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Porém as pesquisas da área de saúde e as estatísticas cada vez mais propagam que as pessoas
casadas estão “melhor” do que as solteiras , divorciadas e/ou viúvas, em relação a diversos
índices como mortalidade, questões psíquicas e somáticas, drogas, alcoolismo, infartos,
suicídios, etc.
Há ainda as pesquisas sobre satisfação com a própria vida e sucesso profissional que também
acusam melhores resultados entre as pessoas casadas do que as sem parceiros.
Como se fecharia esta equação: o casamento é uma condição limitante e “insuportável”,
entretanto as pessoas casadas aparentemente apresentam melhor estado de bem estar físico,
psíquico e melhor índice de satisfação pessoal?
Poderíamos buscar explicações na genética e na psicofísica, por exemplo, mas estaríamos
simplificando em não levarmos em conta alguns fatores psicológicos importantes ligados ao
Casamento.
A aventura* amorosa - Namoro
Ainda que sejam duradouras e até de envolvimento profundo, as aventuras amorosas (ou
namoros) não implicam na continuidade que a dimensão histórica imprime ao casamento
quando o casal assume o compromisso de uma vida conjunta.
A aventura amorosa tem outras implicações: livres da dimensão da continuidade indelével os
parceiros podem ser mais independentes, aceitar o outro com suas particularidades (diferenças
que às vezes incomodam, imaturidades, preferências, exigências, etc.) porque as consequências
na sua convivência são menos significativas já que estão juntos, mas não estão comprometidos
com uma vida comum pela qual seriam igualmente responsáveis.
Na aventura amorosa é mais “fácil” os parceiros se apoiarem mutuamente e no mais das vezes
têm maior disponibilidade para entender o outro . Nestas circunstâncias também há mais
liberdade de se tomar decisões individualmente dando maior sensação de independência aos
parceiros.
* O termo “aventura” não implica juízo de valor.
Sintetizando
Dois parceiros jamais corresponderão ou satisfarão inteiramente um ao outro: é sempre assim na
natureza.
É desafio dos parceiros construírem uma harmonia suficiente para sobreviverem, mas sempre
construirão a realidade de modo diferente.
Importante é que estas realidades mesmo diversas sejam compatíveis entre si.
As tensões que resultam das diferentes opiniões é que dão sabor à relação entre os parceiros, é o
que possibilita que a relação seja aventurosa, incomparável e única, porém limita as
possibilidades de compreensão mútua entre eles.
Assim como algumas potencialidades evolutivas apenas poderão se realizar numa relação
conjugal, outras não podem ser realizadas nela.
Na relação conjugal cada qual só evolui no domínio que seja tolerado pelo outro, pelo qual os
dois sejam capazes de negociar sempre e lutar juntos.
São exatamente o exercício criativo de encontrar compromissos e saídas, e o risco de afastar-se
e depois reaproximar-se que tornam viva esta relação tão especial e complexa – a relação
conjugal
Olhar Psicodinâmico sobre a Complexidade das Relações de Casais
Este enfoque vai nos levar à dimensão da subjetividade do par conjugal e de sua influência na
complexidade da Relação Conjugal.
Iniciaremos considerando novamente o aspecto do Amor na relação de casais.
Apesar do amor ser considerado importante na vida conjugal nos livros básicos e clássicos sobre
a Terapia de Casal e Família não é comum se mencionar a palavra AMOR, embora todos
analisem os diversos tipos de patologias “amorosas”.
Observando os diversos sentidos específicos deste termo tão amplo, podemos perceber que
todas as definições que encontramos dão ênfase o lado “doador” do amor:
Amor de pais pelos filhos = dedicação altruísta, cuidado e proteção.
Amor de crianças pelos pais = busca de segurança e proximidade.
Amor entre enamorado = atração romântico-sexual, paixão.
Complexidade e Contradição
Considerando todos os conceitos vistos até aqui, podemos compreender que a relação conjugal
envolve complexidade e contradição, sendo espaço para muita frustração e desapontamento
(realismo).
A relação conjugal é considerada uma categoria específica dentro do conceito de amar (verbo,
ação amorosa), diferenciada por possuir características próprias e complexas que a tornam ao
mesmo tempo única e multifacetada.
E pode ser considerada não só a mais complexa, conflitiva e desafiadora forma de amar (prática
amorosa), mas também um fenômeno complexo e estruturante, catalisador do processo de
individuação, propiciando aos envolvidos oportunidades de aprendizagem que em nenhuma
outra relação é possível se vivenciar.
Este processo pessoal intransferível de desenvolvimento e autoconhecimento que a relação
amorosa propicia aos envolvidos, desafia-os a buscarem integrar os vários sistemas afetivos que
compõem o psiquismo humano: apego, cuidado, romantismo, sexualidade e amizade.
Sistemas Afetivos
Apego: é a propensão humana, natural, para se formar fortes vínculos afetivos especiais com
pessoas preferenciais. Os primeiros apegos (bebê e infância) nos oferecem modelos mentais de
nós mesmos e do outro, e das possibilidades de relacionamentos interpessoais; esses modelos
mentais serão componentes centrais da nossa personalidade, regulando nossa percepção,
sentimento e comportamento durante nossa vida.
Quando esses vínculos são ameaçados ou rompidos diversas formas de perturbação emocional
serão geradas.
Cuidado: protótipo da relação “mãe-filho”, refere-se ao sistema afetivo humano que nos torna
capazes de nos preocuparmos com o bem estar do outro (por ex. parceiro conjugal) quando este
demonstra necessidade de proteção e/ou ajuda.
Pressupõe sensibilidade, responsabilidade e disponibilidade de solucionar problemas.
O funcionamento inadequado do cuidado incluirá: imprevisibilidade, inconsistência, abandono,
negligência, rejeição; além de abuso, agressão destrutiva, interferência invasiva e controladora.
Apego & Cuidado: Há uma complementaridade natural desejável entre esses dois sistemas
afetivos na relação conjugal: quando o apego de um está ativado ele aciona o cuidado no outro,
o que cumpre a função da conjugalidade de amenizar mutuamente as ansiedades.
Observações
Em cada relacionamento amoroso esses elementos vão se combinar e funcionar de maneiras
diversas considerando os indivíduos envolvidos e a relação que estabelecem.
Cada um dos sistemas afetivos (apego, cuidado, romantismo, sexualidade e amizade) evolui de
forma diferente e sofre influência de variáveis diferentes. Apesar de na prática eles funcionarem
interligados, podemos observar que na relação conjugal eles se manifestam de formas muito
diversas. Por isso, os relacionamentos amorosos diferem tanto, e o amor conjugal se apresenta
com tantas faces, muitas delas contraditórias entre si.
Apego é um componente presente em doses variáveis em quase todas as relações amorosas
entre adultos; ele pode ocorrer, por exemplo, mesmo quando a existência do amor é negada
pelos parceiros: eles podem se separar por não mais se amarem e terem consciência disto, mas
sofrem pela dificuldade de romper a ligação de apego o que lhes parece irracional e
incompreensível.
É comum que as pessoas com problemas de apego tenham problema também de cuidado pela
interdependência existente no desenvolvimento dos dois sistemas na infância.
Seria utopia acreditar que haja possibilidade de haver absoluta simetria fixa numa relação
amorosa, onde ambos os parceiros funcionem com quantidades e qualidades idênticas em seus
sistemas afetivos.
Sintetizando
Todo terapeuta deve se lembrar que na prática não existem regras que sirvam para todos os tipos
de casais. Cada relação de casal que se apresenta nos consultórios será sempre constituída por
esses ingredientes, interligados, em dosagens diferentes, e funcionando de uma maneira única,
ainda que se possam identificar alguns padrões básicos subjacentes. Idealmente, um casamento
feliz que propiciasse a individuação dos dois parceiros e os mantivesse psiquicamente
saudáveis, deveria basear-se num amor conjugal capaz de integrar esses sistemas afetivos num
funcionamento flexível e equilibrado.
Esclarecendo e exemplificando
Os comportamentos de um homem com o padrão ansioso ambivalente em relação a uma mulher
do mesmo padrão, podem ser diferentes. Assim um padrão relacional “ansioso ambivalente x
ansioso evitador” relativo a um casal em que o homem é o ambivalente e a mulher é a evitadora
pode apresentar padrões comportamentais, e resultados funcionais diferentes de um padrão do
mesmo tipo formado por uma mulher ambivalente e um homem evitador.
Estas referências servem para nos facilitar a compreensão do quanto são complexas as relações
de parceria amorosa, tanto as aventuras amorosas quanto as relações conjugais, cada uma com
suas peculiaridades.
Devemos cuidar de não idealizarmos a combinação: homem “seguro” x mulher “seguro” como
uma meta a ser alcançada nos processos terapêuticos.
Isto é utópico e antinatural.
O ser humano qualquer que seja sua estrutura intra psíquica e seus condicionamentos, é passível
de fazer mudanças de segunda ordem e se recriar aproveitando as oportunidades (destino) de
aprendizagem surgidas principalmente no exercício de se relacionar com seu semelhante
(escolhas).
Afinal não nascemos prontos...
Concluindo
Se considerarmos que é impossível se pensar o ser humanos a não ser em relação com outros
membros de sua espécie e à luz dos diversos vínculos que ele estabelece, e se ao mesmo tempo
considerarmos o ser humano como criativo e capaz de se recriar, poderemos concluir que:
sejam quais forem os tipos de vínculos primários estabelecidos por uma pessoa e apesar da
influência deles no nível de segurança ou insegurança que ela apresentará em suas interações,
sempre será possível se refazer uma revisão dos seus modelos mentais e se realizarem mudanças
nos seus padrões de relacionamento.
Complexidade x Simplicidade
Vamos retomar o conceito de complexidade para nos lembrar de sua aplicabilidade na
compreensão dos Relacionamentos de Casais.
Complexidade é um conceito que se contrapõe ao de simplicidade.
Simplicidade é a maneira de se buscar conhecer uma realidade separando-a em partes e
analisando cada parte.
Esta análise pela simplificação leva à conclusão de que ao se conhecer as partes conhece-se o
todo que elas compõem.
Complexidade é uma maneira de se buscar conhecer a realidade considerando-a no seu
conjunto.
É uma maneira de se entender a realidade incluindo todas as suas partes, mesmo que
contraditórias, e a relação entre elas.
A realidade da relação de casal, por sua complexidade é de difícil compreensão, de difícil
solução, de difícil modelização.
Para ilustrar o raciocínio sistêmico sobre a complexidade do sistema casal, vamos considerar
que (A) e (B) sejam imagens representativas de duas pessoas, cada uma com sua identidade em
sua integridade como indivíduo formando um todo, contendo sua personalidade e as relações
que estabelece consigo e com os diversos contextos em que está inserida:
Sistema 1 = Indivíduo A
Sistema 2 = Indivíduo B
Para representarmos em imagem a complexidade do sistema - a relação de casal - não vamos
simplesmente fundir estas imagens.
Criaremos uma terceira imagem que incluindo as duas individualidades mantêm-lhes a
configuração e ao mesmo tempo gera um terceiro elemento que com elas forma um conjunto.
Dito assim pode parecer que estamos falando de complicação e não de complexidade, mas
vejamos a imagem seguinte.
Entre muitos fatores que compõem a complexidade das Relações Conjugais vamos destacar :
Padrão Relacional Jogos de Poder
Influência Familiar
Subsistemas
Padrão Relacional
As relações conjugais podem ter um padrão qualitativo antiecológico ou ecológico.
O padrão antiecológico é sustentado por premissas de consumismo e o padrão ecológico por
premissas de cidadania.
Consumismo
É a atitude de quem participa do sistema competindo, apenas consumindo o que este lhe
oferece, sem se preocupar em retribuir ou oferecer nada em troca, de tal modo que o sistema é
consumido, gasto, sugado e quando esgota é descartado e substituído por outro.
Cidadania
É a atitude colaborativa e cooperativa de quem participa de um sistema usufruindo o que este
lhe propicia, mas investindo na sua manutenção e contribuindo para seu desenvolvimento.
Portanto oferecendo algo em troca do usufruto. Não simplesmente retirando e gastando o que o
sistema oferece. Observação: Podemos ter premissas de cidadania ou de consumismo em todas
as nossas relações conosco , com nossa saúde, nossos bens, nosso tempo, nossos interesses, e
com nossos semelhantes, nossos amigos, nossos empregados, nossos familiares, nossos
parceiros amorosos, etc.
Jogos de Poder
Um dos temas que mais nos dá referências da complexidade da relações amorosas é o Poder.
O poder é inerente às relações humanas.
Nas relações de poder temos pelo menos 3 possibilidades :
Disputar o poder (querer ser especial)
Negar o poder (não assumir autonomia pessoal)
Negociar o poder (respeitar o poder como prerrogativa humana)
Disputar poder
A tendência natural do ser humano ao se relacionar com seu semelhante é disputar poder.
Que poder é este que se disputa?
Que poder é este que se pretende?
Em todas as relações humanas está implícito um desejo inconsciente (ou não) , mas sempre
imaginário e fantasioso, de se obter a supremacia sobre o outro.
O desejo mais genuíno de todo ser humano é ser especial, é ter privilégios, é ficar com a melhor
parte, com o melhor quinhão de seja lá o que for, é o desejo de só obter os bônus de qualquer
situação e nunca ter que se haver com os ônus sempre implícitos nelas.
Este desejo é cultivado no imaginário humano pela premissa ilusória de que a realidade é
estável, perfeita; de que existe a possibilidade de se estabelecer uma relação de verticalidade
entre as pessoas, de modo que haja uma posição de superioridade a ser alcançada pelo “melhor”
pelo “mais forte”, pelo “mais” alguma coisa.
Esta premissa é baseada na ideia falaciosa de que existem diferenças quantitativas e qualitativas
entre pessoas e que ao se estabelecer esta diferença, aquela que obtiver o maior “escore” ocupa
a posição superior e como tal vai ser detentora de privilégios.
Então a disputa de poder entre humanos é a busca ilusória da supremacia que dá direito a
privilégios para um (o vencedor, o superior, o maior, o melhor, o mais) e prejuízo para o outro(o
perdedor, o inferior, o menor, o pior, o menos).
Numa disputa, haverá sempre o ganho e a perda, o que numa avaliação maniqueísta, levará
sempre a um resultado excludente: ou se ganha ou se perde.
Só existem duas posições possíveis a serem disputadas entre os envolvidos numa relação de
disputa de poder:
vencedor x perdedor
dominação x submissão
superioridade x inferioridade
Negar o Poder
A segunda alternativa é a opção que leve o ser humano a não lidar com seu poder pessoal e
tentar se eximir do aspecto de poder implícito nas relações humanas.
Isto não é possível, mas no imaginário de quem faz esta escolha, ao não assumir sua posição de
poder diante das coisas, das exigências que a vida lhe faz, a pessoa “acredita” que o destino é
responsável por tudo que acontece com ela; e o destino para ela, tem muitos nomes: os outros, o
governo, seus pais, seu parceiro, a inveja, etc.
Ao não se responsabilizar por suas escolhas, estabelece a dinâmica de “deixa a vida me
levar”...”não posso fazer nada”... “isto é assim mesmo”...
“isto só acontece comigo”...
Negociar o Poder
A terceira alternativa é um desafio constante nas relações humanas:
somos insistentemente convidados a aprender a negociar o poder.
Esta é a solução mais elaborada, mais humanizada que se pode conquistar nas relações entre
semelhantes.
Nas relações de poder negociado todos os envolvidos têm poder equivalente, as competências
têm valor equânime, e as soluções abrangem interesses e bem estar comuns acima dos
individuais
Então o mais importante não é se identificar quem foi que resolveu um problema, qual foi o
mais competente; o que importa é que ambos usufruíram um resultado de uma situação a partir
da competência de um deles.
Isto não os reduz a ocupar o lugar de superioridade em relação ao outro, mas posições diferentes
em relação a um aspecto enquanto em outro aspecto podem estar se movendo em direção
contrária.
Reciprocamente saberão se mover entre as posições conforme a conveniência do bem comum a
eles.
Esta terceira posição é a posição do poder compartilhado (não disputado).
Ela não é uma posição fixamente estabelecida. Ela é dinâmica.
Ela possibilita o aprendizado de que serem parceiros, aliados e não rivais.
O resultado da soma dos poderes individuais é a vitória de ambos.
Neste jogo não há perdedor: se o resultado beneficia um, ambos são beneficiados.
Será bom para um o que for bom para ambos.
Este é o resultado natural do aprendizado de se colocar o bem comum acima dos interesses
individuais.
Dito assim parece simples, porém este é um dos mais complexos desafios dentro da relação
conjugal.
No exercício desta aprendizagem, nas dificuldades encontradas para conquistá-la pode ser
importante o papel da Terapia do Casal.
Neste compromisso irão interagir a subjetividade e a objetividade de cada um dos parceiros e a
do terapeuta que juntas formarão o sistema terapêutico.
Famílias de Origem
No primeiro Capítulo do nosso programa vimos que nem sempre o “casamento” ocorre entre
dois parceiros “amadurecidos” e que ele não implica na união de duas pessoas apenas, mas sim
de dois sistemas familiares inteiros. Isto nos leva a considerar que é poderosa a influência das
famílias de origem na complexidade das relações estabelecidas entre os parceiros conjugais.
Idealmente uma pessoa se casaria, ou estabeleceria um projeto de construir relação conjugal
quando já tivesse constituído sua identidade individual e se diferenciado suficientemente de sua
família de origem.
Isto na maioria das vezes é utópico.
Ainda que um indivíduo tenha um padrão de relacionamento seguro, por exemplo, não significa
que ele tenha consolidado sua identidade individual e muito menos que não mantenha lealdades
aos padrões relacionais (premissas) de sua família originária.
Não há como se ignorar que a construção da identidade conjugal sofre desde o namoro ampla
interferência das culturas familiares originarias de cada parceiro , e que esta interferência tende
a se intensificar com o exercício da vida conjugal. Este tema é muito amplo pois são diversas as
possibilidades de interferência da cultura familiar originária na construção do padrão relacional
do casal. A este grau maior ou menor de “contaminação” de identidades conjugais (padrões de
relação conjugal dos pais e /ou avós que os filhos vão “repetir” ainda que inconscientemente) ,
chamaremos de “lealdades invisíveis”, ou pacto de fidelidade à família originária que pode
funcionar como ‘amarras’ impedindo o desenvolvimento do casal, interferindo no seu processo
de relação conjugal.
Outro tema que frequentemente cria impasses na relação conjugal a partir da influência das
famílias originárias são as questões relativas a papéis de gênero.
Valores machista, separatistas, preconceituosos em relação a ‘ser homem’- papel de homem e
‘ser mulher’- papel de mulher em cada cultura familiar podem desencadear múltiplos desafios,
dificuldades e até mesmo impedimento à configuração do novo casal .
As crenças e premissas rígidas sobre estas questões podem tornar muito maior um desafio que já
é grande entre os parceiros na formação de sua nova identidade: a tarefa fundamental e
intransferível de patrocinar a introdução do outro e de seus familiares no seio de sua própria
família, favorecendo a receptividade e acolhimento necessários para uma convivência
harmoniosa entre todos.
“Certas famílias impedem, inconscientemente, a emancipação dos filhos e numa nova relação,
como namoro ou casamento, instala-se um dilema no qual o novo casal só pode existir se não
colocar em risco a rígida lógica familiar, uma tendência que procura não modificar a família
nuclear. Assim, nestes casos, quando uma nova união se estabelece vários mecanismos
passarão a atuar no sentido da não alteração.” “Uma união implica, invariavelmente, na
despedida dos antigos vínculos, uma fase permeada por sentimentos ambíguos de desamparo e
que podem abalar constituição da necessária cumplicidade do casal. Assim, após a fase da
paixão, da elaboração das perdas de suas famílias de origem, é que o novo relacionamento
poderá se estabelecer de forma consistente. Mas, quando os vínculos anteriores estão muito
fortes, a nova união será dificultada.” Luiz Carlos Prado “O casal não é uma mera
justaposição de duas estruturas estáveis, é antes um adubo que alimenta o desenvolvimento
pessoal.” Elida Roman, Jean-Clair Bouley
Subsistemas
Família
Outro aspecto da complexidade da relação conjugal é o fato de que o casal dentro do sistema
familiar nuclear constitui dois subsistemas diferenciados: homem/mulher (par conjugal) e
pai/mãe (par parental) . Isto lhes confere funções específicas e diferenciadas, porém
interdependentes e que podem ser ‘interferentes’ quando funções da parentalidade interferem na
conjugalidade e vice-versa.
O subsistema conjugal constitui a especificidade da relação ‘de casal’ que permite aos parceiros
criar compromissos exclusivos entre si: vida sexual, identidade conjugal, objetivos conjuntos de
vida a dois, vínculo, confiança, etc.
Essa relação especial pode sofrer sobrecarga dos reflexos de discordâncias e impasses não
resolvidos entre os parceiros no desempenho de suas funções como pai e mãe
Daí podem decorrer as derivações adoecidas da relação conjugal: pactos, duplos vínculos
recíprocos, colusões, e outros.
Homem e Mulher
Filhos
Papai e Mamãe
Porém não devemos nos prender a uma visão estática do indivíduo e da relação do casal. Temos
que considerar que o ciclo vital é dinâmico e seu movimento proporciona oportunidades de que
a própria estrutura do casal dê continuidade ao processo de crescimento individual iniciado nas
famílias de origem.
A tendência evolutiva humana não estanca necessariamente diante das circunstâncias (destino)
criadas a partir de escolhas (livre arbítrio) que possam ser consideradas inadequadas.
Ao ser humano compete sempre escolher entre a homeostase e a equifinalidade
Duas questões podem ser usadas como recurso terapêutico para conscientizar o casal de sua
responsabilidade na construção da relação:
Qual destino estamos escolhendo para nossa relação? (que benefício estamos buscando?)
A escolha que estamos fazendo (em cada situação trabalhada) está nos conduzindo a qual
destino? (que preço estamos pagando?)
Dentro do ponto de vista sistêmico, o que precisa ser tratado no sistema terapêutico é a
qualidade da relação que o casal pode estabelecer para lidar com as questões que a
conjugalidade e a vida em comum vai-lhes apresentar, independente da personalidade de cada
um, independente do nível de auto-confiança ou de qualquer outro fator intrapsíquico dos
parceiros, pois a relação conjugal não é prerrogativa só de pessoas que já elaboraram aspectos
imaturos de sua personalidade, ou já atingiram um nível maduro de relacionamento com seu
semelhante.
Ela (a relação conjugal) é também oportunidade para que as pessoas evoluam de suas questões
individuais.
A proposta de terapia sistêmica de casais poderia ser comparada a adaptações necessárias a se
fazer num carro para que uma pessoa que apresenta alguma necessidade especial motora possa
dirigi-lo.