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A Complexidade da Relação Amorosa

Namoro x Relação Conjugal


Até então vínhamos nos referindo às relações entre duas pessoas que se escolhem como
parceiros amorosos como relação de casal, sem distinguirmos entre “casal casado” e
“namorados” ou “casal não-casado” .
Para falarmos da complexidade da Relação Amorosa faremos, a partir de agora, esta
diferenciação.
Em ambas as situações falamos de uma relação de casal, porém existem diferenças notáveis
entre a relação de casal casados e não casados. Ainda que, atualmente seja frequente os casais
de namorados praticamente viverem juntos, sendo comum um parceiro se ‘mudar’ para a casa
do outro, pelo fato de não assumirem o compromisso de uma vida em comum, quando as coisas
não estão bem entre eles, é possível ‘darem um tempo’ em suas próprias casa sem que isto
signifique que estão se separando.
Já os casais casados, ainda que não assinem um papel formalizando a união civil, desenvolvem
outro tipo de relação , com regras e expectativas completamente diferentes das dos não casados,
a partir de assumirem o compromisso de uma vida comum e à vezes, de constituir uma família.
Só para efeito didático, vamos nomear a relação entre os casais não casados de “namoro” e a
relação de casais casados de “relação conjugal”. Isto significa que ao falarmos de namorados
não estaremos nos referindo à uma relação de conjugalidade

Casamento ainda é atual?


Atualmente o desenvolvimento pessoal é um objetivo muito valorizado terapeuticamente e até
culturalmente. As relações de casal são vistas como uma das condições fundamentais para se
conseguir este desenvolvimento; principalmente quando são abertas, sinceras e criativas. Neste
padrão são chamadas de Relação Amorosa do Casal.
Mas e o Casamento, o que é?
Casamento por definição não é uma união livre, é um compromisso.
Por este ângulo é visto então como uma prisão, um amor forçado, formal e institucionalizado,
que restringe o espaço evolutivo dos envolvidos, obrigando-os a uma vida marcada pela rotina.
Isto não combina com a ideia de que ele potencialize o desenvolvimento e a realização pessoal.
Casamento não combina com a imagem de um ser humano autônomo e emancipado. A
tendência então é se considerar que as “relações amorosas entre casais” sim, promovem o
desenvolvimento humano entre os pares, mas o Casamento não, ele com suas características
restritivas, põe em risco as possibilidades de desenvolvimento pessoal.

Porém as pesquisas da área de saúde e as estatísticas cada vez mais propagam que as pessoas
casadas estão “melhor” do que as solteiras , divorciadas e/ou viúvas, em relação a diversos
índices como mortalidade, questões psíquicas e somáticas, drogas, alcoolismo, infartos,
suicídios, etc.
Há ainda as pesquisas sobre satisfação com a própria vida e sucesso profissional que também
acusam melhores resultados entre as pessoas casadas do que as sem parceiros.
Como se fecharia esta equação: o casamento é uma condição limitante e “insuportável”,
entretanto as pessoas casadas aparentemente apresentam melhor estado de bem estar físico,
psíquico e melhor índice de satisfação pessoal?
Poderíamos buscar explicações na genética e na psicofísica, por exemplo, mas estaríamos
simplificando em não levarmos em conta alguns fatores psicológicos importantes ligados ao
Casamento.
A aventura* amorosa - Namoro
Ainda que sejam duradouras e até de envolvimento profundo, as aventuras amorosas (ou
namoros) não implicam na continuidade que a dimensão histórica imprime ao casamento
quando o casal assume o compromisso de uma vida conjunta.
A aventura amorosa tem outras implicações: livres da dimensão da continuidade indelével os
parceiros podem ser mais independentes, aceitar o outro com suas particularidades (diferenças
que às vezes incomodam, imaturidades, preferências, exigências, etc.) porque as consequências
na sua convivência são menos significativas já que estão juntos, mas não estão comprometidos
com uma vida comum pela qual seriam igualmente responsáveis.
Na aventura amorosa é mais “fácil” os parceiros se apoiarem mutuamente e no mais das vezes
têm maior disponibilidade para entender o outro . Nestas circunstâncias também há mais
liberdade de se tomar decisões individualmente dando maior sensação de independência aos
parceiros.
* O termo “aventura” não implica juízo de valor.

Relação Conjugal - Uma relação diferente de todas as outras


Ao se casarem os parceiros tomam a decisão de viverem juntas dali em diante, e de se apoiarem
reciprocamente em todas as circunstâncias.
Esta decisão muda radicalmente a relação entre eles.
Cada parceiro deverá se modificar e reorganizar internamente para conseguir realizar este
objetivo. Esta reorganização implica que ambos, individualmente deverão compatibilizar a
busca de realização de seus objetivos individuais elaborados em suas vivências anteriores com a
busca de realização dos objetivos comuns aos dois como parceiros de vida.
Esta é a condição primordial para que orientem seus empenhos para organizarem até
economicamente a consecução destes objetivos.

O Casamento muda muita coisa na vida dos parceiros.


O compromisso com a construção de uma história comum afeta o comportamento e o bem-estar
dos parceiros que não se desenvolvem independentemente um do outro. Ao contrário por
estarem empenhados na construção da conjugalidade eles se influenciam mutuamente: o
crescimento de um favorece o crescimento do outro.
As decisões importantes que irão determinar seu futuro deverão ser tomadas pelos dois: seja em
relação ao modo de viver, onde morar, como criar os filhos, em que medida será importante
para ambos a busca de dinheiro, de prestígio, de carreira, etc.
O casamento então, não diz respeito apenas aos vínculos entre os parceiros, mas também a todo
o ecossistema com o qual eles interagirão daí em diante.
Desde o momento em que os parceiros deverão decidir juntos sobre as coisas mais banais e as
mais significativas que afetarão suas vidas, aumentam-se as chances de crítica mútuas e de
desentendimentos entre eles.
Este compartilhar contínuo é que pode gerar angústias de dependência, sentimentos de
impotência ou sensação de beco sem saída, que em geral são atribuídos ao casamento.
Mas a mais drástica diferença entre as aventuras amorosas e o casamento é a iniciativa de gerar
filhos constituindo um novo núcleo familiar.
Gerar filhos cria lastros (a Parentalidade) que não podem mais ser desfeitos contribuindo para
uma continuidade histórica que nem mesmo o divórcio ou a morte pode romper.

Criação do mundo em comum


Com a decisão de compartilhar a vida com o outro e envelhecer juntos os parceiros conjugais
constroem um mundo em comum externo a eles.
Intensificam-se as relações com as famílias de origem, criam um circulo de amigos que se
tornam canal de trocas de experiências práticas, estabelecem convivência com vizinhos, escola,
comunidade. Adquirem ou constroem uma casa, o que torna mais concreta a existência deste
mundo elaborado em conjunto, e que ao mesmo tempo reduz a mobilidade geográfica e
intensifica o envolvimento deles numa rede de interdependências complexas.
Criam uma identidade como casal passando a ser conhecidos como o “marido da Vilma” ou
como a “Vilma do Antônio”.
Também o tempo que duas pessoas passam no mundo que construíram juntas é um fator que faz
diferença na complexidade da relação conjugal.
Um casamento que durou pouco e principalmente se não produziu filhos, pode ser mais
facilmente dissolvido quando o casal opta por se separar. Já um casamento que durou muitos
anos e que além do mais produziu filhos não se deixa apagar nem pelo divórcio, porque já não
diz respeito só a duas pessoas: Muitos laços foram criados envolvendo os filhos, famílias,
parentes afins, círculo de amigos, padrinhos dos filhos, etc.
Estas e outras questões triviais da vida conjugal transformam a imagem de realidade dos
parceiros. Ao lidarem com as circunstâncias diárias da convivência conjugal são chamados a
desenvolverem o espírito colaborativo; criam obras que vivificam um quadro estável, uma
realidade concreta que é visível e significativa na concepção de sua identidade: educam seus
filhos juntos e criam uma identidade familiar, montam casa, buscam segurança existencial,
fincam raízes se comprometem com a cultura da comunidade em que vivem.
O mundo dos pares amorosos, pelo contrário, é menos visível, menos concreto, menos definido
e mais livre, deixando mais espaço para os desejos e sonhos individuais. Em contrapartida é um
mundo menos seguro, com maiores possibilidades de mudanças.

Estruturação da realidade conjugal


Para elaborar um mundo comum o par conjugal precisará fazer contínuas negociações, levando
em conta os interesses comuns acima dos individuais.
Certas áreas de convivência estão sempre sujeitas a ocorrências de situações novas que exigem
reajustes para readaptações de regras anteriormente estabelecidas sobre sexo, dinheiro,
segredos, etc.
O desenvolvimento pessoal de cada um dos parceiros na relação conjugal será relativo à
redefinição e distribuição de papéis, regras, funções e poder, relativos a estas áreas de
convivência.
Para promover o desenvolvimento pessoal e ao mesmo tempo manter um nível satisfatório de
funcionalidade na relação é importante que as regras que eles criarem não sejam totalmente
rígidas nem sejam modificáveis por um dos dois quando lhe for conveniente, sem consultar o
outro. Cada um, entretanto deverá ter o direito de pedir/propor que as regras sejam rediscutidas
e esclarecidas.

Confirmação da Individualidade dos parceiros


Para o bem estar psíquico é importante que o indivíduo viva num ambiente que lhe seja familiar.
Esta familiaridade lhe confere uma dose necessária de segurança e lhe subsidia a confiança na
sua percepção do mundo e do próximo.
Um dos modos mais usuais e tranquilizadores para um indivíduo validar suas próprias
percepções de mundo e da realidade é exatamente o contato com os outros. Entre esses ‘outros’
seu parceiro conjugal talvez seja a referência mais significativa para esta validação.
A relação entre eles é de reciprocidade e consiste na confirmação da individualidade de ambos
como fruto da convivência conjugal.
Quando um parceiro conta ao outro o que viu e ficou sabendo durante um dia de trabalho, por
exemplo, o natural é que o parceiro que o escuta faça comentários sobre o que ele disse. Este
compartilhamento de comentários sobre suas vivências cotidianas tem uma importância
fundamental para a elaboração dessas experiências e do aprendizado que elas podem propiciar a
ambos.
Este exercício de se valorar os comentários mutuamente é importante para a higiene psíquica
pessoal.
Graças a esta possibilidade de avaliar junto com o parceiro suas próprias vivências e impressões
sobre elas, cada um adquire estabilidade emocional; ambos ficam mais integrados à sociedade
graças às correções recíprocas possibilitadas neste exercício de conversação tão trivial.
Podem mesmo aprimorar suas relações sociais o que denota que o casamento tem uma
influência normatizante sobre os parceiros conjugais.
Ao mesmo tempo este efeito normatizante diminui a liberdade de ação, de pensamento e até de
percepção individualizada.

Níveis de estabilização dos indivíduos no Casamento


Pode-se afirmar que o casamento resulta em três níveis de estabilização dos indivíduos:
- maior contato e de modo mais concreto com o ambiente com o qual interagem de muitas
maneiras
- regras que geram estruturas normalizantes
- maior índice de apoio e tranquilização na elaboração das concepções, percepções e
experiências dos parceiros, na medida em que seus pensamentos e ações encontram
correspondência no outro.
Seriam estes exatamente os aspectos que apesar de limitarem a liberdade de desenvolvimento
pessoal dos parceiros conjugais, contribuem decisivamente para a maior estabilidade psíquica
das pessoas casadas

Dilemas da Relação Conjugal


Considerando a complexidade da relação conjugal, resta-se questionar:
- Em que medida os parceiros conjugais precisam ter suas concepções de mundo
correspondentes para terem uma relação funcional e satisfatória? - Qual o grau tolerável de
diferenças entre parceiros numa relação conjugal saudável? - Qual é o grau de concordância
necessário entre os parceiros numa relação saudável para que não haja prejuízo do
desenvolvimento pessoal de ambos? - Qual é o grau de liberdade e independência necessário
para que a relação continue viva e abrigue possibilidades de desenvolvimento pessoal? Os
parceiros conjugais conscientemente ou não, lidam com o seguinte dilema: - ou um procura
fazer com que sua maneira de entender a realidade coincida inteiramente com a do outro, com a
vantagem de obter dele o máximo de aprovação e segurança, mas correndo o perigo de que sua
percepção da realidade não seja mais sua; -ou um aceita que o parceiro construa seu mundo de
maneira diferente da dele,
com a vantagem de poder conservar seu próprio mundo mas com a desvantagem de ser menos
aprovado e tranquilizado pelo outro.

Sintetizando
Dois parceiros jamais corresponderão ou satisfarão inteiramente um ao outro: é sempre assim na
natureza.
É desafio dos parceiros construírem uma harmonia suficiente para sobreviverem, mas sempre
construirão a realidade de modo diferente.
Importante é que estas realidades mesmo diversas sejam compatíveis entre si.
As tensões que resultam das diferentes opiniões é que dão sabor à relação entre os parceiros, é o
que possibilita que a relação seja aventurosa, incomparável e única, porém limita as
possibilidades de compreensão mútua entre eles.
Assim como algumas potencialidades evolutivas apenas poderão se realizar numa relação
conjugal, outras não podem ser realizadas nela.
Na relação conjugal cada qual só evolui no domínio que seja tolerado pelo outro, pelo qual os
dois sejam capazes de negociar sempre e lutar juntos.
São exatamente o exercício criativo de encontrar compromissos e saídas, e o risco de afastar-se
e depois reaproximar-se que tornam viva esta relação tão especial e complexa – a relação
conjugal
Olhar Psicodinâmico sobre a Complexidade das Relações de Casais
Este enfoque vai nos levar à dimensão da subjetividade do par conjugal e de sua influência na
complexidade da Relação Conjugal.
Iniciaremos considerando novamente o aspecto do Amor na relação de casais.
Apesar do amor ser considerado importante na vida conjugal nos livros básicos e clássicos sobre
a Terapia de Casal e Família não é comum se mencionar a palavra AMOR, embora todos
analisem os diversos tipos de patologias “amorosas”.
Observando os diversos sentidos específicos deste termo tão amplo, podemos perceber que
todas as definições que encontramos dão ênfase o lado “doador” do amor:
Amor de pais pelos filhos = dedicação altruísta, cuidado e proteção.
Amor de crianças pelos pais = busca de segurança e proximidade.
Amor entre enamorado = atração romântico-sexual, paixão.

-Sentimentos de preocupação, de cuidado e proteção, com o bem estar do amado.


-Desejo de proximidade com o amado que é percebido como um imã, um polo de atração
positiva.
Porém, na verdade quando as pessoas falam em suas relações amorosas, especialmente nas de
amor romântico, costumam se ater ao seu lado receptivo: queixam-se por não receberem mais
atenção dos parceiros, que eles não as amam de verdade, que são mal amados, que amam mais
do que são amados, etc.
Dificilmente se queixam de não se sentirem capazes de dar amor.
As relações de amor adulto deveriam ser simétricas, democráticas, com responsabilidades
iguais, entretanto ainda persiste em nós o desejo de sermos amados incondicionalmente, mas
não necessariamente uma disponibilidade equivalente de amarmos o outro incondicionalmente

Complexidade e Contradição
Considerando todos os conceitos vistos até aqui, podemos compreender que a relação conjugal
envolve complexidade e contradição, sendo espaço para muita frustração e desapontamento
(realismo).
A relação conjugal é considerada uma categoria específica dentro do conceito de amar (verbo,
ação amorosa), diferenciada por possuir características próprias e complexas que a tornam ao
mesmo tempo única e multifacetada.
E pode ser considerada não só a mais complexa, conflitiva e desafiadora forma de amar (prática
amorosa), mas também um fenômeno complexo e estruturante, catalisador do processo de
individuação, propiciando aos envolvidos oportunidades de aprendizagem que em nenhuma
outra relação é possível se vivenciar.
Este processo pessoal intransferível de desenvolvimento e autoconhecimento que a relação
amorosa propicia aos envolvidos, desafia-os a buscarem integrar os vários sistemas afetivos que
compõem o psiquismo humano: apego, cuidado, romantismo, sexualidade e amizade.

Sistemas Afetivos
Apego: é a propensão humana, natural, para se formar fortes vínculos afetivos especiais com
pessoas preferenciais. Os primeiros apegos (bebê e infância) nos oferecem modelos mentais de
nós mesmos e do outro, e das possibilidades de relacionamentos interpessoais; esses modelos
mentais serão componentes centrais da nossa personalidade, regulando nossa percepção,
sentimento e comportamento durante nossa vida.
Quando esses vínculos são ameaçados ou rompidos diversas formas de perturbação emocional
serão geradas.
Cuidado: protótipo da relação “mãe-filho”, refere-se ao sistema afetivo humano que nos torna
capazes de nos preocuparmos com o bem estar do outro (por ex. parceiro conjugal) quando este
demonstra necessidade de proteção e/ou ajuda.
Pressupõe sensibilidade, responsabilidade e disponibilidade de solucionar problemas.
O funcionamento inadequado do cuidado incluirá: imprevisibilidade, inconsistência, abandono,
negligência, rejeição; além de abuso, agressão destrutiva, interferência invasiva e controladora.
Apego & Cuidado: Há uma complementaridade natural desejável entre esses dois sistemas
afetivos na relação conjugal: quando o apego de um está ativado ele aciona o cuidado no outro,
o que cumpre a função da conjugalidade de amenizar mutuamente as ansiedades.

Romantismo: aqui não se trata do romantismo da idealização, da paixão como vimos


anteriormente. Romantismo como sistema afetivo trata-se da capacidade humana de se ligar
fortemente ao outro incluindo gostar, sentimento de ternura, manutenção do outro na
consciência como um ser especial; capacidade de manter pelo outro um interesse sempre
renovado, e capacidade de sentir fascínio e alegria pela (simples) existência do outro.
Embora implique em certo grau de idealização, o romantismo aqui não implica na perfeição
nem na inatingibilidade do ser amado. O romantismo assim concebido é realista e contribui para
a espontaneidade na relação.
Sexualidade: é o sistema afetivo mais conhecido; trata-se de uma das mais fortes motivações
humanas. Seu ciclo: desejo, excitação, relação sexual e orgasmo é um sistema inato com
fundamental função biológica. Sendo o orgasmo reconhecido pela maioria das pessoas como o
maior prazer físico que existe.
Este sistema é extremamente vulnerável às experiências infantis, podendo ser, como o apego,
sujeito à repressão, desvios e disfunções originárias na história do indivíduo. Os vários
componentes da sexualidade interagem de maneiras variadas e contraditórias.
Romantismo & Sexualidade: estes dois sistemas estão intimamente interligados no amor
conjugal na maioria das vezes, embora possam funcionar separados. O desejo sexual é em geral
estimulado pela novidade e ao contrário desestimulado pela rotina; mas integrada ao
romantismo a sexualidade pode ser elemento da manutenção do interesse sempre renovado entre
os parceiros. A interação entre romantismo e sexualidade e os outros sistemas afetivos implica
em mistérios e imprevisibilidade.

Amizade: é o sistema afetivo humano que implica na capacidade de relacionamento amoroso de


igualdade, simetria, expectativa, disponibilidade de troca e mutualidade entre os parceiros;
ausência de possessividade e de exigência de perfeição, capacidade de tolerância pelas
limitações do outro.
Amizade implica em certa cumplicidade, postura de misericórdia quanto ao sofrimento e
defeitos do outro e supõe a capacidade de aceitar o outro como ele é.

Observações
Em cada relacionamento amoroso esses elementos vão se combinar e funcionar de maneiras
diversas considerando os indivíduos envolvidos e a relação que estabelecem.
Cada um dos sistemas afetivos (apego, cuidado, romantismo, sexualidade e amizade) evolui de
forma diferente e sofre influência de variáveis diferentes. Apesar de na prática eles funcionarem
interligados, podemos observar que na relação conjugal eles se manifestam de formas muito
diversas. Por isso, os relacionamentos amorosos diferem tanto, e o amor conjugal se apresenta
com tantas faces, muitas delas contraditórias entre si.
Apego é um componente presente em doses variáveis em quase todas as relações amorosas
entre adultos; ele pode ocorrer, por exemplo, mesmo quando a existência do amor é negada
pelos parceiros: eles podem se separar por não mais se amarem e terem consciência disto, mas
sofrem pela dificuldade de romper a ligação de apego o que lhes parece irracional e
incompreensível.
É comum que as pessoas com problemas de apego tenham problema também de cuidado pela
interdependência existente no desenvolvimento dos dois sistemas na infância.
Seria utopia acreditar que haja possibilidade de haver absoluta simetria fixa numa relação
amorosa, onde ambos os parceiros funcionem com quantidades e qualidades idênticas em seus
sistemas afetivos.

Sintetizando
Todo terapeuta deve se lembrar que na prática não existem regras que sirvam para todos os tipos
de casais. Cada relação de casal que se apresenta nos consultórios será sempre constituída por
esses ingredientes, interligados, em dosagens diferentes, e funcionando de uma maneira única,
ainda que se possam identificar alguns padrões básicos subjacentes. Idealmente, um casamento
feliz que propiciasse a individuação dos dois parceiros e os mantivesse psiquicamente
saudáveis, deveria basear-se num amor conjugal capaz de integrar esses sistemas afetivos num
funcionamento flexível e equilibrado.

Padrões de Amor Conjugal


De acordo com as variáveis que interferem na evolução dos sistemas afetivos de um indivíduo
podemos identificar pelo menos 3 padrões de funcionalidade amorosa (padrão individual):
Padrão Seguro
É estabelecido por indivíduos que se percebem e/ou são percebidos por seus parceiros com as
seguintes tendências:
. equilíbrio entre proximidade e autonomia nas relações
. facilidade e desejo de intimidade
. pouca preocupação com abandono ou com excesso de intimidade
. conforto na dependência mútua e na expressão de necessidades e desejos
. facilidade de se revelar
. boa percepção do sofrimento psíquico
. manejo de afetos negativos de maneira construtiva e orientada para a ação
. felizes, amigáveis e capazes de aceitação e tolerância com o parceiro
. capaz de manter relações duradouras
. consciência de que a paixão inicial se modifica, mas que o amor persiste
. nível alto de compromisso e envolvimento na relação amorosa
. satisfação nas interações com o parceiro
. boa autoestima, popularidade no grupo social
. crença de que a maioria das pessoas é bem-intencionada e confiável

Padrão Ansioso Evitador


É estabelecido por indivíduos que se percebem e/ou são percebidos por seus parceiros com as
seguintes tendências:
. medo e desconforto com intimidade
. necessidade de manter distância
. necessidade de autonomia prevalecendo sobre necessidade de intimidade
. desconfiança e dificuldade de confiar e depender
. dúvida quanto à honestidade e integridade dos próprios pais e das pessoas em geral
. grande valorização da realização e do sucesso profissional
. manejo do sofrimento psíquico suprimindo a raiva da consciência
. pouca expressão emocional do sofrimento
. pouca disposição de discutir problemas
. tendência a evitar manifestação e expressão de sofrimento
. baixa autoconfiança em situações sociais
. percepção de que os parceiros amorosos frequentemente reclamam de falta de intimidade e de
apoio em momentos de sofrimento
. menor investimento e pouco compromisso nos relacionamentos amorosos
. visão pouco positiva do amor
. descrença na existência da paixão arrebatadora e da possibilidade do amor durar
. crença na dificuldade de encontrar alguém a quem se possa realmente amar
. baixo envolvimento e pouca satisfação nas interações diárias com o parceiro

Padrão Ansioso Ambivalente


É estabelecido por indivíduos que se percebem e/ou são percebidos pelos parceiros com as
seguintes tendências:
. preocupação constante com a falta de proximidade ou abandono
. medo de rejeição
. desejos constante de união, reciprocidade e fusão com o parceiro
. percepção que os parceiros se assustam com o desejo excessivo de proximidade ou reclamam
dele
. necessidade de intimidade prevalecendo sobre a necessidade de autonomia
. enfrentamento do sofrimento psíquico por meio de estratégias ruminativas e de amplificação
dos problemas
. percepção de que as outras pessoas são em geral complexas e difíceis de entender
. crença de que as pessoas têm pouco controle sobre as próprias vidas
. manifestação exagerada de sofrimento e raiva
. servilismo e submissão para ganhar aceitação
. percepção do amor como caracterizado por altos e baixos, atração sexual e ciúmes extremos
. facilidade de se apaixonar, mas dificuldade de encontrar o amor verdadeiro
. sensação de serem mal compreendidos ou injustiçados
. queixa da baixa capacidade de compromisso dos parceiros

Influência do Padrão Amoroso na Dinâmica Conjugal


Considerando tudo isto pode-se questionar: em que medida um padrão amoroso de um
indivíduo numa relação é uma propriedade dele ou é uma propriedade da atual relação conjugal
estabelecida por ele e o parceiro?
É que estes padrões acima descritos não devem ser considerados traços de personalidade ou
tendências imutáveis.
Em algum nível eles são propriedades do indivíduo, pois foram construídos socialmente durante
sua história de relacionamentos , mas por outro lado pertencem à relação conjugal formada por
determinados parceiros e precisam ser compreendidos sistemicamente naquela relação
específica.
O grau de segurança percebida numa relação conjugal depende tanto das características de cada
parceiro quanto das circunstâncias e da interação entre eles.
Assim, esses termos – seguro, evitador e ambivalente – tanto podem ser usados para significar
traços mais estáveis (frequentemente manifesto) de um indivíduo quanto para se referir as
disposições transitoriais que sejam consequência do tipo do relacionamento atual dele na
relação estabelecido com outro indivíduo.
Temos então que considerar que existem experiências relacionais que vão potencializar os
efeitos de características individuais tanto para acentuá-las quanto para “corrigi-las”
individualmente o que consequentemente pode corrigir o modelo da relação conjugal.

Considerando a existência destes 3 padrões podemos identificar vários de tipos de combinações


num relacionamento conjugal gerando dinâmicas diversas entre os parceiros:
1 – seguro + seguro
2 – seguro + ansioso evitador
3 – seguro + ansioso ambivalente
4 – ansioso evitador + ansioso evitador
5 – ansioso evitador + ansioso ambivalente
6 – ansioso ambivalente + ansioso ambivalente
Assim como o padrão amoroso individual dos parceiros se combinam influenciando a relação
conjugal, assim também o padrão amoroso conjugal constituído pela combinação dos padrões
individuais dos parceiros interfere no desenvolvimento individual deles.
Cada uma destas combinações vai gerar desafios diferentes relativos aos “ingredientes”
combinados. Existem estudos e pesquisas atuais que nos dão conta de que ocorrem variações
comportamentais relativas ao fator sexo dos parceiros e o padrão amoroso.

Esclarecendo e exemplificando
Os comportamentos de um homem com o padrão ansioso ambivalente em relação a uma mulher
do mesmo padrão, podem ser diferentes. Assim um padrão relacional “ansioso ambivalente x
ansioso evitador” relativo a um casal em que o homem é o ambivalente e a mulher é a evitadora
pode apresentar padrões comportamentais, e resultados funcionais diferentes de um padrão do
mesmo tipo formado por uma mulher ambivalente e um homem evitador.
Estas referências servem para nos facilitar a compreensão do quanto são complexas as relações
de parceria amorosa, tanto as aventuras amorosas quanto as relações conjugais, cada uma com
suas peculiaridades.
Devemos cuidar de não idealizarmos a combinação: homem “seguro” x mulher “seguro” como
uma meta a ser alcançada nos processos terapêuticos.
Isto é utópico e antinatural.
O ser humano qualquer que seja sua estrutura intra psíquica e seus condicionamentos, é passível
de fazer mudanças de segunda ordem e se recriar aproveitando as oportunidades (destino) de
aprendizagem surgidas principalmente no exercício de se relacionar com seu semelhante
(escolhas).
Afinal não nascemos prontos...

Concluindo
Se considerarmos que é impossível se pensar o ser humanos a não ser em relação com outros
membros de sua espécie e à luz dos diversos vínculos que ele estabelece, e se ao mesmo tempo
considerarmos o ser humano como criativo e capaz de se recriar, poderemos concluir que:
sejam quais forem os tipos de vínculos primários estabelecidos por uma pessoa e apesar da
influência deles no nível de segurança ou insegurança que ela apresentará em suas interações,
sempre será possível se refazer uma revisão dos seus modelos mentais e se realizarem mudanças
nos seus padrões de relacionamento.

Olhar Sistêmico sobre a Complexidade dos Relacionamentos de Casais


“A relação de casal (o casamento) é a única relação sistêmica que não nem uma base
biológica, como o vínculo parental, nem uma base lógica, como uma relação de trabalho. É
uma relação definida por uma escolha mútua subjetiva, e pode ser rediscutida a qualquer
momento, em bases igualmente subjetivas. A díade casal é um sistema substancialmente reflexo
onde os parceiros experimentam os aspectos positivos e negativos do pertencimento diádico.
Eles são ao mesmo tempo os criadores do sistema, seus beneficiários e suas vítimas.”
Philippe Caillé

Complexidade x Simplicidade
Vamos retomar o conceito de complexidade para nos lembrar de sua aplicabilidade na
compreensão dos Relacionamentos de Casais.
Complexidade é um conceito que se contrapõe ao de simplicidade.
Simplicidade é a maneira de se buscar conhecer uma realidade separando-a em partes e
analisando cada parte.
Esta análise pela simplificação leva à conclusão de que ao se conhecer as partes conhece-se o
todo que elas compõem.
Complexidade é uma maneira de se buscar conhecer a realidade considerando-a no seu
conjunto.
É uma maneira de se entender a realidade incluindo todas as suas partes, mesmo que
contraditórias, e a relação entre elas.
A realidade da relação de casal, por sua complexidade é de difícil compreensão, de difícil
solução, de difícil modelização.

Para ilustrar o raciocínio sistêmico sobre a complexidade do sistema casal, vamos considerar
que (A) e (B) sejam imagens representativas de duas pessoas, cada uma com sua identidade em
sua integridade como indivíduo formando um todo, contendo sua personalidade e as relações
que estabelece consigo e com os diversos contextos em que está inserida:
Sistema 1 = Indivíduo A

Sistema 2 = Indivíduo B
Para representarmos em imagem a complexidade do sistema - a relação de casal - não vamos
simplesmente fundir estas imagens.
Criaremos uma terceira imagem que incluindo as duas individualidades mantêm-lhes a
configuração e ao mesmo tempo gera um terceiro elemento que com elas forma um conjunto.
Dito assim pode parecer que estamos falando de complicação e não de complexidade, mas
vejamos a imagem seguinte.

Sistema 3 = C > Relação entre Indivíduo A e indivíduo B


Esta seria a representação imagética da equação matemática sobre a relação de casal : 1 + 1 = 3
Em que
1 = a individualidade de um
1 = individualidade do outro
3 = duas individualidades e a relação entre elas.
Este exercício nos dá a ideia de como é complexo tentarmos entender e explicar todos os
componentes de uma relação de casal.
A relação de casal torna-se um desafio incomparável a qualquer outro na vida dos dois
envolvidos. Em nenhum outro relacionamento eles terão oportunidade de aprender sobre certas
questões que não na relação conjugal. Da mesma maneira pode-se afirmar que nenhuma outra
relação vai exigir do casal habilidades e dedicação tão específicas como esta.

Entre muitos fatores que compõem a complexidade das Relações Conjugais vamos destacar :
Padrão Relacional Jogos de Poder
Influência Familiar
Subsistemas

Padrão Relacional
As relações conjugais podem ter um padrão qualitativo antiecológico ou ecológico.
O padrão antiecológico é sustentado por premissas de consumismo e o padrão ecológico por
premissas de cidadania.
Consumismo
É a atitude de quem participa do sistema competindo, apenas consumindo o que este lhe
oferece, sem se preocupar em retribuir ou oferecer nada em troca, de tal modo que o sistema é
consumido, gasto, sugado e quando esgota é descartado e substituído por outro.
Cidadania
É a atitude colaborativa e cooperativa de quem participa de um sistema usufruindo o que este
lhe propicia, mas investindo na sua manutenção e contribuindo para seu desenvolvimento.
Portanto oferecendo algo em troca do usufruto. Não simplesmente retirando e gastando o que o
sistema oferece. Observação: Podemos ter premissas de cidadania ou de consumismo em todas
as nossas relações conosco , com nossa saúde, nossos bens, nosso tempo, nossos interesses, e
com nossos semelhantes, nossos amigos, nossos empregados, nossos familiares, nossos
parceiros amorosos, etc.

Relação Antiecológica ou Consumista


A relação entre os casais será antiecológica e consumista quando as premissas que
fundamentam as ações dos parceiros forem de exploração de si e do outro, de descuido consigo
e com o outro, de não investimento em si por exemplo: em sua saúde, aparência, cuidados
físicos, desenvolvimento intelectual e cultural, crescimento pessoal, profissional, disposição
para aprender e assimilar mudanças necessárias , etc., nem em nada que favoreça o crescimento
de ambos a partir de sua convivência.
Em contrapartida, numa relação consumista os parceiros costumam esperar do outro as
iniciativas para fazê-lo feliz. Estão atentos a fazerem críticas , exigências e cobranças em todos
os sentidos, sempre na expectativa de receberem tratamento privilegiado.
Estas atitudes demonstram o desinteresse e a não responsabilidade com o enriquecimento e
manutenção da relação , mesmo que ambos sofram por isto. Assim a relação é conflituosa e não
subsidia o desenvolvimento individual dos envolvidos.
Este padrão relacional é muito frequente entre os casais que procuram terapia conjugal. O
terapeuta deve estar atento para identificar e trabalhar sobre as premissas que o sustentam.

Relação Ecológica ou de Cidadania


A relação conjugal é ecológica quando as premissas que fundamentam as ações do casal são de
defesa, nutrição e preservação dela.
São as relações em que os parceiros investem em seu desenvolvimento pessoal se
responsabilizando pelo enriquecimento da relação com outro da qual ambos usufruirão.
Também se dispõem a trabalhar a qualidade da relação para que esta lhes subsidie a evolução
individual. Este padrão promove a prevalência da harmonia entre o casal.
O que não significa que a relação conjugal seja perfeita onde o par “será feliz” e permanecerá
junto “para sempre”. Neste padrão os conflitos quando ocorrerem servirão primordialmente
como oportunidade de aprendizagem mútua e desenvolvimento individual.
O padrão ecológico não é utópico ou idealizado; ele é passível de construção. Para tanto é
necessário que o casal cultive premissas de disponibilidade de aprender, equifinalidade*,
tolerância às diferenças, entre outras.
*Vale lembrar o conceito de equifinalidade aplicado à relação a dois: premissa segundo a qual
não existe uma única maneira certa de ser um casal, de se viver, e de que todos podem criar
novas respostas e soluções, buscando aprender diante das dificuldades naturais encontradas no
relacionamento a dois.

Jogos de Poder
Um dos temas que mais nos dá referências da complexidade da relações amorosas é o Poder.
O poder é inerente às relações humanas.
Nas relações de poder temos pelo menos 3 possibilidades :
Disputar o poder (querer ser especial)
Negar o poder (não assumir autonomia pessoal)
Negociar o poder (respeitar o poder como prerrogativa humana)
Disputar poder
A tendência natural do ser humano ao se relacionar com seu semelhante é disputar poder.
Que poder é este que se disputa?
Que poder é este que se pretende?
Em todas as relações humanas está implícito um desejo inconsciente (ou não) , mas sempre
imaginário e fantasioso, de se obter a supremacia sobre o outro.
O desejo mais genuíno de todo ser humano é ser especial, é ter privilégios, é ficar com a melhor
parte, com o melhor quinhão de seja lá o que for, é o desejo de só obter os bônus de qualquer
situação e nunca ter que se haver com os ônus sempre implícitos nelas.

Este desejo é cultivado no imaginário humano pela premissa ilusória de que a realidade é
estável, perfeita; de que existe a possibilidade de se estabelecer uma relação de verticalidade
entre as pessoas, de modo que haja uma posição de superioridade a ser alcançada pelo “melhor”
pelo “mais forte”, pelo “mais” alguma coisa.
Esta premissa é baseada na ideia falaciosa de que existem diferenças quantitativas e qualitativas
entre pessoas e que ao se estabelecer esta diferença, aquela que obtiver o maior “escore” ocupa
a posição superior e como tal vai ser detentora de privilégios.
Então a disputa de poder entre humanos é a busca ilusória da supremacia que dá direito a
privilégios para um (o vencedor, o superior, o maior, o melhor, o mais) e prejuízo para o outro(o
perdedor, o inferior, o menor, o pior, o menos).
Numa disputa, haverá sempre o ganho e a perda, o que numa avaliação maniqueísta, levará
sempre a um resultado excludente: ou se ganha ou se perde.
Só existem duas posições possíveis a serem disputadas entre os envolvidos numa relação de
disputa de poder:
vencedor x perdedor
dominação x submissão
superioridade x inferioridade

Negar o Poder
A segunda alternativa é a opção que leve o ser humano a não lidar com seu poder pessoal e
tentar se eximir do aspecto de poder implícito nas relações humanas.
Isto não é possível, mas no imaginário de quem faz esta escolha, ao não assumir sua posição de
poder diante das coisas, das exigências que a vida lhe faz, a pessoa “acredita” que o destino é
responsável por tudo que acontece com ela; e o destino para ela, tem muitos nomes: os outros, o
governo, seus pais, seu parceiro, a inveja, etc.
Ao não se responsabilizar por suas escolhas, estabelece a dinâmica de “deixa a vida me
levar”...”não posso fazer nada”... “isto é assim mesmo”...
“isto só acontece comigo”...
Negociar o Poder
A terceira alternativa é um desafio constante nas relações humanas:
somos insistentemente convidados a aprender a negociar o poder.
Esta é a solução mais elaborada, mais humanizada que se pode conquistar nas relações entre
semelhantes.
Nas relações de poder negociado todos os envolvidos têm poder equivalente, as competências
têm valor equânime, e as soluções abrangem interesses e bem estar comuns acima dos
individuais

“O jogo do sem fim”


No padrão de relação onde se lida com o poder disputando privilégios, estabelece-se a dinâmica
da oscilação: os dois competidores ficam em movimento pendular: ora um ora outro estará
ocupando cada uma das posições possíveis: Superioridade ou inferioridade.
Hoje quem é o vencedor está na posição superior e vai-se manter ali enquanto seu adversário
permanecer submetido.
Mas este vai, inevitavelmente, juntar forças e numa outra raia de disputa ele manifestará sua
superioridade, deixando o outro automaticamente submetido ao seu poder.
Neste jogo não há vencedores.
O resultado deste jogo é empate e este é sempre um resultado insatisfatório para quem disputa
poder. Consequentemente os jogadores estarão sempre atentos a novas oportunidades de
sobrepujarem o outro e assim perpetuam o jogo > o jogo do sem fim ...

O “Jogo do Sem Fim” na Relação Conjugal


Ainda que o casamento se dê por escolha afetiva, não se pode negar que como toda relação
entre humanos a relação conjugal implica, inevitavelmente e também, uma relação de poder.
Na convivência diária os parceiros terão o desafio constante de escolher e dar respostas que
atendam as suas necessidades individuais e particulares (liberdade) e/ou atendam a necessidades
e interesses comuns aos dois, cujo resultado é o bem comum (compromisso).
Embora pareça simples, natural e desejável que um casal busque colocar os interesses comuns
acima dos individuais (negociando poder), esta não é uma atitude que se toma por simples bom
senso.
Diante deste desafio, se o casal privilegiar a premissa de que o poder deve ou pode ser
disputado, cada um tentará nas oportunidades mais triviais, impor sua razão sobre a do outro,
para garantir para si os bônus de vencedor, delegando ao outro os ônus de perdedor.
O casal buscará marcar pontos no jogo perigoso que se forma entre os dois, tornando-os
adversários em uma disputa em que não haverá nunca vencedores.
Estabelecerão a dinâmica de oscilação entre duas posições opostas antagônicas: um é o que sabe
x o outro é o que não sabe; um é o capaz x o outro é o incapaz; um é o vencedor x o outro é o
perdedor.
A premissa da competição perpetua o jogo do sem fim...
No jogo do sem fim só há perdedores, pois a relação entre eles fica empobrecida e insatisfatória
para ambos.

Jogo de poder saudável na relação conjugal


A relação amorosa é como uma empresa criada por dois sócios igualitários que só se manterá e
poderá desenvolver se ambos desenvolverem a capacidade de compartilhar o poder na
administração e nos investimentos que ela lhes exige. Se os sócios disputam o poder
individualmente, ao invés de negociarem e compartilharem o poder, se eles não colocarem os
interesses comuns acima das necessidades individuais de marcar territórios, a empresa torna-se
um campo de batalhas e não uma seara produtiva para os dois que dependem dela para colher
frutos.
A relação amorosa desafia o casal a construir uma dinâmica de alternância de poder entre os
parceiros: ora um deles terá sua razão reconhecida para o bem de ambos, ora será a vez do outro
de ter sua opinião validada em função do interesse comum a eles.
Este é um aprendizado difícil entre indivíduos que em geral estão mais habituados a competir
(disputar poder) para fazer prevalecer seu interesse sobre o dos outros (irmãos, colegas de
trabalho, amigos, vizinhos, “rivais” no trânsito, etc.).
O desafio é individual e seus resultados são comuns. Cada um dos parceiros é desafiado a
aprender que o melhor para um será o que for melhor para ambos.
Isto representa uma mudança de 2ª. ordem, uma mudança de paradigma, de atitude, não apenas
uma melhora provisória, mas uma mudança, um aprendizado, uma transformação.
Considerando que seja uma das competências do ser humano agregar às forças das relações que
estabelece, outros motes (além da busca pelo poder) como a afetividade, a compaixão, a
solidariedade, o respeito ao semelhante, pode-se acreditar que ele sempre poderá ser capaz de
alternativas criativas para seus desafios.
Entre disputar poder, ocupar os lugares de vencedor e vencido, os parceiros podem aprender
uma terceira posição: ao invés de brigarem por terem ou não terem razão, podem optar por
serem felizes, compartilhando o poder.

Dinâmica da Alternância de Poder


Alternância é um movimento contínuo que difere da oscilação.
Na dinâmica conjugal da oscilação temos um “parceiro” que se estabelece na posição superior e
ali se mantém, e se esforça por se manter enquanto o outro automaticamente permanece na
posição inferior se debatendo para trocar de posição com o rival.
A dinâmica da alternância de poder na relação conjugal é uma resposta criativa ao desafio
conjugal de se aprender a negociar continuamente suas diferenças de desejos, opiniões,
necessidades, intenções etc.
Não existem duas posições opostas (superioridade ou inferioridade, melhor ou pior), existem
posições diferentes, mas os parceiros não se preocupam em marcar posição e permanecer nelas
fixamente.
Eles identificam e aceitam as duas possibilidades e acabam se movendo entre elas, optando por
não ocupá-las permanentemente o que cria a terceira posição: a posição cooperativa (oposta à
competitiva) onde ambos reconhecem sua competência e a do outro, diferenciadas em cada
aspecto da relação.
Um é reconhecido e respeitado como mais competente em certos assuntos, em certas áreas, em
certas funções de interesse comum, assim como o outro o será em outras. Estas competências
diferenciadas e respeitadas produzem resultados que atendem aos interesses de ambos

Então o mais importante não é se identificar quem foi que resolveu um problema, qual foi o
mais competente; o que importa é que ambos usufruíram um resultado de uma situação a partir
da competência de um deles.
Isto não os reduz a ocupar o lugar de superioridade em relação ao outro, mas posições diferentes
em relação a um aspecto enquanto em outro aspecto podem estar se movendo em direção
contrária.
Reciprocamente saberão se mover entre as posições conforme a conveniência do bem comum a
eles.
Esta terceira posição é a posição do poder compartilhado (não disputado).
Ela não é uma posição fixamente estabelecida. Ela é dinâmica.
Ela possibilita o aprendizado de que serem parceiros, aliados e não rivais.
O resultado da soma dos poderes individuais é a vitória de ambos.
Neste jogo não há perdedor: se o resultado beneficia um, ambos são beneficiados.
Será bom para um o que for bom para ambos.
Este é o resultado natural do aprendizado de se colocar o bem comum acima dos interesses
individuais.
Dito assim parece simples, porém este é um dos mais complexos desafios dentro da relação
conjugal.
No exercício desta aprendizagem, nas dificuldades encontradas para conquistá-la pode ser
importante o papel da Terapia do Casal.
Neste compromisso irão interagir a subjetividade e a objetividade de cada um dos parceiros e a
do terapeuta que juntas formarão o sistema terapêutico.

Famílias de Origem
No primeiro Capítulo do nosso programa vimos que nem sempre o “casamento” ocorre entre
dois parceiros “amadurecidos” e que ele não implica na união de duas pessoas apenas, mas sim
de dois sistemas familiares inteiros. Isto nos leva a considerar que é poderosa a influência das
famílias de origem na complexidade das relações estabelecidas entre os parceiros conjugais.
Idealmente uma pessoa se casaria, ou estabeleceria um projeto de construir relação conjugal
quando já tivesse constituído sua identidade individual e se diferenciado suficientemente de sua
família de origem.
Isto na maioria das vezes é utópico.
Ainda que um indivíduo tenha um padrão de relacionamento seguro, por exemplo, não significa
que ele tenha consolidado sua identidade individual e muito menos que não mantenha lealdades
aos padrões relacionais (premissas) de sua família originária.
Não há como se ignorar que a construção da identidade conjugal sofre desde o namoro ampla
interferência das culturas familiares originarias de cada parceiro , e que esta interferência tende
a se intensificar com o exercício da vida conjugal. Este tema é muito amplo pois são diversas as
possibilidades de interferência da cultura familiar originária na construção do padrão relacional
do casal. A este grau maior ou menor de “contaminação” de identidades conjugais (padrões de
relação conjugal dos pais e /ou avós que os filhos vão “repetir” ainda que inconscientemente) ,
chamaremos de “lealdades invisíveis”, ou pacto de fidelidade à família originária que pode
funcionar como ‘amarras’ impedindo o desenvolvimento do casal, interferindo no seu processo
de relação conjugal.

Familia do parceiro 1 Família do parceiro 2


X
As diversas premissas herdadas das famílias originárias interferem sutil ou explicitamente na
constituição do nível de intimidade e interdependência do casal, definindo desde regras de
convivência social com seus amigos e familiares , até o estabelecimento de rotinas e dinâmica
que regerão o sagrado ofício de convivência diuturna. Os parceiros definirão sob influência dos
valores de suas famílias como vão lidar individual e conjuntamente com tempo, sexo, dinheiro,
espaço, hábitos, alimentação, higiene, saúde, diferenças de relógio biológico, e demais aspectos
práticos de uma vida em comum. Essas questões de aparente simplicidade e insignificância por
sua obviedade, são exatamente as que vão subsidiar a consistência da vida conjugal, e isto lhes
confere significativa complexidade e importância .
Absorver a identidade conjugal criada a partir desses contornos , assumi-la e afirmar-se como
casal socialmente e dentro dos sistemas familiares originais é um desafio grandioso para todo
casal.

Outro tema que frequentemente cria impasses na relação conjugal a partir da influência das
famílias originárias são as questões relativas a papéis de gênero.
Valores machista, separatistas, preconceituosos em relação a ‘ser homem’- papel de homem e
‘ser mulher’- papel de mulher em cada cultura familiar podem desencadear múltiplos desafios,
dificuldades e até mesmo impedimento à configuração do novo casal .
As crenças e premissas rígidas sobre estas questões podem tornar muito maior um desafio que já
é grande entre os parceiros na formação de sua nova identidade: a tarefa fundamental e
intransferível de patrocinar a introdução do outro e de seus familiares no seio de sua própria
família, favorecendo a receptividade e acolhimento necessários para uma convivência
harmoniosa entre todos.

“Certas famílias impedem, inconscientemente, a emancipação dos filhos e numa nova relação,
como namoro ou casamento, instala-se um dilema no qual o novo casal só pode existir se não
colocar em risco a rígida lógica familiar, uma tendência que procura não modificar a família
nuclear. Assim, nestes casos, quando uma nova união se estabelece vários mecanismos
passarão a atuar no sentido da não alteração.” “Uma união implica, invariavelmente, na
despedida dos antigos vínculos, uma fase permeada por sentimentos ambíguos de desamparo e
que podem abalar constituição da necessária cumplicidade do casal. Assim, após a fase da
paixão, da elaboração das perdas de suas famílias de origem, é que o novo relacionamento
poderá se estabelecer de forma consistente. Mas, quando os vínculos anteriores estão muito
fortes, a nova união será dificultada.” Luiz Carlos Prado “O casal não é uma mera
justaposição de duas estruturas estáveis, é antes um adubo que alimenta o desenvolvimento
pessoal.” Elida Roman, Jean-Clair Bouley

Subsistemas
Família
Outro aspecto da complexidade da relação conjugal é o fato de que o casal dentro do sistema
familiar nuclear constitui dois subsistemas diferenciados: homem/mulher (par conjugal) e
pai/mãe (par parental) . Isto lhes confere funções específicas e diferenciadas, porém
interdependentes e que podem ser ‘interferentes’ quando funções da parentalidade interferem na
conjugalidade e vice-versa.
O subsistema conjugal constitui a especificidade da relação ‘de casal’ que permite aos parceiros
criar compromissos exclusivos entre si: vida sexual, identidade conjugal, objetivos conjuntos de
vida a dois, vínculo, confiança, etc.
Essa relação especial pode sofrer sobrecarga dos reflexos de discordâncias e impasses não
resolvidos entre os parceiros no desempenho de suas funções como pai e mãe
Daí podem decorrer as derivações adoecidas da relação conjugal: pactos, duplos vínculos
recíprocos, colusões, e outros.
Homem e Mulher
Filhos
Papai e Mamãe

Porém não devemos nos prender a uma visão estática do indivíduo e da relação do casal. Temos
que considerar que o ciclo vital é dinâmico e seu movimento proporciona oportunidades de que
a própria estrutura do casal dê continuidade ao processo de crescimento individual iniciado nas
famílias de origem.
A tendência evolutiva humana não estanca necessariamente diante das circunstâncias (destino)
criadas a partir de escolhas (livre arbítrio) que possam ser consideradas inadequadas.
Ao ser humano compete sempre escolher entre a homeostase e a equifinalidade

É importante conhecer os autores que já se debruçaram sobre a complexidade das relações


conjugais e nos fornecem vasto material de estudo. Sugiro que busquem ler, entre outros:
M. Bowen: para ele as questões emocionais entre o casal se originam da dificuldade em se
diferenciar da própria família, o que se tornaria objetivo da terapia de casais inicialmente. O
processo a ser realizado pelos parceiros é composto de 3 desafios: triangulação, fusão e
diferenciação.
N. Paul: desenvolveu o conceito de “luto não resolvido” como uma das interferências possíveis
nas relações amorosas e sugere rituais para trabalhar perdas não resolvidas nas relações
familiares originárias e promover rupturas com velhos padrões relacionais (questões
intergeracionais).
Ivan Boszormenyi Nagy : desenvolve a ideia de que a família é um constante processo de
equilíbrio dinâmico entre forças intergeracionais (entre diferentes gerações) e intrageracionais
(entre elementos da mesma geração). Introduz os conceitos de: lealdades invisíveis, noção de
justiça, cadeia de retribuições deslocadas e perdão como chave da terapia conjugal.
Virginia Satir: identifica a manutenção de padrões relacionais de comunicação nos novos
núcleos familiares decorrentes das discrepâncias na comunicação existentes nas famílias
originárias. Salvador Minuchin: preconiza a importância da estrutura familiar e da hierarquia
entre seus subsistemas: o subsistema casal deve ter fronteiras fechadas em relação aos outros
subsistemas na família; o subsistema parental deve ter fronteiras claras, mas permeáveis em
relação ao subsistema filhos ; deve haver fronteiras bem marcadas de acordo com padrões
culturais entre o novo sistema nuclear e o supra sistema família originária.
Mony Elkaim: introduz os conceitos de ressonância e duplos vínculos recíprocos para
compreensão e tratamento da complexidade da relação de casal.

Desafios do Terapeuta de Casal diante da Complexidade das Relações Conjugais


Como já vimos inicialmente a relação conjugal forma um sistema reflexo, são os parceiros que
sentem os efeitos positivos ou negativos do pertencimento gerado na relação. O contexto só
percebe estas consequências, ou seja, pode aferir os comportamentos que demonstram o grau de
satisfação ou de frustração do casal.
Para o terapeuta é um desafio enfrentar o fato de que o casal é o próprio autor da relação que o
constitui como tal.
Este é o principal aspecto a ser entendido na terapia de casais:
O foco da terapia sistêmica será o confronto imediato do terapeuta com a estrutura específica da
relação do casal, sem deixar de levar em conta a solicitação trazida por eles.
O casal insistirá no problema e na dificuldade que tem para resolvê-lo delegando esta
responsabilidade ao terapeuta. Esperam ser criticados e aconselhados. Tenderão a interpretar
qualquer intervenção do terapeuta como uma diretriz a ser seguida.
Cabe ao terapeuta enfrentar o desafio de explorar a relação do casal sem corresponder a esta
expectativa de propor soluções, e introduzir uma modalidade de intercâmbio que leve o casal a
se sentir responsável pelas mudanças desejáveis e necessárias na relação.

Duas questões podem ser usadas como recurso terapêutico para conscientizar o casal de sua
responsabilidade na construção da relação:
Qual destino estamos escolhendo para nossa relação? (que benefício estamos buscando?)
A escolha que estamos fazendo (em cada situação trabalhada) está nos conduzindo a qual
destino? (que preço estamos pagando?)
Dentro do ponto de vista sistêmico, o que precisa ser tratado no sistema terapêutico é a
qualidade da relação que o casal pode estabelecer para lidar com as questões que a
conjugalidade e a vida em comum vai-lhes apresentar, independente da personalidade de cada
um, independente do nível de auto-confiança ou de qualquer outro fator intrapsíquico dos
parceiros, pois a relação conjugal não é prerrogativa só de pessoas que já elaboraram aspectos
imaturos de sua personalidade, ou já atingiram um nível maduro de relacionamento com seu
semelhante.
Ela (a relação conjugal) é também oportunidade para que as pessoas evoluam de suas questões
individuais.
A proposta de terapia sistêmica de casais poderia ser comparada a adaptações necessárias a se
fazer num carro para que uma pessoa que apresenta alguma necessidade especial motora possa
dirigi-lo.

A premissa primordial da terapia sistêmica de casais é que independente da personalidade dos


parceiros, independente das dificuldades que encontrem por serem diferentes, por terem
histórias de vida diferentes, por terem expectativas diferentes, por terem estabelecido padrões
equivocados de relacionamento: é possível aprender novas maneiras de lidar com suas
diferenças,
é possível escolher e construir sua história futura de maneira diferente, é possível estabelecer
expectativas diferentes e mudarem os padrões de relacionamento. A condição si ne qua non para
isto é que o casal se disponha a aprender, se disponha ao trabalho da equifinalidade, escolha sair
da homeostase.
A função do terapeuta é contar com sua subjetividade (autoconhecimento, empatia, ousadia,
humildade, ressonância, experiência pessoal, sensibilidade, atenção, intuição, criatividade, etc.)
e com sua objetividade (conhecimento técnico e teórico, pesquisas, estudos, supervisão e
interação com outros profissionais, etc.) para propiciar ao casal oportunidades de despertar-lhes
esta disponibilidade.
Isto tudo dependerá da relação que o terapeuta e o casal estabelecerem entre si = o sistema
terapêutico que constituirão.
O fato de um casal se disponibilizar a aprender novas maneiras de se relacionar não significa
nem garante que estas novas maneiras serão definitivas ou lhes garantirão a continuidade do
casamento. Esta disponibilidade de aprender será um movimento vivificador na relação, mas o
resultado da revitalização da relação não é previsível nem absoluto, é como o real, imprevisível
e instável, depende da intersubjetividade dos seus co-criadores.

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