anos antes.
Os resultados da Coopersmith Self-Esteem Inventory e da escala
Piers-Harris Children's Self-Concepts (Escala de Autoconceito
Piers-Harris) forneceram índices confiáveis de autoestima.

O Coopersmith Self-Esteem Inventory é um


questionário que as instituições de caridade podem usar
para medir os resultados da autoestima. Ele permite
medir atitudes em relação a si mesmo em vários
contextos e pode ser usado para diagnóstico individual,
triagem em sala de aula e avaliação pré-pós.
A Escala de Autoconceito Piers-Harris (escala Piers-
Harris Children's Self-Concepts) avalia o autoconceito
em crianças e adolescentes. Ele pode ser usado como
uma ferramenta de pesquisa, para monitorar a mudança
no autoconceito ao longo do tempo e como uma
ferramenta de triagem para identificar indivíduos que
precisam de mais testes ou tratamento.

41
Crianças de famílias coesas monoparentais ou biparentais eram
claramente menos propensas a relatar conflito entre pais e filhos
ou conflito total e mais propensas a se divertir com suas famílias.
Menos conflito parental também foi relatado em famílias coesas
de dois pais. Em contraste, a família dividida foi caracterizada por
maiores graus de conflito e pelo menor prazer nas atividades
familiares. As crianças de famílias divididas pareciam ter um
ambiente doméstico menos favorável. O menor apoio familiar
parecia estar associado àquelas crianças que se sentiam isoladas
dentro da família. Esse grupo foi relatado como tendo o maior
conflito entre pais e filhos e menos propenso a se divertir com
suas famílias.
Pesquisas indicaram que a coesão familiar, quando medida
através da percepção da criança sobre as relações familiares, tem
importante influência no desenvolvimento do autoconceito infantil.
Onde as crianças percebem conflito entre os pais ou entre elas e
seus pais, pode-se esperar uma baixa auto-estima. Além disso, os
resultados mostram claramente que a estrutura familiar por si só
não teve o efeito mais prejudicial sobre a autoestima das crianças.
Lares desfeitos não precisam render vidas desfeitas. A qualidade
de vida familiar foi determinante para o bem-estar psicológico da
criança.
As crianças que se sentiam isoladas de suas famílias não
achavam seu ambiente familiar favorável e feliz. Essas crianças
pontuaram mais baixo em auto-estima e significativamente, o
relacionamento pais-filhos foi a variável dominante neste caso.

42
Resiliência
Para entender como os filhos do divórcio se tornaram vulneráveis
ao passar por situações estressantes da vida, é preciso
compreender os elementos que tornam uma criança vulnerável ou
resiliente. Resiliência foi definida como a qualidade em crianças
que, embora expostas a estresse e adversidade significativos em
suas vidas, não sucumbem ao fracasso escolar, abuso de
substâncias, saúde mental e problemas de delinquência juvenil
que estavam em grande risco (Werner, 1992). Traços resilientes
em crianças e jovens os ajudaram a evitar, minimizar ou superar
fatores de risco. Os pesquisadores identificaram cinco categorias
principais de traços nos indivíduos que os ajudaram a se tornar
resilientes:
1.) Competências sociais ou exibição de comportamentos
pró-sociais; esses traços aumentaram a capacidade das crianças
de encontrar e manter relacionamentos saudáveis com os outros.
2.) Habilidades de resolução de problemas bem
desenvolvidas; a capacidade de reconhecer influências sociais
no ambiente e fazer escolhas sobre essas influências.
3.) Autonomia; um forte senso de identidade e valor;
autoestima e autoeficácia.
4.) Compromisso religioso/espiritual; um sistema de crenças
estável.
5.) Sentido de propósito de futuro (Seligman et al., 2007).

43
The Optimistic Child: A Proven Program to Safeguard Children Against
Depression and Build Lifelong Resilience. setembro 2007 Edição Inglês por
Martin E. P. Seligman (Autor), Karen Reivich (Autor), Lisa Jaycox (Autor).

Fazer bem levou a uma maior auto-estima. Em outras palavras,


ensinar o poder do pensamento positivo não foi tão eficaz no
desenvolvimento de alta autoestima quanto ensinar habilidades
que ajudaram a transformar o pessimismo em otimismo e o
desamparo em domínio (Seligman et al., 2007).
Uma definição de otimismo é a capacidade de perseverar diante
da adversidade e superar problemas, ou ser resiliente e se
recuperar. Isso exigia uma atitude positiva e esperançosa, bem
como a capacidade de provar que o que fizemos faz a diferença.
Seligman et ai. (2007) ensinaram às crianças que os sentimentos
não eram causados por eventos, mas por seus próprios hábitos
de pensamento, que poderiam ser alterados. Dicas de Seligman

44
et al. (2007) em ajudar aqueles que trabalham com crianças foram
os seguintes:
**não resolva problemas para crianças.
**fornecer orientação, não respostas.
**não seja excessivamente crítico com as tentativas das crianças
de encontrar soluções.
**modelar boas habilidades de resolução de problemas.
**oferece opções dentro de uma estrutura clara.
** seja honesto e realista sobre elogios.
**critique o comportamento, não a pessoa.
**quando estiver em conflito com outro adulto, evite agressões
verbais e físicas, o "tratamento do silêncio", ou pedir que uma
criança tome partido.

Nas escolas primárias, os professores relataram que as crianças


resilientes se davam bem com seus colegas. Eles tinham
melhores habilidades de raciocínio e leitura do que as crianças de
alto risco que desenvolveram problemas, especialmente as
meninas (Werner, 1989). Quando se formaram no ensino médio,
os jovens resilientes desenvolveram um autoconceito positivo e
um locus de controle interno. As meninas resilientes também
eram mais assertivas, orientadas para a realização e
independentes. Os meninos e meninas resilientes tendiam a
crescer em famílias com quatro ou menos filhos com um espaço
de dois anos ou mais entre eles e seus irmãos. Poucos haviam
experimentado a separação prolongada de seu cuidador primário
durante o primeiro ano de vida.

45
Os meninos resilientes eram muitas vezes os primogênitos que
não precisavam dividir a atenção dos pais com muitos outros
filhos. Havia alguns homens na família que serviriam como
modelos. Os meninos e meninas resilientes também encontraram
apoio emocional fora de suas próprias famílias. Eles tendiam a ter
pelo menos um, e geralmente vários amigos íntimos,
especialmente as meninas. A participação em atividades
extracurriculares desempenhou um papel importante na vida dos
jovens resilientes (Werner, 1989).
Os meninos e meninas resilientes de alto risco tiveram menos
doenças graves nas primeiras duas décadas de vida e se
recuperaram rapidamente. Na segunda infância, meninos e
meninas resilientes possuíam habilidades adequadas de
resolução de problemas e comunicação, e seu desenvolvimento
perceptivo-motor foi apropriado para a idade durante toda a
infância e adolescência. Eles demonstraram interesses e
habilidades masculinos e femininos. No final da adolescência, os
jovens resilientes tinham um locus de controle mais interno e um
autoconceito mais positivo e uma atitude mais carinhosa,
responsável e orientada para a realização em relação à vida do
que os pares que desenvolveram sérios problemas de
enfrentamento.
Também observado por Werner (1989) foi que um indivíduo era
capaz de lidar com a situação desde que o equilíbrio de riscos,
eventos estressantes da vida e fatores de proteção fossem
administráveis. Quando os fatores de risco e eventos estressantes
da vida superam os fatores de proteção, mesmo o indivíduo mais

46
resiliente desenvolve problemas. Estes podem ser problemas
sérios de enfrentamento ou do tipo menos visível, cujos sintomas
foram internalizados, como os problemas de saúde relacionados
ao estresse observados entre alguns dos homens resilientes na
casa dos trinta. Alguns dos fatores de proteção observados foram
alto nível de atividade, baixo grau de excitabilidade e angústia e
alto grau de sociabilidade. Quando eles entraram na escola
primária, seus professores observaram sua capacidade de se
concentrar em suas tarefas e notaram suas habilidades de
resolução de problemas e leitura.

Normalmente, essas crianças resilientes tinham um hobby


especial para compartilhar com um amigo. Esses interesses não
eram estritamente sextyped; meninos e meninas se destacavam
em atividades como pescar, nadar e andar a cavalo. As crianças
resilientes também encontraram muito apoio emocional fora de
sua família imediata. Eles tendiam a ser muito queridos por seus
colegas de classe e tinham pelo menos um amigo próximo.

Com a ajuda das redes de apoio, as crianças resilientes


desenvolveram um sentido de significado em suas vidas e a
crença de que poderiam controlar seu destino. Sua experiência
em lidar e dominar eventos estressantes da vida construiu uma
atitude de esperança que contrastava fortemente com os
sentimentos de desamparo e inutilidade que foram declarados por
seus pares problemáticos.

47
As crianças resilientes eram robustas, responsivas e aprenderam
a confiar. Eles tendiam a ser mais autossuficientes do que
rejeitados e a recorrer a seus próprios recursos para atender às
suas necessidades físicas e emocionais. Eles também pareciam
formar relações de pares mais calorosas e menos hostis e se
tornar adultos mais cuidadosos e responsáveis do que crianças
rejeitadas. Notou-se que o emprego materno não teve efeitos
negativos nas crianças resilientes e pode ter contribuído para a
competência e independência das meninas resilientes.

Os meninos resilientes prosperavam mesmo em lares pobres, se


houvesse alguma estrutura, pouca aglomeração e pouca discórdia
familiar, e se o pai estivesse presente na casa.

Em suma, as crianças resilientes parecem derivar dos eventos de


vida e modelar no lar aqueles traços que complementam cada
sexo: autonomia e independência para as meninas resilientes;
cuidar e cuidar dos meninos da resiliência; competência para
ambos.

Fatores de proteção
Os fatores de proteção modificavam a reação de uma pessoa a
uma situação que, em circunstâncias normais, levava a resultados
desadaptativos. A presença de uma unidade familiar intacta na
infância e na adolescência foi um importante fator de proteção na

48
vida dos jovens delinquentes da coorte de nascimento que não
cometeram nenhum delito no início da idade adulta. Apenas um
em cada quatro cresceu em um lar onde a mãe ou o pai estiveram
ausentes por longos períodos de tempo por causa de separação,
deserção ou divórcio. Cinco dos seis delinquentes que cometeram
crimes adultos vieram de famílias nas quais um dos pais esteve
ausente por longos períodos durante a adolescência (Werner e
Smith, 1992).
Permaneceu o fato de que a família do divórcio em que o fardo
recai inteiramente, ou principalmente, em um dos pais era mais
vulnerável ao estresse, tinha reservas econômicas e psicológicas
limitadas e não tinha a presença de apoio e proteção do outro
adulto para ajudar a enfrentar as crises de vida (Wallerstein e
Kelly, 1980).

Intervenção
Historicamente, as instituições educacionais intervieram quando a
sociedade não tratou adequadamente os problemas de suas
crianças e adolescentes. Consequentemente, educação sexual,
educação sobre tabagismo, drogas, etc., tornaram-se
responsabilidade de nossas escolas durante as últimas duas
décadas. Agora, essas escolas foram novamente desafiadas
pelos problemas que os filhos do divórcio apresentam à
comunidade acadêmica. Um estudo feito por Omizo e Omizo
(1988) foi determinar a eficácia do aconselhamento em grupo de
adolescentes de famílias divorciadas. Mais especificamente, o
49
estudo foi desenhado para investigar os efeitos da participação
nas sessões de grupo na auto-estima das crianças e nas
orientações do locus de controle (Omizo e Omizo, 1988).
O método envolveu sessenta participantes, alunos da sétima e
oitava séries de uma escola de ensino médio localizada em um
bairro suburbano de classe média-baixa a média. Todas as
crianças tinham pais divorciados e que não haviam se casado
novamente. Os sessenta participantes (vinte e sete rapazes e
trinta e três meninas) tinham idades compreendidas entre os onze
e os catorze anos (Omizo e Omizo, 1988).
Os resultados indicaram que os adolescentes que participaram
das sessões em grupo foram significativamente diferentes dos
adolescentes do grupo controle nas medidas pós-teste. Os
adolescentes do grupo de tratamento tinham altos níveis de
autoestima e possuíam uma percepção mais interna da
orientação locusof-controle. Os participantes do grupo
experimental tiveram mais percepções de locus de controle
interno sobre o sucesso social, fracasso social e domínio do
fracasso do que os participantes do grupo controle. A diferença
significativa na variável autoestima foi importante porque o
construto estava relacionado às muitas outras variáveis que
contribuíram para o sucesso acadêmico, social e emocional.
Indivíduos com níveis mais elevados de auto-estima pareciam
estar em vantagem na maioria das situações. Parecia que estar
ciente dos próprios sentimentos e ser capaz de expressá-los, dar
e receber feedback positivo e saber que outros estavam
experimentando sentimentos e comportamentos semelhantes teve

50
um impacto positivo nas autoavaliações dos participantes dos
grupos experimentais. As sessões de aconselhamento em grupo
pareciam promissoras como forma de aumentar a autoestima e a
orientação do locus de controle interno entre adolescentes de
famílias divorciadas. Era uma estratégia de intervenção que
poderia ser utilizada pelo orientador escolar em seu papel de
facilitador do grupo.
Os conselheiros precisariam de pouco treinamento formal e
muitos adolescentes poderiam ser ajudados. O aumento da
autoestima e uma orientação mais interna do locus de controle
podem auxiliar os adolescentes em diversas áreas. Wallerstein
(1980) afirmou que as ansiedades geradas nos alunos por uma
grande ruptura em suas vidas podem comprometer sua
receptividade à aprendizagem, sua vontade de experimentar
novos materiais, sua capacidade de concentração e sua atitude
geral em relação à escola.
As crianças mais novas, nos estágios iniciais de domínio da
leitura, podem, por essa razão, ser mais vulneráveis ao esforço
desorganizador da ruptura familiar, mas para os alunos mais
velhos, um sentimento contínuo de realização também foi
fundamental para determinar as atitudes em relação à escola.
Os professores tiveram a oportunidade de observar e se
familiarizar com as flutuações normais de humor, capacidade de
concentração, entusiasmo pelo aprendizado e interações com
colegas e professores desses alunos. Se o comportamento da
criança mudasse na sala de aula ou no recreio, o professor era
capaz de observar tais respostas. Em muitos casos, o professor

51
não sabia que os pais da criança estavam se divorciando. Não é
costume de nossa sociedade que os pais compartilhem assuntos
de natureza pessoal com a escola. Alguns dos próprios
professores eram pais divorciados e isso aumentou a
sensibilidade que eles adquiriram ao observar seus próprios
filhos, o que aumentou a capacidade de reconhecer e atender às
necessidades dos alunos cujos pais estavam se divorciando.
Na época da primeira série de entrevistas com professores
Wallerstein e Kelly (1980), encontraram que dois terços das
crianças entre o jardim de infância e a décima segunda série
estavam fazendo pelo menos um trabalho acadêmico médio, e
substancialmente mais da metade desse grupo eram
considerados excelentes alunos. Alguns problemas de
aprendizagem existiam para o terço restante, dos quais mais da
metade estava fazendo um trabalho ruim ou falho. As
observações dos professores indicaram que aproximadamente
dois terços de todos os alunos apresentaram algumas mudanças
notáveis na escola. Para mais da metade dos alunos, os
professores relataram um alto nível de ansiedade. As crianças
que costumavam se encaixar e fazer seu trabalho, agora
perambulavam pela sala constantemente e, nesse processo,
começaram a interromper as atividades da sala de aula.
Paralelamente ao aumento das dificuldades de concentração,
houve um aumento substancial dos devaneios. Assim como na
observação de ansiedade, inquietação e diminuição da
concentração, não houve significância nas diferenças de sexo nos
alunos que começaram a sonhar acordado substancialmente após

52
a separação. Os professores notaram uma tristeza considerável
ou dependência em um quinto dos alunos. Para as crianças em
seus primeiros anos escolares, a capacidade de manter a
concentração na escola sem interrupções substanciais e
duradouras estava fortemente ligada à capacidade contínua do
pai de custódia de lidar com as crianças sem séria deterioração e
proteger as crianças do tumulto do divórcio. Além disso, era útil se
o outro genitor pudesse ser reconfortante e sensível às
necessidades da criança.
O ambiente escolar serviu como um sistema de apoio de diversas
maneiras para diferentes crianças em diferentes idades. Tal como
acontece com outros sistemas de apoio fora das famílias
imediatas e alargadas, a capacidade da criança de utilizar a
escola para apoio no meio de uma crise aumentou
significativamente com a idade. Primeiro, ficou claro que a escola
era útil precisamente porque fornecia estrutura na vida de uma
criança em um momento em que a estrutura principal de sua vida,
a família, estava desmoronando. Em segundo lugar, havia o apoio
oferecido às crianças que gostavam de frequentar a escola e
cujas realizações acadêmicas as sustentavam e alimentavam. E
terceiro, algumas crianças foram apoiadas na escola em um
momento de alto estresse por seu relacionamento próximo com
um professor amigável. Era importante para o professor que
observava a necessidade contínua de segurança de uma criança
discutir a vulnerabilidade da criança com seus pais antes que seu
progresso na aprendizagem ficasse seriamente comprometido.

53
Em suma, aqueles que eram capazes de buscar a ajuda ou
consolo de outros o faziam em um círculo bastante amplo. Com
meninos e meninas de todas as idades, houve significância entre
alto desempenho acadêmico e bom relacionamento com os pares.

Alguns alunos cinco anos após a separação foram envolvidos em


vandalismo, incluindo incêndio criminoso, na escola, que eles
passaram a odiar. Foram as crianças e adolescentes
historicamente rotulados como produtos de “lares desfeitos”,
vistos no ambiente escolar como fracassados e disruptivos. Eles
eram a maioria dos alunos que vivenciaram o divórcio de seus
pais, mas representavam um grupo dessas crianças que
precisavam desesperadamente de uma rede de apoio logo após a
separação.
Foi sugerido um modelo de grupo de apoio ao divórcio em que
uma pesquisa de avaliação das necessidades dos alunos foi
realizada em uma escola pública de ensino médio abrangente de
quatro anos no noroeste de Ohio (EUA) para determinar as áreas
de preocupação dos alunos. Muitos alunos de famílias alteradas
expressaram a necessidade de compreender as consequências
do divórcio dos pais e, como resultado dessa necessidade
expressa, foi estabelecido um grupo de apoio para os alunos
interessados. O principal objetivo desse grupo era fornecer um
local seguro no qual os colegas pudessem discutir preocupações
e fornecer sugestões para lidar com problemas que surgiram
como resultado do divórcio dos pais. Objetivos específicos foram
criados para abordar as variáveis de ajuste que podem ter
54
contribuído para a preocupação de ajuste dos participantes
adolescentes (Studer e Allton, 1996).
Diretas, indiretas e preventivas são abordagens que os psicólogos
escolares poderiam prontamente empregar ou adaptar para uso
em suas escolas para lidar com os efeitos da separação do
divórcio. Constatou-se que trinta e cinco eventos de mudança de
vida em crianças em idade elementar que exigiram reajuste
social. Os eventos de divórcio e separação exigiram a maior
quantidade de reajustes. Os pais temiam atitudes negativas e
repercussões da escola. Eles podem ter relutado em compartilhar
informações pessoais. As escolas muitas vezes temiam a intrusão
na esfera pessoal das famílias e relutam em solicitar informações
que forneceriam orientação para o pessoal da escola interagir e
planejar para a criança na escola (Drake e Shellenberger, 1981).
As metas para o relacionamento dos pais com o programa de
aconselhamento incluem ter uma atmosfera em que os pais não
se sintam ameaçados de revelar livremente as preocupações de
seus filhos à equipe de apoio da escola. Um método sistemático
de comunicação é necessário para manter os pais informados
sobre os programas e o bem-estar do aluno envolvido.

Avaliação
Uma avaliação bem planejada, apoiada e executada é outro
componente essencial para um programa bem-sucedido. Deve
haver avaliação formativa e somativa dos métodos. A avaliação
formativa é importante para manter o programa no rumo certo e
55
responder às necessidades dos participantes do programa de
aconselhamento. A avaliação constante resultará em mudanças
antecipadas e no aprimoramento do programa (Capuzzi, 1988). A
avaliação somativa é importante para fornecer informações
específicas sobre o sucesso geral dos programas em atingir as
metas estabelecidas. As áreas a serem avaliadas devem estar
intimamente relacionadas aos objetivos originais do programa
(Capuzzi, 1988). Outro passo no processo de avaliação é garantir
que as políticas escolares sejam mantidas e enriquecidas pelo
programa. A avaliação é encontrar pontos fortes e fracos no
programa para o benefício das crianças e do facilitador. As metas
estabelecidas para as sessões de aconselhamento em grupo
devem seguir a filosofia da escola. Há materiais de recursos
suficientes disponíveis para atender às necessidades do
programa. As sessões de aconselhamento oferecidas são
baseadas nas necessidades avaliadas de cada aluno.
Uma abordagem sistemática é usada para ajudar o aluno a obter
as informações e os objetivos necessários de "sobreviver ao
divórcio"? Também é necessário demonstrar responsabilidade por
meio da eficácia medida da apresentação do programa e do
desempenho da equipe. Um esforço coletivo de opiniões dos
alunos, funcionários, administradores e pais pode ser
desenvolvido por meio de uma pesquisa ou entrevistas. Os
resultados devem incluir um progresso efetivo e satisfatório na
aprendizagem, desenvolvimento e realização acadêmica, pessoal
e social. Deve haver sucesso na escola e na graduação com
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que levem ao

56
sucesso na educação pós-secundária e/ou emprego e vida
(Capuzzi, 1988). Os filhos que experimentam o divórcio devem
ser capazes de reconhecer as qualidades da resiliência e o
conhecimento de adquirir essas qualidades.

57
Epílogo

G
anhar consciência das necessidades dos filhos do
divórcio e como as crianças alcançam a resiliência deve
ajudar os alunos a se tornarem bem ajustados e
produtivos. Este livro explorou maneiras pelas quais os sistemas
escolares e os conselheiros escolares podem atender às
necessidades dessas crianças.

58
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